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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO COPPEAD DE ADMINISTRAÇÃO NICOLLE FICHE SEABRA KAUFFMANN DO NASCIMENTO O processo de internacionalização de uma empresa brasileira do setor de cosméticos: O caso Embelleze RIO DE JANEIRO 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO COPPEAD DE ADMINISTRAÇÃO

NICOLLE FICHE SEABRA KAUFFMANN DO NASCIMENTO

O processo de internacionalização de uma empresa brasileira do

setor de cosméticos: O caso Embelleze

RIO DE JANEIRO

2014

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NICOLLE FICHE SEABRA KAUFFMANN DO NASCIMENTO

O PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO DE UMA

EMPRESA BRASILEIRA DO SETOR DE COSMÉTICOS: O

CASO EMBELLEZE

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em Administração,

Instituto COPPEAD de Administração,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

requisito parcial à obtenção do título de Mestre

em Administração.

Orientador: Prof. Renato Cotta de Mello

Rio de Janeiro – RJ

2014

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Nascimento, Nicolle Fiche Seabra Kauffmann do Nascimento.

O processo de internacionalização de uma empresa brasileira do setor de cosméticos: o caso Embelleze / Nicolle Fiche Seabra Kauffmann do Nascimento. -- Rio de Janeiro: UFRJ/ COPPEAD, 2014.

110 f. : il.

Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto COPPEAD de Administração, Rio de Janeiro, 2013.

Orientador: Prof. Dr. Renato Cotta de Mello

1. Negócios Internacionais. 2. Marketing Internacional. 3. Administração – Teses. I. Mello,

Renato Cotta de. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Pós- Graduação em

Administração. III. Título.

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NICOLLE FICHE SEABRA KAUFFMANN DO NASCIMENTO

O processo de internacionalização de uma empresa brasileira

do setor de cosméticos: o caso Embelleze.

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em

Administração, Instituto COPPEAD de Administração da Universidade

Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à

obtenção do título de Mestre em Administração.

Aprovada em 11 de junho de 2014, por:

__________________________________________________________________________

Renato Cotta de Mello, D.Sc. - COPPEAD/UFRJ

__________________________________________________________________________

Ariane Cristine Roder Figueira, D. Sc. – COPPEAD/UFRJ

__________________________________________________________________________

Jorge Carneiro, D. Sc. – IAG/PUC

RIO DE JANEIRO

2014

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Dedico este trabalho aos meus avós,

Seabra e Marlene.

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AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer primeiramente àqueles dos quais também dedico este trabalho, meus

avós. Sem o amor incondicional, o apoio emocional e financeiro e sem o gesto de me ceder, por

todo esse período, o apartamento no qual residi durante o mestrado, nada disso seria possível.

Meus pais e irmã também me deram o alicerce que me foi essencial para me manter firme nesse

processo e jamais desistir, independente dos percalços que aparecessem pela frente. Agradeço

pelas idas e vindas de e para Brasília, pelo suporte enquanto estive em Milão, por acreditarem

no meu potencial e me apoiarem nos meus sonhos. Agradeço pelo dia a dia desde a infância e

pela compreensão no momento de distância, agradeço também por respeitarem as diversas

vezes que não dei notícia, nem atendi o celular durante os estudos no Coppead. Agradeço a

vocês por tudo.

Agradeço às minhas amigas Sarah, Gabi e Raquel por manterem o nosso grupo vivo e unido

mesmo que à distância. O uso do WhatsApp nunca foi tão necessário como nesses pouco mais

de dois anos. Agradeço à Nina, amiga de infância e parceira de vida por estar sempre junto

comigo e me apoiando nas minhas decisões. Agradeço à Mari e Amanda por serem minhas

referências do Ensino Médio e minhas terapeutas de plantão.

Sou muito grata também ao COPPEAD como instituição, por ter me acolhido e me ensinado

de uma forma diferente, desafiadora e por vezes muito agradável. Agradeço aos professores

pela dedicação e auxílio nos momentos difíceis. Agradeço, particularmente, ao meu orientador

pela enorme paciência durante esse processo. E, principalmente, agradeço às pessoas que o

COPPEAD trouxe para a minha vida.

Se não fossem essas pessoas para me acompanhar durante a minha adaptação ao rio, nos

trajetos intermináveis de volta da COPPEAD, nas saídas noturnas e nas estadas em casa para

estudos de virar noite, não sei como isso seria possível. Aqui encontrei um grupo de “Elite”.

Em especial, agradeço à Lara, que, assim como eu, veio de outro estado e acabou tornando-se

uma grande amiga e até mesmo roommate e a quem espero ser amiga para vida toda.

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RESUMO

NASCIMENTO, Nicolle Fiche Seabra Kauffmann do. O processo de internacionalização de

uma empresa brasileira do setor de cosméticos: o caso Embelleze. Rio de Janeiro, 2014.

Dissertação (Mestrado em Administração) – Instituto COPPEAD de Administração,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014.

O presente estudo tem como objetivo analisar o processo de internacionalização da empresa

brasileira do setor de cosméticos Embelleze. Esse setor vem ganhando destaque nos últimos

anos pelo seu crescimento e seus números expressivos, só em 2013 foram gastos U$454,1

bilhões de dólares no mundo em seus produtos. Para entender o caso da Embelleze, foram

utilizadas como base para sua análise as teorias econômicas (Ciclo de Vida do Produto,

Vantagens da Multinacional e Paradigma Eclético de Dunning) e as comportamentais (Modelo

Uppsala e Teoria de Networks). O intuito dessa análise era avaliar quais os motivadores de

entrada no mercado internacional de uma empresa desse setor, como foi desenvolvido esse

processo de internacionalização e qual a importância das redes de relacionamentos nisso. O

método escolhido foi o estudo de caso único, escolhido por ser um método qualitativo capaz de

responder as questões apresentadas sobre o “como” e o “porquê” realizar a internacionalização

de uma empresa. Para a obtenção dos dados foram feitas entrevistas em profundidade com o

diretor executivo de comércio exterior da empresa e principal responsável pela sua

internacionalização, além da coleta de dados secundários em relatórios de sites e documentos

especializados no setor. Como resultado obteve-se uma maior influência dos aspectos da

perspectiva comportamental como motivador de entrada, sendo assim itens como conhecimento

por meio de experiência, importância dos relacionamentos de parceria e menor distância

psíquica tiveram destaque no processo de internacionalização. As teorias econômicas também

apresentaram uma congruência com o tema, mas apareceram de forma mais involuntária na

entrada dos mercados e de forma mais estratégica na sua manutenção. Outros destaques foram

o valor dado à conveniência, à inovação e à percepção de oportunidades para

internacionalização nesse setor.

Palavras-chaves: Internacionalização de empresas, setor de cosméticos, teorias econômicas,

teorias comportamentais.

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ABSTRACT

NASCIMENTO, Nicolle Fiche Seabra Kauffmann do. O processo de internacionalização de

uma empresa brasileira do setor de cosméticos: o caso Embelleze. Rio de Janeiro, 2014.

Dissertação (Mestrado em Administração) – Instituto COPPEAD de Administração,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014.

The present study aims to analyze the internationalization process of a Brazilian company in

the cosmetics industry Embelleze. This sector has been gaining attention in recent years for its

growth and its significant numbers only in 2013 U.S. $ 454.1 billion dollars were spent

worldwide in their products. To understand the case of Embelleze, were used as the basis for its

analysis the: economic theories (Product Lifecycle, Advantages of Multinational and Eclectic

Paradigm of Dunning) and behavioral theories (Uppsala Model and Theory of Networks). The

purpose of this analysis was to assess which drivers of international market entry of a company

in that sector, as this process of internationalization and the importance of developing social

networks in this business. The method chosen was the single case study, chosen to be a

qualitative method capable of answering the questions posed about the "how" and "why" works

in the internationalization of a firm. To obtain the data, in depth interviews were conducted

with the executive director of external commerce of the company and primarily responsible for

its internationalization, beyond the collection of secondary sites in reports and documents in

specialized industry data. As a result, we obtained a greater influence of aspects of the

behavioral perspective as a motivator input; therefore, items such as knowledge through

experience, importance of partner relationships and less psychic distance were highlighted in

the internationalization process. Economic theories also showed congruence with the theme,

but appeared more involuntarily in input markets and more strategically in their maintenance.

Other highlights were the value given to the convenience, innovation and perception of

opportunities for internationalization in this sector.

Keywords: Internationalization of companies, cosmetic industry, economic theories, behavioral

theories.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Lista de Figuras

Figura 1: Top 10 marcas mais valiosas do mundo em 2013. ...................................................................... 19

Figura 2: Participação do Brasil no mercado mundial ................................................................................ 22

Figura 3: Crescimento do faturamento em países selecionados entre os anos de 2012 e 2013. ................. 23

Figura 4: Faturamento Ex-Factory dos últimos 18 anos no Brasil. ............................................................. 23

Figura 5: Investimentos realizados pelas Empresas do setor de HPPC ...................................................... 25

Figura 6: Participação de mercado dos segmentos do setor de HPPC ........................................................ 26

Figura 7: Participação geral da categoria de produtos para cabelos. .......................................................... 27

Figura 8: Categorias das empresas no projeto Beautycare Brazil ............................................................... 32

Figura 9: Representação esquemática do mecanismo do ciclo do produto ................................................. 36

Figura 10: Representação esquemática da cadeia de estabelecimento de firma no exterior ....................... 42

Figura 11: Representação do mecanismo básico de internacionalização – Aspectos de mudança e de

estado .......................................................................................................................................................... 44

Figura 12: Modelo do processo de internacionalização Business Network ................................................ 61

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Lista de quadros

Quadro 1 – Variação anual do PIB, indústria e setor..................................................................................19

Quadro 2 – Variação anual dos índices de preço no Brasil.........................................................................23

Quadro 3 – Balança comercial do HPPC.....................................................................................................27

Quadro 4 – Principais países para quem o Brasil exporta produtos HPPC.................................................28

Quadro 5 - Principais países dos quais o Brasil importa produtos HPPC...................................................29

Quadro 6 – Publicações do EnANPAD analisadas por ano........................................................................48

Quadro 7 – Resumo dos trabalhos selecionados.........................................................................................51

Quadro 8 – Resumo das principais teorias estudadas no trabalho..............................................................61

Quadro 9 - Linha do Tempo do Processo de Internacionalização da Embelleze.......................................89

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABHIPEC - Associação Brasileira Da Indústria De Higiene Pessoal, Perfumaria E Cosméticos

ANPAD - Associação Nacional De Pós-Graduação E Pesquisa Em Administração

ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária

APEX - Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos

COMEX – Comércio De Mercado Externo

CVP – Ciclo De Vida Do Produto

EUA – Estados Unidos da América

FMI – Fundo Monetário Internacional

IDE – Investimento Direto No Exterior

HPPC – Produtos De Higiene Pessoal, Perfumes E Cosméticos

PME – Pequena e média empresa

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 14

1.1 OBJETIVO DO ESTUDO .......................................................................................................... 15

1.2 RELEVÂNCIA DO ESTUDO .................................................................................................... 15

1.3 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO ................................................................................................. 16

2 A INDÚSTRIA DE BELEZA E O SETOR DE COSMÉTICOS NO BRASIL E NO MUNDO 18

2.1 O BRASIL E O SETOR DE COSMÉTICOS ............................................................................. 20

2.2 OS SEGMENTOS DO SETOR DE HPPC ................................................................................. 26

2.3 EXPORTAÇÃO E IMPORTAÇÃO ........................................................................................... 28

2.4 ATUAÇÃO DA ABIHPEC NO SETOR .................................................................................... 31

3 REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................................................ 34

3.1 TEORIAS ECONÔMICAS .............................................................................................................. 34

3.1.1 Teoria do Ciclo de Vida do Produto (Vernon, 1966) ............................................................ 35

3.1.2 Teoria das Vantagens da Multinacional (Rugman,1979) ..................................................... 37

3.1.3 Paradigma Eclético de Dunning ............................................................................................. 38

3.2 TEORIAS COMPORTAMENTAIS ................................................................................................. 40

3.2.1 O modelo de Uppsala (1977) ................................................................................................... 41

3.2.2 Estudos Realizados sobre a Aplicabilidade do Modelo de Uppsala em Empresas

Brasileiras .......................................................................................................................................... 50

3.2.3 Críticas ao modelo original de Uppsala ................................................................................. 54

3.2.4 Teoria de Networks .................................................................................................................. 56

3.2.5 Modelo de Uppsala Revisado .................................................................................................. 58

4 METODOLOGIA ............................................................................................................................. 64

4.1 O PROBLEMA DE PESQUISA ................................................................................................. 64

4.1.1 As perguntas de pesquisa ................................................................................................. 64

4.2 MÉTODO DE PESQUISA ......................................................................................................... 65

4.3 PROCEDIMENTOS DE COLETA E ANÁLISE DE DADOS .................................................. 67

5 ESTUDO DE CASO ......................................................................................................................... 69

5.1. DESCRIÇÃO DA “EMBELLEZE” ........................................................................................... 69

5.1.1 Histórico ............................................................................................................................. 69

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5.1.2 O Gestor Internacional e o Atual Cenário da Embelleze .............................................. 71

5.2 PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO ...................................................................................... 75

5.2.1 Os Desafios Da Internacionalização ................................................................................ 79

5.3 O FUTURO ................................................................................................................................... 83

6 ANÁLISE ........................................................................................................................................... 85

6.1 EMBELLEZE NA PERSPECTIVA DAS TEORIAS ECONÔMICAS ..................................... 85

6.2 EMBELLEZE NA PERSPECTIVA DAS TEORIAS COMPORTAMENTAIS ....................... 88

7 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ....................................................................................... 92

7.1 CONCLUSÕES .......................................................................................................................... 92

7.2 RECOMENDAÇÕES ................................................................................................................. 95

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................................... 96

ANEXOS .................................................................................................................................................. 101

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1 INTRODUÇÃO

Em “Receita de Mulher” o aclamado poeta brasileiro Vinícius de Morais diz o que é preciso às

mulheres já em seus primeiros versos “As muito feias que me perdoem, mas beleza é

fundamental”. Se isso é machista ou não pouco importa, o importante é que a tal beleza de

Vinícius, essa que é capaz de “emudecer” os homens, é o desejo de boa parte das mulheres no

Brasil e no mundo. Infelizmente nem todas nascem com tal graça, mas é nesse momento que

surgem os truques femininos e a sua simbiose com o mercado de cosméticos.

O Brasil, apesar de ser a 7ª economia do mundo segundo o FMI (2014), é o maior mercado

mundial nos segmentos de perfumes e desodorantes e o segundo maior em vendas de produtos

para cuidados capilares. Essa preocupação, refletida em gastos, das brasileiras é comparada a

de mulheres de países desenvolvidos, como o Reino Unido, mesmo sua renda disponível sendo

muito inferior (THE ECONOMIST, 2013). Esse valor que a brasileira dá aos cuidados com sua

imagem está servindo de auxílio para a exportação não só de seus produtos do ramo cosmético,

mas da figura da mulher brasileira.

Nesse país, participante do grupo dos emergentes BRICS, já existem empresas que se destacam

no mercado interno e externo e o interesse real de grandes companhias mundiais em se firmar

no local. O exemplo da Natura, empresa nacional e 20ª marca mais valiosa de cosméticos no

mundo, é admirado e almejado pelas outras marcas nacionais que ainda estão tentando criar

uma marca ou produtos conhecidos mundialmente, como é o caso da Embelleze.

As razões de combinar o tema acadêmico de internacionalização de empresa e esse setor de

cosméticos são muitas, mas algumas se destacam. O crescimento do setor no Brasil e no mundo

(EUROMONITOR, 2014), as diferentes percepções de importância de seus subsegmentos

contrastadas pelo valor da imagem do país (THE ECONOMIST, 2013), os poucos estudos

feitos nesse setor (JONES, 2010) e essa combinação rara de teorias acadêmicas em um estudo

brasileiro (OGASAVARA, MASIERO; 2009); são motivos suficientes para valorizar tal

pesquisa.

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1.1 OBJETIVO DO ESTUDO

O propósito deste trabalho é examinar o processo de internacionalização da empresa brasileira

Embelleze, atuante no setor de cosméticos, com o foco no seu processo de expansão

internacional sob a ótica das teorias econômicas e comportamentais, dando ênfase às

proposições presentes na Teoria do Ciclo de Vida do Produto de Vernon (1966), na Teoria das

Vantagens da Multinacional de Rugman (1979, 1981), no Paradigma Eclético de Dunning

(1980), na Teoria de Networks e no Modelo de Uppsala. Além disso, procura-se observar se

existe alguma influência do governo brasileiro nesse tipo de processo.

O estudo teve como ponto de partida a seguinte pergunta: Como vem ocorrendo o processo de

internacionalização da Embelleze e qual o poder explanatório de teorias econômicas

selecionadas, da Teoria de Networks e do Modelo Uppsala para esse fenômeno em particular?

Tendo essa pergunta como base, foram criadas três questões específicas a serem respondidas ao

final do trabalho:

a. Quais as principais motivações que levaram uma empresa do setor de cosméticos

brasileiro a ingressar no mercado internacional?

b. Como se desenvolveu a entrada no mercado internacional da empresa em seu

primeiro movimento para o exterior? E nos movimentos subsequentes?

c. Qual a importância das redes de relacionamento para essa internacionalização?

Como elas foram estruturadas?

1.2 RELEVÂNCIA DO ESTUDO

Esse estudo apresenta relevância tanto na área acadêmica quanto na gerencial. Com relação a

academia, esse trabalhou buscou envolver duas vertentes teóricas sobre o processo de

internacionalização, a econômica e a comportamental, e contrastar a importância apresentada

por cada uma em relação ao caso em questão.

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Dentre os estudos brasileiros, nenhum previamente utilizou dessa combinação de teorias para

avaliar esse processo. As teorias mais utilizadas por eles são o modelo Uppsala original (1977)

dos autores Johanson e Vahlne, além do paradigma eclético de Dunning (OGASAVARA;

MASIEIRO, 2009), atualmente consideradas ultrapassadas por alguns autores (BELL, 1995;

HEDLUND; KVERNELAND, 1985).

Uma vantagem desse trabalho foi ter feito uma avaliação de forma evolutiva no referencial

teórico, acompanhando o desenvolver desse modelo comportamental (Uppsala) e suas críticas,

assim sendo capaz de analisar o caso da empresa Embelleze pelos ângulos mais atuais,

comparando também com os modelos clássicos econômicos e comportamentais.

Como relevância gerencial, o setor dos cosméticos vem ganhando importância no Brasil e no

mundo. O Brasil hoje ocupa a terceira posição em faturamento mundial nesse mercado, atrás

apenas dos Estados Unidos e da China (EUROMONITOR, 2014). Conhecer o setor, seus

principais segmentos, seu público consumidor, suas marcas mais vendidas e a distribuição de

seus mercados, é essencial para auxiliar na tomada de decisão de gestores desse mundo que

envolve os cosméticos.

Ademais, na análise do caso, será possível perceber a importância dos aspectos

comportamentais da empresa e do gestor. Também como o conhecimento de mercado e a

postura com relação ao risco pode influenciar nas tomadas de decisões das organizações e no

impacto financeiro que isso gera.

1.3 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO

O presente trabalho foi realizado através de uma pesquisa de caráter qualitativo, um estudo de

caso único, no qual se buscou entender o processo de internacionalização da empresa

Embelleze, que atua no mercado de cosméticos. Para isso, foram realizadas entrevistas com

executivos da empresa no Brasil e realizada coleta de dados de diversas fontes secundárias,

como relatórios, jornais e sites da internet, de forma a minimizar possíveis vieses tanto dos

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entrevistados quanto do entrevistador, bem como diminuir a dependência da memória dos

entrevistados.

Por se tratar de um estudo de caso único, os achados desta pesquisa não podem ser

generalizados para a população, mas permitem que a complexidade do processo de

internacionalização da empresa seja descrito em sua profundidade e que sejam levantadas

questões que possam inspirar estudos de cunho quantitativo no futuro.

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2 A INDÚSTRIA DE BELEZA E O SETOR DE COSMÉTICOS

NO BRASIL E NO MUNDO

Antes de discorrer sobre os dados do setor no Brasil e no mundo, esta seção se iniciará

mostrando do que se trata o negócio que envolve a beleza e o porquê da sua importância cada

vez maior no cenário do consumo mundial.

A beleza é uma característica, que segundo filósofos gregos como Pitágoras, também pode ser

chamada de harmonia. A busca pela simetria, pela perfeição, pelo que é belo e harmônico não é

restrita a um país ou a um indivíduo, mas do interesse de pessoas por todo o mundo. Talvez por

isso seja um dos setores da economia com maior crescimento atualmente no mercado global. A

internacionalização desse mercado faz com que hoje as classes mais baixas, como C e D,

também tenham acesso aos seus produtos.

Esse mercado também vem ganhando maior visibilidade acadêmica nos últimos anos (CAVES,

2000; PINHO; JONES, 2006; JONES, 2010; JONES, 2011). Contudo, ainda existem poucas

pesquisas acerca do tema, tendo em vista que seus produtos fazem parte do consumo da

sociedade desde antes da revolução industrial, com essências e cremes provenientes de plantas,

ervas e flores (JONES, 2010).

