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Universidade Federal Fluminense Faculdade de educação (SFP) Ciência Política e Educação Matheus de Carvalho Leibão Conceitos do liberalismo e educação: indivíduo, propriedade e libe educação brasileira. Niterói 20! " #ensamento li$eral% como todas as &ormulaç'es ideoló ic a$stratamente em um va io *istórico+ ,ssim como o mar-ismo% o .e/nes entre outras doutrinas% o li$eralismo *istoricamente datado+ ,#esa utili ado desde o s culo 345% os #rimórdios do li$eralismo en6uanto estruturada advêm das revoluç'es in lesas do s culo 3544% tendo se e euro#eu #rinci#almente a #artir da revolução &rancesa no &inal do s + 7al doutrina o$teve rande relev8ncia no 6ue di res#eito 9 luta contra o a$soluti 1 ;4<,% <ic*ele Fernandes= >4?@A% ,lessandra= F,5,B"% Neide de ,lmeida ;anç alvão+ Liberalismo Clássico: "ri ens *istóricas e &undamentos $:sicos+ São CarlosD 5 ?isted$r% 200 + #+ +

O Pensamento Liberal

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Trabalho apresentado à disciplina "Ciência Política e educação" como requisito parcial para aprovação na mesma.Professor: Nicholas Davies

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Universidade Federal FluminenseFaculdade de educao (SFP)Cincia Poltica e Educao

Matheus de Carvalho LeiboConceitos do liberalismo e educao: indivduo, propriedade e liberdade na educao brasileira.

Niteri2015O pensamento liberal, como todas as formulaes ideolgicas, no se desenvolveu abstratamente em um vazio histrico. Assim como o marxismo, o keynesianismo, o fascismo, entre outras doutrinas, o liberalismo historicamente datado. Apesar de o temo liberal ser utilizado desde o sculo XIV, os primrdios do liberalismo enquanto corrente de pensamento estruturada advm das revolues inglesas do sculo XVII, tendo se expandido pelo continente europeu principalmente a partir da revoluo francesa no final do sculo XVIII[footnoteRef:1]. Tal doutrina obteve grande relevncia no que diz respeito luta contra o absolutismo monrquico e tambm no pensamento iluminista, mas segundo Andrew Heywood[footnoteRef:2], s se consolidou como uma doutrina poltica propriamente dita no sculo XIX. [1: LIMA, Michele Fernandes; WIHBY, Alessandra; FAVARO, Neide de Almeida Lana Galvo.Liberalismo Clssico:Origens histricas e fundamentos bsicos. So Carlos: VIII Jornada do Histedbr, 2008. p. 1.] [2: HEYWOOD, Andrew.Ideologias polticas:Do liberalismo ao fascismo. So Paulo: tica, 2010. p. 37.]

Assim como todo tipo de pensamento poltico-econmico-social, o liberalismo no pode ser encarado, de forma alguma, como se fosse uma corrente de pensamento homognea. Ao longo da histria, dentro do pensamento liberal, se desenvolveram uma srie de formas de pensamento que so bastante divergentes entre si, no que diz respeito economia, poltica, cultura, e tambm educao. O objetivo deste artigo discutir alguns aspectos do liberalismo de maneira geral, e adiante, problematizar as proposies de alguns pensadores liberais no que diz respeito ao papel da educao na sociedade a partir do texto de Alceu Ferraro[footnoteRef:3]. Infelizmente, dada as limitaes deste artigo, no ser possvel abordar todos os tipos de pensamento liberal, uma vez que este bastante vasto. Para isso, tornou-se necessrio fazer algumas selees. Sendo assim, sero trabalhadas temticas relacionadas aos conceitos de indivduo e liberdade para os liberais, alm da discusso sobre a funo do Estado em uma sociedade liberal. Ao fim, a educao ter um lugar de destaque, uma vez que sero expostas algumas vises divergentes em relao a ela por parte de algumas referncias para o pensamento liberal. [3: FERRARO, Alceu Ravanello.Liberalismos e educao:Ou porque o Brasil no podia ir alm de Mandeville.Revista brasileira de educao, Porto Alegre, v. 41, n. 14, p. 308-338. 05/2009.]

