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O Processo Criativo e Executivo do Universo Estético para o curta-metragem “A Estória da Figueira” por Monica Palazzo 1 O PROCESSO CRIATIVO E EXECUTIVO DO UNIVERSO ESTÉTICO PARA “A Estória da Figueira” de Julia Zakia (35mm, 16min, 2005/06, Gato do Parque e ECA/USP) por Monica Palazzo Este artigo vai privilegiar as principais etapas do processo criativo da Direção de Arte do curta-metragem. 1) O nascimento do roteiro – da música à palavra; 2) Das palavras ao projeto; 3) Projeto, criação e execução; 4) Processos e resultados – memorial iconográfico; 5) Considerações finais. 6) Anexos – cópias dos projetos da Direção de Arte usados como exemplo ao longo do texto. 1) O nascimento do roteiro – da música à palavra; Nos processos “tradicionais” de Direção de Arte dos quais tenho participado, os roteiros vêm “fechados”, ou apenas com algumas modificações, sobretudo em relação aos diálogos. A criação dos ambientes e da personificação das identidades dos personagens (figurinos) é certamente livre, a partir das premissas do diretor; e as indicações da fotografia que vêm ao longo do processo: Arte e Foto caminhando juntas para essa coerência entre universo, formas, cores e luz. Em “A Estória da Figueira”, ou “Figueira” (como vou chamar o curta a partir daqui), o roteiro nasceu como música e seu processo de escrita pude acompanhar de perto, inclusive com sugestões estéticas que influenciaram diretamente a narrativa. Este processo construtivo entre palavra, narrativa e imagem é interessante quando da possibilidade de trabalhar com tempo de reflexão e domínio sobre o processo criativo. E que neste filme funcionou muito bem. Um roteiro muito “livre” para uma narrativa com começo-meio-fim (apesar da liberdade atemporal deste conto-de-fadas) pode dificultar o processo, se seus objetivos não estão bem resolvidos; ao mesmo tempo em que o processo criativo da direção de arte, quando bem organizado e planejado, tem espaço para mudanças significativas ao longo do trabalho.

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O Processo Criativo e Executivo do Universo Estético para o curta-metragem “A Estória da Figueira” por Monica Palazzo

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O PROCESSO CRIATIVO E EXECUTIVO DO UNIVERSO ESTÉTICO PARA

“A Estória da Figueira” de Julia Zakia

(35mm, 16min, 2005/06, Gato do Parque e ECA/USP)

por Monica Palazzo

Este artigo vai privilegiar as principais etapas do processo criativo da Direção de Arte do

curta-metragem.

1) O nascimento do roteiro – da música à palavra;

2) Das palavras ao projeto;

3) Projeto, criação e execução;

4) Processos e resultados – memorial iconográfico;

5) Considerações finais.

6) Anexos – cópias dos projetos da Direção de Arte usados como exemplo ao longo do texto.

1) O nascimento do roteiro – da música à palavra;

Nos processos “tradicionais” de Direção de Arte dos quais tenho participado, os roteiros vêm

“fechados”, ou apenas com algumas modificações, sobretudo em relação aos diálogos.

A criação dos ambientes e da personificação das identidades dos personagens (figurinos) é

certamente livre, a partir das premissas do diretor; e as indicações da fotografia que vêm ao longo

do processo: Arte e Foto caminhando juntas para essa coerência entre universo, formas, cores e

luz.

Em “A Estória da Figueira”, ou “Figueira” (como vou chamar o curta a partir daqui), o roteiro

nasceu como música e seu processo de escrita pude acompanhar de perto, inclusive com

sugestões estéticas que influenciaram diretamente a narrativa.

Este processo construtivo entre palavra, narrativa e imagem é interessante quando da

possibilidade de trabalhar com tempo de reflexão e domínio sobre o processo criativo. E que neste

filme funcionou muito bem.

Um roteiro muito “livre” para uma narrativa com começo-meio-fim (apesar da liberdade

atemporal deste conto-de-fadas) pode dificultar o processo, se seus objetivos não estão bem

resolvidos; ao mesmo tempo em que o processo criativo da direção de arte, quando bem

organizado e planejado, tem espaço para mudanças significativas ao longo do trabalho.

