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O PROGRAMA LUZ PARA TODOS COMO PROMOTOR DO DESENVOLVIMENTO LOCAL E DA INCLUSÃO SOCIAL NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – UMA ANÁLISE A PARTIR DA EMPRESA AMPLA S/A PANDO ANGELOFF PANDEFF, BRUNA FIGUEIRA DA SILVA, STHEFANI NOGUEIRA SARAIVA, YOHANS DE OLIVEIRA ESTEVES (FACULDADE ITABORAI) Resumo: O presente estudo buscou analisar políticas públicas de inclusão social e desenvolvimento local a partir da análise do Programa Nacional de Universalização do Acesso e Uso de Energia Elétrica (Luz para todos), desenvolvido em parceria com as Concessionárias de Energia Elétrica de todo o país, e mais especificamente a partir da empresa AMPLA S/A no Estado do Rio de Janeiro, objeto do estudo de caso proposto. Foram utilizadas bases referenciais teóricas sobre o tema de forma a fundamentar as discussões. O estudo buscou verificar as áreas de concessão da empresa, métodos utilizados na implantação do programa e resultados obtidos. A partir dos resultados, o estudo analisa o processo de desenvolvimento e inclusão social sugerido pelo programa e se de fato essa proposta foi alcançada. A base para implantação do programa foi o mapa de exclusão elétrica onde foi revelado que as famílias sem acesso à energia no país se encontram em localidades de menor índice de desenvolvimento humano e em famílias de baixa renda. Cerca de 90% destas famílias têm renda inferior a três salários-mínimos e 80% estão no meio rural. No Rio de Janeiro, ao todo são 66 municípios atendidos pela Concessionária AMPLA S/A, onde foi analisada a proposta geral do programa e confrontada com a atual situação e resultados, tendo como premissa verificar se o programa de fato está promovendo o desenvolvimento local e a inserção social, atendendo plenamente às populações inseridas no projeto. Foram verificados os índices de implantação do programa, a quantidade de famílias que tiveram acesso aos benefícios do projeto por ano e as áreas atendidas e não atendidas pelo programa dentro da área de concessão da AMPLA S/A. O resultado percebido a partir da proposta geral do programa é que este vem buscando alcançar as metas propostas e está sendo desenvolvido com maior ênfase em áreas rurais em detrimento da zona urbana, porém as prorrogações em torno do número de novos cidadãos sem energia no país tem exposto o Programa a dúvidas e incertezas, sendo a proposta de inclusão e desenvolvimento, comprometida. O estudo é fruto de trabalho monográfico do curso de Administração de Empresas da Faculdade Itaboraí, sob orientação do Prof. Ms, Pando Angeloff Pandeff e co- orientado pela Profa. Ms, Sthefani Nogueira Saraiva e pelo Prof. Esp. Yohans de Oliveira Esteves, que já desenvolvem estudos correlatos no município de Itaboraí / RJ. Palavras-chaves: Ampla S/A; Desenvolvimento local; Exclusão Elétrica; Inclusão Social; Programa Luz para Todos. ISSN 1984-9354

O PROGRAMA LUZ PARA TODOS COMO PROMOTOR DO … · Uso de Energia Elétrica (Luz para todos), desenvolvido em parceria com as Concessionárias de Energia Elétrica de todo o país,

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O PROGRAMA LUZ PARA TODOS COMO PROMOTOR DO DESENVOLVIMENTO LOCAL E DA INCLUSÃO SOCIAL NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – UMA ANÁLISE A PARTIR DA EMPRESA AMPLA S/A

PANDO ANGELOFF PANDEFF, BRUNA FIGUEIRA DA SILVA, STHEFANI

NOGUEIRA SARAIVA, YOHANS DE OLIVEIRA ESTEVES (FACULDADE ITABORAI)

Resumo: O presente estudo buscou analisar políticas públicas de inclusão social e desenvolvimento local a partir da análise do Programa Nacional de Universalização do Acesso e Uso de Energia Elétrica (Luz para todos), desenvolvido em parceria com as Concessionárias de Energia Elétrica de todo o país, e mais especificamente a partir da empresa AMPLA S/A no Estado do Rio de Janeiro, objeto do estudo de caso proposto. Foram utilizadas bases referenciais teóricas sobre o tema de forma a fundamentar as discussões. O estudo buscou verificar as áreas de concessão da empresa, métodos utilizados na implantação do programa e resultados obtidos. A partir dos resultados, o estudo analisa o processo de desenvolvimento e inclusão social sugerido pelo programa e se de fato essa proposta foi alcançada. A base para implantação do programa foi o mapa de exclusão elétrica onde foi revelado que as famílias sem acesso à energia no país se encontram em localidades de menor índice de desenvolvimento humano e em famílias de baixa renda. Cerca de 90% destas famílias têm renda inferior a três salários-mínimos e 80% estão no meio rural. No Rio de Janeiro, ao todo são 66 municípios atendidos pela Concessionária AMPLA S/A, onde foi analisada a proposta geral do programa e confrontada com a atual situação e resultados, tendo como premissa verificar se o programa de fato está promovendo o desenvolvimento local e a inserção social, atendendo plenamente às populações inseridas no projeto. Foram verificados os índices de implantação do programa, a quantidade de famílias que tiveram acesso aos benefícios do projeto por ano e as áreas atendidas e não atendidas pelo programa dentro da área de concessão da AMPLA S/A. O resultado percebido a partir da proposta geral do programa é que este vem buscando alcançar as metas propostas e está sendo desenvolvido com maior ênfase em áreas rurais em detrimento da zona urbana, porém as prorrogações em torno do número de novos cidadãos sem energia no país tem exposto o Programa a dúvidas e incertezas, sendo a proposta de inclusão e desenvolvimento, comprometida. O estudo é fruto de trabalho monográfico do curso de Administração de Empresas da Faculdade Itaboraí, sob orientação do Prof. Ms, Pando Angeloff Pandeff e co-orientado pela Profa. Ms, Sthefani Nogueira Saraiva e pelo Prof. Esp. Yohans de Oliveira Esteves, que já desenvolvem estudos correlatos no município de Itaboraí / RJ.

