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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL ODNÉLIA CRISTINA SIQUEIRA DE AMARAL O TEMPO SOCIAL DOS EMPREENDIMENTOS SOCIAIS: oferta de uma metodologia de monitoramento para o alcance da autossustentabilidade Belo Horizonte 2015

O TEMPO SOCIAL DOS EMPREENDIMENTOS SOCIAIS · Albert Einstein . Aos meus pais ... social time - of social entrepreneurship, ... Nesse contexto da responsabilidade social, que se formou

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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO SOCIAL,

EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL

ODNÉLIA CRISTINA SIQUEIRA DE AMARAL

O TEMPO SOCIAL DOS EMPREENDIMENTOS SOCIAIS:

oferta de uma metodologia de monitoramento para o alcance da

autossustentabilidade

Belo Horizonte

2015

ODNÉLIA CRISTINA SIQUEIRA DE AMARAL

O TEMPO SOCIAL DOS EMPREENDIMENTOS SOCIAIS:

oferta de uma metodologia de monitoramento para o alcance da

autossustentabilidade

Dissertação de mestrado apresentada à banca de exame de defesa constituída pelo Colegiado do Programa de Pós-Graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA.

Área de concentração: Inovações sociais e desenvolvimento local.

Linha de pesquisa: Gestão Social e Desenvolvimento Local

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Edimeia Maria Ribeiro de Mello

Belo Horizonte

2015

Ficha catalográfica desenvolvida pela Biblioteca UNA campus Guajajaras

A485t Amaral, Odnélia Cristina Siqueira

O tempo social dos empreendimentos sociais: oferta de uma metodologia de

monitoramento para o alcance da autossustentabilidade. / Odnélia Cristina

Siqueira Amaral. – 2015.

176f.

Orientadora: Profa. Dra. Edimeia Maria Ribeiro de Mello

Dissertação (Mestrado) – Centro Universitário UNA, 2015. Programa de Pós-

graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local.

Inclui bibliografia.

1. Sustentabilidade. 2. Empreendedorismo social. 3. Desenvolvimento social. I.

Mello, Edimeia Maria Ribeiro. II. Centro Universitário UNA. III. Título.

CDU: 658.114.8

“Os dias talvez sejam iguais para um relógio, mas não para um homem”.

Marcel Proust

“O tempo é relativo e não pode ser medido exatamente do mesmo modo e por toda

parte”

Albert Einstein

Aos meus pais, Odávio e Nélia

Amaral, que com amor e dedicação,

me incentivaram e oportunizaram

sempre a busca do conhecimento.

Ao meu esposo, Moacir de Araujo

Cançado, que esteve ao meu lado

nos momentos de angústias e

alegrias dessa grande conquista!

AGRADECIMENTOS

A Deus, que me fez trilhar esse caminho com sabedoria e dedicação.

Á todos os empreendimentos sociais dos estados de Minas Gerais e Pará,

participantes da pesquisa e suas instituições apoiadoras que contribuíram com a

experiência e o conhecimento acumulado para essa produção cientifica.

A meu amigo, Jorge Rafael Almeida, que com sua experiência profissional, trouxe

reflexões valiosas em engrandecedoras para a construção desse conhecimento.

A Professora Dr.a Ediméia Maria Ribeiro de Mello, que foi incansável e dedicada em

sua orientação científica e contribuiu com excelência no acúmulo deste

conhecimento único.

Aos professores Dr.a Eloisa Santos e Dr. Armindo Teodósio pelas valiosas

contribuições na banca de defesa dessa dissertação.

Ao meu chefe João Elias, que em todos os momentos me incentivou e foi

compreensível nos meus momentos de ausência no trabalho.

Aos meus irmãos, Elton Amaral e Odilton Amaral, esposas e filhos (meus sobrinhos)

que acompanharam essa trajetória e conquista.

A família Araújo Cançado, em especial ao Sr. Moacir Alvares Cançado (sempre

presente), que me acolheu em sua família no início dessa trajetória de estudos e

sempre acreditou em mim.

A todos os professores e colegas do curso do Mestrado Profissional em Gestão

Social, Educação e Desenvolvimento Local, pela valiosa contribuição acadêmica e

profissional.

A todos aos meus amigos, familiares e colegas de trabalho que souberam entender

meus momentos de ausência e estavam sempre dispostos a me apoiar.

RESUMO

Esta dissertação de mestrado apresenta uma reflexão conceitual científica e empírica sobre o tempo social para o alcance da autossustentabilidade de empreendimento social apoiado por instituição privada. A questão central da pesquisa foi: qual seria a dimensão do tempo de amadurecimento – tempo social – dos empreendimentos sociais, com vistas no alcance da autossustentabilidade? O objetivo geral norteador foi analisar a dinâmica dos empreendimentos sociais, em especial, seu tempo de amadurecimento – tempo social – por meio do dimensionamento quali/quantitativo de suas fases e os requisitos percebidos no caminho de sua autossustentabilidade. A pesquisa à literatura disponível resgatou a lógica de um empreendimento social, com base em diversos conceitos e concepções, em seguida apresentou uma discussão sobre responsabilidade social empresarial seus conceitos e a experiência prática. Posteriormente, mostrou as dimensões de um empreendimento e os requisitos de sua sustentabilidade. Por último, refletiu a importância de se conceituar um tempo social para uma organização socioprodutiva local, conceito esse que abrange o empreendimento social, mas que reflete melhor a realidade dos grupos produtivos formados em comunidades que vivenciam a exclusão social. Essa incursão teórica possibilitou aquilatar a capacidade e as dificuldades dos empreendimentos sociais de proporcionarem a emancipação e o resgate da cidadania dos indivíduos, avaliada no sucesso e na permanência do negócio. A pesquisa de campo visitou duas instituições apoiadoras e três empreendimentos sociais, indicados por elas, localizados em Minas Gerais e no Pará, no período de agosto a novembro de 2014. A seleção amostral adotada para a realização da pesquisa de campo foi intencional e as metodologias de abordagem adotadas foram constituídas por entrevistas presenciais e individuais e grupo focal, com destaque para duas dinâmicas associadas aos grupos focais, quais sejam: a construção da linha do Tempo Social do empreendimento e o mapa dos indicadores de satisfação dos membros com o empreendimento. O conhecimento gerado pela pesquisa associado à reflexão teórica prévia e durante o processo analítico forneceram elementos orientadores para a definição de parâmetros qualitativos relevantes para a inferência do tempo social do empreendimento e a formulação de uma metodologia de monitoramento desse tempo social, que inclui o amadurecimento do empreendimento para a autogestão e a autossustentabilidade. Como uma contribuição de caráter operacional, essa dissertação concluiu, oferecendo um produto técnico na forma de uma Cartilha Orientativa, cujo objetivo é orientar a aplicação de uma metodologia participativa de monitoramento para autogestão e autossustentabilidade de empreendimentos sociais, sensível ao seu tempo social. Destina-se à direção e aos associados dos empreendimentos, bem como às suas instituições apoiadoras. Palavras-chave: Empreendimento Social. Autossustentabilidade. Autogestão. Gestão Social. Desenvolvimento Local.

ABSTRACT

This dissertation presents a scientific and empirical conceptual reflection on the social time for achieving self-sustainability of social enterprise supported by a private institution. The central research question was: what is the size of the ripening time - social time - of social entrepreneurship, aiming in achieving self-sustainability? The general objective that guided it was to analyze the dynamics of social entrepreneurship, in particular its ripening time - social time - through the sizing qualitative / quantitative phases and requirements noted in the way of their self-sustainability. Research the available literature rescued the logic of a social entrepreneurship, based on several concepts and ideas, then presented a discussion on corporate social responsibility concepts and their practical experience. Later, he showed the size of an enterprise and the requirements of sustainability. Finally, it reflected the importance of conceptualizing a social time for a local socio-productive organization, a concept that encompasses social enterprise, but that better reflects the reality of productive groups formed in communities experiencing social exclusion. This theoretical incursion enabled assess the capacity and the difficulties of social entrepreneurship to provide emancipation and the rescue of citizenship of individuals, evaluated the success and business stay. The field research visited two supporting institutions and three social entrepreneurship indicated by them, located in Minas Gerais and Pará. from August to November 2014. The sample selection adopted for conducting the field research was intentional and adopted methodological approaches consisted of classroom and individual interviews and focus groups, highlighting two dynamics associated with focus groups, namely: building the online of the entrepreneurship Social Time and the map of the indicators / member satisfaction factors with the entrepreneurship. The knowledge generated by the research associated with previous theoretical reflection and during the analytical process provided guiding elements for the definition of relevant qualitative parameters for inference of the share of the development time and the development of a monitoring methodology that social time, which includes the ripening of venture for self-management and self-sustainability. As an operational character input, this dissertation concluded by offering a technical product as a primer Orientational, which aims to guide the implementation of a participatory monitoring methodology for self-management and sustainability of social entrepreneurship, sensitive to your social time. Intended for the management and associates of the projects and their supporting institutions.

Keywords: Social Entrepreneurship. Self-sustainability. Self-management. Social management. Local development.

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento

CEPAL – Comissão Econômica para a América Latina

CNES – Cadastro Nacional de Entidades Sindicais

DOP – Desenvolvimento Organizacional Participativo

DRS – Desenvolvimento Regional Sustentável

FGV – Fundação Getúlio Vargas

GEM – Global Entrepeneurship Monitor

ITU – World Telecommunication Indicators Database

IEA – Instituto de Estudos Avançados

MTE – Ministério do Trabalho e Emprego

OCDE – Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico

OMS – Organização Mundial da Saúde

ONG – Organização Não Governamental

ONU – Organização das Nações Unidas

PNAE – Programa Nacional de Alimentação Escolar

PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura

RSC – Responsabilidade Social Coorporativa

SAF’S – Sistemas Agroflorestais

SEBRAE – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SM – Salário Mínimo

SENAES – Secretaria Nacional de Economia Solidária

SESI – Serviço Social da Indústria

TCLE – Termo de Consentimento Livre Esclarecido

UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO............................................................................................... 12

1 SUSTENTABILIDADE EM EMPREENDIMENTOS SOCIAIS: UM ENSAIO

TEÓRICO REFLEXIVO PARA UMA ECONOMIA SOCIAL LOCAL................

20

2 RELATOS DE PESQUISA DE CAMPO: ANÁLISE DA REALIDADE DOS

EMPREENDIMENTOS SOCIAIS SOB A PERSPECTIVA DO TEMPO

SOCIAL ............................................................................................................

47

3 PRODUTO TÉCNICO: EMPREENDIMENTOS SOCIAIS APOIADOS - UMA

PROPOSTA DE MONITORAMENTO, SENSÍVEL AO TEMPO SOCIAL, NA

BUSCA DA AUTOSSUSTENTABILIDADE ....................................................

119

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................... 152

REFERÊNCIAS................................................................................................. 159

APÊNDICES.....................................................................................................

ANEXOS......................................................................................................

160

168

12

INTRODUÇÃO

Esta dissertação tem como foco o empreendimento social, entendido como uma das

formas de realização da gestão social, contraposta à gestão estratégica

maximizadora de lucro (PEREIRA, 2013). O empreendimento social tem como metas

o equilíbrio financeiro (requisito da sustentabilidade econômica), a geração de

ofertas sociais ou o suprimento de demandas de mesma natureza, além de ser

responsável com o meio ambiente. O lucro, caso ocorra, se submete à restrição de

reinvestimento na mesma atividade ou de redistribuição à comunidade que o

sustenta.

O empreendimento social destacado nessa dissertação, também, traz outras

categorias importantes da gestão social, quais sejam “[...] participação, diálogo e

busca do bem comum” (PEREIRA, 2013, p.1) e, em seus objetivos, encontra uma

das grandes categorias que fundamentam a gestão social, a da emancipação social,

alcançada por meio da autogestão, traduzida em “[...] tomada de decisão coletiva,

sem coerção, baseada na inteligibilidade da linguagem, na dialogicidade e

entendimento esclarecido como processo, na transparência como pressuposto e na

emancipação enquanto fim último” (CANÇADO, 2011, p.99).

Em sua grande maioria, os empreendimentos sociais são apoiados por instituições

públicas e/ou por instituições privadas. No primeiro caso, abre-se o leque para a

implementação da política social, por meio do apoio a iniciativas de geração de

renda. No segundo caso, esses empreendimentos mobilizam a responsabilidade

social em benefício de negócios locais e fortalecimento de organizações sociais.

Os programas de responsabilidade social das empresas apoiadoras adotam, como

estratégia, a promoção do empreendedorismo social de base local, com a finalidade

de mudar a qualidade de vida de pessoas em condições de fragilidade social,

habitantes de comunidades desfavorecidas. As ações destes programas se

concretizam por meio da disponibilização de recursos financeiros e técnicos, para

garantir o fortalecimento organizacional na busca da sustentabilidade e até com

financiamentos de programas por parceiros e instituições públicas ligadas ao

desenvolvimento local para a geração de renda de populações desfavorecidas.

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Dentre as práticas realizadas, no decurso profissional da autora, uma delas foi junto

a programas de responsabilidade social de empresas privadas e junto a instituições

de terceiro setor, no período de 2005 a 2012, em funções de apoio à formação de

empreendimentos sociais em municípios do Pará. Esta vivência profissional

proporcionou a percepção das fragilidades dos sujeitos que se associam em

empreendimentos sociais, decorrentes de sua inexperiência em aspectos da gestão

empreendedora, traduzida em grandes dificuldades para o alcance das condições de

sustentabilidade, em especial, a econômica, tão exigida pelos apoiadores externos.

Nesse contexto da responsabilidade social, que se formou o conhecimento

decorrente da experiência profissional da autora a programas de apoio a

empreendimentos sociais. Esta reflexão deu origem à proposição da atual agenda

de pesquisa para responder à seguinte questão: quais seriam os parâmetros para se

aquilatar o tempo necessário ao amadurecimento – tempo social – dos

empreendimentos sociais, com vistas ao alcance da autossustentabilidade, para

orientar o apoio e o investimento das instituições privadas que os suportam?

A prática vivenciada entre 2005 a 2012 proporcionou a percepção das fragilidades

dos sujeitos que se associam em empreendimentos sociais, decorrentes de

fragilidades de conhecimento e experiências em aspectos da gestão

empreendedora, as quais se traduzem em grandes dificuldades para o alcance das

condições de sustentabilidade econômica nos prazos exigidos pelos apoiadores

externos.

Diante da experiência acumulada junto à formação dos empreendimentos sociais

observaram-se alguns fatores potencializadores e dificultadores, tais como:

Foram observados desde empreendimentos coletivos que tiveram em sua

formação uma estrutura de base de formação consistente e consciente das

pessoas partícipes do coletivo, até aqueles que apresentaram profundas

fragilidades, percebidas já em sua fase inicial. As fragilidades acometiam,

especialmente, a preparação e a formação da base dos associados nos

valores solidários e participativos, com consequências negativas sobre o

desenvolvimento da associação e da gestão social do empreendimento. Para,

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além disso, as dificuldades se aprofundavam em virtude da não familiaridade

previsível dos associados com a gestão empreendedora e/ou ramo de

negócio proposto, bem como, com a elaboração de planejamento inadequado

realizado pelos apoiadores externos.

As ações dos programas de responsabilidade social se concretizavam por

meio da disponibilização de recursos financeiros para garantir o

fortalecimento organizacional e a busca da sustentabilidade de

empreendimentos produtores de artefatos em madeira, bijuterias com

sementes nativas, costura em geral, ou extração da castanha, jaborandi entre

outros, bem como para fortalecer as iniciativas locais que valorizavam os

recursos locais, as pessoas e o valor social nos produtos produzidos.

As instituições privadas comprometiam ainda outras parcerias com os

projetos, como órgãos dos governos federal e estadual, cujas finalidades

eram incentivar a geração de renda, a partir da exploração de recursos

naturais ou das potencialidades locais, assim como, instituições de

cooperação internacional focadas na Amazônia.

Uma das instituições apoiadoras se orientava no âmbito de um planejamento

integrado, ao prever a formação de um grupo gestor, que era ativado

periodicamente desde a concepção dos empreendimentos. Esta estratégia

contribuía para melhorias nos resultados auferidos.

Identificou-se uma cooperativa, com quase 10 anos em atuação sob o apoio

institucional, com sérios problemas de estrutura organizacional e de gestão

financeira dos recursos.

Houve empreendimentos constituídos sob uma estrutura de base formativa no

contexto de valores solidários, que avançaram no caminho para a

sustentabilidade.

Houve, ainda, uma experiência de constituição de empreendimento em

associação, que, mesmo orientada por um plano de negócio pronto a ser

seguido, não conseguiu se implantar com base no plano, pois este

desconsiderou a realidade social local, ou seja, a sua “lógica peculiar”.

(KRAYCHETE, 2006, 2011). Nesse caso, o plano havia sido elaborado por

um especialista, desconhecedor da realidade local, e de forma não

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participativa, transformando-se “[...] em mais um documento a ser muito bem

guardado e esquecido em alguma prateleira”. (KRAYCHETE, 2006, p. 4).

Outra experiência presenciada não apresentou essa base preparatória para

os associados e, num processo avaliativo reflexivo, percebeu-se que erros

graves foram cometidos, quais sejam: (1) convocação aleatória de

“beneficiários” da comunidade para montar um negócio; (2) baixa

escolaridade dos associados; (3) desconhecimento ou falta de experiência

prévia no negócio proposto; (4) implantação de plano de negócio não

participativo e descolado da realidade do interior do estado; (5) investimento

de recurso financeiro inicial, prevendo contratação de encarregados na

produção e/ou administração, sem uma preparação educativa consistente

para os associados lidarem com questões econômicas e de gestão; (6)

cronograma irreal, baseado em um tempo empresarial normal, que não previu

a condição especial de um empreendimento social e cujo tempo de

maturação não incluiu a promoção da emancipação dos associados.

Ressalte-se em outra experiência, na qual se realizou um trabalho de base

para a transformação das pessoas em empreendedoras, com valores

cooperativos e associativos, em que no período de três anos, foram

desenvolvidas varias atividades, entre as quais: (1) preparação das pessoas

com valores solidários e cooperativos para uma formação empreendedora; (2)

preparação para o desenvolvimento do produto e para a gestão do

empreendimento (individual ou coletivo); (3) e, posteriormente, realização de

convite a pessoas para desenvolver e gerir um empreendimento social, à livre

escolha, com garantia de apoio técnico e financeiro. Nesse caso, mesmo

depois de longos processos de envolvimento com os sujeitos, a gestão do

empreendimento ainda apresentava dificuldades a serem superadas como,

por exemplo, resultados financeiros demorados ou apenas suficientes para

equilibrá-lo. Alguns associados desistiam do empreendimento, em virtude de

encontrarem trabalho assalariado. Em outros casos os sujeitos eram taxados

de “jovens preguiçosos” por parte do apoiador externo.

Esses casos relatados demostram as dificuldades do alcance de resultados

sustentáveis em empreendimentos sociais, mesmo aqueles beneficiados, com “[...]

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apoio financeiro, muitos [...] apresentam resultados frustrantes - para si e para as

instituições financiadoras”, coincidentemente com as observações de Kraychete

(2006, p.4). Ainda, segundo este autor,...

Por um período, o empreendimento parece funcionar bem, inclusive com resultados econômicos aparentemente positivos. Enquanto dura o projeto, os recursos permitem pagar as despesas e garantem uma remuneração aos associados. Durante algum tempo, como usualmente se diz, parece que “o projeto contribuiu para elevar a autoestima do grupo”. A instituição financiadora publica fotos e folders no seu site dos resultados alcançados. (KRAYCHETE, 2006, p.4).

Portanto, a experiência vivenciada junto a ações de responsabilidade social que

contemplem empreendimentos sociais abriu caminho para a realização de um

estudo aprofundado, podendo melhor compreender a dinâmica deste tipo de

empreendimento no Pará e Minas Gerais, em especial, com respeito ao tempo de

amadurecimento requerido por estas organizações.

Essas experiências demonstraram claramente a necessidade do reconhecimento de

um tempo de maturação para empreendimentos desta natureza, diferente do

observado em empreendimentos tradicionais capitalistas, e denominado aqui, como

tempo social.

A concessão deste tempo visa garantir a efetivação, a implementação do

empreendimento e o alcance de sua sustentabilidade, apoiado no exercício da

autogestão, da cooperação, da preparação do produto com qualidade, do

enfrentamento do mercado com inovação e participação em arranjos institucionais e

em redes consorciadas de comercialização, para firmar seu espaço dentro de uma

economia local.

Diante do exposto, a pesquisa desenvolvida propôs a seguinte questão central: qual

seria a dimensão do tempo de amadurecimento – tempo social – dos

empreendimentos sociais, com vistas ao alcance da autossustentabilidade, para

orientar o apoio e o investimento das instituições privadas que os suportam?

A hipótese que norteou a pesquisa foi a de que os sujeitos dos empreendimentos

sociais apresentam condições culturais e educacionais restritas e limitadas, fatores

17

dificultadores para o alcance da sustentabilidade de seus negócios, mesmo sendo

apoiados técnico/ financeiramente por programas de reponsabilidade social de

instituições privadas. Mantido o foco da responsabilidade social na formação de tais

empreendimentos, se se incorporar à ação dos apoiadores junto aos

“empreendedores” uma prática educativa para a autogestão dos estabelecimentos

coletivos autogestionários, os programas de responsabilidade social das empresas,

tendem a produzir impactos mais positivos na realização dos seus objetivos de

geração de renda. Propõe-se dessa forma, a ampliação da visão dos gestores da

responsabilidade social para perceber a indispensabilidade de um tempo que

comporte a superação das dificuldades de formação dos grupos coletivos, enquanto

coletivos solidários dotados das funções autogestionárias para administrar um

empreendimento social autossustentável. Se adotarem os requisitos relativos ao

tempo de maturação e indicadores sociais adequados para o seu acompanhamento

sistemático, amplia-se a probabilidade de sucesso e de alcance de

autossustentabilidade dos empreendimentos sociais.

A realização desse trabalho, orientado para o tempo social dos empreendimentos

sociais, orientou-se pelo seguinte objetivo geral: analisar a dinâmica dos

empreendimentos sociais, em especial, seu tempo de amadurecimento – tempo

social – por meio do dimensionamento quali/quantitativo de suas fases e os

requisitos percebidos no caminho de sua autossustentabilidade.

Para o alcance dessa finalidade os objetivos específicos foram:

(1) Contextualizar historicamente a experiência do empreendimento social na

sua relação com seus investidores/apoiadores;

(2) Identificar os processos de gestão vivenciados pelos empreendimentos

sociais, para identificar parâmetros de sua tendência à autossustentabilidade;

(3) Levantar indicadores de sustentabilidade que proporcionem identificar o

momento de desprendimento do empreendimento social dos seus apoiadores;

Essa dissertação contemplou, como objetivo operacional, a realização de um

produto técnico, fundamentado na pesquisa em forma de uma metodologia a ser

divulgada como uma cartilha orientativa para os empreendimentos sociais e seus

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apoiadores. Essa metodologia desenvolvida visa orientar o monitoramento do tempo

social de amadurecimento do empreendimento social e seus indicadores, com o

intuito de contribuir para a realização dos avanços decorrentes da superação das

fragilidades dos associados até o alcance da autossustentabilidade. Este produto

técnico introduz uma inovação no campo da gestão social, com vistas ao

desenvolvimento local.

A escolha do tema em pauta – empreendimentos sociais de geração de renda

coletivos e autogestionários, apoiados por instituições privadas – se justificou

pela importância de acessar conhecimentos que permitam inferir sobre o ciclo de

vida e os processos dos empreendimentos sociais, que visem fundamentar uma

contribuição para a gestão social efetiva no desenvolvimento de projetos em grupos

sociais e comunitários, e a transformação de realidades locais.

Deste modo, a vivência em empreendimentos sociais gerou um grande desafio e

introduziu um longo caminho a percorrer, visto que se verificaram poucas

experiências que, de fato, mudaram a condição de vida de seus associados.

O estudo desse tempo de maturação de empreendimento social requereu um

aprofundamento científico, podendo ser considerado de suma importância para o

fortalecimento da linha de pesquisa sobre gestão social e desenvolvimento local.

Objetivou ainda, abstrair e aprofundar cientificamente, à luz dos conceitos de gestão

social e desenvolvimento local, a prática em processos sociais de empreendimentos

sociais, para permear a reflexão de consistência teórica.

Isto proporcionou discussões metodológicas dos processos vivenciados e do

monitoramento do tempo de amadurecimento (tempo social) dessas organizações,

pretendendo contribuir para a efetivação de uma gestão social no desenvolvimento

de projetos em grupos sociais e comunitários, a partir do conhecimento do local e

das potencialidades pessoais, visando, de fato, a transformação de realidades

locais.

Além de ampliar os conhecimentos práticos e teóricos sobre a gestão social de

empreendimentos sociais para a geração de renda apoiados por instituições

19

privadas, permitiu conhecer mais sobre o ciclo de vida dos empreendimentos, seus

processos e tempo social, e propor melhorias para os processos com o intuito de

contribuir para o aumento do sucesso de tais experiências de empreendimentos

sociais.

Por fim, a estrutura da dissertação apresenta três capítulos em formato de artigos. O

primeiro capítulo apresenta uma fundamentação teórica sobre os conceitos e

concepções de empreendimentos sociais, responsabilidade social coorporativa,

autogestão e produção associada, além de sustentabilidade de empreendimentos e

o seu tempo social. A pesquisa à literatura disponível possibilitou aquilatar a

capacidade e as dificuldades do empreendimento social de proporcionar a

emancipação e o resgate de cidadania dos indivíduos, avaliada no sucesso e na

permanência do negócio, que busque o alcance de sua sustentabilidade, no âmbito

de uma economia social local.

O segundo capítulo, expõe os resultados da pesquisa envolto em uma análise de

três empreendimentos sociais localizados em Minas Gerais e no Pará e suas

instituições apoiadoras, sob a perspectiva do tempo social com o intuito de

compreender a dinâmica desses empreendimentos, auferindo o seu tempo de

amadurecimento e o seu processo de gestão, por meio do delineamento de suas

fases de execução até a sustentabilidade. Por meio de uma pesquisa exploratória-

descritiva de viés qualitativo, procurou-se detectar parâmetros qualitativos relevantes

para a inferência do tempo social do empreendimento social.

O terceiro capítulo apresenta uma proposta de Cartilha Orientativa cujo objetivo é

apresentar uma metodologia de monitoramento para Autogestão e

Autossustentabilidade dentro de um Tempo Social de Empreendimentos Sociais.

Este produto técnico propõe ser uma ferramenta participativa para a promoção da

Gestão Social dentro de empreendimentos sociais com fim de autossustentabilidade

e contribuir para a Inovação social e Desenvolvimento local.

20

1 - SUSTENTABILIDADE EM EMPREENDIMENTOS SOCIAIS PARA UMA

ECONOMIA SOCIAL LOCAL: UMA REVISÃO TEORICA

AMARAL, Odnélia Cristina S. de1

MELLO, Ediméia Maria Ribeiro2

RESUMO

Este artigo pretende suscitar algumas reflexões, com base no arcabouço teórico sobre gestão social para o desenvolvimento local, autogestão para o desenvolvimento de negócios e responsabilidade social da iniciativa privada, a partir de experiências vivenciadas em empreendimento social. A pesquisa sobre a literatura disponível possibilita aquilatar a capacidade e as dificuldades do empreendimento social proporcionar a emancipação e o resgate de cidadania dos indivíduos, avaliada no sucesso e na permanência do negócio. A partir da reflexão teórica, pretende-se exercitar o olhar reflexivo, com base em uma prática em empreendimento social, que busque o alcance de sua sustentabilidade, no âmbito de uma economia social local, segundo parâmetros que considerem a sua condição de iniciante num mundo de competitividade exacerbada.

Palavras-chave: Empreendimento Social; Sustentabilidade; Responsabilidade Social; Tempo Social.

ABSTRACT This article aims to raise some reflections on the theoretical framework of social management for local development, self-management to business development and social responsibility of private initiative, from experiences on social entrepreneurship. A survey of available literature allows the evaluation of the ability and the difficulties of the social entrepreneurship provide the emancipation and recuperation of citizenship of individuals, based on the success and permanence of their business. From the theoretical discussion it is intended to exercise a reflective view, based on a practice in social enterprise, which seeks to reach its sustainability in the context of a local social economy, according to the parameters that consider their condition of beginners in a world of heightened competitiveness. Keywords: Social Entrepreneurship; Sustainability;Social Responsibility; Social Time.

1 Mestranda em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local no Centro Universitário UNA.

Avenida João Pinheiro, 515, Funcionários. CEP: 30130-180. Belo Horizonte. E-mail: [email protected]. 2 Orientadora e Professora do Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento local no

Centro Universitário UNA. Avenida João Pinheiro, 515, Funcionários. CEP: 30130-180. Belo Horizonte. E-mail: [email protected].

21

1.1 Introdução

Esse artigo apresenta como objetivo analisar o enfrentamento do desafio da

sustentabilidade pelos empreendimentos sociais de geração de renda, apoiados por

instituições públicas ou privadas, em seus programas de responsabilidade social.

O apoio à formação de empreendimentos geradores de renda nos territórios da

pobreza vai ao encontro das políticas públicas instituídas nos últimos anos pelo

governo federal, que incentivam todo tipo de instituições a se envolver com a

promoção do desenvolvimento local. Nesse sentido, o Ministério do

Desenvolvimento Social e Combate à Fome oferece um Guia, assinado por Patrus

Ananias, que tem por objetivo:

Apoiar gestores públicos federais, estaduais e municipais, instituições não governamentais, empresários de todo o porte, movimentos sociais, religiosos e as empresas com responsabilidade social, para a articulação das ações e alcance de resultados mais efetivos na geração de Trabalho e Renda com a promoção do desenvolvimento local. (Brasil, 2009, p. 5).

Assim, os empreendimentos sociais apoiados no âmbito de projetos implementados

pela Responsabilidade Social Corporativa (RSC) são incentivados pelas Políticas

Públicas de Geração de Trabalho e Renda, destinados aos membros de

comunidades pobres e/ou impactadas pelos grandes investimentos realizados pelas

empresas privadas.

Tais iniciativas alcançam pessoas dispostas a trabalhar para o autossustento, que,

eventualmente estão envolvidas em atividades produtivas pouco rentáveis ou até

mesmo deficitárias, em virtude das diversas carências que as acometem, frente aos

requisitos postos para o sucesso de uma organização produtiva via mercado. Na

maioria das vezes, são necessárias "[...] ações que despertam a autoestima e

conscientizam dos direitos de cidadania as pessoas que vivem em situação de

extrema miséria, destituídas de tais sentimentos, por viverem processos históricos

de exclusão social”. (Brasil, 2009, p.11).

A experiência vivenciada por uma das autoras permitiu constatar a raridade das

tentativas de sucesso na promoção de empreendimentos sociais por instituições

22

privadas. Um número muito pequeno contabiliza os que atingiram a sua

sustentabilidade de forma emancipadora e autônoma e que de fato mudaram a

condição de vida de seus associados. Considera-se sustentável e autônomo, o

empreendimento social que consegue sobreviver por um tempo longo em condições

de equilíbrio financeiro, assim como internalizar em seu processo decisório a

autogestão, mesmo que inserido numa rede de parcerias variável no tempo e no

padrão de troca estabelecido.

Pressupõe-se que, no caso dos empreendimentos sociais apoiados no âmbito dos

projetos de RSC, parte das dificuldades associadas aos insucessos decorra das

diferentes lógicas que confrontam as organizações envolvidas: de um lado do

empreendimento social, o objetivo de resgate social, que se implementa a partir de

uma gestão coletiva realizada por detentores da força de trabalho e dos meios de

produção, pessoas à margem do mercado de trabalho, alijadas da cultura do

mercado e carentes do conhecimento de todas as fases pelas quais se conduz um

negócio.

Do outro lado, o apoiador privado, movido pela lógica capitalista, fundada na

“expertise” do desenvolvimento de seu negócio, cujo cronograma prescinde o

esforço de qualificação e preparação da força de trabalho, mas exerce o seu apoio

com uma expectativa irreal com respeito ao resultado de seus esforços. O prazo

concedido para o alcance da sustentabilidade econômica e de gestão do

empreendimento social é muito curto, relativamente às suas carências iniciais.

Este fato impacta o desenvolvimento do empreendimento social e requer a atenção

e o entendimento da lógica operativa do negócio inclusivo, por parte do associado e,

principalmente, pelo apoiador privado.

Diante do exposto, para um melhor entendimento sobre empreendimento social, este

capítulo apresenta a seguinte estrutura: primeiramente irá retratar a lógica de uma

organização desse tipo, com base em diversos conceitos e concepções; na

sequência apresentará uma discussão a respeito da responsabilidade social

corporativa (RSC) ou empresarial, seus conceitos e sua vivência prática. Em seguida

serão apresentadas as dimensões de um empreendimento e os requisitos de sua

23

sustentabilidade. E por último, será descrito uma reflexão acerca da importância de

se ter um tempo social no empreendimento social dentro de um contexto local.

1.2 Empreendimento social: visitando conceitos e concepções

O conceito de empreendimento social que este estudo privilegia, refere-se às

organizações socioprodutivas que reúnem pessoas movidas por interesses em

empreender de forma independente, segundo um modelo de organização coletiva e

autogestionária, inseridos dentro de uma lógica peculiar (KRAYCHETE, 2011) 3 em

uma economia social local4.

Reflete a realidade dos grupos produtivos formados em comunidades que

experimentam a exclusão social, que, conforme Amaro (2000) alcança seis níveis

principais da pessoa, quais sejam:

- do SER, ou seja, da personalidade, da dignidade e da autoestima e do auto-reconhecimento individual; - do ESTAR, ou seja, das redes de pertença social, desde a família, às redes de vizinhança, aos grupos de convívio e de interação social e à sociedade mais geral; - do FAZER, ou seja, das tarefas realizadas e socialmente reconhecidas, quer sob a forma de emprego remunerado (uma vez que a forma dominante de reconhecimento social assenta na possibilidade de se auferir um rendimento traduzível em poder de compra e em estatuto de consumidor), quer sob a forma de trabalho voluntário não remunerado; - do CRIAR, ou seja, da capacidade de empreender, de assumir iniciativas, de definir e concretizar projectos, de inventar e criar ações, quaisquer que elas sejam; - do SABER, ou seja, do acesso à informação (escolar ou não; formal ou informal), necessária à tomada fundamentada de decisões, e da capacidade crítica face à sociedade e ao ambiente envolvente; - do TER, ou seja, do rendimento, do poder de compra, do acesso a níveis de consumo médios da sociedade, da capacidade aquisitiva (incluindo a capacidade de estabelecer prioridades de aquisição e consumo). (AMARO, 2000, s/p).

3 Segundo esse autor os empreendimentos associativos não podem ser avaliadas ou projetados,

tomando-se por referência os critérios de eficiência e planejamento típicos à empresa capitalista, pois não considerará a realidade dos mesmos e distanciará de formas de trabalhos economicamente viáveis dentro de uma gestão emancipadora e autogestionária. (KRAYCHETE, 2011). . 4 A economia social agrega as cooperativas e as associações que tem como princípios “servir a

comunidade e os interesses sociais em detrimento dos interesses do capital [...]”. (PARENTE; COSTA; SANTOS; CHAVES, 2011, p.10).

24

Ao longo da história dos movimentos sociais no Brasil, conforme Gohn (2004), a

sociedade civil foi se configurando e avançando segundo novos formatos. A partir

dos anos 1980, destacam-se os movimentos de luta por direitos civis, políticos e

sociais, que garantiram desdobramentos na efetivação das políticas públicas de

cunho social. Esse foi um processo de amplas conquistas, mas, principalmente,

desde a última década do século XX, com o acirramento das políticas neoliberais,

houve perda de direitos conquistados, frente ao cenário de “desemprego, aumento

da pobreza e da violência urbana e rural”. (GOHN, 2004, p. 25).

Forjou-se, então, uma nova modelagem para os movimentos sociais, centrada em

articulações, construção de agendas políticas e em busca de uma readaptação às

mudanças decorrentes de tempos economicamente mais duros.

Nesta nova perspectiva, a escassez de recursos restringe a capacidade de resposta

do Estado às demandas sociais crescentes. Dessa forma, foram buscadas “[...]

novas formas de articulação com a sociedade civil, envolvendo a participação de

ONGs, da comunidade organizada e do setor privado na provisão de serviços

públicos” (FARAH, 1998, p. 383). Assim, as ONGs passaram a ter um papel menos

reivindicativo e mais ativo, por meio da prestação de serviços, visto que a nova

gestão pública passou a delegar às empresas da sociedade civil a execução das

políticas, mantendo-se nas funções de financiamento e fiscalização. Estas ONGs

apresentavam um novo perfil...

