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XVIII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos
1Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil (PEC/COPPE) – UFRJ. E-mail: [email protected]
2Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil (PEC/COPPE) – UFRJ. E-mail: [email protected]
1
MONITORAMENTO DO ENDOSULFAN NAS ÁGUAS DO RIO PARAÍBA
DO SUL E SUA RELAÇÃO COM O ABASTECIMENTO HUMANO: UM
ESTUDO DE CASO
Pablo Jordão da Silva1 & Shirlei Aparecida de Oliveira
2
RESUMO: O presente estudo analisa a ocorrência de um acidente no rio Paraíba do Sul. Em
novembro de 2008, a empresa Servatis (indústria química) despejou uma substância orgânica
denominada endosulfan (organoclorado) na calha fluvial causando grande mortandade de peixes e
animais. Esta emergência ambiental teve repercussão nacional em virtude da localização desta bacia
estar no principal eixo econômico brasileiro. O objetivo do presente artigo é discutir o impacto
causado pela diluição do poluente analisando sua presença no decorrer do curso do rio. Os
procedimentos adotados para esta análise foram: consulta a artigos científicos, teses e publicações
que discutem os parâmetros de qualidade de água em função deste contaminante. Ao analisar os
dados sobre a dispersão do poluente a partir de amostras coletadas ao longo da bacia, percebemos
que existem diferenças entre os índices estabelecidos pela resolução CONAMA 357/05 e a portaria
518 do Ministério da Saúde. Os limites máximos para concentração deste contaminante foram
valorados nestas duas normativas com pesos diferentes. Assim, concluímos que se fazem
necessários: instrumentos eficientes e eficazes para identificar potenciais poluentes nas estações de
tratamento de água bem como um diálogo mais aprofundado sobre os valores de concentração do
contaminante nas águas destinadas para abastecimento humano.
ABSTRACT: This study examines the occurrence of an accident on the river Paraíba do Sul. In
November 2008, the company Servat (chemical industry) dumped an organic substance called
endosulfan (organochlorine) in the pipeline causing great river killing fish and animals. This
national environmental emergency has passed because of the location of this basin is the main
Brazilian economic axis. The aim of this article is to discuss the impact of the dilution of pollutant
analyzing its presence in the course of the River. The procedures adopted for this analysis were: the
consultation papers, theses and publications that discuss the parameters of water quality according
to the dispersion of the contaminant. In analyzing the data on the dispersion of pollutant from
samples collected along the basin, we realize that there are differences between the rates established
by CONAMA Resolution 357/05 and Decree 518 of Ministry of Health. The maximum
concentration for this contaminant was assessed these two rules with different weights. Thus, we
find that are needed: efficient and effective tools to identify potential pollutants in the water
treatment plants as well as a deeper dialogue about the values of concentration of the contaminant in
the water intended for human supply.
Palavras-chave: poluição industrial, endosulfan, abastecimento público
XVIII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos
1Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil (PEC/COPPE) – UFRJ. E-mail: [email protected]
2Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil (PEC/COPPE) – UFRJ. E-mail: [email protected]
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INTRODUÇÃO
A poluição de origem industrial é apontada, por diversos estudos de impactos ambientais,
como um dos principais responsáveis pela degradação dos corpos hídricos. Certamente, algumas
bacias possuem elevada concentração de indústrias, fato que torna uma unidade hidrográfica
vulnerável a impactos, seja por contaminação por metais pesados ou até mesmo despejos de ordem
doméstica. No presente estudo, analisamos a bacia do Paraíba do Sul onde as condições ambientais
estão diretamente associadas ao monitoramento da atividade industrial que faz uso dos recursos
hídricos. Cumpre destacar que a lei 6938 de 31 de agosto de 1981 conceitua a poluição como um
estado de degradação ambiental resultante de atividades, que direta ou indiretamente, provoquem
uma alteração adversa das características do meio ambiente. Todavia, o entendimento da poluição
como a adição de substâncias ou de formas de energia que alterem um corpo d’água, prejudicando
os usos que dele são feitos é o mais apropriado para relacionar os impactos à vida humana (VON
SPERLING, 2005).
