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O Tarô Como Caminho da Vida Este sistema de cartas, muito usado em jogos de adivinhações, é na realidade um formidável sistema simbólico que cria uma série de pontes entre o conhecido e o desconhecido, entre o interior e o exterior, entre o concreto e o abstrato, entre energia e matéria, entre diferentes campos espaciais e temporais. O Tarô mais antigo descoberto, data da Idade Média, mas diversos estudiosos acreditam que suas raízes estão no antigo Egito ou mesmo em épocas mais antigas. Tenho a intuição que foi estruturado em sua forma atual, algumas centenas de anos antes de Cristo, por mestres de diferentes tradições, formando junto com a Cabala, a Astrologia e a Alquimia, as bases para a Yoga do Ocidente e, mantido em segredo para os não iniciados, por quase um milênio a partir daquela data, com significados semelhantes mas com imagens evidentemente diferentes. Em seu sistema atual, é constituído por 78 cartas: 22 arcanos maiores e 56 menores. O que são arcanos? São chaves para entendermos os mistérios. Mistérios porque quando trabalhamos com símbolos, não conseguimos de imediato apreender a totalidade da experiência; mesmo porque se referem muito mais a processos, do que a fatos, muito mais se reportando a experiências, sensações, emoções, mentalizações e arquétipos vivenciais, do que procurando defini-los. Os símbolos Os símbolos são excelentes para trabalhar com realidades que não se encaixam perfeitamente dentro de nossa experiência consciente e, para isto são ao mesmo tempo estruturados e flexíveis. Por trabalharem em um nível mais abstrato, podem apresentar diversos significados. Como exemplo, a “Morte, que é um símbolo de transformação, muito raramente indica morte física. Uma das vantagens de trabalharmos com símbolos, é que nos permitem interagirmos com conteúdos que seriam perigosos se acionados de outra forma, como por exemplo, através de drogas; e isso de uma maneira muito mais tranqüila. Mesmo pessoas que atravessam períodos de grande stress emocional, podem encontrar conforto quando trabalham através dos arcanos, pois eles são estruturados, reportando a uma dinâmica que se percebe universal, possibilitando certo distanciamento ou perspectiva, dentro da situação particular. Dentro da visão do Tarô nenhuma experiência está fora de algum nível de realidade. Uma definição simples de realidade seria “realidade é tudo que é”, como foi dado pelo filósofo Robert Hapeé. É lógico que existem campos paradigmáticos de experiências, que circunscrevem nossa percepção. Mas são relativos. Em uma época em que está havendo uma grande ampliação no nível de consciência e sensibilidade, o trabalho com os símbolos pode ser importante para integrar com maior facilidade as novas experiências. Todos os tipos de símbolos têm esta função: de fazer a ligação entre o conhecido e o desconhecido. No momento em que conhece em profundidade o conteúdo dos símbolos, vivencialmente ou experiencialmente, aquela realidade deixa de ser simbólica e passa a ser concreta. O que para uma pessoa pode ser uma realidade simbólica, para outro pode ser uma realidade concreta, através de uma experiência firme e consistente. Para alguns, falar em energias sutis pode ser um símbolo, por exemplo: luz. Outros, neste exemplo, sentem fisicamente a carga elétrica, a energia fluindo e, quando se fala em luz no nível de experiência sutil, para ela não e um símbolo, mas uma realidade concreta. As linguagens simbólicas podem fazer a passagem de traduzir uma

O Tarô Como Caminho da Vida

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Page 1: O Tarô Como Caminho da Vida

O Tarô Como Caminho da Vida

Este sistema de cartas, muito usado em jogos de adivinhações, é na

realidade um formidável sistema simbólico que cria uma série de pontes entre

o conhecido e o desconhecido, entre o interior e o exterior, entre o concreto e

o abstrato, entre energia e matéria, entre diferentes campos espaciais e

temporais.

O Tarô mais antigo descoberto, data da Idade Média, mas diversos

estudiosos acreditam que suas raízes estão no antigo Egito ou mesmo em

épocas mais antigas. Tenho a intuição que foi estruturado em sua forma atual,

algumas centenas de anos antes de Cristo, por mestres de diferentes tradições,

formando junto com a Cabala, a Astrologia e a Alquimia, as bases para a Yoga

do Ocidente e, mantido em segredo para os não iniciados, por quase um

milênio a partir daquela data, com significados semelhantes mas com imagens

evidentemente diferentes. Em seu sistema atual, é constituído por 78 cartas:

22 arcanos maiores e 56 menores.

O que são arcanos? São chaves para entendermos os mistérios. Mistérios

porque quando trabalhamos com símbolos, não conseguimos de imediato

apreender a totalidade da experiência; mesmo porque se referem muito mais

a processos, do que a fatos, muito mais se reportando a experiências,

sensações, emoções, mentalizações e arquétipos vivenciais, do que procurando

defini-los.

Os símbolos

Os símbolos são excelentes para trabalhar com realidades que não se

encaixam perfeitamente dentro de nossa experiência consciente e, para isto

são ao mesmo tempo estruturados e flexíveis. Por trabalharem em um nível

mais abstrato, podem apresentar diversos significados. Como exemplo, a

“Morte”, que é um símbolo de transformação, muito raramente indica morte

física.

Uma das vantagens de trabalharmos com símbolos, é que nos permitem

interagirmos com conteúdos que seriam perigosos se acionados de outra

forma, como por exemplo, através de drogas; e isso de uma maneira muito

mais tranqüila. Mesmo pessoas que atravessam períodos de grande stress

emocional, podem encontrar conforto quando trabalham através dos arcanos,

pois eles são estruturados, reportando a uma dinâmica que se percebe

universal, possibilitando certo distanciamento ou perspectiva, dentro da

situação particular.

Dentro da visão do Tarô nenhuma experiência está fora de algum nível de

realidade. Uma definição simples de realidade seria “realidade é tudo que

é”, como foi dado pelo filósofo Robert Hapeé. É lógico que existem campos

paradigmáticos de experiências, que circunscrevem nossa percepção. Mas são

relativos. Em uma época em que está havendo uma grande ampliação no nível

de consciência e sensibilidade, o trabalho com os símbolos pode ser importante

para integrar com maior facilidade as novas experiências. Todos os tipos de

símbolos têm esta função: de fazer a ligação entre o conhecido e o

desconhecido. No momento em que conhece em profundidade o conteúdo dos

símbolos, vivencialmente ou experiencialmente, aquela realidade deixa de ser

simbólica e passa a ser concreta. O que para uma pessoa pode ser uma

realidade simbólica, para outro pode ser uma realidade concreta, através de

uma experiência firme e consistente. Para alguns, falar em energias sutis pode

ser um símbolo, por exemplo: luz. Outros, neste exemplo, sentem fisicamente

a carga elétrica, a energia fluindo e, quando se fala em luz no nível de

experiência sutil, para ela não e um símbolo, mas uma realidade concreta.

As linguagens simbólicas podem fazer a passagem de traduzir uma

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experiência que conhecemos mal, conectá-la com algo que conhecemos,

ampliando simultaneamente nosso nível de consciência, facilitando para que

tenhamos maior perspectiva e clareza para nos conhecermos e tomarmos

nossas decisões.

Temas abrangentes

O fato é menos importante que o processo. A percepção de que energias

estão sendo conectadas, a maneira como poderemos lidar com estas energias

entrantes, como trabalhá-las dentro de nós e como podemos expandi-las, é

muito mais importante.

Gosto de falar que os Arcanos maiores são temas abrangentes e os menores

temas específicos de consciência. Quando vemos uma foto de uma paisagem,

podemos pegar a abrangência da vista, traduzindo a atmosfera, ou, podemos

focalizar um tema especifico como os meninos que estão passando ou os

cisnes. Há uma serie de nuances entre o foco, o tema focalizado e a idéia de

conjunto. É claro que os arcanos maiores e menores se complementam

perfeitamente.

Um outro tema que gostaria de dar pelo menos uma pequena alinhavada

antes de entrarmos em nosso assunto específico, é o processo de identidade.

Aliás, este tema, e outro muito importante: o tempo. Em um grupo que conduzi

há certo tempo, tivemos uma conversa bem ilustrativa sobre o tema que vou

reproduzir agora:

“Vamos começar a abordagem de identidade com uma perguntinha simples:

quem são vocês? Antes de continuarmos, pensem um pouco e respondam.

L: Eu sou alegre, gozada, companheira, tenho objetivos.

M: Eu sou atrevida, sapeca, penso muito, tenho dificuldade de expressar

meus

verdadeiros sentimentos, sou companheira.

N: Sou séria, odeio ser seria, bastante trabalhadora, indecisa, gosto de estar

com as pessoas.

T: Sou uma pessoa confiante, julgo muito as coisas que sinto e isto complica

muito

minha vida, sou muito amiga das pessoas que gosto.

J: Sou trabalhadeira, amiga, não me acredito muito, demoro muito para me

livrar das coisas que sei não fazem sentido.

I: Sou uma mulher agora que esta aprendendo a não exigir muito de mim,

tenho medo de perder as pessoas que amo, me achava onipotente, capaz de

segurar tudo nas

mãos, estou percebendo que sou um ser normal, estou sendo menos exigente

comigo

mesma, e estou querendo aprender uma forma nova de viver mais leve.

A: eu sou basicamente... alegre, amiga...”

“Quero agradecer esse compartilhar de estados de alma. Gostaria que

notassem aspectos relativos à identidade: primeiro que são alguns padrões

emocionais, mentais, comportamentais ou espirituais relativamente estáveis e

repetitivos, onde nos apoiamos em nossa auto-referencia. É em realidade, um

complexo aglutinador de percepção, que poderíamos chamar de complexo de

identidade ou complexo de ego. Segundo, que á claro que nosso ser total é

muito mais vasto em suas manifestações e em seu potencial do que qualquer

aspecto que podemos perceber. Terceiro, que todos estes aspectos podem ser

representados pelo Tarô, demonstrando que existe uma base universal atrás

de cada individualidade.”

O que somos

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O que somos não é retirado simplesmente do nada: é criado a partir de

determinados princípios, de determinadas ordens e freqüências, que funcionam

como base de expressão da consciência. Para nos sentirmos seguros, nos

apoiamos naquilo que acreditamos que somos. Por isso falamos “Sou um pai

de família”, “sou amiga”, etc.

Poderia falar: sou uma pessoa sensível, afetiva, sou tarólogo e astrólogo,

perseverante, seletivo, etc. São maneiras pessoais, comportamentais,

identificações com papéis; são sempre expressões mais ou menos exteriores

de determinados padrões, hábitos ou mesmo vícios de identidade, que ficam

aglutinados, fazendo parte do caráter relativamente profundo com o qual me

identifico.

Mesmo nos traços profundos posso fazer algumas modificações se atravesso

por alguma experiência realmente transformadora. Uma analogia poderia ser

a de quando vou tocar piano, estou pegando notas pré-existentes e criando

determinados jogos harmônicos (ou talvez nem tanto), a partir destas notas.

Estas notas não são o que sou, nem mesmo a musica, mas expressam o

movimento de minha alma. O que sou é inatingível por uma compreensão

puramente mental. Posso ter percepção consciente de minhas expressões, do

meu passado, das minhas referências, mas o que sou realmente não posso

determinar por nenhuma tentativa de definição.

Posso perceber duas coisas: primeiro que estas ferramentas – mais ou

menos profundas mais ou menos criativas ou interessantes – são ferramentas

psíquicas, instrumentos que posso e devo aprender a lidar, a mexer, e mesmo

a brincar um pouco. Segundo, que no universo, algumas pessoas vão vibrar

nas mesmas harmônicas, formando os grupos de alma.

O fato de historicamente termos sido mais previsíveis foi bom, pois nos deu

uma certa sensação de segurança; como é bom também agora que tudo está

mais acelerado, deixarmos de nos apoiar em situações “estáveis”.

Em um determinado ponto de nossa evolução começamos a nos abrir para

uma presença mais profunda, que é a manifestação de nosso verdadeiro Ser,

que vibra junto com toda criação. Dá para sentir a Presença. Quanto mais

profundamente somos nós mesmos, mais profundamente estamos integrados

na energia universal. Neste sentido, somos todos sagrados e deuses ou deusas.

Precisamos aprender a lidar com nossas ferramentas, não adianta nos

iluminarmos e não ancorarmos nossas energias. O Tarô pode nos ajudar nisto.

Vamos ver se fazemos com que esta energia circule no nosso dia-a-dia, que

nosso lado psíquico possa reconhecer a sacralidade de nosso ser, pois neste

momento estamos iluminados. Digo isto porque para mim isto é verdadeiro,

aqui e agora. Temos uma tendência a duvidarmos muito de nós mesmos, do

nosso poder de discernimento e reconhecimento do que é verdadeiro. Isto faz

com que procuremos autoridades externas para nos apoiarmos, o que

raramente é liberalizador.

O real conhecimento não está nos livros, em estudos... pode servir apenas

como base. Mesmo uma pessoa que funciona como contato, pode ser

comparado com um milho de pipoca que já desabrochou, “uma pipoca que

‘pipoqueia’ pode ajudar outra a pipocar”. O perigo é o mestre dizer, e isto têm

acontecido “eu sou uma pipocona e vocês pipoquinhas, milhinhos” e de repente

o milhinho achar que não poderá se tornar pipoca. Isto é manipulação, pois

todos irão se tornar pipoca. Se você começa a pipocar, não se sinta muito

orgulhoso, pois saiba que mesmo o milhinho que você não dá nada por ele, vai

pipocar também e mais quentinho. A filosofia da pipoca.

A questão do tempo

Para completarmos estas considerações gerais, irei trabalhar a idéia de

tempo. Temos a idéia clássica linear (presente, passado, futuro), mas agora

vou procurar mexer um pouco com estes conceitos. Do ponto de vista de nossa

Page 4: O Tarô Como Caminho da Vida

psique, tudo que vivenciamos e todas nossas expectativas e conexões, junto

com as forças criativas, as forças que buscam equilíbrio, diversas influencias

conhecidas, sensações, instintos e mentalizações estão presentes

simultaneamente dentro de uma grande rede de conexões que podemos

chamar de espaço psíquico ou, dentro de uma visão de movimento, tempo

esférico ou circular, dando mais a idéia de movimento dentro de um campo

unificado do que de limite.

Muitos mestres de diferentes tradições enfatizam o “aqui e agora”. Isto

porque percebem que nossa energia está dispersa em vivências mal resolvidas,

em expectativas impacientes, em sonhos desconectados, em fantasias

negativas, etc. Somente a partir de uma base orgânica de Presença poderemos

participar ativamente e de uma maneira harmônica da criação de nosso projeto

de vida, chamado na alquimia de obra.

Longe de significar que devemos negar nosso passado ou bloquear nossos

projetos de futuro, devemos conectá-los todos no aqui e agora, ou base

orgânica de nossa Presença. Quando fazemos uma leitura de Tarô, antes de

fazermos uma previsão de futuro ou analise de passado, estamos de fato

fazendo uma serie de relações entre diversos fatores ligados à nossa atenção,

e como podemos lidar com eles da melhor maneira possível antes que como

diz minha amiga Ana Correa, virar historia. Para quem conhece este símbolo,

estamos construindo nossa mandala, ou campo unificado de experiência. Isto

com o objetivo claro de vivermos amorosamente conectados com todos

os seres e iluminados.

A correspondência entre os arcanos maiores

Tenho trabalhado os arcanos maiores de acordo com uma determinada

complementaridade, intuída de uma determinada configuração dos caminhos

da Cabala e encontrada também no capitulo sobre Tarô no “Novo Modelo do

Universo”, de Ouspensky.

São estas as correspondências:

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

0 21 20 19 18 17 16 15 14 13 12

Vocês podem notar que com exceção do Louco nº 0, que é uma espécie de

coringa, todos os outros arcanos somam 23 dentro desta complementaridade

1. O Mago 0. O Louco

2. A Alta Sacerdotisa 21. O Mundo

3. A Imperatriz 20. O Julgamento

4. O Imperador 19. O Sol

5. O Hierofante 18. A Lua

6. Os Enamorados 17. A Estrela

7. O Carro 16. A Torre

8. A Justiça 15. O Diabo

9. O Eremita 14. A

Temperança

10. A Roda da

Fortuna 13. A Morte

11. A Força 12. O Enforcado

0. O Louco

Page 5: O Tarô Como Caminho da Vida

Uma imagem não convencional, com roupas estranhas, e não olha muito para onde está

pisando. Carrega uma mochila nas costas, e um cachorro ou um pequeno felino está em

suas pernas. Existe um abismo em sua frente.

0. O Louco

[Tarot Balbi]

Um pequeno detalhe, de que fui conscientizado recentemente,

nos faz lembrar que na Idade Média, muitos viajantes carregavam

uma mochila nas costas, segura por um bastão. Um viajante,

mesmo que temporariamente, não tem lar fixo. Seus amigos e

conhecidos estão distantes. Está em movimento. O I Ching

aconselha prudência para o viajante.

Outras idéias que vem com o Louco são de imprevisibilidade,

inconstância, desprendimento e confusão. Importa-se pouco

com a opinião coletiva, mas de outro lado nem sempre sabe muito

bem o que quer ou aonde quer chegar.

Sobre o abismo, é interessante lembrar que na iniciação

xamânica, existe o nível de experienciar o abismo, como uma total

entrega, soltura de auto-referências e desprendimento do

ego. Quem assistiu Indiana Jones, deve se lembrar que um dos

últimos passos o faz confiar nas instruções de seu pai e dar o passo

no abismo.

Quem leu Carlos Castaneda pode se lembrar do salto sobre o abismo como iniciação final

de um longo processo.

Percebo que existem três níveis dentro dos qual o arquétipo pode se manifestar. O

primeiro é o nível de inocência, no qual a pessoa não percebe nada do que está

acontecendo ao seu lado. Quem representava magistralmente este nível era o Peter Sellers.

Quando adolescente, lembro-me de uma situação em que fui o próprio Louco neste

nível: estava em uma de minhas (poucas) etapas magro, cheguei com uma bonita capa,

com alguns amigos, em uma casa de um pessoal que não conhecíamos, assim como meio de

penetras. Imediatamente encantei-me por uma bonita moça, e até acredito que a atração

pode ter sido mutua. Fiquei uma meia hora em uma mesa de jogo, ganhei bastante e resolvi

sair. Estavam dançando a musica do Zorba, o Grego, e quebravam discos na cabeça uns dos

outros. Engraçado, tinha um outro cara sempre por perto. Meus amigos me avisaram que

tínhamos que sair imediatamente, e eu, a contragosto, me despedi da moça, não sem antes

pegar telefone, em seguida me despedi do rapaz chato e saímos.

Na saída meus amigos me contaram a loucura. O rapaz era noivo da moça. Seus amigos,

irritados com toda a situação, inclusive por terem perdido o jogo, queriam nos dar uma

surra. Mas eu estava tão tranqüilo que acharam que era faixa preta. No final o noivo pegou

uma faca, mas neste exato momento eu o cumprimentei. Ele fixou sem jeito, passou a faca

para a outra mão e me devolveu o cumprimento. Esta cena é típica do louco neste nível.

Outro nível, no qual a maioria de nós atravessa quando está atuando neste arcano, é o

nível em que estamos confusos, desorientados e atrapalhados. Simplesmente não

sabemos o que fazer e atuamos como baratas tontas, ora agindo de um jeito, ora de

outro. Na maioria das vezes em que o Louco aparece em uma leitura mostra um aspecto de

indecisão, imprevisibilidade, incertezas ou confusões.

O terceiro nível é o nível amadurecido, iluminado. O taoísmo, na China, perseguia

este ideal. É agir com naturalidade, sem idéias preconcebidas, mas totalmente integrado

com o Todo. Tudo acontece com a mais total naturalidade e tudo funciona na mais perfeita

ordem e harmonia. Indica também a total despreocupação com as opiniões alheias, no

sentido de defender uma persona e também uma total confiança e disponibilidade para o

jogo da vida. Não teria bons exemplos, pois envolve grande consciência, mas se Forrest

Gump e Muito Além de um Jardim, de Peter Sellers, fossem mais conscientes seriam bons

exemplos. Jogadores, artistas e músicos com grande vocação seriam outros. E, é claro,

Charles Chaplin.

O Louco combina com o Mago, pois se tivermos a clareza do Mago e a flexibilidade do

Louco, seremos mestres. Clareza de objetivos e flexibilidade de meios. Isto não significa

Page 6: O Tarô Como Caminho da Vida

que as cartas precisam sair em uma mesma leitura. Significa que conscientes da

complementaridade, este conhecimento pode os servir como base de orientação e

aconselhamento.

Em uma das reuniões, alguém me fez a seguinte pergunta:

“Como poderemos saber, em uma leitura, em que nível a pessoal esta manifestando um

determinado arquétipo?” Muitas vezes pela sensibilidade, existe toda uma “equipe de

produção” nos ajudando em uma leitura, ou você pode simplesmente abrir um leque de

possibilidades.

1. O Mago

Em cada baralho existe uma característica especifica, mas em quase todos tem uma mão

apontada para o alto, outra para baixo, uma para o céu, ou para a terra, fazendo a conexão.

Em quase todos tem uma mesa, que indica seu território ou pequeno mundo e diversas

peças, que são as ferramentas mágicas, símbolo dos Quatro elementos: vontade, mente,

emoção, concretude, ou: fogo–paus, espadas–ar, copas–água, terra–ouros.

1. O Mago

[Tarot Balbi]

Muitas vezes O Mago tem o símbolo do infinito acima de sua

cabeça ou um chapéu lembrando este símbolo. O infinito é onde o

pessoal de une com o transpessoal, onde a parte se une com o

Todo. Podemos chamar de revelação.

O Mago tem muita liberdade, não está preso a formas exteriores

pré-estabelecidas, além de seu propósito, que é totalmente definido

e das formas que usa como seu instrumento de criação. Tem

iniciativa e idéia clara de seus objetivos. Tem como potencial a

facilidade de lidar com todos os elementos, mas uma facilidade

maior de lidar com o elemento ar: (pensamento) e fogo (vontade).

Confundimos as intuições que decorrem da sensibilidade e a

intuição que ocorre como uma revelação. A intuição sensível está

diretamente ligada à compaixão, tem uma grande percepção do

outro, e está relacionada no Tarô com a carta da Alta Sacerdotisa.

Chamo esta forma sensitividade. A intuição relacionada com o Mago são aquelas idéias

que surgem aparentemente do nada e resolvem tudo, verdadeiras revelações. Está também

ligado com clareza de propósitos. Dependendo do lugar onde está colocado, dará a idéia de

liberdade, de decisão, de um propósito bem definido, uma idéia nova, um novo caminho.

Quando trabalha em uma freqüência menos elevada, é manipulador, aquele que mexe os

pauzinhos para que as coisas fiquem do seu jeito. É quando, por exemplo, procuro fazer de

tudo para que uma pessoa faça minha vontade, independente de sua predisposição, de uma

maneira inteligente e ardilosa. Não estou respeitando sua liberdade.