Palavras-chaves: Ampla S/A; Desenvolvimento local; Exclusão Elétrica; Inclusão Social;

Programa Luz para Todos.

ISSN 1984-9354

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1. INTRODUÇÃO

A energia elétrica é produzida e utilizada de diversas formas e tendo os processos de geração

e distribuição se aprimorado ao longo dos anos, sendo hoje essencial à manutenção e sustentação

da sociedade moderna.

Sua essencialidade está vinculada desde os sistemas de produção até ao atendimento de

demandas domésticas, criando assim uma dependência crescente e cada vez maior das fontes

geradoras, sendo ainda sua importância vinculada diretamente às políticas de desenvolvimento que

possibilitam o surgimento e a instalação de organizações nos mais diversos segmentos produtivos

e de serviços, promovendo ainda a inserção social de populações até então não atendidas pela

malha de distribuição.

As pesquisas com eletricidade, no contexto histórico, acompanham o desenvolvimento das

sociedades, sendo baseadas em experiências a partir da curiosidade humana que remontam aos

anos 600 a.C.. A partir dos gregos, com Tales (624 a.C. – 558 a.C.), que descobriu a eletricidade

estática, sendo o primeiro filósofo a desenvolver experiências com a eletricidade.

Após séculos de pesquisas embrionárias por tentativa e erro, as bases para evolução das

pesquisas são implantadas em 1660 pelo alemão Otto Von Guericke (físico), que criou um

mecanismo através do qual ao tocar com as mãos uma bola de enxofre em movimento saltavam

centelhas, que se pareciam muito com os raios. Era a descoberta da eletricidade eletrostática. Mais

tarde, em 1670 o físico construiu a primeira máquina eletrostática.

Após as descobertas anteriores, Stephen Gray, mais um físico da história, constatou que não

existiam somente materiais que conduziam energia, mas sim também os que não conduziam. Os

não condutores foram nomeados por Gray como isolantes.

Por volta do século XVI novas pesquisas são desenvolvidas buscando o aprofundamento nas

experiências com a eletricidade, como fizeram o holandês Pieter van Musschenbroek e o

americano Benjamim Franklin.

No século XVII, iniciou-se o que foi considerado pelos físicos e pesquisadores do período,

como a época de ouro para as pesquisas com eletricidade.

Descobertas como a pilha elétrica, através dos experimentos do cientista italiano

Alessandro Volta e da confirmação das Leis que ligavam a eletricidade ao magnetismo por Hans

Cristian Oersted, André-Mari Ampére e François Arago ratificam esse período de avanço nas

pesquisas.

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Entre os anos de 1821 e 1831, o inglês Michael Faraday descobriu a corrente elétrica,

comprovando com seu experimento que a eletricidade pode ser induzida por mudanças de um

campo magnético, lançando assim as bases para o desenvolvimento de motores, geradores e

transformadores elétricos, os quais são utilizados até hoje.

Em 1860, o escocês J.C. Maxwell revolucionou a física, por meio de suas conhecidas

equações, as leis do magnetismo, da eletricidade e da luz. A partir do trabalho de Maxwell a

ciência consegue o controle sobre a eletricidade, os campos e as ondas eletromagnéticas, abrindo

caminho para a eletrônica e avanços como o rádio, a TV, computadores, satélites, entre outros,

revolucionando a ciência e as aplicações que até hoje sustentam o desenvolvimento da sociedade

moderna.

Contudo, no campo da eletricidade que já havia avançado significativamente desde as

primeiras experiências, as novas pesquisas desenvolvidas levam a descobertas que revolucionaram

o seu uso e mudariam profundamente a história do mundo.

Após diversos experimentos, em 21 de outubro de 1879, o norte-americano Thomas Alva

Edison (1847–1931) inventou a lâmpada incandescente, dando fim então à iluminação a

querosene, a gás ou a óleo incandescente e desde então, a luz elétrica passou a ser utilizada em

todas as partes do planeta e sendo integrada a vida moderna por sua essencialidade.

Após essa descoberta Thomas Edison muda o foco para desenvolver estudos sobre como a

energia elétrica seria levada até a lâmpada, defendendo o uso de centrais de energia que deveriam

produzir corrente contínua (CC), como as que são produzidas nas baterias, mas se deparando com

o problema relacionado o pouco alcance das linhas de energia.

Por outro lado o austríaco Nikolas Tesla defendia a corrente alternada (CA), que revertida sua

direção dentro de um condutor, poderia ser levada para longas distâncias e para funcionar

precisava de uma forte carga inicial na corrente e de forma complementar, ser utilizada com

cautela, pois o uso inadequado poderia causar graves acidentes. Hoje essa carga é conhecida

como: alta tensão.

Nesse contexto, o setor elétrico avançou de forma significativa, unificando a invenção de

Thomas à descoberta de Tesla. As redes de distribuição de energia elétrica foram ampliadas e a

energia passou a ser disponibilizada de forma ampla para toda a população e para os setores

produtivos da sociedade. O desenvolvimento do setor elétrico se deu pela capacidade criativa e

inventividade de pessoas movidas pela curiosidade ou pela necessidade.

Com base em Diamond (2001) em seu livro Armas, Germes e Aço, nem sempre a necessidade

é a mãe da invenção. Por muitas vezes as invenções eram criadas com um objetivo e acabavam

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sendo úteis para outros fins não previstos, ou seja, em sua opinião, a invenção é quase sempre a

mãe da necessidade, e não o contrário.

