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O TABAGISTA NO AMBIENTE FAMILIAR: FUMANTES PASSIVOS, UM ESTUDO DE CASO Isabela Monteiro Ribeiro 1 Clézio Soares Morato 2 Alessandra Carla de A. Ribeiro 3 RESUMO OBJETIVOS: Avaliar os danos à saúde que traz o cigarro não somente ao tabagista, mas também aos fumantes passivos, principalmente às crianças. Assim, busca uma intervenção junto a uma família visando minimizar os danos do fumo. METODOLOGIA: Este é um estudo de caso cuja coleta dos dados foi realizada através de visitas domiciliares a uma família residente no município de Paracatu, MG. As visitas aconteceram durante as aulas práticas da disciplina de Interação Comunitária da Faculdade Atenas, Paracatu, MG, ao longo do ano de 2007. Os responsáveis pelas visitas foram dois acadêmicos de medicina do 5º Período. A família foi escolhida para o estudo com a ajuda dos Agentes Comunitários da Unidade de Saúde do SESC - Prado. A proposta de intervenção junto à família foi elaborada de acordo com a metodologia do Arco de Maguerez. RESULTADOS: Foi possível observar a conscientização do tabagista quanto a má qualidade de vida a que expõem a sua família com o fumo 1 Acadêmica do Curso de Medicina da Faculdade Atenas, Paracatu, MG. Endereço postal: Rua Machado de Assis, nº. 45, apto 401. Bairro Centro, Paracatu, MG. CEP: 38600-000. Endereço eletrônico: [email protected] . 2 Acadêmico do curso de Medicina da Faculdade Atenas, Paracatu-MG. 3 Professor do curso de Medicina da Faculdade Atenas, Paracatu-MG.

O TABAGISTA NO AMBIENTE FAMILIAR: FUMANTES … · O fumante passivo tem um risco 30% maior de morrer por doenças ... (PUC RIO, 2007). De acordo com estudos realizados por inúmeros

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O TABAGISTA NO AMBIENTE FAMILIAR: FUMANTES PASSIVOS, UM

ESTUDO DE CASO

Isabela Monteiro Ribeiro1 Clézio Soares Morato2

Alessandra Carla de A. Ribeiro3

RESUMO

OBJETIVOS: Avaliar os danos à saúde que traz o cigarro não somente ao tabagista,

mas também aos fumantes passivos, principalmente às crianças. Assim, busca uma

intervenção junto a uma família visando minimizar os danos do fumo.

METODOLOGIA: Este é um estudo de caso cuja coleta dos dados foi realizada

através de visitas domiciliares a uma família residente no município de Paracatu, MG.

As visitas aconteceram durante as aulas práticas da disciplina de Interação Comunitária

da Faculdade Atenas, Paracatu, MG, ao longo do ano de 2007. Os responsáveis pelas

visitas foram dois acadêmicos de medicina do 5º Período. A família foi escolhida para o

estudo com a ajuda dos Agentes Comunitários da Unidade de Saúde do SESC - Prado.

A proposta de intervenção junto à família foi elaborada de acordo com a metodologia do

Arco de Maguerez. RESULTADOS: Foi possível observar a conscientização do

tabagista quanto a má qualidade de vida a que expõem a sua família com o fumo

1 Acadêmica do Curso de Medicina da Faculdade Atenas, Paracatu, MG. Endereço postal: Rua Machado de Assis, nº. 45, apto 401. Bairro Centro, Paracatu, MG. CEP: 38600-000. Endereço eletrônico: [email protected]. 2 Acadêmico do curso de Medicina da Faculdade Atenas, Paracatu-MG. 3 Professor do curso de Medicina da Faculdade Atenas, Paracatu-MG.

passivo. Apesar do fumante, patriarca da família, não demonstrar interesse em parar de

fumar, ele passou a evitar ao máximo fumar dentro da própria casa. Observou-se uma

redução da intensidade das crises de bronquite de uma criança de três anos presente na

família. DISCUSSÃO: A família passou a ter uma qualidade de vida muito superior,

principalmente as crianças, com a diminuição da exposição ao fumo passivo.

