Upload
halien
View
220
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ – USJ
RAQUEL PÉRES DE MELLO
O PERFIL DA MULHER NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS – EJA
UMA ABORDAGEM NO CONTEXTO EDUCATIVO
São José
2009
RAQUEL PÉRES DE MELLO
O PERFIL DA MULHER NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS – EJA
UMA ABORDAGEM NO CONTEXTO EDUCATIVO
Trabalho de Conclusão de Curso, elaborado como requisito final para a aprovação no Curso de Pedagogia do Centro Universitário Municipal de São José – USJ.
Profª. Ma. Silvanira Lisboa Scheffler
São José
2009
RAQUEL PÉRES DE MELLO
O PERFIL DA MULHER NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS – EJA
UMA ABORDAGEM NO CONTEXTO EDUCATIVO
Trabalho de Conclusão de Curso elaborado como requisito
final para aprovação no Curso de Pedagogia do Centro Universitário Municipal
de São José- USJ.
Avaliado no dia : 11 de Dezembro de 2009 por:
Profª.Ma.Silvanira Lisboa Scheffler.
Orientadora
Prof°.Me. Sérgio Luiz Ferreira
Membro Examinador
Profª Ma. Jaqueline Zarbatto
Membro Examinador
Homenagem:
A minha mãe Delfina que partiu a menos de quinze dias e que gostaria muito que estivesse presente nesse momento tão especial e significativo para nós duas, pois sonhamos tanto com esse momento, mas Deus estava precisando de um anjo e levou ela mais cedo para o céu.
Mas tenho certeza que ela estará presente na minha apresentação e também na minha Colação. E será por ela que buscarei forças para continuar minha caminhada. Te amo Mãe e obrigada por fazer de mim uma pessoa que busca por meus ideais e enfrento qualquer obstáculo de cabeça erguida.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por iluminar e guiar meus passos nessa minha caminhada.
Agradeço também minha mãe Delfina que a todo o momento me incentivou e foi minha inspiração para alcançar meus sonhos.
Meus irmãos e familiares que sempre estiveram do meu lado torcendo por mim.
Ao meu filho Deyvid que é a coisa mais preciosa da minha vida.
A meu esposo Edmilson que soube compreender minha ausência e sempre foi meu apoio em tudo que faço.
Minhas amigas Josi, Gabriela e Nice pelo constante apoio e por acreditar no meu potencial.
A meus amigos da USJ que em vários momentos de minha caminhada, sempre estavam do meu lado, dando muito carinho e apoio, principalmente nessa reta final, da qual eu precisei de muita força para superar vários problemas.
A Profª Silvanira, minha orientadora, pela paciência, dedicação e orientação durante o ano de meu trabalho.
Por fim a todos que sempre estiveram do meu lado e acreditaram em mim, na minha capacidade e na minha garra de vencer, mesmo tendo muitas barreiras ao longo desses quatro anos de minha graduação, sempre tirava cada pedra do meu caminho como lição de vida e não como obstáculo.
Hoje olhando essas mulheres muitos podem pensar que obter uma formação escolar é uma utopia, mas com força, determinação e principalmente perseverança podemos sim alcançar os objetivos traçados, mesmo que seja uma longa caminhada. Acreditar e não deixar o sonho acabar é possível, pois eu, um dia também fiz parte da Educação de Jovens e Adultos e hoje estou aqui concretizando meu sonho de conclusão universitária.
Raquel Péres de Mello
Dez/2009.
RESUMO
Essa pesquisa teve como objetivo conhecer o perfil da mulher da Educação de Jovens e
Adultos, bem como saber o significado da EJA em suas vidas, e ao mesmo tempo
interagir com essas mulheres propiciando uma melhor compreensão dos projetos e
dificuldades vivenciados. Através de um questionário e também de uma aproximação
por um curto período verificamos que essas mulheres sofreram preconceitos por não
terem estudos, sentindo-se assim excluídas por essa sociedade letrada, que exige a todo
o momento uma escolarização para obter uma melhor valorização tanto pessoal como
profissional. Sabemos que a satisfação por parte de quem volta a estudar é muito
grande, embora os desafios sejam amplos, percebe-se que há motivação por aprender e
também fazer daquele local um espaço para dividir todas as suas expectativas. A
escolarização para os indivíduos representa mais que obter conhecimentos formais, para
os sujeitos, estar inserido na escola significa um resgate de sua cidadania, seu estar no
mundo e fazer parte dele, não como mero expectador, mas modificando seu contexto
social e cultural. Voltar a estudar na fase adulta, é modificar todo um contexto vivido
pelas mulheres e por gerações anteriores, servindo como exemplo para seus
descendentes, há uma valorização maior por esse publico, e para os professores é
gratificante ver que seu trabalho tem um significado a mais do que apenas transmitir
conteúdos, é recompensador ver que a cada aula aplicada há uma troca de
conhecimentos, de um lado a teoria do ensino, do outro a trajetória de vida desses
educandos.
Palavras-chave: Mulheres; Educação de Jovens e Adultos; Educação.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................1
1.1 Justificativa .........................................................................................................................2
1.2 Objetivos..............................................................................................................................3
1.2.1 Objetivo Geral .................................................................................................................3
1.2.2 Objetivos Específicos ........................................................................................................3
1.3 Contextualização do Problema .............................................................................................4
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA........................................................................................5
2.1 Retrospectiva histórica da mulher no Brasil.........................................................................5
2.2 Os movimentos Feministas no Brasil ...................................................................................7
2.3 A inserção da mulher no processo educacional..................................................................11
2.4 Retrospectiva histórica da Educação de Jovens e Adultos .................................................15
2.5 Participação e presença da mulher na EJA .........................................................................19
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .....................................................................22
3.1 Tipos de Pesquisa ...............................................................................................................22
3.2 População e Amostra ..........................................................................................................23
3.3 Instrumentos de Coleta de Dados .......................................................................................24
4 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS .............................................................25
5 CONSIDERAÇOES FINAIS..............................................................................................40
6 REFÊRENCIAS ..................................................................................................................42
APÊNDICE .............................................................................................................................45
1
1 INTRODUÇÃO
Nos dias atuais a mulher vem se destacando cada vez mais em áreas que antes só eram
destinadas para os homens, mas para isso ela precisou buscar o seu espaço na sociedade.
Nem sempre foi assim, no inicio da colonização do Brasil, a mulher era criada
somente para uma educação do lar, e com isso o estudo não era necessário para sua
sobrevivência, sendo que as tarefas domésticas eram destinadas a elas, as mulheres.
No século XX, as mulheres tiveram três conquistas importantes para que sua história
modificasse e viesse a dar a mulher uma independência e autonomia para suas próprias
escolhas: primeiro foi a conquista do voto, depois a educação e por ultimo sua entrada no
mercado de trabalho extra-doméstico.
Segundo ALVES (2003, p.1), “No século passado, as mulheres brasileiras
conquistaram o direito do voto em 1932, ampliaram enormemente suas taxas de alfabetização,
ultrapassando os homens em numero médio de anos estudados e entraram maciçamente no
mercado de trabalho”.
Já no século XXI as mulheres entraram com toda a força e fazendo a diferença em
relação aos homens. No sistema educacional e em busca de conhecimentos e oportunidades de
trabalho as mulheres mudaram todo um contexto que estava intrínseco na sua história, isso fez
com que a busca por novos aperfeiçoamentos modificasse o modelo padrão de família, antes
regido pelos homens, e hoje tendo a mulher também com uma participação muito importante
dentro do lar.
A evolução do universo feminino, buscando novos conhecimentos e novas descobertas
fizeram com que as mulheres tivessem um destaque na sociedade, prova disso são os bancos
escolares e também acadêmicos onde elas já são maioria, segundo o censo Superior 2007,
Instituto Nacional de Estudos Educacionais Anísio Teixeira (INEP).
Esta presença das mulheres na educação reverte um quadro de quase cinco séculos de
exclusão feminina da escola, e mostra que os avanços em relação a seu progresso e suas
conquistas geram frutos positivos até hoje.
2
O presente TCC apresenta o perfil da mulher no processo de escolarização como
alunas da EJA. Verificando o que representa essa escolarização em suas vidas e o que esse
conhecimento pode modificar no seu contexto social e pessoal.
Participaram da pesquisa mulheres matriculadas na Educação de Jovens e Adultos,
nas turmas de alfabetização e a 5ª série do ensino fundamental, do Centro Municipal Antonio
Francisco Machado, e todas moradoras do bairro de forquillhinhas ou próximo como Flor de
Nápolis, Pinheiros, Forquilhas. Como parte da minha pesquisa seria investigativa, procurei
estar mais próximo delas, para poder captar o que realmente elas sentiam e poderiam
acrescentar na investigação, como história de vida, sonhos e desejos para o futuro.
1.1 Justificativa
Sabe-se que nos tempos atuais as pessoas que buscam se aperfeiçoar seja estudando,
ou fazendo cursos profissionalizantes, nesse contexto varias instituições estão abrindo as
portas para que esses sujeitos tenham a oportunidade de estudar, por isso a pesquisa vem de
encontro aos meus objetivos, conhecer e identificar o perfil da mulher da Educação de Jovens
e Adultos, buscando dados sobre a realidade dessas pessoas que deixam seus lares e afazeres
em busca de conhecimentos e novos aprendizados, detectando a valorização e a significação
desse estudo em sua vida e para isso a EJA tem sido de fundamental importância para esses
sujeitos.
É provável que hoje muitas mulheres necessitem voltar a estudar para a sua formação
profissional, pois muitas delas hoje constituem famílias e as sustentam sozinhas, e a educação
pode servir como chave indispensável para o crescimento profissional, em um mercado cada
vez mais competitivo.
Portanto pretendo analisar e problematizar como essas mulheres estão vivenciando
esse novo momento que é de estar dentro de uma sala de aula, saber de suas expectativas a
respeito do aprender e como essa interação fora do contexto familiar do qual ela estava
acostumada, esta modificando e significando para autonomia como cidadã dentro da
sociedade, e saber também os desafios que ela enfrenta para poder estar estudando.
3
Sabemos que a satisfação por parte de quem volta a estudar é muito grande, embora os
desafios sejam amplos, percebe-se que a motivação por aprender e também fazer daquele
local um espaço para dividir todas as suas expectativas.
Num primeiro momento, é possível notar que elas se sentem satisfeitas em estar na escola aprendendo, e que vêem este local de aprendizagem como um espaço de circulação de diferentes conhecimentos e saberes pertinentes para suas vidas, inclusive como fator de socialização. De uma maneira geral, depositam muita confiança na escola, compartilhando com os colegas e seus professores, suas angústias, desejos e conquistas pessoais, sendo um local de descobertas. (BALLERINI, 2006, p.1)
Em busca desse novo conhecimento, as mulheres estão modificando seu modo de
refletir sobre o seu futuro, sendo que voltar a estudar é mais que necessário para seu
crescimento pessoal e profissional.
Através disso a pesquisa pretende identificar quem são essas mulheres que enfrentam
desafios quando voltam a estudar, depois de longos anos longe das escolas e muitas sem
sequer ao menos ter freqüentado algum dia.