O Processo Criativo e Executivo do Universo Estético para o curta-metragem “A Estória da Figueira” por Monica Palazzo

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Na Figueira, a relação da palavra-narrativa-roteiro com o processo de ambientação

equilibraram-se de maneira harmônica ao longo do tempo de criação, execução e filmagem.

A diretora do filme tem uma característica notável entre os diretores - de diferentes gerações -

com os quais tenho trabalhado: ela traz referências e indicações precisas (desde o nosso curta

anterior “Suíte Anonimato”), tanto em imagens quanto em palavras, para o universo que quer

abordar.

Livros infantis sobre duendes e os tradicionais contos-de-fada, sobretudo ingleses, foram

usados como referência estética para cores e formas. A materialização da idéia geral do filme por

meio de referências iconográficas são de fundamental importância para o que ser quer em termos

visuais e conceituais.

Outra informação que precedeu a criação deste universo foi a vontade estética dos

personagens “saltarem” do fundo, como um descolamento da imagem: o cenário está ali, quase

que imortalizado, palco deste história que está sendo contada pela enésima vez, e desta vez, por

nós. Essa característica da imagem fora levada em consideração em primeiro lugar para os

acabamentos dos cenários e para a escolha das cores e formas dos tecidos para os figurinos.

2) Das palavras ao projeto;

A primeira visita de locação foi feita no começo de 2004. Pela primeira vez eu finalmente

conheci a “chacrinha”, ambiente que eu já sabia de antemão ser inerentemente mágico para a

diretora, e que a partir daí a responsabilidade seria minha, como chefe da equipe de arte, de

transformar essa magia “áurea” em magia estética - formas e cores - para uma câmera de 35mm

e para uma finalidade: o filme.

Na ocasião, pouco pudemos ver, pois o mato tinha dominado o que no futuro seria o palco para

a nossa encenação. Mas o clima do lugar estava em mim, bem como um esboço desta geografia.

Essa primeira visita fora importante para a minha apreensão do lugar e do contexto, ainda que

estrutural, desta empreitada.

Em outubro do mesmo ano fizemos uma visita de locação mais tradicional, com Direção,

Produção, Fotografia, Som e Arte. A partir dela, muitas fotos e anotações, muitas conversas e a

assimilação de um desafio que estava por vir.

A partir de uma planta gerada pela diretora, elaborei uma planta, ainda que sem escala, mas

atentando às disposições das locações, para entender esse cenário ao ar livre. A geografia do

ambiente já com algumas intervenções: esta planta serviria para o processo da direção de arte e

para a decupagem.

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MAPA INDICATIVO DA LOCALIZAÇÃO DAS LOCAÇÕES

JÁ COM ALGUMAS INTERVENÇÕES DO PROJETO DA DIREÇÃO DE ARTE

3) Projeto, criação e execução: a liberdade estética do conto de fadas com o universo rural

brasileiro;

Ao longo dos quatro anos que tenho me dedicado ao fazer cinematográfico - a Direção de Arte

de longas e curtas, é muito claro que, dentro das etapas tradicionais do trabalho da arte, há um

jogo-de-cintura necessário para a execução de cada projeto: universo estético, locação ou estúdio,

época da narrativa, orçamento, características da equipe, época do ano em que a produção se dá,

tempo para a execução do trabalho, são fatores determinam a estratégia de ação, sobretudo na

pesquisa, pré-produção e coordenação da equipe.

No começo, os conceitos e a reflexão sobre o objeto a ser abordado: uma história pertencente

à tradição oral brasileira, filmada no Brasil, em um ambiente rural, nada mais propício para essa

contextualização: a partir das referências vindas dos livros de contos de fadas, e o universo visual

que eles apontam, a Direção de Arte do filme começava a esboçar as transformações das

locações.

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Um híbrido entre o universo rural brasileiro com a liberdade das cores e clima dos contos de

fadas. Neste momento minha experiência pessoal de ter vivido o rural (sobretudo nas férias

escolares, em uma fazenda no Triângulo Mineiro) na infância acrescida da experiência profissional

de criar contexto para uma história a ser filmada foram fundamentais para a criação do universo do

filme.

