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REGULAMENTO (CE) Nº 44/2001 DO
CONSELHO, DE 22 DE DEZEMBRO DE
2000, RELATIVO À COMPETÊNCIA
JUDICIÁRIA, AO RECONHECIMENTO E À
EXECUÇÃO DE DECISÕES EM MATÉRIA
CIVIL E COMERCIAL
Regras de competência
judiciária internacional
Regras de reconhecimento e
de execução de decisões
1
INDÍCE
Enquadramento com referência aos 3 instrumentos internacionais
Introdução ao Regulamento (CE) 44/2001
Âmbito de vigência e aplicação do Regulamento
Relação com outras fontes internacionais, comunitárias e internas
Regra geral e critérios especiais de determinação da competência internacional
Violação das regras de competência
Litispendência / Acções conexas / Medidas provisórias e cautelares
Decisão e objecto do reconhecimento / reconhecimento automático
Fundamentos de não reconhecimento
Declaração de executoriedade / pressupostos e recurso
Análise jurisprudencial2
Convenção de Bruxelas
de 1968
Convenção de Lugano
de 16 de Setembro
de 1988
Regulamento Nº.44/2001 do Conselho
Relativo à competência judiciária, ao
reconhecimento e à execução de decisões em
matéria civil e comercial
3
CONVENÇÃO DE BRUXELAS
Art.54º, nº.2, a):
“2. Todavia, a presente Convenção será sempre aplicada:
a) Em matéria de competência, quando o requerido se
encontre domiciliado no território de um Estado
Contratante que não seja membro das Comunidades
Europeias, ou quando os artigos 16º ou 17º da presente
Convenção atribuam competência aos tribunais desse
Estado Contratante;
b) Em matéria de litispendência ou de conexão, como as
previstas nos artigos 21º e 22º, quando as acções sejam
instauradas num Estado Contratante que não seja membro das
Comunidades Europeias e num Estado Contratante membro das
Comunidades Europeias;
c) Em matéria de reconhecimento e de execução, quando o
Estado de origem, ou o Estado requerido, não seja membro das
Comunidades Europeias.”
4
REGULAMENTO (CE) Nº 44/2001
Entrou em vigor em 1 de Março de 2002 (art.76º)
Competência internacional
Reconhecimento de decisões judiciais proferidas noutros Estados-Membros
Atribuição de força executiva a documentos autênticos exarados noutros Estados-Membros
Não regula questões relativas à jurisdição, admissibilidade de pretensões de Estados estrangeiros e competência em razão da matéria – submetidas ao DIP Geral e ao Direito Interno
Algumas normas regulam a competência territorial, como as regras do art.5º que se referem ao “tribunal do lugar”; quando tal não aconteça, a competência territorial determina-se por aplicação do Direito Interno (art.73º e ssCPC)
5
ÂMBITO MATERIAL DE APLICAÇÃO
Aplica-se em matéria civil e comercial e independentemente da natureza dos sujeitos processuais e da jurisdição (art.1º, nº.1 e considerando 7)
Não abrange as matérias fiscais, aduaneiras e administrativas (art.1, nº.1)
No caso de reconhecimento de decisão, o objecto desta tem de estar compreendido neste âmbito material de aplicação, mesmo que a decisão diga respeito a uma parte acessória de um processo principal que, em razão do seu objecto, não está submetido ao Regulamento
São excluídos (art.1º, nº.2):a. Estado e capacidade das pessoas, regimes matrimoniais, testamentos
e sucessões
b. Falências, concordatas e processos análogos
c. Segurança social
d. Arbitragem6
O TCE entendeu que para a interpretação da
noção de “matéria civil e comercial”, “não se deve
fazer referência ao Direito de um dos Estados em
presença, mas antes, de um lado, aos objectivos e
ao sistema da Convenção e, de outro, aos
princípios gerais que decorrem do conjunto dos
sistemas jurídicos nacionais”
Caso Eurocontrol, 14/10/76
7
ÂMBITO ESPACIAL DE APLICAÇÃO
As regras de competência do Regulamento regulam essencialmente a competência internacional e por isso só são aplicáveis a litígios emergentes de relações transnacionais
É necessário que o objecto do litígio apresente, pelo menos, um elemento de estraneidade juridicamente relevante
Art.2º: As pessoas domiciliadas no território de um Estado-Membro, devem ser demandadas perante os tribunais desse Estado
O regime de reconhecimento aplica-se às decisões proferidas por tribunais de Estados-Membros vinculados pelo Regulamento (art.32º e 38º)
O Regulamento vincula todos os Estados-Membros da Comunidade Europeia, com excepção da Dinamarca
8
ÂMBITO TEMPORAL DE APLICAÇÃO
Art.66º (art.54º Convenções de Bruxelas e Lugano):
“1. As disposições do presente regulamento só são aplicáveis às acções judiciais intentadas e aos actos autênticos exarados
posteriormente à entrada em vigor do presente regulamento.