O perfil do novo associativismo civil dos anos 1990. Um perfil diferente das antigas ONG´s dos anos 1980, que tinham fortes características reivindicativas, participativas e militantes. O novo perfil desenha um tipo de entidade mais voltada para prestação de serviços, atuando segundo projetos, dentro de planejamentos estratégicos, buscando parcerias com o Estado e empresas da sociedade civil. (GOHN, 2004, p. 27).

Por outro lado, o poder público passou a atuar por meio do fomento e da garantia de

recursos e incentivos fiscais para que, cada vez mais, a sociedade civil assumisse a

responsabilidade parceira na solução dos problemas sociais, acirrados pelo

neoliberalismo, contribuindo, assim, para redução da despesa pública, por meio da

estratégia de transferência da responsabilidade da oferta de serviços sociais para a

25

sociedade civil, conforme explicam Alves Junior; Fontenele e Faria (2008). Em

consequência, abriu-se espaço para a ampliação do terceiro setor, no Brasil,

constituído por instituições privadas de finalidade pública, discutida por Fischer e

Falconer (1998).

A referência à intenção de estimular a parceria com ONG's está no discurso político das autoridades brasileiras e na prática de alguns programas nacionais e alguns governos estaduais, que reconhecem o insucesso do Estado como promotor das políticas de desenvolvimento social e a necessidade de estimular a participação da sociedade civil nesta empreitada. [Assim], no Brasil, alguns governos locais já se lançavam a experiência prática, para tentar, com esta parceria, debelar os problemas crônicos da miséria total. (FISCHER e FALCONER, 1998, p. 6).

Neste novo cenário político-social, formou-se o tripé que permeia o empreendimento

social: o poder público, com sua regulamentação e financiamento; o poder privado

com sua disposição social e financiamento; e o associado ao empreendimento, com

a sua disposição para o desenvolvimento pessoal e local de características social e

econômica, conforme diagramado na Figura 1, a seguir.

Figura 1: Tripé de apoio ao empreendimento social

Ao mesmo tempo, dentro da complexidade desta realidade, cada elemento do tripé

assume sua função e busca, de forma articulada, tornar reais as oportunidades

PODER

PÚBLICO

Governo

PODER PRIVADO

Mercado

Instituições

privadas

COMUNIDADE

Associado

26

alternativas de geração de renda, por meio do desenvolvimento do empreendimento

social, para a superação da condição socioeconômica da comunidade excluída.

Dessa maneira, uma maioria dos empreendimentos sociais são suportados no

fortalecimento dessa rede de apoio e na concretização de parcerias intersetoriais,

para o alcance da sustentabilidade. Assim, se constituem de forma inovadora

surgindo neste contexto político da sociedade brasileira. Porém, não só neste

contexto, pois são negócios que vêm ganhando relevância no enfrentamento da

pobreza em nível mundial, apresentando-se como uma forma de reversão, em parte,

dos resultados pífios alcançados pela economia capitalista, sustentada em uma

dinâmica produtora de exclusão, conforme os dados apresentados por Naigeborin

(2010). Estes dados podem ser comparados com uma população mundial de 3,6

bilhões de pessoas, em 2010, segundo as fontes relacionadas pela autora:

Mais de 2,5 bilhões de pessoas vivem com menos de dois dólares/dia (Banco Mundial, 2007);

900 milhões de pessoas não têm acesso à água potável (OMS e UNICEF, 2010);

2,6 bilhões de pessoas não têm saneamento básico (OMS e UNICEF, 2010);

Mais de 1,8 milhões/ano de jovens (entre 15 e 24 anos) morrem por enfermidades que poderiam ser prevenidas (OMS);

1,6 bilhões de pessoas não têm acesso à eletricidade (OCDE e IEA, 2006).

5,4 bilhões não têm acesso à internet (ITU, 2008).

Este cenário ilustra quantitativamente quase todas as dimensões da exclusão social

propostas por Amaro (2000, s/p), ou seja, "o ‘não ser’, o ‘não estar’, o ‘não fazer’, o

‘não criar’, o ‘não saber’ e/ou o ‘não ter”, fortalece as iniciativas sociais de

empreendimentos, apoiados por instituições públicas e privadas, que, deram

surgimento ao conceito de negócios sociais. O Grameen Bank, fundado em 1976 por

Muhammad Yunus (economista, Prêmio Nobel da Paz em 2006), é uma importante

instituição de microcrédito pioneira nesta modalidade (NAIGEBORIN, 2010).

As definições de negócios sociais, levantadas por Naigeborin (2010), podem ser

agregadas como economias rentáveis, que oferecem soluções para problemas

sociais e/ou ambientais, por meio de mecanismos de mercado (ARTEMISIA apud

NAIGEBORIN, 2010), que visem beneficiar setores excluídos (ASHOKA apud

27

NAIGEBORIN, 2010) e às comunidades de baixa renda (BID apud NAIGEBORIN,

2010), ao oferecerem serviços básicos essenciais a um preço menor (AVINA apud

NAIGEBORIN, 2010), capazes de gerar receita suficiente para cobrir os custos, sem

que, entretanto, sejam distribuídos lucros aos seus investidores (GRAMEEN BANK

apud NAIGEBORIN, 2010). Esses negócios incluem os pobres tanto do lado da

demanda, quanto do lado da oferta (PNUD apud NAIGEBORIN, 2010), adotam

componentes de governança inclusiva, assim como, um sistema contábil ético e

transparente que prioriza a sustentabilidade ambiental, a distribuição justa dos

rendimentos por participação, destinando os lucros ao bem comum. (FOURTH

SECTOR apud NAIGEBORIN, 2010).

Segundo Hervieux (2010), apud Vasconcelos e Lezana (2012), os empreendimentos

sociais criam valor social através de inovação e fazem uso do recurso financeiro

como garantia de sustentabilidade do negócio e de seus associados.

Acredita-se que os negócios sociais ou empreendimentos sociais têm o poder de

realizar transformação social que alcance os desfavorecidos, ao se organizarem

segundo o formato coletivo, cooperativo e de gestão compartilhada do poder

decisório. Esse formato os caracteriza como organizações autogestionadas e

inclusivas, fundadas como alternativa para a melhoria da condição de vida e para o

resgate da sustentabilidade social e econômica de indivíduos alijados do processo

produtivo.

Rossoni; Onozato e Horochovski (2006) atribuem o surgimento do

empreendedorismo social a uma evolução do setor filantrópico, considerado

insatisfatório do ponto de vista administrativo, de sustentabilidade econômica e de

resultados. Mswaka (2009) enfatiza que, no Reino Unido, enquanto as estruturas

filantrópicas de apoio à pobreza declinavam, os empreendimentos sociais eram

estimulados crescentemente, introduzindo um novo modelo de organização: uma

evolução no âmbito da economia social e das organizações filantrópicas associadas.

Social enterprise is a result of the evolution of the social economy and the philanthropic organizations associated with it (Laville and Nyssens, 2001). These include earliest forms of craft guilds, building societies and savings clubs that became forerunners of the social enterprises that we know today (Conaty and McGeehan, 2000). Therefore social enterprises have gained

28

prominence perhaps because of their business-like nature in contrast to the traditional non-profit organizations associated with the social economy (Dart, 2002)

5. (MSWAKA, 2009, p. 4).

Dessa forma, os empreendimentos sociais representam alternativas ao

desenvolverem soluções de mercado para contribuir para a superação de alguns

dos grandes problemas sociais e ambientais mundiais. Esse modelo de negócio tem

o lucro, não como um fim em si mesmo, mas um meio para gerar soluções

sustentáveis que ajudem a reduzir a pobreza, a desigualdade social e a degradação

ambiental.

De acordo com Duarte e Teodósio (2013), esse universo de novos negócios

possibilita o fortalecimento de uma nova economia, dotada de características

similares à economia social, explicada pelos seguintes elementos-chave:

A autogestão para a solidariedade; 2. O fortalecimento das iniciativas econômicas cooperativadas e associativas; 3. O desenvolvimento de rede de apoio mútuo, de intercâmbios diversos; 4. A criação de formas alternativas de credito e poupança. (SINGER, 2000, p.323 apud DUARTE; TEODOSIO, 2013, p. 5).

Em 2006, no Brasil, o incentivo aos empreendimentos sociais foi transformado em

política de Estado com a criação da Secretaria Nacional de Economia Solidaria

(SENAES), ao mesmo tempo em que se fortalecia um novo espaço do movimento, o

Conselho Nacional de Economia Solidária (CNES). Em sua fundação, o CNES,

aglutinava conselheiros representantes de 56 entidades dos três setores que o

apoiavam.

Cada consejero representa una entidad y las 56 entidades pertenecen a tres sectores distintos: a) 19 consejeros representan órganos gubernamentales; b) 13 a ministerios del gobierno federal, bancos públicos federales, el Foro de Secretarios Estatales del Trabajo y la Red de Gestores Públicos de Economía Solidaria; c) 20 consejeros representan emprendimientos de economía solidaria y son apuntados por el FBES [Fórum Brasileiro de Economia Solidaria]; d) 17 consejeros representan entidades de fomento y asesoría, que actúan en la economia solidaria, gran parte de las cuales participan del FBES. (SINGER, 2009, p. 61).

5 A empresa social resulta da evolução da economia social e as organizações filantrópicas

associadas (Laville e Nyssens (2001). Estas incluem as primeiras formas de corporações de ofício, as sociedades de construção e clubes de poupança, precursores das empresas sociais que conhecemos hoje (Conaty e McGeehan, 2000). Portanto, empresas sociais ganharam destaque, talvez por causa de sua natureza parecida com negócios em contraste com as organizações sem fins lucrativos tradicionais associadas com a economia social (Dart, 2002). (Mswaka, 2009, p.4).

29

Entretanto, as contradições inerentes ao modelo que pretende a superação das

desigualdades por meio do incentivo ao empreendedorismo, esbarram com as

contradições do modelo que se evidenciam na prática. O incentivo à formação de

organizações produtivas autossustentaveis mobiliza a concorrência entre os

desiguais e pode promover novas desigualdades.

En lo que respecta a la sociedad civil, una división ya antigua, pero que suscita confrontaciones periódicas, es la que oponen partidarios de la llamada economía popular solidaria, que priorizan el trabajo con los más pobres y excluidos y los que priorizan los esfuerzos para que los emprendimientos de la economía solidaria tengan éxito económico. Aparentemente, no hay contradicción, pues los dos elementos son em cierta medida complementarios: para que los más pobres puedan superar su condición es imprescindible que sus cooperativas se viabilicen económicamente. Pero, en la práctica, las contradicciones aparecen de inmediato. (SINGER, 2009, p.62).

Segundo Rossoni; Onozato e Horochovski (2006), diferentemente do

empreendimento privado tradicional, o empreendimento social é uma entidade que

se realiza no coletivo, privilegia a autogestão, a produção destinada a demandas da

comunidade, o foco na solução de problemas sociais, a aferição do desempenho

com base no impacto social e o objetivo de resgatar e promover sujeitos em situação

de risco social.

Duarte e Teodósio (2013) defendem que esse modelo de empreendimento "pode ser

compreendido como uma nova tecnologia social, com imensa capacidade de

inovação no processo de empreender [em prol do social], já que não se pretende ser

assistencialista e mantenedor, mas empreendedor, emancipador e transformador”.

(DUARTE; TEODOSIO, 2013, p. 44). Este tipo de empreendedorismo é foco de

programas de responsabilidade social em empresas e demais instituições privadas.

Os estudos do GEM (Global Entrepreneurship Monitor), apud Dornelas (2005),

diferenciam duas formas de empreendedorismo. A primeira forma seria o

empreendedorismo de oportunidade em que o empreendedor cria um negócio, com

um foco bem estabelecido. A segunda forma é o empreendedorismo de necessidade

em que o empreendedor se lança em um negócio por falta de oportunidade de

trabalho e, em sua maioria, não apresenta uma concepção integral do negócio bem

planejado e com foco.

30

É exatamente sobre essas lacunas do empreendedorismo por necessidade, que os

programas de responsabilidade social das instituições privadas atuam, assim como,

as fundações e instituições financiadoras de projetos sociais, ao objetivar de

incorporar foco, plano e apoio técnico aos negócios de grupos de pessoas

desfavorecidas dentro de uma comunidade apoiada.

Entretanto, o apoio da iniciativa privada a tais organizações, demanda o

entendimento das limitações a serem enfrentada para se constituir uma ação

autêntica e bem intencionada, no sentido de suprir as carências do grupo, com as

dotações gestoras que promovam o sucesso da organização.

Este estudo assume, como hipótese fundamental, que o incentivo à formação de

empreendimentos sociais ou organizações socioprodutivas deve incorporar o modelo

da gestão social, de modo a ser eficaz no sentido de superar as deficiências e

fortalecer os saberes próprios do grupo constitutivo. Esse modelo deve orientar os

formatos dos projetos da responsabilidade social corporativa, caso o objetivo de

promoção ao desenvolvimento local seja assumido com todo o seu significado.

1.3 Responsabilidade Social Corporativa

A responsabilidade social de empresas tem origem em sua “decisão de participar

mais diretamente das ações comunitárias na região em que está presente e minorar

possíveis danos ambientais decorrentes do tipo de atividade que exerce”.

(D`AMBROSIO et al., 1998, apud MELO NETO e FROES, 1999, p. 78). Porém, Melo

Neto (1999) reforça que somente estas iniciativas não garantem o exercício da

responsabilidade social. A elas devem se somar ações de preservação do meio

ambiente, de investimento no bem estar dos funcionários e seus dependentes, de

promoção da transparência, assegurando satisfação e sinergia que alcancem os

seus ”stakeholder”. Assim, Melo Neto e Froes (1999) relacionam os principais

vetores da responsabilidade social, quais sejam:

V1 apoio ao desenvolvimento da comunidade onde atua; V2 preservação do meio ambiente;

31

V3 investimento no bem estar dos funcionários e seus dependentes em um ambiente de trabalho agradável;

V4 comunicações transparentes; V5 retorno aos acionistas; V6 sinergia entre parceiros; V7 satisfação dos clientes e/ou consumidores. (MELO NETO e FROES,

1999, p. 78).

Estes vetores aliam a gestão empresarial à dimensão social de uma empresa,

garantindo a responsabilidade social sob duas formas: interna, voltada para os

funcionários e seus dependentes; e externa voltada para a comunidade.

Na primeira metade do século XX, cientes da importância do seu papel social, as empresas passaram a se mostrar mais comprometidas com todos à sua volta, com a comunidade. Surgiram, então, os investidores sociais, que aplicam seus próprios recursos em projetos de interesse público, não através apenas da prática da caridade, mas por meio de ações voluntárias, planejadas e acompanhadas de perto. Tinham, e ainda têm como objetivo melhorar a qualidade de vida dos cidadãos e fortalecer laços de confiança com eles. (KRAEMER, 2005, p.3).

Na responsabilidade social externa, a empresa incorpora à comunidade, “os

recursos financeiros, produtos, serviços e know-how da empresa e de seus

funcionários”. (MELO NETO e FROES, 1999, p. 79). Nesse flanco se enquadra o

apoio aos empreendimentos sociais, entretanto, permeado pela lógica do capital, na

promoção da realização de negócios que possam transformar a condição social da

comunidade.

Nesse engajamento social, no contexto de sua dimensão externa, a empresa busca

demonstrar seu compromisso ético com a sociedade, dando-lhe um retorno pelo uso

e exploração dos recursos naturais. Desta forma se garante a realização de um

balanço social, proporcionando uma imagem positiva diante do mercado mundial

que propaga e vincula à comercialização de produtos práticas sociais justas e a

solução de problemas sociais pelas empresas. De acordo com Melo Neto e Froes

(1999) “é um mecanismo de compensação das perdas da sociedade em termos de

concessão de recursos para serem utilizados pela empresa”. (MELO NETO e

FROES, 1999, p. 84-85).

Com o tempo, são incorporadas ao conceito de responsabilidade social, novas

práticas. Uma delas refere-se ao desenvolvimento sustentável em sua dimensão

social, que “compreende os direitos humanos, dos empregados, dos consumidores,

32

o envolvimento comunitário, a relação com fornecedores, o monitoramento e a

avaliação do desempenho e os direitos dos grupos de interesse”. (MELO NETO;

FROES, 1999, p. 90). Esta dimensão, em conjunto com as dimensões econômica e

ambiental, compõem os pilares da sustentabilidade.

Assim, se de fato assumida a responsabilidade social pela empresa, essa poderá

contribuir tanto para a sustentabilidade e o desempenho empresarial quanto para o

desenvolvimento da sociedade e do seu entorno, proporcionando mudança na

realidade local e um exercício pleno de sua cidadania empresarial e de sua

responsabilidade social, como confirma Kraemer (2005)...

A responsabilidade social corporativa representa o compromisso com a ideia de organização como conjunto de pessoas que interagem com a sociedade. Assume o princípio de que as organizações têm sua origem e seus fins essenciais nas pessoas, as quais se organizam e se dispõem em diversos grupos de interesses, com peculiaridades e distintos tipos de relação. Contempla o impacto da ação da empresa em sua tríplice dimensão: econômica, social e ambiental, tendo como meta principal a consecução do desenvolvimento sustentável. (KRAEMER, 2005, p.3).

É dentro desse exercício de responsabilidade social que muitas empresas e suas

fundações/institutos desenvolvem projetos no contexto da linha de atuação do

empreendedorismo social, cujo fomento e fortalecimento se apresentam como

alternativa de renda para a população desfavorecida ou vulnerável do seu entorno.

Desse modo, os empreendimentos sociais são uma forma de enfrentamento dos

problemas sociais, que posicionam a economia a serviço da comunidade.

Segundo Melo Neto e Froes (2002) o empreendedorismo social difere do

empreendedorismo privado. O segundo tipo tem um foco individual, é centrado no

mercado e busca incessantemente o lucro. Já o empreendedorismo social foca as

pessoas, tem o intuito de utilizar a economia para possibilitar a solução de

problemas sociais e proporcionar a melhoria da qualidade de vida das comunidades.

Para ilustrar melhor tal distinção copia-se, a seguir, o quadro de Melo Neto e Froes

(2002).

33

Quadro 1: Diferenças entre Empreendedorismo Privado e Social

EMPRENDEDORISMO PRIVADO

EMPREENDEDORISMO SOCIAL

É individual É coletivo

Produz bens e serviços para o mercado Produz bens e serviços para a comunidade

Tem foco no mercado Tem foco na busca de soluções para os problemas sociais.

Sua medida de desempenho é o lucro Sua medida de desempenho é o impacto social

Visa satisfazer necessidades dos clientes e ampliar as potencialidades do negócio

Visa resgatar pessoas da situação de risco social e promovê-las.

Fonte: MELO NETO e FROES, 2002, p. 11.

Portanto, incorporar e efetivar essa nova forma de exercitar a responsabilidade

social é fazer do empreendedorismo social um grande desafio para as grandes

empresas e demais instituições privadas, que com vistas em projetos de geração de

renda, lancem um olhar diferenciado para as comunidades pobres, contribuindo para

a mudança, promovendo o empoderamento das pessoas e instrumentalizando sua

ação.

Como forma de melhorar o seu campo de atuação social, as empresas, que abrigam

as ações de responsabilidade social corporativa, recorrem a parcerias com governo,

ONG´s, entidades da sociedade civil, instituições internacionais, para a execução de

seus programas, de modo a utilizar o “know how” que o terceiro setor vem

adquirindo no desenvolvimento de projetos de combate a pobreza e em especial, no

acompanhamento de negócios sociais e/ou empreendimento sociais.

O quadro abaixo de Melo Neto e Froes (1999) demonstra como essa empresa vem

desenvolvendo suas parcerias:

Quadro 2: Parcerias entre empresas, terceiro setor e governo

PARCERIA DESCRIÇÃO

Governo e Empresa A empresa privada fornece recursos para o governo desenvolver os seus projetos sociais.

Empresa e ONG A empresa contrata o serviço de uma ONG para desenvolver seus projetos sociais.

Empresa, ONG e sociedade civil.

A empresa desenvolve seus projetos sociais com o apoio de uma ou mais ONG’s e demais entidades da sociedade civil.

Governo, Empresa, ONG e sociedade civil.

O governo desenvolve seus projetos com recursos de empresas, com a participação de uma ou mais ONG’s e da sociedade civil.

34

Empresa e sociedade civil A empresa desenvolve seus projetos com a participação da sociedade civil.

Fonte: MELO NETO e FROES, 1999, p.24.

1.4 Sustentabilidade de um empreendimento social: dimensões e requisitos

Inicia-se essa discussão, trazendo o conceito de sustentabilidade, de caráter

ambiental/ecológico, publicado pela primeira vez pela ONU (Organização das

Nações Unidas) em 1987, qual seja: “conseguir prover as necessidades das

gerações presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras em

garantir suas próprias necessidades”. Marcondes (2007) apud Alves Junior;

Fontenele; Faria (2008) incorporam outras dimensões à sustentabilidade, ao

caracterizar uma organização sustentável, conforme descrito a seguir:

Ser uma organização sustentável significa ser economicamente lucrativa, ambientalmente correta e socialmente responsável. Sendo assim, as ações de sustentabilidade precisam atuar como suporte das estruturas de gestão das organizações, e não apenas como ações pontuais. (MARCONDES apud ALVES JUNIOR; FONTENELE e FARIA, 2008, p. 4).

A questão da sustentabilidade vai além do aspecto de garantir as fontes de

financiamento, às quais a reduzem muitas organizações. De fato, “envolve, também,

um complexo conjunto de fatores que, por sua vez, reforçam a necessidade de

profissionalização dessas organizações”. (ALVES JUNIOR, FONTENELE e FARIA,

2008, p. 5). Esses autores recomendam às organizações, como pré-condições para

a sustentabilidade, a adoção das seguintes medidas:

(a) qualificar tecnicamente o trabalho; (b) compartilhar o projeto político/missão; (c) promover uma cultura e metodologia de planejamento e de monitoramento e avaliação; (d) aperfeiçoar os mecanismo de gestão; e (e) qualificar a participação interna e a democratização dos processos decisórios. (ALVES JUNIOR, FONTENELE e FARIA, 2008, p. 5).

Esses pontos fundamentais não são diferentes para os empreendimentos sociais,

que devem garantir todos esses requisitos, dentro de uma visão de gestão social,

com um olhar focado no negócio, no sentido de custear o empreendimento e gerar

renda aos associados e sobras para o reinvestimento na atividade ou na

comunidade, bem como, a preservação do meio ambiente local.

35

Os dados apresentados por Kraychete (2006), baseados no levantamento realizado,

em 2004, pela Secretaria Nacional de Informações em Economia Solidária

(SENAES) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), mostram a grande

dificuldade dos empreendimentos associativos alcançarem o equilíbrio financeiro.

Foram identificados quase 15 mil empreendimentos em 2.274 municípios brasileiros (o que corresponde a 41% do total de municípios), envolvendo mais de 1,2 milhão de pessoas; [...] a maior parte dos grupos se estruturou a partir dos anos 1990, tendo como principal motivação a busca de uma alternativa de trabalho face ao desemprego (citado 45% dos empreendimentos), seguida pela busca de uma fonte complementar de renda (44%) e pela possibilidade de obter maiores ganhos através de um empreendimento associativo (39%) [...] apenas 38% dos empreendimentos obtiveram uma receita capaz de pagar as despesas e ter alguma sobra. 33% conseguiram pagar as despesas sem obter sobras e 16% não conseguiram pagar as despesas. (KRAYCHETE, 2006, p. 5-6).

Para Kraychete (2006) a meta de equilíbrio financeiro em um empreendimento

associativo depende da habilidade dos associados frente às condições de

sustentabilidade, não somente de caráter econômico, mas também relacionadas a

processos de transformação social mais amplo.

Empreendimento associativo adquire condições de sustentabilidade quando os seus associados se encontram habilitados para assumir a sua condição. [...] neste termo a sustentabilidade dos empreendimentos econômicos não é um problema estritamente econômico, nem se equaciona no curto prazo, mas pressupõe ações políticas comprometidas com um processo de transformação social. (KRAYCHETE, 2006, p. 1).

Segundo Zwich, Pereira e Teixeira (2012), o empreendimento social, alicerçado em

seu tripé de apoio, sustenta-se em três dimensões operacionais, necessárias ao seu

desenvolvimento dentro de uma sociedade de mercado. Tais dimensões, úteis à

análise das organizações cooperativas são: a econômico-financeira, a institucional-

administrativa e a sociopolítica.

A gestão eficiente destas três dimensões é indispensável ao desenvolvimento de um

empreendimento social, segundo o seu formato jurídico – cooperativa, associação

ou outro. Por outro lado, elas são dinâmicas e atuam interdependentes e articuladas,

desenvolvendo-se de forma sistêmica dentro dos empreendimentos. Os formatos

como elas moldam os empreendimentos os assemelham, ou os diferenciam entre si,

de acordo com a realidade na qual estão inseridos, podendo confirmar um formato

36

voltado para a gestão social ou para a gestão estratégica tradicional, conforme será

refletido, a seguir.

A dimensão econômico-financeira visa o equilíbrio entre custos e rendimentos. De

acordo com Ventura et al. (2009), contribuem para esta dimensão as categorias

“Governança corporativa, [que] trata do governo estratégico da empresa com direitos

de propriedade e os responsáveis pela autogestão”. (VENTURA et al., 2009, p 32),

“tendo em vista a distribuição de poder entre as partes, tanto em relação à

propriedade quanto às responsabilidades”. (ZWICH, PEREIRA e TEIXEIRA, 2012, p.

9) [e à] Governança democrática “nas quais a participação nas decisões é um valor

basilar – e de autogestão” (VENTURA et al., 2009, p 35), ou seja, “a participação

constitui a base para a boa governança, no primado da autogestão” (ZWICH,

PEREIRA e TEIXEIRA, 2012, p.10).

Agrega-se ainda a essa dimensão o exercício da transparência, do controle social,

também assumindo características de controle público, bem como da

responsabilidade social, no sentido de aliar seu processo às boas práticas e ao

compromisso ético com o bem estar da comunidade para a promoção do

desenvolvimento local e da sustentabilidade.

A dimensão institucional-administrativa, em um formato mais interno à organização,

é composta das categorias planejamento, organização, direção, controle,

habilidades gerenciais e técnicas. Estas categorias desencadeiam uma forma de

gestão, que tende ou para uma forma mais autogestionária, baseada na gestão

social que se liga ao trabalho autônomo associado com meios de produção

socializados, ou, para uma forma mais heterogestionária, que apresenta uma clara

relação de submissão hierárquica em que os meios de produção estão separados da

força de trabalho, efetivando um trabalho assalariado individual. Este segundo

formato é estranho aos empreendimentos sociais.

Por último, a dimensão sociopolítica está associada à forma de participação dos

membros, permeada nos valores que regem a organização, que fazem parte do

processo educativo e do desenvolvimento do sentimento de pertencimento à

organização. A propriedade coletiva, o exercício de participação democrática no

37

processo decisório e na divisão das sobras proporciona a emancipação individual e

coletiva e, asseguram à autogestão.

Contudo, o empreendimento que priorize a concentração da propriedade em um ou

poucos membros, a organização hierarquizada, o lucro, a competição e os

benefícios individuais, tende à dominação e ao exercício da heterogestão.

Duarte e Teodósio (2013) destacam que os sujeitos envolvidos nos

empreendimentos sociais são cidadãos submetidos à vulnerabilidade social, os

quais se pretende resgatar do ciclo vicioso da pobreza. Daí a importância de se

buscar a cooperação para que, fortalecidos no conjunto, tenham a capacidade de

dinamizar processos de inovação que proporcionem sustentabilidade ao

empreendimento e resultem em transformação social.

De qualquer forma, pensar em sustentabilidade do empreendimento social, com

vista a resgatar meios eficientes de geração de renda em comunidades pobres,

segundo o modelo de organização coletiva, passa pela promoção da autonomia, por

meio da autogestão.

1.5 Produção associada e autogestão: concepções necessárias para os

empreendimentos sociais

O conceito de produção associada trazido por Tiriba (2008) ganha importância nessa

revisão de literatura na medida em que vem relacionado ao associativismo,

caracterizado “[...] pela construção de laços sociais calcados na confiança, na

cooperação e reciprocidade, o que confere aos seus membros, o sentimento de

pertencimento ao grupo”. (TIRIBA, 2008, p.81). Esse sentimento é uma condição

relevante no caminho para a autossustentabilidade de empreendimento sociais

comunitários.

Deste modo, a produção associada apresentaria como condição necessária que os

associados detenham a propriedade dos meios de produção, exerçam a gestão e o

38

controle do seu processo produtivo, bem como distribuam entre si os rendimentos do

seu trabalho. Segundo Tiriba (2008) a produção associada.

[...] pode ser entendida de duas maneiras, não necessariamente excludentes: quer como trabalho associativo ou processo em que os trabalhadores se associam na produção de bens e serviços, quer como a unidade econômica básica da “sociedade dos produtores livres associados”. (TIRIBA, 2008, p.81).

Para a autora, essa concepção não ousa querer transformar as relações capitalistas

da produção, mas sim demonstra que é possível ter outra forma de organização da

produção, onde “é possível organizar a produção em grande escala, sem ser pelos

moldes do grande capital” (SINGER, 2012, p.131). Assim, os associados podem ser

donos do seu trabalho, e devem ser formados para isso, dentro de um processo

pedagógico.

Nesse sentido, os processos educativos inspirados na pedagogia da produção associada contemplam, além dos atores da economia solidaria, os sujeitos da economia popular: aqueles que se situam nos espaços da cooperativa e outros empreendimentos solidários, mas todos aqueles que, com a utilização de sua própria força de trabalho participam do processo de reprodução ampliada da vida (e não do capital). (TIRIBA, 2004, 94).

A pedagogia da produção associada privilegia os saberes que abarcam “[...] a

socialização, a produção, a mobilização e a sistematização de saberes sobre o

mundo do trabalho que contribuem para a formação integral dos trabalhadores

associados” (TIRIBA, 2008, p. 89), para a efetivação de uma emancipação do

individual no que se refere a uma gestão onde os associados são protagonistas e

autores principais de seus processos de trabalho e de suas relações sociais, os

elevando a uma condição de autogestão.

A autogestão compreendida aqui concorda com a proposição de Singer (2013, p.4),

os “empreendimentos econômicos que praticam a autogestão, [...] aplicam a

democracia em sua gestão”. Segundo Singer (2008, p. 290) na autogestão os

associados são “proprietários de tudo o que é produzido, mas também os prejuízos

são deles”.

Segundo TIRIBA (2008), a autogestão garante a “autonomia e autodeterminação na

gestão do trabalho e em todas as instancias das relações sociais”, (TIRIBA, 2008,

39

p.83), ou seja, o associado passa a ser “senhor de si mesmo” e do seu trabalho e

torna-se um sujeito atuante e participativo em seu empreendimento.

Nessa perspectiva, o associado torna-se um sujeito emancipado, ou seja, a

emancipação ocorre “[...] quando a lei maior é o bem comum, objetivo e

universalizante”. (CATTANI, 2003, p.130). De acordo Cattani (2003), o conceito de

emancipação social vincula-se a autonomia e nesse sentido, os indivíduos

emancipados e autônomos possuem a liberdade, pautada no coletivo e na

solidariedade e a independência pautada na consciência libertadora e na conquista.

Portanto,

[...] ao se libertar, escapando da manipulação, o ser humano pode passar a ter mais claro para si que ele vive em comunidade, as questões referentes à solidariedade e sustentabilidade podem se tornar óbvias, de certa forma. (CANÇADO; PEREIRA; TENORIO, 2013, p.167).

Diante do exposto, o empreendimento social retratado considera fundamental que a

sua direção seja pautada na autogestão promotora da autonomia e emancipação de

seus sócios para que de fato a sustentabilidade do empreendimento venha a se

tornar uma realidade concreta.

1.6 Considerações finais: a proposição de um tempo social para o

empreendimento

Os empreendimentos sociais são, em sua grande maioria, apoiados por instituições

públicas e/ou privadas. Quando apoiados por órgãos públicos, abre-se o leque para

o desenvolvimento de uma área de apoio à gestão pública das políticas sociais,

contribuindo para a implementação de iniciativas de geração de renda. Quando

apoiados por instituições privadas, essas efetivam sua área de responsabilidade

social, apoiando negócios locais e fortalecendo organizações sociais.

As iniciativas apoiadas devem ser contextualizadas como agentes de

desenvolvimento dentro de um local, a partir de relações que existem em

determinado recorte territorial, onde as pessoas estão envoltas em fragilidades

40

sociais, desprovidas de condições dignas de habitabilidade, de acessos a serviços

básicos e, vivendo em situação de desemprego ou subemprego.

Deste modo, conforme Dowbor (2007), a qualidade de vida depende da iniciativa

local, tanto das pessoas como de empresas, instituições privadas, preocupadas com

o seu entorno. É junto a essa iniciativa que empresas estão promovendo a

valorização das pessoas, do local e dos recursos existentes por meio do fomento

e/ou fortalecimento de empreendimentos sociais.

Segundo Oliveira (2004), um processo de gestão social desses empreendimentos,

apresenta “uma cadeia sucessiva e ordenada de ações, que podem ser resumidas

em três fases: a) concepção da ideia b) a institucionalização e maturação da ideia e

c) a multiplicação da ideia”. (OLIVEIRA, 2004, p.16).

É na fase de maturação da ideia de um empreendimento social que se faz

importante o estudo aprofundado do caminho trilhado pelo mesmo, desde seu

nascimento até sua maturidade com vista a obter elementos da efetiva

implementação do empreendimento e o alcance de sua sustentabilidade.

Segundo Silva (1986), “o tempo social é uma designação sucinta para o conceito de

representação social do tempo, cunhado pela escola sociológica francesa”. (SILVA,

1986, p.1205).

De acordo com os estudiosos dessa escola, é própria do tempo uma classificação

social que concede a ele, também, uma noção de “ritmar”, que é intrínseco à vida

social das pessoas, podendo ser o seu andar, o seu caminhar, o seu ritmar, que

mesmo dentro do tempo físico, cronológico, garante a elas características,

representações únicas e ritmadas dentro de um contexto social.

Hubert, em seu Etude sommaire de la representation du temps dans la religion et la magie (Paris, École Pratique des Hautes Etudes, 1905), ressaltou que é próprio das classificações sociais do tempo “ritmar” e não “medir”. Essa convicção de um ritmo social, intrínseco a vida coletiva, estava inicialmente ligada à oposição entre sagrado/prafano e as especulações sobre a relação entre os calendários e rituais [...] A noção de ritmo social permanece como fundamental para analise antropológica das

41

representações sobre o tempo. Como diz. E. R Leach “... na realidade criamos o tempo, ao criar intervalo na vida social”. (SILVA, 1986, p.1205).

Este tempo social é o tempo demandado para se preparar e emancipar pessoas em

condição de vulnerabilidade social visto suas condições educacionais, culturais e

suas qualificações frágeis e destituídas de características empreendedoras,

necessitadas de serem fortalecidas e perceberem as complementaridades no

coletivo e aprenderem a desempenhar seus papeis em processos autogestionários

com a realização de um processo decisório que as levem a alcançar a

sustentabilidade de seus negócios.

É um grande desafio tornar tais iniciativas sustentáveis capazes de mudar a

realidade dos sujeitos envolvidos, pois, deve ser considerar um processo de

introjeção de valores solidários e cooperativos, além do estabelecimento uma cultura

empreendedora, baseada em princípios da gestão social. Isso demanda um

processo educativo, que opera em uma lógica de prazos longos, mas que,

atualmente, está comprometida com a expectativa dos apoiadores, segundo sua

lógica de curto prazo.

Segundo Martins, Vaz e Caldas (2010) em seus estudos sobre experiências que

envolveram a produção, a acumulação e distribuição de renda gerada e gerida

socialmente para o desenvolvimento local no Brasil, um dos elementos de sucesso

identificado foi a demonstração da possibilidade de mudar de vida por meio do

trabalho coletivo e despendendo o tempo necessário para superar as fragilidades

pré-existentes.

Outro elemento de sucesso de experiência é o tempo de execução de cada uma das etapas. Não se tratou de um tempo subordinado à lógica do capital, nem à lógica política ou institucional [cronológico], mas de um tempo próprio da comunidade e de sua população, ou seja, de longo prazo. . (MARTINS; VAZ; CALDAS, 2010, p. 575).

Assim, os sujeitos mobilizados na formação deste tipo de empreendimento

necessitam de uma formação centrada na emancipação e autonomia do individuo e

no seu processo de gestão, assim como para a atuação em associação de formato

solidário que possibilite a compensação das fragilidades individuais no coletivo.

