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O pensamento africano de Cheikh Anta Diop: elementos para incluir o componente histórico nos currículos de ciências e re-educar relações étnico-raciais 1 Thiago Leandro da Silva Dias [email protected] Universidade Federal da Bahia Claudia Alencar Serra e Sepulveda [email protected] Universidade Estadual de Feira de Santana Juan Manuel Sánchez Arteaga [email protected] Universidade Federal da Bahia Introdução Partindo da necessidade de aprofundar questões históricas, epistemológicas e curriculares no Ensino de Ciências capazes de tornar real o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana e a Educação das Relações Étnico-Raciais nas escolas, pretendemos realizar um ensaio teórico que fundamente a construção e aplicação de Materiais Curriculares Educativos (MCE) a partir da seleção e análise histórica de fatos e aspectos do pensamento africano moderno, tendo como foco a produção científica e sócio-histórica de Cheikh Anta Diop. Estimular práticas educativas nesse sentido é romper o silenciamento sobre a contribuição da matriz civilizatória dos povos africanos e afrodescendentes para a ciência e tecnologia, ao invés de privilegiar uma “história única” que coloca a ciência em geral como um atributo essencialmente ocidental, desconsiderando o fato de que, assim como a humanidade, as primeiras civilizações, os primeiros passos da ciência, foram dados no continente africano (DIOP, 1974; MACHADO, 2014). Além disso, tal abordagem é uma 1 Agradecemos ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq-Brasil) pelo apoio financeiro ao projeto de pesquisa “Investigação Colaborativa sobre Materiais Curriculares Educativos para as Relações Étnico-Raciais baseados na história do Racismo Científico”.

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O pensamento africano de Cheikh Anta Diop: elementos para incluir o componente

histórico nos currículos de ciências e re-educar relações étnico-raciais1

Thiago Leandro da Silva Dias

[email protected]

Universidade Federal da Bahia

Claudia Alencar Serra e Sepulveda

[email protected]

Universidade Estadual de Feira de Santana

Juan Manuel Sánchez Arteaga

[email protected]

Universidade Federal da Bahia

Introdução

Partindo da necessidade de aprofundar questões históricas, epistemológicas e

curriculares no Ensino de Ciências capazes de tornar real o Ensino de História e Cultura

Afro-Brasileira e Africana e a Educação das Relações Étnico-Raciais nas escolas,

pretendemos realizar um ensaio teórico que fundamente a construção e aplicação de

Materiais Curriculares Educativos (MCE) a partir da seleção e análise histórica de fatos e

aspectos do pensamento africano moderno, tendo como foco a produção científica e

sócio-histórica de Cheikh Anta Diop.

Estimular práticas educativas nesse sentido é romper o silenciamento sobre a

contribuição da matriz civilizatória dos povos africanos e afrodescendentes para a ciência

e tecnologia, ao invés de privilegiar uma “história única” que coloca a ciência em geral

como um atributo essencialmente ocidental, desconsiderando o fato de que, assim como a

humanidade, as primeiras civilizações, os primeiros passos da ciência, foram dados no

continente africano (DIOP, 1974; MACHADO, 2014). Além disso, tal abordagem é uma

1 Agradecemos ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq-Brasil) pelo

apoio financeiro ao projeto de pesquisa “Investigação Colaborativa sobre Materiais Curriculares Educativos

para as Relações Étnico-Raciais baseados na história do Racismo Científico”.

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forma de educar relações étnico-raciais com base na História da Ciência, levantando e

problematizando questões históricas, filosóficas, sociológicas e culturais da ciência.

