23
O STATUS CONSTITUCIONAL DAS LEIS GERAIS JÚNIOR FARIAS – EDITOR E IDEALIZADOR VICTOR PICANÇO – CO-AUTOR 1ª Edição 2010

O Status Constitucional Das Leis Gerais

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: O Status Constitucional Das Leis Gerais

O STATUS

CONSTITUCIONAL

DAS LEIS GERAIS

JJJJÚNIOR FARIAS – EDITOR E IDEALIZADOR

VICTOR PICANÇO – CO-AUTOR

1ª Edição

2010

Page 2: O Status Constitucional Das Leis Gerais

- 2 -

ÍNDICE

Página

PREFÁCIO – Marcel Rocha 3 INTRODUÇÃO Júnior Farias

5

1ª Parte – Tratado Teórico sobre as Leis Gerais de Status Constitucional

6

CAPÍTULO 1 – O Status Constitucional das Leis Gerais. Júnior Farias

7

CAPÍTULO 2 – Aplicabilidade do Status Constitucional quanto à matéria. Victor Picanço

9

CAPÍTULO 3 – Aplicabilidade do Status Constitucional quanto à forma. Júnior Farias

12

CAPÍTULO 4 – A Interpretação das Leis Gerais de Status Constitucional. Júnior Farias

14

CAPÍTULO 5 – Controle de Constitucionalidade das Leis Gerais de Status Constitucional. Júnior Farias

21

CAPÍTULO 6 – Ação Direta de Inconstitucionalidade por ofensa à Lei Geral. Júnior Farias

23

Page 3: O Status Constitucional Das Leis Gerais

- 3 -

PREFÁCIO

O amadurecimento e complexificação das instituições gevenses é resultado e prova inequívoca do sucesso de nossos concidadãos na plena e concreta consolidação dos diferentes valores e cosmovisões abstratas de grupos e indivíduos numa autêntica identidade micronacional, original e sólida.

Esta complexificação, apesar de desdobramento de um processo absolutamente positivo, não obstante apresenta suas vicissitudes: cada vez mais observamos, principalmente entre novos cidadãos, e mesmo entre os mais antigos em algumas situações, a incapacidade de lidar com as sutilezas inerentes a relações sociais complexas - e desconectadas de uma prévia experiência cotidiana, no caso específico dos cidadãos mais recentes e menos ambientados - e que podem criar todo o tipo de dificuldades de adaptação, ambientação e do adequado desenvolvimento de uma atividade micronacional ativa e bem-sucedida. Isto é particularmente verdade no que diz respeito às leis gevenses, seu alcance e aplicação.

O Poder Judiciário do Governo Virtual está em atividade desde a fundação da micronação, quatro anos atrás. Em seu embrião, refletia a estrutura do GV de então, uma simulação da política macronacional brasileira em uma comunidade de discussões em um sítio de relacionamento, o Orkut, sendo que sua atuação era basicamente discricionária e lidava com assuntos referentes à manutenção da ordem num ambiente de fórum de discussões. Era, por assim dizer, mais semelhante a uma autoridade polícial que um judiciário de fato.

Foi apenas com a fundação da III República, após o caos ter-se instalado na comunidade onde anteriormente se realizavam as discussões a atividades gevenses, que o poder judiciário adotou sua forma atual, com atuação menos discricionária e polícial e mais isonômica e próxima de uma atividade de uma autêntica corte de justiça. Á época, éramos basicamente dependentes de textos legais alheios à nossa realidade micronacional, como a constituição da República Federativa do Brasil e, se isso por um lado gerava uma série de situações absurdas e a necessidade de uma hermenêutica singular, por outro lado serviu como um farol daquilo que tínhamos como nosso objetivo nesse campo: desde então, nossos juristas se debruçaram sobre os desafios e contingências que iam surgindo, adequando o exercício do direito a necessidades e uma práxis realmente micronacional, chegando até os dias de hoje, quatro anos depois, uma eternidade num ambiente onde as coisas acontecem na velocidade de um clique.

Leis gerais. Leis comuns. Jurisprudência. Emendas constitucionais. Referendos. Plebiscitos. Código Penal. Protocolos de ação judicial. A correta compreensão destes e outros termos e conceitos correntes na ciência e na prática do direito e da arte de legislar, julgar e advogar, adequados e adaptados às nossas necessidades particulares micronacionais, podem representar um desafio, e frequentemente o são, àqueles cidadãos que

Page 4: O Status Constitucional Das Leis Gerais

- 4 -

desejam desenvolver uma atividade prolífica e vitoriosa, seja na política gevense, como legisladores e membros do poder executivo, seja nas coisas de justiça, quer como juízes, promotores e juristas.

A estes futuros notáveis, este livro do Júnior Farias, emérito jurista e muitas vezes ministro da suprema corte de justiça do Governo Virtual, escrito em colaboração com o Victor Picanço, maior legislador da história do GV, vem como um presente de inestimável valor. Estou certo que estes escritos se tornarão leitura obrigatória para consultas por parte de todos aqueles que queiram atingir o máximo de suas potencialidades no Governo Virtual, bem como livro de cabeceira para muitos outros gevenses.

As explicações são sucintas e esclarecedoras, escritas numa linguagem dinâmica e acessível ao leigo no assunto, e tudo exposto numa forma concisa e organizada, facilitando consultas ulteriores.

Obrigado, Junior e Victor!, por mais esta inestimável contribuição para o Governo Virtual.