CONCLUSÃO: O aconselhamento mostrou ser uma maneira adequada para fazer o

tabagista mudar de comportamento a fim de proteger sua família do fumo passivo.

Palavras-chave: fumante passivo, Arco de Maguerez, qualidade de vida, crianças.

1. INTRODUÇÃO

1.1 REVISÃO DA LITERATURA

Durante séculos o uso do tabaco foi difundido das Américas para todo o

mundo por acreditar-se que era uma erva dotada de propriedades medicinais, capaz de

curar doenças diversas como a bronquite crônica, asma, doenças do fígado, e dos

intestinos, reumatismo e outras. Assim, o consumo do tabaco sob diferentes formas,

embora com controvérsias sobre o seu real poder de cura, foi progressivamente

ganhando espaço através dos séculos (PAHO, 1992).

Hoje, temos 1,1 bilhão de fumantes e 4 milhões de mortes anuais no mundo

devido ao tabagismo (WORLD BANK, 1999).

Se o atual padrão de consumo não for revertido, esse número poderá chegar

a 10 milhões de mortes anuais em 2020. Vale ressaltar que, dessas, 70% ocorrerão em

países em desenvolvimento, onde os problemas graves associados ao tabagismo

dividirão o cenário com problemas básicos de saúde como desnutrição, deficiência de

saneamento e de suprimento de água, doenças infecto-contagiosas, ainda não

controladas (WHO, 1999).

O tabagismo responde atualmente por 40 a 45% de todas as mortes por

câncer, 90 a 95% das mortes por câncer de pulmão, 75% das mortes por DPOC, cerca

de 20% das mortes por doenças vasculares, 35% das mortes por doenças

cardiovasculares, entre homens de 35 a 69 anos de idade, nos países desenvolvidos

(WHO, 1999).

No Brasil, estima-se de 80 a 100 mil óbitos anuais relacionados ao fumo. O

cigarro mata mais que a cocaína, heroína, álcool, incêndios, suicídios e AIDS, juntos

(BRASILMEDICINA, 2006).

Ao final da década de oitenta, o Ministério da Saúde passou a assumir o

papel que lhe cabia na organização de ações sistemáticas, continuadas e abrangentes,

através do Instituto Nacional de Câncer (INCA, 2001).

Ao longo desse período, o Programa Nacional de Controle do Tabagismo

(PNCT) foi construído com o apoio de alianças e parcerias e envolvendo dois grandes

grupos de ações: o primeiro, voltado para a prevenção da iniciação do tabagismo, tendo

como público-alvo, crianças e adolescentes; o segundo, envolvendo ações para

estimular os fumantes a deixarem de fumar. Ambos os enfoques são reforçados por

ações legislativas, econômicas e ações de comunicação social (INCA, 2001).

Nas grandes cidades, o fumo polui mais séria e nocivamente o ambiente do que as

indústrias e os veículos automotores (FERREIRA ET AL., 1997). Isso remete ao fato de

que ele afeta não só aqueles que praticam o tabagismo, mas também os que estão ao seu

lado e que constitui o que se denomina “fumante passivo” (LEFÈVRE ET AL., 2002).

O fumante passivo tem um risco 30% maior de morrer por doenças

cardiovasculares ou por câncer de pulmão do que quem não está exposto diariamente à

fumaça dos cigarros. Segundo a presidente da Sociedade de Cardiologia do Estado de

São Paulo, as substâncias do cigarro alteram a função das plaquetas, facilitam a

ocorrência da arteriosclerose e prejudicam o trabalho do miocárdio. Com isso, fumantes

passivos ficam mais expostos à anginas, infartos e “derrames” (PUC RIO, 2007).

