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?Por quêO que é
O que temos de fazer
Introdução 4
AComissãodaVerdade 6
PorqueumaComissãodaVerdade? 7
ObjetivosdaComissãodaVerdade 8
ParâmetrosgeraisdaComissãodaVerdade 10
Verdade,JustiçaePaz 13
AsComissõesdaVerdadenomundo 15
ProjetodeLeiquecriaaComissãodaVerdade 17
OpapeldaSociedadeCivil 19
Conclusão 21
Bibliografia 23
ANEXOS
1.TextodoProjetodeLei7376 24
2.Exemplodepetiçãopúblicaemprol
daComissãodaVerdade 28
3.Parasabermais 35
SUMÁRIO
Cartilha preparada pelo
Núcleo de Preservação da Memória Política – São Paulo
© Todos os direitos reservados
Lutar contra toda forma de discriminação, violência e impunidade e entender que somente conhecendo o passado compreenderemos o presente e construiremos o futuro.
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Com o lançamento do 3º Programa de Direitos Humanos(PNDH-3)pelaSecretariadeDireitosHumanosdaPresidênciadaRepública,emdezembrode2009,oeixo“DireitoàMemóriaeàVerdade”tornou-seumdoseixosprincipaisdapolíticadosDireitosHumanosnopaís,eolançamentodeuma“ComissãoNacionaldaVerdade”,umdeseusimperativos.
O objetivo deste breve texto, produzido pelo Núcleo dePreservaçãodaMemóriaPolíticadeSãoPaulo,éodeexporos conceitos, parâmetros e objetivos fundamentais de umaComissãodaVerdade,numalinguagemsimplesedireta.Nãopretendemosesgotarseusmúltiplosaspectoslegais,políticosejurídicos,masesperamosquesirvadeincentivoàreflexãoeaoestudodestetema,aomesmotempoemquepossaservirparamobilizarentidadesdaSociedadeCivilepessoasdeboavontadepelaaprovaçãodoProjetodeLeiquecriaaComissãoNacionaldaVerdade.
Esta publicação visa principalmente atingir os jovens
de todas as camadas da sociedade que nos têm
manifestado, em várias ocasiões, a vontade de conhecer
melhor essa época de nossa história e saber o que é
exatamente a Comissão da Verdade, seus objetivos e
características. A essas pessoas, que buscam caminhos
para responder ao manto de silêncio que tem coberto o
tema do regime ditatorial que reinou no Brasil entre 1964
e 1985 e o das violações extremas aos Direitos Humanos
durante esse período, dedicamos este trabalho.
A partir do ano de 2007, iniciou-se um debate no Brasilsobreotemada“JustiçadeTransição”,eessetemapassouaocuparlugarcentralnaagendapolítica,tendosidoobjetodevárias discussões e até mesmo de divergências entre algunsministérios.Demodogeral,aJustiçadeTransição(JT),comoo próprio nome diz, ocorre no contexto da transição entreumregimeautoritárioeumregimequelhesucede,estecomprincípiosevaloresdemocráticos.
Entre as normas fundamentais e medidas legais que seincentivamnaconcretizaçãodaJustiçadeTransiçãoestãoasquedevemcontribuirparaoesclarecimentodaverdadesobreasviolaçõespraticadasduranteperíodospolíticosconflitivose conturbados. Ao mesmo tempo, outros fundamentosda JT devem ajudar na construção de parâmetros para asreparaçõesindividuaisecoletivas,nareformadasinstituiçõesquecuidamdajustiçaedasegurançapúblicae,finalmente,devem incentivar políticas públicas de educação para amemória, com o objetivo fundamental de conscientizar adenominada“CulturadoNuncaMais”.
INTRODUÇÃO
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A primeira Comissão da Verdade que se conhece foi a queestabeleceu o governo de Uganda em 1974. Até 2010, 39Comissõesseformaramnosquatrocontinentes.
AescritoraepesquisadoraPriscillaHayner,fundadorado Centro Internacionalde Justiça de Transição eautoradolivroqueécon-
sideradoa‘bíblia’dasComissõesdaVerdade,sobotítuloUn-speakable truths(emtraduçãolivre,“Asverdadesdasquaisnãosepodefalar”),relatanoiníciodoseucapítulo3:
No mesmo livro, Priscilla Hayner nos revela que além deestabelecer a verdade, as Comissões podem constituir-se nainiciativagovernamentaldemaiorimportânciapararespondera violências ocorridas no passado, ao mesmo tempo emquepodemseropontodepartidaparaqueoutrasmedidasessenciaisdaJustiçadeTransiçãosejamestabelecidas.
Ostestemunhosnãosomenteproporcionamoconhecimentosobreosfatosocorridosnoquedizrespeitoàsviolaçõesde
Por que uma Comissão da
Verdade?
“Por que queremos uma Comissão da Verdade?”. Em
outubro de 2009, eu estava falando com uma mulher que tinha
perdido um de seus familiares na luta contra a ditadura no Brasil.
Ela pareceu estranhar minha pergunta e a repetiu para mim.
Sua resposta foi clara e praticamente esgotou o assunto:
“Para mobilizar as forças políticas, promover uma investigação
que tenha amplos e definitivos poderes e assim chegar às muitas
verdades que ainda são escondidas”. (p.19, tradução M.P.)
As Comissões da Verdade são mecanismos oficiais deapuraçãodeabusoseviolaçõesdosDireitosHumanosevêmsendoamplamenteutilizadasnomundocomoumaformadeesclarecer o passado histórico. Seu funcionamento priorizaescutar as vítimas de arbitrariedades cometidas, ao mesmotempoemquedálugaraqueseconheçatambémopadrãodos abusos havidos, através da versão dos perpetradoresdessas violências ou da revelação de arquivos aindadesconhecidos. São órgãos temporários de assessoramentoa governos e são oficialmente investidas de poderes paraidentificarereconhecertodososfatosocorridoseaspessoasquedesseprocessoparticiparam,tantoasquesofreramcomas violências como as que participaram de forma ativa napromoçãodessasviolências.
AsComissõesdaVerdadetêmcomomissãofinalaproduçãode um relatório que permita à sociedade o conhecimentodos detalhes do regime que oprimiu e violou, assim comoapresentam recomendações que visam aprimorar asinstituiçõesdoEstado,notadamenteaquelasquelidamcomasegurançapública,econtribuirparaumapolíticadefinitivadenãorepetição.
