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Driely Basto de Almeida O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA NO DIREITO BRASILEIRO Centro Universitário Toledo Araçatuba SP 2015

O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA NO DIREITO BRASILEIRO PRINCÍPIO DA...Agradeço a minha avó, Nadir Fernandes de Almeida, pelos conselhos, pelo seu jeito animado, pela alegria que

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Driely Basto de Almeida

O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA NO DIREITO BRASILEIRO

Centro Universitário Toledo

Araçatuba – SP

2015

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Driely Basto de Almeida

O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA NO DIREITO BRASILEIRO

Monografia apresentada como exigência parcial para a

obtenção do grau de Bacharel em Direito pelo Centro

Universitário Toledo sob a orientação do Prof. Me

Carlos Paschoalik Antunes.

Centro Universitário Toledo

Araçatuba – SP

2015

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BANCA EXAMINADORA

_____________________________________

Prof. Me Carlos Paschoalik Antunes

_____________________________________

Prof. Me Jorge Kuranaka

_____________________________________

Prof. Romeu de Almeida Salles Junior

Araçatuba, ____ de ___________ de 2015.

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A Deus, pela sua infinita bondade e

misericórdia.

Aos meus pais e irmãos, por serem os mais

importantes da minha vida.

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AGRADECIMENTOS

Nada se constrói sozinho e agradecer é a maneira de reconhecer o que é importante e o

que nos ajuda a seguir em frente.

Nessa tarefa árdua, agradeço primeiramente a Deus, pois é por ele que vivo. Agradeço

a Deus pela saúde, por ter protegido meus passos, me iluminado em cada tarefa e provas,

pelas conquistas, pelas derrotas que nele achei força para levantar e começar de novo, mas

principalmente por sempre estar comigo.

Agradeço a meu pai, Tarlen Jardel de Almeida, pela educação, por me ensinar os

valores mais importantes da vida, pelos conselhos, pela força que sempre me passou, por me

ensinar nunca desanimar porque é por meio das lutas e persistência que conseguimos alcançar

qualquer coisa. Pai, eu te amo, você é meu exemplo, as palavras não são suficientes para dizer

meus agradecimentos.

Agradeço a minha mãe, Ivonete Basto de Almeida, pelo carinho, pelo cuidado e

proteção, pelo incentivo, pela orientação sobre tudo, por me ouvir e me ensinar sempre com o

muito amor. Mãe, eu te amo nunca vou conseguir te agradecer por palavras pelo que faz por

mim.

Agradeço a minha irmã, Daniely Basto de Almeida, minha melhor amiga e

companheira, agradeço por estar comigo a todo o momento, eu não sei o que é ser sozinha,

pois tive o privilégio de ter uma irmã que nasceu no mesmo dia que eu e que sempre esteve

comigo em todas as fases da minha vida. Agradeço pela força, por me ajudar, por estudar

comigo, pelo carinho, por me acompanhar em tudo. Dani, simplesmente, te amo!

Agradeço a meu irmão, Thalis Basto de Almeida, que mesmo ainda criança sempre

soube transmitir seus carinhos, agradeço pelos abraços, pelas brincadeiras, pelos momentos de

alegria. Thalis, eu te Amo, mesmo sendo tão pequeno é um orgulho para todos nos.

Agradeço a minha avó, Aurora Vaz de Lima Basto (in memoriam), uma saudade sem

fim, passou na minha vida e deixou os ensinamentos que seguirei por toda vida: de amor,

honestidade, cuidado e fidelidade a Deus. Jamais vou esquecer todos os beijos, abraços, do

seu sorriso e palmas em todas as vezes que eu falava que tinha “passado de ano” na faculdade.

Amarei para sempre.

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Agradeço a minha avó, Nadir Fernandes de Almeida, pelos conselhos, pelo seu jeito

animado, pela alegria que sempre nos transmitiu e pelo exemplo que nos da de uma mulher

batalhadora e guerreira. Te Amo muito avó Nadir.

Agradeço toda minha família, avós, tios, primos, pelos conselhos e força.

Agradeço aos amigos que sempre me acompanharam e incentivaram, em especial

Aline Umberto de Aquino, Arielly Carvalho Massa e Fernando Francelino que sempre me

ajudaram em tudo que precisei sem medir esforços, amigos que surgiram no período da

faculdade e levarei para a vida toda.

Agradeço ao Centro Universitário Unitoledo pelas oportunidades, por estar sempre

trabalhando de maneira a nos proporcionar um curso de qualidade e de fazer dos graduandos

profissionais capacitados para o mercado de trabalho.

Agradeço a todos os professores que de maneira brilhante transmitiram seus

conhecimentos, em especial, os professores: Romeu de Almeida Salles Junior, Marcus

Vinicius Xavier, Diego Gustavo Pereira, Habib Nadra Ghaname, Daniel Baggio Maciel, Jorge

Kuranaka, Renato Alexandre da Silva Freitas, Daniel Barile da Silveira, Maurício de Carvalho

Salviano, Gustavo Henrique Stábile, Carlos Paschoalik Antunes, Ronaldo Abut Cabrera,

Emerson Sumariva Junior, Claudinei Jacob Gottems, Luiz Gustavo Boiam Pancotti, Camila

Paula Barros Gomes e Valdir Garcia dos Santos Junior.

Agradeço a todos por onde fiz estágio pela paciência e as experiências transmitidas,

em especial, Escrevente: Maria Cláudia Torquetti (Cartório de Registro Civil- Auriflama),

Escreventes: Livia Mara Augustinho Facchini e Márcio Roberto Kimura (Cartório da Vara

única da Comarca de Auriflama-SP), Dr Cleiton Luis da Silva e Dr. João Paulo Gabriel de

Sousa (Ministério Público do Estado de São Paulo - Auriflama-SP) e Dr. Jorge Kuranaka

(Procuradoria Geral do estado de São Paulo - Regional Araçatuba-SP).

Deus Abençoe a todos!

Muito Obrigada!

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Lança o teu pão sobre as águas, porque

depois de muitos dias o acharás.

Eclesiastes 11.1

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RESUMO

O princípio da Insignificância foi criado pela doutrina e jurisprudência, sendo previsto

implicitamente no ordenamento jurídico brasileiro. Este princípio tem por objetivo afastar a

tipicidade material do crime, isto é, embora exista a tipicidade formal, a conduta não foi capaz

de trazer lesão ou risco de lesão ao bem jurídico tutelado, ensejando assim a atipicidade, pois

o bem jurídico não foi lesionado de forma que justifique a incidência do ramo mais gravoso

do Direito, ou seja, o Direito Penal. O trabalho busca analisar a aplicação do princípio nos

crimes previsto no ordenamento jurídico brasileiro por meio da análise de julgados

colacionados.

Palavras-chave: Princípio; Crime; Tipicidade; Insignificância; Aplicação do princípio.

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ABSTRACT

The principle of the insignificance was created by the doctrine and jurisprudence, being

implied by Brazilian law. This principle aims to move away the typicality crime material, this

is, although there is formal typicality, the conduct wasn‟t able to bring injury or risk of injury

to the protected legal asset, so giving rise to the atypicality, because the legal asset wasn‟t

injured in form to justify the incidence of the more onerous branch of law, or be, the Criminal

Law. The study analyzes the application of the principle in the crimes provided in the

Brazilian legal system by analyzes of collated judged.

Keywords: Principle; Crime; Typicality; Insignificance; Application of the principle.

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LISTA DE SIGLAS E SÍMBOLOS

STF – Supremo Tribunal Federal

STJ – Superior Tribunal de Justiça

CP – Código Penal

§ – Parágrafo

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 11 I – OS PRINCÍPIOS NO DIREITO..................................................................................... 13 1.1 Os Princípios ..................................................................................................................... 13

1.2 Princípios Explícitos e Implícitos ..................................................................................... 14 1.3 Diferenças entre princípios e normas................................................................................. 15

II – TEORIA GERAL DO CRIME...................................................................................... 17 2.1 Conceito de Crime ............................................................................................................. 17 2.2 Fato Típico ........................................................................................................................ 19

2.2.1 Tipicidade ....................................................................................................................... 23

2.2.1.1 Adequação Típica ........................................................................................................ 24 2.2.2 Função do Tipo Penal ..................................................................................................... 25

2.2.3 Elementos Estruturais do Tipo ....................................................................................... 26 2.3 Dolo e Culpa ..................................................................................................................... 27 2.4 Fato Ilícito.......................................................................................................................... 28

2.5 Fato Culpável .................................................................................................................... 29 III- PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.......................................................................... 31 3.1 Histórico............................................................................................................................. 31

3.2 Conceito.............................................................................................................................. 33 3.3 Princípios Relacionados ao Tema...................................................................................... 34

3.3.1 Princípio da Intervenção Mínima ou da Subsidiariedade............................................... 34 3.3.2 Princípio da Proporcionalidade....................................................................................... 34

3.3.3 Princípio da Adequação Social....................................................................................... 35 3.4 Requisitos de aplicação do Princípio da insignificância conforme a jurisprudência do

Tribunal Superior de Justiça e do Supremo Tribunal Federal...................................................35 3.5 Intervenção mínima e Fragmentariedade............................................................................44

IV- APLICAÇÃO DO PRINCÍPIOS DA INSIGNIFICÂNCIA A DETERMINADOS

CRIMES.................................................................................................................................. 45

4.1 Crimes Patrimoniais........................................................................................................... 45 4.1.2 Furto – Artigo 155 do código Penal................................................................................ 45 4.2 Crimes contra a Administração Pública (artigo 312 e seguintes do Código Penal)........... 49 4.3 Crimes Ambientais – Lei 9.605/1998................................................................................. 51 4.4 Crimes Tributários e Descaminho...................................................................................... 52

4.5 Atos infracionais (Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei 8.069/1990)..................... 55

CONCLUSÃO........................................................................................................................ 57

REFERÊNCIAS..................................................................................................................... 61

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INTRODUÇÃO

O Princípio da Insignificância é um tema de grande relevância para os aplicadores do

Direito, em especial, os que trabalham com o processo criminal, como: promotores,

advogados, defensores, magistrados, analistas, bem como, para o próprio réu de um processo

penal.

Este princípio está previsto implicitamente no ordenamento jurídico, foi criado pela

doutrina e jurisprudência e deve ser observado na aplicação do Direito analisando o caso

concreto.

Ocorre a incidência do princípio quando o caso concreto preenche alguns requisitos,

ou seja, a conduta praticada é formalmente típica, pois prevista em lei como infração penal,

no entanto sua prática não foi capaz de causar uma lesão relevante ao bem jurídico tutelado,

senão lesão muito ínfima a vítima e a sociedade, de modo que faz desnecessária a aplicação

do Direito Penal, que é o ramo mais gravoso, para solucionar o problema.

Em outras palavras, o Direito penal foi criado para solucionar problemas graves que

acontecem na sociedade, portanto deve ser a ultima ratio, se envolver somente quando os

demais ramos do Direito não conseguirem resolver os casos. O Direito penal não foi criado

para se preocupar com lesões pequenas, que não conseguiram gerar lesão e nem risco de lesão

à vítima e a sociedade.

A título de exemplo, imagina que um sujeito adentrou em uma livraria e furtou três

canetas avaliadas em R$ 2,00 (dois reais) cada, percebe que a conduta deste agente é típica

porque ele subtraiu para si coisa alheia móvel, previsto no artigo 155 do Código Penal, ou

seja, está presente a tipicidade formal, porém será que o crime de furto previsto no artigo 155

do código penal, foi criado para esse tipo de conduta? Creio que não, deste modo embora

esteja presente a tipicidade formal, precisa analisar também a tipicidade material, observar se

a conduta trouxe uma lesão ou pelo menos um risco de lesão relevante para o bem jurídico

tutelado.

Por este motivo a doutrina e jurisprudência criou o princípio da insignificância com o

objetivo de afastar dessas condutas com resultado ínfimo, um dos elementos que formam o

conceito de crime, a tipicidade material, transformando a conduta em atípica, não tendo o que

falar em infração penal quando preenchidos os requisitos que incidi o princípio.

Vale descrever a decisão famosa do juiz de Direito Rafael Gonçalves de Paula, na qual

menciona o magistrado com inusitada técnica o princípio da intervenção mínima e da

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insignificância (decisão proferida no processo 124/03, da 3ª Vara criminal da comarca de

Palmas, TO):

Trata-se de auto de prisão em flagrante de Saul Rodrigues Rocha e Hagamenon

Rodrigues Rocha, que foram detidos em virtude de suposto furto de duas (2)

melancias,

Instado a se manifestar, o Sr. Promotor de Justiça opinou pela manutenção dos

indiciados na prisão.

Para conceder a liberdade aos indiciados, eu poderia invocar inúmeros fundamentos:

os ensinamentos de Jesus Cristo, de Buda e Ghandi, o Direito Natural, o princípio da

insignificância ou bagatela, o princípio da intervenção mínima, os princípios do

chamado Direito alternativo, o furto famélico, a injustiça da prisão de um lavrador e

de um auxiliar de serviços gerais em contraposição à liberdade dos engravatados que

sonegam milhões dos cofres públicos, o risco de se colocar os indiciados na

Universidade do Crime (o sistema penitenciário nacional).

Poderia sustentar que duas melancias não enriquecem e nem empobrecem ninguém.

Poderia aproveitar para fazer um discurso contra a situação econômica brasileira,

que mantêm 95% da população sobrevivendo com o mínimo necessário.

Poderia brandir minha ira contra os neo-liberais, o consenso de Washington, a

cartilha demagógica da esquerda, a utopia do socialismo, a colonização européia.

Poderia dizer que George Bush joga bilhões de dólares em bombas na cabeça de

iraquianos, enquanto bilhões de seres humanos passam fome pela terra – e aí, cadê a

justiça desse mundo?

Poderia mesmo admitir minha mediocridade por não saber argumentar de tamanha

obviedade.

Tanta são as possibilidades que ousarei em agir em total desprezo às normas

técnicas: não vou apontar nenhum desses fundamentos como razão de decidir.

Simplesmente mandarei soltar os indiciados.

Quem quiser que escolha o motivo.

Expeçam-se alvarás. Intime-se

Palmas – TO, 05 de setembro de 2003

Rafael Gonçalves Paula – Juiz de Direito. Disponível em: <www.tjto.jus.br> Acesso

em: 10-05-2015.

Nota-se que o Direito penal não deve se preocupar com lesões pequenas, que de

maneira obvia que não conseguiu trazer lesão nenhuma.

O trabalho aborda o Direito Penal, no que tange o princípio da insignificância,

iniciando com um conceito do que é princípio, em seguida a conceituação do que é crime

dentro da teoria geral do crime abordando a teoria bipartida e tripartida, a fase histórica do

princípio da insignificância, seu conceito, os princípios relacionados a ele, a incidência na

jurisprudência, quais os requisitos que devem ser cumpridos para que o princípio seja

aplicado e sua aplicação em algumas infrações penais, tais como, nos crimes patrimoniais, nos

crimes contra a administração pública, nos crimes ambientais, nos crimes tributários e nos

atos infracionais. Este trabalho não tem o propósito de inovar, de falar o que nunca foi falado,

mas de exibir a incidência do princípio nos tribunais e de alertar sua importância no Direito

Penal de modo à demonstrar aos colegas e réus no processo penal, uma tese de defesa que

embora não tipificada em lei tem grande aceitação e destaque no ordenamento jurídico

brasileiro.

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I - OS PRINCÍPIOS NO DIREITO

1.1. Os Princípios

Para que se torne fácil à compreensão do tema é necessário definir o que são os

princípios do direito e sua importância no ordenamento jurídico.

Se perguntarmos para alguém que não teve nenhum contato com o Direito “o que é

principio?”, alguns logo vão dizer que princípio é a origem, o começo de algo, enquanto que

para outros princípios são valores éticos passados de geração em geração. Porém no Direito,

princípio não é visto necessariamente como algo que da início a alguma coisa e nem em sua

acepção ética.

Segundo bem elenca o renomado doutrinador Miguel Reale:

Nosso estudo deve começar pela observação fundamental de que toda a forma de

conhecimento filosófico ou científico implica a existência de princípios, isto é, de

certos enunciados lógicos admitidos como condição ou base de validade das demais

asserções que forma o campo do saber.

É claro que estamos cuidando da palavra “princípio” apenas no seu significado

lógico, sem nos referirmos à acepção ética desse termo, tal como se dá quando

demonstramos respeito pelo“homens de princípios”, fiéis na vida prática, às sua

convicções de ordem moral.

Restringindo-nos ao aspecto lógico da questão, podemos dizer que os princípios são

“verdades fundantes” de um sistema de conhecimento, como tais admitidas por

serem evidentes ou por terem sido comprovadas, mas também por motivos de ordem

prática de caráter operacional, isto é, como pressupostos exigidos pelas necessidades

da pesquisa e da práxis. (2005, p. 303).

No mundo do Direito os princípios são os fundadores do sistema de conhecimento, à

base do ordenamento jurídico, é o alicerce do sistema jurídico que servem como pilares de

criação das normas de todo direito. Norteador das normas e dos intérpretes do Direito.

De acordo como doutrinador Rizzato Nunes (2002, p.163, 164):

Os princípios são, dentre as formulações deônticas de todo sistema ético-jurídico, os

mais importantes a serem considerados não só pelo aplicador do Direito mas por

todos aqueles que, de alguma forma, ao sistema jurídico se dirijam. Assim,

estudantes, professores, cientistas, operadores do Direito-advogados, juízes,

promotores públicos etc-, todos têm, em primeiro lugar, de levar em consideração os

princípios norteadores de todas as demais normas jurídicas existentes.

Os princípios do Direito devem ser observados no momento de elaboração e aplicação

de uma norma jurídica, pois são instrumento de interpretação e compreensão do Direito.

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As normas devem respeitar e ser coerentes com os princípios e quando houver lacunas

na lei os princípios também suprem e preenchem essas brechas.

Esses princípios que servem de base para preencher lacunas não podem opor-se ás

disposições do ordenamento jurídico, pois devem fundar-se na natureza do sistema

jurídico, que deve apresentar-se como “organismo” lógico, capaz de conter solução

segura para cada caso duvidoso. Com isso se evita que o emprego dos princípios seja

arbitrário ou conforme as aspirações, valores ou interesses de órgão judicante.

(DINIZ, 2010, p. 472).

Na vida do Direito os princípios são importantes em duas fases principais: na

elaboração das leis e na aplicação do Direito, pelo preenchimento das lacunas da lei.

(NADER, 2002, p.194). Portanto princípios são proposições básicas, verdades de um sistema

de conhecimento que teve origem em um pensamento filosófico ou cientifico por serem

evidentes ou porque foram demonstrados e comprovados, que devem ser observados no

momento de elaboração, interpretação e aplicação do saber.

1.2. Princípios Explícitos e Implícitos

Os princípios do Direito podem estar presentes de maneira expressa ou implícita no

ordenamento jurídico, “são normas de valor genérico que orientam a compreensão do sistema

jurídico, em sua ampliação e integração, estejam ou não positivados” (DINIZ, 2005, p. 477),

deste modo, existe princípios positivado no ordenamento como lei e outros que estão no

interior do ordenamento jurídico, mas não são expressos na forma de lei.

A nosso ver, princípios gerais do direito são enunciações normativas de valor

genérico, que condicionem e orientam a compreensão do ordenamento jurídico, quer

para a sua aplicação e integração, quer para a elaboração de novas normas. Cobrem,

desse modo, tanto o campo da pesquisa pura do Direito quanto o de sua utilização

prática.

Alguns deles se revestem de tamanha importância que o legislador lhes confere

força de lei, como a estrutura de modelos jurídicos, inclusive no plano

constitucional, consoante dispõe a nossa Constituição sobre o princípio da Isonomia

(igualdade de todos perante a lei), de irretroatividade da lei para proteção dos

direitos adquiridos etc.

A maioria dos princípios gerais do direito, porém não constam de textos legais, mas

representam contexto doutrinários ou, de conformidade com terminologia assente no

Capítulo XIV, são modelos doutrinários ou dogmáticos fundamentais. (REALE,

2005, p. 305).

Independente de o princípio estar ou não positivado, possui eficácia e deve ser

respeitados. “Como se vê é salientado por Josef Esser, entanto são princípios, eles são

eficazes independentemente do texto legal.” (REALE, 2005, p. 305).