O intelectual senegalês Cheikh Anta Diop empregou toda disciplina e rigor

científico para demonstrar e provar suas principais conclusões, mesmo vivendo em um

contexto extremamente hostil às suas ideias de reavaliar e reconstruir o passado africano

de modo a produzir uma visão mais ampla sobre a contribuição e protagonismo da

população negra. Suas teses vêm sendo validadas teórica e empiricamente por vários

campos do conhecimento científico, reiterando não apenas que a humanidade nasceu na

África, como também que os negros africanos estão entre os primeiros a construir

civilizações humanas e erigiram as bases da própria civilização ocidental

(NASCIMENTO, 2008). O estudo de suas produções reverbera o que tem se denominado

contemporaneamente de pensamento africano moderno, emergido durante os períodos da

colonização europeia, descolonização e reorganização das sociedades africanas, ao longo

dos séculos XIX/XX, onde diversos intelectuais nascidos na África apropriaram-se de um

vasto conjunto de referenciais teóricos, conceituais e metodológicos, empregando-os para

expressar a posição de seus coetâneos em relação ao mundo (MACEDO, 2016).

Nesse sentido, para produzir Materiais Curriculares Educativos (MCE) no Ensino

de Ciências a partir da análise histórica de aspectos do pensamento africano moderno,

utilizaremos uma abordagem da pesquisa de design educacional (educational design

research). Os resultados dos estudos em História das Ciências irão produzir

conhecimentos esperados em uma fase preliminar da pesquisa em desenvolvimento,

juntamente com resultados de estudos já desenvolvidos a partir dos quais foi produzida

uma matriz de objetivos educacionais para trabalhar pedagogicamente relações étnico-

raciais (DIAS, 2017), resultando assim na proposição de heurísticas de design e

construção dos primeiros protótipos dos MCE a serem aplicados e avaliados em

contextos de ensino. Sendo assim, como uma das etapas dessa proposta de pesquisa,

objetivamos com esta escrita realizar um ensaio teórico sobre o potencial que o

pensamento de Diop apresenta para o desenvolvimento de um caso com base no qual

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podem ser formulados MCE voltados para educação das relações étnico-raciais no ensino

de ciências, integrada a uma abordagem da história e filosofia das ciências.

História da Ciência e Relações Étnico-raciais no Ensino de Ciências

Considerações sobre a importância e necessidade de integrar abordagens e

conteúdos históricos, sociológicos e filosóficos aos currículos de ciências, tem sido

recorrentes na literatura e associadas ao interesse crescente pelo ensino contextual de

ciências, sobretudo a partir da década de 1970. A despeito de tal importância, Teixeira et

al. (2012) ressalvam que há poucos trabalhos que fornecem corroboração empírica para

tal integração, reiterando a necessidade de realizar e investigar intervenções educacionais

com uso de História e Filosofia da Ciência (HFC), a fim de compreender melhor, em

situações concretas de sala de aula, qual a real contribuição que a HFC pode oferecer ao

ensino e aprendizagem das ciências.

Aprofundando o estudo sobre as definições do que exatamente compreende a

História da Ciência nos currículos, MCcomas (2011) organizou uma tipologia de

abordagens do conteúdo histórico no ensino, a partir de uma ampla revisão de literatura,

destacando, por exemplo, abordagens baseadas em interações dos estudantes com obras

originais, ou com estudos de caso, histórias e outras ilustrações, assim como com

biografias e autobiografias de cientistas e suas descobertas. A proposta de ensino e

pesquisa que estamos apresentando, está alinhada à uma abordagem inclusiva da História

da Ciência nos currículos científicos (MATTHEWS, 1992, PRESTES; CALDEIRA,

2009), que trata da introdução de episódios históricos específicos (ou estudos de caso de

História da Ciência) em unidades pedagógicas. Especificamente, apresentamos uma

proposta de desenvolver um caso com base na história da produção do pensamento

africano moderno, que possa estruturar o planejamento de uma intervenção de ensino de

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ciências, que além, e de forma integrada a abordagem histórica, filosófica e sociológica

das ciências, promova educação das relações étnico-raciais.