O bastão voltado para cima mostra sua possível ligação com os céus, os ideais elevados e

possibilidades criativas; conecta a energia cósmica e planta esta semente.

Muitas vezes é tênue a diferença de passar uma energia com certa ênfase e manipular, e

este limite precisa ser trabalhado na energia do Mago, e para isto precisamos vencer nossas

idéias fixas ou obsessões e aprender a lidar com os limites dos outros.

2. A Alta Sacerdotisa

É uma carta de muita sensibilidade. A Alta Sacerdotisa normalmente está sentada, envolta

em um azul profundo. O azul é um dos símbolos da unidade; imaginem o fundo do oceano

ou a abóbada celeste em uma noite estrelada. Carrega um livro, símbolo do conhecimento.

Page 7: O Tarô Como Caminho da Vida

2. A Alta Sacerdotisa

[Tarot Balbi]

No Tarô Mitológico ela está de pé, Perséfone, casada com Hades,

o rei dos infernos (representação do subconsciente na mitologia

grega), metade do tempo abaixo da superfície e metade acima

(consciente e subconsciente). As duas colunas, também presentes

em outras cartas, trabalham as polaridades, as forças cósmicas e

telúricas, mãe terrestre e celestial. Em vários mitos, a Mãe é

simbolizada pela abóbada celeste, em outros sobre o planeta.

Podemos pensar em Gaia, Maria, Sophia, Isis, Kwan Ying.

O feminino é um aspecto interessante da divindade; quando se

fala em feminino, logo se pensa na mãe abraçando ou

amamentando seu filho, e na energia do amor. A Alta Sacerdotisa

pode estar grávida, mas não teve ainda seu filho; podemos até dizer

que seu amor e compreensão amorosa não estão dirigidos a um

único ser, mas é impregnado de um caráter universal e

incondicional.

Vocês já refletiram sobre o amor? Fundamentalmente, quando amamos queremos estar

tão próximos do ser amado que sejamos uma unidade; sentimos que fazemos parte da

mesma energia, da mesma essência, queremos proteger e nutrir. Quando este sentimento é

includente é chamado de compaixão. A compaixão é sempre assimilada à uma grande

sensibilidade e profunda compreensão do outro ser, participando de uma grande intimidade.

Este aspecto do sentimento humano é simbolizado pela Alta Sacerdotisa.

Existe uma diferença importante entre simpatia e empatia. Na simpatia, quando uma

pessoa não está legal, nossa energia também ficará mais pesada, e na empatia, mesmo

vibrando nossa compreensão amorosa, conseguimos manter nossa freqüência, sendo mais

fácil ajudarmos a quem amamos. A Alta Sacerdotisa não perde a dimensão espiritual quando

entra em contato com a dor e o sofrimento... imaginem se a Madre Tereza fosse ficar

desesperada com as crianças que entrasse em contato... ela não teria realizado sua obra. Ela

é uma santa justamente porque consegue trabalhar, manter-se firme e manter a coragem

espiritual de emanar amor incondicionalmente, mesmo em situações extremamente

desafiadoras.

Como todos os arcanos, a Alta Sacerdotisa se expressa em diversos níveis; no nível mais

mundano, pode ser uma carta muito passiva, mas pode mostrar a importância de ouvir, de

saber esperar, de dar tempo ao tempo; e no nível mais profundo, como vimos, pode ser uma

carta de compaixão, de sensibilidade e de intuição.

Muitos anjos, que são mensageiros da compaixão, são simbolizados com asas; isto porque

pessoas sensitivas percebem que as energias emanadas por estes grandes seres saem da

nuca ou das omoplatas, dão uma semi-volta em seus corpos em movimentos ondulatórios,

dando-nos uma sensação de alegria e leveza (mas não em todas as situações, não vamos

nos esquecer do aspecto assertivo de Deus), como um vôo. A associação com asas é muito

boa.Vocês gostariam de saber o que significam as letras B e J das colunas da direita e da

esquerda? Bom, primeiro vamos nos lembrar que as colunas simbolizam fundamentos que

com sua solução de verticalidade, atravessam diversos planos ou freqüências. Yakin ou

Joaquim e Boaz, símbolos maçons que se referem às colunas do Templo de Salomão,

simbolizam o que poeticamente poderíamos chamar de gênios de cada coluna das forças

cósmicas e telúricas, evolutivas e involutivas, a aliança indissolúvel entre o céu e a terra. Um

outro símbolo destes processos seria a escada de Jacó. A consciência da Alta Sacerdotisa

está no centro deste processo.

3. A Imperatriz

Uma antiga visão de integração de tudo com tudo foi se perdendo gradualmente,

inicialmente com a lógica de Aristóteles e a religião judaico-cristã, colocando toda a natureza

e seres viventes como separados da humanidade e tendo como missão principal servir ao ser

humano, continuando no espírito inquisitorial e conquistador contra todas as tendências

pagãs e concluindo com o espírito mecanicista que foi impregnando o pensamento cientifico.

Page 8: O Tarô Como Caminho da Vida

3. A Imperatriz

[Tarot Balbi]

Hoje começa a haver um resgate da consciência de unidade em

diversos campos da experiência humana. Para citar apenas um,

podemos nos lembrar do pensamento ecológico. Capra nos lembrou

que existem dois tipos de ecologia, um que se chama de ecologia

superficial, que ainda enxerga o homem comandando a natureza,

mas fundamentalmente fora dela; e a visão ecológica profunda

percebendo o homem como fazendo parte da natureza. Se

conseguirmos imaginar ondas de ressonâncias inter-relacionadas,

poderemos perceber a relação dos animais selvagens e nossos

instintos; que se nossos rios estiverem poluídos, nossas emoções

estarão atrapalhadas e vice-versa; se esburacamos nosso planeta

de uma maneira desmedida teremos um grande aumento de

osteoporose, se não cuidarmos de nosso ar, nossos pensamentos

também estarão escurecidos e assim por diante.

Nossa Terra e nossos corpos estão interligados. Nossas vontades internas, nossas emoções

mais violentas, nossos pensamentos mal resolvidos são verdadeiros redemoinhos, furacões,

vulcões, terremotos, etc.

A força da Imperatriz pode ser traduzida pela força da natureza selvagem, no sentido de

natural; nossa natureza exuberante e criativa que aparece quando agimos sem bloqueios e

quando estamos em harmonia com a energia de nosso ambiente.

Uma dama sentada em uma poltrona vermelha, como no baralho do Waite, em meio a

uma vegetação abundante e a um trigal, simbolizando a colheita e prosperidade. Cetro de

poder, simbolizando autoridade sobre o reino natural. Pode simbolizar abundancia e

prosperidade. Exacerbada, luxuria e volúpia. Temos então colocada a importância do nível

de freqüência no qual se manifesta este bonito arcano, exatamente o que tratará o arcano

com que iremos nos relacionar no Julgamento (20).

4. O Imperador

Uma figura imponente, sentada em uma cadeira com algumas cabeças de carneiro, um

manto vermelho, uma coroa, um cetro de poder.

O Imperador sempre mostra a força de uma autoridade em uma determinada área de

atuação. O fato de estar sentado mostra autoridade dentro de um território já conquistado.

Estabilidade, disciplina, ordem, leis, regras e regulamentos são outras expressões atribuídas

a este arcano.

4. O Imperador

[Tarot Waite]

Pode representar também a força controladora do sistema de

crenças dos grupos a que pertencemos, ou a mente coletiva.

Vocês já notaram que muitos destes aspectos citados podem nos

gerar uma sensação de desconforto? Isto porque durante muito tempo

a autoridade tem sido exercida de uma maneira dominadora,

controladora e manipuladora, causando uma serie incontável de

injustiças.

Lembro-me quando certa vez fui ajudar como voluntário no

seminário de um amigo com mais de 100 pessoas, na cozinha. Não

sabia nem por onde começar. Vocês não imaginam a sensação de

alegria e conforto quando uma amiga, também voluntária, como sua

experiência começou a orientar. Naquele momento descobri a

importância de uma liderança que surge naturalmente, decorrente de

uma maior experiência e conhecimento.

Page 9: O Tarô Como Caminho da Vida

Ouvi uma frase significativa outro dia: quando os lideres perdem a vergonha, os liderados

perdem o respeito. Isto é muito verdadeiro. Sabemos que não podemos esperar sermos

respeitados se não aceitamos um principio de justiça. Sabemos que hoje nossos filhos não

farão aquilo que desejamos que façam, se o motivo não estiver claro, esclarecido e

combinado.

Estamos também começando a perceber que não existe autoridade absoluta em nenhuma

área, que possa eliminar nossa capacidade de discernimento e avaliação, nem eliminar nossa

co-responsabilidade. Isto sem deixar de honrar e respeitar aqueles que têm um carisma

natural, ou como dizem os polinésios, detém o “manas”, nem a autoridade dos manuscritos

sagrados e tradições; nem a autoridade do conhecimento cientifico ou religioso; mas nunca

mais de uma maneira incondicional. A lei dos homens tem sua importância, mas existe uma

lei divina maior que chega diretamente a nossos corações, sem necessidade de interpretes

ou intermediários que possam nos fazer qualquer pressão, assim como procuramos não

invadir a liberdade dos outros a partir de nosso entendimento, que pode ser verdadeiro

apenas para nós.

As leis e regulamentos, as regras de transito, os faróis, os dirigentes, as hierarquias, os

coordenadores, facilitadores e lideres de diversos níveis são importantes, mas dentro de

situações e limites específicos e acordados; ou seja, é necessário limite aos limites, e controle

aos controles; e a diferença é a nossa liberdade.Em uma leitura, normalmente indica ordem

e estruturação.

5. O Hierofante

O Hierofante era o líder espiritual das civilizações antigas. Por analogia, pode ser também

chamado de Papa ou Alto Sacerdote. É uma carta de cura, ensinamento e aprendizado

espiritual. É a carta da maestria.

O que vem a ser um mestre verdadeiro? Em primeiro lugar, será completamente

imprevisível, pois estará muito mais solto em relação a quaisquer padrões.

5. O Hierofante

[Tarot Balbi]

Em segundo lugar, não será necessariamente uma pessoa em

sua condição física, podendo se manifestar através de diversas

pessoas, de situações sincrônicas, ou dentro de nós, mas sempre

com o propósito de cura e ensinamento.

Nossa cura fundamental se dará quando percebemos em

profundidade que não somos seres isolados, mas que estamos

sempre vibrando com todo o universo em unidade dentro da

diversidade. A chave de todo processo da maestria se dá no

entendimento firme e consistente da aceleração e desaceleração

dos níveis vibratórios; da capacidade de se sintonizar e se

comunicar com um amplo espectro de focos de consciência e de

conseguir o equilíbrio interno e externo, mesmo em momentos de

grandes pressões e incertezas. Este é um dos motivos de ser

chamado em algumas tradições de coluna do mundo.

Para chegarmos a este nível, precisaremos aprender a lidar com nossas emoções,

libertando-nos de nossos bloqueios psíquicos; que se apresentem na forma de magoas,

rancores, medos, culpas ou obsessões, pois iriam nos desviar de nosso rumo, não nos

deixando em paz para a realização de nosso trabalho. Na carta do Julgamento apresentei

algumas sugestões de como lidar com estas energias.

Quando atingimos um equilíbrio razoável passamos a interagir com uma intensidade muito

maior com as energias fora de nós. Em frente do Hierofante aparecem duas pessoas

ajoelhadas. Uma dessas pessoas seria um mago, aquele que traz dos planos sutis as

materializações e outra seria o sacerdote, aquele que consegue elevar as energias do plano

denso ao sutil. O Hierofante como verdadeiro alquimista que é, consegue trabalhar em todos

os níveis. O tarô mitológico o coloca como Quíron, o centauro que a partir da compreensão

Page 10: O Tarô Como Caminho da Vida

profunda da própria dor curava e ensinava os outros.

O Hierofante consegue trabalhar muito bem com as técnicas de visualizações, com a

imaginação e com as energias que estão no limiar da percepção humana, simbolizadas pelo

arcano da Lua. O mestre resgata e harmoniza nossa bagagem de passado, para a realização

da obra. Invoca as forças de associação e cria os vórtices de manifestação. Sua presença é

sempre instrutiva, embora nem sempre fácil. Catalisa uma nova consciência e nos liberta de

nossas prisões. Solta nossas amarrações e nos protege de nossos inimigos internos e

externos, visíveis e invisíveis. É sempre muito intenso.

Vocês podem ter percebido que o coloquei às vezes dentro e às vezes fora de nós. Ele

pode ser exatamente assim. Está sempre distante e perto. A distancia lhe dá a perspectiva

de visão ou o espaço terapêutico e sua proximidade ns oferece uma incrível sensação de

conforto. Seu olhar tem a profundidade dos tempos, a penetração de uma águia e a ternura

de uma criança. É quem promove os batismos da água e do fogo. Resumindo, é totalmente

demais! É quem cura, quem transforma e catalisa, quem promove as catarses, quem ensina

e quem nos auxilia em nosso despertar. É quem nos traz a aurora.

Em uma leitura comum pode simplesmente mostrar um quadro onde poderemos aprender,

ensinar, curar ou equilibrar uma situação.

6. Os Enamorados

O I-Ching nos aconselha cuidados e atenção com o que nos alimentamos. Inclusive, nos

aconselha a olharmos qual a parte do ser que as pessoas dão mais atenção se quisermos

avaliá-las.

Ao nos alimentarmos, em qualquer nível – física, emocional, mental ou espiritualmente -

um dos primeiros passos, e talvez o mais importante, é o processo da escolha e, também,

da organização. Estou realmente desejando tal experiência? Estou disponível ou minha

energia está presa em algum lugar?

6. Os Enamorados

[Tarot Balbi]

De qualquer, forma é sempre melhor tomarmos uma má decisão,

porém com inteireza, do que estarmos divididos ou não

escolhermos. Em seu saboroso livro João de Ferro, Robert B. conta

como Dom Quixote, na dúvida sobre qual caminho seguir, deixou a

escolha a seu cavalo. Porém, como este estava com preguiça e com

fome, voltaram ao celeiro. Esta metáfora ilustra bem como

podemos ficar parados, ou mesmo regredir, quando não

escolhemos.

Um homem olhando uma mulher, como no baralho do Waite; ou

as mulheres, como no Tarô mitológico, parecem demonstrar a

importância de a parte racional olhar para a emocional, e esta olha

para o anjo, que inspira e abençoa o processo de escolha. No caso

do Tarô mitológico, o herói parece ter sido punido pela escolha feita,

mas, em realidade, qualquer escolha teria um preço, pois haveria

uma parte não atendida.

Afrodite não deixa de ser uma escolha certa quando a beleza é que está em jogo.

Parece-me que todas as vezes que esta carta aparece em uma leitura aponta para uma

oportunidade de escolha, e dá algumas indicações de como proceder, no nível em que está

sendo feita a pergunta. Muitas vezes perdemos tempo e energia tentando adivinhar o que o

outro pensa a nosso respeito; se o negocio vai dar certo ou não; se a resposta vai ou não

ser positiva; e nos esquecemos de nos perguntar o que nós pensamos ou sentimos a respeito,

e o quão seriamente estamos integrados e envolvidos no processo.

O nível de inteireza e comprometimento me parece mais importante do que o resultado,

pois estaremos desta forma desenvolvendo primeiro nosso poder de discernimento e depois

nosso poder de realização; contra nunca sabermos com certeza; além de nos tornarmos

fracos e inseguros quando não exercemos nosso poder de escolha ou deixamos que outros o

façam por nós. Isto acontece mesmo quando fazemos uma escolha da qual nos

arrependemos, pois garanto que nunca mais esquecemos um mau passo dado, pelo qual nos

Page 11: O Tarô Como Caminho da Vida

responsabilizamos; onde se de um lado passamos por um grande e profundo aprendizado,

de outro estaremos com nossas energias intactas para as reformulações e redirecionamento

dos planos.

A visão popular de encontrar um namorado ou uma namorada, ou de escolher entre o

certo e o errado a meu ver é um pouco limitada e incompleta, sem necessariamente ser falsa.

Sintetizando: quando estivermos nos aproximando de uma decisão, como é o caso deste

arcano, primeiro deveremos avaliar com nossos sentimentos e motivação, depois com nossa

razão procurar indicações e inspiração; a seguir, deveremos agir renunciando ou abrindo

mão de alguma coisa, que seria outra alternativa; e, ainda, deveremos acompanhar os

resultados com tranqüilidade e confiança, podendo eventualmente reiniciar o processo de

decisão à medida que formos adquirindo experiência.

7. O Carro

Após o muitas vezes difícil e estressante processo escolha, estaremos prontos para agir.

Existe um tempo para procurarmos orientação e para refletirmos e existe um tempo para

agirmos e trabalharmos. Vemos no Carro uma figura guerreira, em uma carruagem, com

uma cortina de estrelas, um cetro, puxada por dois cavalos ou esfinges, de cores branca e

preta.

7. O Carro

[Tarot Balbi]

Podemos considerar que a cortina de estrelas representa nossas

idéias, o cetro representa uma ferramenta de concentração e

irradiação de força e energia, a carruagem representa nossas

qualidades e habilidades, a armadura representa o corpo de

conhecimento e os cavalos ou esfinges representam aquilo que nos

motiva ou impulsiona.

É uma carta de conquista de novos territórios e de expansão

de nossa realidade. Este arcano nos auxilia em nosso processo de

co-criação.

Sabemos hoje que nossas formas mentais têm uma força de

construção, desde que nossos bloqueios estejam trabalhados e que

as forças contrárias sejam neutralizadas ou contornadas.

Não adianta apenas imaginarmos e observarmos os sinais,

precisamos agir quando é chegado o tempo. Somos puxados pelos

nossos desejos e crenças, simbolizados pelos dois animais.

A armadura de nosso conhecimento nos protege. O cetro mostra o poder que emanamos,

seja magnético ou irradiante.

Vamos construir um mundo melhor.

Quando pensamos no numero sete, podemos pensar nas cores de um arco-íris, a ponte

entre o profano e o sagrado; podemos pensar nas sete notas musicais, sentindo a musica da

criação; nos sete chacras, possibilitando a viagem de nossa consciência pelas diversas

dimensões da experiência. E assim vamos vivendo, nos movimentando e expressando nossos

seres.

8. A Justiça

Uma dama sentada, com uma roupa vermelha, entre duas colunas, com uma balança de

dois pratos em uma das mãos e uma espada na outra. Pode ser considerada uma carta que

busca o equilíbrio e a integração de polaridades nas relações de todos os níveis.

Page 12: O Tarô Como Caminho da Vida

8. A Justiça

[Tarot Balbi]

Sempre que procuramos avaliar ou interagir com uma pessoa ou

uma situação, o fazemos a partir de um sistema de crenças, de

expectativas que alimentamos e daquilo que valorizamos. Esta

modelagem ou programação pode ser considerada um dos pratos

da balança em nosso arcano.

A balança serve para medir e pesar e as balanças de dois pratos

tinham em um dos lados, pesos que serviam como modelo e no

outro era colocada a mercadoria avaliada, procurando chegar ao

equilíbrio entre um e outro, procurando o justo, no sentido de

ajustado ou sintonizado. Podemos nos lembrar também que na

procura do equilíbrio às vezes se aumentava ou diminuía a

mercadoria (atuação assertiva sobre nossas experiências, através

de uma atuação limitadora ou liberizadora, conforme o caso) e em

outras se modificava o peso (redimensionando nossas expectativas,

nossos sistemas de valores ou nossa programação).

No símbolo é a espada que processa estas diversas modificações, que simboliza nossa

mente, nosso discernimento e nossos decretos. As colunas mostram que este trabalho se

processa em diversos planos, como no nível físico, sexual, emocional e mental.

Tive uma vez uma experiência que me ampliou bastante a idéia deste arcano: fui conduzir

um trabalho, juntamente com outros profissionais, em uma chácara perto de São Paulo, ao

lado de uma pedreira. Chegamos á noite, no dia anterior do inicio do trabalho. Não conseguia

dormir; tinha a nítida sensação que havia serezinhos agitados e bem pequenos que não

queriam me deixar em paz. De repente, ouvi nitidamente uma voz dizendo: Cuidado! Ele é

um dos justos! O outro respondeu, satirizando-o: Só se for justo para os animais! Ficou claro

para mim que não tinha me harmonizado com a energia da casa e que me consideravam

uma espécie de invasor; e também que os justos bíblicos eram aqueles seres integrados e

sintonizados, considerados a coluna do mundo.

Os acordos e pactos são importantes para que possa haver boas trocas de energias, assim

como a coragem de romper acordos que deixaram de ser justos, aceitando o preço do

rompimento. Não por acaso, na oração do Cristo, clamamos ao Pai pela liberação de nossas

dividas cármicas, assim como nos comprometemos a liberar a nossos devedores, desta forma

nos livrando de miríades de laços que nos aprisionam, independentemente do lado que

ocupamos. Sintetizando, a Justiça representa o equilíbrio, a justa medida em todas as

relações e trocas de energias; até onde pode ir à liberdade e onde deve haver limites; até

onde podemos ceder às expectativas e vontades dos outros em relação a nós e onde devemos

ser firmes para que nosso espaço seja respeitado, da mesma forma que estaremos

procurando respeitar os espaços dos outros. A maestria da força deste arcano é muito

importante para que se estabeleçam as corretas relações humanas e planetárias, por mais

difícil que seja.

9. O Eremita

Um ser idoso, andarilho, com um cajado e uma lanterna. É aquele que busca a verdade

das coisas lentamente, porém com firmeza e perseverança. Sabe esperar. Sabe subir a

montanha, olhando o mundo com uma perspectiva mais ampla. Perguntaram a um sábio

sobre uma verdade que se aplicasse a qualquer situação, e ele respondeu com simplicidade:

– Isto também passará.

Muitas vezes nos perguntamos sobre o sentido da vida em um sentido geral e de nossa

experiência de uma maneira particular

Page 13: O Tarô Como Caminho da Vida

9. O Eremita

[Tarot Balbi]

Sentido tem a ver com direção, propósito e significado. Tem a

ver com padrão de redes. Existem algumas posturas filosóficas que

conduzem a determinadas visões: uma diz que tudo que existe é

vontade de Deus e que tudo o que nos resta é aceitar seus decretos

através de seus representantes; outra nos diz que a história

humana segue algum curso inexorável, baseado em um processo

dialético de atividade humana; outra linha afirma que tudo é ilusão,

e que devemos procurar o espaço interior; outra nos afirma que é

o homem que forja seu destino e que deve lutar por ele com

tenacidade; outra nos afirma que nada tem sentido e, por isto,

temos que procurar viver o momento pelo momento, pois a vida é

uma só; outra, ainda, nos diz que devemos, sim, viver o momento,

não porque não existe um sentido, mas, sim, porque só poderemos

contar com o presente para nossa ação; estas entre muitas outras

correntes.

Podemos visualizar estas linhas em dois grandes grupos: um grupo enfatiza a importância

do esforço humano na criação de seu destino e outro enfatiza a importância do

reconhecimento, aceitação e adaptação de situações pré-estabelecidas ou de poderes

exteriores a ele mesmo. Todas têm uma parte da verdade.