A implementação de uma Comissão da Verdade permitereinserir no debate social a questão do autoritarismoe suas nefastas consequências, promovendo a reflexão eprincipalmente prevenindo a eventualidade de políticaspúblicasquesigamescondendoaverdadee/oupermitindoa continuação de abusos e de violações dos DireitosHumanos.
A COMISSÃO DA VERDADE
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RESTAURAR A DIGNIDADE E FACILITAR O DIREITO
DAS VÍTIMAS À VERDADE
É fato notório que algumas vítimas do período de repressãopolítica continuam falando das humilhações, violências e/ou torturas sofridas com temor e muitas vezes vergonha.Amídia,porsuavez,aosilenciarsobreessesabusosdurantemuitotempo,sócontribuiuparaqueapolítica“desteassuntonãosefala”fossepropagada.
MedianteostestemunhosnaComissãodaVerdade,adignidadedaspessoasérestabelecidaesuahistóriapassaaserpartedoconhecimentoereconhecimentogeralsobreoperíodo.
ACENTUAR A RESPONSABILIDADE DO ESTADO E
RECOMENDAR REFORMAS DO APARATO INSTITUCIONAL
O reconhecimento público e oficial de abusos cometidos,através do relatório final da Comissão da Verdade, nãosomenteserveparaqueoEstadoassumasuaresponsabilidade,mas também ajuda na questão vital da implementação deum dos fundamentos da Justiça de Transição, que é a dereformarasinstânciasinstitucionaisquetratamdaJustiçaedaSegurançaPública.
CONTRIBUIR PARA A JUSTIÇA E A REPARAÇÃO
Embora a questão do processamento civil ou penal dosperpetradoresdasviolênciaseabusoscometidosnãosejaumdos objetivos fundamentais das 39 Comissões da Verdade jáimplementadas,sabe-sequeorelatóriofinaldasComissões,emmuitospaíses, foiusadocomo instrumentopela Justiçapara
Direitos Humanos, mas também asseguram que a próprianarrativatorne-seoveículoprincipalparaoreconhecimentodo direito de as vítimas contarem sua própria verdade,opondo-se à verdade oficial construída durante os anosde arbitrariedade e violência. Ao fazer isso, restaura-se adignidade dos que sofreram esses abusos e violações aomesmo tempo em que o Estado, mediante o mecanismoinstitucionaldaComissãodaVerdade,passaalegitimaroutraversãodaHistória.
OprimeiroobjetivodeumaComissãodaVerdadeéDESCO-
BRIR, ESCLARECER e RECONHECER ABUSOS DO PASSADO,DANDO VOZ ÀS VÍTIMAS.IssosignificaqueaComissãodeveestabelecerumregistroapuradodopassadohistórico,atravésdoprocessotestemunhaldasvítimas.Somenteentrevistandolivrementeosque foramsubmetidosaabusosedandovozaos que, muitas vezes ainda hoje, permanecem em silêncioéquesepoderáconstituira“Históriasilenciada”doperíodo.Osobjetivosadicionaissão:
COMBATER A IMPUNIDADE
Revelarascausas,asconsequências,omodusoperandieasmotivações do regime que cometeu os atos de violência erepressão,identificandoaquelesqueforamosperpetradoresdos abusos cometidos. Com isso, além de desvendar asresponsabilidades no passado, ajuda na definição de umanova política pública de transparência e de combate àimpunidade, na relação entre o poder político, militar oupolicialeapopulaçãoemgeral.
OBJETIVOS DA COMISSÃO DA VERDADE
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PARÂMETROS GERAIS DA COMISSÃO DA VERDADE
desencadearasaçõescivise/oupenaiscontraosperpetradores.Alémdisso,orelatórioajudanadefiniçãoenoestabelecimentodepolíticaspúblicasdereparações individuaise/oucoletivasquesãotambémumaexigênciadaJustiçadeTransição.
REDUZIR CONFLITOS E PROMOVER A RECONCILIAÇÃO E A PAZ
Um dos objetivos que têm causado muita discussão éjustamente o da reconciliação e do estabelecimento dapaz. Embora seja um objetivo louvável e um coroláriodos que promovem os Direitos Humanos como valorintrínseco à Democracia, deve-se reconhecer que, paraas vítimas, promover a reconciliação e a paz só pode serpossível com a Justiça e com o reconhecimento oficialdas responsabilidades de indivíduos que, a mando doEstado,violaramosdireitosmaiselementares,prendendoarbitrariamente,torturandoeassassinandoopositoresdoregime,muitosdelesatéhojedesaparecidos.
De acordo com os estudiosos e pesquisadores dotema, embora nem todas as Comissões da Verdadeque se formaram pelo mundo tenham tido as mesmascaracterísticas, todas elas seguiram alguns parâmetroscomuns que contribuíram, alguns mais e outros menos,paraquesuamissãofossealcançada.
As Comissões são constituídas como órgãos temporários,mediantedecisõesoficiaisdegovernosquecorajosamentedecidemqueomomentoépropícioparaqueseinicieuma
profundaerealinvestigaçãosobreasviolaçõesocorridasemdeterminadoperíodohistórico.
Das 39 Comissões que se formaram desde o ano de 1974,21 foram fruto de Decreto Presidencial (com exceção daestabelecidanoMarrocos,em2004,decorrênciadeumDecretoReal), oito foram estabelecidas depois de discussões nosrespectivosParlamentos,easdezrestantes–amaioriadestasempaísesrecém-saídosdeguerrascivis–seconstituíramcomoresultadodeexigênciasdosacordosdepazquesenegociaramentreaspartes,eforamformadasporentidadesdasociedadeciviloupelasrepresentaçõesdasNaçõesUnidasnessespaíses.
Em geral, os mandatos que se atribuem às Comissões daVerdade para que possam desempenhar suas funções valemporumlapsodetempoquevariaentreseismesesetrêsanos,eamaioriadelasatuaporcercadedoisanos.
