19
O PATRIMÔNIO NATURAL TOMBADO NO MUNICÍPIO DE SANTA MARIA (RS): PROBLEMATIZANDO QUESTÕES PARA A EDUCAÇÃO E A GESTÃO PÚBLICA Autor: Lenise Xavier dos Santos, Mestranda do Curso de Pós-graduação em Geografia da UFSM – e-mail: [email protected] Co-autor: Adriano Severo Figueiró, Prof. Dr. do Departamento de Geociências da UFSM – e-mail: [email protected] Resumo Este trabalho estabelece um diagnóstico acerca da situação atual da vegetação urbana tombada no Município de Santa Maria (RS), problematizando questões no campo da educação e da gestão pública. Por meio deste trabalho procurou-se ressaltar a importância da vegetação urbana, uma vez que pode-se observar que nas cidades este tipo de vegetação atua sobre o conforto humano melhorando de forma significativa a qualidade de vida das pessoas. Através do diagnóstico da vegetação urbana imune ao corte, buscou-se averiguar as árvores ainda existentes, e o que levou ao corte as árvores cortadas legalmente e as cortadas ilegalmente. Dessa forma, chegou-se a conclusão que, das 85 árvores imunes, 42 ainda existem, 18 foram cortadas com autorização do Poder Público e outras 25 foram cortadas ilegalmente. Para os motivos que propiciou o corte aprovado pelo Poder Público, pode-se dizer que 8 árvores foram cortadas por habitarem local inadequado, 3 por estarem mortas, 2 por motivos puramente econômicos, 2 por proporcionarem danos a pessoas e/ou materiais, e para 3 árvores não foi possível averiguar o motivo. Procurou-se também mapear e confeccionar um banco de dados georreferenciados com a localização das espécies arbóreas imunes. A educação foi contemplada ao gerar uma cartilha destinada ao Ensino Fundamental que poderá ser utilizada não apenas durante as aulas de Geografia, mas sim em todos os componentes curriculares no momento que estiverem trabalhando com Educação Ambiental. Palavras-chave: EDUCAÇÃO AMBIENTAL; VEGETAÇÃO URBANA; IMUNIDADE AO CORTE.

O PATRIMÔNIO NATURAL TOMBADO NO MUNICÍPIO DE SANTA … · PROBLEMATIZANDO QUESTÕES PARA A EDUCAÇÃO E A GESTÃO PÚBLICA Autor: Lenise Xavier dos Santos, Mestranda do Curso de

  • Upload
    others

  • View
    1

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: O PATRIMÔNIO NATURAL TOMBADO NO MUNICÍPIO DE SANTA … · PROBLEMATIZANDO QUESTÕES PARA A EDUCAÇÃO E A GESTÃO PÚBLICA Autor: Lenise Xavier dos Santos, Mestranda do Curso de

O PATRIMÔNIO NATURAL TOMBADO NO MUNICÍPIO DE SANTA MARIA (RS): PROBLEMATIZANDO QUESTÕES PARA A EDUCAÇÃO E A GESTÃO PÚBLICA

Autor: Lenise Xavier dos Santos, Mestranda do Curso de Pós-graduação em Geografia da UFSM –

e-mail: [email protected] Co-autor: Adriano Severo Figueiró, Prof. Dr. do Departamento de Geociências da UFSM –

e-mail: [email protected]

Resumo Este trabalho estabelece um diagnóstico acerca da situação atual da vegetação urbana tombada

no Município de Santa Maria (RS), problematizando questões no campo da educação e da gestão pública. Por meio deste trabalho procurou-se ressaltar a importância da vegetação urbana, uma vez que pode-se observar que nas cidades este tipo de vegetação atua sobre o conforto humano melhorando de forma significativa a qualidade de vida das pessoas. Através do diagnóstico da vegetação urbana imune ao corte, buscou-se averiguar as árvores ainda existentes, e o que levou ao corte as árvores cortadas legalmente e as cortadas ilegalmente. Dessa forma, chegou-se a conclusão que, das 85 árvores imunes, 42 ainda existem, 18 foram cortadas com autorização do Poder Público e outras 25 foram cortadas ilegalmente. Para os motivos que propiciou o corte aprovado pelo Poder Público, pode-se dizer que 8 árvores foram cortadas por habitarem local inadequado, 3 por estarem mortas, 2 por motivos puramente econômicos, 2 por proporcionarem danos a pessoas e/ou materiais, e para 3 árvores não foi possível averiguar o motivo. Procurou-se também mapear e confeccionar um banco de dados georreferenciados com a localização das espécies arbóreas imunes. A educação foi contemplada ao gerar uma cartilha destinada ao Ensino Fundamental que poderá ser utilizada não apenas durante as aulas de Geografia, mas sim em todos os componentes curriculares no momento que estiverem trabalhando com Educação Ambiental. Palavras-chave: EDUCAÇÃO AMBIENTAL; VEGETAÇÃO URBANA; IMUNIDADE AO CORTE.

Page 2: O PATRIMÔNIO NATURAL TOMBADO NO MUNICÍPIO DE SANTA … · PROBLEMATIZANDO QUESTÕES PARA A EDUCAÇÃO E A GESTÃO PÚBLICA Autor: Lenise Xavier dos Santos, Mestranda do Curso de

THE NATURAL PATRIMONY REGISTERED IN THE CITY OF SANTA MARIA – RS: PROBLEMATIZED ISSUES FOR EDUCATION AND PUBLIC ADMINISTRATION

Autor: Lenise Xavier dos Santos, Mestranda do Curso de Pós-graduação em Geografia da UFSM –

e-mail: [email protected] Co-autor: Adriano Severo Figueiró, Prof. Dr. do Departamento de Geociências da UFSM –

e-mail: [email protected]

Abstract This work establishes a diagnosis about the actual situation of the registered urban vegetation in

Santa Maria, RS, problematizing issues in the field of education and public administration. Through this work we have tried to emphasize the importance of urban vegetation, since it can be obseved that in cities such vegetation acts on the human confort of improving significantly the quality of life. Through the diagnosis of urban vegetation immune, trying to find out the trees that still exist, and what led to cutting the trees cut legally and illegally. Thus, it was the conclusion that, from 85 trees immune, 42 still exist, 18 were cut with the permission of the government and other 25 were illegally cut. For reasons that provided the cut approved by the government, we can say that 8 trees were cut by local inadequate, 3 being killed, 2 for purely economic reasons, 2 the damage by offering individuals and / or materials, and to 3 trees was not possible to ascertain the reason. It is also mapping and manufacture a georeferenced database with the location of the tree species immune. Education was considered to generate a primer for the elementary school that could be used not only during Geography classes, but in all curriculum components when they are working with Environmental Education. Keywords: ENVIRONMENTAL EDUCATION; URBAN VEGETATION; IMMUNITY FOR CUTTING.

