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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR – CES VII CURSO DE DIREITO NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA O RESPEITO ÀS GARANTIAS INDIVIDUAIS NO SISTEMA INTERAMERICANO DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Direito na Universidade do Vale do Itajaí ACADÊMICA: ELLY F. W. FRITSCHE São José (SC), julho de 2004.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR – CES VII CURSO DE DIREITO NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA

O RESPEITO ÀS GARANTIAS INDIVIDUAIS NO SISTEMA

INTERAMERICANO DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Direito na Universidade do Vale do Itajaí

ACADÊMICA: ELLY F. W. FRITSCHE

São José (SC), julho de 2004.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR – CES VII CURSO DE DIREITO NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA

O RESPEITO ÀS GARANTIAS INDIVIDUAIS NO SISTEMA

INTERAMERICANO DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

ESTUDO DE CASO ALOEBOETOE

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito, sob orientação do Prof. Mestre Rolando Coto Varela, Cônsul honorário da Costa Rica.

ACADÊMICA: ELLY F. W. FRITSCHE

São José (SC), julho de 2004

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O RESPEITO ÀS GARANTIAS INDIVIDUAIS NO SISTEMA

INTERAMERICANO DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

estudo de caso aloeboetoe

ELLY F. W. FRITSCHE

A presente monografia foi aprovada como requisito para a obtenção do grau de bacharel em Direito no curso de Direito na Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI.

São José, 5 de junho de 2004.

Banca Examinadora:

_______________________________________________________ Prof. Mestre e Cônsul honorário da Costa Rica - Rolando Coto Varela - Orientador

_______________________________________________________ Prof. Mestre e Coordenador do Curso de Direito da Univali São José - André

Luppi -Membro _______________________________________________________

Prof. Mestre Rogério Dutra.

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If (Se)

Se és capaz de manter a tua calma quando todo mundo ao teu redor já a perdeu e te culpa;

De crer em ti, quando estão todos duvidando e para estes, no entanto achar uma desculpa;

Ou enganado, não mentir ao mentiroso, ou sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares; e não parecer bom demais, nem pretensioso.

Se és capaz de pensar – sem que a isso só te atires;

De sonhar – sem fazer dos sonhos teus senhores

Se, encontrando a derrota e o triunfo conseguires tratar da mesma forma a esses dois impostores;

Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas em armadilhas as verdades que dissestes, e as coisas por que destes a vida, estraçalhadas, e refazê-las com o bem poço que

te reste.

Se és capaz de arriscar em uma única jogada tudo quanto ganhaste em toda a tua vida e perder e, ao perder, sem nunca dizer nada, resignado, tornar ao ponto de partida;

De forçar coração, nervos, músculos, tudo, e dar, seja o que for, que neles ainda existe e a persistir assim quando, exaustos, contudo resta a vontade em ti, que ainda

ordena: persiste!

Se és capaz de, entre a plebe não te corromperes, e entre reis não perderes atua naturalidade;

E de amigos, quer bons quer maus te defenderes;

Se a todos podes ser de alguma utilidade;

E , se és capaz de dar, segundo por segundo, ao minuto fatal todo valor e brilho

..... Tua é a Terra com tudo o que existe no mundo e – o que é muito mais – és um HOMEM, .... meu filho....

Rudyard Kippling

(tradução de Guilherme de Araújo)

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SUMÁRIO:

RESUMO: ..........................................................................................................................

ABSTRACT: ......................................................................................................................

ZUSAMMENFASSUNG: ..................................................................................................

INTRODUÇÃO:............................................................................................................. 13

CAPÍTULO 1 ................................................................................................................. 16

ANÁLISE HISTÓRICA DA DOUTRINA DOS DIREITOS HUMANOS NO MUNDO

......................................................................................................................................... 16

1.1 CONCEPÇÃO DOS TRATADOS INTERNACIONAIS EM MATÉRIA DE

DIREITOS HUMANOS................................................................................................. 23

1.2 INSTRUMENTOS, INSTITUIÇÕES E PROCEDIMENTOS JURÍDICOS

UNIVERSAIS DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS:.................................... 31

CAPÍTULO 2 - O SISTEMA INTERAMERICANO DE PROTEÇÃO AOS

DIREITOS HUMANOS: ............................................................................................... 35

2.1 A ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS (OEA) .............................. 38

2.2 DECLARAÇÃO AMERICANA DOS DIREITOS HUMANOS:........................... 41

2.3 CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS ................................. 42

2.3.1 A Comissão Interamericana de Direitos Humanos ............................................... 47

2.3.2 A Corte Interamericana de Direitos Humanos ...................................................... 51

2.4 OUTROS TRATADOS DO SISTEMA INTERAMERICANO RATIFICADOS

PELO BRASIL:.............................................................................................................. 54

CAPÍTULO 3 – ESTUDO DE UM CASO PRÁTICO: CASO ALOEBOETOE......... 59

3.1 O PROCEDIMENTO PERANTE A CORTE INTERAMERICANA DE

DIREITOS HUMANOS: ............................................................................................... 59

3.2 ESTUDO DE CASO: CASO ALOEBOETOE........................................................ 63

3.2.1 Descrição do problema: ....................................................................................... 63

3.2.2 Providências de familiares e amigos: ................................................................... 67

3.2.3 Providências do Governo de Suriname:................................................................ 68

3.2.4 Recebimento do caso pela Comissão Interamericana dos Direitos Humanos: estudo

e providencias: ............................................................................................................. 70

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3.2.5 Apresentação do caso à Corte Interamericana de Direitos Humanos: processo

seguido, instâncias e sentença:...................................................................................... 74

CONCLUSÕES FINAIS:............................................................................................... 78

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ......................................................................... 84

Sites pesquisados:......................................................................................................... 86

ANEXOS: ....................................................................................................................... 88

ANEXO 1 : DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS................ 88

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS.................................... 89

ANEXO 2: CONVEÇÃO INTERAMERICANA DOS DIREITOS HUMANOS........ 95

CONVENÇÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS – PACTO SAN

JOSÉ (COSTA RICA): .................................................................................................. 96

ANEXO 3: CASO ALOEBOETOE............................................................................ 128

CORTE INTERAMERICANA DE DERECHOS HUMANOS ................................. 129

CASO ALOEBOETOE Y OTROS.............................................................................. 129

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RESUMO:

Em 1945, após o término da Segunda Grande Guerra Mundial, os países que haviam

participado do conflito, e os outros que acompanharam àquele evento, resolveram criar um

novo organismo internacional que fosse capaz de promover a paz, a manutenção dos direitos

fundamentais do homem e permitir o desenvolvimento dos povos.

O desenvolvimento dessas idéias levou a criação da Organização das Nações - ONU,

com sede na cidade de Nova York, Estados Unidos, que passou a ser o órgão representativo

das esperanças de um mundo melhor baseado no respeito aos povos e a soberania dos países.

No dia 10 de dezembro de 1948, a Assembléia das Nações Unidas aprovou um de seus

documentos mais importantes, a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Ao lado do sistema universal de proteção dos direitos humanos representado pela

Declaração dos Direitos do Homem de 1948, surgem os sistemas regionais de proteção.

A Convenção Interamericana de Direitos Humanos reconhece a Comissão

Interamericana de Direitos Humanos e a Corte Interamericana de Direitos Humanos, para

tratar do cumprimento dos compromissos assumidos na Carta da OEA e da Convenção,

pelos Estados pactuantes. Em linhas gerais a Comissão atua como instância preliminar à

jurisdição da Corte. Ela tem competência para requisitar informações e formular

recomendações aos governos dos Estados pactuantes. A Comissão pode publicar suas

conclusões sobre o caso concreto, e alternativamente submeter a matéria à Corte

Interamericana de Direitos Humanos. A Corte não é acessível a pessoas e instituições

privadas, ela não relata, nem recomenda, nem propõe, mas profere sentenças, que o Pacto de

São José da Costa Rica aponta como definitivas e inapeláveis.

O estudo do caso Aloeboetoe exemplifica e demonstra a competência, a jurisdição e

o procedimento, junto à Corte Interamericana de Direitos Humanos.

O objetivo geral visa avaliar a aplicação das normas e procedimentos jurídicos do

Direito Internacional dos Direitos Humanos, no âmbito do Sistema Interamericano, a partir

da análise de um caso concreto. Os objetivos específicos baseiam-se em: analisar a doutrina

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internacional dos Direitos Humanos, identificar a evolução das normas, instituições e

procedimentos jurídicos do Direito Internacional dos Direitos Humanos no Sistema

Interamericano, e verificar a real aplicabilidade das normas e procedimentos jurídicos do

Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos.

Quanto à metodologia empregada vale ressaltar que o tema foi abordado sob o

enfoque técnico jurídico, baseando-se em pesquisa técnica-teórica, estudos bibliográficos

sobre a questão, pesquisa histórica, legislativa e jurisprudencial, usando o método dedutivo.

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ABSTRACT:

In 1945, after the ending of the Second Great World-wide War, the countries that had

participated of the conflict, and the others that they had folloied to that event, had decided to

create a new international organism that was capable to promote the peace, the maintenance

of the basic rights of the man and to allow the development of the peoples.

The development of these ideas took the creation of the Organization of Nations -

ONU, with headquarters in the city of New York, United States, that started to be the

representative agency of the hopes of a world better based in the respect the peoples and the

sovereignty of the countries. In day 10 of December of 1948, the Assembly of the Joined

Nations approved one of its more important documents, the Universal Declaration of the

Human Rights.

To the side of the universal system of protection of the human rights represented by

the Declaration of the Rights of the Man of 1948, the regional systems appear of protection.

The Inter-American Convention of Human Rights recognizes the Interamerian

Commission of Human Rights and the Inter-American Cut of Human Rights, to deal with

the fulfilment of the commitments assumed in the Letter of the OEA and the Convention,

for the pact-making States. In general lines the Commission acts as preliminary instance to

the jurisdiction of the Cut. It has ability to request information and to formulate

recommendations to the governments of the pact-making States. The Commission can

publish its conclusions on the case concrete, and alternatively submit the substance to the

Inter-American Cut of Human Rights. The Cut is not accessible the private people and

institutions, it does not tell, nor recommends, nor considers, but it pronounces sentences, that

the Pact of Are Jose of the Costa Rica point as definitive and inappellable.

The study of exemplifica the Aloeboetoe case and it demonstrates the ability, the

jurisdiction and the procedure, together to the Inter-American Cut of Human Rights.

The general objective aims at to evaluate the application of the norms and legal

procedures of the International law of the Human Rights, in the scope of nteramericano

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System I, from the analysis of a case concrete. The specific objectives are based on: to

analyze the international doctrine of the Human Rights, to identify the evolution of the

norms, institutions and legal procedures of the International law of the Human Rights in the

Inter-American System, and to verify the real applicability of the norms and legal

procedures of the Inter-American System of Protection of the Human Rights.

How much to the employed methodology valley to stand out that the subject was

boarded under the approach legal technician, being based on research bibliographical

technique-theoretician, studies on the question, historical, legislative and jurisprudencial

research, using the deductive method.

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ZUSAMMENFASSUNG:

Ab 1945, nach dem Ende des zweiten großen weltweiten Krieges, sind die Länder,

die vom Konflikt teilgenommen hatten, und, andere, die sie hatten, zu diesem Fall, hatten

sich entschieden um einen neuen internationalen Organismus zu verursachen, der, den

Frieden, die Wartung zu fördern der Grundrechte des Mannes fähig war und die

Entwicklung der Völker zu erlauben.

Die Entwicklung dieser Ideen nahm die Kreation der Organisation der Nationen -

ONU, mit Headquarters in der Stadt New York, Vereinigte Staaten, die begannen, die

Repräsentativagentur der Hoffnungen einer Welt zu sein, die besser im Respekt die Völker

und die Hoheit der Länder gegründet wurde. An Tag 10 von Dezember von 1948,

genehmigte der Zusammenbau der verbindenden Nationen ein seine wichtigeren

Dokumente, die Universalerklärung der menschlichen Rechte.

Zur Seite des Universalsystems des Schutzes der menschlichen Rechte, die durch die

Erklärung der Rechte des Mannes von 1948 dargestellt werden, erscheinen die regionalen

Systeme vom Schutz.

Die Zwischen-Amerikanische Vereinbarung der menschlichen Rechte erkennt die

Interamerian Kommission für Menschenrechte und den Zwischen-Amerikanischen Schnitt

der menschlichen Rechte, die Erfüllung der Verpflichtungen zu beschäftigen, die im

Buchstaben des OEA und der Versammlung, für die Pakt-bildenden Zustände angenommen

werden. In den allgemeinen Linien dient die Kommission als einleitender Fall zur

Jurisdiktion des Schnittes. Er hat Fähigkeit, um Informationen zu bitten und Empfehlungen

zu den Regierungen der Pakt-bildenden Zustände zu formulieren. Die Kommission kann

seine Zusammenfassungen auf dem Fallbeton veröffentlichen und reicht wechselweise die

Substanz beim Zwischen-Amerikanischen Schnitt der menschlichen Rechte ein. Der Schnitt

ist nicht die privaten Leute und die Anstalten zugänglich, erklärt er nicht noch empfiehlt sich

noch betrachtet, aber er spricht Sätze aus, daß der Pakt von Jose des Costa-Rica Punktes

sind, wie endgültig und inappellable.

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Die Studie von exemplifica der Aloeboetoe Fall und es zeigt die Fähigkeit, die

Jurisdiktion und das Verfahren, zusammen zum Zwischen-Amerikanischen Schnitt der

menschlichen Rechte.

Die allgemeine Zielsetzung strebt an, um die Anwendung der Normen und der

Gerichtsverfahren des internationalen Gesetzes der menschlichen Rechte, im Bereich von

nteramericano System I, von der Analyse eines Fallbetons auszuwerten. Die spezifischen

Zielsetzungen basieren an: die internationale Lehre der menschlichen Rechte analysieren,

die Entwicklung der Normen, der Anstalten und der Gerichtsverfahren des internationalen

Gesetzes der menschlichen Rechte im Zwischen-Amerikanischen System, und die reale

Anwendbarkeit der Normen zu überprüfen und der Gerichtsverfahren des Zwischen-

Amerikanischen Systems von Schutz der menschlichen Rechte zu kennzeichnen.

Wieviel zur eingesetzten Methodenlehre Senke, zum aus der das Thema zu stehen

unter dem Annäherung zugelassenen Techniker verschalt wurde und basierte auf Forschung

bibliographischem Technik-Theoretiker, Untersuchungen über die Frage, historische,

gesetzgebende und jurisprudencial Forschung mit der deduktiven Methode.

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INTRODUÇÃO:

O presente estudo consiste num breve estudo das normas e instituições universais de

proteção e defesa dos direitos humanos, sua concepção filosófica e evolução histórica.

Posteriormente discorre sobre o próprio Sistema Interamericano de Direitos Humanos, seus

órgãos de controle e finalizando o trabalho acadêmico, o estudo de um caso prático

submetido ao julgamento da Corte Interamericana de Direitos Humanos.

Em 1945, após o término da Segunda Guerra Mundial, os países que haviam

participado do conflito, e os outros que acompanharam àquele evento, resolveram criar um

novo organismo internacional que fosse capaz de promover a paz, a manutenção dos

direitos fundamentais do homem, permitir o desenvolvimento dos povos.

Essas novas idéias levaram a criação da Organização das Nações - ONU, com sede

na cidade de Nova York, Estados Unidos, que passou a ser o órgão representativo das

esperanças de um mundo melhor, baseado no respeito aos povos e a soberania dos países.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada em 10 de dezembro de

1948 pela Assembléia Geral das Nações Unidas, foi um importante e completo documento

concebido em favor da humanidade. Através dos tempos, por ocasião de conclaves

internacionais, continuaram sendo elaborados documentos, objetivando a melhoria nas

relações entre os homens e os povos.

A Declaração, conforme consta em seu preâmbulo, tem por objetivo reafirmar a fé

nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e no valor da pessoa humana e na

igualdade de direitos do homem e da mulher, promovendo o progresso social e melhores

condições de vida, assegurado a todos a manutenção do princípio do livre acesso à justiça.

Junto aos Instrumentos Universais de Proteção aos Direitos Humanos representado

pela Declaração dos Direitos do Homem de 1948, surgem os sistemas regionais de

proteção, que segundo Flávia Piovesan “buscam internacionalizar os direitos humanos no

plano regional, particularmente na Europa, América e África”. ( PIOVESAN, 2000, p.217)

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Em busca da efetiva proteção do cidadão contra possíveis ações arbitrárias do

Estado, que possam violar os direitos conquistados com a Carta das Nações Unidas, e

outros pactos internacionais, fez com que os países criassem sistemas regionais de proteção,

mais próximos de suas realidades e necessidades.

É importante observar que cada qual dos sistemas de proteção apresenta um aparato

jurídico próprio, o que não impede a convivência do sistema global - integrado pelos

instrumentos das Nações Unidas, como a Declaração Universal de Direitos Humanos, o

Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, o Pacto Internacional de Direitos

Econômicos, Sociais e Culturais e as demais Convenções Internacionais - com os

instrumentos do sistema regional de proteção.

No Sistema Interamericano dos Direitos Humanos foi elaborada a Convenção

Americana de Direitos Humanos, também conhecida como "Pacto de San José", que criou

dois órgãos de funções distintas. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos e a

Corte Interamericana de Direitos Humanos

A Comissão e a Corte vêm cumprindo com o seu papel na defesa dos direitos

humanos, denunciando os casos mais sérios de abuso dos direitos previstos no Pacto de São

José da Costa Rica. A Corte possui funções jurisdicionais e consultivas. Jurisdicionais

quando se refere à resolução de casos contenciosos e adoção de medidas provisórias; e

consultivas quando emite opiniões sobre assuntos sustentados ante a Corte por estados

membros ou Órgãos da OEA. A Corte Interamericana de Direitos Humanos, não é um

tribunal penal, e não substitui as ações penais relativas a violações cometidas nos Estados.

Apesar da atuação ainda limitada desses órgãos, uma vez que nem todos os países

que ratificaram a Convenção Americana de Direitos Humanos, deram a Corte

Interamericana jurisdição para o julgamento de caso de violação dos direitos previstos no

Pacto de São José da Costa Rica, estes tem contribuído para a defesa e garantia dos direitos

fundamentais frente as violações praticadas pelos Estados e autoridades que preferem o

arbítrio ao invés da observância da Lei.

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A pesquisa realizada está dividida em três capítulos. O primeiro trata da evolução

dos tratados em matéria de direitos humanos no âmbito internacional. O segundo visa a

formação do Sistema Interamericano de Direitos Humanos e os Órgãos que este

compreende. Em um terceiro momento, analisar-se-á o cumprimento das recomendações

exaradas pela Comissão e decisões prolatadas pela Corte Interamericana. Mais

especificamente o Caso aloeboetoe, ocorrido no Suriname.

Por sempre ter considerado de extrema importância que houvesse igualdade de

tratamento entre as pessoas, é que me senti motivada pelo tema, uma vez que os direitos

humanos prezam a integridade humana como bem maior, e desta forma regulam

universalmente o respeito ao homem na sociedade, seja ela qual for.

A fusão destas duas idéias foi à inspiração base para a escolha do tema deste

trabalho. Considerou-se de relevante importância o desenvolvimento desta pesquisa, pois

desta forma será possível entender o funcionamento do sistema regional de proteção dos

direitos humanos, o Sistema Interamericano de Direitos Humanos, através do estudo de um

caso prático. Demonstrando desta forma a sua eficácia e podendo servir de exemplo para

possíveis violações dos direitos humanos no âmbito nacional. Isto é no Brasil.

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CAPÍTULO 1

ANÁLISE HISTÓRICA DA DOUTRINA DOS DIREITOS

HUMANOS NO MUNDO

Os Direitos Humanos não são estáticos, mas acompanham o processo histórico;

processo não linear, pois também conhece retrocessos. Foi apenas no século XX, sobretudo

depois da Segunda Guerra Mundial, que eles se definiram explicitamente e adquiriram o

reconhecimento mundial.

No campo internacional, a afirmação dos direitos humanos está ligada ao pós-guerra, período que marcou o surgimento da ONU e da Declaração Universal dos Direitos Humanos. A Declaração Universal procurou contemplar direitos humanos tanto, civis, políticos, econômicos, sociais, e culturais, sem marcar uma distinção geracional Os anos seguintes, no entanto, mostraram um mundo profundamente dividido em dois blocos econômicos e ideológicos - o capitalismo e o socialismo - o que deixou seqüelas a uma compreensão integral dos direitos humanos (BENVENUTO, 2001,p 78).

A preocupação pelos direitos fundamentais do gênero humano perde-se no tempo. O

código de Hammurabi (1700 a.C. aproximadamente) menciona leis de proteção aos mais

fracos e de freio para a autoridade. A civilização egípcia, especialmente na era dos faraós

(dinastia XVIII), já concebia o poder como serviço. Há divergências quanto ao surgimento

dos direitos humanos na história, mas muitos autores situam-no na Grécia, quando eles

foram aludidos em um texto de Sófocles no qual Antígona, em resposta ao rei que a

interpela em nome de quem havia sepultado contra suas ordens, o irmão que fora executado:

"Agi em nome de uma lei que é muito mais antiga do que o rei, uma lei que se perde na

origem dos tempos, que ninguém sabe quando foi promulgada" (SORONDO, 1989, p.91).

Assim é possível observar que a raiz histórica, da evolução dos direitos humanos no

mundo, se fundamenta no direito natural, isto é: os direitos humanos nascem com o homem.

Mas conforme a evolução deste capítulo se pode observar que esta teoria somente não basta,

uma vez que em virtude de inúmeras atrpocidades cometidas pelo próprio homem, e em

função da própria evolução política e social, o homem passou a valorizar também outros

direitos que não só os naturais, mas também os coletivos, e outros. A divisão em gerações

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demonstra isto claramente. Para fundamentar este raciocínio vale a pena citar alguns trechos

da obra de Fernando Sorodo.

No período histórico da Idade Média, a partir das famílias daqueles que lutaram

contra as invasões dos bárbaros (e com isso tornavam-se proprietários de terras), nasce uma

aristocracia, sócia natural do poder real, que buscava fundamento no direito natural para os

seus privilégios. Este período tem uma importância significativa, é um momento de revisão

de valores, de confronto de objetivos temporais, imediatos e permanentes, muitos deles já

indicados como objetivos espirituais no fim da Idade Média, quando surge uma nova

realidade histórica: a burguesia. No final da Idade Média, São Thomás de Aquino discute

diretamente a questão dos Direitos Humanos, retomando Aristóteles e dando, à sua filosofia,

a visão cristã.(SORONDO, 1989, p.91)

Foram os burgueses, associados aos pensadores liberais, quem levantaram

modernamente, a liberdade como um valor. Cessadas as invasões dos bárbaros e

conseqüentemente, afastados os grandes riscos, a proteção dos senhores feudais se tornou

dispensável e as pessoas começam a voltar para as cidades. Os burgos começam a se

desenvolverem. A burguesia, paulatinamente enriquece-se e fortifica-se, mas ainda é

mantida marginalizada do poder político, o que reivindica para defender os seus poderes

pessoais e o seu patrimônio. A época do Iluminismo e dos Enciclopedistas revoluciona as

idéias tradicionais da Idade Média, afirmando a dignidade humana e a fé na razão. Vige a

idéia de que o homem é concebido com o detentor de direitos sagrados e inalienáveis, e o

governo não pode prescindir da vontade dos cidadãos. Rousseau desenvolveu a teoria da

igualdade natural entre os homens. Voltaire insistiu na tolerância religiosa e na liberdade de

expressão, pois a religião já não podia explicar tudo. (SORONDO, 1989, p.92).

No século XVIII, dá-se a criação dos Estados Unidos da América, através de uma revolução eminentemente burguesa. A Inglaterra impunha sucessivas e crescentes restrições à vida econômica das colônias, através da imposição de taxas sobre o comércio exterior. Isto fomentou nos colonos um forte espírito de desobediência e insubordinação. Embora parte do Império Britânico, as colônias da América foram, desde cedo conquistando o direito de se auto-govenar, e assumindo o dever de se tornarem auto-suficientes (SORONDO, 1989, p.93).

Alastra-se o anseio de libertação pelas treze colônias, que unidas, proclamam a

Declaração de Independência dos Estados Unidos, também conhecida como Declaração de

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Filadélfia. Nela, são expostas as razões fundamentais que levaram à independência: “Todos

os homens foram criados iguais. Os direitos fundamentais foram conferidos pelo Criador

entre eles estão os da vida, liberdade e o da procura da própria felicidade" (BOBBIO, 1992,

p.63).

Sempre que qualquer forma de governo tenta destruir esses direitos, assiste ao povo o

direito de mudá-lo ou aboli-lo e de instituir um novo governo. Este documento serviu de

referencial para todos os movimentos de independência dos povos colonizados. Mas a

Constituição norte-americana é uma Constituição feita por comerciantes para comerciantes.

Ainda no Século XVIII, a Revolução Francesa difundiu um documento que se torna

base fundamental do direito constitucional moderno: A Declaração Universal dos Direitos

do Homem e do Cidadão, em seu primeiro artigo, já afirma um direito social fundamental: O

Fim da Sociedade e a Felicidade Comum. A essência da Declaração, apoia-se na idéia de

que, ao lado dos direitos do Homem e do Cidadão, existe apontada a obrigação de o Estado

respeitar e de garantir os direitos humanos, (SORONDO, 1989, p.94).

Até então, os Direitos Humanos eram concebidos como direitos naturais, impostos

por Deus e vinham sendo utilizados contra burgueses, em favor dos reis e aristocratas, para

justificar violências que praticavam. Os burgueses não rejeitam esses direitos, mas os

reclamam também para si. Surgem pensadores considerados liberais como: Espinoza, Locke,

Rousseau, Montesquieu, que pregam a existência dos direitos fundamentais como a

liberdade e igualdade. Todavia, o conceito de igualdade nessa época não é o mesmo que o

de hoje, pois a Constituição norte americana admitia a escravidão. Portanto, uma liberdade é

igualdade política e no século XVIII a fundamentação teológica é substituída por um

fundamento racionalista que terá um peso expressivo. Hugo Grocius dizia, que "ainda que

Deus não existisse, o homem teria direitos naturais". O fundamento, portanto, não está em

Deus, mas na razão. Isto é o racionalismo (SORONDO, 1989, p.94).

É pertinente citar o pensamento do Douto Professor Dalmo de Abreu Dallari, em sua

obra.

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Para os seres humanos não pode haver coisa mais valiosa do que a pessoa humana. Essa pessoa, por suas características naturais, pode ser dotada de inteligência, consciência e vontade, por ser mais do que uma simples porção de matéria tem uma dignidade que a coloca acima de todas as coisas da natureza. Mesmo as teorias chamadas materialistas, que não querem aceitar a espiritualidade da pessoa humana, sempre foram forcadas a reconhecer que existe em todos os seres humanos uma parte não-material. Existe uma dignidade inerente à condição humana, e a preservação dessa dignidade faz parte dos direitos humanos. (1999 p.l23).

O respeito pela dignidade da pessoa humana deve existir sempre, em todos os lugares

e de maneira igual para todos. O crescimento econômico e o progresso material de um povo

têm valor negativo, se forem conseguidos à custa de ofensas à dignidade de seres humanos.

O sucesso político ou militar de uma pessoa ou de um povo, bem como o prestigio social ou

a conquista de riquezas, nada disso é válido ou merecedor de respeito, se for conseguido

mediante ofensas à dignidade e aos direitos fundamentais dos seres humanos.

No ano de 1948, a Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou a Declaração

Universal dos Direitos Humanos, que diz em seu artigo primeiro que "todos os seres

humanos nascem livres e iguais em dignidade e direito". Além disso, segundo a Declaração,

todos devem agir, em relação uns aos outros, "com espírito de fraternidade". A pessoa

consciente do que é e do que os outros são, a pessoa que usa sua inteligência para perceber a

realidade, sabe que não teria nascido e sobrevivido sem o amparo e a ajuda de muitos. E

todos, mesmo os adultos saudáveis e muitos ricos, podem facilmente perceber que não

podem dispensar a ajuda constante de muitas pessoas, para conseguirem satisfazer suas

necessidades básicas. Existe, portanto, uma solidariedade natural, que decorre da fragilidade

da pessoa humana e que deve ser completada com o sentimento da solidariedade

(ACCIOLY, 2002, p.215).

Aí está o ponto de partida para a concepção básica dos direitos humanos nos dias de

hoje. Se houver respeito aos direitos humanos de todos e se houver solidariedade, mais do

que egoísmo, no relacionamento entre as pessoas, as injustiças sociais serão eliminadas e a

humanidade poderá viver em paz.

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Os direitos humanos são "princípios internacionais" que servem para proteger,

garantir e respeitar o ser humano. Devem assegurar às pessoas o direito de levar uma vida

digna. Isto é: com acesso à liberdade, ao trabalho, a terra, à saúde, à moradia, a educação,

entre outras coisas (ACCIOLY, 2002, p.217).

E importante saber que as autoridades públicas são responsáveis pela efetivação dos

direitos humanos. Países como o Brasil assinaram os documentos comprometendo-se a

respeitar, garantir e proteger esses direitos. Desta forma, podemos cobrar dos governantes o

dever de zelar por uma sociedade justa e sem exploração.

Com base na obra de Carlos Chipoco (1994, p.l97) é possível afirmar que o Direito

Internacional dos Direitos Humanos consiste nas regras nacionais e internacionais,

procedimentos e instituições que compõem o Sistema de Proteção Universal dos Direitos

Humanos.que por sua vez está interligada ao contexto cultural, político, e social do Estado a

ser protegido. E por sua vez em sua obra existem três níveis hierárquicos para a variação

cultural no campo dos Direitos Humanos, a substância dos Direitos Humanos, a

interpretação dos Direitos Humanos e a forma como são implementados. Em sua obra,

fundamental para esta pesquisa, o Professor Carlos Chipoco, ainda menciona inúmeras vezes

pensadores como Locke, Hobbes, Rousseau, Marx, e outros que serão base para

fundamentar as teorias que deram origem aos movimentos políticos e sociais precursores

dos Direitos Humanos.

Para entender melhor a evolução histórica dos direitos humanos pode-se mencionar o

Professor João Ricardo W. Dornelles. Para ele é impossível a existência de uma única

fundamentação dos Direitos Humanos. Em sua obra (1989, p.33) o autor trata de três

grandes concepções filosóficas para fundamentar a origem dos Direitos Humanos. São estas,

a concepção idealista, positivista e crítico materialista.

A concepção idealista que fundamenta os direitos humanos a partir de uma visão

metafísica e abstrata. É desta concepção que vem a idéia de que os Direitos Humanos são

inerentes ao homem, ou nascem pela força da natureza humana. Os homens já nasceriam

livres e com direitos, a segurança e a liberdade, independente do reconhecimento do Estado.

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Na concepção positivista, os direitos humanos seriam reconhecidos pelo Estado,

através da sua ordem jurídica positiva, como sendo fundamentais e essenciais ao ser

humano. Não emana do homem, necessita do reconhecimento legislativo.

Já na concepção critico materialista, nasce com a evolução critica do pensamento

liberal e a publicação das obras filosóficas do pensador alemão Karl Marx, que expressam

de forma clara o desenvolvimento social, econômico e político da época, marcando

profundamente também o processo de evolução do conceito de Direitos Humanos até a

atualidade.

Para outros autores a evolução histórica dos direitos humanos, passa pela

organização em três gerações, ao exemplo do Douto Professor Paulo Bonavides (2001 p.

16). Desta forma:

A primeira geração trata dos direitos individuais, e data do século XVII do período

de transição do feudalismo para sociedade burguesa. Thomas Hobbes, que desenvolveu o

jusnaturalismo, foi o que começou a influenciar políticos e pensadores a desenvolver

algumas idéias a respeito do que viria a ser chamado posteriormente de direitos humanos.

Na mesma época, também entendia Locke que o homem deveria limitar sua liberdade, em

favor da liberdade de todos os homens, mantendo como valor máximo à liberdade, assim

como fez também com o direito de propriedade. Surge Rousseau que implementa a visão de

Locke, porém introduzindo a concepção democrática burguesa. Foi a partir destas lutas

travadas pela burguesia Européia contra o Estado absolutista que se criaram condições para

a instituição formal de único elenco de direitos que passariam a ser considerados

fundamentais para os seres humanos, são estes os direitos individuais e políticos, como o

direito de ir e vir e o direito de livre expressão, entre outros.

A segunda geração diz respeito aos direitos coletivos, e data do século XVIII a XX,

esta referida ao desenvolvimento da economia industrial aos grandes confrontos sociais e às

contradições políticas. Com a formação de uma nova classe social, o proletariado, aliado às

crescentes lutas sociais urbanas e principalmente o desenvolvimento da critica social, das

idéias socialistas, através da reflexão de Karl Marx, e na Declaração de Igualdade resultante

da Revolução Francesa em 1789, marco inicial para que todos indivíduos pudessem ser

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considerados sujeitos de direitos. O grande questionamento desta geração, era a existência

de uma enorme contradição entre os princípios formalmente divulgados nas declarações de

direito e a realidade vivida cotidianamente por uma grande maioria do povo. O próprio

capitalismo encontrava-se em transformação. Algumas revoluções como, por exemplo: a

Revolução Mexicana, em 1910, a Revolução Russa, em 1917, a Constituição da República

de Weimar, na Alemanha, em 1919 e a criação da Organização Internacional do Trabalho

(OIT), ampliaram a concepção de realidade dos Direitos Humanos os quais deixaram de ser

entendidos apenas como Direitos Individuais e passaram a assumir o papel de direitos

coletivos de natureza social, onde o Estado passa a ser um agente promotor das garantias e

direitos sociais, como o direito à moradia, à saúde, à educação, ao trabalho, à aposentadoria,

enfim são os direitos econômicos, sociais e culturais.

A terceira geração remete aos direitos dos povos ou da solidariedade, e data do

século XX e XXI, mais precisamente das transformações sócio-econômicas e políticas que

marcaram a sociedade nos últimos trezentos anos, que possibilitaram conquistas para a

humanidade. A partir do pós-guerra desenvolveram-se os direitos dos povos, também

chamados de "direitos da solidariedade", em uma classificação que os integra em "direitos

da liberdade" (os direitos individuais da primeira geração) e "direitos da igualdade" (os

direitos sociais e econômicos da segunda geração). Assim sendo, os direitos dos povos são

ao mesmo tempo "direitos individuais" e "direitos coletivos", e interessam a toda a

humanidade. Com as novas relações Internacionais do pós-guerra emergiram novos valores

da sociedade. Surge um novo ideal democrático, agora existem novas necessidades humanas

independentes de serem individuais ou coletivas. Os novos direitos humanos desta geração

são: o direito à paz, o direito a ter uma pátria, o direito ao desenvolvimento, o direito a

autodeterminação dos povos, o direito ao meio ambiente saudável e ecologicamente

equilibrado, e o direito à utilização do patrimônio comum da humanidade.

A quarta geração refere-se ao futuro dos direitos humanos e a evolução

constitucional das leis que versem sobre os direitos individuais, coletivos, ambientais e todos

aqueles que possam vir a interessar as coletividades e comunidades internacionais. A

globalização é marco fundamental e de extrema importância para possíveis mudanças no

futuro do Direito Internacional dos Direitos Humanos. De acordo com as idéias de

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Bonavides, o "direito constitucional do futuro" está baseado no princípio da dignidade da

pessoa humana, que compõe também a alma da democracia e dos direitos do homem

(BONAVIDES, 1998, p.19).

As gerações de direitos não são categorias que se excluem, mas se completam. Vale

a pena chamar a atenção para a importância das ONGs que vêm desempenhando um papel

bastante significativo, na conscientização e fiscalização de todas as formas de direitos

humanos, sejam eles diretamente ligados ao indivíduo ou àqueles que venham a interferir

indiretamente em nossas vidas.

As organizações não-govenamentais têm uma função essencial de defesa e promoção dos direitos humanos, pois tal tarefa não pode limitar-se aos Estados. No Congresso de Viena, em 1993, as ONGs foram reconhecidas como interlocutórias e suas opiniões levadas em consideração. Para se ter noção da dimensão da importância da existência e atuação das ONGs, é só lembrar o grande número delas participando efetivamente no cenário nacional e mundial, bem como podemos citar a presença de cerca de 1300 delas, com atuação em 108 países, na Rio-92, as quais se reuniram no Fórum Internacional e submeteram seus trabalhos à discussão social, o que resultou em 36 planos de ação denominados de tratados, dos quais destacam-se: o de cooperação; econômicos; sobre o meio ambiente e o tratado sobre os movimentos sociais. A atuação destas entidades foi um sucesso mundial, pois mostrou as diretrizes a serem tomadas pelas nações de todo o mundo, sem contar que centenas delas reuniram-se para discutir e avaliar a título planetário os resultados destes tratados, em março deste ano no Rio de Janeiro, na chamada Rio 92 (RANGEL, 2000, p. 735).

A iniciativa privada tem se mostrado eficiente quanto aos trabalhos sociais, e na

defesa dos direitos humanos. Grupos organizados da sociedade civil, tem-se mostrado

vigilantes para que não haja desrespeito aos referidos direitos e atualmente assistimos a uma

proliferação de Organizações Não-Governamentais que são verdadeiras gigantes nessa luta

para que esses inalienáveis direitos do Homem sejam respeitados.

1.1 CONCEPÇÃO DOS TRATADOS INTERNACIONAIS EM MATÉRIA

DE DIREITOS HUMANOS

De acordo com a Convenção de Viena, de 1969, que dispõe quanto aos tratados

internacionais, estes são acordos internacionais, firmados entre Estados Soberanos, na forma

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escrita, juridicamente obrigatórios e vinculantes e constituem a principal fonte de obrigação

do Direito Internacional. O termo tratado tem significado genérico, usado para incluir as

convenções, os pactos, as cartas e demais acordos internacionais.

Os tratados são atos de consenso, portanto aplicados tão somente aos Estados-partes,

ou sejam, aqueles que consentiram com sua adoção. Como dispõe a Convenção de Viena,

em seu artigo 3°, § 1°: "Um Tratado deve ser interpretado de boa fé e de acordo com o

significado de seus termos em seu contexto, à luz de seu objeto e propósitos”.(TRINDADE,

2001, p.49).

Discorre sobre a matéria o nobre Jurista António Augusto Cançado Trindade, juiz da

Corte Interamericana de Direitos Humanos:

Como em outros campos do Direito Internacional, no domínio da Proteção internacional dos Direitos Humanos, os Estados contraem obrigações internacionais no livre e pleno exercício de sua soberania, e uma vez que o tenham feito não podem invocar dificuldades de ordem interna ou constitucional de modo a tentar justificar o não-cumprimento destas obrigações. (199I, p.47)

E mais adiante, recordando no artigo 27, da mesma convenção "Uma parte não pode

invocar disposições de seu direito interno como justificativa para o não cumprimento do

tratado”.

