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Por Gabriel Casonato As preocupações em torno da economia da China têm abalado os mercados neste início de ano. E para os brasileiros, já traumatizados com um 2015 terrível, as incertezas relacionadas ao maior parceiro comercial ganham contornos ainda mais dramáticos… Os reflexos da desaceleração chinesa já podem ser observados em boa parte das modalidades de investimento existentes no Brasil, bem como na evolução dos preços de produtos essenciais ao andamento da atividade econômica do país. Bolsa em queda livre, dólar cada vez mais caro e commodities na mínima em anos são apenas algumas das consequências geradas pela deterioração dos fundamentos do gigante asiático. É mais do que suficiente, no entanto, para acender um sinal de alerta entre os investidores tupiniquins. Até porque estamos falando de uma economia que, apesar dos problemas, conseguiu crescer 6,9% no ano passado, o que significa que ainda existe muito espaço para piorar. Vale ressaltar que estes 6,9% de crescimento referem-se ao dado oficial do Governo, sempre alvo de desconfiança do mercado - seja pela dificuldade de ser coletado por conta do tamanho do país, como O peso da China é o peso da 2ª economia do mundo, promovida a 1° risco global em 2016 WWW.EMPIRICUS.COM.BR

O peso da China é o peso da 2ª economia do mundo ... · Desta forma, estou fazendo minha assinatura, curioso em ver o resto do material da Empiricus. Votos para que continuem a

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Por Gabriel Casonato

As preocupações em torno da economia da China têm abalado os mercados neste início de ano. E para os brasileiros, já traumatizados com um 2015 terrível, as incertezas relacionadas ao maior parceiro comercial ganham contornos ainda mais dramáticos…

Os reflexos da desaceleração chinesa já podem ser observados em boa parte das modalidades de investimento existentes no Brasil, bem como na evolução dos preços de produtos essenciais ao andamento da atividade econômica do país.

Bolsa em queda livre, dólar cada vez mais caro e commodities na mínima em anos são apenas algumas das consequências geradas pela deterioração dos fundamentos do gigante asiático.

É mais do que suficiente, no entanto, para acender um sinal de alerta entre os investidores tupiniquins. Até porque estamos falando de uma economia que, apesar dos problemas, conseguiu crescer 6,9% no ano passado, o que significa que ainda existe muito espaço para piorar.

Vale ressaltar que estes 6,9% de crescimento referem-se ao dado oficial do Governo, sempre alvo de desconfiança do mercado - seja pela dificuldade de ser coletado por conta do tamanho do país, como

O peso da China é o peso da 2ª economia do mundo, promovida a 1° risco global em 2016

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principalmente pela alta probabilidade de haver uma manipulação por razões políticas (pode não parecer, mas a China ainda é uma sociedade comunista).

O agravamento da desaceleração chinesa está tornando bem mais remota a possibilidade de nosso país conseguir sair em breve de uma das piores recessões da história, mediante a combinação de atividade econômica em forte queda com inflação e déficit fiscal crescentes.

Obviamente que o impacto da “crise” da China não se restringe ao Brasil. Nos EUA, por exemplo, os principais índices de Wall Street amargaram o pior janeiro desde 2009, enquanto apenas 5 entre 24 moedas de mercados emergentes se valorizaram em relação ao dólar no período.

Mas para nós, a questão chinesa surge em um momento em que o país se encontra tomado por seus próprios problemas. E não apenas do ponto de vista econômico, mas também do ponto de vista político com sucessivos escândalos de corrupção e um consequente processo de impeachment.

O que está acontecendo na China?

A maior parte dos que acompanham a China afasta ou ignora a possibilidade de um hard landing (pouso forçado). Em minoria, estamos com George Soros, que vê o país numa trajetória de rápida deterioração econômica - nas palavras do megainvestidor: “não estou esperando um hard landing; estou observando ele acontecer”.

Logo após a afirmação, a mídia estatal chinesa rebateu Soros com um alerta para que ele não apostasse contra o yuan, a moeda local. De acordo com artigo veiculado no Diário do Povo, os fundamentos do país permanecem sólidos, apesar do crescimento mais lento e da volatilidade dos mercados de ações.