42

Para tal, é necessária a preparação das pessoas para a autogestão. A autogestão

influencia para uma gestão social. Segundo Maia (2005) a gestão social é:

Um conjunto de processo sociais com potencial viabilizador do desenvolvimento societário, emancipatório e transformador e é fundada nos valores, práticas e formação da democracia e da cidadania [...] com efetiva participação dos cidadãos historicamente excluídos dos processos de distribuição das riquezas e do poder. (MAIA, 2005, p. 15 a 16).

Por fim, não se pode perder de vista, em um empreendimento social o processo de

formação de base, alicerçada nos valores solidários e de cooperação, na autogestão

e no empoderamento dos associados como “donos do negócio” no sentido de que,

ao nível individual, constate a sua importância no processo e, ao nível coletivo,

constate a sua corresponsabilidade frente ao empreendimento. Além de promover e

estabelecer articulação em rede com outros empreendimentos sociais, sem perder

de vista os requisitos dos investimentos “centrados em aspectos sociopolíticos e

técnicos e [nas] interações com o mercado”, (DIAS; SOUZA, 2012, p. 18), buscando

sustentar a inovação em arranjos locais, sem deixar perder a essência cooperativa

dentro de uma cadeia de valor para uma economia social.

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47

2. RELATO DE PESQUISA DE CAMPO: ANÁLISE DA REALIDADE DOS

EMPREENDIMENTOS SOCIAIS SOB A PERSPECTIVA DO TEMPO SOCIAL

AMARAL, Odnélia Cristina S. de6

MELLO, Ediméia Maria Ribeiro7

Resumo

Este artigo relata a pesquisa que visou a analise dos empreendimentos sociais sob a perspectiva do tempo social, com o intuito de compreender a dinâmica desses empreendimentos, inferindo o seu tempo de amadurecimento e o seu processo de gestão, por meio do delineamento de suas fases de execução até a sustentabilidade. A pesquisa exploratória-descritiva de viés qualitativo foi desenvolvida no período de agosto a novembro/2014 e utilizou entrevistas individuais e grupos focais com duas instituições apoiadoras e três empreendimentos sociais indicados por elas, localizados em Minas Gerais e no Pará. O conhecimento adquirido com a pesquisa forneceu elementos orientadores para a inferência do tempo social do empreendimento social e a confirmação da necessidade de monitoramento do empreendimento para o caminho da autogestão e da autossustentabilidade. Palavras-chave: Linha do Tempo Social; Mapa de Indicadores; Tempo Social; Empreendimento Social; Gestão Social.

Abstract

This article reports the research aims to analyze the social entrepreneurship under the perspective of social time in order to understand the dynamics of these establishments. The goal was to verify their maturing time and management process, through the design of its implementing phases to sustainability. The exploratory-descriptive research with qualitative orientation was developed from August to November 2014 trough individual interviews and focus groups within two supporting institutions and three social entrepreneurship indicated by those institutions. The researches occurred in de states of Minas Gerais and Pará. The knowledge obtained through the research provided guiding elements with for the inference of social time of social Social entrepreneurship and confirmed the need for project monitoring on the path of self-management and self-sustainability. Key words: Online Social Time; Indicators Map; Social time; Social Entrepreneurship; Social management;

6 Mestranda do Programa de Pós-graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local

no Centro Universitário UNA. Avenida João Pinheiro, 515, Funcionários. CEP: 30130-180. Belo Horizonte. E-mail: [email protected]. 7 Orientadora e professora do Programa de Pós-graduação em Gestão Social, Educação e

Desenvolvimento local no Centro Universitário UNA. Avenida João Pinheiro, 515, Funcionários. CEP: 30130-180. Belo Horizonte. E-mail: [email protected].

48

2.1 Introdução

O espaço de investigação dessa pesquisa é delimitado pelo cenário de desafios e

conquistas da sustentabilidade dos empreendimentos sociais de geração de renda

localizados no estado de Minas Gerais e no estado do Pará.

Sua finalidade foi compreender a dinâmica desses empreendimentos, focado no seu

tempo de amadurecimento, que envolvem observar, na trajetória já percorrida, o

amadurecimento dos associados, dos gestores, bem como, a evolução do processo

de gestão e de organização, por meio do delineamento de suas fases de execução

até a autossustentabilidade.

A experiência vivenciada pela autora dessa dissertação, ao longo de sua vida

profissional, em instituições privadas apoiadoras de empreendimentos sociais

geradores de renda, possibilitou conhecer a urgência dos investidores/apoiadores

externos de que os empreendimentos se tornassem autossustentáveis.

Compreendeu-se, nessa expectativa, a influência da gestão capitalista das

empresas financiadoras e apoiadoras, nos empreendimentos sociais apoiados por

essas iniciativas privadas, que partem da sua experiência empresarial para

estabelecer um tempo, em sua maioria de curto prazo, para que atinjam a

sustentabilidade, cessando tanto o investimento como o apoio.

O financiamento e o apoio oferecidos, muito frequentemente, contemplaram

empreendimentos que, em sua maioria, decorrem de formações coletivas com o

intuito de gerar renda, para um determinado grupo heterogêneo, constituído de

forma aleatória dentro de uma comunidade, e que, portanto, reúne pessoas com

diferentes concepções de negócios – negócios sociais – e diferentes formações

educacionais a serem transformadas em empreendedoras. Essas peculiaridades dos

negócios coletivos em formação, empreendimentos sociais típicos, implicam na

necessidade de um tempo de maturação, denominado nessa pesquisa de tempo

social, qual seja: o tempo das pessoas, não cronológico ou empresarial, mas o

49

tempo conhecido como “kairós” 8, palavra originaria da lingua grega antiga que

significa “o momento oportuno”, "certo" ou “supremo” e segundo a mitologia grega

pode estar presente dentro do espaço de um tempo fisico, determinado por

“Chronos”.

Os gregos antigos tinham duas palavras para designar o tempo: chronos e kairos. O primeiro refere-se ao tempo cronológico, ou sequencial, enquanto o último é um momento indeterminado no tempo em que algo especial acontece. Pode-se afirmar, de forma bastante simplificada, que chronos é o tempo humano, portanto, medido e descrito contemporaneamente em unidades de anos, dias, horas e suas divisões. Já kairos seria o tempo divino, o tempo vivido, subjetivo, que não é passível de medições. (KUSTER, 2013, p.148).

Assim, kairós seria o tempo das pessoas, diferente do tempo do relógio, e das

metas.

Portanto, a pesquisa representou um esforço no sentido de conhecer o tempo real

de maturação do empreendimento social, na busca de parâmetros relevantes para a

sua inferência, no sentido de se analisar o seu caminho para atingir a

autossustentabilidade.

A seguir, detalha-se a metodologia aplicada e apresenta-se a análise dos resultados

de acordo com os objetivos propostos.

2.2 Metodologia aplicada

Os tópicos a seguir descrevem os participantes da pesquisa e as metodologias de

abordagem adotadas, constituídas por entrevistas presenciais e individuais e grupo

focal, com destaque para duas dinâmicas associadas aos grupos focais, quais

sejam: a construção da linha do Tempo Social do empreendimento e o mapa dos

indicadores de satisfação dos membros com o empreendimento.

8 Segundo o dicionário grego-português e português-grego, kairós significa oportunidade, ocasião,

tempo conveniente, vantagem, utilidade, tempo presente, as circunstancias, tempo particular [...].

(ISIDRO PEREIRA, 1998).

50

2.2.1 Sujeitos da pesquisa

A seleção amostral adotada para a realização da pesquisa de campo foi intencional,

caracterizada como “não aleatória”, pois não se pretendeu realizar inferência

estatística, mas, sim, utilizar a estatística descritiva para isolar os eventos que

explicam a evolução de um empreendimento social com vistas em conhecer a sua

lógica interna (MARCONI & LAKATOS, 1996; OLIVEIRA, 1997), bem como os

indicadores que permitam dimensionar o tempo requerido para o alcance da

autossustentabilidade.

Os critérios para a escolha dos empreendimentos foram: ser uma organização

produtiva coletiva, geradora de renda para os seus associados e ser apoiados por

instituições privadas. Por outro lado, foram escolhidos empreendimentos em

diferentes estágios em seus ciclos de vida, o que veio a contribuir para a descrição

da trajetória percorrida por eles em seu tempo social.

A pesquisa de campo foi realizada entre os meses de agosto e novembro de 2014.

Ressalte-se que, inicialmente, foram previstos três instituições apoiadoras (uma no

estado do Pará e duas no estado de Minas Gerais) e quatro empreendimentos

sociais (dois no estado do Pará e dois no estado de Minas Gerais). Infelizmente não

foi possível coletar as informações completas em todos os empreendimentos e

apoiadores previstos. Houve incompatibilidade de agenda com um dos

empreendimentos mineiro e seu apoiador.

Em síntese, a pesquisa contemplou duas instituições apoiadoras, uma no estado do

Pará e outra no estado de Minas Gerais, e três empreendimentos, dois já

formalizados, no Pará, uma associação agroextrativista e outra cooperativa de

costura industrial, e um Grupo Produtivo em Minas Gerais. A Figura1 a seguir mostra

a lógica amostral realizada:

ANGLO

AMERICAN

51

Figura 1: Lógica amostral da pesquisa de campo

Obs.: (1) A pesquisa se restringiu ao terceiro setor. (2) RSC: Responsabilidade

Social Corporativa. (3) $: oferta de financiamento; AT: oferta de assistência técnica.

Os sujeitos da pesquisa foram abordados segundo os seguintes procedimentos9: os

componentes das diretorias da Associação, da Cooperativa e do Grupo Produtivo

informal e os representantes das instituições apoiadoras, em entrevistas individuais

e submetidos a um roteiro semiestruturado. Os associados, em grupos focais

estruturados, organizados de acordo com a disponibilidade dos participantes.

9 Esta pesquisa, em virtude de envolver seres humanos, foi submetida e aprovada pelo Comitê de

Ética em Pesquisa do Centro Universitário UNA, sob o número 629.924 (Anexo III). Dessa forma todos os procedimentos previstos na Resolução 466/2012 que regulamenta a pesquisa com seres humanos foram obedecidos.

SETO

R

EXECUTOR DE

PROGRAMA RSC

EMPREENDIMENTO

SOCIAL:

ASSOCIADOS

DIRETORIA

SETO

R

GESTOR DO

PROGRAMA RSC

AT

02

EMPRESAS

FINANCIADORAS

02

INSTITUIÇÕES

APOIADORAS

03

EMPREENDIMENTOS

$

52

2.2.2 Entrevistas individuais realizadas e instrumento de pesquisa

A realização das entrevistas individuais, exceto uma delas, antecedeu a

implementação dos grupos focais e contemplou os diretores dos empreendimentos

pesquisados e as instituições apoiadoras, relacionados, a seguir, por instituição:

Na Associação Agroextrativista paraense, foram entrevistados o presidente e

o tesoureiro, ocupantes de cargos diretivos desde o inicio do

empreendimento.

Na Cooperativa paraense foram entrevistadas a presidente e a vice-

presidente, também, ocupantes de cargos diretivos desde o início do

empreendimento.

No Grupo Produtivo mineiro, pelo fato de ainda ser um grupo informal, foi

entrevistada uma pessoa de referência no grupo da fibra de bananeira.

A Fundação Social paraense, por sugestão do coordenador entrevistado,

proporcionou incluir, além da entrevista concedida por ele próprio, entrevistas

com os técnicos que acompanharam e deram apoio aos empreendimentos,

para conhecer o ponto de vista deles.

Em Minas Gerais, o Instituto Social indicou duas representantes para

participar das entrevistas, quais sejam: a diretora institucional e a

coordenadora de projetos de geração de renda.

Os roteiros de entrevistas preestabelecidos para os apoiadores (Apêndice I) visaram

conhecer seus pontos de vista e o acompanhamento realizado por eles aos

empreendimentos, buscando as seguintes informações: modo de seleção do

empreendimento, visão de empreendimento social, concepções de apoio para

garantir a formação e a sustentabilidade do empreendimento, e visão sobre o

momento adequado para suspender o apoio, entre outras.

Para os membros da direção dos empreendimentos sociais adotou-se o roteiro

disponível no Apêndice II, cujo objetivo foi conhecer as formas de gestão, conforme

o entendimento deles, situação financeira e de como é dado o suporte pela

instituição apoiadora, bem como indicadores de monitoramento da evolução do

empreendimento, entre outras.

53

Segundo Fraser e Gondim (2004) a entrevista está sujeita a influências verbais e

não verbais, sendo as entrevistas semiestruturadas mais utilizadas em pesquisas

qualitativas em que o entrevistado fica livre para discorrer sobre o assunto e segue

apenas um roteiro de tópicos, sendo mais flexível para obter a informação

pretendida. É importante ressaltar que o entrevistado e o entrevistador podem

chegar a conclusões distintas sobre o assunto, devendo o pesquisador, durante sua

análise, deixar bem claro as concepções percebidas sobre o assunto.

2.2.3 Grupo focal associado a dinâmicas estruturadas participativas

Os membros dos empreendimentos foram convidados a participar nos grupos focais

e tiveram a liberdade de recusar. A seleção dos participantes utilizou critérios de

“acessibilidade” (FREITAS; FREITAS; DIAS, 2012, p. 1208) e buscou associados

dos empreendimentos ou componentes do grupo produtivo, com uma vivência maior

das experiências, informada pelos apoiadores, sendo em sua maioria, presentes

desde a fundação do empreendimento, ou membros que não necessariamente

estiveram desde o início, mas que trouxeram contribuições importantes para o

empreendimento social.

A metodologia de grupo focal é conhecida como uma técnica de avaliação que

oferece informações qualitativas e permite diferentes interações. Na pesquisa esta

técnica foi aplicada a grupos formados por 6 a 12 pessoas, e sua implementação

seguiu os seguintes passos:

1. Apresentação do objetivo e dos participantes identificados com crachá para

facilitar a organização do grupo;

2. Leitura coletiva e esclarecimentos de duvidas sobre os termos de

consentimento livre esclarecido (TCLE), anexo I, e de autorização de uso de

depoimento e imagem, disponível no anexo II;

3. Orientações para melhor funcionamento do grupo focal: identificação do nome

no momento da fala e manutenção do foco no assunto; e

4. Apresentação do roteiro.

54

Um roteiro estruturado (Apêndice III) direcionou o modo de organização de

parâmetros para as discussões do grupo, visando obter dados sobre a evolução e o

processo de gestão do empreendimento, a visão sobre os apoiadores, as

dificuldades e as facilidades vivenciadas e as contribuições do empreendimento nas

vidas dos participantes.

Foram associadas duas dinâmicas participativas na técnica de grupo focal: a

construção da linha da vida10 do empreendimento, adaptada à pesquisa como o

nome de Linha do Tempo Social e o mapa dos Indicadores de Satisfação dos

membros com o empreendimento. A aplicação dessa metodologia objetivou levantar,

de forma participativa, informações objetivas e subjetivas a cerca da história e dos

tempos da organização.

A ferramenta Linha do Tempo Social apresentou aos participantes fases e eventos

pré-estabelecidos de um empreendimento social, desenvolvidos a partir do

referencial teórico e da experiência com empreendimentos sociais. Já se esperava

que, no decorrer da prática, esses, não necessariamente todos, e na mesma ordem

proposta, se confirmassem. Dessa forma, os participantes preencheram uma escala

temporal horizontal, apresentada previamente, demarcando os divisores de fases e

eventos, conforme quadro 1 abaixo:

10

A ferramenta da construção da linha da vida é desenvolvida pela metodologia Desenvolvimento

Organizacional Participativo (DOP), difundida pelo ORGANIPOOL e pela Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit (GTZ) que é uma Agência Alemã de Cooperação Técnica.

55

Quadro 1 Linha do Tempo Social Pré-Estabelecida para a Pesquisa

Formação do coletivo Constituição Legal Elaboração de

planos/projetos

Implantação do

empreendimento

Início de operação Comercialização Ponto de equilíbrio

F1: constituição dos

membros

F2: estrutura

organizativa

F3: modelo de gestão

F4: modelo de

remuneração

F5: divisão de

tarefas/modo de

funcionamento do

grupo

F1: formalização da

direção

F2: registro e

legalização da

entidade

F1: acessos aos

recursos financeiros e

materiais

F2: definição do

produto

F3: definição de

mercado

F4: planejamento de

produção

F5: definição de

valores

F1: instalação física

F2: compra de

equipamento/

maquinários

F3: organização da

produção

F4: estabelecimento

de fornecedores

F1: produção iniciada

F2: estoque

F3: formação do custo

F4: controle de

qualidade do produto

F1: estabelecimento

da freguesia

F2: estabilidade entre

a produção e

colocação da

produção

F3: formação do preço

F4: realização da

receita

F1: ponto de equilíbrio

(receita = custo)

Para cada fase:

ano/mês/dia de início

ano/mês/dia de fim

Para cada fase:

ano/mês/dia de início

ano/mês/dia de fim

Para cada fase:

ano/mês/dia de início

ano/mês/dia de fim

Para cada fase:

ano/mês/dia de início

ano/mês/dia de fim

Para cada fase:

ano/mês/dia de início

ano/mês/dia de fim

Para cada fase:

ano/mês/dia de início

ano/mês/dia de fim

Para cada fase:

ano/mês/dia de início

ano/mês/dia de fim

Tempo acumulado Tempo acumulado Tempo acumulado Tempo acumulado Tempo acumulado Tempo acumulado Tempo acumulado

OBS: F1= Fase 1; F 2= Fase 2 e assim sucessivamente. Acima estão às fases pré- estabelecidas e apresentadas aos participantes.

56

A construção da Linha do Tempo Social teve início com a sua fixação, na parede ou

no chão, e a apresentação aos participantes das tarjetas pré-definidas dos marcos e

eventos possíveis de terem ocorrido. Em seguida perguntou-se ao grupo, o tempo

de duração de cada um dos marcos, por exemplo: quanto tempo levou a fase da

formação do coletivo? Depois, perguntou-se sobre os eventos ocorridos dentro da

fase, por exemplo: quais os eventos ocorreram na formação do coletivo? Quanto

tempo foi consumido na constituição dos membros?

Desse exercício resultou a linha do tempo social do empreendimento pesquisado

(Foto 1)

Linha do Tempo Social do Empreendimento. 2014.

Fotografia colorida, 15x9 cm. 2015. Acervo AMARAL, BH/MG.

Foto 1

Anotou-se o tempo cronológico informado, percebido a partir das experiências

vivenciadas pelos associados e membros dos grupos no desenvolvimento do

empreendimento. Perguntou-se, também, aos participantes se o tempo informado

teria sido suficiente, ou se foram necessários acréscimos ao tempo inicialmente

planejado. As informações dos tempos cronológicos por grupos de diversos

empreendimentos, segundo hipótese de trabalho, provavelmente viria a confirmar a

crença que há variação de tempo, não obedecendo a padrões lineares para a

57

superação de fases entres os empreendimentos sociais. Fato importante de ser

demonstrado para o reconhecimento da existência de um tempo social não

redutível a um cronograma padrão.

Após a elaboração da Linha do Tempo Social do empreendimento, os participantes

foram convidados a refletir/discutir, em grupo, sobre as dificuldades, facilidades e

aprendizados, bem como sobre o futuro do empreendimento, sentimento de

pertencimento, o tempo e as condições para o avanço para autonomia, ou seja, a

independência em relação às instituições financiadoras/apoiadoras.

Para a finalização do grupo focal foi utilizada uma ferramenta visual, denominada no

projeto de pesquisa de Mapa de Indicadores de Satisfação11, para captar, de forma

participativa, as informações relativas a retornos positivos usufruídos pelos

membros, decorrentes da participação nos empreendimentos. Os participantes

foram convidados a observar três painéis que apresentavam alguns indicadores a

serem ordenados por eles, segundo a importância atribuída. Os painéis continham

indicadores agrupados nos seguintes painéis:

Painel Pessoal – dividido em 04 partes, continha os seguintes indicadores:

realização profissional/vocação; melhoria de qualidade de vida; novos

conhecimentos adquiridos; retorno e/ou términos dos estudos. Nesse painel, o

objetivo era que o participante deveria fazer uma analise pessoal dos ganhos

proporcionados pelo empreendimento.

Painel Família – dividido em 04 partes, continha os seguintes indicadores:

aumento da renda familiar; participação em reunião e eventos de interesse

comunitário; aquisição de bens e moveis e remuneração satisfatória. Nesse

painel o participante deveria considerar suas responsabilidades em coletivos.

Painel Profissão/Negócio – dividido em 04 partes, continha os seguintes

indicadores: satisfação com o trabalho; satisfação com o grupo; participação

no processo decisório e sensação de pertencimento e dono do negócio.

Nesse painel o participante deveria considerar o seu trabalho no

empreendimento.

11

Essa ferramenta foi elaborada com base na mesma lógica do mapa do conhecimento da metodologia Desenvolvimento Organizacional Participativa (DOP).

58

Para dar início à dinâmica, os participantes foram convidados a se dirigir aos painéis,

para avaliar um painel de cada vez, munido de três bloquinhos de etiquetas de cores

(vermelho, laranja e amarelo) a serem afixadas em cada painel. Neste momento, foi

feita a seguinte pergunta: o que você considera mais importante dentre esses

indicadores relacionados à satisfação que seu empreendimento lhe proporciona?

Escolha três em ordem de importância. Assim, eles responderam ao comando de

apontar os indicadores nos painéis, em ordem de importância, por meio da

colocação das etiquetas seguindo a legenda: a etiqueta vermelha, para o indicador

mais importante; a laranja, para o segundo indicador mais importante; e o amarelo,

para o terceiro indicador mais importante.

Foi esclarecido que não seria necessário usar todas as cores no mesmo painel, se

assim o preferissem. Deste modo os participantes direcionaram-se aos painéis e

realizaram suas marcações. Os painéis iam sendo coloridos e as cores

predominantes, em cada uma das partes dos painéis, demonstravam os graus de

importância dos indicadores para o grupo de participantes da atividade.

Painéis do Mapa dos Indicadores de Satisfação. 2014.

Fotografia colorida, 15x9 cm. 2015. Acervo Amaral, BH/MG.

Foto 2

59

É importante acrescentar que o formato realizado para conseguir obter do grupo os

indicadores de satisfação, ao oferecer um mapa visual por meio de painéis,

possibilitou ao grupo um movimento direcionador que possa ter demonstrado a

representatividade do empreendimento em suas vidas. Além disso, a ferramenta

visual teve um efeito instigante sobre o grupo, incentivando maior participação e

interesse no processo.

2.2.4 Metodologia de análise dos resultados

A análise de dados foi realizada à luz dos objetivos e das hipóteses básicas

apresentadas no projeto e a sua interpretação referenciada nas teorias estudadas, a

partir da abordagem de análise de conteúdo que “consiste em demonstrar a

estrutura e os elementos desse conteúdo para esclarecer suas diferentes

características e extrair sua significação”. (LAVILLE; DIONNE, 1999, p. 214).

Segundo Freitas; Freitas; Dias (2012) não devem ser seguidas regras rígidas, mas

ser construídas etapas de análise possíveis de acordo com a percepção do

pesquisador.

Em se tratando de uma pesquisa qualitativa, para a análise das informações tomou-

se por base à análise de conteúdo de Bardin (1979) em que foi adaptada em parte

na analise das categorias elencadas. Oliveira et al (2003) destacam Bardin (1979)

como uma referencia para a obtenção das principais etapas da análise de conteúdo,

quais sejam: (a) organização do material de trabalho (parte da escolha, passa pela

rápida organização para a manipulação); (b) definição da unidade de registro

(palavra ou conjunto de palavras, obedecendo a critérios formais ou semânticos); (c)

definição e delimitação do tema; (d) definição de categorias (com base na orientação

teórica e nos objetivos da pesquisa); (e) contagem e análise frequencial; (d) análise

estatística multivariada e interpretação.

Segundo essas recomendações, as principais categorias de análise definidas se

dividiram entre as indicativas das condições necessárias para o alcance da

autossustentabilidade do empreendimento e as categorias presentes nas fases

percorridas até a autossustentabilidade. São elas:

60

a) Coletivo do empreendimento;

b) Organização e divisão do trabalho (estrutura);

c) Remuneração e distribuição das sobras;

d) Treinamento e aprendizagem da dinâmica do negocio;

e) Planejamento, direção e controle;

f) Captação de recursos (financiamento do investimento e do capital de giro e

acesso a políticas públicas);

g) Participação no processo decisório;

h) Autonomia e visão de pertencimento;

i) Diversificação e inovação de produto (qualidade);

j) Distribuição do produto (logística, comercialização, marca e mercado);

k) Melhoria na qualidade de vida dos associados (levantamento da satisfação).

Essas categorias foram fundamentais para a análise da constituição dos

empreendimentos sociais e do tempo despendido em cada uma delas, para a

reflexão do tempo social e da condição de autossustentabilidade.

A pesquisa resultou no aprofundamento do conhecimento relativo ao processo de

autogestão para a sustentabilidade de um empreendimento social, com o foco no

seu tempo de maturação: tempo social.

2.3 Resultados da pesquisa

2.3.1 Expectativa com relação aos tempos dos empreendimentos e

observações gerais do trabalho de campo

Durante o planejamento da pesquisa, realizou-se uma classificação dos estágios

esperados dos empreendimentos a serem pesquisados, baseado no tempo

dedicado a eles pelo apoiador, resultando na seguinte classificação: o Grupo

Produtivo mineiro estaria em um estágio intermediário; a Cooperativa mineira, cuja

investigação não foi completada (conforme explicado no tópico sobre os sujeitos da

pesquisa), estaria num estagio inicial; a Cooperativa e a Associação paraense

61

estariam em um estágio mais avançado, contempladas há mais tempo por

apoiadores externos. Entretanto, essa classificação não se sustentou, após a

realização da pesquisa.

Após a análise no campo, nova classificação foi realizada, reposicionando os

empreendimentos coletivos entrevistados da seguinte forma:

1. As experiências contatadas em Minas foram percebidas em estágio

embrionário de formação. Foram, então, reclassificadas: uma, em fase inicial,

e, a outra, em fase intermediaria, em seus ciclos de vida. O Grupo Produtivo

mineiro, em fase inicial, pois ainda necessita trilhar algumas etapas e fases

importantes e necessárias para o desenvolvimento de um empreendimento,

apesar de já ter anos de apoio recebido.

2. As informações obtidas no contato incompleto realizado na cooperativa

mineira demonstraram uma longa historia de construção, de investimento, de

conquistas e desafios superados antes do apoio despendido pela instituição

apoiadora, avaliando-se que se encontra e encontra-se em um nível de

organização intermediária, mesmo com as dificuldades de participação por

parte dos membros.

3. A Cooperativa e a Associação paraenses demonstraram encontrar em

estágios mais avançados na direção de se tornarem empreendimentos

autossustentados.

Antes de serem apresentados os resultados da pesquisa por empreendimento

pesquisado, serão tecidas algumas observações de caráter geral sobre a

construção da Linha do Tempo Social no grupo focal.

Em todos os três empreendimentos sociais, a Linha do Tempo Social, apresentada

para os grupos refletirem, foram alterados tanto na ordem, quanto na inclusão de

novas fases. Houve eventos previstos dentro de cada marco/fase migrados para

outro marcos, assim como, foram inseridos novos marcos/fases em todas as linhas

reconstruídas.

62

O tempo de duração de cada fase, apontado pelos participantes, também, variou

entre os grupos, destacando a possibilidade de definição de um padrão. Além disso,

todos os grupos mudaram as ordens dos eventos e acrescentaram fases e eventos.

Por outro lado, na maioria das vezes, não souberam estabelecer com precisão o

período de duração para as fases / eventos. Nesse sentido, destaque-se que, em

todos os três grupos focais, apareceu um marco/fase “capacitação”, comum aos

mesmos e com dada importância, tendo sua ordem de ocorrência variando entre os

grupos.

Assim, cada grupo focal construiu uma Linha do Tempo Social diferente, variável de

um empreendimento para outro, em virtude das diferentes realidades, bem como, do

formato e da complexidade do negócio.

Este exercício proporcionou aos participantes refletirem sobre os caminhos

percorridos pelos empreendimentos, uns, iniciando sozinhos; outros, iniciando com

parceiros e apoiadores, proporcionando a pensar o caminho para a sustentabilidade

do empreendimento.

Percebeu-se, no decorrer da aplicação da metodologia, a importância do

pesquisador aproximar-se da realidade local, previamente à construção da

metodologia, visto que alguns dos termos técnicos relativos às fases/eventos da

linha da vida demandaram esclarecimento aos associados. A citação, a seguir,

demonstrou isso:

O que eu acho que está faltando entender os questionamentos dela primeiro, para poder ser respondido. Essas palavras se aplicam mais pra lá [outra região]. E que tem palavras mais técnicas e eles tem que tentar compreender para responder. Eu acho que precisa pergunta em que sentido está, por exemplo, sentido de estoque eu pensava em outro sentido. (ESAX_PAGF3).

Outro ponto verificado foi o tempo necessário para o desenvolvimento do grupo

focal. Previu-se de 1h30 a 2h00, mas o horário se estendeu devido, principalmente,

à leitura, esclarecimento de dúvidas e assinatura do TCLE e do termo de autorização

63

de imagens e depoimentos, necessários à realização da pesquisa com seres

humanos, estendo em média 40 minutos em relação ao tempo previsto.

2.3.2 Codificação dos participantes da pesquisa para a preservação do

anonimato

Em respeito às prescrições éticas, os participantes da pesquisa foram mencionados,

nesta análise, segundo um sistema de codificação. Os membros do empreendimento

social não formal mineiro, denominado Grupo Produtivo pelo Instituto Social que o

indicou, serão identificados conforme os códigos a seguir:

Entrevistado Código Identificador

Grupo produtivo Fibra de Bananeira/Bambu = ESGP_MG2012/2013

Representante grupo produtivo ESGP_MGR

Grupo produtivo Fibra Bananeira/Bambu – Grupo

Focal (8 participantes)

ESGP_MGGF1 a ESGP_MGGF8

Instituto Social apoiador = IS_MG

Diretora Institucional IS_MGDI

Coordenadora de projeto IS_MGCP

No Pará, a pesquisa abordou dois empreendimentos sociais formais. Um é uma

associação rural, pertencente à área agroextrativista; e o outro uma cooperativa

urbana, pertencente à área de costura industrial, ambos apoiados por uma

Fundação Social local, por meio de uma incubadora social a ela vinculada. A

codificação desses empreendimentos, adotada nessa pesquisa será:

64

Entrevistado Código Identificador

Empreendimento Social Agroextrativista = ESAX_PA2001

Diretor – presidente ESAX_PADP

Diretor – tesoureiro ESAX_PADT

E.S Agroextrativista – Grupo Focal (12 participantes). ESAX_PAGF1 a ESAX_PAGF12

Empreendimento Social Costura Industrial = ESCI_PA2006

Diretora – presidente ESCI_PADP

Diretora – vice presidente ESCI_PAVP

E.S Costura Industrial - Grupo Focal (7 participantes) ESCI_PAGF1 a ESCI_PAGF7

Fundação Social apoiadora = FS_PA

Coordenador Operações FS_PACO

Técnico 1 FS_PAT1

Técnico 2 FS_PAT2

Técnico 3 FS_PAT3

Técnico 4 FS_PAT4

A seguir, apresentam-se os resultados, por empreendimento, da pesquisa realizada.

65

2.3.3 Empreendimentos sociais apoiados pela Fundação Social Paraense

2.3.4 Empreendimento Social Agroextrativista (ESAX_PA2001)

O empreendimento social ESAX_PA2001 foi fundado em 19 de abril de 2001, no

meio rural, em uma comunidade ribeirinha, constituída principalmente, por

colhedores da castanha, no oeste do estado do Pará. Desde então, atua como uma

Associação agroextrativista representativa de cinco comunidades próximas. No

momento de realização da pesquisa, havia uma nova comunidade pleiteando para

se tornar membro da Associação.

Seu formato legal é o de associação, entidade civil sem fins lucrativos, sem

vinculação partidária, cujos objetivos são: a melhoria nas condições de vida dos

seus associados; a autonomia da prática extrativista; a manutenção e defesa dos

direitos e interesses coletivos e individuais dos sócios, inclusive em questões

judiciais ou administrativas; e a defesa da instituição democrática da sociedade.

Em 2010, houve uma retificação no Estatuto para a diminuição do número de cargos

da diretoria, cujo mandato é renovado a cada dois anos E inclusive está previsto a

realização de nova eleição neste ano de 2015. Atualmente, a Associação conta com

34 membros associados.

O atual presidente declarou estar cumprindo o seu terceiro mandato e que, desde a

fundação da Associação, ocupou cargos na diretoria. Segundo ele, “É na verdade,

eu, desde a primeira diretoria eu tive alguma função, eu fui secretário de 2001 até

2006. Iniciei como sócio fundador e sempre com função na diretoria” (ESAX_PADP).

Vale ressaltar a existência de uma restrição legal para eleição dos membros a

cargos diretivos: esses somente tornam-se elegíveis para cargos na Associação

quando já tem uma caminhada e vínculo com a Associação de ao menos três anos

como sócio, ou seja, há uma exigência de comprometimento comprovado para

exercer algum cargo na entidade. O vínculo forte de pertencimento e demonstração

de doação à causa é uma atitude comum e coletiva nesse empreendimento, tendo

66

sido percebidos no momento da pesquisa, citam-se, a seguir, palavras do

presidente.

Na verdade, o que me trouxe fazer parte da Associação, justamente foi na época era a opressão por parte dos patrões [falando da exploração do atravessador da castanha]. Não era possível ter um retorno satisfatório no final da safra, sempre tinha um saldo devedor nos cadernos dos patrões. Isso foi o que me motivou na busca de sair um dia desta situação. (ESAX_PADP).

De acordo com o relato acima, a constituição da Associação foi motivada por um

problema comum aos associados, à exploração do atravessador da castanha12.

Depois de uma longa caminhada com outras parcerias e, em especial, com o apoio

recebido da Fundação, a partir de 2008/2009 puderam acessar políticas públicas de

crédito como o DRS- Desenvolvimento Regional Sustentável junto ao Banco do

Brasil13, bem como a capacitação em boas práticas no manejo da Castanha. Isso

possibilitou a eles ter recursos próprios para o custeio das despesas e compras de

equipamentos. Assim com a superação da dependência do patrão, passaram a obter

ganhos diretos, tanto do lado da comercialização e geração da receita, quanto a

gerir seus custos e a realização das despesas e investimentos.

Esse amadurecimento organizacional na forma coletiva, motivado por uma causa

comum, fez o empreendimento buscar a sua autonomia, dentro de um processo

econômico exploratório, possibilitando a eles o exercício autogestionário e o

reconhecimento de seus parceiros, em especial pela Fundação, aproveitando as

oportunidades de capacitação e o acesso a conhecimento e créditos.

[...] eles conseguiram responder de uma forma mais rápida, acho que pela necessidade que era mais eminente de conquistar a sua independência, eles eram refém do chamado sistema tradicional de aviamento da produção, onde a produção não pertence a eles, pertence a quem financia que predefine um preço, eles conseguiram romper com isso a partir do momento que eles implantaram as boas práticas, acessaram o conhecimento dos padrões de boas práticas da Embrapa pela via da incubadora. Eles vivenciaram a experiência do desenvolvimento organizacional participativo, das capacitações sobre politicas para o setor extrativista na Amazônia,

12

O atravessador é conhecido também por patrão que é a pessoa que oferece o recurso financeiro, materiais de consumo, equipamentos, para que os castanheiros vão para a floresta e colham a castanha, em geral três meses, e quando entregam as mercadorias estão sujeitos ao preço de pagamento desse atravessador para a sua força de trabalho, o que geralmente os tornava dependentes e endividados. 13

O DRS é uma estratégia negocial de desenvolvimento de promoção de atividades produtivas que foi proporcionada pelo Banco do Brasil aos extrativistas no sentido de garantia de um produto economicamente viável, socialmente justo, ambientalmente correto.

67

participaram do projeto SAF (Sistema Agro florestal) desenvolvendo uma alternativa de produção agrícola na entre safras da castanha, já acessam credito por mais de sete anos do Banco do Brasil através do DRS, e [...] eles mantem índice zero de inadimplência. (FS_PACO).

Ao se falar de exercício autogestionário e a formação/preparação dos

empreendimentos sociais, resgata-se o conceito de produção associada e educação

emancipadora da estudiosa Tiriba (2008). Esta propõe que o objetivo da educação

de homens e mulheres trabalhadores por meio de “[...] rearticular os saberes sobre a

vida em sociedade, apropriando-se do processo de trabalho em sua totalidade”.