Historicamente, o uso do conceito de raça para descrever a variabilidade humana

esteve fortemente relacionado ao desenvolvimento da antropologia, etnologia e das

tecnociências biomédicas, ao tempo em que práticas e discursos produzidos por essas

ciências estiveram envolvidos em processos de hierarquização e marginalização de

grupos humanos, e mesmo legitimaram o extermínio de grupos étnico-raciais e sociais

por outros grupos que impunham sua dominância política, econômica e social. Em todo o

século XIX, por exemplo, um período marcado pelo imperialismo e guerras coloniais, os

conceitos relativos ao pensamento darwinista contribuíram para mistificar cientificamente

determinadas hierarquias raciais no imaginário coletivo do mundo ocidental (SÁNCHEZ-

ARTEAGA, 2017). Exemplos históricos de racismo científico mostram que a subjugação

de diferentes comunidades humanas sob bases científicas tem sido uma prática recorrente

nas ciências biomédicas (SÁNCHEZ-ARTEAGA; SEPULVEDA; EL-HANI, 2013),

inclusive, na contemporaneidade (SÁNCHEZ-ARTEAGA et al., 2015).

A análise histórica das potencialidades do discurso tecnocientífico para a

marginalização de determinadas comunidades, como no caso do racismo científico,

fortalece o argumento para a defesa da inclusão de mais conteúdos históricos, filosóficos

e sociológicos a respeito da ciência nos currículos. Segundo Matthews (1992), tanto a

teoria como, particularmente, a prática do ensino de ciências, podem ser enriquecidas

pelas informações colhidas da história e da filosofia da ciência.

A abordagem educacional a partir dessa perspectiva, abre caminhos no Ensino de

Ciências para implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das

Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana

(BRASIL, 2004), envolvendo um esforço de trabalho pedagógico que procura desafiar as

estruturas sociais, políticas e epistêmicas da colonialidade2, que mantêm padrões de

2 A colonialidade se refere a um padrão de poder que emergiu como resultado do colonialismo moderno,

mas em vez de estar limitado a uma relação formal de poder entre dois povos ou nações, se relaciona à

forma como o trabalho, o conhecimento, a autoridade e as relações intersubjetivas se articulam entre si

através do mercado capitalista mundial e da ideia de raça (MALDONADO-TORRES, 2007). Graças à

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poder enraizados na racialização, no conhecimento eurocêntrico e na inferiorização de

alguns seres (WALSH, 2009). Tal esforço, conforme a autora, no campo educativo,

incentiva os debates em torno do problema da ciência em si, isto é,

a maneira através da qual a ciência, como um dos fundamentos centrais

do projeto modernidade/colonialidade, contribuiu de forma vital ao

estabelecimento e manutenção da ordem hierárquica racial, histórica e

atual. (WALSH, 2009, p.24)

Esse enfoque se constitui como um projeto alternativo ao racismo epistêmico e à

colonialidade do ser, do saber e do poder, o que compreende a denominada pedagogia

decolonial (WALSH, 2009; OLIVEIRA; CANDAU, 2010).

A relevância de incluir, na agenda de pesquisa da área, e nos currículos, as

interfaces entre educação científica e educação das relações étnico-raciais é defendida

por Douglas Verrangia (2014), que levanta questões prioritárias do ponto de vista dessa

diretriz educacional, incluindo os estudos sobre o papel que as ciências naturais tiveram,

e ainda têm, na construção de relações sociais e étnico-raciais injustas, como é o caso dos

diversos processos de alterização3 recorrentes na História das Ciências (SÁNCHEZ-

ARTEAGA et al, 2015). Outra temática de pesquisa relevante e ainda pouco explorada

no Brasil, segundo Verrangia (2014), envolve as relações entre História e Filosofia das

Ciências Naturais e História e Cultura Africana e Afro-brasileira, destacando a

necessidade de sistematizar as contribuições de africanos e afrodescendentes para as

Ciências Naturais e produzir matérias didáticos para compreender de forma mais acurada

a própria História da Ciência moderna, sua origem nos chamados povos antigos, e, nesse

contexto, os vários grupos africanos que contribuíram para a produção de conhecimentos

e tecnologias.