De acordo com estudos realizados por inúmeros pesquisadores, a função

pulmonar dos fumantes passivos apresenta-se prejudicada (JINOT ET AL., 1994). Os

fumantes inalam 25% da fumaça dos cigarros; o restante fica no ambiente, sendo

inalada pelos não fumantes, com o agravante de que estes não contam com a pretendida

barreira representada pelo filtro, presente em vários cigarros (LEFÈVRE ET AL.,

2002).

Com base nas evidências científicas dos efeitos que fumantes passivos

sofrem em suas condições respiratórias, a U. S. Environmental Protection Agency

conclui que a exposição à fumaça do tabaco constitui sério impacto sobre a saúde

pública, acarretando câncer de pulmão e de outras localizações nos adultos e

aumentando o risco de uma série de outros agravos respiratórios, especialmente em

crianças (KUMAR ET AL., 1983).

Tem sido estimado que 54% a 70% das crianças são expostas a um ou mais

fumantes no domicílio. O número de cigarros fumados está positivamente associado ao

nível de cotinina urinária nas crianças expostas e há elevada morbidade respiratória em

crianças menores de cinco anos (COOK ET AL., 1998).

Essas apresentam mais tosse e infecções virais e estão mais propensas a

sofrer infecções do trato respiratório superior e do inferior. (PEREIRA E CARVALHO,

2002).

Há correspondente elevação na prevalência e exacerbações de sintomas de

asma e, por vezes, elevação nos níveis séricos de IgE entre crianças com altas taxas de

cotinina na urina (WANG ET AL., 1997).

No estudo realizado pela Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres

em 2.205 crianças, de zero a cinco anos, a incidência anual de bronquites e pneumonias

foi de 7,8% com pais abstêmios, de 11,4% quando um desses era fumante e de 17,6%

quando ambos eram tabagistas (KOSSOV, 1982).

Um estudo publicado em 2001 afirma que através de uma forma de

aconselhamento que visa à motivação ao invés da crença, pesquisadores do Instituto do

Câncer Dana-Faber ajudaram os fumantes a reduzir em cerca de um terço a quantidade

do fumo passivo para o qual as crianças estavam expostas. (EMMONS, 2001).

1.2 CONTEXTUALIZAÇÃO

Ao acompanhar uma família nas aulas práticas da disciplina de Interação

Comunitária, como acadêmica de Medicina da Faculdade Atenas, por meio de visitas

quinzenais domiciliares, identifiquei o tabagismo como o principal problema desta

família. Minhas experiências resultadas desta atividade serviram como base para a

elaboração deste estudo.

G.S.A., 36 anos, sexo masculino, é tabagista compulsivo há 18 anos e tem o

hábito de fumar dentro de casa, na presença de todos seus familiares, inclusive uma

criança de 3 anos que sofre de bronquite. G.S.A. fuma mais de um maço de cigarros por

dia, sendo que na maioria das vezes fuma dentro de casa sem se preocupar com o

ambiente (“casa aberta” ou “casa fechada”), nem mesmo com a presença de seus

familiares, que, sem alternativa, tornam-se fumantes passivos.

No início das visitas observamos que sua esposa, L.P.O., 33 anos, sexo

feminino, orientava o marido a não fumar dentro de casa para não prejudicar a saúde

dos filhos, embora G.S.A. ainda não manifestasse sequer consciência deste fato e

continuasse fumando dentro de casa, em ambiente fechado.

I.P.S., 3 anos, sexo masculino, filho do casal citado, sofre de bronquite e

suas crises pioram quando o pai fuma perto da criança, então G.S.A., por um período

deixa de fumar perto do filho, mas quando o mesmo se recupera ele retorna com o

mesmo hábito.

De maneira geral, toda a família parece se preocupar muito pouco com o fato

de G.S.A. ser tabagista e fumar dentro de casa.

Segue o genograma da família aqui descrita:

GENOGRAMA DA FAMÍLIA DA L.P.O.

