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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE EDUCAÇÃO POLÍTICA E SOCIEDADE DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA ADSON DE OLIVEIRA CAROLINE NEVES DE CARVALHO GLENDA GASPARINI GUTERRES SIMONE CÂNDIDA DE ANDRADE O TURISMO ENQUANTO PRÁTICA PEDAGÓGICA NO ENSINO DA GEOGRAFIA: UMA NOVA LEITURA SOBRE A PAISAGEM VITÓRIA 2010

O turismo

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CENTRO DE EDUCAÇÃO POLÍTICA E SOCIEDADE

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

ADSON DE OLIVEIRA

CAROLINE NEVES DE CARVALHO

GLENDA GASPARINI GUTERRES

SIMONE CÂNDIDA DE ANDRADE

O TURISMO ENQUANTO PRÁTICA PEDAGÓGICA NO ENSINO DA

GEOGRAFIA: UMA NOVA LEITURA SOBRE A PAISAGEM

VITÓRIA

2010

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ADSON DE OLIVEIRA

CAROLINE NEVES DE CARVALHO

GLENDA GASPARINI GUTERRES

SIMONE CÂNDIDA DE ANDRADE

O TURISMO ENQUANTO PRÁTICA PEDAGÓGICA NO ENSINO DA

GEOGRAFIA: UMA NOVA LEITURA SOBRE A PAISAGEM

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado ao Centro de Educação,

Política e Sociedade, objetivando a

aprovação na Graduação de Licenciatura em

Geografia pela Universidade Federal do

Espírito Santo.

Orientadora: Profª Solange Lins Gonçalves

VITÓRIA

2010

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ADSON DE OLIVEIRA

CAROLINE NEVES DE CARVALHO

GLENDA GASPARINI GUTERRES

SIMONE CÂNDIDA DE ANDRADE

O TURISMO ENQUANTO PRÁTICA PEDAGÓGICA NO ENSINO DA

GEOGRAFIA: UMA NOVA LEITURA SOBRE A PAISAGEM

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro de Educação, Política e

Sociedade, como requisição para obtenção do Grau de Licenciado em Geografia, na

Universidade Federal do Espírito Santo.

----------------------------------------------------------------------

Profª Drª Marisa Valladares

Universidade Federal do Espírito Santo

----------------------------------------------------------------------

Profª Msª Solange Lins Gonçalves

Universidade Federal do Espírito Santo

Orientadora

---------------------------------------------------------------------

Profª Drª Gisele Girardi

Universidade Federal do Espírito Santo

---------------------------------------------------------------------

Profª Jurema Tonini

Prefeitura Municipal de Vitória

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Queremos agradecer ao nosso Deus, que sempre nos

sustentou e nos deu força durante toda caminhada. “Não tenho

palavras para agradecer Tua bondade e fidelidade (...) Tudo o

que tenho, tudo o que sou, o que vier a ser, vêm de ti Senhor.”

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RESUMO

O turismo e o lazer assumem na sociedade um importante papel, sendo um das

principais atividades econômicas em que o homem se relaciona com a natureza,

contribuindo com a formação de uma configuração espacial do lugar. Os programas

de Geografia, no ensino básico, enfatizam a agricultura e a indústria como atividade

humana configuradora do espaço, deixando à mercê a atividade turística e seu

impacto sobre o espaço geográfico. No entanto, sendo o turismo a atividade que

mais cresce no mundo hoje, a Geografia deve considerá-la e repensá-la em sua

prática cotidiana na escola, já que assim como a indústria e a agricultura o turismo

também provoca transformações na organização dos espaços geográficos. Diante

disso, o presente projeto propõe analisar a possibilidade de se trabalhar a categoria

“paisagem” como elo de ligação entre o turismo local e a Geografia, utilizando, para

tanto, um ponto turístico do município de Cariacica para aplicação do conceito de

paisagem.

Palavras-chaves: Geografia, Turismo e Paisagem.

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LISTA DE FOTOGRAFIAS

Foto 1: Aluno fotografando um dos pontos de parada da trilha ............................... 22

Foto 02 e 03: Alunos respondendo ao questionário ................................................. 26

Foto 04: Mochuara ................................................................................................... 27

Foto 05 e 06: O primeiro contato do grupo com a trilha ............................................28

Foto 07, 08 e 09: Refazendo a trilha com o guia local ..............................................29

Foto 10 e 11: Aula expositiva dos conceitos a serem trabalhados ...........................30

Foto 12, 13 e 14: Percebendo a paisagem ...............................................................31

Foto 15 e 16: Primeiro ponto de parada ....................................................................32

Foto 17 e 18: Segundo ponto de parada ...................................................................33

Foto 19: Terceiro ponto de parada ............................................................................33

Foto 20 e 21: Quarto ponto de parada ......................................................................34

Foto 22 e 23: Quinto ponto de parada ......................................................................35

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SUMÁRIO

Capítulo 1 – Panorama dos aspectos atualmente trabalhados no ensino da

Geografia ................................................................................................................ 8

1.1. O turismo no ensino da Geografia: onde está?.................................................. 8

1.2. Da inexistência de abordagem a concepção de turismo dos alunos ................. 10

Capítulo 2 – Trabalhando conceitos ..................................................................... 14

2.1. Turismo .............................................................................................................. 14

2.2. Paisagem ........................................................................................................... 15

2.3. Pensando o Estudo do Meio ............................................................................. 17

Capítulo 3 - (Re) Descobrindo a paisagem: as metodologias utilizadas .......... 19

3.1. As trilhas interpretativas .................................................................................... 19

3.2. Paisagem: a percepção dos alunos pela fala .................................................... 21

3.3 Percepção da Paisagem: o registro em fotos ..................................................... 22

3.3. A cartografia como recurso de interpretação aplicável da paisagem ................ 23

Capítulo 4 – Relatando a nossa prática: descrição e análise da nossa proposta

pedagógica ............................................................................................................ 26