Com fulcro no que está expresso no artigo 27 supra citado, a única maneira de um

Estado desligar-se das obrigações emanadas de um tratado, dá-se através da denúncia, pouco

adiantando a promulgação de lei interna que opere restrições a um direito estabelecido em

tratado.

Nesse sentido, estabelece o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, em seu

artigo 5°, 2.

Não se admitirá qualquer restrição ou suspensão dos direitos humanos fundamentais, reconhecidos ou vigentes em qualquer Estado-parte no presente Pacto, em virtude de leis, convenções, regulamentos ou costumes, sob pretexto de que o presente Pacto não os reconheça ou os reconheça em menor grau.

Por sua vez, destaca-se o artigo 29, letra "a", da Convenção Americana de Direitos

Humanos, que dispõe:

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Nenhuma disposição da presente convenção pode ser interpretada no sentido de: permitir a qualquer dos Estados-partes, grupo ou indivíduo, suprimir o gozo e o exercício dos direitos e liberdades reconhecidos na Convenção ou limitá-los em maior medida do que a nela prevista.

O Brasil na condição de signatário dos principais pactos internacionais sobre Direitos

Humanos, inclusive o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, incorporado na

legislação pátria por força do Decreto 592 de 06/07/1992, e a Convenção Americana sobre

Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa Rica), ao qual aderiu por força do Decreto

678, de 06/10/1992, comprometeu-se na promoção e defesa dos direitos fundamentais do ser

humano.

É possível a normalização elencada na Constituição no tocante à questão: O Art 21.

Compete à União: - manter relações com Estados estrangeiros e participar de organizações

internacionais; no Art 84. Compete privativamente ao Presidente da República: VIII -

celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso

Nacional; e no Art 49. E da competência exclusiva do Congresso Nacional: - resolver

definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou

compromissos gravosos ao patrimônio nacional;

Com base no disposto acima, verifica-se que é competência do Poder Executivo, o

processo de elaboração dos "tratados", onde tem inicio com os atos de negociação,

conclusão e assinatura. Esta, por si só, traduz o aceite precário, inicial e provisório, não

gerando efeitos jurídicos vinculantes. Trata-se de mera aquiescência do nosso Estado perante

aos demais, no tocante a forma e conteúdo final do tratado. Portanto, a assinatura indica tão

somente a sua autenticidade e validade.

O passo seguinte, com fulcro no art. 49,1 da Magna Carta, condiciona a celebração

do tratado a sua posterior apreciação e aprovação pelo Poder Legislativo, mediante Decreto

Legislativo, em estrita obediência ao princípio da harmonia dos Poderes.

A ratificação pelo Legislativo, significa a subseqüente confirmação formal pelo

Estado, que está se obrigando aos termos deste Acordo Soberano perante aos demais

Estados, irradiando necessariamente efeitos no Plano Internacional. Como etapas finais,

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segue-se a ratificação do tratado pelo Poder Executivo, devendo ser depositado em um órgão

que assuma a custódia do instrumento.

Deste modo, em face da importância e vinculação, os tratados são uma autêntica

expressão da sistemática, em virtude da integração dos Poderes Executivo e Legislativo,

buscando limitar e descentralizar esta responsabilidade e acima de tudo prevenir o abuso de

poder.

O Estado assume, ao ratificar um tratado, as seguintes obrigações: respeitar, fazer

respeitar e garantir os direitos reconhecidos pelo texto a toda pessoa sujeita à sua jurisdição;

adaptar sua legislação interna ao estabelecido no tratado; assegurar que suas autoridades não

tomem medidas ou ações que vão contra o disposto no tratado; e colocar à disposição de

toda pessoa que se sinta violada em seus direitos, recursos jurídicos efetivos para corrigir a

situação. (1992 pg. 21).

A Constituição Federal recepciona os tratados internacionais, relativos à defesa e

promoção dos direitos humanos, no nosso ordenamento jurídico de forma categórica,

mediante a seguinte redação: Art 5° Todos são iguais perante a lei, sem distinção de

qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a

inviolabilidade do direito à vida, à uberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos

termos seguintes: § 1° - As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm

aplicação imediata. § 2* - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem

outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados

internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. Art 4° A República

Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pêlos seguintes princípios: II -

prevalência dos direitos humanos.

Faz-se necessário uma interpretação sistemática da constituição, no que concerne ao

dever estatal de observância dos tratados. Desta forma, a interpretação do artigo 5°, § 2°

combinado com o inciso II do artigo 4° que dispõe na prevalência do Direitos Humanos,

pêlos quais o Brasil se regerá perante as relações internacionais. Fica claro analisar, que esta

norma não é uma conduta a ser optada, mas implica num dever de respeito e aplicação dos

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tratados internacionais que o Brasil faça parte, portanto, é mais uma imposição à estrita

obediência dos mesmos, devendo zelar pela estrita observância interna.

Enfatiza bem o assunto, a renomeada procuradora e professora Flávia Piovesan

Ora, se as normas definidoras dos Direitos e Garantias Fundamentais demandam aplicação imediata e se, por sua vez, os tratados internacionais de Direitos Humanos têm por objeto justamente a definição de Direitos e Garantias, conclui-se que estas normas merecem aplicação imediata. (PlOVESAN,2000,p.50)

Esta é a doutrina da Professora Flavia Piovesan, que os tratados em matéria de

direitos humanos tem status de lei infra constitucional. Neste mesmo sentido é primorosa a

lição do eminente mestre António Augusto Cançado Trindade

Se para os tratados internacionais em geral, se tem exigido a intermediação pelo Poder Legislativo de ato com força de lei de modo a outorgar as suas disposições, vigência ou obrigatoriedade no plano do ordenamento jurídico interno, distintamente no caso dos tratados de proteção internacional dos Direitos Humanos em que o Brasil é Parte, os Direitos Fundamentais neles passam garantidos, consoante os parágrafos 1° e 2° do artigo 5° da Constituição Brasileira de 1988, a integrar o elenco dos Direitos constitucional mente consagrados e direta e imediatamente exigíveis no plano do ordenamento jurídico interno "(TRINDADE,200I,p 172)

Fortalecendo esta linha de pensamento, temos a assertiva lição dos renomeados

Juristas Celso Bastos e Ives Gandra nos seus comentários a Constituição Brasileira:

A novidade do dispositivo (art. 5°, § 2°) repousa na referência feita aos "tratados internacionais" em que a República Federativa do Brasil seja parte. De qualquer sorte, esta referência é de grande importância porque o texto constitucional está a permitir a inovação, pêlos interessados, a partir dos tratados internacionais, o que não se admitia, então, no Brasil. A doutrina dominante exigia a intermediação de uma ato de forca legislativa para tomar obrigatório à ordem interna um tratado internacional A menção do parágrafo em questão ao direito internacional como fonte possível de Direitos e Garantias deve trazer mudanças sensíveis em alguns aspectos do nosso direito Não será mais possível a sustentação da tese dualista, é dizer, a de que os tratados obrigam diretamente os Estados, mas não geram direitos subjetivos para particulares, que ficariam na dependência da referida intermediação legislativa. (1989,p.244)

Doravante, será, pois, possível a invocação de tratados e convenções, dos quais o Brasil seja signatário, sem a necessidade de edição pelo legislativo de ato com força de lei, voltado a outorga de vigência interna aos acordos internacionais. (BASTOS,2000,p.95)

Se faz desnecessário qualquer comentário uma vez que a Constituição já diferenciou

os tratados referentes aos direitos humanos, elencou em seus artigos, tratamento

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diferenciado para os mesmos, e a doutrina ratifica que estes devem ser distinguidos; resta

apenas reafirmar a falta de eficácia, ou melhor de aplicabilidade de todo este arcaboço legal,

no âmbito nacional.

Ao efetuar tal incorporação, a Constituição passa a atribuir aos tratados

internacionais uma natureza especial e diferenciada, portanto, de norma constitucional. Em

face desta interpretação sistemática e teleológica do texto, em virtude da força expansiva dos

valores de dignidade humana e dos direitos e garantias fundamentais, inclusive incorporando

as exigências de justiça e dos valores éticos, projetando-se por todo universo constitucional.

Sem sombra de dúvida, a Carta Magna de 1988 traz no seu condão um marco jurídico da

transição democrática e da institucionalização dos direitos humanos no Brasil.

Ademais, o artigo 102, III, alínea "b", da Constituição Federal, confirma a validade

dos tratados no nosso ordenamento jurídico, quando reza que :"Compete ao Supremo

Tribunal Federal ... julgar mediante recurso extraordinário as causas decididas em única ou

última instância, quando a decisão recorrida : ... declarar a inconstitucionalidade de tratado

ou lei federal."

Todavia, é óbvio que sempre se deverá interpretar no sentido mais favorável possível

à aplicabilidade plena e imediata, levando-se em conta a prevalência da regra mais favorável

ao ser humano titular do Direito, sendo, com efeito, o principal objetivo dos tratados é

conferir às pessoas a mais ampla proteção possível.

Em 1948, é aprovada a Declaração Universal dos Direitos Humanos, traduzindo-se

como um código de princípios e valores universais a serem respeitados pelos Estados. A

partir daí, começa a se desenvolver o Direito Internacional dos Direitos Humanos, com a

adoção de inúmeros tratados internacionais voltados à proteção dos direitos fundamentais.

Forma-se o sistema normativo global de proteção dos direitos humanos, no âmbito das

Nações Unidas. No que se refere à posição do Brasil frente ao sistema internacional de

proteção dos direitos humanos, verifica-se que somente a partir da deflagração do processo

de democratização do país, é que o Estado brasileiro começou a ratificar relevantes tratados

internacionais de direitos humanos.

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O primeiro tratado internacional ratificado em 01 de fevereiro de 1984 foi a

Convenção Sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher. A

partir da Constituição Cidadã, foram ratificados pelo Brasil inúmeros outros importantes

instrumentos internacionais, como a Convenção Contra a Tortura e outros Tratamentos

Cruéis, Desumanos ou Degradantes, em 28 de setembro de 1989; A Convenção sobre os

Direitos da Criança, em 24 de setembro de 1990; O Pacto Internacional dos Direitos

Econômicos, Sociais e Culturais, em 24 de janeiro de 1992; A Convenção Americana de

Direitos Humanos, em 25 de setembro de 1992, e a Convenção Interamericana para

Prevenir, Punir e Erradicar a violência contra a mulher, em 27 de novembro de 1995, dentre

outros.

Assim, torna-se cristalina a relação entre o processo de democratização no Brasil e o

processo de incorporação de relevantes instrumentos internacionais de proteção aos direitos

humanos. Com base nessa premissa cumpre indagar de que modo estes tratados

internacionais de proteção dos direitos humanos são incorporados pelo Direito Brasileiro.

A Constituição Brasileira de 1988 constitui o marco jurídico de transição

democrática de institucionalização dos direitos humanos no Brasil. Consagra

inusitadamente, ao fim do rol da Declaração de Direitos por ela prevista, que os direitos e

garantias expressos na Constituição "não excluem outros de correntes do regime e dos

princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República do Brasil seja

parte" - artigo 5° , parágrafo 2°. O texto de 1988 empresta aos direitos e garantias ênfase

extraordinária, tornando-se o documento mais avançado e pormenorizado sobre a matéria,

na história constitucional do país.

Ora, ao prescrever que os direitos e garantias expressos na Constituição não excluem

outros direitos decorrentes dos tratados internacionais, a contrario sensu, a Constituição

Federal de 1988 inclui, no rol de direitos constitucionalmente protegidos, os direitos

elencados nos tratados internacionais em que o Brasil seja parte. Com tal incorporação,

atribui-se aos direitos internacionais natureza excepcionalmente diferenciada, qual seja, a

natureza jurídica de norma constitucional. Ainda que estes direitos não sejam enunciados

sob a forma de normas constitucionais, mas sob a forma de tratados internacionais, a Carta

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Magna lhes confere o valor jurídico de norma materialmente constitucional, já que integram

o complexo de direitos fundamentais previsto pelo texto constitucional.

Por força da interpretação sistemática e teleológica do texto do artigo 5°, parágrafos

1° e 2°, a Constituição de 1988 atribui aos direitos enunciados em tratados internacionais de

direitos humanos natureza de norma constitucional, de aplicabilidade imediata. De uma

maneira sintética, pode-se afirmar que no Brasil se adota o monismo nacionalista-

tipificação kelseniana- consagrando a idéia de que não há necessidade de lei que reproduza o

conteúdo dos tratados internacionais para que os mesmos tenham validade. Os tratados têm

vida própria, autônoma, por força do compromisso internacional celebrado pelo Brasil,

através de adesão ou ratificação, sendo imprescindível o decreto presidencial, via pela qual

se dá publicidade ao seu conteúdo e estabelece-se o início de sua vigência no território

nacional.

Há que se enfatizar que os demais tratados internacionais que não versam sobre

direitos humanos têm natureza infra-constitucional. Como enfatiza Canotilho:

A paridade hierárquico-normativa, ou seja, o valor legislativo ordinário das convenções internacionais deve rejeitar-se pelo menos nos casos de convenções de conteúdo materialmente constitucional (exs: Convenção Européia dos Direitos do Homem, Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos e Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais).(l993,p.82)

Deve-se observar que a natureza infra-constitucional dos demais tratados é extraída

do art. 102, III, b, da Carta Magna de 1988, que confere ao Supremo Tribunal Federal a

competência para julgar, mediante recurso extraordinário, "as causas decididas em única ou

última instância, quando a decisão recorrida declarar a inconstitucionalidade de tratado ou

lei federal". Com base neste dispositivo, passou-se a acolher a concepção de que os tratados

internacionais e as leis federais apresentavam mesma hierarquia jurídica, sendo aplicável o

principio, lei posterior revoga lei anterior que seja com ela incompatível.

Desde 1977 o Supremo Tribunal Federal, com base nesta idéia, adota o sistema

paritário que equipara juridicamente o tratado à lei federal. Não cabe aqui travar maiores

discussões sobre as possíveis conseqüências acerca do descumprimento de tratados no plano

internacional. Porém insista-se que a teoria da paridade entre o tratado internacional e a

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legislação federal não se aplica aos tratados internacionais de direitos humanos, já que a

Constituição de 1988 assegura a estes garantia de norma de natureza constitucional.

Ressalte-se ainda que os direitos inseridos nos tratados internacionais constituem

cláusula pétrea e não pode ser suprimido por meio de emenda à Constituição, nos termos do

art. 60, parágrafo 4°, da Constituição de 1988. Entretanto, são suscetíveis as denúncias por

parte do Estado signatário, podendo ser subtraídos pelo mesmo Estado que os incorporou.

Os direitos humanos serão um conjunto de textos românticos de excelentes

propósitos e admirável retórica, se os Estados não se instrumentalizarem para cumprir as

regras estabelecidas nos documentos de proteção dos direitos fundamentais e, sobretudo

produzir uma consciência nacional da inviolabilidade de tais direitos para estabilização das

relações humanas.

1.2 INSTRUMENTOS, INSTITUIÇÕES E PROCEDIMENTOS JURÍDICOS

UNIVERSAIS DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS:

A luta pelo reconhecimento e expansão do rol de direitos humanos no Brasil e no

mundo encontra-se em plena transição: depois de cinco décadas dedicadas quase que

exclusivamente aos direitos humanos civis e políticos, começamos, finalmente, a priorizar as

dimensões econômicas, sociais e culturais dos direitos humanos.

Entretanto, este movimento pela consolidação da multidimencionalidade dos direitos

e garantias fundamentais da pessoa humana se dá, exatamente, durante a aceleração do

processo de globalização. Ainda assim, podemos verificar, em contrapartida a evolução de

instrumentos do direito, sobretudo internacionais. Esta referência ao direito internacional se

justifica pelo fato de os direitos humanos terem seus princípios compartilhados por

instituições e ativistas de todo o mundo. Tais princípios constituem-se num importante

parâmetro ao processo civilizatório, dimensionado pela existência de uma opinião pública

mundial, de fundamental papel na repercussão planetária de denúncias de graves violações

aos direitos humanos proporcionada por estados nacionais.

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Em outras palavras, os novos tempos começam a delinear a materialização de

mecanismos formais de proteção aos direitos humanos: universais e inscritos em

declarações, pactos e tratados internacionais.

Os direitos civis e políticos, agrupados no Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (PIDCP) e constituídos pelo direito à igualdade perante a lei; pelos direitos dos presos; pela proibição da tortura e da escravidão; pelo direito a um julgamento justo com a presunção da inocência; pelo direito de ir e vir, pela liberdade de opinião, pensamento e religião; pelo direito à vida privada e por reunir-se pacificamente, associar-se e participar da vida política, constituem a base estrutural dos direitos fundamentais. Tais princípios foram sendo consagrados em convenções e pactos internacionais, acompanhados de órgãos de monitoramento (MIRANDA, 1999,p 53)

Desde a Conferência Internacional de Viena, em 1993, vem sendo reafirmada a

indissociabilidade dos direitos humanos e a recusa da prioridade dos direitos civis e políticos

como primeira etapa. O evento tornou-se um marco mundial pelo delineamento do Pacto dos

Direitos Econômicos, Sociais e Culturais como fundamento ético, base para denúncias e

combustível para a busca de caminhos alternativos para a humanidade superar a iniqüidade e

a injusta distribuição de riquezas, do poder e do saber.

Com o fim da polarização entre Leste e Oeste e a emergência dos efeitos perversos

da globalização econômica, principalmente nos países periféricos, ficou mais evidente que,

se não vingarem os direitos humanos econômicos, sociais e culturais, os próprios avanços

nos direitos civis e políticos ficarão comprometidos, com o crescimento da violência, da

xenofobia, do racismo, da intolerância e do autoritarismo. Por outro lado, o crescimento da

demanda por recursos naturais e o dever humano para com nossos descendentes

impulsionaram a consciência ambiental e disseminaram o conceito de desenvolvimento

sustentável, enriquecendo o conceito de direitos humanos econômicos.

Constituem os Direitos Econômicos o direito à alimentação, de estar livre da fome, o

direito a um padrão de vida mínimo, com vestuário e moradia, o direito ao trabalho e aos

direitos trabalhistas. São Direitos Sociais no Pacto: o direito à seguridade social das famílias,

mães, crianças, idosos, os serviços de saúde física e mental. Por direitos culturais entende-se

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o direito à educação, de participar da vida cultural e de benefíciar-se do progresso científico,

assim como o direito das minorias étnicas e raciais, de gênero, orientação sexual etc.

Vale lembrar a importância das instituições não governamentais que desempenham o

papel de fiscalizadoras e são organismos independentes que funcionam sem mecanismos

específicos, sem ratificações, sem tratados, e sem burocracia, mas com eficiência e

praticidade no efetivo cumprimento de fazer valer o direito daqueles que realmente

necessitam que alguém interceda em seu favor.

Com fulcro no Pacto Internacional dos direitos Civis e Políticos , adotado pela

Resolução n.° 2.200-A da Assembléia Geral das Nações Unidas, em 16 de dezembro de

1966. Aprovado pelo Decreto Legislativo n.° 226, de 12.12.1991. Ratificado pelo Brasil em

24 de janeiro de 1992. Em vigor no Brasil em 24.4.1992. Promulgado pelo Decreto n.° 592,

de 6.7.1992.

Também vale citar outros tratados que versam quanto aos direitos da mulher, da

criança, das minorias e do desenvolvimento,

Declaração sobre o Direito ao Desenvolvimento

Adotada pela Revolução n." 41 : 128 da Assembléia Geral das Nações Unidas, de 4 de dezembro de 1986.

Declaração dos Direitos da Criança

Adotada pela Assembléia das Nações Unida de 20 de novembro de 1959 e ratificada pelo Brasil.

Convenção sobre os Direitos Políticos da Mulher

Nações Unidas n. 135, de 31-3.1953, Aprovada pelo Decreto Legislativo n* 123, de 30.11.1955. Ratificada pelo Brasil em 13.8.1963 Em vigor no Brasil em II.I J.1964. Promulgada pelo Decreto n° 52476, de 129.1963. Publicação no DO.del79 1963 As Partes Contratantes,

Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial (l968)

Adotada pela Resolução n.° 2.106-A da Assembléia das Nações Unidas, em 21 de dezembro de 1965. Aprovada pelo Decreto Legislativo n.° 23, de 21 6 1967 Ratificada pelo Brasil em 27 de março de 1968. Entrou em vigor no Brasil em 4. l

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1969. Promulgada pelo Decreto n.° 65.810, de 8.12.1969. Publicada no D.O. de 10.12.1969

O Direito Internacional dos Direitos Humanos se estrutura a partir da criação da

Organização das Nações Unidas (ONU). É no dizer da própria Carta uma associação de

Estados reunidos com os propósitos declarados de manter a paz e a segurança internacional,

desenvolver relações amistosas entre nações, baseadas no respeito ao princípio de igualdade

de direitos e de auto determinação dos povos, conseguir uma cooperação internacional para

resolver os problemas internacionais de caráter econômico, social, cultural ou humanitário e

para promover e estimular o respeito aos direitos humanos e as liberdades fundamentais para

todos e também ser um centro destinado a harmonizar a ação das nações para a consecução

desses objetivos. (ACClOLY,2002,p.353)

O mundo inteiro, chocado com o genocídio e as barbaridades cometidas durante a

Segunda Guerra Mundial, sentiu a necessidade de algo que impedisse a repetição destes

fatos. Organizados e incentivados pela ONU, 148 nações se reuniram, redigiram e

aprovaram a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 10 de dezembro de 1948. Ela

representou um enorme progresso na defesa dos Direitos Humanos, Direitos dos Povos e das

Nações.

A Conferência de Teerã de 1968 completou e reafirmou a indivisibilidade e

interdependência dos Direitos Humanos e o Pacto Internacional de Direitos Econômicos,

Sociais e Culturais fortificaram os artigos da Declaração.

Estes Pactos, Tratados e Convenções nem sempre foram aprovados facilmente, mas

foram os resultados de árduos, longos e profundos debates. Com a aceitação da

universalidade, da transnacionalidade dos Direitos Humanos, reconhece-se que o ser

humano sempre possuirá direitos fundamentais, independentemente da sua nacionalidade,

raça, situação de refugiado ou de apátrida.

Os princípios da Declaração Universal dos Direitos Humanos estão inseridos em

todas as Constituições do mundo moderno e constituem parâmetros para a democracia.

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CAPÍTULO 2 - O SISTEMA INTERAMERICANO DE

PROTEÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS:

No que diz respeito ao Sistema Interamericano de Direitos Humanos cabe salientar

que o continente americano é precursor na adoção de instrumentos internacionais

destinados à proteção dos direitos e das liberdades fundamentais. Foi a primeira região

do mundo a adotar uma declaração sobre a matéria, proclamada durante a IX

Conferência Interamericana, em 2 de maio de 1948.

Ao lado do sistema internacional de proteção dos direitos humanos representado pela Declaração dos Direitos do Homem de 1948, surgem os sistemas regionais de proteção, que segundo Flávia Piovesan buscam internacionalizar os direitos humanos no plano regional, particularmente na Europa, América e África. (PIOVESAN, 1997, p.217)

A busca da efetiva proteção do cidadão contra possíveis ações arbitrárias do Estado

que possam violar os direitos conquistados com a Carta das Nações Unidas, e outros

pactos internacionais fez com que os países criassem sistemas regionais de proteção,

mais próximos de suas realidades e necessidades.

Deve-se observar que cada qual dos sistemas de proteção apresenta um aparato jurídico próprio, o que não impede a convivência do sistema global - integrado pelos instrumentos das Nações Unidas, como a Declaração Universal de Direitos Humanos, o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, o Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e as demais Convenções Internacionais - com os instrumentos do sistema regional de proteção.(PIOVESAN, 1997, p.218)

Os sistemas regionais funcionam como normas complementares dos objetivos

pretendidos pelas Nações Unidas, sendo que a ONU, por meio da resolução 32/127 de

1977, incentiva os Estados-Membros na área que não existem os acordos regionais de

direitos humanos, considerarem a possibilidade de firmarem tais acordos.

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O Sistema Interamericano dos Direitos Humanos foi consolidado pela Convenção

Americana de Direitos Humanos, também conhecida como "Pacto de San José", ratificada

pelos Países-Membros da Organização dos Estados Americanos - OEA. Possui dois órgãos

que exercem funções distintas, mas complementares: a Comissão Interamericana de

Direitos Humanos, e a Corte Interamericana. “A Comissão e a Corte atuam em virtude de

faculdades outorgadas por diferentes instrumentos legais, devido à própria evolução do

sistema interamericano”. (ARIEL, DULITZKY, 2000, p.61)

A Carta da OEA determinava a elaboração de instrumento convencional e a criação

de uma Comissão de Direitos Humanos, com a missão de promover a observância e a

defesa desses direitos. Este sistema adquiriu maior solidez jurídica com a entrada em vigor

da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, em 1978, e com a aprovação dos

estatutos da Comissão e da Corte Interamericana de Direitos Humanos em 1979.

O atual Sistema Interamericano de Proteção aos Direitos Humanos é composto de

quatro principais diplomas normativos: A Declaração Americana dos Direitos e Deveres do

Homem; A carta da Organização dos Estados Americanos; A Convenção Americana dos

Direitos Humanos e também o Protocolo de San Salvador, assinado em 1988, relativo aos

direitos sociais e econômicos.

O primeiro Sistema é o da Organização dos Estados Americanos (OEA), que utiliza os preceitos da Carta da própria OEA e a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do homem. O segundo é o Sistema da Convenção Americana de Direitos Humanos, que integra, entretanto, apenas uma parte dos paises americanos. Os membros do segundo Sistema são, sem exceção, membros do primeiro, sendo aplicáveis todas as regras do primeiro Sistema subsidiariamente ao disposto na Convenção Americana dos Direitos Humanos, como aponta o seu art. 293 ao estabelecer que as obrigações baseadas na Convenção não podem servir de justificativa para a não aplicação de normas de proteção de direitos humanos constantes em outros diplomas normativos. (ACCIOLY, 2002, p.358)”.

A Convenção Americana dos Direitos Humanos dois órgãos –a Comissão

Interamericana dos Direitos Humanos (Comissão) e o Tribunal Interamericano de Direitos

Humanos (Corte).

Somente a Comissão ou Estados signatários da Convenção pode apresentar casos ao

Tribunal (Corte). Indivíduos não podem apresentar casos ao Tribunal (Corte), embora haja

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atualmente a proposta de um Protocolo Opcional da Convenção que permitiria isso. Para

que um caso contra um Estado signatário seja apresentado ao Tribunal (Corte), o Estado

signatário em questão deve fazer parte da Convenção e reconhecer a jurisdição do Tribunal.

Nem todos os Estados signatários da Convenção reconhecem a jurisdição do Tribunal.

A Comissão é um órgão consultivo da OEA, sendo um organismo com faculdades

legais, diplomáticas e políticas, estabelecido em 1959, na Quinta Reunião de Conduta dos

Ministros de Relações Exteriores em Santiago, no Chile.

Ela tem três funções principais: dar curso às denuncias individuais quando se alega violação dos direitos humanos, preparar informes sobre a situação dos direitos humanos nos estados membros da OEA, realizar estudos e propor medidas a serem tomadas pela OEA com o objetivo de fomentar o respeito dos direitos humanos na região. (LEÃO, 2001, p.98)

A Corte é uma instituição judicial autônoma, que forma parte de um Sistema

Interamericano de Proteção. O propósito da Corte é aplicar e interpretar a Convenção. A

competência da Corte está estabelecida sobre a base de seu Estatuto, aprovado como prevê

a Resolução 448, pela Assembléia Geral da OEA, em La Paz, na Bolívia, em outubro de

1979.

Tanto a Comissão como a Corte estão integradas por sete experts de reconhecida experiência em matéria de direitos humanos aos quais se elege com base na titulação pessoal, e não como representantes de seus governos. Ambos os órgãos contam com uma secretaria executiva que cumpre a função de colaborar com os membros na execução de suas tarefas. Os membros da comissão são eleitos pelos estados membros na Assembléia Geral, independente de que tenham ou não ratificado a Convenção. Entretanto, somente os Estados partes da Convenção podem eleger os juizes que integrarão a Corte.(LEÃO, 2001, p.97)

Ambos os órgãos acima mencionados estão facultados pela Convenção Americana

sobre os Direitos Humanos, ou Pacto San José da Costa Rica, firmado de 7 a 22 de

novembro de 1969. Este Pacto garante direitos mínimos aos cidadãos dos Estados-membros

da OEA, que devem zelar pelo seu cumprimento.

.

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2.1 A ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS (OEA)

Ocorreu em Bogotá a celebração da Nona Conferência Internacional Americana, de

30 de março a 2 de maio de 1948, onde os estados americanos aprovaram dois importantes

instrumentos jurídicos em matéria de direitos humanos; com base em mandato contido na

Resolução IX Reunião de Ministros de Relações Exteriores dos países do Continente

Americano sobre os Problemas de Guerra e Paz (México, 1945). A referida Resolução

encomendava a reorganização, consolidação e fortalecimento do Sistema Interamericano. Da

Conferência, emanaram importantes documentos do sistema interamericano, como a própria

Carta da OEA, o Tratado Americano de Soluções Pacíficas, conhecido como Pacto de

Bogotá e a Declaração Interamericana de Direitos e Deveres do Homem, assinada seis

meses antes da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

A Conferência de Bogotá encomendou ao Comitê Jurídico Interamericano a

elaboração de um projeto de Estatuto para criação de um Tribunal (Corte Interamericana de

Direitos Humanos) que se encarregaria da proteção dos direitos humanos e liberdades

fundamentais no continente americano.

A Décima Conferência Internacional Americana, realizada em Carácas, Venezuela, em 1954 desempenhou um papel muito importante na estruturação do Sistema Interamericano de Proteção e Promoção dos Direitos Humanos, consubstanciados por suas declarações e resoluções, dentre os quais se destacariam por sua importância na matéria ora abordada: A Declaração de Caracas, a Declaração de que os governos dos estados americanos devem manter um regime de liberdade individual e de justiça social, fundado no respeito dos direitos fundamentais da pessoa humana, e, por fim, porém não de menor importância a Resolução XXIX, titulada Corte Interamericana para a Proteção dos Direitos Humanos a fim de considerar a possibilidade de criação de um Tribunal Interamericano encarregado da proteção dos direitos humanos. (LEÃO, 2001, p.96)

A Corte criada posteriormente atua tanto na capacidade de assessor quanto de juiz.

Qualquer Estado Membro da OEA pode consultar o Tribunal na capacidade de assessor em

relação à interpretação da Convenção Americana sobre Direitos Humanos ou de outros

instrumentos interamericanos de direitos humanos.

São atualmente em número de 35 os Estados-membros da OEA: Antígua e Barbuda,

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Argentina, Bahamas, Barbados, Belize, Bolívia, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa

Rica, Cuba (cujo Governo está suspenso desde 1962), Dominica, El Salvador, Equador,

Estados Unidos, Granada, Guatemala, Guiana, Haiti, Honduras, Jamaica, México,

Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, São Cristóvão, Santa Lúcia,

São Vicente e Granadinas, Suriname, Trinidad e Tobago, Uruguai e Venezuela. Há 45

Observadores Permanentes na OEA. O Secretário-Geral da Organização é o colombiano

Cesar Gaviria Trujillo, que iniciou, em 1º de janeiro de 2000, seu segundo mandato de

cinco anos (até 1º de janeiro de 2005).

Os Estados Americanos reafirmaram na Carta da OEA os seguintes princípios: a

validade do Direito Internacional como norma de conduta em suas relações recíprocas; a

ordem internacional é essencialmente constituída pelo respeito à personalidade, soberania e

independência dos Estados e pelo cumprimento fiel de suas obrigações; a boa-fé deve reger

as relações recíprocas entre eles; a solidariedade requer a organização política dos Estados

com base no exercício efetivo da democracia representativa; a condenação da guerra de

agressão e o reconhecimento de que a vítima não dá direitos; a agressão a um Estado

significa a agressão a todos os demais; as controvérsias internacionais deverão ser

resolvidas por meio de processos pacíficos; a justiça social é a base de uma paz duradoura;

a cooperação econômica é essencial para o bem-estar e a prosperidade dos povos do

Continente. Os direitos fundamentais da pessoa humana sem distinção de raça,

nacionalidade, credo ou sexo; a unidade espiritual da América se baseia no respeito à

personalidade cultural dos países americanos; e a educação deve orientar-se para a justiça a

liberdade e a paz.

A Carta da Organização também contém normas econômicas, sociais e sobre

educação, ciência e cultura, para cujo desenvolvimento os Estados Americanos convêm em

dedicar seu máximo esforço.

Na elaboração da Carta Constitutiva da OEA foi aplicado o critério o da primazia da norma mais favorável à suposta vítima de violação de direitos humanos (seja tal norma de direito internacional - consagrada em um Tratado universal ou regional – ou de direito interno). Tal complexidade de instrumentos de direitos humanos em níveis global e regional reflete a especificidade e autonomia do Direito Internacional dos Direitos Humanos, caracterizado essencialmente como um direito de proteção.(TRINDADE, 2000,p.104)

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Conforme o preâmbulo da carta da OEA é possível destacar que está a fim de

concretizar os ideais em que se baseia e cumprir com suas obrigações regionais. De acordo

com a Carta das Nações Unidas, a OEA estabeleceu como propósitos essenciais os

seguintes: garantir a paz e a segurança continentais; promover e consolidar a democracia

representativa, respeitando o princípio da não-intervenção; prevenir as possíveis causas de

dificuldades e assegurar a solução pacífica das controvérsias que surjam entre os seus

membros; organizar a ação solidária destes em caso de agressão; procurar a solução dos

problemas políticos, jurídicos e econômicos que surgirem entre os Estados membros;

promover, por meio da ação cooperativa, seu desenvolvimento econômico social e cultural;

e alcançar uma efetiva limitação de armamentos convencionais que permita dedicar a maior

soma de recursos ao desenvolvimento econômico-social dos Estados membros.

A OEA atua nas seguintes áreas: fortalecimento da democracia; segurança

hemisférica; construção da paz; promoção e defesa dos direitos humanos; estímulo ao

comércio entre as nações; combate às drogas; preservação do meio ambiente; combate ao

terrorismo; incentivo à probidade administrativa e cooperação para o desenvolvimento.

Como um dos mais antigos organismos regionais do mundo, a OEA atravessou um século em busca de soluções para os principais problemas do Continente, mostrando notável capacidade não só de adaptação à conjuntura histórica mas até mesmo de inovação. Encontra-se atualmente em processo de revitalização, marcado por novas perspectivas de atuação, ao lado de novos desafios. A partir da década de 90, a ênfase no fortalecimento da democracia marcou os trabalhos da Organização, ocorrendo, ao mesmo tempo, uma atualização de sua agenda política, resultante do novo quadro internacional. Assim, a OEA passou a atuar mais intensamente em áreas de interesse de seus Estados-membros, tais como o comércio e integração, controle de entorpecentes, repressão ao terrorismo, corrupção, lavagem de dinheiro e preservação do meio-ambiente. (ACCIOLY,1998,p.281)

São organismos especializados da OEA: a Organização Pan-Americana de Saúde

(OPAS), o Instituto Interamericano da Criança (IIC); a Comissão Interamericana das

Mulheres (CIM); o Instituto Pan-Americano de Geografia e História (IPGH); o Instituto

Interamericano do Índio (III); o Instituto Interamericano para Cooperação para a

Agricultura (IICA).

O Brasil foi um dos vinte e um primeiros signatários da Carta da OEA, cujo artigo

primeiro define a Organização como um Organismo Regional dentro das Nações Unidas,

criado para conseguir uma ordem de paz e justiça, para promover a solidariedade de seus

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integrantes, intensificar a colaboração entre eles e defender a soberania, a integridade

territorial e a independência dos Estados americanos.

2.2 DECLARAÇÃO AMERICANA DOS DIREITOS HUMANOS:

As origens do vigente sistema de proteção regional dos direitos humanos remonta à

9a Conferência Interamericana, realizada em Bogotá, Colômbia, de 30 de março a 2 de

maio de 1948, na qual foi aprovada a Declaração Americana de Direitos e Deveres do

Homem e a Carta da Organização dos Estados Americanos (OEA).

A Nona Conferência Interamericana, celebrada em Bogotá, de 30 de março a 2 de maio de 1948, além de ter levado à adoção da carta da OEA, aprovou a Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem. Enquanto a carta da OEA Proclama de modo genérico que um dos Estados-membros é o de respeitar os direitos da pessoa humana. A Declaração Americana especifica quais são os Direitos fundamentais que devem ser observados e garantidos.(BELLI, 1998, p.155)

Nesse passo, a Declaração Americana e a Declaração das Nações Unidas

representam o início do processo de reconhecimento do indivíduo como sujeito do direito

internacional: a pessoa humana passa a ser objeto de proteção independentemente de sua

nacionalidade. Sufragando esse entendimento, a Declaração Americana de 1948 reconhece

em seus considerandos que “[...] os direitos essenciais do homem não derivam do fato de

ser ele cidadão de determinado Estado, mas sim do fato dos direitos terem como base os

atributos da pessoa humana”. Nasce, assim, o Direito Internacional dos Direitos Humanos.

[...] a Declaração é endereçada aos indivíduos e não aos Estados (‘Todo o indivíduo, ou toda a pessoa, tem direito...’). Os pactos são dirigidos aos Estados e não aos indivíduos (‘Os Estados se obrigam a ...”) e a dimensão social do indivíduo é a pedra de toque a ser considerada.(BICUDO, 2000, p.58)

Os direitos garantidos na Declaração Americana dos Direitos Humanos são; direito

á vida, à liberdade, á segurança e a integridade da pessoa, direito de igualdade perante a lei,

direito á liberdade religiosa e à liberdade de expressão e opinião, direito de sufrágio e de

participação no governo, direito de associação e reunião, direito á proteção contra prisão

arbitrária e o direito à justiça.

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A Declaração garante logo em seu preâmbulo, que os direitos essenciais do homem não derivam do fato de ele ser cidadão de um determinado Estado, mas sim do fato dos direitos terem como base os atributos da pessoa.

No entanto, a Declaração, por ter tão somente caráter de recomendação, não

vinculava juridicamente os Estados. Em razão deste fato, iniciou-se um movimento a fim

de tornarem concretas e exigíveis as obrigações lá previstas. Foi assim, que onze anos após

à adoção da Declaração Americana, a 5a Reunião de Consultas de Ministros de Relações

Exteriores, realizada em Santiago, Chile, de 12 a 18 de agosto de 1959, encarregou o

Conselho Interamericano de Juristas de elaborar um projeto de Convenção a respeito da

proteção internacional dos direitos humanos. Nesta reunião, criou-se a Comissão

Interamericana de Direitos Humanos, órgão autônomo da OEA concebido para promover a

proteção dos direitos humanos no âmbito interamericano.