Os membros das Comissões devem ser escolhidos entrepessoas de prestígio, de reconhecida integridade e comautoridade moral e intelectual. Em geral, não podem fazerparte de Comissões nem as vítimas nem os perpetradores,já que, diretamente envolvidos nos fatos ocorridos e agorainvestigados, constituiriam certamente uma barreira para aimparcialidade com a qual a Comissão quer se caracterizar.Tambémnãosecostumadesignarrepresentantesdossetorespolíticos partidários nem pessoas vinculadas aos órgãospúblicosqueseenvolveramematosdeviolência,justamenteparaestimularessaimparcialidadeeindependência.
OsmembrosdaComissão,assimcomoosquenelatrabalhamna condição de assessores ou pesquisadores, devem ter
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autonomia, estabilidade e imunidade. Esses homens emulheresdevemterasegurançadequenãoserãointimidadosnemprocessadosduranteeapósoexercíciodesuasmissões.As Comissões também devem ser investidas de autonomiafinanceira,deadequadadotaçãodepessoaledepoderquelhespermitaatomadadedecisõesdeformaindependenteesemqueestejamsubmetidasapressõesdediferentesorigens.
Os seus membros devem ter critérios objetivos e clarospara a convocação de testemunhas, de modo que estasse obriguem moralmente a dar a contribuição que lhesseja pedida para a elucidação dos fatos. Suas atribuiçõesdevemseramplasosuficienteparaquepossamrequisitartestemunhas, documentos e informações, visitar locaisonde violações foram cometidas e ter a possibilidadede apurar fatos, depois que vítimas ou perpetradoresrevelem (se isso vier a acontecer) aspectos até entãodesconhecidos.AComissãodevetercondiçõesobjetivasefundamentoslegaisquelhepermitamassegurarosdireitosdastestemunhasouvidas.NenhumapessoapoderásofrernenhumtipoderepresáliaoupuniçãoquandosedisponhaaserouvidapelosmembrosdaComissão.
Osmembrostambémdeverãoterautonomiaparadecidirseassessõesserãopúblicasouprivadas.Aexperiênciadeoutras Comissões mostra que a maioria delas é pública.Mas,dequalquermaneira,qualquerquesejaostatusdassessões, todas elas deverão ser registradas e gravadas. Etodas as sessões servirão de base para a elaboração dorelatório final, documento que deverá constituir-se naposição oficial do Estado, sendo por ele assumido e deleobtendosuamaisampladivulgação.
EsserelatóriooficialpoderásereventualmenteusadopeloPoder Judiciário, seassim for solicitado, como jáocorreutantas vezes em países latino-americanos, e certamentedeveráconstituir-seemferramentadeproteçãodosDireitosHumanosnofuturoenagarantiadanãoimpunidadeparaosqueviolaremessesDireitos.
Como as Comissões da Verdade tratam de muitos fatosque poderiam ser também sujeitos a processos legais, arelaçãodelascomosistemajudiciárioémuitasvezesmalcompreendida. Certamente, as Comissões da Verdadedevem ser vistas como entes independentes e separadosdo mundo legal, não são aceitas como substitutivas dosórgãosjudiciáriosnemdevemduplicarosesforços(quandoexistem)emsebuscarJustiçaatravésdostribunaislocais.De fato, sabe-se que elas detêm menos poder que asCortes.Amaiorevidênciadissoéquenãopodemcolocarninguémnacadeia,nemmesmoobrigaratestemunhar,seessenãoforodesejodapessoaconvocada.
Noentanto,asComissõesdaVerdade,porassumiremummandatomaiscompreensivoeespecíficodesdeoiníciodeseu funcionamento, enfatizando as análises dos padrõesde comportamento, causas e consequências da violênciapolítica de um Estado, investigam o tema e se dedicama ele com muito mais profundidade. Suas característicaslhes permitem, também, chegar a conclusões muitasvezes inacessíveis aos processos judiciais, nas diferentesinstâncias e/ou Cortes. Às vezes, as Cortes se negam atémesmo a supor tais conclusões. Geralmente, o resultado
VERDADE, JUSTIÇA E PAZ
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final da Comissão da Verdade é considerado “verdadehistórica”emcontraposiçãoà“verdadejudicial”.
Os especialistas são unânimes em reconhecer que éjustamente nesse aspecto que reside a força moral epolítica das Comissões da Verdade. Por exemplo, emmuitos casos as Comissões não somente determinaramaresponsabilidadedoEstadoedesuasváriasinstituiçõesna consecução de práticas repressivas – fossem estasoriundas de forças policiais ou militares –, mas tambémresponsabilizaram,emseusrelatórios,oJudiciárioporsuaomissãoeconivência.
Dessamaneira,emboraasrelaçõesentreasComissõesdaVerdade e a instância legal tenham variado, dependendodo país e das condições políticas específicas, não restadúvidadequeamaioriadelasteveamaiselevadaintençãodecontribuirparafortaleceroaspectodoprocessamentocivile/oucriminaldosmandantesdasviolênciasecrimespraticados. De fato, para a Comissão Interamericana deDireitos Humanos, a Comissão da Verdade “não substitui a obrigação do Estado de estabelecer a verdade e assegurar a determinação judicial de responsabilidades individuais, através dos processos penais”(CorteIDH.CasoGomesLundeoutros–GuerrilhadoAraguaia–c.Brasil–sentençade24.11.2010).
No entanto, há de se levar em conta que em muitospaíses o clássico argumento “Justiça versus Paz” teve oefeitoderetardarareconciliaçãodapopulaçãoe levouaconflitos que chegaram até mesmo a ameaças de morteaosintegrantesdasComissões.
Essastensõesprecisamserconhecidas,esaberlidarcomelas será um dos atributos de eficiência das Comissões.Entretanto,umavezinstaladaaComissãodaVerdadecomatarefadedarvozaosquenãoativeram,abordartemasconsiderados tabus e enfrentar verdades reconhecidascomooficiaisatéopresente,asuarelaçãocomaJustiçae a Paz e a confirmação da opção pela Democracia seestabelecemdeformacategóricaeinequívoca.
As Comissões da Verdade foram sendo formadas nomundo desde o ano de 1974, e algumas tiveram nomesdistintos. Por exemplo, na Argentina, em Uganda e SriLanka, tiveramonomede “ComissãoNacional sobreosDesaparecidos”;noEquador,noHaiti,nasIlhasMauricio,no Paraguai e em Togo ela foi “Comissão da Verdade eda Justiça”; no Quênia ela foi “Comissão da Verdade,Justiça e Reconciliação”; na Guatemala teve o nome de“Comissão do Esclarecimento Histórico”, ao passo queemmuitosoutrospaíses(ÁfricadoSul,ChileePeru,porexemplo)elarecebeuonomede“ComissãodaVerdadeedaReconciliação”.