O Eremita é um grande pesquisador. Com a luz da lanterna de sua consciência; com o

cajado de seu poder sobre o físico, emocional e mental; caminha incansavelmente por todas

as verdades, sem negar a nenhuma, mas sem aceitar cegamente a nenhuma, pois a luz única

está decomposta em múltiplas cores; e a verdade única refletida em miríades de focos da

consciência.

O Eremita procura por todas as substâncias brutas para encontrar as verdadeiras jóias,

sem nunca se esquecer que existem jóias de diversos matizes, como também impurezas das

mais diversas ordens. A prova dos nove fora, lembrando-nos que nove é o número do

Eremita, procura tirar todas as roupagens de um número para que ele mostre sua natureza

essencial. Esta é a força do conhecimento.

Por exemplo, nasci em 4 de 9 de 1949, 4 + 9 + 1 + 9 + 4 + 9 = 36; 3+6 = 9, portanto

meu número de trabalho é 9 nesta vida.

Quando o rei Arthur adoeceu depois de ter sido traído e renunciado à sua espada ou

vontade de lutar, os cavaleiros saíram em busca do Santo Graal, que poderia curar o rei e

restaurar o reino. De certa maneira, cada cavaleiro encontrou seu caminho nessa busca. O

caminho, a busca e o encontro são todos importantes, e isto em diversos reinos e mundos,

pois muitas são as moradas do Pai. Com Arthur em Avalon, podemos nos credenciar à espada

junto com a dama do lago. O reino está novamente afligido, invadido, e o verdadeiro Reino

dos Céus deve ser restaurado neste plano. Só que, desta vez, Arthur irá se fundir com Merlin,

seu eu superior.

Quando o Eremita sai em uma leitura, indica que o processo em questão caminha, porém

com lentidão; e que devemos olhar com atenção para separar o joio do trigo. E, também,

que quando aprendemos bastante, temos o dever de ensinar para que o conhecimento não

se deteriore e não se volte contra nós.

10. A Roda da Fortuna

A Roda da Fortuna mostra, em primeiro lugar, uma roda ou um círculo. É aquilo que gira

e se movimenta, com seus altos e baixos, com suas diversas experiências relacionadas e um

determinado tema de nossa vida. No início de cada processo muitas vezes não sabemos

muito bem para onde estamos nos dirigindo. Muitas vezes cheios de esperanças e

expectativas, mas também alimentando muitas ilusões. No período representado pela Roda

da Fortuna, já não podemos alegar inocência.

Page 14: O Tarô Como Caminho da Vida

10. A Roda da Fortuna

[Tarot Balbi]

Muitas vezes ficamos presos a determinadas situações, com

padrões de altos e baixos que se repetem inúmeras vezes. Podemos

chamar este aspecto de círculo vicioso ou rodar em círculos.

Acontecem em inúmeras situações, nos mais diversos tipos de

relações. De outro lado, podemos observar também que temos

círculos de amigos, as diversas formas de associações e

agrupamentos, que podem ser entendidos como círculos ou, ainda,

completar um processo em nossas vidas, quando encerramos ou

realizamos alguma coisa depois de uma geralmente longa história.

Podemos entender, ainda, um círculo como uma idéia de perfeição

e equilíbrio, e a alquímica quadratura do círculo procuravam unir o

transcendente com o mundano, à semelhança do trazer o reino dos

céus à Terra dos templários.

Quando aparece este arcano, podemos estar certos de que

estamos em um momento de conclusão.

Será que encontramos o que esperávamos e, por isso, nos sentimos realizados e dispostos

a continuar neste caminho? Ou será que perseguíamos uma ilusão, um fogo-fátuo, e tivemos

uma verdadeira tomada de consciência de que é melhor seguir um outro caminho?

No início de qualquer atividade humana, raramente temos uma boa noção para onde

estamos nos dirigindo e com o que teremos que lidar. Isto não acontece quando somos

experientes. Mas mesmo a experiência deve ser invocada com cautela, para não ficarmos

presos ao passado.

Podemos então fechar uma Gestalt, podemos perceber: é isso aí!

Até certo tempo atrás, achava que a Roda da Fortuna estava invariavelmente ligada ao

sucesso e à realização. E, de fato, uma visão clara não deixa de ser uma forma de realizações,

mas o fato é que nem sempre bate com nossas expectativas iniciais. Um sinal disto, no

baralho de Waite, é que os seres nos cantos parecem meio etéreos, não totalmente formados,

enquanto que no Mundo os mesmos seres já estão plenamente formados. É interessante

também notar que eles estão lendo um livro, como se estivessem ainda aprendendo.

Neste estado de nosso desenvolvimento já podemos ter a compreensão de que tudo que

percebemos em nosso exterior tem alguma coisa a ver com nossos estados interiores.

Enquanto que, no Mundo, podemos com maior facilidade exercer nossos poder radiante,

fazendo com que o exterior responda às nossas disposições interiores.

Existe mais uma indicação importante neste arcano: pode ser um bom momento de decisão

ou de uma resposta bem aguardada. Podemos sair do círculo; podemos completar o que

tínhamos começado; uma resposta virá de uma maneira ou de outra; ou podemos continuar

neste caminho, com maior consciência. Está em nossas mãos.

11. A Força

Se refletirmos um pouco, todos os arcanos expressam algum tipo de força. O Mago

expressa a força da criatividade; a Alta Sacerdotisa a força da sensibilidade e compaixão; a

Imperatriz a da natureza; o Imperador a da autoridade racional; o Hierofante a espiritual e

de cura; o Enamorados das decisões; o Carro a força de conquista de novos espaços; a

Justiça do equilíbrio nas relações; o Eremita a da busca; a Roda da Fortuna a de completar

um ciclo; do Enforcado da doação, dedicação e sacrifício; a Morte da transformação; a

Temperança da harmonização; o Diabo do desejo intenso; a Torre da liberação; a Estrela da

revelação e inspiração; a Lua da imaginação e de nosso arquivo emocional; o Sol de nossa

auto-expressão; o Julgamento da aceleração de freqüências, o Mundo de nossa obra e o

Louco de nossa entrega e total desprendimento.

Por que, então, um arcano específico que fala da força? Simplesmente porque mostra

como acessar qualquer força que se faça necessária na circunstancia considerada.

Page 15: O Tarô Como Caminho da Vida

11. A Força

[Tarot Balbi]

Alcançamos a Força ao conseguirmos harmonizar e integrar

nossos desejos, nossas emoções e nossa mente com a energia de

nossa alma.

Uma personalidade integrada pode se abrir como uma flor de

lótus à energia divina. O ego pode ser entendido como um foco

aglutinador de nossas identificações que poderíamos chamar de

complexo de identidade, com a função inicial de simplesmente

sintonizar e ajustar o fluxo de nossas disposições internas com as

condições externas, uma espécie de termostato psíquico.

Evidentemente, ele ultrapassou de muito os limites da função para

que foi criado, surgindo daí o sentimento de separação, pois sua

função é justamente comparar tudo com tudo, perceber as

diferenças (o que continua fazendo muito bem), para depois

procurar equalizar (o que tem procurado fazer por diversas formas

de manipulação), o que se não for feito dentro do principio do amor

e do respeito à toda criação, gera desarmonia e isolamento.

Houve uma tomada de consciência de que isto precisaria ser equilibrado e as antigas

escolas e centros de formação religiosos e militares procuravam disciplinar o ego através da

quebra da vontade, a qualquer custo. Não foi uma idéia muito boa. Até hoje podemos

perceber estas atitudes na maneira como ainda muitos educam suas crianças, como a maior

parte das pessoas domam seus cavalos (com saudável exceção das escolas de equitação

modernas, onde pode se perceber que os cavalos são extremamente sensíveis e cooperam

muito mais quando tratados com suavidade e equilíbrio), e nas diversas formas de

manipulação através da disciplina rigorosa e culpa.

Esta atitude é simbolizada por Hercules que matava o leão da Neméia, ou São Jorge

matando o dragão da Lua. Hoje, felizmente, não mais precisamos matar o leão ou o dragão.

Podemos apenas orientá-los, como a suave dama com o infinito em sua cabeça que

delicadamente repousa suas mãos na boca do Leão; ou o menino que monta o dragão celeste

na “Historia sem Fim”. Esta é a melhor maneira de desenvolvermos nossa criatividade e

força, amadurecer nosso sentido de pessoalidade, e orientarmos nossas crianças internas e

externas de uma maneira muito mais natural e saudável, sem traumas e criando condições

e dando suporte para o pleno florescimento de cada ser.

Hoje podemos perceber que a antiga maneira tornava os seres demasiadamente passivos

ou perigosamente rebeldes; perdiam o brilho e se tornavam neuróticas e o aspecto natural

ou selvagem era reprimido e suas manifestações satanizadas, isto é, excluídas de qualquer

possibilidade de aceitação e integração.

O mal foi projetado nas bestas, nos marginais, nos loucos, nos inimigos de diversas ordens,

criando um grande desserviço à consciência de que trabalhamos em rede, e o que afeta uma

parte, afeta a todas, e o que negamos em algo ou alguém, negamos também em nos mesmos

e a nos mesmos. Todos e tudo são nossos outros eus, e é chegado o momento de abraçarmos

qualquer realidade, e então, só então, nos movimentarmos criativamente e prazerosamente

de acordo com nosso intento, que é nossa verdadeira força.

Estamos começando a mudar. Estamos começando a nos relacionar de uma maneira mais

humana com nossos animais e a entendê-los melhor; está começando a haver uma maior

ênfase na criatividade, motivação e vocação; estamos revendo os conceitos de insanidade,

inclusive revalorizando os estados alterados de consciência, deixando de taxar

automaticamente como patológico muitas de suas manifestações, estamos começando a

rever nossa relação com a Natureza. Estamos apenas no inicio de uma revolução aquariana

de consciência, como já podemos percebê-la.

Agora estamos prontos para o viver e deixar viver, trabalhar nossa auto-expressão em

perfeita sinergia com nossa consciência de grupo. Astrologicamente isto tem muito a ver com

o eixo Leão-Aquário.

12. O Enforcado

Page 16: O Tarô Como Caminho da Vida

Uma pessoa pendurada em uma arvore por um pé, o outro pé cruzado, em uma posição

claramente não confortável, porem com uma expressão tranqüila. Uma carta de dedicação e

sacrifício, e a luz em sua cabeça mostram que na maioria das vezes por altos ideais.

12. O Enforcado

[Tarot Balbi]

Existe uma parábola na Bíblia que ao explicar aos discípulos a

noção de próximo, teria o Mestre dado o exemplo de uma viajante

à beira da estrada em dificuldades. Teriam passado diversas

pessoas, de diversos níveis sociais e culturais, até alguém ter

parado e prestado ajuda. Este é o próximo.

Quando procuramos ajudar alguém, a primeira pergunta que

devemos nos fazer é se esta ajuda está dentro de nossos limites,

pois se não estiver a nossa cobrança poderá ser alta. Existe uma lei

cósmica que o Universo nos devolve aquilo de doamos

generosamente, mas isto é verdadeiro apenas sobre a energia que

realmente dispomos e não sobre aquela que está comprometida de

alguma forma. A segunda pergunta que podemos nos fazer é se

esta ajuda será suficiente, em primeiro lugar; e em segundo, se

não criará uma relação de dependência.

Muitas vezes nos perguntamos do que adianta procurarmos ajudar os necessitados, pois

não passa de uma gota d’água no oceano. Gosto de me lembrar do relato daquele senhor

que, em uma praia repleta de estrelas do mar que não tinham acompanhado a maré, havia

um menino que as jogava no mar. Ele comentou: “Mas são muitas! O que adianta este esforço

se muitas ficarão de fora?” Ao que o menino respondeu: “Pelo menos estou fazendo minha

parte.” Conta o relato que a partir daquele momento, os dois passaram a devolver as estrelas

ao mar.

Outra justificativa que freqüentemente fazemos é que está tudo tão difícil que não temos

nenhuma sobra de energia para ajudar alguém. Não é verdade; sempre temos alguma sobra

em algum nível. Pode ser tempo, conhecimento, atenção amorosa, cura psíquica, alimentos,

dinheiro, contatos, aconselhamento, trabalho voluntário, companhia, e inúmeras outras

formas. Se não conhecermos ninguém que não estiver necessitado do tipo de energia que

podemos oferecer, podemos procurar neste mundo carente alguém que estará.

Outra duvida que nos ocorre é se a pessoa estará falando a verdade ou não. Poderemos

nos dar ao trabalho de investigar; se a pessoa estiver pedindo ajuda para comprar remédio,

porque não ir até à farmácia e comprar? Se a pessoa estiver mentindo, simplesmente não

nos acompanhará. Se for um empréstimo, que esteja dentro de nosso limite, e se ela não

cumprir o prometido, simplesmente não abriremos novo crédito. O mercado financeiro nos

cobra taxas extorsivas de intermediação, e será muito bom se conseguirmos em algum de

nossos serviços profissionais, e não puder acompanhar nossos preços, podemos facilitar ou

reduzir o pagamento para esta pessoa especifica. E como saber que esta pessoa não tem o

espírito de “levar vantagem em tudo” ou está desvalorizando nosso trabalho? Podemos sentir

o que faz parte da força deste arcano e mostrar nossos limites.

Existe muito a fazer e muitas soluções a serem encontradas. Se muitos começarem a fazer

o máximo dentro de suas possibilidades e meios, sem esperar pela ação dos outros, e

começarem imediatamente, sem os diversos “se acontecer isto ou aquilo, então aí sim...”,

será o suficiente para mudar o mundo. Devemos começar a resgatar nossa responsabilidade

com o planeta e nosso próximo a partir das condições atuais e não esperar por situações

ideais, que nunca chegarão se ficarmos parados.

Quando este arcano sai em uma leitura, nos mostra uma situação de sacrifício e sempre

devemos nos perguntar se queremos ou podemos entrar nessa situação. Astrologicamente

falando, parece representar o eixo Virgem/Peixes. A Força ao lado do Enforcado nos mostra

que podemos, sim, nos dedicar aos outros, desde que tenhamos a força suficiente para entrar

e sair da situação de forma que o sacrifício não seja excessivo. Mostra também que quando

estamos fortes estamos prontos para nos doar aos outros. É a idéia da proximidade.

13. A Morte

Page 17: O Tarô Como Caminho da Vida

Entre o termino de um ciclo e o início de outro, existe um espaço que pode ser chamado

momento de passagem ou de transformação profunda, simbolizado pelo arcano da Morte.

Em nossos processos normais, sempre temos alguma coisa a fazer, resolver, ou mesmo

nos preocuparmos.

13. A Morte

[Tarot Balbi]

Nos momentos de transformações, como da ocasião de uma

perda importante, de um fechamento de qualquer ciclo como o

termino da faculdade e antes de encontrar um emprego; no período

de adaptação logo após um casamento ou uma separação; no

momento de ser despedido; no conhecimento de uma doença grave

nossa ou de alguém extremamente próximo; situações em que nos

sentimos totalmente desamparados, impotentes e fora de controle

das coisas, muitas vezes não existe nada a fazer.

O desafio é justamente entregarmos-nos e confiarmos no vazio

da transformação, onde poderemos atravessar uma verdadeira

revolução de consciência e sairmos regenerados e engrandecidos,

prontos como bebes para a nova fase, ou, ao contrario, com uma

grande perda de energia psíquica quando nos fixamos em nosso

medo e dor.

Nossa cultura trabalha mal a sensação de vazio, o medo e as incertezas; e assim

normalmente temos muita dificuldade em atravessar estes períodos, sentindo-nos solitários,

infelizes e perdendo uma enorme energia psíquica. O ciclo completo é vida, morte e

renascimento. Saímos de uma experiência, passamos por uma profunda transformação e

entramos em um outro ciclo de experiências.

Existem diversos símbolos na Natureza que representam esta transição, como por

exemplo, as seivas (energia vital) das plantas descem para as raízes (fundamentos) no

inverno, tirando a energia das folhas e galhos, sendo um bom período para a poda dos galhos

que estão mais fragilizados, que são muitas vezes aqueles que mais produziram no ultimo

ciclo. Na primavera as energias voltam à expressão com toda força. Quando um ser humano

se identifica ou fixa-se em demasia com o que perde, assemelha-se a cortar um galho com

seiva, quando há perda real e não apenas aparente de energia.

Temos nestes momentos que aprender a nos recolhermos à nossa essência, passarmos por

uma profunda reflexão simbolizada pelo vazio ou fogo da transformação, e à semelhança de

Phoenix, o pássaro mítico, renascermos de nossas cinzas.

Outro símbolo é a lagarta que se transforma em borboleta. Durante o tempo de lagarta

ela provoca muito mais destruição do que construção. Durante sua fase de borboleta, com

sua função de polinização, ela repõe com folga o que destruiu, alem de irradiar beleza e

harmonia com suas cores e ensinar a confiança radical na existência, entregando-se ao sabor

do vento.

A lagosta muda de tempos em tempos de casca, quando de recolhe em uma toca, e apesar

de vulnerável é quando se prepara para uma nova fase de crescimento.

Como fomos acostumados a controlar todas as situações, nos sentimos muito aflitos quando

entramos em uma fase de incertezas. Porém é exatamente nestes momentos que podemos

dar enormes saltos de consciência. Se estivermos centrados, procurando o silencio interior e

em comunhão com nossa alma, saímos destas experiências, transformados, como um novo

ser. Recebemos a benção do Graal, como no mito dos cavaleiros da Távola Redonda.

Todos os xamãs nos ritos de passagens encontram a experiência da quase morte, que é

a entrega à Força Maior. Na experiência do Graal, o ultimo passo é sobre o abismo, a noite

escura da alma, aonde eventualmente chegamos a desenvolver a confiança radical. São

muitos os que desistem neste momento, e precisam começar tudo de novo. Na Cabala, a

misteriosa esfera de Daath pode ser considerada o teto do inferno e o chão do paraíso.

Existe ordem até no aparente caos. Não precisaria ser tão doloroso, o que torna este

processo tão doloroso são nossos apegos. No Tibet existe toda uma tradição de como lidar

Page 18: O Tarô Como Caminho da Vida

com estes momentos, chamado de Bardo, e passam toda uma vida preparando-se para isto.

Na prática quando temos uma sensação de vazio, perda, medo ou pânico, o caminho é

não tentar controlar, resolver ou mesmo entender esta situação, pois nenhuma de nossas

funções emocionais e mentais consegue operar neste nível de freqüências, mas abrirmos-

nos para a Presença divina, Shekina, através da entrega total.

Por enquanto vocês podem receber estas idéias como sugestões ou hipóteses de trabalho,

mas garanto que muitos já têm esta experiência assimilada. Quando uma pessoa consegue

operar neste nível, sua presença torna-se fortemente magnética e curadora.

Quando no Tarô sai a Morte, dificilmente é uma grande morte, mas talvez uma das

centenas ou mesmo milhares de transformações e mudanças que acontecem em nossas

vidas, todas potencialmente importantes e reveladoras. Nosso planeta está também

atravessando um destes períodos e por isso todos são afetados fortemente por esta

experiência.A Roda da Fortuna junto com a Morte nos ensina que encerrado um ciclo

podemos nos entregar ao período do vazio da transformação, ao fogo criador, conservando

apenas a Presença, sabendo que a Vida, ressurgindo das cinzas, mas uma vez virá em todo

seu esplendor.

14. A Temperança

No Tarô existem três arcanos que estão diretamente relacionados com o equilíbrio: o

Hierofante, a Justiça e a Temperança.

No Hierofante, o equilíbrio vem através da maestria sobre os cinco elementos, com a

conseqüente integração do físico, emocional, mental e energia motivacional pelo espiritual,

permitindo, dessa maneira, a cura e expressão em diversos níveis.

14. A Temperança

[Tarot Balbi]

No arcano da Justiça, o equilíbrio se dá através do muitas vezes

difícil ajuste nas relações, trabalhando-se desta forma as crenças,

expectativas, limites, resistências e experiências. É um processo

dinâmico e intenso.

Na Temperança, o equilíbrio chega junto com a paz e harmonia.

Traz, sempre que aparece em uma leitura, a indicação de que

haverá uma ordem, que tudo estará bem, que podemos nos

tranqüilizar ou, simplesmente, nos sugerindo umas férias ou um

repouso. Poderemos nos abrir ao poder curativo do Universo.

Em tempos muito antigos, que fugiram à memória do homem

atual, existia uma ordem natural em que o alto vibrava em

ressonância com o baixo, onde a experiência da criação se fundia

com a do Criador, em que a Vontade do Pai atuava na Terra como

nos Céus.

Esse equilíbrio, porém, foi rompido no aspecto lunar da experiência humana, ameaçando

o aspecto solar.

Como verdadeiramente havia o perigo de contaminação, a Terra foi colocada em uma

espécie de quarentena, abaixando sua vibração através, primeiro, de uma barreira de

freqüência e, finalmente, através de uma desconexão de uma rede de energia planetária e

humana, chamada de rede axial nos humanos. Esta etapa final foi catalisada por um grupo

de mestres ancestrais de uma civilização que deu origem aos maias, há cerca de 12.000

anos, deslocando também o eixo da Terra.

Agora, este mesmo grupo está presente para reativar as linhas, e esta reconexão é um

processo que se dá em diversas dimensões, em direta sintonia com a atenção do Criador e

afeta a tudo e a todos. Estamos nos dirigindo do isolamento para a união. Isto estará sendo

possível porque descobrimos o antídoto para toda a negatividade, que é oferecer um abraço

amoroso, inclusive para o negativo ou o que nos causa dificuldades. Assim, nossa luz não se

entristece. Somos seres de feixes luminosos, inicialmente flexíveis e interativos, por uns bons

tempos rígidos e secos, e partir desta nova compreensão nos dirigindo novamente a um

estado de fluidez e harmonia.

Page 19: O Tarô Como Caminho da Vida

Hoje sabemos que poderemos atravessar situações extremas sem perder a esperança

quando conseguimos manter uma visão do processo. Esta visão vem da confiança e certeza

de que em algum tempo, em algum lugar, tudo estará certo. A Temperança nos mostra como

nos sintonizar com esta energia agora e encontrarmos a confiança e a paz, a verdadeira paz.

Alguns guias nos falam que este é o verdadeiro encontro de nossos seres passados com

nossos seres futuros no foco do agora, em termos de freqüências e energias, simbolizado

pelo fluído que percorre as taças seguras pelo anjo.

No símbolo, no baralho de Waite, poderemos perceber um disco solar na cabeça do anjo,

revelando sua conexão com o eu superior; um triângulo no peito, um símbolo de integração

que um de meus guias, muito ligado a um dos aspectos da Mãe, me sugere que também

pode significar paz, amor e harmonia; o lago e a terra, o racional e o emocional; flores

amarelas, simbolizando o plexo solar; a montanha da aceleração das freqüências e, são claro,

os cálices, trazendo o encontro do passado com o futuro através do presente, formando um

símbolo que lembra o signo de Aquário.

