O Repórter Esso e Getúlio Vargas

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    O REPRTER ESSO E GETLIO VARGAS

    Luciano Klckner1

    RESUMO:

    O artigo tem por objetivo apresentar o contexto histrico de O Reprter Esso, sntese noticiosa que marcou

    poca no radiojornalismo mundial e brasileiro, a partir dos anos 40, durante a fase de governo do presidente

    Getlio Dornelles Vargas. A amostra contempla notcias veiculadas nos anos 40 e 50, perodo em que Vargas

    comandou a nao. O texto baseia-se nos fatos ocorridos e localizados nos noticiosos de O Reprter Esso,

    durante e logo aps a Segunda Guerra Mundial e tambm nos momentos decisivos que levaram o presidente

    Getlio Vargas ao suicdio.

    PALAVRAS-CHAVE: Reprter Esso Sntese noticiosa Getlio Vargas Segunda Guerra Mundial

    O presidente Getlio Dornelles Vargas, que governou o Brasil durante trs perodos

    distintos, era ouvinte de O Reprter Esso. Em depoimento prestado ao autor, o filho do

    locutor Heron Domingues, Heron Domingues Jnior2, disse que durante a Segunda Guerra

    Mundial, o presidente e o locutor, se encontraram no Palcio do Catete:

    - Heron, por que O Reprter Esso no transmite notcias sobre a Fora

    Expedicionria Brasileira?

    Ao que o locutor Heron Domingues respondera:

    - Ora, senhor presidente, h uma lei que impede a veiculao de notcias locais...

    O presidente, dirigindo-se ao seu chefe de gabinete, ordenou:

    - Vamos corrigir essa lei imediatamente!

    O Reprter Esso ficou por quase 30 anos no ar no Brasil. A estria, no Brasil,

    ocorreu em 28 de agosto de 1941, poucos meses antes de o pas entrar na Segunda Guerra, e

    a ltima edio foi ao ar em 31 de dezembro de 1968, poucos meses antes de o homem pisar

    na Lua. Ao longo desse perodo, o noticirio acompanhou os principais fatos sociais,polticos, econmicos, que se transformaram na histria do mundo e do pas. Muitas

    geraes cresceram, ouvindo e acreditando em tudo que O Reprter Esso, representado pelos

    locutores exclusivos, falava do outro lado do alto-falante. Boa parte do mundo, em 15

    1 Jornalista e Professor- Doutor da PUCRS, UNISINOS e ESPM, autor da Tese O Reprter Esso e a Globalizao: umainvestigao hermenutica (PUCRS-2003), orientada pelo prof. Dr. Roberto Jos Ramos, e da Dissertao O ReprterEsso n a Hist ria do Brasil / 1941-1945 e 1950 a 1954 (PUCRS-1998), orientada pela profa. Dra. Doris FagundesHaussen.2 Entrevista concedida em julho de 1997.

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    pases, a partir da transmisso de 60 rdios que irradiavam o noticirio, parava para ouvir as

    ltimas informaes das guerras, os pronunciamentos dos Papas, dos presidentes, dos

    polticos, dos cientistas e como estavam os astronautas soviticos e americanos que giravam

    em torno da terra em naves espaciais.

    O Reprter Esso foi a primeira sntese noticiosa do planeta, concebida com carter

    globalizante. O noticirio, patrocinado pela Standard Oil New Jersey (Esso), teve a

    idealizao da agncia de publicidade McCann-Erickson e produo da agncia de notcias

    United Press Associations (UPA) 3. O noticirio j existia nos Estados Unidos desde 1935.

    A partir dali, se estendeu para outros pases (Argentina, Brasil, Chile, Colmbia, Costa Rica,

    Cuba, Estados Unidos, Honduras, Nicargua, Panam, Peru, Porto Rico, Repblica

    Dominicana, Uruguai e Venezuela). Em particular, no extremo sul da Amrica Latina

    (Argentina, Uruguai, Brasil e Chile), o Esso referendado em livros e em stios da Internet,

    como a mais importante sntese noticiosa do rdio e da televiso em cada pas.

    Nas Amricas Central e do Sul, o Esso chegou a reboque da Poltica da Boa

    Vizinhana (Good Neighbor Policy), nos anos 30. Na realidade, nem o termo e nem a idia

    eram novos. Alguns anos antes, o presidente dos Estados Unidos, Herbert Hoover, em

    viagem Amrica Latina, havia usado a expresso good neighbor nos discursos, que seriaadotada, em 1933, por Franklin Delano Roosevelt 4. Era comum, na poca, que a colnia

    alem, localizada, em especial, no extremo sul da Amrica Latina, se informasse do avano

    das foras nazi-fascistas na Europa, a partir das ondas da Rdio Berlim. Dessa forma, as

    emisses dos Estados Unidos, via Voice of Amrica (VOA), no deixaram de apresentar um

    certo contraponto a uma situao existente nas Amricas, e que preocupava, sobremaneira,

    os pases aliados, uma vez que existia a simpatia, de parte de governantes americanos, pela

    poltica nazi-fascista, representando um ideal de governo.

