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_____________________________ “Quem recebe vocês, recebe a mim; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou” (Mt 10, 40). Todos nós sentimo-nos bem quando somos bem recebidos. Como é importante acolher bem as pessoas! A prática da vida do dia-a-dia, no entanto, nos mostra que nem sempre isso acontece: ou porque as pessoas são importunas, senão até agressivas, ou porque estamos muito atarefados, ou porque nosso astral não está bom. É por demais sabido que não poucos católicos bandeiam para outras igrejas ou seitas só porque lá se sentem bem acolhidos. Em nossas igrejas ou comunidades falta, com freqüência, a preocupação de tratamento personalizado. A razão principal, no entanto, para acolhermos bem a todos é o fato de sermos todos irmãos, filhos do Pai que está nos céus.

O que é pastoral da acolhida

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Page 1: O que é pastoral da acolhida

_____________________________

“Quem recebe vocês, recebe a mim; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou” (Mt 10, 40).

Todos nós sentimo-nos bem quando somos bem recebidos. Como é importante acolher bem as

pessoas! A prática da vida do dia-a-dia, no entanto, nos mostra que nem sempre isso acontece: ou

porque as pessoas são importunas, senão até agressivas, ou porque estamos muito atarefados, ou

porque nosso astral não está bom.

É por demais sabido que não poucos católicos bandeiam para outras igrejas ou seitas só porque lá se

sentem bem acolhidos. Em nossas igrejas ou comunidades falta, com freqüência, a preocupação de

tratamento personalizado.

A razão principal, no entanto, para acolhermos bem a todos é o fato de sermos todos irmãos, filhos

do Pai que está nos céus.

Rogério GomesPASCOM SJO

Page 2: O que é pastoral da acolhida

I - O QUE É MINISTÉRIO DA ACOLHIDA?

O Ministério da Acolhida é um serviço da Igreja que se destina a “receber bem” e “ir ao encontro”

das pessoas, com o objetivo de integrá-las na celebração, na comunidade, na paróquia ou na

diocese, para que sejam membros vivos e atuantes do povo de Deus, através de uma vivência de

comunhão e participação, em vista da missão.

Ao falarmos de “Ministério da Acolhida” queremos dizer que, quando se assume o serviço de

acolher as pessoas, isso deve ser feito de forma constante e partilhada e a sua realização fica

confiada a um grupo que tem a incumbência de gerenciar esse atendimento comunitário. Na

comunidade cristã todos são acolhedores, mas a algumas pessoas cabe coordenar e exercer esse

ministério de modo exemplar e significativo.

O Ministério da Acolhida não se resume a um grupo de pessoas que fica à porta da Igreja

entregando folhetos e/ou dizendo “Bom dia”. Talvez se possa começar com esses pequenos gestos.

Mas depois a acolhida deve deitar suas raízes em todas as pastorais e setores da comunidade onde é

requerida a sua presença.

O Ministério da Acolhida é um verdadeiro “Ide”, para marcar presença ali onde a vida merece

cuidados especiais. O Ministério da Acolhida deve contar com um grupo de pessoas que comecem a

repensar a sua vida cristã e a vida de toda a comunidade, no sentido de fazer a hospitalidade e o

acolhimento acontecerem em suas vidas.

II – FUNDAMENTAÇÃO BÍBLICA

Aprender com Jesus é o método melhor e mais eficaz para a ação pastoral e para um acolhimento

mais amadurecido e sem falsas ilusões.

Um primeiro dado desse gesto encontramos no acolhimento de Jesus ao centurião de Cafarnaum

(Mt 8,5-13). Foi um fato inusitado que impressionou Jesus. O centurião suplica por um dos seus

servos, e ao perceber a atenção de Jesus e sua decisão em ir a sua casa, ele faz aquela confissão que

todos conhecemos: “Senhor, eu não sou digno de que entres em minha casa; dize uma só palavra e

meu servo será curado” (v.8). Foi uma troca de acolhida, uma reciprocidade de impressionante

beleza. Gestos alternados: de quem acolhe e de quem foi acolhido e se sente infinitamente satisfeito.

Duas atitudes que se completaram.

Mas vamos recorrer a Escritura Sagrada buscando o sentido mais amplo e profundo da acolhida,

especialmente nos gestos bíblicos de: “visita”, “hospitalidade” e “acolhida”.

1. Visita: Na Palavra de Deus, encontramos muitas vezes a prática e o sentido de visita.

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Deus visita seu povo: “Quando vejo teus céus, obra de teus dedos, a lua e as estrelas que fixaste,

quem é o homem, para que nele penses (para que o visites) e o ser humano, para que dele te

ocupes?” (Sl 8, 4-5). “Visitaste a terra e a regaste; tu a cumulas de riquezas” (Sl 65, 10 s). O cântico

sálmico e profético de Zacarias lembra a visita de Deus: “Bendito seja o Senhor, Deus de Israel,

porque visitou o seu povo e realizou a libertação” (Lc l, 68s).

