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il i' Ç\~ Ao. ~ ~.~~~~ . ~ - ~.~~~~ ~~~~ l~~ ~Ir: ~/Ç\~} ~ ~~ ~ r-'I~- -n.:.~, ~ P~" ~ d;J f'~'f \~ o PROCESSO DE CONHECER EM AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA ROBERTO MORAES CRUZ DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA DA UFSC - Qual o caminho que devo seguir? - Depende. Para onde você quer ir? - Para qualquer lugar - Se você quer ir para qualquer lugar, qualquer caminlw serve." Alice eo gatO maluco (Alice no país das maravilhas. 1995). I I I Btamos, hoje, num patamar histórico em que a área da avaliação psicológica necessita refletir sobre as condições pelas quais ela pode realmente contribuir para o aperfeiçoamento da ciência psicológica e da profissão de psicólogo. Os problemas que envolvem o uso de instrumentos, a carência permanente de especialistas no ensino, as desatualizações curriculares, as dificuldades de responder efetiva- me~te às necessidades sociais e da própria ciência psicológica, tudo isso, nos mostra um cenário que todos nós de alguma forma já expe- rimentamos e do qual temos grandes dificuldades em superar. A d~mensãodos problemas que envolvem a formação de den- tistas no domínio da avaliação psicológica demanda, no nosso en- tendimento, uma avaliação crítica do que significa o processo de conhecer fenômenos ou processos psicológicos. Temos avaliado que grande parte de nossas dificuldades en- contradas na prática profissional e na produção de conhecimentos sobre aquilo que nos propomos a fazer - avaliação de fenômenos psicológicos - está centrada na ausência de discussão sobre a natu-

O Processo de Conhecer Em AP

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o PROCESSO DE CONHECER EM

AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

ROBERTO MORAES CRUZ

DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA DA UFSC

- Qual o caminho que devo seguir?

- Depende. Para onde você quer ir?

- Para qualquer lugar

- Se você quer ir para qualquer lugar, qualquer caminlw serve."Alice e o gatO maluco (Alice no país das maravilhas. 1995).

II

I

Btamos, hoje, num patamar histórico em que a área da avaliaçãopsicológica necessita refletir sobre as condições pelas quais ela poderealmente contribuir para o aperfeiçoamento da ciência psicológicae da profissão de psicólogo. Os problemas que envolvem o uso deinstrumentos, a carência permanente de especialistas no ensino, asdesatualizações curriculares, as dificuldades de responder efetiva-me~te às necessidades sociais e da própria ciência psicológica, tudoisso, nos mostra um cenário que todos nós de alguma forma já expe-rimentamos e do qual temos grandes dificuldades em superar.

A d~mensãodos problemas que envolvem a formação de den-tistas no domínio da avaliação psicológica demanda, no nosso en-tendimento, uma avaliação crítica do que significao processodeconhecer fenômenos ou processos psicológicos.

Temos avaliado que grande parte de nossas dificuldades en-contradas na prática profissional e na produção de conhecimentossobre aquilo que nos propomos a fazer - avaliação de fenômenospsicológicos - está centrada na ausência de discussão sobre a natu-

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16AVALIAÇÃo E MEDIDAS PSICOLóGICAS

reza do processode conhecer,o que envolve necessariamente umadiscussão, sobre formação de conceitos em psicologia, sobre asrelações entre objetividadee subjetividadee os graus de cientificidadeobtidos em avaliação de fenômenos psicológicos e, principalmen,te, sobre uma certa tendência de naturalização do conhecimento

psicológico existente, demonstrado por uma atitude de apego aoque é usualmente familiar e tradicional em termos de uso do co,nhecimento e de técnicas de diagnóstico em Psicologia.