2. Todavia, se as acções no Estado-Membro de origem tiverem sido intentadas antes da entrada em vigor do presente
regulamento, as decisões proferidas após essa data são reconhecidas e executadas, em conformidade com o disposto no
capítulo III:
a) Se as acções no Estado-Membro tiverem sido intentadas após a entrada em vigor das Convenções de Bruxelas ou de Lugano
quer no Estado-Membro de origem quer no Estado-Membro requerido;
b) Em todos os outros casos, se a competência se baseou em regras correspondentes às previstas no capítulo II ou numa convenção celebrada entre o Estado-Membro de origem e o Estado-Membro
requerido e que estava em vigor quando as acções foram intentadas.”
9
ÂMBITO TEMPORAL DE APLICAÇÃO
A Convenção de Bruxelas continuará a ser aplicada
ao estabelecimento da competência internacional com
respeito às acções intentadas antes de 1 de Março de
2002 (considerando 19, 22 e 23)
A Convenção de Bruxelas só se aplica ao
reconhecimento de decisões:
Proferidas em acções intentadas após a entrada em vigor
da Convenção de Adesão e que o reconhecimento seja
pedido após a entrada em vigor da Convenção
Proferidas após a entrada em vigor da Convenção na
sequência de acções intentadas antes dessa data, se as
regras de competência aplicadas forem conformes com as
previstas na Convenção de Bruxelas ou com outra
convenção em vigor entre o Estado de origem e o requerido
10
Regime de competência contido no Regulamento
prevalece, dentro do seu âmbito material e espacial
de aplicação, sobre o regime interno – norma
constitucional de recepção (art.8º, nº.3 CRP)
Prevalência das Convenções de Bruxelas e de
Lugano justifica-se pela norma de recepção do DIP
convencional (art.8º, nº.2 CRP)
Regulamento não prejudica a aplicação das
disposições que, em matérias específicas, regulam a
competência internacional e o reconhecimento de
decisões (art.67º e art.71º)
11
Regulamento substitui, entre os Estados-Membros, a
Convenção de Bruxelas, à excepção dos territórios dos
Estados-Membros que são abrangidos pela aplicação
territorial da Convenção e que ficam excluídos do
âmbito do Regulamento, por força do art.299º do TCE
(art.68º, nº.1) – Dinamarca
No caso da competência convencional, os tribunais dos
Estados-Membros vinculados pelo Regulamento
devem sempre aplicar a Convenção de Bruxelas ao
efeito privativo da competência de um pacto atributivo
de competência aos tribunais de um Estado-Membro
contratante da Convenção que não seja vinculado pelo
Regulamento12
COMPETÊNCIA INTERNACIONAL
REGRA GERAL DE COMPETÊNCIA:
DOMICÍLIO DO RÉU
COMPETÊNCIAS ESPECIAIS
COMPETÊNCIAS EXCLUSIVAS
COMPETÊNCIA CONVENCIONAL
13
CRITÉRIO GERAL:
DOMICÍLIO DO RÉU
Em regra é competente o tribunal do domicílio do réu
As pessoas domiciliadas no território de um Estado-
Membro devem ser demandadas, independentemente
da sua nacionalidade, perante os tribunais desse
Estado (art.2º, nº.1)
As pessoas domiciliadas no território de um Estado-
Membro só podem ser demandadas perante os
tribunais de outro Estado quando se verifique um
critério especial do Regulamento (art.3º, nº.1)14
Concretização lege causae do elemento de conexão domicílio: questão de saber se uma pessoa está domiciliada no território de um Estado-Membro é apreciada segundo o Direito desse Estado (art.59º, nº.1)
Pessoa domiciliada em Portugal: regra do art.82º e ss do Código Civil (residência habitual)
Em caso de domicílio num Estado-Membro que não seja o do foro e havendo concurso de domicílios em diferentes Estados-Membros: prevalece Estado do foro (art.59º, nº.2)
(PINHEIRO, Lima, Direito Internacional Privado, Pág.76)
Quando a pessoa for considerada domiciliada em dois Estados-Membros, e nenhum deles for o Estado do foro: qualquer dos domicílios é relevante para estabelecer a competência, aplicando-se as regras sobre litispendência do art.28º
(PINHEIRO, Lima, Direito Internacional Privado, Págs.76/77)
15