Quando Jesus se refere à visita aos enfermos, nos diz que os mesmos devem ser acolhidos como a

ele (Mt, 25, 36s).

2. Hospitalidade: A hospitalidade é uma virtude importante no mundo nômade (Gn 18, 1-8; 19, 1-

8; Jz 19, 9-34), um verdadeiro mandamento (Dt 10, 18s; Is 58, 7; Mt 10, 40-42).

Um dos mais belos textos encontramos na acolhida de Abraão, com sua solicitude em atender os

hóspedes (Gn 18, 3-8). Aí põe-se em realce o valor da hospitalidade, tão apreciada no oriente e

recomendada por Cristo.

Jesus também foi acolhido e rejeitado. Cristo experimentou a hospitalidade humana na casa de

Simão (Lc 4, 38), em Caná (Jo 2, 2), na casa de Zaqueu (Lc19, 1-10), na casa de Lázaro, Marta e

Maria (Jo12, 2-3), na casa de Simão (Mt 26, 6-7), na casa dos discípulos de Emaús (Lc 24, 29-30).

Foi também rejeitado pelo seu povo (Jo1, 11), pelos habitantes de Belém (Lc 2, 7), pelos seus

conterrâneos (Lc 4, 16-29; Mt. 13, 57s) e pelos samaritanos (Lc.9, 53-56).

A hospitalidade é um gesto de caridade cristã (Rm 12, 13; 1 Tm 3, 2; Tt 1, 8; 1 Pd 4, 9; 3 Jo 5-8). O

Ministério da Acolhida encontra seu fundamento em Mt 25, 35ss e Rm 12, 13, onde se convida a

hospedar nossos irmãos e irmãs em nossas próprias vidas.

A hospitalidade não tem cor nem religião. “Não vos esqueçais da hospitalidade pela qual alguns,

sem saber, hospedaram os anjos” (Hb 13, 2). E São Pedro nos aconselha a “exercer a hospitalidade

uns com os outros sem murmuração” (1Pd 4, 9).

O gesto hospitaleiro ainda se faz ver na comunidade dos pobres. São muito ilustrativos certos

encontros de comunidades, onde os pobres hospedam os participantes vindos de lugares distantes.

As pessoas são hospedadas em casas de famílias das comunidades.

Francisco de Assis recomenda com muita insistência a hospitalidade, afirmando que ela é uma

“graça do Senhor”.

3. Acolhida: A Bíblia traz dezenas de informações sobre essa atitude, tão cheia de sentido teológico

e pastoral.

Page 4: O que é pastoral da acolhida

Uma primeira passagem poderá ser a de Isaías 58, 1-12. O que conta para Deus não são os ritos ou

atitudes externas, mas a atitude interna e especialmente o espírito-social comunitário: soltar os

presos inocentes, dar de comer aos famintos, acolher os desabrigados e migrantes, vestir os nus.

Quem procede assim, pode contar com o auxílio de Deus, e suas desventuras se converterão em

felicidade. “O temor do Senhor é o princípio do bom acolhimento e a sabedoria consegue o seu

amor” (Eclo 1918).

O salmo 23 (22) tem essa característica e exprime a experiência pessoal de segurança e acolhimento

na relação com Deus. A imagem do Pastor solícito pelo sustento e pela proteção do rebanho, e a do

anfitrião generoso no acolhimento do hóspede, encontram sua explicação no relacionamento de

Deus com os seres humanos e tem sua realização na liturgia, que celebra a solicitude do Bom Pastor

para com os fiéis e a participação do Banquete Sagrado.

Na vida de Jesus encontramos a má acolhida em Samaria (Lc 9, 51-53). Esse texto nos orienta para

entendermos que muitas vezes também não seremos bem recebidos.

Na Parábola do Semeador (Mt 13, 1-9) vemos as várias sementes que foram lançadas e os terrenos

incapazes de acolhê-las e de produzirem frutos à altura da qualidade dos dons (sementes) recebidos.

Uma pessoa que soube acolher com muita expressão, vida e opção essa Palavra foi Maria de

Nazaré. Lucas 1, 26-38 narra o anúncio do nascimento de Jesus. Por causa de sua acolhida à Palavra

de Deus, Maria se tornou a Mãe do Salvador. Tornou-se mãe porque acolheu a Palavra. A Palavra

sempre está aberta a todos e é um caminho plural oferecido a todos.

