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O Tédio de Suzumiya Haruhi Síndrome da Ilha Isolada: A cena diante de mim era tão impactante que eu havia esquecido por completo da dor em meus ombros. Justo agora estou estirado no chão, incapaz de me levantar, visto que também estou paralisado com o que vejo. A razão pela qual não posso me mover é porque em minhas costas está algo tão pesado quanto uma âncora e não posso tirá-la, mas isso não importa agora. Koizumi, que estava atrás de mim quando derrubamos a porta, agora se encontra em cima de mim, provavelmente paralisado, assim como eu. Saia de cima de mim! Eu nem ao menos tinha o direito de dizer isso. Vocês podem imaginar como estava surpreso. Como isso pode ser possível? Não posso crer que isso esteja realmente acontecendo. Isso não é motivo de piada. O que devemos fazer? Uma luz brilhante iluminou o exterior da janela. Poucos segundos depois, o som de um trovão fez eco através de meu corpo. Uma verdadeira tempestade. Está cobrindo a ilha desde ontem. “... como isso pôde acontecer?” Escutei um suspiro. Esse deve ter sido Arakawa-san, que derrubou a porta junto comigo e Koizumi e que caiu no chão conosco. Koizumi finalmente saiu de cima de minhas costas. Girei o corpo e me sentei no chão. Olhei novamente a cena incrível que estava diante de mim. No tapete próximo a porta está um homem que caiu de costas no chão. É ninguém menos que o proprietário, de idade mediana, que não desceu para comer de manhã. Nós o reconhecemos pelo traje que usava, o mesmo que usava ontem depois de desejarmos boa noite. O único que estava com um traje desnecessário nesta ilha de veraneio era ele. Aquele que empregou Arakawa-san, proprietário da mansão e da ilha. Tamaru Keiichi-san. Keiichi-san estava estirado no chão com uma expressão inexpressiva, sem mover um músculo. É absolutamente normal que ele não se mova, pois está morto. Como eu sabia disto? A resposta era óbvia. O objeto em seu peito era bem familiar. Era o cabo de uma faca de frutas que estava dentro da cesta de frutas da mesa durante o jantar na noite passada. Posso apostar com vocês que, presa ao cabo, havia uma afiada faca de metal, ou seria possível que estivesse perpendicular dentro do peito de uma pessoa? Em outras palavras, a faca foi cravada no peito de Keiichi-san. Não acredito que alguém conseguiria viver se tivesse uma faca diretamente cravada em seu coração, não é? E justamente agora este é o estado de Keiichi-san. “KYAA...” Através da porta derrubada atrás de mim, veio um pequeno grito estarrecido. Eu me virei e vi Asahina-san com as mãos na boca. Nagato estava de pé atrás de Asahina-san, que

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O Tédio de Suzumiya Haruhi Síndrome da Ilha Isolada:

A cena diante de mim era tão impactante que eu havia esquecido por completo da dor em meus ombros.

Justo agora estou estirado no chão, incapaz de me levantar, visto que também estou

paralisado com o que vejo. A razão pela qual não posso me mover é porque em minhas costas está algo tão pesado quanto uma âncora e não posso tirá-la, mas isso não importa agora. Koizumi, que estava atrás de mim quando derrubamos a porta, agora se encontra em cima de mim, provavelmente paralisado, assim como eu. Saia de cima de mim! Eu nem ao menos tinha o direito de dizer isso. Vocês podem imaginar como estava surpreso.

Como isso pode ser possível? Não posso crer que isso esteja realmente acontecendo.

Isso não é motivo de piada. O que devemos fazer? Uma luz brilhante iluminou o exterior da janela. Poucos segundos depois, o som de um

trovão fez eco através de meu corpo. Uma verdadeira tempestade. Está cobrindo a ilha desde ontem.

“... como isso pôde acontecer?” Escutei um suspiro. Esse deve ter sido Arakawa-san, que derrubou a porta junto

comigo e Koizumi e que caiu no chão conosco. Koizumi finalmente saiu de cima de minhas costas. Girei o corpo e me sentei no chão.

Olhei novamente a cena incrível que estava diante de mim. No tapete próximo a porta está um homem que caiu de costas no chão. É ninguém

menos que o proprietário, de idade mediana, que não desceu para comer de manhã. Nós o reconhecemos pelo traje que usava, o mesmo que usava ontem depois de desejarmos boa noite. O único que estava com um traje desnecessário nesta ilha de veraneio era ele. Aquele que empregou Arakawa-san, proprietário da mansão e da ilha.

Tamaru Keiichi-san. Keiichi-san estava estirado no chão com uma expressão inexpressiva, sem mover um

músculo. É absolutamente normal que ele não se mova, pois está morto. Como eu sabia disto? A resposta era óbvia. O objeto em seu peito era bem familiar.

Era o cabo de uma faca de frutas que estava dentro da cesta de frutas da mesa durante o jantar na noite passada.

Posso apostar com vocês que, presa ao cabo, havia uma afiada faca de metal, ou seria

possível que estivesse perpendicular dentro do peito de uma pessoa? Em outras palavras, a faca foi cravada no peito de Keiichi-san.

Não acredito que alguém conseguiria viver se tivesse uma faca diretamente cravada

em seu coração, não é? E justamente agora este é o estado de Keiichi-san. “KYAA...” Através da porta derrubada atrás de mim, veio um pequeno grito estarrecido. Eu me

virei e vi Asahina-san com as mãos na boca. Nagato estava de pé atrás de Asahina-san, que

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estava retrocedendo lentamente e agarrando seus ombros com força. Nagato me olhou com sua típica expressão de tranqüilidade e, então, abaixou a cabeça como se estivesse pensando profundamente.

Sem dúvida, onde quer estivéssemos, ela estará ali. “Kyon, essa pessoa... poderia estar...” Haruhi parecia estar impressionada também, exibindo sua cabeça ao lado da de

Asahina-san para ver o que estava acontecendo e observando Keiichi-san em seu descanso eterno, com seus olhos negros parecidos com os de um gato.

“... morta?” É bastante raro que ela fale em voz tão baixa, com uma ponta de ansiedade. Eu me

virei e estava a ponto de dizer algo quando vi o rosto de Koizumi, com seu alegre sorriso de sempre substituído por uma expressão confusa. Mori-san, a empregada, também se encontrava de pé no corredor.

Só uma pessoa que passou o dia de ontem na mansão estava desaparecida. Um quarto com uma porta que precisa ser derrubada para se poder entrar, um

proprietário morto e uma pessoa desaparecida. O que significa tudo isso? “Quero dizer, Kyon...” Haruhi falou de novo, seu rosto mostrava um olhar incomodado pouco familiar. Tive a

ilusão de que ela estava a ponto de cair sobre mim. Outro resplandecer de um raio, iluminou o quarto todo. A tempestade que desatara

desde ontem começava a se acalmar. As ferozes ondas que rebatiam contra a costa da ilha criavam um som aterrador junto com os trovões.

O proprietário de uma ilha isolada, morto em seu quarto com uma faca cravado em seu

peito, em meio a uma tempestade. Esta era a cena que estava diante de meus olhos. Eu não podia evitar pensar. Ei, Haruhi Por acaso foi você quem criou isto? Eu me lembrei da viajem que trouxe a Brigada SOS até essa cena. Voltando alguns dias, antes das férias de verão terem começado... ......... ...... ... Estávamos na metade do verão, na metade de julho. O sol estava tão forte que

desejava que ele tirasse umas férias, para variar. Como sempre, eu passava o tempo em nosso quartel ilegal, que era anteriormente o

Clube de Literatura, desfrutando o chá feito pela Asahina-san. Ainda que já houvesse me recuperado dos resultados das provas da metade do semestre, uma vez que comecei a pensar

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nas inevitáveis aulas de reforço, já não conseguia relaxar. Nesse momento, a única opção que tinha era escapar de tudo.

Em um piscar de olhos, pensei nas diversas maneiras com as quais poderia convencer a mim mesmo de que a realidade em que vivo, na verdade, é uma mentira. Estava pensando em qual deveria usar...

“Desculpe... você está bem?” Eu despertei do meu sonho de ser um patrulheiro alienígena, caindo de pára-quedas

no lado escuro da Lua e invadindo o edifício do parlamento. “Você está bastante deprimido hoje... por acaso meu chá não está bom?” “Absolutamente, ele está ótimo.” Respondi. Seu chá está ainda mais doce que o mel celeste, ainda que tenha sido

preparado usando folhas que estavam em promoção. “Isso é maravilhoso.” Asahina-san, vestida em uma fantasia de empregada de veraneio, deixou escapar um

suspiro de alívio. Ela me deu um sorriso tão gentil, que respondi com um sorriso espontâneo. Sua felicidade é minha felicidade. Nem um sábio viajando pelas mais remotas montanhas poderia encontrar um elixir tão efetivo quanto o sorriso de Asahina-san. Minha mente agora estava tão clara quanto a superfície do Lago Mashu em Hokkaido [1]. Eu até podia escutar os anjos tocando suas trombetas... 1-[Nota do tradutor: o Lago Mashu (em japonês 摩周湖 "Mashū-ko") é um lago situado a 351 metros de altitude na cratera de um vulcão inativo.]

Senti vontade de estender minha paixão a todo o mundo, como fez São Francisco de

Assis quando pregava às suas irmãs, mas ao final me dei por vencido. Não que eu estivesse incomodado em usar frases elegantes, mas porque nesse momento uma pessoa incômoda entrou com sua melodiosa voz...

“Olá a todos! Como foram as provas do meio semestre?” Koizumi pôs sobre a mesa um tabuleiro de Banco Imobiliário que trouxe enquanto fazia

essa pergunta irrelevante. Graças a ele, voltei ao lado escuro da Lua, me escondendo na órbita do satélite enquanto pensava em como realizar todas essas difíceis paradas. Por que não se pode jogar Banco Imobiliário em silêncio? Ele devia aprender com a Nagato, sentada pacificamente, em seu canto, lendo seu livro.

Abrindo um livro de capa dura tão grosso como uma enciclopédia, Nagato se sentou

em sua cadeira dobrável, com seu uniforme de marinheiro de verão. Ela tinha seus olhos fixos no livro, com esse rosto de estátua de vidro. De certo modo, ela é uma existência digital, porém ainda sim parece se divertir ao absorver dados físicos. Eu me pergunto se há uma razão especifica para isso?

“ ...” Agora que parei para pensar: como é que todos em nosso clube têm tanto tempo

sobrando? A escola terminou cedo o dia de hoje, as aulas já haviam terminado pela manhã.

Então, por que é que todos nos reunimos aqui? Isso me inclui. Porém, eu tenho uma razão justificável para estar aqui! Se eu não bebo o chá da Asahina-san ao menos uma vez por dia, basicamente, me converto em um zumbi. Graças a isso, usualmente costumo sofrer de sintomas de abstinência nos fins de semana.

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Estou brincando. Por acaso pensaram que eu falei serio? É só que aprendi algo desde que entrei no Ensino Médio – algumas pessoas tendem a levar brincadeiras muito a sério. Eu falo pelas minhas próprias experiências dos últimos meses, assim, não posso estar enganado. Alguém precisa definir um limite bem claro entre brincar e ser sério, ou algo terrível pode acontecer.

Assim como em minha situação atual. Abri minha mochila e peguei um sanduíche de presunto que ganhei na Sociedade para

o Bem Estar para o lanche. Enquanto nos ocupávamos com a conta regressiva para o fim das férias de verão,

deveria haver uma razão para nos reunirmos aqui... Ou não. Digo isso porque a Brigada SOS foi criada sem nenhuma razão, no final das contas. Ao invés de fazer algo realmente estúpido, é melhor que permaneça em seu estado atual de não ter objetivo algum, porque dessa maneira não tenho que pensar muito.

“Acho que eu também gostaria de lanchar.” Asahina-san é tão detalhista que ela preparou seu próprio chá, tirou uma linda marmita

com seu almoço e se sentou do lado oposto ao meu. “Não se preocupem comigo, eu já comi alguma coisa na cantina.” Koizumi recusou sem. ninguém perguntar. Enquanto a fome de Nagato é mais para

livros do que, de fato, alimentos. Asahina-san pegou um pouco de arroz – que tinha uma carinha sorridente desenhada

com creme – com seus hashi [2] e disse: 2-[Nota do tradutor: hashi é o tradicional “palitinho” oriental utilizado na maioria das refeições.]

“Onde está Suzumiya-san? Ela não chegou ainda.” Não me pergunte. Ela provavelmente está em algum lugar caçando gafanhotos. É

verão, afinal de contas.

Koizumi respondeu por mim. “Eu a vi na cantina. O apetite dela é surpreendente. Se toda a comida que ela consume

fosse convertida em nutrientes, eu me pergunto quantos ergs [3] seriam.” 3-[Nota do tradutor: o erg é a unidade de energia no sistema de unidades centímetro-grama-segundo (CGS).]

Eu não vou calcular esse tipo de coisa. Se ela estava tentando fechar a cantina, então

ela pode ficar ali a tarde toda.

“Mas mesmo assim. Ela disse que tinha algo importante para anunciar hoje.” Simplesmente não consigo entender. Como pode estar tão alegre? O que quer que ela

tenha a dizer, não pode ser nada benéfico para a sociedade. Ou pode? Por acaso sua capacidade de memória é menor do que a de um disquete de cinco polegadas?

“Eu não acho. De qualquer forma, como é que você sabe disso?” Koizumi falou casualmente: “Hum. Eu me pergunto como será que eu sei? Eu podia até dizer, porém a Suzumiya-

san preferiria contar ela mesma. Seria um grande problema se acontecesse dela perder o bom humor se eu contasse antes. É melhor que eu me mantenha em silêncio por enquanto.”

“Não estou interessado, de qualquer jeito.”

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“É mesmo?” “É, pelo tom de sua voz, parece que essa idiota teve alguma idéia nova. Não sei por

quanto tempo vai durar minha paz mental, só estou certo de que ela vai desaparecer rápido.” Quando estava a ponto de continuar, fui interrompido pelo som de uma forte pancada

produzido pela porta, sendo aberta violentamente. “Mas que ótimo! Todos estão aqui!” Os olhos da Suzumiya brilhavam como um espectrômetro: “Hoje teremos uma reunião muito importante. Pensei em, de agora em diante, fazer

com que qualquer um que chegue depois mim seja tratado como um alvo de prática de lançamento de latas como castigo. Só que parece que vocês já começaram a alimentar o espírito de equipe. Isso é excelente!”

Não era preciso dizer, eu nem fiquei sabendo que haveria uma reunião importante

hoje. “Você, sim, tem muito tempo livre.” Eu estava tentando fazer ela se tornar mais humilde. “Veja. O segredo de comer numa cantina da escola é ir justamente um pouco antes de

fecharem para que assim as velhinhas te dêem mais comida. Só que a precisão é o mais importante, seria inútil chegar lá quando já venderam tudo. Então, hoje é um dia de sorte!

“Sério?” Para alguém como eu, que vai raramente comer na cantina, esta era uma informação

nova que seria de certa forma, inútil, não importando quantas fossem as porções. Haruhi se sentou na cadeira do comandante. “De qualquer forma, nós desejamos isso.” “Foi você quem começou com essa história.” Haruhi me ignorou e falou com a Asahina-san, que estava comendo calmamente com

seus hashis. “Mikuru-chan. No que você pensa quando se fala em verão?” “Huh?” Asahina-san cobriu a boca, mastigando e engolindo rapidamente a comida que ela

tinha cozinhado. ”Verão... hum... Festival de o-bon [4]?”

4-[Nota do tradutor: o Festival Bon, ou o-bon, ocorre tradicionalmente durante vários dias por volta de 15 de julho no calendário lunar, quando se acredita que as almas do mortos retornam a seus lares.]

Haruhi pensou um pouco diante dessa resposta tão tradicional. “Festival de o-bon? O que diabos é isso? Por acaso você se enganou? Eu não estou te

perguntando sobre isso, quero dizer. Quando se trata de verão, qual é a primeira coisa que vem à cabeça?”

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De que diabos você está falando? Haruhi disse como se fosse um tipo de marco. “Férias de verão! Por acaso é preciso pensar para responder?” Essa forma de pensar é direta demais. “Então. O que é que vem com as férias de verão?” Haruhi fez uma segunda pergunta e, então, olhou seu relógio enquanto imitava o som

de ponteiros avançando: “Tic, Tac, Tic, Tac”. Talvez por se sentir pressionada, Asahina-san começou a pensar freneticamente. “Hum, isso é, ah... mar!” “Isso mesmo! Está perto. E o que vem com o mar?” Que diabos é isso? Um jogo de adivinhação? Asahina-san inclinou a cabeça. “Mar, mar... . Peixe frito?” “Errado! O verão já teria acabado antes de você conseguisse adivinhar. O que eu estou

dizendo é que nós temos que sair numa excursão para essas férias de verão!” Observei atentamente o rosto sorridente de Koizumi e fiquei ainda mais enojado. Este

era o anúncio importante de que estávamos falando? “Excursão?” Perguntei lentamente. Haruhi concordou energicamente: “Sim, uma excursão.” Talvez seja normal que os clubes escolares organizem excursões ou coisas assim, só

que: será que é bom que tenhamos uma também? Ela não quer que a gente vá para as montanhas procurar Animais Misteriosos NãoIdentificados (AMNI [5]) e nunca encontraremos. Ou será que quer?´ 5-[Nota do tradutor: do original, Unidentified Mysterious Animal (UMA).]

Eu olhei para Asahina-san, para Koizumi e para Nagato, um por vez, e vi

respectivamente um rosto paralisado, um rosto sorridente e um rosto inexpressivo. Então eu disse: “Uma excursão, eh... excursão para quê?” “Para a Brigada SOS.” “Eu quis dizer: o que faremos?” “Vamos ter uma excursão.” Mas o quê? Ir para uma excursão com o único propósito de experimentar uma excursão.

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Isso não é mesmo que dizer: “minha dor de cabeça está doendo”, “uma tragédia é uma tragédia”, ou “fritei um peixe frito”?

Mas o que importa? Em outras palavras, a razão e os resultados desta atividade são os

mesmos. Além disso, é lógico que uma dor de cabeça dói. Quem alguma vez ouviu alguém dizer: desfrute sua dor de cabeça?

Não sei se há algo de errado com o vocabulário da Haruhi ou se ela está falando outro

idioma. Só que o verdadeiro problema da excursão é a excursão por si mesma. “Aonde você pensou em ir?” “Irei a uma ilha isolada e tem que ser uma isolada bem no meio do oceano.” Eu não me lembro de já ter lido “Dois anos de férias [6]” em nenhum relatório das férias

de verão. Mas que merda ela leu para ter esse tipo de idéia? 6-[Nota do tradutor: “Dois anos de férias” (título original em francês: Deux ans de vacances) é um livro do escritor francês Júlio Verne, lançado em 1888.]

