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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ
FACULDADE CEARENSE
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL
KARLA MAIARA BANDEIRA MACIEL
O SERVIÇO SOCIAL NA DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO NO CEARÁ:
OUTROS SERVIÇOS OU SERVIÇO ESSENCIAL?
FORTALEZA – CEARÁ
2013
KARLA MAIARA BANDEIRA MACIEL
O SERVIÇO SOCIAL NA DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO NO CEARÁ:
OUTROS SERVIÇOS OU SERVIÇO ESSENCIAL?
Monografia submetida à aprovação
Coordenação do Curso de Serviço Social
Centro Superior do Ceará, como requisito
parcial para obtenção do grau de Graduação.
Orientadora: Professora Mestre Professora Ms.
Elizângela Assunção Nunes.
FORTALEZA – CEARÁ
2013
C837d Maciel, Karla Maiara Bandeira Maciel.
O serviço social na defensoria pública da união: outros serviços ou serviço essencial? /Karla Maiara Bandeira Maciel. – Fortaleza, 2013. 118f.; il.
Orientador: Profª. Mestre Elizângela Assunção Nunes. Monografia (Curso de Serviço Social) – Centro de Ensino Superior do Ceará
Faculdade Cearense, 2013.
1. Sóciojurídico, Serviço social e Prática profissional. I. CENTRO
DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE
. CDD 320.6
KARLA MAIARA BANDEIRA MACIEL
O SERVIÇO SOCIAL NA DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO: OUTROS
SERVIÇOS OU SERVIÇO ESSENCIAL?
Monografia como pré-requisito paraobtenção
do título de Bacharel em Serviço Social,
outorgado pela Faculdade Cearense – FaC,
tendo sido aprovada pela banca examinadora
composta pelos professores.
Data de aprovação:___/ ___ /___
Banca Examinadora
____________________________________________
Professora Ms. Elizângela Assunção Nunes
____________________________________________
Professora Ms. Priscila Nottingham de Lima
____________________________________________
Professora Ms. Francis Emmanuelle Alves Vasconcelos
Ao meu Deus, à minha mãe, e a todos que
acreditaram em mim.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, autor e consumador da fé, pelo seu amor que me
ajudou a vencer mais uma etapa da minha vida.
À minha mãe, o anjo que Deus que enviou para me amar, ser meu exemplo de força e
coragem, que abriu mão dos seus próprios objetivos e sonhos para sempre me dar o
melhor, sou grata pelo seu ensinamento.
Às minhas tias Salete Bandeira, Patrícia Bandeira, e em especial, Graça Bandeira, que
me ajudou a concretizar este sonho, por todo incentivo e apoio. Muito Obrigada!
Ao meu pai-avô amado José Félix Bandeira, porque você fez, faz e fará sempre parte de
minha história!
Ao meu namorado e amor Paulo Sérgio do Nascimento, pelos momentos de
compreensão. Você é tão importante para mim!
Às minhas amigas de todos os momentos Anne Araújo, Gisele Alburquerque, Vanda
Mesquita, e demais companheiras e amigas de turma por compartilhar com vocês, suas
brincadeiras, seus sorrisos, seus aprendizados.
Aos mestres, que fizeram parte da minha formação acadêmica, por cada momento de
compreensão, luta, paciência, inteligência e dedicação.
À minha dedicada orientadora, Elizângela Assunção Nunes, por se dispor a enfrentar
este desafio comigo, por todas as palavras de incentivo, por toda paciência, por acreditar
no meu potencial e trilhar todos os ensinamentos neste trabalho. MUITO OBRIGADA!
A toda a equipe do Serviço Social da DPU/CE, grandes assistentes sociais que são
exemplos de competência e ética profissional, por todo aprendizado compartilhado com
cada uma de vocês. Nunca esquecerei a força que me deram para seguir em frente!
A todos os profissionais e entrevistados da DPU/CE, que aceitaram participar desta
pesquisa.
À banca examinadora, por se dispor a participar deste processo avaliativo, que muito
contribuirá para o enriquecimento deste trabalho.
Enfim, a todas as pessoas que sempre estiveram ao meu lado, nos bons e maus
momentos. Obrigado a todos!
“Bendize, ó minha alma, ao SENHOR, e tudo o
que há em mim bendiga o seu santo nome.”
Sl. 103:1
RESUMO
O presente trabalho buscou analisar a relevância da prática profissional dos (as)
assistentes sociais inseridos na Defensoria Pública da União no Ceará, a partir da visão
dos demais profissionais que compõem a instituição. Nessa perspectiva buscou-se
compreender a posição alcançada pelo serviço social, pontuando como este setor é
reconhecido, assim como o conjunto das ações desenvolvidas e sua relação com os
demais setores da instituição. O enfoque principal da investigação decorreu não
considerando o serviço social como uma prática isolada, mas que compreende as
circunstâncias institucionais e sociais no qual se realiza. A pesquisa teve como objetivo
principal compreender o lugar que o serviço social ocupa no âmbito da Defensoria
Pública da União, a partir da análise dos (as) profissionais que compõem a instituição e
como objetivos específicos: investigar como os profissionais da DPU-CE compreendem
o fazer profissional dos (as) assistentes sociais no âmbito institucional; analisar o
conjunto das ações desenvolvidas pelo serviço social e sua relação com os demais
setores da instituição; perceber qual importância é atribuída pelos (as) profissionais da
DPU-CE ao Serviço Social na efetivação dos direitos dos assistidos. O percurso
metodológico adotado incluiu pesquisa bibliográfica, documental e de campo, numa
abordagem qualitativa, utilizando-se de entrevistas semi-estruturada. A opção pelo
desenvolvimento da pesquisa qualitativa deu-se devido ao próprio objeto de estudo que
requereu uma análise refinada, bem como à riqueza de seus resultados. Considerando
ser este um “novo” campo de atuação profissional, embora ainda haja muitos obstáculos
a superar, deve-se salientar a relevância e contribuição dessa pesquisa para a instituição,
para a categoria profissional e também para a sociedade.
PALAVRAS CHAVES: sóciojurídico, serviço social e prática profissional.
ABSTRACT
This study sought to examine the relevance of the work of social workers inside of the
Ceara County Public Defender Union from the perspective of the professionals that
make up this institution. In this manner, it was sought to understand the position
reached by social services, taking in consideration the recognition of this field, the
actions developed, as well as its relation with the different sectors of the County of
Ceara Public Defender Union. The main focus of this research did not consider social
work as an isolated practice, instead it considered social work as a field that understands
the institutional and social circumstances in which it is held. In addition to that, this
research aimed to understand the place that social service occupies inside of the Public
Defender Union, from the point of view of the professionals that work in this institution,
with specific goals: to research how the professionals of the DPCU-CE (Ceara County
Public Defender Union) understand the social workers job within the institutional
framework; to analyze the set of actions developed by social services, and its
relationship with other sectors of the Public Defender Union institution; to observe the
importance given by the DPU-CE professionals to the social service as the rights of the
ones assisted go into effect. Furthermore, the methodological approach adopted
included bibliographical, documentary and field research in a qualitative approach,
using semi-structured interviews. A qualitative approach was taken due to the main goal
of this study, which required a refined analysis, as well as rich results. Moreover,
considering that social service is a "new" field of professional practice, although there
are still many obstacles to overcome, this research pursues an important relevance and
contribution to institutions, to professionals, and to society.
KEYWORDS: socio legal, social service and professional practice.
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Mapa de Distribuição .....................................................................67
Tabela 2 – Assistidos por Ofício .....................................................................68
Tabela 3 – Total Geral .....................................................................................71
LISTA DE SIGLAS
ABESS - Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social
ABEPSS - Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social
ANAS - Associação Nacional de Assistentes Sociais
ANADEF - Associação Nacional dos Defensores Públicos Federais
BPC - Benefício de Prestação Continuada
BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
CAPs- Caixas de Aposentadoria e Pensão
CBAS - Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais
CEAS - Centro de Estudos e Ação Social
CF/88 - Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
CFESS - Conselho Federal de Serviço Social
CLT- Consolidação das Leis Trabalhistas
CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
CRESS - Conselho Regional de Serviço Social
DPE - Defensoria Pública do Estado
DPF - Defensor Público Federal
DPU - Defensoria Pública da União
DPGF - Defensor Público Geral Federal
DPGU - Defensoria Pública Geral da União
EC - Emenda Constitucional
ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente
ENPESS - Encontro Nacional de Pesquisadores em Serviço Social
ENESSO - Executiva Nacional dos Estudantes de Serviço Social
FEBEMCE - Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor
FGTS - Fundo de Garantia por Tempo de Serviço
FMI - Fundo Monetário Internacional
FUNAI - Fundação Nacional do Índio
GT - Grupo de Trabalho
IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis.
IAPS - Instituto de Aposentadoria e Pensões
INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
INPS - Instituto Nacional da Previdência Social
INSS - Instituto Nacional do Seguro Social
LBA - Legião Brasileira de Assistência
LOAS - Lei Orgânica da Assistência Social
MPAS - Ministério da Previdência e Assistência Social
ONGs - Organizações Não Governamentais
PAJ - Processo de Assistência Jurídica
PEC – Projeto de Emenda Constitucional
PGPE - Plano Geral de Cargos do Poder Executivo
PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio
SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
SENAS- Secretária Nacional de Assistência Social
SESI - Serviço Social da Indústria
SUS - Sistema Único de Saúde
TSE - Tribunal Superior Eleitoral
TST - Tribunal Superior do Trabalho
STJ - Superior Tribunal de Justiça
STF - Supremo Tribunal Federal
STM - Superior Tribunal Militar
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 15
CAPÍTULO 1: DELINEANDO A TRAJETÓRIA DO SERVIÇO SOCIAL
BRASILEIRO E SUA INSERÇÃO APLICADO AO CONTEXTO
SÓCIOJURÍDICO ........................................................................................................22
1.1 – Evolução do Serviço Social enquanto profissão ......................................... 22
1.2 – Atribuições e competências do serviço social .............................................34
1.3 – Serviço Social no campo sóciojurídico ........................................................43
CAPÍTULO 2: A INSTUIÇÃO QUE GARANTE O ACESSO À JUSTIÇA E O
SERVIÇO SOCIAL COMO PARTÍCIPE DESTE PROCESSO ............................52
2.1 – A organização da Defensoria Pública da União no Brasil ...........................52
2.2 – A Defensoria Pública da União no Ceará ....................................................65
2.3 – A prática profissional do Serviço Social na DPU-CE .................................74
CAPÍTULO 3: PRODUZINDO CONHECIMENTO NA DPU-CE ATRAVÉS DO
SERVIÇO SOCIAL .....................................................................................................85
3.1 – Descrição do percurso metodológico da pesquisa .......................................85
3.2 – Analisando e produzindo dados ..................................................................93
CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................107
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................110
APÊNDICES ...............................................................................................................115
15
INTRODUÇÃO
O estágio supervisionado em serviço social na Defensoria Pública da União, a
partir de fevereiro de 2012, instigou a análise da relevância do trabalho dos (as) assistentes
sociais inseridos nessa instituição, que por sua vez configura-se como um novo espaço de
atuação sócio-ocupacional. Nessa perspectiva foi possível compreender a posição alcançada
pelo serviço social, pontuando como este setor é reconhecido pelos (as) profissionais que
compõem a referida instituição.
De acordo com o Art. 134 da Constituição Federal ―Defensoria Pública da União
é instituição essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a orientação jurídica
e a defesa em todos os graus, dos necessitados, na forma do Art. 5º. LXXIV‖. Ou seja, cabe
a DPU prestar assistência jurídica integral e gratuita, na esfera federal, ao cidadão
hipossuficiente, assim como ser instrumento de informação e orientação jurídica fornecendo
o acesso à justiça.
Em nosso país, a criação e organização da Defensoria Pública da União - DPU
deram-se 06 anos após a promulgação da Constituição Federal - CF/88, tendo importante
marco com a promulgação da Lei Complementar nº 80, de 12 de janeiro de 1994. Todavia,
observa-se que, mesmo após a promulgação da Lei Complementar, esperou-se um ano, para
que de fato, o Órgão fosse implantado. O que ocorreu ainda em caráter emergencial e
provisório, através da Lei nº 9.020, de 30 de março de 1995. No Ceará, a estruturação do
Núcleo da Comarca de Fortaleza, deu-se em dezembro de 2001, sendo à época, vinculado a 5ª
DPU Regional, com sede em Recife.
Conforme registro institucional, o organograma da instituição limitava-se ao
trabalho dos defensores e dos funcionários terceirizados que realizavam as atividades de
constituição dos processos jurídicos e dos serviços da administração. No corrente ano, a
unidade do Ceará conta com um quadro de trabalhadores dividido em: 14 Defensores públicos
federais, 33 servidores públicos, 19 profissionais de nível médio e superior terceirizados e 65
estagiários na área do direito, serviço social, comunicação social e ensino médio, totalizando
cerca de 131 trabalhadores.
16
No decorrer do estágio observou-se que por ser uma instituição nova no Brasil, a
Defensoria Pública da União, é ainda desconhecida por grande parcela da população, muito
embora esteja presente em todas as capitais dos Estados, afora sua interiorização recente.
Deste modo, o Órgão garante o acesso à justiça ao permitir uma defesa adequada da qual o
indivíduo possa participar ativamente, além da implementação da cidadania, quer seja
concernentes aos direitos individuais ou coletivos. Neste cenário convém evidenciar como o
serviço social conquistou seu espaço de atuação profissional na efetivação de direitos dos
assistidos1.
A sede da DPU no Estado do Ceará destaca-se por ter sido a primeira entre as
demais unidades, em agregar ao quadro de funcionários o profissional de serviço social no
ano de 2006, servindo posteriormente, como exemplo para os demais estados do Brasil.
Conforme Plano de Atuação Profissional do Serviço Social2, a demanda por assistentes
sociais surgiu tendo em vista a necessidade de realização e inclusão de perícias sociais nos
processos jurídicos vinculados ao ofício previdenciário.
Convém pontuar que um dos primeiros resultados obtidos após a implantação do
serviço social na instituição, refere-se ao reconhecimento nacional da atuação do profissional
no âmbito da DPU. Ressalta-se, portanto, o aumento significativo das ações julgadas
procedentes, onde havia relatórios sociais. Um dos instrumentais utilizados pelas assistentes
sociais para subsidiar elementos de defesa em prol do assistido, através de estudo social.
Cabe salientar que, os relatórios sociais/perícias sociais3 são utilizados em
processos de natureza previdenciária: pensão por morte, auxílio doença, auxílio reclusão,
aposentadoria, amparo assistencial ao idoso ou deficiente, dentre outros. Cível: solicitação de
medicamentos, cirurgias, dentre outros e por vezes em peças criminais, sendo possível
visualizar o contexto social em que o assistido está inserido.
1Assistido é o termo utilizado no âmbito da instituição para designar aqueles cidadão/assistidos juridicamente
pela DPU. 2Documento elaborado pela equipe de serviço social da DPU/CE, com a finalidade de nortear o processo de
trabalho do (a) assistente social na unidade da Defensoria Pública da União/DPU do Ceará. 3 Recentemente a equipe de serviço social da DPU-CE, substituiu o termo relatórios sociais por perícias sociais.
17
Aos longos de aproximadamente 07 anos de implantação do serviço social na
DPU-CE, houve um crescimento gradativo do quadro dos (as) assistentes sociais. Atualmente,
o serviço social da unidade DPU-CE é composto por 07 assistentes sociais e 05 estagiárias.
Deste modo, ao vislumbrar esse novo campo de atuação profissional dos
assistentes sociais, foi que sentiu-se a necessidade de explorar essa temática, sobretudo,
perpassá-la pelo o olhar de quem lida cotidianamente com essa nova prática, assim como
entender o processo de legitimação e reconhecimento profissional. Consoante afirma Minayo:
[...] a escolha de um tema não emerge espontaneamente, da mesma forma que o
conhecimento não é espontâneo. Surge de interesses e circunstâncias socialmente
condicionadas, frutos de determinada inserção no real, nele encontrando suas razões
e seus objetivos. (MINAYO, 1994, p.11)
Assim, vários foram os questionamentos que impulsionaram a construir o projeto
de pesquisa. O próprio título do trabalho já levanta uma indagação, O Serviço Social na
Defensoria Pública da União no Ceará: Outros Serviços ou Serviço Essencial? Porém, o
referido título apresenta também uma reflexão, haja vista que a motivação da pesquisa foi
impulsionada quando ocorreu uma mudança no sistema de informações
(interno/administrativo) da instituição. Esta mudança acarretou uma reformulação nas pastas
virtuais de cada setor, deste modo, o serviço social que antes possuía uma pasta independente
passou a ser agrupado dentro da pasta ―outros serviços‖.
Logo, percebeu-se a necessidade de considerar a relação que o serviço social tem
com os outros profissionais de nível superior da DPU-CE, sobretudo, porque nos últimos anos
tem se revelado uma ampliação da atuação do serviço social na referida instituição.
Ademais, pontua-se que a investigação decorre não considerando uma prática
isolada, mas que compreende as circunstâncias institucionais e sociais na qual se realiza.
Desta forma, a atuação do (a) assistente social na DPU-CE propiciou o surgimento de uma
nova dinâmica de intervenção institucional. Contudo, vale salientar que, em qualquer espaço
de atuação profissional, a instituição organiza o processo de trabalho no qual o assistente
social esta inserido. Conforme expõe Iamamoto:
18
Ainda que disponha de relativa autonomia na efetivação de seu trabalho, o assistente
social depende, na organização da atividade, do Estado, da empresa, entidades não-
governamentais que viabilizam aos usuários o acesso a seus serviços, forneçam
meios e recursos para sua realização, estabeleçam prioridades a serem cumpridas,
interferem na definição de papéis e funções que compõem o cotidiano do trabalho
institucional. Ora, se assim é, a instituição não é um condicionante a mais do
trabalho do assistente social. Ela organiza o processo de trabalho do qual ele
participa. (IAMAMOTO, 2012, p.63)
Muito embora o serviço social da DPU-CE disponha de relativa autonomia na
efetivação de seu trabalho, observa-se, que os profissionais dependem da Instituição para que
esta forneça os meios e recursos para a materialização de suas atividades. Portanto, um desses
questionamentos impulsionou a verificar quais as estratégias desenvolvidas pelo serviço
social para sua legitimação no âmbito institucional? Quais os limites e as possibilidades que o
cotidiano apresenta ao serviço social, visto que suas ações não são condicionadas apenas pela
organização institucional, mas também compreende o próprio desempenho profissional? Que
conjuntos de atividades e ações são desempenhadas pelos assistentes sociais e que
características esta intervenção apresenta?
Ocorre ainda que, os profissionais de serviço social no exercício de suas
atividades utilizam-se de diversos recursos metodológicos e instrumentais. De acordo com
Iamamoto: ―A noção estrita de instrumento como mero conjunto de técnicas se amplia para
abranger o conhecimento como um meio de trabalho, sem que esse trabalhador especializado
não consegue efetuar sua atividade ou trabalho [...]‖ ( 2012, p. 62).
Destarte, estas escolhas dependerão dos objetivos das atividades em si, da
competência técnica de cada um e das condições objetivas da organização. Por isso, é
importante verificar quais são os instrumentais e recursos teórico-metodológicos utilizados
para o desenvolvimento e encaminhamento de ações nesta área de intervenção.
Como já mencionado anteriormente, a atuação do (a) assistente social na
instituição não ocorre de forma isolada, mas sim no quadro de apoio aos Defensores Públicos
Federais. Ademais, a DPU/CE dividi-se em nove principais setores, são eles: secretaria
jurídica, secretaria administrativa, atendimento ao público, área de comunicação, biblioteca,
contadoria, apoio, serviço social e sociologia. Entretanto, é importante compreender como se
19
dá à relação entre serviço social e os demais profissionais da DPU-CE? Qual a contribuição
do profissional de serviço social para a equipe técnica e usuários dos serviços da DPU-CE?
Assim, a presente pesquisa teve como objetivo geral compreender o lugar que o
serviço social ocupa no âmbito da Defensoria Pública da União no Ceará, a partir da análise
dos profissionais que compõem a instituição e como objetivos específicos: investigar como os
profissionais da DPU-CE compreendem o fazer profissional dos assistentes sociais no âmbito
institucional; analisar o conjunto das ações desenvolvidas pelo serviço social e sua relação
com os demais setores da instituição; perceber qual importância é atribuída pelos profissionais
da DPU-CE ao serviço social na efetivação dos direitos dos assistidos.
Espera-se através deste trabalho, contribuir para o surgimento de novas
inquietações acerca do papel do assistente social, apontando suas estratégias de intervenção e
reconhecimento institucional. Nessa perspectiva, esse estudo deve corroborar para que as
demais unidades das Defensorias Públicas da União, em todo Brasil, que ainda não tem
implantado em seu quadro este profissional, visualize o trabalho das assistentes sociais na
unidade do Ceará, e assim, possam subsidiar elementos que demonstrem a relevância da
atuação deste setor.
Diante desta exposição, verifica-se ainda a importância do presente estudo, para a
categoria profissional, pois de acordo com Fávero:
Ainda que o meio sóciojurídico, em especial o judiciário, tenha sido um dos
primeiros espaços de trabalho do assistente social, só muito recentemente é que
particularidades do fazer profissional nesse campo passaram a vir a público como
objeto de preocupação investigativa. Tal fato se dá por um conjunto de razões, das
quais se destacam: a ampliação significativa de demanda de atendimentos e de
profissionais para a área [...] (FÁVERO, 2006, p.10-11)
Ademais, Iamamoto enfatiza que, ―é muito interessante observar que a maioria
das pesquisas especializadas focaliza a instituição Serviço Social. Poucos são aqueles estudos
que têm como foco o sujeito profissional, e análise do serviço social sob o ângulo dos
processos de trabalho [...]‖. (IAMAMOTO, 2012, p.65)
20
Nesse sentido, acredita-se que a obtenção dessa pesquisa, será de grande valia
para os profissionais que atuam na instituição, pois oportunizará buscar algumas respostas aos
desafios da prática profissional nesse novo espaço de atuação. Afora, a relevância e
contribuição dessa pesquisa para a instituição de um modo geral e para a categoria
profissional, dar-se-á diante da exposição para a sociedade, tendo em vista que o assistente
social trabalha no âmbito das relações sociais, junto a indivíduos, grupos, famílias,
comunidade e movimentos sociais.
Ademais, conforme mencionado no Plano de Atuação Profissional do Serviço
Social da Defensoria Pública da União (2011, p.12), ―[...] cabe ao assistente social contribuir
no processo de implementação de direitos sociais negados aos assistidos e realizar ações de
educação em direito‖. Salienta-se que para exercer uma efetiva cidadania, cada brasileiro
precisa estar consciente de seus direitos.
Quanto à estrutura expositiva, a presente monografia estará dividida nos seguintes
capítulos: esta parte introdutória, capítulo 1 - Delineando a trajetória do serviço social
brasileiro e sua inserção aplicado ao contexto sóciojurídico, que abrangerá uma
contextualização da trajetória dessa profissão no Brasil, ressaltando a evolução da mesma,
desde o seu surgimento até os dias atuais. A ênfase se dá na gradativa estruturação da
profissão, em suas atribuições e competências profissionais balizadas pelo Código de Ética e
Lei de regulamentação da profissão, assim como os traços característicos presentes do serviço
social aplicado ao campo sóciojurídico, abordando seus instrumentais, técnicas e suas inter-
relações com o sistema da justiça.
Em relação ao capítulo 2 - A instituição que garante o acesso à justiça e o serviço
social como partícipe deste processo no qual realizará apresentação da criação e organização
da Defensoria Pública da União no Brasil. Órgão público institucionalizado e especializado
para prestação de um serviço jurídico, integral e gratuito à população hipossuficiente, cujas
garantias são reconhecidas pelo Estado para efetivar princípios e normas constitucionais de
acesso à justiça.
Nesse sentido, aborda-se o grau de relevância atribuído à Defensoria,
demonstrando características gerais da atuação institucional, no Brasil e no Ceará. Neste
21
cenário, será realizada uma breve contextualização histórica de como o serviço social se
inseriu nesse campo, evidenciando a prática profissional das assistentes sociais no núcleo da
DPU-CE, e sua inconteste contribuição, que objetiva conceder ao assistido a viabilização dos
seus direitos pleiteados.
Após esta trajetória no capítulo 3 - Produzindo conhecimento na DPU-CE através
do serviço social, será demonstrada a consagração dos resultados face às indagações
levantadas no corpo deste trabalho, além do percurso metodológico trilhado nesta pesquisa.
Inicialmente apontará os caminhos percorridos para alcance dos resultados, sua organização e
orientações devidas, chegando a uma reflexão qualitativa embasadas nos autores estudados.
Para finalizar, não buscando esgotar a temática será apresentada as considerações finais, bem
como algumas sugestões a cerca da temática estudada, partindo das reflexões realizadas na
trajetória desse estudo.
22
CAPÍTULO 1: DELINEANDO A TRAJETÓRIA DO SERVIÇO SOCIAL
BRASILEIRO E SUA INSERÇÃO APLICADO AO CONTEXTO SÓCIOJURÍDICO.
O presente capítulo abrange uma contextualização da trajetória do serviço social
no Brasil, ressaltando a evolução da profissão, desde o seu surgimento até os dias. A ênfase se
dá na gradativa estruturação da profissão, em suas atribuições e competências profissionais
balizadas pelo Código de Ética e Lei de regulamentação da profissão, assim como os traços
característicos presentes do serviço social aplicado ao campo sóciojurídico, abordando seus
instrumentais, técnicas e suas inter-relações com o sistema da justiça.
1.1 - Evolução do serviço social enquanto profissão
Para entendermos o surgimento de uma profissão, faz-se necessário
primeiramente compreendermos as configurações históricas, para assim visualizarmos sua
trajetória e relação com a sociedade. Deste modo, analisar a evolução do serviço social
enquanto profissão requer trilhar um resgate histórico da profissão, tendo em vista que seus
fundamentos foram estruturados no final do século XIX, durante a ascensão da burguesia, e
fortalecimento do sistema capitalista, quando a sociedade passa a ser dividida em classes.
Portanto, no auge da Revolução Industrial desencadeava-se uma série de impactos
na sociedade européia, gerando as questões sociais, que serviram como as
bases estruturadoras do serviço social, que durante muito tempo, esteve a serviço da
burguesia, recebendo forte influência da doutrina social, desenvolvida pela Igreja Católica.
No século XIX, na Europa, os operários viviam, em grau extremo, a miséria e a
exploração decorrentes da industrialização e desenvolvimento do capitalismo. Essa
situação dá uma grande dimensão à questão social, levando a Igreja a se posicionar.
Esta via a época como de grande crise, de decadência da moral e dos bons costumes
cristãos. Essa situação decorre – segundo a Igreja – do liberalismo e do comunismo.
Tendo em vista sua missão encaminhar o homem à conquista da felicidade eterna –
ela intervém na situação que é de desordem e que impede as pessoas de cumprir sua
tarefa de dar glória a Deus, dada a condições que viviam. (AGUIAR, 1995, p. 17)
Essa intervenção da Igreja torna-se mais clara e evidente a partir do final do
século XIX, fundamentando-se nas Encíclicas papais, preconizando a intervenção do Estado,
23
com vistas a solucionar os problemas vivenciados pela classe operária, justificando que só
seria possível apelando-se para a religião.
Yazbek (2009) argumenta que é preciso ultrapassar a análise do serviço social em
sim mesmo para situá-lo no contexto das relações mais amplas que constituem a sociedade
capitalista, para particularmente, no âmbito das respostas que esta sociedade e o Estado
constroem, frente à questão social e suas manifestações, em múltiplas dimensões. Desta
forma, a autora afirma que:
[...] a institucionalização do Serviço Social como profissão na sociedade capitalista
se explica no contexto contraditório de um conjunto de processos sociais, políticos e
econômicos, que caracterizam as relações entre as classes sociais na consolidação do
capitalismo monopolista. Assim, a institucionalização da profissão de uma forma
geral, nos países industrializados, está associada à progressiva intervenção do Estado
nos processos de regulação social. (YAZBEK, 2009, p.129)
Com a expansão do capitalismo e do modo burguês de produção, a burguesia
preocupava-se em buscar estratégias ou táticas para viabilizar a consecução de seus objetivos.
Desta forma, os capitalistas buscaram ajuda do próprio Estado liberal burguês e da Igreja, no
intuito de somar forças para coibir o movimento dos trabalhadores e evitar a desordem social.