Embora todas essas Comissões tenham tido muito emcomum,asespecificaçõesdeseusmandatos,dostermosdeinvestigaçãoeprincipalmentedopodereautonomiacom quem foram investidas as diferenciaram bastante,refletindo as necessidades, possibilidades e realidadespolíticasdecadapaís.Tambémseus resultadospráticosfinaissediferenciaramemrazãodosmesmosfatores.
AS COMISSÕES DA VERDADE NO MUNDO
18 19
AtendendoàDiretriz23doeixoseisdoProgramaNacionalde Direitos Humanos, anunciado pelo Presidente daRepública em 21 de dezembro de 2009, constituiu-seem Brasília um Grupo de Trabalho (GT) formado porrepresentantesdaCasaCivil,doMinistérioda Justiça,doMinistério da Defesa, da Secretaria de Direitos Humanose da Sociedade Civil. Esse GT teve a missão de elaborarum projeto de lei que instituísse a Comissão Nacionalda Verdade, composta de forma plurale suprapartidária,commandatoeprazosdefinidos, para examinar as violações deDireitosHumanospraticadosnocontextoda repressão política no período fixadopeloArt.8ºdoADCT(AtodasDisposiçõesConstitucionais Transitórias) da Constituição Federal, ouseja,de18desetembrode1946até5deoutubrode1988.
OGrupodeTrabalhocompletousuatarefanofinaldeabrilde2010,comoprevisto,eenviouparasançãopresidencialo projeto de lei que recebeu o número 7.376. Depois deassinadopelopresidenteLuísInácioLuladaSilva,oprojetofoi enviado em 12 de maio ao Congresso Nacional, ondeespera sua análise e discussão em plenário, tanto naCâmaradeDeputadoscomonoSenadoFederal.
De acordo ao projeto de lei, a Comissão Nacional da Verdade terá a competência de:
ColaborarcomtodasasinstânciasdoPoderPúblicoparaa apuração de violações de Direitos Humanos ocorridasnesseperíodo.
Em 1974, sob o governo de Idi Amin em Uganda, foiestabelecida a primeira Comissão da Verdade, a qual teveo objetivo de investigar os desaparecidos durante os seusprimeiros anos no poder. Foi uma Comissão instalada pelogovernougandêspararesponderàscríticascontraseuregime,asquaiscomeçaramasetornarmaisfortesapartirde1974.
Depois disso e até o ano 2000, formaram-se Comissões daVerdade nestes países: Bolívia (1982), Argentina (1983),Uruguai (a primeira Comissão em 1985), Zimbábue (1985),Uganda(asegundaComissãonoanode1986,paraesclarecerviolações durante os últimos anos do regime de Idi Amin),Chile(aprimeiraem1986),Nepal(em1990),Chade(1991),Alemanha(1992),El Salvador(1992),Sri Lanka(1994),Haiti(1995),África do Sul (1995),Equador (aprimeiraem1996),Guatemala(1999)eNigéria(1999).
Apartirdoano2000,formaram-seasseguintesComissõesdaVerdade:Uruguai(asegundacomissãonoano2000),Coreia do Sul(2000),Panamá(2001),Peru(2001),República Federal da Iugoslávia(2001),Gana(2002),Timor Leste(2002),Serra Leoa (2002),Chile (a segundacomissãoem2003),Paraguai(2004), Marrocos (2004), Carolina do Norte, EUA (2004),República Democrática do Congo(2004),IndonésiaeTimor Leste (2005), Coreia do Sul (a segunda comissão em 2005),Libéria(2006),Equador(asegundacomissãoem2008),Ilhas Maurício(2009),Ilhas Salomão(2009),Togo(2009),Quênia(2009)eCanadá(2009).
PROJETO DE LEI 7376, QUE CRIA A COMISSÃO DA VERDADE
20 21
osmembrosdaComissão–emnúmerode sete–deverão serescolhidosdiretamentepelo(a)presidente(a)daRepúblicaentrepessoasdereconhecidaidoneidadeecondutaética.
Nomomentoemqueestacartilhafoiimpressa(maiode2011),oProjetodeLei7376,quejácumpriuoseuprimeiroaniversárionasdependênciasdaCâmaradeDeputados,estavaentreosassuntosqueoPoderLegislativodefiniucomoprioritáriosparavotação,eexistiaarticulaçãopolíticaparaquesuaaprovaçãoocorresseatéofimdoprimeirosemestre.Defato,nodia27deabrilde2011, o deputado Brizola Neto (PDT-RJ) havia apresentado orequerimentodeno1459/2011visando“urgênciaurgentíssimaparaaapreciaçãodoP/L7376de2010”,enodia3demaioesserequerimentofoiapresentadoaoplenáriodaCâmara.
Aexperiênciahistóricanosensinaquesemumamobilizaçãosocial, dificilmente são aprovadas pelo parlamento leis deinteressegeraldasociedade.OsexemplosdascampanhaspelasDiretas-JáepelaaprovaçãodaLeideAnistia,aindanavigênciadaditadura,estãovivosnamemóriadetodosemostramquefoiatravésdeumaamplamobilização,iniciadaporpequenosgrupos organizados, que se incendiaram os corações e asmentesdosbrasileiroseas leis foramvotadasesancionadas.Umexemplomaisrecente–odasançãodaleida“FichaLimpa”–tambémevidenciouqueaamplaadesãopopularàiniciativainfluenciousemdúvidaadecisãofinaldoParlamento.
Dessamaneira,paraosqueconsideramqueaComissãodaVerdadeéumatarefaaindapendentequeoEstadobrasileirotem para com sua população, e que o P/L 7376 deve ser
Promover, com base em seus informes, a reconstruçãohistórica dessas violações e incentivar a revelação deinformaçõesedocumentos.
Identificaretornarpúblicasasestruturaselocaisutilizadosparaapráticadessasviolações,suasramificaçõesnosdiversosaparelhos do Estado e em outras instâncias da sociedade.Divulgará os procedimentos oficiais utilizados, contribuindo,dessa maneira, para o esclarecimento das circunstâncias nasquaisocorreramcasosdetortura,mortesedesaparecimentos.
