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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CURSO DE SERVIÇO SOCIAL KARLA MAIARA BANDEIRA MACIEL O SERVIÇO SOCIAL NA DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO NO CEARÁ: OUTROS SERVIÇOS OU SERVIÇO ESSENCIAL? FORTALEZA CEARÁ 2013

O SERVIÇO SOCIAL NA DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO … SERVICO SOCIAL... · Conforme registro institucional, o organograma da instituição limitava-se ao trabalho dos defensores

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Page 1: O SERVIÇO SOCIAL NA DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO … SERVICO SOCIAL... · Conforme registro institucional, o organograma da instituição limitava-se ao trabalho dos defensores

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ

FACULDADE CEARENSE

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

KARLA MAIARA BANDEIRA MACIEL

O SERVIÇO SOCIAL NA DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO NO CEARÁ:

OUTROS SERVIÇOS OU SERVIÇO ESSENCIAL?

FORTALEZA – CEARÁ

2013

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KARLA MAIARA BANDEIRA MACIEL

O SERVIÇO SOCIAL NA DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO NO CEARÁ:

OUTROS SERVIÇOS OU SERVIÇO ESSENCIAL?

Monografia submetida à aprovação

Coordenação do Curso de Serviço Social

Centro Superior do Ceará, como requisito

parcial para obtenção do grau de Graduação.

Orientadora: Professora Mestre Professora Ms.

Elizângela Assunção Nunes.

FORTALEZA – CEARÁ

2013

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C837d Maciel, Karla Maiara Bandeira Maciel.

O serviço social na defensoria pública da união: outros serviços ou serviço essencial? /Karla Maiara Bandeira Maciel. – Fortaleza, 2013. 118f.; il.

Orientador: Profª. Mestre Elizângela Assunção Nunes. Monografia (Curso de Serviço Social) – Centro de Ensino Superior do Ceará

Faculdade Cearense, 2013.

1. Sóciojurídico, Serviço social e Prática profissional. I. CENTRO

DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE

. CDD 320.6

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KARLA MAIARA BANDEIRA MACIEL

O SERVIÇO SOCIAL NA DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO: OUTROS

SERVIÇOS OU SERVIÇO ESSENCIAL?

Monografia como pré-requisito paraobtenção

do título de Bacharel em Serviço Social,

outorgado pela Faculdade Cearense – FaC,

tendo sido aprovada pela banca examinadora

composta pelos professores.

Data de aprovação:___/ ___ /___

Banca Examinadora

____________________________________________

Professora Ms. Elizângela Assunção Nunes

____________________________________________

Professora Ms. Priscila Nottingham de Lima

____________________________________________

Professora Ms. Francis Emmanuelle Alves Vasconcelos

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Ao meu Deus, à minha mãe, e a todos que

acreditaram em mim.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, autor e consumador da fé, pelo seu amor que me

ajudou a vencer mais uma etapa da minha vida.

À minha mãe, o anjo que Deus que enviou para me amar, ser meu exemplo de força e

coragem, que abriu mão dos seus próprios objetivos e sonhos para sempre me dar o

melhor, sou grata pelo seu ensinamento.

Às minhas tias Salete Bandeira, Patrícia Bandeira, e em especial, Graça Bandeira, que

me ajudou a concretizar este sonho, por todo incentivo e apoio. Muito Obrigada!

Ao meu pai-avô amado José Félix Bandeira, porque você fez, faz e fará sempre parte de

minha história!

Ao meu namorado e amor Paulo Sérgio do Nascimento, pelos momentos de

compreensão. Você é tão importante para mim!

Às minhas amigas de todos os momentos Anne Araújo, Gisele Alburquerque, Vanda

Mesquita, e demais companheiras e amigas de turma por compartilhar com vocês, suas

brincadeiras, seus sorrisos, seus aprendizados.

Aos mestres, que fizeram parte da minha formação acadêmica, por cada momento de

compreensão, luta, paciência, inteligência e dedicação.

À minha dedicada orientadora, Elizângela Assunção Nunes, por se dispor a enfrentar

este desafio comigo, por todas as palavras de incentivo, por toda paciência, por acreditar

no meu potencial e trilhar todos os ensinamentos neste trabalho. MUITO OBRIGADA!

A toda a equipe do Serviço Social da DPU/CE, grandes assistentes sociais que são

exemplos de competência e ética profissional, por todo aprendizado compartilhado com

cada uma de vocês. Nunca esquecerei a força que me deram para seguir em frente!

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A todos os profissionais e entrevistados da DPU/CE, que aceitaram participar desta

pesquisa.

À banca examinadora, por se dispor a participar deste processo avaliativo, que muito

contribuirá para o enriquecimento deste trabalho.

Enfim, a todas as pessoas que sempre estiveram ao meu lado, nos bons e maus

momentos. Obrigado a todos!

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“Bendize, ó minha alma, ao SENHOR, e tudo o

que há em mim bendiga o seu santo nome.”

Sl. 103:1

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RESUMO

O presente trabalho buscou analisar a relevância da prática profissional dos (as)

assistentes sociais inseridos na Defensoria Pública da União no Ceará, a partir da visão

dos demais profissionais que compõem a instituição. Nessa perspectiva buscou-se

compreender a posição alcançada pelo serviço social, pontuando como este setor é

reconhecido, assim como o conjunto das ações desenvolvidas e sua relação com os

demais setores da instituição. O enfoque principal da investigação decorreu não

considerando o serviço social como uma prática isolada, mas que compreende as

circunstâncias institucionais e sociais no qual se realiza. A pesquisa teve como objetivo

principal compreender o lugar que o serviço social ocupa no âmbito da Defensoria

Pública da União, a partir da análise dos (as) profissionais que compõem a instituição e

como objetivos específicos: investigar como os profissionais da DPU-CE compreendem

o fazer profissional dos (as) assistentes sociais no âmbito institucional; analisar o

conjunto das ações desenvolvidas pelo serviço social e sua relação com os demais

setores da instituição; perceber qual importância é atribuída pelos (as) profissionais da

DPU-CE ao Serviço Social na efetivação dos direitos dos assistidos. O percurso

metodológico adotado incluiu pesquisa bibliográfica, documental e de campo, numa

abordagem qualitativa, utilizando-se de entrevistas semi-estruturada. A opção pelo

desenvolvimento da pesquisa qualitativa deu-se devido ao próprio objeto de estudo que

requereu uma análise refinada, bem como à riqueza de seus resultados. Considerando

ser este um “novo” campo de atuação profissional, embora ainda haja muitos obstáculos

a superar, deve-se salientar a relevância e contribuição dessa pesquisa para a instituição,

para a categoria profissional e também para a sociedade.

PALAVRAS CHAVES: sóciojurídico, serviço social e prática profissional.

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ABSTRACT

This study sought to examine the relevance of the work of social workers inside of the

Ceara County Public Defender Union from the perspective of the professionals that

make up this institution. In this manner, it was sought to understand the position

reached by social services, taking in consideration the recognition of this field, the

actions developed, as well as its relation with the different sectors of the County of

Ceara Public Defender Union. The main focus of this research did not consider social

work as an isolated practice, instead it considered social work as a field that understands

the institutional and social circumstances in which it is held. In addition to that, this

research aimed to understand the place that social service occupies inside of the Public

Defender Union, from the point of view of the professionals that work in this institution,

with specific goals: to research how the professionals of the DPCU-CE (Ceara County

Public Defender Union) understand the social workers job within the institutional

framework; to analyze the set of actions developed by social services, and its

relationship with other sectors of the Public Defender Union institution; to observe the

importance given by the DPU-CE professionals to the social service as the rights of the

ones assisted go into effect. Furthermore, the methodological approach adopted

included bibliographical, documentary and field research in a qualitative approach,

using semi-structured interviews. A qualitative approach was taken due to the main goal

of this study, which required a refined analysis, as well as rich results. Moreover,

considering that social service is a "new" field of professional practice, although there

are still many obstacles to overcome, this research pursues an important relevance and

contribution to institutions, to professionals, and to society.

KEYWORDS: socio legal, social service and professional practice.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Mapa de Distribuição .....................................................................67

Tabela 2 – Assistidos por Ofício .....................................................................68

Tabela 3 – Total Geral .....................................................................................71

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LISTA DE SIGLAS

ABESS - Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social

ABEPSS - Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social

ANAS - Associação Nacional de Assistentes Sociais

ANADEF - Associação Nacional dos Defensores Públicos Federais

BPC - Benefício de Prestação Continuada

BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

CAPs- Caixas de Aposentadoria e Pensão

CBAS - Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais

CEAS - Centro de Estudos e Ação Social

CF/88 - Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

CFESS - Conselho Federal de Serviço Social

CLT- Consolidação das Leis Trabalhistas

CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

CRESS - Conselho Regional de Serviço Social

DPE - Defensoria Pública do Estado

DPF - Defensor Público Federal

DPU - Defensoria Pública da União

DPGF - Defensor Público Geral Federal

DPGU - Defensoria Pública Geral da União

EC - Emenda Constitucional

ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente

ENPESS - Encontro Nacional de Pesquisadores em Serviço Social

ENESSO - Executiva Nacional dos Estudantes de Serviço Social

FEBEMCE - Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor

FGTS - Fundo de Garantia por Tempo de Serviço

FMI - Fundo Monetário Internacional

FUNAI - Fundação Nacional do Índio

GT - Grupo de Trabalho

IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis.

IAPS - Instituto de Aposentadoria e Pensões

INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

INPS - Instituto Nacional da Previdência Social

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INSS - Instituto Nacional do Seguro Social

LBA - Legião Brasileira de Assistência

LOAS - Lei Orgânica da Assistência Social

MPAS - Ministério da Previdência e Assistência Social

ONGs - Organizações Não Governamentais

PAJ - Processo de Assistência Jurídica

PEC – Projeto de Emenda Constitucional

PGPE - Plano Geral de Cargos do Poder Executivo

PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio

SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

SENAS- Secretária Nacional de Assistência Social

SESI - Serviço Social da Indústria

SUS - Sistema Único de Saúde

TSE - Tribunal Superior Eleitoral

TST - Tribunal Superior do Trabalho

STJ - Superior Tribunal de Justiça

STF - Supremo Tribunal Federal

STM - Superior Tribunal Militar

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 15

CAPÍTULO 1: DELINEANDO A TRAJETÓRIA DO SERVIÇO SOCIAL

BRASILEIRO E SUA INSERÇÃO APLICADO AO CONTEXTO

SÓCIOJURÍDICO ........................................................................................................22

1.1 – Evolução do Serviço Social enquanto profissão ......................................... 22

1.2 – Atribuições e competências do serviço social .............................................34

1.3 – Serviço Social no campo sóciojurídico ........................................................43

CAPÍTULO 2: A INSTUIÇÃO QUE GARANTE O ACESSO À JUSTIÇA E O

SERVIÇO SOCIAL COMO PARTÍCIPE DESTE PROCESSO ............................52

2.1 – A organização da Defensoria Pública da União no Brasil ...........................52

2.2 – A Defensoria Pública da União no Ceará ....................................................65

2.3 – A prática profissional do Serviço Social na DPU-CE .................................74

CAPÍTULO 3: PRODUZINDO CONHECIMENTO NA DPU-CE ATRAVÉS DO

SERVIÇO SOCIAL .....................................................................................................85

3.1 – Descrição do percurso metodológico da pesquisa .......................................85

3.2 – Analisando e produzindo dados ..................................................................93

CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................107

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................110

APÊNDICES ...............................................................................................................115

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INTRODUÇÃO

O estágio supervisionado em serviço social na Defensoria Pública da União, a

partir de fevereiro de 2012, instigou a análise da relevância do trabalho dos (as) assistentes

sociais inseridos nessa instituição, que por sua vez configura-se como um novo espaço de

atuação sócio-ocupacional. Nessa perspectiva foi possível compreender a posição alcançada

pelo serviço social, pontuando como este setor é reconhecido pelos (as) profissionais que

compõem a referida instituição.

De acordo com o Art. 134 da Constituição Federal ―Defensoria Pública da União

é instituição essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a orientação jurídica

e a defesa em todos os graus, dos necessitados, na forma do Art. 5º. LXXIV‖. Ou seja, cabe

a DPU prestar assistência jurídica integral e gratuita, na esfera federal, ao cidadão

hipossuficiente, assim como ser instrumento de informação e orientação jurídica fornecendo

o acesso à justiça.

Em nosso país, a criação e organização da Defensoria Pública da União - DPU

deram-se 06 anos após a promulgação da Constituição Federal - CF/88, tendo importante

marco com a promulgação da Lei Complementar nº 80, de 12 de janeiro de 1994. Todavia,

observa-se que, mesmo após a promulgação da Lei Complementar, esperou-se um ano, para

que de fato, o Órgão fosse implantado. O que ocorreu ainda em caráter emergencial e

provisório, através da Lei nº 9.020, de 30 de março de 1995. No Ceará, a estruturação do

Núcleo da Comarca de Fortaleza, deu-se em dezembro de 2001, sendo à época, vinculado a 5ª

DPU Regional, com sede em Recife.

Conforme registro institucional, o organograma da instituição limitava-se ao

trabalho dos defensores e dos funcionários terceirizados que realizavam as atividades de

constituição dos processos jurídicos e dos serviços da administração. No corrente ano, a

unidade do Ceará conta com um quadro de trabalhadores dividido em: 14 Defensores públicos

federais, 33 servidores públicos, 19 profissionais de nível médio e superior terceirizados e 65

estagiários na área do direito, serviço social, comunicação social e ensino médio, totalizando

cerca de 131 trabalhadores.

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No decorrer do estágio observou-se que por ser uma instituição nova no Brasil, a

Defensoria Pública da União, é ainda desconhecida por grande parcela da população, muito

embora esteja presente em todas as capitais dos Estados, afora sua interiorização recente.

Deste modo, o Órgão garante o acesso à justiça ao permitir uma defesa adequada da qual o

indivíduo possa participar ativamente, além da implementação da cidadania, quer seja

concernentes aos direitos individuais ou coletivos. Neste cenário convém evidenciar como o

serviço social conquistou seu espaço de atuação profissional na efetivação de direitos dos

assistidos1.

A sede da DPU no Estado do Ceará destaca-se por ter sido a primeira entre as

demais unidades, em agregar ao quadro de funcionários o profissional de serviço social no

ano de 2006, servindo posteriormente, como exemplo para os demais estados do Brasil.

Conforme Plano de Atuação Profissional do Serviço Social2, a demanda por assistentes

sociais surgiu tendo em vista a necessidade de realização e inclusão de perícias sociais nos

processos jurídicos vinculados ao ofício previdenciário.

Convém pontuar que um dos primeiros resultados obtidos após a implantação do

serviço social na instituição, refere-se ao reconhecimento nacional da atuação do profissional

no âmbito da DPU. Ressalta-se, portanto, o aumento significativo das ações julgadas

procedentes, onde havia relatórios sociais. Um dos instrumentais utilizados pelas assistentes

sociais para subsidiar elementos de defesa em prol do assistido, através de estudo social.

Cabe salientar que, os relatórios sociais/perícias sociais3 são utilizados em

processos de natureza previdenciária: pensão por morte, auxílio doença, auxílio reclusão,

aposentadoria, amparo assistencial ao idoso ou deficiente, dentre outros. Cível: solicitação de

medicamentos, cirurgias, dentre outros e por vezes em peças criminais, sendo possível

visualizar o contexto social em que o assistido está inserido.

1Assistido é o termo utilizado no âmbito da instituição para designar aqueles cidadão/assistidos juridicamente

pela DPU. 2Documento elaborado pela equipe de serviço social da DPU/CE, com a finalidade de nortear o processo de

trabalho do (a) assistente social na unidade da Defensoria Pública da União/DPU do Ceará. 3 Recentemente a equipe de serviço social da DPU-CE, substituiu o termo relatórios sociais por perícias sociais.

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Aos longos de aproximadamente 07 anos de implantação do serviço social na

DPU-CE, houve um crescimento gradativo do quadro dos (as) assistentes sociais. Atualmente,

o serviço social da unidade DPU-CE é composto por 07 assistentes sociais e 05 estagiárias.

Deste modo, ao vislumbrar esse novo campo de atuação profissional dos

assistentes sociais, foi que sentiu-se a necessidade de explorar essa temática, sobretudo,

perpassá-la pelo o olhar de quem lida cotidianamente com essa nova prática, assim como

entender o processo de legitimação e reconhecimento profissional. Consoante afirma Minayo:

[...] a escolha de um tema não emerge espontaneamente, da mesma forma que o

conhecimento não é espontâneo. Surge de interesses e circunstâncias socialmente

condicionadas, frutos de determinada inserção no real, nele encontrando suas razões

e seus objetivos. (MINAYO, 1994, p.11)

Assim, vários foram os questionamentos que impulsionaram a construir o projeto

de pesquisa. O próprio título do trabalho já levanta uma indagação, O Serviço Social na

Defensoria Pública da União no Ceará: Outros Serviços ou Serviço Essencial? Porém, o

referido título apresenta também uma reflexão, haja vista que a motivação da pesquisa foi

impulsionada quando ocorreu uma mudança no sistema de informações

(interno/administrativo) da instituição. Esta mudança acarretou uma reformulação nas pastas

virtuais de cada setor, deste modo, o serviço social que antes possuía uma pasta independente

passou a ser agrupado dentro da pasta ―outros serviços‖.

Logo, percebeu-se a necessidade de considerar a relação que o serviço social tem

com os outros profissionais de nível superior da DPU-CE, sobretudo, porque nos últimos anos

tem se revelado uma ampliação da atuação do serviço social na referida instituição.

Ademais, pontua-se que a investigação decorre não considerando uma prática

isolada, mas que compreende as circunstâncias institucionais e sociais na qual se realiza.

Desta forma, a atuação do (a) assistente social na DPU-CE propiciou o surgimento de uma

nova dinâmica de intervenção institucional. Contudo, vale salientar que, em qualquer espaço

de atuação profissional, a instituição organiza o processo de trabalho no qual o assistente

social esta inserido. Conforme expõe Iamamoto:

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Ainda que disponha de relativa autonomia na efetivação de seu trabalho, o assistente

social depende, na organização da atividade, do Estado, da empresa, entidades não-

governamentais que viabilizam aos usuários o acesso a seus serviços, forneçam

meios e recursos para sua realização, estabeleçam prioridades a serem cumpridas,

interferem na definição de papéis e funções que compõem o cotidiano do trabalho

institucional. Ora, se assim é, a instituição não é um condicionante a mais do

trabalho do assistente social. Ela organiza o processo de trabalho do qual ele

participa. (IAMAMOTO, 2012, p.63)

Muito embora o serviço social da DPU-CE disponha de relativa autonomia na

efetivação de seu trabalho, observa-se, que os profissionais dependem da Instituição para que

esta forneça os meios e recursos para a materialização de suas atividades. Portanto, um desses

questionamentos impulsionou a verificar quais as estratégias desenvolvidas pelo serviço

social para sua legitimação no âmbito institucional? Quais os limites e as possibilidades que o

cotidiano apresenta ao serviço social, visto que suas ações não são condicionadas apenas pela

organização institucional, mas também compreende o próprio desempenho profissional? Que

conjuntos de atividades e ações são desempenhadas pelos assistentes sociais e que

características esta intervenção apresenta?

Ocorre ainda que, os profissionais de serviço social no exercício de suas

atividades utilizam-se de diversos recursos metodológicos e instrumentais. De acordo com

Iamamoto: ―A noção estrita de instrumento como mero conjunto de técnicas se amplia para

abranger o conhecimento como um meio de trabalho, sem que esse trabalhador especializado

não consegue efetuar sua atividade ou trabalho [...]‖ ( 2012, p. 62).

Destarte, estas escolhas dependerão dos objetivos das atividades em si, da

competência técnica de cada um e das condições objetivas da organização. Por isso, é

importante verificar quais são os instrumentais e recursos teórico-metodológicos utilizados

para o desenvolvimento e encaminhamento de ações nesta área de intervenção.

Como já mencionado anteriormente, a atuação do (a) assistente social na

instituição não ocorre de forma isolada, mas sim no quadro de apoio aos Defensores Públicos

Federais. Ademais, a DPU/CE dividi-se em nove principais setores, são eles: secretaria

jurídica, secretaria administrativa, atendimento ao público, área de comunicação, biblioteca,

contadoria, apoio, serviço social e sociologia. Entretanto, é importante compreender como se

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dá à relação entre serviço social e os demais profissionais da DPU-CE? Qual a contribuição

do profissional de serviço social para a equipe técnica e usuários dos serviços da DPU-CE?

Assim, a presente pesquisa teve como objetivo geral compreender o lugar que o

serviço social ocupa no âmbito da Defensoria Pública da União no Ceará, a partir da análise

dos profissionais que compõem a instituição e como objetivos específicos: investigar como os

profissionais da DPU-CE compreendem o fazer profissional dos assistentes sociais no âmbito

institucional; analisar o conjunto das ações desenvolvidas pelo serviço social e sua relação

com os demais setores da instituição; perceber qual importância é atribuída pelos profissionais

da DPU-CE ao serviço social na efetivação dos direitos dos assistidos.

Espera-se através deste trabalho, contribuir para o surgimento de novas

inquietações acerca do papel do assistente social, apontando suas estratégias de intervenção e

reconhecimento institucional. Nessa perspectiva, esse estudo deve corroborar para que as

demais unidades das Defensorias Públicas da União, em todo Brasil, que ainda não tem

implantado em seu quadro este profissional, visualize o trabalho das assistentes sociais na

unidade do Ceará, e assim, possam subsidiar elementos que demonstrem a relevância da

atuação deste setor.

Diante desta exposição, verifica-se ainda a importância do presente estudo, para a

categoria profissional, pois de acordo com Fávero:

Ainda que o meio sóciojurídico, em especial o judiciário, tenha sido um dos

primeiros espaços de trabalho do assistente social, só muito recentemente é que

particularidades do fazer profissional nesse campo passaram a vir a público como

objeto de preocupação investigativa. Tal fato se dá por um conjunto de razões, das

quais se destacam: a ampliação significativa de demanda de atendimentos e de

profissionais para a área [...] (FÁVERO, 2006, p.10-11)

Ademais, Iamamoto enfatiza que, ―é muito interessante observar que a maioria

das pesquisas especializadas focaliza a instituição Serviço Social. Poucos são aqueles estudos

que têm como foco o sujeito profissional, e análise do serviço social sob o ângulo dos

processos de trabalho [...]‖. (IAMAMOTO, 2012, p.65)

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Nesse sentido, acredita-se que a obtenção dessa pesquisa, será de grande valia

para os profissionais que atuam na instituição, pois oportunizará buscar algumas respostas aos

desafios da prática profissional nesse novo espaço de atuação. Afora, a relevância e

contribuição dessa pesquisa para a instituição de um modo geral e para a categoria

profissional, dar-se-á diante da exposição para a sociedade, tendo em vista que o assistente

social trabalha no âmbito das relações sociais, junto a indivíduos, grupos, famílias,

comunidade e movimentos sociais.

Ademais, conforme mencionado no Plano de Atuação Profissional do Serviço

Social da Defensoria Pública da União (2011, p.12), ―[...] cabe ao assistente social contribuir

no processo de implementação de direitos sociais negados aos assistidos e realizar ações de

educação em direito‖. Salienta-se que para exercer uma efetiva cidadania, cada brasileiro

precisa estar consciente de seus direitos.

Quanto à estrutura expositiva, a presente monografia estará dividida nos seguintes

capítulos: esta parte introdutória, capítulo 1 - Delineando a trajetória do serviço social

brasileiro e sua inserção aplicado ao contexto sóciojurídico, que abrangerá uma

contextualização da trajetória dessa profissão no Brasil, ressaltando a evolução da mesma,

desde o seu surgimento até os dias atuais. A ênfase se dá na gradativa estruturação da

profissão, em suas atribuições e competências profissionais balizadas pelo Código de Ética e

Lei de regulamentação da profissão, assim como os traços característicos presentes do serviço

social aplicado ao campo sóciojurídico, abordando seus instrumentais, técnicas e suas inter-

relações com o sistema da justiça.

Em relação ao capítulo 2 - A instituição que garante o acesso à justiça e o serviço

social como partícipe deste processo no qual realizará apresentação da criação e organização

da Defensoria Pública da União no Brasil. Órgão público institucionalizado e especializado

para prestação de um serviço jurídico, integral e gratuito à população hipossuficiente, cujas

garantias são reconhecidas pelo Estado para efetivar princípios e normas constitucionais de

acesso à justiça.

Nesse sentido, aborda-se o grau de relevância atribuído à Defensoria,

demonstrando características gerais da atuação institucional, no Brasil e no Ceará. Neste

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cenário, será realizada uma breve contextualização histórica de como o serviço social se

inseriu nesse campo, evidenciando a prática profissional das assistentes sociais no núcleo da

DPU-CE, e sua inconteste contribuição, que objetiva conceder ao assistido a viabilização dos

seus direitos pleiteados.

Após esta trajetória no capítulo 3 - Produzindo conhecimento na DPU-CE através

do serviço social, será demonstrada a consagração dos resultados face às indagações

levantadas no corpo deste trabalho, além do percurso metodológico trilhado nesta pesquisa.

Inicialmente apontará os caminhos percorridos para alcance dos resultados, sua organização e

orientações devidas, chegando a uma reflexão qualitativa embasadas nos autores estudados.

Para finalizar, não buscando esgotar a temática será apresentada as considerações finais, bem

como algumas sugestões a cerca da temática estudada, partindo das reflexões realizadas na

trajetória desse estudo.

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CAPÍTULO 1: DELINEANDO A TRAJETÓRIA DO SERVIÇO SOCIAL

BRASILEIRO E SUA INSERÇÃO APLICADO AO CONTEXTO SÓCIOJURÍDICO.

O presente capítulo abrange uma contextualização da trajetória do serviço social

no Brasil, ressaltando a evolução da profissão, desde o seu surgimento até os dias. A ênfase se

dá na gradativa estruturação da profissão, em suas atribuições e competências profissionais

balizadas pelo Código de Ética e Lei de regulamentação da profissão, assim como os traços

característicos presentes do serviço social aplicado ao campo sóciojurídico, abordando seus

instrumentais, técnicas e suas inter-relações com o sistema da justiça.

1.1 - Evolução do serviço social enquanto profissão

Para entendermos o surgimento de uma profissão, faz-se necessário

primeiramente compreendermos as configurações históricas, para assim visualizarmos sua

trajetória e relação com a sociedade. Deste modo, analisar a evolução do serviço social

enquanto profissão requer trilhar um resgate histórico da profissão, tendo em vista que seus

fundamentos foram estruturados no final do século XIX, durante a ascensão da burguesia, e

fortalecimento do sistema capitalista, quando a sociedade passa a ser dividida em classes.

Portanto, no auge da Revolução Industrial desencadeava-se uma série de impactos

na sociedade européia, gerando as questões sociais, que serviram como as

bases estruturadoras do serviço social, que durante muito tempo, esteve a serviço da

burguesia, recebendo forte influência da doutrina social, desenvolvida pela Igreja Católica.

No século XIX, na Europa, os operários viviam, em grau extremo, a miséria e a

exploração decorrentes da industrialização e desenvolvimento do capitalismo. Essa

situação dá uma grande dimensão à questão social, levando a Igreja a se posicionar.

Esta via a época como de grande crise, de decadência da moral e dos bons costumes

cristãos. Essa situação decorre – segundo a Igreja – do liberalismo e do comunismo.

Tendo em vista sua missão encaminhar o homem à conquista da felicidade eterna –

ela intervém na situação que é de desordem e que impede as pessoas de cumprir sua

tarefa de dar glória a Deus, dada a condições que viviam. (AGUIAR, 1995, p. 17)

Essa intervenção da Igreja torna-se mais clara e evidente a partir do final do

século XIX, fundamentando-se nas Encíclicas papais, preconizando a intervenção do Estado,

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com vistas a solucionar os problemas vivenciados pela classe operária, justificando que só

seria possível apelando-se para a religião.