    3 Em 1958, houve a fuso da United Press Associations (UPA) com a International News Service (INS), surgindo a UnitedPress International (UPI).4 O livro O imperialismo sedutor a americanizao do Brasil na poca da Segunda Guerra, de Antonio Pedro Tota,(2000, Companhia das Letras), conta, em detalhes, a disputa entre os pases aliados e as foras do eixo, para influenciaras naes das Amricas, durante o conflito mundial.

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    AS GUERRAS

    Durante a Segunda Guerra Mundial, de 1939 a 1945, as naes do Terceiro Mundo

    foram pressionadas a optar por uma das faces. De um lado, o eixo, formado por Alemanha,

    Itlia e Japo. No outro extremo, os aliados, liderados por Gr-Bretanha, Frana e Unio

    Sovitica; e, a partir de 1941, pelos Estados Unidos. Nestes seis anos de conflito, destacou-se

    a Poltica da Boa Vizinhana, visando a aproximar os pases da Amrica Latina da cultura e

    da ideologia norte-americana. O objetivo era nico: que o Brasil defendesse os interesses dos

    aliados na Segunda Guerra, o que, de forma efetiva, ocorreu em 1942.

    O pacote cultural-ideolgico dos Estados Unidos inclua vrias edies dirias de O

    Reprter Esso, uma sntese noticiosa de cinco minutos rigidamente cronometrados, a

    primeira de carter global, que transformou o radiojornalismo brasileiro e mundial. Com o

    noticioso, foi implantado o lide5, a objetividade, a exatido, o texto sucinto e direto, a

    pontualidade, a noo do tempo exato de cada notcia, aparentando imparcialidade, a locuo

    vibrante, contrapondo-se aos longos jornais falados da poca. No entanto, o formato

    inovador do noticirio no influiu somente na rea profissional, mas, tambm, nas disputas

    polticas, ideolgicas e culturais da poca.

    Antes de a primeira edio do Esso ir ao ar, no mesmo ano de 1941, desembarcaramno Pas os representantes do Bir Interamericano, criado pelo presidente Franklin Delano

    Roosevelt, para aproximar os Estados Unidos dos pases da Amrica Latina. A ttica,

    denominada de Poltica da Boa Vizinhana (Good Neighbor Policy), tinha por objetivo

    estreitar as relaes econmicas e culturais. O Office for the Coordination of Commerce and

    Cultural Relations between the American Republics 6 comeou a atuar em 16 de agosto de

    1940, nos Estados Unidos, em resposta propaganda nazista na Amrica Latina. Atravs de

    programas radiofnicos, transmisses da Voice of America e revistas do porte da Time, Life eSelees Readers Digest, eram divulgadas mensagens do governo norte-americano, visando

    a neutralizar a forte presena alem, italiana e japonesa nesta parte da Amrica. Mais tarde, a

    agncia estimularia a criao de histrias e de filmes de Walt Disney, com personagens dos

    5 Termo aportuguesado, a partir da palavra inglesa lead, referente abertura da matria. No lide, destacado o fatoessencial, considerando-se as seis perguntas bsicas: O Qu? Quem? Quando? Onde? Como? Por qu? (RABAA eBARBOSA, 1978, p. 278-279).6 Em 1941, o nome foi trocado para Office of the Coordinator of Inter-American Affairs(OCIAA) e, em 1946, passou achamar-se Office of Inter-American Affairsat ser extinto em 1946 (TOTA, 2000, p. 190).

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    pases latino-americanos, auxiliando no convencimento das populaes em relao boa

    vontade dos Estados Unidos (TOTA, 2000, p 50).

    O avano do exrcito alemo na Europa Ocidental animava algumas autoridades

    brasileiras e mundiais, preocupando os Estados Unidos, que redobraram a ateno sobre a

    Amrica Latina. O Brasil era presidido por Getlio Dornelles Vargas e atravessava um

    momento poltico delicado, com a instituio de um regime arbitrrio, o Estado Novo (1937-

    1945), de inspirao nazi-fascista.

    GETLIO DORNELLES VARGAS

    Vargas era filho de uma famlia de estancieiros gachos da fronteira com a

    Argentina, com razes caudilhistas. Entrou para a carreira militar e destacou-se na poltica

    estudantil, demonstrando desde cedo muita astcia e habilidade para negociar. Lder da

    maioria na Assemblia do Rio Grande do Sul, foi deputado federal, em 1923, lutou contra os

    libertadores no mesmo ano e virou ministro da Fazenda em 1926.

    Herdeiro poltico de Borges de Medeiros, Vargas disputou, pela Aliana Liberal

    (MG, RS e PB), em 1 de maro de 1930, a eleio direta para a presidncia da Repblica,

    tendo como vice o paraibano Joo Pessoa. No pleito, perdeu por diferena de 300 mil votos

    para o paulista Jlio Prestes, que fez 1 milho de votos. Alguns meses depois, em 31 deoutubro de 1930, Vargas entrou de forma triunfante no Rio de Janeiro, impedindo a posse de

    Jlio Prestes, marcada para novembro: era a Revoluo de 30. Com uniforme militar, leno

    vermelho no pescoo e chapu de aba larga, em trs de novembro, foi nomeado chefe do

    governo provisrio, substituindo o paulista Washington Lus (BUENO, 1998, p. 224 e 225).

    Era o fim da Repblica Velha, da poltica caf-com-leite, alternando no poder, presidentes

    mineiros e paulistas.

