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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
ANDRESSA DE SOUSA RODRIGUES MESKO
O PROGRAMA “EDUCAÇÃO- COMPROMISSO DE SÃO
PAULO” E AS ESTRATÉGIAS DE IMPLEMENTAÇÃO DAS
POLÍTICAS EMPRESARIAIS NA GESTÃO ESCOLAR
CAMPINAS
2018
ANDRESSA DE SOUSA RODRIGUES MESKO
O PROGRAMA EDUCAÇÃO-COMPROMISSO DE SÃO PAULO E
AS ESTRATÉGIAS DE IMPLEMENTAÇÃO DAS POLÍTICAS
EMPRESARIAIS NA GESTÃO ESCOLAR
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em Educação da
Faculdade de Educação da Universidade
Estadual de Campinas para obtenção do título
de Mestra em Educação, na área de
concentração de Educação.
Orientador: Prof. Dr. Evaldo Piolli
ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA
DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELA ALUNA ANDRESSA
DE SOUSA RODRIGUES MESKO, E ORIENTADA PELO
PROF. DR. EVALDO PIOLLI
CAMPINAS
2018
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
O PROGRAMA EDUCAÇÃO-COMPROMISSO DE SÃO PAULO E
AS ESTRATÉGIAS DE IMPLEMENTAÇÃO DAS POLÍTICAS
EMPRESARIAIS NA GESTÃO ESCOLAR
Autora: Andressa de Sousa Rodrigues Mesko
COMISSÃO JULGADORA:
Prof. Dr. Evaldo Piolli
Prof. Dr. Eduardo Pinto e Silva
Prof. Dr. José Roberto Montes Heloani
A Ata da Defesa assinada pelos membros da Comissão Examinadora consta no processo de vida acadêmica do aluno.
2018
Ao Igor Stempniak Mesko e
ao meu amado filho Igor Rodrigues Mesko
AGRADECIMENTOS
Ao professor Dr. Evaldo Piolli pelas orientações e dedicação durante o percurso desta
pesquisa. Ao professor minha estima, respeito e carinho!
Aos professores doutores Eduardo Pinto e Silva e José Roberto Montes Heloani pelas
excelentes contribuições no exame de qualificação e por aceitarem compor a banca de defesa.
Aos colegas do Grupo de Estudos Trabalho, Saúde e Subjetividade (NETSS) pelas
leituras e discussões valiosas que contribuíram para este trabalho, obrigada.
Aos amigos e amigas Evandro Santinho, Paula Pessin, Adriana Jorge de Souza, Valéria
Cristina de Paula, Ana Paula Rodrigues, Vitor Pelegrin, Iuriatan Felipe Muniz, Diego Machado
de Assis, Rosemary Mattos, Fernanda Pinhelli Franzoi e Carolina Florido pelas leituras e
palavras de incentivo e carinho durante este trabalho. Em especial, à amiga Tatiana de Oliveira
pelas contribuições, parceria e críticas sobre esta pesquisa, meu carinho e amizade sempre!
Aos meus pais Almiro e Aparecida, e minha querida irmã, Andréa pelo carinho,
incentivo e apoio.
Ao meu marido Igor e ao meu filho Igorzinho pelo carinho, parceria e compreensão nos
momentos em que precisei dedicar-me exclusivamente a este trabalho.
Por último, agradeço a todos os profissionais de educação que fizeram e fazem parte da
minha trajetória profissional, pelo apoio e incentivo durante esta pesquisa.
RESUMO
A presente pesquisa de mestrado apresenta resultados sobre as formas de privatização endógena
e exógena aplicadas a partir do programa Educação – Compromisso de São Paulo via Gestão
Escolar. O estudo revela a participação da classe empresarial na elaboração das políticas
públicas educacionais paulistas e o processo de sedimentação de suas ações na gestão escolar.
A hipótese é a de que a classe empresarial se tornou interlocutora privilegiada nas formulações
das políticas públicas educacionais paulistas (privatização exógena) e vem atuando na
implementação de modelos, práticas e métodos (privatização endógena) utilizando-se dos
diretores e diretoras de escolas para garantir a efetivação deste projeto no seu interior. Analisa-
se, por meio da pesquisa qualitativa, como, amparado no discurso que elegeu a qualidade como
indicador central das políticas educacionais recentes, emergiu através da pesquisa documental
o conceito de um “novo diretor gerencial” em confluência com os ditames da agenda global dos
organismos multilaterais sob o prisma do imaginário neoliberal.
Palavras-chave: Gestão da qualidade. Privatização na educação. Gestão Escolar.
ABSTRACT
This MSc research presents results on endogenous and exogenous patters of privatization
applied through the project "Education - Compromise of São Paulo" via Schools Management.
The study reveals the enterpreneurial class engagement in the elaboration of São Paulo's public
policies for education and the proccess of its stabilishment in schools management. The
hypothesis states that enterpreneurial class had become privileged interlocutor along the
formulations of educational public policies of São Paulo (exogenous privatization) and have
acted along the implementation of models, pactices and methods (endogenous privatization)
that use the schools principals to grant the efectiveness of the project inside the schools.
Through qualitative research, we analyze the fundamental speech that elected quality as a
central index of recent educational policies, and the so supported rise of a "new management
principal" concept, with the help of documental research. All pointing to the direction dictated
by the multilateral organizations to the global agenda under the prism of neoliberalism.
Key words: Quality Management, Privatization in education, School Management.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1: OS CINCO PILARES DO PROGRAMA EDUCAÇÃO – COMPROMISSO
DE SÃO PAULO.....................................................................................................................61
FIGURA 2: A PARCERIA CELEBRADA PELOS PARCEIROS DA EDUCAÇÃO NO
BOJO DO PROGRAMA EDUCAÇÃO – COMPROMISSO DE SÃO PAULO..............63
FIGURA 3: TRAJETÓRIA HISTÓRICA DOS PARCEIROS DA
EDUCAÇÃO............................................................................................................................64
FIGURA 4: MISSÃO, VISÃO E VALORES DOS PARCEIROS DA EDUCAÇÃO......79
FIGURA 5: APRESENTAÇÃO DO CURSO “MBA GESTÃO EMPREENDEDORA –
EDUCAÇÃO: CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU NO SITE OFICIAL DA
SEE/SP.....................................................................................................................................85
FIGURA 6: EMENTA DAS DISCIPLINAS DO CURSO MBA GESTÃO
EMPREENDEDORA.............................................................................................................87
FIGURA 7: REPORTAGEM AULA DE TRANSPARÊNCIA..........................................94
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1: AS AÇÕES DA SEE/SP (DE 1995 A 2006) DISTRIBUÍDAS POR
EIXOS......................................................................................................................................57
QUADRO 2: PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO BEM-ESTAR SOCIAL
WELFARISM E DO NOVO GERENCIALISMO................................................................69
QUADRO 3: CURSOS OFERECIDOS PELA SEE/SP EM PARCERIA COM O
SETOR PRIVADO (2000-2013)............................................................................................82
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 12
1. A INFLUÊNCIA DA CLASSE EMPRESARIAL NA GESTÃO
PÚBLICA NO CONTEXTO NEOLIBERAL................................................................20
1.1. Do taylorismo à acumulação flexível: a mutação na concepção de gestão......20
1.2. Neoliberalismo: um breve panorama.................................................................36
1.3. As implicações do modelo pós-fordista na esfera do Estado:
a Nova Gestão Pública.........................................................................................41
2. A PROPOSTA EMPRESARIAL NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA: UMA AGENDA
GLOBAL ................................................................................................................................. 49
2.1. Reformas educacionais, ideário neoliberal e a participação do Brasil em sua
agenda global ............................................................................................................... 49
2.2. As reformas educacionais no Estado de São Paulo: de 1990 ao programa
Educação-Compromisso de São Paulo ...................................................................... 57
3. A CONCEPÇÃO EMPRESARIAL NA GESTÃO ESCOLAR NO
PROGRAMA “EDUCAÇÃO – COMPROMISSO DE SÃO PAULO” ............................ 68
3.1. Novo gerencialismo, privatização exógena, endógena e o novo diretor
gerencial.......................................................................................................................68
3.2. O Programa Educação – Compromisso de São Paulo: Um novo perfil de
diretor em gestação? ..................................................................................................81
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 98
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 100
ANEXOS ............................................................................................................................... 108
ANEXO A: Reportagem sobre o perfil de diretores de escola..............................108
ANEXO B: Resolução se 56 de 14/10/2018 sobre o perfil dos diretores de escola
da rede estadual paulista......................................................................................................111
ANEXO C: Regulamento do curso mba gestão empreendedora-educação.........126
12
INTRODUÇÃO
A presente pesquisa parte de diversas inquietações, vivenciadas no período de 2007 a
2016, no âmbito da docência e da gestão escolar na rede estadual paulista, como professora de
Língua Portuguesa e coordenadora pedagógica em escolas de ampla vulnerabilidade social e
econômica no município de Campinas.
Escolas com este perfil socioeconômico e com baixos resultados nas avaliações externas
de larga escala foram classificadas pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo
(SEE/SP) como “escolas prioritárias”1 no interior do programa Educação – Compromisso de
São Paulo2 (2011). Na ocasião, essas escolas recebiam monitoramento permanente por parte da
SEE/SP, especialmente nas práticas docentes e na gestão escolar, por intermédio de diversos
programas educacionais, tais como: a) avaliação externa de larga escala, de cunho censitário,
intitulada Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo – SARESP
(1996); b) Programa Qualidade nas Escolas –PQE (2007-2008), que que definia metas para
cada escola de acordo com os resultados de desempenho dos discentes mediados por um
indicador de qualidade (o Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo –
IDESP); c) currículo oficial do Estado de São Paulo de caráter prescritivo (São Paulo Faz Escola
- 2007) e d) Sistema de Bonificação por Resultados (2008).
No bojo deste processo, saltava aos olhos a ação dos gestores – especialmente dos
diretores e diretoras de escolas3 – ao enfatizarem nas reuniões pedagógicas como os docentes
deveriam ensinar os discentes de acordo com as prescrições formuladas pela Secretaria de
Educação, articulando esses métodos com os recentes programas que adentravam o cotidiano
1 As escolas prioritárias foram assim anunciadas em publicação no site oficial da Secretaria de Educação do Estado
de São Paulo em 12 de março de 2013: “Para reduzir a desigualdade de aprendizado no Estado, o
programa Educação — Compromisso de São Paulo prevê intervenção e monitoramento permanente em 1.206
unidades de ensino consideradas de maior vulnerabilidade tanto no aspecto socioeconômico, como nos de
infraestrutura e de aprendizagem. Desse total, 1.082 escolas oferecem Ensino Médio. Para essas unidades, haverá
prioridade na formação continuada de professores, investimentos em infraestrutura, atribuição de professores-
mediadores, salas de leituras e projetos especiais de recuperação do aprendizado dos alunos. O investimento em
obras previsto para o primeiro semestre é de R$ 178 milhões” (http://www.educacao.sp.gov.br/. Acesso em 15 abr
2014). 2 O programa Educação- Compromisso de São Paulo, anunciado no dia 15 de outubro de 2011, pelo Governador
Geraldo Alckmim do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), reúne todas as políticas educacionais a
partir de 1990 no Estado de São Paulo, tendo como foco principal a formulação de ações educacionais a partir de
parcerias entre o setor público e o setor privado (http://www.educacao.sp.gov.br/compromisso-sp. Acesso em maio
de 2015). 3 Assumiremos a opção didática de, ao longo do corpo deste texto, utilizar genericamente o termo “diretor” para
referir-se aos gêneros tanto feminino como masculino.
13
escolar, desconsiderando-se os aspectos locais e culturais das escolas. Em consonância com
essas mudanças, diversos cursos e ações formativas passaram a ser direcionadas para os
diretores de escola, coordenadores e os professores, neste último caso tendo como opção
preferencial o público de professores das disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática – áreas
do conhecimento focalizadas nas avaliações externas de larga escala.
Outro aspecto bastante ilustrativo das mudanças ocorridas no interior dessas
transformações refere-se ao exposto no discurso oficial em relação à melhoria da “qualidade”
do ensino. À época, a noção de “qualidade de educação” transmutava-se para algo que
relacionava a conquista da qualidade educacional com a forma de gerir e administrar as escolas.
Neste processo passou-se a focalizar, com forte ênfase, as ações conduzidas pelos gestores nas
escolas.
Presenciar e analisar a forma como os programas alteraram a dinâmica educativa e
consequentemente a gestão escolar e o trabalho docente permitiram reunir os elementos de
investigação que conformam esta pesquisa e que fornecem a base material para as investidas
teóricas aqui empreendidas.
O contexto teórico da pesquisa
Essas mudanças no campo da educação pública assentaram-se em conformidade com o
novo modelo de organização do trabalho oriunda da acumulação flexível (pós-fordismo) no
Brasil, a partir de 1990, por meio da edificação da Reforma do Estado Brasileiro, denominada
“Nova Gestão Pública”. Para o precursor da Reforma do Estado, Luiz Carlos Bresser Pereira
(1995-1999), a solução dos problemas da ineficiência do Estado-Social-Burocrático era a
rigidez nas normas e procedimentos, o controle dos processos e a racionalidade formal nos
serviços públicos (BRESSER, 1997).
A Reforma do Estado se estabelece como uma nova forma de participação do cidadão
no âmbito da realização do seu exercício democrático. Neste contexto, a criação de novas
instituições, como as agências reguladoras e as organizações sociais, passam a atuar no controle
social e econômico sob a égide da competitividade de mercado. Nessa acepção, Ball (2011) ao
analisar os desdobramentos que alavancaram um novo modelo de gestão na esfera pública,
14
através das mudanças empreendidas à luz do ideário neoliberal e consubstanciadas na Reforma
do Estado, demonstra como as ações e ditames próprios do mundo empresarial confluíram para
a formatação de um novo modelo de gerenciamento denominado pelo autor como “novo
gerencialismo”.
Na área educacional, aspectos relacionados a essas mudanças foram analisados por
diversos estudos brasileiros. Em pesquisa de doutorado de 2010, Piolli analisa como o
gerencialismo utiliza como argumento central a necessidade de combater a ineficiência e
morosidade dos serviços públicos no Brasil, oferecendo, como solução preferencial, as
características da empresa privada na organização e no processo de trabalho provindas das
orientações do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI), construindo, assim,
as bases do Estado Social-Liberal que atingiu, posteriormente, as políticas públicas
educacionais.
Já a pesquisadora Souza (2002), em sua investigação, analisou as formulações descritas
nos documentos produzidos pelo Banco Mundial, que revelaram uma confluência e ampla
reestruturação em nome da “melhoria da qualidade de ensino” sob o prisma da racionalidade
econômica e instrumental nas políticas públicas educacionais no Estado de São Paulo no
período de 1995 a 1998.
Em pesquisa recente, Oliveira (2017) detectou que a concepção de qualidade nas
políticas públicas educacionais paulistas tem como objetivo ajustar o modelo de gestão escolar
e o próprio trabalho docente aos novos padrões de acumulação do capital advindos do mundo
empresarial. Neste sentido, a concepção de gestão do trabalho que embasa as recentes políticas
empresariais neoliberais estabelecera métodos e práticas para atender as demandas do setor
produtivo na formação de capital humano e novos dispositivos de controle no interior das
escolas públicas.
No âmbito da gestão, Lyra (2003), ao analisar as reformas educacionais no Estado de
São Paulo, demonstrou como a SEE/SP utilizou da formação continuada, por meio do curso
Circuito Gestão, lançado em 2000, para controlar a formação dos dirigentes regionais das
Diretorias de Ensino paulistas. Em sua pesquisa a autora constata as peculiaridades da gestão
empresarial, oriundas do modelo de organização do trabalho pós-fordista, configuradas na
formação desses sujeitos e, consequentemente, constata como este ideário transformou-se no
grande desafio dos dirigentes de fazer com que esse modelo faça parte da formação dos
15
educandos, estabelecendo no futuro um novo perfil de escola, próprio do parâmetro neoliberal
sob o prisma do capital.
Por sua vez, Piolli (2010) analisou como as reformas educacionais, empreendidas pelo
Governo do Estado de São Paulo na década de 1990, colocaram os diretores de escola como
atores principais na implementação da matriz discursiva do campo empresarial, apresentando
uma reconfiguração de sua identidade como líder inovador nas escolas públicas paulistas. Essas
mudanças não ocorreram sem contradições. Como aponta o autor, os mecanismos de controle
e cobrança sobre os diretores resultavam em sentimentos de insegurança e instabilidade
emocional no trabalho, como o sentimento de culpa e da responsabilização provindos da
interação dos sujeitos com as exigências e imposições do novo modelo de gestão.
A problematização e os objetivos da pesquisa
A partir deste quadro geral em que se insere a temática desta pesquisa, é parte
fundamental do nosso empreendimento teórico compreender e incorporar a conceituação
proposta por Ball e Youdell (2008) para a análise das formas atuais de privatização da educação.
Na perspectiva de ambos os autores, os processos atuais que aproximam a esfera educativa da
lógica empresarial ocorrem sob constante movimento de ocultação das práticas privatizantes.
Neste sentido, os autores denominam privatização endógena os processos que configuram, no
ambiente educativo, em diferentes níveis, práticas, métodos e modelos que sujeitam a todos que
condicionam o cotidiano escolar ao funcionamento próprio de uma empresa privada, sob os
ditames do alcance da qualidade, da eficiência e da eficácia. Em suma, essa forma de
privatização oculta sua “face”, já que é implementada por dentro via práticas e modelos de
gestão, de forma complentar às tradicionais ações de privatização dos aparelhos públicos dos
Estados nacionais.
Conforme esta acepção, uma das principais estratégias utilizadas pelos organismos
multilaterais, em confluência com a classe empresarial para implementar a privatização
endógena centra-se no aperfeiçoamento da ação educacional do diretor de escola. Assim, os
autores classificam novo diretor gerencial este sujeito, pensado para ser, nestas políticas, o
indutor de métodos e práticas gerenciais que, cada vez mais, se materializam por meio dos
resultados de desempenho dos educandos nas avaliações externas.
16
Com efeito, a presente pesquisa emerge com a seguinte indagação: “Quais são as ações
da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo efetuadas com a participação do setor
empresarial voltadas para gestão escolar e suas implicações no sistema público de ensino? ”.
Desta forma, diante do conjunto dessas políticas públicas educacionais no Estado de
São Paulo, interessa-nos apreender e destacar como o discurso da qualidade apresentou um
novo padrão de gestão das escolas públicas, utilizando-se de mecanismos como: o discurso da
qualidade, as avaliações externas e os indicadores de qualidade, para consolidar, através do
programa “Educação- Compromisso de São Paulo”, uma gestão de resultados importada da
classe empresarial.
A hipótese da presente pesquisa é a de que a participação da classe empresarial adentrou
as formulações das políticas públicas paulistas por intermédio do discurso da qualidade
associado a um conjunto de procedimentos de cunho gerencialista, e que atualmente o êxito
deste empreendimento político – implementar as reformas educacionais – focaliza-se na
atuação dos diretores nas escolas para consolidar o processo de privatização silencioso, também
denominado endógeno. Nesse sentido, constituiu-se como objetivo geral da pesquisa, analisar
a participação do setor empresarial na formulação das políticas públicas educacionais paulistas
e a consolidação de suas ações na gestão escolar, tendo como objeto de estudo a proposta de
gestão presente no interior do Programa Educação- Compromisso São Paulo.
Para alcançar o presente objetivo, se reconhece como fundamentais o delineamento dos
seguintes objetivos específicos:
Analisar os modelos de organização do trabalho, do taylorismo à acumulação flexível,
estabelecendo as conexões históricas entre a esfera do trabalho e as mudanças ocorridas
na dimensão da gestão;
Compreender o ideário neoliberal e sua relação no contexto da Nova Gestão Pública,
arcabouço central para as transformações operadas no campo educacional;
Examinar a configuração do discurso da qualidade empresarial presentes nas reformas
educacionais paulistas provindas dos organismos multilaterais, identificando a
participação desse segmento nas tomadas de decisões e na elaboração das políticas
públicas no ambiente escolar;
Aferir as mudanças empreendidas pela classe empresarial com foco na gestão escolar e
o perfil de diretor de escola proposto nas políticas educacionais atuais, buscando
17
estabelecer a relação entre privatização exógena e endógena e as formas de atuação via
gestão escolar no interior das escolas.
Procedimentos Metodológicos
O presente estudo, de abordagem qualitativa, optou pela pesquisa documental de fonte
primária e secundária, pela análise dos discursos oficiais e pela consulta bibliográfica
relacionada às reformas de políticas públicas educacionais, formas de privatização e seus efeitos
na gestão escolar desenvolvidos a partir do “Programa Educação – Compromisso São Paulo”.
Conforme Godoy (1995), os documentos caracterizam-se como de fonte primária
quando os sujeitos vivenciaram o fato estudado e, secundária, quando os sujeitos coletaram e
não participaram dos eventos.
A palavra “documentos”, neste caso, deve ser entendida de uma forma
ampla, incluindo materiais escritos (como, por exemplo, jornais, revistas,
diários, obras literárias, cientificas e técnicas, cartas, memorando,
relatórios), as estatísticas (que produzem um registro ordenado e regulas
de vários aspectos da vida de determinada sociedade e os elementos
iconográficos (como, por exemplo, sinais, grafismos, imagens, fotografias,
filmes) (GODOY, 1995b, p. 22).
Os documentos constituem-se por informações que permanecem por um longo período
de tempo e de fonte natural atrelados a determinado contexto histórico, econômico, social e
“retratam e fornecem dados sobre esse mesmo contexto” (GODOY, 1995, p. 22). Nessa
perspectiva, a pesquisa documental buscará se apoiar em uma fonte rica de dados, com materiais
de natureza diversa que desafiam o pesquisador a reexaminá-los para além do discurso oficial
que comportam, buscando novas interpretações complementares para um “tratamento analítico
aprofundado” (GODOY, 1995).
Para alcançar os objetivos da nossa investigação, soma-se a essa análise documental, a
análise dos discursos oficiais dos intelectuais formuladores das políticas educacionais
neoliberais e a consulta bibliográfica de diversas produções acadêmicas acerca do nosso objeto
de pesquisa.
18
Conforme o acesso aos documentos oficiais, legislação educacional, discursos oficiais
e fontes bibliográficas diversas, o instrumento metodológico utilizado será o de “análise de
conteúdo”, que não exclui outros meios de comunicação para além da oralidade e escrita. Essa
análise entende que por trás do discurso “aparente, simbólico e polissêmico, esconde-se um
sentido que convém desvendar” (GODOY, 1995, p. 23).
De acordo com Bardin (2016, p. 52), a “análise de conteúdo na pesquisa documental”
permite ao pesquisador inferir indicadores para uma manipulação das mensagens sobre “uma
outra realidade que não o da mensagem”. Essa abordagem permite desdobrar o texto escrito ou
o discurso falado em unidades categóricas conforme frequência, critérios de análise e categorias
que perpassam o presente estudo. O desafio encontra-se em promover uma investigação que
seja capaz de romper com aspectos fragmentadores da realidade, interligando texto, contexto e
reflexão teórica crítica.
A estrutura da dissertação
Nessa perspectiva, o presente estudo estrutura-se em três partes. No primeiro capítulo,
faremos um esforço de compreensão dos modelos de organização do trabalho desde o
taylorismo à acumulação flexível, buscando apreender as mudanças sociais, econômicas e
políticas que perpassaram essas transformações. Neste capítulo, nosso esforço é o tentar
demonstrar como as alterações no âmbito do trabalho vieram acompanhadas de mutações nas
“formas de gerir o trabalho” promovendo sofisticações explícitas e sutis no campo da gestão.
Soma-se a este primeiro exercício teórico a compreensão do ideário neoliberal, em consonância
com o receituário das agências multilaterais, e sua atuação no processo da Reforma do Estado
no Brasil (Nova Gestão Pública) a partir de 1990.
Sintonizado com isso, o processo de Reforma do Estado Brasileiro é analisado no
segundo momento deste trabalho, examinando-se como, através dessas reformas, o Brasil e o
Estado de São Paulo convergiram para uma agenda global dos organismos multilaterais, em
especial o Banco Mundial. Tal processo vem servindo para consolidar o prisma da gestão
privatizante do Estado em torno do consenso da atuação do privado sobre o público, utilizando
19
para isto o discurso da qualidade, da eficácia e da eficiência como polos justificadores das
mudanças em curso.
Na terceira parte, adentramos a sustentação conceitual que abarca esta pesquisa. Neste
campo, apoiados em Stephen J. Ball e outros autores, o conceito de privatização exógena e
endógena são chaves para a compreensão da tendência da participação da classe empresarial
nas formulações das políticas públicas educacionais de forma híbrida. A partir dessas análises
buscamos dimensionar como essas mutações implicam num novo perfil de escola e num novo
perfil de liderança proposto pelo setor empresarial. Nesta perspectiva avançamos na análise
documental que, ao nosso ver, são reveladores dessa trama na realidade educacional paulista,
materializada em ações recentes do programa “Educação – Compromisso de São Paulo” (2011).
E, por fim, com as considerações finais, esperamos com esta pesquisa contribuir para
proposições de consolidação da lógica privatista sobre o público nas quais nos debruçamos até
o presente momento.
20
1. A INFLUÊNCIA DA CLASSE EMPRESARIAL NA GESTÃO PÚBLICA NO
CONTEXTO NEOLIBERAL
A gestão como ideologia que legitima uma abordagem
instrumental, utilitarista e contábil das relações entre o
homem e a sociedade. Sob uma aparência pragmática e
racional, a gestão subentende uma representação do
mundo que justifica a guerra econômica.
Vicente de Gaulejac, Gestão como Doença Social.
Neste capítulo, analisamos as formas de organização do trabalho, do taylorismo ao pós-
fordismo, e o processo de configuração do neoliberalismo a partir da década de 1970, assim
como seus efeitos na constituição do processo da Nova Gestão Pública a partir de 1990 no
Brasil. Isso nos permitirá compreender como o modelo de acumulação flexível foi
desenvolvendo novos parâmetros nas formas de “gestão do trabalho” e como este foi sendo
incorporado por meio da Reforma do Estado, que posteriormente estabeleceu, no campo da
educação pública, uma nova roupagem com características do modelo empresarial.
1.1 Do taylorismo à acumulação flexível: a mutação na concepção de gestão
Na expansão do capitalismo monopolista, as formas de organização do trabalho, a partir
da escola clássica, tiveram como precursor Frederick Winslow Taylor.4 Com o objetivo de
alcançar a racionalização dos tempos e dos movimentos, na chamada “Administração
Científica” do processo de trabalho, sua teoria promoveu mudanças no modo de produção e na
organização do trabalho da época, perpassando, de maneira híbrida, várias organizações
atualmente.
Taylor (1990), com seu método científico, elaborou a noção de “tempo útil” com o
intuito de intensificar a produção utilizando-se do menor tempo possível para a confecção da
mercadoria. Expôs que seu principal objetivo “deve ser o de assegurar o máximo de
4 “Taylor foi trabalhar como operário para aprender a entender a objetividade do processo de produção e a
subjetividade do trabalhador. Criado em uma família de princípios rígidos, Taylor foi habituado desde cedo à
disciplina, à devoção ao trabalho e à poupança” (HELOANI, 2011, p. 25). Taylor publicou sua principal obra em
1911, o livro The Principle Of scientific Management.
21
prosperidade ao patrão e, ao mesmo tempo, o máximo de prosperidade ao empregado”
(TAYLOR, 1990, p. 24).
Para Taylor (1990), a cooperação entre patrão e operário (capital e trabalho) não é
contraditória, pois cristaliza-se na sedução do trabalhador pelo salário, pela premiação. Já a
empresa busca a eficiência no “mais alto grau”, objetivando aumentar sua produção (lucro) com
baixo custo no menor tempo possível. No que concerne ao trabalhador, Taylor (1990)
demonstra que, apesar da cooperação no trabalho conjunto, é na especialização individual de
cada parcela do trabalho que o sujeito atinge seu maior rendimento na produção, catalisado pela
competição entre seus pares.
Um aspecto revelado em seu livro “Princípios de Administração Científica” é
fundamental para a compreensão do taylorismo. Trata-se da noção de “vadiagem no
trabalho”. Ele ressalta a importância de combater “o hábito de fazer cera” no ambiente laboral,
analisando essa questão de diferentes perspectivas. Dentre elas, Taylor analisa que os métodos
utilizados pelos operários para burlar as formas de maior produção no espaço laboral,
denominadas “indolência natural e sistemática”,5 visavam deixar o patrão na “ignorância”. Esta
análise serviu de justificativa para o estudo do tempo e do movimento, desembocando em
métodos para a eliminação dos tempos ociosos produzidos pelos próprios trabalhadores.
Taylor (1990) explica que o método da “administração científica” está agrupado sobre
quatro pilares, a saber: 1) substituir o método empírico pelo científico, pela observação do
tempo e do movimento, com o uso do cronômetro; 2) Selecionar cientificamente, depois treinar,
ensinar e aperfeiçoar o trabalhador, consolidando todo o conhecimento do trabalhador sobre
seu ofício na fábrica de forma centralizada no setor de planejamento, este conhecimento sobre
o processo de trabalho fica sob a responsabilidade deste departamento e não mais só sob
controle do operário, reduzindo seu papel de forma simples, como por exemplo, o conhecimento
sobre o ritmo da produção e o trabalho artesanal; 3) cooperar cordialmente com os trabalhadores
com objetivo de controlar todos os detalhes de sua execução na produção e desenvolver uma
relação amigável com a hierarquia da fábrica, nesse princípio fica claro a separação entre quem
executa (trabalhador) e quem planeja (direção) e, 4) manter a divisão equitativa de trabalho e
5 Em Taylor (1990) a “indolência natural e sistemática” poderia se apresentar de duas formas: uma primeira
manifestada através de uma “tendência instintiva nativa de fazer o menor esforço” e a uma segunda que seria
“planejada” (premeditada e consciente).
22
de responsabilidade entre direção e operário, incumbindo a direção de controlar e vigiar os
tempos ociosos dos operários na fábrica na figura do contramestre.
Para consolidar os chamados “Princípios de Administração Científica”, Taylor utiliza-
se, como exemplo, o carregamento de barras de ferro, na fábrica Bethlehem Steel Company, por
um grupo de aproximadamente 45 homens carregadores. Ele observou que o carregamento
médio era de 12,5 toneladas por dia e, pós-estudos, os carregadores poderiam alcançar 47,5
toneladas de barras de ferro por dia, com movimentos únicos numa determinada função
específica (trabalho parcelado) e intervalos regulares. Isso explica o método da seleção
científica do trabalhador por suas habilidades específicas para determinada função individual e
fornece, como exemplo, o homem bovino,6 o operário Schmidt, para demonstrar a nova forma
no processo de trabalho com o carregamento de barras de ferro com intervalos regulares
atrelado à questão da “melhoria salarial” e ao respeito à fisiologia (corpo), sob a vigilância do
contramestre.
Esse método científico dos tempos e movimentos foi expandindo-se pelo mundo do
trabalho, a partir de 1920, com o auxílio da Organização Científica do Trabalho (OCT) e tinha
como propósito, sob a perspectiva do capital, “o progresso social pela introdução de novas
técnicas” (HELOANI, 2011), ampliando e modificando, nos Estados Unidos e na Europa, a
organização do trabalho. A ausência de “harmonia” entre operário e patrão era latente, mas foi
consolidada pelo desejo de acumular lucros. A habituação do sujeito para o trabalho
especializado, no qual as “orientações” da direção (os que pensam a melhor maneira de executar
com o menor tempo) foram fundamentais, levou à consolidação dessa ciência em nome da
prosperidade entre capital e trabalho.
Para Heloani (2011), o taylorismo age de forma desigual no âmbito da subjetividade
sobre os dois sujeitos – trabalhador e patrão – definidos historica e politicamente . Para este
autor, “ruptura” e “ambiguidade” instituem-se como prosperidade e cooperação por meio da
“aceitação das regras” que se traduz num jogo de dominação com o processo de “modelização
dos corpos”, forjando uma imagem harmoniosa sobre o trabalho. Nas palavras do autor:
Ruptura, na medida em que se separa a acumulação de capital da exploração
do trabalho. Ambiguidade, pois isenta o capital de sua exigência de dominação
política sobre o corpo, no espaço de produção. Desse modo, edifica uma
6 Como Taylor chamava o prestador de obediência cega aos instrutores, tipo ideal de operário, segundo ele.
23
arquitetura que limita a visão do espaço da dominação política (HELOANI,
2011, p. 30).