Page 3: O PATRIMÔNIO NATURAL TOMBADO NO MUNICÍPIO DE SANTA … · PROBLEMATIZANDO QUESTÕES PARA A EDUCAÇÃO E A GESTÃO PÚBLICA Autor: Lenise Xavier dos Santos, Mestranda do Curso de

O PATRIMÔNIO NATURAL TOMBADO NO MUNICÍPIO DE SANTA MARIA (RS): PROBLEMATIZANDO QUESTÕES PARA A EDUCAÇÃO E A GESTÃO PÚBLICA

Autor: Lenise Xavier dos Santos, Mestranda do Curso de Pós-graduação em Geografia da UFSM –

e-mail: [email protected] Co-autor: Adriano Severo Figueiró, Prof. Dr. do Departamento de Geociências da UFSM –

e-mail: [email protected]

Introdução

A natureza está em constante transformação desde a sua origem. O homem deteriora seu habitat

produzindo resíduos, onde tudo que não é aproveitado é descartado na natureza e espalhado pelo ar,

solo e águas. E, é na área urbana onde a relação uso/preservação assume a sua face mais conflitante. A

consciência dos danos causados ao ambiente é diretamente proporcional às condições socioeconômicas

e às oportunidades de educação que as pessoas têm.

A Educação Ambiental oportuniza às pessoas o entendimento da relação estabelecida entre si e

com o ambiente, preparando a sociedade para um novo modo de ver e pensar o mundo, capaz de

observar, refletir e agir no meio que o envolve, sentido-se como parte deste.

Logo, a relevância deste trabalho justifica-se pela crescente procura por práticas voltadas à

Educação Ambiental, práticas que estão muitas vezes associadas a ações, tanto na difusão da Educação

Ambiental, quanto na valorização da paisagem socioambiental.

Soma-se a isso a importância da vegetação urbana, uma vez que influencia sobre o conforto

humano no ambiente. No que se refere a este fato, Silva Filho (2003) observa que esse conforto ocorre

através “[...] das características naturais da vegetação arbórea, proporcionando sombra para

pedestres e veículos, redução da poluição sonora, melhoria da qualidade do ar, [...]” entre outros.

Assim, observa-se, também, que as árvores contribuem para a obtenção de uma ambiência urbana mais

agradável.

A preservação de árvores de ruas também merece destaque na Educação Ambiental, uma vez

que, para além do fato citado anteriormente, observa-se que, é através destas árvores que perpetua-se a

história florística e faunística do município, esta história florística representa um testemunho da

história de ocupação e das transformações sofridas pela paisagem; bem como a manutenção de

importantes bancos genéticos.

Pode-se afirmar que nenhum ambiente é mais alterado que o ambiente urbano, este fato deve-se

principalmente a sua natureza edificada. Com isso, percebe-se que os governos municipais,

infelizmente, não possuem eficiência, rapidez e recursos necessários para agir antes que as

transformações imobiliárias aconteçam e as áreas dotadas de vegetação urbana se percam. Assim, aos

governos municipais falta, na prática, assumir o compromisso de fiscalização necessária para impedir a

invasão e alteração da cobertura vegetal urbana.

Page 4: O PATRIMÔNIO NATURAL TOMBADO NO MUNICÍPIO DE SANTA … · PROBLEMATIZANDO QUESTÕES PARA A EDUCAÇÃO E A GESTÃO PÚBLICA Autor: Lenise Xavier dos Santos, Mestranda do Curso de

Sendo assim, este trabalho tem como objetivo principal estabelecer um diagnóstico acerca da

situação atual da vegetação urbana tombada no município de Santa Maria (RS), problematizando

questões no campo da educação e da gestão pública.

Os resultados alcançados deverão subsidiar a elaboração de um material didático que se

destinará a praticamente todas as componentes curriculares do Ensino Fundamental (uma vez que a

Educação Ambiental está proposta nos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs como tema

transversal), bem como a um uso mais amplo, na Educação Ambiental não formal.

O mapeamento das espécies arbóreas que se encontram tombadas facilitará a construção deste

material em dois pontos, a saber: nas consultas visuais rápidas; e na praticidade ao encontrar a

localização de uma determinada espécie.

A confecção de mapas, antes de ser um fim específico, visa o cadastramento das espécies em

um banco de dados georreferenciados, facilitando a posterior atualização, cada vez que uma espécie

for tornada imune ao corte, bem como, quando da retirada de outras espécies da referida proteção.

Com este trabalho, pretende-se contribuir para a análise do impacto da especulação imobiliária

na manutenção destas árvores tombadas, bem como das demais formas de vegetação urbana do

município. Pretende-se ainda, salientar como a falta de planejamento urbano, tanto no momento do

plantio quanto na manutenção das espécies arbóreas, contribuem para o desaparecimento destas

árvores.

Desta forma, este trabalho apresenta como objetivos específicos:

Elaborar um banco de dados georreferenciados com a localização das espécies arbóreas imunes

ao corte do município de Santa Maria (Leis nº. 2506/83 e nº. 2859/87 do município de Santa

Maria), facilitando, assim, a constante atualização do mesmo;

Mapear as espécies arbóreas, para a confecção de um material didático que contenha a

localização das árvores imunes ao corte do município;

Identificar e problematizar as alterações realizadas nas Leis nº. 2506/83 e nº. 2859/87 do

município de Santa Maria, que retiram da proteção indivíduos tombados;

Produzir um instrumento didático voltado ao Ensino Fundamental, traduzindo

pedagogicamente os resultados obtidos.

