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O que é o nacional-socialismo? O regime nazista não alterou o processo de produção, cuja matriz continuou nas mãos dos grupos que controlavam os meios de produção. Seu objetivo era abolir a distinção entre Estado e sociedade, transferindo as funções políticas aos que detinham o poder por Herbert Marcuse Hoje em dia, não é mais necessário rebater a falsa idéia de que o nacional-socialismo teria constituído uma revolução. Sabe-se hoje que esse movimento não transformou a organização fundamental do processo de produção, cuja matriz permaneceu nas mãos de grupos sociais específicos que controlam os meios de produção sem se preocuparem com as necessidades e interesses da sociedade em seu conjunto. [1] A atividade econômica do III Reich apóia-se nos grandes conglomerados industriais que, antes mesmo da ascensão de Hitler ao poder e aproveitando-se grandemente do apoio governamental, tinham reforçado sua posição. Conservaram esse papel-chave numa economia da guerra e de conquista. Após 1933, seus dirigentes se misturaram à nova elite recrutada ao mais alto nível do Partido Nacional-Socialista, mas não abandonaram suas importantes funções sociais e econômicas. [2] O nacional-socialismo também não é uma restauração social e política, ainda que tenha, em grande medida, reinstalado no poder forças e grupos de interesse que a República de Weimar tinha ameaçado ou contido: o exército tornou-se um Estado dentro do Estado, a autoridade do chefe de empresa foi submetida a diversas restrições e a classe operária passou por uma subordinação verdadeiramente totalitária. No entanto, estes fatores não significaram a restauração de velhas formas de dominação e de hierarquização. Os novos métodos de governo O Estado nacional-socialista, tal como se apresenta, tem poucos pontos em comum com a organização política do antigo Reich. O exército, tradicional terreno do feudalismo e do predomínio prussiano, foi reorganizado segundo princípios de recrutamento mais abertos, à medida que um conjunto de medidas pseudo-democráticas passa a reger as relações sociais. Patrões e empregados, reunidos no interior da Frente Alemã do Trabalho, participam lado a lado dos mesmos desfiles e manifestações e observam as mesmas regras de comportamento. Inúmeros privilégios e títulos honoríficos, vestígios da ordem feudal, foram abolidos. Além disso, e mais importante, a antiga burocracia e as mais altas instâncias da indústria e das finanças reconheceram o novo mestre e os novos métodos de governo. (...) Desenvolveremos aqui a idéia segundo a qual o Estado nacional-socialista se afastou de características essenciais do Estado moderno. Este regime tende a abolir qualquer distinção entre Estado e sociedade, transferindo as funções políticas aos grupos sociais que detêm efetivamente o poder. (...) O Estado como máquina O Estado moderno e este é o ponto que nos interessa aqui foi construído e organizado fora do campo das relações interpessoais, domínio considerado como não- político, segundo leis e modelos próprios. A vida privada, a família, a Igreja e grandes setores da vida econômica e cultural faziam parte deste domínio. (...) O Estado reconhecia que certos direitos sociais específicos preexistiam a ele, e sua intervenção só se justificava para preservá-los, promovê-los ou restaurá-los. (...) O nacional-

O Que é o Nacional Ótimo

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O que o nacional-socialismo? O regime nazista no alterou o processo de produo, cuja matriz continuou nas mos dos grupos quecontrolavamosmeiosdeproduo.SeuobjetivoeraaboliradistinoentreEstadoe sociedade, transferindo as funes polticas aos que detinham o poder por Herbert Marcuse Hojeemdia,nomaisnecessriorebaterafalsaidiadequeonacional-socialismo teriaconstitudoumarevoluo.Sabe-sehojequeessemovimentonotransformoua organizaofundamentaldoprocessodeproduo,cuja matrizpermaneceunas mos de grupos sociais especficos que controlam os meios de produo sem se preocuparem comasnecessidadeseinteressesdasociedadeemseuconjunto. [1]Aatividade econmicadoIIIReichapia-senosgrandesconglomeradosindustriaisque,antes mesmodaascensodeHitleraopodereaproveitando-segrandementedoapoio