Vale ressaltar a repulsa de Taylor em relação à coletividade na fábrica e sua ênfase em
despertar nos trabalhadores o individualismo, cooperação e a ambição, que resultariam em um
maior controle sobre suas habilidades e na maior manipulação da sua subjetividade em
convergência com os “valores econômicos”. Marcado por nuances do racionalismo econômico,
este processo leva à transformação dos sujeitos em “homo economicus”, pois, segundo Heloani
(2011):
O discurso da cooperação precisa ser introjetado e posteriormente consolidado
pela subjetividade do trabalhador, para que se possa colocar o discurso da
ambição como uma necessidade inerente à personalidade do trabalhador.
Dentro desse contexto, os mais ambiciosos são premiados com maiores
incentivos para o desempenho de suas funções, sempre numa posição
taylorista em que se privilegia o desempenho individual e se combate o
trabalho em grupo (HELOANI, 2011, p. 34).
Motta (2006) confirma essa visão ao afirmar que quando o homem é levado a construir
suas atitudes em convergência com estes valores econômicos,
(...) o homem é encarado como um agente capaz de maximizar suas decisões.
Como seus valores são tidos previamente como econômicos, entende-se que
o fará em termos de maiores ganhos pecuniários. O homem é ainda visto como
um ser que procura um máximo de ganhos com um mínimo de esforços.
Diante desse dado cabe ao administrador garantir que o trabalhador dispense
o esforço de que é capaz. Para Taylor isso é possível porque existe uma única
maneira certa de se realizar um trabalho. Uma vez descoberta, ela maximizará
a eficiência (MOTTA, 2006, p. 07).
De acordo com Piolli (2010), o taylorismo proporcionou na fábrica, de forma clara e
intensificadora, a separação entre “execução e concepção”, consolidando a divisão do trabalho
por meio da cooperação, burocracia e a hierarquia no interior do espaço laboral.
Outro pioneiro desta corrente, Henry Fayol, contribui, em 1916, para a racionalização
da estrutura administrativa, através de sua obra “Administração Geral e Industrial” em
convergência com o autor dos “Princípios da Administração Científica”. Revela-se que ambos
24
(taylorismo e fayolismo) se complementam, tendo como base as ideias positivistas7. Segundo
Heloani (2011), no fayolismo, uma boa administração deve ser regida com as características
dos princípios da hierarquia militar, sendo necessário “planejar, organizar, coordenar,
comandar e controlar”, referindo-se à organização do trabalho no campo administrativo, que
não só influenciou a administração das empresas, como a administração pública,8 com
aprofundamento da estrutura hierárquica.
Cabe ressaltar, como explica Piolli (2010), a relevância no fayolismo em modelar o
homem sob diretrizes e estruturas hierárquica verticais, uma vez que “A organização da
empresa, em sua concepção, deve ser material e social, com todas as ações em seu âmbito
previstas e traçadas, em um programa que será amplamente controlado” (PIOLLI, 2010, pp. 47-
48).
Posteriormente, em 1913, Henry Ford iniciou seus estudos no interior de sua fábrica.
Buscando uma maneira de produzir um automóvel com baixo custo e menor tempo, introduziu
na organização da produção inovações que alteraram profundamente a organização do trabalho.
Entre estas mudanças, estava a introdução da esteira mecânica para produção do automóvel (o
inovador modelo T) e a produção em tempo médio de noventa e oito minutos para concluir o
produto, com salários de cinco dólares e jornada de trabalho de 8 horas por dia.
A partir da efervescência do taylorismo-fayolismo e sua materialização na divisão do
trabalho, o fordismo, com seu processo de linha de montagem no interior da fábrica, produziu
uma revolução na produção automobilística. Tal processo, segundo Gounet (1999), levou países
desenvolvidos à guerra econômica, pois este promissor setor era considerado de grande
importância para o desenvolvimento.
Para compreendermos como essa corrente transformou não só a organização e a gestão
do trabalho, mas também como se configurou como um projeto de regulação econômica e social
que influenciou o desenvolvimento econômico dos países desenvolvidos e as condições de vida
do trabalhador, faz-se necessário compreender as cincos transformações promovidas pelo
fordismo. Segundo Heloani, são elas:
7 Um grupo de intelectuais, influenciados pelas idéias de Frege na lógica e Wittgenstein na filosofia, empreenderam
uma crítica às concepções da ciência e da filosofia clássicas: o conhecimento só pode ser adquirido quando
submetido a critérios experimentais de ordem quantificada, não basta refletir sobre determinado problema, o que
interessa é saber se esse problema pode ser reduzido a uma questão de lógica (formal) técnica ou matemática.
Dessa postura nasce o positivismo. 8 Motta (2001), Heloani (2003) e Piolli (2010) destacam que o fayolismo inspirou a teoria da administração das
empresas privadas, públicas e escolas no Brasil.
25
a) a produção em massa, isto é, a intensificação do combate aos tempos ociosos, tendo
o tempo para produção como aliado primordial para atender os futuros consumidores
em massa (os trabalhadores);
b) o parcelamento das tarefas no processo de produção do automóvel, sendo que um
operário era colocado na execução de uma determinada função repetidas vezes
durante sua jornada de trabalho – diferentemente do trabalhador-artesão, que
precisava saber da confecção do produto como um todo –, aprofundando um processo
de desqualificação desse sujeito;
c) a introdução da linha de montagem que reúne diversos trabalhos parcializados e
individuais sobre a esteira, elevando o controle e o ritmo da produção;
d) a padronização das peças e a centralização de sua confecção na fábrica, para evitar o
desperdício do tempo no processo de produção em larga escala;
e) melhores salários para atrair os trabalhadores neste “aprimoramento” da concepção
taylorista (HELOANI, 2011).
Gounet (1999) e Heloani (2011) afirmam que o fordismo, ao dobrar o salário de cinco
dólares por dia dos trabalhadores, impôs uma série de padrões de condutas e normas, visando
estabelecer um sistema de premiação. Além disso, implementou-se o setor de serviço social,
disciplinando e controlando a vida dos operários dentro e fora do espaço da fábrica.
O fordismo, assim, conduz o taylorismo às suas máximas consequências, intensificando
a produção, gerando maior eficácia com ritmos de trabalho mais velozes. Esse processo
amortece a luta classes na produção, já que a “separação e a especialização do trabalho das
funções têm como objetivo combater o controle sobre as condições do trabalho que a autonomia
dos postos de trabalho pode permitir aos trabalhadores” (AGLIETTA apud TEIXEIRA, 1996,
p. 55). O sistema ainda articula a produção em massa como o consumo em massa,
universalizando, assim, o trabalho assalariado que, por sua vez, sustenta o processo de
acumulação, num círculo vicioso de demanda, consumo e crescimento. Tornou-se o modo de
regulação das economias de vários países, favorecendo o desenvolvimento no Estado de Bem-
Estar, no pós-guerra (1950-1970), “fase áurea do capitalismo”.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos emerge como uma poderosa
potência hegemônica, pois financiara materiais bélicos aos países aliados durante os conflitos
de guerra, tornara-se um grande credor do sistema internacional e possuía um mercado de
consumidores em massa como um grande potencial para a sua economia. Em 1944, na
26
Conferência de Bretton Woods, nos Estados Unidos, discutiu-se a reestruturação econômica e
reconstrução dos países do pós-guerra com definição de regras para fins de estabilidade
macroeconômica, o dólar como referência monetária internacional e sua integração como
padrão ouro. Surge nessa conferência, o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional
(FMI). O primeiro tem a função de ajudar a economia e o desenvolvimento dos países afetados
pela guerra com a exigência de integrar-se ao FMI, o segundo surge para garantir a estabilidade
monetária internacional para eventuais desequilíbrios na taxa de câmbio (SIMON, 2011).
Impulsionados por essas formas de gestão “científicas” do trabalho e pela liberdade de
competição no mercado mundial, as metrópoles europeias obtiveram enorme riqueza. Mas a
competição entre nações, produzida por esse mesmo impulso, deflagrou duas grandes guerras,
colocando em dúvida se não haveria a necessidade de intervenção estatal na economia. Esse
questionamento torna-se essencial com a crise da bolsa, em 1929, nos EUA, que se propaga
pelo mundo, produzindo caos na produção mundial. São postas em xeque a política e filosofia
do liberalismo e o padrão-ouro9, culminando na desestruturação, falências e níveis altos de
desempregos na Europa (SIMON, 2011).
Nos Estados Unidos, a crise de superprodução – promovida pelo padrão de produção
fordista e pelas inovações tecnológicas – e os altos níveis de desemprego e concentração de
renda resultaram num amplo debate sobre a intervenção do Estado na regulação da economia,
gerando ambiente para políticas de intervenção estatal como o keynesianismo,10 em que o
Estado deveria gerir o desenvolvimento econômico para atingir o pleno emprego.
Gounet (1999) demonstra como a “competição encarniçada” da indústria
automobilística apresentou-se com o Plano Marshal11 para reconstruir economicamente os
países capitalistas da Europa Ocidental, por meio de um conjunto de políticas adotadas pelo
9 A admissão do padrão-ouro como política monetária internacional era o regime de câmbio fixo que para cada
moeda emitida pelo Banco Central emitia-se ouro que visava um equilíbrio na competividade dos produtos nos
mercados internacionais. O Reino Unido, como potência hegemônica, impôs esse sistema conhecido como padrão
libra-ouro. 10 O economista britânico John Maynard Keynes (1883-1946) é o principal representante da macroeconomia
moderna. A teoria keynesiana propugnou a intervenção estatal na vida econômica em função do grande número
de desempregados no pós-guerra, situação que, segundo ele, seria temporária e que desapareceria graças às forças
do mercado. 11 Inaugurado em um encontro dos Estados europeus (com exceção dos países da Europa Oriental e da própria
URSS), em julho de 1947, o Plano Marshall instaurou-se como o programa de recuperação econômica europeia
conduzida pelos EUA.
27
governo norte-americano para enfrentar a Crise da Bolsa de Nova Iorque e instaurar o New
Deal,12 referenciado no setor automobilístico e no fordismo.
Por outro lado, este processo, segundo Gounet (1999), concorreu para o
desenvolvimento de uma espécie de “guerra econômica”, caracterizada da seguinte forma:
(...) os concorrentes não têm escolha: ou se adaptam às soluções fordistas,
inclusive o salário de cinco dólares, ou se refugiam em um nicho, uma
trincheira onde a produção artesanal ainda seja rentável, como os setores de
carros de luxo ou esporte, ou então desaparecem. Efetivamente, a mortalidade
de empresas automobilísticas é altíssima. Nos Estados Unidos, o número de
fabricantes cai de 108 em 1923 para 12 em 1941. Os sobreviventes introduzem
os novos métodos de produção e pagam 5 dólares a seus operários (GOUNET,
1999, p. 21).
Todo este conjunto de transformações na esfera política e econômica, tendo como
enfoque a consolidação do fordismo, promoveu transformações profundas no âmbito do
trabalho, promovendo efeitos também na esfera da subjetividade humana. Segundo Heloani
(2003), as transformações na subjetividade do trabalhador decorrem dos seguintes fatores:
“valorização” do operário, felicidade baseada no consumo, repasse da produtividade aos
salários e a consequente expansão da classe média e novas formas de controle na vida do
trabalhador dentro e fora da fábrica. Este último foi corroborado pela atuação de um exército
de assistentes sociais, visando um maior controle das questões econômicas em nome do
“consumo” para a felicidade, pela promoção de um padrão de conduta dos trabalhadores e da
possibilidade de tornar as reivindicações dos sindicatos coerentes com a lógica do sistema.
Heloani (2011) assinala que o fordismo conseguiu unir “coerção às formas de persuasão, como
características da escola de Relações Humanas”.13 Ainda, segundo o autor, tal processo
apresentou uma forma de enfrentar a solidariedade própria da coletividade no trabalho.
Com o keynesianismo em desenvolvimento, através do Welfare State (Estado-
Previdência ou Bem-Estar Social), implantaram-se novas políticas sociais e econômicas, que
contribuiram para assegurar as condições para o desenvolvimento do consumo e da expansão
12 O New Deal (“Novo acordo”) significou uma série de programas implementados nos Estados Unidos entre os
anos de 1933 e 1937, sob o governo do Presidente Franklin Delano Roosevelt, com o objetivo de recuperar e
reformar a economia norte-americana e, ao mesmo tempo, promover, sob uma política de intervenção estatal, uma
espécie de “auxílio” aos países devastados pela guerra. 13 O fundador dessa escola é o psicólogo George Elton Mayo, sua preocupação baseia-se em construir na
organização do trabalho o “homo social” e que sua relação com o trabalho necessita de “moral, satisfação e produtividade”. Motta (2001, p. 09) aponta que, nesse modelo, a ênfase está na noção de que “o homem é visto
como amplamente movido por necessidades de segurança, aprovação social, afeto, prestígio e auto-realização”.
28
dos investimentos capitalistas na Europa e nos Estados Unidos. Heloani (2011) afirma que foi
sob o domínio do keynesianismo que ocorreu a consolidação do modelo fordista, instaurando-
se o que ficou conhecido como “Anos Dourados” do pós-guerra. Nas palavras do autor:
Assim, o Estado-Previdência, o Estado do Bem-Estar Social ou ainda, Welfare
State, como ficou mais conhecido, complementou o projeto fordista, uma vez
que ambos se propunham a manter e assegurar o crescimento do consumo, isto
é, a expansão da demanda agregada, ajustando-a à absorção da produção em
massa. Propondo que a elevação da produtividade fosse repassada aos salários,
o fordismo apresenta um projeto de gestão de economia (HELOANI, 2011, p.
67).
Porém, posteriormente ocorre a saturação do modelo fordista. Este passa a ser
contestado pelos trabalhadores da década de 1960, que o consideravam estafante. Entre os
fatores contribuintes para esta situação, podemos ainda citar a oposição que o presidente norte-
americano Nixon sofria em relação a sua malfadada empreitada na guerra do Vietnã, fomentada
pela obsessão dos Estados Unidos em combater o regime socialista. Tal episódio gerou forte
contestação do movimento hippie, que pregava liberdade e se opunha ao governo e, na Europa,
o movimento estudantil de maio de 1968 passou a questionar o modelo de regulação social da
moderna sociedade capitalista, gerando intensas manifestações públicas. Além disso, vale
ressaltar que o abalo do modelo fordista também foi agravado por outros fatores, como: a
competição internacional, principalmente, entre o Japão, Europa Ocidental e os países recém-
industrializados; a crise do petróleo (1970) e a pressão pela substituição do câmbio fixo norte-
americano por um flutuante.14
Neste contexto, o modelo do Welfare State entra em crise, marcado pelo esgotamento
do modelo intervencionista keynesiano e pelo levante da luta de classe em diferentes países do
mundo (ANTUNES, 1999, p. 40). Assim, as décadas de 1970 e 1980 conformaram um período
de reorganização econômica e reajustamento social e político. Segundo Harvey (2014, p. 140),
nesse período, uma série de novas experiências de organização na indústria promoveram
mudanças na vida social e política que constituíram e representaram “os primeiros ímpetos da
passagem para um regime de acumulação inteiramente novo, associado com um sistema de
regulamentação política e social bem distinta”. A esse novo regime de acumulação Harvey
denominou acumulação flexível, marcada por um confronto direto com a rigidez do fordismo,
14 “Flutuante” significa a autorregulação dos preços determinados pelo mercado mundial, sem a intervenção do
Estado. Configura-se a retomada da ideia de “mão invisível”, determinada pela noção de Estado Mínimo.
29
esta se apoiava na flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos
produtos e padrões de consumo. O modelo, também chamado de toyotismo, iniciou-se na
indústria automobilística da Toyota, tendo como fundador Taiichi Ohno (1912-1990). Tal
modelo define-se pelo sistema de produção enxuto:
(...) caracterizado pelos cinco zeros: zero estoques (estoque mínimo), zero
atrasos (a demanda puxa a produção), zero defeitos (cada trabalhador controla
a qualidade do trabalho de seu colega precedente), zero papéis (o Kanban, que
em verdade é uma senha, diminuiu as ordens administrativas) e o zero panes
(nunca se forçam as máquinas, e a simplicidade tecnológica é valorizada)
(HELOANI, 2011, p. 120).
Essa escola mudou essencialmente a organização do trabalho vigente (taylorista-
fayolista-fordista) marcada pela rigidez, desenvolvendo em seu lugar uma organização flexível
no trabalho, através sobretudo dos mecanismos just-in-time15 (tempo justo) e o método
Kanban.16
A indústria japonesa vivia um impasse diante do fordismo, devido às dificuldades de
adaptação ao modelo fordista e os riscos de falência impostos pela concorrência intercapitalista
imposta pela produção norte-americana de automóveis. Segundo Gounet (1999. p. 25), essa é a
dupla origem do toyotismo: a falta de demanda dos modelos de carros e a condição de vida
restrita dos trabalhadores japoneses, contrárias às dos norte-americanos (baseada no poder do
consumo), foram de grande importância para construir a nova organização do trabalho com
“métodos flexíveis”. Este processo forneceu contexto para a participação do Estado Nipônico
no incentivo à economia nacional e mais especificamente à indústria automobilística japonesa,
visando tornar o Japão um país concorrente no mercado internacional.
Ainda de acordo com Gounet (1999), as fortes características do toyotismo são a
flexibilidade e o controle dos trabalhadores, percebida pela intensificação do trabalho através
do gerenciamento por tensão implementado pelo método Kanban e pelo aprimoramento da
noção de “qualidade” durante o processo de produção. Gounet, assim, descreve o método
Kanban:
15 É o sistema de produção enxuta e/ou demanda que visa confeccionar o produto na hora certa. Nesse sentido, o
produto só será confeccionado depois de vendê-lo com vistas a reduzir o estoque e custos na organização do
trabalho. 16 Esse método utiliza-se por meio de cartões que funcionam como sinalizadores durante o processo de produção.
Revelou-se no Kaban um controle maior de informações de quando, quanto e o que produzir em convergência
com o Just in time.
30
Em toda cadeia de produção há sinais luminosos com três luzes: verde, tudo
em ordem; laranja, há super-aquecimento, a cadeia avança em velocidade
excessiva; vermelha, há um problema, é preciso parar a produção e resolver a
dificuldade. Alguém poderia acreditar que o objetivo é acender em todos os
setores um verde tranquilizador. Nada disso! Se a luz está verde é sinal de que
existem problemas latentes, que não aparecem. É preciso acelerar o fluxo.
Assim, a cadeia estará no limite da ruptura do problema. Os problemas
aparecerão. A empresa poderá remediá-los e elevar a produtividade, o
desempenho, a capacidade de fabricar carros de qualidade. É preciso, portanto
que os sinais oscilam permanentemente entre o verde e o laranja, o que
significa uma elevação constante do ritmo de produção (GOUNET, 1999, p.
29-30).
Ainda sobre a flexibilidade dos trabalhadores, destacamos o trabalhador como
polivalente, isto é, o sujeito que realiza diversos trabalhos parcelados, operando não mais “um
homem/uma máquina” e sim “um homem/cinco máquinas”, dentro de um pressuposto de
“trabalho coletivo” que levará o trabalhador a atuar simultaneamente em cooperação com outras
tarefas (GOUNET, 1999). Isso muda radicalmente o processo produtivo, tornando o trabalhador
polivalente para operar diversas máquinas e tarefas distintas em um sistema altamente
automatizado e de exigência de consolidação do trabalho em equipe.
Vale ressaltar o sucesso desse modelo à luz da tecnologia, tanto do ponto de vista da
intensificação, como da flexibilidade no trabalho. De acordo com Heloani (2011):
(...) deve-se, principalmente, ao fato de ter adotado a base tecnológica em
combinação com a organização do trabalho em equipe, com a produção
integrada (identidade de interesses entre as montadoras e os fornecedores de
peças e componentes) e com o aprendizado. Trata-se aqui do aprendizado
obtido pela generalização das experiências acumuladas na produção (saber
tácito), pela rotação dos postos, pelo alargamento das tarefas, pela constituição
de equipes semi-autônomas, pela redução dos níveis hierárquicos. É um
modelo adequado ao atual estágio de desenvolvimento do capitalismo
(HELOANI, 2011, p. 120).
Para uma síntese dessas transformações, Antunes (1999) diferencia o toyotismo do
taylorimo/fordismo da seguinte maneira: 1) visa atender às exigências mais individualizadas do
mercado consumidor, diferenciando-se da produção em série e de massa do
taylorismo/fordismo; 2) baseia-se no trabalho em equipe, com multiplicidade de funções,
rompendo com o trabalho isolado do fordismo; 3) a produção se dá de forma flexível, que
possibilita ao operário operar simultaneamente várias máquinas alterando-se assim a relação
homem/máquina; 4) tem como princípio o just in time, aproveitando melhor o tempo de
produção; 5) funciona segundo o sistema de Kanban, placas ou senhas de comando para
31
reposição de peças e de estoque; 6) as empresas do complexo produtivo toyotista, inclusive as
terceirizadas, têm uma estrutura horizontalizada, ao contrário da verticalidade fordista; 7)
organiza os Círculos de Controle de Qualidade (CCQs), voltados para melhorar a produtividade
das empresas, convertendo-se num importante instrumento para o capital apropriar-se do saber
do trabalhador, desprezado pelo fordismo.
Neste sentido, convém salientar a importância do desenvolvimento da noção de
qualidade neste contexto de mudanças nas organizações empresariais. Primeiramente, é
relevante destacar que nas preocupações do taylorismo, em seu método de Administração
Científica, já se encontram as bases para a questão da qualidade do produto alinhado com a
busca por maior rendimento do operário industrial e pela redução de custos para o setor
empresarial:
A concepção de qualidade para o taylorismo veio a integrar, portanto, noções
que se impregnaram no mundo empresarial, como otimização dos processos,
excelência, produtividade, controle do processo de trabalho, diminuição dos
custos e “harmonização” dos conflitos (OLIVEIRA, 2017, p. 39).
Mas Oliveira (2017) reforça que o modelo da “Gestão da Qualidade Total”, ao emergir
da crise de produção capitalista em meados de 1940 e da superação do modelo taylorista-
fordista, avança no sentido da elaboração de novas práticas para impulsionar a rentabilidade
por meio de “renovadas estratégias de gestão e controle da força de trabalho” (OLIVEIRA,
2017, p. 37).
A concepção da qualidade total oriunda da experiência da indústria japonesa pós-II
Guerra Mundial se difunde a partir de 1980, estabelecendo a gestão estratégica por meio do
comprometimento dos trabalhadores com a qualidade do produto “e tornando a força de
trabalho uma aliada da gerência, das chefias e das lideranças” (OLIVEIRA, 2017, p. 43). Nesse
sentido, a “Gestão da Qualidade” elevou a responsabilização de todos os trabalhadores
envolvidos na produção em nome da qualidade do produto.
De acordo com Oliveira (2017), o aperfeiçoamento da qualidade total envolve quatro
aspectos para além do arcabouço teórico sobre Gerência da Qualidade total, sendo: a) o discurso
da qualidade; b) espírito de equipe; c) liderança e d) definição de qualidade. O primeiro busca,
para além do atendimento ao cliente-consumidor, a sua adequação à necessidade e desejo do
cliente, “adiantando-se aos concorrentes por meio de análises do comportamento humano e de
32
indicadores estatísticos que permitem traçar uma estratégia ousada de marketing e efetivação
do consumo” (OLIVEIRA, 2017, p. 44). O segundo demonstra como o espírito de equipe
conduz à formação de seus sujeitos eficazes (trabalhadores) em nome do contínuo
aperfeiçoamento dentro da empresa e da educação formal,
(...)conjuga-se com as necessidades da empresa capitalista,
instrumentalizando o conhecimento na direção da formação do perfil de
empregado exigido pelas organizações empresariais. Entre as habilidades
requeridas encontram-se as capacidades de inovação, trabalho colaborativo,
geração de negócios e tomada de decisões. Aqui se confirmam os princípios
06 e 13 de Deming ao orientar a implementação do “treinamento em serviço”
e a instituição de “programas de educação e de auto aprimoramento
(OLIVEIRA, 2017, p. 44).
O terceiro aponta a liderança na concepção da qualidade total que engloba um novo
perfil de gestor que pode ser qualquer trabalhador da empresa, desde que seja oferecido todo o
treinamento e educação necessários para substituição de práticas autoritárias. Esse novo perfil
de gestor neotaylorista resolve conflitos e constitui equipes harmoniosas e produtivas na
efetivação das metas e resultados.
A liderança assume a capacidade de gestão dos conflitos com a terapia da
mediação, cujo foco encontra-se na “resolução de problemas” e no alcance
dos objetivos de maneira “alegre e solidária”. A função terapêutica da
liderança assume um estilo de autoajuda, no qual o feedback e a autocrítica
são processos que contribuem para o crescimento dos indivíduos enquanto
membros da organização, não enquanto pessoas em busca de autonomia
pessoal (OLIVEIRA, 2017, pp. 44-45).
E, por último, a definição de qualidade busca a harmonia entre capital e trabalho de
forma comum através do “caminho natural em busca de aperfeiçoamento”, “tomada como um
benefício indiscutível para a humanidade” e, por sua vez, “ocultando a violência e a
irracionalidade subjacentes aos processos históricos que produzem o progresso” (OLIVEIRA,
2017, p. 45).
Ainda segundo a autora, outro ponto a destacar no gerenciamento das empresas envolve
o aspecto da subjetividade humana em nome do culto da excelência e do desempenho por
intermédio do discurso da qualidade, que busca consolidar uma cultura da avaliação centrada
nos recursos humanos como um “recurso a mais da empresa” como por exemplo, as tecnologias
e instrumentos de produção. Esse recurso representa no espaço laboral uma “quebra da
33
dimensão coletiva” frente aos novos e diferentes mecanismos do comprometimento individual
do trabalhador por meio de “um sistema flexível que envolve a participação deste na resolução
dos problemas dentro da gestão”.
Heloani (2011) ressalta que, no toyotismo, o papel dos Programas de Qualidade Total17,
em seu discurso sobre a “busca da perfeição”, o “espírito em equipe” e da “cooperação” na
estrutura hierárquica das relações no interior do espaço laboral (“Gestão Participativa”), foi de
grande importância para reordenar essa dimensão da subjetividade dos trabalhadores. O
discurso da qualidade, combinado com as técnicas de gestão de produção para resultados
quantitativos, baseia-se na gestão pelo inconsciente (HELOANI, 2011). Assim, os
trabalhadores vão sendo transformados mediante uma pseudoparticipação sobre a organização
(MOTTA, 2006). Todos os trabalhadores são “clientes” e seu “saber tácito” é capturado e
apropriado pela gestão empresaria, favorecendo a acumulação do capital.
Outro elemento que contribuiu para o desenvolvimento deste processo de subjetivação
das ações no espaço laboral, segundo Piolli (2010), foi a influência da psicologia da “Escola de
Relações Humanas”:
A psicologia, a entrevista, a dinâmica de grupo, juntamente com a maior
eficiência dos aparelhos de comunicação e de informação, seriam expressões
de uma nova pedagogia fabril focada na harmonização dos sujeitos com a
organização (PIOLLI, 2010, p. 51).
Além disso, Gaulejac (2007) demonstra como o culto da excelência e do alto
desempenho nas organizações de cunho flexível fomentou, em nome da qualidade, a ruptura
com os modelos anteriores, que eram marcados pela rigidez do taylorismo-fayolismo-fordismo.
Observamos, também, que este processo influenciou a “aceitação voluntária” das normas por
parte da classe trabalhadora:
Trata-se, portanto, de uma ruptura em relação aos modelos autoritários e
normalizadores, uma vez que o programa de qualidade supõe uma aceitação
voluntária e a contribuição daquelas que aplicam. Como se uma norma aceita
voluntariamente não produzisse efeitos de poder. Sabemos, todavia, desde La
Boétie (1576), que o poder é muito mais intenso quanto mais assumido por
aqueles que suportam (GAULEJAC, 2007, p. 93).
17 O pioneiro do “Programa Qualidade Total” é William Edwards Deming (1900-1993). Seu reconhecimento na
melhoria do processo de produção através da qualidade se deu no Toyotismo, que mais tarde influenciaria o sistema
produtivo na acumulação flexível (pós-fordismo) no mundo todo.
34
Segundo Gaulejac (2007), esse processo é reforçado pelo poder ideológico do
gerencialismo. Este se constitui como ciência voltada para os resultados, ou seja, números que
visam, dentro da organização, um novo trabalhador de cunho utilitário sob a ótica dos
indicadores ou avaliações de desempenho, buscando-se, por meio da participação e iniciativa,
uma coesão entre capital e trabalho. Além do que, o autor assinala que entre as implicações da
manipulação das subjetividades desses trabalhadores estariam as consequências da
“quantofrenia”, isto é, o sujeito passa a permanecer sob a lógica da rentabilidade (resultados) e
competitividade entre seus pares. Com efeito, a partir da transição da Teoria da Administração
para Teoria das Organizações e Teoria das Relações Humanas, tem-se a preocupação com a
eficiência do sistema produtivo por meio do comportamento dos trabalhadores, ou dito de outra
forma, pela aceitação destes por meio da participação.
Para Harvey (2014), acumulação flexível (ou pós-fordismo) engloba o aparato
tecnológico, de comunicação e financeiro com novas roupagens para acumulação do capital,
intensificando a nova fase chamada de “Globalização”, que envolve também novos setores e
novas regiões geográficas subdesenvolvidas, como a América Latina. Nas palavras do autor,
A acumulação flexível envolve rápidas mudanças dos padrões de
desenvolvimento desigual, tanto entre os setores como entre regiões
geográficas, criando, por exemplo, o “setor de serviços”, bem como conjuntos
industriais completamente novos em regiões até então subdesenvolvidas (...)
(HARVEY, 2014, p. 140).
O autor assinala que a estrutura do novo mercado do trabalho dá-se pelo
“enfraquecimento do poder sindical” e pela “mão de obra excedente”, que se constituiu em
meio à exclusão e marginalização dos trabalhadores. Esse contexto caracterizou-se pela
subcontratação de pequenos negócios18 em torno da grande indústria e pela redução de salários
e contratos de trabalho flexibilizados, que se consolidaram como “peças centrais e não
apêndices do sistema produtivo” (HARVEY, 2014, p. 145). Com isso, apresenta-se assim uma
nova divisão internacional do trabalho para alcançar progressivamente a acumulação do capital,
chamada de “neoliberalismo”, que será melhor desenvolvida mais adiante.
18 A subcontratação (ou terceirização) como pequenos negócios, instaurou um novo mecanismo de fornecimento
de peças para a indústria. Estando num raio muito próximo à empresa ou dentro dela, essas terceirizadas passaram
a produzir conforme demanda, ou seja, de acordo com o ritmo satisfatório do sistema produtivo.
35
Harvey (2014) enfatiza o quão nocivo é esse novo modelo de subcontratação nas
empresas pós-fordistas, pois ajudam no “solapamento da organização da classe trabalhadora”,
tornando mais difícil os processos de organização e luta, confundindo – ou despolitizando – os
conflitos inerentes entre capital e trabalho. E mais, a competição entre os fornecedores
implicou, por meio de contratos de trabalhos flexibilizados e precários de tempo parcial, a
redução salarial dos trabalhadores empregados na cadeia de força produtiva.
Na mesma direção, indica Piolli (2010) no que concerne à subjetividade do trabalhador
e aos objetivos da empresa com base na Gestão Participativa no pós-fordismo:
Diferentemente da relação prevista no esquema taylorista, a empresa inserida
num ambiente concorrencial em escala global necessita da receptividade e do
envolvimento do indivíduo. Os novos arranjos em termos de organização do
trabalho, criados para o funcionamento das empresas, demandam
trabalhadores aptos a participar, a mobilizar saberes, técnicas e competências,
capacidade de iniciativa e de adaptação às mudanças permanentes. Trata-se de
uma nova relação que exige o envolvimento subjetivo do trabalhador. A
pressão no trabalho não fica mais vinculada à execução de tarefas
parcializadas, mas aos objetivos e finalidades das empresas. Nesse processo o
indivíduo ganha mais visibilidade (PIOLLI, 2010, p. 55).
Segundo Harvey (2014), a estrutura desse formato exploratório da classe trabalhadora
aumenta, criando a “periferia” pós-reforma dos países hegemônicos:
O centro – grupo que diminuiu cada vez mais, segundo notícias de ambos os
lados de Atlântico – se compõe de empregados em tempo integral, condição
permanente e posição essencial para o futuro de longo prazo na organização.