As atividades industriais são potencialmente usuárias das águas do rio Paraíba do Sul e entre
os municípios de Resende e Barra do Piraí ocorre uma captação significativa de água a partir das
estações de tratamento. As estações de tratamento são definidas como conjuntos de unidades
destinadas a adequar as características da água aos padrões de potabilidade (NBR 12216, 1992). A
construção de uma estação de tratamento de água deve considerar uma série de medidas e entre
elas, destacamos: a preocupação com o funcionamento e a capacidade, a área em que se implantará
a estação e os processos que ali serão empregados. Estas funções nos permitem vislumbrar quais os
padrões de qualidade de água desejáveis e que medidas poderão ser adotadas para alcançá-los.
O fato de não haver uma tecnologia que identifique os potenciais poluentes orgânicos
evidencia o risco de contaminação por substâncias, como o endosulfan, que podem continuar
presentes na água e colocar em risco as populações consumidoras (NETO et al, 2009). É necessário
discutir a eficiência das Estações de Tratamento de água no sentido de resolver ou mesmo mitigar
as reações provocadas pelos contaminantes e para que isso ocorra, novas técnicas podem ser
desenvolvidas. Cabe ressaltar que a eficácia é outro condicionante para uma gestão adequada dos
recursos hídricos. O tempo de resposta no caso de diluição de substância orgânica tóxica no rio
Paraíba do Sul ajudaria a conter os problemas ocasionados tanto na saúde pública como no
tratamento próprio da água. Desta forma, o objetivo deste artigo é analisar os reflexos do
endosulfan nas águas do rio Paraíba do Sul e a influência deste no sistema de abastecimento de água
(em sintonia com a portaria 518/04 do Ministério da Saúde e resolução CONAMA 357/05).
XVIII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos
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2Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil (PEC/COPPE) – UFRJ. E-mail: [email protected]
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MATERIAIS E MÉTODOS
Para discutir o comportamento da diluição do endosulfan nas águas do rio Paraíba do Sul,
alguns procedimentos foram adotados. Foi preciso compreender o conceito de poluição industrial
para assim, associarmos esta importante atividade econômica e compreendermos a dispersão desta
substância a partir da amostragem retirada das estações de tratamento de água ou proximidades.
Todavia, a Divisão de Laboratórios do Instituto Estadual do Ambiente (responsável pela análise e
elaboração do relatório) utilizou a metodologia analítica baseada no Standard Methods for the
Examination of Water and Waste Water (2005, 6630B). Coletaram-se amostras de água distribuída,
água das ETAs, água bruta dos reservatórios e água bruta dos rios no trecho Resende – Santa
Cecília – Guandu.
Estas amostras, assim como, os resultados analíticos estão expostos em relatório emitido
pelo Instituto Estadual do Ambiente, órgão do Governo do Estado do Rio de Janeiro que cuida da
questão ambiental. Para dar cabo das informações necessárias, foram feitas consultas a teses, artigos
e publicações que destacassem as influências do poluente e o risco conferido no contato deste com a
água destinada para abastecimento humano.
Os resultados obtidos das análises das águas foram comparados aos padrões estabelecidos
pela Resolução CONAMA n° 357/2005, Classe 2 e 3 para a avaliação das concentrações obtidas
frente aos padrões preconizadas pelas legislações vigentes (Tabela 1). Utilizou-se também a
determinação da Portaria nº. 518/2004 para subsidiar as manobras de captação de água bruta para
tratamento nas estações de água para distribuição à população.
Tabela 1: Valores de endosulfan estabelecidos pela Resolução CONAMA N° 357/2005 e a Portaria
N° 518 do Ministério da Saúde.
Organoclorado
Endosulfan
(+ Sulfato)
Resolução CONAMA N° 357/2005
Valor Máximo
Classe 2 Classe 3
0,056 µg/L 0,22 µg/L
Portaria N°518 Min. Saúde
VMP
20,0 µg/L
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Resolução CONAMA 357 de março de 2005
Em sua Seção I, Artigo 4º determina a classificação das águas doces, e respectivo tipo de
tratamento necessário para que possam ser destinadas ao abastecimento para consumo humano. Esta
resolução define os padrões de qualidade destas águas, estabelecendo limites individuais para
substâncias químicas, e determina entre os parâmetros orgânicos os valores máximos permitidos
para algumas substâncias tóxicas.
Portaria nº. 518 do Ministério da Saúde de março de 2004
Esta Portaria ressalta a responsabilidade dos órgãos de controle ambiental no que se refere
ao monitoramento e ao controle das águas brutas de acordo com os mais diversos usos, incluindo o
de fonte de abastecimento de água destinada ao consumo humano. Em seu artigo 14, a portaria em
questão, define o padrão de potabilidade para substâncias químicas que representam risco à saúde.
