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SOPRO 63

O Que é Um Mistério

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Conferência proferida por Giorgio Agamben demais participantes do Festival de Musicas Sagradas do Mundo, em 2010, que foi publicado, originalmente em francês, em Le voyage initiatique. Paris: Albin

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  • SOPRO63

  • O que um mistrio? Giorgio Agamben

    Para responder a questo O que um mistrio?, gostaria de, primeiramente, pedir-lhes para trans-portar sua imaginao Alemanha dos anos 1920. No para os tumultos que agitavam as grandes cidades da Repblica de Weimar naquele momento, no ps-guerra, mas para a calma e o silncio da abadia beneditina de Maria Laach, na Rennia. Ali, um obscuro monge, Odo Casel, publica em 1921 Die Liturgie als Mysterienfeier (A liturgia como festa mistrica) que marca o nascimento do que ser chamado o movimento litrgico (die liturgische Bewegung) e que ir exercer uma enorme LQXrQFLDQRVHLRGD,JUHMD&DWyOLFD

    Os trinta primeiros anos do sculo XX foram chamados, com razo, a idade dos movimentos. Pois, tanto direita quanto esquerda da cena poltica, os partidos do lugar aos movimentos. O PRYLPHQWRRSHUiULRDVVLPFRPRRIDVFLVPRHRQDFLRQDOVRFLDOLVPRGHQHPVHFRPRPRYLPHQWRVe no simplesmente como partidos. Mas igualmente nas artes, nas cincias e em todos os domnios da vida social, v-se surgir movimentos que progressivamente substituem as escolas e as institui-o}HV4XDQGR)UHXGHPSURFXUDXPWtWXORSDUDDSUHVHQWDUDSVLFDQiOLVHGHSRLVGHUHHWLULUicham-la movimento psicanaltico; no uma escola, o movimento psicanaltico.

    Qual a tese que Casel coloca no centro de seu movimento litrgico? A liturgia crist um mistrio. O que isso quer dizer? Ainda na sua dissertao doutoral, escrita em latim e discutida, em QDXQLYHUVLGDGHGH%RQQHFXMRWtWXORHUDDe philosophorum graecorum silentio mystico (So-EUHRVLOrQFLRPtVWLFRGRVOyVRIRVJUHJRV), a estratgia de Casel est claramente colocada. Sob DDSDUrQFLDGHXPDSHVTXLVDOROyJLFDHUXGLWDQHODMiVHYrPHQXQFLDGDVDVGXDVWHVHVTXHLUmRJXLDURVPRYLPHQWRVOLW~UJLFRV$SULPHLUDRVPLVWpULRVSDJmRVRVPLVWpULRVHOHXVLQRVyUFRVRXdionisacos no devem ser vistos como uma doutrina secreta que se poderia formular num discurso, TXHVHULDSURLELGRUHYHODU$RFRQWUiULRHVWDpVHJXQGR&DVHOXPDVLJQLFDomRWDUGLDGDSDODYUDmistrio que vem das escolas neo-pitagricas e neo-platnicas. Na origem, o termo mistrio de-signa para Casel uma prxis, uma ao, um drama, dromna, como se diz em grego, isto , gestos e atos pelos quais uma ao divina se mostra e se realiza no mundo para a salvao do homem que participa de tal mistrio. De fato, sabe-se que nos mistrios pagos o iniciado assiste a algo como um drama, como uma pantomima teatral. Clemente de Alexandria, que um informante cristo, e enquanto tal tendencioso, mas que, parece, tinha sido iniciado antes de se tornar cristo, chama os mistrios eleusinos de um drama mstico (drama misticon). a primeira tese: no uma doutrina

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    O SOPRO apresenta a traduo, feita por Vincius Honesko, da conferncia proferida por Giorgio Agamben GXUDQWHDSURJUDPDomRGR)HVWLYDOGHP~VLFDVVDJUDGDVGRPXQGRRFRUULGRHQWUHRVGLDVHGHMXQKRGHQRV(QFRQWURVGH)H]RUJDQL]DGRSHODIXQGDomR(VStULWRGH)H](VWHWH[WRMXQWDPHQWHFRPRVGRVdemais participantes do Festival, foi publicado, originalmente em francs, em Le voyage initiatique. Paris: Albin 0LFKHORUJDQL]DGRSRU1DGLD%HQMHOORXQ

