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O PERFIL DE ACIDENTABILIDADE ENTRE TRABALHADORES EFETIVOS E TERCEIRIZADOS DE UMA INDÚSTRIA DE AÇO 1. Introdução Adaptação empresarial à racionalização econômica O revigoramento avassalador da terceirização nas décadas de 80-90 fermentou a eclosão de pesquisas que analisam as relações interfirmas, nas quais se formularam interessantes ferramentas para análise do fenômeno em pauta. Destas, duas pareceram mais adequadas ao propósito de examinar a empresa ora transformada em território deste trabalho. A primeira delas se interessa pelo comportamento de algumas empresas frente ao que se convencionou chamar de realidade de mercado, cujas tendências indicam uma concentrada atenção à flexibilização do trabalho, mediada por procedimentos mais globais, denominados “estratégias de adaptação das empresas” (RUAS, 1994), as quais visam a sua permanência num mercado crescentemente competitivo e globalizado. São anunciadas três estratégias básicas para o impulsionamento da reestruturação produtiva na América Latina, embora não aplicáveis a todo o universo, já que se está tratando de um fenômeno heterogêneo. A primeira, a estratégia de adaptação restritiva, tem predominado nos setores mais tradicionais da economia, quando se registram altas taxas de rotatividade e redução do emprego permanente, com ampliação da subcontratação, em contratos temporários, parciais ou trabalho a domicílio, tendendo à redução dos salários médios. As empresas que se utilizam dessa estratégia se voltam particularmente para o mercado interno e, se exportam, o preço é a principal vantagem competitiva. São empresas que têm reduzida capacidade de inovação, usam extensivamente a sua força de trabalho em trabalhos de menor complexidade, assim como o são também os salários, e não aderem a nenhuma política de treinamento. E mais destacam poucos recursos à pesquisa e ao desenvolvimento de processos e produtos, apresentando debilidade na implementação de novas técnicas já em uso em outros segmentos. São características suas também a média salarial mais baixa, a taxa de rotatividade mais alta, os níveis de escolaridade e qualificação menores do que os apresentados pelo conjunto das indústrias, sendo raro empresas de adaptação restritiva desenvolverem uma política de administração de recursos humanos, com estrutura de cargos e salários, promoção e profissionalização de seus trabalhadores. A adaptação restritiva é uma estratégia predominante nas fases iniciais da reestruturação, onde mecanismos redutores da força de trabalho são largamente utilizados, quando se nota o aumento dos índices gerais de rotatividade, redução dos salários médios, empregos permanentes substituídos por atividades temporárias, parciais ou a domicílio sob o regime de subcontratação. A segunda, a estratégia de adaptação limitada, situa-se também nos setores tradicionais, que já experimentaram a estratégia restritiva, substituindo-a pela “limitada” face às exigências de clientes ou de novos métodos de produção mais apropriados à competitividade dos mercados externos, para os quais tais empresas se voltam. Porém, as melhorias implementadas são parciais e localizadas, quando lançam mão de práticas que permitem a melhoria e o controle dos processos produtivos, introduzindo o controle estatístico de processo (CEP), células de produção, mini - fábricas ou Kanban - instrumentos vistos como solução restritamente técnica e como resposta aos problemas oriundos do sistema de produção, no qual se quer imprimir tanto flexibilidade como qualidade. As empresas que se utilizam da adaptação limitada não aderem a programas de “treinamentos” mais amplos; e se os têm, são voltados para questões pontuais.

O PERFIL DE ACIDENTABILIDADE ENTRE TRABALHADORES EFETIVOS

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O PERFIL DE ACIDENTABILIDADE ENTRE TRABALHADORES EFETIVOSE TERCEIRIZADOS DE UMA INDÚSTRIA DE AÇO

1. Introdução Adaptação empresarial à racionalização econômica

O revigoramento avassalador da terceirização nas décadas de 80-90 fermentou aeclosão de pesquisas que analisam as relações interfirmas, nas quais se formularaminteressantes ferramentas para análise do fenômeno em pauta. Destas, duas pareceram maisadequadas ao propósito de examinar a empresa ora transformada em território deste trabalho.

A primeira delas se interessa pelo comportamento de algumas empresas frente ao quese convencionou chamar de realidade de mercado, cujas tendências indicam uma concentradaatenção à flexibilização do trabalho, mediada por procedimentos mais globais, denominados“estratégias de adaptação das empresas” (RUAS, 1994), as quais visam a sua permanêncianum mercado crescentemente competitivo e globalizado. São anunciadas três estratégiasbásicas para o impulsionamento da reestruturação produtiva na América Latina, embora nãoaplicáveis a todo o universo, já que se está tratando de um fenômeno heterogêneo.

A primeira, a estratégia de adaptação restritiva, tem predominado nos setores maistradicionais da economia, quando se registram altas taxas de rotatividade e redução doemprego permanente, com ampliação da subcontratação, em contratos temporários, parciaisou trabalho a domicílio, tendendo à redução dos salários médios.

As empresas que se utilizam dessa estratégia se voltam particularmente para omercado interno e, se exportam, o preço é a principal vantagem competitiva. São empresasque têm reduzida capacidade de inovação, usam extensivamente a sua força de trabalho emtrabalhos de menor complexidade, assim como o são também os salários, e não aderem anenhuma política de treinamento. E mais destacam poucos recursos à pesquisa e aodesenvolvimento de processos e produtos, apresentando debilidade na implementação denovas técnicas já em uso em outros segmentos. São características suas também a médiasalarial mais baixa, a taxa de rotatividade mais alta, os níveis de escolaridade e qualificaçãomenores do que os apresentados pelo conjunto das indústrias, sendo raro empresas deadaptação restritiva desenvolverem uma política de administração de recursos humanos, comestrutura de cargos e salários, promoção e profissionalização de seus trabalhadores.

A adaptação restritiva é uma estratégia predominante nas fases iniciais dareestruturação, onde mecanismos redutores da força de trabalho são largamente utilizados,quando se nota o aumento dos índices gerais de rotatividade, redução dos salários médios,empregos permanentes substituídos por atividades temporárias, parciais ou a domicílio sob oregime de subcontratação.

A segunda, a estratégia de adaptação limitada, situa-se também nos setorestradicionais, que já experimentaram a estratégia restritiva, substituindo-a pela “limitada” face àsexigências de clientes ou de novos métodos de produção mais apropriados à competitividadedos mercados externos, para os quais tais empresas se voltam. Porém, as melhoriasimplementadas são parciais e localizadas, quando lançam mão de práticas que permitem amelhoria e o controle dos processos produtivos, introduzindo o controle estatístico de processo(CEP), células de produção, mini - fábricas ou Kanban - instrumentos vistos como soluçãorestritamente técnica e como resposta aos problemas oriundos do sistema de produção, noqual se quer imprimir tanto flexibilidade como qualidade.

As empresas que se utilizam da adaptação limitada não aderem a programas de“treinamentos” mais amplos; e se os têm, são voltados para questões pontuais.

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As estratégias de adaptação global são aplicadas pelos setores mais dinâmicos que sedirigem para o mercado externo. Estes, a par dos novos padrões de competitividade e parafazer frente à crise, instigam suas empresas a incrementarem a reestruturação interna a partirdo feedback de suas relações com o mercado, o que pode sugerir mudanças radicais, sendo afocalização e a especialização as demonstrações mais evidentes.

Internamente, as empresas que operam sob a adaptação global optam pela automaçãomicroeletrônica, pela externalização de parcelas do processo produtivo, pelo desenvolvimentode novas relações com os fornecedores, pela descentralização do poder decisório e pelaadoção de novas formas de organizar e controlar a produção, com a inserção de programas dequalidade total, Just in Time , Kanban, etc.

A adesão à estratégia global implica um novo desempenho dos trabalhadores, comatribuições e responsabilidades também novas: controle sobre o próprio trabalho, participaçãoe elaboração de normas, procedimentos, CEPs, cartas de controle, grupos de solução deproblemas e melhorias, preparação e ajuste de equipamentos, etc., requerendo, portanto, umamudança nos padrões culturais dos envolvidos.

Quaisquer que sejam as estratégias de adaptação que viabilizem a reestruturaçãoprodutiva, os seus impactos sobre o mercado de trabalho são bastante conhecidos: grandemobilidade da força de trabalho, intensificação do trabalho informal, redução dos salários reais,critérios de seleção mais rigorosos e aumento explosivo do recurso à subcontratação. E, emfunção ou por causa desta, a rotatividade é um elemento comum a tais empresas.

Essa nova configuração para o mundo produtivo é objeto de atenção também deSALERNO (1995), que, trilhando outros caminhos e alertando para os perigos dageneralização de realidades que, embora objetivando o mesmo fim, mostrem grandesdiversidades para a sua execução, concentra a sua análise nos principais elementos adotadosa partir da racionalização produtiva: a integração e a flexibilidade.

Resguardando sempre a relatividade que caracteriza esse movimento, o autor define aprimeira – a integração – como a estratégia capaz de otimizar a produtividade, que pode seratingida pela redução da cadeia de atividades, seja no nível administrativo ou de produção,utilizando-se, para tanto, da extinção de setores ou sua terceirização. Mas não é só. Há aindaos fluxos de materiais e aqueles de caráter informacional que devem ser racionalizados.

O segundo elemento – a flexibilidade – definir-se-á como sendo “a habilidade de umsistema produtivo para assumir ou transitar entre diversos estados, sem deterioraçãosignificativa, presente ou futura, de custos, de qualidade ou tempos, sendo uma variável desegunda ordem não homogênea, definível a partir dos aspectos intra e extra fábrica”(SALERNO, 1995).

São as empresas desenvolvendo a sua aptidão para lançar mão de variadosmecanismos que lhes favorecem o alcance do seu objetivo mesmo. E suas interações, embusca dessa flexibilidade, podem se dar em muitas dimensões. Destas, são apontadas 4(quatro) como as mais importantes: a flexibilidade social extra-empresa, que se prende aosaspectos legais, contemplando, claro, as questões contratuais do trabalho; a flexibilidadeestratégica, que se vincula às alterações nas estratégias de negócios e/ou produção; aflexibilidade para suportar operações sazonais e a flexibilidade para o enfrentamento dasvariabilidades dos sistemas de produção.

