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Adriano Oliveira Carlos Gadelha Jr. Roberto Santos O QUE PENSA O ELEITOR PERNAMBUCANO? Análise, comunicação política e instituições Recife 2010

O Que Pensa o Eleitor Pernambucano

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Adriano Oliveira Carlos Gadelha Jr.

Roberto Santos

O QUE PENSA O ELEITOR

PERNAMBUCANO?

Análise, comunicação política e instituições

Recife

2010

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O QUE PENSA O ELEITOR PERNAMBUCANO?

Análise, comunicação política e instituições

Adriano Oliveira Carlos Gadelha Jr.

Roberto Santos

Recife

2010

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Copyright 2010

Sobre os autores

Adriano Oliveira – Doutor em Ciência Política. Professor Adjunto do Departamento de Ciência Política da UFPE. Coordenador do Núcleo de Estudos de Estratégias e Política Eleitoral da UFPE. Colaborador do BLOG do Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau (IPMN). Membro do NICC – UFPE.

Carlos Gadelha – Mestre em Estatística. Estatístico do IPMN. Pesquisador do Núcleo de Estudos de Estratégias e Política Eleitoral da UFPE.

Roberto Santos – Cientista Social (UFPE). Mestrando em Ciência Política (UFPE). Supervisor de Pesquisa do IPMN. Pesquisador do Núcleo de Estudos de Estratégias e Política Eleitoral da UFPE e do NICC – UFPE.

O48 Oliveira, Adriano. O que pensa o eleitor pernambucano?: Análise, comunicação política

e instituições/ Adriano Oliveira; Carlos Gadelha Jr.; Roberto Santos. − Recife: Editora, 2010.

00p. : il.

1. Pesquisa eleitoral − Pernambuco. 2. Eleitores − Pernambuco − Atitudes. 3. Opinião pública − Pesquisa − Pernambuco. 4. Campanha eleitoral − Pernambuco. I. Título. II. Título: Análise, comunicação e instituições.

CDU 324(813.4) CDD 324.981

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Agradecimentos

Agradecemos o financiamento do Instituto de Pesquisas Maurício de Nassau e da Faculdade Maurício de Nassau. Essas duas instituições investem maciçamente em produção de pesquisa. Sem elas, esta obra não existiria, afinal não se faz pesquisa sem recursos.

Agradecemos o apoio e o incentivo acadêmico frequente do professor Janguiê Diniz, presidente do Instituto de Pesquisas Maurício de Nassau. Agradecemos o apoio e a curiosidade científica de Janyo Diniz, diretor-presidente do Instituto de Pesquisas Maurício de Nassau, a qual contribuiu em muito para este livro, e o forte estímulo do diretor de Educação do Instituto, Inácio Feitosa. Agradecemos o apoio, sempre dispensado às nossas ideias, do coordenador do Instituto Maurício de Nassau, Sérgio Murilo. Com o convívio diário com essas pessoas, adquirimos estímulo para superar desafios.

Economia, estatística e ciências sociais devem caminhar juntas. Este livro teve a decisiva contribuição da estagiária em economia do Instituto de Pesquisas Maurício de Nassau Roberta Tekavita e da estagiária em estatística Simara Costa. Agradecemos também a Cássia Lino, Emmanuelle Araújo, Isabel França, Janaína Lacerda, Leidjane Felix e Maria Amanda. Sem elas, a pesquisa que deu origem a este livro não teria ido a campo.

Por fim, agradecemos aos intelectuais que nos precederam e se debruçaram nos estudos eleitorais. O conhecimento é uma construção que tende ao infinito, e cada contribuição avança no sentido da evolução e consolidação dessa área. Sem eles, sem o debate, não haveria a possibilidade de reflexões tão relevantes hoje. Esperamos que este livro possa significar também mais um subsídio nos estudos eleitorais.

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Enquanto um homem é um quebra-cabeça insolúvel, no conjunto, ele se torna uma certeza matemática. Você nunca pode prever o que um homem fará, mas pode dizer com precisão o que, em média, um número deles fará. Individualmente eles variam, mas em média se mantêm constantes.

(Sir Conan Doyle)

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Lista de Quadros e Figuras

Quadro 1 Municípios selecionados para compor a amostra por estrato............................

Figura 1 Gráfico da descrição da amostra em relação ao sexo........................................

Figura 2 Gráfico da descrição da amostra em relação à faixa etária...............................

Figura 3 Gráfico da descrição da amostra em relação ao grau de instrução....................

Figura 4 Gráfico da descrição da amostra em relação à renda........................................

Quadro 2 Resumo da metodologia da pesquisa de opinião...............................................

Figura 5 Posicionamento ideológico da amostra.............................................................

Figura 6 Posicionamento da amostra quanto a privatizações..........................................

Figura 7 Posicionamento da amostra sobre o Estado brasileiro continuar responsável pela previdência social......................................................................................

Figura 8 Posicionamento da amostra quanto à intervenção do Estado no mercado econômico.........................................................................................................

Figura 9 Posicionamento da amostra quanto ao subsídio governamental para ONGs....

Figura 10 Posicionamento da amostra sobre o que deve ser prioridade do governo.........

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Lista de Tabelas

Tabela 1 Distribuição de eleitores e cidades por estrato..................................................

Tabela 2 Descrição da amostra em relação à classe socioeconômica..............................

Tabela 3 Posicionamento da amostra quanto ao aborto (versus sexo, idade e grau de instrução)...........................................................................................................

Tabela 4 Posicionamento da amostra quanto ao aborto (versus renda e região de desenvolvimento)..............................................................................................

Tabela 5 Posicionamento da amostra quanto à união homossexual (versus sexo, idade e grau de instrução.............................................................................................

Tabela 6 Posicionamento da amostra quanto à união homossexual (versus renda e região de desenvolvimento)...............................................................................

Tabela 7 Posicionamento da amostra quanto ao voto obrigatório (versus sexo, idade e grau de instrução)..............................................................................................

Tabela 8 Posicionamento da amostra quanto ao voto obrigatório (versus renda e região de desenvolvimento)...............................................................................

Tabela 9 Posicionamento da amostra quanto à reeleição para cargos majoritários (versus sexo, idade e grau de instrução)............................................................

Tabela 10 Posicionamento da amostra quanto à reeleição para cargos majoritários (versus renda e região de desenvolvimento)......................................................

Tabela 11 Posicionamento da amostra quanto à liberdade de imprensa (versus sexo, idade e grau de instrução)..................................................................................

Tabela 12 Posicionamento da amostra quanto à liberdade de imprensa (versus renda e região de desenvolvimento)..............................................................................

Tabela 13 Posicionamento da amostra sobre a questão: Você abriria mão da democracia em troca de...(versus sexo, idade e grau de instrução)...................

Tabela 14 Posicionamento da amostra sobre a questão Você abriria mão da democracia em troca...(versus renda e região de desenvolvimento).....................................

Tabela 15 Posicionamento da amostra sobre a existência de cotas nas universidades públicas (versus sexo, idade e grau de instrução)..............................................

Tabela 16 Posicionamento da amostra sobre a existência de cotas nas universidades públicas (versus renda e região de desenvolvimento).......................................

Tabela 17 Posicionamento da amostra sobre a corrupção dos políticos (versus sexo, idade e grau de instrução)..................................................................................

Tabela 18 Posicionamento da amostra sobre a corrupção dos políticos (versus renda e região de desenvolvimento)..............................................................................

Tabela 19 Posicionamento da amostra com relação ao nepotismo (versus sexo, idade e grau de instrução)..............................................................................................

Tabela 20 Posicionamento da amostra com relação ao nepotismo (versus renda e região de desenvolvimento)..........................................................................................

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Tabela 21 Posicionamento da amostra com relação às privatizações (versus sexo, idade e grau de instrução)...........................................................................................

Tabela 22 Posicionamento da amostra com relação às privatizações (versus renda e região de desenvolvimento)...............................................................................

Tabela 23 Posicionamento da amostra com relação à privatização da Celpe (versus sexo, idade e grau de instrução)........................................................................

Tabela 24 Posicionamento da amostra com relação à privatização da Celpe (versus renda e região de desenvolvimento)..................................................................

Tabela 25 Posicionamento da amostra sobre a questão Você acha que o Estado brasileiro deveria continuar responsável pela previdência social? (versus sexo, idade e grau de instrução)........................................................................

Tabela 26 Posicionamento da amostra sobre a questão Você acha que o Estado brasileiro deveria continuar responsável pela previdência social? (versus renda e região de desenvolvimento)..................................................................

Tabela 27 Posicionamento da amostra com relação ao Programa Bolsa-Família (versus sexo, idade e grau de instrução).........................................................................

Tabela 28 Posicionamento da amostra com relação ao Programa Bolsa-Família (versus renda e região de desenvolvimento)..................................................................

Tabela 29 Posicionamento da amostra com relação à estabilidade dos servidores públicos (versus sexo, idade e grau de instrução).............................................

Tabela 30 Posicionamento da amostra com relação à estabilidade dos servidores públicos (versus renda e região de desenvolvimento).......................................

Tabela 31 Posicionamento da amostra sobre a questão: Você considera que paga muitos impostos no Brasil? (versus sexo, idade e grau de instrução)...............

Tabela 32 Posicionamento da amostra sobre a questão: Você considera que paga muitos impostos no Brasil? (versus renda e região de desenvolvimento).........

Tabela 33 Posicionamento da amostra sobre a questão Você aceitaria pagar mais impostos em troca de serviços públicos com maior qualidade? (versus sexo, idade e grau de instrução)..................................................................................

Tabela 34 Posicionamento da amostra sobre a questão: Você aceitaria pagar mais impostos em troca de serviços públicos com maior qualidade? (versus renda e região de desenvolvimento)............................................................................

Tabela 35 Posicionamento da amostra sobre a questão: Qual a instituição brasileira em que você mais confia?.......................................................................................

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Sumário

Apresentação............................................................................................................

Prefácio....................................................................................................................

Introdução................................................................................................................

Metodologia Aplicada..............................................................................................

Democracia, Ideologia e Estado..............................................................................

O Estado Limitado e a Liberdade Negativa............................................................

O Elogio da Diversidade..........................................................................................

Democracia Ontem e Hoje.......................................................................................

Por uma Teoria Democrática...................................................................................

A Ação Afirmativa...................................................................................................

Políticos, Corrupção e Nepotismo...........................................................................

Estadolatria, Privatizações e Bolsa-Família.............................................................

Servidores Públicos, Tributos e Eficiência Estatal..................................................

Instituições, Confiança e Segurança Pública...........................................................

Conclusão................................................................................................................

Referências..............................................................................................................

Bibliografia recomendada........................................................................................

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Apresentação

O livro “O que pensa o eleitor pernambucano? Análise, comunicação política e instituições” é inovador, já que não existe obra similar em Pernambuco e os autores, de modo competente, analisam as opiniões dos eleitores pernambucanos e revelam facetas que não eram do conhecimento da opinião pública. É impossível compreender o comportamento do eleitor sem conhecer as suas opiniões. A leitura deste livro possibilita o entendimento do eleitor pernambucano.

O Instituto de Pesquisas Mauricio de Nassau financiou a pesquisa que deu origem a esta obra. Quando os atores me mostraram o questionário que seria aplicado junto aos indivíduos, fiz algumas sugestões, dentre estas, a de que avaliassem a importância do estado para o eleitor. A minha hipótese, a de que existe estadolatria junto aos eleitores, foi comprovada. O livro revela que o pernambucano acredita que o estado pode tudo.

Não discordo totalmente da opinião do eleitor. Mas defendo, e isto exponho sempre em meus artigos, que o estado precisa ser eficiente na prestação dos bens e serviços públicos. E de que a iniciativa privada deve, de modo responsável e buscando sempre a eficiência, ofertar certos bens e serviços, como educação e saúde. O poder estatal também pode agir em parceria com o estado na construção de infraestrutura.

Um dado importante revelado pela pesquisa: o eleitor valoriza a democracia e a liberdade de imprensa. Quantas sugestões já escutei sobre a possibilidade do estado de controlar a imprensa? Inúmeras. Independente das sugestões ditatoriais, este livro revela que o eleitor reconhece a importância da imprensa livre, e, por consequência, da democracia.

É possível criar estratégias eleitorais ou de mercado sem compreender a opinião pública? Não! Para a mensagem mercadológica ser eficaz, ela precisa atender aos anseios do indivíduo. A mensagem não pode propor ou dizer o que o cliente ou o eleitor não deseja. Este livro mostra a necessidade de compreender a opinião pública.

A ciência precisa ser patrocinada pela iniciativa privada. Não abro mão de investir em pesquisas por meio do Instituto de Pesquisas Maurício de Nassau. Esta obra me incentiva a continuar investindo em grandes pesquisadores.

Janguiê Diniz

Presidente do Conselho do Grupo Ser Educacional

[email protected]

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Prefácio

Este livro vem ocupar uma lacuna na Ciência Política pernambucana. Procura decifrar como realmente pensa o eleitor pernambucano em relação a uma série de importantes temas; e o faz tendo como pano de fundo uma visão maquiavélica de poder. Segundo Maquiavel, o critério para aferição do êxito de um governante está na sua capacidade de manter-se no poder. Os três autores adotam essa premissa e desenvolvem um trabalho original. Portanto, este livro será, certamente, leitura obrigatória de todos os que estão no poder, dos que almejam chegar lá, analistas políticos, financiadores de campanhas eleitorais além dos que se debruçam sobre estratégias eleitorais.