4.1. Aonde foi realizado? ......................................................................................... 26

4.2. O local da prática .......................................................................................... 27

4.3. Como realizar a atividade prática? ............................................................... 28

4.4. Concretizando o projeto ................................................................................ 29

4.5. Trilha interpretativa: uma nova leitura da paisagem ...................................... 31

4.6. Resultados ..................................................................................................... 35

Referências Bibliográficas .................................................................................... 38

Anexos .................................................................................................................... 40

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Capítulo 1 – Panorama dos aspectos atualmente trabalhados no

ensino da Geografia

1.1. O turismo no Ensino da Geografia: onde está?

As atuais propostas de trabalhos pedagógicos que permeiam o ensino da Geografia

nas escolas trazem como características comuns o uso exarcebado de livros

didáticos, tornando-os definidor da Geografia que é ensinada na sala de aula.

Dentro deste contexto e da necessidade didática da explicação dos fatos, o ensino

da Geografia foi perdendo sua visão global do espaço e suas inter – relações nas

diferentes escalas.

“O cidadão em geral, ao contrário, possui uma percepção fragmentada, mais

restrita ao lugar onde habita. Aplicando-se tais reflexões ao contexto escolar,

faz-se necessário que os alunos compreendam que vivem num determinado

lugar que interage com outros lugares do espaço terrestre numa lógica

totalizadora, dinâmica e contraditória.” (MELO, CARARO, SANTOS, J.,

SONEGHET, CASTRO, MERÇON, GOLLNER e GONÇALVES, 2008, p.9)

Os documentos e programas da Geografia propõem, com base nos Parâmetros

Curriculares Nacionais (1998), um trabalho pedagógico que visa à ampliação das

capacidades dos alunos do ensino fundamental de observar, conhecer, explicar,

comparar e representar as características do lugar em que vivem e de diferentes

paisagens e espaços geográficos. Porém, os próprios livros didáticos, ferramenta

básica do professor, apresentam uma realidade fragmentada, dando, por exemplo,

ênfase às atividades do homem, tais como a agricultura e a indústria como

configuradora do espaço geográfico, deixando de lado a importância da atividade

turística na organização espacial de um lugar, desconsiderando, assim, que o

turismo tem sido a atividade que apresenta maior expansão, e que continuará

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crescendo nas próximas décadas. Tal fato confirma a constatação de Umbelino de

Oliveira (1987, p. 137), que diz:

“(...) a produção dos livros didáticos de geografia não tem acompanhado as

transformações que a ciência geográfica tem vivido nos últimos tempos.”

As enormes transformações recentes proporcionadas pela atividade turística na

organização dos espaços geográficos vêm fortalecendo a idéia de que a Geografia

precisa se abrir e trabalhar essas atividades configuradoras do espaço como um

todo. A escola tem permanecido omissa em relação a isso, voltando-se mais, como

já dito, para as outras atividades econômicas e seus reflexos espaciais.

A prática do turismo se expandiu de tal maneira que torna-se imprescindível a

incorporação desta atividade ao ensino da Geografia, já que “as atividades turísticas

geram deslocamentos humanos e criam espaços diferenciados: áreas emissoras,

áreas de deslocamento e áreas receptoras. O turismo também se baseia em

atividades que utilizam e modificam os recursos da superfície terrestre como, por

exemplo, os diferentes espaços paisagísticos e suas peculiaridades climáticas e

geomorfológicas, os sítios litorâneos ou as manifestações culturais, eventos, etc.”

(GUERRERO e ALMEIDA, 2007 p. 08)

“(...) O turismo é um processo que interessa à sociedade e à natureza e, por

essa razão, está vinculado de forma muito estreita aos objetivos da Geografia

enquanto ciência que se propõe a interpretar os arranjos espaciais da

superfície terrestre e a decodificar toda a complexidade de seu dinamismo.”

(Conti,J.B., 1997 apud GUERRERO e ALMEIDA, 2007 p. 12)

A Geografia tem como proposta a interação do binômio natureza/sociedade, assim o

turismo acaba por interagir com todas as áreas do saber geográfico. Cabe a esta

disciplina levar o aluno a compreender o espaço produzido pela sociedade em que

vivemos, de maneira que se incorpore o turismo na vida das pessoas a partir de um

olhar geográfico desta atividade, desconstruindo aquela visão especulativa de

turismo que a mídia proporciona ao retratar a atividade turística apenas como

situações de viagens. (XAVIER, 2002 p. 63)

10

Com intuito de confirmar tal constatação, foi realizado, como ponto de partida para o

desenvolvimento deste trabalho, a aplicação de um questionário de sondagem aos

alunos da 8ª série da EJA, na EMEF Talma Sarmento de Miranda, em São Geraldo,

município de Cariacica, em que pôde-se observar as dificuldades que os alunos

tiveram em respondê-lo, principalmente no que se refere à relação o turismo e a

Geografia. Diante da análise da fala dos alunos no questionário, exposta a seguir,

tornou-se necessário a revisão de alguns conceitos, tais como da categoria de

paisagem, categoria que pretendemos utilizar como elo na relação

Geografia/Turismo, além disso revisou-se também a conceituação de turismo e do

estudo do meio.