Yazbek (2009) argumenta que é preciso ultrapassar a análise do serviço social em

sim mesmo para situá-lo no contexto das relações mais amplas que constituem a sociedade

capitalista, para particularmente, no âmbito das respostas que esta sociedade e o Estado

constroem, frente à questão social e suas manifestações, em múltiplas dimensões. Desta

forma, a autora afirma que:

[...] a institucionalização do Serviço Social como profissão na sociedade capitalista

se explica no contexto contraditório de um conjunto de processos sociais, políticos e

econômicos, que caracterizam as relações entre as classes sociais na consolidação do

capitalismo monopolista. Assim, a institucionalização da profissão de uma forma

geral, nos países industrializados, está associada à progressiva intervenção do Estado

nos processos de regulação social. (YAZBEK, 2009, p.129)

Com a expansão do capitalismo e do modo burguês de produção, a burguesia

preocupava-se em buscar estratégias ou táticas para viabilizar a consecução de seus objetivos.

Desta forma, os capitalistas buscaram ajuda do próprio Estado liberal burguês e da Igreja, no

intuito de somar forças para coibir o movimento dos trabalhadores e evitar a desordem social.

Nesse contexto, a burguesia preocupava-se com dois fatos: o movimento dos

trabalhadores e os problemas sociais agravados pela expansão do capitalismo. Consoante

expõe Martinelli, ―[...] A classe trabalhadora crescera visivelmente, introduzindo uma nova

geografia nos centros urbanos: a da pobreza, que se fazia acompanhar da geografia da fome e

da generalização da miséria.‖ (2010, p.60)

Inicialmente, o serviço social, esteve condicionado à filantropia, atuando como

agentes executores da assistência social. Os primeiros profissionais da área atuaram de forma

indireta, para amenizar os conflitos surgidos entre a crescente classe operária absorvida pelo

sistema capitalista em ascensão, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos. Sendo assim, a

origem da profissão trás consigo ―[...] a marca profunda do capitalismo e do conjunto das

variáveis que a ele estão subjacentes - alienação, contradição, antagonismo [...].‖

(MARTINELLI, 2010, p.66).

Netto reforça essa concepção:

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Emergindo como profissão a partir do background acumulado na organização da

filantropia própria à sociedade burguesa, o Serviço Social desborda o acervo das

suas protoformas ao se desenvolver como um produto típico da divisão social (e

técnica) do trabalho da ordem monopólica. Originalmente parametrado e

dinamizado pelo pensamento conservador, adequou-se ao tratamento dos problemas

sociais quer tomados nas suas refrações individualizadas (donde a funcionalidade da

psicologização das relações sociais), quer tomados como sequelas inevitáveis do

‗progresso‘ (donde a funcionalidade da perspectiva ‗pública‘ da intervenção) - e

desenvolveu-se legitimando-se precisamente como interveniente prático-empírico e

organizador simbólico no âmbito das políticas sociais. (NETTO, 2001, p. 79)

É importante ressaltar, que muito embora as concepções semelhantes no qual o

serviço social se desenvolveu na Europa, assim como nos Estados Unidos, no início do século

XX, os esforços no sentido de viabilizar a profissionalização do serviço social se diferenciam.

Sobre esse período do processo histórico do serviço social, afirma Netto que:

É no imediato pós-guerra civil que se engendram as condições culturais elementares

que, na virada do século, permearão as protoformas do Serviço Social [...] A crítica

sociocultural, na Europa, era obrigada a pôr em questão aspectos da socialidade

burguesa; na América, o tipo de desenvolvimento capitalista não conduzia a crítica a

checá-lo. No período que estamos enfocando, a síntese dessas diferenças pode ser

resumida da seguinte maneira: nas fontes ideológicas das protoformas e da

afirmação inicial do Serviço Social europeu, dado o anticapitalismo romântico, há

vigoroso componente de apologia indireta do capitalismo; nas fontes americanas,

nem desta forma a ordem capitalista era objeto de questionamento. (NETTO, 2001,

p. 114)

Além disso, Martinelli (2010) comenta que, na Europa, o itinerário de busca do

serviço social se desenvolveu com formulações vinculadas ao pensamento sociológico-

conservador e atrelado à doutrina social da Igreja Católica. Enquanto que, nos Estados

Unidos, a linha psicológica e psicanalítica, caracterizou a abordagem individual.

A mesma autora mencionada acima, ressalta que nos anos em que precederam a II

Guerra Mundial, durante a sua vigência, o serviço social já se fazia presente e atuante na

maior parte dos países americanos, europeus e inclusive latino-americanos, exercendo sua

prática a partir de instituições públicas e particulares. (IAMAMOTO e CARVALHO, 1990).

Já no Brasil, o surgimento do serviço social deu-se na década de 30, com suas

raízes cristãs de assistencialismo, onde a igreja Católica controlava todo processo de ajuda ao

próximo e benefícios aos menos favorecidos, sendo patrocinada pela ordem burguesa, tendo

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como referencial o serviço social europeu. Nesse período, o capitalismo ingressava em sua

fase monopólica, como fruto da iniciativa particular de vários setores da burguesia. Cabe

pontuar também, que o país iniciava o processo de industrialização e do crescimento das

populações das áreas urbanas. Todo esse contexto favoreceu a tarefa imputada ao serviço

social, que era de controlar a massa operária.

[...] Embora a Igreja Católica tenha importância singular na configuração da

identidade que marca a gênese do Serviço Social no Brasil, foi o contexto do final da

Segunda Guerra Mundial, de aceleração industrial, das migrações campo-cidade e

do intenso processo de urbanização, aliados ao crescimento das classes sociais

urbanas, especialmente do operariado, que vai exigir respostas do Estado e do

empresariado às necessidades de reprodução social das classes trabalhadoras nas

cidades [...] (AGUIAR, 1995, p. 17)

Desta forma, a profissão do serviço social é historicamente determinada, sendo a

atuação dessa categoria articulada de maneiras distintas na conjuntura social, política e

econômica do Brasil e a igreja católica, apresenta-se como responsável pela formação dos

primeiros profissionais em nosso país.

Diante da cronologia do surgimento da profissão no Brasil, enumera-se a criação,

em 1932, na cidade de São Paulo, do Centro de Estudos e Ação Social - CEAS, que tinha

como objetivo ―promover a formação de seus membros pelo estudo da doutrina social da

Igreja e fundamentar sua ação nessa formação doutrinária e no conhecimento aprofundado

dos problemas sociais. [...]‖ (IAMAMOTO; CARVALHO, 1990, p.173).

O referido centro tinha a pretensão de atingir donzelas católicas para intervir junto

ao proletariado, orientado por uma formação técnica especializada. Além disso, contribuiu e

uniu esforços, para a criação das primeiras escolas de serviço social em 1936 e 1937 nas

cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, respectivamente.

Em um curto período de tempo, a demanda por assistentes sociais no mercado de

trabalho cresceu consideravelmente, de forma que não havia profissionais suficientes para

atuar. Sobre esse mercado de trabalho, Netto comenta:

[...] a criação de um mercado nacional de trabalho para os assistentes sociais tem

seus mecanismos originais deflagrados em meados dos anos quarenta (quase uma

década depois da fundação das primeiras escolas de Serviço Social), portanto no

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bojo do processo de ‗desenvolvimento das grandes instituições sociais‘

implementadas no caso pelo Estado Novo [...] (NETTO, 2011, p.119)

Essas instituições além de propiciar a abertura do mercado de trabalho para as

primeiras assistentes sociais despontam também como repostas do Estado à população,

através de um conjunto de iniciativas. Dentre essas medidas, cita-se: ―a Consolidação das Leis

do Trabalho - CLT, o Salário Mínimo e outras medidas de cunho controlador, assistencial e

paternalista.‖ (YAZBEK, 2009, p.130).

Deste modo, ao reconhecer a legitimidade da questão social no âmbito das

relações entre capital e trabalho, o governo Vargas buscou enquadrá-la juridicamente, visando

à desmobilização da classe operária e a regulação das tensões entre as classes sociais. Yazbek

justifica que ―[...] dessa forma, gradativamente, o Estado vai impulsionando a

profissionalização do assistente social e ampliando seu campo de trabalho em função das

novas formas de enfretamento da questão social. [...]‖. (2009, p.132)

Logo, o Estado incentivava a formação de assistentes sociais para atuarem em

determinadas instituições estatais, regulamentando no mercado o trabalhador e contendo a

exploração da força de trabalho, racionalizando a assistência, reforçando e centralizando a sua

participação. Do mesmo modo, regulando as iniciativas particulares, apoiando as instituições

coordenadas pela igreja, adotando técnicas e formação técnica especializada, desenvolvidas a

partir daquelas instituições particulares, Yazbek acrescenta:

[...] abre para o emergente Serviço Social brasileiro um mercado de trabalho, que

amplia suas possibilidades e intervenção mais além dos trabalhos de ação social até

então implementa dos no âmbito privado, sob o patrocínio do bloco católico. A

profissão amplia sua área de ação, alarga as bases sociais de seu processo de

formação, assume um lugar na execução das políticas sociais emanadas pelo Estado

e, a partir desse momento, tem seu desenvolvimento relacionado com a

complexidade dos aparelhos estatais na operacionalização de Políticas Sociais.

(YAZBEK, 2009, p.132)

Convém sinalizar que, foram criadas várias instituições de assistência social no

Brasil, das quais destacam-se as seguintes: Conselho Nacional de Serviço Social, em 1938,

com o objetivo de centralizar e organizar as obras assistenciais públicas e privadas e a Legião

Brasileira de Assistência - LBA, em 1942, com o objetivo de prover as necessidades das

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famílias, durante o período da ditadura do Estado Novo. E outras grandes instituições como:

Serviço Nacional de Aprendizagem - SENAI; Serviço Social da Indústria -SESI; Fundação

Leão XIII e Previdência Social. Dentre as instituições mais antigas, estão as Caixas de

Pensões e Aposentadoria - CAPS, além dos institutos.

Portanto, atuando no seio dessa conjuntura de respostas as questões sociais,

gestadas dentro dessa perspectiva contraditória das reivindicações históricas do proletariado,

por meios das políticas assistenciais, entende-se que:

[...] na trama das relações sociais concretas, na história social da própria sociedade

brasileira, que se gestam as condições para que, no processo de divisão social e

técnica do trabalho, o Serviço Social constitua um espaço de profissionalização e

assalariamento. (YAZBEK, 2009, p.133)

Visualiza-se então, a crescente expansão do mercado de trabalho nas décadas de

1950 adentrando os anos 1960, além da conquista de novos campos de atuação profissional

dos assistentes sociais. No cenário brasileiro, apontava-se o avanço da industrialização

pesada, o mercado de trabalho para os assistentes sociais mostrava-se ―emergente e em

processo de consolidação‖, muito embora tivesse alcançado o território brasileiro. Os

profissionais buscaram atuar numa perspectiva comunitária, sendo caracterizada pela

neutralidade que acreditavam ter no processo de mediação entre o povo e o governo.

Com a crise do modelo desenvolvimentista, a assistência e as atividades de

promoção social começaram a adquirir nova amplitude, iniciando um rompimento com

práticas conservadoras e tradicionais que visavam apenas a reprodução da exploração social

pelo capitalismo.

Nesse período o Estado continua sendo o principal empregador, porém, abrem-se

espaços para atuação dos profissionais de serviço social, nas empresas e indústrias,

constituindo-se progressivamente como um amplo empregador. Outro aspecto importante

ocorrido no decorrer desses anos trata-se do aprofundamento teórico, o serviço social se

dispõe a construir uma própria teoria, além de método exclusivo, embasado nas ciências

sociais positivistas.

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Ressalta-se, a influência norte-americana sobre o serviço social brasileiro,

marcado pelo tecnicismo e a incorporação da psicanálise com intuito de promover o

ajustamento e fornecer ajuda psicossocial. Nessa época, tem início as práticas de Organização

e Desenvolvimento de Comunidade, além do desenvolvimento das peculiares abordagens

individuais e grupais. Ocorre que a supervalorização da técnica, que por sua vez era

considerada autônoma, a profissão se desenvolve através do serviço social de Caso, Grupo de

Comunidade.

Os anos 1960 e 1970 expressam o movimento de renovação na profissão, tanto em

termos da reatualização do tradicionalismo profissional, quanto na busca de ruptura com o

conservadorismo. Na definição de Netto, a renovação do serviço social significa:

[...] o conjunto de características novas que, no marco das constrições da autocracia

burguesa, o Serviço Social articulou, à base do rearranjo de suas tradições e da

assunção do contributo de tendência do pensamento social contemporâneo,

procurando investir-se como instituição de natureza profissional dotada de

legitimidade prática, através de respostas a demandas sociais e da sua

sistematização, e de validação teórica, mediante a remissão às teorias e disciplinas

sociais. (NETTO, 2011, p.131)

É justamente nesse cenário brasileiro envolto de mudanças políticas, em que a

repressão e o autoritarismo se faziam latentes, que os assistentes sociais sentiram a

necessidade de provocar discussões a cerca da existência de uma base comum para a

profissão, a partir dos seus elementos constitutivos: ―objeto, objetivos, métodos e

procedimentos de intervenção.‖ (IAMAMOTO, 1992, p.33)

Portanto, o serviço social demonstrava preocupação em superar o pragmatismo e

buscava uma identidade científica para a profissão. Além disso, importava-se um referencial

interpretativo da ordem social, com a necessidade de incorporar a perspectiva do método

estrutural-funcionalista. De acordo Netto (2011):

Está claro que produzir este profissional ‗moderno‘ implicava uma profunda rotação

nos mecanismos vigentes da formação dos assistentes sociais – e dela encarregou-se

a política educacional da ditadura [...]. Com efeito, as referidas condições novas

reclamavam uma inteira refuncionalização das agências de formação dos assistentes

sociais, apta a romper de vez com o confessionalismo, o paroquialismo e o

provincianismo que historicamente vincaram o surgimento e o envolver imediato do

ensino do Serviço Social no Brasil – além, naturalmente, da expansão quantitativa

das próprias agências. (NETTO, 2011, p.124)

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Deste modo, o Movimento de Reconceituação do serviço social no Brasil induziu

os profissionais a buscarem respostas para a crise interna vivenciada pela profissão. Esse

contexto foi determinante para que os profissionais ampliassem uma consciência crítica,

reflexiva, lançando questionamentos ao serviço social tradicional. Além de requerer uma

organização interna da categoria, propondo também a revisão da matriz teórica, metodológica,

operativa e política.

Netto, sintetiza quatro aspectos que sinalizaram os nós mais decisivos do processo

de renovação do serviço social, conforme abaixo relacionado:

a) a instauração do pluralismo teórico, ideológico e político no marco profissional,

deslocando uma sólida tradição de monolistismo ideal;

b) a crescente diferenciação das concepções profissionais (natureza, funções, objeto,

objetivos e práticas do Serviço Social), derivada do recurso diversificado as matrizes

teórico-metodológicas alternativas, rompendo com o viés de que a profissionalidade

implicaria uma homogeneidade (identidade) de visões e de práticas;

c) a sintonia da polêmica teórico-metodológica profissional com as discussões em

curso no conjunto das ciências sociais, inserindo o Serviço Social na interlocução

acadêmica e cultural contemporânea como protagonista que tenta cortar com a

subalternidade (intelectual) posta por funções meramente executivas;

d) a constituição de segmentos de vanguarda, sobretudo, mas não exclusivamente

inseridos na vida acadêmica, voltados para investigação e a pesquisa; (NETTO,

2011, p.135-136).

Na compreensão do autor, esses traços destacados, caracterizam, sobretudo, uma

―inflexão em relação ao quadro que o antecedeu‖, além de uma ―tensão entre vetores de

transformação e permanência.‖ Mas, não significou necessariamente um questionamento ao

serviço social brasileiro, e sim, evidenciou a preocupação em questionar-se

metodologicamente.

Yazbek (1999, p.148), menciona que, o movimento de Reconceituaçao, impõe aos

assistentes sociais: ―[...] a necessidade de construção de um novo projeto comprometido com

as demandas das classes subalternas, particularmente expressas em suas mobilizações [...]‖.

Portanto, o serviço social vai aproximar-se dos movimentos ―de esquerda‖, sobretudo do

sindicalismo combativo e classista que se revigora nesse contexto.

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Destaca-se que, no primeiro momento do Movimento de Reconceituação do

Serviço Social no Brasil, o Encontro de Araxá, realizado no ano 1967, posteriormente, o

Encontro de Teresópolis, em 1972. Esses dois encontros caracterizaram as discussões da

categoria profissional sobre a sistematização teórico-prática, que resultou na elaboração de

dois documentos onde ficou explícita a perspectiva de modernização. De acordo com Netto:

A perspectiva modernizadora, num plano ideal, terá a sua hegemonia posta em

questão a partir de meados dos anos setenta – até então, pode-se dizer que ela imanta

indiscutivelmente a reflexão profissional. A crise da autocracia burguesa vai

propiciar as condições para que, a partir do segundo lustro da década de setenta, se

reduza progressivamente a polarização intelectual que exerceu [...]. (NETTO, 2011,

p.156)

A segunda direção do Movimento de Reconceituação no Brasil caracteriza-se pela

―a reatualização do conservadorismo‖, que apresenta um caráter renovador à profissão em

confronto com passado, baseada em matrizes intelectuais mais aprimoradas. Netto, afirma:

[...] trata-se de uma vertente que recupera os componentes mais estratificados da

herança histórica e conservadora da profissão, nos domínios da (auto) representação

e da prática, e os repõe sobre uma base teórico-metodológica que se reclama nova,

repudiando simultaneamente, os padrões mais nitidamente vinculados a tradição

positivista e às referências conectadas ao pensamento crítico-dialético, de raiz

marxiana. [...] ( NETTO, 2011, p.157)

A direção apontada por Netto, (2011, p.159) refere à intenção de ruptura com o

Serviço Social tradicional ―[...] possui como substrato nuclear uma crítica sistemática ao

desempenho ‗tradicional‘ e aos seus suportes teóricos, metodológicos e ideológicos.‖

Para o autor, essa vertente se expressa num momento de crise da ditadura militar,

onde o serviço social se opõe ao tradicionalismo, induzindo questionamentos quanto a sua

vinculação junto aos interesses do bloco no poder. Naquele momento, desenvolveu-se no

interior da categoria profissional, entre vários aspectos, a busca de um novo perfil

profissional, por uma identidade com as classes trabalhadoras. Sobre a temática, Iamamoto,

pontua que:

A ruptura com a herança conservadora expressa-se como uma procura, uma luta por

alcançar novas bases de legitimidade da ação profissional do Assistente Social, que,

reconhecendo as contradições sociais presentes nas condições do exercício

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profissional, busca colocar-se, objetivamente, a serviço dos interesses dos usuários,

isto é, dos setores dominados da sociedade. (IAMAMOTO, 1992, p.37)

O serviço social transitando dos anos 1970 para a década de 1980, enfrenta muitas

transformações, sobretudo, na dimensão política da prática profissional, na busca de novas

bases de legitimação e organização da categoria, assim como na qualificação acadêmica

articulando-se as ciências sociais, além de investimento no âmbito da pesquisa.

O final da década de 1970 configurou-se para o serviço social, com o aumento

expressivo da criação de unidades de ensino públicas e privadas, propiciando a legitima

inserção do serviço social nos quadros universitários, além disso, a prática de pesquisa e da

extensão. Afora, o desenvolvimento da pós-graduação, repercutindo uma ampla discussão em

torno da formação profissional do assistente social.

O contexto histórico da realidade brasileira na década de 80 denota a rearticulação

da sociedade frente às contradições e insatisfação com regime militar. Depreende-se, também

as transformações no interior do serviço social, embasadas na necessidade de acompanhar as

transformações econômicas, políticas e sociais do mundo contemporâneo e da própria

estrutura conjuntural do Estado e da realidade brasileira.

Dentre essas mudanças, destaca-se: a reativação de alguns sindicatos e a criação

de associações. Em 1983, é criada a Associação Nacional de Assistentes Sociais- ANAS,

posteriormente, transforma-se numa federação sindical. Em 1982, é aprovado pelo Conselho

Federal de Educação o novo currículo mínimo instituído pela ABESS – Associação Brasileira

de Escolas de Serviço Social, que supera na formação, a metodologia tripartite e dissemina-se

a ideia da junção entre a técnica e o político.

No ano de 1981, inicia-se na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, a

primeira turma do único curso de doutoramento em serviço social na América Latina, além

disso, o serviço social no âmbito da pesquisa adquire o reconhecimento oficial por parte do

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq.

Já em 1986, é aprovado o Código de Ética Profissional, que ―representa um marco

da ruptura ética e ideopolítica do serviço social com a perspectiva do neotomismo e também

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com o funcionalismo.‖ (Paiva e Sales, 2006, p. 175) Além disso, o Código de 1986 reforçava

a ideia de compromisso com a classe trabalhadora. Os anos de 1980 e 1990, segundo Yazbek:

[...] foram anos adversos para as políticas sociais e se constituíram em terreno

particularmente fértil para o avanço da regressão neoliberal que erodiu as bases dos

sistemas de proteção social e redirecionou as intervenções do Estado em relação à

questão social. Nestes anos, em que a políticas sociais vêm sendo objeto de um

processo de reordenamento, subordinado às políticas de estabilização da economia,

em que a opção neoliberal na área social passa pelo apelo à filantropia e à

solidariedade da sociedade civil e por meio de programas seletivos e focalizados de

combate à pobreza no âmbito do Estado, [...] novas questões se colocam ao Serviço

Social, quer do ponto de vista de sua intervenção, quer do ponto de vista da

construção de seu corpo de conhecimentos. (YAZBEK, 1999, p.154)

Os anos de 1990, por sua vez, apresentam novos desafios e expectativas para a

categoria profissional. Contudo, cabe destacar três grandes conquistas para o Serviço Social

nesta década, que são: O Código de Ética de 1993, Diretrizes Curriculares de 1996 e a

Legislação que regulamenta o exercício profissional - Lei n.8.662, de 07 de junho de 1993.

A conjuntura econômica, política e social dos anos 1990 refletem e repercutem

significadamente na sociedade e de sobremodo no serviço social enquanto profissão. Segundo

Yazbek:

[...] trata-se de um contexto em que são apontadas alternativas privatistas e

refilantropizadas para as questões relacionadas ao terceiro, amplo conjunto de

organizações e iniciativas privadas, não lucrativas, sem clara definição, criadas e

mantidas com o apoio do voluntariado e que desenvolvem suas ações no campo

social, no âmbito de vastíssimo conjunto de questões, em espaços de desestruturação

(não de eliminação) das políticas sociais, e de implementação de novas estratégias

programáticas como, por exemplo, os programas de Transferência de Renda, em

suas diferentes modalidades. (YAZBEK, 1999, p.155)

Ocorre que o ideário neoliberal, implicou impactos em vários setores da

sociedade, não obstante rebateu no serviço social, sobretudo, nas condições e relações de

trabalho, uma vez que estreitou o mercado de trabalho dos assistentes sociais e desvalorizou

os profissionais.

Com o sucateamento dos serviços públicos, houve uma retração de investimentos

financeiros por parte do Estado em programas da área social. Com a extinção da LBA, foi

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criado o Ministério da Previdência e Assistência Social - MPAS, ligado a Secretaria Nacional

de Assistência Social- SNAS que assumiria o papel da LBA e do também extinto Ministério

do Bem Estar Social. Além disso, salienta-se a transferência de serviços de responsabilidade

do Estado para o setor privado, a exemplo das Organizações Não Governamentais.

Do início dos anos 2000 até a atualidade, o serviço social tem vivenciado

mudanças no redimensionamento da profissão, nas condições de trabalho, nas refrações da

questão social, no âmbito das políticas sociais e também com relação aos novos desafios

apresentados aos assistentes sociais.

De acordo com Iamamoto:

Um dos maiores desafios que o Assistente Social vive no presente é desenvolver sua

capacidade de decifrar a realidade e construir propostas de trabalho criativas e

capazes de preservar e efetivar direitos, a partir de demandas emergentes no

cotidiano. Enfim, ser um profissional propositivo e não só executivo.

(IAMAMOTO, 2012, p.20)

Importa ressaltar uma grande conquista dos profissionais, a definição da jornada

de 30 horas de trabalho para a categoria profissional, sem a redução salarial. A Lei nº.

12.317, de 26 de agosto de 2010, alterou o artigo 5° da Lei de Regulamentação Profissional

(Lei 8662/1993), em seu "Art.5°-A. A duração do trabalho do Assistente Social é de 30

(trinta) horas.‖ Ademais, a mesma Lei ainda estabelece em seu artigo 2°: ―Aos profissionais

com contrato de trabalho em vigor na data de publicação desta Lei é garantida a adequação da

jornada de trabalho, vedada a redução do salário‖.

No âmbito do ensino salienta-se o aumento significativo de cursos de graduação

em Serviço Social nas unidades de ensino privados. Afora, a implementação do ensino de

graduação à distância – EaD, o que tem provocado grandes questionamentos no conjunto

CFESS/CRESS, acerca da qualidade do ensino e assim como o estágio curricular. Além disso,

expande-se o campo da pesquisa em serviço social e os cursos de pós-graduação.

Por todo exposto, evidencia-se que, ao longo dos anos, o serviço social, vem

gradativamente se afirmando e consolidando conquistas. No cenário atual, o profissional tem

buscado novas alternativas e possibilidades para efetivação do trabalho, o que implica

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compreender essa atuação profissional dentro de um contexto sócio-histórico e no cenário das

relações sociais.

Deste modo, abordar as bases que legitimaram a profissão, se fez fundamental,

para assim vislumbrarmos a sua vinculação na divisão sócio-técnica do trabalho, e para

prosseguir nessa análise será apresentada a seguir as ―Atribuições e competências do serviço

social‖, em seu conjunto de legislações que regulamentam a profissão, bem como as balizada

pelo Código de Ética.

1.2 – Atribuições e competências do serviço social

As profissões são fenômenos socialmente produzidos e como tal refletem em suas

práticas as tendências preponderantes que apreendem do momento histórico. Daí compreende-

se que, o exercício profissional não é o mesmo em todo e qualquer contexto e em todo e

qualquer tempo.

No processo reflexivo, depreende-se que uma profissão ganha institucionalidade

na medida em que a sociedade a legitima e a legitimidade decorre do exercício de certas

funções ou competências reconhecidas como socialmente úteis.

Considerando a historicidade da profissão - seu caráter transitório e socialmente

condicionado - ela se configura e se recria no âmbito das relações entre o Estado e a

sociedade, fruto de determinantes macro-sociais que estabelecem limites e

possibilidades ao exercício profissional, inscrito na divisão social e técnica do

trabalho e nas relações de propriedade que a sustentam. Mas uma profissão é,

também, fruto dos agentes que a ela se dedicam cai seu protagonismo individual e

coletivo. (IAMAMOTO, 2012, p.39)

Durante longos anos, o serviço social, foi marcado e reconhecido como profissão

influenciada pelo conservadorismo e pela forte influência da igreja católica. Em termos

gerais, o serviço social era visto como vocação, habilidade, ocupação ou ofício.

Hoje, é reconhecido como profissão, uma especialização do trabalho coletivo,

inscrita na divisão social e técnica do trabalho, de nível superior, regulamentada no Brasil

pela Lei n. 8.662/93, de 07 de junho de 1993, com alterações determinadas pelas resoluções

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CFESS nº 290/94 e nº293/94, e balizada pelo Código de Ética, aprovado através da resolução

CFESS nº 273/93, de 13 de março de 1993. (FRAGA, 2010)

Contudo, a abordagem do serviço social, inserido na divisão social do trabalho,

sinaliza que ―[...] o assistente social é proprietário de sua força de trabalho especializada. Ela

é produto da formação universitária que o capacita a realizar um trabalho complexo‖,

(IAMAMOTO, 2009, p.352)

Assim como em qualquer outra profissão, o serviço social dispõe de elementos

que compõem o processo de trabalho dos assistentes sociais. Quanto ao objeto de intervenção,

a sua ação incide sobre as expressões da questão social, definida por Iamamoto, como:

O conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura, que

tem uma raiz comum: a produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se

mais amplamente social, enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se privada,

monopolizada por uma parte da sociedade. (IAMAMOTO, 2012, p.27)

Essa intervenção nas múltiplas expressões da questão social requer do profissional

uma articulação coletiva, conhecimento da realidade e uma postura crítica, com propósito de

contribuir para reduzir as desigualdades e injustiças sociais, lutando para fortalecer os

sujeitos, despertando neles uma consciência democrática.

Importa ressaltar que esse objeto de intervenção do serviço social é historicamente

determinado e sua análise deriva da perspectiva histórica e política assumida pelo assistente

social a partir dos determinantes do projeto ético-político profissional.