1.3 JUSTIFICATIVA

Portanto com o hábito de fumar, G.S.A. prejudica não somente a sua própria

saúde, assim como prejudica a qualidade de vida de toda a sua família, principalmente

do seu filho mais novo, que sofre de constantes crises de bronquite.

Como explicar que pais, consciente e voluntariamente, possam prejudicar a

qualidade de vida de seus filhos não só no presente, como também no futuro, e não só

em termos de saúde, mas no que se refere à sua formação como cidadãos?

1.4 OBJETIVOS

O estudo aqui descrito tem como objetivo, a partir de um estudo de caso,

diminuir a exposição do fumante passivo, principalmente crianças, aos males que traz o

cigarro e incentivar o fumante a deixar o vício a partir de uma intervenção baseada na

informação. Assim, este estudo busca avaliar os prejuízos à saúde que traz o cigarro não

somente ao indivíduo que fuma, mas também a todos aqueles que fazem parte do seu

ambiente familiar e que se expõem diariamente à fumaça do cigarro. Procura ainda

compreender a percepção que os pais têm enquanto atores principais do processo de

deterioração da saúde de seus filhos. Assim, será possível orientar a família e contribuir

para uma grande melhoria na qualidade de vida desta.

2. METODOLOGIA

2.1 TIPO DE ESTUDO

O presente estudo foi feito a partir da análise de um caso ou de um

“problema em especial” de um componente familiar específico e da relação deste

problema com toda a família. Trata-se de uma família, cujo patriarca é tabagista há 18

anos, e por fumar dentro da própria casa, todos tornam-se fumantes passivos, inclusive

crianças.

2.2 ÁREA DE ESTUDO

O estudo foi realizado no domicílio de uma família que pertence à área de

abrangência da Unidade de Saúde do SESC – Prado, no município de Paracatu, Minas

Gerais.

2.3 COLETA DE DADOS

A coleta dos dados foi feita por dois acadêmicos de Medicina ao mesmo

tempo. Eu, como autora deste estudo, participei da coleta dos dados, juntamente com o

co-autor deste trabalho. Deu-se a partir de visitas quinzenais ao domicílio da família

estudada realizadas durante as aulas práticas de Interação Comunitária III e IV,

disciplinas do Curso de Medicina. O período das visitas durou aproximadamente dez

meses, março a dezembro de 2007. Cada visita domiciliar tinha uma duração

aproximada de 1 hora (60 minutos). As visitas sempre tinham o intuito de estabelecer

um vínculo entre a família e os alunos, a fim de um sucesso maior do trabalho. Durante

as mesmas, eram realizadas diversas atividades de acordo com o cronograma a seguir:

CRONOGRAMA

ESTRATÉGIAS MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

1) Conversar com G.S.A. para saber se

ele está realmente disposto a abandonar

o vício do tabagismo.

X X X

2) Procurar ajuda de algum profissional

da saúde para auxiliar o tratamento.

X X

3) Conversar com L.P.O., esposa do

G.S.A. para que o incentive durante o

tratamento.

X X X X X

4) Orientar G.S.A. para que, durante o

tratamento fume o menos possível e

distante dos filhos. Orientá-lo a isso,

X X

Ação

mesmo que recuse o tratamento. Concluída

5) Pesquisar a existência de grupos

comunitários ou institucionais onde é

estimulada a prática de esportes e lazer.

X

6) Orientar G.S.A. a participar desses

grupos. O esporte é uma alternativa que

garante melhor qualidade de vida ao

paciente.

X X

CRONOGRAMA DAS ATIVIDADES REALIZADAS COM A FAMÍLIA DURANTE AS

VISITAS

Observação: Os meses de março e abril foram destinados para o

estabelecimento do vínculo com a família. No mês de julho não houve visitas, devido às

férias escolares.