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1.3. Diferença entre Princípio e Norma

Princípios são mais abrangentes do que as normas, enquanto os princípios se aplica a

um número incontável de situações, as normas são mais especificas e atinge casos bem mais

definidos.

Os princípios possuem baixa carga semântica enquanto que as normas possuem alta

carga semântica, ou seja, deve observar o significado de cada palavra descrita em uma norma

para ser possível interpreta–lá, enquanto que os princípios não, pois basta fazer uma leitura

breve para ser possível interpretá-lo e aplicá-lo em diversos casos concretos. A título de

exemplo, o Princípio da Igualdade, o Princípio da Proporcionalidade, o Princípio da

Legalidade, entre outros.

E por último, vale ressaltar que nos conflitos entre normas uma exclui a outra e no

conflito entre princípios resolve pela ponderação, isto é, se os princípios chocarem entre si,

um princípio não pode exclui o outro, realiza-se então a ponderação de princípios de modo a

verificar qual princípio tem mais conformidade com o caso concreto, mas sem anular a

existência do outro.

Lincoln Jotha Soares cita em seu artigo disponibilizado na internet em 08 de outubro

de 2010, parte da Obra de Dworkin, citado por Manzato:

A diferença entre princípios jurídicos e regras jurídicas é de natureza lógica. Os dois

conjuntos de padrões apontam para decisões particulares acerca da obrigação

jurídica em circunstâncias específicas, mas distinguem-se quanto à natureza da

orientação que oferecem. As regras são aplicáveis à maneira do tudo-ou-nada. Dados

os fatos que uma regra estipula, então ou a regra é válida, e neste caso a resposta que

ela fornece deve ser aceita, ou não é válida, e neste caso em nada contribuiu para a

decisão. (...) Os princípios possuem uma dimensão que as regras não têm – a

dimensão do peso ou importância. Quando os princípios se entrecruzam (por

exemplo, a política de proteção aos compradores de automóveis se opõe aos

princípios de liberdade do contrato), aquele que vai resolver o conflito tem de levar

em conta a força relativa de cada um. (MANZATO, 2005, p. 163).

Sem divergir em essência de Ronald Dworkin, Robert Alexy formulou sua fecunda

teoria, segundo a qual os princípios encerram "mandados de otimização" e as regras

"mandados definitivos". Esta é a lição de Alexy, traduzida por Manzato (SOARES, 2010).

O ponto decisivo para a distinção entre regras e princípios é que os princípios são

normas que ordenam que se realize algo na maior medida possível, em relação com

as possibilidades jurídicas e fáticas. Os princípios são, por conseguinte, mandados

de otimização que se caracterizam porque podem ser cumpridos em diversos graus

e porque a medida ordenada de seu cumprimento não só depende das possibilidades

fáticas, mas também das possibilidades jurídicas. O campo das possibilidades

jurídicas está determinado através de princípios e regras que jogam em sentido

contrário. Ao contrário, as regras são normas que exigem um cumprimento pleno e,

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nessa medida, podem sempre ser somente cumpridas ou não cumpridas. Se uma

regra é válida, então é obrigatório fazer precisamente o que ordena, nem mais nem

menos. As regras contêm por isso determinações no campo do possível fático e

juridicamente. O importante por isso não é se a maneira de atuar a que se refere a

regra pode ou não ser realizada em distintos graus. Há, portanto, distintos graus de

cumprimento. Se se exige a maior medida possível de cumprimento em relação às

possibilidades jurídicas e fáticas, se trata de um princípio. Se somente se exige uma

determinada medida de cumprimento, trata-se de uma regra. (MANZATO, 2005,

p.164 apud SOARES, 2010) (grifamos).

Neste caso, ambos os princípios colidentes preservam os direitos neles contidos. Mas

um tem preferência em face do outro, através de uma ponderação. Trata-se de uma mediação

ou meio termo entre princípios onde o princípio vencido não é excluído totalmente do direito

da parte, mas cede a aplicação de outro princípio (vencedor). A técnica de ponderação

somente pode ser feita no caso concreto.

Destarte, os princípios têm papel fundamental no ordenamento jurídico, não podem

deixar de serem observados, tanto na origem como na interpretação e aplicação do direito.

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II - TEORIA GERAL DO CRIME

2.1. Conceito de Crime

O conceito de crime não está descrito em nenhum tipo penal, portanto é a doutrina que

conceitua o que é crime.

De acordo com Fernando Capez, o crime pode ser conceituado sob os aspectos

material e formal ou analítico.

Aspecto Material: é aquele que busca estabelecer a essência do conceito, isto é, o

porque de determinado fato ser considerado criminoso e outro não. Sob esse

enfoque, crime pode ser definido como todo fato humano que, propositada ou

descuidadamente, lesa ou expõe a perigo bens jurídicos considerados fundamentais

para a existência da coletividade e da paz social.

Aspecto formal: o conceito de crime resulta da mera subsunção da conduta ao tipo

legal e, portanto, considera-se infração penal tudo aquilo que o legislador descrever

como tal, pouco importando o seu conteúdo. Considerar a existência de um crime

sem levar em conta sua essência ou lesividade material afronta o princípio

constitucional da dignidade humana.

Aspecto Analítico: é aquele que busca, sob um prisma jurídico, estabelecer os

elementos estruturais do crime. A finalidade deste enfoque é propiciar a correta e

mais justa decisão sobre a infração penal e seu autor, fazendo com que o julgador ou

intérprete desenvolta seu raciocínio em etapas. Sob esse ângulo, crime é todo fato

típico e ilícito. Dessa maneira, em primeiro lugar deve ser observada a tipicidade da

conduta. Em caso positivo, e só neste caso, verifica-se se a mesma é ilícita ou não.

Sendo o fato típico e ilícito, já surge a infração penal. A partir daí, e só verificar se o

autor foi ou não culpado pela sua prática, isto é, deve ou não sofrer um juízo de

reprovação pelo crime que cometeu. Para a existência da infração penal, portanto, é

preciso que o fato seja típico e ilícito. (CAPEZ, 2002, p. 102).

Sob o aspecto analítico a doutrina diverge. Para alguns doutrinadores crime é fato

típico e ilícito (teoria Bipartida) e para outros crimes é fato típico, ilícito e culpável (teoria

Tripartida). “Como vimos segundo a maioria dos doutrinadores, para que se possa falar em

crime é preciso que o agente tenha praticado uma ação típica, ilícita e culpável” (GRECO,

2011, p.142).

Fazendo uma síntese da evolução da moderna teoria do delito, analisaremos

sucintamente três fases desse desenvolvimento: o conceito clássico de delito, o conceito

neoclássico de delito e conceito finalista de delito (BITENCOURT, 2006, p. 255).

A atual concepção quadripartida de delito, concebido como ação, típica, antijurídica

e culpável (essa concepção pode ser definida como tripartida, considerando somente

os predicados da ação, tipicidade e antijuridicidade e culpabilidade), é produto de

construção recente, mais precisamente, do final do século passado. Anteriormente, o

Direito comum conheceu somente a distinção entre imputatio facti e imputatio iuris.

Como afirmativa Welzel, “a dogmática do Direito Penal tentou compreender,

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primeiro (desde 1884) o conceito do injusto, partindo da distinção:

objetivo/subjetivo. Ao injusto deviam perceber, exclusivamente, os caracteres

externos da ação, enquanto que os elementos anímicos subjetivos deviam constituir

a culpabilidade”. Na verdade, a distinção entre injusto e inputação do fato (Stubel)

começou a ser esboçada na primeira metade do século XIX, seguindo-se uma

classificação tripartida (ação, antijuridicidade e culpabilidade), realizada por Luden,

que, posteriormente, como se sabe, foi sistematizada por Von Liszt e Beling, com a

inclusão, por este último, da tipicidade. No entanto em um primeiro momento,

antijuridicidade e culpabilidade confundiam-se em um conceito superior de

imputação, teoria sustentada por Puffendorf, com a finalidade de distinguir o fato,

como obra humana, do puro acaso. Foi Ihering, em 1987, que desenvolveu o

conceito de antijuridicidade objetiva para o Direito Civil, mas a adequação desse

instituto ao Direito Penal foi obra de Liszt e Beling, com o abandono da antiga

teoria da Imputação. A elaboração dos primeiros contornos do conceito de

culpabilidade coube Merkel, que conseguiu reunir dolo e culpa sob o conceito de

determinação de vontade contrária ao dever. A tipicidade foi o ultimo predicado que

se somou na construção da forma quadripartida do conceito de delito, permitindo a

Beling, seu autor, formular a seguinte definição: “delito é a ação típica, antijurídica,

culpável, submetida a uma cominação penal adequada e ajustada às condições de

dita penalidade”. Enfim, a definição atual de crime é produto da elaboração inicial

da doutrina alemã, a partir da segunda metade do século XIX, que sob a influência

do método analítico próprio do moderno pensamento científico, foi trabalhando no

aperfeiçoamento dos diversos elementos que compõem o delito, com a contribuição

de outros países, como Itália, Espanha, Portugal, Grécia, Áustria e Suíça.

(BITENCOURT, 2006, p. 256-257).

Como objetivamente Luis Regis Prado descreve em seu livro:

A ação, como primeiro requisito de delito, só apareceu com Berner (1957), sendo

que a idéia de ilicitude, desenvolveu por Ihering (1867) para a área civil, foi

introduzida no direito penal por obra de Von Liszt e Beling (1881), e a de

culpabilidade, com origem em Merkel, desenvolveu - se pelo estudo de Binding

(1877). Posteriormente, no ínicio do século XX, graças a Beling (1906), surgiu a

idéia da culpabilidade.

Para os adeptos da teoria bipartida a culpabilidade é um pressuposto da pena e não do

conceito de crime. “Sob o aspecto formal, crime é um fato típico e antijurídico. A

culpabilidade como veremos tem outra natureza” (JESUS, 2005, p. 151).

Culpabilidade é a reprovação da ordem jurídica em face de esta ligado o homem a

um fato típico e antijurídico. Reprovabilidade que vem recair sobre o agente,

ensinava Aníbal Bruno, porque a ele cumpria conformar a sua conduta com o

mandamento do ordenamento jurídico, porque tinha a possibilidade de fazê-lo e não

o fez, revelando no fato de não o ter feito uma vontade contrária àquela obrigação,

i.e., no comportamento de exprime uma contradição entre vontade do sujeito e

vontade da norma.

Como vimos a culpabilidade não é requisito de crime, funciona como condição de

imposição da pena. (JESUS, 2005, P. 155).

O Direito Brasileiro adotou o aspecto analítico em que crime é todo fato típico,

antijurídico e culpável.

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2.2. Fato Típico

O fato típico é o primeiro elemento do conceito analítico de crime. “É o fato material

que se amolda perfeitamente aos elementos constantes do modelo previsto na lei penal”.

(CAPEZ, 2002, p. 103), ou seja, fato típico é um fato praticado que se amolda perfeitamente

no que esta descrito em uma lei penal.

São quatro elementos que compõe o fato típico: “a conduta dolosa ou culposa, o

resultado (só nos crimes materiais), o nexo causal (só nos crimes materiais) e a tipicidade”.

(CAPEZ, 2002).

Primeiramente, temos a “conduta”, sendo o primeiro elemento de fato típico, é o ato

humano praticado, pode ser uma ação (um fazer, crimes comissivos - exige ação do sujeito

ativo para que exista o crime) ou uma omissão (um não fazer, crimes omissivos - exige uma

ação por lei e o sujeito ativo não faz).

Todas as infrações penais desenrolam-se no palco do mundo exterior. Sendo elas

obra do homem, e como este é integrado por duas componentes, uma de natureza

material ou objetiva e outra de natureza psicológica ou subjetiva, também as

infrações se revestem de um aspecto objetivo e outro subjetivo. (JUNIOR, COSTA,

2010, p. 93).

A conduta “é a ação ou omissão humana, consciente e voluntária, dirigida a uma

finalidade” (CAPEZ, 2002, p. 103).

Portanto um animal irracional, não pratica crime, assim dispõe o autor:

Os seres humanos são entes dotados de razão e vontade. A mente processa uma série

de captações sensoriais, transformados em desejos. O pensamento, entretanto,

enquanto permanecer encastelado na consciência, não representa nada

absolutamente nada para o Direito Penal (pensiero non paga gabella; cogitationis

poenam nemo patitur). Somente quando a vontade se liberta do claustro psíquico

que a aprisiona é que a conduta se exterioriza no mundo concreto e perceptível, por

meio de um comportamento positivo, a ação (“um fazer”), ou uma inatividade

indevida, a omissão (“um fazer que era preciso”). (CAPEZ, 2002, p. 103).

Enquanto a vontade de praticar uma ação ou se omitir a algo só está no pensamento de

um ser humano, não representa nada para o Direito Penal. Porém a partir do momento que o

homem executa uma vontade e esta, prevista no Direito Penal como crime, ele pratica um fato

típico.

Existe na doutrina várias correntes sobre o conceito de conduta, ou seja, de ação e

omissão. Vejamos algumas delas.

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Inicialmente temos a “teoria causal” em que ação “é o movimento corporal voluntário

que causa uma modificação no mundo exterior” (PRADO, 2002, p.248).

Portanto como cita Luiz Regis Prado conduta é um comportamento corporal

voluntário consistente em um fazer ou uma distensão de músculo, não fazer. Para essa teoria

independe de finalidade e o dolo e culpa está presente na culpabilidade. “O que importa não é

o conteúdo da vontade – sua direção final (se o agente queria ou não realizar a ação típica). O

conteúdo da vontade é deslocado para a culpabilidade (dolo ou culpa, formas de

culpabilidade). (2002, p. 248).

Destaca-se mencionarmos em relação a “teoria social” ação “é a manifestação externa

da vontade com relevância Social, ou, simplesmente, “o comportamento humano socialmente

relevante”. O que importa é a significação social da conduta humana no ponto de vista da

sociedade” (PRADO, 2002, p. 250). Portanto para ser crime conduta deve afrontar o povo, o

meio em que as pessoas vivem.

E por fim, a “teoria finalista” tutela que a ação “consiste no exercício de uma atividade

finalista” (PRADO, 2002, p. 251).

É certo que aqui se desenvolva “o princípio estrutural, geral, das ações humanas,

quer dizer, sua direção em função de um fim antecipado mentalmente (juntamente

com a seleção dos meios e a consideração dos efeitos concomitantes) e sua

realização nesse sentido”. Daí a afirmação de que a finalidade (ação humana) é

vidente e a causalidade é cega. É pois, a vontade finalista (consciência do fim\querer

do agente) que rege o curso causal. Essa vontade – espinha dorsal da ação – é o fator

que configura e dirige o processo causal externo, convertendo - o em uma diretiva

final. (PRADO, 2002, p. 251)

Para essa teoria conduta é uma vontade final do sujeito ativo que possui uma

pretensão, o dolo e a culpa estão presentes na conduta.

Em conseqüência o Dolo é retirado da culpabilidade, não constituindo espécie

(teoria psicológica) ou elemento da culpabilidade (teoria psicológico – normativa),

mas elemento subjetivo do tipo, integrando a conduta, primeiro elemento do fato

típico. (JESUS, 2005, p. 236).

Já o “resultado” é o segundo elemento de fato típico, quando ocorre uma modificação

no mundo exterior devido à conduta realizada pelo ser humano, acontece o resultado.

“Modificação no mundo exterior provocada pela conduta” (CAPEZ, 2002, p. 138).

Como cita Fernando Capez (2002), resultado é diferente de evento, pois evento é

qualquer acontecimento e resultado é uma consequência da conduta.

De acordo com a doutrina existe duas teorias para explicar o resultado. A teoria

naturalística e a teoria jurídica ou normativa.

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Na concepção da “teoria naturalística” resultado é a modificação do mundo exterior

devido uma conduta humana, ou seja, “é a modificação do mundo externo causado por um

comportamento humano. O conceito resulta da relação entre a conduta e a modificação,

prescindindo de sua análise em face a norma jurídica”. (JESUS, 2005, p. 244).

Fernando Capez (2002) descreve que não são todos os crimes que possui resultado

naturalístico porque há infração penal que não produz nenhuma modificação no mundo

exterior. Conforme esse resultado as infrações penais se classificam em crime material, crime

formal e crime de mera conduta. Crime material é aquele que só se consuma com um

resultado naturalístico, como o homicídio que só se consuma com a morte; crime formal é

aquele que independe de um resultado naturalístico para que aconteça a consumação, como o

crime de extorsão mediante sequestro e o crime de mera conduta é aquele que não admite

resultado naturalístico, em hipótese alguma, como o crime de desobediência que não produz

nenhuma alteração no caso concreto.

Segundo a teoria “jurídica ou normativa” o resultado é a lesão ou o risco de lesão ao

um bem jurídico tutelado ocorrido pela prática de uma conduta, “é a lesão ou perigo de lesão

de um interesse protegido pela norma penal (afetação jurídica)” (JESUS, 2005, p. 244).

Cita Fernando Capez (2002), que todos os crimes possuem resultado jurídico ou

normativo, pois sempre agride um bem jurídico tutelado, sem resultado jurídico não há crime.

Não obstante, temos “o nexo causal” terceiro elemento do fato típico, “é o elo de

ligação concreto, físico, material e natural que se estabelece entre a conduta do agente e o

resultado naturalístico, por meio do qual é possível dizer se aquela deu ou não causa a este”.

(CAPEZ, 2002, p. 139).

Já para Prado:

De outro lado, nos delitos materiais ou nos tipos de resultado (dependentes de um

resultado externo), faz se necessário uma relação de causalidade, isto é, um vínculo

entre a conduta do agente e o resultado típico. Aqui o nexo causal concreto integra o

tipo objetivo dos delitos de resultado. (2002, p. 255-256).

Como aponta CAPEZ (2002), a natureza do nexo causal abrange constatar a existência

de relação entre a conduta e o resultado, independe de qualquer apreciação jurídica, como do

dolo ou culpa, a verificação atende apenas ás leis da física, especialmente, a causa e o efeito.

Não se trata de questão opinativa, ou a conduta provocou o resultado ou não. Capez afirma

ainda, que para saber a existência de um nexo causal, basta aplicar um utilíssimo critério, o

critério da eliminação hipotética, segundo o qual excluído um fato e ainda assim ocorrer o

resultado é sinal que o fato excluído não foi causa do resultado.

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Por outro lado, Fernando Capez também descreve que não basta a mera configuração

do nexo causal, é necessário também a verificação do nexo normativo, ou seja, se o agente

tenha agido com dolo ou culpa, uma vez que sem um ou outro não haveria fato típico.

Conforme a doutrina existe teorias para mostrar o nexo causal.

Primeiramente a “teoria da equivalência dos antecedentes” (Conditio sine qua non),

segundo esta teoria tudo que aconteceu antes do resultado e que contribuiu com ele é sua

causa, “toda e qualquer conduta que, de algum modo, ainda que minimamente, tiver

contribuído para a produção do resultado deve ser considerado sua causa”. (CAPEZ, 2002, p.

140).

O código penal brasileiro em seu artigo 13, caput, ao resolver a questão do nexo de

causalidade, adotou a teoria do conditio sine qua non ou da equivalência dos antecedentes, em

que é considerado causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido (JESUS,

2005, p. 247). “Para a identificação do antecedente causal, utiliza-se da fórmula conhecida

como processo ou método indutivo hipotético de eliminação, de acordo com o qual é causa de

um resultado toda a condição, que suprimida mentalmente, faria desaparecer o resultado”.

(PRADO, 2002, p. 256).

Diz ainda o código penal em seu artigo 13 §1º “A superveniência de causa

relativamente independente exclui a imputação, quando por si só produziu o resultado; os

fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou”. Neste caso trata-se de

rompimento do nexo causal. (PRADO, 2002, p. 256).

O que de fato significa que:

Os antecedentes causais ou condições podem ser: 1. absolutamente independentes:

preexistentes\concomitantes\supervenientes (=exclusão do nexo causal, art. 13,

caput, CP); 2. relativamente independentes: preexistentes\concomitantes (=resultado

imputável ao autor; art. 13, caput, CP) e supervenientes: a) se por si só (autonomia)

produziu o resultado, isto é, inexiste relação de homogeneidade entre a conduta\ou

está fora da linha normal de desdobramento do processo causal (= só os fatos

anteriores são imputáveis, art.13, §1º, CP); b) se, ao contrário, há tal relação de

homogeneidade\uma seqüência causal normal\ou o fato posterior constituir

prolongamento do anterior. (PRADO, 2002, p. 256).