    secreta, uma ao. O segundo ponto que h uma conexo entre os mistrios gregos e a liturgia FULVWm(VVDFRQH[mRMiWLQKDVLGRDVVLQDODGDSHORVKLVWRULDGRUHVGDVUHOLJL}HVFRPR5HL]HQVWHLQ'LHWULFK8VHQHU%XUQHWHWFPDVDGTXLUHXPDQRYDVLJQLFDomRXPDYH]TXHpUHLYLQGLFDGDSHODSUySULD,JUHMD7UDWDVHGHSURFXUDUSDUDDOLWXUJLDFULVWmXPDJHQHDORJLDQmRMXGLDSRLVDRFRQWUi-ULRVDEHPRVTXHDOLWXUJLDFULVWmIRLPXLWRLQXHQFLDGDSRUDTXHODGDVLQDJRJDSRGHUVHLDYHUDtSRUWDQWRGDGRRFRQWH[WRKLVWyULFRXPDQXDQFHDQWLVHPLWDTXHDOLiV&DVHOMDPDLVLUiH[SOLFLWDUAssim, a liturgia enquanto mistrio essencialmente uma actio, uma ao, uma pratica e no uma GRXWULQD$,JUHMDQmRpRXQmRpVRPHQWHXPDFRPXQLGDGHGHFUHQWHVTXHVHGHQHSHODSURVVmRGHXPDGRXWULQDFULVWDOL]DGDHPGRJPDVD,JUHMDVHGHQHPXLWRPDLVSHODSDUWLFLSDomRQRPLVWpULRisto , numa ao litrgica de culto. H, portanto, segundo Casel, um verdadeiro primado da liturgia sobre a doutrina, do mistrio sobre o dogma, no sentido de que pela liturgia que se pode chegar a XPDGHQLomRYHUGDGHLUDGDGRXWULQDHQmRRFRQWUiULR

    (VVDWHVHTXHLQXHQFLRXHQRUPHPHQWHD,JUHMDFDWyOLFDIRLHQWUHWDQWRYLVWDFRPFHUWDGHV-FRQDQoDSHOD&~ULDURPDQDFRPRXPDDPHDoDjIXQomRHVVHQFLDOGRSDSDFRPRJXDUGLmRGRGRJPD(P GHSRLV GR PGDJXHUUDTXHGLYLGLX D(XURSD3LR;,, SXEOLFDXPDHQFtFOLFDMediator Dei, inteiramente dedicada liturgia. Salientando ao mesmo tempo a importncia vital, IXQGDPHQWDOGDOLWXUJLDSDUDD,JUHMDRSDSDDtUHDUPDRSULPDGRGRGRJPDVREUHDDomROLW~UJLFDou, ao menos, a estreita conexo entre os dois. nesse sentido que a tese de Casel uma tese poltica e, pensando-se no contexto poltico do momento histrico no qual ela anunciada, v-se a um primado da prxis sobre a teoria.

    O que acontece nos mistrios litrgicos? Qual seu papel estratgico? Em 1928 Casel publica na sua revista o ensaio Mysteriengegenwart (A presena mistrica). O ncleo mais prprio do mis-trio cristo, segundo Casel, tornar novamente presente a ao de salvao do Cristo e de, antes GHWXGRWRUQDUSUHVHQWHRSUySULR&ULVWR,VWRpTXHRPLVWpULRQmRpXPDre-presentao, mas uma apresentao, uma presena real e no somente simblica. Mas, de qual gnero de presena se WUDWD"2EYLDPHQWHTXHQmRVHWUDWDGDSUHVHQoDKLVWyULFDLVWRpGDFUXFL[mRWDOFRPRDFRQWHFHXno Glgota num certo dia de um certo ano; ao contrrio, trata-se de uma presena particular que diz respeito no ao sacrifcio histrico, mas ao sacrifcio na sua efetividade soteriolgica, isto , o sacrifcio enquanto produz a salvao e a redeno dos pecados dos homens. Casel tem o cuidado

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    precria. Em latim Precarius literalmente o que obtido por uma prex, um pedido verbal, oposto a uma quaestio TXHpXPDGHPDQGDTXHTXHUREWHUD WRGRFXVWRVHXREMHWRpSRU LVVRTXH quaestio, questo, ir se tornar o nome da tortura. Se nos mistrios cristos a salvao era, por-tanto, garantida, nos mistrios pagos, ao contrrio, tudo precrio. No h aqui nenhuma certeza, mas muito mais uma aventura noturna e incerta que tem lugar numa linha instvel que passa entre o Deus infernal e o Deus celeste, o homem e o animal, a vida e a morte.

    Se a mais longa descrio dos mistrios antigos se encontra assim no romance de Apuleio, porque entre os romances e os mistrios h, iremos ver, uma relao estreita; e na anlise desta relao que gostaria de concluir minha exposio.