Primeiramente, um dos conceitos-chave para se compreender o liberalismo o de indivduo. Segundo Heywood[footnoteRef:4], os liberais defendem a primazia do indivduo. Tal defesa no foi formada a partir de uma mera abstrao, mas sim desenvolvida a partir de um contexto histrico bastante especifico. Tratava-se da formao da sociedade industrial capitalista. Diferentemente do modo de produo que havia precedido a industrializao e o capitalismo (o feudalismo), com o advento da revoluo industrial e a crescente urbanizao da sociedade europeia nos sculos que a seguiram, a individualidade do ser humano, segundo este autor, adquiriu um valor que muitas vezes negligenciado pelos estudiosos do assunto. No perodo feudal, por exemplo, o indivduo no era visto como a clula mais importante de uma sociedade, mas sim as famlias, os povoados, as comunidades locais e os estamentos. Isso significa dizer que as relaes sociais, alianas polticas e at as alianas matrimoniais aconteciam em decorrncia dos interesses familiares, coletivos ou estamentais e no em funo das motivaes individuais dos seres humanos. [4: HEYWOOD, op. cit. p. 40.]

Por individualismo, podemos entende-lo como uma forma de entendimento da sociedade que prima por uma importncia demasiada do indivduo em detrimento do corpo coletivo, ou social. Sendo assim, o indivduo estaria no centro de toda teoria scio-poltica ou explicao dos fenmenos individuais. Tal princpio geral levou aos liberais uma srie de diferentes explicaes sobre diversos fenmenos da sociedade, sendo uma radicalizao deste princpio, o que Heywood chamou de atomismo, isto , a crena de que a sociedade formada no por grupos sociais, mas por um conjunto de indivduos ou tomos autossuficientes e voltados para os prprios interesses[footnoteRef:5]. Tal crena baseou-se no pressuposto de que os seres humanos so, naturalmente, egostas e interesseiros. Outras vertentes do liberalismo no possuem a mesma viso de natureza comportamental do ser humano. No entanto, torna-se invivel explicitar todas as formas pelas quais essa noo de individualismo se desenvolveu dentro do pensamento liberal, uma vez que demandaria um trabalho de maior alcance que no cabe nos limites deste artigo. [5: Idem, p. 41]

Para Norberto Bobbio[footnoteRef:6], o liberalismo tem a potencialidade de se aproximar s ideias democrticas, uma vez que tanto o pensamento liberal quanto a democracia partem do mesmo ponto de partida: o indivduo. Isso se torna possvel j que o liberalismo considera o Estado como um conjunto de indivduos que atuam politicamente e que constroem o mundo a partir das relaes estabelecidas uns com os outros[footnoteRef:7]. [6: BOBBIO, Norberto.Liberalismo e democracia.4. ed. So Paulo: Brasiliense, 2000.] [7: Idem, pp. 45-46.]