Tendo em vista, o exercício profissional do assistente social, reporta a dimensão

investigativa e interventiva da profissão, que de acordo com Torres:

[...] Dimensão interventiva: aquela em que se explicita não somente a construção,

mas a efetivação das ações desenvolvidas pelo assistente social. Compreende

intervenção propriamente dita, o conhecimento das tendências teórico-

metodológicas, a instrumentalidade, os instrumentos técnico-operativos e os do

campo das habilidades, os componentes éticos e os componentes políticos, o

conhecimento das condições objetivas de vida do usuário e o reconhecimento da

realidade social e a dimensão investigativa: compreende a produção do

conhecimento, a elaboração de pesquisas e os aspectos analíticos que dão suporte,

qualificam e garantem a concretização da ação interventiva. Ambas – em

complementaridade – favorecem a visibilidade do fazer profissional. São essas

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dimensões que consolidam a coerência, a consistência teórica e argumentativa, e,

para além disso, são as formas concretas do agir profissional. Acrescenta-se que o

exercício profissional realizado sob essa dupla dimensão amplia a discussão sobre a

intervenção profissional, enfatizando a questão do compromisso e da competência;

além de salientar a preocupação com o desenvolvimento teórico do Serviço Social.

[...] (TORRES, 2007, p.47-48)

Ou seja, essas dimensões constituem-se como princípios formativos, bem como, o

exercício profissional dos assistentes sociais. Portanto, singularizam as competências e as

atribuições dos profissionais. Por meio dessas competências, explica o autor, vislumbra-se as

possibilidades do agir profissional em meios aos muitos espaços sócio-ocupacionais.

Todavia, antes de mencionar os múltiplos espaços sócio-ocupacionais, convém

pontuar que a atuação profissional dos assistentes sociais dá-se em ―[...] âmbitos, áreas e

segmentos populacionais (criança e adolescente, idoso, pessoas com necessidades especiais,

família) e em diferentes setores (seguridade social: saúde, previdência social, assistência;

educação, trabalho, habitação e na questão agrária)‖. (FRAGA, 2010, p. 45,46).

Para intervir na realidade dos sujeitos em diversos segmentos, faz-se necessário

uma sistematização do saber teórico, de métodos e técnicas. O conhecimento da legislação é

um dos elementos presentes no exercício profissional do assistente social. Esse conhecimento

pode colaborar na sustentação desse exercício. Ao mesmo tempo, a própria prática

profissional, as demandas de atendimento direcionam ao conhecimento de outras leis que

garantem a sua visibilidade e importância social. Fraga, explica que:

[...] esse arsenal de conhecimentos ético-politico, teórico-metodológico e técnico

operativo do qual o assistente social precisa se apropriar-se no seu âmbito de

atuação profissional varia, desde os considerados específicos, decorrente da área de

Serviço Social propriamente dita, como também apropriações sobre legislações

(principalmente a relativa à legislação social voltada para criança e o adolescente –

ECA; Idoso – Estatuto do Idoso; SUS – Sistema Único de Saúde; Loas – Lei

Orgânica de Assistência Social; Sistema Único de Assistência Social – SUAS;

Suas/RH; Política Nacional de Pessoa com Deficiência – PcD; Lei de Diretrizes e

Bases – LDB); políticas sociais, conhecimento e habilidades de trabalhar em

equipes, interfaces com poder público local, articulação de redes e com instâncias

locais diversas, o que requer, além da formação generalista, apropriações

aprofundadas dependendo da inserção sócio-ocupacional. (FRAGA, 2010, p.47)

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No que concerne aos espaços sócio-ocupacionais, o assistente social é um

profissional que tem um vasto campo de atuação, que pode variar entre instituições públicas

federais, estaduais e municipais, a exemplo: prefeituras, Judiciário, Ministério Público,

Instituto Nacional de Seguro Social – INSS, escolas, albergues, abrigos, sistema carcerário

(presídios e penitenciárias) ou hospitais. Além das entidades privadas, como: empresas de

serviços, de comércio, indústria. No denominado terceiro setor: nas entidades

socioassistenciais, associações de moradores, Organizações Não Governamentais – ONGs.

Poderá atuar também, nas áreas de ensino e pesquisa, de maneira autônoma, assessoria e

consultoria em projetos de gestão e planejamento social.

Em meio a esse amplo campo de possibilidades de atuação profissional, convém

elucidar sobre o projeto profissional de caráter ético-político do serviço social. Nele estão

explicitados os limites e responsabilidades que atravessam o exercício profissional do

assistente social.

Iamamoto ao citar Netto, infere que os projetos profissionais, construídos por um

sujeito coletivo - a respectiva categoria profissional:

[...] apresentam a auto-imagem da profissão, elegem valores que a legitimam

socialmente, delimitam e priorizam seus objetivos e funções, formulam requisitos

(técnicos, institucionais e práticos) para o seu exercício, prescrevem normas para o

comportamento dos profissionais e estabelecem balizas de sua relação com os

usuários dos seus serviços, com outras profissões e com as organizações e

instituições, públicas e privadas (entre estes, também e destacadamente com o

Estado, ao qual coube historicamente, o reconhecimento jurídico dos estatutos

profissionais). (IAMAMOTO, 2012, p.41 apud NETTO 1995, p.95)

No entanto, na concepção de Torres (2007, p.60) ―O projeto ético-político

inscreve o serviço social como uma profissão necessariamente articulada a um projeto de

sociedade, além de expressar uma direção ao exercício profissional que se quer visível na

profissão‖.

Portanto, os princípios éticos, indicam o modo de operar o trabalho profissional,

estabelecendo balizas para a sua condução nas condições e relações de trabalho em que é

exercido mediante as expressões coletivas da categoria profissional na sociedade:

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I. Reconhecimento da liberdade como valor ético central e das demandas

políticas a ela inerentes - autonomia, emancipação e plena expansão dos

Indivíduos sociais;

II. Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do

autoritarismo;

III. Ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial de

toda sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis sociais e políticos das

classes trabalhadoras;

IV. Defesa do aprofundamento da democracia, enquanto socialização da

participação política e da riqueza socialmente produzida;

V. Posicionamento em favor da equidade e justiça social, que assegure

universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e

políticas sociais, bem como sua gestão democrática;

VI. Empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, incentivando

o respeito à diversidade, à participação de grupos socialmente discriminados

e à discussão das diferenças;

VII. Garantia do pluralismo, através do respeito às correntes profissionais

democráticas existentes e suas expressões teóricas, e compromisso com o

constante aprimoramento intelectual;

VIII. Opção por um projeto profissional vinculado ao processo de construção

de uma nova ordem societária, sem dominação, exploração de classe, etnia e

gênero;

IX. Articulação com os movimentos de outras categorias profissionais que

partilhem dos princípios deste Código e com a luta geral dos/as

trabalhadores/as;

X. Compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população e com

o aprimoramento intelectual, na perspectiva da competência profissional;

XI. Exercício do Serviço Social sem ser discriminado/a, nem discriminar, por

questões de inserção de classe social, gênero, etnia, religião, nacionalidade,

orientação sexual, identidade de gênero, idade e condição física.

(BRASIL,1993)

Tais princípios são articulados entre si e se complementam, portanto, o fazer

profissional deve estar envolto no compromisso de zelar pelo projeto ético político da

categoria e tê-lo materializado. Sobre o projeto, Iamamoto ressalta que ―[...] para avançar na

efetivação desse projeto, é necessário considerar a matéria do serviço social, consubstanciada

na questão social em suas múltiplas expressões concretas, como condição de enraizar o

projeto nas condições reais de sua implementação [...]‖ (IAMAMOTO, 2012, p.47)

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Ainda fazem parte do projeto profissional, a lei de regulamentação da profissão e

as diretrizes curriculares para a área de serviço social, propostas às unidades de ensino através

da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social - ABEPSS. No que tange a

Lei de Regulamentação da Profissão, nº. 8.662/93, de 07 de junho de 1993, esta representa

uma defesa da profissão na sociedade e um guia para a formação acadêmico-profissional.

A mesma foi publicada juntamente com o Código de Ética, e acompanha o

desenvolvimento da profissão no Brasil, estabelecendo com maior clareza as competências e

atribuições privativas, servindo de instrumento que baliza o exercício profissional para os

profissionais de outras áreas, além de esclarecer o papel profissional do assistente social para

os empregadores.

De acordo com Iamamoto (2012, p.37), no ―[...] sentido etimológico, a

competência diz respeito à capacidade de apreciar, decidir ou fazer alguma coisa, enquanto a

atribuição é uma prerrogativa, privilégio, direito e poder de realizar algo.‖ Assim, o art. 4º da

referida Lei, expressa as competências profissionais:

I - elaborar, implementar, executar e avaliar políticas sociais junto a órgãos da

administração pública, direta ou indireta, empresas, entidades e organizações

populares;

II - elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos que sejam

do âmbito de atuação do Serviço Social com participação da sociedade civil;

III - encaminhar providências, e prestar orientação social a indivíduos, grupos e à

população;

IV - (Vetado);

V - orientar indivíduos e grupos de diferentes segmentos sociais no sentido de

identificar recursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e na defesa de seus

direitos;

VI - planejar, organizar e administrar benefícios e Serviços Sociais;

VII - planejar, executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a análise da

realidade social e para subsidiar ações profissionais;

VIII - prestar assessoria e consultoria a órgãos da administração pública direta e

indireta, empresas privadas e outras entidades, com relação às matérias relacionadas

no inciso II deste artigo;

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IX - prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em matéria relacionada às

políticas sociais, no exercício e na defesa dos direitos civis, políticos e sociais da

coletividade;

X - planejamento, organização e administração de Serviços Sociais e de Unidade de

Serviço Social;

XI - realizar estudos sócio-econômicos com os usuários para fins de benefícios e

serviços sociais junto a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas

privadas e outras entidades. (BRASIL, 1993)

Ainda, conforme artigo 5º, da referida Lei, afirma-se ainda que constituem

atribuições privativas do (a) Assistente Social:

I - coordenar, elaborar, executar, supervisionar e avaliar estudos, pesquisas, planos,

programas e projetos na área de Serviço Social;

II - planejar, organizar e administrar programas e projeto sem Unidade de Serviço

Social;

III - assessoria e consultoria e órgãos da Administração Pública direta e indireta,

empresas privadas e outras entidades, em matéria de Serviço Social;

IV - realizar vistorias, perícias técnicas, laudos periciais, informações e pareceres

sobre a matéria de Serviço Social;

V - assumir, no magistério de Serviço Social tanto a nível de graduação como pós-

graduação, disciplinas e funções que exijam conhecimentos próprios e adquiridos

em curso de formação regular;

VI - treinamento, avaliação e supervisão direta de estagiários de Serviço Social;

VII - dirigir e coordenar Unidades de Ensino e Cursos de Serviço Social, de

graduação e pós-graduação;

VIII - dirigir e coordenar associações, núcleos, centros de estudo e de pesquisa em

Serviço Social;

IX - elaborar provas, presidir e compor bancas de exames e comissões julgadoras de

concursos ou outras formas de seleção para Assistentes Sociais, ou onde sejam

aferidos conhecimentos inerentes ao Serviço Social;

X - coordenar seminários, encontros, congressos e eventos assemelhados sobre

assuntos de Serviço Social;

XI - fiscalizar o exercício profissional através dos Conselhos Federal e Regionais;

XII - dirigir serviços técnicos de Serviço Social em entidades públicas ou privadas;

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XIII - ocupar cargos e funções de direção e fiscalização da gestão financeira em

órgãos e entidades representativas da categoria profissional. (BRASIL, 1993)

Sobre as Diretrizes curriculares do serviço social, proposta pelas unidades de

ensino através da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social – ABEPSS e

aprovadas pelo Conselho Nacional de Educação, em Assembléia Geral Extraordinária, em 08

de novembro de 1996, depreende-se que:

[...] materializam um projeto de formação profissional que vem sendo construído

coletivamente no bojo do processo de renovação do Serviço Social brasileiro, como

um dos pilares do processo ético-político da profissão. Avança na qualificação da

questão social como objeto de trabalho do assistente social, em suas múltiplas e

diferenciadas expressões, vivenciadas pelos sujeitos como conformismo e rebeldia

nas relações sociais cotidianas. As diretrizes propostas articulam, ainda, a análise

dos fundamentos do Serviço Social em suas dimensões históricas, teórico-

metodológicas e éticas com as reais condições e relações de trabalho em que se

realiza o exercício profissional. Este, de maneira inédita, é erigido a uma posição de

centralidade no processo de formação, tratado teoricamente sob o ângulo dos

processos e relações de trabalho em que se realiza, desafiando a efetiva articulação

entre a análise teórica sobre profissão e as particulares condições sociais de sua

efetivação no mercado de trabalho, nas quais se expressam as tensões entre

interesses e necessidades sociais das distintas classes sociais — e seus distintos

segmentos — em seu embate e em suas relações com o Estado. (IAMAMOTO,

2012, p.44)

A devida implementação desse projeto, requer também a sua fiscalização, uma

vez que, a sua fundamentação está em articular formação acadêmica e as condições reais do

exercício profissional. Para tanto, a categoria dos assistentes sociais no Brasil, possui três

entidades representativas:

a) Conjunto formado pelo Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) e pelos

Conselhos Regionais de Serviço Social (CRESS): regulamentado pela Lei 8.662/93

e objetiva disciplinar e defender o exercício da profissão de assistente social em todo

o território nacional. Os CRESS são responsáveis pela fiscalização quanto ao

cumprimento dos deveres dos profissionais registrados e obedecem à Política

Nacional de Fiscalização do conjunto.

Anualmente há uma reunião do conjunto para a tomada de diversas deliberações

relativas a ações da categoria profissional. As decisões podem ser acessadas nos

relatórios dos Encontros Nacionais.

[...]

b) Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS): criada

em 1946, denominada então de Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social

(ABESS) e formada por três unidades de ensino preocupadas com a formação

profissional em Serviço Social, que ainda engatinhava. Em 1998 passou a

denominar-se ABEPSS, incorporando a dimensão de pesquisa (e não somente de

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ensino) em suas preocupações.

A ABEPSS é uma entidade civil de âmbito nacional sem fins lucrativos, com foro

jurídico em Brasília, mas sua sede é itinerante, a cada dois anos, conforme mudança

da Diretoria. É constituída pelas Unidades de Ensino de Serviço Social, por sócios

institucionais colaboradores e por sócios individuais. Cabe ressaltar que nem todas

as Unidades de Ensino de Serviço Social são filiadas à ABEPSS: portanto, a filiação

depende de uma opção acadêmico-política, isto é, de identificação com as

finalidades da ABEPSS.

O seu principal objetivo tem sido o de assegurar a direção político-pedagógica

impressa nas Diretrizes Curriculares de 1996, essencial para possibilitar a formação

de profissionais críticos e competentes.

A ABEPSS realiza, a cada dois anos, o Encontro Nacional de Pesquisadores em

Serviço Social (ENPESS). [...]

c) Executiva Nacional dos Estudantes de Serviço Social (ENESSO): É a instância

representativa dos estudantes de Serviço Social em âmbito nacional e concentra-se

em questões como a qualidade da formação profissional, os rumos da universidade

brasileira, dentre outras. A ENESSO, além dos representantes nacionais, possui

coordenações regionais. Realiza, anualmente, o Encontro Nacional dos Estudantes

de Serviço Social, quando elege sua Diretoria (nacional e regional) e estabelece as

diretrizes de trabalho para o ano seguinte.O Congresso Brasileiro de Assistentes

Sociais (CBAS) é organizado pelas três entidades e ocorre a cada três anos.[...]

(Extraído do site: www.assistentesocial.com.br)4

As entidades aqui apresentadas contribuem diretamente para a reafirmação do

compromisso com princípios do projeto profissional, uma vez que, possibilita por meio de

discussões/seminários/encontros a participação da categoria profissional, visando

democratizar espaços de construção coletiva. Portanto, o profissional, que tem uma

compreensão da teoria social crítica, do contexto sócio-histórico em se que desenvolveu o

serviço social deve participar ativamente dos órgãos constitutivos da organização da

categoria. Barroco complementa:

Na relação com os usuários, nos limites da sociedade burguesa, a ética profissional

se objetiva através das ações conscientes e críticas, do alargamento do espaço

profissional, quando ele é politizado- o que implica no compartilhamento coletivo

com outros profissionais e no respaldo das entidades e dos movimentos sociais

organizados. Isso torna possível uma ação ético-política articulada ao projeto

coletivo, adquirindo maiores possibilidades de respaldo nos momentos de

enfrentamento e de resistência. (BARROCO, 2012, p.181)

Nesse contexto, o assistente social, mesmo realizando atividades em espaços

sócio-ocupacionais diversos, dispõe de atribuições distintas para o encaminhamento das

ações, que o distingue de outros profissionais. Essa diferenciação decorre da sua formação, da

4Extraído do site: www.assistentesocial.com.br. Acesso realizado em 20/03/2013.

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sua capacidade teórico-metodológica para identificar as múltiplas expressões da questão

social, além disso, dispõe também de distintas competências e habilidades.

No próximo item será abordada como se deu a inserção do serviço social no

sóciojurídico, e a contribuição deste profissional neste campo de atuação.

1.3 - Serviço social no campo sóciojurídico

Os primeiros passos do assistente social no Poder Judiciário brasileiro, deram-

sena década de 1940, logo após a formação das primeiras turmas em serviço social. Com a

implementação do Comissariado de Menores, houve a necessidade de um profissional

capacitado para atuar nesse âmbito. Desta forma, os assistentes sociais começaram a atuar no

Judiciário Paulista, como comissários de vigilância.

No Departamento de Serviço Social do Estado de São Paulo, a mais ampla

instituição de Serviço Social existente nesse momento, os Assistentes Sociais

atuaram como comissários de menores no Serviço Social de menores – menores

abandonados, menores delinqüentes, menores sob tutela da Vara de Menores,

exercendo atividades no Instituto Disciplinar e no Serviço Social (do Departamento

de Serviço Social) no campo da Assistência Judiciária. [...] (IAMAMOTO;

CARVALHO, 1990, p. 150)

A área de atuação junto ao Juizado de Menores foi um espaço prioritário de

inserção da profissão, uma vez que a demanda por assistentes sociais na época excedeu o

número de profissionais disponíveis. A seguir, os autores apontam quais eram as atribuições e

finalidade da intervenção dos assistentes sociais nessa instância.

[...] reajustar indivíduos ou famílias cuja causa de desadaptação social se prenda a

uma questão de justiça civil e, enquanto pesquisadoras sociais (o maior contingente

de Assistentes Sociais) e nos serviços de plantão. Além dos serviços técnicos, de

orientação técnica das Obras Sociais, estatísticas e Fichário Central de Assistidos.

(IAMAMOTO; CARVALHO, 1990, p.195)

Como pode-se perceber a trajetória profissional do serviço social, sempre esteve

atrelado historicamente, ao sistema judiciário, sobretudo, no que concerne a atuação

profissional junto aos ―menores‖, desde 1940. Atualmente com definição de infância e

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juventude, contribuindo também na área do sistema penal desde a década de 1950. Sobre a

inserção do assistente social e sua intervenção no sistema penal, Guindani comenta que:

Inicialmente com forte cunho assistencial e assumindo atividades de outras

categorias, adotou posição preponderante frente a toda problemática da

ressocialização do sujeito apenado. Incorporava-se dessa maneira, o caráter

repressor e adaptador da instituição total, não sendo, nesse momento histórico,

questionada a contraditoriedade existente no trinômio segurança, disciplina e

recuperação. (GUINDANI, 2001, p. 40)

Salienta-se que, muito embora haja alguns parcos registros históricos que apontem

a atuação do assistente social no judiciário, bem como no sistema penal, é notório a

fragilidade ínfima da produção teórica acerca da temática. Pouco se sabe sobre o exercício da

prática profissional e da sua sistematização dentro desses espaços. Por isso, Wingeter

Rodrigues (2011, p.18) aduz que, ―[...] há um descompasso entre o longo tempo de

permanência do Serviço Social nessa esfera, em relação ao saber que este produzia.‖ Logo, o

autor conclui que:

Ou seja, apesar da grande contribuição que o Serviço Social prestou na esfera

jurídica, nas décadas que se seguiram após a sua criação, muito pouco foi produzido

em termos de produção teórica, visando o próprio processo de avaliação da profissão

nesse espaço sócio-ocupacional, bem como permitindo uma formação continuada

dos assistentes sociais inseridos nesse âmbito. Somente nas últimas duas décadas, é

que esse campo de atuação profissional vem ganhando destaque como tema de

congressos, periódicos e discussões nos próprios conjuntos CFESS/CRESS.

(RODRIGUES, 2011, p.18)

De fato, percebe-se que somente nos últimos anos, especificamente, a partir da

década de 90, é que se amplia a discussão sobre o tema sóciojurídico, não por acaso, já que o

assistente social passou a ser mais requisitado para atuar no Sistema Judiciário justamente em

meados desta década. Sobre o assunto, Fávero comenta:

Ainda que o meio sóciojurídico, em especial o judiciário, tenha sido um dos

primeiros espaços de trabalho do assistente social, só muito recentemente é que

particularidades do fazer profissional nesse campo passaram a vir a público como

objeto de preocupação investigativa. Tal fato se dá por um conjunto de razões, das

quais se destacam: a ampliação significativa de demanda de atendimentos e de

profissionais para a área [...] inclusive pelos próprios profissionais que estão na

intervenção direta; e, em consequência, um maior conhecimento crítico e

valorização, no meio da profissão, de um campo de intervenção historicamente visto

como espaço tão somente para ações disciplinadoras e de controle social, no âmbito

da regulação caso a caso. (FÁVERO, 2006, p.10-11)

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Dentre as razões que justificam uma maior inserção do assistente social no

sistema jurídico, a partir da década de 90, cita-se concursos públicos voltados para a área,

além do aumento do interesse da sociedade pelas questões que envolvam a justiça, e também

em virtude dessas demandas apresentarem novas necessidades sociais, o que requer o auxílio

de outras ―ciências humanas e sociais‖. Deste modo, Chuairi (2001) assevera:

A consecução de um trabalho interdisciplinar com ações compatíveis com a

realidade social e com os níveis de desenvolvimento científico-tecnológico do

mundo moderno possibilita maior eficácia à ordem jurídica, superando, assim, a

mera identificação da ciência do Direito com a aplicação da Lei. (CHUAIRI, 2001,

p.136-137)

Portanto, mesmo atuando de forma auxiliar no sistema jurídico, seja assessorando

ou subsidiando os procedimentos, a inserção do assistente social se faz necessária, uma vez

que possibilita construções de novas alternativas de ação, dentro de uma equipe

interdisciplinar. Como então pode ser definido o conceito de sóciojurídico? Segundo Fávero,

esse campo de atuação do assistente social pode ser definido como:

Campo (ou sistema) sóciojurídico diz respeito ao conjunto de áreas em que a ação

do Serviço Social articula-se a ações de natureza jurídica, como o sistema judiciário,

o sistema penitenciário, o sistema de segurança, os sistemas de proteção e

acolhimento como abrigos, internatos, conselhos de direitos, dentre outros.

(FÁVERO, 2006, p. 10)

De acordo com Chuairi (2001) ―O Serviço Social aplicado ao contexto jurídico

configura-se como uma área de trabalho especializado, que atua com as manifestações da

questão social, em sua interseção com o Direito e a Justiça na sociedade.‖ (2001, p. 137) Esta

autora, explica que serviço social e direito possuem uma ―interface histórica‖, isso se dá

porque, a ação profissional do assistente social nas múltiplas expressões da questão social,

―coloca a cidadania, a defesa, preservação e conquista dos direitos, bem como sua efetivação

e viabilização social, como foco de seu trabalho.‖ (2001, p.137)

A autora Borgianni (2009), também compartilhou do mesmo pensamento da

autora mencionada logo acima, no II Seminário Nacional realizado em outubro de 2009, em

Cuiabá, Mato Grosso, com título: O serviço social no campo sociojurídico na perspectiva da

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concretização de direitos, em suas palavras ―[...] o profissional do campo sociojurídico está

inserido em um universo no qual foi chamado para dar respostas às mais diversas

necessidades de proteção, mas, sobretudo à proteção jurídica dos direitos.‖ (BORGIANNI,

2009, p.167)

Ou seja, essa atuação é dotada de uma polaridade, que envolve a ―resolutividade

dos conflitos‖, ―campo da proteção jurídica dos direitos‖, ―sistema de responsabilização

judicial‖, diferenciando-se das outras esferas. Por esta razão, cabe ao assistente social ter

embasamento teórico em diferentes legislações (Estatuto da Criança e do Adolescente, Nova

Lei de Adoção, Política Nacional do Idoso, Lei de Execuções Penais, Lei Maria da Penha,

Política Nacional de Assistência Social, entre outras), voltado para diversos segmentos

sociais, de modo a qualificar-se para intervir nas particularidades de cada demanda.

Cabe ressaltar ainda que, o campo sóciojurídico vem acentuadamente ampliando e

requisitando, a inserção do assistente social para atuar em equipe multidisciplinar junto ao

Poder Judiciário. Atualmente, esses espaços compreendem: Tribunais de Justiça, nas Varas da

Infância e Juventude, nas Varas de Família e Sucessões, nas Varas de Execuções Criminais,

Ministério Público, Delegacias de Policia especializadas, Defensorias Públicas, Programas e

Serviços que atendem a população através de Assistência Jurídica Integral e Gratuita, como

trabalhadores autônomos prestando serviços como perito social, Sistema Penitenciário, em

instituições que aplicam medidas protetivas (abrigos) ou sócioeducativas (adolescentes

infratores), Conselhos Tutelares e Conselhos de Direitos, dentre outros.

Como pode-se perceber, os assistentes sociais possuem uma vasta área de atuação

no âmbito jurídico, não se resumindo apenas aos exemplos citados acima. Contudo, Wingeter

Rodrigues (2011. 21) explica que:

[...] foi elaborado o relatório parcial pelo Grupo de Trabalho do CFESS, oficializado

pelo mesmo, através do Ofício 090/2011 de 13 de maio de 2011, o qual delimitou

como áreas abrangidas do campo sóciojurídico as seguintes áreas:

· Ministério Público;

· Poder Judiciário;

· Sistema Penitenciário e Segurança Pública;

· Sistema de Aplicação de Medidas Sócio-educativas; e

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· Defensorias Públicas/Serviços de Assistência Jurídica Gratuitas.‖

Com relação às atribuições assumidas pelos assistentes sociais, estas contemplam

uma diversidade de ações, uma vez que espaços sócio-ocupacionais, mencionados

anteriormente, possuem formatos institucionais diferentes e modo organização próprios.

Chuairi exemplifica algumas destas principais atividades:

• Assessorar e prestar consultoria aos órgãos públicos judiciais, a serviços de

assistência jurídica e demais profissionais deste campo, em questões específicas de

sua profissão;

• Realizar perícias e estudos sociais, bem corno informações e pareceres da área de

sua competência, em consonância com os princípios éticos de sua profissão;

• Planejar e executar programas destinados à prevenção e integração social de

pessoas e/ou grupos envolvidos em questões judiciais;

• Planejar, executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a análise social,

dando subsídios para ações e programas no âmbito jurídico;

• Participar de programas de prevenção e informação de direitos à população usuária

dos serviços jurídicos;

• Treinamento,supervisão e formação de profissionais e estagiários nesta área.

(CHUAIRI, 2001, p. 138)

A prática profissional exercida no âmbito sóciojurídico dispõe de todas as

prerrogativas da lei 8.662 de 07/03/1993, estabelecidas nos artigos 4° (competências do

Assistente Social) e 5° (atribuições privativas do Assistente Social), seguindo

asdeterminações do Código de Ética Profissional, que tem a liberdade, a justiça social e a

defesa dos direitos humanos como norte. Sobre a relação com a justiça o artigo 19º do Código

de Ética dispõe sobre os deveres do assistente social:

a) apresentar à justiça, quando convocado na qualidade de perito ou testemunha, as

conclusões do seu laudo ou depoimento, sem extrapolar o âmbito da competência

profissional e violar os princípios éticos contidos neste Código.

b) comparecer perante a autoridade competente, quando intimado a prestar

depoimento, para declarar que está obrigado a guardar sigilo profissional nos termos

deste Código e da Legislação em vigor. (BRASIL,1993)

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No artigo 5º da lei de regulamentação da profissão, constituem atribuições

privativas do Assistente Social: ―IV - realizar vistorias, perícias técnicas, laudos periciais,

informações e pareceres sobre a matéria de Serviço Social.‖ (BRASIL, 1993).