    Em 10 de novembro de 1937, Vargas instaurou o Estado Novo, com feiesditatoriais, contrariando a prpria plataforma de governo, anunciada sete anos antes, de

    restituir a democracia e a liberdade do povo, recuperando a economia. Aos poucos, foi

    rompendo com aliados, como Borges de Medeiros, Osvaldo Aranha, Flores da Cunha, entre

    outros, e mostrando uma personalidade mais autoritria. Apesar disso, com uma legislao

    tutelar e paternalista, o governo do Estado Novo ganhava popularidade, o que valeu a

    Getlio a alcunha de pai do povo. Destitudo em 1945, depois da vitria aliada na Segunda

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    Guerra, Vargas ainda voltaria ao poder em eleies diretas, em 1950, para o terceiro

    governo. Nele, se envolveria em outra questo polmica: a explorao nacional do petrleo e

    a criao da Petrobrs em 1953 7(BUENO, 1998, p. 229 e 233).

    Na poca, apesar do grande e eficaz poderio dos jornais impressos, era o rdio que

    exercia fascnio no povo e mobilizava as massas. O despertar, para essa novidade, ocorreu

    em 7 de setembro de 1922, quando 80 rdios-galena foram distribudos, para captar o

    discurso do Presidente Epitcio Pessoa na abertura da Exposio-Feira Mundial, no Rio de

    Janeiro. O nmero de emissoras e de aparelhos receptores cresceu rapidamente. Nos anos 20,

    existiam 19 emissoras; em 1940, elas j somavam 78; em 1944, 106; em 1945, 111; em

    1946, 136; em 1947, 178; em 1948, 227; em 1949, 253, chegando a 1950 com 300 emissoras

    (HAUSSEN, 2001, p. 56). Do mesmo modo, o nmero de radiorreceptores, que era de 30

    mil em 1926, chegou a 659.762 em 1942 (WAINBERG, 1997, p. 43 e 44).

    Trinta e trs anos depois da primeira transmisso existiam, no Brasil, 477 emissoras

    de rdio, e o total de aparelhos receptores atingia quase 1 milho (O DIA..., 1994, p. 14). Os

    nmeros atestam a importncia da recepo radiofnica na primeira metade do sculo

    passado, situao somente ameaada, alguns anos depois, com a televiso, onde a imagem e

    o som se uniram, num nico aparelho, que, hoje, quase to porttil quanto o rdio. At essasituao se inverter, o rdio recebeu todos os investimentos possveis e fez experincias de

    programas que esto aplicadas em outras mdias e suportes, como a prpriaInternet.

    UTILIZAO DO RDIO COMO INSTRUMENTO POLTICO

    A radioescuta desempenhou papel fundamental nas duas guerras mundiais, utilizada

    para os comunicados na frente de batalha e nas atividades de contra-informao. Os pases,

    envolvidos nos conflitos, atravs de setores especficos e das agncias de notcias,

    designavam tradutores, para acompanhar as irradiaes em lngua estrangeira. Com isso, aradioescuta se tornou primordial, visando a identificar o que realmente ocorria, suprindo as

    deficincias do noticirio oficial, sujeito censura parcial ou total.

    Nos anos 30, na Alemanha, os nazistas fizeram do rdio o ideal de propagao

    ideolgica. Cerca de 70% das famlias alems possuam aparelhos em casa. A importncia

    do rdio era tamanha que o governo patrocinou a fabricao de receptores e estimulou a

    7 A Campanha O Petrleo Nosso surgiu no governo do presidente Eurico Gaspar Dutra em 1947.

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    instalao em fbricas, escritrios, bares, restaurantes e praas para audies coletivas

    (WYKES, 1975, p. 94).

    Na mesma poca, o presidente dos Estados Unidos, Franklin Delano Roosevelt

    (1932-1945), utilizou-se de transmisses radiofnicas, para atingir a populao. Por isso, ele

    recebeu o ttulo de Presidente do Rdio. Partiu dele a iniciativa de realizar o programa fire

    side chats (conversa ao lado da lareira ou ao p do fogo, segundo a traduo literal),

    divulgando as aes contidas na poltica do New Deal, de incentivo ao desenvolvimento

    econmico e maior justia social (MOREIRA, 1998, p. 11; TOTA, 2000, p. 38).

    O Brasil percorria o mesmo caminho. Logo, a preferncia do pblico, especialmente

    a partir de 1930, recaiu sobre o noticirio poltico e esportivo. Em 1932, o radiojornalismo

    das emissoras de So Paulo e do Rio de Janeiro mostra a luta entre legalistas e rebeldes

    paulistas, em especial, o lado que o Governo Provisrio de Vargas no quer revelar. Trs

    anos depois, ciente da dimenso que o veculo rdio obtivera, ao criar o Departamento de

    Propaganda e Difuso Cultural (absorvido, mais tarde, pelo Departamento de Imprensa e

    Propaganda - DIP), o Governo Vargas pe no ar a Hora do Brasil, programa obrigatrio,

    retransmitido por todas as emissoras.

    Em 1937, a notcia do golpe de Estado de 10 de novembro o Estado Novo chegaao conhecimento pblico em cadeia radiofnica. Em 1940, cerca de um ano depois do incio

    da Segunda Guerra Mundial, a Rdio Tupi lana o Boletim de Guerra. Antes disso, os

    brasileiros tinham conhecimento das informaes do conflito, atravs das transmisses em

    ondas curtas das emissoras CBS e NBC, dos Estados Unidos, e BBC, da Gr-Bretanha.