Nesse contexto, a burguesia preocupava-se com dois fatos: o movimento dos
trabalhadores e os problemas sociais agravados pela expansão do capitalismo. Consoante
expõe Martinelli, ―[...] A classe trabalhadora crescera visivelmente, introduzindo uma nova
geografia nos centros urbanos: a da pobreza, que se fazia acompanhar da geografia da fome e
da generalização da miséria.‖ (2010, p.60)
Inicialmente, o serviço social, esteve condicionado à filantropia, atuando como
agentes executores da assistência social. Os primeiros profissionais da área atuaram de forma
indireta, para amenizar os conflitos surgidos entre a crescente classe operária absorvida pelo
sistema capitalista em ascensão, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos. Sendo assim, a
origem da profissão trás consigo ―[...] a marca profunda do capitalismo e do conjunto das
variáveis que a ele estão subjacentes - alienação, contradição, antagonismo [...].‖
(MARTINELLI, 2010, p.66).
Netto reforça essa concepção:
24
Emergindo como profissão a partir do background acumulado na organização da
filantropia própria à sociedade burguesa, o Serviço Social desborda o acervo das
suas protoformas ao se desenvolver como um produto típico da divisão social (e
técnica) do trabalho da ordem monopólica. Originalmente parametrado e
dinamizado pelo pensamento conservador, adequou-se ao tratamento dos problemas
sociais quer tomados nas suas refrações individualizadas (donde a funcionalidade da
psicologização das relações sociais), quer tomados como sequelas inevitáveis do
‗progresso‘ (donde a funcionalidade da perspectiva ‗pública‘ da intervenção) - e
desenvolveu-se legitimando-se precisamente como interveniente prático-empírico e
organizador simbólico no âmbito das políticas sociais. (NETTO, 2001, p. 79)
É importante ressaltar, que muito embora as concepções semelhantes no qual o
serviço social se desenvolveu na Europa, assim como nos Estados Unidos, no início do século
XX, os esforços no sentido de viabilizar a profissionalização do serviço social se diferenciam.
Sobre esse período do processo histórico do serviço social, afirma Netto que:
É no imediato pós-guerra civil que se engendram as condições culturais elementares
que, na virada do século, permearão as protoformas do Serviço Social [...] A crítica
sociocultural, na Europa, era obrigada a pôr em questão aspectos da socialidade
burguesa; na América, o tipo de desenvolvimento capitalista não conduzia a crítica a
checá-lo. No período que estamos enfocando, a síntese dessas diferenças pode ser
resumida da seguinte maneira: nas fontes ideológicas das protoformas e da
afirmação inicial do Serviço Social europeu, dado o anticapitalismo romântico, há
vigoroso componente de apologia indireta do capitalismo; nas fontes americanas,
nem desta forma a ordem capitalista era objeto de questionamento. (NETTO, 2001,
p. 114)
Além disso, Martinelli (2010) comenta que, na Europa, o itinerário de busca do
serviço social se desenvolveu com formulações vinculadas ao pensamento sociológico-
conservador e atrelado à doutrina social da Igreja Católica. Enquanto que, nos Estados
Unidos, a linha psicológica e psicanalítica, caracterizou a abordagem individual.
A mesma autora mencionada acima, ressalta que nos anos em que precederam a II
Guerra Mundial, durante a sua vigência, o serviço social já se fazia presente e atuante na
maior parte dos países americanos, europeus e inclusive latino-americanos, exercendo sua
prática a partir de instituições públicas e particulares. (IAMAMOTO e CARVALHO, 1990).
Já no Brasil, o surgimento do serviço social deu-se na década de 30, com suas
raízes cristãs de assistencialismo, onde a igreja Católica controlava todo processo de ajuda ao
próximo e benefícios aos menos favorecidos, sendo patrocinada pela ordem burguesa, tendo
25
como referencial o serviço social europeu. Nesse período, o capitalismo ingressava em sua
fase monopólica, como fruto da iniciativa particular de vários setores da burguesia. Cabe
pontuar também, que o país iniciava o processo de industrialização e do crescimento das
populações das áreas urbanas. Todo esse contexto favoreceu a tarefa imputada ao serviço
social, que era de controlar a massa operária.
[...] Embora a Igreja Católica tenha importância singular na configuração da
identidade que marca a gênese do Serviço Social no Brasil, foi o contexto do final da
Segunda Guerra Mundial, de aceleração industrial, das migrações campo-cidade e
do intenso processo de urbanização, aliados ao crescimento das classes sociais
urbanas, especialmente do operariado, que vai exigir respostas do Estado e do
empresariado às necessidades de reprodução social das classes trabalhadoras nas
cidades [...] (AGUIAR, 1995, p. 17)
Desta forma, a profissão do serviço social é historicamente determinada, sendo a
atuação dessa categoria articulada de maneiras distintas na conjuntura social, política e
econômica do Brasil e a igreja católica, apresenta-se como responsável pela formação dos
primeiros profissionais em nosso país.
Diante da cronologia do surgimento da profissão no Brasil, enumera-se a criação,
em 1932, na cidade de São Paulo, do Centro de Estudos e Ação Social - CEAS, que tinha
como objetivo ―promover a formação de seus membros pelo estudo da doutrina social da
Igreja e fundamentar sua ação nessa formação doutrinária e no conhecimento aprofundado
dos problemas sociais. [...]‖ (IAMAMOTO; CARVALHO, 1990, p.173).
O referido centro tinha a pretensão de atingir donzelas católicas para intervir junto
ao proletariado, orientado por uma formação técnica especializada. Além disso, contribuiu e
uniu esforços, para a criação das primeiras escolas de serviço social em 1936 e 1937 nas
cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, respectivamente.
Em um curto período de tempo, a demanda por assistentes sociais no mercado de
trabalho cresceu consideravelmente, de forma que não havia profissionais suficientes para
atuar. Sobre esse mercado de trabalho, Netto comenta:
[...] a criação de um mercado nacional de trabalho para os assistentes sociais tem
seus mecanismos originais deflagrados em meados dos anos quarenta (quase uma
década depois da fundação das primeiras escolas de Serviço Social), portanto no
26
bojo do processo de ‗desenvolvimento das grandes instituições sociais‘
implementadas no caso pelo Estado Novo [...] (NETTO, 2011, p.119)
Essas instituições além de propiciar a abertura do mercado de trabalho para as
primeiras assistentes sociais despontam também como repostas do Estado à população,
através de um conjunto de iniciativas. Dentre essas medidas, cita-se: ―a Consolidação das Leis
do Trabalho - CLT, o Salário Mínimo e outras medidas de cunho controlador, assistencial e
paternalista.‖ (YAZBEK, 2009, p.130).
Deste modo, ao reconhecer a legitimidade da questão social no âmbito das
relações entre capital e trabalho, o governo Vargas buscou enquadrá-la juridicamente, visando
à desmobilização da classe operária e a regulação das tensões entre as classes sociais. Yazbek
justifica que ―[...] dessa forma, gradativamente, o Estado vai impulsionando a
profissionalização do assistente social e ampliando seu campo de trabalho em função das
novas formas de enfretamento da questão social. [...]‖. (2009, p.132)
Logo, o Estado incentivava a formação de assistentes sociais para atuarem em
determinadas instituições estatais, regulamentando no mercado o trabalhador e contendo a
exploração da força de trabalho, racionalizando a assistência, reforçando e centralizando a sua
participação. Do mesmo modo, regulando as iniciativas particulares, apoiando as instituições
coordenadas pela igreja, adotando técnicas e formação técnica especializada, desenvolvidas a
partir daquelas instituições particulares, Yazbek acrescenta:
[...] abre para o emergente Serviço Social brasileiro um mercado de trabalho, que
amplia suas possibilidades e intervenção mais além dos trabalhos de ação social até
então implementa dos no âmbito privado, sob o patrocínio do bloco católico. A
profissão amplia sua área de ação, alarga as bases sociais de seu processo de
formação, assume um lugar na execução das políticas sociais emanadas pelo Estado
e, a partir desse momento, tem seu desenvolvimento relacionado com a
complexidade dos aparelhos estatais na operacionalização de Políticas Sociais.
(YAZBEK, 2009, p.132)
Convém sinalizar que, foram criadas várias instituições de assistência social no
Brasil, das quais destacam-se as seguintes: Conselho Nacional de Serviço Social, em 1938,
com o objetivo de centralizar e organizar as obras assistenciais públicas e privadas e a Legião
Brasileira de Assistência - LBA, em 1942, com o objetivo de prover as necessidades das
27
famílias, durante o período da ditadura do Estado Novo. E outras grandes instituições como:
Serviço Nacional de Aprendizagem - SENAI; Serviço Social da Indústria -SESI; Fundação
Leão XIII e Previdência Social. Dentre as instituições mais antigas, estão as Caixas de
Pensões e Aposentadoria - CAPS, além dos institutos.
Portanto, atuando no seio dessa conjuntura de respostas as questões sociais,
gestadas dentro dessa perspectiva contraditória das reivindicações históricas do proletariado,
por meios das políticas assistenciais, entende-se que:
[...] na trama das relações sociais concretas, na história social da própria sociedade
brasileira, que se gestam as condições para que, no processo de divisão social e
técnica do trabalho, o Serviço Social constitua um espaço de profissionalização e
assalariamento. (YAZBEK, 2009, p.133)
Visualiza-se então, a crescente expansão do mercado de trabalho nas décadas de
1950 adentrando os anos 1960, além da conquista de novos campos de atuação profissional
dos assistentes sociais. No cenário brasileiro, apontava-se o avanço da industrialização
pesada, o mercado de trabalho para os assistentes sociais mostrava-se ―emergente e em
processo de consolidação‖, muito embora tivesse alcançado o território brasileiro. Os
profissionais buscaram atuar numa perspectiva comunitária, sendo caracterizada pela
neutralidade que acreditavam ter no processo de mediação entre o povo e o governo.
Com a crise do modelo desenvolvimentista, a assistência e as atividades de
promoção social começaram a adquirir nova amplitude, iniciando um rompimento com
práticas conservadoras e tradicionais que visavam apenas a reprodução da exploração social
pelo capitalismo.
Nesse período o Estado continua sendo o principal empregador, porém, abrem-se
espaços para atuação dos profissionais de serviço social, nas empresas e indústrias,
constituindo-se progressivamente como um amplo empregador. Outro aspecto importante
ocorrido no decorrer desses anos trata-se do aprofundamento teórico, o serviço social se
dispõe a construir uma própria teoria, além de método exclusivo, embasado nas ciências
sociais positivistas.
28
Ressalta-se, a influência norte-americana sobre o serviço social brasileiro,
marcado pelo tecnicismo e a incorporação da psicanálise com intuito de promover o
ajustamento e fornecer ajuda psicossocial. Nessa época, tem início as práticas de Organização
e Desenvolvimento de Comunidade, além do desenvolvimento das peculiares abordagens
individuais e grupais. Ocorre que a supervalorização da técnica, que por sua vez era
considerada autônoma, a profissão se desenvolve através do serviço social de Caso, Grupo de
Comunidade.
Os anos 1960 e 1970 expressam o movimento de renovação na profissão, tanto em
termos da reatualização do tradicionalismo profissional, quanto na busca de ruptura com o
conservadorismo. Na definição de Netto, a renovação do serviço social significa:
[...] o conjunto de características novas que, no marco das constrições da autocracia
burguesa, o Serviço Social articulou, à base do rearranjo de suas tradições e da
assunção do contributo de tendência do pensamento social contemporâneo,
procurando investir-se como instituição de natureza profissional dotada de
legitimidade prática, através de respostas a demandas sociais e da sua
sistematização, e de validação teórica, mediante a remissão às teorias e disciplinas
sociais. (NETTO, 2011, p.131)
É justamente nesse cenário brasileiro envolto de mudanças políticas, em que a
repressão e o autoritarismo se faziam latentes, que os assistentes sociais sentiram a
necessidade de provocar discussões a cerca da existência de uma base comum para a
profissão, a partir dos seus elementos constitutivos: ―objeto, objetivos, métodos e
procedimentos de intervenção.‖ (IAMAMOTO, 1992, p.33)
Portanto, o serviço social demonstrava preocupação em superar o pragmatismo e
buscava uma identidade científica para a profissão. Além disso, importava-se um referencial
interpretativo da ordem social, com a necessidade de incorporar a perspectiva do método
estrutural-funcionalista. De acordo Netto (2011):
Está claro que produzir este profissional ‗moderno‘ implicava uma profunda rotação
nos mecanismos vigentes da formação dos assistentes sociais – e dela encarregou-se
a política educacional da ditadura [...]. Com efeito, as referidas condições novas
reclamavam uma inteira refuncionalização das agências de formação dos assistentes
sociais, apta a romper de vez com o confessionalismo, o paroquialismo e o
provincianismo que historicamente vincaram o surgimento e o envolver imediato do
ensino do Serviço Social no Brasil – além, naturalmente, da expansão quantitativa
das próprias agências. (NETTO, 2011, p.124)
29
Deste modo, o Movimento de Reconceituação do serviço social no Brasil induziu
os profissionais a buscarem respostas para a crise interna vivenciada pela profissão. Esse
contexto foi determinante para que os profissionais ampliassem uma consciência crítica,
reflexiva, lançando questionamentos ao serviço social tradicional. Além de requerer uma
organização interna da categoria, propondo também a revisão da matriz teórica, metodológica,
operativa e política.
Netto, sintetiza quatro aspectos que sinalizaram os nós mais decisivos do processo
de renovação do serviço social, conforme abaixo relacionado:
a) a instauração do pluralismo teórico, ideológico e político no marco profissional,
deslocando uma sólida tradição de monolistismo ideal;
b) a crescente diferenciação das concepções profissionais (natureza, funções, objeto,
objetivos e práticas do Serviço Social), derivada do recurso diversificado as matrizes
teórico-metodológicas alternativas, rompendo com o viés de que a profissionalidade
implicaria uma homogeneidade (identidade) de visões e de práticas;
c) a sintonia da polêmica teórico-metodológica profissional com as discussões em
curso no conjunto das ciências sociais, inserindo o Serviço Social na interlocução
acadêmica e cultural contemporânea como protagonista que tenta cortar com a
subalternidade (intelectual) posta por funções meramente executivas;
d) a constituição de segmentos de vanguarda, sobretudo, mas não exclusivamente
inseridos na vida acadêmica, voltados para investigação e a pesquisa; (NETTO,
2011, p.135-136).
Na compreensão do autor, esses traços destacados, caracterizam, sobretudo, uma
―inflexão em relação ao quadro que o antecedeu‖, além de uma ―tensão entre vetores de
transformação e permanência.‖ Mas, não significou necessariamente um questionamento ao
serviço social brasileiro, e sim, evidenciou a preocupação em questionar-se
metodologicamente.
Yazbek (1999, p.148), menciona que, o movimento de Reconceituaçao, impõe aos
assistentes sociais: ―[...] a necessidade de construção de um novo projeto comprometido com
as demandas das classes subalternas, particularmente expressas em suas mobilizações [...]‖.
Portanto, o serviço social vai aproximar-se dos movimentos ―de esquerda‖, sobretudo do
sindicalismo combativo e classista que se revigora nesse contexto.
30
Destaca-se que, no primeiro momento do Movimento de Reconceituação do
Serviço Social no Brasil, o Encontro de Araxá, realizado no ano 1967, posteriormente, o
Encontro de Teresópolis, em 1972. Esses dois encontros caracterizaram as discussões da
categoria profissional sobre a sistematização teórico-prática, que resultou na elaboração de
dois documentos onde ficou explícita a perspectiva de modernização. De acordo com Netto:
A perspectiva modernizadora, num plano ideal, terá a sua hegemonia posta em
questão a partir de meados dos anos setenta – até então, pode-se dizer que ela imanta
indiscutivelmente a reflexão profissional. A crise da autocracia burguesa vai
propiciar as condições para que, a partir do segundo lustro da década de setenta, se
reduza progressivamente a polarização intelectual que exerceu [...]. (NETTO, 2011,
p.156)
A segunda direção do Movimento de Reconceituação no Brasil caracteriza-se pela
―a reatualização do conservadorismo‖, que apresenta um caráter renovador à profissão em
confronto com passado, baseada em matrizes intelectuais mais aprimoradas. Netto, afirma:
[...] trata-se de uma vertente que recupera os componentes mais estratificados da
herança histórica e conservadora da profissão, nos domínios da (auto) representação
e da prática, e os repõe sobre uma base teórico-metodológica que se reclama nova,
repudiando simultaneamente, os padrões mais nitidamente vinculados a tradição
positivista e às referências conectadas ao pensamento crítico-dialético, de raiz
marxiana. [...] ( NETTO, 2011, p.157)
A direção apontada por Netto, (2011, p.159) refere à intenção de ruptura com o
Serviço Social tradicional ―[...] possui como substrato nuclear uma crítica sistemática ao
desempenho ‗tradicional‘ e aos seus suportes teóricos, metodológicos e ideológicos.‖
Para o autor, essa vertente se expressa num momento de crise da ditadura militar,
onde o serviço social se opõe ao tradicionalismo, induzindo questionamentos quanto a sua
vinculação junto aos interesses do bloco no poder. Naquele momento, desenvolveu-se no
interior da categoria profissional, entre vários aspectos, a busca de um novo perfil
profissional, por uma identidade com as classes trabalhadoras. Sobre a temática, Iamamoto,
pontua que:
A ruptura com a herança conservadora expressa-se como uma procura, uma luta por
alcançar novas bases de legitimidade da ação profissional do Assistente Social, que,
reconhecendo as contradições sociais presentes nas condições do exercício
31
profissional, busca colocar-se, objetivamente, a serviço dos interesses dos usuários,
isto é, dos setores dominados da sociedade. (IAMAMOTO, 1992, p.37)
O serviço social transitando dos anos 1970 para a década de 1980, enfrenta muitas
transformações, sobretudo, na dimensão política da prática profissional, na busca de novas
bases de legitimação e organização da categoria, assim como na qualificação acadêmica
articulando-se as ciências sociais, além de investimento no âmbito da pesquisa.
O final da década de 1970 configurou-se para o serviço social, com o aumento
expressivo da criação de unidades de ensino públicas e privadas, propiciando a legitima
inserção do serviço social nos quadros universitários, além disso, a prática de pesquisa e da
extensão. Afora, o desenvolvimento da pós-graduação, repercutindo uma ampla discussão em
torno da formação profissional do assistente social.
O contexto histórico da realidade brasileira na década de 80 denota a rearticulação
da sociedade frente às contradições e insatisfação com regime militar. Depreende-se, também
as transformações no interior do serviço social, embasadas na necessidade de acompanhar as
transformações econômicas, políticas e sociais do mundo contemporâneo e da própria
estrutura conjuntural do Estado e da realidade brasileira.
Dentre essas mudanças, destaca-se: a reativação de alguns sindicatos e a criação
de associações. Em 1983, é criada a Associação Nacional de Assistentes Sociais- ANAS,
posteriormente, transforma-se numa federação sindical. Em 1982, é aprovado pelo Conselho
Federal de Educação o novo currículo mínimo instituído pela ABESS – Associação Brasileira
de Escolas de Serviço Social, que supera na formação, a metodologia tripartite e dissemina-se
a ideia da junção entre a técnica e o político.
No ano de 1981, inicia-se na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, a
primeira turma do único curso de doutoramento em serviço social na América Latina, além
disso, o serviço social no âmbito da pesquisa adquire o reconhecimento oficial por parte do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq.
Já em 1986, é aprovado o Código de Ética Profissional, que ―representa um marco
da ruptura ética e ideopolítica do serviço social com a perspectiva do neotomismo e também
32
com o funcionalismo.‖ (Paiva e Sales, 2006, p. 175) Além disso, o Código de 1986 reforçava
a ideia de compromisso com a classe trabalhadora. Os anos de 1980 e 1990, segundo Yazbek:
[...] foram anos adversos para as políticas sociais e se constituíram em terreno
particularmente fértil para o avanço da regressão neoliberal que erodiu as bases dos
sistemas de proteção social e redirecionou as intervenções do Estado em relação à
questão social. Nestes anos, em que a políticas sociais vêm sendo objeto de um
processo de reordenamento, subordinado às políticas de estabilização da economia,
em que a opção neoliberal na área social passa pelo apelo à filantropia e à
solidariedade da sociedade civil e por meio de programas seletivos e focalizados de
combate à pobreza no âmbito do Estado, [...] novas questões se colocam ao Serviço
Social, quer do ponto de vista de sua intervenção, quer do ponto de vista da
construção de seu corpo de conhecimentos. (YAZBEK, 1999, p.154)
Os anos de 1990, por sua vez, apresentam novos desafios e expectativas para a
categoria profissional. Contudo, cabe destacar três grandes conquistas para o Serviço Social
nesta década, que são: O Código de Ética de 1993, Diretrizes Curriculares de 1996 e a
Legislação que regulamenta o exercício profissional - Lei n.8.662, de 07 de junho de 1993.
A conjuntura econômica, política e social dos anos 1990 refletem e repercutem
significadamente na sociedade e de sobremodo no serviço social enquanto profissão. Segundo
Yazbek:
[...] trata-se de um contexto em que são apontadas alternativas privatistas e
refilantropizadas para as questões relacionadas ao terceiro, amplo conjunto de
organizações e iniciativas privadas, não lucrativas, sem clara definição, criadas e
mantidas com o apoio do voluntariado e que desenvolvem suas ações no campo
social, no âmbito de vastíssimo conjunto de questões, em espaços de desestruturação
(não de eliminação) das políticas sociais, e de implementação de novas estratégias
programáticas como, por exemplo, os programas de Transferência de Renda, em
suas diferentes modalidades. (YAZBEK, 1999, p.155)
Ocorre que o ideário neoliberal, implicou impactos em vários setores da
sociedade, não obstante rebateu no serviço social, sobretudo, nas condições e relações de
trabalho, uma vez que estreitou o mercado de trabalho dos assistentes sociais e desvalorizou
os profissionais.
Com o sucateamento dos serviços públicos, houve uma retração de investimentos
financeiros por parte do Estado em programas da área social. Com a extinção da LBA, foi
33
criado o Ministério da Previdência e Assistência Social - MPAS, ligado a Secretaria Nacional
de Assistência Social- SNAS que assumiria o papel da LBA e do também extinto Ministério
do Bem Estar Social. Além disso, salienta-se a transferência de serviços de responsabilidade
do Estado para o setor privado, a exemplo das Organizações Não Governamentais.
Do início dos anos 2000 até a atualidade, o serviço social tem vivenciado
mudanças no redimensionamento da profissão, nas condições de trabalho, nas refrações da
questão social, no âmbito das políticas sociais e também com relação aos novos desafios
apresentados aos assistentes sociais.
De acordo com Iamamoto:
Um dos maiores desafios que o Assistente Social vive no presente é desenvolver sua
capacidade de decifrar a realidade e construir propostas de trabalho criativas e
capazes de preservar e efetivar direitos, a partir de demandas emergentes no
cotidiano. Enfim, ser um profissional propositivo e não só executivo.
(IAMAMOTO, 2012, p.20)
Importa ressaltar uma grande conquista dos profissionais, a definição da jornada
de 30 horas de trabalho para a categoria profissional, sem a redução salarial. A Lei nº.
12.317, de 26 de agosto de 2010, alterou o artigo 5° da Lei de Regulamentação Profissional
(Lei 8662/1993), em seu "Art.5°-A. A duração do trabalho do Assistente Social é de 30
(trinta) horas.‖ Ademais, a mesma Lei ainda estabelece em seu artigo 2°: ―Aos profissionais
com contrato de trabalho em vigor na data de publicação desta Lei é garantida a adequação da
jornada de trabalho, vedada a redução do salário‖.
No âmbito do ensino salienta-se o aumento significativo de cursos de graduação
em Serviço Social nas unidades de ensino privados. Afora, a implementação do ensino de
graduação à distância – EaD, o que tem provocado grandes questionamentos no conjunto
CFESS/CRESS, acerca da qualidade do ensino e assim como o estágio curricular. Além disso,
expande-se o campo da pesquisa em serviço social e os cursos de pós-graduação.
Por todo exposto, evidencia-se que, ao longo dos anos, o serviço social, vem
gradativamente se afirmando e consolidando conquistas. No cenário atual, o profissional tem
buscado novas alternativas e possibilidades para efetivação do trabalho, o que implica
34
compreender essa atuação profissional dentro de um contexto sócio-histórico e no cenário das
relações sociais.
Deste modo, abordar as bases que legitimaram a profissão, se fez fundamental,
para assim vislumbrarmos a sua vinculação na divisão sócio-técnica do trabalho, e para
prosseguir nessa análise será apresentada a seguir as ―Atribuições e competências do serviço
social‖, em seu conjunto de legislações que regulamentam a profissão, bem como as balizada
pelo Código de Ética.
1.2 – Atribuições e competências do serviço social
As profissões são fenômenos socialmente produzidos e como tal refletem em suas
práticas as tendências preponderantes que apreendem do momento histórico. Daí compreende-
se que, o exercício profissional não é o mesmo em todo e qualquer contexto e em todo e
qualquer tempo.
No processo reflexivo, depreende-se que uma profissão ganha institucionalidade
na medida em que a sociedade a legitima e a legitimidade decorre do exercício de certas
funções ou competências reconhecidas como socialmente úteis.
Considerando a historicidade da profissão - seu caráter transitório e socialmente
condicionado - ela se configura e se recria no âmbito das relações entre o Estado e a
sociedade, fruto de determinantes macro-sociais que estabelecem limites e
possibilidades ao exercício profissional, inscrito na divisão social e técnica do
trabalho e nas relações de propriedade que a sustentam. Mas uma profissão é,
também, fruto dos agentes que a ela se dedicam cai seu protagonismo individual e
coletivo. (IAMAMOTO, 2012, p.39)
Durante longos anos, o serviço social, foi marcado e reconhecido como profissão
influenciada pelo conservadorismo e pela forte influência da igreja católica. Em termos
gerais, o serviço social era visto como vocação, habilidade, ocupação ou ofício.
Hoje, é reconhecido como profissão, uma especialização do trabalho coletivo,
inscrita na divisão social e técnica do trabalho, de nível superior, regulamentada no Brasil
pela Lei n. 8.662/93, de 07 de junho de 1993, com alterações determinadas pelas resoluções
35
CFESS nº 290/94 e nº293/94, e balizada pelo Código de Ética, aprovado através da resolução
CFESS nº 273/93, de 13 de março de 1993. (FRAGA, 2010)
Contudo, a abordagem do serviço social, inserido na divisão social do trabalho,
sinaliza que ―[...] o assistente social é proprietário de sua força de trabalho especializada. Ela
é produto da formação universitária que o capacita a realizar um trabalho complexo‖,
(IAMAMOTO, 2009, p.352)
Assim como em qualquer outra profissão, o serviço social dispõe de elementos
que compõem o processo de trabalho dos assistentes sociais. Quanto ao objeto de intervenção,
a sua ação incide sobre as expressões da questão social, definida por Iamamoto, como:
O conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura, que
tem uma raiz comum: a produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se
mais amplamente social, enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se privada,
monopolizada por uma parte da sociedade. (IAMAMOTO, 2012, p.27)
Essa intervenção nas múltiplas expressões da questão social requer do profissional
uma articulação coletiva, conhecimento da realidade e uma postura crítica, com propósito de
contribuir para reduzir as desigualdades e injustiças sociais, lutando para fortalecer os
sujeitos, despertando neles uma consciência democrática.
Importa ressaltar que esse objeto de intervenção do serviço social é historicamente
determinado e sua análise deriva da perspectiva histórica e política assumida pelo assistente
social a partir dos determinantes do projeto ético-político profissional.
Tendo em vista, o exercício profissional do assistente social, reporta a dimensão
investigativa e interventiva da profissão, que de acordo com Torres:
[...] Dimensão interventiva: aquela em que se explicita não somente a construção,
mas a efetivação das ações desenvolvidas pelo assistente social. Compreende
intervenção propriamente dita, o conhecimento das tendências teórico-
metodológicas, a instrumentalidade, os instrumentos técnico-operativos e os do
campo das habilidades, os componentes éticos e os componentes políticos, o
conhecimento das condições objetivas de vida do usuário e o reconhecimento da
realidade social e a dimensão investigativa: compreende a produção do
conhecimento, a elaboração de pesquisas e os aspectos analíticos que dão suporte,
qualificam e garantem a concretização da ação interventiva. Ambas – em
complementaridade – favorecem a visibilidade do fazer profissional. São essas
36
dimensões que consolidam a coerência, a consistência teórica e argumentativa, e,
para além disso, são as formas concretas do agir profissional. Acrescenta-se que o
exercício profissional realizado sob essa dupla dimensão amplia a discussão sobre a
intervenção profissional, enfatizando a questão do compromisso e da competência;
além de salientar a preocupação com o desenvolvimento teórico do Serviço Social.