“Eu já pensei em um monte de lugares.” Dava pra ver a emoção no rosto de Haruhi. “Eu estava preocupada decidindo se iríamos para as montanhas ou para o mar. No

começo, pensei que seria mais conveniente ir para as montanhas, só que a única oportunidade para ficarmos isolados em uma mansão nas montanhas seria durante uma tormenta de neve em pleno inverno. Além disso, era muito complicado.”

Talvez você pudesse tentar ir para a Groelândia... . A pergunta é: por que devemos

fazer tal coisa? “Você quer ir a uma mansão nas montanhas só para ficar presa lá?” “Bom, sim! Senão não seria divertido. Então, vamos esquecer as montanhas! Nós

guardaremos essa excursão para o inverno. Já que estamos no verão, nós iremos ao mar. Não, iremos para uma ilha isolada!”

Eu gostaria de dizer: “Você não está obcecada demais com ilhas isoladas?” Pensei,

porém não pude encontrar uma razão para fazer uma oposição. Seria inútil contrariar de qualquer jeito e, nesta época do ano, o mar parece mais encantador. Além disso, deveria haver centros de relaxamento perto da praia, nessas ilhas isoladas distantes do continente, não é?

“É claro nós já temos uma! Não é, Koizumi?” “É, assim espero. Ainda que seja uma fonte de relaxamento natural sem nenhum salva-

vidas ou postos de comida.” Olhei rapidamente para Koizumi com olhos cheios de suspeita. Por que é que ele está

ajudando ela dizer tudo isto? “Digo isso porque...” A explicação de Koizumi foi interrompida por Haruhi. “Porque o lugar para esta excursão foi proporcionado por ninguém menos que

Koizumi!” Haruhi abriu a gaveta da escrivaninha e tirou uma faixa colorida para o braço. Então,

pegou um marcador e escreveu “Vice-Comandante” nela.

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“Como resultado dessa vitória, Koizumi-kun, você deveria se sentir orgulhoso. Por isso está promovido a vice-comandante da Brigada SOS!”

“Estou agradecido pela honra.” – Koizumi aceitou alegremente a faixa. Ele virou pra

mim e piscou um dos olhos. Vou deixar as coisas mais claras, não tenho nem um pouco de ciúmes por isso. Quem iria querer um presente tão estranho?

“É disso que se trata. Esta é uma viagem de luxo de quatro dias e três noites!

Preparem-se mentalmente!” Haruhi tinha um olhar que dizia “Isso é tudo!”. Estava pensando que todos nós

estivéssemos felizes com essa decisão, o que, para variar, não era o caso. “Um momento.” Eu dei um passo à frente e falei em nome de Asahina-san e de Nagato. “Onde fica essa ilha? Proporcionar? O que diabos é isto? Por que Koizumi está

proporcionando tudo isto para nós?” Koizumi, definido por Haruhi como um misterioso estudante transferido, é

supostamente uma pessoa paranormal e esta “Organização” a qual ele pertence é ainda mais suspeita. Eles podiam simplesmente estar nos levando a um desses laboratórios secretos para realizar autopsias em Haruhi e em Nagato?

“Eu tenho um parente distante muito rico.” Koizumi mostrou um sorriso inofensivo. “Ele é tão rico que pôde comprar uma ilha deserta para construir uma mansão nela. A

verdade é que ele já construiu a mansão. Acaba de passar a cerimônia de inauguração faz alguns dias, só que ninguém estava querendo ir para um lugar tão longe, então ele decidiu convidar alguns amigos para que fossem. E é aqui que eu entro.”

Por acaso a ilha é tão bizarra? Eu comecei a lembrar a história de ”Robinson Crusoé

[7]” que li faz muito tempo. 7-[Nota do tradutor: “A Vida e as Estranhas Aventuras de Robinson Crusoé” (em inglês Robinson Crusoe) é o mais célebre romance de Daniel Defoe, escrito em 1719.]

“Na verdade, supõe-se que seja uma ilha deserta. As férias de verão se aproximam e a

Brigada SOS sairá de viagem, seria mais divertido se fossemos todos juntos à esse lugar. O proprietário da mansão também está ansioso por isso.”

“E é assim que as coisas são!” Isso foi dito por Haruhi. Ela mostrou então um sorriso que nos colocaria em problemas. “Uma ilha isolada! Uma enorme mansão! Essa é uma situação única! Não posso

esperar aqui. Este é o cenário perfeito para a Brigada SOS!” “Por quê?” perguntei “O que tem a ver uma ilha isolada e uma mansão com os seus

eventos misteriosos favoritos?” Porém, Haruhi já estava perdida em seu próprio mundo. “Uma ilha isolada no meio do oceano! E uma mansão! Koizumi, seu parente é mesmo

compreensivo! Hum, penso que nós vamos nos dar muito bem!” As únicas pessoas que podem se dar bem com a Haruhi são geralmente pessoas

estranhas. E o proprietário da mansão deve ser uma pessoa muito estranha.

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Não se podia dizer se Nagato tinha ouvido o anuncio de Haruhi, no caso de Asahina-

san, que tinha já tinha parado de comer, era fácil identificar pela expressão de surpresa em seu rosto.

“Não fique preocupada Mikuru-chan. Você pode arranjar todo peixe frito que quiser

neste lugar! Não estou certa?” “Cuidarei disso.” - disse Koizumi. “É assim que as coisas são.” - Haruhi tirou outra faixa colorida para o braço da gaveta

da escrivaninha. Não faço idéia de quantas ela tem. “Até a ilha isolada! Um monte de coisas interessantes estão esperando por nós. Sobre

a missão que teremos lá. Eu já decidi!” Ela falava enquanto escrevia na faixa com um marcador. As letras pareciam

garranchos, mas parecia dizer “Mestre Detetive”.

“Gostaria de ouvir o que planejou.” “Na verdade, nada.” Não tente negar sem sequer pestanejar! Haruhi foi embora depois de ficar satisfeita com o efeito produzido pelo seu anúncio,

Asahina-san e Nagato também abandonaram a sala do clube e foram para casa. Só Koizumi e eu ficamos para trás.

Koizumi ajeitou seu cabelo e disse, ”É verdade. Ainda que eu não houvesse interferido, Suzumiya-san estava destinada a

encontrar algum lugar para ir de qualquer maneira. Estou correto? Dado que as férias de verão são bastante longas. Você por acaso preferiria procurar por um tsuchinoko [8] nas montanhas ao invés de caminhar pela praia?” 8-[Nota do tradutor: o Tsuchinoko (ツチノコ ou 槌の子) é um peixe lendário, em forma de cobra.]

“Um tsuchinoko? Esqueça, é melhor nem ouvir uma explicação. Já sei o suficiente.” “Três dias atrás, me encontrei casualmente com Suzumiya-san na tenda de livros em

frente à estação. Vi que ela observava fixamente um mapa do Japão enquanto via algum tipo de revistas de mistério, que tratam de Animais Misteriosos não-Identificados (AMNI).”

Uma excursão em busca de UMA, é? Isso não soa tão mal, porém, o que me assusta é

que Haruhi, na verdade, esperaria realmente encontrar algo misterioso. “Parece-me que Suzumiya-san tinha intenções de voltar para casa com algum deles.

Tive o pressentimento de que iniciaria com o Monte Hiba [9]. Sendo esse o caso, seria melhor que nós aproveitássemos nosso banho de sol perto do mar. Além do mais, eu já tinha um lugar em mente.” 9-[Nota do tradutor: não há nenhum grande detalhe sobre esse monte, apenas que dizem ter visto por lá Hibagon(ヒバゴン) ou Hinagon(ヒナゴン), que é uma criatura japonesa equivalente ao Pé-grande ou o Yeti.]

Que coincidência não é? Por outro lado, tenho que admitir que seja melhor olharmos

para as garotas de biquíni a beira-mar do que escalar montanhas sob o sol forte. A diferença é como do paraíso para o inferno.

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“O ponto principal é que está é uma propriedade privada em uma ilha inabitada, um auto proclamado ‘círculo fechado’.”

Isto era algo que eu tinha que perguntar. Perguntar sobre as coisas que não se

entende é a melhor política.” “O que é um ‘círculo fechado’?” O sorriso de Koizumi não era tão incomodo. E se era, então o problema estavam nos

olhos da outra pessoa. Por falar nisso, eu já sabia. ““Talvez exista uma similaridade......” Ele pausou a sua fala por alguns segundos,

“Acho que podemos chamar isso de ‘Realidade Selada” Não sei se minha expressão estava tão engraçada assim, mas Koizumi começou a rir. “Estava brincando. Um ‘Círculo Fechado’ é um ponto de partida para um mistério.

Quero dizer que todo contato direto com o mundo exterior é perdido.” Explique de forma que todos possam entender! “Este é o cenário clássico nas histórias de detetive. Por exemplo, se saíssemos para

esquiar antes de uma nevasca furiosa...” Oh, sim. Por acaso Haruhi não disse que ela queria ir às montanhas nevadas? “Ir às montanhas nevadas como excursão não seria tão mal. Porém, o que aconteceria

se a maior tempestade de neve jamais vista estivesse para chegar?” Se fossemos para um lugar assim, alguém deveria ter checado a previsão do tempo

primeiro. “Esse é o problema. Nós estamos rodeados pela nevasca e por grossos casacos para

neve, e não há maneira alguma de sair da montanha, tampouco existe a possibilidade de alguém subir.”

Então pense em algo! “Não há outra forma de sair. É por isso que é chamado ‘Círculo Fechado’. Nestas

circunstâncias, freqüentemente algo misterioso ocorre. Imagino que o evento mais comum é que alguém seja assassinado. Sendo assim, é necessário estarmos preparados. Não há meio para que o suspeito ou os demais saiam, e nenhum personagem novo pode entrar nessa trama, sem mencionar a polícia. Não seria nem um pouco divertido se nós pudéssemos recorrer a um médico forense [10] para capturar o suspeito.” 10-[Nota do tradutor: também conhecida como Medicina Legal, é uma especialidade médica e jurídica que utiliza conhecimentos técnico-científicos da Medicina para o esclarecimento de fatos de interesse da Justiça.]

Como sempre. O que ele está tentando me dizer? “Ah, perdoe-me. Em outras palavras, o tema desta viagem imposta por Suzumiya-san é

envolver-se em um evento misterioso como este.” “É por isso que ela escolheu esta ilha isolada?” “Sim, uma ilha isolada. Eu estava pensando, ela provavelmente irá criar uma condição

na ilha isolada de alguma maneira, e durante este momento em diante, ninguém poderá escapar, então alguém será assassinado. Uma mansão no topo de uma montanha em meio a uma tormenta de neve ou uma ilha isolada em meio a uma tempestade tropical são os

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ingredientes perfeitos para um ‘Círculo Fechado’, onde não há forma de que se chamem as autoridades. O cenário perfeito para um crime misterioso.”

“Você parece estar gostando disso tudo.” Já não bastava a possibilidade de Haruhi se descontrolar durante o verão, como você

ainda a encoraja a fazer algo assim. E acredite, não estou dizendo isso por ciúmes de não ter conseguido o titulo de vice comandante.

“É porque também aprecio esse tipo de cenário.” Não queria discutir com ele, mas tenho de dizer isso. Não gosto nem um pouco do

rumo que as coisas estão tomando.

Koizumi ignorou as minhas preferências, e continuou como se estivesse lendo uma tese.

“Pensando sobre estes ‘Mestres Detetive’. Normalmente, aqueles com uma vida

normal raramente se vêem envolvidos em inexplicáveis casos de assassinatos.” “Faz sentido.” “Mas. Por que é que estes detetives nas histórias policiais sempre se vêem envolvidos

nestes casos misteriosos um atrás do outro? Por acaso você sabe a razão?” “Porque se não fosse assim, não haveria uma história pra contar.” “Exato, sua resposta está absolutamente correta. Estas coisas só acontecem no

mundo de ficcional dos livros. Porem, dizer esse tipo de coisa realista acaba com toda a graça da situação, afinal, não é segredo que Suzumiya-san preferia estar em um mundo de ficção.”

Pensando bem, essa é razão pela qual ela fundou a Brigada SOS. “Com o intuito de encontrar esse tipo surreal e misterioso de evento, alguém precisa ir

até uma localização apropriada. É por isso que os detetives destes livros acabam sempre se encontrando nessas situações. Então, podemos concluir que se alguém quer que este tipo de coisa aconteça bem frente a sua porta, deve tornar-se um ator principal neste cenário de mistérios e intrigas. Para isso, precisa-se ter um parente que é um detetive brilhante, ser um policial, ou esperar para publicar uma série de livros de mistério por si só.”

Faz sentido. Sei que Nagato, por exemplo, adora livros de ficção científica, mas nunca

soube se ela gostava de livros de suspense, Haruhi por sua vez, deve adorar ambos. . “Para que alguém de fora do circulo, assuma o papel de detetive, precisa ser arrastado,

sem que se espere, para onde aconteceram as circunstâncias, e resolvê-las de maneira mais rápida possível.”

“Eles não podem simplesmente deixar que as coisas aconteçam por coincidência e

repentinamente.” Koizumi concordou. ”Sim, a verdade raramente acontece como nas histórias. As probabilidades de um

‘Círculo Fechado’ aconteça na escola são muito baixas. Então, Suzumiya-san deve estar pensando em ir buscar um lugar com condições mais favoráveis.”

A expressão ‘entrar de cabeça’ veio em minha mente repentinamente.

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“E esse lugar é o cenário para esta excursão à ilha isolada. Por alguma razão, a maioria das pessoas acharia que esse é o lugar mais apropriado para um assassinato misterioso.“

A que você quer dizer com ‘a maioria das pessoas’? O que você chama de maioria

provavelmente é uma parte ínfima da população. “Portanto, os eventos estranhos acontecem normalmente quando o Mestre Detetive

aparece. Isso não é coincidência, é sinal de que estes detetives possuem o poder paranormal de atrair eventos para si. Resumidamente, não são os eventos que os atraem, mas sim a presença dos detetives que faz esses eventos surgirem.”

Eu olhei para Koizumi com uma expressão de quem pisou em algo nojento. “Você está realmente acordado?” “Sempre estou devidamente acordado. Eu não inventei as conexões entre os detetives

e os círculos fechados, só estou explicando a maneira de pensar da Suzumiya-san. Dizendo de forma mais clara, a razão desta viagem é porque Suzumiya-san quer se divertir sendo um detetive.”

O que ela precisa para se tornar uma Mestre Detetive? Seria possível que ela narrasse

ou dirigisse tudo, sendo tanto o suspeito como o detetive ao mesmo tempo. “Ao menos, é melhor que ir às montanhas para caçar um tsuchinoko ou um pé-grande.

Eu só disse para Suzumiya-san que conhecia alguém que construiu uma mansão em uma ilha e está esperando por convidados. Logo, eu realmente não desejo que alguém seja assassinado.”

O sorriso relaxado de Koizumi, e até o jeito que ele levantava os ombros

conformadamente já estava começando a me irritar. “Só estou tentando entreter um pouco Suzumiya-san. De outro modo, quem sabe que

tipo de idéias ela poderia ter para fugir de seu tédio? Se esse é o caso, é mais fácil para nós manter as coisas sob controle preparando um cenário de antemão.”

“Nós?” “Isso não tem nada a ver com a ‘Organização’. Ainda que eu faça um relatório

periódico, só por precaução. Mesmo tendo poderes paranormais, continuo sendo um estudante do secundário. Além do mais, não há nada de mal em uma excursão. É algo bastante normal entre nós, estudantes. Por acaso ir viajar com seus amigos mais próximos não é algo que valha a pena esperar?”

Estaria tudo bem se a Haruhi estivesse planejando apenas uma viagem normal. Eu não

teria nada contra se ela escolhesse ir às fontes termais ou a uma praia perto da costa. Mas por que escolher uma ilha isolada? É da Haruhi que estamos falando, ela provavelmente atrairá dois tufões no caminho.

... Esqueça, mesmo se ela esteja louca, ela não é do tipo de pessoa que desejaria que

alguém fosse assassinado, pois senão já haveria corpos empilhados desde o ginasial. Parece que há outras coisas importantes a considerar, assim comecei a pensar mais seriamente.

Quatro dias e três noites ao lado do mar no verão. Uma praia branca e o relaxante

brilho do sol, provavelmente. Penso que posso suportar esse tipo de verão. Venha, senhor sol! Ah sim, será melhor que eu me prepare para a visão hipnotizadora da Asahina-san de

biquíni.

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O proprietário da mansão era extremamente generoso ao nos proporcionar

hospedagem e alimentação gratuitas. Nós só precisávamos pagar a viagem de volta. E assim nós nos encontramos no cais de balsas no porto, esperando pela chegada do

nosso barco. Haruhi não conseguia esperar pela nossa partida. Nossa reunião de fim de semestre

havia acontecido ontem, ou seja, esse era o primeiro dia das férias de verão. Aparentemente os parentes de Koizumi não ligavam muito para o dia que ele havia escolhido para ir, mas o fato de acertarmos a partida já para o primeiro livre denotava o quanto Haruhi estava ansiosa. Naquele momento percebi que as minhas pretensões de ter um verão pacífico, sem ao menos olhar para o rosto de Haruhi, estavam aniquiladas. Tudo isso devido à presença de Haruhi, e quando digo isso, estou falando da própria existência dela.

“Já faz tempo que eu não ando de barco.” Haruhi baixou os óculos escuros e olhou o mar cinzento, que se estendia a distância do

cais. Seu cabelo preto e sedoso voava com brisa marinha enquanto ela se mantinha de pé na borda do cais.

“Que barco enorme! É tão incrível que um barco tão grande consiga flutuar sobre a

água.” Asahina-san, que carregava duas malas em suas mãos, olhava com surpresa para o

barco. Ela vestia um vestido branco de uma só peça, e em sua cabeça repousava um chapéu de palha. O que a fazia parecer ainda mais bonita. O cordão do chapéu amarrado sob o seu queixo realmente ficava bem nela. Seus olhos brilhavam como os de uma criança, olhando o velho navio como uma antiga relíquia desenterrada por arqueólogos. Quem sabe no tempo dela os barcos não flutuem sobre a água.

“ ... ” O rosto de Nagato permanecia inexpressivo como sempre, observando a logo

coorporativa impressa na proa do barco. Dessa vez, Nagato não estava seu uniforme, mas sim uma camisa xadrez sem mangas. Usando uma sombrinha verde, ela dava a impressão de uma garota frágil que acabava de sair do hospital. Adoraria ter uma câmera comigo. Se tirasse uma foto disto, eu poderia vender a Taniguchi por um preço muito alto.

“O clima está excelente. Isto é genial, pode-se dizer que é o clima perfeito para

navegar, mesmo que nós estejamos indo de segunda classe hoje.” - disse Koizumi. “Acho que isso combina com a gente.” Não é que as cabines sejam tão grandes assim. É que mesmo que essa seja uma

longa viagem, estamos muito longe de termos uma cabine particular só para nós. Afinal, não podemos esquecer que essa é uma viagem de estudantes secundários.