colonialidade, a Europa pode produzir as ciências humanas como modelo único, universal e objetivo na

produção de conhecimentos, além de deserdar todas as epistemologias da periferia do ocidente

(OLIVEIRA; CANDAU, 2010). 3 Refere-se a processos pelos quais determinados grupos étnicos, sociais, culturais e/ou políticos assumem

uma visão idealista de si mesmos como norma, padrão ou modelo de normalidade (SÁNCHEZ-

ARTEAGA; EL-HANI, 2012), a partir do qual julgam e descrevem e categorizam outros grupos humanos

não só como “diferentes”, mas como anormais, ou mesmo, inferiores, gerando segregação e

marginalização.

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Sendo assim, ao invés de apenas abordar a existência e impacto do racismo

científico como contribuição para inclusão do componente histórico nos currículos de

ciências em diálogo com o processo de re-educação das relações étnico-raciais, é profícua

a contextualização de tais currículos com aspectos do pensamento africano moderno e de

sua relação com a própria história e historiografia da ciência, tendo como foco a

produção e contribuição científica de Cheikh Anta Diop - químico, físico, antropólogo,

arqueólogo e historiador senegalês, que desafiou alguns dos conceitos mais básicos da

ciência, ao demonstrar, com rigorosa pesquisa científica conduzida de acordo com os

padrões metodológicos da época, a origem africana da humanidade e da própria

civilização ocidental (NASCIMENTO, 2008).

Investigando tais temáticas de pesquisa e desenvolvendo propostas e ações

educativas, tem sido desenvolvido um projeto com apoio do Conselho Nacional de

Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) que envolve a colaboração entre

pesquisadores e estudantes de graduação e pós-graduação de duas universidades públicas

baianas e professores-pesquisadores da educação básica na investigação de inovações

voltadas para a educação das relações étnico-raciais baseada na história do racismo

científico. Essa colaboração teve início a partir da construção autoral-coletiva da

exposição “Ciência, Raça e Literatura” que, desde 2013, tem sido apresentada ao público

em geral, professores e estudantes da educação básica e ensino superior, e, em processo

de itinerância por museus, escolas e universidades, encontra-se em sua décima terceira

edição.

Ao longo da itinerância, a exposição tem sido alimentada por estudos da história

do racismo científico do passado e do presente, e recentemente tem embasado o

desenvolvimento de Materiais Curriculares Educativos (MCE)4 orientados tanto por

4 O uso do termo material curricular educativo (MCE) foi proposto por Davis e Krajcik (2005) para

designar materiais curriculares que não se preocupam exclusivamente com a aprendizagem de estudantes,

mas são, também ou prioritariamente, planejados para promover a aprendizagem de professores. Têm como

características distintivas apoios aos professores por meio, por exemplo, de descrições do uso de

abordagens inovadoras em sala de aula, como narrativas, relatos de episódios, e de sugestões de como eles

podem ser transformados para melhor se alinharem com o conhecimento prévios, as experiências dos

estudantes (SCHNEIDER; KRAJCIK, 2002).

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estudos teóricos como empíricos, por meio de abordagens baseadas em pesquisa de

design. Como qualquer inovação educacional, o desenvolvimento de MCE deve ser

inicialmente baseado em uma compreensão teórica de seus objetivos, combinada com o

conhecimento experienciais sobre práticas bem sucedidas, e a medida que sues protótipos

sejam implementados, devem passar por refinamentos fundamentados por resultados de

investigação empírica (DAVIS; KRAJCIK, 2005).

As contribuições Científicas do Pensamento Africano Cheikhantiano

A ciência e tecnologia na África tem se desenvolvido desde os primórdios da

história humana (MACHADO, 2014), e o seu estudo deve reconhecer a proeminência dos

valores e das tradições, tanto no tocante à filosofia africana quanto em relação à ciência

africana (SILVÉRIO et al., 2013). Segundo Ambrósio e Diémé (2016), a África não

esperou o contato com o mundo árabe-muçulmano nem com o ocidente para dispor de

uma estrutura social, cultural, religiosa, política, técnica, filosófica e científica

consolidada. Em outras palavras, o continente africano é considerado berço da

humanidade e da própria civilização ocidental!