Falta de domicílio do réu num Estado-Membro
Inaplicabilidade das regras de competência
não exclusiva do Regulamento
Pressupostos definidos pelo Direito Interno
o Réu ligado exclusivamente a Estados-Membros
o “Conflito negativo de domicílios”
o Réu domiciliado no Estado da residência habitual
(art.5º, nº.2 e art.17º, nº.3)
o Não sendo determinável, conexão significativa com a situação 16
“SOCIEDADES E PESSOAS COLECTIVAS”: ART.60º
(ART.33º CC E ART.3º, Nº.1, 2ª PARTE CSC)
Definição autónoma de domicílio das “pessoas colectivas”
3 critérios alternativos: sede estatutária, administração central e estabelecimento principal
“…uma sociedade ou outra pessoa colectiva ou associação de pessoas singulares ou colectivas” (art.60º, nº.1)
Para determinar se um “trust” tem domicílio no território de um Estado-Membro, o juiz aplicará as normas do seu Direito Internacional Privado (nº.3)
17
CRITÉRIOS ESPECIAIS DE COMPETÊNCIA
Concorrem com o critério do domicílio do réu
Definidos taxativamente (art.3º, nº.1), proibido alargamento por via interpretativa ou integrativa
Art.5º do Regulamento:
Matéria contratual
Obrigação alimentar
Matéria extracontratual
Acção de indemnização ou restituição
Litígio relativo a exploração de uma sucursal
Litígio sobre reclamação sobre remuneração devida por assistência ou salvamento
18
ART.6º: COMPETÊNCIAS ESPECIAIS
…fundadas na existência de uma conexão relevante entre diferentes pretensões, visando possibilitar a concentração de processos e evitar decisões contraditórias
Artigo 6º
“Uma pessoa com domicílio no território de um Estado-Membro pode também ser demandada:
1. Se houver vários requeridos, perante o tribunal do domicílio de qualquer um deles, desde que os pedidos estejam ligados entre
si por um nexo tão estreito que haja interesse em que sejam instruídos e julgados simultaneamente para evitar soluções que poderiam ser inconciliáveis se as causas fossem julgadas
separadamente;
(…)
3. Se se tratar de um pedido reconvencional que derive do contrato ou do facto em que se fundamenta a acção principal,
perante o tribunal onde esta última foi instaurada;” 19
Competência em matéria de seguros
(art.8º a art.14º)
Competência em matéria de contratos
celebrados por consumidores
(art.15º a art.17º)
Competência em matéria de contratos
individuais de trabalho
(art.18º a art.21º)
Regimes especiais que visam a protecção da parte
mais fraca por meio de regras de competência
internacional mais favoráveis aos seus
interesses, do que o regime geral (considerando 13)20
CRITÉRIOS ATRIBUTIVOS DE COMPETÊNCIA
EXCLUSIVA
ART.22º
21
• Direitos reais e de arrendamento sobre
imóveis
• Validade, nulidade ou dissolução das
sociedades
• Validade de inscrição em registos
públicos
• Inscrição/validade de patentes, marcas,
desenhos e modelos
• Execução de decisões
CRITÉRIOS ATRIBUTIVOS DE COMPETÊNCIA EXCLUSIVA
ART.22º
Em princípio, as matérias enumeras no art.22º só fundamentam a competência exclusiva quando tribunal as conhece a título principal
Afasta o critério geral do domicílio do réu e os critérios especiais de competência
Não é derrogada por pacto atributivo de competência nem por extensão tácita de competência (art.23º, nº.5 e art.24º)
Não depende de domicílio do réu no território de Estado-Membro (art.22º)
22
O tribunal de um Estado-Membro perante o qual tiver sido proposta acção da competência exclusiva de tribunal de outro Estado, deve declarar-se oficiosamente incompetente (art.25º)
Caso contrário, decisão sujeita a recusa de reconhecimento nos outros Estados-Membros (art.35º, nº.1 e art.45º, nº.1)
Acção da competência exclusiva de vários tribunais : art.29º
Se o elemento de conexão aponta para um terceiro Estado, a competência é regulada pelo Direito Interno, se o réu não tiver domicílio num Estado-Membro (art.4º, nº.1). Se o réu tiver domicílio no território de um Estado-Membro, a doutrina divide-se…
23
COMPETÊNCIA CONVENCIONAL
Pacto de jurisdição (art.23º)