A Comissão também poderá:
Requisitarinformaçõesaórgãospúblicos,mesmoquesigilosas,convocartestemunhasesolicitarperícias.
Promoveraudiênciaspúblicaseprivadas,registrando-as,atravésdegravaçõesefilmagens,deformacompatível.
Finalmente, apresentará um relatório no qual, além dorelato histórico dos fatos ocorridos, haverá recomendaçõespara promover a efetiva reconciliação nacional e prevenir,no sentido da não repetição, a continuação de violações deDireitosHumanosnopaís.
Oprojetodelei,talcomoencaminhadoaoCongresso,determinaqueédeverdosservidores(civisemilitares)acolaboraçãocomaComissão,assimcomoéseudeverdisponibilizaraoJudiciário,semcaráterpersecutório,asinformaçõesquetiverouobtiver.
OprojetoaindaestipulaqueoprazoparaconclusãodostrabalhosdaComissãoedivulgaçãodorelatóriofinaléde24meses,eque
O PAPEL DA SOCIEDADE CIVIL
22 23
A aplicação de mecanismos da Justiça de Transição, comoa instalação das Comissões da Verdade pelo mundo, temdemonstradoqueseusefeitossãodiretamenteproporcionaisao fortalecimento de uma cultura democrática de respeitoaosDireitosHumanos.
Estudos e pesquisas realizados por acadêmicos mostramquesociedadesqueteimamemnãojogarluzsobreosfatosocorridosnopassadocorremmaisperigoqueasdemaisnarepetiçãodasmesmasviolênciasearbitrariedadescometidas.Oalvodeixadesero‘terrorista’,‘esquerdista’ou‘subversivo’e passa a ser o ‘suspeito’, o ‘pobre’, o ‘traficante’, ‘o negro’etc.,masosmesmosmecanismosderepressãocontinuamaconvivernasociedade.
A implementação de uma Comissão da Verdade deve sero passo decisivo para a definitiva superação de uma etapaautoritárianopaíseparaapromoçãodeumaamplareflexãosobreotemadaJustiça.
Narealidade,Verdade, JustiçaeReparaçãoconfiguramumaunidade integral e indivisível. A carência de uma dessasinstânciasafetaasoutras,eseuconjuntoéamelhormaneiradesechegaràreconciliação.
OrelatóriodaComissãodaVerdadedeverádemonstrarque,comodisseumdosministrosdoSupremoTribunalFederal(STF),“aAnistianãopodeconverter-seemAmnésia”,equeo desejo de se conhecer a Verdade sobre o passado nãodecorre de um espírito “revanchista” como apregoam os
votado, aprovado e sancionado no menor lapso de tempopossível, é essencial que se inicie o quanto antes um vastomovimentopopulardeadesãoaoprojeto.
Esse movimento deve ser amplo e geral, permeando asdiferentes classes sociais, associações sindicais e entidadesde defesa dos Direitos Humanos, assim como deve serrepresentativo das mais variadas tendências políticas, semquetenhaumcaráterdeexclusãopartidária.
OacompanhamentodosdebatesnaCâmara,comoexercíciodepressãopessoalporqualquermeio(escrito,pormensagenseletrônicasouabaixo-assinados)sobredeputadosesenadoresé dever de todos. Por exemplo, mensagens ao presidente daCâmara([email protected])e/ouaodeputadoBrizolaNetoeoutros(endereçoseletrônicosestãonositewww.camara.gov.br)sãosempreumaformaadequadademanifestara opinião e, se realizados de forma massiva, são levados emconta. A confecção de documentos que possam contribuirefetivamenteparaodebatepolíticosobreoassuntotambémé dever dos que querem ter participação ativa no processode constituição da Comissão. A promoção, organizaçãoe participação pessoal em reuniões, grupos de estudo edebates,nosmaisvariadosâmbitos,sobreanecessidadedeseimplantaraComissãodaVerdadeJÁétambémumaformadearregimentarmaisadesõesaoprojeto.
Aorganizaçãodemarchasemanifestações,sobretudonosdiasdevotaçãodoprojetonoCongresso,deveseiniciarimediatamente.
O momento deve ser de união em torno dos princípios da Verdade e da Justiça.
CONCLUSÃO
24 25
quenãoqueremqueserevelemseuscrimes,massimdoafãdedivulgaraverdadeiraHistóriaparaqueelanãoserepitaNUNCAMAIS.
Namedidaemquesetenhaconsciênciadequeadivulgaçãodaverdadehistóricasobrearesistênciaaumregimepolíticoquefoi ilegale ilegítimoé imprescindível,edequeoBrasilprecisacompletarosprocessosdereparaçãojáiniciadoscomospassosseguintesdaJustiçadeTransição,umdosquaiséaconformaçãoda Comissão da Verdade, teremos um país onde os valoresdemocráticosemdefesadosDireitosHumanos,dadignidade,dajustiça,datolerância,dorespeitoedapazserãorespeitados.
Ciurlizza,Javier.Para um panorama global sobre a justiça
de transição.(Entrevista).RevistadaAnistiaPolítica,Brasília:
ComissãodeAnistiadoMinistériodaJustiça–Brasil,n.1,jun.2009.
GiraldoM.,Javier.Búsqueda de La Verdad y Justicia: seis
experiencias en posconflicto.Madrid:Cinep,2004.
Hayner,PriscillaB.Unspeakable truths.2.ed.London:Routledge,2011.
Programa Nacional de Direitos Humanos(PNHD3).Brasília:
SecretariadeDireitosHumanosdaPresidênciadaRepública,2010.
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ColetâneadetextosorganizadapelaComissãodaAnistiado
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das vítimas: o caso da ditadura militar no Brasil.In:Ruiz,Castor
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de Direitos Humanos e a obrigação de instituir uma Comissão da
Verdade.In:Gomes,LuisFlavio;Mazzuoli,Valerio(Org.).Crimesda
DitaduraMilitar.SãoPaulo:Ed.RevistadosTribunais,2011.
A Verdade fará referência, acima de tudo, ao futuro
por construir.