Não há como querer ser cristão de braços cruzados e inativos. Há necessidade de se agir de forma a

não desprezar ninguém. Exemplo dessa atitude é o encontro de Jesus com Zaqueu (Lc 19, 1-10). A

acolhida que Zaqueu proporciona a Jesus não é apenas formal: envolve toda a sua pessoa.

Converter-se não significa só chegar a uma confissão oral dos primeiros erros, mas requer uma

retratação efetiva dos mesmos. Zaqueu faz a sua confissão a Jesus, que agora se torna o seu

“Senhor” no lugar de todos os “senhores” aos quais tinha servido.

III – FUNDAMENTAÇÃO PASTORAL

Precisamos rever nossas atitudes em relação à acolhida das pessoas nas celebrações e na secretaria

paroquial, bem como na acolhida de novos moradores da comunidade. Trata-se de rever a pastoral

como um todo. Para ter qualidade no atendimento, um Ministério não deve dispensar uma

excelente acolhida aos fiéis.

Page 5: O que é pastoral da acolhida

1. Motivações: O Projeto Rumo ao Novo Milênio insistia sobre a necessidade e o sentido de “rever

nossas atitudes” (CNBB, Doc. 56, 20s). O questionamento que o Papa fez a respeito da consciência

cristã na passagem de milênio, vai no sentido de questionarmos nossas atitudes e nos perguntar: Por

que uma parte tão grande da humanidade está longe de Cristo e, mais ainda, das comunidades

cristãs?

Também somos questionados quando olhamos nossas comunidades e vemos a quantidade de

pessoas que freqüentam nossas celebrações. É muito provável que nem dez por cento dos católicos

estão indo à missa nos finais de semana. Esse fato deve fazer-nos refletir.

O Papa não hesita em admitir, olhando especialmente para o segundo milênio cristão, que erros e

pecados dos cristãos têm dificultado o anúncio do Evangelho e sua difusão. Ele confessa que os

filhos da Igreja “se afastaram do espírito de Cristo (...) oferecendo ao mundo (...) o espetáculo de

modos de pensar e agir que eram verdadeiras formas de antitestemunho e de escândalo” (Advento

do Terceiro Milênio, 33).

2. Atualidade do Ministério da Acolhida: Alguns elementos próprios da fé cristã e/ou presentes

na cultura moderna nos levam a perceber a atualidade desse ministério: a) o valor de cada pessoa

em sua subjetividade e individualidade; b) o respeito cristão à dignidade da pessoa humana; c) a

presença de Jesus Cristo e do Espírito Santo em cada irmão/ã (Mt 25, 40 e 1Cor 6, 19); d) o respeito

à liberdade e à consciência individual; e) o sentido da Igreja não mais como instituição, muito

menos como empresa, mas como grande família de Deus, Povo santo de Deus, comunhão e

participação; f) a visão da paróquia não mais como divisão territorial ou estrutura, mas como

pequena família de Deus, comunidade de fiéis, comunidade eucarística, com identidade teológica

própria (DBAEIB 279); g) o entendimento do batismo como sacramento da cidadania cristã, pelo

qual todos são iguais diante de Deus, com direitos e deveres.

3. Algumas constatações: Há muitos males na vida da Igreja e das pessoas, que são exemplo de

como a ausência de acolhida é perigosa para todos: a) divisões entre os cristãos; b) divisão entre os

agentes de pastoral; c) escândalos nas formas de fazer a pastoral acontecer na base; d) dificuldade

em manter os fiéis na Igreja; d) missas mal preparadas, com precária participação dos fiéis e liturgia

distante do povo; e) celebrações sem acolhida; f) Igreja fria, onde cada um “fica na sua”.

O Papa, por sua vez, na carta de preparação para o terceiro milênio, elenca algumas dificuldades

que são universais, a saber: a) indiferença religiosa; b) perda do sentido de transcendência; c)

extravios no campo ético; d) graves injustiças e formas de marginalização social (Advento do

Terceiro Milênio, 36). O Papa, então, citando o Concílio Vaticano II, pergunta se os cristãos não

Page 6: O que é pastoral da acolhida

teriam contribuído para o alastramento desses fenômenos, pelas deficiências de sua vida religiosa,

moral e social (cf. GS 19).

Nesse caminhar, o Ministério da Acolhida quer fazer-nos refletir e buscar novas alternativas, no

sentido de congregar em Cristo o povo de Deus, evitando que ele se disperse.

Ademais, vivemos num mundo que propõe a necessidade do “serviço personalizado” e que se afana

na busca da “qualidade total”. Com certeza, uma pastoral de acolhida bem articulada será elemento

fundamental para uma ação evangelizadora com “qualidade total”.