Com base nesses pressupostos e aplicados ao contexto atual das políticas de incentivo à

produção e redução de desigualdades no Brasil, foi através de uma necessidade evidenciada que se

buscaram alternativas para acabar com a exclusão elétrica no país e seus efeitos negativos para o

desenvolvimento local e nesse contexto o Governo Federal, em parceria com as Concessionárias

de Energia Elétrica nos Estados e as Cooperativas de Eletrificação Rural, lançou o Programa Luz

para Todos.

O programa teve como principal objetivo, viabilizar o acesso à energia elétrica à totalidade da

população no meio rural brasileiro e as metas de concretização das obras definiram inicialmente a

necessidade de atender a cerca de 10 milhões de pessoas até o ano de 2008 e de 12 milhões até o

ano de 2010, tendo o programa sido prorrogado até o ano de 2015 face a identificação de novas

demandas durante a fase inicial de implantação.

Dessa forma, a concretização total das obras do programa a serem realizadas pelas

concessionárias até 2015, visa atender a aproximadamente mais 2,5 milhões de famílias brasileiras

residentes na área rural, buscando assim reduzir de forma significativa a exclusão elétrica como

pode ser observado na figura 1 a seguir.

Figura 1: Consumo de energia por tipo pelas famílias e exclusão elétrica urbana e rural

Fonte: MME (BEN, 2012)

Assim, com base no mapa de exclusão elétrica foi observado que ainda existem algumas

regiões que não foram atendidas e demandam energia elétrica para se desenvolverem. São

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localidades de menor índice de desenvolvimento humano – IDH, onde vivem famílias de baixa

renda, a maioria em áreas rurais. Cerca de 90% destas famílias têm renda inferior a três salários

mínimos e ainda não estão inseridas adequadamente na sociedade, o que ensejou a prorrogação do

programa.

Nesse contexto, com a criação do Programa Luz Para Todos, o Governo Federal busca reduzir

significativamente a exclusão elétrica no país e busca utilizar a energia elétrica como ponte para o

desenvolvimento social e econômico das comunidades ainda não assistidas, contribuindo assim

para a redução da pobreza e o incremento da renda familiar, melhorando a prestação de serviços à

população beneficiada, fortalecendo o ciclo de atendimento às áreas e reduzindo o impacto

tarifário.

De forma geral, o acesso à energia elétrica permite às famílias melhorarem sua capacidade de

produção e consequentemente gerar maior renda e consumo de bens duráveis e equipamentos

rurais elétricos, movimentando e fortalecendo as economias locais e permitindo de forma indireta

a integração aos serviços de saúde, educação, abastecimento de água e saneamento básico, bem

como programas sociais complementares.

Ao viabilizar o acesso à energia elétrica, o programa se propõe a colaborar para a

permanência das famílias no campo, melhorando a qualidade de vida, criando empregos diretos e

indiretos e intensificando o uso da mão de obra local.

Dessa forma, o estudo teve como principal objetivo, avaliar a efetividade do Programa Luz

para Todos e suas metas iniciais propostas, comparando com os resultados alcançados, a partir da

análise de dados e resultados da Concessionária de Energia Elétrica Ampla S/A, nos 66

municípios na área de concessão da empresa, buscando ainda verificar como o Programa está

sendo desenvolvido e se as áreas rurais que se enquadram de forma mais ampla no contexto de

exclusão elétrica estão sendo de fato atendidas.

O estudo ainda levou em conta a questão social envolvida em função da relação direta com as

políticas públicas de desenvolvimento local e a influência na vida das populações beneficiadas,

sendo ainda verificados os benefícios produzidos pelo programa e o quantitativo de pessoas

beneficiadas, analisando os resultados alcançados com a implantação do programa com base nos

objetivos propostos inicialmente para no Estado do Rio de Janeiro e avalia se ainda existem

residências que não foram contempladas com energia elétrica. Como objetivo mais amplo,

buscou-se avaliar a efetividade do programa como fator de inclusão social e desenvolvimento

local.

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Através dos dados resultantes do estudo, foi possível a identificação de falhas e a proposição

de alternativas que permitam a maior eficiência do programa através das concessionárias de

energia, podendo ser extrapolados para áreas não atendidas pelo programa.

2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Analisar a efetividade do programa federal Luz para Todos, a partir das parcerias firmadas

para implantação no Estado do Rio de Janeiro como contribuinte para o desenvolvimento local e

inclusão social, a partir do incremento das atividades econômicas na área de influência do

programa e do fomento a atividades empreendedoras.

2.2 Objetivos Específicos

Analisar as propostas gerais do programa e sua implantação a partir da concessionária

Ampla S/A;

Mapear as áreas atendidas e não atendidas e analisar o processo de identificação das

demandas;

Identificar o número de beneficiados pelo Programa até o momento, comparando com as

metas iniciais;

Verificar as contribuições do Programa para o processo de fomento das atividades

empreendedoras e para o desenvolvimento local com inclusão social.

3. METODOLOGIA

O presente artigo foi baseado em trabalho monográfico desenvolvido no curso de

Administração da Faculdade Itaboraí, com base nos resultados finais obtidos.

A escolha do tema deve-se à continuidade de estudos já realizados na região pelos

orientadores, com foco no desenvolvimento local, sustentabilidade socioambiental e a geração de

emprego e renda, adequando-se seu desenvolvimento sob a ótica das atividades voltadas ao

desenvolvimento local e inclusão social propostas pelo Programa Luz para Todos do Governo

Federal e operacionalizado no Estado do Rio de Janeiro pela Concessionária AMPLA S/A.

Analisa sua efetividade a partir da realidade percebida, tomando como base a problemática

envolvida e as dificuldades na busca de alternativas que promovam o desenvolvimento local e a

inclusão social, através da implantação efetiva das propostas.