Novamente, lembro da desconfiança que declarações deste tipo despertam nos especialistas. Fosse você escolher em quem acreditar, ficaria com quem já chegou a ganhar US$ 1 bilhão em um único dia apostando contra o Banco da Inglaterra (Soros) ou com quem reconhecidamente peca pela falta de transparência em suas análises (governo chinês)?

Nós preferimos acreditar no primeiro, mesmo ele não tendo feito nenhuma especificação direta à moeda chinesa. Mas antes de falarmos especificamente sobre os impactos da questão cambial, é necessário entender o que de fato está acontecendo na China.

Farei isto por tópicos, de forma breve:

- Economia

A China chegou a crescer 13% em 2007 e 10,4% em 2010, mantendo o ritmo em patamares elevados até 2014. No ano passado, conforme já dito acima, a economia arrefeceu, com o menor crescimento dos últimos 25 anos.

Embora tenha tido reflexos extremamente negativos nos mercados, essa desaceleração já vinha sido amplamente esperada. Isso ocorreu pois, com o forte avanço do PIB nos últimos anos, a China tentou mudar o perfil de sua economia de um modelo predominantemente exportador para um voltado ao consumo interno, sem que o mercado de trabalho fosse prejudicado.

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O Banco Central chinês se comprometeu a apoiar o crescimento “sustentável” do país e passou a limitar investimentos do exterior. Como consequência, as exportações, que até então apoiavam a economia chinesa, passaram a cair, fazendo com que o governo precisasse desvalorizar o yuan.

O problema é que o país tem tropeçado ao longo do caminho, inclusive com alegações de que o governo estaria desperdiçando suas reservas em tentativas infrutíferas para apoiar o mercado de ações - o que nos leva ao próximo tópico.

- Mercado de ações

Os mercados de ações chineses viveram um rali espetacular até meados de junho do ano passado. Mas na sequência, em apenas três semanas, sofreram um ajuste de mais de 30% em meio à desconfiaça dos investidores com o ritmo de crescimento da economia local, o que motivou discussões sobre a existência de uma bolha nas bolsas domésticas.

Nesta mesma época, as autoridades lançaram uma série de medidas destinadas a restaurar a confiança nos mercados, mas elas tiveram apenas um impacto marginal de curto prazo - o governo permitiu, por exemplo, que pessoas físicas abrissem mais de uma conta em corretoras para poder investir em bolsa, fazendo com que os incentivos de crédito migrassem para o mercado de ações, mas não necessariamente para a economia.

Alimentada por um número sem precedentes de investidores inexperientes, a capitalização da Bolsa de Xangai triplicou no ano passado, chegando aos US$ 9,8 trilhões.  A título de comparação, a capitalização da BM&F Bovespa ao final de 2015 era de US$ 480 bilhões.

A dinâmica da Bolsa chinesa é mesmo perigosa. Como fenômento de massa, não guarda nenhuma referência com outros mercados globais.

Estamos falando de um lugar onde pessoas de todas as classes (que o diga a imagem abaixo) ainda começam a aprender sobre renda variável, mas já sob forte estímulo, vindo inclusive do próprio presidente Xi Jinping.

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A impressão é que o governo tinha visto nos mercados acionários uma peça importante na estratégia de transformar o país numa sociedade de consumo. A popularização das Bolsas serviria para recapitalizar as endividadas empresas do país e, ao mesmo tempo, fazer com que o pequeno investidor se sentisse rico. No entanto, o efeito tem sido oposto.

Já são quase 100 milhões de investidores individuais cadastrados para comprar e vender ações. O Partido Comunista tem 88 milhões de membros. Não é à toa, portanto, que os múltiplos da Bolsa de Xangai assumiram contornos de bolha, tal como documentado pela Bloomberg:

- Reservas

Outra pergunta que tem dado pano pra manga: a China tem caixa para eliminar as chances de uma crise extrema?

Por um lado, são mais de US$ 3 trilhões em reservas, o que deixa o país com folga na liderança global neste quesito. Mas o número, por mais impressionante que pareça, está longe de nos convencer.