Ocorre que, mesmo dotado de fundamentação teórico-metodológica, ético-

política e técnica-operativa, o profissional inserido neste contexto enfrenta inúmeros desafios,

e apresenta especificidades dada a complexidade do trabalho, bem como as inter-relações

existentes.

Quem trabalha no campo sociojurídico está inserido em um universo que tem

especificidades perante o campo das políticas sociais em geral. Ou em outras

palavras, trabalhar com medidas socioeducativas, ou nas Varas de Família, Varas da

Infância ou ainda no Ministério Público (MP) é diferente de trabalhar em um Centro

de Referência em Assistência Social ou numa unidade do Sistema Único de Saúde.

(BORGIANNI, 2009, p.167)

Portanto, o trabalho do assistente social no campo sóciojurídico diferencia-se dos

demais espaços de atuação sócio-ocupacional, tendo em vista que, caracteriza-se por uma

prática de operacionalização de direitos, ou seja, dando respostas às mais diversas

necessidades de proteção, mas, sobretudo, à proteção jurídica dos direitos. Além da mediação

de conflitos entre usuários, interesses dos mesmos aos da instituição jurídica em que se está

lotado, e/ou outros órgãos, e entre indivíduos e causas judiciais.

No que concerne aos instrumentais e técnicas, utilizados nos espaços sócio-

jurídicos, caracterizam-se, prioritariamente, o estudo social, laudo social, relatório social,

perícia social e parecer social. Além disso, pode ser realizado por este profissional: avaliação,

acompanhamento, aconselhamento, orientação, prevenção de diversas situações atendidas;

visitas domiciliares e institucionais; entrevistas; reuniões; palestras; inspeções, etc.

Entretanto, dependendo da instituição de trabalho, o profissional poderá criar ou recriar a sua

instrumentalidade no cotidiano profissional.

Vale ressaltar os conceitos dos instrumentais acima citados, de acordo Fávero,

uma vez que contribuem para que se conheça a diferença entre eles e sua utilidade em cada

caso demandado. Assim, segundo a autora:

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Estudo Social é um processo metodológico específico do Serviço Social, que tem

por finalidade conhecer profundamente e de forma crítica, uma determinada situação

ou expressão da questão social... de sua fundamentação rigorosa, teórica, ética e

técnica, com base no projeto da profissão, depende a sua devida utilização para

garantia e ampliação de direitos dos usuários dos serviços sociais do sistema de

justiça. (FÁVERO, 2006, p. 42-43).

Laudo Social é utilizado no meio judiciário como mais um elemento de ―prova‖,

com a finalidade de dar suporte a decisão judicial, a partir de uma determinada área

de conhecimento, no caso, o Serviço Social [...] oferece elementos de base social

para a formação de um juízo e tomada de decisão que envolve direitos fundamentais

e sociais [...] (FÁVERO, 2006, p. 42-43).

Relatório Social [...] apresentação descritiva e interpretativa de uma situação ou

expressão da questão social... se dá com a finalidade de informar, esclarecer,

subsidiar, documentar uma auto processual [...] ou enquanto parte de registro a

serem utilizados para elaboração de um laudo ou parecer [...] (FÁVERO, 2006, p.

44-45).

Pericia Social [...] é o estudo social, realizado com base nos fundamentos teórico

metodológicos, ético-políticos e técnico-operativos, próprios do Serviço Social, e

com finalidades relacionadas a avaliação e julgamentos [...] (FÁVERO, 2006, p. 44).

Parecer Social [...] pode ser emitido enquanto parte final ou conclusão de um laudo,

bem como resposta a consulta ou a determinação de autoridade judiciária a respeito

de alguma questão constante em processo já acompanhado pelo profissional.

(FÁVERO, 2006, p. 47).

Dentro do fazer profissional do assistente social aplicado ao contexto

sóciojurídico, os instrumentais ―[...] estão sendo entendidos como um conjunto de recursos ou

meios que permitem a operacionalização da ação profissional.‖ (MIOTO, 2001, p.147).

Tais instrumentais são imprescindíveis em determinados casos, uma vez que, é

através deles que os Juízes, Defensores, Procuradores, dentre outros, têm acesso as condições

reais do assistido, em aspectos gerais e peculiares. Nesse sentido, Fávero reforça:

Esses documentos que apresentam, de forma cristalizada pela escrita, as informações

colhidas e as interpretações realizadas irão intermediar – a partir de um norte teórico

– a fala do sujeito, os demais dados obtidos e a análise realizada, e aquele que serão

os leitores, os quais, geralmente, são os agentes que emitirão uma decisão, ou

participarão de uma decisão a respeito dos sujeitos envolvidos na ação judicial.

(FÁVERO, 2006, p. 28)

Dada à importância da contribuição do assistente social em meio às práticas

judiciárias, cujo conhecimento contribui como suporte, visualiza-se a importante

responsabilidade em elaborar tais documentos. Mas, qual denominação é dada ao assistente

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social que atua no meio jurídico/judiciário? É denominado como perito social, por ―reporta-se

a profissional que detém um conhecimento especializado, dado por sua área de formação.‖

(FÁVERO, 2006, p.41)

A atuação do assistente social no campo sociojurídico é para além do suporte

científico, como ressalta Neto (2012, p.54) seu papel é: ―[...] fazer com que a proteção

socioassistencial e a prestação jurisdicional igualmente sejam dever do Estado e direito do

cidadão [...]‖.

Diante dessa contextualização em aspectos gerais sobre o serviço social no campo

sóciojurídico, no cenário brasileiro, convém ainda, fazer uma breve descrição do início dessa

atuação no Estado no Ceará. A inserção das primeiras assistentes sociais no Judiciário

cearense deu-se no início dos anos de 1980, especificamente na comarca de Fortaleza.

A iniciativa de instalar o Serviço Social partiu da presidência do Tribunal de Justiça

que convidou a assistente social Emiliana Veras a trabalhar na referida unidade. Esta

foi à pioneira do Serviço Social, iniciando suas atividades no então Juizado de

Menores de Fortaleza (atual Juizado da Infância e da Juventude). Na época tal

núcleo situava-se na Avenida da Universidade, 3281 – Benfica. A unidade contava

apenas com uma única vara para julgar todos os casos que para ali fossem

encaminhados relativamente a menores que se encontrasse em situação irregular. O

Juizado compunha-se de um juiz, um promotor de justiça, uma assistente social e

um cartório. (BEZERRA, 2008, p.30)

Naquela época, a equipe técnica do Poder Judiciário, Juiz, promotor, assistente

social e um cartório, assumiam a função de operacionalização do então Juizado de Menores,

com ações voltadas para a aplicação da lei menorista vigente, o Código de Menores. Tais

ações incluíam-se, além do atendimento ao ―menor infrator‖ (hoje - adolescente em conflito

com Lei), demandas relacionadas aos conflitos envolvendo o núcleo familiar destes. A

exemplo de: ―ações como pensão alimentícia, direito de visita, disputa de guarda entre pais,

denúncia de maus-tratos, etc.‖ (BEZERRA, 2008, 31)

O setor que trabalhava com os menores infratores era composto por servidores da já

extinta FEBEMCE – Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor. A FEBEMCE,

conveniada com o Tribunal de Justiça, cedia os profissionais que compunham a

equipe interdisciplinar do Núcleo de Liberdade Assistida. O outro núcleo dirigido

pela Emiliana Veras dava suporte a ações de natureza cível, tais como adoção,

tutela, guardas, entre outros. (BEZERRA, 2008, p.31)

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Bezerra (2008, p.31) ao citar Veras (1991, p. 60) aponta a justificativa para

inserção no profissional assistente social no judiciário cearense. Ao inferir que essa atuação

junto ao Juizado de Menores não se deu de maneira casual. Mas sim, com a finalidade de ―[...]

Assistir juridicamente o menor de idade e/ou crianças indefesas desassistidas socialmente nas

suas necessidades de Pessoa Humana‖.

Ao conquistar espaço e definir ações que alcançaram objetivos, os frutos dos

serviços prestados pelo serviço social se fizeram notório, apontando-se na crescente demanda.

Logo, houve a necessidade da ampliação da equipe, no ano seguinte após a sua instalação. No

mesmo período, salienta-se também a ampliação da intervenção das profissionais, desta vez

estendo-se a outras três unidades. São elas: ―Apoio, Lar Substituto e Liberdade Assistida‖.

Em meados de 1983, verifica-se a então participação de uma assistente social na

Assistência Judiciária aos Necessitados (atual Defensoria Pública). À época a profissional

referenciada pelos procedimentos técnico-operativos desempenhadas pelas colegas no Juizado

de Menores, passou a desenvolver atividade similar no Fórum Clóvis Beviláqua, Em pouco

tempo, houve a necessidade de ampliar a equipe no referido Fórum.

Assim, como ocorreu nos demais estados brasileiros, nos anos 1990, houve uma

ampliação de requisições por profissionais do serviço social. Logo, o serviço social do

Judiciário cearense alcançou resultados satisfatórios, e no ano de 1995 implantou-se o serviço

social de atendimento às Varas de Família e Sucessões.

No capítulo II, serão abordados em linhas gerais sobre a Organização da

Defensoria Pública da União no Brasil e Ceará, além da atuação do serviço social nesta

instituição.

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CAPÍTULO 2: A INSTUIÇÃO QUE GARANTE O ACESSO À JUSTIÇA E

O SERVIÇO SOCIAL COMO PARTÍCIPE DESTE PROCESSO.

Este capítulo apresenta como se deu criação e organização da Defensoria Pública

da União no Brasil. Órgão público institucionalizado e especializado para prestação de um

serviço jurídico, integral e gratuito à população hipossuficiente, cujas garantias são

reconhecidas pelo Estado para efetivar princípios e normas constitucionais de acesso à justiça.

Nesse sentido, aborda-se o grau de relevância atribuído à Defensoria,

demonstrando características gerais da atuação institucional, no Brasil e a no Ceará. Neste

cenário, será realizada uma breve contextualização histórica de como o serviço social se

inseriu nesse campo, evidenciando a prática profissional das assistentes sociais no núcleo da

DPU-CE, e sua inconteste contribuição, que objetiva conceder ao assistido a viabilização dos

seus direitos pleiteados.

2.1 – A organização da Defensoria Pública da União no Brasil

Conforme menciona o Artº. 134 da Constituição Federal de 1988, ―a Defensoria

Pública é instituição essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a orientação

jurídica e a defesa, em todos os graus, dos necessitados, na forma do artigo 5º, LXXIV (EC

nº45/2004)‖. Portanto, cabe a Defensoria Pública prestar assistência jurídica integral e gratuita

aos que comprovarem insuficiência de recursos.

Contudo, mesmo tendo início em outubro de 1988 com a Constituição Federal, o

percurso que marca a trajetória da Defensoria Pública da União, teve seu importante marco

com a promulgação da Lei Complementar nº 80, de 12 de janeiro de 1994. A referida Lei

organiza a Defensoria Pública da União, no Distrito Federal e nos Territórios, assim como

prescreve normas gerais para sua organização nos Estados, além de fomentar outras

providências, em cumprimento ao que determina o § 1º do Art. 134 da CF/88.

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Observa-se que, mesmo após a promulgação da Lei Complementar, esperou-se

um ano, para que de fato, o órgão fosse implantado. O que ocorreu ainda em caráter

emergencial e provisório, através da Lei nº 9.020, de 30 de março de 1995.

Completados vinte e um anos após a promulgação da Constituição Federal, eis

que surge a Lei Complementar nº 132, de 07 de outubro de 2009, que institui novas regras e

organiza o sistema de Defensoria Pública no país, realizando alterações na Lei nº 80/94. A

nova Lei Complementar conferiu à Defensoria Pública um novo leque de atribuições em prol

dos desvalidos, e previu uma série de legítimos direitos para os usuários de seus serviços.

Além disso, os defensores públicos da união passam a serem denominados defensores

federais. Contudo, a lei, ainda não pode solucionar a assimetria funcional criada pela Emenda

Constitucional nº45/04, que concedeu autonomia funcional, administrativa e orçamentária

somente à Defensoria Estadual, enquanto que a DPU permanece destituída.

A Defensoria Pública tem como princípios institucionais, conforme previsão do

art. 3° da Lei Complementar n° 80/94, a unidade, a indivisibilidade e a independência

funcional. Sobre a organização da Defensoria Pública da União, no que tange a estrutura,

exposta no art. 5º, LXXIV, da Lei Complementar nº 80/94 e no artº. 134 da Constituição

Federal, esta instituição compreende:

I – órgãos de administração superior:

a) a Defensoria Pública-Geral da União;

b) a Subdefensoria Pública-Geral da União;

c) o Conselho Superior da Defensoria Pública da União;

d) a Corregedoria-Geral da Defensoria Pública da União;

II – órgãos de atuação:

a) as Defensorias Públicas da União nos Estados, no Distrito Federal e nos

Territórios;

b) os Núcleos da Defensoria Pública da União;

III – órgãos de execução:

a) os Defensores Públicos Federais nos Estados, no Distrito Federal e nos

Territórios.

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Percebe-se, porém, que para tratar sobre o tema Defensoria Pública, é necessário

primeiramente mencionar sobre o princípio do acesso ao Judiciário art. 5º, inciso XXXV da

CF-88 - ―a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça ao direito.‖

Esse princípio trata-se de um conceito firmado pelo Estado Democrático de Direito de âmbito

fundamental, uma vez que regula todas as formas de ingresso ao Poder Judiciário e a sua

prestação jurisdicional. De acordo com Nogueira (2011, p.13):

[...] o Art. 5º, XXXV da Constituição Federal confere ao Judiciário tarefa relevante

na defesa dos direitos fundamentais, que consagra a inafastibilidade da jurisdição,

incumbindo-lhe, no exercício de suas atribuições, conferir a esses direitos a máxima

eficácia possível, afastando qualquer ameaça ou ofensa aos direitos fundamentais.

[...]

Vários obstáculos podem contribuir para inviabilizar o acesso à justiça, sobretudo,

quando se trata de cidadãos em condição de hipossuficiência5. Sobre o assunto Menezes cita

Mauro Cappelletti e Bryan Garth, e pontua:

a) o valor das custas judiciais, a existência de causas de valor pequeno e o tempo de

duração do processo;

b) os recursos financeiros das partes, a ausência de aptidão para reconhecer um

direito de forma a propor uma ação ou apresentar sua defesa, a existência de

litigantes habituais e eventuais;

c) os problemas especiais relacionados aos interesses difusos, de natureza

transindividual. (MENEZES, 2009, p.1 apud MAURO CAPPELLETTI;BRYAN

GARTH)

Portanto, para entender sobre as transformações significativas no que concerne ao

direito e à assistência jurídica no Brasil, faz-se necessário um breve resgate histórico.

Menezes (2009, p.4), em seu artigo intitulado Defensoria Pública da União: Princípios

Institucionais, Garantias e Prerrogativas dos Membros e um Breve Retrato da Instituição6

refere que ―no Brasil, a assistência judiciária tem seu embrião nas Ordenações Filipinas, que

vigoraram de 1823 até 1916 e que substituíram as Ordenações Manoelinas.‖

5 Hipossuficiência: conceito tradicional dado pela insuficiência de recursos do assistido para arcar com as

despesas e honorários advocatícios a fim de que não se prejudique o sustento próprio e o de sua família. 6 O artigo mencionado pode ser visualizado no site: (www.dpu.gov.br).

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O autor reforça a herança portuguesa, ressaltando que: ―de um lado havia a

dispensa das custas judiciais àqueles comprovadamente impossibilitados de com elas arcar e,

de outro, solicitava-se a advogados que, por generosidade, prestassem graciosamente seus

serviços a essas pessoas.‖ (MENEZES, 2009, p.5)

Menezes (2009), explica ainda que, houve significativas tentativas de reformas no

sistema da assistência judiciária tanto na época do Império quanto no início do período

republicano, conforme explicitado abaixo:

No Império:

[...] Nabuco de Araújo tomou a iniciativa de criar, no Instituto dos Advogados do

Brasil, um Conselho destinado a ‗prestar assistência judiciária aos indigentes nas

causas cíveis e crime, dando consultas, e encarregando a defesa dos seus direitos a

algum dos membros do Conselho ou Instituto. (2009, p.5)

No período republicano:

[...] No começo do período republicano é imperiosa a referência a dois decretos: o

Decreto nº 1.030/1890, que autorizou o Ministério da Justiça a criar uma comissão

de patrocínio gratuito aos pobres, e o Decreto nº 2.457/1897, que criou o serviço de

assistência judiciária. (2009, p.5)

Portanto, o primeiro documento legislativo no Brasil a prever a assistência

judiciária, surgiu no período republicano, no Rio de Janeiro, à época Distrito Federal,

constituindo-se então o embrião da Defensoria Pública. A partir desse decreto, as

constituições passaram a referir-se à assistência judiciária, como expõe Faciroli Borges:

[...] Embora a Constituição de 1824 não tenha feito referência à assistência

judiciária, a de 1891 já dava sinais dessa proteção quando dispunha de assistência

para acusados. As demais Constituições, exceto a de 1937, sempre no Capítulo dos

Direitos Fundamentais e Garantias Individuais trouxeram a garantia de assistência

judiciária. (2006, p.28)

Com o advento da Constituição de 1934, foi introduzido no Brasil a garantia da

gratuidade do acesso à justiça. Deste modo, o Estado passou a ser responsabilizado por

fornecer essa assistência, ―[...] art. 113, n. 32 [...] para imputar ao Estado, diga-se, a União e

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os Estados, a prestação da Assistência Judiciária aos necessitados, bem como a obrigação de

criar órgãos essenciais para esse fim.‖ (DEZORZI BORGES, 2010, p.15)

No Brasil, o primeiro serviço de assistência judiciária foi implantado em 1935, no

Estado de São Paulo. À época, ―contava com o apoio de advogados de plantão assalariados

pelo Estado, tendo seguido esse exemplo o Rio Grande do Sul e Minas Gerais.‖ (FACIROLI

BORGES, 2006, p.28)

Muito embora, a Constituição de 1937, não contemple o direito a assistência

judiciária, garantindo-se apenas o direito de defesa, as Constituições de 1946 e de 1967 (art.

150, § 32) previam a assistência judiciária, assim ―pela Emenda Constitucional n° 1 de 1969

(art. 153, § 32), com a seguinte redação: ―será concedida assistência judiciária aos

necessitados, na forma da lei.‖ (MENEZES, 2009, p.6).

Souza (2003) embasados nas afirmações de Luciana Cunha, expõe a cerca do

modelo de assistência jurídica adotada pelo Brasil, que segundo a autora compreende três

momentos:

[...] um primeiro, até a promulgação da Lei 1.060/50, que regulamenta pela primeira

vez a assistência judiciária; um segundo momento que vai da década de 50 até a

Constituição Federal de 1988, quando a assistência jurídica envolvia apenas os atos

do processo; e um terceiro marcado pelas mudanças da Constituição Federal de

1988. A Lei Federal 1.060, de 05 de fevereiro de 1950, Lei de Assistência Judiciária,

está em vigor até os dias de hoje, com as devidas alterações. (SOUZA, 2003, p.99)

Com o advento da Constituição de 1988, o título de assistência jurídica passa a

vigorar, extinguindo-se, o termo assistência judiciária. Além disso, o acesso à justiça tornou-

se um direito fundamental, e dever do Estado. Consoante estabelece o art.34º, caput, da

CF/88, que cria a Defensoria Pública, como instituição essencial à função jurisdicional do

Estado, juntamente com a carreira de Defensor Público, prescrita em seu parágrafo único,

com a finalidade de garantir acesso à justiça aos cidadãos necessitados.

Desse modo, o texto constitucional assentou o múnus público histórico a ser

exercido pela Defensoria Pública, notadamente a assistência jurídica dos

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necessitados, dando azo ao dever do Estado em prestar orientação jurídica e a defesa

daqueles cujos recursos são insuficientes para afastar obstáculos inerentes à proteção

de direitos. (DEZORZI BORGES, 2010, p.19)

Logo, a democratização da justiça tornou-se possível através desse órgão, de

modo que, para grande número de brasileiros para quem o acesso ao Judiciário era inviável,

possibilitando uma nova perspectiva de cidadania e de Estado Democrático de Direito. Por

essas razões, a professora e cientista política Maria Tereza Sadek afirmou, categoricamente

que sem Defensoria Pública:

[...] qualquer noção de cidadania e igualdade é desprovida de efetividade. Quando a

Constituição Federal criou a Defensoria Pública enquanto instituição, trouxe consigo

um instrumento de afirmação da dignidade humana por meio da garantia do acesso à

Justiça. (SADEK, 2001)

Veja-se que, constitucionalmente, a Defensoria Pública é tratada no mesmo plano

de importância que a Magistratura e o Ministério Público. Como expõe Cruz e Toledo:

[...] a Defensoria Pública tem o mesmo status constitucional que, por exemplo, o

Ministério Público, estando ambas as instituições, inclusive, previstas no mesmo

capítulo do título IV da CF/88, qual seja, aquele que trata das funções essenciais à

justiça. Da mesma forma, há de se ponderar, a Defensoria Pública não está em

patamar inferior, pelo menos constitucionalmente falando, a outros órgãos como a

Advocacia Pública, os componentes do grupo Segurança Pública, bem como ao

próprio Poder Judiciário. (2009, p.119 - 120)

Em tese, a Carta Magna, criou um organismo autônomo e independente, a fim de

prestar um serviço efetivo de assistência jurídica à população. Conforme ressalta Barros:

Mesmo com poucas linhas a ela dedicadas no texto constitucional, a Defensoria

Pública sobressai do contexto jurídico nacional como genuína garantia

constitucional fundamental (art. 134 da CRFB). Não deve essa instituição receber a

carga de panacéia da nação, epíteto, aliás, que nenhuma instituição constitucional

merece, embora não raras o almejem. A qualificação técnica da Defensoria Pública

como garantia constitucional fundamental insere-a no desiderato republicano e

democrático da Constituição do Brasil, sob os primados procedimentos da inclusão

do outro e da tolerância; promove o acesso ao direito de quem em regra padece das

mais elementares privações cívicas e fortalece as bases do Processo Constitucional,

em direção à cidadania plena. (2009, p.27)

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Todavia, observa-se que a DPU não foi implementada de forma plena e

satisfatória. Após 18 anos da criação do órgão, visualiza-se um cenário de descompasso na

autonomia da instituição, que prefigura até os dias atuais em caráter emergencial. Hoje,

apenas as Defensorias Públicas Estaduais, conforme o parágrafo 2º do artigo 134 da

Constituição Federal é assegurada essa autonomia, inclusive, para elaboração da própria lei

orçamentária das defensorias públicas estaduais.

Importa citar que, as unidades da Defensoria Pública da União em todo país,

estão reunindo esforços no sentido de conseguir a aprovação da Proposta de Emenda

Constitucional 207-A/2012, que tramita na Câmara Federal. A PEC 207-A/2012, garantirá

autonomia funcional e administrativa às Defensorias Públicas da União e do Distrito Federal.

Desta forma, estão sendo realizadas audiências públicas no intuito de sensibilizar os

deputados e a população para apoiar a aprovação da medida, conforme texto extraído do site

da DPU:

APOIO À AUTONOMIA DA DEFENSORIA PÚBLICA É TEMA DE

REUNIÃO NO RIO DE JANEIRO

Rio de Janeiro, 14/03/2013 – O apoio à Proposta de Emenda Constitucional 207-

A/2012, que garante autonomia funcional e administrativa às Defensorias Públicas

da União e do Distrito Federal, foi tema de reunião nessa quarta-feira (13) entre o

deputado estadual Domingos Brazão (PMDB/RJ) e o defensor público-chefe da

Defensoria Pública da União no Rio de Janeiro, Carlos Eduardo Santos Wanderley.

[...] (FONTE: Assessoria de Imprensa Defensoria Pública da União-Site DPU)7

Como já mencionado anteriormente, a assistência jurídica no Brasil, é prestada

pela Defensoria Pública que se encontra organizada em duas instituições. Nesse sentido, cabe

aqui explicitar a diferença entre a Defensoria Pública da União e a Defensoria Pública

Estadual:

A Defensoria Pública da União (DPU) e as Defensorias Públicas Estados, Territórios

e Distrito Federal (DPEs). A primeira tem atribuição para atuar na Justiças Federal,

Eleitoral, Militar e do Trabalho; a competência das DPEs é residual. (COGOY,

2012, p.146)

7 A notícia na íntegra pode ser visualizada no site: www.dpu.gov.br

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Para exemplificar, dentre outras, são áreas de atuação da DPE a defesa do

consumidor, direito de família e sucessões, defesa penal na Justiça Estadual, direitos da

criança e adolescente. A cerca da vinculação da Defensoria Pública, Sadek (2001), salienta:

No âmbito do direito administrativo, a Defensoria Pública foi concebida como

instituição funcionalmente independente, vinculada ao Poder Executivo, mas sem

qualquer relação hierárquica com este, e com autonomia administrativa. Cabe a ela:

―praticar os atos próprios de sua gestão, organizar os serviços auxiliares, decidir

sobre a situação administrativa e funcional de seu pessoal e elaborar seus

regimentos.

Em desacordo com texto constitucional, a Defensoria Pública da União está

vinculada ao Ministério da Justiça, o que a torna dependente de uma estrutura de governo,

cujas atribuições e prioridades se sobrepõem à sua missão prestacional como órgão de Estado,

autônomo e independente.

Vale ressaltar, que muito embora, a DPU tenha se desenvolvido de forma tardia

em relação à CF/88, o órgão ainda luta por uma estrutura adequada para o seu funcionamento

como mecanismo de facilitação do acesso à população carente.

Na área administrativa, a Defensoria Pública da União possui muitas carências,

como falta de pessoal de apoio e excessiva centralização orçamentária e financeira.

Como não tem quadro próprio suficiente, precisa valer-se de Órgãos da

Administração Pública para que, com servidores cedidos ou requisitados, possa dar

o suporte necessário ao bom funcionamento de seus órgãos de atuação. (Defensoria

Pública da União. - Brasília: DPU, 2012, p.12)

Por isso, Cogoy (2012, p.154) justifica que:

[...] a função exercida pelas Defensorias Públicas, hoje, já não é mais livre de

críticas. Em parte, a limitação dos serviços oferecidos não pode ser imputada aos

defensores públicos, haja vista ser patente a insuficiência de seus quadros ante a

crescente demanda por atendimentos. [...]

Por todo exposto, Barros (2009) enfatiza que, o enfraquecimento da Defensoria

Pública torna inviável a Jurisdição inclusiva dos menos favorecidos no espectro da cidadania,

à proporção que diminuem a promoção e a extensão, via jurisdição, dos direitos fundamentais

constitucionalmente consagrados à parcela significativa dos nacionais.

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60

Hoje, a DPU está presente em apenas 58 das 264 localidades que têm instâncias

judiciais federais. Em outubro do ano passado, a presidenta Dilma Rousseff anunciou em

coluna semanal Conversa com a Presidenta.8 ―a ampliação das atuais 58 para 200 unidades da

DPU no Brasil, uma meta que se pretende atingir até 2015 e a liberação, pelo BNDES, de um

crédito de R$ 300 milhões para modernizar as defensorias públicas estaduais‖.

Como já mencionado, a Defensoria Pública existe em duas esferas: Estadual e

Federal. No caso, da DPU, esta com sede em todas as capitais dos Estados, além do Distrito

Federal, começam a se interiorizar e estruturar-se gradativamente em alguns municípios.

Nas unidades, encontram-se os Defensores Públicos Federais - DPF, prestando

serviços de informação e orientação jurídica, representação perante órgãos públicos e,

principalmente, o acesso à justiça, tanto na propositura de ações como na defesa do cidadão.

Conforme, definição da Cartilha da Associação Nacional dos Defensores Públicos Federais -

ANADEF, os Defensores Públicos Federais:

[...] são profissionais aprovados em concurso público de provas e títulos com, pelo

menos, três anos de experiência jurídica. No exercício da profissão, o Defensor

Público Federal é independente para atuar na defesa dos interesses do cidadão,

devendo, inclusive, agir contra o próprio Estado, sem receber qualquer punição.