A importância dessa atual indústria da beleza pode ser vista em seus números. Consumidores

do mundo inteiro gastaram cerca de U$454.1 bilhões de dólares1 em produtos de higiene

pessoal, perfumes e cosméticos (HPPC) no ano de 2013 (Euromonitor, 2014). Em seu livro,

Jones (2010) escreveu que “beleza é certamente uma das mais lucrativas indústrias das

Américas, logo atrás das farmacêuticas e das indústrias de software e bem à frente dos demais”.

Como foi dito anteriormente, essa é uma indústria global, entretanto existem suas

peculiaridades locais. Os grandes lugares símbolos da beleza são Paris (França) e Nova Iorque

(EUA), o que pode justificar o fato das duas maiores empresas globais, L’Oréal e Procter &

Gamble (P&G), serem desses países e dominarem um quinto das vendas mundiais

1 A indústria de beleza nesse caso inclui os setores de fragrâncias, cuidados para cabelo e pele, colorantes,

cosméticos, produtos para banho, cuidados orais e cuidados para bebe. Não estão inclusos serviços, como salão de

beleza, produtos medicinais e cirurgias plásticas, inclusive botox.

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(Euromonitor, 2010). Na figura 1, podem ser vistas as 10 marcas mais valiosas no ramo de

cosméticos e perceber a predominância desses dois países no topo do ranking. A única marca

brasileira presente no ranking das top 50 marcas é a Natura, que ocupa o 20º lugar.

Figura 1: Top 10 marcas de cosméticos mais valiosas do mundo em 2013 e a brasileira Natura.

Posição Marca País sede Valor da marca (em milhões de dólares)

1 Olay EUA 11,709

2 L'Oréal França 8,696

3 Neutrogena EUA 6,940

4 Nivea Alemanha 5,843

5 Lancôme França 5,508

6 Avon EUA 5,169

7 Dove

Reino Unido

4,242

8 Estée Lauder

EUA 3,870

9 Biore Japão 3,378

10 Christian Dior

França 2,942

20 Natura Brasil 1,849

Fonte: Brandirectory, 2013.

Uma das razões da marca Natura ocupar espaço de destaque entre as marcas globais é o fato de

que ela soube se beneficiar de uma vantagem competitiva menos notada do que a abundância

de commodities do país: sua reputação por estilo (THE ECONOMIST, 2013). Pesquisas feitas

nesse mercado apontam que os consumidores mundo afora, apesar de pouco conhecimento

sobre o Brasil, possuem uma ideia positiva sobre o país e apreciam a beleza dos brasileiros. Há

também uma associação do país com as florestas tropicais e a biodiversidade, o que representa

uma vantagem para marcas como a Natura e outras que usam dos produtos naturais locais.

Os mercados consumidores de cada país também têm diferenças entre si que devem ser levadas

em consideração. Enquanto a Europa prioriza os produtos de perfumaria e de pele, os Estados

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Unidos focam mais na venda de maquiagem. Já no caso da Ásia os cuidados com a pele

representam 40% do seu mercado, quatro vezes o número do segmento de maquiagem (JONES,

2010). O Brasil, por exemplo, tem seu maior segmento nos produtos voltados para o cabelo

(Abhipec, 2012).

2.1 O BRASIL E O SETOR DE COSMÉTICOS

Colocando o foco no Brasil, observa-se que esse setor de higiene pessoal, perfumaria e

cosméticos (HPPC), também conhecido como indústria da beleza (JONES, 2010), é um dos que

mais cresce no país se compararmos com o de crescimento médio da indústria e do PIB

brasileiro em 2013 (CNI, 2013). Não só nessas mais recentes previsões, mas nos últimos anos o

país também tem apresentado baixos índices de crescimento e mesmo assim o setor de HPPC

vem mantendo um crescimento médio de 9,8% a.a., contra 3% do PIB e 2,2% da indústria em

geral (IBGE; BC; ABIHPEC, 2014). No Quadro 1 estão apresentados os dados dessas três

variáveis (PIB, indústria geral e setor deflacionado) dos últimos dezoito anos.

Em comparação com o mercado mundial, o Brasil ocupa a terceira posição no ranking desde

2006, com aproximadamente 10% de market share, ficando atrás apenas de Estados Unidos e

China (Euromonitor, 2014), veja na Figura 2. Até o ano de 2013, era o Japão quem estava em

segundo lugar, mas no final de 2013 já ocupava a 4ª posição graças a desaceleração de seu

mercado e ao crescimento rápido chinês. A 3ª posição mantida pelo Brasil é resultado do

crescimento do consumo doméstico, cujas vendas sextuplicaram em valor, no período

compreendido entre os anos de 1996 e 2011 (Abihpec2, 2012).

2 A sigla ABIHPEC é referente à Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos,

que representa o setor fabricante desses produtos nacional e internacionalmente pautada pela defesa das Boas

Práticas de Fabricação, resguardando a segurança dos consumidores.

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Quadro 1: Variação anual do PIB, indústria e setor

Fonte: IBGE - Banco Central – ABIHPEC- Deflator: Índice IPC FIPE Higiene e Beleza, 2014.

Com um faturamento superior a US$ 43 bilhões em 2013 (preços ao consumidor), o que

equivale a 1,7% do PIB, o Brasil registrou um crescimento percentual de 2,7% nesse ano. Esse

número é superior à taxa de crescimento mundial (1,7%). Os dados são de levantamento do

Instituto Euromonitor (2014), como mostrado na Figura 3.

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Figura 2: Participação do Brasil no mercado mundial

Valor (US$ Bi) (%) Percentual

Setor HPPC 2012 2013 Market Share Variação 2012/13

Mundo 446,7 454,1 1,7%

EUA 72,0 73,3 16,1% 1,8%

China 39,9 44,2 9,7% 10,8%

Brasil 41,8 43,0 9,5% 2,7%

Japão 47,4 39,1 8,6% -17,7%

Alemanha 18,1 19,1 4,2% 5,2%

Reino Unido 16,8 16,9 3,7% 1,0%

França 16,1 16,8 3,7% 4,2%

Rússia 14,2 14,2 3,1% 0,1%

Itália 11,9 12,2 2,7% 2,3%

México 10,0 10,8 2,4% 8,1%

Top 10 288,2 289,5 63,7% 0,4%

Fonte: adaptado de Euromonitor Internacional, 2014 (www.brazilbeautynews.com)

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Figura 3: Crescimento do faturamento em países selecionados entre os anos de 2012 e 2013.

Fonte: adaptado de Euromonitor Internacional, 2014 (www.brazilbeautynews.com)

Esse crescimento que vem sendo apresentado pelo Brasil e refletido no valor líquido de

imposto sobre vendas (“faturamento Ex-Factory”) de R$ 38 bilhões de reais em 2013 (Figura 4)

tem alguns fatores motivadores que merecem destaque (Abhipec, 2012). O acesso aos produtos

pelas classes D e E devido ao aumento de renda, a “nova” classe C consumindo produtos de

maior valor, a maior participação da mulher no mercado de vida e da vontade de permanecer

jovem e os lançamentos constantes de novos produtos são apenas alguns desses elementos que

incentivaram a expansão desse mercado.

Figura 4: Faturamento Ex-Factory dos últimos 18 anos no Brasil.

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Fonte: Panorama ABHIPEC, 2014 (P. 2)

Todavia, o Brasil não é o único mercado em expansão nesse setor. Segundo a base de dados

Market Data Analytics (MDA) do Datamonitor (2012), todos os 10 mercados em amplo

crescimento no setor de HPPC são países em desenvolvimento e apresentam circunstâncias de

mercado semelhantes. Além da expansão das classes médias e de seu poder aquisitivo, o

crescimento dos canais de varejo, a melhora da qualidade e do design de produtos e o avanço

nas tecnologias também são características comuns dessa expansão do setor nos países em

projeção, como o Brasil.

Outro fator impactante no número das vendas é o preço. Analisando a variação de preço de

produtos em geral no país, obtém-se que a o aumento médio dos preços no setor de higiene e,

principalmente, de beleza foram menores que o IGP – índice geral de preços, ou seja,

apresentaram um crescimento inferior a inflação, como pode ser observado no Quadro 2. Além

disso, nos últimos dois anos também ocorreu uma grande desvalorização do real perante ao

dólar, que ocasiona o aumento no faturamento em real no ano de 2013.

Quadro 2 – Variação anual dos índices de preço no Brasil.

Fonte: ABIHPEC, Fundação Getúlio Vargas, Fundação Instituto de Pesquisa Econômicas da Universidade de São

Paulo, 2014.

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Além disso, um outro fator que pode justificar esse crescimento do setor é a postura das

empresas do ramo perante seus investimentos em melhorias. Segundo a consultoria Booz&Co.

(Anuário ABHIPEC, 2012), a média de investimentos da indústria brasileira em pesquisa e

desenvolvimento de produtos e serviços é de 0,7% do faturamento da mesma. Ao analisarem o

setor de HPPC, essa mesma empresa de consultoria observou que a média de investimentos

chega a 2% de seu faturamento. Além disso, o investimento em ativos e marcas também vem

crescendo no setor, sendo que dos R$ 13,6 bilhões aplicados em 2012, R$ 3,3 bilhões foram em

ativos, R$ 800 milhões em pesquisa e desenvolvimento e R$ 9,5 bilhões em fortalecimento da

marca (vide Figura 5).

Figura 5: Investimentos realizados pelas Empresas do setor de HPPC

Fonte: Estudo “Por um Brasil com saúde e Mais Bonito – a contribuição do setor de Higiene Pessoal, Perfumaria e

Cosméticos para o desenvolvimento do país “(ABIHPEC/Booz & Co.). Disponível no anuário da Abhipec de 2012

(P. 112)

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2.2 OS SEGMENTOS DO SETOR DE HPPC

Depois de falar dos números de vendas do setor e das suas motivações econômicas de

consumo, é importante mostrar quais itens fazem parte desse setor e como são distribuídos.

Dentro do setor de HPPC, existem vários segmentos nos quais estão presentes diversas

categorias de produtos como: cuidados da pele, desodorante, higiene oral, maquiagem,

bronzeador/protetor solar, preparação para barbear, cabelos, fragrâncias, descartáveis e banho.

No Brasil, a maior contribuição para o faturamento de 2011 veio das subdivisões de produtos

para cabelos (colorir/descolorir, condicionadores, fixadores/modeladores, permanente/alisante,

produtos para tratamento de cabelo e xampu), que faturaram R$ 6,7 bilhões ex-factory,

correspondente a 22,8% do total do setor (vide Figura 6). Esse dado é importante para este

trabalho por ser o principal segmento da empresa estudada neste trabalho, a Embelleze.

Figura 6: Participação de mercado dos segmentos do setor de HPPC

Fonte: Dados de Mercado ABHIPEC, 2011 (P. 55)

Em comparação com o mundo, o Brasil é líder em faturamento de algumas dessas categorias. No

caso dos desodorantes, o país conquistou a liderança em 2008, já em fragrâncias/perfumaria

atingiu essa mesma colocação em 2010. Nas categorias produtos para cabelos, infantis,

masculinos, produtos para banho, depilatórios e proteção solar, manteve a segunda colocação.

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Entre as subcategorias mais significativas, o País é líder em coloração, condicionador,

permanente/alisante, protetor solar, sabonete e creme para o corpo (Euromonitor, 2012).

Como a categoria de produtos para cabelos é dominante nos mercados da América Latina (em

especial no Brasil), no Oriente Médio e na África, além de ser a única categoria de produtos da

empresa brasileira Embelleze, este produto ganhará um destaque nesta seção. O único país à

frente do Brasil (12,4% do Market Share mundial) nessa categoria de Hair Care (cuidados para

cabelo) são os EUA, mas de acordo com a Abihpec (2014) é o Brasil que vem alavancando o

crescimento nesse segmento nos últimos anos.

A categoria de cabelos é formada pelas subcategorias de produtos: shampoo, pós-shampoo,

coloração/descoloração, alisantes/permanentes/hennês e fixadores/modeladores. A subcategoria

predominante no mercado é a do pós-shampoo (condicionadores, cremes de tratamento, leave

in/on), com 41%, seguida de coloração/descoloração, com 26,9%; e de shampoo, com 25,4% de

participação. A figura 7 mostra a distribuição de vendas no Brasil entre os itens das

subcategorias.

Figura 7: Participação geral da categoria de produtos para cabelos.

Fonte: Euromonitor, 2012.

No mercado internacional, shampoos e condicionadores também se destacaram, representando

66% das vendas em 2012 (EUROMONITOR, 2012) e com perspectiva de atingir 70% até 2017.

O grande responsável apontado por esse crescimento na categoria é a ascensão da classe média.

Com o aumento da renda, os consumidores passaram a procurar benefícios de marcas de

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prestígio, usadas em salões por profissionais. As marcas TRESemme e Pantene, hoje obtém

reconhecimento no Brasil e na África graças à essa tendência.

Com relação ao lançamento de novos produtos dessa categoria destacam-se a preocupação com

os ingredientes, com o cuidado com o couro cabeludo e com o processo de produção. Segundo o

relatório internacional da Mintel (2012), 60% dos lançamentos tiveram ao menos um “apelo” ao

uso de ingredientes naturais, em especial “plantas”. Com relação ao couro cabeludo, as palavras:

caspa, queda e couro sensível foram as que mais apareceram nos lançamentos para “problemas”

no couro cabeludo. Em se tratando do processo, uma preocupação que foi observada em 12% dos

lançamentos era o uso do frase “não testado em animais”.

O Brasil não foi apenas o maior consumidor da categoria de produtos para cabelos da América

Latina, foi também seu maior responsável pelo lançamento de produtos. Dentre seus países

vizinhos, o Brasil lançou, em 2012, 46% do total de shampoo e condicionadores, seguido pelo

México, com 20%, Argentina, com 17% e Colômbia, com 9%.

2.3 EXPORTAÇÃO E IMPORTAÇÃO

Para este trabalho, é significativo analisar os dados do comércio exterior desse setor. Nos últimos

dez anos houve um crescimento acumulado de 165,3% nas exportações e de 597% das

importações de produtos de HPPC (Aliceweb, 2014). O crescimento médio anual desses últimos

dez anos foi composto por 10,2% a.a. nas exportações e 21,4% a.a. nas importações (vide

Quadro 3).

Esse setor apresentou um superávit comercial acima de US$200 milhões entre 2004 e 2008.

Todavia, com a valorização do real perante o dólar, em 2009, ocorreu uma queda de 23% que

continuou nos anos de 2010 a 2013, culminando déficit de US$412 milhões para 2013, como

pode ser observado no Quadro 3.

Quadro 3: Balança comercial do HPPC

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Fonte: Aliceweb, 2014 (retirado do panorama Abhipec 2014, p. 6)

Os principais países de destino dessas exportações brasileiras foram os da América Latina, com

destaque para os primeiros como Argentina, Chile, México e Colômbia (vide Quadro 4). Apesar

de o Brasil ter exportado para um total de 140 países, juntos os 10 maiores mercados

representam 80% das exportações brasileiras, como mostra o quadro abaixo. Os principais

produtos exportados no ano de 2013 são: produtos para cabelos (com 20,4%), lâminas e produtos

para barbear (com 18,7%) e produtos de higiene oral (com 16,1%), segundo o panorama da

ABIHPEC de 2014.

Quadro 4: Principais países para quem o Brasil exporta produtos HPPC.

Fonte: Aliceweb, 2014 (retirado do panorama Abhipec 2014, p. 8)

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Já no caso das importações, os principais países dos quais os produtos são trazidos estão

espalhados por vários continentes. No entanto, a Argentina ainda continua sendo o maior

fornecedor do mercado brasileiro, com 22,8%, especialmente devido aos desodorantes (75%

dessas importações), categoria na qual a Argentina tem maior competitividade, motivados pelo

preço e pelo gás propelente.

Dentre os outros países, temos os Estados Unidos (14,1% de Market share) com cremes para

pele representando 24,2%, o México (12,5% Market share), a França (11,2% de Market share)

com fragrâncias representando 54,2% desse volume, e a China (8,3% de Market share) com

escovas de dente representando 23,1%. No ano de 2013, o Brasil importou produtos de um total

de 59 países, os dez maiores fornecedores são expostos no Quadro 5.

Quadro 5 - Principais países dos quais o Brasil importa produtos HPPC.

Fonte: Aliceweb, 2014 (retirado do panorama Abhipec 2014, p. 9)

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2.4 ATUAÇÃO DA ABIHPEC NO SETOR

Tendo em vista esse fomento à atividade internacional desse setor, a Abhipec (Associação

Brasileira Da Indústria De Higiene Pessoal, Perfumaria E Cosméticos) em parceria com a

agência governamental, Apex-Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e

Investimentos), criaram, em 2001, a Beautycare Brazil. Esse projeto também possui o apoio da

ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial), do SEBRAE Nacional (Serviço de

Apoio à Micro e Pequenas Empresas) e do ITEHPEC (Instituto de Tecnologia e Estudos de

Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos).

Esse projeto tem o objetivo de promover a competitividade da indústria brasileira de HPPC por

meio da internacionalização. Essa iniciativa já vem dando resultados, tanto que dos US$ 775

milhões exportados pelo Brasil em 2010, US$132 milhões vieram de empresas desse programa.

Em seu início, o Beautycare Brazil centrava-se na participação em grandes feiras

internacionais, como, por exemplo, a CosmoProf (Bolonha, Itália) com o intuito de abrir as

empresas do país para o mercado internacional. A realização de Road Shows e o Projeto

Comprador também visavam essa abertura a novos contatos comerciais.

Em 2009, foi realizado um amplo projeto de reestruturação e em 2010 foi implantada a política

de segmentação das empresas com base em critérios de maturidade da capacidade de gestão

para o mercado internacional. As participantes foram agrupadas em cinco categorias conforme

o seu estágio de desenvolvimento exportador: Access, Club, Plus, Top e Special. Para cada uma

das cinco categorias o projeto oferece uma série de benefícios, conforme exposto na figura 8.

Outra característica relevante do setor, que também pode ser uma barreira ao processo de

internacionalização de suas empresas, são seus assuntos técnicos e regulatórios. A ABIHPEC

tem uma atuação fundamental nesse ramo, pois é o órgão responsável por apresentar propostas

e diretrizes que deem suporte às questões nacionais e internacionais relacionadas à vigilância

sanitária e à metrologia.

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Figura 8: Categorias das empresas no projeto Beautycare Brazil

Fonte: Abhipec, 2012 e Apex-Brasil, 2012.

O grande desafio desse tema é atender às expectativas de exportação com produtos de

qualidade, eficazes, seguros, competitivos e reconhecidos mundialmente. Manter-se atualizado

as constantes alterações das legislações sanitárias, também exige desse órgão o

desenvolvimento periódico de Manuais de orientação pautados na regularização das

organizações.

Para desenvolver tal material e estar sempre atualizada com as novas circunstâncias do setor, a

ABIHPEC participa de grupos de discussão internacionais responsáveis por elaborar as novas

regulações (PANORAMA ABIHPEC, 2014). No MERCOSUL, esse órgão atua nas reuniões

do SGT 11 “Saúde”, no SGT 03 “Regulamentos técnicos e avaliação da conformidade”. Outros

fóruns mundiais nos quais a ABIHPEC atua são: CASIC (América Latina), ICCR (grupo

formado por EUA, Japão, Canadá, Comunidade Europeia), PCPC (EUA), Cosmetics Europe

(Associação europeia para produtos cosméticos) e a ISO/TC 217 (grupo mundial de

normalização global dos produtos HPPC).

Esse foi um breve panorama da indústria de beleza e do setor de higiene pessoal, perfumaria e

cosméticos do Brasil e do mundo. O intuito era evidenciar a importância do setor, mostrando o

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seu crescimento, a coerência com o momento vivido pela ascensão das classes no Brasil e a

evolução da internacionalização dos produtos desse setor.

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3 REFERENCIAL TEÓRICO

Os estudos no campo da internacionalização vêm se intensificando ao longo dos anos, gerando

novas discussões teóricas que acompanham a evolução da complexidade de um novo mercado

global de negócios. Neste estudo, que versa sobre uma empresa do setor de cosméticos

brasileiro, as teorias comportamentais sobre o processo de internacionalização (Modelo de

Uppsala original e revisado, Teoria de Networks) predominam. Todavia, para que haja um

melhor entendimento sobre o referencial básico comum às mesmas, será feita uma breve

explanação de algumas teorias econômicas que precedem os conceitos comportamentais.

Tendo isso em vista, este capítulo está dividido em três seções. Na primeira delas estão

expostas três das teorias econômicas mais relevantes para os estudos de internacionalização, no

que diz respeito ao momento, à forma e ao local para se internacionalizar. Na segunda seção,

são introduzidas as teorias comportamentais e examina-se, de forma mais profunda, o modelo

da escola de Uppsala, demonstrando suas origens, estudos feitos no Brasil e críticas ao mesmo.

Na terceira e última seção faz-se a explanação da mais recente teoria comportamental, a teoria

de redes (ou de networks). Para finalizar o referencial, e ainda nessa seção, apresenta-se a

revisão feita em 2009 do modelo de Uppsala pelos próprios autores do artigo seminal dessa

corrente teórica (Johanson e Vahlne).