BIBLIOGRAFIA
26 27
ANEXO 1
TEXTO INTEGRAL DO PROJETO DE LEI 7376Cria a Comissão Nacional da Verdade, no âmbito da Casa Civil
da Presidência da República
O CONGRESSO NACIONALdecreta:
Art. 1º Ficacriada,noâmbitodaCasaCivildaPresidênciada
República,aComissãoNacionaldaVerdade,comafinalidadede
examinareesclarecerasgravesviolaçõesdedireitoshumanos
praticadasnoperíodofixadonoart.8odoAtodasDisposições
ConstitucionaisTransitórias,afimdeefetivarodireitoàmemóriaeà
verdadehistóricaepromoverareconciliaçãonacional.
Art. 2º AComissãoNacionaldaVerdade,compostadeforma
pluralista,seráintegradaporsetemembros,designadospelo
PresidentedaRepública,entrebrasileirosdereconhecidaidoneidade
econdutaética,identificadoscomadefesadademocraciae
institucionalidadeconstitucional,bemcomocomorespeitoaos
direitoshumanos.
§1ºOsmembrosserãodesignadosparamandatocomduração
atéotérminodostrabalhosdaComissãoNacionaldaVerdade,
aqualseráconsideradaextintaapósapublicaçãodorelatório
mencionadonoart.11.
§2ºAparticipaçãonaComissãoNacionaldaVerdadeserá
consideradaserviçopúblicorelevante.
Art. 3ºSãoobjetivosdaComissãoNacionaldaVerdade:
I–esclarecerosfatoseascircunstânciasdoscasosdegraves
violaçõesdedireitoshumanosmencionadosnocaputdoart.1o;
II–promoveroesclarecimentocircunstanciadodoscasos
detorturas,mortes,desaparecimentosforçados,ocultaçãode
cadáveresesuaautoria,aindaqueocorridosnoexterior;
III–identificaretornarpúblicosasestruturas,oslocais,as
instituiçõeseascircunstânciasrelacionadosàpráticadeviolaçõesde
direitoshumanosmencionadasnocaputdoart.1º,suaseventuais
ramificaçõesnosdiversosaparelhosestataisenasociedade;
IV–encaminharaosórgãospúblicoscompetentestodaequalquer
informaçãoobtidaquepossaauxiliarnalocalizaçãoeidentificação
decorposerestosmortaisdedesaparecidospolíticos,nostermosdo
art.1ºdaLeino9.140,de4dedezembrode1995;
V–colaborarcomtodasasinstânciasdoPoderPúblicopara
apuraçãodeviolaçãodedireitoshumanos,observadasas
disposiçõesdasLeisnos6.683,de28deagostode1979,9.140,de
1995,e10.559,de13denovembrode2002;
VI–recomendaraadoçãodemedidasepolíticaspúblicaspara
prevenirviolaçãodedireitoshumanos,assegurarsuanãorepetiçãoe
promoveraefetivareconciliaçãonacional;e
VII–promover,combasenosinformesobtidos,areconstruçãoda
históriadoscasosdegravesviolaçõesdedireitoshumanos,bem
comocolaborarparaquesejaprestadaassistênciaàsvítimasde
taisviolações.
Art. 4ºParaexecuçãodosobjetivosprevistosnoart.3o,aComissão
NacionaldaVerdadepoderá:
I–recebertestemunhos,informações,dadosedocumentosque
lheforemencaminhadosvoluntariamente,asseguradaanão
identificaçãododetentoroudepoente,quandosolicitado;
II–requisitarinformações,dadosedocumentosdeórgãose
entidadesdoPoderPúblico,aindaqueclassificadosemqualquer
graudesigilo;
III–convocar,paraentrevistasoutestemunho,pessoasquepossam
guardarqualquerrelaçãocomosfatosecircunstânciasexaminados;
28 29
IV–determinararealizaçãodeperíciasediligênciasparacoletaou
recuperaçãodeinformações,documentosedados;
V–promoveraudiênciaspúblicas;
VI–requisitarproteçãoaosórgãospúblicosparaqualquer
pessoaqueseencontreemsituaçãodeameaça,emrazãodesua
colaboraçãocomaComissãoNacionaldaVerdade;
VII–promoverparceriascomórgãoseentidades,públicosou
privados,nacionaisouinternacionais,paraointercâmbiode
informações,dadosedocumentos;e
VIII–requisitaroauxíliodeentidadeseórgãospúblicos.
§1ºAsrequisiçõesprevistasnosincisosII,VIeVIIIserãorealizadas
diretamenteaosórgãoseentidadesdoPoderPúblico.
§2ºOsdados,documentoseinformaçõessigilososfornecidosà
ComissãoNacionaldaVerdadenãopoderãoserdivulgadosou
disponibilizadosaterceiros,cabendoaseusmembrosresguardar
seusigilo.
§3ºÉdeverdosservidorespúblicosedosmilitarescolaborarcoma
ComissãoNacionaldaVerdade.
§4ºAsatividadesdaComissãoNacionaldaVerdadenãoterão
caráterjurisdicionaloupersecutório.
§5ºAComissãoNacionaldaVerdadepoderárequereraoPoder
Judiciárioacessoainformações,dadosedocumentospúblicosou
privadosnecessáriosparaodesempenhodesuasatividades.
Art. 5ºAsatividadesdesenvolvidaspelaComissãoNacionalda
Verdadeserãopúblicas,excetonoscasosemque,aseucritério,
amanutençãodesigilosejarelevanteparaoalcancedeseus
objetivosoupararesguardaraintimidade,vidaprivada,honraou
imagemdepessoas.
Art. 6º AComissãoNacionaldaVerdadepoderáatuarde
formaarticuladaeintegradacomosdemaisórgãospúblicos,
especialmentecomoArquivoNacional,aComissãodeAnistia,
criadapelaLeino10.559,de2002,eaComissãoEspecialsobre
MortoseDesaparecidosPolíticos,criadapelaLeino9.140,de1995.
Art. 7ºOsmembrosdaComissãoNacionaldaVerdadeperceberão
ovalormensaldeR$11.179,36(onzemil,centoesetentaenove
reaisetrintaeseiscentavos)pelosserviçosprestados.
§1ºOservidorocupantedecargoefetivo,omilitarouoempregado
permanentedequalquerdosPoderesdaUnião,dosEstados,dos
MunicípiosoudoDistritoFederal,designadoscomomembrosda
Comissão,manterãoaremuneraçãoquepercebemnoórgãoou
entidadedeorigemacrescidadadiferençaentreesta,sedemenor
valor,eomontanteprevistonocaput.
