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4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
O SÍTIO HISTÓRICO DE ITAPINA/ES E A PAISAGEM CULTURAL DO VALE DO RIO DOCE: desafios e possibilidades
SILVEIRA, ALINE V.
Instituto Federal do Espírito Santo, Campus Colatina. Coordenadoria de Arquitetura e Urbanismo.
Avenida Arino Gomes Leal, 1700, Santa Margarida, Colatina-ES, 29700-660 [email protected]
RESUMO
Itapina é um distrito do município de Colatina, região noroeste do estado do Espírito Santo. O vilarejo, situado às margens do Rio Doce e da Estrada de Ferro Vitória-Minas, apresenta um cenário bucólico, entre as montanhas, o rio e a ferrovia. A ocupação da região teve início por volta de 1866, com mineiros e fluminenses vindos dos estados vizinhos. A partir de 1889, chegaram os imigrantes europeus, predominantemente italianos. Os imigrantes abriram estradas e criaram povoados, enfrentando além da própria natureza, os índios botocudos que ali habitaram até a década de 1920. Itapina prosperou no período áureo do café e, a partir de 1907, com a construção da ferrovia. Este cenário de prosperidade mudou a partir da crise de 1929, com a erradicação dos cafezais. Por volta da década de 1940, teve início o processo de esvaziamento do vilarejo, os comerciantes que ali residiam se mudaram para outros núcleos urbanos, em busca de novas condições de trabalho. No ano de 2013, o Sítio histórico de Itapina foi tombado em nível estadual, ao todo foram tombados 82 imóveis e outros 43 foram decretados de interesse de preservação para compor o conjunto. O documento preza pela proteção dos bens culturais e naturais que constituem a Área de Proteção do Ambiente Cultural (Apac) de Itapina, constituída pelo Sítio Histórico Urbano, Patrimônio Ambiental Urbano e Paisagem Cultural. Como o tombamento é recente, pouco tem sido feito efetivamente para garantir o que foi decretado na Resolução 003/2013. A mesma, ainda não faz parte do cotidiano dos moradores do vilarejo, falta ações de conscientização sobre o tombamento, e conhecimento da lei por parte dos moradores e proprietários. Além disso, o cenário da região está em plena mudança, fator decorrente da forte seca e também do lama de rejeitos que atingiu o Rio Doce no final de 2015. O fato, é que o vilarejo apresenta marcas da história do desenvolvimento local e da luta dos imigrantes para se fixar na região. A relação entre a natureza, as marcas deixadas pelo homem e sua cultura se fazem presentes neste sítio e precisam ser preservadas. Isto posto, discutir a temática sobre a preservação de Itapina sobre o viés do patrimônio ambiental e da paisagem cultural apresenta-se como o foco deste trabalho.
Palavras-chave: Arquitetura; Paisagem; Ferrovia;Patrimônio cultural;
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
Introdução
Itapina é um distrito do município de Colatina, região noroeste do estado do Espírito Santo,
distante 166 km da capital Vitória. O vilarejo, situado às margens do Rio Doce e da Estrada de
Ferro Vitória-Minas, apresenta um cenário bucólico, entre as montanhas e o Vale do Rio
Doce.
Figura 01: Mapa de Colatina, Localização de Itapina.
Fonte: ES em Mapas, 2009.
Itapina prosperou no período áureo do café, no início a produção era transportada por
animais, posteriormente através de embarcações que cruzavam o Rio Doce, até a construção
da ferrovia a partir de 1907. Na região, a maior utilização da ferrovia pelos produtores,
comerciantes e habitantes, de modo geral teve início a partir de janeiro de 1923, com a
inauguração do trecho que ligava Itapina a Itaguaçu. Porém, este cenário de prosperidade
muda a partir da crise de 1929, com a erradicação dos cafezais. Por volta da década de 1940,
tem início o processo de esvaziamento do vilarejo. Os comerciantes que ali residiam se
mudam para outros núcleos urbanos, em busca de novas condições de trabalho, culminando
na decadência do vilarejo. A Estação ferroviária foi desativada na década de 1980, e a ponte,
iniciada no governo de Juscelino Kubitschek, com a intenção de facilitar o acesso à vila, nunca
chegou a ser concluída. (CASTIGLIONI, 2010, p. 25)
O núcleo histórico do distrito é constituído por um casario construído entre o final do século
XIX e meados do século XX. São casas térreas e sobrados predominantemente nos estilos
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eclético e proto-moderno, além da arquitetura tradicional da imigração e da arquitetura
industrial e ferroviária, encontrada na estação e nos armazéns de café.