No entanto, até pouco tempo, a ideia de que o ser humano original fosse negro e

africano soava entre ridícula e absurda, e ao longo de séculos, a ciência ocidental

construiu uma série de teses que supostamente comprovavam que os africanos eram

criaturas inferiores e incapazes de criar civilizações (NASCIMENTO, 2008). Embora o

Egito seja milhares de anos mais velho que a antiga Grécia, e a maioria das realizações

dos antigos gregos tenha sido aperfeiçoada no Egito muitos séculos antes, “a ideia de que

uma nação africana pudesse realmente ter criado a civilização e repassado aos gregos era

simplesmente inadmissível” (FINCH III, 2009, p.73), por isso o esforço sistemático

erudito de construir e solidificar um conhecimento que situasse o Egito como não negro e

não africano, originário de outra civilização caucasoide.

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A cultura desenvolvida na Grécia clássica se formou a partir de uma amalgama de

componentes culturais diversos, entre os quais as influências dos fenícios e do antigo

Egito tiveram um papel fundamental. A historiografia ocidental - e também a

historiografia das ciências - se desenvolveu no seio de uma matriz de pensamento

eurocêntrica que, com o devir dos séculos, atravessou fases de descarnado racismo, e se

manifestou também numa seleção - consciente ou inconsciente - das fontes que iam ser

consideradas "canônicas" para ocidente, e no esquecimento ou negligência de outras que

também tiveram uma influência fundamental para os gregos. A própria construção da

ideia de cânone e sua identificação com determinados arquétipos helênicos foi marcante

na história da arte, da estética, da literatura, mas também das próprias ciências naturais,

na antropologia física por exemplo (cf. BINDMAN, 2002). A mesma situação acontece

quando estudamos o cânone filosófico, ou quando olhamos para a história do pensamento

religioso. A influência de antigas tradições orientais ou africanas, provenientes do Egito,

nas tradições filosóficas gregas dos gnósticos, no orfismo, nas religiões dos mistérios, no

pitagorismo, no platonismo-neoplatonismo e, finalmente, no cristianismo, é indubitável,

mas parece que todas essas correntes originárias fundamentais ficam esquecidas, fora do

foco no ensino da história do pensamento e da cultura ocidentais, na maioria dos casos.

Resgatar e trazer para o debate acadêmico essa herança negra fundamental foi uma das

grandes contribuições de Diop ao mundo científico e acadêmico.

Segundo Dr. Diop (1974), o ocidente não teria sido suficientemente objetivo para

ensinar corretamente a nossa história sem falsificações grosseiras. Nesse sentido, o autor

reitera que

[...] quando eles explicam seu próprio passado histórico ou estudam

suas línguas, aquilo parece normal. No entanto, quando um Africano faz

o mesmo para ajudar a reconstruir a personalidade nacional de seu

povo, distorcida pelo colonialismo, é considerado ultrapassado ou

alarmante. (DIOP, 1974, p.15)

Foi nesse sentido de que Diop dedicou-se, com sua determinação de recolocar o

Egito no contexto da história africana (FINCH III, 2009). Ele produziu um volume

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substancial de textos com o objetivo de propor, elucidar e demonstrar suas ideias e teses5,

dentre as quais podemos citar a que defende uma origem africana da humanidade e da

civilização ocidental, ao considerar a África como nascedouro do ser humano e berço da

civilização6.