1.2 Objetivos
1.2.1 Objetivo Geral
Conhecer o perfil da mulher matriculada na Educação de Jovens e Adultos.
1.2.2 Objetivos Específicos
• Identificar o perfil da mulher e conhecer os motivos para voltar a estudar;
• Investigar através de questionários o real significado desse estudo em sua vida;
4
• Promover uma interação com o grupo, para que todos possam de uma forma
participativa contribuir com seus conhecimentos de vida.
1.3 Contextualização do Problema
Com o surgimento da Educação de Jovens e Adultos – EJA, houve uma contribuição
significativa na formação dos sujeitos que não tiveram a oportunidade de escolarização em
idade apropriada. Estes agregaram novos conhecimentos, valores, aprenderam a criticar e
exigir seus direitos, dando mais ênfase à qualidade de vida de cada um.
A educação torna-se um instrumento facilitador da mudança de vida e crescimento
desses indivíduos, podendo dessa forma reescrever sua própria historia.
Muitos fatores, como as “mudanças de costumes, inserção no mundo social e do trabalho, exigências da crise econômica que forçaram a mulher a buscar o sustento fora do lar” têm contribuído para o aumento da população feminina na escola. (GARCIA-HUIDOBRO apud MENEZES, 2004, p.4)
Diante disso estamos presenciando mais mulheres em busca de novos conhecimentos e
sempre se aperfeiçoando para ocupar um lugar de direito. Perante essa diferença de gêneros
em nossa sociedade, buscamos saber o que leva essas mulheres a retornarem aos bancos
escolares.
Portanto, qual é o perfil atual da mulher na Educação de Jovens e Adultos?
5
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Retrospectiva histórica da mulher no Brasil
A trajetória da mulher ao longo dos tempos pode-se dizer que é muito significativa,
pois ela culturalmente foi criada para servir ao homem, procriar e ser do lar. Para isso não
havia a necessidade da mulher ter estudo, bastava apenas que ela fosse uma boa dona de casa,
soubesse educar os filhos e ser boa esposa, totalmente submissa ao homem. A inferioridade
por parte das mulheres já estava internalizada nela, sua identidade estava relacionada ao papel
de filha, esposa e mãe.
Tais associações educavam para o exercício de práticas sociais determinadas, cuja preocupação era preparar as filhas para que fossem esposas prendadas e assim obtivessem um bom partido e um profícuo enlace matrimonial, unindo nomes e fortunas. (FÁVERI, 2001, p.20-21)
De maneira geral era regra e não poderia ser modificado, a criança-menina ao ver sua
mãe sendo submissa ao pai, não tendo os mesmos privilégios dos meninos, e ser relegada aos
serviços domésticos, as colocava em posição secundaria em relação ao homem, tendo o
serviço pouco valor. Ela crescia aprendendo que para ser uma boa mãe teria que ser obediente
ao futuro marido. Segundo PEDRO :
Assim, os papeis familiares de filha, irmã e esposa eram uma espécie de preparação para a função de mãe. Nesses escritos, a autoridade masculina e a submissão feminina eram compreendidos no binômio “obediência e amor”. Nesse caso, as mulheres obedeciam, porque eram delicadas e meigas. (PEDRO, 1997, p.298)
Assim ficava com as mulheres o dever de cuidar e zelar do lar, e também ser submissa
a seu marido, dessa forma o papel dela seria bem visto pela sociedade. Por isso a educação
6
das mulheres iniciava-se cedo e no próprio lar, e as tarefas domésticas faziam parte de seu
aprendizado, como afirma WOLFF:
Estes aprendizados das prendas domésticas dava-se ao longo da vida da menina, até a adolescência, e imbricava-se com outras atividades e mesmo com a educação escolar e religiosa. Mas o espaço por excelência, da educação da mulher era o próprio lar. (WOLFF, 2001, p.163)
Isso permeou por muito tempo em nossa sociedade, mas com os movimentos
feministas por volta de 1932, em busca dos direitos, muitas mulheres começaram a ter outra
visão do mundo novo que as cercavam.
No inicio as mulheres trabalhavam em serviços que condiziam com sua “dita
fragilidade”, como por exemplo, ser professora. As normalistas eram mulheres, cujo ofício era
educar como se fosse à continuação do ensinar no lar. Mas de forma tímida as mulheres aos
poucos foram ocupando lugares onde antes eram ofícios só de homens, e hoje podemos ver
muitas dessas mulheres ocupando cargos que há pouco tempo atrás seria considerado
impossível de ser executado por uma mulher.
Segundo RIVERA (1994, apud: MENEZES, 2004, p.5) afirma que “os processos de
urbanização e agudição da crise econômica afetaram fortemente a mulher, que começou a
assumir novos papéis, alguns deles extremamente pesados”.
Um exemplo disso são as construções civis que antes era reduto somente dos homens,
considerava-se à mulher frágil para tal trabalho. Atualmente a mulher cada vez mais ocupa
lugares de destaque na sociedade, inclusive na construção civil.
Em busca desse destaque e também de sua independência perante os homens, as
mulheres estão voltando para a escola, pois querem não só se profissionalizar, mas também
ganhar destaque nas grandes empresas e também no universo pessoal e acadêmico.
Sabe-se que o preconceito ainda é muito grande com as mulheres, mas isso não as
intimida em busca dos seus ideais, pelo contrário faz com que ela se torne sujeito de sua
transformação.
7
Embora com obstáculos a história demonstra que a luta das mulheres contribuiu
valorosamente para modificar o modo que a sociedade as tratava em décadas passadas. Foram
lutas travadas com muito ardor, mas que deu certo, e que até hoje tem seu significado
precioso para o universo feminino. Claro que ainda existe muita discriminação com as
mulheres, é todo um contexto que precisa ser modificado, pois na história de nosso país os
homens é que eram considerados os grandes mártires. É um processo lento, mas que com
movimentos exigindo um espaço social de igualdade, as mulheres vão cada vez mais ter
destaque no Brasil.
2.2 Os movimentos Feministas no Brasil
As mulheres ao longo da historia no nosso país tiveram muitas conquistas importantes
para a sua valorização na sociedade, uma delas foi o direito de votar. Em 24 de fevereiro de
1932 o governo promulgou o novo Código Eleitoral (Decreto n.° 21.076) garantindo o voto
feminino, um marco na história da mulher brasileira, que depois de muitas reivindicações e
discussões, conseguiu o direito de votar e serem eleitas para cargos no executivo e legislativo.
No ano seguinte a essa conquista pelas mulheres nas eleições de 1933, convocada para
a Assembléia Nacional Constituinte dentre 214 deputados eleitos uma única mulher, a paulista
Carlota Pereira de Queiroz, concorrendo pelo Distrito Federal (RJ) e Bertha Lutz, foi eleita a
primeira suplente.
Mesmo com a conquista do voto feminino, as mulheres continuaram com movimentos
em prol de igualdades, mas ainda assim por muitas décadas continuaram vivendo em posição
inferior na sociedade brasileira.
A partir de 1937 as mobilizações populares para reivindicar os direitos foram
impedidos por conta do Estado Novo. Nessa mesma época mulheres trabalhadoras têxteis de
Rio Tinto-Pb iniciavam uma greve por melhores condições de trabalho e benefícios as
gestantes. Depois de 1945 com a democratização do país, as campanhas feministas voltaram a
ter um numero significativo de mulheres, exemplo disso foram às campanhas nacionais como
a da anistia e pela paz mundial.
8
No ano de 1948 foi criada a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) que tem reflexo
até nos dias atuais, onde regula a criação de creches e as jornadas de trabalho das
trabalhadoras. Nesse período também as mulheres se mobilizaram para fundar as associações
de bairros, que não servia como cunho feminista, mas sim pela presença da mulher na esfera
pública.
Já as questões referentes à sexualidade e ao corpo feminino começavam a dar
evidencias nos anos sessenta: a emergência do uso da contracepção moderna com a pílula
anticoncepcional do amor e depois o DIU, os padrões culturais de fertilidade e os valores
sexuais começavam a ser modificados no nosso país. A revista Claudia na sessão “A arte de
ser Mulher”(1962) assinada por Carmen da Silva foi pioneira nas discussões sobre os
problemas da vida do cotidiano das mulheres das classes médias urbanas, foi abordado vários
assuntos como a virgindade, as relações sexuais, as frustrações sexuais alem de outras
insatisfações amorosas, e outros assuntos também faziam parte da pauta no artigo como
aponta BANDEIRA (2000, p.26) que abordava ainda, temas como a maternidade, o trabalho
fora de casa, as profissões mais femininas, as culpas, os desejos, entre outros.
Como toda essa mudança pelos direitos conquistados pelas mulheres, o Brasil avançou
muito em relação aos séculos passados onde as mulheres não tinham espaços e nem voz ativa
para fazer sua escolha, como nos mostra BANDEIRA:
Se lá a luta foi pelo projeto emancipatório e igualitarista das mulheres, centrado sobretudo no direito ao voto, os anos sessenta contemplaram a participação social mais ativa, com a criação e projeção de uma identidade própria às mulheres, promovendo seus direitos jurídicos, sociais e políticos mais legítimos.( BANDEIRA, 2000, p.26)
Com o golpe militar em 1964 não houve mais espaço para movimentos populares, no
entanto algumas mulheres continuavam engajando campanhas contra a oposição do regime, a
presença mais significativa da mulher na esfera publica foi à luta pela anistia. Com todas
essas campanhas em 1975 foi fundado em São Paulo o movimento Feminino pela anistia, que
deu inicio em 1964 e só se concretizou nove anos depois.
No ano de 1975 a Organização das Nações Unidas (ONU) institui o Ano Internacional
da Mulher, onde ressurge o feminismo no Brasil. Foram criados centros de apoio ao
9
movimento e no Rio de Janeiro é fundado o Centro da Mulher Brasileira (CMB) e, em São
Paulo o Centro de Desenvolvimento da Mulher Brasileira (CDMB).
Nesta mesma época foram editados dois jornais feministas: Brasil-Mulher (Londrina e
depois em São Paulo) e Nós mulheres (São Paulo), no final da década de 70 mesmo com esses
avanços em relação ao feminismo os movimentos continuaram de forma tímida por todo o
país com o surgimento de diversos grupos com enfoques e formas diferentes de atuação.
Os grupos dedicam-se às mais variadas tarefas: reflexão; publicação de folhetos sobre sexualidade, direitos da mulher, saúde; pesquisas; grupos de estudos; cinema; teatro; SOS contra a violência; Casa da mulher, etc.. (ALVES E PITANGUY, 1985, p.72).