Para avaliar o incremento dessa flexibilidade, o autor recomenda critérios que sãoautodefiníveis: inovação, tempo, custo e qualidade.

Dos componentes desse novo modo de acumular, SALERNO (id), em consonânciacom os depoimentos dos participantes desta pesquisa, ressalta as mudanças norelacionamento entre empresas, onde aparecem a terceirização e/ou sublocação como opçõesempresariais importantes ; as mudanças na organização geral das empresas, que

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implementam novas maneiras de elaborar a sua unidade de negócios; a adoção de novosconceitos quanto à organogramas, competências, etc.

O tempo – como em qualquer organização da produção – é também um condicionadorde peso nas novas formas de gerir o trabalho. E visando racioná-lo, as empresas optaram peloincremento de tecnologias de grupo, células de produção e/ou minifábricas, de modo a garantiro aumento do giro, redução dos tempos de atravessamento e estoque.

Por fim, são indicadas as modificações na organização do trabalho, as quais parecemmais evidentes e de maior repercussão, uma vez que a sua concretude invade o cotidiano dostrabalhadores: reformula-se a relação entre supervisores x supervisionados, com tendência aodesaparecimento, pelo menos formal, dos primeiros; altera-se a relação entre pares, onde sãoestimulados o acirramento da competição e a postura de vigia dos trabalhadores, nem semprede modo subliminar; atuam os trabalhadores em vários postos de trabalho ou em diversastarefas, característica que alguns teimam em denominar polivalência, outros demultifuncionalidade; colocam as empresas, à disposição da gestão do fluxo , um ampliadoleque de opções em que os preceitos da “qualidade total” são os grandes norteadores.

Uma outra abordagem do tema é sintetizada em um quadro elucidativo sobre astendências de organização das relações interfirmas que parece adequado para o casobrasileiro, uma vez que aqui também vigora o darwinismo econômico. Assim, os grandesfornecedores que sobreviveram à tormenta da racionalização produtiva adotaram a mesmaestratégia da grande empresa para a qual fornecem, escolhendo a terceirização como seumelhor nutriente, como se lê a seguir:

ESQUEMA 1- SOBRE AS TENDÊNCIAS DE ORGANIZAÇÃO DAS RELAÇÕES

ENTRE AS GRANDES E AS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS

FRANÇA

ORGANIZAÇÃO TRADICIONAL ORGANIZAÇÃO TRADICIONAL OU DISTRITOS INDUSTRIAIS

- Escala de precarização da estrutura

ITÁLIA

ORGANIZAÇÃO TRADICIONAL

GE

GF1

GF2

GF3

GE

GF1

PMF1

PMF2

PMF3

4

PMF

51 2 3 4 5

PMF

6

PMF

de emprego

ORGANIZAÇÃO

TIPO 1

P

M

E

TRADIC

1

P

M

E

IONAL

2

P

M

E

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TIPO

3

P

M

E

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2

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+

INDUSTRIAIS

PMF1

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P

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E

P

M

E

P

M

E

P

M

E

4

P

M

E

5

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-

Escala de precarização da estrut

Fonte: DEDECCA, 1996 Legenda: GE – Grande empresa

GF - Grande Fornecedor

PMF - Pequenos e médio

PME – Pequenas e média

Como representado no quadro, asracionalização, fomentaram a desverticalizaçreduzindo o seu conjunto de fornecedores,aumento do volume de produtos e serviços.

Como resultado desse processo, ocofornecedores) da grande empresa (GE), acosubcontratação (pequenos e médios fornempresas externalizaram, portanto, parte imdiretos e estes articularam sua produção com

Salienta-se, como impacto desse reconfiguração para a estrutura ocupacional, cmas que preservam o clássico padrão dexpansão de empregos nas pequenas e mtemporários. Há, assim, uma precarização tendência da grande empresa de, frentecontratadas os “benefícios e os prejuízos cque se sabe que as grandes empresas redesemprego para as empresas de pequeconômico determinado pela grande empres“dependente”.

Esse caráter de subordinação existambém nas relações travadas entre os trabque o trabalhador da contratante tem semprinformal ou não – de corrigir o trabalhadorelacionamento conflituoso, em que os efetgritam com eles, mandam eles trabalharem,do efetivo”. Os trabalhadores efetivos, a pacontratada, a reproduz com o trabalhador tetrabalha na empreiteira, olha o seu salário e

O setor siderúrgico, também atento buscando a sua sobrevivência, como quaTrabalho do DIEESE (1998) indica quorganizacionais, patrimoniais e geográficas quando são implementadas novas formas

GF2

GF3

PMF3

PMF4

PMF5

PMF6

+

ura de emprego

s fornecedores

s empresas

grandes empresas (GE), ao efetivarem a suaão produtiva, subcontratando produtos e serviços,

optando ainda pela diversificação, qualificação e

rre uma “elevação do tamanho dos GF’s (grandesmpanhada pela organização de um novo nível deecedores), promovidos pelos GF1. As grandesportante de sua produção para os fornecedores os pequenos e médios” (DEDECCA, 1996).

ordenamento das relações interfirmas, uma novaom redução dos empregos nas grandes empresas,e relações de trabalho, enquanto se verifica aédias empresas, porém, na forma de contratosgeral da estrutura ocupacional, maximizada pela às flutuações conjunturais, transferir para asircunstanciais”, com a prevalência deste último, jápassam os custos da ociosidade produtiva e doeno e médio porte, estando o seu dinamismoa, numa relação classificada por DEDECCA como

tente entre contratante e contratada é refletidoalhadores dos dois segmentos, numa disputa eme a última palavra, utilizando-se da prerrogativa –r da contratada, estabelecendo-se, portanto, umivos “chegam perto do terceirizado, xingam eles, e o salário deles costuma ser 20% só do salárior da superioridade de sua empresa em relação àrceirizado, quando, por exemplo, exclama: “Você

olha o meu!” (trabalhador terceirizado).

aos determinantes da moderna competitividade elquer empresa, investe em sua reestruturação.e as mudanças de cunho tecno-produtivas,

desse setor tiveram lugar já no início dos anos 80, de gerenciar o trabalho, novos critérios para

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contratação de sua força de trabalho, em que ganham maior relevância a exigência deformação, qualificação e capacidade de aceitação a novas práticas de trabalho, podendo o seumovimento ser examinado à luz das análises arroladas anteriormente.

Ainda segundo o DIEESE, as estratégias adotadas pelo setor siderúrgico para oenfrentamento das novas imposições do mercado globalizado se localizam nas mudanças donível patrimonial, quando se assiste à intensificação da concentração e a mudanças tecno-produtivas, com a introdução de novas tecnologias do aço - como as aciarias elétricas à basede sucata, difusão de lingotamento contínuo e processos alternativos, incluindo-se o metallíquido para conversor LD, injeção de finos de carvão nos altos-fornos, redução direta ou porfusão, etc.

À medida que se alteram os meios de trabalho, conseqüentemente, se alteramtambém os modos de trabalhar; portanto, à introdução de novas tecnologias nos processos deprodução de aço corresponde a uma nova modelagem para a organização do trabalho, comofoi possível observar no caso da empresa em estudo, examinada a seguir.

2. O reordenamento da Acesita e as repercussões sobre os seus trabalhadores

Dividindo a sua história entre antes e depois da privatização, o sistema Acesita,empresa do setor siderúrgico e terreno desta pesquisa, seguindo o curso do desenvolvimentotecnológico, implementou,ao longo da última década, quatro planos de modernização eexpansão de sua produção, particularmente no tocante à produção de aço inoxidável.

A esse respeito, o boletim da empresa informa: “os anos 90 significaram para a Acesitauma arrancada rumo ao próximo século. Dois anos após o leilão, ao completar 50 anos, aempresa iniciou um ousado plano de investimento na modernização tecnológica da usina deTimóteo e na ampliação de sua capacidade produtiva de aços inoxidáveis laminados a frio.Com investimentos da ordem de US$ 600 milhões, a empresa concluiu, no segundo trimestrede 1998, a sua quarta expansão, elevando a capacidade da linha de inox das 120 miltoneladas/1996, em 1993, para 290 mil toneladas/anos. Com esses investimentos, a empresahabilitou-se para o mercado globalizado. Quatro grandes planos marcaram o gerenciamento derecursos humanos da Acesita em 1998: a realização da pesquisa de clima organizacional, aimplantação do plano de metas por equipe, o plano de redução incentivada, em que se obtevea adesão de 555 empregados, obtendo a empresa a redução de 13% em seus quadros, e acontinuidade do programa de capacitação. As iniciativas visavam adequar a empresa àsexigências de qualidade, custo e desempenho, que, a cada ano, tornam-se mais rigorosas“(www. acesita.com.br).

Em seu material publicitário, a empresa assinala que a sua nova fase se inicia com aredefinição de seu foco estratégico, com a adoção de novos conceitos, concentrando-seprogressivamente nos negócios que compõem seu “core business”: os aços inoxidáveis,siliciosos e os aços carbonos.

Ao mesmo tempo, a empresa retomava a implantação do sistema de Qualidade, emmaio de 1993. Os objetivos propostos eram o alcance da excelência empresarial dentro de ummodelo de gestão pela qualidade total e preparar a companhia para a obtenção dascertificações internacionais (ISO 9000, 9002, etc), com destaque para o programa V 2000, aser desenvolvido em 1999-2000 para a “redução global” dos custos.

Tais propósitos são bem conhecidos pelos trabalhadores e, a seus olhos, o programaV.2000:

“É o mesmo programa que teve na época em que a gente foi demitido naépoca, o trabalho deles chamava DOT – Desempenho Operacional Total; foiquando eles usavam o próprio trabalhador para dar sugestão, o que é quepodia fazer para reduzir o custo, e aí, fazia as reuniões com o trabalhador, otrabalhador dava a sua opinião, mas eles já tinham maquinado a redução de

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custo. A redução de custo que faz diferença é a redução de pessoal, é ademissão, não existe a redução de custo sem a redução de mão-de-obra, e eledá idéia sem saber que a idéia que ele está dando é a foice no pescoço.”