(TIRIBA, 2008, p.72). Dessa forma, a autora defendeu a importância da

ressignificação da educação para o empreendedorismo14 exercitada em muitos dos

casos, sob a ótica do capital, promover uma formação integral do trabalhador em

que, em especial, nas “organizações econômica de iniciativas populares” seus

associados venham, de fato, se “tornar” protagonistas dos processos de produção

da vida social, ensaiando uma cultura do trabalho calcada numa racionalidade

econômico-social distinta da logica do capital”. (TIRIBA, 2008, p. 74).

Constatou-se na pesquisa de campo realizada com os associados e direção dessa

Associação, o exercício do protagonismo dos trabalhadores no processo de

produção, ao exercitar a autogestão com transparência, por meio de prática de

reuniões e tomadas de decisões coletivas.

Eles têm um nível de empoderamento, capacidade de tomar decisões colegiadas, decisões coletivas com uma preocupação, com visão mais de futuro, menos imediatista, que acho que em parte tem haver com o grau de necessidade e o perfil dessa comunidade, com a complexidade do negocio e a forma como as estratégias responderam exatamente no ponto da quebra da dependência deles ao sistema de aviamento e também pelo projeto da incubadora, da qualidade de seus serviços estarem mais amadurecimentos. (FS_PACO).

Apresentam um nível alto de arquivamento documental, com as documentações

organizadas e a realização de registro em atas das reuniões extraordinárias e

ordinárias, tanto da diretoria quanto dos associados, além de estarem em dias com

seus registros legais e impostos pagos. Desde 2012, a Associação apresenta aos

14

Educação para o empreendedorismo quando se estimula a “gestão do próprio negocio” e/ou tornar-se patrão de si mesmo”. (TIRIBA, 2008, p. 73).

68

associados relatórios organizados da diretoria para o controle da produção, do

pagamento e do repasse de valor de cada associado.

Quanto à remuneração dos associados essa é proporcional à produção retirada de

cada colocação (área da floresta destinada à colheita da castanha) de castanha.

Cada membro possui sua área, recebida dos seus antepassados.

Em relação a castanha a gente trabalha com nossas colocações, as colocações que tem uma produção maior, aí a remuneração varia de acordo com a produção. Por exemplo, tem extrativista que ele consegue produzir até 80 hectolitros, [...] outros não conseguem coletar nem 20 hectolitros porque a colocação dele é pequena, ai varia essa remuneração, não chega a satisfazer todos.

Tem colocações que abrigam sete extrativistas, outros abrigam duas, três, é de acordo com a produção. [...] Por exemplo, a colocação que era do meu pai, agora meu pai por peso da idade, eu continuo lá, e assim sucessivamente. (ESAX_PADP).

Antes da colheita, a Associação verifica o melhor preço para a venda da castanha e

negocia os melhores preços com fornecedores dos equipamentos necessários para

subir aos castanhais.

Segundo ESAX_PADT “[...] só junta o produto de todo mundo na hora de vender,

mas ai cada qual tem a sua quantia. Na hora que vem o pagamento cada um sabe a

sua quantia”. No auge da produção a média do rendimento com a castanha já

chegou a ser 1 SM (Salário Mínimo) por associado. Atualmente os associados vêm

agregando aos seus rendimentos ganhos com a agricultura, pecuária e pesca, o que

já chegou a render mais de 1 SM por associado. No processo organizativo produtivo,

a Associação vem trabalhando, em conjunto com a Fundação e outros parceiros,

para diversificar a produção, na entressafra da castanha. Para esse fim, vem

investindo na agricultura familiar e em outras culturas produtivas como o mel,

segmento produtivo, em crescimento na região.

Hoje nós já não temos só a castanha, já temos cultivo da agricultura também, temos a produção de farinha da mandioca e temos também a abóbora, o mamão a macaxeira. Já aderimos também outros produtos da castanha como o biscoito, a paçoca. Nesse período de festa de aniversário do município, a gente faz também para exposição os bombons, o doce da castanha. (ESAX_PADP).

69

Para a formação de um fundo reserva é recolhida uma mensalidade no valor de R$

4,00 e são realizadas atividades diversas para arrecadar fundos.

Nós temos uma mensalidade, inclusive nos vamos até agora tentar aumentar, de quatro reais por mês, de cada sócio. A gente faz eventos dentro da Associação para ganhar recursos. Por exemplo, a gente faz o festival da castanha, a renda é para Associação, do que a gente vendeu no evento. Esse movimento de vendas com a participação na Feira de Arte e Cultura do município também é para a Associação, a gente às vezes faz bingo, torneios. (ESAX_PADP).

Quanto aos indicadores de acompanhamento do empreendimento, para medir a sua

evolução, informaram ainda não possuir uma metodologia sistemática. De fato, os

membros da diretoria acham que seria importante ter esse acompanhamento, pois

as informações precisam ser sistematizadas e os resultados apresentados. Para

organizar melhor as informações, a diretoria está verificando a possibilidade de

adquirir um computador para a Associação, pois todos os controles e registros são

feitos de forma manual.

Na época da pesquisa, em agosto de 2014, a diretoria aguardava o resultado de um

projeto, elaborado com a colaboração de parceiros. Esse projeto foi apresentado

para o Fundo DEMA15 cujo pleito era o financiamento a fundo perdido para implantar

uma cozinha do biscoito da castanha. O projeto foi orçado em R$36 mil reais, para a

infraestrutura. Se aprovado, será instituída uma nova linha de produção na

Associação.

Além disso, havia uma articulação com o Banco do Brasil para obter financiamento

para uma casa de farinha mecanizada. Segundo os dizeres do presidente da

Associação, “[...] o gerente já esteve aqui [na comunidade], já foi olhar a roça e está

disposto a financiar a casa de farinha mecanizada para nós também”.

(ESAX_PADP).

Na oportunidade, foram perguntados sobre como procediam para formalizar a

comercialização enquanto Associação. Informaram que emitem a nota fiscal avulsa,

15

O FUNDO DEMA é um fundo fiduciário criado em 2003, que financia projetos coletivos dos “Povos da Floresta – povos indígenas, quilombolas, comunidades extrativistas, ribeirinhas e da agricultura familiar”, que visem à valorização socioambiental dessas populações. (retirado do site fundodema.org.br).

70

no prazo de uma semana, no posto da Secretaria da Fazenda (SEFA) do seu

município. No caso do biscoito da castanha, a Associação paga 17% de imposto,

valor considerado elevado, mas os produtos agrícolas e a castanha “in natura” são

isentos.

Esse empreendimento social sustenta sua coesão no objetivo comum aos seus

membros. Assim, eles refletem um intenso sentimento coletivo, fortalecedor da

condução do negócio.

2.3.5 Visão da diretoria do Empreendimento Social Agroextrativista

As entrevistas com os representantes da diretoria para identificar a visão do negócio,

incluíram o presidente e o tesoureiro da Associação. O primeiro é sócio fundador e

faz parte da diretoria desde o primeiro mandato. O segundo chegou posteriormente

e já compõe a diretoria por dois mandatos.

Destaca-se, na visão da direção, a importância do coletivo que traz elementos

importantes para o processo de formação do empreendimento.

Vimos que o coletivo seria melhor para a gente chegar a um objetivo, que seria melhora de vida, a gente buscar um melhor para os nossos produtos e consegui informações, parcerias, credito no banco que no individual a gente não consegue, foram esses fatores que fez eu me associar e chegar a direção, também, acho que foi o empenho na Associação, no decorrer do tempo os associados puderam depositar confiança em mim e me colocaram na direção também. Acho o coletivo não pode faltar é importante o compromisso e a participação de todo mundo, porque só um é meio difícil caminhar. (ESAX_PADT).

A visão manifestada pela direção do empreendimento sobre a formação do coletivo

é refletida nos membros da Associação e demonstra a coesão do coletivo,

decorrente da visão de futuro do grupo e da perseguição de interesses semelhantes,

fundada no bem estar individual, que segundo, Cançado, Pereira e Tenório (2013),

expressa que “desta forma ao defender os interesses coletivos, em ultima instancia,

o individuo defende seus próprios interesses” (CANÇADO; PEREIRA; TENÓRIO,

2013, p.140).

71

Além disso, a Associação mostra uma dinâmica de diálogo permanente com

transparência, utilizando as reuniões para aproximar e situar todos nos processos

decisórios.

A gente reúne na presença de todos. Depende da necessidade, porque a gente tem mesmo como regra, uma reunião por mês, mas se houver necessidade a gente tem até quatro, cinco. E, por exemplo, quando a gente esta buscando negócios e tem duas empresas que querem comprar a nossa produção, que estão com a proposta igual, ai a gente reúne, por exemplo, e decide. Eu nunca decidi sozinho. (ESAX_PADP).

Esse formato dialógico constante e a transparência nas informações chamam a

atenção de outros membros de comunidades próximas, que não são filiados, mas

manifestaram interesse em filiar-se à Associação.

O que faz permanecer, o que eu vejo é a transparência, por exemplo, é uma coisa que eu ouço nas reuniões, é que se eu vendo minha produção a cem reais, um exemplo, um hectolitro de castanha, todos os associados vendem também a cem reais. Isso é que faz estar permanecendo. Muitas outras associações aqui na região, já foram instituídas, mas nunca vingou por conta disso, só o presidente ou algum diretor se davam bem. Tanto é que eu citei em outro momento, que esta havendo membros de outra Associação se agrupar a nós. (ESAX_PADP).

A direção informou ter ouvido falar da Fundação em 2005/2006, por intermédio de

um negociador de castanha da região, cliente da Associação e, posteriormente,

empregado da empresa mantenedora do grupo.

Segundo a direção da Associação, a Fundação contribuiu muito para o crescimento

da Associação e para melhoria do seu processo produtivo, oferecendo o

conhecimento para acessar aos recursos e financiamentos, bem como para o

desenvolvimento da agricultura como alternativa de renda na entressafra da

castanha.

Digo para você que é fundamental a participação da Fundação com o acompanhamento técnico, porque quando nós não tínhamos acompanhamento técnico na área [de plantio], nós só produzíamos mandioca. Hoje a gente consegue produzir milho, abóbora, arroz, mamão, macaxeira e agora vamos plantar feijão. Por exemplo, o mel que vendemos na feira do município, foram os técnicos da Fundação que nos instruiu, trouxeram as caixas, nós temos equipamentos hoje para tudo isso. A castanha, ela [Fundação] nos deu a capacitação das boas práticas foi para o controle de qualidade, para questão do comercio, do mercado, nos deixou a vontade para procurar o caminho melhor. (ESAX_PADP).

72

2.3.6 Visão dos associados do Empreendimento Social Agroextrativista

Doze associados, entre sócios fundadores e outros sócios, com participação efetiva

na Associação, participaram do grupo focal. No primeiro momento, quando foi

realizado o detalhamento dos objetivos da pesquisa e a leitura do TCLE e do Termo

de autorização de imagem e depoimentos, todos se mostraram interessados e

dispostos a participar.

Seus depoimentos sobre o empreendimento ESAX_PA2001 demonstraram uma

visão de futuro amadurecida do negócio, pois relataram que conseguem se

sustentar da floresta e gerar renda, precisando apenas ajustar alguns pontos, entre

os quais: garantir maior número de membros para diversificação de frentes de

produção e trabalho.

Apresentaram um processo de organização bem avançado, compromisso com o

negócio e um grau de amadurecimento fundamental para atingir, de fato, a

autossustentabilidade. De uma forma geral, destacaram que as facilidades

favoreceram o avanço no empreendimento foram proporcionadas pelos parceiros,

cujas contribuições se realizaram na forma de aprendizados e ganhos para a

Associação. Eles citaram:

A gente encontrou facilidade com os parceiros, por exemplo, o DRS foi a Fundação e a Prefeitura que apertaram o gerente do Banco do Brasil. Mas quando éramos somente nós isolado, não encontramos facilidades [...] Também temos os SAF’s [sistema agroflorestais] estamos plantando açaí, tem um mercado já em ação e eu já tenho 200 pés açaí plantado e estão desenvolvendo bem. E eu estou bastante animado [...] a questão do comercio hoje a gente não tem dificuldade e também através dos parceiros a gente já tem mais facilidade. Somos livres para buscar o comprador que nós queremos e a empresa que a gente quiser negociar, a gente define. Isso veio depois do DRS a partir de 2007 quando começamos a ter acesso ao credito, ai todo mundo passou a comprar a sua rabeta [canoa com motor], adquirir a sua própria canoa, alguns animais cargueiro. (ESAX_PAGF11).

Quanto às dificuldades, mencionaram, como as principais, a falta de estrutura na

comunidade e a mão de obra, conforme o relato abaixo:

As dificuldades que enfrentamos ainda é a falta de estrutura para determinadas situações. Por exemplo, estamos ai com um cilindro do

73

secador de castanha, temos proposta de mercado para produção beneficiada, mas não temos energia, ainda falta estrutura, porque a matéria prima temos. E ai, já teríamos beneficiamento da castanha, do cacau, da própria andiroba, para a produção do biscoito a castanha seria secada lá, pois ainda faz no processo manual. Um grande problema é mão de obra, gente tem pouco, pois produto tem na floresta, mas não tem ninguém para ir buscar”. (ESAX_PAGF11).

O quadro 2 a seguir, apresenta a Linha do Tempo Social do Empreendimento

Agroextrativista modificada pelos participantes do grupo focal, com base na linha

genérica apresentada. A quarta linha divide os/as marcos/fases, a quinta linha

apresenta os eventos/acontecimentos de cada fase, a sexta linha mostra o período

de duração do evento informado por eles em dias, meses e anos e a sétima linha

acumula o tempo desde o primeiro evento apontado por eles.

74

Quadro 2 Linha do Tempo Social do Empreendimento Agroextrativista

Marcos/Fases da Linha do Tempo Social apresentada ao grupo

Formação do coletivo Constituição Legal Elaboração de

planos/projetos Implantação do

empreendimento Início de operação Comercialização Ponto de equilíbrio

Marcos/Fases da Linha do Tempo Social formatada pelo grupo

“Formação do

coletivo” (1)

“Início da

operação”

“Comercialização

“Constituição

legal”

“Capacitação” “Elaboração de

planos/projetos”

“Implantação do

Empreendimento”

“Ponto de

equilíbrio”

Parte 1 Parte 2 (5)

F1:

constituição

dos membros

F2: estrutura

organizativa

(formação

informal da

direção)

F3: divisão de

tarefas/modo

de

funcionamento

F1: formação do

preço/ formação

de custo (preço

no mercado)

F2: produção

iniciada

(3.2002)

F3: “formação

de estoque –

323hct”

F1: estabilidade

entre produção e

colocação no

mercado

F2:

estabelecimento

da freguesia

(Caiba –

comprador

castanha)

F1:

formalização

da direção

F2: registro e

legalização da

Associação

(7.2002)

F1: capacitação

para as

mulheres na

produção do

biscoito da

castanha (2)

F2:

comercialização

do biscoito na

Feira de Arte e

Cultura

Municipal

F1: acesso aos

recursos

financeiro e

materiais - DRS

concorreram a

financiamento

sem sucesso

(3)

F2: definição de

mercado

F1: instalação

física/acesso

ao crédito DRS

F2: compra de

equipamentos

e maquinários

(4)

F3:

organização da

produção ( com

expansão )

F1: Formação para

boas práticas para

a qualidade da

castanha (FS)

F2: fixação da

marca dos

produtos no

mercado (2009)

F3: Controle de

qualidade do

produto

F4: emissão de

DAP (6)

F5: Receita

F6: fornecimento

da castanha para

F1: Diversificação

de produtos para

venda (7)

F2: Ponto de

equilíbrio (8)

75

merenda escolar

2001

F1; F2; F2.1;

F3 - 4 meses

(1.2001-

4.2001)

2001

F1: 8 dias

F2 e F3: 3

meses (3.2002-

6.2002)

2002

F1: (-)10 dias

produção

negociada

F2: 8 meses

entre safra (final

de junho a

março do ano

seguinte)

2002

F1;F2: 2

meses

(6.2002-

7.2002)

(entressafra)

2003

2 meses

(7.2003-8.2003

– capacitação e

venda)

2006

F1: 3 meses

F2: 3 meses

2007

2008-2012

F1: a partir

out/2008

F2;F3:2009

F5: 2010 em diante

F6: setembro/2012

2013-2014

4 meses 7 meses e oito

dias

1 ano 1 ano 2 anos e 6

meses

5 anos 6 anos 11 anos 13 anos

(1) Os membros do coletivo tinham a produção individual da castanha com territórios demarcados; (2) Nesta fase é citada a 1ª capacitação para (agregar valor ao produto da castanha e ter outra forma de obter renda com a castanha, mas voltada para as mulheres). Início parceria com a prefeitura; (3) nesse processo já contaram com a contribuição da Fundação, de forma pontual; (4) novos equipamentos e maquinários: canoa, rabeta (barco a motor), animais cargueiros; (5) a partir de 2008, foi estabelecida uma parceria solida com a Fundação com o desenvolvimento de projetos extrativistas e de agricultura familiar, bem como no fortalecimento do negocio com a Incubadora de Econegócios; (6) Declaração de Aptidão ao PRONAF (DAP) obtido pela EMATER/PA para subsidiar o recebimento de benefício do governo do preço mínimo da castanha que, se não fosse isso, ficariam endividados com o banco; (7) Alternativas de plantio - abobora, macaxeira, milho, batata doce, kará, mamão, apicultura - mel e SAF´s (Sistema Agro Florestal) para gerar renda entre safra da castanha – intervenção da Fundação; (8) consideram que estão próximos do alcance da autossustentabilidade cerca de 70 a 80% e estão mais próximo do que distante da autossustentabilidade.

76

Conforme a Linha do Tempo Social elaborada pelos participantes do grupo focal, a

primeira intervenção da Fundação foi posterior à constituição da Associação, quando

já contavam com cerca de seis anos de existência. Segundo um técnico da empresa

do grupo mantenedor e comerciante de castanha, que conhecia a Associação desde

seu inicio, a colaboração da Fundação representou um grande avanço para o

empreendimento, principalmente, no fortalecimento da cadeia da castanha e na

emancipação dos extrativistas do ciclo de dependência do patrão e no processo de

qualidade da Castanha.

Se a gente for mensurar, essa comunidade trabalha com o extrativismo a mais de 100 anos, dentro desses anos a gente já avançou mais do que esses anos todos. Esse para mim é um diferencial. Se fizer um comparativo com a estrutura de produção antes da comunidade e que hoje possui, com numero de animais de tração, barcos para transportar o produto, a rabeta para transportar dentro do igarapé, a estrutura de barracões, a castanha deles tem uma aceitação com um preço diferenciado, e que tem zero por cento de corte [100% aproveitamento],enquanto outras comunidades estão produzindo castanha com vinte cinco a trinta por cento de corte. (FS_PAT3).

Considerou-se relevante destacar que os primeiros grandes marcos/fases–

Formação do Coletivo, início da Operação e Comercialização – significaram um

processo de preparação que fortaleceu o coletivo para a decisão de formação legal

da entidade.

A gente acreditou que na formação coletivo ia dar certo! Há um tempo a gente tentou o individual e não conseguiu fazer nada e vimos que junto seria mais fácil consegui as coisas e se não for o grupo a gente não conseguia, facilitou muito pra gente; credito a gente tinha, mas aumentou o mercado, hoje tem mais ainda, e não temos preocupação de vender o nosso produto e vimos o que é melhor para todos. (ESAX_PAGF1).

Estes marcos/fases iniciaram com o processo da castanha (produto principal na

linha de produção) e depois agregaram alternativas de produtos para obtenção de

renda.

Ainda na formação da Linha do Tempo Social do empreendimento, surgiu um novo

marco/fase a Capacitação –, informados pelos participantes. Essa capacitação foi a

primeira da Associação, realizada para as mulheres que aprenderam a desenvolver

biscoito da castanha. Segundo eles, essa produção não conseguiu avançar por falta

de estrutura e melhor qualificação, mas não perdeu de vista essa linha de produção,

77

pois informaram estarem concorrendo a um fundo de apoio para esse fim. Ressalte-

se que essa fase passa a permear os demais marcos/fases posteriores do

empreendimento, como citado na fase – Implantação do Empreendimento – durante

a qual aconteceram processos de capacitação, em especial com a intervenção da

Fundação.

Destacou-se ainda a importância das parcerias estabelecidas. No início do

empreendimento foram citadas a Prefeitura Local, a Empresa de Assistência Técnica

e Extensão Rural do Estado do Pará (EMATER/PA) e, em especial, a Fundação, que

passou a ter uma atuação intensa a partir de 2008. A Fundação contribuiu para o

acesso ao Banco do Brasil, agente financeiro que possibilitou acesso a créditos,

bem como, trouxe outros parceiros internacionais como a Deutsche Gesellschaft für

Internationale Zusammenarbeit (GIZ/ GmbH), instituição alemã de apoio a projetos

na Amazônia; nacionais como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária da

Amazônia Oriental (Embrapa-PA) e estaduais como o Instituto de Desenvolvimento

Florestal do Estado do Pará (IDEFLOR).

[...] parceiros permanentes aqui é a prefeitura, a Fundação que investe na gente, a Emater com a questão da DAP e o Banco do Brasil que é nosso agente financeiro e que depois que a gente conseguiu credito, eles não deixaram mais a gente. Tem outras instituições por ai que foram conveniadas com a Fundação que foi a GIZ, Ideflor, Embrapa, que a Fundação trouxe. (ESAX_PAGF11).

Ao final da reconstrução da Linha do Tempo Social, os participantes do

empreendimento ESAX_PA2001 expuseram com respeito à fase – Ponto de

Equilíbrio –, que acreditaram ter ultrapassado, quando começaram a diversificar os

seus produtos, apontado por eles como um evento importante para o coletivo. Os

participantes destacaram que a intervenção da Fundação no fomento ao

fortalecimento da agricultura familiar, introduzindo produtos de interesse das

prefeituras (merenda escolar), bem como o estimulo à apicultura e desenvolvimento

de Sistemas AgroFlorestais (SAFs) com plantio de frutíferas. Todos agregaram valor

à renda familiar, antes limitada à colheita da castanha.

Então fevereiro, março e abril é a época que eles começam a entrar nos castanhais, ou seja, eles passam três meses só envolvidos com a castanha. E aí vão sobrar oito meses. Nesses oito meses eles não faziam nada. Ou seja, eles não tinham outra renda, não tinham outra opção. [...] E aí foi onde

78

conversando com eles chegaram à conclusão de que eles precisavam de uma forma de agregar e trazer mais renda para eles. E foi onde a gente entrou com essa parte de mecanização, todo o trabalho técnico: calagem, adubação, controle de insetos. (FS_PAT2).

Desse modo, os participantes do grupo focal, consideram que estão mais próximos

do que distante do alcance da autossustentabilidade, estimando em cerca de 70 a

80%, do caminho, já percorrido.

Dentro desse cenário, é possível afirmar que realmente este empreendimento social

apresenta um estágio avançado em direção à autossustentabilidade, demonstrado

na construção de sua historia, na visão de sua diretoria e na atuação de seus

associados, um amadurecimento com vivência de autogestão, sendo necessário um

tempo de maturação para a chegada nesse estágio.

Perguntados sobre o futuro do empreendimento, apresentaram perspectivas positivas

e expuseram as ações necessárias ao crescimento referentes a alguns ajustes

internos, tais como: ampliação de pessoal e da frente de trabalho dentro da

Associação e acesso a fundos para construir a estrutura necessária para a

ampliação. Com a diversificação de produção, para além da castanha, a Associação

ampliou suas possibilidades de inclusão em programas de políticas públicas de

incentivo ao desenvolvimento no meio rural, como o Programa Nacional de

Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura

Familiar (PRONAF). Com respeito à diversificação produtiva, mediante a uma política

interna de segmentação de mercado frente à oportunidade representada por

interesses identificados em comercialização de outros produtos da floresta, tais como,

a andiroba, o pracaxi, entre outros, visualizam a possibilidade de aprofundamento de

uma economia de escopo fortalecedora da posição de mercado da Associação.

A pretensão de segmentação de mercado é um indicador de maturidade na gestão, o

que permite contribuir para o avanço acelerado na direção da autossustentabilidade.

E também em 2012 (em setembro) começamos a fornecer produtos para a merenda escolar, castanha e derivados, foi para a secretaria municipal da educação e inicia agora em setembro novamente e vamos fornecer pelo PNAE. Nós estamos com o mercado aberto, têm interessados, mas está faltando matéria humana pra ir coletar [...].(ESAX_PAGF11).

79

No caso a andiroba ela não passa muito tempo, dar na mesma época da castanha, e quando a gente termina a castanha e já acabou o tempo dela. Por exemplo, temos mercado para andiroba, muru-muru, tucumã, pracaxi, veio gente que quer. (ESAX_PAGF7).

2.3.7 Visão da Instituição Apoiadora sobre o Empreendimento Social

Agroextrativista

A Fundação passou a investir nesse empreendimento depois de ele já está formado

e atuante. Segundo a concepção do apoiador é um empreendimento considerado

amadurecido e de gestão independente, dotado de autossuficiência e autonomia. O

empreendimento respondeu rapidamente ao apoio e ao investimento e usufrui de um

crédito, juntamente com outra associação apoiada pela Fundação, de R$700 mil,

com zero de inadimplência.

[...] é uma Associação que já produz e já comercializa, eles mesmos, como empresários, a sua produção. A Fundação procurava novos mercados tentando escoar as mercadorias deles. Eles participam de oficinas, capacitações, já aprenderam. Ela é uma Associação que a gente falava que era a cereja do bolo da Fundação. A produção e a forma dela que é uma associação familiar, composta em sua maioria de família. (FS_PAT1).

De 2008 até o momento da pesquisa, o apoiador garantiu apoio técnico na forma da

capacitação em boas praticas da castanha; do acesso ao crédito (por meio do

programa DRS do Banco do Brasil); da articulação para venda da produção; da

captação de recursos; da capacitação dos filhos na cadeia sucessória; da

articulação de parcerias, com o Banco da Amazônia, com a Embrapa, para a

obtenção de mudas; e com a assistência técnica rural para o fomento de agricultura

familiar. Além de apoio financeiro, por meio da doação de adubo para a preparação

de área de plantio.

Na verdade em 2008 foi quando começaram os projetos, mas anterior a isso já havia apoio, mas não tão direto como a partir de 2008. Teve um investimento com relação às boas práticas, inclusive foram muitos investimentos. Outro investimento foi umas máquinas também desfibra curauá, que também estão lá. Outro investimento que eu creio que é um dos principais agora que foram as áreas mecanizadas, 10 hectares de área, em parceria com a prefeitura e Embrapa, onde a prefeitura entrou com a mecanização, a Embrapa entrou com a tecnologia, com a certificação e a Fundação entrou com a assistência técnica, os insumos de produção como o calcário, fertilizantes e alguns defensivos, uns defensivos naturais para pragas. Essas áreas são destinadas a implantação de SAF. [...] E tendo uma produtividade maior através dessa tecnologia. Depois desses quatro

80

anos a gente entra com as plantas frutíferas e as plantas florestais. (FS_PAT2).

A Fundação Social identificou como ponto de amadurecimento e crescimento dos

membros, a saída do empreendimento do ciclo de dependência do atravessador,

através das boas pratica de manejo da castanha e do acesso ao credito rural para

financiar a sua colheita. Mesmo com essas melhorias, perceberam que precisavam

avançar mais e garantir através dos recursos florestais e de outras atividades uma

diversificação de produtos, para ocupar o período da entressafra da castanha,

incluindo assim outros produtos agrícolas que venham agregar valor à produção

original.

Apesar do grau de amadurecimento atingido pelo empreendimento, o apoiador

informou algumas preocupações que poderão se constituir ameaças ao êxito

alcançado, entre os quais se encontram o esvaziamento dos jovens que vão

continuar o estudo na cidade e o pouco interesse deles pelas práticas rurais

desenvolvidas por seus pais. A maioria dos membros já se encontra em idade de

intermediaria a avançada e precisará, daqui a um tempo, ser substituída pelos mais

jovens.

A gente vê que não há a presença muito de jovens. O mais novo lá deve ter vinte e cinco anos. Então, a preocupação é dessa continuidade, dessas pessoas que estão lá. Daqui a cinco anos tem pessoas lá que vão estar com 65 e já não tem mais aquela mesma vontade, aquela mesma força. Quando vai chegando à idade, mesmo que você queira não consegue mais. (FS_PAT2).

Essa preocupação é compartilhada pelos extrativistas que informaram “[...] que está

melhorando as estruturas e os preços do extrativismo que a gente faz, mas já me

sinto cansado, mas o que penso que eu puder fazer eu vou segurar, pois da

juventude não espero tanto” (ESAX_PAGF7).

Quanto à autossustentabilidade declararam que este estágio já foi alcançado.

Ela se autossustenta. Os números dela falam por si. Hoje o acompanhamento da Fundação é mais técnico e ele não é constante na, ele é bem pontual. Então ela para mim ela já saiu desse processo, ela se autossustenta. Ela sente uma dificuldade ou outra, recorre ao parceiro para orientação, mas eu acho que já está fora desse processo de vinculação. (FS_PAT1).

81

2.3.8 Empreendimento Social Costura Industrial (ESCI_PA2006)

O empreendimento urbano ESCI_PA2006 foi formado numa vila que compõe um

distrito urbano municipal no Oeste do Pará, cujos residentes são flutuantes, pois, em

sua maioria, são familiares de funcionários das empresas terceirizadas da grande

empresa da região. Em virtude disso, as sócias, esposas de funcionários das

empresas terceirizadas, estão sujeitas a terem que se mudar da vila por motivo de

desligamento e/ou fechamento da empresa e retornar aos seus lugares de origem, já

que os maridos estão lá em função do emprego.

Esse empreendimento foi fundado em 12 de abril de 2006, na forma de uma

Cooperativa de mulheres, cuja linha de produção era a confecção de uniformes

básicos e industriais, com ênfase maior para uniformes para empresas. Seu objetivo

era gerar renda para as cooperadas. Na época de sua fundação eram 43 mulheres

associadas. Segundo a direção atual, esse número caiu para 14 associadas, 10 das

quais são mais atuantes e presentes, principalmente com a crise da empresa

mantenedora e a redução de suas atividades em 2013.

Antes de se tornar um empreendimento formalizado, foi alvo de um trabalho

intensivo da Fundação apoiadora e do programa de voluntariado da empresa

mantenedora. Segundo registro em relatório técnico da Fundação, essa ação foi

desencadeada a partir de um diagnostico realizado no final de 2003, para a

verificação da aptidão e interesse das mulheres.

Quando cheguei ao Planalto tinha uma associação de mulheres e uma vizinha minha me convidou para fazer parte daqui, de umas reuniões que faziam [...] e ai comecei a participar e depois veio o pessoal da Fundação que vieram fazer pesquisa e reuniu com a gente e queria saber o que a gente estava precisando no momento aqui na Vila e pedimos para fazer costura, fazer costura para as empresas, porque tinha muito empresa. (ESCI_PADP).

Este era o início de um projeto de geração de renda que atuava na região e

desenvolvia ações com mulheres de desenvolvimento humano, capacitação em

tecnologia e capacitação gerencial. Para estas mulheres foram desenvolvidos cursos

82

de artesanato e costura em geral e oficinas de relações humanas voltadas para

fortalecimento da autoestima e valorização da mulher.

[...] Então foi feita a seleção porque a oportunidade que a gente opinou assim para a gente seria a costura e artesanato em geral, Porque o artesanato ele entra no bordado, ele entra no crochê, e tudo de artesanato, tecelagem, eu trabalhava com cipó. E tudo isso nós fizemos. Mas o que [...] veio a calhar para a gente foi a costura porque a necessidade era muito grande. Já tínhamos pessoas que entendiam um pouco da costura [...]. (ESCI_PAVP).

Este empreendimento teve, para sua formação a preparação das mulheres, no

âmbito de um projeto de geração de renda, que funcionou previamente à

formalização da Cooperativa. Esse projeto proporcionou a elas atividades de

desenvolvimento humano e capacitação profissional no segmento da costura, bem

como, articulou parcerias para aquisição de equipamentos, matéria-prima e

organização do espaço físico. Posterior a essa etapa, as mulheres participantes

foram convidadas a montar uma Cooperativa.

A princípio, esse projeto foi oferecido sem restrição para os interessados da

comunidade. Posteriormente, foi se consolidando um grupo produtivo e se

desenhando o interesse de garantir um rendimento, por meio da costura. Nessa

fase, permaneceram somente as mulheres que manifestaram um desejo real de

trabalhar em coletivo na costura. O apoiador e os voluntários vinculados ao

programa de voluntariado, promovido pela empresa mantenedora, desenvolveram

ações de preparação do grupo produtivo, durante cerca de dois anos.

Ao final desse período, realizaram oficinas de fortalecimento do coletivo, trabalhando

os conceitos de cooperativismo e associativismo, para estimular o grupo a pensar na

possibilidade de realizar um trabalho coletivo, entre seus membros. Concluído o

processo, no final de 2005 e início de 2006, as mulheres foram perguntadas sobre o

desejo de formar uma cooperativa ou uma associação. Algumas não quiseram, mas

outras decidiram aderir à formação da Cooperativa e posteriormente aderiram à

assessoria da Incubadora de Econegócios Solidários e Sustentáveis, fomentada

pela Fundação apoiadora e outros parceiros da Fundação.

83

O estatuto da Cooperativa é o mesmo desde a sua fundação. Nele estão descritos

os cargos da diretoria formados pela presidente, vice-presidente, secretária e

tesoureira e, ainda, o conselho fiscal, constituído por três titulares e três suplentes.

Além do estatuto, a Cooperativa possui um regimento interno que detalha as normas

internas relativas à produção, horário de chegada e saída, direitos e deveres, entre

outros. A Cooperativa tem instrumento de controle para a prestação de contas,

operado por um contador que realiza os balancetes e os balanços anuais e está em

dia com suas documentações legais.

A maioria das mulheres trabalha na sede da Cooperativa, onde se encontram os

maquinários, o estoque de materiais, entre outros. Algumas mulheres trabalham em

casa, principalmente, as que residem em localidades distantes da sede.

A dispensa de vários maridos, pela redução das atividades da empresa

mantenedora da Fundação, a partir de 2013, impactou a Cooperativa, reduzindo o

numero de cooperadas, pois as mulheres retornaram ao seu local de origem, além

de ter tido uma baixa nos pedidos e encomendas de uniformes industriais.

Atualmente precisam assegurar mais membros para ter a conta mínima de uma

cooperativa (20 cooperados), além de garantia da produtividade e rendimento.

Esses problemas obrigaram a Cooperativa a criar novas estratégias de captação de

membros e buscar no mercado uma nova linha de confecção para comercialização.

Olha atualmente está muito baixa nossa produção, [...] desde junho [de 2014] para cá vem sendo muito baixa, estamos costurando, produzindo o mínimo dos mínimos. Algumas empresas que aparecem para fazer umas encomendas, mas é muito raro. Antes da parada da fabrica a gente tinha uma boa demanda, até atrasava com a entrega dos uniformes, com os pedidos, eram uns 100, 200 uniformes e agora depois de junho ficamos com 50 uniformes. (ESCI_PADP).

No sentido de diversificação da produção, decidiram se inserirem no mercado de

confecção de uniformes escolares, assim como no segundo semestre de 2014, as

costureiras estavam sendo treinadas para a fabricação, também, de outros tipos de

roupas femininas e masculinas, por meio de apoio oferecido pelo SEBRAE/PA e,

com suporte da Fundação Social apoiadora. Essa estratégia, associada à economia

84

de escopo, foi adotada no sentido de garantir sustentabilidade em diversas frentes

de desenvolvimento de produto e de segmentos do mercado.

O curso está agregando conhecimento e até estamos colocando em prática o que estamos aprendendo. Ele é para aperfeiçoar as peças e é para quando não tiver uniforme das empresas, assim, é para fazermos outras roupas, roupas de festa e é como alternativa [...], é bom ter isso, que por exemplo você estão sofrendo com a fabrica parada, e aí teríamos outro produto de roupa para venda (ESCI_PADP). É um curso de modelagem básica industrial, que abrange um todo. Tanto na parte masculina como na feminina. Porque, da feminina nós não temos muito conhecimento. [...] Mas como a gente precisa de ambas as partes Isso vem muito a calhar para a gente. (ESCI_PAVP).

Dentro de uma visão para a sustentabilidade de empreendimentos coletivos, com

fins de geração de renda, a economia de escopo possibilita ampliar o leque de oferta

destinada ao mercado, no caso da Cooperativa, sem sair de sua área de “expertise”

– a costura –, deixando, assim, de ficar refém de um único produto. Esse

empreendimento, desde 2010, vem apresentando balanços econômicos excelentes.