1. Material e Método

A concretização deste do trabalho deu-se através de 4 etapas:

1ª etapa: refere-se ao aprofundamento das discussões teóricas. Revisando, assim, conceitos de

Educação Ambiental e vegetação urbana. Foram consultados também, autores que se dedicaram a

salientar a importância da proteção de espécies arbóreas. Com isso, obteve-se subsídios para uma

melhor compreensão sobre este tipo de vegetação. Consultou-se, também, bibliografias sobre a

utilização de mapas temáticos como recurso pedagógico, bem como a Legislação Municipal de Santa

Page 5: O PATRIMÔNIO NATURAL TOMBADO NO MUNICÍPIO DE SANTA … · PROBLEMATIZANDO QUESTÕES PARA A EDUCAÇÃO E A GESTÃO PÚBLICA Autor: Lenise Xavier dos Santos, Mestranda do Curso de

Maria – RS, que contribuiu para um entendimento sobre os motivos que levaram o Poder Público

Municipal a proteger estas árvores.

2ª etapa: refere-se a coletas de dados em saídas a campo nos endereços das árvores elencadas

pela Lei Municipal nº. 2506/83 e pela Lei Municipal nº. 2859/87. Ocorreu, nesta etapa, a coleta das

coordenadas geográficas das espécies arbóreas que se encontram imunes ao corte. Neste momento,

também, foram tomadas fotografias destas árvores a fim de constatar a atual observância das Leis de

tombamento. Convém salientar que não foram coletas apenas as coordenadas das árvores tombadas

que existem no presente momento, mas também dos endereços de espécies que já não existem mais.

Nesta etapa, também, se tentou inferir o “por que?” da eliminação destas árvores.

Durante este período foi possível classificar a observância destas leis em três grandes divisões:

Árvores protegidas ainda existentes;

Árvores protegidas cortadas com autorização do Poder Público Municipal e,

Árvores cortadas sem autorização do Poder Público Municipal, logo, cortadas de modo ilegal.

Para se tornar possível o corte das árvores protegidas, houve, no Município de Santa Maria

outras 18 Leis Municipais que alteraram a redação das Leis Municipais nº. 2506/ 83 e nº. 2859/87.

Desta forma, no intuito de diagnosticar os reais motivos que levaram o Poder Público Municipal a

autorizar o corte, foram realizadas pesquisas no Arquivo Geral da Câmara de Vereadores de Santa

Maria, onde teve-se acesso aos Projetos de Leis que culminaram na exclusão de indivíduos tombados

da lista que as tornavam imunes.

Já para a inferência dos motivos que proporcionaram o corte ilegal de árvores protegidas

utilizou-se apenas de visitas e observação; em inúmeros casos tentou-se conversar com proprietários

que realizaram tais atos, no entanto, na maioria das vezes, estes recusaram-se a estabelecer diálogos.

Salienta-se que mesmo que um endereço apresentasse mais de uma árvore protegida, as

coordenadas foram tomadas considerando a totalidade das espécies. No entanto, a Legislação apresenta

um endereço onde está protegido todo um bosque de espécies nativas, e neste endereço não foi

permitido a entrada para a coleta das coordenadas geográficas; assim, deste foi coletada apenas a

localização do portão principal do estabelecimento, e todo o bosque está representado por apenas um

ponto.

Chamamos atenção aqui para o fato de que houveram quatro endereços de árvores, protegidas

do corte, que não foram possíveis de serem encontrados, desta forma, não foi possível coletar as

coordenadas geográficas destes locais e, portanto, estas árvores não aparecem representadas no mapa.

No entanto sabe-se que estas árvores foram cortadas de forma ilegal; logo, no gráfico que ilustra a

observâncias das duas legislações em vigor, estas cinco árvores foram consideradas.

3ª etapa: diz respeito à parte prática, e foi composta de duas partes distintas: (a) criação do

banco de dados georreferenciados para criação do mapa de localização, e (b) elaboração do material

didático.

Page 6: O PATRIMÔNIO NATURAL TOMBADO NO MUNICÍPIO DE SANTA … · PROBLEMATIZANDO QUESTÕES PARA A EDUCAÇÃO E A GESTÃO PÚBLICA Autor: Lenise Xavier dos Santos, Mestranda do Curso de

Os dados coletados na etapa anterior serviram de base para a elaboração do banco de dados

georreferenciados e a posterior confecção do mapa com a localização pontual das espécies arbóreas

tombadas pelo município.

Desenvolvimento da parte (a):

As coordenadas geográficas coletadas com GPS durante a 2ª etapa, foram exportadas para o

software GPS Trackmaker 13.4.

A seguir, deu-se início a fase de elaboração do banco de dados, este foi confeccionado no software

Spring 5.0. Criou-se o Banco de Dados: árvores_tombadas e Projeto: arvores.

Após, no Impima (extensão do Spring) ocorreu a conversão do formato da imagem de satélite

de Santa Maria IKONOS, de JPEG para GRIB. Concluída esta conversão, retornou-se para o Spring

para realizar o registro da imagem, que consistiu na georeferência da imagem, para isso, foram

utilizados seis pontos. Desta forma, a imagem pode ser importada para o software.

Assim, com a imagem no software, foram criados modelos de dados temáticos que se

vinculavam as informações digitalizadas na imagem. Essas informações eram referentes aos limites

urbanos e aos bairros. Após a digitalização destas informações, os pontos que estavam no programa

GPS Trackmaker foram importados para o Spring. Com estes pontos inseridos, novos modelos de

dados foram criados. Agora de acordo com as categorias: árvores protegidas ainda existentes; árvores

cortadas legalmente; árvores cortadas ilegalmente, os pontos foram classificados.

Terminada a classificação das árvores, o mapa foi exportado em formato TIFF, para sua edição

final no Corel Draw X3.