O Eremita junto com a Temperança nos mostram que só tem sentido o esforço da busca

em harmonia com a arte do encontro. Existem muitos buscadores abnegados que nunca se

permitem perceber que o verdadeiro lar é exatamente o lugar e o momento em que estão,

a base orgânica de sua presença.

15. O Diabo

Quantos não estiveram envolvidos em situações de desejo intenso, ficando cegos para

qualquer fragmento de razão? Quantas vezes não ficamos tão preocupados e ansiosos que

ficávamos atormentados por imagens terríveis? Quantas vezes já sufocamos ou fomos

sufocados? Quantos já sofremos pelas dores do amor? Mas, Deus e de nossos momentos de

quase genialidade criativa, de nossos momentos absolutamente mágicos, dos encantos de

nossos animais internos, de nossa força selvagem, de nossos maiores aventuras, de nossa

total falta de limite?

Cavalgar o dragão voador é nossa maior aventura e nosso maior risco.

15. O Diabo

[Tarot Balbi]

Todos os arcanos têm uma raiz divina e o Diabo não foge à regra.

Só que durante muito tempo, tempo demais, sua força foi mal

usada. Quer por ter sido mal usada como poder manipulador e

obsessivo, escravizando grande parte da humanidade, quer por ter

sido banido e anatemizado, tornando-se muito mais perigoso. Não

acensionaremos sem integrarmos nossa sombra, pois ela tem a

chave de nosso poder. Podemos nos lembrar que sua face mais

escura está nos olhos dos que julgam.

Não é uma energia a ser negada, mas não devemos nos

descuidar. É aconselhável lidarmos com cuidado, como de resto

todas as forças verdadeiras.

Podemos pensar que a expressão crística “vade retro, Satã”,

“para trás, Satanás”, signifique de fato um decreto para que se

coloque atrás dos passos crísticos e não que desapareça. É muito

mais uma questão de essência e forma, centro e periferia do que

de banimento.

No mito de Prometeu, assimilado a Lúcifer, por Blavatsky, este foi acorrentado à rocha,

um dos símbolos da materialidade regido por Saturno e por Satã, seu aspecto-sombra; não

tanto por ter trazido o fogo dos deuses aos homens mas, antes, por ter faltado com a medida

ou equilíbrio. Podemos nos lembrar que, de dia, ele tinha seu fígado comido por uma ave de

rapina, mas, à noite, se curava, podendo sugerir que em dimensões superiores sua energia

mantinha sua conexão divina; e em uma das vertentes do mito foi libertado por Quíron, em

heróico e amoroso ato de sacrifício, quando ocupou seu lugar. Se a energia do amor ocupa

nossos corações, eventualmente a energia da serpente pode ascender, depois de ter sido

condenada, por tanto tempo, a se arrastar pelo chão.

Quando aparece em uma leitura, sugere uma energia muito intensa que precisa ser cuidada

e equilibrada com muita atenção para que não seja destrutiva.

Page 20: O Tarô Como Caminho da Vida

A Justiça e o Diabo nos mostram que se, de um lado precisamos de equilíbrio e harmonia

para lidar com nossos fogos internos, de outro muito equilíbrio sem energia não nos leva a

lugar algum. Podemos ter uma imagem de um cavalo muito fogoso que, se de um lado não

podemos prender completamente as rédeas para não empinar, de outro não podemos soltar

totalmente as rédeas para que não dispare, pois cairíamos de uma forma ou de outra. O

cavalo irá sempre nos testar, mas quem está conduzindo quem?

16. A Torre

Uma torre sendo atingida por um raio que lhe arranca o topo coroado; duas pessoas, o

senhor e o servo caindo. Destruição de nossos projetos que já cumpriram suas funções ou

não atingiram força cinética de sustentação; decepções e queda de nossas fantasias sem

base real; liberação de nossos bloqueios e abertura de nossas defesas, mudança de

paradigmas.

Muitos procuram se proteger isolando-se em uma torre de marfim. Ou procuram se apoiar

excessivamente em um relacionamento ou projeto de vida, ou procuram isolar-se para evitar

contatos pelo medo do sofrimento e incertezas.

16. A Torre

[Tarot Balbi]

Nossa alma parece uma criança, não gosta de coisas paradas ou

estagnadas. Se nos falta a habilidade ou disposição para

continuamente oferecermos ou até mesmo reconhecermos novos

projetos que possibilitem uma expressão de nossos seres interiores,

nossa alma pode se desinteressar pela brincadeira, retirando sua

chama, ou, muito melhor, provocar uma mudança dramática no

jogo, criando com este choque pelo menos uma oportunidade

razoável para nosso despertar.

Quer estejamos conscientes ou não, temos um compromisso com

o Criador, de focalizarmos nossas melhores energias na

concretização de nossos sonhos que estejam alinhados com a

energia do Centro. O resultado até importa menos do que nossa

energia projetada, pois em algum tempo, em algum lugar, ela irá

aterrissar, se for firme, intensa e radiante.

Mas, para tanto, precisaremos encontrar coragem e desprendimento para nos soltarmos

de nossos bloqueios e amarras, liberando-nos muitas vezes de situações viciosas.

Normalmente é bastante difícil aceitarmos as perdas, as mudanças e decepções; mas é

sempre importante para que possamos estar preparados para novos passos sem a escravidão

do passado. O raio é uma energia dinamizante e libertadora do passado; é uma energia que

vem dos céus. Tenhamos este reconhecimento, por mais destruidor que pareça. Ao lado de

seu aspecto destruidor, traz a semente do novo.O Carro junto com a Torre sugere a libertação

e destruição de antigos padrões e manifestação do novo.

17. A Estrela

Dos pontos que recebemos maior quantidade de impressões, os mais próximos e diretos

são o Sol e a Lua. Mas quem já não ficou maravilhado com a beleza de uma noite estrelada,

com a sensação de imensidão, de profundidade e de unidade? Nesses momentos, parece

claro que o Universo canta e, se estivermos bem abertos, poderemos receber uma

mensagem.

Page 21: O Tarô Como Caminho da Vida

17. A Estrela

[Tarot Balbi]

Imagine que...

...de toda esta imensidão, em perfeita harmonia exista um ponto,

talvez apenas uma estrela, que seja um foco de conexão maior.

...que este ponto seja o foco orgânico de manifestação de nosso

Espírito...

...que haja um grupo, talvez um pequeno grupo de estrelas,

eventualmente apenas oito, que seja o foco de nossas almas

companheiras, visíveis e invisíveis...

...que a todo o momento recebemos orientações, intuições,

direcionamentos, padrões de freqüências, sendo apenas necessário

que possamos nos abrir e permitir este contato.

Este arcano mostra uma mulher despida, com um pé no lago e

o outro em terra firme, com dois jarros derramando um líquido; um

jarro sobre a água, que derrama uma quantidade maior e outro que

derrama uma quantidade menor sobre a terra.

Podendo imaginar que a água representa nossas emoções e a terra nosso lado racional,

poderemos ver que a intuição alimenta com maior abundância nossos sentimentos, emoções

e imaginação, desde que estejam tranqüilas como um lago; mas também derrama energia

no lado racional. As estrelas mostram as conexões cósmicas.

Uma pergunta que me fazem sempre é como poderemos perceber se é uma intuição real

ou uma ilusão a impressão que nos chega. Bem, a resposta final será quando conseguirmos

perceber a assinatura de freqüência daquela idéia, que é uma sensação muito sutil de leveza,

confiança e certeza internas.

Enquanto isso poderemos confiar em nossos sentimentos temperados por nossa razão,

procurando passar por um processo de aceleração, como indicado na carta do Julgamento.

Quando aparece a Estrela em uma leitura, ela nos mostra que poderemos confiar naquele

caminho, naquela idéia ou no que aquela pessoa está sugerindo ou representando. É,

também, uma carta de esperança. Indica, também, trocas de energias inter-dimensionais.

Os Enamorados, complementando a Estrela, nos aconselha a ouvirmos a voz de nosso

interior e de nossa criatividade, acreditarmos nela, efetuarmos a decisão e a colocarmos em

prática.

18. A Lua

Temos neste arcano, a representação de um lago; de um caminho que relaciona o lago

com a montanha; dois cachorros ou lobos; duas torres; um caranguejo e a própria Lua,

gotejando o que pode ser sangue.

O lago, em termos psíquicos, pode representar o território de nossas emoções; o caminho

conectado com a montanha, nosso consciente; as torres nossos projetos; os lobos ou

cachorros, nossos censores e o caranguejo uma espécie de mouse ou foco de atenção.

Ficava com peninha de o caranguejo ter que subir a estrada,

quando me lembrei que ele anda para trás, lidando com assuntos

passados na medida em que entra no lago das emoções.

Se pensarmos que cada vez que temos uma frustração não

integrada, sonhos não realizados ou mal resolvidos, paixões e

emoções intensas não harmonizadas e isto provavelmente por

varias vidas, poderemos ver como nosso ser está fragmentado e o

trabalho que teremos para juntar nossos cacos. Felizmente, todos

estes focos criam padrões intermitentes de manifestação, trazendo

situações da mesma freqüência para que possam ser curados, o

que nem sempre fazemos. Uma das funções da Lua é ser guardião

de toda nossa bagagem psíquica e ciclicamente trazê-la à nossa

consciência. Enquanto não fizermos isto, estaremos perdendo

energia e vitalidade, simbolizadas pelas gotas de sangue.

Page 22: O Tarô Como Caminho da Vida

18. A Lua

[Tarot Balbi]

A Lua funciona também como filtro de impressões. Se imaginarmos que tudo que os outros

emanam a nosso respeito, bom ou mau, chega ao nosso campo áurico, poderemos imaginar

o quanto nossa percepção consciente estaria sobrecarregada, se tivesse acesso direto a todas

estas impressões. Mas estas impressões não se perdem, ficam armazenadas no limiar de

nossa consciência, até que nos posicionemos em relação a elas, com a atenção equilibradora

do Hierofante, o que nem sempre fazemos; tendo como conseqüência a energia psíquica não

trabalhada caindo de vibração, criando uma espécie de poluição. De outro lado, também não

gostaríamos que os outros soubessem tudo o que pensamos e sentimos a seu respeito, e a

função da Lua atua como filtro também nesse sentido. Não deixa de ser uma forma de

proteção.

Ela modula aquilo que queremos passar ao nível da receptividade de quem está recebendo.

Nem sempre é saudável passarmos todas nossas impressões sobre os outros ou toda a

informação que temos disponíveis e precisamos sintonizá-la com quem a recebe.

Representa também a função da imaginação e visualizações e estamos cada vez mais

conscientes como esta função é importante na criação de nossa realidade e nas comunicações

intra-psíquicas.

Gostaria de relatar uma historia ocorrida há alguns anos. Estava participando de um

seminário onde o orientador estava conduzindo um trabalho de visualizações. Visualizamos

nossa casa, que na época estava a uns 300 km do local do evento, com suas mobílias,

compartimentos, etc., quando ele pediu para nos comunicarmos com alguém da família.

Pensei em ir ao quarto de minha filha, na época com três anos, que naquele momento deveria

estar dormindo, e qual minha surpresa, em minha fantasia ela antes veio até mim e me

perguntou o que estava fazendo lá. O mais interessante é que no dia seguinte, quando

efetivamente fui até lá, ela me perguntou se não estivera na noite anterior lá. Este limiar

entre mundo mágico e concreto, muito percorrido em todas as formas de magia, é

simbolizado pela Lua.

Ainda dentro deste rico arcano poderíamos falar de canalizações. Sem entrar em grandes

detalhes, que não é o objetivo aqui, estou convencido que sempre existe uma relação entre

a energia que está sendo contatada e a psique de quem está servindo de canal.

É importante percebermos isto para evitar uma atitude excessivamente crédula, que

poderia ser perigosa, ou excessivamente cética, e poderia eventualmente nos fazer perder

uma boa oportunidade. Sugiro nos ocuparmos mais com a qualidade da informação. Para

isso, poderemos confiar em nosso discernimento e sensibilidade do que nos preocuparmos

com autoridade do comunicador; inclusive porque, particularmente, se for uma força de

manipulação, ela procurará se encaixar em nossas melhores expectativas quanto às suas

credenciais. Sugiro recebermos todas as informações com respeito e prudência, conscientes

de que nada substitui a sinalização de nossa voz interior.

A Lua com o Hierofante falam sobre a integração do princípio do equilíbrio em meio de

situações dinâmicas ou de incertezas e o poder de visualização ou imaginação ativa nos

processos de resolução de nossa realidade, atuando ativa ou passivamente.

19. O Sol

Centro, magnetismo, radiância, calor, franqueza, lealdade, poder natural.

Na carta do Taro, em quase todos os baralhos, além da representação do astro-rei, temos

ou dois gêmeos ou uma criança em cima de um cavalo branco, um girassol e uma pequena

mureta.

Page 23: O Tarô Como Caminho da Vida

19. O Sol

[Tarot Balbi]

Em relação aos gêmeos, existem varias mitologias que tratam

deste tema. O gêmeo moral e o imortal, o terrestre e o celeste, o

lunar e o solar. Juntos tornam-se poderosos, separados estão

fracos. A criança interior, nossa auto-imagem semi-consciente

muitas vezes ferida e magoada, precisa ser curada e integrada à

nossa criança solar, a verdadeira expressão de nossos “eu

profundo” em nossa realidade, criando a possibilidade de sermos o

centro de nosso mundo, naturalmente.

O cavalo branco é outra expressão de nosso subconsciente em

processo de integração com nossa essência. O rei Leão, o rei Artur

e outros temas falam sobre o despertar do rei que há em nós para

que todo o reino possa ser beneficiado.

A volta de Cristo redime a crucificação e anuncia a exteriorização

do Reino dos Céus. Os justos serão abençoados.

A pequena mureta demarca seu território, como defesa, mas principalmente para evitar o

orgulho, a “hibris”. Se for verdade que sou o centro de meu mundo, ou pelo menos posso

me tornar o centro de meu mundo, isto é verdade também para cada foco de consciência

divina, o que também se estende para outros reinos da natureza, como parece indicar a

presença do girassol. Sua força, além de estar associada com a demonstração de nossos

seres verdadeiros, está relacionada com diversas atividades atribuídas à luz como, clarificar,

esclarecer, revelar, lançar uma nova luz sobre o tema, está claro, nossos olhos são a luz de

nossa alma; e com a visão, pois só podemos enxergar bem, tanto no mundo físico quanto o

não físico, quando as coisas se tornam claras.

Todas as mesquinharias, sensações e emoções confusas e distorcidas, maledicências,

ações sorrateiras e diversos subterfúgios, se dissolvem em sua presença, o que faz uma

pessoa franca e direta ter muitos inimigos, nem sempre declarados.

O Sol com o Imperador, mostra aquela liderança natural, não forçada, que brota de uma

real capacidade e muitas vezes revelam uma grande nobreza de alma.

20. O Julgamento

A imagem mostra algumas pessoas saindo de túmulos, com um anjo tocando uma

trombeta que carrega o símbolo de uma cruz templária, anunciando uma vida de novas

oportunidades e possibilidades.

Algumas pessoas atribuem a esta carta o sentido de julgamento no sentido tradicional

católico, o de que estaremos sendo julgados pelos nossos pecados.

20. O Julgamento

[Tarot Balbi]

Quando percebemos nossas vidas e nossos corpos como

separados, estamos presos e fechados em nossas armaduras

psíquicas, estamos presos em nossos infernos auto-criados.

Minha compreensão está distante desta linha e mais alinhada

com a dos antigos gnósticos... Primeiro, podemos nos lembrar

daquela expressão antiga de que nossos corpos podem ser túmulos

ou templos de luz divina, dependendo de como vibrem. Podemos

também nos lembrar que os sons podem ser poderosos

aceleradores e harmonizadores de nossas vibrações, e o anjo

mostra esta dimensão do sagrado.

Finalmente, uma informação que ainda não está muito difundida,

os templários rejeitavam a ênfase na crucificação e enfatizavam a

ressurreição, que é justamente a fusão com nosso corpo de luz.

Sintetizando, este arcano fala da aceleração e transmutação de

níveis de energias.

Page 24: O Tarô Como Caminho da Vida

O som é o poder do Verbo, da criação, da transmutação e de liberação. Ouçam... o som

das cigarras! Este é o som das estrelas, que ativa a glândula pineal, que ajuda nossa abertura

para a consciência cósmica. Com este som você pode aumentar sua freqüência, e se você se

sente incomodado, pode ser um sinal de que está resistindo a mudar.

Em uma leitura normal, este arcano pode estar simplesmente dizendo que aquele assunto

tratado provavelmente vai melhorar. Muitas vezes, na vida em geral ou mesmo em um grupo

de trabalho psíquico, há uma queda de freqüências. É claro que cada pessoa tem um campo

energético, uma aura, um conjunto psíquico que interage com diversos níveis de expressões,

podendo formar um campo de grupo. Este campo, assim como os campos individuais, está

sujeito a constantes interferências, às vezes harmônicas e às vezes desarmônicas, de acordo

com as ressonâncias empáticas ou aberturas dos participantes.

As energias dos planos sutis na maior parte das vezes não atuam diretamente em nosso

plano, mas através de nossas aberturas e forças. Quais são nossas brechas mais freqüentes,

através das quais outros seres se alimentam de nossas energias? Nossas culpas, nossos

medos e nossas fixações. Quando caem nossas freqüências, podemos reacelerá-las

meditando, orando, respirando profundamente em nossas emoções, nos movimentado ou

agindo.

Primeiro, observamos e aceitamos o que está ocorrendo e, depois atuamos de uma ou

mais das maneiras citadas, ou outras, como cantar, pintar ou dançar. De qualquer maneira,

a aceitação de nosso vazio e não sua negação é necessariamente o ponto de partida. Uma

dica: nossos medos devem ser enfrentados com ação e não com pensamentos; nossas culpas

transmutando-as em sentido de responsabilidade através de uma compreensão profunda de

como temos sido manipulados e de uma maior suavidade para conosco e nossas obsessões

através de um trabalho de nos sentirmos centrados, de estarmos bem conosco e da criação

de certo silencio interior. Quietude e movimento, simbolicamente a montanha e o vento, com

uma cachoeira, é claro.

O Julgamento junto com a Imperatriz mostra como manter nossas forças naturais em um

nível elevado, perfeitamente em sincronia com as forças planetárias e humanas, permitindo-

nos acesso a uma fonte inesgotável de alegria, leveza e poder magnético.

21. O Mundo

Existem hoje muitas discussões sobre a era de Aquário, se ela vai chegar ou se já estamos

nela, e sobre qual o seu significado. O fascinante é que estes questionamentos se aproximam

muito das perguntas sobre o Reino no tempo Cristo.

Em Nag Hammadi, no Alto Egito foram descobertos textos gnósticos muito antigos. Eles

foram abertos há alguns poucos anos para estudos, além daqueles que a fundação Jung já

tinha em sua guarda.

1. O Mundo

[Tarot Balbi]

Vou fazer algumas citações do excelente livro de Elaine Pagels

“Os Evangelhos Gnósticos”, que falam sobre o Reino: “... Antes, o

reino está dentro de vocês e esta fora de vocês”. Em outro

momento, seus discípulos lhe perguntaram “Quando virá... o novo

mundo?” “Não virá porque se espera por ele; nem por se dizer, ei-

lo aqui ou ei-lo ali. Antes, o Reino do pai espalha-se por toda Terra

e os homens não o vêm”.

Jesus viu crianças sendo amamentadas e, disse a seus discípulos:

“Essas crianças sendo amamentadas são como aquelas que entram

no Reino”. Eles lhe perguntaram: “Nós, como crianças, entraremos

no Reino?”. Jesus lhes respondeu: “Quando tornarem o dois um e

o exterior como o interior, e o que está em cima como o que está

em baixo, e quando tornarem o masculino e o feminino uma coisa

só... então haverão de entrar no Reino”.

Podemos perceber então, um estado de consciência transformada, trabalhando

experiências muito atuais como a integração de polaridades (masculino e feminino uma coisa

Page 25: O Tarô Como Caminho da Vida

só), a possível integração de mente e coração (o dois um), as inspirações, revelação e

analogias de freqüências, ou seja, a experiência da multidimencionalidade (o que está em

cima como o que está em baixo) e a relação muito maior do que supúnhamos entre o exterior

e o interior, entre o objetivo e o subjetivo, o que percebemos e realizamos fora e sua conexão

com o que está dentro e vice-versa. Todo este estado de consciência está associado na

percepção de muitos com a era de Aquário.

É claro que a carta do Mundo se refere a este estado. Temos uma mulher ou um ser

andrógino no centro apenas com um véu ou uma grinalda, que não deixa de ser uma serpente

estilizada e quatro seres no canto representando os quatro elementos. É a dança da criação.

Quando atingimos este estado, nada mais acontece por acaso ou por acidente. Está tudo

relacionado. Seremos aqueles que Gurdjieff chamou de homens de destino. Através de

sincronicidade, sensibilizações e exteriorizações de nossas disposições internas estaremos

conectados com a rede de consciência universal, perceberemos um universos pulsante e vivo

em vários níveis, literalmente cheio de cores, sons e propósito. Será tudo muito intenso.

Em um nível mais mundano, quando tiramos esta carta pode significar simplesmente que

iremos realizar exteriormente aquilo que esta passando em nosso interior.

As cartas do Mundo e da Alta Sacerdotisa se complementam, pois existem pessoas muito

poderosas que conseguem realizar muitas coisas; a voz, a caneta e outras formas de

expressão têm uma força fantástica. Em certa medida, realizaram a carta do Mundo. Porém

estas pessoas podem não ter a compaixão, de forma que suas ações beneficiem ao planeta

e às pessoas, sendo, portanto necessário serem temperados com a força da Alta Sacerdotisa.

O contrário é também verdadeiro: existem pessoas muito sensíveis e compassivas, mas não

tem o poder de realização. A força do Mundo é necessária.

Apresentação dos Arcanos Menores

Enquanto que nos arcanos maiores existe um relativo consenso quanto aos significados,

nos menores diversos tarólogos ou escolas desenvolveram interpretações singulares. Não

pretendo elaborar aqui avaliações desta ou daquela linguagem; em realidade praticamente

todas tem seu valor, mas apresentar aqui uma linguagem que desenvolvi nos últimos 20

anos baseada na tradição astrológica.

Os arcanos menores na maioria dos baralhos da época atual são constituídos de 56 cartas,

sendo 10 números de cada naipe, mais as figuras da corte.

Em tudo se assemelham ao baralho comum, que provavelmente foi derivado do Taro, com

a exclusão da figura do Cavaleiro. Este, por significar liberdade e independência, deve ter

sido censurado e deliberadamente excluído dos baralhos pelo receio que ficasse alimentando

as fantasias das damas e donzelas de então...

Neste sistema é feita uma relação de correspondência dos 10 primeiros signos com os 10

primeiros números, com cada elemento aproximando-se ou afastando-se em relação à idéia

básica do signo, de acordo com a maior ou menor afinidade com o elemento daquele signo.