2.4 CRITÉRIO DE SELEÇÃO DOS SUJEITOS

A escolha das famílias foi feita pelos Agentes Comunitários de Saúde da

Unidade, que tinham um contato maior com as famílias, de acordo com as principais

patologias, problemas sociais e riqueza de experiências que a família poderia oferecer

aos acadêmicos de Medicina. Portanto, não foi uma escolha aleatória.

Os acadêmicos foram organizados em duplas e cada dupla foi encarregada

de fazer visitas quinzenais a três famílias. A primeira visita às famílias foi realizada

pelos acadêmicos de Medicina acompanhados pelos Agentes de Saúde, as demais

visitas foram feitas apenas pelos acadêmicos. Para o presente estudo de caso, foi

escolhida a família cujo trabalho e experiência resultante pareceu mais interessante.

2.5 INSTRUMENTOS OU TÉCNICAS UTILIZADAS

Durante este estudo foi utilizado um instrumento denominado “Diário de

Bordo”, um caderno de anotações, cuja finalidade era registrar todas as experiências,

descrições de ambientes, observações e opiniões dos alunos que realizavam as visitas.

Dessa forma, o “Diário de Bordo” era um instrumento presente em todas as visitas

familiares e, portanto, muito importante para a coleta dos dados. Outros instrumentos

utilizados foram as Fichas de Acompanhamento Domiciliar (em anexo) elaboradas

pelos professores da Disciplina de Interação Comunitária da Faculdade Atenas e os

prontuários da família, que se encontravam na Unidade Básica de Saúde.

A principal técnica utilizada neste estudo de caso foi a Metodologia da

Problematização com o Arco de Maguerez, que conta com cinco etapas: observação da

realidade; elaboração dos pontos-chave (resumo dos principais problemas observados);

teorização; elaboração de hipóteses de solução; e, por fim aplicação das hipóteses de

solução elaboradas à realidade.

3. RESULTADOS

3.1. DESCRIÇÃO

Como resultado deste estudo foi possível observar a conscientização do

tabagista G.S.A. quanto à péssima qualidade de vida que proporciona à sua família

fumando dentro da própria casa. Além disso, L.P.O., esposa do G.S.A., também está

preocupada com a saúde de toda sua família e, com isso, está sempre alertando seu

marido para que não fume dentro de casa.

No entanto, durante o estudo, G.S.A. não demonstrou interesse em parar de

fumar, mesmo após várias tentativas de conscientização quanto aos riscos que o cigarro

traz à saúde do individuo que fuma. Portanto não foi possível iniciar o tratamento contra

o tabagismo, já que o que o primeiro passo necessário para dar início ao tratamento é a

demonstração do interesse em parar de fumar.

Dessa forma, o principal resultado alcançado foi que G.S.A. evita ao

máximo fumar dentro da própria casa, assim, a família como um todo tem agora uma

qualidade de vida muito superior, no entanto, nada foi conclusivo em relação à própria

saúde do tabagista, já que o mesmo não demonstra interesse algum por parar de fumar.

Pode-se ainda observar, a partir deste estudo, que os pais tabagistas tentam

não fumar na presença dos filhos, percebendo-se uma consciência dos males do cigarro

para o fumante passivo, no entanto nem sempre conseguem.

4. DISCUSSÃO

4.1 INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

Um dos principais resultados deste estudo foi a conscientização do tabagista

G.S.A. quanto às péssimas condições de saúde que acarreta o cigarro para toda sua

família, já que todos tornam-se fumantes passivos. O esclarecimento e a conscientização

quanto aos males do cigarro são o primeiro passo para se deixar um vício maléfico.

Dessa forma, mesmo não deixando de fumar, G.S.A., já proporcionou uma

melhor qualidade de vida a toda sua família, principalmente aos filhos. Um fato que

comprova tal resultado é que as crises de bronquite de I.P.S., 3 anos, diminuíram em

número e em intensidade.