Enquanto participante do comitê científico que dirigia, no âmbito da UNESCO7, a

redação de uma História geral da África, Diop escreveu o texto intitulado “A origem dos

antigos egípcios” como resultado de sua participação no Colóquio Internacional do Cairo

em 1974, onde apresentou e confrontou, juntamente com Théophile Obenga, seus

métodos e resultados com o de outros especialistas mundiais. Nesse simpósio, Diop e

Obenga, com argumentos históricos, antropológicos e linguísticos defenderam a hipótese

de origem africana da civilização egípcia, trazendo dados produzidos por eles, e de outros

estudiosos, de uma variedade de fontes: da antropologia física, dos estudos de

representações humanas do período proto-histórico, de testes de dosagem de melanina de

múmias provenientes das escavações de Marietta, no Egito, de análise de grupos

sanguíneos e considerações de autores clássicos da Antiguidade, como Heródoto (DIOP,

1983).

É importante destacar que as ideias defendidas por Diop ao longo de sua produção

sofreram diversas críticas, com opiniões controversas e especialistas defendendo teses

5 No período de 1959 a 1967, Diop publicou Unidade cultural da África negra (1959; 1962), África negra

pré-colonial (1960) e A anterioridade das civilizações negras (1967; 1993), trabalhos pioneiros que

introduziram uma nova abordagem analítica ao estudo do passado africano. Vale destacar também que em

1954 ele apresentou sua tese perante uma banca de doutorado, detalhando capciosamente as evidências de

uma origem africana da civilização egípcia - e a tese foi rejeitada, mas publicada em formato de livro sob o

título Nações negras e culturas (FINCH III, 2009). 6 Ressalta-se, que a defesa de tais ideias não é original do pensamento africano de Diop, valendo-se do fato

de que no século XIX o próprio Darwin tinha defendido essa hipótese da origem africana em termos

evolutivos. E dentro da comunidade negra, vários intelectuais anteriores a Diop tinham defendido as

origens africanas do ser humano, da civilização ocidental e a negritude dos Egípcios. Em relação a estes

primeiros autores negros, Bernal (1987) aponta que o pioneiro nesse esforço foi George G. M. James que

em 1954 publicou um livro intitulado “O legado roubado”, segundo o qual os gregos não eram os autores

da filosofia grega, mas sim o povo do norte da África, comumente chamados de egípcios. O livro do James,

a partir de uma pesquisa em fontes antigas, mostrava até que ponto os próprios gregos admitiram que

tinham tomado emprestado seu saber dos egípcios durante a Idade do Ferro (BERNAL, 1987, p. 435). Só

muito mais tarde, Cheikh Anta Diop escreveu prolificamente sobre o que ele viu como a integral relação

entre a África negra e o Egito, assumindo como verdadeiras as teses de James expostas no seu “Legado

Roubado”. 7 Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.

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opostas sobre a caracterização racial dos antigos Egípcios como sendo exclusiva ou

predominantemente “negros” em termos raciais fenotípicos8. Nesse sentido e importante

reconhecer e esclarecer que a ideia de um Egito fenotipicamente negro (1) é anterior a

Diop, (2) foi defendida por outros intelectuais negros antes dele, e (3) tem sido contestada

por outros especialistas contemporâneos, que defendem que a antiga civilização egípcia

surgiu como uma amalgama miscigenada de elementos genético/culturais de origem

semita, mediterrânea, asiática, e subsaariana9.

Como podemos perceber, Diop travou uma disputa no campo científico contra

ideias do mundo colonizador. Conforme apontam Diallo e Diallo (2008), ele combateu

ideias de teóricos como Voltaire, Hume, Hegel, Gobineau, Levy Bruhl e instituições

europeias que se empenhavam para justificar atos abomináveis legitimando, no plano

moral e filosófico, a inferioridade intelectual do negro e a visão de uma África sem

história, cujos habitantes nunca foram responsáveis por um único fato de civilização.

A África Negra, notadamente o Egito Antigo, serviu de exemplo inspirador para o

mundo em diversos aspectos. Diop cita a invenção da escrita, do calendário, da

arquitetura, os conhecimentos astronômicos e matemáticos, medicinais, dentre outros.

Suas obras evidenciaram que a África Negra foi um grande templo de conhecimento

científico (NASCIMENTO, 2008; FINCH III, 2009; AMBRÓSIO, DIÉMÉ, 2016).