Tecnicamente essa viagem não pode ser considerada como uma atividade

extracurricular ou algo assim. É simplesmente uma viagem feita na intenção de se viajar, o que de forma alguma pode ser considerada como algo dotado de significado. Normalmente teríamos de ter um professor supervisionando as atividades do clube, mas não preciso dizer que não temos nenhum. Talvez o motivo disso seja que ainda não somos reconhecidos pela escola como uma organização estudantil legitima, afinal não podemos formar uma associação se nem ao menos temos um professor supervisor. Acredito que mesmo que algum professor aceitasse a ingrata tarefa de acompanhar a Brigada SOS, Haruhi logo o dispensaria considerando esse tipo de atitude desnecessária. Afinal, se ela realmente precisasse de um, já o teria abduzido como fez conosco.

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Enquanto esticava os músculos, Asahina-san caminhou lentamente ao meu lado. Seus olhos redondos ficaram ainda mais redondos.

“Como esse barco imenso consegue flutuar?” Como ele flutua? Não é por causa do empuxo ou algo assim? Não acho que tenha

outro jeito. Será que não ensinam física na época dela? “Sério, empuxo... Acho que você está certo. Então é isso que querem dizer que

‘alguém geralmente não está ciente das coisas que o cercam’...” Do que você está falando? Asahina-san assentiu com a cabeça com um olhar sério em

seu rosto. Deixe-me perguntar algo. E acho que só perguntar não faz mal algum. “Ahh... Asahina-san. Por acaso os barcos no futuro flutuam utilizando a alguma nova

tecnologia disponível?” “Hum... você acha que posso te dizer?” Pondo dessa maneira, eu neguei com a cabeça. Tratei de perguntar outra coisa: “Por acaso existem oceanos?” Asahina-san segurou a ponta de seu chapéu e inclinou a cabeça: “Hum, sim, existem oceanos.” “É ótimo ouvir isto.” Eu não sei se ela vem do futuro próximo ou de um futuro distante, mas certamente é

calmante escutar que a Terra não se converteu em um deserto no futuro, isto é, se o oceano for mais limpo que o de agora.

Eu queria obter mais informação útil desta viajante do tempo. “Kyon! Mikuru-chan! O que estão fazendo? Já está na hora!” Haruhi gritou fortemente, nos dizendo que era momento de enbarcarmos. Falando nisso, eu cheguei tarde à reunião de hoje. Quando estava a ponto de sair de

casa esta manhã, dei conta de que minha mala estava mais pesada que o habitual, então eu a abri para dar uma olhada. Ao invés de minha roupa e meus pertences, minha irmã estava lá dentro. Na noite anterior, ela ficou gritando: ”Eu queria ir também.”, depois que comentei que ia viajar com Haruhi e os outros. Eu passei horas inteiras tentando animá-la, mas nunca pensei que ela se esconderia em minha maleta. Eu a tirei de dentro da mala e interroguei sobre o paradeiro de minhas coisas. Tomou algum tempo fazer o papel do policial bom e do policial mau para convencê-la, mas ela escolheu permanecer em silêncio. ”Se não me disser. Então não te comprarei nenhum presente! Vou usar o dinheiro pra comprar almoços para a Brigada SOS!”

A Brigada SOS se reuniu na esquina das cabines de segunda classe, conversando

enquanto comiam os almoços que eu comprei. Na verdade, Haruhi e Koizumi foram os únicos que falaram todo o tempo.

“Quanto falta para chegarmos?” - Haruhi perguntou impaciente.

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“Julgando a velocidade dessa balsa, diria que seis horas. De acordo com os planos, eles estarão esperando por nós no cais. Então nós subiremos em uma lancha por cerca de meia hora antes de chegar à ilha isolada onde a mansão está. Eu nunca estive lá antes, então não estou certo de como será.”

“Aposto que será uma mansão estranha. Por acaso, você conhece o nome do

arquiteto?” - perguntou Haruhi. “Eu não perguntei tanto, mas lembro de ter ouvido que contrataram um arquiteto para

construí-la.” - respondeu Koizumi. “Mal posso esperar.” “Seria grandioso se pudesse corresponder às suas expectativas, mas não estou muito

certo, já que nunca vi a mansão antes. Mas, para que alguém construa uma mansão particular em uma ilha deserta, a mansão deve ser única de alguma forma. Isso seria perfeito.”

Disse Koizumi, mas eu certamente não esperava isto. Se o plano do desenho fosse

como Haruhi tivesse imaginado, então o arquiteto que o desenhou deve ter ficado acordado por três noites seguidas, sofrendo de envenenamento por álcool e cochilando ocasionalmente, por causa do cansaço. Eu não gostaria de estar no lugar dele, uma hospedagem normal seria suficiente para mim. Só um café da manhã tradicional japonês para mim, por favor. Se a mansão tiver um nome, Haruhi provavelmente se transformaria em um Serial Killer [11] só para criar algum evento. 11-[Nota do tradutor: do inglês, “assassino em série”.]

“Uma ilha! E uma mansão! Não há nada melhor que isto para uma viagem da Brigada

SOS. Nesse passo, nós estaremos nas férias de verão perfeitas.” Enquanto Haruhi se animava mais, o resto da Brigada só podia observar em silêncio. Além de mexer-se junto às ondas que golpeavam na proa do barco, não havia nada

mais a fazer, assim nós seguimos a sugestão de Koizumi começamos a jogar cartas. Koizumi, que perdeu do começo ao fim, teve que pagar bebidas para todos. Eu recebi minha bebida e permaneci em silêncio.

Eu não podia evitar ter um mau pressentimento sobre esta ilha isolada que nos espera.

Asahina-san parecia sentir-se assim também. Haruhi falou depois de terminar seu suco em dois goles. ”Mikuru-chan, você parece horrível. Por acaso está enjoada?” “Não... isso... ah... talvez.” Respondeu Asahina-san, Haruhi então disse, “Isso não está bom, é melhor que você vá tomar um ar fresco. É ótimo desfrutar a

brisa do mar quando não estiver sentindo bem. Venha, vamos!” - ela então puxou a mão de Asahina-san e sorriu - ”Não se preocupe, eu não vou te jogar no mar. Hum... mas até que não seria uma má idéia. O repentino desaparecimento de uma passageira do navio.”

“Quê?!” Haruhi bateu nos ombros tensos de Asahina-san.

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“Brincadeira! Isso seria divertido, com certeza. Porém, seria mais emocionante se a balsa batesse num iceberg ou fosse atacada por um polvo gigante. Mas eu não sou do tipo que gosta de causar problemas a todos só para poder me divertir!”

Acho melhor ver onde estão os botes salva-vidas. Ainda assim, não creio que um

iceberg possa se aproximar dos mares do Japão, sobretudo no meio do verão, mas é possível que criaturas marinhas sem identificação possam atacar repentinamente. Eu observei fixamente Koizumi. Se um monstro atacar, estaremos contando com você. Eu não sei como ele leu meus pensamentos, mas respondeu com um sorriso, enquanto Nagato apenas observava a parede.

Haruhi continuou sem se deter. ”Os melhores eventos estão, é claro, reservados para a ilha! Koizumi, Por acaso vou

me decepcionar?” “Não há uma definição exata para aquilo que constitui um ‘evento’.” Disse Koizumi calmamente, “Eu também estou esperando desfrutar a viagem.” Koizumi revelou um sorriso enigmático. Ainda que fosse sua expressão habitual, eu

observei o rapaz de poderes paranormais, tratando de averiguar que se haviam mais coisas por trás dessa máscara sorridente. Logo me dei por vencido. O sorriso desse sujeito era como o rosto inexpressivo da Nagato, algo impossível de se ler. Na verdade, ele deveria mostrar mais emoções também. Mais claro, não tão evidentemente como a Haruhi.

Haruhi murmurava uma canção que ela tinha inventado enquanto arrastava Asahina-

san para fora da cabine. Asahina-san virou a cabeça várias vezes, esperando que eu fosse com elas, eu talvez tenha pensado demais naquela ocasião, mas não queria arruinar o ânimo de Haruhi então deixei que elas fossem.

Não importando o quanto Haruhi estivesse louca, se caso Asahina-san caísse no mar,

ela a salvaria. Eu rezei e observei o teto, então usei minha mala como almofada e me recostei um pouco. Vai ser uma manhã muito agitada, então é melhor que eu vá dormir.

Eu sonhei comigo mesmo fazendo algo estranho, mas justo quando me perguntava o

que era, fui acordado pelas ordens da Haruhi. “Deixe de dormir, idiota! Levante de uma vez! Como você pode estar animado para

esta viagem, se já está dormindo logo no começo dela. O que devemos esperar de você?” Parece que, enquanto dormia, a balsa estava quase chegando à ilha onde trocaríamos

de embarcação. Senti como se tivesse perdido uma parte considerável da viagem. “O primeiro passo é o mais importante! Você precisa de um espírito aventureiro para

desfrutar as coisas. Olhe para os outros. Suas expectativas para a viagem podem ser vistas em seus olhos brilhantes!”

Eu segui a direção em que Haruhi apontava o dedo, até os três funcionários,

preparando-se para descer seus equipamentos da balsa. O jovem sorridente disse: ”Dê a ele um tempo para respirar, Suzumiya-san, ele está

guardando energia para quando chegarmos ao nosso destino. Quem sabe ele provavelmente vai passar a noite toda pensando em como nos entreter depois!”

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Eu escutei a explicação irrelevante de Koizumi, enquanto observava o rosto de marionete de Nagato e os olhos de cachorro da Asahina-san, tentando encontrar o tal brilho neles.

“Nós já chegamos?” - murmurei. Na longa viagem no bote, com os membros da Brigada SOS em volta... Não, vamos

deixá-los de lado. Eu havia me rendido a meus desejos e tirado uma longa soneca. Como resultado, perdi a oportunidade de passar algum tempo com Asahina-san dentro de uma elegante cabine.

Maldição, isto é frustrante. Como pude deixar minhas férias de verão terminassem

assim? Até agora, minhas únicas memórias dessas férias foram o jogo de cartas. Por acaso eu não deveria haver feito algo interessante na balsa? Como compartilhar nossos pensamentos com os demais na brisa do mar soprado suavemente?

Realmente, me deu uma vontade de chutar o meu eu do passado pouco por ter se

rendido ao sono tão facilmente. Eu inclinei minha cabeça preguiçosamente enquanto me amaldiçoava outra vez. Click! Uma luz brilhante me incomodou. Olhei para a direção de onde vinha o som, para então ver Asahina-san segurando uma

câmera, com um adorável sorriso em seu rosto angelical. “He, He! Tirei uma foto sua enquanto estava acordando.” Ela tinha a expressão de uma criança pré-escolar que acabou de fazer uma travessura. ”Também tirei fotos suas enquanto estava cochilando. Você estava dormindo tão

profundamente.” Repentinamente, me senti ressuscitado. Por que é que Asahina-san estava tirando

fotos de mim? Poderia ser que ela quisesse fotos minhas tão desesperadamente? Por acaso ela vai colocar minha foto num lindo porta-retratos e deixar ao lado de seu travesseiro só para me dizer ”Boa Noite!”, todas as noites? Sim, essa não é uma má idéia.

Falando sério, se quisesse minha foto, eu já teria posado para você! Ainda assim, teria

que te dar meu álbum de fotos, o qual já perdi em algum lugar, mas eu não teria me importado de maneira alguma.

Porém, enquanto eu estava pensando nesta idéia, Asahina-san entregou a câmera

para Haruhi. “Kyon, por que você sorrindo? Está parecendo um idiota. Por favor, tire essa expressão

do seu rosto.” Haruhi tentou dar a entender que pensava em vender algumas das fotos para um

jornal. Ela então guardou a câmera em sua bolsa. “Eu decidi que Mikuru-chan será a fotógrafa da Brigada SOS. Essas fotos não são

brincadeira! O que eu quero é gravar as atividades da Brigada SOS para que nossos descendentes as repassem. Essa garota boba tem vontade de tirar fotos inúteis, mas ela terá que escutar minhas ordens daqui em diante.”

Então. Que valor informativo tirar fotos minhas enquanto durmo ou acordo?

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“Levando em consideração que você não tem nenhum senso de necessidade. Vou mostrar essas fotos suas de quando estava dormindo como um idiota, como medida de precaução! Escute! É imoral e contra as regras da Brigada que seus membros estejam dormindo profundamente enquanto o comandante não está dormindo!”

Haruhi me observou com uma expressão em seu rosto no qual não se identificava se

estava rindo ou se contorcendo. Sabia que seria inútil perguntar quando foram criadas as regras, pois não estão escritas, de qualquer forma. Talvez seja melhor seguir a corrente.

“Concordo! O que você quer dizer é que se não queremos desenhos em nossos rostos,

não podemos dormir na sua frente, certo? Nesse caso, se eu dormir depois de você, então eu posso desenhar um bigode na sua cara?”

“O que está dizendo? Vai mesmo fazer essas coisas infantis? Vou deixar claro, eu

posso estar bem alerta. Eu posso responder enquanto durmo. Além do mais, você estaria se arriscando a uma pena de morte se tentar fazer algo estúpido com um comandante.” - ela respondeu categórica.

Ei, Haruhi, o número de países que ainda executam a pena de morte atualmente é minoria. O que você pensa a respeito?

“Por que deveria comentar sobre os sistemas penais de outros países? O que importa

não são os países estrangeiros, mas sim a ilha para onde iremos!”

Eu rezei pra que nada acontecesse, enquanto pegava minha mala. A balsa agitou-se fortemente. Talvez já estivesse pronto para atracar. Os outros

passageiros já estavam se dirigindo, em grupos, para a saída. “Uma ilha misteriosa, é...?” Que tipo de ilha nos espera? Só não pode ser alguma ilha que tenha aparecido

repentinamente no oceano ou uma que tenha sido transportada de lugar tão repentinamente quanto.

“Não se preocupe.” Koizumi assentiu com a cabeça como se tivesse lido minha mente. ”Não há nada especial nesta ilha, só que é um pouco mais longe da terra firme. Não há

monstros ou cientistas loucos, eu lhe garanto.” As garantias desse rapaz não significam nada para mim. Eu olhei silenciosamente o

rosto pálido de Nagato de maneira inquisitiva. “ ... ” Nagato também me respondeu da mesma maneira silenciosa. Se tivesse que aparecer

um monstro, ela provavelmente nos ajudaria a derrotá-lo. Eu estou contido com você, alien. O barco se sacudiu novamente. “Aiii!” Sem se surpreender nem um pouco, Nagato segurou Asahina-san, que havia perdido o

equilíbrio e quase caiu no chão. Ali, esperando pela nossa chegada, se encontravam um mordomo e uma empregada.

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“Olá, Arakawa-san, há quanto tempo.” Disse Koizumi em voz alta, levantando os braços para cumprimentá-los. ”Você também, Mori-san. Obrigado por vir nos buscar.” Koizumi então deu a volta e olhou para nós, com nossas bocas completamente

abertas, então encolheu os ombros, como um ator tentando impressionar sua audiência, seu sorriso era quatro vezes maior que o normal.

“Permita-me apresentá-los. Arakawa-san e Mori-san são o mordomo e a empregada da

nova mansão, e estarão a nossa disposição. Ah, sim, vocês já devem ter adivinhado por suas roupas.”

Era fácil de adivinhar. Olhei as duas figuras que estavam de pé depois de fazer uma

reverência para nós. Imagino que nesta situação, a palavra correta seria ‘cativante’. “Deve ter sido uma longa viagem. Eu sou Arakawa-san, o mordomo.” Um velho cavalheiro de cabelo, bigode e sobrancelhas brancas, vestindo um smoking

nos cumprimentou e voltou a fazer reverência. “Eu sou a empregada, Mori Sonou. É um prazer conhecê-los.” A dama de pé ao lado dele também fez uma reverência idêntica, e então ambos

levantaram-se ao mesmo tempo. Qualquer um acharia que eles já não haviam treinado muitas vezes.

Arakawa-san parecia mais velho, mas era difícil identificar sua idade exata, enquanto

que Mori-san parecia bem mais jovem. Ela parecia ter nossa idade. Ou, por acaso, era maquiagem para parecer mais nova?

“Mordomo e empregada?” Murmurou Haruhi, surresa. Minha reação era a mesma. Eu não sabia que estes

profissionais existiam no Japão. Sempre pensei que só tinham existência conceitual, tendo sido fossilizados.

Estou vendo. Parece que as duas pessoas paradas elegantemente atrás de Koizumi

genuinamente são mordomo e empregada. Eles parecem mesmo, pelo menos depois de ouvir suas apresentações qualquer um pensaria: Ah, estou vendo. Eles são de verdade. Especialmente a empregada, Mori-san, se me lembro corretamente. Não importa como se veja, ela sempre será uma empregada. Porque ela está vestida com os trajes apropriados para uma empregada. Isso vem de meses observando Asahina-san todos os dias na sala do clube, vestida na fantasia de empregada, logo posso garantir. E Arakawa-san e Mori-san não parecem estar disfarçados somente para entreter Haruhi, mas sim, estão vestidos para trabalhar.

“Uau...” Asahina-san deixou escapar um suspiro de surpresa enquanto observava marvilhada -

mais especificamente, ela observava a Mori-san. Ela estava 50% surpreendida e uns 30% preocupada. O que são os outros 20% restantes? Imagino que ela estivesse um pouco com ciúmes. Depois de ser forçada a fazer a função dia após dia, ela inconscientemente começou a gostar disto.

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Nagato não teve nenhuma expressão nesse momento, e seu rosto permaneceu o mesmo. Mas seus olhos negros como ônix permaneceram fixos nesses dois profissionais.

“Então...” Arakawa-san nos convidou com sua voz de tenor de opera. ”A lancha está preparada para levá-los para a ilha de nosso mestre. A viagem levará

cerca de meia hora. Sendo uma ilha isolada, me perdoem por qualquer inconveniência que isto possa causar.”

Mori-san também fez uma reverência. Senti-me estranho por alguma razão. Na

verdade, tinha vontade de dizer que nós não éramos tão importantes para que eles nos servissem tão elegantemente. Será que Koizumi era filho de algum bilionário? Eu pensava que ele só era um rapaz que podia usar seus poderes em momentos irregulares. Pergunto-me se ele tem alguém que o chame de ”jovem mestre” cada vez que chega em sua casa.

“Realmente não me incomoda!” Disse Haruhi com sua voz alegre, dissipando todos minhas perguntas. Enquanto

observava cuidadosamente, Haruhi tinha um sorriso de alguém que havia enganado um patrocinador ignorante para proporcionar fundos para seu filme. Hum...

“É melhor assim. Uma ilha isolada! Não nos incomodaria se demorasse algumas horas,

sem mencionar essa meia hora! Uma ilha isolada no meio do oceano é justamente o lugar para onde quero ir. Kyon, Mikuru-chan, vocês deveriam estar felizes. Tem uma mansão na ilha. E um mordomo e uma empregada estranhos também! Não se encontraria outra ilha como está em todo Japão!”