A Fundação apoiadora considerou isso como um ponto forte, ao indicá-lo como um

empreendimento que, na sua visão vem trilhando o caminho para a

autossustentabilidade.

Eu considero esse empreendimento um dos mais bem sucedidos, mesmo que apresente alguns problemas. Seguindo os indicadores econômicos, em quase 10 anos, ele vai para 2 milhões (mais de 200.000/por mês) para uma empreendimento de base comunitária isso é relevante. O que não exime ele de problemas básico de gestão e empoderamento, até porque eles vêm do primeiro ciclo do nosso apoio, onde honestamente a gente estava aprendendo a fazer incubação e hoje a gente está aprendendo, mas já tem um legado. (FS_PACO).

A Cooperativa demonstrou ter uma participação importante na economia doméstica,

ao contribuir para o aumento da renda familiar. Nesse aspecto, mostrou-se um

instrumento relevante de distribuição de renda e possibilitador de acesso a novos

bens de consumo, em virtude da ampliação do poder aquisitivo das famílias. Além

de ter possibilitado identificar e trabalhar relações de gênero, ao proporcionar às

mulheres a sua valorização e a superação da submissão sofrida no seio da família.

85

A adesão à Cooperativa ocasionou conflito de gênero, pois os maridos buscaram de

todo modo força-las a desistir do empreendimento.

A Cooperativa, em seu desenvolvimento, obteve apoio técnico e de infraestrutura,

em especial, quanto ao espaço e maquinários, usufruindo de um sistema de

microcrédito oferecido pelo apoiador, a ser paulatinamente liquidado, à medida que

fossem atendendo as encomendas. O apoiador, após mais de 50% de parcelas

pagas, permitiu que a dívida com o microcrédito fosse cancelada, em troca as

mulheres multiplicariam o conhecimento adquirido, oferecendo cursos em costura

para os membros da comunidade. Além disso, informaram que realizaram doação

das primeiras maquinas adquiridas para uma associação de mulheres de um

município próximo.

A Fundação [...] também nos ajudou para termos na época, um microcrédito para comprarmos máquinas, pagamos uma parte e agora ele dispensaram o restante, ou seja, eles nos doaram parte dos valores das máquinas. Já tem um tempo isso. E também tem outras três máquinas que eles fizeram outro microcrédito, a de caseado, a tripla e rebatadeira de cós e esse também teríamos que pagar com cursos para meninas da comunidade, daqui mesmo da vila e até fizemos duas vezes esses cursos. Essas máquinas ajudavam no aprimoramento de nossas produção. Essas já entraram também junto com a doação das outras. (ESCI_PADP).

Quanto à remuneração da Cooperativa, esta é proporcional à participação na

produção. Uma das costureiras faz o controle manual do número de peças

produzidas por cada uma delas. Ao final do mês são realizados os pagamentos, por

meio dessa contabilização. No auge da produção, já chegaram a obter mais de um

salário mínimo por associada/mês, a média contabilizada encontra-se entre R$

500,00 e R$ 600,00/mês. No período de baixa de produção esse rendimento sofreu

uma queda para entre R$ 300,00 e R$ 400,00/mês.

Hoje a gente produz 50 peças e ai a gente divide por quem está aqui, quem costuraram. E em media quando estava na alta à produção tirava mensalmente tirava R$500,00 a R$600,00 e com a produção baixa de 50 uniformes de R$300,00 a R$400,00 e esse mês [agosto de 2014], então, vai dar muito pouco. (ESCI_PADP).

86

A nova eleição para um novo mandato da diretoria da Cooperativa, equivalente há 3

anos, foi programada para meados de 2015. O início dos preparativos para a eleição

contava com a participação da Fundação Social apoiadora.

2.3.9 Visão da diretoria do Empreendimento Social Costura Industrial

Na Cooperativa foram entrevistadas a presidente (tesoureira, no primeiro mandato) e

a vice-presidente, ambas em exercício de funções diretivas desde a fundação da

Cooperativa, e também sócio fundadoras. Ambas pensaram a Cooperativa como

uma forma de contribuir com a renda em casa, se sentirem úteis e correrem risco.

Sem ter conhecimento algum de gerenciamento de Cooperativa, apenas acreditaram

nos parceiros que as estavam incentivando.

Precisava ajudar em casa, nossos filhos, nossos maridos e foi ai que começamos o trabalho da formalização da Cooperativa. No primeiro momento já fazia parte da direção, estava como tesoureira. Estava desde o inicio, teve a eleição e fiquei na parte da tesouraria. Não sabia nada e fui aprendendo com o tempo com o apoio do pessoal da Fundação davam esse apoio para aprender. (ESCI_PADP).

Mesmo havendo espaços de diálogo entre as cooperadas, em reuniões semanais da

equipe da produção, com a diretoria, a entrevistada ESCI_PADP apontou que falta

maior engajamento entre as cooperadas e comprometimento. Chegou a dizer “não

saber mais o que fazer”. Mas ao ser consultada, ESCI_PAVP, chegou a declarar que

a frequência de reuniões caiu muito e que estão dialogando pouco, gerando

desmotivação. Na verdade, o compromisso com a capacitação está deixando pouco

tempo para outras atividades. Esses depoimentos demostram divergência nos

pontos de vista, quanto à participação das cooperadas, e fragilidades no processo

de gestão.

Destaca-se aqui, na visão da diretoria, a preocupação com as questões legais, em

especial referentes às taxas e impostos que envolvem uma Cooperativa. A diretoria

sabe que o pagamento é uma obrigação legal, mas, a redução dos ganhos, e com o

pagamento de altos impostos é desmotivadora.

87

Essa nossa Cooperativa, só tem o nome de Cooperativa, mas é uma empresa em si como qualquer outra, que paga impostos, tem gastos, tudo que você possa imaginar que não tenha uma Fundação para pagar, de encargos, nós temos aqui. Então isso tem afetado muito em cima da gente. Nosso lucro [ganho] tem sido muito pouco. (ESCI_PAVP).

Ressalte-se que há uma visão de pertencimento por parte da diretoria em relação à

Cooperativa, exercendo com zelo e responsabilidade suas funções mesmo com a

adversidade, reconhecendo como delas a Cooperativa.

Hoje nós pagamos essas máquinas, hoje são nossas. Tudo o que tem dentro dessa Cooperativa hoje é nosso. Hoje a minoria que está são aquelas que acreditaram que isso iria dar certo e que um dia nós íamos conseguir e ia vencer. A gente está aqui. (ESCI_PAVP).

Demonstraram ter obtido, com a experiência na Cooperativa e com o apoio técnico

recebido da Fundação, um grande aprendizado que as fizeram superar várias

dificuldades como, por exemplo, na elaboração do preço do produto, ao perceberem

que seu preço não estava considerando vários fatores de custo. “É que a gente

achava que o tempo que a gente passava numa máquina costurando, isso não tinha

que entrar na cotação do preço. E tudo isso entra. Tem até depreciação do total de

máquinas. Tudo isso ele nos ensinou [...]”. (ESCI_PAVP).

De fato, se faz presente a contribuição da instituição apoiadora no desenvolvimento

do empreendimento, em que a mesma investiu no sentido de garantir para estas

cooperadas uma mudança de vida, uma atuação de valorização das mulheres,

portanto a Fundação é vista como “um grande patrocinador, temos grandes aliados

que sempre acreditaram na gente, que sempre confiaram na gente: que é a

Fundação e incluídos todos aqueles que ainda continuam lá”. (ESCI_PAVP).

Quanto à sustentabilidade, a presidente informa estarem no caminho, precisando de

alguns ajustes.

Nós já estamos funcionando por nossa conta mesmo, nós mesmos que fazemos o nosso próprio capital e inclusive nos mesmos que compramos nossos tecidos, materiais tudo a vista, de Belém e a gente paga com o nosso dinheiro e temos um estoque que controla e temos nosso capitalzinho de giro. (ESCI_PADP).

88

Os ajustes indicados pela direção são: a participação e a dedicação das cooperadas

em relação ao empreendimento, alternativas e formas de diversificação de produto

para a obtenção de ganhos para todas e o aumento das dedicações individuais, das

motivações e do apoio à direção.

[...] cada uma das cooperadas se doasse mais, se dedicasse mais, pensasse alternativas como, por exemplo, sobre muito retalho e ai pensar vamos junta e fazer tapete/trapo para vender nas oficinas, já ajudaria muito. Eu acho que da minha parte, precisava de apoio mais das colegas. Acho que falta pouco pra gente atingir a sustentabilidade, esse curso de modelagem já vai ajudar, aí vamos ter mais associados [...]. (ESCI_PADP). Se nós nos organizar direitinho, como manda o figurino isso aqui vai expandir, nós vamos ganhar muito dinheiro, entendeu, e vai ser uma benção. As pessoas participarem mais. Serem mais participativas. Terem compromisso com aquilo que querem fazer. (ESCI_PADVP).

As diretoras ressaltaram que têm todas as condições para garantir a

autossustentabilidade, pois a Cooperativa tem saída no mercado local e pode

expandir para o mercado regional. A Cooperativa já vendeu para Macapá/AP,

Ferreira Gomes/AP, além disso, apresenta uma carteira de clientes importante e é

conhecida no mercado local, por sua capacidade de produção com qualidade.

2.3.10 Visão dos associados do Empreendimento Social Costura Industrial

A visão das associadas foi colhida na técnica de grupo focal em que participaram

oito mulheres, entre as quais sócias fundadoras, que têm uma participação efetiva

dentro da Cooperativa. No primeiro momento, quando foi realizado um detalhamento

dos objetivos da pesquisa e leitura do TCLE e do Termo de autorização de imagem

e depoimentos, 04 participantes manifestaram vontade de desistir, mas feito

esclarecimentos e tiradas duvidas e, com a colaboração do profissional da

Fundação, para maiores esclarecimentos e mostrar a importância da participação,

apenas uma manteve a sua negativa em participar.

Durante o desenvolvimento do grupo focal, detectaram-se conflitos interpessoais e

divergências, nas relações coletivas entre as mulheres. Esse é um ponto

circunstancial a ser trabalhado nas relações coletivas do empreendimento e que

deve ser gerenciado e trabalhado por um profissional especializado, pois se trata de

89

questões que geram desconfiança e mal estar na dinâmica do coletivo, ao ponto de

comprometer a continuidade da gestão, pois fragilizam o desenvolvimento de

lideranças e a cadeia sucessória nos cargos diretivos dentro da organização.

Mesmo tendo sido feito um grande investimento na preparação do coletivo, é

necessária a continuidade de esforços avançados para fortalecer o coletivo, na

direção de uma formação para a governança e para o aprofundamento do

sentimento de pertencimento por seus membros, por meio da percepção de serem

donos do negócio.

O quadro 3 a seguir, apresenta a Linha do Tempo Social do Empreendimento Social

Costura Industrial modificada pelos participantes do grupo focal, com base na linha

genérica apresentada. A quarta linha divide os/as marcos/fases, a quinta linha

apresenta os eventos/acontecimentos de cada fase, a sexta linha mostra o período

de duração do evento informado por eles em dias, meses e anos e a sétima linha

acumula o tempo desde o primeiro evento apontado por eles.

90

Quadro 3: Linha do Tempo Social do Empreendimento Costura Industrial

Marcos/Fases da Linha do Tempo Social apresentada ao grupo

Formação do coletivo Constituição Legal Elaboração de

planos/projetos Implantação do

empreendimento Início de operação Comercialização

Ponto de

equilíbrio

Marcos/Fases da Linha do Tempo Social formatada pelo grupo

“Formação do coletivo”

“Capacitação”

profissional

“Comercialização” “Constituição Legal” “Elaboração de

planos/projetos”/

Implementação do

empreendimento”

“Inicio da operação” “ Ponto de

equilíbrio”

F1: constituição dos

membros

F2: estrutura

organizativa

F3: Divisão de

tarefas/modo de

funcionamento do grupo

F1 (90 dias):

Capacitação em

costura básica

industrial

F1: “ Pedido -

Encomenda” ( + de

100 uniformes)

F2: Estabelecimento

da freguesia/cliente

(1)

F1: Produção iniciada

(2)

F3: Formação do

preço

F1: Discussão

coletiva para

formação do

empreendimento

F2: Registro e

legalização da

Entidade

(cooperativa)

F3: Formalização da

direção

F1:Formação de

parceiros para montar

negócio (3)

F2: Definição do

produto

F3: Definição de

valores

F4: Instalação física

F5: compra de

equipamentos/

Maquinários (4)

F6: Estabelecimento

F1: Produção

iniciada (5)

F2: Realização da

receita

F3: Controle de

qualidade do produto

F4: Formação do

custo

F5: Estoque

F1: Ponto

de

equilíbrio -

a partir de

2010 (6)

91

(1) primeiros clientes: 1º LC Bueno; 2º RR; 3º empresa do grupo mantenedor e na 1ª venda o cliente adiantou 50% e depois pagou o restante; (2) produção

iniciada com 200 peças – 100 pares enquanto grupo; operação iniciada sem entidade legalizada; (3) Parceiros em 2007 para montar o negócio: NDR,

Fundação e empresas do grupo mantenedor; (4) no mesmo período da capacitação (5) operação inicia com entidade legalizada; (6) consideram próximo da

autossustentabilidade em torno de 50%.

de fornecedores

2002

2003/2004

F1 - 1 ano

F2;F3 – 2 anos

2005

F1: 3 meses

2005

F1: 1 semana

2006

F1; F2: 1 ano

2006/2007

F1; F2; F3: 1 ano

F4;F5;f3: 3 meses

2006/2007

2008/2009

2010 –

2014

1 ano 3 anos 3 anos 4 anos 5 anos 7 anos 9 anos

92

Os primeiros grandes marcos/fases destacados na linha – Formação do Coletivo,

Capacitação profissional e Comercialização –, aconteceram enquanto era um

grupo informal de mulheres catalisadas pelo projeto de geração de renda fomentado

pela Fundação. Nessa fase, ao mesmo tempo, em que eram formadas

empreendedoras já exercitavam a venda de uniformes para as empresas, utilizando

nota avulsa. Estas fases também aconteceram ao longo do empreendimento após

sua legalização.

A Fundação garantiu a seus empreendimentos sociais, em especial a este, uma

base inicial a partir de um projeto de geração de renda, focado no fortalecimento da

mulher na família, por meio de uma estrutura de acompanhamento, do microcrédito

para investimentos, que possibilitaram ganhos para a Cooperativa.

[...] da Fundação temos também de investimentos em maquinários, também parte do apoio técnico, temos da Fundação apoio quanto à gestão através de treinamentos com todos. Sempre tem um apoio na questão de comercialização, eles mesmos divulgam a gente. (ESCI_PADP).

Com a legalização da entidade, a Cooperativa passa a ser apoiada por outro projeto

dentro da Fundação: a Incubadora de Econegócios Solidários e Sustentáveis,

desenvolvida em conjunto com inúmeros parceiros regionais, nacionais e

internacionais, membros do Fórum de Desenvolvimento Local, cujo objetivo é

fomentar negócios solidários e sustentáveis.

Segundo relatórios técnicos da Fundação, a Incubadora possibilitou aos seus

empreendimentos incubados, capacitações gerais (em consultoria motivacional,

gestão financeira e contabilidade cooperativa, gestão da qualidade e sistema de

produção cooperativista) e capacitações específicas para a Cooperativa (plano de

negócio para a montagem de núcleo de produção e comercialização, gestão da

qualidade na produção de uniformes profissionais, gestão de estoque e logística de

materiais), bem como, monitoramento e orientações a cerca da administração,

finanças, rotinas organizacionais, produção e relacionamento com cliente/mercado,

orientação técnica financeira e contábil e elaboração de projetos para a captação de

recursos via entidades financiadoras privadas.

93

Durante o grupo focal, em especial na formação da Linha do Tempo Social do

empreendimento, surgiu uma grande fase referente à capacitação profissional em

costura básica industrial pelas mulheres. Segundo relatório técnico da Fundação

sobre o histórico do grupo, o processo de qualificação ou capacitação profissional foi

desenvolvido em vários momentos, de forma continua, em parceria com o SENAI do

Amapá. Foi composto por cursos de costura básica, costura industrial, camisaria e

calçaria em tecido e malharia, buscando a qualificação das mulheres para atender

as necessidades das empresas locais.

[...] foi lançada uma proposta para a gente: fazer uma capacitação para saber se realmente era aquilo que nós queríamos. E essa capacitação foi de corte e costura. Aí a Fundação entrou em parceria com Senai. Foi consultado com eles sobre uma professora que poderia ser destacada para cá, para nos capacitar. E essa capacitação durou três meses [...]. (ESCI_PAVP).

Nessa nova fase incluiu-se um novo evento – Pedido encomenda –, e foram

acrescentados eventos previstos em outras fases como o Estabelecimento da

freguesia/cliente, Produção iniciada e Formação do preço. A produção iniciada

aparece nessa fase como produção com o grupo ainda não formalizado, tanto que

esse evento se repete na fase Início da Operação, cuja produção já tem um grupo

legalizado.

Na fase Elaboração de planos/projetos/ Implementação do empreendimento foi

incluído um novo evento Formação de parceiros para montar negócio de grande

importância para a Cooperativa.

Destacou-se ainda na Linha do Tempo Social a importância das parcerias

estabelecidas, em especial com a Fundação e com a sua Empresa Mantenedora, a

todo o momento, citadas nos marcos/fases importantes do empreendimento. Além

dessas parceiras, foram citadas, também, a Prefeitura local e o SEBRAE.

Ao final, os participantes do grupo focal expuseram o alcance da fase Ponto de

Equilíbrio em 2010, quando vivenciaram um auge nas vendas dos uniformes na

região e, segundo registro técnico da Incubadora, nesse período realizaram um

faturamento ano da ordem de R$ 440 mil reais.

94

Nessa ocasião, a Cooperativa expandiu seus clientes para além das terceirizadas da

grande empresa, vendendo uniformes para uma prestadora de serviços de uma

grande hidrelétrica da região com atuação também em Ferreira Gomes/AP. “[...] eles

começaram com a gente aqui na Barragem, e quando eles retornaram para lá para

Ferreira Gomes, eles pediram [uniformes] novamente. Eles são nossos clientes”.

(ESCI_PAVP).

De 2010 a 2013, a Cooperativa se manteve em situação de equilíbrio. Em 2013, a

paralização da fabrica da grande empresa mantenedora provocou uma queda em

sua demanda, fazendo cair à produção e as vendas. Mas, os participantes acreditam

que este é um período conjuntural, mas de grande aprendizado para buscar a

diversificação de produtos e a independência do mercado local.

Com relação ao caminho da autossustentabilidade, eles estimam já terem superado

50% dessa trajetória. Expressaram, ainda, que, em 2015, o cenário deve mudar com

a modernização da fabrica e com o retorno das suas atividades normais na região.

De acordo com o site da empresa e com os grandes jornais em circulação na região,

a fábrica retomou suas atividades normais em meados de 2015.

2.3.11 Visão da Instituição Apoiadora do Empreendimento Social Costura

Industrial

O objetivo da Fundação ao fomentar esse empreendimento foi o de desenvolver a

economia local, melhorando as condições de vida das suas famílias através da

ampliação da renda familiar e do desenvolvimento da cidadania das mulheres.

Após incentivar a formação legal do empreendimento, a Fundação garantiu o

suporte e o direcionamento do negocio por meio da Incubadora Econegócios com

um atendimento prestado com ações e atividades focadas no fortalecimento do

negócio durante quatro anos, sendo três dentro do prazo previsto e um ano de

extensão necessária avaliada tecnicamente. Entre 2009 e 2010, esse

empreendimento foi desligado do atendimento da Incubadora, dando espaço para

novos empreendimentos a serem incubados.

95

A Fundação presta todo assessoramento administrativo e contábil para essas instituições com a finalidade delas se autossustentarem. Tanto técnico quanto o acompanhamento das atividades e também procurando novos mercados para ajudar a escoar essa produção, e capacitando essas instituições para que elas consigam fazer as vendas dos seus produtos (FS_PA1).

A instituição apoiadora nos últimos anos, 2011 a 2013, manteve o relacionamento

com o empreendimento egresso da incubadora (dando suporte e apoio sempre que

solicitada) e acompanhou os indicadores econômicos, focada no faturamento.

Em 2014, optou por realizar uma nova intervenção, em virtude do cenário econômico

crítico instalado na região e por ter identificado algumas questões a serem

trabalhadas, além de ter sido procurada pela Cooperativa. Foi nessa época que

buscaram a parceria com o SEBRAE local para a capacitação em linha de produção

diversificada da costura e também para oportunizar a inserção de novas mulheres na

Cooperativa, além de resgatar a gestão participativa para resolução de conflitos

interpessoais, por meio da disponibilização de um técnico com a função de fortalecer

o engajamento da equipe e desenvolver lideranças potenciais.

Na visão de FS_PAT1, que acompanhou a Cooperativa na Incubadora ela ainda

carece de se tornar independente do parceiro (a Fundação), de um trabalho de

fortalecimento de gestão do empreendimento com vista ao preparo de lideranças

dentro de um processo de autogestão, bem como de abertura de mercado regional.

Ela continua dependente do parceiro. Não procura novos mercados. Espera muito o parceiro procurar por elas. É uma Cooperativa composta por senhoras já com idade acima de cinquenta anos e então eu acho que pessoas novas iria fazer a diferença, pois capacitações na parte técnica elas tem, elas sabem fazer, mas falta uma pessoa hoje para gerir melhor. Isso não significa que elas estão no vermelho, não. Pelo contrário. Elas têm receita, elas têm mercado local. Mas elas se prendem muito a esse mercado local. No meu ponto de vista elas deveriam procurar um mercado mais fora, Macapá [Amapá], Belém [Pará]. Elas já têm um nome, já têm uma história escrita. Então já está na hora delas tentarem procurar. (ES_PAT1).

A Fundação continuou apoiando a iniciativa e trazendo oportunidades para a

Cooperativa por meio de seus parceiros no intuito de promover a diversificação dos

produtos, mesmo após o encerramento das atividades de incubação na Incubadora

de Econegócios Solidários Sustentáveis, Atualmente, a Fundação vem garantindo o

suporte técnico, trabalhando com o grupo o fortalecimento do coletivo, para evitar os

96

conflitos existentes, por meio do desenvolvimento de ações de relações

interpessoais. Além disso, vem garantindo o suporte orientativo para a organização

das eleições para os cargos diretivos e de conselho fiscal.

Graças a Deus quem tem sido o nosso patrocinador muito especial é a Fundação. Inclusive agora [agosto de 2014] está acontecendo esse curso que nós queremos muito, mas não tínhamos condições de bancar um curso desses porque o custo iria ser muito alto. Como a Fundação tem a parceria com o SEBRAE. Inclusive lá no SEBRAE hoje tem um amigão que era da Incubadora (Incubadora de Econegócios da Fundação). Então eu creio que ele também teve sua contribuição de puxar isso aqui para o Planalto, porque eles andaram esses arredores todinhos e não encontraram um laboratório igual ao nosso, ou seja, a Cooperativa, para que fosse produzido esse curso. (ESCI_PAVP).

Para a Fundação apoiadora a Cooperativa vem trilhando um caminho para a

autogestão e sustentabilidade, por conta de apresentar nos indicadores econômicos

resultados notáveis para um empreendimento de base comunitária.,

Quando perguntado sobre a autossustentabilidade da Cooperativa, o coordenador

FS_PACO colocou que “[...] mais dois anos, fazendo um trabalho de

acompanhamento, eu acho que aí elas se autossustentam mesmo”.

Deste modo, é perceptível que a Cooperativa, mesmo com todos os investimentos

realizados em um tempo considerável de acompanhamento e com condições

favoráveis, ainda necessita de mais um tempo de maturação para finalmente ser

considerada autossustentável e capaz de enfrentar as adversidades e a

complexidade do processo de formação de um empreendimento social de viés

comunitário.

Ressalte-se que essa visão é corroborada pela Fundação e pelas próprias

associadas que estimaram, em sua Linha do Tempo Social, em cerca de 50% o

caminho já trilhado para a autossustentabilidade, precisando fazer, ainda, alguns

ajustes. ESCI_PAGF5 comenta que:

Não precisa de muito tempo, o mercado tem, a demanda tem, agora está um pouco baixa, mas vai melhora, vai voltar e precisamos chamar pessoas novas para cá para trabalhar, porque somente nós não vamos dar conta. Então tendo demanda, tendo quem produza e entregando no dia certo para nossos clientes, o dinheiro vai entrar, pois nessa região alguns dizem que

97

nosso preço é alto, ou que nossa costura não é boa, de qualidade, mas eu aposto nessa região quem faz melhor. (ESCI_PAGF5).

A seguir, registram-se os resultados da pesquisa realizada no grupo produtivo

mineiro.

2.3.12 Empreendimento social apoiado pelo Instituto Social mineiro: Grupo

produtivo Fibra de Bananeira/ Bambu (ESGP_MG2012/2013)

Os empreendimentos sociais apoiados pelo Instituto Social em Minas Gerais são

dois grupos operativos produtivos informais: um formado em fevereiro de 2012,

desenvolvendo produtos da fibra da bananeira; e o outro, datado de outubro do

mesmo ano, desenvolvendo produtos do bambu.

A instituição apoiadora designou esses grupos, sediados em um município na

Macrorregião Central do Estado de Minas Gerais, como os que já estariam mais

avançados em relação ao investimento realizado pela instituição e ao processo

organizacional entre as unidades produtivas apoiadas. Segundo o Instituto Social,

antes de serem acolhidos como uma “unidade produtiva”, os participantes passam

por diversas oficinas de capacitação e formação.

O grupo produtivo que trabalha o bambu confecciona objetos de decoração, entre

outros. O grupo produtivo da fibra de bananeira utiliza essa matéria prima principal,

para a confecção de luminárias, caixas, cadernos, agendas etc. Todos os produtos

são feitos sob encomenda e destinam-se a eventuais feiras e eventos, e a clientes

diversos. O produto que sobra é exposto para a venda nas lojinhas do Instituto

Social.

2.3.13 Visão da representante do Grupo produtivo Fibra de Bananeira/ Bambu

Como esses grupos ainda estão na informalidade, e não estão dotados de uma

estrutura organizacional e nem física própria, a entrevista foi realizada com uma

pessoa de referência de um dos grupos produtivos, alocada atualmente no grupo da

98

fibra de bananeira, mas com experiência também no outro grupo. Recorreu-se a

essa representante (ESGP_MGR) para obter o entendimento da dinâmica dos

grupos, bem como sua visão sobre o coletivo e sobre o futuro dos empreendimentos.

A ESGP_MGR faz parte deste grupo deste o seu início. Ela chegou a pertencer tanto

ao grupo da Fibra de Bananeira quanto ao do Bambu, mas teve que optar por um

dos dois, em razão de uma escala de encomendas recebidas.

Eu participo só da fibra, a gente participava da fibra e do bambu, só que estava vindo encomenda muito grande, ai a gente tinha que ficar só na fibra. Ai quem é do bambu ficou só no bambu e a gente ficou só na fibra, para poder dar conta, senão a gente não ia dar conta de fazer (ESGP_MGR).

No grupo da fibra de bananeira são produzidos “capas de cadernos, caixas, flores,

jarros, criação nossa, tem de porta guardanapos” (ESGP_MGR), sendo os porta-

guardanapos e as flores os produtos de maior saída. Entretanto, atualmente, as

vendas estão muito fracas. ESGP_MGR informou que, por ocasião da pesquisa,

apenas 4 membros eram frequentes no grupo, em sua maioria senhoras de idade,

sendo ela a mais nova do grupo. O grupo iniciou com um número significativo de

membros, mas muitos foram saindo em busca de fontes de renda fixa.

O artesanato que não é tão valorizado. É o tempo de espera que precisa para isso acontecer. Não uma questão que a pessoa é remunerada pelo trabalho que ela faz. Ela pode até ser remunerada, mas o tempo que leva para isso acontecer é muito grande. Por isso que várias desistem, porque não uma coisa imediata. (ESGP_MGCP).

ESGP_MGR tem consciência da necessidade de um número maior de membros no

grupo, entretanto, não associou isso ao aumento de produção, visto que declarou

receio de haver uma redução no rendimento individual. Por outro lado, informou o

cuidado de evitar abrir o diálogo no grupo sobre os problemas enfrentados, em

especial, aqueles relativos ao compromisso do grupo com o horário das atividades

para na perder outros componentes. “[...] a gente evita, porque já são tão poucas.

Depois vai que sai mais uma”. (ESGP_MGR).

ESGP_MGR informou, ainda, que os rendimentos, de acordo com a escolha das

trabalhadoras, são rateados mensalmente pelo Instituto Social, responsável pelo

monitoramento diário da presença e do número de peças produzidas. 70% do

99

faturamento ficam para o Instituto, que oferece à logística e a infraestrutura de

produção e de venda; 30% são distribuídos proporcionalmente entre os membros

dos grupos responsáveis pela produção, de acordo com a frequência e o número de

peças produzidas.

[...] ai a gente anota tudo que é feito em um dia, ai quando vem o papel com o pagamento falando o que vem sendo pago, eu anoto lá e divido por presença. Por exemplo, a gente olha lá pagando 20 jarros, ai eu olho lá na presença da produção do jarro, ai vê a presença de todo mundo e divido aquele valor. [...] É por enquanto esta sendo, porque ai a pessoa vai estar pelo menos recebendo, pelo que ela trabalhou. É porque se a pessoa falta demais ela irá ganhar pelo que ela fez, proporcional a presença dela. (ESGP_MGR). Tanto da fibra quanto do bambu é assim, a gente anota que veio no dia e trabalhou e depois para somar os dias trabalhados. E se faltar, não recebe. O pagamento é feito por presença. Ao final soma tudo que foi vendido e divide pelos presentes pela quantidade de presenças.(ESGP_MGGF5).

As vendas nas lojas da Instituição Social não absorvem as produções semanais, o

rendimento proporcionado é inferior a R$60,00/reais mês. Os melhores rendimentos

advêm do atendimento das grandes encomendas trazidas pelo Instituto Social, que

proporcionam uma renda média em torno de R$ 400,00 a 500,00 reais para cada

trabalhadora/ mês.

Segundo a direção do Instituto Social, o acordo com as participantes dos grupos

produtivos é muito claro, com respeito ao usufruto da infraestrutura e à distribuição

dos rendimentos.

Elas não têm gasto nenhum. Elas vêm para o espaço, aqui elas têm todo o maquinário, todo material necessário que elas gastariam naquele produto; e fora a infraestrutura: água, luz, telefone, lanche [...]. Se elas quiserem passar o dia inteiro aqui, elas têm a estrutura necessária para trabalhar um dia inteiro. Isso foi um acordo, foi conta feita pela contabilidade, pelo administrador financeiro, que a gente chegou nesse número que não poderia ser diferente. Que a gente cobriria os custos. Se não tiver isso [os 70%], a gente não conseguiria nem recomprar o material para elas e manter bambu e o orientador, que é um responsável daqui, porque elas só trabalham quando tem um responsável acompanhando. (IS_MGCP).

Quanto à visão de autossustentabilidade e autonomia, ESGP_MGR informou que

não consegue vislumbrar isso no futuro, visto que para a fabricação dos objetos é

100

dependente do suporte e da estrutura do Instituto Social, que oferece o maquinário,

o espaço físico, e o capital de giro para compra de insumos e materiais necessários.

2.3.14 Visão dos associados do Grupo produtivo Fibra de Bananeira/ Bambu

Oito mulheres pertencentes ao grupo produtivo da Fibra de Bananeira/ Bambu

participaram do grupo focal. No primeiro momento foi realizado um detalhamento

dos objetivos da pesquisa e leitura do TCLE e Termo de autorização de imagem e

depoimentos. Elas realizaram questionamentos que foram esclarecidos pelo

pesquisador. Após os esclarecimentos, todas se manifestaram interessadas e

dispostas a participar.

O quadro a seguir, apresenta a Linha do Tempo Social do Grupo produtivo Fibra de

Bananeira/ Bambu modificado pelos participantes do grupo focal. A quarta linha

divide os/as marcos/fases, a quinta linha apresenta os eventos/acontecimentos de

cada fase, a sexta linha mostra o período de duração do evento informado por eles

em dias, meses e anos e a sétima linha acumula o tempo desde o primeiro evento

apontado por eles.

A construção dessa Linha do Tempo social apresentou um nível maior de dificuldade

pelo fato de reunir num mesmo grupo focal os dois grupos produtivos. Além de

apresentarem características diferenciadas, o de Fibra de Bananeira iniciou suas

atividades em fevereiro de 2012 e o do Bambu, em outubro de 2012.

101

Quadro 4: Linha do Tempo Social do Grupo produtivo Fibra de Bananeira/ Bambu

Marcos/Fases da Linha do Tempo Social apresentada ao grupo

Formação do coletivo Constituição Legal Elaboração de

planos/projetos Implantação do

empreendimento Início de operação Comercialização Ponto de equilíbrio

Marcos/Fases da Linha do Tempo Social formatada pelo grupo

“Capacitação”

“Formação do

Coletivo”

“Elaboração de

plano/projetos”

“Inicio da operação” “Comercialização”

F1: Oferta de Cursos

F1: Constituição dos

membros

(Quem quer ficar)

F2: Divisão de

tarefas/modo de

funcionamento do

grupo

F1: doação de

matéria prima

(somente a fibra)

F2: Definição do

produto

F3: Planejamento da

produção

F4: definição dos

valores do produto

(entra formação

custo)

F1: Estoque (1)

F2: Produção

Iniciada

F3: Controle de

qualidade do produto

(2)

F1: Modelo de

remuneração

F2:Estabelecimento da

Freguesia

F3: Modelo de gestão

(3)

102

2012

F1:

Fev/2012 – Fibra da

bananeira

Out/2012 - Bambu

2012 / 2013

F1;F2;

Jun/2012 - Fibra; Final

de 2013 - Bambu

2013 / 2014

F1;F2;F3 e F4

Inicio 2013 – Fibra

Inicio 2014 - Bambu

2013 /2014

F1;F2;F3

Inicio 2013 – Fibra

Inicio 2014 – Bambu

2014

F1; F2; F3

Fibra e Bambu

Fibra: 04 meses

Bambu: 1 ano

Fibra: 10 meses

Bambu: 2 mês

Fibra:1 ano

Bambu: 1 ano

Fibra:1 ano

Bambu: 1 ano

Fibra: 2 ano e 08

meses

Bambu: 2 anos

(1) G. Bambu - tem o bambu, mas não está tratado e o G. Fibra tem papel em estoque; (2) Profissionais da instituição apoiadora que fazem o controle de qualidade; (3) somente o G. Fibra tem o modelo de gestão.

103

Também nesse caso incorporou-se uma nova fase à Linha do Tempo Social usada

como referência para dar início aos trabalhos, denominada Capacitação,

responsável por desencadear a formação dos grupos produtivos, posicionando-se

no início da Linha do Tempo Social nos dois grupos. Este fato decorreu da

Instituição Social ter iniciado suas atividades na comunidade, por meio da promoção

de vários cursos, introduzidos de forma aleatória, tais como: artesanato, bordado,

bijuteria, fibra de bananeira, bambu etc.

A maioria das fases e eventos, na Linha do Tempo Social, foi comum aos dois

grupos. As poucas diferenças foram identificadas no grupo da fibra de bananeira,

relativas a um evento novo, na fase de elaboração de projetos – Doação da

matéria-prima – recebida dos membros da comunidade. Na fase de

Comercialização foi incluído o evento modelo de gestão.

Os dois grupos adotaram a divisão de funções entre os membros, mas todos são

capacitados em todas as etapas dos processos produtivos.

Durante o grupo focal, percebeu-se nas falas dos participantes, um sentimento de

ligação fraternal entre os membros dos grupos e com o Instituto Social. Elas entram

com a força de trabalho e o Instituto Social define a clientela e garante a

infraestrutura e a logística necessária. ESGP_MGGF5 colocou que:

[...] não gostaria de trabalhar no grupo independente. É muito difícil! Acho que seriam cinco anos. Eu não dependo financeiramente daqui e dependo das pessoas porque sinto bem com elas, e eu seria voluntária se fosse independente. (ESGP_MGGF5).

Alguns participantes manifestaram que não queriam ser independente do Instituto

Social, e que se isso ocorresse, as perspectivas seriam diferentes: alguns acreditam

que seriam capazes de continuar o negócio, outros veem o grupo como uma terapia,

um local de encontro e descontração.