    Todas transmitiam programas em portugus.

    As regras de linguagem j estavam presentes nas redaes pouco antes de 1945, mas,

    segundo Bahia (1990b, p. 86), somente a partir das mudanas polticas, econmicas e sociais que a prtica se generaliza. O processo, para o autor, coincide com maiores exigncias dos

    leitores, com a expanso do rdio e o aparecimento das novas tecnologias dos setores bsicos

    da produo industrial.

    Com isso, os jornais e as revistas definem estilos prprios de tratamento da

    informao, buscando elaborar uma notcia mais qualificada. Era o ingresso na fase

    industrial. No rdio, a notcia comea a ganhar essa personalidade com O Reprter Esso.

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    100 emissoras. O governador gacho Leonel Brizola defendeu a posse do vice-presidente

    Joo Goulart no lugar de Jnio Quadros, que renunciara presidncia. A presso deu

    resultado: Joo Goulart assumiu a presidncia, mas em regime parlamentarista

    (FELIZARDO, 1988, p. 29).

    Trs anos depois, outra rede composta: a Rede da Democracia. Ela se ope a outra

    cadeia nacional de inspirao legalista, mas de tendncia esquerdizante. A Rede da

    Democracia, conservadora, desempenha papel fundamental no desfecho do movimento

    militar que d o golpe de 1964, com a deposio do presidente Joo Goulart. Tambm,

    pelos meios eletrnicos que o Pas toma conhecimento, em 1968, do Ato Institucional

    nmero 5. Uma rede nacional de rdio e televiso, convocada pela Agncia Nacional,

    comunica a edio do AI 5, que consolida a ditadura militar, cancelando as ltimas

    franquias, dissolvendo os partidos e instaurando a censura fato.

    Em todo o mundo, o rdio o meio de comunicao mais difundido, conforme dados

    da UNESCO (1983, p. 94). At 1987, a UNESCO calculava que existissem mais de 5 bilhes

    de receptores no planeta, 50 milhes dos quais na Amrica do Sul. De acordo com a

    Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar (PNAD), feita pelo Instituto Brasileiro de

    Geografia e Estatstica (IBGE), em 1999, o Brasil tinha 39,4 milhes de lares com rdio e38,4 milhes com TV. Dois anos mais tarde, o quadro se inverteu e a televiso passou a estar

    presente em 41,4 milhes de domiclios, ante 40,9 milhes em rdios (acessocom.com.br,

    2002, setembro, nmero de aparelhos de TV j supera o de rdios).

    DISSEMINAO IDEOLGICA E AS NOTCIAS DA GUERRA

    Paralelamente evoluo do rdio, como Meio de Comunicao de Massa, ocorreu,

    nos anos 30-40, a disseminao da ideologia norte-americana, estimulada pela instalao, no

    Brasil, das primeiras multinacionais (indstrias em geral, agncias de publicidade epropaganda, e agncias de notcias). Com isso, se estabeleceu uma polarizao de interesses:

    de um lado, os defensores dos valores dos Estados Unidos e da internalizao de capitais

    estrangeiros no Pas; de outro, os nacionalistas, opostos a qualquer ingerncia externa.

    A luta passou pelos meios de comunicao, pois havia a inteno de conquistar a

    opinio pblica e, se possvel, influenci-la. Assim, muitas vezes, a notcia mais importante

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    Temendo uma possvel adeso do Estado brasileiro ao nazismo, os Estados Unidos

    demonstraram interesse particular pelo Brasil durante a Segunda Guerra. Numa ao

    fulminante e eficaz, as autoridades americanas aproximaram-se do Governo Vargas e

    ofereceram benefcios econmicos e culturaisda Poltica de Boa Vizinhana.

    Nessa poca, estreava, no Brasil, O Reprter Esso, que, de 1941 at 1968, constituiu-

    se no principal noticirio radiofnico brasileiro, com ndices elevados de audincia e

    consolidando a sua hegemonia, de modo particular durante a Segunda Guerra Mundial, de

    1941 a 1945. Idealizado pela agncia de publicidade McCann-Erickson, ex-departamento de

    relaes pblicas da Standard Oil Company 10, O Reprter Esso comeou a ser transmitido

    no Brasil em 28 de agosto de 1941, pela Rdio Nacional, do Rio de Janeiro 11.Em meados de

    1942, mais quatro rdios, nos principais ncleos de poder poltico do Brasil (So Paulo, Belo

    Horizonte, Porto Alegre e Recife), transmitiam o noticirio.

    OS ANOS 40 E O MONOPLIO DA RDIO NACIONAL

    Os anos 40 foram caracterizados, basicamente, pela Segunda Guerra Mundial e pela

    organizao dos governos dos continentes entre os pases do eixo e os aliados. A Alemanha

    avanava pela Europa e os Estados Unidos, em princpio, demonstrando neutralidade no

    conflito que se desenrolava na Europa, se preparavam para entrar na guerra. O perodo conhecido como a poca de Ouro do rdio, com a consolidao do veculo como Meio de

    Comunicao de Massa e a audincia em constante ascenso.