Gozando de maior segurança no emprego, boas perspectivas de promoção e
de reciclagem, e de uma pensão, um seguro e outras vantagens indiretas
relativamente generosas, esse grupo deve atender à expectativa de ser
adaptável, flexível e, se necessário, geograficamente móvel. Os custos
potenciais da dispensa temporária de empregados do grupo central em época
de dificuldade podem, no entanto, levar a empresa a subcontratar mesmo para
funções de altos níveis (que vão dos projetos à propaganda e à administração),
mantendo o grupo central de gerentes relativamente pequenos. A periferia
abrange dois subgrupos bem distintos. O primeiro consiste em empregados
em tempo integral com habilidades facilmente disponíveis no mercado de
trabalho, como pessoal do setor financeiro, secretárias, pessoal das áreas de
trabalho rotineiro e de trabalho manual menos especializado. Com menos
acesso a oportunidades de carreira, esse grupo tende a se caracterizar por uma
alta taxa de rotatividade, o que torna as reduções da força de trabalho
relativamente fáceis por desgaste natural. O segundo grupo periférico oferece
uma flexibilidade numérica ainda maior e inclui empregados em tempo
parcial, empregados casuais, pessoal com contrato por tempo determinado,
36
temporários, subcontratação e treinados com subsídio público, tendo ainda
menos seguranças de emprego do que o primeiro grupo periférico. Todas as
evidências apontam para um crescimento bastante significativo desta
categoria de empregados nos últimos anos (HARVEY,2014, p. 144).
Desta forma, as organizações do trabalho no pós-fordismo, nesse contexto da
globalização, disseminam processos de dominação sobre o trabalhador num formato híbrido,
utilizando-se da “Gestão Participativa” como forma de intensificar e desqualificar este sujeito.
Tratam-se de características centradas em metas, indicadores, avaliações de desempenho, que
recaem como responsabilização, estigmatização e punição dos trabalhadores na organização,
em confluência com o caminho famigerado de acumulação do capital.
A vitória dos governos de cunho neoliberal Thatcher (1979), na Inglaterra, e Reagan
(1980), nos Estados Unidos, constituiu um ambiente propício para uma ampla reforma que
abrangeu não somente as organizações privadas, como o Estado e suas instituições. Surgiram
termos que passaram a ser utilizados na esfera pública, como “empregabilidade,
desregulamentação, privatização, mercado, downsizing, terceirização, flexibilização dos
contratos de trabalho e administração gerencial” (HELOANI, 2011, p. 100). Assim, o Estado
aprofunda sua atuação a serviço exclusivo do capital. Todas essas mudanças e transformações
ocorridas no mundo do trabalho exerceram fortes implicações no processo de configuração da
forma como o Estado passou a gerir as políticas públicas, sobretudo nas áreas sociais, em
convergência com ideário neoliberal. Verificaremos, agora, como o neoliberalismo constituiu-
se a partir do esgotamento do modelo do Welfare State.
1.2 Neoliberalismo: um breve panorama
No processo de expansão do modelo de organização do trabalho pós-fordista, à luz da
crise de superprodução do capitalismo e do esgotamento do modelo de Estado do Bem-Estar
Social, abriu-se o caminho para a ofensiva neoliberal em meados de 1970 nos países
desenvolvidos, que se consolidou no campo ideológico, social, cultural e econômico em países
como Estados Unidos e Reino Unido. De modo geral, o neoliberalismo é a ideologia filosófica
e econômica do novo ciclo do capitalismo contemporâneo, cuja formulação se encontra nas
raízes da literatura do liberalismo clássico.
37
De acordo com Moraes (2001), o termo neoliberalismo significa:
a) uma forma de ver e julgar o mundo social; b) um movimento intelectual
organizado, que realiza reuniões, conferências e congressos, edita
publicações, cria think tanks, isto é, centros de geração de idéias e
programas de difusão e promoção de eventos; c) um conjunto de políticas
adotadas pelos governos neoconservadores, sobretudo a partir da segunda
metade dos anos 70, e propagandeadas pelo mundo a partir das
organizações multilaterais criadas pelo acordo de Bretton Woods (1945),
isto é, pelo Banco Mundial e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI)
(MORAES, 2001, p. 05).
A introdução da doutrina liberal deu-se por intermédio da publicação do livro “A
riqueza das nações”, em 1776, de Adam Smith, que defende a necessidade da livre iniciativa e
concorrência, a desregulamentação do Estado e a privatização das atividades econômicas. A
função do governo, segundo o autor, é proporcionar segurança, garantia de propriedade e
contratos e serviços essenciais de utilidade pública.
De acordo com Moraes (2001), essa doutrina revelou-se como um sistema social
ordenado e coordenado pelas ações humanas em que as ofertas e demandas são mediadas por
um “mecanismo de preço”, ou seja, a concorrência, sem interferência de leis e na qual os
interesses individuais dos sujeitos se constroem de forma “natural” na distribuição e divisão
dos interesses de toda a sociedade com a mínima interferência do Estado. Esse sistema ficou
conhecido como o da “mão invisível”.
Segundo essa engenharia, a economia de mercado, por meio da oferta e procura,
orientava-se de forma “natural”, “ordenada”, coordenando o interesse comunal, como se
houvesse uma "mão invisível" que orientasse o progresso da economia de forma livre para
constituir um ambiente favorável à competição na esfera territorial e de poder no Estado
nacional. Esse sistema também indicaria a eficácia da empresa e dos empreendedores,
sancionando as escolhas individuais, atribuindo-lhes valores negativos ou positivos (MORAES,
2001, p. 05).
O lado mais conservador da doutrina do liberalismo clássico foi desenvolvido por
Edmund Burke (1729-1797), no final do século XVIII, que aponta os limites da participação
política das massas por meio da democracia, crítica que seria aprofundada, a partir do século
XIX, por Benjamin Constant (1767-1830), Thomas Macaulay (1800-1859) e Henri Maine
(1822-1888), que discutiram a participação das massas na vida política por intermédio da
organização sindical, partidária e a conquista do voto.
38
Moraes (2001) aponta que, para esses autores, a participação das massas na política por
meio da democracia é uma afronta aos pressupostos do liberalismo clássico, tais como a
liberdade individual, a garantia de propriedade e a livre concorrência de mercado. Assim,
defendem participação da classe trabalhadora de forma limitada, caso contrário a ação política
do Estado ficaria refém dos interesses dos trabalhadores, o que consequentemente resultaria em
efeitos deletérios ao progresso econômico defendido por essa corrente de pensamento que, a
partir do século XX, influenciaria os neoliberais.
O marco inaugural do movimento neoliberal ocorreu na escola austríaca, por um dos
maiores representantes do pensamento econômico no século XX em defesa do liberalismo
clássico, Friedrich von Hayek (1899-1992), por meio da publicação do livro intitulado “ O
caminho da servidão”, em 1944. De acordo com Moraes (2001), a crítica que Hayek advoga
sobre qualquer medida política, econômica e social que vise a coletividade, sobretudo as
intenções da corrente de pensamento socialista desenvolvidas na União Soviética, se baseia no
problema da supressão das liberdades civis. Os recursos eram centrados num pequeno grupo de
burocratas, como no caso da União Soviética, que seriam incapazes de organizar as políticas
econômicas para a distribuição de bens e recursos pelo gerenciamento estatal. Além disso,
edificou sua crítica ao modelo do Estado de Bem-Estar Social,19 que reconfigurou a atuação do
Estado como agente central da promoção social e da organização da economia após a Grande
Depressão com o fim dos regimes totalitários na Europa Ocidental, como o nazismo e o
fascismo (MORAES, 2001).
Com essas medidas, desenhava-se como aceitável e desejável um novo modo
de produzir decisões políticas, novas formas de participação na política.
Consolidava-se um novo mundo político, marcado pela negociação entre
corporações empresariais e proletárias, intermediadas e institucionalizadas
pelo poder público. Processavam-se desse modo mudanças profundas na
esfera pública e na esfera privada, um novo modo de funcionamento para as
democracias de massa do Ocidente (MORAES, 2001, p.15).
19 “O Estado deveria manejar grandezas macroeconômicas sobre as quais era possível acumular conhecimento e
controle prático. O poder público, desse modo, regularia as oscilações de emprego e investimento, moderando as
crises econômicas e sociais. O New Deal americano e o Estado de bem-estar europeu iriam testar (e aprovar durante
bom tempo) a convivência do capitalismo com um forte setor público, negociações sindicais, políticas de renda e
seguridade social, etc. Em suma, em pouco tempo, o Estado viu-se em condições e na obrigação de controlar o
nível da atividade econômica, inclusive o emprego, através de instrumentos como a política monetária a taxa de
juros e os gastos públicos” (MORAES, 2001, p. 14).
39
Outra corrente relevante do ideário neoliberal, no século XX, em defesa do liberalismo,
foi a Escola de Chicago, constituída por professores que lecionavam no Departamento de
Economia da Universidade de Chicago. São eles: Jacob Viner (1892-1970), Frank Knight
(1885-1972), Henry Simons (1899-1946). Essa Escola foi impulsionada pela liderança de T.
W. Shultz (1902-1998), que recebeu o “Prêmio Memorial Nobel em Ciências Econômicas”
pelo seu trabalho centrado na economia agrícola. A “Teoria do Capital Humano”, no campo
da educação, desenvolvida por Gary S. Becker (1930-2014), influenciou as instituições
financeiras no pós-guerra, tornando-se elemento central para o desenvolvimento econômico.
Outro líder dessa escola com forte influência no século XX, que também obteve o “Prêmio
Memorial Nobel em Ciências Econômicas”, foi Milton Friedman (1912-2006).20
De modo geral, a “Teoria do Capital Humano” configura-se na área educacional por
intermédio do trabalho qualificado para o aumento da produtividade e acumulação do capital.
Assim, os investimentos em educação são estabelecidos de acordo com os interesses do capital,
utilizando-se do fator humano para o desenvolvimento econômico. Esse fator humano baseia-
se na valorização individual através do emprego e desempenho profissional dos sujeitos.
A escola de Virgínia ou “public choice”, representada por J. M. Buchanan (1919-2013)
e Gordon Tullock (1922-2014), apresenta-se como eixo central na "análise econômica da
política", defendendo que o comportamento “político” do sujeito se desenvolve na
macropolítica. Nesse sentido, essa corrente busca analisar as formas de conciliar interesses
distintos por meio da “escolha coletiva” em que se constroem regras e mecanismos (aparato
midiático) de incentivos na política para edificar uma confluência (consenso) na defesa, por
exemplo, da privatização e desregulamentação de políticas públicas.
Com a crise de superprodução do capitalismo, em meados da década 1970 nos países
desenvolvidos, com o forte crescimento do mercado financeiro e, sobretudo, com a redução na
forma de comunicação e dos meios de transportes a partir da década de 1980, à luz da
globalização, emergiu o (re)nascimento do neoliberalismo como uma nova forma de regulação
do Estado por meio da limitação da participação política, distanciamento da sociedade e o
sistema político, materializadas por essas lideranças políticas partidárias adeptas do ideário
20 Como um líder da escola de economia de Chicago, Friedman influenciou vários campos de pesquisa da
economia. Uma pesquisa feita com economistas posicionou Milton Friedman como o segundo economista mais
influente do século XX, logo atrás do britânico John Maynard Keynes. O periódico The Economist descreve-o
como o economista mais influente da segunda metade do século XX e possivelmente de todo o século.
40
neoliberal como Margaret Thatcher, na Inglaterra em 1979, Reagan, nos EUA em 1980 e
Helmut Kohl, na Alemanha em 1982 (MORAES, 2001).
Moraes (2001) afirma que o neoliberalismo não se configura apenas na responsabilidade
da limitação aos Estados Nacionais (regulação de normas, regras e leis) como na literatura do
liberalismo clássico, mas para uma esfera maior e de renovação por intermédio de governos
adeptos dessa nova ideologia e banqueiros dos países capitalistas centrais, e de agências
multilaterais como “o G-7, a OMC, o Banco Mundial, o FMI” (MORAES, 2001, p. 20)
constituindo um Estado supranacional do capital.21
De acordo com Harvey (2008, p. 13), o neoliberalismo é “um projeto político de
restabelecimento das condições da acumulação do capital e de restauração do poder das elites
econômicas” a fim de implantar e propagar os ideais de livre mercado e concorrência em nível
mundial. Assim, configura-se uma nova ordem econômica e geopolítica por meio da
globalização e aparato tecnológico para acumulação do capital em confluência com o Banco
Mundial e FMI. Oliveira (2017, p. 81) analisa que o neoliberalismo se constitui como “peça
chave” para a construção de um novo senso comum através de “diferentes estratégias políticas,
econômicas, jurídicas e de intervenção social ”, que envolvem aspectos da subjetividade
humana.
Complementando essa perspectiva, Laval e Dardot (2013, p. 07) apontam que o
neoliberalismo se revelou, para além da sua natureza econômica e política, como uma nova
razão do mundo, construindo uma nova racionalidade preponderante na razão econômica e
estendendo a “lógica do capital” para a constituição de um novo sujeito, através da manipulação
da subjetividade humana que engloba “todas as relações sociais e a todas as esferas da vida”.
A racionalidade neoliberal tem como característica principal a generalização
da concorrência como norma de conduta e da empresa como modelo de
subjetivação. O neoliberalismo é a razão do capitalismo contemporâneo, de
um capitalismo desimpedido de suas referências arcaizantes e plenamente
assumido como construção histórica e norma geral de vida. O neoliberalismo
21 “Com o Estado supracional do capital aparece pela primeira vez um Estado emancipado de toda territorialidade
e cujo poder, ainda que se imponha aos estados territorializados a partir de fora, não recria fora deles um outro
lugar para a política. Pelo contrário, ele é independente e separado de toda sociedade, situado em um não-lugar, a
partir do qual ele limita e regulamenta o poder das sociedades de dispor de seu lugar. Sem base social nem
constituição política, ele é um puro aparelho que expressa o direito do capital mundializado. Poder sem sociedade,
ele tende a engendrar sociedades sem poder, coloca em crise os Estados, desacredita a política, submete-a às
exigências de mobilidade, de "flexibilidade", de privatização, de desregulamentação, de redução dos gastos
públicos, dos custos sociais e dos salários, todas essas coisas pretensamente indispensáveis ao livre jogo da lei do
mercado. ” (Moraes, 2001, p. 21)
41
pode ser definido como o conjunto de discursos, práticas e dispositivos que
determinam um novo modo de governo dos homens segundo o princípio
universal da concorrência (LAVAL; DARDOT, 2013, p. 17).
Segundo os autores, o neoliberalismo revela-se como produtor desses novos sujeitos,
buscando todas as formas de exigências sociais dominantes para empreender as mudanças na
esfera produtiva do capitalismo contemporâneo. Ele apresenta-se, portanto, de forma complexa
e sistêmica visando a reorganização e a elaboração permanente de estratégias para reconfigurar
e sustentar o poder capitalista. Com isso, vale ressaltar que
Essa reorganização impõe sobre os trabalhadores uma pressão por
adaptabilidade generalizada, tanto no âmbito da esfera produtiva como na
esfera da reprodução da vida social, engendrando transformações que vem
produzindo determinações no mundo do trabalho, nas instituições públicas e
empresariais, nas relações de classe e nas dimensões da subjetividade humana.
(OLIVEIRA, 2017, p. 83).
Contudo, o neoliberalismo influenciou fortemente o mundo do trabalho e o modo como
o Estado passou a gerir as políticas sociais, consolidando o seu caráter hegemônico e racional
por um lado e agindo sobre as diversas dimensões da subjetividade humana, por outro.
Verificamos agora como este processo se desenvolveu no Brasil, sobretudo a partir da década
de 1990.
1.3. As implicações do modelo pós-fordista na esfera do Estado: a Nova Gestão Pública
Com o Consenso de Washington em 1989, nos Estados Unidos, ampliou-se a
participação dos países da América Latina na abertura da ofensiva neoliberal. Este receituário
carregava, entre outros aspectos, o intuito de implementar uma reforma fiscal e tributária, um
processo de privatizações das empresas estatais e a flexibilização das leis trabalhistas.
Por uma “imposição”, falseada por um discurso de convite à participação para assinar
acordos que visavam à concessão de empréstimos e cooperação econômica do Banco Mundial
e FMI, revelou-se, por parte do governo brasileiro, a urgência de seguir o modelo consolidado
nos EUA e no Reino Unido (1970-1980).
42
Num primeiro momento, o Brasil recusou sua participação no Consenso de Washington,
no entanto, com o processo de reestruturação produtiva instaurado, a partir de 1990, pelos
governos que estiveram à frente do executivo federal – Fernando Collor de Mello (1990-1992)
e Itamar Franco (1992-1994), ambos do Partido da Reconstrução Nacional (PRN) –, iniciou-se
a Reforma do Estado. Posteriormente, com a eleição para Presidente da República de Fernando
Henrique Cardoso (1994-2002), do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), a reforma,
coordenada pelo ministro da Administração Federal e Reforma do Estado (MARE), Luiz
Carlos Bresser Pereira (1995-1999), foi intensificada com a chamada Nova Gestão Pública.
Passaremos agora a discutir aqueles que julgamos serem os principais elementos que
conformam a Nova Gestão Pública, utilizando-se, para isto, do pensamento do então ministro
do MARE, materializado nos documentos publicados pelo próprio ministério.
Para Bresser Pereira (1997), a crise fiscal, que se estabeleceu a partir dos anos 1980,
pertence ao Estado e não ao capital. O autor faz apontamentos sobre o quanto é importante
reduzir a intervenção do Estado e o mercado assumir-se como responsável pelo controle de
diversas áreas do setor público, pois assim o aparelho do Estado tornar-se-ia mais eficiente,
competitivo e lucrativo. Nesse sentido, a Reforma do Estado visava a centralidade no mercado
com participação mínima das políticas reguladoras, como defendido pelo liberalismo clássico,
e a sua redefinição ocorre, segundo seu precursor, Bresser Pereira (1997), sobre quatro pilares
de sustentação:
a) a delimitação das funções do Estado, reduzindo seu tamanho em termos
principalmente de pessoal através de programas de privatização,
terceirização e publicização (este último processo implicando na
transferência para o setor público não-estatal das serviços sociais e
científicos que hoje o Estado presta); (b) a redução do grau de
interferência do Estado ao efetivamente necessário através de programas
de desregulação que aumentem o recurso aos mecanismos de controle via
mercado, transformando o Estado em um promotor da capacidade de
competição do país a nível internacional ao invés de protetor da economia
nacional contra a competição internacional; (c) o aumento da governança
do Estado, ou seja, da sua capacidade de tornar efetivas as decisões do
governo, através do ajuste fiscal, que devolve autonomia financeira ao
Estado, da reforma administrativa rumo a uma administração pública
gerencial (ao invés de burocrática), e a separação, dentro do Estado, ao
nível das atividades exclusivas de Estado, entre a formulação de políticas
públicas e a sua execução; e, finalmente, (d) o aumento da
governabilidade, ou seja, do poder do governo, graças à existência de
instituições políticas que garantam uma melhor intermediação de
interesses e tornem mais legítimos e democráticos os governos,
43
aperfeiçoando a democracia representativa e abrindo espaço para o
controle social ou democracia direta (BRESSER PEREIRA,1997, p. 17).
No que concerne à delimitação do Estado, destacamos que o autor expõe uma Reforma
do Estado centrada no gerencialismo, no qual o modelo de gestão aplicado absorveu
características do setor empresarial do pós-fordismo, tendo como metas a serem atingidas a
estabilidade monetária e o desenvolvimento do mercado como atividade de grande interesse do
Estado. No processo da reforma, as áreas sociais (educação, saúde, previdência social, cultura,
entre outros) continuam pertencentes ao Estado, no entanto, não são exclusivas. Essas políticas
continuam a ser garantidas, mas passam a ser geridas por meio da publicização: o mecanismo
público não-estatal, em que as Organizações Sociais passam a ser veículo da promoção indireta
dos serviços oferecidos pelo Estado. Neste caso, ocorre a transferência do oferecimento dos
serviços públicos para uma empresa de direito privado, sem fins lucrativos, envolvendo na
tramitação, muitas vezes, isenções fiscais.
As organizações públicas não-estatais se referem às Organizações Não Governamentais,
que ao serem publicizadas recebem o nome de Organizações Sociais. Estas são "quase
públicas”, pois não têm como característica a finalidade para o lucro e podem ser controladas
pela sociedade por meio dos "conselhos administrativos", ao contrário da privatização, que
atende aos interesses exclusivamente de mercado, ou seja, corporativistas.
Bresser Pereira (1997) enfatiza a relevância das organizações públicas não-estatais via
Organizações Sociais, justificando-as como sendo mais competitivas, com a possibilidade
adicional de serem controladas pelos próprios cidadãos através dos “conselhos” e pela
experiência do “orçamento participativo” – destacados como exemplos de experiências
democráticas, de transparência e controle social. Na mesma direção, as concessões expandem-
se para a área de investimentos em infraestrutura para os serviços públicos por meio de
concessões, como, por exemplo, nos casos de construção e gestão de rodovias, serviço de gás
encanado e da mídia.
A privatização insere-se como “uma alternativa adequada quando a instituição pode
gerar todas as suas receitas da venda de seus produtos e serviços, e o mercado tem condições
de assumir a coordenação de suas atividades” (BRESSER PEREIRA, 1997, p. 27). No Brasil,
ao longo da década de 1990, a indústria de minério, por exemplo, Companhia Vale do Rio
Doce, setor de telecomunicações como a Telebrás e as estaduais Telesp e Telerj, Eletropaulo e
os bancos estaduais fizeram parte da Reforma do Estado pelo processo de privatização, assim
44
como a flexibilização do monopólio do petróleo, com a Lei n º 9.478/1997. Esta última deu
abertura de investimentos a capitais estrangeiros.
Já a terceirização, outro processo implementado na lógica da reforma, passou a atender
aos serviços auxiliares, com processos de licitação, gerando recursos econômicos para o Estado
Social-Liberal, visando encampar
(...) uma série de atividades ou serviços auxiliares: limpeza, vigilância,
transporte, coperagem, serviços técnicos de informática e processamento de
dados, etc. Segundo a lógica da reforma do Estado dos anos 90, estes serviços
devem em princípio ser terceirizados, ou seja, devem ser submetidos a
licitação pública e contratados com terceiros. Dessa forma, esses serviços, que
são serviços de mercado, passam a ser realizados competitivamente, com
substancial economia para o Tesouro (BRESSER PEREIRA, 1997 p. 29).
A respeito da desregulamentação, Bresser Pereira (1997) defendeu o papel do Estado na
questão da atividade econômica com participação reduzida. Por outro lado, manifestou-se um
novo papel do Estado como regulador essencial em algumas áreas, como na política de
comércio exterior e controle ambiental. Assim, a interferência do Estado passa a ser reduzida e
não mínima e/ou autorregulada, como defendido pelos liberais clássicos. Constata-se que a
desregulamentação do Estado tem como preocupação a sua participação de caráter reduzido no
mercado com “eficiência e equidade”, sendo controlado pela sociedade sob a ótica da
transparência, para garantias de resultados no âmbito da "competividade, produtividade e
racionalização das atividades econômicas." (BRESSER PEREIRA, 1997).
Desta forma, verifica-se que a participação reduzida do Estado, ou seja, a
desresponsabilização do Estado, seria, para esse pensamento, uma forma de torná-lo “mais
público”, já que seria mais transparente e controlado pela sociedade civil através da
publicização, porém menos estatal. Bresser Pereira (1997) explica os mecanismos de controle
mediante três fatores: a) Estado (aparato jurídico); b) mercado (competição); e, c) sociedade
civil (grupos sociais). Nota-se, a ênfase do mercado, pois
(...) o mercado é o melhor dos mecanismos de controle, já que através da
concorrência obtêm-se, em princípio, os melhores resultados com os menores
custos e sem a necessidade do uso do poder, seja ele exercido democrática ou
hierarquicamente (BRESSER PEREIRA,1997, p. 38).
45
O autor busca expor que as três formas de controle são “essenciais”, no entanto, o
mercado seria melhor na perspectiva de atuação do Estado Gerencial, centrado na lógica da
organização do trabalho globalizado, como expusemos em relação ao pós-fordismo.
No que se refere à governança, outro aspecto central da reforma, Bresser Pereira (1997)
demonstra que o Estado Social-Liberal não pode ficar preso aos controles de procedimentos da
burocracia weberiana (racionalidade instrumental) em convergência com o aparato jurídico.
Este precisa ir além, tendo como cenário uma evolução tecnológica que objetiva conquistar
resultados na lógica do Estado Gerencial. Mas para tanto, seria preciso implementar um
processo de “desburocratização” favorecendo a “Nova Administração Pública”, por meio dos
seguintes mecanismos:
a) orientação da ação do Estado para o cidadão-usuário ou cidadão-cliente;
b) ênfase no controle dos resultados através dos contratos de gestão (ao invés
de controle dos procedimentos);
c) fortalecimento e aumento da autonomia da burocracia estatal, organizada
em carreiras ou corpos de Estado, e valorização do seu trabalho técnico e
político de participar, juntamente com os políticos e a sociedade, da
formulação e gestão das políticas públicas;
d) separação entre as secretarias formuladoras de políticas públicas, de caráter
centralizado, e as unidades descentralizadas, executoras dessas mesmas
políticas;
e) distinção de dois tipos de unidades descentralizadas: as agências executivas,
que realizam atividades exclusivas de Estado, por definição monopolistas, e
os serviços sociais e científicos de caráter competitivo, em que o poder de
Estado não está envolvido;
f) transferência para o setor público não-estatal dos serviços sociais e
científicos competitivos;
g) adoção cumulativa, para controlar as unidades descentralizadas, dos
mecanismos (1) de controle social direto, (2) do contrato de gestão em que os
indicadores de desempenho sejam claramente definidos e os resultados
medidos, e (3) da formação de quase-mercados em que ocorre a competição
administrada;
h) terceirização das atividades auxiliares ou de apoio, que passam a ser
licitadas competitivamente no mercado” (BRESSER PEREIRA, 1997, p. 42).
Além disso, associa-se à governança a necessidade de se promover a governabilidade.
Para tanto, estabeleceu-se um paralelo entre o “homem público” e o “compromisso político dos
governantes”, revelador de uma ideologia que visa reinstaurar o poder do Estado. Desta forma,
faz-se necessário responsabilizar o “cidadão”, cobrando do “homem público” sua “consciência”
com a responsabilidade de construção da uma democracia moderna, entendida como o
convencimento para a afirmação de políticas públicas de médio e longo prazo para atender a
46
lógica de mercado (BRESSER PEREIRA, 1997). Neste sentido, no que se refere à Nova Gestão
Pública, Lima (2015) enfatiza como a democracia no âmbito do Estado Gerencial reverbera a
lógica de mercado:
Observamos que esse conjunto de propostas que remetem a um modelo de
Estado que funcione conforme e em auxilio à lógica mercantil é justificado
“sob a perspectiva do mercado” ser inquestionável e de jogo político
“democrático” girar em torno de formas de adequação e suporte à lógica
mercantil. A democracia defendida por Bresser Pereira, é importante salientar,
é uma democracia tutelada pelo mercado (LIMA, 2015, p. 32).
De acordo com Zarnadini (2007), o processo da Reforma do Estado brasileiro perseguiu
a base ideológica do neoliberalismo e da globalização, configurando na sociedade pós-moderna
o seu caráter “técnico e ideológico na reprodução do capital”. Assim, firmou-se uma nova
administração pública gerencial que tem como objetivo uma nova racionalidade econômica e
instrumental à luz do cidadão-cliente e do controle dos resultados. Dessa forma, a Reforma do
Estado passou a ser orientada pelos valores de mercado em convergência com o padrão de
acumulação do capital. Constituem-se, nesse processo da implementação da Nova Gestão
Pública, as novas instituições, como as agências reguladoras e as organizações sociais em
convergência com essa sociedade globalizada e competitiva, tendo como características a
“pluralidade, a diversidade e a flexibilidade” (ZANARDINI, 2007).
No Brasil, esse processo é analisado por Neves (2005) no processo de implantação, no
primeiro mandato do presidente da República Fernando Henrique Cardoso (FHC), de um amplo
“ajuste econômico” em consonância com o Plano Real, perseguindo as orientações dos
organismos internacionais (Banco Mundial e FMI) e consolidando o “desmonte do Estado” por
meio das privatizações, terceirizações e a implementação das organizações públicas não-
estatais com o auxílio do aparato midiático e da sociedade civil.
Além da Reforma do Estado, ambos os mandatos do presidente Fernando Henrique
Cardoso foram marcados pelo participacionismo em conselhos, concretizando um processo de
“despolitização política” frente à correlação de força dos anos 1980. Nas palavras da autora,
esse processo se configuraria por:
Despolitização da política, no sentido, da inviabilização de projetos de
sociedade contestadores das relações capitalistas de produção da existência,
limitando as possibilidades de mudança aos marcos de um reformismo
47
político. E repolitização da sociedade civil, no sentido de fortalecimento de
práticas que induzam à conciliação de classes (NEVES, 2005, p. 91).
Além disso, Neves (2005) destaca como a classe trabalhadora brasileira passa a receber
forte influência da escola de Relações Humanas em consonância com a nova organização do
trabalho. Neste caso, o trabalhador contemporâneo teria abdicado paulatinamente de suas
tarefas políticas-militantes, transformando-se em um voluntário no seu próprio ambiente de
trabalho, marcado pela ideia de “cidadão colaborador” e não mais pelo enfrentamento ao padrão
em defesa de seus direitos (NEVES, 2005, p. 90).
Ao mesmo tempo, Paula (2005) aponta uma mudança da cultura burocrática para cultura
gerencial no setor público por meio do discurso da qualidade e da participação, provenientes
do setor empresarial:
O programa tem os seguintes objetivos: integrar os cidadãos à ação pública;
definir indicadores de desempenho para avaliar resultados e níveis de
satisfação de clientes (internos e externos) e estimular a criatividade, o
trabalho em equipe, a cooperação e a participação entre os servidores públicos.
Nesse contexto, a participação é entendida como o envolvimento dos
servidores na busca do aperfeiçoamento contínuo e o compromisso com a
satisfação dos clientes internos e externos da organização (PAULA, 2005, p.
15).
A cultura gerencial não se restringe apenas ao participacionismo, mas também alcança
o regime de contratação mais precária dos servidores públicos pela Emenda Constitucional nº
19, de 04 de junho de 1998, acarretando novas formas de gestão do funcionalismo público com
vistas à redução e controle de despesas, demissão de servidores (regime estatutário) por
resultados de avaliações de baixo desempenho, mesmo com direito a ampla defesa e a criação
do termo emprego público regido pela Consolidação das Leis Trabalhistas – CLT (PAULA,
2005).
Contudo, as questões-chave da reestruturação e do redirecionamento moral no serviço
público, ao serem mediadas pelo discurso da excelência, efetividade e qualidade, impõem a
lógica da “nova cultura do gerencialismo” (BALL e MAINARDES, 2011). Esse “novo
gerencialismo” tem como foco, entre outros aspectos, a noção de “qualidade”, de flexibilidade,
de polivalência e de “espírito empreendedor”, como eixos para tornar os trabalhadores seres
mais produtivos, mais restáveis e mais adaptados ao regime de exploração do trabalho.
O esforço apresentado neste capítulo foi de organizar alguns elementos para a
compreensão das mudanças ocorridas nas formas de organização do trabalho em convergência
48
com o ideário neoliberal e, posteriormente, suas implicações a partir de 1990 no processo da
Reforma do Estado Brasileiro. Pretendemos agora demonstrar como o “novo gerencialismo”
adentrou e enraizou-se no campo da educação, a partir de 1990, por intermédio sobretudo do
discurso da qualidade impregnado nas reformas educacionais de cunho empresarial.
49
2. A PROPOSTA EMPRESARIAL NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA : UMA
AGENDA GLOBAL
A escola neoliberal designa um certo modelo
escolar que considera a educação como
um bem essencialmente privado e cujo
valor é, antes de tudo econômico.
Christian Laval, A Escola não é uma empresa.
Neste capítulo, faremos um breve um percurso sobre as reformas educacionais presentes
em alguns países signatários da agenda global consolidada pelos organismos multilaterais e
buscaremos analisar como essas reformas, sob a lógica empresarial, se inscreveram no Brasil,
especialmente na esfera educacional do Estado de São Paulo a partir de 1990.