Notada a singularidade do seu legado para ciência, vale ressaltar ainda que o autor

8 Em tempos recentes, alguns especialistas na história antiga da África admitem que o Egito teve sim uma

influência negra muito importante, mas que os elementos principais da antiga civilização egípcia se

originaram a partir de migrações asiáticas e não subsaarianas. Para estes outros autores contemporâneos, o

Antigo Egito exibe muitas semelhanças culturais e religiosas com a África subsahariana, porém não pela

difusão da África Subsaariana para o Egito nos tempos neolíticos, mas pelo movimento contrário,

carregando uma parcela significativa de genes asiáticos, bem como elementos culturais, religiosos e

linguísticos (cf. VAN BINSBERGEN, 2009). 9 A hipótese de que os antigos Egípcios não eram mais parecidos aos negros subsaarianos de hoje do que as

populações mediterrâneas atuais, tem sido defendida a partir de estudos genéticos. Em 2017 foi publicado

na Nature Communications um artigo que descreve a extração e análise de DNA de 151 indivíduos

egípcios antigos mumificados. Para os autores, essas amostras forneceram o primeiro conjunto de dados

confiáveis obtidos de antigos egípcios usando métodos de sequenciamento de DNA de alto rendimento,

demostrando que estes tinham maior afinidade genética relativa com as populações modernas do Oriente

Médio do que com os africanos subsaarianos. No entanto, havia um componente significativo da África

subsaariana na ancestralidade de cada múmia estudada, porém, com nível de ascendência

significativamente menor do que nos egípcios modernos (cf. SCHUENEMANN et al., 2017).

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traduziu parte da Teoria da Relatividade de Einstein para seu idioma nativo wolof e como

base para seus estudos, fundou o laboratório para datação de carbono 14, denominado

Instituto Fundamental da África Negra (IFAN), na Universidade de Dacar (atualmente

denominada Universidade Cheick Anta Diop) (figura 1).

Figura 1: Cheikh Anta Diop em seu laboratório no IFAN, em Dakar, Senegal (SILVÉRIO et al.,

2013).

Segundo Moore (2007), contar uma outra história da África é dar um estatuto

epistemológico aos povos subalternizados e deslocar o foco de constituição e dinâmica da

própria formação do ocidente europeu e da nação brasileira, assim como de todos os

povos da diáspora africana. A contribuição de Cheikh Anta Diop representa, sem sombra

de dúvida, um impacto profundo na epistemologia e na historiografia, ao defender e

promover, como bem recorda Ambrósio e Diémé (2016), “uma epistemologia negro-

africana da ciência, até então, desenvolvida por ocidentais” (AMBRÓSIO; DIÉMÉ,

2016: p. 99).

Considerações sobre a Produção de Materiais Curriculares Educativos com base em

episódios históricos sobre o intelectual Cheikh Anta Diop

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Os primeiros requisitos a serem observados na elaboração de um MCE dizem

respeito à sua acuidade, coerência e abrangência no que diz respeito ao conteúdo e à sua

eficiência em termos pedagógicos (DAVIS; KRAJCIK, 2005). Esperamos que este ensaio

teórico e outros resultados dos estudos em História das Ciências possam auxiliar nos

primeiros requisitos, no que se refere, especialmente, à acuidade do conteúdo; juntamente

com resultados de estudos já desenvolvidos em que fora produzida uma matriz de

objetivos educacionais10 para trabalhar pedagogicamente relações étnico-raciais (DIAS,

2017). A continuidade dessa pesquisa resultará assim na proposição de heuristicas de

design e construção dos primeiros protótipos dos MCE a serem aplicados e avaliados em

contextos de ensino.