Para proteger este patrimônio cultural capixaba, o Conselho Estadual de Cultura, através da
Resolução n° 003/2013, decretou o tombamento do conjunto histórico e paisagístico de
Itapina:
“A Poligonal de Tombamento de Itapina está diretamente relacionada com a gênese da ocupação e evolução urbana de Itapina, ocorrida no contexto do ciclo cafeeiro, da navegação do Rio Doce e interiorização tardia do Espírito Santo ao final do século XIX e começo do século XX, e que ainda guardam, de modo geral, as marcas físicas que representam sua história. Na Poligonal de Tombamento as edificações de relevância histórica e/ou arquitetônica estão protegidas contra descaracterizações nas suas características volumétricas e formais, nestas últimas incluindo-se os vãos de janelas e portas, ornatos, apliques, coberturas, seus materiais constitutivos, os elementos artísticos e outras ocorrências. Considera-se também a necessidade de se preservar o traçado urbano existente, a configuração dos quarteirões e sua subdivisão em lotes, o arruamento, becos e vielas, e suas características de pavimentação e inclinação, os passeios, as áreas verdes, incluindo nestas últimas, parques, praças públicas, e jardins com seus elementos artísticos, assim como, as encostas, os remanescentes de mata nativa, a mata reflorestada, e a vegetação arbustiva e arbórea das ruas e de áreas privadas, incluindo-se nesta preservação a relação que todas as edificações estabeleceram com o entorno ambiental, paisagístico e cultural da cidade”. (RESOLUÇÃO CEC 003/2013)
O documento preza pela proteção dos bens culturais e naturais que constituem a Área de
Proteção do Ambiente Cultural (APAC) de Itapina, constituída pelo Sítio Histórico Urbano,
Patrimônio Ambiental Urbano e Paisagem Cultural. Ao todo foram tombados 82 imóveis e
outros 43 foram decretados de interesse de preservação para compor o conjunto.
Como o tombamento é recente, pouco tem sido feito efetivamente para garantir o que foi
decretado na Resolução 003/2013. A mesma, ainda não faz parte do cotidiano dos moradores
do vilarejo, de modo que muitos não compreenderam o que o processo de tombamento
acarreta na realidade.
Estudar a relação entre as edificações, a paisagem, a conformação territorial do lugar e o
modo de vida que ali se encontram é uma forma de reconhecer a importância deste conjunto e
de incentivar a sociedade a preservar a memória do lugar.
A Carta de Cracóvia (2000) fala sobre a importância da preservação do patrimônio como
forma de preservar a memória coletiva:
“Cada comunidade tem em conta sua memória coletiva e consciente de seu passado, é responsável pela identificação, assim como da gestão de seu patrimônio. Os elementos individuais deste patrimônio são portadores de muitos valores, os quais podem mudar com o tempo. Esta mudança de
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valores específicos nos elementos define a particularidade de cada patrimônio”.
Após o esvaziamento provocado pela decadência da produção cafeeira, o vilarejo, que antes
possuía intensa vida cultural e comercial para época e até mesmo um dos melhores hospitais
da região, nunca mais se recuperou economicamente. Neste período, a cidade de Colatina,
com a ferrovia cortando sua região central, prosperou, e ocupou o espaço que antes pertencia
a Itapina. Pode-se considerar que a própria estagnação econômica contribuiu para a
preservação das construções do vilarejo.
Figura 02: Fachada lateral do antigo hospital
Fonte: Auttora, 2016.
Atualmente, a vila possui pequenos comércios locais, como farmácia, sorveteria, mercearias e
bares. A maioria dos moradores trabalha na cidade de Colatina ou na zona rural. Durante o
dia, poucas pessoas são vistas transitando pelo vilarejo, conferindo ao lugar uma aparência
de abandono e esquecimento.
Este cenário muda uma vez por ano, durante as festividades do Festival Nacional de Viola, o
‘Fenaviola’, onde durante um fim de semana, músicos, e violeiros da região se tornam atração
para milhares de turistas que ocupam as ruas da cidade e e se hospedam nos casarios.