    Durante o conflito, houve vrias batalhas no campo dos veculos de comunicao. O

    radiojornalismo vivia a sua infncia e concorria com os jornais matutinos e vespertinos.

    Entretanto, o vespertino comea a vencer essa escaramua, com vrias edies, inclusive,

    durante o dia, quando os noticiosos eletrnicos entram na fase adulta (BAHIA, 1990b, p. 77

    e 86). Os jornais se adaptam presena do rdio e, depois da Segunda Guerra, as mudanasso inevitveis, com uma sistematizao interna e externa das redaes, os textos diminuem

    e o lide (originrio do lead) adotado como primeiro pargrafo das notcias.

    10 Em 1911, por deciso da Suprema Corte dos Estados Unidos, baseada no Ato Antitruste Sherman, a Standard OilCompany foi dividida em muitas empresas separadas, entre elas, a Standard Oil New Jersey, que mais tarde passou a sechamar Exxon, patrocinadora de O Reprter Essono rdio.11 Na televiso, o noticirio, com o nome de O Seu Reprter Esso, estreou em 4 de maio de 1952, na TV Tupi, do Rio deJaneiro, Canal 6, onde permaneceu por 18 anos, at 31 de dezembro de 1970, sempre com a apresentao do locutorGontijo Teodoro, falecido em 2003.

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    O rdio no mundo e tambm no Brasil ainda era objeto de curiosidade nos anos 20.

    Em 1922, durante a Exposio do Centenrio da Independncia, foram realizadas as

    primeiras transmisses no Rio de Janeiro. De forma efetiva, a partir dos anos 30 que o

    rdio se firmou como meio de comunicao de massa: abandonou caractersticas elitistas e

    comeou a se massificar, visando conquista da classe mdia urbana do Brasil.

    A partir de 1939, o Brasil recebia emisses estrangeiras de vrias emissoras, atravs

    das ondas curtas (SW - short waves): o rdio estava globalizado. As ondas da Rdio Berlim,

    da BBC, da Voz da Amrica, entre outras, privilegiavam audies em portugus. As

    populaes de outros pases tambm ouviam as programaes especiais na lngua nativa

    (TOTA, 2000, p. 144).

    Nessa poca, surgiram vrias emissoras no Rio de Janeiro: a Mayrink Veiga, ligada

    famlia do mesmo nome, a Cruzeiro do Sul, dos Byngton, proprietrios de grandes casas

    comerciais e importadoras, e a Rdio Phillips do Brasil, pertencente ao grupo holands,

    fabricante de aparelhos eltricos e rdios da mesma marca, que depois se transformaria na

    Rdio Nacional. As empresas jornalsticas, tambm, perceberam a importncia do meio e

    fundaram as rdios Jornal do Brasil e Tupi, do Rio e de So Paulo, as duas ltimas, ligadas

    aos Dirios Associados.Em fins dos anos 30, a Nacional era a segunda maior emissora em audincia no Rio

    de Janeiro, sendo superada apenas pela Mayrink Veiga posies que se invertem na dcada

    seguinte, ainda durante o primeiro Governo Vargas. A emissora permaneceu na liderana da

    audincia durante o perodo do Presidente Eurico Gaspar Dutra, no segundo Governo Vargas

    e no incio do perodo de Juscelino Kubischek, somente perdendo espao nos anos seguintes.

    A possibilidade de levar a mensagem a vrios pontos do Pas conferia ao rdio um

    poder difusor, sem precedentes na histria mundial. A partir deste conceito, que nasceu, noRio de Janeiro, uma emissora que se constituiria na maior do Brasil: a Rdio Nacional, PRE-

    8. A iniciativa partiu dos proprietrios do jornal A Noite, com sede no edifcio da Praa

    Mau. Do grupo, faziam parte as revistas Carioca, Noite Ilustrada e Vamos Ler, alm da

    EditoraA Noite. A Rdio Nacional comeou a se destacar pela programao e pela potncia.

    Inaugurada em 12 de setembro de 1936, s 21 horas, a Nacional se constituiu num

    fenmeno de comunicao de massa da primeira metade do sculo, um dos mais eficazes

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    instrumentos de propagao cultural verificado at ento. No entanto, at 1939, a Rdio

    Nacional enfrentou crises. Ela fazia parte do grupo empresarial que abrangia a Companhia

    Estrada de Ferro So Paulo-Rio Grande, o jornal A Noite, e a Rio Editora, detentora de uma

    dvida de trs milhes de libras esterlinas.

    A situao melhorou a partir de 8 de maro de 1940, quando o governo de Getlio

    Vargas encampou todas as organizaes do grupo, atravs do Decreto-Lei n 2.073,

    criando as Empresas Incorporadas ao Patrimnio da Unio. Houve, no incio, incerteza de

    parte dos funcionrios da rdio, pois o novo diretor era Gilberto de Andrade, conhecido

    censor de teatro, durante os anos 20, e, promotor do Tribunal de Segurana do Estado Novo,

    condenando vrios profissionais priso. No entanto, ele fortaleceu a emissora, colocou-a na

    liderana da audincia, incentivou profissionais e aperfeioou a programao.