Muito bem nos recorda a CNBB: “Hoje a religião é mais acolhida do que herdada. O espaço que a

Igreja pode ocupar na vida das pessoas depende da qualidade do acolhimento e do testemunho, e

não mais do prestígio da instituição” (CNBB, Estudos 73, nn. 25 e 28). “A pessoa precisa ser

acolhida na Comunidade com abertura e sensibilidade para os diversos aspectos e dimensões de sua

identidade e existência”. (CNBB, Documento 45, n. 80).

4. A Pastoral Urbana: Com relação à Pastoral Urbana: “A cidade pode ser uma fábrica de

frustrações e de sofrimentos para aqueles que ficam à margem do que ela tem para oferecer. Há

muita gente perdida, sem espaço, exposta ao anonimato solitário de um ambiente onde cada um

cuida de si. Catadores de lixo, mendigos, desempregados, prostitutas, meninos e meninas de rua,

migrantes sem teto são alguns dos “sobrantes” que a cidade exibe sem conseguir integrar” (CNBB,

Estudos 75, n. 38).

Há campo de sobra para o Ministro da Acolhida e para os demais ministérios e pastorais, para

construir o Reino de Deus.

No mundo urbano em que vivemos, parece que todas as relações humanas são muito “desumanas”,

estão “contaminadas”, pois estão fortemente marcadas por um sentido “comercial” fundamentado

no “interesse”: te dou isto e tu me dás aquilo.

As empresas gastam fortunas para capacitar seus funcionários a fim de que sejam o máximo

eficientes em tratar bem seus clientes de modo a “vender mais” e “ganhar mais”

5. A resposta da Igreja: Diante dessa realidade, é de suma importância o modo como fazemos

pastoral. Faz-se necessário um objetivo “diferente” no relacionamento humano. Este objetivo deve

ser baseado na “gratuidade” que nasce do exemplo e do mandamento do Senhor.

Page 7: O que é pastoral da acolhida

Uma forma gratuita e fraterna de acolher as pessoas é, sem dúvida, um forte testemunho

evangélico. Se é importante o conteúdo da evangelização, não menos importante será o “modo”

como evangelizamos. Aliás, o conteúdo pode ser aceito ou não, dependendo da forma como o

apresentamos. “Mais que palavras, o homem de hoje quer testemunhos” dizia Paulo VI.

É neste marco que se enquadra a Pastoral da Acolhida na Igreja, e que justifica o Ministério da

Acolhida em nossas comunidades. Além do mais, sabemos quanto o povo brasileiro é sensível às

atitudes de acolhimento ou de rejeição!

6. Diretrizes da Igreja: Os documentos da Igreja mencionam a Pastoral da Acolhida como: a)

“genérica” – para que a Paróquia possa “renovar sua capacidade de acolhida e seu dinamismo

missionário com os fiéis marginalizados” (Documento de Santo Domingo, 60); b) “específica” –

indicando que a Igreja precisa “programar uma pastoral ambiental e funcional, diferenciada

segundo os espaços da cidade. Uma pastoral de acolhida dado o fenômeno das migrações”

(Documento de Santo Domingo, 260).

As Diretrizes da Igreja no Brasil (1995-1998) recordam: “Importância especial seja dada ao

acolhimento às pessoas. Para isso algumas medidas podem ser postas em prática: ‘ministério da

acolhida’, visitas às famílias que chegam; visitas domiciliares nos momentos marcantes pela alegria

ou pela tristeza; postura acolhedora, alegre e disponível, por parte do presbítero e demais agentes de

pastoral” (n. 266).

Na mesma direção a CNBB, no documento sobre a “Missão e ministérios dos cristãos leigos e

leigas”, nos fala: “A grande mobilidade de pessoas e famílias e, por outro lado, a solidão e o

isolamento de que sofrem muitas pessoas no meio urbano tem incentivado recentemente as

comunidades a criar e valorizar o Ministério da acolhida, que visa a receber pessoas novas na

comunidade ou a oferecer oportunidades de escuta e de aconselhamento para as pessoas que se

sentem sozinhas ou desorientadas”.

O Documento de Santo Domingo nos recorda também a necessidade de acolhida às pessoas que

estão de férias (n. 260).

Além do mais, sabemos que acolher é também estar ao lado daqueles que irão partir em busca de

melhores condições de vida: “Este é um momento de envio à missão. Deixar sua terra é sempre uma

decisão difícil e incerta e deve envolver o carinho e o compromisso da comunidade para os que

partem.” (SPM-Pastoral dos Migrantes, p. 25).