[...] (TORRES, 2007, p.47-48)
Ou seja, essas dimensões constituem-se como princípios formativos, bem como, o
exercício profissional dos assistentes sociais. Portanto, singularizam as competências e as
atribuições dos profissionais. Por meio dessas competências, explica o autor, vislumbra-se as
possibilidades do agir profissional em meios aos muitos espaços sócio-ocupacionais.
Todavia, antes de mencionar os múltiplos espaços sócio-ocupacionais, convém
pontuar que a atuação profissional dos assistentes sociais dá-se em ―[...] âmbitos, áreas e
segmentos populacionais (criança e adolescente, idoso, pessoas com necessidades especiais,
família) e em diferentes setores (seguridade social: saúde, previdência social, assistência;
educação, trabalho, habitação e na questão agrária)‖. (FRAGA, 2010, p. 45,46).
Para intervir na realidade dos sujeitos em diversos segmentos, faz-se necessário
uma sistematização do saber teórico, de métodos e técnicas. O conhecimento da legislação é
um dos elementos presentes no exercício profissional do assistente social. Esse conhecimento
pode colaborar na sustentação desse exercício. Ao mesmo tempo, a própria prática
profissional, as demandas de atendimento direcionam ao conhecimento de outras leis que
garantem a sua visibilidade e importância social. Fraga, explica que:
[...] esse arsenal de conhecimentos ético-politico, teórico-metodológico e técnico
operativo do qual o assistente social precisa se apropriar-se no seu âmbito de
atuação profissional varia, desde os considerados específicos, decorrente da área de
Serviço Social propriamente dita, como também apropriações sobre legislações
(principalmente a relativa à legislação social voltada para criança e o adolescente –
ECA; Idoso – Estatuto do Idoso; SUS – Sistema Único de Saúde; Loas – Lei
Orgânica de Assistência Social; Sistema Único de Assistência Social – SUAS;
Suas/RH; Política Nacional de Pessoa com Deficiência – PcD; Lei de Diretrizes e
Bases – LDB); políticas sociais, conhecimento e habilidades de trabalhar em
equipes, interfaces com poder público local, articulação de redes e com instâncias
locais diversas, o que requer, além da formação generalista, apropriações
aprofundadas dependendo da inserção sócio-ocupacional. (FRAGA, 2010, p.47)
37
No que concerne aos espaços sócio-ocupacionais, o assistente social é um
profissional que tem um vasto campo de atuação, que pode variar entre instituições públicas
federais, estaduais e municipais, a exemplo: prefeituras, Judiciário, Ministério Público,
Instituto Nacional de Seguro Social – INSS, escolas, albergues, abrigos, sistema carcerário
(presídios e penitenciárias) ou hospitais. Além das entidades privadas, como: empresas de
serviços, de comércio, indústria. No denominado terceiro setor: nas entidades
socioassistenciais, associações de moradores, Organizações Não Governamentais – ONGs.
Poderá atuar também, nas áreas de ensino e pesquisa, de maneira autônoma, assessoria e
consultoria em projetos de gestão e planejamento social.
Em meio a esse amplo campo de possibilidades de atuação profissional, convém
elucidar sobre o projeto profissional de caráter ético-político do serviço social. Nele estão
explicitados os limites e responsabilidades que atravessam o exercício profissional do
assistente social.
Iamamoto ao citar Netto, infere que os projetos profissionais, construídos por um
sujeito coletivo - a respectiva categoria profissional:
[...] apresentam a auto-imagem da profissão, elegem valores que a legitimam
socialmente, delimitam e priorizam seus objetivos e funções, formulam requisitos
(técnicos, institucionais e práticos) para o seu exercício, prescrevem normas para o
comportamento dos profissionais e estabelecem balizas de sua relação com os
usuários dos seus serviços, com outras profissões e com as organizações e
instituições, públicas e privadas (entre estes, também e destacadamente com o
Estado, ao qual coube historicamente, o reconhecimento jurídico dos estatutos
profissionais). (IAMAMOTO, 2012, p.41 apud NETTO 1995, p.95)
No entanto, na concepção de Torres (2007, p.60) ―O projeto ético-político
inscreve o serviço social como uma profissão necessariamente articulada a um projeto de
sociedade, além de expressar uma direção ao exercício profissional que se quer visível na
profissão‖.
Portanto, os princípios éticos, indicam o modo de operar o trabalho profissional,
estabelecendo balizas para a sua condução nas condições e relações de trabalho em que é
exercido mediante as expressões coletivas da categoria profissional na sociedade:
38
I. Reconhecimento da liberdade como valor ético central e das demandas
políticas a ela inerentes - autonomia, emancipação e plena expansão dos
Indivíduos sociais;
II. Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do
autoritarismo;
III. Ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial de
toda sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis sociais e políticos das
classes trabalhadoras;
IV. Defesa do aprofundamento da democracia, enquanto socialização da
participação política e da riqueza socialmente produzida;
V. Posicionamento em favor da equidade e justiça social, que assegure
universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e
políticas sociais, bem como sua gestão democrática;
VI. Empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, incentivando
o respeito à diversidade, à participação de grupos socialmente discriminados
e à discussão das diferenças;
VII. Garantia do pluralismo, através do respeito às correntes profissionais
democráticas existentes e suas expressões teóricas, e compromisso com o
constante aprimoramento intelectual;
VIII. Opção por um projeto profissional vinculado ao processo de construção
de uma nova ordem societária, sem dominação, exploração de classe, etnia e
gênero;
IX. Articulação com os movimentos de outras categorias profissionais que
partilhem dos princípios deste Código e com a luta geral dos/as
trabalhadores/as;
X. Compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população e com
o aprimoramento intelectual, na perspectiva da competência profissional;
XI. Exercício do Serviço Social sem ser discriminado/a, nem discriminar, por
questões de inserção de classe social, gênero, etnia, religião, nacionalidade,
orientação sexual, identidade de gênero, idade e condição física.
(BRASIL,1993)
Tais princípios são articulados entre si e se complementam, portanto, o fazer
profissional deve estar envolto no compromisso de zelar pelo projeto ético político da
categoria e tê-lo materializado. Sobre o projeto, Iamamoto ressalta que ―[...] para avançar na
efetivação desse projeto, é necessário considerar a matéria do serviço social, consubstanciada
na questão social em suas múltiplas expressões concretas, como condição de enraizar o
projeto nas condições reais de sua implementação [...]‖ (IAMAMOTO, 2012, p.47)
39
Ainda fazem parte do projeto profissional, a lei de regulamentação da profissão e
as diretrizes curriculares para a área de serviço social, propostas às unidades de ensino através
da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social - ABEPSS. No que tange a
Lei de Regulamentação da Profissão, nº. 8.662/93, de 07 de junho de 1993, esta representa
uma defesa da profissão na sociedade e um guia para a formação acadêmico-profissional.
A mesma foi publicada juntamente com o Código de Ética, e acompanha o
desenvolvimento da profissão no Brasil, estabelecendo com maior clareza as competências e
atribuições privativas, servindo de instrumento que baliza o exercício profissional para os
profissionais de outras áreas, além de esclarecer o papel profissional do assistente social para
os empregadores.
De acordo com Iamamoto (2012, p.37), no ―[...] sentido etimológico, a
competência diz respeito à capacidade de apreciar, decidir ou fazer alguma coisa, enquanto a
atribuição é uma prerrogativa, privilégio, direito e poder de realizar algo.‖ Assim, o art. 4º da
referida Lei, expressa as competências profissionais:
I - elaborar, implementar, executar e avaliar políticas sociais junto a órgãos da
administração pública, direta ou indireta, empresas, entidades e organizações
populares;
II - elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos que sejam
do âmbito de atuação do Serviço Social com participação da sociedade civil;
III - encaminhar providências, e prestar orientação social a indivíduos, grupos e à
população;
IV - (Vetado);
V - orientar indivíduos e grupos de diferentes segmentos sociais no sentido de
identificar recursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e na defesa de seus
direitos;
VI - planejar, organizar e administrar benefícios e Serviços Sociais;
VII - planejar, executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a análise da
realidade social e para subsidiar ações profissionais;
VIII - prestar assessoria e consultoria a órgãos da administração pública direta e
indireta, empresas privadas e outras entidades, com relação às matérias relacionadas
no inciso II deste artigo;
40
IX - prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em matéria relacionada às
políticas sociais, no exercício e na defesa dos direitos civis, políticos e sociais da
coletividade;
X - planejamento, organização e administração de Serviços Sociais e de Unidade de
Serviço Social;
XI - realizar estudos sócio-econômicos com os usuários para fins de benefícios e
serviços sociais junto a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas
privadas e outras entidades. (BRASIL, 1993)
Ainda, conforme artigo 5º, da referida Lei, afirma-se ainda que constituem
atribuições privativas do (a) Assistente Social:
I - coordenar, elaborar, executar, supervisionar e avaliar estudos, pesquisas, planos,
programas e projetos na área de Serviço Social;
II - planejar, organizar e administrar programas e projeto sem Unidade de Serviço
Social;
III - assessoria e consultoria e órgãos da Administração Pública direta e indireta,
empresas privadas e outras entidades, em matéria de Serviço Social;
IV - realizar vistorias, perícias técnicas, laudos periciais, informações e pareceres
sobre a matéria de Serviço Social;
V - assumir, no magistério de Serviço Social tanto a nível de graduação como pós-
graduação, disciplinas e funções que exijam conhecimentos próprios e adquiridos
em curso de formação regular;
VI - treinamento, avaliação e supervisão direta de estagiários de Serviço Social;
VII - dirigir e coordenar Unidades de Ensino e Cursos de Serviço Social, de
graduação e pós-graduação;
VIII - dirigir e coordenar associações, núcleos, centros de estudo e de pesquisa em
Serviço Social;
IX - elaborar provas, presidir e compor bancas de exames e comissões julgadoras de
concursos ou outras formas de seleção para Assistentes Sociais, ou onde sejam
aferidos conhecimentos inerentes ao Serviço Social;
X - coordenar seminários, encontros, congressos e eventos assemelhados sobre
assuntos de Serviço Social;
XI - fiscalizar o exercício profissional através dos Conselhos Federal e Regionais;
XII - dirigir serviços técnicos de Serviço Social em entidades públicas ou privadas;
41
XIII - ocupar cargos e funções de direção e fiscalização da gestão financeira em
órgãos e entidades representativas da categoria profissional. (BRASIL, 1993)
Sobre as Diretrizes curriculares do serviço social, proposta pelas unidades de
ensino através da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social – ABEPSS e
aprovadas pelo Conselho Nacional de Educação, em Assembléia Geral Extraordinária, em 08
de novembro de 1996, depreende-se que:
[...] materializam um projeto de formação profissional que vem sendo construído
coletivamente no bojo do processo de renovação do Serviço Social brasileiro, como
um dos pilares do processo ético-político da profissão. Avança na qualificação da
questão social como objeto de trabalho do assistente social, em suas múltiplas e
diferenciadas expressões, vivenciadas pelos sujeitos como conformismo e rebeldia
nas relações sociais cotidianas. As diretrizes propostas articulam, ainda, a análise
dos fundamentos do Serviço Social em suas dimensões históricas, teórico-
metodológicas e éticas com as reais condições e relações de trabalho em que se
realiza o exercício profissional. Este, de maneira inédita, é erigido a uma posição de
centralidade no processo de formação, tratado teoricamente sob o ângulo dos
processos e relações de trabalho em que se realiza, desafiando a efetiva articulação
entre a análise teórica sobre profissão e as particulares condições sociais de sua
efetivação no mercado de trabalho, nas quais se expressam as tensões entre
interesses e necessidades sociais das distintas classes sociais — e seus distintos
segmentos — em seu embate e em suas relações com o Estado. (IAMAMOTO,
2012, p.44)
A devida implementação desse projeto, requer também a sua fiscalização, uma
vez que, a sua fundamentação está em articular formação acadêmica e as condições reais do
exercício profissional. Para tanto, a categoria dos assistentes sociais no Brasil, possui três
entidades representativas:
a) Conjunto formado pelo Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) e pelos
Conselhos Regionais de Serviço Social (CRESS): regulamentado pela Lei 8.662/93
e objetiva disciplinar e defender o exercício da profissão de assistente social em todo
o território nacional. Os CRESS são responsáveis pela fiscalização quanto ao
cumprimento dos deveres dos profissionais registrados e obedecem à Política
Nacional de Fiscalização do conjunto.
Anualmente há uma reunião do conjunto para a tomada de diversas deliberações
relativas a ações da categoria profissional. As decisões podem ser acessadas nos
relatórios dos Encontros Nacionais.
[...]
b) Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS): criada
em 1946, denominada então de Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social
(ABESS) e formada por três unidades de ensino preocupadas com a formação
profissional em Serviço Social, que ainda engatinhava. Em 1998 passou a
denominar-se ABEPSS, incorporando a dimensão de pesquisa (e não somente de
42
ensino) em suas preocupações.
A ABEPSS é uma entidade civil de âmbito nacional sem fins lucrativos, com foro
jurídico em Brasília, mas sua sede é itinerante, a cada dois anos, conforme mudança
da Diretoria. É constituída pelas Unidades de Ensino de Serviço Social, por sócios
institucionais colaboradores e por sócios individuais. Cabe ressaltar que nem todas
as Unidades de Ensino de Serviço Social são filiadas à ABEPSS: portanto, a filiação
depende de uma opção acadêmico-política, isto é, de identificação com as
finalidades da ABEPSS.
O seu principal objetivo tem sido o de assegurar a direção político-pedagógica
impressa nas Diretrizes Curriculares de 1996, essencial para possibilitar a formação
de profissionais críticos e competentes.
A ABEPSS realiza, a cada dois anos, o Encontro Nacional de Pesquisadores em
Serviço Social (ENPESS). [...]
c) Executiva Nacional dos Estudantes de Serviço Social (ENESSO): É a instância
representativa dos estudantes de Serviço Social em âmbito nacional e concentra-se
em questões como a qualidade da formação profissional, os rumos da universidade
brasileira, dentre outras. A ENESSO, além dos representantes nacionais, possui
coordenações regionais. Realiza, anualmente, o Encontro Nacional dos Estudantes
de Serviço Social, quando elege sua Diretoria (nacional e regional) e estabelece as
diretrizes de trabalho para o ano seguinte.O Congresso Brasileiro de Assistentes
Sociais (CBAS) é organizado pelas três entidades e ocorre a cada três anos.[...]
(Extraído do site: www.assistentesocial.com.br)4
As entidades aqui apresentadas contribuem diretamente para a reafirmação do
compromisso com princípios do projeto profissional, uma vez que, possibilita por meio de
discussões/seminários/encontros a participação da categoria profissional, visando
democratizar espaços de construção coletiva. Portanto, o profissional, que tem uma
compreensão da teoria social crítica, do contexto sócio-histórico em se que desenvolveu o
serviço social deve participar ativamente dos órgãos constitutivos da organização da
categoria. Barroco complementa:
Na relação com os usuários, nos limites da sociedade burguesa, a ética profissional
se objetiva através das ações conscientes e críticas, do alargamento do espaço
profissional, quando ele é politizado- o que implica no compartilhamento coletivo
com outros profissionais e no respaldo das entidades e dos movimentos sociais
organizados. Isso torna possível uma ação ético-política articulada ao projeto
coletivo, adquirindo maiores possibilidades de respaldo nos momentos de
enfrentamento e de resistência. (BARROCO, 2012, p.181)
Nesse contexto, o assistente social, mesmo realizando atividades em espaços
sócio-ocupacionais diversos, dispõe de atribuições distintas para o encaminhamento das
ações, que o distingue de outros profissionais. Essa diferenciação decorre da sua formação, da
4Extraído do site: www.assistentesocial.com.br. Acesso realizado em 20/03/2013.
43
sua capacidade teórico-metodológica para identificar as múltiplas expressões da questão
social, além disso, dispõe também de distintas competências e habilidades.
No próximo item será abordada como se deu a inserção do serviço social no
sóciojurídico, e a contribuição deste profissional neste campo de atuação.
1.3 - Serviço social no campo sóciojurídico
Os primeiros passos do assistente social no Poder Judiciário brasileiro, deram-
sena década de 1940, logo após a formação das primeiras turmas em serviço social. Com a
implementação do Comissariado de Menores, houve a necessidade de um profissional
capacitado para atuar nesse âmbito. Desta forma, os assistentes sociais começaram a atuar no
Judiciário Paulista, como comissários de vigilância.
No Departamento de Serviço Social do Estado de São Paulo, a mais ampla
instituição de Serviço Social existente nesse momento, os Assistentes Sociais
atuaram como comissários de menores no Serviço Social de menores – menores
abandonados, menores delinqüentes, menores sob tutela da Vara de Menores,
exercendo atividades no Instituto Disciplinar e no Serviço Social (do Departamento
de Serviço Social) no campo da Assistência Judiciária. [...] (IAMAMOTO;
CARVALHO, 1990, p. 150)
A área de atuação junto ao Juizado de Menores foi um espaço prioritário de
inserção da profissão, uma vez que a demanda por assistentes sociais na época excedeu o
número de profissionais disponíveis. A seguir, os autores apontam quais eram as atribuições e
finalidade da intervenção dos assistentes sociais nessa instância.
[...] reajustar indivíduos ou famílias cuja causa de desadaptação social se prenda a
uma questão de justiça civil e, enquanto pesquisadoras sociais (o maior contingente
de Assistentes Sociais) e nos serviços de plantão. Além dos serviços técnicos, de
orientação técnica das Obras Sociais, estatísticas e Fichário Central de Assistidos.
(IAMAMOTO; CARVALHO, 1990, p.195)
Como pode-se perceber a trajetória profissional do serviço social, sempre esteve
atrelado historicamente, ao sistema judiciário, sobretudo, no que concerne a atuação
profissional junto aos ―menores‖, desde 1940. Atualmente com definição de infância e
44
juventude, contribuindo também na área do sistema penal desde a década de 1950. Sobre a
inserção do assistente social e sua intervenção no sistema penal, Guindani comenta que:
Inicialmente com forte cunho assistencial e assumindo atividades de outras
categorias, adotou posição preponderante frente a toda problemática da
ressocialização do sujeito apenado. Incorporava-se dessa maneira, o caráter
repressor e adaptador da instituição total, não sendo, nesse momento histórico,
questionada a contraditoriedade existente no trinômio segurança, disciplina e
recuperação. (GUINDANI, 2001, p. 40)
Salienta-se que, muito embora haja alguns parcos registros históricos que apontem
a atuação do assistente social no judiciário, bem como no sistema penal, é notório a
fragilidade ínfima da produção teórica acerca da temática. Pouco se sabe sobre o exercício da
prática profissional e da sua sistematização dentro desses espaços. Por isso, Wingeter
Rodrigues (2011, p.18) aduz que, ―[...] há um descompasso entre o longo tempo de
permanência do Serviço Social nessa esfera, em relação ao saber que este produzia.‖ Logo, o
autor conclui que:
Ou seja, apesar da grande contribuição que o Serviço Social prestou na esfera
jurídica, nas décadas que se seguiram após a sua criação, muito pouco foi produzido
em termos de produção teórica, visando o próprio processo de avaliação da profissão
nesse espaço sócio-ocupacional, bem como permitindo uma formação continuada
dos assistentes sociais inseridos nesse âmbito. Somente nas últimas duas décadas, é
que esse campo de atuação profissional vem ganhando destaque como tema de
congressos, periódicos e discussões nos próprios conjuntos CFESS/CRESS.
(RODRIGUES, 2011, p.18)
De fato, percebe-se que somente nos últimos anos, especificamente, a partir da
década de 90, é que se amplia a discussão sobre o tema sóciojurídico, não por acaso, já que o
assistente social passou a ser mais requisitado para atuar no Sistema Judiciário justamente em
meados desta década. Sobre o assunto, Fávero comenta:
Ainda que o meio sóciojurídico, em especial o judiciário, tenha sido um dos
primeiros espaços de trabalho do assistente social, só muito recentemente é que
particularidades do fazer profissional nesse campo passaram a vir a público como
objeto de preocupação investigativa. Tal fato se dá por um conjunto de razões, das
quais se destacam: a ampliação significativa de demanda de atendimentos e de
profissionais para a área [...] inclusive pelos próprios profissionais que estão na
intervenção direta; e, em consequência, um maior conhecimento crítico e
valorização, no meio da profissão, de um campo de intervenção historicamente visto
como espaço tão somente para ações disciplinadoras e de controle social, no âmbito
da regulação caso a caso. (FÁVERO, 2006, p.10-11)
45
Dentre as razões que justificam uma maior inserção do assistente social no
sistema jurídico, a partir da década de 90, cita-se concursos públicos voltados para a área,
além do aumento do interesse da sociedade pelas questões que envolvam a justiça, e também
em virtude dessas demandas apresentarem novas necessidades sociais, o que requer o auxílio
de outras ―ciências humanas e sociais‖. Deste modo, Chuairi (2001) assevera:
A consecução de um trabalho interdisciplinar com ações compatíveis com a
realidade social e com os níveis de desenvolvimento científico-tecnológico do
mundo moderno possibilita maior eficácia à ordem jurídica, superando, assim, a
mera identificação da ciência do Direito com a aplicação da Lei. (CHUAIRI, 2001,
p.136-137)
Portanto, mesmo atuando de forma auxiliar no sistema jurídico, seja assessorando
ou subsidiando os procedimentos, a inserção do assistente social se faz necessária, uma vez
que possibilita construções de novas alternativas de ação, dentro de uma equipe
interdisciplinar. Como então pode ser definido o conceito de sóciojurídico? Segundo Fávero,
esse campo de atuação do assistente social pode ser definido como:
Campo (ou sistema) sóciojurídico diz respeito ao conjunto de áreas em que a ação
do Serviço Social articula-se a ações de natureza jurídica, como o sistema judiciário,
o sistema penitenciário, o sistema de segurança, os sistemas de proteção e
acolhimento como abrigos, internatos, conselhos de direitos, dentre outros.
(FÁVERO, 2006, p. 10)
De acordo com Chuairi (2001) ―O Serviço Social aplicado ao contexto jurídico
configura-se como uma área de trabalho especializado, que atua com as manifestações da
questão social, em sua interseção com o Direito e a Justiça na sociedade.‖ (2001, p. 137) Esta
autora, explica que serviço social e direito possuem uma ―interface histórica‖, isso se dá
porque, a ação profissional do assistente social nas múltiplas expressões da questão social,
―coloca a cidadania, a defesa, preservação e conquista dos direitos, bem como sua efetivação
e viabilização social, como foco de seu trabalho.‖ (2001, p.137)
A autora Borgianni (2009), também compartilhou do mesmo pensamento da
autora mencionada logo acima, no II Seminário Nacional realizado em outubro de 2009, em
Cuiabá, Mato Grosso, com título: O serviço social no campo sociojurídico na perspectiva da
46
concretização de direitos, em suas palavras ―[...] o profissional do campo sociojurídico está
inserido em um universo no qual foi chamado para dar respostas às mais diversas
necessidades de proteção, mas, sobretudo à proteção jurídica dos direitos.‖ (BORGIANNI,
2009, p.167)
Ou seja, essa atuação é dotada de uma polaridade, que envolve a ―resolutividade
dos conflitos‖, ―campo da proteção jurídica dos direitos‖, ―sistema de responsabilização
judicial‖, diferenciando-se das outras esferas. Por esta razão, cabe ao assistente social ter
embasamento teórico em diferentes legislações (Estatuto da Criança e do Adolescente, Nova
Lei de Adoção, Política Nacional do Idoso, Lei de Execuções Penais, Lei Maria da Penha,
Política Nacional de Assistência Social, entre outras), voltado para diversos segmentos
sociais, de modo a qualificar-se para intervir nas particularidades de cada demanda.
Cabe ressaltar ainda que, o campo sóciojurídico vem acentuadamente ampliando e
requisitando, a inserção do assistente social para atuar em equipe multidisciplinar junto ao
Poder Judiciário. Atualmente, esses espaços compreendem: Tribunais de Justiça, nas Varas da
Infância e Juventude, nas Varas de Família e Sucessões, nas Varas de Execuções Criminais,
Ministério Público, Delegacias de Policia especializadas, Defensorias Públicas, Programas e
Serviços que atendem a população através de Assistência Jurídica Integral e Gratuita, como
trabalhadores autônomos prestando serviços como perito social, Sistema Penitenciário, em
instituições que aplicam medidas protetivas (abrigos) ou sócioeducativas (adolescentes
infratores), Conselhos Tutelares e Conselhos de Direitos, dentre outros.
Como pode-se perceber, os assistentes sociais possuem uma vasta área de atuação
no âmbito jurídico, não se resumindo apenas aos exemplos citados acima. Contudo, Wingeter
Rodrigues (2011. 21) explica que:
[...] foi elaborado o relatório parcial pelo Grupo de Trabalho do CFESS, oficializado
pelo mesmo, através do Ofício 090/2011 de 13 de maio de 2011, o qual delimitou
como áreas abrangidas do campo sóciojurídico as seguintes áreas:
· Ministério Público;
· Poder Judiciário;
· Sistema Penitenciário e Segurança Pública;
· Sistema de Aplicação de Medidas Sócio-educativas; e
47
· Defensorias Públicas/Serviços de Assistência Jurídica Gratuitas.‖
Com relação às atribuições assumidas pelos assistentes sociais, estas contemplam
uma diversidade de ações, uma vez que espaços sócio-ocupacionais, mencionados
anteriormente, possuem formatos institucionais diferentes e modo organização próprios.
Chuairi exemplifica algumas destas principais atividades:
• Assessorar e prestar consultoria aos órgãos públicos judiciais, a serviços de
assistência jurídica e demais profissionais deste campo, em questões específicas de
sua profissão;
• Realizar perícias e estudos sociais, bem corno informações e pareceres da área de
sua competência, em consonância com os princípios éticos de sua profissão;
• Planejar e executar programas destinados à prevenção e integração social de
pessoas e/ou grupos envolvidos em questões judiciais;
• Planejar, executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a análise social,
dando subsídios para ações e programas no âmbito jurídico;
• Participar de programas de prevenção e informação de direitos à população usuária
dos serviços jurídicos;
• Treinamento,supervisão e formação de profissionais e estagiários nesta área.
(CHUAIRI, 2001, p. 138)
A prática profissional exercida no âmbito sóciojurídico dispõe de todas as
prerrogativas da lei 8.662 de 07/03/1993, estabelecidas nos artigos 4° (competências do
Assistente Social) e 5° (atribuições privativas do Assistente Social), seguindo
asdeterminações do Código de Ética Profissional, que tem a liberdade, a justiça social e a
defesa dos direitos humanos como norte. Sobre a relação com a justiça o artigo 19º do Código
de Ética dispõe sobre os deveres do assistente social:
a) apresentar à justiça, quando convocado na qualidade de perito ou testemunha, as
conclusões do seu laudo ou depoimento, sem extrapolar o âmbito da competência
profissional e violar os princípios éticos contidos neste Código.
b) comparecer perante a autoridade competente, quando intimado a prestar
depoimento, para declarar que está obrigado a guardar sigilo profissional nos termos
deste Código e da Legislação em vigor. (BRASIL,1993)
48
No artigo 5º da lei de regulamentação da profissão, constituem atribuições
privativas do Assistente Social: ―IV - realizar vistorias, perícias técnicas, laudos periciais,
informações e pareceres sobre a matéria de Serviço Social.‖ (BRASIL, 1993).
Ocorre que, mesmo dotado de fundamentação teórico-metodológica, ético-
política e técnica-operativa, o profissional inserido neste contexto enfrenta inúmeros desafios,
e apresenta especificidades dada a complexidade do trabalho, bem como as inter-relações
existentes.