Atribuída por “convenção” (expressa ou tácita)das partes
As partes podem designar um tribunal estadual como exclusivamente competente (regra) ou como concorrentemente competente: determinação da jurisdição
Efeito atributivo de competência (dois pressupostos, art.23º, nº.1, 1ª parte)
Efeito privativo de competência 24
Artigo 23º:
1. Se as partes, das quais pelo menos uma se encontre domiciliada noterritório de um Estado-Membro, tiverem convencionado que um tribunal ou ostribunais de um Estado-Membro têm competência para decidir quaisquer litígiosque tenham surgido ou que possam surgir de uma determinada relação jurídica,esse tribunal ou esses tribunais terão competência. Essa competência seráexclusiva a menos que as partes convencionem em contrário. Este pacto atributivode jurisdição deve ser celebrado:
a) Por escrito ou verbalmente com confirmação escrita; ou
b) Em conformidade com os usos que as partes estabeleceram entre si; ou
c) No comércio internacional, em conformidade com os usos que as partesconheçam ou devam conhecer e que, em tal comércio, sejam amplamenteconhecidos e regularmente observados pelas partes em contratos do mesmo tipo,no ramo comercial considerado.
2. Qualquer comunicação por via electrónica que permita um registoduradouro do pacto equivale à "forma escrita".
3. Sempre que tal pacto atributivo de jurisdição for celebrado por partes das quaisnenhuma tenha domicílio num Estado-Membro, os tribunais dos outros Estados-Membros não podem conhecer do litígio, a menos que o tribunal ou os tribunaisescolhidos se tenham declarado incompetentes.
4. O tribunal ou os tribunais de um Estado-Membro, a que o actoconstitutivo de um "trust" atribuir competência, têm competência exclusiva paraconhecer da acção contra um fundador, um "trustee" ou um beneficiário de um"trust", se se tratar de relações entre essas pessoas ou dos seus direitos ouobrigações no âmbito do "trust".
5. Os pactos atributivos de jurisdição bem como as estipulações similares deactos constitutivos de "trust" não produzirão efeitos se forem contrários aodisposto nos artigos 13º, 17º e 21º, ou se os tribunais cuja competência pretendamafastar tiverem competência exclusiva por força do artigo 22º
25
Requisito de validade substancial: relação jurídica
Momento da celebração do pacto ou da propositura
da acção
Competência territorial subsidiária - art.85º CPC –
no caso de as partes se limitarem a designar a
jurisdição de um Estado
Casos “Gerling” (14-07-1983) e “Tilly Russ” (19-06-
1984): TCE admitiu que o pacto de jurisdição
pudesse ser invocado por e/ou contra terceiros
26
CONTROLO DA COMPETÊNCIA (ART.25º)
O juiz de um Estado-Membro perante o qual tiver sido
proposta, a título principal, uma acção da competência
exclusiva de tribunal de outro Estado, por força do
art.22º, declarar-se-á oficiosamente incompetente
Observado em todos os graus de jurisdição
O tribunal não está obrigado a examinar oficiosamente
os factos relevantes para apreciação de competência;
cabe ao Direito Interno do Estado-Membro do foro
Fora do domínio dos arts.25º e 26º, nº.1, o regime
processual da competência internacional é definido pelo
Direito Interno do Estado do foro
O juiz deve suspender a instância no caso do art.26,
nº.2; caso contrário, constitui fundamento de recusa de
reconhecimento (art.34º, nº.2)
27
28
Artigo 26º:
“1. Quando o requerido domiciliado no território de um
Estado-Membro for demandado perante um tribunal de
outro Estado-Membro e não compareça, o juiz declarar-
se-á oficiosamente incompetente se a sua competência
não resultar das disposições do presente regulamento.
2. O juiz deve suspender a instância, enquanto não se
verificar que a esse requerido foi dada a oportunidade de
receber o acto que iniciou a instância, ou acto
equivalente, em tempo útil para apresentar a sua defesa,
ou enquanto não se verificar que para o efeito foram
efectuadas todas as diligências.”