Page 8: O que é pastoral da acolhida

IV – ESPIRITUALIDADE DOS MINISTROS DA ACOLHIDA

1. Uma Espiritualidade da Comunhão: Para o Ministro da Acolhida, vale de modo especial o que

o Papa diz sobre a necessidade de uma espiritualidade de comunhão, a fim de que a Igreja seja

verdadeiramente evangelizadora no novo milênio. Em sua Carta Apostólica sobre o início do novo

milênio, diz o Papa:

“Fazer da Igreja a casa e a escola da comunhão: eis o grande desafio que nos espera no milênio que

começa, se quisermos ser fiéis aos desígnios de Deus e corresponder às expectativas mais profundas

do mundo. Que isso significa em concreto? Também aqui nosso pensamento poderia fixar-se

imediatamente na ação, mas seria errado deixar-se levar por tal impulso. Antes de programar

iniciativas concretas, é preciso promover uma espiritualidade de comunhão, elevando ao nível de

princípio educativo em todos os lugares onde se plasma o homem e o cristão, onde se educam os

ministros do altar, os consagrados, os agentes pastorais, onde se constroem as famílias e as

comunidades. Espiritualidade de comunhão significa, em primeiro lugar, ter o olhar do coração

voltado para o ministério da Trindade, que habita em nós e cuja luz deve ser percebida também no

rosto dos irmãos que estão em nosso redor. Espiritualidade de comunhão significa também a

capacidade de sentir o irmão de fé na unidade profunda do Corpo místico, isto é, como “um que faz

parte de mim”, para saber partilhar suas alegrias e seus sofrimentos, para intuir seus anseios, e dar

remédios às suas necessidades, para oferecer-lhe uma verdadeira e profunda amizade.

Espiritualidade da comunhão e ainda a capacidade de ver, acima de tudo, o que há de positivo no

outro, para acolhê-lo e valorizá-lo como dom de Deus: “um dom para mim”, como o é para o irmão

que diretamente o recebeu. Por fim, espiritualidade da comunhão é saber “criar espaço” para o

irmão, carregando “os fardos uns dos outros” (Gl 6,2) e rejeitando as tentações egoístas que sempre

nos insidiam e geram competição, arrivismo, suspeitas, ciúme. Sem ilusões! Sem essa caminhada

espiritual, de pouco servirão os instrumentos exteriores de comunhão. Revelar-se-iam mais como

estruturas sem alma, máscaras de comunhão, que como vias para sua expressão e crescimento” (O

início do novo milênio, n. 43).

2. Gestos evangélicos de acolhida: A espiritualidade do Ministro da Acolhida tem sua marca na

prática concreta da acolhida, a exemplo de Jesus e dos demais personagens bíblicos. Sua

espiritualidade nasce da ação e fortalece a própria ação.

Por isso, o Ministro da Acolhida deve: amar como Deus nos ama; ser e agir como se fosse hoje o

próprio Jesus; alimentar-se do Pão da Palavra e da Eucaristia; reconhecer-se como servidor do Povo

de Deus e, portanto, como construtor do Reino de Deus; dar razões e testemunho da própria

Page 9: O que é pastoral da acolhida

esperança e da própria fé; manifestar vibração pela pessoa de Jesus, pela causa do Reino e pela vida

da Igreja; ter profunda caridade apostólica, feita de atenção, ternura, compaixão e disponibilidade

para com os irmãos e irmãs; ter tolerância e respeito pelas idéias diferentes das outras pessoas;

alegrar-se com quem se alegra, sofrer com quem sofre; amar os pobres como os preferidos de Deus;

valorizar as pessoas em sua individualidade (nome, necessidades, situação...); ser cordial e

hospitaleiro; não fazer distinção de pessoas (Tg 2, 1-4), pois todos somos iguais e irmãos em Cristo

(Gal 3, 28); receber cada irmão e irmã como se recebesse o próprio Jesus (Mt 25, 35); acolher as

pessoas como se fosse o próprio Jesus que estivesse acolhendo alguém (Mc 1, 29-34; Lc 19; 1-10;

18, 15-17; 24, 13-35; Jo 4; Rm 15, 7); seguir o exemplo da Virgem Maria, que acolheu em si a

palavra do próprio Deus (Lc 1, 38); imitar as irmãs Marta e Maria, que receberam Jesus em sua casa

(Lc 10, 38-39); ir em busca da ovelha desgarrada, da moeda perdida e do filho pródigo (Lc 15, 1-

32).

3. Testemunhos de Ministros da Acolhida: Os próprios Ministros da Acolhida sentem

necessidade de espiritualidade e assim se manifestam:

“Nós, os Ministros da Acolhida, precisamos cultivar uma espiritualidade muito forte para exercer

bem o nosso ministério. Por isso precisamos iluminar a nossa vida com a Palavra de Deus, buscar

em Jesus o exemplo inspirador e deixar-nos guiar pelo Espírito Santo, sempre em comunhão com a

Igreja”.

“Quando acolhemos alguém, estamos vivendo nossa fé que nos leva a ver um irmão naquele que

acolhemos e a ver Jesus que vem nele”.