Marcel Rocha

Page 5: O Status Constitucional Das Leis Gerais

- 5 -

INTRODUÇÃO

Senti-me compelido a escrever esta obra por dois motivos. O primeiro foi a publicação da primeira obra jurídica do GV (“Comentário à Constituição Gevense, de Victor Picanço). O segundo é a necessidade de teorizar algo que percebi na Constituição do GV e que é fundamental para a vida jurídica, política e social do GV: As Leis Gerais. Desenvolvo o tema em duas partes: a primeira parte é chamada “Tratado Teórico sobre as Leis Gerais de Status Constitucional”, a qual traz todo postulado doutrinário sobre o que se entende como Status Constitucional e como deve ser ele aplicado; a segunda parte, reservada a outro momento, apresenta a interpretação das leis gerais da República. Confesso que senti a necessidade especial de classificar os direitos e garantias fundamentais expressos na Lei Geral dos Direitos e Garantias Fundamentais dos Cidadãos como normas de caráter constitucional. É que diante da relevância desses direitos não seria possível classificá-los como normas infraconstitucionais, embora sejam do ponto de vista formal, até certa medida. É preciso dotá-los de força constitucional para que efetivamente vejamos o indivíduo protegido diante dos abusos cometidos tanto pelo Estado e seus representantes quanto por outros indivíduos (eficácia vertical e eficácia horizontal – tema que será estudado mais à frente). Tentarei me manter fiel à tradição há pouco iniciada pelo escritor e jurista Picanço, a de expor o Direito através de uma linguagem simples, ao alcance de todos. Quando não puder fazer isto, saibam que não será arbitrariamente, mas sim pelo fato de o assunto aqui tratado ser bastante teórico. Eu espero que todos, sobretudo aqueles que cumprem funções públicas, os agentes públicos de modo geral, possam ler, aprender e criticar esta obra, com fins ao crescimento da erudição gevense e de um maior desenvolvimento jurídico-social. O GV tem capacidade para se tornar uma grande nação não só pelo fato de construir boas estruturas micronacionais, mas também porque tem, dentre os seus membros, pessoas com grande capacidade intelectual, tais como Victor Picanço, Diego Mariano, Guilherme Macalossi, Marcel Rocha, Eric T S, Vincenzo, Henrique Lemos etc. Assim, também é finalidade desta obra chamar os gevenses à produção científica nacional.

Page 6: O Status Constitucional Das Leis Gerais

- 6 -

1ª PARTE

TRATADO TEÓRICO SOBRE AS LEIS GERAIS DE TRATADO TEÓRICO SOBRE AS LEIS GERAIS DE TRATADO TEÓRICO SOBRE AS LEIS GERAIS DE TRATADO TEÓRICO SOBRE AS LEIS GERAIS DE

STATUS CONSTITUCIONALSTATUS CONSTITUCIONALSTATUS CONSTITUCIONALSTATUS CONSTITUCIONAL

Page 7: O Status Constitucional Das Leis Gerais

- 7 -

CAPÍTULO 1 – O Status Constitucional das Leis Gerais. Antes de tratarmos sobre os efeitos da aplicação do Status Constitucional, é a priori necessário definir o conceito de Status Constitucional, caracterizando-o também quanto aos aspectos que nos permitem identificá-lo tanto na Constituição quanto nas leis gerais por ele alcançadas. Por Status Constitucional podemos entender a aplicação da eficácia hierárquico-normativa da Constituição a normas inferiores a ela do ponto de vista hierárquico. Picanço¹, falando sobre o princípio da supremacia da Constituição, observou:

A partir dessa rigidez podemos extrair o princípio da supremacia constitucional, consagrada no parágrafo único do art. 1º, que dispõe: “o povo, o Estado e seus entes são 6 subordinados à Constituição e estão submetidos à legalidade democrática”.

Isso significa que a Constituição é, em sua unidade, a Lei que se situa no topo da hierarquia do Ordenamento Jurídico, de modo que qualquer lei que a contrarie é invalida. É o que chamamos de inconstitucionalidade. Esta mesma supremacia aplicável à Constituição pode ser aplicada, segundo entendo da exegese de certos artigos da Constituição, às leis gerais que se enquadrem dentro de certos requisitos que as eleve à categoria de normas constitucionais – o que chamamos de status constitucional. Há, portanto, uma grande diferença entre considerar as leis gerais meras leis inferiores à Constituição e considerá-las de status constitucional. No primeiro caso teríamos leis passíveis de inconstitucionalidade, de aplicação afastável diante de um caso concreto, sujeitas a alterações de acordo com o livre-alvedrio do Parlamento ou de revogação por lei posterior. No segundo caso todas essas possibilidades restariam ou prejudicadas ou limitadas. Sobre essas considerações falarei em capítulo específico. As leis gerais de status constitucional estão, portanto, inseridas no corpo constitucional. É claro que não formalmente, como se emendas fossem, mas, na interpretação e aplicação dessas leis, os órgãos do Estado, notadamente o Poder Judiciário, terão de aplicá-las com força de Constituição, inclusive opondo-as, se for o caso, às leis infraconstitucionais e declarando a inconstitucionalidade destas se ferirem aquelas. O parágrafo 2º do artigo 8 da Constituição é quem estabelece o Status Constitucional ao dispor:

§2º. São considerados direitos fundamentais os dispostos neste capítulo, os direitos políticos e os prescritos na Lei Geral de Direitos e Garantias Fundamentais dos Cidadãos, sendo vedada

Page 8: O Status Constitucional Das Leis Gerais

- 8 -

qualquer proposta legislativa tendente a aboli-los ou, de qualquer forma, reduzir sua eficácia.