Adriano Oliveira, Carlos Gadelha e Roberto Santos mostram-se intelectualmente influenciados por Antonio Lavareda, Alberto Carlos Almeida e Roberto da Matta. Do primeiro, extraem a importante lição de que pesquisas embasam a construção de estratégias eleitorais. Afinal, pesquisas de qualidade geram significativas informações que, corretamente interpretadas, são um insumo fundamental para a confecção de um correto plano de vitória eleitoral.

Inspirados no livro de Alberto Carlos Almeida, os autores não se limitaram a replicar o questionário do mencionado autor. Em boa hora, adicionaram novos e relevantes questionamentos. Por exemplo, é singular constatar que os pernambucanos confiam mais nas suas polícias do que no Exército brasileiro. Pesquisas nacionais, todavia, apontam o Exército como a instituição laica mais confiável do país. Só perdendo para a Igreja Católica que é uma instituição religiosa.

De Roberto da Matta, vem a contribuição para o entendimento do Brasil real em vez do formal. Afinal, almeja-se muito mais conhecer o que o pernambucano realmente pensa em vez de apenas analisar o que as regras formais insinuam como eles deveriam comportar-se.

Essa mescla de influências intelectuais deságua numa pródiga interdisciplinaridade. Há, no livro, uma aproximação entre a Ciência Política e a Antropologia. A “política da antropologia” (political anthropology) é um ramo da ciência em ascensão. O Departamento de Estado dos EUA recentemente contratou antropólogos para fazerem pesquisas etnográficas no Afeganistão. O objetivo é tentar entender como os norte-americanos podem conquistar o coração e a mente da população local, uma vez que o poderio econômico e bélico norte-americano mostrou-se incapaz de fazê-lo. Valores, crenças e motivações de um grupo devem fazer parte do cálculo político de conquista/manutenção do poder.

Há outra mescla interessante neste livro: uma junção entre métodos qualitativos e quantitativos. Números são importantes, mas, sem uma correta interpretação deles, não passa de puro positivismo. Uma das qualidades dos cientistas políticos deste livro está em decodificar as respostas obtidas. Provando falso o axioma de que números falam por

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si. Nem sempre, pois precisam ser devidamente contextualizados.

Já que comecei com o florentino, permito-me finalizar com ele. Maquiavel alertou para o fato de que as mesmas instituições que são consideradas excelentes quando as pessoas são virtuosas tornam-se prejudiciais quando os indivíduos tornam-se corruptos. Uma cultura democrática é crucial para a sustentabilidade da democracia, pois a democracia é muito mais do que a mera soma de suas instituições formais. Como este livro conseguiu, ao seu modo, constatar a fragilidade da democracia brasileira.

Jorge Zaverucha Cientista político, professor da UFPE

Recife, janeiro de 2010.

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Introdução

Este livro mostra a opinião do eleitor pernambucano sobre vários temas. Quando o indivíduo opina sobre uma dada temática, certamente ele espera que sua opinião venha a representar ou represente a realidade. Caso a realidade não conjugue com sua opinião, ele pode desejar transformá-la.

A transformação da realidade pode estar a depender de um ator político, o qual será eleito. Esse ator, constatando que parte da opinião pública deseja mudar a realidade, estará diante de duas opções: 1) aceitar o desejo de mudança do eleitor e construir seu discurso de acordo com a opinião do eleitor sobre determinado fato; 2) ou ir contra a opinião do eleitor.

Diante dessas duas opções, é importante que o candidato saiba o que o eleitor pensa. Pois, desta forma, ele adquire a chance de não dizer algo que contrarie o eleitor. Esta obra revela o que o político pode defender ou não nesta eleição. Aliás, o ator político, como qualquer um de nós, tem a liberdade de expressar qualquer opinião. Contudo, o candidato precisa preocupar-se com a opinião pública, já que seu sucesso eleitoral depende dela.

Este livro diminui a distância entre a opinião acadêmica e a opinião do eleitor. Neste caso, só neste caso, consideramos que o eleitor e a academia podem ter opiniões diferentes. A academia pode defender ou criticar o uso, por exemplo, das Forças Armadas na segurança pública. Contudo, o eleitor concorda que elas sejam usadas. Vários acadêmicos defendem privatizações, mas o eleitor não.

Esta pesquisa revela que dois temas espinhosos, e que geram discussões apaixonadas no âmbito acadêmico, não dividem os eleitores. Majoritariamente, os eleitores pernambucanos defendem o uso das Forças Armadas na segurança pública e são contrários às privatizações.

Qual é a instituição em que você mais confia? Esta obra revela o descrédito das instituições estatais para o eleitor pernambucano. Vejam: 22,4% dos entrevistados afirmam que não confiam em nenhuma instituição; 12,3% confiam na religião; 5,1%, na família e 4,1%, na Polícia Militar. Destacamos dois aspectos: grande número de entrevistados não confia em nenhuma instituição e percentual mínimo deles deposita confiança na Polícia Militar – esta é a instituição estatal mais bem posicionada no ranking das instituições presentes nesta obra.

Não está presente neste livro análise teórica institucional, mas sim a análise empírica. Fizemos essa opção, porque trabalhamos com informações advindas de pesquisa de opinião. O leitor não encontrará nesta obra orientações quanto a estratégias eleitorais, apenas revelamos o que o eleitor pensa; mas, claro, frisamos que o candidato deve, em certa medida, observar a opinião dos eleitores antes de se posicionar.

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Vários atores nos influenciaram na construção desta obra. Dentre esses, destacamos: Roberto da Matta (1977, entre outras), Jorge Zaverucha (2000; 2005), Alberto Carlos Almeida (2008) e Antonio Lavareda (2009).

As obras de Roberto da Mata abordando as práticas sociais do brasileiro nos influenciaram em diversas perguntas contidas no questionário que deram vida a este livro. O brasileiro utiliza o sabe com quem está falando? O brasileiro opta, diante da lei, pelo “jeitinho”? A sociedade brasileira é hierárquica? Sem utilizar profunda argumentação teórica, procuramos mostrar que o pensamento de Roberto da Matta corresponde à realidade brasileira.

Jorge Zaverucha (2000 e 2005) questiona a democracia brasileira em seus escritos. Seus questionamentos à democracia são originais, pois muitos acadêmicos consideram a democracia brasileira consolidada. Esse não é o caso de Zaverucha. Para ele, as instituições brasileiras funcionam adequadamente apenas no âmbito formal. Ao concordarmos com Zaverucha, decidimos saber a opinião do eleitor, e esta obra mostra que Zaverucha tem razão.

Frisamos, ainda, que Zaverucha questiona o uso das Forças Armadas na segurança pública. Constatamos que, ao contrário dessa perspectiva, o eleitor não está preocupado com a legalidade ou não do uso. Ele deseja segurança. Esta obra revela que as Forças Armadas são, para o eleitor, instituição necessária para a segurança pública.

A obra de Almeida (2008) é pioneira no Brasil. Ela revela o que o brasileiro pensa sobre diversas temáticas. Optamos por não repetir os temas presentes no livro de Almeida por curiosidade intelectual, e mesmo porque este livro vem contribuir, assim como o livro de Almeida, com os estudos sobre opinião pública.

Em seu último livro, Antonio Lavareda (2009) expõe com autoridade acadêmica e profissional a importância das pesquisas de opinião para a construção das estratégias eleitorais. Para Lavareda, é importante que o ator político escute o eleitor antes de tomar qualquer decisão.

Como este livro foi escrito por três pessoas, cada um ficou responsável por uma parte do conteúdo. Por isso, temas são abordados mais de uma vez nesta obra. Um estatístico e dois cientistas sociais escreveram este livro. O diálogo entre os autores foi frequente desde o início da pesquisa e da realização do livro. Com três cabeças pensando e a disposição de diversos colaboradores, tornou-se possível a construção intelectual desta obra.

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Metodologia Aplicada

Você é favorável ao voto obrigatório? Você é favorável ao nepotismo? Você é a

favor das privatizações? Você se considera um eleitor de esquerda ou de direita? Qual

o principal problema do estado de Pernambuco?

Questões como essas e as respectivas respostas serão apresentadas ao longo deste livro. Neste capítulo, tentaremos explicar de forma concisa como essas respostas foram obtidas. Serão apresentados os métodos e os procedimentos utilizados, a população que se deseja conhecer, o número de pessoas inquiridas, a precisão e a fidedignidade das respostas.

Uma das maneiras mais comuns e eficientes de se obter dados ou informações sobre características, ações ou opiniões de determinado grupo de pessoas é por meio da realização de pesquisas de opinião. Uma pesquisa de opinião é um levantamento estatístico realizado com base em uma amostra proveniente da população que estamos interessados em investigar. Nas pesquisas de opinião, a população representa o grupo de indivíduos que é definido por meio de uma ou mais características comuns, por exemplo, os indivíduos pertencentes a um determinado segmento social, residentes em uma dada área geográfica, com determinado nível de renda, etc. Em geral, nas pesquisas de opinião, faz-se uma série de perguntas a um pequeno número de pessoas (amostra), e as respostas são estendidas para um grupo maior. Ou seja, representam-se as opiniões de uma população fazendo afirmações sobre ela, baseadas no resultado de uma amostra. É importante ressaltar que não é necessário investigar todos os indivíduos que pertencem à população de interesse para que se produzam resultados que representem bem a população.

Antes de tudo, é imprescindível deixar bem claro o objetivo e a população referenciada neste estudo. O objetivo descreve a intenção da pesquisa, e a população é o conjunto total de indivíduos, elementos ou objetos de que se pretende obter informações. De forma resumida, o objetivo desta pesquisa é investigar a opinião dos

eleitores do estado de Pernambuco em relação às eleições, à política e outros assuntos

de aspecto administrativo. A população é aqui definida pelos eleitores pernambucanos

com 16 anos ou mais de idade. Segundo o Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco (TRE-PE), em 2008, no estado de Pernambuco, existe um total de 6.067.589 eleitores aptos. É praticamente impossível ter acesso à opinião de todos os indivíduos que compõem a população. Nesse caso, o melhor a fazer é trabalhar com uma amostra extraída da população.

Entende-se por amostra um subgrupo de indivíduos que é selecionado entre os habitantes. É a partir desse subgrupo que estimamos as propriedades ou características da população. Para a obtenção de resultados confiáveis, é imprescindível que a amostra seja uma boa representação da população. Sendo assim, nas pesquisas de opinião, pode-

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se afirmar que o processo de seleção da amostra é um processo que exige grande atenção e cuidado por parte dos idealizadores da pesquisa. Trata-se de uma etapa fundamental para a realização de uma pesquisa de opinião de boa qualidade. Outros aspectos importantes para a qualidade da pesquisa são o instrumento de coleta utilizado e o trabalho de campo. A seguir, vamos descrever os principais aspectos metodológicos que foram aplicados para a pesquisa de opinião utilizada neste livro.

Amostragem

O processo de seleção da amostra também é conhecido por amostragem. O termo plano amostral muitas vezes é usado como sinônimo de amostragem, no entanto, pode ser formalmente definido como o protocolo, descrevendo os métodos e as medidas para execução da amostragem. A pesquisa de opinião realizada por amostragem tem por

objetivo − entrevistando-se uma parcela da população que se deseja pesquisar − realizar afirmações válidas para a população como um todo. Para que as respostas obtidas com a amostra e suas interpretações possam ser generalizadas para a população, que para nosso estudo são os eleitores do estado de Pernambuco, é necessário que o número de entrevistas seja satisfatório e também o processo de seleção dos entrevistados seja o mais adequado possível. Enfim, no processo de amostragem, duas perguntas precisam ser respondidas: (1) Qual o tamanho da amostra? (2) Como foram selecionados os entrevistados?

Qual o tamanho da amostra?

A definição do tamanho da amostra, isto é, do número de entrevistas a serem realizadas, depende do tipo de amostragem a ser aplicada e também dos parâmetros que definem a confiabilidade da pesquisa. O cálculo do tamanho da amostra é realizado a partir de uma expressão matemática que é baseada na teoria estatística. Foge ao escopo deste livro uma descrição detalhada do ponto de vista estatístico. O leitor interessado pode encontrar informações adicionais em livros e artigos especializados sugeridos no final do livro.

O nível de confiabilidade e a margem de erro são medidas importantes para descrever a qualidade da pesquisa. Essas medidas são utilizadas no cálculo do tamanho da amostra. A margem de erro representa a distância entre a estatística da amostra e o parâmetro populacional; já o nível de confiança, especifica o percentual de amostras possíveis que satisfaz a margem de erro. Fica a critério do pesquisador definir níveis satisfatórios para esses parâmetros. Por exemplo, quando se afirma que a margem de erro é de 2% e o nível de confiabilidade é de 95%, significa que, se um candidato tem 25% das intenções de voto da amostra (25% é uma estatística da amostra ou, ainda, parâmetro amostral), na população, esse candidato deve ter entre 23% e 27% das intenções de voto. O nível de confiabilidade especifica que, se a pesquisa for realizada cem vezes seguindo a mesma metodologia, apenas em cinco vezes, será apresentado um resultado fora da margem de erro.

Para a definição do tamanho da amostra, utilizamos uma expressão que é uma

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aproximação aceitável quando o plano de amostragem usado é complexo, envolvendo múltiplas etapas de sorteio, estratificação, probabilidades de sorteio proporcionais e múltiplos estágios de seleção da amostra. Com a aplicação da equação, considerando um nível de confiabilidade de 95% e uma margem de erro de 2,3 pontos

percentuais, chegamos ao tamanho amostral de 3.360 entrevistas. Esse foi o quantitativo de entrevistas realizadas para viabilizar a pesquisa de opinião na qual se baseia este livro.

Como foram selecionados os entrevistados?