1.2. Da inexistência de abordagem à concepção de turismo dos

alunos

Diante da não abordagem do fenômeno turístico pelos livros didáticos e,

consequentemente, pelos professores de Geografia em suas aulas, há pouco

conhecimento e informações sobre o turismo entre os alunos. O que predomina é a

visão imposta pela mídia do que é turismo, isso se reflete nas falas dos alunos no

questionário aplicado para uma turma de 8ª série EJA, na escola EMEF Talma

Sarmento de Miranda, em Cariacica:

Fala 1: “Um local bem conhecido procurado por visitantes, ou meio de conhecer

novos lugares.” (Aluno 8ª série EJA)

Fala 2: “Turismo é uma viajem para você conhecer lugares novos.” (Aluno 8ª série

EJA)

Fala 3: “São visitantes que vem de outros lugares conhecer as nossas belezas

naturais, etc.” (Aluno 8ª série EJA)

11

Diante dessa dificuldade, que resulta da própria inexistência de abordagem do tema

em sala de aula, percebe-se, conforme Xavier, 2002, que

“as pessoas absorvem a atividade, mas permanecem sem saber o

que fazer” (p. 63)

No que diz respeito à relação entre a Geografia e a atividade turística, a fala dos

alunos também reafirma ausência da abordagem geográfica nessa área,

demonstrando a visão viciada pela concepção da mídia de turismo que os alunos

tem, na qual a maioria partiu do pressuposto de associação do turismo ao lazer.

Inclusive, muitos encontraram dificuldades para realizar essa relação entre a

disciplina e o turismo. A pergunta realizada foi: “Você acha que o turismo tem a ver

com a Geografia? Por que?” Algumas respostas foram:

Fala 1: “Sim. Porque fala do país onde temos muito turismo.” (Aluno 8º série EJA)

Fala 2: “Sim. Porque com o turismo você conhece vários país que você passa.”

(Aluno 8º série EJA)

A incorporação do turismo na prática docente, diante das respostas dos alunos, se

faz muito urgente e necessária, e uma das propostas de incorporação dessa

dimensão pela Geografia é feita por Xavier (2002 p.65), que afirma que tal disciplina

“deverá trabalhar com temas que possam conduzir a uma tomada de

consciência pelo turismo. São, pois, sugeridos temas como: o estudo e a

valorização da paisagem geográfica, a educação ambiental pelo turismo, e a

interpretação do patrimônio, dentre outros.”

O trabalho de valorização da paisagem torna-se, dessa forma, uma das maneiras de

se interiorizar as informações, aguçando a percepção que os alunos desenvolvem

do meio ambiente e do uso dos recursos pelo homem, incluindo as ações do homem

no espaço geográfico.

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Assim, conforme Xavier (2002 p.66):

“A paisagem geográfica constitui tema central para as atividades turísticas e

educativas. Ela deve ser entendida constituída por componentes naturais e

construídos, visíveis e não visíveis. Nos projetos ligados ao estudo da

paisagem geográfica nas escolas, deverão constar atividades que levem o

educando a observá-lo por meio de sua descrição, representação e

identificação de seu valor, seja estético, histórico, ambiental ou arquitetônico.

A paisagem poderá ser trabalhada diretamente no campo, pela percepção

direta ou em sala de aula, pela observação indireta, por meio de fotografias,

filmes, mapas ou pré-mapas.”

Sendo assim, a percepção e valorização da paisagem podem se constituir como

uma estratégia de se trabalhar o turismo no ensino da Geografia, já que a atividade

turística se apresentará como um dos fatores que comporão a paisagem, categoria

geográfica muito discutida nas aulas dessa disciplina.

Considerando-se a abrangência e a complexidade da questão, projetamos os

seguintes objetivos norteadores do nosso trabalho:

• Apresentar e analisar uma metodologia para o ensino da categoria

“paisagem”;

• Tornar aplicável a categoria geográfica “paisagem” em um ponto turístico

escolhido pelos alunos da EMEF “Talma Sarmento de Miranda”, no município

de Cariacica;

No capítulo a seguir, faremos uma revisão de conceitos: trabalharemos o conceito

de paisagem conforme Milton Santos, utilizaremos na conceituação de turismo

alguns aspectos levantados e discutidos por Frank M. GO, Ruschmann e Balastreri,

assim como a de estudo do meio feita por Christian Oliveira. Essas leituras levaram

à reflexão acerca da elaboração de uma proposta que contemplasse uma

articulação entre tais conceitos numa aplicação prática que viesse contribuir com o

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ensino da Geografia nas escolas, tal prática será relatada nos capítulos seguintes ao

debate dos conceitos.

14

Capítulo 2 – Trabalhando Conceitos

2.1. Turismo

O turismo, enquanto atividade econômica que mais cresce, vem se destacando

diante do volume de renda que gera, no entanto, em sala de aula ainda é pouco

debatido numa perspectiva geográfica. Assim como qualquer outra atividade

econômica o turismo também proporciona transformações espaciais, até porque o

desenvolvimento de tal atividade pressupõe a construção de hotéis, restaurantes,

rede de transportes, que vão configurar o espaço geográfico. Em seus estudos

sobre espaços turísticos, Balastreri (2006, p. 23) destaca a importância do estudo do

turismo:

“O turismo e o lazer assumem no mundo contemporâneo, particularmente,

nos países centrais do capitalismo e mesmo em regiões ricas dos países

emergentes e pobres, uma importância nunca antes imaginada, sendo

designado por muitos como uma das principais indústrias do período técnico-

científico-industrial, rotulado também por pós- modernidade.”

Segundo a Organização Mundial do Turismo, o turismo aparece como: “a soma de

relações e serviços resultantes de uma mudança voluntária para uma residência

temporal, não motivada por razões de negócios ou profissionais” (Flores, 1974 apud

PAGANI, SCHIAVETTI, MORAES, TOREZAN org. AMALIA LEMOS, 1996 p. 51)

Na contramão desta definição da OMT, encontra-se a definição de turismo proposta

por Frank M. GO (apud Godoi Trigo, 2003 p. 16), segundo o qual, o turismo

“pode ser definido como o movimento de indivíduos e grupos de uma

localização geográfica para outra por prazer e/ou por negócios, sempre em

caráter temporário; o atendimento das necessidades dos viajantes, seja em

trânsito ou no destino; e os impactos econômicos, sociocultural e ecológico

que tanto os turistas como o setor turístico provocam nas áreas de destino.”