Os parceiros citados pelos grupos incluem o Instituto Social, intermediário na

aplicação do investimento de uma empresa local. Ao serem indagados sobre a

autossustentabilidade dos grupos, argumentaram que para realmente atingir essa

104

fase, precisariam de um prazo mais longo, com um acompanhamento para a gestão

de negócio, além de necessitarem mais pessoas, maquinário próprio, capital de giro,

atividade de marketing/divulgação, formação em gestão de negócio e

comercialização, além de espaço físico próprio.

[...] acho que precisaria empenho porque conseguir material, maquina, tem que ter se não, não tinha grupo produzindo. Tudo no inicio é difícil e certa coragem pra fazer empréstimo e montar uma equipe solida. O que é necessário é maquinas e tem que ter. Falo de empenho, por exemplo ter, mais pessoas para depois tá montando o maquinário. Tem que levar mais tempo para as pessoas conhecerem o trabalho, tem que ter divulgação para acreditar no produto. É complicado arriscar, gastar por um produto que as pessoas não conhecem. (ESGP_MGGF1).

Segundo ESGP_MGGF7, “[...] não adianta, ter produto e não ter pra quem vender.

Tem que ter gestão. Acredito que com dois anos com gestão de negócios daria para

ter um caminho para autonomia”.

2.3.15 Visão da Instituição Apoiadora do Grupo produtivo Fibra de Bananeira/

Bambu

Sob o ponto de vista do Instituto Social Mineiro, fomentar núcleos produtivos

possibilitaria às pessoas uma alternativa de vida diferente das que estavam

vivenciando. Dessa forma, seu objetivo foi a capacitação para o aperfeiçoamento

técnico em um produto com o qual a pessoa se identifique e queira trabalhar.

O grupo produtivo pesquisado apresentou a necessidade de que sejam introduzidas

muitas outras fases para ser transformado em empreendimento social. O Instituto

Social já implementou a incubadora social em outras unidades e apontou durantes

as entrevistas que tem um planejamento para que a incubação seja uma realidade

com esses grupos produtivos.

No início era muito informal. A gente simplesmente queria as pessoas fazendo alguma coisa que elas gostassem, até como uma forma de sair de casa, de ter essas pessoas por perto e elas terem um momento de encontrar. Então era despretensioso o projeto no início. Era para a gente fazer as oficinas juntos, ficar juntos, trocar ideias e tal. Mas tudo tende a aumentar e crescer, e também existe uma expectativa dos dois lados, a gente queria vê-las crescendo e elas também queriam crescer, e a gente começou realmente a ter um material em mãos bastante significativo. A

105

qualidade do artesanato, isso definiu demais a linha de trabalho. Eram artesãs muito primorosas com o trabalho. A gente foi criando peças e o negócio não parou mais. Mas a formalização disso, agora que a gente está começando com a incubação. (ESGP_MGCP).

As entrevistadas informaram que a instituição apoiadora em determinado momento

ponderou sobre o custo/benefício do investimento em núcleos produtivos, mas

decidiu continuar com a atividade e qualificar tecnicamente melhor a equipe de

acompanhamento para um trabalho contínuo junto ao grupo produtivo.

Então assim, é isso que a gente está pensando: vale a pena gerar toda essa energia de recurso e de investimento num grupo que não está coeso nos seus objetivos? Se esse processo vai ser contínuo, as pessoas que estão mediando esses grupos também precisam ter uma capacitação porque elas não estão prontas. O Instituto Social se formou com uma pessoa daqui com outra dali, vamos juntar e aprender juntos, mas não tem ninguém pronto; ninguém chegou pronto. Não é um lugar de profissionais

que vieram profissionalmente, foi se formando aqui. (ESGP_MGDI).

Segundo a diretora institucional ainda não há uma metodologia unificada para esse

trabalho de geração de renda, apesar de já ter acumulado experiência,

principalmente, porque, ela avalia que o processo de implementação de projetos de

geração de renda demanda um longo prazo. Entretanto, muitas das vezes os

investimentos são de curto prazo ou pontuais, como, por exemplo, os prêmios

(valores financeiros) que já receberam pelo desenvolvimento dos núcleos produtivos.

Existe uma unanimidade na hora que a gente vai avaliar o processo, se não está funcionando, realmente esse sintoma é percebido, isso precisa ser tratado, isso precisa ser resolvido, isso precisa ser transformado. Mas na hora de lidar com a coisa não existe uma metodologia, uma pedagogia unificada que garanta um processo contínuo de formação de grupo. O prêmio é bacana, é, mas ele é pontual. Então ele tem uma dimensão importante de chegar no momento e salvar. Mas ele não dá sustentabilidade e ele não tem dimensão para gerar sustentabilidade num projeto como este, de economia viva, de geração de renda. Porque é processo de longo prazo. (entrevistada ESGP_MGDI).

Os investimentos nos grupos produtivos tiveram início sem muita clareza e sem

conhecimento técnico. Elas reconhecem a falta de uma metodologia para lidar com

os grupos residentes, tornando-os dependentes da instituição.

A gente não tinha uma clareza planejadora. Éramos tão crus como eles nesse processo. Só com alguma intenção. Foi tudo uma descoberta. Então, foi um processo de aprendizado. [...] Eles [os grupos] não são nem ainda de

106

incubação ou de pré-incubação, eles estão num processo tão anterior a isso e são residentes, eles estão no nosso espaço. [...]. A gente não conseguiu criar uma metodologia de como conduzir grupos residentes para que eles não se sintam dependentes, para que sejam co-participativos, para que eles se compreendam no processo. (entrevistada ESGP_MGDI).

No desenvolvimento dos grupos produtivos, os representantes do Instituto Social

identificaram alguns resultados, conforme citado a seguir:

Tem pessoas que falam aqui que saíram da depressão na época que elas ficaram aqui, tem pessoas que ganharam empregos por conta do que aprenderam aqui. Tem pessoas que montaram negócios por conta do que aprenderam aqui. Tem pessoas que não fizeram nada, a princípio visível, com o que elas aprenderam aqui. É uma diversidade enorme de impactos sobre o outro que você tem muito pouco controle depois se você não cria os instrumentos para medir, para entender, para avaliar. (ESGP_MGDI).

No âmbito do investimento em grupos produtivos, a instituição criou uma linha de

atuação para a geração de renda que visa à empregabilidade. Para isso, contratou

pessoas com “expertise” nas técnicas oferecidas nos cursos, para introduzir as

linhas de produção nas comunidades trabalhadas. No processo os participantes dos

primeiros cursos se apropriaram das técnicas dos cursos e se tornaram monitores

em outras unidades, dessa forma se exercita um protagonismo não exatamente em

empreendedorismo, porém em multiplicação do conhecimento.

O que é da loja é um trabalho de empregabilidade, que é tão benéfico para a sociedade quanto. Mas não é um trabalho de autogestão, de protagonismo produtivo. Além de gerar empregos, hoje eles são os monitores que estão dando aulas [...].Então, essas pessoas que são funcionárias, elas também têm alto nível de evolução. Talvez não na parte criativa, mas na parte do conhecimento técnico, para poder repassar. Até nisso a gente conseguiu ver um benefício social e elas se sentem orgulhosas. (ESGP_MGDI).

Para a instituição apoiadora, a parceria com uma Fundação empresarial atuante na

região para promover processos de incubação, vem garantindo um cenário de

fortalecimento técnico em metodologia social para a incubação de empreendimentos

coletivos e individuais comunitários. No momento da realização da pesquisa, o

Instituto se encontrava em preparação para fortalecer o Grupo Produtivo em questão

e inseri-los na Incubadora Social e que seria financiado por uma nova instituição

financiadora desse grupo. Essa nova modalidade de apoio a ser oferecido é dotada

de recurso financeiro para os empreendimentos incubados, restringido a um prazo

de três anos de incubação, segundo o modelo da instituição financiadora. “[...], um

107

[ano] para o diagnóstico e capacitação, e dois [anos] para o processo de incubação

formal”. (ESGP_MGDI). Neste caso, o Instituto Social exercerá a função de

mediador e o controle do novo parceiro será mais rigoroso do que o método de

monitoramento dos parceiros habituais.

Quanto à autossustentabilidade, ainda estão realizando ações de fortalecimento do

negócio do grupo produtivo. Sobre a previsão do momento de suspensão do apoio

aos grupos, a coordenadora do projeto confirmou essa preocupação, mas, ressaltou

que a instituição está amadurecendo essa possibilidade.

É difícil para a instituição ter essa maturidade, entender isso, mas a gente sabe da necessidade disso e a gente se prepara para isso. E a gente ao mesmo tempo coloca que inclusive outras pessoas virão e a gente não pode ficar abraçando e apoiando um único grupo.[...]. (ESGP_MGCP).

2.3.16 Síntese dos resultados segundo as categorias

Diante do detalhamento de cada empreendimento, se destacam nesse item as

categorias escolhidas para demonstrar o desenvolvimento de um empreendimento

social envolto em um tempo social, dentro de um processo de gestão social, para

que se possa pretender o alcance da autossustentabilidade.

No quadro 5 abaixo, se destacaram as principais inferências de cada organização a

partir de uma análise comparativa, exercitando o aprendizado para a

autossustentabilidade, proporcionado pelo conhecimento das experiências vividas

pelos três empreendimentos pesquisados, a partir de uma concepção de gestão

social.

108

Quadro 5: Síntese das Categorias por empreendimentos e parâmetros de gestão Social

Nº CATEGORIA EMPREENDIMENTO INFERENCIAS COMPARADAS CORRELAÇÃO GESTÃO SOCIAL

PRÓXIMIDADE DA

AUTOSSUSTENTABLIDADE

1 Coletivo do

empreendimento

ESAX_PA2001 Formalização legal; coletividade familiar; unidos por objetivo comum;

presença de coesão entre membros

Coletivo solidário, dialógico e coeso. Entretanto, é ainda necessário alcançar um tipo de governança mais horizontal

ESCI_PA2006 Formalização legal; redução de membros; fragilidade relações

interpessoais

ESGP_MG2012/2013 Grupo informal; redução de membros; mentalidade de empregado;

unidos pelo afeto

2 Organização e divisão do

trabalho (estrutura)

ESAX_PA2001 Estatuto; há divisão de trabalho/ mas não é suficiente para a oferta da

floresta; estruturas individuais e coletivas para coletar castanha

Autogestão, estrutura organizacional horizontal

e definição democrática das funções de acordo

com os conhecimentos, habilidades, atitudes do

associado e mediante participação dele nas

definições

ESCI_PA2006 Estatuto e regimento interno; espaços e maquinários próprios

ESGP_MG2012/2013 Não tem estrutura própria / utilizam a do apoiador

3 Remuneração e

distribuição das sobras

ESAX_PA2001 Existência de fundo coletivo (contribuição e eventos); remuneração por

produção; media com alta produção: mais de 1 SM/ associado

Definição democrática e participativa, de acordo

com o comprometimento com a organização em

trabalho ESCI_PA2006 Remuneração por produção/dia frequência; media com alta produção:

500,00 a 600,00; media com baixa produção: R$ 300,00

ESGP_MG2012/2013 Remuneração por frequência e produtos vendidos; media com alta

produção: R$ 400,00 a 500,00; media com baixa produção: R$ 50,00 a

60,00

4 Treinamento e

aprendizagem da dinâmica

do negocio

ESAX_PA2001 Valorização do aprendizado; realização de várias capacitações em

técnica e gestão; direcionamento para diversificação da produção

Organização de aprendizagem para o processo

de aperfeiçoamento

ESCI_PA2006 Valorização do aprendizado; realização de várias capacitações em

109

técnica e gestão; direcionamento para diversificação da produção

ESGP_MG2012/2013 Valorização do Aprendizado; realização de varias capacitações em

técnica; escola de aprendizagem

5 Planejamento, direção e

controle

ESAX_PA2001 Consolidação do negocio; empreendimento incubado; gestão do negócio;

orientação para a demanda do mercado local e visão maior da demanda

Processo em avanço para governança

ESCI_PA2006 Consolidação do negocio; empreendimento incubado; gestão do negocio;

orientação somente para a demanda do mercado local

ESGP_MG2012/2013 Esperam as encomendas do apoiador; não têm projeto/ plano de

negocio; não têm gestão de negocio; empreendimento a ser incubado

6 Captação de recursos ESAX_PA2001 Participação em concorrência para financiamento de projetos (cozinha

para biscoito, casa de farinha mecanizada); financiamento do

investimento e capital de giro; acesso a políticas públicas (DRS Banco do

Brasil, PRONAF, PNAE)

Acesso a políticas publicas de credito; captação

de projeto a fundo públicos e privados e busca

de parcerias

ESCI_PA2006 Acesso microcrédito do apoiador; financiamento privado a fundo perdido

(Petrobras)

ESGP_MG2012/2013 Não acessou

7 Participação no processo

decisório

ESAX_PA2001 Participação ativa dos sócios; processo decisório coletivo; diálogo

permanente e transparente nas reuniões; direção participativa

Indícios de pratica de autogestão e demonstra

está mais independente da participação do

apoiador nas decisões coletivas.

Pratica da transparência juntos aos associados.

ESCI_PA2006 Pouca participação; não vêm realizando reuniões; direção centralizada

ESGP_MG2012/2013 Dependência da instituição apoiadora

8 Autonomia e visão de

pertencimento

ESAX_PA2001 Autogestionários; visão de donos do negocio; visão de pertencimento Construção de identidade coletiva e

empoderamento ESCI_PA2006 Cooperativos; não se veem como proprietárias do negócio

ESGP_MG2012/2013 Não se veem sem a instituição apoiadora

110

9 Diversificação e inovação

de produto (qualidade)

ESAX_PA2001 Atingiram qualidade no produto principal; inserção de outros produtos

para comercialização como agricultura e derivados e derivados da

castanha

Busca de caminhos de inovação para

crescimento coletivo

ESCI_PA2006 Qualidade de produto nos uniformes; inserção de novos tipos de

vestuário

ESGP_MG2012/2013 Diversificação de produtos, a partir de encomendas

10 Distribuição do produto

(logística, comercialização,

marca e mercado)

ESAX_PA2001 Marca reconhecida na região; negócio incentivado/ mas ainda pagam

impostos altos para os derivados agroindustriais (17%)

Publicização do seu trabalho com articulação

entre politica publica e privado e entre social e

econômico ESCI_PA2006 Marca reconhecida na região; impostos e taxas altos para as atividades;

carteira de clientes

ESGP_MG2012/2013 Dependência do apoiador

11 Melhoria na qualidade de

vida dos associados

ESAX_PA2001 Credito na praça; renda satisfatória; aquisição de bens e moveis;

realização profissional

Mudança e transformação social no individuo e

no coletivo com articulação entre o social e

econômico; direitos de cidadania

ESCI_PA2006 Aumento da renda familiar; novos conhecimentos adquiridos; aquisição

de bens e móveis

ESGP_MG2012/2013 Novos conhecimentos adquiridos; aumento na autoestima; participação

em eventos de interesse comunitário; satisfação com o grupo

111

Na comparação dos três empreendimentos pesquisados concluiu-se sobre a

seguinte ordem de avanço para a autossustentabilidade: o mais próximo deste

estado é o ESAX_PA2001; em seguida posiciona-se o ESCI_PA2006; e, por último,

o ESGP_MG2012/2013.

Os empreendimentos ESAX_PA2001 e o ESCI_PA2006 mesmo que apresentem

problemas e necessidades de ajustes, são de empreendimentos quase

independentes, pois superaram fases relevantes e estão próximos da

autossustentabilidade.

O que fez indicar esses dois empreendimentos foi a sensação que eu tenho a gente indo ou não no (ESAX_PA2001) [ou no] (ESCI_PA2006) eles funcionam lá e eles tem renda, hoje não posso dizer isso de outros, pois eles ainda apresentam uma dependência. (FS_PACO).

De uma forma geral, a partir da análise da Fundação Social paraense, os principais

gargalos identificados nos dois empreendimentos, ESAX_PA2001 e ESCI_PA2006

foram: gestão e mercado. Diante desse fato, é importante um monitoramento técnico

das ações e atividades para correção de rumos e ajustes.

O problema de todas as associações e cooperativas na região se chama gestão. Porque já é uma mão de obra experiente que sabe o que fazer na prática, mas não sabe gerir. Por isso, hoje, o maior gargalo se chama gestão. Tentar inserir novas pessoas nas instituições, pessoas com perfil de gestão. Vai ser aquela pessoa que vai gerir o negócio. Ela que vai ter o controle de quanto foi produzido, quanto foi gasto, como vai ser feita a distribuição, como vai ser feito o fundo do capital de giro. [...] Se não tiver mercado é frustrante. Para eles é. Porque eles produzem, o extrativismo vai lá e se não tiver mercado a mercadoria fica estocada ou estraga. [...] se não tiver monitoramento, se não tiver controle das receitas e dos custos, é a fase em que geralmente as instituições fecham. Quando a instituição realmente se autossustenta é quando já tem o domínio para gerir sua própria instituição. (FS_PAT1).

O empreendimento ESGP_MG2012/2013, mesmo com um tempo de caminhada,

ainda encontra-se em uma fase embrionária, necessitado de outra etapa de apoio a

ser executada com a incubadora social da instituição apoiadora, a partir de uma

metodologia de fortalecimento de um negócio, e em especial, para a promoção da

independência desse grupo produtivo do apoiador.

112

Destaca-se que mesmo em diferentes estágios, os empreendimentos sociais são

canais proporcionadores de melhoria de qualidade de vida aos seus associados.

Essa afirmativa pode ser auferida no grupo focal com os associados através do

Mapa de Indicadores de Satisfação, identificando em cada empreendimento, o grau

de satisfação dos seus membros e quais as melhorias proporcionadas por essa

participação.

Neste momento será dado destaque para o que foi considerado o primeiro mais

importante indicador entre os empreendimentos, segundo os três painéis de

indicadores apresentados – Painel Pessoal; Painel Profissão/Negócio e Painel

Família.

No painel Pessoal, para a maioria dos participantes do empreendimento ESAX-PA

2001 o indicador realização profissional/vocação é o mais importante. Todos os

presentes demonstraram ter o empreendimento como um espaço de exercício de

sua vocação como extrativista, tendo como objetivo a luta por melhores dias em

suas vidas. Este indicador pode ser evidenciado no seguinte depoimento:

Eu, na verdade, eu sou dependente disso quase que total, porque eu não tenho nenhuma outra profissão para dizer que vou me assegurar em outro local, o que sei fazer é trabalhar com o extrativismo com o que a floresta nos dar, trabalhar com a agricultura e se eu perder isso eu vou ficar de mão atadas [...]. Eu tenho uma dependência quase que total daqui. (ESAX_PAGF11). Um dos fatores é de eu ter nascido e ter ficado aqui eu sou dependente daqui totalmente e o que sei fazer é ser extrativista e agricultor e se eu for para cidade eu não tenho o que fazer, não tenho uma profissão e não tenho o saber, por isso que meus planos é por aqui. ( ESAX_PAGF4).

No entanto, no empreendimento ESCI_PA 2006, foi apontado pela maioria dos

participantes, empatados como o 1º mais importante os indicadores melhoria de

qualidade de vida e novos conhecimentos adquiridos. De fato, essa Cooperativa

transformou a vidas das mulheres daquela região, aos lhes garantir uma valorização

e um aprendizado contínuo para o crescimento pessoal. Este fato se confirma no

seguinte relato:

113

[...] a Cooperativa trouxe muito conhecimento para mim, me ajudou e continua me ajudando, hoje tenho duas filhas estudando em Belém [...] depois da Cooperativa e ela me ajudou, possibilitou a ter filhos estudando. Então a gente tem o momento da gente, a gente faz todo ano uma comemoração e leva a nossa família. (ESCI_PADP).

Naquela época eu estava à beira de uma depressão, [...] Para mim foi uma terapia. Foi tudo de bom. Foi quando eu vim me entender e me conhecer realmente que eu tinha condições de fazer algo e de melhorar. Porque levantou a autoestima e isso é fundamental na vida do ser humano. (ESCI_PAVP).

O empreendimento ESGP-MG 2012/2013, aproximou-se de um dos indicadores do

ESCI_PA 2006, sendo o seu primeiro mais importante o indicador Novos

conhecimentos adquiridos. Este demonstra o estágio que passa os componentes

do grupo produtivo, que se vê ainda como aprendizes no processo produtivo e

coletivo.

Para ESAX_PA 2001, no painel da Família, o indicador mais importante, apontado

pela maioria foi o Aumento da renda familiar. Esse resultado demostra a extensão

para a família da importância na participação no empreendimento. Por meio do

coletivo, puderam retirar do empreendimento seu rendimento e contribuir com a

família. Copia-se a seguir, o depoimento do técnico 3 da Fundação que conheceu a

trajetória do grupo, desde 2005.

Aumentaram o rendimento, a qualidade de vida [...]. Outra coisa quando vê uma pessoa, a esposa do presidente, já fez uma faculdade, esta concluindo a segunda faculdade dela, então isso é resultado, os filhos estão na escola, estão estudando, e o pessoal esta vendo que com o extrativismo consegue qualidade de vida, isso faz a diferença. Se for mensurar cada avanço. A gente vê um comunitário com o carro do ano, andando de lancha, isso é qualidade de vida, ganhando dinheiro com castanha. (FS_PAT3).

Para ESCI_PA 2006 destaca-se também o indicador o aumento da renda familiar

como o mais importante indicador. Esse indicador confirma a valorização da mulher

no rendimento da família, apesar dos conflitos de gênero na família, ocasionado pela

sua participação na cooperativa. Elas destacaram as aquisições de bens, imóveis e

o envio dos filhos para estudar nos grandes centros urbanos da região.

No empreendimento ESGP-MG 2012/2013 o indicador apontado como o primeiro

mais importante foi a Participação em reunião e eventos de interesse

114

comunitários. Esse indicador também foi indicado como o segundo mais

importante.

Por ultimo, no painel de Negocio/profissão, ficou demonstrado pelo ESAX_PA 2001

que, para a maioria dos participantes, o indicador mais importante foi a Satisfação

com o trabalho, seguido pelo Sentimento de ser dono do negócio.

Os resultados apurados neste painel foram de extrema relevância para a

demonstração da importância da satisfação com o trabalho, a sensação de

pertencimento e o sentimento de dono do negócio, ambos necessários para o

sucesso de um empreendimento coletivo.

[...] hoje sim nos sentimos donos do negocio, na época que ele falou de 1977 até 2000 não tínhamos esse sentimento. Nós temos sim certa autonomia, hoje não temos um patrão que quer levar o nosso produto e levar, não a gente já escolhe qual o preço melhor. Não é qualquer um que chega aqui e leva. (ESAX_PAGF8).

Nesse painel, o empreendimento ESCI_PA 2006 não realizou escolha para o

primeiro mais importante dos indicadores, porém, a maioria das participantes

escolheu como o segundo ponto mais importante, o indicador satisfação com o

trabalho. Possivelmente, isso se deva ao fato de que mesmo com a participação no

empreendimento tendo provocado um sentimento de valorização da mulher nessa

região, a maioria das mulheres cooperadas considerem o negócio/profissão ainda

em segundo plano, apesar de ter satisfação com o trabalho.

Para ESGP-MG 2012/2013 no painel negócio/profissão, o indicador mais importante

foi a Satisfação com o grupo. Este é o ponto de vista demostrado pelas

participantes que ainda não vêm o grupo produtivo como um negócio e sim como um

grupo de encontro. Tal situação foi expressa no seguinte relato: “Eu não dependo

financeiramente daqui e dependo das pessoas porque sinto bem com elas”.

(ESGP_MGGF8).

Por fim, para o desenvolvimento de um empreendimento social é primordial a

participação da instituição apoiadora nas fases de desenvolvimento de

empreendimentos sociais, pois seus próprios membros consideram fundamental seu

115

apoio técnico e financeiro, pois se sentem frágeis diante das adversidades e das

necessidades requeridas para a solidez do seu negócio, apontando como fator

principal para sua sobrevivência e autossustentabilidade a formação sólida e

consistente do coletivo.

Digo para você que é fundamental a participação da Fundação em qualquer empreendimento e não pode faltar, são fases que não podem ser esquecidas, primeiramente, para se manter em organização, o que não pode faltar é a formação do coletivo. O coletivo tem que estar no primeiro lugar, porque a partir dai a gente abre os caminhos para as atividades. Como por exemplo, nos começamos, no inicio a gente começou com a castanha, depois de certo tempo começou com outros produtos, porque tem a participação do coletivo. Também tem que manter a organização em dia, para ela poder estar sempre acessando os benefícios. (ESAX_PADP).

2.4 Considerações finais:

O desafio do resultado dessa pesquisa e dos empreendimentos sociais apoiados por

instituições privadas é demonstrar para os investidores e apoiadores, a importância

de que seja respeitado um tempo de maturação, de acordo com a necessidade do

coletivo e com a sua realidade.

Para facilitar tal processo ainda é de suma importância a intervenção técnica e

colaborativa da instituição apoiadora para indicar os caminhos e oferecer

possibilidades.

Os empreendimentos sociais pesquisados no Pará se encontram em estágio

bastante avançado. De acordo com os depoimentos, percebeu-se a visão técnica

comprometida com o desenvolvimento das etapas do trabalho por parte da

instituição apoiadora, o que promoveu um diferencial importante para a solidez dos

empreendimentos sociais e para trilhar um caminho para a autossustentabilidade.

Nestes empreendimentos a etapa de formação do coletivo, fundamental para a

constituição do empreendimento, é tratada com grande importância, pois se sabe

que as circunstâncias identificadas, que envolvem os empreendimentos, refletem as

muitas dificuldades vivenciadas por eles, que ora os afastam, ora os aproximam do

caminho da sustentabilidade.

116

O monitoramento das atividades e a avaliação dos resultados ainda são etapas

desafiadoras, tanto para as instituições do Pará, quanto de Minas Gerais, apesar

dos avanços nos registros e mensuração dos dados. De certa forma, os indicadores

econômicos e ambientais estão mais bem observados e registrados, mas os

indicadores sociais ainda são deficientes, principalmente, por envolverem

informações não mensuráveis, que despendem um tempo maior de apuração,

requerem capacidade de avaliação qualitativa e variam de realidade para realidade,

de grupo para grupo, de região para região.

Uma das coisas que trabalhei sempre foi o tempo da comunidade que o nosso é diferente deles. Um tempo que a gente trabalhou foi de dois anos, de organizar, de buscar recurso e fazer investimento. Agora o nosso tempo está parado na comunidade, mas eles estão no processo de buscar parcerias para está trabalhando, por isso o tempo deles é diferenciado. (FS_PAT4).

Os dados levantados juntos aos entrevistados a partir da praticas das fases de

implementação do empreendimento forneceu elementos orientadores para o

monitoramento do tempo de maturação do empreendimento, bem como na

elaboração de indicadores a partir de uma visão de sustentabilidade dentro de um

tempo social. .

Portanto, fez–se necessário avançar na organização de um sistema de

acompanhamento unificado, em especial, acrescido de indicadores sociais, que

proporcione uma rotina padrão que sinalize o caminho para autogestão e

autossustentabilidade.

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119

3. PRODUTO TÉCNICO: EMPREENDIMENTOS SOCIAIS APOIADOS - UMA

PROPOSTA DE MONITORAMENTO, SENSÍVEL AO TEMPO SOCIAL, NA BUSCA

DA AUTOSSUSTENTABILIDADE

AMARAL, Odnélia Cristina S. de16

MELLO, Ediméia Maria Ribeiro17

Resumo O artigo apresenta o desenvolvimento da proposta do produto técnico no contexto da Gestão Social, gerando uma Inovação Social, para fins de Desenvolvimento Local, a partir da realização de pesquisa em Minas Gerais e no Pará sobre o tempo de maturação e a autossustentabilidade de Empreendimentos Sociais apoiados pela iniciativa privada. Esse produto técnico propõe uma Cartilha Orientativa cujo objetivo é apresentar uma metodologia de monitoramento para a Autogestão e a Sustentabilidade apropriada aos Empreendimentos Sociais. Essa cartilha destina-se à direção e aos associados dos empreendimentos, bem como, às instituições apoiadoras. A produção dessa cartilha baseou-se na vivência profissional de uma das autoras (AMARAL), em leituras de referenciais que trouxeram reflexões teóricas sobre a metodologia de monitoramento, indicadores e autossustentabilidade de empreendimentos e nos resultados analíticos da pesquisa realizada. A pesquisa sinalizou a presença de fragilidades importantes na metodologia de monitoramento para a sustentabilidade, cujos indicadores desconsideram as diversidades de carências presentes em empreendimentos sociais de base comunitária. Essa cartilha parte do pressuposto da necessidade do entendimento da existência de um tempo social (tempo de maturação típico dos empreendimentos sociais) afeto a diferentes fases a serem superadas para o sucesso. Assim, oferece uma metodologia de monitoramento participativa e empoderadora, dentro de um instrumental de Matriz de Sinalização para Autogestão e Autossustentabilidade, contendo indicadores de sustentabilidade de empreendimentos, que contribuam para a promoção da Gestão Social para fins de sustentabilidade com autonomia dos empreendimentos sociais.

Palavras-chave: Metodologia; Monitoramento; Tempo Social; Autogestão; Sustentabilidade.

Abstract

The paper presents the development of the technical product proposal in the context of Social Management, generating a Social Innovation for local development

16

Mestranda do Programa de Pós-graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local no Centro Universitário UNA. Avenida João Pinheiro, 515, Funcionários. CEP: 30130-180. Belo Horizonte. E-mail: [email protected]. 17

Orientadora e professora do Programa de Pós-graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento local no Centro Universitário UNA. Avenida João Pinheiro, 515, Funcionários. CEP: 30130-180. Belo Horizonte. E-mail: [email protected].

120

purposes, trough researches about on the time of maturation and the self-sustainability indicators for Social Entrepreneurships supported by the private sector. The researches were conducted in the Brazilian states of Minas Gerais and Pará. This technical product aims to be an orientation guide for Social Entrepreneurship and contains a monitoring methodology for self-management and for an appropriate sustainability. This booklet is designated for boards and for enterprise members, as well as for supporting institutions. The production of this booklet is based on the professional experience of one of the authors (Amaral), as well as on reading of references which led to theoretical reflections on the methodology of monitoring indicators and self-sustainability of projects. The booklet is also the analytical results of the survey. The survey evidenced the presence of important weaknesses in the monitoring methodology for sustainability, since its indicators ignore the diversity of present deficiencies in community-based social entrepreneurship. The booklet assumes the need of understanding the existence of a social time (typical maturation time of social entrepreneurship) considering the different phases to be overcome to accomplish success. Thus, it offers a participatory and empowering monitoring methodology within an instrumental Signaling Matrix for Self-Management and Self-Sustainability, containing entrepreneurship sustainability indicators which contribute to the promotion of Social Management for sustainability purposes with autonomy of social entrepreneurship. Key words: Methodology; Monitoring; Social time; Self-management; Sustainability

3.1 Introdução

Neste artigo, é descrita uma proposta de monitoramento para a autogestão e

sustentabilidade, cujo prazo de cumprimento das fases está baseado em parâmetros

qualitativos que admitem a existência de um tempo social, típico dos

empreendimentos sociais, como forma de acompanhamento dos seus processos,

propondo novos indicadores para a gestão da sustentabilidade.

Nos resultados analíticos da pesquisa foi percebido a real necessidade desses

empreendimentos em terem uma rotina organizada de dados e informações onde

possam sistematizar, registrar e acompanhar o andamento das atividades,

sinalizando, para os seus associados e para os apoiadores, o percurso trilhado na

direção, ou não, da sustentabilidade.

A pesquisa nos permitiu analisar a dinâmica dos empreendimentos sociais, em

especial, seu tempo de amadurecimento por meio do delineamento de suas fases e

de seu caminho para a sustentabilidade. Os dados coletados juntos aos

121

entrevistados quanto ao desenvolvimento de suas fases para implementação dos

empreendimentos permitiram trabalhar uma proposta de intervenção, que levantasse

os indicadores de sustentabilidade, por meio de uma metodologia de monitoramento

que qualificasse o estágio do empreendimento, em relação ao caminho a ser

palmilhado em direção ao seu amadurecimento e ao momento de sua emancipação.

Essa emancipação reconhecida pela independência da instituição apoiadora,

efetivação da autogestão e consolidação no mercado, qualificado, então, como

momento da autossustentabilidade.

Assim essa proposta encaminha uma metodologia de monitoramento e avaliação

com indicadores da autossustentabilidade, baseada na dinâmica dos

empreendimentos pesquisados, contendo um instrumental denominado Matriz de

Sinalização para a Autogestão e a Autossustentabilidade para qualificar o estágio do

empreendimento social em relação ao seu tempo social.

De acordo com a definição da Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL

1997) as metodologias de monitoramento conhecidas apresentam caracteres de

elevada concretude na direção de acompanhar a absorção dos insumos para a

realização dos objetivos propostos envolvendo indicadores, em sua maioria,

quantitativos. Entretanto, na maioria das vezes o alcance do sucesso, ou não, do

empreendimento social esta associado a fatores qualitativos ainda pouco explorados

nas metodologias conhecidas.

Desse modo, este apresentará como parte integrante dessa dissertação de

mestrado, o produto técnico intitulado de Cartilha Orientativa: Metodologia de

monitoramento para a autogestão e autossustentabilidade para

empreendimentos sociais, sensível ao tempo social, cujo objetivo é contribuir

com o processo de Gestão Social, importante dentro de organizações coletivas que

busquem sustentabilidade e autonomia emancipadora, comprometido com o

desenvolvimento local.

Para maior clareza, a sua estrutura foi dividida em duas partes: a primeira parte

contextualiza o produto técnico e aborda referenciais teóricos sobre indicadores e

122

processos de monitoramentos sociais bem como sobre o tempo social, objeto dessa

pesquisa. A segunda parte descreve o produto técnico que é a Cartilha Orientativa

dividida em: Antecedentes; Etapas necessárias para o desenvolvimento de um

empreendimento social e Metodologia de Monitoramento para a Autogestão e

Autossustentabilidade sensível ao Tempo Social para Empreendimentos Sociais.

3.2 Contextualizando o produto técnico

Uma proposta de monitoramento para a autogestão e autossustentabilidade de

empreendimentos sociais, contemplados por programas de fomento à geração de

renda para membros de comunidades portadoras de deficiências, do ponto de vista

da capacidade empreendedora, necessita definir indicadores aptos a abarcar as

providências, para superar lacunas de difícil padronização, assim como, dotadas de

uma previsibilidade cronológica relativa.

Os indicadores para compor um processo de monitoramento e avaliação dessa

natureza são estabelecidos com a finalidade de serem “medidores” / “indicadores” de

como está uma determinada realidade, seja de forma quantitativa e/ou qualitativa.

Segundo os pressupostos estabelecidos no Manual da CEPAL (1997), indicadores

para avaliação devem ser confiáveis, válidos, além de aferir mudanças específicas,

bem como se explicar de forma clara e precisa, ou melhor, serem autoexplicativos.

Para o Manual do SESI/PR (2010), indicadores são relevantes pelo fato de

estabelecerem o marco zero – situação dos objetos/processos de monitoramento

e/ou avaliação antes de serem submetidos às intervenções pretendidas –, monitorar

processos e comunicar resultados. Portanto os indicadores “são variáveis definidas

para medir um conceito abstrato, relacionado a um significado social, econômico ou

ambiental, com a intenção de orientar decisões sobre determinado fenômeno de

interesse”. (SESI/PR, 2010, p.11).

Abdala (2004) define a atividade de avaliação, como “[...] um processo sistemático,

metódico e neutro que mede os efeitos de um programa, relacionando com as metas

123

e os recursos utilizados”. (ABDALA 2004, p.26). Ele ressalta, ainda, como fator

importante na realização desse processo, o comprometimento dos envolvidos e a

observação dos seguintes aspectos: bom planejamento, dialogicidade e definição

adequada das etapas, bem como, fidelidade ao contexto da realidade. Essas

recomendações implicam em...

Fazer com que o processo de definição de indicadores seja o mais participativo possível, envolvendo todos os principais atores do projeto; promover reflexões periódicas com os atores ao longo de todo o projeto; explicitar os meios de verificação e coleta de dados, bem como seus responsáveis; e buscar fazer uso de informações já existentes ou de simples produção, com o objetivo de otimizar o uso de recursos. (ARMANI, 2001 apud BORBA; FARAH; FADATO; FILHO; PIRES, 2004, p. 6).

Ávila (2001) destaca a importância da realização de um monitoramento sistemático

de processos, projetos ou organizações, o que possibilita benefícios como o controle

das ações, otimização de recursos, além de correção de rumos em tempo do

andamento das ações. Deste modo garante um resultado mais positivo e efetivo dos

objetivos/fins que se propõe.