    (P5HLQKROG0HUNHOEDFKSXEOLFDVXDPRQRJUDDRoman und Mysterium in der Antike (Romance e mistrio na Antiguidade). A tese do livro clara: retomando a ideia sobre a origem dos romances clssicos que tinha sido proposta por Kernyi, o autor, por meio de uma anlise detalhada de vrios romances gregos e latinos, mostra que no somente h uma ligao gentica entre os mistrios e os romances clssicos, mas que os romances antigos devem ser lidos como verdadeiros Mysterien-texten, textos mistricos. Qual o elemento comum que liga to estreitamente mistrio e romance? que nos mistrios, como nos romances, vemos pela primeira vez uma existncia individual se ligar a um elemento divino, ou sobre-humano, de tal modo que as sortes e os epis-GLRVGHXPDYLGDVLQJXODUDGTXLUHPXPDVLJQLFDomRTXHRVXOWUDSDVVDHWRUQDPVHQHVVHVHQWLGRPLVWHULRVRV1DYHUGDGHpRTXHDLQGDDFRQWHFHKRMHHPXPURPDQFHRHQUHGRGHHSLVyGLRVHGHFLUFXQVWkQFLDVTXHRDXWRUWHFHDRUHGRUGHVXDSHUVRQDJHPSRUH[HPSOR,VDEHO$UFKHUQRRetrato de uma senhoraGH+HQU\-DPHVRX$QQD.DUHQLQDQRURPDQFHGH7ROVWRLpWDPEpPRTXHYDLconstituir esta vida singular como um mistrio que preciso compreender, que a prpria protago-nista vai compreender. Mistrio que no necessariamente sagrado e que pode ser, ao contrrio, inteiramente profano e, s vezes, at mesmo miservel, como o caso de Emma Bovary, mas que no deixa de ser um mistrio. De todo modo se trata de mistrio, pois h nele, como em Elusis ou HP$SXOHLRXPDLQLFLDomR,QLFLDomRDTXr"SUySULDYLGD&RPLVVRTXHURGL]HUTXHQRVURPDQ-ces, a vida aparece como um mistrio no qual a prpria vida ao mesmo tempo a iniciadora e o ~QLFRFRQWH~GRGRPLVWpULR(VWiDtSDUHFHPHXPDGHQLomRSRVVtYHOGRURPDQFHTXHpWDPEpPHQWUHWDQWRXPDGHQLomRGRPLVWpULR

    7UDGXomRGH9LQtFLXV+RQHVNR

    GHHVSHFLFDUSRUWDQWRTXHHPTXHVWmRQRVPLVWpULRVOLW~UJLFRVHVWiVLPXPDDomRPDVXPDDomRHFD]8PDUHDOLGDGHRSHUDWLYDXWLOL]RHVVHWHUPRSRUTXHoperatorius pRDGMHWLYRTXHLUiGHVLJQDUna liturgia patrstica os efeitos da liturgia. A liturgia operativa no sentido de que seus efeitos se produzem de qualquer modo.

    eSUHFLVRUHHWLUEHPVREUHHVVDWHVHFHQWUDOGDWHRORJLDFULVWmVREUHDOLWXUJLDHQTXDQWRDomRsacramental: a liturgia produz seus efeitos ex opere operato, isto , de qualquer modo, pelo simples fato de que um ato se cumpra, pelo simples fato de uma palavra ser dita, de um gesto ser cumprido, RHIHLWRVHSURGX]DEVROXWDPHQWHVHPIDOWD,QGHSHQGHQWHPHQWHGDVTXDOLGDGHVGRSDGUHRSDGUHpode ser um assassino, um blasfemador, pode estar completamente bbado no momento do batis-mo ou da missa, mas o sacramento permanece vlido e os efeitos se produzem. Os telogos do at mesmo exemplos extraordinrios, como o de um padre que, para seduzir uma mulher, a batiza: REDWLVPRSHUPDQHFHYiOLGR9HMDPEHPSRUWDQWRTXHRPLVWpULRGDOLWXUJLDpQRIXQGRRPLVWpULRGDRSHUDWLYLGDGHGHXPDHFiFLD UDGLFDO8PDDomRDEVROXWDPHQWHHFD]VHP UHODomRFRPDVFRQGLo}HVTXHKDELWXDOPHQWHJDUDQWHPDHFiFLDGHXPDDomRKXPDQD

    Deixemos de lado agora a anlise de Casel, de sua interpretao da liturgia crist. Primeira-mente, o que ganhamos com tal anlise? Ns nos liberamos da falsa noo do mistrio enquanto doutrina secreta ou incognoscvel: vimos, ao contrrio, que o mistrio uma prxis, algo como uma DomRGUDPiWLFDGRWDGDVHJXQGR&DVHOGHXPDHFiFLDSDUWLFXODUeSRVVtYHOSHUJXQWDUVHFRQWX-GRVHXPDWDOGHQLomRpFRQGL]HQWHFRPRTXHVDEHPRVGRVPLVWpULRVSDJmRVHWDPEpPFRPDQRVVDH[SHULrQFLDGRPLVWpULRWDOYH]DGPLWLQGRVHTXHXPDWDOH[SHULrQFLDHVWHMDGLVSRQtYHOSDUDQyVPRGHUQRVDOpPGRVOLPLWHVGDOLWXUJLDFULVWm,UHPRVSRUWDQWRLQYHUWHURFDPLQKRHYROWDUDRmistrio pago do qual Casel tinha desenvolvido seus argumentos. Os historiadores das religies nos dizem que os mistrios eram aparentados a uma ao dramtica, e, nisso, Casel tinha razo. Para empregar as prprias palavras de Rohde: Os mistrios eleusinos eram uma pantomima acom-panhada de cantos sagrados e de frmulas que representavam a histria do rapto de Persfone, de sua busca empreendida por mestres at os reencontros. Desse modo, no estamos longe da ideia de Casel. No entanto, tudo muda quanto ao que acontece realmente nos mistrios, particularmente QRTXHFRQFHUQHDRVVHXVHIHLWRVVXDHFiFLD1HVVHSRQWRDVIRQWHVDQWLJDVSHUPDQHFHPPXLWRYDJDV7XGRRTXHQRVGL]HPpTXHRLQLFLDGRDGTXLUHGRFHVHVSHUDQoDVTXHVHWRUQDEHPDYHQ-WXUDGRSRLVFRQKHFHRUHDOL]DomRGHVXDYLGD0XLWRORQJHSRUWDQWRGDHFiFLDex opere operato do mistrio cristo segundo Casel.