Desenvolvimento da parte (b):

O material didático é composto de uma cartilha confeccionada no Microsoft Office

PowerPoint, versão 2003; em tamanho A5; e contém informações do tipo:

Informações que ressaltem a importância da vegetação urbana;

Um mapa com a localização das espécies arbóreas que estão imunes ao corte, na sua

totalidade;

Foram detalhadas informações sobre estas árvores, como: fotos, nome científico,

endereço, bem como características biológicas da éspécie;

4ª etapa: refere-se à redação final do trabalho, onde são relatadas questões referentes ao

desenvolvimento do trabalho, resultados obtidos e a que conclusão se chegou ao término do mesmo.

2. Resultados e Discussões

2. 1 Mapa das Espécies Arbóreas Imunes ao Corte em Santa Maria – RS

Os mapas são importantes instrumentos que permitem ler o espaço. Passini apud Callai (2006,

p. 90) diz que “um leitor crítico do espaço é aquele capaz de ler o espaço real e a sua representação,

Page 7: O PATRIMÔNIO NATURAL TOMBADO NO MUNICÍPIO DE SANTA … · PROBLEMATIZANDO QUESTÕES PARA A EDUCAÇÃO E A GESTÃO PÚBLICA Autor: Lenise Xavier dos Santos, Mestranda do Curso de

o mapa.”. O mapa é uma forma de expressão muito característica do discurso geográfico, ou seja, é

uma linguagem peculiar dessa ciência. (Cavalcanti, 2006)

Assim, cabe a Geografia, trabalhar com o mapa como o resultado da síntese de um determinado

lugar, seja elaborando-o através de observações, de informações de dados coletados, ou fazendo uma

leitura para conhecer determinado lugar. Logo, um mapa sempre será uma fonte de informação.

(Callai, 2006)

Dessa forma, os mapas devem ser práticos e informativos – claros e precisos –, fascinantes e

surpreendentes dentro da proposta a que forram construídos, para assim, no momento da leitura do

mapa poder decodificar e representar mentalmente sua mensagem. (Castrogiovanni, 1999)

O mapa, como figura cartográfica é a representação simbólica de um espaço concreto, que

emprega a linguagem semiótica através dos signos. Dessa forma um mapa é um símbolo que

representa o espaço geográfico de forma bidimensional reduzida. A elaboração de um mapa envolve o

conhecimento do espaço geográfico e sua codificação é que traduz em imagem o significado, o

conteúdo. (Castrogiovanni, 2006)

Ciente destas informações é que propôs-se realizar um mapeamento das espécies arbóreas

imunes ao corte de Santa Maria – RS (figura 01).

Através da leitura do mapa pode-se perceber, através de sua legenda, que os pontos verdes

representam as árvores protegidas do corte que ainda existem, os pontos azuis representam as árvores

que foram cortadas com autorização do Poder Público Municipal, logo cortadas legalmente, e os

pontos vermelhos indicam os locais onde árvores protegidas foram cortadas ilegalmente.

Pode-se dizer também, a partir das informações contidas no mapa, que as árvores elencadas, na

Legislação Municipal, protegidas do corte, encontram-se na porção central da cidade de Santa Maria.

Pode-se verificar também que, para as árvores protegidas pela Legislação Municipal de Santa

Maria que já não existem mais, chama atenção o número de pontos vermelhos em detrimento dos

azuis, logo percebe-se que houveram mais cortes ilegais do que cortes com aprovação do Poder

Público.

Page 8: O PATRIMÔNIO NATURAL TOMBADO NO MUNICÍPIO DE SANTA … · PROBLEMATIZANDO QUESTÕES PARA A EDUCAÇÃO E A GESTÃO PÚBLICA Autor: Lenise Xavier dos Santos, Mestranda do Curso de

Figura 01: Mapa das árvores protegidas do Município de Santa Maria – RS Elab.: SANTOS, L. X., 2008.

Page 9: O PATRIMÔNIO NATURAL TOMBADO NO MUNICÍPIO DE SANTA … · PROBLEMATIZANDO QUESTÕES PARA A EDUCAÇÃO E A GESTÃO PÚBLICA Autor: Lenise Xavier dos Santos, Mestranda do Curso de

2. 2 Análise da Observância da Legislação Municipal Que Protege, Quanto ao Corte, Algumas

Árvores de Santa Maria

2. 2. 1 A Lei Municipal nº. 2506/83

A primeira Lei Municipal nº. 2506/83, que “torna imune ao corte determinadas espécies da

cidade e dá outras providências,” em seu artigo 1º, especifica que ficam imunes ao corte, no âmbito

da Administração Municipal, algumas árvores, apresentando em seu parágrafo único a localização das

árvores protegidas, a saber:

a) Timbaúva – situada na esquina das Avenidas Fernando Ferrari e Medianeira;

b) Guapuruvu – situado na Avenida Medianeira, em frente ao prédio de nº. 1781;

c) Paineira – situada na esquina das ruas Tuiuti e Conde de Porto Alegre;

d) Timbaúva – situada em frente ao Clube Esportivo, na rua Casemiro de Abreu, nº. 59.

Em seu artigo 2º, fica determinado que “as árvores imunes ao corte deverão possuir placa

informativa de sua imunidade, com dados esclarecedores.” E, no artigo 3º, especifica que “as árvores

ornamentais somente poderão ser cortadas mediante laudo do Poder Executivo e Parecer do

Conselho de Defesa do Meio Ambiente.”.

Ao analisar o Projeto de Lei, que resultou na Lei Municipal nº. 2506/83, que justifica a

proteção quanto ao corte destas árvores, pode-se observar que nada consta sobre o motivo que o levou

a escolher estas específicas árvores, uma vez que em Santa Maria existem outras árvores da mesma

espécie das especificadas na Lei. Tampouco deixa claro sobre a quem pesa a responsabilidade de

manutenção das mesmas.

Através de visitas aos endereços destas quatro árvores, pode-se constatar que apenas duas

existem até hoje, a saber: a identificada pela letra b e a identificada pela letra d.