Outro avanço marcante na vida das mulheres foi o divórcio instituído em nosso país
em 1977, depois de intensas polêmicas na sociedade por parte da Igreja Católica que tentava
impedir sua aprovação. Mas o progresso feminino não parava por aqui, outras conquistas
ainda estavam em debate conforme LIPOVETSKY:
Motivações que exprimem a ascensão de um individualismo feminismo, paralelamente às atitudes relativas ao aborto, à contracepção, à liberdade sexual, ao recuo do casamento e das famílias numerosas, aos pedidos de divorcio por iniciativa das mulheres: por toda parte se manifesta a vontade feminina de afirma-se como protagonista de sua própria vida. (LIPOVETSKY, 2000, p.222)
Novas conquistas foram alcançadas pelas mulheres no Brasil, neste mesmo ano Raquel
de Queiroz foi eleita a primeira mulher na Academia Brasileira de Letras, Raquel vence por
23 votos a 15 e um em branco, o jurista Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, em 04 de
novembro do mesmo ano ocupa a cadeira numero cinco. Em 1979 foi realizada a primeira
reunião das feministas brasileiras, com a entrada da Lei da anistia, as mulheres voltaram com
todo o vigor feminista em alta.
10
Nos anos de 1980 e 1981 vários grupos foram formados por todo o Brasil
mostrando um avanço e força em prol do feminismo. Surge nessa mesma época em São Paulo
o jornal “O Mulherio” que com a suspensão da publicação dos jornais anteriores, torna-se um
referencial para publicações para as mulheres.
As ONGs e os movimentos sociais tornam-se cada vez mais intensa com a criação dos
Núcleos de Estudos sobre a Mulher ou de relações de Gêneros. Nesse mesmo período a mídia
passa a ter um olhar mais atento para o feminismo e em 1981 a TV Globo lança o programa
Malu Mulher, e depois TV mulher e a emissora Manchete lança o programa Mulher, voltado
para o publico feminino.
Segundo BANDEIRA (2000, p.32) além de discutir questões relacionadas às
mulheres, os programas, de modo geral, se propunham a prestar serviços e informações à
mulher de segmentos médios e populares.
Nos anos 90 começava a quebrar o tabu sobre as questões de gênero, sexualidade,
saúde, lesbianismo, homossexualidade, violência domestica e sexual, masculinidade, AIDS,
mulher como chefe de família e outros. As academias formavam grupos de trabalho com
saberes científicos sobre a condição social da mulher, com isso os espaços para as discussões
sobre as mulheres se multiplicavam em todo o país. E essa influencia atribuíram com a força
nas lutas das mulheres que se beneficiaram não só com movimentos, mas sim com concretas
vitórias em favor do feminismo. Segundo BANDEIRA (2000 p.36-37):
Apesar das mudanças no contexto sócio-político, é importante destacar que o feminismo deixa de se ‘desenvolver’ como um pensamento vinculado às praticas sociais para começar a se estruturas como disciplina universitária, encontrando seu terreno de verificação não mais, necessariamente, na pratica militante, mas sua eficácia passa a ser dimensionada no interior institucional. (BANDEIRA, 2000, p.36-37)
Atualmente os movimentos feministas têm como bandeira principal, o combate à
violência doméstica, e o combate à discriminação no trabalho. Uma das Leis mais
importantes em favor da mulher no século XXI foi a da Lei Maria da Penha n °11.340 de 7
de agosto de 2006( nos termos § 8º do art.226 da Constituição Federal) que cria mecanismos
para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, tem como prioridade proteger a
11
mulher de todas as formas de discriminação e da convenção para prevenir, punir e Erradicar
a violência contra a mulher. Segundo ALVES:
A violência surge a partir da criação e recriação de relações de superioridade e inferioridade, relação de poder- quer seja entre indivíduos, classes, gêneros, etnias ou concepções políticas e religiosas- e da tentativa de utilizar métodos coercitivos (físicos ou verbais) para resolver problemas não consensuais (ALVES, 2003, p.156)
Outro ponto em debate a favor das mulheres foi a legalização do aborto, que
atualmente só é permitido em condições excepcionais, mas as lutas para que seja legalizado
por todas as formas, e a adoção de estilos de vida independente, são metas que ainda é muito
reivindicado nos movimentos feministas.
2.3 A inserção da mulher no processo educacional
Depois de tanta mudança no universo feminino, a trajetória da mulher também
começou a se modificar na educação, onde no Brasil colonial as mulheres raramente
aprendiam a ler e escrever, e a submissão e a reclusão em casa fazia parte do seu cotidiano.
Mas com a vinda da família Real, oportunidades surgiram para a educação voltada
para a mulher do lar, principalmente as de classes economicamente superiores, que consistiam
em ter aulas domiciliares voltadas para prendas domesticas como bordado, costura e outras do
gênero e também aulas de aritméticas, língua portuguesa e religião, sempre ministradas por
senhoras portuguesas, francesas ou alemãs.
Um ano após a Independência do Brasil, em 1823 houve mudanças significativas na
condição educacional feminina com a Constituição que estabelecia educação para ambos os
sexos e não mais somente para o público masculino. Começou a se mostrar uma preocupação
para instruir a mulher, mas claro que bem diferente da educação que se destinava aos homens.
Para PASSOS:
12
Reconhecia-se a necessidade de instruir a mulher pelo seu papel materno, ou seja, porque a ela competia criar e educar os filhos, dando-lhes rudimentos de educação moral e religiosa. A finalidade, portanto, era diferente da masculina. (PASSOS, 2000, p.59)
Diante disso mesmo a constituição dando a educação para ambos os sexos, para cada
gênero ela tinha uma finalidade. A educação se dava separadamente e para as mulheres
serviria como continuação do lar, um aperfeiçoamento de como lidar com as prendas
domesticas e o cuidado materno, já para os homens serviria como uma formação profissional.
Visto que até os salários dos mestres que lecionavam para os meninos era mais elevado em
relação às das mestras que ensinavam as meninas.
A Lei de 1827, não teve avanços na educação da mulher que, ainda estavam longe de
ser uma educação igualitária para todos, como nos aponta PASSOS:
A Lei de 1827, a primeira a conceder à mulher o direito à educação, também é discriminadora ao facultar à mulher o acesso apenas as chamadas pedagogias (1° grau) e vetar o seu ingresso em níveis mais elevados como nos liceus, ginásios e academias (as mulheres só tiveram acesso, por exemplo, ao Colégio Pedro II no presente Século) (PASSOS, 2000, p.60)
Vários argumentos eram usados pelos homens que achavam que a educação só servia
para preparar as mulheres para a maternidade e para serem boas esposas. Como nos aponta a
Lei de Instrução Pública de 1827: As mulheres carecem tanto mais de instrução, porquanto
são elas que dão a primeira educação aos seus filhos. São elas que fazem os homens bons e
maus; são as origens das grandes desordens, como dos grandes bens; os homens moldam a
sua conduta aos sentimentos delas.
Segundo a Lei as mulheres precisavam mais de instrução para dar continuidade a
formação de mãe e esposa, e não para com o propósito de aprender cientificamente para obter
conhecimentos e informações, o que se exigiria dela seria uma boa moral e bons princípios.
13
Sob diferentes concepções, um discurso ganhava a hegemonia e parecia aplicar-se, de alguma forma, a muitos grupos sociais a afirmação de que as “ mulheres deveriam ser mais educadas do que ser instruídas”, ou seja, para elas, a ênfase deveria recair sobre a formação moral, sobre a constituição do caráter; sendo suficientes, provavelmente, doses pequenas ou doses menores de instrução.(LOURO,1997,p.446)
Mesmo a educação tendo como objetivo a instrução continuada do lar, com prendas
domesticas e uma educação para melhor criar seus filhos, o preconceito ainda era muito
grande, de saber que as mulheres iriam se escolarizar e alcançar objetivos antes só vistos por
eles. Mas para as mulheres era chegado o momento de um conhecimento maior em todos os
níveis da educação.
Em 1874, a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro resolveu aceitar o ingresso de
mulheres, o que não foi bem aceito pela sociedade que visava que os cursos de prestígios
como os de Direito e Medicina seriam cursos masculinos. Mas cinco anos mais tarde o acesso
ao ensino superior passou a ser regulamentado pelo governo, mas o número de mulheres ainda
era muito baixo, pois poucas tinham o ensino secundário e também o preconceito da
sociedade fazia com que muitas não ousassem a tal feito.
O que antes foi uma participação tímida nas escolas públicas, depois uma presença
significativa na docência do ensino primário, e hoje para uma presença maciça em todos os
níveis de escolaridade, inclusive uma participação expressiva na docência do ensino superior.
Segundo LIPOVETSKY:
De agora em diante, nos países desenvolvidos, a presença feminina é maior que a masculina nas universidades, as moças penetram cada vez mais nos bastiões tradicionalmente reservados aos rapazes e representam quase metade dos efetivos das escolas de comercio (LIPOVETSKY, 2000 p.263)
Depois de muitos anos de progressos em relação à escolarização e à formação das
mulheres, o Brasil ganhou destaques com personalidades femininas, muito importante na
historia da mulher na educação, não cabe aqui citar os nomes, mas sim dar ênfase a esse
avanço que contribuiu muito para que a visão da sociedade em relação a escolaridade se
modificasse em relação ao passado.
14
Pesquisas atuais revelam que as mulheres em relação aos homens têm os níveis mais
elevados de escolarização e se destacam em cursos de graduação, os cursos mais procurados
são relacionados com a educação, saúde e para a sociedade.
De acordo com RISTOFF:
Os cursos mais procurados pelos homens são relativos a engenharia, tecnologia, indústria e computação; pelas mulheres, são relativos a serviços e educação para a saúde e para a sociedade (secretariado, psicologia, nutrição, enfermagem, serviço social, pedagogia). Essa tendência se mantém nos mestrados, doutorados e na própria docência da educação superior. (RISTOFF, 2006, p.1)
Embora as mulheres tenham mais escolaridades e sejam mais qualificadas que os
homens a diferença salarial é bem considerável entre os gêneros.
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) de 2008 mostra que
as mulheres ganham 28,4 % menos que os homens, sendo que a renda média deles em 2008
foi de R$ 1.172, enquanto a das mulheres ficou em apenas R$ 839,00, considerando as
pessoas com emprego formal ou não. Em se tratando de escolarização as mulheres, com
especialização ou pós-graduação recebem 37% a menos do que homens que desempenham a
mesma função e têm a mesma escolaridade. Na faixa de mulheres mais qualificadas entre 41 e
50 anos, a diferença foi ainda maior: 39,22%.
A história da mulher no mercado de trabalho, no Brasil, está sendo escrita com base, fundamentalmente, em dois quesitos: a queda da taxa de fecundidade e o aumento no nível de instrução da população feminina. Estes fatores vêm acompanhando, passo a passo, a crescente inserção da mulher no mercado e a elevação de sua renda. (PROBST, 2003, p.6)
Por esses e tantos outros motivos as salas de aulas estão cada vez mais cheias de
mulheres que buscam se qualificar e se profissionalizar para poder ter as mesmas igualdades
dos homens, seja em remuneração salarial ou em condições sociais.
15
2.4 Retrospectiva histórica da Educação de Jovens e Adultos
No Brasil a educação de adultos teve origem após a chegada dos jesuítas, que
começaram a catequizar os nativos, jovens e adultos, fato ocorrido até meados de 1759,
quando foram expulsos pelo Marques de Pombal.