    A mais longa descrio que temos dos mistrios antigos se encontra num romance escrito em ODWLPSRUYROWDGRVpFXOR,,As Metamorfoses ou O Asno de ouro, de Apuleio. O protagonista, que WLQKDVLGRWUDQVIRUPDGRHPDVQRQRPRPHQWRHPTXHGHVFUHYHVXDLQLFLDomRDRPLVWpULRGH,VLVHDVDOYDomRTXHQHOHHQFRQWUDHPSUHJDDPXLWRVLJQLFDWLYDH[SUHVVmR precaria salus, uma salvao

    O que um mistrio? Giorgio Agamben

  • $PHPyULDpDH[WHULRUL]DomRGHXPULWPRTXHSHODVXDQDWXUH]DGHUHSHWLomRLQQLWDHVHPalterao e, portanto, sem sinais de terminar, torna-se angustioso. a memria do no-acabado GDTXLORTXHKDYLDVLGRWmRGHVHMDGRHTXHQmRIRUDUHDOL]DGR4XDQWRPDLVUtWPLFDpDPDQLIHVWDomRmais facilmente se transformar em Memria e menos resistncia encontrar para o seu reapare-cimento sucessivo.

    O mesmo mecanismo que provoca uma Reverso ou uma Regresso, ou um ritmo de memria, provoca tambm o seu desaparecimento.

    A Reverso e a Regresso processam-se pela presena do reagente inaltervel ou cataltico que so as foras afetivas e as imagens associativas. o efeito do choque visual ou emocional que provoca o aparecimento ou o desaparecimento da Reverso e da Regresso, ambos mani-festaes rtmicas de Memria. o choque de uma mudana brusca de ambiente ou um choque HPRFLRQDOH[SHULPHQWDGRSRUXPSHUVRQDJHPIUHTHQWHPHQWHRHVTXL]RWtPLFRTXHYLDMDSHODYLGDquase intocado pelo mundo exterior. o mesmo choque que provoca o desaparecimento de uma crise histrica obtusa pela aplicao da dor desmoralizadora de uma tapa no rosto, de um assobio estridente, de uma ordem brusca.

    A manifestao histrica uma forma de memria rtmica, uma reverso a um passado antigo e quando a ocorrncia se apresenta tambm rtmica e conseqentemente obtusa aparece e desapa-rece pela aplicao da violncia do choque.

    2FULPHpXPDPDQLIHVWDomRGHPHPyULDFXMDIRUPDGLQkPLFDpXPDUHYHUVmRDXPVXEVWUDWXPcriminoso antigo, comum a todos, e que aparece na tona da conscincia, involuntariamente, como XPPRYLPHQWRUHH[RHFRPWRGDDYLROrQFLDFDUDFWHUtVWLFDGHVVHPRYLPHQWR$IRUPDomRHVWUXWXUDOdo crime deve ser rtmica pela persistncia com que ele aparece quando movimentado pelo abalo emocional.

    2PRYLPHQWRUHH[RVHULDDPHPyULDLQYROXQWiULD$PHPyULDIRUPDWRGDDYLGDFRQVFLHQWHGRKRPHPRTXHHTXLYDOHDGL]HUTXHWRGDDYLGDFRQVFLHQWHpFRQVWLWXtGDGHPRYLPHQWRVUHH[RVcondicionados em alguma poca. A mecnica da memria uma exteriorizao de um ritmo antigo RXDWXDOWRUQDGRUHH[RHFXMRDSDUHFLPHQWRTXDQGRSHUVLVWHQWHHVWRUYDHLPSHGHDIRUPDomRGHnovas idias, obstruindo o mundo do homem. De qualquer modo, a memria exige um reagente afetivo para o seu aparecimento, uma associao angustiosa.