A base teórica conceitual foi extraída da literatura específica, bases legais, estudos já

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desenvolvidos e observações de campo para a produção do conteúdo necessário às análises.

O método de pesquisa adotado foi o bibliográfico, associado a um estudo de caso da

Concessionária de energia em sua atuação na implantação do Programa no Estado do Rio de

Janeiro, utilizando ainda informações coletadas das bases oficiais (IBGE, TCE-RJ, site da

Empresa, Ministério do Meio Ambiente e de Minas e Energia, Estatuto das Cidades, entre outros).

A partir de dados coletados, ênfase foi dada às questões que envolvem o desenvolvimento

local a partir da implantação do programa, abordando a eficácia dessa iniciativa no âmbito dos

municípios beneficiários e como o acesso à energia elétrica possibilitou o incremento da inclusão

social com base no estímulo aos pequenos empreendedores com a alavancagem de suas atividades

e reflexos na melhoria da qualidade de vida e do ambiente.

Para uma melhor compreensão da realidade temática foi desenvolvida uma análise do

Programa Luz para Todos a partir dos dados fornecidos pela concessionária que foram

confrontados com as propostas gerais e metas iniciais buscando identificar se os cronogramas

foram cumpridos e se o nível de atendimento correspondeu às expectativas iniciais. Dessa análise

foi possível identificar quais ações foram previstas, os resultados efetivos percebidos, os

problemas decorrentes das distorções encontradas e as propostas para ajustes.

A resultante do confronto entre as bases teóricas e legais, associada ao estudo de caso

possibilitou identificar pontos críticos do programa e permitiu ainda a elaboração de proposições

para a melhoria da proposta geral do programa.

3.1 Questões da pesquisa

Analisar as propostas do Programa Federal Luz para Todos sob a ótica do desenvolvimento

local e da inclusão social, tendo como objeto de comparação o processo de implantação do

programa, as metas previstas e sua efetividade, e ainda sua contribuição para o fomento a

atividades empreendedoras em sua área de influência, identificando processos críticos e buscando

propor alternativas que possam nortear ações e práticas dos pequenos empreendedores, a partir do

acesso a energia elétrica.

4. DESENVOLVIMENTO

4.1 Energia Elétrica – Panorama Geral

Segundo a ANEEL com base no Atlas da Energia (2013), a energia elétrica está presente em

quase 100% do país em se tratando de zonas urbanas e em parte na zona rural, tornando-se assim

um dos principais meios para a promoção do desenvolvimento econômico e de inclusão social.

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No entanto, quando associado ao aumento crescente da população, percebe-se um incremento

na demanda por energia pelo setor produtivo para atender às necessidades crescentes por

alimentos, bens e serviços, o que impacta diretamente o setor elétrico, sendo este um dos

principais promotores do desenvolvimento.

Assim, sob a ótica das fontes geradoras, o Brasil possui umas das matrizes energéticas

consideradas mais limpas em relação aos demais países, que além da hidráulica, outras fontes

energéticas de base renovável também são utilizadas como: biomassa, energia solar e energia

eólica entre as mais expressivas, ampliando a capacidade de oferta e beneficiando diretamente a

população e viabilizado as práticas sustentáveis no uso de recursos naturais, reduzindo as pressões

sobre o meio ambiente.

Dessa forma, e com base no Relatório do Balanço Energético Nacional (2012), a distribuição

das fontes geradoras de energia no país tem o seguinte perfil.

Figura 2: Distribuição das unidades geradoras no país e Consumo de energia geral

Fonte: MME (BEN, 2012)

De forma complementar, na análise da matriz energética brasileira, temos que 46,3% de sua

produção são provenientes de fontes renováveis, sendo a fonte hidrelétrica responsável pela

geração de mais de 75% da eletricidade do País, cabendo destacar que a matriz energética mundial

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é composta por 13% de fontes renováveis no caso de Países industrializados, caindo para 6% entre

as nações em desenvolvimento (EPE, 2013), como pode ser observado na figura 3 a seguir que

traz um detalhamento por fonte geradora.

Figura 3: Matriz Energética Nacional por Fonte

Fonte: EPE – Anuário Estatístico 2013

Dessa forma, com a necessidade de expansão do setor elétrico para atender às demandas, no

contexto das políticas públicas de desenvolvimento, levar energia às populações e regiões ainda

não assistidas torna-se uma necessidade e um desafio para que seja possível promover os

benefícios associados relacionados à oferta de públicos básicos, como: educação, saúde,

abastecimento de água e saneamento, entre outros.

Evidencia-se assim que sob essa ótica e com base nos dados analisados que a população do

meio rural é a maior beneficiada com a expansão do setor elétrico a partir do surgimento de novas

oportunidades para os pequenos produtores e comerciantes das áreas atendidas, o que contribui

diretamente para o desenvolvimento econômico e social dessas localidades.

Constata-se que o fornecimento de energia elétrica é o mais abrangente entre os serviços

domiciliares do Brasil, porém este serviço ainda não chegou para cerca de 2.749.243 habitantes do

país, ou seja, segundo o IBGE1, com base no Censo 2010, 728.672 domicílios brasileiros ainda

não possuem fornecimento de energia elétrica, o que representa 1,3%, sendo 133.237 domicílios

na zona urbana e 595.435 domicílios na área rural sem luz elétrica.

1 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE

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O IBGE também divulgou que do total de habitantes sem energia citado, 396.294 pessoas

estão nas cidades e 2.352.949 moram na zona rural, sendo importante destacar que pela primeira

vez o Instituto incluiu no Censo a averiguação do fornecimento de energia elétrica para toda a

população, permitindo a inferência de que esses dados se tornam subsídio para a verificação de

resultados do Programa Luz para Todos.