Tendo conhecimento do número total de entrevistas realizadas, precisamos descrever os procedimentos amostrais utilizados para seleção dos integrantes que farão efetivamente parte da amostra. Existem vários tipos de amostragem utilizados nas pesquisas de opinião, a saber: os métodos probabilísticos, como amostragem aleatória simples, amostragem estratificada, amostragem de conglomerados, amostragem sistemática e em múltiplos estágios; e também os métodos não-probabilísticos, como amostragem intencional, por cotas, acidental, entre outros. A classe de métodos probabilísticos exige que cada elemento da população tenha determinada probabilidade de seleção, enquanto para os não-probabilísticos, isso não ocorre. O objetivo deste capítulo não é descrever detalhadamente cada um desses métodos, mas sim descrever o mecanismo de seleção da amostra utilizado nesta pesquisa. Para tal, foi adotado o procedimento de amostragem aleatória estratificada de conglomerados em três estágios. No primeiro estágio, as unidades amostrais são os conglomerados (municípios) e, no segundo estágio, são os setores censitários. No terceiro e último estágio de seleção, temos como unidade amostral as pessoas residentes nos municípios e setores selecionados. Em outras palavras, primeiramente foram sorteadas as cidades, em seguida os setores censitários dos municípios selecionados e, por último, os eleitores para os setores selecionados.

A pesquisa estabeleceu um total de seis domínios geográficos compostos pela cidade do Recife e pelas cinco mesorregiões do estado. Cada domínio compõe um estrato. O primeiro estrato incorporou apenas o Recife, com o intuito de garantir que a capital fizesse parte da amostra. A estratificação da população foi realizada considerando os seis estratos, a saber: i) cidade do Recife; ii) Região Metropolitana do Recife, excluída a capital; iii) Região da Zona da Mata; iv) Região do Agreste; v) Região do Sertão; e vi) Região do São Francisco.

Nesta etapa, as cidades foram consideradas como unidade primária de amostragem. Cada cidade está agrupada em um dos seis estratos, segundo o domínio geográfico ao qual ela pertence. A quantidade de cidades selecionadas por estrato corresponde à proporção de eleitores em cada estrato. O sorteio das cidades foi realizado com probabilidade de seleção proporcional ao tamanho de cada cidade, ou seja, com probabilidade proporcional ao número de eleitores de cada cidade. Foi contemplado um total de 24 cidades, que ficaram distribuídas segundo a Tabela 1

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Tabela 1−−−− Distribuição de eleitores e cidades por estrato

Fonte: TRE-PE, 2008

A Tabela 1 apresenta o número de municípios, o total de eleitores aptos, a proporção populacional e o número de cidades que compõem a amostra por estrato. As cidades selecionadas para compor a amostra por estrato são apresentadas no Quadro 1.

Quadro 1 −−−− Municípios selecionados para compor a amostra por estrato

Fonte: Autoria própria

No segundo estágio, os setores censitários de cada cidade selecionada foram referenciados como a unidade secundária de amostragem. Em cada município que compõe a amostra, foram selecionados aleatoriamente 6 setores censitários. Exceto para a cidade do Recife, para a qual foi sorteado um total de 30 setores censitários. No terceiro e último estágio de seleção, foram selecionados 20 eleitores em cada setor censitário determinado. Dessa forma, foi realizado um número fixo de 120 entrevistas em cada cidade, exceto para a cidade do Recife, onde foi realizado um total de 600 entrevistas. Isto é, a amostra contemplou um total de 3.360 eleitores, distribuídos em 24 cidades do estado de Pernambuco.

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Instrumento de coleta de dados

Tendo identificado o objetivo e a população do estudo, é necessário definir o instrumento de coleta de dados que será utilizado para coletar as informações para a amostra projetada. O instrumento de coleta comumente utilizado nas pesquisas de opinião é o questionário de pesquisa estruturado. Esse instrumento consiste de uma série de perguntas que podem ser de caráter fechado ou aberto e são definidas de acordo com os objetivos do levantamento. As perguntas foram formuladas de modo que tenham uma compreensão clara e direta para o entrevistado. O questionário de pesquisa pode ser aplicado de várias formas: por telefone, correspondência, autoaplicável ou por entrevistas pessoais. Esta última foi o procedimento adotado nesta pesquisa por ser considerada a forma mais confiável, visto que, nesse caso, os questionários são aplicados a cada indivíduo que compõe a amostra por meio de um entrevistador treinado para coletar a informação do entrevistado da forma mais fidedigna possível.

Trabalho de campo

Esta etapa deve ser considerada uma das mais importantes, senão a mais importante, em uma pesquisa de opinião. Trata-se efetivamente da coleta dos dados. É o momento em que os pesquisadores entrevistam os integrantes da amostra. O correto dimensionamento da amostra e a definição de um plano de amostragem adequado não são suficientes para garantir resultados de boa qualidade em uma pesquisa de opinião, porque podem surgir erros que não são considerados no processo de amostragem. Esses são chamados de erros não amostrais; eles ocorrem quando os dados amostrais são coletados, registrados ou analisados incorretamente. Esse tipo de erro é não mensurável, diferentemente do erro amostral, que é estimado a partir do desenho da amostra.

Uma das principais fontes de erros não amostrais se dá no trabalho de campo, ou seja, incorre de entrevistas mal aplicadas, fraude dos questionários e do não cumprimento dos procedimentos definidos no plano amostral. A proposta é minimizar ao máximo os erros advindos do trabalho de campo a ponto de não comprometer os resultados da pesquisa.

Os procedimentos adotados aqui são o treinamento efetivo dos entrevistadores, a supervisão e checagem dos questionários e a seleção de profissionais comprometidos com a realização do trabalho. O treinamento que foi realizado com os pesquisadores teve por objetivo instruí-los na aplicação dos questionários. Diversas informações foram abordadas, como abordagem do entrevistado, procedimentos para responder aos questionários, entre outras. As estratégias para a coleta dos dados devem ser rigorosamente seguidas de acordo com o que foi definido no esquema amostral. É importante e necessário que o questionário seja aplicado de forma uniforme e precisa. Para tanto, é fundamental atender integralmente às definições e aos procedimentos estabelecidos.

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Para este trabalho, a devida importância foi dada ao trabalho de campo por meio do treinamento, monitoramento e da supervisão do processo de coleta dos dados com o intuito de garantir resultados fidedignos e confiáveis.

Perfil da amostra pesquisada

De posse dos dados coletados, é possível desenhar o perfil da amostra obtida. Esse perfil pode ser interpretado a partir de características socioeconômicas que identificam segmentos da amostra no que diz respeito às variáveis sexo, idade, grau de

instrução e renda dos entrevistados. As 3.360 entrevistas foram realizadas no período de 11 a 14 de agosto de 2009. A Figura 1 mostra a proporção de entrevistados do sexo masculino e feminino para a amostra obtida.

Figura 1 −−−− Gráfico da descrição da amostra em relação ao sexo

Observamos que o número de pessoas entrevistadas do sexo masculino e

feminino é relativamente semelhante, havendo maior proporção de mulheres, 52,5% e 47,5% de homens.

A Figura 2 apresenta o percentual de entrevistados segundo a idade, que está representada em cinco intervalos ou categorias. É possível observar que todos os segmentos de idade estão representados na amostra, havendo maior proporção de eleitores no intervalo dos 25 a 34 anos de idade, 25,5%, e menor proporção na categoria 60 anos ou mais de idade, com 13,2%.

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Figura 2 −−−− Gráfico da descrição da amostra em relação à faixa etária

A Figura 3 que segue representa o percentual de eleitores na amostra de acordo com seu grau de instrução. Os entrevistados estão representados em cinco categorias, que vão desde eleitores que concluíram até a 3.ª série do nível fundamental até eleitores que possuem curso superior completo no período de realização das entrevistas. A categoria predominante representa 29,8% dos eleitores entrevistados, que são os eleitores que possuem o ensino médio completo na data de realização das entrevistas.

Figura 3 −−−− Gráfico da descrição da amostra em relação ao grau de instrução

Os segmentos da amostra de eleitores segundo a renda estão representados na Figura 4. Os entrevistados estão agrupados por intervalos de renda de acordo com o número de salários mínimos (SM). O grupo de menor representatividade na amostra tem apenas 0,5% do total de entrevistados, que são os eleitores com renda acima de 10 salários mínimos. O grupo com maior proporção de entrevistados na amostra é o dos eleitores que têm renda de até 1 salário mínimo (41,3%). Também está representado na Figura 4 o percentual de entrevistados que não declararam ou afirmaram não saber qual o valor da renda. O percentual de não sabem/não responderam (NS/NR) foi de 15,8%. É comum nas pesquisas de opinião os entrevistados não se sentirem à vontade em divulgar quanto ganham. Sendo assim, o percentual de não resposta é relativamente alto. Outro fenômeno que supostamente pode ocorrer durante as entrevistas quando se fala de renda

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é que o entrevistado assume ter um rendimento menor do que realmente tem, subestimando sua renda real.

Figura 4 −−−− Gráfico da descrição da amostra em relação à renda

Para contornar essas deficiências, uma solução que é adotada na prática é utilizar um critério de pontuação para representar a condição socioeconômica dos entrevistados. Aqui foi utilizado o Critério de Classificação Econômica Brasil (CCEB), promovido pela Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa (ABEP). A ideia é utilizar um sistema de pontos baseado no grau de instrução do chefe da família e em relação à posse de alguns utensílios como televisão, geladeira, carro, etc. O sistema de pontos provê uma classificação para cada indivíduo de acordo com classes socioeconômicas.

A Tabela 2 representa os resultados do CCEB aplicado à amostra de eleitores utilizada neste estudo. A amostra está dividida em oito grupos que representam as classes socioeconômicas definidas no CCEB. O grupo com o maior percentual de entrevistados na amostra é o dos indivíduos da classe C2, com um total de 28% dos entrevistados.

Tabela 2 −−−− Descrição da amostra em relação à classe socioeconômica

Com base nas cinco características aqui apresentadas, que foram levantadas com

base nos dados amostrais, pode-se compreender o perfil da amostra obtida neste estudo. Essas características socioeconômicas serão utilizadas nos capítulos posteriores para ilustrar opiniões que podem divergir para determinados segmentos amostrais, como renda ou grau de instrução.

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Considerações finais

Nesse capítulo, foram apresentados de forma pormenorizada os procedimentos amostrais utilizados para obtenção dos dados que serão utilizados ao longo desse livro. Dessa forma, o leitor terá um entendimento claro em relação à obtenção dos dados. Isso também possibilitará que o leitor tenha a mesma segurança dos autores desse livro na interpretação e exposição dos resultados da pesquisa de opinião que foi aplicada.

A quantidade de informações e termos utilizados neste capítulo pode parecer um tanto confusa para a maioria dos leitores que não estão familiarizados com o tema. Com o intuito de favorecer o leitor na hora de organizar as ideias do que foi exposto neste capítulo, o seguinte quadro foi elaborado de forma a resumir as informações mais relevantes para a metodologia da pesquisa de opinião aqui apresentada.

Quadro 2 −−−− Resumo da metodologia da pesquisa de opinião

OBJETIVO: Investigar a opinião dos eleitores pernambucanos em relação às eleições, à política e

outros assuntos administrativos.

ÁREA DE ABRANGÊNCIA: Estado de Pernambuco.

DATA DA COLETA: As entrevistas foram realizadas no período de 11 a 14 de agosto de 2009.

POPULAÇÃO: Eleitores com 16 anos ou mais de idade, residentes na área de abrangência.

AMOSTRA: A amostra foi selecionada com base em um plano de amostragem estratificada de

conglomerados em três estágios. No primeiro estágio, foram sorteados os municípios. No segundo

estágio, foram sorteados os setores censitários e, em seguida, foi selecionado um número fixo de pessoas

segundo cotas amostrais das variáveis sexo e faixa etária.

NÚMERO DE ENTREVISTAS: O tamanho da amostra foi de 3.360 entrevistas.

CONFIABILIDADE: O número de entrevistas foi estabelecido com um nível estimado de 95% de

confiança e uma margem de erro estimada de 2,3 pontos percentuais.

FONTE: A amostra foi definida com base nas fontes oficiais de dados: Censo IBGE, TSE e TRE.

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Democracia, Ideologia e Estado

As doutrinas políticas contemporâneas, na perspectiva que aqui adotamos, são aquelas correntes de pensamento que inspiram e orientam os partidos políticos – em termos de influência, voto e acesso ao poder – no mundo de hoje. Dito de outra maneira, aquelas correntes que definem os partidos atuais. Pelo menos no mundo ocidental, a grande maioria dos partidos políticos importantes enquadra-se em liberalismo ou social-democracia.

Liberalismo é uma concepção de Estado, de um Estado limitado. Seu traço principal, portanto, é a convicção de que o poder do Estado não pode ser exercido em todos os campos, mas que existem esferas sujeitas à deliberação individual – classicamente, o âmbito da economia e da vida privada. Para o liberalismo, portanto, o essencial é limitar o poder.

Na social-democracia ou novas esquerdas, em síntese, postula-se o Estado como agente econômico exclusivo ou principal além da prioridade do desenvolvimento sobre o equilíbrio das contas públicas; esses fatores não são capazes de delimitar hoje, embora já o tenham sido, uma posição de esquerda. Analogamente, a aceitação de mecanismos de mercado, a integração na economia mundial e a preocupação com o déficit não caracterizam, por si, uma posição de direita.

No plano empírico, os atores políticos continuam a se posicionar e a serem posicionados ao longo da polaridade entre esquerda e direita. No entanto, à medida que a perda de significado dos eixos citados progride, resta como marco definidor apenas o eixo original: a igualdade como valor.