Quem trabalha no campo sociojurídico está inserido em um universo que tem
especificidades perante o campo das políticas sociais em geral. Ou em outras
palavras, trabalhar com medidas socioeducativas, ou nas Varas de Família, Varas da
Infância ou ainda no Ministério Público (MP) é diferente de trabalhar em um Centro
de Referência em Assistência Social ou numa unidade do Sistema Único de Saúde.
(BORGIANNI, 2009, p.167)
Portanto, o trabalho do assistente social no campo sóciojurídico diferencia-se dos
demais espaços de atuação sócio-ocupacional, tendo em vista que, caracteriza-se por uma
prática de operacionalização de direitos, ou seja, dando respostas às mais diversas
necessidades de proteção, mas, sobretudo, à proteção jurídica dos direitos. Além da mediação
de conflitos entre usuários, interesses dos mesmos aos da instituição jurídica em que se está
lotado, e/ou outros órgãos, e entre indivíduos e causas judiciais.
No que concerne aos instrumentais e técnicas, utilizados nos espaços sócio-
jurídicos, caracterizam-se, prioritariamente, o estudo social, laudo social, relatório social,
perícia social e parecer social. Além disso, pode ser realizado por este profissional: avaliação,
acompanhamento, aconselhamento, orientação, prevenção de diversas situações atendidas;
visitas domiciliares e institucionais; entrevistas; reuniões; palestras; inspeções, etc.
Entretanto, dependendo da instituição de trabalho, o profissional poderá criar ou recriar a sua
instrumentalidade no cotidiano profissional.
Vale ressaltar os conceitos dos instrumentais acima citados, de acordo Fávero,
uma vez que contribuem para que se conheça a diferença entre eles e sua utilidade em cada
caso demandado. Assim, segundo a autora:
49
Estudo Social é um processo metodológico específico do Serviço Social, que tem
por finalidade conhecer profundamente e de forma crítica, uma determinada situação
ou expressão da questão social... de sua fundamentação rigorosa, teórica, ética e
técnica, com base no projeto da profissão, depende a sua devida utilização para
garantia e ampliação de direitos dos usuários dos serviços sociais do sistema de
justiça. (FÁVERO, 2006, p. 42-43).
Laudo Social é utilizado no meio judiciário como mais um elemento de ―prova‖,
com a finalidade de dar suporte a decisão judicial, a partir de uma determinada área
de conhecimento, no caso, o Serviço Social [...] oferece elementos de base social
para a formação de um juízo e tomada de decisão que envolve direitos fundamentais
e sociais [...] (FÁVERO, 2006, p. 42-43).
Relatório Social [...] apresentação descritiva e interpretativa de uma situação ou
expressão da questão social... se dá com a finalidade de informar, esclarecer,
subsidiar, documentar uma auto processual [...] ou enquanto parte de registro a
serem utilizados para elaboração de um laudo ou parecer [...] (FÁVERO, 2006, p.
44-45).
Pericia Social [...] é o estudo social, realizado com base nos fundamentos teórico
metodológicos, ético-políticos e técnico-operativos, próprios do Serviço Social, e
com finalidades relacionadas a avaliação e julgamentos [...] (FÁVERO, 2006, p. 44).
Parecer Social [...] pode ser emitido enquanto parte final ou conclusão de um laudo,
bem como resposta a consulta ou a determinação de autoridade judiciária a respeito
de alguma questão constante em processo já acompanhado pelo profissional.
(FÁVERO, 2006, p. 47).
Dentro do fazer profissional do assistente social aplicado ao contexto
sóciojurídico, os instrumentais ―[...] estão sendo entendidos como um conjunto de recursos ou
meios que permitem a operacionalização da ação profissional.‖ (MIOTO, 2001, p.147).
Tais instrumentais são imprescindíveis em determinados casos, uma vez que, é
através deles que os Juízes, Defensores, Procuradores, dentre outros, têm acesso as condições
reais do assistido, em aspectos gerais e peculiares. Nesse sentido, Fávero reforça:
Esses documentos que apresentam, de forma cristalizada pela escrita, as informações
colhidas e as interpretações realizadas irão intermediar – a partir de um norte teórico
– a fala do sujeito, os demais dados obtidos e a análise realizada, e aquele que serão
os leitores, os quais, geralmente, são os agentes que emitirão uma decisão, ou
participarão de uma decisão a respeito dos sujeitos envolvidos na ação judicial.
(FÁVERO, 2006, p. 28)
Dada à importância da contribuição do assistente social em meio às práticas
judiciárias, cujo conhecimento contribui como suporte, visualiza-se a importante
responsabilidade em elaborar tais documentos. Mas, qual denominação é dada ao assistente
50
social que atua no meio jurídico/judiciário? É denominado como perito social, por ―reporta-se
a profissional que detém um conhecimento especializado, dado por sua área de formação.‖
(FÁVERO, 2006, p.41)
A atuação do assistente social no campo sociojurídico é para além do suporte
científico, como ressalta Neto (2012, p.54) seu papel é: ―[...] fazer com que a proteção
socioassistencial e a prestação jurisdicional igualmente sejam dever do Estado e direito do
cidadão [...]‖.
Diante dessa contextualização em aspectos gerais sobre o serviço social no campo
sóciojurídico, no cenário brasileiro, convém ainda, fazer uma breve descrição do início dessa
atuação no Estado no Ceará. A inserção das primeiras assistentes sociais no Judiciário
cearense deu-se no início dos anos de 1980, especificamente na comarca de Fortaleza.
A iniciativa de instalar o Serviço Social partiu da presidência do Tribunal de Justiça
que convidou a assistente social Emiliana Veras a trabalhar na referida unidade. Esta
foi à pioneira do Serviço Social, iniciando suas atividades no então Juizado de
Menores de Fortaleza (atual Juizado da Infância e da Juventude). Na época tal
núcleo situava-se na Avenida da Universidade, 3281 – Benfica. A unidade contava
apenas com uma única vara para julgar todos os casos que para ali fossem
encaminhados relativamente a menores que se encontrasse em situação irregular. O
Juizado compunha-se de um juiz, um promotor de justiça, uma assistente social e
um cartório. (BEZERRA, 2008, p.30)
Naquela época, a equipe técnica do Poder Judiciário, Juiz, promotor, assistente
social e um cartório, assumiam a função de operacionalização do então Juizado de Menores,
com ações voltadas para a aplicação da lei menorista vigente, o Código de Menores. Tais
ações incluíam-se, além do atendimento ao ―menor infrator‖ (hoje - adolescente em conflito
com Lei), demandas relacionadas aos conflitos envolvendo o núcleo familiar destes. A
exemplo de: ―ações como pensão alimentícia, direito de visita, disputa de guarda entre pais,
denúncia de maus-tratos, etc.‖ (BEZERRA, 2008, 31)
O setor que trabalhava com os menores infratores era composto por servidores da já
extinta FEBEMCE – Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor. A FEBEMCE,
conveniada com o Tribunal de Justiça, cedia os profissionais que compunham a
equipe interdisciplinar do Núcleo de Liberdade Assistida. O outro núcleo dirigido
pela Emiliana Veras dava suporte a ações de natureza cível, tais como adoção,
tutela, guardas, entre outros. (BEZERRA, 2008, p.31)
51
Bezerra (2008, p.31) ao citar Veras (1991, p. 60) aponta a justificativa para
inserção no profissional assistente social no judiciário cearense. Ao inferir que essa atuação
junto ao Juizado de Menores não se deu de maneira casual. Mas sim, com a finalidade de ―[...]
Assistir juridicamente o menor de idade e/ou crianças indefesas desassistidas socialmente nas
suas necessidades de Pessoa Humana‖.
Ao conquistar espaço e definir ações que alcançaram objetivos, os frutos dos
serviços prestados pelo serviço social se fizeram notório, apontando-se na crescente demanda.
Logo, houve a necessidade da ampliação da equipe, no ano seguinte após a sua instalação. No
mesmo período, salienta-se também a ampliação da intervenção das profissionais, desta vez
estendo-se a outras três unidades. São elas: ―Apoio, Lar Substituto e Liberdade Assistida‖.
Em meados de 1983, verifica-se a então participação de uma assistente social na
Assistência Judiciária aos Necessitados (atual Defensoria Pública). À época a profissional
referenciada pelos procedimentos técnico-operativos desempenhadas pelas colegas no Juizado
de Menores, passou a desenvolver atividade similar no Fórum Clóvis Beviláqua, Em pouco
tempo, houve a necessidade de ampliar a equipe no referido Fórum.
Assim, como ocorreu nos demais estados brasileiros, nos anos 1990, houve uma
ampliação de requisições por profissionais do serviço social. Logo, o serviço social do
Judiciário cearense alcançou resultados satisfatórios, e no ano de 1995 implantou-se o serviço
social de atendimento às Varas de Família e Sucessões.
No capítulo II, serão abordados em linhas gerais sobre a Organização da
Defensoria Pública da União no Brasil e Ceará, além da atuação do serviço social nesta
instituição.
52
CAPÍTULO 2: A INSTUIÇÃO QUE GARANTE O ACESSO À JUSTIÇA E
O SERVIÇO SOCIAL COMO PARTÍCIPE DESTE PROCESSO.
Este capítulo apresenta como se deu criação e organização da Defensoria Pública
da União no Brasil. Órgão público institucionalizado e especializado para prestação de um
serviço jurídico, integral e gratuito à população hipossuficiente, cujas garantias são
reconhecidas pelo Estado para efetivar princípios e normas constitucionais de acesso à justiça.
Nesse sentido, aborda-se o grau de relevância atribuído à Defensoria,
demonstrando características gerais da atuação institucional, no Brasil e a no Ceará. Neste
cenário, será realizada uma breve contextualização histórica de como o serviço social se
inseriu nesse campo, evidenciando a prática profissional das assistentes sociais no núcleo da
DPU-CE, e sua inconteste contribuição, que objetiva conceder ao assistido a viabilização dos
seus direitos pleiteados.
2.1 – A organização da Defensoria Pública da União no Brasil
Conforme menciona o Artº. 134 da Constituição Federal de 1988, ―a Defensoria
Pública é instituição essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a orientação
jurídica e a defesa, em todos os graus, dos necessitados, na forma do artigo 5º, LXXIV (EC
nº45/2004)‖. Portanto, cabe a Defensoria Pública prestar assistência jurídica integral e gratuita
aos que comprovarem insuficiência de recursos.
Contudo, mesmo tendo início em outubro de 1988 com a Constituição Federal, o
percurso que marca a trajetória da Defensoria Pública da União, teve seu importante marco
com a promulgação da Lei Complementar nº 80, de 12 de janeiro de 1994. A referida Lei
organiza a Defensoria Pública da União, no Distrito Federal e nos Territórios, assim como
prescreve normas gerais para sua organização nos Estados, além de fomentar outras
providências, em cumprimento ao que determina o § 1º do Art. 134 da CF/88.
53
Observa-se que, mesmo após a promulgação da Lei Complementar, esperou-se
um ano, para que de fato, o órgão fosse implantado. O que ocorreu ainda em caráter
emergencial e provisório, através da Lei nº 9.020, de 30 de março de 1995.
Completados vinte e um anos após a promulgação da Constituição Federal, eis
que surge a Lei Complementar nº 132, de 07 de outubro de 2009, que institui novas regras e
organiza o sistema de Defensoria Pública no país, realizando alterações na Lei nº 80/94. A
nova Lei Complementar conferiu à Defensoria Pública um novo leque de atribuições em prol
dos desvalidos, e previu uma série de legítimos direitos para os usuários de seus serviços.
Além disso, os defensores públicos da união passam a serem denominados defensores
federais. Contudo, a lei, ainda não pode solucionar a assimetria funcional criada pela Emenda
Constitucional nº45/04, que concedeu autonomia funcional, administrativa e orçamentária
somente à Defensoria Estadual, enquanto que a DPU permanece destituída.
A Defensoria Pública tem como princípios institucionais, conforme previsão do
art. 3° da Lei Complementar n° 80/94, a unidade, a indivisibilidade e a independência
funcional. Sobre a organização da Defensoria Pública da União, no que tange a estrutura,
exposta no art. 5º, LXXIV, da Lei Complementar nº 80/94 e no artº. 134 da Constituição
Federal, esta instituição compreende:
I – órgãos de administração superior:
a) a Defensoria Pública-Geral da União;
b) a Subdefensoria Pública-Geral da União;
c) o Conselho Superior da Defensoria Pública da União;
d) a Corregedoria-Geral da Defensoria Pública da União;
II – órgãos de atuação:
a) as Defensorias Públicas da União nos Estados, no Distrito Federal e nos
Territórios;
b) os Núcleos da Defensoria Pública da União;
III – órgãos de execução:
a) os Defensores Públicos Federais nos Estados, no Distrito Federal e nos
Territórios.
54
Percebe-se, porém, que para tratar sobre o tema Defensoria Pública, é necessário
primeiramente mencionar sobre o princípio do acesso ao Judiciário art. 5º, inciso XXXV da
CF-88 - ―a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça ao direito.‖
Esse princípio trata-se de um conceito firmado pelo Estado Democrático de Direito de âmbito
fundamental, uma vez que regula todas as formas de ingresso ao Poder Judiciário e a sua
prestação jurisdicional. De acordo com Nogueira (2011, p.13):
[...] o Art. 5º, XXXV da Constituição Federal confere ao Judiciário tarefa relevante
na defesa dos direitos fundamentais, que consagra a inafastibilidade da jurisdição,
incumbindo-lhe, no exercício de suas atribuições, conferir a esses direitos a máxima
eficácia possível, afastando qualquer ameaça ou ofensa aos direitos fundamentais.
[...]
Vários obstáculos podem contribuir para inviabilizar o acesso à justiça, sobretudo,
quando se trata de cidadãos em condição de hipossuficiência5. Sobre o assunto Menezes cita
Mauro Cappelletti e Bryan Garth, e pontua:
a) o valor das custas judiciais, a existência de causas de valor pequeno e o tempo de
duração do processo;
b) os recursos financeiros das partes, a ausência de aptidão para reconhecer um
direito de forma a propor uma ação ou apresentar sua defesa, a existência de
litigantes habituais e eventuais;
c) os problemas especiais relacionados aos interesses difusos, de natureza
transindividual. (MENEZES, 2009, p.1 apud MAURO CAPPELLETTI;BRYAN
GARTH)
Portanto, para entender sobre as transformações significativas no que concerne ao
direito e à assistência jurídica no Brasil, faz-se necessário um breve resgate histórico.
Menezes (2009, p.4), em seu artigo intitulado Defensoria Pública da União: Princípios
Institucionais, Garantias e Prerrogativas dos Membros e um Breve Retrato da Instituição6
refere que ―no Brasil, a assistência judiciária tem seu embrião nas Ordenações Filipinas, que
vigoraram de 1823 até 1916 e que substituíram as Ordenações Manoelinas.‖
5 Hipossuficiência: conceito tradicional dado pela insuficiência de recursos do assistido para arcar com as
despesas e honorários advocatícios a fim de que não se prejudique o sustento próprio e o de sua família. 6 O artigo mencionado pode ser visualizado no site: (www.dpu.gov.br).
55
O autor reforça a herança portuguesa, ressaltando que: ―de um lado havia a
dispensa das custas judiciais àqueles comprovadamente impossibilitados de com elas arcar e,
de outro, solicitava-se a advogados que, por generosidade, prestassem graciosamente seus
serviços a essas pessoas.‖ (MENEZES, 2009, p.5)
Menezes (2009), explica ainda que, houve significativas tentativas de reformas no
sistema da assistência judiciária tanto na época do Império quanto no início do período
republicano, conforme explicitado abaixo:
No Império:
[...] Nabuco de Araújo tomou a iniciativa de criar, no Instituto dos Advogados do
Brasil, um Conselho destinado a ‗prestar assistência judiciária aos indigentes nas
causas cíveis e crime, dando consultas, e encarregando a defesa dos seus direitos a
algum dos membros do Conselho ou Instituto. (2009, p.5)
No período republicano:
[...] No começo do período republicano é imperiosa a referência a dois decretos: o
Decreto nº 1.030/1890, que autorizou o Ministério da Justiça a criar uma comissão
de patrocínio gratuito aos pobres, e o Decreto nº 2.457/1897, que criou o serviço de
assistência judiciária. (2009, p.5)
Portanto, o primeiro documento legislativo no Brasil a prever a assistência
judiciária, surgiu no período republicano, no Rio de Janeiro, à época Distrito Federal,
constituindo-se então o embrião da Defensoria Pública. A partir desse decreto, as
constituições passaram a referir-se à assistência judiciária, como expõe Faciroli Borges:
[...] Embora a Constituição de 1824 não tenha feito referência à assistência
judiciária, a de 1891 já dava sinais dessa proteção quando dispunha de assistência
para acusados. As demais Constituições, exceto a de 1937, sempre no Capítulo dos
Direitos Fundamentais e Garantias Individuais trouxeram a garantia de assistência
judiciária. (2006, p.28)
Com o advento da Constituição de 1934, foi introduzido no Brasil a garantia da
gratuidade do acesso à justiça. Deste modo, o Estado passou a ser responsabilizado por
fornecer essa assistência, ―[...] art. 113, n. 32 [...] para imputar ao Estado, diga-se, a União e
56
os Estados, a prestação da Assistência Judiciária aos necessitados, bem como a obrigação de
criar órgãos essenciais para esse fim.‖ (DEZORZI BORGES, 2010, p.15)
No Brasil, o primeiro serviço de assistência judiciária foi implantado em 1935, no
Estado de São Paulo. À época, ―contava com o apoio de advogados de plantão assalariados
pelo Estado, tendo seguido esse exemplo o Rio Grande do Sul e Minas Gerais.‖ (FACIROLI
BORGES, 2006, p.28)
Muito embora, a Constituição de 1937, não contemple o direito a assistência
judiciária, garantindo-se apenas o direito de defesa, as Constituições de 1946 e de 1967 (art.
150, § 32) previam a assistência judiciária, assim ―pela Emenda Constitucional n° 1 de 1969
(art. 153, § 32), com a seguinte redação: ―será concedida assistência judiciária aos
necessitados, na forma da lei.‖ (MENEZES, 2009, p.6).
Souza (2003) embasados nas afirmações de Luciana Cunha, expõe a cerca do
modelo de assistência jurídica adotada pelo Brasil, que segundo a autora compreende três
momentos:
[...] um primeiro, até a promulgação da Lei 1.060/50, que regulamenta pela primeira
vez a assistência judiciária; um segundo momento que vai da década de 50 até a
Constituição Federal de 1988, quando a assistência jurídica envolvia apenas os atos
do processo; e um terceiro marcado pelas mudanças da Constituição Federal de
1988. A Lei Federal 1.060, de 05 de fevereiro de 1950, Lei de Assistência Judiciária,
está em vigor até os dias de hoje, com as devidas alterações. (SOUZA, 2003, p.99)
Com o advento da Constituição de 1988, o título de assistência jurídica passa a
vigorar, extinguindo-se, o termo assistência judiciária. Além disso, o acesso à justiça tornou-
se um direito fundamental, e dever do Estado. Consoante estabelece o art.34º, caput, da
CF/88, que cria a Defensoria Pública, como instituição essencial à função jurisdicional do
Estado, juntamente com a carreira de Defensor Público, prescrita em seu parágrafo único,
com a finalidade de garantir acesso à justiça aos cidadãos necessitados.
Desse modo, o texto constitucional assentou o múnus público histórico a ser
exercido pela Defensoria Pública, notadamente a assistência jurídica dos
57
necessitados, dando azo ao dever do Estado em prestar orientação jurídica e a defesa
daqueles cujos recursos são insuficientes para afastar obstáculos inerentes à proteção
de direitos. (DEZORZI BORGES, 2010, p.19)
Logo, a democratização da justiça tornou-se possível através desse órgão, de
modo que, para grande número de brasileiros para quem o acesso ao Judiciário era inviável,
possibilitando uma nova perspectiva de cidadania e de Estado Democrático de Direito. Por
essas razões, a professora e cientista política Maria Tereza Sadek afirmou, categoricamente
que sem Defensoria Pública:
[...] qualquer noção de cidadania e igualdade é desprovida de efetividade. Quando a
Constituição Federal criou a Defensoria Pública enquanto instituição, trouxe consigo
um instrumento de afirmação da dignidade humana por meio da garantia do acesso à
Justiça. (SADEK, 2001)
Veja-se que, constitucionalmente, a Defensoria Pública é tratada no mesmo plano
de importância que a Magistratura e o Ministério Público. Como expõe Cruz e Toledo:
[...] a Defensoria Pública tem o mesmo status constitucional que, por exemplo, o
Ministério Público, estando ambas as instituições, inclusive, previstas no mesmo
capítulo do título IV da CF/88, qual seja, aquele que trata das funções essenciais à
justiça. Da mesma forma, há de se ponderar, a Defensoria Pública não está em
patamar inferior, pelo menos constitucionalmente falando, a outros órgãos como a
Advocacia Pública, os componentes do grupo Segurança Pública, bem como ao
próprio Poder Judiciário. (2009, p.119 - 120)
Em tese, a Carta Magna, criou um organismo autônomo e independente, a fim de
prestar um serviço efetivo de assistência jurídica à população. Conforme ressalta Barros:
Mesmo com poucas linhas a ela dedicadas no texto constitucional, a Defensoria
Pública sobressai do contexto jurídico nacional como genuína garantia
constitucional fundamental (art. 134 da CRFB). Não deve essa instituição receber a
carga de panacéia da nação, epíteto, aliás, que nenhuma instituição constitucional
merece, embora não raras o almejem. A qualificação técnica da Defensoria Pública
como garantia constitucional fundamental insere-a no desiderato republicano e
democrático da Constituição do Brasil, sob os primados procedimentos da inclusão
do outro e da tolerância; promove o acesso ao direito de quem em regra padece das
mais elementares privações cívicas e fortalece as bases do Processo Constitucional,
em direção à cidadania plena. (2009, p.27)
58
Todavia, observa-se que a DPU não foi implementada de forma plena e
satisfatória. Após 18 anos da criação do órgão, visualiza-se um cenário de descompasso na
autonomia da instituição, que prefigura até os dias atuais em caráter emergencial. Hoje,
apenas as Defensorias Públicas Estaduais, conforme o parágrafo 2º do artigo 134 da
Constituição Federal é assegurada essa autonomia, inclusive, para elaboração da própria lei
orçamentária das defensorias públicas estaduais.
Importa citar que, as unidades da Defensoria Pública da União em todo país,
estão reunindo esforços no sentido de conseguir a aprovação da Proposta de Emenda
Constitucional 207-A/2012, que tramita na Câmara Federal. A PEC 207-A/2012, garantirá
autonomia funcional e administrativa às Defensorias Públicas da União e do Distrito Federal.
Desta forma, estão sendo realizadas audiências públicas no intuito de sensibilizar os
deputados e a população para apoiar a aprovação da medida, conforme texto extraído do site
da DPU:
APOIO À AUTONOMIA DA DEFENSORIA PÚBLICA É TEMA DE
REUNIÃO NO RIO DE JANEIRO
Rio de Janeiro, 14/03/2013 – O apoio à Proposta de Emenda Constitucional 207-
A/2012, que garante autonomia funcional e administrativa às Defensorias Públicas
da União e do Distrito Federal, foi tema de reunião nessa quarta-feira (13) entre o
deputado estadual Domingos Brazão (PMDB/RJ) e o defensor público-chefe da
Defensoria Pública da União no Rio de Janeiro, Carlos Eduardo Santos Wanderley.
[...] (FONTE: Assessoria de Imprensa Defensoria Pública da União-Site DPU)7
Como já mencionado anteriormente, a assistência jurídica no Brasil, é prestada
pela Defensoria Pública que se encontra organizada em duas instituições. Nesse sentido, cabe
aqui explicitar a diferença entre a Defensoria Pública da União e a Defensoria Pública
Estadual:
A Defensoria Pública da União (DPU) e as Defensorias Públicas Estados, Territórios
e Distrito Federal (DPEs). A primeira tem atribuição para atuar na Justiças Federal,
Eleitoral, Militar e do Trabalho; a competência das DPEs é residual. (COGOY,
2012, p.146)
7 A notícia na íntegra pode ser visualizada no site: www.dpu.gov.br
59
Para exemplificar, dentre outras, são áreas de atuação da DPE a defesa do
consumidor, direito de família e sucessões, defesa penal na Justiça Estadual, direitos da
criança e adolescente. A cerca da vinculação da Defensoria Pública, Sadek (2001), salienta:
No âmbito do direito administrativo, a Defensoria Pública foi concebida como
instituição funcionalmente independente, vinculada ao Poder Executivo, mas sem
qualquer relação hierárquica com este, e com autonomia administrativa. Cabe a ela:
―praticar os atos próprios de sua gestão, organizar os serviços auxiliares, decidir
sobre a situação administrativa e funcional de seu pessoal e elaborar seus
regimentos.
Em desacordo com texto constitucional, a Defensoria Pública da União está
vinculada ao Ministério da Justiça, o que a torna dependente de uma estrutura de governo,
cujas atribuições e prioridades se sobrepõem à sua missão prestacional como órgão de Estado,
autônomo e independente.
Vale ressaltar, que muito embora, a DPU tenha se desenvolvido de forma tardia
em relação à CF/88, o órgão ainda luta por uma estrutura adequada para o seu funcionamento
como mecanismo de facilitação do acesso à população carente.
Na área administrativa, a Defensoria Pública da União possui muitas carências,
como falta de pessoal de apoio e excessiva centralização orçamentária e financeira.
Como não tem quadro próprio suficiente, precisa valer-se de Órgãos da
Administração Pública para que, com servidores cedidos ou requisitados, possa dar
o suporte necessário ao bom funcionamento de seus órgãos de atuação. (Defensoria
Pública da União. - Brasília: DPU, 2012, p.12)
Por isso, Cogoy (2012, p.154) justifica que:
[...] a função exercida pelas Defensorias Públicas, hoje, já não é mais livre de
críticas. Em parte, a limitação dos serviços oferecidos não pode ser imputada aos
defensores públicos, haja vista ser patente a insuficiência de seus quadros ante a
crescente demanda por atendimentos. [...]
Por todo exposto, Barros (2009) enfatiza que, o enfraquecimento da Defensoria
Pública torna inviável a Jurisdição inclusiva dos menos favorecidos no espectro da cidadania,
à proporção que diminuem a promoção e a extensão, via jurisdição, dos direitos fundamentais
constitucionalmente consagrados à parcela significativa dos nacionais.
60
Hoje, a DPU está presente em apenas 58 das 264 localidades que têm instâncias
judiciais federais. Em outubro do ano passado, a presidenta Dilma Rousseff anunciou em
coluna semanal Conversa com a Presidenta.8 ―a ampliação das atuais 58 para 200 unidades da
DPU no Brasil, uma meta que se pretende atingir até 2015 e a liberação, pelo BNDES, de um
crédito de R$ 300 milhões para modernizar as defensorias públicas estaduais‖.
Como já mencionado, a Defensoria Pública existe em duas esferas: Estadual e
Federal. No caso, da DPU, esta com sede em todas as capitais dos Estados, além do Distrito
Federal, começam a se interiorizar e estruturar-se gradativamente em alguns municípios.
Nas unidades, encontram-se os Defensores Públicos Federais - DPF, prestando
serviços de informação e orientação jurídica, representação perante órgãos públicos e,
principalmente, o acesso à justiça, tanto na propositura de ações como na defesa do cidadão.
Conforme, definição da Cartilha da Associação Nacional dos Defensores Públicos Federais -
ANADEF, os Defensores Públicos Federais:
[...] são profissionais aprovados em concurso público de provas e títulos com, pelo
menos, três anos de experiência jurídica. No exercício da profissão, o Defensor
Público Federal é independente para atuar na defesa dos interesses do cidadão,
devendo, inclusive, agir contra o próprio Estado, sem receber qualquer punição.
Além de propor ações e apresentar defesa em favor do assistido nos processos
judiciais e administrativos, o Defensor Público tem o dever de prestar-lhe orientação
jurídica, esclarecendo suas dúvidas e podendo promover, inclusive, a conciliação
amigável entre as partes. (Cartilha ANADEF, 2010, p.5)
Conforme indica a Lei Complementar nº 80/94, são funções dos Defensores
Públicos Federais:
Art. 18. Aos Defensores Públicos Federais incumbe o desempenho das funções de
orientação, postulação e defesa dos direitos e interesses dos necessitados, cabendo-
lhes, especialmente (Redação dada pela Lei Complementar nº 132, de 2009):
I – atender às partes e aos interessados;
II – postular a concessão de gratuidade de justiça para os necessitados;
8A coluna Conversa com a Presidenta é publicada semanalmente em jornais cadastrados na Secretaria de
Imprensa da Presidência, com respostas da presidenta Dilma a perguntas enviadas por leitores.