Lima, Wihby e Favaro, ao evocar Bobbio, atentam para o fato de que, para os pensadores liberais, o Estado existe para assegurar a liberdade do indivduo. De maneira geral, os liberais pensam que os indivduos, em seus estados de natureza tornam-se refns uns dos outros, e assim, necessitam de um mecanismo que permita a cada indivduo exercer as suas liberdades, ainda que seja conferida a ela uma certa limitao. A esse mecanismo, damos o nome de Estado.Em linhas gerais, podemos dizer que para o pensamento liberal, seja ele clssico, neoliberal, social-liberal, qual seja, o Estado deve ter como um de suas principais funes garantir as liberdades individuais dos seres humanos. Em determinados contextos histricos por exemplo, tal funo pode ser consagrada como um direito inalienvel de todos os cidados, como por exemplo, na Revoluo Francesa de 1789.J que caberia ao Estado garantir a liberdade dos indivduos em uma sociedade, garantindo que um no interfira na liberdade do outro, torna-se necessrio responder ao seguinte questionamento: qual a noo de liberdade defendida pelo liberalismo? Tal pergunta se torna extremamente pertinente devido ao fato de que a liberdade, entendida de maneira genrica, defendida por praticamente todas as correntes poltico-ideolgicas formuladas pela sociedade ocidental. Resta ento entender o que liberdade para os pensadores liberais.Segundo Andrew Heywood[footnoteRef:8], a defesa da liberdade um princpio unificador para a ideologia liberal, sendo ela algo sem a qual a humanidade no poderia atingir a plena felicidade. A liberdade, no liberalismo defende que os indivduos tm o direito de fazer suas prprias escolhas, como, por exemplo, para onde ir, qual profisso seguir, onde morar, do que se alimentar, como se expressar entre outros fatores. Ainda segundo este autor, ao destacar John Stuart Mill um dos expoentes do pensamento liberal clssico ele afirma que este pensador possui uma postura libertria[footnoteRef:9], uma vez que s defende a imposio de limites liberdade do indivduo quando esta pe em risco a liberdade de outros indivduos. [8: HEYWOOD, op. Cit. p. 42] [9: Discordo da qualificao libertria denominada por Heywood, uma vez que identifico tais posturas nas ideias anarquistas, que, por mais que paream com as liberais primeira vista, so completamente distintas. A prpria obra de Heywood pode ser utilizada para descontruir tal qualificao dada por ele prprio.]

No entanto, um fator primordial para se entender o conceito de liberdade no liberalismo a sua relao com a propriedade. Historicamente, o conceito de liberdade esteve atrelado ao direito de propriedade privada no pensamento dos liberais. Dentro da perspectiva adotada neste artigo, considera-se que a defesa veemente da liberdade de propriedade privada e da livre iniciativa um fator aglutinante de todas as formas de pensamento liberal, mais at do que as liberdades de pensamento ou as demais ligadas vida cotidiana.Norberto Bobbio[footnoteRef:10] faz uma distino importante entre o que optou por chamar de liberais antigos e liberais modernos. Para aqueles, era mais importante ampliar a liberdade dos cidados de se fazerem representados dentro do aparelho de Estado, com vias de garantir direitos permanentes que quebrassem com as estruturas da sociedade do Antigo Regime, enquanto para aqueles, havia uma preocupao maior em garantir e preservar os frutos adquiridos a partir da propriedade privada.[footnoteRef:11] [10: BOBBIO, op. cit. ] [11: BOBBIO, op. cit. p. 8]

Sendo assim, pode-se dizer que a dimenso poltico-econmica ganhou historicamente, dentro do pensamento liberal uma importncia preponderante. Desta forma, a anlise deste tipo de corrente ideolgica se desloca agora para um foco na rea da economia e da poltica.O Liberalismo uma ideologia que veio a se tornar poltica econmica em boa parte dos pases capitalistas do sculo XIX. Esta doutrina era baseada nas ideias de que o Estado deveria ter uma autoridade central que se exerceria baseando-se em princpios e garantias polticas preestabelecidas, segundo Francisco Jos Soares Teixeira.Este autor, em sua obra intitulada "Neoliberalismo e reestruturao produtiva"[footnoteRef:12], trabalha com princpios de vrios pensadores, como John Locke, Thomas Hobbes e Adam Smith. No cabe aqui falar especificamente sobre as vises de mundo de cada um deles. No entanto, o autor mostra que os trs desenvolveram teorias para justificar a existncia do Estado, a sua relao com os indivduos e como deveria funcionar a economia. Em suma, o que cercava a discusso desses pensadores era principalmente o direito de propriedade privada, que, para o pensamento liberal, deve permanecer intacto e protegido pelo Estado. Alm disso, h a ideia de que o mercado deve se autorregular, ou seja, a interveno do Estado no vista com bons olhos. [12: TEIXEIRA, Francisco Jos Soares (Org.). Neoliberalismo e Reestruturao produtiva: as Novas Determinaes do Mundo do Trabalho. So Paulo: Cortez, 1996.]