“Além disso, sabemos que o nosso coração tem muita força nesse assunto de acolhida pois acolher

- é receber as pessoas com um movimento afetivo para com elas – a fim de fazer que possam

sentir-se bem na comunidade”.

“Para nós é importante saber também que, como Ministros da Acolhida, temos a missão de

perpetuar o Pentecostes nos tempos de hoje pois, agindo sob o impulso do Espírito Santo, nos

dedicamos a formar de todos os povos, raças e culturas a grande comunhão em Cristo”.

“Somos bem conscientes que Deus renova as nossas comunidades através das pessoas que

acolhemos e integramos num clima de comunhão e participação. Cada nova pessoa ou família bem

acolhida torna-se uma nova “pedra viva” para a construção do Reino de Deus conforme nos fala o

Apóstolo Pedro em (1Pd.2, 4-10): “Vós sois uma raça escolhida, um sacerdócio régio, uma nação

santa, um povo adquirido por Deus”.

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V- ORIENTAÇÕES GERAIS PARA A PRÁTICA DESTE MINISTÉRIO

1. Atribuições e requisitos: As atribuições e requisitos propostos pela Escola de Ministérios EMAR,

para os Ministros da Acolhida, nos levam para a prática do Ministério:

1 - “Integrar a Equipe de Liturgia da comunidade, preparando em conjunto as celebrações, com a

responsabilidade específica de acolher as pessoas e favorecer um clima de bem-estar nas

celebrações”.

2 – Estar atento para descobrir, acolher e integrar na comunidade os novos moradores e os

visitantes.

3 – Estar atento às despedidas de paroquianos que forem morar em outra paróquia/cidade.

4 – Promover na comunidade um clima familiar de acolhida.

5 – Formar na comunidade a Equipe de Pastoral da Acolhida.

6 – Ter espírito ecumênico e de “diálogo religioso”.

2. Características do Ministro da Acolhida: A esta altura, já se deve ter percebido a diferença

entre o “recepcionista” e o Ministro da Acolhida. O primeiro pode até cumprir uma função, o

segundo deve exercer uma missão, uma vocação de caráter permanente e necessário para a

comunidade.

Nesse sentido, são importantes algumas características do Ministro da Acolhida:

O Ministro da Acolhida cultiva uma maneira criativa de acolher.

O Ministro da Acolhida é uma presença atenciosa e disponível, seja numa reunião ou

celebração, seja no dia-a-dia da vida da comunidade.

O Ministro da Acolhida não espera, mas vai ao encontro das pessoas.

O Ministro da Acolhida exerce uma tarefa de caráter profético: seja para evitar e/ou

contornar situações incômodas, seja para favorecer às pessoas um “clima familiar de

acolhida” agradável de se viver.

O Ministro da Acolhida não pode atuar sozinho e isolado. Ele precisa organizar a Equipe de

Pastoral de Acolhida, em sua comunidade.

Page 11: O que é pastoral da acolhida

3. A necessidade de uma Equipe de Acolhida: A Equipe necessita ter qualidade no atendimento

às pessoas. Todo esse trabalho requer sensibilidade no trato com o ser-Igreja. Podemos destacar

quatro aspectos nessa organização da Equipe de acolhedores, como:

Elaborar um Plano de Ação para a comunidade paroquial.

Promover a formação de agentes (equipes).

Preparar e adquirir subsídios para a formação do grupo.

Formar equipes, aproveitando aquelas pessoas que tem vocação para este trabalho

específico.

4. Sintonia pastoral: Uma vez que a boa acolhida é requisito essencial de qualquer pastoral

eficiente, o Ministro da Acolhida precisa atuar junto a todas as pastorais e em sintonia com os

demais ministérios para impregnar todas as lideranças da comunidade do espírito de acolhida.

Acolher é uma questão de espiritualidade cristã. Somos todos peregrinos nesta terra (cf. Hb 11,13;

13,14). É a partir disso que nos colocamos a serviço. O acolhimento é um trabalho interminável.

Aqui aparecem os grande desafios para a Pastoral da Acolhida. É preciso começar sempre. As

pessoas que participam dessa modalidade de atendimento devem ter sensibilidade e persistência.

Cada caso é sempre um caso diferente.

A Pastoral da Acolhida é o primeiro passo da evangelização. Diz o Catecismo da Igreja Católica:

“A preparação do homem para acolher a graça já é obra da graça” (n. 2001). Entendemos que a boa

acolhida das pessoas lhes facilita o encontro com Deus e com as demais pessoas.

VI – PRÁTICAS CONCRETAS DO MINISTÉRIO DA ACOLHIDA

1. Nas celebrações, encontros e reuniões: Lugar por excelência para o exercício do Ministério da

Acolhida são os momentos em que o povo de Deus se reúne, para celebrar, estudar, programar e

avaliar a caminhada pastoral, etc. Ao Ministro da Acolhida cabe:

A) Convite: Ir ao encontro dos irmãos e irmãs com um convite verbal ou por escrito; se possível

telefonar.