Litispendência (art.27º)
Quando acções com o mesmo pedido e a mesma causa de pedir e entre as mesmas partes forem submetidas à apreciação de tribunais de diferentes Estados-Membros, o tribunal a que a acção foi submetida em segundo lugar suspende oficiosamente a instância, até que se estabeleça a competência do tribunal a que a acção foi submetida em primeiro lugar (nº.1); quando esta for estabelecida, o segundo tribunal declara-se incompetente em favor daquele (nº.2)
Princípio da Prioridade
Tribunal local pode afastar o disposto no art.27º, nº.1 quando for exclusivamente competente por força do art.22º: art.29º
29
Acções conexas (art.28º)
Quando acções conexas estiverem pendentes em tribunais de diferentes Estados-Membros, o tribunal a que a acção foi submetida em segundo lugar pode suspender a instância (nº.1)
Destina-se a aguardar a decisão do tribunal demandado em primeiro lugar
Se as acções conexas estiverem pendentes em primeira instância, o tribunal onde a acção foi interposta em segundo lugar pode declarar-se incompetente, a pedido de uma das partes, se o tribunal demandado em primeiro lugar for competente e a sua lei permitir a apensação das acções (nº.2)
Art.29º: competência exclusiva de vários tribunais
Art.30º: acção submetida a apreciação do tribunal
Aplicáveis independentemente do domicílio das partes
(art.4, nº.1)
30
MEDIDAS PROVISÓRIAS E CAUTELARES
(ART.31º)
Previstas na lei de um Estado-Membro, podem ser requeridas às autoridades judiciais desse Estado mesmo que, por força do Regulamento, um tribunal de outro Estado-Membro seja competente para conhecer da questão
O Regulamento não contém regras específicas de competência internacional para as medidas provisórias e cautelares
Abrangidas as medidas que dizem respeito a matérias que caem no âmbito material de aplicação do Regulamento 31
RECONHECIMENTO
CONSIDERANDO 10 E 11
Artigo 32º:
“Para efeitos do presente regulamento, considera-se
"decisão" qualquer decisão proferida por um
tribunal de um Estado-Membro independentemente
da designação que lhe for dada, tal como acórdão,
sentença, despacho judicial ou mandado de execução,
bem como a fixação pelo secretário do tribunal do
montante das custas do processo.”
32
Objecto do Reconhecimento
O Regulamento distingue entre reconhecimento e
execução, isto é, atribuição de força executiva
Reconhecimento do efeito de caso julgado
Efeito constitutivo da sentença
O que releva não é a natureza da jurisdição que
proferiu a decisão, mas o seu objecto
Se o objecto da decisão só está parcialmente
compreendido no âmbito material de aplicação do
Regulamento, é possível um reconhecimento parcial
limitado a esta parte (art.48º)
Proibição do duplo exequatur33
Reconhecimento Automático
Presunção Favorável
O reconhecimento da decisão proferida num Estado-Membro é automático ou ipso iure, porque não depende de um processo prévio (art.33º, nº.1); o que não obsta a uma declaração judicial de reconhecimento quando a questão se suscita num processo judicial
Duas hipóteses de reconhecimento declarado judicialmente (art.33º, nos.2 e 3)
Para a declaração do reconhecimento é competente o tribunal do domicílio do requerido (art.39º, nº.2, aplicação analógica)
Se o requerido não tiver domicílio no Estado do reconhecimento, recorre-se à competência subsidiária estabelecida pelo Direito Interno; no nosso caso pelo art.85º, nº.3 CPC
34
FUNDAMENTOS DE RECUSA DO
RECONHECIMENTO
1) Manifesta contrariedade do reconhecimento à
ordem pública internacional do Estado de
reconhecimento (art.34º, nº.1)
1) Acto que iniciou a instância, ou acto equivalente,
não tiver sido comunicado ao requerido revel em
tempo útil e de modo a permitir-lhe a defesa
(nº.2)
2) Decisão incompatível com uma decisão proferida
no Estado de reconhecimento entre as mesmas
partes (nº.3)35
FUNDAMENTOS DE RECUSA DO
RECONHECIMENTO
4) Inconciliabilidade da decisão com outra anterior proferida noutro Estado-Membro ou num Estado terceiro entre as mesmas partes, em acção com o mesmo pedido e a mesmas causa de pedir (nº.4)
5) Decisão provir de um tribunal incompetente segundo as regras do Regulamento em matéria de seguros e contratos com consumidores ou de competências exclusivas (art.35º, nº.1)
4) Violação de proposições fundamentais do Direito Internacional Público
5) Falha dos requisitos de autenticidade da cópia da decisão (art.53º, nº.1) 36
O tribunal deve verificar oficiosamente, além dos
requisitos do art.46º, se ocorrem fundamentos do
não reconhecimento que se destinem a proteger
interesses públicos
Estes fundamentos apenas podem ser invocados
no recurso da declaração de reconhecimento
(art.33º, nº.2); aplica-se também à decisão sobre a
executoriedade (art.45º, nº.)