Contudo, existe ainda a “teoria da imputação objetiva do resultado”, para essa teoria

todos os fatos que ocorreram antes do resultado são causa desse, independe de análise de dolo

ou culpa do agente.

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2.2.1 Tipicidade

A tipicidade é o quinto elemento do fato típico. Não se pode confundir o conceito de

tipo legal com tipicidade.

A distinção entre tipo e tipicidade é muito bem colocado por Zaffaroni, ao dizer que

tipo é uma figura que resulta da imaginação do legislador, enquanto que o juízo de

tipicidade é a averiguação que sobre uma conduta se efetua para saber se apresenta

os caracteres imaginados pelo legislador. E arremata: “la tipicidade es el resultado

afirmativo de ese juicio” (tratado, vol.11,p. 172 apud DOTTI, 2013, p. 210).

Tipo legal é o que crime descrito pelo legislador e posto como lei. “O conceito de tipo,

portanto, é o modelo descritivo das condutas humanas criminosas, criada pela lei penal, com a

função de garantia do direito a liberdade”. (CAPEZ, 2011, p. 210).

O princípio da reserva legal descrito no artigo 5º inciso XXXIX da constituição federal

“não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”, deixou a

função para o legislador descrever todos os fatos como crime em uma lei, e a partir do

momento que uma conduta praticada por um indivíduo se amolda perfeitamente no que esta

descrito na lei ocorre a tipicidade.

Como cita Dotti (2013, p. 211), ocorre ainda o que chama-se de tipicidade conglobante

a tipicidade que não se satisfaz com a tipicidade legal, ou seja, com a simples adequação de

uma conduta com um tipo penal incriminador, exige-se a violação de um imperativo de

comando ou de proibição. Ocorre quando uma pessoa pratica uma conduta aparentemente

proibida, mas que não é alcançada pela proibição. É no âmbito da tipicidade conglobante que

se resolve as questões do crime de bagatela pela insignificância do bem jurídico afetado.

Deste modo, a tipicidade penal é formada pela tipicidade formal (ajuste da conduta na

lei) e da tipicidade conglobante, também conhecida de tipicidade material (relevância da lesão

ou perigo de lesão).

Tipicidade Conglobante: inclui a tipicidade e ilicitude na mesma fase, como

elementos fundidos. Com efeito, o fato para ser típico também deve ser ilícito, ou

seja, a ilicitude integra o tipo penal como um dos seus elementos. Se o fato

corresponder o que está descrito no tipo (tipicidade legal), mas se não for ilícito, não

existirá juízo de tipicidade (a chamada tipicidade penal). (...) Isto significa que o fato

típico exige antijuridicidade como requisito. Surge assim o conceito de tipicidade

legal (tipicidade legal + ilicitude da conduta). Um fato somente será típico se

presente a tipicidade penal. Daí derivou tipo total do injusto, segundo o qual as

causas de exclusão da ilicitude são elementos normativos do tipo, fazendo com que,

por exemplo, o tipo de homicídio ficasse assim: matar alguém + não estando em

legítima defesa, estado de necessidade etc. Quem age em legítima defesa pratica um

fato atípico, pois lhe falta a ilicitude, que é um dos elementos para a tipicidade.

Entendemos mais correta a visão indiciária da ilicitude, pois fato atípico e fato ilícito

não se confundem, sendo fases distintas no raciocínio do intérprete (primeiro

verifica-se a tipicidade e, em caso afirmativo, em um momento posterior, afere-se a

ilicitude).

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Do contrário, teríamos de aceitar que matar alguém em legítima defesa seria tão

atípico quanto matar um inseto. (CAPEZ, 2002, p.175). (Destaquei)

Defende Julio Fabbrini Mirabete (2002), que para que ocorra a tipicidade é necessário

está presente os elementos objetivo e subjetivo, de modo que a tipicidade é a exata

correspondência, a adequação perfeita entre o fato e a descrição contida na lei, porém o tipo

penal não é só composto de requisitos objetivos, mas também de elementos normativos e

subjetivos, portanto para que ocorra a tipicidade precisa estar presentes o elemento objetivo e

o elemento subjetivo. A título de exemplo, no homicídio há tipicidade se o indivíduo “matar

alguém” (elemento objetivo), mas só há violação do segredo profissional se a revelação

ocorrer “sem justa causa” (elemento subjetivo).

Outros doutrinadores, tais como, Julio Fabrini Mirabete, Fernando Capez, chamam de

tipo normal aquele que contém apenas a descrição objetiva e tipo anormal aquele cujo a

descrição dos fatos contém elementos objetivos e elementos subjetivos.

De acordo com Dámasio de Jesus (2011, p. 155) o crime é uma figura que estão

descritos o fato típico e a ilicitude. A culpabilidade é o elemento de ligação entre o crime e a

pena. Assim não é rígido o limite entre tipicidade, antijuridicidade e culpabilidade, não há

antijuridicidade penal sem tipicidade, bem como não há falar-se em ilicitude penal sem o fato

que esteve previsto como infração pela lei.

2.2.1.1 Adequação Típica

Para Damásio Evangelista de Jesus “Não basta que o fato seja apenas antijurídico.

Exige-se que se amolde a uma norma penal incriminadora. Daí a questão da adequação típica,

que consiste em a conduta submir-se no tipo penal” (2005, p. 269). Adequação típica é o

enquadramento de um fato concreto praticado por um ser humano a um tipo legal.

Não é todas as vezes que o fato de adequa perfeitamente em um tipo penal, sendo

necessário o uso de outras normas, “nem sempre a adequação do fato ao tipo penal se opera

de forma direita, sendo necessário à tipicidade que se complete o tipo penal com outras

normas, contidas na parte geral dos códigos”. (MIRABETE, 2002, p 115).

Em conformidade com Fernando Capez (2011, p.145) e Damásio Evangelista de Jesus

(2005, 157), a adequação típica se apresenta de duas formas:

Adequação Típica de subordinação imediata: O fato se enquadra na lei

imediatamente sem a necessidade de outro dispositivo. Ocorre uma correspondência

perfeita entre a conduta e o tipo legal.

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Adequação típica de subordinação mediata: A conduta não se enquadre

imediatamente na norma penal incriminadora, necessitando de outro dispositivo de

lei para isso. Não se verifica uma perfeita correspondência entre o fato e a norma,

sendo necessário uma outra norma que promova a extensão do tipo até alcançar a

conduta. (Destaquei)

2.2.2. Função do Tipo Penal

Segundo Cezar Roberto Bitencourt (2006, p. 256) O tipo penal possui muitas funções,

sendo as que mais se destacam a função de garantia, função indiciária e função diferenciadora

do erro:

Inicialmente temos a função indiciária, o tipo descreve a conduta penalmente ilícita,

uma ação ser típica provavelmente indica uma antijuricidade. Realizado o tipo já antecipa

uma infringência do direito. Na concepção de mayer, a tipicidade é a ratio cognodcendi da

antijuricidade, ou seja, a adequação do fato ao tipo faz surgir indício que a conduta é

antijurídica.

Já a função de garantia diz respeito a segurança do princípio da reserva legal, todo

cidadão, antes de realizar o fato, deve ter possibilidade de saber que a conduta praticada por

ele está descrita na lei como crime, se é ou não punível, pois, o tipo tem além da função

fundadora do injusto também tem a função limitadora do âmbito do penalmente relevante.

Por fim, a função diferenciadora do erro, em que o dolo do agente tem que abranger

todos os elementos do tipo penal, visto que a teoria do tipo tem igualmente função importante

diante a teoria do erro jurídico-penal. O agente somente poderá ser punido pela prática de

crime doloso quando conhecer as situação e circunstâncias fáticas que constituem, o

desconhecimento constitui erro de tipo, excludente do Dolo.

2.2.3. Elementos Estruturais do Tipo

Na sua integralidade, o tipo é composto dos seguintes elementos: núcleo, designado

por um verbo (matar, ofender, constranger, subtrair, expor, iludir etc.); referências

ao sujeito passivo (alguém, recém-nascido etc.); objeto material (coisa alheia móvel,

documento etc.), que, em alguns casos, confunde-se com o próprio sujeito passivo

(no homicídio, o elemento “alguém” é o objeto material e o sujeito passivo);

referências ao lugar, tempo, ocasião, modo de execução, meios empregados e, em

alguns casos, ao fim especial visado pelo agente. (CAPEZ, 2011, p. 210).

(Destaquei)

Para Cezar Roberto Bitencourt (2006, p. 255), Todo tipo penal abrange todos os

elementos que fundamenta o injusto e traz implícito um juízo de valor.

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Deste modo o tipo penal compõe de elementos objetivos é por vezes é integrado de

elemento subjetivo, dentre ele, o elementos objetivos-descritivos que são identificados pela

constatação sensorial, pode facilmente ser compreendido somente pela concepção dos

sentidos.

Em contrapartida, os elementos normativos, é insuficiente desenvolver uma atividade

meramente cognitiva, devendo-se realizar uma atividade valorativa um juízo de valor. (tipo

anormais).

E por fim, os elementos subjetivos que são elementos presentes no campo psíquico-

espiritual e ao mundo de representação do autor. Constituído pelo Dolo (elemento subjetivo

geral) e por elementos subjetivos do injusto.

2.3. Dolo e Culpa

Dolo é a vontade de praticar uma conduta, “é a vontade e a consciência de realizar os

elementos do tipo penal. Mas amplamente é vontade manifestada pela pessoa humana de

realizar a conduta” (CAPEZ, 2002, p.177). No dolo a pessoa quer realizar a conduta descrita

no tipo penal.

Como diz Fernando Capez (2002) os elementos dolo é a consciência de que o fato é

uma ação típica e a vontade de realizar esse fato.

A doutrina classifica o dolo em várias espécies, porém só duas espécies foram

adotadas pelo código penal, escritas no artigo 18, inciso I, “doloso, quando o agente quis o

resultado o assumiu o risco de produzi-lo”.

Desse modo, o dolo direito ocorre quando o agente pratica a conduta e quer o

resultado. “Na conceituação de JOSÉ FREDERICO MARQUES, Diz-se direto o dolo quando

o resultado no mundo exterior corresponde perfeitamente à intenção e a vontade do agente

(...)” (Tratado de direito penal, Bookseller, 1991, v.2, p.198 apud CAPEZ, 2002, p. 179).

Assim, temos o dolo eventual que ocorre quando o agente pratica a conduta e assume

o risco do resultado. “No dolo eventual, o agente presta anuência, concorda, com o advento do

resultado, preferindo arriscar-se a renunciar à ação” (PRADO, 2002, p. 306).

Conforme pronunciado por René Ariel Dotti (2013, p. 212), parte da doutrina ainda

admite a divisão clássica do dolo, em dolo genérico e dolo específico. O dolo genérico ocorre

quando o agente se emite a uma ação esperada, ou seja, se limita a realizar um fato proibido,

querendo um resultado ou assumindo o risco da ocorrência dele. Por outro lado o dolo

específico quando revelasse um fim especial, um fim proposto pelo delinquente.

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Hoje se fala também, inclusive tive o privilégio de tomar conhecimento em aulas

ministradas para cursos de segunda fase do exame da Ordem, em uma Classificação moderna

de Dolo que trata o como, Dolo Direto de 1º grau, em que o sujeito quer praticar a conduta e

quer o resultado (antigo dolo direito), Dolo Direito de 2º grau, o sujeito aceita o efeito

colateral que tem certeza que irá ocorrer, por fim, Dolo Eventual em que aceita o risco do

efeito colateral.

A Culpa ocorre quando o agente age sem um dever de cuidado, “forma de conduta

humana e se caracteriza pela realização do tipo de uma lei penal, através de lesão de um dever

de cuidado, objetivamente necessário para proteger o bem jurídico” (PRADO, 2002, p. 303).

O agente tem condições de impedir que o resultado aconteça, mas não o faz por falta de

cuidado. De acordo com o artigo 18, inciso II do código penal, o agente da à causa ao

resultado por imprudência, negligência e imperícia.

Art. 18. Diz-se crime:

Crime Culposo

II – quando o agente deu a causa ao resultado por imprudência, negligência ou

imperícia.

Parágrafo Único. Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato

previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente.

Julio Fabrini Mirabete explica as modalidades de culpa:

A Imprudência é uma atitude em que o agente atua com precipitação,

inconsideração, com afoiteza, sem cautelas, não usando de seus poderes inibidores.

Exemplos: manejar ou limpar a arma carregada próxima a outras pessoas; caçar em

local de excursões; dirigir sem óculos quando há defeito na visão, fadigado, com

sono, e velocidade incompatível com o local e as condições atmosféricas.

A negligência é inerte psíquica, a indiferença do agente que, podendo tomar as

cautelas exigíveis, não o faz por displicência ou preguiça mental. Exemplos: não

colocar avisos junto a valetas abertas para um reparo na via pública; não deixar

freiado automóvel quando estacionado; deixar substância tóxica ao alcance de

crianças etc.

A imperícia é a capacidade, a falta de conhecimentos técnicos no exercício de arte

ou profissão, não tomando o agente em consideração o que sabe ou deve saber.

Exemplos: não saber dirigir um veículo, não estar habilitado por uma cirurgia que

exige conhecimentos apurados etc. A imperícia pressupõe sempre a qualidade de

habilitação legal para a arte (motorista, amador, por exemplo) ou profissão

(motorista profissional, médico, engenheiro, etc.). Havendo inabilidade para o

desempenho da atividade fora da profissão (motorista sem carta de habilitação,

médico não diplomado etc.), a culpa é imputada ao agente por imprudência ou

Negligência, conforme o caso. São imprudente o motorista não habilitado

legalmente que não sabe dirigir, o curandeiro que pratica intervenção cirúrgica etc.

Além das modalidades, a doutrina separa a culpa em espécies, sendo elas: a culpa

consciente e a culpa inconsciente.

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Culpa consciente: Acontece quando o agente prevê o resultado mais acredita que

ele não ocorrerá, pois por sua habilidade, afastará o resultado. “Há no agente a

representação da possibilidade do resultado, mas ele a afasta, de pranto, por entender

que a evitará e que a habilidade impedirá o evento lesivo previsto.” (CAPEZ, 2002,

p. 187)

Culpa inconsciente: Ocorre quando não prevê o resultado que é previsível. O

agente não conhece o perigo na sua conduta. “É a culpa sem previsão em que o

agente não prevê o que era previsível” (CAPEZ, 2002, p.187).

2.4. Fato Ilícito

Para relembrar o leitor, de acordo com a teoria tripartida, crime é todo fato típico,

ilícito e culpável. Falamos do fato típico que tem ampla relação com o princípio da

insignificância no que diz respeito à tipicidade, agora analisaremos resumidamente a ilicitude

e a culpabilidade que formam o conceito analítico de crime.

Fato ilícito é a contrariedade do fato com o ordenamento jurídico, é ilícita toda a

conduta praticada e descrita em um tipo penal sem o amparo de uma excludente de ilicitude,

“é a violação da ordem jurídica em seu conjunto, mediante a realização do tipo” (WELZEL.

Derecho Penal alemán, p. 116 apud PRADO, 2002, p. 313).

É a contradição entre a conduta e o ordenamento jurídico, pela qual a ação ou

omissão típica tornam-se ilícitas. Em primeiro lugar, dentro da primeira fase de

raciocínio, o intérprete verifica se o fato é típico ou não. Na hipótese da atipicidade,

encerra-se, desde logo, qualquer indagação acerca da ilicitude. È que, se um fato não

chega sequer a ser típico, pouco importa saber se é ou não ilícito, pois, pelo

princípio da reserva legal, não estando descrito como crime, cuida-se de irrelevante

penal. Exemplo: no caso de furto de uso, nem se indaga se a conduta foi ou não

acobertada por causa da justificação (excludente da ilicitude). O fato não se amolda

a nenhum tipo de incriminador, sendo por isso, um “nada jurídico” para o Direito

penal. Ao contrário, se, nessa etapa inicial, constata-se o enquadramento típico, aí

sim passa-se à segunda fase de apreciação, perscrutando-se acerca da ilicitude. Se,

além de típico, for ilícito, haverá crime.

Pode-se assim dizer que todo fato penalmente ilícito é, antes de mais nada, típico. Se

não fosse, nem existiria preocupação em aferir sua ilicitude. No entanto, pode

suceder que um fato típico não seja necessariamente ilícito, ante a correspondência

de causas excludentes. É o caso do homicídio praticado em legítima defesa. O fato é

típico, mas não ilícito, daí o resultado que não há crime. (CAPEZ, 2002, p. 238).

Está descrito no artigo 23 do código penal, as excludentes de ilicitude:

Art. 23. Não há crime quando o agente pratica o fato:

I- Em estado de necessidade;

II- Em legítima defesa;

III- Em estrito cumprimento do dever legal ou no exercício regular de direito

De acordo com o artigo 24 do código penal estado de necessidade, ocorre quando

alguém “pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem

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podia evitar de outro modo, direito próprio ou alheio, cujo o sacrifício, não era razoável

exigir-se”.

Segundo o artigo 25 do código Penal legítima defesa “ocorre quando alguém usando

moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou eminente a direito seu

ou de outro”.

Por outro lado segundo Luiz Regis Prado, agente atua em estrito cumprimento de um

dever legal quando cumpre o determinado pelo ordenamento jurídico, realizando assim, uma

conduta lícita.

2.5. Fato Culpável

A culpabilidade ocorre quando o sujeito é reprovado por sua conduta, por não tem

agido conforme a lei, quando tinha condições para agir, “é um juízo de censura ou de

reprovação pessoal endereçado ao agente por não ter agido conforme a norma, quando podia

fazê-lo (poder do agente/resolução da vontade)” (PRADO, 2002, p. 342).

Quando se diz que “Fulano” foi o grande culpado pelo fracasso de sua equipe ou de

sua empresa, está atribuindo-lhe um conceito negativo de reprovação. A

culpabilidade é exatamente isso, ou seja, a possibilidade de se considerar alguém

culpado pela prática de infração penal. Por essa razão costuma ser definida como

juízo de censurabilidade e reprovação exercida sobre alguém que praticou o fato

típico e ilícito. Não se trata de elemento do crime, mas pressuposto para a imposição

de pena, porque, sendo um juízo de valor sobre o autor de uma infração penal, não

se concebe possa, ao mesmo tempo, estar dentro crime, como seu elemento, e fora,

como juízo externo de valor do agente. (CAPEZ, 2002, p. 297).

Segundo Fernando Capez (2002, p. 298), há varias teorias para explicar a

culpabilidade, porém a teoria adotada pelo código penal brasileiro é a teoria limitada da

culpabilidade, as discriminantes putativas fáticas são tratadas como erro de tipo (artigo 20,

§1º) e as descriminantes putativas por erro de proibição, ou erro de proibição indireto, são

consideradas erro de proibição (art. 21).

Erro sobre elementos do tipo

Art. 20. O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas

permite a punição por crime culposo, se previsto em lei.

Discriminantes putativos

1§.º É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias

supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de

pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo.

Erro sobre a ilicitude do fato

Art. 21. O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se

inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço.

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Parágrafo único. Considera-se evitável- se o erro se o agente atua ou se omite sem a

consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou

atingir essa consciência.

Conforme a doutrina os elementos da culpabilidade de acordo com a teoria do código

Penal são a imputabilidade, potencial consciência da ilicitude e a exigibilidade de conduta

diversa.

Inicialmente, a “imputabilidade” é a plena capacidade (estado ou condição) de

culpabilidade, entendida como capacidade de entender e de querer, e, por conseguinte, de

responsabilidade criminal (o imputável responde por seus atos)”. (PRADO, 2002, p. 349).

Conforme o código Penal é inimputáveis e isento de pena o agente, que por “doença

mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era ao tempo da ação ou omissão

incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se, de acordo com esse

entendimento” (artigo 26), o menor de 18 (dezoito) anos, o silvícola não adaptado e aquele

que age com embriaguez acidental completa (caso fortuito e força maior).