Com a vinda da família real para o Brasil em 1808, a educação volta a fazer parte do
cotidiano da classe trabalhadora, porém direcionado aos benefícios da classe dominante. O
objetivo principal era capacitar apenas mão-de-obra, ficando para segundo plano a arte da
leitura e escrita, segundo BELLO, (2001, p.1): “... exigia qualquer preparo profissional
especifico e nem sequer o domínio das técnicas de leitura e escrita”. Fato este que era
totalmente dispensável para os serviços braçais como lavouras de cana de açúcar e criação de
gado.
Com o fim de mais de três séculos de escravidão, com herança cruel de submissão ao
trabalho forçado e da exclusão do convívio social da maioria da sociedade dá indício porque
chegamos ao final do século XIX com aproximadamente 80% da população em idade escolar
excluídos dos benefícios da alfabetização.
Não havia o interesse por parte da elite que a camada popular fosse escolarizada,
sendo que no meio rural esse descaso era ainda maior. Os benefícios da instrução ficaram para
quem tinha o poder, nessa época surgiram os títulos de “bacharel” que em nosso país
significava nobreza, era quem havia completado o ensino superior, e o coronel quem
controlava a política local em troca de favores, prestígios e privilégios. A república dos
bacharéis era também a república dos coronéis- muito distante da república dos cidadãos.
Com o progresso na década de 1910, começaram pressões por investimentos em
educação nessa época surgiram as escolas técnicas e profissionalizantes, era preciso correr
contra o tempo perdido para que se qualificasse mão-de-obra já que o Brasil estava
tradicionalmente associado ao trabalho escravo, o trabalho para a sociedade era visto como
um passaporte para um mundo civilizado como nos aponta BELLO (2001, p.1): “A nova
realidade brasileira passou a exigir uma mão-de-obra especializada e para tal era preciso
investir na educação”.
16
Nesta época a campanha Brasileira de imigração branca acentuou-se, e os políticos
buscavam imigrantes brancos, que se considerava mais preparados que os ex-escravos e os
iletrados, no qual não havia interesse por parte das elites econômicas e políticas se disporem a
valorizá-los e prepará-los.
Em 1934, foi criado o Plano Nacional da Educação, que tinha como objetivo
coordenar e supervisionar as metodologias de ensino nos diferentes graus, ou seja, essa
política educacional servia como instrumento de manipulação das classes populares, para qual
foi criada as escolas profissionalizantes.
A constituição de 1934, que indicava pela primeira vez a educação como um direito de
todos, faz da educação de adultos um dever do Estado, incluindo em suas normas a oferta do
ensino primário integral, gratuito e de freqüência obrigatória, extensiva para adultos.
Nos anos de 1940 houve várias iniciativas para ampliar a educação de jovens e
adultos, com muita importância para o nosso país, sendo elas: a criação e a regulamentação do
Fundo Nacional do Ensino Primário (FNEP); a criação do Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas (INEP); o surgimento das primeiras obras dedicadas ao ensino supletivo; o
lançamento da Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos (CEAA), e ao mesmo
tempo os movimentos internacionais e organizações como a UNESCO, exerceram influencia
positiva, reconhecendo e estimulando os trabalhos realizados no Brasil e incentivando a
criação de programas nacionais de adultos analfabetos. Com instalação do Estado Nacional
Desenvolvimentista em 1946, houve uma mudança do sistema político do Brasil, não bastava
apenas ter mão-de-obra qualificada precisava ser alfabetizado, o modelo industrial exigia que
para o manuseio das máquinas fosse necessário o mínimo de conhecimento.
Em 1947, o MEC promoveu a Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos
(CEAA) após a realização do I Congresso Nacional de Educação de Adultos, que visava:
� Alfabetização de grande parte da população capacitação (Planos de ação extensiva)
� Capacitação profissional e atuação junto à comunidade (Planos de ação em
profundidade)
Já não bastava só alfabetizar, mas sim agregar o trabalho educativo e essa campanha
atuou no meio rural e urbano, com vários objetivos, mas com diretrizes comuns. Já em 1958,
no II Congresso Nacional de Educação de Adultos, se reconhece o fracasso da CEAA, devido
17
a deficiência de planejamento, recebendo críticas a precariedade dos prédios escolares, a falta
de material didático adequado e a qualificação dos professores.
Com o objetivo de atender ás populações das regiões menos desenvolvidas foi criado o
Movimento de Educação de Base- MEB, através do decreto n ° 50.370 de 21 de março de
1961, onde o Estado associado à igreja Católica dava novo impulso as campanhas de
alfabetização de adultos. Em 1963, o MEB se articulou com o sistema Paulo Freire de
alfabetização de adultos, mas no ano seguinte com o golpe militar, todos os movimentos de
cultura popular foram reprimidos, com prisões de monitores e líderes e fechamento de
emissoras de radio - educativas. Devido às pressões e a escassez de recursos financeiros o
Movimento de Educação de Bases (MEB) teve parte do sistema encerrado em 1966.
Em 1967 durante a fase da ditadura militar foi criado o MOBRAL (Movimento
Brasileiro de Alfabetização) através da Lei n° 5.379 de 15 de novembro do decorrente ano,
que visava erradicar totalmente o analfabetismo no Brasil em dez anos, que valia-se dos
recursos da União e da Loteria Esportiva, o que facilitou a expansão por todo o país. Já nos
anos 70 quando já deveria ter cumprida essa meta, o IBGE registrou 25,5% de pessoas
analfabetas na população de 15 anos ou mais. O programa teve que passar por diversas
reformulações em seus objetivos, ampliando sua atuação na educação comunitária e a
educação de crianças. Com a implantação do ensino supletivo em 1971, foram criados centros
supletivos em todo o país, o objetivo era escolarizar um grande número de pessoas, mediante
um baixo custo operacional, satisfazendo as necessidades de um mercado de trabalho
competitivo e com exigências cada vez maior de escolarização.
Com o fim dos governos militares e a retomada do processo de democratização a
sociedade brasileira passou por importantes transformações. No início da década de 80, o
MOBRAL já era considerado um programa ineficiente por planejadores e educadores, e logo
em 1985 foi extinto sendo substituído pela Fundação Educar, agora sendo competência do
MEC (Ministério da Educação e Cultura) e com finalidades especificas de alfabetização.
Essa Fundação dava o apoio financeiro e técnico as ações de outros níveis de governo,
de organizações não governamentais e de empresas, mas no ano de 1990 no governo Collor
ela foi extinta e se inicia uma nova concepção da EJA, a partir da Constituição Federal de
1988, que trouxe importantes avanços para a Educação de Jovens e Adultos: o ensino
fundamental, obrigatório e gratuito, passou a ser garantia constitucional também para os que a
18
ele não tiveram acesso na idade apropriada. Mas a partir dos anos 90, a Educação de Jovens e
Adultos começou a perder espaço nas ações governamentais, as atividades da EJA passavam a
ser responsabilidades de estados e Municípios.
Em janeiro de 2003, foi criada a Secretaria Extraordinária de Erradicação do
Analfabetismo, cuja meta era erradicar o analfabetismo durante o mandato do governo Lula.
Foi lançado o Programa Brasil Alfabetizado por meio do qual o MEC contribuirá com órgãos
públicos estaduais e municipais, instituições de ensino superior e organizações sem fins
lucrativos que desenvolvam ações de alfabetização. Nesse programa a assistência será
direcionada ao desenvolvimento de projetos com as seguintes ações: Alfabetização de jovens
e adultos e formação de alfabetizadores.
Atualmente a Educação de Jovens e Adultos é uma modalidade de ensino, amparada
por lei 9394/96, e voltada para as pessoas que não tiveram acesso ao ensino regular em idade
adequada, e que hoje tem um papel fundamental e importante na vida de muitos sujeitos, pois
é nessa modalidade que se vêem com a possibilidade de um crescimento pessoal e formal para
sua vida. O papel do educador na EJA é de fundamental importância no processo de
reingresso do aluno às turmas da EJA, ele tanto pode ser um transformador na vida daquele
sujeito que esta ali, como pode ser um desmotivador do sujeito cheio de sonhos a concretizar.
Segundo PAULO FREIRE:
Referimo-nos ao dialogo. Trata-se de uma atitude dialogal à qual os coordenadores devem converte-se para que façam realmente educação e não domesticação. Precisamente porque, sendo o dialogo uma relação eu-tu, é necessariamente uma relação de dois sujeitos. Toda vez que se converte o “tu” desta relação em mero objeto, ter-se-á pervertido e já não se estará educando, mas sim deformando. (FREIRE, 1983, p.78-79)
Para isso o professor deve ser capaz de identificar o potencial de cada aluno e saber
que aquele sujeito não esta ali como um saco vazio, pronto para que depositem nele
conteúdos, pelo contrario ele é um sujeito cheio de cultura. Os alunos da EJA chegam as
escolas cheios de preconceitos, vergonha, discriminação, críticas dentre outros, é preciso que
os educadores compreendam que para ele dar o primeiro passo de estar ali, já foi muito difícil
para o sujeito. Segundo LAFFIN (1998, p.10) “Essa positividade e esse olhar de ajuda para
19
com os alunos se inserem num processo de tentar romper com a visão de não-valorização que
os sujeitos jovens adultos fazem de si ao se inserirem em ações de escolarização”.
Por isso o educador precisa compreender a realidade de cada educando, e lhe dar
possibilidades de acreditar sempre no seu potencial, mostrando que é possível sim, modificar
e buscar o seu crescimento pessoal e profissional. Educar os alunos da EJA é mais do que
reunir pessoas em uma sala de aula, é transmitir os conteúdos e o mais importante, transmitir
a confiança em si mesmo. Como nos afirma Paulo Freire:
Se, na verdade, o sonho que nos anima é democrático e solidário, não é falando aos outros, de cima para baixo, sobretudo, como se fossemos os portadores da verdade a ser transmitida aos demais, que aprendemos a escutar, mas é escutando que aprendemos a falar com eles. (FREIRE, 1996, p.113)
O educador tem que saber escutar o que o educando traz consigo, só assim a relação
de transformação desse sujeito poderá fazer a diferença na sua vida, o ensinar aprender, pode
também fazer desse educador um professor aprendiz. Pois a cada dia, a todo o momento
aprendemos lições de vida que não encontramos em nenhum livro.
Segundo FREIRE, se não posso, de um lado, estimular os sonhos impossíveis, não devo, de outro, negar a quem sonha o direito de sonhar. (1996.p.144)
A Educação de Jovens e Adultos tem muita importância na vida de muitas pessoas,
através dela o sujeito se torna possível e capaz de mudar significativamente a sua vida e lhe da
autonomia de reescrever sua própria história de vida.
2.5 Participação e presença da mulher na EJA
A educação de Jovens e adultos abriu muitas portas para sonhos de pessoas que
desejavam concluir seus estudos ou até mesmo começar a ler e escrever. A escola “regular”
para muitos Jovens e Adultos já não era vista como possibilidade de concluir os estudos, pois
a dificuldade nessa modalidade de atender as necessidades desses cidadãos ainda é muito
grande em nosso país, mas com a implementação da EJA essa probabilidade de voltar aos
bancos escolares para muitos deixou de ser um sonho e sim uma possibilidade.