A Declaração Americana dos Direitos Humanos foi o primeiro documento oriundo da iniciativa dos Estados Americanos para firmar os direitos do homem. Talvez sua principal conseqüência tenha sido possibilitar o surgimento da Convenção Americana conhecida como Pacto de San José da Costa Rica, em 1969.(FESTER,1989, p.65)

Uma vez que a criação da Comissão Interamericana dos Direitos Humanos

determinou que esta tinha a incumbência de elaboração de uma Convenção. Fica clara a

conexão entre as Instituições e o desenvolvimento do trabalho entre os Organismos

internacionais, visando criar um Sistema Interamericano, com seus devidos Institutos legais,

e apartos de fiscalização.

2.3 CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS

A Comissão Interamericana de Direitos do Homem elaborou um Projeto de

Convenção Interamericana sobre proteção aos direitos humanos; com o fim de que a

Segunda Conferência Interamericana Extraordinária celebrada em 2 de outubro de 1968,

decidisse sobre sua aceitação e conclusão de uma Convenção sobre a proteção de tais

direitos.

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Mesmo antes da instituição do Sistema Interamericano pelo Pacto de San José, a Comissão já estava em funcionamento desde 1959, em função da adoção da Resolução de Santiago. No entanto, prestava-se a um papel diverso e bem mais tímido que o atual porque sequer havia previsão regimental para o recebimento de petições individuais. Resumia-se a resguardar a “promoção” dos direitos humanos nas Américas. A partir de 1965 a Comissão passou a receber petições individuais com a edição da Resolução do Rio de Janeiro, mas apenas quando da entrada em vigor do Pacto de San José e do Protocolo de Buenos Aires, seu papel foi reformulado para ganhar as feições que detém hoje, assumindo função de extrema relevância na promoção e defesa dos direitos humanos nas Américas.(NIKKEN, p.231, 1978)

A Convenção é o instrumento de maior importância no Sistema Interamericano.

Esta Convenção foi assinada em 22 de novembro de 1969 em San José da Costa Rica,

entrando somente em vigor em julho de 1978, quando o 11o instrumento de ratificação foi

depositado. O Brasil aderiu ao Pacto de San José em setembro de 1992.

O objetivo do Pacto de San José foi garantir a todos os nacionais e aos estrangeiros

que vivem no território dos países americanos, direitos que assegurem o respeito à vida, à

integridade física, existência do juiz natural, entre outros.

Posteriormente, em 1988, A assembléia Geral da OEA adotou um Protocolo

adicional à Convenção, concernente aos direitos sociais, econômicos e culturais. (Protocolo

de San Salvador)

A Convenção não enuncia de forma específica qualquer direito social, cultural ou

econômico, limitando-se a determinar aos Estados que alcancem, progressivamente a plena

realização desses direitos, mediante a adoção de medidas legislativas e outras medidas que

se mostrem apropriadas nos termos do art.26 da Convenção.

Art 26 – Desenvolvimento progressivo: Os Estados-partes comprometem-se a adotar as providências, tanto no âmbito interno como mediante cooperação internacional, especialmente econômica e técnica, a fim de conseguir progressivamente a plena efetividade dos direitos que decorrem das normas econômicas, sociais e sobre educação, ciência e cultura, constantes da Carta da Organização dos estados Americanos, reformada pelo Protocolo de Buenos Aires, na medida dos recursos disponíveis, por via legislativa ou por outros meios apropriados.

Devido as particularidades dos países da América, principalmente os países da

América Latina, os direitos assegurados na Convenção Americana são essencialmente os

direitos de primeira geração, àqueles relativos à garantia da liberdade, à vida, ao devido

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processo legal, o direito a um julgamento justo, o direito à compensação em caso de erro

judiciário, o direito a privacidade, o direito à liberdade de consciência e religião, o direito

de participar do governo, o direito à igualdade e o direito à proteção judicial entre outros.

A Convenção Americana sobre Direitos Humanos de 1969, por exemplo, teve o cuidado de incluir, em seu preâmbulo, referência igualmente pertinentes “reafirmados e desenvolvidos” em distintos instrumentos “ tanto de âmbito universal como regional. (TRINDADE,2000, p.105)

A Convenção Americana além dos direitos previstos e disciplinados possui um

aparato de monitoramento e implementação, que é integrado pela Comissão Interamericana

de Direitos Humanos e pela Corte Interamericana.

A Convenção proporcionou a melhor definição dos direitos enunciados da Declaração Americana e vinculou juridicamente os Estados-parte. A ênfase da convenção é dada aos direitos civis e políticos (cap. 2, art. 3 a 25), enquanto os direitos econômicos, sociais e culturais foram objeto de um único artigo, que se limita a comprometer os estados a adotar providencias a fim de alcançar progressivamente tais direitos. (art. 26) A partis da entrada em vigor da convenção, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos passou a ter dualidade de funções: atribuições essencialmente políticas e diplomáticas para os Estados-membros da OEA que não são parte da Convenção. Para os Estados que são parte da Convenção, alem das atribuições políticas e diplomáticas, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos teria importantes funções de caráter quase judicial. (PIOVESAN, 2000, p.157)

A Convenção rejeita a pena de morte, permitindo a sua aplicação apenas nos países

que não a tenha abolido para os delitos mais graves, em cumprimento de sentença final de

tribunal competente, sendo que esta não poderá ser restabelecida nos Estados que a tenham

abolido.

No aspecto processual penal, o Pacto consagrou o instituto do Habeas Corpus em

seu art. 7º, nº 6, permitindo que qualquer pessoa mesmo sem formação técnico-jurídica

impetre o recurso. Os Estados que forem signatários da Carta ficam impedidos de abolirem

de suas legislações o referido instituto.

Além destes preceitos, a Convenção traz disposições a respeito do princípio da

inocência, e garantias para que todas as pessoas tenham acesso ao duplo grau de jurisdição.

Obedecendo aos princípios gerais seguidos pela Convenção para salvaguarda dos direitos do homem e das liberdades fundamentais do Conselho da Europa e aos Pactos com relação aos direitos do homem, aprovados pela Assembléia Geral da

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ONU, o Projeto Interamericano aprovado registra um preâmbulo, no qual, fazendo referência a Carta da OEA e à Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem, enfatiza o propósito de consolidar neste continente, no quadro das instituições democráticas, um regime de liberdade individual e de justiça social, fundado no respeito aos direitos essenciais do homem. (BOSON, 1972, p.65)

A Convenção Americana, ainda, assegura aos acusados o direito de não serem

obrigados a deporem contra si e, nem de se declararem culpados (art.8º, nº 9). Cabe ao

Estado onde a pessoa está sendo processada, proporcionar um defensor para que este possa

defendê-lo das acusações formuladas. Se a pessoa não compreender ou não falar o idioma

do juízo do Tribunal, o Estado deverá providenciar, de forma gratuita, um tradutor ou

intérprete (art.8º, nº 2). A confissão somente poderá ser considerada válida se feita sem

coação de qualquer natureza. O acusado absolvido por sentença passada em julgado não

poderá ser submetido a novo processo pelos mesmos fatos (art.8º, nº 2, alíneas 3 e 4).Em

caso de erro judiciário, toda pessoa condenada por sentença transitada em julgado tem

direito a ser indenizada conforme a lei vigente do país.

Os direitos consagrados na Convenção são os seguintes: Censura prévia aos

espetáculos públicos, regulando o acesso para proteção moral da infância e a adolescência;

Tortura, proibição de qualquer espécie; Trabalho forçado; Pena ou tratamento cruéis,

desumanos ou degradantes; Pena de morte, não se podendo estabelecer a pena nos Estados

que a hajam - abolido, portanto, poderá permanecer nos que ainda possuem esta previsão,

mas apenas para os delitos mais graves; Proteção contra ingerências na vida privada e na

intimidade. O Código Penal traz vários dispositivos neste sentido: direito de resposta, prova

da verdade, crime de violação de domicílio, de correspondência, divulgação de segredo,

etc... O desrespeito à intimidade através do sensacionalismo, principalmente na participação

da imprensa, publicação de atos; Prisão provisória, questiona-se medidas substitutivas á

prisão e sua imperiosa necessidade; Demora no julgamento, violação do preceito da

razoabilidade dos prazos; Suspensão do processo de réu revel. Aplicação do art. 366 do

Código Processo Penal com redação dada pela Lei 9.271/96, atualmente é uma das matérias

mais discutidas. Não só sobre a suspensão do processo, mas também quanto á suspensão da

prescrição.

Quanto ao procedimento: Pode ser feita uma petição ou uma comunicação dirigida a

Comissão Interamericana de direitos Humanos, mas será necessário: esgotamento de todos

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os recursos da jurisdição interna; ser apresentada dentro do prazo de seis meses, que a

matéria não seja pendente de outro processo de solução internacional; e a qualificação

completa do requerente.

Os Capítulos VII e VIII, do Pacto tratam da Comissão e da Corte respectivamente

em relação com seus órgãos competentes: Art. 33 - São competentes para conhecer de

assuntos relacionados com o cumprimento dos compromissos assumidos pelos Estados-

partes nesta Convenção: a Comissão Interamericana de Direitos Humanos; e a Corte

Interamericana de Direitos Humanos.

A Comissão possui função de natureza quase jurisdicional. É é composta por sete

membros, eleitos a título pessoal, pelos Países Membro da OEA. Ela é competente para

receber os casos individuais e para elaborar relatórios sobre a situação dos direitos humanos

no continente. Sua competência para receber casos brasileiros foi reconhecida,

automaticamente, em 25 de setembro de 1992, quando da ratificação da Convenção

Americana pelo Governo Brasileiro.

A Corte Interamericana de Direitos Humanos, sediada desde sua instituição na Costa

Rica, é o órgão propriamente jurisdicional do Sistema. É integrada por sete membros, os

juízes, com poder para prolatar sentenças, condenando os Estados-Partes. Sua competência

é dúplice: contenciosa e consultiva.

Na função contenciosa, julga os casos individuais submetidos pela Comissão ou

pelos Estados-partes. O Brasil reconheceu a competência jurisdicional da Corte

Interamericana para julgar casos brasileiros, apenas em 10 de dezembro de 1998, e só casos

ocorridos após esta data podem chegar à Corte.A competência consultiva refere-se ao poder

de interpretar as disposições dos tratados, definindo seus conteúdos e alcances. Isto é feito

através dos chamados Pareceres Consultivos, nos quais, através de consultas feitas pelos

Estados-partes ou por Órgãos da OEA, a Corte define precisamente os limites dos Tratados

e a compatibilidade de leis nacionais em relação a eles.

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A Convenção Americana de Direitos Humanos, Tratado Internacional concluído no

seio da OEA, assinada em 1969, entrou em vigor internacionalmente em 1978, o Brasil

depositou a carta de adesão em 1992, Dec.678/92.

O Brasil subscreveu a Convenção por meio do Decreto Legislativo nº 27 de 26 de maio de 1992, que aprovou o texto do instrumento, dando-lhe legitimação. Com a aprovação pelo Congresso Nacional, nosso governo depositou a Carta de Adesão (ratificação) junto a Organização dos Estados Americanos no dia 25 de setembro de 1992. Para o nosso país a Convenção entrou em vigor a partir do Decreto presidencial n.o 678 de 06 de novembro de 1992, publicado no Diário Oficial de 09 de novembro de 1992, p. 15.562 e seguintes, que determinou o integral cumprimento dos direitos disciplinados no Pacto de San José da Costa Rica.(ROSA, 1995, p.11)

Apesar da incorporação do Brasil ao Pacto San José da Costa Rica, mesmo que

tardiamente, o que realmente é algo retrógrado é o Brasil apenas reconhecer a competência

da Corte cinco anos depois, em 1997.

2.3.1 A Comissão Interamericana de Direitos Humanos

A Quinta Reunião Consultiva dos Ministros de Relações Exteriores, realizada em

Santiago do Chile, de 12 a 18 de agosto de 1959 – ou seja, cerca de onze anos após a

adoção da Declaração Americana -, encarregou o Conselho Interamericano de Juristas de

elaborar um projeto de Convenção sobre Direitos Humanos. A mesma Reunião resolveu

criar uma Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), inicialmente previstos

para funcionar, provisoriamente até a adoção da Convenção encomendada e com a função

de promover o respeito aos direitos humanos nos Estados membros da OEA.(BELLI, 1989,

p.155)

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos está sediada em Washington,

EUA, na sede da Organização dos Estados Americanos. É integrada por sete membros,

provenientes de países integrantes da OEA. Estes comissários (comissionados) não

representam seus países de origem ou mantém qualquer tipo de vínculo governamental, seu

papel é o de assegurar o respeito aos direitos humanos pelos Estados-Membros. Os

comissários são eleitos pela Assembléia Geral da OEA, para um mandato que dura quatro

anos e é renovável por igual período.

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A Convenção Americana determinou que a Comissão Interamericana seria composta – a exemplo do que ocorria anteriormente – de sete membros, de alta autoridade moral e de reconhecido saber em matéria de direitos humanos (art.34) eleitos a título pessoal pelos Estados membros da OEA em sua Assembléia Geral (art.36), para mandato de quatro anos, podendo ser reeleitos uma vez (art. 37). Além da Comissão, a Convenção Americana estabeleceu, como seu Órgão Judicial Autônomo, a Corte Interamericana de Direitos Humanos encarregada de sua interpretação e aplicação, e com o propósito principal de julgar casos de supostas violações dos direitos humanos consagrados na Convenção. (TRINDADE, 2000, p.123)

A Comissão, na versão atual, exerce duplo papel no Sistema Interamericano: é o

órgão que recebe as petições individuais, relatando a violação a algum dos artigos da

Convenção Americana sobre Direitos Humanos ou de outros tratados de alcance regional

de conteúdo específico, além de elaborar relatórios diversos sobre a situação dos direitos

humanos nos países signatários.

A Comissão é uma entidade autônoma da Organização dos Estados Americanos

(art.53 Carta da OEA), regida pelas normas da mencionada Carta e da Convenção

Americana. É um Órgão quase judicial que possui funções de caráter político diplomático,

e ainda atribuições jurisdicionais quanto ao recebimento dos casos individuais de violação

de direitos humanos. (GALLI e DULTZKY, 2000, p.61)

Antes de entrar em vigor a Convenção Americana, a Comissão já era um

instrumento decisivo para a evolução do Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos

Humanos. Até 1975, ela tinha examinado mais de 1.800 comunicações, feito extraordinário

para um órgão que estava operando solitariamente, uma vez que a Convenção não tinha

completado as ratificações dos estados membros da OEA para entrar em vigor. Já em 1978,

com a entrada em vigor da Convenção, os casos examinados eram 3200, incluindo mais de

10.000 vítimas de 18 ou 19 países. Isto significa que a Comissão examinou 20% dos casos

em seus primeiros quinze anos de existência e aproximadamente 80% até entrar em vigor a

Convenção, num período de 5 anos, de 1973 a 1978. (CARRENO, 1979, p.227). Depois de

1978, até meados de 1985, outras 6666 solicitações ou comunicações foram recebidas pela

Comissão. No início dos anos 90, já tinha ultrapassado 1.000 comunicações.(TRINDADE,

1996, p.56)

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O objetivo principal da Comissão Interamericana dos Direitos Humanos é promover

o respeito e a defesa dos direitos humanos, atuando ao mesmo tempo como órgão de

consulta da Organização dos Estados Americanos (OEA) nessa matéria. Para tanto, a

Comissão desempenha várias funções, entre as quais a de acompanhar a situação geral dos

direitos humanos nos estados membros e receber, analisar e investigar denúncias feitas por

indivíduos sobre as violações dos direitos humanos por estados membros da OEA. O modo

como a Comissão lida com essas denúncias depende do fato de o estado ser signatário ou

não da Convenção Americana sobre Direitos Humanos. Para os Estados signatários da

Convenção, a Comissão examina as denúncias de violação dos direitos humanos conforme

definido pela Convenção. No caso de Estados que não são signatários da Convenção, a

Comissão usa a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem base para o seu

parecer. Portanto, mesmo não sendo signatário da Convenção, o Estado estará sujeito à

jurisdição da Comissão.

A Competência da Comissão Interamericana de Direitos Humanos alcança todos os Estados-parte da Comissão Americana, em relação aos direitos humanos nela consagrados. A competência da Comissão alcança ainda todos os Estados-membros da Organização dos Estados Americanos em relação aos direitos consagrados na Declaração Americana de 1948. (PIOVESAN, p.33, 2000)

São as ações e omissões dos agentes do estado que podem gerar a responsabilidade

internacional e justificar o pronunciamento de um Órgão de supervisão.

A partir daí, são elencados os direitos civis e políticos: direito de reconhecimento de

personalidade jurídica; direito à vida; direito à integridade física, psíquica e moral;

proibição de servidão e escravatura; direito à liberdade pessoal; garantias judiciais; respeito

ao princípio da legalidade e de pena mais benéfica; direito à indenização; proteção à honra

e à dignidade; liberdade de consciência e religião; liberdade de pensamento e expressão;

direito de retificação ou resposta; direito de reunião; liberdade de associação; proteção à

família; direito ao nome; direitos da criança; direito à nacionalidade; direito à propriedade

privada; direito de livre trânsito e residência; direitos políticos; igualdade perante a lei e o

direito à proteção judicial.

São contemplados também os direitos econômicos, sociais e culturais, bem como os

que se referem à suspensão de garantias, interpretação, aplicação e alcance das restrições,

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assim como a correlação entre direitos e deveres, estabelecendo ainda os meios de efetiva

proteção, com a criação da Comissão Interamericana de Direitos Humanos e a Corte

Interamericana de Direitos Humanos.

A Comissão detém ainda, entre suas faculdades, o poder de realizar visitas in loco,

quando julgar indispensável que um de seus membros faça pessoalmente uma verificação

de condições a ela relatadas, ou ainda, para fazer uma missão de verificação geral. O rol de

atribuições da Comissão encontra-se descrito no art. 41 da Convenção Americana.

O trabalho da Comissão Internacional dos Direitos Humanos consiste na tramitação

de petições, sobre denúncias de violação de direitos consagrados na Convenção Americana

de Direitos Humanos ou na Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem. Os

direitos protegidos são os definidos na Declaração Americana, no caso dos Estados que não

são parte da Convenção, e, no caso dos Estados partes os direitos estabelecidos tanto na

Declaração quanto na Convenção. O processo de tramitação segue um modelo quase

judicial, permitindo réplicas, tréplicas e audiências, caso não seja possível alcançar uma

solução. E após a tramitação regular, o caso é encerrado e inicia-se a fase de elaboração do

relatório, que poderá declarar o Estado responsável por violação de direitos humanos.

Estabelece a Convenção Americana e o regulamento da Comissão Interamericana de

Direitos Humanos, que o peticionário pode ser qualquer pessoa, grupo de pessoas ou

entidade não governamental reconhecida em um dos Estados-membros da OEA, não

havendo necessidade de obter autorização da vítima ou de seus familiares. A vítima, deve

ter estado sujeita a jurisdição do Estado contra o qual se apresenta a denúncia no momento

da alegação da violação. ( BELLI, p.162, 1998)

O acesso direto por parte dos indivíduos à Corte, é uma proposta inovadora e

corajosa, que está sendo analisada no Sistema Interamericano, e que sem dúvida traria

grande progresso para a área. Outra proposição é que tanto a Corte como a Comissão

trabalhem em caráter permanente, em oposição as duas reuniões anuais. Esta medida

aceleraria o andamento dos processos.

O Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos possui um mecanismo de processamento de casos individuais de violações de direitos humanos. Este mecanismo está previsto na Convenção Americana sobre Direitos

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humanos (a Convenção Americana) e outorga a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (a Comissão) a faculdade de transmitir as denuncias individuais através de um procedimento próprio. A Comissão é órgão central da Organização dos Estados Americanos (OEA) na supervisão e monitoramento do grau de cumprimento das obrigações internacionais pelos Estados membros em matéria de direitos humanos no âmbito interno.(GALLI e DULITZKY, 2000, p.53)

É através da reparação das conseqüências de forma a retribuir parcial ou

integralmente a situação anterior á violação de direitos, restabelecendo o status quo ante,

que a Convenção Americana estabelece em seu art.63.1, um critério amplo de reparação

que prevê a garantia do gozo dos direitos violados.(GALLI e DULTZKY, 2000, p.60)

Quanto ao requisito de admissibilidade do prévio esgotamento dos recursos internos, por exemplo, a Comissão tem adotado uma diversidade de soluções, que incluem a solicitação de informações adicionais, e o adiamento da decisão (ao invés da simples rejeição das petições), e a reabertura subseqüente dos casos. (TRINDADE, p.115, 2000)

Compete aos Estados cumprir com as recomendações contidas no relatório final da

Comissão baseados no princípio da boa fé. A Corte Interamericana já se pronunciou

anteriormente sobre o princípio da boa fé, que rege as relações internacionais, consagrado

no art.31.1 da Convenção de Viena, de 1969. (ARIEL, DULITZY, p.62, 2000)

2.3.2 A Corte Interamericana de Direitos Humanos

A Corte Interamericana de Direitos Humanos é uma instituição judicial autônoma

que forma parte do Sistema Interamericano de Proteção. Foi instituída em 1969, através da

Convenção Americana de Direitos Humanos e está sediada até a atualidade na Costa Rica.

O propósito da Corte é aplicar e interpretar a Convenção. Os artigos 52 a 69 da Convenção

tratam exclusivamente da Corte Interamericana, sua organização, suas funções e

competência, e ainda quanto ao processo. O que rege a Corte é o Estatuto da Corte

Interamericana de Direitos Humanos, aprovado pela Resolução AG/Res 448 ( IX – 0 / 79 ),

adotada pela assembléia Geral da OEA, em seu novo período ordinário de sessões realizado

em La Paz, Bolívia, em outubro de 1979. O atual presidente da corte é o ilustríssimo mestre

e jurista Antônio Augusto Cançado Trindade.

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A Corte Interamericana realizou suas primeiras reuniões na sede da OEA em Washington em 29 e 30 de junho de 1979, e instalou-se em sua sede permanente em São José da Costa Rica em 3 de setembro de 1979. Seu Estatuto foi aprovado na Assembléia Geral da OEA daquele ano, realizada em La Paz, em seu primeiro Regulamento foi adotado em 1980. No ano seguinte, a corte e o Governo do país sede, Costa Rica, celebraram um Acordo DE Sede (regulamento os privilégios e imunidades da Corte e seu pessoal). A Corte é composta de sete Juízes nacionais dos Estados-membros da OEA, eleitos na Assembléia Geral da OEA por maioria absoluta dos Estados-partes na Convenção, “a título pessoal dentre juristas da mais alta autoridade moral, de reconhecida competência em matéria de direitos humanos” , (art.52.1 e 53.1), para um mandado de seis anos, podendo ser reeleitos uma vez (art.54.1). Também pode haver Juízes ad hoc, nos termos do art. 55 da Convenção. Não deve haver dois juízes da mesma nacionalidade ( art.52.2). Para suas deliberações, o quorum é constituído por cinco Juízes (art.56). (TRINDADE, 2000, p.124).

Para que se possa conhecer de uma questão é necessário que a mesma tenha passado

pela Comissão, sem solução amigável possível naquela instância e satisfeito o prazo de três

meses, contados da data do informe da mesma Comissão aos Estados interessados. O

quorum mínimo para as deliberações da Corte é de cinco juízes e sua competência ratione

materiae se estende a todos os casos relativos á interpretação e aplicação das disposições da

Convenção que lhe sejam submetidos pelas partes. Porém. (BOSON, 1972, p.70)

O acesso a Corte somente é permitido à Comissão Interamericana de Direitos

Humanos e aos Estados partes da Convenção.

O Direito Internacional dos Direitos Humana, objetiva com tais medidas, preservar os direitos fundamentais das pessoas, fazendo valer o ordenamento jurídico convencional e assegurando a função jurisdicional da Corte Interamericana, evitando situações irremediáveis que tornem ilusório o cumprimento da sentença definitiva. (PIOVESAN, 2000, p.96)

A Corte possui funções jurisdicionais e consultivas. Jurisdicionais quando se refere

à resolução de casos contenciosos e adoção de medidas provisórias; e consultivas quando

emite opiniões sobre assuntos sustentados ante a Corte por estados membros ou Órgãos da

OEA. A Corte Interamericana de Direitos Humanos, não é um tribunal penal, e não

substitui as ações penais relativas a violações cometidas nos Estados.

Quanto às decisões da Corte cabe afirmar que estas deverão ser fundamentadas e

são obrigatórias e irrecorríveis. Não expressando, no todo ou em parte, a opinião unânime

dos juízes, qualquer destes terá o direito a que se acrescente no acórdão a sua opinião

dissidente. (BOSON, 1972, p.71)

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A Corte apenas julga se o Estado é ou não responsável, por violações à Convenção

Interamericana de Direitos Humanos. Quando o Estado é considerado responsável, a

conseqüência é a obrigação de fazer cessar a violação e indenizar a vítima ou seus herdeiros

legais. As sentenças da Corte traduzem-se, portanto em obrigações ao Estado de pagar

indenizações pecuniárias às vítimas ou seus familiares, enquanto as petições que tramitam

no âmbito da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, podem resultar no máximo

na publicação de um Relatório, em que se declara a responsabilidade internacional do

estado. A solução amistosa tem um resultado análogo às sentenças da Corte; o pagamento

de indenização e outras medidas conforme explica acima. No, entanto diferente do

resultado de uma solução amistosa, as sentenças não são produtos de uma negociação entre

Estado e peticionários, mas simplesmente produto do livre convencimento de juizes que

prolatam as decisões. Ainda que o relatório da Comissão contenha uma série de

recomendações dirigidas ao Estado, apenas as sentenças da Corte são obrigatórias.

(BELLI, 1998, p.167)

O indivíduo não tem capacidade processual autônoma perante a Corte. No sistema Interamericano, o indivíduo tem capacidade processual para apresentar um caso de violação de direitos humanos somente perante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos e não pode encaminhar em seu próprio nome, e de forma independente, um caso perante a Corte. A Corte somente pode receber um caso se for a requerimento da Comissão ou de um dos Estados partes na Convenção Americana.(PIOVESAN, 2000, p.82)

Devido ao fato de o governo do Brasil ter recentemente aceito a competência da

Corte Interamericana ainda não existem casos em exame pela Corte, uma vez que o Brasil

reconheceu a competência jurisdicional da Corte Interamericana para julgar casos

brasileiros apenas em dezembro de 1998.

O Brasil, embora não tenha feito a declaração facultativa de reconhecimento da sua competência contenciosa da Corte, tem aprofundado nos últimos anos sua inserção no Sistema Interamericano de Direitos Humanos. A adesão à Convenção Interamericana em 1992, na esteira do processo de democratização, constitui passo importante em termos de obrigações substantivas para o Estado Brasileiro.(BELLI, 1998, p.167)

Inclusive o Brasil já recebeu Recomendações da Comissão Interamericana de

Direitos Humanos, no que tange a violação dos direitos humanos. Ao exemplo do caso do

Presídio Urso Branco.

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2.4 OUTROS TRATADOS DO SISTEMA INTERAMERICANO

RATIFICADOS PELO BRASIL:

O Brasil adota como regra a incorporação não automática dos tratados

internacionais (sistema dualista), embora não haja norma expressa que determine a adoção

desta corrente.

Destarte, para a incorporação de um tratado pelo ordenamento jurídico nacional é

necessário percorrer-se as seguintes fases: negociação, conclusão e assinatura (aceite

precário) - art. 84, VIII, CRFB/88; aprovação do Tratado pelo Congresso Nacional

(elaboração de um decreto legislativo) - art. 49, I, da CRFB/88; ratificação pelo Presidente

da República e depósito ou troca do instrumento (aceite definitivo, irradia efeitos jurídicos

no cenário internacional); e, por fim, elaboração de um decreto de execução pelo Presidente

da República (só então se confere publicidade e executoriedade ao Tratado no âmbito

interno).

No que concerne aos Tratados sobre Direitos Humanos, Flávia Piovesan ao lado de

Antônio Augusto Cançado Trindade, entendem que eles se sujeitam a regime jurídico

diverso dos demais Tratados.

Para os citados autores, em razão do estatuído nos arts. 5o, §§ 1o e 2o, da CRFB/88,

os Tratados de Direitos Humanos possuem hierarquia constitucional, têm aplicabilidade

imediata, e assim como os demais direitos e garantias individuais consagrados pela

Constituição, constituem cláusula pétrea, não podendo ser abolidos por meio de emenda à

Constituição, nos termos do art. 60,§ 4o, IV, da CRFB/88. Assevera Cançado Trindade:

A especificidade e o caráter especial dos tratados de proteção internacional dos direitos humanos encontram-se, com efeito, reconhecidos e sancionados pela Constituição Brasileira de 1988: se, para os tratados internacionais em geral, se tem exigido a intermediação pelo Poder Legislativo de ato com força de lei de modo a outorgar a suas disposições vigência ou obrigatoriedade no plano do ordenamento jurídico interno, distintamente no caso dos tratados de proteção internacional dos direitos humanos em que o Brasil é parte os direitos fundamentais neles garantidos passam, consoante os artigos 5(2) e 5(1) da Constituição Brasileira de 1988, a integrar o elenco dos direitos

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constitucionalmente consagrados e direta e imediatamente exigíveis no plano do ordenamento jurídico interno.(TRINDADE,1997, p.403)

Assim, segundo a concepção acima exposta, o Brasil adota um sistema jurídico

misto no referente à incorporação do tratados internacionais: em relação aos tratados de

proteção internacional dos direitos humanos, a incorporação se dá automaticamente: "assim

que ratificados devem irradiar efeitos na ordem jurídica internacional e interna,

dispensando-se a edição de decreto de execução" art. 5o, § 1o, da CRFB/88, que versa

sobre a aplicabilidade imediata das normas definidoras dos direitos e garantias

fundamentais; já para os demais tratados, permanece o sistema dualista, havendo

necessidade da edição de um decreto de execução expedido pelo Presidente da República,

para que se produzam efeitos internos.

A par da tese acima proposta, predomina no Brasil (STF) o entendimento de que os

tratados (neles incluídos os concernentes a direitos humanos) e as leis ordinárias possuem a

mesma hierarquia, podendo a lei posterior revogar tratado anterior.

No entanto, em maio de 2000, o Ministro Sepúlveda Pertence divergiu do

entendimento majoritário do Supremo Tribunal Federal quando do julgamento do RHC n.

79.785-RJ16, consagrando em sua decisão a hierarquia infra-constitucional mas supra-legal

dos tratados internacionais. Aderindo à tese da Douta Professora Flávia Piovesan e do

Ilustríssimo Jurista Antônio Augusto Cançado Trindade, e compartilhando de seus

entendimentos no tocante à aplicabilidade imediata dos tratados de proteção aos direitos

humanos.

Os tratados que versam sobre direitos humanos, têm sua incorporação automática,

dispensando-se a edição de decreto de execução para que irradiem efeitos tanto no âmbito

interno quanto no internacional, segundo a exegese do art. 5, § 1o, da CRFB/88; no entanto,

no que concerne a sua hierarquia, ao nosso ver, poder-se-ia ir mais longe.

Adotando a posição de Celso D. de Albuquerque Mello quando assevera que "(...)

sou ainda mais radical no sentido de que a norma internacional prevalece sobre a norma

constitucional, mesmo naquele caso em que uma norma constitucional posterior tente

revogar uma norma internacional constitucionalizada"(2001, p.25). Não se pode esquecer, é

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claro, que se deve, sempre, aplicar a norma mais benéfica ao ser humano, seja ela interna

ou internacional. É o princípio da primazia da norma mais benigna, consagrado pelo art. 29

da Convenção Americana. A supranacionalidade dos tratados internacionais também é

defendida por Hildebrando Accioly:

Como quer que seja, é lícito sustentar-se, de acordo, aliás, com a opinião da maioria dos internacionalistas contemporâneos, que o direito internacional é superior ao Estado, tem supremacia sobre o direito interno, por isto que deriva de um princípio superior à vontade dos Estados. Não se dirá que o poder do Estado seja uma delegação do direito internacional; mas parece incontestável que este constitui um limite jurídico ao dito poder. Por isto mesmo, o alcance prático, por exemplo, da recepção ou incorporação de normas internacionais no direito interno de um Estado não consiste, apenas, em transformá-las em direito nacional. Realmente, se é verdade que uma lei interna revoga outras anteriores, contrárias à primeira, o mesmo não se poderá dizer quando a lei anterior representa direito convencional transformado em direito interno, porque o Estado tem o dever de respeitar suas obrigações contratuais e não as pode revogar unilateralmente. Daí pode dizer-se que, na legislação interna, os tratados ou convenções a ela incorporados formam um direito especial que a lei interna, comum, não pode revogar. Daí também a razão por que a Corte Permanente de Justiça Internacional, em parecer consultivo proferido a 31 de julho de 1930, declarou: “É princípio geralmente reconhecido, do direito internacional, que, nas relações entre potências contratantes de um tratado, as disposições de uma lei interna não podem prevalecer sobre o tratado”(ACCIOLY, 1976, p.5 e 6).

A Constituição brasileira (CRFB/88), em seu art. 5º, § 2º parágrafo, aliás de autoria

do douto jurista Cançado Trindade, equipara em hierarquia, implicitamente os direitos

garantidos por Tratados sobre Direitos Humanos”.§2o Os direitos e garantias expr essos

nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela

adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja

parte”

Verifica-se, portanto, diversidade de tratamento hierárquico dispensado aos

Tratados Internacionais no âmbito interamericano. Alguns Países se mostram mais

avançados na matéria, enquanto outros ainda têm muito a progredir. Percebe-se, entretanto,

que "(...) A tendência constitucional contemporânea de dispensar um tratamento especial

aos tratados de direitos humanos, é, pois, sintomática de uma escala de valores na qual o

ser humano passa a ocupar posição central".(TRINDADE,1997, p.409)

Em que pese os avanços percebidos nas Constituições dos Estados americanos;

para que haja coerência, igualdade de tratamentos, e, em conseqüência, segurança jurídica

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no âmbito do sistema interamericano de proteção aos direitos humanos, é necessário, que

os Estados-partes repensem suas posturas e adequem seus critérios de soberania, no sentido

de não admitir a interferência de uma lei internacional, a fim de que se cumpra o ratificado

e compromissado na Convenção Americana de Direitos Humanos, em respeito ao princípio

cogente do pacta sunt servanda. E isto somente se dará com o reconhecimento da

supranacionalidade dos tratados internacionais, assim como a competência dos Órgãos da

Convenção Americana de Direitos Humanos.

A Constituição de 1988 fixou os direitos humanos como um dos princípios que

devem reger as relações internacionais do Brasil (artigo 4º, inciso II). O texto reconhece

ainda, como tendo status constitucional, os direitos e garantias contidas nos tratados

internacionais ratificados pelo Brasil, que não tenham sido incluídos no artigo 5º da

Constituição.

O Brasil é signatário dos mais importantes tratados internacionais de direitos

humanos tanto na esfera da Organização das Nações Unidas (ONU) como da Organização

dos Estados Americanos (OEA), entre os quais o Pacto Internacional dos Direitos Civis e

Políticos; o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais; a Convenção

Contra Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes; e a

Convenção Americana sobre os Direitos Humanos. O País não tem reservas a qualquer

desses instrumentos jurídicos.

Assim a partir da Carta de 1988, foram ratificados pelo Brasil, instrumentos do

Sistema Interamericano como:

A Convenção Interamericana para punir tortura, em 20 de julho de 1989. A Convenção sobre direitos da criança, em 24 de setembro de 1990. O Pacto Internacional dos direitos civis e políticos em 24 de janeiro de 1992. O Pacto Internacional dos direitos econômicos, sociais e culturais, em 24 de janeiro de 1992. A Convenção Americana de Direitos Humanos, em 25 de setembro de 1992. A Convenção Interamericana para prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher, em 27 de novembro de 1995.(PIOVESAN, 1998, p.142)

O Brasil teve um destacado papel na preparação e realização da Conferência

Mundial de Direitos Humanos, realizada em Viena, em 1993, onde presidiu o comitê de

redação da Declaração e do Programa de Ação, adotada consensualmente pela conferência

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em 25 de junho de 1993. Em 1996, assumiu a presidência da 52ª Reunião da Comissão de

Direitos Humanos da ONU.

Por fim, não é demais lembrar que as Estados-partes da Convenção Americana de

Direitos Humanos são suscetíveis de serem demandados perante a Corte Interamericana pelo

desrespeito às normas convencionais que se obrigaram a cumprir e a dar cumprimento. E a

responsabilidade internacional pela violação de tratados internacionais não admite a escusa

da pretensa incompatibilidade da norma convencional com o direito interno, nele incluída a

Constituição, conforme o art. 27 da Convenção de Viena, de 1969, sobre Direito dos

Tratados, e o art. 11 da Convenção sobre tratados de Havana, de 1928.

No capítulo seguinte passa-se a um estudo do procedimento junto à Corte

Interamericana de Direitos Humanos, e uma análise de um caso prático onde são aplicados

estes procedimentos.

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CAPÍTULO 3 – ESTUDO DE UM CASO PRÁTICO: CASO

ALOEBOETOE

3.1 O PROCEDIMENTO PERANTE A CORTE INTERAMERICANA DE

DIREITOS HUMANOS:

A Corte Interamericana de Direitos Humanos é uma instituição judicial autônoma

que forma parte do Sistema Interamericano de Proteção. O propósito da Corte é aplicar e

interpretar a Convenção. A competência da Corte está estabelecida sobre a base de seu

Estatuto aprovado, como prevê a Resolução 448, pela Assembléia Geral da OEA em seu

nono período de sessões, celebrado em La Paz, em outubro de 1979. (LEÃO, 2001, p.101)

A Corte Interamericana apresenta competência consultiva e contenciosa. Na lição de

Hector Fix-Zamudio:

De acuerdo con lo dispuesto por artículos 1 y 2 de su Estatuto, la Corte Interamericana posee dos tribuciones essenciales: la primeira, de natureza consultiva, sobre la interpretación de las disposiciones de la Convención Americana, así como la de otros tratadoos concernientes a la protección de los derechos humanos en los Estados Americanos; la segunda de carácter jurisdicional. Para resolver las controvérsias que se le planteen respecto a la interpretación o aplicación de la própria Convención Americana(ZAMUDIO, 1991, p.177)

A Corte tem a faculdade de emitir pareceres consultivos, a respeito da interpretação

da Convenção Americana e de outros tratados relativos à proteção dos direitos humanos

nos Estados Americanos, assim como da compatibilidade das leis internas de um Estado

com tais instrumentos internacionais.