Para tranqüilizar a questão de sempre sobre onde ficam os signos de Peixes e Aquário e

evitando fazer a brincadeira clássica de que eles não são importantes, posso dizer que eles

são signos de síntese, e lidam cada um à sua maneira com as energias de todos os outros

signos.

Este sistema tem a grande vantagem de simplificar a aprendizagem dos arcanos menores,

pois estaremos lidando com a interação de 14 informações (4 naipes ou elementos e os

10 números) contra 56 informações (totalidade dos arcanos menores).

Os quatro elementos

O tema central do conhecimento astrológico e dos arcanos menores são os 4 elementos:

- elemento fogo é representado pelo naipe de paus

- o elemento ar pelo naipe de espadas

- o elemento água pelo naipe de copas

- o elemento terra pelo naipe de ouros.

A realidade tem sido decodificada pelas pessoas sensíveis em freqüências de vibrações

simbolizadas pelos elementos. Para que possamos entender com maior facilidade a natureza

Page 26: O Tarô Como Caminho da Vida

dos elementos, os antigo apresentaram 4 estados da natureza associados a eles:

Quente: aquilo que é quente está sempre em expansão, ocupando novos espaços.

Frio: aquilo que é frio concentra, retém, conserva. É a força de atração pelo outro.

Úmido: aquilo que úmido é flexível, adaptável, permeável e receptivo.

Seco: aquilo que é seco é duro, impermeável, determinado, consistente.

Tendo entendido estes aspectos, podemos perceber que:

Fogo: é quente e seco, portanto é expansivo, determinado, consistente, associado no

homem ao exercício de sua vontade e à manifestação de seu ser.

Água: é fria e úmida, portanto, retém, conserva, adapta-se, recebe. É ligada no homem,

às emoções, sentimentos e sensitividade.

Ar: é quente e úmido, portanto se expande e se molda com facilidade. É ligada no homem

à função do pensamento e à mente como um todo.

Terra: é fria e seca, portanto é consistente, determinada à sensação e ao concreto de

maneira geral.

Hierarquias

Agora vamos abordar um dos pontos chaves deste sistema, que é a hierarquia dos

elementos ou a maior ou menor sintonia dos elementos.

Os elementos de maior afinidade são aqueles que participam do mesmo estado do eixo

quente-frio. Assim, o fogo é muito compatível com o ar, pois ambos são quentes, isto é se

expandem. Pelo mesmo motivo, a terra é muito compatível com a água, pois ambos são

frios, isto é, se concentram.

Os elementos de media sintonia, são aqueles que compartilham do mesmo estado do eixo

seco-úmido. Desta maneira, a terra tem certa afinidade com o fogo, pois ambos são secos,

isto é, determinados. E o ar tem certa afinidade com a água, pois ambos são úmidos, isto é,

são flexíveis e adaptáveis.

O fogo não tem nada em comum com a água e o ar não tem nada em comum com a terra.

Cada signo tem uma afinidade elemental básica e, como faço uma associação de cada

número com cada signo, cada número dos arcanos menores tem a mesma afinidade básica.

A partir desta afinidade-padrão, posso traçar uma espécie de hierarquia de elementos em

cada número. Vamos considerar, a título de exemplo, o número 3 que tem como vimos uma

relação com o signo de Gêmeos, de elemento ar. A hierarquia seria: primeiro o 3 de espadas,

ou ar, pois é do mesmo elemento do signo; depois, 3 de paus, ou fogo, pois o fogo é o que

melhor combina com o ar; a seguir, 3 de copas, ou água, por ter uma afinidade menor e,

finalmente, o 3 de ouros, ou terra, por não ter nada em comum o ar.

E o que significa esta hierarquia? Não significa, é claro, que um arcano é mais importante

Page 27: O Tarô Como Caminho da Vida

do que outro, pois todos são importantes, mas que todos gravitam em torno da idéia-chave

daquele número, mais próximos ou mesmo se opondo, de acordo com o nível de afinidade.

Assim, no exemplo acima, a idéia central do número 3 poderia ser troca de informações

ou de impressões. O 3 de espadas seria de significado idêntico; o 3 de paus seria uma

comunicação intensa ou empolgada, mais ativa do que receptiva; o 3 de copas seria uma

comunicação mais emocional, mais passiva e mais difícil por ter apenas uma afinidade média

com espadas e, finalmente, o 3 de ouros sendo um obstáculo ou uma barreira à comunicação.

Caminhos

Antes de entrar no detalhamento do significado de todos os números e seus elementos,

gostaria de sugerir que pode ser traçado um caminho de cada elemento manifestando-se de

diversas formas ou números.

O caminho de ouros está ligado à experiência do concreto, que nos oferece a base e

suporte material e estrutural para nossa experiência.

O caminho de espadas é ligado à experiência da mente, da comunicação, da

independência, da diversificação e da individuação.

O caminho de copas é relacionado às emoções; às empatias, simpatias e antipatias; ao

envolvimento com pessoas e situações; ao magnetismo.

O caminho de paus é dinâmico, relacionado ao impulso de ser, à vontade, à criatividade

e motivação, ao impulso de poder.

Com esta base, podemos passar ao estudo dos números.

Número 1 – Áries – Fogo - Cardeal

Como faço a relação de cada número com um signo , iniciarei o estudo de cada número

com algumas idéias sobre o signo correspondente.

Áries é um signo cardeal e de fogo. Todos os signos cardeais são muito atuantes; todos

os signos fixos procuram estabilidade e segurança; e todos os mutáveis procuram a busca

de impressões e de conhecimento. Tudo isto de acordo com o matiz de cada elemento.

É o signo mais impulsivo, assertivo e determinado do zodíaco. O indivíduo com forte

influência ariana poderá ser um individuo antenado e integrado e, neste caso sua ação

sempre terá um efeito sinergético.

Ás de Paus

[Tarot Crowley]

Também pode ser um individuo muito preso ao seu próprio

umbigo e neste caso manifestará um autoritarismo sem sentido e

poderá ser invasivo e mesmo violento. Sua maior facilidade é de

abrir caminhos e iniciar novas atividades e sua maior dificuldade é

compreender os outros.

1 de Paus – é idêntico ao significado do signo (vide a hierarquia

de compatibilidades), pode ter como idéia-chave uma ação intensa

e determinada.

1 de Espadas – ainda está bastante próximo da idéia central e,

por ser o segundo elemento da hierarquia flui com facilidade, é

ainda uma ação expansiva, mas com um dado novo: procura ser

adaptável e flexível, pelo fato da umidade do elemento ar, além de

ter uma tendência mais mental, atuando mais no plano de idéias e

comunicações, pelo fato do elemento que está representando.

1 de Ouros – é uma ação que desta vez flui com dificuldade por ser de um elemento que

combina-se apenas medianamente com o elemento-chave, é ligado ao concreto ou material,

e para ser efetiva precisa ser determinada e perseverante por ser o estado seco que aproxima

a terra do fogo. A palavra-chave pode ser ação com esforço.

1 de Copas – é aquele que se afasta da idéia central, desta vez com uma expressão

emocional e poderia ser uma ação para dentro ou introversão, um direcionamento à solidão

Page 28: O Tarô Como Caminho da Vida

ou à solitude e de uma perspectiva de um observador externo seria uma não-ação. Uma

imagem poética seria um impulso ao encontro com nosso ser interior, um busca da voz do

silencio.

Número 2 – Touro – Terra – Fixo

Relacionado com o signo de Touro, signo fixo e de terra. Procura o equilíbrio e segurança

através de suas posses e qualidades, que podem ir desde o plano mais concreto até o mais

abstrato. Com muito senso prático, pode vir a realizar o processo de formação de riquezas

nos setores que são importantes para ele. Alguns encontram a riqueza em suas amizades,

outros em suas posses, outros em seu conhecimento ou atividades e sempre procuram

manter contato e conservar aquilo que valorizam. Por isto, esta energia favorece a

tenacidade, a lealdade e confiabilidade, podendo aqueles com posições em Touro serem

considerados teimosos, conservadores e possessivos, além do fato de serem afetivos e

sensuais.

As palavras-chave que usaria para este signo seriam; ter, reter,

manter, querer ou estabelecer contato com aquilo que

valorizam que pode ir dos planos mais densos aos mais sutis.

2 de Ouros – como vimos, idêntico ao significado do signo. Ter,

reter, manter ou estabelecer contato com aquilo que para a

pessoa é importante. Isto de uma maneira fácil e natural por ser a

primeira afinidade.

2 de Copas – neste caso, ainda se aproxima muito do significado

do signo pelo fato da água ser muito compatível com a terra; mas

neste caso existe uma ênfase no aspecto emocional.

Estar próximo, estar com a pessoa, o objeto ou a situação que

goste, são os principais significados deste arcano. Flui com

facilidade e é inclusive uma sensação muito gostosa a representada

por este arcano.

1.

[Tarot Balbi]

2 de Paus – neste caso já indica intensidade na busca do que se quer, indicado pelo

elemento fogo. Esta própria intensidade demonstra que pode não ser tão fácil alcançar o que

se quer, embora possa ser possível, se for bem determinado (seco). Vontade de ter, ambição,

busca de novos horizontes.

2 de Espadas – aqui se opõe ao significado do signo. Não ter, conflito mental de posições

diferentes sobre um assunto ou situação ou simplesmente um enfático não, muitas vezes tão

necessário.

Número 3 – Gêmeos – Ar – Mutável

Gêmeos é um signo mutável e de ar e está muito ligado ao conhecer através dos processos

mentais. Muito atento às informações, gosta de saber de tudo o que está acontecendo. Talvez

por isto tenha tantas duvidas, pois vê tantos lados das questões que não consegue tomar

uma decisão. Seria mais fácil se conseguisse consultar e respeitar os sentimentos.

Em verdade um dos gêmeos representa a mente concreta, cotidiana, agitada e curiosa,

tão comum em nossas cidades.

Page 29: O Tarô Como Caminho da Vida

Três de Espadas

[Tarot Crowley]

O que sempre esquecemos é que existe o gêmeo imortal, que

simboliza nossa mente profunda, que podemos sintonizar quando

conseguimos nos soltar do encanto de nossos milhares de

pequenos problemas. A melhor maneira de contatarmos nosso Eu

profundo é através da meditação, na qual nossa imaginação, solta

no lago de nossas emoções profundas, tranqüilizada pelo silencio

das montanhas, pode refletir sobre a beleza do cosmo.

Em resumo, poderemos falar em comunicação e buscar receber

ou transmitir informações.

3 de Espadas – comunicações e mensagens que fluem com

facilidade.

3 de Paus – é aquela comunicação passada com intensidade e

empolgação, aquilo em que realmente se acredita e se conhece

bem, normalmente para uma pessoa ou publico que se mostrará

receptivo, por ser o segundo elemento da hierarquia e portanto

poder fluir com facilidade

3 de Copas – mais emocional e receptivo, é o estado de espírito adequado para receber

uma mensagem. Pode ser também certa ambigüidade em relação a algum acontecimento ou

alguma dúvida sobre que caminho seguir. Tenho percebido pela experiência que muitas vezes

pode representar dúvidas afetivas. Pode ser também a expectativa de uma notícia(por ser o

terceiro elemento não sabemos com certeza se será positiva).

3 de Ouros – por ser o quarto elemento, representa uma barreira à comunicação, portas

fechadas ou algum tipo de bloqueio. Não existe nada a fazer a não ser esperar pacientemente

esta situação passar ou procurar um outro caminho.

Número 4 – Câncer – Água – Cardeal

Associado com Câncer, que é um signo cardeal e de água, portanto ligado às emoções e

sentimentos. Mas por ser do ritmo cardeal, são emoções em movimento e bem ativas, como

cuidar, proteger e alimentar em diversos níveis. Muito ligado àquilo que é bastante familiar.

Esta sensação de familiaridade pode acontecer até com uma pessoa que acabamos de

conhecer, mostrando-nos nossa família espiritual ou tribo.

O I-Ching, no hexagrama da família, nos fala que quando somos feridos exteriormente,

procuramos nossa família; buscamos colo. Representa e esfera de expressão mais próxima

de nossa criança interior, que nem sempre é manifestado por nossa família natural. Esta

energia pode ser passada por uma igreja em que nos sentimos confortáveis e acolhidos, um

clube em que nos passa uma sensação semelhante ou a Natureza para as pessoas que se

harmonizam com ela.

Quatro de Copas

[Tarot Crowley]

Nos tempos antigos, os peregrinos eram acolhidos para dormir

ou para participar da comensalidade e esta era sua família do

momento.

O caramujo leva sua casa nas costas e nosso verdadeiro lar pode

ser a base orgânica de nossa presença, desde que tenhamos a

elevação vibratória necessária, resolvendo uma antiga charada da

busca de nosso lar verdadeiro.

As palavras-chave podem ser proteção, acolhimento,

nutrição, cuidado e sensação de pertencer, que podemos

propiciar ou receber. Em nível mais profundo, é a energia que

recebemos de nossa mãe cósmica e planetária, e em menor escala

de nossa mãe humana quando somos bem pequenos.

4 de Copas – cuidado, carinho, proteção, conforto

emocional, nutrição e encontro com pessoas ou situações que

nos passam uma grande sensação de familiaridade e intimidade.

Page 30: O Tarô Como Caminho da Vida

4 de Ouros – como tem muito afinidade com o elemento água, aproxima-se bastante de

seu significado, mas desta vez com maior foco no plano concreto, podendo nos mostrar algo

estruturado e estável que nos passa a sensação de conforto, segurança e confiança.

4 de Espadas – como tem uma afinidade apenas razoável com a água, já é um pouco mais

difícil. Precisamos simplificar ou criar limites para alguns aspectos de nossa vida, às vezes

por cortes de despesas sobre o que somos responsáveis ou fazer modificações, reformas,ou

mesmo um regime. Chegamos a uma conclusão lógica, que é necessário nos colocar algum

tipo de limite ou a quem ou ao que depende de nós e operarmos mudanças importantes, mas

não radicais.

4 de Paus – aqui já passamos por uma completa transformação. Às vezes simplesmente

não dá mais. Precisamos sair da situação em que nos apoiávamos e simplesmente partir para

outra. É quando o pássaro sai da casca do ovo ou do ninho que até então o protegia e parte

para o mundo. É uma carta intensa (o fogo não combina com a água). Uma completa

revolução no sentido de evoluir em uma outra forma e em um outro contexto.

Número 5 – Leão – Fogo – Fixo

Relacionado com Leão, signo fixo e de fogo. É o fogo solar, o centro. Procura segurança

em si mesmo, naquilo que pode demonstrar. Nossas capacidades criativas e tudo em nossa

vida que nos dá alegria e prazer. O objetivo principal da energia leonina está em como

podemos despertar para nossa real vocação e como fazer para que esta vocação seja

colocada em pratica e beneficie nosso grupo (eixo Leão-Aquário). A simples presença de uma

energia leonina bem balanceada ajuda a equilibrar o ambiente.

Nos mitos medievais, quando o rei estava ferido ou doente seu

território também se encontrava desequilibrado, tal a estreita

relação que era atribuída ao rei e seu reino. Podemos usar como

tema central a demonstração do próprio ser ou auto-expressão.

5 de Paus – auto-expressão, confiança, presença magnética e

liderança natural.

5 de Espadas – mostra o valor da expressão criativa com uma

certa dose de interatividade e flexibilidade (ao ar é úmido, portanto

adapta-se). Ênfase na comunicação e atividade mental como

ferramenta de auto-expressão.

5 de Ouros – auto-expressão com esforço e dificuldade, pelo

fato da terra ser apenas medianamente compatível com fogo e

elemento de Leão. Com firmeza e perseverança (seco) poder-se-á

alcançar a capacitação desejada.

Cinco de Paus

[Tarot Crowley]

5 de Copas – dúvidas emocionais sobre a própria capacidade; conflito entre a própria

necessidade de auto-expressão e as necessidades dos outros. Período de reflexão e

avaliação, não sendo aconselhável a tomada de nenhuma decisão enquanto não se tiver

certeza do caminho a seguir.

Número 6 – Virgem – Terra – Mutável

Em nossa dimensão, uma das maneiras de escolhermos é comparar as diversas

características do que estamos verificando junto com algumas alternativas para alcançar o

que buscamos. Quando temos muito a fazer, procuramos agendar nosso tempo para que

cada aspecto de nossa vida que nos pareça importante seja atendido.

Page 31: O Tarô Como Caminho da Vida

Seis de Ouros

[Tarot Crowley]

Se dois caminhos de ação estão em conflito, não hesitamos em

seguir o que nos parece ser o mais importante. Procuramos nos

organizar física, emocional, mental ou espiritualmente para não

nos sentirmos atrapalhados. Podemos ajudar os outros nestes

caminhos.

Todos estes são aspectos do signo de Virgem, signo de terra e

mutável, lembrando que todos os signos mutáveis procuram

alguma coisa, e neste caso a influência virginiana procura separar

o joio do trigo.

A palavra-chave do número 6 nos arcanos menores poderá ser

escolha.

6 de Ouros – escolhas práticas, organização, ordem, deixar os

diversos assuntos em dia, tudo direitinho.

6 de Copas – o padrão determinante das escolhas é o coração,

os sentimentos. Escolhas feitas pelo conforto, pelo acolhimento,

pela simpatia.

6 de Paus – uma escolha que exige determinação e coragem. Não é uma escolha fácil de

ser feita nem de ser mantida até o final, mas precisamos ser firmes em algumas decisões.

Esforço para se organizar.

6 de Espadas – o elemento ar pode ser entendido como espaço e movimento. Por ser o

elemento que se opõe ao elemento do signo, é o que mais se afasta da escolha como processo

integrativo. Às vezes, quando já esgotamos todas as possibilidades, é necessário virarmos

as costas. Não temos mais nada a fazer nestas paragens. Tchau e bênção.

Número 7 – Libra – Ar - Cardeal

Libra é um signo que envolve ação mental. Enquanto Áries pode e deve agir por si mesmo,

Libra precisa associar-se para atingir a manifestação que espera. Pode associar-se com o

visível ou invisível, mas diversas coisas não podemos ou não é aconselhável fazermos

sozinhos. É uma influência que procura o equilíbrio e a balança é um dos símbolos mais

conhecidos. Na balança avaliamos um determinado conteúdo a partir de um ponto de

referência, de um modelo, de um sistema de crenças, de um padrão de medida.

Sete de Espadas

[Tarot Crowley]

Muitas vezes imaginamos que a pessoa que a pessoa influenciada

por Libra não sabe muito bem o que quer e é bastante indecisa.

Acredito que é o contrário, por saber exatamente o que quer e,

além disso, procurar o equilíbrio procura manter certo espaço de

manobra até eventualmente encontrar aquilo que procura.

Os pactos e acordos são muitas vezes necessários para que se

tenha uma boa troca de energias.

A idéia-chave pode ser manifestação do que se tem em

mente através de associações.

7 de Espadas – manifestação do que se tem em mente através

de acordos, associações e entendimentos.

7 de Paus – quando já está tudo combinado podemos - nós e

nosso parceiro ou parceira afetiva ou de negócios - partir para a

ação com toda intensidade, dinamismo e vontade.

7 de Copas – quando existem múltiplas possibilidades que mexem com nossas emoções,

precisamos sentir o que queremos mais e, eventualmente, fazer as mudanças necessárias.

Não é tão fácil por ser de um elemento com uma ligação mais frágil com o ar.

7 de Ouros – espere, deixe os frutos aparecerem para que possa fazer as decisões com

maior clareza. Antes de separarmos o joio do trigo, precisamos esperar pela sua germinação.

Não se precipite.

Page 32: O Tarô Como Caminho da Vida

Número 8 – Escorpião – Água - Fixo

Signo fixo e de água, é ligado à busca de segurança através da troca de energias. Em

todos os momentos estamos passando por trocas de energias. Quando compramos ou

vendemos algo, quando nos relacionamos em qualquer nível com alguém, quando recebemos

ou concedemos um empréstimo, quando recebemos uma herança, quando somos

pressionados ou pressionamos emocionalmente, quando temos alguma perda ou ganho,

enfim, estamos a todo o momento tendo que lidar com a energia de Escorpião. Infelizmente,

como ainda não atingimos um nível de equilíbrio que seria desejável, manipulamos e somos

manipulados, procuramos controlar de alguma forma, muitas vezes de maneira invasiva, as

pessoas e situações que nos parecem mais importantes. Precisamos, ainda, batalhar bastante

dentro e fora de nós para atingirmos o estado teoricamente simples de viver e deixar viver.

Guardamos mágoas, ressentimentos e todas as formas de

emoções negativas por tempo demais. O segredo da cura está aqui.

Se conseguirmos expressar nossas emoções de maneira

controlada, lembrando que o controle e direcionamento devem ser

sobre nossas emoções e não sobre as dos outros; se procurarmos

acolher e nos responsabilizar por qualquer realidade que chegue

até nós para, só então, procurarmos um novo movimento; se

aprendermos a guardar nosso espaço com firmeza, porém com

suavidade, poderemos então tornar nossas relações humanas e

planetárias bem melhores, nos tornando mestres de nossas

energias. Estaremos renunciando à procura de equilíbrio através de

controles e passaremos a procurar um equilíbrio através do

movimento, não importa quão novas e radicais possam ser as

situações. A idéia-chave deste número pode ser troca de

energias.

Oito de Copas

[TarotCrowley]

8 de Copas – por ser o elemento do signo, mostra uma troca de energia da melhor

qualidade emocional, que pode ser bem gratificante.

8 de Ouros – por ser o elemento terra e combinar muito bem com a água, são trocas de

energias concretas bem compensatórias para todas as partes envolvidas, ou mudanças que

se revelarão bastante benéficas.

8 de Espadas – implica ajustes do modo de ver as coisas ou através de comunicação (ar)

relativamente difícil mas necessária, onde procura-se diminuir as diferenças de expectativas,

procurando aparar as arestas e respeitar e procurar ser respeitado em cada individualidade,

estabelecendo limites onde forem necessários.

8 de Paus – indica disputa ou esforço intenso para que a outra pessoa ou situação mude

ou se transforme completamente. Às vezes não dá mais como segurar, soltamos nossas

emoções mais intensas, parecendo pequenos vulcões. Mesmo assim, precisamos estar

conscientes que estes processos ainda são nossos, as pessoas ou situações apenas acionaram

o gatilho. De uma maneira equivocada, apenas aumenta o grau de violência, o que nosso

planeta dispensaria com alegria. Pode também ser significador de uma luta e mesmo de uma

paixão intensa, onde nosso campo energético fica completamente entrelaçado com o campo

energético do outro.

Número 9 – Sagitário – Fogo – Mutável

Todos os signos de fogo expressam dinamismo e intensidade de alguma forma. Sagitário,

por ser mutável expressa muita flexibilidade. É um signo de empolgação nas suas diversas

buscas, quer sejam estas buscas filosóficas, de novas aventuras, de novos contatos ou de

novos lugares. Mas, no fundo, sempre procuramos a nós mesmos em um sentido mais

profundo em tudo o que fazemos. Gosto muito daquela música de Milton Nascimento, “Eu,

caçador de mim”, que guarda certo sentido desta busca.