O monitoramento químico da água para consumo humano é, portanto, uma ferramenta
primordial para prevenção de doenças e bem estar humano, além de ser um indicativo de poluição
ambiental, já as que as águas de consumo provêm das águas superficiais e em alguns casos de águas
subterrâneas.
ÁREA EM ESTUDO: O CASO DA POLUIÇÃO INDUSTRIAL NO PARAÍBA DO SUL
Um exemplo de poluição de origem industrial ocorreu no lançamento do composto químico
endosulfan, no dia 18 de novembro de 2008, nas águas do Rio Paraíba do Sul. A empresa Servatis
(localizada no município de Resende – Estado do Rio de Janeiro) despejou uma quantidade
significativa de tal substância nos rios Piratininga e Paraíba do Sul. De acordo com as informações
repassadas, estima-se que dos 8000L vazados de endosulfan 20%, o volume de 1600L representa o
produto puro que foi derramado nas águas dos rios Pirapetinga e Paraíba do Sul.
Cabe ressaltar, que a empresa Servatis (figura 1) tem suas atividades direcionadas às
especialidades químicas e agroquímicas, sínteses e formulações. Presta, ainda, serviços de
incineração de resíduos químicos líquidos, tratamento de efluentes e recuperação de solventes
industriais.
A partir de informações obtidas no relatório final (Acidente Indústria Servatis Ambiental:
“Endosulfan”) emitido pelo Instituto Estadual do Ambiente (INEA), se teve o conhecimento de que,
em decorrência do acidente e como medida preventiva, as concessionárias de água suspenderam a
captação da água bruta, ao longo do rio Paraíba do Sul, nas cidades a jusante do local do acidente.
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Figura 1: Água bruta dos rios no trecho que compreende Resende – Santa Cecília - Guandu.
Fonte: INEA (2009)
Por outro lado, neste caso particular, há uma incongruência entre os valores máximos
emitidos, estabelecidos por esses dois instrumentos legais, no que tange ao abastecimento para uso
humano após tratamento convencional (Classe 2) e ao abastecimento para uso humano após
tratamento convencional e avançado (Classe 3)
Endosulfan
O endosulfan (C9H6Cl6O3S), é uma substância do grupo dos organoclorados registrado no
Brasil para uso agrícola e como preservante de madeira. O seu estado físico é líquido e possui
coloração amarelo-claro e exala um odor característico. Quanto ao potencial hidrogeniônico (pH) é
de aproximadamente 6,5 e sua densidade é de 1,0530g/cm³ a 20ºC, portanto, próxima da densidade
da água, e em termos de solubilidade e miscibilidade o produto é emulsionável na água. A meia-
vida do endosulfan na água é estimada em 4 dias, mas em condições anaeróbias e/ou em baixo pH
sua meia-vida pode se prolongar (WHO, 1984-A).
Embora apresente baixa solubilidade em água, cerca de 0,3 mg/L, o endosulfan contamina
ecossistemas aquáticos em virtude, principalmente, da lixiviação de campos agrícolas e pelo
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despejo em rios próximos a áreas industrializadas onde ocorrem a fabricação e a formulação do
inseticida (WHO, 1984-A).
Dentre as principais formas do endosulfan podemos destacar os isômeros Endosulfan I () e
Endosulfan II (), onde a partir da degradação destes se tem a formação do Endosulfan sulfato e
Endosulfan diol. O Endosulfan I () é três vezes mais tóxico que o Endosulfan II (e o
Endosulfan sulfato, porém apresenta uma forma menos persistente. O Endosulfan II é tóxico e
um pouco mais persistente do que o Endosulfan I Endosulfan sulfato é tóxico, formado por
oxidação biológica e muito mais persistente que qualquer um dos isômeros e . O Endosulfan
diol não é tóxico, sendo formado por hidrólise química ou biológica.
O inseticida isômeros e e sulfato, apresenta toxicologia para organismos aquáticos
e pode causar, por longos períodos, efeitos adversos ao meio aquático. Frisa-se que os peixes são
extremamente sensíveis ao endosulfan, morrendo com facilidade quando o mesmo está presente em
seu habitat (WHO 1984-B).