Ainda segundo o IBGE (2010), com exceção das áreas rurais da região Norte, onde apenas

61,5% dos domicílios tinham energia elétrica fornecida por companhias de distribuição locais, as

demais grandes regiões do País, tanto urbanas quanto rurais, apresentaram uma cobertura acima de

90%, variando de 90,5% nas áreas rurais da região Centro-Oeste a 99,5% nas áreas urbanas da

região Sul.

Em 2010, dos serviços prestados aos domicílios, a energia elétrica foi a que apresentou a

maior cobertura (97,8%), principalmente nas áreas urbanas (99,1%), mas também com marcante

presença na área rural (89,7%).

Face ao exposto e com a identificação de que ainda existe um grande numero de pessoas sem

acesso a energia elétrica e consequentemente sem auferir dos benefícios que esse acesso pode

trazer, levando em conta ainda que essa condição compromete o desenvolvimento local e

inviabiliza às inúmeras oportunidades, o Programa Luz para Todos pode ser percebido como uma

política pública voltada à promoção do desenvolvimento e de inclusão social.

4.2 Contextualizações sobre Políticas Públicas

Tanto a Política Pública Geral quanto a Política Social são campos multidisciplinares, ou seja,

vários campos que buscam um objetivo final, em que o principal foco é explicar a natureza da

política pública e seus processos.

A teoria geral da política pública busca condensar teorias construídas no campo da sociologia,

da ciência política e da economia. É através da economia e nas sociedades que as políticas

públicas são disseminadas, daí o porquê de qualquer teoria da política pública precisar também

explicar as inter-relações entre Estado, política, economia e sociedade.

Assim, percebe-se que o termo “Políticas Públicas” está relacionado à soma das atividades

dos governos, que agem diretamente ou através de delegação, e que influenciam a vida dos

cidadãos.

A Política Pública está diretamente ligada ao Governo, e resumidamente pode ser o que o

Governo decide ou não fazer. (DYE, 1984).

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Dessa forma, a definição mais conhecida, diz que: decisões e análises sobre Política Pública

implicam responder as seguintes questões: quem ganha o quê, por que e que diferença faz.

(LASWELL, 1936).

Dessa forma, as políticas públicas em sua essência estão ligadas fortemente ao Estado, é

este quem determina como os recursos são usados para o beneficio de seus cidadãos. É o Estado

quem define como o dinheiro, arrecadado sob a forma de impostos, deve ser acumulado e como

este deve ser investido e fazer a prestação de contas do dinheiro gasto em favor da sociedade

(SOUZA, 2006).

Na prática, a Política Pública afeta profundamente a vida cotidiana de cada indivíduo na

sociedade, mas apesar de ser um campo onde uma ação implica na sociedade como um todo,

nenhum cidadão com uma iniciativa própria pode fazer uma política pública de ação e de

conscientização pessoal, pois as Políticas Públicas só acontecem mediante a intervenção do

Estado, ou seja, é o Estado quem deve, em tese, saber a necessidade de cada comunidade e avaliar

medidas de melhorias para cada indivíduo desta e investir em espaços públicos que gerem

benefícios para sociedade (THEODOULOU, 1995). Com base nesse contexto, cabe ampliar o

foco para os processos de inclusão e exclusão social.

Enquanto a inclusão social, em suas diferentes faces, é praticada por meio de políticas

públicas, que além de oficializar, devem também viabilizar a inserção dos indivíduos aos meios

sociais, a exclusão social se dá através da falta de meios econômicos, do isolamento social e de

acesso limitado aos direitos sociais e civis.

Dessa forma, os fatores que podem contribuir para a exclusão social são: problemas

laborais, padrões de educação e de vida, a saúde, a nacionalidade, a desigualdade econômica, entre

outros tantos.

A exclusão social tem base multidimensional e pode ser expressa em diversos níveis,

como: ambiental, cultural, econômico, político e social. Na maioria das vezes ela compreende

vários níveis, ou até mesmo todos.

Assim, e de forma mais abrangente, o objetivo das políticas públicas de Inclusão Social é o

de fazer com que, através das oportunidades geradas, pessoas mais necessitadas tenham a chance

de participar da distribuição de renda do País, inserindo-os em programas em que todos sejam

beneficiados e não apenas parte da sociedade. (SECCHI, 2010)

4.3 Programas sociais como política pública de Inclusão e desenvolvimento

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Analisar as políticas públicas pressupõe, apesar de todas as técnicas disponíveis atualmente

para a avaliação de programas, projetos, ações e as políticas públicas, a identificação dos fatores

causais e conteúdos considerados nesse processo, que possibilitam fundamentar as decisões e

escolhas feitas em relação às estratégias de intervenção governamental.

Assim, uma das relações consideradas fundamentais é a que se estabelece entre Estado e

políticas sociais, ou melhor, entre a concepção de Estado e as políticas que este implementará em

uma determinada sociedade e em determinado período pré-definido.

Com base em Höfling (2001), a análise e avaliação de políticas implementadas por um

governo, fatores de diferentes natureza e determinação são importantes, especialmente quando

estão associadas as políticas sociais entendidas como as de educação, saúde, previdência,

habitação, saneamento, entre outras). E onde os diversos fatores envolvidos para a aferição de seu

sucesso ou fracasso das ações implementadas são complexos, variados, e exigem grande esforço

de análise.

As políticas sociais se referem então as ações que determinam o padrão de proteção social

implementado pelo Estado, voltadas, em princípio, para a redistribuição dos benefícios sociais

visando à diminuição das desigualdades estruturais produzidas pelo desenvolvimento

socioeconômico.

Assim, em uma análise mais geral, vários são os programas sociais adotados pelo governo

federal objetivando a inclusão social, sendo destacados: Fome zero, Brasil Alfabetizado e

Educação de Jovens e Adultos, Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti), ProUni,

Brasil Carinhoso, Bolsa Família, entre outros.