(trabalhador ex-efetivo, hoje terceirizado)

Os trabalhadores não parecem incautos diante do discurso empresarial clamando-os àparticipação e envolvimento em seus programas de melhoria; eles percebem que, subjacenteao discurso, há o pertinaz objetivo de eliminar o trabalho vivo, “a redução de custos que faz adiferença” - intento alcançado pela utilização de diferenciadas estratégias, mas que congregamintenções e efeitos comuns, tais como, os programas de qualidade total e a terceirização,eventos vistos como os dois lados de uma só lâmina, como em DRUCK (1999) e ANTUNES(1995).

“A redução de custos que faz a diferença” tem um caráter progressivo - no caso empauta, foi possível ver a sua evolução a partir de 1988-1999, conforme o quadro a seguir:

Na verdade, o conjunto de transformações desenvolvido pela empresa iniciou-se emperíodo anterior, com o objetivo de saneá-la para fins do seu leilão. Desde então, a plástica dacompanhia foi totalmente remodelada: incorporaram-se, nessas mudanças, os preceitosdistinguidos pela qualidade total, formaram-se os seus primeiros CCQ (Círculos de Controle deQualidade), ao mesmo tempo em que ocorreu o revigoramento da terceirização, demonstrado,à época, pelo expressivo número de até 2.500 trabalhadores terceirizados no interior daempresa, segundo os dados de representação destes dentro do sindicato dos metalúrgicos.

Com sustentação nas explicações dadas pelos autores relacionados ao longo destetrabalho e pelos depoimentos colhidos junto aos trabalhadores, pode-se alinhavar algunspressupostos relativos ao processo de terceirização levado a cabo pela Acesita. Há indícios deque, em sua caminhada rumo à adaptação requerida pela reestruturação produtiva, a empresavem se utilizando duas das estratégias a que se refere RUAS (1994).

A adaptação restritiva se materializa não só pela redução expressiva de seusempregos permanentes, conforme quadro acima, em que a empresa apresenta uma reduçãode pessoal na ordem de 50%, ao que se segue a adoção de mecanismos redutores desalários.

Tal fato pode ser demonstrado pela confrontação entre os dados expostos porlevantamentos realizados em 1992 e aqueles encontrados em documentação constante dosarquivos do sindicato da categoria, em 1998.

A pesquisa realizada pelo CEDEPLAR/FACE, em 1992, revela que, à época, o maiorsalário era de US$ 2000 e o menor US$ 80, equivalentes atualmente a R$ 4000 e R$ 160,00 ,respectivamente.

GRÁFICO 1 – Número de trabalhadores efetivos da Acesita. Período 1988 – 1999.Fonte: RAIS/MTE – GRCS-Metasita

75388539 8291 7822

69875621 5396 5008

4261 4281 41063100

88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99

ESTATAL PRIVATIZADA

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Na consulta feita às Guias de Recolhimento de Contribuição Sindical (GRCS), nos anos92-98, percebe-se uma gradual, mas persistente, redução dos salários pagos a partir de 1992,data incursão da empresa no setor privado.

Ademais, as informações contidas nas GRCS de 97 e 98 sequer mencionam quantiaque se aproxime de R$ 4000, o mesmo ocorrendo com os dados obtidos pela pesquisa feitasob encomenda da Acesita, em 1998, envolvendo 298 trabalhadores divididos por cargos eáreas de trabalho, em que se lê:

TABELA 1“O senhor poderia nos informar qual é o seu salário bruto na Acesita?”

SALÁRIO MÉDIO % Menos de 300,00 3,3 De 300,00 a 400,00 4,3 De 400,00 a 600,00 26,3 De 600,00 a 800,00 21,2 De 800,00 a 1.000,00 28,8 De 1.000,00 a 1.500,00 1,9 De 1.500,00 a 2.000,00 9,6 TOTAL 100%

Fonte: Tabulares:1998

Na estruturação implementada pelos modelos restritivos, o custo é, quase sempre,transferido para o trabalho, traduzido em cortes de pessoal ou salarial e recurso àsubcontratação.

No depoimento subscrito, o trabalhador esclarece a sua visão sobre o comportamentoda empresa face às pressões do mercado:

“Houve uma reformulação total dentro da empresa. Houve demissões, muitasdemissões, às vezes, sem critério; o nível salarial caiu bastante, a cobrançaaumentou (...) e enquanto empresa privada, ela tem que gerar lucro e muitolucro. Eles não se contentam com pouco lucro, eles só se contentam com muitolucro. E como conseguir esse lucro? Aumentando a produção, porque esse éum item básico, qualquer empresa que queira aumentar o lucro tem queaumentar a produção e reduzir o nível salarial; ela reduz o seu efetivo eterceiriza.”

(trabalhador aposentado da Acesita).

A drástica redução dos níveis salariais executada pela Acesita fez com que estaperdesse o seu status de empresa especial, na qual os pais trabalhadores depositavam aesperança de um bom futuro para os filhos, uma vez que trabalhar na Acesita significavaremuneração relativamente alta para o padrão do município, estabilidade no emprego,vantagens extra salariais, etc., vantagens atualmente tão diminuídas que levaram umtrabalhador ex-efetivo, hoje terceirizado, a exclamar:

“Hoje, hoje o pessoal está mais consciente, entendeu que a Acesita hoje pagamais, mas não é muito diferente da empreiteira não. Já foi o tempo que aAcesita era poderosa, era estatal, dava muito mais regalia.”

(trabalhador ex-efetivo, hoje terceirizado)

Com efeito, a análise da tabela de salários médios mostra que parcela significativa dostrabalhadores efetivos entrevistados pela “Tabulares”, ou seja, 76,3%, recebem salários entreR$ 400,00 a R$ 1000,00, portanto bem inferiores aos efetivados em 1992.

A reformulação total a que se refere o trabalhador avança para além dos custossalariais, atingindo ainda o seu perfil organizacional da empresa, agora para fins gerenciais,estruturado em presidência, diretorias, unidades de produtos e respectivas gerências.

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No que tange à operacionalidade do processo de produção, os cargos estão assimdistribuídos:

TABELA 2 “Qual é o seu cargo na empresa?”Cargo %Operador 49,2Analista 4,5

Auxiliar administrativo 4,5

Mecânico 3,8

Inspetor de produtos 3,8

Mantenedor 2,5

Técnico em manutenção 2,5

Soldador 1,9

Forneiro 1,9Outros 15,4

Total 100Fonte: Tabulares –1998 – (dados extraídos de 228 questionários aplicados aos trabalhadores efetivos daAcesita)

Fica evidenciada a prevalência, no universo de trabalhadores da Acesita, do cargo deoperador (59%), distribuído pelas 49 gerências que constituem as unidades de produto, cujofuncionamento depende, em boa medida, de processos automatizados.

Interessante é notar que apenas 10,7% dos respondentes se localizam em setorespróprios da manutenção (mecânico, soldador, mantenedor e técnico em manutenção), umnúmero percentual reduzido se comparado ao número de gerências das unidades de produtos(49%). Considerando que apenas 10,7 dos trabalhadores se ocupam da manutenção de umprocesso caracterizado por um ritmo intenso no fluxo de produção, o que desgastarapidamente os meios de produção, devendo estes passar por constante manutenção,depoimentos dos trabalhadores e de dirigentes sindicais, é possível afirmar que parcelasignificativa dos setores relativos à manutenção se encontra terceirizada.

De todo modo, o processo de acomodação da Acesita às diversas e profundasmudanças por ela implementadas parece vitorioso, se comparado o objetivo de “manter ouaumentar a liderança no mercado – ampliando a capacidade de produção e melhorando aqualidade e reduzindo custos” – e a sua performance abaixo:

TABELA 3 Indicadores econômicos da Acesita

Ano Produção de AçoBruto (mil t)

FaturamentoUS$ milhões

Nº deempregados

ProdutividadeT/homem/ano

1992 700 397 7.462 941993 768 463 5.584 1381995 612 678 4.996 1231997 632 523 4.247 1491998 3100 2031999 2600 236

Fonte – DIEESE – Subseção de Timóteo – 1998 – RAIS – MTB - 1998 Jornal Estado de Minas 02/04/2000 - Arquivos Metasita - 1999

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A análise do gráfico indica relativa estabilidade no tocante à produção total de açobruto; porém é forçoso notar a drástica redução da força de trabalho, ao mesmo tempo em quehá um incremento razoável da produtividade por homem. Examinando-se os dados à luz dasrecomendações matemáticas, a análise é sugestiva de que foram incorporados processosautomatizados e novos modos de gestão do trabalho, como frisado pela empresa, além de serevitalizar a terceirização – condições necessárias para que a empresa demonstrasse taldesempenho.

Ademais, é preciso salientar que a empresa, desde a sua privatização, vem recorrendoa distintas estratégias para redução de custos. Em seus documentos acessíveis ao público, aAcesita afirma que “a busca contínua pelo melhor rendimento e pelo retorno do capitalempregado (RCE) encontra reforço no programa V 2000, que enfoca a redução do consumo einsumos, a elevação da produtividade e da qualidade do produto.A meta do programa é reduziros custos, até o final de 2000, em 50 milhões em relação aos patamares de 1998(...) Outramudança importante diz respeito aos prazos de entrega ao cliente: até o ano de 1998, osprazos eram mensais. Em 1999, pela primeira vez em sua história, a Acesita passa a cumpririntegralmente o programa decendial (prazo de até 10 dias) de produção e expedição e caminhaa passos largos para o fornecimento “just in time” (www.acesita.com.br).

Para aqueles cujo interesse investigativo se prende à relação estabelecida entre asaúde e o trabalho, é inevitável questionar quais são os reflexos possíveis dessastransformações para a saúde e segurança dos trabalhadores nessa empresa.