Além de propor ações e apresentar defesa em favor do assistido nos processos

judiciais e administrativos, o Defensor Público tem o dever de prestar-lhe orientação

jurídica, esclarecendo suas dúvidas e podendo promover, inclusive, a conciliação

amigável entre as partes. (Cartilha ANADEF, 2010, p.5)

Conforme indica a Lei Complementar nº 80/94, são funções dos Defensores

Públicos Federais:

Art. 18. Aos Defensores Públicos Federais incumbe o desempenho das funções de

orientação, postulação e defesa dos direitos e interesses dos necessitados, cabendo-

lhes, especialmente (Redação dada pela Lei Complementar nº 132, de 2009):

I – atender às partes e aos interessados;

II – postular a concessão de gratuidade de justiça para os necessitados;

8A coluna Conversa com a Presidenta é publicada semanalmente em jornais cadastrados na Secretaria de

Imprensa da Presidência, com respostas da presidenta Dilma a perguntas enviadas por leitores.

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61

III – tentar a conciliação das partes, antes de promover a ação cabível;

IV – acompanhar e comparecer aos atos processuais e impulsionar os processos;

V – interpor recurso para qualquer grau de jurisdição e promover revisão criminal,

quando cabível;

VI – sustentar, oralmente ou por memorial, os recursos interpostos e as razões

apresentadas por intermédio da Defensoria Pública da União;

VII – defender os acusados em processo disciplinar.

VIII – participar, com direito de voz e voto, do Conselho Penitenciário; (Incluído

pela Lei Complementar nº 132, de 2009).

IX – certificar a autenticidade de cópias de documentos necessários à instrução de

processo administrativo ou judicial, à vista da apresentação dos originais; (Incluído

pela Lei Complementar nº 132, de 2009).

X – atuar nos estabelecimentos penais sob a administração da União, visando ao

atendimento jurídico permanente dos presos e sentenciados, competindo à

administração do sistema penitenciário federal reservar instalações seguras e

adequadas aos seus trabalhos, franquear acesso a todas as dependências do

estabelecimento independentemente de prévio agendamento, fornecer apoio

administrativo, prestar todas as informações solicitadas, assegurar o acesso à

documentação dos presos e internos, aos quais não poderá, sob fundamento algum,

negar o direito de entrevista com os membros da Defensoria Pública da União.

(Incluído pela Lei Complementar nº 132, de 2009).

De acordo com incisos do Artº. 19 da Lei Complementar da Defensoria Pública, a

carreira de Defensor Público Federal é composta de três categorias de cargos efetivos, que

são:

I – Defensor Públicos da Federal de 2ª Categoria (inicial);

II – Defensores Públicos da União de 1ª Categoria (intermediária)

III – Defensores Públicos da União de Categoria Especial (final)

Os primeiros cargos para atuar como Defensor Público Federal surgiram em 2001,

com a publicação da Lei nº 10.212, e no mesmo ano, realizou-se o primeiro concurso público

de ingresso na carreira. Atualmente, são 480 Defensores Públicos Federais atuando em todo

país, para atender a mais de 80 milhões de carentes que não têm como arcar com os custos de

um advogado. Enquanto isso atua no âmbito da União cerca de 5.300 juízes federais e do

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62

Trabalho, 1.700 procuradores da República e 8.000 advogados públicos da União. As

defensorias públicas estaduais contam com 5.200 defensores e são autônomas.9

Em dezembro de 2012, a presidenta da República, Dilma Rousseff, sancionou a

Lei 12.763, que cria 789 cargos de Defensor Público Federal, divulgado no Diário Oficial da

União. Conforme especificações da Lei, serão destinados 732 cargos para a Segunda

Categoria (inicial), 48 para a Primeira Categoria (intermediária) e 9 para a Categoria Especial

(final).

A mesma Lei prevê ainda, o provimento dos cargos de forma gradual, de acordo

com a previsão orçamentária para cada exercício, com a expansão do quadro funcional, em

cumprimento ao disposto no Plano de Interiorização da Defensoria.

O Defensor público-geral federal em exercício, Haman Tabosa de Moraes e

Córdova, declarou no site da DPU que: "o ingresso de todos os aprovados no 4º concurso é o

primeiro passo após a sanção da lei, que precisa ser efetiva na medida em que se faz urgente a

inserção desses profissionais no quadro institucional a fim de reforçar o trabalho que

desempenhamos com os atuais defensores públicos federais10

". Em continuidade o DPGF

comenta:

[...] a publicação da lei n.º 12.763 de 27/12/2012 representa o coroamento de um

trabalho iniciado há um ano, quando demos início às primeiras conversas nos

Ministérios da Justiça e do Planejamento, Orçamento e Gestão. Com um estudo

detalhado do mapa brasileiro onde a DPU ainda não se faz presente, conseguimos

sensibilizar o Governo Federal acerca da necessidade de levar cidadania à expressiva

parcela da população brasileira que não dispõe de meios para ter acesso à expressiva

parcela da população brasileira que não dispõe de meios para ter acesso à Justiça.

(FONTE: Assessoria de Imprensa Defensoria Pública da União-Site DPU)11

Portanto, o Defensor Público Federal atua como representante do cidadão,

perante o Poder Judiciário da União, a saber: Superior Tribunal de Justiça – STJ, Tribunal

Superior do Trabalho–TST, Tribunal Superior Eleitoral – TSE, Superior Tribunal Militar-

9 Dados extraídos do site: (www.dpu.gov.br.) Acesso realizado em 13 /03 /2013.

10 A notícia na íntegra pode ser visualizada através do site: (www.dpu.gov.br.) Acesso realizado em 13/03/2013.

11 Vê notícia na íntegra no site: (www.dpu.gov.br)

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STM, Supremo Tribunal Federal - STF, e também junto às instanciais da Administração

Pública Federal, além do Tribunal Marítimo, este ultimo localizado no Rio de Janeiro. Ou

seja, a DPU atua em todos os casos que envolvem o exercício de direito, quer seja os

individuais ou em ações coletivas. (Cartilha ANADEF, 2010, p.2)

A título de exemplificação, quando uma pessoa carente precisa resolver um

problema junto a União (Ministérios, Receita Federal, etc), INSS, INCRA, IBAMA, Caixa

Econômica Federal, Correios, Universidades Federais, e todos os demais órgãos públicos

federais, tem-se o Defensor Público Federal para representá-lo.

Diariamente, mais de 1,2 mil pessoas carentes são atendidas pela DPU no Brasil.

As principais solicitações referem-se à obtenção de medicamentos, recebimento do FGTS,

reivindicação de aposentadoria perante o INSS, financiamento acadêmico, regularização

fundiária para agricultores, licença de trabalho para pescadores, entre outras tantas que

estejam enquadradas nas atribuições da Justiça Federal. A DPU atua na defesa do povo

brasileiro de baixa renda e ainda de estrangeiros que estão no Brasil, bem como, de brasileiros

que vivem no exterior, indígenas e comunidades quilombolas.

Quanto aos critérios para verificar se as pessoas podem ser assistidas pelo órgão,

ressalta-se, o fator econômico, ou seja, ―todo indivíduo que possua uma renda familiar não

superior ao limite de isenção do Imposto de Renda terá direito à assistência jurídica gratuita

prestada pela DPU.‖ (Cartilha ANADEF, 2010, p.3)

Ao solicitar atendimento na DPU, e o cidadão ingressar com abertura de Processo

de Atendimento Jurídico – PAJ12

preencherá declaração acerca da condição de

economicamente necessitado. Esta declaração constará no próprio bojo da petição inicial, nos

exatos termos do art. 4º, caput, da Lei n° 1.060/50, ou de documento em separado,

denominado na prática forense de ―declaração de pobreza‖.

Ressalta-se que o atendimento pode estender-se, aqueles com renda superior ao

critério mencionado, desde que demonstrem gastos relevantes que comprometam

12

PAJ é o nome dado ao processo administrativo adotado pela DPU quando um assistido passa a ser

acompanhado pela instituição.

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64

significadamente o orçamento do núcleo, a exemplo: tratamento de saúde (medicação),

alimentação, moradia, por exemplo.

Há uma ressalva também para o atendimento na esfera criminal. Nesse caso, será

independente da renda do cidadão. Portanto, se a pessoa não tiver advogado, ou se o

profissional se recusar a fazer a defesa deste, o juiz determinará a nomeação de um defensor

público.

Além da garantia do direito individual, a DPU representa grupos de pessoas que

tenham interesses comuns, como, por exemplo, consumidores de serviços de energia elétrica,

moradores de determinada comunidade em estado de vulnerabilidade, estudantes que

necessitem do serviço público federal de ensino, entre tantos outros. A tutela coletiva se dá

por meio de ações coletivas que buscam otimizar a atuação da Defensoria Pública da União,

possibilitando a obtenção do mesmo direito aos cidadãos em condições semelhantes.

Para refletir a cerca da instituição Defensoria Pública, utiliza-se as palavras de

Cogoy:

A Defensoria Pública deve ser vista como um instrumento de emancipação dos

socialmente vulneráveis, exercendo papel fundamental dos socialmente vulneráveis,

exercendo papel fundamental no acesso desta população aos seus direitos

fundamentais. Para tanto, faz-se necessário que exerça suas atividades sobre critérios

de eficiência e qualidade na prestação de seus serviços, não mais sendo admitidas a

demora injustificada no atendimento, as longas filas, a distribuição de fichas e

mesmo a restrição de atuação em áreas nas quais sua atuação se permanente.

(COGOY, 2012,p.162)

Diante das reflexões, compreende-se que o acesso à Justiça é um caminho para a

construção de uma sociedade realmente justa, digna e solidária, que possa refletir no mundo

dos fatos o ideal de igualdade de todo o povo brasileiro.

Portanto, destaca-se a importância da Defensoria Pública da União para a

sociedade brasileira, e como se faz urgente que o órgão conquiste sua autonomia, para que

assim detenha todos os meios para exercer de forma materializada e democrática o conceito

de assistência jurídica integral e gratuita. Em continuidade ao tema, no próximo tópico

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65

desenvolverá uma explanação sobre A Defensoria Pública da União no Ceará, haja vista, sua

importante contribuição para o nosso estado.

2.2 - A Defensoria Pública da União no Ceará

Como verificou-se no capítulo anterior, a estruturação da Defensoria Pública da

União deu-se através da promulgação de Lei Complementar, estabelecida em caráter

emergencial e provisório. Desta forma, a primeira unidade da Defensoria Pública da União no

Brasil foi instalada no Distrito Federal, em 1995. Posteriormente, em meio a uma série de

limitações, como por exemplo, orçamentária, quadro restrito de servidores e de adequação a

realidade de seus demandantes, a DPU foi gradativamente sendo implantada em cada estado

da federação.

De acordo com registros institucionais, o primeiro prédio ocupado pelo órgão no

Ceará, era cedido pelo Governo Federal, sendo inaugurado na cidade de Fortaleza, em 2001.

As instalações da unidade mostravam-se precárias com relação à estrutura física, número

reduzido de funcionários e apenas dois Defensores Públicos Federais.

Diante de tantas dificuldades, a exemplo da falta de estrutura física propícia ao

atendimento dos usuários, havia também escassez de recursos materiais e humanos, o que

prejudicava em muito o processo de efetivação dos atendimentos aos usuários que buscavam

auxílio jurídico.

Ressalta-se que no ano de 2008, a DPU-CE conquistou um novo espaço físico

para atuar. Deste modo, houve a transferência de sede da Praia de Iracema para o prédio

localizado na Rua Costa Barros. Sendo, este novo prédio, amplo, com quatro andares, o que

possibilitou também a contratação de um número considerável de funcionários, e de

profissionais de diversas áreas para atuarem junto ao corpo institucional. O edifício atual foi

construído especificamente para o desempenho das atividades do órgão. Contudo, o que se

percebe é que os problemas de ordem estrutural fizeram parte desta unidade por muitos anos.

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66

No contexto atual, a sede da DPU no Ceará, possui no quadro institucional 14

Defensores Públicos Federais, divididos entre os ofícios cível, previdenciário, criminal e

recursal, 33 servidores públicos, 19 profissionais de nível médio e superior terceirizados e 65

estagiários na área do direito, serviço social, comunicação social e ensino médio, totalizando

cerca de 131 trabalhadores. De acordo com dados institucionais, a média de atendimento da

unidade é de oitocentas pessoas mensalmente.

A sede da DPU no Ceará, se comparada às demais unidades do Brasil, apresenta

estrutura tanto de ordem física, quanto aos itens de equipamentos e recursos materiais, nos

moldes adequados dos quais se objetiva para oferecer um atendimento adequado ao público.

No entanto, o número reduzido de Defensores Públicos Federais é insuficiente para atender a

crescente demanda da unidade.

No que concerne à divisão dos setores do núcleo da DPU-CE, são eles: secretaria

jurídica, secretaria administrativa, atendimento ao público, área de comunicação, biblioteca,

contadoria, apoio, serviço social e sociologia. A equipe interdisciplinar trabalha para garantir

a população usuária um bom atendimento e principalmente garantir acesso à justiça.

Importa esclarecer que, a estrutura administrativa da DPU, varia conforme a

unidade de cada Estado, muito embora, exista uma configuração própria para todas. Desta

forma, a unidade do Ceará, divide-se em quatro ofícios, cuja demanda e atendimentos

específicos são direcionados ao Defensor da área. Assim, a distribuição de números de

Defensores por ofício são: Previdenciário (4); Cível (5); Criminal (3) e no ofício Geral (2).

Consoante mencionado anteriormente, a divisão dos Ofícios é administrativa, isto

é, para facilitar a atuação dos DPF‘s frente às demandas. Portanto, o Ofício Previdenciário

atua em causas em que envolvam ações previdenciárias, assistenciais, dentre outros. Já a

atuação do Ofício Cível contempla ações diversas, por exemplo, demandas relativas à saúde,

moradia, educação entre outros. Enquanto, que o Ofício Criminal atende aquelas ações que

envolvam a defesa dos acusados perante a Justiça Federal, os Juizados Especiais Federais

Criminais, as Auditorias Militares e as Penitenciárias Federais. Por último cita-se, o Ofício

Regional que atua na área recursal, sendo este, responsável por dá prosseguimento aos

processos a partir da fase dos recursos.

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No que tange às demandas apresentadas pela população usuária da DPU no

Estado do Ceará, as principais são de ordem previdenciária, em causas contra o Instituto

Nacional de Seguro Social - INSS (aposentadoria, pensão por morte, auxílio-doença, auxílio-

reclusão, auxílio-maternidade, salário-família ou outro benefício), além dos Benefícios da

Assistência Social (BPC Idoso/deficiente). Ações de natureza cível contra imissão ou

reintegração da posse, promovidas pela Caixa Econômica Federal, renegociações dos

contratos de financiamento da casa própria, refinanciamento de crédito estudantil, além de

defesa em processo criminal, entre outras tantas que estejam enquadradas nas atribuições de

âmbito federal.

O quadro abaixo demonstra o quantitativo de aberturas de PAJs – (Processo de

Atendimento Jurídico) na DPU-CE, distribuídos nos ofícios previdenciário, cível, criminal e

regional. No período compreendido entre os meses de julho a dezembro de 2012, foram

abertos 3082.

Tabela 1- Mapa de Distribuição13

Ofícios Abertura de PAJ

Total: 3081

1º Ofício Cível 198

1º Ofício Criminal 71

1º Ofício Previdenciário 233

1º Ofício Regional 222

2º 0fício Regional 202

2º Ofício Cível 236

2º Ofício Criminal 86

2º Ofício Previdenciário 219

3º Ofício Cível 243

3º Ofício Criminal 75

3º Oficio Previdenciário 0

3º Ofício Previdenciário 208

13

Estática relativa ao mapa de distribuição de abertura de processo atendimento jurídico da DPU entre os meses

de julho a dezembro de 2012.

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4º Ofício Cível 195

4º Ofício Previdenciário 206

5º Ofício Cível 238

Analista Cível 301

Analista Criminal e Regional 2

Analista Previdenciário 145

Ofício Plantonista 1

Fonte: Pesquisa direta, DPU/CE, 2013.

A tabela seguinte relaciona a quantidade de PAJs em fase de tramitação

distribuídos nos ofícios previdenciário, cível, criminal e regional, no mesmo período

mencionado na tabela anterior.

Tabela 2 - Assistidos por Ofício14

Descrição Quantidade

Total: 3245.0

3º. Ofício Cível 304

1º Ofício Previdenciário 226

4º Ofício Previdenciário 223

3º Ofício Previdenciário 277

2º Ofício Criminal 120

2º 0fício Regional 218

1º Ofício Cível 307

5º Ofício Cível 313

1º Ofício Criminal 110

4º Ofício Cível 295

2º Ofício Cível 300

1º Ofício Regional 238

Fonte: Pesquisa direta, DPU/CE, 2013.

14

Estatística relativa ao número de assistidos, atendidos por ofício, entre os meses de julho a dezembro de 2012.

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69

A DPU-CE atua apenas na cidade de Fortaleza e em municípios da região

metropolitana, em razão de não haver núcleos no interior do estado do Ceará, afora o número

insuficiente de Defensores Públicos Federais para atender as demandas. Todavia, as

solicitações oriundas do interior do Estado chegam à unidade, em alguns casos ocorrem

atendimento e em outros a população fica descoberta, o que sinaliza o descumprimento da

constituição, em seu artigo 5º, inciso LXXIV.

Como pode-se perceber, existem inúmeros obstáculos que fazem com que a

justiça não se verifique de maneira igual para todos, sobretudo, no contexto doEstado do

Ceará, onde as diferenças estruturais explicam os contrastes de nossa sociedade.

Os diversos déficits que atingem os setores infra-estrutura, equipamentos e

serviços nas áreas da habitação, saúde, educação entre outros, tendem a impulsionar o

aumento desmesurado de ações judiciais movidas por cidadãos que cobram seus direitos ao

Estado. Além disso, ressalta-se, que o Estado do Ceará, possui ―segundo a PNAD 2008,

51,08% da população cearense é pobre (menor que a proporção do Nordeste, 52,07%, e maior

que a do Brasil, 30,61%), e destes 21,96% vivem em situação de extrema pobreza15

‖.

Portanto, diante do que foi exposto, evidencia-se a extrema urgência em que pese

o Estado, proporcionar efetivamente aos necessitados os meios para o acesso à justiça, tendo

em vista que, grande parte da população cearense não detém recurso financeiro para custear

defesa judicial particular.

Além das demandas da população cearense, pontua-se ainda um grande número

de atendimentos relacionados ao público estrangeiros que estão no Brasil, inclusive, aos

brasileiros que vivem no exterior, além de indígenas e comunidades quilombolas existentes

no Ceará.

Mesmo com tantos desafios a serem vencidos, a unidade da DPU-CE destaca-se,

por apresentar grandes conquistas em ações judiciais. Observe alguns exemplos de ações

movidas contra a Previdência Social, em que os assistidos obtiveram êxito:

15

Artigo: ―Erradicar a pobreza ou o pobre, eis a questão – A nova política social de governo implantada no

Estado do Ceará pela Lei nº 14.859, de 28 /12 /2010.‖

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CIDADÃOS RECORREM À DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO EM

DEMANDAS CONTRA O INSS NO CEARÁ

Fortaleza, 25/03/2013 – A assistida C.C.L., residente em Fortaleza, recebeu este mês

o pagamento de todas as parcelas do salário-maternidade referente ao nascimento de

sua filha, que aconteceu em dezembro de 2011 [...]16

(FONTE: Assessoria de

Imprensa Defensoria Pública da União-Site DPU)

ASSISTIDA CEARENSE CONSEGUE RESTABELECIMENTO DE PENSÃO

POR MORTE

Fortaleza, 15/04/2013 - A assistida A.M.D., de 87 anos, conseguiu junto à Justiça o

direito de voltar a receber a pensão por morte do filho, cancelada pelo Instituto

Nacional do Seguro Social (INSS) em 2009 [...]

Na decisão, também foi concedida à A.M.D. uma indenização por danos morais de

dez salários mínimos, devendo ser paga, juntamente com o valor descontado

indevidamente e os pagamentos atrasados, no final do processo, que ainda está em

fase de recursos.17

(FONTE: Assessoria de Imprensa Defensoria Pública da União-

Site DPU)

Nas defesas em ações criminais a DPU-CE também tem apresentando importantes

resultados, conforme descrito abaixo:

HOMEM QUE INVADIU ÁREA MILITAR PARA ALIMENTAR A

FAMÍLIA É ABSOLVIDO

Fortaleza, 25/03/2013 - Antes mesmo que fosse concluída a instrução criminal do

processo, o assistido da Defensoria Pública da União O.L.F. foi absolvido da

acusação de ingresso clandestino em organização militar e furto de mangas [...]18

(FONTE: Assessoria de Imprensa Defensoria Pública da União- Site DPU)

A área cível pontua o grande número de processos, e como exemplo cita-se uma

ação julgada procedente. Há ainda, outra modalidade de ação na DPU-CE que tem

conquistado destaque nacional, trata-se das ações coletivas ou ação cível pública, que

―buscam otimizar a atuação da Defensoria Pública, para que várias pessoas consigam obter o

mesmo direito ao mesmo tempo.‖ Observe:

16

Vê notícia na íntegra no site: (www.dpu.gov.br) Acesso realizado em 15/03/2013. 17

Vê notícia na íntegra no site: (www.dpu.gov.br). Acesso realizado em 15/03/2013. 18

Vê notícia na íntegra no site: (www.dpu.gov.br) Acesso realizado em 15/03/2013.

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STF OBRIGA HOSPITAL NO CEARÁ A ATENDER PACIENTE EM ATÉ

SEIS HORAS

Brasília, 21/02/2013 - O ministro Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal

Federal (STF), decidiu que o tempo de espera para internação psiquiátrica no

Hospital de Messejana, na cidade de Fortaleza (CE), seja de no máximo seis horas

[...] Segundo o defensor, o estado diminuiu o número de vagas para internações

psiquiátricas e não criou unidades alternativas para o tratamento, como unidades

assistenciais terapêuticas [...]

Entenda o caso

Em 2011, a DPU entrou com ação pedindo que seja estipulado um limite de tempo

para a fila de espera por internação. A Justiça concedeu liminar impondo o limite de

seis horas para que o paciente seja atendido. O governo estadual recorreu e o caso

foi parar no Supremo Tribunal Federal [...]

Relatório descreve situação de famílias

As assistentes sociais da DPU no Ceará elaboraram relatório em 2011 sobre a

situação das pessoas que esperam pela internação no hospital Messejana. De acordo

com o documento, os usuários se encontram em pátio descoberto, embaixo de

árvores, próximo ao estacionamento. O texto apresenta depoimentos de familiares

que aguardam na fila pelo atendimento [...]19

(FONTE: Assessoria de Imprensa

Defensoria Pública da União- Site DPU)

Após essa apresentação em termos de êxito em ações judiciais, convém ainda

mencionar a estatística de atendimentos de PAJs em fase de tramitação em sua totalidade,

também distribuídos entre os ofícios, no período supracitado nas tabelas 1 e 2.

Tabela 3 - Total Geral20

Descrição Quantidade

Total: 3084.0

1º Ofício Criminal 98

1º Ofício Regional 235

1º Ofício Cível 299

1º Ofício Previdenciário 225

2º 0fício Regional 200

19

Vê notícia na íntegra no site: (www.dpu.gov.br) Acesso realizado em 16/03/2013. 20

Estatística de atendimentos de PAJs em fase de tramitação em sua totalidade no período compreendido entre

julho a dezembro.

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2º Ofício Previdenciário 181

2º Ofício Cível 286

2º Ofício Criminal 103

3º Ofício Criminal 102

3º Ofício Previdenciário 264

3º Ofício Cível 294

4º Ofício Cível 286

4º Ofício Previdenciário 217

5º Ofício Cível 293

Analista Cível 1

Fonte: Pesquisa direta, DPU/CE, 2013.

A DPU-CE além de atuar na propositura de ações judiciais, na assistência jurídica

integral e gratuita, também atua na assistência extrajudicial, que por sua vez, compreende a

orientação e o aconselhamento jurídico feito pelos Defensores Públicos Federais, por meio da

conciliação e da representação do assistido junto à Administração Pública, bem como a

difusão e a conscientização dos direitos humanos, da cidadania e do ordenamento jurídico.

Desse modo, a DPU acredita que:

[...] para exercer uma efetiva cidadania, cada brasileiro precisa estar consciente de

seus direitos, o que, infelizmente, vem acontecendo no Brasil. Para mudar esse

panorama, a Defensoria Pública da União surge como instrumento de informação,

orientação jurídica e acesso à justiça, bem como a outros órgãos públicos. (Cartilha

ANADEF, 2010, p.1)

Nos núcleos da DPU‘s no Brasil, inclui-se a unidade do Ceará, existem vários

projetos e programas que compõem o planejamento de atividade e ações da DPU e não

necessitam estar diretamente relacionados entre si, mas são coordenados de forma

centralizada. Essa assistência extrajudicial compreende a orientação e o aconselhamento

jurídico, bem como a difusão e a conscientização dos direitos humanos, da cidadania e do

ordenamento jurídico, conforme demonstrado abaixo:

1. Câmaras de resolução extrajudicial de conflitos

2. Projeto DPU Itinerante

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73

3. Projeto DPU nas Escolas

4. Projeto DPU na Comunidade

5. Projeto de erradicação do escalpelamento por embarcações

6. Enfrentamento ao tráfico de pessoas

7. Visita Virtual

8. População em situação de rua

9. Atendimento jurídico a indígenas

Entre os projetos e programas mencionados acima, executados no Estado do

Ceará, cita-se como exemplo o DPU nas Escolas. ―Este projeto leva os Defensores Públicos

Federais às escolas públicas, de nível médio e fundamental, para esclarecer os alunos sobre

direitos do cidadão. Explicam, também, como obter a assistência gratuita da DPU.‖ (Cartilha

DPU, 2012, p.10) O mesmo foi implantado entre os anos de 2010 e 2011, em três escolas

públicas municipais de Fortaleza (Antonieta Cals, Dias Macedo e Luis Costa). Sua última

versão ocorreu no ano 2012, na Escola Municipal Joaquim Alves e deverá ser realizado

novamente em outras escolas da capital.

UNIDADE DO CEARÁ RECEBE ALUNOS DA ESCOLA MUNICIPAL

JOAQUIM ALVES

Fortaleza, 29/06/2012 – A última etapa do Projeto DPU nas Escolas da unidade do

Ceará levou 60 estudantes da Escola Municipal Joaquim Alves à sede da DPU/CE

nessa quinta-feira (28). Os alunos viram de perto como funciona o dia a dia nos

gabinetes e setores da Defensoria, esclareceram dúvidas sobre assuntos referentes à

Justiça e, ainda, apresentaram os trabalhos que produziram durante as etapas

anteriores do projeto [...]21

(FONTE: Assessoria de Imprensa Defensoria Pública da

União- Site DPU)

Acrescenta-se ainda que, a sede da DPU no Estado do Ceará destaca-se entre as

demais unidades do Brasil, por ter sido pioneira ao agregar em quadro de funcionários, o

profissional de Serviço Social, no ano de 2006, servindo posteriormente, como exemplo para

os demais estados do Brasil.

21

Ver notícia na íntegra no site: (www.dpu.gov.br) Acesso em 16/03/2013.

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Percebe-se que a atuação das assistentes sociais na unidade do Ceará, tem se

evidenciado de forma positiva, nas ações judiciais onde há a inclusão de Perícias Sociais,

como vimos nas citações acima, dos casos julgados procedentes de âmbito previdenciário,

criminal e cível (comum ou coletivo).

Contudo, há núcleos da DPU que não possuem em seu quadro institucional,

assistentes sociais. A carência deste profissional em muitos casos inviabiliza o processo de

implantação dos direitos dos assistidos, assim como as ações de educação em direitos para a

população usuária dos serviços jurídicos. No âmbito administrativo interno, afeta a

composição das ações de envolvimento multidisciplinar, como: gestão, assessoria, supervisão

e planejamento de programas e projetos nesta área. Deste modo, considera-se então relevante,

abordar de forma detalhada, sobre a atuação do serviço social na DPU-CE no próximo tópico.

2.3 - A prática profissional do serviço social na DPU-CE

Em 2006, foi implantado o serviço social na Defensoria Pública da União no

Ceará. De acordo com o Plano de Atuação Profissional do Serviço Social22

, a demanda por

assistentes sociais surgiu ―tendo em vista a necessidade de realização e inclusão de perícias

sociais nos processos jurídicos vinculados ao ofício previdenciário‖ (2011, p. 9)

A primeira servidora pública assistente social a compor a equipe da DPU-CE, fora

requisitada a outro Órgão federal, em razão de não haver, à época, o referido profissional no

quadro da instituição. Foi então, que o serviço social deu seus primeiros passos, inicialmente

com a atividade fim de elaborar perícias sociais, auxiliando os Defensores Federais do Ofício

Previdenciário.