Este parágrafo da Constituição atribui à lei geral a tarefa de reconhecer outros direitos fundamentais não estabelecidos na Constituição. Foi mais além ao revestir a lei geral que tratasse desse tema com uma proteção especial: a das cláusulas pétreas. Isso significa, grosso modo, a proibição de qualquer proposta legislativa atentatória a qualquer destes direitos, direta ou indiretamente, em todo ou em parte. Essa proteção típica das Constituições rígidas vincula as próprias emendas constitucionais, as quais também não têm o condão de revogar ou limitar qualquer dos direitos fundamentais estabelecidos. Agora, imagine-se que, após o Legislador reconhecer vários direitos e garantias fundamentais em Lei Geral, venha o Parlamento e revogue um desses direitos no próprio texto constitucional via emenda. O que teríamos? Teríamos, em tese, uma lei geral garantidora de direitos e garantias fundamentais contrária à Constituição. No entanto, o parágrafo 2º seria suficiente argumento de inconstitucionalidade dessa emenda constitucional. A rigor, teríamos uma emenda constitucional inválida por contrariar uma Lei Geral que, por força do parágrafo 2º aqui discutido, tem força normativa constitucional. Portanto, temos no parágrafo 2º do artigo 8 da nossa Carta da República o fundamento normativo do Status Constitucional. A partir dele podemos deduzir, conforme a teoria dos poderes implícitos, que toda lei geral que trate explicitamente de matérias constitucionais terão status constitucional. Em outras palavras, a Constituição dispensa proteção especial a algumas leis gerais por causa das matérias tratadas por elas, já que tais matérias são naturalmente tratadas nas Constituições e não em plano infraconstitucional (inferior à Constituição). O resultado foi uma espécie normativa responsável por tratar de competências materialmente constitucionais com eficácia normativa típica de Constituição. Assim, deu-se mais liberdade ao Legislador para reconhecer direitos fundamentais em lei infraconstitucional com força de Constituição. Além de a matéria tratada ter de ser caracteristicamente constitucional – sobre o que falaremos no próximo capítulo – é igualmente necessários que certos aspectos formais sejam verificados. Sobre isso também falaremos mais à frente, mas entendimento genuíno da Constituição já nos indica que, além das Leis Gerais, não há outro tipo de lei (ou de projeto legislativo) ao qual se possa atribuir o status constitucional. Em síntese, o status constitucional é o mecanismo pelo qual a Constituição atribui às leis gerais que tratem de matérias tipicamente constitucionais o poder hierárquico-normativo que lhe é peculiar. BIBLIOGRAFIA CITADA 1 – PICANÇO, Victor. Comentários à Constituição Gevense. 2010.

Page 9: O Status Constitucional Das Leis Gerais

- 9 -

CAPÍTULO 2 – Aplicabilidade do Status Constitucional Quanto à Matéria.

Neste capítulo foi realizada análise acerca da aplicação do status

constitucional às Leis Gerais em função da matéria tratada por elas. Isto é, buscou-se entender como é dispensada à Lei Geral esta qualidade de “status constitucional” em virtude do conteúdo normativo presente na lei. A Constituição da República de 2009 delegou a regulamentação de determinadas matérias – essencialmente constitucionais – às Leis Gerais, indicando expressamente quais as matérias que assim devem ser consideradas. Ou seja, trata-se de um rol taxativo, que somente poderá ser ampliado ou reduzido através de Emenda à Constituição.

Com efeito, assevera o art. 19, §2º da Constituição:

§2º. As Leis Gerais tratarão da estruturação dos poderes do Estado, das eleições, dos direitos e garantias fundamentais dos cidadãos, além dos assuntos que a Constituição assim dispuser e serão tidas como aprovadas após votação no Parlamento em que obtenham votos favoráveis de no mínimo dois terços do total de membros do Legislativo.

Percebe-se que o referido mandamento constitucional estabeleceu exatamente certo número de matérias que seriam tratadas em Lei Geral e permitiu que a Constituição, em outros artigos, indicasse outras matérias que não foram listadas neste dispositivo. Depreende-se da norma em análise que além da Lei Geral Eleitoral, dos Direitos e Garantias Fundamentais dos Cidadãos, e da Organização dos Poderes do Estado, a própria Constituição estava autorizada a incluir outras matérias neste rol em outros dispositivos. Apesar disso, não se discute a taxatividade das matérias tratadas pelas Leis Gerais, pois - embora não reunidas numa única norma – são encontram-se enumeradas ao longo do texto constitucional.

Importante ressaltar que padece de inconstitucionalidade a Lei Geral que tratar de matéria diversa daquela que o poder constituinte ordenou que tratasse. Logo, se a Constituição preceitua que a questão da aquisição da cidadania gevense deve ser tratada em Lei Geral específica e esta Lei geral dispõe sobre organização política, estará condenada à inconstitucionalidade – passível de ADIn. Neste sentido, cabe o estudo desses dispositivos constitucionais. Com efeito, traz-se à colação o art. 4º da Constituição que assim estatui:

Art. 4º. A República do Governo Virtual é um Estado unitário, sendo permitida a criação de províncias e distritos através de procedimento definido em Lei Geral.