A Corte Interamericana de Direitos Humanos é uma instituição jurídica autônoma, não sendo órgão judicial internacional que de acordo com o artigo 33 da convenção Americana, é competente pra conhecer casos contenciosos quando o estado demandado tenha formulado declaração unilateral de reconhecimento de sua jurisdição. O Brasil após aprovação do Decreto Legislativo número 89/98, reconheceu a jurisdição obrigatória da Corte Interamericana de Direitos Humanos. Além disso pode ser acionada pela Comissão ou qualquer pais membro

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da OEA, para interpretar norma relativa a tratados de direitos humanos no seio Interamericano.”( ACCIOLY, 2002, p.363)

Tal função consta do artigo 64 da Convenção Americana, nos seguintes termos: Os

Estados membros da Organização poderão consultar a Corte sobre a interpretação desta

Convenção ou de outros tratados concernentes à proteção dos direitos humanos nos estados

americanos. Também poderão consultá-la, no que lhes compete, os órgãos enumerados no

capítulo X da Carta da OEA, Protocolo de Buenos Aires.

A Corte, a pedido de um Estado membro da Organização, poderá emitir pareceres

sobre a compatibilidade entre qualquer de suas leis internas e os mencionados instrumentos

internacionais. Os pareceres emitidos pela Corte Interamericana no tocante a sua função

consultiva são denominadas “Opiniões Consultivas”. Até hoje, a Corte emi tiu 16 delas.

A função contenciosa da Corte diz respeito ao conhecimento, por esta, de casos

individuais em que se alega que um Estado-Parte da Convenção violou direitos consagrados

em tal instrumento. Em relação a esta função, devemos ressaltar que, conforme o artigo 61

da Convenção Americana, apenas a Comissão Interamericana e os Estados parte de tal

Convenção têm legitimidade ativa para submeter um caso ao conhecimento da Corte. Da

mesma forma, e de acordo com a mesma disposição, para que um caso possa ser submetido

ao conhecimento da Corte é necessário que este tenha sido previamente conhecido e

decidido pela Comissão Interamericana, conforme o procedimento tratado nos artigos 48 a

50. É interessante notar que ao contrário da função consultiva da Corte, a cujo regime os

Estados estão integrados pelo único fato de ratificarem a Convenção Americana, a função

contenciosa da Corte, com respeito a um Estado específico requer que tal Estado tenha

aceito expressamente a jurisdição contenciosa da Corte. O procedimento contencioso

perante a Corte Interamericana encontra-se estabelecido na Convenção Americana, no

Estatuto da Corte e em seu Regulamento. Tal procedimento culmina com uma sentença,

com respeito à qual a Convenção Americana consagra o seguinte:

Artigo 63: “Quando decidir que houve violação de um direito ou liberdade

protegidos nesta Convenção, a Corte determinará que se assegure ao prejudicado o gozo de

seu direito ou liberdade violados. Determinará também, se isso for procedente, que sejam

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reparadas as conseqüências da medida ou situação que haja configurado a vulneração

desses direitos, bem como o pagamento de indenização justa à parte lesada”.

Artigo 68: “Os Estados Partes na Convenção comprometem -se a cumprir a decisão

da Corte em todo caso em que sejam partes. A parte da sentença que determinar

indenização compensatória poderá ser executada no país respectivo pelo processo interno

vigente para a execução de sentenças contra o Estado”.

Juan Mendez, Diretor Executivo do Instituto Interamericano de Direitos Humanos,

explicita:

[...] com relação à jurisdição contenciosa da Corte, nada menos que cinco regimes diferentes coexistem nas Américas: (a) alguns países são partes da Convenção e aceitaram a jurisdição da Corte, tanto para procedimentos entre Estados quanto para casos submetidos pela Comissão; (b) outros estados assinaram e ratificaram a Convenção, mas recusaram-se a efetuar a declaração especial de aceitação da jurisdição da Corte. Para estes, a Comissão pode apenas ´convidá-los´ a aceitar a jurisdição caso a caso (nenhum Estado jamais aceitou o convite); (c) existem países que assinaram mas não ratificaram a Convenção, e suas obrigações a ela são limitadas a não fazer nada que possa frustrar os objetivos e os propósitos do tratado. Evidentemente, a Corte não tem jurisdição sequer para examinar se esta obrigação tem sido observada; (d) alguns poucos países não assinaram nem ratificaram a Convenção. Para estes, e para aqueles citados sob o item (c), apenas a Comissão pode apreciar reclamações, e apenas sob a Declaração Americana; (e) é facultado aos Estados denunciarem este Tratado ou a Declaração aceitando a jurisdição da Corte. Para eles, as obrigações do Tratado persistem por um ano após depósito do instrumento de denúncia.

Para que a Corte conheça de qualquer assunto no plano contencioso é necessário o

esgotamento dos procedimentos previstos pelos arts. 48 a 50 da Convenção. Isto é, o

processamento da reclamação perante a Comissão, com a elaboração do primeiro relatório e

seu descumprimento pelo Estado violador o qual tenha reconhecido a jurisdição da Corte.

Conforme já tratado, além da Comissão, outros Estados-partes que tenham

reconhecido a jurisdição da Corte podem acionar o Estado violador. O procedimento

compreende as seguintes fases: a) de propositura da ação e das exceções preliminares; b)

conciliatória; c) probatória; d) decisória; e) reparatória; e, f) executória.Segundo afirma

André de Carvalho Ramos:

A demanda, sua contestação, a petição mediante a qual se oponham exceções preliminares e sua Contestação, bem como as demais petições dirigidas à Corte

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poderão ser apresentadas pessoalmente ou via courier, fac-símile, telex, correio e qualquer outro meio geralmente utilizado. No caso de envio por meios eletrônicos, deverão ser apresentados os documentos autênticos no prazo de 15 dias. Proposta a ação, será feito o exame preliminar de admissibilidade. No caso de falta de algum requisito, o Presidente da Corte pode determinar que o suscitante sane o problema no prazo de 20 dias. A seguir, é determinada a citação do Estado violador e a intimação da Comissão (se esta não for a demandante). O réu pode argüir exceções preliminares no prazo de 2 (dois) meses da citação. Após, a Corte decidirá a respeito, podendo arquivar o caso ou ordenar seu prosseguimento.

A controvérsia também poderá ser solucionada através da conciliação. In casu, a

Corte desempenha papel de fiscal do respeito aos direitos humanos. Verificando a

inobservância da Convenção, pode deixar de homologar o acordo, determinando o

prosseguimento do processo, o que também se dará na hipótese de entender serem

indisponíveis os interesses envolvidos.

Dentro de quatro meses contados da citação, o Estado violador apresentará por

escrito, contestação, após o que dar-se-á início à instrução processual, com determinação de

audiências. Salienta-se, nesse aspecto, o poder da Corte de produzir provas ex officio, em

respeito ao princípio da verdade material que deve predominar no processo.

O art. 50 do Regulamento da Corte, por sua vez, oferece proteção às testemunhas e

peritos que participem do processo, os quais restam resguardados, porquanto a norma

impede que venham a ser processados ou intimidados pelos Estados envolvidos com a causa

em razão de suas declarações ou laudos.

Encerrada a instrução processual, inicia-se a fase decisória. A sentença exarada pela

Corte é similar ao acórdão dos Tribunais nacionais: deve ser fundamentada, e se não

expressar a opinião unânime dos juízes, qualquer deles terá direito de agregar à decisão seu

voto vencido. Mas diversamente das decisões internas, que se sujeitam ao princípio do

duplo grau de jurisdição, a sentença exarada pela Corte Interamericana é definitiva e

inapelável. No entanto, havendo divergência, pode a Corte interpretá-la a pedido dos

interessados no prazo de 90 dias da notificação da sentença.

Estabelece o art. 68.1. da Convenção que "Os Estados-parte na Convenção

comprometem-se a cumprir a decisão da Corte em todo caso em que forem partes".

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O art. 63. 1, por sua vez, esclarece que quando decidir que houve violação de um

direito ou liberdade protegidos na Convenção Americana, a Corte determinará que se

assegure ao prejudicado o gozo do seu direito ou liberdade violados. Determinará também,

se isso for procedente, que sejam reparadas as conseqüências da medida ou situação que

haja configurado a violação desses direitos, bem como o pagamento de indenização justa à

parte lesada.

No caso de a Corte prolatar sentenças “genéricas”, isto é, não determinar a quem se

deva reparar a violação e o quantum devido, passa-se à fase de reparação. Nessa etapa a

Corte intima o autor e vítima/vítimas, ou seus familiares, para que apresentem os pedidos de

reparação. O Estado violador também será intimado a fim de apresentar impugnação. No

caso de as partes chegarem a um acordo sobre o conteúdo e valor da reparação, a Corte

verificará a justiça do acordo. Julgando-o justo, homologa-o. Do contrário, poderá

determinar a reparação mais adequada ao caso concreto.

O papel da Corte é central para o desenvolvimento da jurisprudência e parâmetros (standards) internacionais que potencialmente tem profundo impacto para a defesa dos direitos humanos a nível local, quando implementados através dos poderes jurisdicionais nacionais ou outros mecanismos criados para este fim. (PIOVESAN, 2000, p.83)

Por fim, há a fase de execução do julgado pela Corte. A parte da sentença que

determinar a indenização compensatória poderá ser executada no país respectivo pelo

processo interno vigente para a execução de sentenças contra o Estado.

A seguir é apresentado um caso que relata de forma sucinta um caso de violação de

direitos humanos ocorrido no Suriname onde o Estado recebeu recomendações da

Comissão e foi submetido à jurisdição da Corte Interamericana de Direitos Humanos, onde

são aplicados os procedimentos elencados neste capítulo.

3.2 ESTUDO DE CASO: CASO ALOEBOETOE

3.2.1 Descrição do problema:

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O caso estudado “Aloeboetoe” concerne especificamente aos desaparecimentos

forçados, de várias pessoas do Suriname, integrantes da tribo Saramaca. O presente caso foi

submetido à Corte Interamericana de Direitos Humanos, pela Comissão Interamericana de

Direitos Humanos, que julgou o caso e prolatou a sentença em 10 de setembro de 1993.

O “Caso Aloeboetoe” foi submetido à Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte), pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (Comissão) em 27 de agosto de 1990, em nota acompanhada do informe 03/90, originando a denúncia 10.150, de 15 de janeiro de 1998, contra o Suriname.(TRINDADE, 1994, p.190)

A Comissão afirmou no seu documento que, “o Governo do Suriname violou os

artigos 1º, 2º, 4º(1), 5º(1), 5º(2), 7º(1), 7º(2), 7º(3), 25(1) e 25(2) da Convenção Americana

sobre Direitos Humanos” (doravante “a Convenção” ou “a Convenção Americana”), em

virtude do qual, solicitou “que a Corte decida sobre este caso, conforme as disposições da

Convenção, que determine a responsabilidade pela violação mencionada e que outorgue

uma justa compensação aos familiares da vítima”.

A Comissão afirmou em seu escrito que o governo do Suriname violou os Arts. 1º(obrigação de respeitar os direitos), 2º (dever de adotar disposições de direito interno), 4º1 (direito de toda a pessoa de ter a sua vida respeitada), 5º2(ninguémdeve ser submetido á torturas, nem a penas ou tratos cruéis, desumanos ou degradantes), 7º1 (direito á liberdade e segurança pessoais), 7º 2 (ninguém pode ser privado de sua liberdade física, salvo pelas causas e nas condições previamente fixadas pelas Constituições políticas dos Estados Partes ou pelas leis de acordo com elas promulgadas), 7º3 (ninguém pode ser submetido a detenção ou encarceramento arbitrários), 25.1 (direito a um recurso simples e rápido) e 25.2 (comprometimento pelos estados Partes de designar uma autoridade competente, prevista em seu sistema legal, para julgar e decidir sobre os direitos de toda pessoa que interpuser um recurso; de desenvolver as possibilidades de um recurso judicial; e de assegurar o cumprimento, pelas autoridades competentes, de toda a decisão em que se tenha considerado procedente o recurso), solicitando assim à Corte que “decida sobre este caso conforme las disposiciones de la Convención, que determine la responsabilidad por la violación señalada y que otorgue uma justa compensación a los familiares de la vítima” (Corte I nteramericana de Direito Humanos, p.4). A memória deste caso foi apresentada pela Comissão à Corte em 1º de abril de 1991.(LEÃO, 2001, p.123)

Os fatos que originaram a denúncia teriam sucedido em 31 de dezembro de 1987,

em Atjoni (aldeia de Pokigron, Distrito de Sipaliwini) e em Tjongalangapassi, Distrito de

Bronkopondo do Suriname. Em Atjoni, mais de 20 pessoas, homens, haviam sido atacados,

atingidos e golpeados, com as culatras de armas por um grupo de militares e alguns deles

haviam sido feridos com baionetas e facas, e detidos sob a suspeita de serem membros do

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grupo subversivo chamado “Comandos da Selva”. Houve cerca de 50 testemunhas.

Segundo a denúncia, todos os implicados negaram que pertenciam ao “Comando da Selva”.

O Capitão da Aldeia de Gujaba informou explicitamente a um comandante, sob cujas

ordens ganhava curso a ação dos soldados, que se tratava de civis de várias aldeias, mas ele

não tomou em conta a informação.( LEÃO, 2001, p.124)

A denúncia afirma que os militares permitiram que algumas pessoas prosseguissem

a sua viagem, mas sete delas inclusive uma menor de 15 anos, foram arrastadas com os

olhos vendados ao interior de um veículo militar e levadas por Tjongalangapassi rumo a

Paramaribo. Os nomes das pessoas que os militares levaram, o seu local de origem e data

de nascimento, quando conhecida são as seguintes: Daison Aloeboetoe, de Gujaba, nascido

em 7 de junho de 1960; Dedemariu Aloeboetoe, de Gujaba; Mikuwendje Aloeboetoe, de

Gujaba, nascido em 4 de fevereiro de 1973; John Amoida, de Asindonhopo (vivia em

Gujaba); Richenel Voola, vulgo Aside ou Ameikanbuka, de Grantatai (encontrado vivo);

Martin Indisie Banai, de Gujaba, nascido em 3 de junho de 1955 e Beri Tiopo, de Gujaba

(cf. infra, parágrafos 65 e 66). Continua a denúncia dizendo que, na altura do quilômetro

30, o veículo foi detido e os militares ordenaram às vítimas que saíssem dele ou foram

tiradas a força. Deram-lhe umas pás e ordenaram-lhes que cavassem. Aside foi ferido ao

tratar de escapar, mesmo não tendo sido perseguido. Os outros seis homens foram

assassinados. A denúncia expressa que no sábado, 2 de janeiro de 1988, homens de Gujaba

e de Grantatai saíram com destino a Paramaribo para pedir informação das autoridades

sobre as sete vítimas. Visitaram as autoridades da zona onde supostamente foram avistados

os presos sem, no entanto, obter nenhum tipo de informação sobre as vítimas. Na segunda-

feira, 4 de janeiro, voltaram a Tjongalangapassi e, no quilômetro 30, encontraram Aside

gravemente ferido e em estado crítico, assim como os cadáveres das outras vítimas. Aside,

que tinha uma bala na coxa direita, indicou que ele era o único sobrevivente do massacre,

cujas vítimas já haviam sido, em parte, devoradas pelos abutres. A ferida de Aside estava

infectada de vermes e sobre a omoplata direito tinha um corte em forma de “X”. O grupo

voltou a Paramaribo com a informação. Depois de 24 horas de negociação com as

autoridades, o representante da Cruz Vermelha Internacional obteve permissão para liberar

o Senhor Aside. Este foi admitido no Hospital Acadêmico de Paramaribo, em 6 de janeiro

de 1988, mas faleceu, apesar dos cuidados que recebeu. A Polícia Militar impediu que os

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parentes o visitassem no hospital. Até 6 de janeiro, os familiares das outras vítimas não

haviam obtido autorização para enterrar os corpos. O denunciante original diz ter falado

duas vezes com Aside sobre os acontecimentos e que a história relatada por este coincide

com a obtida das testemunhas dos acontecimentos e participantes da busca.

(JURISPRUDÊNCIA DA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS)

No que concerne especificamente aos desaparecimentos forçados, as famílias dos

desaparecidos do Suriname, integrantes da tribo Saramaca, no caso Aloeboetoe, requereram

do Estado a adoção de várias medidas não pecuniárias, tais como: que o Presidente do

Suriname se desculpasse publicamente pelos assassinatos; que o Governo desenterrasse os

cadáveres das seis vítimas devolvendo-os às respectivas famílias; que a um parque, praça

ou rua fosse dado o nome da tribo Saramaca; que o governo procedesse a criteriosa

investigação sobre os assassinatos, punindo os criminosos.

Como houve reconhecimento por parte do estado do Suriname dos fatos imputados em seu contra, a Corte passou direto à etapa de reparações. É aí que este caso assume a relevância capital para o desenvolvimento dos Direitos Econômicos Sociais e Culturais, no Sistema Interamericano de Proteção aos Direitos Humanos, porque a corte leva em consideração o direito cultural dos cimarrones (tribo a que pertencem os saramaca), para efeitos da reparação. As cimarrones possuem uma estrutura familiar diferente dos demais países da América Latina; entre eles a poligamia é prática corrente. A Comissão ofereceu diversas provas acerca da estrutura social dos saramacas, segundo a qual a tribo apresenta uma configuração familiar fortemente matriarcal (matrilinear), com casos freqüentes de poligamia. O principal conjunto de parentes seria o “bêè”, formado por todas as pessoas que descendem de uma mesma mulher. Por tradição, o grupo assume a responsabilidade pelos atos de qualquer de seus membros, e, em teoria cada um dos membros assume-se como responsável ante o grupo, no seu conjunto. Isso significa que a indenização que se deva pagar a uma pessoa, dá-se ao “bêè”, cujo representante a distribui entre os membros. (LEÃO, 2001, p.126)

Neste caso, a Comissão recomendou à Corte que fossem estabelecidas medidas de

reparação que incluíram a realização de direitos à educação e à saúde (caso "Aloeboetoe e

outros", sentença de 4 de dezembro de 1991). No caso, as violações imputadas ao Estado

do Suriname, que reconheceu a sua responsabilidade internacional, foram decorrentes da

prisão e morte de sete pessoas enquanto estavam sob a custódia das Forças Armadas. Na

sua sentença, a Corte ordenou ao Estado do Suriname que reabrisse a Escola em Gujaba,

local onde viviam a maioria dos filhos das vítimas, dotando-a de pessoal docente e

administrativo para que funcionasse permanentemente; além disso, ordenou que o posto de

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saúde voltasse a funcionar proporcionando assistência médica básica àquela comunidade.

(CIDH, Reparações, sentença de 10 de setembro de 1993).

Em 10 de setembro de 1993, a Corte condenou o Estado do Suriname a pagar, a título de reparação pela morte dos sete cimarrones, a quantia de US$ 453.102 (quatrocentos e cinqüenta e três mil cento e dois dólares), a seus herdeiros, segundo seus costumes culturais, dispondo para tanto, o estabelecimento de dois fideicomissos e a criação de uma Fundação, cujo propósito é o de brindar aos beneficiários a possibilidade de obter os melhores resultados da aplicação do montante recebido, em reparação. (LEÃO, 2001, p.126)

Tal caso representa um importante mecanismo para a indivisibilidade dos direitos

humanos, pois apesar da Corte não condenar o Estado pelas violações aos direitos

econômicos, sociais e culturais, exigiu que o mesmo colocasse em prática tais direitos,

declarando a sua justiciabilidade.

3.2.2 Providências de familiares e amigos:

No presente caso, o fato delituoso ocorreu em 31 de dezembro de 1987 e a denúncia

foi recebida pela Secretaria da Comissão em 15 de janeiro de 1988, ou seja quinze dias

após o ocorrido. A partir deste momento estavam cientes, primeiramente a Comissão e

depois a Corte, das violações ocorridas no Suriname.Os familiares das vítimas não

precisaram realizar diversas tramitações perante a Comissão, uma vez que esta se

prontificou imediatamente a intervir em relação ao caso das famílias das vítimas. Por esta

razão não se fez necessário que os próprios familiares procurassem um advogado para

representá-las, pois a Comissão encarregou-se de tudo.O Dr.Claucio Grossman, figurou

como advogado das vítimas, e assessor legal quando o caso foi submetido à Corte

Interamericana de Direitos Humanos.

O procedimento anterior ao conhecimento da Comissão foi o seguinte:

A denúncia expressa que no sábado, 2 de janeiro de 1988, homens de Gujaba e de

Grantatai saíram com destino a Paramaribo para pedir informação das autoridades sobre as

sete vítimas. Visitaram o Coordenador do Interior em Volksmobilisatie e a Polícia Militar

em Fuerte Zeelandia, onde procuraram ver o Chefe do S-2. Sem ter obtido informação

sobre o paradeiro das vítimas, na segunda-feira, 4 de janeiro, voltaram a Tjongalangapassi

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e, no quilômetro 30, encontraram Aside gravemente ferido e em estado crítico, assim como

os cadáveres das outras vítimas. Aside, que tinha uma bala na coxa direita, indicou que ele

era o único sobrevivente do massacre, cujas vítimas já haviam sido, em parte, devoradas

pelos abutres. A ferida de Aside estava infectada de vermes e sobre a omoplata direito tinha

um corte em forma de “X”. O grupo voltou a Paramaribo com a informação. Depois de 24

horas de negociação com as autoridades, o representante da Cruz Vermelha Internacional

obteve permissão para liberar o Senhor Aside. Este foi admitido no Hospital Acadêmico de

Paramaribo, em 6 de janeiro de 1988, mas faleceu, apesar dos cuidados que recebeu. A

Polícia Militar impediu que os parentes o visitassem no hospital. Até 6 de janeiro, os

familiares das outras vítimas não haviam obtido autorização para enterrar os corpos. O

denunciante original diz ter falado duas vezes com Aside sobre os acontecimentos e que a

história relatada por este coincide com a obtida das testemunhas dos acontecimentos e

participantes da busca.(CIDH)

3.2.3 Providências do Governo de Suriname:

Neste litígio, o Suriname reconheceu a sua responsabilidade pelos fatos articulados

no memorial da Comissão. Por isso, e tal como expressou a Corte na sua sentença de 4 de

dezembro de 1991, “cessou a controvérsia quanto aos fatos que deram origem ao presente

caso”. Isto significa que se têm por certos aqueles fatos expostos no memorial da Comissão

de 27 de agosto de 1990. Mas, em compensação, existem diferenças entre as partes acerca

de outros fatos, que se relacionam com as reparações e a abrangência das mesmas. A

controvérsia sobre estas matérias será decidida pela Corte através de sentença.

No seu relatório de 1º de abril de 1991, a Comissão solicitou à Corte, o seguinte:

(...) Que a Ilustríssima Corte decida que o Estado do Suriname é responsável pela morte dos

senhores Aloeboetoe, Daison; Aloeboetoe, Dedemanu; Aloeboetoe, Mikuwendje; Amoida,

John; Voola, Richenel, vulgo Aside [ou] Ameikanbuka (encontrado vivo); Banai, Martin

Indisie, e Tiopo, Beri, enquanto encontravam-se detidos e que a referida morte é uma

violação dos artigos 1º(1) (2), 4º(1), 5º(1) (2), 7º(1) (2) (3) e 25, da Convenção Americana

sobre Direitos Humanos. Que a Corte decida que o Suriname deve reparar adequadamente

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aos familiares das vítimas e que, portanto, ordene: o pagamento de uma indenização por

dano imediato e lucro cessante, reparação do dano moral, incluindo o pagamento de

indenização e a adoção de medidas de reabilitação do bom nome das vítimas, que seja

investigado o crime cometido e seja providenciado o castigo dos culpados. (...) Que a Corte

ordene que o Suriname pague as custas incorridas pela Comissão e as vítimas no presente

caso.(CIDH)

O contra-memorial do Suriname foi recebido pela Corte em 28 de junho de 1991 e

nele, o Governo opôs exceções preliminares. Nesse documento, o Governo solicitou à

Corte, declarar que:

1. Não se pode ter o Suriname como responsável pelo desaparecimento e morte dos

sujeitos indicados pela Comissão.

2. Que por não ter sido demonstrada a autoria da violação imputada ao Suriname,

não seja obrigado ao pagamento de indenização de nenhum tipo pela morte e

desaparecimento das pessoas que são indicadas no relatório da Comissão.

3. Que seja exonerado do pagamento das custas da presente ação, pois não foi

demonstrada a responsabilidade do Suriname nas execuções que lhe são imputadas.

Porém na audiência pública de 2 de dezembro de 1991, convocada pela Corte para

tratar das exceções preliminares, o Suriname reconheceu a sua responsabilidade no caso (cf.

Caso Aloeboetoe e outros, supra, parágrafo inicial, parágrafo 22).

Em conseqüência, a Corte, por unanimidade, adotou, em 4 de dezembro de 1991,

uma sentença, segundo a qual:

1. Registra o reconhecimento da responsabilidade da República do Suriname e

decide que cessou a controvérsia acerca dos fatos que deram origem ao presente caso.

2. Decide deixar aberto o procedimento para os efeitos das reparações e custas do

presente caso (Caso Aloeboetoe e outros, supra, parágrafo inicial, parte resolutiva).

O Presidente da Corte resolveu, em 18 de janeiro de 1992, outorgar à Comissão

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prazo, até 31 de março de 1992 para oferecer e apresentar as provas de que dispusesse

sobre as reparações e custas neste caso; e ao Governo, até 15 de maio de 1992 para

formular suas observações ao texto da Comissão. Na mesma resolução, o Presidente

convocou as partes para uma audiência pública sobre esta matéria, para o dia 23 de junho

de 1992, às 10 horas. Ante uma solicitação da Comissão, e com a anuência do Governo, o

Presidente resolveu, em 24 de março de 1992, postergar a audiência antes mencionada, para

7 de julho desse mesmo ano, na mesma hora.

3.2.4 Recebimento do caso pela Comissão Interamericana dos Direitos

Humanos: estudo e providencias:

O memorial da Comissão contém toda as documentações relativas ao caso, cujo

procedimento iniciou em 1º de fevereiro de 1988 e continuou até 15 de maio de 1990, data

em que, de acordo com o artigo 50 da Convenção, adotou o Relatório n. 3/90, no qual

resolveu: Admitir presente caso. Declarar que as partes não puderam chegar a uma solução

amistosa. Declarar que o Governo do Suriname faltou com a sua obrigação de respeitar os

direitos e liberdades consagradas na Convenção Americana sobre Direitos Humanos e de

garantir o seu livre e pleno exercício, tal como dispõem os artigos 1º e 2º da Convenção.

Declarar que o Governo do Suriname violou os direitos humanos das pessoas referidas

neste caso, tal como prevêem os artigos 1º, 2º, 4º(1), 5º(1), 5º(2), 7º(1), 7º(2), 7º(3), 25(1) e

25(2), da Convenção Americana sobre Direitos Humanos. Recomendar ao Governo do

Suriname que adote as seguintes medidas: Dar cumprimento aos artigos 1º e 2º da

Convenção, garantindo o respeito e gozo dos direitos ali conferidos; Investigar as violações

que ocorreram neste caso, processar e castigar os responsáveis por estes fatos; Tomar as

medidas necessárias para evitar novas ocorrências; Pagar uma justa indenização aos

parentes das vítimas; Transmitir este relatório ao Governo do Suriname e estabelecer um

prazo de 90 dias para implementar as recomendações ali contidas. Submeter este caso à

Corte Interamericana de Direitos Humanos, caso o Governo do Suriname não dê

cumprimento a todas as recomendações.

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Após o Estado do Suriname redimir-se da responsabilidade à ele apontada pela

Comissão, esta veio a manifestar-se contra-memorial do Suriname que foi recebido pela

Corte em 28 de junho de 1991 e nele, o Governo opôs exceções preliminares. Nesse

documento, o Governo solicitou à Corte, declarar que: Não se pode ter o Suriname como

responsável pelo desaparecimento e morte dos sujeitos indicados pela Comissão. E que por

não ter sido demonstrada a autoria da violação imputada ao Suriname, não seja obrigado ao

pagamento de indenização de nenhum tipo pela morte e desaparecimento das pessoas que

são indicadas no relatório da Comissão.

A Comissão apresentou seu documento sobre as reparações e custas, em 31 de

março de 1992. Nele considera que, de acordo com o artigo 63.1 da Convenção Americana

e princípios do direito internacional aplicáveis, o Governo deve indenizar a parte lesada, os

prejuízos resultantes do não-cumprimento das suas obrigações, de maneira que as

conseqüências da violação sejam reparadas em virtude da regra in integrum restitutio. Na

sua opinião, o Governo deveria indenizar os danos materiais e morais, outorgar outras

reparações não-pecuniárias e restituir as despesas e custas incorridas pelos familiares das

vítimas. A Comissão refere-se, no seu documento, ao montante dos danos e custas, propõe

um método de pagamento e numera as medidas não-pecuniárias solicitadas pelas famílias

das vítimas.

A Comissão faz uma distinção entre a indenização dos danos e prejuízos materiais

devidos aos filhos menores e a correspondente aos maiores adultos dependentes, das

pessoas assassinadas. Propõe a criação de um fideicomisso para os filhos menores, cuja

soma básica consistiria em uma importância proporcional à projeção de receitas estimadas

da vítima, descontado o que teria sido o seu próprio consumo material, tudo determinado de

acordo com a metodologia do valor atual ou presente líquido. Esta metodologia supõe

aplicar, conforme a Comissão, os princípios geralmente aceitos, compatíveis com o direito

internacional. Em relação aos dependentes adultos, a Comissão pede uma quantia global

disponível em um fideicomisso e exigível na data da sentença, calculada com base nas

receitas que as vítimas tinham na data do seu assassinato ou mediante os pagamentos

anuais, que se estendam até a morte dos beneficiários, em valores que mantenham o poder

aquisitivo. As somas reclamadas em florins do Suriname devem ajustar-se, para que

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reflitam o valor atual dessa moeda, já que foram calculados “em valores monetários de

1988”.

Quanto às pessoas que teriam o direito a uma indenização material, a Comissão

explica que é preciso considerar a estrutura familiar à qual pertencem as vítimas, e que é

essencialmente matriarcal, a qual é freqüente a poligamia. No Suriname, os casamentos

devem ser registrados para serem reconhecidos pelo Estado, mas pela escassez de

repartições de registro civil no interior do país, geralmente não são feitos, o que, a critério

da Comissão, não deveria afetar o direito à indenização dos parentes ou cônjuges de

matrimônios não registrados. Alega-se que o cuidado dos membros da família fica por

conta de um grupo comunal, que segue a linha materna, o que deveria ser levado em

consideração, para determinar quais os familiares a serem indenizados. Os prejuízos

pessoais diretos de caráter pecuniário, que dão direito a obter indenização, se deveriam

medir, principalmente, pelo grau de dependência financeira que existiu entre o reclamante e

o defunto. A folha de pagamento das partes prejudicadas com direito a serem indenizadas

foi parcialmente elaborada pela Comissão, com base em declarações juramentadas de

parentes das vítimas.

Conforme a Comissão, o Governo estaria obrigado, ainda, a reparar os prejuízos

morais sofridos como conseqüência das graves repercussões psicológicas, ocasionadas

pelos assassinatos, aos familiares das vítimas, homens que trabalhavam e constituíam a

principal ou única fonte de receitas para aqueles. A falta de reação, investigação ou castigo

por parte do Governo apresenta-se como uma expressão de que este atribui pouco valor à

vida das vítimas, o que teria ferido a sua dignidade e auto-estima. Em seis dos sete casos, os

corpos das vítimas não foram entregues para serem enterrados, as autoridades não

informaram acerca do local onde se encontravam, não puderam ser identificados, nem

foram expedidas as competentes certidões de óbito.

A Comissão sustenta que as famílias das vítimas também teriam sofrido prejuízos

morais diretos e deveriam ser indenizados. É explicado nos termos a seguir:

Na sociedade maroon tradicional, uma pessoa não é somente membro de seu grupo familiar, mas também é membro de sua comunidade de aldeia e do grupo tribal. Neste caso, o prejuízo experimentado pelos aldeãos, devido à perda de

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membros do seu grupo, deve ser indenizado. Como os aldeãos constituem na prática uma família, em sentido amplo, (...) sofreram prejuízos emocionais diretos como resultado das violações da Convenção.(CIDH)

A Comissão expressa que as famílias das vítimas reclamam a adoção de medidas

não-pecuniárias, tais como: que o Presidente do Suriname se desculpe publicamente pelos

assassinatos e que os chefes da tribo Saramaca, sejam convidados a comparecer no

Congresso do Suriname, para que lhe sejam apresentadas as desculpas e que o Governo

publique a parte dispositiva desta sentença. Pede-se também, que o Governo desenterre os

cadáveres das seis vítimas, que sejam devolvidos às suas respectivas famílias, e que seja

dado o nome da tribo Saramaca a um parque, uma praça ou uma rua, no local proeminente

de Paramaribo, e que o Governo investigue os assassinatos cometidos e puna os criminosos.

A Comissão reclama que o Governo pague as despesas e custas incorridas pelos

familiares das vítimas para fazer valer os seus direitos perante a justiça do Suriname, a

Comissão e a Corte. No seu documento, a Comissão descreve alguns aspectos deste trabalho

que incluiria a visita do advogado das vítimas ao Suriname, visita ao interior do país por

parte de Moiwana 86, designação de ajudantes de investigação para preparar as três

audiências para o caso perante a Comissão e o memorando inicial perante a Corte,

contratação de um professor adjunto para ministrar o curso universitário que o advogado das

vítimas não poderia assumir, por atender este caso.

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3.2.5 Apresentação do caso à Corte Interamericana de Direitos Humanos:

processo seguido, instâncias e sentença:

No presente caso, a Corte é competente para decidir sobre o pagamento de

reparações e custas. O Suriname é Estado-parte da Convenção Americana, desde 12 de

novembro de 1987, data na qual aceitou também, a competência contenciosa da Corte. O

caso foi apresentado à Corte pela Comissão, de acordo com os artigos 51 e 61 da

Convenção Americana e 50 do seu Regulamento e sentenciado pela Corte, quanto ao

mérito, em 4 de dezembro de 1991.

Na audiência pública de 2 de dezembro de 1991, convocada pela Corte para tratar

das exceções preliminares, o Suriname reconheceu a sua responsabilidade no caso. Em

conseqüência, a Corte, por unanimidade, adotou, em 4 de dezembro de 1991, uma sentença,

segundo a qual: Registra o reconhecimento da responsabilidade da República do Suriname

e decide que cessou a controvérsia acerca dos fatos que deram origem ao presente caso.

Decide deixar aberto o procedimento para os efeitos das reparações e custas do presente

caso.

O Presidente da Corte resolveu, em 18 de janeiro de 1992, outorgar à Comissão

prazo, até 31 de março de 1992 para oferecer e apresentar as provas de que dispusesse

sobre as reparações e custas neste caso; e ao Governo, até 15 de maio de 1992 para

formular suas observações ao texto da Comissão. Na mesma resolução, o Presidente

convocou as partes para uma audiência pública sobre esta matéria, para o dia 23 de junho

de 1992, às 10 horas.

Por considerar necessário para obter uma informação mais completa para

determinar o montante das indenizações e as custas, o Presidente, acolhido o parecer da

Comissão Permanente, decidiu em 24 de setembro de 1992 utilizar os serviços como peritos

dos Senhores Christopher Healy e Merina Eduards. Mediante a Resolução de 16 de março

de 1993, a Corte resolveu “oportunamente dar vistas às partes da informação fornecida

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pelos peritos neste caso”. Igualmente, solicitou às partes, esclarecimentos e informações

adicionais.

Efetivamente, em 18 de março de 1993, pediu à Comissão que remetesse “uma lista

definitiva com os nomes corretos das pessoas que alega serem filhos e os cônjuges das

vítimas”, neste caso e em 20 de março de 1993 pediu ao Governo que enviasse “à Corte, os

dados e considerações que o Governo do Suriname entender convenientes entregar a esse

respeito”. Uma lista definitiva das esposas, filhos e outros dependentes das vítimas, de 8 de

abril de 1993, elaborada pela Comissão, foi entregue na Secretaria da Corte em 14 desse

mês.

Pela nota de 26 de abril de 1993, o Presidente outorgou ao Governo um prazo de 20

dias para que formulasse as observações à documentação remetida pela Comissão à Corte.

O Governo não realizou nenhuma observação, nem apresentou a informação que tinha sido

solicitada.

Durante o período extraordinário de sessões, realizado de 15 a 18 de março de 1993,

a Corte decidiu que a sua Secretária Adjunta Ana María Reina, viajara ao Suriname para

obter informação adicional acerca da situação econômica, financeira e bancária do país,

assim como para conhecer a aldeia de Gujaba, a fim de obter informação destinada a

facilitar o Tribunal a proferir uma sentença condizente com a realidade do Suriname.

Oportunamente, foi informado às partes sobre o anterior.

A informação e os dados obtidos nesta visita, mediante entrevistas e documentos,

tanto no Paramaribo, como na aldeia de Gujaba, foram utilizados pela Corte para a fixação

do montante das indenizações.

A disposição aplicável às reparações é o artigo 63.1 da Convenção Americana, que

prescreve o seguinte: Quando decidir que houve violação de um direito ou liberdade

protegidos nesta Convenção, a Corte disporá que seja garantido ao lesado o gozo do seu

direito ou liberdade transgredidos.

Deste modo, se procedente, disporá que sejam reparadas as conseqüências da medida ou situação que configurou a vulneração desses direitos e o pagamento de

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uma justa indenização à parte lesada.Este artigo constitui uma norma consuetudinária que é, ainda, um dos princípios fundamentais do atual direito das gentes, tal como reconheceu esta Corte (cf. Caso Velásquez Rodríguez, Indenização Compensatória, supra 27, parágrafo 23) e a jurisprudência de outros tribunais(cf. Usine de Chorzów, compétence, arrêt n. 8, 1927, CPJI, Série A, n. 9, p. 21; Usine de Chorzów, compétence, arrêt n. 13, 1928, CPJI, Série A, n. 17, p. 29; Interprétation des traités de paix conclus avec la Bulgarie, la Hongrie et la Roumanie, deuxième phase, avis consultatif, CIJ, Recueil 1950, p. 228). (CIDH)

A obrigação contida no artigo 63.1 da Convenção é de direito internacional e este

rege todos seus aspectos, como, por exemplo, a sua extensão, suas modalidades, seus

beneficiários etc. Por isso, a presente sentença imporá obrigações de direito internacional

que não podem ser modificadas, nem suspensas no seu cumprimento pelo Estado obrigado,

invocando para isso as disposições do seu direito interno.

Uma vez estabelecido que a obrigação de reparar pertence ao direito das gentes e é

regida pelo mesmo, a Corte considera conveniente examinar detalhadamente a sua

extensão.