Desde meados do sculo XIX at as primeiras dcadas do sculo XX, o liberalismo foi a ideologia dominante do capitalismo. No entanto, a crise de 1929 fez com que a prpria realidade jogasse um balde de gua fria na ideia de mercado autorregulado. Para sair da crise, o capitalismo precisou da interveno do Estado, que se prolongou por mais algumas dcadas. Como havia tambm a ameaa do socialismo sovitico, foi necessrio conceder aos mais pobres direitos e servios de mnima qualidade, criando o que se chamou de Estado de bem-estar social.Ao se desenvolver e se positivar enquanto poltica econmica e pensamento hegemnico[footnoteRef:13] na Europa, o liberalismo europeu se tornaria conhecido por diversas partes do mundo, em especial no continente americano, em grande parte devido aos inmeros processos de luta por independncia poltica em relao s antigas metrpoles que estavam sendo traadas na Amrica. No entanto, as sociedades americanas que lutavam por independncia no sculo XIX ou aquelas que j haviam se emancipado eram completamente distintas da sociedade industrial inglesa ou da Frana ps-revoluo. Era necessrio que as ideias que vinham de fora se adaptassem s realidades locais. [13: Falar em hegemonia significa analisar as formas de convencimento, de formao e de pedagogia, de comunicao e de difuso de vises de mundo, as diferentes modalidades de adestramento para o trabalho. Ver: FONTES, Virgnia. Intelectuais e mdia: Quem dita a pauta?. In: COUTINHO, Eduardo Granja et al.Comunicao e contra-hegemonia: Processos culturais e comunicacionais de contestao, presso e resistncia. Rio De Janeiro: Editora UFRJ, 2008. p. 145.]

Tratando especificamente do Brasil, o historiador brasileiro Roberto Schwarz identifica em sua obra As ideias fora do lugar[footnoteRef:14] uma contradio em parte da elite poltica e intelectual brasileira que se identificou com os pressupostos tericos que se tornavam dominantes do outro lado do oceano. Isso ocorria devido ao fato de que o liberalismo defendia, a partir do acmulo das discusses promovidas pelo pensamento iluminista e dos processos revolucionrios, sobretudo o francs, a igualdade jurdica entre os seres humanos. Para Schwarz, em uma sociedade escravocrata, historicamente marcada pela segregao e violncia contra os povos advindos da frica, ou afrodescendentes, o liberalismo encontraria aqui um terreno infrtil para se propagar. Dentro dessa lgica, defender o liberalismo na sociedade brasileira por parte das elites econmicas, polticas ou intelectuais acarretaria invariavelmente em um paradoxo. [14: SCHWARZ, Roberto.As ideias fora do lugar:Ensaios selecionados. So Paulo: Penguin Classics Companhia das letras, 2014.]

Por outro lado, a historiadora e professora da Universidade Federal Fluminense, Gizlene Neder[footnoteRef:15] no acredita que haja contradies entre o liberalismo e a posse de escravos na sociedade imperial brasileira. Segundo ela, como os escravos eram vistos por seus senhores como uma propriedade privada, eles viam a posse de escravos como um direito assim como a terra, entre outros bens que poderiam produzir riqueza. O liberalismo ento, pode ser utilizado como retrica para a manuteno de riquezas e privilgios previamente datados. [15: NEDER, Gizlene . Os Compromissos Conservadores do Liberalismo No Brasil. Rio de Janeiro: Achiame, 1979.]