Buscando responder a essa questão, serviu-se das CATS (Comunicações deAcidentes de Trabalho), emitidas no período 1992-1998. Sistematizando-as, chegou-se aográfico a seguir:

sdqstno

N úm ero de Trab a lha do res e dos A c iden tes oc o rridos na A c e s ita , no pe ríodo de 1992 -1996 .

oeuuraús

6 9 8 7

5 6 2 1 5 3 9 65 0 0 8

4 2 6 1 4 2 8 1 4 1 0 6

3 1 0 0

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N º de Traba lhad o res N º de A c iden tesGRAFICO 2 - Número de trabalhadores e acidentes ocorridos na Acesita. Período 1992-1999Fonte: CAT/Metasita - RAIS/MTE - GRCS - Metasita

Não se desconhece a natureza limitativa da mensuração estatística frente à realidadecial, na qual há o primado da diversidade e das contradições; sabe-se também que alguns seus componentes se mostram refratários a qualquer tentativa de enquadramentoantitativo. Ainda assim, as informações extraídas pela intermediação do gráfico sãoficientes para apontar as questões relativas ao quadro de saúde/segurança dosbalhadores dessa empresa, quando se conclui que houve um aumento substancial domero de acidentes tanto relativo quanto absoluto, reduzido apenas em 1998, como mostram gráficos:

Page 10: O PERFIL DE ACIDENTABILIDADE ENTRE TRABALHADORES EFETIVOS

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GRÁFICO 3 - Distribuição do número de acidentes ocorridos em trabalhadores efetivos da Acesita. -Período de 1992 a 1999. Fonte: CAT/Metasita - RAIS/MTE

mo registrado nos gráficos acima, os anos de 94, 95, 96 e 97 foram particularmente os trabalhadores e para a empresa, dado que os índices de acidentabilidade, noss realçados, são, em muito, aumentados. Relacionando-se os gráficos já expostos àicadores econômicos”, percebe-se que a produtividade T/homem/ano duplicou,ue o objetivo de reduzir a força de trabalho foi tenaz e concretamente alcançado.

ando da classificação dos acidentes registrados, quanto à sua intensidade,-se os seguintes dados para as ocorrências consideradas graves.

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GRÁFICO 4 – Distribuição de acidentes em trabalhadores efetivos ocorridos na Acesita, considerando-se ototal de trabalhadores. Período 1992 – 1999.Fonte: CAT/Metasita - RAIS/M.T.E.

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GRÁFICO 5- Distribuição percentual dos acidentes graves em relação ao número de trabalhadores efetivos ocorridos na Acesita. Período 1992-1999.

Fonte: CAT/Metasita - RAIS/MTE

Page 11: O PERFIL DE ACIDENTABILIDADE ENTRE TRABALHADORES EFETIVOS

A classificação de acidentes graves é dada pelo assinalado em registro de Laudo deExame Médico – LEM – e por critérios que levam em conta não só o período de afastamento,mas também a possibilidade de seqüelas (CST/PBH).

Como é perceptível na ilustração, os anos de 92 e 93 - época de privatização daempresa - embora apresentando um número de acidentes relativamente menor que osocorridos no período subseqüente, apresentavam altos índices de acidentes graves (43% e41%, respectivamente). No entanto, é surpreendente a drástica redução desses índices, já em1994, quando a taxa de acidentes graves encontrada se reduz à quase metade do notificadoem 1992 e 1993, indicando possibilidades de sub-registro. O gráfico mostra ainda que osíndices de gravidade para os demais anos se mantêm razoavelmente estáveis.

O detalhamento sobre a gravidade desses acidentes será dado posteriormente, nomomento em que se estabelecerem as comparações sobre a acidentabilidade entre efetivos eterceirizados.

Tem-se, a seguir, o gráfico representativo dos acidentes fatais, cujos dados denunciama gravidade do quadro de segurança e saúde apresentado pela empresa investigada,indicando os cálculos que morrem três de seus trabalhadores a cada dois anos. Chama aatenção o fato de que , apenas no ano de 1997, foram vitimados fatalmente sete trabalhadoresdessa empresa.

Para melhor compreender o quadro de acidentabilidade desta empresa recorreu-se àprofunda análise empetrada por LIMA E ÀSSUNÇÃO (2000), em que estes autoresproblematizam a persistente ocorrência de acidentes graves e fatais na Acesita, quandoindicam razões que podem explicar o quadro acidentário verificado nesta empresa. Nesseinventário analítico, chama particularmente atenção a política de segurança adotada pelaempresa, cuja administração ignora a importância de se considerar os fatores de riscos nomomento de concepção e operação do seu próprio sistema. Há, na empresa, uma fortetendência à banalização das ocorrências acidentárias, que analisadas superficialmente, nãosão vistas como guias para se evitar reincidências futuras, atendo-se a empresa, tão somente,em identificar culpados pelas situações acidentogênicas. (id)

Ainda, segundo os autores, “as situações potencialmente perigosas, como inovaçõestecnológicas e organizacionais, transferência de tecnologia, mudanças de procedimentos e deprocessos, corridas por aumento de produtividade não são levadas em conta nem na análise enem na elaboração de medidas preventivas”.

Os programas de segurança não revalorizam a intuição e nem a experiência dostrabalhadores. As cartilhas estimulam a iniciativa, mas parece não deixar claro como aquelesque estão em posição subalterna e que não dominam nem as habilidades discursivas nem oprocesso decisório poderão dar e fazer valer as suas opiniões “(LIMA & ASSUNÇÃO, 2000).

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GRÁFICO 6 - Distribuição de acidentes fatais ocorridos em trabalhadores efetivos daAcesita. Período 1987-1999. Fonte: CAT/Metasita - RAIS/MTE

Page 12: O PERFIL DE ACIDENTABILIDADE ENTRE TRABALHADORES EFETIVOS

Considera-se particularmente grave que a empresa recorra comumente, em suasintervenções prevencionistas, à medidas de baixo impacto, como recomendar o uso de óculosde proteção para o potencial risco de projeção de aço líquido ou que em seu documento“Proposição de medidas que possam evitar acidentes semelhantes” seja iniciado sempre com arecomendação “promover, periodicamente, cursos sobre prevenção de acidentes detrabalho...”, indicando, assim, quão artificiais são as análises de seus acidentes, bem como asmedidas preventivas sugeridas pela empresa.

É preciso realçar que a empresa se localiza no campo da sídero-metalurgia,desenvolvendo processos tão complexos quanto perigosos, nos quais a probabilidade desituações acidentogênicas é ainda mais ampliada quando são ponderadas as característicasdesse setor, no qual estão articulados vários equipamentos e materiais de alto custo, operadospor grande conjunto de atores, subordinados por contratos de trabalho diferenciados; grandedispersão geográfica e integração de tarefas, apresentando variabilidade das circunstâncias edo ambiente, tendo a sua produção organizada sob fortes pressões temporais, as quaisimpõem urgência nas decisões requeridas pelas várias etapas do processo.

3. O perfil de acidentabilidade entre trabalhadores efetivos e terceirizados.

Definiu-se anteriormente a conjuntura para os trabalhadores efetivos. Qual delas seriareservada aos trabalhadores terceirizados? Eis, pois, o problema que, por meio do exercíciocomparativo, este tópico se propõe a investigar. Para tanto, cumpre que se continue aexaminar a lógica subjacente às decisões da empresa central no tocante às suas respostas àsexigências do mercado.

Confirmando a opção da empresa pela adaptação restritiva, tem-se o expressivoaumento da terceirização, quando, em 1998, a empresa estabeleceu 48 contratos comempresas subcontratadas, responsáveis pela gestão dos contratos de, aproximadamente, 1800trabalhadores, números inferiores aos verificados em 95, quando, segundo dados do sindicato,havia tanto mais empreiteiras subcontratadas, quanto trabalhadores terceirizados na empresa.

Por outro lado, a Acesita também se insere na relação das empresas que sereestruturam pela via da estratégia de adaptação global, adotando procedimentos compatíveiscom aqueles relacionados por RUAS (1994) em suas análises. Dessa forma, além daexternalização e eleição do seu foco, o seu “core business”, a empresa investiu em suamodernização tecnológica, automatizando significativamente o seu processo de produção, aomesmo tempo que implantou o seu “Sistema da Qualidade Acesita – (SQA)”, aderindo àcultura de qualidade, como já mencionado.

Em seu propósito rumo “à adequação às exigências do mercado”, a Acesita fez umpercurso próximo àquele identificado por DEDECCA (1996). Raciocinando à maneira daqueleautor, pode-se visualizar o movimento da empresa de acordo com o desenho a seguir:

ESQUEMA 2 - ADEQUAÇÃO DA ACESITA ÀS EXIGÊNCIAS DE MERCADO

LEGENDA: TGP = Terceirizado de Grande Porte TMP = Terceirizado de Médio Porte TPP = Terceirizado de Pequeno Porte Q = Quarteirizada

ACESITA TMP Q TG P

TPP

Page 13: O PERFIL DE ACIDENTABILIDADE ENTRE TRABALHADORES EFETIVOS

O que se quer dizer com essa ilustração é que, ao longo dessas três últimas décadas, a empresaexternalizou parcela significativa de suas atividades, subcontratando serviços de empresas de grande,médio e pequeno porte (TGP, TMP, TPP), tendo algumas delas recorrido à prática da quarteirização, pormeio de contratos com empresas que tem por CNAE∗ “a seleção, agenciamento e locação de mão-de-obrapara serviços temporários” (RAIS,1999).

Outras empresas apresentam CNAE apropriado às atividades de construção civil, montagens deestruturas metálicas, fabricação de produtos cerâmicos refratários, construção e montagem, manutenção,eletro-mecânica, estampados em metal, fabricação de artefatos em metal, montagem e isolamentotérmico, fabricação de minerais não metálicos, reciclagem de sucatas metálicas, instalações elétricas,fornecimento de comida preparada, produção de laminados planos de aço, etc.

Ainda que as informações fornecidas pelas RAIS sejam telegráficas e nem sempre condizentescom a atividade real da subcontratada, esses dados indicam que o processo de terceirização da Acesitanão difere daquele apresentado por outras empresas, que, zelosas com a terceirização dos “setoresprodutivos”, deixam mais evidenciados os elementos que comprovam a terceirização das atividades “deapoio”.

Os dados das RAIS, o relato dos trabalhadores e as visitas à empresa revelam que a terceirização,na Acesita, está presente nas atividades de vigilância, conservação e limpeza, alimentação, manutençãopredial, eletro-mecânica, instalações elétricas, montagem e isolamento térmico, havendo trabalhadorterceirizado no processo produtivo, mais precisamente, na laminação a quente, conforme testemunha otrabalhador :

“A gente acompanha a seqüência do fluxo da laminação desde a saída do material do forno, e ele vaipassando pelos passos (...). Depois do corte do lingote, formam os pacotes, a ponte pega e leva, você pegacom a ponte, traz para o cavalete, faz a armação e identificação e leva para a fossa.”