3.1) As etapas tradicionais do processo criativo da D.A e o processo executivo

específico para este filme;

Esquema sucinto sobre as etapas do processo criativo da Direção de Arte para qualquer filme: ROTEIRO (universo a ser abordado, contexto temporal e sócio-cultural); 1A. REUNIÃO COM O DIRETOR (concepção e anseios gerais sobre a direção); REUNIÃO COM O PRODUTOR (cachê, equipe sugerida, questões contratuais); ANÁLISE TÉCNICA DA ARTE (listagem das necessidades do roteiro –cenários, objetos, efeitos mecânicos e de maquiagem - dúvidas irão surgir, bem como o tamanho mais real do projeto); PRIMEIRAS REFS/PRIMEIRAS PROPOSTAS; PALETA DE CORES SUGERIDA; REUNIÃO COM O FOTÓGRAFO - VISITA DE LOCAÇÃO (anotações, fotos e medidas); FORMAÇÃO DA EQUIPE (DA, ADA, PO, EA, CNT, PNT, CR - que varia de acordo com o tamanho e características do projeto); DESENHOS ARTÍSTICO E TÉCNICO; EXECUÇÃO DOS CENÁRIOS E PRODUÇÃO DE OBJETOS; ACOMPANHAMENTO das construções, da produção de objetos e da execução dos figurinos; FILMAGEM (organização da equipe de arte/montagem e desmontagem dos cenários/preocupação com os planos e logística do set); DESPRODUÇÃO/PRESTAÇÃO DE CONTAS.

Como exemplo um trecho da análise técnica da Direção de Arte1, onde listo as

necessidades da arte por seqüência narrativa, além das necessidades para o filme ela é

importante para a organização do departamento de arte para a filmagem:

A ESTÓRIA DA FIGUEIRA, dir.: Julia Zakia ANALISE TECNICA DA ARTE/Dir. de Arte: Monica Palazzo

SEQ. AMBIENTE OBJETOS FIGURINOS OBS. 01 CASA DA VIZINHA/cozinha - Bancada de madeira

- Ingredientes Culinários: *1 Pote com Farinha de Trigo *Ovos *1 Garrafa de vidro grosso com leite *Manteiga Caseira

-Figurino vizinha: avental

02 CAMINHO DAS FLORES - Flores e mato (bastante folha Figurino menina Máquina de vento

1 O arquivo completo encontra-se nos anexos deste relatório.

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seca) - Guizo para menina - Casa de Sítio: Tinta, cerca de madeira para rodear a casa - Plaquinha de madeira escrito: vizinha

*1 Vaca holandesa (malhada) *Galinha d’angola - Fumaça rosada (de torcida? Ou outro tipo)

11 CELEIRO - Feno - Instrumentos de trabalho do jardineiro

jardineiro

12 CAMPO SANTO - Figueira com figos maduros -Balança (Corda e Madeira) -Túmulo com trepadeiras -Lápide escrito mãe -Foto mãe viva -Epitáfio escrito lápide

jardineiro

Paralelamente à planta citada anteriormente, e à análise técnica da arte, com as anotações

feitas na visita de locação e fotos, gerei o que chamo de executivo da direção de arte2 – formato

este que a partir da experiência da Figueira, tenho usado para todo filme que faço (trecho do

executivo para exemplificação, para a locação “Casa da Menina”):

CASA DA MENINA CENOGRAFIA ACABAMENTO OBJETOS Dividir ambientes com tecido Arrancar vitrôs, fazer moldura com madeira; Plaquinha Reformar guarda roupa (colocar prateleiras)

Trabalhar paredes Pintura da guarnição das janelas (externa) Instalar “arandelas”;

Cama pai Cama menina Roupas de cama Mesa e bancos Estante com objetos (quais) Objetos femininos (tipo roupa da mãe pendurada) – vestígios da mãe;

OBS: Pesquisa de tecidos; Limpar/varrer Tirar os móveis com exceção dos usáveis, colocar embaixo da tulha/porão,

Transformar o “porão” num estábulo com cordas, fenos e animais, e ferramentas.

Para cada filme uso colunas descritivas específicas para orientação minha, da equipe de arte e

da produção. São espécie de listas de tarefas, mas sempre orientadas. Neste caso da Figueira a

produção local contratou e orientou os pedreiros (que aqui viraram cenotécnicos) na primeira etapa

até a minha chegada na locação.

2 Idem 1.

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3.2) As características da locação e as propostas;

Com o executivo da Direção de Arte, as propostas foram esboçadas por meio de desenhos,

fotos e esboços sobre as fotos. Para alguns itens da lista de tarefas, havia o respectivo projeto

desenhado3.