Essa substância apresenta sérios ricos para a saúde humana, sendo facilmente absorvido pelo
estômago e pulmões. Os principais sintomas quanto à exposição ao endosulfan são: perturbações no
sistema nervoso central, tonturas, vômito, diarréia, dificuldades respiratórias, convulsões e perda de
consciência. Em casos extremos pode resultar na morte (SHANAHAN, 2003).
No Brasil, o endosulfan é classificado como “extremamente tóxico” pelo Ministério da
Saúde e como “altamente perigoso para o meio ambiente” pelo IBAMA. Pela United Nations
Environment Programme (UNEP) é reconhecido como uma Substância Tóxica Persistente (STP),
sendo também considerado um potencial candidato a Poluente Orgânico Persistente (POP).
A contaminação em ambientes aquáticos, principalmente das águas superficiais, por essas
substâncias tem sido documentada em diversos países e constitui uma das maiores preocupações
que tem surgido no que diz respeito à escala local, regional, nacional e global (KONSTANTINOU
et al., 2006).
O endosulfan foi introduzido no mundo em um momento de pouca sensibilização ambiental,
onde o conhecimento sobre os efeitos toxicológicos e o destino ambiental desses produtos não
estavam prescritos nas legislações nacionais. Atualmente, este importante inseticida vem sendo
detectado em muitos países como uma das causas de envenenamento. Logo, seu uso foi proibido em
países como: Cingapura, Alemanha, Suécia, Holanda, Colômbia, Camboja, Emirados Árabes
Unidos, Sri Lanka.
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RESULTADOS E DISCUSSÕES
A partir dos resultados observados na Tabela 2, no que se refere às concentrações de
endosulfan 20% presente nas águas distribuídas após o acidente, se constatou que quantidades da
substância endosulfan I, endosulfan II e endosulfan sulfato, em alguns pontos coletados, exibiram
valores superiores aos estabelecidos pela resolução CONAMA 357/05, no que tange ao destino da
água para consumo humano. A água coletada no ponto DP de Barra Mansa foi a que apresentou
uma maior quantidade da substância endosulfan I 20% (7,09 g/L). A verificação de altos índices
do contaminante nas águas distribuídas pode ser um indicativo da vulnerabilidade das Estações de
Tratamento de Água (ETAs) da região.
De acordo com a portaria Nº 518/04, os valores encontrados do composto endosulfan nas
águas distribuídas atendem os índices de potabilidade estabelecidos, devido apresentarem valores
abaixo de 20g/L.
Tabela 2: Concentrações de endosulfan 20% na Água Distribuída
Fonte: Adaptado do INEA, 2009.
De acordo com a Tabela 3, observa-se que foram encontrados teores significativos da
substância (endosulfan I, endosulfan II, endosulfan sulfato e endosulfan Total) nas águas das
Estações de Tratamento de Água (ETAs) de Belmonte e Barra Mansa, assim como, no Floculador
da Estação de Tratamento de Água de Volta Redonda. Os maiores teores do contaminante
verificados estão presentes no floculador da Estação de Tratamento de Água de Volta Redonda,
Município Local da Coleta Data da Coleta
Hora da Coleta
Endosulfan g/L
Endosulfan I
Endosulfan II
Endosulfan Sulfato
Porto Real
Dona Betina 20/nov 21h58 min 0,66 0,73 0,39
Und. Mista Hosp. S. Fran de Assis 20/nov 22h08min n.d n.d n.d
Bebedouro da DP 20/nov 22h24min 0,24 n.d n.d
Cantina da Tia Zefa 20/nov 22h32min 0,68 0,33 n.d
Quatis Posto Piloto 20/nov 22h50mim 1,71 1,31 n.d
Quatis - Praça Teixeira Brandão 20/nov 22h58mim 0,25 n.d n.d
Secretaria de Desenvolvimento 20/nov 23h13min 1,29 n.d n.d
Barra Mansa
Posto Bocaininha 20/nov 23h11min n.d n.d n.d
DP Barra Mansa 20/nov 23h55mim 7,09 3,65 n.d
Tips Lanches 21/nov 00h06min 1,36 0,92 n.d
Auto Posto Andressa Center 21/nov 00h13min 2,45 2,02 0,46
Posto BR Habib'S 21/nov 00h26min n.d n.d n.d
Volta Redonda
Posto de Saúde 21/nov 00h46min 5,42 3,86 0,53
Jaburu Burger (Pça Brasil) 21/nov 00h48min 4,24 2,65 0,32
Mc Donald's 21/nov 01h06min n.d n.d n.d
Rodoviária Volta Redonda 21/nov 01h24min 5,21 2,61 n.d
93° DP 21/nov 01h33min n.d n.d n.d
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com valores de 106 g/L, 60 g/L 167 g/L para endosulfan I (), endosulfan II () e endosulfan
Total, respectivamente. Cumpre ainda ressaltar, que os valores encontrados de endosulfan, cerca de
1,17 g/L, na Estação de Tratamento de Água de Barra Mansa estão abaixo dos valores encontrados
na água distribuída no dia 20/11/2008, cujo valores exibidos foram relativamente mais altos,
conforme consta na Tabela 2.