(trabalhador ex-efetivo, hoje terceirizado)

Porém, as atividades da empresa em que ele trabalha aparecem como “fabricaçãode outros produtos minerais não metálicos”.

A indicação mais cabal de que há terceirização em todos os setores da Acesita, vemdas CATs (97/98), quando se verifica o campo relativo à descrição das atividades dosterceirizados preenchido pelas seguintes ocupações, entre outras:

TABELA 4Atividades ocupadas por terceirizados

em outros setores da Acesita

∗ CNAE: Código Nacional de Atividades Econômicas

Page 14: O PERFIL DE ACIDENTABILIDADE ENTRE TRABALHADORES EFETIVOS

1. ...... Açougueiro;2. ...... Cozinheiro;3. ...... Jatista;4. ...... Mecânico em manutenção;5. ...... Mestre (metalurgia/siderurgia);6. ...... Operador de guindaste fixo;7. ...... Operador de prensa mecânica de metais8. ...... Pedreiro (material refratário)9. ...... Operador de máquina fixa em geral;10. ...... Operador de ponte rolante.

As ocupações acima relacionadas desmitificam a informação corrente de que aterceirização se prestaria apenas às “atividades acessórias”. O operador de ponte rolante, oinspetor de qualidade e o operador de prensa mecânica de metais, certamente, exercem assuas atividades nos setores “propriamente produtivos”.

Encaminha-se, então, para a resposta a uma das questões mobilizadoras destetrabalho: existindo tantas similaridades quanto diferenciais entre trabalhadores efetivos eterceirizados, que informações poderiam ser obtidas quanto à distribuição de acidentes para osdois grupos?

Recorre-se, para efeitos dessa análise, ao número de trabalhadores anualmentecontratados pela Acesita e suas terceirizadas (48 subcontratadas em 1999), comodiscriminado no gráfico abaixo:

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GRÁFICO 7 - Número de trabalhadores efetivos e terceirizados da Acesita. Período 1999.Fonte: CAT/INSS - RAIS - MTE /Arquivos do Sindicato da Categoria * Dados aproximados

-se que, no período de 1992 a 1999, à forte elevação do número detro da Acesita corresponde uma redução drástica dos trabalhadores efetivos,o em que se verifica um decréscimo muito significativo no total da força de 8987 trabalhadores, em 1992, reduz-se para 4900 em 1999, ou seja, umam de 50%, confirmando, assim, a opção da Acesita pela “adaptação restritiva”,nado em páginas anteriores.

rma, de acordo com as premissas da adaptação restritiva, a terceirização serárescentemente utilizada, percebendo-se que, se em 1992 a força de trabalhoro da Acesita correspondia a 21%, ao fim da década, em 1999, ela será deual significativamente maior, como se pode observar no gráfico:

Page 15: O PERFIL DE ACIDENTABILIDADE ENTRE TRABALHADORES EFETIVOS

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1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999

nge ao perfil de acidentabilidade entre efetivos e terceirizados, o tratamentos dados abaixo:

rmações contidas no gráfico reforçam conjecturas expressas em estudoste, nos quais se aventam a possibilidade da existência de um maior índice derabalhadores terceirizados do que os encontrados entre os efetivos.Comeste trabalho, a suspeita transforma-se em certeza à medida que, quandoois segmentos, os dados trabalhados revelam que há, de fato, maiores

tes entre os terceirizados.

do gráfico mostra que, exceto em 1996, ano em que os dados entre os doisximam, para todos os outros anos que compõem a série, foram encontradosntre os terceirizados, numa proporção razoavelmente maior do que a relativa

ue a fórmula matemática aplicada distinguiu o número de cada segmento, número de trabalhadores efetivos versus número de acidentes registrados,

do com os terceirizados.

e, ainda, que há, entre os índices de acidentes detectados para os efetivos,oavelmente uniformizada, ou seja, mantêm-se os mesmos índices para 1992e 1994, os índices se elevam, permanecendo estáveis nos anos 1995, 1996, 1998, o gráfico mostra uma tendência à redução nos mesmos. Ressalta-se Acesita implementou um novo PDI (Programa de Demissão Incentivada),rabalhadores aposentaram, sendo substituídos por outros trabalhadoresluindo os terceirizados “novatos”, os quais têm na rotatividade um elemento

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GRÁFICO 10- Relação percentual de acidentes ocorridos e registrados entre efetivos e terceirizados* na Acesita, considerando-se o total em cada segmento. Período 1992-1999. Fonte: CAT/INSS - RAIS/M/T/E – Arquivos do Sindicato da Categoria.

GRÁFICO 9 – Relação Percentual de trabalhadores terceirizados em relação ao número total de trabalhadores na Acesita . Período 1992-1999.Fonte: CAT/INSS- RAIS/TEM – Arquivos do Sindicato da Categoria * dados aproximados

Page 16: O PERFIL DE ACIDENTABILIDADE ENTRE TRABALHADORES EFETIVOS

comum. A renovação repentina da força de trabalho aliada à tensão contínua provocada pelosprogramas de redução de pessoal, num tempo em que a multifuncionalidade se coloca comorequisitos da “empregabilidade”, são causalidades a serem consideradas na análise do quadroacidentário apresentado pela empresa.

A análise dos acidentes com os terceirizados indica outros achados. A distribuição dosíndices de acidentes entre eles demonstra evolução aleatória: são encontrados índices iguais(5%), em 1992 e 1993, e reduzidos, em 1994, que se alternam entre elevação (1995) eredução (1996) e, de novo, elevação em 1997 e 1998, apresentando tendência à redução em1999.

Buscando o ordenamento dos eventos acidentários no tocante à natureza de suaintensidade, o tratamento dos dados revela que os acidentes graves ocorrem com maiorfreqüência entre os terceirizados, como ilustrado no gráfico abaixo:

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1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999

GRÁFICO 11 - Relação percentual de acidentes graves registrados entre efetivos e terceirizados da Acesita, considerando-se o total em cada segmento. Período 1992-1999.

Fonte: CAT/INSS - RAIS /M.T.E. – Arquivos do Sindicato da Categoria.

áfico acima aponta que, em todos os anos que compõem a série histórica, há umancia de acidentes graves entre terceirizados, à exceção de 1996, ocasião em que de acidentes graves aparece maior entre os trabalhadores efetivos, pelos motivosteriormente, quais sejam: pressões impostas pela implementação de PDIs, pelasias e conseqüente renovação e rotatividade da força de trabalho, ampliação da e intensificação da multifuncionalidade - iniciativas situadas no processo de aço, sabidamente complexo e perigoso.

esmo gráfico indica ainda que os dados encontrados para os efetivos apresentamidade, ou seja, estabilidade no registro quantitativo dos acidentes graves de 1992

uida por uma elevação dos índices entre 1995 e 1996, para posteriormente, em 1999, os mesmos índices se apresentarem reduzidos.

ara os terceirizados, o raciocínio adotado anteriormente, quando se distinguiu aatória, permanece válido também aqui, pois os índices de acidentes graves sea se reduzem, como 1992 e 1993; ora aumentam, como em 1994, tendendo à anos de 1995, 1996 e 1997, para, em 1998, se elevarem consideravelmente. Emm acidente grave foi registrado, indicando uma possível subnotificação.

acidentes graves registrados entre terceirizados se referem a ocorrênciasas como fraturas abertas e fechadas, luxações, lesões intracranianas, ferimentosviscerais, lesões por esmagamentos, queimaduras de 3º grau, politraumatismos, agudas e asfixias traumáticas. Os mesmos diagnósticos foram encontrados entreporém em menor número, à exceção das fraturas abertas e fechadas, maiores emlutos para os efetivos.

ntram-se em LIEVIN (1985) dados muito semelhantes aos expostosdo esse autor, os estudos realizados na Normandia, em 1988 e 1989,

que o maior índice de acidentes de trabalho se dá mais entre temporários que

Page 17: O PERFIL DE ACIDENTABILIDADE ENTRE TRABALHADORES EFETIVOS

entre os trabalhadores efetivos. Segundo o autor, cerca de metade dos terceirizadosacidentados foram vitimados nos primeiros meses de trabalho, corroborando com a assertivade que há maior vulnerabilidade entre os trabalhadores recém inseridos no mercado detrabalho, uma vez que, na pesquisa francesa, os achados revelam que entre 53% e 60%destes assalariados acidentaram-se antes dos 25 anos. Resultado muito semelhante foiencontrado para os trabalhadores terceirizados de que se ocupa esse trabalho, já que otratamento de CATs revelou que a incidência de acidentes entre eles é maior na faixa etáriaentre 18 a 29 anos.

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do trabalho estão registradas no gráfico acima. Como se pode perceber, a

GRÁFICO 12 - Relação percentual das doenças do trabalho registradas em efetivos e terceirizados da Acesita, considerando-se o total em cada segmento. Período 1992-1999.

eventos em trabalhadores efetivos é absolutamente preponderante, os terceirizados, os índices são mínimos. Deve-se aqui considerar anotificação ser ainda maior entre as empresas terceirizadas, até por queade legal de demissões, lança mão desse expediente aos primeiros sinaisal.

ervar que há uma notificação crescente de doenças profissionais entres, no período 1992 a 1997, e declínio dos índices em 1998 e 1999,odem ser explicadas pelas profundas alterações introduzidas pelo INSS Seguridade Social), na legislação acidentária, quando, a partir de 1998,rnamental substituiu as antigas normas técnicas de concessão de nexotemente, de benefícios previdenciários), por outras, em que se adotaram,to formal da doença profissional, critérios ainda mais restritivos, os quaiss, que o segurado apresente perda da capacidade laborativa e não maisação da aplicação de variadas “manobras” (www.mpas.com.br) paraa patologia investigada, persistindo ainda a comprovação das exposiçõesos (utilizando-se, para tanto, dos limites de tolerância), o que praticamenteimento pericial das doenças profissionais e sua conseqüente notificação.

s CATs indica como doenças mais prevalentes entre os efetivos: LER, Ceratite. Para os terceirizados, há registro, mesmo reduzido, de LER e

inalar que, embora tenham sido comuns as referências sobre “a pressãoesespero” ou o “esfriar a cabeça”, significando problemas de ordemnenhum registro no campo da psicopatologia, o que confirma que, nesseção como uma questão ainda mais séria.

feita sob o raciocínio de traçar comparações entre os perfis deontrados para os trabalhadores efetivos e terceirizados, mostrou que, noas profissionais, as circunstâncias são radicalmente invertidas, para osoenças aparecem em maior índice entre eles.