O artigo 63.1 da Convenção distingue entre a conduta que o Estado responsável por

uma violação deve observar a partir do momento da sentença da Corte e as conseqüências

da atitude do próprio Estado no passado, ou seja, enquanto durou a violação. Quanto ao

futuro, o artigo 63.1 dispõe que há de se garantir ao lesado, o gozo do direito ou da

liberdade transgredidos. Quanto ao tempo passado, essa prescrição faculta à Corte a impor

uma reparação pelas conseqüências da violação e uma justa indenização. No referente às

violações ao direito à vida, como neste caso, a reparação, dada a natureza do direito

violado, adquire fundamentalmente, a forma de uma indenização pecuniária.

Na sentença da Corte fixa em US$ 453.102, podendo ser pagos em florins do

Suriname, antes de 1º de abril de 1994, às pessoas indicadas como beneficiários da

indenização. Dispõe quanto ao estabelecimento dos fideicomissos e a criação de uma

Fundação. Decide que o governo do Suriname não deve intervir nas atividades dos

fideicomissos e da Fundação. Ordena que seja entregue è Fundação, para suas operações,

US$ 4.000, dentro dos 30 dias seguintes à sua constituição. Ordena ao estado do Suriname

a abrir a escola situada em Gujaba, com pessoal suficiente par o devido funcionamento da

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mesma a partir de 1994. Resolve que supervisionará o cumprimento das reparações

acordadas e somente após isto arquivará o processo.

Com a breve apresentação deste caso e as providências tomadas fica claro que a

Intervenção da Comissão e da Corte Interamericana de Direitos Humanos contribuiu de

forma construtiva, na proteção às violações aos direitos humanos ocorridas no Suriname.

Por esta demonstração, pode-se tirar como exemplo a atuação destes órgãos do sitema

regional de proteção aos direitos humanos, como de fundamental importância na

fiscalização e observação do respeito às garantias fundamentais do ser humano.

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CONCLUSÕES FINAIS:

A pesquisa realizada buscou estudar os sistemas regionais de proteção aos Direitos

Humanos, notadamente o Sistema Interamericano de Proteção, representado pela

Convenção Americana de Direitos Humanos, sua importância, seus órgãos, e seu

funcionamento.

Para tanto, inicia-se com um pequeno relato das origens deste sistema regional, e

após, passa-se ao estudo dos órgãos competentes para conhecer de assuntos relacionados

com o cumprimento dos compromissos assumidos pelos Estados-partes na Convenção

Americana de Direitos Humanos (1969): a Comissão Interamericana de Direitos Humanos

e a Corte Interamericana de Direitos Humanos; suas estruturas e funções.

Com o advento da Organização das Nações Unidas (ONU) ao final da 2ª Guerra

Mundial em substituição a Liga das Nações que não foi capaz de evitar os conflito bélicos

vivenciados nas décadas de 30 e 40 do século XX, foi promulgada a Declaração Universal

dos Direitos do Homem, que traz os direitos humanos, voltados para a garantia da vida,

liberdade, devido processo legal, juiz natural, ampla defesa e contraditório, princípio da

inocência, entre outros.

Ao lado dessas garantias decorrentes da Carta elaborada pelas Nações Unidas,

encontramos os chamados sistemas regionais de proteção dos direitos humanos,

destacando-se o sistema europeu, americano e africano.

O Sistema Interamericano dos Direitos Humanos foi consolidado pela Convenção

Americana de Direitos Humanos, também conhecida como "Pacto de San José", ratificada

pelos Países-Membros da Organização dos Estados Americanos - OEA. Estabeleceu dois

órgãos que exercem funções distintas, mas complementares: a Comissão Interamericana de

Direitos Humanos e a Corte Interamericana.

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O Sistema Interamericano conforme a douta jurista Flávia Piovesan encontra-se

consubstanciado em dois regimes: um baseado na Convenção Americana e o outro

fundamentado na Carta da Organização dos Estados Americanos. A Convenção Americana

que foi assinada em 22 de novembro de 1969 em São José, Costa Rica, fato este que a

levou a ser conhecida como Pacto de São José da Costa Rica, é o instrumento de maior

importância dentro do Sistema Interamericano de Direitos Humanos.

A Comissão Interamericana criada em 1959 é o primeiro organismo efetivo de

proteção dos direitos humanos no continente americano. Embora com atribuições restritas,

a Comissão realizou uma frutífera e notável atividade de proteção dos direitos humanos,

incluindo a admissão e investigação de reclamações de indivíduos e de organizações não

governamentais, inspeções nos territórios dos Estados-membros e solicitação de informes,

com o que logrou um paulatino reconhecimento já antes da criação da Corte

Interamericana.

A Comissão é um órgão central da OEA e hoje também atua conforme as

faculdades específicas pelas quais foi investida pela Convenção Americana, nos seus

artigos 34 a 51 e 70 a 73. Desde a entrada em vigência da Convenção, a Comissão também

se encontra regida por seu Estatuto, aprovada na Assembléia Geral da OEA em 1979, e por

seu Regulamento, aprovado pela Comissão em 1980 e modificado diversas vezes desde

então.

A Comissão e a Corte receberam poder para supervisionar as obrigações

internacionais dos Estados com respeito às convenções e protocolos que tenham entrado em

vigor posteriormente à Convenção Americana. A Comissão foi o primeiro órgão a apreciar

o procedimento de petições individuais, que tem por objeto garantir a tutela dos direitos

básicos protegidos pela Convenção.

No âmbito consultivo, qualquer membro da OEA - parte ou não da Convenção -

pode solicitar o parecer da Corte relativamente à interpretação da Convenção ou qualquer

outro tratado relativo à proteção dos direitos humanos nos Estados Americanos. A Corte

ainda pode opinar sobre a compatibilidade de preceitos da legislação doméstica em face dos

instrumentos internacionais.

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Para que a Corte conheça de qualquer assunto no plano contencioso é necessário o

esgotamento dos procedimentos previstos pelos arts. 48 a 50 da Convenção. Isto é, o

processamento da reclamação perante a Comissão, com a elaboração do primeiro relatório e

seu descumprimento pelo Estado violador o qual tenha reconhecido a jurisdição da Corte.

O papel da Corte é central para o desenvolvimento da jurisprudência e parâmetros

(standards) internacionais, que potencialmente tem profundo impacto para a defesa dos

direitos humanos a nível local, quando implementados através dos poderes jurisdicionais

nacionais ou outros mecanismos criados para este fim.

O caso estudado chamado, “Caso Aloeboetoe” foi submetido à Corte Interamericana

de Direitos Humanos, pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos em 27 de agosto

de 1990, e a Comissão recebeu a denúncia em 15 de janeiro de 1988 contra o Suriname. No

seu relatório de 1º de abril de 1991, a Comissão solicitou à Corte, o seguinte: (...) Que a

Ilustríssima Corte decida que o Estado do Suriname é responsável pela morte dos senhores

Aloeboetoe, Daison; Aloeboetoe, Dedemanu; Aloeboetoe, Mikuwendje; Amoida, John;

Voola, Richenel, vulgo Aside [ou] Ameikanbuka (encontrado vivo); Banai, Martin Indisie,

e Tiopo, Beri, enquanto encontravam-se detidos e que a referida morte é uma violação dos

artigos 1º(1) (2), 4º(1), 5º(1) (2), 7º(1) (2) (3) e 25, da Convenção Americana sobre Direitos

Humanos. Que a Corte decida que o Suriname deve reparar adequadamente aos familiares

das vítimas e que, portanto, ordene: o pagamento de uma indenização por dano imediato e

lucro cessante, reparação do dano moral, incluindo o pagamento de indenização e a adoção

de medidas de reabilitação do bom nome das vítimas, que seja investigado o crime

cometido e seja providenciado o castigo dos culpados. (...) Que a Corte ordene que o

Suriname pague as custas incorridas pela Comissão e as vítimas no presente

caso.(...).(CIDH)

O contra-memorial do Suriname foi recebido pela Corte em 28 de junho de 1991 e

nele, o Governo opôs exceções preliminares. Nesse documento, o Governo solicitou à

Corte, declarar que: Não se pode ter o Suriname como responsável pelo desaparecimento e

morte dos sujeitos indicados pela Comissão. Que por não ter sido demonstrada a autoria da

violação imputada ao Suriname, não seja obrigado ao pagamento de indenização de

nenhum tipo pela morte e desaparecimento das pessoas que são indicadas no relatório da

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Comissão. Que seja exonerado do pagamento das custas da presente ação, pois não foi

demonstrada a responsabilidade do Suriname nas execuções que lhe são imputadas.

Porém na audiência pública de 2 de dezembro de 1991, convocada pela Corte para

tratar das exceções preliminares, o Suriname reconheceu a sua responsabilidade no caso,

conseqüentemente cessou a controvérsia quanto aos fatos que deram origem ao presente

caso. Isto significa que se têm por certos aqueles fatos expostos no memorial da Comissão

de 27 de agosto de 1990. Mas, em compensação, existem diferenças entre as partes acerca

de outros fatos que se relacionam com as reparações e a abrangência das mesmas. A

controvérsia sobre estas matérias será decidida pela Corte através de sentença.

Em 10 de setembro de 1993, a Corte condenou o Estado do Suriname a pagar, a

título de reparação pela morte das sete pessoas, a quantia de US$ 453.102 (quatrocentos e

cinqüenta e três mil cento e dois dólares), a seus herdeiros, e também determminou uma

multa não pecuniária que estabelece a criação de um fundo, com finalidade de reconstruir

tudo o que foi destruído na aldeia dos Saramaca, inclusive uma escola, demonstrando desta

forma uma maneira de coagir o Estado a reparar socialmente, e não apenas

individualmente o mal ocasionado às vítimas em geral.

O caso em estudo comprovou a competência jurisdicional da Corte frente à violações

aos direitos humanos, e demonstrou que é possível intervir junto aos Estados infratores,

condenando os mesmos à indenizações e retratações perante as vítimas ou familiares das

vítimas. É através deste tipo de procedimento que é possível acreditar no devido amparo aos

direitos humanos no Continente Americano.

As providencias da Comissão e da Corte demonstram o trâmite necessário aos

processos nestas instâncias. Entretanto para poder submeter um caso à Comissão é

indispensável que estejam esgotadas as prestações jurisdicionais internas. Desta forma

haveria necessidade de uma maior implementação na área dos direitos humanos, no âmbito

interno nacional, de forma a garanti-los antes mesmo de chegarem ao conhecimento da

Comissão. Por ser um Órgão Internacional, só deveria ser acionado mediante grave ameaça

ou agressão aos direitos e garantias fundamentais do homem. Resta aos Estados partes, uma

vez signatários do Pacto San José, fazer valer as atribuições relativas à Comissão e a Corte,

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primando por zelar quanto às violações internas, demonstrando assim sua profunda adesão

ao Pacto.

É possível observar que o caso em estudo demonstra a preocupação dos organismos

internacionais na proteção dos direitos humanos, mesmo quando estes são menos prezados

pelo poder soberano da jurisdição interna do país. Uma vez, assinada a Convenção

Interamericana, os estados membros devem ter a consciência, do papel que desempenham

nesta incessante luta, para salvaguardar os direitos fundamentais do homem.

Outro fato necessário de ser ressaltado, é que a Constituição Federal do Brasil, de

1988, tem em seu art. 2º o amparo à dignidade humana, e em seu art. 5º a igualdade de

tratamento entre as pessoas. Uma vez que a ordem dos artigos traduz também a sua

relevância, fica claro que algo tão importante, como a dignidade humana, tem prevalência na

nossa Constituição. Portanto este trabalho teve um significado amplo, mas ao mesmo tempo

fala de coisas muito específicas, como necessidades fundamentais, e o respeito ao ser

humano independentemente de qual a condição ele ocupa.

O Brasil tem aprofundado nos últimos anos sua inserção no Sistema Interamericano

de Direitos Humanos. A adesão à Convenção Interamericana em 1992, na esteira do

processo de democratização, constitui passo importante em termos de obrigações

substantivas para o Estado Brasileiro.

Uma observação importante é mostrar que há uma contradição em pretender

despolitizar o sistema compreendido pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos,

com sede em Washington, de natureza política, e pela Corte Interamericana de Direitos

Humanos, em São José da Costa Rica, de natureza jurídica.

Outra contradição observada é quanto à investigação. A sua realização há de ser

feita com o consentimento e colaboração do Estado afetado. Esta investigação, no entanto,

conquanto pudesse à primeira vista parecer a ideal, pois possibilitaria à Comissão entrar no

território e verificar in loco as possíveis violações, apresenta vários problemas, na medida

em que contém em si uma contradição, qual seja a de contar com a colaboração do Estado

que, através de seus órgãos, provocou a violação.

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Os órgãos do Sistema Interamericano de Direitos Humanos vêm se desenvolvendo,

a medida em que surge a necessidade de uma responsabilização internacional dos abusos

dos direitos humanos, para que se promova a sua redução, já que cresce a consciência de

que esse não é um problema particular de cada Estado, mas um problema mundial, já que a

globalização impeliu os países a um intercâmbio cada vez mais forte.

Com o retorno da democracia a maioria dos países da América Latina e Central, a

Convenção vem ganhando força e importância junto ao direito nacional de cada Estado

membro da Organização das Nações Unidas.

Na atualidade, falta uma maior divulgação do Pacto de São José da Costa Rica, e

uma redefinição do papel a ser desenvolvido pela Comissão, como garantidora dos direitos

previstos na Convenção, uma vez que a grande maioria das pessoas desconhece a existência

desse instrumento e o local onde podem apresentar suas reclamações, em caso de

desrespeito das garantias fundamentais.

É preciso um aprimoramento no Sistema Interamericano, para que este possa estar

mais próximo das dificuldades enfrentadas na defesa dos direitos humanos, garantindo que

os indivíduos e organizações da sociedade civil tenham o acesso direto à Corte

Interamericana de Direitos Humanos, para se evitar novas violações aos direitos

consagrados na Convenção Americana.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

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ANEXOS:

ANEXO 1 : DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS

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DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS

Preâmbulo,

Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da

família humana e dos seus direitos iguais e inalienáveis constitui o fundamento da liberdade,

da justiça e da paz no mundo;

Considerando que o desconhecimento e o desprezo dos direitos do Homem

conduziram a atos de barbárie que revoltam a consciência da Humanidade e que o advento

de um mundo em que os seres humanos sejam livres de falar e de crer, libertos do terror e da

miséria, foi proclamado como a mais alta inspiração do Homem;

Considerando que é essencial a proteção dos direitos do Homem através de um

regime de direito, para que o Homem não seja compelido, em supremo recurso, à revolta

contra a tirania e a opressão;

Considerando que é essencial encorajar o desenvolvimento de relações amistosas

entre as nações;

Considerando que, na Carta, os povos das Nações Unidas proclamam, de novo, a sua

fé nos direitos fundamentais do Homem, na dignidade e no valor da pessoa humana, na

igualdade de direitos dos homens e das mulheres e se declaram resolvidos a favorecer o

progresso social e a instaurar melhores condições de vida dentro de uma liberdade mais

ampla;

Considerando que os Estados membros se comprometeram a promover, em

cooperação com a Organização das Nações Unidas, o respeito universal e efetivo dos

direitos do Homem e das liberdades fundamentais;

Considerando que uma concepção comum destes direitos e liberdades é da mais alta

importância para dar plena satisfação a tal compromisso:

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A Assembléia Geral proclama a presente Declaração Universal dos Direitos

Humanos como ideal comum a atingir por todos os povos e todas as nações, a fim de que

todos os indivíduos e todos os órgãos da sociedade, tendo-a constantemente no espírito, se

esforcem, pelo ensino e pela educação, por desenvolver o respeito desses direitos e

liberdades e por promover, por medidas progressivas de ordem nacional e internacional, o

seu reconhecimento e a sua aplicação universais e efetivos tanto entre as populações dos

próprios Estados membros como entre as dos territórios colocados sob a sua jurisdição.

Artigo 1° Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos.

Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de

fraternidade.

Artigo 2° Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades

proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor,

de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de

fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação. Além disso, não será feita nenhuma

distinção fundada no estatuto político, jurídico ou internacional do país ou do território da

naturalidade da pessoa, seja esse país ou território independente, sob tutela, autônomo ou

sujeito a alguma limitação de soberania.

Artigo 3°Todo indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

Artigo 4° Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a escravatura e o

trato dos escravos, sob todas as formas, são proibidos.

Artigo 5° Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis,

desumanos ou degradantes.

Artigo 6°Todos os indivíduos têm direito ao reconhecimento, em todos os lugares, da

sua personalidade jurídica.

Artigo 7° Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual proteção

da lei. Todos têm direito a proteção igual contra qualquer discriminação que viole a presente

Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.

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Artigo 8° Toda a pessoa direito a recurso efetivo para as jurisdições nacionais

competentes contra os atos que violem os direitos fundamentais reconhecidos pela

Constituição ou pela lei.

Artigo 9° Ninguém pode ser arbitrariamente preso, detido ou exilado.

Artigo 10° Toda a pessoa tem direito, em plena igualdade, a que a sua causa seja

eqüitativa e publicamente julgada por um tribunal independente e imparcial que decida dos

seus direitos e obrigações ou das razões de qualquer acusação em matéria penal que contra

ela seja deduzida.

Artigo 11° Toda a pessoa acusada de um ato delituoso presume-se inocente até que a

sua culpabilidade fique legalmente provada no decurso de um processo público em que

todas as garantias necessárias de defesa lhe sejam asseguradas. Ninguém será condenado por

ações ou omissões que, no momento da sua prática, não constituíam ato delituoso à face do

direito interno ou internacional. Do mesmo modo, não será infligida pena mais grave do que

a que era aplicável no momento em que o ato delituoso foi cometido.

Artigo 12° Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua

família, no seu domicílio ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação.

Contra tais intromissões ou ataques toda a pessoa tem direito a proteção da lei.

Artigo 13° Toda a pessoa tem o direito de livremente circular e escolher a sua

residência no interior de um Estado. Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em que

se encontra, incluindo o seu, e o direito de regressar ao seu país.

Artigo 14° Toda a pessoa sujeita a perseguição tem o direito de procurar e de

beneficiar de asilo em outros países. Este direito não pode, porém, ser invocado no caso de

processo realmente existente por crime de direito comum ou por atividades contrárias aos

fins e aos princípios das Nações Unidas.

Artigo 15° Todo o indivíduo tem direito a ter uma nacionalidade. Ninguém pode ser

arbitrariamente privado da sua nacionalidade nem do direito de mudar de nacionalidade.

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Artigo 16° A partir da idade núbil, o homem e a mulher têm o direito de casar e de

constituir família, sem restrição alguma de raça, nacionalidade ou religião. Durante o

casamento e na altura da sua dissolução, ambos têm direitos iguais. O casamento não pode

ser celebrado sem o livre e pleno consentimento dos futuros esposos. A família é o elemento

natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção desta e do Estado.

Artigo 17° Toda a pessoa, individual ou coletiva, tem direito à propriedade. Ninguém

pode ser arbitrariamente privado da sua propriedade.

Artigo 18° Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de

religião; este direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, assim como a

liberdade de manifestar a religião ou convicção, sozinho ou em comum, tanto em público

como em privado, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos.

Artigo 19° Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que

implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e

difundir, sem consideração de fronteiras, informações e idéias por qualquer meio de

expressão.

Artigo 20° Toda a pessoa tem direito à liberdade de reunião e de associação

pacíficas. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.

Artigo 21° Toda a pessoa tem o direito de tomar parte na direção dos negócios,

públicos do seu país, quer diretamente, quer por intermédio de representantes livremente

escolhidos. Toda a pessoa tem direito de acesso, em condições de igualdade, às funções

públicas do seu país. A vontade do povo é o fundamento da autoridade dos poderes

públicos: e deve exprimir-se através de eleições honestas a realizar periodicamente por

sufrágio universal e igual, com voto secreto ou segundo processo equivalente que

salvaguarde a liberdade de voto.

Artigo 22° Toda a pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança

social; e pode legitimamente exigir a satisfação dos direitos econômicos, sociais e culturais

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indispensáveis, graças ao esforço nacional e à cooperação internacional, de harmonia com a

organização e os recursos de cada país.

Artigo 23° Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a

condições eqüitativas e satisfatórias de trabalho e à proteção contra o desemprego. Todos

têm direito, sem discriminação alguma, a salário igual por trabalho igual. Quem trabalha tem

direito a uma remuneração eqüitativa e satisfatória, que lhe permita e à sua família uma

existência conforme com a dignidade humana, e completada, se possível, por todos os outros

meios de proteção social. Toda a pessoa tem o direito de fundar com outras pessoas

sindicatos e de se filiar em sindicatos para defesa dos seus interesses.

Artigo 24° Toda a pessoa tem direito ao repouso e aos lazeres, especialmente, a uma

limitação razoável da duração do trabalho e as férias periódicas pagas.

Artigo 25° Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar

e à sua família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao

alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e tem

direito à segurança no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros

casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade. A

maternidade e a infância têm direito a ajuda e a assistência especiais. Todas as crianças,

nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozam da mesma proteção social.

Artigo 26° Toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve ser gratuita, pelo

menos a correspondente ao ensino elementar fundamental. O ensino elementar é obrigatório.

O ensino técnico e profissional dever ser generalizado; o acesso aos estudos superiores deve

estar aberto a todos em plena igualdade, em função do seu mérito. A educação deve visar à

plena expansão da personalidade humana e ao reforço dos direitos do Homem e das

liberdades fundamentais e deve favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre

todas as nações e todos os grupos raciais ou religiosos, bem como o desenvolvimento das

atividades das Nações Unidas para a manutenção da paz. Aos pais pertence a prioridade do

direito de escolher o gênero de educação a dar aos filhos.

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Artigo 27° Toda a pessoa tem o direito de tomar parte livremente na vida cultural da

comunidade, de fruir as artes e de participar no progresso científico e nos benefícios que

deste resultam. Todos têm direito à proteção dos interesses morais e materiais ligados a

qualquer produção científica, literária ou artística da sua autoria.

Artigo 28° Toda a pessoa tem direito a que reine, no plano social e no plano

internacional, uma ordem capaz de tornar plenamente efetivos os direitos e as liberdades

enunciadas na presente Declaração.

Artigo 29° O indivíduo tem deveres para com a comunidade, fora da qual não é

possível o livre e pleno desenvolvimento da sua personalidade. No exercício deste direito e

no gozo destas liberdades ninguém está sujeito senão às limitações estabelecidas pela lei

com vista exclusivamente a promover o reconhecimento e o respeito dos direitos e

liberdades dos outros e a fim de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e

do bem-estar numa sociedade democrática. Em caso algum estes direitos e liberdades

poderão ser exercidos contrariamente e aos fins e aos princípios das Nações Unidas.

Artigo 30° Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada de

maneira a envolver para qualquer Estado, agrupamento ou indivíduo o direito de se entregar

a alguma atividade ou de praticar algum ato destinado a destruir os direitos e liberdades aqui

enunciados.

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ANEXO 2:

CONVEÇÃO INTERAMERICANA DOS DIREITOS HUMANOS

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CONVENÇÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS –

PACTO SAN JOSÉ (COSTA RICA):

Adotada e aberta à assinatura na Conferência Especializada Interamericana sobre Direitos

Humanos, em San José de Costa Rica, em 22 de novembro de 1969.

PREÂMBULO,

Os Estados Americanos signatários da presente Convenção,

Reafirmando seu propósito de consolidar neste Continente, dentro do quadro das

instituições democráticas, um regime de liberdade pessoal e de justiça social, fundado no

respeito dos direitos essenciais do homem;

Reconhecendo que os direitos essenciais do homem não derivam do fato de ser ele nacional

de determinado Estado, mas sim do fato de ter como fundamento os atributos da pessoa

humana, razão por que justificam uma proteção internacional, de natureza convencional,

coadjuvante ou complementar da que oferece o direito interno dos Estados americanos;

Considerando que esses princípios foram consagrados na Carta da Organização dos Estados

Americanos, na Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem e na Declaração

Universal dos Direitos do Homem, e que foram reafirmados e desenvolvidos em outros

instrumentos internacionais, tanto em âmbito mundial como regional;

Reiterando que, de acordo com a Declaração Universal dos Direitos do Homem, só pode

ser realizado o ideal do ser humano livre, isento do temor e da miséria, se forem criadas

condições que permitam a cada pessoa gozar dos seus direitos econômicos, sociais e

culturais, bem como dos seus direitos civis e políticos; e

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Considerando que a Terceira Conferência Interamericana Extraordinária (Buenos Aires,

1967) aprovou a incorporação à própria Carta da Organização de normas mais amplas sobre

direitos econômicos, sociais e educacionais e resolveu que uma convenção interamericana

sobre direitos humanos determinasse a estrutura, competência e processo dos órgãos

encarregados dessa matéria;

Convieram no seguinte:

PARTE I - DEVERES DOS ESTADOS E DIREITOS PROTEGIDOS

Capítulo I - ENUMERAÇÃO DE DEVERES

Artigo 1º - Obrigação de respeitar os direitos

1. Os Estados Partes nesta Convenção comprometem-se a respeitar os direitos e liberdades

nela reconhecidos e a garantir seu livre e pleno exercício a toda pessoa que esteja sujeita a

sua jurisdição, sem discriminação alguma por motivo de raça,

cor, sexo, idioma, religião, opiniões políticas ou de qualquer outra natureza, origem

nacional ou social, posição econômica, nascimento ou qualquer outra condição social.

2. Para os efeitos desta Convenção, pessoa é todo ser humano.

Artigo 2º - Dever de adotar disposições de direito interno

Se o exercício dos direitos e liberdades mencionados no artigo 1º ainda não estiver

garantido por disposições legislativas ou de outra natureza, os Estados Partes

comprometem-se a adotar, de acordo com as suas normas constitucionais e com as

disposições desta Convenção, as medidas legislativas ou de outra natureza que forem

necessárias para tornar efetivos tais direitos e liberdades.

Capítulo II - DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS

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Artigo 3º - Direito ao reconhecimento da personalidade jurídica. Toda pessoa tem direito ao

reconhecimento de sua personalidade jurídica.

Artigo 4º - Direito à vida

1. Toda pessoa tem direito de que se respeite sua vida. Esse direito deve ser protegido pela

lei e, em geral, desde o momento da concepção. Ninguém pode ser privado da vida

arbitrariamente.

2. Nos países que não houverem abolido a pena de morte, esta só poderá ser imposta pelos

delitos mais graves, em cumprimento de sentença final de tribunal competente e em

conformidade com lei que estabeleça tal pena, promulgada antes de haver o delito sido

cometido. Tampouco se estenderá sua aplicação a delitos aos quais não se aplique

atualmente.

3. Não se pode restabelecer a pena de morte nos Estados que a hajam abolido.

4. Em nenhum caso pode a pena de morte ser aplicada por delitos políticos nem por delitos

comuns conexos com delitos políticos.

5. Não se deve impor a pena de morte a pessoa que, no momento da perpetração do delito,

for menor de dezoito anos, ou maior de setenta, nem aplicá-la a mulher em estado de

gravidez.

6. Toda pessoa condenada à morte tem direito a solicitar anistia, indulto ou comutação da

pena, os quais podem ser concedidos em todos os casos. Não se pode executar a pena de

morte enquanto o pedido estiver pendente de decisão ante a autoridade competente.

Artigo 5º - Direito à integridade pessoal

1.Toda pessoa tem direito de que se respeite sua integridade física, psíquica e moral.

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2.Ninguém deve ser submetido a torturas nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou

degradantes. Toda pessoa privada da liberdade deve ser tratada com respeito devido à

dignidade inerente ao ser humano.

3. A pena não pode passar da pessoa do delinqüente.

4.Os processados devem ficar separados dos condenados, salvo em circunstâncias

excepcionais, e ser submetidos a tratamento adequado à sua condição de pessoas não

condenadas.

5.Os menores, quando puderem ser processados, devem ser separados dos adultos e

conduzidos a tribunal especializado, com a maior rapidez possível, para seu tratamento. 6.

As penas privativas da liberdade devem ter por finalidade essencial a reforma e a

readaptação social dos condenados.

Artigo 6º - Proibição da escravidão e da servidão

1. Ninguém pode ser submetido à escravidão ou a servidão, e tanto estas como o tráfico de

escravos e o tráfico de mulheres são proibidos em todas as suas formas.

2. Ninguém deve ser constrangido a executar trabalho forçado ou obrigatório. Nos países

em que se prescreve, para certos delitos, pena privativa da liberdade acompanhada de

trabalhos forçados, esta disposição não pode ser interpretada no sentido de que proíbe o

cumprimento da dita pena, imposta por juiz ou tribunal competente. O trabalho forçado não

deve afetar a dignidade nem a capacidade física e intelectual do recluso.

3. Não constituem trabalhos forçados ou obrigatórios para os efeitos deste artigo: a) os

trabalhos ou serviços normalmente exigidos de pessoa reclusa em cumprimento de sentença

ou resolução formal expedida pela autoridade judiciária competente. Tais trabalhos ou

serviços devem ser executados sob a vigilância e controle das autoridades públicas, e os

indivíduos que os executarem não devem ser postos à disposição de particulares,

companhias ou pessoas jurídicas de caráter privado;

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b) o serviço militar e, nos países onde se admite a isenção por motivos de consciência, o

serviço nacional que a lei estabelecer em lugar daquele;

c) o serviço imposto em casos de perigo ou calamidade que ameace a existência ou o bem-

estar da comunidade; e

d) o trabalho ou serviço que faça parte das obrigações cívicas normais.

Artigo 7º - Direito à liberdade pessoal

1. Toda pessoa tem direito à liberdade e à segurança pessoais.

2. Ninguém pode ser privado de sua liberdade física, salvo pelas causas e nas condições

previamente fixadas pelas constituições políticas dos Estados Partes ou pelas leis de acordo

com elas promulgadas.

3. Ninguém pode ser submetido a detenção ou encarceramento arbitrários.

4. Toda pessoa detida ou retida deve ser informada das razões da sua detenção e notificada,

sem demora, da acusação ou acusações formuladas contra ela.

5. Toda pessoa detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, à presença de um juiz ou

outra autoridade autorizada pela lei a exercer funções judiciais e tem direito a ser julgada

dentro de um prazo razoável ou a ser posta em liberdade, sem prejuízo de que prossiga o

processo. Sua liberdade pode ser condicionada a garantias que assegurem o seu

comparecimento em juízo.

6. Toda pessoa privada da liberdade tem direito a recorrer a um juiz ou tribunal competente,

a fim de que este decida, sem demora, sobre a legalidade de sua prisão ou detenção e

ordene sua soltura se a prisão ou a detenção forem ilegais. Nos Estados Partes cujas leis

prevêem que toda pessoa que se vir ameaçada de ser privada de sua liberdade tem direito a

recorrer a um juiz ou tribunal competente a fim de que este decida sobre a legalidade de tal

ameaça, tal recurso não pode ser restringido nem abolido. O recurso pode ser interposto

pela própria pessoa ou por outra pessoa.

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7. Ninguém deve ser detido por dívidas. Este princípio não limita os mandados de

autoridade judiciária competente expedidos em virtude de inadimplemento de obrigação

alimentar.

Artigo 8º - Garantias judiciais

1. Toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo

razoável, por um juiz ou tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido

anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou

para que se determinem seus direitos ou obrigações de natureza civil, trabalhista, fiscal ou

de qualquer outra natureza.

2. Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto não

se comprove legalmente sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena

igualdade, às seguintes garantias mínimas:

a) direito do acusado de ser assistido gratuitamente por tradutor ou intérprete, se não

compreender ou não falar o idioma do juízo ou tribunal;

b) comunicação prévia e pormenorizada ao acusado da acusação formulada;

c) concessão ao acusado do tempo e dos meios adequados para a preparação de sua defesa;

d) direito do acusado de defender-se pessoalmente ou de ser assistido por um defensor de

sua escolha e de comunicar-se, livremente e em particular, com seu defensor;

e) direito irrenunciável de ser assistido por um defensor proporcionado pelo Estado,

remunerado ou não, segundo a legislação interna, se o acusado não se defender ele próprio

nem nomear defensor dentro do prazo estabelecido pela lei;

f) direito da defesa de inquirir as testemunhas presentes no tribunal e de obter o

comparecimento, como testemunhas ou peritos, de outras pessoas que possam lançar luz

sobre os fatos;

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g) direito de não ser obrigado a depor contra si mesma, nem a declarar-se culpada;

h) direito de recorrer da sentença a juiz ou tribunal superior.

3. A confissão do acusado só é válida se feita sem coação de nenhuma natureza.

4. O acusado absolvido por sentença transitada em julgado não poderá ser submetido a

novo processo pelos mesmos fatos.

5. O processo penal deve ser público, salvo no que for necessário para preservar os

interesses da justiça.

Artigo 9º - Princípio da legalidade e da retroatividade

Ninguém pode ser condenado por ações ou omissões que, no momento em que forem

cometidas, não sejam delituosas, de acordo com o direito aplicável. Tampouco se pode

impor pena mais grave que a aplicável no momento da perpetração do delito. Se depois da

perpetração do delito a lei dispuser a imposição de pena mais leve, o delinqüente será por

isso beneficiado.

Artigo 10º - Direito a indenização Toda pessoa tem direito de ser indenizada conforme a

lei, no caso de haver sido condenada em sentença passada em julgado, por erro judiciário.

Artigo 11º - Proteção da honra e da dignidade

1. Toda pessoa tem direito ao respeito de sua honra e ao reconhecimento de sua dignidade.

2. Ninguém pode ser objeto de ingerências arbitrárias ou abusivas em sua vida privada, na

de sua família, em seu domicílio ou em sua correspondência, nem de ofensas ilegais à sua

honra ou reputação.

3. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais ingerências ou tais ofensas.

Artigo 12º - Liberdade de consciência e de religião

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1. Toda pessoa tem direito à liberdade de consciência e de religião. Esse direito implica a

liberdade de conservar sua religião ou suas crenças, ou de mudar de religião ou de crença,

bem como a liberdade de professar e divulgar sua religião ou suas crenças, individual ou

coletivamente, tanto em público como em privado.

2. Ninguém pode ser objeto de medidas restritivas que possam limitar sua liberdade de

conservar sua religião ou suas crenças, ou de mudar de religião ou de crenças.

3. A liberdade de manifestar a própria religião e as próprias crenças está sujeita unicamente

às limitações prescritas pela lei e que sejam necessárias para proteger a segurança, a ordem,

a saúde ou a moral públicas ou os direitos ou liberdades das demais pessoas.

4. Os pais, e quando for o caso os tutores, têm direito a que seus filhos ou pupilos recebam

a educação religiosa e moral que esteja acorde com suas próprias convicções.

Artigo 13º - Liberdade de pensamento e de expressão

1. Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento e de expressão. Esse direito

compreende a liberdade de buscar, receber e difundir informações e idéias de toda natureza,

sem consideração de fronteiras, verbalmente ou por escrito, ou em forma impressa ou

artística, ou por qualquer outro processo de sua escolha.

2. O exercício do direito previsto no inciso precedente não pode estar sujeito a censura

prévia, mas a responsabilidades ulteriores, que devem ser expressamente fixadas pela lei e

ser necessárias para assegurar:

a) o respeito aos direitos ou à reputação das demais pessoas; ou

b) a proteção da segurança nacional, da ordem pública, ou da saúde ou da moral públicas.

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3. Não se pode restringir o direito de expressão por vias ou meios indiretos, tais como o

abuso de controles oficiais ou particulares de papel de imprensa, de freqüências

radioelétricas ou de equipamentos e aparelhos usados na difusão de informação, nem por

quaisquer outros meios destinados a obstar a comunicação e a circulação de idéias e

opiniões.

4. A lei pode submeter os espetáculos públicos a censura prévia, com o objetivo exclusivo

de regular o acesso a eles, para proteção moral da infância e da adolescência, sem prejuízo

do disposto no inciso 2.

5. A lei deve proibir toda a propaganda a favor da guerra, bem como toda apologia ao ódio

nacional, racial ou religioso que constitua incitação à discriminação, à hostilidade, ao crime

ou à violência.

Artigo 14º - Direito de retificação ou resposta

1.Toda pessoa atingida por informações inexatas ou ofensivas emitidas em seu prejuízo por

meios de difusão legalmente regulamentados e que se dirijam ao público em geral tem

direito a fazer, pelo mesmo órgão de difusão, sua retificação ou resposta, nas condições que

estabeleça a lei.

2.Em nenhum caso a retificação ou a resposta eximirão das outras responsabilidades legais

em que se houver incorrido.

3.Para a efetiva proteção da honra e da reputação, toda publicação ou empresa jornalística,

cinematográfica, de rádio ou televisão, deve ter uma pessoa responsável que não seja

protegida por imunidades nem goze de foro especial.

Artigo 15º - Direito de reunião

É reconhecido o direito de reunião pacífica e sem armas. O exercício de tal direito só pode

estar sujeito às restrições previstas pela lei e que sejam necessárias, em uma sociedade

democrática, no interesse da segurança nacional, da segurança ou da ordem públicas, ou

para proteger a saúde ou a moral públicas ou os direitos e liberdades das demais pessoas.

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Artigo 16º - Liberdade de associação

1. Todas as pessoas têm o direito de associar-se livremente com fins ideológicos, religiosos,

políticos, econômicos, trabalhistas, sociais, culturais, desportivos ou de qualquer outra

natureza.

2. O exercício de tal direito só pode estar sujeito às restrições previstas pela lei que sejam

necessárias, em uma sociedade democrática, no interesse da segurança nacional, da

segurança ou da ordem públicas, ou para proteger a saúde ou a moral públicas ou os

direitos e liberdades das demais pessoas.

3. O disposto neste artigo não impede a imposição de restrições legais, e mesmo a privação

do exercício do direito de associação, aos membros das forças armadas e da polícia.

Artigo 17º - Proteção da família

1. A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e deve ser protegida pela

sociedade e pelo Estado.

2. É reconhecido o direito do homem e da mulher de contraírem casamento e de fundarem

uma família, se tiverem a idade e as condições para isso exigidas pelas leis internas, na

medida em que não afetem estas o princípio da não-discriminação

estabelecido nesta Convenção.

3. O casamento não pode ser celebrado sem o livre e pleno consentimento dos contraentes.

4. Os Estados Partes devem tomar medidas apropriadas no sentido de assegurar a igualdade

de direitos e a adequada equivalência de responsabilidades dos cônjuges quanto ao

casamento, durante o casamento e em caso de dissolução do mesmo. Em caso de

dissolução, serão adotadas disposições que assegurem a proteção necessária aos filhos, com

base unicamente no interesse e conveniência dos mesmos.

5. A lei deve reconhecer iguais direitos tanto aos filhos nascidos fora do casamento como

aos nascidos dentro do casamento.

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Artigo 18º - Direito ao nome

Toda pessoa tem direito a um prenome e aos nomes de seus pais ou ao de um destes. A lei

deve regular a forma de assegurar a todos esse direito, mediante nomes fictícios, se for

necessário.

Artigo 19º - Direitos da criança

Toda criança tem direito às medidas de proteção que a sua condição de menor requer por

parte da sua família, da sociedade e do Estado.