Nesse sentido, a “potencial consciência da ilicitude” em que “basta que o autor tenha

base suficiente para saber que o fato praticado está juridicamente proibido que é contrário às

normas mais elementares que regem a convivência” (MUÑOZ CONDE. Teoria geral do

delito, p. 157-158 apud PRADO, 2002, p. 353). O agente no momento do crime podia saber

que sua conduta é contrária o ordenamento jurídico.

Contudo, a “exigibilidade de conduta diversa” em que “Somente haverá exigibilidade

de conduta diversa quando a coletividade podia esperar do sujeito que tivesse atuado de outra

forma”. (CAPEZ, 2002, p. 290). Só as condutas que poderiam ser evitadas pelo que devem ser

punidas. Segundo o artigo 22 do código penal, quando o autor de um fato age sob meio de

coação irresistível ou em estrita obediência a ordem legal, de superior hierárquico, age em

exclusão de exigibilidade de conduta diversa.

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III - PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA

3.1 Histórico

O Princípio da insignificância, também conhecido como princípio da bagatela, surgiu

no Direito Romano, e foi introduzido pela primeira vez no Direito Penal em 1964, por

CLAUS ROXIN.

Nas palavras de Fernando Capez:

Insignificância ou Bagatela: Originário do Direito Romano, e de cunho civilista, tal

princípio de funda-se no conhecido brocardo: minimis non curat praetor. Em 1964

acabou sendo introduzido no sistema penal por CLAUS ROXIN, tendo em vista sua

utilidade na realização dos objetivos sociais traçados pela moderna prática política.

(2002, p. 13).

Deste modo o princípio da insignificância teve origem Romana, mas precisamente no

Direito Civil fundado no brocardo minimus non curat praetor (“o proetor” magistrado à época

– não cuida de coisa sem importância).

Porém há controvérsias sobre a origem do princípio da insignificância, alguns autores

sustentam que o Princípio da Insignificância não surgiu no Direito Romano mais sim na

Alemanha após as duas grandes guerras, pois com a perda do patrimônio, pessoas começaram

a praticarem pequenos furtos, dando origem o que caracteriza Bagatela.

O princípio da insignificância, ou como prefere os alemães, “criminalidade de

bagatela” – bagatelledelikte, surge na Europa como problema de índole geral e

progressivamente crescente a partir da primeira guerra mundial. Ao terminar esta, e

em maior medida ao final do segundo confronto bélico mundial, produziu-se, em

virtude de circunstância socioeconômicas sobejamente conhecidas, um notável

aumento de delitos de caráter patrimonial e econômicos e, facilmente demonstrado

pela própria devastação sofrida pelo continente, quase todos eles marcados pela

característica singular de consistirem em subtrações de pequena relevância, daí a

primeira nomenclatura doutrinária de “criminalidade de bagatela”. (LOPES, 1997, p.

38).

Maurício Antônio Ribeiro Lopes (1997, p. 47), apesar de não negar a existência do

brocardo minimus non curat praetor, não concorda que o princípio da insignificância teve

origem romana, entende que teve origem, junto com o princípio da legalidade, durante o

iluminismo.

Segundo o autor, o princípio da legalidade em questão penal (nullum crimem nulla

poena sine lege) sofreu alterações ao longo do tempo que caracteriza liberdade individual

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dentro de um estado democrático e essas alterações e transformações incluem a passagem do

princípio com a formulação clássica para figuras adjetivas que foram moldando seu conteúdo

dos desígnios criminalizadores, motivo em que, o princípio da legalidade, como interferência

do individualismo político, foi destaque entre os enciclopedistas, filósofos, do direito natural e

iluminista, consequentemente o tratamento mais fundamentado e sistematizado do princípio

da insignificância.

O iluminismo preconiza a limitação do poder do estado, onde o cidadão está livre para

fazer o que quiser, só não é lícito àquilo que a lei proibir. Descreve ainda Mauricio que diante

da evolução do princípio da legalidade, este foi projetado em constituição, nos direitos

fundamentais do homem, atingindo semelhantemente a Declaração do Bom Povo de Virgínia,

de 1776 “verdade que aqui muito mais se infere o princípio da insignificância do que se

explicita e tal pode ser constatado pela análise sistêmica da categoria de assuntos relacionados

com sistema de interferência e punições estatais”. Mais adiante na França com o advento da

Revolução de 1789 que proclamou a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do

cidadão, em 26 de agosto de 1789 vem expresso o princípio da legalidade em seu artigo 7º e

8° e “no campo do princípio da insignificância, o art. 5º. Revela que a lei não proíbe senão as

ações nocivas à sociedade, o que cria um caráter seletivo para o Direito Penal e o desprezo às

ações insignificantes”.

Contudo ressalta Maurício que apesar do Princípio da Insignificância surgir

juntamente com o princípio da legalidade no iluminismo e expresso na Declaração Universal

dos Direitos do Homem e do cidadão em seu artigo 5º, nas questões patrimoniais teve origem

fática após as guerras mundiais.

Se por um lado não se pode duvidar que é muito controvertida a origem histórica da

teoria da insignificância, por outro lado se impõe-se sublinhar que o pensamento

penal vem (há tempos) insistindo em sua recuperação (pelo menos desde o século

XIX). São numerosos os autores que desde esse período a invocam e pedem sua

restauração: assim CARRARA, VON LISZT, QUINTILIAN0 SALDAÑA, ROXIN,

BAUMANN, BLASCO e FERNÁNDEZ DE MOREDA, SOLER, ZAFFARONI etc.

Nas últimas décadas destaca-se o trabalho de ROXIN, surgido em 1964, que

postulou o reconhecimento da insignificância como causa de exclusão da tipicidade

penal. (GOMES, 2013, p. 53).

Em 1964 o Jurista alemão Claus Roxin, introduziu o princípio da insignificância no

Direito Penal, demonstrando que o Direito Penal não deve se interessar com coisas sem

importância, deve ser aplicado como a última ratio, isto é, deve deixar os outros ramos do

direito atuarem primeiramente e só se eles não conseguirem solução que o direito Penal deve

atuar. O direito penal não deve preocupar com questões ínfimas.

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3.2. Conceito

Segundo a doutrina majoritária o princípio penal é causa da exclusão da tipicidade por

uma interpretação restritiva do Direito penal, “o princípio da insignificância surge como um

desses instrumentos de interpretação restritiva do tipo penal” (SILVA, 2010).

Como o princípio da insignificância não tem previsão legal, nenhuma lei o conceitua.

É criado pela doutrina e jurisprudência com base no ordenamento jurídico, “criação

exclusivamente doutrinária e pretoriana, o que faz justificar essas como autênticas fontes do

Direito. Por outro lado, mercê da tônica conservadorista do Direito, afeta seu grau de

recepcionalidade no mundo jurídico” (LOPES, 1997, p. 45). Nos dizeres de Diomar Ackel

Filho:

Princípio da insignificância pode ser conceituado como aquele que permite infirmar

a tipicidade de fatos que, por sua inexpressividade, constituem ações de bagatela,

desprovidas de reprovabilidade, de modo a não merecerem valoração da norma

penal, exsurgindo, pois, como irrelevantes. A tais ações, falta o juízo de censura

penal”. (FILHO, apud LOPES, 1997, p. 47).

Para Francisco de Assis Toledo, “Nota-se que a gradação qualitativa e quantitativa do

injusto, permite que o fato penalmente insignificante seja excluído da tipicidade penal, mas

possa receber tratamento adequado – se necessário- como ilícito civil, administrativo etc”.

(1994, p. 134).

Conforme Luis Flávio Gomes:

Há que se reconhecer, destarte uma grande diferença entre o fato de “escassíssima”

ofensividade ou relevância penal (que, o princípio de insignificância ou da

relevância penal do fato, ficaria excluído do âmbito de incidência da tipicidade

material ou seria desnecessária a pena) e a criminalidade de menor potencial

ofensivo (que entra na esfera das decisões consensuais dos juizados especiais

criminais). Essa distinção é fundamental, sobretudo, no momento de se decidir sobre

o processamento (ou não) das infrações de menor potencial ofensivo porque, quando

se constata a bagateralidade da infração, a solução correta não é dar início a um

processo, senão o pedido de arquivamento. Caso haja denúncia, impõe-se ao juiz

absolver o réu sumariamente (CPP, art. 397, III). De outro lado, mesmo que iniciado

o processo, no momento da sentença, cabe sempre ai juiz verificar se não estão

presentes os requisitos da bagateralidade imprópria (dispensando-se a pena, neste

caso). (2013, p. 58).

Portanto o princípio da insignificância no direito penal é aplicado nos casos que

embora formalmente típico causou ínfima lesão, ou seja, é o princípio que visa afastar a

tipicidade material das condutas praticada que gerou uma lesão ou um risco de lesão muito

pequeno, de modo que o Direito Penal deve se importar com questões relevantes e não com

condutas que tenha uma descrição típica mais a lesão gerada é ínfima. Riscos e lesões

mínimas não merecem relevância penal.

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3.3. Princípios Relacionados ao Tema

3.3.1. Princípio da Intervenção Mínima ou da Subsidiariedade

De acordo com esse princípio o Direito Penal só deve atuar quando ocorrer fatos

gravosos, relevantes para manter o convívio social, isto é, o Direito Penal deve atuar como

ultima ratio.

Os demais ramos do direito devem agir primeiramente e o direito penal deve manter

subsidiário em relação aos outros ramos, atuando somente quando os demais não conseguirem

solucionar a questão.

O aumento da criminalização das condutas que quase sempre, não necessita de

punição no âmbito penal, ocorre à chamada inflação legislativa. Esta criminalização deixa de

lado a subsidiariedade e a fragmentariedade do direito penal e da espaço a um direito penal

completamente diferente, que atua de início para a solução de conflitos que o Direito penal

não tem competência para resolver.

Esse é o entendimento de Luiz Regis Prado: “o uso excessivo de sanção penal

(inflação pena) não garante uma maior proteção de bens, ao contrário, condena o sistema

penal a uma função meramente simbólica e negativa (...).” “O princípio da intervenção

mínima impõe que o Direito penal continua a ser um arquipélago de pequenas ilhas no grande

mar do pessoalmente indiferente” (PRADO, 2002, p.120).

3.3.2. Princípio da Proporcionalidade

Luiz Regis Prado (2002, p. 121), o princípio da proporcionalidade surgiu no

iluminismo, com a obra de Beccaria, em especial, e se firmou como um verdadeiro

pressuposto penal. As penas previstas em lei devem ser proporcionais aos delitos praticados e

ao dano causado a sociedade.

A doutrina majoritária entende que é um princípio implícito na constituição (decorre

do princípio da individualização da pena– art. 5º, XLVI, CF), e traz a ideia que a pena deve

ser proporcional à infração e as condições pessoais do agente.

Deve haver sempre uma proporcionalidade entre a pena aplicada e o delito praticado.

A pena precisa ter equilíbrio com a gravidade da lesão.

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Esse princípio deve ser observado nos três momentos, no legislativo quando são

cominadas as penas em abstrato, judicial na aplicação das penas nos casos concretos e no

executivo quando são cumpridas as penas impostas.

3.3.3. Princípio da Adequação Social

Para esse princípio embora a conduta esteja tipificada em um dispositivo penal, não

será típica se for aceita pela sociedade de um modo geral como adequada, ou seja, estiver de

acordo com a cultura social. Essa teoria foi concebida por Hans Welzel, “as condutas

socialmente adequadas não são necessariamente exemplares, senão condutas que se mantêm

dentro dos marcos de liberdade de ação social”. (WELZEL, p. 85, apud PRADO, 2002, p.

124).

Conforme Hans Welzel, o Direito Penal só pode tipificar e punir condutas que violam

o interesse da sociedade, portanto se a conduta embora aparentemente típica, for adequada na

sociedade, não pode ser vista como crime.

3.4. Requisitos de aplicação do Princípio da Insignificância conforme a jurisprudência

do Tribunal Superior de Justiça e do Supremo Tribunal Federal

Neste subcapítulo selecionarei jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF) e do

Superior Tribunal Justiça (STJ) sobre os requisitos para aplicação do princípio da

insignificância.

Nenhum crime, em tese, está excluído a aplicação do princípio da insignificância,

devendo ser analisado o caso concreto. Para o STF, devem ser preenchidos, cumulativamente,

alguns requisitos para aplicação do princípio da insignificância.

O princípio da insignificância - que deve ser analisado em conexão com os

postulados da fragmentariedade e da intervenção mínima do Estado em matéria

penal - tem o sentido de excluir ou de afastar a própria tipicidade penal, examinada

na perspectiva de seu caráter material. Doutrina. Tal postulado - que considera

necessária, na aferição do relevo material da tipicidade penal, a presença de certos

vetores, tais como (a) a mínima ofensividade da conduta do agente, (b) a

nenhuma periculosidade social da ação, (c) o reduzidíssimo grau de

reprovabilidade do comportamento e (d) a inexpressividade da lesão jurídica

provocada - apoiou-se, em seu processo de formulação teórica, no reconhecimento

de que o caráter subsidiário do sistema penal reclama e impõe, em função dos

próprios objetivos por ele visados, a intervenção mínima do Poder Público. O

POSTULADO DA INSIGNIFICÂNCIA E A FUNÇÃO DO DIREITO PENAL:

"DE MINIMIS, NON CURAT PRAETOR" . - O sistema jurídico há de considerar a

relevantíssima circunstância de que a privação da liberdade e a restrição de direitos

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do indivíduo somente se justificam quando estritamente necessárias à própria

proteção das pessoas, da sociedade e de outros bens jurídicos que lhes sejam

essenciais, notadamente naqueles casos em que os valores penalmente tutelados se

exponham a dano, efetivo ou potencial, impregnado de significativa lesividade. O

direito penal não se deve ocupar de condutas que produzam resultado, cujo

desvalor - por não importar em lesão significativa a bens jurídicos relevantes -

não represente, por isso mesmo, prejuízo importante, seja ao titular do bem

jurídico tutelado, seja à integridade da própria ordem social”.

(STF - HC: 84412 SP, Relator: CELSO DE MELLO, Data de Julgamento:

19/10/2004, Segunda Turma, Data de Publicação: DJ 19-11-2004 PP-00037

EMENT VOL-02173-02 PP-00229 RT v. 94, n. 834, 2005, p. 477-481 RTJ VOL-

00192-03 PP-00963). (grifamos) Disponível em:

<http://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/767015/habeas-corpus-hc-84412-sp>

Acesso em: 18-07-2015.

O Supremo Tribunal Federal elencou os requisitos que entende necessário para

aplicação do princípio da insignificância: Mínima Ofensividade da conduta; Reduzido grau de

reprovabilidade do comportamento; Nenhuma Periculosidade da ação e Inexpressividade da

lesão jurídica, porém ainda sobre estes requisitos a doutrina e jurisprudência se diverge, não

podendo afirmar categoricamente as hipóteses de cabimento do princípio da insignificância.

Precisa olhar para o caso concreto e analisar o cabimento do princípio. Para isso

alguns requisitos objetivos e subjetivos devem ser observados, primeiramente a “importância

(valor) do objeto material” em que não tem um valor teto (máximo) para a aplicação do

princípio, como o princípio decorre da doutrina e não da lei deve ser observado caso a caso.

Assim, frisa-se também as “condições pessoais da vítima e resultado produzido”, pois

todas as condições relevantes devem ser observadas, não só a condições econômicas. A título

de exemplo:

O STJ excluiu o princípio da insignificância em um caso que embora o objeto não

aparentasse um aspecto econômico relevante, tinha grande valor sentimental para a vítima.

HABEAS CORPUS. FURTO. PEDIDO DE TRANCAMENTO. PRINCÍPIO DA

INSIGNIFICÂNCIA. CONDUTA PENALMENTE RELEVANTE.

CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO. 1. Quanto à incidência

do princípio da insignificância, são necessários "(a) a mínima ofensividade da

conduta do agente, (b) nenhuma periculosidade social da ação, (c) o reduzidíssimo

grau de reprovabilidade do comportamento e (d) a inexpressividade da lesão jurídica

provocada" (HC 84.412/SP, Ministro Celso de Mello, Supremo Tribunal Federal, DJ

de 19/11/2004). 2. No caso, a conduta perpetrada pela paciente não pode ser

considerada irrelevante para o Direito Penal. Conquanto não exista nos presentes

autos laudo que ateste o valor da res subtraída, certo é que a atitude do paciente

revela reprovabilidade suficiente a justificar o desencadeamento da ação penal pelo

crime de furto. 3. A investida do acusado se deu por meio de invasão a

residência, de onde subtraiu um quadro conhecido como "disco de ouro",

decorrente de premiação da vítima, renomado músico brasileiro, pela marca de

mais de cem mil discos vendidos no País, circunstância que, principalmente

pelo valor subjacente ao objeto, de nítido caráter infungível, não pode, neste

momento processual, ser ignorada, sob pena de se destoar por completo das

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hipóteses em que esta Corte vem aplicando o princípio da insignificância. 4.

Ordem denegada.

(STJ - HC: 190002 MG 2010/0206618-4, Relator: Ministro OG FERNANDES, Data

de Julgamento: 03/02/2011, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe

21/02/2011). (grifamos). Disponível em:

<http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/18396454/habeas-corpus-hc-190002-mg-

2010-0206618-4-stj> Acesso em: 18-07-2015.

STJ não aplicou o princípio da insignificância no caso em que a vítima era uma

senhora de 68 anos analfabeta, mesmo sendo uma lesão ínfima.

RECURSO ESPECIAL. SUBTRAÇÃO DO DINHEIRO DE VÍTIMA IDOSA,

COMETIDO COM USO DE CONTATO FÍSICO. CONDENAÇÃO PELO CRIME

DE FURTO TENTADO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. APLICAÇÃO.

IMPOSSIBILIDADE. CONDUTA RELEVANTE. REPERCUSSÃO SOCIAL. 1. O

pequeno valor da res furtiva não se traduz, automaticamente, na aplicação do

princípio da insignificância. Além do valor monetário, deve-se conjugar as

circunstâncias e o resultado do crime, tudo de modo a determinar se houve

relevante lesão jurídica. Precedentes do STF. 2. Tendo o fato criminoso

ocorrido contra vítima analfabeta e de 68 anos de idade, que teve seu dinheiro

sacado do bolso de sua calça, em via pública, em plena luz do dia, é inviável a

afirmação do desinteresse estatal à sua repressão. Precedentes. 3. O princípio da

bagatela, ou do desinteresse penal, consectário do corolário da intervenção mínima,

deve se aplicado com parcimônia, restringindo-se apenas às condutas sem tipicidade

penal, desinteressantes ao ordenamento positivo, o que não é o caso dos autos. 4.

Recurso provido. (STJ, Relator: Ministra LAURITA VAZ, Data de Julgamento:

20/03/2007, T5 - QUINTA TURMA). (grifamos). Disponível em:

<http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/busca?q=CONDENA%C3%87%C3%8

3O+PELO+CRIME+DE+FURTO+TENTADO> Acesso em: 18-07-2105.

E conforme a jurisprudência colacionada, o STF não reconheceu o princípio da

insignificância em um caso de furto de bicicleta que embora fosse de um valor ínfimo, foi

subtraída de pessoa humilde, que a utilizada para se deslocar ao trabalho.

PENAL. HABEAS CORPUS. CRIMES DE FURTO. CONCURSO MATERIAL.

PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. INAPLICABILIDADE. DESVALOR DA

AÇÃO E DO RESULTADO. ART. 155, § 2º, DO CÓDIGO PENAL. FURTO

PRIVILEGIADO. SENTENÇA. RECONHECIMENTO. ORDEM DENEGADA. I -

A aplicação do princípio da insignificância de modo a tornar a conduta atípica

depende de que esta seja a tal ponto irrelevante que não seja razoável a imposição da

sanção. II - Mostra-se, todavia, cabível, na espécie, a aplicação do disposto no § 2º

do art. 155 do Código Penal, tal qual procedeu o magistrado de primeira instância.

III - Ordem denegada. (STF - HC: 96003 MS, Relator: RICARDO

LEWANDOWSKI, Data de Julgamento: 02/06/2009, Primeira Turma, Data de

Publicação: DJe-121 DIVULG 30-06-2009 PUBLIC 01-07-2009 EMENT VOL-

02367-03 PP-00572). Disponível em:

<http://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/4364974/habeas-corpus-hc-96003-ms>

Acesso em: 18-07-2015.