3.1 TEORIAS ECONÔMICAS

As teorias econômicas analisam o fenômeno da internacionalização a partir das concepções

teóricas dos custos de transação, localização, internalização, e vantagem monopolista

(SEIFERT JR.; MACHADO-DA-SILVA, 2004). O tipo de abordagem proposta por essas

teorias é sistematizado e estruturado, tendo como base os pressupostos de que os responsáveis

pela tomada de decisão serão influenciados pela racionalidade, sendo capazes de identificar de

forma clara os problemas a serem resolvidos, o que ficou conhecido como a visão do homem

econômico (ANDERSEN; BUVIK, 2002; ANDERSSON, 2002).

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Dentre as várias teorias econômicas existentes, foram escolhidas três com maior relação com o

tema de internacionalização e citadas por autores das teorias comportamentais (JOHANSON;

VAHLNE, 1977, 2009), são elas:

- Teoria do Ciclo de Vida do Produto de Vernon (1966)

- Teoria das Vantagens da Multinacional de Rugman (1979, 1981)

- O Paradigma Eclético de Dunning (1980)

3.1.1 Teoria do Ciclo de Vida do Produto (Vernon, 1966)

Na década de 60, Raymond Vernon estudou a internacionalização de empresas de forma a

relacionar os estágios do ciclo de vida de um produto (CVP) com as implicações de vendas e a

inserção dessas organizações em mercados externos. Em seu modelo, o autor apresenta um

gráfico (vide figura 9) que representa os três estágios de desenvolvimento do CVP (produto

novo, produto em maturação e produto padronizado) com suas correspondentes ações a serem

tomadas no campo da internacionalização desses produtos.

A base do seu modelo consiste na análise do potencial do mercado consumidor e de suas

necessidades (COELHO, 2010), com o intuito de auxiliar as decisões de gestores sobre quando

e onde investir em inovações de produtos e, consequentemente, desenhar o processo de

internacionalização da organização, tendo como influenciadores as vantagens comparativas de

custos (PESSOA; MARTINS, 2007).

No momento da introdução de novos produtos há uma necessidade primária de adaptação do

produto para o mercado selecionado como alvo e uma baixa padronização do produto. Por

esses motivos, essa fase se caracteriza por ter um grau de complexidade superior ao das outras

devido ao nível de incerteza e a dificuldade da inserção de algo novo na vida dos

consumidores. Nesse período, Vernon (1966) acredita que a empresa acaba sendo induzida a

selecionar mercados locais próximos ao público-alvo para a sua produção pelas razões de

análises de custos e facilidades de transporte.

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Figura 9: Representação esquemática do mecanismo do ciclo do produto

Fonte: Adaptado de Vernon (1966)

Na fase de maturação do produto, os desafios mudam. Nesse estágio a concorrência e o número

de produtores aumentam, a demanda fica mais sensível ao preço e com isso há uma

mobilização maior da empresa para melhorar a diversificação da produção como uma estratégia

de preservação de mercado (PESSOA; MARTINS, 2007).

Apesar da busca pela diversificação na produção, as definições de insumos, de fornecedores,

de normas técnicas para o produto abrem a possibilidade de sua padronização e

consequentemente da realização de economias de escala com a produção em massa. Essa

produção e demanda crescentes não ocorrem apenas no país de origem do produto, ou seja,

cresce também o interesse de outros países em produzir tal produto.

Nesse momento surge a dúvida se a empresa deve ou não assumir o risco de se instalar em

outro país. Essa questão envolve mais do que a ideia de expansão para novos mercados, o que

se impõe nessa etapa é uma ação preventiva da empresa para proteger seu negócio de uma

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futura perda de fluxo de rendas, buscando estabelecer-se em um novo mercado antes que seu

concorrente o faça (Vernon, 1966: 98 – 100).

A última fase do desenvolvimento do produto é a de padronização. Nessa etapa é firmada a

consolidação das características essenciais do produto e de seu mercado consumidor. Por conta

da padronização, esse é o momento de focar nos fatores de capital e na mão de obra, não tanto

em tecnologia como na fase de introdução, o essencial dessa fase é melhorar as condições de

produção.

Essa mudança influencia na decisão de localização de novos investimentos, sendo um bom

momento para países em desenvolvimento atraírem esses negócios pela sua oferta de custos de

produção mais baratos. Isso pode ser visto na onda de terceirizações de produção de grandes

empresas como a Nike para países de mão de obra barata como a China, a Índia e a Indonésia.

Em suma, a grande contribuição de sua teoria foi desenvolver um modelo gráfico (vide Figura

8) que mostrasse a articulação entre o fluxo de comércio (baseado nas vantagens comparativas

de custos) e a estratégia de localização da produção no exterior em função do estágio em que se

encontra o produto no seu ciclo de vida. Segundo Meckl e Schramm (2005), a intenção da

internacionalização pela teoria de Vernon (CVP) era proteger os mercados domésticos dos

produtos já maduros ou comoditizados, por meio de uma produção no exterior a custos mais

baixos.

3.1.2 Teoria das Vantagens da Multinacional (Rugman,1979)

Outra teoria econômica importante para o processo de internacionalização é a das vantagens da

multinacional de Rugman. A hipótese defendida por Rugman (1979) em seu livro

“International Diversification and The Multinational Enterprise” gira em torno da vantagem

que a internacionalização de uma empresa pode trazer por meio da diluição dos riscos de uma

organização.

O autor propõe que “riscos corporativos são reduzidos pela diversificação internacional e essa é

uma das razões principais para a internacionalização de uma empresa". Em sua tese, Rugman

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(1979) reconhece a importância da questão levantada por Hymer (1960, 1976) sobre a hipótese

de o mercado ser imperfeito, mas explicita seu foco na redução de riscos. Literaturas anteriores

sobre esse tema estão relacionadas ao investimento em portfólio. Rugman (1979) debate essa

visão colocando em dúvida a habilidade de acionistas em diversificar sua carteira e as restrições

inerentes a essa escolha e reforça a ideia de que há mais escopo para redução de risco por meio

de empresas multinacionais.

Para corroborar suas ideias, em seus trabalhos foram feitas análises de regressão que

apontavam para uma relação direta entre atividades internacionais e variação positiva na taxa

de retorno de capital. Com isso, Rugman (1979) construiu sua hipótese partindo do pressuposto

de que empresas que operam internacionalmente podem reduzir seus riscos, pois as variações

nas condições de mercado diferem de país para país, tornando possível a redução da variação

total do lucro líquido dessas firmas.

Sua tese é de que essa seria a razão principal para as atividades de empresas multinacionais.

Essa teoria contribuiu para a construção do que passou a ser conhecido como Paradigma

Eclético de Dunning.

3.1.3 Paradigma Eclético de Dunning

Em seu modelo, Dunning (1980) tinha a intenção de explicar o porquê de uma empresa decidir

produzir ou realizar investimentos diretos no exterior (IDE). Sua proposta parte do pressuposto

de que o mercado possui falhas, como oportunismos dos agentes econômicos, custos de

informação e especificidade de ativos, e que esses elementos conduzem a empresa a optar por

um IDE, mas para isso existem também condições e motivações para essa entrada.

Dunning (1980) observou que para uma empresa ter a propensão de se inserir no mercado

internacional seriam necessárias três vantagens ou fatores determinantes (condições) para essa

decisão, denominadas de “OLI advantages” (DUNNING, 1980).

O primeiro fator condicional é a extensão ou capacidade de suas posses, também conhecido

como vantagem de propriedade (Ownership). Nesse fator estão inseridas as capacidades

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próprias de uma empresa, os ativos tangíveis e os intangíveis como: tecnologia, conhecimentos,

marcas, informações, patentes; como alguns dos itens que as distinguem de seus competidores.

O segundo fator é a vantagem por internalização (Internalization), ou seja, a habilidade de

transferir ou vender seus ativos de propriedades para o exterior ou outras firmas. Nesse caso a

vantagem está em preservar os ativos benéficos do fator anterior, internalizando-as como parte

de suas atividades e não cedê-las por meio de licenciamento ou outros contratos para empresas

estrangeiras.

Em terceiro, verificar até que ponto é lucrativo utilizar esses ativos no mercado externo em

detrimento do mercado local, portanto nesse caso se avalia as vantagens de localização

(Localization) oferecidas por um país ou região como, por exemplo, a infraestrutura, o custo de

mão de obra, as cargas tributárias, entre outras.

Além dessas “OLI advantages”, Dunning (2000) acreditava existir quatro conjuntos de

motivações ou estratégias para a instalação de unidades produtivas no exterior.

Os conjuntos de motivação ou estratégias da organização estão bem relacionados aos fatores

condicionantes e explicam bem o que explorar depois da decisão de fazer um IDE, o primeiro

desses itens é a busca de recursos (resource seeking). Esse investimento procura explorar

vantagens locacionais de menor custo, como locais com abundância de recursos naturais, alto

nível de capacidade tecnológica, mão-de-obra barata.

A segunda estratégia é a busca por mercados (market seeking). O IDE nesse caso deve ser

voltado para atender o mercado interno do país hospedeiro e, de forma marginal, avaliar a

possibilidade de exportação para países vizinhos deste. A terceira estratégia é a busca por

eficiência (efficiency seeking), caracterizada por ser uma tentativa de racionalizar os

investimentos já executados de forma a aproveitar as vantagens de economias de escala ou

escopo, da diversificação do risco, por meio da concentração da produção para exportação em

alguns mercados específicos.

A quarta e última estratégia é a busca por capacidades (capability seeking). Nesse momento o

IDE deve ser avaliado de forma a considerar planos de longo prazo. Os estudos e ações sobre

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fusões e aquisições no mercado se tornam estratégicos, pois essas decisões podem vir a

expandir o poder de mercado e aumentar o market share da organização.

Em suma, para que uma empresa escolha trilhar o caminho da internacionalização é necessário

que essa rota faça sentido econômico, traga vantagens financeiras e gerem estratégias para o

longo prazo. Para isso, é essencial que haja vantagens adicionais de propriedades que se

sobressaiam aos custos de entrada num mercado distante e desconhecido. À isso se dá o nome

de paradigma eclético de Dunning.

O que essas três teorias econômicas tem em comum é o fato de que a disponibilidade de

informação, seja ela sobre as vantagens que a empresa possui, a identificação do estágio do

CVP ou os riscos a serem reduzidos por uma escolha de se internacionalizar, leva a uma

tomada de decisão racional e clara sobre porque, onde e quando a empresa deve

internacionalizar. Entretanto, falta a essa corrente teórica os aspectos do processo de

internacionalização, o como e em que ritmo a empresa poderia se expandir para o exterior e é

nesse ponto que entram as teorias comportamentais.

3.2 TEORIAS COMPORTAMENTAIS

As teorias econômicas focaram seus estudos no homem econômico, no qual o acesso a

informações perfeitas levam a tomadas de decisões racionais e estruturadas por meio de uma

perspectiva econômica (ANDERSSON, 2002). O importante nessas teorias era obter as

informações corretas sobre os custos de agentes externos e da utilização da própria estrutura

fora do país para optar pela alternativa que lhe fornecesse os menores valores.

Entretanto, a partir dos trabalhos de Penrose (1966) e sua visão baseada em recursos (RBV), os

estudos sobre negócios internacionais deixaram de ter uma visão estritamente econômica e

passaram a ser analisados por meio de teorias comportamentais e organizacionais. Essas

teorias, em contrapartida, visam o homem comportamental, ou seja, incluem aspectos

individuais dos gestores como conhecimentos, atitudes, percepções sobre o ambiente de

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negócios (mundo, mercado, concorrentes) e expectativas (ANDERSSON, 2002; VIANNA;

GALLINDO, 2012).

Essa corrente teórica comportamental ganhou força na década de 70 graças, principalmente, aos

modelos de internacionalização desenvolvidos pela Escola de Uppsala (JOHANSON;

VAHLNE, 1977, 1990, 2009). Portanto, nas próximas seções serão apresentadas: o modelo

original da escola de Uppsala, as críticas a esse trabalho, a aplicação do modelo em empresas

brasileiras e o modelo revisado da mesma teoria. Em um segundo momento também será

apresentado a teoria de redes.

3.2.1 O modelo de Uppsala (1977)

Este modelo é baseado em observações empíricas de estudos da Universidade de Uppsala, na

Suécia, onde temos o que hoje é conhecido como: Escola Nórdica de Negócios Internacionais.

O modelo original de Johanson e Vahlne (1977) é baseado também na teoria comportamental

da firma (CYERT; MARCH,1963) e na teoria do crescimento da firma de Penrose (1966).

Esses estudos empíricos supracitados mostraram que empresas suecas frequentemente

desenvolvem suas operações internacionais em ritmo de pequenos passos ao invés de realizar

grandes investimentos internacionais de uma só vez. Esse fenômeno dá ideia de eventos

graduais, que se estabelecem em cadeia, e é esse é um dos pilares do modelo Uppsala, que foca

seu trabalho no processo de internacionalização da firma.

As preposições básicas desse modelo são: a falta de conhecimento sobre os mercados externos,

como um obstáculo importante no desenvolvimento de operações internacionais; e o fato do

conhecimento necessário poder ser adquirido, principalmente, por meio de experiência, ou seja,

através de operações no exterior. Estudos anteriores também mostraram que a ordem dos

eventos de estabelecimento em um novo país parece estar relacionada com a distância psíquica

entre esses países (HÖRNELL; VAHLNE; WIEDESHEIN-PAUL, 1972).

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Tendo isso em vista, os autores Johanson e Vahlne (1977) encontraram dois caminhos possíveis

para análise do processo de internacionalização de uma firma. O primeiro sendo por meio do

aumento do envolvimento ou comprometimento da empresa com um país estrangeiro

específico (cadeia de estabelecimento dentro de um país); e o segundo sendo o estabelecimento

sucessivo de operações em novos países (escolha de novos mercados).

Quando se fala em internacionalização de uma empresa destaca-se as tomadas de decisões

referentes à: começar a exportação para um país, estabelecer canais de exportação, iniciar

subsidiárias de vendas locais, entre outras. É importante também deixar claro que nessa

proposição seminal do modelo de Uppsala desenvolvido por Johanson e Vahlne (1977) não são

levadas em consideração o estilo ou a mentalidade do tomador de decisão, pois o modelo foca

nos pontos comuns da maioria das decisões de internacionalização tomadas por grandes

empresas suecas. Portanto, esse é um modelo considerado limitado e sem intenção de ter

representatividade estatística, fatos que o levaram a posteriores contestações que serão

analisadas no tópico de críticas.

Acerca do envolvimento em um novo país por uma empresa, os autores acreditam que isso se

dá em forma de etapas. Essa chamada “cadeia de estabelecimento” a que os autores se referem

é basicamente o caminho feito em todos os nove casos de internacionalização estudados por

Hörnell e Vahlne (1972), como pode ser verificada na Figura 10.

O padrão observado nesses casos foi uma evolução gradual, com a qual os autores propuseram

quatro estágios de desenvolvimento: atividades de exportação irregulares, atividades de

exportação por meio de representantes ou agentes externos, estabelecimento de uma subsidiária

de vendas no local e a produção/manufatura no local. Johanson e Wiedersheim-Paul (1975)

reconhecem que nem todas as organizações seguem os quatro estágios, como é o caso das mais

recentes Born Globals ou empresas de muitos recursos, que podem pular os estágios iniciais.

Figura 10: Representação esquemática da cadeia de estabelecimento de firma no exterior

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43

Fonte: Elaborado pela própria autora, baseado nos estudos de Hörnell e Vahlne (1972).

Apesar dos autores e da maioria dos estudos terem sido realizados em companhias suecas,

estudiosos americanos também relataram fenômenos de estabelecimento gradual em empresas

americanas (BILKEY, 1978; BILKEY; TESAR, 1977). Knickerbocker (1973), Lipsey e Weiss

(1969) observaram etapas distintas do processo de internacionalização, distinguindo as fases do

agente e da subsidiária, porém sem entrar de forma muito aprofundada em sua investigação.

O segundo ponto levantado por Johanson e Vahlne (1977) traz à luz os influenciadores do

modo de entrada das firmas no mercado externo, levando em conta como eles escolhem o país.

Um dos destaques como motivador de escolha é a distância psíquica, que pode ser definida

como “... a soma de fatores que previnem o fluxo de informação de e para um mercado.

Exemplos desses fatores são as diferenças linguísticas, educação, práticas de negócios, cultura

e desenvolvimento industrial” (HÖRNELL; VAHLNE; WIEDESHEIN-PAUL, 1972;

JOHANSON; WIEDESHEIN-PAUL, 1975, p. 307). Essa é uma das principais barreiras que

firmas com o desejo de se internacionalizar precisam superar e para isso é necessário que se

compreendam as razões para uma internacionalização e que tenham o conhecimento e o

comprometimento essenciais para tal. Baseado nessa ideia de escolha de países por influência

da avaliação da distância psíquica e do comportamento de estabelecimento internacional dentro

de um país no nível operacional, Johanson e Vahlne (1977) desenvolvem a teoria que dá

origem ao modelo original de Uppsala.

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Segundo Rocha e Almeida (2006), o modelo de Uppsala observou o contexto de mudanças no

mundo dos negócios e teve como ponto de partida as incertezas e os obstáculos,

particularmente a falta de conhecimento e de recursos das empresas, provenientes das

negociações entre diferentes países. Portanto, os autores (JOHANSON; VAHLNE, 1977)

criaram tal modelo de forma a estruturar os principais aspectos que envolvem o processo de

internacionalização. Nesse modelo há duas variedades de aspectos: de estado e de mudança

(vide figura 11).

Figura 11: Representação do mecanismo básico de internacionalização – Aspectos de mudança

e de estado

Fonte: Modelo traduzido e adaptado de Johanson e Vahlne (1977), p. 37.

Os aspectos de estado são o comprometimento de recursos com mercados externos e o

conhecimento sobre o mercado e suas operações no exterior. Os aspectos de mudança são

referentes às decisões de comprometimento de recursos e ao desempenho das atuais atividades

Conhecimento de Mercado

Comprometimento de Mercado

Decisões de Comprometimento

Atividades Atuais do Negócio

Aspectos de Estado

Aspectos de Mudança

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de negócios. Nesse modelo ambos os aspectos de estado afetam os dois de mudança e vice-

versa.

O modelo assume que o estado de internacionalização afeta as percepções de oportunidades e

riscos e, consequentemente, acaba por influenciar as decisões de comprometimento e as atuais

atividades da empresa. Nesse modelo, parte-se do pressuposto que a firma busca a baixa

propensão ao risco e o lucro no longo prazo, o que equivale ao crescimento da firma de acordo

com Williamson (1966).

Para que fique claro o que significa essa estrutura do modelo, é necessária a compreensão de

cada item dos aspectos de estado e mudança. Dentro do aspecto de estado temos o item

comprometimento de mercado constituído por dois fatores principais. O primeiro fator é a

quantidade de recursos comprometidos, ou seja, o tamanho do investimento; e o segundo é o

nível desse comprometimento, que consiste no grau de dificuldade de se encontrar utilidade

alternativa para tais recursos. Em suma, comprometimento pode ser definido como “o produto

do tamanho do investimento multiplicado pelo seu grau de inflexibilidade” (JOHANSON;

VAHLNE, 2009, p.1412).

Outro item fundamental para o funcionamento do modelo é o conhecimento de mercado. Esse

aspecto é essencial, pois para o início das decisões de comprometimento é necessário o

conhecimento das oportunidades e riscos de tais operações; e a avaliação das possíveis

alternativas de negócio, que é baseada nos conhecimentos relevantes sobre aquele ambiente de

negócios. Comumente esse conhecimento está relacionado:

“À demanda e ao fornecimento no presente e no futuro, à competição e a canais de

distribuição, às condições de pagamento e à transferibilidade do dinheiro, sendo que essas

coisas variam de país para país, de tempos em tempos”. (Carlson, 1974)

O conhecimento também pode ser diferenciado quanto à sua classificação. De acordo com

Penrose (1966), o conhecimento depende da maneira pela qual ele é adquirido. Os dois tipos

observados de conhecimento são: o conhecimento objetivo, que é técnico e pode ser facilmente

ensinado e transmitido para outras pessoas; e o conhecimento por experiência, que só pode ser

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adquirido pela vivência, pois produz uma mudança interna no indivíduo e não pode ser

separada dele.

Autores mais recentes e de outras áreas do conhecimento, como Pine II e Gilmore (1998) da

área de experiência em serviços, classificam a experiência como “essencialmente pessoal e

existente apenas na mente do indivíduo”. Os autores do modelo de Uppsala (JOHANSON;

VAHLNE, 1977) valorizam esse tipo de conhecimento, principalmente em atividades menos

estruturadas e indefinidas, pois esse tem a capacidade de fornecer um framework que auxilie na

percepção e formulação de novas oportunidades de maneira mais concreta.

Outra classificação atribuída ao conhecimento se subdivide em: geral e específico do mercado.

O conhecimento geral se refere a métodos de marketing e características do comportamento do

consumidor, independentemente da sua localização geográfica, mas dependentes de

similaridades do processo de produção. No caso do conhecimento específico, entender de

assuntos específicos do mercado nacional, ou seja, característicos de sua região, é o que o

define. Esses assuntos específicos podem variar, tendo como exemplos: padrões culturais,

ambiente de negócios, forma de negociação, estrutura do mercado, e, principalmente,

características particulares dos consumidores locais.