15

Assim, o turismo abarcaria todas as movimentações temporárias de grupos de

pessoas de um local para outro, motivada não apenas por lazer, como proposto pela

OMT, mas também motivadas por negócios e assuntos profissionais.

O turismo vai desempenhar um importante papel na configuração da paisagem à

medida que dispõe de aparatos complexos, sendo, ainda conforme Frank M. GO

“uma indústria composta por atrações, transportes, facilidades/serviços em geral, e

informação e promoção”. (p. 16) Dessa forma, na constituição do espaço turístico,

tais componentes (transportes, serviços, entre outros) vão compor a paisagem,

dando a esta uma configuração específica de espaço voltado para a atividade

turística. Na utilização deste espaço, “o turista utiliza uma variedade de

equipamentos e serviços criados para seu uso e para a satisfação de suas

necessidades.”(Ruschmann, 1997, p.14) interferindo direta e indiretamente na

composição da paisagem.

2.2. Paisagem

A paisagem é um das categorias de estudo da geografia que permite uma avaliação

a partir de uma imagem que pode ser contemplada com uma simples olhada de um

observador ao seu redor, é o que afirma SANTOS (1988, p.61)

“Tudo aquilo que nós vemos, o que nossa visão alcança, é a paisagem. Esta

pode ser definida como o domínio do visível, aquilo que a vista abarca. Não é

formada apenas de volumes, mas também de cores, movimentos, odores,

sons, etc.”

No ensino da paisagem nas aulas de geografia em turmas de ensino fundamental,

esse conceito é abordado usando uma definição mais simplificada como uma porção

do espaço apreendida com o olhar (FERREIRA, 1984). No entanto, seguindo esta

visão, o que teríamos seria uma definição vazia de paisagem, pois conforme nos

aponta SANTOS (1988, p.62) “Nossa tarefa é a de ultrapassar a paisagem como

16

aspecto, para chegar a seu significado.” Tal tarefa é alcançada, ainda nos dizeres de

Milton Santos, através da percepção.

“A dimensão da paisagem é a dimensão da percepção, o que chega aos

sentidos. Por isso, o aparelho cognitivo tem importância crucial nessa

apreensão, pelo fato de que toda nossa educação, formal ou informal, é feita

de forma seletiva, pessoas diferentes apresentam diversas versões do

mesmo fato. (...) A percepção é sempre um processo seletivo de apreensão.

Se a realidade é apenas uma cada pessoa a vê de forma diferenciada; dessa

forma, a visão pelo homem das coisas materiais é sempre deformada.” (1988,

p. 62)

Assim, a paisagem é composta por uma série de relações como sons, volumes,

cores, odores e de uma história como diz SANTOS (2002, p.107), "A paisagem é

história congelada, mas participa da história viva. São suas formas que realizam, no

espaço, as funções sociais".

No ensino da Geografia, para melhor compreensão desse conceito deve-se levar em

conta a sua abstração, por isso se faz necessário o uso de exemplificações e a

comparação entre uma paisagem que não sofreu uma atuação direta do homem

com uma paisagem totalmente remodelada pela ação humana, observando sempre

o tempo e os agentes implícitos a primeira vista. Sobre a paisagem natural e a

artificial, SANTOS (1988, p.64) diz:

“A paisagem artificial é a paisagem transformada pelo homem, enquanto

grosseiramente podemos dizer que a paisagem natural é aquela ainda não

mudada pelo esforço humano. (...) A paisagem é um conjunto heterogêneo de

formas naturais e artificiais, é formada por frações de ambas, seja quanto ao

tamanho, volume, cor, utilidade, ou por qualquer outro critério. A paisagem é

sempre heterogênea.”

Por esse viés, admite-se que, tanto pela atuação do homem, quanto pela

sobreposição de arranjos do mesmo espaço, segundo Santos (2002, p.103):

"A paisagem é um conjunto de formas que, num dado momento, exprime as

heranças que representam as sucessivas relações localizadas entre homem

e natureza ".

17

Assim, a leitura da paisagem se dá mediante a identificação destes elementos que a

compõem, o trabalho de observação deve se iniciar pelas características que tocam

a cada um, levando em consideração a sua história, já que na paisagem prevalecem

as decisões que venceram e determinaram a sua imagem, conforme os PCN’s

(1998).

2.3. Pensando o Estudo do Meio

O estudo da paisagem apresenta uma grande interdisciplinariedade, profissionais de

diferentes áreas de formação podem contribuir com esse estudo. “Por exemplo,

coisas que um arquiteto, um artista vêem, outros não podem ver ou o fazem de

maneira distinta. Isso é válido, também, para profissionais com diferente formação e

para o homem comum.” (SANTOS, 1988 p.62)

Isso quer dizer que uma mesma paisagem pode ser interpretada de maneiras

diversas,“a paisagem geográfica está muito mais voltada para a dinâmica do

ambiente em relação ao homem. Não existe paisagem geográfica sem se considerar

a existência do ser humano, suas atitudes e valores.” (GERRERO e ALMEIDA, 2007

p.13) Dessa forma, o estudo e a compreensão da paisagem tem uma importância

para a prática do turismo, possibilitando um planejamento e um gerenciamento das

estruturas que compõem o meio utilizado como espaço turístico.

O estudo do meio se configura como um conjunto de atividades programadas pela

disciplina geográfica ou em planejamento interdisciplinar, no sentido de promover a

compreensão mais direta da realidade sócio-ambiental do aluno, por intermédio do

trabalho de campo. Segundo (OLIVEIRA, 2006, p.33)

“O Estudo do Meio estabelece uma investigação sistemática dos lugares,

conduzida pelo coletivo dos alunos e coordenada por um

professorpesquisador. Trata-se de um processo de revelação pedagógica das

infinitas potencialidades da geografia escolar em diálogo operacional como a

geografia cotidiana”.