A requisição em caráter de urgência de um Assistente Social, concursado a nível

federal, se deu com o intuito primordial de serem agilizados os tramites burocráticos

de acessibilidade ao BPC/LOAS, já sendo visualizado pela DPU/CE que a práxis do

Assistente Social iria contribuir para que as decisões judiciais priorizassem os

direitos básicos, garantindo assim o acesso da população aos serviços e políticas

sociais. (MORAIS, 2012, p 68)

22

Conforme mencionado na introdução, este documento elaborado pela equipe de Serviço Social da DPU/CE,

com a finalidade de nortear o processo de trabalho do/a Assistente Social na unidade da Defensoria Pública da

União/DPU do Ceará.

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Gradativamente, foram surgindo os primeiros resultados obtidos após a

implantação do Serviço Social na instituição, nas ações julgadas procedentes, onde havia

relatórios sociais, um dos instrumentais utilizados, à época, pelas assistentes sociais para

subsidiar elementos de defesa em prol do assistido, através de estudo social.

[...] Embora com relativa dificuldade de compreensão sobre as atribuições do

Serviço Social, os defensores passaram a requisitar o trabalho do setor que passou a

realizar, além das Perícias Sociais, trabalhos socioeducativos, orientações e

encaminhamentos. A partir dos resultados iniciais do trabalho, houve aumento

considerável das demandas encaminhadas para a área, com visível necessidade de

ampliação do setor. [...] (Plano de Atuação do Serviço Social – 2011, p.10)

Salienta-se que, com o aumento das demandas encaminhadas ao serviço social, a

instituição ampliou o quadro de assistentes sociais entre os anos de 2009 a 2011. Deste modo,

foram requisitadas mais três profissionais do serviço social a outros órgãos federais. Afora, a

remoção de duas assistentes sociais do quadro de Plano Geral de Cargos do Poder Executivo

– PGPE, antes, lotadas nas unidades da DPU, respectivamente de Porto Velho e Campo

Grande. Recentemente, em maio do corrente, o serviço social ganhou novamente um reforço,

com a remoção de mais uma assistente social, antes lotada na DPU de Porto Alegre. Sendo

assim, a atual equipe, compõe-se por 07 assistentes sociais.

Do início de sua implantação até chegar à composição atual, o serviço social na

DPU, antes de legitimar-se institucionalmente enfrentou vários desafios, além de desenvolver

algumas estratégias que resultaram em conquistas e em reconhecimento. Assista alguns

pontos abordados sobre a estrutura física e recursos materiais à época.

No primeiro momento, o Serviço Social foi improvisado em uma sala conjunta, onde

também se encontrava o setor administrativo e o gabinete de um dos defensores

dividido apenas por uma parede de acesso [...]. Em casos de atendimento ao usuário,

o profissional deslocava-se até uma pequena sala próxima, onde funcionava a perícia

médica. O desconforto em adentrar em sala pertencente a outro profissional e lá

realizar entrevistas em meio ao aparato médico, foi apenas uma das limitações

vivenciadas pelo Assistente Social.‖ (MORAIS, 2012, p.70)

Diante dessa situação era inviável para o serviço social desenvolver suas ações e

atividades. Contudo, era imprescindível manter o compromisso ético-político, e resguardar o

sigilo profissional em meios aos atendimentos que se davam de modo improvisado. Além

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disso, outro aspecto que dificultava o desenvolvimento do trabalho da única profissional

naquele período, diz respeito à falta de transporte para que a mesma pudesse se deslocar até a

casa dos assistidos e assim realizar as perícias sociais, além de ambiente de trabalho propício

para a elaboração dos laudos sociais. Isso condiz com a afirmativa de Iamamoto ―Isso

significa que o assistente social não detém todos os meios necessários para a efetivação de seu

trabalho: financeiros, técnicos e humanos necessários ao exercício profissional autônomo.‖

(IAMAMOTO, 2012, p.63)

Assim, o serviço social teve que se adaptar as condições estruturais oferecidas

pela instituição. Todavia, as dificuldades iniciais foram progressivamente sendo superadas, ao

passo que as estratégias foram se desenvolvendo, além da ampliação recursos materiais

disponíveis ao setor.

É importante ressaltar que aos longos de quase 07 anos de implantação do serviço

social na DPU-CE, verifica-se as conquistas alcançadas pela equipe, em meio à dinâmica de

intervenção institucional, além da contribuição deste setor para o desenvolvimento da

atividade fim da instituição, que é garantir a população hipossuficiente, o acesso à justiça.

Portanto, tendo em a vista a trajetória profissional do serviço social, que sempre

esteve voltada para o enfrentamento das questões sociais e como foco de seu trabalho, a

cidadania, a defesa, a luta, a preservação e a conquista de direitos das classes desfavorecidas e

subalternas. Sendo, assim este profissional inserido na divisão sócio-técnica do trabalho, não

poderia abster-se deste espaço de atuação, que permite a análise e reflexão da realidade social

da população e suas inter-relações com o sistema de acesso à justiça.

Logo, a atuação do (a) assistente social aplicado ao contexto sóciojurídico deste

campo, conforme o Plano de Atuação Profissional do Serviço Social (2011, p. 12), ―deve

pautar-se em ações de enfretamento das expressões da questão social que reverberam na vida

dos assistidos pela DPU.‖ Nesse sentido, LEHFELD destaca:

[...] se a matéria prima do trabalho são as múltiplas manifestações das questões

sociais, jurídicas e judiciais condicionadas e agravadas pelo sistema capitalista

espera-se que a prática profissional, aí apreendida, seja de enfrentamento e de

resistência, orientada, sociopoliticamente na direção da construção de uma realidade

social mais justa, com maior liberdade, maior solidariedade, acesso a direitos e

qualidade de vida. (2001, p.44)

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Para as assistentes sociais da unidade, é imprescindível desenvolver sua

intervenção, conhecendo e problematizando o objeto de sua ação profissional através de

informações e análise consistentes, sendo assim:

[...] é exigido do profissional de Serviço Social, visão crítica da realidade, atuação

em uma perspectiva totalizante, baseada na identificação dos determinantes sociais,

econômicos e culturais das desigualdades sociais. Cabe ao assistente social

contribuir no processo de implementação de direitos contribuir no processo de

implementação de direitos sociais negados aos assistidos e realizar ações de

educação em direitos. [...] (Plano de Atuação Profissional do Serviço Social, 2011,

p.12)

Contudo, convém ainda explicitar que, essa atuação profissional, não se dá de

forma isolada, e sim compreendendo as circunstâncias institucionais e sociais na qual se

realiza. Logo, ―sua inserção na esfera do trabalho é parte de conjunto de especialidades que

são acionadas conjuntamente para a realização dos fins das instituições [...]‖ (IAMAMOTO,

2012, p.64)

Sendo assim, vale salientar que, em qualquer espaço de atuação profissional, a

instituição organiza o processo de trabalho no qual o assistente social esta inserido. Conforme

expõe Iamamoto:

Ainda que disponha de relativa autonomia na efetivação de seu trabalho, o assistente

social depende, na organização da atividade, do Estado, da empresa, entidades não-

governamentais que viabilizam aos usuários o acesso a seus serviços, forneçam

meios e recursos para sua realização, estabeleçam prioridades a serem cumpridas,

interferem na definição de papéis e funções que compõem o cotidiano do trabalho

institucional. Ora, se assim é, a instituição não é um condicionante a mais do

trabalho do assistente social. Ela organiza o processo de trabalho do qual ele

participa. (IAMAMOTO, 2012, p.63)

Muito embora o serviço social da DPU/CE disponha de relativa autonomia na

efetivação de seu trabalho, observa-se, que os profissionais dependem da Instituição para que

esta forneça os meios e recursos para a materialização de sua atividade. Desta forma, há que

se ponderar os limites e as possibilidades que envolvem os processos de trabalho no

cotidiano, do campo mencionado. São eles:

[...] Os limites dizem respeito a subordinação administrativa do setor ao Defensor

Chefe da Unidade e as possibilidades se efetivam no cotidiano do Serviço Social na

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medida em que a área atua de forma autônoma no âmbito da profissão. (Plano de

Atuação do Serviço Social – 2011, p.13)

Embora exista uma subordinação administrativa da equipe do serviço social em

relação ao chefe da unidade, depreende-se que isso não sinaliza um obstáculo para o exercício

profissional, haja vista que, todas as ações são dialogadas e refletidas em conjunto. No que

tange as possibilidades, estas são caracterizadas a partir da atitude propositiva dessa força de

trabalho especializada, frente quadro de demandas emergentes no cotidiano.

Dentre o conjunto de atividades e ações desempenhadas cotidianamente pelas

assistentes sociais, cita-se a realização de perícias e estudos sociais, como a principal

demanda encaminhada ao setor. Todavia, a atuação da equipe na instituição é ampla, e

contempla também a elaboração e coordenação de projetos, planejamento, gestão, além de

compor equipes de atividades de integração, realiza seleção, capacitação e supervisão de

estagiários de serviço social, dentre outras requisições da instituição, prestação de assistência

por meio de atividades sócio-educativas, orientações, encaminhamentos.

Como consta no Plano de Atuação Profissional, cuja elaboração, deu-se em

consonância com o Projeto ético-político do serviço social (princípios), nos art. 4º e 5º da Lei

que regulamenta a profissão da Lei nº 8.662, de 07 de Junho de 1993, (competências e

atribuições) nos artigos 2º e 3º do Código de Ética (direitos e deveres dos/as assistentes

sociais), as atribuições e atividades desenvolvidas pela a equipe de assistentes sociais da

DPU-CE, constitui-se, prioritariamente das seguintes ações:

• Realizar Perícias Sociais encaminhadas ao setor, inclusive com realização de

visitas domiciliares e atendimentos institucionais quando necessários;

• Manter atualizado no sistema virtual e-paj, a movimentação dos processos

administrativos jurídicos; no caso dos processos físicos, protocolar no caderno de

SAÍDAS;

• Organizar em pastas os processos administrativos jurídicos físicos que estão sob

sua responsabilidade;

• Encaminhar, orientar e esclarecer os assistidos no que diz respeito a questões que

extrapolam as atribuições da DPU;

• Elaborar e executar projetos sócio-educativos relacionados a educação em direitos

da instituição;

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• Supervisionar estágio de estudantes do Curso de Serviço Social;

• Realizar reuniões de planejamento e avaliação do Serviço Social; (Plano de

Atuação Profissional do Serviço Social, 2011, p.14)

Dentre essas ações/atividades mencionadas acima, as perícias sociais são as

solicitações mais efetuadas por parte dos Defensores Federais ao serviço social. Mas, para a

elaboração de tais perícias, envolve o uso de alguns instrumentos, a saber: estudo social,

entrevista, realização de visita domiciliar na casa do assistido e/ou atendimento individual na

própria instituição, observação e análise de documentos outros.

A DPU possui um controle virtual de todos os processos e das ações internas

institucionais. Dentro desse sistema virtual, o profissional do serviço social deverá preencher

todas as informações de acordo com a movimentação dos processos administrativos jurídicos.

Ocorre que mesmo com a virtualização dos processos, ainda há alguns processos físicos, onde

seu controle também é realizado através de cadernos de protocolo.

Em alguns casos, os usuários que buscam atendimento na DPU-CE apresentam

reivindicações que extrapolam as atribuições da DPU, nesses casos o serviço social,

encaminha o usuário a outras instâncias do Poder Público, a fim de serem atendidas suas

demandas. Nesse ínterim, cabe ainda ao profissional, orientar e esclarecer quanto aos

assistidos seus direitos.

Outra atribuição do serviço social diz respeito à elaboração e execução de projetos

sócio-educativos relacionados à educação em direitos da instituição. A exemplo, cita-se o

projeto DPU nas Escolas, que ocorre de forma multidisciplinar. E, recentemente, o serviço

social passou a colaborar com o Projeto Visita Virtual, que promove a visita de parentes e

amigos aos presos em penitenciárias federais por meio de videoconferência. Neste projeto, as

assistentes sociais recepcionam os participantes, e realizam levantamento sobre as famílias

dos presos, por meio de formulário, fornecem orientações e esclarecimentos sobre direitos.

A equipe de assistentes sociais da DPU-CE também é responsável por selecionar,

capacitar e supervisionar estagiários de curso do serviço social. Atualmente, existem quatro

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estagiárias auxiliando os profissionais. De acordo com o Plano de Atuação profissional, os

estagiários (as) de serviço social da DPU-CE, são responsáveis por:

• Manter atualizado no sistema e-paj, a movimentação dos processos administrativos

jurídicos; no caso dos processos físicos, protocolar no caderno de SAÍDAS;

• Preparar a visita domiciliar e atendimento institucional aos assistidos;

• Participar da elaboração dos relatórios técnicos sociais resultantes do atendimento

institucional e das visitas domiciliares realizadas em conjunto com o/a supervisor/a;

• Organizar os processos administrativos jurídicos físicos que estão sob a

responsabilidade do/a supervisor/a;

• Encaminhar, orientar e esclarecer, juntamente com o/a supervisor/a do estágio, os

assistidos no que diz respeito a questões que extrapolam as atribuições da DPU;

• Manter atualizado a rede socioassistencial do município e do estado;

• Coletar informações na rede mundial de computadores sobre benefícios,legislações

sociais, MAPS e outras instituições federais, estaduais e municipais que possam

contribuir para o processo de trabalho do Serviço Social na instituição;

• Participar das reuniões de planejamento do Serviço Social;

(Plano de Atuação Profissional do Serviço Social, 2011, p. 15-16)

Esse processo de supervisão de estágios é primordial para a formação profissional

dos estudantes, e pode ser observado no empenho das profissionais em propiciar essa

aproximação entre teoria e prática.

Dentre essas ações e atividades executadas pelas profissionais e estagiárias,

convêm aqui ressaltar, as características que esta intervenção apresenta, afora, as técnicas e

instrumentais de trabalho utilizados pela equipe. De acordo com Guerra, os assistentes sociais

dão instrumentalidade às suas ações, quando modificam as condições, os meios e os

instrumentos existentes para o alcance dos objetivos profissionais, ou seja, ―Na medida em

que os profissionais utilizam, criam, adéquam as condições existentes, transformando em

meios instrumentos para a objetivação das intencionalidades. suas ações são portadoras de

instrumentalidade.‖ (GUERRA, 2000, p.2)

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Logo, entende-se que: ―A noção estrita de instrumento como mero conjunto de

técnicas se amplia para abranger o conhecimento como um meio de trabalho, sem que esse

trabalhador especializado não consegue efetuar sua atividade ou trabalho [...]‖.(IAMAMOTO,

2012, p. 62)

Destarte, estas escolhas dependerão dos objetivos das atividades em si, da

competência técnica de cada um e das condições objetivas da organização. A perícia social é

um dos instrumentais mais utilizados pela equipe, este documento é anexado aos autos do

processo do assistido da DPU, com vistas a subsidiar a articulação da defesa do aludido,

dependendo da matéria de cada processo. Ou seja, dos processos de natureza previdenciária:

pensão por morte, auxílio doença, auxilio reclusão, aposentadoria, amparo assistencial ao

idoso ou deficiente, dentre outros. Cível: solicitação de medicamentos, cirurgias,

refinanciamento de créditos junto à Caixa Econômica Federal, etc e nas peças criminais,

sendo possível visualizar o contexto social em que o assistido está inserido.

Desta forma, semanalmente são distribuídos 2 (dois) PAJs por assistente social,

em seguida, ocorre o atendimento direto com o assistido, sendo então aplicado questionários

estruturados e semi-estruturados. Esse atendimento é realizado por meio de visita institucional

ou domiciliar que permite conhecer as condições de moradia e observar aspectos do cotidiano

do assistido. Antes de iniciar a entrevista, o profissional esclarece ao assistido todo o

procedimento técnico, assegurando-lhes o sigilo profissional e apresenta o ―Termo de

Consentimento‖, documento este utilizado para comprovar a sua devida autorização na

entrevista e que as informações prestadas deveram ser fornecidas de acordo com a realidade

vivenciada.

Após, a realização do estudo social, todas as informações declaradas pelo

assistido serão analisadas e transcritas na perícia social e por último têm-se o Parecer Social

―[...] opinião fundamentada que o assistente social emite sobre a situação social estudada‖.

(MIOTO, 2001, p.155). A despeito de todas essas técnicas, Fávero, comenta:

O estudo social, a pericia social, o laudo social e o parecer social fazem parte de

uma metodologia de trabalho de domínio específico e exclusivo do assistente social.

É o assistente social o profissional que adquiriu competência para dar visibilidade,

por meio deste estudo, às dinâmicas dos processos sociais que constituem o viver

dos sujeitos [...] (FÁVERO, 2006, p.41)

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Portanto, tais instrumentais privativos do assistente social, expõem com riqueza

de detalhes o contexto familiar e as condições socioeconômicas, de saúde, trabalho, educação

e moradia do assistido. Essencialmente, a sua finalidade é possibilitar a interlocução do

usuário frente à instituição judiciária como forma de mediar à garantia dos direitos

estabelecidos constitucionalmente.

Ao realizar uma vista domiciliar ou entrevista institucional, é imprescindível ao

assistente social envolver a atitude investigativa, mediada pela intervenção, que só adquire

alcance social quando pautada pela interdisciplinaridade. Compartilhando desse pensamento,

Fraga, aponta alguns questionamentos na ação profissional:

Como o assistente social pode atuar se não investiga, se é um profissional que

trabalha com a viabilização dos acessos aos direitos dos usuários? Como refletir e

construir conhecimentos sem a pesquisa do cotidiano de trabalho profissional?

Como atuar efetivamente sem suporte investigativo? (FRAGA, 2010, p.42)

Por ter contato primordial ao assistido, cabe ao assistente social dá visibilidade às

suas competências especificidades. Propor além da articulação entre investigação/ação, uma

atitude interdisciplinar. Como bem refere o plano de atuação profissional, considera-se

fundamental que ação profissional ―ultrapasse o caráter emergencial, burocrático e

assistencialista na medida em que direciona suas ações pautadas em reflexões sobre as

condições sócio-históricas dos assistidos.‖ (Plano de Atuação Profissional do Serviço Social,

2011, p.12)

Como já mencionado anteriormente, a equipe do serviço social da DPU-CE

desenvolve várias ações, e mesmo tendo definido seu espaço, salienta-se que, eventualmente,

ocorrem demandas equivocadas ao setor. Sobre o assunto, o plano de atuação profissional do

serviço social, destaca:

[...] Nesse sentido, o planejamento interno do setor, o estabelecimento de protocolos

com definição do fluxo de prioridades da área e encaminhamentos necessários para

os demais serviços da instituição são fundamentais para a execução do trabalho.

(2011, p. 13)

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Portanto, a relação entre serviço social e os demais profissionais que compõem os

nove setores da unidade, se dá de forma direta, através de trâmites virtuais e em ações

interdisciplinar. É notória a contribuição da equipe para instituição, uma vez que a dinâmica

de intervenção e as respostas dadas a população assistida, tem se mostrado cada vez mais

visível e conquistando o reconhecimento nacional.

O Corregedor da Defensoria Pública da União, Francisco Caetano Prestes,

mostrou-se muito satisfeito e destacou o serviço social como um dos pontos mais positivos.

"Não tinha visto uma estrutura assim em nenhuma outra unidade. O trabalho das assistentes

sociais facilita muito a atuação dos defensores23

".

Essa análise feita pelo corregedor da DPU corrobora para enfatizar a importância

do desempenho do serviço social para instituição. Tal estrutura descrita tem relação com o

crescente resultado positivo da equipe, com a competência profissional e recursos materiais.

Sobre os recursos materiais e estrutura física, ressaltados pelo corregedor,

salienta-se que a equipe do serviço social dispõe: 02 salas (sendo uma destinada para

atendimento social, e a segunda para equipe desenvolver seus trabalhos); 06 computadores; 06

mesas; 03 armários; 01 impressora, 01 carro à disposição para a realização de visitas

domiciliares e outras atividades da área.

Ocorre que a atuação do assistente social, já havia sido avaliada anteriormente,

nos seus aspectos estruturais, sobretudo, em suas condições de trabalho, pelo Conselho

Regional do Serviço Social – CRESS, para averiguar se estas correspondiam ao disposto no

Código de Ética.

Fortaleza, 02/09/2011 – Visita de fiscalização do Conselho Regional de Serviço

Social (CRESS) aprovou as condições do trabalho desenvolvido por assistentes

sociais na Defensoria Pública da União no Ceará (DPU/CE). Os conselheiros

elogiaram especialmente a implantação de uma sala exclusiva de atendimento para

garantir a privacidade dos assistidos e o sigilo das entrevistas [...]24

23

Informações extraídas do site: (www.dpu.gov.br) Noticia de 30/04/2012 24

Informações colhidas na Comunicação Social DPGU

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No entanto, posterior à visita, dois meses, o Conselho Regional de Serviço Social

(CRESS), entregou ao serviço social da DPU-CE, uma certificação de cumprimento da

política nacional de fiscalização do órgão.

Fortaleza, 25/11/2011 – O Conselho Regional de Serviço Social (CRESS) entregou

à Defensoria Pública da União no Ceará uma certificação de cumprimento da

política nacional de fiscalização do órgão. O documento, resultado de visitas

promovidas na unidade em setembro deste ano, registra a ausência de

irregularidades quanto às condições éticas e técnicas de trabalho e inadimplência dos

profissionais [...]25

Diante do foi exposto, e com base em todos os aspectos que permeiam a prática

do assistente social no âmbito da DPU-CE, que tem o seu fazer dotado de capacidade técnico-

operativa, pautada no conhecimento teórico-metodológico, e com fulcro no projeto ético-

político, esse estudo corroborou para entender a importância do setor e o diferencial deste

trabalho. Portanto, ainda não se esgotando os argumentos, será abordado no próximo capítulo,

o lugar que o serviço social ocupa no âmbito da Defensoria Pública da União, a partir da

análise dos/as profissionais que compõem a mesma.

25

Informações colhidas na Comunicação Social DPGU

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CAPÍTULO 3 - PRODUZINDO CONHECIMENTO NA DPU-CE

ATRAVÉS DO SERVIÇO SOCIAL

Este último capítulo caracteriza o ápice da pesquisa e consagra os resultados face

às indagações levantadas no corpo deste trabalho. Inicialmente aponta-se os caminhos

percorridos para alcance dos resultados, sua organização e orientações devidas, chegando a

uma reflexão qualitativa embasadas nos autores estudados. Para finalizar, apresenta-

sealgumas considerações conclusivas, bem como algumas sugestões a cerca da temática

estudada, partindo das reflexões realizadas na trajetória desse estudo.

3.1- PERCURSO METOLÓGICO

Consoante afirma Minayo ―[...] a escolha de um tema não emerge

espontaneamente, da mesma forma que o conhecimento não é espontâneo. Surge de interesses

e circunstâncias socialmente condicionadas [...]‖ (1994, p.11) Portanto, refletindo a relevância

do trabalho dos (as) assistentes sociais inseridos na DPU-CE, sentiu-se a necessidade de

explorar essa temática, sobretudo, perpassá-la pelo o olhar de quem lida cotidianamente com

essa prática, para assim entender o processo de legitimação e reconhecimento profissional.

No entanto, considerando que ―[...] nada pode ser intelectualmente um problema,

se não tiver sido, em primeiro lugar um problema da vida prática‖. Entende-se, que o objeto

de estudo é essencialmente e primeiramente um ―problema da vida prática, ou do cotidiano de

trabalho dos Assistentes Sociais‖. (Minayo, 1994, p.17)

Deste modo, a motivação da pesquisa foi impulsionada, quando ocorreu uma

mudança no sistema de informações (interno/administrativo) da instituição. Esta mudança

acarretou uma reformulação nas pastas virtuais de cada setor, deste modo o serviço social que

antes possui uma pasta independente passou a ser agrupado dentro da pasta ―outros serviços‖.

Logo, vislumbrou-se a necessidade de considerara relação que o serviço social

tem com os outros profissionais de nível superior da DPU-CE, sobretudo, porque nos últimos

anos tem se revelado uma ampliação da atuação do serviço social na referida instituição.

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Além disso, a investigação partiu do pressuposto de analisar o fazer profissional não

considerando uma prática isolada, mas que compreende as circunstâncias institucionais e

sociais na qual se realiza.

Consoante expõe Martinelli (1999, p.13), discutir a prática social traz, hoje, como

exigência à discussão não só da identidade dessa prática, mas do contexto onde se realiza, de

suas articulações e finalidades. Não podemos pensar nas práticas sociais como práticas

universais abstratas, que caibam em qualquer contexto, que respondam a qualquer problema.

―As práticas são eminentemente construções sócio-políticas, são eminentemente históricas.

[...]‖.

Nesse sentido, ao investigar a atuação do (a) assistente social na DPU-CE, que

não ocorre de forma isolada, mas sim no quadro de apoio aos Defensores Públicos Federais,

dará ênfase as estratégias de intervenção e reconhecimento institucional, corroborando para

que as demais unidades das Defensorias Públicas da União, em todo Brasil, que ainda não tem

implantado em seu quadro este profissional, visualize o trabalho das assistentes sociais na

unidade do Ceará, e assim, possam subsidiar elementos que demonstrem a relevância da

atuação deste setor.

Portanto, a investigação foi norteada pelo método dialético, compreendendo que o

mesmo, favorece uma aproximação com a dinamicidade e o movimento do real, permitindo

uma reflexão em que diversos elementos dialagom entre si, numa perspectiva de totalidade.

Conforme Demo, a dialética seria a "[...] metodologia específica das ciências sociais, porque

vê na história não somente o fluxo das coisas, mas igualmente a principal origem explicativa.‖

(Demo, 1987, p.21). Minayo, colabora, ressaltando que o método dialético:

[...] esforça-se para entender o processo histórico no seu dinamismo, provisoriedade

e transformação. Busca apreender a prática social empírica dos indivíduos em

sociedade (nos grupos e classes sociais), e realizar a crítica das ideologias, isto é, do

embrincamento do sujeito e do objeto, ambos históricos e comprometidos com os

interesses e as lutas sociais de seu tempo. (MINAYAO, 2004, p.65)

Além disso,o presente estudo foi embasado na análise da pesquisa qualitativa. De

acordo com Goldemberg:

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87

[,,,] os métodos qualitativos poderão observar, diretamente, como cada indivíduo,

grupo ou instituição experimenta, concretamente, a realidade pesquisada. A pesquisa

qualitativa é útil para identificar conceitos e variáveis relevantes de situações que

podem ser estudadas quantitativamente. (GOLDEMBERG, 1997, p.63).

A pesquisa qualitativa, segundo Minayo (2012, p.21) ―responde a questões muito

particulares. Ela ocupa, nas Ciências Sociais, com um nível de realidade que não poderia ser

quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo dos significados, das crenças, dos valores e

das atitudes [...].‖

Na concepção de Martinelli:

[...] no que se refere as pesquisas qualitativas, é indispensável ter em presente que,

muito mais do que descrever um objetivo, buscam conhecer trajetórias de vida,

experiêcias sociais dos sujeitos, o que exige uma grande disponibilidade do

pesquisador e um real interesse em vivenciar a experiência da pesquisa. Uma

consideração importante nesse sentido é que a pesquisa qualitativa é, de modo geral,

participante, nós também somos sujeitos da pesquisa. (1999, p.25)

Ocorre que inicialmente, realizou-se uma profunda pesquisa bibliográfica e

documental, tendo em vista que ambas assemelham-se, pois segundo Gil:

[...] a única diferença entre ambas está na natureza das fontes. Enquanto a pesquisa

bibliográfica se utiliza fundamentelmente das contribuições dos diversos autores

sobre determinado assunto, a pesquisadocumental vale-se de materiais que não

receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de

acordo com os objetivos da pesquisa. (2008, p.6).

Entretanto, isso permite a pesquisadora analisar em profundidade cada

informação, e selecionar criteriosamente fatos que possam enriquecer ainda mais o conteúdo

da pesquisa. Sobre esse processo de construção teórica é válido mencionar González Rey, ao

referir-se que não é um propósito que se alcança de forma imediata, e por isso sinaliza:

[...] Eu diria que a teoria é o resultado de um caminho próprio o qual, apesar de

inspirado na riqueza e na diversidade da cultura científica, é capaz de acompanhar os

diferentes momentos de sua história e produzir um modelo a partir daquilo que é

mais significativo nessa história. [...] (2010, p.34 - 35)

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88

No intuito de fundamentar a pesquisa social realizou-se uma revisão de literatura

dos autores Martinelli (1999), Gil (2004), Minayo (2004 e 2012), Gonzalez Rey (2010),

Demo (1987), Tomar (2007), Goldenberg (1997) e Triviños (1987).