No tocante as condições pessoais do agente, o Supremo Tribunal Federal e o Superior

Tribunal de Justiça firmaram entendimento que as condições desfavoráveis ao agente, como

maus antecedentes, reincidência ou processo em andamento, não impedem por si só a

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aplicação do princípio da insignificância. (STF, HC 104.468; STJ, HC 163.004). Porém já

deixaram de aplicar o princípio nos casos, como exemplo de furto de uma barra de chocolate,

avaliada em R$ 0,40 (quarenta centavos), praticado por um policial militar em serviço.

Vejamos:

CRIMINAL. HABEAS CORPUS. TRANCAMENTO AÇÃO PENAL. QUESTÃO

DISCUTIDA PELO TRIBUNAL A QUO. POSSIBILIDADE DO PLEITO NA

PRESENTE VIA. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. IMPOSSIBILIDADE DE

APLICAÇÃO. FURTO. POLICIAL MILITAR. REPROVABILIDADE DA

CONDUTA. ART. 240, § 1º DO CÓDIGO PENAL MILITAR. CAUSA DE

DIMINUIÇÃO DE PENA. ORDEM DENEGADA. I - Não obstante tenha o

Tribunal de Justiça Militar Estadual denegado a ordem ao argumento de que a

aplicação do princípio da insignificância para o trancamento da ação penal é questão

de mérito, o tema objeto do presente "writ" foi tratado pelo Tribunal a quo, sendo

certo que no voto vencido houve não só efetiva discussão acerca da aplicação do

princípio no caso em análise, como foi proferido no sentido de determinar o

trancamento da ação penal. Assim, é viável a análise, por esta Corte Superior, da

questão ora trazida a debate. II - O trancamento da ação penal, por meio de habeas

corpus, é medida excepcional, sendo somente admissível quando patente nos autos,

de forma inequívoca, a inocência do acusado, a atipicidade da conduta ou a extinção

da punibilidade. III - Esta Corte, por várias vezes, tem determinado o trancamento

de ação penal em sede de habeas corpus nas hipóteses em que resta configurada a

atipicidade da conduta ante a incidência do princípio da insignificância, não havendo

que se falar que a questão demanda análise do mérito a ser apreciada no curso do

processo. IV - Para a caracterização do fato típico - conduta considerada lesiva a

determinado bem jurídico que deve ser tutelado - devem ser levados em

consideração três aspectos: o formal, o subjetivo e normativo ou material. A

tipicidade formal consiste na perfeita subsunção da conduta do agente ao tipo

previsto abstratamente pela lei penal. O aspecto subjetivo refere-se ao estado

psíquico do agente. Por sua vez, a tipicidade material refere-se à realização de

atividade valorativa, implicando um juízo de valor para se aferir se determinada

conduta possui relevância penal. V - Quando a conduta se subsume perfeitamente ao

tipo abstratamente previsto pela norma penal, não possuindo, entretanto, relevância

jurídica por não produzir uma ofensa significativa ao bem jurídico tutelado, há a

configuração apenas da tipicidade formal, restando afastada a tipicidade material.

Nesta hipótese, ante ao princípio da intervenção mínima, afasta-se a aplicação do

Direito Penal. VI - O princípio da insignificância revela-se quando condutas que se

amoldam formalmente a determinado tipo legal, não apresentam relevância material,

sendo afastada liminarmente a tipicidade penal. VII - O Supremo Tribunal Federal,

ao delimitar a aplicação do princípio da insignificância, registrou que devem ser

observados os seguintes requisitos: a) a mínima ofensividade da conduta do agente;

b) nenhuma periculosidade social da ação; c) o reduzidíssimo grau de

reprovabilidade do comportamento; e d) a inexpressividade da lesão jurídica

provocada. VIII - Na hipótese dos autos não se verifica a presença de todos os

requisitos para a aplicação do princípio em comento. Conquanto possa se afirmar

haver a inexpressividade da lesão jurídica provocada - por ser considerada ínfima a

quantia alegada pela impetrante R$ 0,40 (quarenta centavos de Real) - verifica-se na

hipótese alto grau de reprovabilidade da conduta do paciente, policial militar,

fardado, que, no seu horário de serviço, subtraiu uma caixa de chocolates,

colocando-a dentro de seu colete a prova de balas. IX - O policial militar representa

para a sociedade confiança e segurança. A conduta praticada não só é relevante para

o Direito Penal como é absolutamente reprovável, diante da condição do paciente,

de quem se exige um comportamento adequado, ou seja, dentro do que a sociedade

considera correto, do ponto de vista ético e moral. X - No art. 240, § 1º do Código

Penal Militar, criou o legislador uma causa de diminuição de pena ao furto atenuado,

havendo a permissão - caso o agente seja primário e de pequeno valor a coisa furtada

- para que o juiz da causa substitua a pena, a diminua ou considere a infração como

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disciplinar. Note-se que o dispositivo não pode ser interpretado de forma a trancar a

ação penal, como quer a impetrante, sendo certo que competirá ao juiz da causa,

após o processamento da ação penal, considerar ou não a infração como disciplinar.

XI - Ordem denegada, nos termos do voto do Relator. (STJ, Relator: Ministro

GILSON DIPP, Data de Julgamento: 22/03/2011, T5 - QUINTA TURMA).

Disponível em:

<http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/busca?q=Relator+(a)+Ministra+LAUR

ITA+VAZ+%C3%93rg%C3%A3o+Julgador+T5> Acesso em: 18-07-2015.

Não obstante, outro exemplo que merece destaque é o caso do furto de um cartucho de

tinta impressora, avaliada em 27,50 (vinte e sete reais e cinquenta centavos) praticado por

preso dentro da prisão enquanto cumpria a pena.

HABEAS CORPUS. FURTO SIMPLES TENTADO DE UM CARTUCHO DE

TINTA PARA IMPRESSORA AVALIADO EM R$ 25,70, PERTENCENTE À

PENITENCIÁRIA ONDE O PACIENTE CUMPRIA PENA. RES FURTIVA QUE

PODE SER CONSIDERADA ÍNFIMA. ALTA REPROVABILIDADE DA

CONDUTA E DESVALOR SOCIAL DA AÇÃO. INADMISSIBILIDADE DA

INCIDÊNCIA DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA, NO CASO CONCRETO.

PRECEDENTES. PARECER DO MPF PELA DENEGAÇÃO DO WRIT. ORDEM

DENEGADA. 1. O princípio da insignificância, que está diretamente ligado aos

postulados da fragmentariedade e intervenção mínima do Estado em matéria penal,

tem sido acolhido pelo magistério doutrinário e jurisprudencial tanto desta Corte,

quanto do colendo Supremo Tribunal Federal, como causa supra-legal de exclusão

de tipicidade. Vale dizer, uma conduta que se subsuma perfeitamente ao modelo

abstrato previsto na legislação penal pode vir a ser considerada atípica por força

deste postulado. 2. Entretanto, é imprescindível que a aplicação do referido princípio

se dê de forma prudente e criteriosa, razão pela qual é necessária a presença de

certos elementos, tais como (I) a mínima ofensividade da conduta do agente; (II) a

ausência total de periculosidade social da ação; (III) o ínfimo grau de

reprovabilidade do comportamento e (IV) a inexpressividade da lesão jurídica

ocasionada, consoante já assentado pelo colendo Pretório Excelso (HC 84.412/SP,

Rel. Min. CELSO DE MELLO, DJU 19.04.04). 3. Na hipótese em apreço, embora o

valor do objeto furtado (cartucho de tinta para impressora) possa ser considerado

ínfimo, eis que avaliado em R$ 25,70, o fato de pertencer ao Centro de Progressão

Penitenciária onde o paciente cumpre pena por delito anterior denota o alto grau de

reprovabilidade da conduta, afastando a possibilidade de incidência do referido

princípio ao caso concreto. Precedentes do STJ. 4. Ordem denegada, em

consonância com o parecer ministerial. (STJ, Relator: Ministro NAPOLEÃO

NUNES MAIA FILHO, Data de Julgamento: 28/09/2010, T5 - QUINTA TURMA).

Disponível em:

<http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/busca?q=Relator(a)+Ministro+NAPOL

EAO+NUNES+MAIA+FILHO> Acesso em: 18-07-2015.

Luis Flávio Gomes (2013), afirma que por não ser regulamentado o princípio da

insignificância na lei não impede a doutrina e jurisprudência afirmar que ele existe. Porém há

insegurança no âmbito de sua aplicação e também nos casos réu de reincidente ou

multirreincidente. Para o doutrinador a lei futura sobre o tema deve disciplinar esse assunto

para impedir a reintegração da conduta pelo mesmo agente. “Impõe-se distinguir o seguinte:

1) a multirrencidência ou reintegração cumulativa; 2) a multirrencidência ou reintegração não

cumulativa e 3) o fato único cometido por um agente reincidente.”

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Nos casos de reincidências cumulativas, que conduzem a um resultado jurídico

valioso, como se vê, o princípio da insignificância deixa de ter aplicação. Nesse

caso, a multiplicabilidade de fatos eleva a infração para o patamar da relevância

penal. A soma de mil subtrações de R$ 1,00 chega (cumulativamente) a R$

1.000,00. Fica aniquilada objetivamente a insignificância.

Multirreincidência ou reiteração não cumulativa: Essa é a situação de quem pratica

vários fatos insignificantes, porém, não contra a mesma vítima nem de forma

cumulativa. São fatos desconectados no tempo (...), não há impedimento para a

incidência do princípio da insignificância, que conta com critérios objetivos. Isso foi

debatido no STJ (e no STF) várias vezes. (GOMES, 2012, p. 113).

A Sexta Turma do STJ já aplicou o princípio da insignificância ao reincidente.

DIREITO PENAL. APLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA

NA HIPÓTESE DE ACUSADO REINCIDENTE OU PORTADOR DE MAUS

ANTECEDENTES.Ainda que se trate de acusado reincidente ou portador de

maus antecedentes, deve ser aplicado o princípio da insignificância no caso em

que a conduta apurada esteja restrita à subtração de 11 latas de leite em pó avaliadas

em R$ 76,89 pertencentes a determinado estabelecimento comercial. Nessa situação,

o fato, apesar de se adequar formalmente ao tipo penal de furto, é atípico sob o

aspecto material, inexistindo, assim, relevância jurídica apta a justificar a

intervenção do direito penal. HC 250.122-MG, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em

2/4/2013. (grifamos). Disponível em: <www.stj.jus.br> Acesso em: 18-07-2015.

O STF por outro lado até 2014 afastava o princípio ao reincidente, mas recentemente

mudou o posicionamento e aplicou o princípio.

Habeas corpus. 2. Tentativa de furto qualificado com emprego de chave falsa (rádio

CD player automotivo, avaliado em cento e noventa e nove reais). Absolvição

sumária. Reforma da decisão pelo TJ/MG. 3. Pedido de aplicação do princípio da

insignificância. 4. Ausência de um dos vetores considerados na aplicação do

princípio da bagatela: o reduzido grau de reprovabilidade da conduta. 5. Reiteração

delitiva. Precedentes no sentido de afastar o princípio da insignificância a

acusados reincidentes ou de habitualidade delitiva comprovada. 6. Ordem

denegada. (STF - HC: 122529 MG , Relator: Min. GILMAR MENDES, Data de

Julgamento: 02/09/2014, Segunda Turma, Data de Publicação: DJe-218 DIVULG

05-11-2014 PUBLIC 06-11-2014) (grifamos). Disponível em:

<http://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/25342162/habeas-corpus-hc-122529-mg-

stf> Acesso em: 18-07-2015.

Aplicação do princípio da significância ao reincidente:

Decisão: (...) No caso em exame, não houve a produção de resultado jurídico

relevante, de modo que, à luz dos sobreditos precedentes do STF, deve ser

restabelecida a decisão absolutória de primeiro grau, dada a irrelevância penal da

conduta”. Pede a concessão de medida liminar para determinar a suspensão dos

efeitos da condenação imposta no bojo da Ação Penal n. 0439.11.013903-7, com o

sobrestamento do início da execução da pena, até o julgamento final da presente

impetração. É o relatório. Decido. No caso concreto, discute-se a possibilidade da

aplicação, ou não, do princípio da insignificância em virtude de suposta prática

de furto de bens avaliados em R$ 4,00 (quatro reais). Registro que, na Turma,

tenho-me posicionado, juntamente com Sua Excelência o Ministro Celso de

Mello, no sentido da possibilidade de aplicação do princípio da bagatela em

casos a envolver reincidentes. Nesse sentido, cito o HC 112.400/RS de minha

relatoria, DJe 8.8.2012 e o HC 116.218/MG, Rel. originário Min. Gilmar Mendes,

Redator p/ o acórdão Min. Teori Zavascki. No entanto, as turmas do STF já se

posicionaram no sentido de afastar a aplicação do princípio da insignificância aos

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acusados reincidentes ou de habitualidade delitiva comprovada: HC 97.007/SP, Rel.

Min. Joaquim Barbosa, Segunda Turma, DJe 31.3.2011; HC 101.998/MG, Rel. Min.

Dias Toffoli, Primeira Turma, DJe 22.3.2011; HC 102.088/RS, Rel. Min. Cármen

Lúcia, Primeira Turma, DJe 21.5.2010 e HC 112.597/PR, Rel. Min. Cármen Lúcia,

Segunda Turma, DJe 10.12.2012. Não obstante o STJ ter decidido a questão em

conformidade com a jurisprudência desta Corte, reconheço, em princípio,

plausibilidade à tese sustentada pela impetrante. Em casos análogos ao em apreço,

esta Suprema Corte tem reconhecido, por inúmeras vezes, a possibilidade de

aplicação do referido princípio. A propósito, menciono os seguintes precedentes:

HABEAS CORPUS. PENAL. FURTO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.

INCIDÊNCIA. VALOR DOS BENS SUBTRAÍDOS. INEXPRESSIVIDADE DA

LESÃO. CONTUMÁCIA DE INFRAÇÕES PENAIS CUJO BEM JURÍDICO

TUTELADO NÃO É O PATRIMÔNIO. DESCONSIDERAÇÃO. ORDEM

CONCEDIDA. 1. Segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, para se

caracterizar hipótese de aplicação do denominado „princípio da insignificância‟ e,

assim, afastar a recriminação penal, é indispensável que a conduta do agente seja

marcada por ofensividade mínima ao bem jurídico tutelado, reduzido grau de

reprovabilidade, inexpressividade da lesão e nenhuma periculosidade social. 2.

Nesse sentido, a aferição da insignificância como requisito negativo da tipicidade

envolve um juízo de tipicidade conglobante, muito mais abrangente que a simples

expressão do resultado da conduta. Importa investigar o desvalor da ação criminosa

em seu sentido amplo, de modo a impedir que, a pretexto da insignificância apenas

do resultado material, acabe desvirtuado o objetivo a que visou o legislador quando

formulou a tipificação legal. Assim, há de se considerar que „a insignificância só

pode surgir à luz da finalidade geral que dá sentido à ordem normativa‟ (Zaffaroni),

levando em conta também que o próprio legislador já considerou hipóteses de

irrelevância penal, por ele erigidas, não para excluir a tipicidade, mas para mitigar a

pena ou a persecução penal. 3. Trata-se de furto de um engradado que continha vinte

e três garrafas vazias de cerveja e seis cascos de refrigerante, também vazios, bens

que foram avaliados em R$ 16,00 e restituídos à vítima. Consideradas tais

circunstâncias, é inegável a presença dos vetores que autorizam a incidência do

princípio da insignificância. 4. À luz da teoria da reiteração não cumulativa de

condutas de gêneros distintos, a contumácia de infrações penais que não têm o

patrimônio como bem jurídico tutelado pela norma penal não pode ser valorada,

porque ausente a séria lesão à propriedade alheia (socialmente considerada), como

fator impeditivo do princípio da insignificância. 5. Ordem concedida para

restabelecer a sentença de primeiro grau, na parte em que reconheceu a aplicação do

princípio da insignificância e absolveu o paciente pelo delito de furto”. (HC

114.723/MG, Rel. Min. Teori Zavascki, 2ª Turma, DJe 12.11.2014) “HABEAS

CORPUS. DIREITO PENAL. CRIME DE FURTO. LIVROS DE BIBLIOTECA

DE UNIVERSIDADE FEDERAL. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.

APLICABILIDADE. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. ORDEM

CONCEDIDA. 1. A pertinência do princípio da insignificância deve ser avaliada

considerando os aspectos relevantes da conduta imputada. 2. O valor irrisório dos

bens furtados – cinco livros da Biblioteca de Universidade Federal –, a restituição do

objeto do crime à vítima, a ausência de violência, de grave ameaça ou de

circunstâncias desfavoráveis, autorizam, na hipótese, a aplicação do princípio da

insignificância com o trancamento da ação penal. 3. Ordem concedida”. (HC

116.754/CE, Rel. Min. Rosa Weber, 1ª Turma, DJe 6.12.2013) É bem verdade que

no caso em apreço o paciente já havia cumprido pena por crime de homicídio, o

qual fora cometido há aproximadamente 10 anos atrás, e encontrava-se em

liberdade condicional quando ocorreu o novo delito. No entanto, não vislumbro a

característica do criminoso contumaz, porquanto ausente o vínculo entre as

infrações, isto é, o delito contra a vida executado anteriormente não torna o acusado

reincidente específico nos crimes contra o patrimônio. Além disso, destaco que o

delito foi cometido sem o emprego de violência ou grave ameaça. Saliento ainda,

por oportuno, que o réu foi preso em flagrante delito e permaneceu cautelarmente

encarcerado por 7 sete meses, mesmo diante da possibilidade do reconhecimento da

insignificância à conduta praticada. Nesse sentido, reconheço que, ao menos em uma

análise preliminar, há que incidir, na espécie, o postulado da bagatela. É que se trata

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de hipótese a versar o furto de 2 peças de sucata que estavam em um terreno

particular, avaliadas em R$ 4,00 (quatro reais). Nesses termos, tenho que a

despeito de restar patente a existência da tipicidade formal (perfeita adequação

da conduta do agente ao modelo abstrato previsto na lei penal) não incide, no

caso, a tipicidade material, que se traduz na lesividade efetiva e concreta ao

bem jurídico tutelado. Destarte, ressalvado melhor juízo quando da apreciação

de mérito, dos documentos acostados aos autos pela impetração, constato a

existência dos requisitos autorizadores da concessão da liminar pleiteada

(fumus boni juris e periculum in mora). Ante o exposto, defiro o pedido de

medida liminar nos termos requeridos, para suspender os efeitos da

condenação imposta nos autos da Ação Penal n. 0439.11.013903-7 ao paciente

MARCOS VINICIUS BASTOS, com o sobrestamento do início da execução da

pena, até o julgamento do mérito do presente habeas corpus. Comunique-se,

com urgência, ao Juízo de Direito da Vara Criminal da Comarca de Muriaé/MG.

Estando os autos devidamente instruídos, abra-se vista à Procuradoria-Geral da

República. Publique-se. Brasília, 17 de março de 2015. Ministro Gilmar Mendes

Relator Documento assinado digitalmente.

(STF - MC HC: 126866 MG - MINAS GERAIS 8621684-76.2015.1.00.0000,

Relator: Min. GILMAR MENDES, Data de Julgamento: 17/03/2015, Data de

Publicação: DJe-055 20/03/2015) (grifamos). Disponível em:

<http://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/178765486/medida-cautelar-no-habeas-

corpus-mc-hc-126866-mg-minas-gerais-8621684-7620151000000> Acesso em: 18-

07-2015.

Enfim deve ser observado o caso concreto para aplicação ou não do princípio da

insignificância. “Não há norma expressa. Tudo fica, então, ao sabor da postura ideológica do

julgador em cada caso concreto”. (GOMES, 2013, p.113).

Apesar de que seja aplicável, em tese, a qualquer delito, a jurisprudência faz algumas

ressalvas importantes:

Primeiramente, não é admitido o princípio da insignificância nos crimes praticados

com violência ou grave ameaça à pessoa.

HABEAS CORPUS. PENAL E PROCESSUAL PENAL. CRIME DE

ROUBOCIRCUNSTANCIADO. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA

INSIGNIFICÂNCIA.IMPOSSIBILIDADE. DELITO COMPLEXO.