18

Com base no conceito de estudo do meio, constrói-se um elo entre o estudo da

paisagem e o turismo que também é instrumento de estudo da geografia e que

podem ser abordados em campo, como por exemplo, em uma trilha de uma região

que pertence a um ponto explorado pela atividade turística, mas que também é

composto por diversas paisagens.

No capítulo a seguir, as metodologias de (re) descoberta da paisagem são

abordadas, trata-se da apresentação de uma reflexão acerca da forma como foi

conduzida a nossa prática pedagógica, que será descrita no capítulo seguinte a

discussão sobre as metodologias utilizadas.

19

Capítulo 3 – (Re) Descobrindo a paisagem: as metodologias

utilizadas

3.1. As trilhas interpretativas

Partindo-se da pretensão de estabelecimento de uma relação entre a Geografia e o

Turismo, por meio da análise e interpretação da paisagem, foi desenvolvida junto

aos alunos da EMEF “Talma Sarmento de Miranda” uma trilha interpretativa na

Estância Vale do Moxuara, município de Cariacica, de modo a possibilitar uma visão

geográfica de uma paisagem já conhecida por eles, porém vista sempre pelo viés

economicista, ligada ao lazer e à diversão.

A trilha realizada, com o objetivo de tornar aplicável o conceito de paisagem a partir

da sua interpretação em um ponto turístico no município de Cariacica, pode ser

classificada, conforme LIMA (1998 p. 4), como trilhas de interpretação de caráter

educativo,

“pois consistem em instrumentais pedagógicos, podendo ser: (1) auto-

interpretativa; (2) monitorada simples; (3) com monitoramento associado a

outras programações. O percurso deve ser de curta distância, onde

buscamos otimizar a compreensão das características naturais e/ou

construídas da seqüência paisagística determinada pelo traçado. No caso de

áreas silvestres são conhecidas como trilhas de interpretação da Natureza

(“Nature Trails”); em áreas construídas, especialmente as urbanas, em

geografia, são conhecidas como percursos de espaço vivido.”

Seguindo essa classificação, a trilha proposta neste trabalho procura ser uma trilha

monitorada simples, com paradas e temas fixados com antecedência, porém com o

intuito de enfatizar a fala dos alunos acerca da descrição, interpretação e análise da

paisagem percebida nesses pontos pré-estabelecidos. Aqui o intuito é a

20

interpretação do ambiente pelo ponto de vista dos alunos, após uma aula sobre

paisagem ministrada anteriormente à visita.

Sobre a interpretação ambiental PAGANI, M.I., SCHIAVETTI, A., MORAES, M.E.B. e

TOREZAN, F.B. (1996, p. 154) afirma que:

“A interpretação ambiental é uma técnica didática, flexível e moldável às

diversas situações, que busca esclarecer os fenômenos da natureza a um

determinado público alvo, em linguagem adequada e acessível, utilizando os

mais variados meios auxiliares para tal”

Os trabalhos envolvendo trilhas interpretativas vêm subsidiar estudos em diversas

áreas, inclusive às áreas do lazer e turismo, no sentido de se realizar uma prática

educativa abrangendo o espaço utilizado como área turística na interpretação da

paisagem. Neste sentido LIMA (1998, p.6) observa que

“a trilha é submetida a uma análise e avaliação enquanto um exercício de

percepção das várias dimensões da paisagem”.

Tal afirmação confirma a aplicabilidade do conceito paisagem, estudada em salas de

aula por meio da Geografia, numa área que envolve relações turísticas, como a do

Parque Moxuara, por exemplo.

Por meio da trilha busca-se relacionar o passado e o presente da área escolhida,

analisando os arranjos espaciais dominantes naquele ponto turístico, é o que afirma

BALESTRERI RODRIGUES (2006, p.24)

“A noção do tempo é fundamental não só para entender a organização

espacial (formas) que se transmuda durante o processo histórico, mas

também as ações que, de maneira distinta, evoluem com o tempo,

produzindo novas relações que se expressam através de novos objetos, e

assim sucessivamente.”

Assim, a interpretação da paisagem realizada por meio das trilhas vem otimizar a

compreensão dos fenômenos em sua totalidade, abrangendo a percepção dos

21

alunos acerca do espaço que os rodeia sob vários aspectos: ambientais, temporais e

acima de tudo geográfico, que é o enfoque da prática desenvolvida neste trabalho.

3.2. Paisagem: a percepção dos alunos pela fala

Durante a realização da trilha interpretativa na Estância Vale do Moxuara, foi

utilizada a gravação das falas dos alunos participantes em cada parada realizada. A

proposta de gravação das falas partiu da idéia de se basear numa conversa informal

acerca do que os alunos viam de paisagem naquele ponto. Tendo como base a

idéia que SANTOS (1988 p.61) faz de paisagem:

“Tudo aquilo que nós vemos, o que nossa visão alcança é a

paisagem [...] Não apenas formada de volumes, mas também de

cores, movimentos, odores, sons, etc.”

Dessa forma, o que os alunos sentiam e percebiam na paisagem ficaram registradas

sob a forma de falas, expressas em cada ponto de realização das paradas. Tal

metodologia consiste no método de história oral, proposto por BOM MEIHY. A

metodologia da história oral trata-se de uma “prática de apreensão de narrativas

feita por meio do uso de meios eletrônicos e destinada a recolher testemunhos,

promover análises de processos sociais do presente e facilitar o conhecimento do

meio imediato”. (Bom Meihy, 2002 p. 13).

A escolha da metodologia de história oral se justifica pela garantia da expressividade

dos alunos que tal método proporciona. Em cada ponto houve o registro da

participação dos alunos.

Assim, a metodologia de história oral possibilitou o armazenamento não apenas das

falas, mas das emoções e sentimentos que a paisagem despertou na memória dos

alunos, garantindo assim uma base real e emotiva acerca da percepção da

paisagem.