Prancha n° 01 – esboço para intervenção da Casa da Menina/Pai, com cerca feita de pau-de-cerca

e corda de sisal, cocho e fachada da casa. O varal fora riscado pois ao longo do processo foi

colocado próximo da casa da Vizinha/Madrasta;

Prancha n° 02 – esboço para interna da Casa da Vizinha/Madrasta, com planta indicativa (sem

escala) com os principais objetos, perspectiva deles e lista de objetos – esse tipo de prancha é

muito útil para a decupagem e para a visualização da proposta para a equipe;

Prancha n° 03 – esboço artístico do Campo Santo, com o balanço na mangueira e túmulo da Mãe

– este foi desenhado usando como referência os “degraus” existentes na locação da Casa do

Jardineiro;

Prancha n° 04 – desenho explicativo para a Casa do Jardineiro, com intervenção para tirar o

caráter Igrejinha que a locação fora um dia;

Prancha n° 05 – propostas para placas da Vizinha/Madrasta;

Prancha n° 06 – propostas para carrinho do Jardineiro – este fora encontrado na própria locação,

de uso cotidiano do caseiro local4.

Prancha n° 07 – esboço para construção do fogão à lenha da casa da Vizinha/Madrasta.

Esses desenhos, apesar de simples e indicativos foram de fundamental importância para a

execução local e à distância até minha chegada na locação.

3.3) Orçamento restrito e o uso de materiais adequados;

Geralmente para fazer cinema no Brasil, sobretudo curta-metragem, e essa enxurrada anual do

chamado “filmes de baixo orçamento”, a produção do filme encara a necessidade de executar o

projeto com uma grande restrição de verba - nas produções de longa-metragem isso reflete

também nos cachês dos profissionais envolvidos, e no curta, na necessidade de apoios e

descontos de bens materiais e serviços.

3 Nos anexos há cópias das pranchas com desenhos feitos para exemplificação das intervenções necessárias.

4 O acaso é um dos fatores sempre muito evidentes na criação artística, e quando se trata de cinema em locação, o olhar

atento e a criatividade latente são fundamentais para a criação. As locações escolhidas muitas vezes dão a base a as dicas

para a execução das intervenções.

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Na “Figueira”, as intervenções foram pensadas para a criação do universo estético ideal para a

narrativa e, para a realização dessas intervenções, foram usados materiais comercialmente mais

baratos e o reaproveitamento de peças e matéria-prima encontradas na própria locação.

Essa visão e perspectiva para o projeto vêm de pesquisa sobre “o quê” fazer e “como fazer”, e

da experiência pessoal em usar, por exemplo, a tinta certa para a superfície existente.

Longe de escrever aqui um relatório descritivo sobre cada material e seu uso, atentarei-me a

alguns exemplos5:

Basicamente as pinturas foram feitas com latéx branco tingido com o corante devido, depois de

definidas as cores de cada núcleo (casa da madrasta/casa da vizinha, casa do jardineiro, casa da

menina/pai, túmulo da mãe). Para o envelhecimento, extrato de nogueira6 diluído de acordo com a

necessidade do tom para cada locação, e aguadas de cal (diluído) para baixar o tom da tinta,

dando aspecto “gasto”.

A pintura de arte – uma das etapas do processo dentro do execução da Direção de Arte – foi

feita seguindo o projeto de intervenção discutido com a diretora; ao longo de sua execução, com o

seu acompanhamento diário. A experimentação no local é fundamental nesta fase de construção

do universo estético, e depende também das técnicas de pintura, tais como sentido do pincel,

“peso” da mão, camadas de tinta, cal e nogueira, pincel usado, ponto de diluição dos materiais,

textura, nível de absorção da superfície...

Outros materiais, sobretudo madeira, pau-de-cerca, móveis que estavam inutilizados na

chácara, portas, tijolos, vidros, arandelas foram usados na construção dos móveis e nas

intervenções das locações.

Já as plantas e o caminho das flores fora feito com vasos emprestados e com plantas

conseguidas através de apoio de floriculturas e produtores locais de flores.

4) Processos e resultados – memorial iconográfico;

Aqui estão organizadas algumas fotos para exemplificar o processo da Direção de Arte do

curta-metragem, acompanhadas de alguma explicação pertinente.