Page 18: O PERFIL DE ACIDENTABILIDADE ENTRE TRABALHADORES EFETIVOS

No que se refere aos acidentes fatais, as informações obtidas pelo tratamento dosdados aproximam-se daquelas referentes ao percentual global de acidentes registrados, assimcomo dos percentuais relativos aos acidentes leves e graves, ou seja, o gráfico mostra que sãomaiores as incidências de acidentes fatais entre terceirizados do que entre efetivos:

A base de segmento e suas dessas ocorrênciascom exceção de efetivos. Ressaltaacidentados fatalm

O gráfico relacionando-se aterceirizados) e o apresentam maiore4,86% ocorreramtrabalhadores do q

Conforme acidentes fatais peno parágrafo anter

A ocorrêncQuando de sua pro

0,16%0,16%

Gráefet

Fon

cálculo do gráfico acima levou em conta o número de trabalhadores em cadarespectivas notificações de óbitos, quando se verifica um maior registro entre trabalhadores terceirizados para todos os anos que compõem a série,

1997, quando os índices de acidentes fatais aparecem maiores entre os-se que, no período estudado, foram encontrados índices de 0,22%ente entre os terceirizados contra 0,19% entre efetivos.

abaixo apresenta o resultado de cálculos feitos sob outro raciocínio, soma do total de trabalhadores dos dois segmentos (efetivos etotal geral de óbitos ocorridos na Acesita. Também aqui os índices ses entre os terceirizados: De todos os acidentes fatais registrados na Acesita,

com trabalhadores terceirizados, enquanto que 4,55% acometeramuadro efetivo.

se pode ler abaixo, também nessa modalidade de cálculo, os índices dermanecem maiores entre os terceirizados, exceto em 1997, como assinaladoior.

GRÁFICO 13 – Relação percentual de acidentes fatais registrados entre efetivos e terceirizados naAcesita, considerando-se o total em cada segmento. Período 1992 - 1999Fonte: Subdelegacia Regional do Trabalho /Timóteo - CAT/INSS -Timóteo – RAIS/M.T.E.

0,03%

0,00%

0,00%

0,04%

0,00%

0,13%

0,00%0,00%

0,00%0,00% 0,00%

0,00%

0,05%

0,00% 0,00%0,00%

0,02%

0,04%

0,06%

0,08%

0,10%

0,12%

0,14%

EFETIVO S 0,03% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,16% 0,00% 0,00%

TERC EIR IZADO S 0,00% 0,04% 0,13% 0,00% 0,00% 0,00% 0,05% 0,00%

1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999

ia de sete acidentes fatais em um só ano, além de trágica, é instigante.blematização, ouviu-se o seguinte depoimento:

1 , 3 8

0 , 00

0 , 7 6

0

3 , 6

0 0 0 0

3 , 2 7

0 00 , 5

0 00

1

2

3

4

%

A n o

E F E T I V O 1 , 3 8 0 0 0 0 3 , 2 7 0 0

T E R C E I R I Z A D O 0 , 0 0 0 , 7 6 3 , 6 0 0 0 0 , 5 0

1 9 9 1 9 9 1 9 9 1 9 9 1 9 9 1 9 9 1 9 9 1 9 9

fico 14- Percentual de acidentes fatais em relação ao número total de acidentes registrados entreivos e terceirizados na empresa na Acesita. Período 1992 – 1999

te: CAT/INSS, CAT/Metasita, RAIS/MTE

Page 19: O PERFIL DE ACIDENTABILIDADE ENTRE TRABALHADORES EFETIVOS

“Hoje, até que tem riscos, porque toda siderúrgica tem riscos... Mas as empresas têm investido muito no fatorsegurança; e a Acesita não é diferente, ela também tem investido e vem diminuindo o número de acidentes.Às vezes acontece, porque acidente, o nome por si só já indica, é uma coisa involuntária; ora culpa doempregado, ora culpa da empresa. Mas esses fatores só são identificados no momento oportuno. E a Acesitatem investido, sim, em segurança; não é como a gente queria, mas tem feito alguma coisa sim.”

(trabalhador efetivo aposentado)

E sendo assim, como explicar os sete acidentes fatais, entre efetivos, ocorridos em1997?

Se as empresas têm “investido em segurança” , como atesta o entrevistado, pareceque esta, que ora se analisa, não tem dispensado o mesmo tratamento à sua força detrabalho, como denuncia a sua política de segurança, já mencionada páginas atrás, a qualfavorece o alto índice de doenças profissionais e de acidentes fatais, aliando-se a isso afreqüente adoção de “planos de demissão incentivada”, os quais fizeram com que a força detrabalho total da Acesita fosse reduzida, em 1999, a aproximadamente metade do que fora em1992, ocasião em que a terceirização é massivamente empregada. A empresa, contudo,apresenta performance produtiva superior àquela do início da década, como afirmadoanteriormente. Além disso,

“Ao elevar constantemente o valor–trabalho incorporado às máquinas, é desejo do capitalista evitar qualquerinterrupção do processo de transferência desse valor, mediatizada pelo trabalho vivo, para as mercadorias.Assim, é de seu interesse evitar acidentes elevando o nível de segurança das máquinas mais caras. Ainda que,”contraditoriamente “, os acidentes continuem ocorrendo, e isto por várias razões. Em primeiro lugar, conformejá assinalado, as inovações se dão num ritmo que supera a capacidade de adaptação humana e prevençãocientífica de seus efeitos nocivos, portanto, as medidas de segurança são insuficientes (...)”.

(...) Finalmente, a dominação monopolística da ciência e da tecnologia pelo capital, mantidas dentro dos estreitoslimites da necessidade de incremento de mais-valia, não permite aplicar uma parcela razoável do enormeexcedente gerado pelo trabalho social para a procura de conhecimentos básicos ou aplicação dos já existentes namelhoria da insalubridade e periculosidade no trabalho e nas condições de vida em geral”. ∗

No gráfico representativo das doenças profissionais registradas entre trabalhadoresefetivos e terceirizados, ressalta-se o reduzido índice de tais ocorrências entre esses últimos.Esclarecem essas circunstâncias as análises das particularidades das empresas terceirizadas,das quais sobressaem as falências, a constante substituição da razão social, a rotatividade doscontratos, a sua relação de dependência face à contratante, a forma de contratação doterceirizado e a resistência dessas empresas em reconhecer os acidentes/doenças do trabalho,fatores que podem estimular a histórica subnotificação existente no âmbito das ocorrênciasacidentárias no Brasil.

A gênese da relação de dependência, registrada em análises anteriores (DEDECCA,1996; WERNECK, 1996; DEUSDEDIT JÚNIOR, 2000), pode ser encontrada nos critériosestipulados para que os contratos interfirmas se efetivem, em que o menor custo se sobrepõe atodos os outros, o que, de certa forma, pode estimular o gerenciamento inadequado dasquestões relativas à saúde / segurança pela contratada, como esclarece um depoente:

“A própria empresa que é contratante, ela já fala. se a terceirizada dá, por exemplo, anuênio, cesta básica,retorno de férias, a terceirizada dá isso para o trabalhador, a Acesita fala: ‘pode diminuir no contrato, porquese você está tendo dinheiro para dar retorno de férias, cesta básica, fazer seguro para o trabalhador, então nóspodemos diminuir no contrato de trabalho, porque você está tendo dinheiro’. Eles falam... Chega a época dediscutir a campanha salarial. Esse ano agora já falou que, se repassasse reajuste para o trabalhadorterceirizado, iam diminuir no contrato. Eles já pressionaram. Os trabalhadores terceirizados da Acesita sãocontrolados pela Acesita.”

(trabalhador terceirizado)

∗ Lima. F.P.A. Contribuição à análise da insegurança no trabalho e ao projeto de máquinas mais seguras. Dissertação de

mestrado, Florianópolis,UFSC,1985 (mimeo).

Page 20: O PERFIL DE ACIDENTABILIDADE ENTRE TRABALHADORES EFETIVOS

O contrato de trabalho, peça formal que distingue os trabalhadores como aceitáveispelo mercado de trabalho e pelo qual mantinham grande zelo, alcançou, com a terceirização,um profundo descrédito. Além disso, nada indica que haja, em tais contratos, procedimentossistemáticos quanto aos exames admissionais, periódicos e demissionais, como detectável nodepoimento que se segue:

“ Eu estava afastado, já tinha dez dias, os meus pés estavam inflamados e as minhas mãos também. Fui fazero exame periódico, a pedido da empresa. Aí, o médico do convênio da empresa perguntou como eu estava. Eumostrei os pés e as mãos e aí eu disse que estava afastado há dez dias, mas ele colocou no prontuário ‘apto aexercer as funções’. Eu achei isso um absurdo porque eu não tive alta, e, além disso, nesse mesmo prontuárioele colocou uma anormalidade na audição, que deu na audiometria.”

(trabalhador ex-efetivo, hoje terceirizado)

A patente subnotificação verificável entre os terceirizados, especificamente constatadapara as ocorrências referentes às doenças profissionais, também se deve à relação dedependência que se instala entre contratante e contratada, em que os acidentes de trabalhopodem obstar a renovação dos contratos, conforme observa o trabalhador entrevistado:

“... a empreiteira trabalha com poucos funcionários e esse serviço é de dois. Se ela perdeu determinadofuncionário, então não tem outro para render, e aquele que ficou tem de acabar o serviço, vai ter de ficar lá atéacabar o serviço. Essa diferença é contra a norma de segurança, contra a norma da Acesita, a própria Acesitanão permite não. A empreiteira faz, mas faz escondido e, se acidentar um cara lá, ela pode até perder o serviçoe entrar outra empresa lá, como já perdeu. Uma empresa, aí mesmo, acidentou um cara lá, e quando foi aépoca da concorrência ela perdeu a concorrência; tanto que ela não está trabalhando na Acesita lá não. Mashoje ainda tem empreiteira que faz isso, pelo menos a Contram faz.”