Sendo assim, ao adentrar a sociedade brasileira, o liberalismo aqui praticado e pensado no poderia ser o mesmo daquele da sociedade europeia, haja vista que as condies materiais de produo eram distintas, a cultura e as mentalidades das elites brasileiras no eram as mesmas das elites europeias que adotaram o liberalismo para si, entre outros fatores que diferenciavam as sociedades. H de se fazer a ressalva, no entanto, de que o modelo poltico de organizao do Estado que aqui fora adotado a partir da constituio de 1824[footnoteRef:16] era um tanto parecido com muitos modelos europeus que eram contestados pelos liberais europeus, assim como pelos liberais brasileiros. [16: A constituio de 1824 no Brasil fora outorgada por D. Pedro I e instituiu o poder moderador, uma espcie de limitador independncia dos poderes legislativo e judicirio]

A inteno deste artigo demonstrar como, especificamente na sociedade brasileira, os liberais tenderam a desenvolver uma forma de pensar e pautar suas aes a partir de uma viso bastante focada na manuteno da propriedade privada e consequentemente, na manuteno de privilgios histricos obtidos por uma pequena parcela da populao muito antes de o liberalismo se formar enquanto doutrina.Para atingirmos tal objetivo, torna-se necessrio recorrer leitura do texto de Alceu Ferraro[footnoteRef:17]. Este autor faz uma clara diferenciao em seu artigo de trs divergncias internas do liberalismo no que diz respeito ao papel da educao. O autor escolheu trs dos principais pensadores liberais clssicos Adam Smith, Bernard Mandeville, e Marqus de Condorcet para assinalar as disputas em torno da educao, que sero a seguir, explicados. [17: FERRARO, op. cit.]