37
DECLARAÇÃO DE EXECUTORIEDADE
A atribuição de força executiva às decisões proferidas num Estado-Membro depende de um processo prévio; em regra, é necessário uma declaração de executoriedade
Tribunal competente determina-se pelo domicílio da parte contra a qual a execução for promovida, ou pelo lugar da declaração (art.39º, nº.2), que é, normalmente, o lugar da situação dos bens do devedor
Em caso de vários devedores condenados, o credor pode optar por um domicílio, por aplicação analógica do art.6º, nº.1
Em Portugal o tribunal competente é o Tribunal da Comarca (tribunais competentes indicados na lista constante do anexo II do Regulamento)
O Regulamento não só regula os pressupostos da declaração (art.38º, nº.1), como também estabelece o seu enquadramento processual (art.39º e ss)
38
Como condição específica da declaração de
executoriedade, o art.38º, nº.1 apenas exige que a
decisão tenho força executiva segundo o Direito do
Estado de origem; condição de conhecimento oficioso
Pressupostos:
1) Decisão na acepção relevante do Regulamento
2) Objecto da decisão incluído no âmbito material de
aplicação do Regulamento
3) Decisão com força executiva no Estado de origem
Pode ser requerida por qualquer interessado
A forma de apresentação da requerimento regula-se
pela lei do Estado-Membro requerido (art.40º, nº.1) 39
Requerente pode pedir uma declaração limitada a parte da decisão (art.48º, nº.2)
Caso a declaração não possa ser requerida quanto a todos os pedidos, o tribunal ou a autoridade competente profere-a relativamente a um ou vários de entre eles (art.48º, nº1)
Qualquer parte pode interpor recurso da decisão sobre o pedido de declaração de executoriedade (art.43º, nº.1); em Portugal é competente o Tribunal da Relação (tribunal competente indicado na lista constante do anexo III)
O recurso é interposto no prazo de um mês a contar da notificação; não sujeito a prorrogação (art.43º, nº.5)
Em sede de recurso, apenas se recusará ou revogará a declaração com base no art.45º, nº.1, que remete para os motivos elencados nos arts.34º e 35º
40As decisões estrangeiras não podem, em caso algum, ser
objecto de revisão de mérito (Art.36º)
ANÁLISE JURISPRUDENCIAL
SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Processo: 07B1321
Data do Processo: 28-02-2008
Regulamento (CE) 44/2001/Competência Internacional/Pacto Atributivo de Jurisdição/
Contrato de Agência
Processo: 06S1832
Data do Acórdão: 17-01-2007
Competência Internacional/Convenção de Bruxelas/Contrato de Trabalho
Processo: 05B1782
Data do Acórdão: 22-09-2005
Sentença Estrangeira/Declaração de Executoriedade/Revisão de Mérito/Competência
41
SUPREMO
TRIBUNAL
JUSTIÇA
Processo:
07B1321
28-02-2008
Autora (A) propôs acção declarativa de condenação, com processo ordinário, na 11ª Vara Cível da Comarca de Lisboa, contra a Ré (R)
Incumprimento de contrato de agência celebrado entre ambas a 2 de Dezembro de 1997, nomeadamente, desrespeito da antecedência mínima de três meses relativamente à renovação do contrato, por parte de R
R contestou, por excepção, alegando a incompetência do Tribunal de Lisboa para julgar a questão, com base na cláusula 28ª do contrato estipulada pelas partes no sentido de reservarem exclusivamente à jurisdição italiana a competência para a dirimir (Tribunal da Comarca de Verbania); aplicação do art.17º da Convenção de Bruxelas; pelo que R deve ser absolvida da instância
A replicou, alegando estar em causa o incumprimento de um contrato totalmente executado em território português; e que, encontrando-se domiciliada em território nacional, são diversas as dificuldades e inconvenientes da deslocação ao estrangeiro
42
SUPREMO
TRIBUNAL
JUSTIÇA
Processo:
07B1321
28-02-2008
CONT.