Ao fazer uma análise dos quatro tipos apresentados de conhecimento: objetivo, por experiência,

geral e específico; pode-se observar uma ligação entre eles. Andersen (1993) coloca que o

conhecimento específico de mercado deve ser adquirido por meio de experiências vivenciadas

no exterior, por outro lado o conhecimento objetivo de operações e métodos pode ser passado

de um país para o outro, na forma de conhecimento geral, o que facilita o crescimento lateral da

empresa. Ambos esses conhecimentos são essenciais para o sucesso da instalação de uma

operação internacional.

Dentro dos aspectos de estado, comprometimento e conhecimento de mercado, também existe

uma relação. O conhecimento pode ser considerado um recurso e, consequentemente, quanto

melhor e maior o conhecimento, mais valioso se torna o recurso e mais comprometido fica com

o mercado.

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47

Tendo sido explicados os aspectos de estado, é o momento de compreender quem são os

aspectos de mudança e como esses dois aspectos se relacionam para formar o modelo. Como

vimos na figura 10 os aspectos de mudança tem dois fatores: atuais atividades de negócios e

decisões de comprometimento de recursos para operações internacionais.

Com relação às atuais atividades de negócio, é preciso saber de antemão que existe uma

defasagem de tempo entre as atividades e suas consequências para as empresas. Aliás, essas

consequências esperadas podem na realidade nem ocorrer caso as atividades relacionadas não

se repitam, como é o caso de muitas ações de marketing nas quais o impacto nas vendas num

longo prazo dependem de uma ação contínua e de repetições da campanha de marketing. Em

alguns casos essa defasagem de tempo é longa e considerável, portanto acredita-se que quanto

mais longa e exigente de recursos for uma atividade, maior o comprometimento da empresa.

Os autores afirmam que as atuais atividades também são uma fonte primária para a experiência.

Entretanto, um tópico ainda muito discutido é se essa experiência poderia ser adquirida por

meio da contratação de pessoas com experiência, ou por meio de conselheiros também com

experiência.

Para ficar mais claro, foi separada a experiência em: experiência da firma e experiência de

mercado. Segundo Johanson e Vahlne (1977), existem diferenças entre as áreas e a orientação

da empresa com relação às necessidades de cada tipo de experiência. No caso das atividades de

marketing, para se atingir o melhor desempenho são necessários ambos os tipos de experiência,

pois a interpretação de uma informação seja da firma ou do mercado depende do conhecimento

por experiência na outra parte. Já para atividades que exijam menos interação entre firma e

mercado, como a parte operacional, é mais fácil a substituição de profissionais de suas áreas.

A melhor forma de se obter e usar a experiência de mercado de um novo profissional,

rapidamente, é contratando um gerente ou um representante de vendas do mercado ou comprar

a parte ou o todo de outra empresa do ramo. Na maioria dos casos, experiência não está à venda

e costuma ser adquirida de forma lenta por meio de um longo processo de aprendizado ligado

as atuais atividades da empresa, o que explica a demora de um processo de internacionalização.

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O segundo fator do aspecto de mudança são as decisões de comprometimento de recursos para

operações em mercados externos. Para esse modelo, assume-se que tais decisões são

dependentes das alternativas que são levantadas e de como elas são escolhidas.

O levantamento das alternativas de decisão surge como resposta à percepção de problemas e às

oportunidades encontradas no mercado. A definição de problemas e oportunidades, nesse caso,

corresponde a ter uma consciência das necessidades e das possibilidades de ação no negócio em

questão e isso depende da experiência do profissional, tanto sobre a firma quanto o mercado.

Segundo Cyert e March (1963), acredita-se que as soluções para os problemas de operações no

mercado devem ser buscadas nos arredores dos sintomas dessas questões, ou seja, nas

atividades do mercado. Da mesma maneira, as oportunidades costumam ser percebidas por

aqueles que trabalham no mercado, podendo levar a extensão de suas atividades no mercado

externo.

Em suma, o levantamento de alternativas, seja em resposta a problemas ou a oportunidades,

será relacionado às atuais atividades desempenhadas no mercado. Soluções alternativas para

esse caso geralmente consistem em atividades que levam a uma extensão das fronteiras da

organização (internacionalização) e a um aumento do comprometimento de mercado.

O como ou a forma das decisões de comprometimento de recursos analisadas em forma de

equação por Johanson e Vahlne (1977) podem ser divididas em dois caminhos: decisões de

aumento de escala ou de redução de incerteza. A atitude da empresa perante essa questão vai

variar de acordo com o mercado, a economia, o posicionamento da firma perante o risco entre

outros, mas há um padrão em certas decisões.

As decisões de aumento de escala afetam diretamente o comprometimento com o mercado por

parte da organização, mas não o tamanho das incertezas do mercado. Esse tipo de decisão deve

ser adotado quando o risco da situação for menor que o risco máximo tolerável pelo mercado.

O fato de o mercado ser estável e heterogêneo também é um fator importante, pois nesse caso o

conhecimento por experiência é valorizado e pode levar também a diminuição das incertezas.

Se o mercado for instável ou homogêneo essa experiência já não fará tanta diferença quando

diz respeito às incertezas.

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Os autores colocam que uma decisão de redução de incerteza, que afeta basicamente a variável

do tamanho da incerteza, deve ser tomada quando os riscos da situação da firma forem maiores

do que os toleráveis pelo mercado. A atitude esperada diante desse quadro seria evoluir nas

ações que aumentem a interação e a integração da empresa com o ambiente de mercado.

Johanson e Vahlne (1977, 1990) concluem que decisões de comprometimentos adicionais serão

tomadas de forma a traduzirem-se em pequenos passos (graduais), salvaguardando as três

exceções: a) que a empresa possua uma ampla gama de recursos, b) que as condições de

mercado sejam estáveis e homogêneas, ou, c) que a firma tenha muita experiência em outros

mercados que apresentem as mesmas condições.

Em resumo, o modelo de internacionalização de Uppsala traz à luz fatores cruciais para o

processo de internacionalização: o comprometimento, o conhecimento (com uma grande

importância dada à experiência) e a distância psíquica. Em seu modelo gráfico os autores

propõem que os aspectos de estado (conhecimento e comprometimento de mercado) afetarão as

forma das atuais atividades e as decisões de comprometimento de recursos. Por ser um modelo

caracterizado por Forsgren e Hagström (2001) como “espiral que evolui gradualmente”, o

inverso também vale, ou seja, os aspectos de mudança também influenciarão os futuros

aspectos de estado supracitados.

Os autores do modelo (JOHANSON; VAHLNE, 1977, 1990) acreditam que seu trabalho

auxilia na compreensão do comportamento de investimento estrangeiro, no planejamento e nas

futuras tomadas de decisão relacionadas a operações internacionais. Colocam o fator

experiência como destaque em várias interações do modelo e criticam sua negligência em

outros estudos do campo. A posteriori outros autores indicaram que esse modelo tem um

impacto positivo no desempenho das empresas (BAKERMA; BELL; PENNINGS, 1996) e que

ele também pode ser chamado de modelo racional de internacionalização (JOHANSON;

VAHLNE, 2009).

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3.2.2 Estudos Realizados sobre a Aplicabilidade do Modelo de Uppsala em

Empresas Brasileiras

Nesta seção, busca-se apresentar alguns estudos realizados no Brasil que analisaram empresas

de diferentes setores, atuantes em mercados diversos, que estão se expandindo

internacionalmente.

Para este levantamento foi feita uma análise de todos os artigos publicados nos anais do

EnANPAD entre os anos de 2009 e 2012 que envolviam o tema internacionalização de

empresas. De um total de 110 artigos apresentados foram escolhidos seis estudos que se

encaixavam nos seguintes critérios: estudos realizados no Brasil acerca de empresas brasileiras;

publicações mais recentes do EnANPAD (de 2009 a 2012); ter como tema principal pelo

menos um dos seguintes tópicos: distância psíquica, cadeia de estabelecimento, teoria de

networks, o modelo Uppsala como um todo ou relação de programas do governo com o

processo de internacionalização. No Quadro 6 pode-se visualizar a relação ano e quantidade de

artigos escolhidos.

Quadro 6: Publicações do EnANPAD analisadas por ano.

Ano Nº de trabalhos que tratam do

tema internacionalização de

empresas

Nº de trabalhos relacionados

com os temas de interesse

2009 30 2

2010 18 0

2011 33 3

2012 29 1

Total 110 6

Fonte: Desenvolvido pela própria autora

Esses critérios não foram escolhidos de forma aleatória, existe uma razão para cada um deles.

O motivo pelo qual foram selecionadas apenas casos e publicações brasileiras, pois, como foi

visto no modelo Uppsala, a distância psíquica está relacionada ao país e a cultura em questão e,

para via de comparação e relação entre os exemplos, o melhor é avaliar os casos brasileiros. O

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período determinado é para o intuito de se ter as publicações mais recentes, ou seja, mais

adequadas ao mundo de negócios atuais. Também foi escolhido um periódico único para que

haja uma uniformidade na qualidade, já que todos esses trabalhos passaram por avaliações

antes de serem publicados e a ANPAD é a mais importante associação acadêmica brasileira na

área de gestão de negócios. Sobre a temática, buscou-se dentre os assuntos principais temas

relacionados com o deste trabalho, mas não se limitou a casos, dando espaço também a

revisões de bibliografia e a análises quantitativas.

No trabalho realizado por Ogasavara e Masieiro (2009), foi realizada uma análise de 94 artigos

brasileiros visando identificar padrões nas pesquisas e nos resultados apresentados. Foi

encontrado que o método mais comum utilizado no campo de internacionalização de empresas

é o estudo de caso e que as principais teorias avaliadas e relacionadas são o modelo Uppsala e

o paradigma eclético de Dunning. Porém, esses autores também encontraram que a grande

maioria das referências é de autores internacionais e que ainda existem poucas publicações

brasileiras em journals internacionais. Esses resultados aumentam a importância de se analisar

casos brasileiros, pois podem ser encontradas divergências significativas ou mesmo

confirmações de similaridades, ambas importantes para análise.

Bueno e Domingues (2011), assim como Ogasavara e Masieiro (2009), decidiram por fazer um

estudo de casos comparativo de diferentes empresas brasileiras com o objetivo de se encontrar

um padrão de suas estratégias de internacionalização. Em seu estudo foi realizada uma

pesquisa qualitativa por meio de entrevistas em profundidade com seis empresas, divididas em

três grupos de acordo com o seu tempo de internacionalização. Nas descobertas de seu trabalho

foi visto que as empresas dos grupos de maior tempo de internacionalização (acima de 10 anos)

e de menor tempo (menos de 5 anos), apresentaram motivações para a internacionalização

advindas das teorias de ciclo de vida do produto (CVP), do paradigma eclético e do modelo

Uppsala. No caso do modelo Uppsala, o maior influente para escolha dos países foi a distância

psíquica.

Já o estudo de caso único a ser relatado trata do processo de internacionalização de uma

pequena empresa apiária (indústria de beneficiamento de mel, cera de abelha e derivados) de

Maringá (PR) apresentada no trabalho de Verdu (2011), de nome Apiário Diamante. Nesse

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estudo foram encontradas características que evidenciam a ideia de cadeia de estabelecimento

do modelo Uppsala. Essa empresa desde o início se mostrou proativa com relação à

internacionalização, adquirindo desde sua inauguração um certificado que possibilitava a

exportação. Apesar disso, sua primeira exportação veio apenas seis anos após sua fundação,

dando indícios de um processo gradual.

Outro fator significativo identificado no caso da Apiário Diamante foi a importância dada pelos

donos do negócio as “redes de parceiros de negócios” (networks). Os proprietários

identificaram seus benefícios ao utilizarem recursos da rede, como experiência de mercado e

conhecimento de mercado externo, que sozinhos eles não tinham como adquirir de forma

rápida.

Outros autores brasileiros apontaram essa questão das networks, que apesar de ser um tema

relativamente novo na literatura, vem sendo utilizado possivelmente desde o surgimento das

organizações (GHAURI et all, 2003). No trabalho das autoras Levy, Mota e Wermelinger

(2009) apontou-se o uso das networks como algo valioso para as PMEs, principalmente para

países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil. Um dos principais resultados de sua

pesquisa foi a descoberta das vantagens e desvantagens de se possuir essa rede numa pequena

ou média empresa. Algumas das vantagens apontadas foram o compartilhamento de recursos,

transferência de experiência e acesso facilitado à informação e à tecnologia. Já a principal

desvantagem é que a dependência de parceiros podem trazer barreiras ao crescimento da firma.

Ainda sobre o tema das networks, os autores Fiate et. al. (2012) avaliaram o papel das

incubadoras no processo de internacionalização de empresas de base tecnológica. Nesse

trabalho foi feito um estudo de múltiplos casos com seis empresas de pequeno porte e

constatou-se que a presença de incubadoras favorece a formação de redes de relacionamento

que estimulam a inovação e a que sua formação auxilia no fomento do processo de

internacionalização. A inovação tem um papel essencial nesse caso, pois outro resultado do

estudo a apontou como principal vantagem na competição em mercados internacionais.

Outros estudos realizados no Brasil também apontam um outro tema importante: o papel do

governo como um influenciador na velocidade da internacionalização de empresas. Segundo a

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pesquisa de Machado, Nique e Fehse (2011), sobre o papel de programas de apoio a

internacionalização de PME’s, há indicações de que as empresas que se expandem de forma

mais veloz no exterior usam mais programas de apoio e atuam num escopo geográfico maior

do que as outras PME’s avaliadas. De acordo com os autores do trabalho, isso mostra um

importante papel do Estado para o desenvolvimento das empresas nacionais no exterior e como

isso poderia acelerar o processo de internacionalização das mesmas. Isso é relevante no setor

de cosméticos que será estudado, pois já existem programas como o Beauty Care Brazil, criado

pela ABHIPEC que tem como parceiro a entidade governamental APEX-Brasil e visam o

estímulo à exportação.

No Quadro 7 abaixo foi feito um quadro com o intuito de resumir os casos e exemplos

expostos nesta seção.

Quadro 7: Resumo dos trabalhos selecionados.

Ano Tema do Trabalho Autores Aderência dos achados ao

arcabouço teórico deste

trabalho

2009 Revisão de pesquisas de casos

brasileiros

Ogasavara e

Masieiro (2009)

Metodologia principal: Estudo de

casos

Teorias principais: Modelo Uppsala e

paradigma eclético

2009 Uso das networks em PME’s Levy, Mota e

Wermelinger

(2009)

Vantagens e desvantagens de uma

network

2011 Caso de internacionalização de pequena

empresa

Verdu (2011) Cadeia de estabelecimento e redes de

negócio

2011 PME’s brasileiras e apoio

governamental para internacionalização

Machado, Nique e

Fese (2011)

Relação apoio do governo e

velocidade de internacionalização

2011 Estratégia de internacionalização: um

estudo comparativo de casos brasileiros

Bueno e

Domingues (2011)

A motivação e a escolha dos países

para se internacionalizar advém das

teorias de CVP, paradigma eclético e

Uppsala.

2012 Papel da incubadora na

internacionalização de empresas

Fiates et. al.

(2011)

Incubadoras fomentam o surgimento

de redes e consequentemente de

inovação.

Quando se olha para os trabalhos acima descritos em seu conjunto, percebe-se que há muitos

estudos brasileiros acerca do tema internacionalização, todavia nos trabalhos mais recentes

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nota-se um número limitado que trate da aplicabilidade do Modelo de Uppsala ao caso

brasileiro. Por outro lado, o Modelo de Redes tem mostrado ser de interesse crescente por parte

dos pesquisadores no Brasil na medida em que vem se desenvolvendo e ganhando cada vez

mais espaço nos congressos da EnANPAD nos anos observados.

3.2.3 Críticas ao modelo original de Uppsala

Desde a publicação do artigo que propunha o, hoje conhecido como, Modelo de Uppsala de

Johanson e Vahlne (1977), estudos empíricos e interesse sobre o assunto não pararam de

crescer. Com os resultados de suas pesquisas, diversos autores, como Hedlund e Kverneland

(1985), Nordström (1990), Anderssen (1993), Bell (1995), Forsgrem (1989, 2002), Meckl e

Schramm (2005), Ferreira, Santos e Serra (2010), entre outros, passaram a contestar a validade

total do modelo.

Ao longo dos anos, surgiram questões acerca da necessidade de as empresas percorrerem todas

as etapas do modelo, do seu grau de generalização, da importância que outros fatores, como o

networking ou recursos da firma, também poderiam ter; citando apenas algumas. Outras teorias

de internacionalização foram criadas com intenção de preencher as lacunas observadas no

modelo, como é o caso da abordagem sobre as Born Globals (RENNIE, 1993) e da teoria do

empreendedorismo internacional (OVIATT; MCDOUGALL, 1994).

Um dos pontos mais criticados foi o determinismo da evolução gradual no processo de

internacionalização, ou seja, a cadeia de estabelecimento. Os autores Hedlund e Kverneland

(1985), estudaram casos de empresas suecas no Japão e concluíram que, auxiliadas pelas

mudanças no contexto econômico e do ambiente de negócios, estavam mudando para processos

de internacionalização cada vez mais rápidos e diretos, ou seja, pulando etapas da cadeia de

estabelecimento internacional, o que ficou conhecido como “leapfrog” (MECKL, SCHRAMM,

2005). Turnbull (1987) também alega, em seu trabalho, que um modelo de internacionalização

baseado em estágios não consegue explicar esse processo em muitas firmas.

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Outro autor a apontar possíveis falhas no modelo foi Andersen (1993). Dentre as suas críticas,

esse autor apontou a carência de delimitações do modelo, como tempo, espaço e situações

específicas, como um fator que deixava o modelo abstrato e de pouca utilização prática. Esse

autor também apontou a falta de limitação das características da firma apta para o processo

como um fator restritivo para sua generalização.

Bell (1995), além de criticar também a relevância dada à importância dos estágios na cadeia de

estabelecimento, colocou em pauta a validade do modelo para firmas do setor de alta tecnologia

e serviços de pequeno e médio porte. O autor também não encontrou suporte em seu trabalho

que indicassem a relação da distância psíquica com a escolha de mercado feita por esse tipo de

empresa.

Ainda com relação à distância psíquica, outro autor (NORDSTRÖM, 1990) levantou o

argumento de que o mundo, devido à globalização, está se tornando cada vez mais homogêneo

e que essas questões abordadas na distância psíquica perdem cada vez mais relevância. Ele

acredita que outros fatores ambientais, como meios mais eficientes de transmitir informações,

mercados menos fragmentados, aumento do investimento em P&D, podem ter maior relevância

sobre o processo de internacionalização.

Forsgren (2002) dedicou seu trabalho a fazer uma análise crítica ao modelo Uppsala

(JOHANSON; VAHLNE, 1977, 1990). Sua principal crítica é com relação à conceptualização

do processo de aprendizado, o autor argumenta que esse é visto de forma restrita, o que limita a

validade do modelo ao tentar explicar formas de comportamento no processo de

internacionalização. O autor acredita que existam outros três tipos de forma de aprendizado não

experiencial capazes de acelerar o processo de internacionalização, são eles: aquisição de outras

firmas, imitação e pesquisa.

Em suma, muitos aspectos da teoria e do modelo de Uppsala foram criticados, mas os autores

Johanson e Vahlne não se abateram e vêm respondendo às críticas ao longo dos anos,

admitindo algumas limitações e adicionando melhorias como é o caso da introdução de novos

fatores, como o da importância das redes (networks).

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No próximo tópico será apresentada a teoria de networks, trazendo o relacionamento e as redes

formadas por organizações e pessoas como outro fator que irá influenciar o processo de

internacionalização e que no final será adicionado ao novo modelo Uppsala (JOHANSON;

VAHLNE, 2009), revisado após as críticas apresentadas nesse tópico.

3.2.4 Teoria de Networks

Outra teoria presente no campo da abordagem comportamental é a de networks. Os

pesquisadores suecos Johanson e Mattsson (1988) e Johanson e Hallen (1989) propõem que

uma empresa é o resultado de sua rede de relacionamentos, essa podendo ser composta por

fornecedores, clientes, distribuidores, competidores, agentes públicos e quem mais possa ser

stakeholder dessa organização, variando a cada país. Segundo Thorelli (1996), a network é

definida como “duas ou mais organizações envolvidas em um relacionamento de longo prazo”.

Desde sua concepção, a teoria de redes vem sendo aplicada ao entendimento do processo de

internacionalização da firma, embora seu desenvolvimento inicial não tenha visado

especificamente explicar o processo de internacionalização. Na realidade, a também conhecida

como teoria de redes surgiu no contexto do marketing industrial e do estudo de sistemas de

distribuição, alguns dos quais apresentavam ramificações internacionais (JOHANSON;

MATTSSON, 1988). Segundo Chetty e Holm (2000), os pesquisadores transplantaram e

adaptaram conceitos da teoria de trocas sociais aplicada a redes sociais para as redes de

negócios.

A teoria das redes propõe que “a internacionalização da firma significa que a firma estabelece e

desenvolve posições em redes externas” (Johanson e Mattson, 1988, p.309), interessando-se

também, pelo grau de internacionalização da rede de suprimento. Quando uma rede de

suprimento é globalizada, seus elos tendem a apresentar grau elevado de internacionalização.

Também é estudada a internacionalização conjunta de redes nacionais.