A árvore identificada pela letra a – a Timbaúva – saiu da lista das espécies arbóreas com

imunidade ao corte, uma vez que, segundo a justificativa expressa no projeto nº. 4866, esta árvore

encontrava-se “semi-morta” e os moradores do terreno na qual se encontrava a Timbaúva temiam que

a mesma caísse a “qualquer momento”. O projeto revela ainda, que o proprietário do terreno tinha

intenções de “construir no local”.

Assim, fica evidenciado dois fatores que levaram ao corte da referida Timbaúva, (i) motivos de

segurança, uma vez que, devido ao seu grande porte, a mesma punha em risco a segurança de pessoas

e/ou materiais; e (ii) especulação imobiliária, já que o proprietário do terreno revelou intenções de

construir no local, e a espécie arbórea, por ser tombada, atuava como empecilho. Atualmente,

observa-se um grandioso prédio no terreno onde existia a Timbaúva.

Já a árvore identificada pela letra c foi cortada sem a aprovação do Poder Público, Logo, a

Paineira foi cortada de forma ilegal. Percebe-se, hoje, no local onde a referida árvore deveria existir,

um grandioso prédio de moradia. Observa-se, desta forma, a especulação imobiliária sobrepondo-se à

Page 10: O PATRIMÔNIO NATURAL TOMBADO NO MUNICÍPIO DE SANTA … · PROBLEMATIZANDO QUESTÕES PARA A EDUCAÇÃO E A GESTÃO PÚBLICA Autor: Lenise Xavier dos Santos, Mestranda do Curso de

preservação das espécies arbóreas, bem como à manutenção da vegetação urbana e sua funcionalidade

ambiental.

2. 2. 2 A Lei Municipal nº. 2859/87

Quanto à proteção de imunidade ao corte, Santa Maria conta também com a Lei Municipal nº.

2859/87, a qual “declara imune ao corte 73 árvores ornamentais, localizadas em ruas de nossa

cidade.” Em seu artigo 1º, esta Lei estabelece o seguinte: “As 73 árvores de grande porte, relacionada

na lista anexa, que faz parte integrante da presente Lei, são declaradas imunes ao corte, conforme

estabelece o Art. 7º da Lei nº. 4771, de 15.09.1965 (Código Florestal Brasileiro).”

A primeira análise que pode-se fazer quanto as árvores elencadas nesta lei é quanto ao número

de indivíduos tombados por espécies. Assim, pode-se expressar da seguinte maneira:

Figura 02: Gráfico ilustrativo do número de árvores imunes por espécie da Lei Municipal nº. 2859/87. Fonte: SANTOS, L. X., 2008.

Ao analisar o projeto de Lei que resultou na Lei Municipal nº. 2859/87, de autoria do então

Prefeito Municipal, observa-se aqui que, na verdade, a referida Lei Municipal elenca 73 endereços de

árvores e não 73 árvores. Uma vez que há locais onde há mais de uma árvore imune ao corte, como é o

caso do nº. 19 onde cita dois Jacarandás; o nº. 20 onde apresenta três árvores diferentes; há ainda o

caso do endereço nº. 33, onde todo um bosque de árvores nativas é tombado; entre outros exemplos

que podem ser observados na lista anexada à Lei. Sendo, portanto, nesta legislação 81 árvores

protegidas, mais o bosque.

Page 11: O PATRIMÔNIO NATURAL TOMBADO NO MUNICÍPIO DE SANTA … · PROBLEMATIZANDO QUESTÕES PARA A EDUCAÇÃO E A GESTÃO PÚBLICA Autor: Lenise Xavier dos Santos, Mestranda do Curso de

2. 2. 2. 1 Ás árvores protegidas pela Lei Municipal nº. 2859/87 que ainda existem

Ao realizar visitas nos locais elencados na Lei Municipal, pode-se observar, que, dos 73

endereços que sitiavam árvores imunes ao corte, apenas 40 ainda as mantém.

Durante as visitas aos endereços das árvores imunes ao corte desta cidade, pode-se constatar

que das 40 árvores ainda existentes, muitas não recebem o devido cuidado de manejo e/ou

manutenção, como é caso da Timbaúva situada na Rua Silva Jardim, esquina com a Rua André

Marques, estabelecimento da antiga Secretária do Bispado, uma vez que esta árvore apresenta

cicatrizes profundas em seu caule decorrente de uma tentativa de cortá-la. Ou do Flamboyant situado

na Rua Professor Braga, que está em nível superior à calçada de pedestre, fato que põe em risco a

segurança dos mesmos. Tal fato evidencia uma despreocupação do poder público para com o meio

ambiente urbano.

Observa-se ainda, que a maioria destas árvores, por serem de grande porte, atinge a rede de alta

e baixa tensão, causando, desta forma, transtornos quanto a distribuição de energia (figura 03). Fato

este, que justifica a falta de identificação entre as pessoas e as árvores. As pessoas passam, assim, a ver

a vegetação urbana mais como um problema do que geradora de benefícios à qualidade de vida da

população residente das áreas urbanas.

Figura 03: Foto da árvore nº. 72 – Açoita-cavalo situado na Rua Venâncio Aires, nº. 2766 Fonte: SANTOS, L. X., 2008.

Outro fato também observado foi o plantio não planejado de árvores. Muitas vezes, pessoas

sem informação adequada, de como realizar o correto plantio, como por exemplo, espécies mais

favoráveis às condições do terreno (tipo de solo, espaço físico que a espécie requer, entre outros), para

desta forma aproveitarem ao máximo o que a vegetação urbana proporciona. Muitas árvores protegidas

de Santa Maria estão perecendo devido à condição de estarem muito próximas a árvores de outras

espécies ou edificações. Esta proximidade impede que as árvores absorvam a quantidade necessária de

Page 12: O PATRIMÔNIO NATURAL TOMBADO NO MUNICÍPIO DE SANTA … · PROBLEMATIZANDO QUESTÕES PARA A EDUCAÇÃO E A GESTÃO PÚBLICA Autor: Lenise Xavier dos Santos, Mestranda do Curso de

insolação para realizarem suas necessidades fisiológicas, como fotossíntese. Este fato foi constatado

principalmente com os coqueiros.