No momento da implementação, o monitoramento sistemático das atividades e os custos do projeto fornecem as informações necessárias não só para o momento da avaliação final, mas também para todos os níveis gerenciais, possibilitando o controle efetivo das ações em sua relação com nossos objetivos, nossos prazos e nossos resultados, em uma ligação direta com o anteriormente planejado, possibilitando corrigir os rumos, apontando ações corretivas necessárias, exigindo de nós um replanejamento que, não raro, afetará nossos custos, prazos e o desenvolvimento do projeto. (AVILA, 2001, p.40).

Faz-se necessário ao processo de monitoramento, um cronograma real e efetivo em

que seja possível visualizar todas as ações propostas, além de identificar o que não

está indo muito bem. Dentro dos empreendimentos esse acompanhamento e

controle são primordiais e necessários para que se possam identificar desvios e agir

para a correção, no decorrer e andamento das ações.

Portanto, a partir das inferências analíticas da pesquisa, expostas no capitulo 2, bem

como as referências teóricas descritas no capitulo 1, elaborou-se um conhecimento

metodológico para se desenvolver um sistema avaliativo, com princípios e

124

procedimentos emancipatórios, contínuos e construtivos, para possibilitar a

implementação de um processo de monitoramento.

A expectativa é de que essa metodologia possibilite aos associados serem sujeitos

do processo, capazes de refletir sobre seus potenciais e limitações garantindo o

exercício de um processo sistematizado, com sinalizadores de desvio ou

permanência no caminho da autossustentabilidade, observado o tempo social típico

dos empreendimentos sociais, objetos de programas de geração de renda

destinados a comunidades com deficiências socioeconômicas.

3.3 Produto Técnico

A seguir, apresenta-se o conteúdo da cartilha a ser oferecida aos associados e

dirigentes de empreendimentos sociais e às instituições apoiadoras.

125

CARTILHA

ORIENTATIVA

EMPREENDIMENTOS SOCIAIS: METODOLOGIA DE

MONITORAMENTO PARA A AUTOGESTÃO E

AUTOSSUSTENTABILIDADE, SENSÍVEL AO TEMPO

SOCIAL

2015

Autoras:

Odnélia Amaral e Ediméia Mello

Matriz de Sinalização Autogestão e

Autossustentabilidade

Meio

ambiente

Economia

Gestão Social

126

CARTILHA ORIENTATIVA

AMARAL, Odnélia Cristina S. de18

MELLO, Ediméia Maria Ribeiro19

EMPREENDIMENTOS SOCIAIS: METODOLOGIA DE

MONITORAMENTO PARA A AUTOGESTÃO E

AUTOSSUSTENTABILIDADE, SENSÍVEL AO TEMPO

SOCIAL.

Belo Horizonte

2015

18

Mestranda em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local no Centro Universitário UNA. Avenida João Pinheiro, 515, Funcionários. CEP: 30130-180. Belo Horizonte. E-mail: [email protected]. 19

Orientadora e Professora do Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento local no Centro Universitário UNA. Avenida João Pinheiro, 515, Funcionários. CEP: 30130-180. Belo Horizonte. E-mail: [email protected].

127

Apresentação

sta Cartilha Orientativa é produto da dissertação de mestrado do Programa

de Pós-Graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local

do Centro Universitário UNA e foi elaborada com o objetivo de contribuir

para a implementação da gestão social nas organizações produtivas comunitárias,

como forma de alcançar a autossustentabilidade e autogestão, com vistas ao

desenvolvimento local.

A produção dessa cartilha tem origem nas inferências realizadas a partir dos dados

coletados juntos aos entrevistados quanto ao desenvolvimento de suas fases para

implementação de um empreendimento, bem como, se apoia nas leituras de

referenciais teóricos e na experiência prática de uma das autoras (AMARAL). Seu

objetivo é nortear os sócios dos empreendimentos sociais coletivos e seus

apoiadores, por meio de uma metodologia de monitoramento do processo de

maturação do empreendimento, adotando indicadores balizadores das dimensões

da autossustentabilidade.

Considera-se emancipado e autônomo o

empreendimento social que consegue

sobreviver por um tempo longo em condições

de equilíbrio financeiro, assim como

internalizar o seu processo decisório, mesmo

que inserido numa rede de parcerias variável

no tempo e no padrão de troca estabelecido.

Kraychete (2006, 2011) condiciona a meta de

equilíbrio financeiro em um empreendimento

associativo às habilidades dos associados, e

não somente aos aspectos econômicos, mas também aos processos de

transformações sociais mais amplos.

Por outro lado, o conceito sustentabilidade é bastante amplo e abrange os aspectos

econômicos, ambientais e sociais.

E

Empreendimento associativo

adquire condições de

sustentabilidade quando os seus

associados se encontram

habilitados para assumir a sua

condição (plena de habilitados). [...]

neste termo a sustentabilidade

dos empreendimentos econômicos

não é um problema estritamente

econômico, nem se equaciona no

curto prazo, mas pressupõe ações

políticas comprometidas com um

processo de transformação social.

(KRAYCHETE, 2006, p. 1).

128

Alves Junior, Fontenele e Faria (2008) recomendam

ainda às organizações, algumas pré-condições para

a sustentabilidade, as quais implicam na adoção

das seguintes medidas:

Essa busca por autossustentabilidade pelos

empreendimentos implica em superar estágios em

um processo de desenvolvimento.

Assim para Kraychete (2006), os empreendimentos

sociais necessitam de maior tempo para sua

maturação e sua sustentabilidade, que não se

restringe apenas ao seu bem estar econômico, mas

às diversas dimensões em que estão inseridos.

A autogestão é um dos requisitos para a

sustentabilidade dos empreendimentos sociais por

contribuir com o empoderamento dos associados.

Para Singer (2013, p. 4), “empreendimentos

econômicos que praticam a autogestão, [...] aplicam

a democracia em sua gestão” e atribuem a

responsabilidade aos associados, pois na

autogestão os associados são “proprietários de

tudo o que é produzido, mas também os prejuízos são deles” (SINGER, 2008, p.

290).

TIRIBA (2008) destaca que a autogestão garante a “autonomia e autodeterminação

na gestão do trabalho e em todas as instâncias das relações sociais” (TIRIBA, 2008,

p. 83), ou seja, o associado passa a ser senhor de si mesmo e do seu trabalho e

torna-se um sujeito atuante e participativo em seu empreendimento.

(a) qualificar tecnicamente o

trabalho; (b) compartilhar o

projeto político/missão; (c)

promover uma cultura e

metodologia de planejamento e de

monitoramento e avaliação; (d)

aperfeiçoar os mecanismo de

gestão; e (e) qualificar a

participação interna e a

democratização dos processos

decisórios. (ALVES JUNIOR,

FONTENELE e FARIA, 2008, p. 5).

Ser uma organização sustentável significa ser economicamente lucrativa ambientalmente correta e

socialmente responsável. Sendo assim, as ações de sustentabilidade precisam atuar como suporte das

estruturas de gestão das organizações, e não apenas como ações pontuais. (ALVES JUNIOR,

FONTENELE e FARIA, 2008, p. 4).

A sustentabilidade dos

empreendimentos da economia

popular solidária envolve tanto

questões internas como externas

aos grupos. Certamente, nada

substitui a necessidade dos

trabalhadores associados saberem

tocar e gerir os seus

empreendimentos. [...] a

sustentabilidade dos

empreendimentos associativos não é

uma questão técnica ou

estritamente econômica, mas

essencialmente política.

(KRAYCHETE, 2011, p. 17).

129

Neste sentido essa cartilha objetiva contribuir com a sinalização do caminho a ser

trilhado para a autogestão e autossustentabilidade, oferecendo uma metodologia de

monitoramento através de uma matriz de indicadores, possibilitando reflexões das

fases a serem superadas e sinalizando os avanços a cada aplicação da

metodologia.

Essa proposta partiu de reflexões teóricas e práticas sobre as atuações de

empreendimentos sociais, compreendidos como organizações sócio produtivas que

reúnem pessoas movidas por interesses em empreender de forma independente,

segundo um modelo de organização coletiva e autogestionária inseridas dentro de

uma “lógica peculiar” (KRAYCHETE, 2011) em uma economia social local.

A pesquisa realizada junto aos três empreendimentos sociais dos estados do Pará e

Minas Gerais apoiados por instituições privadas geraram informações que

proporcionaram elementos abundantes a serem considerados. Foi confirmada a

existência de um tempo social a ser observado quando da concessão de apoio

técnico e/ou financeiro, um tempo necessário à maturação. Esse é um tempo das

pessoas relativo e subjetivo, que impacta o desenvolvimento do empreendimento e

que não pode ser condicionado ao tempo cronológico. Considerar o tempo social de

fato pode ser o caminho rumo à sustentabilidade

dos empreendimentos.

Esse tempo social é o demandado para se

preparar e emancipar pessoas atuantes, ou que

se interesse por processos produtivos

comunitários, entretanto, necessitadas de

perceberem as complementaridades no coletivo,

aprendendo a desempenhar seus papéis em

processos autogestionários e a realizarem um

processo decisório que as levem a alcançar a

sustentabilidade de seus negócios.

Essa cartilha destina-se aos empreendimentos sociais envoltos em uma economia

social e comunitária que buscam alcançar sua autossustentabilidade para fins de

Pela cooperação econômica em

âmbitos que inviabilizam a

competição, e nas comunidades

(principalmente as rurais) buscam-se

alternativas viáveis para a

subsistência das pessoas dessas

comunidades, de modo a contemplar

também o equilíbrio territorial e

demográfico, a preservação de

costumes e tradições, os laços

históricos e o potencial dos recursos

intrínsecos a elas. (FELSKI,

SAMPAIO e DALLABRIDA, 2010, p.

84).

130

fortalecer a “ecossocioeconomia”, caracterizada por um padrão de relação

cooperativo, típico da convivência territorial, conforme explicam Felski, Sampaio e

Dallabrida (2010).

Por fim, destina-se também, às instituições apoiadoras ou de fomento que se

empenham em contribuir na busca da sustentabilidade e na melhoria da qualidade

de vida dos associados dos empreendimentos sociais.

A Cartilha está dividida da seguinte forma:

Antecedentes;

Etapas necessárias para o desenvolvimento de um empreendimento social

Metodologia de Monitoramento para a Autogestão e

Autossustentabilidade, sensível ao Tempo Social para Empreendimentos

Sociais.

Então, venha conhecer essa cartilha!

131

1. Antecedentes

onsiderando a necessidade do respeito ao Tempo Social demandado

pelos empreendimentos, para o alcance da autossustentabilidade em

função do conjunto de fatores e do contexto que envolve os associados,

bem como, da natureza do empreendimento, sua situação geográfica, social e

econômica é importante observar os aspectos a seguir, para se realizar o

monitoramento do processo de implementação de um empreendimento dessa

natureza.

a) Empreendimentos coletivos de viés

social são instrumentos de

geração de renda e de

transformação, na medida em

que promovem a emancipação de

seus associados, tornando-os empreendedores colaborativos. Para tanto

será importante adotar o formato de gestão preconizado pela gestão

social, segundo as seguintes caraterísticas: autogestão; condução

dialógica e democrática; aprendizado permanente de habilidades técnicas

e gerenciais, em favor da inovação contínua e da produção de

conhecimento sobre o negócio e sua inserção mercadológica; participação

dos associados no processo decisório, tanto no produtivo quanto no sócio

organizacional, detenção dos meios de produção e força de trabalho;

investimento no sentimento coletivo de responsabilidade conjunta do

negócio.

b) As ações em conjunto aos empreendimentos devem ser sequenciais

dentro de um tempo social necessário para atingir a sua

autossustentabilidade, portanto, não poderá estar sujeito a financiamentos

pontuais e estanques, nem tão pouco há um tempo condicionado pelo

investidor financeiro. A instituição apoiadora, que depende de recurso

externo para manter e/ou dar continuidade nos projetos desse cunho, tem

o desafio de demostrar que a necessidade do investimento deve estar

aliada ao perfil do empreendimento e à sua complexidade, e não sendo

desse modo, não será viável a sua sustentabilidade.

C

132

c) A instituição apoiadora tem participação relevante no desenvolvimento

desses empreendimentos e deve se comprometer no alcance da

autossustentabilidade do mesmo. Portanto, deve contribuir para a

captação de recursos para investimentos em recursos técnicos,

financeiros, materiais e assegurar o respeito ao tempo social necessário,

em função da realidade do empreendimento, evitando a imposição de um

tempo cronológico rígido de alcance de metas objetivas, visto que as

metas que comprometem o uso de tempo no empreendimento, têm caráter

subjetivo e é moldado dentro da necessidade de seus associados.

d) A relação da instituição apoiadora com o empreendimento social é uma

relação de capacitação permanente, e necessariamente participativa. A

cada estágio de evolução da implementação do empreendimento é

necessário à realização de diagnóstico, de treinamento, de monitoramento

e de ajustes, ocasião em que os membros do empreendimento

acompanhados pelos apoiadores aprendem juntos, pois, as dificuldades

podem ser de caráter geral ou serem peculiares ao empreendimento,

neste caso, implicando num aprendizado de mão

dupla. Dessa forma é necessário o domínio do

conhecimento gerado no processo pelas duas

partes: empreendedores associados e apoiadores.

e) Ressalte-se, como uma decorrência do aspecto anterior, que a instituição

apoiadora, durante o exercício de apoio ao empreendimento social,

também se submete a um processo de incorporação de novos

conhecimentos à sua rotina de atuação que abrange, além da adaptação

dos aspectos gerais do suporte oferecido ao caso em foco, a criação ou

busca de procedimentos novos, específicos a cada coletivo em formação.

Esse processo de formação de conhecimento também demanda tempo.

133

2. Etapas necessárias para o desenvolvimento de um Empreendimento

Social

a pesquisa realizada e experiências

vivenciadas foram possíveis

perceber que cada empreendimento

apresenta a sua especificidade de contexto e

de complexidade. Entretanto, identificaram-se

algumas etapas presentes no processo de

desenvolvimento dos empreendimentos que

sinalizam momentos reflexivos.

Essas fases são fundamentais para a garantia

de uma base sólida ao empreendimento,

portanto, não podem ser evitadas no

planejamento e na criação do

empreendimento social. As etapas

identificadas, a partir da reflexão

proporcionada pelas leituras realizadas e

pelas pesquisas de campo são:

1) Fase preparatória – tempo social:

antecede a formalização do empreendimento

e tem o intuito de promover a qualificação

profissional, por meio da oferta de cursos

técnicos e gerenciais. Paralelamente à

capacitação profissional deve ser ofertada

uma educação promotora do desenvolvimento

de habilidades humanas, de relacionamento

em ambientes coletivos, pautados na

cooperação e habilidades empreendedoras.

N

O que não pode falta na fase

Preparatória é:

Capacitação para a formação

do coletivo, com noções básicas para o

desenvolvimento humano, que incluem o

resgate da autoestima, a valorização do

trabalho no coletivo, o desenvolvimento

da solidariedade e de habilidades em

gestão do trabalho em equipe.

Capacitação profissional, por

meio da oferta de formação em técnicas

produtivas em profundidade, a partir da

verificação da afinidade do grupo com

uma linha de produção; tecnologias

gerenciais e comerciais, com

aprofundamento em aspectos relevantes

do marketing, especialmente, formação

de preço de custo e preço de mercado,

atendimento ao cliente e acesso a

canais de distribuição e divulgação.

Promoção de experiências de

venda dos produtos confeccionados

para promover o exercício da

comercialização e remuneração entre os

participantes no sentido de contribuir

para a sustentabilidade econômica

dessa fase.

Avaliação da capacitação, do

interesse e do comprometimento do

coletivo em formalizar um negócio sob

o formato da gestão social.

134

2) Fase de

constituição do

empreendimento social –

tempo social: Formalizado

o coletivo para constituir um

negócio, seja cooperativa,

associação ou outro

formato, passa a percorrer o

caminho até ao alcance da

autossustentabilidade, que

são:

A complexidade de um

empreendimento social

pode se dar em função, por

exemplo, da localização –

logística de acesso aos

fornecedores e ao mercado

–; do nível de instrução das

pessoas – grau de

escolaridade inicial –; do

nível de conhecimento para

uma preparação com

qualidade do produto a ser

comercializado; do tipo de

produto; do nível de

preparação das pessoas

para a gestão e para o

pensamento empreendedor.

Segundo um dos

entrevistados da pesquisa

realizada no Pará, a

complexidade permeia os

A fase de constituição do empreendimento social deve

percorrer:

Fortalecimento do coletivo, por meio da preparação das

pessoas para uma gestão social, assim como para o mercado e

para a competitividade;

Estruturação organizativa horizontal, ou seja, na qual o

poder de decisão da organização é distribuído entres todos

associados, cada um assumindo seu papel e responsabilidade;

Constituição legal e identificação participativa da forma

legal mais adequada para o empreendimento;

Elaboração do projeto/plano de negócio específico, feito

de forma participativa para a captação de recursos e de parcerias;

Estruturação física do empreendimento (aquisição de

local e maquinários, de acordo com a capacidade de aquisição);

Capacitação pedagógica para a autogestão com o

desenvolvimento de habilidades gerenciais e administrativas;

Capacitação profissional para qualidade do produto e

adequação da tecnologia de produção ao mercado e à produção em

escala comercial, no contexto dos associados serem detentores dos

meios de produção e da força de trabalho;

Estabelecimento do preço justo, que inclua os custos de

produção, pagamento de pró-labore e a geração de recurso para

reinvestimento;

Estabelecimento da remuneração proporcional à

participação no processo produtivo e função da realização da

produção no mercado, garantindo os rendimentos dos membros do

grupo, a serem distribuídos imediatamente após o início dos

recebimentos;

Estabelecimento de relacionamento com parceiros e

articulação em redes solidárias;

Produção e colocação do produto nos pontos de

comercialização, por meio da adoção das estratégias de marketing

adequadas;

Inovação e aprimoramento do produto;

Diversificação de produção.

135

empreendimentos e é um fator que deve ser considerados nesses empreendimentos

sociais e comunitários para o planejamento e a execução das funções de apoio e

monitoramento/avaliação.

Para tanto, é importante destacar que o grau de complexidade dentro do

contexto social de um empreendimento tende a estabelecer o tempo social

necessário para sua maturação e para a sua autossustentabilidade e, portanto, não

deverá ser submetido a uma “camisa de força” ou a uma análise fundamentalista de

que se alcançar a independência, tem um prazo rígido, cronológico de, por exemplo,

3 anos ele não seja viável e/ou que seus associados não tenham interesse, pois

deve se considerar que....

Tais indagações são confirmadas pelo estudioso Kraychete (2011):

A sustentabilidade dos mesmos [empreendimentos], entendida como a capacidade de ampliarem continuamente o alcance de suas práticas, depende de condições culturais, econômicas, tecnológicas, sociais etc, impossíveis de serem alcançadas apenas através do empenho dos trabalhadores associados e de suas articulações em redes e fóruns. (KRAYCHETE, 2011, p. 17).

Portanto a estimativa proposta de tempo de maturação ou tempo social pode ser

confirmada como também pode ser antecipada ou prolongada por um determinado

período, dependendo das circunstâncias internas e externas às quais os

empreendimentos estão sujeitos.

Cada empreendimento tem sua natureza e tem sua complexidade, tem sua dinâmica de

produção e de mercado, têm seus riscos, algum tem risco muito alto, outros têm

margem de risco mais baixa, alguns, da matéria prima ao mercado estão tudo no mesmo

local, outros não, além disso, (deve considerar) do grupo, o nível formação e de

informação, o grau de articulação, a capacidade que ele tem de interação, do grau de

motivação, é que esse time (tempo) vai variar. (FS_PACO).

136

3. Metodologia de Monitoramento para a Autogestão e Autossustentabilidade

sensível ao Tempo Social para Empreendimentos Sociais

ara mensuração de resultados e andamento dos processos, destacam-se

as metodologias de monitoramento consideradas fundamentais para o

acompanhamento das ações e atividades e para a verificação do alcance

dos objetivos propostos e planejados ou da necessidade de realização de ajustes.

Segundo Ávila (2001), a atividade de monitoramento tem sua importância devida à

possibilidade de “[...] corrigir os rumos, apontando ações corretivas necessárias,

exigindo de nós um replanejamento que, não raro, afetará nossos custos, prazos e o

desenvolvimento do projeto”. (ÁVILA, 2001, p. 40).

Para este fim, foram definidos indicadores para monitorar processos e comunicar

resultados. Estes buscam medir conceitos abstratos e contribuem na tomada de

decisões.

Indicadores funcionam como um termômetro, permitindo balizar (demarcar) o entendimento e o andamento das ações e são fundamentais para avaliar os objetivos, metas e resultados propostos, quantitativamente e qualitativamente. (SESI-PARANÁ, 2010, p. 11).

No decorrer da pesquisa que originou essa cartilha, se constatou lacunas no

processo de sistematização e monitoramento das informações, tanto por parte das

instituições apoiadoras, quanto dos empreendimentos sociais pesquisados, em

especial, no que se refere aos indicadores sociais, No intuito de suprir essa lacuna,

buscou-se contribuir com os empreendimentos sociais, a partir de uma visão de

garantia de sustentabilidade no formato autogestionário, por meio da oferta de uma

matriz de sinalização. Essa matriz estabelece indicadores no contexto das quatro

seguintes dimensões de sustentabilidade: do meio ambiente, da economia, da

gestão e do social, descritas a seguir:

Dimensão do meio ambiente – relativa ao uso sustentável do meio ambiente

em que está inserido e as práticas de proteção ao meio ambiente.

Dimensão da economia - retrata a eficiência econômica do empreendimento

dentro de uma visão em que os associados exercem o controle total sobre

P

137

sua força de trabalho e são detentores dos meios de produção, tornando o

seu negócio economicamente viável.

Dimensão da gestão - confere ao empreendimento o seu planejamento,

organização, direção, controle, habilidades gerenciais, habilidades

administrativas e relacionamentos externos. Nesse sentido a dimensão deve

ser promotora de uma capacitação pedagógica permanente de seus

associados para uma gestão autossuficiente.

Dimensão do social - está centrada em valores baseados de reciprocidade e

de solidariedade para com seus associados. Estes valores regem a

organização e dentro de um processo educativo e do desenvolvimento do

sentimento de pertencimento à organização, desencadeiam uma forma de

gestão autogestionária.

Essas dimensões devem ser vistas de forma dinâmica, interdependentes e

articuladas, evoluindo de forma sistêmica dentro dos empreendimentos. Os formatos

pelos quais elas moldam os empreendimentos, ora os assemelham, ora os

diferenciam entre si, de acordo com a realidade na qual estão inseridos rumo à

autossustentabilidade. Ressalta-se que a dimensão gestão e social são única, no

sentido do conceito de gestão social, mas foram agrupadas em blocos separados,

por conta de destacar e facilitar ao empreendimento a trabalhar a problemática de

gestão apontada em todos os empreendimentos pesquisados.

Meio

ambiente

Gestão

Economia

Social

Matriz de Sinalização Autogestão e

Autossustentabilidade

138

Matriz de Sinalização para a Autogestão e Autossustentabilidade do

Empreendimento Social

Esta matriz tem por finalidade contribuir com o empreendimento social no sentido de

demonstrar o estágio em que se encontra com base nos indicadores de

sustentabilidade, e oferecer uma sinalização para o caminho, se é ou não, o da

autossustentabilidade. A ideia foi gerar um instrumental simples que atendesse,

tanto aos associados dos empreendimentos, quanto aos seus apoiadores.

Assim, tanto o corpo diretivo e os associados do empreendimento, quanto os

técnicos das instituições apoiadoras poderão aplicar esse instrumento, buscando

avaliar, cada indicador dentro da dimensão elencada, indicando o “status” no

momento da avaliação. Essa avaliação deve ser coletiva, envolvendo todos os

associados, e acompanhada pela direção

do empreendimento e pelas instituições

apoiadoras.

A primeira matriz aplicada será

considerada o marco zero no processo de

monitoramento. Recomenda-se a sua

aplicação periódica: de quatro em quatro

meses. A seguir, apresentam-se os passos necessários à aplicação da matriz.

139

Passo 1 Passo 2 Passo 3 Passo 4

Preencha a matriz

impressa com o nome

do empreendimento e a

data de atualização.

Leia a legenda que

mostra a possibilidade

de avaliação de 4 a 0,

para o seu grau de

satisfação, com o

andamento do

empreendimento. Preste

a atenção ao significado

de cada classificação.

Avalie os indicadores

em conjunto com mais

de um associado e com

o técnico da instituição

apoiadora. É importante

que todos tenham

conhecimento efetivo da

evolução do

empreendimento.

Reflita cada dimensão e

cada indicador e

marque, de acordo com

a legenda, seu grau de

satisfação com o

indicador percebido no

empreendimento.

Feita a avaliação de

cada dimensão, faça a

somatória por

dimensão. Em seguida,

faça a somatória geral.

Somando os graus de

satisfação de cada

dimensão, ao final da

tabela. Por exemplo,

para o grau de

satisfação 4, foram 8

marcações, para o 3

foram 10 marcações e

assim por diante.

Coloque, no espaço ao

lado da legenda, o

resultado alcançado para

uma melhor visualização.

Passe para a segunda

pagina da matriz.

Destaque a classificação

que obteve maior

pontuação e leia a

interpretação do

resultado. Em caso de

empate, leia os dois

indicadores de maior

pontuação.

Volte à matriz e

identifique, em cada

dimensão, os itens

avaliados como 3, 2 ou 1

para realizar possíveis

correções de rumo, para

verificar na próxima

aplicação da matriz, a

evolução desses itens.

Apurado o resultado da

matriz, a reflexão

conjunta sobre as

sinalizações, trace um

planejamento conjunto

com os associados e o

seu apoiador para que

sejam feitas as correções

de rumos.

Ressalte-se que para

uma evolução de

acompanhamento dos

empreendimentos e das

instituições apoiadoras,

foi disponibilizado arquivo

eletrônico da matriz com

cruzamentos de

informações e o arquivo

em pdf para que possa

realizar impressões da

matriz, caso, a use

manualmente.

A seguir, apresenta-se a matriz:

140

Uso sustentável - recuperação de áreas degradadas

Uso sustentável - materiais (papeis, plasticos, metais, outros)

Uso Sustentável - água ( consumo consciente)

Uso Sustentável - energia (economia no consumo)

Respeito às leis ambientais com relação ao negócio (certificações, autorizações)

SOMATORIA PARCIAL - DO MEIO AMBIENTE 0 0 0 0 0

Rendimento satisfatório do empreendimento

Em situação de equilíbrio (receita = custo)

Carteira de clientes diversificada e grande

Rede de fornecedores consolidada

Preço Justo do produto (proporciona boa remuneração)

Capacidade de prospecção mercado (identificação de oportunidades)

Capital reserva (produz sobra para reinvestir)

Inovação e aprimoramento do produto

Diversificação de produção

Captação de recursos - financiamento de projetos, microcrédito, emprestimos

Acesso a políticas públicas (assiStência técnica, fomento e comercialização)

Empreendimento está adimplente

Propriedade coletiva do patrimônio do empreendimento

Capacidade de formação de patrimônio

SOMATORIA PARCIAL - DA ECONOMIA 0 0 0 0 0

DIMENSÃO INDICADORES

AVALIAÇÃO DO PERÍODO

EMPREENDIMENTO SOCIAL

MATRIZ DE SINALIZAÇÃO PARA A AUTOGESTÃO E AUTOSUSTENTABILIDADE

EMPREENDIMENTO SOCIAL ________________________________________

DATA DE ATUALIZAÇÃO: ________/________/__________

DO MEIO AMBIENTE

DA ECONOMIA

4 3 2 1 0

141

Documentação legal do empreendimento atualizada (alvarás, certidões)

Estatuto e regimento autalizados

Taxa, impostos e fornecedores em dia

Comunicação da prestação de contas em dia com os associados

Planejamento de atividades e produção

Apresenta visão de futuro para o empreendimento

Cargos suficientes e exercício das funções eficiente

Quantidade de sócios suficiente

Habilidades gerenciais - capacitação e preparação em gestão

Habilidades produtivas - capacitação e preparação em técnica produtiva

Habilidades administrativas - capacitação em conhecimentos contábeis, financeiros, jurídicos e outros

Entrega do produto ao cliente (logística)

Diversificação de pontos de comercialização

Divulgação do produto no mercado local, regional, nacional

Marca do produto reconhecida pelo cliente

Marca associada a bom padrão de qualidade

Controle de produção adequada ao mercado Acesso à informação e ao desenvolvimento tecnológico

Remuneração satisfatória do associado

Relacionamento com parceiros em geral (fornecedores, clientes, governo, apoiadores, vizinhança outros)

Articulaçao em rede solidarias (consorcios, central de abastecimentos, comercialização e outros)

SOMATORIA PARCIAL - DA GESTÃO 0 0 0 0 0

Participação ativa dos asssociados nas decisões

Sentimento de pertencimento aos associados (sente-se dono)

Comprometimento do sócio com o empreendimento

Preparação e surgimento de lideranças entre os sócios

Preparação dos sócios para a sucessão em cargos de gestão

Transparência e exercício do diálogo constante com associados

Prática da gestão participativa e democrática

Satisfação com o coletivo dos associados

Satisfação com o trabalho (realização profissional/vocação)

Autogestão do associado no trabalho

SOMATORIA PARCIAL - DO SOCIAL 0 0 0 0 0

0 0 0 0 0SOMATÓRIA GERAL (Nº de vezes marcados para o grau de satisfação)

DA GESTÃO

DO SOCIAL

142

LEGENDA Relacione aqui quanto deu cada item/ depois confira o resultado

Muito Satisfeito 0

Satisfeito0

Regular0

Pouco Satisfeito0

Não se aplica** 0

**Item que nunca estará relacionados ao seu empreendimento

4

3

2

1

0

Em seguida preencha a planilha de resultado e observe a recomendação correspondente.

143

0 0 0 0 0

RESULTADO

Se o monitoramento marcou todos esses itens (fechou cinquenta pontos) o

empreendimento é autossustentável e autogestionário

Sendo a maioria nesse nível, a organização está avançada para a autogestão e

sustentabilidade

Satisfeito

Sendo a maioria nesse nível, a organização está no caminho certo para autogestão e

sustentabilidade -

Regular

Sendo a maioria nesse nível, você está proximo do desvio da autogestão e

sustentabilidade -

Pouco Satisfeito

Sendo a maioria nesse nível, ATENÇÃO a organização está desviando da autogestão e

sustentabilidade -

Não se aplica

OBS: Volte na matriz e anote em cada dimensão por item o que não está no nivel ideal satisfastorio e planeje correção de rumos

EMPREEDIMENTO SOCIAL

MATRIZ DE SINALIZAÇÃO PARA A AUTOGESTÃO E AUTOSUSTENTABILIDADE

EMPREENDIMENTO SOCIAL ________________________________________

DATA DE ATUALIZAÇÃO: ________/________/__________

RESULTADO DO PERÍODO

SOMATÓRIA GERAL (QUANTO ITEM DERÃO CADA )

RECOMENDAÇÃO

Esteja atento às mudanças e invista em sua visão de

futuro. CONTINUE e VENÇA!

Ainda tem varios pontos a MELHORAR! O que falta

para sua satisfação completa? Em que é preciso

investir para melhorar?

A organização precisa urgente PARAR e AVALIAR

os pontos fracos e decidir a sua CONTINUIDADE!

Vale CONTINUAR?

Muito Satisfeito

Não há resultado

Esteja atento aos indicadores avaliados com nível

de satisfação menor! É importante ficar muito

satisfeito em todos os itens!

4 3 2 1 0

4

3

2

1

0

144

Além da avaliação de evolução do empreendimento na direção de sua

autossustentabilidade essa cartilha oferece uma dinâmica participativa,

complementar ao monitoramento, a ser utilizada pelo empreendimento social para a

apuração da satisfação dos membros do coletivo com o empreendimento.

Mapa de Indicadores de Satisfação20

A dinâmica do Mapa de Indicadores de Satisfação foi desenvolvida na fase de

planejamento da pesquisa e implementada durante a realização dos grupos focais

na pesquisa de campo, com o objetivo de identificar, de forma participativa, os

retornos positivos usufruídos em termos de satisfação, pelos membros dos

empreendimentos, decorrentes da sua participação neles.

A aplicação dessa dinâmica deve envolver

todos os associados, aproveitando momentos

de encontros e reuniões coletivas. A

periocidade sugerida é semestral ou anual,

dependendo da disponibilidade e do interesse

do coletivo para a reflexão das conquistas

realizadas por meio da participação no

empreendimento. A seguir, apresentam-se os

passos para a realização dessa atividade.

Passo 1: Fazer 3 painéis em folha de papel Kraft ou papel madeira, traçando um

círculo em cada uma deles e um para cada painel de indicadores, quais sejam:

Painel 1, família/comunidade; Painel 2, profissão/negócio; e Painel 3, pessoal,

conforme foto abaixo.

20

Essa ferramenta foi desenvolvida com base na mesma lógica do mapa do conhecimento da metodologia Desenvolvimento Organizacional Participativa (DOP).

145

Painel 1 familiar/comunidade

Objetivos: proporcionar ao

participante realizar uma

análise de sua satisfação

decorrente de suas

responsabilidades no coletivo.

Indicadores de satisfação:

aumento da renda familiar;

aquisição de bens e móveis;

remuneração satisfatória;

participação em reunião e

eventos de interesse comunitário.

Painéis do Mapa dos Indicadores de Satisfação. 2014.

Fotografia colorida, 15x9 cm. 2015.

Foto 1

Passo 2: Escrever os quatro indicadores

sugeridos em cada painel subdividido em

quatro partes, cada indicador em uma

parte do círculo conforme a sugestão

a seguir:

Passo 3: Fazer bloquinhos de

etiquetas adesivas coloridas21 (por

exemplo, vermelho, laranja e

amarelo), para serem afixadas nos

painéis, em que cada participante

deverá receber três bloquinhos de

etiquetas coloridas para usar um

bloquinho em cada painel.

21

A sugestão é a utilização de “etiquetas de preço” que poderão ser pintadas uma a uma, em cores

como, por exemplo: vermelho, laranja e amarelo. De três em três etiquetas, vão se formando os

bloquinhos coloridos.

146

Painel 3 pessoal

Objetivos: proporcionar ao

participante realizar uma

análise de sua satisfação

decorrente dos ganhos

proporcionados a ele pelo

empreendimento.

Indicadores de satisfação:

melhoria da qualidade de

vida, novos conhecimentos

adquiridos; retorno e ou

término dos estudos;

realização

profissional/vocação.

Painel 2 profissão/negócio

Objetivos: proporcionar ao

participante realizar uma

análise de sua satisfação

decorrente do seu trabalho no

empreendimento.

Indicadores de satisfação:

participação ativa nas

decisões do negócio;

satisfação com o trabalho;

satisfação com o grupo;

sensação de pertencimento e

dono do negócio.

Passo 4: Fazer uma tarjeta grande com a

seguinte pergunta: o que você considera

mais importante entre os indicadores

abaixo que seu empreendimento lhe

proporciona? Escolha três, em ordem

de importância, em cada painel.

Fazer, também, uma tarjeta contendo

a legenda que relacione as cores à

importância do indicador de

satisfação. Por exemplo: vermelho,

para o indicador mais importante;

laranja, para o segundo mais

importante; e amarelo, para o terceiro

mais importante (de acordo com a foto

acima).

Passo 5: Afixar os painéis, a pergunta e a legenda na parede, ou

em local de melhor visualização do grupo, e

convidar os participantes a observá-los e a

partir da reflexão estabelecer uma ordem dos

indicadores de satisfação, segundo a

importância atribuída por eles.

Passo 6: Pedir aos participantes, um de

cada vez, munido dos três bloquinhos de

etiquetas coloridas, que avalie um bloco

por vez e afixe, no círculo referente ao

indicador de satisfação a cor

correspondente, segundo a legenda.

Pedir, ainda, que o participante repita esse

procedimento mais duas vezes, enquanto

atribui importância aos outros indicadores de

satisfação ou até se esgotarem as etiquetas

coloridas. Dessa forma os painéis vão sendo

147

coloridos e as cores predominantes, em cada 1/4 dos círculos, demonstrarão os

graus de importância dos indicadores para o grupo de participantes (foto 2).

Painéis do Mapa dos Indicadores de Satisfação. 2014.

Fotografia colorida, 15x9 cm. 2015.

Foto 2

Passo 7: Após a marcação é feita a leitura com todos os participantes para terem

ideia das marcações realizadas, destacando em cada painel o grau de importância

atribuído para cada indicador. Pode-se aproveitar esse momento para realizar

reflexões em grupo, estimulando os participantes a dizerem o que os levaram a ter

os painéis preenchidos dessa forma.