O emprego habitual de testes psicológicos em processos deavaliação psicológica, por exemplo, sem uma percepção clara deque eles são produtos de, uma condição de conhecer fenômenos

psicológicos por meio da medida, acaba por tornar estereotipada aatividade de aferir atributos ou, qualidades psicológicas em situa,ções de diagnóstico. É comum perceber na prática profissional dospsicólogos o paradoxo entre não fazer ciência, mas acreditar emsua lógica absoluta. Podemos perceber isso, na prática, quando,por exemplo, à par da cega aceitação do laudo psicológico na soci,edade, há uma rejeição igualmente cega à el~boração de um do,cumento técnico sobre a intimidade do sujeito ou, de outra forma,quando verificamos que os psicólogos recusam os instrumentos his,toricamente construídos, sob variados pretex~os, enquanto os lei,gos e outros profissionais reivindiCam a utilização desses mesmosinstrumentos para justificar a condição subjetiva das pessoas. Qualé realmente a disC1,.Issãoprincipal? O paradoxo entre fazer e acre,

ditar na natureza do conhecimento científico? A natureza do pro-cesso de avaliação psicológica? Sua função social ou cientifica?

Operacionalizar essa discussão significa partir do pressupostode que o trabalho profissional do psicólogo é um trabalho científi,co. Ao afirmar isto, estamos dizendo que ser psicólogo designa maisdo que um status profissional, mas uma conduta de trabalho. Mas,convém afirmar, que ser psicólogo é ser um cientista?

Carl Sagan, em seu livro O mundo assombradopelos demônios(1996), apresenta a ciência como uma vela no escuro, mas aomesmo tempo com atividade humana geradora de esperanças enão de ilusões. Agir como cientista envolve um comportamentoexigente consigo mesmo ao se deparar com o óbvio e com o sur,preendente.

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ro PROCESSO DE CONHEGER EM AV AUAÇÃO PSICOLÓGICA 17

Os fenômenos psicológicos nem sempre se mostram inteligí,veis. A todo o momento, experimentamos a sensação de estar sem,pre lidando com o desconhecido. Mas não é essa a função da .ciên,cia, lidar com o desconhecido? . .

O fato de apresentarmos um comportamento generalizado deresignação e constatação da impotência diante do processo de aI,terar as condições adversas em avançar a pesquisa e a prática pro,fissional do psicólogo em relação à construção de medidas psicoló,gicas e seus produtos - os testes psicológicos - sinaliza, de algumaforma, uma defesa contra consciência da própria cumplicidade eresponsabilidade no agravamento dos problemas técnicos, teóricose éticqs encontrados na prática profissional. O acesso e a compre'ensão aos fenômenos ou processos psicológicos, em quaisquer dasáreas e objetos de intervenção em Psicologia, não se configuramuma tarefa fácil, pelo grau de complexidade e plurideterminaçãodos eventos psicológicos, mas é a condição pela qual se torna ne-cessária uma ciência de tal magnitude conceitual.

ESQUEMA DE DEFINIÇÃO DO CAMPO DISCIPLINARDAA VALIAÇÃO PSICOLÓGICA

Por que é necessário transformar a atividade da avaliação psi,cológica em direção a uma perspectiva que busque reestruturar ascondições pelas quais elas são dimensionada~ na prática profissio-nal e na pesquisa psicológica?

A estruturação de um campo de estudos é um exercícioconstantede especulação sobre a realidade que nos cerca, através da criação demodelos teóricos explicativos,da elaboração de metodologiase técni,cas de intervenção capazesde nos instrumentalizar sobre essa realida,de. A necessidadede explicaras condutas dos indivíduosem difet:entessituações cria a possibilidadede estruturar modelosde investigaçãodosprocessospsicológicossubjacentes à natureza da própria cànduta.

Definir o campo disciplinar de uma área de conhecimento nãoé uma tarefa fácil, mas necessária à estruturação de corpo de co,nhecimentos que possam, de forma integrada, responder as de,mandas sociais e científicas. Quatro elementos nos parecem es,

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senciais à configuração de um esquema definidor do campo daavaliação psicológica: o objeto do estudo, o campo teórico, o obje-tivo visado e o método, conforme mostra o Quadro 1.

Quadro 1- Esquema de definição da área de conhecimento da avaliaçãopsicológica, segundo as características do objeto, do campà teórico, do

objetivo visadoe do método.