    Uma das manifestaes mais importantes e mais antigas da vida encontrada nas primeiras YRFDOL]Do}HVGRKRPHP26LPHR1mRSURQXQFLDGRVKRMHSHORKRPHPVmRPDQLIHVWDo}HVLQYR-luntrias pertencentes ao incio da formao do homem. As vocalizaes bsicas da concordncia ou do Sim so sons prolongados de satisfao, com repetio das slabas sem interrupes e intervalos e se encontram antes do No de maneira idntica como o canto se encontra antes do

    Arquivo Notas para a reconstruo de um mundo perdido

    Flvio de Carvalho

    Notas para a reconstruo de um mundo perdidopXPFRQMXQWRGHWH[WRVGH)OiYLRGH&DUYDOKRSXEOLFDGRVno Dirio de S. PauloHQWUHMDQHLURGHHVHWHPEURGH2VSULPHLURVYLQWHHTXDWURWH[WRVGDVpULHaparecem sob o ttulo Os gatos de Roma. A partir da nota 25, a srie passa a ser intitulada como Notas para a reconstruo de um mundo perdido. A republicao dessas Notas no Sopro (que comeou no nmero 49) no pretende trazer um material de arquivo morto, ao contrrio: a aposta lanar esse pensamento intempestivo e fascinante para que ele produza efeitos no presente. O que podemos adiantar que se trata de um trabalho DPELFLRVR UHDOL]DGRSRUXP DUTXHyORJRPDOFRPSRUWDGR FRPR)OiYLRPHVPRVHGHQLX$V Notas foram reproduzidas e transcritas por Flvia Cera, a partir de pesquisa realizada no Arquivo Pblico do Estado de So Paulo

    XVII - OS GATOS DE ROMARitmo e memria

    $PHPyULDpHVSHOKRORJHQpWLFRGRKRPHP$RUHVWDGHXDRKRPHPRULWPR$UHSHWLomRDRLQQLWRGDLPDJHPGDiUYRUHQDRUHVWDWHULD LPSRVWRDRKRPHPDQHFHVVLGDGHGHDEVRUYHUHVVHULWPRRXSRUXPSURFHVVRGHYLEUDomRWHULDGHVSHUWDGRXPGHVHMRUtWPLFRDQWLJR$PHPyULDLQVLVWHQWHpXPDPXOWLSOLFDomRGHLPDJHQVFRPRDSURGX]LGDSRUXPMRJRGHHVSHOKRV$PHPyULDpXPIHQ{-meno rtmico. O homem recm-descido da rvore, mergulhado no tenebroso e ondulante Bailado do Silncio, teria proferido o primeiro Soluo aps a percepo visual da repetio rtmica dos troncos das rvores. As rvores no eram mais apreciadas tatilmente, mas sim visualmente, pois os homens no subiam mais nas rvores.

    $IXQomRGDRUHVWDHUDDGHGHVSHUWDUQRKRPHPDVPDLVDQWLJDVQRo}HVGHULWPR$5HYHUVmRpXPIHQ{PHQRGHPHPyULDHGHULWPR$5HJUHVVmRSVLFROyJLFDVHLGHQWLFDFRPD5HYHUVmRHptambm um fenmeno de memria e de ritmo. O reaparecimento peridico de ritmos observado no fenmeno de Reverso. As listas das zebras que reaparecem de quando em quando nos mu-DUHV DSyVPLOKDUHV GH JHUDo}HV GHVDSDUHFLGDV VmRPDQLIHVWDo}HV GH XPDUUDQMR UtWPLFR VmRPHPyULDVGDHVSpFLHTXHUHVVXUJHPHPYLUWXGHGDIRUoDHVWHUHRWLSDGDGRDUUDQMRUtWPLFR7DQWRas listas da zebra como as pintas da ona possuem um desenho rtmico que exige esse reapareci-PHQWRQXPGHVFHQGHQWHUHPRWRSRUVHURULWPRXPSURFHVVRGH[DomR3RUWDQWRRSUREOHPDGDreverso torna-se um problema ligado ao ritmo do desenho, das cores e dos volumes do Comeo e HVWiQDWXUDOPHQWHOLJDGRDRSULPHLURKDELWDWGRKRPHPDRUHVWD

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  • som articulado e falado. O canto deve ser considerado como uma manifestao da aquiescncia e aprovao do mundo. Cantar era estar de acordo com tudo. A serenata amorosa uma demons-trao disso.

    A vocalizao Ah-ah-ah, prolongada e sem intervalos uma manifestao primitiva do Sim enquanto que a vocalizao do Uh-uh-uh-uh, entrecortada por intervalos, uma primeira mani-festao do No.

    Os primeiros cantos do homem se encontrariam antes do primeiro Soluo, e o Soluo com a sua interrupo sonora seria a primeira manifestao do No proferido pelo homem. O no forosamen-te surge aps o Sim e como manifestao de ttica defensiva. O primeiro Soluo e o primeiro No so o incio da linguagem articulada. A linguagem articulada a vocalizao dirigida rumo cultura mesmo, como a Marcha Hesitante, um produto do Soluo, o movimento dirigido rumo Viso *HRJUiFD26LPHR1mRVmRSUREOHPDVGHPHPyULDDQFHVWUDO$DTXLHVFrQFLDHRQHJDWLYLVPRso momentos de coordenao ancestral, momentos que foram estereotipados no passado antigo e que reaparecem excitados pela sugestibilidade das coisas.