Resultado: A análise dos painéis dentro de um viés de tendência à autogestão e

autossustentabilidade deverá demonstrar o grau de satisfação dos associados para

o indicador escolhido como o primeiro mais importante.

1. No painel família/comunidade a visualização por parte da maioria, deverá ser

para os indicadores Remuneração Satisfatória e Aumento da renda familiar.

Esses indicadores traduzem a importância do empreendimento para a

sobrevivência dos associados ao gerar poder aquisitivo.

2. Para o painel profissão/negócio deverá ser para os indicadores de Sensação

148

de pertencimento e dono do negocio e participação ativa nas decisões do

negócio. Do ponto de vista, de empreendimentos coletivos autogestionários, é

indispensável que os associados tenham a sensação plena de pertencimento

deles próprios ao empreendimento e do empreendimento a eles.

3. E, por último, para o painel pessoal os indicadores seriam o de Realização

profissional/vocação e Melhoria de qualidade de vida, ambos responsáveis

por gratificar os esforços no sucesso do empreendimento.

A utilidade dessa ferramenta de reflexão permite realizar comparativos de período

avaliados e da evolução dos indicadores destacados, bem como mudanças no grau

de priorização e satisfação dos associados.

Essa ferramenta por ser visual tem efeito instigante sobre o grupo, incentivando

maior participação e interesse no processo, tendendo a demonstrar a

representatividade do empreendimento nas vidas dos associados, possibilitando aos

gestores um termômetro de satisfação por meio de uma atividade lúdica, que

preserve certo grau de anonimato, que informe por exclusão aspectos relevante ao

sucesso de um empreendimento social, eventualmente ausentes na avaliação.

4. Considerações Finais

expectativa com a oferta dessa Cartilha Orientativa é de contribuir para a

autossustentabilidade dos empreendimentos sociais, e com as Instituições

Apoiadoras abordadas por essa pesquisa, bem como outros

Empreendimentos Sociais, Empreendimentos Associativos, Empreendimentos

Populares, Organizações Sócio produtivas, entre outros, além de Instituições de

fomento dessas inciativas espalhados pelo Brasil, que lutam diariamente para

alcançar a sua autonomia e autossustentabilidade em meio a uma economia global

excludente e opressora, demonstrando em sua trajetória que é possível, exercitar a

autogestão em seus processos produtivos, visando possibilitar qualidade de vida

para seus associados e sustentabilidade para seus negócios inclusivos e coletivos.

Por fim, espera-se que a metodologia de monitoramento proposta para os

Empreendimentos Sociais possa ser uma iniciativa fortalecedora nas discursões

A

149

teóricas e práticas sobre indicadores de sustentabilidade e metodologia de

monitoramento dessas iniciativas, podendo ser a cada momento construído e

reconstruído, tendo como ponto de partida a vivencia dos desafios e possiblidades

da realidade dos Empreendimentos Sociais.

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150

CEPAL. Division de Desarrollo Social. Manual de formulação e avaliação de projetos sociais. 1997. Disponível em:<http://www.ssc.wisc.edu/~jmuniz/CEPAL_manual%20de%20formulacao%20e%20avaliacao%20de%20projetos%20sociais.PDF>. Acesso em: 12 dez. 2012 FELSKI, Henrique; SAMPAIO, Carlos Alberto Cioce. DALABRIDA, Ivan Sidney. O processo de tomada de decisão sobre o viés da Ecossocioeconomia das organizações: o caso de uma cooperativa catarinense de artesão. Organizações Rurais Agroindustriais, Lavras, v. 12, n.1, p.83-97, 2010. HUDSON, Mike. Administrando Organizações do Terceiro Setor: o desafio de administrar sem receita. São Paulo: Makron Books do Brasil Editora, 1999. KRAYCHETE, Gabriel. Economia popular solidária: sustentabilidade e transformação social, 2006. Disponível em: <http://www.capina.org.br/download/pub/gkrtxtsemi.pdf>. Acessado em 11 de jul. de 2013. KRAYCHETE, Gabriel. Estudos de viabilidade dos empreendimentos associativos: uma metodologia apropriada IN: Economia Solidaria Caderno da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte do Governo da Bahia, Salvador: SETRE, 2011. _________, Gabriel. Viabilidade econômica e sustentabilidade dos empreendimentos da Economia Solidária: conceitos básicos. IN: Economia Solidaria Caderno da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte do Governo da Bahia, Salvador: SETRE, 2011. MELO NETO, Francisco de Paulo; FROES, César. Responsabilidade Social & Cidadania Empresarial: A Administração do Terceiro Setor. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1999. MILANI, Carlos. Teorias do capital social e desenvolvimento local: lições a partir da experiência de Pintadas (Bahia, Brasil). Anais do IV Conferência Regional ISTR-LAC,2003. TIRIBA, Lia. Cultura do Trabalho, autogestão e formação de trabalhadores associados na produção: questões de pesquisa IN: PERSPECTIVA - Dossiê - Trabalho, Movimentos Sociais e Educação, v. 26, n 1, jan/jun, 2008, p.69-94. Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/perspectiva/article/view/2175-795x.2008v26n1p69/9566>. Acesso em 13 de abr. de 2015. SESI/ORBIS-PR Serviço Social da Industrial. Departamento do Estado do Paraná. Construção e analise dos indicadores. Curitiba: ORBIS,2010. SEPLAN. O Marco Lógico. Disponível em: <http: www.seplan.am.gov.br>. SINGER, Paul. Economia Solidária: Entrevista com Paul Singer. In: Revista Gerenciais, São Paulo, vol. 2, set. 2003, p. 3 a 5.

151

_________, Paul. Economia Solidaria: Entrevista com Paul Singer. In: Estudos Avançados. São Paulo, vol. 22, n.62, 2008. Disponível em <http://www.scielo.br/pdf/ea/v22n62/a20v2262.pdf>. Acesso em: 15 de fev. 2013. VASCONCELOS, Alexandre Meira de; LEZANA, Álvaro Guillermo Rojas. Modelo de ciclo de vida de empreendimentos sociais. Revista Administração Pública 46 (4): 1037-58, Rio de Janeiro, jul/ago, 2012, p. 1037-1058. ZWICK, E; PEREIRA, R. J; TEIXEIRA, M. P.R. Gestão de Cooperativas: uma Análise a partir das Derivações Teóricas do Pensamento Utópico. Anais do VI Encontro Nacional de Pesquisadores em Gestão Social, 2012, p.1-21.

152

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desafio dessa dissertação foi demonstrar a importância do tempo social para os

empreendimentos sociais e, por conseguinte, defender junto aos financiadores e

instituições apoiadoras dessas iniciativas que seu apoio considere esse tempo de

maturação dentro da necessidade que o coletivo apresente, contextualizado em sua

realidade.

O conceito de empreendimento social que este estudo privilegia refere-se a

organizações sócio produtivas que reúnem pessoas movidas por interesses em

empreender de forma independente, segundo um modelo de organização coletiva e

autogestionária e inseridos dentro de uma lógica peculiar (KRAYCHETE, 2011) em

uma economia social local.

No Pará, conforme retratado nos resultados da pesquisa, há uma experiência valiosa

e de sucesso, no apoio a formação de empreendimentos sociais, mesmo que estes

apresentem limitações a serem superadas. Conta-se ali com uma lógica

metodológica no desenvolvimento dos projetos de geração de renda e fomento a

empreendimentos, segundo a qual se prevê a dedicação de um tempo de trabalho,

anterior à formação do empreendimento, que prepara as pessoas a serem

contempladas algum tempo antes de elas manifestarem o desejo de montar um

negócio, de fazer parte de um empreendimento social. O que leva a considerar um

tempo de dedicação à formação pedagógica para o coletivo e para o despertar do

espírito empreendedor, fundamental para alicerçar um empreendimento que queira

trilhar o caminho para a sustentabilidade.

Os empreendimentos sociais pesquisados no Pará se encontram em estágio

avançado no caminho para a autossustentabilidade. Nos depoimentos, percebeu-se

que a visão da instituição apoiadora promovia um diferencial importante para o

alcance dos objetivos do grupo. Este é um modelo de visão técnica comprometida

com o desenvolvimento das etapas do trabalho.

O grupo produtivo em Minas Gerais ainda encontra-se em estágio embrionário,

apesar de ter anos de caminhada. Na época da pesquisa, estava em fase

153

preparatória, que antecede à formalização do empreendimento. Foi percebido a total

dependência da instituição apoiadora e segundo a mesma, o grupo estaria iniciando

uma nova etapa de investimento com a participação em sua incubadora social,

embasada em uma metodologia sociocomunitária da FGV. Para tanto, tem um

tempo cronológico e recurso limitado por parte de seu instituidor.

Considerando a necessidade de respeito do Tempo Social demandado pelos

empreendimentos sociais para o alcance da autossustentabilidade, em função do

conjunto de fatores e do contexto que envolve os associados, bem como, da

natureza do empreendimento, sua situação geográfica, social e econômica é

importante observar os aspectos, a seguir, para se realizar o monitoramento do

processo de implementação de um empreendimento dessa natureza.

a) Empreendimentos coletivos e de viés social são instrumentos de geração

de renda e de transformação social, na medida em que promovem a

emancipação de seus associados, tornando-os empreendedores

colaborativos. Para tanto será importante adotar o formato de gestão

preconizado pela gestão social, segundo as seguintes caraterísticas:

autogestão; condução dialógica e democrática; aprendizado permanente

de habilidades técnicas e gerenciais em favor da inovação contínua e da

produção de conhecimento sobre o negócio e sua inserção mercadológica;

participação dos associados no processo decisório, tanto no produtivo

quanto no sócio organizacional, detenção dos meios de produção e força

de trabalho; investimento no sentimento coletivo de responsabilidade

conjunta pelo negócio.

b) As ações juntos aos empreendimentos devem ser sequenciais dentro de

um tempo social necessário para atingir a sua autossustentabilidade,

portanto, não poderá estar sujeito a financiamentos pontuais e estanques,

nem tão pouco há um tempo condicionado pelo investidor financeiro. A

instituição apoiadora, que depende de recurso externo para manter e/ou

dar continuidade nos projetos desse cunho, tem o desafio de demostrar

que a necessidade do investimento deve estar aliada ao perfil do

empreendimento e à sua complexidade e que em não sendo desse modo,

não será viável a sua sustentabilidade.

154

c) A instituição apoiadora tem participação relevante no desenvolvimento

desses empreendimentos e deve se comprometer no alcance da

autossustentabilidade do empreendimento. Portanto, deve contribuir para

a captação de recursos para os investimentos em recursos técnicos,

financeiros, materiais e assegurar o respeito ao tempo social necessário,

em função da realidade do empreendimento, evitando a imposição de um

tempo cronológico rígido de alcance de metas objetivas, visto que as

metas que comprometem o uso de tempo no empreendimento, têm caráter

subjetivo e moldados dentro da necessidade de seus associados.

d) A relação instituição apoiadora empreendimento social é uma relação de

capacitação permanente e, necessariamente, participativa. A cada estágio

de evolução da implementação do empreendimento é necessária à

realização de diagnóstico, de treinamento, de monitoramento e de ajustes,

ocasião em que os membros do empreendimento acompanhados pelos

apoiadores aprendem juntos com eles, pois as dificuldades podem ser de

caráter geral ou serem peculiares ao empreendimento, nesse caso,

implicando num aprendizado de mão dupla. Então é necessário o domínio

do conhecimento gerado no processo pelas duas partes: empreendedores

associados e apoiadores.

e) Ressalte-se como uma decorrência do aspecto anterior, que a instituição

apoiadora, durante o exercício de apoio ao empreendimento social,

também se submete a um processo de incorporação de novos

conhecimentos à sua rotina de atuação que abrange, além da adaptação

dos aspectos gerais do suporte oferecido ao caso em foco, a criação ou

busca de procedimentos novos, específicos a cada coletivo em formação.

Esse processo de formação de conhecimento e aprendizado também

demanda tempo e não pode ser permitido “amadorismo”.

Nas experiências vivenciadas pôde-se perceber que cada empreendimento

apresenta a sua especificidade de contexto e de complexidade. Entretanto,

identificaram-se algumas etapas presentes no processo de desenvolvimento dos

empreendimentos que sinalizam momentos reflexivos.

Essas fases são fundamentais para a garantia de uma base sólida ao

empreendimento, portanto, não podem ser evitadas no planejamento e na criação do

155

empreendimento social. As etapas identificadas, a partir da reflexão proporcionada

pelas leituras realizadas e pela pesquisa de campo, são:

a) Fase preparatória – tempo social –. Antecede a formalização do

empreendimento e tem o intuito de promover a qualificação profissional, por

meio da oferta de cursos técnicos e gerenciais. Paralelamente à capacitação

profissional deve ser ofertada uma educação promotora do desenvolvimento

de habilidades humanas de relacionamento em ambientes coletivos pautados

na cooperação e habilidades empreendedoras, discriminadas, a seguir:

Capacitação para a formação do coletivo, com noções básicas para o

desenvolvimento humano, que incluem o resgate da autoestima, a

valorização do trabalho no coletivo, o desenvolvimento da solidariedade e

de habilidades em gestão do trabalho em equipe.

Capacitação profissional, por meio da oferta de formação em técnicas

produtivas em profundidade, a partir da verificação da afinidade do grupo

com uma linha de produção; tecnologias gerenciais e comerciais, com

aprofundamento em aspectos relevantes do marketing, especialmente,

formação de preço de custo e preço de mercado, atendimento ao cliente e

acesso a canais de distribuição e divulgação;

Promoção de experiências de venda dos produtos confeccionados para

promover o exercício da comercialização e remuneração entre os

participantes no sentido de contribuir para a sustentabilidade econômica

dessa fase.

Avaliação da capacitação, do interesse e do comprometimento do coletivo

em formalizar um negócio sob o formato da gestão social.

b) Fase de constituição do empreendimento social – tempo social –. Formalizado

o coletivo para constituir um negócio – cooperativa, associação ou outro

formato– passa-se a percorrer os grandes marcos até ao alcance da

autossustentabilidade, quais sejam:

Fortalecimento do coletivo, por meio da preparação das pessoas para uma

gestão social, assim como para o mercado e para a competitividade;

156

Estruturação organizativa horizontal, ou seja, onde o poder de decisão da

organização é distribuído entres todos associados, cada qual assumido

seu papel e responsabilidade;

Constituição legal e identificação participativa da forma legal mais

adequada para o empreendimento;

Elaboração do projeto/plano de negócio específico22 de forma participativa

para a captação de recursos e de parcerias;

Estruturação física do empreendimento (aquisição de local e maquinários,

de acordo com a capacidade de aquisição);

Capacitação pedagógica para a autogestão com o desenvolvimento de

habilidades gerenciais e administrativas;

Capacitação profissional para qualidade do produto e adequação da

tecnologia de produção ao mercado e à produção em escala comercial, no

contexto dos associados serem detentores dos meios de produção e da

força de trabalho;

Estabelecimento do preço justo, que inclua os custos de produção,

pagamento de pró-labore e a geração de recurso para investimento;

Estabelecimento da remuneração proporcional à participação no processo

produtivo e função da realização da produção no mercado, garantindo os

rendimentos dos membros do grupo, a serem distribuídos imediatamente

após o início dos recebimentos;

Estabelecimento de relacionamento com parceiros e articulação em redes

solidárias;

Produção e colocação do produto nos pontos de comercialização, por

meio da adoção das estratégias de marketing adequadas;

Inovação e aprimoramento do produto;

Diversificação de produção.

A complexidade influencia no tempo de maturação e preparação do

empreendimento para a autossustentabilidade. Ela considera a localização –

logística de acesso aos fornecedores e ao mercado –; o nível de instrução das

pessoas – grau de escolaridade inicial –, o nível de conhecimento para uma

22

Organizações sócioprodutivas comunitárias demandam um plano de negócio diferenciado em virtude de seu caráter especial em termos de suas carências gestoras. É imprescindível que este seja participativo, respeitando as condições do local e das pessoas. (KRAYCHETE, 2011)

157

preparação com qualidade do produto a ser comercializado; o tipo de produto; o

nível de preparação das pessoas para a gestão e para o pensamento

empreendedor.

Segundo um dos entrevistados da pesquisa realizada no Pará, a complexidade

permeia os empreendimentos e é um fator que deve ser considerado nesses

empreendimentos sociais e comunitários.

Para tanto, é importante destacar que o grau de complexidade dentro do contexto

social de um empreendimento tende a estabelecer o tempo social necessário para

sua maturação e para a sua autossustentabilidade e que, portanto não se submeter

a uma “camisa de força” ou a uma análise fundamentalista de que se não se tornar

independente num prazo cronometrado de, por exemplo, três anos ele não seja

viável e/ou que seus associados não tenham interesse, pois deve se considerar

que...

Cada empreendimento tem sua natureza e tem sua complexidade, tem sua dinâmica de produção e de mercado, tem seus riscos, alguns tem risco muito alto, outros tem margem de risco mais baixa, alguns, da matéria prima ao mercado estão tudo no mesmo local, outros não, além disso (deve considerar) do grupo, o nível formação e de informação, o grau de articulação, a capacidade que ele tem de interação, do grau de motivação, é que esse time (tempo) vai variar. (FS_PACO).

Tais indagações são confirmadas pelo estudioso Kraychete (2011).

A sustentabilidade dos mesmos [empreendimentos], entendida como a capacidade de ampliarem continuamente o alcance de suas práticas, depende de condições culturais, econômicas, tecnológicas, sociais etc, impossíveis de serem alcançadas apenas através do empenho dos trabalhadores associados e de suas articulações em redes e fóruns. (KRAYCHETE, 2011, p. 17).

Portanto, a estimativa proposta de tempo de maturação ou tempo social pode ser

confirmada como também pode ser antecipada ou prolongada por um determinado

período, dependendo das circunstâncias internas e externas às quais o

empreendimento está sujeito.

No decorrer da pesquisa, se constataram lacunas no processo de sistematização e

monitoramento das informações, tanto por parte das instituições apoiadoras, quanto

158

dos empreendimentos sociais pesquisados, em especial no que se refere aos

indicadores sociais, devido ao fato de estarem mais envolvidos com a execução do

que com a dedicação de tempo de reflexão do andamento das atividades.

O monitoramento das atividades e a avaliação dos resultados ainda são ações

desafiadoras, tanto para as instituições do Pará, quanto de Minas Gerais, apesar

dos avanços nos registros e mensuração dos dados. De certa forma, os indicadores

econômicos e ambientais estão mais bem observados e registrados, mas os

indicadores sociais ainda são deficientes, principalmente, por envolverem

informações não tão mensuráveis, que despendem de um tempo maior de apuração

e que variam de realidade para realidade, de grupo para grupo, de região para

região.

O conhecimento adquirido com a pesquisa forneceu elementos orientadores para a

proposição de indicadores para o monitoramento do tempo de maturação do

empreendimento a partir de um instrumental cuja aplicação diagnosticará o estágio

em que se encontra o empreendimento, em sua evolução para a sustentabilidade.

A oferta de uma Cartilha Orientativa denominada Metodologia de Monitoramento

para a Autogestão e Autossustentabilidade para Empreendimentos Sociais,

sensível ao Tempo Social, traz uma matriz de sinalização para o caminho da

autossustentabilidade desenvolvida a partir de indicadores de sustentabilidade para

empreendimentos sociais. Ela pretende contribuir para a autossustentabilidade dos

empreendimentos sociais e com as Instituições Apoiadoras abordados nessa

pesquisa e visa também ser utilizado como ferramenta de trabalho para

Empreendimentos Associativos e Instituições de fomento dessas inciativas

espalhados pelo Brasil, que estão na luta diária em busca da sua autonomia e

autossustentabilidade, em meio a uma economia global excludente e opressora,

demonstrando em sua trajetória que é possível, exercitar a autogestão em seus

processos produtivos, possibilitando qualidade de vida para seus associados e

sustentabilidade para seus negócios inclusivos e coletivos.

Espera-se que esta metodologia possa ser uma ferramenta fortalecedora nas

discursões teóricas e práticas sobre indicadores de sustentabilidade, metodologia de

monitoramento dessas iniciativas, podendo ser a cada momento construída e

159

reconstruída, tendo como ponto de partida a vivência dos desafios e possibilidades

da complexidade dos empreendimentos sociais.

Deste modo, tornar empreendimentos sociais sustentáveis e capazes de mudar a

realidade dos sujeitos envolvidos é um grande desafio. Para tanto, faz-se necessário

um processo educativo e pedagógico de aprendizado permanente para estabelecer

uma cultura empreendedora, baseada em princípios solidários e associativos,

aliando a vivência de uma gestão social com a eficiência econômica com vistas à

autogestão e autossustentabilidade, o que demanda uma lógica de prazos, de tempo

condicionado à necessidade e à maturação dos processos, dos sujeitos, e que de

fato, demandam um tempo social.

Por fim, essa temática desperta nesse campo de estudo outras possibilidades de

avanço para pesquisa entre as quais: estudar o tempo social em empreendimentos

sociais formalizados e com um tempo de maturação maior do que foi pesquisado em

Minas gerais; verificar se há variações de tempo social entre os empreendimentos

sociais a partir de sua maior ou menor complexidade do negocio; e ainda se o

monitoramento e avaliação constante das fases/ etapas de um empreendimento

pode ocasionar sinalizações de caminho para a sustentabilidade de um

empreendimento social.

Referências KRAYCHETE, Gabriel. Economia popular solidária: sustentabilidade e transformação social, 2006. Disponível: http://www.capina.org.br/download/pub/gkrtxtsemi.pdf >. Acesso em 11 jul. 2013. _________, Gabriel. Estudos de viabilidade dos empreendimentos associativos: uma metodologia apropriada IN: Economia Solidaria Caderno da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte do Governo da Bahia, Salvador: SETRE, 2011. _________, Gabriel. Viabilidade econômica e sustentabilidade dos empreendimentos da Economia Solidária: conceitos básicos. IN: Economia Solidaria Caderno da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte do Governo da Bahia, Salvador: SETRE, 2011.

160

5 APÊNDICES

Apêndice I

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA DIRETORIA DE PESQUISA, EXTENSÃO E FORMAÇÃO CONTINUADA

MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL

APOIADORES DE EMPREENDIMENTO SOCIAL

ROTEIRO DE ENTREVISTA

Título da Pesquisa: Empreendimentos sociais apoiados por instituições

privadas: exercício de parceria para a autogestão e a sustentabilidade no

contexto do desenvolvimento local.

Nome da Pesquisadora Principal: Odnélia Cristina Siqueira de Amaral

Nome da orientadora: Ediméia Maria Ribeiro de Mello

Instituição:__________________________________________________________

Nome: _____________________________________________________________

Cargo:_____________________________________________________________

Entrevistado:________________________________________________________

Data de aplicação:___/____/____

1. Desde quando a empresa ou instituição privada está investindo em empreendimentos sociais?

2. O que motivou a instituição a investir nessa linha de atuação?

3. Qual a política adotada para a formação desses empreendimentos? (formação dos empreendimentos, treinamentos incubação, incentivo a cooperação, estrutura).

161

4. A sua instituição tem uma metodologia de acompanhamento desses empreendimentos? Se sim, descreva as atividades desempenhadas pela instituição junto ao empreendimento.

5. A sua instituição tem indicadores para acompanhar a realização destas atividades, com base nas necessidades do empreendimento?

a. Se sim, quais e como são mensurados?

b. Quais são os parâmetros para a interrupção das atividades?

6. Como a instituição determina o momento em que deverá ser suspenso o apoio ao empreendimento?

7. Comente as principais dificuldades identificadas que possam frustrar o sucesso do empreendimento.

8. Segundo o quadro abaixo, quantos empreendimentos sociais a sua instituição apoia:

Item Em projeto Em

implantação

Em operação Concluído

c/ apoio s/ apoio

Quantidade

9. Sobre o(s) empreendimento(s) indicado(s) para a pesquisa:

162

Nome do empreendimento:___________________________________________

Situação: ( ) em projeto ( ) em implantação ( ) em operação ( ) concluído

Localização: ______________________________________________________

Formato do empreendimento: ( ) individual ( ) coletivo ( ) autogestionário

( ) cooperativo ( ) outros:____________________

Apoio Financeiro:

Período

Valor

Finalidade

Apoio Técnico:

Período

Finalidade

163

Nome do empreendimento:___________________________________________

Situação: ( ) em projeto ( ) em implantação ( ) em operação ( ) concluído

Localização: ______________________________________________________

Formato do empreendimento: () individual ( ) coletivo ( ) autogestionário

( ) cooperativo ( ) outros:____________________

Apoio Financeiro:

Período

Valor

Finalidade

Apoio Técnico:

Período

Finalidade

164

Apêndice II

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA DIRETORIA DE PESQUISA, EXTENSÃO E FORMAÇÃO CONTINUADA

MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL

EMPREENDIMENTO SOCIAL- MEMBROS DA DIREÇÃO

ROTEIRO DE ENTREVISTA

Título da Pesquisa: Empreendimentos sociais apoiados por instituições

privadas: exercício de parceria para a autogestão e a sustentabilidade no

contexto do desenvolvimento local

Nome da Pesquisadora Principal: Odnélia Cristina Siqueira de Amaral

Nome da orientadora: Ediméia Maria Ribeiro de Mello

Empreendimento

Social:_________________________________________________

Estrutura Social: ( ) Cia. Ltda. ( ) Associação ( ) Cooperativa ( ) Grupo produtivo

Ano de fundação do empreendimento:____________________________________

Número de associados: __________________

Tempo na direção:

______________________________________________________

Linha de

produção:_____________________________________________________

Endereço:___________________________________________________________

Telefone:____________________________________________________________

Nome do

entrevistado:___________________________________________________

165

Cargo do entrevistado:

___________________________________________________

Data de aplicação:___/____/____

1. Como e quando você começou a fazer parte da direção?

2. Como são realizadas as remunerações dos membros do empreendimento?

3. Descreva o processo decisório no empreendimento. Destaque:

a. os aspectos de participação dos colaboradores;

b. as decisões tomadas com eles;

c. as decisões tomadas sem eles

d. informe a frequência de convocação de reuniões gerais

4. Informe a situação financeira atual do empreendimento e a dependência do

apoiador externo.

5. Como acontece o apoio oferecido pelo apoiador externo? Comente os itens a

seguir:

a. Técnico

b. financeiro (investimento/giro)

c. colocação do produto no mercado

6. Conte a história do empreendimento, descrevendo as fases, os eventos em

cada fase e a influência dos eventos na dimensão da fase?

7. Como é acompanhada a evolução do empreendimento? Relacione os

Indicadores qualitativos e quantitativos de acompanhamento/monitoramento.

8. Em que condições o empreendimento estaria pronto para avançar com

autonomia. Em quanto tempo aconteceria esse avanço.

166

Apêndice III

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA DIRETORIA DE PESQUISA, EXTENSÃO E FORMAÇÃO CONTINUADA

MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL

EMPREENDIMENTO SOCIAL - ASSOCIADOS

ROTEIRO PARA O GRUPO FOCAL

Título da Pesquisa: Empreendimentos sociais apoiados por instituições

privadas: exercício de parceria para a autogestão e a sustentabilidade no

contexto do desenvolvimento local

Nome da Pesquisadora Principal: Odnélia Cristina Siqueira de Amaral

Nome da orientadora: Ediméia Maria Ribeiro de Mello

Empreendimento

Social:_________________________________________________

Data de aplicação:___/____/____

1. História do empreendimento. Construa a linha do tempo e distribua os marcos

e eventos vivenciados.

a. Qual a atividade que define o tempo de demora ou avanço de cada

fase?

b. Quais as facilidades encontradas? Comente-as.

c. Quais as dificuldades encontradas? Comente-as.

d. Dê sugestões de como administrar as dificuldades encontradas?

2. Como você se sente em relação ao futuro deste empreendimento? Discorra

sobre:

167

a. sua responsabilidade;

b. suas expectativas;

c. suas percepções;

d. sua dependência (qualidade de vida)

3. Visão de pertencimento do empreendimento. Comente sua participação como

dono do empreendimento.

4. Em que condições o empreendimento estaria pronto para avançar com

autonomia?

5. Em quanto tempo aconteceria este avanço?

6. Quais desses fatores você mais identifica ter acontecido em sua vida após a

sua participação nesse empreendimento? (Identificar o respondente com o

tempo de empreendimento)

Melhoria de qualidade de vida

Aumento da renda familiar

Remuneração satisfatória

Satisfação com o trabalho

Satisfação com o grupo

Participação em reunião e eventos de interesse comunitário

Participação no processo decisório

Sensação de pertencimento e dono do negocio

Aquisição de bens e moveis

Novos conhecimentos adquiridos

Retorno e/ou términos dos estudos

Outro:___________________

168

6 ANEXOS

Anexo I

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA DIRETORIA DE PESQUISA, EXTENSÃO E FORMAÇÃO CONTINUADA

MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E

DESENVOLVIMENTO LOCAL

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)

Título da Pesquisa: Empreendimentos sociais apoiados por instituições

privadas: exercício de parceria para a autogestão e a sustentabilidade no

contexto do desenvolvimento local.

Nome da Pesquisadora Principal: Odnélia Cristina Siqueira de Amaral

Nome da orientadora: Ediméia Maria Ribeiro de Mello

Natureza da pesquisa: a sra (sr.) está sendo convidada (o) a participar desta

pesquisa que tem como finalidade analisar a dinâmica dos empreendimentos

sociais, em especial, seu tempo de amadurecimento por meio do delineamento de

suas fases e os requisitos percebidos no caminho de sua sustentabilidade. Espera-

se, como resultado dessa investigação, o aprofundamento de um conhecimento

relativo ao processo de autogestão coletiva para a sustentabilidade de um

empreendimento social, com um olhar para o seu tempo de maturação – tempo

social. A metodologia que a orienta é condizente com uma pesquisa exploratória-

descritiva, por meio dos procedimentos técnicos da pesquisa bibliográfica,

documental e de campo, com base em um viés qualitativo com nuances

quantitativas que utilizará de técnicas de pesquisa como aplicação de formulários

individuais e grupo focal com associados, entrevistas individuais com apoiadores e

responsáveis pela direção do empreendimento. A seleção amostral para a pesquisa

de campo foi intencional realizada pela pesquisadora, ou seja não aleatória, pois se

pretende utilizar a estatística descritiva. Serão abordados membros de 01 empresa

apoiadora, 02 instituições privadas do 3º setor apoiadoras/executoras e que

indicarão realização da pesquisa em 04 empreendimentos sociais apoiados

localizado no estado de Minas Gerais e no Pará. E sua contribuição será a de gerar

uma metodologia para monitorar o tempo social de amadurecimento do

169

empreendimento social com o intuito de prever o alcance da autossustentabilidade e

suas condições.

2. Participantes da pesquisa: participarão desta pesquisa associados, pessoas

da direção do empreendimento social e técnicos das instituições privadas

apoiadoras, responsáveis pelo acompanhamento da implantação do

empreendimento.

3. Envolvimento na pesquisa: ao participar deste estudo a sra (sr) permitirá

que o (a) pesquisador (a) supra citada realize a pesquisa. A sra (sr.) tem

liberdade de se recusar a participar e ainda se recusar a continuar

participando em qualquer fase da pesquisa, sem qualquer prejuízo para a sra

(sr.) (...). Sempre que quiser poderá pedir mais informações sobre a pesquisa

através do telefone do (a) pesquisador (a) do projeto e, se necessário através

do telefone do Comitê de Ética em Pesquisa.

4. Sobre as entrevistas: será realizados com os associados a aplicação de

formulário individual para colher percepção de indicadores de melhorias com

a participação no empreendimento e grupo focal entre 05 a 10 associados. E

ainda entrevistas com membros da direção a partir de um roteiro prévio. Nas

empresas e instituições privadas apoiadoras/executoras será abordados os

analistas técnico, responsável pelo acompanhamento dos empreendimentos

apoiados, segundo a orientação de um roteiro para a realização de

entrevistas.

5. Riscos e desconforto: a participação nesta pesquisa não traz complicações

legais. Existe uma possibilidade remota e relativa de surgir algum

constrangimento ao responder uma ou mais pergunta, mas o entrevista tem o

direito de responder apenas as perguntas que lhe deixarem confortável. Por

outro lado, assegura-se a confidencialidade com respeito aos nomes dos

respondentes, conforme mencionado no item 6. Os procedimentos adotados

nesta pesquisa obedecem aos Critérios da Ética em Pesquisa com Seres

Humanos conforme Resolução no. 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde.

Nenhum dos procedimentos usados oferece riscos à sua dignidade.

6. Confidencialidade: todas as informações coletadas neste estudo são

estritamente confidenciais. Somente o (a) pesquisador (a) e o (a) orientador

(a) terão conhecimento dos dados.

7. Forma de Acompanhamento e Assistência: os responsáveis pela pesquisa

encontram-se à disposição antes, durante e depois de realizada a entrevista

170

para explicar com detalhes o que se pretende com as perguntas, esclarecê-

las devidamente e que fim se destinam e como serão analisadas.

8. Benefícios: ao participar desta pesquisa a sra (sr.) não terá nenhum

benefício direto. Entretanto, esperamos que este estudo proporcione

informações importantes para o alcance de condições de sustentabilidade dos

empreendimentos sociais, de forma que o conhecimento que venha a ser

construído a partir desta pesquisa possa contribuir para o surgimento de

novos empreendimentos sociais estruturados de forma a que alcancem

condições de perenidade temporal. Por outro lado, os resultados deste

trabalho serão posteriormente divulgados também para todos aqueles que

contribuíram com informações, durante o processo de pesquisa de campo.

9. Pagamento: a sra (sr.) não terá nenhum tipo de despesa para participar desta

pesquisa, bem como nada será pago por sua participação.

Após estes esclarecimentos, solicitamos o seu consentimento de forma livre

e esclarecida para participar desta pesquisa. Portanto, preencha, por favor, os itens

que se seguem.

Obs: Não assine esse termo se ainda tiver dúvida a respeito

1 Consentimento Livre e Esclarecido

Tendo em vista os itens acima apresentados, eu, de forma livre e

esclarecida, manifesto meu consentimento em participar da pesquisa. Declaro que

recebi cópia deste termo de consentimento, e autorizo a realização da pesquisa e a

divulgação dos dados obtidos neste estudo.

__________________________________

Assinatura do Participante da Pesquisa

___________________________________

Nome do Participante da Pesquisa:

171

__________________________________

Assinatura do Pesquisador

___________________________________

Assinatura do Orientador

Pesquisador Principal: ODNÉLIA CRISTINA SIQUEIRA DE AMARAL

CONTATO (31)75658185

Demais pesquisadores: EDIMÉIA MARIA RIBEIRO MELLO

CONTATO (31) 99923268

Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário UNA: Rua Guajajaras,

175, 4º andar – Belo Horizonte/MG

Telefone do Comitê: (31) 35089110

172

ANEXO II

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA DIRETORIA DE PESQUISA, EXTENSÃO E FORMAÇÃO CONTINUADA

MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL

TERMO DE AUTORIZAÇÃO DE USO DE IMAGEM E DEPOIMENTOS

Eu ______________________________________, CPF_____________________,

RG_______________, representante da(o)_________________________________

depois de conhecer e entender os objetivos, procedimentos metodológicos, riscos e

benefícios da pesquisa, bem como de estar ciente da necessidade do uso de

imagem e/ou depoimento, especificados no Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (TCLE), AUTORIZO, através do presente termo, os pesquisadores

através do presente termo, a pesquisadora Odnélia Cristina Siqueira de Amaral do

projeto de pesquisa intitulado “Empreendimentos sociais apoiados por instituições

privadas: exercício de parceria para a autogestão e a sustentabilidade no contexto

do desenvolvimento local,” a realizar as fotos e/ou vídeos, bem como disponibilizar

fotos do banco de acervo institucional que se façam necessárias sem quaisquer

ônus financeiros a nenhuma das partes.

Ao mesmo tempo, libero a utilização destas fotos e/ou vídeos (seus respectivos

negativos ou cópias) e/ou depoimentos para fins científicos e de estudos (livros,

artigos, slides e transparências), em favor dos pesquisadores da pesquisa, acima

especificados, obedecendo ao que está previsto nas Leis que resguardam os

direitos das crianças e adolescentes (Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA,

Lei N.º 8.069/ 1990), dos idosos (Estatuto do Idoso, Lei N.° 10.741/2003) e das

pessoas com deficiência (Decreto Nº 3.298/1999, alterado pelo Decreto Nº

5.296/2004).

_____________________________, ______ de ______ de 20_____.

_______________________ ______________________________

Participante da pesquisa Pesquisador responsável pelo projeto

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Anexo III – Parecer Consubstanciado do Conselho de Ética e Pesquisa

174

175

176