5 A lista de material encontra-se nos anexos.

6 O extrato de nogueira é um extrato natural, solúvel em água, usado para escurecer e envelhecer alguns tipos de

materiais tais como madeira, corda de sisal, parede rebocada ou não e pintada com latéx. Quando se trata de

escurecer/envelhecer materiais sintéticos, tais como plástico e metais, geralmente usa-se betume, e para ele, diluição em

thinner ou aguarrás.

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CASA DA MENINA/PAI - EXTERNA

FOTO DA LOCAÇÃO INÍCIO DO PROCESSO

já sem grama e os tijolos do terreiro aparentes.

PROJETO

Visualização feita no Photoshop para indicar a proposta das intervenções

PINTURA E COMEÇO DA CERCA

A cerca for feita com pau-de-cerca e cordas soltos para permitir a livre passagem de equipamento e equipe

SET CENA

CASA DA MENINA/PAI - INTERNA

FOTO MONTAGEM DA LOCAÇÃO

PINTURA uma paleta restrita, muita madeira, cerâmica e tecido foram usados na interna deste universo

SET

CENA

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CASA DO JARDINEIRO

PRIMEIRA ETAPA DA PINTURA já sem a cruz, o vitrô e o último degrau do telhado

CENÁRIO As cores dos musgos e a pintura de envelhecimento foram feitos com liberdade de traço e cores, como se o acabamento fora feito com lápis de cor

CENA A bromélia dentro da touceira era colocada no plano a cada entrada do jardineiro em cena

CASA DA VIZINHA/MADRASTA - EXTERNA

LOCAÇÃO Pelas características inatas da locação, a Direção de Arte sugeriu que as filmagens começassem pela Casa da Madrasta para então ser transformada em Casa da Vizinha.

PROCESSO foi usado pigmento preto diluído para destacar as manchas pretas da casa, e nogueira para escurecer as partes claras

CENA

TRANSFORMAÇÃO – durante as filmagens Latéx e pigmentos seguindo as cores do figurino da vizinha. Os tijolinhos aparentes foram pintados de vermelho realçar seu desenho.

CENA Todas as touceiras dos cenários foram “esculpidas”, a fim de um desenho não -realista e proposital do mato. O varal foi feito com cabo-de-aço revestido por sisal.

CENA

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CASA DA VIZINHA/MADRASTA – INTERNA

fotomontagem da locação antes das intervenções

PROCESSO

SET

SET

Interna da casa já com pintura, janela aberta e fogão à lenha

A referência para este ambiente foi o Brasil rural. Para traze-lo para o universo dos contos-de–fada, trabalhei com um toque cenográfico evidente – não tão naturalista.

A transformação da casa de madrasta para vizinha foi feita com pintura interna, a troca das cortinas e o uso de objetos de cobre e de vidro, frutas maduras e elementos mais “limpos”.

CAMPO SANTO

LOCAÇÃO

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TÚMULO EM PROCESSO

um armário velho de ferro foi usada como base, revestido por argamassa e

detalhes em maderite

CENA A figueirinha foi produzida em uma fazenda vizinha e colocada no cenário, e seus figos (congelados anteriormente) foram “costurados” com fios de nylon

MÃE as trepadeiras foram escolhidas e eram colhidas na estrada vizinha à locação e trocadas a cada filmagem, para se manter a continuidade; a pintura de arte deu idade e “vida” ao túmulo.

MÃE PENDURADA

as cordas para sustentação da atriz foram escondidas com galhos e folhas; um profissional de arborismo acompanhou as filmagens e

adaptou o equipamento para a necessidade da cena

CENA

5) Considerações finais;

O universo estético do curta-metragem foi ao mesmo tempo um desafio e um campo vasto

para uma experiência mais livre da concepção e execução da Direção de Arte Audiovisual – cada

filme prevê estratégias específicas dentro de uma metodologia usada.

Local, tempo e orçamento costumam ser as variantes constantes, com uma certa liberdade do

trocadilho, para a variante máxima que é o roteiro e o universo que ele contempla.

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Na Figueira, o orçamento restrito foi contornado pelo amor e dedicação dos profissionais

envolvidos com o processo.