Pode-se constatar também que, visando a preservação da vegetação urbana, bem como cumprir

de forma integral a Lei Municipal nº. 2859/87, algumas construtoras prediais adaptaram seus projetos

de engenharia civil às árvores imunes ao corte que já haviam no terreno. Fato este que pode ser

observado com o Pinheiro-brasileiro na Rua Appel nº. 367, e ao Coqueiro situado na Rua Vale

Machado nº. 1706. Onde os formatos conferidos aos prédios respeitam plenamente os espaços

ocupados pelas referidas árvores (figura 04).

Figura 04: Quadro com fotos de árvores. (A): árvore nº. 36 – Pinheiro Brasileiro. (B): árvore nº. 66 – Coqueiro. Fonte: SANTOS, L. X., 2008.

Da mesma forma do que já foi observado na Lei Municipal nº. 2506/83, esta segunda Lei não

especifica a quem cabe a responsabilidade de manejo, manutenção e conservação das espécies arbóreas

protegidas, se ao proprietário do terreno onde elas estão inseridas, ou ao Poder Público Municipal.

2. 2. 2. 2 As árvores protegidas pela Lei Municipal nº. 2859/87 cortadas com autorização

do Poder Público Municipal

Ao analisar esta Lei Municipal, pode-se constatar ainda, que existe até a presente data 17 Leis

Municipais que alteram a Lei Municipal nº. 2859/87, ou seja, que excluem determinadas árvores da

proteção de imunidade ao corte. Através desta análise pode-se quantificar e tabelar as informações

Page 13: O PATRIMÔNIO NATURAL TOMBADO NO MUNICÍPIO DE SANTA … · PROBLEMATIZANDO QUESTÕES PARA A EDUCAÇÃO E A GESTÃO PÚBLICA Autor: Lenise Xavier dos Santos, Mestranda do Curso de

nelas contidas e expressar, os principais motivos para autorização das árvores imunes, da seguinte

maneira:

Figura 05: Gráfico ilustrativo dos principais motivos das alterações na Lei Municipal nº. 2859/87 Fonte: Santa Maria, Lei Municipal nº. 2606/83 e nº. 2859/87. Org.: SANTOS, L. X., 2008.

Pode-se concluir que, a maioria das exclusões de proteção de imunidade ao corte deve-se ao

fato de muitas árvores consideradas patrimônio natural de Santa Maria apresentarem riscos a pessoas

e/ou material, seja por péssimas características fitossanitária ou por estarem em local inadequado. Este

fato leva a crer que os critérios de localização e sanidade, como promulga o Projeto que originou a Lei

Municipal nº. 2859/87 não foram realmente observados. Conclui-se também que algumas árvores já

estavam em processo de senecência quando do ato do tombamento. Tal fato é agravado devido a Lei

não deixar claro a quem cabe a responsabilidade pelas espécies.

Também pode-se considerar que houve modificações, em alguns terrenos, posteriores ao

tombamento; fato este que acabaram deixando algumas árvores em “local inadequado”, assim pode-se

dizer que, o Poder Público Municipal, ao autorizar tais modificações não levou em consideração estas

árvores.

Page 14: O PATRIMÔNIO NATURAL TOMBADO NO MUNICÍPIO DE SANTA … · PROBLEMATIZANDO QUESTÕES PARA A EDUCAÇÃO E A GESTÃO PÚBLICA Autor: Lenise Xavier dos Santos, Mestranda do Curso de

4. 2. 2. 3 Árvores cortadas ilegalmente

Nos endereços que abrigavam árvores imunes ao corte em Santa Maria, averiguou-se que

algumas destas árvores já não existem mais, e que o corte destas espécies deu-se sem legislação que

permitisse tal ato; logo, estas árvores foram cortadas de modo ilegal.

Desta forma, agregando as duas Leis Municipais que tornam imunes árvores de Santa Maria,

pode-se, dizer, que no total já existiram 85 árvores consideradas como patrimônio natural de Santa

Maria, mais o bosque do estabelecimento do Convento São Francisco de Assis. Destas, muitas já

foram cortadas com a aprovação do Poder Público Municipal, e outras foram cortadas sem a devida

apreciação do Poder Público, logo, cortadas de forma ilegal.

A situação destas árvores pode ser observada no gráfico (figura 06):

Figura 06: Gráfico ilustrativo da observância das Leis Municipais para a proteção de indivíduos tombados.

Fonte: Santa Maria, Lei Municipal nº. 2606/83 e nº. 2859/87. Org.: SANTOS, L. X., 2008.

Através da figura 06, percebe-se que, ao passo que quase metade das árvores tornadas imunes

ao corte ainda existem, quase 30% da outra metade restante foram cortadas ilegalmente, fato que se

agrava devido ao Poder Público Municipal não aplicar as penalidades cabíveis, penalidades estas

pouco claras ao realizar a leitura das Legislações em vigor, uma vez que apenas a Lei Municipal nº.

2506 de 1993 faz alusão em seu artigo 4º ”Aos infratores do que determina esta lei serão aplicadas

multas de 300 a 1000 Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional ORTN’s.”. Na Lei Municipal nº

2859 de1987 nada consta sobre multa aplicável a quem elimina árvores imunes ao corte.

Não deve ser negligenciada aqui a informação, obtida através de diálogos, informais, com

membros da equipe técnica da Secretaria de Município de Proteção Ambiental, de que o proprietário

Page 15: O PATRIMÔNIO NATURAL TOMBADO NO MUNICÍPIO DE SANTA … · PROBLEMATIZANDO QUESTÕES PARA A EDUCAÇÃO E A GESTÃO PÚBLICA Autor: Lenise Xavier dos Santos, Mestranda do Curso de

do terreno que abrigar espécie arbórea tombada, obtém isenção parcial do Imposto Predial Territorial

Urbano – IPTU. Esta isenção parcial é proporcional à área máxima da sombra da árvore projetada no

terreno. No entanto, este benefício delegado aos proprietários de terrenos com vegetação imune, não

está expresso nos Projetos de Lei ou nas Leis Municipal referente ao tema.