governamental,tinhamreforadosuaposio.Conservaramessepapel-chavenuma economiadaguerraedeconquista.Aps1933,seusdirigentessemisturaramnova elite recrutada ao mais alto nvel do Partido Nacional-Socialista, mas no abandonaram suas importantes funes sociais e econmicas. [2] O nacional-socialismo tambm no uma restaurao social e poltica, ainda que tenha, em grande medida, reinstalado no poderforas e grupos de interesse quea Repblica deWeimartinhaameaadooucontido:oexrcitotornou-seumEstadodentrodo Estado, a autoridade do chefe de empresa foi submetida a diversas restries e a classe operriapassouporumasubordinaoverdadeiramentetotalitria.Noentanto,estes fatoresnosignificaramarestauraodevelhasformasdedominaoede hierarquizao. Os novos mtodos de governo O Estado nacional-socialista, tal como se apresenta, tem poucos pontos em comum com a organizao poltica do antigo Reich. O exrcito, tradicional terreno do feudalismo e do predomnioprussiano,foireorganizadosegundoprincpiosderecrutamentomais abertos, medida que um conjunto de medidas pseudo-democrticas passa a reger as relaessociais.Patreseempregados,reunidosnointeriordaFrenteAlemdo Trabalho,participamladoaladodosmesmosdesfilesemanifestaeseobservamas mesmasregrasdecomportamento.Inmerosprivilgiosettuloshonorficos,vestgios da ordem feudal, foram abolidos. Alm disso, e mais importante, a antiga burocracia e as maisaltasinstnciasdaindstriaedasfinanasreconheceramonovomestreeos novos mtodos de governo. (...) Desenvolveremos aqui a idia segundo a qual o Estado nacional-socialista se afastou de caractersticasessenciaisdoEstadomoderno.Esteregimetendeaabolirqualquer distino entre Estado e sociedade, transferindo as funes polticas aos grupos sociais que detm efetivamente o poder. (...) O Estado como mquina OEstadomodernoeesteopontoquenosinteressaaquifoiconstrudoe organizadoforadocampodasrelaesinterpessoais,domnioconsideradocomono-poltico,segundoleisemodelosprprios.Avidaprivada,afamlia,aIgrejaegrandes setoresdavidaeconmicaeculturalfaziampartedestedomnio.(...)OEstado reconheciaquecertosdireitossociaisespecficospreexistiamaele,esuainterveno ssejustificavaparapreserv-los,promov-losourestaur-los.(...)Onacional-socialismo aboliu essa distino entre Estado e sociedade. (...) OEstadocomoumamquina.Essaconcepomaterialistarefletebemmelhora realidadenacional-socialistadoqueasteoriassobreacomunidaderacialousobreo Estado-guia. Essa mquina, que controla todas as dimenses da vida dos indivduos, amaisterrveldetodas,umavezquereconhecidamenteeficazeprecisa permanecetotalmenteimprevisvelecaprichosa.Ningumsabe,excetotalvezuns poucos "iniciados", quando e onde ela surgir. Ela parece operar somente em virtude de leis que lhe so prprias e se adapta com suavidade e diligncia mais leve mudana nacomposiodosgruposdirigentes.Todasasatividadeshumanassosubmetidas aos objetivos imperiosos de controle e de expanso. A "criana mimada" do nazismo Emboraonacional-socialismotenhapretendidoapresentaroEstadocomouma estruturadirigidapessoalmentepordeterminadosindivduostodo-poderosos,estes tambmsosubmetidosmecnicadoaparelhodeEstado.Narealidade,noso Himmler,nemGring,nemLey [3]queatacamecomandamefetivamente,esima Gestapo,aLuftwaffeeaFrentedeTrabalho.Asdiversasmquinasadministrativas formam um aparelho burocrtico que tanto serve aos interesses da indstria, quanto aos doexrcitoedopartido.Nodemaisrepetirqueopodersupremonoseconcentra numcertoindustrial,generaloulderpoltico,masexercidoatravsdosgrandes conglomeradosindustriais,doaparelhomilitaredafunopoltica.OEstadonacional-socialista,portanto,ogovernodetrshipstasesquesoospodereseconmico, social e poltico. Estes elementos concorrentes se encontram em torno de um objetivo comum preciso: a expansoimperialistaemescalaintercontinental.Paraatingiresseobjetivo,oregime exige a mxima explorao da fora de trabalho, a existncia de uma vasta reserva de mo-de-obraeaformaointelectualefsicanecessriaexploraodequaisquer novosrecursoshumanosenaturaisconquistados.entoquandoobom funcionamentodoaparelhoseapiaemfatoresessencialmentesubjetivosquea opressoterroristaencontraseuslimites.Umsistemasocialemplenaexpanso, fundadonamaioreficinciatecnolgicaeindustrialpossvel,spodeliberar,emnvel