Page 10: O Status Constitucional Das Leis Gerais

- 10 -

A questão territorial é, indubitavelmente, uma assertiva própria do texto constitucional. Destarte, a Constituição entregou aos parlamentares o poder de criar uma Lei Geral que regulasse o tema – a Lei Geral da Divisão Administrativa e Territorial, LG nº 2/2009. A referida lei indicou a formatação territorial do GV, as unidades político-administrativas e sua forma de criação e organização, tratou ainda sobre o Distrito de Novo Horizonte, capital da República e das possibilidades de expansão territorial por meio de anexação. Adiante, a Constituição ordena a criação da Lei Geral de Direitos e Garantias Fundamentais dos Cidadãos – concretizada na LG nº 3/2009 – em seu art. 8º, §2º:

§2º. São considerados direitos fundamentais os dispostos neste capítulo, os direitos políticos e os prescritos na Lei Geral de Direitos e Garantias Fundamentais dos Cidadãos, sendo vedada qualquer proposta legislativa tendente a aboli-los ou, de qualquer forma, reduzir sua eficácia.

Esta Lei Geral lista os direitos fundamentais dos cidadãos gevenses. Pode-se dizer também que tal Lei é duplamente protegida pelo véu constitucional: por um lado, possui status constitucional; de outro, suas normas são cláusulas pétreas, não podendo ser abolidas ou terem sua eficácia diminuída. Já o art. 9º, caput, prevê a criação da Lei Geral Eleitoral (LG nº 4/2009):

Art. 9º. A soberania popular será exercida por meio do voto livre, secreto, direto, universal, facultativo e de valor igual para todos através das eleições, referendos, plebiscitos e iniciativa popular, nos termos da Lei Geral eleitoral.

O art. 24 dispõe que esta lei regulamentará a escolha dos membros da Suprema Corte de Justiça:

Art. 24. O Poder Judiciário é formado pela Suprema Corte de Justiça, órgão formado por 3 membros escolhidos na forma da Lei Geral Eleitoral para um mandato de 6 meses.

O art. 26 indica que a Lei também deverá dispor sobre organização de

referendos e plebiscitos:

Art. 26. Serão organizadas pela SCJ, além dos referendos, plebiscitos e eleições para a SCJ, nos termos da Lei Geral Eleitoral:

Page 11: O Status Constitucional Das Leis Gerais

- 11 -

A Lei, publicada em 2 de dezembro de 2009, no mandato de Marcel

Rocha, regulamentou o processo eleitoral do GV, estabelecendo normas concernentes à elegibilidade, inscrição eleitoral, forma e organização das votações etc. O art. 14, §3º, aponta a criação de uma Lei Geral para tratar exclusivamente sobre a organização político-partidária:

§3º. A Lei Geral de Organização dos Partidos Políticos disporá sobre sua estruturação, manutenção, fusão e extinção.

Já o art. 15,§1º prevê a elaboração da Lei Geral de Organização dos Poderes, ao dispor:

§1º. As competências legislativas do Parlamento serão dispostas na Lei Geral de Organização dos Poderes.

Esta norma deve ser interpretada tendo em mente o princípio da unidade da Constituição. Isso porque, através da mera leitura, pode-se pensar que a matéria a ser tratada pela referida Lei Geral restringe-se às competências legislativas do Parlamento.

Porém, não é isso que ocorre. Ora, o referido art. 19, §2º também

prescreveu a criação desta Lei, entendida como a norma que regulamentará o exercício do poder pelas instâncias do Estado: Executivo, Legislativo e Judiciário, acém da Promotoria Pública de Justiça. O §1º do art. 15 tão somente especifica uma faceta que deve estar contida na Lei: as competências legislativas do Parlamento. Ao clamar pelo princípio da isonomia, chega-se à conclusão natural de que a Lei também deve conter as competências legislativas do Executivo e Judiciário – se houver – além das atribuições dos poderes da República, nos termos do parágrafo único do 23:

Parágrafo Único – Os Ministros de Estado serão nomeados Presidente da República e terão suas atribuições definidas na Lei Geral de Organização dos Poderes.

Ainda, em seu último artigo, a Constituição ordena a criação de uma

última Lei Geral: a que trata sobre os procedimentos de imigração, diplomacia, turismo e relações exteriores:

Art. 31. A Lei Geral da Diplomacia, Turismo e Imigração definirá as normas relativas à política externa e de imigração.

É a Lei Geral nº 6/2010.

Page 12: O Status Constitucional Das Leis Gerais

- 12 -

CAPÍTULO 3 – Aplicabilidade do Status Constitucional Quanto à Forma A Constituição impõe outra exigência para a aplicação do instituto conhecido como status constitucional; essa exigência, diferente da estudada no capítulo anterior, diz respeito à forma necessária, isto é, aos aspectos técnico-formais a serem exigidos para a aplicação da força normativa da Constituição às leis gerais. O primeiro requisito essencial é a necessidade de o dispositivo pertencer a uma lei geral devidamente aprovada pelo Parlamento. Como bem explicado, a Constituição só mantém relação especial com as leis gerais, tratando as demais espécies de ato legislativo de maneira ordinária. Portanto, o status constitucional só deve ser aplicado às leis gerais, tomando-se o cuidado para avaliar se a sua aprovação no Parlamento seguiu a Constituição (caso contrário, a lei geral será inconstitucional). Verificando-se que se trata de lei geral devidamente aprovada, deve-se seguir à análise material, cujo estudo foi realizado no capítulo anterior pelo mestre Victor Picanço. Isso é necessário porque o Legislador, naturalmente, pode ter tratado, em lei geral, de aspecto que não mereça o status constitucional por ser matéria alheia à Constituição.