2.3 A cartilha

Sendo um dos objetivos propostos para este trabalho, desenvolveu-se um instrumento didático

voltado ao Ensino Fundamental, que traduz pedagogicamente os resultados obtidos. Este instrumento é

constituído de uma cartilha (figura 07).

Figura 07: Capa da cartilha elaborada durante o desenvolvimento deste trabalho. Elab.: SANTOS, L. X., 2008.

A busca por estratégias de ensino e metodologias que estimulem a participação do educando e

tornem o entendimento do conhecimento uma atividade mais interessante, deve ser uma preocupação e

merece especial atenção por parte dos educadores.

Quanto a este fato, Barbosa et al (2004) esclarece que:

Cartilhas temáticas têm sido utilizadas como material de apoio pedagógico, principalmente pelos professores do ensino fundamental. [...] com relação à problemática ambiental, abordam diferentes aspectos da questão ambiental como erosão, água, proteção das nascentes, reciclagem, lixo, agenda 21 dentre outros. (p.2)

Convém salientar que esta cartilha foi concebida partindo do princípio que as metodologias a

serem utilizadas em sala de aula levem em conta a vivência e a realidade do aluno, contribuindo desta

forma, para que o ensino se transforme num processo de preparação integral do indivíduo para a vida

em sociedade, através da conscientização de que os aspectos abordados fazem parte do ambiente do

aluno e não numa esfera distante e separada do local onde ele vive.

Page 16: O PATRIMÔNIO NATURAL TOMBADO NO MUNICÍPIO DE SANTA … · PROBLEMATIZANDO QUESTÕES PARA A EDUCAÇÃO E A GESTÃO PÚBLICA Autor: Lenise Xavier dos Santos, Mestranda do Curso de

É nesse contexto que o professor tem o importante papel de mostrar e conscientizar os alunos

das suas ações como agente transformador do ambiente, e de como ele pode contribuir para a busca de

soluções para vários problemas de sua comunidade. Assim, o professor pode, com uso de cartilhas,

como esta aqui desenvolvida, contribuir para a formação de seus alunos como cidadãos pensantes e

atuantes na preservação do ambiente a sua volta, atendendo desta forma, às recomendações da

proposta de ensino manifestadas nos PCNs.

A produção deste material leva em consideração a proposta de ensino que insere a Educação

Ambiental como tema transversal, e que deve ser abordado por um processo de inovação educativa que

envolve tanto os professores como alunos e a comunidade, ou seja, o conjunto do coletivo escolar e

também as instâncias decisórias. (Barbosa et al, 2004). Sendo assim, os aspectos abordados neste tema

transversal devem basear-se no paradigma educacional que considera os aspectos sociais, culturais,

econômicos e ecológicos na realidade local.

Assim este instrumento pedagógico não foi elaborado para ser utilizado apenas durante as aulas

de Geografia, mas sim a todos os componentes curriculares, nos momentos em que estas estiverem

trabalhando com a Educação Ambiental.

Durante a produção deste material didático procurou-se contemplar três pontos:

A importância da vegetação urbana. Apresentada por um personagem (uma simpática arvorezinha),

criado especificamente para este trabalho, que conduz o processo explicativo de maneira clara e

objetiva (figura 08).

Figura 08: Quadro com as arvorezinhas concebidas para conduzir o processo explicativo na cartilha. Elab.: VASQUES, F. E. S; SANTOS, L. X., 2008.

Uma apresentação das árvores imunes ao corte do município de Santa Maria (RS). Esta

apresentação ocorre através de um mapa que contém a localização da vegetação tombada, e

também por características gerais, endereços e fotos destas árvores.

Problematização, que ocorre através de uma denúncia, que conduz os alunos a refletirem sobre a

relação entre as árvores que ainda existem e como ocorreu o corte das demais árvores tornadas

imunes pelo Poder Público Municipal.

Page 17: O PATRIMÔNIO NATURAL TOMBADO NO MUNICÍPIO DE SANTA … · PROBLEMATIZANDO QUESTÕES PARA A EDUCAÇÃO E A GESTÃO PÚBLICA Autor: Lenise Xavier dos Santos, Mestranda do Curso de

Com isso, espera-se que a utilização deste método lúdico, durante a Educação Ambiental, possa

transformar “o aprender” numa atividade atrativa, além de contribuir para o desenvolvimento do

espírito crítico dos alunos, e estimule discussões acerca da importância da preservação e manutenção

da vegetação urbana.

3. Conclusões

Durante a realização deste trabalho, pode-se aferir que as duas legislações municipais em vigor,

que vêm a proteger quanto ao corte árvores de Santa Maria, já contiveram no mínimo, 85 indivíduos

tombados, ou seja, considerados patrimônio natural desta cidade. Refere-se aqui o termo “no mínimo”,

uma vez que para efeitos de quantificações desconsidera-se o bosque do Convento São Francisco de

Assis, na Avenida Medianeira. Destas 85, 42 ainda existem e 18 foram cortadas com leis municipais

que revogam as Leis nº. 2506 de 1993 e nº. 2859 de1987, logo, cortadas com autorização do Poder

Público Municipal. E outras 25 foram cortadas sem Leis Municipais posteriores as dos anos 1983 e

1987, tendo sido, portanto, cortadas ilegalmente. Salienta-se, quanto ao bosque da Avenida

Medianeira, que este encontra-se apenas parcialmente preservado, e as árvores que dele foram

cortadas, o foram de forma ilegal.

Esta situação observa-se com clareza através do mapa elaborado para este trabalho, e nos

gráficos gerados a partir da análise das legislações municipais que remetem à proteção de espécies

arbóreas de Santa Maria.

Desta forma o mapeamento revelou-se importante, no sentido de pontuar as três classes

(árvores ainda existente, árvores cortadas com autorização do poder público municipal e árvores

cortadas ilegalmente) diagnosticadas ao analisar a observâncias das Leis.