2.1 Reformas educacionais, ideário neoliberal e a participação do Brasil em sua
agenda global
De acordo Gentili (1997), a ofensiva neoliberal que perseguiu os sistemas educacionais
nos países da América Latina através do Consenso de Washington levou o Estado a promover
uma reestruturação no que concerne à “eficiência, eficácia e produtividade” nas escolas em
nome da qualidade. Assim, a educação nesses países constituiu-se na esfera de “mercado” e
“competição”, deslocando-se de um bem público de direito social para a condição de
“mercadoria”.
Shiroma, Moraes e Evangelista (2000) demonstram como a produção teórica da Cepal
(Comissão Econômica para América Latina e o Caribe), com o documento Transformación
productiva com equidad, em 1990, influenciou esses países a fazerem reformas educacionais
em seus sistemas de ensino para articular os conhecimentos e habilidades específicas das
demandas do sistema produtivo com o processo de reestruturação produtiva em curso nesses
países. Desta forma, “a CEPAL entendia que a reforma do sistema produtivo e a difusão de
conhecimento eram os instrumentos cruciais para enfrentar ambos os desafios: construção de
50
uma moderna cidadania e da competitividade” (SHIROMA, MORAES; EVANGELISTA,
2000, p. 54).
Segundo as autoras, desenvolveu-se nesse processo uma moderna cidadania, por
intermédio da escola de acesso universal, com o objetivo de formar cidadãos que compreendam
os “códigos da modernidade” para a participação na vida pública e, assim, “desenvolver-se
produtivamente na sociedade moderna” à luz da acumulação do capital (SHIROMA,
MORAES; EVANGELISTA, 2000, p. 55). Na mesma medida Bernussi (2014, pp. 17-18)
afirma que a preocupação do Banco Mundial no campo da educação é investir em recursos
humanos para que se produza “um retorno maior em termos de crescimento econômico do que
o investimento em capital físico”.
Com a atuação das agências multilateriais (Organização Mundial do Comércio – OMC,
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE, Banco Mundial –
BM e Fundo Monetário Internacional – FMI) procedeu-se a reconfiguração da escola
republicana em uma escola-empresa, sob a lógica do Estado Gerencial. É o que demonstra
Laval (2004) no contexto francês, em que, por meio da ótica do financiamento e da imposição
das políticas internacionais de formação de força produtiva, se configurou um modelo
hegemônico e de cunho utilitário para acumulação do capital na esfera educativa. Nesse sentido,
a escola-empresa segue a lógica e a linguagem dos organismos multilaterais sob o imperativo
da competividade, promovendo as bases da “teoria do capital humano” na educação. Assim,
essa escola, ao confluir para o ideário neoliberal, passa a ser organizada e administrada a partir
das características oriundas da esfera privada.
Como demonstra o autor, esse modelo pedagógico, destinado tanto para os países
desenvolvidos como para os subdesenvolvidos, baseou-se nas competências e habilidades,
promovendo no cotidiano escolar o reforço do individualismo, das desigualdades sociais e da
competitividade. Laval (2004) nos apresenta essa “nova ordem educativa”, expondo como a
racionalidade econômica foi incorporada pela educação, tornando esta não mais um bem
público de direito social, mas um bem privado para servir às empresas e à economia capitalista.
Desta forma, as imposições advindas das agências multilaterais apresentam um pensamento
educativo a respeito da escola que visa produzir o espírito da concorrência no ensino,
promovendo um processo de competição entre as escolas.
Dale (2004) explana como essas forças supranacionais têm por finalidade uma “agenda
Globalmente Estruturada para a Educação” a fim de influenciar as políticas educativas
51
nacionais sobre sua ótica. Essa agenda aponta a globalização como um conjunto de mecanismos
“político-econômicos para a organização da economia global, conduzido pela necessidade de
manter o sistema capitalista” em nome do lucro (DALE, 2004, p. 436). O autor revela que a
adesão dos países signatários dessa agenda ocorre por dois fatores: a) por pressão econômica
ou b) de interesse nacional próprio. Com vistas a diminuir custos e investimentos na educação,
essa agenda definida pelas agências multilaterais pontuam a fixação de normas de desempenho
para melhoria dos resultados educacionais através de testes padronizados (avaliações externas)
e de currículos prescritivos, mas em contrapartida impõem o cumprimento das metas, um
modelo de gestão empresarial nas escolas e políticas de responsabilização de todos os
profissionais da educação e da instituição de ensino.
Como demonstra o autor português Licínio Lima (2011), a República Portuguesa
introduziu as orientações desses organismos internacionais atreladas à Reforma do Estado,
revelando a lógica de mercado na organização, na gestão das escolas e nos demais elementos
envolvidos no processo educativo como a avaliação, a organização curricular e o processo de
trabalho dos profissionais da educação.
Em meio ao contexto do Reino Unido, Ball (2011) analisa que as reformas educacionais
se consolidaram por intermédio do chamado “novo gerencialismo”, fundamentado a partir da
“infraestrutura e incentivos na forma de mercado”, na “direção das possibilidades de
financiamento” e na “responsabilização (accountability) relacionadas com performance”.
Processo este capaz de abarcar, como afirmam os demais autores mencionados neste tópico, o
conjunto dos aspectos da vida escolar, ou seja, todas as dimensões e todos os profissionais que
atuam nas escolas (BALL, 2011, p. 25).
Neste contexto, o Banco Mundial lança-se na organização de uma agenda global que
passa a defender a implementação da teoria do capital humano para o desenvolvimento
econômico dos países signatários (OLIVEIRA, 2017).
O Banco Mundial consolidou-se como uma importante instituição de fomento
da educação, não apenas por distinguir-se como o maior provedor de
empréstimos para programas de ensino, mas também como promotor de suas
próprias visões acerca do conteúdo da política de educação. Moldando o papel
da educação no desenvolvimento, o Banco Mundial permanece um dos atores
mais importantes no multilateralismo educacional. Desde a década de 1990
até a primeira década do século 21, a estratégia neoliberal continua sendo
central da agenda internacional da educação (BERNUSSI, 2014, p. 32).
52
Em consonância com essa agenda global, em 1990, o governo brasileiro, sob o mandato
de Fernando Henrique Cardoso (1994-2002), participou da “Conferência de Educação para
Todos”, em Jomtien, na Tailândia. Tal encontro resultou na assinatura da Declaração Mundial
sobre Educação para Todos que, em confluência com as orientações das instituições
multilaterais, promoveu uma ampla reforma educacional pautada na lógica do Estado Gerencial
(PIOLLI, 2010; MATTOS, 2012; HIDAKA, 2012; OLIVEIRA, 2017).
Nesse sentido, o Brasil assumiu a responsabilidade de impulsionar essas políticas
públicas educacionais reformadoras ao longo dessa década (1990) em diversas reuniões
regionais e globais de cunho avaliativo acordadas na conferência e no Fórum Consultivo
Internacional "Educação para Todos” (Education for All – EFA) (SHIROMA, MORAES e
EVANGELISTA, 2000). Para as autoras, a Conferência teve a finalidade de estabelecer uma
“educação básica de qualidade”, promovendo um consenso de distintos interesses por
intermédio do discurso da qualidade. Assim, o Fórum objetivou consolidar seu projeto pela
estratégia da “participação de todos”, com vistas a fortalecer ideologicamente uma suposta
“solidariedade internacional, promovedora de relações econômicas justas e equitativas para
corrigir as disparidades econômicas entre nações” (SHIROMA, MORAES e EVANGELISTA,
2000). Busca-se, segundo esse ideal, garantir uma ampla tarefa social apoiada no discurso da
paz mundial.
A busca de recursos por meio de parcerias com o setor privado fora justificada pela
escassez de recursos destinados às escolas públicas. E assim, os projetos educacionais descritos
pelas agências multilaterais foram implementados pelo governo brasileiro na década de 1990,
no uso de medidas provisórias, decretos e resoluções que convergiam com os documentos da
CEPAL e da Unesco (Educación y conocimiento:eje de la transformación productiva com
equidad) em 1992.
Na visão da CEPAL, uma profunda revisão dos conteúdos cognitivos,
instrumentais e éticos da formação proporcionada da sociedade às novas
gerações. A equidade, princípio básico da proposta cepalina, é entendida como
a igualdade de oportunidades de acesso, de tratamento e resultados. O termo
refere-se ao acesso à educação – quer dizer com iguais oportunidades de
ingresso – e à distribuição das possibilidades de obter uma educação de
qualidade. O acesso equitativo à educação significa acesso aos conhecimentos
socialmente significativos. A novidade do debate internacional é que a
equidade não é mais analisada simplesmente em termos da cobertura, mas
centra-se agora na qualidade da oferta e na eficácia das estratégias aplicadas
para resolver o problema dos excluídos do ensino e da capacitação
(SHIROMA, MORAES e EVANGELISTA, 2000, p. 54).
53
Bernussi (2014, p. 57) fortalece essa perspectiva ao demonstrar que o Brasil é um dos
maiores seguidores da agenda global do Banco Mundial, implementando projetos para a
melhoria na “qualidade e da eficiência da educação”, assim como endossa o discurso que os
sustentem. Nas palavras da autora, essa relação entre os discursos e a agenda no campo da
educação é assim definida:
Esse cenário sugere duas relações top-down: a primeira do nacional para o
local, na qual as escolas seguem as diretrizes estabelecidas pelos governos
nacionais; e ao mesmo tempo outra do internacional para o nacional, onde as
organizações internacionais influenciam e moldam a agenda da educação,
influenciando os atores nacionais, federais, estaduais e municipais, a
implementar políticas específicas (BERNUSSI, 2014, p. 63).
Shiroma, Moraes e Evangelista (2000) apontam que a questão central para o consenso
entre o público e privado no Brasil desenvolveu-se em diversos setores, a partir da década de
1990, mas sobretudo sobre o discurso da qualidade e de uma agenda nacional em convergência
com os interesses dos organismos multilaterais. A perspectiva do setor empresarial e sua
vontade de participar da educação, sob a forma de sua “responsabilidade social” perante a crise
educacional brasileira, estabelecia os empresários como “interlocutores privilegiados” dos
governos nos entes federativos (nacional, estadual e municipal). A “Carta Educação”,
formulada em 1992 no Fórum Capital/Trabalho na USP apresentava as recomendações que
visavam a melhoria da qualidade do sistema educativo pela aferição dos desempenhos dos
educandos e uma ampla mobilização social em convergência com as recomendações da
CEPAL.
Na década de 1990 foram criados aparatos jurídicos e políticas públicas educacionais
para responder às exigências impostas pelas orientações dos organismos multilaterais, tais
como: a) Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (9.394/1996); b) o Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério –
FUNDEF (9.424/1996), que tem por objetivo de descentralização e responsabilização dos entes
federativos; c) as políticas de avaliação externa22 SAEB, que se constituíram como formas de
mensurar os resultados para observar o (in) sucesso das políticas de formação de força produtiva
22 O Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) foi regulamentada pela Portaria n. 1.795, de 27.12.1994,
que tem como objetivo, “promover uma avaliação externa e em larga escala da educação no Brasil, visando
construir dois tipos de medidas. A primeira, da aprendizagem dos estudantes e, a segunda, dos fatores de contexto
correlacionados com o desempenho escolar. A implementação da avaliação em larga escala se constituiu com a
intenção de subsidiar os formuladores e executores das ações governamentais na área educacional em todos os
níveis de governo. Com a avaliação se pretende averiguar a eficiência dos sistemas no processo de ensino
aprendizagem e, também, a equidade da educação oferecida em todo país” (BRASIL, 1994).
54
e para promover a responsabilização dos profissionais da educação e d) as Diretrizes
curriculares, como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), que receberam forte
influência do relatório internacional da Unesco, por meio das orientações para a educação do
século XXI – documento intitulado “Educação, um Tesouro a descobrir”23, publicado em
1996, pelo francês Jacques Delors, integrante da presidência da Comissão Europeia.
Como apontado por Neves (2005), os discursos oficiais presentes nas reformas
basearam-se na universalização da educação básica e na melhoria da qualidade de ensino. Em
contrapartida, o conceito de “qualidade” na educação, anunciado nos discursos oficiais, tem por
base essencialmente abordagens quantitativas com premissas do Programa de Qualidade
Total,24 originárias do modelo pós-fordismo (acumulação flexível).
No tocante ao discurso da qualidade na agenda global, ao analisar a realidade
educacional portuguesa, Sá (2008) revelou um processo de despolitização no que se refere à
polissemia do conceito “qualidade”, sendo este apresentado como a “única forma redentora”
para mobilizar as políticas públicas educacionais frente às reformas educacionais, sobretudo na
versão mercantil. Nessa acepção, o autor afirma que a retórica discursiva em nome da qualidade
sustenta-se em ideologias que buscam legitimar velhas e novas formas de reproduzir as
desigualdades sociais no campo da educação, em convergência com a lógica da excelência e
competição, promovendo um processo de “democratização segregativa” que busca uma nova
roupagem em que se altera a natureza das desigualdades sociais, mas sua reprodução
permanece.
O discurso da qualidade na educação revelou-se numa construção de procedimentos no
cotidiano das escolas e no controle sistemático em nome do culto à excelência, através da
padronização dos currículos e da forma de ensinar por meio dos pacotes pedagógicos –
materiais didáticos e assessoria na formatação dos procedimentos de planejamento, ensino e
avaliação. Neste contexto, o processo de trabalho voltou-se para a fragmentação e elevação da
separação entre trabalho de formulação e de execução (OLIVEIRA, 2017, p. 73).
Transcorrida a década de 1990, na década de 2000, com a eleição de Luiz Inácio da Lula
da Silva, do Partido dos Trabalhadores (2002-2010), sucedeu-se a continuidade da
23 Consolidou-se nesse relatório a necessidade de levar a educação para a vida dos educandos sobre esses quatro
pilares (aprender a conviver; conhecer, fazer e ser), com bases essencialmente flexíveis que influenciaram os países
subdesenvolvidos e desenvolvidos na concepção curricular voltadas às competências leitora, escritora e cálculo. 24 Lima (2011) aponta que no campo da educação o conceito de qualidade configura-se em metas, rankeamentos,
indicadores provindos do modelo gerencialista oriunda do mundo empresarial.
55
implementação desse receituário que, posteriormente, contribuiu para consolidar a participação
do setor empresarial na concepção das políticas públicas educacionais. São exemplos de
medidas que evidenciam os caminhos aqui mencionados: o Decreto nº 6.094/2007 “Plano de
Metas Compromisso Todos pela Educação” e o Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE,
ambos lançados no dia 24 de abril de 2007 pelo Ministro da Educação Fernando Haddad, do
Partido dos Trabalhadores (MESKO, PIOLLI E SILVA, 2016).
Saviani (2007), ao analisar o PDE e o movimento da “sociedade civil” intitulado “Todos
pela Educação”25 (TPE), criado em 2006, afirma que ambos se apresentam com o mesmo
foco/objetivo: garantir a implementação de um plano de metas a respeito da melhoria da
qualidade de ensino com a participação de diversos segmentos do setor privado em nível
nacional.
Shiroma, Garcia e Campos (2011) demonstram como a classe empresarial ampliou sua
atuação no campo educacional, em relação à década de 1990, com o movimento “Todos pela
Educação”26, com a participação de intelectuais, universidades, sindicalistas, grande mídia e
diferentes organizações da sociedade civil. Nesse contexto, o setor empresarial concretizou uma
relação intrínseca à esfera pública em afluência com os mecanismos promotores da Reforma do
Estado.
Dessa forma, o movimento mantém-se, por um lado, estritamente vinculado à
esfera governamental, e por outro, assume uma posição de vigilância sobre as
ações desta última, cumprindo os preceitos que anuncia para todos:
responsabilização e controle social” (SHIROMA, GARCIA e CAMPOS,
2011, p. 230).
O conglomerado da classe empresarial inseriu sua participação nas tomadas de decisões
nas políticas públicas educacionais como “sociedade civil”, buscando consolidar “um projeto
restrito de educação para as massas” em que,
o TPE [Todos Pela Educação] atua segundo as referências do neoliberalismo
da Terceira Via, uma proposta neoliberal para o século XXI, preconizando a
25 O movimento “Todos pela Educação” será melhor analisado no próximo tópico. 26 São instituições mantenedoras deste movimento: Fundação Educar DPASCHOAL, Fundação Bradesco,
Fundação Itaú Social, Fundação Telefônica (Vivo), Gerdau, Instituto UNIBANCO, Itaú BBA, Santander,
SUZANO, Fundação Lemann, Instituto Península, Fundação Vale, Instituto Natura, Instituto Samuel Klein. Os
parceiros são: Grupo ABC, DM9DDB, Rede Globo, Editora Moderna, Fundação Santillana, Instituto Ayrton
Senna, Friends Audio, Fundação Victor Civita, McKinsey Brazil, Microsoft, Instituto Paulo Montenegro, Banco
HSBC, Futura, Editora Saraiva, BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento, PATRI - Políticas Pública,
Luzio, Itaú Cultural” (MESKO, PIOLLI; SILVA, 2016, p. 60).
56
possibilidade de um “capitalismo de face humanizada”, justamente quando as
formas de exploração se radicalizam chegando a níveis dramáticos para
existência humana” (MARTINS, 2009, p. 27).
Sintonizado com essa perspectiva, Silva (2016, p. 114) analisa o Plano de
Desenvolvimento da Educação como uma “estratégia” do empresariado que, atrelado ao
“processo de reordenamento da política educacional”, busca fazer da perspectiva gerencial “a
orientação hegemônica no projeto de reconfiguração das relações Estado-sociedade”.
Para Shiroma (2008, p. 03), a centralidade das ações do PDE é consolidar uma cultura
dos resultados com forte influência do setor empresarial e das Organizações Sociais (terceiro
setor), defendendo “que os recursos públicos são insuficientes para realizar as tarefas atribuídas
à educação neste início de século” e, para isso, torna-se necessário construir “um grande
consenso” à luz de “uma nova estratégia de distribuição de recursos: por editais, firmados em
contrato de gestão, que envolvem contrapartidas e estabelecem resultados e metas a serem
atingidos”.
Outro aspecto relevante nesse cenário, sob a ótica da rentabilidade, foi consolidar o
Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), criado em 2007, pelo Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que tem por finalidade
ser um indicador de qualidade em esfera nacional, com relação à educação básica, incluindo-se
a taxa de rendimento escolar (aprovação) e as médias de desempenho nas avaliações externas
de larga escala. Chirinéa e Brandão (2015) analisam o IDEB como um indicador de resultados
que combina elementos para introduzir as políticas públicas educacionais nos contextos
escolares a fim de aferir as ações da escola e dos sistemas de ensino em nome da “qualidade”.
Os processos qualitativos na educação, por meio desse indicador de resultados, configuram-se
na ordem de mercado sob a perspectiva neoliberal, em que o modelo de gestão privada
transfere-se no campo da educação pública em nome da eficiência, eficácia e produtividade
(CHIRINÉA e BRANDÃO, 2015, p. 465).
Para Silva (2016), o IDEB consolidou-se como um mecanismo de regulação em
convergência com o PDE por parte da Nova Gestão Pública.
Atrelado a essa perspectiva, como mecanismo de regulação do Estado, o
modelo de avaliação expresso no Índice de Desenvolvimento da Educação
Básica (IDEB) e no planejamento de viés estratégico passa a ser central no
processo de redefinição das políticas educacionais, uma vez que tais
mecanismos vêm servir de parâmetro na determinação de metas a serem
alcançadas pelos sistemas de ensino (SILVA, 2016, p. 129).
57
Na direção desse argumento, Freitas (2012) chama a atenção para o fato desse indicador
de resultados, em consonância com avaliação externa de larga escala, revelar como única
variável um processo de responsabilização das escolas pelo (in)sucesso escolar,
desconsiderando outros fatores como ausência de docentes, números de alunos por sala, nível
socioeconômico e cultural das famílias. Nessa perspectiva, conforme pesquisas de Lima (2008),
esse processo evidenciou uma competição encarniçada, através de um comparativo entre as
escolas e seus sujeitos, na qual se edificaram padrões de mercantilização com características
provenientes da empresa privada na educação pública. Já Adrião e Garcia (2014, p. 02), por sua
vez, denunciam como o crescimento e a participação do setor empresarial na educação brasileira
revelaram tendências à privatização na oferta de ensino por meio da introdução de programas
“que por razões diversas atribuem à gestão privada das escolas públicas ou de políticas públicas
efeitos de melhoria da educação básica”.
Nosso esforço nesse tópico foi demonstrar pela sesitematização da pesquisa dos autores
referenciados, como as reformas educacionais no campo da educação pública no Brasil
consolidaram tanto a inserção do país na agenda global imposta sobretudo pelo Banco Mundial,
como ampliaram a participação na elaboração e na tomada de decisões do setor empresarial nas
políticas públicas educacionais locais. Além disso, buscamos destacar como, por meio do
discurso da “qualidade na educação”, defendido por esta agência e pela classe empresarial,
forjou-se uma lógica de rentabilidade na educação com o uso de testes padronizados de cunho
censitário e de indicadores de qualidade para a avaliação do desempenho nos contextos
escolares (desempenho dos educandos, taxas de aprovação, reprovação e evasão). Passamos
agora a analisar como essas prerrogativas influenciaram a realidade educativa no estado de São
Paulo.
2.2 As Reformas Educacionais no Estado de São Paulo: de 1990 ao programa
Educação – Compromisso de São Paulo
Em 1994, o Estado de São Paulo iniciou, com o Governador Mário Covas (PSDB), uma
reforma consubstanciada pelas diretrizes do Banco Mundial e do então Governo Federal, por
meio de ações circunscritas no documento Programa de Educação para o Estado de São Paulo
do PSDB. Tal documento, em consonância com as orientações do Education for All, estabeleceu
58
mudanças no sistema de ensino paulista em nome da qualidade total, da eficiência e da eficácia
(OLIVEIRA, 2017). As ações formuladas, coordenadas e conduzidas por Guiomar Namo de
Mello e a secretária de educação, Rose Neubauer, nesse período, utilizaram como estratégia
dois fatores para implementar a qualidade de ensino: a) a educação como elemento central das
políticas públicas à luz das mudanças ocorridas na sociedade para atender as demandas do
sistema processo produtivo e b) o modelo de educação que na época era ineficiente para atender
tais demandas (Souza, 2002). Na avaliação do autor, o modelo assumido pelo governo na
educação paulista no período de 1995 a 1998 tinha como objetivo produzir reformas a fim de
corrigir as “disfuncionalidades” e consolidar um “projeto de modernização” que submeteu a
educação à esfera maior de racionalidade econômica, nos âmbitos da racionalização
organizacional e da forma de utilizar os recursos. Hidaka (2012) e Oliveira (2017) demonstram
como esse processo de reestruturação na Secretaria Estadual da Educação de São Paulo
(SEE/SP), de 1996 a 2016, resultou em mudanças sobre o padrão de qualidade de ensino e no
padrã de gestão, conforme ilustra a tabela abaixo:
QUADRO 1: AS AÇÕES DA SEE/SP (DE 1995 A 2006) DISTRIBUÍDAS POR EIXOS
EIXO AÇÕES
Mudanças no
Padrão de
Qualidade
no Ensino
a) Reorganização da rede de ensino;
b) Classes de aceleração da aprendizagem;
c) Salas ambientes;
d) Avaliação do rendimento escolar (SARESP);
e) Programa Escola nas Férias;
f) Programa de Progressão continuada.
g) Novo Plano de Carreira;
Mudanças no
Padrão de Gestão
(Racionalização
organizacional e
do uso dos
recursos)
a) Enxugamento da máquina e eliminação de duplicidades;
b) Desconcentração na administração (Extinção das
Divisões Regionais de Ensino);
c) Transferência de recursos financeiros para as escolas;
d) Municipalização do Ensino (Descentralização da oferta);
e) Normas regimentais para as escolas estaduais;
f) Informatização administrativa e sistema de informações
da Educação – uso do GDAE27;
g) Cadastramento Geral dos Alunos;
h) Reorganização da rede de ensino;
i) Bônus Gestão e Bônus Mérito.
27 Gestão Dinâmica da Administração Escolar – Segundo seu portal oficial, o sistema foi desenvolvido visando a
integração das informações da unidade escolar com órgãos regionais e centrais da Secretaria de Estado da
Educação. Constitui-se também em uma ferramenta de coleta de informações gerenciais para o processamento e a
estruturação das diferentes bases de dados com o objetivo de subsidiar o processo de planejamento e tomada de
decisões (http://www.gdae.sp.gov.br/gdae/PortalGdae/Default.jsp#).
59
Fonte: OLIVEIRA (2017, p. 120).
Tendo em vista as diferentes ações realizadas nas reformas nesse período, interessa-nos
destacar: o Sistema de Avaliação e Rendimento do Estado de São Paulo28 (SARESP), criado
em 1996, cujo objetivo é fornecer dados para subsidiar as políticas públicas educacionais a fim
de aumentar a qualidade de ensino e anunciar o desempenho das escolas estaduais à sociedade.
De acordo com Mattos (2012), essa avaliação produzida pela Secretaria de Educação em
simetria com a matriz curricular salientou as competências e habilidades desenvolvidas pelos
alunos nas disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática para aferir e orientar as práticas
pedagógicas nas instituições de ensino.
No que concerne à alteração no plano de carreira dos professores, a Lei Complementar
nº 836, de 30 de dezembro de 2007, consolidou uma reorganização sobre a carreira da docência.
Incosporou nesse novo plano de carreira o “esforço” e o “ mérito” atrelado à “produtividade
profissional” através da evolução funcional de ascensão vertical e horizontal: reconfigurou a
mudança das jornadas de trabalho de hora-aula de 45 minutos para hora-relógio de 60 minutos
e a duração das aulas de reforços com vistas à contenção de gastos e “otimização dos recursos
humanos disponíveis” (HIDAKA, 2012; OLIVEIRA, 2017). Outro aspecto a ser destacado
refere-se à progressão continuada29, às “classes de aceleração” e à “ Escola nas férias”, que
consubstanciaram a diminuição da retenção e evasão em relação à racionalização do fluxo
escolar para evitar desperdícios públicos (HIDAKA, 2012).
A respeito da municipalização,30 Adrião (2006) analisa a transferência de competência
e recursos da rede estadual em face da implementação do programa em medidas de
descentralização e descontração com perspectivas de parcerias entre Município e o Estado. Tal
parceria, de forma voluntária, impunha a responsabilidade exclusiva do Município em assumir
uma parte das escolas da rede estadual. Como complemento, para a garantia desse convênio
polêmico, o Estado garantiria o amparo com o empréstimo de servidores públicos e a
cooperação do setor privado para efetivar esta ação (ADRIÃO, 2006).
Neste contexto, as mudanças operadas no padrão de gestão implicaram a racionalização
do fluxo nas escolas por meio dos mecanismos de avaliação de resultados e o aumento da
28 Resolução nº 27 de 29 de março de 1996. 29 Deliberação da CEE nº 09 de 30 de julho de 1997 e a Resolução da Secretaria de Educação nº 04 de agosto de
1997 instituiu nesse regime a divisão do Ensino Fundamental em dois ciclos: Ciclo I de 1ª a 4ª séries e Ciclo II de
5ª a 8ª séries. 30 Decreto nº 40.673 de 16 de fevereiro de 1996.
60
autonomia administrativa, financeira e pedagógica das escolas. Para Adrião (2006), esse novo
padrão de gestão educacional empreendido na reforma educacional paulista ressignificou a
construção da “gestão democrática”, voltando-a para a ótica do controle nos resultados
escolares.
(...) o problema parece não residir na análise individual dessas medidas, mas
na sua articulação à medida que configuram o ‘novo’ padrão de gestão escolar:
descentralização de parte dos insuficientes recursos existentes, maior
autonomia para gerenciá-los e centralização do controle dos resultados
escolares (ADRIÃO, 2006, p. 70).
Segundo a autora, no período de 1995 a 1998, essa reestruturação imposta pela
Secretaria da Educação de SP, no padrão da qualidade de ensino e no padrão de gestão sob a
prisma da racionalização, acarretou transferências de professores para outras unidades
escolares, com o fechamento de 874 escolas e a diminuição de 2.030 ofertas de vagas para os
discentes no período noturno.
Souza (1999), em sua pesquisa de doutorado, analisa que tais reformas se encontravam
alinhadas com a política internacional regulada pelo Banco Mundial, tendo como objetivo a
formação de força produtiva que visava diminuir custos e aumentar benefícios frente às novas
demandas do capitalismo. Na mesma direção, Oliveira (2017) demonstra como tais medidas
adotadas pela SEE/SP estão alinhadas com as diretrizes da Nova Gestão Pública expressas nos
textos do MARE e do Banco Mundial, com uso, em especial, do projeto “Innovations in Basic
Education Projectc signatário das políticas expressas no Education for All.
Na década de 2000 a 2010, com as eleições do Governos de José Serra (2007) e Geraldo
Alckimin (2011) ambos do PSDB, assistimos a inúmeras ações da SEE para aprofundar e
consolidar o empresariamento na educação e programas que obedeciam a lógica da
rentabilidade e mecanismos de controle sobre a organização da escola e dos agentes públicos.
A partir dessas intenções, constatam-se diversas ações da SEE, por meio de leis, decretos,
resoluções e documentos a saber: a) São Paulo faz escola - 2007; b) o Programa Qualidade
nas Escolas –PQE (2007-2008) em harmonia com o Índice de Desenvolvimento da Educação
do Estado de São Paulo – IDESP (2008) e, c) Sistema de Bonificação por Resultados (2008).
O primeiro, criado em 2007, refere-se ao currículo oficial do Estado de São Paulo
denominado “ O São Paulo faz Escola”, que tem por finalidade a qualidade de ensino das
61
escolas estaduais a partir do ciclo três e quatro.31 Seus princípios são orientados para uma escola
“capaz de promover as competências indispensáveis ao enfrentamento dos desafios sociais,
culturais e profissionais do mundo contemporâneo”. Tal documento tem como contexto a
“sociedade do conhecimento e as pressões que a contemporaneidade exerce sobre os jovens
cidadãos” para atender às necessidades do mercado de trabalho (São Paulo faz Escola, 2011,
p.3).
O segundo diz respeito à existência do Programa Qualidade nas Escolas –PQE (2007-
2008) e o Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo – IDESP (2008).
Este indicador tem por finalidade aferir o desempenho dos alunos para direcionar e monitorar
as políticas públicas educacionais paulistas de médio a longo prazo. Nesta proposta, são
estabelecidas metas para as escolas públicas estaduais, tendo como referência os resultados de
fluxo e o desempenho dos educandos na avaliação externa de larga escala (SARESP), aplicada
anualmente pela Secretaria de Educação.
O terceiro refere-se à Lei Complementar n° 1078 de 17 de dezembro 2008, que
estabeleceu o Sistema de Bonificação por Resultados, para o qual as escolas atingidoras das
metas estabelecidas pelo indicador de qualidade determinado pelo IDESP passam a adquirir
uma “conquista” salarial. Tal premiação (o bônus), paga aos agentes públicos, relaciona-se
também com os dias efetivos de trabalho, afastamentos e número de faltas verificados
anualmente pela Secretaria de Educação como condição para receber a tal premiação.
Alinhando-se a essa concepção, no dia 15 de outubro de 2011 foi anunciando, pelo
governador Geraldo Alckmin do PSDB, o programa Educação - Compromisso de São Paulo,
com o objetivo de aprofundar a melhoria da qualidade de ensino com foco nos resultados da
aprendizagem dos educandos por meio das avaliações externas e dos indicadores de qualidade.
O programa surge com uma ênfase maior na esfera das chamadas parcerias com a sociedade
civil, manifestando-se em cinco pilares: a) valorização do capital humano; b) gestão
pedagógica, c) educação integral, d) gestão organizacional e financeira e, e) mobilização da
sociedade, assim descritos no site oficial da SEE/SP:
31 “(...) em consonância com expectativas de aprendizagem definidas de forma heterônoma, articulam conteúdos
para cada ano do II ciclo do Ensino Fundamental e Ensino Médio, com um conjunto de atividades prescritivas
denominadas “sequências didáticas”. (Oliveira, 2017, p.131)
62
FIGURA 1: OS CINCO PILARES DO PROGRAMA EDUCAÇÃO – COMPROMISSO
DE SÃO PAULO
Fonte: Site Oficial da SEE/SP - http://www.educacao.sp.gov.br/compromisso-sp. Acesso em 01 de
agosto de 2017.