61
III – tentar a conciliação das partes, antes de promover a ação cabível;
IV – acompanhar e comparecer aos atos processuais e impulsionar os processos;
V – interpor recurso para qualquer grau de jurisdição e promover revisão criminal,
quando cabível;
VI – sustentar, oralmente ou por memorial, os recursos interpostos e as razões
apresentadas por intermédio da Defensoria Pública da União;
VII – defender os acusados em processo disciplinar.
VIII – participar, com direito de voz e voto, do Conselho Penitenciário; (Incluído
pela Lei Complementar nº 132, de 2009).
IX – certificar a autenticidade de cópias de documentos necessários à instrução de
processo administrativo ou judicial, à vista da apresentação dos originais; (Incluído
pela Lei Complementar nº 132, de 2009).
X – atuar nos estabelecimentos penais sob a administração da União, visando ao
atendimento jurídico permanente dos presos e sentenciados, competindo à
administração do sistema penitenciário federal reservar instalações seguras e
adequadas aos seus trabalhos, franquear acesso a todas as dependências do
estabelecimento independentemente de prévio agendamento, fornecer apoio
administrativo, prestar todas as informações solicitadas, assegurar o acesso à
documentação dos presos e internos, aos quais não poderá, sob fundamento algum,
negar o direito de entrevista com os membros da Defensoria Pública da União.
(Incluído pela Lei Complementar nº 132, de 2009).
De acordo com incisos do Artº. 19 da Lei Complementar da Defensoria Pública, a
carreira de Defensor Público Federal é composta de três categorias de cargos efetivos, que
são:
I – Defensor Públicos da Federal de 2ª Categoria (inicial);
II – Defensores Públicos da União de 1ª Categoria (intermediária)
III – Defensores Públicos da União de Categoria Especial (final)
Os primeiros cargos para atuar como Defensor Público Federal surgiram em 2001,
com a publicação da Lei nº 10.212, e no mesmo ano, realizou-se o primeiro concurso público
de ingresso na carreira. Atualmente, são 480 Defensores Públicos Federais atuando em todo
país, para atender a mais de 80 milhões de carentes que não têm como arcar com os custos de
um advogado. Enquanto isso atua no âmbito da União cerca de 5.300 juízes federais e do
62
Trabalho, 1.700 procuradores da República e 8.000 advogados públicos da União. As
defensorias públicas estaduais contam com 5.200 defensores e são autônomas.9
Em dezembro de 2012, a presidenta da República, Dilma Rousseff, sancionou a
Lei 12.763, que cria 789 cargos de Defensor Público Federal, divulgado no Diário Oficial da
União. Conforme especificações da Lei, serão destinados 732 cargos para a Segunda
Categoria (inicial), 48 para a Primeira Categoria (intermediária) e 9 para a Categoria Especial
(final).
A mesma Lei prevê ainda, o provimento dos cargos de forma gradual, de acordo
com a previsão orçamentária para cada exercício, com a expansão do quadro funcional, em
cumprimento ao disposto no Plano de Interiorização da Defensoria.
O Defensor público-geral federal em exercício, Haman Tabosa de Moraes e
Córdova, declarou no site da DPU que: "o ingresso de todos os aprovados no 4º concurso é o
primeiro passo após a sanção da lei, que precisa ser efetiva na medida em que se faz urgente a
inserção desses profissionais no quadro institucional a fim de reforçar o trabalho que
desempenhamos com os atuais defensores públicos federais10
". Em continuidade o DPGF
comenta:
[...] a publicação da lei n.º 12.763 de 27/12/2012 representa o coroamento de um
trabalho iniciado há um ano, quando demos início às primeiras conversas nos
Ministérios da Justiça e do Planejamento, Orçamento e Gestão. Com um estudo
detalhado do mapa brasileiro onde a DPU ainda não se faz presente, conseguimos
sensibilizar o Governo Federal acerca da necessidade de levar cidadania à expressiva
parcela da população brasileira que não dispõe de meios para ter acesso à expressiva
parcela da população brasileira que não dispõe de meios para ter acesso à Justiça.
(FONTE: Assessoria de Imprensa Defensoria Pública da União-Site DPU)11
Portanto, o Defensor Público Federal atua como representante do cidadão,
perante o Poder Judiciário da União, a saber: Superior Tribunal de Justiça – STJ, Tribunal
Superior do Trabalho–TST, Tribunal Superior Eleitoral – TSE, Superior Tribunal Militar-
9 Dados extraídos do site: (www.dpu.gov.br.) Acesso realizado em 13 /03 /2013.
10 A notícia na íntegra pode ser visualizada através do site: (www.dpu.gov.br.) Acesso realizado em 13/03/2013.
11 Vê notícia na íntegra no site: (www.dpu.gov.br)
63
STM, Supremo Tribunal Federal - STF, e também junto às instanciais da Administração
Pública Federal, além do Tribunal Marítimo, este ultimo localizado no Rio de Janeiro. Ou
seja, a DPU atua em todos os casos que envolvem o exercício de direito, quer seja os
individuais ou em ações coletivas. (Cartilha ANADEF, 2010, p.2)
A título de exemplificação, quando uma pessoa carente precisa resolver um
problema junto a União (Ministérios, Receita Federal, etc), INSS, INCRA, IBAMA, Caixa
Econômica Federal, Correios, Universidades Federais, e todos os demais órgãos públicos
federais, tem-se o Defensor Público Federal para representá-lo.
Diariamente, mais de 1,2 mil pessoas carentes são atendidas pela DPU no Brasil.
As principais solicitações referem-se à obtenção de medicamentos, recebimento do FGTS,
reivindicação de aposentadoria perante o INSS, financiamento acadêmico, regularização
fundiária para agricultores, licença de trabalho para pescadores, entre outras tantas que
estejam enquadradas nas atribuições da Justiça Federal. A DPU atua na defesa do povo
brasileiro de baixa renda e ainda de estrangeiros que estão no Brasil, bem como, de brasileiros
que vivem no exterior, indígenas e comunidades quilombolas.
Quanto aos critérios para verificar se as pessoas podem ser assistidas pelo órgão,
ressalta-se, o fator econômico, ou seja, ―todo indivíduo que possua uma renda familiar não
superior ao limite de isenção do Imposto de Renda terá direito à assistência jurídica gratuita
prestada pela DPU.‖ (Cartilha ANADEF, 2010, p.3)
Ao solicitar atendimento na DPU, e o cidadão ingressar com abertura de Processo
de Atendimento Jurídico – PAJ12
preencherá declaração acerca da condição de
economicamente necessitado. Esta declaração constará no próprio bojo da petição inicial, nos
exatos termos do art. 4º, caput, da Lei n° 1.060/50, ou de documento em separado,
denominado na prática forense de ―declaração de pobreza‖.
Ressalta-se que o atendimento pode estender-se, aqueles com renda superior ao
critério mencionado, desde que demonstrem gastos relevantes que comprometam
12
PAJ é o nome dado ao processo administrativo adotado pela DPU quando um assistido passa a ser
acompanhado pela instituição.
64
significadamente o orçamento do núcleo, a exemplo: tratamento de saúde (medicação),
alimentação, moradia, por exemplo.
Há uma ressalva também para o atendimento na esfera criminal. Nesse caso, será
independente da renda do cidadão. Portanto, se a pessoa não tiver advogado, ou se o
profissional se recusar a fazer a defesa deste, o juiz determinará a nomeação de um defensor
público.
Além da garantia do direito individual, a DPU representa grupos de pessoas que
tenham interesses comuns, como, por exemplo, consumidores de serviços de energia elétrica,
moradores de determinada comunidade em estado de vulnerabilidade, estudantes que
necessitem do serviço público federal de ensino, entre tantos outros. A tutela coletiva se dá
por meio de ações coletivas que buscam otimizar a atuação da Defensoria Pública da União,
possibilitando a obtenção do mesmo direito aos cidadãos em condições semelhantes.
Para refletir a cerca da instituição Defensoria Pública, utiliza-se as palavras de
Cogoy:
A Defensoria Pública deve ser vista como um instrumento de emancipação dos
socialmente vulneráveis, exercendo papel fundamental dos socialmente vulneráveis,
exercendo papel fundamental no acesso desta população aos seus direitos
fundamentais. Para tanto, faz-se necessário que exerça suas atividades sobre critérios
de eficiência e qualidade na prestação de seus serviços, não mais sendo admitidas a
demora injustificada no atendimento, as longas filas, a distribuição de fichas e
mesmo a restrição de atuação em áreas nas quais sua atuação se permanente.
(COGOY, 2012,p.162)
Diante das reflexões, compreende-se que o acesso à Justiça é um caminho para a
construção de uma sociedade realmente justa, digna e solidária, que possa refletir no mundo
dos fatos o ideal de igualdade de todo o povo brasileiro.
Portanto, destaca-se a importância da Defensoria Pública da União para a
sociedade brasileira, e como se faz urgente que o órgão conquiste sua autonomia, para que
assim detenha todos os meios para exercer de forma materializada e democrática o conceito
de assistência jurídica integral e gratuita. Em continuidade ao tema, no próximo tópico
65
desenvolverá uma explanação sobre A Defensoria Pública da União no Ceará, haja vista, sua
importante contribuição para o nosso estado.
2.2 - A Defensoria Pública da União no Ceará
Como verificou-se no capítulo anterior, a estruturação da Defensoria Pública da
União deu-se através da promulgação de Lei Complementar, estabelecida em caráter
emergencial e provisório. Desta forma, a primeira unidade da Defensoria Pública da União no
Brasil foi instalada no Distrito Federal, em 1995. Posteriormente, em meio a uma série de
limitações, como por exemplo, orçamentária, quadro restrito de servidores e de adequação a
realidade de seus demandantes, a DPU foi gradativamente sendo implantada em cada estado
da federação.
De acordo com registros institucionais, o primeiro prédio ocupado pelo órgão no
Ceará, era cedido pelo Governo Federal, sendo inaugurado na cidade de Fortaleza, em 2001.
As instalações da unidade mostravam-se precárias com relação à estrutura física, número
reduzido de funcionários e apenas dois Defensores Públicos Federais.
Diante de tantas dificuldades, a exemplo da falta de estrutura física propícia ao
atendimento dos usuários, havia também escassez de recursos materiais e humanos, o que
prejudicava em muito o processo de efetivação dos atendimentos aos usuários que buscavam
auxílio jurídico.
Ressalta-se que no ano de 2008, a DPU-CE conquistou um novo espaço físico
para atuar. Deste modo, houve a transferência de sede da Praia de Iracema para o prédio
localizado na Rua Costa Barros. Sendo, este novo prédio, amplo, com quatro andares, o que
possibilitou também a contratação de um número considerável de funcionários, e de
profissionais de diversas áreas para atuarem junto ao corpo institucional. O edifício atual foi
construído especificamente para o desempenho das atividades do órgão. Contudo, o que se
percebe é que os problemas de ordem estrutural fizeram parte desta unidade por muitos anos.
66
No contexto atual, a sede da DPU no Ceará, possui no quadro institucional 14
Defensores Públicos Federais, divididos entre os ofícios cível, previdenciário, criminal e
recursal, 33 servidores públicos, 19 profissionais de nível médio e superior terceirizados e 65
estagiários na área do direito, serviço social, comunicação social e ensino médio, totalizando
cerca de 131 trabalhadores. De acordo com dados institucionais, a média de atendimento da
unidade é de oitocentas pessoas mensalmente.
A sede da DPU no Ceará, se comparada às demais unidades do Brasil, apresenta
estrutura tanto de ordem física, quanto aos itens de equipamentos e recursos materiais, nos
moldes adequados dos quais se objetiva para oferecer um atendimento adequado ao público.
No entanto, o número reduzido de Defensores Públicos Federais é insuficiente para atender a
crescente demanda da unidade.
No que concerne à divisão dos setores do núcleo da DPU-CE, são eles: secretaria
jurídica, secretaria administrativa, atendimento ao público, área de comunicação, biblioteca,
contadoria, apoio, serviço social e sociologia. A equipe interdisciplinar trabalha para garantir
a população usuária um bom atendimento e principalmente garantir acesso à justiça.
Importa esclarecer que, a estrutura administrativa da DPU, varia conforme a
unidade de cada Estado, muito embora, exista uma configuração própria para todas. Desta
forma, a unidade do Ceará, divide-se em quatro ofícios, cuja demanda e atendimentos
específicos são direcionados ao Defensor da área. Assim, a distribuição de números de
Defensores por ofício são: Previdenciário (4); Cível (5); Criminal (3) e no ofício Geral (2).
Consoante mencionado anteriormente, a divisão dos Ofícios é administrativa, isto
é, para facilitar a atuação dos DPF‘s frente às demandas. Portanto, o Ofício Previdenciário
atua em causas em que envolvam ações previdenciárias, assistenciais, dentre outros. Já a
atuação do Ofício Cível contempla ações diversas, por exemplo, demandas relativas à saúde,
moradia, educação entre outros. Enquanto, que o Ofício Criminal atende aquelas ações que
envolvam a defesa dos acusados perante a Justiça Federal, os Juizados Especiais Federais
Criminais, as Auditorias Militares e as Penitenciárias Federais. Por último cita-se, o Ofício
Regional que atua na área recursal, sendo este, responsável por dá prosseguimento aos
processos a partir da fase dos recursos.
67
No que tange às demandas apresentadas pela população usuária da DPU no
Estado do Ceará, as principais são de ordem previdenciária, em causas contra o Instituto
Nacional de Seguro Social - INSS (aposentadoria, pensão por morte, auxílio-doença, auxílio-
reclusão, auxílio-maternidade, salário-família ou outro benefício), além dos Benefícios da
Assistência Social (BPC Idoso/deficiente). Ações de natureza cível contra imissão ou
reintegração da posse, promovidas pela Caixa Econômica Federal, renegociações dos
contratos de financiamento da casa própria, refinanciamento de crédito estudantil, além de
defesa em processo criminal, entre outras tantas que estejam enquadradas nas atribuições de
âmbito federal.
O quadro abaixo demonstra o quantitativo de aberturas de PAJs – (Processo de
Atendimento Jurídico) na DPU-CE, distribuídos nos ofícios previdenciário, cível, criminal e
regional. No período compreendido entre os meses de julho a dezembro de 2012, foram
abertos 3082.
Tabela 1- Mapa de Distribuição13
Ofícios Abertura de PAJ
Total: 3081
1º Ofício Cível 198
1º Ofício Criminal 71
1º Ofício Previdenciário 233
1º Ofício Regional 222
2º 0fício Regional 202
2º Ofício Cível 236
2º Ofício Criminal 86
2º Ofício Previdenciário 219
3º Ofício Cível 243
3º Ofício Criminal 75
3º Oficio Previdenciário 0
3º Ofício Previdenciário 208
13
Estática relativa ao mapa de distribuição de abertura de processo atendimento jurídico da DPU entre os meses
de julho a dezembro de 2012.
68
4º Ofício Cível 195
4º Ofício Previdenciário 206
5º Ofício Cível 238
Analista Cível 301
Analista Criminal e Regional 2
Analista Previdenciário 145
Ofício Plantonista 1
Fonte: Pesquisa direta, DPU/CE, 2013.
A tabela seguinte relaciona a quantidade de PAJs em fase de tramitação
distribuídos nos ofícios previdenciário, cível, criminal e regional, no mesmo período
mencionado na tabela anterior.
Tabela 2 - Assistidos por Ofício14
Descrição Quantidade
Total: 3245.0
3º. Ofício Cível 304
1º Ofício Previdenciário 226
4º Ofício Previdenciário 223
3º Ofício Previdenciário 277
2º Ofício Criminal 120
2º 0fício Regional 218
1º Ofício Cível 307
5º Ofício Cível 313
1º Ofício Criminal 110
4º Ofício Cível 295
2º Ofício Cível 300
1º Ofício Regional 238
Fonte: Pesquisa direta, DPU/CE, 2013.
14
Estatística relativa ao número de assistidos, atendidos por ofício, entre os meses de julho a dezembro de 2012.
69
A DPU-CE atua apenas na cidade de Fortaleza e em municípios da região
metropolitana, em razão de não haver núcleos no interior do estado do Ceará, afora o número
insuficiente de Defensores Públicos Federais para atender as demandas. Todavia, as
solicitações oriundas do interior do Estado chegam à unidade, em alguns casos ocorrem
atendimento e em outros a população fica descoberta, o que sinaliza o descumprimento da
constituição, em seu artigo 5º, inciso LXXIV.
Como pode-se perceber, existem inúmeros obstáculos que fazem com que a
justiça não se verifique de maneira igual para todos, sobretudo, no contexto doEstado do
Ceará, onde as diferenças estruturais explicam os contrastes de nossa sociedade.
Os diversos déficits que atingem os setores infra-estrutura, equipamentos e
serviços nas áreas da habitação, saúde, educação entre outros, tendem a impulsionar o
aumento desmesurado de ações judiciais movidas por cidadãos que cobram seus direitos ao
Estado. Além disso, ressalta-se, que o Estado do Ceará, possui ―segundo a PNAD 2008,
51,08% da população cearense é pobre (menor que a proporção do Nordeste, 52,07%, e maior
que a do Brasil, 30,61%), e destes 21,96% vivem em situação de extrema pobreza15
‖.
Portanto, diante do que foi exposto, evidencia-se a extrema urgência em que pese
o Estado, proporcionar efetivamente aos necessitados os meios para o acesso à justiça, tendo
em vista que, grande parte da população cearense não detém recurso financeiro para custear
defesa judicial particular.
Além das demandas da população cearense, pontua-se ainda um grande número
de atendimentos relacionados ao público estrangeiros que estão no Brasil, inclusive, aos
brasileiros que vivem no exterior, além de indígenas e comunidades quilombolas existentes
no Ceará.
Mesmo com tantos desafios a serem vencidos, a unidade da DPU-CE destaca-se,
por apresentar grandes conquistas em ações judiciais. Observe alguns exemplos de ações
movidas contra a Previdência Social, em que os assistidos obtiveram êxito:
15
Artigo: ―Erradicar a pobreza ou o pobre, eis a questão – A nova política social de governo implantada no
Estado do Ceará pela Lei nº 14.859, de 28 /12 /2010.‖
70
CIDADÃOS RECORREM À DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO EM
DEMANDAS CONTRA O INSS NO CEARÁ
Fortaleza, 25/03/2013 – A assistida C.C.L., residente em Fortaleza, recebeu este mês
o pagamento de todas as parcelas do salário-maternidade referente ao nascimento de
sua filha, que aconteceu em dezembro de 2011 [...]16
(FONTE: Assessoria de
Imprensa Defensoria Pública da União-Site DPU)
ASSISTIDA CEARENSE CONSEGUE RESTABELECIMENTO DE PENSÃO
POR MORTE
Fortaleza, 15/04/2013 - A assistida A.M.D., de 87 anos, conseguiu junto à Justiça o
direito de voltar a receber a pensão por morte do filho, cancelada pelo Instituto
Nacional do Seguro Social (INSS) em 2009 [...]
Na decisão, também foi concedida à A.M.D. uma indenização por danos morais de
dez salários mínimos, devendo ser paga, juntamente com o valor descontado
indevidamente e os pagamentos atrasados, no final do processo, que ainda está em
fase de recursos.17
(FONTE: Assessoria de Imprensa Defensoria Pública da União-
Site DPU)
Nas defesas em ações criminais a DPU-CE também tem apresentando importantes
resultados, conforme descrito abaixo:
HOMEM QUE INVADIU ÁREA MILITAR PARA ALIMENTAR A
FAMÍLIA É ABSOLVIDO
Fortaleza, 25/03/2013 - Antes mesmo que fosse concluída a instrução criminal do
processo, o assistido da Defensoria Pública da União O.L.F. foi absolvido da
acusação de ingresso clandestino em organização militar e furto de mangas [...]18
(FONTE: Assessoria de Imprensa Defensoria Pública da União- Site DPU)
A área cível pontua o grande número de processos, e como exemplo cita-se uma
ação julgada procedente. Há ainda, outra modalidade de ação na DPU-CE que tem
conquistado destaque nacional, trata-se das ações coletivas ou ação cível pública, que
―buscam otimizar a atuação da Defensoria Pública, para que várias pessoas consigam obter o
mesmo direito ao mesmo tempo.‖ Observe:
16
Vê notícia na íntegra no site: (www.dpu.gov.br) Acesso realizado em 15/03/2013. 17
Vê notícia na íntegra no site: (www.dpu.gov.br). Acesso realizado em 15/03/2013. 18
Vê notícia na íntegra no site: (www.dpu.gov.br) Acesso realizado em 15/03/2013.
71
STF OBRIGA HOSPITAL NO CEARÁ A ATENDER PACIENTE EM ATÉ
SEIS HORAS
Brasília, 21/02/2013 - O ministro Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal
Federal (STF), decidiu que o tempo de espera para internação psiquiátrica no
Hospital de Messejana, na cidade de Fortaleza (CE), seja de no máximo seis horas
[...] Segundo o defensor, o estado diminuiu o número de vagas para internações
psiquiátricas e não criou unidades alternativas para o tratamento, como unidades
assistenciais terapêuticas [...]
Entenda o caso
Em 2011, a DPU entrou com ação pedindo que seja estipulado um limite de tempo
para a fila de espera por internação. A Justiça concedeu liminar impondo o limite de
seis horas para que o paciente seja atendido. O governo estadual recorreu e o caso
foi parar no Supremo Tribunal Federal [...]
Relatório descreve situação de famílias
As assistentes sociais da DPU no Ceará elaboraram relatório em 2011 sobre a
situação das pessoas que esperam pela internação no hospital Messejana. De acordo
com o documento, os usuários se encontram em pátio descoberto, embaixo de
árvores, próximo ao estacionamento. O texto apresenta depoimentos de familiares
que aguardam na fila pelo atendimento [...]19
(FONTE: Assessoria de Imprensa
Defensoria Pública da União- Site DPU)
Após essa apresentação em termos de êxito em ações judiciais, convém ainda
mencionar a estatística de atendimentos de PAJs em fase de tramitação em sua totalidade,
também distribuídos entre os ofícios, no período supracitado nas tabelas 1 e 2.
Tabela 3 - Total Geral20
Descrição Quantidade
Total: 3084.0
1º Ofício Criminal 98
1º Ofício Regional 235
1º Ofício Cível 299
1º Ofício Previdenciário 225
2º 0fício Regional 200
19
Vê notícia na íntegra no site: (www.dpu.gov.br) Acesso realizado em 16/03/2013. 20
Estatística de atendimentos de PAJs em fase de tramitação em sua totalidade no período compreendido entre
julho a dezembro.
72
2º Ofício Previdenciário 181
2º Ofício Cível 286
2º Ofício Criminal 103
3º Ofício Criminal 102
3º Ofício Previdenciário 264
3º Ofício Cível 294
4º Ofício Cível 286
4º Ofício Previdenciário 217
5º Ofício Cível 293
Analista Cível 1
Fonte: Pesquisa direta, DPU/CE, 2013.
A DPU-CE além de atuar na propositura de ações judiciais, na assistência jurídica
integral e gratuita, também atua na assistência extrajudicial, que por sua vez, compreende a
orientação e o aconselhamento jurídico feito pelos Defensores Públicos Federais, por meio da
conciliação e da representação do assistido junto à Administração Pública, bem como a
difusão e a conscientização dos direitos humanos, da cidadania e do ordenamento jurídico.
Desse modo, a DPU acredita que:
[...] para exercer uma efetiva cidadania, cada brasileiro precisa estar consciente de
seus direitos, o que, infelizmente, vem acontecendo no Brasil. Para mudar esse
panorama, a Defensoria Pública da União surge como instrumento de informação,
orientação jurídica e acesso à justiça, bem como a outros órgãos públicos. (Cartilha
ANADEF, 2010, p.1)
Nos núcleos da DPU‘s no Brasil, inclui-se a unidade do Ceará, existem vários
projetos e programas que compõem o planejamento de atividade e ações da DPU e não
necessitam estar diretamente relacionados entre si, mas são coordenados de forma
centralizada. Essa assistência extrajudicial compreende a orientação e o aconselhamento
jurídico, bem como a difusão e a conscientização dos direitos humanos, da cidadania e do
ordenamento jurídico, conforme demonstrado abaixo:
1. Câmaras de resolução extrajudicial de conflitos
2. Projeto DPU Itinerante
73
3. Projeto DPU nas Escolas
4. Projeto DPU na Comunidade
5. Projeto de erradicação do escalpelamento por embarcações
6. Enfrentamento ao tráfico de pessoas
7. Visita Virtual
8. População em situação de rua
9. Atendimento jurídico a indígenas
Entre os projetos e programas mencionados acima, executados no Estado do
Ceará, cita-se como exemplo o DPU nas Escolas. ―Este projeto leva os Defensores Públicos
Federais às escolas públicas, de nível médio e fundamental, para esclarecer os alunos sobre
direitos do cidadão. Explicam, também, como obter a assistência gratuita da DPU.‖ (Cartilha
DPU, 2012, p.10) O mesmo foi implantado entre os anos de 2010 e 2011, em três escolas
públicas municipais de Fortaleza (Antonieta Cals, Dias Macedo e Luis Costa). Sua última
versão ocorreu no ano 2012, na Escola Municipal Joaquim Alves e deverá ser realizado
novamente em outras escolas da capital.
UNIDADE DO CEARÁ RECEBE ALUNOS DA ESCOLA MUNICIPAL
JOAQUIM ALVES
Fortaleza, 29/06/2012 – A última etapa do Projeto DPU nas Escolas da unidade do
Ceará levou 60 estudantes da Escola Municipal Joaquim Alves à sede da DPU/CE
nessa quinta-feira (28). Os alunos viram de perto como funciona o dia a dia nos
gabinetes e setores da Defensoria, esclareceram dúvidas sobre assuntos referentes à
Justiça e, ainda, apresentaram os trabalhos que produziram durante as etapas
anteriores do projeto [...]21
(FONTE: Assessoria de Imprensa Defensoria Pública da
União- Site DPU)
Acrescenta-se ainda que, a sede da DPU no Estado do Ceará destaca-se entre as
demais unidades do Brasil, por ter sido pioneira ao agregar em quadro de funcionários, o
profissional de Serviço Social, no ano de 2006, servindo posteriormente, como exemplo para
os demais estados do Brasil.
21
Ver notícia na íntegra no site: (www.dpu.gov.br) Acesso em 16/03/2013.
74
Percebe-se que a atuação das assistentes sociais na unidade do Ceará, tem se
evidenciado de forma positiva, nas ações judiciais onde há a inclusão de Perícias Sociais,
como vimos nas citações acima, dos casos julgados procedentes de âmbito previdenciário,
criminal e cível (comum ou coletivo).
Contudo, há núcleos da DPU que não possuem em seu quadro institucional,
assistentes sociais. A carência deste profissional em muitos casos inviabiliza o processo de
implantação dos direitos dos assistidos, assim como as ações de educação em direitos para a
população usuária dos serviços jurídicos. No âmbito administrativo interno, afeta a
composição das ações de envolvimento multidisciplinar, como: gestão, assessoria, supervisão
e planejamento de programas e projetos nesta área. Deste modo, considera-se então relevante,
abordar de forma detalhada, sobre a atuação do serviço social na DPU-CE no próximo tópico.
2.3 - A prática profissional do serviço social na DPU-CE
Em 2006, foi implantado o serviço social na Defensoria Pública da União no
Ceará. De acordo com o Plano de Atuação Profissional do Serviço Social22
, a demanda por
assistentes sociais surgiu ―tendo em vista a necessidade de realização e inclusão de perícias
sociais nos processos jurídicos vinculados ao ofício previdenciário‖ (2011, p. 9)
A primeira servidora pública assistente social a compor a equipe da DPU-CE, fora
requisitada a outro Órgão federal, em razão de não haver, à época, o referido profissional no
quadro da instituição. Foi então, que o serviço social deu seus primeiros passos, inicialmente
com a atividade fim de elaborar perícias sociais, auxiliando os Defensores Federais do Ofício
Previdenciário.