    O No ou o Sim obtuso, insistente e repetido, to comum no histrico, na criana, no alienado e no primitivo deve ser considerado como uma manifestao antiga e primitiva de histerismo algo do comeo, algo bsico na vida, provavelmente uma atitude de Defesa Passiva como presenciamos KRMHFRPR1mRREWXVRHLQVLVWHQWHGRGLWDGRU1DVVHUGR(JLWR21mRHR6LPUHSHWLGRVHLQVLVWHQ-tes so manifestaes rtmicas da vida e por esse motivo pertencem aos fundamentos da Memria. 21mRHR6LPREWXVRHUHSHWLGRVmRXPPRYLPHQWRUHH[R21mRREWXVRHR6LPREWXVRUHFXVDPuma soluo intermediria. So manifestaes bruscas e brutais de golpe proveniente de camada ORJrQLFDLQIHULRUHTXHVHDVVRFLDPjVPDQLIHVWDo}HVGRKLVWpULFRGDFULDQoDHGRSULPLWLYRHWrPDPRUIRORJLDYLROHQWDHH[SORVLYDGRPRYLPHQWRUHH[R

    Publicado originalmente no Dirio de S. Paulo em 12 de maio de 1957.

    XVIII - OS GATOS DE ROMAAtrs da Linguagem

    $RUHVWDDEULJRXDGHTXDGDPHQWHRKRPHPHDVXDVREUHYLYrQFLDpFRQVLGHUDGDXPDFRQWHFLPHQ-to extraordinrio.

    O mundo antes da linguagem articulada era um mundo de Defesa Passiva. O primeiro Soluo sincronizado Marcha Hesitante marca o incio de esboo da linguagem articulada como tambm os primrdios da Defesa Agressiva. A vocalizao Uh-uh-uh-uh, de sons interrompidos, proveniente GRSULPHLUR6ROXoRHVLJQLFDQGRR1mRpDSULPHLUDPRVWUDGH'HIHVD$JUHVVLYD6mRRVSULPHLURVsintomas do Homo Socius a vir. O Homo Socius um produto da linguagem articulada e da cultura, um ser gregrio com tendncias a gostar do contato com o seu semelhante e que exerce como comportamento a Defesa Agressiva. Essa Defesa Agressiva deve, pois, ter aparecido com o apare-cimento da linguagem isto h um milho e quinhentos mil anos atrs.

    No perodo de Defesa Passiva, atrs da linguagem, o homem evitava o seu semelhante como tambm o perigoso mundo animal, o homem fugia ao contato do mundo, contudo a sua manifes-tao vocal era uma de aquiescncia e de aprovao do mundo. O homem emitia a vocalizao ligada e sem intervalos do tipo ahahahah que era o Sim primitivo e passivo situado antes do No DJUHVVLYR$YRFDOL]DomRHQWUHFRUWDGDSRULQWHUYDORV8KXKXKH[SULPLQGRR1mRVHLGHQWLFDFRPa manifestao de animais que latem como o cachorro e que no esto de acordo com um acon-tecimento ao lado.

    Aps a Descida da rvore, o antepassado do homem tinha que resolver um grave problema vital, o de enfrentar as feras de grande porte e todo o seu comportamento para com o mundo animal ao qual estava intimamente ligado e para com o seu semelhante se manifesta como conseqncia dessa situao e analisando esse comportamento encontramos todos os gestos e todas as atitu-des pertencentes categoria Defesa Passiva, encontrados tambm nas manifestaes da criana recm-nascida.

    O dom mais importante do homem situado atrs da linguagem, do homem privado do som articulado o de adivinhar o pensamento do seu semelhante e o pensamento dos animais que o contornam.

    No Comeo, o homem sem linguagem essencialmente um emotivo e um perito na leitura do pen-VDPHQWR$OHLWXUDGRSHQVDPHQWRVHLQWHQVLFDSDUDFRPSHQVDUDDXVrQFLDGHOLQJXDJHP

    Possivelmente este dom teleptico teria dado origem ao animismo provocando uma carcia so-EUHRPXQGRREMHWLYRHSURYRFDQGRXPPLPHWLVPRTXHPDLVWDUGHIDULDGR+RPR6RFLXVXPVHUeminentemente social e gregrio. Semelhante pantomina dramatizava a inteligncia inarticulada.

    (VVHDQWLJRGRPWHOHSiWLFRHQWUHRKRPHPHRPXQGRDQLPDOpDLQGDH[HUFLGRKRMHSHORVDQL-mais que no tem linguagem com o intuito de se comunicar com os homens e estes animais adivi-nham o pensamento do homem.