Para muitos Jovens e Adultos a necessidade de articular os conhecimentos prévios
existentes com os sistematizados pela escola, teria que ser de modo mais significativo para
20
ele, e na escola formal isso não se daria, pois os conteúdos não levam em conta a experiência
de vida ativa e despreza os valores sócios culturais dos cidadãos. E na EJA tudo deve ser
valorizado, o sujeito chega à escola com uma bagagem de conhecimentos adquiridos ao longo
da vida, e a união desses conhecimentos com os saberes escolares, é de fundamental
importância para que o processo seja um sucesso.
E nesse contexto as mulheres estão cada vez mais inseridas nesse processo de ensino.
E elas buscam o tempo perdido por diversos fatores em sua vida, sendo que a muito pouco
tempo atrás, não era necessário que a mulher tivesse ensino pois cabia a ela somente o
cuidado com o lar. De acordo com Silva:
A predominância de mulheres analfabetas entre as pessoas com 40 anos ou mais se deve-se ao fato que “a educação formal até bem pouco tempo, priorizava o ensino do homem. Para as mulheres os cuidados com a família, as responsabilidades com a reprodução era sua tarefa principal, por isso a escola para elas era algo dispensável.” (SILVA,1999.p51)
Pesquisas nos mostram que o número de mulheres matriculadas na EJA, é superior a
dos homens, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) como fonte o
suplemento da PNAD 2007, do total que freqüentavam ou freqüentaram anteriormente a
Educação de Jovens e Adultos (EJA), 53% eram mulheres e 47%, homens. A região Sul
apresentou o maior percentual de pessoas que freqüentavam um curso de EJA.
Como mostra à pesquisa acima as mulheres estão buscando o seu espaço também na
escolarização, através da EJA, pois com a mudança de costumes e culturas em nosso país, as
estas foram as que mais precisaram se adaptar ao novo mundo que as cercava, antes disso
nenhum desses movimentos era preciso para estar inserido na sociedade capitalista, os papeis
foram invertidos, hoje a mulher não é só mãe e do lar, é mais que isso, é ela quem muitas
vezes comanda o lar seja financeiramente como também pessoalmente. É o que nos aponta
Zuñiga:
Para elas “viverem processos de crescimento pessoal, desenvolverem habilidades para a ação coletiva e adquirirem competências” que lhes permitirão desempenhar papeis importantes nos processos de reprodução social, produção econômica e cultural e desenvolvimento comunitário. (ZUÑIGA apud MENEZES, 2004, p.4)
21
Um dos objetivos principais desta pesquisa será investigar através de questionários
com alunas da EJA para conhecer o perfil dessa mulher que hoje esta em busca de uma
escolarização, saber qual o significado desse estudo em suas vidas e qual a estratégia
elaborada por ela para voltar a estudar.
Para isso, busca-se reconstituir, por intermédio da trajetória de vida de alunas/sujeitos,
o processo da busca de escolarização destacando os principais desafios, problemas ou
dificuldades enfrentadas pelas mulheres no contexto familiar, de trabalho e escolar.
Pretende-se também identificar as estratégias elaboradas por elas para conseguir
permanecer na escola durante o processo de escolarização, também, verificar de que maneira
a intervenção pedagógica da escola contribui (ou não) para a transformação das relações de
gênero.
Dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira-
INEP de 2006 informa que houve um aumento de 5,2% de alunos matriculados na EJA em
relação ao ano interior, e muitos são os fatores que levam as pessoas a procurem essa
modalidade para concluir seus estudos, a facilidade em horários flexíveis, a valorização por
parte do educador aos que chegam com ânsia de aprender e superar suas dificuldades, a fim de
alcançarem seus objetivos para que possibilitem a uma melhora de vida, e é na Educação de
Jovens e Adultos que eles encontram essa oportunidade para a construção de seu
conhecimento. Segundo Menezes:
Na busca de novos horizontes, hoje as mulheres tem se voltado para a escola fazendo um caminho inverso ao que fizeram anos atrás, na tentativa de descobrir quem são e o que querem. Nesse sentido, a EJA tem se colocado para os sujeitos, como uma oportunidade de concretizar projetos de ascensão profissional e de ampliar sua visão de mundo. (MENEZES, 2005, p.7)
E nesse crescimento a mulher tem um papel de grande destaque na educação, muitos
fatores têm contribuído para esse aumento na população feminina na escola, um deles são as
mudanças de costumes e a inserção no mundo social e do trabalho.
Hoje as mulheres estão modificando sua história, e a EJA tem oportunizado a elas
condições melhores para que seus projetos profissionais e de vida possam se concretizar.
22
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O projeto foi uma pesquisa de campo, com alunas da turma da Educação de Jovens e
Adultos (EJA) em uma escola da rede Municipal de São José/SC, no período de Agosto a
Novembro de 2009.
3.1 Tipos de Pesquisa
Através de pesquisa de campo com abordagem descritiva e quali-quantitativa, por
meio de questionários tivemos a possibilidade de conhecer melhor os sujeitos envolvidos.
A pesquisa descritiva abordou as características da população pesquisada, descrevendo
as condições existentes, possibilitando a pesquisadora uma maior integração com os
pesquisados.
A utilização do método quali-quantitativo possibilita ao pesquisador qualificar os
depoimentos coletivos e ao mesmo tempo quantificar estas variáveis. A presente pesquisa tem
o intuito de apresentar de maneira facilitada os dados coletados através de gráficos
explicativos. A análise das amostras coletadas consiste na verificação e exposição das
informações adquiridas em conjunto com referencias teóricos que embasam os resultados
obtidos, afim de uma melhor compreensão do perfil das mulheres que freqüentam a EJA.
Segundo Ludke e Andre:
“Nestes estudos há sempre uma tentativa de capturar a perspectiva dos participantes, isto é, a maneira como os informantes encaram as questões que estão sendo focalizadas. Ao considerar os diferentes pontos de vista dos participantes, os estudos qualitativos permitem iluminar o dinamismo interno das situações, geralmente inacessível ao observado externo.” (LUDKE E ANDRE apud PADILHA, 2003, p.51)
A pesquisa envolveu dezenove mulheres alunas da Educação de Jovens e Adultos
(EJA) da rede Municipal de São José, com visitas semanais e observação participante, para
que houvesse uma melhor compreensão da pesquisa citada e também para uma melhor
23
integração com essas mulheres. Este tipo de pesquisa permite uma maior aproximação com o
ambiente pesquisado e com os sujeitos que fizeram parte da pesquisa.
É necessário também compreender o contexto onde o sujeito está inserido para que os
dados coletados façam realmente parte da pesquisa.
3.2 População e Amostra
Essa pesquisa foi realizada no Centro Municipal Antônio Francisco Machado
(Forquilhão), com localização a Rua Osvaldo Cruz, s/n°, situado no bairro de Forquilhinhas,
em São José/SC. A coleta de dados se fez no período de Agosto a Novembro de 2009, no
período noturno, com um grupo de 19 (dezenove) mulheres alunas da EJA sendo 07 (sete)
alunas da 5ª série do ensino fundamental e 12 (doze) alunas da turma de Alfabetização fase I e
II, a faixa etária variava de 18 a 57 anos de idade e todas residentes em bairros próximos da
escola.
Com sua fundação no ano de 2003 a instituição conta hoje com aproximadamente 150
funcionários e cerca de 2000 alunos sendo que para o projeto de Educação de Jovens e
Adultos estão matriculados 320 alunos, e possui 18 professores, 4 gestores sendo 1
coordenador pedagógico,1 secretária, 1 auxiliar de ensino e 1 supervisor de turno.
A estrutura física da escola conta com vinte salas de aulas, mas sendo disponibilizadas
para A EJA oito salas, uma biblioteca, uma secretaria, uma sala de direção, uma sala para
especialistas educacionais, uma sala para professores, duas salas de vídeo, um laboratório de
informática, uma sala para xerox, uma cozinha, dez banheiros para alunos e dois banheiros
para funcionários, um anfiteatro, um pátio coberto para o refeitório. Existem outros espaços
na instituição, mas esses não são disponibilizados para as turmas de EJA, como quadras de
esporte, ginásio, sala para fanfarras e danças dentre outros, esses são dados retirados do PPP
(Plano Político Pedagógico, 1996).
O horário para as turmas de Educação de Jovens e Adultos iniciam às 19h00 horas e se
enceram às 21h00horas, com intervalo de 15 minutos para fazer suas refeições que é ofertado
a esses educandos pela instituição, uma oferta muito bem vinda, visto que muitos desses
sujeitos vêm diretos de seus trabalhos para a escola, e pude observar que no período de
24
intervalo é sempre cheio o local do lanche, comprovando que é muito bem aceito por partes
desses alunos da EJA.
3.3 Instrumentos de Coleta de Dados
A presente pesquisa realizou-se com dezenove mulheres, alunas da Educação de
Jovens e Adultos (EJA) no Centro Municipal Antonio Francisco Machado, através de
questionários com 12 (doze) perguntas semi-abertas de múltipla escolha (Apêndice1)
tratando-se de uma pesquisa quali-quantitativa, onde através da análise e interpretação dos
dados poderão ser observados o perfil das participantes para uma melhor compreensão da
pesquisa.
As visitas a instituição foram semanais durante o segundo semestre do ano de dois mil
e nove e teve como intenção uma maior aproximação com as pesquisadas, e com esse
convívio compreender a importância dessa modalidade de ensino em suas vidas.
A elaboração das perguntas foi de forma minuciosa, pois precisava levar em conta o
grau de instrução das pesquisadas, considerando tratar-se de alunas de alfabetização e do
ensino fundamental da EJA, procurou-se então aplicar questões que fosse de fácil
entendimento de ambas as turmas. De acordo com BARBETTA, (2007, p.33): “as perguntas
devem ser formuladas numa linguagem que seja compreensível para todos os elementos da
população e, além disso, não devem deixar duvidas de interpretação.”
Para isso a estratégia utilizada foi de uma entrevista individual, onde foi necessário
fazer a leitura das questões para que as entrevistadas não tivessem duvidas quanto as suas
respostas, promovendo assim análise real dos dados, sem distorções.
25
4 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS
Com a finalidade de conhecer o perfil da mulher matriculada na turma de Educação de
Jovens e Adultos do Centro Educacional Municipal Antônio Francisco Machado, bem como
os fatores que levaram essas mulheres a voltar ou até mesmo iniciar os estudos depois de
longos anos fora da escola e saber o significado dessa formação em sua vida.
Após algumas observações, para uma melhor aproximação com essas mulheres,
apliquei um questionário com doze perguntas, no dia oito de Outubro de dois mil e nove, nas
turmas de Alfabetização I e II e da 5ª série do ensino fundamental, totalizando o numero de 19
alunas de ambas as turmas. O questionário enfatiza os seguintes itens: faixa etária, estado
civil, renda familiar, número de filhos, residentes no lar, ocupação profissional, tempo fora da
escola, se recebeu incentivo para voltar a estudar, objetivos da volta à escola, o que pretende
concluir na escola, se houve dificuldades na volta a escola e o que esse estudo irá contribuir
na sua vida.
