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O resultado médico indesejado na visão do direito

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Autor: Décio Policastro, Sócio de Araújo e Policastro Advogados.

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Page 1: O resultado médico indesejado na visão do direito

PUBLICAÇÕES | Imprensa

O resultado médico indesejado na visão do direito

Toda ação humana possui alguma dose de a ação ou omissão do praticante do ato, a

risco. Não existe profissão que não tenha seus culpa e o nexo causal. Assim, comete ilícito

altos e baixos. culpável, passível de responsabilização, o

indivíduo que causa dano a alguém por ação Há situações em que o agir médico foi correto, ou omissão voluntária, reconhecíveis por uma porém sobrevêm reações nocivas ao das modalidades da culpa: imprudência organismo. Forma-se então na mente do (atitude precipitada, desprecavida, sem doente, dos familiares e do leigo, a ideia de cautela); negligência (desatenção, desleixo, que houve um erro ou falha do médico. deixar de fazer o que devia ser feito, ausência Poucos lembram que às vezes surgem de cuidados) ou imperícia (desconhecimento resultados negativos, sem que as causas técnico ou insuficiente).possam ser imputadas ao profissional da

saúde. Eventos que vão além das forças humanas,

impossíveis de serem evitados e que impedem É de conhecimento geral que reações o cumprimento normal da obrigação, afastam orgânicas são desiguais e quase impossíveis de a responsabilidade. Isso ocorre diante do caso prever. Mudam de pessoa para pessoa e, vez fortuito ou de força maior que, embora com por outra, manifestam-se de forma diferente características distintas (inevitabilidade na num mesmo indivíduo. É o imponderável, sem força maior e imprevisibilidade no caso resposta mesmo pelas melhores teorias.fortuito) desobrigam o dever de reparar, face a

Qualquer procedimento médico, desde o mais inexistência de culpa de quem causou o dano.

simples ao mais complexo, está sujeito a São circunstâncias excepcionais, estranhas à complicações imprevistas, não provocadas vontade, portanto sem relação alguma com a necessariamente pelo atuar de quem exerce a negligência, imprudência e imperícia. A culpa, medicina. O médico tem o dever de informar portanto, genericamente, supõe a falta de sobre a evolução natural da moléstia, as diligência ou de prudência que habitualmente complicações e manifestações orgânicas que não deveriam existir em relação ao que era podem sobrevir. Não fazendo, incorre no alto esperável com a execução de um ato.preço de ser tido por negligente.

Como ninguém pode ser responsabilizado Calcada em princípios gerais do direito, a pelo dano ao qual não deu causa, também o responsabilidade civil tem como pressupostos profissional da saúde estará isento de

12/07/2011 | Migalhas

Décio Policastro*

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48 ANOS

responder pelos males advindos de aconteci- demandas se t ivesse ex i s t ido boa

mentos imprevisíveis que escapam ao comunicação entre o médico, o paciente e a

domínio do ser humano e da ciência. Há a família.

quebra do nexo de causalidade, ou seja, o Além de éticas, essas atitudes, somadas aos resultado não se dá em razão da conduta demais deveres médicos, são fundamentais médica. para o enfermo e pessoas que o cercam

Eventos de origem indeterminada, nocivos ao compreenderem a probabilidade de um

enfermo, podem surgir em razão de múltiplos resultado desfavorável. Certamente evitariam

fatores estranhos à atividade médica ou aos demandas desnecessárias, quase sempre

serviços prestados por outros militantes da fadadas ao insucesso.

saúde: faixa etária, reação adversa do

organismo, falta de resistência imunológica, * Advogado, sócio fundador do escritório parada cardiorrespiratória, hemorragia Araújo e Policastro Advogados. Conselheiro imprevisível, interação medicamentosa e do IASP - Instituto dos Advogados de São outras situações anômalas, situações em que, Paulo (IASP) e autor dos livros "Erro médico e como noutras, inexiste o nexo de causalidade, suas consequências jurídicas" (2010, 3ª porquanto não ocorrem de adrede contri-ed.) e "Código de Procedimento Ético-buição culposa. Profissional Médico e sua aplicação"

Sabe-se que em atividades médicas de alto (2011), ambos da Editora Del Rey.

risco sempre há o temor de ocorrer alguma

lesão. É o risco inerente, intrínseco, atrelado à

própria natureza da profissão. A regra é que

danos decorrentes da periculosidade inerente,

não dão ensejo ao dever de reparar.

Toda ciência tem sua terminologia. Portanto,

explicações sobre as expectativas da

terapêutica, dadas em linguajar compreen-

sível, informações claras, até mesmo didáticas

quando possível, a respeito de tratamentos,

seus riscos, percentuais de êxito, recidivas,

sequelas, etc., teriam evitado inúmeras

Esta e outras publicações estão disponíveis em

nosso website:

www.araujopolicastro.com.br/publicacoes.asp

Publicado originalmente no site Migalhas em 12 de julho de 2011.

PUBLICAÇÕES | Imprensa | 12 de Julho de 2011

O resultado médico indesejado na visão do direito (cont.)