É em tomo do objetivo visado, o campo da prática, que se

Fenômenos ouprocessospsicológicos

Sistemasconceituais,estado da arte doconhecimento

Diagnosticar,compreender,Avaliar a ocorrência ouprevalência de determinadascondutas

Condição através

do qual é possívelconhecer. formas de

acesso ao que sepretende conhecer

delineia a atividade profissional, integrada a necessidade de pro-ceder a compreensão do objeto de estudo, por meio das condiçõesteórico-metodológicas geradas nesse processo, isto é, construídaspelos próprios motivadores do ato de querer conhecer.

Porém, historicamente, a trajetória de constituição de um.campo de conhecimento denominado Avaliação Psicológica nãose configurou como um evento linear. Podemos afirmar, na verda-de, que a construção do campo de estudos sobre como medir

fenômenos psicológicos surgiu de uma série de situações práti-cas, calcadas em um certo formalismo científico (teoria e técni-ca de intervenção), inicialmente calcadas nas medidas das dife-

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renças individuais e das aptidões humanas? (o chamado diag-nóstico do sujeito).

A trajetória das relações entre o conhecimento psicológico eo diagnóstico psicológico é uma história de afirmações ideológi-cas acerca dos determinantes individuais da conduta e dos de-

terminantes da estrutura dos comportamentos sociais sobre a con-duta dos indivíduos. Em meio a essas afirmações, subsiste a ne-cessidade de responder às demandas sociais e às possibilidadesde avaliação e previsão da conduta dos indivíduos, a partir daleitura de suas condições de existência e de sua ação individualou coletiva.

Uma das características básicas do conhecimento Científico é

o esfórço em não se restringir à descrição de fatos separados eisolados, mas tentar apresentá-Ios sob o estatuto do contexto e doestado da arte das pesquisas relacionadas. O conhecimento pro-duzido pela avaliação psicológica presume a possibilidade de enri-quecimento da nossa percepção sobre os problemas individu;1is,desde que lastreada cientificamente pelas exigências de investi-gação de fenômenos psicológicos experenciados coletivamente.

O conhecimento obtido através da avaliação psicológica habi-tualmente é orientado pelas teorias psicológicas ou por que se co-nhece delas. As teorias psicológicas são sistemas conceituais quepodem nos ajudar a encontrar a inteligibilidade dos fenômenos pre-sentes no diagnóstico psicológico, entendendo e interpretando, ar-ticulando e organizando, sintetizando e universalizando nossa expe-riência. Para isto, é preciso contar com uma outra linguagem, dife-rente da comum, denominada de científica.

Elaborar um sistema conceitual cuja ordem e coerênciacorresponda completamente à ordem da natureza é um velho so-nho humano, sendo a ciência o limiar expressivo deste esforçomilenar. Tentar organizar uma coerência entre a linguagem e ofenômeno de investigação equivale à busca da verdade, no senti-do filosófico, algo que nunca se atinge totalmente, mas para oqual se orienta permanentemente o conhecimento humano.

A avaliação psicológica, ao se apoiar em dados empíricos,embora nem sempre controláveis, resulta de uma avaliação objeti-va, de acordo com o sistema de representação conceitual que se

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trabalha (relação lingu agem, teoria) . Porém, a identificação de"elementos estáveis" no curso de uma avaliação psicológica re,quer o concurso de alguma orientação teórica através da qual adiversidade das manifestações dos sintomas do sujeito é percebidamediante certa ordem. Dito de outro modo, o examinador deverá

apoiar, se em certos princípios e procurar os fatos, sendo que oseventos por ele observados devem ser concebidos não como uma

realidade intu(da, que se oferece imediatamente à percepção, mascomo realidade instru(da, identificada a partir de um modelo que,como uma "rede" é aplicada pelo especialista sobre os eventos (si,tuações onde ocorrem os fenômenos), de forma, a poder revelaralguma inteligibilidade lógica, ou possibilidade de sentido sobre arealidade psicológica humana.