Outro empreendimento que está sendo inaugurado é o Museu Virgínia Tamanini, em
homenagem a uma das moradoras mais ilustres da vila. Dona Virgínia, como era conhecida
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na região foi uma escritora capixaba, autora do romance Karina (1964) que narra a trajetória
de imigrantes italianos na região, e era a principal responsável pelas atividades culturais
durante o período áureo de Itapina.
Apesar destas atividades pontuais, é preciso fazer muito mais para que o vilarejo possa
crescer preservando sua história e memória.
Histórico
De acordo com Bruno (1967) a ocupação das terras capixabas, de forma mais efetiva, ocorreu
tardiamente, sendo impulsionada a partir de meados do século XIX, com a influência dos
estados vizinhos e dos imigrantes europeus. No Espírito Santo, tomando por base o pequeno
número de vilas ou sedes de novos municípios que se criaram de 1822 a 1888 – foi de
pequena expressão a marcha de povoamento.
A estrutura fundiária no Espírito Santo, historicamente, teve grande parte de sua formação
graças as terras devolutas. Nara Saletto (1996, p. 15) fala que isso mudou a partir da abolição
da escravatura, quando a ocupação do território capixaba teve base na venda destas terras
pelo governo, na legitimação de posses, e regularização de lotes coloniais.
Segundo a autora, em meados do século XIX, o café impulsionou o desenvolvimento do
estado, e mesmo passando por altos e baixos, como a crise sofrida pela abolição da
escravatura em 1888 e a crise de 1929, a produção cafeeira se manteve forte até a década de
1960, quando os cafezais capixabas foram reduzidos à metade em virtude do programa
nacional de erradicação do café. Também ressalta que esta expansão foi responsável pela
ocupação do território, e que suas dimensões foram modestas quando comparadas as do
Vale do Paraíba e do Oeste Paulista (SALETTO, p. 23).
Segundo os Relatórios de Governo (1842 e 1848), em meados do século XIX, os aldeamentos
do Rio Doce se encontravam em estado miserável, e ressaltavam a importância de São
Mateus, onde havia sido instalado um porto, na região norte do Espírito Santo. Também se
percebe a dificuldade dos viajantes ao adentrar a região do Doce, pois além do caminho longo
e difícil, havia também grande quantidade de indígenas defendendo o seu território,
principalmente os botocudos. Na época houve a intenção de se criar aldeamentos indígenas
na região, mas não foram bem sucedidos.
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Posteriormente, segundo o Relatório Governamental de 1857, houve a tentativa de formar
uma colônia em Francilvânia, atual bairro de São Silvano em Colatina, através de imigrantes
franceses, portugueses e alemães. Mas, somente em 1887, com a chegada de italianos ao
núcleo de Antônio Prado é que a ocupação do território acontece de forma definitiva
(MARINATO, 2007, p. 155).
Estes imigrantes trouxeram consigo a sua cultura, seu modo de vida e de trabalho. Onde a
necessidade de adaptação ao novo meio, e a de preservação da cultura da terra natal se faz
presente na arquitetura por eles difundida.
O vilarejo de Itapina, além dos imigrantes europeus, recebeu ainda algumas poucas famílias
de libaneses. Com todas estas tradições diferentes, o vilarejo desenvolveu um modo de vida
interessante e até mesmo de intensa atividade cultural para a época, resguardando as
devidas proporções. As características arquitetônicas dos casarios de Itapina refletem esta
mescla de culturas, com referências à arquitetura popular do imigrante e da arquitetura
brasileira da época (CASTIGLIONI, 2010, p. 23).
Figura 03: Ruínas do hotel da família libanesa.
Fonte: Autora, 2016.
Ao trabalhar com o Sítio Histórico de Itapina1, é preciso considerar que se trata do sítio mais
recente a ser tombado pelo Estado do Espírito Santo. Neste contexto, muitos problemas são
1 Atualmente, o Espírito Santo possui cinco sítios históricos tombados pelo Conselho Estadual de Cultura: Porto de São Mateus (Resolução CEC n° 001/1976); São Pedro do Itabapoana (Resolução CEC n° 002/1987); Santa
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enfrentados, principalmente por muitos não compreenderem a importância deste sítio. Desta
forma, a realidade atual de Itapina é de esquecimento, até mesmo no cenário regional ele é
desconhecido. Porém, é um lugar de uma história riquíssima, suas edificações demonstram
um tempo de prosperidade para o vilarejo. Além da arquitetura, sua relação com o Rio Doce e
com a Estrada de Ferro Vitória-Minas, o tornam um lugar único.