Certamente não haveria uma segunda ilha. “Uau! É... isto é maravilhoso... e... eu mal posso esperar!” Deixando de lado, a Asahina-san, que foi forçada por Haruhi a parecer emocionada,

para que Haruhi chame alguém de estranho em sua cara é algo realmente grosseiro. Ainda assim esses dois apenas sorriram. Talvez eles fossem estranhos de alguma maneira.

Céus, o que é estranho é a viagem em si. E, quando se trata de coisas estranhas, a

Brigada SOS é a campeã em estranheza, então não estou qualificado a criticar os outros. Ainda sim, não posso deixar que Haruhi faça das suas dessa maneira.

Eu olhei para Koizumi, que estava conversando com Arakawa-san, enquanto que Mori-

san estava de pé em silencio, com as mãos juntas, observando silenciosamente o mar a sua frente. O oceano estava tão tranqüilo e o céu estava tão limpo. Não penso que vá aparecer um tufão tão cedo.

Por acaso voltaremos algum dia a terra firme do Japão e todos inteiros? O rosto impassível de Nagato parecia tão confiante o tempo todo. Sinto-me tão inútil. Arakawa-san e Mori-san nos levaram a um pequeno porto não muito longe do

ancoradouro. Eu originalmente havia imaginado que veríamos uma lancha pequena, mas diante de nossos olhos se encontrava estacionada uma lancha a motor, movendo-se gentilmente com as ondas. A lancha a motor parecia tão elegante que não me atreveria a dizer quanto custava. Repentinamente, tive a vontade de ir pescar na borda desse bote.

Graças à minha imaginação, quando vi Koizumi escoltando tanto a Asahina-san, que

estava surpresa pela lancha a motor, e a Nagato, que só observava inexpressivamente - sem

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contar Haruhi, que saltou rapidamente a bordo do bote - senti um profundo sentimento de culpa porque meu momento havia passado e jamais voltaria. Esse era o meu trabalho!

Nós fomos conduzidos até a cabine, e antes que pudéssemos começar a admirar como

é que um bote pode ter uma cozinha estilo ocidental, a lancha de motor começou a se mover em partida. Parece que todos os mordomos hoje em dia têm licenças para dirigir lanchas a motor, visto que era Arakawa-san que estava dirigindo.

Mori-san se sentou ao lado oposto ao meu com um sorriso gentil em seu rosto, como

se ela fosse uma decoração a mais na lancha. A roupa de empregada parecia moderna, mas perigosamente inapropriada para a situação ao mesmo tempo. Senti que a roupa era mais fina que a fantasia que Haruhi obrigava Asahina-san vestir todos os dias na sala do clube, mas visto que não estou muito familiarizado com esse tipo de profissional, eu não estou muito seguro.

Eu não era o único que parecia inquieto. Asahina-san estava na mesma situação. Ela

estava observando a roupa de empregada já havia um bom tempo, muito nervosa. Por acaso ela estava estudando como se comporta uma empregada de verdade para poder aprender novos truques que possa utilizar na sala do clube? Ela é do tipo de pessoas que é séria com as coisas mais inesperadas.

Nagato se sentou olhando para frente, sem se mover nem um pouco. Koizumi tinha

uma expressão casual e permanecia tão sorridente como sempre. “Este é um bom barco. Talvez pescar não seja uma má idéia?” De qualquer forma, com quem você está falando? E sobre Haruhi... “Ei. Por acaso você sabe o nome da mansão?” “Não estou muito seguro de ter entendido o que você quer dizer.” “Por acaso ela tem um nome parecido como ‘A casa da morte negra’, ‘A mansão das

lilases’ ou ‘O Castelo Kotetsu’, algo nesse estilo?” “Nada nesse estilo.” “Aconteceram histórias espantosas, como sobre a mansão ter montes de armadilhas

escondidas, ou que o arquiteto tenha sido assassinado, ou um quarto de onde ninguém saia com vida?”

“Eu não escutei nenhuma.” “Então. Há histórias sobre o proprietário usar sempre uma máscara, ou que tenha três

irmãs estranhas vivendo dentro de sua mente, que então desaparecem sem deixar rastro?” “Não.” - o mordomo acrescentou - ”Ainda não, de qualquer forma.” “Então. Isso quer dizer que é possível que estas coisas aconteçam algum dia?” “Talvez...” É impressão minha, ou o mordomo está tentando agradá-la? Enquanto a lancha desacelerava, Haruhi havia subido para a cobertura e teve a

conversa anterior com Arakawa-san. Pelo conteúdo da conversa que eu pude escutar, apesar do som do motor e das ondas, Haruhi parecia ter expectativas excessivas sobre a mansão da ilha. Falando nisso, por que ela quer tantas especificações estranhas sobre o quanto essa ilha

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está longe do continente? Por acaso não é suficiente poder nadar, passear, conhecermos uns aos outros e voltarmos felizes? Eu estaria satisfeito com isso.

Talvez já fosse tarde demais. Eu nunca pensei que haveria um mordomo e uma empregada. Isto é mais inesperado

do que ser atacado por um tubarão em uma piscina pública. Então eu provavelmente não me surpreenderia se o proprietário da mansão usasse uma máscara ou que tivessem outros convidados estranhos. Que outras surpresas o Koizumi teria reservadas para nós?

“Ah. Eu já posso vê-la! É aquela então?” “É a mansão.” Os gritos de Haruhi me golpearam como um trovão atravessando meu coração. A mansão parecia bastante comum pelo lado de fora. O sol lentamente se inclinava a oeste, mas ainda faltava um tempo até o entardecer. A

mansão estava banhada com a luz do sol poente. Parecia brilhar com esplendor. Eu sempre acreditei que nunca poria os pés num lugar assim.

O edifício acima da colina íngreme parecia com algo que uma pessoa rica construiria

como sua casa de verão. Não havia nada suspeito sobre sua arquitetura. Não se parecia em nada com um castelo medieval europeu, nem tinha roseiras espinhosas em volta de seus muros externos e não havia nenhuma torre estranha presa a ela - menos ainda algum fantasma.

Como era de se esperar, Haruhi fez uma expressão como se tivesse se dado conta de

que havia comido uma cebola pensando que era carne assada, enquanto ela observava sem emoção a mansão.

“Isto não era o que eu havia imaginado. As aparências são um fator importante. Por

acaso o arquiteto consultou experiências prévias quando construiu isto?” Eu estava de pé ao lado de Haruhi na cobertura, de onde há uma vista panorâmica da

ilha. Eu fui arrastado à força até ali por ela, de certo. “Kyon. Em que está pensando? É uma ilha isolada, mas ainda sim o prédio parece tão

simples. Não acha isso uma lástima?” Eu, na verdade, estava pensando que eles não precisavam construir uma mansão em

uma ilha tão longe. Levaria mais de uma hora em uma lancha a motor particular para chegar à barraquinha mais próxima e voltar. O que você comeria se acordasse com fome no meio da noite? Muito menos parece haver nenhuma máquina de bebidas.

“Eu estou falando da atmosfera! Eu sempre pensei que seria um desses lugares

arrepiantes, mas pela aparência dela, está é só uma mansão para férias! Nosso objetivo não é não é vir à casa de um amigo rico para nos divertir!”

Eu afastei o cabelo de Haruhi, que estava voando com o vento e batendo no meu

rosto. “Isso é o que eles chamam de excursão. O que é que estava esperando? Sair para

uma aventura? Ou queria fingir que estaria presa em uma ilha deserta?” “Hum, essa não é uma má idéia. Vou incluir exploração da ilha como parte do itinerário.

Quem sabe, nós podíamos ser os primeiros a descobrir alguma nova espécie de animal.”

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Oh não, meu comentário conseguiu aumentar o brilho nos olhos de Haruhi. Oh, ilha, eu te peço, por favor, que não tenha nada de estranho para se descobrir.

Enquanto eu orava para a ilha verdejante... “As ilhas vizinhas, ao que parece, foram formadas por uma antiga atividade vulcânica.” Disse Koizumi enquanto saia lentamente. “Além de novas espécies, nós podíamos, inclusive encontrar artefatos antigos.

Houveram vários destes artefatos deixados pelo povo japonês em outras ilhas há muitos anos atrás. É bastante dramático, não é?”

Eu não vejo nenhuma conexão entre o trabalho de feito na antiguidade e esta mansão

nova, porém eu não estou interessado em buscar um Tsuchinoko ou escavar em busca de tesouros. Por que não nos separamos? Haruhi e Koizumi podem ir explorar a ilha, enquanto eu fico para trás da Asahina-san e Nagato e damos um passeio pela praia. Isso sim é uma boa idéia.

“Hum? Há alguém por lá?” Haruhi apontou para um cais recém construído. Parecia haver sido construído

especificamente para esta lancha à motor, visto que não havia outros barcos ancorados. Uma pessoa estava de pé na margem do cais nos acenando com as mãos. Parece que é um homem.

Haruhi instintivamente respondeu o aceno. “Koizumi. Aquele é o proprietário da ilha? Ele parece bastante jovem.” Koizumi também acenou e disse: “Não, ele é outro hóspede que foi convidado além de nós. Creio que é o irmão do

proprietário. Eu só o vi uma vez antes.” “Koizumi.” - eu o interrompi - ”Devia ter nos avisado isso antes. Eu não escutei nada

sobre outros visitantes além de nós.” “Não me culpe, eu acabei de tirar esta conclusão.” Koizumi varreu o problema tranquilamente para baixo do tapete. “Não há necessidade de se preocupar! Ele é uma boa pessoa. Assim como o

proprietário, Tamaru Keiichi-san.” Este Tamaru Keiichi é uma pessoa bastante imaginativa. Ele construiu uma mansão

em uma área tão remota só para que pudesse ficar nela durante o verão. Ele é um parente distante do Koizumi, ou algo como o primo de sua mãe por parte de pai, ou algo assim. Não estou muito seguro dos detalhes, porém eu escutei que foi bastante bem-sucedido no campo da biotecnologia, e agora está colhendo os lucros de seu êxito. Sua riqueza deve ser tão grande que ele não sabe o que fazer com ela, de outra forma ele não haveria construído esta mansão tão isolada.

A lancha a motor gradualmente baixou a velocidade enquanto se aproximava do cais,

até que nós pudemos ver o rosto dessa pessoa. Ele estava vestindo um traje bastante juvenil, provavelmente tinha uns vinte anos. E aparentemente era o irmão de Tamaru Keiichi.

O mordomo é Arakawa-san, a empregada é Mori Sonou-san. Com isso resta o proprietário da mansão, Tamaru Keiichi-san.

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Esse é o relatório completo da viagem?

Nós passamos um par de horas sendo remexidos na viagem, então graças a isso, no momento em que chegamos a terra, sentíamos como se o chão ainda estivesse se movendo. O jovem tinha um sorriso plácido, e correu até a lancha a motor para nos saudar. “Ah, Itsuki. Há quanto tempo?” “Você também, Yutaka-san. Obrigado por vir.”

Respondeu Koizumi, e então nos apresentou um a um. ”Estes são meus amigos que têm cuidado de mim na escola.”

Eu não me lembro de ter cuidado bem de você, mas Koizumi nós indicou, já que estávamos alinhados em fila. “Esta menina alegre aqui é Suzumiya Haruhi. Ela é uma amiga incrível. Ela é bastante relaxada e muito enérgica. Eu deveria aprender algo com sua efetividade.” Que tipo de apresentação é essa? Uma gota de suor frio desceu pelas minhas costas. E Haruhi, em você também? Por que está com essa máscara de falsa cortesia? Por acaso suas células cerebrais se danificaram pelo vai-e-vem da viagem? “Eu sou Suzumiya. Koizumi é um membro insubstituível de minha bri... quero dizer, de minha associação. Ele foi quem nos convidou para essa ilha. Ele é um muito confiável vice-com... quero dizer, membro. He, he, he.” Koizumi ignorou o vapor frio emitido por mim e seguiu apresentando os outros membros, tal qual: “Está é Asahina Mikuru-san. Como pode ver, ela é a linda e bela musa de nossa escola. Seu sorriso é suficiente para trazer paz ao mundo.” “Está é Nagato Yuki-san. Suas qualificações são tão boas que poderíamos dizer que ela superaria qualquer enciclopédia vista neste mundo. Ela não fala muito, mas isso faz parte do seu charme.” Ele seguiu com suas apresentações exageradas de todos os membros, como se ele as lesse de algum tipo de arquivo de clientes de uma agência de encontro às cegas. É lógico que eu também fui incluído em suas estranhas apresentações, mas prefiro não comentar sobre isso aqui. Com um sorriso adequado a um parente do Koizumi, Yutaka-san disse,

”Sejam bem vindos todos, eu sou Tamaru Yutaka, neste momento sou apenas um empregado ajudando na companhia de meu irmão. Itsuki sempre me fala muito de vocês. Eu estava muito preocupado por ele quando teve de se transferir de escola repentinamente. É ótimo que tenha feito tão bons amigos.” “Bem, então.”

A alegre voz de Arakawa-san soou atrás de nós.

Eu me virei, e vi o mordomo e Mori Sonou-san trazendo a bagagem que havia descarregado do bote.

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“O sol está um pouco forte aqui. Poderia sugerir que vamos logo para a mansão?”

Yutaka-san assentiu e disse: ”Está certo, meu irmão deve estar nos esperando.”

“Nós estamos bem. Poderia ir ajudar a Arakawa-san e a Mori-san? Eles compraram muitas provisões de terra firme.”

Disse Koizumi e sorriu. Yutaka-san também respondeu com um sorriso. “Estarei esperando a hora do jantar!” Depois de todas estas cortesias, nós subimos guiados por Koizumi e nos dirigimos à mansão acima da colina. Quando penso nisso, vejo que as coisas já estavam começando a ficar um pouco estranhas. Mas lógico isso é dito considerando-se o passado. Ao final das escadas, tão íngremes como o Monte Fuji, se encontrava a mansão. O que provavelmente não impressionava Haruhi, visto que esta aparentava ser completamente normal, não o tipo de coisa bizarra que ela esperava. O edifício de três andares dava a impressão de simplicidade. Talvez porque parecesse um pouco amplo demais? Eu, inclusive, queria contar quantos quartos havia ali. Imagino que daria para hospedar umas duas equipes de futebol ainda ter quartos sobrando. A mansão parecia haver sido construída depois de derrubar um imenso bosque na colina. Mas como foi que transportaram todos os materiais necessários para construção? Provavelmente foi necessária muita logística. Na verdade, estou perplexo em como trabalham os ricos. “Por aqui, por favor.”

Koizumi nos levou até a entrada do salão como se fosse um mordomo. Nós estávamos de pé em fila. O momento havia chagado para que conhecêssemos o dono da mansão cara a cara.

Salvo Haruhi, que se adiantou como um cavalo que não obedecia às rédeas, fazendo com que sua cabeça fosse para trás repentinamente. Eu entendi que ela estava tão ansiosa por esse momento, pois ela até tirou sua faixa a pôs de volta em vários momentos. Asahina-san amarrava seu cabelo de maneira elegante, tratando de dar uma boa impressão. Enquanto que Nagato permaneceu quieta, como sempre, como um desses gatos da sorte na entrada das casas [12]. 12-[Nota do tradutor: Maneki Neko (招き猫, literalmente conhecido como gato que acena), também conhecido como Gato da Sorte, Gato do Dinheiro ou da Boa Sorte é uma escultura asiática comum, na maior parte das vezes feita em cerâmica, que se crê trazer boa sorte ao seu dono.]

Koizumi deu meia volta e nos olhou com um pequeno sorriso crescendo em seu rosto, visto que ele, casualmente, pressionou o botão da campanha perto da porta.

Alguém respondeu e Koizumi começou novamente com as cortesias.

Dez segundos depois, a porta se abriu lentamente. É desnecessário dizer, a pessoa que nos estava esperando dando as boas vindas não usava uma máscara de ferro, nem um chapéu com sombras estranhas, nem nos atacou repentinamente, ou fez algum comentário misterioso. Só um homem de meia idade comum. “Sejam bem vindos!”

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Eu não sei se Tamaru Keiichi-san ficou rico repentinamente ou gradualmente, mas justamente agora esse homem de meia idade estava vestido com uma camisa de golfe e um short, estendendo uma de suas mãos e nos convidando para entrar. “Itsuki e os demais, eu estava esperando por vocês há muito tempo. Francamente, este lugar é chato, vocês se frustrariam um bocado depois de ficar três dias. A única pessoa que aceitou o convite além do Itsuki foi o Yutaka. Oh, céus!” A olhar de Keiichi-san se virou para meu rosto, então se moveu até o de Asahina-san, Haruhi e Nagato. “Itsuki, você tem uns amigos tão bonitos! Eu já havia ouvido isso de Itsuki, mas vocês são mais bonitos do que eu pensava. Vocês certamente injetaram alguma vida nesta pequena e solitária ilha. Vocês estão mais que bem vindos.” Haruhi sorriu de todo o coração, Asahina-san fez uma reverência educadamente, enquanto Nagato permaneceu sem se mover. Três pessoas com três reações diferentes e, ainda sim, todos tinham nos olhos a expressão de alguém vendo um mestre de música aparecer durante a aula de história, vendo a Keiichi-san, que estava nos dando as boas vindas do fundo do coração. Depois de um tempo, Haruhi deu um passo a frente e disse: “Nós estamos muito agradecidos de que tenha nos convidado. É uma honra poder nos hospedar numa mansão tão luxuosa. Da parte de todos, gostaria de expressar nossa gratidão.” Ela falou em tom mais alto que o habitual, como se recitasse um discurso. Por acaso ela pensa em manter essa aparência toda a viagem? Sugiro que antes que ela troque da pele de carneiro e revele suas garras de lobo, ela deveria tirar essa máscara invisível de seu rosto. Talvez Tamaru Keiichi-san estivesse pensando algo parecido? “Então você é Suzumiya-san? Hum, você é diferente do que me haviam dito. Itsuki me disse que você era mais... hum... como deveria dizer, Itsuki?” A bola rebateu para o lado do campo de Koizumi. Sem hesitar, ele tranquilamente respondeu: “Uma pessoa franca? Eu me lembro de haver dito isso.” “Isso mesmo! Ele disse que era uma garota bastante franca.” “Ah, sério?”

Haruhi rapidamente tirou a máscara e pôs um sorriso que raras vezes se mostra fora da sala do clube.

”Muito prazer em conhecê-lo senhor proprietário de mansão! Permita-me perguntar

francamente, por acaso tem havido eventos estranhos nesta mansão anteriormente? Ou talvez algum rumor aterrorizante do pessoal local sobre que a ilha estava amaldiçoada? Este tipo de coisa me interessa mais.” Não declare seus interesses a alguém que você acaba de conhecer. Para ser preciso, não diga coisas estúpidas sobre o que aconteceu no passado ao proprietário. O que faríamos se realmente tiver ocorrido? Apesar disso, Tamaru Keiichi-san era simplesmente tão boa pessoa que apenas sorriu e disse:

“Eu tenho os mesmos interesses que os seus, ainda que não tenha escutado nada de ruim ultimamente. Além do mais, está ilha parecia estar desabitada.”