De acordo com o texto do Decreto de nº 57.571, de 2 de dezembro de 2011, o programa
foi instituído para dar continuidade às políticas públicas educacionais de “resultados positivos”
alcançados por meio do indicador de qualidade (IDESP) nas escolas públicas do Estado de São
Paulo. Nas palavras transcritas do decreto, o contexto que assim o justifica são expressos da
seguinte forma:
Considerando a necessidade de serem implementadas políticas
educacionais voltadas à continuidade dos processos de melhoria da educação
pública paulista, nos seus vários níveis e modalidades, em especial no que se
refere à diminuição do abandono e da evasão de alunos do ensino médio;
63
Considerando a importância da gestão educacional eficiente e eficaz, com
ênfase na aprendizagem dos alunos da educação básica;
Considerando a importância de se dar continuidade às políticas de valorização
dos profissionais da educação pública estadual e;
Considerando que a educação é direito de todos e dever do Estado e da família
e que deverá ser promovida e incentivada com a colaboração da sociedade
(SEE/SP, 2011).
De acordo com o artigo 3º, o programa constitui-se pelo Conselho Consultivo e Câmara
Técnica de Acompanhamento. O primeiro é composto por representantes da Secretária de
Educação sendo eles: a) o Titular da Pasta; b) o Secretário Adjunto; c) o Chefe de Gabinete;
d) 1 (um) do Conselho Estadual da Educação, indicado pelo Titular da Pasta; e) até 6 (seis) de
órgãos da Pasta, indicados pelo Titular da Pasta e f) até 10 (dez) representantes da sociedade
civil, indicados pelo Secretário da Educação. O segundo é composto por servidores públicos
que compõem a pasta designados pelo Secretário de Educação com a finalidade de prestar apoio
técnico e administrativo. O Conselho Consultivo reúne-se a cada bimestre e tem a
responsabilidade de, a cada quadrimestre, produzir um relatório sobre as ações do programa
para o Governador do Estado de São Paulo (SEE/SP, 2011).
A partir da implantação desse programa, os dados divulgados no 22º Simpósio
Internacional de Iniciação Científica e Tecnológica da USP, por Garcia e Souza em 2014,
apontam que a “sociedade civil” passa a ser caracterizada por diversos segmentos do setor
privado representados pelos Parceiros da Educação32, com o foco em uma ampla reestruturação
administrativa em busca de um novo modelo de “ gestão para resultados com foco no aluno”,
em simetria com os cinco pilares.
Com essa proposição, a Parceiros da Educação consubstanciou seu lugar nas políticas
púbicas educacionais paulistas, consolidando suas acepções e disseminando práticas em
confluência com a classe empresarial e consultorias que atuam em esfera global. Tal êxito se
encontra expresso no site oficial dessa Organização da Sociedade Civil de Interesse Público
(OSCIP) como “uma das iniciativas mais integradas entre o setor público e a sociedade civil do
País”33.
32 Instituto Natura, Fundação Victor Civita, Fundação Lemman, Instituto Unibanco, Comunidade Educativa
(Cedac), Instituto Hedging-Griffo, Fundação Itaú Social, Tellus, Parceiros da Educação, Fundação Educar
D’Paschaol, Fundação Bradesco, Centro de Estudos e Pesquisas em Educação Cultura e Ação Comunitária
(Cenpec), ICE (Instituto de Co-Responsabilidade pela Educação), Instituto Península, Fundação Arymax e a
consultoria internacional da McKinsey & Company. 33 http://www.parceirosdaeducacao.org.br/parcerias/. Acessado em 02 de agosto de 2017.
64
FIGURA 2: A PARCERIA CELEBRADA PELOS PARCEIROS DA EDUCAÇÃO NO
BOJO DO PROGRAMA EDUCAÇÃO – COMPROMISSO DE SÃO PAULO
Fonte: Site oficial dos Parceiros da Educação - http://www.parceirosdaeducacao.org.br/politicas-publicas/. Acesso
em 02 de agosto de 2017.
Neste contexto, a figura acima corrobora com as afirmações de nossa investigação,
sobre o processo de materialização da classe empresarial na esfera estatal em defesa da melhoria
da qualidade de ensino como forma de “oportunidades de apoio que podem potencializar
investimentos públicos em educação”, ou seja, a efetivação da parceria entre o setor público
(SEE) e o privado.
65
FIGURA 3: TRAJETÓRIA HISTÓRICA DOS PARCEIROS DA EDUCAÇÃO
Fonte: Site oficial dos Parceiros da Educação -
https://issuu.com/parceirosdaeducacao/docs/relatorio_anual_final_revistaon1105. Acessado em 02 de agosto de 2017.
66
Segundo os dados divulgados34 no site institucional, desde 2004, foram feitas parcerias
com duzentos e sessenta e duas escolas, oitenta e cinco mil alunos foram “beneficiados” e mais
de três mil e novecentos agentes públicos (professores e diretores) fizeram capacitações da rede
estadual paulista.
Garcia e Souza (2014), Mesko, Piolli e Silva (2016) e Oliveira (2017) destacam a
participação da consultoria McKinsey & Company35 em parcerias com a Secretaria da
Educação do Estado de São Paulo. Este conjunto de ações resultou em um estudo sobre a rede
estadual paulista, cujas diretrizes apontaram para uma reestruturação na rede escolar e nas
formas de gerir as escolas. Segundo os autores, o modelo de gestão proposto por essa
consultoria americana, em simetria com outros seguimentos do setor privado, confluiu para uma
agenda de aproximação por parte do empresariado paulista nas tomadas de decisão na esfera
educativa. “Parceiros da Educação” é uma Organização da Sociedade Civil Pública que conta
com a participação de diversos segmentos do setor privado e, atualmente, essa organização
compõe quase que integralmente o Conselho Consultivo por meio do Decreto nº 57.571/2011”
(Mesko, Piolli e Silva, 2016, p. 161).
O foco nos resultados da aprendizagem dos alunos revela sua proposição em confluir
para a concepção defendida pela classe empresarial, sistematizando seus reais objetivos como
sendo:
(...) a) o desenvolvimento de capital humano; b) a responsabilização com
todos os atores que compõem o cotidiano escolar (equipe gestora, pais,
professores e alunos); c) a gestão com foco para resultados educacionais,
tendo como opção preferencial os resultados das avaliações externas de cunho
censitário; d) um novo modelo de escola voltada para atender o capital
(trabalhador flexível); e) o novo regime de carreira docente centrado na
meritocracia (Mesko, Piolli e Silva, 2016, p. 161- 162).
A partir desses elementos que apontam para um desenvolvimento histórico das políticas
educacionais paulistas marcadas por uma lógica de adaptação da educação às demandas
capitalistas, pretendemos analisar agora como essas mudanças vêm focalizando no interior do
34 http://www.parceirosdaeducacao.org.br/parcerias/. Acessado em 02 de agosto de 2017 35 A McKinsey & Company circunscreve como consultoria empresarial em mais de 50 países com o objetivo de
implementar ações de “ melhorias positivas”, visando à integração e articulação de diferentes esferas da sociedade
civil de longo prazo. (GARCIA e SOUZA, 2014)
67
programa “Educação – Compromisso de São Paulo” as funções reservadas à gestão escolar,
mais especificamente ao diretor de escola.
68
3. A CONCEPÇÃO EMPRESARIAL NA GESTÃO ESCOLAR NO PROGRAMA
“EDUCAÇÃO – COMPROMISSO DE SÃO PAULO”
O setor privado é o modelo a ser emulado, e o
setor público deve ser “empreendido” à sua
imagem.
Stephen J. Ball. Educação Global S. A.
Neste capítulo apresentaremos os conceitos que se constituem chave para análise desta
pesquisa. Tratam-se dos conceitos: novo gerencialismo, privatização endógena e exógena e de
novo diretor gerencial que sustentam e dão o corpo analítico que conforma os objetivos deste
trabalho. Ao final buscaremos ilustrar, a partir de documentos oficiais, como esses conceitos
ganham força prática no conteúdo expresso nas políticas educacionais paulistas em sua
proposição mais recente.
3.1 Novo gerencialismo, privatização exógena, endógena e o novo diretor
gerencial
Como vimos no capítulo anterior, as mudanças ocorridas na sociedade capitalista
contemporânea ancoradas no aparato tecnológico e no imperativo do Estado supranacional
vieram acompanhadas da mercantilização da educação púbica, que por sua vez esteve assentada
em reformas nas políticas educacionais no Brasil e no Estado de São Paulo a partir de 1990.
Analisar esse processo nos permite apreender a consolidação da participação da classe
empresarial nas formulações e nas tomadas de decisão sobre as políticas educacionais e suas
estratégias para efetivar processos ocultos de privatização denominados endógenos e exógenos.
Com efeito, Ball (2011) ao analisar os discursos da reforma educacional no Reino Unido
e nos Estados Unidos, apresentou os contrastes entre ambas as realidades através da análise dos
discursos dominantes que visavam reconfigurar o modelo de escola. Os discursos presentes nas
reformas estadunidenses buscavam consolidar, por meio de uma mobilização da sociedade
69
assentada em uma concepção de “participação da sociedade civil”, solucionar a “crise
educacional” americana com o uso “das formas organizacionais e dos processos produtivos”
advindos do modelo pós-fordista (BALL, 2011, p. 189). Na contramão, as reformas do Reino
Unido, segundo o autor, demonstram as peculiaridades do clássico modelo fordista, marcado
pela rigidez, pelas estruturas hierárquicas e pelo processo decisório de forma centralizadora.
Interessa-nos destacar, na análise de Ball e Gewirtz (2011), o novo gerencialismo que
emerge neste contexto. No bojo das reformas da chamada crise do Estado de Bem-Estar Social
e do modelo de escola burocrático e ineficiente, demandou-se um processo para além das
mudanças estruturais e dos incentivos, buscando ir além: materializar “um novo conjunto de
valores e um novo ambiente moral” em convergência com os princípios de mercado de cunho
utilitarista.
Dentre os discursos mais populares relacionados à educação no Estado de
Bem-Estar Social, desde fins dos anos 1960, estão aqueles que giram em torno
de compromissos ideológicos com igualdade de oportunidades, valorização de
todas as crianças por igual, relações de igualdade de apoio, acolhimento,
concepção centrada na criança, escola não seletiva, assimilacionismo,
multiculturalismo, antirracismo, respeito à diversidade sexual, práticas não
sexistas, desenvolvimento de cidadãos críticos, participação democrática e
transformação social (BALL, p. 198, 2011).
Desta forma, segundo os autores, na esfera educativa os diretores de escolas passaram a
assumir essa nova linguagem discursiva como estratégia para implementar as “formas
organizacionais e os processos produtivos” advindos do modelo pós-fordistas. Para tanto, no
novo gerencialismo, passou-se a combater os velhos valores materializados no modelo de
Estado de Bem-Estar Social, configurando novos valores por meio da linguagem e práticas de
gestão advindas do mundo empresarial (pós-fordismo).
Alinhando-se a essa proposição, o diretor de escola passa a assumir a perspectiva de um
novo diretor gerencial, em que seu percurso se reconfigura por intermédio do espírito
empreendedor. Nesta acepção, a lógica e a linguagem do mundo empresarial articulam o
comprometimento de todos os sujeitos no cotidiano escolar para que se tornem os melhores em
nome da qualidade (BALL, 2011).
Vejamos a tabela abaixo para compreender as principais características de tipos ideais
de gestão, em especial do novo gerencialismo.
70
QUADRO 2: PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO BEM-ESTAR SOCIAL
WELFARISM E DO NOVO GERENCIALISMO
FONTE: BALL (2011, p. 200).
Segundo Ball (2011), o novo gerencialismo que se estabeleceu sobre a profissão do
diretor de escola substituiu a figura da organização de controle burocrático pelo sujeito da
organização empresarial-mercadológica. Tal mudança configurou-se na concepção e no
processo das relações e das práticas que forjam os “valores e subjetividades das lideranças na
escola”. Nesse sentido, um marco fundamental do currículo neoliberal da reforma36 é consolidar
modelos oriundos do setor privado que envolvem os servidores públicos em novas formas de
relações sociais e morais nas instituições públicas (Ball, 2014).
Alinhando-se a essa proposição, Ball (2014) explica que o componente vital na esfera
da prática institucional que conduz a desestabilização do setor público para o processo de
privatização exógena e endógena é a “performatividade”. Tal conceito se refere aos sistemas de
gestão de desempenho e o que estes sistemas fazem na subjetividade dos que participam.
36 “(...)“currículo” aqui é sobre o setor público aprender a enfrentar suas supostas inadequações, aprender lições
advindas dos métodos e dos valores do setor privado e aprender a reformar-se.” (Ball, 2014, p.65)
71
Ela opera dentro de um arcabouço de julgamento no qual a definição de
“aperfeiçoamento” e de eficácia é determinada por nós e “indicada” por
medidas de qualidade e produtividade (Ball, 2014, p.66).
Isto posto, o campo da educação pública no Brasil e no Estado de São Paulo não foge à
regra imperativa da agenda global e desse modelo gerencialista. Essa reforma na gestão escolar
em curso constituiu um novo perfil de escola e da gestão escolar em nome da “qualidade”. A
concepção de qualidade foi o eixo central para implementar nas políticas públicas educacionais
o modelo gerencialista com as premissas e características do setor empresarial na escola
pública. Na mesma direção, as reformas educacionais empreendidas no Brasil e no Estado de
São Paulo produziram um novo perfil de escola, tendo como chave o discurso da qualidade na
formação de capital humano, acumulação do capital e processos de privatização silenciosa nas
práticas educacionais em confluência com a Nova Gestão Pública.
De acordo com Enguita (1995), a palavra qualidade foi objeto prioritário de diversos
segmentos da sociedade brasileira para justificar qualquer transformação em processos.
Se existe hoje uma palavra em moda no mundo da educação, essa palavra é,
sem dúvida, “qualidade”. Desde as declarações dos organismos internacionais
até às conversas de bar, passando pelas manifestações das autoridades
educacionais, as organizações de professores, as centrais sindicais, as
associações de pais, as organizações de alunos, os porta-vozes do
empresariado e uma boa parte dos especialistas, todos coincidem em aceitar a
qualidade da educação ou do ensino como objectivo prioritário ou como um
dos muito poucos que merecem consideração (ENGUITA, 1995, p. 95).
Nesse sentido, a palavra qualidade presente nesses discursos foi a combinação utilizada
para conjurar os efeitos deletérios da crise da educação brasileira a partir dos relatórios emitidos
pelas agências multilaterais. Gentili (1997) defende que esse discurso em nome da qualidade
apresentou-se como a “nova retórica no campo educacional” sobrepondo o discurso da
democratização e sobretudo impondo-se de forma hegemônica e parcial sob ótica importada do
mundo empresarial para educação pública.
Em consonância com essa lógica, Lima (1997) explicita que os discursos gerencialistas
no campo da educação,
[...] têm vindo a ocupar a posição outrora assumida pelas teorias educacionais
e pelo pensamento pedagógico, construindo narrativas de tipo gestionário que
72
legitimam uma nova ordem racional baseada no mercado, nos sectores privado
e produtivo, na competitividade económica e na gestão centrada no cliente
(LIMA, 1997, p. 51-52).
Em sua investigação, Oliveira (2017) observou que o discurso em nome da qualidade
centrou-se em formar sujeitos (discentes), de acordo com as demandas da esfera produtiva
(capital humano), para acumulação do capital, capazes de solucionar problemas e promover
adaptações às mudanças do processo produtivo para assim “obter sucesso na nova ordem de
competição internacional” (OLIVEIRA, 2017, p. 117).
A autora demonstra também como a concepção da qualidade total passou a incorporar,
na gestão escolar, a partir de 1990, a padronização do processo de trabalho a todos os sujeitos
que compõem o cotidiano escolar como, por exemplo, do processo de trabalho dos professores
e diretores de escola por meio de mecanismos de controle e qualidade do padrão estabelecido,
buscando assim a consolidação da “Cultura da Qualidade” nas escolas públicas.
Corroborando com essas constatações, Vieira (2004) afirma que o novo perfil da escola
eficiente se consolidou por um modelo advindo do setor empresarial como, liderança do diretor,
clareza em relação aos objetivos, clima positivo de expectativas no que se refere ao sucesso,
espírito de equipe, capacitação dirigida aos profissionais da escola, planejamento,
acompanhamento e avaliação dos processos que englobam a escola e o foco centrado no aluno
como principal cliente da escola. Vieira ainda ressalta que nesse novo padrão de gestão, deve
haver conteúdos e níveis mais definidos, avaliações que culpabilizem a escola pelo mal
resultado, e o “sucesso” instituído como meta da produtividade (VIEIRA, 2004, pp. 38-39).
Como se constata, a receita em nome do discurso da qualidade consolidou-se por meio
da concepção da gestão empresarial em consonância com a Reforma do Estado na gestão das
escolas públicas utilizando-se desses mecanismos que, em conjunto, materializaram o processo
de responsabilização de todos os profissionais que trabalham no cotidiano escolar de acordo
com os resultados dessas avaliações (OLIVEIRA, 2017). Mesko, Silva e Piolli (2016)
destacam, na mesma direção, que a realidade educacional brasileira inseriu, por intermédio dos
organismos multilaterais, esse novo modelo de gestão voltada para os resultados, que
reconfigura um novo perfil de escola através das avaliações externas e dos indicadores de
qualidade.
No âmbito das escolas, as medidas decorrentes ensejaram uma maior responsabilização
de todos os seus profissionais, com ênfase nos docentes. Os controles se acentuam em
73
decorrência disso, produzindo maior visibilidade das escolas e dos docentes que, agora, passam
a assumir a responsabilidade pelo (in)sucesso escolar de acordo com os resultados aferidos pelo
desempenho dos alunos nas avaliações externas (MESKO; SILVA; PIOLLI, 2016, p.160).
De acordo Freitas (2012, p. 383), a lógica e a participação dos reformadores
empresariais transferiu-se para o campo da educação no Brasil por meio de uma racionalidade
técnica que visa um modelo padrão para aferir as “expectativas de aprendizagens” através de
testes padronizados (avaliações externas), “com ênfase nos processos de gerenciamento da
força de trabalho da escola (controle pelo processo, bônus e punições), ancorada nas mesmas
concepções oriundas da psicologia behaviorista, fortalecida pela econometria, ciências da
informação e de sistemas, elevadas à condição de pilares da educação contemporânea”.
Desta forma, segundo o autor, consolida-se uma fórmula da engenharia do desempenho
que busca excessivamente a garantia dos resultados, sobretudo o “controle dos processos” de
todos os sujeitos que participam da escola. Nessa fórmula, desenvolve-se um sistema de
responsabilização que o autor denomina neotecnicismo.37 Para Freitas (2012), o neotecnicismo
engloba três categorias: a) responsabilização, b) meritocracia e c) privatização. No que tange à
responsabilização, o autor explica que essa categoria se caracteriza pela publicação dos
desempenhos das escolas de acordo com os resultados dos testes padronizados (avaliações
externas). Partindo, portanto, da convergência da meritocracia com a “exposição pública” do
desempenho das escolas, estas podem sofrer sanções ou punições, transferindo-se a
responsabilização pela educação. Isso caracteriza,
Um sistema de responsabilização envolve três elementos: testes para os
estudantes, divulgação pública do desempenho da escola e recompensas e
sanções (Kane & Staiger, 2002). As recompensas e sanções compõem o
caráter meritocrático do sistema, mas não só, já que a própria divulgação
pública dos resultados da escola constitui em si mesma uma exposição pública
que envolve alguma recompensa ou sanção públicas. A meritocracia é uma
categoria, portanto, que perpassa a responsabilização. (FREITAS, 2012, p.
383).
37 A educação configura-se na pedagogia tecnicista que busca determinar como os sujeitos (professores e alunos)
que compõem o cotidiano escolar devem fazer e como fazer, reordenando o processo educativo na lógica da
racionalidade, eficiência e produtividade (Freitas,2012).
74
Para o autor, as categorias da responsabilização e meritocracia consolidaram-se para um
processo de ampliação da privatização da educação pública por intermédio do “público estatal
e público não estatal”38 que,
(...) abriu novas perspectivas para o empresariado: a gestão por concessão.
Desta forma, aquela divisão fundamental entre público e privado ficou
matizada. Agora, abre-se a possibilidade do público administrado
privadamente. O advento da privatização da gestão introduziu na educação a
possibilidade de que uma escola continue sendo pública e tenha sua gestão
privada (público não estatal) (Pedroso, 2008). Continua gratuita para os
alunos, mas o Estado transfere para a iniciativa privada um pagamento pela
sua gestão. Há um “contrato de gestão” entre a iniciativa privada e o governo
(FREITAS, 2012, p. 386).
Outra característica dessa privatização são os vouchers, que transferem dinheiro público
para iniciativa privada através de bolsas/vales. Tal modalidade de privatização no cenário
educacional brasileiro se baseia no oferecimento de bolsas de estudo aos educandos numa
escola privada. Essa forma de privatização encontra-se com força no ensino superior com o
PROUNI e na educação profissional com o PRONATEC. Freitas (2012) analisa que esse ideário
de neotecnicismo desenvolveu-se em confluência com a participação do setor empresarial,
resultando num processo de desresponsabilização do Estado atrelado aos interesses
hegemônicos dos reformadores empresariais.
(...) a tese dos reformadores empresariais, neste ponto, termina
desresponsabilizando o Estado quando convém – ou seja, quando está em
jogo, por um lado, o faturamento das corporações educacionais e, por outro, o
controle ideológico do sistema educacional pelas corporações empresariais
para colocá-lo a serviço de interesses de mercado, estreitando as finalidades
educativas (FREITAS, 2012, p. 387).
Sobre os testes padronizados, ou seja, as avaliações externas de cunho censitário, Freitas
(2012, p. 390) assinala que eles produzem nos profissionais (professores e diretores de escola)
e entre as escolas públicas um processo de competição que diminui a “possibilidade de
colaboração entre estes”.
Assumimos a acepção de que a combinação para a efetivação dos processos de
privatização engloba três elementos importantes, para que as políticas empresariais se
38 A gestão por concessão é uma prática muito utilizada nos municípios na educação infantil, como por exemplo,
sob a chamada Nave Mãe que materializou esse modelo de privatização no munícipio de Campinas.
75
consolidassem no cenário educacional brasileiro: o discurso da qualidade, avaliações externas
e indicadores de qualidade. Nessa tríade, desenvolve-se um processo de privatização silenciosa
(endógena e exógena) na educação pública por meio assessorias, consultorias, modelos, ideias
e práticas provenientes da classe empresarial com as agências multilaterais.
Com efeito, nessa proposição, Ball (2014), em seu livro intitulado Educação Global S.
A. – Novas redes políticas e o imaginário neoliberal”, convida-nos a analisar essas formas de
privatização silenciosa por meio da etnografia em rede de governança.39 De acordo com Ball
(2014), esse método tem como ênfase investigar “a política em movimento”, ou seja, na
espacialização das relações sociais por meio de interações transnacionais e suas formas de
sociabilidade resultantes dos processos de globalização, em convergência com o
neoliberalismo.
(...) trato o neoliberalismo como um conjunto complexo, muitas vezes
incoerente, instável a até mesmo contraditório de práticas que são organizadas
em torne de certa imaginação de “mercado” como base para “ a
universalização das relações sociais baseadas no mercado, com a
correspondente penetração em quase todos os aspectos de nossas vidas, do
discurso e/ou da prática de mercantilização, de acumulação de capital e de
geração de lucros (BALL, 2014, p. 25).
Para o autor, essas “mobilidades” consistem nas mudanças econômicas e políticas em
larga escala e também nas mudanças culturais, de identidade e de subjetividade “ por meio das
quais no global é produzido” (BALL, 2014, p. 29). Nesse sentido, compreendem-se as redes
políticas como uma nova relação social que tem como base seus fluxos e movimentos
partilhados de grupos políticos constituídos de concepções teóricas e soluções para os
problemas sociais vigentes e um modo-chave de dispositivo analítico,
Por meio delas, é dado espaço a novas vozes dentro do discurso da política.
Novas narrativas sobre o que conta como uma “ boa” política são articuladas
e validadas (ver Ball, 2007). As pessoas movem-se por tais comunidades e
dentro delas, e há novos tipos de carreiras em política e governança que podem
ser construídas dentro delas (BALL, p. 29, 2014).
Para tanto, faz-se necessário, para uma profunda análise sobre o programa Educação –
Compromisso de São Paulo, apresentar as formas de privatização oculta que ocorrem na
educação pública sobre duas formas interligadas: a endógena e a exógena. A primeira
(endógena) apresenta-se na esfera pública com concepções, ideias e práticas oriundas do setor
39 Analisa-se em mapear a forma e o conteúdo das relações sociais. (Ball, 2014)
76
privado a ser incorporado no setor público com características de uma empresa. A segunda
(exógena) é uma nova maneira de privatização em que consultorias e organizações sociais
(sociedade civil) elaboram programas nas políticas públicas educacionais e nos sistemas de
ensino público (BALL e YOUDELL, 2007).
Segundo os autores, a concepção de privatização endógena formula-se a partir de:
Quase-mercados (caminho para o mercado): refere-se a novas e diferentes formas de
escolha das escolas no sistema educacional público em afluência com o privado. Tal
acepção, baseia-se no direito dos pais em escolher diferentes escolas públicas ou
privadas por meio da publicação do desempenho destas na oferta educacional através
de bolsas/vales (vouchers). Esse mercado de informações sobre o desempenho das
escolas promove a concorrência entre essas escolas. “Em síntese, o que está em questão
é a eliminação ou redução dos controles burocráticos sobre a matrícula nas escolas, o
financiamento da escola associado com tal registro e apoiar e promover a escolha da
escola e mobilidade em todo o sistema”40 (BALL e YOUDELL, 2007, p.21).
O Gestor e a Nova Gestão Pública: refere- se aos novos meios de privatização oculta
tendo como opção a transferência de competências e utilizando-se como ator principal
o diretor de escola para consolidar as reformas educacionais através da autonomia
financeira e organizacional (descentralização) na escola. O diretor da escola deixa de
ser um profissional que dirige uma instituição, passando a ser um gerente de resultados
corporativos, sujeito dinâmico, visionário e capaz de assumir riscos. “Nesse sentido, o
novo gestor escolar incorpora políticas e permite que a instituição de ensino inicie o
processo de reforma no seu inteiror. A escola passa ser auto-gerenciada e deve lidar
com a sua própria supervisão e regulação41” (BALL e YOUDELL, 200, pp. 25-26). Essa
acepção alinha-se com a ideia da Nova Gestão Pública, tanto do ponto de vista da
organização e como da cultura da eficiência nos serviços públicos. Tal meio tem como
40 Texto original: “En resumen, de lo que se trata es de la eliminación o disminución de los controles burocráticos
en lo relativo a la matriculación en los centros de enseñanza, la financiación escolar asociada a dicha matriculación
y el apoyo y la promoción a la opción escolar y a la movilidad en torno al sistema” (BALL e YOUDELL, 2007,
p.21). 41 El gestor del centro de enseñanza ya no es un profesional que dirige una institución, sino un gestor de los
resultados institucionales, del que también se espera que sea dinámico, visionario y capaz de asumir riesgos. En
cierto sentido, el nuevo gestor escolar incorpora las políticas a la institución y permite poner en marcha los procesos
de reforma. La escuela autogestionada debe ocuparse de su propia supervisión y reglamentación (BALL E
YOUDELL, 2008, pp. 25-26).
77
objetivo introduzir os mecanismos de mercado e as formas de privatização no bojo da
esfera pública.
Assim, a nova noção afeta a forma e âmbito da tomada de decisões de política
social e sistematicamente marginaliza e subtrai todo o poder de decisão de
profissionais da educação. Por outro lado, também submetê-los mais e mais
frequentemente para novas formas de controle através de métodos de
gerenciamento de resultados e promove entre eles novas perspectivas através
de novas formas de compromissos e prioridades, um processo que poderia ser
chamado de reculturalização42 (BALL e YOUDELL, 200, p. 27) [tradução
nossa].
Gestão de desempenho, responsabilização e salários com base nos resultados: refere-
se a métodos que garantem no processo educativo uma afluência para redirecionar o
trabalho das escolas e dos profissionais da educação, introduzindo novos valores da
empresa privada na escola pública. Nessa acepção, cabe aos sistemas públicos de ensino
estabelecer metas, aferir o desempenho das escolas em simetria com os resultados das
avaliações externa de larga escala (para aferir níveis de leitura e habilidades
matemáticas) e responsabilizar os profissionais de educação por meio do atrelamento de
uma parte dos salários aos resultados dos educandos nestes testes padronizados.
Neste certame, a privatização exógena insere-se nas formulações das políticas públicas
educacionais por meio de “grupos de reflexão”. Essa nova relação entre as agências
multilaterais, consultorias, ONGs e diversas empresas (nova filantropia) estabelecem
determinados discursos e “conhecimentos” que cada vez mais ganham espaços e credibilidade
numa arquitetura global, na qual as políticas educacionais empresariais tornam-se “uma
poderosa alternativa de política para o fracasso do Estado” (BALL, 2014, p.34). Nesse sentido,
analisa-se que estes participam dentro do Estado para alcançar suas estratégias atuando como
“think tanks”.43 Segundo o autor, tal arquitetura tem como objetivo produzir mudanças
42 La idea de nueva gestión pública ha sido también el medio principal a través del cual se reestructuran la
organización y la cultura de los servicios públicos con el fin de introducir y afianzar los mecanismos del mercado
y las formas de privatización. De ese modo, la nueva noción afecta a la manera y al ámbito de adopción de las
decisiones de política social y, sistemáticamente, margina y resta todo poder de decisión a los profesionales de la
educación. Por otro lado, también les somete cada vez más frecuentemente a nuevas formas de control a través de
métodos de gestión de los resultados y promueve entre ellos una nueva perspectiva propia mediante nuevas formas
de compromisos y de prioridades, proceso que podría denominarse de “reculturización”. (BALL E YOUDELL,
2008, p.27). 43 Os Thinks Tanks são organizações e instituições que visam difundir estratégias e conhecimentos a fim de
influenciar transformações sociais, econômicas e políticas por meio de temas, questões, relatórios, artigos e
propostas de políticas (BALL, 2014, p.55).
78
culturais, de identidade e de subjetividade sob o prisma do ideário neoliberal de acordo com os
interesses do capital na esfera pública. Ball (2014) demonstra que a nova filantropia44 configura
o papel do Estado como “criador de mercados” que envolve a concepção de novas formas de
abordar os problemas sociais em que essas fronteiras entre o público e o privado são cada vez
mais híbridas, consolidando uma governança filantrópica.
Nesta análise, o autor examina a rede Atlas Liberty Network e identifica a participação
de sete membros brasileiros (Instituto Liberdade Brasil, Instituto Millenium, Instituto Liberal,
Instituto Atlântico, Instituto Mises e Instituto de Estudos Empresariais) em uniformidade com
essa grande corporação. A rede atua no cenário brasileiro para mudar a percepção do público
sobre os problemas sociais, com base no imaginário neoliberal.
Como específico de tal trabalho, uma das muitas organizações parceiras do
Instituto Liberdade é o Todos pela Educação. Esse programa foi fundado
pelos presidentes de diversas empresas brasileiras, incluindo a cadeia de peças
de carros DPaschoal, o Grupo Gerdau e os bancos Itaú, Bradesco e Santander.
O projeto /programa, agora adotado pelo governo brasileiro, tem desenvolvido
metas para educação brasileira e introduzindo ferramentas de monitoramento
de desempenho com ajuda de peritos americanos e brasileiros (BALL, 2014,
p.63).
Como mencionado no capítulo II, sobre a participação do setor empresarial no Plano
Desenvolvimento da Educação, verifica-se no discurso do então Ministro da Educação
Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores (PT), no lançamento do PDE em 2007, o
discurso e a mediação privilegiada da classe empresarial na formulação deste Plano a longo
prazo, em confluência com os organismos multilaterais. Retiramos alguns trechos do discurso
proferido para demonstrar a materialização do processo de privatização exógena na realidade
educacional brasileira. Nas palavras do Ministro,
Brasil, nós ajudamos a construir escolas de ensino fundamental, de ensino
médio, às vezes escolas técnicas, mas hoje sabemos por todos os estudos
internacionais, que se nós quisermos oferecer equidade no sistema de ensino,
essa equidade se garante com a educação infantil. Essa equidade se garante
fazendo a criança, sobretudo os filhos das famílias mais pobres do país, ter
acesso à educação em tenra idade, para que as oportunidades sejam
absolutamente equivalentes, e nós possamos oferecer a todos os brasileiros,
rigorosamente, as mesmas condições e as mesmas oportunidades...Os pilares
de sustentação desse projeto passam por financiamento adequado, passam por
44 “(...) o envolvimento filantrópico tornou-se uma chave e atualmente é corresponsável pela criação,
desenvolvimento e expansão de tais novas formas de governamentalidade, tanto em termos de governança e
metagovernança” (OLMEDO, 2013, p.481).