PLURALIDADE DE BENS JURÍDICOSOFENDIDOS. RELEVÂNCIA DA

LESIVIDADE PATRIMONIAL. PEDIDO DE LIBERDADEPROVISÓRIA

DENEGADO COM FUNDAMENTO NA GRAVIDADE DO DELITO

.NECESSIDADE DA CUSTÓDIA CAUTELAR NÃO DEMONSTRADA. 1. Não

há como aplicar, aos crimes de roubo, o princípio da insignificância - causa

supralegal de exclusão de ilicitude -, pois, tratando-se de delito complexo, em

que há ofensa a bens jurídicos diversos (o patrimônio e a integridade da

pessoa), é inviável a afirmação do desinteresse estatal à sua repressão. Precedentes. 2. A prisão cautelar, em razão do princípio constitucional da inocência

presumida, necessita da demonstração dos elementos objetivos, indicativos dos

motivos concretos autorizadores da medida constritiva, e exige a individualização

dos seus fundamentos ao acusado. 3. Argumentos abstratos, desprovidos de qualquer

suporte fático, não podem respaldar a prisão cautelar, a qual somente poderá ser

justificada por motivação válida e aliada a um dos requisitos legalmente previstos.

Precedentes do STJ. 4. Ordem concedida em parte tão-somente para relaxar a prisão

em flagrante dos Pacientes, com a conseqüente expedição do alvará de soltura, se

por outro motivo não estiverem presos. (STJ, Relator: Ministra LAURITA VAZ,

Data de Julgamento: 03/04/2007, T5 - QUINTA TURMA) (grifamos). Disponível

em: <www.stj.jus.br> Acesso em: 18-07-2015.

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43

Assim, prevalece que não é admitido o princípio da insignificância nos crimes de

tráfico ilícito de entorpecentes (artigo 33 da Lei 11.343/06).

PENAL. PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. TRÁFICO ILÍCITO DE

DROGAS. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. INAPLICABILIDADE. LEI N.º

11.343/06. PENA-BASE NO MÍNIMO LEGAL. PEQUENA QUANTIDADE DE

DROGAS. CAUSA ESPECIAL DE DIMINUIÇÃO. PATAMAR MÁXIMO.

APLICAÇÃO. POSSIBILIDADE. REPRIMENDA INFERIOR A QUATRO

ANOS. SUBSTITUIÇÃO DA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR RESTRITIVA

DE DIREITOS. CONCESSÃO DE OFÍCIO. SURSIS. PREJUDICIALIDADE.

REGIME INICIAL ABERTO. APLICABILIDADE. ORDEM CONCEDIDA EM

PARTE. 1. Segundo entendimento desta Corte e do STF, não incide o princípio

da insignificância ao delito de tráfico de entorpecentes, pois é de perigo

abstrato, contra a saúde pública, sendo, pois, irrelevante, para esse fim, a

pequena quantidade de substância apreendida. 2. Fixada a pena-base no

mínimo legal e apreendida pequena quantidade de droga (0,2 decigramas) de

crack, legítima é a aplicação da causa especial de diminuição (art. 33, § 4º da Lei nº

11.343/2006) pelo seu máximo, ou seja, dois terços. Precedentes. 3. A Sexta Turma

desta Corte adotou o entendimento de que, ante o quantum de pena aplicado ao

delito cometido sob a égide da Lei n.º 11.343/06, é possível a fixação do regime

semiaberto ou o aberto para o início do cumprimento da reprimenda reclusiva, em

conformidade com o previsto no art. 33 do Código Penal, bem como da substituição

da pena de reclusão por restritivas de direitos, em face do artigo 44 do Código Penal.

4. Já se encontrando o paciente no regime aberto, prejudicada está a impetração

neste particular. Prejudicada também a pretensão de sursis, pois cabível, em tese, a

substituição da pena corporal por restritivas de direitos. 5. Ordem parcialmente

concedida apenas para reduzir a pena a 01 ano e 08 meses de reclusão, concedendo-

a, de outra parte, de ofício, para determinar a substituição da privativa de liberdade

por duas restritivas de direitos, a saber, prestação de serviços à comunidade e

prestação pecuniária, já que presentes os requisitos para tanto (art. 44 e incisos do

Código Penal), devendo o juízo das execuções criminais, nos termos do artigo 147 e

seguintes da Lei n.º 7.210/84, promover-lhes a aplicação, se já não estiver extinta a

pena, em face da redução operada. (STJ, Relator: Ministra MARIA THEREZA DE

ASSIS MOURA, Data de Julgamento: 02/09/2010, T6 - SEXTA TURMA)

(grifamos). Disponível em: <www.stj.jus.br> Acesso em: 18-07-2015.

Decisão do Supremo Tribunal Federal:

EMENTA Habeas corpus. Constitucional. Penal Militar e Processual Penal Militar.

Porte de substância entorpecente em lugar sujeito à administração militar (art. 290

do CPM). Não-aplicação do princípio da insignificância aos crimes relacionados a

entorpecentes. Precedentes. Inconstitucionalidade e revogação tácita do art. 290 do

Código Penal Militar. Não-ocorrência. Precedentes. Habeas corpus denegado. 1. É

pacífica a jurisprudência desta Corte Suprema no sentido de não ser aplicável o

princípio da insignificância ou bagatela aos crimes relacionados a

entorpecentes, seja qual for a qualidade do condenado. 2. Não há relevância na

argüição de inconstitucionalidade considerando o princípio da especialidade,

aplicável, no caso, diante da jurisprudência da Corte. 3. Não houve revogação tácita

do artigo 290 do Código Penal Militar pela Lei nº 11.343/06, que estabeleceu o

Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas, bem como normas de

prevenção ao consumo e repressão à produção e ao tráfico de entorpecentes, com

destaque para o art. 28, que afasta a imposição de pena privativa de liberdade ao

usuário. Aplica-se à espécie o princípio da especialidade, não havendo razão para se

cogitar de retroatividade da lei penal mais benéfica. 4. Habeas corpus denegado e

liminar cassada.

Decisão.

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44

A Turma indeferiu o pedido de habeas corpus, nos termos do voto do Relator.

Unânime. Falaram: pelo paciente, o Dr. Antoniode Maia e Pádua, Defensor Público

da União, e pelo MinistérioPúblico Federal, a Dra. Cláudia Sampaio

Marques,Subprocuradora-Geral da República. 1ª. Turma, 09.10.2007. (grifamos).

Disponível em: <www.stf.jus.br> Acesso em: 18-07-2015.

3.5. Intervenção mínima e Fragmentariedade.

Ausente lesão relevante, não aplica o direito penal em razão também do princípio da

subsidiariedade, da fragmentariedade e da intervenção mínima.

Ementa: Habeas Corpus. Furto tentado. Lesão patrimonial de valor insignificante.

Incidência do princípio da insignificância. Atipicidade da conduta. Ordem

concedida. Constatada a irrelevância penal do ato tido por delituoso, principalmente

em decorrência da inexpressividade da lesão patrimonial e do reduzido grau de

reprovabilidade do comportamento, é de se reconhecer a atipicidade da conduta

praticada ante a aplicação do princípio da insignificância. Ausência, na hipótese, de

justa causa para a ação penal. Incidência dos princípios da subsidiariedade, da

fragmentariedade, da necessidade e da intervenção mínima que regem o Direito

Penal. Inexistência de lesão ao bem jurídico penalmente tutelado. Ordem concedida

para determinar o trancamento da ação penal de origem, por efeito do

reconhecimento da atipicidade da conduta.

(STF - HC: 114060 MG, Relator: Min. CÁRMEN LÚCIA, Data de Julgamento:

25/09/2012, Segunda Turma, Data de Publicação: DJe-038 DIVULG 26-02-2013

PUBLIC 27-02-2013). Disponível em: <www.stf.jus.br> Acesso em: 18-07-2015.

EMENTA : Habeas Corpus. Estelionato. Lesão patrimonial de valor insignificante.

Incidência do princípio da insignificância. Atipicidade da conduta. Precedentes.

Ordem concedida. Constatada a irrelevância penal do ato tido por delituoso,

principalmente em decorrência da inexpressividade da lesão patrimonial e do

reduzido grau de reprovabilidade do comportamento, é de se reconhecer a

atipicidade da conduta praticada ante a aplicação do princípio da insignificância.

Ausência, na hipótese, de justa causa para a ação penal. Incidência dos princípios da

subsidiariedade, da fragmentariedade, da necessidade e da intervenção mínima que

regem o Direito Penal. Inexistência de lesão ao bem jurídico penalmente tutelado.

Precedentes. Ordem concedida para o reconhecimento da atipicidade da conduta.

(STF - HC: 100937 RS , Relator: Min. JOAQUIM BARBOSA, Data de Julgamento:

07/12/2010, Segunda Turma, Data de Publicação: DJe-020 DIVULG 31-01-2011

PUBLIC 01-02-2011 EMENT VOL-02454-03 PP-00550). Disponível em:

<www.stf.jus.br> Acesso em: 18-07-2015.

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IV - APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA A

DETERMINADOS CRIMES

4.1. Crimes Patrimoniais

4.1.2. Furto – Artigo 155 do código Penal

O princípio da insignificância é muito aplicado nos crimes contra o patrimônio,

principalmente no crime de furto previsto no artigo 155 do código Penal, nos casos de o bem

subtraído for de valor ínfimo que não gerou dano relevante para a vítima e para a sociedade.

A jurisprudência do STJ vem procurando distinguir, no crime de furto, o que é ínfimo

(regido pelo princípio da insignificância) do que é pequeno valor (que é um furto

privilegiado) (GOMES, 2013, p. 156).

Para distinguir o princípio da insignificância no crime de furto e do furto privilegiado

(artigo 155, § 2º, CP – “se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz

pode substituir a pena e reclusão pela detenção, diminuí-la de dois terços, ou aplicar somente

a pena de multa”) precisa saber que o princípio da insignificância é aplicado diante da ofensa

ínfima ao bem jurídico, geralmente em furtos de valores muito irrisórios (furto de jogo de

copos avaliado em R$ 20,00) por outro lado o furto privilegiado é aplicado no caso de valores

maiores, sendo usado pela jurisprudência como referência o valor do salário mínimo à época

do fato: “O salário mínimo é o referencial pacificamente adotado pelo bom Direito Pretoriano

na identificação da condição relativa ao „pequeno valor‟ ou „pequeno prejuízo‟ nos crimes de

furto‟ (TACRIM-SP, Apelação 473.791-0, Rel. Costa Manso). Frise-se que o valor do salário

mínimo é apenas uma referência, não podendo ser considerada como instransponível. Assim,

a jurisprudência também admite que, atendidas as circunstâncias peculiares de cada caso

concreto, haja o reconhecimento de furto privilegiado caso seja ligeiramente ultrapassado o

valor do salário mínimo (nesse sentido: RTJE 97/255; TACRIM-SP, Ap. 761.985-6).

EMENTA: PENAL. HABEAS CORPUS. PACIENTE DENUNCIADO PELO

CRIME DE FURTO SIMPLES. REJEIÇÃO DA DENÚNCIA. PRINCÍPIO DA

INSIGNIFICÂNCIA. INAPLICABILIDADE. VALOR DA COISA FURTADA

QUE SUPERAVA O SALÁRIO MÍNIMO VIGENTE À ÉPOCA DOS FATOS.

REINCIDÊNCIA. FURTO INSIGNIFICANTE. FURTO PRIVILEGIADO.

DISTINÇÃO. ORDEM DENEGADA. I – A aplicação do princípio da

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insignificância de modo a tornar a ação atípica exige a satisfação, de forma

concomitante, de certos requisitos, quais sejam, conduta minimamente ofensiva, a

ausência de periculosidade social da ação, reduzido grau de reprovabilidade do

comportamento e lesão jurídica inexpressiva. II – Não se pode considerar irrelevante

o furto de uma bicicleta avaliada em R$ 360,00, valor que, à época dos fatos,

superava o salário mínimo então vigente. III - Após o cumprimento de pena pelo

delito de tráfico de drogas, o paciente furtou bicicleta avaliada em valor superior ao

salário mínimo, comportamento que não pode ser considerado insignificante e

demonstra a necessidade da tutela penal. IV – Na espécie, a aplicação do referido

instituto poderia significar um verdadeiro estímulo à prática destes pequenos furtos,

já bastante comuns nos dias atuais, o que contribuiria para aumentar, ainda mais, o

clima de insegurança hoje vivido pela coletividade. V – Convém distinguir, ainda, a

figura do furto insignificante daquele de pequeno valor. O primeiro, como é cediço,

autoriza o reconhecimento da atipicidade da conduta, ante a aplicação do princípio

da insignificância. Já no que tange à coisa de pequeno valor, criou o legislador a

causa de diminuição referente ao furto privilegiado, prevista no art. 155, § 2º,

do Código Penal. VI – Ordem denegada. Decisão. A Turma denegou a ordem de habeas corpus, nos termos do voto do

Relator. Unânime. Presidência da Senhora Ministra Cármen Lúcia. 1ª Turma,

7.6.2011. (grifamos). Disponível em: Disponível em: <www.stf.jus.br> Acesso em:

18-07-2015.

Ementa: HABEAS CORPUS. PENAL. FURTO. PRINCÍPIO DA

INSIGNIFICÂNCIA. NÃO INCIDÊNCIA. VALOR DOS BENS SUBTRAÍDOS.

AUSÊNCIA DE INEXPRESSIVIDADE DA LESÃO E DO REDUZIDO GRAU

DE REPROVABILIDADE DA CONDUTA. DISTINÇÃO ENTRE FURTO

INSIGNIFICANTE E FURTO PRIVILEGIADO. ORDEM DENEGADA. 1.

Segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, para se caracterizar hipótese

de aplicação do denominado “princípio da insignificância” e, assim, afastar a

recriminação penal, é indispensável que a conduta do agente seja marcada por

ofensividade mínima ao bem jurídico tutelado, reduzido grau de reprovabilidade,

inexpressividade da lesão e nenhuma periculosidade social. 2. Nesse sentido, a

aferição da insignificância como requisito negativo da tipicidade envolve um juízo

de tipicidade conglobante, muito mais abrangente que a simples expressão do

resultado da conduta. Importa investigar o desvalor da ação criminosa em seu

sentido amplo, de modo a impedir que, a pretexto da insignificância apenas do

resultado material, acabe desvirtuado o objetivo a que visou o legislador quando

formulou a tipificação legal. Assim, há de se considerar que “a insignificância só

pode surgir à luz da finalidade geral que dá sentido à ordem normativa” (Zaffaroni),

levando em conta também que o próprio legislador já considerou hipóteses de

irrelevância penal, por ele erigidas, não para excluir a tipicidade, mas para mitigar a

pena ou a persecução penal. 3. Num juízo de tipicidade conglobante, que envolve

não apenas o resultado material da conduta, mas o seu significado social mais

amplo, não se pode admitir a aplicação do princípio da insignificância

indiscriminadamente. Nesse contexto, é necessário distinguir o “furto

insignificante” daquele referente à subtração de bem de pequeno valor, de

modo a não estimular a prática de condutas criminosas e obstar a aplicação da

figura do “furto privilegiado”, previsto no art. 155, § 2º, do Código Penal. 4. A

ação e o resultado da conduta praticada pelas pacientes assumem, em tese, grau de

reprovabilidade suficiente para afastar a insignificância, pois, além do valor do bem

subtraído não ser considerado ínfimo, o modus operandi empregado revela maior

ousadia. Precedentes. 5. Ordem denegada. (STF, Relator: Min. TEORI ZAVASCKI,

Data de Julgamento: 03/06/2014, Segunda Turma) (grifamos). Disponível em:

<www.stf.jus.br> Acesso em: 18-07-2015.

Ementa: HABEAS CORPUS. PENAL. FURTO. PRINCÍPIO DA

INSIGNIFICÂNCIA. NÃO INCIDÊNCIA. VALOR DOS BENS SUBTRAÍDOS.

AUSÊNCIA DE INEXPRESSIVIDADE DA LESÃO. DISTINÇÃO ENTRE

FURTO INSIGNIFICANTE E FURTO PRIVILEGIADO. ORDEM DENEGADA.

1. Segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, para se caracterizar

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hipótese de aplicação do denominado “princípio da insignificância” e, assim, afastar

a recriminação penal, é indispensável que a conduta do agente seja marcada por

ofensividade mínima ao bem jurídico tutelado, reduzido grau de reprovabilidade,

inexpressividade da lesão e nenhuma periculosidade social. 2. Nesse sentido, a

aferição da insignificância como requisito negativo da tipicidade envolve um juízo

de tipicidade conglobante, muito mais abrangente que a simples expressão do

resultado da conduta. Importa investigar o desvalor da ação criminosa em seu

sentido amplo, de modo a impedir que, a pretexto da insignificância apenas do

resultado material, acabe desvirtuado o objetivo a que visou o legislador quando

formulou a tipificação legal. Assim, há de se considerar que “a insignificância só

pode surgir à luz da finalidade geral que dá sentido à ordem normativa” (Zaffaroni),

levando em conta também que o próprio legislador já considerou hipóteses de

irrelevância penal, por ele erigidas, não para excluir a tipicidade, mas para mitigar a

pena ou a persecução penal. 3. Num juízo de tipicidade conglobante, que envolve

não apenas o resultado material da conduta, mas o seu significado social mais

amplo, não se pode admitir a aplicação do princípio da insignificância

indiscriminadamente. Nesse contexto, é necessário distinguir o “furto

insignificante” daquele referente à subtração de bem de pequeno valor, de

modo a não estimular a prática de condutas criminosas e obstar a aplicação da

figura do “furto privilegiado”, previsto no art. 155, § 2º, do Código Penal. 4. O

valor dos bens subtraídos não pode ser considerado ínfimo de modo a

caracterizar a conduta como minimamente ofensiva. O Tribunal de Justiça do

Estado de Minas Gerais destacou que “os objetos subtraídos valiam R$ 140,11,

sendo que a época dos fatos o salário minimo vigente perfazia o valor de R$ 380,00,

tratando-se o montante subtraído de quase metade de seu importe”. Precedentes. 5.

Ordem denegada. (STF, Relator: Min. TEORI ZAVASCKI, Data de Julgamento:

05/08/2014, Segunda Turma) (grifamos). Disponível em: <www.stf.jus.br> Acesso

em: 18-07-2015.

Como bem relata em seu livro Luiz Flavio Gomes, a qualificadora não impede a

aplicação do princípio da insignificância, tudo depende do caso concreto, não é o valor do

bem que irá definir, pois o que pode ser de pequeno valor para uma pessoa para a outra pode

não ser e nem as qualificadoras, embora podem identificar uma gravidade no fato, tudo deve

ser analisado concretamente.

Não obstante, temos o “dano”, previsto no artigo 163 do código Penal.

Segundo o princípio da insignificância, a que se revela por inteiro pela sua própria

denominação, o direito penal, por sua natureza fragmentária, só vai até onde seja

necessário para a proteção do bem jurídico e não deve ocupar-se de bagatelas.

Assim, no sistema penal brasileiro, por exemplo, o dano do art. 163 do CP não deve

ser qualquer lesão a coisa alheia, mas sim aquela que possa representar prejuízo de

alguma significação para o proprietário da coisa (...) (TOLEDO, princípios básicos

do direito penal, p. 187 apud GOMES, 2013, p. 130).

Desta forma é aplicável o princípio também no crime de dano, conforme

jurisprudência das cortes do país:

ACIDENTE DE TRÂNSITO. LESÃO CORPORAL. INEXPRESSIVIDADE DA

LESÃO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICANCIA. CRIME NÃO CONFIGURADO.

SE A LESÃO CORPORAL (PEQUENA EQUIMOSE) DECORRENTE DE

ACIDENTE DE TRÂNSITO E DE ABSOLUTA INSIGNIFICANCIA, COMO

RESULTA DOS ELEMENTOS DOS AUTOS - E OUTRA PROVA NÃO SERIA

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POSSIVEL FAZER-SE TEMPOS DEPOIS - HÁ DE IMPEDIR-SE QUE SE

INSTAURE AÇÃO PENAL QUE A NADA CHEGARIA, INUTILMENTE

SOBRECARREGANDO-SE AS VARAS CRIMINAIS, GERALMENTE TÃO

ONERADAS. (STF - RHC: 66869 PR , Relator: Min. ALDIR PASSARINHO, Data

de Julgamento: 06/12/1988, SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJ 28-04-

1989 PP-06295 EMENT VOL-01539-02 PP-00187). Disponível em:

<http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia> Acesso em: 18-07-2015.