    Em 1943, a Nacional recebia cartas de vrios pases, conseqncia da instalao, um

    ano antes, de uma estao de ondas curtas de 50 quilowatts de potncia e oito antenas, sendo

    duas voltadas para os Estados Unidos, duas para a Europa e uma para a sia. As outras trs

    foram dirigidas para as principais regies do territrio nacional. Com uma programao

    padronizada, a emissora atingiu, em 1952, no Rio de Janeiro, 50,2% de audincia mdia. Foi

    considerada, por muito tempo, a melhor do Brasil. Os destaques da programao eram osmusicais e as radionovelas (GOLDFEDER, 1980, p. 39). A primeira novela no rdio, Em

    Busca da Felicidade , do autor cubano Leandro Blanco, adaptada por Gilberto Martins,

    estreou na Nacional em 12 de julho de 1941. Ao todo, a Rdio Nacional veiculava,

    diariamente, mais de 20 programas entre radionovelas e radioteatros.

    A Rdio Nacional no serviu apenas integrao nacional, mas sim a um modelo

    mais definido de ao poltica posto em prtica no perodo de 1930-1945 (SAROLDI e

    MOREIRA, 1988), reforando a autoridade poltica do governo e divulgando a ideologiadesenvolvimentista em que a indstria era o principal foco. A adoo do modelo

    desenvolvimentista trouxe ao Brasil vrios investidores internacionais, e, com eles, as

    primeiras agncias de publicidade e de notcias estrangeiras nos anos 30, ligadas aos

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    principais clientes e interessadas na comercializao de produtos no grande mercado

    consumidor da Amrica Latina, entre elas, a J. W. Thompson e a McCann-Erickson 12.

    AS RADIOSNOVELAS E AS NOTCIAS

    A publicidade, no rdio, foi liberada em 1 de maro de 1932, atravs do Decreto-Lei

    no 21.111, do Governo Federal. At esta data, somente eram permitidos os patrocnios a

    horrios de programas. Com a nova lei, os anncios ou reclames se multiplicaram

    rapidamente (CAS, 1995, p. 47).Era comum at os anos 60, especialmente no rdio e

    depois na TV, associar os nomes dos programas aos de empresas nacionais e estrangeiras.

    No jornal, isso no era possvel. Nesses, a publicidade se limitava s pginas internas,

    reduzindo, de forma aparente, a influncia direta no contedo da informao. Os norte-

    americanos foram os que melhor souberam explorar esta tendncia.

    Uma das preocupaes era a de oferecer programas jornalsticos, transmitidos pelas

    emissoras locais. Em 1939, a Esso j patrocinava, na Rdio Nacional, o programa

    radiofnico Variedades Esso e, em 1940, a narrao de jogos de futebol, denominados, na

    poca, de matches. Com to fortes predicados, o patrocinador e os produtores do Reprter

    Esso no tiveram dvida ao escolher a Rdio Nacional para a transmisso do noticioso. Alm

    de grandes astros e estrelas da msica e do teatro, a emissora detinha, tambm, o melhorquadro de locutores do Pas, entre eles, Rubens Amaral, Celso Guimares, Romeu

    Fernandes, Saint-Clair Lopes e Heron Domingues, que ficaria famoso ao ler de forma

    exclusiva oReprter Esso.

    Entre as notcias que receberam destaque nos Anos 40, esto a internalizao de 16

    navios do Eixo, que estavam em portos brasileiro em 28 de agosto de 1941 (1 edio de O

    Reprter Esso), o ataque de avies japoneses base norte-americana de Pearl Harbor, em

    sete de dezembro de 1941; a declarao de guerra do governo brasileiro aos pases do eixo

    12 A McCann iniciou as atividades em 1912 como departamento de relaes pblicas da Standard Oil Company,desvinculando-se quando a lei antitruste norte-americana, a Sherman Act, dividiu o cartel petrolfero dos Rockfeller emvrias empresas. Mesmo assim, permaneceu ligada informalmente s companhias do grupo financeiro e se instalou emtodos os pases da Amrica Latina, o que, para MATTELART (1976, p. 241), caracteriza-a como prottipo do modeloimperialista norte-americano. Devido ao elo com a Standard, coube a McCann-Erickson supervisionar as edies doReprter Esso.O rdio tinha uma tradio de negcios diretos com os anunciantes, alguns deles grandes clientes, comoSidney Ross, Gessy Lever, Colgate (...) A McCann-Erickson era uma espcie de filial de seus clientes internacionais.Funcionava, praticamente, como house agency da Esso e da Coca-Cola, as principais contas, adaptando as idiaslanadas na matriz (CLARK, 1991, p. 51).

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    em 22 de agosto de 1942; o envio da Fora Expedicionria Brasileira Itlia em 1943; o

    desembarque das foras aliadas na costa normanda da Frana em seis de junho de 1944; a

    conquista da fortaleza nazista de Monte Castelo pela FEB em 21 de fevereiro de 1945, a

    rendio da Alemanha em nove de maio; o lanamento da bomba atmica sobre Hiroshima e

    Nagasaki, respectivamente, em seis e nove de agosto de 1945, a rendio do Japo em 14 de

    agosto de 1945, a renncia do presidente brasileiro Getlio Vargas em 29 de outubro de

    1945, a divulgao dos resultados da eleio para a Presidncia da Repblica a partir de dois

    de dezembro de 1945 e o incio da Guerra Fria. Ainda, em nvel nacional, o Partido

    Comunista do Brasil colocado fora da lei e o Brasil rompe relaes com a, ento, Unio

    Sovitica, em 1948. Um ano depois, em 1949, O Reprter Esso realiza um feito sem

    precedentes, para a poca: acompanha o presidente Eurico Gaspar Dutra aos Estados Unidos,

    transmitindo edies de todos os pontos do territrio visitado pelo Presidente brasileiro.

