O Sarau Do Teatro Da Trindade

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  • 7/28/2019 O Sarau Do Teatro Da Trindade

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    O Sarau do Teatro da Trindade

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    Para se conseguir perceber a importncia do Sarau, tem que se

    entender na perfeio a definio do conceito do naturalismo. Este

    surgiu como um movimento esttico-literrio da segunda metade do

    sculo XIX, estreitamente relacionado com o Realismo, de que retoma

    a necessidade da observao objectiva da realidade e as preocupaes

    socioculturais, acentuando, contudo, os seus pressupostos

    ideolgicos e cientficos. O Naturalismo relaciona-se intimamente com

    as transformaes sociais e as novas correntes filosficas e cientficas

    do sculo XIX: o positivismo de Augusto Comte (1798-1857), teoria

    sociolgica que defendia a necessidade da tomada de conscincia das

    relaes entre o indivduo e a sociedade como condio para o

    progresso civilizacional; o determinismo de Hippolyte Taine (1828-

    1893), segundo o qual a obra era produto das influncias da raa, do

    meio e do momento histrico; o experimentalismo de Claude Bernard(1813-1878). Estas doutrinas foram aplicadas literatura pelo

    romancista francs mile Zola (1840-1902), que exps, na colectnea

    de artigos Le Roman exprimental (1880), a teoria do romance

    naturalista, concretizando-a nos vinte volumes da srie Les Rougon-

    Macquart. Segundo Zola, o romance deveria explicar a decadncia

    social mediante a demonstrao de teses cientficas. Tendo tudo isto

    em conta, podemos referir que o episdio do sarau do teatro da

    trindade um dos mais importantes a nvel de crtica social desta obra

    Queirosiana. De uma forma bastante resumida, podemos dizer, que

    Ea utiliza este Sarau que tinha como objectivo, ajudar as vtimas das

    inundaes do Ribatejo para criticar a superficialidade dos temas das

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    conversas, a insensibilidade artstica, a ignorncia dos dirigentes, a

    oratria oca dos polticos e os excessos do Ultra-Romantismo.

    Um dos aspectos que salta desde logo vista no incio do

    episdio relaciona-se com o carcter oco da retrica de Rufino. !

    Nota-se que o pblico alto-burgus e aristocrata que assistia ao

    sarau pouco culto, exaltando a oratria de Rufino que faz um

    discurso banal recorrendo a lugares-comuns, oco e com pouco

    contedo, exaltando uma princesa que dera seiscentos mil ris para

    os inundados do Ribatejo e ia, a benefcio deles, organizar um bazar

    na Tapada, recorrendo ainda a artificiosismos barrocos e ultra-

    romnticos de pouca originalidade, mas, no final, as reaces so

    calorosas, demonstrando a falta de sensibilidade do povo

    portugus. Rufino, no entanto, com as mos descadas, confessava

    uma fragilidade da sua alma! [] Um largo frmito de emoo

    passou. Vozes sufocadas de gozo mal podiam murmurar: Muito

    bem, muito bem . Podemos ver por aqui a superficialidade do

    discurso de Rufino, a sua falta de originalidade, cheio de

    preciosismos ornamentais, mais sem nenhuma mensagem. De

    qualquer das formas, o pblico presente parece no ter notado e

    aplaude como se de um grande discurso se tratasse, o que acaba

    por nos elucidar, quanto ao nvel cultural da plateia.

    Um pouco semelhana de Rufino tambm Alencar, com o seu

    discurso, marca uma escola que Ea, neste episdio em especial,

    mas em toda a obra em geral, no se cansa de criticar, o ultr-

    romantismo. Este perodo estetico-literrio definido como sendo

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    um exagero de todas as caractersticas do romantismo, o

    sentimentalismo exacerbado, a retrica oca e balofa, entre outros

    aspectos, so os principais visados de Ea. Assim, neste episdio,

    Alencar representa esta poesia Ultra-Romntica mascarada de

    lirismo piegas e de conotaes sociais, o desfasamento entre a

    realidade e o discurso e a explorao do pblico seduzido por

    excessos estticos estereotipados. Pomba da Fraternidade,/ Que

    estendendo as brancas asas/ Por sobre os humanos lodos,/ Envolve

    os seus filhostodos/ Na mesma santa Igualdade!. Aqui, mais uma

    vez, se nota a ignorncia das classes dirigentes, que so levados por

    este tipo de discursos sem valor prprio.

    Por fim, esta constatao torna-se um facto com o

    desconhecimento, por parte do pblico, da msica tocada por

    Cruges. Cruges tocava piano e vrios comentrios poucoanimadores e sarcsticos foram surgindo. Muitos abandonaram a

    sala, tirando algumas senhoras e idosos. aqui ressaltada a ideia de

    falta de sensibilidade perante a sua arte musical, o pas no sabe

    escutar a sua msica. Tocou Beethoven e representa aqueles poucos

    que se distinguiam em Portugal pelo verdadeiro amor arte e que,

    tocando a Sonata Pattica, surgiu como alvo de risos mal

    disfarados. - de Beethoven, sr. D. Maria da Cunha, a Sonata

    Pattica. Uma das Pedrosas no percebera bem o nome da sonata.

    E a marquesa de Soutal [] disse que era a Sonata Pateta .