Dos programas citados, um dos mais abrangentes no âmbito nacional é o Bolsa Família,

criado em 2004 e que se desenvolve a partir de transferência direta da renda para as famílias

beneficiadas.

O programa visa apoiar as famílias mais pobres e garantir direitos fundamentais, tendo ao

longo de sua implantação associado de forma complementar outros programas como o Auxílio

Gás, o Bolsa Escola, o Bolsa Alimentação e o Cartão Alimentação, buscando assim incluir

famílias que não recebiam nenhum desses benefícios até então.

Dessa forma, os programas sociais representam um conjunto de políticas públicas, que têm

como objetivo distribuir de forma abrangente e igualitária, benefícios sociais à populações em

risco, devendo os beneficiários atender a determinados critérios para serem habilitadas.

Nesse contexto foi criado Cadastro Único (Cad Único), sendo utilizado como base para

acesso aos programas sociais a partir de um sistema que identifica e caracteriza as famílias de

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baixa renda (renda mensal de até meio salário mínimo por pessoa ou renda mensal total de até três

salários mínimos), a partir de um perfil socioeconômico das famílias. Atualmente o cadastro único

conta com 21 milhões de famílias inscritas, sendo coordenado pelo Ministério do

Desenvolvimento Social e combate à Fome (MDS). Suas informações são regulamentadas pelo

Decreto nº 6.135/07, pelas Portarias nº 177, de 16 de junho de 2011, e nº 274, de 10 de outubro de

2011, e Instruções Normativas nº 1 e nº 2, de 26 de agosto de 2011, e as Instruções Normativas nº

3 e nº 4, de 14 de outubro de 2011, e podem também ser utilizadas pelos governos estaduais e

municipais para obter o diagnóstico socioeconômico das famílias cadastradas, possibilitando o

desenvolvimento de políticas sociais locais.

Para o recorte do estudo, o Cadastro Único é também utilizado pelas famílias que recebem

descontos nas contas de energia elétrica, podendo esse desconto varia entre 10 e 65% de acordo

com a faixa de consumo, no contexto de outro programa – A Tarifa Social de Energia Elétrica, de

acordo com a Lei nº 12.212/10 e regulamentada pelo Decreto nº 7.583/11.

As populações tradicionais como indígenas e quilombolas, inscritas no Cadastro Único e que

tenham renda familiar per capita menor ou igual a meio salário mínimo, também são podem ser

beneficiárias, com direito a desconto de 100% até o limite de consumo de 50 kWh/mês.

A tabela 1 a seguir ilustra o detalhamento dos descontos do programa:

Índices da Tarifa Social para Consumidores enquadrados na Subclasse Baixa Renda

Consumo kWh/mês Desconto

Até 30 65%

De 31 a 100 40%

De 101 a 220 10%

Superior a 220 0%

Índices da Tarifa Social para Consumidores Quilombolas e Indígenas

Consumo kWh/mês Desconto

Até 50 100% Tabela 1: Índices de Tarifas Sociais para Programas Sociais

Fonte: MME (BEN, 2012)

Sendo objetivo dos programas sociais enquanto políticas públicas de inclusão social, garantir

o acesso a serviços públicos essenciais, hoje, apesar dos mais de 180 programas criados e dos

avanços percebidos no processo de suprir necessidades básicas, existem ainda cerca de 2,5

milhões de pessoas no Brasil que não tiveram acesso a qualquer tipo de ação assistencial e que

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vivem abaixo da linha da miséria no país, de acordo com estimativas do Ministério do

Desenvolvimento Social (2013).

Dessa forma, pode-se perceber que os programas governamentais se propõem como políticas

públicas a atuarem como vetores para a inclusão e o desenvolvimento social, facilitando assim o

acesso das populações em risco aos serviços públicos.

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Com base na proposta do estudo em analisar o Programa de Universalização do Acesso e Uso

da Energia Elétrica como vetor de desenvolvimento local e de inclusão social e sua implantação

através de concessionárias de energia nos estados, questões importantes foram levantadas e

algumas lacunas ainda necessitam ser preenchidas.

Inicialmente foi analisada a estrutura geral da concessionária, sendo percebido que esta opera

principalmente na região metropolitana do estado e no interior, sendo sua área de concessão

envolvendo 66 municípios (Figura 4), o que faz com que amplia a necessidade de investimentos

em tecnologia e infraestrutura elétrica para poder atender seus clientes, mesmo aqueles que estão

nas áreas mais isoladas, além dos processos de expansão.

Dessa forma, escolha da concessionária para implementação do Programa no Estado do Rio

de Janeiro fica evidenciada face, principalmente, pela abrangência e cobertura no interior, decisão

esta, associada ao resultado dos estudos preliminares desenvolvidos para implantação do

Programa e ratificada posteriormente pelos resultados do Censo do IBGE (2010), sobre a exclusão

elétrica no Brasil.

Municípios da Área de Concessão da Empresa Ampla Municípios da Área de Concessão da Empresa Light Municípios das Áreas de Concessão Ampla S/A e Light S/A

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Figura 4: Municípios nas áreas de Concessão das empresas Ampla S/A e Light S/A

Fonte: AMPLA (2013)

Foi identificado que grande parte da população rural não tem acesso à energia elétrica em suas

casas e propriedades por não haver rede de distribuição, sendo este o principal fator de inibição do

desenvolvimento econômico e social nessas áreas e localidades e de forma complementar a esse

processo os serviços básicos como: saúde, saneamento e educação são precários e comprometidos.