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Ele amavelmente indicou a parte de dentro da mansão.

“Bom, não fiquem parados aí fora! Está é uma mansão de estilo ocidental, portanto não precisam tirar seus sapatos. Penso que agora lhes mostrarei seus quartos. Eu queria que Arakawa-san lhes desse um passeio pelo lugar, mas parece que ele está ocupado com os equipamentos, então imagino que serei seu guia por hora.”

Disse Keiichi-san e então nos guiou para dentro da mansão. “Eu gostaria de poder ter proporcionado a todos vocês um mapa da mansão para

mostrá-los onde estão os quartos, mas eu já sabia desde que estive no primeiro ano que nunca tive nenhum talento para desenhar, então para que se incomodar. Falando de maneira simples, todos os nossos quartos ficam no segundo andar, o quarto de Keiichi-san e o de Yutaka-san ficam no terceiro. Talvez isto represente seus laços familiares. O mordomo Arakawa-san e a empregada Mori-san, cada um têm seu quarto no primeiro piso...”

É assim que estão as coisas. “Por acaso a mansão tem um nome?”

Perguntou Haruhi, Keiichi-san sorriu ironicamente e respondeu: “Justamente, até agora, não havíamos pensado em nenhum, mas se tiver alguma sugestão para o nome, sou todo ouvidos.” “Bem então. Por que não chama-la de ‘A mansão do medo’ ou ‘A mansão dos horrores’? O que acha? E também poderíamos pôr um nome em cada quarto, como ”O quarto do bebedor de sangue” ou ‘O quarto maldito’.” “Hum. Essa é uma grande idéia. Já me ocorreram alguns nomes para os quartos da última vez que convidei alguém.” Eu não tenho intenção de dormir em um quarto cujo nome me provoque pesadelos. Nós cruzamos o salão e subimos as escadas de madeira fina até o segundo andar. O interior se parecia com uma pousada, com uma fila de portas alinhadas uma atrás da outra. “Os quartos são todos do mesmo tamanho, estão divididos em aposentos com camas simples ou de casal. Escolham um de que gostem.” O que deveria fazer? Não me incomodaria em dividir com alguém, mas nós somos cinco. Se nós tivéssemos que dividir, alguém ficaria de fora, e sem importar o quanto me esforce, só consigo pensar em Nagato sendo quem ficaria de fora. Se eu anunciasse em voz alta as prioridades de minha eleição de companheiro, estou certo de que a Nagato não se incomodaria, mas eu provavelmente seria assassinado instantaneamente pelo punho de Haruhi. “Hum, penso que uma pessoa por quarto não seria nada ruim.”

Concluiu Koizumi. “Visto que estaremos a sós em nossos quartos enquanto dormimos. Nós podemos ir visitar outros quartos como quisermos. Gostaria de perguntar. Há como trancar as portas?” “Claro que sim.”

Tamaru Keiichi-san sorriu confirmando.

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“As chaves se encontram na cômoda perto da cama. As portas não fecham automaticamente, então não precisam se preocupar de ficar para o lado de fora de seus quartos por acidente. Mas tenham cuidado com as chaves e não as percam.” Eu não vou precisar de uma chave. Até antes de dormir poderia deixar a porta aberta. Talvez Asahina-san venha às escondidas por alguma razão quando todos já estiverem dormindo. Além do mais, não trouxe nada de valioso que valesse a pena ser roubado, não penso que ninguém se atreva a roubar quando a lista de suspeitos é tão curta. Se ainda assim acontecesse, o ladrão definitivamente seria Haruhi. “Então irei ver como está Arakawa-san. Vocês podem aproveitar seu tempo dando um passeio. Por favor, não se esqueçam de onde estão as saídas de emergência. Virei vê-los mais tarde.”

Então Keiichi-san desceu as escadas. Foi assim que Haruhi descreveu sua primeira impressão de Keiichi-san: “É porque ele não tem nada de estranho que ele é ainda mais suspeito.” “Então se ele fosse suspeito. Como se explicaria isso?” “É só pela forma como ele se parecia. Ele tem que ser uma pessoa estranha.” De acordo com a lógica subjetiva dessa menina, não há nada neste mundo que não seja suspeito. Seus padrões impressionam até a ISO [13]. Talvez você pudesse trabalhar para alguma grande empresa de normatização. Aposto que você poderia trabalhar arduamente ali se sentindo realizada todos os dias. 13-[Nota do tradutor: ISO corresponde a uma gama de sistemas de qualidade.] Depois de deixar nossa bagagem em nossos quartos, nos reunimos no quarto com cama grande que Haruhi escolheu para ser o seu. É típico de Haruhi ocupar um quarto grande só pra ela. As palavras cortesia e modéstia não existem em seu vocabulário. As três meninas se sentaram na cama, eu me sentei-me à mesa, enquanto Koizumi se recostou contra a parede e cruzou os braços, parecendo relaxado. “Já sei!”

Gritou Haruhi repentinamente, e como sempre, eu perguntei por instinto: “O que você sabe?” “O suspeito.”

Disse Haruhi repentinamente. Seu rosto agora tinha a aura de um Mestre Detetive, por

alguma razão. Duvidando, eu falei pelos outros três.

“Que suspeito? Nem sequer há um caso ainda, nós acabamos de chegar!”

“Pelos meus instintos, o suspeito é o proprietário do lugar. Eu penso de que seu primeiro alvo será Mikuru-chan.” “Eh!?”

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Asahina-san parecia estar realmente assustada. Ela tremia como um coelho ao escutar as asas de uma águia se agitando, agarrando a saia de Nagato. Nagato não disse nada. “ ... ”

Só fixou seu olhar em algum ponto no meio do nada.

“E eu estou te perguntando. Que suspeito?” - perguntei de novo - ”Ou melhor ainda. Em que tipo de crime está tratando de culpar o pobre Tamaru Keiichi?” “Como poderia saber? Pelos seus olhos, ele parece não ter algo planejado. Meus instintos normalmente estão corretos. Logo então, nós estaremos envolvidos em algo surpreendente.” Estaria bem se fosse uma festa surpresa normal, mas Haruhi estava esperando algo muito mais além, não só uma festa alugada onde ela desempenharia um pequeno papel. Pensem bem sobre isso. A imagem de Keiichi-san removendo sua aparência de bom homem, seus olhos brilhando com loucura, e carregando uma faca de carne afiada abrindo os estômagos de seus convidados. Só por que ele acidentalmente encontrou alguma tumba antiga no final do bosque desta ilha e foi possuído por um fantasma assassino. “Por acaso, poderia mesmo acontecer algo tão estúpido?” Eu agitei minha mão horizontalmente no ar, fazendo um gesto de ”não se meta em problemas.” Sem importar quão insistentemente se pense nisso, é impossível que alguém que conheça Koizumi se converta em algo como isso. Essa ”Organização” não é completamente estúpida, eles provavelmente fizeram várias investigações dos antecedentes previamente. Koizumi tinha seu sorriso inofensivo de sempre e Arakawa-san, o mordomo, Mori-san, a empregada, assim como Tamaru Yutaka-san, todos pareciam muito distantes da imagem de uma pessoa que daria medo. Por certo, Haruhi estava esperando um mistério, não alguma interferência de algum campo magnético. Certo? Se estas coisas fossem acontecer, só seriam um ou dois assassinatos no máximo. Certo? Além do mais, eu não penso que as coisas vão suceder só porque ela deseja isso. O clima lá fora é genial e o mar está calmo. Está ilha não é um círculo fechado. Além do mais, sem importar o quão louca esteja Haruhi, ela não desejaria de verdade que alguém morresse. Se Haruhi fosse assim, eu já haveria sido assassinado pela sua impaciência, considerando que tenho estado perto dela o tempo todo.

Haruhi não parecia sentir minhas preocupações, e disse inocentemente:

“Vamos primeiro nadar! Que mais se podia fazer do que nadar em um lugar onde há um mar? Todos. Nadem até estarem satisfeitos! Nós teremos uma competição e veremos quem será arrastado pelas ondas primeiro.” Essa não é uma má idéia, supondo-se que um salva-vidas esteja disponível e a espera. Mas nós acabamos de chegar. Por acaso temos que ir agora? Nem sequer vamos descansar depois de todo o cansaço dessa longa viagem? Falando nisso, Haruhi nunca se sentiu cansada antes. Ela deveria ter um pouco mais de consideração com os demais em vez de fazer as coisas de acordo com sua própria vontade. “Que diabos você está murmurando? O sol não deixava de brilhar, ainda que se oferecessem sacrifícios no templo de Apolo! Seria uma perda de tempo se não formos antes que o sol se vá.”

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Haruhi estirou seus braços e enlaçou com os cotovelos de Asahina-san e Nagato. “Kyaa!” - Asahina-san fechou os olhos e gritou. ” ... ” - enquanto Nagato nem sequer mostrou reação.

“Roupas de banho! Roupas de banho! Todos peguem suas roupas de banho e nos encontraremos no salão! He, he! Eu ajudarei a escolher as roupas de banho dessas duas belezas! Você deve estar ansioso para vê-los, não é, Kyon?” Haruhi revelou uma expressão de ”Eu sei no que você estava pensando” e sorriu com malícia, mostrando seus dentes brancos. “Você está completamente certa.” Eu recuperei a energia e me pus de pé. Está era na verdade uma parte das razões pelas quais eu vim aqui. Eu não permitirei objeção. “Koizumi. Por acaso a praia particular desse lugar está completamente reservada pra nós?” “Isto mesmo. Mas de qualquer forma, as pessoas daqui só vão à praia para recolher algumas conchas ou algo assim. De todo modo, pouca gente vem aqui, porém as ondas podem ser fortes nesse lugar, então tratem de não nadar muito longe. Principalmente se estavam falando sério em ter uma competição...” “Não seja ridículo. Eu estava brincando. Mikuru-chan certamente seria arrastada por alguma onda negra e se tornaria comida para os peixes. Todos escutem. Não se emocionem muito e nem nadem muito longe! Permaneçam em meu campo de visão.” Por acaso é apropriado que Haruhi esteja a cargo da segurança de todos? Imagino que terei de ajudar. Ao menos, devo ser cuidadoso de não deixar Asahina-san fora de minha vista por mais de dois segundos. “Ei, Kyon!” O dedo de Haruhi apontou diretamente para meu nariz. “Não estou gostando desse sorriso estúpido em seu rosto, então trate de tirá-lo. Você fica melhor franzindo a testa. E tampouco vou te dar a câmera!” Permanecendo apaixonada do principio ao fim, o Expresso Haruhi do Oriente acelerou, ignorando qualquer obstáculo, sorrindo e dando ordens.

”Então vamos lá!”

E assim nós fomos à praia. O sol já estava quase se pondo, porém os raios e o calor eram bastante semelhantes ao que se vê em pleno verão. As ondas golpeavam a areia, as nuvens flutuavam sobre o céu como se fossem malvas. Nosso cabelo se movia com a brisa do mar, levando a essência das ondas. Ainda que a praia fosse privada, na verdade não havia necessidade nenhuma de fazer alguma reserva ou algo assim, visto que de qualquer maneira ninguém jamais vem a essa ilha isolada. Imagino que a única pessoa que viria aqui desfrutar o retiro da praia são alguns turistas estrangeiros enganados por essas péssimas revistas de viagem. Além de nós cinco, não havia dúvida de que a praia estava completamente vazia. Nem sequer havia gaivotas.

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Assim sendo, além de mim e de Koizumi, os únicos seres capazes de disfrutar da visão de Haruhi e das meninas em seus trajes de banho eram os crustáceos presos às pedras da costa. Eu pus a esteira de palha debaixo da sombrinha, e estreitei meus olhos, desfrutando cada movimento de Asahina-san, que estava tímida, enquanto Haruhi chegava por trás dela para surpreendê-la. “Mikuru-shan. A melhor maneira de desfrutar o mar é nadar! Vamos! É ruim para sua saúde não desfrutar os raios de sol!” “Ah, eu realmente não gosto muito de ficar no sol.” Haruhi ignorou os protestos de Asahina-san e empurrou a mais velha de pele clara para a água. “Uaa. Salgada.”

Asahina-san na verdade estava surpresa por algo tão trivialmente óbvio, movendo seus braços na superfície da água. Nesse momento, Nagato...

” ... ” ... Sentou-se na cadeira de praia em seu traje de banho e começou a ler em silêncio

seu romance de capa dura.

“Pessoas naturalmente diferentes tem diferentes formas de se divertir.”

Koizumi, que estava brincando com a bola de praia, abriu sua boca para mostrar um sorriso.

”Tem-se que passar seu tempo livre fazendo o que gosta, de outro jeito, não seria

chamado tempo livre. Por acaso você não tem a intenção de desfrutar esta excursão, livre de preocupações pelos próximos quatro dias e três noites?”

Por acaso não é Haruhi a única a fazer o que quiser? Eu não pensei uma única vez que Asahina-san, sendo forçada a seguir a corrente de Haruhi, possa entender o significado verdadeiro de estar relaxada. “Ei, Kyon! Koizumi! Vocês dois, venham aqui!”

Haruhi gritou como se fosse uma sirene de ambulância. Eu me pus de pé cuidadosamente. Para ser honesto, eu não me incomodava muito. Sem contar a Haruhi, o simples fato de estar em pé próximo a Asahina-san era exatamente o que eu queria. Pegando a bola que voou da mão de Koizumi para mim, eu comecei a caminhar na quente areia da praia.

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Quando começamos a sentir o cansaço em nossos músculos, voltamos para a mansão, tomamos em banho e descansamos em nossos quartos. O céu agora estava cheio de estrelas. Mori-san nos dirigiu até a sala de jantar. Durante o jantar:

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O jantar para esta noite era bastante requintado. Eu não penso que eles tentaram atender o desejo de Asahina-san, mas tinha peixe no vinagre em cada um de nossos pratos. Estando acostumado a pobreza, eu tive que me sentar mais dignamente em respeito a tudo isso. Eu posso pegar tudo de graça? Está tudo bem mesmo? “Vão em frente.”

Keiichi-san sorriu e mostrou sua generosidade. ”Pense que é uma recompensa por terem chegado tão longe, porque é muito tedioso

estar sozinho aqui o tempo todo. Na verdade, eu sou bastante seletivo ao escolher minhas visitas, mas por serem amigos de Koizumi, vocês são mais que bem vindos.”

Por alguma razão, Keiichi-san agora estava vestido de maneira muito mais formal do que se comparado à última vez que o vimos. Ele usava um smoking preto com um enfeite no colarinho. Os pratos eram, em parte, comidas japonesas e ocidentais. Havia carneiro, peixe ao estilo francês e algumas pratos cozidos, todo tipo de coisas. O único que estava usando garfo e faca era Keiichi-san, visto que havíamos pedido hashis desde o começo. “Esta incrível! Quem preparou isto?”

Perguntou Haruhi enquanto mostrava seu surpreendente apetite que ganharia um prêmio por velocidade em um concurso de comida.

“O mordomo Arakawa-san também é o cozinheiro daqui, suas habilidades na cozinha não são nada ruins, não é?” “Devo agradecê-lo, por favor, chame-o mais tarde.”

Disse Haruhi como se ela fosse um gourmet que havi aprovado um jantar na alta sociedade. Eu olhei para Asahina-san, que arregalava ainda mais os olhos a cada garfada; depois Nagato, que não aparentava comer muito, e ainda sim ela não deixou de pegar comida com seus hashis; Koizumi, que falava alegremente com Yutaka-san. “Gostaria de algo para beber?”

Perguntou Mori-san, vestida com seu uniforme de empregada e estava na função de

copeira nesse momento. Ela levava uma pequena e larga garrafa de vinho e sorriu. Provavelmente é vinho, creio eu. Ainda que seja questionável oferecer álcool a menores, ainda assim decidi pedir um copo. Nunca provei vinho antes, mas um só copo não deve fazer mal. E depois de ver o encantador sorriso de Mori-san, era-me difícil negar. “Ah, o que é isso que você está bebendo, Kyon? Eu quero também.” Ao pedido de Haruhi, copos cheios de vinho foram entregues às mãos de todos. Senti que era o ínicio de um pesadelo. Nesse dia, eu descobri que Asahina-san era completamente fraca para bebida, enquanto que Nagato era um poço sem fundo, e Haruhi era uma esponja sem remédio. Dadas as circuntâncias, eu bebi demais, então minha memória está bastante borrada, mas ainda me lembro de Haruhi tomando a garrafa de vinho e bebendo sem parar enquanto batia na cabeça de Keiichi-san. “Ah, você é tão genial! Para agradecer eu vou te oferecer a Mikuru-chan! Divertam-se bem para que ela seja uma empregada melhor! Porque essa garota não tem solução!”

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Eu lembro vagamente de escutá-la gritar em tom muito alto. A empregada de verdade, Mori-san, pôs a garrafa de vinho de novo na mesa como um pino de boliche, e silenciosamente começou a cortar pedaços de maças e peras da cesta de frutas, entregando-as como sobremesa. Enquanto que a empregada de mentira da sala do clube, Asahina-san, já estava na mesa com o seu rosto completamente vermelho. Nagato terminou seu copo de vinho o qual Mori-san havia servido. Eu não sei como seu corpo consegue dissipar álcool. Seu rosto permaneceu o mesmo enquanto ela esvaziava um copo atrás do outro, como uma baleia sorvendo a água do mar. Yutaka-san perguntou curioso.

”Por acaso ela está bem?”

Ele estava realmente preocupado, eu ainda me lembro da cena.

Depois do jantar, parece que Koizumi me carregou inconsciente de volta ao quarto. Pelo menos foi o que ele me disse posteriormente. Ele disse que eu estava tão alcoolizado quanto Haruhi, mas visto que eu não me lembro de nada, tratei de não escuta-lo e me neguei a lembrar que tal coisa houvesse mesmo acontecido. Vou encarar isso como mais uma brincadeira de Koizumi. Porque algo aconteceu no segundo dia que mandou nossa ressaca para longe de nossas mentes. Uma tempestade começou repentinamente na manhã do segundo dia.

A água da chuva golpeava em diagonal a superfície da janela, os fortes ventos tinham um som abominável. O bosque ao redor da mansão fazia sons de como se estivesse habitado por demônios.

“Que má sorte nós temos, para aparecer um tufão neste momento.” Disse Haruhi, decepcionada, olhando para fora pela janela. Nós tínhamos nos reunido

em seu quarto para discutir como deveríamos passar o dia.

Isso foi depois de tomarmos o café da manhã. Keiichi-san esteve ausente na mesa. Arakawa-san disse que Keiichi-san sempre se sente horrível pela manhã depois de acordar, então é muito raro que ele acorde antes do meio-dia. Haruhi se virou para nós.