Vejamos um exemplo. O inciso II do artigo 12 da Lei Geral dos Partidos Políticos estabelece prazo máximo de inatividade de 2 meses para os partidos políticos e que, vencido o prazo, a Promotoria pode pedir a cassação do registro partidário. Observe que o prazo pode(ria) ser de 1 mês, 3 meses, 4 meses etc. Em outras palavras, o prazo não deve ser considerado como norma de caráter constitucional e, portanto, não pode ser protegido pelo status constitucional. Normalmente, normas que estabelecem prazos, procedimentos e, em alguns casos, competências secundárias não são de alçada constitucional. De outro modo, o artigo 3 da mesma lei garante aos cidadãos a criação de partidos políticos a qualquer tempo. Trata-se de um direito valioso para a própria higidez democrática, de modo que, sob pena de subversão ao Estado de Democrático de Direito, o legislador sequer pode aboli-lo ou limitá-lo. Normas que estabelecem direitos, deveres, garantias, estrutura e competência dos Poderes são amiúde constitucionais. Algumas leis gerais podem tratar inteiramente de matéria constitucional, como a Lei Geral dos Direitos e Garantias Fundamentais. Nesse caso, não é mister analisar um dispositivo particular; o operador do direito pode reconhecer o status constitucional com segurança. Encerro este breve capítulo fazendo uma síntese aos leitores sobre o processo de identificação de norma à qual se deva aplicar o status constitucional:

Page 13: O Status Constitucional Das Leis Gerais

- 13 -

1º - Identifica-se a lei geral e se foi aprovada conforme o rito determinado pela Constituição. 2º - Faz-se a análise material da lei ou do dispositivo da lei (que pode ser alínea, inciso, parágrafo, artigo etc.). Somente se for matéria constitucional aplica-se o status constitucional.

Page 14: O Status Constitucional Das Leis Gerais

- 14 -

CAPÍTULO 4 – A Interpretação das Leis Gerais de Status Constitucional

Chegamos a um dos capítulos mais importantes desta obra. O leitor deverá redobrar sua atenção neste capítulo, pois dele aprenderá o modo de interpretação tanto das leis gerais de status constitucional quanto da Constituição propriamente dita. É forçoso entender que, reconhecido o status constitucional relativamente a um dispositivo de lei geral (ou a ela como um todo, como acontece com a Lei Geral dos Direitos e Garantias Fundamentais), não será ele interpretado como se fosse dispositivo de lei infraconstitucional. Se ele versa sobre matéria constitucional, devemos interpretá-lo como se fosse texto constitucional. A resposta para “como interpretar uma lei geral de status constitucional?” é a mesma para “como interpretar a Constituição?”. 1) NECESSIDADE DE INTERPRETAR A CONSTITUIÇÃO. A interpretação de qualquer lei, incluindo-se a Constituição, é necessária para revelar-se “o conteúdo, o significado e o alcance de uma norma, tendo por finalidade fazê-la incidir em um caso concreto¹”. Além da necessidade de interpretação da Constituição, dentro deste processo faz-se mister a “construção”, entendida como “tirar conclusões a respeito de matérias que estão fora e além das expressões contidas no texto e dos fatores nele considerados. São conclusões que se acolhem no espírito, embora não na letra da norma.”² Explico: Ao interpretar, o exegeta (a pessoa que realiza a interpretação) define o significado do texto constitucional considerando as peculiaridades da realidade social, política, econômica, cultural, histórica e ideológica do Estado, vinculando ao texto constitucional. Gilmar Mendes nos ensina que “interpretar um ato normativo nada mais é que colocá-lo no tempo ou integrá-lo na realidade pública”.³

Ao “construir”, o exegeta recorre à considerações extrínsecas ao texto constitucional, definindo conceitos em geral abstratos. As abstrações são abundantes na Constituição (os princípios são um exemplo), o que eleva a importância da construção. Segundo Thomas Cooley, a construção é “a arte ou processo de descobrir ou expor o sentido e a intenção dos autores da lei tendo em vista sua aplicação a um caso dado, onde essa intenção se apresente duvidosa, quer por motivo de aparente conflito entre dispositivos ou diretivas, quer em razão de que o caso concreto não se ache explicitamente previsto na lei” 4 .

Normalmente, a Constituição estabelece princípios, estrutura o Estado e

confere ela direitos e garantias. A maioria das normas constitucionais, por apresentarem conceitos, comandos organizacionais e regras de criação e aplicação de outras normas, é abstrata, em maior ou menor grau, a ponto de

Page 15: O Status Constitucional Das Leis Gerais

- 15 -

exigir, mais do que nunca, a presença do intérprete. Não é característica do Texto Constitucional apresentar abundância de normas de condutas, aquelas que prevêem a um fato uma conseqüência jurídica. Conforme anota Canotilho, “as normas constitucionais apresentam, em geral, maior abertura (...) que torna indispensável uma operação de concretização” 5 .