§2ºAdesignaçãodeservidorpúblicofederaldaadministração
diretaouindiretaoudemilitardasForçasArmadasimplicaráa
dispensadassuasatribuiçõesdocargo.
§3ºAlémdaremuneraçãoprevistanesteartigo,osmembros
daComissãoreceberãopassagensediárias,paraatenderaos
deslocamentos,emrazãodoserviço,queexijamviagemparaforado
localdedomicílio.
Art. 8ºAComissãoNacionaldaVerdadepoderáfirmarparcerias
cominstituiçõesdeensinosuperiorouorganismosinternacionais
paraodesenvolvimentodesuasatividades.
Art. 9ºFicamcriados,apartirde1odejaneirode2011,noâmbito
daadministraçãopúblicafederal,paraexercícionaComissão
NacionaldaVerdade,osseguintescargosemcomissãodoGrupo-
DireçãoeAssessoramentosSuperiores:
I–umDAS-5;
II–dezDAS-4;e
III–trêsDAS-3.
30 31
Parágrafoúnico.Oscargosprevistosnesteartigoficarão
automaticamenteextintosapósotérminodoprazodostrabalhos
daComissãoNacionaldaVerdade,eosseusocupantes,exonerados.
Art. 10ºACasaCivildaPresidênciadaRepúblicadaráosuporte
técnico,administrativoefinanceironecessárioaodesenvolvimento
dasatividadesdaComissãoNacionaldaVerdade.
Art. 11ºAComissãoNacionaldaVerdadeteráprazodedois
anos,contadosdadatadesuainstalação,paraaconclusãodos
trabalhos,devendoapresentar,aofinal,relatóriocircunstanciado
contendoasatividadesrealizadas,osfatosexaminados,as
conclusõeserecomendações.
Art. 12ºOPoderExecutivoregulamentaráodispostonestaLei.
Art. 13ºEstaLeientraemvigornadatadesuapublicação.
OBrasil,entre1964e1985,viveusobumaditaduracivil-militarque
seqüestrou,manteveemcárceresclandestinos,torturou,assassinou
eocultoucadáveresdeseusopositores,e,comafortecensuraque
impôs,impediuoconhecimentocompletodestesfatos,queaté
hojepermanecemsemquetenhamsidoesclarecidosdevidamente.
Porisso,asociedadevemlutando,pordiversosmeios,para
queoEstadoapuretodaaverdade,abrangendoosfatos,as
circunstâncias,ocontextoeasresponsabilidades.EfaçaJustiça.
QueremosumaComissãodaVerdadecomafinalidadederevelar
epromoveraverdadehistórica,oesclarecimentodosfatose
asresponsabilidadesinstitucionais,àsemelhançadoquevem
ocorrendonoâmbitointernacional.
OPoderExecutivoapresentouàCâmaradosDeputadosoProjeto
deLei7.376,de20demaiode2010,paraacriação,naesferada
CasaCivildaPresidênciadaRepública,daComissãoNacional
daVerdade,tendoestaafinalidadede“examinareesclareceras
gravesviolaçõesdedireitoshumanospraticadasnoperíodo“de
1946a1988,“afimdeefetivarodireitoàmemóriaeàverdade
históricaepromoverareconciliaçãonacional”.
Emborabem-vindaaComissão,NacionaldaVerdade,estafoi
originalmenteconcebidacomoumaComissãodeVerdadeeJustiça.
OColetivodeMulherespelaVerdadeepelaJustiça,eaComissão
deFamiliaresdeMortoseDesaparecidosPolíticos,pormeiodeste
documento,abertoàadesãodetodosetodaseàsentidadesda
sociedadecivil,propõeasseguintesalteraçõesaoProjeto:
PARA qUE tENHAMOS UMA COMISSãO qUE EfEtIVE
A JUStIçA:
·operíododeabrangênciadoprojetodeleideveráserrestritoao
períodode1964a1985;
ANEXO 2
MANIFESTOPor uma Comissão Nacional da Verdade e Justiça Brasil, 27 de maio de 2011
http://www.peticaopublica.com.br/?pi=P2011N10720
Para virar a página, antes é preciso lê-la.
(BaltasarGarzón)
32 33
·aexpressão“promoverareconciliaçãonacional”sejasubstituída
por“promoveraconsolidaçãodaDemocracia”,objetivomais
propícioparaimpedirarepetiçãodosfatosocorridossobaditadura
civil-militar;
·noincisoV,doartigo3º,devesersuprimidaareferênciaàsLeis:
6.683,de28deagostode1979;9.140,de1995;10.559,de13de
novembrode2002,tendoemvistaqueestasleissereportam
aperíodoshistóricoseobjetivosdistintosdosquedevemser
cumpridospelaComissãoNacionaldaVerdadeeJustiça.
·oparágrafo4°,doartigo4°,quedeterminaque“asatividadesda
ComissãoNacionaldaVerdadenãoterãocaráterjurisdicionalou
persecutório“,devesersubstituídopornovaredaçãoquedelegueà
Comissãopoderesparaapurarosresponsáveispelapráticadegraves
violaçõesdedireitoshumanosnoperíodoemquestãoeodeverlegal
deenviarsuasconclusõesparaasautoridadescompetentes;
PARA qUE tENHAMOS UMA COMISSãO DE VERDADE:
·oparágrafo2°,doartigo4ºquedispõeque“osdados,documentos
einformaçõessigilososfornecidosàComissãoNacionaldaVerdade
nãopoderãoserdivulgadosoudisponibilizadosaterceiros,cabendo
aseusmembrosresguardarseusigilo”,devesertotalmentesuprimido
pelanecessidadedeamploconhecimentopelasociedadedosfatos
quemotivaramasgravesviolaçõesdosdireitoshumanos;
·oartigo5°,quedeterminaque“asatividadesdesenvolvidaspela
ComissãoNacionaldaVerdadeserãopúblicas,excetonoscasos
emque,aseucritério,amanutençãodosigilosejarelevantepara
oalcancedeseusobjetivosoupararesguardaraintimidade,vida
privada,honraouimagemdepessoas”,devesermodificado,
suprimindo-seaexceçãonelereferida,estabelecendoquetodas
asatividadessejampúblicas,comampladivulgaçãopelosmeios
decomunicaçãooficiais.