B) Acolhida fraterna na entrada: na porta da casa, da igreja, do templo, da sala de reunião...

C) Lugares adequados: Pôr as crianças, idosos, pessoas com crianças ao colo, de preferência na

beirada do banco. Estar atento para a entrada de pedintes, dar-lhes atenção especial, mas com calma

e firmeza, dizendo-lhes que todos são bem vindos, mas que a celebração ou reunião não pode ser

Page 12: O que é pastoral da acolhida

tumultuada. Prover meios adequados para atender a alguém que tenha um ataque epilético ou que

desmaie.

D) Instalações sanitárias: Devem estar limpas e bem indicadas.

E) Água e copos: Provê-los, para o caso de alguém precisar.

F) Local próprio para crianças: Onde for possível, prever lugar apropriado, onde possam receber

atenção especial, durante as celebrações e encontros (assim os pais poderão vir com mais freqüência

e participar ativamente).

G) Atenção ao local da celebração e encontro: Cuidar que as janelas sejam ventiladas

adequadamente: nem frio, nem calor; de acordo com a época. Preparar bem o ambiente, de forma

adequada, se possível com cartazes próprios. Prever decoração sóbria, com flores.

H) Na saída após os encontros ou celebrações: Estar na porta; despedir-se, desejando boa semana

e agradecer pela presença.

I) Na própria celebração: Os comentaristas ou motivadores das celebrações devem ser bem

preparados e ter em mente o sentido fraterno da celebração ou do encontro, e acolher bem a todos,

no início. Fazer referência a pessoas ou grupos que vêm de outras cidades, estados ou países.

2. Na Comunidade: O Ministro da Acolhida é também responsável pela acolhida de novos

moradores e pela despedida de pessoas e famílias que se mudam para outro lugar. Para isso, deve:

A) Estar atento aos novos moradores: Acolhê-las, visitando-as em sua casa. Convidá-las para as

celebrações e encontros da comunidade. Informar-lhes sobre os serviços pastorais, tais como:

catequese, horários de missas, grupos de reflexão, capelinhas de Nossa Senhora, pastorais

existentes, ação social, etc. Oferecer-lhes informações sobre os serviços que existem no bairro:

escolas, mercado, farmácia, centro social, associação de moradores, coleta de lixo, etc.

B) Estar atento aos que se mudam: Despedir-se deles; oferecer-lhes uma carta de apresentação,

assinada pelo Pároco, a fim de que a apresentem na comunidade para onde estão indo.

3. Na Secretaria Paroquial: Lugar por excelência para o exercício da acolhida é a secretaria

paroquial. Seria importante que todo/a secretário/a paroquial fosse também Ministro da Acolhida.

Se isso não acontecer, que pelo menos pertença à Equipe de Acolhida da paróquia ou comunidade.

Cabe, contudo, ao Ministro da Acolhida preparar o/a secretário/a paroquial, para as seguintes

atitudes:

Page 13: O que é pastoral da acolhida

A) Tipos de Acolhida: É preciso oferecer acolhida diferenciada, conforme a situação das pessoas

que vêm à secretaria paroquial:

• a todos que chegam; aos que estão de luto ou tristes (morte, exéquias, sétimo dia...); aos que estão

em festa ou alegres (batizados, casamentos...); aos membros da comunidade (dizimistas, agentes de

pastoral...); aos afastados (ocasionais, desconhecidos...);

B) Gestos e virtudes a exercer: São imprescindíveis algumas atitudes, a fim de que se oferecerá

uma boa acolhida aos fiéis que vêm à secretaria paroquial:

• dar boas vindas; atender com naturalidade; sar uma tonalidade afetuosa; mostrar interesse pelas

pessoas e suas situações (família, trabalho, saúde...); ser amável ao dar informações; ouvir

primeiro para falar depois; atender aos que chegaram primeiro; não fazer distinção de pessoas,

com exceção de idosos e doentes; ter calma e educação, paciência e ponderação; ter postura

acolhedora, alegre e disponível; ser pontual; atender de pé.

C) Comportamentos a evitar: A pessoa que atua na secretaria paroquial deve evitar, a todo custo,

no exercício de sua atividade:

• gargalhadas; falar alto; gírias; chicletes; cigarro; óculos escuros; roupas sumárias; conversas

inconvenientes sobre agenda ou a vida particular do/s padre/s e de agentes de pastoral; fofocas;

conversas sobre dinheiro; intimidades falsas (uso do “tu” ou do “você”) com pessoas estranhas.