A interpretação é o método fundamental pelo qual o hermeneuta, por

meio de técnicas que veremos mais adiante, dá sentido ao texto da lei (incluindo-se a Constituição), dando a ele efetividade sobre os casos concretos conforme o avanço sócio-político percebido e, inclusive, solucionando eventuais conflitos de sentido entre o próprio texto. Abaixo há um esquema simples de como ocorre a interpretação em geral:

É importante frisar as duas finalidades específicas da interpretação constitucional: a) Aplicação direta sobre uma relação jurídica quando conferir direito subjetivo. Exemplo: direito ao voto (art. 9º da Constituição); permissão para criação de partido político (art. 14 da Constituição) etc. b) Controle de Constitucionalidade, isto é, compatibilidade de uma norma inferior com a Constituição. Nas demais espécies de lei, a finalidade “a” é predominante. Além disso, dispensa-se o uso da construção e trabalha-se muito menos com conceitos genéricos ou abstratos.

1) Apura-se o

conteúdo da norma

jurídica

3) Aplica-se a norma

ao fato, produzindo

uma regra concreta

que regerá o caso.

2) Verifica-se a

adequação da norma

ao caso.

Page 16: O Status Constitucional Das Leis Gerais

- 16 -

Finalizo reforçando que do mesmo modo que interpretamos a Constituição teremos de interpretar as leis gerais de status constitucional ou seus dispositivos aos quais seja reconhecido o status constitucional. Mas até agora falamos sobre a necessidade da interpretação, seu conceito e finalidades. Adiante falaremos sobre o avanço de sentido que o texto constitucional sofre por meio da interpretação, o que aumenta a importância do intérprete na construção social e política da sociedade. 2) MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL A mutação constitucional é a mudança progressiva e histórica de sentido que determinada norma constitucional sofre através de sua interpretação. É informal porque não segue o rito ordinário de mudança constitucional estabelecido na Constituição (via emenda constitucional). Isso garante o caráter dinâmico e progressista da Constituição, impedindo-a de “engessar”. Todos sabem que, conforme a sociedade evolui, novas situações e novas necessidades surgem. Se admitida uma mesma interpretação ad eternum, sempre precisaríamos de uma nova Constituição. A interpretação da norma jurídica, e também da constitucional, ganha relevância ao adequar as leis e seus conceitos à realidade social. 3) OS INTÉRPRETES Questão interessantíssima: quem é o intérprete das leis? E quem é o intérprete da Constituição? Vivemos em uma sociedade pluralista e democrática. A “sociedade aberta dos intérpretes da Constituição” é o conjunto de todos os possíveis intérpretes da Constituição, formado por todos aqueles que “vivem” a norma. Embora os órgãos estatais também façam parte dessa sociedade, cidadãos (doutos ou não), órgãos não-governamentais, a opinião pública etc. constituem forças produtivas de interpretação. 4) CLASSIFICAÇÃO E MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO A interpretação é uma técnica, e, como tal, é baseada em critérios objetivos, ainda que em tais critérios possa haver elementos subjetivos inerentes tanto a quem interpreta tanto à realidade. O intérprete tem de ter em mente a solução da controvérsia e a busca da melhor solução possível, sendo necessários aplicar, em muitos casos, mais de um método de interpretação. Contudo, deve-se dispensar atenção aos chamados hard cases que são aqueles que apresentam mais de uma solução jurídica possível

Page 17: O Status Constitucional Das Leis Gerais

- 17 -

A Doutrina e a Jurisprudência se responsabilizam por definir tais técnicas e critérios. Por haver muitos métodos e classificações, trarei neste trabalho os mais importantes para a realidade gevense conforme as seguintes classificações: 4.1 – Interpretação quanto à origem: 6 A interpretação constitucional pode ser legislativa, administrativa, judicial ou doutrinária. Os poderes Legislativo (interpretação legislativa) e Executivo (interpretação administrativa) realizam, no exercício de suas funções, a interpretação de normas jurídicas, notadamente as constitucionais, já que são elas as que os estrutura. A doutrina também realiza a interpretação das leis e da Constituição como auxílio teórico aos demais intérpretes. No entanto, é o Poder Judiciário quem pronuncia a interpretação última e obrigatória relativamente aos demais poderes e aos cidadãos. É o que se chama de função jurisdicional, exclusiva e indelegável. 4.2 – Interpretação quanto à extensão: 7 A interpretação pode ser, quanto à extensão, declarativa, extensiva ou restritiva. Declarativa: quando houver compatibilidade as palavras e o sentido lógico da norma. Nem sempre o Legislador é feliz na produção de um texto legislativo, coisa que pode acontecer inclusive na Constituição. Se houver conflito entre as palavras e o sentido lógico, proceder-se-á a um dos modos de interpretação abaixo: Extensiva: transcende-se o sentido literal da norma a fim de obter seu real sentido. É mais aplicável a normas definidores de direitos, garantias e prazos. Restritiva: limita-se o sentido literal (ou gramatical) da norma jurídica para se chegar ao seu verdadeiro sentido. Aplicável às regras gerais, às de benefício e às punitivas. 4.3 – Métodos de Interpretação: 8 Vários são os métodos de interpretação. Como já afirmei logo acima, tomarei os mais comuns e importantes à realidade gevense.