Mesmo sendo um filme-tese de conclusão de curso, para a Direção de Arte foi um trabalho

possível graças à experiência e segurança nas escolhas, sempre com muito diálogo e trocas. Cada

decisão foi calculada pela razão e pela paixão, cores, formas e significados foram projetados e por

isso mesmo estiveram abertos para as surpresas do acaso na criação artística.

6) Anexos – cópias dos projetos da Direção de Arte usados como exemplo ao longo do

texto.

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ANEXO 02 – Análise técnica da ARTE simplificada do curta A ESTÓRIA DA FIGUEIRA, direção de Julia Zakia ANALISE TECNICA DA ARTE/Dir. de Arte: Monica Palazzo SEQ. AMBIENTE OBJETOS DE CENA FIGURINOS OBS. 01 CASA DA VIZINHA/cozinha - Bancada de madeira

- Ingredientes Culinários: *1 Pote com Farinha de Trigo *Ovos *1 Garrafa de vidro grosso com leite *Manteiga Caseira

-Figurino vizinha: avental

02 CAMINHO DAS FLORES - Flores e mato (bastante folha seca) - Guizo para menina - Casa de Sítio: Tinta, cerca de madeira para rodear a casa - Plaquinha de madeira escrito: vizinha

Figurino menina Máquina de vento *1 Vaca holandesa (malhada) *Galinha d’angola - Fumaça rosada (de torcida? Ou outro tipo)

03 CASA DA VIZINHA - Bolinhos - Forno a lenha - Favo de mel fresquinho - ingredientes da seq. 1 - Flores

Figurino vizinha

04 BARRANCO (Caminho tortuoso) Cajado

Figurino do pai

05 CAPINZAL

Caixote de madeira com rodinhas - Martelo - Figurino do jardineiro - Mudas de ervas e flores

Figurino jardineiro Suor no rosto

06 FRENTE DA CASA DA VIZINHA

Caminho das flores

07 MEIO DO CAMINHO DA FLORESTA

Utiliza caixote de madeira com rodinhas da seq. 5 -Varal

Traquitana varal para pendurar a menina

08 CASA DA VIZINHA -Madrasta sem avental e sem coque

09 A 09B

CASA DO PAI QUARTO DO PAI

-colher - prato com sopa - véus para separar ambientes - Cama do pai

Traquitana vestido voador

10 QUARTO DA FILHA Cama da menina (caminha) - Flash Back seq. 1 e 3

menina -Flash Back seq. 1 e 3

11 CELEIRO - Feno - Instrumentos de trabalho do jardineiro

jardineiro

12 CAMPO SANTO - Figueira com figos maduros -Balança (Corda e Madeira) -Túmulo com trepadeiras -Lápide escrito mãe -Foto mãe viva -Epitáfio escrito lápide

jardineiro

13 JANELA DA VIZINHA Caixa mágica Madrasta (outra roupa de cor

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preta) 14 FRENTE DA CASA DO PAI 15 FRENTE DA CASA DA

VIZINHA Pó de ouro

16 CAMPO SANTO túmulo Figurino fantasma maquiagem

fantasmagórica Farinha para rastro branco

17 CAMINHO DE PEDRA Plaquinha de madeira escrito MADRASTA

18 CASA DA MADRASTA

19 CASA DA MADRASTA Menina Jardineiro Pai madrasta

Papel que imita

fechadura e

coloca na

câmera

20 CASA DA MADRASTA cama Menina

madrasta xixi

21 CAMPO SANTO - Túmulo da mãe - Figueira - Balanço de madeira

Menina madrasta

22 ESTRADINHA Carroça de madeira jardineiro Cavalo da carroça 23 PEDRA cajado pai Carneiro com quizo 24 CAMPO SANTO - Figueira

- Pássaros empalhados - Rastro branco

Menina Fantasma mãe

Traquitana para árvore

25 FRENTE DA CASA DA MADRASTA

3 Figos bicados - Luz fraca na porta da casa (não elétrica); lampião e lamparina

Menina madrasta

- 1 pote cheio de abelhas vivas dentro

26 CELEIRO - Pá - Lampião

jardineiro - Fumaça – Máquina de fumaça

27 CASA DA MADRASTA Cama da menina vazia Janela aberta 28 CAMINHO DAS FLORES - Volume pesado

- Tecido por cima do volume pesado - Tecido com a mesma cor do vestido da menina

29 MATO pá jardineiro Cava buraco 30 CASA DA MADRASTA Cama da menina vazia Pai na janela 31 MATO madrasta - Sapatos lustrosos