Page 33: O Tarô Como Caminho da Vida

A energia de Sagitário, além disso, procura passar para todos as informações e

experiências com as quais está envolvida. Não gosta de pessoas ou coisas paradas. Procura

sempre novos objetivos e desafios.

A energia sagitariana pouco amadurecida pode ser instável, um pouco fanática ou julga

exageradamente os outros. Amadurecida, já encontrou tanto do que procurava que pode ser

um bom professor ou guia para os outros, na grande jornada de nossa alma.

Nove de Paus

[Tarot Crowley]

É excelente quando estimula o movimento, não deixando espaço

para a estagnação ou ficar preso uma eternidade nos velhos

padrões. Quando tem uma boa visão e, mais do que isto, a coragem

para mudar de paradigmas sempre que necessário e humildade para

respeitar as opiniões e posições dos outros, pode tornar-se um

mensageiro do divino, uma espécie de profeta.

A busca do Graal mostra a jornada que nós, conscientemente ou

não, estamos envolvidos para que o reino possa ser curado.

A idéia-chave pode ser a busca de nós mesmos através de

nossos objetivos.

9 de Paus – busca de objetivos com dinamismo, intensidade e

foco.

9 de Espadas – busca de objetivos com clareza, inteligência e

flexibilidade. Pode haver algum processo de comunicação (ar)

envolvido. Tanto o 9 de Espadas como o de Paus podem indicar

viagens.

9 de Ouros – objetivos mais difíceis de serem alcançados mas, com tenacidade e esforço,

eventualmente poderão ser concretizados.

9 de Copas – reavaliação de objetivos, reflexão sobre situações emocionalmente difíceis,

estudo sobre possíveis mudanças.

Número 10 – Capricórnio Terra – Cardeal

Capricórnio, por ser um signo cardinal e de terra, procura agir no sentido de concretização

e realização. Quando subimos uma montanha, nossas emoções, firmeza de propósito,

perseverança e visão são testadas. Elevamos nossa consciência, os problemas mundanos

parecem ficar um pouco mais distantes e ganhamos um novo foco e perspectiva.

Esta possibilidade que a energia de Capricórnio pode nos oferecer, apesar de todo o

trabalho, é a verdadeira realização, que algumas escolas de pensamento chamam de

ascensão. Dentro de uma perspectiva mais cotidiana, esta energia mostra diversas formas

de realização.

Dez de Ouros

[Tarot Crowley]

Uma de suas imagens tradicionais é de uma cabra montanhesa

que lentamente e com esforço, porém tranqüila, sobe uma

montanha tremendamente íngreme, simbolizando uma subida

vertical ao cume, onde habitam os deuses, com tenacidade,

experiência, responsabilidade, equilíbrio e conhecimento. É o

resgate do Karma ligado a qualquer assunto. Talvez por este

motivo o nascimento do Cristo esteja colocado neste signo,

lembrando que, através do espírito do amor, todas as etapas da

evolução humana foram cumpridas.

10 de Ouros – alguma realização ou concretização objetiva

importante.

10 de Copas – a alegria e a satisfação emocional que

acompanha alguma realização importante; celebração.

10 de Paus – o fogo revela intensidade, mas, por ter uma

ligação menor com outros, mostra uma certa dificuldade.

Page 34: O Tarô Como Caminho da Vida

Muitas vezes, realizamos algo importante, mas precisamos lutar pelo reconhecimento do

que fizemos. Isto muitas vezes é necessário.

10 de Espadas – o desprendimento e o desapego são formas importantes de realização.

Desta forma, podemos nos libertar de nosso passado e de tudo o que nos prende, mesmo

sendo uma gaiola de ouro.

Reflexão final

Para finalizar este tema, gostaria de lembrar que um mesmo símbolo pode ter diversos

significados. Para falar apenas do significado de um número, ele pode ter, citando apenas

alguns sistemas que conheço, um significado astrológico, no sentido horário e outro anti-

horário; um significado cabalístico, que pode ser no sentido ascendente da árvore da vida ou

descendente; uma relação com arcanos maiores do Tarô; uma relação com o I-Ching, outra

com as runas e outros diversos sistemas numerológicos.

A nova visão é que estes sistemas não são mutuamente excludentes, não existe o “certo”

e o “errado”; antes, podem ser vistos como diversas cores e matizes que podemos combinar

ou não na criação de nossa tela, que procurará representar uma determinada paisagem de

nossa realidade; mas, antes de serem misturadas e combinadas, precisam estar separadas

para que não fiquemos confusos ou atrapalhados e possamos ter um bom domínio técnico

para a realização de nossa obra.

As Cartas da Corte

As Cartas da Corte – Rei, Rainha, Cavaleiro e Pajem (ou Valete) – repetem-se nos quatros

naipes – fogo, copas, ar e terra – no total de 16 cartas.

O Rei

Todos os reis são representantes do elemento fogo em cada

naipe, expressando ação, iniciativa e poder de diversas maneiras.

Rei de Paus – poder da vontade, poder da revelação e poder da

ação dinâmica.

Rei de Espadas – poder da comunicação, da visualização e do

planejamento.

Rei de Copas – poder dos sentimentos, das emoções, do carisma

e do magnetismo.

Rei de Ouros – poder da materialização, da realização e poder

sobre a matéria.

O Rei de Paus [Tarot Waite]

A Rainha

Todas as rainhas são representantes do elemento água em cada naipe, demonstrando a

força das emoções e sentimentos, diversas formas de afeto, amorosidade e expressões do

feminino.

Page 35: O Tarô Como Caminho da Vida

Rainha de Copas – compaixão, empatia, capacidade de perdoar

e acolhimento.

Rainha de Ouros – expressão de afeto através do cuidado de

uma maneira prática e concreta.

Rainha de Espadas – afeto através do desapego e sentimento

liberalizador, como um águia que induz seus filhotes ao vôo, quando

estão prontos.

Rainha de Paus – expressa o afeto de uma maneira mais intensa

e assertiva, com muita firmeza, às vezes até de uma maneira dura.

Algumas pessoas precisam de um choque adicional para acordar. O

cuidado a ser tomado aqui é se realmente estará se expressando

afeto a partir de uma real compreensão amorosa ou se será

julgamento e manipulações emocionais mal disfarçados. O grande

diferencial é se a pessoa que está expressando está incomodada e

não aceitando a outra; ou se, ao contrário, aceita a outra mesmo

que esta não mova um palito na direção desejada.

A Rainha de Copas

[Tarot Waite]

Se não houver esta aceitação, não estaremos falando de dama de paus.

O Cavaleiro

Todos os cavaleiros são a essência do elemento ar em cada

naipe, representando liberdade, movimento, independência,

coragem, comunicação e disponibilidade.

Cavaleiro de Espadas – procura a liberdade com jogo de cintura

e sabe se comunicar muito bem.

Cavaleiro de Paus – procura um espaço com determinação;

pode, também, anunciar ou divulgar algo em que acredita com

firmeza.

Cavaleiro de Copas – expressão afetiva sem compromissos,

liberdade para fazer o que gosta.

Cavaleiro de Ouros – procura se libertar de algo que o faz sentir-

se preso, ou liberdade para algo que quer construir.

O Cavaleiro de Espadas [Tarot Waite]

O Pajem

Todos os pajens são a essência do elemento terra refletido em cada naipe,

representando esforço, trabalho, dedicação, confiabilidade, praticidade.

Pajem de Ouros – dedicado, confiável, esforço para realizar ou concretizar algo.

Pajem de Copas – esforço para realizar algo que gosta ou para quem gosta.

Pajem de Paus – trabalho com determinação, esforço para que sua vontade seja

realizada.

Pajem de Espadas – trabalho para se tornar mais independente ou esforço para se

libertar de algo que o prende como, por exemplo, uma dívida.

Conclusão

Ficarei realmente satisfeito se tiver conseguido demonstrar que o Tarô pode atingir níveis

muito mais profundos do que normalmente se acredita, sendo relativamente simples pelo

tanto que oferece. É, também, bastante prático em suas aplicações.

Gostaria de colocar o alerta para que não seja entendido de uma maneira dogmática,

como uma verdade inquestionável. Qualquer informação, por mais precisa que seja, deve

Page 36: O Tarô Como Caminho da Vida

estar a serviço do ser humano e não ao contrário, e o Tarô mesmo já foi usado de uma

maneira manipuladora e inescrupulosa. Podemos nos lembrar que qualquer situação que

procure restringir nosso livre arbítrio, que nos faça sentir culpados, ansiosos ou temerosos,

não está nos prestando um bom serviço, a nós que verdadeiramente somos filhos da luz.

Podemos nos lembrar de que – se de um lado somos responsáveis por qualquer impressão

que surja à nossa consciência e, mais ainda, por aqueles em latência (hoje sabemos que o

preço da inconsciência é grande), de outro lado, esta responsabilidade é liberada no momento

em que esta impressão é acolhida e transmutada pela nossa compreensão amorosa e

resposta adequada à situação, quer seja em forma de oração ou ação. Nosso primeiro círculo

é profundamente silencioso, harmônico e equilibrado. Os outros são mais ou menos

dramáticos, mais ou menos alegres ou criativos, mas estão em constante mutação, sendo

impermanentes e apenas relativamente verdadeiros. Nossa consciência pode se expandir até

abraçar todos os círculos, a partir do ponto central.

Depois da subida à montanha, podemos retornar ao vale, ajudando a ancorar o reino dos

céus na Terra, ou realizando a verdadeira quadratura do círculo.

O convívio com o Tarô pode ser profundamente transformador e sensibilizador. Pode

ampliar nossa sintonia com os outros seres humanos e com as forças planetárias e cósmicas,

ampliando nossa participação na grande dança da criação.

Procuro estimular a todos, para que depois de alcançado um certo domínio sobre este

sistema, procurem correlacioná-los com os outros, como a cabala e a astrologia. A sinergia

que pode ser alcançada é intensa.

Devemos evitar, sempre que possível, os jogos de poder psíquico, infelizmente ainda

bastantes presentes em nossa realidade. Como aconselha o I-Ching, não devemos combater

o mal diretamente, mas, sim, sendo firmes na prática do bem. A chave continua sendo o

Amor e a maestria no nível de freqüências. Mas o simples fato de atuarmos como parteiros

de uma nova consciência poderá provocar a manifestação das forças de oposição. Para isto,

estaremos preparados, mantendo nossos níveis de freqüências firmemente ancorados no

amor divino, o alfa e o ômega de nossa experiência de viajante das estrelas. Não

estamos, nunca estivemos e nunca estaremos sós. Somos um dentro da diversidade.

Paz, amor e equilíbrio e fé para você e para todos os seres.

Tiragens

Tiragem em Cruz

Na Tiragem em Cruz contamos com um maior número de ângulos para

examinar uma questão. Retiramos do maço cinco lâminas, que são

colocadas de face para baixo, na seqüência de posições indicadas no

quadro ao lado.

Há também quem costuma, para conhecer a quinta carta, adicionar os

números das quatro já sorteadas. Neste caso:

(a) se o resultado for menor que 22, tiramos do maço a lâmina que tem

esse número e a colocamos no centro da cruz;

(b) se o resultado for igual a 22, colocamos o Louco. (Ele, porém, quando

se encontra entre as quatro primeiras cartas já sorteadas, é contado com

valor zero na adição para se achar a quinta lâmina; é o "Arcano Sem

Número");

(c) se o resultado for maior que 22, somamos os dois algarismos e esse novo

resultado, denominado redução, será o número da quinta lâmina (por exemplo, se

o valor total das quatro cartas sorteadas for 37, somamos 3 + 7 = 10, isto é, a

quinta carta será a Roda da Fortuna);

(d) se a quinta lâmina já tiver saído na tiragem, imaginamos que ela se encontra

duplicada no centro.

Variações, entre muitas outras, que podemos atribuir para a função de cada carta: • 1. a pessoa, 2. o momento, 3. os prognósticos, 4. os desafios a superar, 5. o conselho para

lidar com a situação;

• 1. o fato, 2. o que ele causa, 3. onde e quando ocorre, 4. como ocorre, 5. porque ocorre;

Page 37: O Tarô Como Caminho da Vida

• 1. o consulente, 2. o outro, 3. o que os aproxima, 4. o que os separa, 5. a tendência para

o futuro ou a estratégia a seguir;

• 1. o aspecto interno da questão, 2. o aspecto externo, 3. o que é superior ou favorável, 4.

o que é inferior ou desfavorável, 5. a síntese ou resposta.

Tiragem Péladan

Joséphin Péladan (1858-1918), escritor e ocultista francês, divulgou uma técnica

de tiragem bastante utilizada. Trata-se de um esquema simples e útil, idêntico à

tiragem em cruz.

A quinta carta é obtida pela soma do valor das quatro primeiras retiradas do maço.

Se o resultado ultrapassar 22, será feita a redução numerológica (teosófica). Veja

os detalhes dessa operação na "Tiragem em cruz", logo acima.

São atribuídas as seguintes funções às cartas:

1. O que é favorável, vantajoso. O aspecto afirmativo. Os prós.

2. O que é desfavorável, contrário. Obstáculos e dificuldades. O aspecto

negativo. Os contras.

3. Ação, influência. Próximos acontecimentos. O caminho.

4. Resultado. Conseqüências. Solução.

5. Síntese. O sentido de conjunto das cartas.

Oswald Wirth, em seu Tarot des imagiers du Moyen Age, assim descreve

o método indicado por Joséphin Péladan, que ele recebeu por intermédio

de Stanilas de Guaita:

1. O primeiro arcano tirado é visto como afirmativo, que fala a favor de

uma causa e indica de uma maneira geral o que está a favor.

2. Em oposição, o segundo arcano é negativo e representa o que está contra.

3. O terceiro arcano retirado representa o juiz que discute a causa e determina a

sentença.

4. A sentença é enunciada no arcano retirado em último lugar

5. O quinto arcano esclarece o oráculo que ele sintetisa, pois depende dos quatro

arcanos retirados. Cada um destes traz o número que marca sua posição na série

do Tarot. (O Louco, não numerado, é contado como 22). Basta adicionar esses

números inscritos para obter, seja diretamente, seja por redução teosófica, o

número do quinto arcano (22 designa o Louco, 4 o Imperador, 12 o Pendurado,

etc.)

Tiragem Kairallah

Apresentação de

Constantino K. Riemma

É o modelo que costumo utilizar em minhas consultas, na complementação da

análise do mapa natal e dos trânsitos astrológicos.

Na primeira tiragem de uma seção, para dar uma visão de conjunto do

momento vivido pelo consulente, as cartas podem ter as seguintes

funções:

1. o consulente; como ele se encontra;

2. o seu momento de vida; suas condições atuais;

3. prognósticos, o rumo que sua vida tende a tomar ou o que esperar

nos próximos meses;

Page 38: O Tarô Como Caminho da Vida

4. qual a melhor conduta diante da situação definida pelas cartas

anteriores. Conforme a tiragem, a carta pode ser definida como o

conselho estratégico para lidar com o assunto em exame.

5. o cenário geral que envolve a questão e dá o tom às demais cartas.

Usualmente, neste modelo, é a carta de corte e que pode ser a primeira

desvirada após o sorteio, junto com o maço de cartas que restou.

O mesmo modelo pode ser aplicado às sucessivas questões que o cliente colocar.

As funções atribuídas as cartas 1, 2 e 3 são então adaptadas a cada assunto. As

duas outras cartas mantêm o padrão: 4 – indica o conselho, o caminho oportuno

para ser seguido pelo consulente; 5 - (a carta de corte ou uma carta que for retirada

especificamente com esse propósito), delineia o cenário geral, o pano de fundo, as

forças que circunscrevem o assunto.

É o praticante, aquele que conduz a tiragem, quem deve definir previamente a

função que a carta terá na jogada. Veja alguns exemplos de variações para as cartas

de 1 a 3, conforme o assunto e o interesse do consulente:

• 1. o consulente; 2. o outro (parceiro ou sócio); 3. o desenrolar da relação. • 1. os pontos fortes ou positivos do tema (trabalho, saúde, projetos, estudos, etc.); 2. seus

pontos fracos ou negativos; 3. tendências ou caminho a percorrer. • 1. pessoa; 2. a situação específica (relacionamento, trabalho, projeto, etc.); 3. o que

esperar. • 1. o que favorece o projeto (ou a intenção); 2. o que ainda precisa ser trabalhado,

melhorado; 3. quais são as perspectivas.

É sempre importante refletir sobre a harmonização entre os prognósticos ou

tendências (carta 3) e os conselhos (carta 4). Por vezes a perspectiva é otimista e

o conselho é o de cuidados e reservas. Em outras situações, o prognóstico pode ser

modesto e o conselho indicar a aplicação de energia e empenho. Como acontece

com as demais correlações importa aqui, mais do que conhecer os significados das

cartas, a experiência de vida e a maturidade do consultor, o quanto ele trabalhou a

delicada questão de dar aconselhamento.

O templo de Afrodite

Uma tiragem bem interessante para fotografar a relação de um casal, nos seus

planos racional, emocional e físico (ou melhor, “químico”). Sete cartas são

escolhidas e colocadas em duas colunas, como mostrado abaixo, sendo a última

carta – síntese ou prognóstico da relação – colocada na posição central.

Ele Ela

Page 39: O Tarô Como Caminho da Vida

Plano mental

Plano afetivo

Plano sexual

O resultado

ou os pensamentos

ou as emoções

ou a atração física

ou o futuro

A leitura segue a seguinte lógica:

(1) e (4) – o que ele e ela pensam da relação, qual sua intenção racional

(2) e (5) – o sentimento de um pelo outro, como vai o coração

(3) e (6) – a atração física de um pelo outro, como vai o tesão

(7) – o resultado ou produto dessas interações: o prognóstico para esse casal

Também é significativo avaliar o conjunto das três cartas que representam a figura

masculina (1, 2 e 3) e as outras três que falam do feminino (4, 5 e 6)

Bete Torii, que relata essa técnica de leitura em homenagem a Afrodite, a deusa grega do Amor, discute

exemplos práticos em seu fórum Histórias & Quadrinhos: Aprendendo a ler

Lição da Torre - por Teca Mendonça

Trata-se uma tiragem para examinar e trabalhar situações de rupturas e

quebras de expectativas.

As funções que a taróloga Teca Mendonça atribui às cartas, deixa claro o

propósito desse modelo. São assinalados diferentes passos para entender

compreender o fato em si, seus sentido espiritual e superior, o motivo da

crise e, finalmente, o trabalho a ser feito.

Funções

1. a porta de acesso;

2. a luz da consciência;

3. a luz da razão; as cartas 2 e 3 constituem a Morada do Espírito;

4. o plano superior;

5. o que foi destruído, o que era excessivo;

6. o que precisa ser reconstruído na ação;

7. o que precisa ser rescontruído na personalidade.

A Ferradura

Designada "horse" na língua inglesa, a tecnica da Ferradura ajuda a avaliar a

sequência, o desenvolvimento de uma situação ou relacionamento. As cartas são

dispostas numa curva que lembra uma ferradura de cavalo.

Page 40: O Tarô Como Caminho da Vida

1. O Passado. Os eventos passados que afetam a questão ou

situação do consulente.

2. O presente. Sentimentos, pensamentos ou acontecimentos

reais que influem decididamente sobre o assunto em questão.

3. O futuro imediato. Eventos próximos que irão afetar essa

situação e que até mesmo poderão surpreender o consulente.

4. Obstáculos. O que preocupa o consulente. Dificuldades a

superar, que podem ser atitudes mentais ou dificuldades de ordem

prática.

5. As atitudes dos outros. O ambiente, atitudes e pensamentos

que as pessoas ao redor do consulente têm sobre a situação.

6. O caminho de superação. O que deve ser feito para o melhor encaminhamento

da situação. Trata-se de uma sugestão prática par o consulente.

7. O resultado final. O resultado mais provável. O que se pode esperar se o

consulente seguir o conselho dado pela sexta carta.

Margareth Procópio pratica há muitos anos uma técnica com três ferraduras conjugadas e que utiliza 56 cartas. Aprenda com ela o Jogo da Ferradura

O jogo das escolhas e decisões

Apresentação e comentários de

Constantino K. Riemma

Hajo Banzhaf em seu "Manual do Tarô" (Ed. Pensamento) apresenta

um modelo de tiragem com 7 cartas, que foi traduzido ao português

por "O Jogo Decisivo". Nele são retiradas as cartas que irão indicar

os dois lados da questão:

7 = o problema;

1, 3 e 5 = influências positivas, "Isso é favorável"

2, 4, 6 = influências negativas, "Isso é desfavorável"

Mais importante que os esquemas prontos, como este registrado por

Hajo Banzhaf, é o cuidado para definir as funções das cartas do modo

mais coerente possível com a situação a ser examinada.

Além do esquema acima, existem muitos outros que

nos ajudam a escolher entre as alternativas que a

vida e os nossos desejos colocam.

Utilizo para isso as referências básicas da tiragem

Kairallah, em que são retiradas cartas para revelar

quatro ângulos de cada alternativa ou caminho que

se apresenta:

1. o que favorece o projeto, a intenção ou o

caminho; 2. o que ainda precisa ser trabalhado,

melhorado ou criado; 3. quais são as perspectivas,

Page 41: O Tarô Como Caminho da Vida

prognósticos ou tendências; 4. e qual é o conselho

estratégico, a conduta ou a atitude oportuna.

Tira-se uma carta com a mesma função para os caminhos ou alternativas colocadas. Isso permite uma comparação entre as facilidades e dificuldades que seriam percorridas em cada caso, bem como as previsões e as medidas mais eficazes. Como sempre acontece quando se trata de opção consciente, e não de determinação cega, a própria pessoa está convidada a exercer a livre escolha e a assumir as consequências do caminho que escolheu. Cuidados com o baralho

Jaime E. Cannes

Não faltam, com certeza, dicas na internet e, nas livrarias, textos e livros que ensinem a como consagrar baralhos e sobre certos cuidados que se deve ter com eles. Bem, como eu não tinha nada escrito sobre isso decidi dar a minha contribuição. Como típico virginiano que sou, considero o cuidado mais importante o que trata da higienização do baralho. Uma vez a cada seis meses ou um ano, dependendo da rotatividade de clientes e da frequência do manuseio das cartas, eu recomendo que se limpe uma por uma com um pano higienizador, desses usados para tirar o pó cheios de furinhos, umedecido com água mineral com gás. Ajuda muito a acumular menos pó se você pedir ao seu cliente que lave as mãos antes da consulta. A água, além de um ótimo solvente de limpeza, é um purificador energético natural. Mandar o cliente lavar as mãos serve para as duas coisas, por isso faça disso um hábito!