O conjunto das respostas numa técnica projetiva, por exem,pIo, pode e deve ser considerada sistematicamente. Não são' ape,nas palavras aleatórias, casuais; devem ser reconhecidas formandoredes discursivas. O sentido que pode emergir das possibilidadescombinatórias traduz uma síntese de uma totalidade '(condúta,personalidade), da dinâmica dos processos associadvos imediata,mente ligados à realidade interna e externa do sujeito, tal como anoção de estrutura, por exemplo, faz supor. É por isso que, nostestes de personalidade, o sentido das respostas está na organiza,ção da rede de significados da qual pertencem outros sujeitos,com percepção e' atribuição de significados semelhantes ou bas,tante diferenciados.

É razoável pensar, portanto, que um processo de conhecer quenão constrói um método ou técnica de investigação não tem cam,po de confrontação, já que através da aplicação técnica surgemnovos materiais que permitem retificar, reelaborar e ampliar o campoteórico e conceitual. É possível, também, supor que um método ouuma técnica, que não esteja suportado por uma necessidade de

conhecer, aquilo que se pretende investigar ou transformar, gerauma prática cega que se esteriliza.

Quando consideramos o conteúdo da própria interpretaçãodo especialista, sua síntese diagnóstica (tal como sugere o termos(ntese),também não pode contemplar apenas aspectos parciais dapersonalidade do sujeito. A percepção do psicólogo deve se orien,

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tar 'para o jogo de oposições, equilibrações, cqmpensações -' os di,namismos- da personalidade. Um item de agressividade deve des,pertar a atenção do intérprete para seu contrário, os momentos emque O sujeito sugeriu o uso de mecanismos defensivos ou reativos,recuperando o controle.

Uma possível polarização, assim reconhecida, deve ser con,frontada com outras semelhantes, -e não apenas com base no re,gistro das respostas do sujeito, mas considerando as indicações deoutros níveis da relação com o intérprete, sua postura, seu compor,tamento verbal, sua história clínica, a forma que estabelece seuscontatos sociais, etc. A síntese de um psicodiagnóstico espelha asensibilidade do intérprete; é um desafio em que a habilidade emretratar o sujeito humano desempenha um papel vitaL Dispor deinclinações intelectuais voltadas para o assunto é uma condiçãofundamental para o bom intérprete.

Consideramos, por fim, que podemos eleger cinco aspectosbásicos de discussão sobre a necessidade de problematizar o campoda Avaliação Psicológica como área de conhecimento da Psicolo,gia. Esses aspectos, na verdade, se constituem em pressupostosbásicos sobre a produção do conhecimento e a atuação dos psicó,logos que utilizam métodos e instrumentos de avaliação psicológi,ca, que podem ser definidos da seguinte maneira:

1. Os fenômenos psicológicosdevem ser percebidos de forma con,creta (a realidade percebida, comunicada, observada, repre-sentada no comportamento), mas exigem as habilidades do co-nhecer, que é diferente do conhecimento produzido pelo sensocomum, que tende a classificar o comportamento humano apartir das premissas ou crenças sobre o agir humano individual.

2. O conhecimento psicológico, produzido na avaliação psicológi,ca, deve se organizarem tomo de duas exigências metodológicas:

a) a exigência da positividade,isto é, a capacidade de descre,ver os fenômenos psicológicos, que ocorrem nos sujeitos, masque fazem parte de um sistema de condicionantes e determi,nações ,através do qual se estruturam as condutas humanas;b) a exigência da imeligibilidade,isto é, que demonstre o signi~ficado das condutas na situação em torno dos quais elas se

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estruturam, de que forma elas são reguladas pela percepção evivenciadas enquanto afetos.

3. Necessitamos superar as relações de determinação entre os fe,nômenos psicológicos (nexo causal) pelas relações entre as va,riáveis ou fenômenos presentes na situação'problema a serinvestigada ou avaliada. Na prática, a definição de um proble,ma demandado por qualquer pessoa está associado ao resultadoindesejável de um processo experimentado ou verificado. A

noção de que este algo indesejável pertence ao sujeito (diag,nóstico do sujeito) e não às características do fenômeno queocorrem nos sujeitos '(sujeito do diagnóstico) é o paradigma atra,vés do qual se estruturou invariavelmente a avaliação psicoló,gica tanto do ponto de vista teórico quanto metodológico.