Arquitetura
A arquitetura de Itapina reflete o período de prosperidade que a vila viveu, impulsionados pela
fase áurea do café e pela construção da Ferrovia Vitória-Minas, atual Estrada de Ferro Vale do
Rio Doce.
Esta arquitetura apresenta predominantemente características ecléticas e protomodernas,
além da arquitetura popular do imigrante a da arquitetura tradicional brasileira. É importante
ressaltar que as edificações com características eruditas são contemporâneas a edificações
de características semelhantes que foram construídas no centro de Vitória, o que vem reforçar
a importância cultural e econômica do Vilarejo no contexto da época.
Com relação às tipologias encontradas em Itapina, pode-se destacar a arquitetura residencial
constituída por casas térreas; a arquitetura residencial formada por sobrados; a arquitetura de
uso misto composta pelo térreo destinado ao uso comercial e ao primeiro pavimento para o
uso residencial; a arquitetura industrial formada pela estação ferroviária e pelos armazéns
onde se guardava o café; e a arquitetura religiosa.
Estas edificações, geralmente não possuíam afastamento frontal, seguindo a tradição da
arquitetura colonial brasileira. Mas, algumas já apresentam características incorporadas nos
grandes centros brasileiros no final do século XIX, como a presença de varandas e
afastamentos laterais.
Outro destaque que pode-se considerar na arquitetura de Itapina é a preocupação com a
estética das edificações, seja pela utilização de adornos, platibandas cuidadosamente
acabadas, modenaturas, ou simplesmente pelo rigor geométrico na distribuição dos vãos.
Segundo Castiglioni (2010, p. 43) algumas destas edificações possuem um grande número de
quartos (evidência que as famílias eram numerosas na época), cozinha espaçosa e maior
Leopoldina (Resolução CEC n° 003/2010), Muqui (Resolução CEC n° 002/2012) e Itapina (Resolução CEC n° 003/2013
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afastamento de fundos, incidência de jardins, pequenos pomares além de criação de animais
de pequeno porte. Neste tipo de casa muitas vezes, o primeiro pavimento era usado como
venda e/ou comércio e o segundo como moradia.
Outra tipologia muito encontrada em Itapina são as casas tipo “porta e janela”, se
apresentando como as casas térreas mais simplificadas. Elas poderiam variar na sequência:
janela-porta-janela ou vice-versa; ou janela-janela-porta ou vice-versa, mas esses três
elementos sempre marcavam a fachada. (CASTIGLIONI, 2010, P. 44)
A arquitetura ferroviária marca presença através da estação de Itapina, desativada em 1980,
pelo tamanho da edificação é possível aferir a importância que esta edificação possuía.
Trata-se de uma construção simples, a estação, com um grande galpão fazendo parte do seu
corpo principal. Telhado em duas águas, prolongado e sustentado por mãos francesas de
madeira para cobrir parte da plataforma.
Figura 04: Antiga Estação de Itapina e atual ponto de parada.
Fonte: Autora, 2016.
Como a estação foi fechada, atualmente foi construído um ponto de parada ao lado, para os
passageiros embarcarem no trem.
De uma forma geral, pode-se perceber que a maior parte do casario está preservado, porém,
sabe-se que a melhor forma de se preservar uma edificação é através do uso da mesma, e, foi
constatado que há um grande número de imóveis que estão fechados, podendo entrar a
qualquer momento no estado de abandono.
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Figura 05: Casario de Itapina.
Fonte: Autora, 2016.
O caso mais crítico que foi encontrado é o do antigo hospital da Vila, que está em total estado
de abandono, e se transformando em um local perigoso. Além deste, também é possível
encontrar as ruínas do antigo hotel dos descendentes de libaneses.
Paisagem
Ao falar sobre paisagem, a definição que primeiro se apresenta à mente, é aquela que faz
referência a tudo o que a visão pode alcançar, sendo construída a partir de todos os
elementos presente no local.