CRIMINAL. LEVISSIMA LESÃO CORPORAL CULPOSA. PRINCIPIO DA

INSIGNIFICANCIA. AÇÃO PENAL. - FALTA DE JUSTA CAUSA.

INDISCUTIVEL A INSIGNIFICANCIA DA LESÃO CORPORAL

CONSEQUENTE DE ACIDENTE DO TRÂNSITO ATRIBUIDO A CULPA DA

MÃE DA PEQUENA VITIMA, CABE TRANCAR-SE A AÇÃO POR FALTA DE

JUSTA CAUSA. PRECEDENTES DO TRIBUNAL. (STJ - RHC: 3557 PE

1994/0010696-3, Relator: Ministro JOSÉ DANTAS, Data de Julgamento:

20/04/1994, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJ 02.05.1994 p. 10016

RSTJ vol. 59 p. 107 RT vol. 705 p. 381)

Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia> Acesso em: 18-07-

2015.

De acordo com a jurisprudência do supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de

Justiça é inaplicável o princípio da insignificância no crime de Dano contra o patrimônio

público (dano qualificado artigo 163, parágrafo único, III do CP).

AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 565.620 - DF (2014/0202574-0)

RELATOR: MINISTRO WALTER DE ALMEIDA GUILHERME

(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SP) AGRAVANTE: JOÃO

MARQUES SOARES FILHO ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DO

DISTRITO FEDERAL AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO

FEDERAL E TERRITÓRIOS DECISÃO Trata-se de agravo interposto por JOÃO

MARQUES SOARES FILHO contra decisao do Tribunal de Justiça do Distrito

Federal e Territórios que negou seguimento ao recurso especial. Consta dos autos

que o recorrente foi denunciado como incurso no artigo 163, parágrafo único, inciso

III, do CP. Contudo, a denúncia foi rejeitada, nos termos do artigo 395, inciso III, do

CPP, ante a aplicação do princípio da insignificância. Irresignada, a acusação

interpôs recurso em sentido estrito, ao qual se deu provimento para cassar a decisão

de primeiro grau e determinar o recebimento da denúncia, nos termos da seguinte

ementa (e-STJ fl.107): RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. DANO.

RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. INAPLICABILIDADE DO PRINCIPIO DA

INSIGNIFICÂNCIA. CRIME DE DANO CONTRA O PATRIMÔNIO PÚBLICO.

OFENSIVIDADE DA CONDUTA. PREJUÍZOS ARCADOS PELA SOCIEDADE.

RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. I - A conduta de arremessar várias pedras

contra veículo público, provocando no automóvel os danos descritos no Laudo de

Exame de Veículo, é fato que se amolda ao artigo 163, parágrafo único, inciso III,

do Código Penal. II - Inaplicável o princípio da insignificância em crimes de dano

contra o patrimônio público, haja vista a ofensividade da conduta ser relevante em

razão dos prejuízos sofridos pela sociedade. III - Em que pese o valor ínfimo do

dano, neste caso, a rejeição sumária da denúncia ensejaria impunidade e estimularia

a reiteração de condutas similares. IV - Recurso CONHECIDO e PROVIDO, para

receber a Denúncia. No recurso especial, interposto com fundamento na alínea c do

permissivo constitucional, sustenta o agravante, em síntese, a existência de

divergência jurisprudencial quanto à aplicação do princípio da insignificância nos

crimes contra o patrimônio público. As contrarrazões foram apresentadas às e-STJ

fls. 131/136 e o recurso especial foi inadmitido às e-STJ fls. 138/141, em virtude da

incidência da Súmula 83/STJ e da Súmula 7/STJ. Em seu agravo, sustenta o

recorrente que o caso concreto não demanda a análise do conteúdo fático-probatório

e que a matéria não diverge do entendimento adotado pelo Superior Tribunal de

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Justiça. Por fim, manifestou-se o Ministério Público Federal pelo provimento do

agravo e do recurso especial, nos seguintes termos (e-STJ fl. 164): AGRAVO EM

RECURSO ESPECIAL. DANO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO. PRINCÍPIO DA

INSIGNIFICÂNCIA. APLICABILIDADE. INEXISTÊNCIA DE DANO EFETIVO

AO BEM E DE PREJUÍZO AO SERVIÇO PÚBLICO. A CONDUTA NÃO

APRESENTA GRAU DE REPROVABILIDADE OU PERICULOSIDADE APTAS

A JUSTIFICAR A INTERVENÇÃO PENAL. Parecer pelo provimento do agravo e

do recurso especial. É o breve relatório. O inconformismo não merece prosperar.

Esta corte possui o entendimento de que, em regra, não se aplica o princípio da

insignificância quanto aos crimes contra a administração pública, ainda que o valor

da lesão possa ser considerado ínfimo, uma vez que a norma visa à resguardar não

apenas o aspecto patrimonial, mas, principalmente, a moral administrativa. Nesse

sentido: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.

FUNDAMENTOS INSUFICIENTES PARA REFORMAR A DECISÃO

AGRAVADA. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. INAPLICABILIDADE

CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. REGIMENTAL IMPROVIDO. (...)

2. O acórdão recorrido está em perfeita consonância com a jurisprudência desta

Corte Superior, firme no sentido de que não se aplica, em regra, o princípio da

insignificância aos crimes contra a Administração Pública, ainda que o valor da

lesão possa ser considerado ínfimo, uma vez que a norma visa resguardar não apenas

o aspecto patrimonial mas principalmente a moral administrativa. 3. Agravo

regimental a que se nega provimento. (AgRg no AREsp 342.908/DF, Rel. Ministro

MARCO AURÉLIO BELLIZZE, QUINTA TURMA, julgado em 18/06/2014, DJe

27/06/2014) PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM

RECURSO ESPECIAL. ART. 1º, VI, DO DECRETO-LEI N. 201/1967.

TIPICIDADE FORMAL E MATERIAL. INEXISTÊNCIA DE REEXAME DE

MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. OCORRÊNCIA DE VALORAÇÃO DA

PROVA. INÉPCIA DA DENÚNCIA. INOVAÇÃO RECURSAL.

IMPOSSIBILIDADE. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA EM

RELAÇÃO A PARTE DAS CONDUTAS NARRADAS NA INICIAL

ACUSATÓRIA. (...) 5. Não se aplica o princípio da insignificância aos crimes

contra a Administração Pública. Precedentes. (AgRg no REsp 1195566/RN, Rel.

Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 05/11/2013,

DJe 25/11/2013) Ante o exposto, conheço do agravo para negar seguimento ao

recurso especial, nos termos do art. 544, § 4º, inciso II, alínea b, do Código de

Processo Civil. Publique-se. Intimem-se. Brasília (DF), 15 de outubro de 2014.

MINISTRO WALTER DE ALMEIDA GUILHERME (DESEMBARGADOR

CONVOCADO DO TJ/SP) Relator (STJ - AREsp: 565620 DF 2014/0202574-0,

Relator: Ministro WALTER DE ALMEIDA GUILHERME (DESEMBARGADOR

CONVOCADO DO TJ/SP), Data de Publicação: DJ 24/10/2014). Disponível em:

<http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia> Acesso em: 18-07-2015.

4.2. Crimes contra a Administração Pública (artigo 312 e seguintes do Código Penal)

Conforme a maioria dos julgamentos no STJ, não é aplicado o princípio da

insignificância nos crimes contra a administração pública mesmo que o valor seja ínfimo,

porque busca resguardar não só o patrimônio mas também a moral administrativa.

RECURSO ESPECIAL. PENAL. PECULATO. AUTO DE AVALIAÇÃO

DIRETA. PERITOS COM CURSO SUPERIOR. AUSÊNCIA DE

QUALIFICAÇÃO TÉCNICA. NÃO-DESCARACTERIZAÇÃO DO DELITO.

PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. BEM JURÍDICO TUTELADO:

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO.

RECURSO ESPECIAL IMPROVIDO. 1. In casu, trata-se de auto de avaliação

direta e não laudo pericial propriamente dito, tendo sido a avaliação realizada por

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peritos de nível superior. O fato de não constar do laudo, a qualificação técnica dos

peritos evidencia mera irregularidade, que não descaracteriza o delito, uma vez que a

avaliação dos bens apreendidos não exige, de forma alguma, maiores conhecimentos

técnicos ou científicos, bastando uma simples pesquisa de preços de mercado. 2. O

princípio da insignificância surge como instrumento de interpretação restritiva do

tipo penal que, de acordo com a dogmática moderna, não deve ser considerado

apenas em seu aspecto formal, de subsunção do fato à norma, mas, primordialmente,

em seu conteúdo material, de cunho valorativo, no sentido da sua efetiva lesividade

ao bem jurídico tutelado pela norma penal, consagrando os postulados da

fragmentariedade e da intervenção mínima. 3. Indiscutível a sua relevância, na

medida em que exclui da incidência da norma penal aquelas condutas cujo desvalor

da ação e/ou do resultado (dependendo do tipo de injusto a ser considerado)

impliquem uma ínfima afetação ao bem jurídico. 4. Hipótese em que o recorrente,

valendo-se da condição de funcionário público, subtraiu produtos médicos da

Secretaria Municipal de Saúde de Cachoeirinha-RS, avaliados em R$ 13,00. 5. "É

inaplicável o princípio da insignificância nos crimes contra a Administração

Pública, ainda que o valor da lesão possa ser considerado ínfimo, porque a

norma busca resguardar não somente o aspecto patrimonial, mas moral

administrativa, o que torna inviável afirmação do desinteresse estatal à sua

repressão"(Resp 655.946/DF, Rel. Min. Laurita Vaz, Quinta Turma, DJ 26/3/07) 6.

Recurso especial improvido. (STJ - REsp: 1062533 RS 2008/0117945-0, Relator:

Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, Data de Julgamento: 05/02/2009, T5 -

QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 09/03/2009). (grifamos). Disponível

em: <http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia> Acesso em: 18-07-2015.

Porém, mesmo que o princípio é inaplicável na maioria dos julgamentos, o STJ já

julgou em sentido contrário, em um caso de furto simples contra a administração pública.

CRIMINAL. HABEAS CORPUS. FURTO SIMPLES. CONE DE TRÂNSITO.

ÍNFIMO VALOR DO BEM. ALEGAÇÃO DE QUE O FATO FOI UMA

BRINCADEIRA. REEXAME DEPROVAS. TRANCAMENTO DE INQUÉRITO

POLICIAL. INCONVENIÊNCIA DEMOVIMENTAÇÃO DO PODER

JUDICIÁRIO. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.

CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO. ORDEM CONCEDIDA. I. A

afirmação contida na impetração de que a "conduta não passou de uma brincadeira",

não pode aqui ser analisada, porquanto implicaria em reexame de provas. II. A

verificação da lesividade mínima da conduta, apta a torná-la atípica, deve levar em

consideração a importância do objeto material subtraído, a condição econômica do

sujeito passivo, assim como as circunstâncias e o resultado do crime, a fim de se

determinar, subjetivamente, se houve ou não relevante lesão ao bem jurídico

tutelado. III. Hipótese na qual a impetração sustenta que a conduta dos pacientes não

se subsume ao tipo do art. 155 do Estatuto Repressor, em face do pequeno valor

econômico da mercadoria subtraída e logo após recuperada pela Polícia Militar

Estadual. IV. O bem subtraído - um cone de trânsito - possui importância reduzida,

devendo ser ressaltada a condição econômica do sujeito passivo, pessoa jurídica, que

recuperou o bem furtado, inexistindo, portanto, repercussão social ou econômica,

atraindo a incidência do princípio da insignificância. V. Não obstante o valor da res

furtiva não ser parâmetro único à aplicação do princípio da insignificância, as

circunstâncias e o resultado do crime em questão demonstram a ausência de

relevância penal da conduta, razão pela qual deve se considerar a hipótese de delito

de bagatela. VI. Deve ser aplicado o princípio da insignificância à hipótese,sendo

que, mesmo que a ação penal já esteja em andamento, esta deve ser trancada, caso

contrário, encerre-se o inquérito policial. VII. Ordem concedida, nos termos do voto

do Relator. (STJ - HC: 218234 SP 2011/0216878-6, Relator: Ministro GILSON

DIPP, Data de Julgamento: 13/03/2012, T5 - QUINTA TURMA, Data de

Publicação: DJe 20/03/2012).

Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia> Acesso em: 18-07-

2015.

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51

O STF não vem julgando de maneira restrita, aplica o princípio da insignificância em

diversos crimes como peculato praticado por policial militar e o descaminho.

HABEAS CORPUS. PECULATO PRATICADO POR MILITAR. PRINCÍPIO DA

INSIGNIFICÂNCIA. APLICABILIDADE. CONSEQÜÊNCIAS DA AÇÃO

PENAL. DESPROPORCIONALIDADE. 1. A circunstância de tratar-se de lesão

patrimonial de pequena monta, que se convencionou chamar crime de bagatela,

autoriza a aplicação do princípio da insignificância, ainda que se trate de crime

militar. 2. Hipótese em que o paciente não devolveu à Unidade Militar um fogão

avaliado em R$ 455,00 (quatrocentos e cinqüenta e cinco) reais. Relevante, ademais,

a particularidade de ter sido aconselhado, pelo seu Comandante, a ficar com o fogão

como forma de ressarcimento de benfeitorias que fizera no imóvel funcional. Da

mesma forma, é significativo o fato de o valor correspondente ao bem ter sido

recolhido ao erário. 3. A manutenção da ação penal gerará graves conseqüências ao

paciente, entre elas a impossibilidade de ser promovido, traduzindo, no particular,

desproporcionalidade entre a pretensão acusatória e os gravames dela decorrentes.

Ordem concedida. (STF - HC: 87478 PA , Relator: EROS GRAU, Data de

Julgamento: 29/08/2006, Primeira Turma, Data de Publicação: DJ 23-02-2007 PP-

00025 EMENT VOL-02265-02 PP-00283)

Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia> Acesso em: 18-07-

2015.

4.3 Crimes Ambientais – Lei 9.605/1998

Segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de

Justiça, é aplicado também o princípio da insignificância nos crimes ambientais.

PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO

ESPECIAL. CRIME AMBIENTAL. ATIPICIDADE. PRINCÍPIO DA

INSIGNIFICÂNCIA MATÉRIA EMINENTEMENTE FÁTICA. SÚMULA 7/STJ.

1. Predomina nesta Corte entendimento no sentido da possibilidade de aplicação do

princípio da insignificância aos crimes ambientais, devendo ser analisadas as

circunstâncias específicas do caso concreto para se verificar a atipicidade da conduta

em exame. 2. O acolhimento da pretensão recursal, a fim de se reformar o aresto

que, com base no aludido princípio, concluiu que a conduta em análise seria atípica,

demandaria a alteração das premissas fático-probatórias estabelecidas na instância

ordinária, o que é vedado em sede de recurso especial, nos termos do enunciado da

Súmula 7/STJ. 3. Agravo regimental improvido. (STJ - AgRg no REsp: 1446768 ES

2014/0074792-2, Relator: Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, Data

de Julgamento: 17/03/2015, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe

24/03/2015) Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia> Acesso

em: 18-07-2015.

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. CRIME AMBIENTAL.

PESCA VEDADA. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. AUSÊNCIA DE DANO

EFETIVO AO MEIO AMBIENTE. ATIPICIDADE MATERIAL DA CONDUTA.

TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. 1. O denunciado é pescador de origem

simples, amadorista, tendo sido apreendidos apenas três molinetes, três varas e dois

bagres, o que demonstra a mínima ofensividade da conduta. Ausência de lesividade

ao bem jurídico protegido pela norma incriminadora (art. 34, caput, da Lei n.

9.605/1998), verificando-se a atipicidade da conduta imputada ao paciente. 2.

Recurso ordinário provido para conceder a ordem e determinar o trancamento da

Ação Penal n. 5000614-16.2011.404.7200 (Juízo Federal da Vara Ambiental da

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Subseção Judiciária de Florianópolis/SC). (STJ - RHC: 33465 SC 2012/0161601-4,

Relator: Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, Data de Julgamento: 13/05/2014,

T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe 02/06/2014) Disponível em:

<http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia> Acesso em: 18-07-2015.

AÇÃO PENAL. Crime ambiental. Pescador flagrado com doze camarões e rede de

pesca, em desacordo com a Portaria 84/02, do IBAMA. Art. 34, parágrafo único, II,

da Lei nº 9.605/98. Rei furtiva e de valor insignificante. Periculosidade não

considerável do agente. Crime de bagatela. Caracterização. Aplicação do princípio

da insignificância. Atipicidade reconhecida. Absolvição decretada. HC concedido

para esse fim. Voto vencido. Verificada a objetiva insignificância jurídica do ato

tido por delituoso, à luz das suas circunstâncias, deve o réu, em recurso ou habeas

corpus, ser absolvido por atipicidade do comportamento. (STF - HC: 112563 DF ,

Relator: Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Data de Julgamento: 21/08/2012,

Segunda Turma, Data de Publicação: DJe-241 DIVULG 07-12-2012 PUBLIC 10-

12-2012). Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia> Acesso em:

18-07-2015.

4.4 Crimes Tributários e descaminho

O princípio da insignificância também incide sobre os crimes tributários e o INSS

(instituto nacional de seguridade social), a discussão é o valor, o limite. Por muito tempo o

valor foi de RS 100,00 (cem reais), mas hoje este valor está ultrapassado. Segundo a lei

10.522/02 o valor é de R$ 10.000,00 (dez mil reis) nos crimes tributários e no descaminho. O

STJ segue esse raciocínio.

Art. 20. Serão arquivados, sem baixa na distribuição, mediante requerimento do

Procurador da Fazenda Nacional, os autos das execuções fiscais de débitos inscritos

como Dívida Ativa da União pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional ou por

ela cobrados, de valor consolidado igual ou inferior a R$ 10.000,00 (dez mil reais).

(Alterado pela Lei: 011.033-2004)

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL. PENAL.

DESCAMINHO. LIMITE UTILIZADO PARA A APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO

DA INSIGNIFICÂNCIA. MUDANÇA DE ENTENDIMENTO DIANTE DO

JULGAMENTO DO RESP 1.112.748/TO . JURISPRUDÊNCIA DO TRIBUNAL

NO MESMO SENTIDO DO ACÓRDÃO EMBARGADO. INCIDÊNCIA DA

SÚMULA 168/STJ. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA NÃO CONHECIDOS. 1. A

egrégia Terceira Seção desta Corte, ao julgar o Recurso Especial Repetitivo

1.112.748/TO (Rel. Min FELIX FISCHER, DJe 13.10.09), decidiu que se deve

aplicar o princípio da insignificância ao crime de descaminho quando os delitos

tributários não ultrapassarem o limite de R$ 10 mil, adotando-se o disposto no

art. 20 da Lei 10.522/02, com base em precedentes do colendo STF. 2. In casu, o

tributo sonegado é de R$ 2.403,00, incidindo, portanto, nos termos da nova

orientação firmada por esta Corte, o princípio da insignificância. 3. Aplicável, na

espécie, o enunciado da Súmula 168 do STJ, que dispõe que não cabem Embargos

de Divergência quando a jurisprudência do Tribunal se firmou no mesmo sentido do

acórdão embargado. 4. Embargos de Divergência não conhecidos. (STJ - EREsp:

1113039 RS 2009/0160973-4, Relator: Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA

FILHO, Data de Julgamento: 14/12/2009, S3 - TERCEIRA SEÇÃO, Data de

Publicação: DJe 01/02/2010) (grifamos).

Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia> Acesso em: 18-07-

2015.

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AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.

DESCAMINHO. VALOR INFERIOR À R$10.000,00. REITERAÇÃO

CRIMINOSA. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. INAPLICABILIDADE.

SÚMULA N. 83/STJ. INCIDÊNCIA. 1. Este Superior Tribunal de Justiça se

posiciona no sentido de que, para além dos requisitos objetivos, o aspecto subjetivo,

consubstanciado, sobretudo, na verificação da reiteração criminosa do agente, caso

reconhecida, impede a incidência do princípio da insignificância, porquanto

demonstra maior reprovabilidade de seu comportamento, circunstância suficiente e

necessária a embasar a incidência do Direito Penal como forma de coibir a reiteração

delitiva. 2. Agravo regimental improvido. (STJ, Relator: Ministro JORGE MUSSI,

Data de Julgamento: 24/03/2015, T5 - QUINTA TURMA) Disponível em:

<http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia> Acesso em: 18-07-2015.