Se apenas 5% da população chinesa decidir mandar, cada um, US$ 50 mil para fora do país, os US$ 3 trilhões evaporam. Não estou dizendo que 60 milhões de chineses vão mandar US$ 50 mil para fora do país, de uma hora para outra. Trata-se apenas de matemática simples - aquilo que parece robusto pode ser, em verdade, muito frágil.

De forma denotativa, um olhar mais atento revela que a razão entre reservas internacionais e base monetária na China está em 15,5%, menor nível desde 2004. Significa dizer que, se houver nova fuga em massa de dólares, isso pode se tornar um problema gigantesco.

Em 2015, por exemplo, as reservas do país caíram nada menos que US$ 513 bilhões, sendo quase dois terços disso entre agosto e dezembro, quando o banco central intensificou os esforços para estabilizar o yuan após a surpreendente desvalorização da moeda deixar os mercados em pânico.

Na verdade, foi nesta época que a China se colocou numa bela armadilha. Não consegue desvalorizar o yuan, pois, sempre que faz isso, as saídas de dólares aumentam, a Bolsa derrete e o FMI pressiona.

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Ao mesmo tempo, para segurar o yuan valorizado, tem que sacrificar metas de PIB e desovar bilhões de reservas internacionais.

Estamos num período temporário em que, por conta dessa armadilha, há preferência por sustentar o yuan. Até porque ainda restam US$ 3 trilhões de reservas.

Mas acredite: US$ 3 tri não duram para sempre.

Quando a China vacilar com o yuan, petróleo vai cair ainda mais e dólar volta a subir em relação aos emergentes (também por isso gostamos bastante da ideia de comprar dólares abaixo de R$ 4,00).

O nosso diferencial

Diante deste complicado quadro, passamos a falar sobre China de maneira recorrente aqui na Empiricus, atendendo à uma preocupação legítima de nossos leitores. Veja o que um deles escreveu no final do ano passado:

Prezados,

Trabalho em finanças industriais há 15 anos e me formei em economia pela USP muitos anos atrás.

Justamente por ser economista de formação, estava cético com relação aos relatórios diários de vocês (os quais recebo por e-mail a pouco mais de um ano). Achava uma fonte de diversão. É bonito ver a ciência econômica aplicada, sem os “entraves” da mídia especializada, como “O Valor”, “Exame”, “The Economist” e afins.

Mas, após ver cada palavra que previram sobre a bolha da China se concretizar, muito antes disto “sequer” ser mencionado por qualquer mídia, tenho que admitir que não considero mais o trabalho de vocês como mera “diversão”… (apesar de ainda considerar divertido, digamos que seja um bônus). Vejo muita assertividade... e um certo ar de genialidade tbm…

Desta forma, estou fazendo minha assinatura, curioso em ver o resto do material da Empiricus.

Votos para que continuem a manter a autenticidade, criatividade e genialidade.

Abraços,L. S.

Elogios à parte, hoje sabemos que a China tem dominado as manchetes, com vasto material podendo ser encontrado livremente na internet. É aí que entra nosso grande diferencial, disponível apenas para os leitores do Strategic: a vasta experiência de nosso guru Jim Rickards em situações que ameaçam a estabilidade de sistemas financeiros.

Quem vem acompanhando a série desde o início já conhece bem a opinião do autor sobre o país. Aplicando o conceito batizado de “Trindade Impossível” (detalhado na edição de janeiro), ele lembrou que, até o verão passado, a China havia indexado o yuan ao dólar em uma relação de 6,2 para 1, tinha uma conta de capital parcialmente aberta, além de definir as taxas de juros independentemente do Fed dos EUA.

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No início, a moeda barata da China ajudou as exportações e levou a um grande aumento das reservas de dólar conforme a China reciclou seus superávits comerciais em notas do tesouro americano. Mas com o enrijecimento da política do Fed de 2013 a 2015 (com a retirada dos programas de estímulos), a China teve que vender dólares e comprar yuans para manter a indexação. Comprar yuans reduz a oferta de dinheiro e é uma forma de enrijecimento.