O segundo ponto a se observar são as condições do baralho. Com o tempo e o uso frequente, as cartas costumam levantar pontas, formando “orelhas” onde os clientes as puxam durante a leitura. A aparência fica horrível! Isso quando não se usa um baralho grande como o Thoth e as cartas ficam na forma da letra “C”, fazendo com que ao serem deitadas com os arcanos para baixo fiquem de pé, como um gato ouriçado, e ao serem viradas com as imagens para cima, formem aquela letra do alfabeto. Fica difícil de deslizar na mesa e não pense que o cliente não nota. Muitos comentam comigo que o baralho desse e daquele tarólogo

parece um “pano de chão”, todo sujo ou amassado. E geralmente comentem isso depois de elogiar ou simplesmente reparar no bom estado do meu baralho que já tem quase uma década de uso. Costumo fazer uma comparação com os músicos: por mais malucos que possam parecer seus estilos musicais, eles sempre trazem seus instrumentos devidamente embalados em sacos aveludados, além de polidos e bem afinados. Afinal, não é só seu ganha pão. O tarô inclui a ancestral habilidade de interpretarmos os símbolos da alma e, por isso, pede cuidados e respeito. Assim: Sobre Higiene e Cuidados - Reforço a dica para que você lave as mãos antes do atendimento e recomende o mesmo a seus clientes. - Guarde as cartas numa caixa de madeira, ou num armário fechado envoltas em um pano de fibras naturais. A luz solar, e mesmo a artificial, danifica a coloração das imagens dos arcanos. - Caso seu baralho tenha criado orelhas por causa do manuseio, ou envergado, lembre-se de que o papel se conforma. Use sobre o maço de cartas um peso, como livros grandes de capa dura ou outras superfícies pesadas e retas, por uma tarde ou um dia todo na semana. Com o tempo a forma côncava ou as orelhas viram leves ondulações, quase imperceptíveis, que conferem até um charme todo especial ao baralho quando este é deslizado sobre a mesa.

Page 42: O Tarô Como Caminho da Vida

- Não use incenso a base de carvão para limpar energeticamente suas cartas, com o tempo a fuligem do carvão vai deixando o baralho imundo, todo preto e chamuscado. Fica um troço nojento! Use os incensos que possuam masala, uma mistura de ervas e resinas que com o tempo deixa o papel amarelado como as páginas de um livro antigo! Além de lindo fica muito perfumado! - Evite também a mistura de água e sal, seu uso frequente mancha ou apaga as imagens, e faz descolar o plástico protetor nos baralhos que os possuem como o Voyager e o Mitológico. A umidade nunca deve ser excessiva nem usada amiúde, mesmo na receita que ensinei no início. O papel sofre muito com a ação da água. - Já ouvi uma variação enorme sobre rituais de consagração, há os que enterram as cartas, que as lavam no mar, ou as põe em repouso na beira da praia. Isso deixa as cartas, além de sujas e debilitadas, totalmente impregnadas de micro-organismos que vivem no meio ambiente. Ou seja, um criadouro de bactérias! Use cristais, velas, símbolos sagrados, símbolos radiestésicos, mantras, preces... Lembre-se de que não é só você que irá manusear esse baralho! Sobre Alguns Baralhos Aqui está a dica de alguns conjuntos de cartas lindos e muito conhecidos, e os potenciais problemas que podem se manifestar com o uso contínuo. Todos estes problemas podem ser evitados com os cuidados sugeridos anteriormente. Isso, aliado à ótima qualidade do material desses baralhos, pode fazer com que durem muito, mas muito tempo mesmo, antes de apresentarem estes defeitos. O baralho Thoth e o Osho Zen tarot são lindos, ambos possuem um papel resistente e de excelente qualidade que não suja facilmente (e fácil de limpar quando isso ocorre) e segura bem a cor, mas os dois tendem a criar orelhas ou a envergar com o tempo. Principalmente se quem usar o baralho Thoth grande tiver mãos pequenas.

Toth Tarot

Nove de Copas

Motherpeace Tarot

Três de Ouros

Old Path Tarot

O Eremita

Já o Rider-Waite e o Old Path tarot não envergam nem criam orelhas, mas em compensação sujam como nenhum outro! O Rider então chega a formar uma crosta de sujeira nas bordas das cartas que deixa suas laterais enegrecidas. E, ao serem lavadas, são as que mais esmaecem as imagens. Com as versões Albano e Universal Waite ocorre o mesmo, com a desvantagem de que o Universal deforma muito com o tempo.

Page 43: O Tarô Como Caminho da Vida

O Motherpeace tarot não acumula tanta sujeira e não tem como levantar pontas, pois é redondo. Creio que isso, mais o fato de possuir um papel muito flexível, faz com que ele também não envergue. Por outro lado é o baralho em que as imagens mais descascam naturalmente com o uso. Por fim o tarot Voyager e o Mitológico não envergam e não sujam rapidamente por terem suas imagens protegidas por uma película plástica. E exatamente esse pode ser o problema: com o tempo o plástico se solta nas bordas e acaba criando uma simetria estranha nas cartas quando reunidas em um monte, sem falar que a aparência não fica nada boa.

Voyager Tarot

A Sacerdotisa

1JJ Swiss Tarot

Juno

Oswald Wirth Tarot

O Mágico

Os melhores baralhos que conheci até hoje em termos de conservação são da família dos clássicos, como o de Marselha. São eles o 1 JJ Swiss e o Oswald Wirth tarot. Não pegam poeira (na verdade minimamente, se seguir a recomendação de lavar as mãos antes da leitura), não entortam, nem possuem nenhuma película que possa se desprender deles com o uso contínuo. Como são baralhos do padrão antigo, poucas pessoas se identificam com eles. O que é uma pena! Os baralhos, assim como nós, envelhecem. Não há como evitar que fiquem amarelados ou que suas imagens descasquem, isso é natural. A própria fricção causada pelo ato de embaralhar, mais a umidade natural do ambiente, causa isso. Porém, assim como nós, eles podem e devem envelhecer com dignidade! 10 mitos em torno do Tarô

Giancarlo Kind Schmid

Decidi escrever esse artigo devido à grande quantidade de emails solicitando-me esclarecimentos sobre determinados pontos na prática (ou estudo) do tarô, já que muitos estudantes não encontram literatura e/ou conteúdos específicos na rede que possam orientá-los. Das questões mais freqüentes, escolhi dez que considerei mais importantes, e procurei “jogar uma luz” sobre os assuntos de forma objetiva. Espero que esse texto possa romper alguns velhos paradigmas que, insistentemente, permanecem no imaginário da prática taromântica. 1 – O tarô está fechado e não será possível efetuar a leitura O tarô não é como um computador que, quando trava, abre uma tela com o dizer: “seu sistema realizou uma operação ilegal e será fechado”. Não existem “jogos fechados”, somente “tarólogos fechados ao jogo”. Se o praticante convenciona, por exemplo, que o aparecimento do arcano “O Mago” embaixo do

Page 44: O Tarô Como Caminho da Vida

maço de cartas após embaralhamento significa que “a abertura do jogo não será possível”, do ponto de vista da leitura isso nada

A Cartomante (La tireuse de cartes)

Pintura de Jean Frédéric Bazille (1841-1870)

influenciará. Os arcanos na mesa podem ser lidos a qualquer momento, mas mitos como esse refletem dificuldades que, na verdade, são impostas pelos próprios tarólogos. 2 – Ler o tarô é dom divino, portanto, é obrigação do tarólogo fazer caridade. Tal mito tornou-se um problema de cunho religioso. No Brasil, devido ao sincretismo que vivemos ao fundir conceitos, idéias e valores de ordem espiritual, passou-se a acreditar que o tarólogo está afiliado a alguma prática, normalmente espírita. Mas, é fundamental separar os credos da atividade taromântica propriamente dita, pois o tarô não depende da fé do indivíduo para dar o seu recado. Deste modo, com a concepção de que o tarólogo recebeu um dom de Deus para exercer a prática, ficou estigmatizado que, algo recebido “de graça”, deve ser oferecido caridosamente. A confusão que há nesse meio, justificado na maioria das vezes pela desinformação, impôs ao tarólogo a obrigação de oferecer gratuitamente seus serviços. Não critico quem o faça, porém, é fundamental separar uma condição de outra: o tarólogo é um profissional que estuda, investe e tem gastos como qualquer outro, e deve ser reconhecido como tal. Além disso, a caridade pode ser praticada de outras formas, sem a necessidade de colocar o tarô (e outros oráculos) como intermediários.

3 – O tarô, em si, é composto apenas pelos 22 Arcanos Maiores. Esse mito foi propagado por Papus no século XIX ao separar os Arcanos Maiores dos Arcanos Menores, criando a concepção de que o primeiro grupo é o verdadeiro tarô e o segundo grupo, uma ramificação da “cartomancia vulgar”. Esse preconceito fora propagado de tal forma, que restringia-se o uso dos Maiores aos homens e os Menores (e outros baralhos de naipes) às “mulheres e afeminados”. Hoje, muitos se desculpam ao afirmar que basta o uso dos Maiores numa leitura, distanciando-se de qualquer chance de estudo dos Menores. Por um lado, entendo como preguiça (por acharem que é difícil seu aprendizado); por outro, falta de conhecimento do conjunto simbólico do tarô em si (que são os 78 Arcanos). Acredito que é possível trabalhar apenas com os Maiores (assim como os Menores), não questiono quem o faz (trabalhei durante 8 anos somente com os Maiores); porém, o tarô é um baralho de 78 Arcanos e deveríamos explorar todo seu potencial simbólico a partir das múltiplas combinações entre Maiores e Menores. 4 – Somente é possível utilizar o baralho depois de consagrá-lo. Mito oriundo do ocultismo. Mais uma vez, entra o credo no lugar da razão. De nada adianta consagrar baralhos se o praticante não tem conhecimento e nem preparo para uma leitura. Alguns acreditam que consagração é uma espécie de iniciação mística, com propósito de conferir tanto “poderes como proteção” ao baralho e a quem o utiliza. Mas, ao longo desses anos venho observando na prática que a qualidade da leitura e bem estar do tarólogo não depende de qualquer tipo de consagração. Lembremos que o tarô jamais “falará por si mesmo” e de nada adianta parafernalhas esotéricas (incensos, velas, taças com água, etc.) para assegurar uma boa leitura se o tarólogo não estiver amadurecido para desenvolver um bom trabalho.

Page 45: O Tarô Como Caminho da Vida

A Cartomante (The Fortune Teller)

Ilustração obtida na Internet de autor desconhecido.

5 – O tarólogo é tão somente um médium a receber instruções espirituais. Mediunidade significa mediação. Todos possuímos, em maior ou menor escala, um grau de mediunidade. Porém, quando se toca no assunto, nos reportarmos normalmente às incorporações espirituais. O tarólogo, em primeiro lugar, deve ser um conhecedor da linguagem simbólica e imagética dos arcanos. Qualquer coisa que se afira espiritualmente à prática é oriunda da natureza parapsíquica do praticante. Se o referido é clarividente, clariaudiente, telecinético, médium de incorporação (e outros), isso nada tem a ver com a prática taromântica em si. Quero dizer com isso, que independe da mediunidade do tarólogo a sua competência como praticante. Há tarólogos excelentes que apenas se valem de seu conhecimento simbólico para realizar leituras; há também aqueles que, através da incorporação, realizam excepcionais análises. 6 – Não podemos tocar no baralho de outra pessoa devido às energias. Se adotarmos tal premissa, qualquer coisa que os outros tocarem não convém colocarmos as mãos. O grande problema é a mistificação em torno das cartas, como se elas estivessem na condição de talismãs. A impregnação energética não se detém ao papel do baralho, acontece, muitas vezes, no simples contato com a outra pessoa. Se você está receptivo e aberto às influências do outro, impossível não se contaminar. Cabe ao tarólogo assegurar suas defesas espirituais e energéticas e isso mais depende do tipo de prática espiritual do profissional do que a atividade taromântica em si. Tocar ou não tocar no baralho de outra pessoa pouco ou nenhuma diferença faz, pois as energias não se prendem exclusivamente ao objeto em uso. 7 - É proibido fazer leituras em datas santas ou domingos. Isso está mais de acordo com o credo do praticante do que o trabalho em si. Pode-se ler o tarô em qualquer dia, hora, ambiente: basta que o praticante e o consulente se sintam à

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Lendo as cartas

Pintura de Aleksei G. Venetsianov(1780-1847)

vontade para desenvolver a consulta. As condições locais mais influenciam do que datas propriamente ditas, pois é aconselhável que o ambiente seja tranquilo e que a disposição (física, mental, emocional, psicológica, espiritual) do tarólogo esteja equilibrada o suficiente para garantir uma orientação adequada ao consulente. 8 – Não é possível realizar atendimentos à distância. Um mito derrubado na última década. O raciocínio é muito simples: se conseguimos falar de pessoas que nem estão presentes durante a consulta, o que impede de orientar o consulente à distância? Será que é a presença física que assegura a consistência e credibilidade do trabalho? Não sou a favor de tiragens eletrônicas, pois essas não permitem o desenvolvimento da interpretação; já a leitura feita por telefone, email e/ou qualquer programa eletrônico via internet (Skype, MSN, Google Talk, Yahoo, etc.) que proporcione interatividade entre o tarólogo e o consulente, que permita uma boa comunicação (e orientação) entre ambos, não há nenhum tipo de problema.

9 – O tarô nunca erra, quem erra é somente o tarólogo. Talvez seja o mito mais controverso. A pergunta que devemos fazer é: será que o tarô é infalível como instrumento simbólico? Partindo-se da premissa que os símbolos nada representam se nós, seres humanos, não dermos “voz” a eles; isso impõe o erro a quem sempre interpreta, pois o oráculo, em si, não tem autonomia sem um intérprete. Alguns acham que o tarô tem “vida própria” e se pronunciará por si mesmo. Só que os símbolos são estruturas geradas por nós, humanos, e não podem se manifestar (expressar) se não estiverem inseridos num contexto. Talvez aí esteja o maior equívoco: acreditar que o tarô “se comunica”, independente de um intérprete. Creio que seja uma “via de mão dupla”: os arcanos e seus símbolos dirão aquilo que está a alcance do intérprete; se o tarólogo não estiver preparado, o tarô pouco ou nada dirá sobre a situação. Já o contrário, o tarô dirá tudo que for preciso, pois o tarólogo é conhecedor dos conteúdos simbólicos. Creio que o tarô erra sempre que o tarólogo erra. 10 – Mulheres grávidas não devem consultar o tarô. A gravidez torna a mulher mais sensível e suscetível emocional e psiquicamente. Talvez esse mito exista porque no período de gestação muitas mães ficam mais impressionáveis e influenciáveis psicologicamente. Se o tarólogo for sensível o suficiente para não preocupar ou angustiar a gestante, creio não ser um problema realizar o atendimento. Cada pessoa é uma pessoa e também não é possível generalizar, afirmando que todas as mães ficam mais vulneráveis emocionalmente durante a gestação; mas, o cuidado que devemos ter ao realizar um atendimento para uma grávida deve ser maior. Todas as emoções que a mãe sentir serão transmitidas à criança, portanto, delicadeza e tato são imprescindíveis. O mesmo vale para consulentes doentes, em fase de separação, recém saídos de seus empregos, que tenham sofrido alguma perda significativa, enfim, o tarólogo deve apoiar e ajudar o consulente fragilizado de forma que o trabalho traga bem estar e não preocupações desnecessárias. Algumas sugestões e cuidados iniciais

Texto de

Constantino K. Riemma

Utilizar as cartas do Tarô em consultas para si próprio ou com amigos significa, antes de mais nada, um exercício prático para desenvolver o pensamento simbólico, a arte de estabelecer analogias. Uma grande dificuldade para os iniciantes é a de ficar livre dos códigos e rituais restritos da cartomancia.

Page 47: O Tarô Como Caminho da Vida

Magias e fantasias podem

confundir o iniciante

A origem das cartas é lúdica. No entanto, para boa parte dos principiantes, o ato de "consultar o Tarô" é a parte que envolve um bom número de dificuldades e de incompreensões que, de modo geral, obscurecem as mensagens simbólicas das lâminas. Os preconceitos e superstições, os rituais e formalismos gratuitos, as apreensões muitas vezes propaladas por aproveitadores, acabam por confundir aquilo que, na origem, era leve,criativo e estimulante. O Tarô, ao invés de gerar temor, pode se tornar, para cada um de nós, fonte de inspiração e de nova compreensão das leis que regem a vida manifestada e os caminhos evolutivos. Ele é, por isso mesmo, um instrumento de ajuda e não de vaticínios alarmantes. O conjunto das lâminas pode ser utilizado de modo aberto, não só para prognósticos ou previsões, mas também como de apoio ao estudo de si-mesmo, de desenvolvimento interior, e até mesmo como apoio terapêutico.

A atitude básica O iniciante, para ficar mais à vontade e melhor usufruir os benefícios desse jogo secular, é bom livrar-se, em primeiro lugar, de idéias preconcebidas ou superstições: achar que precisa seguir ritos mágicos, formalismos cerimoniais, ou que lidar com o Tarô é assunto para vidente ou paranormal, ou então acreditar que “ler as cartas” significa apenas prever acontecimentos penosos ou sofridos para as outras pessoas. Na verdade, seria melhor entender as lâminas do Tarô como cartas de um velho sábio, bom amigo, generoso e acolhedor, que nos oferece indicações, sugestões e estímulos renovados para compreendermos nossas vidas, refletirmos sobre as conseqüências de nossos atos e elaborarmos prognósticos e cenários de futuro que poderão nos ajudar a dirigir com maior eficácia nossos empreendimentos na vida exterior e interior. O ideal é que as consultas sejam feitas com espírito aberto, com naturalidade, dentro dos modelos espirituais e religiosos da pessoa. Não precisamos adotar nenhum rito estranho ou nebuloso, nem nos convertermos a qualquer seita exótica. O Tarô foi um presente, sem sectarismo, de escolas antigas para ajudar e não para complicar nossas vidas. Se o consulente considera importante um gesto de recolhimento antes de trabalhar com as cartas, ótimo. Essa disposição será mais eficaz se inspirada em seus próprios padrões religiosos ou modelos espirituais. Não são as formalidades exteriores que nos preparam, mas sim as disposições interiores. Escolha das técnicas de tiragem Existem dezenas e dezenas de modelos para consulta às cartas do Tarô. Não há, porém, uma técnica ou método de tiragem ideal. Varia com o objetivo da leitura e com as preferências individuais. Muitas vezes, modelos simples com três ou quatro cartas podem oferecer maior clareza e objetividade que alguma técnica sofisticada com muitas cartas. A sugestão, para o iniciante, é começar com os modelos mais simples e, com a prática, repassar as técnicas mais complexas, que por vezes se apóiam em outras linguagens simbólicas como é o caso, por exemplo, da tiragem que segue a ordem das casas astrológicas. Três regras de ouro Madame Turpaud, autora de Le Tarot de Marseille, oferece muitas sugestões úteis para o iniciante. Ela insiste para não permitirmos que formas rígidas nos limitem. As tiragens devem ser flexíveis e, de preferência, montadas de acordo com as questões e diferentes aspectos que estivermos examinando. Desse modo, três regras gerais podem nos propiciar uma leitura consistente do Tarô:

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1ª - estabelecer, antes de retirar cada lâmina do maço, qual o sentido ou função que ela irá ter no jogo; não nos devemos prender a algum modelo fixo de tiragem, mas sim, definir os pontos que queremos entender da questão a ser examinada com as carta 2ª - fazer uma "leitura literal" da lâmina, ou seja, verbalizar simplesmente o que a carta está mostrando; é importante não cair na tentação de querer impressionar os outros com revelações surpreendentes. 3ª - buscar, à medida que for desvirando as cartas, estar receptivo às impressões, idéias, intuições e pensamentos fugidios que possam surgir, em ressonância à função previamente atribuída à carta. Quando estamos praticando com amigos, é importante ouvir a opinião deles, pois isso nos ajudará compreender melhor os significados práticos das cartas. Vamos traduzir esses conselhos na prática. 1 - a função da carta: sem complicações O ideal é que o modelo de consulta siga a “regra numero 1” da Madame Turpaud: atribuir previamente, a cada carta, qual o papel ou função que assumirá na jogada. Se quisermos, por exemplo, compreender uma relação pessoal, profissional ou afetiva, podemos pedir que se tire uma carta para representar uma pessoa e, do mesmo modo, uma segunda carta para representar a outra pessoa. Se o objetivo é conhecer os pontos fortes e os pontos fracos da relação, pediremos uma carta para explicar os pontos favoráveis, propícios, e outra carta para dar conta dos pontos difíceis, que precisam ser trabalhados. Nesse caso, as cartas serão retiradas do maço para dar indicações sobre ângulos bem definidos, o que facilita muito a interpretação.. Muitas vezes a maior curiosidade é pela previsão: saber no que vai dar a relação. Nesse caso, se já tivermos feito sorteio de outras cartas, como no exemplo que acabamos de propor, o consulente pode retirar mais uma carta do maço para ter prognósticos da relação. Mais ainda, quando a atitude não é de fatalismo, mas sim de trabalhar a situação, uma nova carta será a mais importante: o conselho para lidar ou aprimorar a questão. Se a pergunta estiver clara e se tirarmos uma carta para estudar cada ângulo que julgarmos importante, meio caminho de uma boa consulta já terá sido percorrido. 2 - leitura literal: partir do que se sabe. Um dos defeitos que “matam” a leitura de uma tiragem do Tarô é atribuir às cartas os lugares-comuns do receituário popular, da cartomancia simplória que reduz tudo a “bom” ou “ruim”. É o mesmo equívoco que também acontece, muitas vezes, com relação aos símbolos astrológicos, em que os signos e planetas são reduzidos a bons ou ruins, maléficos ou benéficos. É importante lembrar que as cartas não ditam o destino, mas esclarecem os pontos a serem trabalhados e assimilados. Portanto, quanto mais rentes estivermos dos desenhos simbólicos das cartas, menores serão os riscos de enganos e desvios da imaginação. A recomendação é a de partirmos da compreensão que temos das cartas, sem invenções. Lembre-se: os adivinhos ou sensitivos, não precisam das cartas, pois recebem informações por outros caminhos. Ou seja, além de um recurso divinatório, o Tarô pode se tornar, para a maioria de nós, um instrumento para estudarmos e compreendermos as leis que regem os acontecimentos e a nossa vida pessoal. 3 - receptividade: praticar e conferir. O exercício de pensar simbolicamente não é cultivado no sistema escolar moderno. Pelo contrário, é desestimulado. Desse modo, não precisamos nos sentir desmoralizados ou impacientes diante de nossa dificuldade inicial para “ler” as cartas do Tarô. O caminho é exercitar e praticar leituras, para si mesmo ou para amigos interessados. A vantagem de praticar entre os amigos é que não precisamos "dar banca" de adivinhos. Aliás, por mais atraente que seja a arte oracular, o Tarô vai além. Entre amigos podemos pensar juntos o significado das combinações das cartas, trabalho que pode ser resolvido pela inteligência e pela prática. Podemos consultar o que dizem os manuais, discutir, pensar, interpretar. É importante também registrar as impressões de conjunto, intuições, vislumbres, lampejos. E depois esperar que os fatos comprovem ou