Essa é a posição, entre outros, de Norberto Bobbio (1992). Para esse autor, o valor da igualdade distingue a esquerda e a opõe à direita, definida pelo apreço ao valor da diversidade. O valor liberdade definiria outra polaridade, aquela que confronta libertários e autoritários. O posicionamento ideológico da população pernambucana pode ser percebido da seguinte forma:

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Figura 5 −−−− Posicionamento ideológico da amostra

À pergunta sobre a posição ideológica dos entrevistados, 16% afirmaram ser de esquerda; 12% de direita; 5% de centro-esquerda; 5% de centro; 2% de centro-direita; 40% afirmaram não ter uma posição ideológica definida e 21% não souberam responder ou não opinaram. Podemos afirmar, então, que a maioria dos pernambucanos não se identifica com nenhuma corrente ideológica. Porém, procuramos identificar, de maneira desagregada, o posicionamento dos eleitores pernambucanos ao questioná-los sobre os pontos clássicos que diferenciam as posições ideológicas, sobretudo no que diz respeito ao tamanho da democracia e ao valor da liberdade e igualdade.

Não vamos fazer aqui uma análise valorativa das doutrinas políticas. Entendemos que um debate sobre modelos de democracia não deva se perder em uma discussão entre estado mínimo versus estado estatizante. Mesmo porque nenhuma gestão se encaixa perfeitamente em nenhum desses modelos, nem poderiam. Os governos apenas se aproximam do tipo ideal em cada polo ideológico, e, por definição, um tipo ideal nunca é atingindo, trata-se de um modelo, um referencial. Mas entendemos que questões relacionadas com o papel ou o tamanho do Estado podem criar um panorama do posicionamento ideológico do eleitorado, para além do autorreconhecimento, a saber, privatização, previdência social, intervenção governamental no mercado econômico e subsídio de ONGs.

Ao se perguntar: Você é a favor das privatizações, tal como as realizadas por

FHC?, 60% dos entrevistados se posicionaram contrários às privatizações realizadas pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Apenas 10% se mostraram favoráveis e 11%, favoráveis com ressalvas. Notadamente, as políticas (neo) liberais adotadas por FHC foram impopulares para o povo pernambucano. Sem dúvida, nesse aspecto, os eleitores se mostram mais tendenciosos aos paradigmas da esquerda ou social- democrata.

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Figura 6 −−−− Posicionamento da amostra quanto a privatizações

Na questão seguinte, “Você acha que o Estado brasileiro deveria continuar

responsável pela previdência social?”, mais uma vez, os pernambucanos adotam uma posição voltada à esquerda: como pode ser visto na Figura 7, 71% dos entrevistados afirmam ser favoráveis que o Estado continue responsável pela Previdência Social, enquanto 12% se colocaram contrários. Esse dado revela que o sistema de previdência privada não é disseminado na sociedade pernambucana e as pessoas preferem a segurança do Estado ao investirem em uma aposentadoria. O medo de um calote no futuro pode ser uma das prováveis causas desse repúdio aos serviços de previdência privada.

Figura 7 −−−− Posicionamento da amostra sobre o Estado brasileiro continuar responsável pela

previdência social

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Quando o tema é intervenção no mercado econômico, 45% concordam que o Estado deva intervir nele; 29% são favoráveis à intervenção apenas em grandes crises; e 10% optam pela ortodoxia liberal, afirmando que o Estado nunca deveria intervir no mercado. Muito longe das ideias do liberalismo clássico de Adam Smith e sua mão invisível, o povo pernambucano acredita que o Estado como ator ativo na economia possa trazer mais justiça e segurança social.

Figura 8 −−−− Posicionamento da amostra quanto à intervenção do Estado no mercado econômico

Fechamos o debate acerca do tamanho do Estado na construção de uma posição ideológica com a questão referente a subsídio governamental para organizações não-governamentais. Apesar de parecer uma contradição em termos, o financiamento público a ONGs é aceito por 32% da população de Pernambuco, como mostra a Figura 9. Com alguma ressalva, 23% dos entrevistados aceitam enquanto apenas 22% se dizem contrários a essa prática.

Figura 9 −−−− Posicionamento da amostra quanto ao subsídio governamental para ONGs

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Esses dados nos permitem traçar um perfil interessante da população pernambucana nesse aspecto. Em sua maioria, a população eleitoral de Pernambuco é composta por pessoas que: i) são contrárias a privatizações de empresas estatais; ii) são favoráveis à responsabilidade do Estado na previdência social; iii) concordam que o Estado intervenha no mercado; e iv) aceitam que o Estado subsidie ONGs. Apesar de os pernambucanos, na maioria, não se identificarem com nenhuma corrente, quando analisamos seu posicionamento de forma desagregada, percebemos que existe uma forte tendência à esquerda.

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O Estado Limitado e a Liberdade Negativa

Qual a razão para o poder do Estado deter-se perante alguma esfera, algum limite? A resposta está na doutrina dos direitos humanos, pressuposto filosófico de grande parte das versões do Estado liberal.

Conforme essa doutrina, há um conjunto de direitos inatos aos seres humanos, direitos que a associação política não pode violentar ao sabor de sua conveniência. O direito à vida, à liberdade, à segurança, à busca da felicidade, por exemplo, nasce com cada indivíduo. Podemos agir de forma a efetivá-los e podemos, legitimamente, resistir a qualquer tentativa de sua violação.

Esses direitos são naturais portanto. Não dependem de outorga da coletividade ou do governo. Não podem, em consequência, ser por eles revogados. Têm como fundamento uma concepção geral da natureza humana, que não precisa estar fundamentada em pesquisa empírica ou provas históricas. Podemos chegar a essa concepção com o uso exclusivo da razão. Na verdade, essa ideia de um conjunto de direitos humanos já presentes em um hipotético Estado de natureza, anterior à constituição da sociedade, é justificativa, no plano da ideologia, de um processo histórico determinado, de limitação do poder.

O pressuposto dos direitos naturais encontra-se, assim, estreitamente vinculado ao contratualismo, à ideia de contrato social como origem da sociedade. O contratualismo postula que a sociedade não é um fato natural, mas artificial, fruto da vontade humana; que a sociedade não é um fim ao qual os indivíduos devem devotar-se, mas um meio para a satisfação de necessidades e interesses individuais. Postula, enfim, a precedência, histórica e lógica, dos indivíduos sobre o coletivo: primeiro existem indivíduos singulares com suas necessidades, depois a sociedade. A ideia de direitos naturais do homem e a concepção contratualista de sociedade são inseparáveis de uma posição individualista. O individualismo, segundo Bobbio, é a condição do liberalismo.

Vimos que o problema que define o liberalismo é a limitação do poder do Estado. Essa limitação se dá em dois aspectos diferentes:

• Primeiro: nos poderes do Estado;

• Segundo: nas funções do Estado.

A limitação dos poderes do Estado dá lugar ao chamado estado de direito, oposto ao estado absoluto. Estado de direito implica a limitação dos poderes do Estado em pelo menos dois planos distintos. No primeiro, dizemos que os poderes públicos são limitados quando se encontram regulados por normas gerais, normalmente inscritas numa Constituição, e só podem ser exercidos de acordo com essas normas. Esse primeiro plano, no entanto, não é suficiente, uma vez que as normas constitucionais

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podem descuidar da defesa dos direitos individuais. Pode haver, como de fato já houve, despotismo consagrado pelas leis. O segundo plano se produz, portanto, quando as próprias normas incorporam o respeito aos direitos considerados fundamentais.

O Estado de direito implica também a vigência de mecanismos de controle do poder. Normalmente, esses mecanismos enquadram-se num dos seguintes tipos: controle do Executivo pelo Legislativo, controle do Legislativo por uma Corte de Justiça, autonomia local e autonomia do Judiciário diante dos demais poderes.

A limitação das funções do Estado, por sua vez, desenha uma segunda faceta da utopia liberal: o Estado mínimo, cujo antônimo é o Estado máximo (que considera legítimo agir em esferas reservadas pelos liberais para a iniciativa individual). Em síntese, o projeto liberal demanda um Estado com as seguintes características:

• primeira − exercício do poder regulado por normas gerais, normalmente reunidas em uma Constituição;

• segunda − incorporação, nesse conjunto de normas, de garantias aos direitos considerados fundamentais;

• terceira − presença de mecanismos efetivos de controle do poder.

A concepção de liberdade implícita no ideal de limitação do poder do Estado é, como vimos, a de liberdade negativa. Em sua análise, liberdade e poder constituem termos que se excluem mutuamente. Só há liberdade onde o indivíduo não é tolhido por determinações externas a ele, como aquelas provenientes de um poder público. Em outras palavras, quanto mais as leis são amplas e numerosas, menos livres são os indivíduos a elas sujeitos. Nessa perspectiva, os dois tipos de limites acima mencionados reforçam-se um ao outro. Quanto menores as funções atribuídas ao Estado, mais fácil será o controle de seus poderes.

No entanto, para os liberais, há um limite a essa “minimização” do Estado. Afinal, se o Estado é um mal, no seu ponto de vista, é um mal necessário. Postular o Estado como um mal que pode ser eliminado é a clássica posição anarquista, não a liberal. Conforme esta última, a emancipação do indivíduo em relação ao Poder, da sociedade civil em relação ao Estado, é obrigatória em certas esferas, mas sempre permanecerão funções impossíveis de serem efetuadas com o esforço exclusivo da iniciativa de particulares. Do lado dos campos reservados aos indivíduos, sobressaem o religioso e o econômico.

A liberdade econômica, por sua vez, implantou-se contra os privilégios e vínculos feudais, que determinavam, no momento do nascimento, a profissão, o local de trabalho e as oportunidades de comércio de cada um. As liberdades de escolher a profissão, o local de trabalho, de livre circulação de homens e mercadorias, consolidaram-se, na Inglaterra, no decorrer do século XVIII. Ambas as esferas são o terreno da primeira leva histórica de direitos, os direitos civis, na periodização proposta

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por Marshall.

Importa ressaltar a posição radicalmente antipaternalista assumida pelos liberais. Religião, estilo de vida, costumes, profissão, negócio, são todas esferas em que cada um é o melhor juiz de seu interesse. A intromissão de regras externas, mesmo as da lei, que digam aos indivíduos o que devem fazer e como devem comportar-se, resulta sempre em perdas para os interessados. O paternalismo, na visão de diversos expoentes do pensamento liberal, é a pior forma de despotismo.

Que papel resta ao Estado nessa perspectiva? Cabe ao Estado prover as condições necessárias ao livre desenvolvimento dos indivíduos. Na fórmula clássica de Adam Smith, são suas funções exclusivas a garantia da segurança, externa e interna, e a realização de obras públicas que os agentes privados não possam realizar.

Já a liberdade de consciência é considerada fundamental por todas as variantes do liberalismo. Iniciada com a conquista da liberdade religiosa, no século XVII ampliou-se progressivamente para a esfera da opção política, dos costumes, do estilo de vida. Nesse sentido, a consolidação das liberdades individuais passou por um processo de separação entre Igreja e Estado. Afinal, um Estado intimamente relacionado com uma religião não poderia prover essa liberdade religiosa. Foi o surgimento do conceito de Estado laico.

No Brasil, essa separação foi gradual e inacabada. Temos liberdade religiosa, entretanto, a Igreja Católica exerce forte influência nas liberdades individuais com a prática de lobby no Congresso Nacional. Atualmente, em particular, esse lobby se concentra em duas frentes: a manutenção do status quo que proíbe a união civil homossexual (tema que será abordado mais adiante) e a criminalização do aborto.

Influenciados pela visão religiosa de que a vida surge na concepção entre os zigotos, inviabilizando o aborto em qualquer período da gestação, a população pernambucana se mostrou contrária a essa prática. Como se vê nas Tabelas 3 e 4, são contra o aborto 59% dos entrevistados; 29% admitem a prática apenas em alguns casos, possivelmente relacionados com estupro e pedofilia; e somente 11% se posicionaram favoráveis ao aborto.

Tabela 3 −−−− Posicionamento da amostra quanto ao aborto (versus sexo, idade e grau de instrução)

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Tabela 4 −−−− Posicionamento da amostra quanto ao aborto (versus renda e região de desenvolvimento)

É interessante observar que a escolaridade é inversamente proporcional à

reprovação da prática do aborto. Ou seja, quanto maior o grau de instrução, menos o aborto é rejeitado. Essa relação também é verdadeira quando analisamos a estratificação por renda. Sendo assim, percebemos que existe uma relativização do aborto nas classes superiores da pirâmide social, e, por conseguinte, nos mais escolarizados. Isso não quer dizer que exista um afastamento religioso. Admitimos a hipótese de esse seguimento compreender uma distinção entre valores religiosos e direitos individuais.

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O Elogio da Diversidade

Chegamos, neste ponto, a outro traço distintivo do pensamento liberal: o apreço pela variedade. Na verdade, na ótica liberal, esse tema encontra-se estreitamente vinculado ao anterior. O propósito do governo sempre é a produção da ordem e do bem-estar; dessa maneira, sua interferência sobre esferas que deveriam reservar-se ao âmbito do privado tende sempre a produzir efeitos homogeneizadores sobre os cidadãos. O Estado age por meio do poder administrativo, de regras impessoais aplicáveis a todos, regras cuja boa aplicação é fiscalizada por estamentos burocráticos especializados. Quanto maior, portanto, o número e alcance dessas regras, mais o Estado estará exigindo dos cidadãos que se comportem de forma semelhante.