R triplicou, concluindo como na reconvenção
Pelo que, foi julgada procedente a excepção dilatória de incompetência relativa por preterição do pacto atributivo de jurisdição, declarando-se a jurisdição portuguesa incompetente
A agravou para o Tribunal da Relação de Lisboa, que revogou a decisão recorrida e declarou o tribunal competente
R agravou em 2ª instância, alegando que este era um litígio privado internacional, que o pacto de jurisdição era válido “para qualquer controvérsia relativa ao presente contrato” (cláusula 28ª) e que, convencionada a competência pelas partes, era irrelevante que uma delas, contra a vontade da outra, venha posteriormente denunciar unilateralmente o estipulado
Directiva comunitária nº.86/653 (transposta pelo DL nº.118/93 de 13 de Abril) tem em vista harmonizar o contrato de agência na EU, e não impõe qualquer norma relativa à escolha do foro, deixando à liberdade das partes
Dado carácter geral e directamente aplicável do Regulamento nº.44/2001, o Tribunal da Relação ao não aplicar o art.23º, proferiu uma decisão inconstitucional
Presidente do Supremo Tribunal emitiu parecer no sentido da resolução do conflito com a prolação de acórdão uniformizador de jurisprudência 43
SUPREMOTRIBUNALJUSTIÇA
Processo:07B1321
28-02-2008
CONT.
Duas questões: se a cláusula 28ª constitui um pacto atributivo de jurisdição; em caso afirmativo, se o pacto é aplicável ao julgamento
No direito português, regem os artigos 65º, 65º-A e 99º CPC, dizendo, em matéria de competência internacional, “sem prejuízo do que se ache estabelecido em tratados, convenções, regulamentos comunitários, leis especiais, …”; uma afirmação do primado do direito comunitário e da sua prevalência sobre o direito português (art.8º, nº.3 CRP)
Ambos os Estados em litígio são partes contratantes da Convenção de Bruxelas, a que sucedeu o Regulamento; sendo que a interpretação da cláusula 28ª, celebrada em Dezembro de 1997, deve ser feita tendo em conta o quadro legislativo vigente à data do surgimento do contrato, segundo a Convenção de Bruxelas
Nomeadamente, o art.2º, nº.1 que estabelece a regra geral, o art.5º que prevê derrogações ao regime-regra em matéria contratual e o art.17º que estabelece os casos de extensão da competência, quando por vontade das partes, da Convenção
A nulidade de um contrato onde se encontre inserida uma cláusula atributiva de competência, não afecta a validade dessa cláusula, dada a sua autonomia
Face ao exposto, foi dado provimento ao agravo, revogando-se a decisão agravada e vigorando o então decidido pela 1ª instância
“A cláusula de atribuição de jurisdição inserida num contrato de agência mantêm-se em vigor para todas as questões de natureza cível, mesmo que relativas ao respectivo regime de cessação”
44
SUPREMO
TRIBUNAL
JUSTIÇA
Processo:
06S1832
17-01-2007
Autora (A), intentou no Tribunal da Relação do Porto, acção emergente de contrato individual de trabalho, contra três empresas (Empresa-A, Empresa-B e Empresa-C), uma das quais sediada no Reino Unido
Não sendo possível determinar um elemento de conexão com o território português, por referência ao local do estabelecimento que contratou o trabalhador; aplicando-se a regra especial de competência do art.5º, nº.1 da Convenção de Bruxelas para matéria contratual, sendo o Tribunal inglês internacionalmente competente (art.2º e 3º da Convenção)
O juiz de 1ª instância julgou procedente a excepção dilatória de incompetência
A invocou violação dos artigos 10º e 14º CPT (estabelecem a competência internacional dos tribunais do trabalho e a competência territorial em caso de acções emergentes de contrato de trabalho, respectivamente) e ainda que, da matéria de facto dada como provada resulta que o contrato não foi celebrado em Londres e que a recorrente foi contratada em território português
O Tribunal da Relação do Porto concedeu provimento ao recurso da A e declarou o Tribunal de Trabalho do Porto internacionalmente competente
Supremo Tribunal de Justiça anulou o acórdão da Relação e determinou a baixa do processo à 1ª instância para se averiguar o local da celebração do contrato de trabalho que vinculou A
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SUPREMO
TRIBUNAL
JUSTIÇA
Processo:
06S1832
17-01-2007
CONT.