Page 18: O Status Constitucional Das Leis Gerais

- 18 -

4.3.1 – Interpretação Clássica: A interpretação clássica é utilizada por aqueles que consideram a Constituição como lei. Os elementos tradicionais de exegese são: a) Elemento Gramatical: análise textual e literal. É, geralmente, o ponto de partida de todos os demais métodos de interpretação. b) Elemento Lógico: busca-se a harmonia lógica das normais constitucionais. c) Elemento Sistemático: é análise harmônica do todo constitucional. Também é método basilar de interpretação de qualquer lei. d) Elemento Teleológico: a finalidade da norma é o cerne da interpretação. A título de exemplo, na Ação Cível 018/2010 prolatei decisão em que afirmei ser a finalidade do artigo 27 da Constituição “a proteção do próprio Estado Democrático de Direito”. e) Elemento Doutrinário: utiliza-se da doutrina. f) Elemento Evolutivo: segue o modelo da mutação constitucional. Cumpre ressaltar que os elementos do método clássico podem e devem ser utilizados concomitantemente na interpretação da Constituição e das demais leis do Ordenamento Jurídico. Há, ainda, outros métodos não-clássicos interessantes à nossa realidade, os quais descrevo abaixo: 4.3.2 – Método científico-espiritual: A análise parte da realidade social e dos valores insculpidos na Constituição, implícitos ou explícitos. A Constituição, o Estado e o Direito são meios de realização de valores aos quais se vinculam. 4.3.3. Método normativo-estruturante: Este método põe como diferentes a norma jurídica e o texto normativo. Só há norma jurídica, segundo dizem, depois do trabalho de concretização do texto normativo à realidade, isto é, após o trabalho do intérprete. 4.3.4 – Método de comparação constitucional: É a comparação entre os dispositivos dos vários Ordenamentos Jurídicos. É incomum no Governo Virtual, mas, conforme avançarmos nas relações intermicronacionais, ganhará relevância. 4.4 – Princípios da Interpretação Constitucional: 9

Page 19: O Status Constitucional Das Leis Gerais

- 19 -

Estes são os princípios que orientam a tarefa do intérprete em relação ao texto constitucional no sentido de auxiliar esta tarefa interpretativa específica. 4.4.1 – Princípio da Unidade da Constituição: A Constituição deve ser interpretada como um todo, isto é, como um sistema uno e harmônico, e as possíveis contradições devem ser superadas. Se a Constituição é una, os dispositivos de status constitucionais fazem parte dela, ainda que “informalmente”. 4.4.2. Princípio do efeito integrador: Segundo este princípio, as soluções constitucionais devem sempre primar pela integração social e política. Deve ter como fim a unidade política. 4.4.3. Princípio da máxima efetividade: A norma constitucional deve ter a máxima efetividade social, isto é, o intérprete sempre deve reconhecer a maior eficácia da Constituição, sobretudo no que diz respeito aos direitos fundamentais. 4.4.4. Princípio da conformidade funcional: O intérprete não deve subverter as funções e competências precípuas dos órgãos instituídos na Constituição. 4.4.5. Princípio da harmonização: Segundo este princípio, de máxima importância, havendo choque entre bens jurídicos de envergadura constitucional (como direitos fundamentais e princípios constitucionais) deve-se primar pela harmonia entre eles. É o que se pode chamar de ponderação de valores constitucionais. Exemplo disso é “conflito” diário entre o direito à privacidade e o direito à informação. 4.4.6. Princípio da força normativa: O intérprete deve aplicar a Constituição sempre privilegiando a sua força normativa, isto é, o intérprete deve tornar a Constituição sempre “atual” e aplicá-la quando e onde for necessário. 4.4.7. Princípio da Interpretação conforme a Constituição: Havendo múltiplas interpretações a respeito de uma lei ou dispositivo infraconstitucional, a preferência será dada àquela que mais se aproxime da Constituição, rejeitando-se as demais ou as que forem contrárias à Constituição.

Page 20: O Status Constitucional Das Leis Gerais

- 20 -

4.4.8. Princípio da proporcionalidade e da razoabilidade: É considerado um princípio geral do direito, sendo, portanto, aplicado como regra geral de interpretação. É sempre utilizado para verificar a adequação de uma restrição de direito ou quando há conflito entre valores constitucionais. Farei um resumo já que sua definição é um pouco complexa. Atinge-se a proporcionalidade e a razoabilidade quando: 1) A restrição é indispensável e necessária para o caso concreto, não havendo solução menos restritiva. 2) O meio utilizado é capaz de atingir o seu objetivo. Adequação do meio utilizado. 3) Sendo a medida necessária e adequada, verifica-se se a realização da medida supera a restrição imposta. Isto é, maior efetividade com a menor restrição possível. 4.4.9. Teoria dos Poderes Implícitos: Se a Constituição outorga expressamente uma competência a um específico órgão estatal concede a ele, implicitamente, os meios necessários à plena realização da respectiva competência. A análise deve sempre passar pelo controle do princípio da proporcionalidade. Esta teoria, de origem americana, é interessante para o nosso estudo. A nossa Constituição reservou matérias tipicamente suas às leis gerais. Por conta da Teoria dos Poderes Implícitos, ela deve reservar também a força normativa que estas matérias teriam se estivessem presentes em seu texto. Encerramos aqui este capítulo. Tudo que aprendemos deve ser aplicado tanto na interpretação da Constituição quanto às leis gerais de status constitucional. BIBLIOGRAFIA CITADA 1 – BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e Aplicação da Constituição. 1999. 2 – Ibid. 3 – LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 2009. 4 – BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e Aplicação da Constituição. 1999. 5 – Ibid. 6 – Ibid. 7 – Ibid. 8 - LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 2009. 9 – Ibid.