A requisição em caráter de urgência de um Assistente Social, concursado a nível
federal, se deu com o intuito primordial de serem agilizados os tramites burocráticos
de acessibilidade ao BPC/LOAS, já sendo visualizado pela DPU/CE que a práxis do
Assistente Social iria contribuir para que as decisões judiciais priorizassem os
direitos básicos, garantindo assim o acesso da população aos serviços e políticas
sociais. (MORAIS, 2012, p 68)
22
Conforme mencionado na introdução, este documento elaborado pela equipe de Serviço Social da DPU/CE,
com a finalidade de nortear o processo de trabalho do/a Assistente Social na unidade da Defensoria Pública da
União/DPU do Ceará.
75
Gradativamente, foram surgindo os primeiros resultados obtidos após a
implantação do Serviço Social na instituição, nas ações julgadas procedentes, onde havia
relatórios sociais, um dos instrumentais utilizados, à época, pelas assistentes sociais para
subsidiar elementos de defesa em prol do assistido, através de estudo social.
[...] Embora com relativa dificuldade de compreensão sobre as atribuições do
Serviço Social, os defensores passaram a requisitar o trabalho do setor que passou a
realizar, além das Perícias Sociais, trabalhos socioeducativos, orientações e
encaminhamentos. A partir dos resultados iniciais do trabalho, houve aumento
considerável das demandas encaminhadas para a área, com visível necessidade de
ampliação do setor. [...] (Plano de Atuação do Serviço Social – 2011, p.10)
Salienta-se que, com o aumento das demandas encaminhadas ao serviço social, a
instituição ampliou o quadro de assistentes sociais entre os anos de 2009 a 2011. Deste modo,
foram requisitadas mais três profissionais do serviço social a outros órgãos federais. Afora, a
remoção de duas assistentes sociais do quadro de Plano Geral de Cargos do Poder Executivo
– PGPE, antes, lotadas nas unidades da DPU, respectivamente de Porto Velho e Campo
Grande. Recentemente, em maio do corrente, o serviço social ganhou novamente um reforço,
com a remoção de mais uma assistente social, antes lotada na DPU de Porto Alegre. Sendo
assim, a atual equipe, compõe-se por 07 assistentes sociais.
Do início de sua implantação até chegar à composição atual, o serviço social na
DPU, antes de legitimar-se institucionalmente enfrentou vários desafios, além de desenvolver
algumas estratégias que resultaram em conquistas e em reconhecimento. Assista alguns
pontos abordados sobre a estrutura física e recursos materiais à época.
No primeiro momento, o Serviço Social foi improvisado em uma sala conjunta, onde
também se encontrava o setor administrativo e o gabinete de um dos defensores
dividido apenas por uma parede de acesso [...]. Em casos de atendimento ao usuário,
o profissional deslocava-se até uma pequena sala próxima, onde funcionava a perícia
médica. O desconforto em adentrar em sala pertencente a outro profissional e lá
realizar entrevistas em meio ao aparato médico, foi apenas uma das limitações
vivenciadas pelo Assistente Social.‖ (MORAIS, 2012, p.70)
Diante dessa situação era inviável para o serviço social desenvolver suas ações e
atividades. Contudo, era imprescindível manter o compromisso ético-político, e resguardar o
sigilo profissional em meios aos atendimentos que se davam de modo improvisado. Além
76
disso, outro aspecto que dificultava o desenvolvimento do trabalho da única profissional
naquele período, diz respeito à falta de transporte para que a mesma pudesse se deslocar até a
casa dos assistidos e assim realizar as perícias sociais, além de ambiente de trabalho propício
para a elaboração dos laudos sociais. Isso condiz com a afirmativa de Iamamoto ―Isso
significa que o assistente social não detém todos os meios necessários para a efetivação de seu
trabalho: financeiros, técnicos e humanos necessários ao exercício profissional autônomo.‖
(IAMAMOTO, 2012, p.63)
Assim, o serviço social teve que se adaptar as condições estruturais oferecidas
pela instituição. Todavia, as dificuldades iniciais foram progressivamente sendo superadas, ao
passo que as estratégias foram se desenvolvendo, além da ampliação recursos materiais
disponíveis ao setor.
É importante ressaltar que aos longos de quase 07 anos de implantação do serviço
social na DPU-CE, verifica-se as conquistas alcançadas pela equipe, em meio à dinâmica de
intervenção institucional, além da contribuição deste setor para o desenvolvimento da
atividade fim da instituição, que é garantir a população hipossuficiente, o acesso à justiça.
Portanto, tendo em a vista a trajetória profissional do serviço social, que sempre
esteve voltada para o enfrentamento das questões sociais e como foco de seu trabalho, a
cidadania, a defesa, a luta, a preservação e a conquista de direitos das classes desfavorecidas e
subalternas. Sendo, assim este profissional inserido na divisão sócio-técnica do trabalho, não
poderia abster-se deste espaço de atuação, que permite a análise e reflexão da realidade social
da população e suas inter-relações com o sistema de acesso à justiça.
Logo, a atuação do (a) assistente social aplicado ao contexto sóciojurídico deste
campo, conforme o Plano de Atuação Profissional do Serviço Social (2011, p. 12), ―deve
pautar-se em ações de enfretamento das expressões da questão social que reverberam na vida
dos assistidos pela DPU.‖ Nesse sentido, LEHFELD destaca:
[...] se a matéria prima do trabalho são as múltiplas manifestações das questões
sociais, jurídicas e judiciais condicionadas e agravadas pelo sistema capitalista
espera-se que a prática profissional, aí apreendida, seja de enfrentamento e de
resistência, orientada, sociopoliticamente na direção da construção de uma realidade
social mais justa, com maior liberdade, maior solidariedade, acesso a direitos e
qualidade de vida. (2001, p.44)
77
Para as assistentes sociais da unidade, é imprescindível desenvolver sua
intervenção, conhecendo e problematizando o objeto de sua ação profissional através de
informações e análise consistentes, sendo assim:
[...] é exigido do profissional de Serviço Social, visão crítica da realidade, atuação
em uma perspectiva totalizante, baseada na identificação dos determinantes sociais,
econômicos e culturais das desigualdades sociais. Cabe ao assistente social
contribuir no processo de implementação de direitos contribuir no processo de
implementação de direitos sociais negados aos assistidos e realizar ações de
educação em direitos. [...] (Plano de Atuação Profissional do Serviço Social, 2011,
p.12)
Contudo, convém ainda explicitar que, essa atuação profissional, não se dá de
forma isolada, e sim compreendendo as circunstâncias institucionais e sociais na qual se
realiza. Logo, ―sua inserção na esfera do trabalho é parte de conjunto de especialidades que
são acionadas conjuntamente para a realização dos fins das instituições [...]‖ (IAMAMOTO,
2012, p.64)
Sendo assim, vale salientar que, em qualquer espaço de atuação profissional, a
instituição organiza o processo de trabalho no qual o assistente social esta inserido. Conforme
expõe Iamamoto:
Ainda que disponha de relativa autonomia na efetivação de seu trabalho, o assistente
social depende, na organização da atividade, do Estado, da empresa, entidades não-
governamentais que viabilizam aos usuários o acesso a seus serviços, forneçam
meios e recursos para sua realização, estabeleçam prioridades a serem cumpridas,
interferem na definição de papéis e funções que compõem o cotidiano do trabalho
institucional. Ora, se assim é, a instituição não é um condicionante a mais do
trabalho do assistente social. Ela organiza o processo de trabalho do qual ele
participa. (IAMAMOTO, 2012, p.63)
Muito embora o serviço social da DPU/CE disponha de relativa autonomia na
efetivação de seu trabalho, observa-se, que os profissionais dependem da Instituição para que
esta forneça os meios e recursos para a materialização de sua atividade. Desta forma, há que
se ponderar os limites e as possibilidades que envolvem os processos de trabalho no
cotidiano, do campo mencionado. São eles:
[...] Os limites dizem respeito a subordinação administrativa do setor ao Defensor
Chefe da Unidade e as possibilidades se efetivam no cotidiano do Serviço Social na
78
medida em que a área atua de forma autônoma no âmbito da profissão. (Plano de
Atuação do Serviço Social – 2011, p.13)
Embora exista uma subordinação administrativa da equipe do serviço social em
relação ao chefe da unidade, depreende-se que isso não sinaliza um obstáculo para o exercício
profissional, haja vista que, todas as ações são dialogadas e refletidas em conjunto. No que
tange as possibilidades, estas são caracterizadas a partir da atitude propositiva dessa força de
trabalho especializada, frente quadro de demandas emergentes no cotidiano.
Dentre o conjunto de atividades e ações desempenhadas cotidianamente pelas
assistentes sociais, cita-se a realização de perícias e estudos sociais, como a principal
demanda encaminhada ao setor. Todavia, a atuação da equipe na instituição é ampla, e
contempla também a elaboração e coordenação de projetos, planejamento, gestão, além de
compor equipes de atividades de integração, realiza seleção, capacitação e supervisão de
estagiários de serviço social, dentre outras requisições da instituição, prestação de assistência
por meio de atividades sócio-educativas, orientações, encaminhamentos.
Como consta no Plano de Atuação Profissional, cuja elaboração, deu-se em
consonância com o Projeto ético-político do serviço social (princípios), nos art. 4º e 5º da Lei
que regulamenta a profissão da Lei nº 8.662, de 07 de Junho de 1993, (competências e
atribuições) nos artigos 2º e 3º do Código de Ética (direitos e deveres dos/as assistentes
sociais), as atribuições e atividades desenvolvidas pela a equipe de assistentes sociais da
DPU-CE, constitui-se, prioritariamente das seguintes ações:
• Realizar Perícias Sociais encaminhadas ao setor, inclusive com realização de
visitas domiciliares e atendimentos institucionais quando necessários;
• Manter atualizado no sistema virtual e-paj, a movimentação dos processos
administrativos jurídicos; no caso dos processos físicos, protocolar no caderno de
SAÍDAS;
• Organizar em pastas os processos administrativos jurídicos físicos que estão sob
sua responsabilidade;
• Encaminhar, orientar e esclarecer os assistidos no que diz respeito a questões que
extrapolam as atribuições da DPU;
• Elaborar e executar projetos sócio-educativos relacionados a educação em direitos
da instituição;
79
• Supervisionar estágio de estudantes do Curso de Serviço Social;
• Realizar reuniões de planejamento e avaliação do Serviço Social; (Plano de
Atuação Profissional do Serviço Social, 2011, p.14)
Dentre essas ações/atividades mencionadas acima, as perícias sociais são as
solicitações mais efetuadas por parte dos Defensores Federais ao serviço social. Mas, para a
elaboração de tais perícias, envolve o uso de alguns instrumentos, a saber: estudo social,
entrevista, realização de visita domiciliar na casa do assistido e/ou atendimento individual na
própria instituição, observação e análise de documentos outros.
A DPU possui um controle virtual de todos os processos e das ações internas
institucionais. Dentro desse sistema virtual, o profissional do serviço social deverá preencher
todas as informações de acordo com a movimentação dos processos administrativos jurídicos.
Ocorre que mesmo com a virtualização dos processos, ainda há alguns processos físicos, onde
seu controle também é realizado através de cadernos de protocolo.
Em alguns casos, os usuários que buscam atendimento na DPU-CE apresentam
reivindicações que extrapolam as atribuições da DPU, nesses casos o serviço social,
encaminha o usuário a outras instâncias do Poder Público, a fim de serem atendidas suas
demandas. Nesse ínterim, cabe ainda ao profissional, orientar e esclarecer quanto aos
assistidos seus direitos.
Outra atribuição do serviço social diz respeito à elaboração e execução de projetos
sócio-educativos relacionados à educação em direitos da instituição. A exemplo, cita-se o
projeto DPU nas Escolas, que ocorre de forma multidisciplinar. E, recentemente, o serviço
social passou a colaborar com o Projeto Visita Virtual, que promove a visita de parentes e
amigos aos presos em penitenciárias federais por meio de videoconferência. Neste projeto, as
assistentes sociais recepcionam os participantes, e realizam levantamento sobre as famílias
dos presos, por meio de formulário, fornecem orientações e esclarecimentos sobre direitos.
A equipe de assistentes sociais da DPU-CE também é responsável por selecionar,
capacitar e supervisionar estagiários de curso do serviço social. Atualmente, existem quatro
80
estagiárias auxiliando os profissionais. De acordo com o Plano de Atuação profissional, os
estagiários (as) de serviço social da DPU-CE, são responsáveis por:
• Manter atualizado no sistema e-paj, a movimentação dos processos administrativos
jurídicos; no caso dos processos físicos, protocolar no caderno de SAÍDAS;
• Preparar a visita domiciliar e atendimento institucional aos assistidos;
• Participar da elaboração dos relatórios técnicos sociais resultantes do atendimento
institucional e das visitas domiciliares realizadas em conjunto com o/a supervisor/a;
• Organizar os processos administrativos jurídicos físicos que estão sob a
responsabilidade do/a supervisor/a;
• Encaminhar, orientar e esclarecer, juntamente com o/a supervisor/a do estágio, os
assistidos no que diz respeito a questões que extrapolam as atribuições da DPU;
• Manter atualizado a rede socioassistencial do município e do estado;
• Coletar informações na rede mundial de computadores sobre benefícios,legislações
sociais, MAPS e outras instituições federais, estaduais e municipais que possam
contribuir para o processo de trabalho do Serviço Social na instituição;
• Participar das reuniões de planejamento do Serviço Social;
(Plano de Atuação Profissional do Serviço Social, 2011, p. 15-16)
Esse processo de supervisão de estágios é primordial para a formação profissional
dos estudantes, e pode ser observado no empenho das profissionais em propiciar essa
aproximação entre teoria e prática.
Dentre essas ações e atividades executadas pelas profissionais e estagiárias,
convêm aqui ressaltar, as características que esta intervenção apresenta, afora, as técnicas e
instrumentais de trabalho utilizados pela equipe. De acordo com Guerra, os assistentes sociais
dão instrumentalidade às suas ações, quando modificam as condições, os meios e os
instrumentos existentes para o alcance dos objetivos profissionais, ou seja, ―Na medida em
que os profissionais utilizam, criam, adéquam as condições existentes, transformando em
meios instrumentos para a objetivação das intencionalidades. suas ações são portadoras de
instrumentalidade.‖ (GUERRA, 2000, p.2)
81
Logo, entende-se que: ―A noção estrita de instrumento como mero conjunto de
técnicas se amplia para abranger o conhecimento como um meio de trabalho, sem que esse
trabalhador especializado não consegue efetuar sua atividade ou trabalho [...]‖.(IAMAMOTO,
2012, p. 62)
Destarte, estas escolhas dependerão dos objetivos das atividades em si, da
competência técnica de cada um e das condições objetivas da organização. A perícia social é
um dos instrumentais mais utilizados pela equipe, este documento é anexado aos autos do
processo do assistido da DPU, com vistas a subsidiar a articulação da defesa do aludido,
dependendo da matéria de cada processo. Ou seja, dos processos de natureza previdenciária:
pensão por morte, auxílio doença, auxilio reclusão, aposentadoria, amparo assistencial ao
idoso ou deficiente, dentre outros. Cível: solicitação de medicamentos, cirurgias,
refinanciamento de créditos junto à Caixa Econômica Federal, etc e nas peças criminais,
sendo possível visualizar o contexto social em que o assistido está inserido.
Desta forma, semanalmente são distribuídos 2 (dois) PAJs por assistente social,
em seguida, ocorre o atendimento direto com o assistido, sendo então aplicado questionários
estruturados e semi-estruturados. Esse atendimento é realizado por meio de visita institucional
ou domiciliar que permite conhecer as condições de moradia e observar aspectos do cotidiano
do assistido. Antes de iniciar a entrevista, o profissional esclarece ao assistido todo o
procedimento técnico, assegurando-lhes o sigilo profissional e apresenta o ―Termo de
Consentimento‖, documento este utilizado para comprovar a sua devida autorização na
entrevista e que as informações prestadas deveram ser fornecidas de acordo com a realidade
vivenciada.
Após, a realização do estudo social, todas as informações declaradas pelo
assistido serão analisadas e transcritas na perícia social e por último têm-se o Parecer Social
―[...] opinião fundamentada que o assistente social emite sobre a situação social estudada‖.
(MIOTO, 2001, p.155). A despeito de todas essas técnicas, Fávero, comenta:
O estudo social, a pericia social, o laudo social e o parecer social fazem parte de
uma metodologia de trabalho de domínio específico e exclusivo do assistente social.
É o assistente social o profissional que adquiriu competência para dar visibilidade,
por meio deste estudo, às dinâmicas dos processos sociais que constituem o viver
dos sujeitos [...] (FÁVERO, 2006, p.41)
82
Portanto, tais instrumentais privativos do assistente social, expõem com riqueza
de detalhes o contexto familiar e as condições socioeconômicas, de saúde, trabalho, educação
e moradia do assistido. Essencialmente, a sua finalidade é possibilitar a interlocução do
usuário frente à instituição judiciária como forma de mediar à garantia dos direitos
estabelecidos constitucionalmente.
Ao realizar uma vista domiciliar ou entrevista institucional, é imprescindível ao
assistente social envolver a atitude investigativa, mediada pela intervenção, que só adquire
alcance social quando pautada pela interdisciplinaridade. Compartilhando desse pensamento,
Fraga, aponta alguns questionamentos na ação profissional:
Como o assistente social pode atuar se não investiga, se é um profissional que
trabalha com a viabilização dos acessos aos direitos dos usuários? Como refletir e
construir conhecimentos sem a pesquisa do cotidiano de trabalho profissional?
Como atuar efetivamente sem suporte investigativo? (FRAGA, 2010, p.42)
Por ter contato primordial ao assistido, cabe ao assistente social dá visibilidade às
suas competências especificidades. Propor além da articulação entre investigação/ação, uma
atitude interdisciplinar. Como bem refere o plano de atuação profissional, considera-se
fundamental que ação profissional ―ultrapasse o caráter emergencial, burocrático e
assistencialista na medida em que direciona suas ações pautadas em reflexões sobre as
condições sócio-históricas dos assistidos.‖ (Plano de Atuação Profissional do Serviço Social,
2011, p.12)
Como já mencionado anteriormente, a equipe do serviço social da DPU-CE
desenvolve várias ações, e mesmo tendo definido seu espaço, salienta-se que, eventualmente,
ocorrem demandas equivocadas ao setor. Sobre o assunto, o plano de atuação profissional do
serviço social, destaca:
[...] Nesse sentido, o planejamento interno do setor, o estabelecimento de protocolos
com definição do fluxo de prioridades da área e encaminhamentos necessários para
os demais serviços da instituição são fundamentais para a execução do trabalho.
(2011, p. 13)
83
Portanto, a relação entre serviço social e os demais profissionais que compõem os
nove setores da unidade, se dá de forma direta, através de trâmites virtuais e em ações
interdisciplinar. É notória a contribuição da equipe para instituição, uma vez que a dinâmica
de intervenção e as respostas dadas a população assistida, tem se mostrado cada vez mais
visível e conquistando o reconhecimento nacional.
O Corregedor da Defensoria Pública da União, Francisco Caetano Prestes,
mostrou-se muito satisfeito e destacou o serviço social como um dos pontos mais positivos.
"Não tinha visto uma estrutura assim em nenhuma outra unidade. O trabalho das assistentes
sociais facilita muito a atuação dos defensores23
".
Essa análise feita pelo corregedor da DPU corrobora para enfatizar a importância
do desempenho do serviço social para instituição. Tal estrutura descrita tem relação com o
crescente resultado positivo da equipe, com a competência profissional e recursos materiais.
Sobre os recursos materiais e estrutura física, ressaltados pelo corregedor,
salienta-se que a equipe do serviço social dispõe: 02 salas (sendo uma destinada para
atendimento social, e a segunda para equipe desenvolver seus trabalhos); 06 computadores; 06
mesas; 03 armários; 01 impressora, 01 carro à disposição para a realização de visitas
domiciliares e outras atividades da área.
Ocorre que a atuação do assistente social, já havia sido avaliada anteriormente,
nos seus aspectos estruturais, sobretudo, em suas condições de trabalho, pelo Conselho
Regional do Serviço Social – CRESS, para averiguar se estas correspondiam ao disposto no
Código de Ética.
Fortaleza, 02/09/2011 – Visita de fiscalização do Conselho Regional de Serviço
Social (CRESS) aprovou as condições do trabalho desenvolvido por assistentes
sociais na Defensoria Pública da União no Ceará (DPU/CE). Os conselheiros
elogiaram especialmente a implantação de uma sala exclusiva de atendimento para
garantir a privacidade dos assistidos e o sigilo das entrevistas [...]24
23
Informações extraídas do site: (www.dpu.gov.br) Noticia de 30/04/2012 24
Informações colhidas na Comunicação Social DPGU
84
No entanto, posterior à visita, dois meses, o Conselho Regional de Serviço Social
(CRESS), entregou ao serviço social da DPU-CE, uma certificação de cumprimento da
política nacional de fiscalização do órgão.
Fortaleza, 25/11/2011 – O Conselho Regional de Serviço Social (CRESS) entregou
à Defensoria Pública da União no Ceará uma certificação de cumprimento da
política nacional de fiscalização do órgão. O documento, resultado de visitas
promovidas na unidade em setembro deste ano, registra a ausência de
irregularidades quanto às condições éticas e técnicas de trabalho e inadimplência dos
profissionais [...]25
Diante do foi exposto, e com base em todos os aspectos que permeiam a prática
do assistente social no âmbito da DPU-CE, que tem o seu fazer dotado de capacidade técnico-
operativa, pautada no conhecimento teórico-metodológico, e com fulcro no projeto ético-
político, esse estudo corroborou para entender a importância do setor e o diferencial deste
trabalho. Portanto, ainda não se esgotando os argumentos, será abordado no próximo capítulo,
o lugar que o serviço social ocupa no âmbito da Defensoria Pública da União, a partir da
análise dos/as profissionais que compõem a mesma.
25
Informações colhidas na Comunicação Social DPGU
85
CAPÍTULO 3 - PRODUZINDO CONHECIMENTO NA DPU-CE
ATRAVÉS DO SERVIÇO SOCIAL
Este último capítulo caracteriza o ápice da pesquisa e consagra os resultados face
às indagações levantadas no corpo deste trabalho. Inicialmente aponta-se os caminhos
percorridos para alcance dos resultados, sua organização e orientações devidas, chegando a
uma reflexão qualitativa embasadas nos autores estudados. Para finalizar, apresenta-
sealgumas considerações conclusivas, bem como algumas sugestões a cerca da temática
estudada, partindo das reflexões realizadas na trajetória desse estudo.
3.1- PERCURSO METOLÓGICO
Consoante afirma Minayo ―[...] a escolha de um tema não emerge
espontaneamente, da mesma forma que o conhecimento não é espontâneo. Surge de interesses
e circunstâncias socialmente condicionadas [...]‖ (1994, p.11) Portanto, refletindo a relevância
do trabalho dos (as) assistentes sociais inseridos na DPU-CE, sentiu-se a necessidade de
explorar essa temática, sobretudo, perpassá-la pelo o olhar de quem lida cotidianamente com
essa prática, para assim entender o processo de legitimação e reconhecimento profissional.
No entanto, considerando que ―[...] nada pode ser intelectualmente um problema,
se não tiver sido, em primeiro lugar um problema da vida prática‖. Entende-se, que o objeto
de estudo é essencialmente e primeiramente um ―problema da vida prática, ou do cotidiano de
trabalho dos Assistentes Sociais‖. (Minayo, 1994, p.17)
Deste modo, a motivação da pesquisa foi impulsionada, quando ocorreu uma
mudança no sistema de informações (interno/administrativo) da instituição. Esta mudança
acarretou uma reformulação nas pastas virtuais de cada setor, deste modo o serviço social que
antes possui uma pasta independente passou a ser agrupado dentro da pasta ―outros serviços‖.
Logo, vislumbrou-se a necessidade de considerara relação que o serviço social
tem com os outros profissionais de nível superior da DPU-CE, sobretudo, porque nos últimos
anos tem se revelado uma ampliação da atuação do serviço social na referida instituição.
86
Além disso, a investigação partiu do pressuposto de analisar o fazer profissional não
considerando uma prática isolada, mas que compreende as circunstâncias institucionais e
sociais na qual se realiza.
Consoante expõe Martinelli (1999, p.13), discutir a prática social traz, hoje, como
exigência à discussão não só da identidade dessa prática, mas do contexto onde se realiza, de
suas articulações e finalidades. Não podemos pensar nas práticas sociais como práticas
universais abstratas, que caibam em qualquer contexto, que respondam a qualquer problema.
―As práticas são eminentemente construções sócio-políticas, são eminentemente históricas.
[...]‖.
Nesse sentido, ao investigar a atuação do (a) assistente social na DPU-CE, que
não ocorre de forma isolada, mas sim no quadro de apoio aos Defensores Públicos Federais,
dará ênfase as estratégias de intervenção e reconhecimento institucional, corroborando para
que as demais unidades das Defensorias Públicas da União, em todo Brasil, que ainda não tem
implantado em seu quadro este profissional, visualize o trabalho das assistentes sociais na
unidade do Ceará, e assim, possam subsidiar elementos que demonstrem a relevância da
atuação deste setor.
Portanto, a investigação foi norteada pelo método dialético, compreendendo que o
mesmo, favorece uma aproximação com a dinamicidade e o movimento do real, permitindo
uma reflexão em que diversos elementos dialagom entre si, numa perspectiva de totalidade.
Conforme Demo, a dialética seria a "[...] metodologia específica das ciências sociais, porque
vê na história não somente o fluxo das coisas, mas igualmente a principal origem explicativa.‖
(Demo, 1987, p.21). Minayo, colabora, ressaltando que o método dialético:
[...] esforça-se para entender o processo histórico no seu dinamismo, provisoriedade
e transformação. Busca apreender a prática social empírica dos indivíduos em
sociedade (nos grupos e classes sociais), e realizar a crítica das ideologias, isto é, do
embrincamento do sujeito e do objeto, ambos históricos e comprometidos com os
interesses e as lutas sociais de seu tempo. (MINAYAO, 2004, p.65)
Além disso,o presente estudo foi embasado na análise da pesquisa qualitativa. De
acordo com Goldemberg:
87
[,,,] os métodos qualitativos poderão observar, diretamente, como cada indivíduo,
grupo ou instituição experimenta, concretamente, a realidade pesquisada. A pesquisa
qualitativa é útil para identificar conceitos e variáveis relevantes de situações que
podem ser estudadas quantitativamente. (GOLDEMBERG, 1997, p.63).
A pesquisa qualitativa, segundo Minayo (2012, p.21) ―responde a questões muito
particulares. Ela ocupa, nas Ciências Sociais, com um nível de realidade que não poderia ser
quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo dos significados, das crenças, dos valores e
das atitudes [...].‖
Na concepção de Martinelli:
[...] no que se refere as pesquisas qualitativas, é indispensável ter em presente que,
muito mais do que descrever um objetivo, buscam conhecer trajetórias de vida,
experiêcias sociais dos sujeitos, o que exige uma grande disponibilidade do
pesquisador e um real interesse em vivenciar a experiência da pesquisa. Uma
consideração importante nesse sentido é que a pesquisa qualitativa é, de modo geral,
participante, nós também somos sujeitos da pesquisa. (1999, p.25)
Ocorre que inicialmente, realizou-se uma profunda pesquisa bibliográfica e
documental, tendo em vista que ambas assemelham-se, pois segundo Gil:
[...] a única diferença entre ambas está na natureza das fontes. Enquanto a pesquisa
bibliográfica se utiliza fundamentelmente das contribuições dos diversos autores
sobre determinado assunto, a pesquisadocumental vale-se de materiais que não
receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetivos da pesquisa. (2008, p.6).
Entretanto, isso permite a pesquisadora analisar em profundidade cada
informação, e selecionar criteriosamente fatos que possam enriquecer ainda mais o conteúdo
da pesquisa. Sobre esse processo de construção teórica é válido mencionar González Rey, ao
referir-se que não é um propósito que se alcança de forma imediata, e por isso sinaliza:
[...] Eu diria que a teoria é o resultado de um caminho próprio o qual, apesar de
inspirado na riqueza e na diversidade da cultura científica, é capaz de acompanhar os
diferentes momentos de sua história e produzir um modelo a partir daquilo que é
mais significativo nessa história. [...] (2010, p.34 - 35)
88
No intuito de fundamentar a pesquisa social realizou-se uma revisão de literatura
dos autores Martinelli (1999), Gil (2004), Minayo (2004 e 2012), Gonzalez Rey (2010),
Demo (1987), Tomar (2007), Goldenberg (1997) e Triviños (1987).