Para os liberais, quanto mais avançam o Estado, as regras e a burocracia sobre as esferas de decisão individual, menor o espaço da liberdade. A grande tentação, no caso, é o paternalismo já citado: a tentação de converter o Estado em provedor da vida do cidadão. A segurança, a ausência de risco que a opção implica, tem como contrapartida, a perda de autonomia, a uniformidade e a estagnação. Haveria, nesse caso, perda em eficiência, mas também perda em liberdade.

Abrir espaço para a autonomia dos indivíduos é abrir espaço para sua diversidade e seus conflitos. Ao contrário das concepções holistas, que prezam a harmonia e a concórdia e consideram o conflito sintoma de desordem e desagregação social, a perspectiva liberal aceita a diversidade e o conflito como fontes da inovação, da mudança e do progresso. O avanço científico, o crescimento econômico, a seleção dos melhores líderes políticos são processos de aperfeiçoamento continuado, que o conflito torna possíveis. Essa é a origem da diferença, trabalhada pelo pensamento liberal desde seus primórdios, entre o dinamismo dos países europeus livres e a estagnação própria do despotismo oriental.

Olhando para os dados mostrados na questão “Você é a favor da união homossexual?”, observa-se que os pernambucanos não têm assimilado tão profundamente o valor da diversidade. Esse apreço pela diversidade da sexualidade, de maneira geral, é rejeitado por grande parte dos pernambucanos. Segundo a Tabela 5, são contra a união homossexual 53% e apenas 36% são favoráveis.

No entanto, podemos observar diferenças interessantes quando focamos nos estratos e categorias. Mulheres (42%), de 16 a 24 anos (41%), com nível superior completo (41%), com renda maior que 5 salários mínimos (45%), representam o perfil que mais tolera a diversidade sexual. A localização geográfica pouco interfere nesse índice de tolerância. Observem que, nesse perfil, nenhuma categoria chega a mais da metade dos entrevistados (Tabelas 5 e 6).

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Tabela 5 −−−− Posicionamento da amostra quanto à união homossexual (versus sexo, idade e grau de instrução

Tabela 6 −−−− Posicionamento da amostra quanto à união homossexual (versus renda e região de desenvolvimento)

A sociedade nordestina, de maneira geral, criou a cultura da masculinidade, em que a homossexualidade é vista com demasiado preconceito. Razão de apenas 36% dos entrevistados serem favoráveis à união entre pessoas do mesmo sexo. Entretanto, pode-se perceber que, quanto maior o nível de escolaridade, maior é a aceitação da união homossexual, sendo considerável a diferença quando comparamos pessoas com nível de até a 3.ª série do ensino fundamental e pessoas com grau superior completo. A hipótese é que, com o crescimento da escolaridade, o valor da diversidade, inclusive nesse seguimento, alcance níveis de aceitação bem maiores com o tempo. Afinal, preconceito é uma opinião sem conhecimento. Apenas estudos sistemáticos entre nível de escolaridade e aceitação da união homossexual podem corroborar essa hipótese, mas já é uma luz no fim do túnel.

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Democracia Ontem e Hoje

Enquanto o liberalismo é produto moderno, a democracia tem seu nascimento na antiguidade. No entanto, a democracia moderna difere da antiga em um aspecto fundamental: os antigos deliberavam na Ágora, praça de reunião dos cidadãos de Atenas; os modernos delegam a deliberação a seus representantes.

É claro que as dimensões dos Estados modernos tornam inviável a democracia direta. No entanto, os teóricos do liberalismo levantaram argumentos outros, além da viabilidade, em favor da democracia representativa. A manifestação direta da vontade do eleitor produziria decisões excessivamente coladas aos interesses particulares dos cidadãos. Daí a propensão ao facciosismo e à demagogia, características da democracia antiga.

Nas democracias modernas, a representação diminui esses efeitos da manifestação da vontade popular, e mais quando são tomadas precauções contra a prática do mandato imperativo. Ou seja, no momento em que o mandatário se considera representante de uma parte do povo, de um distrito, por exemplo, e não do povo inteiro, estariam abertos os caminhos, de um ponto de vista liberal clássico, para a reprodução dos defeitos da velha democracia. Aliás, democracia antiga e liberalismo moderno são claramente incompatíveis. A primeira desconhecia limite ao poder da sociedade sobre os indivíduos. O segundo, historicamente, desconfia do voto popular.

A confluência entre liberalismo e democracia a que nos referimos anteriormente implica um grau elevado de consenso acerca do significado da igualdade que a democracia busca. A igualdade que o liberalismo aceita, aquela compatível, a seu ver, com o princípio da limitação do poder, é a de cunho jurídico-formal, não aquela ética; é a procedimental, não a substantiva; é a de regras igualmente aplicáveis a todos, não a que procura uma situação de igualdade ao fim do processo.

A confusão entre os dois tipos de igualdade levou a polêmicas reiteradas entre liberais e socialistas acerca da comparação entre uma situação de democracia formal, sem igualdade material, e outra, na qual a igualdade das situações de cada um era obtida ao preço das liberdades.

A divergência é insolúvel. Liberdade e igualdade, no campo da produção material, da economia, são dois valores excludentes. De um lado, temos os liberais, que prezam o individualismo, o conflito, a diversidade. Para eles, o fim principal é o desenvolvimento dos indivíduos, mesmo que o desenvolvimento daqueles “mais capazes” se faça em detrimento dos demais. De outro lado, temos os igualitaristas, partidários de uma visão holista, que valorizam a harmonia. Seu ideal é o desenvolvimento equânime, e não conflitivo, de toda a coletividade.

Para os liberais, a igualdade compatível com a manutenção da liberdade é a

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igualdade perante a lei no sentido de não existirem privilégios, e a igualdade no gozo dos direitos fundamentais, reconhecidos a todos os seres humanos. O igualitarismo democrático, por sua vez, procura realizar, com o auxílio do Estado, a igualdade no fim do processo, a igualdade substantiva, uma situação na qual não só as oportunidades sejam iguais para todos, mas as condições de vida dos cidadãos sejam semelhantes.

Liberalismo e democracia hoje

Do exposto, decorre que a democracia política, entendida como a vigência do sufrágio universal, é compatível com o liberalismo. No entanto, essa compatibilidade está longe de ser óbvia. Muitos dos clássicos liberais preocuparam-se em desenvolver argumentos em favor do voto censitário. Para eles, fundamentalmente, o governo lida com a despesa pública e não deve estar aberto à opinião de quem não contribui para a receita pública. No século XIX, aliás, o sufrágio universal era exceção, e os Estados liberais, por esse critério, tendiam a serem não democráticos.

Hoje, não é fácil imaginar um Estado democrático que não seja liberal nem tampouco um Estado liberal não democrático. Em favor dessa simbiose, dois argumentos são levantados. Em primeiro lugar, a salvaguarda dos direitos fundamentais exige a regra democrática. A garantia da vigência desses direitos será tão mais eficaz quanto maior o número de interessados com possibilidade de se manifestarem, por meio da voz e do voto. Consequentemente, a garantia máxima dos direitos está numa situação de sufrágio universal.

Em segundo lugar, o voto só é eficaz como instrumento de medida da vontade popular se os votantes forem livres, ou seja, se votam com a proteção a seus direitos fundamentais assegurados. Do contrário, o voto mediria apenas o medo da retaliação de poderosos ou a submissão ao poder econômico. Daí que, hoje, democracia e liberalismo precisem um do outro. O Brasil atingiu, há muito, essas condições. Existe o sufrágio universal e liberdade em votar em qualquer candidato, porém, a participação popular no processo eleitoral é obrigatória.

Uma participação expressiva nos resultados das eleições traz legitimidade ao novo governante. Afinal, como reconhecer um líder que foi eleito sem a aprovação da maioria da população. Claro que essa visão não está embasada por um aspecto normativo, mas sim valorativo. Existe uma diferença conceitual entre legalidade e legitimidade. Um governo só consegue estabilidade com legalidade e legitimidade. A legalidade diz respeito ao procedimento. Uma regra eleitoral pode estabelecer que, independentemente do número de participantes do pleito, ganha o candidato que tiver mais votos. Numa hipótese de profunda descrença, uma população deixar de comparecer às urnas, um candidato pode ser eleito com um inexpressivo quantitativo de votos. Essa condição hipotética seria reconhecida como legal. Entretanto, não teria legitimidade.

No Brasil, as eleições são realizadas com voto obrigatório. Essa regra possibilita o Brasil a não ter problemas com legitimidade do governante; e é reforçada com a regra

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do segundo turno, no qual obriga o candidato vencedor a ter mais da metade dos votos válidos. Ou seja, a obrigação do voto tem uma função democrática, apesar de o senso comum entender que democrático seria a livre decisão de participar do pleito. Afirmação que pode ser comprovada nas Tabelas 6 e 7, que trazem a questão: Você é a

favor do voto obrigatório? Apenas 29% dos eleitores pernambucanos são a favor do voto obrigatório, e 66% são contrários. É frágil afirmar que esse dado demonstra um desinteresse do eleitorado pernambucano no processo eleitoral, mas preocupa se esses dois terços se abstivessem de ir às urnas caso a obrigação fosse retirada.

Tabela 7 −−−−Posicionamento da amostra quanto ao voto obrigatório (versus sexo, idade e grau de instrução)

Tabela 8 −−−− Posicionamento da amostra quanto ao voto obrigatório (versus renda e região de desenvolvimento)

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Por uma Teoria Democrática

A maior preocupação do modelo elaborado por Robert Dahl (1969) encontra-se justamente na dimensão empírica. Quais as condições necessárias e suficientes para maximizar a democracia no mundo real? Ou seja, que conselho daríamos a uma coletividade que pretendesse operar democraticamente? Quais os eventos que temos de observar para concluir pela existência de um regime democrático? Trata-se, enfim, da busca de marcadores adequados, uma vez que a simples realização de eleições periódicas não é suficiente para nos dizer algo a esse respeito.

Para responder a essas perguntas, o autor elabora uma relação de oito condições necessárias à existência de democracia no mundo real. Trata-se de um tipo ideal, ou seja, de uma situação de democracia ótima que não se encontra, em sua forma pura, em nenhuma organização existente. Como ideal, serve também para medir o grau de aproximação ou distanciamento das democracias existentes e, consequentemente, para compará-las entre si.

As oito condições são:

• primeira − todos votam;

• segunda − todos os votos têm o mesmo valor;

• terceira − a alternativa majoritária é declarada vencedora. Até o momento, não superamos ainda a regra que define as democracias populistas. No entanto, sabemos todos, as eleições realizadas em regimes totalitários cumprem igualmente essas regras, sem conformarem democracias de fato. Algo mais é necessário, portanto;

• quarta − todos os participantes podem inserir alternativas na eleição; e

• quinta − todos os participantes têm acesso às mesmas informações sobre as alternativas. Além disso, a democracia exige alguns procedimentos no período imediatamente posterior às eleições;

• sexta − as alternativas mais votadas substituem as menos votadas;

• sétima − as ordens dos servidores eleitos são obedecidas;

• oitava − as decisões nos intervalos eleitorais são subordinadas às decisões tomadas na eleição ou seguem as mesmas regras da eleição.

Fácil é verificar que o conjunto das regras não vale, em sua integridade, em nenhuma democracia conhecida no mundo. Nos Estados Unidos da América, a segunda, terceira e sexta regras funcionam bem. A primeira está ausente, pois a abstenção atingia, na década de 1950, 50% dos eleitores. A quarta não existe, em sua plenitude, em

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nenhuma organização estatal, uma vez que a capacidade de incluir alternativas encontra-se desigualmente distribuída. A quinta também é de difícil aplicação, dado que o acesso igual à informação é meta ainda não atingida, mesmo nos países onde vigora uma relativa liberdade de imprensa.

Na verdade, as oito regras constituem os eixos de uma escala que permite comparar as democracias reais em termos de sua aproximação a um ideal democrático normativo. Formam algo como uma régua oitavada, em que cada face permite medir o grau de democracia em uma das dimensões.

Atribuindo valores, em cada eixo, entre 0 e 1 e combinando as notas de alguma maneira, poderíamos encontrar organizações que Dahl denomina hierarquias (com pontuação ente 0 e 0,25), oligarquias (entre 0,25 e 0,50), poliarquias (entre 0,50 e 0,75) e poliarquias igualitárias (entre 0,75 e 1).

Uma vez que se tornou possível a identificação das poliarquias, resta indagar que condições permitem ou favorecem seu surgimento e estabilidade. A primeira e mais importante é o grau de consenso existente entre os cidadãos a respeito da regra e da aplicação das oito condições assinaladas. Trata-se de um problema de cultura política de uma determinada população. Quanto mais democrática for essa cultura, maior a possibilidade de desenvolvimento contínuo de regimes democráticos.

No entanto, a cultura não é imutável. Pesquisas clássicas apontavam uma cultura política autoritária entre os alemães na década de 1950, em contraste com os pendores democráticos que os britânicos apresentavam. Duas décadas mais tarde, a repetição da pesquisa indicava uma redução acentuada das diferenças antes observadas entre os dois países, com uma aceitação crescente da democracia entre os alemães. Ocorre que esses vinte anos haviam sido de treinamento democrático para os alemães, fortalecendo a aceitação das oito condições. O treinamento, portanto, é relevante, e não apenas aquele que se observa na esfera política no sentido estrito. Também conta aquele ministrado nas instituições não estatais, como a família, o sindicato e todo tipo de associação.

Além do consenso procedimental relativo às condições, certo consenso em relação aos fins perseguidos é necessário. A heterogeneidade excessiva quanto a valores leva a situações de divergências intensas, próximas da divisão da coletividade em partes iguais. Nessas situações, como vimos, a aplicação da regra torna-se problemática. Finalmente, a poliarquia parece ser também função da atividade política de seus membros. Quanto maior a atividade, a participação, maior o treinamento democrático e maior o consenso quanto às condições da regra.