Page 21: O Status Constitucional Das Leis Gerais

- 21 -

CAPÍTULO 5 – Controle de Constitucionalidade das Leis Gerais de Status Constitucional

É possível que uma lei geral seja inconstitucional? A resposta é sim. A Constituição é o fundamento de validade de todo Ordenamento Jurídico. Devemos lembrar que a aplicação do status constitucional refere-se à força normativa quando presentes os pressupostos estabelecidos na própria Constituição. O status constitucional se apóia na própria Constituição, como as leis gerais também nela se apóiam. É possível haver dois tipos de inconstitucionalidade em atos normativos: a primeira é a formal (ou nomodinâmica) e a segunda é material (ou nomoestática). A constitucionalidade das leis gerais será verificada normalmente quanto à matéria, relativamente às demais espécies de atos legislativos, e, quanto à forma, obedecerá a algumas peculiaridades. 1) REGRA GERAL. O controle concentrado de constitucionalidade (via Ação Direta de Inconstitucionalidade, que torna nula a lei) é efetuado em face de atos normativos. Ato normativo é o ato jurídico editado pelo poder público, geral, abstrato e imperativo.

A inconstitucionalidade material diz respeito ao conteúdo do ato

normativo, quando se mostrar incompatível com qualquer preceito ou princípio da Constituição. Esse tipo de vício de inconstitucionalidade por estar presente em um artigo inteiro da lei ou, até mesmo, em uma palavra ou expressão.

Quando um ato normativo qualquer desobedece à Constituição no seu processo de formação ela é nula por inteiro. Não importando o seu conteúdo, ela é formalmente inconstitucional. Pode ocorrer durante seu processo de formação (durante o processo legislativo, que segue o devido processo legislativo) ou por ter sido elaborada por autoridade incompetente. Podemos classificar a inconstitucionalidade formal em dois tipos: a) Orgânica: quando o ato normativo foi elaborado por autoridade incompetente. Por exemplo, não compete ao nosso Parlamento legislar sobre organização administrativa local de um distrito. b) Formal propriamente dita: será (1) subjetiva quando verificar-se na fase de iniciativa e (2) objetiva quando se verificar nas demais fases do processo legislativo. 2) REGRA APLICÁVEL ÀS LEIS GERAIS

Haverá inconstitucionalidade material sempre que determinado dispositivo de lei geral contrariar a Constituição. Se, por exemplo, a Lei Geral dos Poderes conceder ao Parlamento pequena competência de cunho

Page 22: O Status Constitucional Das Leis Gerais

- 22 -

jurisdicional, ela será inconstitucional nessa parte, pois a função jurisdicional é atribuída pela Constituição exclusivamente ao Poder Judiciário. É claro que se um dispositivo de lei geral contrariar a Constituição ele não terá o reconhecimento de status constitucional.

No tocante à inconstitucionalidade formal, constata-se, de acordo com a

regra geral, que a lei geral pode apresentar as seguintes espécies de inconstitucionalidade formal:

a) Orgânica: é a que se refere à autoridade competente para elaboração

da lei geral. Somente o Parlamento Nacional pode elaborar lei geral. b) Formal propriamente dita: não haverá a modalidade subjetiva uma

vez que a Constituição não fez reserva de iniciativa a qualquer lei geral. Haverá objetiva se descumprido o processo de formação, como uma votação sem o quorum de dois terços.

c) Temática: é uma particularidade da Lei Geral. A Constituição não só reservou matérias específicas às leis gerais; ela também ordenou a criação de leis gerais específicas para cada tema. À guisa de exemplo, o Direito Eleitoral só pode ser regulamentado na Lei Geral Eleitoral e não, hipoteticamente, na Lei Geral dos Poderes.

Page 23: O Status Constitucional Das Leis Gerais

- 23 -

CAPÍTULO 6 – Ação Direta de Inconstitucionalidade por ofensa à Lei Geral de Status Constitucional

Este capítulo é, talvez, o mais importante em natureza prática para a realidade jurídica do Governo Virtual. A Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI), sendo meio de controle da constitucionalidade dos atos normativos, deve ser estendida em favor das leis gerais às quais for reconhecido o status constitucional. Concordamos que a lei geral (ou seus dispositivos), obedecidos os requisitos, possui eficácia hierárquico-normativa constitucional. Isso significa que um ato normativo ofende, na prática, a própria Constituição quando contraria uma lei geral de status constitucional. Atualmente, enquanto não aprovada a Reforma do Judiciário enviada por mim no dia 27 de dezembro de 2010 ao Parlamento, não há possibilidade de fulminar um ato normativo que contrarie lei geral. O Judiciário pode, no entanto, negar vigência ao ato normativo no caso concreto nas ações que lhe forem submetidas. Se a Reforma for aprovada – é crucial, diga-se de passagem – a Suprema Corte de Justiça poderá julgar ADI contra lei que contrarie lei geral de status constitucional. Nesse estilo, os princípios da máxima efetividade e da força normativa da Constituição estarão plenamente satisfeitos no ordenamento pátrio. Ao final, cuida ressaltar que a ADI em defesa de lei geral de status constitucional (ou de dispositivo de lei geral ao qual tenha sido reconhecido status constitucional) deverá ser julgada como se fosse para defesa da própria Constituição.