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    Arquivo Notas para a reconstruo de um mundo perdidoFlvio de Carvalho

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    Por outro lado o medo hereditrio que a criana de dois anos, com conscincia mal formada e de curta durao, tem por gatos e cachorros e outros animais, antes mesmo de ter motivo para ter medo, uma demonstrao da maneira pela qual a criana, antes de saber falar, adivinha o pensamento do gato e do cachorro, reproduzindo pela sua ao um perodo perdido no Comeo onde havia um convvio maior entre o homem e o mundo animal e onde o homem exibia um com-SRUWDPHQWRHVSHFLDOSDUDVREUHYLYHUDRSHULJRGDIHUDGHJUDQGHSRUWH7RGRVRVSRYRVSULPLWLYRVPHVPRRVGHKRMHH[HUFHPFRPJUDQGHSHULFLDHVVHGRPGHDGLYLQKDU

    7RGDDDWXDomRGRKRPHPDQWHVGDOLQJXDJHPDUWLFXODGDVHPDQLIHVWDSRUJHVWRVHSRUVRQVLQDUWLFXODGRVTXHVLJQLFDPDDSURYDomRGRPXQGR(VVDVPDQLIHVWDo}HVVmRGHQDWXUH]DNLQHVLFDonde os gestos de associam s vocalizaes numa euritmia de Defesa Passiva.

    O homem atrs da linguagem e que emite gritos, grunhidos, murmrios, cochichos, lamentos e nasalizaes, tambm estica o dedo, pisca o olho, levanta a sobrancelha, movimenta os braos e sacode a cabea acompanhada por um dedo admoestador.

    O seu perodo de motilidade curto, a maior parte do tempo ele passa dormindo, mesmo como DFRQWHFHFULDQoDUHFpPQDVFLGD2VHXVRQRSDUHFHVHUXPDLPSRVLomRGDVFRQGLo}HVGDRUHVWDdas condies de penumbra e do efeito hipntico conseqncia da repetio sucessiva das formas HGRVSRQWRVOXPLQRVRV$VFRQGLo}HVWpFQLFDVGDRUHVWDSURPRYHPDVREUHYLYrQFLDGRKRPHPFDPXDQGRRQRVXLFtGLRGLiULRTXHpRVLQRRXQDPRUWHDSDUHQWHTXHHOHH[LEH7DQWRRVXLFtGLRcomo o sono tem como causa motriz a sensao de inferioridade gerada pela falta de considerao do mundo exterior.

    A natureza dava ao homem do Comeo um sono prolongado como o da criana nova para que, H[LELQGRRDVSHFWRUtJLGRGDPRUWHHOHSXGHVVHVHGHIHQGHUFRQWUDDVIHUDVGHJUDQGHSRUWHVvezes esse aspecto rgido acompanhado de suspenso da respirao como acontece no meca-nismo de defesa passiva da criana nova.

    2FDoDGRUDOHPmR7K=HOOVXS}HTXHIRLJUDoDVDRVRQRTXHRKRPHPSULPLWLYRSRGHYLYHUQRVterritrios povoados de animais ferozes, conseguindo, no entanto, escapar. Em geral os grandes carnvoros so todos noturnos e s a imobilidade realizada pelo sono dava ao homem encolhido dentro de um buraco ou em cima de uma rvore, uma proteo adequada.

    Landenheimer acha que o sono um suicdio ersatz que aparece na forma de um automatis-mo anti-suicida. Claparde acha que todas as funes de defesa so antecipantes: ... a pupila se contrai antes que o raio luminoso tenha ofuscado a retina, a tosse desabrocha antes que o corpo estranho tenha atingido os brnquios... a fome e a sede tambm se antecipam: na realidade come-mos e bebemos muito antes de estar no ponto de morrer de inanio ou de desidratao...

    2HVWDGRSURORQJDGRGHVRQRGRKRPHPDQWLJRVH LGHQWLFDHVHDVVRFLDFRPRHVWDGRGHtranse e de semi-hipnose em que se encontra o homem capaz de adivinhar o pensamento do semelhante e dos animais.

    A capacidade de adivinhar um estado altamente emocional encontrado com freqncia no primitivo, no alienado, na criana, nas mulheres e nos animais e que manifesta tanto mais agudo quanto mais antigo o homem e mais privado ele da linguagem articulada.

    Publicado originalmente no Dirio de S. Paulo em 19 de maio de 1957.

    XIX - OS GATOS DE ROMASono, Pensamento e Sonho

    O perodo de Defesa Passiva seria um perodo de elaborao de pensamento, imposto pela nature-]DDPGHTXHRKRPHPVHMDUHDOPHQWHGLIHUHQWHHVXSHULRUDRVRXWURVDQLPDLV2DSDUHFLPHQWRantes da linguagem articulada, deste perodo de elaborao de pensamento uma medida de defesa ao futuro Homo Sapiens, medida esta imposta pela sabedoria da natureza ou pelas Foras Fundamentais da Histria.

    Um desenvolvimento precoce da linguagem viria estorvar a germinao dos primeiros proces-sos de pensamento e o condicionamento do homem para atingir o estado de ser superior.