Porém recentemente foi elaborada uma portaria MF nº 75 de 29/03/2012, em que o

Ministro da Fazenda em seu artigo 1º, inciso II descreveu, “o não ajuizamento de execuções

fiscais de débitos com Fazenda Nacional, cujo valor consolidado seja igual ou inferior a R$

20.000,00 (vinte mil reais).” A portaria aumentou o valor considerado insignificante para fins

de execução fiscal.

O STJ não acatou esse valor da portaria, pois entende que esse valor não pode ser

considerado para efeitos penais.

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PENAL.

DESCAMINHO. FUNDAMENTOS INSUFICIENTES PARA REFORMAR A

DECISÃO AGRAVADA. VALOR DO TRIBUTO ILUDIDO PARA FINS DE

INSIGNIFICÂNCIA. MANUTENÇÃO DO PARÂMETRO DE R$ 10.000,00 (DEZ

MIL REAIS). INAPLICABILIDADE DA PORTARIA N. 75/2012 DO

MINISTÉRIO DA FAZENDA. VIOLAÇÃO A DISPOSITIVO

CONSTITUCIONAL. IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE. COMPETÊNCIA DO

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. REGIMENTAL IMPROVIDO. 1. O

agravante não apresentou argumentos capazes de infirmar os fundamentos que

alicerçaram a decisão agravada, razão que enseja a negativa de provimento ao

agravo regimental. 2. A Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, ao julgar o

Recurso Especial n. 1.409.973/SP, firmou entendimento no sentido de não ser

possível a aplicação do parâmetro de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) trazido na

Portaria n. 75/2012 do Ministério da Fazenda para reconhecer a insignificância nos

delitos de descaminho, haja vista, num primeiro momento, a impossibilidade de se

alterar lei em sentido estrito por meio de portaria. 3. Não foi a lei que definiu ser

insignificante, na seara penal, o descaminho de valores até dez 10.000,00 (dez mil

reais), foram os julgados dos Tribunais Superiores que definiram a utilização do

referido parâmetro, que, por acaso, está expresso em lei, não sendo correto, portanto,

fazer referida vinculação de forma absoluta, ou seja, toda vez que for modificado o

patamar para ajuizamento de execução fiscal estaria alterado o valor considerado

bagatelar. 4. A alteração dos valores que justificam a instauração de execução fiscal

é definida dentro dos critérios da conveniência e oportunidade da administração

pública, o que inviabiliza a aplicação do mesmo entendimento no âmbito penal. 5. A

apreciação de suposta violação de preceitos constitucionais não é possível em

recurso especial, porquanto a matéria é reservada pela Carta Magna ao Supremo

Tribunal Federal. 6. Agravo regimental a que se nega provimento. (STJ, Relator:

Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, Data de Julgamento: 11/02/2014, T5 -

QUINTA TURMA) Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia>

Acesso em: 18-07-2015.

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PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.

DESCAMINHO. MERCADORIAS IMPORTADAS. INSIGNIFICÂNCIA.

PARÂMETRO. DÉBITO TRIBUTÁRIO SUPERIOR A DEZ MIL REAIS. RESP

N. 1.112.748/TO, REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA. NÃO

APLICAÇÃO DA PORTARIA MF N. 75/2012. CIGARROS. TUTELA DA

SAÚDE PÚBLICA. 1. Em recente julgado desta Corte, confirmou-se o

entendimento de ser insignificante para a Administração Pública o valor de dez mil

reais, trazido no art. 20 da Lei n. 10.522/2002, como já havia sido decidido pela

Terceira Seção deste Tribunal, ao julgar o REsp n. 1.112.748/TO, representativo da

controvérsia. 2. Portaria emanada do Poder Executivo não possui força normativa

passível de revogar ou modificar lei em sentido estrito. Precedentes. 3. Em relação à

importação de cigarros, não se trata apenas da análise do caráter pecuniário do

imposto sonegado, mas sim da tutela da saúde pública, sendo rígido o controle de

importação. 4. Agravo regimental improvido. (STJ, Relator: Ministro SEBASTIÃO

REIS JÚNIOR, Data de Julgamento: 06/02/2014, T6 - SEXTA TURMA) Disponível

em: <http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia> Acesso em: 18-07-2015.

Portanto, o STJ segue a lei 10.522/02 e o STF segue a portaria MF nº 75/2012.

(...) HABEAS CORPUS. DIREITO PENAL. DESCAMINHO. VALOR INFERIOR

AO ESTIPULADO PELO ART. 20 DA LEI 10.522/2002. PORTARIAS 75 E

130/2012 DO MINISTÉRIO DA FAZENDA. PRINCÍPIO DA

INSIGNIFICÂNCIA. APLICABILIDADE. ORDEM CONCEDIDA. 1. A

pertinência do princípio da insignificância deve ser avaliada considerando-se todos

os aspectos relevantes da conduta imputada. 2. Para crimes de descaminho,

considera-se, para a avaliação da insignificância, o patamar de R$ 20.000,00,

previsto no art. 20 da Lei 10.522/2002, atualizado pelas Portarias 75 e 130/2012 do

Ministério da Fazenda. Precedentes. 3. Na espécie, aplica-se o princípio da

insignificância, pois o descaminho envolveu elisão de tributos federais que perfazem

quantia inferior ao previsto no referido diploma legal. 4. Ordem concedida.” (HC

120.617/PR, Rel. Min. Rosa Weber, Primeira Turma, DJe 20.2.2014). “PENAL.

HABEAS CORPUS. CRIME DE DESCAMINHO. VALOR SONEGADO

INFERIOR AO FIXADO NO ART. 20 DA LEI 10.522/2002, COM A REDAÇÃO

DADA PELA LEI 11.033/2004. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.

APLICABILIDADE. PRECEDENTES. ORDEM CONCEDIDA. I - Nos termos da

jurisprudência deste Tribunal, o princípio da insignificância deve ser aplicado ao

delito de descaminho quando o valor sonegado for inferior ao estabelecido no art. 20

da Lei 10.522/2002, com a redação dada pela Lei 11.033/2004. II Ordem concedida

para, reconhecendo-se a atipicidade da conduta, determinar o trancamento da ação

penal.” (HC 112.772/PR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Segunda Turma, DJe

24.9.2012). No caso em apreço, o suposto débito tributário perfaz um valor abaixo

do que estabelecido para o arquivamento dos autos das execuções fiscais, motivo

pelo qual se revela aplicável o princípio da insignificância. Por fim, ressalto que, em

consulta ao sítio do TRF da 1ª Região, não foram encontradas outras ações penais

em que os pacientes figurem como réus, afastada, portanto, a hipótese de possível

reiteração delitiva. Ante o exposto, com base no art. 192, caput, do RISTF, concedo

a ordem para restabelecer a decisão de primeiro grau, que rejeitou a denúncia com

fundamento no art. 395, inciso III, do Código de Processo Penal. Publique-se.

Brasília, 11 de março de 2015. Ministro Gilmar Mendes Relator Documento

assinado digitalmente. (STF - HC: 126658 MG - MINAS GERAIS 8621339-

13.2015.1.00.0000, Relator: Min. GILMAR MENDES, Data de Julgamento:

11/03/2015, Data de Publicação: DJe-050 16/03/2015). Disponível em:

<http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia> Acesso em: 18-07-2015.

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4.5 Atos infracionais (Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei 8.069/1990)

A incidência do princípio da insignificância nos atos infracionais (tal como

reconhecidos e ECA) é totalmente correta. (GOMES, 2013, p. 163).

O estatuto da criança e do adolescente não descreve os delitos cometidos pelo

adolescente, somente reconhece como atos infracionais os crimes e as contravenções, assim

tudo que se aplica nos crimes e contravenções automaticamente aplica-se para os atos

infracionais.

HABEAS CORPUS. FURTO. ECA. INAPLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA

INSIGNIFICÂNCIA. RELEVÂNCIA DA CONDUTA NA ESFERA PENAL.

PRECEDENTES. ORDEM DENEGADA. 1. "A jurisprudência desta Corte tem

pacificamente enunciado a possibilidade de aplicação do princípio da

insignificância ao fato cujo agente tenha praticado ato infracional equiparado a

delito penal sem significativa repercussão social, lesão inexpressiva ao bem

jurídico tutelado e diminuta periculosidade de seu autor" (HC186.728/RS, 5.ª

Turma, Rel. Min. NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, DJe de 04/04/2011). 2.

Consoante o acórdão impugnado, a conduta imputada ao Paciente não se insere na

concepção doutrinária e jurisprudencial pertinente ao princípio da insignificância,

"pois a reprovabilidade do comportamento [do Paciente] deve ser atacada, eis que se

envolve reiteradamente em diversos atos infracionais e não demonstra senso crítico a

respeito de seu comportamento, situação admitida, inclusive, pela sua mãe", que

afirma ainda "não [ter] mais controle sobre o filho, o qual 'já está nas drogas há

algum tempo', e seguidamente aparece com bicicletas e as desmancha". 3. Ordem

denegada. (STJ - HC: 176149 RS 2010/0108302-7, Relator: Ministra LAURITA

VAZ, Data de Julgamento: 06/12/2011, T5 - QUINTA TURMA, Data de

Publicação: DJe 19/12/2011) (grifamos). Disponível em:

<http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia> Acesso em: 18-07-2015.

HABEAS CORPUS. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. ATO

INFRACIONALEQUIPARADO AO CRIME DE FURTO. ART. 122, INCISO I,

DO ECA. MEDIDA DEINTERNAÇÃO, COM POSSIBILIDADE DE

ATIVIDADES EXTERNAS. ADOLESCENTEDEPENDENTE QUÍMICO.

PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. INAPLICABILIDADEAO CASO

CONCRETO. 1. O Superior Tribunal de Justiça firmou compreensão no sentido

deque é possível o reconhecimento do princípio da insignificância nas condutas

regidas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. 2. O Excelso Pretório

estabeleceu requisitos à incidência de tal princípio. São necessários a mínima

ofensividade da conduta do agente, nenhuma periculosidade social da ação, o

reduzido grau de reprovabilidade do comportamento e a inexpressividade da lesão

jurídica provocada. (HC nº 84.412/SP, Min. Celso de Mello, publicadono DJ de

19/11/2004). 3. Muito embora o princípio da insignificância incida sobre a seara

menorista, os aspectos do caso concreto impedem sua aplicação, tendo em vista que

o adolescente, além de ser usuário de drogas, já praticou vários atos infracionais,

tendo sido ineficazes outras medidas socioeducativas mais brandas anteriormente

aplicadas, tanto que se manteve na marginalidade. 4. Deve-se levar em consideração,

ainda, o valor da res furtiva -uma bicicleta, aro 26, avaliada em R$ 200,00 (duzentos

reais). Com efeito, a subtração de bens, cujo valor não pode ser considerado ínfimo,

não pode ser tido como um indiferente penal, na medida em que a falta de repressão

de tais condutas representaria verdadeiro incentivo a pequenos delitos que, no

conjunto, trariam desordem social. 5. Diante desse quadro, não há como reconhecer

o reduzido grau de reprovabilidade ou a mínima ofensividade da conduta, de forma a

ser possível a aplicação do princípio da insignificância. 6. Ordem parcialmente

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concedida para reconhecer a possibilidade de aplicação do princípio da

insignificância aos feitos relativos à infância e juventude, deixando, contudo, de

incidir o referido instituto, em virtude das peculiaridades do caso concreto.

(STJ, Relator: Ministro OG FERNANDES, Data de Julgamento: 03/05/2012, T6 -

SEXTA TURMA) (grifamos). Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia> Acesso em: 18-07-

2015.

Após a análise de jurisprudência colacionada, percebe-se que o princípio e bastante

utilizado pelos tribunais, porém, ainda existe dúvida quanto à aplicação do princípio, de modo

que a aplicabilidade do princípio da insignificância é subjetivo por demais, devendo sempre

analisar o caso concreto para que chegue a uma resposta racional.

O tema ainda é recente e merece maiores aprofundamentos por parte da doutrina e

jurisprudência.

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CONCLUSÃO

Com o desenvolver do trabalho possibilitou à conclusão que princípios são verdades

que fundam um conhecimento, porque são evidentes ou porque foram demostradas e

comprovadas ou ainda surgiram na necessidade através de pesquisas ou da praxe.

Os princípios mesmo aqueles não tipificados em lei e só escrito na doutrina e

jurisprudência tem eficácia e deve ser respeitado como se fosse positivado e tamanho é a

importância de um princípio que precisa ser observado na elaboração e aplicação do Direito

no caso concreto, ou seja, respeitado pelos aplicadores do direito e no momento de elaboração

das leis.

O Direito brasileiro adotou o aspecto analítico de crime, em que para saber se houve a

pratica de uma infração penal, deve ser feita uma decomposição em partes sucessiva,

seguindo a teoria tripartida em que crime é todo fato típico antijurídico e culpável. Não há

crime se não estiver presentes esses três elementos.

O fato típico, primeiro elemento dentro do conceito analítico de crime segundo a teoria

tripartida, é o que está descrito na lei como uma infração penal. O fato típico ainda é

composto por mais quatro elementos, sendo eles, a conduta, o resultado, o nexo causal e a

tipicidade.

Conduta pode ser uma ação (um fazer) ou omissão (um não fazer) que possui uma

finalidade; o Resultado é a modificação no mundo exterior devido à prática da conduta ou a

lesão ou risco de lesão ao bem jurídico tutelado; o Nexo causal é o elo de ligação material e

natural entre a conduta e o resultado e a Tipicidade ocorre quando a conduta praticada se

amolda perfeitamente no que está descrito na lei.

A Tipicidade se divide em formal e material. Como já dito ocorre a tipicidade formal

quando os fatos se amolda perfeitamente no que está descrito em uma lei penal e a tipicidade

material é aquela que não se satisfaz com a simples adequação da conduta ao tipo

incriminador, mas exige também que tenha ocorrido uma lesão ou perigo de lesão relevante

ao bem jurídico tutelado.

É no plano da tipicidade material que se soluciona as questões do crime de bagatela

pela insignificância do bem jurídico afetado.

O princípio da insignificância ou também bagatela, para alguns autores surgiu no

Direito Romano, mas precisamente no direito civil com o brocardo minimus non curat praetor

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(“O proetor” magistrado à época não cuida de coisa sem importância) e foi introduzido no

direito penal pelo jurista Claus Roxin, em 1964, demostrando que o Direito penal não deve se

preocupar com questões sem importância, deve ser aplicado como a última ratio, ou seja,

deixar os demais ramos do direito agirem primeiramente e só se eles não conseguirem solução

que o direito penal deve atuar. O direito penal não deve se preocupar com questões ínfimas.

Por outro lado, outros autores sustentam que o princípio surgiu na Alemanha após as

duas grandes guerras, pois com a perda do patrimônio pessoas começaram a praticarem

pequenos furtos, dando origem a Bagatela.

Em contrapartida Maurício Antônio Ribeiro Lopes, entende que o princípio da

insignificância surgiu juntamente com o princípio da legalidade no iluminismo, expresso na

Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão e nas questões patrimoniais após

as guerras mundiais.

O Princípio da insignificância é um princípio implícito no ordenamento jurídico, foi

criado pela doutrina e jurisprudência, conforme a doutrina majoritária ele é a causa da

exclusão da tipicidade material do crime praticado por uma interpretação restritiva do direito

penal. Aplicado nos casos que embora a conduta seja formalmente típica causou ínfima lesão.

O Supremo Tribunal Federal elencou alguns requisitos que devem ser preenchidos

para que ocorra a incidência do princípio da insignificância, sendo eles, mínima ofensividade

da conduta do agente; reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; nenhuma

periculosidade da ação e inexpressividade da lesão jurídica. Porém sobre esses requisitos

ainda há divergência na doutrina e jurisprudência, não podendo afirmar categoricamente as

hipóteses de cabimento do princípio da insignificância.

Precisa olhar para o caso concreto e averiguar o cabimento do princípio, analisando

requisitos objetivos e subjetivos, tais como, o valor do objeto material, condições pessoais da

vítima e as condições pessoais do autor.

Não é admitida a aplicação do princípio da insignificância nos crimes praticados com

violência ou grave ameaço à pessoa e prevalece na maioria dos julgados a não aplicação nos

crimes de tráfico ilícitos de entorpecentes.

Conforme a maioria dos julgados do STJ, não é aplicado também o princípio da

insignificância nos crimes contra a administração pública mesmo que o valor seja ínfimo,

porque busca resguardar não só o patrimônio mas também a moral pública, mas o STJ já

julgou em sentido contrário, em caso se furto simples contra a administração pública.

Ao reincidente até 2014 o STF não aplicava o princípio da insignificância, mas nesse

ano (2015), contrariou o que vinha decidindo e aplicou o princípio. O STJ da mesma forma já

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decidiu pela incidência do princípio ao reincidente, deste modo, de 2012 a 2015 verifica-se

uma confusão no STF e STJ quanto à aplicação ao reincidente.

Ocorre a aplicação do princípio nos crimes contra o patrimônio, com bastante

intensidade nos crimes de furto (artigo 155 do CP) em que o valor do bem é inferior ao salário

mínimo à época do acontecimento do crime, pois se for superior ao salário mínimo é causa de

furto privilegiado, “pequeno valor” previsto no artigo 155, § 2º do CP, bem como, no crime

de Dano (artigo 163 do CP) em que não trouxe prejuízo para a vítima, todavia, crime de dano

contra o patrimônio público (artigo 163, § único, III do CP), de acordo com a jurisprudência é

inaplicável o princípio.

Da mesma forma, há incidência do princípio da insignificância nos crimes ambientais

(Lei 9.605/1998), nos atos infracionais (Lei 8.069/1990), nos crimes tributários e descaminho.

Nos crimes tributários o STJ e o STF se divergem quanto ao valor, pois para o STJ o valor é

de R$ 10.000,00 (dez mil reais), conforme a lei 10.522/02 e para o STF esse valor foi

aumentado para R$ 20.000,00 (vinte mil reais), pela portaria MF nº 75 de 29/03/2012.

Destarte, é notável que o princípio da insignificância é bastante aceito pela

jurisprudência, no entanto, existe dúvida ainda quanto a sua aplicação, devendo sempre

analisar o caso concreto.

Com desenvolver do presente estudo, a análise do avanço do princípio no poder

judiciário, a aceitação nos tribunais e como vem sendo aplicado na corte superior e no

supremo tribunal, demostrando a sua importância na prática, também, possivelmente concluir

que é visível e necessário que os aplicadores do direito tomem conhecimento do significado,

essência e importância do princípio, que o valorizam, observando em cada caso concreto se é

possível sua incidência logo no início do processo, evitando dessa maneira o desgaste da

máquina judiciária com questões irrelevantes, de valor insignificante que acaba atrapalhando

o desencadeamento e o desenrolar de outros processos pelo desconhecimento e a insistência

de ficar debatendo questões ínfimas. Como ficou demonstrado nos julgados que muitas vezes

o processo chega na última instância para que seja aplicado a insignificância.

O processo ter que chegar na última instância para ser declarada a sua atipicidade por

insignificância acaba sendo um gritante atentado contra a dignidade da pessoa humana, muito

das vezes a pessoa fica presa a mais de ano por questões visualmente sem relevância alguma,

que não caberia o Direito Penal intervir, como um furto de um xampu e condicionador no

valor de R$ (24,00).

Juízes ainda condenam por um pote de manteiga sendo incrível teor de violência que

ainda está presente na caneta dos juízes brasileiros. (GOMES, 2011).

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Assim, é necessário que os juízes de primeira instância bem como promotores,

advogados e os demais aplicadores do direito sejam mais cautelosos com o princípio da

insignificância, analisando se ele é cabível logo no início de um processo, se dirigindo a

insignificância não como um princípio que não deve ser levado em conta, mais sim um

princípio que pode conceder um verdadeiro Estado Democrático de Direito capaz de realizar

uma verdadeira justiça na análise e julgamento de casos concretos.

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