4. O campo de atuação do psicólogo deve se orientar pelo objetode trabalho da psicologia - os fenômenos e processos psicológi'cos, no sentido de: a) atender e superar necessidades e, proble,mas humanos; b) aperfeiçoar a ciência psicológica,propo~cio'nando saltos de qualidade na construção do conhecimento.

5. O conhecimento acerca dos fenômenos psicológicos produzi,dos no campo de conhecimento designado como AvaliaçãoPsicológica só se toma acessível se se transforma em conduta

social e profissional dos psicólogos. Grande parte dos proble,mas que enfrentamos na atualização e capacitação dos profis,sionais, nesse campo, deriva do fato de que o conhecimentoobtido na atividade de trabalho dos psicólogos não é dissemi,nado na própria comunidade profissional, contribuindo para areprodução de técnicas desatualizadas e ao uso de procedi,mentos intuídos, sem o necessário campo de confrontação deresultados; isso significa que os psicólogos devem sair da suacondição de zeladores! de um certo conhecimento técnico,pautado nos problemas emergenciais do trabalho profissional(as demandas específicas), para buscar novos conhecimentos

1. A palavra zelador está aqui empregada para designar uma atitude de zelo privatista doconhecimento que cada psicólogomantém em sua prática profissional,com raros níveisde confrontação entre seus pares, seja na sistematização contínua dos resultádosalcançados, seja no enfrentamento da problematização desses mesmos resultados.

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e ampliar o seu grau e percepção sobre o diagnóstico de pro,blemas psicológicos. A história da avaliação psicológica noBrasil nos mostra que, fora algumas exceções, o psicólogo man,teve uma distância acentuada da pesquisa e do tratamentoadequado das informações geradas pelos diversos tipos depsicodiagnósticos realizados. O resultado disso tem sido o usode um discurso e de uma linguagem escrita com menor rigor ecoerência téorico,técnica, revelando a dificuldade de desen,volver uma prática suportada pelo aperfeiçoamento intelectu,aI de investigação de eventos psicológicos.Do ponto de vista deontológico (o dever, ser de um conheci,

mento, normalmente pautado pelo plano da moral e da ética doscomportamentos individuais), os profissionais da avaliação psico,lógica tendem normalmente a problematizarem a sua atuação emtorno de dois níveis morais:

a) na sua atuação como reguladores de conflitos entre oco'nhecimento oriundo das técnicas e das teorias de suporte e a com,plexidade dos eventos psicológicos percebidos na prática;

b) na necessidade de preservar o sigilo e a guarda de informa,ções acerca da intimidade dos indivíduos. Podemos dizer que, naverdade, um dos principais problemas éticos, com repercussão di,reta e indireta sobre os indivíduos, é a atuação tipicamentereprodutivista dos avaliadores psicológicos (o chamado tecnicismo,uma visão de que o conhecimento está pronto e cabe aos profissio,nais encontrarem as técnicas mais acessíveis e correspondentes aoseu suporte teórico,metodológico, capazes de responder a situa,ção sob análise).

A questão ética que está sendo colocada é que os psicólogosdevem se orientar pelo aprimoramento da ciência psicológica, e istosignifica investimento e compromisso pessoal com a construção doconhecimento, que se dá através da permanente revisão das infor,mações produzidas pela prática profissional, da discussão qualifica,da em eventos científicos, da atualização dos instrumentos e técni,cas de diagnóstico e intervenção utilizadas e, principalmente, dapublicação dos resultados produzidos. Tudo isso, cria o campo deconfrontação necessário a problematização e a sistematização doconhecimento sobre os fenômenos e processos psicológicos.

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REFERÊNCIAS BmLIOGRÁFIcAS

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