Artigo 20º - Direito à nacionalidade

1. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade.

2. Toda pessoa tem direito à nacionalidade do Estado em cujo território houver nascido, se

não tiver direito à outra.

3. A ninguém se deve privar arbitrariamente de sua nacionalidade nem do direito de mudá-

la.

Artigo 21º - Direito à propriedade privada 1. Toda pessoa tem direito ao uso e gozo dos

seus bens. A lei pode subordinar esse uso e gozo ao interesse social.

2. Nenhuma pessoa pode ser privada de seus bens, salvo mediante o pagamento de

indenização justa, por motivo de utilidade pública ou de interesse social e nos casos e na

forma estabelecidos pela lei.

3. Tanto a usura como qualquer outra forma de exploração do homem pelo homem devem

ser reprimidas pela lei.

Artigo 22º - Direito de circulação e de residência

1. Toda pessoa que se ache legalmente no território de um Estado tem direito de circular

nele e de nele residir em conformidade com as disposições legais.

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2. Toda pessoa tem direito de sair livremente de qualquer país, inclusive do próprio.

3. O exercício dos direitos acima mencionados não pode ser restringido senão em virtude

de lei, na medida indispensável, em uma sociedade democrática, para prevenir infrações

penais ou para proteger a segurança nacional, a segurança ou a ordem públicas, a moral ou

a saúde pública, ou os direitos e liberdades das demais pessoas.

4. O exercício dos direitos reconhecidos no inciso 1 pode também ser restringido pela lei,

em zonas determinadas, por motivo de interesse público.

5. Ninguém pode ser expulso do território do Estado do qual for nacional nem ser privado

do direito de nele entrar.

6. O estrangeiro que se ache legalmente no território de um Estado Parte nesta Convenção

só poderá dele ser expulso em cumprimento de decisão adotada de acordo com a lei.

7. Toda pessoa tem o direito de buscar e receber asilo em território estrangeiro, em caso de

perseguição por delitos políticos ou comuns conexos com delitos políticos e de acordo com

a legislação de cada Estado e com as convenções internacionais.

8. Em nenhum caso o estrangeiro pode ser expulso ou entregue a outro país, seja ou não de

origem, onde seu direito à vida ou à liberdade pessoal esteja em risco de violação por causa

da sua raça, nacionalidade, religião, condição social ou de suas opiniões políticas.

9. É proibida a expulsão coletiva de estrangeiros.

Artigo 23º - Direitos políticos

1. Todos os cidadãos devem gozar dos seguintes direitos e oportunidades:

a) de participar na direção dos assuntos públicos, diretamente ou por meio de representantes

livremente eleitos;

b) de votar e ser eleitos em eleições periódicas autênticas, realizadas por sufrágio universal

e igual e por voto secreto que garanta a livre expressão da vontade dos eleitores; e

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c) de ter acesso, em condições gerais de igualdade, às funções públicas de seu país. 2. A lei

pode regular o exercício dos direitos e oportunidades a que ser refere o inciso anterior,

exclusivamente por motivos de idade, nacionalidade, residência, idioma, instrução,

capacidade civil ou mental, ou condenação, por juiz competente, em processo penal.

Artigo 24º - Igualdade perante a lei

Todas as pessoas são iguais perante a lei. Por conseguinte, têm direito, sem discriminação,

a igual proteção da lei.

Artigo 25º - Proteção judicial

1. Toda pessoa tem direito a um recurso simples e rápido ou a qualquer outro recurso

efetivo, perante os juízes ou tribunais competentes, que a proteja contra atos que violem

seus direitos fundamentais reconhecidos pela constituição, pela lei ou pela presente

Convenção, mesmo quando tal violação seja cometida por pessoas que estejam atuando no

exercício de suas funções oficiais.

2. Os Estados Partes comprometem-se:

a) a assegurar que a autoridade competente prevista pelo sistema legal do Estado decida

sobre os direitos de toda pessoa que interpuser tal recurso;

b) a desenvolver as possibilidades de recurso judicial; e

c) a assegurar o cumprimento, pelas autoridades competentes, de toda decisão em que se

tenha considerado procedente o recurso.

DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS.

Artigo 26º - Desenvolvimento progressivo

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Os Estados Partes comprometem-se a adotar providências, tanto no âmbito interno como

mediante cooperação internacional, especialmente econômica e técnica, a fim de conseguir

progressivamente a plena efetividade dos direitos que decorrem das normas econômicas,

sociais e sobre educação, ciência e cultura, constantes da Carta da Organização dos Estados

Americanos, reformada pelo Protocolo de Buenos Aires, na medida dos recursos

disponíveis, por via legislativa ou por outros meios apropriados.

Capítulo IV - SUSPENSÃO DE GARANTIAS, INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO.

Artigo 27º - Suspensão de garantias

1. Em caso de guerra, de perigo público, ou de outra emergência que ameace a

independência ou segurança do Estado Parte, este poderá adotar disposições que, na medida

e pelo tempo estritamente limitados às exigências da situação, suspendam as obrigações

contraídas em virtude desta Convenção, desde que tais disposições não sejam incompatíveis

com as demais obrigações que lhe impõe o Direito Internacional e não encerrem

discriminação alguma fundada em motivos de raça, cor, sexo, idioma, religião ou origem

social.

2. A disposição precedente não autoriza a suspensão dos direitos determinados nos

seguintes artigos: 3º (Direito ao reconhecimento da personalidade jurídica), 4º (Direito à

vida), 5º (Direito à integridade pessoal), 6º (Proibição da escravidão e servidão), 9º

(Princípio da legalidade e da retroatividade), 12º (Liberdade de consciência e de religião),

17º (Proteção da família), 18º (Direito ao nome), 19º (Direitos da criança), 20º (Direito à

nacionalidade), e 23º (Direitos políticos), nem das garantias indispensáveis para a proteção

de tais direitos.

3. Todo Estado Parte que fizer uso do direito de suspensão deverá informar imediatamente

os outros Estados Partes na presente Convenção, por intermédio do Secretário-Geral da

Organização dos Estados Americanos, das disposições cuja aplicação haja suspendido, dos

motivos determinantes da suspensão e da data em que haja dado por terminada tal

suspensão.

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Artigo 28º - Cláusula federal

1. Quando se tratar de um Estado Parte constituído como Estado federal, o governo

nacional do aludido Estado Parte cumprirá todas as disposições da presente Convenção,

relacionadas com as matérias sobre as quais exerce competência legislativa e judicial.

2. No tocante às disposições relativas às matérias que correspondem à competência das

entidades componentes da federação, o governo nacional deve tomar imediatamente as

medidas pertinentes, em conformidade com a sua constituição e suas leis, a fim de que as

autoridades competentes das referidas entidades possam adotar as disposições cabíveis para

o cumprimento desta Convenção.

3. Quando dois ou mais Estados Partes decidirem constituir entre eles uma federação ou

outro tipo de associação, diligenciarão no sentido de que o pacto comunitário respectivo

contenha as disposições necessárias para que continuem sendo efetivas no novo Estado

assim organizado as normas da presente Convenção.

Artigo 29º - Normas de interpretação

Nenhuma disposição desta Convenção pode ser interpretada no sentido de:

a) permitir a qualquer dos Estados Partes, grupo ou pessoa, suprimir o gozo e exercício dos

direitos e liberdades reconhecidos na Convenção ou limitá-los em maior medida do que a

nela prevista;

b) limitar o gozo e exercício de qualquer direito ou liberdade que possam ser reconhecidos

de acordo com as leis de qualquer dos Estados Partes ou de acordo com outra convenção

em que seja parte um dos referidos Estados;

c) excluir outros direitos e garantias que são inerentes ao ser humano ou que decorrem da

forma democrática representativa de governo; e

d) excluir ou limitar o efeito que possam produzir a Declaração Americana dos Direitos e

Deveres do Homem e outros atos internacionais da mesma natureza.

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Artigo 30º - Alcance das restrições

As restrições permitidas, de acordo com esta Convenção, ao gozo e exercício dos direitos e

liberdades nela reconhecidos, não podem ser aplicadas senão de acordo com leis que forem

promulgadas por motivo de interesse geral e com o propósito para o qual houverem sido

estabelecidas.

Artigo 31º - Reconhecimento de outros direitos

Poderão ser incluídos no regime de proteção desta Convenção outros direitos e liberdades

que forem reconhecidos de acordo com os processos estabelecidos nos artigos 69º e 70º.

Capítulo V - DEVERES DAS PESSOAS

Artigo 32º - Correlação entre deveres e direitos

1. Toda pessoa tem deveres para com a família, a comunidade e a humanidade. 2. Os

direitos de cada pessoa são limitados pelos direitos dos demais, pela segurança de todos e

pelas justas exigências do bem comum, em uma sociedade democrática.

PARTE II - MEIOS DE PROTEÇÃO

Capítulo VI - ÓRGÃOS COMPETENTES

Artigo 33º - São competentes para conhecer dos assuntos relacionados com o cumprimento

dos compromissos assumidos pelos Estados Partes nesta Convenção:

a) a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, doravante denominada a Comissão; e

b) a Corte Interamericana de Direitos Humanos, doravante denominada a Corte.

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Capítulo VI - COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS

Seção 1 - ORGANIZAÇÃO

Artigo 34º - A Comissão Interamericana de Direitos Humanos compor-se-á de sete

membros, que deverão ser pessoas de alta autoridade moral e de reconhecido saber em

matéria de direitos humanos.

Artigo 35º - A Comissão representa todos os Membros da Organização dos Estados

Americanos.

Artigo 36º

1. Os membros da Comissão serão eleitos a título pessoal, pela Assembléia Geral da

Organização, de uma lista de candidatos propostos pelos governos dos Estados membros.

2. Cada um dos referidos governos pode propor até três candidatos, nacionais do Estado

que os propuser ou de qualquer outro Estado membro da Organização dos Estados

Americanos. Quando for proposta uma lista de três candidatos, pelo menos um deles deverá

ser nacional de Estado diferente do proponente.

Artigo 37º

1. Os membros da Comissão serão eleitos por quatro anos e só poderão ser reeleitos uma

vez, porém o mandato de três dos membros designados na primeira eleição expirará ao

cabo de dois anos. Logo depois da referida eleição, serão determinados por sorteio, na

Assembléia Geral, os nomes desses três membros.

2. Não pode fazer parte da Comissão mais de um nacional de um mesmo Estado.

Artigo 38º - As vagas que ocorrerem na Comissão, que não se devam à expiração normal

do mandato, serão preenchidas pelo Conselho Permanente da Organização, de acordo com

o que dispuser o Estatuto da Comissão.

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Artigo 39º - A Comissão elaborará seu Estatuto e submetê-lo-á à aprovação da Assembléia

Geral e expedirá seu próprio Regulamento.

Artigo 40º - Os serviços de secretaria da Comissão devem ser desempenhados pela unidade

funcional especializada que faz parte da Secretaria-Geral da Organização, e deve dispor dos

recursos necessários para cumprir as tarefas que lhe forem confiadas pela Comissão.

Seção 2 - FUNÇÕES

Artigo 41º - A Comissão tem a função principal de promover a observância e a defesa dos

direitos humanos e, no exercício do seu mandato, tem as seguintes funções e atribuições:

a) estimular a consciência dos direitos humanos nos povos da América;

b) formular recomendações aos governos dos Estados membros, quando o considerar

conveniente, no sentido de que adotem medidas progressivas em prol dos direitos humanos

no âmbito de suas leis internas e seus preceitos constitucionais, bem como disposições

apropriadas para promover o devido respeito a esses direitos;

c) preparar os estudos ou relatórios que considerar convenientes para o desempenho de suas

funções;

d) solicitar aos governos dos Estados membros que lhe proporcionem informações sobre as

medidas que adotarem em matéria de direitos humanos;

e) atender às consultas que, por meio da Secretaria-Geral da Organização dos Estados

Americanos, lhe formularem os Estados membros sobre questões relacionadas com os

direitos humanos e, dentro de suas possibilidades, prestar-lhes o assessoramento que eles

lhe solicitarem;

f) atuar com respeito às petições e outras comunicações, no exercício de sua autoridade, de

conformidade com o disposto nos artigos 44º a 51º desta Convenção; e

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g) apresentar um relatório anual à Assembléia Geral da Organização dos Estados

Americanos.

Artigo 42º - Os Estados Partes devem remeter à Comissão cópia dos relatórios e estudos

que, em seus respectivos campos, submetem anualmente às Comissões Executivas do

Conselho Interamericano Econômico e Social e do Conselho Interamericano de Educação,

Ciência e Cultura, a fim de que aquela zele por que se promovam os direitos decorrentes

das normas econômicas, sociais e sobre educação, ciência e cultura, constantes da Carta da

Organização dos Estados Americanos, reformada pelo Protocolo de Buenos Aires.

Artigo 43º - Os Estados Partes obrigam-se a proporcionar à Comissão as informações que

esta lhes solicitar sobre a maneira pela qual o seu direito interno assegura a aplicação

efetiva de quaisquer disposições desta Convenção.

Seção 3 - COMPETÊNCIA

Artigo 44º - Qualquer pessoa ou grupo de pessoas, ou entidade não-governamental

legalmente reconhecida em um ou mais Estados membros da Organização, pode apresentar

à Comissão petições que contenham denúncias ou queixas de violação desta Convenção por

um Estado Parte.

Artigo 45º

1. Todo Estado Parte pode, no momento do depósito do seu instrumento de ratificação desta

Convenção ou de adesão a ela, ou em qualquer momento posterior, declarar que reconhece

a competência da Comissão para receber e examinar as comunicações em que um Estado

Parte alegue haver outro Estado Parte incorrido em violações dos direitos humanos

estabelecidos nesta Convenção. 2. As comunicações feitas em virtude deste artigo só

podem ser admitidas e examinadas se forem apresentadas por um Estado Parte que haja

feito uma declaração pela qual reconheça a referida competência da Comissão. A Comissão

não admitirá nenhuma comunicação contra um Estado Parte que não haja feito tal

declaração.

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3. As declarações sobre reconhecimento de competência podem ser feitas para que esta

vigore por tempo indefinido, por período determinado ou para casos específicos.

4. As declarações serão depositadas na Secretaria-Geral da Organização dos Estados

Americanos, a qual encaminhará cópia das mesmas aos Estados membros da referida

Organização.

Artigo 46º

1. Para que uma petição ou comunicação apresentada de acordo com os artigos 44º ou 45º

seja admitida pela Comissão, será necessário:

a) que hajam sido interpostos e esgotados os recursos da jurisdição interna, de acordo com

os princípios de direito internacional geralmente reconhecidos;

b) que seja apresentada dentro do prazo de seis meses, a partir da data em que o presumido

prejudicado em seus direitos tenha sido notificado da decisão definitiva;

c) que a matéria da petição ou comunicação não esteja pendente de outro processo de

solução internacional; e

d) que, no caso do artigo 44º, a petição contenha o nome, a nacionalidade, a profissão, o

domicílio e a assinatura da pessoa ou pessoas ou do representante legal da entidade que

submeter a petição.

2. As disposições das alíneas a e b do inciso 1 deste artigo não se aplicarão quando:

a) não existir, na legislação interna do Estado de que se tratar, o devido processo legal para

a proteção do direito ou direitos que se alegue tenham sido violados;

b) não se houver permitido ao presumido prejudicado em seus direitos o acesso aos

recursos da jurisdição interna, ou houver sido ele impedido de esgotá-los;e,

c) houver demora injustificada na decisão sobre os mencionados recursos.

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Artigo 47º - A Comissão declarará inadmissível toda petição ou comunicação apresentada

de acordo com os artigos 44º e 45º quando:

a) não preencher algum dos requisitos estabelecidos no artigo 46º;

b) não expuser fatos que caracterizem violação dos direitos garantidos por esta Convenção;

c) pela exposição do próprio peticionário ou do Estado, for manifestamente infundada a

petição ou comunicação ou for evidente sua total improcedência; ou

d) for substancialmente reprodução de petição ou comunicação anterior, já examinada pela

Comissão ou por outro organismo internacional.

Seção 4 - PROCESSO

Artigo 48º

1. A Comissão, ao receber uma petição ou comunicação na qual se alegue violação de

qualquer dos direitos consagrados nesta Convenção, procederá da seguinte maneira:

a) se reconhecer a admissibilidade da petição ou comunicação, solicitará informações ao

Governo do Estado ao qual pertença a autoridade apontada como responsável pela violação

alegada e transcreverá as partes pertinentes da petição ou comunicação. As referidas

informações devem ser enviadas dentro de um prazo razoável, fixado pela Comissão ao

considerar as circunstâncias de cada caso;

b) recebidas as informações, ou transcorrido o prazo fixado sem que sejam elas recebidas,

verificará se existem ou subsistem os motivos da petição ou comunicação. No caso de não

existirem ou não subsistirem, mandará arquivar o expediente;

c) poderá também declarar a inadmissibilidade ou a improcedência da petição ou

comunicação, com base na informação ou prova supervenientes;

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d) se o expediente não houver sido arquivado, e com o fim de comprovar os fatos, a

Comissão procederá, com conhecimento das partes, a um exame do assunto exposto na

petição ou comunicação. Se for necessário e conveniente, a Comissão procederá a uma

investigação para cuja eficaz realização solicitará, e os Estados interessados lhe

proporcionarão, todas as facilidades necessárias;

e) poderá pedir aos Estados interessados qualquer informação pertinente e receberá, se isso

lhe for solicitado, as exposições verbais ou escritas que apresentarem os interessados; e

f) por-se-á à disposição das partes interessadas, a fim de chegar a uma solução amistosa do

assunto, fundada no respeito aos direitos humanos reconhecidos nesta Convenção. 2.

Entretanto, em casos graves e urgentes, pode ser realizada uma investigação, mediante

prévio consentimento do Estado em cujo território se alegue houver sido cometida a

violação, tão-somente com a apresentação de uma petição ou comunicação que reúna todos

os requisitos formais de admissibilidade.

Artigo 49º - Se houver chegado a uma solução amistosa de acordo com as disposições do

inciso 1, f, do artigo 48º, a Comissão redigirá um relatório que será encaminhado ao

peticionário e aos Estados Partes nesta Convenção e, posteriormente, transmitido, para sua

publicação, ao Secretário-Geral das Organização dos Estados Americanos. O referido

relatório conterá uma breve exposição dos fatos e da solução alcançada. Se qualquer das

Partes no caso o solicitar, ser-lhe-á proporcionada a mais ampla informação possível.

Artigo 50º

1. Se não se chegar a uma solução, e dentro do prazo que for fixado pelo Estatuto da

Comissão, esta redigirá um relatório no qual exporá os fatos e suas conclusões. Se o

relatório não representar, no todo ou em parte, o acordo unânime dos membros da

Comissão, qualquer deles poderá agregar ao referido relatório seu voto em separado.

Também se agregarão ao relatório as exposições verbais ou escritas que houverem sido

feitas pelos interessados em virtude do inciso 1, e, do artigo 48º.

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2. O relatório será encaminhado aos Estados interessados, aos quais não será facultado

publicá-lo.

3. Ao encaminhar o relatório, a Comissão pode formular as proposições e recomendações

que julgar adequadas.

Artigo 51º

1. Se, no prazo de três meses, a partir da remessa aos Estados interessados do relatório da

Comissão, o assunto não houver sido solucionado ou submetido à decisão da Corte pela

Comissão ou pelo Estado interessado, aceitando sua competência, a Comissão poderá

emitir, pelo voto da maioria absoluta dos seus membros, sua opinião e conclusões sobre a

questão submetida à sua consideração.

2. A Comissão fará as recomendações pertinentes e fixará um prazo dentro do qual o

Estado deve tomar as medidas que lhe competirem para remediar a situação examinada. 3.

Transcorrido o prazo fixado, a Comissão decidirá, pelo voto da maioria absoluta dos seus

membros, se o Estado tomou ou não medidas adequadas e se publica ou não seu relatório.

Capítulo VIII - CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS

Seção 1 - ORGANIZAÇÃO

Artigo 52º

1. A Corte compor-se-á de sete juízes, nacionais dos Estados membros da Organização,

eleitos a título pessoal dentre juristas da mais alta autoridade moral, de reconhecida

competência em matéria de direitos humanos, que reúnam as condições requeridas para o

exercício das mais elevadas funções judiciais, de acordo com a lei do Estado do qual sejam

nacionais, ou do Estado que os propuser como candidatos.

2. Não deve haver dois juízes da mesma nacionalidade.

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Artigo 53º

1. Os juízes da Corte serão eleitos, em votação secreta e pelo voto da maioria absoluta dos

Estados Partes na Convenção, na Assembléia Geral da Organização, de uma lista de

candidatos propostos pelos mesmos Estados.

2. Cada um dos Estados Partes pode propor até três candidatos, nacionais do Estado que os

propuser ou de qualquer outro Estado membro da Organização dos Estados Americanos.

Quando se propuser uma lista de três candidatos, pelo menos um deles deverá ser nacional

de Estado diferente do proponente. Artigo 54º

1. Os juízes da Corte serão eleitos por um período de seis anos e só poderão ser reeleitos

uma vez. O mandato de três anos dos juízes designados na primeira eleição expirará ao

cabo de três anos. Imediatamente depois da referida eleição, determinar-se-ão por sorteio,

na Assembléia Geral, os nomes desses três juízes. 2. O juiz eleito para substituir outro cujo

mandato não haja expirado completará o período deste.

3. Os juízes permanecerão em funções até o término dos seus mandatos. Entretanto,

continuarão funcionando nos casos de que já houverem tomado conhecimento e que se

encontrarem em fase de sentença e, para tais efeitos, não serão substituídos pelos novos

juízes eleitos.

Artigo 55º

1. O juiz que for nacional de algum dos Estados Partes no caso submetido à Corte

conservará o seu direito de conhecer do mesmo.

2. Se um dos juízes chamados a conhecer do caso for de nacionalidade de um dos Estados

Partes, outro Estado Parte no caso poderá designar uma pessoa de sua escolha para fazer

parte da Corte na qualidade de juiz ad hoc.

3. Se, dentre os juízes chamados a conhecer do caso, nenhum for da nacionalidade dos

Estados Partes, cada um destes poderá designar um juiz ad hoc.

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4. O juiz ad hoc deve reunir os requisitos indicados no artigo 52º.

5. Se vários Estados Partes na Convenção tiverem o mesmo interesse no caso, serão

considerados como uma só parte, para os fins das disposições anteriores. Em caso de

dúvida, a Corte decidirá.

Artigo 56º - O quorum para as deliberações da Corte é constituído por cinco juízes.

Artigo 57º - A Comissão comparecerá em todos os casos perante a Corte.

Artigo 58º

1. A Corte terá sua sede no lugar que for determinado na Assembléia Geral da Organização,

pelos Estados Partes na Convenção, mas poderá realizar reuniões no território de qualquer

Estado membro da Organização dos Estados Americanos

em que o considerar conveniente a maioria dos seus membros e mediante prévia

aquiescência do Estado respectivo. Os Estados Partes na Convenção podem, na Assembléia

Geral, por dois terços dos seus votos, mudar a sede da Corte.

2. A Corte designará seu Secretário.

3. O Secretário residirá na sede da Corte e deverá assistir às reuniões que ela realizar fora

da mesma.

Artigo 59º - A Secretaria da Corte será por esta estabelecida e funcionará sob a direção do

Secretário da Corte, de acordo com as normas administrativas da Secretaria-Geral da

Organização em tudo o que não for incompatível com a independência da Corte. Seus

funcionários serão nomeados pelo Secretário-Geral da Organização, em consulta com o

Secretário da Corte.

Artigo 60º - A Corte elaborará seu Estatuto e submetê-lo-á à aprovação da Assembléia

Geral e expedirá seu Regimento.

Seção 2 - COMPETÊNCIA e FUNÇÕES

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Artigo 61º

1. Somente os Estados Partes e a Comissão têm direito de submeter caso à decisão da

Corte.

2. Para que a Corte possa conhecer de qualquer caso, é necessário que sejam esgotados os

processos previstos nos artigos 48º a 50º.

Artigo 62º

1. Todo Estado Parte pode, no momento do depósito do seu instrumento de ratificação desta

Convenção ou de adesão a ela, ou em qualquer momento posterior, declarar que reconhece

como obrigatória, de pleno direito e sem convenção especial, a competência da Corte em

todos os casos relativos à interpretação ou aplicação desta Convenção.

2. A declaração pode ser feita incondicionalmente, ou sob condição de reciprocidade, por

prazo determinado ou para casos específicos. Deverá ser apresentada ao Secretário-Geral da

Organização, que encaminhará cópias da mesma aos outros Estados membros da

Organização e ao Secretário da Corte.

3. A Corte tem competência para conhecer de qualquer caso relativo à interpretação e

aplicação das disposições desta Convenção que lhe seja submetido, desde que os Estados

Partes no caso tenham reconhecido ou reconheçam a referida competência, seja por

declaração especial, como prevêem os incisos anteriores, seja por convenção especial.

Artigo 63º

1. Quando decidir que houve violação de um direito ou liberdade protegidos nesta

Convenção, a Corte determinará que se assegure ao prejudicado o gozo do seu direito ou

liberdade violados. Determinará também, se isso for procedente, que sejam reparadas as

conseqüências da medida ou situação que haja configurado a violação desses direitos, bem

como o pagamento de indenização justa à parte lesada.

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2. Em casos de extrema gravidade e urgência, e quando se fizer necessário evitar danos

irreparáveis às pessoas, a Corte, nos assuntos de que estiver conhecendo, poderá tomar as

medidas provisórias que considerar pertinentes. Se tratar de assuntos que ainda não

estiverem submetidos ao seu conhecimento, poderá atuar a pedido da Comissão.

Artigo 64º

1. Os Estados membros da Organização poderão consultar a Corte sobre a interpretação

desta Convenção ou de outros tratados concernentes à proteção dos direitos humanos nos

Estados americanos. Também poderão consultá-la, no que lhe compete, os órgãos

enumerados no capítulo X da Carta da Organização dos Estados Americanos, reformada

pelo Protocolo de Buenos Aires.

2. A Corte, a pedido de um Estado membro da Organização, poderá emitir pareceres sobre

a compatibilidade entre qualquer de suas leis internas e os mencionados instrumentos

internacionais.

Artigo 65º - A Corte submeterá à consideração da Assembléia Geral da Organização, em

cada período ordinário de sessões, um relatório sobre suas atividades no ano anterior. De

maneira especial, e com as recomendações pertinentes, indicará os casos em que um Estado

não tenha dado cumprimento as suas sentenças.

Seção 3 - PROCESSO

Artigo 66º

1. A sentença da Corte deve ser fundamentada.

2. Se a sentença não expressar no todo ou em parte a opinião unânime dos juízes, qualquer

deles terá direito a que se agregue à sentença o seu voto dissidente ou individual.

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Artigo 67º - A sentença da Corte será definitiva e inapelável. Em caso de divergência sobre

o sentido ou alcance da sentença, a Corte interpreta-la-á, a pedido de qualquer das partes,

desde que o pedido seja apresentado dentro de noventa dias a partir da data da notificação

da sentença.

Artigo 68º

1. Os Estados Partes na Convenção comprometem-se a cumprir a decisão da Corte em todo

caso em que forem partes.

2. A parte da sentença que determinar indenização compensatória poderá ser executada no

país respectivo pelo processo interno vigente para a execução de sentenças contra o Estado.

Artigo 69º - A sentença da Corte deve ser notificada às partes no caso e transmitida aos

Estados Partes na Convenção.

Capítulo IX - DISPOSIÇÕES COMUNS

Artigo 70º

1. Os juízes da Corte e os membros da Comissão gozam, desde o momento de sua eleição e

enquanto durar o seu mandato, das imunidades reconhecidas aos agentes diplomáticos pelo

Direito Internacional. Durante o exercício dos seus cargos gozam, além disso, dos

privilégios diplomáticos necessários para o desempenho de suas funções.

2. Não se poderá exigir responsabilidade em tempo algum dos juízes da Corte nem dos

membros da Comissão, por votos e opiniões emitidos no exercício de suas funções.

Artigo 71º - Os cargos de juiz da Corte ou de membro da Comissão são incompatíveis com

outras atividades que possam afetar sua independência ou imparcialidade, conforme o que

for determinado nos respectivos Estatutos.

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Artigo 72º - Os juízes da Corte e os membros da Comissão perceberão honorários e

despesas de viagem na forma e nas condições que determinarem os seus Estatutos, levando

em conta a importância e independência de suas funções. Tais honorários e despesas de

viagem serão fixados no orçamento-programa da Organização dos Estados Americanos, no

qual devem ser incluídas, além disso, as despesas da Corte e da sua Secretaria. Para tais

efeitos, a Corte elaborará seu próprio projeto de orçamento e submetê-lo-á à aprovação da

Assembléia Geral, por intermédio da Secretaria-Geral. Esta última não poderá nele

introduzir modificações.

Artigo 73º - Somente por solicitação da Comissão ou da Corte, conforme o caso, cabe à

Assembléia Geral da Organização resolver sobre as sanções aplicáveis aos membros da

Comissão ou aos juízes da Corte que incorrerem nos casos previstos nos respectivos

Estatutos. Para expedir uma resolução, será necessária maioria de dois terços dos votos dos

Estados membros da Organização, no caso dos membros da Comissão; e, além disso, de

dois terços dos votos dos Estados Partes na Convenção, se tratar dos juízes da Corte.

PARTE III - DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIAS

Capítulo X - ASSINATURA, RATIFICAÇÃO, RESERVA, EMENDA, PROTOCOLO E

DENÚNCIA.

Artigo 74º

1. Esta Convenção fica aberta à assinatura e à ratificação ou adesão de todos os Estados

membros da Organização dos Estados Americanos.

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2. A ratificação desta Convenção ou a adesão a ela efetuar-se-á mediante depósito de um

instrumento de ratificação ou de adesão na Secretaria-Geral da Organização dos Estados

Americanos. Esta Convenção entrará em vigor logo que onze Estados houverem depositado

os seus respectivos instrumentos de ratificação ou de adesão. Com referência a qualquer

outro Estado que a ratificar ou que a ela aderir ulteriormente, a Convenção entrará em vigor

na data do depósito do seu instrumento de ratificação ou de adesão.

3. O Secretário-Geral informará todos os Estados membros da Organização sobre a entrada

em vigor da Convenção.

Artigo 75º - Esta Convenção só pode ser objeto de reservas em conformidade com as

disposições da Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados, assinada em 23 de maio de

1969.

Artigo 76º

1. Qualquer Estado Parte, diretamente, e a Comissão ou a Corte, por intermédio do

Secretário-Geral, podem submeter à Assembléia Geral, para o que julgarem conveniente,

proposta de emenda a esta Convenção.

2. As emendas entrarão em vigor para os Estados que ratificarem as mesmas na data em

que houver sido depositado o respectivo instrumento de ratificação que corresponda ao

número de dois terços dos Estados Partes nesta Convenção. Quanto aos outros Estados

Partes, entrarão em vigor na data em que eles depositarem os seus respectivos instrumentos

de ratificação.

Artigo 77º

1. De acordo com a faculdade estabelecida no artigo 31º, qualquer Estado Parte e a

Comissão podem submeter à consideração dos Estados Partes reunidos por ocasião da

Assembléia Geral projetos de Protocolos adicionais a esta Convenção, com a finalidade de

incluir progressivamente no regime de proteção da mesma outros direitos e liberdades.

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2. Cada Protocolo deve estabelecer as modalidades de sua entrada em vigor e será aplicado

somente entre os Estados Partes no mesmo.

Artigo 78º

1. Os Estados Partes poderão denunciar esta Convenção depois de expirado um prazo de

cinco anos, a partir da data da entrada em vigor da mesma e mediante aviso prévio de um

ano, notificando o Secretário-Geral da Organização, o qual deve informar as outras Partes.

2. Tal denúncia não terá o efeito de desligar o Estado Parte interessado das obrigações

contidas nesta Convenção, no que diz respeito a qualquer ato que, podendo constituir

violação dessas obrigações, houver sido cometido por ele anteriormente à data na qual a

denúncia produzir efeito.

Capítulo XI - DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS

Seção 1 - COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS

Artigo 79º - Ao entrar em vigor esta Convenção, o Secretário-Geral pedirá por escrito a

cada Estado membro da Organização que apresente, dentro de um prazo de noventa dias,

seus candidatos a membro da Comissão Interamericana de Direitos Humanos. O Secretário-

Geral preparará uma lista por ordem alfabética dos candidatos apresentados e a

encaminhará aos Estados membros da Organização pelo menos trinta dias antes da

Assembléia Geral seguinte.

Artigo 80º - A eleição dos membros da Comissão far-se-á dentre os candidatos que figurem

na lista a que se refere o artigo 79º, por votação secreta da Assembléia Geral, e serão

declarados eleitos os candidatos que obtiverem maior número de votos e a maioria absoluta

dos votos dos representantes dos Estados membros. Se, para eleger todos os membros da

Comissão, for necessário realizar várias votações, serão eliminados sucessivamente, na

forma que for determinada pela Assembléia Geral, os candidatos que receberem menor

número de votos.

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Seção 2 - CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS

Artigo 81º - Ao entrar em vigor esta Convenção, o Secretário-Geral solicitará por escrito a

cada Estado Parte que apresente, dentro de um prazo de noventa dias, seus candidatos a juiz

da Corte Interamericana de Direitos Humanos. O Secretário-Geral preparará uma lista por

ordem alfabética dos candidatos apresentados e a encaminhará aos Estados Partes pelo

menos trinta dias antes da Assembléia Geral seguinte.

Artigo 82º - A eleição dos juízes da Corte far-se-á dentre os candidatos que figurem na lista

a que se refere o artigo 81º, por votação secreta dos Estados Partes, na Assembléia Geral, e

serão declarados eleitos os candidatos que obtiverem maior número de votos e a maioria

absoluta dos votos dos representantes dos Estados Partes. Se, para eleger todos os juízes da

Corte, for necessário realizar várias votações, serão eliminados sucessivamente, na forma

que for determinada pelos Estados Partes, os candidatos que receberem menor número de

votos.

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ANEXO 3:

CASO ALOEBOETOE

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CORTE INTERAMERICANA DE DERECHOS HUMANOS

CASO ALOEBOETOE Y OTROS

REPARACIONES

(ART. 63.1 CONVENCION AMERICANA SOBRE DERECHOS HUMANOS)

SENTENCIA DE 10 DE SEPTIEMBRE DE 1993

En el caso Aloeboetoe y otros, la Corte Interamericana de Derechos Humanos,

integrada por los siguientes jueces:

Rafael Nieto Navia, Presidente

Sonia Picado Sotela, Vicepresidente

Héctor Fix-Zamudio, Juez

Julio A. Barberis, Juez

Asdrúbal Aguiar-Aranguren, Juez

Antônio A. Cançado Trindade, Juez ad hoc;

presentes, además,

Manuel E. Ventura Robles, Secretario y

Ana María Reina, Secretaria adjunta de acuerdo con el artículo 44.1 del Reglamento

de la Corte Interamericana de Derechos Humanos (en adelante “el Re glamento”), vigente

para los asuntos sometidos a su consideración antes del 31 de julio de 1991, dicta la

siguiente sentencia en la acción iniciada por la Comisión Interamericana de Derechos

Humanos (en adelante “la Comisión”) contra la República de Surina me (en adelante “el

Gobierno” o “Suriname”) y en cumplimiento de la decisión de 4 diciembre de 1991 (Caso

Aloeboetoe y otros, Sentencia de 4 de diciembre de 1991. Serie C No. 11).

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1. El presente caso fue sometido a la Corte Interamericana de Derechos Humanos

(en adelante “la Corte”) por la Comisión el 27 de agosto de 1990 en nota con la que

acompañó el informe 03/90, originado en la denuncia Nº 10.150 de 15 de enero de 1988

contra Suriname.

La Comisión afirmó en su escrito que “el Gobierno de Suriname vio ló los artículos

1, 2, 4(1), 5(1), 5(2), 7(1), 7(2), 7(3), 25(1) y 25(2) de la Convención Americana sobre

Derechos Humanos” (en adelante “la Convención” o “la Convención Americana”), en

virtud de lo cual solicitó “que la Corte decida sobre este caso confor me a las disposiciones

de la Convención, que determine la responsabilidad por la violación señalada y que otorgue

una justa compensación a los familiares de la víctima”.

2. La Comisión presentó su memoria el 1 de abril de 1991.

Los hechos materia de la denuncia habrían sucedido el 31 de diciembre de 1987 en

Atjoni (aldea de Pokigron, Distrito de Sipaliwini) y en Tjongalangapassi, Distrito de

Brokopondo. En Atjoni, más de 20 cimarrones (maroons / bushnegroes) varones inermes

habrían sido atacados, vejados y golpeados con las culatas de sus armas por un grupo de

militares y algunos de ellos habrían sido heridos con bayonetas y cuchillos y detenidos bajo

la sospecha de que eran miembros del grupo subversivo Comando de la Selva. Habría

habido unos 50 testigos.

3. Según la denuncia, todos los implicados negaron que pertenecieran al Comando

de la Selva. El Capitán de la aldea de Gujaba informó explícitamente a un comandante a

cargo de los soldados que se trataba de civiles de varias aldeas, pero éste desatendió la

información.

4. La denuncia afirma que los militares permitieron que algunos de los cimarrones

prosiguieran su viaje, pero siete personas, entre ellas un menor de 15 años, fueron

arrastradas con los ojos vendados al interior de un vehículo militar y llevadas por

Tjongalangapassi rumbo a Paramaribo. Los nombres de las personas que los militares se

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llevaron, su lugar de origen y fecha de nacimiento cuando se conoce son los siguientes:

Daison Aloeboetoe, de Gujaba nacido el 7 de junio de 1960; Dedemanu Aloeboetoe, de

Gujaba; Mikuwendje Aloeboetoe, de Gujaba, nacido el 4 de febrero de 1973; John Amoida,

de Asindonhopo (vivía en Gujaba); Richenel Voola, alias Aside o Ameikanbuka, de

Grantatai (encontrado vivo); Martin Indisie Banai, de Gujaba, nacido el 3 de junio de 1955

y Beri Tiopo, de Gujaba (cfr. infra, párrs. 65 y 66).

5. Continúa la denuncia diciendo que a la altura del kilómetro 30 el vehículo se

detuvo y los militares ordenaron a las víctimas salir de él o fueron sacadas a la fuerza. Se

les dio una pala y se les ordenó que comenzaran a excavar. Aside fue herido al tratar de

escapar, aunque no lo persiguieron. Los otros seis cimarrones fueron asesinados.