Como destacado anteriormente, esta proposta de pesquisa parte de um contexto

investigativo mais amplo que tem se desenvolvido em torno da “Exposição Ciência, Raça

e Literatura”. É a partir de uma de suas unidades temáticas11 - contribuições científicas

da população africana e afro-brasileira - que pretendemos aprofundar o estudo para

produzir MCE. Nesta unidade (figura 2) são expostos, através de cartazes A4, resumos

biográficos e contribuições científicas de intelectuais negros, como Cheikh Anta Diop,

Ernst Everest Just, Lewis Howard Latimer, Benjamin Baneker, Rebecca J. Cole, além de

um artefato em madeira do professor Milton Santos, grande intelectual negro brasileiro.

Complementando esses elementos, foi elaborado um vídeo na segunda edição da

exposição (2013) sobre o Legado Científico, Tecnológico e Cultural Afro-brasileiro12,

10 Destacamos, preliminarmente, os seguintes objetivos derivados da referida matriz que subsidiarão a

produção e aplicação dos MCE: (I) Construir visão crítica sobre a África na superação de ideias

estereotipadas e reducionistas sobre sua conjuntura histórica, sociocultural, ambiental, política e

econômica, enfatizando a importância de perceber o continente africano como berço da humanidade e do

Egito africano como fonte da civilização ocidental; (II) Estimular a crítica a visões estereotipadas sobre as

falsas ideias de superioridade/inferioridade biológica/intelectual de certos grupos étnico-raciais em relação

aos outros; e (III) Difundir a história de produção de conhecimentos no continente africano, na diáspora e

dos povos indígenas brasileiros, que contribuíram para o desenvolvimento científico, tecnológico e cultural

da humanidade. 11 É possível visitar o acervo on-line contendo informações e registros dos materiais expositivos de cada

unidade temática: <https://expocrl.wixsite.com/acervo>. 12 Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=Zz6eJLnFxNc&feature=youtu.be>.

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contendo discursos sobre a história de produção do conhecimento no continente africano

no passado e sobre representantes contemporâneos deste legado no Brasil (DIAS, 2017).

Figura 2: Cenarização da unidade expositiva “contribuições científicas da população africana e

afro-brasileira”, 8ª edição da Exposição Ciência, Raça e Literatura (disponível em:

<https://expocrl.wixsite.com/acervo/contribuicao-do-povo-negro-e-indige?lightbox=dataItem-

j10y9hs3>).

Na tentativa de selecionar um episódio histórico específico que fundamente a

proposta de MCE em questão com base nos elementos discutidos no tecer dessa escrita,

percebemos o quão relevante seria desenvolver estudos não apenas de um episódio, mas

de variados casos sobre a contribuição científica do pensamento cheikhantiano, incluindo

os meandros dos debates acadêmicos relacionados à crítica e questionamento da sua obra,

assim como as rupturas e permanência do seu pensamento na contemporaneidade.

Acreditamos que são contribuições essenciais para abordagem histórica e filosófica no

contexto de ensino de ciências, considerando o fomento à crítica de concepções

equivocadas da atividade científica, ao demonstrar a relação intrínseca da Ciência aos

contextos histórico e cultural vigentes nos diferentes momentos, o que significa,

consequentemente, que o conhecimento científico atual é suscetível de ser transformado

(MATTHEWS, 1992). No contexto de ensino, ao ilustrar um caso em que uma nova

teoria ou proposta não é aceita prontamente, o professor terá subsídios para discutir em

Page 14: O pensamento africano de Cheikh Anta Diop: elementos para ...€¦ · contribuição da matriz civilizatória dos povos africanos e afrodescendentes para a ciência e tecnologia,

sala sobre os “modos em geral que levam à aceitação ou rejeição das teorias científicas”

(PRESTES; CALDEIRA, 2009: p.11), problematizando e superando as práticas

educativas que apresentam a ciência como uma retórica de conclusões onipotentes e de

origem e hegemonia ocidentais.

Toda essa produção é estopim para descolonizar tanto a História como o Ensino

de Ciências, e alenta novos processos, práticas e estratégias de intervenção educativa que

reconheçam e valorizem o continente africano como berço da humanidade e fonte da

civilização ocidental, e difundam a história de produção de conhecimentos em África e na

diáspora.

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