Tabela 3: Concentrações de endosulfan Obtidas na Água.
Fonte: Adaptado de INEA, 2009.
Os dados referentes às concentrações do endosulfan na água bruta do reservatório indicaram
um comportamento diferenciado de local para local no decorrer do tempo. A Barragem de Vigário
(Figura 2) foi a região onde se encontrou um maior teor do contaminante, 17,41g/L, no dia
21/11/2008 às 08h40m. De acordo com os dados do INEA (2009), a previsão da chegada da pluma
tóxica do endosulfan nessa área era de no mínimo dia 19/11/08 às 10h27m e de no máximo, o dia
20/11/08 às 01h33m. Conforme pode ser observado no gráfico abaixo (Figura 2), durante
praticamente todo o dia 21/11/08, exceto às 13h30m e às 16h15m, a concentração do contaminante
na água bruta do reservatório apresentou desconformidade em relação aos índices estabelecidos pela
CONAMA 357/05 que são de 0,056 g/L. Nota-se também, que mesmo após decorridos oito dias
do acidente, o contaminante ainda esteve presente em concentrações acima do permitido (0,54g/L
- dia 27/11/08 às 09h05m) pela resolução CONAMA 357/05.
A captação do Guandu no dia 21/11/2008 não apresentou níveis de contaminação, porém,
entre os dias 25 e 27 de novembro de 2008 (Figura 3), ou seja, sete dias após o desastre ocasoniado
pela Servatis, foram constatadas concentrações altas do endosulfan na água bruta do reservatório.
Vale destacar, que o reservatório do Guandu é de extrema importância para o estado do Rio de
Janeiro, uma vez que, esta Estação de Tratamento da Água abastece significativa parcela da
população da Região Metropolitana do Rio de Janeiro.
Água Unidade Data ETA Beltonte
ETA B. Mansa
Floculador da ETA
V. Redonda
Endosulfan I (alfa) g/L 19/11/08 - 11h00min 10,18 1,17 106,42
Endosulfan II (Beta) g/L n.d n.d 60,3
Endosulfan (sulfato) g/L n.d n.d 0,56
Endosulfan Total g/L 10,18 1,17 167,28
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CAPTAÇÃO DO GUANDUy = 0,1023x + 0,0086
R2 = 0,3639
0
0,4
0,8
1,2
1,6
2
21
/11
/08
- 1
1:5
0
21
/11
/08
- 2
3:2
0
24
/11
/08
- 0
2:3
0
24
/11
/08
- 1
7:1
0
24
/11
/08
- 2
1:5
5
27
/11
/08
: 1
3:0
5
27
/11
/08
- 1
3:2
5
27
/11
/08
- 1
4:1
0
DIA - HORA
CO
NC
EN
TR
AÇ
ÃO
g
/L ENDOSULFAN
Linear (ENDOSULFAN)
VIGÁRIO BARRAGEM - PS426y = -0,7943x + 10,441
R2 = 0,4722
-5
0
5
10
15
20
21
/11
/08
- 0
8:4
0
21
/11
/08
- 1
0:5
0
21
/11
/08
- 1
1:5
0
21
/11
/08
- 1
3:0
0
21
/11
/08
- 1
3:3
0
21
/11
/08
- 1
4:0
0
21
/11
/08
- 1
5:1
0
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/11
/08
- 1
6:1
5
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/11
/08
- 2
0:2
0
21
/11
/08
- 2
1:4
0
24
/11
/08
- 1
5:3
2
24
/11
/08
- 2
0:0
0
25
/11
/08
-0
9:0
0
26
/11
/08
- 0
9:0
0
27
/11
/08
- 0
9:0
5
DIA - HORA
CO
NC
EN
TR
AÇ
ÃO
g
/L
ENDOSULFAN
Linear (ENDOSULFAN)
Figura 2: Concentrações de endosulfan na Água Bruta – Reservatórios – Vigário Barragem. Fonte:
Adaptado de INEA, 2009.