O contrato foi celebrado em Londres, visto que, apesar de ter ocorrido um entrevista em Lisboa, a empresa londrina enviou proposta de trabalho, que foi aceite e reenviada, pelo que o contrato se encontra concluído com a recepção do mesmo em Londres
Não sendo por isso aplicado o art.10º CPC, mas sim o art.2º da Convenção de Bruxelas, sendo competente o tribunal do Estado contratante
Acontece que A desistiu do pedido contra R, Empresa-C; mas, segundo o art.22º da Lei de Organização e Funcionamento das Tribunais Judiciais (Lei nº.3/99 de 13 de Janeiro), a competência determina-se no momento em que acção se propõe, e, por outro lado, o art.295º CPC dispõe ainda que a desistência do pedido e seus efeitos por parte do requerente são irrelevantes
Logo, o Tribunal recorrido ao aplicar o Aart.10º CPT, violou o disposto no art.22º da LOFTJ e no art.2º da Convenção
Duas questões: a eventual violação das regras de competência internacional do Tribunal; viabilidade da desistência do pedido em relação a um dos réus
46
SUPREMOTRIBUNALJUSTIÇA
Processo:06S183217-01-2007
CONT.
Supremo Tribunal concluiu que, se o local da celebração
do contrato for Lisboa, como sustenta A, os tribunais
portugueses são competentes; se tiver sido em Londres,
e atendendo que a 3ª R tem aí a sua sede, o tribunal
internacionalmente competente é o inglês
Em acções em que existem elementos de conexão com
mais do que um Estado contratante, a regra geral é a da
competência do tribunal do domicílio do réu, mas
tratando-se de matéria de contrato individual de
trabalho, esse lugar é onde o trabalhador efectua
habitualmente o seu trabalho, ou no lugar onde se situa
ou situava o estabelecimento que o contratou
Um dúvida quanto ao local da celebração do contrato
não pode excluir, sem mais, a aplicação da Convenção
Não sendo aplicado o art.5º, nº.1 da Convenção, aplica-
se o art.2; sendo que o art.10º CPT nunca poderia ser
invocado para afastar o art.2º da Convenção, como aliás
estabelece o art.3º do mesmo diploma
O Tribunal do Trabalho do Porto é incompetente,
por força do art.2º, nº.1 da Convenção de
Bruxelas, visto os elementos não serem
conclusivos para que seja aplicada a regra
especial do art.5º, nº.1; para além do efeito da
desistência ser inconsequente por força do art.22º
da LOFTJ
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SUPREMO
TRIBUNAL
JUSTIÇA
Processo:
05B1782
22-09-2005
A requereu, na 5ª Vara Cível do Porto, a declaração de executoriedade da sentença proferida pelo Tribunal de Comércio de Nivelles, da Bélgica, de 28 de Março de 2002, contra R, com base nos artigos 38º e 41º do Regulamento 44/2001
R, notificada da sentença em 12 de Junho de 2002, não pagou o que lhe foi exigido a título de indemnização e juros de mora
Apesar da sentença do Tribunal de Comércio de Nivelles ter sido proferida posteriormente à entrada em vigor do Regulamento, a sua aplicação não é imediata, sendo necessário obedecer aos requisitos da alínea a) do nº.2 do art.66º, ou seja, no caso de acções intentadas antes em vigor do Regulamento, este aplica-se e as decisões são reconhecidas e executadas, se estas mesmas forem posteriores a essa data
Contra o alegado por R, não houve violação do princípio constitucional de acesso ao direito (art.20º CRP), visto que foi notificada da sentença, não tendo recorrido dela nem a ela se opondo por qualquer outra forma, não havendo por isso uma situação de contrariedade com a ordem pública do Estado-Membro requerido
Há ainda que destacar que as regras relativas à competência não dizem respeito à ordem pública do Estado-Membro requerido, sendo que a regra é a de o juiz requerido não pode verificar a competência do juiz de origem, tanto mais quanto, tal decisão não pode em caso algum ser objecto de revisão de mérito (art.36º do Regulamento)
Verificados todos os pressupostos da declaração de executoriedade da sentença do Tribunal de Comércio de Nivelles, improcede a pretensão da recorrente, havendo que confirmar o acórdão impugnado
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