    As notcias dos anos 40 apresentaram como caracterstica o conflito mundial: a

    Segunda Guerra. Das amostras selecionadas, os assuntos principais concentram-se na

    Segunda Guerra, no Ps-Guerra, na luta do Capitalismo X Comunismo e o posicionamento

    dos pases em relao a uma Poltica Internacional.

    At 1945, as notcias se restringem guerra (ataque dos japoneses a Pearl Harbor e arendio da Alemanha, da Itlia e do Japo). Os discursos, com muitos adjetivos,

    valorizavam o feito das tropas aliadas (inclusive da Fora Expedicionria Brasileira), a

    Poltica de Boa Vizinhana e preconizam a unio definitiva das Amricas contra os

    agressores mundiais. Tambm o lanamento da bomba atmica sobre Hiroshima e Nagasaki

    confere um certo tom de mistrio a essa nova e poderosa arma, capaz de varrer cidades do

    mapa mndi.

    No Ps-Guerra (fim de 1945 at 1950), os assuntos do noticioso versam sobre aqueda dos ditadores e o restabelecimento da democracia (renncia de Getlio Vargas), a

    criao de Israel e a possibilidade dos Estados Unidos terem feito conchavos com ditadores

    da Amrica Latina. Com a Guerra Fria, o Comunismo e o Capitalismo passam a freqentar

    os discursos, sempre em tom de desafio ou de denncia (Pern acusa os consrcios

    capitalistas internacionais de atentarem contra a vida dele e da esposa).

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    Renunciou o Presidente Getlio Vargas./ A deciso presidencial foi anunciadadepois que foras da vila militar, sob o comando do General Renato Paquet,avanaram pela rua Paissandu, rumo ao Palcio Guanabara./ Assumiu o governo, o

    Ministro Jos Linhares, Presidente do Supremo Tribunal Federal.// (O REPRTERESSO, 29 de outubro de 1945).

    Em meio nova reorganizao geogrfica do mundo do Ps-Guerra, a Poltica

    Internacional ocupa boa parte das notcias, preconizando a defesa conjunta e ajuda mtua

    dos pases americanos (Tratado do Rio de Janeiro, 1947). At mesmo o Papa Pio XII se

    manifesta, falando em francs, que o mundo se encontra ante uma verdadeira encruzilhada e

    que 1948 ser um ano de graves resolues.

    Os anos 40 se encerram com perspectivas democrticas, especialmente nos EstadosUnidos, preparando novos tempos para a dcada de 50. Porm uma nova guerra se inicia e as

    tendncias entre as duas naes-plo do mundo ficam acirradas, comprometendo as vises

    mais otimistas. Qualquer tema em discusso no planeta recebe diferentes verses e

    interpretaes, aparecendo com maior nitidez a inteno de controlar as fontes de energia,

    em especial, das jazidas de petrleo, espalhadas pelos diferentes continentes.

    Com o fim da guerra e a proposta de democracia vencendo no mundo, as ditaduras

    perderam fora, e o desgaste poltico do Estado Novo afastou o Presidente Getlio Vargas dopoder em 1945. No Brasil, foram realizadas eleies diretas vencidas pelo General Eurico

    Gaspar Dutra, que governou de 1946 a 1951. Durante o Governo Dutra foi fechada a

    Confederao Geral dos Trabalhadores (CGT) e promulgada a nova Constituio (1946). O

    Partido Comunista foi colocado na ilegalidade (1947) e o Brasil rompeu relaes

    diplomticas com a Unio Sovitica (1948).

    Novas eleies foram realizadas em 1950. Getlio Vargas venceu, assumindo a

    Presidncia da Repblica em 1951.Ao tomar posse, Vargas baixou o Decreto n 29.783,

    considerado pelos donos das emissoras um atentado liberdade da radiodifuso. O decreto13

    garantia ao Governo o direito de rever a cada trs anos as licenas de concesses de canais,

    concedidas com o prazo mximo de dez anos, submetendo-os cassao e no oferecendo

    garantias aos proprietrios.

    13 Com a morte de Getlio Vargas, em agosto de 1954, esse decreto foi revogado pelo Presidente Caf Filho (1954-1955).Nos governos seguintes, outros decretos viriam para apertar ou afrouxar o domnio sobre o rdio.

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    Exemplo da migrao do rdio para a tev ocorreria com o prprio Reprter Esso.

    Em 4 de maio de 1952, estrearia na TV Tupi do Rio de Janeiro (Canal 6), O Seu Reprter

    Esso, que permaneceu no vdeo at 31 de dezembro de 1970, portanto, por 18 anos. Da

    mesma forma que o noticioso radiofnico, o Esso, na tev, era transmitido, alm da Tupi, por

    outras emissoras: TV Difusora, de So Paulo; Itacolomi, de Belo Horizonte; TV Piratini, de

    Porto Alegre; TV Itapo, de Salvador; e TV Vitria, de Vitria.