No entanto, o resultado não alcançado mostra-nos que tal conscientização

ainda não atingiu grau necessário para que G.S.A. deixe o vício do tabaco. Assim um

dos principais objetivos deste estudo, o tratamento para o tabagismo, não pode ser

alcançado, já que é necessária a demonstração do interesse em parar de fumar pelo

tabagista pra dar início ao tratamento.

4.2 COMPARAÇÃO COM OUTROS ESTUDOS

A associação entre fumo passivo e a criança tem sido alvo de revisões

sistemáticas na literatura.

Estudos têm demonstrado que a exposição ao fumo ambiental está associada

à elevada morbidade e mortalidade em crianças de baixa idade. Essas apresentam mais

tosse e infecções virais e estão mais propensas a sofrer infecções do trato respiratório

superior e do inferior. (PEREIRA E CARVALHO, 2002). Os resultados encontrados

neste estudo de caso convergem diretamente para este fato quando observamos que as

crises de bronquite de I.P.S., 3 anos, agravavam-se quando o pai fumava no mesmo

ambiente em que se encontrava a criança.

Ainda de acordo com outro estudo, realizado pela Escola de Higiene e

Medicina Tropical de Londres, em 2.205 crianças, de zero a cinco anos, a incidência

anual de bronquites e pneumonias foi de 7,8% com pais abstêmios, de 11,4% quando

um desses era fumante e de 17,6% quando ambos eram tabagistas (KOSSOVE, 1982).

Observou-se neste estudo que o patriarca, tabagista, passou a evitar fumar no

ambiente familiar após ser informado dos males a que está exposto o fumante passivo

que neste caso, eram seus filhos e esposa. Este dado concorda com um estudo feito por

outro autor que afirma que através de uma forma de aconselhamento os fumantes

reduziram em cerca de um terço a quantidade do fumo passivo para o qual as crianças

estavam expostas. (EMMONS, 2001).

4.3 DIFICULDADES E LIMITAÇÕES

Uma limitação deste estudo foi que durante algumas visitas à família, o

tabagista G.S.A. encontrava-se no trabalho e não estava presente. Assim, quando isto

acontecia fez-se necessário dar recomendações à sua esposa, L.P.O., no intuito de que

ela transmitisse ao marido. Portanto, acredita-se que a informação possa ter sido

deficiente e não tenha tido o mesmo valor para o tabagista, se, ao contrário, fosse

transmitida por um estudante de Medicina ou por um indivíduo que não fizesse parte da

família.

Outra limitação presente foi o número de visitas à família, já que não foi

possível atingir um dos objetivos, que era a conscientização do tabagista a ponto de que

este manifestasse interesse em deixar o vício do tabaco. Acredita-se que um número de

visitas maior poderia modificar este quadro.

5. CONCLUSÃO OU CONSIDERAÇÕES FINAIS

5.1 SÍNTESE DOS PRINCIPAIS RESULTADOS

De maneira geral, este estudo de caso contribuiu para que a família aqui

descrita diminuísse significantemente a quantidade do fumo passivo para o qual seus

componentes estavam expostos. Este resultado mostra que, a partir de uma intervenção

que forneça informações sobre os riscos do fumo, até mesmo fumantes “crônicos”

podem mudar de comportamento, reduzindo os riscos do fumo para si próprios e para

suas famílias.

Pode-se concluir também que o fumante que não demonstra interesse em

parar de fumar precisa de uma abordagem sistemática apoiada na informação sobre os

riscos de fumar e benefícios de parar de fumar, já que o primeiro passo para dar início a

algum tipo de tratamento é a motivação do tabagista em deixar o cigarro.

5.2 SUGESTÕES DE NOVAS PESQUISAS

Novas pesquisas, de caráter mais amplo, podem ser feitas visando à

comprovação de uma intervenção ativa para orientação e informação destinada aos pais

fumantes, no intuito de diminuir os riscos que o fumo passivo traz a toda família,

principalmente às crianças.