Ribeiro (2007, p. 9) fala sobre a paisagem como um documento que expressa a relação do
homem com o seu meio natural, que mostra as transformações ocorridas ao longo do tempo,
um produto da sociedade que o produziu, ou ainda como base material para a produção de
diferentes simbologias, lugar de interação entre a materialidade e as representações
simbólicas.
Mas, é importante ressaltar que a paisagem não reside somente no objeto e nem somente no
sujeito, mas na interação dos dois e fazer uma leitura da paisagem constitui um exercício de
interpretação. A paisagem construída é uma representação real dos tempos vividos, um
reflexo do modo de apropriação e dos traços culturais dominantes, desta forma, a paisagem
se transforma no que se configura a paisagem cultural.
De acordo com Ribeiro (2007, p. 41) somente em 1992, com a adoção da categoria de
paisagem cultural pela UNESCO é que a própria paisagem passou a ser valorizada através
das inter-relações que nela coexistem, representando uma ruptura com os modelos
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anteriores. Desta forma, as discussões sobre a ideia de paisagem cultural buscavam uma
visão integradora entre homem e natureza.
Para Rössler (2003) a expressão paisagem cultural pode ser aplicada em nível regional e local
para se referir ‘as obras conjugadas do homem e da natureza’ de qualquer grupo humano e
não apenas às paisagens de valor excepcional, ela é a marca da cultura dos povos sobre o
território que ocuparam, faz parte da identidade coletiva. Esta categoria de proteção foi
inserida na lista do patrimônio mundial a fim de revelar e sustentar a diversidade das
interações entre seres humanos e seu ambiente, proteger culturas tradicionais e para
preservar os traços daquelas que desapareceram.
No Brasil, foi elaborado em 2007, a Carta de Bagé, ou Carta da Paisagem Cultural, que tem
por objetivo a defesa das paisagens culturais em geral. Outro documento mais recente, a
tratar sobre este assunto, data de 30 de abril de 2009, é a Portaria nº 127. Essa portaria
coloca a paisagem cultural como novo mecanismo de proteção do patrimônio e estabelece a
chancela da Paisagem Cultural Brasileira:
Art. 2° - A chancela da Paisagem Cultural Brasileira tem por finalidade atender ao interesse público e contribuir para a preservação do patrimônio cultural, complementando e integrando os instrumentos de promoção e proteção existentes, nos termos preconizados na Constituição Federal.
A partir das discussões apresentadas acima, percebe-se que o conceito de paisagem cultural
é um dos mais completos, considerando que engloba todo um contexto formado pelo
patrimônio material e intangível, no sentido de apresentar algo abstrato, que não possa ser
tocado, mas que pode ser vivenciado e sentido, como a ambiência encontrada nestes
espaços e as manifestações culturais que nele se apresentam. Portanto, pode-se dizer que a
chancela da paisagem, engloba não apenas as paisagens de valor excepcional, mas também
aquele cenário da vida cotidiana, incluindo as áreas produtivas, a arquitetura erudita e
vernácula.
A região estudada, carrega na sua história algumas dessas características, como o
desenvolvimento da lavoura cafeeira, principal responsável pela fixação dos colonos nessa
área, também guarda vestígios do desenvolvimento através da navegação a vapor e
posteriormente, com a chegada da ferrovia.
No que diz respeito ao valor da paisagem cultural, Delphim (2004, p. 5) ressalta sua
capacidade de deter marcas e registros, de maneira que o homem é um dos principais
elementos de valoração na paisagem. Para a leitura e compreensão da paisagem não se deve
limitar somente ao espaço, a leitura também deve ser temporal, pois a paisagem testemunha
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e preserva dados de épocas passadas. Qualquer marca que o homem introduza na paisagem
significa uma modificação seguida de um novo significado, com diferente valor patrimonial.
Para o autor, a paisagem é uma chave para a compreensão do passado, do presente e do
futuro.
Em Itapina, uma das coisas que exemplifica a colocação do autor, é a ponte iniciada no
governo de Juscelino Kubitscheck. Um elemento que serviria para alavancar o crescimento da
vila, a ponte nunca chegou a ser concluída, devido a problemas técnicos e financeiros.