individual,ascompetnciasepulsesqueatornampossvel.Oserhumano,amais preciosafontedeenergiaedepoder,torna-seacrianamimadadoregimenacional-socialista. (...) O autoritarismo nacional-socialista Tudo isso sem falar da filosofia individualista da grande poca do liberalismo. Alis, pela importnciaconferidaaoindivduoenquantofonteprimeiradaforadetrabalho,o nacional-socialismotornouconcretascertastendnciasfundamentaisdasociedade individualista. Segundo o princpio de base dessa sociedade, cada um recebe segundo o seu papel na diviso social do trabalho e todos os atos devem ser motivados pela busca dointeressepessoal.Noentanto,ofatodesteprincpioterfeitocresceras desigualdadeseconmicaslevouogovernoliberaladisciplinarolivrejogodasforas econmicas. eve-seinsistirnofatodequeaorganizaonacional-socialistadavidapblicae econmicafundamentalmentediferentedaquelaqueconhecemosoupreconizamos nos pases democrticos. Enquanto nesses pases a interveno governamental tem por objetivo atenuar os efeitos negativos da concentrao de poder econmico, a disciplina nacional-socialistatendeasuprimiroucorrigirosmecanismosquepoderiamimpedi-la. [4] Oautoritarismo nacional-socialistaaboliu,em grande medida, inmeros vestgios dopassadoliberal,quetinhamporfunoimpediroexerccioimpiedosodopoder econmico.Eleseapianomercado,instituioatravsdaqual,demodocegoe anrquico,asociedadesedirigecomoumtodocontraosinteressesparticulares.Ele criticaodesperdcioeoatrasoprovocadosporuma competitividadedescontroladaea ineficinciadefbricaseoficinastecnicamenteinadaptadas.Elesubordinaa rentabilidade da empresa individual utilizao mxima do aparelho industrial, que deve gerar sempre mais lucros para os que o controlam. Individualismo competitivo No contexto desta convergncia de vises em torno do projeto de expanso imperialista, umatalsubordinaopoderiapassarporumtriunfodointeressegeralsobreos particulares.Noentanto,essasociedade,cujobem-estarsocialumdesafio,uma sociedadefundadanacontinuaodapobrezaedaopresso.Poderamoscomparar estesistemaaumgigantescocomplexomonopolistaque,conseguindocontrolara competio econmica internae dominando as massas trabalhadoras,prepara-se para conquistar o mercado mundial. O advento do III Reich o do mais eficiente e impiedoso dos concorrentes. O Estado nacional-socialista no o contrrio do individualismo competitivo, e sim o seu clmax.Liberaaspulsesbrutasdeinteressepessoalqueasdemocraciastentaram controlar e adaptar exigncia da liberdade. Indivduo e Estado de massas Comoqualquersociedadeindividualista,asociedadenacional-socialistafunda-sena propriedade privada dos meios de produo e organiza-se, conseqentemente, em torno de dois plos que formam, por um lado, o pequeno grupo dos que controlam o processo deproduo,eporoutro,agrandemaioriadapopulaoque,diretaouindiretamente, depende dele. Com o nacional-socialismo, o estatuto do indivduo enquanto maioria da populaoquesofreastransformaesmaisprofundas.Noentanto,mesmoa,essa evoluoconcretizamasnocontradizcertastendnciasdasociedade individualista. Nabasedapirmidesocial,oindivduofoiconsideravelmentereduzidoaonvelde simples elemento da "multido". O III Reich evidentemente um "Estado de massas", no qualasforaseinteressesparticularesfundem-senumamassahumanairracional habilmentemanipuladapeloregime. [5]Masessamassanounificadaporuma conscinciaouuminteressecomum.Osseresqueacompemnobuscam, individualmente,nadaalmdeseusinteressespessoaismaiselementares,eseu agrupamento s se torna possvel na medida em que esse interesse se confunde com o instinto bruto da conservao, idntico entre todos. A aglomerao dos indivduos numa multidoexacerbasuasingularidadeeseuisolamento,aoinvsdeosabolir,eseu nivelamentonofazsenoreproduziroroteirosegundooqualsuaindividualidadefoi anteriormente modelada. (...) A "gesto cientfica" do trabalho Omesmoprincpiodeeficinciaque,nosetordenegcios,conduziuaatividade industrial,proporcionandograndeslucrosaosconglomeradosmaispoderososleva tambmmobilizaogeraldetodasasforasdetrabalho(...).Narealidade,o exercciodaforadetrabalhoanicaliberdadeconcedidaaoindivduosituadona basedapirmidesocial.Obemmaispreciosodopovoasua"foradetrabalho,do qualdependemagrandezaeopoderdanao.Preserv-laefaz-lacrescero primeirodeverdomovimentonacional-socialistaeatarefa maisurgentedasempresas