(trabalhador ex-efetivo, hoje terceirizado)

Ainda que coloque dificuldades em renovar contratos com empresas terceiras que apresentemtaxas de acidentes inaceitáveis segundo a contratante, esta segue adotando o critério da concorrência, emque o menor preço é o determinante para a efetivação do contrato entre as empresas envolvidas. Investirem saúde e segurança dos trabalhadores importa em que as empresas prevejam a alocação de recursos.Tais escolhas, no caso da empresa contratada, poderiam elevar sobremaneira os custos do contrato,fazendo-a perder a concorrência para uma outra que apresentasse preços mais vantajosos para acontratante. No entanto, de acordo com outros depoentes, a ocorrência de acidentes entre trabalhadoresterceirizados, dentro da vigência do contrato, pode ser entendida pela contratante sob um outro ângulo,que um dos trabalhadores chamou de “efeito Pilatos”, como se observa no diálogo abaixo:

“Para a Acesita a terceirização é um meio por onde ela está lucrando, está tirando a responsabilidade dascostas dela, encargos sociais, esse tipo de coisa. Então, na verdade ela paga, não sei o valor, mas ela paga, elatem um preço que ela paga para cada funcionário da empreiteira. A empreiteira recebe e paga uma mixariapara os funcionários. Então isso aí exclui a Acesita de um monte de coisas; por exemplo, a Acesita paga lá umvalor não sei quanto para as empreiteiras, só que ela deixa de gastar com funcionário em assistência médica,encargos sociais. Todos esses gastos diretos que ela tem com os funcionários dela, ela deixa de ter isso porque agora é a empreiteira que ...”

(trabalhador ex-efetivo, hoje terceirizado)

A empresa contratante, mesmo ciente da responsabilidade solidária prevista em lei,segundo os depoimentos, não a cumpre, e frente ao acidente com o terceirizado “ela pula forae fala: eu não tenho nada com isso não, esse trabalhador não é nosso funcionário, ele éfuncionário da empresa tal”.

Premida entre oferecer preços mais baixos à contratante e assegurar a sua margem delucro, da qual a contratada não abrirá mão em função da saúde e da segurança de seuscontratados temporários ou não, as empresas terceirizadas descumprem normas acordadascom a contratante, “faz, mas faz escondido” , como também o faz quando da ocorrência deacidentes de trabalho, como observa o depoente:

Page 21: O PERFIL DE ACIDENTABILIDADE ENTRE TRABALHADORES EFETIVOS

“As empresas hoje dificilmente registram acidente. Ela chega perto do trabalhador e pede para ele não assinara CAT, a Comunicação de Acidente de Trabalho. O meu acidente fez CAT porque foi obrigado a fazer, teveque me levar para o hospital, eu tive que ficar internado. Mas é por que era um caso mais grave...”

(trabalhador terceirizado)

“O próprio trabalhador, ele tem medo ... Ele fala que, se fizer CAT, vai comprovar que ele se acidentou e aíele fica sujo na empresa. Por isso, todo trabalhador tem medo.”

(trabalhador terceirizado)

A análise dos relatórios oriundos do processamento de dados das CATs, emitidas noperíodo 1992-1999, particularmente no campo “acidentes de trabalho segundo o mês deocorrência”, indica uma relativa sincronia com o exposto pelo depoente, visto que apenas nosanos de 1996 e 1998 há emissão de CATs, relativas aos terceirizados, em todos os meses doano, porém inexistentes em meses dos demais anos que compõem a série histórica.

Desta forma, em 1992, ano do revigoramento da terceirização na empresa, foramemitidas CATs para todos os meses, à exceção de janeiro, fevereiro e março. Já em 1993,houve notificações para os eventos ocorridos de janeiro até agosto, mas nenhum registro deacidentes para os meses de setembro, outubro, novembro e dezembro do mesmo ano. Asnotificações em 1994, abrangem o período de janeiro a setembro, faltando, portanto, os mesesde outubro, novembro e dezembro.

Em 1995, foram registrados acidentes apenas para o primeiro semestre, não havendoemissão de CAT em todo o 2º semestre do mesmo ano. Em 1997, a situação se inverte: háemissão de CAT para todos os meses do 2º semestre, porém, no 1º semestre, registro apenaspara dois meses: janeiro e julho. E, em 1999 , foram registrados acidentes para todos os mesesdo 1º semestre, mas nenhuma CAT foi emitida para os meses de agosto e setembro do mesmoano, embora seja preciso realçar que a coleta de dados se encerrou em outubro/1999

4. CONCLUSÕES

Como se pode perceber, a subnotificação dos acidentes apresenta-se como rotineira eadequada às formas de gerenciamento adotadas pelas terceiras no que tange às questões desaúde/segurança dos trabalhadores. Observa-se, assim, uma tendência histórica desubnotificação de acidentabilidade, cultivada tanto por empresas de pequeno e médio porte -desestruturadas em relação às questões de saúde/segurança de seus trabalhadores - quantopor empresas de grande porte, que, mesmo possuindo todo o aparato estabelecido pela NR-4– que disciplina o Serviço Especializado em Segurança e Medicina do Trabalho – SESMT,ainda assim, encontram-se aquelas que optam por não registrar todos os eventos,particularmente os que envolvem doenças profissionais.

Conclui-se que a pretensão de estabelecer comparações entre o perfil deacidentabilidade entre os dois grupos de trabalhadores é obstada, em parte, pela persistentesubnotificação dos eventos relacionados à saúde e segurança dos trabalhadores -particularmente enfatizada nas empresas contratadas, na opinião de um dos entrevistados:

“Isso é muito complexo pra gente fazer essa relação, porque o efetivo tem um tempo maior nas empresas. Osterceirizados ficam menos tempo dentro da empresa, talvez não tenha nem como fazer o acompanhamento,porque ele entra dentro da empresa para trabalhar lá, 3, 4, 5 meses, no máximo 1 ano, para sair fora. Aí, já nãotem como fazer esse acompanhamento da relação funcional.”

(trabalhador ex-efetivo, hoje terceirizado)

Surge, assim, mais uma repercussão negativa da terceirização para o conjunto dostrabalhadores. O real dimensionamento do quadro de saúde e segurança dos trabalhadores,por vezes pretendido e, no entanto, nunca traçado, se transforma, com a terceirização, em umobjetivo de remotíssimo alcance, uma vez que a própria constituição desta favorece a diluição,a pulverização e a fragmentação não só dos contratos e da vida do trabalhador terceirizado,mas também da trajetória do seu adoecimento, que, iniciado numa empresa de razão social X,pode se desenvolver numa de razão social Y, ou mesmo manifestar-se nas ocasiões em que

Page 22: O PERFIL DE ACIDENTABILIDADE ENTRE TRABALHADORES EFETIVOS

nenhum contrato de trabalho esteja lhe determinando a vida ou a saúde, posto que, raramente,as contratadas elaboram programas criteriosos de acompanhamento da saúde de seuscontratados, havendo ainda como se pode ler nos depoimentos dos trabalhadores, recusa daempresa terceirizada em notificar os acidentes ocorridos com seus contratados.

Tais circunstâncias, associadas à intermitência dos contratos terceirizados, podemexplicar o reduzido número de doenças profissionais registradas entre terceirizados.

O mesmo procedimento adotado para os relatórios da empresa contratante apontaemissão de CATs, em todos os meses de todos os anos examinados, ou seja, 1992 a 1999,quando se verifica que o quadro de saúde e segurança dos trabalhadores efetivos é grave,particularmente no que se refere às doenças profissionais, em que o número de ocorrênciasregistradas indica a inadequação da organização do trabalho (e suas condições) à saúde dostrabalhadores. O ano de 1997 constituí um marco negativo para a empresa, posto que, sónesse ano, ocorreram sete acidentes fatais com os trabalhadores efetivos. Certamente, aexplicação para a ocorrência de tais eventos, além do que já foi expresso até aqui, pode serencontrada também na singularidade histórica da empresa contratante, como discutidoadiante.

A Acesita permaneceu, por longos anos, na esfera estatal, em que, por direito, osempregos eram estáveis e a média salarial era, de fato, relativamente alta. Havia, ainda, umcontingente de força de trabalho compatível às exigências de produção das indústriassiderúrgicas. À decisão de transferir a Acesita para o âmbito privado foi seguida de, umsignificativo número de aposentadorias, de redução da força de trabalho - ampliada pelaexecução, entre 1992 e 1999, de cinco Programas de Demissão Incentivada (PDI) - ao mesmotempo em que se revitalizava a terceirização em seu meio, o que, para um dos entrevistados,atingiu certamente o quadro de efetivos.

“A Acesita reduziu bruscamente o número de efetivos para colocar terceirizados. O efetivo que continuoutrabalhando se sentiu ameaçado, porque hoje foi aquele que foi; amanhã, quem, sabe serei eu. Então esse foium dos focos que psicologicamente atingiu os efetivos.”

(trabalhador efetivo)

Além da insegurança do trabalho, crescentemente infiltrada no quadro efetivo à medidaque aumentava a terceirização, os entrevistados creditam o aumento das doenças profissionaise de acidentes fatais às inovações tecnológicas e gerenciais e à conseqüente redução da forçade trabalho.

“O que era feito manual, passou a ser feito através de máquinas, e evitou que os empregados, tanto os efetivoscomo os terceirizados, que trabalhavam naquela área ficassem tão expostos ao calor, à poeira. A automação,nesse sentido, ela tem o seu lado bom. A gente não questiona a automação, a gente gostaria que a automaçãofosse feita de maneira mais criteriosa, sem que precisasse sacrificar tantos empregos... A automação veioeliminar alguns riscos, mas ela também gerou outros riscos...”