PARA qUE tENHAMOS UMA COMISSãO DA
VERDADE LEGítIMA:
·oscritériosdeseleçãoeoprocessodedesignaçãodosmembros
daComissão,previstosnoartigo2º,deverãoserprecedidosde
consultaàsociedadecivil,emparticularaosresistentes(militantes,
perseguidos,presos,torturados,exilados,suasentidadesde
representaçãoedefamiliaresdemortosedesaparecidos);
·osmembrosdaComissãonãodeverãopertenceraoquadrodas
ForçasArmadaseÓrgãosdeSegurançadoEstado,paraquenão
hajaparcialidadeeconstrangimentosnaapuraçãodasviolações
dedireitoshumanosqueenvolvemessasinstituições,tendoem
vistaseucomprometimentocomoprincipiodahierarquiaaque
estãosubmetidos;
·osmembrosdesignadoseastestemunhas,emdecorrênciade
suasatividades,deverãoteragarantiadaimunidadecivilepenale
aproteçãodoEstado.
PARA qUE tENHAMOS UMA COMISSãO COM
EStRUtURA ADEqUADA:
·aComissãodeveráterautonomiaeestruturaadministrativa
adequada,contandocomorçamentopróprio,recursos
financeiros,técnicosehumanosparaatingirseusobjetivose
34 35
responsabilidades.Consideramosnecessárioampliaronúmeroatual
desete(07)membrosintegrantesdaComissão,conformeprevistono
ProjetoLei7376/2010.
PARA qUE tENHAMOS UMA VERDADEIRA CONSOLIDAçãO
DA DEMOCRACIA:
·concluídaaapuraçãodasgravesviolaçõesecrimes,suas
circunstânciaseautores,comespecialfoconoscasosde
desaparecimentosforçadosocorridosduranteoregimecivil-militar,
aComissãodeVerdadeeJustiçadeveelaborarumRelatórioFinal
quegarantaàsociedadeodireitoàverdadesobreessesfatos.A
reconstruçãodemocrática,entendidacomodeJustiçadeTransição,
impõeenfrentar,nostermosadotadospelaEscolaSuperiordo
MinistérioPúblicodaUnião,“(...)olegadodeviolênciaemmassado
passado,paraatribuirresponsabilidades,paraexigiraefetividadedo
direitoàmemóriaeàverdade,parafortalecerasinstituiçõescom
valoresdemocráticosegarantiranãorepetiçãodasatrocidades”.
PARA qUE A JUStIçA SE AfIRME E SE CONSOLIDE A CULtURA
DE RESPEItO E VALORIzAçãO AOS DIREItOS HUMANOS, NóS
ABAIXO ASSINADOS:
fAMILIARES DE MORtOS E DESAPARECIDOS POLítICOS
AlbertoHenriqueBeckerCéliaSilvaCoqueiroCesarAugustoTeles
CleliadeMelloClóvisPetitdeOliveiraCriméiaAliceSchmidtde
AlmeidaDerleiCatarinadeLucaDerlyJosédeCarvalhoEdson
LuisdeAlmeidaTelesElizabethSilveiraeSilvaElzitaSantaCruzEni
MatadeCarvalhoGertrudesMayrIaraXavierPereiraIgorGrabois
OlímpioIvanAkselruddeSeixasIzauraSilvaCoqueiroJanainade
ASSINEM E DIVULGUEM O MAIS AMPLAMENTE POSSÍVELhttp://www.peticaopublica.com.br/?pi=P2011N10720
AlmeidaTelesJoãoCarlosS.A.GraboisJocimarSouzaCarvalho
LauraPetitdaSilvaLorenaMoraniGirãoBarrosoLuciaVieira
CaldasMarcelodeSantaCruzOlivieraMariaAméliadeAlmeida
TelesMariadoAmparoAraújoMariaElianadeCastroPinheiro
MariaSocorrodeCastroPedrinaJosédeCarvalhoRosalinaSanta
CruzSuzanaKenigerLisboaTogoMeirellesNettoVictóriaLavínia
GraboisOlímpioZildaPaulaXavierPereira
COLEtIVO DE MULHERES PELA VERDADE E JUStIçA
DeisyVenturaEleonoraMenecucciIvyFariasMariaAparecida
CostaCantalRitaSipahiRoseNogueiraTerezinhaGonzagade
OliveiraZenaideMachadodeOliveira
APOIADORES
AdrianoDiogoAdrianoGalvãoDiasResendeAnaCristina
ArantesNasserBeatrizCannabravaCândidaMoreiraMagalhães
CássiaCristinaCarlosDarciToshikoMiyakiDulcelinaVasconcelos
XavierElzaFerreiraLoboFreiBettoJoelRufinodosSantosJulia
deOliveiraMargarethRagoMariaAuxiliadoraGalhanoSilva
RobertoNasserJr.
3736
FICHA TÉCNICA
© Todos os direitos reservados. A reprodução desta cartilha
somente será permitida com a autorização do Núcleo Memória
Visiteo
MEMORIAL DA RESISTÊNCIA EM SÃO PAULOLargoGeneralOsório,66–Luz–SãoPaulo
Abertodeterça-feiraadomingo.Entradagratuita.
Núcleo de Preservação da Memória Politica
Diretoria
Alipio Freire
Ary Normanha
Carlos Lichtsztejn
Ivan Seixas
Manoel Cyrillo de Oliveira Neto
Maria Carolina Bissoto
Maurice Politi
Tania Gerber
Vanessa Gonçalves
Fórum dos Ex Presos e Perseguidos Politicos do Estado de São Paulo
Presidente
Rafael Martinelli
Texto
Maurice Politi
www.nucleomemoria.org.br
www.pinacoteca.org.br
www.mndh.org.br
www.memoriasreveladas.arquivonacional.gov.br
www.arquivoestado.sp.gov.br
www.sdh.gov.br
www.mj.gov.br/comissaoanistia
www.ictj.org
www.icrc.org/web/spa/sitespa0.nsf/html/6YCK96
www.wikipedia.org/wiki/Truth_and_reconciliation_commission
www.amnesty.org/en/international-justice/issues/truth-commissions
www.sitesofconscience.org/es
www.memoriaabierta.org.ar
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