6. Expresa la denuncia que el sábado 2 de enero de 1988 hombres de Gujaba y de

Grantatai salieron con destino a Paramaribo para demandar información de las autoridades

sobre las siete víctimas. Visitaron al Coordinador del Interior en Volksmobilisatie y a la

Policía Militar en Fuerte Zeelandia, en donde trataron de ver al Jefe del S-2. Sin haber

obtenido información sobre el paradero de las víctimas, el lunes 4 de enero regresaron a

Tjongalangapassi y en el kilómetro 30 encontraron a Aside gravemente herido y en estado

crítico, así como los cadáveres de las otras víctimas. Aside, que tenía una bala en el muslo

derecho, indicó que él era el único sobreviviente de la masacre, cuyas víctimas ya habían

sido en parte devoradas por los buitres. La herida de Aside se hallaba infectada de gusanos

y sobre el omóplato derecho tenía una cortada en forma de equis. El grupo regresó a

Paramaribo con la información. Después de 24 horas de negociación con las autoridades el

representante de la Cruz Roja Internacional obtuvo permiso para evacuar al señor Aside.

Este fue admitido en el Hospital Académico de Paramaribo el 6 de enero de 1988 pero

falleció pese a los cuidados que recibió. La Policía Militar impidió que los parientes lo

visitaran en el hospital. Hasta el 6 de enero los familiares de las otras víctimas no habían

obtenido autorización para enterrar sus cuerpos.

7. El denunciante original dice haber hablado dos veces con Aside sobre los

acontecimientos y que la historia relatada por éste coincide con la obtenida de los testigos

de los sucesos y participantes en la búsqueda.

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8. La memoria de la Comisión contiene toda la documentación relativa al caso, cuyo

procedimiento inició el 1 de febrero de 1988 y continuó hasta el 15 de mayo de 1990, fecha

en que, de acuerdo con el artículo 50 de la Convención, adoptó el informe Nº 03/90, en el

que resolvió:

1. Admitir el presente caso.

2. Declarar que las partes no han podido arribar a una solución amistosa.

3. Declarar que el Gobierno de Suriname ha faltado a su obligación de respetar los

derechos y libertades consagradas en la Convención Americana sobre Derechos Humanos y

de garantizar su libre y pleno ejercicio tal como lo disponen los artículos 1 y 2 de la

Convención.

4. Declarar que el Gobierno de Suriname ha violado los derechos humanos de las

personas a que se refiere este caso, tal como lo proveen (sic) los artículos 1, 2, 4(1), 5(1),

5(2), 7(1), 7(2), 7(3), 25(1) y 25(2) de la Convención Americana sobre Derechos Humanos.

5. Recomendar al Gobierno de Suriname que adopte las siguientes medidas:

a. Dar efecto a los artículos 1 y 2 de la Convención, garantizando el respecto y goce

de los derechos allí consignados;

b. Investigar las violaciones que ocurrieron en este caso, enjuiciar y castigar a los

responsables de estos hechos;

c. Tomar las medidas necesarias para evitar su reocurrencia (sic);

d. Pagar una justa compensación a los parientes de las víctimas.

6. Transmitir este informe al Gobierno de Suriname y establecer un plazo de 90 días

para implementar las recomendaciones allí contenidas. El período de 90 días comenzará a

correr a partir de la fecha de envío del presente informe. Durante los 90 días en cuestión, el

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Gobierno no podrá publicar este informe, de conformidad con el artículo 47.6 del

Reglamento de la Comisión.

7. Someter este caso a la Corte Interamericana de Derechos Humanos en el caso que

el Gobierno de Suriname no de (sic) cumplimiento a todas las recomendaciones contenidas

en el punto 5.

9. En su memoria del 1 de abril de 1991 la Comisión solicitó a la Corte lo

siguiente:[. . .]Que la Ilustrísima Corte decida que el Estado de Suriname es responsable de

la muerte de los señores Aloeboetoe, Daison; Aloeboetoe, Dedemanu; Aloeboetoe,

Mikuwendje; Amoida, John; Voola, Richenel, alias Aside [o] Ameikanbuka (encontrado

vivo); Banai, Martin Indisie, y Tiopo, Beri, mientras se encontraban detenidos, y que dicha

muerte es una violación de los artículos 1(1) (2), 4 (1), 5 (1) (2), 7 (1) (2) (3) y 25 de la

Convención Americana sobre Derechos Humanos. Que la Corte decida que Suriname debe

reparar adecuadamente a los familiares de las víctimas y que, por lo tanto, ordene: el pago

de una indemnización por daño emergente y lucro cesante, reparación del daño moral,

incluyendo el pago de indemnización y la adopción de medidas de rehabilitación del buen

nombre de las víctimas, y que se investigue el crimen cometido y se provea el castigo de

quienes sean encontrados culpables.[. . .]Que la Corte ordene que Suriname pague las

costas incurridas por la Comisión y las víctimas en el presente caso.[. . .]

10. La contra-memoria de Suriname fue recibida por la Corte el 28 de junio de 1991

y en ella el Gobierno opuso excepciones preliminares.

En ese documento el Gobierno solicitó a la Corte declarar que:

1.- No se puede tener como responsable a Suriname de la desaparición y muerte de

los sujetos indicados por la Comisión.

2.- Que por no haberse demostrado la gestión de la violación imputada a Suriname

no se le obligue a pago de indemnización de tipo alguno por la muerte y desaparición de las

personas que se indica en el informe de la Comisión.

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3.- Que se le exonere del pago de las costas de la presente acción pues no se ha

demostrado la responsabilidad de Suriname con las ejecuciones que se le imputan.

11. En la audiencia pública del 2 de diciembre de 1991, convocada por la Corte para

tratar sobre las excepciones preliminares, Suriname reconoció su responsabilidad en el caso

(cfr. Caso Aloeboetoe y otros, supra párrafo inicial, párr. 22).

12. En consecuencia, la Corte por unanimidad adoptó el 4 de diciembre de 1991 una

sentencia según la cual

1. Toma nota del reconocimiento de responsabilidad efectuado por la República de

Suriname y decide que ha cesado la controversia acerca de los hechos que dieron origen al

presente caso.

2. Decide dejar abierto el procedimiento para los efectos de las reparaciones y

costas del presente caso (Caso Aloeboetoe y otros, supra párrafo inicial, parte resolutiva).

13. El Presidente de la Corte (en adelante “el Presidente”) resolvió el 18 de enero de

1992 otorgar a la Comisión plazo hasta el 31 de marzo de 1992 para ofrecer y presentar las

pruebas de que dispusiere sobre las reparaciones y costas en este caso; y al Gobierno hasta

el 15 de mayo de 1992 para formular sus observaciones al texto de la Comisión. En la

misma resolución el Presidente convocó a las partes a una audiencia pública sobre esta

materia para el día 23 de junio de 1992 a las 10:00 horas. Ante una solicitud de la

Comisión y con la anuencia del Gobierno, el Presidente resolvió el 24 de marzo de 1992

posponer la audiencia antes mencionada para el 7 de julio de ese mismo año a la misma

hora.

14. La Comisión presentó su escrito sobre reparaciones y costas el 31 de marzo de

1992 y el 8 de mayo su traducción al castellano.

15. En él considera que, de acuerdo con el artículo 63.1 de la Convención

Americana y los principios de derecho internacional aplicables, el Gobierno debe

indemnizar a la parte lesionada los perjuicios resultantes del incumplimiento de sus

obligaciones, de manera que las consecuencias de la violación sean reparadas en virtud de

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la regla in integrum restitutio. En su opinión, el Gobierno debería indemnizar los daños

materiales y morales, otorgar otras reparaciones no pecuniarias y restituir los gastos y

costas en que incurrieron los familiares de las víctimas. La Comisión se refiere en su

escrito al monto de los daños y costas, propone un método de pago y enumera las medidas

no pecuniarias solicitadas por las familias de las víctimas.

16. La Comisión efectúa una distinción entre la indemnización de los daños y

perjuicios materiales debida a los hijos menores y la correspondiente a los mayores adultos,

dependientes de las personas asesinadas. Propone la creación de un fideicomiso para los

hijos menores, cuya suma básica consistiría en un importe proporcional a la proyección de

ingresos estimados de la víctima descontado lo que habría sido su propio consumo material,

todo determinado de acuerdo con la metodología del valor actual o presente neto. Esta

metodología supone aplicar, según la Comisión, principios generalmente aceptados

compatibles con el derecho internacional. En relación con los dependientes adultos, la

Comisión pide una cantidad global disponible en un fideicomiso y exigible en la fecha de la

sentencia, calculada con base en los ingresos que tenían las víctimas en la fecha de su

asesinato o mediante pagos anuales que se extiendan hasta la muerte de los beneficiarios en

valores que mantengan el poder adquisitivo. Las sumas reclamadas en florines de

Suriname (en adelante “Sf”), deben ajustarse para que reflejen el valor actual de esa

moneda, ya que se calcularon “en valores monetarios de 1988”.

17. Respecto de las personas que tendrían derecho a una indemnización material, la

Comisión explica que es preciso tomar en consideración la estructura familiar de los

maroons a la cual pertenecen los saramacas, tribu de las víctimas, y que es esencialmente

matriarcal(*) , en la cual es frecuente la poligamia. En Suriname los matrimonios deben

registrarse para ser reconocidos por el Estado, pero por la escasez de oficinas de registro

civil en el interior del país generalmente no lo son, lo cual, a criterio de la Comisión, no

debería afectar el derecho a indemnización de los parientes o cónyuges de matrimonios no

registrados. Se alega que el cuidado de los miembros de la familia está a cargo de un grupo

comunal que sigue la línea materna, lo que debería tenerse en cuenta para determinar a qué

(*) Matrilineal sería probablemente un término antropológico más preciso.

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familiares indemnizar. Los perjuicios personales directos de carácter pecuniario que dan

derecho a obtener indemnización se deberían medir principalmente por el grado de

dependencia financiera que existió entre el reclamante y el difunto. La nómina de las partes

perjudicadas con derecho a ser indemnizadas fue parcialmente confeccionada por la

Comisión con base en declaraciones juradas de parientes de las víctimas.

18. Según la Comisión, el Gobierno estaría obligado, además, a reparar los

perjuicios morales sufridos como consecuencia de las graves repercusiones psicológicas

que produjeron los asesinatos sobre los familiares de las víctimas, hombres que trabajaban

y constituían la principal o única fuente de ingresos para aquellos.

La falta de reacción, investigación o castigo por parte del Gobierno es presentada

como una expresión de que éste asigna poco valor a la vida de los maroons, lo que habría

herido su dignidad y autoestima. En seis de los siete casos, los cuerpos de las víctimas no

fueron entregados para ser enterrados, las autoridades no informaron acerca del lugar donde

se hallaban, no pudieron ser identificados ni se expidieron los certificados de defunción

correspondientes.

19. Sostiene la Comisión que los saramacas también habrían sufrido perjuicios

morales directos y deberían ser indemnizados. Lo explica en los términos siguientes:

En la sociedad Maroon tradicional, una persona no es sólo miembro de su grupo

familiar, sino también miembro de su comunidad aldeana y del grupo tribal. En este caso,

el perjuicio experimentado por los aldeanos debido a la pérdida de miembros de su grupo

debe ser indemnizado. Como los aldeanos constituyen en la práctica una familia en sentido

amplio, [. . .] han sufrido perjuicios emocionales directos como resultado de las violaciones

de la Convención.

Los hechos por los que asumió responsabilidad el Gobierno habrían ocasionado

perjuicios a la tribu Saramaca, agravados por las actividades ulteriores del Gobierno de no

reconocer “los derechos de los negros del Bush”. A criterio de la Comisión, habría una

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relación conflictiva entre el Gobierno y la tribu Saramaca y se presentan los asesinatos

como consecuencia de esa situación.

20. La Comisión expresa que las familias de las víctimas reclaman la adopción de

medidas no pecuniarias tales como que el Presidente de Suriname se disculpe públicamente

por los asesinatos y que los jefes de la tribu Saramaca sean invitados a concurrir al

Congreso de Suriname para que se les presenten disculpas y que el Gobierno publique la

parte dispositiva de esta sentencia. Se pide también que el Gobierno desentierre los

cadáveres de las seis víctimas y sean devueltos a sus familias respectivas, que se dé el

nombre de la tribu Saramaca a un parque, una plaza o una calle en un lugar prominente de

Paramaribo y que el Gobierno investigue los asesinatos cometidos y castigue a los

culpables.

21. La Comisión reclama que el Gobierno pague los gastos y costas en que habrían

incurrido los familiares de las víctimas para hacer valer sus derechos ante la justicia

surinamesa, la Comisión y la Corte.

En su escrito la Comisión detalla algunos aspectos de esta labor que incluiría la

visita del abogado de las víctimas a Suriname, visita al interior del país por parte de

Moiwana 86, designación de ayudantes de investigación para preparar las tres audiencias

para el caso ante la Comisión y el memorándum inicial ante la Corte, contratación de un

profesor adjunto para que se haga cargo del curso universitario que el abogado de las

víctimas no habría podido dictar por atender este caso.

22. En el escrito de la Comisión se concluye:[. . .] En virtud de lo que antecede, la

Comisión de Derechos Humanos y los abogados de las familias de las víctimas solicitan

respetuosamente a la Corte que condene al pago de las siguientes sumas:

Una suma global de Sf 5.114.484, formada por

Sf 1.114.484 por concepto de daños materiales, para los hijos;

Sf 660.000 por concepto de daños morales, para los hijos;

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Sf 1.340.000 por concepto de daños morales, para los dependientes adultos;

Sf 2.000.000 por concepto de daños morales, para la tribu de las víctimas; una suma

anual de Sf 84.040, ajustada en forma incremental, por concepto de daños materiales, para

los dependientes adultos, y una suma global por concepto de costas de Sf 715.618 y US$

18.533; y una suma global por concepto de costos de US$ 32.375.

Para que se mantenga el valor adquisitivo de las sumas denominadas en moneda de

Suriname, solicitamos respetuosamente a la Corte que ordene al Gobierno dar acceso al tipo

de cambio oficial. En caso contrario, los montos deben ser recalculados al tipo de cambio

de mercado de 20:1.

La Corte ha comprobado diferencias entre las versiones en inglés y en castellano del

escrito de la Comisión y entre las cifras y nombres del texto y sus anexos.

23. El 13 de mayo de 1992 el agente de Suriname solicitó al Presidente una

extensión del plazo otorgado al Gobierno para presentar sus observaciones al escrito de la

Comisión sobre reparaciones y costas, por cuanto la versión oficial en castellano fue

remitida al agente el día 12 de mayo de 1992, “exactamente tres días antes de la conclusión

del plazo dado por esta Corte” a su representada. El Presidente accedió a la solicitud y

estableció que las observaciones debían ser presentadas en la Secretaría a más tardar el 22

de mayo de 1992.

El Gobierno las presentó el lunes 25 de mayo de 1992, o sea, el primer día hábil

posterior al vencimiento del plazo otorgado. En ellas el Gobierno sostiene que el hecho de

que la Comisión haya remitido su escrito sobre reparaciones y costas en idioma inglés y

que la traducción al castellano le fuera entregada al agente cuatro días antes del

cumplimiento del plazo que le había otorgado la Corte, “pr odujo una indirecta disminución

del plazo concedido [. . .] para la presentación de su Contra-Memorial y en cierta medida

perjudicó nuevamente nuestra defensa ante esta Corte” (subrayado en el original) ya que

Suriname habría contado únicamente con un plazo de diez días para responder el escrito de

la Comisión sobre reparaciones y costas.

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24. El escrito destaca como hecho significativo que Suriname hubiera reconocido

expresamente ante la Corte su responsabilidad en esta causa, conducta que tuvo como

“fund amento esencial” la circunstancia de que a partir del 25 de mayo de 1991 el país

hubiera retomado el camino de la democracia y que su Presidente, el doctor Venetiaan, se

hubiera comprometido “a respetar y promover el cumplimiento de las obligaciones

referidas al campo de los derechos humanos”. Recuerda que la Comisión expresó en su

Informe Anual de 1991 que, desde que asumió el Presidente Venetiaan, no ha recibido

quejas por supuestas violaciones de los derechos humanos.

25. El Gobierno no pretende desconocer la responsabilidad asumida ante la Corte,

pero estima que las indemnizaciones y costas reclamadas por la Comisión son

excesivamente onerosas y “desvirtúan el sentido de lo establecido en el artículo 63.1 de la

Convención”. Añade que los ingresos posib les de las víctimas presentados por la Comisión

no corresponden a la realidad.

26. Suriname agrega que, según su legislación interna, sólo le es permitido efectuar

pagos en moneda nacional y que, por lo tanto, abonará en esa moneda todas las

obligaciones monetarias que sean fijadas en esta sentencia.

27. En cuanto a la indemnización de los daños materiales ocurridos, el Gobierno

manifiesta que ésta debe fundarse en la Convención Americana y en los principios de

derecho internacional vigentes en la materia, tal como lo indicó la Corte en el caso Godínez

Cruz [Caso Godínez Cruz, Indemnización Compensatoria, Sentencia de 21 de julio de

1989, (art. 63.1 Convención Americana sobre Derechos Humanos). Serie C No. 8, párr.

29]. Las normas consuetudinarias de la tribu Saramaca no deben ser vinculantes para fijar

el monto de la indemnización que se otorgue a los familiares de las víctimas, cuyo vínculo

familiar debe ser acreditado según la Convención Americana y los principios de derecho

internacional atinentes a la materia.

28. Suriname admite la indemnización por daños morales y cita los precedentes de

los casos Velásquez Rodríguez y Godínez Cruz en los que dicha indemnización habría sido

otorgada después de haberse demostrado el perjuicio psíquico en los familiares de las

víctimas según peritaje médico [Caso Velásquez Rodríguez, Indemnización compensatoria,

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Sentencia de 21 de julio de 1989, (art. 63.1 Convención Americana sobre Derechos

Humanos). Serie C No. 7, párr. 51; Caso Godínez Cruz, Indemnización Compensatoria,

supra 27, párr. 49], lo cual, según el Gobierno, no habría ocurrido en este caso en el que no

se han aportado pruebas al respecto.

29. Suriname se opone a la solicitud de la Comisión de indemnizar por perjuicios

morales a la tribu Saramaca, pues nada solicitó para ella en el proceso de fondo. En su

escrito expresa:

Admitir en la presente etapa de INDEMNIZACION COMPENSATORIA una

nueva causal indemnizatoria, equivaldría admitir la violación de una nueva obligación de

carácter internacional -(no identificada ni imputada al presente momento por la Comisión)-

no presentada por la Comisión en sus alegatos previos; no analizada por la Corte durante

las diversas etapas del proceso, ni desvirtuada por la defensa de Suriname durante las

audiencias previas -(aparte de la evidente indefensión que eso causa a nuestra parte)-.

30. Argumenta el Gobierno que la Comisión actúa con abogados externos que

aparecen como abogados de las víctimas, en funciones que deberían haber sido

desempeñadas por sus propios funcionarios y con honorarios de 250 dólares de los Estados

Unidos de América (en adelante “dólares” o “US$”) por hora, tarifa que no se ajusta a la

realidad “interamericana”. Los familiares de las víctimas, además, no interpusieron

ninguna denuncia ante la justicia surinamesa y la Comisión conoció el caso apenas quince

días después de ocurridos los hechos.

31. En cuanto a la reparación no pecuniaria solicitada por la Comisión, considera el

Gobierno que el reconocimiento de responsabilidad hecho público mediante la sentencia de

esta Corte de 4 de diciembre de 1991 constituye una forma de reparación y satisfacción

moral de significación e importancia para los familiares de las víctimas y para la tribu

Saramaca.

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32. Suriname recusa en su escrito a los expertos que la Comisión había ofrecido

para que declararan en la audiencia fijada para el 7 de julio de 1992. Dice que los expertos

deberían deponer mediante declaración jurada, para lo cual ya habría vencido la etapa

procesal respectiva, y que sólo serían admisibles en la audiencia declaraciones

testimoniales. El Gobierno ofrece en su escrito las pruebas correspondientes.

33. A título de conclusión, el escrito de Suriname manifiesta: Suriname desea

expresar a la Corte, que en su opinión la indemnización en el presente caso contencioso,

deberá de abarcar fundamentalmente medidas de carácter no financiero que incluyen

facilidades de consecución sin costo alguno de vivienda propia, propiedad agraria,

seguridad social, laboral, médica y educativa. Por tal razón Suriname está en la

disposición de brindar en un plazo razonable a los familiares de las víctimas las facilidades

antes descritas; las cuales serían cuantificadas como parte de la justa indemnización

patrimonial que se obligaría a pagar.

34. El Gobierno considera fuera de la realidad social y económica existente en

Suriname los criterios indemnizatorios sustentados por la Comisión. Expresa que Suriname

se ha presentado ante la Corte “con el fin de rectificar el desviado camino previamente

seguido por anteriores gobiernos, así como mostrar a la Corte y la comunidad internacional

la seriedad de las intenciones que en materia de protección de los derechos humanos tiene

el Gobierno del Presidente Venetiaan”, actitud que no debe servir como pretexto para

imponer al país indemnizaciones millonarias que lo empobrezcan aún más.

35. Frente a lo expresado por las partes, las pruebas ofrecidas y la recusación

efectuada por Suriname respecto de los peritos propuestos por la Comisión, el Presidente

resolvió el 19 de junio de 1992 que la audiencia convocada para el 7 de julio de 1992 (ver

supra, párr. 13) tendría por objeto escuchar los argumentos de Suriname y las

observaciones de la Comisión acerca de las recusaciones planteadas y recibir, si procediere,

las declaraciones ofrecidas por las partes y escuchar los alegatos de éstas sobre las

reparaciones y las costas.

36. La audiencia pública sobre reparaciones y costas tuvo lugar en la sede de la

Corte el día 7 de julio de 1992.

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Comparecieron ante la Corte

a) por el Gobierno de Suriname:

b) Carlos Vargas Pizarro, agente

c) Fred M. Reid, representante del Ministerio de Relaciones Exteriores

d) Jorge Ross Araya, abogado-asesor

e) por la Comisión Interamericana de Derechos Humanos:

f) Oliver H. Jackman, delegado

g) David J. Padilla, delegado

h) Claudio Grossman, asesor

i) a solicitud de la Comisión:

j) Richard Price

k) Stanley Rensch

l) a solicitud del Gobierno:

m) Ramón de Freitas.

37. En la audiencia la Corte rechazó las recusaciones presentadas por Suriname y

recibió las declaraciones “reservándose el derecho de valorar[las] po steriormente”. Los

testigos y peritos propuestos por las partes respondieron a los interrogatorios de éstas y de

los jueces.

38. En el curso de este litigio, se recibió en calidad de amicus curiae un escrito de la

Comisión Internacional de Juristas.

39. Por considerarlo necesario para obtener una información más completa para

determinar el monto de las indemnizaciones y las costas, el Presidente, oído el parecer de la

Comisión Permanente, decidió el 24 de septiembre de 1992 utilizar los servicios como

expertos de los señores Christopher Healy y Merina Eduards. Mediante resolución de 16

de marzo de 1993 la Corte resolvió “[d]ar vista oportunamente a las partes de la

información suministrada por los peritos en este caso”. Igualmente solicitó a las partes

aclaraciones e informaciones adicionales.

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En efecto, el 18 de marzo de 1993 pidió a la Comisión que remitiera “una lista

definitiva con los nombres correctos de las personas que alega que son los hijos y los

cónyuges de las víctimas” en este caso y el 20 de marzo de 1993 al Gobierno que enviara “a

la Corte los datos y consideraciones que el Gobierno de Suriname estime convenientes

aportar al respecto”. Una lista definitiva de las esposas, hijos y otros dependientes de las

víctimas de fecha 8 de abril de 1993 elaborada por la Comisión, fue entregada en la

Secretaría de la Corte el 14 de ese mes. Por nota de 26 de abril de 1993 el Presidente

otorgó al Gobierno un plazo de 20 días para que formulara observaciones a la

documentación remitida por la Comisión a la Corte. El Gobierno no realizó observación

alguna ni presentó la información que se le había solicitado.

40. Durante el período extraordinario de sesiones celebrado del 15 al 18 de marzo

de 1993, la Corte decidió que su Secretaria adjunta, Ana María Reina, viajara a Suriname

para obtener información adicional acerca de la situación económica, financiera y bancaria

del país, así como para conocer la aldea de Gujaba, a fin de obtener información

enderezada a facilitar al Tribunal dictar una sentencia ajustada a la realidad surinamesa.

Oportunamente se informó a las partes sobre lo anterior.

La información y los datos obtenidos en esta visita mediante entrevistas y

documentos, tanto en Paramaribo como en la aldea de Gujaba, han sido también utilizados

por la Corte para la fijación del monto de las indemnizaciones.

41. En el presente caso la Corte es competente para decidir sobre el pago de

reparaciones y costas. Suriname es Estado Parte de la Convención Americana desde el 12

de noviembre de 1987, fecha en que aceptó también la competencia contenciosa de la

Corte. El caso fue presentado a la Corte por la Comisión de acuerdo con los artículos 51 y

61 de la Convención Americana y 50 de su Reglamento y fallado por la Corte en cuanto al

fondo el 4 de diciembre de 1991.

42. En este litigio, Suriname ha reconocido su responsabilidad por los hechos

articulados en la memoria de la Comisión. Por ello, y tal como lo expresó la Corte en su

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sentencia de 4 de diciembre de 1991, “ha cesado la controversia en cuanto a los hechos que

dieron origen al presente caso” (Caso Aloeboetoe y otros, supra párrafo inicial, párr. 23).

Esto significa que se tienen por ciertos aquellos expuestos en la memoria de la Comisión

del 27 de agosto de 1990. Pero, en cambio, existen diferencias entre las partes acerca de

otros hechos que se relacionan con las reparaciones y el alcance de las mismas. La

controversia sobre estas materias será decidida por la Corte en la presente sentencia.

43. La disposición aplicable a las reparaciones es el artículo 63.1 de la Convención

Americana que prescribe lo siguiente:

1. Cuando decida que hubo violación de un derecho o libertad protegidos en esta

Convención, la Corte dispondrá que se garantice al lesionado en el goce de su derecho o

libertad conculcados. Dispondrá asimismo, si ello fuera procedente, que se reparen las

consecuencias de la medida o situación que ha configurado la vulneración de esos

derechos y el pago de una justa indemnización a la parte lesionada.

Este artículo constituye una norma consuetudinaria que es, además, uno de los

principios fundamentales del actual derecho de gentes tal como lo han reconocido esta

Corte (cfr. Caso Velásquez Rodríguez, Indemnización Compensatoria, supra 28, párr. 25;

Caso Godínez Cruz, Indemnización Compensatoria, supra 27, párr. 23) y la jurisprudencia

de otros tribunales (cfr. Usine de Chorzów, compétence, arrêt N° 8, 1927, C.P.J.I., Série A,

N° 9, p. 21; Usine de Chorzów, fond, arrêt N° 13, 1928, C.P.J.I., Série A, N° 17, p. 29;

Interprétation des traités de paix conclus avec la Bulgarie, la Hongrie et la Roumanie,

deuxième phase, avis consultatif, C.I.J., Recueil 1950 , p. 228).

44. La obligación contenida en el artículo 63.1 de la Convención es de derecho

internacional y éste rige todos sus aspectos como, por ejemplo, su extensión, sus

modalidades, sus beneficiarios, etc. Por ello, la presente sentencia impondrá obligaciones

de derecho internacional que no pueden ser modificadas ni suspendidas en su cumplimiento

por el Estado obligado invocando para ello disposiciones de su derecho interno (cfr. Caso

Velásquez Rodríguez, Indemnización Compensatoria, supra 28, párr. 30; Caso Godínez

Cruz, Indemnización Compensatoria, supra 27, párr. 28; Jurisdiction of the Courts of

Danzig, advisory opinion, 1928, P.C.I.J., Series B, No. 15, pp. 26 y 27; Question des

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“communautés” gréco -bulgares, avis consultatif, 1930, C.P.J.I., Série B, N° 17, pp. 32 y 35;

Affaire des zones franches de la Haute-Savoie et du pays de Gex (deuxième phase),

ordonnance du 6 decembre 1930, C.P.J.I., Série A, N° 24, p. 12; Affaire des zones franches

de la Haute-Savoie et du pays de Gex, arrêt, 1932, C.P.J.I., Série A/B, N° 46, p. 167;

Traitement des nationaux polonais et des autres personnes d’origine ou de langue polonaise

dans le territoire de Dantzig, avis consultatif, 1932, C.P.J.I., Série A/B, N° 44, p. 24).

45. Una vez precisado que la obligación de reparar pertenece al derecho de gentes y

está regida por él, la Corte estima conveniente examinar detalladamente su extensión.

46. El artículo 63.1 de la Convención distingue entre la conducta que el Estado

responsable de una violación debe observar desde el momento de la sentencia de la Corte y

las consecuencias de la actitud del mismo Estado en el pasado, o sea, mientras duró la

violación. En cuanto al futuro, el artículo 63.1 dispone que se ha de garantizar al lesionado

el goce del derecho o de la libertad conculcados. Respecto del tiempo pasado, esa

prescripción faculta a la Corte a imponer una reparación por las consecuencias de la

violación y una justa indemnización.

En lo que se refiere a violaciones al derecho a la vida, como en este caso, la

reparación, dada la naturaleza del derecho violado, adquiere fundamentalmente la forma de

una indemnización pecuniaria (Caso Velásquez Rodríguez, Sentencia de 29 de julio de

1988. Serie C No. 4, párr. 189; Caso Godínez Cruz, Sentencia de 20 de enero de 1989.

Serie C No. 5, párr. 199).

47. La Comisión interpreta el artículo 63.1 de la Convención en el sentido de que

instituye como regla la obligación de restablecer el statu quo ante. En otro pasaje de su

escrito, la Comisión se refiere a la in integrum restitutio, a la que parece tomar como

sinónimo del restablecimiento del statu quo ante. Independientemente de la terminología

empleada, la Comisión sostiene que la indemnización a pagar por Suriname ha de ser de un

monto tal que repare todas las consecuencias de las violaciones ocurridas.

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48. Antes de analizar estas reglas en el plano jurídico, es preciso hacer algunas

consideraciones sobre los actos humanos en general y cómo éstos se presentan en la

realidad.

Todo acto humano es causa de muchas consecuencias, próximas unas y otras

remotas. Un viejo aforismo dice en este sentido: causa causæ est causa causati. Piénsese

en la imagen de una piedra que se arroja a un lago y que va produciendo en las aguas

círculos concéntricos cada vez más lejanos y menos perceptibles. Así, cada acto humano

produce efectos remotos y lejanos.

Obligar al autor de un hecho ilícito a borrar todas las consecuencias que su acto

causó es enteramente imposible porque su acción tuvo efectos que se multiplicaron de

modo inconmensurable.

49. El Derecho se ha ocupado de tiempo atrás del tema de cómo se presentan los

actos humanos en la realidad, de sus efectos y de la responsabilidad que originan. En el

orden internacional, la sentencia arbitral en el caso del “Alabama” se ocupa ya de esta

cuestión (Moore, History and Digest of International Arbitrations to which the United

States has been a Party, Washington, D.C., 1898, vol. I, pp. 653-659).

La solución que da el Derecho en esta materia consiste en exigir del responsable la

reparación de los efectos inmediatos de los actos ilícitos, pero sólo en la medida

jurídicamente tutelada. Por otra parte, en cuanto a las diversas formas y modalidades de

reparación, la regla de la in integrum restitutio se refiere a un modo como puede ser

reparado el efecto de un acto ilícito internacional, pero no es la única forma como debe ser

reparado, porque puede haber casos en que aquella no sea posible, suficiente o adecuada

(cfr. Usine de Chorzów, fond , supra 43, p. 48). De esta manera, a juicio de la Corte, debe

ser interpretado el artículo 63.1 de la Convención Americana.

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50. Se ha expresado anteriormente que en lo que hace al derecho a la vida no resulta

posible devolver su goce a las víctimas. En estos casos, la reparación ha de asumir otras

formas sustitutivas, como la indemnización pecuniaria (supra, párr. 46).

Esta indemnización se refiere primeramente a los perjuicios materiales sufridos. La

jurisprudencia arbitral considera que, según un principio general de derecho, éstos

comprenden tanto el daño emergente como el lucro cesante (cfr. Chemin de fer de la baie

de Delagoa, sentence, 29 mars 1900, Martens, Nouveau Recueil Général de Traités, 2ème

Série, t. 30, p. 402; Case of Cape Horn Pigeon, 29 November 1902, Papers relating to the

Foreign Relations of the United States, Washington, D.C.: Government Printing Office,

1902, Appendix I, p. 470). También, la indemnización debe incluir el daño moral sufrido

por las víctimas. Así lo han decidido la Corte Permanente de Justicia Internacional [Traité

de Neuilly, article 179, annexe, paragraphe 4 (interprétation), arrêt N° 3, 1924, C.P.J.I.,

Série A, N° 3, p. 9] y los tribunales arbitrales (Maal Case, 1 June 1903, Reports of

International Arbitral Awards, vol. X, pp. 732 y 733 y Campbell Case, 10 June 1931,

Reports of International Arbitral Awards, vol. II, p. 1158).

51. En el presente caso, las víctimas muertas en Tjongalangapassi sufrieron un

perjuicio moral al ser vejadas por una banda armada que las privó de su libertad y luego las

asesinó. Las agresiones recibidas, el dolor de verse condenado a muerte sin razón alguna,

el suplicio de tener que cavar su propia fosa constituyen una parte del perjuicio moral

sufrido por las víctimas. Además, aquella que no murió en un primer momento debió

soportar que sus heridas fueran invadidas por los gusanos y ver que los cuerpos de sus

compañeros servían de alimento a los buitres.

52. El daño moral infligido a las víctimas, a criterio de la Corte, resulta evidente

pues es propio de la naturaleza humana que toda persona sometida a las agresiones y

vejámenes mencionados experimente un sufrimiento moral. La Corte estima que no se

requieren pruebas para llegar a esta conclusión y resulta suficiente el reconocimiento de

responsabilidad efectuado por Suriname en su momento.

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53. El perjuicio material es objeto de análisis en los párrafos 88 y siguientes de esta

sentencia.

54. Los daños sufridos por las víctimas hasta el momento de su muerte dan derecho

a una indemnización. Ese derecho de las víctimas se transmite por sucesión a sus

herederos.

La indemnización que se debe pagar por el hecho de haber privado a alguien de su

vida es un derecho propio que corresponde a aquellos que han resultado perjudicados. Por

esta razón, la jurisprudencia de los tribunales internos de los Estados acepta generalmente

que el derecho de solicitar la indemnización por la muerte de una persona corresponde a los

sobrevivientes que resultan afectados por ella. Esa jurisprudencia establece una distinción

entre los sucesores y los terceros perjudicados. En cuanto a los primeros, se presume que la

muerte de la víctima les ha causado un perjuicio material y moral y estaría a cargo de la

contraparte probar que tal perjuicio no ha existido. Pero los reclamantes que no son

sucesores, tal como se expone más abajo (cfr. infra, párr. 68), deben aportar determinadas

pruebas para justificar el derecho a ser indemnizados.

55. En el caso presente, en cuanto a la determinación de los sucesores de las

víctimas, existe disparidad de criterios entre las partes: la Comisión reclama la aplicación

de las costumbres de la tribu Saramaca, en tanto que Suriname solicita la aplicación de su

derecho civil.

La Corte manifestó anteriormente que la obligación de reparar prevista en el artículo

63.1 de la Convención Americana es una obligación de derecho internacional, el cual rige

también sus modalidades y sus beneficiarios (supra, párr. 44). Sin embargo, conviene

precisar el derecho interno vigente en cuanto al régimen de familia pues éste puede ser

aplicable en algunos aspectos.

56. Los saramacas son una tribu que vive en el territorio de Suriname y que se

constituyó con los esclavos africanos que huían de los propietarios holandeses. El escrito

de la Comisión sostiene que los saramacas gozan de autonomía interna en virtud de un

tratado del 19 de septiembre de 1762, el cual les permitiría regirse por sus propias leyes.

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Allí expresa que ese pueblo “adquirió su s derechos sobre la base de un tratado celebrado

con los Países Bajos, por el cual se les reconoce, entre otras cosas, la autoridad local de los

Saramaca (sic) sobre su propio territorio”. A dicho escrito se acompaña el texto de la

convención mencionada y se añade que las “obligaciones del tratado son aplicables por

sucesión al estado (sic) de Suriname”.

57. La Corte no considera necesario investigar si dicho convenio es un tratado

internacional. Sólo se limita a observar que si así hubiera sido, el tratado hoy sería

nulo por ser contrario a reglas de jus cogens superveniens. En efecto, en ese convenio los

saramacas se obligan, entre otras cosas, a capturar los esclavos que hayan desertado, a

hacerlos prisioneros y a devolverlos al Gobernador de Suriname, quien les pagará entre 10

y 50 florines por cada uno, según la distancia del lugar de su captura. Otro artículo faculta

a los saramacas a vender a los holandeses, en calidad de esclavos, otros prisioneros que

pudieren capturar. Un convenio de esta índole no puede ser invocado ante un tribunal

internacional de derechos humanos.

58. La Comisión ha puntualizado que no pretende que los saramacas constituyan

actualmente una comunidad con subjetividad internacional, sino que la autonomía que

reclama para la tribu es de derecho público interno.

La Corte no estima necesario averiguar si los saramacas gozan de autonomía

legislativa y jurisdiccional dentro de la región que ocupan. La única cuestión que aquí

interesa consiste en saber si las leyes de Suriname relativas a derecho de familia se aplican

a la tribu Saramaca. En este sentido, las pruebas producidas permiten deducir que las leyes

de Suriname sobre esa materia no tienen eficacia respecto de aquella tribu; sus integrantes

las desconocen y se rigen por sus propias reglas y el Estado, por su parte, no mantiene la

estructura necesaria para el registro de matrimonios, nacimientos y defunciones, requisito

indispensable para la aplicación de la ley surinamesa. Además, los conflictos que ocurren

en estas materias no son sometidos por los saramacas a los tribunales del Estado y la

intervención de éstos en las materias mencionadas, respecto de los saramacas, es

prácticamente inexistente. Cabe señalar también que en este proceso Suriname reconoció

la existencia de un derecho consuetudinario saramaca.

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La única prueba que aparece en sentido contrario es la declaración del señor Ramón

de Freitas, pero la Corte se ha formado un concepto del testigo a través de la forma cómo

declaró, de la actitud asumida en la audiencia y de la personalidad demostrada en ella, que

la lleva a desechar su testimonio.

59. La Comisión ha ofrecido diversas pruebas acerca de la estructura social de los

saramacas según la cual esta tribu presenta una configuración familiar fuertemente

matriarcal(*), con casos frecuentes de poligamia. El principal conjunto de parientes sería el

“bêè”, formado por todas las personas que descienden de una misma mujer. Este grupo

asumiría la responsabilidad por los actos de cualesquiera de sus miembros y, en teoría, cada

uno de éstos sería responsable ante el grupo en conjunto. Esto significaría que la

indemnización que deba pagarse a una persona, se da al “bêè” y su representante la

distribuye entre sus miembros.