22

3.3. Percepção da Paisagem: o registro em fotos

No desenvolvimento da trilha interpretativa, selecionamos duas técnicas para que os

alunos pudessem analisar e demonstrar a percepção que eles tinham acerca da

paisagem, ambas realizadas de forma combinada em cada ponto estabelecido para

a parada. Uma dessas técnicas foi a citada acima, a gravação das falas dos alunos

em cada parada, a outra diz respeito ao registro fotográfico do que eles percebiam

na paisagem. A combinação destas técnicas buscou levar os alunos à reflexão sobre

a paisagem que os cercava. As fotografias foram usadas de modo a constituir uma

sequência de imagens utilizadas na produção do croqui, exposto nos resultados

finais do trabalho.

Foto 1: Aluno fotografando um dos pontos de parada da trilha (16/05/2010)

Autoria: Caroline Neves de Carvalho

Sobre a utilização desta técnica, LIMA (2004) afirma que uma coleção de imagens

fotográficas

23

“constitui-se em uma atividade de sensibilização ambiental, envolvendo multi-

estimulação da acuidade perceptiva, cognitiva e afetiva, desenvolvida

mediante um processo de educação através de valores, de identificação com

a paisagem, onde são enfocados aspectos relativos ao sentir-se e ser parte.”

Dessa maneira, a utilização de fotografias vem reforçar a percepção e a

interpretação ambiental, a partir da observação da relação homem/natureza,

contribuindo com a compreensão das transformações percebidas na paisagem.

3.4. A cartografia como recurso de interpretação aplicável da

paisagem

Enquanto forma de produção e organização do espaço, a cartografia também foi um

dos recursos utilizados no desenvolvimento da nossa prática pedagógica. A

linguagem cartográfica constitui-se numa ferramenta básica para leitura do mundo e

representação do espaço e foi utilizada ao final deste trabalho na elaboração de um

croqui da trilha no Moxuara. O intuito da elaboração de tal representação foi o de

apresentar a trilha a quem não conhece e realizar uma síntese final das visões

acerca da trilha: a visão ambientalista do guia, a visão geográfica de “nós”

pesquisadores, e a visão que os alunos tiveram da trilha.

Tal como afirma MELO, CARARO, SANTOS, J., SONEGHET, CASTRO, MERÇON,

GOLLNER e GONÇALVES ( 2008, p. 15 )

“a linguagem cartográfica é um sistema de símbolos que envolve

proporcionalidade, uso de signos ordenados, técnicas de projeção e de

análise das representações. A leitura de representações cartográficas

também pretende atender a diversas necessidades, das mais cotidianas

(chegar a um lugar que não se conhece, entender o trajeto dos 16

mananciais, por exemplo) às mais específicas (como delimitar áreas de

plantio, compreender zonas de influência do clima).”

24

Assim, destaca-se a importância de representar cartograficamente a trilha de

maneira que tal representação proporcione não apenas o conhecimento da trilha,

mas o conhecimento de algumas das dimensões possíveis de se abordar na trilha,

além disso possibilita uma abordagem geográfica, com a construção de noções de

espaço e de representação do mesmo.

“Observar, descrever, experimentar e comparar fatos e fenômenos por meio

de representações cartográficas são ações que permitem construir noções

espaciais, favorecem compreensões geográficas, estimulam a identificação

de problemas e a elaboração de soluções que a Geografia, como ciência,

produz.”(MELO, CARARO, SANTOS, J., SONEGHET, CASTRO, MERÇON,

GOLLNER e GONÇALVES 2008, p. 16)

O tipo de representação utilizada, como já antecipado, foi o croqui. Trata-se de uma

representação bidimensional, que permite maior liberdade nas representações

(cognição, percepção individual e criatividade), permitindo ao usuário o

entendimento e a participação no processo de confecção. (SIMIELLI, 1994 apud

PCN, 1998)

Essa representação exerce uma excelente forma de contribuição na compreensão

da realidade, contribuição que também é da Geografia, expressa por PEREIRA

(1996, p.53 apud MORONE, 2007) que diz:

“E a alfabetização, para a Geografia somente pode significar que existe a

possibilidade do espaço geográfico ser lido, e portanto, entendido. Pode

transformar-se, portanto, a partir disso, em instrumento concreto do

conhecimento. Mias que isso, o espaço geográfico pode transformar-se em

uma janela a mais para possibilitar o desvendamento da realidade pelo

aluno.”

A utilização de croquis permite, segundo MORONE (2007 p. 50), o esclarecimento

do tema sem seu esgotamento, resguardando para a compreensão do tema

retratado. Simielli apud MORONE (2007 p. 51) apresenta três tipos de croquis:

croqui de análise/localização, croqui de correlação e croqui de síntese. Com base

nessa classificação, o croqui apresentado nos próximos capítulos será um croqui de

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análise/ localização, já que contém a representação de apenas um fenômeno, que é

a utilização do espaço no Vale do Moxuara.

26

Capítulo 4 – Relatando nossa prática: descrição e análise da nossa

proposta pedagógica

A partir da idéia de utilizarmos o turismo como prática pedagógica no ensino de

Geografia e o estudo da categoria geográfica de paisagem como principal objeto

para o desenvolvimento da prática proposta. O nosso projeto foi desenvolvido da

seguinte forma:

4.1. Aonde foi realizado?

Escolhida a Escola Municipal de Ensino Fundamental “Talma Sarmento de Miranda”,

localizada no bairro São Geraldo, em Cariacica e a turma de 8ª série do Ensino para

Jovens e Adultos (EJA) do período noturno, foi aplicado um questionário para

identificar a concepção dos alunos sobre a conceituação de turismo, e a possível

relação do turismo com a Geografia. Mediante a dificuldade dos alunos em

responderem tais perguntas, foi reafirmada a importância da incorporação do

turismo no contexto escolar.