Com base nos dados fornecidos pela concessionária, percebe-se investimentos voltados a

ampliação da infraestrutura elétrica como a aquisição de: postes, transformadores e em extensões

de rede, que em 2013 foram de 33.405,87 km em linhas de média tensão e 17.539,90 km em

linhas de baixa tensão objetivando garantir o atendimento dos clientes em sua área de concessão.

Dos 66 municípios da área de concessão da empresa, 25 municípios, o que equivale a quase

1/3 do total, não estão contemplados pelo Programa Luz para Todos através da empresa por não

terem atendido às condicionantes de acesso a Programas do Governo Federal e estarem inaptos a

receber o benefício, entretanto, podendo reverter esse quadro e serem beneficiados quando do

atendimento dos requisitos para habilitação ao programa.

Dentre os 41 municípios restantes na área de concessão e aptos a receberem o Programa,

todos já foram atendidos, restando assim os 25 citados anteriormente.

Outro ponto verificado indica que podem ainda existir áreas não contempladas pelo Projeto

inicial e sendo informado pela empresa não esta poderá atender face ao atual cronograma de

investimentos e comprometimento do orçamento com as atuais demandas e com potencial entrada

dos municípios ainda não contemplados.

Estando a meta de ligações e ampliação das redes vinculada à meta geral do Programa

Federal, foi informado que já foram efetuadas 18.284 ligações em novas unidades consumidores

beneficiadas pelo Programa, sendo verificado ainda que existem 1.795 novas unidades

consumidoras a serem contempladas, sendo prevista a conclusão para 12/2014 com base no atual

contrato firmado para o período 2012-2014.

A partir da questão envolvendo os benefícios gerados pelo Programa Luz para Todos para o

desenvolvimento local e a inclusão social, foram evidenciados os pontos de destaque nas áreas

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contempladas, a partir da análise dos Relatórios Socioeconômicos dos municípios (2013)

produzidos pelo TCE-RJ2, sendo estes: a permanência das famílias no campo reduzindo assim o

fluxo campo-cidade, melhora na qualidade de vida da população face à utilização da energia para

diversos fins, melhora na oferta de serviços de saúde e educação, o aumento da renda per capita

local pelo incremento das atividades econômicas e o acesso aos canais de comunicação e

informação, entre outros.

De acordo com o MDS, o Programa Luz para Todos também vem gerando novas

oportunidades de trabalho. Estima-se que até o momento, mais de 462 mil pessoas estão

empregadas através do Programa, na cadeia direta e no efeito renda, o que pode ser verificado

quando se analisa o perfil socioeconômico dos municípios contemplados a partir dos relatórios do

TCE-RJ.

Foi verificado ainda que as parcerias para o desenvolvimento do Programa envolvem a União,

Estados e Municípios, e ainda parcerias entre as concessionárias estaduais e Cooperativas de

Eletrificação Rural que se adequaram ao Programa, buscando-se assim os meios para atender de

forma mais ampla possível às áreas pré-definidas pelo Programa.

A partir da revisão desses dados, o Ministério de Minas e Energia e o Governo Federal

decidiram prorrogar o programa o prazo do programa para fins de 2015. A Tabela 2 abaixo

evidencia as metas do programa, bem como o alcance destas.

Programa Luz para Todos

Meta Proposta Período Proposto Meta Alcançada em

Atender há 10 milhões de pessoas Até 2008 2009

Atender há mais 2 milhões de pessoas Até 2010 2010

Atender há mais 2.750 milhões de pessoas Até 2015 Em curso

Tabela 2: Dados Comparativos referentes à Implantação do Programa. Fonte: Os autores.

Assim, com base nas revisões necessárias que o programa sofreu outro ponto a ser destacado

e evidenciado pelas prorrogações propostas é que houve falha e imprecisão na identificação das

demandas existentes e que levaram a prorrogações do Programa de forma a beneficiar assim

outras milhares de famílias que não haviam sido consideradas no diagnóstico inicial.

2 TCE-RJ – Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro

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6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

A análise do Programa Luz para Todos e dos instrumentos operacionais utilizados pela

concessionária Ampla para sua implantação no estado do Rio de Janeiro, permitiu estabelecer a

relação entre a base proposta geral do programa federal e a prática (a implantação do programa)

nas áreas urbana e rural dos municípios beneficiários no que se refere ao fomento ao

desenvolvimento local proposto.

Através dos dados fornecidos pela concessionária, foi possível verificar a correlação entre as

metas e objetivos propostos e os resultados alcançados, levando em conta o papel da energia

elétrica no processo de desenvolvimento e inclusão social.

Sendo a inclusão social um meio para integração entre indivíduo e sociedade, esta atua como

vetor de desenvolvimento humano, leva em conta as questões sociais como um todo, sendo

sustentada essencialmente por Políticas Públicas fomentadas no âmbito federal, Estadual e

Municipal.

Percebeu-se através dos resultados do estudo que, no âmbito estadual, a partir da

concessionária e suas metas, o programa tem sido implantado satisfatoriamente, tendo sido

identificado que as metas individuais da empresa vêm sendo alcançadas. No entanto ainda existem

áreas que dependem de projetos de eletrificação, que demandam estudos de redes e verbas

específicas, de acordo com o plano de expansão da empresa, e que levam tempo para serem

efetivados, sendo estas, falhas identificadas na implantação do programa – Áreas estão

identificadas, mas existem limitações técnicas, causando assim eventuais atrasos nos cronogramas

das obras e no programa de forma geral.

Também foi visto que a concessionária tem identificado demandas fora do que havia sido

definido inicialmente e encaminha estas aos órgãos responsáveis para que decisões sejam tomadas

no sentido de contemplar essas novas demandas.

Quanto ao Programa Luz para Todos, implementado desde 2003, foi percebido que o mesmo

foi prorrogado por 3 (três) vezes face à identificação de novas demandas e continua buscando

identificar novas as áreas que ainda estão sem acesso à energia elétrica, porém, as análises

realizadas até o momento para identificar tais áreas continuam em curso, evidenciando que o

modelo de identificação de áreas necessita ser revisto para se tornar mais eficiente.