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De acordo com Lorga (2002), o desenvolvimento de arranjos cooperativos, ou seja, de redes

entre empresas, em especial entre as quem visam mercados internacionais, torna-se elemento

central na internacionalização de uma empresa. A razão dessa importância pode ser vista no

estudo de Chetty e Wilson (2003), no qual colocaram que as redes de negócios permitem o

acesso a diversos recursos necessários à estratégia de internacionalização da firma. Os

resultados de seu trabalho mostraram que a habilidade das firmas no acesso a recursos (ex:

informações) de outras organizações pode ser uma importante variável explicativa no

comprometimento internacional.

Em sua primeira resposta às críticas apresentadas ao seu modelo, Johanson e Vahlne (1990), já

indicaram um novo fator com relevância para as organizações em seu processo de

internacionalização, a presença das networks entre as firmas. Os autores acreditavam que a

exploração das vantagens adquiridas pelas networks pode acelerar a internacionalização.

Baseando-se nos conceitos do seu modelo original (conhecimento, comprometimento...),

tentaram explicar as motivações e os modos de internacionalização colocando as empresas em

um framework multilateral, mobilizando as relações Intra e Inter organizacionais (Laghzaoui,

2009).

Dentre os autores que examinaram a aplicabilidade da teoria de networks encontram-se

Coviello e Munro (1995, 1997). Em suas pesquisas (COVIELLO; MUNRO, 1995), os autores,

por meio de um estudo de caso de pequenas firmas de software neozelandesas, encontraram

que as relações de network são importantes para acelerar o acesso e a escolha do modo de

entrada em novos mercados externos. Além disso, observaram que essas relações são

instrumentos para o crescimento da firma, influenciando ativamente padrões de

internacionalização, como seleção de mercado externo e iniciativa de entrada. Já em seu artigo

de 1997, além de ressaltar a importância das relações de network, os autores propõem uma

integração com a ideia de cadeia de estabelecimento (etapas) apresentada no modelo Uppsala

para uma melhor compreensão dos padrões no processo de internacionalização.

No trabalho de Rasmussen, Madsen e Evangelista (2004) foram feitas entrevistas e análises de

cinco casos de empresas distribuídas pela Dinamarca e Austrália nas quais percebeu-se a

ocorrência do processo de internacionalização “não como um objetivo de seus fundadores, mas

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como uma necessidade da firma”. Esses autores chegaram a questionar a relevância das

networks, citando exemplos dessas empresas de tecnologia (International New Ventures)

formadas sem uma network prévia, mas esse é um setor que apresenta especificidades que não

serão abordadas nesse estudo.

3.2.5 Modelo de Uppsala Revisado

No ano de 2009, os autores Jonhanson e Vahlne decidiram publicar um novo trabalho com o

intuito de revisar o seu modelo original de Uppsala desenvolvido em 1977. Dentre as principais

razões para tal revisão, temos como os grandes influenciadores as mudanças nas práticas de

negócios do mundo moderno e os avanços no campo da teoria advindos das críticas feitas ao

modelo.

Sobre as mudanças no mundo de negócios, alguns pontos podem ser vistos como mais

decisivos. Os ambientes econômicos e regulatórios mudaram drasticamente nesses últimos 30

anos e o conhecimento sobre as complexidades do mercado, antes inicial e rudimentar, se

desenvolveu e ganhou novos modelos.

As formas de entrada das firmas no mercado externo também já não são mais as mesmas. Os

autores Johason e Vahlne assumem nessa revisão que o valor dado a correlação com a distância

psíquica diminuiu, ainda que “apesar dessa redução, isso não significa que não exista mais

impacto no processo, mesmo que indireto” (2009, p.1421).

O comportamento das empresas também foi outro que se alterou. Nos últimos anos foram

constatadas mais aquisições entre as empresas, os processos de internacionalização estão cada

vez mais rápidos, onde muitas das organizações estão pulando etapas da cadeia de

estabelecimento, o surgimento das “born globals” (KNIGHT; CAVUSGIL, 1996), das INV-

International New Ventures (OVIATT; MCDOUGALL, 1994) e as joint ventures estão cada

vez mais comuns.

Contudo, mesmo com essas inúmeras alterações ambientais e as inúmeras críticas, já

apresentadas, ao processo em forma de cadeia de estabelecimento, os autores Johanson e

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Vahlne (2009) afirmam: “o contexto das empresas pode ter mudado, mas as organizações ainda

precisam aprender, além de criar e fortalecer suas relações para que possam aproveitar suas

oportunidades”. Também se defendem dizendo que a cadeia de estabelecimento não faz parte

do modelo, é apenas um resumo das observações empíricas. A partir desse princípio os autores

revisitaram seu modelo de 1977 para que ele fosse adaptado a esse novo ambiente do mundo

de negócios. Para isso, viu-se a oportunidade de se trabalhar com um novo e imprescindível

modelo criado, o Business Network (JOHANSON; VAHLNE, 2009), baseado na teoria de

redes. Essa nova forma de enxergar os negócios trouxe dois pontos importantes. O primeiro é

que “mercados são redes de relacionamentos nas quais firmas são ligadas entre si de formas

variadas, complexas e muitas vezes seguindo padrões invisíveis”.

O segundo ponto traz que “relacionamentos têm potencial de aprendizado e de criação de

confiança e comprometimento” (JOHANSON; VAHLNE, 2009, p. 1411-1412). Em suma,

percebeu-se que as relações de rede possuem impacto na seleção de mercados e na sua forma

de entrada, sendo, portanto ponto fundamental no processo de internacionalização.

Aprofundando mais no primeiro ponto do modelo de Business Networks, os autores avaliaram

que o sucesso de uma firma depende do seu estabelecimento em uma ou mais networks. O

trabalho de Coviello (2006) foi importante nesse caso, pois em seu estudo foram encontradas

evidências da importância de se estar dentro de uma rede relevante de negócios, ou seja, ser um

“insidership in networks” mesmo antes de entrar em um novo mercado ou até mesmo de se

formar uma empresa.

O trabalho de Johanson e Vahlne (2009) mostrou que essa preocupação com as redes (“liability

of ousidership”) está crescendo tanto que já está tendo mais impacto nas organizações do que a

preocupação com o estrangeirismo (“liability of foreigness”). Isso significa que as incertezas

causadas pela responsabilidade de não fazer parte de nenhuma rede relevante é maior do que as

incertezas de se escolher um mercado de maior distância psíquica. Isso acaba por impactar na

forma como se avalia o aprendizado, a confiança, o desenvolvimento de comprometimento e a

identificação e exploração de oportunidades por parte das empresas, o que leva ao segundo

ponto do modelo Business Network.

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Ao analisar o segundo ponto, pode dividi-lo em duas partes: conhecimento e aprendizado; e

criação de confiança e comprometimento. Assim como em seu modelo de 1977, Johanson e

Vahlne (2009) concluem que o aprendizado de maneira experiencial é o ponto chave e deve ser

desenvolvido na visão de Business Network. Contudo, os autores fizeram algumas ressalvas em

sua revisão. O conhecimento geral de internacionalização advindo de diversas formas de

experiência – entrada em mercados estrangeiros (SAPIENZA et. al., 2006); core business

(CHANG, 1995); alianças (HOANG; ROTHAERMEL, 2005); e aquisições (NADOLSKA;

BAKERMA, 2007) – assume aqui uma maior importância do que em 1977. O aprendizado

também é visto como algo muito mais complexo do que no modelo original e a experiência

ainda é o ponto central como a melhor forma de obtê-lo.

Ainda se tratando de conhecimento, adicionou-se ao modelo o “conhecimento específico por

relacionamento”. Nesse tipo de conhecimento, a informação é adquirida por meio da interação

entre os parceiros. O desenvolvimento desse conhecimento também mudou, pois antes

acreditava que o aprendizado vinha de observar as práticas dos outros, mas percebeu-se que a

interação entre esses players também pode resultar num conhecimento, e o melhor, um

conhecimento novo.

No modelo de Uppsala de 77 também se falou muito em comprometimento, mas em nenhum

momento ficou explícito a dimensão afetiva e emocional que tem por trás de uma relação com

compromisso. Nessa revisão os autores optaram por explicitar esse fator e, baseando-se nos

estudos de Morgan e Hunt (1994) e Johanson e Mattson (1987), colocam a confiança como um

fator importante nas relações e nas redes de negócio. Confiança é uma palavra subjetiva, que se

assemelha a integridade (MORGAN; HUNT, 1994) e pode ter como consequência de sua

presença numa relação a “habilidade de prever o comportamento do outro” (JOHANSON;

VAHLNE, 2009, p. 1417). Ela é tão importante que pode servir como substituta quando uma

firma tem um “gap” de conhecimento do mercado, mas usa seu homem de confiança para

administrar um negócio no exterior (ARENIUS, 2005).

Analisando o estudo de outros autores, identifica-se que também existe uma relação forte entre

confiança e comprometimento. Segundo Morgan e Hunt (1994), “confiança é um grande

determinante do comprometimento” e acreditam que quando ambos os fatores estão presentes,

os resultados produzidos promovem mais eficiência, produtividade e efetividade. Outros

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autores apoiam esse discurso, como é o caso de Madhok (1995) ao dizer que “confiança induz

reciprocidade e ação coordenada”, mas também lembra que “desenvolvimento de confiança é

um processo custoso e que consome tempo” (MADHOK, 2006, p.7).

Com essa revisão do modelo de Upssala de 1977, a leitura das críticas e o conhecimento de

novos dados do mercado e de teorias como a Business Networks, os autores propuseram um

novo formato, chamando-o de Business Network Internalization Process Model ou modelo de

Uppsala revisado. Eles mantiveram os dois conjuntos do modelo original: de estado e de

mudança, mas fizeram alterações em suas variáveis. A figura 12 abaixo expõe esse novo

modelo.

Figura 12: Modelo do processo de internacionalização Business Network

Fonte: Modelo traduzido e adaptado de Johanson e Vahlne (2009), p. 1424.

Com relação a primeira variável de estado, conhecimento e reconhecimento de oportunidades,

a diferença para o modelo original está basicamente nesse segundo ponto. Foi adicionado o

reconhecimento de oportunidade no conceito, pois os autores consideraram a oportunidade, um

subconjunto do conhecimento, como seu elemento principal. Além disso, outros elementos

Aprendizado, Criação de

oportunidades e construção de confiança

Decisões de comprometimento e

relacionamento

Posicionamento na network ou no mercado

Conhecimento e reconhecimento de

oportunidades

Estado Mudança

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presentes nesse conhecimento são: as necessidades, as capacidades, as estratégias e as

networks da firma em questão. A segunda variável de estado também foi alterada. Antes era

comprometimento de mercado e agora virou posicionamento na network ou no mercado,

reforçando a importância das redes de negócios.

Dentre as variáveis de mudança também existiram algumas alterações com a intenção de

esclarecer alguns pontos. No que antes eram as atividades atuais do negócio, passou a ser

conhecido como aprendizado, criação de oportunidades e construção de confiança. O motivo

era deixar mais evidente que esse seria o resultado esperado das atividades e também serve

para explicitar a questão da confiança, antes não abordada.

A última variável de mudança também ganhou o reforço do termo de relacionamento, pois

nesse caso o compromisso deixa de ser com os recursos e passa a ser com os parceiros das

redes de negócios. Essa variável implica na decisão das firmas de aumentar ou diminuir o nível

de comprometimento com uma ou mais relações de sua rede. Apesar de sua difícil mensuração,

esse comprometimento pode ser sentido nas ações de modo de entrada, tamanho de

investimentos e nível de dependência da organização.

Sendo assim, essa revisão realizada por Johanson e Valhle (2009) tem como principal objetivo

mostrar que a internacionalização depende dos relacionamentos da firma e da rede que está

inserida. Esse relacionamento forma também a base para a aprendizagem e para a construção

de confiança e comprometimento. Os autores também reconhecem como uma das principais

mudanças que as incertezas advindas da externalidade, da sua rede de relacionamentos, é mais

importante ou preocupante do que a distância psíquica entre os países.

A seguir foi desenvolvido um Quadro (8) que resume as principais teorias apresentadas neste

trabalho para facilitar a compreensão da evolução e dos principais pontos dos estudos

analisados.

Quadro 8: Resumo das principais teorias estudadas no trabalho

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Evolução dos estudos empíricos acerca da internacionalização

Autor (data) Framework Teórico Principais ideias do modelo

Congruência às

perguntas de

pesquisa

Vernon (1966) Teoria do Ciclo de

Vida do Produto

* Relaciona estágios do CVP

com a inserção das empresas no

mercado externo. Auxilia na análise do

quando e onde uma

empresa deve

internacionalizar.

* Estratégia de localização da

produção

* Vantagens comparativas de

custos

Rugman (1979) Teoria das Vantagens

da Multinacional

* Redução de riscos como

vantagem da internacionalização

Apresenta o porquê, a

motivação para a

internacionalização.

Dunning (1980) Paradigma Eclético de

Dunning

* As três vantagens que motivam

a internacionalização:

propriedade, internalização e

localização.

Identifica os

requisitos necessários

para o processo de

internacionalização.

Johanson e Vahlne

(1977) Modelo Uppsala

* Cadeia de estabelecimento Mostra o como, a

forma que ocorre uma

internacionalização.

*Distância Psíquica

*Comprometimento e

conhecimento de mercado

Coviello e Munro

(1995) Teoria de redes

* Relações de network são

importantes para acelerar o

acesso e a escolha do modo de

entrada no mercado externo

Identifica a

importância das redes

de relacionamento no

processo de

internacionalização.

Johanson e Vahlne

(2009)

Modelo Uppsala

Revisado

* Internacionalização depende

dos relacionamentos da firma e

da sua rede.

Revisita o modelo

original (1977) e

adapta o “como” no

processo de

internacionalização

para o contexto atual

de negócios.

* Distância psíquica < rede de

relacionamento

* Adiciona-se o valor da

confiança no comprometimento

Fonte: Desenvolvido pela própria autora.

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4 METODOLOGIA

Este capítulo apresenta a metodologia adotada para a realização deste trabalho de dissertação,

assim como os aspectos e implicações do método. Na primeira parte, serão apresentadas as

perguntas de pesquisa que orientaram o estudo, especificando as principais questões que foram

abordadas. Em seguida, discute-se o método de pesquisa – estudo de caso – e as justificativas

para o seu uso, vantagens e desvantagens. A terceira parte apresenta a justificativa da seleção

do caso a ser estudado, descrevendo também os métodos de coleta e análise de dados. Ao final,

são apresentadas as limitações esperadas do estudo.

4.1 O PROBLEMA DE PESQUISA

Este estudo tem como objetivo analisar o processo de internacionalização da empresa brasileira

Embelleze, dando ênfase nos motivos que a levaram para o mercado exterior, o processo de

entrada no mercado internacional e quais os influenciadores ou apoiadores que a suportaram

durante esse processo.

4.1.1 As perguntas de pesquisa

Tendo como base os objetivos do estudo e o problema de pesquisa, foram formuladas três

perguntas de pesquisa:

1) Quais as principais motivações que levaram uma empresa do setor de cosméticos brasileiro

a ingressar no mercado internacional?

2) Como se desenvolveu a entrada no mercado internacional da empresa em seu primeiro

movimento para o exterior? E nos movimentos subsequentes?

3) Qual a importância das redes de relacionamento para essa internacionalização? Como elas

foram estruturadas?

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Essas perguntas foram formuladas a partir da revisão de literatura apresentada no capítulo 2,

com o intuito de compreender a relação entre os principais aspectos analisados no referencial

teórico e o caso da empresa de cosméticos Embelleze.

4.2 MÉTODO DE PESQUISA

Este trabalho busca investigar o processo de internacionalização de uma empresa brasileira de

um dos setores que mais cresce no Brasil, o de cosméticos. O método de pesquisa será

qualitativo com estudo de caso único.

Em seu livro “Case study Research”, Yin (1994) explica o porquê de se utilizar esse método de

estudo em detrimento dos outros. O autor diz que para se escolher a metodologia mais

adequada para qualquer estudo é necessário ter em mente três variáveis: 1) o tipo de pergunta

de pesquisa, 2) o nível de controle exigido do pesquisador sobre os eventos ou as variáveis

analisadas; e 3) o foco da temporalidade do estudo (presente ou passado).

Para se escolher o método de estudo de caso o cenário ótimo a ser encontrado seria uma

pesquisa na qual: as perguntas são explanatórias (é o caso das questões em que deseja saber o

“como” e o “porquê”), não é necessário um controle sobre os eventos e está focado num

fenômeno contemporâneo, num contexto da vida real (Yin, 1994, 2009). Para o presente estudo

esses fatores surgiram como uma vantagem, pois estão alinhados com o objetivo de pesquisa,

que busca compreender a forma e as razões para o atual processo de internacionalização da

empresa Embelleze, do qual a pesquisadora não tem controle sobre nenhuma ação

implementada por parte do objeto do estudo.

Outra razão para a escolha desse método pode ser apresentada pelos resultados de Creswell

(1994). O autor avaliou que essa metodologia é ideal quando o pesquisador quer explorar uma

ou poucas entidades ou fenômenos, limitado pelo tempo e atividade (grupo social) e quer

coletar informações usando uma variedade de procedimentos de coleta de dados durante um

período de tempo. Em outro estudo, Creswell (2004) também indicou a pesquisa qualitativa

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para os fenômenos ainda pouco explorados, que necessitam de um conhecimento mais

profundo, como é o caso do setor de cosméticos.

Autores mais recentes, como Birkinshaw, Brannen e Tung (2011), também recomendam o uso

do método qualitativo, pois esses permitem uma análise mais profunda de temas que exigem

melhor compreensão por parte dos pesquisadores, como é o caso, por exemplo, da

interpretação dos relacionamentos entre parceiros. Sobre o tema de internacionalização, Ghauri

(2004), também complementa a importância dos estudos qualitativos nessa área pela

dificuldade de se avaliar quantitativamente, para se fazer comparações entre empresas ou

modelos de países de culturas diferentes. Ambos os estudos acima acreditam que por meio de

perguntas abertas o entrevistador é capaz de explorar melhor as informações e compreender

cada caso.

Alguns autores, como Platt (1992), discordam do estudo de caso como ferramenta de pesquisa.

O autor faz a seguinte ponderação: “A visão hierárquica reforça a ideia de que o estudo de caso

era apenas uma ferramenta exploratória e não deveria ser usada para descrever ou testar

proposições”. Contudo, Yin (1994) diz que essa visão está incorreta e aponta que alguns dos

estudos de caso mais famosos (como “Allison’s Essence of Decision: Explaninig the Cuban

Missile Crisis, 1971”) são tanto descritivos como explanatórios e que devem ser usados como

eficientes ferramentas de pesquisa (HAMEL, 1992; PERRY; KRAEMER, 1986).

Mesmo assim, ainda existem desvantagens reconhecidas mesmo pelos autores que defendem

esse método. Segundo Yin (1994), a falta de rigor na pesquisa feita por estudo de caso, como

evidências equivocadas e visões enviesadas podem prejudicar os resultados de um trabalho.

Um segundo ponto seria a pouca base para a generalização científica, e Weick (1969) concorda

com isso quando diz que os estudos de caso são muito específicos a uma situação. A terceira

desvantagem é que o método qualitativo pode se tornar demorado e trabalhoso demais quando

comparado ao quantitativo, além de gerar um número massivo de páginas a ponto de dificultar

a leitura (DANNIELS; CANNICE, 2004; VOSS et. al., 2002).

Alguns desses pontos que eram vistos como fraquezas, mas com o evoluir dos estudos de

casos, os mesmos se transformaram em oportunidade. O autor Weick (1979) que criticou a

falta de generalização em seu trabalho de 1969, posteriormente viu essa especificidade como

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uma vantagem ao encontrar em sua nova pesquisa que os resultados de pesquisa são instáveis

ao longo do tempo, o que amplia o valor das interpretações de situações específicas pelos

autores.

Outra vantagem desse método é a possibilidade de explorar um evento ou fenômeno por

diferentes meios e diversos procedimentos (CRESWELL, 2004). Alguns desses meios de se

obter os dados são: observação direta, entrevistas sistemáticas, documentos, arquivos,

questionários (YIN, 1994; DUBOIS; GADDE, 2002; GHAURI, 2004). Além disso, essas

informações podem ser coletadas durante um longo período de tempo, dando mais

possibilidade a aprofundamentos do que num estudo transversal (GHAURI, 2004; VISSAK,

2010).

Portanto, para este estudo foi escolhido o estudo de caso como método de análise. Tendo essa

decisão tomada, o segundo ponto era escolher fazer um estudo de casos múltiplo ou único,

optou-se pelo segundo. Um dos motivos de não se fazer um caso múltiplo é que alguns tendem

a dar uma ideia de tentativa de generalização estatística (EASTON, 1995, p. 379), não sendo

esse o intuito desse trabalho.

Segundo Ghauri (2004), é apropriada a escolha do caso único quando esse é suficientemente

importante a ponto de desafiar ou entender uma teoria. Esse tipo de estudo também é utilizado

em situações onde o país é muito pequeno ou o segmento da indústria a ser pesquisada ainda

está em desenvolvimento, ou até mesmo quando é uma das únicas fontes acessíveis para estudo

científico (Yin, 1994; Ellran, 1996; Ghauri, 2004).