Figura 3: Concentrações de endosulfan na Água Bruta – Reservatórios – Captação do Guandu.
Fonte: Adaptado de INEA, 2009.
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TRÊS RIOS - PS430
y = -4,7743x + 40,884
R2 = 0,0657
0
20
40
60
80
100
120
140
21
/11
/08
-
07
:30
21
/11
/08
-
08
:30
21
/11
/08
- 1
7:0
0
22
/11
/08
- 0
6:0
5
23
/11
/08
- 1
1:2
5
25
/11
/08
- 1
0:4
0
26
/11
/08
- 0
9:2
0
27
/11
/08
- 0
9:2
0
DATA - HORA
CO
NC
EN
TR
AÇ
ÃO
g
/L
ENDOSULFAN
Linear (ENDOSULFAN)
Teores do endosulfan na água bruta dos rios da região foram averiguados entre os dias 19 e
22/11/2008 (Figura 4). Com base nos dados examinados, constatou-se que dentre as amostras de
água analisadas, a Estação de Tratamento de Água de Três Rios foi a que apresentou o maior nível
do contaminante (131,35 g/L) no dia 21/08/2008. Porém, no dia subseqüente, ocorreu um
decaimento nos teores encontrados (17,60 g/L), fato este, que pode estar relacionado a dinâmica
natural dos rios. Devido às altas concentrações do endosulfan nas águas brutas dos rios, ocorreu
uma mortandade de peixes, visto que, essa substância apresenta uma toxicologia para organismos
aquáticos. Convém mencionar, que a resolução CONAMA 357/05 estabelece que as águas
enquadradas na classe II devem ser destinadas à proteção das comunidades aquáticas.
Figura 4: Concentrações de endosulfan na Água Bruta – Rios
Fonte: Adaptado de INEA, 2009.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao analisar os dados sobre a dispersão do poluente ao longo do curso do rio Paraíba do Sul e
proximidades, percebemos que existem diferenças entre os índices estabelecidos pela resolução
CONAMA 357/05 e a portaria 518/04 do Ministério da Saúde. Os limites máximos para
concentração deste contaminante foram valorados nestas duas normativas com índices diferentes.
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A CONAMA 357/05 define que as concentrações de endosulfan devem ser inferiores a
0,056 g/L ao passo que a portaria 518/04 define como limite o valor de 20 g/L. Isso provoca uma
falta de sintonia entre as normativas que regem os padrões de qualidade de água para abastecimento
humano. Por outro lado, os valores estabelecidos carecem de comprovação acerca dos efeitos
ocasionados pelo contato dessa substância química orgânica (o endosulfan) com os seres humanos.
Assim, a verificação dos potenciais poluentes é uma urgência quando a água coletada é
destinada ao abastecimento e consumo humanos. Portanto, cumpre destacar que as técnicas
necessárias para a remoção de contaminantes orgânicos em água, embora correspondam a
tecnologias pouco comuns na maioria das Estações de Tratamento de Água, são relevantes para o
caso de bacias hidrográficas que apresentam distintos usos da água e nela despejam seus efluentes.
É preciso destacar que a presente área possui uma atividade industrial intensa e complexa
conferindo às estações de tratamento de água o desafio da eficácia na detecção de eventuais
poluentes que alteram as propriedades químicas, físicas e biológicas da água e que possam vir a
acarretar um maior custo no tratamento desta.
Um compromisso comum da sociedade civil deve ser traçado quanto à responsabilidade
ambiental e o manejo adequado deste recurso tão necessário à manutenção da vida. Por isso,
mecanismos legais como a disponibilização e o monitoramento constante da água do rio Paraíba do
Sul, captada em diversas estações de tratamento pode mitigar e responsabilizar as indústrias
poluidoras por eventuais danos.
Concluímos que se fazem necessários: instrumentos eficientes e eficazes para identificar
potenciais poluentes nas estações de tratamento de água bem como um diálogo mais aprofundado
sobre os valores de concentração do contaminante nas águas destinadas para abastecimento
humano.
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