Atualmente, a ruína sobrevive em meio a vila, sendo incorporada a paisagem local e à
memória dos moradores.
Figura 06: Ponte inacabada, ferrovia e Rio Doce ao fundo.
Fonte: Autora, 2016.
No caso aqui apresentado, nota-se que esta paisagem vem paulatinamente sofrendo
mudanças. Nos últimos anos, o principal elemento gerador dessa mudança tem sido questões
ambientais e climáticas, como a forte seca que atingiu a região e no ano de 2015 o desastre
ambiental de Mariana, onde a lama de rejeitos das barragens atingiram o Rio Doce.
Figura 07: Rio Doce tomado pela lama.
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Fonte: LOUREIRO, 2015.
Assim, com a forte seca e a água do Rio Doce comprometida pelos rejeitos, a irrigação dos
cultivares foi altamente comprometida, além da atividade pesqueira desenvolvida ao longo do
rio. Ocasionando sérios problemas econômicos na região aqui apresentada.
Figura 08: Rio Doce 10 meses após a passagem da lama.
Fonte: Autora, 2016.
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Considerações Finais
No presente trabalho procurou-se apresentar o Sítio Histórico de Itapina, destacando sua
riqueza arquitetônica e paisagística, além de toda a sua história ligada à produção cafeeira, a
navegação a vapor e ao desenvolvimento da ferrovia.
Por meio das construções, eruditas, vernáculas e industriais, é possível ler a história de um
tempo vivido com grande dificuldade por uma comunidade até conseguir se estabelecer no
território e transformá-lo em um lugar de riqueza econômica e cultural.
É possível observar que este rico patrimônio, apesar de ser reconhecido institucionalmente
como sítio histórico estadual, ainda passa por muitos problemas, como a dificuldade de
compreensão dos próprios moradores sobre o que é um sítio histórico. E, também
dificuldades financeiras em preservar e restaurar as edificações tombadas.
Algumas ações promovidas pela Secretaria Estadual de Cultura do Espírito Santo têm sido
feitas neste sentido, como a abertura de editais anuais para a restauração de edificações em
sítios históricos. Mesmo assim, ainda é um passo pequeno, pois apenas um imóvel pode ser
premiado por edital.
Outra ação tomada pela Secretaria é a tentativa de formar parcerias com instituições de
ensino da área de arquitetura e urbanismo, para promover e desenvolver pesquisas nos sítios
históricos do estado, porém, nada foi efetivamente formalizado.
Desta forma, neste ano algumas ações, ainda que pequenas, tem sido planejadas no âmbito
do curso de arquitetura e urbanismo do Instituto Federal do Espírito Santo, Campus Colatina.
A primeira delas foi uma visita com todos os alunos do curso ao Sítio de Itapina, com o objetivo
de promover uma exposição de fotografias e croquis, retratando a realidade do sítio. Depois
de exposto no Instituto, esta exposição será levada para outros lugares de Colatina, Itapina e
região, a fim de divulgar e promover o Sítio Histórico de Itapina.
Num futuro próximo, pretende-se trabalhar a troca de saberes entre comunidade e alunos do
curso de arquitetura, através de um programa de extensão. Levando aos moradores do local o
apoio técnico para a preservação das edificações e trabalhando a educação patrimonial, para
que a própria comunidade tome consciência do valor histórico do lugar que habitam.
Entende-se que a melhor maneira de preservar sítios como o de Itapina é conscientizando
moradores locais e da região de entorno sobre o seu valor histórico, arquitetônico e
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paisagístico. Também se entende que esta atitude deve ser independente de atitudes
governamentais e deve partir de todos os que conhecem e valorizam o patrimônio cultural.
Referências
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CASTIGLIONI, Lorena de Andrade. Trajetória de um Vilarejo [Itapina]. Projeto de Graduação, Arquitetura e Urbanismo, Centro de Artes, Universidade Federal do Espírito Santo, 2010.
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MARINATO, Francieli Aparecida. Índios Imperiais: Os Botocudos, Os Militares e a Colonização do Rio Doce (Espírito Santo 1824 – 1845) 2007. 251f. Tese (Mestrado em História Social das Relações Políticas) - Centro de Ciencias Humanas e Naturais, Universidade Federal do Espírito Santo, 2007.
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