Foto 02 e 03: Alunos respondendo ao questionário (08/04/2010)

Autoria: Glenda Gasparini Guterres

E com a pergunta: “Identifique um ponto turístico do seu município”, o grupo decidiu

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que a área a ser desenvolvida tal proposta seria a Estância Vale do Moxuara,

localizada no bairro Roças Velhas, no município de Cariacica, por ser esta a

resposta da maioria dos alunos para a referida pergunta.

4.2. O local da prática:

Considerado o “cartão-postal” de Cariacica, o Mochuara recebeu esse nome por

influência francesa. A lenda local justifica essa denominação pelo fato que quando

os colonos franceses se aproximaram da baía de Vitória e avistaram um monte com

névoa em torno do topo, associaram tal imagem a um lenço, que em francês é

“mouchoir”.

E, atualmente caracteriza-se por uma região de preservação ambiental, onde a

atividade predominante é o chamado turismo rural.

Foto 04: Mochuara (11/04/2010)

Autoria: Glenda Gasparini Guterres

28

4.3. Como realizar a atividade prática?

A atividade em si consistiria em uma trilha interpretativa no ponto turístico escolhido,

onde os alunos, através de análises e interpretações, tentariam aplicar o conteúdo

estudado em sala de aula sobre a categoria geográfica paisagem. Tal atividade é

justificada por LIMA (1998, p.1):

“Experiência, percepção e interpretação tornam-se, deste

modo, chave para o conhecimento do entorno...”

Primeiramente o grupo esteve na localidade para conhecer a área e juntamente com

a administração do local analisar as possibilidades da realização da trilha.

E, após essa sondagem a trilha foi feita pelo grupo, onde tivemos o primeiro contato

com o ponto turístico e a paisagem a ser trabalhada com os alunos.

Foto 05 e 06: O primeiro contato do grupo com a trilha (11/04/2010)

Autoria: Glenda G. Guterres

Em um segundo momento, retornamos ao local para refazermos a trilha com um

guia local, objetivando conhecer o roteiro turístico utilizado por ele e analisarmos

como poderia ser inserido o conteúdo sobre a categoria geográfica de paisagem

estudada em sala de aula neste roteiro.

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O guia seguiu um roteiro mental, que precisou ser transcrito pelo grupo, relatando

desde a primeira parada onde é contada a lenda de amor entre o Mochuara

(Cariacica) e o Mestre Álvaro (Serra), que conseguiu, através das estrelas, um meio

secreto de comunicação para perpetuar um romance interrompido, até a última

parada na horta, para futuras observações e análises. Ressaltando que devido a

dificuldades administrativas não tivemos acesso ao material original que orientou o

roteiro seguido pelo guia.

Foto: 07,08 e 09: Refazendo a trilha com o guia local (01/05/2010)

Autoria: Acompanhante do guia local

4.4. Concretizando o projeto ...

Após o reconhecimento da trilha pelo grupo e o contato com o guia local, foi

ministrada uma aula aos alunos da turma escolhida para participar do projeto,

apresentando os conceitos de turismo, paisagem e a relação do turismo com a

30

Geografia.

E, ao final os alunos deveriam entender que para a Geografia a paisagem não é

apenas um belo panorama natural visto em fotografias ou revistas, e sim um

conjunto dos elementos naturais e humanizados que podemos observar em um

determinado lugar.

Para SANTOS (1988, p. 61):

“Tudo aquilo que nós vemos, o que nossa visão alcança, é a paisagem... Não

apenas formada de volumes, mas também de cores, movimentos, odores,

sons etc.”

Foto 10 e 11: Aula expositiva dos conceitos a serem trabalhados (12/05/2010)

Autoria: Simone C. Andrade

A partir daí, foram orientados a aplicar a conceituação estudada em sala durante

vivência na trilha interpretativa a ser realizada no ponto turístico identificado por eles

no questionário respondido. Valorizando a articulação entre teoria e a prática,

reafirmando a importância dos saberes da experiência, através da percepção e

interpretação.

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4.5. Trilha Interpretativa: Uma nova leitura da paisagem

Imbuídos da teoria, seguimos com os alunos para a Estância Vale do Moxuara, e

com o auxílio do guia local fizemos a trilha seguindo seu roteiro turístico e tanto no

percurso quanto nas paradas, os alunos foram observando, analisando e

interpretando a paisagem ao redor. Manifestadas através de relatos, que foram

gravados, anotações e fotografias.

Cada um, com suas particularidades, foram percebendo o entorno, aplicando os

conceitos estudados em sala de aula, suas variações e a ação do homem como

agente transformador da paisagem.

“Precisamos da natureza, mas precisamos também sobreviver, alimentar,

né...porque sem o alimento como é que a gente vai viver?” (aluno A)

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Foto 12,13 e 14: Percebendo a Paisagem - Fotografias feitas pelos alunos (16/05/2010)

No primeiro ponto de parada o guia abordou o histórico da região, que após um

período caracterizado por desmatamento para plantio de pastagens, atualmente é

uma área de preservação e regeneração.

Neste trecho, os alunos juntamente com o grupo ressaltaram a importância de

conhecer a história do local para analisar sua paisagem, pois sem conhecer este

histórico muitos caracterizariam esta área como sendo uma paisagem natural.

Foto 15 e 16: 1° Ponto de parada (16/05/2010)

Autoria: Alunos 8 ª série EJA

No segundo ponto de parada foi possível observar a diversidade de paisagens, de

um lado à ação humana com a presença de bananais e do outro uma mata natural

por onde percorre um pequeno riacho.

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Foto 17 e 18: 2° Ponto de parada (16/05/2010)

Autoria: Alunos 8ª série EJA

No terceiro ponto de parada o guia mostra a ação de uma árvore parasita, chamada

popularmente de “estranguladeira”. O ambiente escuro e úmido é identificado pelos

alunos como sendo uma paisagem natural.