Das árvores ainda existentes, através de visitas aos endereços das mesmas, pode-se inferir que a

maioria destas apresenta graves problemas fitossanitários, demonstrando falta de manejo adequado

dispensado a estas árvores, fato este que acaba por colocar em risco a segurança de pessoas e também

a bens materiais que convivem ou encontram-se próximos a estas árvores. Desta forma, estas árvores

deixam de proporcionar benefício à sociedade. Este fato também explica a percepção ruim que muitas

pessoas têm para com as árvores tombadas.

Quanto a este fato, cabe ressaltar que o material didático-pedagógico foi elaborado na intenção

de contribuir para esclarecer à importância de se observar as características que as árvores assumirão

quando adultas. Desse modo, espera-se que estas árvores não se transformem em problemas, mas sim,

venham a garantir a qualidade de vida à população. Buscou-se também, com o material didático, criar

uma aproximação entre os estudantes e a vegetação urbana, por meio da criação de um personagem

capaz de conduzir o processo explicativo.

Fato curioso que se observou durante o campo deste trabalho, é que houve casos onde alguns

proprietários ou administradores de imóveis que abrigam indivíduos tombados, desconheciam a

Page 18: O PATRIMÔNIO NATURAL TOMBADO NO MUNICÍPIO DE SANTA … · PROBLEMATIZANDO QUESTÕES PARA A EDUCAÇÃO E A GESTÃO PÚBLICA Autor: Lenise Xavier dos Santos, Mestranda do Curso de

existência de tal proteção, como foi o caso da Escola Estadual de Ensino Fundamental Marieta

D’ambrósio, onde ninguém da administração escolar sabia que o Angico-pururuca que lá existe é

imune ao corte; a exemplo deste, houve outros casos de proprietários de imóveis particulares.

Observou-se também que, mesmo com o intuito de atender ao artigo 7º do Código Florestal

Brasileiro (apud Projeto de Lei nº 3562), que viabiliza a declaração de imunidade ao corte por motivos

de “... localização, raridade, beleza, ou condição de porta-semente.”, tal artigo não foi observado uma

vez que constatou-se a presença de algumas árvores protegidas situadas em locais inadequados.

Quanto aos critérios adotados para a inserção de algumas espécies arbóreas também foram

constatados fatos intrigantes, como por exemplo, o que determinou o tombamento de algumas árvores

de determinada espécie, enquanto outras, presentes no mesmo local, ou próximo, e da mesma espécie,

não são protegidas.

Constatou-se, ainda, que nenhuma espécie arbórea imune ao corte encontra-se em vias

públicas, como praças, avenidas ou passeios públicos, mas sim no interior de terrenos públicos ou

privados.

Para o corte de árvores protegidas, o principal motivo que levou o Poder Público a autorizar

este fato, foi novamente a localização destas árvores, uma vez que a maioria das justificativas para o

corte foi a localização inadequada das mesmas, que vinha a por em risco população e os bens materiais

próximo a estas árvores.

A questão da especulação imobiliária tornou-se mais evidente somente ao analisar as árvores

cortadas ilegalmente.

Sabe-se que a manutenção adequada das florestas urbanas exige onerosos recursos financeiros

(Magalhães e Crispim, 2003), no entanto, os benefícios que este tipo de floresta proporciona à vida

urbana da população, devem sobrepujar os motivos econômicos.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARBOSA, P. M. M.; ALONSO, R. S.; VIANA, F. E. C. Aprendendo ecologia através de cartilhas. In: 7º Encontro de Extensão da Universidade Federal de Minas Gerais 2004, Belo Horizonte. Anais eletrônicos... Belo Horizonte: UFMG, 2004. Disponível em: <http://ufmg.br/arquivos/anais/>. Acesso em: 16 nov. 2008.

CALLAI, H. C. Estudar o lugar para compreender o mundo. In: CASTROGIOVANNI, A. C. Ensino de Geografia. 5. ed. Porto Alegre: Mediação, 2006. 83 – 134p. CATROGIOVANNI, A. C. O misterioso mundo que os mapas escondem. In: CASTROGIOVANNI, A. C. et al. (Org.). Geografia em sala de aula: práticas e reflexões. 2. ed. Porto Alegre: Ed da UFRGS/AGB – Seção POA, 1999. p. 31 – 55. CASTROGIOVANNI, A. C. Apresentação e compreensão do espaço geográfico. In: CASTROGIOVANNI, A. C. Ensino de Geografia. 5. ed. Porto Alegre: Mediação, 2006. 11 – 81p.

Page 19: O PATRIMÔNIO NATURAL TOMBADO NO MUNICÍPIO DE SANTA … · PROBLEMATIZANDO QUESTÕES PARA A EDUCAÇÃO E A GESTÃO PÚBLICA Autor: Lenise Xavier dos Santos, Mestranda do Curso de

CAVALVANTI, L. S. Geografia, escola e construção do conhecimento. 9. ed. Campinas: Papirus, 1998. 192p. (Coleção Magistério: Formação e trabalho pedagógico). MAGALHÃES, L. M. S; CRISPIM, A. A. Vale a pena plantar e manter árvores e florestas na cidade? Ciência Hoje, v. 33, n 193, p. 64 – 68, 2003. SANTA MARIA. Lei n. 2506, de 19 de outubro de 1993. Torna imune ao corte determinadas espécies de árvores da cidade e dá outras providências. Disponível em: <http://www.camara-sm-rs.gov.br>. Acesso em: 26 abr. 2008. . Lei n. 2859, de 11 de junho de 1987. Declara imune ao corte 73 árvores ornamentais, localizadas em ruas de nossa cidade. Disponível em: <http://www.camara-sm-rs.gov.br>. Acesso em: 26 abr. 2008. . Projeto de Lei nº. 3562. Arquivo Geral da Câmara de Vereadores, 1987. . Projeto de Lei nº. 4866. Arquivo Geral da Câmara de Vereadores, 1994. SILVA FILHO, D. F. Silvicultura Urbana – O Desenho Florestal da Cidade. Disponível em: <http://www.Ipef.br/sivicultura/urbana.asp>. Acesso em: 14 abr. 2008.