A pesquisa bibliográfica ocorreu através do estudo de obras e realização de leitura

de autores como: Iamamoto (1990, 1992, 2012), Netto (2001, 2011), Martinelli (2010),

Aguiar, (1995), Yazbek (2009), Paiva e Sales, (2006), Fraga (2009) Torres (2007), Barroco

(2012), Guindani (2001), Fávero (2006), Chuairi (2001), Mioto (2001), Menezes (2009),

Souza (2003), Sadek (2001), Lehfeld (2001) Kosmann (2009), Raichelis (2009), Nicolau

(1999), Guerra (2000) dentre outros, cuja temática de trabalho referem-se às categorias de

interesse da pesquisa como, "a evolução do serviço social; atribuições e competências do

serviço social; o serviço social aplicado ao sóciojurídico; a história da Defensoria Pública da

União no Brasil e Ceará, assistência jurídica, dentre outros‖, visitando e revisitando os

mesmos.

Somam-se a isso, legislações concernentes ao Serviço Social, como a Lei nº 8.662

de 1993, que regulamenta a profissão, e o Código de Ética, que juntamente com outras

referências materializam o projeto ético-político da profissão. Sobre a organização da

Defensoria Pública no Brasil, utilizou como referência a Constituição Federal de 1988, Lei

Complementar nº 80, de 1994, Lei Complementar nº132, de 2009 e Legislação Correlata e

Cartilhas Informativas da DPU.

Cita-se ainda, a pesquisa eletrônica, de total relevância, tendo em vista, a

dificuldade para encontrar estudos e informações no campo sóciojurídico e história da DPU

no Brasil. Realizou-se pesquisa em alguns sites/páginas da internet, dos quais tivesse acesso a

artigos ou notícias relacionadas à temática, dentre outras referencias.

No que diz respeito ao campo da pesquisa, na abordagem qualitativa, significa ―o

recorte espacial que diz respeito à abrangencia, em termos empíricos, do recorte teórico

correspondente ao objeto da investigação (MINAYO, 2012, p.62).‖

Além disso, a mesma autora afirma que ―essa fase combina instrumentos de

observação, entrevistas ou outras modalidades de material documental e outros. Ela realiza

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um momento relacional e prático de fundamental importância exploratória, de confirmação e

refutação de hipóteses e de construção de teoria‖ (MINAYO, 2012, p.26).

Nessa mesma perspectiva, sobre a relação empírico e teoria, González Rey,

reforça:

[...] O empírico representa o momento em que a teoria se confronta com a realidade,

sendo representada pela informação que resulta dessa confrontação com a realidade,

sendo representada pela informação que resulta dessa confrontação, e que

desenvolve por diferentes vias. Assim, o empírico é inseparável do teórico, é um

momento de seu desenvolvimento e organização, inclusive, a informação da

realidade que entra em contradição com teórico e que permite sua extensão e

crescimento é, por sua vez, sensível ao registro teórico, pois a teoria o permite [...]

(2010, p. 30-31)

O campo da pesquisa, apresenta-se como uma etapa fundamental da investigação

cientifica, através da qual se buscará respostas aos questionamentos e compreensão das

questões abordadas. Por isso, González Rey (2010), argumenta a cerca das construções sobre

o campo durante o processo de pesquisa na metodologia, e salienta que devemos estar

conscientes que a pesquisa de campo sempre abre um campo de informações e idéias mais

rico que a própria teoria. Observe:

[...] as construções sobre o campo durante o processo de pesquisa são essenciais para

a metodologia qualitativa; isso não requer, no entanto, o abandono de teorias a

priori, pois o pesquisador é teórico em sua própria organização subjetiva enquanto

sujeito da pesquisa, ao carregar um repertório de representações e de sentidos

subjetivos que, com freqüência inconscientes, expressam uma memória teórica,

enquanto princípio de valor heurístico para a construção da experiência. Do que se

trata é de não confundir os níveis de produção de conhecimento explicitados acima e

de estar consciente de que toda pesquisa abre um campo de informações e de idéias

mais rico que qualquer teoria. (2010, p.35)

Como, a pesquisa de campo caracteriza-se por ser o ápice do estudo, com a

delimitação do espaço geográfico para coleta de dados, têm-se a Defensoria Pública da União

no Estado do Ceará-DPU26

, uma escolha pautada não somente por ser estagiária do órgão,

mas principalmente, pelas características peculiares da instituição, por ser uma instituição

26

A Defensoria Pública da União no Ceará localiza-se na Rua Costa Barros, nº. 1227 – Aldeota - Fortaleza-CE.

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ainda desconhecida por grande parcela da população, além de demarcar um novo espaço de

atuação sócio-ocupacional do serviço social.

Ocorre que para adentrar no campo da pesquisa, necessitou do consentimento da

Instituição, para realizar o estudo através de entrevistas semi-estruturadas, assim como ter

acesso aos documentos e dados institucionais. Desta forma, elaborou-se um documento

solicitando autorização para entrada na Defensoria Pública da União no Ceará, cujo modelo

encontra-se no apêndice e sua devida autorização para realização da mesma.

Cabe ressaltar, que entre as técnicas e métodos da pesquisa qualitativa, optou-se

pela aplicação de entrevistas semi-estruturadas. ―(...) a entrevista semi-estruturada na pesquisa

qualitativa reúne condições que a individualizaram em relação à entrevista não-diretiva e à

entrevista padronizada ou estruturada.‖ (TRIVIÑOS, 1987, p.52)

Além disso, a entrevista semi-estruturadas ―combinam perguntas fechadas e

abertas, em que o entrevistado tem a possibilidade de discorrer sobre o tema em questão sem

se prender à indagação formulada‖ (MINAYO, 2012, p.64).

Mas, em geral, a entrevista seguiu o que se encontrava planejado. As principais

vantagens das entrevistas semi-estruturadas são as seguintes: possibilidade de acesso à

informação além do que se listou; esclarecer aspectos da entrevista: pontos de vista diversos,

orientações e hipóteses para o aprofundamento da investigação e definição de novas

estratégias e outros instrumentos (TOMAR, 2007).

Deste modo, Minayo (2012, p. 67-68) afirma que no caso da pesquisa qualitativa

(...) ―é fundamental o envolvimento do entrevistado com o entrevistador. Em lugar dessa

atitude se constituir numa falha ou num risco comprometedor da objetividade, ela é a

condição de aprofundamento da investigação e da própria objetividade‖.

No que concerne às anotações de campo, (TRIVIÑOS, 1987, p. 154), aduz que,

―na pesquisa qualitativa, o registrado das informações representa um processo complexo, não

exclusivamente pela importância que esse tipo de investigação adquire o sujeito e o

investigador, mas também pelas dimensões explicativas que os dados podem exigir.‖ Por isso,

o mesmo autor reforça a importância da descrição dos diálogos.

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É preferível, em todas as circunstâncias, que o pesquisador opte pela gravação das

entrevistas ou de algum diálogo que escuta que se considera importante para a

investigação. Às vezes ocorre, não obstante isso, que não existe a oportunidade de

realizar a gravação do diálogo. Nessa circunstância, o investigador deve procurar

reproduzir em suas anotações, da maneira mais exata possível, todo o

desenvolvimento da conversação, indicando, individualizando as participantes.

(TRIVIÑOS, 1987, p. 154)

Com relação ao momento da entrevista, também observou-se algumas regras,

apontadas por (TRIVIÑOS) como sendo essenciais:

Em primeiro lugar, o investigador não pode distrair-se. Em todo momento, deve

estar atento ao que o sujeito diz ou faz. Em segundo lugar, não é possível conceber

um pesquisador que realize a tentativa de corrigir as respostas do sujeito, em sua

forma e em seu fundo, em seu conteúdo. Mas deve rapidamente solicitar

esclarecimento frente a respostas ambíguas. Em seguida, é negativa a tendência do

investigador que pretenda contemplar as opiniões do sujeito. Num momento dado, o

indivíduo detém o fluxo de seu pensamento, fica em dúvida, e algum pesquisador

pode ajudá-lo e completar idéias. (1987, p. 169)

Ao delinear os sujeitos da pesquisa, fez-se necessário, identificar quais setores que

mais encaminham demandas ao serviço social da DPU-CE. Considerando, como já

mencionado anteriormente que, as demandas encaminhadas ao serviço social da DPU/CE

constituem-se prioritariamente na realização de perícias e estudos sociais, grande parte em

caráter de urgência, solicitados por Defensores Federais.

Sendo 14 o número de Defensores distribuídos nos Ofícios: Previdenciário, Civil,

Criminal e Geral, optou-se, neste caso por entrevistar 01 Defensor de cada ofício, uma vez

que as ações judiciais se diferenciam. Com exceção apenas do ofício Geral-Regional que não

encaminha demandas ao serviço social, de forma contínua ou sistemática, como os outros o

fazem. Deste modo, utilizou-se como critério para eleger os entrevistados, o coordenador de

cada ofício, caracterizando assim, a imparcialidade e a representação por área de atuação.

Contudo, de acordo com a divisão dos demais setores do núcleo da DPU-CE, que

são: secretaria jurídica, secretaria administrativa, atendimento ao público, área de

comunicação, biblioteca, contadoria, apoio, serviço social e sociologia, optou-se pela

aplicação de entrevistas semi-estruturadas, com o coordenador de área de cada setor. Sendo

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assim, foram entrevistados o coordenador do atendimento, da secretária jurídica, uma analista

do ofício previdenciário, uma analista do ofício cível. Todavia, a profissional analista do

ofício regional, recusou-se a participar da entrevista, sob alegativa que, não há trâmites

processuais entre o setor em que a mesma atua com o Serviço Social. Totalizando-se assim, o

número de entrevistados em 07 profissionais.

A escolha dos entrevistados foi definida, também, considerando o fato de que, em

alguns momentos ocorrem demandas equivocadas ao serviço social, o que demonstra a falta

de clareza dos outros setores sobre serviço social e sobre suas reais atribuições e

competências.

Ressalta-se que foram respeitadas as questões éticas da pesquisa social e antes de

iniciar os trabalhos juntos aos profissionais, foram fornecidas todas as informações sobre a

pesquisa a fim de que os mesmos pudessem ter clareza e tranqüilidade para decidir se deviam

ou não aceitar o convite.

Nos casos dos convites que foram aceitos, os (as) entrevistados (as) formalizaram

sua participação através de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, onde o mesmo

esclarecia os objetivos da pesquisa, resguardando as identidades dos entrevistados (as), sendo

realizada a troca dos nomes verdadeiros dos (as) entrevistados (as) por números. Todas as

entrevistas foram gravadas, sendo posteriormente transcritas para realização de suasdevidas

análises.

No que concerne a análise do conteúdo, esta abrange as seguintes etapas: ―pré-

análise, exploração do material e tratamento dos resultados/ Interferência/Interpretação‖

(MINAYO, 2012, p. 75-76). Os dados da pesquisa foram trabalhados a partir dos

procedimentos para análise do conteúdo enquanto técnica de investigação.

Com a análise de conteúdo, pode-se atingir um nível mais aprofundado,

desmontar a estrutura e os elementos para esclarecer suas diferentes características e extrair

sua significação, através da comparação, avaliação, reconhecimento do essencial em torno das

idéias principais. (MINAYO, 2012)

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A pesquisa de campo foi compreendida entre os meses de abril e maio do corrente

ano, sob orientação da professora. Ocorreram nesse percurso alguns desafios a serem

vencidos, no que diz respeito principalmente a espera para se agendar as entrevistas, afora, o

tempo disponibilizado durante a aplicação das mesmas, tendo em vista, que as referidas

deram-se no horário de expediente. Um dos pontos positivos a ser destacados, diz respeito a

instituição fornecer seu acervo bibliotecário para consultas, facilitando assim a produção

teórica da pesquisa. Além do apoio e incetivo das profissionais do serviço social para que a

pesquisa se concretizasse.

3.2 – Analisando e produzindo dados

Consoante as explicações de Rey, toda pesquisa se diferencia e possui um sentido

novo, sobretudo, porque o olhar que é lançado sobre o objeto pesquisado e seus recortes, irão

definir essa distinção. Sendo assim, muito embora, o campo da pesquisa, seja uma instituição,

que constantemente vem sendo alvo de estudos e pesquisas, a delimitação do objeto

apresenta-se como o diferencial, embasadas pelas informações empíricas.

Toda pesquisa empírica pode ser fonte de vários modelos teóricos, cuja legitimidade

não será dada pela evidência imediata da superioridade de um sobre os outros, mas

pela capacidade que terão para manter sua viabilidade e seu desenvolvimento diante

de novos sistemas de informação empírica, bem como diante de novos modelos

teóricos com capacidades diferenciadas para dar sentido a qualidades distintas sobre

o estudado. (REY, 2010, p. 119)

Portanto, a proposta de discussão sobre o trabalho desenvolvido pelas assistentes

sociais da DPU-CE, é instigante, pois, configura-se como uma prática fundamental no campo

sóciojurídico. Uma vez que, as profissionais inseridas nesse espaço sócio-ocupacional, atuam

nas manifestações da questão social, em sua interseção com o Direito e a justiça na sociedade.

Segundo Kosmann (2009, p. 311) ―é fundamental registrar que debates e reflexões

em torno da prática do assistente social no campo sóciojurídico vêm-se fazendo presente com

mais notoriedade nos últimos anos [...]‖.

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Destarte, este estudo possibilitou identificar e reconhecer alguns aspectos que são

constitutivos do fazer profissional, assim como as implicações e possibilidades de trabalho, do

conjunto de demandas, contribuição e relevância para área de atuação.

Como vimos no tópico 1.3, o serviço social, vem sendo uma profissão requisitada

no campo sóciojurídico. Além disto, verifica-se que tais práticas, inicialmente, foram

demandadas e introduzidas formalmente no Juizado de Menores no final da década de 1940 e

início dos anos 1950. Todavia, com o passar dos anos foi acentuadamente ampliando e

consolidando, sua inserção no meio, para atuar emequipe multidisciplinar junto ao Poder

Judiciário e outras instâncias, inclui-se nesse meio as Defensorias Públicas.

Segundo Fávero (2006) o campo sóciojurídico refere-se ao conjunto de áreas nas

quais as ações interventivas do Serviço Social articula-se a outras ações de natureza jurídica,

tais como o sistema penitenciário, o sistema judiciário, as defensorias públicas, entre outros.

Tendo em vista, o relevante papel que é desempenhado pela Defensoria Pública da

União, já mencionados nos tópicos 2.1 e 2.2 do segundo capítulo, sentiu-se a necessidade

compreender o lugar que o Serviço Social ocupa no âmbito desta instituição, a partir da

análise dos (as) profissionais que compõem a referida.

O trabalho do assistente social nestes serviços se caracteriza por uma prática de

operacionalização de direitos, de compreensão dos problemas sociais enfrentados

pelos sujeitos no seu cotidiano e suas inter-relações com o sistema de justiça. Além

disso, esse profissional permite a reflexão e a análise da realidade social da

população, da efetividade das leis e de direitos na sociedade, possibilitando o

desenvolvimento de ações que ampliem o alcance dos direitos humanos e a eficácia

da ordem jurídica em nossa sociedade. (CHUAIRI, 2001, p.139)

A partir da relação do serviço social com os demais setores da instituição

verificamos a atitude interdisciplinar e os processos recíprocos no contexto das relações

sociais e interpessoais. Sendo assim, o trabalho em equipes compostas por profissionais de

diferentes áreas do saber dispõem de seus conhecimentos em função de objetivos comuns e

conjugam suas propostas profissionais em função da viabilização do acesso à justiça.

Corroborando com as colocações de Iamamoto (2012, p. 352), o profissional do

serviço social ―ingressa nas instituições empregadoras como parte de um coletivo de

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trabalhadores que implementa ações institucionais [...] cujo resultado final é fruto de um

trabalho combinado ou cooperativo, que assume perfis diferenciados [...]‖ .

Com base nessas observações, da autora elaborou-se a seguinte pergunta aos

entrevistados: Existe vinculação entre o setor em que você faz parte com o setor de serviço

social? A referida pergunta deu-se no sentido de identificar como se estabelecem as relações

sociais e interpessoais entre o serviço social e os demais setores e assim aferir se os mesmos

percebem a autonomia do fazer profissional da equipe de assistentes sociais.

Ressalta-se que na maioria das respostas apresentadas pelos entrevistados, houve

uma predominância dos referidos profissionais aduzirem que existe vinculação entre o setor

em que atuam com o serviço social.

Eu acho que o serviço social tem vinculação com todos os outros setores, né!

Porque, por exemplo, eu quando tô instruindo e até auxiliando os defensores, a gente

manda demais pedidos para que sejam feitos a visitas, seja feito o relatório social,

então, a gente tem muito essa conexão com o serviço social. (Entrevistado – 06)

No entanto, essa afirmativa pode ser justificada em razão dos parâmetros

institucionais, haja vista que, as atividades desenvolvidas em todos os setores convergirem

para consecução da mesma finalidade.

Eu acredito que seja uma vinculação que tem ser forte, né?! Porque, são dois setores

que tratam diretamente com os assistidos. A gente de forma mais formal, menos

pessoal, tenta dá encaminhamento aos problemas que os assistidos nos trazem e eu

acredito que vocês de uma forma pessoal mais próxima tentam estender o serviço

que a gente oferece aqui que é de assistência jurídica, considerando que seja uma

extensão maior visando pro social mesmo. Resolver problemas outrem que vão além

dos problemas que podem ser resolvido na vida social. Há uma vinculação de fins

das duas atuações, apesar de não ter uma integração tão efetiva. Mas eu acredito que

uma é a extensão da outra. Uma não consegue viver sem a atuação do outro. Então

acredito que a vinculação é muito forte. (Entrevistado – 01)

Analisando a fala dos ―entrevistados – 01 e 06‖, percebe-se uma incompreensão

por parte dos mesmos. Observe, que no contexto institucional no qual o serviço social está

inserido, não há vinculação com nenhum outro setor, pois a equipe atua de maneira autônoma.

Neste espaço sócio-ocupacional a vinculação do serviço social é dada de maneira direta ao

Órgão, assim como os demais setores.

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Observe que o ―entrevistado – 07‖, compreendeu que a atuação do serviço social,

dá-se de forma autônoma, ou seja, sem vinculação aos demais setores, sendo sua vinculação

ao órgão. Portanto, este último entrevistado expôs que há uma integração dos profissionais de

modo que cada um dentro da sua competência, realiza sua função social completando a de

outros profissionais para alcançar o êxito da instituição.

Eu diria que há uma ligação com o trabalho, mas, não seria vinculação, não! O

serviço social não é vinculado a nenhum ofício da defensoria. Eu vejo o serviço

social e as outras áreas afins da defensoria como uma forma de colaboração a

atividade fim, então, elas colaboram dentro dessa perspectiva de assistência jurídica

integral e gratuita aos assistidos, assim como o serviço médico, o sociólogo,

contadoria e tantos outros com medidas colaborativas. É uma via de colaboração, em

termos não tem ligação. Porque ligação pressupõe como se fosse uma subordinação.

E na verdade é uma medida de colaboração. O serviço social desempenha uma

atividade autônoma, sem tá vinculado a nenhum setor. O serviço social é vinculado

à instituição Defensoria Pública da União na perspectiva da assistência jurídica, que

é a atividade fim da instituição. A atividade fim da defensoria é prestar assistência

jurídica integral e gratuita, para chegar a isso eu vou ter diversos ramos de

conhecimento que vão colaborar para a prestação dessa assistência. (Entrevistado –

07)

Segundo Raichelis (2009), cada vez mais, tem se mostrado evidente e necessária a

atuação do assistente social nas atividades sóciojurídicas, trabalho este que se dá de forma

compartilhada com profissionais de outras áreas. Muito embora, tais atividades demandem

novas exigências ao exercício profissional dos assistentes sociais, a autora argumenta que:

Ao contrário do que muitas vezes se considera, o trabalho interdisciplinar demanda a

capacidade de expor com clareza os ângulos particulares de análise e propostas de

ações diante dos objetivos comuns a diferentes profissões, cada uma delas buscando

colaborar a partir dos conhecimentos e saberes desenvolvidos e acumulados pelas

áreas. (RAICHELIS, 2009, p. 389)

Nesse sentido, entende-se na fala do entrevistado que atuação das assistentes

sociais é facilmente reconhecida em sua relação estabelecida junto aos demais setores e

profissionais de outras áreas, sobretudo, em razão dessa ação profissional incidir diretamente

sobre a atividade fim da instituição. Logo, vislumbramos que a consecução de um trabalho

interdisciplinar e intersetorial, com o envolvimento de profissionais de áreas especializadas,

neste caso em tela, o assistente social, se torna fundamental e estratégico para favorecer uma

maior eficácia à ordem jurídica.

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Deste modo, indagou-se aos entrevistados: ―Qual importância é atribuída ao

serviço social para viabilizar a concretização da atividade fim da DPU-CE?‖

O papel da defensoria qual é? É incluir aquela pessoa que está alienada dos seus

direitos, na esfera do direito. É incluí-la dentro de uma esfera que o direito a protege.

Então, a forma com o Serviço Social, lida com essa concretização, é exatamente,

juntar esse trabalho que é essencialmente jurídico ao trabalho essencialmente social.

Né! Eu acredito que esse trabalho seja bem mais próximo. Uma vez que, o aspecto

jurídico é um pouco distante. Muitas vezes os assistidos não têm um contato direto

com o defensor. Não tem um contato direto com o juiz. Portanto, o Serviço Social é

um braço que se estende da defensoria para tocar o assistido no âmbito social e tirá-

los de uma situação de alienação para uma situação em que ele tenha noção dos

direitos. De assistir e usar efetivamente nos direitos que ele tenha a disposição dele,

o estado. (Entrevistado - 01)

De pronto, evidenciou na fala do entrevistado que, a Defensoria Pública da União,

não somente restringindo-se a unidade do Ceará, necessita em seu quadro de servidores a

inserção do profissional assistente social. Sobre esse aspecto cabe então, duas ressalvas:

1) A assistência jurídica integral e gratuita prestada pelo Órgão é destinada a cidadãos

economicamente hipossuficientes, Além disto, o serviço da instituição também abrange,

informação e orientação jurídica, representação perante órgãos públicos e, principalmente o

acesso à Justiça, tanto na propositura de ações como na defesa desse cidadão.

2) A DPU tem como proposta, o desenvolvimento do trabalho interdisciplinar, entendido

como uma proposta que exige dos envolvidos um compromisso no sentido de unificação do

saber, mediante a contribuição de cada área, no intuito de assessorar e subsidiar as demandas

que cada vez mais apresentam novas necessidades sociais.

Com isso, visualiza-se, a importância do serviço de assistência jurídico prestada

pela DPU à sociedade, revelando a compatibilidade das intervenções sociais executadas pelo

Serviço Social, e a existência de demandas que apontam a utilidade do profissional, para

auxiliar na busca e garantia dos direitos sociais pleiteados pelos assistidos.

O trabalho das assistentes sociais contribui muito para o serviço da defensoria. Sem

o Serviço Social o funcionamento interno seria bastante prejudicado. Eu acho que a

gente tem é que explorar mais! Os defensores teriam que explorar mais o trabalho do

serviço social nas diversas camadas. Eu já trabalhei em outra unidade, na DPU do

Rio Grande do Norte, e lá não tinha assistentes sociais. Com o laudo do assistente

social, você consegue passar para o juiz, (ó excelência... aqui está o grau de

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miserabilidade do assistido). Porque sem o assistente social, prejudica muito o

trabalho da defensoria. Hoje você tem uma prova do estado probatório pra levar para

o magistrado. O Serviço Social é área próxima da instituição, que melhora muito o

trabalho da defensoria. (Entrevistado - 07)

Nas narrativas, constata-se que prática exercida pelos profissionais de serviço

social da instituição, tem obtido excelentes resultados e cuja repercussão tem sido bastante

satisfatória. Desta feita, a conquista de ações julgados procedentes, em que as perícias sociais

mostraram-se determinantes para a obtenção destes resultados, tem despertado interesse em

todos os Ofícios, que a cada dia passam a requisitar ainda mais a intervenção do serviço

social.

―Com certeza tem importância para obter sucesso numa sentença, numa decisão.

Pelo fato que, o juiz muitas vezes indefere uma tutela antecipada a gente pedindo

uma ação de medicamentos quando não tem um relatório social, uma perícia social.

Muitas vezes, quando o Defensor decide não esperar, o relatório social e já propõe

logo a ação, posteriormente, ele fala que a gente não conseguiu demonstrar a

condição financeira do assistido. Então, muitas vezes é mais válido esperar pra

entrar com uma ação, quando se tem um parecer social, porque que a decisão

judicial seja favorável.‖ (Sujeito – 06)

Outrossim, vimos no tópico 2.3, que o serviço social institui-se na Defensoria

Pública da União no Ceará, no ano de 2006. Conforme mencionado neste tópico, percebeu-se

que, à época, havia relativa dificuldade de compreensão sobre as atribuições e competências

do Serviço Social. Deste modo, inicialmente, realizou-se a seguinte pergunta aos sujeitos da

pesquisa: O que você compreende por serviço social? As respostas foram muito

diversificadas, predominando aquela em que o profissional apresentou idéia confusa entre o

―serviço social‖ e o profissional ―assistente social‖. Ou até referencia as atividades que estão

relacionadas ao Serviço Social. Veja-se: ―Eu entendo que é uma área que cuida basicamente

de pensar em assistência. Quando se dá assistência, em analisar a rede de assistência, local de

trabalho seja por parte do estado, seja por partes das ONGs. É responsável por fazer essa

ponte.‖ (Entrevistado - 02)

A concepção muitas vezes equivocada da profissão, ou até mesmo a idéia confusa

entre o ―serviço social‖ e o profissional ―assistente social‖, pode ser explicada pela própria

trajetória sócio-histórica da profissão. Observe a fala do entrevistado: ―De uma forma geral eu

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acho que é um setor, um setor não, né...! É uma função responsável para dá uma assistência as

pessoas, no sentido, das condições sociais e pessoais da pessoa, num contexto cultural e social

mesmo.‖ (Entrevistado - 05)

Segundo Ortiz (2007, p.123) ―o Serviço Social brasileiro dispõe de uma particular

imagem socialmente reconhecida, pautada em traços oriundos de sua trajetória sócio-

histórica.‖ Aludida justificativa perpassa, por idéias preconcebidas sobre a profissão, em

razão destes contornos históricos em que emergiu o serviço social.

As mudanças na concepção que se tem da profissão de assistente social são

conseqüências de processos históricos, e dependem do significado social que se

atribui à profissão, que é fruto de movimentos da categoria e também da sua relação

com a dinâmica e o desenvolvimento do conjunto da sociedade. [...] (Fraga, 2010, p.

43)

Em voga, observa-se também nas falas dos entrevistados, o reconhecimento do

Serviço Social como uma profissão de prática interventiva, que utiliza-se de outras ciências

para fundamentar seu conteúdo teórico.

Ah... Eu compreendo como ciência, vamos falar assim, que consegue dialogar.

Preparado! Estudado! Lê-se muito para conseguir dialogar com diversas realidades,

sejam elas, vamos dizer assim, estruturadas ou não, sejam elas postas ou não,

visíveis ou invisíveis, né! Eu confundo muito o serviço social com o profissional do

serviço social. Eu vejo que é aquele profissional que recebe muito conteúdo e

diverso, inclusive, para conseguir entender essas múltiplas realidades que eu tô

colocando. Algumas nem sempre perceptíveis no primeiro olhar, né! E, é isso que eu

vejo. O serviço social como esse elemento de entendimento da realidade de

articulação dessa realidade com as idéias que se fazem sobre elas. (Entrevistado -

04)

Portanto, a idéia confusa do entrevistado, pode ser explicada, conforme dito

anteriormente, em razão do serviço social utilizar-se de ciências como a sociologia,

antropologia, psicologia, economia para fundamentar seu conteúdo teórico. E, em virtude dos

assistentes sociais exercerem uma prática por meio de dupla dimensão que se relacionam,

(interventiva e investigativa), corroborada pela utilização da pesquisa e análise da realidade

social. Consoante afirma Fraga:

[...] o Serviço Social é uma profissão investigativa e interventiva. Portanto, as

análises de seus estudos e pesquisas precisam ser realizadas a partir de situações

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concretas e possuir utilidade social, não interessando o conhecimento realizado

apenas como finalidade descritiva e contemplativa. [...] (2010, p.46)

Quanto à questão específica do conjunto de atividades e ações desempenhadas

cotidianamente pelas Assistentes Sociais, observou-se no tópico 2.3, que a realização de

perícias e estudos sociais, caracteriza-se como a demanda mais expressiva encaminhada ao

serviço social da DPU-CE. Tais solicitações por perícias sociais são em sua maioria,

requisitadas pelos Defensores Públicos Federais da unidade, geralmente em caráter em

urgência, quando estes, necessitam avaliar o grau de miserabilidade dos assistidos que buscam

apoio jurídico do Órgão. Além disso, as perícias sociais fornecem elementos fáticos para

subsidiar a articulação da defesa do assistido, ora executada pelo Defensor.