A pesquisa bibliográfica ocorreu através do estudo de obras e realização de leitura
de autores como: Iamamoto (1990, 1992, 2012), Netto (2001, 2011), Martinelli (2010),
Aguiar, (1995), Yazbek (2009), Paiva e Sales, (2006), Fraga (2009) Torres (2007), Barroco
(2012), Guindani (2001), Fávero (2006), Chuairi (2001), Mioto (2001), Menezes (2009),
Souza (2003), Sadek (2001), Lehfeld (2001) Kosmann (2009), Raichelis (2009), Nicolau
(1999), Guerra (2000) dentre outros, cuja temática de trabalho referem-se às categorias de
interesse da pesquisa como, "a evolução do serviço social; atribuições e competências do
serviço social; o serviço social aplicado ao sóciojurídico; a história da Defensoria Pública da
União no Brasil e Ceará, assistência jurídica, dentre outros‖, visitando e revisitando os
mesmos.
Somam-se a isso, legislações concernentes ao Serviço Social, como a Lei nº 8.662
de 1993, que regulamenta a profissão, e o Código de Ética, que juntamente com outras
referências materializam o projeto ético-político da profissão. Sobre a organização da
Defensoria Pública no Brasil, utilizou como referência a Constituição Federal de 1988, Lei
Complementar nº 80, de 1994, Lei Complementar nº132, de 2009 e Legislação Correlata e
Cartilhas Informativas da DPU.
Cita-se ainda, a pesquisa eletrônica, de total relevância, tendo em vista, a
dificuldade para encontrar estudos e informações no campo sóciojurídico e história da DPU
no Brasil. Realizou-se pesquisa em alguns sites/páginas da internet, dos quais tivesse acesso a
artigos ou notícias relacionadas à temática, dentre outras referencias.
No que diz respeito ao campo da pesquisa, na abordagem qualitativa, significa ―o
recorte espacial que diz respeito à abrangencia, em termos empíricos, do recorte teórico
correspondente ao objeto da investigação (MINAYO, 2012, p.62).‖
Além disso, a mesma autora afirma que ―essa fase combina instrumentos de
observação, entrevistas ou outras modalidades de material documental e outros. Ela realiza
89
um momento relacional e prático de fundamental importância exploratória, de confirmação e
refutação de hipóteses e de construção de teoria‖ (MINAYO, 2012, p.26).
Nessa mesma perspectiva, sobre a relação empírico e teoria, González Rey,
reforça:
[...] O empírico representa o momento em que a teoria se confronta com a realidade,
sendo representada pela informação que resulta dessa confrontação com a realidade,
sendo representada pela informação que resulta dessa confrontação, e que
desenvolve por diferentes vias. Assim, o empírico é inseparável do teórico, é um
momento de seu desenvolvimento e organização, inclusive, a informação da
realidade que entra em contradição com teórico e que permite sua extensão e
crescimento é, por sua vez, sensível ao registro teórico, pois a teoria o permite [...]
(2010, p. 30-31)
O campo da pesquisa, apresenta-se como uma etapa fundamental da investigação
cientifica, através da qual se buscará respostas aos questionamentos e compreensão das
questões abordadas. Por isso, González Rey (2010), argumenta a cerca das construções sobre
o campo durante o processo de pesquisa na metodologia, e salienta que devemos estar
conscientes que a pesquisa de campo sempre abre um campo de informações e idéias mais
rico que a própria teoria. Observe:
[...] as construções sobre o campo durante o processo de pesquisa são essenciais para
a metodologia qualitativa; isso não requer, no entanto, o abandono de teorias a
priori, pois o pesquisador é teórico em sua própria organização subjetiva enquanto
sujeito da pesquisa, ao carregar um repertório de representações e de sentidos
subjetivos que, com freqüência inconscientes, expressam uma memória teórica,
enquanto princípio de valor heurístico para a construção da experiência. Do que se
trata é de não confundir os níveis de produção de conhecimento explicitados acima e
de estar consciente de que toda pesquisa abre um campo de informações e de idéias
mais rico que qualquer teoria. (2010, p.35)
Como, a pesquisa de campo caracteriza-se por ser o ápice do estudo, com a
delimitação do espaço geográfico para coleta de dados, têm-se a Defensoria Pública da União
no Estado do Ceará-DPU26
, uma escolha pautada não somente por ser estagiária do órgão,
mas principalmente, pelas características peculiares da instituição, por ser uma instituição
26
A Defensoria Pública da União no Ceará localiza-se na Rua Costa Barros, nº. 1227 – Aldeota - Fortaleza-CE.
90
ainda desconhecida por grande parcela da população, além de demarcar um novo espaço de
atuação sócio-ocupacional do serviço social.
Ocorre que para adentrar no campo da pesquisa, necessitou do consentimento da
Instituição, para realizar o estudo através de entrevistas semi-estruturadas, assim como ter
acesso aos documentos e dados institucionais. Desta forma, elaborou-se um documento
solicitando autorização para entrada na Defensoria Pública da União no Ceará, cujo modelo
encontra-se no apêndice e sua devida autorização para realização da mesma.
Cabe ressaltar, que entre as técnicas e métodos da pesquisa qualitativa, optou-se
pela aplicação de entrevistas semi-estruturadas. ―(...) a entrevista semi-estruturada na pesquisa
qualitativa reúne condições que a individualizaram em relação à entrevista não-diretiva e à
entrevista padronizada ou estruturada.‖ (TRIVIÑOS, 1987, p.52)
Além disso, a entrevista semi-estruturadas ―combinam perguntas fechadas e
abertas, em que o entrevistado tem a possibilidade de discorrer sobre o tema em questão sem
se prender à indagação formulada‖ (MINAYO, 2012, p.64).
Mas, em geral, a entrevista seguiu o que se encontrava planejado. As principais
vantagens das entrevistas semi-estruturadas são as seguintes: possibilidade de acesso à
informação além do que se listou; esclarecer aspectos da entrevista: pontos de vista diversos,
orientações e hipóteses para o aprofundamento da investigação e definição de novas
estratégias e outros instrumentos (TOMAR, 2007).
Deste modo, Minayo (2012, p. 67-68) afirma que no caso da pesquisa qualitativa
(...) ―é fundamental o envolvimento do entrevistado com o entrevistador. Em lugar dessa
atitude se constituir numa falha ou num risco comprometedor da objetividade, ela é a
condição de aprofundamento da investigação e da própria objetividade‖.
No que concerne às anotações de campo, (TRIVIÑOS, 1987, p. 154), aduz que,
―na pesquisa qualitativa, o registrado das informações representa um processo complexo, não
exclusivamente pela importância que esse tipo de investigação adquire o sujeito e o
investigador, mas também pelas dimensões explicativas que os dados podem exigir.‖ Por isso,
o mesmo autor reforça a importância da descrição dos diálogos.
91
É preferível, em todas as circunstâncias, que o pesquisador opte pela gravação das
entrevistas ou de algum diálogo que escuta que se considera importante para a
investigação. Às vezes ocorre, não obstante isso, que não existe a oportunidade de
realizar a gravação do diálogo. Nessa circunstância, o investigador deve procurar
reproduzir em suas anotações, da maneira mais exata possível, todo o
desenvolvimento da conversação, indicando, individualizando as participantes.
(TRIVIÑOS, 1987, p. 154)
Com relação ao momento da entrevista, também observou-se algumas regras,
apontadas por (TRIVIÑOS) como sendo essenciais:
Em primeiro lugar, o investigador não pode distrair-se. Em todo momento, deve
estar atento ao que o sujeito diz ou faz. Em segundo lugar, não é possível conceber
um pesquisador que realize a tentativa de corrigir as respostas do sujeito, em sua
forma e em seu fundo, em seu conteúdo. Mas deve rapidamente solicitar
esclarecimento frente a respostas ambíguas. Em seguida, é negativa a tendência do
investigador que pretenda contemplar as opiniões do sujeito. Num momento dado, o
indivíduo detém o fluxo de seu pensamento, fica em dúvida, e algum pesquisador
pode ajudá-lo e completar idéias. (1987, p. 169)
Ao delinear os sujeitos da pesquisa, fez-se necessário, identificar quais setores que
mais encaminham demandas ao serviço social da DPU-CE. Considerando, como já
mencionado anteriormente que, as demandas encaminhadas ao serviço social da DPU/CE
constituem-se prioritariamente na realização de perícias e estudos sociais, grande parte em
caráter de urgência, solicitados por Defensores Federais.
Sendo 14 o número de Defensores distribuídos nos Ofícios: Previdenciário, Civil,
Criminal e Geral, optou-se, neste caso por entrevistar 01 Defensor de cada ofício, uma vez
que as ações judiciais se diferenciam. Com exceção apenas do ofício Geral-Regional que não
encaminha demandas ao serviço social, de forma contínua ou sistemática, como os outros o
fazem. Deste modo, utilizou-se como critério para eleger os entrevistados, o coordenador de
cada ofício, caracterizando assim, a imparcialidade e a representação por área de atuação.
Contudo, de acordo com a divisão dos demais setores do núcleo da DPU-CE, que
são: secretaria jurídica, secretaria administrativa, atendimento ao público, área de
comunicação, biblioteca, contadoria, apoio, serviço social e sociologia, optou-se pela
aplicação de entrevistas semi-estruturadas, com o coordenador de área de cada setor. Sendo
92
assim, foram entrevistados o coordenador do atendimento, da secretária jurídica, uma analista
do ofício previdenciário, uma analista do ofício cível. Todavia, a profissional analista do
ofício regional, recusou-se a participar da entrevista, sob alegativa que, não há trâmites
processuais entre o setor em que a mesma atua com o Serviço Social. Totalizando-se assim, o
número de entrevistados em 07 profissionais.
A escolha dos entrevistados foi definida, também, considerando o fato de que, em
alguns momentos ocorrem demandas equivocadas ao serviço social, o que demonstra a falta
de clareza dos outros setores sobre serviço social e sobre suas reais atribuições e
competências.
Ressalta-se que foram respeitadas as questões éticas da pesquisa social e antes de
iniciar os trabalhos juntos aos profissionais, foram fornecidas todas as informações sobre a
pesquisa a fim de que os mesmos pudessem ter clareza e tranqüilidade para decidir se deviam
ou não aceitar o convite.
Nos casos dos convites que foram aceitos, os (as) entrevistados (as) formalizaram
sua participação através de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, onde o mesmo
esclarecia os objetivos da pesquisa, resguardando as identidades dos entrevistados (as), sendo
realizada a troca dos nomes verdadeiros dos (as) entrevistados (as) por números. Todas as
entrevistas foram gravadas, sendo posteriormente transcritas para realização de suasdevidas
análises.
No que concerne a análise do conteúdo, esta abrange as seguintes etapas: ―pré-
análise, exploração do material e tratamento dos resultados/ Interferência/Interpretação‖
(MINAYO, 2012, p. 75-76). Os dados da pesquisa foram trabalhados a partir dos
procedimentos para análise do conteúdo enquanto técnica de investigação.
Com a análise de conteúdo, pode-se atingir um nível mais aprofundado,
desmontar a estrutura e os elementos para esclarecer suas diferentes características e extrair
sua significação, através da comparação, avaliação, reconhecimento do essencial em torno das
idéias principais. (MINAYO, 2012)
93
A pesquisa de campo foi compreendida entre os meses de abril e maio do corrente
ano, sob orientação da professora. Ocorreram nesse percurso alguns desafios a serem
vencidos, no que diz respeito principalmente a espera para se agendar as entrevistas, afora, o
tempo disponibilizado durante a aplicação das mesmas, tendo em vista, que as referidas
deram-se no horário de expediente. Um dos pontos positivos a ser destacados, diz respeito a
instituição fornecer seu acervo bibliotecário para consultas, facilitando assim a produção
teórica da pesquisa. Além do apoio e incetivo das profissionais do serviço social para que a
pesquisa se concretizasse.
3.2 – Analisando e produzindo dados
Consoante as explicações de Rey, toda pesquisa se diferencia e possui um sentido
novo, sobretudo, porque o olhar que é lançado sobre o objeto pesquisado e seus recortes, irão
definir essa distinção. Sendo assim, muito embora, o campo da pesquisa, seja uma instituição,
que constantemente vem sendo alvo de estudos e pesquisas, a delimitação do objeto
apresenta-se como o diferencial, embasadas pelas informações empíricas.
Toda pesquisa empírica pode ser fonte de vários modelos teóricos, cuja legitimidade
não será dada pela evidência imediata da superioridade de um sobre os outros, mas
pela capacidade que terão para manter sua viabilidade e seu desenvolvimento diante
de novos sistemas de informação empírica, bem como diante de novos modelos
teóricos com capacidades diferenciadas para dar sentido a qualidades distintas sobre
o estudado. (REY, 2010, p. 119)
Portanto, a proposta de discussão sobre o trabalho desenvolvido pelas assistentes
sociais da DPU-CE, é instigante, pois, configura-se como uma prática fundamental no campo
sóciojurídico. Uma vez que, as profissionais inseridas nesse espaço sócio-ocupacional, atuam
nas manifestações da questão social, em sua interseção com o Direito e a justiça na sociedade.
Segundo Kosmann (2009, p. 311) ―é fundamental registrar que debates e reflexões
em torno da prática do assistente social no campo sóciojurídico vêm-se fazendo presente com
mais notoriedade nos últimos anos [...]‖.
94
Destarte, este estudo possibilitou identificar e reconhecer alguns aspectos que são
constitutivos do fazer profissional, assim como as implicações e possibilidades de trabalho, do
conjunto de demandas, contribuição e relevância para área de atuação.
Como vimos no tópico 1.3, o serviço social, vem sendo uma profissão requisitada
no campo sóciojurídico. Além disto, verifica-se que tais práticas, inicialmente, foram
demandadas e introduzidas formalmente no Juizado de Menores no final da década de 1940 e
início dos anos 1950. Todavia, com o passar dos anos foi acentuadamente ampliando e
consolidando, sua inserção no meio, para atuar emequipe multidisciplinar junto ao Poder
Judiciário e outras instâncias, inclui-se nesse meio as Defensorias Públicas.
Segundo Fávero (2006) o campo sóciojurídico refere-se ao conjunto de áreas nas
quais as ações interventivas do Serviço Social articula-se a outras ações de natureza jurídica,
tais como o sistema penitenciário, o sistema judiciário, as defensorias públicas, entre outros.
Tendo em vista, o relevante papel que é desempenhado pela Defensoria Pública da
União, já mencionados nos tópicos 2.1 e 2.2 do segundo capítulo, sentiu-se a necessidade
compreender o lugar que o Serviço Social ocupa no âmbito desta instituição, a partir da
análise dos (as) profissionais que compõem a referida.
O trabalho do assistente social nestes serviços se caracteriza por uma prática de
operacionalização de direitos, de compreensão dos problemas sociais enfrentados
pelos sujeitos no seu cotidiano e suas inter-relações com o sistema de justiça. Além
disso, esse profissional permite a reflexão e a análise da realidade social da
população, da efetividade das leis e de direitos na sociedade, possibilitando o
desenvolvimento de ações que ampliem o alcance dos direitos humanos e a eficácia
da ordem jurídica em nossa sociedade. (CHUAIRI, 2001, p.139)
A partir da relação do serviço social com os demais setores da instituição
verificamos a atitude interdisciplinar e os processos recíprocos no contexto das relações
sociais e interpessoais. Sendo assim, o trabalho em equipes compostas por profissionais de
diferentes áreas do saber dispõem de seus conhecimentos em função de objetivos comuns e
conjugam suas propostas profissionais em função da viabilização do acesso à justiça.
Corroborando com as colocações de Iamamoto (2012, p. 352), o profissional do
serviço social ―ingressa nas instituições empregadoras como parte de um coletivo de
95
trabalhadores que implementa ações institucionais [...] cujo resultado final é fruto de um
trabalho combinado ou cooperativo, que assume perfis diferenciados [...]‖ .
Com base nessas observações, da autora elaborou-se a seguinte pergunta aos
entrevistados: Existe vinculação entre o setor em que você faz parte com o setor de serviço
social? A referida pergunta deu-se no sentido de identificar como se estabelecem as relações
sociais e interpessoais entre o serviço social e os demais setores e assim aferir se os mesmos
percebem a autonomia do fazer profissional da equipe de assistentes sociais.
Ressalta-se que na maioria das respostas apresentadas pelos entrevistados, houve
uma predominância dos referidos profissionais aduzirem que existe vinculação entre o setor
em que atuam com o serviço social.
Eu acho que o serviço social tem vinculação com todos os outros setores, né!
Porque, por exemplo, eu quando tô instruindo e até auxiliando os defensores, a gente
manda demais pedidos para que sejam feitos a visitas, seja feito o relatório social,
então, a gente tem muito essa conexão com o serviço social. (Entrevistado – 06)
No entanto, essa afirmativa pode ser justificada em razão dos parâmetros
institucionais, haja vista que, as atividades desenvolvidas em todos os setores convergirem
para consecução da mesma finalidade.
Eu acredito que seja uma vinculação que tem ser forte, né?! Porque, são dois setores
que tratam diretamente com os assistidos. A gente de forma mais formal, menos
pessoal, tenta dá encaminhamento aos problemas que os assistidos nos trazem e eu
acredito que vocês de uma forma pessoal mais próxima tentam estender o serviço
que a gente oferece aqui que é de assistência jurídica, considerando que seja uma
extensão maior visando pro social mesmo. Resolver problemas outrem que vão além
dos problemas que podem ser resolvido na vida social. Há uma vinculação de fins
das duas atuações, apesar de não ter uma integração tão efetiva. Mas eu acredito que
uma é a extensão da outra. Uma não consegue viver sem a atuação do outro. Então
acredito que a vinculação é muito forte. (Entrevistado – 01)
Analisando a fala dos ―entrevistados – 01 e 06‖, percebe-se uma incompreensão
por parte dos mesmos. Observe, que no contexto institucional no qual o serviço social está
inserido, não há vinculação com nenhum outro setor, pois a equipe atua de maneira autônoma.
Neste espaço sócio-ocupacional a vinculação do serviço social é dada de maneira direta ao
Órgão, assim como os demais setores.
96
Observe que o ―entrevistado – 07‖, compreendeu que a atuação do serviço social,
dá-se de forma autônoma, ou seja, sem vinculação aos demais setores, sendo sua vinculação
ao órgão. Portanto, este último entrevistado expôs que há uma integração dos profissionais de
modo que cada um dentro da sua competência, realiza sua função social completando a de
outros profissionais para alcançar o êxito da instituição.
Eu diria que há uma ligação com o trabalho, mas, não seria vinculação, não! O
serviço social não é vinculado a nenhum ofício da defensoria. Eu vejo o serviço
social e as outras áreas afins da defensoria como uma forma de colaboração a
atividade fim, então, elas colaboram dentro dessa perspectiva de assistência jurídica
integral e gratuita aos assistidos, assim como o serviço médico, o sociólogo,
contadoria e tantos outros com medidas colaborativas. É uma via de colaboração, em
termos não tem ligação. Porque ligação pressupõe como se fosse uma subordinação.
E na verdade é uma medida de colaboração. O serviço social desempenha uma
atividade autônoma, sem tá vinculado a nenhum setor. O serviço social é vinculado
à instituição Defensoria Pública da União na perspectiva da assistência jurídica, que
é a atividade fim da instituição. A atividade fim da defensoria é prestar assistência
jurídica integral e gratuita, para chegar a isso eu vou ter diversos ramos de
conhecimento que vão colaborar para a prestação dessa assistência. (Entrevistado –
07)
Segundo Raichelis (2009), cada vez mais, tem se mostrado evidente e necessária a
atuação do assistente social nas atividades sóciojurídicas, trabalho este que se dá de forma
compartilhada com profissionais de outras áreas. Muito embora, tais atividades demandem
novas exigências ao exercício profissional dos assistentes sociais, a autora argumenta que:
Ao contrário do que muitas vezes se considera, o trabalho interdisciplinar demanda a
capacidade de expor com clareza os ângulos particulares de análise e propostas de
ações diante dos objetivos comuns a diferentes profissões, cada uma delas buscando
colaborar a partir dos conhecimentos e saberes desenvolvidos e acumulados pelas
áreas. (RAICHELIS, 2009, p. 389)
Nesse sentido, entende-se na fala do entrevistado que atuação das assistentes
sociais é facilmente reconhecida em sua relação estabelecida junto aos demais setores e
profissionais de outras áreas, sobretudo, em razão dessa ação profissional incidir diretamente
sobre a atividade fim da instituição. Logo, vislumbramos que a consecução de um trabalho
interdisciplinar e intersetorial, com o envolvimento de profissionais de áreas especializadas,
neste caso em tela, o assistente social, se torna fundamental e estratégico para favorecer uma
maior eficácia à ordem jurídica.
97
Deste modo, indagou-se aos entrevistados: ―Qual importância é atribuída ao
serviço social para viabilizar a concretização da atividade fim da DPU-CE?‖
O papel da defensoria qual é? É incluir aquela pessoa que está alienada dos seus
direitos, na esfera do direito. É incluí-la dentro de uma esfera que o direito a protege.
Então, a forma com o Serviço Social, lida com essa concretização, é exatamente,
juntar esse trabalho que é essencialmente jurídico ao trabalho essencialmente social.
Né! Eu acredito que esse trabalho seja bem mais próximo. Uma vez que, o aspecto
jurídico é um pouco distante. Muitas vezes os assistidos não têm um contato direto
com o defensor. Não tem um contato direto com o juiz. Portanto, o Serviço Social é
um braço que se estende da defensoria para tocar o assistido no âmbito social e tirá-
los de uma situação de alienação para uma situação em que ele tenha noção dos
direitos. De assistir e usar efetivamente nos direitos que ele tenha a disposição dele,
o estado. (Entrevistado - 01)
De pronto, evidenciou na fala do entrevistado que, a Defensoria Pública da União,
não somente restringindo-se a unidade do Ceará, necessita em seu quadro de servidores a
inserção do profissional assistente social. Sobre esse aspecto cabe então, duas ressalvas:
1) A assistência jurídica integral e gratuita prestada pelo Órgão é destinada a cidadãos
economicamente hipossuficientes, Além disto, o serviço da instituição também abrange,
informação e orientação jurídica, representação perante órgãos públicos e, principalmente o
acesso à Justiça, tanto na propositura de ações como na defesa desse cidadão.
2) A DPU tem como proposta, o desenvolvimento do trabalho interdisciplinar, entendido
como uma proposta que exige dos envolvidos um compromisso no sentido de unificação do
saber, mediante a contribuição de cada área, no intuito de assessorar e subsidiar as demandas
que cada vez mais apresentam novas necessidades sociais.
Com isso, visualiza-se, a importância do serviço de assistência jurídico prestada
pela DPU à sociedade, revelando a compatibilidade das intervenções sociais executadas pelo
Serviço Social, e a existência de demandas que apontam a utilidade do profissional, para
auxiliar na busca e garantia dos direitos sociais pleiteados pelos assistidos.
O trabalho das assistentes sociais contribui muito para o serviço da defensoria. Sem
o Serviço Social o funcionamento interno seria bastante prejudicado. Eu acho que a
gente tem é que explorar mais! Os defensores teriam que explorar mais o trabalho do
serviço social nas diversas camadas. Eu já trabalhei em outra unidade, na DPU do
Rio Grande do Norte, e lá não tinha assistentes sociais. Com o laudo do assistente
social, você consegue passar para o juiz, (ó excelência... aqui está o grau de
98
miserabilidade do assistido). Porque sem o assistente social, prejudica muito o
trabalho da defensoria. Hoje você tem uma prova do estado probatório pra levar para
o magistrado. O Serviço Social é área próxima da instituição, que melhora muito o
trabalho da defensoria. (Entrevistado - 07)
Nas narrativas, constata-se que prática exercida pelos profissionais de serviço
social da instituição, tem obtido excelentes resultados e cuja repercussão tem sido bastante
satisfatória. Desta feita, a conquista de ações julgados procedentes, em que as perícias sociais
mostraram-se determinantes para a obtenção destes resultados, tem despertado interesse em
todos os Ofícios, que a cada dia passam a requisitar ainda mais a intervenção do serviço
social.
―Com certeza tem importância para obter sucesso numa sentença, numa decisão.
Pelo fato que, o juiz muitas vezes indefere uma tutela antecipada a gente pedindo
uma ação de medicamentos quando não tem um relatório social, uma perícia social.
Muitas vezes, quando o Defensor decide não esperar, o relatório social e já propõe
logo a ação, posteriormente, ele fala que a gente não conseguiu demonstrar a
condição financeira do assistido. Então, muitas vezes é mais válido esperar pra
entrar com uma ação, quando se tem um parecer social, porque que a decisão
judicial seja favorável.‖ (Sujeito – 06)
Outrossim, vimos no tópico 2.3, que o serviço social institui-se na Defensoria
Pública da União no Ceará, no ano de 2006. Conforme mencionado neste tópico, percebeu-se
que, à época, havia relativa dificuldade de compreensão sobre as atribuições e competências
do Serviço Social. Deste modo, inicialmente, realizou-se a seguinte pergunta aos sujeitos da
pesquisa: O que você compreende por serviço social? As respostas foram muito
diversificadas, predominando aquela em que o profissional apresentou idéia confusa entre o
―serviço social‖ e o profissional ―assistente social‖. Ou até referencia as atividades que estão
relacionadas ao Serviço Social. Veja-se: ―Eu entendo que é uma área que cuida basicamente
de pensar em assistência. Quando se dá assistência, em analisar a rede de assistência, local de
trabalho seja por parte do estado, seja por partes das ONGs. É responsável por fazer essa
ponte.‖ (Entrevistado - 02)
A concepção muitas vezes equivocada da profissão, ou até mesmo a idéia confusa
entre o ―serviço social‖ e o profissional ―assistente social‖, pode ser explicada pela própria
trajetória sócio-histórica da profissão. Observe a fala do entrevistado: ―De uma forma geral eu
99
acho que é um setor, um setor não, né...! É uma função responsável para dá uma assistência as
pessoas, no sentido, das condições sociais e pessoais da pessoa, num contexto cultural e social
mesmo.‖ (Entrevistado - 05)
Segundo Ortiz (2007, p.123) ―o Serviço Social brasileiro dispõe de uma particular
imagem socialmente reconhecida, pautada em traços oriundos de sua trajetória sócio-
histórica.‖ Aludida justificativa perpassa, por idéias preconcebidas sobre a profissão, em
razão destes contornos históricos em que emergiu o serviço social.
As mudanças na concepção que se tem da profissão de assistente social são
conseqüências de processos históricos, e dependem do significado social que se
atribui à profissão, que é fruto de movimentos da categoria e também da sua relação
com a dinâmica e o desenvolvimento do conjunto da sociedade. [...] (Fraga, 2010, p.
43)
Em voga, observa-se também nas falas dos entrevistados, o reconhecimento do
Serviço Social como uma profissão de prática interventiva, que utiliza-se de outras ciências
para fundamentar seu conteúdo teórico.
Ah... Eu compreendo como ciência, vamos falar assim, que consegue dialogar.
Preparado! Estudado! Lê-se muito para conseguir dialogar com diversas realidades,
sejam elas, vamos dizer assim, estruturadas ou não, sejam elas postas ou não,
visíveis ou invisíveis, né! Eu confundo muito o serviço social com o profissional do
serviço social. Eu vejo que é aquele profissional que recebe muito conteúdo e
diverso, inclusive, para conseguir entender essas múltiplas realidades que eu tô
colocando. Algumas nem sempre perceptíveis no primeiro olhar, né! E, é isso que eu
vejo. O serviço social como esse elemento de entendimento da realidade de
articulação dessa realidade com as idéias que se fazem sobre elas. (Entrevistado -
04)
Portanto, a idéia confusa do entrevistado, pode ser explicada, conforme dito
anteriormente, em razão do serviço social utilizar-se de ciências como a sociologia,
antropologia, psicologia, economia para fundamentar seu conteúdo teórico. E, em virtude dos
assistentes sociais exercerem uma prática por meio de dupla dimensão que se relacionam,
(interventiva e investigativa), corroborada pela utilização da pesquisa e análise da realidade
social. Consoante afirma Fraga:
[...] o Serviço Social é uma profissão investigativa e interventiva. Portanto, as
análises de seus estudos e pesquisas precisam ser realizadas a partir de situações
100
concretas e possuir utilidade social, não interessando o conhecimento realizado
apenas como finalidade descritiva e contemplativa. [...] (2010, p.46)
Quanto à questão específica do conjunto de atividades e ações desempenhadas
cotidianamente pelas Assistentes Sociais, observou-se no tópico 2.3, que a realização de
perícias e estudos sociais, caracteriza-se como a demanda mais expressiva encaminhada ao
serviço social da DPU-CE. Tais solicitações por perícias sociais são em sua maioria,
requisitadas pelos Defensores Públicos Federais da unidade, geralmente em caráter em
urgência, quando estes, necessitam avaliar o grau de miserabilidade dos assistidos que buscam
apoio jurídico do Órgão. Além disso, as perícias sociais fornecem elementos fáticos para
subsidiar a articulação da defesa do assistido, ora executada pelo Defensor.