Desta maneira apresento a seguir os resultados obtidos nesta pesquisa:
Faixa Etária
21%
11%
21%
36%
11%
Abaixo de 19
20 a 30
31 a 40
41 a 50
Acima 51
Gráfico 1: Faixa Etária. Fonte: Pesquisa realizada em out/2009.
26
Analisando o gráfico 1, pode-se verificar que 36% das mulheres entrevistadas tem a
idade que variam entre 41 a 50 anos. 21% entre 30 a 40 anos, e 21% abaixo de 19 anos de
idade, as mulheres de 20 a 30 anos e as acima de 51 entram na estatística com 11% cada.
Assim podemos verificar que o numero de freqüentadora das aulas da EJA consiste
mais em mulheres de meia idade, ou seja, de 41 a 50 anos, mas também com um numero
expressivo de mulheres jovens abaixo de 19 anos, formando assim uma turma heterogenia.
Muitas dessas mulheres nunca haviam estado em uma escola, e a Educação de Jovens
e Adultos foi onde encontraram o caminho para sua escolarização.
Segundo Menezes em seu artigo nos aponta que:
Por outro lado, apesar das mulheres serem maioria entre os adultos analfabetos, o Censo do IBGE também indica que em 2000 foi a população feminina brasileira quem mais freqüentou a escola na alfabetização de adultos e também nos outros níveis a partir do ensino médio. Ou seja, são elas que, sobretudo na idade adulta têm voltado à escola para retomar a sua escolarização. (MENEZES, 2003, p.3)
Desta maneira, pode-se constatar que embora com idade avançadas as mulheres
estejam procurando cada vez mais se escolarizar, o paradigma de estar mais velho significava
ficar parado esperando o tempo passar, e isso mudou com o passar dos anos, embora com
mais idade as mulheres estão indo em busca de um ideal melhor para as suas vidas.
27
Gráfico 2: Estado Civil Fonte: Pesquisa realizada em Out/2009.
Compreende-se através do gráfico 2 apresentado que o número de alunas da EJA
acentua-se mais dentre as casadas, cerca de 42% das entrevistadas. As mulheres solteiras
seguem em numero expressivo de 32% , Já as viúvas, separadas/divorciada contabilizam 5%
das entrevistadas e as de união estável abrange16%.
Assim pode-se analisar que estar casada ou ter uma união estável não é obstáculo para
que a mulher volte a estudar hoje o preconceito que mulher casada tem que ficar em casa
“dirigindo o fogão” modificou com o passar do tempo, pois como muitas relataram em
observações que os maridos apóiam a decisão de estudar e se profissionalizar. Por outro lado
as mulheres solteiras optam primeiro em obter uma formação escolar, para só então constituir
famílias, já as mulheres que não possuem companheiro vêem à volta a escola como meio de
distração e local para novas amizades, alem da aquisição de novos conhecimentos. Segundo o
relato de uma aluna da classe de alfabetização:
“Fiquei viúva e entrei em depressão, e minha irmã vendo minha situação me
matriculou na EJA, e vindo para cá encontrei novo sentido para viver” (Z. 57 anos)
28
Gráfico 3: Número de Filhos Fonte: Pesquisa realizada em out/2009
De acordo com o gráfico 3, relacionado ao número de filhos, percebe-se que há uma
dispersão, com 32% das famílias com 3 filhos e 32% não tem filhos, seguida de 16% das
famílias com mais de 3 filhos e famílias com apenas um ou dois filhos cerca de 10% das
entrevistadas.
Uma nova realidade tem modificado o conceito de famílias populosas, o que antes
seria natural, ter um número expressivo de filhos, hoje o controle de natalidade está mais
complexo no mundo das mulheres.
Para fazer frente a esta situação, a sociedade se organizava para manter elevadas taxas de fecundidade. As mulheres casavam cedo e não utilizavam qualquer meio de controle de natalidade. O numero de filhos dependia da “vontade de Deus”. (ALVES, 2003, p.137)
Conforme Alves (2003), antes era comum família numerosa em todas as classes
sociais. Hoje a retórica é outra, há um controle da reprodução e não esta sob responsabilidade
só das mulheres e sim de todos. Dentre as entrevistadas, as que possuem maior idade são
também as que possuem o maior numero de filhos, o que muda nas gerações mais novas, que
preferem ter filhos mais tarde, com o intuito de primeiro estudar e se profissionalizar, assim
deixando o sonho de ser mãe para o futuro.
29
Gráfico 4: Numero de Residentes no domicílio. Fonte: Pesquisa realizada em out/2009 O gráfico acima nos mostra que na casa de 48% das entrevistadas residem um numero
superior a 3 pessoas, seguida de 26% com apenas 2 residentes, 21% com 3 moradores e 5%
moram sozinhas.
Analisando o gráfico 4 ratifica-se o que foi exposto no quadro 3, que mulheres com
mais idade, possuem familias mais numerosas, onde além da criação dos filhos há ainda a
criação de netos.
30
Gráfico 5: Ocupação Profissional Fonte: Pesquisa realizada em out/2009 Verifica-se no gráfico 5 que 47 % das alunas entrevistadas trabalham como
Autônoma em diversas funções como Faxineira, diarista, babá e vendedora de cosmético;
32% trabalham em empresas privadas ou pública ( operadora de caixa, auxiliar de serviços
gerais, auxiliar de cozinha), 21 % não possuem ocupação remunerada ou seja são do lar, e na
turma pesquisada não há aposentadas entre elas.
Desta forma uma das necessidades maiores dessas mulheres é a busca do
conhecimento que pode abrir novas portas para que sua ocupação profissional possa se
ampliar, muitas delas atraves da EJA tem a esperança de conseguir um emprego melhor como
nos mostra o relato de uma aluna da turma de Alfabetização:
“Meu sonho é me formar e conseguir um emprego melhor, assim eu posso sair da faxina,
porque é um emprego que cansa muito e não somos valorizada.” (S. 32 anos)
Por esse motivo, causado talvez pelos preconceitos que ainda circulam na nossa sociedade associando chefias com masculinidade, convém investir em políticas que estimulem as meninas e mulheres a assumir postos de liderança e a lutar por salários mais altos. (PEDRO, 2003, p.21)
31
Vale lembrar que embora as mulheres tenham se qualificado mais nos ultimos tempos
em busca de melhores empregos e por consequência melhores salários, ainda hoje em relação
aos homens estamos muito atrás de uma igualdade em termos de remuneração.
Gráfico 6: Renda Familar Fonte: Pesquisa realizada em out/2009
Conforme analisado no gráfico 6, percebe-se que 63% das alunas têm renda familiar
mensal no valor de 1 a 2 salários mínimos (R$ 930,00), seguida de 21% que ganham o valor
de 2 a 4 salários mínimos equivalente a (R$ 1860,00) e por ultimo, 16% das entrevistadas
recebem renda superior a 4 salários mínimos abrangendo mais de (R$ 2000,00).
Verifica-se então que embora se tenha um numero expressivo de mulheres com renda
familiar considerada como classe média, as diferentes classes sociais são evidentes na
pesquisa, pois a maioria das entrevistadas possui uma renda considerada baixa. Distante do
que imaginávamos não são somente as pessoas de baixa renda que procuram a EJA para
melhorar seus projetos de vida, seja profissional ou pessoal, mas também alunas que já
possuem salários considerados satisfatórios que buscam uma melhor qualificação de sua
ocupação profissional, e como conseqüência um melhor salário.
32
Na busca de novos horizontes, hoje as mulheres têm se voltado para a escola fazendo um caminho inverso ao que fizeram anos atrás, na tentativa de descobrir quem são e o que querem. Nesse sentido a EJA tem se colocado para os sujeitos da pesquisa como uma oportunidade de concretizar projetos de ascensão profissional e de ampliar sua visão de mundo. (MENEZES, 2005, p.7-8).
Diante do exposto a escolarização para os sujeitos serve como caminho para uma
melhor qualidade de vida, e por conseqüência melhores salários.
Gráfico 7: Tempo fora da Escola Fonte: Pesquisa realizada em out/2009
Percebe-se no gráfico 7 que 74% das alunas da EJA estão mais de 15 anos fora da
escola e muitas delas sequer frequentaram uma um dia. Já 21% delas estão a menos tempo
sem estudar de 01 a 5 anos, e 5% estão entre 11 a 15 anos afastada da escola.
Dentre as que nunca estudaram vários foram os motivos pelo qual não puderam
frequentar a escola tais como: sem condiçoes financeiras, matrimônio e localização da escola
(longe de onde residiam ). Já as demais, vários foram os motivos que fizeram com que elas
não pudessem estudar ( vontade própria, filhos, emprego). Nota-se que para essas pessoas o
processo de aprender hoje tem uma certa urgencia, pois querem recuperar o tempo perdido, e
a formação na EJA é o passagem mais rapida para essa escolarização.
33
Assim, a EJA parece nas últimas décadas estar se configurando num espaço onde se tem buscado paulatinamente superar a exclusão das mulheres do sistema escolar. Através dela, muitas brasileiras estão tendo a oportunidade de iniciar ou continuar a sua escolarização. (MENEZES, 2005, p.2)
Neste sentido é preciso que as propostas pedagógicas visem estratégias para que esses
Jovens e Adultos permaneçam na instituição, pois se não há tática para que a aprendizagem
tenha significado na vida desses sujeitos, é preciso criar métodos que valorizem o
conhecimento de vida e dentre eles inserir novos aprendizados e com isso acabar com a
evasão dentro do espaço escolar, e assim modificando o cenário Nacional de pessoas sem
instrução escolar.
Gráfico 8: Incentivo para voltar a Estudar. Fonte: Pesquisa realizada em out/2009
Pode-se verificar que 74% das mulheres entrevistadas, receberam incentivos para
voltar a estudar. As entrevistadas relataram que o maior incentivo vem dos familiares
principalmente os filhos, para que elas concluam seus estudos. Porem 26 % não tiveram esse
estímulo, mas mesmo assim não desistem do estudo e fazem desse obstáculo mais uma forma
de força e garra para a conclusão de seus objetivos.
34
Gráfico 9: Objetivo para voltar a estudar. Fonte: Pesquisa realizada em out/2009
Constatou-se que 26% das entrevistadas voltaram a estudar com a expectativa de um
melhor emprego, enquanto 37% retornaram aos estudos em busca de um crescimento pessoal,
e 37% pretendem tanto crescer pessoalmente como profissionalmente.