Essa política monetária enrijecida na China desacelerou a economia e fez com que investidores estrangeiros levassem novas fábricas a países mais baratos, como o Vietnã e a Indonésia. Investidores chineses podiam ver que a Trindade Impossível ia quebrar e começaram a tirar seu dinheiro da China o mais rápido possível.

A saída de capital foi muito grande, conforme já citamos acima. Na verdade, se mantida a velocidade da fuga de recursos do ano passado, a China poderia ficar sem reservas até o fim de 2018 e quebrar sem chances de pagar suas dívidas denominadas em dólar, caso não tomasse uma atitude radical.

Utilizando a análise da Trindade Impossível, era fácil perceber que a China teria que impor (i) controle de capital (para impedir que o dinheiro saísse), (ii) desvalorizar sua moeda (para diminuir a hemorragia) ou (iii) aumentar as taxas de juros (para atrair dinheiro de fora).

Então, a China escolheu a opção (ii), quebrar a taxa de câmbio fixa. Era a única solução.

Fragilidade tupiniquim

Sobre este assunto, questionei Jim a respeito dos eventuais impactos para o Brasil. A resposta veio rápida:

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Traduzindo:

Oi Gabriel,

Que bom receber notícias suas; espero que tudo esteja bem.

A China pode tentar impor controle de capital, mas é improvável que funcione. Há muitas maneiras (legais e ilegais) de tirar dinheiro do país. Tanto para indivíduos quanto para empresas. Por isso, a fuga de capital vai continuar.

Isso faz com que seja altamente provável que a China tenha que desvalorizar o iuan em relação ao dólar ainda mais. Isso não será sinalizado previamente (porque aceleraria a fuga de capital antes da desvalorização), e a China não fará nada em pequenas doses (porque a fuga de capital se alimenta de si mesma). Assim, uma grande desvalorização, seguida pela defesa de uma nova indexação parece provável.

A China cortará as taxas de juros antes de mais nada. Então, acredito que o cenário seja: corte de juros, grande desvalorização e defesa de nova indexação utilizando as reservas restantes, respectivamente.

Isso pode ajudar e prejudicar o Brasil. A curto prazo, a desaceleração na China e a demanda reduzida por commodities de exportação prejudicará o Brasil.

No entanto, um pouco da fuga de capital da China pode chegar ao Brasil dando um pequeno estímulo na economia brasileira. A desvalorização do câmbio também causará prejuízo a curto prazo para as indústrias em que Brasil e China competem (como as indústrias têxteis, de montagem e de maquinaria) porque as exportações chinesas ficarão mais competitivas. Mas, se a economia chinesa conseguir um estímulo provindo da competitividade das exportações, isso pode ajudar produtores de commodities brasileiros.

Turismo brasileiro sofrerá por causa do Zika (Chineses têm fobia de doenças e vírus) e porque o yuan mais barato tornará o Brasil mais caro.

Então, é bastante complexo. A curto prazo, é um pouco negativo para o Brasil. A longo prazo (de 12 a 18 meses), pode ser positivo, porque qualquer coisa que ajuda a China (como a desvalorização), tende a ajudar o Brasil, já que o comércio e as conexões de investimentos são tão densas.

Espero ter ajudado.

Tudo de bom,Jim

A verdade é que, enquanto a China - ironicamente - tende a ser pouco impactada por sua própria derrocada, outros países mais frágeis (como o Brasil) sentem na veia os efeitos amplificados do hard landing chinês.

Neste cenário, opte por alocar a maior parte de seu patrimônio em investimentos defensivos como ouro, terras e títulos públicos, deixando apenas uma pequena fatia (em torno de 15%) reservada para ações escolhidas a dedo.

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PS: aproveitando o gancho, no mês que vem iremos disponibilizar uma carteira exclusiva composta por três ações brasileiras e outras três americanas, apresentando também uma estratégia que combina segurança com ganhos consistentes. Fique atento.

Um forte abraço,Gabriel Casonato, editor do Strategic Intelligence para o Brasil

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*  O analista Gabriel Casonato é o responsável principal pelo conteúdo do relatório e pelo cumprimento do disposto no Art. 16, parágrafo único da Instrução ICVM 483/10.

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