Contudo, será que os pernambucanos aceitam as regras de um sistema democrático? Como vimos, um dos pontos fundamentais da democracia é a alternância de poder. Nas democracias, ela se dá via eleições. Uma regra-chave que pauta esse princípio é a limitação de reeleições para cargos majoritários. Observando as Tabelas 9 e 10, vemos que, de maneira geral, esse conceito parece estar bem esclarecido no pensamento do eleitorado pernambucano. Os que acham que a reeleição deve acontecer

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sem limites, ou seja, abrindo a possibilidade de uma gestão sem alternância, fica em torno dos 19%, sem grandes discrepâncias entre as estratificações e categorias. Isso mostra que, independente da preferência do eleitor pela atual gestão, ele entende a importância de que exista uma mudança.

Tabela 9 −−−− Posicionamento da amostra quanto à reeleição para cargos majoritários (versus sexo, idade e grau de instrução)

Tabela 10 −−−− Posicionamento da amostra quanto à reeleição para cargos majoritários (versus renda e região de desenvolvimento)

Outro ponto relevante do sistema democrático é a liberdade de imprensa. Quando uma nação sofre um golpe militar, uma das primeiras medidas é o tolhimento dos meios de comunicação. Os meios de comunicação, na maioria das vezes, denunciam os erros das gestões, e, em regimes autoritários, a manutenção do poder se dá a todo custo, sobretudo, com o domínio da opinião pública. No Brasil, não temos uma ingerência sistemática do governo sobre a imprensa desde a promulgação da Constituição de 1988, após o regime militar.

Essa ideia está bem introduzida no pensamento do povo pernambucano. Como consta nas Tabelas 11 e 12, 50% dos entrevistados afirmaram ser a favor de uma imprensa totalmente livre do controle do Estado; 18%, que a imprensa fosse parcialmente controlada pelo Estado; enquanto apenas 11% afirmaram ser favoráveis a uma imprensa totalmente controlada pelo Estado.

Há uma distribuição homogênea nos estratos e categorias, exceto pelo nível de escolaridade. Quanto maior a escolaridade, maior o percentual de pessoas favoráveis a uma imprensa totalmente livre do controle do Estado. Pode-se concluir que, assim como no caso da união homossexual, a educação parece ser o melhor caminho para que os valores democráticos sejam enraizados na sociedade pernambucana.

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Tabela 11 −−−− Posicionamento da amostra quanto à liberdade de imprensa (versus sexo, idade e grau de instrução)

Tabela 12 −−−− Posicionamento da amostra quanto à liberdade de imprensa (versus renda e região de desenvolvimento)

Em relação à importância da alternância de poder, temos uma contradição quanto aos valores democráticos do eleitorado. Esses valores parecem estar parcialmente no pensamento do povo pernambucano, como pode ser visto nas Tabelas 13 e 14, ao se perguntar: Você abriria mão da democracia em troca de... Menos da metade dos pernambucanos afirmou não abrir mão da democracia por nada, 48%. Mais igualdade social (16%) e redução da criminalidade (12%) foram as principais motivações hipotéticas pelas quais os entrevistados abririam mão da democracia.

A distribuição estratificada não demonstrou nenhuma variação tão significativa em sexo, idade, grau de instrução ou região. Entretanto, quando focamos em renda, percebemos um percentual sobressalente nos entrevistados que têm renda maior do que 5 salários mínimos: 58% afirmaram não abrir mão da democracia por nada. Esse dado nos traz uma reflexão para o significado da democracia. É um conceito sofisticado e, por vezes, não tão valorizado nas classes menos desfavorecidas. As pessoas da base social, que vivem em condições mais precárias, estão preocupadas com seu sustento e condições de vida. Menos desigualdade significa melhores condições de nutrição, saúde, lazer, entre outros; redução nos índices de criminalidade significa resolver um problema iminente, tendo em vista que as classes C, D e E são as que mais sofrem com esse problema. Por essas razões, ter menos desigualdade social e redução nos índices de

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criminalidade é tão valorizado em detrimento do valor democrático. Não importa as regras do jogo. Autoritarismo ou democracia desde que essas condições sejam atendidas, fundamentalmente, para esses estratos sociais.

Logicamente, o contrário é verdadeiro para as pessoas mais próximas do topo da pirâmide social. A liberdade, o valor supremo da democracia liberal, é valorizada, já que os problemas de falta de nutrição e violência não são presentes na mesma intensidade que nas classes menos favorecidas. Claro que a violência contra o patrimônio atinge as classes A e B consideravelmente, porém, o foco dos problemas relacionados com a violência são os índices de homicídios, e estes são discrepantemente inferiores quando comparados de forma estratificada.

Tabela 13 −−−− Posicionamento da amostra sobre a questão Você abriria mão da democracia em troca

de... (versus sexo, idade e grau de instrução)

Tabela 14 −−−− Posicionamento da amostra sobre a questão Você abriria mão da democracia em troca

de...(versus renda e região de desenvolvimento)

Como entender essa contradição? Se as regras do jogo são as democráticas, todos esperam que exista igualdade de condições e entendem a importância da alternância de poder. O valor de justiça é valorizado pela população pernambucana, mas se essas regras desembocassem em males tão latentes como desigualdade e violência, a democracia ficaria em segundo plano. Ou seja, essas questões não dizem que os pernambucanos não são um povo democrático, mas evidencia a existência de graves problemas na estrutura social que fazem com que os valores democráticos percam em relevância quando comparados com eles.

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A Ação Afirmativa

Uma questão pertinente é se as políticas de ação afirmativa, de favorecimento, portanto, de determinadas minorias historicamente prejudicadas, ferem direitos fundamentais de alguns dos integrantes dos grupos majoritários. Se isso ocorre, será relativamente simples concluir por sua inconstitucionalidade.

O problema aparece com maior clareza se compararmos dois casos, tidos como análogos por parte significativa do pensamento jurídico norte-americano. Em 1945, um homem, aprovado nos exames de qualificação da Universidade do Texas, teve sua matrícula recusada por ser negro. A lei estadual destinava a Universidade exclusivamente aos brancos. A Suprema Corte considerou, na época, que a decisão não seria inconstitucional se o Estado do Texas mantivesse uma Universidade da mesma qualidade para os cidadãos negros. Só assim teria sentido o princípio “iguais, mas separados”, considerado constitucional, na época, que formalmente conciliava igualdade e segregação. O Texas mantinha uma Universidade para negros, mas sua qualidade era claramente inferior. Assim, o estudante negro obteve ganho de causa. Alguns anos depois, o princípio “iguais, mas separados” foi rejeitado pela Corte.

Em 1971, apesar de haver obtido notas superiores à de outros candidatos aprovados, um estudante judeu foi rejeitado pela Universidade de Washington em razão da política de minorias. Um tribunal, em primeira instância, deu-lhe ganho de causa, e a universidade o incorporou a seus quadros. A questão não chegou, portanto, à Suprema Corte, mas o debate se instaurou: estava em jogo o mesmo princípio nos dois casos? Tinha razão o estudante judeu ao alegar que a Universidade lhe negava o direito a tratamento igual, garantido na Constituição?

Observe-se que o ponto em debate, no caso, não é a eficiência das políticas de ação afirmativa em relação aos fins a que se propõem. A esse respeito, vários argumentos podem ser levantados, contrários e favoráveis. O que importa precisar é se algum direito fundamental do estudante foi lesado em sua rejeição.

O primeiro ponto a observar é que nenhum cidadão tem o direito, moral ou legal, ao ensino universitário. O Estado não assegura esse nível de ensino a todos. Outro é a situação do ensino fundamental, garantido a todos por ser visto como condição indispensável ao exercício dos direitos da cidadania. Se o acesso ao ensino superior não pode ser considerado um direito fundamental, o processo de seleção baseado exclusivamente no mérito pode ser assim considerado?

O mérito é um critério que atende ao que seria o interesse da sociedade, ou seja, dispor de profissionais, no caso, mais competentes. Uma vez que não estão em jogo direitos fundamentais, o argumento utilitarista não tem razão de ser, pode ou não ser invocado pelas partes em disputa. Nessa perspectiva, o mérito pode não ser o único

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critério conveniente a ser considerado, e essa é a visão do eleitorado pernambucano.

Para 58% dos entrevistados, o sistema de cotas nas universidades públicas é necessário contra apenas 27% que se dizem contrários a esse sistema. Existe uma distribuição homogênea nas categorias e estratos quanto à rejeição ao sistema de cotas; porém, ela é menor ainda na região do São Francisco. Vale lembrar que recentemente se inaugurou uma Universidade Federal nessa região, fato que pode ter levado a população a debater essa questão mais enfaticamente.

Um dado interessante que as Tabelas 15 e 16 trazem é quanto à distinção entre cota para classe social e cota para raças. A grande maioria dos favoráveis às cotas opta por cotas sociais e raciais. Todavia, observa-se uma clara tendência a cotas sociais, em detrimento de cotas raciais, no seguimento dos entrevistados que fizeram alguma ressalva à aceitação das cotas. Para estes, o problema central a se combater seria a desigualdade social, e não a questão histórica dos desfavorecimentos raciais, que fizeram o Brasil subjugar os negros e índios.

Tabela 15 −−−− Posicionamento da amostra sobre a existência de cotas nas universidades públicas (versus sexo, idade e grau de instrução)

Tabela 16 −−−− Posicionamento da amostra sobre a existência de cotas nas universidades públicas (versus renda e região de desenvolvimento)

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Políticos, Corrupção e Nepotismo

Você considera que os políticos são honestos? Essa indagação tem o objetivo de verificar o que a população pernambucana pensa dos políticos; mas não só isso. Ao formulá-la, tivemos a intenção também de contrastá-la com outra pergunta, qual seja: caso um policial lhe aplique corretamente uma multa no trânsito, você opta por.... O comparativo tem o objetivo de verificar se existem contradições nas respostas. Isto é: os políticos são qualificados de desonestos, por exemplo. Porém, parte da população, ao estar diante de uma multa, opta por subornar o guarda. Então, ambos os atores transgridem a norma vigente.

Desse modo, testamos as seguintes hipóteses, as quais estão baseadas no senso comum: a classe política é o espelho da sociedade. Ou a sociedade é o espelho da

classe política. Os indivíduos quando fazem essas afirmações pretendem dizer que os políticos são desonestos em razão de que a sociedade é corrupta. Ou a sociedade é corrupta por conta de que os políticos são desonestos – “O exemplo vem de cima”. Portanto, há correspondência e interação social dos dois atores: classe política e indivíduos; e indivíduos e classe política. A influência entre ambos os atores é mútua.

Os dados falsificam, em parte, essa hipótese. Consideram os políticos corruptos 63% dos entrevistados, mas há exceções. Por outro lado, 30% consideram todos os políticos corruptos. A maioria dos indivíduos opta por pagar a multa – 64% (Tabelas 17 e 18).

Tabela 17 −−−− Posicionamento da amostra sobre a corrupção dos políticos (versus sexo, idade e grau de instrução)

Tabela 18 −−−− Posicionamento da amostra sobre a corrupção dos políticos (versus renda e região de desenvolvimento)

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Ressaltamos, contudo, que 24% decidem por usar algum artifício para evitar a multa. Sendo assim, afirmamos que, para 24% dos entrevistados, a classe política é o espelho da sociedade. Ou a sociedade é o espelho da classe política.

Ao analisar as respostas dos pesquisados por segmentos, considerando ambas as perguntas, constatamos que não existem variações consideráveis. Isso mostra que, independentemente da renda ou do sexo, por exemplo, a imagem dos políticos é reprovada pela maioria da população – existe uma convergência de opiniões quando consideramos todos os segmentos.

Os resultados mostram que, para a maioria dos entrevistados, a classe política não é reflexo da sociedade. Ou que esta é reflexo do comportamento dos políticos. “Somos corruptos, em razão dos ‘grandões’ serem.” Ou: “O exemplo vem de cima.” Vejam que essas frases ouvidas diariamente encontram sustentação numa pequena parte da sociedade – 24% usam algum artifício ou instrumento social para não pagar a multa no trânsito.

Os dados mostram a presença do jeitinho brasileiro perante a lei.1 Além, claro, da corrupção policial e do “sabe com quem está falando?”.2 Deve-se entender por jeitinho o ato de driblar a lei, utilizar algum artifício para não ser punido por ela. O “sabe com quem está falando?” evidencia a relação de poder entre dois ou mais indivíduos em uma sociedade desigual e hierárquica economicamente, e no acesso aos serviços das instituições.

A corrupção, aqui entendida como o oferecimento de dinheiro, é utilizada por 10% dos entrevistados. O jeitinho brasileiro e o “sabe com quem está falando?” são ferramentas sociais utilizadas por 14% dos entrevistados – ligar para alguém importante com o objetivo de retirar a multa e dizer que é conhecido de alguém/amigo/parente de alguém importante com o objetivo de retirar a multa.

Nesse caso, dizer que irá ligar para alguém importante representa uma ação que tem a intenção de estabelecer a hierarquia diante do conflito; do mesmo modo, dizer que é amigo de alguém. O raciocínio é o seguinte: ligar para alguém importante ou ter amizade com alguém significa que um dos atores em conflito adquire ascensão social sobre o outro, no caso, o que está aplicando a lei.

Os entrevistados mostram coerência em suas opiniões. Os eleitores têm, em sua maioria, uma imagem negativa dos políticos e condenam, também em sua maioria, práticas que interfiram na ação das instituições – 64% optam por aceitar a multa. Portanto, afirmamos, considerando esses dois indicadores, que grande parte do eleitorado pernambucano rejeita a corrupção, inclusive sua prática.