Foto 19: 3° Ponto de parada (16/05/2010)

Autoria: Alunos 8ª série EJA

“A mata aqui é até mais fechada ...” (Aluno B)

“Os raios de sol não conseguem chegar até o chão por causa das folhas,

né...que são muitos galhos, muitas copas.” (Aluno A)

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No quarto ponto de parada em uma área denominada “Rio Seco”, mais uma vez

alunos e o grupo ressaltaram a importância de conhecer o histórico local para

analisarmos a paisagem.

“...ele ta seco aí pela natureza mesmo...”

(Aluno C)

Inicialmente a região foi caracterizada como sendo uma área de paisagem natural,

porém após o discurso do guia de que havia um desvio do curso d’água feito em

outras localidades, que ocasionou a seca no local, percebemos que estávamos em

uma área afetada pela ação humana.

“Ele [homem] não atua diretamente aqui, atua lá em cima, mas houve um

reflexo aqui.”

(Aluno D)

“Houve uma modificação!”

(Aluno A)

Foto 20 e 21: 4° Ponto de parada (16/05/2010)

Autoria: Alunos 8ª série EJA

No quinto de parada foi observada pelos alunos a vasta área de pastagem, onde

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desenvolve-se a pecuária, mas uma vez foi percebido a atuação do homem como

agente transformador da paisagem.

Foto 22 e 23: 5° Ponto de parada (16/05/2010)

Autoria: Alunos 8ª série EJA

4.6. Resultados

Ao termino da trilha os alunos conseguiram vivenciar a teoria estudada em sala de

aula e perceber a paisagem de um ponto turístico não apenas com olhar de um

turista, mas com um olhar diferenciado, capaz de observar e interpretar as relações

existentes na paisagem.

“...foi muito legal essa experiência a gente aprende mais, acrescenta nas

matérias da escola...”

(Aluno C)

E, como atividade final foi feito pelo grupo um croqui da trilha, em formato de mural,

onde os pontos são identificados com fotos e relatos das observações feitas pelos

próprios alunos para caracterizar tais áreas, para ser apresentado para a turma

participante do projeto, como resultado da trilha interpretativa.

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O croqui possibilitou responder ao questionamento inicial do grupo: ”Será possível

aplicar os conceitos da sala de aula na trilha?”, que como atividade final de nosso

projeto nos apresentou uma resposta positiva ao questionamento de meses atrás.

37

38

Referências Bibliográficas

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Aportes e Tranferencias, Vol. 10, Num. 1, Sin mês, 2006 pp. 22-34. Universidad

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FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova

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_________________. Paisagem Geográfica e atividades turísticas. In: Geografia e

Cartografia para o Turismo. Caminhos do Futuro: Ministério do Turismo. São Paulo:

2007.

LIMA, Solange T. “Trilhas Interpretativas: a aventura de conhecer a paisagem”,

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GONÇALVES, S.L. Geografia. Vitória: 2008.

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39

MORONE, R. UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Departamento de Geografia da

Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. O uso de croquis cartográficos

no Ensino Médio. (Tese de Doutorado). São Paulo: 2007.

OLIVEIRA, Christian D M. Do estudo do meio ao turismo geoeducativo: renovando

as práticas pedagógicas em geografia. Boletim Goiano de Geografia Goiânia. Goiás

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OLIVEIRA, A.U. Educação e Ensino de Geografia na Realidade Brasileira. In: Para

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PONTUSCHKA, N. e OLIVEIRA, U.A. Geografia em perspectiva: ensino e pesquisa.

São Paulo: Editora Contexto, 2002.

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ANEXOS

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EMEF “Talma Sarmento de Miranda”

Turma: 8ª série EJA

TEMA: Turismo e Geografia – um novo olhar sobre a paisagem

Conteúdos:

• Discussão e Definição de turismo;

• Relação do turismo com a Geografia;

• Estudo da paisagem como elo entre a Geografia e o Turismo;

• Paisagem Natural e Transformada;

Objetivo Geral:

• Despertar a percepção da paisagem turística a partir do olhar geográfico;

Objetivos Específicos:

• Trabalhar a relação entre o turismo e a geografia;

• Definir a paisagem, explicando que esta pode ser natural/ transformada;

• Trabalhar a percepção da paisagem, a partir da interpretação de imagens

com duplo sentido;

Atividades:

• Aula expositiva e dialogada com a turma;

Recursos Didáticos:

• Data Show

• Imagens sobre percepção da paisagem

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Data: ______/______/_________ Idade: __________________ Turma: _____________

Questionário EMEF Talma Sarmento – São Geraldo/ Cariacica 1 – Para você, o que é turismo? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 2 – Identifique um ponto turístico do seu município: ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3 – Você conhece este local? (O local citado acima) ( ) Sim ( ) Não ( ) Já ouvi falar 4- Você acha que o turismo tem a ver com a Geografia? Por que? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Os dados deste questionário serão utilizados no desenvolvimento do Trabalho de Conclusão de Curso, cujo tema é “Turismo enquanto prática no ensino da Geografia”.

Agradeço a sua participação !!

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Roteiro de Campo 16/05/2010

Estância Vale do Moxuara – Cariacica/ ES

Objetivos: Aplicar o conceito da categoria geográfica “paisagem” estudado em sala

de aula durante uma trilha. Ao final da trilha teremos a resposta para a nossa

proposta: o turismo como metodologia para o ensino de Geografia.

Metodologia: Com o auxílio de um guia local seguiremos por uma trilha na Estância

Vale do Moxuara – Cariacica/ ES juntamente com os alunos. O guia que

acompanhará o grupo possui um roteiro mental, e durante as paradas os alunos

deverão observar a paisagem e tentar aplicar o conceito estudado anteriormente.

Roteiro:

1) Área de Erosão devido ao desmatamento � Fase inicial de regeneração;

2) Divisão da trilha � Paisagem natural

3) “Porteira do Riacho” � O homem como agente transformador da paisagem �

Plantação de bananas;

4) Rio Seco � Interferência do homem � Barragens em outras localidades;

5) Pasto;