    7RGRRFRPSRUWDPHQWRGRKRPHPDWUiVGDOLQJXDJHPDUWLFXODGDVHSURFHVVDGXUDQWHRSHUtRGRde Defesa Passiva e o comportamento do esquizofrnico. O homem pertencente a este perodo um introvertido e um isolado do mundo, um Sonhador, e um Pensador, e um amoroso da Quimera. um ser incoordenado e arrtmico, um emotivo de grande sensibilidade; , portanto, possuidor de todos os atributos que o capacitam a adivinhar o pensamento.

    Longo estado de esquizofrenia, processando-se durante a Defesa Passiva, era necessrio para fazer do homem um futuro ser superior e essa esquizofrenia do comeo ainda aparece como sobre-YLYrQFLDKRMHHPIRUPDGH5HYHUVmRRXGH5HJUHVVmRHpHODQDUHDOLGDGHXPDIRUoDYLWDOL]DQWHpertencente aos fundamentos do homem, uma fora tpica que toma parte na gestao do pensa-mento.

    O sono e o seu contedo, o sonho, se apresentam com os sintomas da esquizofrenia: reduo de interesse no ambiente, atividade exterior diminuda, desaparecimento da astucia necessria vida, falsas percepes e falsas crenas, estupor e mutismo vegetativos, exploses. O semi-sono se associa ao transe hipntico, s fugas e ao automatismo post-epilptico.

    As reaes animalsticas do organismo, que so as reaes com o mundo exterior, decrescem ou desaparecem durante o sono, enquanto que os movimentos funcionais vegetativos so ativados

    Arquivo Notas para a reconstruo de um mundo perdidoFlvio de Carvalho

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    Sopro 63dezembro/2011

    ou continuam. O pensamento elaborado durante o sono que o sonho, teria como estrutura e contedo compativo (patern), a estrutura do pensamento elaborado pelo crebro de uma criana recm-nascida, em estado de vigia. A criana recm-nascida, em estado de vigia, se encontra sem-pre no estado de semi-transe do esquizofrnico e do homem situado dentro do perodo de Defesa Passiva. O homem adulto, dormindo no seu mundo do sonho volta a ser uma criana recm-nascida e volta a ser um esquizotmico.

    +iSRLVSRQWRVGHFRQWDWREHPGHQLGRVQDHODERUDomRGRVRQKRGRSHQVDPHQWRGDFULDQoDdo pensamento do comeo e do pensamento do esquizofrnico e esses pontos de contato explicam porque o primitivo no distingue bem entre o sonho e a realidade e explicam a importncia do sonho FRPRVLJQLFDomRUHDO'XUDQWHGRVRQKRHGXUDQWHDHODERUDomRHYLGDGRVRQKRDPRWLOLGDGHpdiminuda (30 segundo por hora de sono) e o crtex cerebral quase no funciona, como tambm acontece durante o perodo de vigia da criana recm-nascida. esse importante repouso do crtex cerebral que trs a elaborao dos primeiros pensamentos em forma de sonho.

    O pensamento ativa-se e se manifesta por meio de aparies e imagens motoras quando o homem adota posies imveis e alheias ao ambiente e por natureza isoladas, isto , quando ele adota as mesmas posies observadas durante o sono. O Pensador e o Sonhador so indivdu-os mergulhados num mundo prprio e se encontram em estado de hipnose e efetivamente esto alheios a tudo em redor e tem uma tendncia a mergulhar no mundo da Quimera. A perda da cons-cincia que caracteriza o sono e o estado mental do Pensador tambm um caracterstico hipntico HHVWDSHUGDGHFRQVFLrQFLDHQFRQWUDXPDPELHQWHDFROKHGRUQDHVFXULGmRGDRUHVWD

    $HVFXULGmRGDRUHVWDpRDPELHQWHJHUDGRUGRKRPHPGD'HIHVD3DVVLYDHSURYRFDDGL-minuio dos impulsos visuais e auditivos. A posio horizontal do sono, com relaxamento dos msculos, provoca a diminuio dos impulsos cutneos e a vantagem dessa posio a de, ao relaxar os msculos, condicionar o organismo a melhor se afastar do ambiente e a melhor elaborar as imagens do sonho.

    As posies encolhidas e imveis do sono so as posies de Defesa Passiva e so tambm as mesmas assumidas pelo homem durante a transmisso de pensamento. Os feiticeiros, os mdiuns HRVDGLYLQKRVVHFRORFDPHPDWLWXGHGHWUDQVHDPGHH[HUFHURVVHXVPLVWHUHV

    7DQWRRHVWDGRGHVRQRFRPRRHVWDGRKLSQyWLFRGHDGLYLQKDURSHQVDPHQWRVHPRVWUDPPDLVconspcuos em pessoas do tipo esquizotmico. Essas duas tendncias marcam dois pontos funda-mentais da vida do homem e exibem o esquizofrnico durante o longo perodo de Defesa Passiva antes da linguagem articulada.

    Publicado originalmente no Dirio de S. Paulo em 26 de maio de 1957.