(trabalhador efetivo, aposentado)

Indagado sobre que outros riscos seriam advindos da automação, o entrevistado,apresenta um interessante depoimento, de grande aderência ao expresso por MARX, quandode sua análise da relação do trabalho vivo com a maquinaria, como se lê abaixo:

“A LER, por exemplo, foi um caso que veio junto com a automação, porque passou a ser tudo através decomputador... Além da LER, ela robotizou demais o trabalhador; então a automação tirou dele aquelacriatividade, aquela oportunidade de criar, oportunidade de desenvolver, (...) então o trabalhador se tornouquase um robô, ficou à deriva da máquina.”

(trabalhador efetivo, aposentado)

Ou como afirmava MARX (1984), já no século passado:

“O trabalho na fábrica exaure os nervos ao extremo, suprime o jogo variado de músculos e confisca toda aatividade livre do trabalhador, física e espiritual. Até as medidas destinadas a facilitar o trabalho se tornammeios de tortura, pois a máquina em vez de libertar o trabalhador do trabalho, despoja o trabalhador de todo

Page 23: O PERFIL DE ACIDENTABILIDADE ENTRE TRABALHADORES EFETIVOS

interesse. Sendo, ao mesmo tempo, processo de trabalho e processo de criar mais-valia, toda produçãocapitalista se caracteriza por o instrumental de trabalho empregar o trabalhador e não o trabalhador empregaro instrumental de trabalho. Mas, essa inversão só se torna uma realidade técnica e palpável com a maquinaria.Ao se transformar em autômato, o instrumental se confronta com o trabalhador durante o processo de trabalhocomo capital, trabalho morto que domina a força de trabalho viva, a suga e exaure”.

Segundo o trabalhador, junto com a privatização veio a automação e com ambas, aredução de postos de trabalho e de salários, cujo efeito, para o depoente, é acentuado pelonúmero de aposentados por proporcionalidade existente na Acesita.

“Pessoas que poderiam trabalhar 4, 5, 6 anos, 10 anos, por terem direito a aposentadoria proporcional, seaposentaram. Tudo isso foi conseqüência dessa demissão. Muitos não queriam se aposentar, mas tinham medode perder o emprego, e como tinham direito, se aposentaram.”

(trabalhador efetivo aposentado)

Associada à redução que faz diferença – as demissões – há ainda o modelo degerenciamento de processos automatizados, que, de acordo com o entrevistado, pode ampliaros acidentes de trabalho:

“Conseqüentemente, a pressão por atender o comando da máquina é maior, porque o operador tem quedesenvolver uma capacidade muito maior de trabalho para atender o ritmo da máquina. Isso aí aumentou orisco de acidente, porque tudo isso aí era feito com critério, com calma. Hoje, às vezes, até as normas sãodescumpridas, você é obrigado a fazer coisas fora das normas para atender o ritmo da máquina. Mas, mesmoantes, as normas já eram complicadas, porque eles davam as ordens e iam pra dentro da sala; quando a genteia executar a tarefa, nunca era igual, aquilo que era programado. Acontece direto lá, isso é comum acontecer...”

(trabalhador efetivo aposentado)

Mesmo desconhecendo o pressuposto mais sólido da ergonomia, quando esta evoca adistância entre trabalho prescrito e trabalho real, o trabalhador indica ser o segundo uma dasinstâncias explicativas para a gênese dos acidentes de trabalho, fundamentalmente nosmoldes em que o trabalho real é organizado. Na empresa em estudo, a organização dotrabalho foi radicalmente alterada em função da privatização e da automação, as quais,segundo o depoente, respondem juntas pelo aumento dos índices de acidentes e de doençasdo trabalho ocorridos entre os efetivos (demonstrados pelos gráficos em páginasantecedentes) , ao afirmar que “enquanto empresa privada, ela tem de gerar muito lucro, entãoela aumenta a produção e reduz o nível salarial, reduz o efetivo e terceiriza”. Ainda segundo odepoente, a empresa, depois de privatizada:

“Houve campanhas aí que se economizou até em equipamento de segurança, tudo visando apenas o lucro.Depois que ela privatizou, conseguiu comprar várias empresas, como essa CST, a Vilares ... Ela é dona devárias empresas menores. Isso tudo foi conseguido após a privatização e após, as demissões, foram mais de 4mil demissões que ocorreram...”

(trabalhador efetivo aposentado).As explicações para o perfil de acidentabilidade entre os trabalhadores efetivos e terceirizados,segundo todos os depoimentos, se encontram na órbita da mais-valia: redução da força detrabalho, terceirização, rotatividade, estímulo à competição interpares, pressão temporal para oalcance de maior produção, num ambiente - a indústria de aço - que é, por sua naturezamesma, altamente perigosa à saúde daqueles que nela se envolvem diretamente.

Nesse sentido, encontra-se uma elucidativa análise em LIMA (1985), em que esteautor, problematizando a relação entre saúde e trabalho no contexto da produção capitalista,assinala que:

“O objetivo do processo de produção é a extração de mais-valia nas condições mais adequadas ao capital.Assim, ainda que a mais-valia relativa seja predominante sob o capitalismo moderno, isso não significa que amais-valia absoluta seja desprezada. Os métodos utilizados pelo capital para a produção de mais-valia relativasão, ao mesmo tempo, métodos para a produção de mais-valia absoluta. O desenvolvimento contínuo damaquinaria (elevação da composição orgânica) cria condições objetivas que motivam o prolongamento dajornada de trabalho (turnos ou horas extras), desvaloriza a força de trabalho, aumenta o controle sobre o ritmode trabalho e aumenta a mão-de-obra excedente. Ás condições opressivas que caracterizam a extração demais-valia, juntam-se o salário e o tempo insuficientes para reposição adequada da força de trabalho, que setraduz em desgaste mais rápido do operário”.

Page 24: O PERFIL DE ACIDENTABILIDADE ENTRE TRABALHADORES EFETIVOS

Isso explica, em parte, o elevado índice de acidentes registrados no Brasil, a partir dadécada de sessenta, simultaneamente ao desenvolvimento acelerado que se instalou com aconsolidação do “milagre econômico” baseado na mais-valia relativa e auxiliado pela extraçãoda mais-valia absoluta, possível pela desorganização e repressão do movimento dostrabalhadores.

felipe
Maria do Rosário Sampaio - FUNDACENTRO/MG
felipe
Autora:
Page 25: O PERFIL DE ACIDENTABILIDADE ENTRE TRABALHADORES EFETIVOS

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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12 LIMA, Francisco P.A. ; ASSUNÇÃO, Ada Á. Análise dos acidentes. Cia de Aços EspeciaisItabira. Belo Horizonte,. Laboratório de Ergonomia - DEP/UFMG, setembro 2000

13 LIMA, Francisco P. Antunes. Das novas relações contratuais e da velha relação capital-trabalho. Janeiro 2000 (texto p/ discussão).

14 LIMA, Francisco P. Antunes. Ergonomia, ciência do trabalho: a ciência do trabalho numaperspectiva histórica. 1º seminário interinstitucional de ergonomia. Belo Horizonte,1995. (texto em comunicação).

15 LIMA, Francisco P. Antunes. Fundamentos teóricos da metodologia de análiseergonômica do trabalho (AET). Belo Horizonte: Escola de Engenharia da UFMG. 1996.

16 LIMA, Francisco P. Antunes. Introdução à análise ergonômica do trabalho. BeloHorizonte: Escola de Engenharia da UFMG, 1992. (notas de aula)

Page 26: O PERFIL DE ACIDENTABILIDADE ENTRE TRABALHADORES EFETIVOS

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18 LIMA, Francisco P. Antunes. Princípios de análise ergonômica do trabalho. In: Curso deIntrodução à Análise Ergonômica do Trabalho, UFMG, 1999. (documentação deapoio).

19 LIMA, Francisco P. Antunes. Qualidade da produção, produção dos homens. BeloHorizonte: Departamento de Engenharia de Produção da UFMG, 1996. 217p.

20 LIMA, Francisco P. Antunes. Qualidade total e reorganização produtiva. Anais do XIIIENEGEP. Florianópolis, out., 1993.

21 LIMA, Francisco P. Antunes. Teorias da causalidade das doenças e acidentes dotrabalho/determinação da insegurança do trabalho com máquinas. In Contribuição àanálise da insegurança no trabalho e ao projeto de máquinas mais seguras.Dissertação de mestrado. Florianópolis, 1985 (mimeo).

22 LIMA, Francisco P.A.. Ergonomia, ciência do trabalho, ponto de vista do trabalho: aciência do trabalho numa perspectiva histórica. Belo Horizonte: Departamento deEngenharia de Produção da UFMG, 1995. 14p. (Texto de uma comunicação ao ISeminário Interinstitucional de Ergonomia).

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25 MARX, Karl. Formações econômicas pré-capitalistas. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.137p.

26 MARX, Karl. O capital; crítica da economia política. 9.ed. São Paulo: DIFEL- DifusãoEditorial, 1994. v.1.

27 MARX, Karl. O capital; crítica da economia política. 9.ed. São Paulo: DIFEL- DifusãoEditorial, 1994. v.2: Cap. XVII: Transformação do valor ou do preço da força de trabalhoem salário, p.617-625.

28 MARX, Karl. O capital; crítica da economia política. 9.ed. São Paulo: DIFEL- DifusãoEditorial, 1994. v. 2. Cap.XVIII: O salário por tempo, p.626-635.

29 MARX, Karl. O capital; crítica da economia política. 9.ed. São Paulo: DIFEL- DifusãoEditorial, 1994. v. 2. Cap. XIX: O salário por peça, p.636-646.

30 MARX, Karl. O capital; crítica da economia política. 9.ed. São Paulo: DIFEL- DifusãoEditorial, 1994. v. 2. Cap.XXIII: A lei geral da acumulação capitalista, p.712-827.

31 SALERNO, Mário Sérgio. Flexibilidade e organização produtiva. In.: CASTRO, N.A. (Org.).A máquina e o equilibrista; inovações na indústria automobilística brasileira. SãoPaulo: Paz e Terra, 1995. p.53-83.

32 WERNECK, Heloísa. Reestruturação produtiva e subcontratação de mão de obra; ondeestá a modernidade do trabalho? Belo Horizonte: Faculdade de Ciências Econômicasda UFMG, 1996. 217p. ( Dissertação, Mestrado em Administração de RecursosHumanos e Organização.).