79
avaliação e responsabilização dos agentes públicos que comandam o sistema
educacional, passam pela formação de professores e valorização do magistério
e pela gestão e mobilização das comunidades...No campo da educação básica,
o decreto mais importante que o presidente da República assina hoje é aquele
que estabelece o plano de metas Compromisso Todos pela Educação. O que
vem a ser esse plano de metas? Graças ao trabalho técnico elaborado pelo
nosso instituto de pesquisas, o Inep, nós conseguimos conjugar dois
indicadores que medem a qualidade da educação. O primeiro de fluxo e o
segundo de desempenho nos exames nacionais de avaliação…Sobre fluxo,
senhor presidente, eu gostaria de dizer que nós temos que desmontar duas
indústrias que se criaram no país. De um lado a indústria da repetência, e de
outro, a indústria da progressão automática. Nenhuma das duas nos interessa.
Nós temos que criar um sistema desenvolvido de educação, pelo qual todos os
alunos progridam, mas progridam aprendendo. Obtendo competências e
habilidades compatíveis com a sua idade, para que nós não observemos mais
o que tem sido a regra da criança chegar ao quarto ano, à quarta série do ensino
fundamental sem aquelas competências mínimas para a sua idade, como saber
ler e escrever, saber as operações matemáticas próprias da sua idade
(BRASIL, 2007).
Nesta acepção, híbrida, complexa e mutável entre mercado, Estado e o setor público,
consolida-se o processo de neoliberalização em que esses canais locais (nova filantropia) estão
ligados em uma “rede internacional de relações” para disseminar a concepção neoliberal
“tamanho único”.
Com efeito, o Programa “Educação - Compromisso de São Paulo” reúne diversos
elementos-chave que demonstram esse processo de neoliberalização por intermédio dessa nova
filantropia. A atuação da consultoria Mckinsey & Company (transnacional) em sintonia com a
parceira do Todos pela Educação (nacional) e os Parceiros da Educação (subnacional)
contribuem para consolidar a privatização exógena por intermédio das ações desse programa,
em especial no tocante à gestão escolar.
80
FIGURA 4: MISSÃO, VISÃO E VALORES DOS PARCEIROS DA
EDUCAÇÃO
Fonte: Site Oficial dos Parceiros da Educação - http://www.parceirosdaeducacao.org.br/quem- somos/#qs-
parceiros. Acessado em 15 de setembro de 2017.
81
Conforme mencionamos anteriormente, a participação dos Parceiros da Educação
(subnacional) consubstanciou nas políticas públicas da SEE tais enunciados. A figura acima
apresenta a proposição da classe empresarial como: missão “ visando melhorar a qualidade de
ensino, o aproveitamento escolar dos alunos e impactar políticas públicas educacionais”; na
visão “em promover a melhoria da aprendizagem dos alunos” e, valores “ comprometimento;
excelência nos resultados, eficiências nas ações” demonstra como essa nova filantropia
participa de forma perspicaz na esfera pública em nome da qualidade e o desempenho
acadêmico (resultados) dos discentes que ilustra o objeto da nossa pesquisa no processo de
sedimentação da lógica privatista exógena e endógena na educação paulista.
Verificaremos a seguir, como o Programa “Educação - Compromisso de São Paulo”
reúne diversos desses elementos-chave que evidenciam a face encoberta da privatização
endógena que ocorre por intermédio de modelos e práticas provindas do mundo empresarial e
que consubstancia atualmente mudanças na atuação do diretor de escola.
3.2 O Programa Educação – Compromisso de São Paulo: Um novo perfil de
diretor em gestação?
Neste tópico, iremos reunir elementos para demonstrar como a SEE/SP em confluência
com a classe empresarial (subnacional, nacional e transnacional) à luz do imaginário neoliberal
e dos organismos multilaterais vem constituindo o processo da face oculta da privatização
endógena no âmbito da gestão escolar.
Em conformidade a esse processo de privatização endógena, com relação ao sujeito da
nossa pesquisa, revela-se na elaboração do documento “Todos pela Educação: rumo a 2022”,
uma emblemática caracterização do “papel do diretor de escola”, colocando-o como elemento
central na construção da “escola eficaz”. Nas palavras do documento
(...) o diretor é responsável por atrair, manter e desenvolver bons
professores e bons profissionais. Isso só é possível quando todos têm um
papel definido e buscam objetivos comuns. Todos precisam ter clareza de
onde se quer chegar, e o diretor é fundamental para que esse senso de
missão esteja presente no dia a dia da escola.... Precisa conhecer,
diariamente, o que se passa na escola, quais os índices de desempenho de
cada turma, quais os professores que precisam de apoio, que alunos deve
82
ajudar. Precisa tomar decisões e providências diariamente, com base em
informações confiáveis, para que as metas de desempenho da escola sejam
cumpridas. Ao estabelecer as metas anuais de desempenho da escola - e de
cada turma - é preciso ser realista, conhecer os dados do ano anterior, fazer
um diagnóstico da escola, conhecer o perfil dos alunos matriculados e ter
expectativas elevadas sobre o desempenho dos professores e dos alunos. É o responsável maior para que a escola tenha e cumpra o regimento escolar
e a proposta pedagógica - que dará origem aos planos de curso e de aula; deve
garantir um sistema eficaz de reforço escolar para os alunos que estão tendo
dificuldades em algum conteúdo especifico e fazer funcionar um sistema de
supervisão de professores com foco no desempenho dos alunos. Como a
escola não trabalha de forma isolada, o diretor deve conduzir as ações da
escola de forma articulada com as políticas emanadas pela Secretaria de
Educação - que deve receber, mensalmente, os dados da escola. As metas
da escola também devem ser estabelecidas, anualmente, de forma
integrada às metas da rede de ensino. Acima de tudo, o diretor precisa ver
o aluno como solução, não como problema. Precisa enxergar o aluno como
um detentor de potencialidades para se organizar em grupo e aprender, e
sentir-se responsável por garantir as condições para que, de fato, todo aluno
aprenda. Precisa enxergar o aluno – e sua família - como clientes da escola,
que têm direito, exigível por lei, a uma educação de qualidade (TODOS
PELA EDUCAÇÃO, 2006, pp. 28-29). [grifos nossos]
De acordo com Shiroma, Garcia e Campos (2011, p. 241), a respeito desse documento,
o diretor de escola tornou-se o porta voz, na perspectiva da classe empresarial, para transmitir
na sociedade “preceitos, conceitos, valores morais, atitudes que ressignificam o papel social da
educação, a relação entre o público e privado, entre Estado e sociedade”. Segundo as autoras, a
perspectiva do TPE sobre a “escola eficaz”, atrelada ao discurso da qualidade, visa apreender a
relação entre avaliação de rendimentos e de resultados como direito à educação, buscando “criar
uma atitude positiva da sociedade com relação as políticas de avaliação” na idealização de
“acompanhamento e monitoramento”.
Na mesma direção, a rede estadual de ensino paulista propõe princípios orientadores
para a prática educativa e para a organização das escolas em nome da melhoria da qualidade de
ensino, buscando adaptá-las às demandas do setor produtivo. Tais princípios orientadores
elaborados pela SEE/SP estão presentes no documento “Gestão do Currículo na Escola”, que
tem por finalidade especificar a função do gestor na atuação da proposta curricular,
apresentando-o como “um líder e animador da implementação desta proposta curricular nas
escolas públicas estaduais de São Paulo” (São Paulo faz Escola, 2011, p. 4). Desta forma, a
SEE/SP elaborou também o Caderno do Gestor, que prescreve aos diretores de escola o
exercício de sua função, a fim de melhorar o rendimento dos alunos nas avaliações externas
com foco nos resultados da aprendizagem.
83
Outro caderno igualmente confeccionado pela SEE/SP, denominado Caderno do
Professor, constitui-se num conjunto de indicações direcionados aos docentes, organizado por
série, bimestre e disciplina (conteúdos disciplinares específicos sobre os conteúdos,
competências e habilidades). Como complemento, a partir de 2009, estabeleceu-se um caderno
também para os alunos, com atividades alinhadas com as diretrizes do currículo em
convergência com o caderno destinados aos docentes (OLIVEIRA, 2017).
Ao analisarmos as ações da SEE/SP, iniciadas a partir de 2000, no tocante aos diversos
cursos de formação oferecidos aos diretores de escolas, detectamos como o processo de
inculcação ideológica dos princípios do modelo da empresa privada estão presentes nos
conteúdos programáticos. Vejamos abaixo uma sistematização que demonstra essa estreita
relação entre o público e o privado na formação pedagógica dos diretores de escola.
QUADRO 3: CURSOS OFERECIDOS PELA SEE/SP EM PARCERIA COM O
SETOR PRIVADO (2000-2013)
Elaboração própria a partir de LYRA, 2003, p. 94; KLEBIS, 2010, p. 25 e do site oficial da SEE/SP.
ANO CURSOS OFERECIDOS
PELA SEE/ SP
PARCEIROS
2000 CIRCUITO GESTÃO
IDORT
2004/2005 PROGESTÃO CONSED com o apoio da
Fundação Ford
2009 GESTÃO PARA O
SUCESSO ESCOLAR
FUNDAÇÃO LEMANN e a
UNIVERSIDADE ANHEMBI
2010 LIDERANÇA DE
GESTORES DE ESCOLAS
PÚBLICAS
BRITISH COUNCIL e INSTITUTO
CRESCER
2012 MBA GESTÃO
EMPREENDEDORA
FIRJAN/SESI-RJ, FIESP/SESI-SP e
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
2013 MELHOR GESTÃO e
MELHOR ENSINO
CURSO ELABORADO PELA SEE/SP
84
Utilizaremos como exemplo o primeiro curso oferecido aos gestores da rede estadual de
ensino, intitulado Circuito Gestão,45 para um primeiro exercício de análise. Tal curso foi
elaborado pelo Instituto de Organização Racional do Trabalho46 (IDORT) e teve como objetivo
capacitar os gestores para melhorar o desempenho das escolas e a qualidade de ensino (SEE,
2000).
Lyra (2003), em sua pesquisa, analisa o referido curso sobre os dirigentes regionais de
ensino e demonstra a estratégia da SEE/SP ao utilizar-se da formação continuada como
processo de racionalização a fim de fortalecer um modelo de práticas de cunho flexível na
organização do trabalho a serem implementadas pelos gestores em nome da qualidade de
ensino. A pesquisadora detectou, nas entrevistas com os dirigentes regionais de ensino, termos
provenientes do modelo de organização do trabalho pós-fordistas ao referenciarem-se à função
do gestor, tais como: gestão voltadas para o resultado, desempenho, dividir as responsabilidades
com todos. Tais peculiaridades, presentes nas vozes desses sujeitos, simbolizam a estratégia de
descentralização defendidos pelo modelo gerencial na Reforma do Estado brasileiro.
Eu lembro que quando eles começaram a trabalhar no Circuito de Gestão eles
quiseram pegar uns termos que estão aí no mercado, vamos supor, no moderno
mercado, na iniciativa privada essa gestão moderna da educação, gestão
moderna da empresa, essa gestão voltada para resultados tipo ISO 9000 com
qualidade (LYRA, 2003, p. 106).
De acordo com Salomão (2011), ao debruçar-se sobre os programas de formação
continuada da SEE/SP na gestão escolar, no período de 2000 a 2006, fazendo uso de
questionário que continham perguntas fechadas e abertas aos diretores de escola (19 de diretores
de escola), demonstrou que 28% dos sujeitos da pesquisa apontaram que os conteúdos
abordados nos cursos de formação continuada contribuíram de alguma forma para sua prática
no ambiente educativo. Essas formações continuadas correspondem às reformas empreendidas
na rede estadual paulista em nome da melhoria da qualidade de ensino, buscando consolidar o
novo diretor gerencial.
45 De acordo com os dados divulgados no texto “Progressão continuada da aprendizagem: o que falta dizer sobre
sua implantação” elaborado pelo CENP, vinte mil e quinhentos gestores da rede estadual (Dirigentes, Supervisores,
ATPs, Diretores, Vice-Diretores e PCPs) fizeram o referido curso em cinco módulos. 46 Instituto de Organização Racional do Trabalho (IDORT) foi criado em 1931 por diversos empresários
brasileiros e estruturou-se nos padrões de racionalização sobre o trabalho, a partir das ideias de Frederick W.
Taylor (1856-1915). Seu objetivo inicial era sobre os aspectos organizacionais na empresa privada e formação
profissional. A partir de 1934, direcionou seu foco para a administração pública.
85
Assistimos hoje os diretores de escola sendo “bombardeados” com uma série
de ações e programas de formação continuada, cursos de especialização e
aperfeiçoamento, os quais não raramente ocorrem de forma concomitante e
compulsória. Observa-se ainda que tais programas e ações se voltam, na
maioria das vezes, para a solução dos pequenos problemas do cotidiano,
denotando uma visão microinstitucional (KLEBIS, 2010, p.198).
Para Klebis (2010), ao analisar os cursos de formação continuada para gestores
(diretores de escola) da rede estadual de ensino paulista (1990-2009), tem-se por finalidade
utilizar esse mecanismo da formação continuada em convergência com as orientações das
agências multilaterais (Banco Mundial), MEC e a SEE/SP no contexto econômico, político e
social em que circunscreveram um novo perfil desse sujeito no cotidiano escolar. Para “uma
gestão ser considerada eficiente basta que o diretor de escola exerça a sua criatividade e também
se empenhe na busca de parceiros para a solução imediata dos problemas” (KLEBIS, 2010,
p.198). Nesse sentido, o programa Educação - Compromisso de São Paulo define por meio da
Resolução SE nº 56, de 14 de outubro de 2016, o perfil de diretor para as escolas da rede
estadual em uniformidade com os pressupostos da privatização endógena e exógena, a saber:
Como dirigente e coordenador do processo educativo no âmbito da escola,
compete ao diretor promover ações direcionadas à coerência e à consistência
de uma proposta pedagógica centrada na formação integral do aluno. Tendo
como objetivo a melhoria do desempenho da escola, cabe ao diretor,
mediante processos de pesquisa e formação continuada em serviço,
assegurar o desenvolvimento de competências e habilidades dos
profissionais que trabalham sob sua coordenação, nas diversas dimensões
da gestão escolar participativa: pedagógica, de pessoas, de recursos físicos
e financeiros e de resultados educacionais do ensino e aprendizagem. Como dirigente da unidade escolar, cabe-lhe uma atuação orientada pela
concepção de gestão democrática e participativa, o que requer compreensão
do contexto em que a educação é construída e a promoção de ações no sentido
de assegurar o direito à educação para todos os alunos e expressar uma visão
articuladora e integradora dos vários setores: pedagógico, curricular,
administrativo, de serviços e das relações com a comunidade. Compete,
portanto, ao Diretor de Escola uma atuação com vistas à educação de
qualidade, ou seja, centrada na organização e desenvolvimento de ensino
que promovam a aprendizagem significativa e a formação integral do
aluno para o exercício da cidadania e para o mundo do trabalho
(Resolução SE nº 56/2016) [grifos nossos].
Concordamos com Ball (2014) a respeito do modelo de liderança empresarial na política
educacional como um meio de reformulação (redesenho organizacional) do setor público, cujo
objetivo é transformá-lo em “ forma de empreendimento”. Para o autor, o novo modelo de
86
liderança revela-se na gestão de risco que visa o “ custo-benefício e aderem a padrões de
desempenho que são ajustados à realidade de um ambiente de mercado abrangente” (p.71).
FIGURA 5: APRESENTAÇÃO DO CURSO “MBA GESTÃO EMPREENDEDORA –
EDUCAÇÃO: CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU NO SITE OFICIAL DA
SEE/SP
Fonte: Site oficial da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo -
http://www.escoladeformacao.sp.gov.br/portais/Default.aspx?tabid=7148. Acessado em 07 de agosto de 2017.
87
Com efeito, a partir desta figura de apresentação sobre o curso MBA Gestão
Empreendedora no site institucional da escola de formação aos diretores de escola, podemos
verificar a proposição de liderança apresentada por Ball (2014) como uma perspectiva de
redesenho organizacional das escolas estaduais paulistas, cujo elemento central é o
“desenvolvimento de condutas empreendedoras” em afluência com o modelo do setor
empresarial.
88
FIGURA 6: EMENTA DAS DISCIPLINAS DO CURSO MBA GESTÃO
EMPREENDEDORA
89
90
91
Fonte: Site oficial da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo -
http://www.escoladeformacao.sp.gov.br/portais/Portals/99/regulamento_mba_9a_edicao.pdf. Acessado em 06 de
agosto de 2017.
Nesse sentido, após analisar todos os regulamentos do atual curso oferecido aos
diretores de escolas pela SEE, denominado MBA Gestão Empreendedora, em parceira com
FIRJAN/SESI-RJ, FIESP/SESI-SP e UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE nota-se
que o curso encontra-se na sua 9º edição e conta com a participação de 28 % dos diretores de
escola (1424). Tal regulamento apresenta um amplo vocabulário (léxico) da linguagem
empresarial que demonstra para nossa pesquisa a materialização da privatização endógena, a
saber: inovação para a gestão, atitude e comportamento empreendedor, criatividade, o
empreendedorismo corporativo, educação empreendedora, liderança, metodologia Business
Process Management (Gestão de processos como ferramenta de inovação) , Marketing
aplicado à gestão escolar, Endomarketing, pesquisa de marketing aplicada às escolas, Plano
de Marketing, Marketing na educação, a negociação como meio de resolução de conflitos,
instrumentos de avaliação e dos indicadores de qualidade educacional, melhoria do
desempenho da escola; gestão de tecnologias educacionais, gestão compartilhada e plano de
empreendimento (etapas de um plano de empreendimento, caracterização do produto, análise
de contexto, estratégia de marketing, organização e gerência do empreendimento).
Outro curso oferecido e elaborado pela SEE a partir de 2013, que ilustra os objetivos
deste trabalho, intitulado Melhor Gestão e Melhor Ensino, está em conformidade com o
conceito de privatização endógena para formação pedagógica dos diretores de escola da rede
estadual paulista com o foco em qualidade e resultados no cotidiano das escolas, alinhado com
as premissas dos cursos oferecidos via parceria público e privado.
De acordo com os dados divulgados no II Seminário Internacional de Pesquisa em
Políticas Públicas e Desenvolvimento Social por David e Senchetti em 2016 na UNESP, sobre
o curso Melhor Gestão e Melhor Ensino, tal formação tem por finalidade
(...) aquisição de competências gerenciais e habilidades de liderança, as quais
levam ao que a SEE/SP concebe como uma atuação bem-sucedida, ou seja,
que alavanca os resultados do rendimento dos alunos da rede pública paulista
nas avaliações externas, atendendo às proposições neoliberais de organismos
internacionais (DAVID E SENCHETTI, 2016, p. 08).
Nesse sentido, o discurso empresarial conduz os agentes públicos a implementarem
novos modelos, neste caso, os diretores de escolas, a forjarem-se para melhoria dos resultados
92
nas avaliações de larga escala em nome da qualidade de ensino sobre uma única variável
prescrita, tornando-os gerentes de resultados corporativos (novo diretor gerencial).
Dentro da lógica da linguagem empresarial no setor público (privatização endógena),
Ball (2014) demonstra que a perfomartividade busca transformar o agente público no sujeito
neoliberal, tornando-o mais maleável e flexível, transformando este numa empresa, como uma
“unidade produtiva de automaximização que opera em um mercado de desempenhos” (p.67).
De fato, a performatividade é a forma por excelência de governamentabilidade
neoliberal, que abrange a subjetividade, as práticas institucionais, a economia
e o governo. É tanto individualizante quanto totalizante. Ela produz
docialidade ativa e produtividade sem profundidade (Ball, 2014, p.66).
Temos, portanto, uma linguagem empresarial presente nesses documentos que buscam
neutralizar os processos contraditórios no ambiente escolar, consolidando um discurso
empresarial e novas práticas e modelos (privatização endógena) que selecionou a palavra
qualidade a partir de indicadores de qualidade pré-estabelecidos para uma nova atitude mental
dos agentes públicos para resultados mensuráveis.
Em meio a esse contexto de novas práticas e modelos na formação dos diretores de
escola para melhoria dos resultados, uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas
(FGV) sob a encomenda da Fundação Victor Civita, Gestão escolar e qualidade da Educação:
um estudo sobre dez escolas paulistas, aponta que o perfil do diretor da rede pública é de um
profissional ligado às questões burocráticas e não aos assuntos da melhoria da aprendizagem,
necessitando, por isso, da formação dos gestores (diretores de escola) nos resultados de
avaliações de larga escala.
A formação e a capacitação devem ser voltadas para a construção de um tipo
de liderança, que nas escolas estudadas mostrou-se mais adequado quando
tinha as características do empreendedorismo e da visão sistêmica da gestão
escolar. A estas qualificações devem ser adicionadas duas outras: a capacidade
de atuar em prol de um bom clima escolar e a absorção das avaliações externas
pelo processo educacional das escolas (FUNDAÇÃO VICTOR CIVITA, p.
270).
O jornal Correio Braziliense, em 03 de novembro de 2009, fez uma matéria com a
chamada Os segredos da boa escola. Nela, apresenta os resultados desta pesquisa em que a
peça-chave nos melhores resultados acadêmicos seriam os diretores de escola através: a) de sua
93
formação; b) capacidade de integração das áreas de atuação no dia a dia; c) atenção dedicada
às metas de aprendizagem e d) clima escolar positivo. Esses seriam os quatro segredos para
uma escola pública eficaz.
Destacamos que a formação continuada dos diretores de escola assemelha-se à lógica
analisada no capítulo I sobre a mutação na concepção de gestão. Ao nosso ver, configura-se,
em meio aos processos de privatização endógena e exógena, um novo perfil de diretor,
intitulado por Ball (2014) “novo diretor gerencial”. Processo este que apresenta características
semelhantes ao processo de inculcação ideológica da empresa hipermoderna.
Em 2016, corroborando com a nossa investigação, a Secretaria de Educação do Estado
de São Paulo em conjunto com os Parceiros da Educação iniciou um projeto-piloto chamado
“Gestão em Foco”, cujo objetivo é a melhoria dos resultados das escolas públicas paulistas
sobre o IDESP no ensino médio e ações na gestão escolar. A experiência deste projeto, segundo
a pasta, ocorreu em 77 escolas na diretoria de ensino Leste 4, na cidade de São Paulo, que
registrou um crescimento de 15% no resultado do indicador de qualidade (IDESP).
O projeto utiliza-se do Método de Melhoria de Resultados (MMR), elaborado pela
Falconi47 em parceria com os Parceiros da Educação com mais de dois mil modelos (planos) de
melhoria adequados aos resultados educacionais, pedagógicos e de gestão a cada realidade para
atingir as metas determinadas anualmente pelo IDESP em afluência com os resultados da
Avaliação de Aprendizagem mensurados pelos docentes das disciplinas de Língua Portuguesa
e Matemática por meio da tecnologia da plataforma Foco e Aprendizagem.
Como efeito dessa experiência de privatização exógena e endógena, no dia 03 de agosto
de 2017, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e o Secretário de Educação, José Renato
Nalini, anunciaram a ampliação deste projeto para 1.082 escolas estaduais, envolvendo 13
diretorias de ensino da capital paulista, para melhoria da aprendizagem de 1 milhão de
estudantes do ensino fundamental e médio através do Contrato de Impacto Social.48
O objeto do Contrato de Impacto Social (CIS) é o gerenciamento e a execução
de ações pedagógicas voltadas à melhora nos resultados de fluxo, sem redução
da aprendizagem, dos alunos da rede estadual de ensino médio a partir da
prestação de serviços técnicos especializados (“intervenções”). As
47 De acordo com Mesko, Piolli e Silva (2016), a Falconi é uma “ Consultoria privada de gestão que atua em
empresas privadas e no setor público. Atuou no Programa Choque de Gestão durante os governos de Aécio Neves
do PSDB entre os anos 2003 a 2010. Promoveu a reorganização gerencial do Estado sob critérios de qualidade
centrados em resultados e corte de gastos (p.162). 48 http://201.55.46.199/wp-content/uploads/2017/11/CIS-MINUTAS-EDITAL-TR-e-CONTRATO-v7-21-11-
2017-16h07min.compressed.pdf. Acessado em 10 de dezembro de 2017.
94
intervenções devem envolver atividades de engajamento das famílias no
cotidiano escolar dos filhos, bem como suporte para motivar o aluno nos
estudos, interligando tais ações com a gestão escolar. O CIS não gera custo
inicial para a Secretaria da Educação, pois permite que as intervenções sejam
financiadas por investidores privados, que podem vir a ser recompensados se
o impacto social contratualizado for alcançado (SEE, 2017).
Esse Contrato de Impacto Social (CIS), o primeiro na realidade educacional brasileira,
encontra-se em processo licitatório na modalidade concorrência pela SEE (serviço de menor
preço). Seu valor estimado é de R$ 17.774.400,00 (dezessete milhões, setecentos e setenta e
quatro mil e quatrocentos reais) a ser transferido para pessoas jurídicas com ou sem fins
lucrativos.
De acordo com a SEE,49 esse modelo de contrato foi lançado em 2010 pelo Reino Unido
e atualmente encontra-se em quase 40 países, contanto com cerca de 160 experiências de
privatização em nome da melhoria da qualidade de ensino. Para a efetivação deste CIS, a SEE
contou com a cooperação do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e do Insper
Metricis, que analisaram os dados da rede de ensino paulista e levantaram as iniciativas eficazes
no combate aos problemas apontados e elaboraram metodologia de avaliação de impacto.
Segundo a notícia no site institucional da SEE, a Subsecretária de Parcerias e Inovação da
Secretaria de governo, Karla Bertocco Trindade, responsável por trazer o CIS no campo
educacional, relata que esse processo de privatização “ É o arranjo perfeito, e para todas as
partes envolvidas”, pois, “As ações acontecerão no contra turno, sem afetar as aulas das escolas;
o Estado só pagará se houver impacto positivo aos alunos; e os agentes privados terão a
oportunidade de desenvolver atividades com retorno social e financeiro.”
A reportagem a seguir demonstra o processo de privatização exógena e endógena pela
SEE/SP em consonância com a classe empresarial.
49 http://www.educacao.sp.gov.br/noticia/sociedade/educacao-abre-consulta-publica-sobre-contrato-de-impacto-
social-nesta-quinta-23/. Acessado em 10 de janeiro de 2018.
95
FIGURA 7: REPORTAGEM AULA DE TRANSPARÊNCIA
96
Revista Veja, Educação, p. 90, 06/09/2017
97
De acordo com a reportagem da revista Veja, em 06 de setembro de 2017, intitulada
Aula de Transparência, sobre a gestão em foco que visa a melhoria da qualidade de ensino nos
resultados de avaliações de larga escala, utilizou-se, nesse projeto piloto, ferramentas do mundo
empresarial para melhorar a performance no desempenho escolar e também desenvolver
habilidades nos diretores de escola para este fim. Questionando essas proposições, Ball (2014)
analisa esse processo de contrato social como uma transformação do ensino e aprendizagem em
“ produtos calculáveis”. O conhecimento não é visto como processo de emancipação, mas
sobretudo como a “mercantilização do conhecimento” aos interesses da classe empresarial.
A transformação do ensino e aprendizagem em produtos calculáveis gera
informações de mercado para seletores, habilita o estado a “escolher” os de
baixo desempenho e torna possível traduzir o trabalho educacional, de todos
os tipos, em contratos articulados de entrega de desempenho, que podem estar
abertos à “licitação” e, assim, à concorrência de prestadores de serviços
privados, por meio de “terceirização”. (Ball, 2014, p. 68)
Conforme mencionamos anteriormente, é importante destacar que o Programa
Educação – Compromisso de São Paulo reúne diversos programas implementados e geridos a
partir de 1990 em convergência com a política de estado, nomeada como Nova Gestão Pública.
Neste capítulo, por meio das categorias utilizadas na pesquisa documental (exógena e
endógena), demonstrou-se que o processo desta política de estado está alinhado com uma
agenda global que visa a disputa dos fundos públicos e reverbera uma racionalidade empresarial
no ambiente educativo.
Em nossa investigação, verificou-se que esse processo de sedimentação da Nova Gestão
Pública encontra-se com êxito nas políticas públicas educacionais paulista sob os ditames do
imaginário neoliberal, consolidando a educação como atividade não exclusiva do Estado. Como
consequência, os processos de privatização silenciosa, exógena e endógena, reconfiguram a
organização da escola por meio da gestão escolar.
98
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dormia
A nossa pátria mãe tão distraída
Sem perceber que era subtraída
Em tenebrosas transações
Chico Buarque, Vai passar.
Procuramos demonstrar, ao longo desta pesquisa, os elementos teóricos que nos
permitiram iniciar um exame sobre os processos de privatização silenciosa expressos nas
formulações das políticas públicas educacionais (privatização exógena) e no cotidiano escolar
via gestão escolar (privatização endógena).
Nesse contexto, enxergamos a lógica neoliberal como norma reguladora nas esferas
econômicas, políticas e na universalização das relações sociais baseadas no mercado em
convergência com as agências multilaterais. Tal ideário neoliberal materializa- se na Nova
Gestão Pública importando o modelo de gestão da empresa moderna da acumulação flexível
para os serviços públicos, especialmente para a educação.
Com efeito, analisamos no capítulo II, por meio da pesquisa documental, as reformas
educacionais alinhadas com as proposições das agências multilaterais. Nesse sentido, pudemos
observar a participação da classe empresarial e a sua estratégia, por meio do discurso da
qualidade, para que esse modelo gerencialista adentrasse na educação pública, reconfigurando
a escola sob essa ótica. Com isso, o setor empresarial focaliza mudanças na área da gestão
escolar, com vistas à elaboração do perfil de um “novo diretor gerencial”, objetivando adequar
o padrão de gestão ao padrão de escola exigido pelos setores produtivos na atualidade.
Vimos, no capítulo III, o conceito de privatização exógena e endógena a partir de três
elementos consolidados no programa Educação – Compromisso de São Paulo, a saber:
O discurso da qualidade com foco nos resultados das aprendizagens dos discentes;
A avaliação externa de larga escala (SARESP);
E os indicadores de Qualidade (IDESP).
O resultado de toda essa dinâmica, tal qual analisamos nesta pesquisa, permitiu
identificar os processos de privatização silenciosa (exógena e endógena) no cenário da educação
99
pública paulista, cujo o foco da classe empresarial é a disputa dos fundos públicos e suas
proposições em nome da melhoria da qualidade de ensino, caracterizando um novo perfil de
escola e um novo perfil de diretor de escola (novo diretor gerencial) sob os ditames do
imaginário neoliberal.
100
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108
ANEXOS
ANEXO A – reportagem sobre o perfil de diretores de escola
109
110
111
ANEXO B – resolução se 56 de 14/10/2018 sobre o perfil dos diretores de escola da Rede
Estadual Paulista
Resolução SE 56, de 14-10-2016
Dispõe sobre perfil, competências e habilidades requeridos dos Diretores de
Escola da rede estadual de ensino, e sobre referenciais bibliográficos e
legislação, que fundamentam e orientam a organização de concursos públicos e
processos seletivos, avaliativos e formativos, e dá providências correlatas
O Secretário da Educação, à vista do que lhe representaram a Coordenadoria de Gestão
da Educação Básica - CGEB e a Escola de Formação e Aperfeiçoamento dos Professores do
Estado de São Paulo “Paulo Renato Costa Souza” - EFAP, e considerando a importância da:
- definição do perfil profissional do Diretor de Escola da rede estadual de ensino, que
propicie educação básica inclusiva, democrática e de qualidade;
- definição das competências e habilidades a serem desenvolvidas para a carreira de
Diretor de Escola;
- sistematização de capacidades e conhecimentos a serem considerados nos processos
avaliativos e formativos para acompanhamento do trabalho do Diretor de Escola;
- seleção de bibliografia, publicações institucionais e legislação que informem requisitos
mínimos necessários à elaboração de concurso público e processos seletivos para
preenchimento de cargos de Diretor de Escola do Quadro do Magistério - QM/ SE,
Resolve:
Artigo 1º - Fica aprovado o ANEXO, integrante desta resolução, que dispõe sobre o perfil,
as competências e as habilidades a serem requeridos dos integrantes do Quadro do
Magistério - QM/SE, no exercício de cargo de Diretor de Escola, bem como sobre os
referenciais bibliográficos, as publicações institucionais e a legislação, que versam sobre
conhecimentos e capacidades mínimos, em consonância com as competências exigidas
para o exercício desse cargo nos concursos e processos seletivos promovidos por esta
Pasta.