4.3 PROCEDIMENTOS DE COLETA E ANÁLISE DE DADOS

Para a realização desse trabalho, primeiramente foram coletados os dados secundários. Esses

dados foram obtidos através de diversas fontes, tais como: site e anuário da ABHIPEC

(associação responsável pelos produtos de HPPC no Brasil); site da Euromonitor (empresa que

avalia o desenvolvimento do setor e compara com outros países); sites de notícias relacionadas

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com a empresa e com o setor (Cosmetic Business, Cosmetic Br, Revista Exame e outras);

artigos (tais como o da EurAmerica); notícias publicadas em outras mídias (como jornais, Tv)

sobre a empresa; o site oficial da Embelleze; documentos da firma; e entrevista prévia realizada

com o diretor da área de comércio exterior da organização.

Os dados primários foram coletados por meio de um roteiro de entrevista contendo questões

abertas (Anexo A) formuladas a partir das perguntas de pesquisa propostas e das variáveis

observadas na revisão de literatura. Assim, foram conduzidas entrevistas em profundidade com

os responsáveis pela área internacional e com o diretor da empresa.

Destaque-se que, visando uma maior integridade do trabalho, buscou-se fazer a triangulação

dos dados, confrontando aqueles que foram coletados de forma secundária com as respostas dos

entrevistados, ajudando a manter a flexibilidade sobre o resultado da coleta de dados e

diminuindo os vieses eventuais tanto do entrevistado quanto do entrevistador (EISENHARDT,

1989).

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5 ESTUDO DE CASO

5.1. DESCRIÇÃO DA “EMBELLEZE”

5.1.1 Histórico

Foi no dia 08 de março de 1969, dia Internacional da Mulher, na cidade de Nova Iguaçu – RJ

que nasceu uma empresa com o intuito de transformar e enriquecer a beleza da mulher

brasileira. Foi com muito esforço e trabalho que o fundador e atual presidente da marca, Itamar

Serpa, criou a então Kalu Produtos de Beleza do Brasil Ltda. com um produto principal, o

alisante Henê Kalu.

A empresa ainda se chamou Ebony antes de adotar o nome atual da marca, Embelleze, com o

qual se expandiu pelo Brasil e agora quer crescer na sua participação mundial. O primeiro

produto de sucesso da empresa foi o creme de Mocotó, um poderoso creme de hidratação

capilar que virou um clássico da marca. A expansão da marca nos anos seguintes ocorreu de

forma mais lenta ou menos significativa, tendo o lançamento da submarca Maxton (tintura para

cabelo), em 1993, como seu marco de crescimento nacional.

Entretanto, o produto de maior sucesso da marca, conhecido como o “filho pródigo” chama-se

Novex, e teve o início da sua história de sucesso atrelado ao Chocolate (professional food

therapy). O Novex, criado em 2005, é usado para transformação capilar e traz o que há de mais

inovador para o cabelo, trabalhando com linhas dos mais variados ingredientes como: óleo de

argan, óleo de ojon, óleo de coco, broto de bambu etc.

Todavia, foi apenas em 1999 que a marca se tornou conhecida na mídia para o grande público.

A estratégia de marketing adotada na época se tornou um sucesso, a ideia era mostrar ao

consumidor, durante um programa ao vivo, o poder de transformação dos produtos da sua

marca.

O programa do Raul Gil foi a primeira mídia adotada. Nesse show de televisão que ia ao ar

semanalmente existia um quadro dedicado à marca, o “Antes e Depois”. O produto conhecido

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como Main’ n Tail, um “shampoo para cavalos” (pois prometia deixar os cabelos brilhantes,

encorpados e fortes como a crina de cavalos), era o carro chefe dessas transformações. O Vice

Presidente da marca, Jomar Beltrame, apostou no uso desse merchandising ao vivo e disse

“Fizemos isso porque achávamos que o público estava cansado do filme de 30 segundos”.

Com o sucesso no programa do Raul Gil, o quadro se espalhou para outras emissoras. O

programa “Planeta Xuxa” criou, também em 1999, o quadro “Transformação” e a repercussão

foi tão grande, que a audiência aumentava em cerca de 4 pontos no Ibope. Atualmente, esse

tipo de estratégia ainda é usado em programas como o Vídeo Show (da Tv Globo) apostando na

fórmula da transformação e já passou por outros ao longo do tempo, como o quadro “Dia de

princesa com Netinho”.

Recentemente, a última grande aposta de mídia nacional da Embelleze foi a presença da marca

na novela “Avenida Brasil”, inclusive nomeando seu produto ao nome da personagem,

Monalisa. Isso já ocorreu com produtos passados, como é o caso do “Beleza Pura” que também

foi nome de uma das novelas da Tv Globo. Essa estratégia vem sendo adotada, pois o VP

Jomar Beltrame acredita que “Isso faz muito efeito com a mulher brasileira, já que as novelas

fazem parte da nossa cultura. Qual mulher não quer ficar bonita como uma artista de

televisão?!"

As novelas não são a única forma de parceria que a Embelleze mantém com a Rede Globo. Nos

anos de 2010 e 2011 a empresa também criou uma generosa aliança com o projeto Criança

Esperança.3

Sendo assim, essa é a estratégia de merchandising da Embelleze no Brasil e vem dando

resultados. Em 2009, a marca teve 34,1% de market share no mercado de transformação

(produtos que mudam a estrutura do cabelo), um dos mais importantes do seu segmento, o

capilar. Os diretores não assumem um público alvo, dando abertura da marca para todas as

mulheres, porém seus dados de vendas apontam um predomínio de consumo pelas classes C, D

e E.

3 O Criança Esperança é uma campanha nacional de mobilização social que busca a conscientização em prol dos

direitos da criança e do adolescente. Promovido pela Rede Globo, inicialmente em parceria com a UNICEF e

atualmente com a UNESCO. O projeto é uma das mais bem-sucedidas marcas relacionadas a programas sociais

dirigidos às crianças carentes em todo o mundo.

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Além de trabalhar com seus produtos no retail, a marca Embelleze possui uma diversificação

no seu modelo de negócios. Em 1998, foi criado o Instituto Embelleze com o ideal de atender

as necessidades de todas as pessoas empreendedoras que pretendem atuar no segmento da

beleza. O Instituto conta com três tipos de oportunidades de negócios: a escola, a academia de

práticas profissionais em beleza e a boutique de produtos.

Em 2004, esse modelo de franquia do Instituto atingiu mais de 300 unidades e já formaram

mais de 400.000 alunos. Isso deu à marca o reconhecimento de maior franquia de beleza da

América Latina, segundo a SMZTO (holding de franquias multisetorial). A mais recente

inovação do modelo diversificado de negócios da Embelleze é a Estação Belleza Pura, criada

em 2012.

A Estação Belleza Pura tem como objetivo entrar no ramo do salão de beleza e é especializado

no tratamento intensivo e na reconstrução profunda dos cabelos. Por enquanto essa nova

empreitada conta apenas com uma unidade, localizada em Duque de Caxias no estado do Rio

de Janeiro.

Entretanto, não é só no Brasil que a marca vem direcionando seus esforços. A Embelleze

fechou o ano de 2011 com 5% de seu faturamento proveniente do exterior. Presente no

mercado internacional desde 1999, os dirigentes da empresa vêm demonstrando o desejo de

aproveitar as oportunidades que vem surgindo pelo mundo. A maior prova disso foi a

contratação, em 2009, do atual Diretor da área de Comércio Exterior, o sr. François Menjoulou,

de nacionalidade francesa.

5.1.2 O Gestor Internacional e o Atual Cenário da Embelleze

Atualmente, o responsável pela Vice Presidência e pelos resultados finais dos negócios

internacionais da Embelleze é o filho do Presidente, Jomar Beltrame. Contudo, o crescimento e

a importância em forma de resultados da área vêm sendo mais expressivos nos últimos cinco

anos, graças ao Sr. François Pierre Menjoulou.

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Esse francês de dupla nacionalidade (Franco-Brasileiro) tem toda a sua formação acadêmica

desenvolvida na França, tendo sua experiência profissional sido acumulada pelo desempenho

de diversas funções gerenciais em diferentes países. Graduado pela Ècole Superieure de

Gestion e com um MBA no ENSEAD de Paris (1980), François começou sua carreira no ramo

dos cosméticos na multinacional L’Oréal em 1985 e se desenvolveu muito dentro da empresa.

De acordo com o seu depoimento:

Trabalhei 16 anos na L`Oréal. Comecei como vendedor e acabei saindo da França como

Diretor Comercial. Depois fui para a Rússia, por 5 anos, em seguida mais um ano e meio na

Argentina, além de 6 meses no Chile. Estou no Brasil há 17 anos e cheguei aqui pela L`Oréal

ficando cinco desses anos ainda pela empresa. (...) L`Oréal foi a minha maior escola, aprendi

muito por lá.

Depois da experiência na L`Oréal, para não precisar voltar para a França, François trabalhou em

diferentes empresas e ramos antes de entrar para Embelleze, tendo sido desde diretor de uma

empresa de Logísticas no Brasil (ID Logistics – 2 anos), até trabalhar no ramo imobiliário com

Walter Torres em São Paulo (por um ano). Com isso François adquiriu networking, vivência e

experiências no Brasil que culminaram no convite, durante uma feira de cosméticos, de Itamar

Serpa para que fosse trabalhar na Embelleze e desenvolver suas filiais internacionais.

Ao entrar na Embelleze, François não trouxe apenas o seu conhecimento e vivência do mercado

externo, mas também a sua forma de trabalhar. Esse atual gestor da área de comércio externo

diz que é fundamental no trabalho o contato humano, a ida ao campo para que se possa ter

conhecimento sobre o assunto. Em suas palavras:

Hoje em dia eu vejo muitas pessoas, a dois metros de distância, preferindo se comunicar

através de um e-mail, acham mais rápido. Eu considero que não tem nada melhor do que o

contato físico.

E continua:

Nada pode tomar espaço do conhecimento sobre o país (o campo), eu fui, em cinco anos, 15

vezes para a Angola, eu conheço bem esse lugar. Aliás, não conheço bem, eu conheço melhor

do que muitas outras pessoas que falam sem saber!

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Como prova do bom trabalho que vem sendo desenvolvido nesses últimos anos pela área de

comércio externo têm-se os dados de faturamento de antes e depois da entrada de François na

empresa. No final do ano de 2008, o faturamento dessa área era de U$257 mil dólares, já no

fechamento de 2013 o faturamento ficou em U$ 23 milhões de dólares. Esse valor hoje equivale

a 15% do faturamento total da Embelleze.

Com relação à Embelleze e seus produtos, a empresa fabrica anualmente 100 milhões de

unidades de produtos, ou seja, algo em torno de 8 a 12 milhões de produtos por mês. Dentre

esses, obtém-se três produtos líderes no mercado interno: Novex (15% do volume), Maxton

(12% do volume) e Natucor (12% do volume).

Gráfico 1 – Percentual de Volume de Vendas dos produtos Embelleze no Brasil.

Fonte: Dados fornecidos pela empresa.

A empresa ainda possui outros produtos, que são os 61% do volume de vendas do seu portfólio,

que se encaixam em três segmentos: tratamento, coloração e transformação de cabelos. No

segmento de tratamento estão presentes produtos responsáveis pela lavagem e tratamento (ex:

hidratação) dos cabelos, um exemplo de produto é o Novex. No segmento coloração,

relacionado à tintura dos cabelos, estão inseridos dois subsegmentos: oxidação (tintas similares

as da Wella e L’Oréal) podendo ser encontrado em forma de líquido ou de creme; e o de

produtos naturais (ex: Natucor), pois trabalha com ingredientes naturais não contendo

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oxidantes, peroxida, nem amônia (comuns em outras tinturas). O último segmento, o de

transformação, engloba os subsegmentos de relaxamento e alisamento.

No mercado externo, a divisão da receita entre os produtos é mais desequilibrada. Dentre os

produtos vendidos no exterior, a marca Novex corresponde a 90% do consumo e há explicações

para tal. Primeiro porque o nome é de fácil compreensão, “quer dizer a mesma coisa no mundo

inteiro”, segundo por ser um produto sem agressividade ao cabelo (sem os riscos de colorantes

ou alisantes); e terceiro pela imagem positiva que o Brasil possui no exterior. Os 10% restantes

são representados pelas vendas dos produtos: Maxton (coloração), Hair Life (alisamento) e

Sempre Bela (shampoo).

Atualmente, o único segmento do ramo de cosméticos no qual a Embelleze está atuando, tanto

no Brasil quanto no exterior, é o de cabelos. Mesmo assim ainda existem projetos de expansão

da marca para os segmentos de proteção solar, skin care, desodorantes, mas ainda de forma

incipiente. Esse foco no segmento de cabelos se dá pela história da companhia, marcada por 45

anos de dedicação à três pilares: mulher, beleza e cabelo. François acredita que um bom

trabalho e um pouco de sorte é o que os mantém como líderes, com produtos como o Novex,

mesmo em um mercado tão complicado como o brasileiro:

Temos ido bem nesse mercado que, segundo os jornais internacionais, não é um mercado

fácil, mas um mercado bom para o público brasileiro. É um mercado mais massificado, que

gosta de comprar, o 3º maior mercado em consumo do mundo, atrás apenas dos Estados

Unidos e do Japão. Mas é um mercado difícil, pois é travado pelos impostos.

E complementa o executivo:

A nossa sorte, de certa forma, é que o nosso segmento, apesar de não ser fácil, é bom, pois

nunca para. É também um segmento mais fácil para gerenciar na medida em que a inovação

não demora tanto, por exemplo, para pôr um produto no mercado demoramos apenas cerca de

três meses.

A Embelleze possui atualmente seu principal centro de distribuição localizado na cidade de

Nova Iguaçu e seu escritório (Head Office) localizado na Barra da Tijuca, ambos no estado do

Rio de Janeiro. Fora do Brasil, a empresa ainda possui um total de cinco filiais localizadas em:

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Portugal, Venezuela, Estados Unidos, Colômbia e Panamá; todas abertas no ano de 2009. Essa

empresa, que começou com apenas dois empregados e um produto no Brasil, hoje conta com a

atuação de 1.417 funcionários no Brasil e 34 funcionários focados na sua expansão

internacional.

Segundo o presidente da empresa, sr. Itamar Serpa:

Somos a quarta indústria fabricante de tintas para os cabelos. No começo eram apenas

xampus, cremes capilares e alisantes. Agora produzimos 350 itens, num total de cinco

milhões de unidades. Tivemos altos e baixos. A sociedade se desfez em 1977 e apenas na

década de 90 percebi que a marca estava sendo reconhecida. O que determinou a valorização

foi o fato de passar a enxergar a alma feminina. As pessoas não querem somente os produtos,

mas esperam que tragam emoção. Valorizar a mulher e tratá-la com respeito e não como

objeto fez da Embelleze marca de sucesso (Itamar Serpa, Presidente da Embelleze)

5.2 PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO

A internacionalização da Embelleze teve início entre os anos de 1999 e 2000, não se sabe ao

certo a data exata, e começou por Portugal. Naquela época não se tinha um plano e nem mesmo

um gestor responsável diretamente para tal expansão, ocorreu como em muitas outras

atividades na Embelleze, por oportunidade.

O dono, senhor Itamar Serpa, costumava viajar muito para o exterior e enxergou um potencial

de mercado nesse país de mesma língua. Essa visão associada a um contato com um

distribuidor feito na BeautyFair (feira anual realizada no Rio de Janeiro e São Paulo) fez com

que o presidente autorizasse o envio de um contêiner de produtos para venda no mercado

português.

Essa primeira abertura para o mercado externo ocorreu sem grandes expectativas, mais como

um teste. François, atual diretor da área de comércio exterior, acredita ser ilusório pensar que

você tem certeza sobre quando começar um negócio em algum país ou que isso é rapidamente

perceptível. Ele acredita que, na realidade, o que acontece são tentativas, avaliando erros e

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acertos e que normalmente começam de forma tímida e vão evoluindo com a experiência

adquirida:

Você já notou o que acontece quando dois cachorros se encontram pela primeira vez? Eles

começam a cheirar uns aos outros e é a mesma coisa no mercado. Um distribuidor vai

testando e testando (checando a aceitação), porque a realidade é que ninguém está a nossa

espera.

Após a entrada em Portugal, a ideia da Embelleze foi se expandir para outros países lusófonos,

ou seja, de língua portuguesa. A partir daí países da África surgiram como as opções viáveis.

Angola, país de mercado complexo devido a sua política e organização (demoraram quatro anos

para se firmar um contrato com um distribuidor no local), mas que hoje se encontra em posição

de sucesso para Embelleze; Moçambique, um país de menor porte, mas que também tem

importância significativa para a empresa; Cabo Verde, um dos países mais interessantes em

termos de experiência e oportunidade por seu tamanho (apenas 3 pequenas ilhas) e falta de

recursos nativos, nesse local quase tudo é importado e exportado, funcionando como um “hub”

para os outros países da costa da África, como a Costa do Marfim.

Em um segundo momento do seu processo de internacionalização, os donos da empresa

possuíam uma casa em Miami (EUA), da qual frequentavam muitas vezes ao ano, e notaram que,

assim como em Portugal, havia oportunidade naquele mercado. Portanto, no ano de 2009, a

Embelleze resolveu não apenas entrar com exportação simples nesse mercado, mas já com a

abertura de sua segunda filial (a 1ª havia sido criada no mesmo ano em Portugal). Entretanto, a

entrada nesse mercado não teve o retorno esperado devido a dificuldades de adaptação no

momento de entrada, como língua e forma de comunicação, mas a filial continua em vigor.

A abertura da filial em Portugal não partiu por interesse inicial da empresa, assim como ocorreu

no caso dos EUA, mas por falta de um acordo com seu antigo parceiro local para abrirem um

escritório em conjunto. Nessa situação houve uma grande perda de recursos financeiros e tempo

para possibilitar a abertura do escritório, até porque não existiu uma transferência de know how

entre as partes. Essa decisão de abrir uma filial em Lisboa, apesar de “forçada” e custosa, foi

considerada acertada e abriu portas para a comercialização nos 27 países da União Europeia.

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Com a evolução da ideia de se crescer internacionalmente, outros países foram surgindo na visão

da Embelleze. No caso da inserção na América Latina, foram feitas pesquisas e contatos através

da internet o que possibilitou a entrada nos mercado do Chile e, posteriormente, no Paraguai.

Contudo, o mercado de maior destaque dessa região é representado por três países: Venezuela,

Colômbia e Panamá.

A história com esses países do mercado Andino começou, em 2005, por meio da iniciativa de um

distribuidor da Venezuela em contatar os donos da Embelleze durante uma feira de beleza

realizada em São Paulo. Esse contato transformou-se em parceria para distribuição,

posteriormente tornando-se distribuidor exclusivo e finalmente em sociedade. Essa parceria, em

que cada sócio possui 50% do capital, resultou na abertura de três filiais em 2009 (Venezuela,

Colômbia e Panamá), continua em plena expansão e, atualmente, exportam mercadorias para 14

países da região andina (Peru, Bolívia, Equador, Guatemala, El Salvador, Costa Rica, Cuba,

Haiti, República Dominicana, México...). Nessa região foi essencial a parceria por conta da sua

complexidade política. Nas palavras de François:

Por que estamos hoje bem na Venezuela? Porque nós temos um parceiro local. Imagina, hoje

com essa confusão aceita como normal que tem nesse país?! Sozinhos nós já estaríamos fora

há muito tempo.

A Venezuela, pode ser considerada seu maior e principal mercado externo (cerca de 250 mil

itens de produtos vendidos ao ano), lá os produtos chegam a custar até 30% a mais do que no

mercado brasileiro e são percebidos como premium. Percebendo a importância desse mercado, a

Embelleze chegou a criar produtos específicos para serem vendidos no local, além dos seus

tradicionais produtos internacionais (Novex e Natucor).

A parceria com esse distribuidor venezuelano, além de ter proporcionado a presença em diversos

novos países, foi uma das mais significativas no sentido de gerar valor financeiro. No ano de

2013, foi registrado um faturamento dessa sociedade superior a 18 milhões de dólares, resultando

num negócio de cinco anos que atualmente vale em torno de 30 milhões de dólares, segundo seus

gestores.

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François Menjoulou atribui essa boa aceitação dos produtos Embelleze, não tanto pela marca da

empresa em si, mas pela imagem transmitida pelo Brasil no exterior. O gestor acredita que uma

das principais ferramentas de atração pelos produtos brasileiros é a sua empatia e a sua simpatia,

todos querem ser “como” os brasileiros no quesito beleza, sensualidade.

Eu tenho certeza de que é bem mais fácil vender um produto que venha do Brasil, do qual

podemos exportar um conceito brasileiro de sensualidade, de beleza da mulher, de

naturalidade, do Amazonas associada a tecnologia (...) é bem mais fácil do que um produto

que venha da Ucrânia. (...) O Brasil tem uma empatia que a França, por exemplo, não tem.

Com relação à estrutura de pessoal na parte de comércio externo da Embelleze também houve

uma evolução durante esse processo. A área, iniciada formalmente em 2009 com a entrada do

diretor François, contava no começo apenas com ele e uma assistente. Atualmente, no Brasil,

existem seis pessoas nessa área: dois estagiários (um para cada gestor); dois gestores (François e

Maurício); uma analista operacional e uma pessoa responsável pelo marketing da área; sendo

Jomar Beltrame, Vice Presidente, o principal executivo área.