”Agora isso, definitivamente, se transformou em uma ilha isolada. Essa é uma situação que acontece apenas uma vez na vida. Talvez algo realmente aconteça!” Asahina-san deixou escapar um suspiro e começou a mover seus olhos de um lado para o outro, enquanto que as expressões de Koizumi e Nagato continuaram como de costume. As ondas estavam tranqüilas ontem. Agora chegou ao estado de alerta de tsunami, o que torna impossível para um barco sair. Se isto continuar até depois de amanhã, nós estaremos presos de verdade em uma ilha isolada contra nossa vontade, justamente como Haruhi queria. Um círculo fechado, certo? Koizumi deixou escapar um sorriso, tratando de nos acalmar.

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”Este tufão parece estar se movendo bastante rápido, penso que o clima ira melhorar depois de amanhã. Como diz o ditado: ‘Tudo que vem rápido, vai rápido’.”

De acordo com a previsão do tempo, isso é verdade. Mas não houve nada sobre nenhum tufão no jornal de ontem! Quem foi a mente que conjurou essa tormenta? “Isso é apenas uma coincidência.”

Disse Koizumi com tranqüilidade. ”Isto é um fenômeno natural, vem no pacote do clima de verão, imagino. Sempre há um

grande tufão a cada ano.” “Supõe-se que nós teríamos que explorar a ilha, mas parece que teremos de cancelar isso.” - disse Haruhi, amargamente - ”Ah, bem. Vamos ver algum jogo que possamos jogar aqui dentro.” Haruhi parecia ter se esquecido completamente seu propósito original desta viagem, visto que a ênfase agora estava em divertir-se. Isso sim era algo que merecia celebração, porque eu não ia querer caminhar até outro extremo da ilha para encontrar a pele de algum animal não identificado sendo arrastada pelas ondas e jogada nas pedras. Koizumi fez uma sugestão.

”Se eu não me engano lembro que há uma sala de jogos aqui, vou pedir a Keiichi-san que abra pra nós. O que gostariam? Mah-jong ou bilhar? Se pedirmos nós poderíamos até obter permissão para o jogo de tênis de mesa.” Haruhi assentiu.

”Então vamos ter um encontro com o tênis de mesa! Nós decidiremos então quem será o ganhador do primeiro Torneio de Tênis de Mesa da Brigada SOS com sistema de round-robin [14]! Sinto muito por aqueles que querem jogar bilhar, mais tarde eu os convidarei para beber algo na viagem de volta no barco. E tratem de não se segurarem!” 14-[Nota do tradutor: Round-Robin é um dos mais antigos e simples algoritmos de escalonamento.] Esse salão de jogos estava localizado no sótão. Num quarto amplo se encontravam uma mesa de Mah-jong e uma mesa de bilhar. Eles até tinham uma roleta e uma mesa de Baccarat [15]. Por acaso os parentes de Koizumi tinham um casino secreto aqui? 15-[Nota do tradutor: Baccarat é um jogo de cartas excitante que foi enredo no filme de James Bond Casino Royale de Ian Flemming. Foi criado na Itália durante a idade média e seu nome vem da palavra italiana para "zero" porque as cartas de figuras e de dez – que normalmente tem valores altos na maioria dos jogos – são contadas como zero no Baccarat. Em dado momento migrou para a França onde foi adotado pela Aristocracia.. Hoje, o Baccarat é o jogo favorito dos altos apostadores e jogadores famosos no mundo inteiro.] “O que acha?” - perguntou Koizumi com um sorriso bobo no rosto, puxando a mesa dobrável que estava num canto. Por certo, depois de uma intensa batalha comigo, Haruhi ganhou o torneio de tênis de mesa. Ela então resolveu iniciar um evento de Mah-jong porém, exceto Koizumi, ninguém mais na Brigada SOS sabia como jogar Mah-jong [16], então tivemos que aprender enquanto jogávamos. Durante o jogo, também se uniram a nós os irmãos Tamaru, convertendo o jogo em uma animada competiçã. Haruhi mudou as regras e criou um yaku que se adaptasse a ela, vitória atrás de vitória com combinações estranhas como ”Nishoku Zetsu Ichimon”, ”Chantamodoki”, ”Paralise Iishanten” e coisas assim. Bom, me fez rir, então deixei passar esta vez. E, de qualquer forma, nós não estávamos jogando por dinheiro. 16-[Nota do tradutor: Mahjong (Mah Jongg ou Majiang) é um jogo de mesa de origem chinesa que foi exportado, a partir de 1920, para o resto do mundo e principalmente para o ocidente.]

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17-[Nota do tradutor: YAKU (combinação ou situação).] ““Ron! Isso dá cerca de dez mil pontos!” 18-[Nota do tradutor: RON (pronúncia como em PeRON, CaRONte) é a expressão usada para declarar vitória quando o jogador completa a mão com uma pedra descartada por outro jogador.] “Suzumiya-san, isto é yakuman.” 19-[Nota do tradutor: YAKUMAN é a pontuação limite (pode-se combinar antes da partida se haverá múltiplos YAKUMANs).] Eu suspirei secretamente, talvez fosse melhor ver as coisas de modo mais amável e desfrutar a diversão que nos trouxe essa viagem. Como estão às coisas, é pouco provável que apareça uma enorme criatura do mar ou que saiam nativos do bosque. Depois de tudo, esta é uma ilha isolada afastada do continente. Não haverá coisas estranhas vindo tão facilmente. Eu decidi pensar assim e relaxar. Tamaru Keiichi-san, Yutaka-san, Arakawa-san e Mori-san são todos conhecidos de Koizumi, todos eles parecem normais. Para nós ainda faltam personagens necessários para que se dispare o evento estranho. Eu espero que tudo fique bem. Rezei dentro do meu coração. Mas os deuses parecem nunca responder minhas preces. Aconteceu na manhã do terceiro dia. Nós passamos o dia inteiro jogando e comendo, e como o clima não melhorou com a caída da noite, a mesma cena se repetiu na sala de jantar. No terceiro dia, eu lutei para acordar contra uma dor de cabeça horrível por causada pela ressaca, se Koizumi não nos tivesse trazido de volta a nossos quartos, imagino que ainda estaria dormindo na sala de jantar com Haruhi e Asahina-san.

Eu abri as cortinas na manhã do terceiro dia. A tormenta continuava. “Pergunto-me se nós poderemos voltar amanhã?”

Desfiz-me da tontura com um pouco de água fria, fazendo o maior esforço para caminhar em linha reta. Desci as escadas com cuidado, não querendo tropeçar ou cair. Ali, reunidos na sala de jantar se encontravam Haruhi e Asahina-san - com o mesmo rosto miserável que o meu - e Koizumi e Nagato com suas expressões de sempre. Os irmãos Tamaru não haviam descido ainda. Por acaso eles haviam alcançado seu limite depois de beber por duas noites seguidas? Eu me lembrava de Haruhi servindo vinho em seus copos. Se Haruhi já era temível quando estava sóbria, com álcool ela ficava pior, e só de pensar em suas ações na noite passada, minha dor de cabeça piorava. Eu decidi nunca mais me forçar a beber descontroladamente. “Eu não quero beber vinho nunca mais.”

Haruhi franziu o cenho como se tivesse aprendido uma lição. ”Não sei por que, mas minhas lembranças do jantar de ontem parecem ter

desaparecido. Não é uma pena? Sinto como se tivesse desperdiçado muito tempo. Agh, não quero ficar bêbada nunca mais. Está noite será sem álcool.”

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Normalmente, se supõe que os alunos de ensino médio não deveriam ficar bêbados. Talvez eu devesse elogiar Haruhi por dizer algo tão responsável pela primeira vez. Ainda assim, a expressão de sonolência de Asahina-san quando estava bêbada era tão sedutora, devo admitir que não me incomodava tanto em beber. “Estão está decidido!”

Koizumi assentiu e concordou imediatamente, ele então disse a Mori-san que havia entrado empurrando um carrinho com nosso café da manhã.

”Nós não iremos querer vinho está noite. Por favor prepare só algum suco no lugar.”

“Entendido.”

Mori-san fez uma reverência educada e começou a servir o toucinho e os ovos num prato sobre a mesa.

Yutaka-san ainda não havia aparecido, mesmo depois de termos terminado nosso café

da manhã. Visto que Keiichi-san se sente mal pela manhã, sua ausência era de se esperar, mas não a de Yutaka-san. Nesse momento...

“Perdoem-me.” Arakawa-san e Mori-san apareceram diante de nós. Eu notei uma expressão

preocupada em seu rosto de mordomo normalmente tranqüilo. Eu tinha um mal presentimento sobre isso.

“O que aconteceu?” - perguntou Koizumi - ”Por acaso há algum problema? “Sim.” - disse Arakawa-san - ”Creio que é um problema. Pedi a Mori-san que fosse ver

o quarto de Yutaka-sama.” Mori-san assentiu com a cabeça, Arakawa-san continuou. ”Visto que a porta estava trancada, eu a abri e descobri que Yutaka-sama não estava

lá. “

Com uma voz tão clara como a de uma campainha, disse Mori-san dando uma olhada para a toalha de mesa: ”O quarto estava vazio e não parecia que alguém houvesse dormido naquele quarto.” “Decidi contactar o quarto do mestre pelo telefone interno, mas não houve resposta.” Haruhi soltou o copo de suco de laranja que estava segurando depois de ouvir o que Arakawa-san havia dito. ”O que isso significa? Yutaka-san está desaparecido enquanto que Keiichi-san não atende ao telefone? “Em termos mais simples, é essa a situação.” - respondeu Arakawa-san. “Não foi possível entrar no quarto de Keiichi-san? Por acaso não há uma chave reserva?” “Eu tenho a chave reserva de todos os quartos, menos o quarto do mestre. Visto que seu quarto tem vários documentos relacionados a seu trabalho e que, por segurança, só ele tem acesso à chave reserva.”

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Esse mal presentimento começou a se mover como uma nuvem negra, obscurecendo dois terços do meu coração. O proprietário da mansão não acordou e seu irmão está desaparecido. Arakawa-san fez uma pequena reverência

”Eu gostaria de visitar o quarto do mestre. Se não se incomodarem, poderiam me acompanhar, por favor? Espero que não seja nada, mas tenho um mal presentimento quanto a isto.”

Haruhi rapidamente me fez um gesto com os olhos. O que ela está querendo dizer? “Talvez nós devêssemos ir também.”

Koizumi se pôs de pé sem hesitar.

“Talvez ele esteja tão mal que não conseguir se levantar. Nós provavelmente teremos que arrombar a porta.” Haruhi rapidamente se levantou de sua cadiera.

”Kyon, vamos! Estou ficando inquieta. Yuki e Mikuru-chan, vocês duas venham também!”

Neste momento Haruhi revelou uma expressão em seu rosto que eu nunca havia visto

antes.

Permitam-me ser breve sobre o que aconteceu depois. O quarto de Keiichi-san estava localizado no terceiro andar, e não houve resposta, não importava quantas vezes chamássemos. Koizumi tentou girar a maçaneta, mas ainda assim a porta não abria. A porta de madeira estava de pé como um muro, bloqueando nosso acesso. Antes de chegar ali, nós também fomos ao quarto de Tamaru Yutaka-san. Assim como Mori-san havia descrito, os lençóis estavam intactos, como se ninguém houvesse dormido neles. Para onde raios ele foi? Podiam ambos os irmãos estarem se escondendo no quarto de Keiichi-san?

“Este quarto está trancado por dentro, isso quer dizer que há alguém ali. Koizumi pôs sua mão no queixo, dando a impressão de que estava pensando

profundamente. Ele falou com um tom intenso que eu ainda não havia visto. ”Parece que não temos opção. Teremos que arrombar a porta. Pode ser tão sério que

haja vidas em perigo.“ Assim nós nos alinhamos e investimos contra a porta como um monte de jogadores de

rugby. O alinhamente incluía a mim, Koizumi e Arakawa-san. Eu sei que Nagato poderia ter tirado a porta facilmente com um só dedo, mas ela decidiu que sua magia não seria muito apropriada com todos olhando. Sob a vigilância das três garotas da Brigada e de Mori-san, nós três investimos contra a porta inúmeras vezes, justo quando os ossos do meu ombro começavam a se queixar da dor...

A porta finalmente se abriu como uma mola. Perdendo o equilíbrio, eu, Koizumi e Arakawa-san caímos dentro do quarto por causa

do impulso. E então...

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Sim, nós voltamos para a cena do inicio. Tomou-nos muito tempo para chegar. Agora voltando ao presente.

......... ...... ...

Depois dessa longa memória, eu lentamente movi meus olhos de Keiichi-san, cujo peito havia sido apunhalado com uma faca, até a porta, que havia sido aberta pelo golpe. Está é uma mansão totalmente nova, as portas ainda estão brilhantes... Eu não deveria estar pensando em coisas tão relevantes numa hora como essa. Arakawa-san se curvou e se aproximou de seu mestre, tocando seu pescoço com a ponta dos dedos, então lentamente levantou sua cabeça e olhou para nós.

”Ele está morto.”

Talvez por causa de sua profissão, essa frase soou bastante seca. “Ah... ah...”

Asahina-san se ajoelhou no chão, parecendo exausta. Isto era bastante compreensível, porque justo nesse momento me sentia com vontade fazer o mesmo também. Inclusive, encontrei a expressão rígida de Nagato como uma salvação.

“As coisas ficaram sérias.” Koizumi foi até Keiichi-san e se ajoelhou ao lado oposto de Arakawa-san, movendo cuidadosamente a roupa de Keiichi-san e examinando sua camisa. A camisa branca agora estava manchada com um líquido vermelho escuro, formando um padrão irregular. “Huh?”

Ele fez uma exclamação. Eu olhei sua mão e vi um livrinho dentro do bolso no peito de Keiichi-san. A faca parecia ter aptravessado através do livro em direção ao coração. O suspeito deve ter usado uma força incrível para fazer isso. Não penso que houvessem sido as garotas, ainda que Haruhi pudesse ter feito com seu incrível poder.

A voz de Koizumi estava com um tom de tristeza.

”Justamente agora, nossa prioridade é preservar a cena do crime. Vamos deixar este lugar.”

“Mikuru-chan. Você está bem?” Não era surpreendente que Haruhi estivesse tão preocupada, visto que Asahina-san estava perto de desmaiar. Ela estava ajoelhada no chão ao lado das finas pernas de Nagato e fechando levemente os olhos. “Yuki, vamos levar Mikuru-chan para o meu quarto! Você segura pelo outro braço.” Haruhi, na verdade, disse algo com sentido comum, talvez isto queira dizer que ela esteja preocupada por dentro. Sendo segurada pelos braços por Nagato e Haruhi, Asahina-san foi arrastada e levada lentamente para o corredor.

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Depois de se certificar de que elas haviam saído, eu observei ao redor. Arakawa-san pôs suas mãos juntas, mostrando respeito ao seu mestre que agora se encontra estirado no chão, enquanto que Mori-san baixou a cabeça com um rosto triste.

Até agora Yutaka-san permanecia desaparecido enquanto a tempestade continuava lá fora.

“Agora...” - disse Koizumi para mim – “ ... parece que nós precisamos pensar sobre o ocorrido.” “O que você quer dizer?” - perguntei. O sorriso de Koizumi regressou ao seu rosto. “Ainda não se deu conta? Agora isto é um círculo fechado.” Eu já sabia disso faz certo tempo. “Isto se parece um assassinato.” Bom, com certeza não parece com um suicídio. “Além do mais, esse quarto estava totalmente fechado.” Virei-me e notei que todas as janelas estevam fechadas por dentro. “Como é que o suspeito comete este ato e vai embora a salvo em um quarto no qual não há jeito de se entrar?” Por que você não pergunta isso ao próprio suspeito!? “Você está certo.”- Koizumi concordou comigo - ”Será melhor que nós perguntemos a Yutaka-san sobre isto.” Koizumi pediu a Arakawa-san que chamasse a polícia, então se virou e me disse: “Por favor, vá primeiro e espere no quarto de Suzumiya-san, que eu irei depois também.” Essa parecia uma boa idéia, visto que não havia muito que eu pudesse fazer. Eu bati na porta. “Quem é?” “Sou eu.” A porta se abriu rapidamente, Haruhi deu uma olhada de dentro do quarto. Ela então me deixou passar com um olhar perplexo no rosto. “Onde está o Koizumi-kun?” “Ele virá logo.” Asahina-san estava dormindo em uma das camas de casal. A expressão em seu rosto quando dorme era suficiente para provocar qualquer príncipe que passasse por ali para que a beijasse. Mas pela sua expressão de dor, ela deveria estar em um estado de coma, é uma pena.

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Ao seu lado estava Nagato, como se estivesse observando um caixão. Mantenha seu bom trabalho! Nunca saia do lado de Asahina-san. “Ei. O que você acha?”

Haruhi parecia estar perguntando para mim.

“Acho de quê?” “Refiro a morte de Keiichi-san. Isso é um assassinato, certo?” Falando de maneira objetiva, a resposta é bastante óbvia - ou não, eu tratei de deduzir. Nós abrimos a porta fechada à força para encontrar o proprietário da mansão estirado ao chão, com uma faca cravada em seu peito. Um assassinato que aconteceu em um quarto fechado em uma ilha isolada em meio a uma tempestade. Isto é bastante elaborado. “Parece que o caso é esse.” O tempo se deteve por alguns segundos, então Haruhi suspirou profundamente e respondeu: “Hum...”

Haruhi pôs sua mão em seu queixo e se sentou na cama. ”Como isso pode acontecer. Eu nunca esperei que as coisas ocorressem desta

maneira.

Ela murmurou caladamente. Eu deveria estar te perguntando a mesma coisa. Não era você que já estava antecipando que aconteceria alguma coisa? “Mas... eu nunca pensei que algo aconteceria de verdade!” Haruhi franziu o cenho, então mudou sua expressão. Ela parecia preocupada pelo que estava aparentando. Eu estava bastante aliviado de que ela não parecesse feliz com isso, eu não tenho intenções de assumir o lugar de segunda vítima. Olhei para Asahina-san, que estava dorminddo com um rosto angelical. “Ela estará bem, creio eu. Apenas desmaiou. Uma reação normal, acho que estou com um pouco de inveja dela. Essa é a reação normal de Mikuru-chan. É melhor do que ficar histérica.”

Disse Haruhi sem pensar. Um incidente de assassinato em quarto fechado em uma ilha isolada por uma tormenta. Quais são as possibilidades de que isso aconteça em uma excursão? Mas, nós somos da Brigada SOS, não um grupo comum de estudo do Ocultismo, ou uma associação de Histórias de Mistério. Buscar eventos misteriosos é exatamente a razão pela qual Haruhi fundou a Brigada SOS, então na verdade, o fato de encontrar esse tipo de incidentes talvez seja o verdadeiro principio da Brigada SOS. Mas é claro, é uma história completamente diferente quando estamos vivendo isso de verdade. Por acaso aconteceu o que Haruhi estava esperando? “Céus, isso é tão frustante...” Haruhi saltou da cama e caminhou pelo quarto.