D) Atendimento geral:

• ser um/a evangelizador/a, não apenas um/a profissional; reconhecer que para muitas pessoas, o/a

secretário/a é a primeira e às vezes a única pessoa com quem um fiel entra em contato na Igreja; não

dizer só o extremamente necessário, mas explicar e motivar; para isso, é preciso conhecer as

Orientações Pastorais da Arquidiocese; dar as fundamentações bíblicas, teológicas e pastorais das

orientações; atender uma pessoa por vez, até o fim; entregar as informações por escrito; ouvir com

paciência as críticas à Igreja e responder com equilíbrio e ponderação.

E) No pedido de Batismo:

• manifestar alegria pelo Batismo da criança; se a criança estiver presente, fazer-lhe uma carícia;

pedir os documentos com jeito e calma; explicar o porquê dos documentos; evitar conflitos

quando falta algum documento; procurar algum modo de solucionar o problema; instruir sobre o

local, data e horário do batizado, de preferência entregando esses dados por escrito.

Page 14: O que é pastoral da acolhida

F) No pedido de Casamento:

• parabenizar os noivos pela decisão do casamento; instruir-lhes sobre o andamento do processo;

explicar-lhes o porquê da certidão nova de batismo, dos proclamas, da entrevista com o Pároco;

incentivá-los à preparação espiritual para o casamento; oferecer-lhes uma lista de telefones de

Padres e Diáconos que tenham possibilidades de oficiar o casamento; entregar-lhes uma lista

com as orientações da Igreja sobre decoração, canto, fotografias e filmagens.

G) No pedido de Missa de Sétimo Dia ou de Exéquias:

• manifestar pesar pelo falecimento do ente querido, com algumas palavras de esperança cristã.

H) No pedido de Bênção, Confissão, Aconselhamento ou Orientação com o Padre:

• encaminhar imediatamente ao Padre ou pedir que aguarde, informando sobre o tempo razoável de

espera; se o Padre não estiver em casa ou não puder atender no memento, informar o dia e a hora

possível de atendimento, ou, pedir o número de telefone, para dar um retorno posterior; explicar as

motivações da ausência do Padre; se for segunda-feira, explicar as razões de seu dia semanal de

descanso.

I) Diante de um membro da Comunidade:

• gravar o nome dos agentes de pastoral; reconhecer o importante serviço que prestam à

comunidade; ter sempre à mão uma lista dos telefones dos agentes de pastoral; não definir a

quantia da contribuição de um dizimista, deixando à cargo de sua consciência; procurar entender

o sentido bíblico, teológico e pastoral do dízimo.

J) Ao telefone:

• atender ao primeiro toque; evitar o “alô”, usar “Paróquia..., bom dia”; anotar recados por escrito;

oferecer ajuda e assistência a quem liga; evitar conversas demoradas, falando só o necessário; usar

termos fáceis de serem entendidos, evitando termos técnicos; evitar demonstrações demasiadas de

simpatia; não cortar bruscamente a conversa; não deixar esperando; encerrar cordialmente a

conversa.

K) No ambiente:

• placa de indicação do local e horário de atendimento; bancos ou cadeiras para quem tiver que

esperar; decoração discreta: flores, cartaz de boas vindas; crachá de identificação.

Page 15: O que é pastoral da acolhida

BIBLIOGRAFIA

BÍBLIA SAGRADA.

DOCUMENTOS DO CONCÍLIO VATICANO II.

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA.

JOÃO PAULO II: Tertio Millennio Adveniente.

JOÃO PAULO II: Novo Millennio Ineunte.

DOCUMENTO DE SANTO DOMINGO.

CNBB: Diretrizes gerais da ação evangelizadora da Igreja no Brasil 1991-1994, Documentos 45 –

Paulinas.

CNBB: Diretrizes gerais da ação evangelizadora da Igreja no Brasil 1995-1998, Documentos 54 –

Paulinas.

CNBB: Diretrizes gerais da ação evangelizadora da Igreja no Brasil 1999-2002, Documentos 61 –

Paulinas.

CNBB: Missão e ministérios dos cristãos leigos e leigas, Documentos 62 – Paulinas.

CNBB: Estudos 73 – Paulinas.

SERVIÇO PASTORAL DOS MIGRANTES: Pastoral dos Migrantes – Paulinas.

SERVIÇO PASTORAL DOS MIGRANTES: Migrantes Latino-americanos no Brasil – Loyola.

CADERNOS DE LITURGIA: Ministérios litúrgicos leigos nas comunidades, nº 5 – Paulus.

GASQUES, Jerônimo: Pastoral da Acolhida – Vozes.

GASQUES, Jerônimo: Diaconia do Acolhimento – Paulus.

ALVES, Vicente Paulo: Acolher é Evangelizar – Editora Santuário.