Crescimento pessoal e profissional é um desejo importante na sociedade atual, e é
através dos estudos que esses objetivos podem ser alcançados, pois sem eles conquistar o
status almejado torna-se mais dificil. Por isso é preciso que o educador tenha um olhar atento
para essas pessoas que buscam na EJA seu crescimento e sua expectativa de vida, como nos
aponta Lopes e Souza:
É papel do professor, especialmente do professor que atua na EJA, compreender melhor o aluno e sua realidade diária. Enfim, é acreditar nas Possibilidades do ser humano, buscando seu crescimento pessoal e profissional. (LOPES, SOUZA, 2005, p.2)
Com o passar dos anos a exigência no mercado de trabalho, está cada vez mais rígida,
é necessário que o cidadão busque uma formação que una a pratica e teoria. E é com base
nesta cobrança que 26% das mulheres abordadas decidiram voltar a estudar encontrando na
EJA essa oportunidade.
35
Outro dado contado por elas foi o de voltar a estudar para ajudar seus filhos ou netos
na tarefa escolar, pois sentiam a necessidade de ajudar, mas não podiam, pois não tinham
estudos e esse foi um grande impulso para voltar a estudar.
Grafico 10: Objetivo de conclusão escolar Fonte: Pesquisa realizada em out/2009
Analisando o gráfico10, verificamos que 53% das mulheres têm a pretensão de
concluir o ensino superior. Para 21% das entrevistadas a conclusão do ensino médio satisfaz
seu desejo e 26% contentam-se apenas com o ensino fundamental.
Percebe-se que muitas dessas mulheres visam um futuro escolar grandioso, para a
maioria estar graduada é um sonho a percorrer, mas vale lembrar que a pesquisa trata sobre
mulheres que estão na classe de alfabetização e ensino fundamental, e muitas dessas alunas já
estão próximos a terceira idade ou já fazem parte dela, portanto para que elas almejem esse
sonho é um longo caminho a percorrer, mas que não será obstáculo, pois vontade e disposição
todas têm e muito.
Mesmo as que não desejem chegar ao ensino superior, por achar que seria impossível
tal feito, cabem aos educadores dessa modalidade dar o incentivo para que essas mulheres não
desistam de suas vontades, pois o primeiro passo de estar ali, já foi iniciado por elas e agora é
importante dar incentivo, motivação e instigá-las a todo o momento, pois o poder de querer é
que impulsiona para vôos mais altos.
36
O que importa, na formação docente, não é a repetição mecânica do gesto, este ou aquele, mas a compreensão do valor dos sentimentos, das emoções, do desejo, da insegurança a ser superada pela segurança, do medo que, ao ser “educado”, vai gerando a coragem. (FREIRE, 1996, p.45)
É nesse contexto que os educadores precisam contribuir para a permanência dessas
mulheres na escola, dando-lhes mais confiança e motivações para que tenham autonomia para
modificar sua própria história. E é na EJA que elas buscam alcançar seus sonhos.
Gráfico 11: dificuldades encontradas na volta à escola. Fonte: Pesquisa realizada em out/2009
Observando o gráfico 11, vemos que para 68 % das mulheres a dificuldade no
aprendizado é o maior obstáculo na sua volta a escola, sendo para 16% o preconceito também
serve de barreira para a sua escolarização e 16% moram longe da escola que dificulta a
acessibilidade às aulas.
Verifica-se que o aprendizado para muitos desses sujeitos que ingressam na EJA é a
maior barreira a ser enfrentada, elas chegam como podemos analisar com muitos sonhos a
concluir, mas a baixa estima e a dificuldade de memorizar o conteúdo atravancam esse
aprendizado, fazendo com que muitas desistam de chegar ao seu objetivo, para isso é preciso
dar atenção a esses educandos para que eles não percam a esperança e a motivação de
aprender com entusiasmo.
37
Não é difícil compreender, assim, como uma de minhas tarefas centrais como educador progressista seja apoiar o educando para que ele mesmo vença suas dificuldades na compreensão ou na inteligência do objeto e para que sua curiosidade, compensada e gratificada pelo êxito da compreensão alcançada, seja mantida e, assim, estimulada a continuar a busca permanente que o processo de conhecer implica. (FREIRE, 1996, p.119)
Outra dificuldade apontada pelas entrevistadas foi o preconceito, de ser alfabetizar já
na idade adulta. Muitas dessas mulheres não falam que estudam na EJA, pois relataram que
para muitas pessoas são julgadas como “burras” que já estão “velhas” para tal feito ou que
lugar de mulher é em “casa”, é inaceitável que em pleno século XXI ainda ouçamos histórias
como essas, pois muitas mulheres já provaram que estar no poder é possível sim, no nosso
país grandes momentos de nossa história foi construído por mulheres, e o direito à instrução é
uma conquista histórica, alcançada em meados do século XIX, pela mulher brasileira. Como
nos aponta Menezes:
Assim, a subestimação da inteligência feminina é um preconceito muitas vezes reforçado pela família. Isso pode contribuir para a interiorização da inferioridade, desenvolvendo uma baixa auto-estima da mulher como podemos observar... (MENEZES, 2003, p.11)
Portanto é preciso lembrar que a EJA é capaz de mudar significadamente a vida daquele sujeito que está naquele contexto se propondo a esse mudança na sua vida, mas para isso é preciso modificar a maneira que a sociedade e as famílias encaram esses sujeitos.
É preciso que a sociedade compreenda que alunos de EJA vivenciam problemas como preconceito, vergonha, discriminação, críticas dentre tantos outros. E que tais questões são vivenciadas tanto no cotidiano familiar como na vida em comunidade (LOPES, SOUSA, 2005.p.2)
Embora o Centro Municipal Antonio Francisco Machado fique localizado no bairro
central de Forquilhinhas, muitas alunas moram em bairros mais distantes, e percorrem certa
distância para chegar a escola e encontram dificuldade para a conclusão de seus estudos. Por
isso é imprescindível que esse projeto de continuidade nesta instituição, pois infelizmente não
é em todos os centros educacionais que a EJA é ofertada para as pessoas, e com isso os
38
sujeitos se vêem obrigados a se deslocarem de seus bairros para poder estudar, tornando-se
muitas vezes um empecilho e motivos de desistência.
Contribuição do estudo para a vida
5%
32%
26%
37%
Fazer novos
conhecimentos
Crescimento pessoal
Melhor emprego
todos
Gráfico 12: Contribuição do estudo para a vida Fonte: Pesquisa realizada em out/2009
Constatou-se que 26% das entrevistadas voltaram a estudar com a expectativa de um
melhor emprego, enquanto 32% retornaram aos estudos em busca de um crescimento pessoal,
37% pretendem tanto crescer pessoalmente como profissionalmente e 5% buscam adquirir
novos conhecimentos.
Neste sentido a EJA é de suma importância na vida dessas mulheres, que buscam uma
melhor preparação para o mercado de trabalho, mas não somente isso, mas buscam crescer
pessoalmente, repensando sua vida a partir de um novo horizonte. Para muitas dessas
mulheres o fato de já saberem ler e escrever já as torna fazendo parte de uma sociedade como
cidadã, pois antes não se sentiam assim, dependiam das pessoas para poder sobreviver nesse
mundo letrado. Como pude constatar na fala de uma das alunas:
“Antes não saia de casa, porque não sabia nem pegar um ônibus, não sabia ler nem
escrever, como é difícil ter que depender de alguém para tudo.” Hoje eu vou a todos os lugares e
não preciso mais dos outros, é como se eu dependesse de bengala, sabe?”(N.46 anos)
39
Analisando o depoimento das alunas, o crescimento pessoal para elas tem um
significado importante na vida delas, é como se antes dessa escolarização não se viam fazendo
parte desse mundo, e hoje se sentem libertas para uma nova fase de descobertas e motivação
para aprender mais.
Num primeiro momento, é possível notar que elas se sentem satisfeitas em estar na escola aprendendo, e que vêem este local de aprendizagem como um espaço de circulação de diferentes conhecimentos e saberes pertinentes para suas vidas, inclusive como fator de socialização. De uma maneira geral, depositam muita confiança na escola, compartilhando com os colegas e seus professores, suas angústias, desejos e conquistas pessoais, sendo um local de descobertas. (BALLERINI, 2006, p.1)
A aquisição de novos conhecimentos, a mudança em suas vidas, a força de vontade em
superar obstáculos, é o que torna a vida dessas mulheres mais significativas e prazerosas. É
fascinante ver o quanto elas valorizam os estudos, mesmo com dificuldades elas erguem a
cabeça e seguem em frente.
40
5 CONSIDERAÇOES FINAIS
Através da pesquisa realizada, que teve como finalidade conhecer o perfil da mulher
freqüentadora das turmas de Alfabetização e Ensino Fundamental da Educação de Jovens e
Adultos, matriculadas no Centro Municipal Antonio Francisco Machado (Forquilhão),
conseguiu-se alcançar os objetivos propostos.
A pesquisa apresentou também, relatos dessas mulheres que auxiliaram na
compreensão do perfil e objetivos das alunas da EJA, e também sugestões apresentadas por
elas que poderão contribuir futuramente para um aperfeiçoamento dos profissionais
modificando a prática educacional e criando novas estratégias para que os educandos sintam-
se envolvidos no processo de aprendizagem, possibilitando assim uma maior motivação e
melhor desempenho nas salas de aula.
Participaram da pesquisa alunas da Educação de Jovens e Adultos com as mais
variadas ocupações: do lar, estudante, empregada doméstica, cozinheira, faxineira, vendedora,
auxiliar de serviços gerais, dentre outros. No grupo, também há alunas que estão fora do
mercado de trabalho em função da dificuldade em conseguir um emprego formal. Por isso,
muitas delas têm a preocupação de se qualificarem através da EJA, uma oportunidade que
todas aproveitam com muita responsabilidade e perseverança.
A escolarização para os indivíduos representa mais que obter conhecimentos formais,
para os sujeitos estar inserido na escola significa um resgate de sua cidadania, seu estar no
mundo e fazer parte dele, não como mero expectador, mas modificando seu contexto social e
cultural.
No mundo capitalista onde a concorrência é cada vez maior, estar preparado significa
mais que ser um bom profissional, é ter graus maior de escolaridade, e na contra-mão está a
mulher que por diversos motivos não pode concluir e até mesmo nem freqüentar uma escola,
não é por acaso que as mulheres são maioria absolutas em todos os níveis de escolaridade,
como nos mostra as estatísticas que comprovam essa tese, ao longo da história podemos
perceber as estratégias usadas pelas mulheres afim de conquistar seu espaço na sociedade.
A Educação de Jovens e Adultos abriu muitas portas para o sujeito que estava
desacreditado por ele mesmo e por uma sociedade que a todo o momento cobra que seja ao
41
menos alfabetizado, pois a todo o lugar e a todo o momento precisamos no mínimo saber ler,
para não ficar dependente de alguma pessoa, e ficar à mercê da ajuda das pessoas, como se
fosse cego e precisasse de guia a todo o momento. Aprender a ler e escrever é tão pouco para
quem já sabe, mas para os que nunca conheceram as letras, é muito mais do que precioso.
Como foi possível perceber na pesquisa, o aprendizado tem fundamental importância
na vida das alunas da EJA: “Antes não saia de casa, porque não sabia nem pegar um
ônibus, não sabia ler nem escrever, como é difícil ter que depender de alguém para tudo.”