alems,cujasobrevivnciaeeficinciaseapiamaomesmotempononmeroeno nvel de qualificao dos trabalhadores". [6] Onacional-socialismoelaborouumsistemacomplexodeeducaomoral,intelectuale fsica cujo objetivo aumentar o rendimento do trabalho atravs dos mtodos e tcnicas cientficosmaiselaborados.Osalriodependedorendimentopessoaldo trabalhador. [7]Criam-seinstitutosdepsicologiaedetecnologiaparaestudaros mtodosmaisapropriadosindividualizaodotrabalhoemoposioaosefeitos nefastosdamecanizao.Fbricas,escolas,camposdetreinamento,estdios, instituies culturais e de lazer transformam-se em laboratrios de "gesto cientfica" do trabalho. Segurana, em lugar de liberdade A mobilizao total derruba a ltima muralha que o protegia da sociedade e do Estado: elaviolaodomnioprivadodoseulazer.Duranteoperodoliberal,oindivduose diferenciavadasociedadepeladistinoestabelecidaentreseutrabalhoeseulazer. Sobonacional-socialismo,estaseparaocomoaquelaqueexistiaentrea sociedadeeoEstadoabolida.(...)Arregimentandotambmolazer,onacional-socialismoatingealtimamuralhaprotetoradosaspectosprogressistasdo individualismo. (...) A mobilizao geral da fora de trabalho da fora de trabalho no teria sido possvel sem queoindivduorecebesseumacompensaopelaperdadesuaindependncia.O nacional-socialismo oferece duas: uma nova segurana econmica e um novo privilgio. OfatodequeaeconomiaimperialistadoIIIReichtenhagarantidooplenoemprego, oferecendo ao mesmo tempo uma segurana econmica elementara seus cidados, de uma importncia crucial. A liberdade da qual gozava o indivduo ao longo do perodo pr-fascistaera,paraamaioriadosalemes,contrabalanadaporumainsegurana permanente.Desde1923,avontadeconscientedeinstauraruma sociedaderealmente democrticatinhadadolugaraumaatmosferapenetrantederesignaoedesespero. No de espantar, pois, que a liberdade tenha pesado to pouco diante de um sistema queofereciaplenaseguranaacadamembrodafamliaalem.Onacional-socialismo transforma o sujeito livre em sujeito economicamente estvel; a realidade da segurana econmica eclipsa o perigoso ideal da liberdade. O dever do sacrifcio Essasegurana,porm,aprisionaoindivduoaoaparelhomaisopressivoquea sociedademodernajconheceu.claroqueoterrorabertosatingeosinimigos,os "estrangeiros"eosquenopodemounoqueremcooperar.Masoterrorsurdoda vigilncia e da mobilizao geral, da guerra e da penria, atinge todo o mundo. O regime nopodegarantirumaseguranaeconmicaquesepossatornarofermentoda liberdade.Nopodemelhoraronveldevidaapontodoindivduoencontrar,porsi prprio, as vias de manifestao de suas faculdades e satisfao de seus desejos. Uma talemancipaoseriaincompatvelcomadominaosocialexigidapelaeconomia imperialista. Aretricanacional-socialistaemtornododeverdosacrifcioultrapassaasimples ideologia.Nosetratadeummeroprincpiopropagandista,esimdeumprincpio econmico.Asegurananacional-socialistaestassociadapenriaeopresso.A seguranaeconmica,sequesepodeconsider-laumacompensao,deveser acompanhadaporumaformaqualquerdeliberdadequeonacional-socialismoprocura fornecer levantando alguns tabus sociais fundamentais. (...) Diverses na priso O regime nacional-socialista revelou sua frustrao aos que o sustentam (...). Eles foram sacudidos, trados e frustrados em seus desejos e aptides, mas so hoje os senhores e podem fazer o que seus antigos senhores raramente ousaram fazer. Ernest R. Pope cita uma passagem esclarecedora do programa oficial da famosa "Noite das Amazonas": "O queeraanteriormenteestritamentereservadoeapresentado,longedosolhares,a algunsiniciadoscuidadosamenteescolhidos,seofereceatodosnestegrandediana magianoturnadoParquedeNymphenburg,(...),nosadornosminimalistasdasMusas, na liberdade nua de corpos maravilhosos. (...) Os que exultam, levados pelo entusiasmo alegredeumespetculodequeparticipamecontemplam,soosjovensalemesde 1939...". [8] Esse o espetculo que se oferece a quem for autorizado a divertir-se em sua priso, a seliberarnosjardinsdeseusantigosreis,aparticiparecontemplarmaravilhasantes proibidas.Ocharme,abelezaealicenciosidadedosfaustosnacional-socialistas carregam, em si prprios, os traos da submisso e da opresso. As belas jovens nuas easpaisagenscoloridasporartistasnazistasrespondemperfeitamenteaoclassicismo dos espaos de reunio, das fbricas, das m?