Para Mioto (2001, p. 146) através da perícia social, o assistente social, ―realiza o
exame de situações sociais com a finalidade de emitir parecer sobre a mesma.‖ No entanto,
com vistas, a uma melhor compreensão da forma como se dão esses encaminhamentos e
demandas ao serviço social, elaborou-se a seguinte pergunta aos entrevistados da pesquisa:
―Que tipos de demandas são direcionadas ao serviço social por parte do setor em que você
atua?‖
Aqui nos Ofícios Previdenciários, as principais demandas que encaminhamos ao
serviço social são decorrentes do beneficio assistencial BCP, tanto ao idoso como ao
deficiente. Principalmente, para avaliar a miserabilidade, a questão da renda.
Inclusive, tem se repassado essa demanda, devido, a grande quantidade de
processos. O serviço social, por sua vez, tem respondido bem. Mas, como não há
condição de fazer o relatório social em todos os casos, é apresentada uma proposta
de fazer um apoio, um acompanhamento da renda, pelo menos na hora em que tem
que preencher a declaração de composição e renda familiar. Isso já facilita bastante
o trabalho da gente, porque muitas vezes, os assistidos vão preencher a declaração
de composição e acabam não colocando de forma correta, ou então, só o fato de ter
uma assistente social de plantão como foi colocado no projeto, já ajuda bastante.
Então, as principais demandas são essas de beneficio assistenciais, mas também uma
vez ou outra, aparece casos para avaliar a questão de pensão por morte, quando
decorre de dependência financeira, nos caso, quando tem um filho e aí a mãe ou o
pai quer o beneficio e aí pra isso eles têm que comprovar essa dependência.
(Entrevistado - 03)
No Ofício criminal é muito de minuta a colaboração. Tem sido de minuta a
colaboração do serviço social, em razão da necessidade mesmo, né! O máximo que a
gente tenta usar é numa análise social pra fins de beneficiar uma ação de
hipossuficiência. Mas, o mais relevante disso é que tais relatórios sociais passam
diretamente em teses criminais de defesa, né! Principalmente, em casos que há
101
estado de necessidade, para comprovar pro juiz, comprovar ao órgão julgador, que
aquela pessoa se encontra numa situação de vulnerabilidade tal, que o crime
infelizmente foi a única atitude a esperar daquele conjunto de vida da pessoa. Então,
hoje, no ofício criminal a, única demanda do serviço social é praticamente essa.
(Entrevistado – 04)
Esta afirmativa reforça a tese que o serviço social da DPU-CE, recebe uma
quantidade significativa de demandas por perícias sociais, e que estas geralmente necessitam
ser realizadas em caráter de urgência, em razão da própria necessidade do assistido. Percebe-
se ainda que as perícias sociais são utilizadas em casos bastante variados, entre os ofícios
previdenciário, cível e criminal.
Nós que atuamos na assessoria dos ofícios, no meu caso Ofício Cível, geralmente,
encaminhamos pra o serviço social, casos que precise esclarecer justamente as
condições do assistido. Principalmente, quando é para averiguar renda. Averiguar
também, o histórico de vida. Assim, às vezes os assistidos chegam contando
histórias, histórico de doença, de conflitos familiares, aí eu sempre encaminho pro
Serviço Social, pra tentar esclarecer... Porque, também eu sei que vocês orientam os
assistidos, né...! Às vezes algumas informações do contexto familiar, não ficam
totalmente esclarecidas, então, eu sempre procuro mais encaminhar mais nesse tipo
de situação, para esclarecer. Geralmente em benefícios assistenciais pra uma
abordagem melhor da renda. (Entrevistado – 05)
É importante esclarecer ainda, que o encaminhamento de solicitações para
elaboração de perícias sociais também podem ocorrer por parte dos profissionais analistas que
atuam na assessoria dos ofícios (previdenciário cível ou regional). Afora, as demandas
espontâneas, como orientações, palestras, realização de ações de educação em direito.
De forma geral, o mais comum que a gente aqui do atendimento ao público
encaminha para o serviço social, são aquelas demandas de benefícios de assistência
social. Aquele beneficio que tá incluída na Lei do LOAS, basicamente esse, né?!
Mas, acredito que seja importante também, a atuação de vocês em demandas
presentes em que para assistido seja demandante de tratamento médico ou de
medicamentos, nessas demandas o assistido geralmente não tem condições de arcar
ou com o tratamento médico ou com medicamentos que ele venha necessitar. Aqui
geralmente, quando é que eu peço para chamar o serviço social? Como é que eu
identifico a necessidade das pessoas? Primeiramente, pela apresentação dela, dá para
perceber ou não uma situação de necessidade. Pela própria entrevista que a gente faz
aqui no atendimento, têm assistidos que vivem em situação de rua mesmo, não tem
uma moradia própria ou algo fixo, acredito que essa situação seja a que eu oriento os
estagiários a contactar o serviço social. Além daquelas demandas que envolvam
deficientes físicos, pessoas idosas que não tem consciência plena dos direitos que
lhes assistem, por exemplo, casos que eles ainda não têm direito a gratuidade, de
acessibilidade a transporte público. A questão dos idosos também que vivem numa
102
situação um pouco mais de necessidade. São exatamente esses casos, em que eu
oriento os estagiários a procurar o serviço social para um atendimento aqui. O
Serviço Social orienta de forma melhor. São essas demandas que eu peço para
atender. As demandas que a gente não pode atender aqui no atendimento. Algo que
seja uma extensão do braço da defensoria. (Entrevistado – 01)
Veja, que os cidadãos que procuram a assistência jurídica na DPU-CE,
primeiramente são atendidos no setor de ―Atendimento ao público‖, composta por equipe de
estagiários, coordenador do Atendimento-triagem e Defensor plantonista. Inicialmente é
realizada uma pré-triagem, são informados dos documentos necessários para serem atendidos
pela instituição, que possui como critérios para que os usuários possam acessá-lo, os seguintes
requisitos: ser residente no município de Fortaleza e região metropolitana; renda familiar
compatível com a isenção do imposto de renda e Identificação da correlação entre a causa e a
atribuição da Defensoria Pública da União. Após essa análise, ocorre à abertura do PAJ, nas
etapas seguintes a equipe da DPU-CE realiza devidos contatos com as assistidos durante o
andamento do processo.
Deste modo, para uma melhor compreensão do contexto em que ocorrem os
trâmites de encaminhamentos de PAJ‘s para intervenção dos assistentes sociais, e até mesmo
de outros profissionais como médicos que também realizam perícias médicas, ocorrem
justamente quando o Defensor ou analista avalia a respectiva demanda apresentada pelo
assistido e assim identificam que a colaboração destes profissionais será de grande valia para
contribuir no êxito da propositura da ação. Consoante explica Fávero:
O perito, enquanto detentor de um saber foi chamado a dar respaldo, ou seja,
chamou-se um profissional especialista em determinada área de conhecimento, ou
seja, chamou-se um profissional especialista em determinada área de conhecimento,
para o estudo, a investigação, o exame ou a vistoria de uma situação processual, com
o objetivo e oferecer subsídios técnico-científicos que possibilitassem ao magistrado
a aplicação da lei com maior segurança, reduzindo-se a possibilidade de pratica de
erros ou injustiças. (FÁVERO, 2006, p. 18)
A partir daí, percebe-se um panorama que envolve as diversas formas de
intervenção, em que pese à atuação dos profissionais de diferentes especialidades em conjunto
no âmbito da DPU-CE. Sobretudo, entre o serviço social e o direito, enquanto profissões
dotadas de diferenciadas percepções do interpretar e intervir na realidade.
103
Segundo Silva, tem se apresentado na contemporaneidade, novas exigências ao
exercício profissional, estas perpassam fundamentalmente pelas três dimensões, em que:
a) Consiste o conhecimento teórico-metodológico, que propicie aos profissionais
uma compreensão clara da realidade social e a identificação das demandas e
possibilidades de ação profissional que esta realidade apresenta;
b) Realização dos compromissos ético-políticos estabelecidos pelo Código de Ética
Profissional dos Assistentes Sociais, fundados nos valores democráticos e
humanistas da participação política – liberdade, igualdade e justiça social – e nos
valores de cidadania;
c) Capacitação técnico-operacional, que possibilite a definição de estratégias e
táticas na perspectiva da consolidação teórico-prática de um projeto profissional
compromissado com os interesses e necessidades dos usuários, com a defesa dos
direitos sociais, com a ampliação da esfera pública e com a construção de uma nova
cidadania social, capaz de realizar e impulsionar novos direitos, mediante o
fortalecimento da consciência de classe e da organização política, sindical e
comunitária. (SILVA, 1996, p.113)
Nesse sentido, na DPU-CE, o serviço social exerce uma atuação qualificada, em
consonância com as dimensões teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa, a fim
de observar se além da demanda do direito, existe alguma situação de vulnerabilidade social,
dando a devida orientação e encaminhamento à rede sócio-assistencial e/ou outras instituições
que sejam necessárias.
O que é que próprio do serviço social dentro de uma defensoria? É o apoio da
atividade finalística. Ou seja, o trabalho que um defensor desenvolve dentro de um
processo ou fora de um processo ele exige a algumas diligencias alguns apoios
complementares. Então, por exemplo, uma entrevista social, a realização de laudo
social. A articulação de necessidade do assistido pós atendimento jurídico, nem
sempre nós conseguimos ter essa competência. Uma iniciativa que eu acho que é
própria do serviço social, seria de dentro de cestas de serviços postas a disposição de
um cidadão, conseguir vamos dizer, direcionar melhor aquele individuo. Então, essa
ação, eu acho importante. Outra situação muito relevante do serviço social é
conseguir ser um co-vigilante da realização das políticas publicas. E o serviço social
consegue por está muito atento a realidade que nos circunda, ver se determinada
política pública, se está funcionando ou não, e posiciona. Verificam se as pessoas
necessitam de uma dada ação cível publica, nesse sentido, alerta um defensor pra um
determinado eixo de atuação, para que ele se posicione. Enfim, consegue identificar
vulnerabilidades que nem sempre nós conseguimos. Então pra mim essas são
iniciativas bem nobres do serviço social dentro de uma instituição de destaque como
é a defensoria. (Entrevistado – 04)
104
A fala descrita acima pelo entrevistado, é em resposta ao questionamento
referente à pergunta: ―Que ações/atividades você considera que são desempenhadas pelo
serviço social da instituição?‖ Observa-se, que o mesmo além de identificar uma das
principais atividades, privativas do serviço social que é o levantamento sócio-econômico dos
assistidos, aponta também um dos princípios formativos que capacidade de realizar leitura
analítica da realidade social fazendo uma interlocução com a construção de estratégias de
respostas profissionais mais consistentes e coerentes com a vida destes assistidos da DPU-CE.
Bom... A atividade que eu acho principal é a realização de perícias sociais,
relacionadas aos processos de assistência jurídica. Esse é o papel que eu acho
principal. Mas, eu sei também que existem outras ações na área de acompanhamento
das pericias sociais. Não sei exatamente os que fazem lá. Eu sei que podem analisar
as pericias sociais que são pedidas pela justiça. Eu sei que isso tramita por lá. Mas,
eu não sei exatamente o que vocês fazem nesses casos. E em casos em que as
pessoas necessitam encaminhamento de assistente social. Também em alguns
projetos, eu vi a participação do serviço social e agora na questão dos encontros
virtuais dos familiares presos. (Entrevistado – 02)
Como vimos no tópico 2.3, a equipe do serviço social da DPU-CE elaborou um
plano de atuação profissional, balizado pelo projeto ético-político no intuito de esclarecer à
instituição as ações/atividades desenvolvidas pelo setor.
As visitas domiciliares, né...! Pra conhecer a situação atual do assistido,
acompanhamento e encaminhamento para outros órgãos, para outros setores que
possam também ajudar o assistido. Elaboração de relatório social para levantamento
das condições dele... Eu sei que tem as participações do projeto DPU nas escolas,
das comunidades, indígenas. Eu também tenho conhecimento, assim, nesse sentido
de fazer levantamento das condições pessoais. (Entrevistado – 05)
As respostas apresentadas evidenciadas pelos entrevistados expressaram que os
mesmos, reconhecem os tipos de ações/atividades que são desenvolvidas pelas assistentes
sociais, muito embora, em todas as entrevistadas, com ênfase na perícia social, citada por
todos.
Conforme já anunciado no tópico 2.2, a DPU-CE conta nove principais setores,
além dos Ofícios previdenciário, cível, criminal e regional-geral. Contudo, a relação direta
envolvendo tramites processuais ou demandas espontâneas engloba apenas três destes setores,
afora os ofícios. Deste modo, compartilhando as colações expostas por Chuiari (2001, p. 141),
105
sobre ―A visão integrativa entre os profissionais, o intercâmbio contínuo contribuem para uma
melhoria na qualidade do atendimento prestado nas ações do mundo jurídico.‖ Questionou-se
os entrevistados ―Qual a contribuição do profissional assistente social para a equipe técnica e
usuários dos serviços da DPU-CE?‖
Com a relação à equipe técnica, eu vou destacar um ponto. Eu acho que o
profissional de serviço social tem uma qualidade que o serviço público já muito
perdeu... Que é de perceber a realidade do cotidiano de forma empírica. Você veja
que, não é todo setor que as pessoas desenvolvem pesquisas como essas... Então, o
profissional do serviço social, é um profissional qualificado! Ele não consegue
dissociar o seu trabalho do conhecimento cientifico. O mais importante do
profissional de serviço social dentro da instituição para a equipe técnica, ou seja, é
setor que tem metodologia. Que tem disciplina. Que tem estudo. Que discute. Que
dialoga. Que compartilha. Entendeu?! Então, reflete o que a unidade está precisando,
né! O serviço social dialoga com todas as coordenações. Dialoga com a chefia da
unidade. Então, isso não mistério. É método! Disciplina! Tem etapas! Então assim...,
nem todo setor é assim. E ai não tô dizendo que isso é bom ou ruim, certo ou errado.
São trocas de informações. Não é todo setor que desenvolve sua forma de trabalhar.
(Sujeito – 04)
Cabe aqui ressaltar na fala do ―entrevistado – 04‖, que houve um reconhecimento
da qualificação profissional das assistentes sociais que atuam na instituição. Qualificação esta,
que o capacita a estar atento às exigências e demandas apresentadas pelos assistidos, que o
instiga a desenvolver estudos, a aprimorar cada vez o atendimento de forma eficaz. Ademais,
percebe-se que os profissionais realizam estudos e pesquisas, buscam aperfeiçoar-se
intelectualmente ao participar de grupos de estudos no próprio campo, fomentam discussões
entre a equipe interdisciplinar visando a integração e melhoria dos serviços prestados, sendo
todas refletidas cotidianamente, em consonância com o Projeto ético-político da categoria.
É com certeza! A proposta da defensoria é esse atendimento, que a chama de
multidisciplinar! Não é só atender o assistido propondo uma demanda. É conseguir
que ele se sinta amparado, na questão do auxílio, de uma forma completa. Muitas
vezes, o assistido vem aqui, aí tem uma ação, mas às vezes ele pede para conversar
com assistente social. Ele conta a vida dele, recebe conselho, orientação. Depois de
uma conversa dessa, a assistente social vai encaminha pra gente informações, mais
consistentes. Informações do assistido que às vezes no atendimento ao público, a
pessoa não conseguiu verificar. Então, a assistente social vai e verifica pra gente.
Então, eu acho que é muito importante o trabalho do serviço social. (Entrevistado –
06)
Nesse sentido, evidencia-se mais uma vez na fala do ―entrevistado – 06‖, quão
necessário é a importância da agregação de múltiplos saberes no âmbito da DPU-CE.
106
Sobretudo, no que diz respeito à atuação do serviço social que contribui não apenas com a
elaboração de perícias sociais, conforme visualizou-se ao longo deste trabalho, mas em razão
do diferencial do fazer profissional que favorece um bom desempenho dessa atividade tanto
para equipe quanto para os usuários. Portanto, para finalizar a discussão, destaca-se a
referência de Chuairi que corrobora diante desse processo reflexivo ao expor que:
Em sua trajetória o profissional, o assistente social sempre esteve inserido na
prestação de serviços assistenciais, voltado sua ação de forma prioritária às
necessidades sociais e garantia de direitos das classes subalternas. E é na efetivação
de direitos, no acesso à justiça e na restituição de cidadania dos sujeitos das classes
subalternas que a assistência jurídica pode ser compreendida como espaço de
permanentes desafios para a ação profissional do Serviço Social. (Chuairi, 2001, p.
138)
Desta citação, vislumbra-se tamanha aproximação do serviço social com o modelo
de assistência jurídica, desenvolvida pela Defensoria Pública da União, que tem como missão:
Garantir aos necessitados o conhecimento e a defesa de seus direitos27
. Destarte, tais
reflexões sinalizam que atuação do serviço social no âmbito da Defensoria Pública da União
torna-se tão relevante, por ser este um espaço garantido pela Constituição Federal, e que
compartilha de lutas e movimentos pela a busca da implementação da garantia do real acesso
à Justiça, com qualidade, e por profissionais capacitados para o exercício dessa função.
27
FONTE: site da DPU (http://www.dpu.gov.br). Acesso realizado em 20 /05 /2013.
107
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo é fruto de uma ampla reflexão que permeia a prática
profissional das assistentes sociais que atuam na Defensoria Pública da União no Ceará
corroborada por pesquisa bibliográfica, documental e empírica acerca do tema de análise.
Mediante apontado ao longo deste trabalho, a DPU-CE configura-se como um
novo espaço de atuação sócio-ocupacional para a categoria profissional. Deste modo,
considerou-se várias indagações para então chegar ao recorte final e nesta perspectiva
alcançar conhecimentos que servirão de base para outros estudos consequentemente. No
percurso investigativo desse trabalho, observou-se que o serviço social tem uma larga trajetória
histórica no campo sóciojurídico, e apesar disso, há pouca produção bibliográfica relativa a esse
espaço.
Assim, inicialmente, foi necessário discorrer sobre a trajetória do serviço social,
onde vislumbrou-se que o desenvolvimento da profissão é marcado pelo processo de
crescimento das desigualdades sociais na sociedade capitalista, fazendo-se necessário uma
reflexão acerca das determinações sócio-históricas e culturais que o contextualizaram.
Verificou-se que as ações desse profissional foram progressivamente sendo recriadas e
resignificadas dando condições para a ampliação e reconhecimento dessa categoria
profissional, inserida na divisão social do trabalho.
No tocante a apresentação do campo da pesquisa, DPU-CE, é a mais nova
instituição jurídica, que exerce papel indiscutível na efetivação dos direitos
individuais/coletivos e sociais, para a democratização do acesso à justiça. Ressalta-se que,
ainda que é insuficiente o grau de conhecimento sobre o seu funcionamento e a forma como
vem operando nas diferentes unidades da federação.
Importante mencionar que a implantação do serviço social na DPU-CE, ocorreu às
margens das transformações estruturais ocorridas na própria instituição. Portanto, o serviço
social teve que desenvolver suas estratégias de legitimação e possibilidades de atuação ao
longo desses aproximadamente 07 anos, conforme demonstrado.
108
Com efeito, o serviço social aplicado ao campo sóciojurídico, lida com trajetórias
de vida marcadas pela inclusão mínima a bens sociais, ou pela exclusão propriamente dita. No
âmbito da DPU-CE, o público demanda diversos tipos de atendimento, que variam desde as
situações de privações, pobreza, não equidade, não acessibilidade às políticas públicas, dentre
outros.
Diante do exposto percebe-se que esse espaço de atuação sócio-ocupacional
requer do assistente social, uma leitura da realidade na qual o assistido está inserido, para
assim intervir de forma impactante. Destarte, esse campo requer ainda, o aprimoramento
constante que exigem um conhecimento mais profundo em termos técnico, investimento em
pesquisa e proposição.
Deste modo, o tema foi extremamente provocativo – O Serviço Social na
Defensoria Pública da União no Ceará: Outros Serviços ou Serviço Essencial? – ao mesmo
passo também se mostrou prazeroso, tanto que, as dificuldades que perpassaram o decorrer
deste processo, propiciaram um empenho ainda maior e um incentivo para que a pesquisa de
fato se concretizasse.
No tocante ao nosso objetivo de estudo, acredita-se que conseguiu-se realizar uma
descrição refinada do fazer profissional das assistentes sociais sob o ângulo dos profissionais
que compõem o quadro institucional. Verificou-se que o serviço social é partícipe
fundamental e aufere posição relevante para a instituição, no contexto que engloba equipe
multidisciplinar e assistidos, há apenas uma ressalva no que diz respeito ao quesito em que
abordamos sobre a vinculação do setor, em que muitos dos entrevistados apresentaram idéias
confusas sobre a temática.
Face aos resultados da pesquisa, ficou devidamente evidenciado que a
especificidade do trabalho do assistente social, têm se destacado em sua intervenção que por
sua vez é ampla e abrange diversas ações que ultrapassaram a realização da atividade inicial
(perícias sociais) que deu azo a inclusão do referido profissional nesta unidade.
Destaca-se que o serviço social necessitou ser mais articulado e propositivo, a fim
de criar seus próprios instrumentais e delimitar suas ações e atividades, formulando um plano
de ação profissional. Sendo assim, seus maiores desafios neste campo, trata-se de contribuir
109
com seu conhecimento específico para a construção de novas alternativas, bem como
demonstrar para a equipe multidisciplinar, a clareza e especificidade de sua área e riqueza do
trabalho desenvolvido.
Não obstante, a investigação também demonstrou que o assistente social dispõe de
um espaço de autonomia que pode ser ampliado, que pode ser mais explorado em termos de
construção de novos caminhos e busca de efetivação e sistematização de trabalho, que servirá
tanto para a instituição quanto para os assistidos que atendimento jurídico na DPU-CE.
Por todo exposto, acredita-se que as análises referendadas ao longo desta
pesquisa, apontam que o assistente social, hoje, é considerado indispensável para DPU-CE, o
não significa que se alcançou a perfeição, ao contrário, é nesta afirmação positiva que os
profissionais devem fazer constantemente auto-avaliação profissional, pois a responsabilidade
torna-se ainda maior.
Finalmente, espera-se que este trabalho possibilite mais discussões acerca do
tema, no sentido de fundamentar e estender os mecanismos que são utilizados no Serviço
Social da DPU-CE, e estendê-los para todas as outras unidades do país.
110
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.Acesso em: 15 de abril de 2013.
115
APÊNDICES
116
APÊNDICE A - SOLICITAÇÃO PARA ENTRADA NO CAMPO DE PESQUISA
Eu, Karla Maiara Bandeira Maciel, aluna do curso de Serviço Social da
Faculdade Cearense, orientanda da professora Elizângela Assunção Nunes, venho por meio
desta solicitar autorização da Defensoria Pública da União – DPU/CE para realizar a pesquisa
intitulada:“O SERVIÇO SOCIAL NA DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO: OUTROS
SERVIÇOS OU SERVIÇO ESSENCIAL?”.
A referida pesquisa visa compreender o lugar que o Serviço Social ocupa no
âmbito da Defensoria Pública da União, a partir da análise dos/as profissionais que compõem
a instituição, bem como, investigar como os/as profissionais da DPU-CE compreendem o
fazer profissional dos assistentes sociais no âmbito institucional; analisar o conjunto das ações
desenvolvidas pelo Serviço Social e sua relação com os demais setores da instituição. E por
último, perceber qual importância é atribuída pelos/as profissionais da DPU-CE ao Serviço
Social na efetivação dos direitos dos assistidos.
Para isso, necessitamos do consentimento da Instituição em realizar o estudo
através de entrevistas semi-estruturadas. Ressalta-se que serão respeitadas as questões éticas e
que antes de iniciar os trabalhos com os/as profissionais serão fornecidas todas as informações
sobre a pesquisa a fim de que os/as mesmos (as) possam ter clareza e tranquilidade para
decidir se devem ou não aceitar o convite.
Caso esse convite seja aceito os/as participantes deverão formalizar sua
participação através de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os dados coletados,
analisados e sistematizados subsidiarão na elaboração do Projeto de Conclusão do Curso.
Salientamos ainda, que em qualquer momento será fornecido objeto, objetivos e
produções do estudo, sempre conservando o anonimato dos/as profissionais da Instituição,
objetivando sanar qualquer dúvida que ínsita em permanecer no processo do estudo.
117
APÊNDICE B - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
O presente estudo intitulado ―O SERVIÇO SOCIAL NA DEFENSORIA
PÚBLICA DA UNIÃO: OUTROS SERVIÇOS OU SERVIÇO ESSENCIAL?‖
desenvolvida pela pesquisadora Karla Maiara Bandeira Maciel, orientada pela professora
Elizângela Assunção Nunes, tem por objetivo Compreender o lugar que o Serviço Social
ocupa no âmbito da Defensoria Pública da União, a partir da análise dos/as profissionais que
compõem a instituição. Para isso, necessitamos de seu consentimento para participar da
pesquisa através de uma entrevista semiestruturada. Asseguramos o direito e a liberdade de se
negar a participar do estudo ou dele se retirar quando assim desejar sem nenhum prejuízo
moral, físico ou social; bem como o anonimato com relação à sua identidade e quanto a
qualquer informação que possa identificá-lo (a). Os (as) participantes não irão receber
remuneração. Os (as) que dela participarem o farão por livre e espontânea vontade. A
responsabilidade pela realização do estudo é de Karla Maiara Bandeira Maciel, que pode ser
contactada através do telefone (0xx85) 8891-3837 ou 9930-4465.
Eu, _________________________________ naturalidade _______________, portador (a) do
RG _______________ ou CPF nº ____________________, fui informado (a) detalhadamente
sobre o estudo intitulado: ―O SERVIÇO SOCIAL NA DEFENSORIA PÚBLICA DA
UNIÃO: OUTROS SERVIÇOS OU SERVIÇO ESSENCIAL?‖, e concordo em participar do
mesmo.
Fortaleza, _______ de _______________de 2013.
__________________________________________
Assinatura do informante
118
ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA
1.IDENTIFICAÇÃO
NOME:
CARGO/FUNÇÃO:
ESCOLARIDADE:
SETOR:
VINCULAÇÃO COM A INSTITUIÇÃO:
( ) SERVIDOR DO QUADRO PGPE ( ) SERVIDOR CEDIDO – QUAL
ÓRGÃO?__________( ) TERCEIRIZADO
HÁ QUANTO TEMPO TRABALHA NA DPU-CE:
2.QUESTIONÁRIOS
2.1.O QUE VOCÊ COMPREENDE POR SERVIÇO SOCIAL?
2.2. QUE AÇÕES/ATIVIDADES VOCÊ CONSIDERA QUE SÃODESEMPENHADAS
PELO SERVIÇO SOCIAL DA INSTITUIÇÃO?
2.3. QUE TIPOS DE DEMANDAS SÃO DIRECIONADAS AO SERVIÇO SOCIAL POR
PARTE DO SETOR EM QUE VOCÊ ATUA?
2.4.EXISTE VINCULAÇÃO ENTRE O SETOR EM QUE FAZ PARTE COM O DE
SERVIÇO SOCIAL?
2.5. QUAL A CONTRIBUIÇÃO DO PROFISSIONAL ASSISTENTE SOCIAL PARA A
EQUIPE TÉCNICA E USUÁRIOS DOS SERVIÇOS DA DPU-CE?
2.6. QUAL IMPORTÂNCIA É ATRIBUÍDA AO SERVIÇO SOCIAL PARA VIABILIZAR
A CONCRETIZAÇÃO DA ATIVIDADE FIM DA DPU-CE?
119