Para Bernard Mandeville (1670 1733), um povo que recebesse educao de qualidade seria necessariamente uma populao ameaadora, perigosa. Para este pensador, quanto mais instrudos fossem os mais despossudos, aumentaria a chance de que eles se insurgissem conta o poder estabelecido. Alm disso, acreditava que quanto mais um trabalhador se dedicasse aos estudos, menos diligente ele se tornaria no trabalho, o que poderia, inclusive, causar problemas econmicos.Alm disso, Mandeville acredita que a educao deveria estar a servio do mercado e ser regulada por ele. Isso implica dizer que a educao deveria ser 100% privada e s deveria ter acesso a ela quem obtivesse os meios para arcar com os custos de se pagar uma boa escola. Em suma, os trabalhadores mais empobrecidos deveriam estar alheios a tudo que no tivesse relao direta com o seu trabalho. importante frisas que quando feita a referncia aos trabalhadores, exclui-se necessariamente metade da populao, formada por mulheres, que dentro da lgica liberal de Mandeville, deveriam se dedicar aos afazeres domsticos. Ou seja, a liberdade defendida pelo liberalismo de Mandeville restrita aos seres humanos que pertencessem ao sexo masculino.J para Adam Smith (1723 1790), o Estado deveria provir o mnimo de educao bsica para todos os cidados, para que eles pudessem competir no mercado a partir de parmetros mais ou menos prximos, j que considerava a diviso social do trabalho ao mesmo tempo geradora de progressos e desigualdades. Sendo assim, o mnimo de instruo para todos seria uma forma de reparao das desigualdades geradas pela diviso social do trabalho. necessrio ressaltar que, para Smith, o mnimo de instruo seria habilitar a classe trabalhadora calcular, ler e escrever, basicamente. Alm disso, o principal expoente do liberalismo clssico, no defendia que o direito educao provida pelo Estado se estendesse s mulheres.Por fim, para o Marqus de Condorcet (1747 1794), a educao deveria ser comum a todos os indivduos, de carter pblico e obrigatrio. Este foi um dos principais idealizadores daquilo que viria a ser chamado de escola republicana.Um aspecto importante das formulaes de Condorcet que ele foi um dos primeiros pensadores dentro do campo do liberalismo, a defender a educao de carter laico, isto , independente da igreja, que dominava a maior parte das instituies de ensino de sua poca. Alm disso, defendeu o direito de as mulheres participarem das escolas da mesma maneira dos homens. Para ele, as escolas deveriam ensinar conhecimentos universais a todos os seres humanos, isto , mobilizaes de saberes que seriam teis a quaisquer profissionais. Ele tambm defendia que as escolas deveriam reconhecer as capacidades e potencialidades de cada estudante, afim de tirar proveito das relaes de ensino-aprendizagem, alm de ensinar contedo especfico que seria til a vida de cada um em sua futura profisso.Ferraro defende a ideia de que quando as ideias liberais chegam ao Brasil, a elite poltica que adere a elas est ligada posse da terra, de escravos e tambm ao aparelho de Estado, obviamente. A estrutura da sociedade brasileira pouco antes do sculo XIX marcada por um abismo social e racial, importante frisar que deixou suas consequncias que podem ser notadas at o momento em que este artigo escrito. Ento, para este autor, era e ainda caro ao Estado oferecer uma educao pblica, gratuita, laica e universal que nivele os indivduos, uma vez que grande parte da populao que veio a formar a classe trabalhadora brasileira advinda de famlias de trabalhadores que, historicamente, sempre foram vistos no como trabalhadores, mas simplesmente ferramentas de trabalho passveis de castigos fsicos e humilhaes morais.Ento, o reflexo do pensamento liberal adaptado s necessidades das elites polticas brasileiras teve fora poltica suficiente para perpetuar-se. Por mais que muitos educadores, ainda no sculo XXI lutem e reivindiquem diferentes pautas visando o fortalecimento da escola pblica que s pelo fato de existir, e at hoje ser gratuita, pode ser considerado uma vitria o Estado Brasileiro historicamente fez questo de garantir que a educao dos filhos de fazendeiros, industriais, banqueiros, grandes comerciantes e altos burocratas do Estado tenham uma educao diferenciada no sentido de gerar privilgios da educao dos filhos da classe trabalhadora. por isso, como afirmou Ferraro, Para o ultraliberalismo de todos os tempos, inclusive para aquele que leva o nome de neoliberalismo, o liberal Condorcet e seu princpio da igualdade continuam cheirando a socialismo. [footnoteRef:18]. [18: FERRARO, op. cit. p. 323]

Referncias bibliogrficas:BOBBIO, Norberto.Liberalismo e democracia.4. ed. So Paulo: Brasiliense, 2000.FONTES, Virgnia. Intelectuais e mdia: Quem dita a pauta?. In: COUTINHO, Eduardo Granja et al.Comunicao e contra-hegemonia: Processos culturais e comunicacionais de contestao, presso e resistncia. Rio De Janeiro: Editora UFRJ, 2008FERRARO, Alceu Ravanello.Liberalismos e educao:Ou porque o Brasil no podia ir alm de Mandeville.Revista brasileira de educao, Porto Alegre, v. 41, n. 14, p. 308-338. 05/2009.HEYWOOD, Andrew.Ideologias polticas:Do liberalismo ao fascismo. So Paulo: tica, 2010LIMA, Michele Fernandes; WIHBY, Alessandra; FAVARO, Neide de Almeida Lana Galvo.Liberalismo Clssico:Origens histricas e fundamentos bsicos. So Carlos: VIII Jornada do Histedbr, 2008NEDER, Gizlene . Os Compromissos Conservadores do Liberalismo No Brasil. Rio de Janeiro: Achiame, 1979.SCHWARZ, Roberto.As ideias fora do lugar:Ensaios selecionados. So Paulo: Penguin Classics Companhia das letras, 2014.TEIXEIRA, Francisco Jos Soares (Org.). Neoliberalismo e Reestruturao produtiva: as Novas Determinaes do Mundo do Trabalho. So Paulo: Cortez, 1996.