A maioria também rejeita a prática do nepotismo – 65% afirmam ser contrários ao nepotismo. Porém, quanto menor o nível de instrução, menor também a rejeição ao

1 Barbosa (1992) desenvolve brilhante estudo sobre a prática do jeitinho brasileiro no Brasil. 2 Da Matta (1997) mostra como o instrumento social “sabe com que está falando?” é expresso na

sociedade brasileira.

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nepotismo. A mesma lógica ocorre com a renda (Tabelas 18 e 19). Isso significa que parte do eleitor com menor renda e nível de instrução não teria o espírito republicano. No caso, esse eleitor tem uma concepção patrimonialista do Estado. Confunde a coisa pública com o privado.3

Tabela 19 −−−− Posicionamento da amostra com relação ao nepotismo (versus sexo, idade e grau de instrução)

Tabela 20 −−−− Posicionamento da amostra com relação ao nepotismo (versus renda e região de desenvolvimento)

O por que disso? Compreendemos que a menor renda pode proporcionar/permitir maior dependência econômica do Estado. Em razão disso, o ente estatal é reconhecido como um espaço que deve ser utilizado por todos. Obviamente, o nível de informação dos indivíduos deve ser considerado. Isto é: os eleitores de menor renda e escolaridade não compreendem ou reconhecem a função do Estado, em particular, do Estado republicano.

Porém, um dado nos chama a atenção. Quanto maior o nível de instrução, maior o percentual de eleitores que defendem a prática de nepotismo sem abuso. O que significa nepotismo sem abuso? Suponhamos que seja a concessão de emprego para um parente – abuso numa concepção numérica. Ou a nomeação de um parente com as qualidades adequadas para uma vaga no setor público.

Contudo, é possível verificar a busca de privilégios no espaço estatal por parte dos eleitores com maior nível de instrução? O eleitor com nível de instrução adequado, por exemplo, uma formação superior, não acha um absurdo ocupar um cargo público em razão de ser parente de alguém que tenha poder/condições para lhe fornecer esse cargo. A formação superior lhe dá esse privilégio. Além disso, para o beneficiado, o

3 Sobre a concepção de Estado patrimonialista no Brasil, cf. Holanda (1995).

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abuso não existe, pois ele tem a suposta competência para exercer a atividade que lhe foi concedida no espaço estatal.

É importante salientar que a defesa do nepotismo sem abuso encontra respaldo também no fato de que são os indivíduos com maior nível de instrução e renda que têm a suposta qualificação adequada – por exemplo, curso superior – para exercer a função que lhe foi oferecida no setor público. Além disso, essas pessoas têm maior facilidade de acesso a indivíduos que podem lhes oferecer cargos públicos. Portanto, observamos a defesa de um privilégio.4

4 Os indicadores do privilégio são: formação supostamente adequada – formação superior ou ensino

médio, e acesso a atores que podem oferecer-lhe algum cargo no espaço estatal.

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Estadolatria, Privatizações e Bolsa-Família

As privatizações são refutadas por 60% dos entrevistados. Considerando os estratos contidos na pesquisa, observamos que não existem diferenças perceptíveis entre os entrevistados – encontramos a convergência de opiniões. Portanto, o resultado revela a presença da “estadolatria” – excesso de amor ao Estado. Para os pesquisados, o Estado pode tudo; e deve absorver tudo (Tabelas 21 e 22).

Tabela 21 −−−− Posicionamento da amostra com relação às privatizações (versus sexo, idade e grau de instrução)

Tabela 22 −−−− Posicionamento da amostra com relação às privatizações (versus renda e região de desenvolvimento)

Destacamos que 19% dos entrevistados não responderam ou não souberam responder. Em particular, constatamos que 25% dos que ganham até um salário mínimo e 30% dos que têm até a terceira série do ensino fundamental não responderam ou não souberam responder. Esses segmentos mostram ter desconhecimento quanto ao que seja privatização.

Por que os segmentos com maior renda e nível de instrução reprovam a privatização? A resposta a essa indagação corrobora com nossa afirmação já feita – os indivíduos adoram o Estado, acreditam que ele pode tudo. Portanto, existe uma cultura estatal inerente aos eleitores pernambucanos.

Porém, existe outro dado: 19% dos indivíduos que têm curso superior completo e 20% dos que têm renda acima de 5 salários mínimos defendem as privatizações para alguns casos. Em quais casos?

Concluímos que existe a “estadolatria”. Porém, o amor ao Estado perde força entre os eleitores de maior renda e nível de instrução. Estes reconhecem os benefícios das privatizações em razão de terem sido beneficiados por elas, mas isso não significa que os outros segmentos não tenham obtido os benefícios das privatizações. Porém, não

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reconhecem que eles vieram das privatizações.

Quando os eleitores são questionados sobre a privatização da Celpe, 70% reprovam a privatização – 14% são favoráveis à privatização. Esse percentual consolida a “estadolatria”. Salientamos que 20% dos entrevistados que possuem nível superior completo e têm renda acima de cinco salários mínimos aprovam a privatização da Celpe (Tabelas 23 e 24). Vejam que são resultados semelhantes aos da aprovação às privatizações tal como realizadas por FHC.

Tabela 23 −−−− Posicionamento da amostra com relação à privatização da Celpe (versus sexo, idade e grau de instrução)

Tabela 24 −−−− Posicionamento da amostra com relação à privatização da Celpe (versus renda e região de desenvolvimento)

Portanto, a “estadolatria” está majoritariamente presente na sociedade pernambucana. Contudo, ela sofre enfraquecimento diante do aumento da renda e do nível de instrução do eleitor.

Diante da conclusão acima, é importante frisar que 45% dos entrevistados são favoráveis ao governo intervir no mercado; 29% apenas em grandes crises; e 10% nunca. Afirmamos que 39% são liberais, ou seja: desejam que o Estado só intervenha no mercado em caso de extrema necessidade, ou nunca intervenha.

O percentual contrasta, em parte, com o número de eleitores que rejeitam as privatizações – considerando também os indivíduos que são contrários à privatização da Celpe. Em razão de que 39% dos entrevistados se declaram liberais, esperava-se um menor percentual de indivíduos que reprovassem a privatização. Reconheçam que mais privatização significa, teoricamente, menor intervenção do Estado no mercado.5

Porém, quanto maior o nível de instrução e a renda, maior é o número de eleitores que opinam que o Estado só deve intervir no mercado apenas em grandes 5 As privatizações ocorridas na década de 1990 no Brasil motivaram a criação das agências reguladoras. Estas são responsáveis por fiscalizar as empresas de diversos setores que foram privatizados. Exemplos de agências reguladoras: Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) entre outras.

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crises. Essa constatação corrobora com o fato de que a “estadolatria” perde força entre os eleitores de maior renda e nível de instrução.

Um dado interessante: na região do São Francisco, 43% dos entrevistados afirmam que o Estado só deve intervir no mercado em grandes crises – é o maior percentual encontrado considerando-se todas as regiões. O que motiva esse resultado? Essa região é reconhecida por produzir vinhos e frutas para diversos estados brasileiros e para outros países. Talvez seja por isso que um suposto espírito liberal esteja presente entre diversos indivíduos. Em razão disso, eles defendem a interferência do Estado apenas quando necessário.

Você acha que o Estado brasileiro deveria continuar responsável pela

previdência social? Para 71%, sim. Esse percentual dá veracidade a nossa afirmação já feita, qual seja: o Estado deve absorver tudo. Vejam que 12% dos eleitores afirmam que não (Tabelas 25 e 26). Talvez, eles acreditem que exista espaço para a previdência privada.

Tabela 25 −−−− Posicionamento da amostra sobre a questão Você acha que o Estado brasileiro deveria

continuar responsável pela previdência social? (versus sexo, idade e grau de instrução)

Tabela 26 −−−− Posicionamento da amostra sobre a questão Você acha que o Estado brasileiro deveria

continuar responsável pela previdência social? (versus renda e região de desenvolvimento)

O suposto apoio à previdência privada aumenta à medida que a renda cresce – 16% dos eleitores que recebem mais de 5 salários mínimos afirmam que o Estado não deveria continuar responsável pela previdência social. Ocorre o mesmo com os eleitores com maior nível de instrução – 15% com nível superior completo acreditam que o Estado não deve continuar responsável pela previdência social.

Eleitores com maior renda e nível de instrução supostamente estão empregados e têm condições de ter previdência privada. Esse raciocínio explica o resultado mostrado. Além disso, esse percentual corrobora e reforça nossa afirmação anteriormente explicitada: a “estadolatria” sofre enfraquecimento diante do aumento da renda e do

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nível de instrução do eleitor.

O Bolsa-Família é um programa de proteção social para os mais pobres. Ele é financiado por recursos públicos. Esse programa obtém o apoio de 89% dos entrevistados (Tabelas 27 e 28). Nesse caso observa-se − assim como 71% dos eleitores concordam que o Estado deve continuar responsável pela previdência social − que o poder estatal é reconhecido como um ator ativo para o exercício da proteção social.

Tabela 27 −−−− Posicionamento da amostra com relação ao Programa Bolsa-Família (versus sexo, idade e grau de instrução)

Tabela 28 −−−− Posicionamento da amostra com relação ao Programa Bolsa-Família (versus renda e região de desenvolvimento)

Essa constatação não é contraditória com o fato de que 39% dos entrevistados aparentam ser liberais? Compreendemos que não, porque 60% dos eleitores desaprovam as privatizações realizadas por FHC. Compreendemos que a proteção social atinge os mais pobres e o raciocínio do eleitor é o de que os mais necessitados devem obter ajuda do Estado.

Salientamos que a reprovação ao Programa Bolsa-Família cresce nos segmentos com maior nível de instrução e renda – 15% dos que têm renda acima de cinco salários mínimos e 21% dos que têm ensino superior completo reprovam o Bolsa-Família. Esse resultado corrobora com outros percentuais já mostrados, os quais nos permitem afirmar que quanto maior o nível de instrução e a renda, mais pessoas reprovam a presença do Estado, ou melhor, a “estadolatria”.6

6 Entendemos neste trabalho que a ampla rede de proteção social são indicadores de estadolatria.

Salientamos, contudo, que esse entendimento não é conclusivo.

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Servidores Públicos, Tributos e Eficiência Estatal

Os eleitores pernambucanos são favoráveis à estabilidade dos servidores

públicos? Afirmam que sim 53%. Esse apoio está presente em todos os segmentos pesquisados. Contudo, com o aumento da renda e do nível de instrução, cresce o percentual de eleitores contrários à estabilidade.

Tabela 29 −−−− Posicionamento da amostra com relação à estabilidade dos servidores públicos (versus sexo, idade e grau de instrução)

Tabela 30 −−−− Posicionamento da amostra com relação à estabilidade dos servidores públicos (versus renda e região de desenvolvimento)

Quando se aborda a estabilidade no serviço público, é necessário observar a eficiência estatal. A estabilidade no serviço público inibe a eficiência estatal, uma vez que os indivíduos, por não poderem ser demitidos, não se esforçam para atender às demandas advindas da sociedade. Essa é uma hipótese que consideramos neste livro.

Desse modo, indagamos ao eleitor: Você considera que paga muitos impostos

no Brasil? Para 87%, sim. São os impostos que financiam os serviços públicos oferecidos pelo Estado. Portanto, outro questionamento foi realizado: Você aceitaria

pagar mais impostos em troca de serviços públicos com maior qualidade? 59% afirmam que não, e 36% afirmam que sim (Tabelas 31-34). É evidente a reprovação à alta taxa tributária no Brasil ainda que seu aumento possibilite a qualidade dos serviços públicos.

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Tabela 31 −−−− Posicionamento da amostra sobre a questão: Você considera que paga muitos impostos

no Brasil? (versus sexo, idade e grau de instrução)

Tabela 32 −−−− Posicionamento da amostra sobre a questão: Você considera que paga muitos impostos

no Brasil? (versus renda e região de desenvolvimento)

Tabela 33 −−−− Posicionamento da amostra sobre a questão Você aceitaria pagar mais impostos em troca

de serviços públicos com maior qualidade? (versus sexo, idade e grau de instrução)

Tabela 34 −−−− Posicionamento da amostra sobre a questão: Você aceitaria pagar mais impostos em

troca de serviços públicos com maior qualidade? (versus renda e região de desenvolvimento)

É adequado relacionar eficiência do serviço público com a qualidade dele? Sim, pois serviço eficiente é supostamente qualificado. Nesse sentido, a estabilidade do servidor público pode afetar na eficiência e na qualidade dos serviços públicos. Com base nesse raciocínio, 53%, já que estes são favoráveis à estabilidade do servidor público, não consideram a estabilidade como fator que pode proporcionar (ou proporciona) a falta de qualidade e a eficiência dos serviços públicos.

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Como já dito, “estadolatria” significa que o Estado pode tudo. Consideramos, então, que ser favorável à estabilidade do servidor público é mais um indicador de que considerável percentual de eleitores compreende que o Estado pode tudo, inclusive lhe dar estabilidade. Destacamos que os 53% que aprovam a estabilidade do servidor público não reconhece ou não se importa com as limitações fiscais do Estado para mantê-lo economicamente por um bom tempo, já que a estabilidade dificulta a demissão.