Para Mioto (2001, p. 146) através da perícia social, o assistente social, ―realiza o

exame de situações sociais com a finalidade de emitir parecer sobre a mesma.‖ No entanto,

com vistas, a uma melhor compreensão da forma como se dão esses encaminhamentos e

demandas ao serviço social, elaborou-se a seguinte pergunta aos entrevistados da pesquisa:

―Que tipos de demandas são direcionadas ao serviço social por parte do setor em que você

atua?‖

Aqui nos Ofícios Previdenciários, as principais demandas que encaminhamos ao

serviço social são decorrentes do beneficio assistencial BCP, tanto ao idoso como ao

deficiente. Principalmente, para avaliar a miserabilidade, a questão da renda.

Inclusive, tem se repassado essa demanda, devido, a grande quantidade de

processos. O serviço social, por sua vez, tem respondido bem. Mas, como não há

condição de fazer o relatório social em todos os casos, é apresentada uma proposta

de fazer um apoio, um acompanhamento da renda, pelo menos na hora em que tem

que preencher a declaração de composição e renda familiar. Isso já facilita bastante

o trabalho da gente, porque muitas vezes, os assistidos vão preencher a declaração

de composição e acabam não colocando de forma correta, ou então, só o fato de ter

uma assistente social de plantão como foi colocado no projeto, já ajuda bastante.

Então, as principais demandas são essas de beneficio assistenciais, mas também uma

vez ou outra, aparece casos para avaliar a questão de pensão por morte, quando

decorre de dependência financeira, nos caso, quando tem um filho e aí a mãe ou o

pai quer o beneficio e aí pra isso eles têm que comprovar essa dependência.

(Entrevistado - 03)

No Ofício criminal é muito de minuta a colaboração. Tem sido de minuta a

colaboração do serviço social, em razão da necessidade mesmo, né! O máximo que a

gente tenta usar é numa análise social pra fins de beneficiar uma ação de

hipossuficiência. Mas, o mais relevante disso é que tais relatórios sociais passam

diretamente em teses criminais de defesa, né! Principalmente, em casos que há

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101

estado de necessidade, para comprovar pro juiz, comprovar ao órgão julgador, que

aquela pessoa se encontra numa situação de vulnerabilidade tal, que o crime

infelizmente foi a única atitude a esperar daquele conjunto de vida da pessoa. Então,

hoje, no ofício criminal a, única demanda do serviço social é praticamente essa.

(Entrevistado – 04)

Esta afirmativa reforça a tese que o serviço social da DPU-CE, recebe uma

quantidade significativa de demandas por perícias sociais, e que estas geralmente necessitam

ser realizadas em caráter de urgência, em razão da própria necessidade do assistido. Percebe-

se ainda que as perícias sociais são utilizadas em casos bastante variados, entre os ofícios

previdenciário, cível e criminal.

Nós que atuamos na assessoria dos ofícios, no meu caso Ofício Cível, geralmente,

encaminhamos pra o serviço social, casos que precise esclarecer justamente as

condições do assistido. Principalmente, quando é para averiguar renda. Averiguar

também, o histórico de vida. Assim, às vezes os assistidos chegam contando

histórias, histórico de doença, de conflitos familiares, aí eu sempre encaminho pro

Serviço Social, pra tentar esclarecer... Porque, também eu sei que vocês orientam os

assistidos, né...! Às vezes algumas informações do contexto familiar, não ficam

totalmente esclarecidas, então, eu sempre procuro mais encaminhar mais nesse tipo

de situação, para esclarecer. Geralmente em benefícios assistenciais pra uma

abordagem melhor da renda. (Entrevistado – 05)

É importante esclarecer ainda, que o encaminhamento de solicitações para

elaboração de perícias sociais também podem ocorrer por parte dos profissionais analistas que

atuam na assessoria dos ofícios (previdenciário cível ou regional). Afora, as demandas

espontâneas, como orientações, palestras, realização de ações de educação em direito.

De forma geral, o mais comum que a gente aqui do atendimento ao público

encaminha para o serviço social, são aquelas demandas de benefícios de assistência

social. Aquele beneficio que tá incluída na Lei do LOAS, basicamente esse, né?!

Mas, acredito que seja importante também, a atuação de vocês em demandas

presentes em que para assistido seja demandante de tratamento médico ou de

medicamentos, nessas demandas o assistido geralmente não tem condições de arcar

ou com o tratamento médico ou com medicamentos que ele venha necessitar. Aqui

geralmente, quando é que eu peço para chamar o serviço social? Como é que eu

identifico a necessidade das pessoas? Primeiramente, pela apresentação dela, dá para

perceber ou não uma situação de necessidade. Pela própria entrevista que a gente faz

aqui no atendimento, têm assistidos que vivem em situação de rua mesmo, não tem

uma moradia própria ou algo fixo, acredito que essa situação seja a que eu oriento os

estagiários a contactar o serviço social. Além daquelas demandas que envolvam

deficientes físicos, pessoas idosas que não tem consciência plena dos direitos que

lhes assistem, por exemplo, casos que eles ainda não têm direito a gratuidade, de

acessibilidade a transporte público. A questão dos idosos também que vivem numa

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situação um pouco mais de necessidade. São exatamente esses casos, em que eu

oriento os estagiários a procurar o serviço social para um atendimento aqui. O

Serviço Social orienta de forma melhor. São essas demandas que eu peço para

atender. As demandas que a gente não pode atender aqui no atendimento. Algo que

seja uma extensão do braço da defensoria. (Entrevistado – 01)

Veja, que os cidadãos que procuram a assistência jurídica na DPU-CE,

primeiramente são atendidos no setor de ―Atendimento ao público‖, composta por equipe de

estagiários, coordenador do Atendimento-triagem e Defensor plantonista. Inicialmente é

realizada uma pré-triagem, são informados dos documentos necessários para serem atendidos

pela instituição, que possui como critérios para que os usuários possam acessá-lo, os seguintes

requisitos: ser residente no município de Fortaleza e região metropolitana; renda familiar

compatível com a isenção do imposto de renda e Identificação da correlação entre a causa e a

atribuição da Defensoria Pública da União. Após essa análise, ocorre à abertura do PAJ, nas

etapas seguintes a equipe da DPU-CE realiza devidos contatos com as assistidos durante o

andamento do processo.

Deste modo, para uma melhor compreensão do contexto em que ocorrem os

trâmites de encaminhamentos de PAJ‘s para intervenção dos assistentes sociais, e até mesmo

de outros profissionais como médicos que também realizam perícias médicas, ocorrem

justamente quando o Defensor ou analista avalia a respectiva demanda apresentada pelo

assistido e assim identificam que a colaboração destes profissionais será de grande valia para

contribuir no êxito da propositura da ação. Consoante explica Fávero:

O perito, enquanto detentor de um saber foi chamado a dar respaldo, ou seja,

chamou-se um profissional especialista em determinada área de conhecimento, ou

seja, chamou-se um profissional especialista em determinada área de conhecimento,

para o estudo, a investigação, o exame ou a vistoria de uma situação processual, com

o objetivo e oferecer subsídios técnico-científicos que possibilitassem ao magistrado

a aplicação da lei com maior segurança, reduzindo-se a possibilidade de pratica de

erros ou injustiças. (FÁVERO, 2006, p. 18)

A partir daí, percebe-se um panorama que envolve as diversas formas de

intervenção, em que pese à atuação dos profissionais de diferentes especialidades em conjunto

no âmbito da DPU-CE. Sobretudo, entre o serviço social e o direito, enquanto profissões

dotadas de diferenciadas percepções do interpretar e intervir na realidade.

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Segundo Silva, tem se apresentado na contemporaneidade, novas exigências ao

exercício profissional, estas perpassam fundamentalmente pelas três dimensões, em que:

a) Consiste o conhecimento teórico-metodológico, que propicie aos profissionais

uma compreensão clara da realidade social e a identificação das demandas e

possibilidades de ação profissional que esta realidade apresenta;

b) Realização dos compromissos ético-políticos estabelecidos pelo Código de Ética

Profissional dos Assistentes Sociais, fundados nos valores democráticos e

humanistas da participação política – liberdade, igualdade e justiça social – e nos

valores de cidadania;

c) Capacitação técnico-operacional, que possibilite a definição de estratégias e

táticas na perspectiva da consolidação teórico-prática de um projeto profissional

compromissado com os interesses e necessidades dos usuários, com a defesa dos

direitos sociais, com a ampliação da esfera pública e com a construção de uma nova

cidadania social, capaz de realizar e impulsionar novos direitos, mediante o

fortalecimento da consciência de classe e da organização política, sindical e

comunitária. (SILVA, 1996, p.113)

Nesse sentido, na DPU-CE, o serviço social exerce uma atuação qualificada, em

consonância com as dimensões teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa, a fim

de observar se além da demanda do direito, existe alguma situação de vulnerabilidade social,

dando a devida orientação e encaminhamento à rede sócio-assistencial e/ou outras instituições

que sejam necessárias.

O que é que próprio do serviço social dentro de uma defensoria? É o apoio da

atividade finalística. Ou seja, o trabalho que um defensor desenvolve dentro de um

processo ou fora de um processo ele exige a algumas diligencias alguns apoios

complementares. Então, por exemplo, uma entrevista social, a realização de laudo

social. A articulação de necessidade do assistido pós atendimento jurídico, nem

sempre nós conseguimos ter essa competência. Uma iniciativa que eu acho que é

própria do serviço social, seria de dentro de cestas de serviços postas a disposição de

um cidadão, conseguir vamos dizer, direcionar melhor aquele individuo. Então, essa

ação, eu acho importante. Outra situação muito relevante do serviço social é

conseguir ser um co-vigilante da realização das políticas publicas. E o serviço social

consegue por está muito atento a realidade que nos circunda, ver se determinada

política pública, se está funcionando ou não, e posiciona. Verificam se as pessoas

necessitam de uma dada ação cível publica, nesse sentido, alerta um defensor pra um

determinado eixo de atuação, para que ele se posicione. Enfim, consegue identificar

vulnerabilidades que nem sempre nós conseguimos. Então pra mim essas são

iniciativas bem nobres do serviço social dentro de uma instituição de destaque como

é a defensoria. (Entrevistado – 04)

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104

A fala descrita acima pelo entrevistado, é em resposta ao questionamento

referente à pergunta: ―Que ações/atividades você considera que são desempenhadas pelo

serviço social da instituição?‖ Observa-se, que o mesmo além de identificar uma das

principais atividades, privativas do serviço social que é o levantamento sócio-econômico dos

assistidos, aponta também um dos princípios formativos que capacidade de realizar leitura

analítica da realidade social fazendo uma interlocução com a construção de estratégias de

respostas profissionais mais consistentes e coerentes com a vida destes assistidos da DPU-CE.

Bom... A atividade que eu acho principal é a realização de perícias sociais,

relacionadas aos processos de assistência jurídica. Esse é o papel que eu acho

principal. Mas, eu sei também que existem outras ações na área de acompanhamento

das pericias sociais. Não sei exatamente os que fazem lá. Eu sei que podem analisar

as pericias sociais que são pedidas pela justiça. Eu sei que isso tramita por lá. Mas,

eu não sei exatamente o que vocês fazem nesses casos. E em casos em que as

pessoas necessitam encaminhamento de assistente social. Também em alguns

projetos, eu vi a participação do serviço social e agora na questão dos encontros

virtuais dos familiares presos. (Entrevistado – 02)

Como vimos no tópico 2.3, a equipe do serviço social da DPU-CE elaborou um

plano de atuação profissional, balizado pelo projeto ético-político no intuito de esclarecer à

instituição as ações/atividades desenvolvidas pelo setor.

As visitas domiciliares, né...! Pra conhecer a situação atual do assistido,

acompanhamento e encaminhamento para outros órgãos, para outros setores que

possam também ajudar o assistido. Elaboração de relatório social para levantamento

das condições dele... Eu sei que tem as participações do projeto DPU nas escolas,

das comunidades, indígenas. Eu também tenho conhecimento, assim, nesse sentido

de fazer levantamento das condições pessoais. (Entrevistado – 05)

As respostas apresentadas evidenciadas pelos entrevistados expressaram que os

mesmos, reconhecem os tipos de ações/atividades que são desenvolvidas pelas assistentes

sociais, muito embora, em todas as entrevistadas, com ênfase na perícia social, citada por

todos.

Conforme já anunciado no tópico 2.2, a DPU-CE conta nove principais setores,

além dos Ofícios previdenciário, cível, criminal e regional-geral. Contudo, a relação direta

envolvendo tramites processuais ou demandas espontâneas engloba apenas três destes setores,

afora os ofícios. Deste modo, compartilhando as colações expostas por Chuiari (2001, p. 141),

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sobre ―A visão integrativa entre os profissionais, o intercâmbio contínuo contribuem para uma

melhoria na qualidade do atendimento prestado nas ações do mundo jurídico.‖ Questionou-se

os entrevistados ―Qual a contribuição do profissional assistente social para a equipe técnica e

usuários dos serviços da DPU-CE?‖

Com a relação à equipe técnica, eu vou destacar um ponto. Eu acho que o

profissional de serviço social tem uma qualidade que o serviço público já muito

perdeu... Que é de perceber a realidade do cotidiano de forma empírica. Você veja

que, não é todo setor que as pessoas desenvolvem pesquisas como essas... Então, o

profissional do serviço social, é um profissional qualificado! Ele não consegue

dissociar o seu trabalho do conhecimento cientifico. O mais importante do

profissional de serviço social dentro da instituição para a equipe técnica, ou seja, é

setor que tem metodologia. Que tem disciplina. Que tem estudo. Que discute. Que

dialoga. Que compartilha. Entendeu?! Então, reflete o que a unidade está precisando,

né! O serviço social dialoga com todas as coordenações. Dialoga com a chefia da

unidade. Então, isso não mistério. É método! Disciplina! Tem etapas! Então assim...,

nem todo setor é assim. E ai não tô dizendo que isso é bom ou ruim, certo ou errado.

São trocas de informações. Não é todo setor que desenvolve sua forma de trabalhar.

(Sujeito – 04)

Cabe aqui ressaltar na fala do ―entrevistado – 04‖, que houve um reconhecimento

da qualificação profissional das assistentes sociais que atuam na instituição. Qualificação esta,

que o capacita a estar atento às exigências e demandas apresentadas pelos assistidos, que o

instiga a desenvolver estudos, a aprimorar cada vez o atendimento de forma eficaz. Ademais,

percebe-se que os profissionais realizam estudos e pesquisas, buscam aperfeiçoar-se

intelectualmente ao participar de grupos de estudos no próprio campo, fomentam discussões

entre a equipe interdisciplinar visando a integração e melhoria dos serviços prestados, sendo

todas refletidas cotidianamente, em consonância com o Projeto ético-político da categoria.

É com certeza! A proposta da defensoria é esse atendimento, que a chama de

multidisciplinar! Não é só atender o assistido propondo uma demanda. É conseguir

que ele se sinta amparado, na questão do auxílio, de uma forma completa. Muitas

vezes, o assistido vem aqui, aí tem uma ação, mas às vezes ele pede para conversar

com assistente social. Ele conta a vida dele, recebe conselho, orientação. Depois de

uma conversa dessa, a assistente social vai encaminha pra gente informações, mais

consistentes. Informações do assistido que às vezes no atendimento ao público, a

pessoa não conseguiu verificar. Então, a assistente social vai e verifica pra gente.

Então, eu acho que é muito importante o trabalho do serviço social. (Entrevistado –

06)

Nesse sentido, evidencia-se mais uma vez na fala do ―entrevistado – 06‖, quão

necessário é a importância da agregação de múltiplos saberes no âmbito da DPU-CE.

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Sobretudo, no que diz respeito à atuação do serviço social que contribui não apenas com a

elaboração de perícias sociais, conforme visualizou-se ao longo deste trabalho, mas em razão

do diferencial do fazer profissional que favorece um bom desempenho dessa atividade tanto

para equipe quanto para os usuários. Portanto, para finalizar a discussão, destaca-se a

referência de Chuairi que corrobora diante desse processo reflexivo ao expor que:

Em sua trajetória o profissional, o assistente social sempre esteve inserido na

prestação de serviços assistenciais, voltado sua ação de forma prioritária às

necessidades sociais e garantia de direitos das classes subalternas. E é na efetivação

de direitos, no acesso à justiça e na restituição de cidadania dos sujeitos das classes

subalternas que a assistência jurídica pode ser compreendida como espaço de

permanentes desafios para a ação profissional do Serviço Social. (Chuairi, 2001, p.

138)

Desta citação, vislumbra-se tamanha aproximação do serviço social com o modelo

de assistência jurídica, desenvolvida pela Defensoria Pública da União, que tem como missão:

Garantir aos necessitados o conhecimento e a defesa de seus direitos27

. Destarte, tais

reflexões sinalizam que atuação do serviço social no âmbito da Defensoria Pública da União

torna-se tão relevante, por ser este um espaço garantido pela Constituição Federal, e que

compartilha de lutas e movimentos pela a busca da implementação da garantia do real acesso

à Justiça, com qualidade, e por profissionais capacitados para o exercício dessa função.

27

FONTE: site da DPU (http://www.dpu.gov.br). Acesso realizado em 20 /05 /2013.

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107

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo é fruto de uma ampla reflexão que permeia a prática

profissional das assistentes sociais que atuam na Defensoria Pública da União no Ceará

corroborada por pesquisa bibliográfica, documental e empírica acerca do tema de análise.

Mediante apontado ao longo deste trabalho, a DPU-CE configura-se como um

novo espaço de atuação sócio-ocupacional para a categoria profissional. Deste modo,

considerou-se várias indagações para então chegar ao recorte final e nesta perspectiva

alcançar conhecimentos que servirão de base para outros estudos consequentemente. No

percurso investigativo desse trabalho, observou-se que o serviço social tem uma larga trajetória

histórica no campo sóciojurídico, e apesar disso, há pouca produção bibliográfica relativa a esse

espaço.

Assim, inicialmente, foi necessário discorrer sobre a trajetória do serviço social,

onde vislumbrou-se que o desenvolvimento da profissão é marcado pelo processo de

crescimento das desigualdades sociais na sociedade capitalista, fazendo-se necessário uma

reflexão acerca das determinações sócio-históricas e culturais que o contextualizaram.

Verificou-se que as ações desse profissional foram progressivamente sendo recriadas e

resignificadas dando condições para a ampliação e reconhecimento dessa categoria

profissional, inserida na divisão social do trabalho.

No tocante a apresentação do campo da pesquisa, DPU-CE, é a mais nova

instituição jurídica, que exerce papel indiscutível na efetivação dos direitos

individuais/coletivos e sociais, para a democratização do acesso à justiça. Ressalta-se que,

ainda que é insuficiente o grau de conhecimento sobre o seu funcionamento e a forma como

vem operando nas diferentes unidades da federação.

Importante mencionar que a implantação do serviço social na DPU-CE, ocorreu às

margens das transformações estruturais ocorridas na própria instituição. Portanto, o serviço

social teve que desenvolver suas estratégias de legitimação e possibilidades de atuação ao

longo desses aproximadamente 07 anos, conforme demonstrado.

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Com efeito, o serviço social aplicado ao campo sóciojurídico, lida com trajetórias

de vida marcadas pela inclusão mínima a bens sociais, ou pela exclusão propriamente dita. No

âmbito da DPU-CE, o público demanda diversos tipos de atendimento, que variam desde as

situações de privações, pobreza, não equidade, não acessibilidade às políticas públicas, dentre

outros.

Diante do exposto percebe-se que esse espaço de atuação sócio-ocupacional

requer do assistente social, uma leitura da realidade na qual o assistido está inserido, para

assim intervir de forma impactante. Destarte, esse campo requer ainda, o aprimoramento

constante que exigem um conhecimento mais profundo em termos técnico, investimento em

pesquisa e proposição.

Deste modo, o tema foi extremamente provocativo – O Serviço Social na

Defensoria Pública da União no Ceará: Outros Serviços ou Serviço Essencial? – ao mesmo

passo também se mostrou prazeroso, tanto que, as dificuldades que perpassaram o decorrer

deste processo, propiciaram um empenho ainda maior e um incentivo para que a pesquisa de

fato se concretizasse.

No tocante ao nosso objetivo de estudo, acredita-se que conseguiu-se realizar uma

descrição refinada do fazer profissional das assistentes sociais sob o ângulo dos profissionais

que compõem o quadro institucional. Verificou-se que o serviço social é partícipe

fundamental e aufere posição relevante para a instituição, no contexto que engloba equipe

multidisciplinar e assistidos, há apenas uma ressalva no que diz respeito ao quesito em que

abordamos sobre a vinculação do setor, em que muitos dos entrevistados apresentaram idéias

confusas sobre a temática.

Face aos resultados da pesquisa, ficou devidamente evidenciado que a

especificidade do trabalho do assistente social, têm se destacado em sua intervenção que por

sua vez é ampla e abrange diversas ações que ultrapassaram a realização da atividade inicial

(perícias sociais) que deu azo a inclusão do referido profissional nesta unidade.

Destaca-se que o serviço social necessitou ser mais articulado e propositivo, a fim

de criar seus próprios instrumentais e delimitar suas ações e atividades, formulando um plano

de ação profissional. Sendo assim, seus maiores desafios neste campo, trata-se de contribuir

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com seu conhecimento específico para a construção de novas alternativas, bem como

demonstrar para a equipe multidisciplinar, a clareza e especificidade de sua área e riqueza do

trabalho desenvolvido.

Não obstante, a investigação também demonstrou que o assistente social dispõe de

um espaço de autonomia que pode ser ampliado, que pode ser mais explorado em termos de

construção de novos caminhos e busca de efetivação e sistematização de trabalho, que servirá

tanto para a instituição quanto para os assistidos que atendimento jurídico na DPU-CE.

Por todo exposto, acredita-se que as análises referendadas ao longo desta

pesquisa, apontam que o assistente social, hoje, é considerado indispensável para DPU-CE, o

não significa que se alcançou a perfeição, ao contrário, é nesta afirmação positiva que os

profissionais devem fazer constantemente auto-avaliação profissional, pois a responsabilidade

torna-se ainda maior.

Finalmente, espera-se que este trabalho possibilite mais discussões acerca do

tema, no sentido de fundamentar e estender os mecanismos que são utilizados no Serviço

Social da DPU-CE, e estendê-los para todas as outras unidades do país.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A - SOLICITAÇÃO PARA ENTRADA NO CAMPO DE PESQUISA

Eu, Karla Maiara Bandeira Maciel, aluna do curso de Serviço Social da

Faculdade Cearense, orientanda da professora Elizângela Assunção Nunes, venho por meio

desta solicitar autorização da Defensoria Pública da União – DPU/CE para realizar a pesquisa

intitulada:“O SERVIÇO SOCIAL NA DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO: OUTROS

SERVIÇOS OU SERVIÇO ESSENCIAL?”.

A referida pesquisa visa compreender o lugar que o Serviço Social ocupa no

âmbito da Defensoria Pública da União, a partir da análise dos/as profissionais que compõem

a instituição, bem como, investigar como os/as profissionais da DPU-CE compreendem o

fazer profissional dos assistentes sociais no âmbito institucional; analisar o conjunto das ações

desenvolvidas pelo Serviço Social e sua relação com os demais setores da instituição. E por

último, perceber qual importância é atribuída pelos/as profissionais da DPU-CE ao Serviço

Social na efetivação dos direitos dos assistidos.

Para isso, necessitamos do consentimento da Instituição em realizar o estudo

através de entrevistas semi-estruturadas. Ressalta-se que serão respeitadas as questões éticas e

que antes de iniciar os trabalhos com os/as profissionais serão fornecidas todas as informações

sobre a pesquisa a fim de que os/as mesmos (as) possam ter clareza e tranquilidade para

decidir se devem ou não aceitar o convite.

Caso esse convite seja aceito os/as participantes deverão formalizar sua

participação através de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os dados coletados,

analisados e sistematizados subsidiarão na elaboração do Projeto de Conclusão do Curso.

Salientamos ainda, que em qualquer momento será fornecido objeto, objetivos e

produções do estudo, sempre conservando o anonimato dos/as profissionais da Instituição,

objetivando sanar qualquer dúvida que ínsita em permanecer no processo do estudo.

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APÊNDICE B - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

O presente estudo intitulado ―O SERVIÇO SOCIAL NA DEFENSORIA

PÚBLICA DA UNIÃO: OUTROS SERVIÇOS OU SERVIÇO ESSENCIAL?‖

desenvolvida pela pesquisadora Karla Maiara Bandeira Maciel, orientada pela professora

Elizângela Assunção Nunes, tem por objetivo Compreender o lugar que o Serviço Social

ocupa no âmbito da Defensoria Pública da União, a partir da análise dos/as profissionais que

compõem a instituição. Para isso, necessitamos de seu consentimento para participar da

pesquisa através de uma entrevista semiestruturada. Asseguramos o direito e a liberdade de se

negar a participar do estudo ou dele se retirar quando assim desejar sem nenhum prejuízo

moral, físico ou social; bem como o anonimato com relação à sua identidade e quanto a

qualquer informação que possa identificá-lo (a). Os (as) participantes não irão receber

remuneração. Os (as) que dela participarem o farão por livre e espontânea vontade. A

responsabilidade pela realização do estudo é de Karla Maiara Bandeira Maciel, que pode ser

contactada através do telefone (0xx85) 8891-3837 ou 9930-4465.

Eu, _________________________________ naturalidade _______________, portador (a) do

RG _______________ ou CPF nº ____________________, fui informado (a) detalhadamente

sobre o estudo intitulado: ―O SERVIÇO SOCIAL NA DEFENSORIA PÚBLICA DA

UNIÃO: OUTROS SERVIÇOS OU SERVIÇO ESSENCIAL?‖, e concordo em participar do

mesmo.

Fortaleza, _______ de _______________de 2013.

__________________________________________

Assinatura do informante

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ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA

1.IDENTIFICAÇÃO

NOME:

CARGO/FUNÇÃO:

ESCOLARIDADE:

SETOR:

VINCULAÇÃO COM A INSTITUIÇÃO:

( ) SERVIDOR DO QUADRO PGPE ( ) SERVIDOR CEDIDO – QUAL

ÓRGÃO?__________( ) TERCEIRIZADO

HÁ QUANTO TEMPO TRABALHA NA DPU-CE:

2.QUESTIONÁRIOS

2.1.O QUE VOCÊ COMPREENDE POR SERVIÇO SOCIAL?

2.2. QUE AÇÕES/ATIVIDADES VOCÊ CONSIDERA QUE SÃODESEMPENHADAS

PELO SERVIÇO SOCIAL DA INSTITUIÇÃO?

2.3. QUE TIPOS DE DEMANDAS SÃO DIRECIONADAS AO SERVIÇO SOCIAL POR

PARTE DO SETOR EM QUE VOCÊ ATUA?

2.4.EXISTE VINCULAÇÃO ENTRE O SETOR EM QUE FAZ PARTE COM O DE

SERVIÇO SOCIAL?

2.5. QUAL A CONTRIBUIÇÃO DO PROFISSIONAL ASSISTENTE SOCIAL PARA A

EQUIPE TÉCNICA E USUÁRIOS DOS SERVIÇOS DA DPU-CE?

2.6. QUAL IMPORTÂNCIA É ATRIBUÍDA AO SERVIÇO SOCIAL PARA VIABILIZAR

A CONCRETIZAÇÃO DA ATIVIDADE FIM DA DPU-CE?

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