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Para mim, ela parecia como uma menina que queria fazer uma brincadeira do dia da mentira, mas se deu conta de que havia ido longe demais e se sentia preocupada. Ela parecia preocupada. Ela parecia haver sido completamente tomada pela suspresa, e isso me preocupava também. “O que deveríamos fazer?” Se fosse possível, eu gostaria de me recostar e dormir ao lado de Asahina-san, mas é inútil tentar escapar da realidade agora. Deve haver uma forma de se lidar com isso. O que será que Koizumi está tramando? “Hum, depois de tudo, nós não podemos ficar aqui sem fazer nada.” Depois de tudo? Disse Haruhi, desafiadora, e se pôs de pé bem na minha frente, quase encostando em meu rosto. Ela me olhou com seus olhos aterradores. “Kyon, eu preciso confirmar algo.” Realmente não desejo que Asahina-san fique sozinha aqui. “Yuki também está aqui. Então não se preocupe! Yuki, feche a porta, e não deixe ninguém entrar, entendido?” Nagato estava com seu comportamento tranqüilo e olhou para mim e para Haruhi. “Entendido.”

Ela respondeu sem sequer mudar o tom de voz.

Instantaneamente, o par de olhos brilhantes fez contato com meus olhos. Neste momento, Nagato assentiu levemente de uma maneira que só eu pude notar, isso é o que eu penso, de qualquer forma. Eu não creio que algo perigoso pudesse acontecer a mim e a Haruhi, certo? Se algo estranho fosse acontecer, seria estranho que Nagato não fosse interferir. Convenci a mim mesmo, lembrando do que aconteceu no apartamento do presidente do Clube de Informática. “Vamos, Kyon.”

Haruhi agarrou meu pulso e saiu pelo corredor.

“Aonde vamos?” “Ao quarto de Keiichi-san, é lógico! Eu não observei de perto então preciso vê-lo novamente.” Com a imagem de Keiichi-san estirado no chão com uma faca cravada em seu peito e a camisa branca manchada de sangue, eu comecei a duvidar. Essa não era uma imagem que valesse a pena apreciar. Haruhi caminhou e disse: “Então nós precisamos averiguar onde se encontra Yutaka-san. Ela talvez ainda esteja no prédio, além do mais...” Para algo assim sério, se Yutaka-san não tem nada a ver com isto, então não tem sentido que tenha desaparecido. Só pode haver duas possibilidaddes para sua ausência. Eu fui arrastado por Haruhi, que subiu as escadas com pressa e disse: “Ou Yutaka-san é o assassino e escapou da cena do crime, ou Yutaka-san também é uma vítima... Não é?”

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“Sim, mas se Yutaka-san não é o assassino, então isso se tornaria problemático.” “Não importa quem é o culpado, tudo isso é incomodo para mim....” Haruhi me olhou de viés.

“Kyon, nesta mansão, além dos irmãos Tamaru, só estão Arakawa-san e Mori-san, e nós cinco. Poderia um desses ser o suspeito? Eu não quero suspeitar da minha própria Brigada, eu não quero entregá-los a polícia.”

Ela estava bastante tranqüila ao dizer isso. Pelo que eu posso ver, então você está preocupada de que um de nós seja o assassino, não é? Eu nunca contemplei essa possibilidade. Asahina-san está fora de questão, enquanto que Nagato teria feito de uma maneira mais eficiente, mas quanto a Koizumi... é certo, Koizumi era mais próximo de Tamaru-san. Ele disse que Tamaru-san era um parente distante, comparado a uns completos estranhos como nós, ele certamente parecia mais próximo... “Não.”

Eu golpeei levemente minha cabeça. Koizumi não era um idiota. Ele não faria algo assim deliberadamente sob essas circunstâncias. Eu não creio que ele mataria alguém só para satisfazer as condições de um círculo fechado. Ele não é tão estúpido. Nós não precisamos que alguém mais pense dessa maneira. Nós já temos a Haruhi. Do lado de fora do quarto de Keiichi-san, no terceiro andar, se encontrava de pé Arakawa-san, com suas largas pernas separadas. “Já contactei a polícia e me instruíram de que não deixasse ninguém entrar.”

Ele baixou sua cabeça. A porta permanecia como estava quando a abrimos à força, eu podia ver os dedos de Keiichi-san bem atrás do ombro de Arakawa-san.

“Quando a polícia virá?”

Perguntou Haruhi intrigada, Arakawa-san respondeu educadamente: “Uma vez que a tempestade passar. De acordo com a previsão do tempo, deve melhorar amanhã à tarde, assim suponho que chegarão logo.” “Humm...”

Haruhi ocasionalmente estava dando uma olhada no quarto.

“Tenho algo para perguntar.” “O que seria?” “Por acaso Keiichi-san e Yutaka-san se davam bem?” A expressão normal de Arakawa-san mudou ligeiramente. “Para ser sincero, não estou muito seguro. Porque só comecei a trabalhar aqui faz uma semana.” “Uma semana!?” - tanto eu como Haruhi gritamos.

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Arakawa-san assentiu sem pestanejar. “Sim, eu na verdade sou um mordomo, mas fui contratado como mordomo temporário. Meu contrato estipula que devo servir nesta mansão por duas semanas durante o verão.” “Então isso quer dizer que você só trabalha nessa mansão e nunca esteve com Keiichi-san anteriormente?” “Exatamente.” Assim Arakawa-san é um mordomo temporário contratado por Keiichi-san. Se esse for o caso, talvez... Haruhi fez uma pergunra que eu estava prestes a fazer: “Por acaso Mori-san tem o mesmo tipo de contrato? Também é uma empregada temporária?” “Absolutamente correto. Ela também foi contratada por estas duas semanas.” Um comportamento tão generoso de Keiichi-san de contratar um mordomo e uma empregada só por duas semanas durante o verão. Sentia que era casual demais a forma com que gasta seu dinheiro, mas contratar um mordomo e uma empregada dessa forma... Visto que quase revelei meus pensamentos, eu imediatamente os detive novamente. Cuidadosamente, examinei o rosto de Arakawa-san. Ele parecia ser um velho cavaleiro usando uma armadura. Ele não parece esse tipo de pessoa, mas... Eu não disse nada, e mantive esse pequeno pensamento fechado dentro do meu coração. Vou questioná-lo mais tarde quando o vir. “Estou vendo, então há empregados permanentes e por contrato, na verdade aprendi algo novo hoje.” Como é que esse conhecimento seria novo? Haruhi concordou como se tivesse acabado de compreender algo por completo. “Visto que não podemos entrar no quarto, não há nada que possamos fazer aqui. Kyon, vamos para o próximo lugar.” Ela puxou meu braço e começou a caminhar: “Agora, para onde vamos?” “Para fora, para ver se a lancha também desapareceu.” Eu, na verdade, não queria vagar sem propósito com Haruhi em meio a essa tormenta. “Eu só acredito no que vejo com meus próprios olhos. A informação que é transmitida de maneira casual se mistura com ruído desnecessário. Escute, Kyon, as observações mais importantes são aquelas de primeira mão. As informações de segunda mão, seja dos olhos ou das mãos de outras pessoas, não são completamente confiáveis.” Bem, de certo ponto de vista, ela está com a razão. Mas por acaso isso quer dizer que, além do que está em meu campo de visão, não posso acreditar em mais nada? Enquanto meditava na efetividade do meio de informação, Haruhi havia me levado ao primeiro andar, onde Mori-san se encontrava no pé das escadas.

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“Por acaso vocês dois irão sair?” Mori-san perguntou a mim e Haruhi, mas Haruhi respondeu: “Sim, quero ver se a lancha continua lá. “ “Não acredito que esteja.” “Por quê?” Mori-san respondeu com um sorriso: ”Eu vi Yutaka-sama ontem à noite, ele parecia estar com pressa enquanto saia do salão principal.” Eu troquei olhares com Haruhi. “Quer dizer que Yutaka-san roubou a lancha e abandonou a ilha?” Mori-san sorriu ligeiramente e lentamente moveu seus lábios. “Eu só cruzei com Yutaka-sama no corredor, na verdade não o vi partir. Mas essa foi a última vez que vi Yutaka-sama.” “A que horas foi isso?” - perguntou Haruhi. “Imagino que foi perto da uma da manhã.” Dói saber que isso ocorreu quando nós estávamos bebendo e dormindo profundamente. Isso quer dizer que Keiichi-san caiu morto no chão a essa hora também? Uma vez que a porta se abriu, as gotas de chuva caíram em nosso corpo. Nós passamos alguns momentos tentando abrir a porta, que se tornou muito pesada por causa dos fortes ventos. Em uns poucos segundos, Haruhi e eu estávamos ensopados dos pés à cabeça. Se eu tivesse adivinhado, teria preparado um traje de banho.

As nuvens escuras se extendiam até o horizonte, isto me lembrava dos Espaços Restritos nos quais estivemos presos antes. Não penso que queira voltar a ver um mundo tão monótono novamente. “Vamos!” Ainda que seu cabelo e sua camiseta estivessem ensopados ao ponto de estarem grudados em seu corpo, Haruhi ainda caminhava em frente com valor. Eu não tinha outra escolha a não ser segui-la, visto que ela segurava fortemente meu pulso. O vento era tão forte que, se nós tivéssemos asas, sairíamos voando facilmente. Desafiando a chuva forte, nós finalmente conseguimos chegar a um lugar de onde pudéssemos ver o cais. Se não fossemos cuidadosos, poderíamos cair do penhasco. Sem se importar em quão valente fosse, eu comecei a sentir que as coisas estavam ficando ruins. Penso que me remexeria em minha tumba se fosse o único que caísse, então segurei a mão de Haruhi. Senti que minhas probabilidades de sobrevivência seriam mais altas se caísse com ela. Nós finalmente chegamos à parte superior das escadas.

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“Você consegue ver, Kyon?”

A voz de Haruhi se perdia no vento e eu olhei e concordei: “Sim.”

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O cais estava quase coberto de água, a única atividade no mar era das grandes ondas golpeando a costa. “Não há nenhuma lancha. Se não foi levada pelas ondas, então alguém a levou.” Esse era nosso único meio de sair da ilha. Olhando pra mais longe, nós não pudíamos ver nenhum sinal da luxuosa lancha no vasto mar. E assim, nós estávamos presos nessa ilha isolada. Nós voltamos para a mansão a passos de tartaruga, e quando chegamos lá dentro, ambos estávamos ensopados. “Por favor, usem isto.” Esperando que nós voltássemos, Mori-san, nos esperou e nos entregou toalhas que ela havia preparado. Ela perguntou com preocupação. “O que foi que encontraram?” “Parece que você estava certa.” Haruhi secou seu cabelo com a toalha, parecendo insatisfeita. “A lancha não estava lá, mas nós não sabemos desde quando.” Eu não sei se ela nasceu assim, mas o rosto de Mori-san continuou sorrindo ligeiramente como um vaga-lume, ainda que o assassinato de Tamaru Keiichi-san a tivesse abalado um pouco, seu caráter tranqüilo refletia seu profissionalismo. Talvez essa reação fosse bastante normal para alguém contratada como empregada. Eu e Haruhi pedimos desculpas por termos molhado a entrada do corredor, então nós decidimos voltar aos nossos quartos e nos trocar. “Venha ao meu quarto depois.”

Disse Haruhi enquanto subia as escadas. “Nesse momento é melhor ficarmos juntos. Simplesmente não posso relaxar se não puder ver todos a salvo. Se algo tiver que acontecer...” Haruhi se deteve no meio do caminho. Eu podia entender do que ela estava falando, então não fiz nenhum comentário nesse momento. Nós chegamos ao segundo andar e encontramos Koizumi de pé no corredor. “Bem-vindos.” Koizumi estava com seu sorriso habitual e nos fez um sinal com os olhos. Ele estava de pé exatamente do lado de fora do quarto de Haruhi. “O que está fazendo?”

Perguntou Haruhi, e o sorriso de Koizumi se tornou em um sorriso envergonhado, ele

encolheu os ombros e disse:

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“Eu estava querendo vir ao quarto de Suzumiya-san para discutir o que faríamos a seguir, mas Nagato-san não quer me deixar entrar.” “Por quê?” “Bem...” Haruhi bateu a porta.

”Yuki, sou eu, abra a porta!”

Depois de uma breve pausa, a voz de Nagato veio do outro lado da porta. “Recebi instruções de não abrir a porta para ninguém.” Asahina-san ainda parecia estar dormindo. Haruhi brincava com os dedos Na toalha em sua cabeça. “Está bem, Yuki. Então abra a porta.” “Essa seria uma violação a minha ordem de não abrir a porta para ninguém.” Haruhi me olhou com uma expressão de supresa, então voltou a olhar a porta. “Yuki, o que eu quis dizer era para qualquer pessoa além de nós! Eu, Kyon e Koizumi-kun somos diferentes. Todos somos companheiros da Brigada SOS, certo?” “Ninguém disse nada a respeito disso. O que eu ouvi era para não deixar ninguém entrar, essa é a minha interpretação.” A voz tranqüila de Nagato parecia a de uma sacerdotisa transmitindo a mensagem dos deuses. “Ei, Nagato!”

Decidi intervir. ”Haruhi cancelou essa ordem. Se não acredita nisso, eu mesmo cancelo essa ordem.

Então abra esta porta! Por favor.” Nagato, por trás da porta, pareceu considerar por alguns segundos. O som da porta se abrindo pode ser ouvido e a porta se abriu lentamente. “ ... ”

Os olhos de Nagato passaram por nossas cabeças e silenciosamente voltou para dentro.

“Nossa! Yuki, você tem que ser mais flexível! Tem que entender o significado apropriado das coisas!” Haruhi pediu a Koizumi que esperasse um pouco enquanto ela se trocava e entrou no quarto. Eu também queria me trocar então me retirei. “Nos vemos depois, Koizumi.” Eu caminhei enquanto pensava em algo. Por acaso tudo isso foi uma brincadeira da Nagato? Ainda que fosse uma brincadeira difícil de entender e que causaria mal-entendidos.

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Nagato, por favor. Ninguém vai entender que é uma brincadeira se você sempre estiver com essa expressão séria. Ao menos deveria sorrir quando está fazendo esse tipo de piada. Ou poderia só sorrir sem motivo como Koizumi, você pareceria melhor. Ainda que este não seja o momento para brincadeiras. Eu tirei minhas roupas molhadas e troquei até a roupa de baixo, então voltei ao corredor. Koizumi já não estava mais ali. Eu bati na porta de Haruhi. “Sou eu.” Koizumi abriu a porta para mim. Enquanto entrava no quarto e fechava a porta: “Ouvi que a lancha desapareceu.” - disse Koizumi enquanto se escorava na parede. Haruhi estava atirada na cama. Até Haruhi, que normalmente era impiedosa, não sentia que isso fosse algo com o qual se alegrasse. Ela levantou a cabeça parecendo preocupada. “Não está lá. Não é, Kyon?” “Verdade.” - respondi. Koizumi disse: ”Alguém deve haver levado. Não há dúvidas de que quem fugiu foi Yutaka-san.” “Como você sabe disso?” - perguntei. “Porque não há mais ninguém.”

Respondeu Koizumi friamente. ”Além de nós, ninguém mais foi convidado para essa ilha. O único convidado que

desapareceu desta mansão foi Yutaka-san. Não importando como se pense, ele tem que ser o suspeito que escapou com a lancha.” Koizumi continuou com seu fluído discurso. “Em outras palavras, ele é o assassino. Ele deve ter escapado durante a noite.” Isso está de acordo com os lençóis da cama de Yutaka-san nos quais ninguém dormiu, e com o testemunho de Mori-san. Haruhi contou a Koizumi sobre nossa conversa anterior com Mori-san. “Como esperado de Suzumiya-san, então você também ouviu.” Eu fiz um proposital som de desdém para o bajulador barato que era Koizumi. “Yutaka-san saiu com presa como se ele estivesse assustado com algo, isso está de acordo com o testemunho da última pessoa a vê-lo. Eu também confirmei isso com Arakawa-san.” Mas por acaso não é suicídio dirigir uma lancha a motor no meio de uma tempestade? “Então deveria ter sido muito ruim para ele se não abandonasse a ilha, como se tratava de abandonar a cena do crime.

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“Yutaka-san podia dirigir a lancha a motor?” “Nós não pudemos confirmar, mas nós podemos deduzir que era capaz depois do que aconteceu, visto que o bote desapareceu.” “Espere!”

Haruhi levantou sua mão e ganhou o direito de falar. “Mas e a porta de Keiichi-san? Quem a fechou? Por acaso Yutaka-san fez isso também?” “Não parece ser esse o caso.” Koizumi gentilmente fez um gesto de negação. “De acordo com Arakawa-san, tanto a chave mestre como a cópia eram guardadas por Keiichi-san. Depois de procurar um pouco, nós encontramos ambas as chaves dentro do quarto. “Talvez alguém tenha feito uma terceira cópia.” Eu lancei a pergunta que me veio a mente, Koizumi negou com a cabeça. “Está é primeira vez que Yutaka-san vem a esta mansão, não penso que ele tivesse tempo suficiente para preparar uma duplicata.” Koizumi agitou suas mãos num gesto de rendição. O quarto caiu em silêncio, os sons desarmônicos do forte vento e da chuva agitavam o ar, tornando-se uma memória insignificante. Haruhi e eu estávamos mudos e permanecêssemos em silêncio. Koizumi rompeu este deprimente silêncio. Mas seria estranho se Yutaka-san tivesse cometido o crime na noite passada. “O que quer dizer?” - perguntou Haruhi “Quando toquei a Keiichi-san, ele ainda estava quente, como se tivesse estado vivo até recentimente.” Koizumi sorriu, então deu uma volta e encarou a fada silenciosa, sentada pacientemente como uma boneca, ao lado de Asahina-san. “Nagato-san. Qual é a temperatura corporal de Keiichi-san quando o encontramos no chão?” “36.3 graus Celsius.” Espere um momento, Nagato. Como é que você sabe a temperatura de Keiichi–san sem tê-lo tocado? E pela forma como ela respondeu a pergunta tão facilmente foi como se a estivesse esperando... Eu não expressei minhas dúvidas em voz alta. A única pessoa com dúvidas seria Haruhi, mas ela parecia pensar em outras coisas, visto que ela não olhou para cá. “Essa não é a temperatura corporal normal? Quando foi cometido o crime?”

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“Quando uma pessoa tem toda atividade vital interrompida, a temperatura corporal baixa um grau Celsius por hora. Por isso, podemos estimar que a hora da morte de Keiichi-san deve encontrar-se em torno de uma hora da qual ele foi encontrado.” “Espere, Koizumi.”

Esse era o momento para que eu intervir. “Por acaso Yutaka-san não escapou a noite?” “Sim, isso mesmo.” “Mas está dizendo que a hora da morte foi entre uma hora do ocorrido?” “Isso está correto.” Eu pressionei minhas têmporas.

”Então isso quer dizer que Yutaka-san abandonou a mansão pela noite e se escondeu em algum lugar, então regressou pela manhã para matar Keiichi-san e então escapou na lancha?”

