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O presente e o futuro dos direitos do homem – Norberto Bobbio
A principal questão, em torno da qual gira toda essa parte de sua obra, é apontar que o
mais fundamental, nos dias de hoje, não se trata de saber mais quais são e quantos são os
direitos, ou qual sua natureza ou fundamento, mas sim qual o modo mais seguro de protegê-
los para impedir que eles sejam violados. Em outros termos, o problema mais urgente não diz
respeito aos fundamentos, mas sim às garantias.
Para tanto, cabe saber como legitimar tais direitos de forma a que sejam seguidos.
Deve-se levar em consideração que existem três formas de fundar valores: a natureza humana,
na qual se encontra primeira geração de direitos - civis- e se baseia na ideia constante de
natureza para dar valor universal a um fato; o apelo a evidência, o qual tem o direito de se
situar além de qualquer prova, pois tão logo se submete valores estes estão legitimados; e o
consenso, o qual consiste em apoiar uma ideia com base na aceitação geral por todos num
dado momento. Assim, se apresenta a Declaração Universal dos Direitos do Homem como
manifestação da única prova através da qual um sistema de valores pode, humanamente, ser
fundado e reconhecido - o consenso geral a cerca da sua validade. O consenso corresponde a
uma maior universalidade dos direitos, pois quanto mais aceito mais é fundado. Trata-se de
um fundamento histórico e não absoluto, e o único que pode ser factualmente comprovado.
Ademais, Bobbio também aponta como lenta foi a conquista de tal universalismo da
qual pode-se distinguir três fases. A primeira seria o nascimento nas teorias e obras
filosóficas, aonde estava contido os princípios dos direitos civis com Locke. A segunda seria a
passagem da teoria para a prática, dos direitos somente pensados para os direitos realizados.
Os direitos passaram a ser protegidos, mas só valem no âmbito do Estado que os reconhece.
Em outros termos, há uma diferenciação entre direitos do homem e direitos do cidadão; não
são mais direitos do homem, porém sim do cidadão. Dessa foram, os direitos ganharam em
concreticidade, mas perderam em universalidade. A terceira fase vem com declaração de
1948, na qual a afirmação dos direitos é, ao mesmo tempo, universal e positiva. Universal
porque diz respeito não mais aos cidadãos deste ou daquele Estado, mas sim a todos os
homens; positiva pois os direitos não devem mais ser somente proclamados, mas também
protegidos, inclusive da ação do próprio Estado que os tente violar. Então é possível definir
que os direitos do homem nascem como direitos naturais universais, desenvolvem-se como
direitos positivos particulares para finalmente encontrarem sua plena realização como direitos
positivos universais.
Na visão de Bobbio, a declaração de 1948 é algo mais que um sistema doutrinário,
porém algo menos que um sistema de normas jurídicas. De resto, a declaração proclama os
princípios como "ideal comum a ser alcançado por todos os povos e por todos as nações”. A
declaração dos direitos do homem é, de forma alguma, imutável. Na verdade, ela deriva de
um homem histórico que possui diferentes demandas e percepções ao longo do tempo. Tal
declaração é somente o ponto de partida de uma meta progressiva que inclui a expansão dos
direitos à liberdade, direitos políticos e direitos sociais. A humanidade não só se encontra no
desafio de proteger esses direitos, mas também de aperfeiçoá-los; como fica atestado nas
inúmeras adições á declaração dos direitos do homem, que passou a servir de instrumento
basilar para abranger direitos para outros grupos e coletividades como as mulheres, raças,
povos oprimidos, nações etc..
Já no que tange a proteção dos direitos, a grande questão a ressaltar são as medidas
imagináveis para efetivação dessa proteção. Justamente devido ao carater e forma de atuação
da sociedade internacional, a situação da proteção dos direitos do homem se torna quase inútil
para não dizer inexistente. Ademais, deve-se considerar que a teoria política reconhece duas
formas de controle social: o poder e a influência. A primeira, ao ser uma forma de controle
sobre o outro, o qual o põe na impossibilidade de agir de outra forma, se identifica com as
garantias internacionais. Dentro pólo de poder se encontram três formas de atuação: a
violência física, o impedimento legal e as sanções graves. O segundo, por ser uma forma de
determinar a ação do outro, incidindo sobre sua escolha, se identifica com a proteção jurídica,
sendo possível distinguir outras três formas de atuação: a dissuasão, desencorajamento e o
condicionamento. Levando tudo isso em conta, é possível dizer, então, que o controle dos
organismos internacionais se dá com as três formas de influência, mas estanca na primeira
forma de poder. Ou seja, a falta de um mecanismo efetivo de coerção é a grande limitação da
garantia dos direitos.
As atividades até aqui implementadas pelos organismos internacionais, tendo em vista
a tutela dos direitos do homem, se encontram na promoção e na garantia com duplo objetivo
de tanto induzir os Estados que não têm a implementar quanto os que têm a aperfeiçoar.
Assim, outra questão de suma importância a relatar é que existem dois modos típicos de
exercer tal controle - por atividades de garantia, ou seja, uma tutela jurisdicional de nível
internacional e por atividades relacionadas a relatórios apresentados por cada signatário -, é
necessário afirmar que, no presente momento, nos encontramos apenas com mecanismos
voltados para garantias que as nações dão. Em outras palavras, há um esforço maior para os
Estados reforçarem seus sistemas jurisdicionais nacionais no sentido das duas primeiras
formas (promoção e controle), enquanto a meta de criação de uma nova e mais alta jurisdição
que substitua a garantia nacional pela internacional ainda se encontra mais distante; por mais
que existam garantias desse tipo previstas como na Convenção Europeia dos Direitos do
Homem. Só poderemos falar legitimamente de tutela internacional quando uma jurisdição
internacional conseguir se impor às jurisdições nacionais.
É necessário dizer também que a luta pelos direitos em cada Estado foi acompanhado
pela instauração de regimes representativos também conhecidos como Estados de Direito. Ao
se fazer a separação entre Estados de direito e os Estados de não direito, onde funciona ou não
um sistema de garantias dos direitos do homem, não há dúvida de que os cidadãos que
possuem necessidade são os dos Estados de não direito; contudo, são justamente estes os
menos afeitos a aceitar as transformações da comunidade internacional. Logo, com relação à
tutela internacional dos direitos do homem, onde é possível talvez não seja necessária e onde
é necessária talvez seja menos provável de acontecer.
Ainda sim, os direitos possuem outras dificuldades apontadas por Bobbio como uma
aparente incompatibilidade entre os direitos sociais, de caráter mais socialista, e os direitos a
liberdade, de caráter mais liberal. Ao depender, o primeiro, de um maior nível de intervenção
do Estado e, o segundo, de menor nível de intervenção, o que parece haver entre esses direitos
é uma superposição; quanto mais um menos o outro e vice-versa. A ideia então seria a de ou
estabelecer prioridades ou chegar-se a uma síntese através de um acordo. Outras das
dificuldades apontadas se relacionariam às condições de realização desses direitos, pois nem
tudo que é desejável de ser seguido é realizável. Muitas vezes são necessárias condições
objetivas para a realização de determinados direitos que dependem da situação da sociedade
num determinado momento. Para ilustrar, uma situação de guerra ou crise econômica pode
obrigar a suspensão de alguns direitos; ou então a aplicação de determinados direitos, como
ao trabalho, dependa de um certo desenvolvimento da sociedade. Por fim, Bobbio então
finaliza que o caminho a percorrer ainda é longo na progressão dos direitos; sobretudo, tais
direitos irão estar vinculados ao desenvolvimento global da civilização humana.