5.3 PROPOSIÇÕES E RECOMENDAÇÕES DE INTERVENÇÕES

É necessária uma divulgação mais eficiente quanto aos resultados das

pesquisas que mostram a associação entre o fumo passivo e as ameaças à saúde das

crianças. Na maioria das vezes o que falta é a conscientização e informação dos pais

quanto aos prejuízos que trazem aos seus filhos ao fumar dentro da própria casa.

Outro ponto importante é que os profissionais da saúde de todo o Brasil

deveriam estar capacitados a oferecer uma abordagem eficaz, uma vez que existem

modernos métodos eficazes que auxiliam o fumante a deixar de fumar.

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, à Deus, O Principal responsável por este trabalho.

Agradeço pela vida e pelo amor recebido.

Agradecimentos especiais ao Prof. Me. Helvécio Bueno, pela paciência,

amizade, conselhos e orientação precisa e segura na concretização deste trabalho.

Agradeço ainda pelos seus ensinamentos que serão essenciais para a minha formação

médica.

Agradecimentos especiais também ao meu amigo, colega de classe e

principal colaborador deste trabalho, Clézio Soares, agradeço por me ouvir,

compreender e saber interpretar meus anseios, dificuldades e limitações. Agradeço

também o carinho, o respeito o apoio, a paciência e por estar sempre presente. Sua

coragem e firmeza devem ser reconhecidas.

Agradeço aos Agentes Comunitários da Unidade Básica de Saúde (UBS) do

SESC-Paracatu: Fabrício de Oliveira, Geuci Alves, Joicelane Gomes, Maria Luiza

Gonçalves e Maria Raimunda Ferreira, pelo carinho com que sempre me receberam e

trataram, e, também pelas constantes ajudas que foram essenciais para a conclusão deste

trabalho.

À Dra. Cristiane Cariús, médica da equipe de saúde da UBS do SESC, pela

parceria e orientação essencial neste trabalho. À Emília Nascimento, enfermeira da UBS

do SESC, pela amizade, paciência, dedicação e por mostrar-se sempre tão prestativa e

atenciosa em seus cuidados. À tutora e amiga, Mariana Andrade, sempre presente,

obrigada pelo incentivo e ajuda, agradeço o seu dom de ensinar, atenção e carinho.

Vocês serão importantes para a minha formação.

À família aqui descrita neste estudo por me dar oportunidades de vivenciar

experiências únicas na prática comunitária da Medicina e por me receber tão

humildemente, pacientemente e carinhosamente.

À Faculdade de Medicina Atenas de Paracatu pelo apoio fornecido para

elaboração e concretização deste trabalho.

ABSTRACT

OBJECTIVES: to assess the damage to health that brings the cigarette not only the

smoker but also the passive smokers, particularly to children. Thus, objective an

intervention with a family seeking to minimize the harm of smoking. METHODS: This

is a case study whose collection of data was done through home visits to a family living

in the city of Paracatu, Brazil. The visits took place during the practical lessons of

discipline Community Interaction at the Faculdade Atenas, Paracatu, Brazil, during the

year 2007. The visits were made by two medicine scholars of the 5 th period. The

family was chosen for the study with the help of healthcare agents of the healthcare unit

of the SESC - Prado. The proposed intervention with the family was prepared in

accordance with the methodology of Arco de Maguerez. RESULTS: It was possible to

observe the awareness of the smoker to the poor quality of life that expose his family

with passive smoke. Despite the smoker, patriarch of the family, not interested in

stopping smoking, he has avoided to smoke inside the house. There was a reduction in

the intensity of the child crises of bronchitis. DISCUSSION: The family improved their

quality of life, especially children, with the reduction of exposure to passive smoke.

CONCLUSION: The advice proved to be an appropriate way to do the smoker change

of behaviour in order to protect his family from passive smoke.

Key words: passive smoker, Arco de Maguerez, quality of life, children.

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