“Não acredito que esse seria o caso.” Koizumi rejeitou casualmente minha teoria. “Assumindo uma pequena margem de erro para o momento da morte, deveria esta ser uma hora antes nós o termos encontrado. Mas nós já estávamos reunidos na sala de jantar nessa hora. Não só nós não vimos a Yutaka-san, como nós também não escutamos nenhum barulho estranho. Mesmo com essa tempestade, é impossível não ter ouvido nada.” “Que diabos está acontecendo aqui?”

Disse Haruhi, frustrada. Ela cruzou os braços e me observou e a Koizumi. É inútil me observar! Se vocês tem alguma pergunta, apresente-a para esse rapaz sorridente logo ali.

Koizumi falou em voz baixa de novo como se fosse uma conversação formal. “Este não é um mistério, só uma tragédia.” Eu posso garantir que não vejo nada trágico em seus olhos. “Eu creio que é um fato que Yutaka-san tenha assassinado a Keiichi-san, ou não haveria uma razão para que escapasse.” Bem, e então? “Eu não sei que tipo de discussão tiveram ou qual é o motivo, o fato é que Yutaka-san atacou a Keiichi-san com uma faca. Ele deve ter escondido a faca atrás de suas costas, então a revelou repentinamente e apunhalou com toda força. Keiichi-san devia ter estado indefeso visto que foi pego de surpresa.” É como se você tivesse sido testemunha de todo o caso. “Mas a ponta da faca provavelmente não alcançou o coração. Provavelmente nem sequer aranhou a pele. A faca meramente penetrou o livrinho de bolso do peito de Keiichi-san.” “Hum, o que isso significa?” - Haruhi franziu o cenho e perguntou - ”Então por que Keiichi-san morreu? Por acaso outra coisa o assassinou?”

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“Ninguém o matou. Não há assassino neste caso, a morte de Keiichi-san foi puramente acidental.” “Então que havia com Yutaka-san? Por que fugiu?” “Porque ele pensou que havia matado alguém.”

Respondeu Koizumi de maneira casual e levantou seu dedo indicador. Em que tipo de mestre detetive você deseja se tornar? “Deixem-me dizer-lhes o que creio que aconteceu. Na noite anterior, Yutaka-san foi ao quarto de Keiichi-san com sua faca, mas a faca se prendeu e parou no livro, assim não se realizou nenhuma ferida mortal.” Eu, na verdade, tenho uma idéia do ele estava tentando dizer, então decidi deixa-lo continuar. “Mas o problema começa aqui. Keiichi-san na verdade pensou que havia sido apunhalado. Mesmo que a faca só tenha penetrado o livrinho, ele ainda pode sentir o impacto da faca transpassando-o. Ele deve ter estado tão impressionado depois de haver visto a faca penetrar seu peito.” Penso que estou começando a ver inde Koizumi quer chegar. Ei, poderia ser... “Sendo enganado por essa ilusão, Keiichi-san desmaiou. Nesta situação, uma pessoa poderia cair de lado ou cair para trás.”

Koizumi continuou. ”Vendo tudo isto, Yutaka-san também acreditou havia assassinado a Keiichi-san. O

resto é simples, ele somente poderia escapar. Este assassinato provavelmente não era premeditado, logo o motivo só pode ter sido passional, emocional. É por isso que ele teve que escapar em uma lancha em meio a uma tempestade.”

“Huh? Mas se for esse o caso...” Koizumi interrompeu Haruhi antes que ela pudesse continuar.

”Por favor, deixe-me continuar. A chave são as ações que Keiichi-san tomou depois de desmaiar. Ele permaneceu inconsciente até o amanhecer, até o momento em que nós fomos bater em sua porta quando nos perguntávamos por que ainda não havia despertado.”

Ele ainda estava vivo? “Keiichi-san se surpreendeu pelo ruído da porta e se pôs a caminhar até a porta. Mas como ele normalmente se sente mal pela manhã, ele deve ter se sentido enjoado nesse caso. Enquanto caminhava até a porta nesse estado, ele repentinamente se lembrou.” “Se lembrou do quê?” - perguntou Haruhi. Koizumi respondeu som um sorriso. “Se lembrou de que foi vítima de uma tentativa de assassinado por seu irmão. Nesse instante, a imagem de Yutaka-san carregando a faca apareceu em sua mente e Keiichi-san, assustado, fechou a porta.” Eu não pude suportar mais, então o interrompi. “Você está dizendo que esta é toda a verdade por trás do quarto fechado?” “Infelizmente, isso é o que eu acho. Keiichi-san havia perdido todo o sentido do tempo depois de desmaiar, ele provavelmente pensou que Yutaka-san havia voltado para acabar com

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ele. Penso que foram só alguns poucos instantes que separaram Keiichi-san de fechar a porta e nós de tentarmos girar a maçaneta.” “Se o assassino tivesse tido vontade de voltar para dar o golpe final. Por que bateria na porta?” “A mente de Keiichi-san estava muito confusa então, está foi a conclusão rápida que se formou na mente meio inconsciente.” “Depois de fechar a porta, Keiichi-san tratou de se afastar dela, pensando na situação difícil em que se encontrava. Foi então que aconteceu a tragédia.”

Koizumi agitou a cabeça como se estivesse contando uma história triste.

“Keiichi-san tropeçou e caiu dessa maneira.” Koizumi dobrou seu corpo e fez uma pose de como se estivesse caindo de frente. “Como resultado, a faca que só havia penetrado o livrinho no bolso de sua camisa foi enterrada em seu peito com a força do impacto com o chão, deixando-o só o cabo para fora. A faca havia foi em direção ao coração de Keiichi-san, matando-o...” Koizumi olhou a mim e a Haruhi, cujas mandíbulas estavam abertas como as de idiotas e disse firmemente. “Essa é a verdade.” “O que foi que disse?” “Keiichi-san morreu de uma maneira tão ridícula? Na verdade é tão simples? Já era estranho que a faca parasse justamente sobre o livro, e também era estranho que Yutaka-san não soubesse que na verdade não havia matado ninguém.“ Eu tratei de organizar meus pensamentos, me preparando para discutir “AH!”

Haruhi gritou repentinamente, me assustando. Por que tinha que gritar tão repentinamente?

”Mas, Koizumi-kun...”

Haruhi a frase pela metade e ficou tensa. Seu rosto parecia impressionado. O que foi que a fez gritar tão forte? Por acaso algo que Koizumi disse que ela não podia aceitar? Haruhi me olhou. Uma vez que nossos olhos se encontraram, ela desviou o olhar e estava a ponto de olhar para Koizumi, mas então mudou de idéia e decidiu olhar para o teto por alguma razão. “Hum... não é nada. Esse deve ser o correto. Hum, como deveria dizer?”

Ela murmurou algo incompreensível, então ficou em silêncio. Asahina-san permanecia dormindo, enquanto que Nagato olhava para Koizumi com um olhar vazio. A reunião terminou por hora. Nós decidimos voltar a nossos quartos. De acordo com Koizumi, uma vez que a tempestade passasse, a polícia viria de imediato. Então, nós

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começamos a empacotar nossas coisas e nos preparar para sair antes que a polícia chegasse. Depois de passar algum tempo sozinho, tinha um monte de perguntas em mente e fui a um dos quartos. “Sim?”

Koizumi levantou a cabeça enquanto dobrava sua roupa e sorriu.

“Precisamos conversar.” Só havia uma razão para que eu visitasse Koizumi. “Não posso entender.” Isso era natural, visto que algumas das deduções de Koizumi estavam cheias de furos que não poderiam explicar a si mesmos. “Baseado em suas deduções, o corpo deveria encontrar-se de barriga para baixo, mas Keiichi-san estava de barriga para cima. Como explicar isso?” Koizumi se pôs de pé e me olhou sorrindo. Esse sorridente idiota me respondeu como se fosse um fato. “Isso é simples, isso é por que a dedução que lhes dei não era verdadeira.” Eu não estava surpreso com isso. “Imagino que você esteja certo. A única que acreditaria nessa dedução seria a inconsciente Asahina-san. Se perguntasse a Nagato-san, ela provavelmente me diria toda a verdade, mas isso seria fazer trapaça e não gosto de fazer as coisas dessa maneira. Então por que não me diz seus verdadeiros pensamentos sobre isso?” O sorriso que havia distorcido no rosto de Koizumi agora fazia um baixo e irritante risinho. “Então me permita dizer! A verdade que contei a todos foi correta até a metade, só a última parte estava mal contada.” Mantive-me em silêncio. “Estava correta até quando Keiichi-san caminhou até a porta com a faca em seu peito. Ele então fechou a porta por instinto. Eu então inventei o resto.” Koizumi me fez sinal para que sentasse, eu ignorei essa sugestão. “Parece que você notou, devo tê-lo subestimado.” “Deixe de besteiras e continue” Koizumi e encolheu os ombros: ”Nós investimos contra a porta e a abrimos à força. Para ser mais preciso se, refiro a mim, você e de Arakawa-san. Então quando a porta saiu voando, nós caímos bruscamente para dentro.” Eu permaneci em silêncio e pedi que continuasse. “Você já deve ter se dado conta do resultado disso. Keiichi-san que estava na frente da porta, foi golpeado no rosto pela porta, e pela faca também.” Eu tratei de visualizar a cena.

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“Por causa desta colisão, a faca assassinou Keiichi-san.” Koizumi sentou na cama de novo e me olhou como desafiasse. “Em outras palavras, os assassinos seríamos...” Koizumi sorriu e disse como se falasse consigo mesmo: “Você, eu e Arakawa-san.” Eu olhei para Koizumi. Se houvesse um espelho, aposto que poderia ver a mim mesmo com uns olhos frios. Koizumi ignorou minha reação e prosseguiu. “Justamente como você descobriu, Suzumiya-san chegou a essa mesma conclusão, é por isso que ela não falou o que queria dizer. Ela não queria que soubéssemos, ou talvez ela quisesse proteger seus companheiros.” Disse Koizumi sem nenhuma dúvida. Eu ainda não podia aceitar. Meu córtex cerebral não havia envelhecido tanto para ser enganado por essa segunda dedução falsa. “Humph.”

Murmurei e observei a Koizumi. “Sinto muito, mas eu não acredito.” “O que quer dizer?” “Penso que, depois de ter tido uma dedução tão cheia de erros, você criou uma segunda teoria para tentar enganar a todos, mas eu não serei enganado por esse discurso.” Por acaso estou parecendo genial nesse momento? Então me permita continuar. “Pense sobre onde está todo o problema! Comecemos com o assassinato em si. Como poderia acontecer um caso sob condições tão perfeitas?” Essa vez era a vez de Koizumi de permanecer em silêncio, me incentivando a continuar. “O tufão pode ter sido criado por azar ou por Haruhi, mas isso não é o importante. A soma de tudo o que aconteceu criou um cadáver.” Eu fiz uma pausa e para molhar os lábios. “Você pode pensar que isto é exatamente o que Haruhi desejou. Mas não importa que tantas idiotices passem pela cabeça dela, Haruhi na verdade não desejaria que alguém morresse. Dá pra ver isso só de olhar para ela. Isso quer dizer que acredito que este incidente não foi culpa da Haruhi. Além do mais, nossa chegada nessa cena de crime também não foi uma coincidência.” “Hum.” - disse Koizumi - ”E a que se deve isso?” “O que deu início ao incidente... ou para ser mais exato, está viagem de verão para a Brigada SOS, não foi outro senão você, não é mesmo?” Como se houvesse sido capturado com as mãos na massa, o rosto sorridente de Koizumi se enrijeceu por alguns segundos, mas...

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“Me rendo. Como você descobriu?” Koizumi me olhou, seus olhos eram os mesmos olhos que vi na sala do Clube de Literatura.

Minha massa cinzenta não existe só para enfeite, sabia? Senti-me relaxado por um momento e então disse, “A um momento, você perguntou a Nagato a temperatura do corpo.” “E o que tem isso de ruim?” “Você deduziu a hora da morte com base nisso.” “Sim, foi assim que fiz.” “Nagato, é uma pessoa muito útil. Como você já deve saber, ela pode nos informar quase qualquer coisa. Em vez de perguntar pela temperatura do corpo, você simplesmente deveria ter perguntado a Nagato a hora exata da morte. Não, penso que ela até nos diria o momento exato arredondando para o segundo mais próximo.” “Isso faz sentido.” “Se você tivesse perguntado a hora da morte, Nagato teria simplesmente respondido que a pessoa não está morta. Além do mais, em nenhuma ocasião você se referiu a Keiichi-san como o ‘corpo’.” “Essa foi a maneira mais justa de fazê-lo.“ “E pode ser que não aparente, mas presto atenção nas coisas que realmente importam, especialmente o interior da porta do quarto de Keiichi-san. Pela sua dedução, a porta deve ter batido no cabo da faca com um grande impacto, suficientemente forte para cravar a faca no corpo de uma pessoa. Se esse fosse a verdade pelo menos devia ter ficado uma marca na porta. Mas sua superfície parecia como nova.” “Mas que incrível habilidade de observação.” “Mais uma coisa; havia algo estranho com Arakawa-san e Mori-san. Ambos disseram estar trabalhando aqui a menos de uma semana. Eles foram contratados faz uma semana e vieram para essa ilha, não é?” “Sim. Há algo de errado nisso?” “Mas claro que sim, por que sua atitude era bastante suspeita. No dia em que chegamos, lembra o que você disse a Arakawa-san e a Mori-san que estavam esperando para que descêssemos da balsa?” “O que foi que eu disse?” “Você disse: ‘A quanto tempo..’ Por acaso não parece estranho? Como pode ser possível pra você dizer isso a eles? Você também disse que era sua primeira vez nesta ilha, então também era a primeira vez que os via. Então, como pode conversar com eles como se os conhecesse a tempos?” Koizumi somente riu. Isso queria dizer que ele não tinha intenção de discutir comigo. Eu entendi tudo enquanto começava a me sentir exausto. Koizumi abriu sua boca.

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“Sim, tudo isso foi arranjado previamente. Uma obra montada ridiculamente. É só que eu não esperava que você tivesse percebido.” “Não me subestime.” “Peço perdão. Ainda que admita que eu esteja surpreso. Queria encontrar um momento para confessar naturalmente, nunca pensei que a verdade seria descoberta tão rápido.” “Isso quer dizer que Tamaru-san, Mori-san e o resto são seus cúmplices? Seus companheiros da sua ‘Organização’?” “Correto. Para um monte de amadores, não acha que se saíram surpreendentemente bem?” “A faca no peito na verdade tinha uma ponta retrátil, o sangue na verdade é tinta vermelha, Keiichi-san logicamente estava fingindo sua morte, enquanto que Yutaka-san está escondido do outro lado da ilha com a lancha a motor.” Koizumi alegremente revelou a verdade. “Por que fez tudo isso?” “Para curar o aborrecimento de Suzumiya-san, e também para reduzir a carga de estresse em nossos ombros.” “O que você quer dizer?” “Talvez agora eu deva dizê-lo. Simplificando, para prevenir que Suzumiya-san tivesse idéias estranhas, nós preparamos algum entretenimento para ela. Por acaso Suzumiya-san não esteve ocupada esse tempo todo pensando somente nisto?” Haruhi parecia acreditar que nós éramos os assassinos. Mas é preciso ir tão longe? Depois disso, Haruhi realmente foi gentil. Isso me faz sentir desconfortável. “Então nós devemos continuar com nossos planos.” - disse Koizumi - ”De acordo com nossos planos originais, quando voltássemos de balsa para a ilha de Honshu, Tamaru Keiichi-san, Yutaka-san, Mori-san e Arakawa-san estariam nos esperando no cais para nos felicitar alegremente lá. Lógicamente, eles ocultariam tudo sobre a ‘Organização’. Visto que por agora, eles continuariam sendo meus parentes distantes.” Que bela festa surpresa. Eu suspirei profundamente. Esse tipo de brincadeira só funciona com Haruhi. Se Haruhi ficar irritada com o resultado, você será o responsável para apagar as chamas, por que eu correrei para salvar minha vida. Koizumi piscou o olho e sorriu. “Oh céus. Acho que será melhor eu me desculpar com ela. Irei confessar-lhe tudo nesse momento, com Tamaru-san e os demais. Deve estar cansado de se fazer de defunto por todo esse tempo.” Eu olhei silenciosamente pela janela. O que Haruhi irá fazer? Será que ficará furiosa por ter sido enganada? Ou ela irá gostar da brincadeira e vai rir fortemente? Não importando qual o resultado, seu estado mental inconsciente está fácil de prever hoje. Koizumi sorriu maliciosamente.

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“Nós até preparamos o pessoal que faria o papel de detetives e forenses experts, mas parece que todo nosso trabalho duro será desperdiçado. Eu nunca pensei que terminaria tão rapidamente. Nosso plano era incluir uma intensa busca na mansão e na cena do crime, que pena.” Isso é porque não planejou o suficiente. Eu olhei para o céu triste e pensei: O quanto o clima iria melhorar nas próximas horas? No fim, Koizumi não perdeu seu posto de vice-comandante. Depois que o tufão passou, a viagem de volta na balsa sob o céu azul, Haruhi esteve de bom humor rodo o caminho até nos separarmos na estação de trem. É bom que Haruhi tenha uma mente simples para tratar uma brincadeira com tal. É claro, Koizumi teve que nos comprar o almoço e alguns jogos. Só assim para que ela ficasse um pouco mais tranqüila, me senti como se não houvesse mais problemas. Nagato provavelmente sabia da verdade desde o começo, e manteve sua atitude sem reações. Enquanto que Asahina-san gritou: “Como pôde fazer isso?”, depois de acordar e reclamar lindamente. Mas quando Koizumi, os irmãos Tamaru e outros empregados baixaram as cabeças e pediram perdão, ela rapidamente começou a se desculpar: ‘Ah, bem... não precisam se incomodar.’. É claro, depois de tirar uma foto na cobertura da balsa no caminho de volta da ilha para Honshu, Haruhi fez um pedido: “Nós estamos contando com você para a viagem de inverno, Koizumi-kun. Da próxima vez, venha com um script mais elaborado! Nós iremos para uma vila nas montanhas na próxima vez, e tem que ser uma tempestade de neve. Se não vier com uma mansão amaldiçoada que supere minhas expectativas, ficarei muito brava. Hum, esperarei ansiosamente!” “Bem, o que devo dizer?” Como um oficial Nazista novato recebendo ordens do Führer para guiar uma única divisão Panzer para capturar o comandante da força Aliada na frente ocidental na Segunda Guerra Mundial, Koizumi sorriu estranhamente e deu meia volta para pedir minha ajuda. Eu olhei para Koizumi, que parecia um goleiro tentando deter o que parecia ser um grande gol próximo do final do segundo tempo quando o marcador estava empatado, e disse sem hesitar: “Bem, eu também estarei esperando, Koizumi.” Estarei esperando que seja um jogo que ao menos se possa resolver e que não acabe em tragédia. Ao mesmo tempo, acho que está é a melhor maneira impedir Haruhi de se aborrecer demais, e ter todo tipo de idéia estranha.