François atua como o gestor das filiais e controla toda a equipe do exterior, além de compartilhar

a gestão dos funcionários internos, já Maurício é responsável pela parte de novos negócios.

Maurício entrou recentemente na empresa – atualmente há seis meses na companhia - vindo da

fabricante brasileira de facas e talheres Tramontina, com o intuito de trazer novos contatos e

formas de negociação. Atualmente é responsável por gerenciar os negócios do Chile e Paraguai,

tendo como objetivo próximo analisar uma possível expansão para a Argentina e para o Uruguai.

No exterior, a equipe é composta por 28 pessoas. Dentro de cada filial existe pelo menos um

gerente, necessariamente com experiência de trabalho/estudo internacional, e um responsável

pela área de comércio exterior (COMEX), para cuidar da exportação dessas filiais. Dentre essas

pessoas, poucas são brasileiras (no caso de Portugal e EUA as gerentes são brasileiras), a

Embelleze dá preferência à contratação de pessoas locais. No caso da Venezuela, por exemplo,

todas são venezuelanas e, ocasionalmente, são enviados brasileiros para que haja uma troca de

know how e experiências. Isso ocorre por dois motivos principais: as pessoas locais tem maior

conhecimento de seu mercado e uma expatriação é muito custosa para a empresa e pesa em sua

estrutura de pessoal.

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Apesar de ter pessoas com experiência internacional e funcionários de diversas partes do mundo

a Embelleze afirma não ter tido conhecimento prévio da maioria dos mercados em que se

estabeleceu. Seus gestores acreditam que em situações específicas e de dúvidas pontuais tem

valor fazer o uso de associações governamentais, como a APEX, e de organizações como a

ABHIPEC, para obter informações e orientações. Entretanto, o maior conhecedor da empresa e

de seu produto é a própria, portanto, cabe a ela determinar seu interesse de entrar ou não em um

país e arcar com as consequências. Em toda sua trajetória, a Embelleze confiou mais no seu

instinto e determinação do que em conhecimento técnico.

Em suma, a expansão internacional da Embelleze começou de forma tímida e quase passiva, mas

com o decorrer das experiências foram observando mais oportunidades no mercado e se

inserindo cada vez mais. O modelo da empresa, assim como acreditam funcionar no Brasil, é não

ter modelo e é essa sensação de “liberdade” transmitida por tal ideia que a Embelleze deseja

exportar por meio de seus produtos.

5.2.1 Os Desafios Da Internacionalização

Esse cenário de entradas em mercados externos sem grandes planejamentos, apesar de ter tido

retornos significativos, também trouxeram desafios à internacionalização da organização e à

manutenção de seus negócios.

Um caso a ser considerado é o ocorrido nos Estados Unidos. A entrada nesse mercado se deu

com um preconceito inicial que atrapalhou no desenvolvimento dos negócios no local. Dois

desafios foram mais visíveis nesse exemplo: a ignorância do poder da língua e a falta de

adaptação da comunicação para a cultura da região.

Com relação à língua, os empresários acreditavam que por ser de conhecimento comum que

“em Miami ninguém fala inglês”, mandar o produto para a cidade com o mesmo rótulo do

Brasil parecia fazer sentido numa área de vendas de Miami e seus 100 km ao redor. Não foi o

que ocorreu. As vendas foram baixas e os gestores da empresa perceberam que aquela região

tinha o espanhol como língua predominante, o português era inútil e caso quisessem se

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expandir para o resto do país seria imprescindível a rotulagem do produto ser em inglês. Assim,

num esforço de recuperação, a Embelleze adaptou os rótulos de seus produtos colocando-os

bilíngues com inglês (em destaque) e espanhol na parte inferior.

O segundo exemplo apontado como falha na entrada nos EUA foi com relação à comunicação.

Segundo François:

No Brasil temos a cultura da mulher brasileira predominando sobre julgamentos de cor (loira,

ruiva, morena...), raça (negra, caucasiana, asiática...), região, ou seja, uma cultura de inclusão

dentre as mulheres. Contudo, nos EUA essa cultura é distinta. Os Estados Unidos, nesse caso,

são conhecidos pela divisão, pela exclusão, pela visão de clusters. Isso significa que seria

necessária uma segmentação mais bem estudada para atingir os diferentes públicos presentes

nesse país que compram “comunicação” de formas diferentes.

O erro admitido aqui foi não ter percebido essas questões antes de fazer o lançamento do

produto com uma embalagem utilizando a imagem de uma modelo brasileira branca e acreditar

que esse produto atingiria as variadas etnias presentes na cidade de Miami, como por exemplo

os latinos. O aprendizado dessa experiência mal sucedida foi que a Embelleze deveria ter tido

mais cautela no lançamento de seus produtos naquele mercado.

Como solução, os gestores da empresa resolveram adotar o estilo “Dove” de comunicação, ou

seja, fazer uso de modelos distintas na mesma embalagem/propaganda para tentar se comunicar

com todos os públicos de seu interesse. A Embelleze não queria se colocar em uma posição de

venda étnica, para um nicho fechado de mercado.

Outro desafio, dessa vez enfrentado em todos os países para os quais a empresa resolveu

exportar, era o tamanho dos produtos. O principal produto vendido no exterior, o Novex, possui

embalagens de diferentes tamanhos: 100g, 210g, 700g, 1Kg ...; e foi observado que os países

possuem diferentes perfis de aceitação em relação a essa variedade. Existem países que

preferem os produtos pequenos e outros que só compram em quilos, todavia François acredita

que isso só se sabe posteriormente à entrada no mercado específico e que, nesse meio tempo,

você perde tempo e dinheiro.

A intenção de venda ou da sua história no país também foi levantada como um motivo de

preocupação. Existem duas opções no sentido do compromisso com o negócio: a) pode entrar

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em um mercado com uma visão de curto prazo, apostando alto no estilo americano “one shot”

(um tiro), sem estar muito preocupado se dará ou não certo; ou b) entrar com uma visão de

longo prazo, como ao abrir uma filial e ter a intenção de uma continuidade. A Embelleze vem

preferindo apostar na segunda opção.

Nos países de língua espanhola, da zona chamada de Belvida (das filiais da Venezuela,

Colômbia e Panamá), a língua e os rótulos não apresentaram grandes dificuldades. Pelo

contrário, ocorreu uma valorização maior do produto por ser exportado em português e ter sua

imagem associada ao Brasil. Em compensação essa região apresentou complexidades em

termos de adequação da higiene sanitária (preocupação com órgãos reguladores como é o caso

da ANVISA no Brasil).

Na Europa, a questão da língua também não foi apresentada como uma barreira, mas como uma

oportunidade de ganho (diferente dos EUA onde isso apareceu como um pré-requisito). Foi

atingido na Europa um faturamento estável com a língua original, contudo é perceptível que

para dar um salto e adquirir novos consumidores é necessário investir em rótulos com as

línguas: alemã, francesa e inglesa. Já na região da África do Norte para entrar nos Emirados

Árabes já foi percebida a importância de se colocar rótulos com: árabe, francês e inglês.

Com relação a existir alguma facilidade entre países culturalmente próximos entre si, o gestor

da Embelleze é claro, não acredita que existam semelhanças tão fortes entre países que faça

dele “igual” ao outro, ou colocado no mesmo pacote. Ele também reforça a importância da ida

a campo para compreender melhor a forma de negócio e o consumidor de cada país,

posteriormente a sua entrada. Nesse sentido, François declara:

Cada mercado é um mercado. Você pode até achar algumas semelhanças, Cuba, por exemplo,

tem certa semelhança com a República Dominicana e o Haiti, lá a mulher tem algumas

origens muito semelhantes. Embora, mesmo assim, o Haiti tem mais um mercado negro do

que Cuba, que é mais um mercado de latinos.(...) A gente tem essa ideia falsa de dizer

“América Central é tudo o mesmo mercado”, não acho.

François acredita que o grande desafio nessa questão não é procurar países que se assemelham

mais ou menos com o Brasil e sim quais os que enxergam maior valor nele. Ele acredita que o

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produto brasileiro tem um “goodwill” natural, mas que há países que apreciam mais seus

produtos, como é o caso da França, e isso é o que importa.

Pode até ser que eles não entendam nada do que está escrito, mas o fato de ter um rótulo onde

você fala da Amazônia, da sensualidade da mulher, de ingredientes vindo da nossa terra, os

franceses gostam disso. Isso sim pode fazer a diferença.

Outra preocupação da Embelleze é com relação às parcerias firmadas no exterior. A sociedade na

Venezuela foi importante para a o conhecimento do mercado local, para a compreensão da

melhor maneira de distribuir os produtos e de ter uma visão mais clara dos próximos passos.

Essa importância de se ter um âncora no país foi notada também quando, ao desenvolver a filial

de Portugal, apostou-se num crescimento pelas regiões da França e Espanha, porém ocorreu que

nelas os produtos não foram tão bem aceitos quanto na Inglaterra e na Suíça. François acredita

que se tivessem alguém local conhecedor do mercado não teriam começado pelos países que

acabaram escolhendo. Contudo, não estão em busca de parceiros, eles surgirão de acordo com as

oportunidades, lembrando que para funcionar essa relação é necessário se ter confiança.

É a oportunidade que irá mandar. Nós não procuramos. (...) Pode-se ter um contrato, mas a

relação de confiança não é só importante é o primeiro e o último ponto.

Com relação ao setor, um desafio válido tanto para o mercado interno quanto para o externo é a

sua necessidade em termos de novidade e exclusividade. As grandes marcas internacionais,

P&G, Unilever e L’Oréal, compreendem isso e estão sempre tentando inovar no setor. O ponto

em comum entre essas três é que atualmente estão olhando o mercado de dentro para fora,

antigamente apenas adaptavam campanhas externas e não se preocupavam com a cultura de

consumo local. Portanto, um obstáculo para se estabelecer nesse setor é se reinventar e estar

atento aos mercados locais e seus concorrentes.

Esses são alguns dos desafios encontrados por essa organização. Segundo seus dirigentes, o

mercado brasileiro não deve ser igualado a nenhum outro e isso acaba por gerar complicações

nas tomadas de decisão e acarretam em desperdício de tempo e dinheiro, mas nada que afete a

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evolução contínua no desenvolvimento dessa trajetória internacional que a Embelleze está

trilhando.

5.3 O FUTURO

Segundo François M., o mercado internacional aparece como um dos “pulmões” da expansão

natural da empresa. Em contrapartida, grande parte dos investimentos da empresa ainda é para

abastecer o comércio local e seu modelo de negócios, que abrange diversas divisões (salão de

beleza, varejo, escola profissionalizante...), e são esses que buscarão o crescimento de dois

dígitos da empresa. Todavia, com o passar do tempo, é esperado que a divisão internacional

cresça cada vez mais e ganhe maior importância nesses investimentos.

Os diretores dessa empresa familiar apoiam essa visão e esse projeto expansionista de François.

Um dos motivos para tal é que, por não precisar de uma força de vendas e nem de um

investimento em marketing centrado nessa divisão, a rentabilidade é maior, atualmente, no

mercado externo do que interno.

Cada vez mais a empresa vem buscando auxílio de instituições governamentais de apoio, como

é o caso da APEX-Brasil, para ter maior networking, participar de eventos de grande porte

(caso da CosmoProf em Bolonha, Itália), antecipar suas movimentações de mercado, auxiliar

nos casos como o da higiene sanitária no mercado Belvida. Porém, ainda mantém o

posicionamento de que o crescimento virá da sua própria capacidade de responder a uma

oportunidade e esse “feeling” não tem como ser adquirido externamente.

Dentre as possibilidades de atividades futuras que enxergam no mercado, existem duas frentes:

oportunidade de entrar em um novo mercado (expansão); ou encontrar um novo

distribuidor/retail para um mercado no qual já estão inseridos (melhoria). Não há limites e nem

fronteiras para essa organização, mas há mercados que os atraem mais como: Arábia Saudita,

China e Turquia. As razões variam, mas principalmente por serem mercados enormes, de alta

massificação e alta renda. De acordo com François:

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Eu não imponho barreira, posso ir até para Lituânia. Não temos frescura, até porque mesmo

que não estivéssemos planejando dessa forma, nós temos bases avançadas. No caso da

Europa, tendo filial em Lisboa, nós estamos preparados para qualquer lugar da Europa e do

Norte da África.

A Ásia é um mercado que acreditam ser ainda um mistério, pois os falta conhecimento,

visibilidade do local e, até o momento, oportunidade de inserção. Mas uma reunião durante o

período do carnaval de 2014 com investidores de Singapura pode ser a porta de entrada e um

potencial parceiro para esse mercado ainda obscuro.

Um passo importante esperado para 2014 é a abertura da segunda fábrica da companhia, a

primeira em um mercado internacional. O local escolhido é a Venezuela, país no qual já possuem

uma estrutura de negócios eficiente em função da sua sociedade com parceiros locais e também

por apresentar vantagens econômicas, como custo de mão-de-obra e de infraestrutura.

Com relação ao planejamento para os futuros mercados e para o futuro da divisão internacional a

Embelleze mantém a postura de pouco ou nenhum planejamento na entrada, porém já estão mais

preparados para planejar as etapas posteriores à entrada. Foi percebida a necessidade de se

planejar os gastos/custos com viagens e as despesas locais de maneira geral, com o

abastecimento do novo mercado, com o desenvolvimento de produtos específicos e com o

investimento em pessoas.

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6 ANÁLISE

O objetivo deste capítulo é analisar o caso da Embelleze sob a ótica das teorias expostas

(econômicas e comportamentais) que procuram elucidar o processo de internacionalização das

organizações. É esperado com essa análise que o leitor possa entender em que medida tais

teorias explicam o processo que desencadeou a internacionalização dessa empresa familiar e

contraste o que ocorreu ou não de acordo com os estudos feitos. Além disso, busca-se

responder às perguntas de pesquisa que orientaram esse estudo (vide capítulo 4, Metodologia).

6.1 EMBELLEZE NA PERSPECTIVA DAS TEORIAS ECONÔMICAS

A avaliação do fenômeno da internacionalização com base nas teorias econômicas pode ser

feita no mesmo molde de sua abordagem, ou seja, de forma sistematizada e estruturada. Essa

teoria é caracterizada pelo pressuposto da racionalidade, da visão de um homem econômico

que, ao utilizar da razão, é capaz de identificar de forma clara os problemas a serem resolvidos

(ANDERSEN; BUVIK, 2002; ANDERSSON, 2002).

Antes mesmo de analisar como cada teoria se relacionou com o caso apresentado da empresa

Embelleze, é possível identificar pela leitura do mesmo a presença do oportunismo, de fatores

externos ou emocionais como mais presentes do que a racionalidade proposta por essas teorias.

Entretanto, a seguir serão relacionadas às três teorias estudadas - CVP de Vernon (1966);

Vantagens da Multinacional de Rugman (1979); e Paradigma Eclético de Dunning (1980;

2000) – apontando seus contrastes e congruências.

Segundo Vernon (1966), sua teoria do ciclo de vida produto auxilia na análise do potencial do

mercado consumidor, em quando e onde a organização deve investir seus esforços na inovação

de um produto e no processo de internacionalização. O grande influenciador dessa teoria é a

vantagem comparativa de custos, pois a finalidade de seu modelo é proteger mercados

domésticos maduros por meio de uma produção no exterior a custos mais baixos.

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Neste caso a Embelleze se encontra em um país em desenvolvimento (Brasil), com alta

concorrência no segmento do seu produto mais exportado (Novex), que apesar de não ser

considerado um mercado saturado (“nunca para”) exige muita inovação. Portanto, a ideia de

exportar um produto já em fase de maturação (Novex foi criado em 2005 e era focado em

diversificação por meio de novos ingredientes) parece estar de acordo com a ideia de proteção

do mercado doméstico, mesmo isso não sendo uma estratégia declarada da empresa.

Além dessa questão do “quando”, determinada pelo início das filiais em 2009 aliada a

maturação de seu principal produto (Novex), o “onde” também pode vir a ser explicado por

essa teoria. Vernon (1966) sugere a vantagem de custo de se fabricar em um país de custo de

mão de obra mais barato que o local e é essa ideia que move o plano de criar uma fábrica na

Venezuela em 2014, pois hoje tal produto se encontra na fase de padronização e pode-se focar

nas suas condições de produção e em uma economia de escala.

Na teoria de Rugman (1979), o autor apresenta como vantagem da internacionalização das

empresas a diluição do risco que a diversificação da produção/exportação para diferentes países

gera. A Embelleze aparenta crer nos benefícios de uma diversificação, contudo, não apenas

pela internacionalização. Uma das vantagens que essa empresa apresenta perante seus

concorrentes é o seu modelo de negócio diversificado (salão, varejo, internacional, franquias).

Essa situação não desmerece o ponto abordado por Rugman, porém põe em questionamento se

estar presente em mais países seria mais vantajoso do que atuar em diferentes frentes com o seu

negócio, inclusive estar presente no exterior.

No Paradigma Eclético de Dunning (1980), o autor propõe um conjunto de três vantagens

distintas que juntas justificariam a motivação para inserção no mercado internacional, são elas:

vantagem de propriedade, vantagem de internalização e vantagem de localização. Entretanto, a

Embelleze não inicia seu processo de internacionalização focando nessas condições como

estratégia racional ou ativa. Mesmo assim, são notáveis as presenças das vantagens no que

tange a localização e a propriedade.

Ainda assim, a questão da localização é uma vantagem perante concorrentes internacionais. O

Brasil e, brevemente, a Venezuela, países no qual a Embelleze baseia sua produção, possuem

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um custo de mão de obra inferior aos países desenvolvidos, uma infraestrutura capaz de suprir

as necessidades da empresa e a transferência para a Venezuela também ajudará com relação aos

custos tributários, atualmente uma desvantagem do mercado brasileiro.

Com relação à vantagem de propriedade, a Embelleze sempre deteve a capacidade própria que

a distingue de seus concorrentes, seja ela o uso de ingredientes naturais (óleo de coco, broto de

bambu etc) ou até mesmo da sua habilidade intrínseca de inovar e de aproveitar as

oportunidades. O diretor da empresa, François, sempre tentou deixar clara essa necessidade da

habilidade de entender o mercado e aproveitar suas oportunidades:

Como empresa nós precisamos sempre nos inventar e nos reinventar, isso é básico no nosso

setor. O crescimento vai vir da nossa capacidade de responder a uma oportunidade, e isso nós

temos.

Dunning (2000), revisando seus trabalhos, acrescentou a relevância de quatro conjuntos de

motivações ou estratégias que levariam uma organização a sua internacionalização. Dentre essas,

a busca por mercados se encaixa como motivação póstuma a entrada da Embelleze na

Venezuela. Ao analisar o caso, nota-se a princípio a presença focada no mercado interno

venezuelano fazendo uso de sua parceria local, mas uma visão de que aquele mercado serviria de

hospedeiro para a conquista de outros mercados marginais. Essa visão teve como resultado a

atual presença em 14 países daquela região.

Ao analisar as congruências entre os estudos da visão econômica e a trajetória percorrida pela

Embelleze, pode ser percebido que a apesar da empresa ter tomado decisões em prol de uma

economia de custos, como no caso da Venezuela, isso nunca foi uma estratégia pré-concebida da

organização, tão pouco buscaram se cercar das informações corretas e completas para tomarem

tais decisões.

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6.2 EMBELLEZE NA PERSPECTIVA DAS TEORIAS

COMPORTAMENTAIS

Enquanto as teorias econômicas tendem a analisar informações buscando um objetivo em

comum – a maior eficiência econômica, as teorias comportamentais são muito mais abertas e

dependem de aspectos individuais dos gestores, como conhecimentos, atitudes, percepções e

expectativas. Além disso, tais teorias auxiliam a identificar padrões de comportamento a nível

empresarial o que possibilita comparar organizações. Neste estudo o foco principal de análise

foi direcionado para as teorias voltadas à avaliação do comportamento como organização,

todavia nesse caso um indivíduo se destacou a ponto de também merecer ser analisado e

questionar qual melhor teoria deveria ter sido utilizada.

Dentre as teorias abordadas no capítulo 3.2, a que melhor se encaixa com o caso da Embelleze

é o modelo Uppsala revisado (2009), ou seja, o modelo de Business Networks. Nesse modelo os

autores Johanson e Vahlne (2009) foram hábeis o suficiente para adaptar seu trabalho original

(1977) para o atual contexto de negócios, dando menos relevância a temas como a cadeia de

estabelecimento e a distância psíquica e, principalmente, acrescentando o valor das networks

nos negócios.

Para avaliar o caso da Embelleze entra em destaque a situação de três de seus países com

escritório local: EUA, Portugal e Venezuela. A comparação entre o caso da Venezuela e

Portugal é um exemplo da importância de se ter uma rede de relacionamento no mercado

internacional. Lorga (2002) apontou esse tipo de relação como elemento central nesse momento

e determinante de seu sucesso. No caso da Venezuela, a parceria que nasceu com a relação de

produtor-distribuidor e evoluiu para uma sociedade pode explicar o sucesso em ampliação para

mercados vizinhos e crescimento interno (econômico e de Market-share).

Com essa parceria baseada em um dos princípios do Business Networks, a confiança, os

executivos de ambas as empresas puderam trocar experiências e conhecimentos acerca de seus

mercados. Dessa interação, hoje gozam de um conhecimento novo, criado em parceria. Tal

conhecimento, advindo da combinação de produção da Embelleze e da distribuição da empresa

local venezuelana, hoje os está possibilitando a abertura da fábrica na Venezuela.