Hoje eu vou a todos os lugares e não preciso mais dos outros, é como se antes eu
dependesse de bengala, sabe?”(L.46 anos).
Partindo desse pressuposto, a mulher começou a vivenciar seus sonhos e buscou sua
realização pessoal e profissional, depois de muitos anos com o anseio de estudar, decifrar
palavras, mensagens, poder pegar um ônibus, ler o nome de uma rua, e muitas delas, assinar o
próprio nome, é mais que um desejo realizado é força e determinação que fizeram essa mulher
concretizar suas vontades.
Por isso a valorização que os Jovens e Adultos apresentam ao voltar a estudar é muito
grande, a cada letra, a cada aprendizado para eles é muito significativo, e até mesmo para os
professores que ali se encontra, ensinar é mais que transmitir o conteúdo, a cada aula aplicada
é uma lição de vida para esses profissionais.
Em tese a escola precisa ser além do espaço de aprendizagem, um lugar onde o
aconchego das pessoas possa atribuir à construção de novos conhecimentos, novas
identidades culturais, reinventando e construindo novos valores, principalmente para os
alunos da EJA, é um local onde além de aprender, pode e deve ser construídas novas historias
de vida, de sociedade e cidadania. Assim a sala de aula passa a ser um espaço não mais
temido por todos, mas sim desejado sempre.
Por isso essa pesquisa veio ao encontro com meu objetivo, o valor da Educação de
Jovens e Adultos para os sujeitos, em especial as mulheres, que para elas com todo o
retrospecto histórico nos mostra que a dificuldade e o preconceito faziam parte de sua vida.
E hoje com a mudança de perfil de famílias, a mulher é mais que um destaque em
nossa sociedade, pois ela além de voltar a estudar e se profissionalizar, conseguiu modificar
toda uma teoria de fragilidade e inutilidade, hoje ela esta em todos os seguimentos com
grande potencial de crescimento.
42
6 REFERENCIAS
ALVES, Branca Moreira e PITANGUY, Jaqueline. O que é Feminismo. São Paulo, Ed: Abril Cultural, Brasiliense, 1985.
ALVES, José Eustáquio Diniz. Mulheres em Movimento: Voto, Educação e Trabalho. Ouro Preto: Ed.REM, 2003.
BALLERINI, Damiana . Vivências e significados de escola para mulheres na Educação de Jovens e Adultos (EJA). In: VII Seminário Internacional Fazendo Gênero: Gênero e Preconceitos, 2006, Florianópolis. Anais do VII Seminário Internacional Fazendo Gênero: Gênero e Preconceitos.
BANDEIRA, Lourdes Maria. Feminismo: Memória e História. In SALES, Celecina de Maria Veras; AMARAL, Célia chaves Gurgel do; ESMERALDO, Gema G. Silveira Leite(orgs). Feminismo: memória e historia. Fortaleza: Imprensa Universitária, 2000.
BARBETTA, Pedro Alberto. Estatística aplicada às ciências sociais. Florianópolis, Ed. da UFSC, 7ª Edição, 2007.
BELLO, José Luiz de Paiva. Educação no Brasil: a História das rupturas. Pedagogia em Foco, Rio de Janeiro, 2001. Disponível em: http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/heb14.htm Acessado em: 23/Maio/2009.
FÁVERI, Marlene de. Personagens à Beira de um porto: Mulheres de Itajaí. In: MORGA, Antonio Emilio (Org) História das Mulheres de Santa Catarina. Florianópolis: Letras Contemporâneas; Chapecó: Argos, 2001.
FREIRE, Paulo. Educação e mudança. Rio de Janeiro: 12ª Ed. Paz e Terra, 1983.
______. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à Pratica educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) Censo Escolar. 2006. Disponível em: http://www.inep.gov.br/imprensa/noticias/censo/escolar/news07_02.htm. Acessado em 15.Maio.2009.
INEP(Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) Censo de Educação Superior. Disponível em: http://www.inep.gov.br/superior/censosuperior/ Acessado em 14/ Agos/ 2009.
LAFFIN, Maria Hermínia Lage Fernandes. A Constituição da Docência na Educação de Jovens e Adultos.1998. Disponível em:http://www.anped.org.br/reunioes/30ra/trabalhos/gt18-2847--int.pdf Acessado em 23/set/2009.
43
LIPOVETSKY, Gilles. A terceira Mulher: Permanência e revolução do feminino. Tradução de Maria Lucia Machado. São Paulo:Companhia das Letras,2000.
LOPES, Selva Paraguassu; SOUZA, Luzia Silva. EJA: uma educação possível ou mera utopia? Revista Alfabetização Solidária (Alfasol), Volume V, setembro, 2005. Disponível em: http://www.cereja.org.br/pdf/revista_v/Revista_SelvaPLopes.pdf Acessado em Out/2009.
LOURO, Guacira Lopes, Mulheres Na Sala De Aula. In História das mulheres no Brasil. PRIORE, Mary Del. (org) ; Bassanezi (coord. De textos). 2 ed.São Paulo:Contexto,1997.
MENEZES, Cristiane Souza de. A Participação Feminina em Turmas da Educação de Jovens e Adultos. V Colóquio Internacional Paulo Freire. Recife. 19 a 22/set.2005
______. As relações de Gênero no processo de escolarização de alunas da Educação de Jovens e adultos. Artigo científico. Recife. 2004. Disponível em:
http://www.fundaj.gov.br/licitacao/relacaodegenero.pdf Acessado em jun/2009.
PADILHA, Sirlei. Voltando à escola: um estudo da questão com os alunos do curso de Educação de Jovens e Adultos. 2003. Dissertação (mestrado em engenharia de produção)- Programa de Pós-Graduação em engenharia de Produção, UFSC, Florianópolis.
PASSOS, Elisete da Silva. O movimento Feminista e as lutas por Educação. In SALES, Celecina de Maria Veras; AMARAL, Celia Chaves Gurgel do; ESMERALDO, Gema G.Silveira Leite. (org) Feminismo: Memória e história. Fortaleza: Imprensa Universitária, 2000.
PEDRO, Joana Maria. Mulheres na Educação. Artigo Cientifico. Florianópolis, 2003.
______.Mulheres do Sul. PRIORE, Mary Del. (Org) História das Mulheres no Brasil. 2 ed. São Paulo: Contexto,1997.
PIERRO, Maria Clara Di. Descentralização, focalização e Parceria: uma analise das tendências nas Políticas Publicas de Educação de Jovens e Adultos. Artigo Científico. Educação e Pesquisa, São Paulo, V 27, n.2, p.321-337. Jul/Dez.2001.
PRIORE, Mary Del. (Org) História das Mulheres no Brasil. 2 ed. São Paulo: Contexto,1997.
PROSBT, E. R. (2003) “A evolução da mulher no mercado de trabalho”. Revista Leonardo Pós Órgão de Divulgação Científica e Cultural do IPCG, 1,n.2. Disponível em: http://www.ipc.com.br/artigos/rev02-05.pdf Acessado em: 16/out/ 2009
RISTOFF, Dilvo. A trajetória da mulher na educação brasileira. 2006. Disponível em : http://www.universia.com.br/noticia/materia_clipping.jsp?not=29621. Acessado em: 15/maio/2009.
44
SILVA, Vilma M. da. As implicações das relações de gênero no processo de evasão da educação de jovens e adultos. 1999.89f. Monografia (especialização) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 1999.
WOLFF, Cristina Sheibe. Como se forma uma “boa dona de casa”: A Educação das mulheres teuto Brasileiras na colônia Blumenau (1850-1900). In.MORGA, Antonio Emilio (Org) História das Mulheres de Santa Catarina. Florianópolis: Letras Contemporâneas; Chapecó: Argos, 2001.
EDUCAÇÃO de Jovens e Adultos. Equipe Clorofila. Disponível na Internet via:>
http://www.moodle.ufba.br/mod/book/view.php?id=9945&chapterid=9315 >
Acessado em 22/maio/2009.
PESQUISAS EJA. Terra. Disponível na Internet via:> http://noticias.terra.com.br/educacao/interna/0,,OI3778985-EI8266,00-Pesquisa+EJA+e+mais+frequentado+na+regiao+Sul+e+por+mulheres.html >
Acessado em 13/jun/2009.
O PERFIL DA MULHER NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS (EJA)UMA
ABORDAGEM NO CONTEXTO EDUCATIVO
Acadêmica: Raquel Péres de Mello
Orientadora: Silvanira Lisbôa Scheffler
Este questionário é destinado às alunas da EJA e servirá na elaboração do trabalho de conclusão do curso de Pedagogia. Este trabalho visa conhecer o perfil da mulher, conhecendo quais são os motivos que as afastaram da escola, o que as incentivou a voltar a estudar e quais são as suas expectativas e objetivos com a escola e seus projetos de vida.
1 Qual sua faixa etária?
Abaixo de 19 ( ) 20 a 30 ( ) 31 a 40 ( ) 41 a 50 ( ) acima de 51 ( )
2 Qual seu estado civil?
Solteira ( ) casada ( ) separada/divorciada ( ) Viúva ( ) união estável ( )
Outra Qual:_______________________
3 Você tem filhos?
Nenhum ( ) 01( ) 02( ) 03( ) acima de 03 ( )
4 Quantas pessoas moram na sua casa?
01( ) 02( ) 03( ) acima de 03 ( )
5 Qual a sua profissão?
Autônoma ( ) profissional liberal( ) aposentada ( ) do lar ( )
Outra:Qual:__________________
6 Qual a renda familiar?
1 a 2 salários ( ) 2 a 4 salários ( ) acima de 4 salários ( )
7 Quanto tempo você está fora da escola?
1 a 5 anos ( ) 6 a 10 anos ( ) 11 a 15 anos ( ) nunca frequentou ( )
8 Você recebeu incentivo para voltar a estudar?
Sim ( ) Não ( )
9 Quais os objetivos de sua volta para a EJA?
Profissional ( ) Pessoal ( ) Ambos ( )
10 Você pretende concluir:
Ensino fundamental ( ) ensino médio ( ) ensino superior ( )
11 Quais as dificuldades você encontrou na volta à escola
Dificuldade no aprendizado ( ) localização da escola ( )
Preconceito ( ) Questões familiares ( )
12 Para você o que o estudo pode contribuir para a sua vida
( ) fazer novos conhecimentos ( ) crescimento pessoal ( ) melhor emprego
todos ( )
Sugestões
________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Obrigada!
DECLARAÇÃO
DECLARAMOS para os devidos fins que o artigo intitulado: O PERFIL DA MULHER NA
EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS - EJA: UMA ABORDAGEM NO
CONTEXTO EDUCATIVO, resultante do Trabalho de Conclusão do Curso (TCC) de
Pedagogia do Centro Universitário Municipal de São José – USJ de autoria de: Raquel Péres
de Mello foi devidamente revisado por um profissional da Língua Portuguesa.
São José, 11 de dezembro de 2009.
____________________________________
Raquel Péres de Mello