As prorrogações foram decorrentes da não identificação adequada do número de domicílios

não atendidos pelo programa, o que evidencia falha no Projeto inicial, e coloca em dúvida a

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efetividade das intenções do Governo Federal juntamente com o Ministério de Minas e Energia

em acabar com a exclusão elétrica no país, principal objetivo do Programa.

Identificou-se que as falhas encontradas ocorrem pela não utilização adequada das

ferramentas de busca, comprometendo as tomadas de decisões dos coordenadores e executores do

Programa, influenciando diretamente nos resultados esperados.

Mesmo com as dificuldades identificadas e comparando as informações disponíveis no

âmbito do Governo Federal através do Ministério de Minas e Energia e da concessionária, pode-se

inferir que o Programa vem se mantendo ativo e já atendeu há mais de 14 milhões de pessoas,

ultrapassando o esperado nas metas iniciais, mas ainda com demandas por atender.

Identificou-se ainda que o Programa está cumprindo com seu objetivo inicial de levar energia

elétrica a toda população brasileira, e mesmo necessitando de ajustes e tendo sido identificadas

novas demandas, sua implantação tem produzido bons resultados com a geração de novas

oportunidades de trabalho, melhorando o acesso à renda e bens pelas famílias beneficiadas e

gerando aquecimento na economia dos municípios atendidos e potencializando seu

desenvolvimento.

Desta forma geral, o objetivo do Programa de levar energia elétrica à população, alavancando

o desenvolvimento local e agregando benefícios como meio de inclusão social está sendo mantido

e o programa, apesar dos ajustes necessários vem cumprindo seu papel para o desenvolvimento

local.

De forma complementar, as sugestões do estudo indicam para a necessidade de envolvimento

mais significativo da área acadêmica e de pesquisas para que se promovam os ajustes necessários

no programa, em especial nos levantamentos demográficos, socioeconômicos, definição do perfil

de clientes e mapeamento de áreas rurais e urbanas com carência no acesso a eletricidade.

Tais informações podem contribuir para um diagnóstico mais detalhado e certamente irá se

refletir nos orçamentos e nos cronogramas de execução dos projetos pelas concessionárias e

cooperativas de eletrificação, evitando atrasos nas obras e garantindo o melhor uso dos recursos

disponibilizados pelo Governo Federal.

Essas ações irão se refletir no aumento à credibilidade dos clientes e propiciando reflexos

sobre a redução das pressões ambientais, levando as áreas beneficiadas pelo programa ao

necessário alinhamento entre economia, sociedade e ambiente.

O programa teve como objetivo principal; viabilizar o acesso à energia elétrica à total

população do meio rural brasileiro e suas metas de concretização das obras era de atender cerca de

10 milhões de pessoas até o ano de 2008 e 12 milhões até 2010 e a concretização total das obras

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realizadas pelas concessionárias até 2015, visando atender a cerca de mais 2,5 milhões de famílias

brasileiras residentes na área rural, sendo a meta inicial estabelecida pelo programa alcançada em

2009.

Diante do exposto, constatou-se que o programa vem alcançando suas metas, porém a falha se

estabelece no levantamento da população ainda sem energia elétrica. O programa já foi prorrogado

três vezes devido à não identificação direta do total de cidadãos sem energia no país.

A primeira normativa estabelecia um total de atendimento a 10 milhões de pessoas até o ano

de 2008 como identificação inicial de demanda, porém devido a uma nova análise realizada pelo

MME constatou-se que ainda existiam brasileiros sem energia em suas residências, os quais não

estavam incluídos na primeira análise.

Essa condição ensejou uma 2ª análise pelo MME que prorrogou o prazo novamente para o

ano de 2010 acreditando que desta vez estaria encerrando as obras, levando assim energia elétrica

a toda população do meio rural brasileiro e em condição de exclusão elétrica.

Durante o desenvolvimento da prorrogação, uma terceira análise foi realizada pelo Censo

2010 do IBGE indicando que novas famílias sem energia elétrica foram identificadas e localizadas

nas Regiões Norte e Nordeste, em áreas classificadas como de extrema pobreza, ensejando nova

prorrogação, agora até 2015.

As dúvidas e incertezas do Programa giram em torno do período da nova prorrogação e da

meta estabelecida para esta nova fase, no qual os criadores e coordenadores do Programa alegam

ser a última.

Quanto à implantação do programa através de Concessionárias estaduais e parcerias destas

com cooperativas de eletrificação rural, o processo vem se desenvolvendo de forma adequada e as

metas sendo cumpridas, sendo entendimento de que para as concessionárias é um negócio e como

tal, pautado em uma relação contratual que estabelece as obrigações e relações entre partes.

Algumas dificuldades operacionais também foram identificadas em relação à capacidade de

cumprimento de prazos e finalização das obras pelas concessionárias, como por exemplo: a

atuação em locais que possuem áreas montanhosas, com bastante vegetação e também em Áreas

de Preservação Permanente e Ambiental, onde a instalação se torna mais complexa e podendo

demorar mais que o previsto em decorrência da necessidade de expedição de licenças ambientais.

Em alguns casos são necessários estudos ambientais e autorizações específicas dos órgãos

responsáveis, além de levantamentos e extensões de rede, que exigem tempo e a movimentação de

várias áreas da empresa, devido a necessitarem de uma verba específica e projetos de análises

locais para serem liberados.

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Este estudo não pretende esgotar as discussões sobre o tema, sendo assim uma proposta

inicial para fundamentar novas discussões e estudos a serem realizados em futuro próximo pelos

autores.

REFERÊNCIAS

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