Observem a contradição: 87% consideram que pagam muitos impostos no Brasil, 59% não desejam pagar mais impostos para ter serviços públicos com qualidade, e 53% aprovam a estabilidade do servidor público. Como frisamos, a estabilidade proporciona custeio permanente em virtude da dificuldade que o Estado tem para demitir e em razão da previdência pública. Então, concluímos que 53% dos que aprovam a estabilidade do servidor não compreendem que um dos meios para a redução da carga tributária é a diminuição do corpo de funcionários públicos.

Então, para que a população brasileira tenha serviços públicos eficientes, talvez seja necessário, entre outros fatores, mais investimentos. Porém, estes só poderão ocorrer quando o governo for contra a estabilidade do servidor público ou não contratar mais servidores – isso talvez seja impossível diante da demanda. Caso o governo decida aumentar os impostos para melhorar os serviços públicos, ele vai contrariar, hipoteticamente, 59% de eleitores. Então, o que fazer?

Destacamos, mais uma vez, que a “estadolatria” perde força entre o eleitorado com maior renda e nível superior – 23% dos que recebem mais de cinco salários mínimos e 18% dos que têm nível superior completo são contrários à estabilidade do servidor público.

O forte apoio à estabilidade do serviço público pode representar a busca de privilégios no interior do estado ou a manutenção deste – no caso, se o entrevistado for funcionário público ou desejar ser, por exemplo. Por que privilégios? A estabilidade fornece meios ao servidor público que lhe dificultam a demissão, mesmo diante da sua ineficiência, e por consequência, a do Estado.

É importante destacar que o eleitorado aponta suas necessidades. Elas podem revelar a influência do contexto em que vivem. Estas necessidades, por sua vez, podem ser momentâneas ou duradouras.

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Figura 10 −−−− Posicionamento da amostra sobre o que deve ser prioridade do governo

Saúde, educação e segurança pública são as três áreas principais a que os governos devem dar prioridade na opinião dos eleitores pernambucanos – 47,7% afirmam que os governos devem eleger a saúde como prioridade; 23,1%, a educação; e 13,9%, a segurança pública. De que modo melhorar os serviços nessas três áreas? Mais investimentos. Isto é possível. Contudo, como vimos, o aumento de investimentos não pode passar pelo aumento de tributos.

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Instituições, Confiança e Segurança Pública

Qual a instituição brasileira em que você mais confia? 22,4% dos entrevistados responderam que não confiam em nenhuma; 12,3% frisaram que confiam na religião; 5,1%, na família; e 4,1%, na Polícia Militar. Esses percentuais nos provocam. Observem que a instituição estatal que adquire maior confiança por parte dos entrevistados é a Polícia Militar. À frente dela, estão instituições que não são vinculadas ao Estado.

Esse resultado evidencia a falta de confiança do eleitor pernambucano nas instituições. Mostra, portanto, que o eleitor confia fracamente nas instituições estatais.

Tabela 35 −−−− Posicionamento da amostra sobre a questão: Qual a instituição brasileira em que você mais confia?

Salientamos que a Polícia Federal tem a confiança de 3,4% dos entrevistados; o

Corpo de Bombeiros, de 2,5%; o Exército, de 2,4% e o STF e a Justiça, de 1,5%. O que motiva essa reduzida confiança?

Temos como primeira hipótese que a ineficiência das instituições na prestação de serviços motiva esse resultado. O indivíduo, ao precisar da Justiça, não encontra a resposta devida. Inclusive, de modo célere. A vítima de um crime não encontra a atitude esperada da Polícia, ou os indivíduos não se sentem protegidos pela Polícia.

Destacamos que a Polícia Civil, instituição responsável pelo trabalho de investigação policial, não obtém citação para estar na Tabela 35. A corrupção pode ser

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outra variável que motiva o descrédito nas instituições estatais. Se o senso comum considera a Polícia corrupta, por que confiar nela?

Os escândalos − diversos deles associados a atos de corrupção − certamente contribuíram para que o Poder Legislativo não obtivesse a confiança de razoável parte do eleitorado de Pernambuco – ele não consta na tabela. Além disso, o eleitor talvez não se sinta atendido pelo Poder Legislativo, chegando até a questioná-lo quanto à sua existência diante, inclusive, da percepção que o entrevistado pode ter quanto à sua eficiência e utilidade.

De qual democracia representativa falamos diante da baixa credibilidade do Poder Legislativo? O eleitor vota em alguém, mas não confia. Então, por que o eleitor participa do processo eleitoral mesmo sem confiar na instituição que receberá os eleitos em razão da sua escolha? Temos a hipótese de que a obrigatoriedade do voto retira possíveis instrumentos de manifestação do eleitor quanto à sua insatisfação com o Poder Legislativo.

O Brasil tem eleições regulamentares. Por meio delas, os eleitores escolhem seus representantes. O Poder Legislativo tem como função a proposição de leis. Estas, por sua vez, a depender do funcionamento adequado das instituições, podem transformar a vida dos indivíduos. Certamente muitos eleitores têm essa expectativa no instante de votar.

Contudo, os dados revelam que, apesar da função constitucional do Parlamento e da possível expectativa do eleitor quanto à sua função, os indivíduos pesquisados revelam não confiar no Poder Legislativo. Portanto, considerando que a relação Poder

Legislativo−eleitor é a essência da democracia representativa, e essa relação deve estar pautada pela confiança, concluímos que a democracia brasileira é frágil, pois a instituição que sintetiza a democracia representativa não tem a confiança dos eleitores.

A democracia brasileira também é frágil em razão de que as instituições coercitivas civis, como Polícias e Justiça, têm reduzida confiança dos eleitores. É possível falar em democracia num contexto em que os indivíduos não confiam nas instituições que têm a função de aplicar as leis e fazer justiça? É claro que não! Se os eleitores não confiam nas instituições coercitivas civis, talvez não seja apropriado afirmar que o Brasil vive sob um estado de direito.

Dado interessante: 2,4% dos eleitores afirmam que confiam no Exército – percentual baixo. 58% dos eleitores defendem o uso das Forças Armadas na segurança pública; 28% defendem em alguns casos e 10% são contrários. Estamos diante de uma contradição. Se tão reduzido percentual de eleitores confia no Exército, qual é a razão de muitos deles defenderem o uso das Forças Armadas na segurança pública? Certamente, a necessidade de mais instituições desenvolvendo ações de segurança, tendo em vista que a população pernambucana não confia em suas polícias

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É possível apontar a insegurança da população como razão de que 36% dos eleitores afirmarem que o uso da tortura em interrogatórios policiais é justificável em alguns casos, e de 15% afirmarem que é justificável. Por outro lado, 44% afirmam que não é justificável. Destacamos que 51% dos entrevistados afirmam que o uso da tortura é justificável sempre ou às vezes. Esse percentual é superior aos que não defendem o uso da tortura.

O descrédito nas instituições coercitivas por conta da ineficiência delas na prestação da segurança e da justiça pode motivar também o resultado exposto acima. Por conta dos indivíduos não confiarem nas instituições, eles passam a defender métodos extremos, como a tortura, os quais fogem da legalidade. A defesa advém da necessidade por justiça ou proteção.

Salientamos que, sem segurança pública, não temos estado de direito. Para este existir, são necessárias instituições coercitivas eficientes. Estas não têm a confiança dos eleitores, pois − isto é uma hipótese, − elas não atendem ao desejo da população. Portanto, é possível falar em democracia no Brasil?

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Conclusão

Este livro revela, dentre tantas coisas, o que alguém pode dizer ou não. Como assim? Nem tudo pode ser dito por parte dos atores políticos, pois votos poderão ser perdidos. Nesse caso, podemos falar em fim da ideologia? Talvez sim. Para o marketing político, as ideologias não importam tanto ou, até mesmo, não existem mais. A queda do Muro de Berlim permitiu o fim da História, e, por consequência, o fim das ideologias, em particular no espectro econômico.

Após a eleição do presidente Fernando Henrique Cardoso, institucionalizou-se, no Brasil a política econômica voltada para o crescimento econômico, para o combate efetivo à inflação e para o equilíbrio fiscal. O presidente Lula optou por continuar a política econômica de FHC. A Carta aos Brasileiros é uma prova disso! Com isso, Lula incorporou a agenda do PSDB, permitiu que a esquerda perdesse sua identidade e a agremiação partidária de FHC não construísse discurso oposicionista ao PT.

Ressaltamos que não existe um partido de direita no Brasil. O Democratas, partido que poderia ocupar o espaço da direita, é hoje um apêndice do PSDB. Aliás, indagamos: é possível fazer a distinção entre esquerda e direita no Brasil?

A política econômica criada pelo PSDB, especificamente o Plano Real, levou o brasileiro optar pelo desenvolvimento econômico, o qual traz bem-estar. Para tal desenvolvimento ocorrer, metas inflacionárias, controle dos gastos públicos e privatizações foram necessários. O PT, como frisamos, inseriu em seu discurso político esses pontos, com exceção das privatizações.

Considerando apenas a política econômica, não temos condições de distinguir PT e PSDB; ou quem é de esquerda ou de direita. Outros partidos do espaço partidário brasileiro gravitam em torno do PT e do PSDB, pois com cada um deles a expectativa de poder é criada.

O eleitor, as eleições mostram isso, não reconhece os partidos políticos como representantes de ideais. Numa eleição, pode ser o PSDB; e em outra, pode ser o PT. Observe que, nas recentes campanhas eleitorais, não é possível identificar claramente discursos ideológicos. A similaridade de propostas dos partidos, em particular PT e PSDB, não possibilita que o eleitor faça opções partidárias ideológicas, mas isso não significa que o eleitor não tenha valores; ao contrário dos partidos.

Este livro evidenciou que boa parte do eleitor pernambucano repudia a tortura, as privatizações e é nacionalista. O eleitor repudia políticos corruptos. Os eleitores têm atitudes diferenciadas deles. O eleitor pernambucano defende a liberdade de imprensa, a democracia. O eleitor não confia nas instituições do Estado.

Então, constatamos ideologias e valores na mente dos eleitores pernambucanos.

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Contudo, essas ideologias não são reconhecidas nos partidos políticos. As agremiações partidárias não são representações ideológicas para o eleitor, mas este tem valores; e o marketing político não pode ir ao encontro destes.

O político, numa campanha eleitoral, emite mensagens. São elas que podem conquistar ou não o eleitor. Essas mensagens devem estar de acordo com parte do eleitorado, ou com grande parte dele. Caso não, o eleitor poderá recusar a mensagem do candidato, e com isso, não votar nele. Portanto, a mensagem do candidato deve adequar-se às aspirações/desejos do eleitorado (FIGUEIREDO, 2008).

Como falar em privatização diante de expressiva parte do eleitorado que discorda dela? Por que defender o estado mínimo ou o nepotismo? Este livro mostra que uma parte expressiva do eleitorado pernambucano é contrária ao nepotismo, ao estado mínimo e às privatizações.

Destacamos que este livro decifra o eleitor pernambucano, mostra o que ele pensa e o que deve ser dito a ele. Dizer só por dizer, como diversos publicitários fazem, não é adequado. O livro mostra que o “achismo” não deve estar presente nas mensagens políticas.

Pesquisas são necessárias. Elas apontam caminhos, mostram o que o eleitor pensa, o que deseja, o que quer ouvir. Sem pesquisas, é quase impossível criar mensagens eficazes para a conquista do eleitor. Portanto, criar estratégias eleitorais e mensagens políticas sem o auxílio de pesquisas é caminhar em direção ao erro.

Ao decifrar o eleitor pernambucano, este livro mostra os valores do eleitorado. A transição democrática trouxe liberdade de imprensa. Esta, por sua vez, ajudou a tornar as instituições mais transparentes, as quais, lentamente, buscam aperfeiçoar-se. Contudo, o livro revela que o eleitor pernambucano não confia nas instituições estatais. Isso é perigoso! Uma vez que, talvez, o aperfeiçoamento institucional esteja sendo lento demais, e, em razão dessa inércia, seja necessária a construção de outras instituições.

A liberdade de imprensa, o aumento da escolaridade da população e o desenvolvimento econômico fizeram bem ao Brasil. Então, os resultados deste livro mostram que valores democráticos estão presentes na sociedade. Podemos ter como hipótese, e ela é plausível, que o entrevistado mente no momento de responder ao questionário. Contudo, essa hipótese não é suficiente para desmentir nossa constatação: existem valores democráticos e republicanos entre os pernambucanos.

Este livro revela um desafio. Como frisamos por várias vezes em diversas partes dele, é impressionante como as instituições estatais são frágeis. São poucos os indivíduos que confiam nelas. Especulamos quanto aos motivos para tal resultado, mas eles sociologicamente não são suficientes para nos trazer conclusões definitivas.

Contudo, o livro revela claramente o descrédito − pela falta de confiança nas

instituições − que os eleitores têm em relação ao Estado.

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O Estado é formado por instituições. Portanto, se os indivíduos não confiam nelas, eles também não confiam no Estado. Com a ausência de confiança no poder estatal, talvez seja impossível falarmos em democracia, estado de direito ou em desenvolvimento da sociedade – vejam que isso nós falamos em linhas anteriores.

Talvez esta pesquisa mostre que um ethos democrático está presente na sociedade. É claro que as práticas sociais podem não condizer com a opinião dos eleitores, mas a pesquisa revela esse ethos democrático. Por outro lado, constatamos que, apesar de a sociedade ter criado o ethos democrático e, no caso, ter-se desenvolvido, não observamos mudança institucional, uma vez que as instituições, bem como revelado na pesquisa, não conseguiram conquistar a confiança dos indivíduos.

Portanto, este livro revela que os eleitores têm valores democráticos apesar de as instituições não terem a confiança deles. Essa é a contradição. Pois, em algum momento, os indivíduos precisarão delas para garantir a democracia, e como garantir esta sem instituições confiáveis?

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