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Diferentemente do caso de Portugal, que pela falta de uma parceria de confiança a empresa

ainda tem dificuldades de escolher seus mercados pela Europa (vide situação Espanha e

França), a parceria com a Venezuela faz seu processo de internacionalização no mercado

andino cada vez mais acelerado. Isso reafirma a perda da importância de uma cadeia de

estabelecimento sugerida no modelo de Johanson e Vahlne (1977).

Já nos estudos brasileiros analisados, foi vista uma ampla utilização desse modelo de Uppsala

(1977) e da distância psíquica como motivadores para a entrada no mercado internacional.

Porém, pode ser percebido que no caso da Embelleze seus principais motivadores foram, na

verdade, a conveniência e a percepção das oportunidades. A língua, uma das características da

distância psíquica, pode ter sido o motivador inicial para a expansão nos países lusófonos,

começando por Portugal, mas nada teve relacionado à entrada nos Estados Unidos, por

exemplo.

Assim como no modelo Business Networks (2009) e na crítica dos autores Bell (1995) e

Nordström (1990), o caso da Embelleze evidencia que a distância psíquica ainda é um

influenciador na decisão de qual país entrar, mas não tem a importância imaginada em seus

estudos iniciais (Uppsala, 1977). Entretanto, é possível observar que um ponto que se mantém

do modelo Uppsala original é o objetivo da empresa que, ao escolher um mercado no exterior,

busca por um país com baixo risco e boas perspectivas de alto lucro no longo prazo.

Respondidas as questões de pesquisa sobre as motivações e o modo de entrada da Embelleze no

mercado internacional e dada a devida importância a principal e única parceria formal de

negócios da Embelleze, falta a questão sobre o desenvolvimento do processo de

internacionalização. O quadro (9) descreve a linha de tempo do processo de internacionalização

da Embelezze:

Quadro 9: Linha do Tempo do Processo de Internacionalização da Embelleze.

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Fonte: Desenvolvido pela autora com base nos dados fornecidos pela empresa.

No que tange a cadeia de estabelecimento, que preconiza a evolução gradual ou por etapas do

processo de internacionalização, viu-se que no caso dessa empresa familiar e tradicional

demorou 30 anos após sua inauguração para ter o seu primeiro passo internacional e depois

ainda mais 10 anos para a abertura da sua primeira filial internacional (Portugal em 1999). O

que pode notar nesse caso é que a falta de visão com relação à importância e o conhecimento

sobre como conduzir essa internacionalização pode ter retardado os seus passos iniciais. Tanto

que após a entrada do experiente diretor François a evolução para novos mercados no exterior

foi acelerada.

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Com relação a essa aceleração, alguns estudos brasileiros apontam que a participação do

governo, como a APEX e a Beautycare Brazil, também seriam propulsores para tal expansão

(MACHADO; NIQUE; FEHSE, 2011). A partir das entrevistas, apesar da declarada percepção

positiva do apoio do governo, este não parece interferir na velocidade do processo de

internacionalização, mas sim na sua facilitação. Essa velocidade também aparenta não ser

determinística, assim como Hedlund e Kverneland (1985) apontaram em suas críticas, não há

uma regra clara na evolução gradual, dependem de fatores como oportunidade de mercado,

conveniência dos executivos (exemplo caso EUA) e até de ações baseadas na “estratégia” da

tentativa e erro.

Outra questão que surgiu no decorrer desse capítulo, apresentada no seu início, é a importância

do gestor e, no caso da Embelleze, seu grande influenciador foi o diretor da área de comércio

exterior, François Menjoulou. Portanto, analisar seu comportamento pode ser interessante para

compreender algumas das ações dessa empresa. Com base nos fatos apresentados e percepções

sobre esse gestor coletadas durante o processo das entrevistas, foi realizado um breve resumo

sobre suas características.

François, um francês cidadão do mundo, tendo morado e trabalhado em vários países pode

dizer-se um destemido. Conhecedor do mercado de cosméticos, teve como grande escola a

L’Óreal, marca conhecida do setor pela sua presença global em mais de 100 nações, e não teve

receio de sair da Europa e se mudar para o Brasil, onde se encantou pela cultura. Tal cultura,

que ele diz transpirar um senso de liberdade, casou com a sua postura sem “frescuras”, que

prioriza o contato humano e dá a ele não somente o cargo, mas a atitude de gestor. Sua conduta

nos negócios condiz com sua trajetória profissional, na qual manteve-se sempre atento a novas

oportunidades e assim pretende continuar. François, apesar de não ser o dono da empresa, é

conhecido por seus proprietários como um grande empreendedor.

A intenção de fazer esse breve resumo é salientar que em processos complexos, como é o caso

da internacionalização de uma empresa, é uma tarefa árdua compreender todas as dimensões

das ações tomadas pelas organizações.

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7 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Este estudo teve como objetivo analisar o processo de internacionalização da empresa do setor de

cosméticos Embelleze à luz de algumas teorias econômicas e comportamentais sobre o tema.

Neste capítulo, o intuito é apresentar as conclusões acerca do estudo apresentado, levando em

consideração as limitações do método, estudo de caso único, e das teorias selecionadas. Além

disso, são apresentadas as recomendações e sugestões para estudos futuros.

7.1 CONCLUSÕES

O caso da internacionalização da Embelleze permitiu analisar o poder explanatório das teorias

econômicas e comportamentais e chegar à conclusão de que, nesse caso, a perspectiva de maior

influência ou a que melhor explica esse fenômeno é a comportamental.

Dentre as teorias comportamentais analisadas, o modelo apresentado por Johanson e Vahlne

(2009) é o que melhor se encaixa ao caso da Embelleze pelos seguintes aspectos: a importância

das networks/parceiros no resultado dos negócios; o poder da confiança nessas relações; as

vantagens do conhecimento por experiência; a menor relevância dada à cadeia de

estabelecimento no exterior; e a presença, mesmo que em menor escala, da distância psíquica

como motivador de escolha de mercado de entrada. Com relação a esses motivadores de entrada,

surgiram do estudo outros dois pontos que apareceram como influenciadores: a conveniência e a

percepção das oportunidades. Esse modelo também ajudou a responder às questões de pesquisa.

Portanto, respondendo a primeira pergunta de pesquisa “Quais as principais motivações que

levam uma empresa do setor de cosméticos brasileiro a ingressar no mercado internacional?”

temos um desejo de crescimento da empresa, associado à conveniência ou à facilidade de

exportar percebida de maneira oportunista, somado à experiência internacional de seu tomador

de decisão formando essas principais razões. A barreira da língua em um primeiro momento

também deve ser levada em consideração, mas não foi uma barreira nos momentos subsequentes.

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A resposta da primeira pergunta auxilia na segunda pergunta, que é a seguinte: “Como se

desenvolveu a entrada no mercado internacional da empresa em seu primeiro movimento para

o exterior? E nos movimentos subsequentes?”. O primeiro movimento para o exterior, como

foi visto na análise e no caso, demorou 30 anos após o surgimento da empresa para ocorrer.

Esse foi impulsionado por uma oportunidade apresentada por um distribuidor que ofereceu

seus serviços de exportação para Portugal. Nessa época, os diretores não tinham intenção de se

expandir internacionalmente, mas a conveniência de já ter um interessado, o baixo risco da

negociação (poucos produtos) e a falta de barreira linguística os fizeram iniciar seu processo de

internacionalização.

Para os movimentos posteriores a situação era diferente. Contrataram um diretor para cuidar e,

praticamente, inaugurar a área de comércio exterior com o objetivo de crescer

internacionalmente e estabelecer filiais onde fosse possível. Apesar de nesse segundo momento

existir um maior conhecimento sobre os mercados externos, o oportunismo (contatos em feiras

de negócios, indicações, países de mesma língua) prevalecia sobre o planejamento. Dessa

forma, a empresa foi se expandindo e hoje encontra-se com filiais em cinco países e atividades

em mais de 35 países (ANEXO C).

A terceira pergunta de pesquisa é sobre as redes: “Qual a importância das redes de

relacionamento para essa internacionalização? Como elas foram estruturadas?”. Apesar de

terem apenas um parceiro significativo (sócios), a Embelleze reconhece a sua importância nos

resultados internacionais da empresa e na evolução dos negócios como um todo. Até porque foi

por meio deles que a empresa foi capaz de adquirir e construir novos conhecimentos,

desenvolver e se inserir em novos mercados e estabelecer uma relação de confiança. Essas

consequências já respondem sobre a importância das redes.

Essa parceria com a Venezuela é a única rede de fato estruturada pela empresa. Eles

começaram como representantes de distribuição exclusivos, foram estreitando o

relacionamento até chegar em uma parceria 50% para cada e, hoje, contam com novos

escritórios na Colômbia e no Panamá frutos dessa parceria e vão inaugurar a fábrica na

Venezuela no ano de 2015, atingindo o comprometimento máximo de uma cadeia de

estabelecimento proposta por Johanson e Vahlne (1977).

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Com relação às teorias econômicas, a expectativa inicial era que essas funcionassem como uma

estratégia deliberada da empresa. Era esperado, a partir do referencial teórico, que a empresa

funcionasse de forma racional em suas escolhas, que as decisões fossem mais claras no que diz

respeito aos porquês a respeito do tema de internacionalização e que essa visão fosse prévia às

ações.

A realidade observada na Embelleze mostra ações da empresa que estão de acordo com os

princípios das teorias econômicas - como a crença nos benefícios da diversificação (RUGMAN,

1979), o “quando” e o “pra onde” exportar de acordo com as ideias do CVP (VERNON, 1966) e

o foco nas vantagens de localização e propriedade (DUNNING, 1980) – entretanto, essas

decisões foram tomadas quase que de maneira inconsciente ou de forma secundária com relação

à isso. A seguinte frase do diretor François deixa claro isso:

É a oportunidade que irá mandar. Nós não procuramos. (François Menjoulou)

O fato é que, no caso da Embelleze, poucas análises e estudos eram realizados com um intuito

de fazer uma previsão de mercados ou onde e quando se inserir, mas a partir de um momento

póstumo à escolha, as questões econômicas ganhavam relevância nas estratégias da empresa.

A influência do governo na aceleração da expansão também foi um ponto levantado inicialmente

nesse trabalho, mas que não teve o impacto esperado. A expectativa era que as ações

governamentais fossem capazes de funcionar como um propulsor do crescimento internacional

(MACHADO; NIQUE; FEHSE, 2011), mas o percebido foi uma facilitação do governo nos

trâmites, um auxílio, não um acelerador.

Conclui-se deste trabalho que a empresa em questão possui um comportamento passivo, porém

atento, com relação às oportunidades de expansão internacional. Seus dirigentes valorizam a

importância dos parceiros nesse mercado, além da experiência e do conhecimento do diretor de

sua área de comércio exterior. Após a entrada nos mercados, para a sua manutenção, aparece

também a preocupação sob a perspectiva econômica. Nesse setor dinâmico e em expansão, a

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Embelleze aposta na inovação, na sua falta de barreiras e no “feeling4” para continuar a crescer

com seus negócios.

7.2 RECOMENDAÇÕES

O presente trabalho se ateve a analisar um caso único, o da empresa Embelleze, sem o objetivo

de explicar ou explorar o processo de internacionalização de outras empresas pertencentes ao

mesmo setor, brasileiras ou estrangeiras.

A análise feita sobre esse caso também foi restrita ao referencial teórico proposto para o

trabalho, contudo, essa avaliação deu base para novos questionamentos. Uma limitação desse

trabalho foi não ter exposto, além da visão de algumas teorias econômicas e da visão

comportamental das organizações, a visão do empreendedor. Portanto, isso serve como

motivador para pesquisas futuras, que desejem rever o caso, investigá-lo sob o ponto de vista da

teoria do empreendedorismo internacional (OVIATT; MCDOUGALL, 1994).

Com relação ao método, sugere-se o uso de estudos quantitativos acerca do tema, tendo em

vista que trabalhos qualitativos tem o intuito de levantar questões para que essas possam

posteriormente ser exploradas, metrificadas e replicadas para outras organizações e setores. A

ideia é que estudos quantitativos possam generalizar ou não os pontos encontrados nesse caso.

Por esse trabalho ter feito a análise de um estudo de caso único, recomenda-se também a

realização de outros estudos de casos, podendo abordar outra combinação de teorias de

internacionalização. Pela escassez de estudos sobre o tema em organizações brasileiras no setor

de cosméticos, seria interessante buscar outros exemplos no país de empresas concorrentes à

Embelleze e comparar suas ações e resultados.

4 Feeling : Ter visão empreendedora, enxergar uma boa oportunidade, intuição.

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101

ANEXO A

ROTEIRO DE ENTREVISTA

INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS BRASILEIRAS: ROTEIRO

DE ENTREVISTA

Data: ___/___/___ Entrevistador: __________________________

Empresa: __________________________________________________________

Endereço: _________________________________________________________

Telefone: _________________Fax: _____________e-mail: __________________

Informações sobre o Respondente

Nome:_______________________________Cargo:________________________

Nacionalidade: ________________________

Há quanto tempo desempenha esta função na empresa: ____________anos.

Formação acadêmica:

Graduação: (curso e instituição)________________________________________

Pós-Graduação: (curso e instituição)____________________________________

Experiência profissional anterior:_______________________________________

_________________________________________________________________

Alguma etapa de sua formação acadêmica foi adquirida no exterior?

( ) Não

( ) Sim. Qual? (tipo, duração, país) ____________________________________

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102

Número médio de viagens ao exterior por ano (a trabalho e a lazer): ___________

Informações sobre a Empresa

Ano de fundação: ___________________________________

Ramo de atividade: __________________________________________________

Principais produtos comercializados por sua empresa:

Produtos

(por ordem de importância no

faturamento)

No Brasil

1.

2.

3.

4.

Número de funcionários no Brasil

TOTAL _______________________

Número de funcionários no exterior, incluindo aqueles que, mesmo estando no Brasil dedicam-se às

atividades de comérico no exterior:

TOTAL _______________________

Faturamento total anual: R$ _______________________

Faturamento referente à comercialização dos serviços no exterior, como % do faturamento total: ___%

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Possui esse dado segmentado por país de atuação? Se sim, como se dá essa distribuição?

Informações sobre as Operações no Exterior

Qual foi o primeiro país para o qual a empresa exportou ou iniciou operação internacional:

__________________

Em que ano em essa primeira venda ou operação aconteceu_________

Qual foi o principal motivo que, no seu entender, levou a empresa a iniciar operações no exterior,

especificamente neste primeiro país?

( ) solicitação de um cliente no Brasil que estava operando nesse país;

( ) pedido de um cliente localizado nesse país;

( ) oportunidade no mercado externo através de pesquisa de mercado;

( ) incentivos governamentais para estender as operações para esse país;

( ) por ser geograficamente próximo;

( ) porque executivos da empresa já conheciam esse país:

por ter relações familiares e visita-lo com frequência ( )

por ter estudado (graduação ou pós-graduação) nesse país ( )

por ter trabalhado anteriormente nesse país ( )

por dispor de relações profissionais estabelecidas anteriormente ( )

( ) Por outro motivo:

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

Esse modo inicial foi alterado com o passar do tempo? ( ) sim ( ) não

Caso positivo, que tipo de alteração (ões) foi (ram) feita (s)?

__________________________________________________________________

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104

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

Sequência e modos de entrada

Quais os mercados em que atua, o ano de entrada, o modo de entrada (exportação, escritórios,

licenciamento/franquia, investimento direto) e o tipo de propriedade (se for investimento direto, controle

integral, majoritário ou minoritário). Em caso de investimento direto, se é investimento novo

(greenfield) ou aquisição.

Mercado Ano Modo de

entrada

Investimento

Direto – tipo de

controle

Investimento

Direto – tipo

de

investimento

Distância Psíquica

Quais as percepções que tinha quanto a esses mercados e em que medida essas percepções se

modificaram? Qual a sua percepção de semelhanças e diferenças entre o Brasil e os países em que atua?

Por ocasião da entrada no mercado e à medida que adquiriu conhecimento do mercado? (Houve

mudanças de percepção?)

Aquisição de Conhecimento sobre os Mercados

Tinha conhecimento prévio do mercado? Fez algum estudo ou pesquisa antes de entrar em cada

mercado? E depois? Já tinha trabalhado ou estado no local previamente? Isso ajudou? Ou foi adquirindo

conhecimento com as operações? Qual foi, em sua opinião, a melhor forma de adquirir conhecimento

sobre o mercado? Pedir exemplos.

Comprometimento

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A atitude da empresa com relação ao primeiro mercado, por ocasião da decisão de atuar naquele

mercado, era vista como definitiva ou exploratória? E hoje, para o conjunto de mercados, mudou

alguma coisa?

Avanço sequencial

Em que momento percebeu que a empresa estava pronta para entrar em um novo mercado? Que fatores

levaram a essa decisão? E nos mercados seguintes? A empresa adotou uma estratégia passo a passo, ou

uma estratégia mais agressiva?

Pessoas

Quem são as pessoas responsáveis por dirigir as atividades internacionais (nome, cargo, há quanto

tempo estão na empresa, se já tinham experiência internacional prévia e como a adquiriram)?

Alianças e Parcerias

A empresa estabeleceu alguma parceria com outras empresas em sua trajetória internacional? ( ) sim

( ) não

Caso positivo:

Essa(s) empresa(s) eram brasileira(s) ou estrangeira(s)? ____________________

__________________________________________________________________

A iniciativa para a formação dessa parceria foi da sua empresa ou da empresa no exterior?

__________________________________________________________________

Que tipo(s) de benefício(s) essa parceria trouxe para a sua empresa?

( ) adicionou tecnologia ao meu produto

( ) trouxe conhecimento sobre as práticas comerciais naquele mercado

( ) trouxe clientes potenciais para o meu produto

( ) permitiu à empresa ultrapassar barreiras legais para atuar naquele mercado

( ) outra contribuição: _______________________________________________

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106

__________________________________________________________________

Com que tipo(s) de benefício(s) a sua empresa contribuiu para essa parceria?

( ) adicionou tecnologia ao produto/serviço do parceiro

( ) permitiu à parceira oferecer outro produto/serviço aos seus clientes já existentes

( ) permitiu à parceira aumentar a sua competitividade, oferecendo um produto/serviço equivalente por

um preço menor

( ) outra contribuição: _______________________________________________

Existia algum relacionamento prévio de sua empresa com esse parceiro antes de estabelecer alguma

relação comercial com o mesmo?

( ) Não

( ) Sim, existia um relacionamento social (amizade, parentesco etc.)

( ) Sim, existia um relacionamento profissional (fornecedor, cliente etc.)

( ) Sim, executivos desse parceiro haviam sido colegas de trabalho de executivos de nossa empresa

anteriormente

Essa parceria se restringiu ao desenvolvimento de mercado(s) no exterior ou também para o mercado

doméstico? ________________________________________________

A parceria foi estabelecida através de um documento formal (contrato) ou os negócios aconteceram de

maneira informal? _____________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

Com o passar do tempo, essa parceria foi ampliada? De que maneira? _________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

Essa primeira parceria continua existindo, ou ela se esgotou? Por quê? ________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

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107

Após essa primeira parceria, a sua empresa buscou estabelecer relações com outros parceiros no

exterior?

( ) sim, no mesmo país

( ) sim, em outro país

( ) não

Caso positivo, de que maneira se deu essa busca? (através de participações em feiras ou congressos

internacionais, através de indicações recebidas de clientes da empresa no Brasil ou no exterior, através

de recomendações de parceiros já estabelecidos, através de instituições do governo brasileiro etc.)

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

Existia uma relação de confiança entre os parceiros? Se sim, cite um exemplo de situação em que

isso foi demonstrado.

Informações de ordem geral

Como vê a importância dos mercados externos para a empresa? Sua percepção quanto a esta

importância mudou no decorrer do tempo, desde o início da atuação internacional até agora?

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

Qual a importância do governo (programas ou incentivos)para o desenvolvimento de novos mercados

para seus negócios no exterior?

___________________________________________________________________________________

_______________________________

Caso a resposta seja pouca ou nenhuma importância, perguntar se conhece algum programa

governamental que auxilie no processo de internacionalização.

Qual a importância desses programas do governo para a manutenção de seus negócios no exterior?

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

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108

__________________________________________________________________

Em sua percepção, a rentabilidade que a empresa obtém no exterior:

( ) é superior àquela obtida no Brasil

( ) é inferior àquela obtida no Brasil

Porque:___________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

Em sua percepção, quais as vantagens que seu produto oferece aos clientes, em relação aos seus

concorrentes diretos? (preço, desempenho etc.)

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

E quais seriam as desvantagens? ______________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

A empresa possui planos para crescer no exterior? ( ) sim ( ) não

Caso positivo, quais seriam as principais diretrizes que orientariam esse crescimento? (aprofundamento

da presença no(s) país(es) em que já tem presença atualmente, expansão para outros países que

oferecerem oportunidade, ou que tenham afinidade política e/ou cultural, ou que sejam próximos

geograficamente, ou que apresentem bom potencial de mercado para os produtos da empresa etc.)

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

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ANEXO B

NOVEX Chocolate na Amazon US

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ANEXO C

Escritórios Embelleze no mundo

(2014)