- Mãos da madrasta cheias de terra

32 CELEIRO 33 CAMINHO DAS PEDRAS Madrasta

jardineiro

34 CASA DA MADRASTA Madrasta pai

35 CAPINZAL foice jardineiro - Cavalo - Cabelos que crescem pela terra

36 CASA DA MADRASTA pai 37 FRENTE CASA MADRASTA madrasta 38 CAPINZAL flores pai Efeito cabelo 39 SUBIDA DE TERRA clarinete jardineiro 40 FRENTE CASA MADRASTA Madrasta (fig. Vizinha) Fumacinha da chaminé

Coque na vizinha 41 CAMINHO DE FLORES Menina

jardineiro

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ANEXO 03 – Executivo da Cenografia por locação ESTÓRIA DA FIGUEIRA

Necessidades por locação/cenário da Direção de Arte: CAMPO SANTO CENOGRAFIA CONSTRUÇÃO OBJETOS Balanço; Areia/terra para desenho; Desenho com mato ao redor; Figueira; Carpir limite da copa; Destacar caminhos para jardineiro e laranjal; Planejamento do jardim;

Túmulo Trepadeira para túmulo

Foto da mãe Epitáfio Pássaros empalhados

OBS: tirar esterco Pesquisar areia/ terra Planejamento das touceiras; CASA DO JARDINEIRO CENOGRAFIA ACABAMENTO OBJETOS Tirar cruz; Quebrar ultimo degrau; Tirar porta de ferro; Tirar vitrôs e colocar moldura de madeira; Abrir caminho; Desenho com mato ao redor; Vestígios de fogueira;

Trabalhar parede; Musgos no telhado; Trepadeiras no telhado; “vida” no telhado;

Feno Moringa de barro Objetos de trabalho Carrinho de madeira Cestos Panos Objetos com alguma cor; Lamparinas; Vassoura de bambu; Regador de cobre ou de lata;

OBS: tirar urubu/lavar sujeira dele Planejamento das touceiras; CASA MADRASTA CENOGRAFIA ACABAMENTO OBJETOS Construir fogão à lenha; Tirar vitrôs/abrir janelas; Abrir janela maior; Tirar cocho e colocar no terraço; Portas de tecido; Plaquinhas VIZINHA/MADRASTA; Caminho que chega da menina; Consertar bancada;

Trabalhar paredes, VIZINHA BEM LINDA E LIMPA. Colocar porta quadriculada;

Estante, Mesa Bancos; Caminha da menina Colchão/travesseiro/roupadecama; Potes e garrafas de vidro, barro e gamelas; Frutas maduras Frutas murchas Alcachofra,brócolis, couve flor; Colher de pau, Tachos e caldeirão; Panelas, assadeiras; Toalhas/tecidos; Pratos e canecas de ágate; Temperos (muitos) Ervas estranhas e conhecidas; Flores;

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Pau para cima do fogão Lenha (muita) Torrador de café, Moedor de carne Lamparinas; Livro de receitas; Gelo seco;

OBS: TRANSFORMAÇÃO VIZINHA/MADRASTA. ACRESCENTAR OBJETOS DE CENA (pedidos no roteiro) Pesquisa de tecidos; CASA DA MENINA CENOGRAFIA ACABAMENTO OBJETOS Dividir ambientes com tecido Arrancar vitrôs, fazer moldura com madeira; Plaquinha Reformar guarda roupa (colocar prateleiras)

Trabalhar paredes Pintura da guarnição das janelas (externa) Instalar “arandelas”;

Cama pai Cama menina Roupas de cama Mesa e bancos Estante com objetos (quais) Objetos femininos (tipo roupa da mãe pendurada) – vestígios da mãe;

OBS: Pesquisa de tecidos; Limpar/varrer Tirar os móveis com exceção dos usáveis, colocar embaixo da tulha/porão, Transformar o “porão” num estábulo com cordas, fenos e animais, e ferramentas; TERRAÇO CENOGRAFIA CONSTRUÇÃO OBJETOS Tirar a grama; Varal; Caminho que leva até a VIZINHA;