Artigo 2º - Os subsídios para o aprofundamento das capacidades, conhecimentos e atitudes
requeridos nos termos desta resolução serão propostos em Curso Específico para Diretores
de Escola ingressantes, na organização dos processos avaliativos e nas ações formativas
previstas em legislação.
Artigo 3º - O Curso para Diretores de Escola ingressantes, os processos seletivos,
avaliativos e formativos implicam, obrigatoriamente, a observação dos seguintes aspectos,
dentre outros, constantes do ANEXO a que se refere o artigo 1º desta resolução:
I - o perfil profissional proposto;
II - os princípios que orientam a ação do Diretor de Escola;
III - a proposição do trabalho nas dimensões de atuação definidas.
Artigo 4º - Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação, ficando revogadas as
disposições em contrário e, em especial, os itens 3 e 4 do Anexo A e o inciso II do Anexo
B constantes da Resolução SE nº 52, de 14.8.2013.
NOTA: Revoga os itens 3 e 4 do Anexo A e o inciso II do Anexo B constantes da Resolução
SE nº 52, de 14.8.2013.
112
ANEXO
Diretor de Escola
Sumário
1. Perfil do Diretor 1
2. Princípios que orientam a ação do diretor na SEE-SP 3
2.1. Compromisso com uma educação com qualidade e da aprendizagem com igualdade e
equidade para todos 3
2.2. Gestão democrática e participativa 5
2.3. Planejamento estratégico 9
2.4. Foco em qualidade e em resultados 11
3. Dimensões de atuação do diretor de escola 14
3.1. Gestão pedagógica 14
3.2. Gestão de processos administrativos 16
3.3. Gestão de pessoas e equipes 20
1. Perfil do Diretor
Como dirigente e coordenador do processo educativo no âmbito da escola, compete ao
diretor promover ações direcionadas à coerência e à consistência de uma proposta
pedagógica centrada na formação integral do aluno. Tendo como objetivo a melhoria do
desempenho da escola, cabe ao diretor, mediante processos de pesquisa e formação
continuada em serviço, assegurar o desenvolvimento de competências e habilidades dos
profissionais que trabalham sob sua coordenação, nas diversas dimensões da gestão
escolar participativa: pedagógica, de pessoas, de recursos físicos e financeiros e de
resultados educacionais do ensino e aprendizagem. Como dirigente da unidade escolar,
cabe-lhe uma atuação orientada pela concepção de gestão democrática e participativa, o
que requer compreensão do contexto em que a educação é construída e a promoção de
ações no sentido de assegurar o direito à educação para todos os alunos e expressar uma
visão articuladora e integradora dos vários setores: pedagógico, curricular, administrativo,
de serviços e das relações com a comunidade. Compete, portanto, ao Diretor de Escola
uma atuação com vistas à educação de qualidade, ou seja, centrada na organização e
desenvolvimento de ensino que promovam a aprendizagem significativa e a formação
integral do aluno para o exercício da cidadania e para o mundo do trabalho.
2. Princípios que orientam a ação do diretor na SEE-SP
2.1. Compromisso com uma educação de qualidade e aprendizagem com igualdade e
equidade para todos
O exercício profissional do Diretor requer a capacidade de realizar ações que promovam a
melhoria da qualidade da escola e o comprometimento com a promoção das aprendizagens
dos alunos na perspectiva da educação inclusiva, garantindo a todos oportunidades de
desenvolvimento de suas potencialidades, em especial as que propiciem a formação
integral do aluno, preparando-o para uma atuação ética, sustentável e transformadora na
vida pessoal, social, política e no mundo do trabalho.
Competências Gerais
Capacidade de:
* Promover valores e princípios democráticos e participativos, éticos, de inclusão, de
justiça e equidade.
* Implementar a política educacional da SEE-SP, considerando o contexto local e
indicadores sociais e educacionais.
113
* Liderar a ação coletiva de elaboração, implementação, avaliação e redirecionamento da
proposta pedagógica da escola assegurando o direito à educação para todos os estudantes
e o desenvolvimento de competências e habilidades dos profissionais que trabalham sob
sua coordenação.
* Implementar processos que evidenciem a transparência na gestão escolar e que estejam
em consonância com os princípios que regem a administração pública.
Conhecimento de:
* Papel social da educação e a função social da escola na sociedade contemporânea e no
contexto local.
* Princípios e diretrizes de políticas educacionais nacionais e da SEE-SP no contexto social
e de desenvolvimento do País e do Estado de São Paulo, bem como a sua implementação.
* Princípios e mecanismos institucionais, legais e normativos de organização,
desenvolvimento e avaliação do sistema de ensino e da escola.
Bibliografia:
Publicação Institucional
1. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Secretaria de Educação
Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão. Secretaria de Educação Profissional e
Tecnológica. Conselho Nacional da Educação. Câmara Nacional de Educação Básica.
Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica. Ministério da Educação.
Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Currículos e Educação Integral. Diretrizes
Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica.
Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Currículos e Educação
Integral. Brasília: MEC, SEB,
DICEI, 2013. Disponível em:
\<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=1554
8-d-cn-educacao-basica-nova-pdf&Itemid=30192 \>. Acesso em 7 out. 2016.
Legislação
1. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil
(1988). (Artigos 5º, 6º; 205 a 214). Disponível em:
\<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm\>. Acesso em 7
out. 2016.
2. BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da
Educação Nacional - LDB. Disponível em:
\<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm\>. Acesso em 7 out. 2016.
3. BRASIL. Lei n° 13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educação
- PNE e dá outras providências. Disponível em:
\<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L13005.htm\>. Acesso
em: 7 out. 2016.
4. SÃO PAULO. Lei nº 16.279, de 08 de julho de 2016. Plano Estadual de Educação de São
Paulo. Disponível em: \<http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/2016/lei-
16279-08.07.2016.html\>. Acesso em: 7 out. 2016.
5. SÃO PAULO. Constituição Estadual (1989). (Artigo 129). Disponível em:
\<http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/constituicao/1989/constituicao-0-
05.10.1989.html\>. Acesso em: 7 out. 2016.
114
Livros e Artigos
1. AZANHA, José Mário Pires. Democratização do ensino: vicissitudes da ideia no ensino
paulista. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 30, n. 2, p. 335-344, maio/ago. 2004.
Disponível em: \<http://www.scielo.br/pdf/ep/v30n2/v30n2a12\>. Acesso em: 7 out.
2016.
2. GOMES, Candido Alberto. A escola de qualidade para todos: abrindo as camadas da
cebola. Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação, Rio de Janeiro, v. 13, n.
48, jul./ set. 2005. Disponível em:
\<http://www.scielo.br/pdf/ensaio/v13n48/27551.pdf\>. Acesso em: 7 out. 2016.
3. GOMEZ-GRANELL, Carmen; VILA, Ignacio (Org.). A cidade como projeto educativo.
Porto Alegre: Artmed, 2003.
4. TEIXEIRA, Anísio. A escola pública universal e gratuita. Revista Brasileira de Estudos
Pedagógicos. Rio de Janeiro, v. 26, n. 64, p. 3-27, out. /dez. 1956. Disponível em: \<
http://www.bvanisioteixeira.ufba.br/artigos/gratuita.html \>. Acesso em: 7 out. 2016.
5. TORRES, Rosa Maria. Itinerários pela educação latino-americana: caderno de viagens.
Porto Alegre: Artmed, 2001.
6. SAVIANI, Dermeval. Escola e Democracia: teorias da educação, curvatura da vara, onze
teses sobre a educação política. Campinas, SP: Autores Associados, 2008.
2.2. Gestão democrática e participativa
O exercício profissional do Diretor deve expressar-se por meio de práticas que considerem
as relações entre a escola e a sociedade em geral, a comunidade local, a sua função social
e os espaços de atuação, visando à elaboração coletiva e à implementação da proposta
pedagógica da escola, considerando as diferenças individuais, sociais e culturais e
promovendo a participação dos estudantes, educadores, colegiados e comunidade na vida
escolar.
Capacidade de:
* Promover a participação de toda a comunidade escolar na discussão, socialização,
implementação, acompanhamento, monitoramento e avaliação da proposta pedagógica.
* Liderar a criação de rede de comunicação interna e externa de interação e colaboração
para o fortalecimento do clima escolar e das ações educacionais.
* Compreender representações sociais sobre diversidade, gênero e etnia na comunidade
escolar e considerá-las nas ações da escola.
* Organizar, articular e consolidar o funcionamento dos órgãos colegiados e das instituições
auxiliares.
* Mobilizar, organizar e gerenciar na escola a rede protetiva e de justiça restaurativa para
a garantia de direitos e deveres de todos.
* Compreender as possibilidades e estimular o uso pedagógico de espaços da comunidade
e do entorno.
* Estabelecer parcerias dentro e fora da comunidade escolar, com base em valores e
responsabilidades compartilhadas, para apoiar as ações da escola.
Conhecimento de:
* Gestão democrática e participativa.
* Princípios legais de direitos humanos.
* Composição e atribuições de instituições colegiadas e auxiliares da escola.
* Estratégias para caracterizar o perfil socioeconômico e cultural de comunidades.
115
* Identidade, cultura e clima escolar e práticas cotidianas da escola.
* Representações sociais sobre diversidade, gênero e etnia.
* Estratégias de mobilização e participação.
* Rede protetiva e justiça restaurativa.
* Parceria escola-comunidade.
* Estratégias de mobilização da comunidade para a participação da comunidade nas ações
da escola.
Bibliografia:
Publicação Institucional
1. SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Bullying. Brasília: Conselho Nacional de Justiça, 2010.
Disponível em: \<http://www.cnj.jus.br/images/programas/justica-
escolas/cartilha_bullying.pdf\>. Acesso em: 7 out. 2016.
2. BRASIL. Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos. Plano Nacional de
Educação em Direitos Humanos.
Brasília: Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Ministério da Educação, Ministério da
Justiça, UNESCO, 2007. Disponível em:
\<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=2191
-plano-nacionalpdf& Itemid=30192\>. Acesso em: 7 out. 2016.
3. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Conselhos escolares:
democratização da escola e construção da cidadania; caderno 1, parte II. Brasília:
MEC/SEB, 2004. Disponível em:
\<http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Consescol/ce_cad1.pdf\>. Acesso em: 7
out. 2016.
4. SÃO PAULO (Estado). Ministério Público do Estado de São Paulo. Curso de introdução à
justiça restaurativa para educadores: manual prático. 2012. Disponível em:
\<http://www.educacao.sp.gov.br/spec/wp-content/uploads/2013/02/Manual-
Pr%C3%A1tico-de-Justi%C3%A7a-Restaurativa-Minist%C3%A9rio-
P%C3%BAblico.pdf\>. Acesso em: 7 out. 2016.
Legislação
1- BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança do
Adolescente - ECA (Artigos 1º a 6º; 15 a 18; 60 a 69). Disponível em:
\<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm\>. Acesso em: 7 out. 2016.
2- BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da
Educação Nacional - LDB. Disponível em:
\<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm\>. Acesso em: 7 out. 2016.
3- BRASIL. Lei nº 7.398, de 4 de novembro de 1985. Dispõe sobre a organização de
entidades representativas dos estudantes de 1º e 2º graus e dá outras providências.
Disponível em: \<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7398.htm\>. Acesso em: 7
out. 2016.
4- SÃO PAULO. Decreto nº 12.983, de 15 de dezembro de 1978. Estabelece o Estatuto
Padrão das Associações de Pais e Mestres. Disponível em:
\<http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/decreto/1978/decreto-12983-
15.12.1978.html\>.
Acesso em: 7 out. 2016.
5- SÃO PAULO. Decreto nº 50.756, de 3 de maio de 2006.
116
Altera o Estatuto Padrão das Associações de Pais e Mestres, estabelecido pelo Decreto nº
12.983, de 15 de dezembro de 1978.
Disponível em: \<http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/decreto/2006/decreto-
50756-03.05.2006.html\>. Acesso em: 7 out. 2016.
6- SÃO PAULO. Decreto 55.588, de 17 de março de 2010.
Dispõe sobre o tratamento nominal das pessoas transexuais e travestis nos órgãos públicos
do Estado de São Paulo e dá providências. Disponível em:
\<http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/decreto/2010/decreto-55588-
17.03.2010.html\>. Acesso em: 7 out. 2016.
7- SÃO PAULO. Deliberação CEE nº 125/14. Dispõe sobre a inclusão de nome social nos
registros escolares das instituições públicas e privadas no Sistema de Ensino do Estado de
São Paulo e dá outras providências correlatas. Disponível em:
\<http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/repositorio/39/Deliberacao_CEE_125_2014.pd
f\>. Acesso em: 7 out. 2016.
8- SÃO PAULO. Resolução SE nº 45 de 18-08-2014. Dispõe sobre o tratamento nominal de
discentes transexuais e travestis, no âmbito da Secretaria da Educação. Disponível em:
\<http://siau.edunet.sp.gov.br/ItemLise/arquivos/45_14.HTM?Time=07/10/2016%2014:
07:22\>. Acesso em: 7 out. 2016.
9- SÃO PAULO. Lei Complementar 444, de 27 de dezembro de 1985. Dispõe sobre o
Estatuto do Magistério Paulista. (artigo 95). Disponível em:
\<http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei.complementar/1985/lei.complement
ar-444-27.12.1985.html\>. Acesso em 7 out. 2016.
Livros e Artigos
1- ABRAMOVAY, Miriam (Coord.). Juventudes na escola, sentidos e buscas: por que
frequentam? Brasília, DF: MEC,2015. Disponível em:
\<http://flacso.org.br/files/2015/11/LIVROWEB_Juventudes-na-escola-sentidos-e-
buscas.pdf\>. Acesso em: 7 out. 2016.
2- CASTRO, Jane Margareth; REGATTIERI, Marilza (Org.).
Interação escola família: subsídios para práticas escolares.
Brasília: UNESCO, MEC, 2010. Disponível em:
\<http://unesdoc.unesco.org/images/0018/001877/187729POR.pdf\>. Acesso em: 7 out.
2016.
3- CECCON, Cláudia et al. Conflitos na escola: modos de transformar: dicas para refletir e
exemplos de como. São Paulo: CECIP, Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2009.
Disponível em:
\<https://www.imprensaoficial.com.br/downloads/pdf/projetossociais/conflitos_na_escol
a.pdf\>. Acesso em: 7 out. 2016.
4- CHRISPINO A.; CHRISPINO, R. S. P. A mediação do conflito escolar. 2. ed. São Paulo:
Biruta, 2011.
5- COLARES, Maria Lília Imbiriba Sousa (Org.) et al.
Gestão escolar: enfrentando os desafios cotidianos em escolas públicas. Curitiba: Editora
CRV, 2009. Disponível em:
\<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=2170
-livro-unir-2009&category_slug=dezembro-2009-pdf&Itemid=30192\>. Acesso em: 7
out. 2016.
6- MARÇAL, J. C.; SOUSA, J. V. de. Progestão: como promover a construção coletiva do
projeto pedagógico da escola? Módulo III. Brasília: CONSED, 2009. Disponível em:
117
\<http://www.crmariocovas.sp.gov.br/Downloads/ccs/Modulo03_CE.pdf\>. Acesso em: 7
out. 2016.
7- LUIZ, Maria Cecilia; NASCENTE, Renata Maria Moschen (Org.). Conselho escolar e
diversidade: por uma escola mais democrática. São Carlos: EDUFSCAR, 2013. (Capítulos
1 e 6). Disponível em:
\<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=1523
5-conselhosescolares&category_slug=fevereiro-2014&Itemid=30192\>. Acesso em: 7
out. 2016.
2.3. Planejamento Estratégico
O exercício profissional do Diretor de Escola deve mobilizar metodologias e instrumentos
de gestão e planejamento que, considerando as diretrizes da política educacional da SEE-
SP e o contexto de sua atuação, permitam que a proposta pedagógica seja implementada.
Capacidade de:
* Promover, liderar e articular a construção coletiva da proposta pedagógica e do plano de
gestão da escola (definição de prioridades, metas de curto, médio e longo prazo e de
estratégias para alcançá-las).
* Utilizar diagnósticos e evidências para tomada de decisões.
* Coordenar a execução, o monitoramento de resultados, avaliar e (re)planejar as ações
estabelecidas no plano de gestão.
* Coordenar a execução de programas e projetos da escola.
* Buscar, de forma proativa, estratégias para solucionar dificuldades e superar obstáculos.
* Gerenciar, de maneira estratégica, processos de implementação de inovações, de
mudança e transformação.
* Utilizar as tecnologias de informação e comunicação como ferramentas eficazes de
pesquisa, suporte administrativo e pedagógico.
Conhecimento de:
* Planejamento estratégico.
* Plano de gestão como instrumento de planejamento e monitoramento.
* Processos, fluxos, índices, indicadores e instrumentos de planejamento e gestão.
* Infraestrutura da escola (espaços físicos internos e externos), recursos financeiros e
materiais e quadro de pessoal.
* Princípios, abordagens, métodos, processos e ferramentas de gestão de mudanças.
* Abordagens de desenho e redesenho de processos.
* Tecnologias Digitais de Comunicação e Informação (TDCI) aplicadas à organização
escolar.
Bibliografia
Publicações Institucionais
1. SÃO PAULO (Estado). Secretaria de Estado da Educação.
Modelo de gestão de desempenho das equipes escolares: ensino integral: caderno do
gestor. São Paulo: SEE, 2014. Disponível em:
\<https://seesp.sharepoint.com/sites/intranet/coordenadorias/CGEB/ensino-
integral/Publicacoesdo-
EnsinoIntegral/Gest%C3%A3o%20e%20Pedag%C3%B3gico/Gest%C3%A3o%20de%20d
esempenho%20das%20equipes%20escolares.pdf\> Acesso em: 7 out. 2016.
118
Legislação
1- BRASIL. Decreto nº 6.094, de 24 de abril de 2007.
Dispõe sobre a implementação do Plano de metas do PDE. Disponível em:
\<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/decreto/d6094.htm\>.
Acesso em: 7 out. 2016.
Livros e Artigos
1. MURICI, Izabela Lanna; CHAVES Neuza. Gestão para Resultados na Educação. 2. ed.
São Paulo: Falconi, 2016.
2. INSTITUTO DE CO-RESPONSABILIDADE PELA EDUCAÇÃO.
Modelo de gestão: tecnologia empresarial socioeducacional (TESE): uma nova escola para
a juventude brasileira: escolas de ensino médio em tempo integral: manual
operacional. Recife:ICE, [2007?]. Disponível em:
\<http://www.ccv.ufc.br/newpage/conc/seduc2010/seduc_prof/download/Manual_Model
oGestao.pdf\>. Acesso em: 7 out. 2016.
3. ACÚRCIO, Marina Rodrigues Borges (Coord.). A gestão da escola. Porto Alegre: Artmed,
2003. (Escola em ação, 4) (Introdução cap. 1 a 3)
4. ALONSO, M. A gestão/administração educacional no contexto da atualidade. In: VIEIRA,
A. T. (Org.) et al. Gestão educacional e tecnologia. São Paulo: Avercamp, 2003.
2.4. Foco em qualidade e em resultados
O exercício profissional do Diretor deve assegurar o desenvolvimento da proposta
pedagógica da escola e as aprendizagens previstas no Currículo do Estado de São Paulo,
considerando os indicadores e resultados de diferentes modalidades e processos de
avaliação.
Capacidade de:
* Analisar os indicadores e resultados educacionais (considerando diferentes dimensões
e âmbitos ? local, estadual e nacional) tendo em vista desenvolver ações para a melhoria
das aprendizagens dos estudantes.
* Orientar a gestão pedagógica da escola com base nos resultados das avaliações.
* Mobilizar a comunidade escolar para a análise dos resultados e para prática de ações
focadas na melhoria constante daqualidade do ensino.
* Propor e implementar processos e instrumentos de monitoramento e acompanhamento
de ações e de resultados da escola.
* Buscar, propor e implementar com a equipe escolar soluções e melhorias nos processos
pedagógicos, administrativos, de gestão de pessoas e equipes e de engajamento e trabalho
com a comunidade, visando à implementação da proposta pedagógica, alcance e superação
das metas da escola.
* Promover espaços coletivos de reflexão sobre os resultados obtidos pela escola e dos
planos a serem implementados e promover o (re) planejamento de intervenções
necessárias.
* Coordenar os processos e etapas da avaliação institucional.
* Dar transparência aos resultados de avaliação da escola a toda a comunidade escolar.
Conhecimento de:
* Princípios, finalidades, métodos e operacionalização de diferentes modalidades e
processos avaliativos.
* Indicadores educacionais e sociais: IDH, IDESP, IDEB.
119
* Indicadores de desempenho e fluxo.
* Métodos, técnicas e instrumentos de monitoramento de processos e de resultados
educacionais.
Bibliografia
Publicações Institucionais
1. SÃO PAULO (Estado). Secretaria de Estado da Educação. Matrizes de referência para
avaliação: documento básico - SARESP. São Paulo: SEE, 2009. p. 7-20. Disponível em:
\<http://saresp.fde.sp.gov.br/2009/pdf/Saresp2008_MatrizRefAvaliacao_DocBasico_Com
pleto.pdf \> Acesso em: 07 out. 2016.
2. SÃO PAULO (Estado). Secretaria de Estado da Educação.
Programa de qualidade da escola: nota técnica. São Paulo: SE, 2009. Disponível em: \<
http://idesp.edunet.sp.gov.br/Arquivos/NotaTecnicaPQE2008.pdf \> Acesso em: 07 out.
2016.
3- INDICADORES da qualidade na educação. São Paulo:
Ação Educativa, 2004. Disponível em:
\<http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Consescol/ce_indqua.pdf \> Acesso em: 07
out. 2016.
Legislação
1. SÃO PAULO. Decreto nº 57.571, de 2 de dezembro de 2011. Institui o Programa
“Educação Compromisso de São Paulo”. Disponível em:
\http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/decreto/2011/decreto-57571-
02.12.2011.html\ Acesso em: 07 out. 2016.
Livros e Artigos
2- CASTRO, Maria Helena Guimarães de. Sistemas nacionais de avaliação e de informações
educacionais. São Paulo em Perspectiva, São Paulo, v. 14, n. 1, p. 121-128, 2000.
Disponível em: \< http://www.scielo.br/pdf/spp/v14n1/9809.pdf \> Acesso em: 07 out.
2016.
3- FERNANDES, Maria Estrela Araújo Progestão: como desenvolver a avaliação institucional
da escola? módulo IX. Brasília: CONSED, 2009. Disponível em:
\<http://www.crmariocovas.sp.gov.br/Downloads/ccs/Modulo02_CE.pdf\> Acesso em: 07
out. 2016.
4- KLEIN, R.; FONTANIVE, N. S. Alguns indicadores educacionais de qualidade no Brasil de
hoje. São Paulo em Perspectiva, São Paulo, v. 23, n. 1, p. 19-28, jan./jun. 2009. Disponível
em: \<http://produtos.seade.gov.br/produtos/spp/v23n01/v23n01_02.pdf \> Acesso em:
07 out. 2016.
5- RIBEIRO, Vanda Mendes; GUSMÃO, Joana Buarque de.
Uma análise de problemas detectados e soluções propostas por comunidades escolares
com base no Indique. Estudos em Avaliação Educacional, São Paulo, v. 22, n. 50, p. 457-
470, set./dez.2011. Disponível em:
\<http://www.fcc.org.br/pesquisa/publicacoes/eae/arquivos/1660/1660.pdf\> Acesso
em: 07 out. 2016.
3. Dimensões de atuação do diretor de escola
3.1. Gestão pedagógica
Liderar o trabalho pedagógico na escola, assegurando a aprendizagem a todos os alunos.
Campo de Atuação
Competências Gerais
120
Coordenação de processos, projetos e planos
Capacidade de:
* Coordenar o planejamento com base no diagnóstico da escola, objetivos educacionais e
diretrizes da SEE-SP.
* Liderar a elaboração, a implementação, a avaliação e o redirecionamento de planos
e ações ? em consonância com os princípios, as diretrizes e as normas educacionais da
SEE-SP, do Currículo e da proposta pedagógica ? nos diferentes níveis, etapas,
modalidades, áreas e disciplinas.
Conhecimento de:
* Princípios, diretrizes, finalidades e objetivos educacionais do planejamento escolar.
* Estratégias de elaboração e acompanhamento de projetos e planos.
* Princípios e concepções de ensino nas diferentes áreas do Currículo da SEE nos diferentes
níveis e modalidades de ensino - educação de jovens e adultos e educação especial.
* Diretrizes curriculares nacionais.
Coordenação, orientação e monitoramento e avaliação dos processos de ensino e
aprendizagem
Capacidade de:
* Coordenar o acompanhamento e avaliação da progressão das aprendizagens,
assegurando o processo de recuperação contínua.
* Coordenar a organização de condições didáticas favoráveis à aprendizagem de todos os
estudantes: gestão dos tempos, dos espaços e dos recursos.
* Liderar e monitorar os processos de ensino e aprendizagem, de acompanhamento, de
avaliação e de intervenção pedagógica.
* Coordenar processos, acompanhamento, observação, registro e devolutivas relativas ao
processo da gestão pedagógica e de sala de aula.
* Coordenar e orientar a equipe para o acompanhamento do processo de ensino, de
aprendizagem e de seus resultados.
Conhecimento de:
* Teorias de aprendizagem e de desenvolvimento.
* Abordagens do processo de ensino e aprendizagem.
* Referencial teórico-prático de monitoramento, observação e gestão da sala de aula e de
processos de intervenção pedagógica.
* Estratégias para apoiar e intervir na gestão em sala de aula.
* Fundamentos conceituais e metodológicos da avaliação.
* Processos, estratégias e instrumentos de avaliação.
* Matrizes da Avaliação em Processo e do Saresp.
* Critérios e procedimentos para análise de resultados de aprendizagem.
Bibliografia
Publicações Institucionais
1. SÃO PAULO (Estado). Secretaria de Estado da Educação.
Proposta curricular do Estado de São Paulo para o ensino fundamental ciclo II e ensino
médio: documento de apresentação.
121
São Paulo: SEE, 2012. p. 7-20. Disponível em:
\<http://www.rededosaber.sp.gov.br/portais/Portals/18/arquivos/PropostaCurricularGera
l_Internet_md.pdf\> Acesso em: 07 out 2016.
Legislação
1. BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da
Educação Nacional - LDB. Disponível em:
\<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm\>Acesso em: 07 out. 2016.
(Capítulo/artigos)
2. SÃO PAULO. Deliberação CEE nº 9/97 e Indicação CEE nº 8/97. Institui, no Sistema de
Ensino do Estado de São Paulo, o Regime de Progressão Continuada no Ensino
Fundamental.
Disponível em: \< http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/diretrizes_p0820-
0830_c.pdf\> Acesso em: 07 out. 2016.
Livros e Artigos
1. COLL, César. Comunidades de aprendizagem e educação escolar. Disponível em:
\<http://www.crmariocovas.sp.gov.br/ent_a.php?t=011\> Acesso em: 07 out. 2016.
2. LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições.
22. ed. São Paulo: Cortez, 2011.
3. MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo:
E.P.U., 1992.
4. SENNA, Sylvia Regina Carmo Magalhães; DESSEN, Maria Auxiliadora. Contribuições das
teorias do desenvolvimento humano para a concepção contemporânea da adolescência.
Psicologia: Teoria e Prática. Brasília, v. 28, n. 1, p. 101-108, jan./mar.2012. Disponível
em: \<http://www.scielo.br/pdf/ptp/v28n1/13.pdf\> Acesso em: 07 out. 2016.
5. ZABALA, Antoni; ARNAU, Laia. Como aprender e ensinar competências. Porto
Alegre: ArtMed, 2010.
6. VEIGA, Ilma Passos Alencastro (Org.). Projeto políticopedagógico da escola: uma
construção possível. 29. ed. Campinas:
Papirus, 2011. (Magistério).
7. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São
Paulo: Paz e Terra, 1996. (Leitura).
Disponível em:
8.
\<http://www.icmbio.gov.br/educacaoambiental/images/stories/biblioteca/paulo_freire/P
edagogia_da_Autonomia_-_P.Freire.pdf\> Acesso em: 07 out. 2016.
3.2. Gestão de processos administrativos
Colocar a administração da escola a serviço da aprendizagem dos alunos.
Campo de Atuação
Competências gerais
Organização e funcionamento da escola
Capacidade de:
* Administrar a escola, garantindo a regularidade do seu funcionamento.
* Acompanhar e monitorar os processos de vida funcional, vida escolar, documentação e
registros.
122
* Monitorar a expedição de documentos respeitando prazos e fluxos.
* Coordenar a elaboração, a homologação e a revisão do regimento escolar.
Conhecimento de:
* Fundamentos, princípios e estrutura e funcionamento do sistema escolar.
* Processos de vida funcional, vida escolar, documentação e registros.
* Rotinas básicas sobre a expedição de processos, protocolos, documentos gerais.
* Normas em vigor sobre arquivamento e guarda de documentos escolares.
* Normas para elaboração do regimento escolar.
Serviços, materiais e patrimônio
Capacidade de:
* Garantir que os serviços, materiais e patrimônios sejam adequados e suficientes às
necessidades das ações e dos projetos da escola.
* Elaborar um plano de contratação e de gerenciamento de serviços.
* Elaborar plano de aquisição e de registro e controle de consumo de materiais.
* Elaborar plano para patrimoniar, para a manutenção, a preservação, descarte e baixa de
patrimônio.
* Engajar a comunidade escolar na economia de materiais
e preservação do patrimônio.
Conhecimento de:
* Conceitos, características e processos de gestão de serviços, de materiais e de patrimônio
(material e imaterial) na administração pública.
* Aspectos legais inerentes à contratação de serviços, aquisição, registro e reposição de
materiais e de patrimônios, incluindo a sua preservação.
Recursos financeiros
Capacidade de:
* Gerir a escola dos pontos de vista: orçamentário e financeiro, de acordo com os princípios
básicos da administração pública e com a proposta pedagógica.
* Buscar estratégias de captação de recursos para atividades e projetos da escola.
* Elaborar planos de aplicação dos recursos financeiros da escola, com definição de
instrumentos de supervisão do processo e meios de prestação de contas à comunidade.
* Organizar e articular o Conselho de Escola e APM para planejamento, aplicação, captação
e prestação de contas de recursos financeiros.
* Promover na escola o compromisso da transparência com os pais e com a comunidade
sobre o uso dos recursos financeiros.
Conhecimento de:
* Fundamentos e normas orçamentárias e financeiras referentes à administração pública
na educação.
* Fontes de financiamento da educação e formas de transferência de recursos financeiros
públicos destinados à escola.
* Mecanismos e instrumentos para a execução das etapas fundamentais da gestão
financeira: planejamento, execução, controle e prestação de contas.
123
* Papel das instituições e colegiados no planejamento, captação, aplicação e prestação de
contas de recursos financeiros.
Transporte e merenda
Capacidade de:
* Garantir a atualização sistemática do cadastro de alunos.
* Dimensionar e demandar o transporte escolar e a merenda.
* Acompanhar processos de provimento do transporte escolar dos alunos.
* Organizar e gerenciar processos de controle de estoque, manipulação e distribuição da
merenda escolar.
* Articular espaços informativos e formativos para uso dos programas de alimentação
escolar.
* Acompanhar a qualidade dos serviços de transporte e merenda.
Conhecimento de:
* Procedimentos para a identificação da demanda e processos de gestão de transporte
escolar.
* Procedimentos para a identificação da demanda e processos de gestão de produtos, da
manipulação e da qualidade da merenda escolar.
* Finalidades e normatizações de programas de transporte escolar e de programas de
merenda
* Normas de aquisição, armazenamento, conservação e higienização de produtos da
merenda escolar.
Bibliografia
Publicações Institucionais
1. MOREIRA, Ana Maria de Albuquerque. Progestão: como gerenciar os recursos
financeiros? módulo VI. Brasília: Consed, 2009.
2. MARTINS, Ricardo Chaves de Rezende. Progestão: como gerenciar o espaço físico e o
patrimônio da escola? módulo VII.Brasília: Consed, 2009.
3. FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO.
Cartilha nacional da alimentação escolar. 2. ed. Brasília: FNDE, 2015. Disponível em:
\<http://www.fnde.gov.br/programas/alimentacao-escolar/alimentacao-escolar-material-
de-divulgacao/alimentacao-manuais/item/6820-cartilhapnae-2015\> Acesso em: 07 out.
2016.
Legislação
1. BRASIL. Constituição Federal. (Princípios da Administração Pública) - Artigo 37.
Disponível em:
\<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm\> Acesso
em: 07 out. 2016.
2. SÃO PAULO. Constituição Estadual, de 05 de outubro de 1989. Artigo 111. Disponível
em: \<http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/constituicao/1989/constituicao-0-
05.10.1989.html\> Acesso em: 07 out. 2016.
3. SÃO PAULO. Lei nº 10.261, de 28 de outubro de 1968.
Dispõe sobre o Estatuto dos Funcionários Públicos Civis do Estado.
124
(Artigos 176 a 250). Disponível em:
\<http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/1968/lei-10261-
28.10.1968.html\>Acesso em: 07 out. 2016.
4. SÃO PAULO. Lei Complementar nº 444, de 27 de dezembro de 1985. Dispõe sobre o
Estatuto do Magistério Paulista e dá providências correlatas (Artigos 61,62, 63 e 95).
Disponível em:
\<http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei.complementar/1985/lei.complement
ar-444-27.12.1985.html\> Acesso em: 07 out. 2016.
5. SÃO PAULO. Deliberação CEE nº 10/97. Fixa normas para elaboração do Regimento dos
estabelecimentos de ensino fundamental e médio (Indicação CEE nº 9/97 anexa).
Disponível em:
\<http://www.crmariocovas.sp.gov.br/Downloads/ccs/Deliberacao_CEE_1097-
Regimento_Escolar.pdf\> Acesso em: 07 out. 2016.
6. SÃO PAULO. Parecer CEE nº 67/98. Normas Regimentais Básicas para as Escolas
Estaduais. Disponível em:
\http://siau.edunet.sp.gov.br/ItemLise/arquivos/notas/parcee67_98.htm\ Acesso em:
07/out. 2016.
Livros e Artigos
LIBÂNEO, José Carlos. Organização e gestão da escola: teoria e prática. 6. Ed. São
Paulo: Heccus, 2013.
3.3. Gestão de pessoas e equipes
Liderar o comprometimento e o desenvolvimento profissional das pessoas e das equipes.
Campo de Atuação
Competências Gerais
Liderança e comunicação
Capacidade de:
* Mobilizar equipes e pessoas num trabalho integrado para a concretização de objetivos,
metas e a melhoria contínua dos processos e resultados.
* Promover um clima organizacional que favoreça a comunicação, o engajamento
profissional, o relacionamento interpessoal e a socialização de experiências.
* Promover práticas de coliderança, compartilhando responsabilidades e espaços de ação.
* Criar e potencializar canais de comunicação e de articulação na escola e com a
comunidade.
* Comunicar-se de forma clara e apropriada para cada público.
* De escuta atenta e diálogo aberto.
* Criar ambiente propício à geração de novas soluções e implementação de mudança
(inclusive com o uso de tecnologias digitais de comunicação e informação), incentivando o
envolvimento de todos para promover as aprendizagens dos alunos.
Conhecimento de:
* Princípios, abordagens, métodos, processos e ferramentas de liderança e comunicação.
* Tecnologias Digitais de Comunicação e Informação (TDCI) aplicadas à educação.
*
Avaliação de desempenho e desenvolvimento profissional
Capacidade de:
125
* Coordenar a avaliação de desempenho.
* Promover a elaboração, a implementação e o monitoramento do plano de formação em
serviço, em parceria com a Diretoria de Ensino.
* Fomentar o desenvolvimento de competências visando o aprimoramento profissional e
pessoal da equipe.
Conhecimento de:
* Princípios, processos e métodos de avaliação de desempenho e gestão por competência.
* Estágio probatório na organização pública.
* Matriz de competências exigidas do cargo/função.
* Princípios, métodos e referencial teórico-prático de processos de formação em serviço e
(auto) avaliação.
Coordenação do quadro de pessoal e vida funcional
Capacidade de:
* Gerenciar o quadro (e atribuição) de pessoal, considerando as necessidades de
atendimento às diferentes demandas
da escola.
* Gerenciar, no âmbito da escola, os processos evolução funcional.
Conhecimento de:
* Quadro de cargos e funções, categorias funcionais e suas respectivas atribuições.
* Legislação de pessoal, direitos, deveres e proibições.
Bibliografia
Publicações Institucionais
1. UNESCO. Padrões de competência em TIC para professores: diretrizes de
implementação, versão 1.0. Tradução de Cláudia Bentes David. [Brasília], 2009. Disponível
em: \<http://unesdoc.unesco.org/images/0015/001562/156209por.pdf\>Acesso em: 07
out. 2016.
Legislação
1. SÃO PAULO. Lei complementar nº 1.256, de 06 de janeiro de 2015. Dispõe sobre Estágio
Probatório e institui Avaliação Periódica de Desempenho Individual para os ocupantes do
cargo de Diretor de Escola e Gratificação de Gestão Educacional para os integrantes das
classes de suporte pedagógico do Quadro do Magistério da Secretaria da Educação e dá
providências correlatas.
Disponível em:
\<http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei.complementar/2015/lei.complement
ar-1256-06.01.2015.html\> Acesso em: 07 out. 2016.
Livros e Artigos
1. MORAN, José Manuel; MASETTO, Marcos T.; BEHRENS, Marilda. Novas tecnologias e
mediação pedagógica. 21. ed. rev.e atual. Campinas: Papirus, 2013.
2. TRIGO, João Ribeiro; COSTA Jorge Adelino. Liderança nas organizações educativas:
a direcção por valores. Revista Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação. Rio de
Janeiro, v.16, n. 61, p. 561-582, out./dez. 2008. Disponível em:
\<http://www.scielo.br/pdf/ensaio/v16n61/v16n61a05.pdf\> Acesso em: 07 out. 2016.
1. ALMEIDA, Maria Elizabeth B. de; SILVA, Maria da Graça Moreira da. Currículo, tecnologia
e cultura digital: espaços e tempos de web currículo. Revista e-Curriculum, São Paulo, v.
126
7, n. 1, p. 1-19, abr. 2011. Disponível em:
\<http://revistas.pucsp.br/index.php/curriculum/article/viewFile/5676/4002\> Acesso
em:07 out. 2016
127
ANEXO C – Regulamento do curso MBA gestão empreendedora-educação
REGULAMENTO
MBA Gestão Empreendedora – Educação
9ª EDIÇÃO (2015-2017)
* Alterado em 29 de setembro de 2015: item 27 *
* Alterado em 28 de setembro de 2016: item 27 *
São Paulo, maio de 2015
128
SUMÁRIO
A. APRESENTAÇÃO ........................................................................................ 128
B. OBJETIVOS................................................................................................. 129
C. PÚBLICO-ALVO .......................................................................................... 129
D. INSCRIÇÕES ............................................................................................... 130
E. ESTRUTURA E CRONOGRAMA ................................................................... 132
F. AVALIAÇÃO E CERTIFICAÇÃO ..................................................................... 139
G. RESPONSABILIDADES DO CURSISTA .......................................................... 139
H. SEGURANÇA DA INFORMAÇÃO NAS ATIVIDADES WEB ............................. 140
A. APRESENTAÇÃO
1. A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (SEE-SP), por meio da Escola de Formação e
Aperfeiçoamento dos Professores do Estado de São Paulo “Paulo Renato Costa Souza” (EFAP), com
o objetivo de elevar significativamente a qualidade dos serviços oferecidos nas escolas, tem
valorizado e investido no desenvolvimento do capital humano da SEE-SP, por meio de uma atuação
focada e persistente em todas as escolas. O propósito é aprimorar as ações e a gestão pedagógica da rede de escolas públicas, tendo como meta a melhoria da aprendizagem dos alunos.
2. A intenção é promover ações de formação continuada aos gestores, garantindo o desenvolvimento
de uma visão estratégica, com aquisição de competências gerenciais e habilidades de liderança que
possibilitem uma atuação bem-sucedida. Isso visa a alavancar os resultados do rendimento dos alunos matriculados na rede de escolas públicas do Estado de São Paulo, conforme a atual política
educacional que atua com programas, projetos e ações focados na análise e na utilização de
resultados.
3. Nessa perspectiva, considerando a relevância do trabalho do gestor escolar, a EFAP apresenta o curso MBA Gestão Empreendedora – Educação: curso de pós-graduação lato sensu, realizado pela
Universidade Federal Fluminense (UFF), estruturado nos termos da parceria firmada entre os
governadores do Estado do Rio de Janeiro e do Estado de São Paulo, FIRJAN/SESI-RJ e FIESP/SESI-
SP, respectivamente.
4. Este Regulamento contém as regras e os procedimentos que regem a 9ª Edição do MBA Gestão Empreendedora – Educação, que terá como polo de realização das atividades presenciais a cidade de São Paulo.
129
B. OBJETIVOS 5. Geral:
Contribuir para a formação dos gestores de escolas públicas no uso dos conhecimentos e das
ferramentas da gestão educacional, tendo como base o desenvolvimento de condutas
empreendedoras.
6. Específicos:
a. Formar gestores educacionais empreendedores, capazes de intervir de forma criativa e inovadora
na gestão escolar, revendo o seu papel de líder da escola, tanto pedagógico quanto administrativo;
b. Proporcionar o desenvolvimento de competências em gestão, com ênfase na atitude
empreendedora e na inovação, materializada em um percurso curricular integrado e multidisciplinar;
c. Dar oportunidades ao cursista a realização de estudos com flexibilidade, promovendo uma maior
adaptação às suas possibilidades e às suas aspirações individuais em relação ao curso, sem que isso prejudique a qualidade acadêmica;
d. Produzir conhecimentos em domínios específicos sobre gestão escolar e propiciar sua atualização, com ênfase no desenvolvimento de atitude empreendedora;
e. Promover a divulgação e intercâmbio das melhores práticas de gestão empreendedora e inovação
aplicada à gestão organizacional escolar.
C. PÚBLICO-ALVO 7. A 9ª Edição do MBA Gestão Empreendedora – Educação é direcionada aos diretores e vice-diretores
em exercício nas unidades escolares da rede pública da SEE-SP, conforme base da Coordenadoria
de Gestão de Recursos Humanos (CGRH) de abril de 2015.
8. Atenção! Nesta edição, as atividades presenciais serão realizadas na cidade de São Paulo, no
prédio sede da EFAP.
9. Apenas os diretores e os vice-diretores em exercício nas diretorias de ensino relacionadas abaixo, e que tenham interesse e disponibilidade de realizar o curso, conforme cronograma disposto no item
27, poderão inscrever-se, sendo respeitados os prazos e os critérios dispostos no item D do presente
Regulamento:
130
DER Caieiras DER Leste 1
DER Caraguatatuba DER Leste 2
DER Carapicuíba DER Leste 3
DER Centro DER Leste 4
DER Centro-Oeste DER Leste 5
DER Centro-Sul DER Mauá
DER Diadema DER Miracatu
DER Guaratinguetá DER Mogi das Cruzes
DER Guarulhos-Norte DER Norte 1
DER Guarulhos-Sul DER Norte 2
DER Itapecerica da Serra DER Osasco
DER Itapevi DER Pindamonhangaba
DER Itaquaquecetuba DER Registro
DER Jacareí DER Santo André
DER Santos
DER São Bernardo do
Campo
DER São José dos Campos
DER São Vicente
DER Sul 1
DER Sul 2
DER Sul 3
DER Suzano
DER Taboão da Serra
DER Taubaté
D. INSCRIÇÕES 10. Para essa edição, serão ofertadas 150 vagas, a serem preenchidas por adesão e por ordem de
inscrição.
11. Apenas um gestor por unidade escolar poderá participar dessa edição, desde que:
a. em exercício como diretor ou vice-diretor em uma das unidades escolares das DER participantes dessa edição, listadas no item 9, conforme base CGRH de abril de 2015;
b. efetivos ou designados.
12. As inscrições para a 9ª Edição do MBA Gestão Empreendedora – Educação serão realizadas em
duas etapas, conforme segue:
a. 1ª etapa de inscrições: de 26 de maio a 7 de junho de 2015 ou até o término das vagas, o que acontecer primeiro, respeitando-se o limite de um gestor por unidade escolar inscrito nesta
edição. Nesta primeira etapa, os gestores em exercício nas unidades escolares que possuem
um profissional inscrito em qualquer uma das edições anteriores do curso (da 1ª à 8ª) estarão
impedidos de inscrever-se;
b. 2ª etapa de inscrições: de 8 a 16 de junho de 2015. Se houver vagas remanescentes, será aberta a segunda etapa de inscrições na qual os gestores de todas as unidade escolares das DER
compreendidas nessa edição poderão inscrever-se, sendo respeitado o limite de um gestor por unidade escolar participante nesta edição.
13. Para realizar sua inscrição o profissional deverá:
131
a. acessar o hotsite do curso: http://www.escoladeformacao.sp.gov.br/mbagestaoempreendedora;
b. ter em mãos seus dados pessoais (nome completo, RG, CPF e e-mail pessoal e ativo);
c. no canal “Inscrições”, assistir por completo ao vídeo “Conheça o curso”;
d. clicar no link de acesso ao formulário de inscrição, que será informado durante vídeo;
e. acessar o formulário de inscrição utilizando seu CPF como usuário e seu RG como senha (ou
aquela utilizada nas ferramentas da Rede do Saber);
f. ler atentamente o Termo de Aceite e, concordando com as regras neste dispostas, clicar em
“Aceito”;
g. preencher seus dados pessoais e profissionais e, depois, realizar sua inscrição, conforme
orientações que constam no formulário;
h. Tomar nota do protocolo de inscrição expedido pelo sistema.
14. Após inscrever-se, o profissional receberá um e-mail contendo informações sobre a sua inscrição, tais como nome do curso, número de protocolo e cópia do Termo de Aceite.
15. Atenção: A inscrição realizada caracterizará preenchimento de vaga e a efetivação da matrícula
na UFF! O profissional somente deverá inscrever-se caso houver interesse e disponibilidade para
realizar o curso.
16. A relação de inscritos será divulgada no hotsite do MBA Gestão Empreendedora – Educação
anteriormente ao início do curso.
17. Não haverá possibilidade de cancelamento de inscrição.
18. Serão considerados desistentes aqueles que:
a. se inscreverem e não derem início ao curso;
b. forem reprovados por frequência.
19. Os desistentes não poderão se inscrever em edições subsequentes do MBA Gestão Empreendedora – Educação.
20. Após inscrição, os profissionais receberão um e-mail da UFF com orientações para o
preenchimento de dados pessoais e para o envio dos seguintes documentos:
a. Duas cópias de Cédula de Identidade com foto (Carteira Profissional, Carteira de Identidade de
Órgãos Fiscalizadores de exercício profissional definitiva, Carteira de Identidade emitida por
Secretaria de Segurança Pública e Passaporte). Atenção: não será aceita a carteira de motorista, pois não possui a naturalidade;
b. Duas cópias do CPF;
c. Duas cópias autenticadas (em duas vias com frente e verso) do diploma de graduação
(registrado ou, na hipótese, revalidado).
21. Não poderão se inscrever nesta edição do curso:
a. interessados que não constem em exercício como diretor ou vice-diretor nas unidades escolares das
132
DE participantes desta edição, conforme a base CGRH de abril de 2015;
b. diretores e vice-diretores inscritos nas edições anteriores do curso (da 1ª à 8ª edições);
c. profissionais reprovados em ações da EFAP já homologadas e disponibilizadas na ferramenta Histórico de Participações (HP), com o período de ônus vigente aos reprovados por frequência
e/ou por aproveitamento, conforme disposto em regulamento da ação;
d. Atenção! O profissional impedido de inscrever-se na 9ª edição do curso MBA Gestão Empreendedora - Educação por ter sido reprovado em curso ou programa ofertado
anteriormente pela EFAP, poderá consultar na ferramenta Histórico de Participações (HP) o seu
desempenho nas ações que participou, bem como consultar no Regulamento da respectiva ação o ônus aos reprovados. O impedimento será liberado ao término do prazo de ônus
estabelecido em Regulamento. A ferramenta Histórico de Participações deve ser acessada exclusivamente pelo endereço www.escoladeformacao.sp.gov.br, canal Central de Serviços.
E. ESTRUTURA E CRONOGRAMA 22. A 9ª Edição do MBA Gestão Empreendedora – Educação ocorrerá de 14 de agosto de 2015 a 19
de maio de 2017.
23. O curso, com carga horária de 360 horas, será realizado na modalidade semipresencial, incluindo atividades presenciais e atividades síncronas e assíncronas no Ambiente Virtual de Aprendizagem AVA-SESI/Educa.
24. O curso é composto de quatorze disciplinas divididas em quatro módulos e Trabalho de Conclusão
de Curso (TCC) – Plano de Empreendimento (PLEM).
25. A carga horária será dividida em:
a. atividades web realizadas a distância por meio do AVA-SESI/Educa;
b. atividades presenciais:
i. Serão dezoito encontros presenciais, a serem realizados em dia útil, conforme
cronograma disposto no item 27;
ii. Todos os cursistas serão convocados em DOE para comparecerem aos encontros
presenciais; iii. Todos os encontros presenciais serão realizados na EFAP – situada na Rua
João Ramalho, 1546
– Perdizes – CEP 05008-002 – São Paulo – SP; iv. Todos os encontros presenciais terão
oito horas de duração, e serão realizados conforme horário disposto em convocação.
c. TCC – PLEM (individual):
i. Orientações presenciais e por meio do AVA-SESI/Educa; ii. Apresentação do TCC – PLEM, na forma de pôster, para avaliação no Seminário de Encerramento do Curso.
26. Os módulos são compostos das seguintes disciplinas e carga horária:
133
Módulo Disciplina Carga
Horária Ementa
Abertura
Ambientação em
Novas Tecnologias
(ANT)
24
horas
As novas tecnologias e seus
instrumentos de ensino aprendizagem;
A contextualização das novas
tecnologias e dos instrumentos de
ensino aprendizagem à realidade de
cada escola; As estratégias
organizacionais da escola em relação às
novas tecnologias relacionadas às boas
práticas da aprendizagem; Perspectivas
da Educação a Distância e do ambiente
virtual de aprendizagem como
ferramenta de melhoria da educação
no Brasil.
Empreendedorismo
Inovação e
Empreendedorismo
(INEM)
24
horas
Possibilidades no campo da gestão:
diferentes formas de compreender a
organização; Inovação tecnológica:
abordagem conceitual; Inovando em
produto/serviço e processo; O valor da
inovação para a gestão; Atitude e
comportamento empreendedor;
Criatividade; Mitos sobre criatividade;
Normas sociais no campo do
empreendedorismo; O
empreendedorismo corporativo;
Educação Empreendedora.
Liderança e
Comportamento
Empreendedor
(LID)
24
horas
Apresentar os tipos de organizações,
especialmente as classificações
brasileiras, e principais atividades
organizacionais dos gerentes/líderes de
nível tático e operacional; Abordar os
significados da liderança, sua
competência gerencial e
empreendedora na operacionalização
das rotinas organizacionais; Capacitar
líderes/gerentes em cargos de nível
tático e operacional nas atividades
inerentes às suas atividades, tais como
planejamento das tarefas pelos quais é
responsável, a operacionalização e
avaliação de desempenho da equipe.
134
Gestão
Gestão de
Processos
(PROC)
24
horas
A importância da gestão de processos como
ferramenta de inovação. A visão por processos
e os recursos humanos escassos. Matriz de
competência por processos. Mapeamento e
modelagem de processos – AS IS x TO BE. O
analista de processos e suas atribuições
empreendedoras. Metodologia IDEF. BPM –
Business Process Management. Gestão
Departamentalizada versus Gestão por
Processos. O escritório de processos.
Estratégia (ESTR) 24
horas
Conceituando estratégia. Visão, Missão e
Valores organizacionais. O Ambiente Externo e
Interno da organização. Capacidades
Estratégicas. Cultura Organizacional e
Estratégia. Estratégia da Organização.
Avaliando Estratégias. Processo de
Desenvolvimento da Estratégia. A Prática da
Estratégia.
Gestão de Pessoas
(GRH)
24
horas
Evolução Histórica dos Modelos de Gestão de
Recursos Humanos. Planejamento de RH.
Principais Fundamentos dos Subsistemas de
Recursos Humanos. Gestão de Pessoas: mitos
e contradições sobre o conceito de
“motivação”. Processo de entrada,
manutenção e valorização de Recursos
Humanos. Desenvolvimento Gerencial.
Marketing e
Comunicação
(MKT)
24
horas
Fundamentos de Marketing aplicado à gestão
escolar. Composto de comunicação e valor
percebido. Comunicação como processo.
Endomarketing. Pesquisa de marketing
aplicada às escolas. Plano de marketing.
Marketing na educação.
Negociação e
Mediação de
Conflito (NEG)
24
horas
A negociação como meio de resolução de
conflitos. Estilos e estratégias de
administração de conflito. As abordagens de
negociação integrativa e distributiva. Definição
de objetivos negociais, zona de acordo
possível e ancoragem. O processo de
negociação e suas etapas. Características dos
bons negociadores.
135
Gestão Financeira
(FIN)
24
horas
Finanças como instrumento para tomada de decisão operacional. Orçamento: origem, destino e gestão de recursos. Gestão financeira da educação no Brasil. Matemática financeira como ferramenta de gestão. Séries de pagamento. Ferramenta de análise de investimento. A contabilidade como ferramenta de gestão financeira. Plano financeiro.
Avaliação e
Qualidade na
Educação (AVED)
24
horas
Referencial básico do processo de avaliação da
e na escola. A avaliação da educação básica no
contexto do sistema educacional brasileiro: os
instrumentos de avaliação e dos indicadores
de qualidade educacional. A utilização dos
resultados das avaliações e dos indicadores
para fins de diagnóstico e norteamento das
decisões do gestor escolar na melhoria do
desempenho da sua escola.
Gestão
Gestão de
Tecnologias
Educacionais
(TED)
24
horas
Tecnologias e sistemas de informação como
instrumento de apoio à gestão; Tecnologias
de informação aplicadas à educação; Tomada
de decisão sobre tecnologia: escolhendo,
implantando, gerindo e avaliando tecnologias
educacionais; Experiências nacionais e
internacionais no uso de tecnologias
educacionais.
Educação
Políticas Públicas
em Educação
(PPE)
24
horas
A crise dos paradigmas: o rompimento com
as delimitações reducionistas dos campos
disciplinares; Sistematização das
determinações legais referentes ao ensino
brasileiro; PDE: visão do MEC e
posicionamentos críticos; Educação básica no
Brasil: quantidade x qualidade e conceitos de
qualidade, formação e avaliação, A pesquisa e
a prática docente: subsídios para uma prática
pedagógica inovadora; O Projeto pedagógico
como domínio da educação.
136
Práticas
Organizacionais
na Escola (PROE)
24
horas
Gestão educacional e sua evolução; Modelos
de gestão escolar e suas representações;
Gestão escolar como reprodução e como
prática de inovação e autonomia;
Participação e descentralização na gestão
democratizante; Gestão compartilhada da
escola e dos projetos; Referências de Gestão
na Educação Básica e os indicadores de
gestão dos sistemas e das unidades escolares.
Ambiente
Regulatório em
Educação (ARE)
24
horas
Histórico sobre legislações educacionais brasileiras; Aspectos legais e contexto da educação no Brasil; Marcos regulatórios na educação:
contribuição do Executivo, Legislativo e
Judiciário; O papel dos Conselhos de
Educação nos âmbitos nacional, estadual e
municipal; Gestão financeira da escola e seus
impactos sociais; Fundos de financiamento da
educação Legislação e oportunidades de
mudança.
Plano de
Empreendimento
Plano de
Empreendimento
(PLEM)
24
horas
Concepção e planejamento de um plano de
empreendimento escolar inovador; O
processo de identificação de oportunidades;
A estrutura do plano de empreendimento;
Etapas de um plano de empreendimento:
definição do conceito do empreendimento,
caracterização do produto, análise de
contexto, estratégia de marketing,
organização e gerência do empreendimento e
planejamento financeiro.
27. O curso será realizado conforme cronograma a seguir:
Data/Período de realização Encontro Presencial/Atividades web
Dia 14 de agosto de 2015
1º Encontro Presencial
• Aula Magna
• Abertura da disciplina ANT
De 14 a 28 de agosto de 2015 • Atividades web da disciplina ANT
Dia 28 de agosto de 2015
2º Encontro Presencial
• Avaliação da disciplina ANT
• Abertura da disciplina INEM
De 28 de agosto a 25 de setembro de
2015
• Atividades web da disciplina INEM
137
Dia 25 de setembro de 2015
3º Encontro Presencial
• Avaliação da disciplina INEM
• Abertura da disciplina LID
De 25 de setembro a 23 de outubro de
2015
• Atividades web da disciplina LID
Dia 23 de outubro de 2015
4º Encontro Presencial
• Avaliação da disciplina LID
• Abertura da disciplina PROC
De 23 de outubro a 27 de novembro de
2015
• Atividades web da disciplina PROC
27 de novembro de 2016
5º Encontro Presencial
• Avaliação da disciplina PROC
• Abertura da disciplina PPE
Férias De 28 de novembro de 2015 a 31 de janeiro de
2016
De 1º a 26 de fevereiro de 2016 • Atividades web da disciplina PPE
Dia 26 de fevereiro de 2016
6º Encontro Presencial
• Avaliação da disciplina PPE
• Abertura da disciplina PROE
De 26 de fevereiro a 1º de abril de
2016
• Atividades web da disciplina PROE
Dia 1º de abril de 2016
7º Encontro Presencial
• Avaliação da disciplina PROE
• Abertura da disciplina AVED
De 1º a 29 de abril de 2016 • Atividades web da disciplina AVED
Dia 29 de abril de 2016
8º Encontro Presencial
• Avaliação da disciplina AVED
• Abertura da disciplina ARE
De 29 de abril a 20 de maio de 2016 • Atividades web da disciplina ARE
Dia 20 de maio de 2016
9º Encontro Presencial
• Avaliação da disciplina ARE
• Abertura da disciplina ESTR
De 20 de maio a 24 de junho de 2016 • Atividades web da disiciplina ESTR
Dia 24 de junho de 2016
10º Encontro Presencial
• Avaliação da disciplina ESTR
• Abertura da disciplina NEG
Férias De 25 de junho a 30 de julho de 2016
138
De 1º a 26 de agosto de 2016 • Atividades web da disiciplina NEG
Dia 26 de agosto de 2016
11º Encontro Presencial
• Avaliação da disciplina NEG
• Abertura da disciplina GRH
De 26 de agosto a 30 de setembro de
2016
• Atividades web da disciplina GRH
Dia 30 de setembro de 2016
12º Encontro Presencial
• Avaliação da disciplina GRH
• Abertura da disciplina TED
De 30 de setembro a 4 de novembro de
2016
• Atividades web da disciplina TED
Dia 4 de novembro de 2016
13º Encontro Presencial
• Avaliação da disciplina TED
• Abertura da disciplina MKT
De 4 a 25 de novembro de 2016 • Atividades web da disciplina MKT
Dia 25 de novembro de 2016
14º Encontro Presencial
• Avaliação da disciplina MKT
• Abertura da disciplina FIN
Férias De 26 de novembro de 2016 a 26 de janeiro de
2017
De 27 de janeiro a 17 de fevereiro de
2017
• Atividades web da disciplina FIN
Dia 17 de fevereiro de 2017
15º Encontro Presencial
• Avaliação da disciplina FIN
• Abertura do TCC/PLEM
De 17 de fevereiro a 31 de março de
2017
• Desenvolvimento do TCC/PLEM
Dia 31 de março de 2017 16º Encontro Presencial
• Oficina TCC/PLEM
De 31 de março a 28 de abril de 2017 • Desenvolvimento do TCC/PLEM
Dia 28 de abril de 2017 17º Encontro Presencial
• Entrega versão final TCC/PLEM
Dia 19 de maio de 2017
18º Encontro Presencial
• Apresentação pôster TCC/PLEM
• Seminário Gestão Empreendedora Educação
28. O acesso ao AVA-SESI/Educa será por meio do site
www.escoladeformacao.sp.gov.br/mbagestaoempreendedora, em “Acesso ao AVA-
SESI/Educa”, disposto no menu lateral da página inicial.
139
29. As atividades web no AVA-SESI/Educa serão acompanhadas por professores tutores que serão os responsáveis por interagir e mediar os fóruns, além de orientar e avaliar os estudos, os fóruns e
as atividades propostas no AVA-SESI/Educa.
30. As atividades presenciais serão desenvolvidas por especialistas e acompanhadas por professores
tutores.
31. Em caso de impossibilidade de participação nas atividades do curso em razão de problemas de saúde, o cursista deverá entrar em contato com o professor tutor do curso e ter posse do atestado médico. Esses casos serão analisados pela coordenação do curso.
32. Verificação suplementar: O cursista que, porventura e justificadamente, ausentar-se de alguma avaliação realizada durante o bloco semestral de atividades, após análise da coordenação do
curso, poderá realizar a avaliação no último encontro presencial do semestre.
33. As atividades presenciais do curso devem ocorrer em dia útil, mesmo que em horário de trabalho dos cursistas, conforme convocação em DOE.
34. As atividades web, por meio do AVA-SESI/Educa, deverão ser realizadas fora do horário de
trabalho. Estima-se que o cursista deva dedicar-se cerca de duas horas por dia para a realização
das atividades web do curso.
F. AVALIAÇÃO E CERTIFICAÇÃO 35. Para aprovação e certificação, o cursista deverá:
a. atentar-se aos critérios dispostos no Manual do Estudante (a ser disponibilizado para consulta
no
AVA-SESI/Educa);
b. realizar as avaliações presenciais;
c. desenvolver e apresentar o TCC – PLEM.
36. Os certificados serão emitidos pela UFF aos cursistas que concluírem e forem aprovados em todos os módulos.
G. RESPONSABILIDADES DO CURSISTA 37. Informar e-mail válido e atualizado no momento da inscrição.
38. Participar dos dezoito encontros presenciais, conforme cronograma e convocação.
39. Dedicar-se ao cumprimento da carga horária do curso, organizando-se para a realização das
atividades web por duas horas diárias.
40. Participar das atividades web propostas no decorrer do curso, dentro dos prazos estabelecidos e
registrados no AVA-SESI/Educa.
41. Ao publicar suas participações, quando pertinente, citar fonte de consulta e não disseminar conteúdo que possa ser considerado ilícito ou plagiado.
140
42. Acatar as regras estabelecidas neste Regulamento e no Manual do Aluno.
43. Manter a senha de acesso ao AVA-SESI/Educa guardada em completa segurança e sigilo, sendo de sua inteira responsabilidade acessos realizados com esta.
44. Ter ciência de que a senha de acesso fornecida ao cursista tem caráter pessoal e intransferível, sendo vedada a revelação para terceiros. Esta é a forma de identificação do cursista,
considerando-se a sua utilização, para todos os fins e efeitos, como manifestação de sua vontade expressa.
45. Utilizar apenas equipamentos confiáveis para o acesso ao AVA-SESI/Educa, que possuam
programas antivírus e firewall devidamente instalados e atualizados, assumindo o risco de sua
conduta caso assim não vier a proceder.
46. Realizar “logout” (sair do sistema) após finalizar uma sessão no AVA-SESI/Educa, garantindo a
veracidade de suas participações e produções.
47. Atualizar seu perfil sempre que necessário e se responsabilizar pelas informações fornecidas.
48. Estabelecer vínculo de respeito mútuo com todos os usuários do AVA-SESI/Educa e participantes dos encontros presenciais.
49. Acatar sua inserção em grupos, em situações de trabalho coletivo, segundo a distribuição feita
pelo professor tutor ou pela coordenação do curso.
H. SEGURANÇA DA INFORMAÇÃO NAS ATIVIDADES WEB 50. A gestão da segurança das informações observa as disposições da Norma Técnica ABNT NBR
ISSO/IEC 27002, especialmente em relação a autenticidade, integridade e disponibilidade da
informação.
51. É de reconhecimento público a impossibilidade técnica da manutenção do funcionamento integral
e ininterrupto de qualquer sistema de informática. Dessa forma, a SEE-SP, a FIESP/SESI-SP e a UFF
isentam-se de qualquer responsabilidade relativa à postagem de atividades web ou da
manutenção de equipamentos.