60. La Comisión solicita también una indemnización a favor de los afectados y su

distribución entre ellos. Si se examina su escrito, puede advertirse que la determinación de

los beneficiarios de la indemnización no ha sido hecha según la costumbre saramaca, al

menos tal como la Comisión la ha expuesto ante la Corte. No es posible precisar cuál es la

norma jurídica aplicada por la Comisión en esta materia. Parecería que simplemente se ha

guiado por un criterio pragmático.

De la misma manera, al tratar del monto de la indemnización y su distribución, el

escrito de la Comisión indica que ha recurrido a “un sistema de equilibrio” que incluye los

factores siguientes: la edad de la víctima, sus ingresos reales y potenciales, el número de

sus dependientes y las costumbres y solicitudes de los bushnegroes.

61. El convenio Nº 169 de la O.I.T. sobre pueblos indígenas y tribales en países

independientes (1989) no ha sido aprobado por Suriname y en el derecho de gentes no

existe ninguna norma convencional ni consuetudinaria que determine quiénes son los

sucesores de una persona. Por consiguiente, es preciso aplicar los principios generales de

derecho (art. 38.1.c del Estatuto de la Corte Internacional de Justicia).

(*) Matrilineal sería probablemente un término antropológico más preciso.

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62. Es una regla común en la mayoría de las legislaciones que los sucesores de una

persona son sus hijos. Se acepta también generalmente que el cónyuge participa de los

bienes adquiridos durante el matrimonio y algunas legislaciones le otorgan además un

derecho sucesorio junto con los hijos. Si no existen hijos ni cónyuge, el derecho privado

común reconoce como herederos a los ascendientes. Estas reglas generalmente admitidas

en el concierto de las naciones deben ser aplicadas, a criterio de la Corte, en el presente

litigio a fin de determinar los sucesores de las víctimas en lo relativo a la indemnización.

Estos principios generales de derecho se refieren a “hijos”, “cónyuge” y

“ascendientes”. Estos términos deben ser interpretados según el derecho local. Este, como

ya se ha indicado (supra, párr. 58), no es el derecho surinamés porque no es eficaz en la

región en cuanto a derecho de familia. Corresponde pues tener en cuenta la costumbre

saramaca. Esta será aplicada para interpretar aquellos términos en la medida en que no sea

contraria a la Convención Americana. Así, al referirse a los “asc endientes”, la Corte no

hará ninguna distinción de sexos, aún cuando ello sea contrario a la costumbre saramaca.

63. La identificación de los hijos de las víctimas, de sus cónyuges y, eventualmente,

de sus ascendientes ha ofrecido graves dificultades en este caso. Se trata de miembros de

una tribu que vive en la selva, en el interior de Suriname y se expresa sólo en su lenguaje

nativo. Los matrimonios y los nacimientos no han sido registrados en muchos casos y,

cuando así ha ocurrido, no se han incluído datos suficientes para acreditar enteramente la

filiación de las personas. La cuestión de la identificación se torna aún más difícil en una

comunidad en la que se practica la poligamia.

64. Suriname ha efectuado en sus observaciones una crítica general al escrito de la

Comisión acerca de las pruebas aportadas por ella. Así afirma “que requerimos conocer,

basados en datos racionales y ciertamente comprobables, detalles específicos de todas las

víctimas, respecto del elenco familiar que quedó desprotegido [. . .]”.

Es cierto que la identidad de las personas debe probarse, en general, mediante la

documentación correspondiente. Pero la situación en que se encuentran los saramacas se

debe en gran medida a que el Estado no mantiene en la región los registros civiles en

número suficiente y por ello no puede otorgar la documentación a todos los habitantes con

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base en los datos obrantes en ellos. Suriname no puede exigir entonces que se pruebe la

filiación y la identidad de las personas mediante elementos que no suministra a todos sus

habitantes en aquella región. Por otra parte, Suriname no ha ofrecido en este litigio suplir

su inacción aportando otras pruebas sobre la identidad y la filiación de las víctimas y sus

sucesores.

A fin de precisar los datos relativos a los sucesores, la Corte solicitó a la Comisión

datos complementarios acerca de ellos. La Corte estima que las pruebas producidas,

teniendo en cuenta las circunstancias del caso, son verosímiles y pueden ser admitidas.

65. En los datos de la Comisión aparecen, sin embargo, algunas diferencias en los

nombres de las víctimas con los que fueron mencionados en la denuncia (ver supra, párr. 4).

Así, Deede-Manoe Aloeboetoe aparece en la denuncia como Dedemanu Aloeboetoe, lo

cual se explica porque en ambos casos la pronunciación es igual. El nombre de Bernard

Tiopo figura en la denuncia como Beri Tiopo, que era uno de sus sobrenombres o apodos

ya que era conocido como Beri o Finsié. Ha habido también una confusión en cuanto al

nombre de Indie Hendrik Banai, que apareció primeramente como Martin Indisie Banai,

pero su identificación no ha ofrecido reparos. Respecto de la víctima que figuraba en la

denuncia como John Amoida, se trata de un hijo de Pagai Amoida llamado Asipee Adame.

Su identificación tampoco ofreció reparos.

66. De conformidad con lo expuesto anteriormente ha sido posible elaborar una lista

de los sucesores de las víctimas. Dicha lista hace referencia a la situación existente en el

momento del asesinato. Por lo tanto, se incluye en ella a personas que fallecieron

posteriormente y se excluye a aquellas esposas que en aquel momento estaban divorciadas

de las víctimas.

Daison Aloeboetoe, sus esposas:sus hijos:

Wenke Asodanoe, Podini Asodanoe, Maradona Asodanoe, Aingifesie Aloeboetoe

, Leona Aloeboetoe

Deede-Manoe Aloeboetoe, sus esposas:sus hijos:

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Asoidamoeje Tiopo ,Klucion Tiopo, Norma Aloeboetoe, Moitia Foto

Mikuwendje Aloeboetoe,

su madre: Andeja Aloeboetoe,

su padre: Masatin Koedemoesoe

Richenel Voola , sus esposas:sus hijos:

Mangoemaw Adjako (fallecida), Stefan Adjako, Bertholina Adjako, John Adjako,

Godfried Franklin Adjako, Pamela Jaja Adjako, Senda Palestina Esje Lugard, Baba Tiopo

Indie Hendrik Banai, su esposa:sus hijos:

Adelia Koedemoesoe, Elbes Koedemoesoe, Chris Enoi Vorswijk, Aike Karo

Vorswijk, Robert Vorswijk, Etty Vorswijk, Etmelia Adipi, Jenny Alfonsoewa

Bernard Tiopo, sus esposas:sus hijos:

Dina Abauna , Bakapina Abauna, Ajemoe Sampi, Seneja Sampi, Arisin Sampi,

Maritia Vivian Sampi, Anthea Vorswijk, Apintimonie Vorswijk, Glenda Lita Toy

Asipee Adame

su padre: Pagai Amoida

su madre: Aoedoe Adame (fallecida el 29.V.1989).

67. La obligación de reparar el daño causado se extiende en ocasiones, dentro de los

límites impuestos por el orden jurídico, a personas que, sin ser sucesores de la víctima, han

sufrido alguna consecuencia del acto ilícito, cuestión que ha sido objeto de numerosas

decisiones por parte de los tribunales internos. La jurisprudencia establece sin embargo,

ciertas condiciones para admitir la demanda de reparación de daños planteada por un

tercero.

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68. En primer lugar, el pago reclamado debe estar fundado en prestaciones

efectuadas realmente por la víctima al reclamante con independencia de si se trata de una

obligación legal de alimentos. No puede tratarse sólo de aportes esporádicos, sino de pagos

hechos regular y efectivamente en dinero o en especie o en servicios. Lo importante es la

efectividad y la regularidad de la misma.

En segundo lugar, la relación entre la víctima y el reclamante debió ser de

naturaleza tal que permita suponer con cierto fundamento que la prestación habría

continuado si no hubiera ocurrido el homicidio de aquella.

Por último, el reclamante debe haber tenido una necesidad económica que

regularmente era satisfecha con la prestación efectuada por la víctima. En este orden de

cosas, no se trata necesariamente de una persona que se encuentre en la indigencia, sino de

alguien que con la prestación se beneficiaba de algo que, si no fuera por la actitud de la

víctima, no habría podido obtener por sí sola.

69. La Comisión ha presentado una lista de 25 personas que, sin ser sucesores de las

víctimas, reclaman una indemnización como dependientes de ellas. Según la Comisión, se

trata de personas que recibían de las víctimas ayuda económica en dinero, en especie o

mediante aportes de trabajo personal.

Estos dependientes, según el escrito de la Comisión, son parientes de alguna de las

víctimas, salvo el caso de un antiguo educador de una de ellas.

La Comisión presenta estos hechos en su escrito sobre reparaciones y agrega una

ficha correspondiente a cada una de las víctimas. Además, incluye la declaración jurada del

padre o la madre de cada víctima. No existen en estas actuaciones otras pruebas relativas a

la dependencia de las 25 personas respecto de las víctimas, ni en cuanto a los montos, la

regularidad, la efectividad u otras características de las prestaciones que las víctimas

habrían efectuado a dichas personas.

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70. La Comisión ha invocado en reiterados pasajes de su escrito los precedentes del

“Lusitania”, caso que fue resuelto por una Comisión mixta constituída por los Estados

Unidos y Alemania. Pero, en cuanto a las reclamaciones de los dependientes, aquella

Comisión decidió que la indemnización sólo era procedente si se habían probado la

efectividad y la regularidad de las prestaciones hechas por la víctima (cfr. los casos Henry

W. Williamson and others y Ellen Williamson Hodges, administratix of the estate of

Charles Francis Williamson, February 21, 1924, Reports of International Arbitral Awards,

vol. VII, pp. 256 y 257 y Henry Groves and Joseph Groves, February 21, 1924, Reports of

International Arbitral Awards, vol. VII, pp. 257-259).

71. La Corte ha efectuado anteriormente una distinción entre la reparación

correspondiente a los sucesores y la debida a los reclamantes o dependientes. A los

primeros, la Corte otorgará la reparación solicitada porque existe una presunción de que la

muerte de las víctimas les ha causado perjuicio, quedando a cargo de la contraparte la

prueba en contrario (cfr. supra, párr. 54). Pero, respecto de los otros reclamantes o

dependientes, el onus probandi corresponde a la Comisión. Y ésta, a criterio de la Corte, no

ha aportado las pruebas necesarias que permitan demostrar el cumplimiento de las

condiciones indicadas.

72. La Corte es consciente de las dificultades que este caso presenta: se trata de

hechos relativos a una comunidad que habita en la selva, cuyos integrantes son

prácticamente analfabetos y no usan documentación escrita. No obstante se podrían haber

utilizado otros medios de prueba.

73. En virtud de lo expuesto, la Corte rechaza la reclamación de in-demnización por

daño material para los dependientes.

74. La Comisión reclama también una indemnización por el daño moral sufrido por

personas que, sin ser sucesores de las víctimas, eran dependientes de ellas.

75. La Corte estima que, al igual que en el caso de la reparación por perjuicios

materiales alegados por los dependientes, el daño moral, en general, debe ser probado. En

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el presente litigio, a criterio de la Corte, no existen pruebas suficientes para demostrar el

daño en los dependientes.

76. Entre los llamados dependientes de las víctimas figuran los padres de éstas. Los

padres de Mikuwendje Aloeboetoe y de Asipee Adame ya han sido declarados sucesores

(supra, párr. 66) y obtendrán una indemnización por daño moral. Pero esa no es la

situación de los padres de las otras cinco víctimas. No obstante, en este caso particular, se

puede admitir la presunción de que los padres han sufrido moralmente por la muerte cruel

de sus hijos, pues es propio de la naturaleza humana que toda persona experimente dolor

ante el suplicio de su hijo.

77. Por estas razones, la Corte considera procedente que los padres de las víctimas

que no han sido declarados sucesores, participen en la distribución por daño moral.

78. Las personas beneficiarias de la indemnización por daño moral son las

siguientes:

Daison Aloeboetoe

su padre: Abinotoe Banai (fallecido)

su madre: Ajong Aloeboetoe

Deede-Manoe Aloeboetoe

su padre: Abinotoe Banai (fallecido)

su madre: Ajong Aloeboetoe

Richenel Voola

su madre: Dadda Aside

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Indie Hendrik Banai

su padre: Eketo Tiopo

su madre: Goensikonde Banai

Bernard Tiopo

su madre: Angaloemoeje Tiopo.

79. La Corte estima adecuado que se reintegren a los familiares de las víctimas los

gastos efectuados para obtener informaciones acerca de ellas después de su asesinato y los

realizados para buscar sus cadáveres y efectuar gestiones ante las autoridades surinamesas.

En el caso particular de las víctimas Daison y Deede-Manoe Aloeboetoe, la Comisión

reclama sumas iguales con motivo de los gastos efectuados por cada uno. Se trataba de dos

hermanos. Parece, pues, razonable pensar que los familiares hicieron la misma gestión para

ambos e incurrieron en una sola erogación. Por lo tanto, la Corte considera apropiado

reconocer un sólo reembolso en nombre de las dos víctimas.

La Comisión señala en su escrito que estos gastos fueron realizados en todos los

casos por la madre de cada víctima y, a falta de otra prueba, el reintegro será hecho a esas

personas.

80. En el escrito de la Comisión se indica que las víctimas fueron despojadas de

algunos de sus bienes y pertenencias en el momento de su captura. Sin embargo, la

Comisión no efectúa ningún reclamo sobre esta materia, razón por la cual la Corte se

abstiene de analizar la cuestión.

81. La Comisión solicita que la Corte condene a Suriname a pagar a la tribu

Saramaca una indemnización por daño moral y a efectuarle ciertas reparaciones no

pecuniarias.

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Suriname opone a esta reclamación una razón de procedimiento y sostiene que la

Comisión efectuó esta demanda en la etapa de la determinación de la indemnización y que

nada expresó sobre este tema en su memoria del 1 de abril de 1991.

La Corte no estima fundada la argumentación del Gobierno pues en el

procedimiento ante un tribunal internacional una parte puede modificar su petición siempre

que la contraparte tenga la oportunidad procesal de emitir su opinión al respecto (cfr. Usine

de Chorzów, fond, supra 43, p. 7; Neuvième rapport annuel de la Cour permanente de

Justice internationale, C.P.J.I., Série E, No. 9, p. 163).

82. En el escrito y en algunos elementos de prueba presentados por la Comisión se

insinúa la idea de que los asesinatos fueron cometidos por razones raciales y se los

interpreta dentro de una relación conflictiva que habría existido entre el Gobierno y la tribu

Saramaca.

En la denuncia de 15 de enero de 1988, efectuada ante la Comisión, se afirma: “Más

de 20 cimarrones (bushnegroes) fueron golpeados severamente y torturados en Atjoni.

Todos eran varones e iban desarmados, pero los militares sospechaban que eran miembros

del Comando de la Selva”.

La memoria de la Comisión del 1 de abril de 1991 hizo suya esta denuncia y la

incluyó como parte integrante de ella. En todo el curso del procedimiento, la afirmación de

que los militares actuaron sospechando que los saramacas eran miembros del Comando de

la Selva no fue modificada ni desvirtuada. Por lo tanto, el origen de los hechos, tal como

aparece en la memoria del 1 de abril de 1991, no se halla vinculado con una cuestión racial,

sino con una situación de subversión entonces imperante. Si bien se hace referencia en

algún pasaje del escrito de 31 de marzo de 1992 y en la declaración de un experto a la

relación conflictiva que habría entre el Gobierno y los saramacas, no se ha probado en estas

actuaciones que en el asesinato del 31 de diciembre de 1987 el factor racial haya sido un

móvil del crimen. Es cierto que las víctimas del asesinato pertenecían todas a la tribu

Saramaca, pero esa circunstancia por sí sola no permite llegar a la conclusión de que hubo

en el crimen un factor racial.

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83. En su escrito explica la Comisión que en la sociedad maroon tradicional, una

persona no sólo es miembro de su grupo familiar sino, también, de su comunidad aldeana y

del grupo tribal. Los aldeanos constituyen, según ella, una familia en el sentido amplio,

razón por la cual el perjuicio causado a uno de sus miembros constituiría también un daño a

la comunidad, que tendría que ser indemnizado.

La Corte considera, respecto del argumento que funda la reclamación de una

indemnización por daño moral en la particular estructura social de los saramacas que se

habrían perjudicado en general por los asesinatos, que todo individuo, además de ser

miembro de su familia y ciudadano de un Estado, pertenece generalmente a comunidades

intermedias. En la práctica, la obligación de pagar una indemnización moral no se extiende

a favor de ellas ni a favor del Estado en que la víctima participaba, los cuales quedan

satisfechos con la realización del orden jurídico. Si en algún caso excepcional se ha

otorgado una indemnización en esta hipótesis, se ha tratado de una comunidad que ha

sufrido un daño directo.

84. Según la Comisión el tercer fundamento del pago de la indemnización moral a

favor de los saramacas concierne a los derechos que esta tribu tendría sobre el territorio que

ocupa y la violación que habría cometido el Ejército surinamés al haber ingresado en él. La

Comisión ha expresado que la autonomía adquirida por los saramacas, si bien tendría su

fundamento en un tratado, se referiría actualmente sólo al derecho público interno pues no

se reclama para la tribu ningún tipo de personalidad internacional (cfr. supra, párr. 58). La

Comisión, pues, funda la procedencia de la indemnización moral en la presunta violación

de una norma de derecho interno relativa a autonomía territorial.

En estas actuaciones, la Comisión ha presentado sólo el tratado de 1762. La Corte

ya ha expresado su opinión sobre este presunto tratado internacional (cfr. supra, párr. 57).

Ninguna otra disposición de derecho interno escrita o consuetudinaria ha sido presentada

para demostrar la autonomía de los saramacas.

La Corte ha considerado que el móvil racial propuesto por la Comisión no ha sido

debidamente probado y ha hallado improcedente el argumento de la particular estructura

social de la tribu Saramaca. El supuesto de que para la violación del derecho a la vida se

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haya transgredido una norma interna sobre jurisdicción territorial no fundamentaría por

sí solo la indemnización moral reclamada en favor de la tribu. Los saramacas podrían

plantear este presunto incumplimiento del derecho público interno ante la jurisdicción

competente, pero no pueden presentarlo como el elemento que justificaría el pago de una

indemnización moral a toda la tribu.

85. En las sentencias de 21 de julio de 1989, en los casos Velásquez Rodríguez y

Godínez Cruz, la Corte expuso su criterio acerca del cálculo del monto de las

indemnizaciones que deben pagarse (Caso Velásquez Rodríguez, Indemnización

Compensatoria, supra 28, párr. 40 y siguientes; Caso Godínez Cruz, Indemnización

Compensatoria, supra 27, párr. 38 y siguientes).

En esas decisiones la Corte sostuvo que cuando la víctima ha fallecido y los

beneficiarios de la indemnización son sus herederos, los familiares tienen la posibilidad

actual o futura de trabajar o de tener ingresos por sí mismos. Los hijos, a quienes debe

garantizarse la posibilidad de estudiar hasta cierta edad, pueden luego trabajar. A criterio

de la Corte, “[n]o es procedente, entonces, en estos casos atenerse a criterios rígidos [. . .]

sino hacer una apreciación prudente de los daños, vistas las circunstancias de cada caso”

(ibid. párr. 48; ibid. párr. 46).

86. En cuanto a la determinación del monto de la indemnización por daño moral, la

Corte expresó en sus sentencias de 21 de julio de 1989 que “su liquidación debe ajustarse a

los principios de equidad” (ibid. párr. 27; ibid. párr. 25).

87. En el presente caso, la Corte ha seguido los precedentes mencionados. Para la

indemnización del lucro cesante ha efectuado “una apreciación prudente de los daños” y

para la del daño moral ha recurrido a “los principios de equidad”.

Las expresiones “apreciación prudente de los daños” y “principios de equidad” no

significan que la Corte puede actuar discrecionalmente al fijar los montos indemnizatorios.

En este tema, la Corte se ha ajustado en la presente sentencia a métodos seguidos

regularmente por la jurisprudencia y ha actuado con prudencia y razonabilidad al haber

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verificado in situ, a través de su Secretaria adjunta, las cifras que sirvieron de base a sus

cálculos.

88. Para la determinación del monto de la reparación por daños materiales que

percibirán los sucesores de las víctimas, se siguió el criterio de relacionarlo con los

ingresos que éstas habrían obtenido a lo largo de su vida laboral si no hubiera ocurrido

su asesinato. Con ese objeto, la Corte decidió efectuar averiguaciones para estimar los

ingresos que habrían obtenido las víctimas en el mes de junio de 1993, de acuerdo con las

actividades económicas que cada una desarrollaba. La elección de esta fecha obedeció al

hecho de que coincidió con el establecimiento del mercado libre de cambio en Suriname.

De este modo, pudieron salvarse las distorsiones que producía, en la determinación del

monto de las reparaciones, el sistema de cambios fijos frente al proceso inflacionario en

que se desenvuelve la economía del país. En efecto, esta situación restaba confiabilidad a

las proyecciones de largo plazo. Por otra parte, los datos sobre los ingresos de las víctimas

aportados por la Comisión no contaban con suficiente respaldo documental como para

adoptarlos como base del cálculo sin una verificación in situ.

89. La Corte calculó el monto anual de los ingresos de cada víctima en florines

surinameses y luego los convirtió en dólares al tipo de cambio vigente en el mercado libre.

El haber anual se utilizó para determinar los ingresos caídos en el período

transcurrido entre los años 1988 y 1993, ambos incluídos. A la suma obtenida para cada

una de las víctimas se le adicionó un interés con carácter resarcitorio, que está en relación

con las tasas vigentes en el mercado internacional. A este monto se sumó el valor presente

neto de los ingresos correspondientes al resto de la vida laboral de cada individuo. En el

caso del adolescente Mikuwendje Aloeboetoe, se supuso que comenzaría a percibir

ingresos a la edad de 18 años por un monto similar al de aquellos que trabajaban como

obreros de la construcción.

90. Los cálculos realizados de acuerdo con lo indicado en los párrafos anteriores

arrojan las cifras siguientes:

Daison Aloeboetoe US$ 29.173.-

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Deede-Manoe Aloeboetoe 26.504.-

Mikuwendje Aloeboetoe 35.988.-

Richenel Voola 19.986.-

Indie Hendrik Banai 55.991.-

Bernard Tiopo 22.716.-

Asipee Adame 42.060.-

91. En cuanto a la reparación por daño moral, la Corte considera que, habida

consideración de la situación económica y social de los beneficiarios, debe otorgarse en una

suma de dinero que debe ser igual para todas las víctimas, con excepción de Richenel

Voola, a quien se le asignó una reparación que supera en un tercio a la de los otros. Como

ya se ha señalado esta persona estuvo sometida a mayores padecimientos derivados de su

agonía. No existen en cambio elementos para suponer que haya habido diferencias entre

las injurias y malos tratos de que fueron objeto las demás víctimas.

92. A falta de otros elementos y por considerarlo equitativo la Corte ha tomado el

monto total reclamado por la Comisión por daño moral.

Los montos reclamados para cada víctima por la Comisión en Sf fueron ajustados

por un coeficiente representativo de la evolución de los precios internos en Suriname en el

período. El monto obtenido en florines fue convertido a dólares al tipo de cambio del

mercado libre e incrementado con los intereses resarcitorios calculados a la tasa vigente en

el mercado internacional. Luego se procedió a distribuir el total entre las víctimas en la

forma indicada en el párrafo anterior.

93. Los cálculos realizados dan el resultado siguiente:

Daison Aloeboetoe US$ 29.070.-

Deede-Manoe Aloeboetoe 29.070.-

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Mikuwendje Aloeboetoe 29.070.-

Richenel Voola 38.755.-

Indie Hendrik Banai 29.070.-

Bernard Tiopo 29.070.-

Asipee Adame 29.070.-

94. Los gastos incurridos por las familias en razón de la desaparición de las víctimas

fueron determinados a partir de los montos reclamados por la Comisión, excepto en el caso

de los hermanos Daison y Deede-Manoe Aloeboetoe según se explicó precedentemente.

Para determinar su valor actualizado se aplicó idéntico procedimiento al ya descripto para

la reparación por daño moral.

95. Los resultados de ese cálculo son los siguientes:

Daison Aloeboetoe US$ 1.030.-

Deede-Manoe Aloeboetoe 1.030.-

Mikuwendje Aloeboetoe 242.-

Richenel Voola 1.575.-

Indie Hendrik Banai 1.453.-

Bernard Tiopo 1.453.-

Asipee Adame 726.-

96. En la indemnización fijada para los herederos de las víctimas se ha previsto una

suma para que los menores puedan estudiar hasta una determinada edad. Sin embargo,

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estos objetivos no se logran sólo otorgando una indemnización, sino que es preciso también

que se ofrezca a los niños una escuela donde puedan recibir una enseñanza adecuada y una

asistencia médica básica. En el momento actual, ello no ocurre en varias aldeas saramacas.

Los hijos de las víctimas viven, en su mayoría, en Gujaba, donde la escuela y el

dispensario están cerrados. La Corte considera que, como parte de la indemnización,

Suriname está obligado a reabrir la escuela de Gujaba y a dotarla de personal docente y

administrativo para que funcione permanentemente a partir de 1994. Igualmente, se

ordenará que el dispensario allí existente sea puesto en condiciones operativas y reabierto

en el curso de ese año.

97. En cuanto a la distribución de los montos determinados para los diferentes

conceptos, la Corte estima equitativo adoptar los criterios siguientes:

a. De la reparación del daño material correspondiente a cada víctima se adjudica un

tercio a las esposas, que se lo dividirán por partes iguales entre ellas si hubiere más de una,

y dos tercios a los hijos, que también se dividirá por igual entre ellos si hubiere más de uno.

b. La reparación del daño moral correspondiente a cada víctima será dividida así:

una mitad se adjudica a los hijos; un cuarto para las esposas y el otro cuarto para los padres.

Si hubiere más de un beneficiario en alguna de estas categorías, el monto se dividirá entre

ellos por igual.

c. El reintegro de gastos será pagado a la persona que, según el escrito de la

Comisión, lo efectuó.

98. De acuerdo con estas reglas, la distribución de las reparaciones y del reintegro

de gastos da el resultado siguiente:

Daison Aloeboetoe, a sus esposas

Wenke Asodanoe US$ 8.496.-

Aingifesie Aloeboetoe 8.496.-

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a sus hijos

Podini Asodanoe US$ 11.328.-

Maradona Asodanoe 11.328.-

Leona Aloeboetoe 11.328.-

a sus padres

Abinotoe Banai (fallecido) US$ 3.634.-

Ajong Aloeboetoe 4.664.-

Deede-Manoe Aloeboetoe, a sus esposas

Asoidamoeje Tiopo US$ 8.050.-

Norma Aloeboetoe 8.050.-

a sus hijos

Klucion Tiopo US$ 16.104.-

Moitia Foto 16.104.-

a sus padres

Abinotoe Banai (fallecido) US$ 3.633.-

Ajong Aloeboetoe 4.663.-

Mikuwendje Aloeboetoe, a sus padres

Andeja Aloeboetoe US$ 32.771.-

Masatin Koedemoesoe 32.529.-

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Richenel Voola, a sus esposas

Mangoemaw Adjako (fallecida) US$ 8.173.-

Senda Palestina Esje Lugard 8.173.-

a sus hijos

Stefan Adjako US$ 5.451.-

Bertholina Adjako 5.451.-

John Adjako 5.451.-

Godfried Franklin Adjako 5.451.-

Pamela Jaja Adjako 5.451.-

Baba Tiopo 5.451.-

a su madre

Dadda Aside US$ 11.263.-

Indie Hendrik Banai, a su esposa

Adelia Koedemoesoe US$ 25.935.-

a sus hijos

Elbes Koedemoesoe US$ 7.408.-

Chris Enoi Vorswijk 7.408.-

Aike Karo Vorswijk 7.408.-

Robert Vorswijk 7.408.-

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Etty Vorswijk 7.408.-

Etmelia Adipi 7.408.-

Jenny Alfonsoewa 7.408.-

a sus padres

Eketo Tiopo US$ 3.635.-

Goensikonde Banai 5.088.-

Bernard Tiopo, a sus esposas

Dina Abauna US$ 4.946.-

Ajemoe Sampi 4.946.-

Glenda Lita Toy 4.946.-

a sus hijos

Bakapina Abauna US$ 4.947.-

Seneja Sampi 4.947.-

Arisin Sampi 4.947.-

Maritia Vivian Sampi 4.947.-

Anthea Vorswijk 4.947.-

Apintimonie Vorswijk 4.947.-

a su madre

Angaloemoeje Tiopo US$ 8.719.-

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Asipee Adame, a sus padres

Pagai Amoida US$ 35.565.-

Aoedoe Adame (fallecida) 36.291.-

99. A fin de dar cumplimiento a la indemnización pecuniaria fijada en esta

sentencia, el Gobierno debe depositar antes del 1 de abril de 1994 el monto de

US$453.102.- (cuatrocientos cincuenta y tres mil ciento dos dólares) en el Surinaamse

Trustmaatschappij N.V. (Suritrust), Gravenstraat 32, de la ciudad de Paramaribo.

El Gobierno podrá también cumplir con esta obligación depositando una suma

equivalente en florines holandeses. Para determinar esa equivalencia se utilizará el tipo de

cambio vendedor del dólar estadounidense y del florín holandés en la plaza de Nueva York

el día anterior al del pago.

100. Con los fondos recibidos, Suritrust mantendrá fideicomisos en dólares en las

condiciones más favorables de acuerdo con la práctica bancaria a favor de los beneficiarios

indicados. Los que hubieren fallecido serán sustituídos por sus herederos.

Se constituirán dos fideicomisos, uno a favor de los beneficiarios menores de edad y

otro en favor de los beneficiarios mayores.

Una fundación (en adelante “la Fundación”) a la que se refieren los párrafos 103 y

siguientes de esta sentencia, actuará como fideicomitente.

101. El fideicomiso de los menores se constituirá con las indemnizaciones que

deben recibir todos aquellos beneficiarios que no hayan cumplido 21 años de edad y que no

hubieren contraído matrimonio.

Este fideicomiso de los menores operará el tiempo que resulte necesario para que el

último de los beneficiarios alcance la mayoría de edad o contraiga matrimonio. A medida

que cada uno de ellos reúna esta condición, sus aportes pasarán a ser regidos por las

disposiciones sobre el fideicomiso para los mayores (infra, párr. 102).

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102. Los beneficiarios mayores podrán retirar hasta el 25% (veinticinco por ciento)

de lo que les corresponde en el momento en que el Gobierno de Suriname efectúe el

depósito. Con la suma restante se constituirá el fideicomiso para los mayores. Tendrá un

plazo mínimo de tres años y un máximo de 17 años y podrán hacerse retiros semestrales.

La Fundación podrá establecer por razones especiales un régimen distinto.

103. Con el propósito de brindar a los beneficiarios la posibilidad de obtener los

mejores resultados de la aplicación de los montos recibidos por reparaciones, la Corte

dispone la creación de una Fundación. Esta entidad, sin fines de lucro, se constituirá en la

ciudad de Paramaribo, capital de Suriname, y estará integrada por las siguientes personas,

quienes ya han manifestado su aceptación y se desempeñarán ad honórem:

Albert Jozef Brahim

Ilse Labadie

John C. de Miranda

Antonius H. te Dorsthorst

John Kent

Rodney R. Vrede

Armand Ronald Tjong A Hung.

104. La Corte testimonia su agradecimiento a las personas que han aceptado integrar

la Fundación, como un modo de contribuir a una real y eficaz protección de los derechos

humanos en América.

105. Los miembros de la Fundación, en reunión plenaria, definirán, con la

colaboración de la Secretaría ejecutiva de la Corte, su organización, estatuto y reglamento

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así como la forma de operación de los fideicomisos. La Fundación comunicará a la Corte

los textos definitivamente aprobados.

La Fundación estará destinada a actuar como fideicomitente de los fondos

depositados en Suritrust y a asesorar a los beneficiarios en la aplicación de las reparaciones

recibidas o de las rentas que perciban del fideicomiso.

106. La Fundación prestará asesoramiento a los beneficiarios. Si bien los hijos de

las víctimas se cuentan entre los principales beneficiarios, sus madres o los tutores que los

tienen a su cargo no quedan relevados de la obligación de prestarles gratuitamente

asistencia, alimento, vestido y educación. La Fundación tratará que las indemnizaciones

percibidas por los hijos menores de las víctimas sean utilizadas para gastos posteriores de

estudio o para formar un pequeño capital cuando comiencen a trabajar o se casen y que sólo

se inviertan en gastos comunes cuando razones serias de economía familiar o de salud así lo

exigieren.

107. Para sus operaciones, el Gobierno de Suriname entregará a la Fundación,

dentro de los 30 días de su constitución, un aporte único de US$4.000 (cuatro mil dólares)

o su equivalente en moneda local al tipo de cambio vendedor vigente en el mercado libre al

momento de efectuarse el pago.

108. Suriname no podrá restringir o gravar las actividades de la Fundación o la

operación de los fideicomisos más allá de lo actualmente existente ni modificar las

condiciones vigentes hoy, salvo en lo que pudiere ser favorable, ni intervenir en las

decisiones de aquella.

109. Tal como lo expresó la Corte en los casos Velásquez Rodríguez y Godínez

Cruz “el derecho de los familiares de la víctima de conocer [. . .] dónde se encuentran sus

restos, representa una justa expectativa que el Estado debe satisfacer con los medios a su

alcance” (Caso Velásquez Rodríguez, supra 46, párr. 181; Caso Godínez Cruz, supra 46,

párr. 191); esta obligación tiene particular importancia en el caso presente en consideración

a la relación familiar imperante entre los saramacas.

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110. La Comisión solicita se condene a Suriname a pagar las costas relativas a las

gestiones realizadas ante el Gobierno y las devengadas por el procedimiento llevado a cabo

ante ella misma y ante la Corte.

111. La Corte ya decidió que el Gobierno debe reintegrar los gastos efectuados por

las familias de las víctimas por gestiones hechas ante las autoridades surinamesas, tal como

lo solicitó la Comisión (supra, párrs. 94 y 95).

112. En el presente caso, los hechos ocurrieron el 31 de diciembre de 1987 y la

denuncia fue recibida por la Secretaría de la Comisión el 15 de enero de 1988, o sea, quince

días después. A partir de esa fecha estuvo en conocimiento de la Comisión primeramente y

luego de la Corte. Los familiares de las víctimas no necesitaron efectuar prolongadas

tramitaciones para someterlo a la Comisión, pues ella se ocupó de inmediato. Por esta

razón no se vieron obligados a requerir el asesoramiento de un profesional y, por ello, no lo

designaron. El doctor Claudio Grossman, que la Comisión hace figurar como abogado de

los familiares de las víctimas, actuó como su asesor legal cuando el caso fue presentado a la

Corte (Caso Aloeboetoe y otros, supra párrafo inicial, párr. 7 y cfr. supra, párr. 36).

113. La Convención Americana ha instituido un sistema para la protección de los

derechos humanos en el continente y ha atribuido funciones principalmente a dos órganos,

la Comisión y la Corte, cuyos costos se financian dentro del presupuesto de la Organización

de los Estados Americanos.

114. La Comisión ha preferido, en este proceso, cumplir las funciones que la

Convención Americana le impone recurriendo a la contratación de profesionales en lugar

de hacerlo con su personal propio. Esta modalidad de trabajo de la Comisión es una

cuestión de organización interna en la cual la Corte no debe intervenir. Pero la Comisión

no puede exigir el reintegro de los gastos que le exige su modalidad interna de trabajo a

través de la imposición de costas. El funcionamiento de los órganos del sistema americano

de derechos humanos es pagado por los Estados Miembros mediante su cuota anual.

La Corte tampoco podría imponer como costas los gastos de viaje de su Secretaria

adjunta a Suriname, ni el asesoramiento requerido en materia económica o actuarial, pues

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se trata de gastos que el Tribunal debe hacer como órgano del sistema para cumplir

debidamente con las funciones que la Convención Americana le impone.

115. Habida consideración de lo anterior y de que Suriname ha reconocido

expresamente su responsabilidad internacional y no ha dificultado el procedimiento para

determinar las reparaciones, la Corte desestima la solicitud de condenación en costas

pedida por la Comisión.

116. Por tanto,

LA CORTE, por unanimidad

1. Fija en US$453.102 (cuatrocientos cincuenta y tres mil ciento dos dólares) o

su equivalente en florines holandeses el monto que el Estado de Suriname debe pagar antes

del 1 de abril de 1994, en carácter de reparación a las personas indicadas en el párrafo 98 ó

a sus herederos, en los términos indicados en el párrafo 99.

2. Dispone el establecimiento de dos fideicomisos y la creación de una

Fundación según lo previsto en los párrafos 100 a 108.

3. Decide que Suriname no podrá restringir o gravar las actividades de la

Fundación o la operación de los fideicomisos más allá de lo actualmente existente, ni

modificar las condiciones vigentes hoy, salvo en lo que pudiere serles favorable, ni

intervenir en las decisiones de aquella.

4. Ordena al Estado de Suriname que entregue a la Fundación para sus

operaciones, dentro de los 30 días siguientes a su constitución, un aporte único de

US$4.000 (cuatro mil dólares) o su equivalente en moneda local al tipo de cambio vigente

en el mercado libre al momento de efectuarse el pago.

5. Ordena al Estado de Suriname igualmente, con carácter de reparación,

reabrir la escuela sita en Gujaba y dotarla de personal docente y administrativo para que

funcione permanentemente a partir de 1994 y poner en operación en el curso de ese año el

dispensario existente en ese lugar.

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6. Resuelve que supervisará el cumplimiento de las reparaciones acordadas y

que sólo después archivará el expediente.

7. Decide que no hay condena en costas.

Redactada en castellano y en inglés, haciendo fe el texto en castellano, en San José,

Costa Rica, el día 10 de septiembre de 1993.

Rafael Nieto Navia

Presidente

Sonia Picado Sotela

Héctor Fix-Zamudio

Julio A. Barberis

Asdrúbal Aguiar-Aranguren

Antônio A. Cançado Trindade

Manuel E. Ventura Robles

Secretario

Comuníquese y ejecútese,

Rafael Nieto Navia

Presidente

Manuel E. Ventura Robles

Secretario

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________________________

El Juez Thomas Buergenthal, mediante nota de 4 de junio de 1993 dirigida al

Presidente de la Corte, se excusó por razones de salud de seguir participando en este caso.

El Juez Asdrúbal Aguiar-Aranguren, elegido por los Estados Partes durante la

Asamblea General de la OEA celebrada en Nassau, Bahamas, en mayo de 1992, participa

en este caso desde las audiencias sobre reparaciones y costas.

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