Cerca; Porteira; Reformar cocho de água; Montar cocho q está na vizinha;

animais

OBS: desenhar cerquinha; Desenhar varal; Desenhar porteira; EXTRAS: -“rastros” de talco para fantasma da mãe; PAISAGISMO: -bromélias; cactus -listar flores/plantas/terra e pedras! -projeto jardim. -recolher mato seco e folhas secas/guardar sob lona;

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ANEXO 04 – lista de tarefas para cenotecnia/cenografia/produção

LISTA DE TAREFAS PARA “A ESTÓRIA DA FIGUEIRA”

GERAL: -Recolher mato seco e guardar debaixo da tulha/ou debaixo de lona preta; CASA DO JARDINEIRO: -tirar urubu e limpar/varrer a sujeira dele - tirar a cruz e quebrar o último degrau do telhado; (vide projeto) - tirar o vitrô; -tirar a porta de ferro; -quebrar de vez em quando o reboque, para deixar o tijolo à vista (sob orientação); CASA DA VIZINHA/MADRASTA: -recolher as coisas do chão, guardar tapetes, guardar carretel; - tirar vitrôs, -tirar janela de ferro tb (furadinha); - abrir nova janela (definir com Julia); - tirar cocho sem danificar (será recolocado no terreiro); - construir fogão a lenha (vide projeto); - consertar com tábua velha a bancadinha; CASA DA MENINA/PAI: - tirar vitrôs; -fazer moldura com tábua velha (vide projeto); -colocar prateleiras no guarda-roupa; -tirar tudo de dentro com exceção dos móveis marcados (vide projeto)/varrer; obs: esse material pode ser colocado no ambiente embaixo da casa.(“porão”) -instalar “arandelas”; (vide projeto); -quebrar de vez em quando o reboque, para deixar o tijolo à vista (sob orientação); TERREIRO: -Construir cercado com pau de cerca e corda de sisal (vide projeto); - instalar varal com pau resistente (uma criança será pendurada) e cabo de aço fino; - colocar cocho que já existe; -quebrar de vez em quando o tanque, para deixar o tijolo à vista (sob orientação); -recolher as telhas que estão no tanque e coloca-las no “porão”; -transferir restos de fogueira para próximo da casa do jardineiro; ENTRE NATAL E REVEILLON: -acabamento das paredes; -“desenho” do mato: carpir excessos e desenhar caminhos; -carpir a área do campo santo e do terraço; -jardinagem (plantio e dressing);

O Processo Criativo e Executivo do Universo Estético para o curta-metragem “A Estória da Figueira” por Monica Palazzo

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ANEXO 05 – lista de compras LISTA DE COMPRAS: -corda de sisal; -fio de sisal; -2 caixas de pó xadrez nas cores: amarelo, marrom, vermelho; -3 tubos de pós xadrez nas cores: preto, verde, amarelo, marrom; -um galão de látex acrílico amarelo “Marrocos”

- um galão de látex acrílico vermelho (obs: gostaria de eu mesma escolher na loja) - um galão de látex acrílico branco

-2 kg de cal branco (para pintura); -2 kg de extrato de nogueira em grão ou pó; -1l de betume/neutrol; -3 l de querosene; -10 pavios de lampião a querosene (é tipo um cadarço achatado) -2 l de thinner; - 1 saco de argamassa; - lixa para madeira (grossa); -2 rolos de espuma de 25 cm; -1 brocha para cal; -2 pincéis de pintura de 5 cm de largura. -2 bandejas para pintura (para rolo de 25 cm) -2 baldes de plástico PLANTAS, PEDRAS E AREIAS: Amor perfeito Crista de galo -2 vasos de Petúnia criptantos -5 Roseiras Bromélia Tagete -2 sacos de 100 l de Barba-de-bode Corubinho Coléus Margaridas Gérbera 10 Gira-sol (para as vésperas – armar isso, ele dura pouco) Mudas de Ervas/temperos (horta do jardineiro) Trepadeiras FIGUEIRA Pedra (seixo do mato grosso) Areia branca Areia normal MANUFATURAS: - 2 porta-placas e 3 placas, com tábua de construção (vide projeto); -túmulo da mãe, de compensado (vide projeto); - carrinho do jardineiro (caso não seja produzido); -balanço da menina com tábua de construção (vide projeto);