    A Globalizao, nos anos 50, se reflete na industrializao como um todo. No jornal

    impresso, as linotipos, com velocidade tradicional de trs linhas por minuto, saltam para 12,

    30, 75, 120, 700 linhas por minuto. Nos anos 60 e 70, o aperfeioamento das mquinas

    cada vez maior: possvel atingir at 10 mil linhas por minuto com o Linofilm, equipamento

    base de vlvulas de raios catdicos. Em seguida, o computador comandaria a indstria

    grfica ao compor textos de maneira cada vez mais gil, com linhas adequadamente

    justificadas e hifenizadas (BAHIA, 1990b, p. 188).

    O modelo chegar, aos poucos, ao rdio e televiso, quando o complexo eltrico e

    manual que subsistiu at 60/70 e, em alguns casos, at os anos 80 , comea a mudar. Os

    empresrios da rea percebem que a modernizao significa economia de espao, de tempo,

    de mquinas, de pessoal, de material e de modelo produtivo. uma fase tambm deendividamento das empresas de comunicao, pois os equipamentos, em sua maioria, so

    importados. Em 1957, por exemplo, incorporado tev, o videoteipe, e so realizadas as

    primeiras experincias com antenas de microondas para transmisses entre Rio e So Paulo,

    onde estavam concentradas as principais emissoras de televiso.

    Um dos acontecimentos importantes da primeira dcada do segundo milnio foi a

    Guerra da Coria (1950-1953), que recrudesceu a polarizao mundial entre o livre mercado,

    capitaneado pelos Estados Unidos, e o socialismo, defendido pela Unio Sovitica. Osterritrios ficaram ainda mais demarcados com a diviso da Coria. O conflito, devido a

    distncia do Brasil, no mobilizou a audincia como a Segunda Guerra Mundial. Os tempos

    eram outros. Mesmo assim, boa parte do noticirio foi dedicada a ele. Outra obra que

    impressionou foi o muro de Berlim, em 1951.

    Ao longo da dcada, as notcias denunciavam o comunismo como agressor mundial e

    os Estados Unidos conclamavam as naes livres a lutar com armas, materiais e tropas.

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    Novamente, o Papa Pio XII defendia o cristianismo contra seu inimigo que deseja impor

    humanidade normas de vida completamente divorciadas da religio, fazendo,

    possivelmente, meno ao comunismo (O REPRTER ESSO, s/d, 1952/53).

    Havia a iminncia de um Terceiro conflito mundial, pois alm do erguimento do

    muro de Berlim, da Guerra da Coria e da troca de acusaes da diplomacia dos Estados

    Unidos e da Unio Sovitica, houve o ataque de caas soviticos a um avio britnico. O

    principal assunto foi a disputa petrolfera anglo-iraniana.

    Tambm esteve em pauta a espionagem, com legislao especfica de alguns pases,

    no sentido de punir a traio de quem no denunciasse a atividade de espies. Em nvel

    nacional, a questo dominante na Imprensa, nos anos 50, foi a da criao da Petrobrs,

    embora no aparea em nenhum dos noticirios localizados.

    As edies comearam a difundir notcias Locais, de eventos com dimenses

    regionais e, aparentemente, de interesse relativo para a populao. Porm, o tema

    predominante, no noticirio, em meados da dcada de 50, foi o suicdio do presidente

    Getlio Vargas. As edies extraordinrias se multiplicaram como durante os anos da

    Segunda Guerra Mundial. Os acontecimentos que precederam e deram seguimento morte

    de Vargas estabeleceram um clima apreensivo e de elevada tenso em todo o Pas.SUICDIO DE VARGAS15

    E ateno, ateno ouvintes do Reprter Esso.//Rio.// O jornalista Carlos Lacerda foi ferido na madrugada de hoje num atentado bala em frente sua residncia na rua Toneleros, em Copacabana./ No atentado,perdeu a vida o major aviador Rubens Florentino Vaz que acompanhava o diretor daTribuna da Imprensa./ Um elemento da polcia de vigilncia, que tentou perseguir osagressores, foi ferido.// (O REPRTER ESSO, 5 de agosto de 1954).

    E ateno, ateno ouvintes do Reprter Esso.//O Palcio do Catete acaba de informar oficialmente que o senhor Getlio Vargasdeixar o governo./ Todos os ministros de Estado encontram-se reunidos no palciopresidencial e a informao oficial de que o presidente da Repblica vai selicenciar por tempo indeterminado./ O vice-presidente, Caf Filho, assumir ogoverno.// (O REPRTER ESSO, 24 de agosto de 1954).

    15 A tese de doutorado do autor, O Reprter Esso e a Globalizao: uma investigao hermenutica , apresenta aanlise de 45 notcias e 12 informaes constantes na ltima edio de O Reprter Esso, onde possvel extrair umconjunto de dados que oferecem possibilidades de interpretao. No universo de 57 informaes, percebe-se que 38tratam de temas internacionais ou 66,66% , enquanto 19 exploram assuntos locais ou 33,33% do total. Na dcada de 40,h duas locais para 12 internacionais. Nos anos 50, 23 notcias do exterior para oito, relacionadas com fatos brasileiros.J, nos anos 60, existe um nmero superior de notcias nacionais: sete contra trs de fora do Brasil.

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