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corrijam o que entendemos. Esse caminho prático é seguro e confiável. Podemos aprender com os fatos, sem pretensas adivinhações. Os significados das cartas Se a primeira "regra de ouro" mencionada acima for bem aplicada, ajudará a resolver uma dificuldade básica. Entre os que começam a praticar tiragens a dúvida mais comum é a de como traduzir cada carta. Ficam sem saber se devem falar dos aspectos positivos ou negativos. Vacilam na escolha dos significados contraditórios que aparecem nos diferentes livros e autores. Essa questão é de fato essencial. Não encontraremos uma resposta fácil para ela porque, na realidade, os símbolos são mais amplos, mais profundos e mais repletos de significados do que as limitadas perguntas que fazemos habitualmente. Mesmo que o tarólogo tenha muita experiência, estará sempre diante da dificuldade de reduzir o mundo rico e variado dos arcanos aos limites restritos das nossas formulações. O que pode ajudar a leitura é definir claramente o que esperamos que a carta indique. Por exemplo, se queremos compreender bem uma situação, tiramos uma carta para esclarecer seus pontos fortes e outra carta para mostrar seus pontos fracos. Nesse caso, levaremos em conta os significados positivos da carta tirada para explicar os pontos fortes. Para traduzir os pontos fracos da situação levaremos em conta os pontos negativos que em geral são atribuídos à carta que foi tirada para explicar esse lado da questão. É importante, quando estudamos os símbolos do Tarô, procurar conhecer pelo menos três aspectos de cada carta: seu lado luminoso ou positivo; o lado de sombra ou negativo; e o conselho que oferece. Quanto mais amplo for o nosso entendimento, mais fácil será aplicar a carta à função que definimos a ela durante a tiragem. Arcanos Maiores e/ou Menores? Tarot ou baralho comum? Uma outra questão relacionada à técnicas de tiragem é a de utilizar o baralho inteiro ou apenas parte dele. Há aqueles que utilizam o conjunto das 78 cartas (22 Arcanos Maiores e 56 Arcanos Menores, ao mesmo tempo). Os usuários do chamado “Tarô Egípcio” não encontram qualquer motivo para tal separação, pois as 78 cartas foram redesenhadas todas no mesmo padrão dos arcanos maiores, sem clara distinção entre os naipes. Já entre os que utilizam o modelo clássico, muitos praticantes separam dois maços: um com os arcanos maiores e, o outro, com os menores. E, de acordo com a função que a carta ocupará na tiragem, pedem que o cliente retire cartas ou do monte dos arcanos maiores ou do monte dos arcanos menores. Dicta e Françoise, por exemplo, sugerem que se comece a consulta com os Arcanos Menores; caso apareça um Ás, significa que a questão é importante e merece ser examinada com a ajuda dos Arcanos Maiores. Para deixar a questão em aberto, podemos lembrar um ponto de vista oposto, o de G. O. Mebes, ao afirmar que os Arcanos Menores falam de um plano mais sutil que o retratado pelos Arcanos Maiores... Há também aqueles que, com propósito pedagógico ou terapêutico, utilizam apenas as cartas com desenhos mais personificados. Ou seja, deixam de lado as 40 cartas numeradas dos quatro naipes, e utilizam somente 42 cartas (22 arcanos maiores, 16 figuras e os 4 ases). Do ponto de vista do iniciante, talvez torne o caminho mais simples começar pelos arcanos maiores, mais diferenciados e, por isso, mais diretos para evocarem analogias e significações simbólicas. Ficará para uma segunda etapa a inclusão das cartas numeradas (arcanos menores), mais abstratas e que exigem maior estudo. A bem da verdade, essa última afirmação vale mais para a nossa atual população urbana, classe média, com formação escolar padrão. Nas pequenas comunidades do Interior brasileiro a história é outra: as mulheres do povo que desempenham o papel de curadoras, benzedeiras e cartomantes, encontram disponível apenas o baralho comum, de carteado, com suas 52 duas cartas (as 40 numeradas em quatro naipes, mais 12 figuras, sem o cavaleiro). E é com esse baralho, sem aparentes evocações esotéricas, que fazem suas leituras e ajudam as pessoas de suas comunidades...

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Nada impede, afinal, que se pratique "ler as cartas" apenas com o baralho comum. Aliás, ele é quase completo, quando comparado aos "arcanos menores" do Tarot original: faltam apenas os Cavaleiros. Além disso, o baralho comum tem quase 50% de cartas a mais do que os jogos remontados e reduzidos por Lenormand, a partir do início do século 19, também conhecidos como "baralho cigano". Nunca é demais repetir: não existem regras absolutas para o Tarô. Tal como acontece com os jogos de cartas para o lazer – buraco, tranca, truco, mico, rouba-montinho e por aí afora... – são os participantes que combinam entre si as regras e suas variações, se utilizam todas as cartas do maço ou apenas parte, se jogam com um maço de baralhos ou com dois. O importante é experimentar e verificar, por conta própria, o que faz mais sentido para cada momento de prática e de estudo. Detalhes Na prática, vemos tarólogos e cartomantes dando importância a muitos detalhes que podemos acolher, mas que não precisamos tomar como leis ou dogmas. Vejamos alguns desses pontos, que cada um levará em conta, ou não, de acordo com seu temperamento e disposições. A sugestão é a de experimentarmos as alternativas e escolhermos as que correspondem melhor ao nosso feitio. Esses procedimentos constituem meros registros do que acontece na prática e não são dogmas ou ritos obrigatórios. Toalha. Muitos guardam um pano próprio ou toalha especial sobre o qual abrem as cartas. Tecidos lisos e de cores escuras têm a vantagem de dar destaque às cartas, que são o centro do interesse. Se quizer utilizar uma toalha, que cada um faça a escolha como bem entender. Embaralhar. Igualmente não existem regras absolutas. Muitos praticantes pedem que o cliente embaralhe as cartas para deixar sua vibração ou, em outros termos, para se que “fiquem donos” das cartas. Outros pedem simplesmente que o consulente pouse as mãos sobre as lâminas, para passar sua energia. Existem ainda aqueles profissionais que embaralham as cartas cuidadosamente, eles próprios, e pedem apenas para o cliente cortar. A razão de tal procedimento em muitos casos nada tem de esotérico: é um simples recurso para que as cartas não se machuquem em mãos inábeis. Corte. É muito comum que o conselheiro ou cartomante peça que o cliente “corte o maço”, ou seja, divida em dois ou três montes. Alguns recomendam que seja com a mão esquerda, outros com a direita. Sejam quais forem os procedimentos, pode ser interessante atribuir uma função para a carta de corte na leitura, por exemplo, para indicar o “cenário geral” da questão ou seu “pano de fundo” ou qualquer outra função tida como significativa pelo operador. Sorteio das cartas. Alguns praticantes pedem apenas que o cliente “corte” o maço e, eles próprios deitam as cartas que serão lidas durante a consulta. Outros fazem questão de que as cartas da tiragem sejam escolhidas pelo próprio cliente. Cartas invertidas. É relativamente freqüente atribuir um sentido negativo às cartas que saem de cabeça para baixo. Para quem deseja levar isso em conta o embaralhamento deve ser feito rolando as cartas sobre a mesa, para garantir a alternância de posição. Além disso, uma mesma carta pode sair direita ou invertida dependendo de o praticante “abrir” a carta girando-a no eixo vertical ou horizontal. Por essa razão é indispensável que cada um defina seu próprio código pessoal, caso queira levar em conta o fato de a carta sair em pé ou de cabeça para baixo. Muitos tarólogos preferem trabalhar com todas as cartas direitas, sem deixá-las invertidas. Desse modo, quando querem conhecer o lado difícil ou negativo de um assunto, simplesmente tiram uma carta específica para descrever tal aspecto. Veja links para a técnica de cartas invertidas em: Técnicas mistas e Outros Estudos Momento de abrir (ou virar) as cartas sorteadas. O usual é sortear ou escolher as cartas pelo verso, com os desenhos ocultos. Alguns sorteiam de uma só vez todas as cartas que utilizarão; outros preferem ir retirando uma a uma, tornando o desenho visível e fazendo os comentários pertinentes; só ao final, fazem uma síntese do conjunto.

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Voltada para leitor. A maior parte dos praticantes arrumam as cartas viradas para si e não para o cliente. Na verdade, é o leitor que deve receber as impressões diretas do arranjo sobre o qual fará sua apreciação. Nada impede, porém, quer numa situação de consulta profissional, quer numa prática terapêutica ou de estudo entre amigos, que as cartas sejam tocadas e examinadas de perto pelos envolvidos na consulta. Dicas fundamentais para uso do tarô

Giancarlo Kind Schmid

Reuni aqui algumas dicas que considero valiosas para o desenvolvimento do estudo e trabalho com o tarô. Sugiro que as leia com atenção, de preferência mais do que uma vez. 1. Preferencialmente, inicie os estudos de tarô pelo simbolismo das lâminas originais (baralhos clássicos); entrose-se com a simbologia, estude-a, entende-a, assimile-a. Um bom livro para começar é Dicionário de Símbolos de Alain Gheerbrant e Jean Chevalier, da Ed. José Olympio. 2. Uma vez compreendida a estrutura simbólica, defina qual baralho vai trabalhar. É preciso simpatizar-se com ele, deixar que ele "fale com você". De nada adianta ter um baralho caro ou bonito, se ele não estimular a leitura. É preciso gostar do baralho, se familiarizar com ele. Mas, caso opte por algum baralho temático ou transcultural (egípcio, mitológico, Robin Hood, arturiano, céltico, escandinavo, etc.), estude a estrutura dos mitos ou enredos envolvidos, lembrando que eles não explicam a simbologia dos arcanos, mas estabelecem paralelos. 3. Se você optou estudar o tarô pela via ocultista (Mebes, Papus, Lévi, Zain, Waite, Crowley, Wirth, Ouspensky, etc), lembre-se que o estudo tem uma aplicação melhor quando o praticante está inserido numa escola iniciática ou alguma ordem esotérica. Não funciona usar linguagem hermética com um consulente, que só está interessado num fim, digamos, "mundano". Cada coisa em seu lugar: esqueça o hermetismo e use a linguagem "feijão com arroz"; vá ao cerne da questão e dê a resposta necessária. 4. Já que estamos a abordar o tema "linguagem", evite se explicar demais numa interpretação ou usar subterfúgios, do tipo "Aqui fala de silêncio porque a Papisa está dentro do Templo, segura o livro..." Não funciona! O consulente quer obter uma resposta ou orientação e não está nem aí para o simbolismo das lâminas, a não ser que curta. Evite também ser prolixo, dando voltas e voltas na análise para chegar à resposta. Quanto mais queremos explicar, mais inseguros estamos, pois provavelmente queremos convencer a pessoa daquilo que estamos a abordar.

5. Dê preferência ao método de tiragem "europeu" (um Maior + um Menor por casa) – no mundo, hoje, a maioria das pessoas usa essa metodologia. Usar ora um Maior, ora um Menor por casa confunde a leitura, pois são dois grupos distintos de arcanos, apontando para abordagens diferentes.Logo, evite o sistema "americano". No máximo, o sistema "italiano" (em desuso) no qual é utilizado um Maior + dois Menores por casa. 6. A forma de embaralhar, cortar, distribuir, normalmente é pessoal. Não há "receita de bolo" para tal. Assim como "consagrar" o baralho, realizar rituais para energizá-lo, não deixar que as pessoas toquem o mesmo, tudo isso é pessoal e o tarô independe de tais regras "fabricadas", oriundas do credo de cada um. 7. Se optar trabalhar com arcanos invertidos, tenha em mente que tipo de atribuição dará a essa configuração. Antigamente, a inversão dos arcanos (sugerida por Eteilla), gerava a inversão dos atributos

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da lâmina. Hoje, isso está em desuso, pois sabemos que os símbolos não tem polaridade e o que vai dar a um arcano uma atribuição "positiva ou negativa" é a combinação com outro arcano e a casa do método onde ele cair. Tenho uma visão particular quanto à inversão dos arcanos, sem alterar seus significados. Por isso, se usar, defina antes o que vai ser atribuído. 8. Sempre chamo a atenção de todos, quanto a estabelecer as regras e convenções antes de cada análise. Fazer uso do tarô para depois convencionar algo, simplesmente não funciona. O tarô segue a intenção de quem o utiliza, logo, ele é manipulável e altamente flexível. Existem convenções universais e pessoais: a 1ª, normalmente aponta para um consenso geral quanto à viabilidade da regra; o 2º caso, a convenção pode funcionar só com a pessoa. Nos dois casos, familiariarize-se com a coisa. 9. Conheça muito bem o método que trabalhar, esmiúce os significados de cada casa, leia, indague, troque opiniões com colegas. O método é a fôrma da leitura. Usando um exemplo, imagine que quer fazer um bolo (leitura). Você precisa dos ingredientes para fazê-lo (baralho escolhido, abordagem, técnica, etc.). Precisa saber como dosar cada ingrediente (conhecimento dos arcanos). Mas, para prepará-lo, precisa de uma forma, um recipiente para colocá-lo (método). Se alguns destes passos falha, ou o bolo sola (ou a tiragem "vai para o saco"). O método, tal como a forma, tem que comportar o bolo, senão, ele não sai bonito. Logo, para cada bolo, uma forma diferente (para cada leitura, um método especial).

10. Definitivamente, o tarô não é preciso para definir temporalidade. Ele sugere, dá pistas, mas não é certeiro. A astrologia, nesse ponto, é mais exata. Escolha, então, um tipo de tabela de temporalidade, se familiarize com ela, estude-a, aplique-a. Não tente adequar ou comparar uma tabela com outra porque não dará certo. Essa é uma convenção estritamente pessoal: não há unanimidade e, por isso, escolha a sua, mas não imponha que essa ou aquela é melhor ou mais funcional. 11. Não tente extrair do tarô, uma resposta que já foi dada. Tem gente que não se convence da tiragem e tenta inúmeras vezes obter a resposta, usando métodos diferentes ou variando a maneira de perguntar sobre a coisa. O tarô responde uma única vez dentro de um prazo de tempo: insistir em obter a resposta ideal, é cair na armadilha do tarô – confundindo o praticante e deixando-o ainda mais angustiado. 12. O ambiente, cor de pano, caixa, uso de cristais ou incensos e outras coisitas mais, independe do tarô, pois ele vai funcionar de qualquer forma. Novamente, isso parte do credo e necessidade de segurança/proteção de cada um, sendo até sugerido, mas não imposto. Vale, de certa forma, o mesmo que vimos no item 6.

13. Aprender a interpretar os arcanos é como o aprendizado na alfabetização. Os Maiores são as vogais, os Menores as consoantes. De longa data, sempre houve preconceito com os Arcanos Menores. Algumas ramificações ocultistas sempre consideraram esse grupo de arcanos como parte da cartomancia. Daí, surgiram dissidências quanto ao tarô e o ramo cartomântico. Mesmo que exista mais quantidade de arcanos, considero muito mais fácil aprender os Menores do que os Maiores. É preciso aprender o simbolismo de cada naipe, hierarquia numérica e posicionamentos da Côrte. O resto é consequência. 14. Se for aplicar um método numa comunidade (como as que existem no Orkut), fórum, lista da internet ou outro ambiente virtual, sempre explique que atributos foram dados à casa da tiragem, para melhor aproveitamento de todos e entendimento geral. 15. A combinação do Maior com o Menor se dá por extensão de leitura simbólica: é preciso encadear os arcanos, e não lê-los separadamente, procurando unir as peças e montar uma história, para dar sentido à leitura. Não existe esse negócio de arcano conflitante com outro: "todos eles são peças de um mesmo quebra cabeça", basta que saibamos uni-las. Evite então, ler um arcano por vez, leia-os juntos, integre-os e use a imaginação. 16. Evite colocar o tarô para si mesmo caso esteja envolvido(a) emocionalmente com a questão: a ansiedade, o nervosismo e a angústia são inimigos da leitura, da interpretação e da compreensão. Nesse caso, prefira que outra pessoa faça a tiragem e, se possível, a interpretação. Temos por hábito procurar

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a resposta certa para nossas questões e projetamos sobre a consulta, nesse caso, aquilo que queríamos ouvir ou alcançar.

A qualidade dos baralhos e seus cuidados

Giancarlo Kind Schmid

Algumas pessoas chegam até mim e perguntam sobre a melhor editora e a qualidade dos decks publicados.

Devido à tecnologia atual, praticamente todas editoras melhoraram a resistência e durabilidade de seus baralhos, com a exceção (infelizmente) dos países de terceiro mundo que ainda deixam a desejar (devo citar o Brasil aqui?!). Basicamente, há quatro grandes editoras responsáveis pela edição e publicação de tarôs no mundo: 1. US Games Inc (americana) 2. Fournier (espanhola) 3. AG Müller (belgo suíça) 4. Lo Scarabeo (italiana) Vejamos alguns aspectos que devem ser levados em consideração para justificar a qualidade dos tarôs.

O papel

A maior parte das editoras trabalha com folhas duplas. São duas chapas de papel sobrepostas e prensadas. Isso evita que as cartas se dobrem facilmente, além de evitar que se rasguem. Alguns baralhos de plástico, é claro, não se valem de tal técnica. Raramente você encontrará cartas de editoras estrangeiras em folha única. Nesse ponto, apenas as edições bem antigas. Para você identificar a dupla camada, pegue uma carta ou lâmina do seu baralho importado e veja suas laterais: há uma pequena linha que separa as duas folhas. Outra coisa: normalmente o papel é tratado para receber a impressão. A preocupação dos fabricantes é que o papel seja resistente o suficiente contra umidade das mãos e do tempo. Além disso, que não seja duro como o papelão, para não atrapalhar na hora de embaralhar as cartas. E que não seja tão pesado ao segurar todo baralho. Poucas pessoas sabem, mas são impressas 20 cartas em cada folha para corte na guilhotina industrial. Como o tarô se compõe de 78 arcanos, todas editoras usam as 2 cartas extras para colocar o nome da empresa, logomarca, nome do baralho, propaganda, ou símbolos pertinentes. Eles aproveitam, portanto, as 80 cartas que são recortadas das 4 folhas impressas.

O tratamento

Há três tipos de tratamentos dados ao papel depois que as cartas foram impressas: a) plastificação, b) enceramento e c) resinação. O primeiro tipo de tratamento, a plastificação, considero o pior. Quem já não usou baralhos que com o tempo descascam e ficam soltando "farpinhas" de plástico? Isso ocorre devido à ação física do calor das mãos + umidade + fricção. Evite, portanto, decks plastificados por melhor que seja a tecnologia.

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Você reconhece um deck plastificado à distância: eles brilham e são atraentes à primeira vista. Mas, com o tempo tornam-se foscos e descamam, abrindo bolhinhas nas cartas. Isso sem falar nas bolinhas de sujeira que elas acumulam. Tenho um Rider que ficou imundo por causa disso, mesmo lavando as mãos (mas, o cliente nem sempre tem o mesmo cuidado). Recomendo evitar as cartas plastificadas. A US Games tinha o péssimo hábito de plastificar. Acho que depois de muitas reclamações, mudaram o tratamento. Infelizmente, estimo que 30% dos decks ainda são plastificados. O enceramento, é um pouco melhor. Não tem o brilho da plastificação, as lâminas deslizam bem entre elas, mas basta que mude o tempo e essas lâminas parecem grudar. Absorvem a umidade do ar com facilidade. Se você não tiver cuidado com esse tipo de baralho, as cartas abrem pontas. Isso ocorre porque mesmo

depois das folhas duplas serem prensadas, o enceramento produz um choque de temperatura que fragiliza a integridade do papel. Algumas cartas podem abrir pontas com facilidade, basta embaralhar com mais força, empurrando as cartas para entrarem no maço. A maioria das editoras usa essa tecnologia, sendo que a Fournier se supera. Já a resinação... que maravilha! Quem tem o Oráculo Bellini saberá o que estou falando! Enrijece e protege o papel, desliza que é uma maravilha e você pode ainda limpar as cartas com um algodão ou pano macio levemente úmido! Pouquíssimos baralhos são feitos com tal tecnologia, os mais caros provavelmente. A resinação é como um invólucro em torno do papel, protegendo-o do tempo e descuidos do usuário. Todos decks deveriam ser assim.

Impressão e caixas

Praticamente todas editoras se superam. Por vezes deixam a desejar, como é o caso da US Games. Alguns baralhos parecem vir desbotados ou com as cores meio fora da figura, mas isso ocorre com as edições mais antigas. A impressão deve ser viva e definida de forma a destacar todos detalhes das figuras. 90% dos baralhos possuem caixas de papel. Somente os mais caros é que se dão ao capricho de colocar

em saquinhos, caixas de madeira ou forradas com veludo. Um exemplo é o deck de Salvador Dali: é um luxo só. Vem em caixa aveludada, muito bonita. O Tarot of Dreams vem dentro de uma grande caixa, além de um saquinho preto protegendo-o (também um luxo). O Alchemical Tarot, segundo consta, vem em caixa de madeira (não vi ainda). As caixas devem ser atraentes em sua maioria. Alguns baralhos recebem tratamentos especiais como folhas de ouro, como ocorre no Nefertari Tarot, edição de luxo Visconti Sforza e Russian St. Petersburg.

Cuidados com o seu baralho

Se você tem ciúmes (como eu) dos seus baralhos, darei algumas sugestões para que eles durem mais. De acordo com as indicações dadas acima, quanto mais frágil o baralho, maior a necessidade de cuidados: 1º. lave sempre as mãos antes de manuseá-lo e, se possível for, peça para o consulente fazer o mesmo; 2º. seque sempre bem as mãos antes de manuseá-lo;

3º. se trabalha diariamente com tarô, prefira usar um baralho mais modesto do que um caro;

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4º. se valha de um tecido macio (seda, algodão, veludo, etc.) para usar como fundo na sua mesa de trabalho; 5º. evite colocar por perto incensos (por causa da cinzas), velas (por causa da cera), ou outros produtos que possam cair e macular seu baralho; 6º. ao embaralhar, faça suavemente. Tem gente que pega as cartas e as utiliza como estivesse jogando num cassino, outros enfiam com força as cartas no maço empurrando-as para entrar, outros parecem martelar as cartas no maço. Lembre-se: "o baralho é como um passarinho - se você deixa solto demais, ele voa; se aperta demais, ele sufoca". Com paciência é possível embaralhar sem castigar as cartas; 7º. não molhe e nem use produtos abrasivos nas cartas (álcool por exemplo), no máximo um pano levemente úmido;

8º. não plastifique seu baralho de forma alguma - o risco de estragá-lo é alto; 9º. mantenha-o sempre dentro de uma caixinha, de preferência larga e cômoda; 10º. se cair uma lâmina ou o baralho no chão, pegue-o com cuidado, pois há pessoas que amassam ao tirar as cartas do chão fazendo quase um "U" com elas, quando não arrastando-as no piso (argh!) para firmá-las e pegá-las.