O Universo Urbano e as Estradas Reais e Ferroviárias

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  • 7/28/2019 O Universo Urbano e as Estradas Reais e Ferrovirias

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    Relato do IV Encontro de Pesquisadores do Caminho Novo Congonhas, MG Maio 2013

    Nilza Cantoni e Joana Capella

    O Universo Urbano e as Estradas Reais e Ferrovirias

    Professora Helena Guimares Campos, especialista em Histria da Amrica Latina e em

    Educao Ambiental e mestre em Cincias Sociais. Foi coordenadora do Ncleo Ferrovirio da

    ONGTrem Transporte e Ecologia em Movimento e atualmente coordena o Ncleo de Educao,

    Cultura e Cidadania desta organizao, alm de trabalhar como Tcnica de Nvel Superior na

    rea de Patrimnio Cultural no Arquivo Pblico da Cidade de Belo Horizonte (APCBH).

    A professora Helena iniciou sua apresentao

    lembrando que se utiliza da imagem ao lado pela sua

    representatividade, uma vez que nela esto contidos

    elementos que norteiam o seu trabalho, ou seja, o marco da

    Estrada Real e uma ponte ferroviria. Ressaltou, tambm,

    que assim como sua comunicao de 2012, parte do que

    seria apresentado advm de um longo estudo que resultou

    na obra Caminhos da Histria Comparada - Estradas Reais e

    Ferrovias.

    A capa deste livro uma feliz interpretao do artista

    Walter Lara, reunindo o tropeiro e a estao ferroviria.

    Destacou que a ferrovia precisa ser alimentada e o tropeiro

    exerceu este papel, lembrando que mais de 60% dos municpios que integram o Projeto Estrada Real

    (172 em Minas Gerai, 8 no Rio de janeiro e 7 em So Paulo) foi servido por ferrovias.

    A seguir explicou que seu objetivo seria abordar a insero do patrimnio ferrovirio no

    patrimnio cultural dos municpios integrantes da Estrada Real, demonstrando a aproximao dos

    papis e funes dos caminhos reais e ferrovirios ao longo do tempo. Segundo ela, do ponto de

    vista da histria e do patrimnio no possvel olhar para um pequeno espao de tempo. Pelo

    contrrio, necessrio abrir-se para um tempo mais longo e dinmico que demonstra o uso e a

    reapropriao dos espaos pela populao. No caso do patrimnio ferrovirio, os municpios que se

    engajaram no projeto de preservao atenderam ao acordo estabelecido entre as partes,

    transformando-os em equipamentos culturais que atualmente representam atrativos tursticos.

    Entretanto, ressaltou, isto no impede que um dia volter a ser utilizados para o transporte de

    passageiros.

    A apresentao da professora Helena foi rica em imagens bastante significativas, definidas

    por ela como elementos que indicam os liames entre as ferrovias e as estradas reais, as quais so

    compreendidas como um universo um pouco mais amplo do que o Caminho Novo. So considerados,

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    tambm, o Caminho Velho, o Caminho Regional dos Diamantes e o Caminho da Bahia, tambm

    conhecido como caminho da pobreza e que no tem atrativos tursticos. O Caminho Novo e o

    Caminho da Bahia so os que mais se aproximam do traado das ferrovias. Isto porque a ferrovia

    precisa de cargas e passageiros que se localizavam nas margens das estradas mencionadas, na

    maioria das vezes desenhadas pela prpria natureza.

    Imagem da Linha do Paraopeba.

    A imagem acima representa um ponto importante pois, diferentemente das estradas reais

    cuja abertura foi baseada na mo de obra escrava, era proibida aos construtores de ferrovias a

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    utilizao de cativos. Entretanto, sabe-se que eles terceirizavam o servio a fazendeiros que,

    naturalmente, encarregavam seus escravos do servio.

    Esta fotografia, tomada em Raposos em 1999, indica que ainda no eram utilizados

    equipamentos para a troca dos trilhos, mantendo-se prticas do tempo de implantao das ferrovias,

    um sculo e meio antes.

    Casa do Agente da Estao de General Carneiro (antiga Cidade de Minas)

    A professora explicou que os trabalhadores eram localizados nas proximidades, ficando

    encarregados da manuteno de trechos de cerca de 6 km.

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    Permanncia: trao animal

    Vista da cidade de Sabar, de Georg Grimm (1886)

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    Sabar no final do sculo XIX

    Construo de pontilho ferrovirio Sabar

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    O mesmo pontilho, j em operao.

    Obras de arte sobre o Rio das Velhas

    Com a imagem acima a professora Helena iniciou a demonstrao daquilo que denominou a

    nova dinmica urbana em que a ferrovia, que na imagem est representada pelo pontilho direita,

    nos limites da fotografia, e a ponte rodoviria, em destaque na fotografia. A antiga cidade colonial,

    no alto, com suas igrejas, seu comrcio e moradias tradicionais recebem o acesso rodovirio

    enquanto a ferrovia est um pouco distante em funo das caractersticas do terreno, j que

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    dificilmente a ferrovia sobre morros. Esta situao se repete em inmeras cidades mineiras

    mencionadas pela palestrante.

    Barbacena (1938)

    Diamantina (1914)

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    Sabar Bairro Siderrgica (1930)

    Sabar Bairro Siderrgica

    Helena Campos chamou a ateno para o perodo em que as ferrovias, que dinamizaram

    tantas cidades, passaram a se tornar indesejadas. Na sequncia de imagens, a seguir, de Belo

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    Horizonte, demonstra-se o processo que culminou com a implantao do metr de superfcie ao lado

    da antiga ferrovia, utilizando-se de uma de suas vias.

    Passagem de nvel em Belo Horizonte (incio da dcada de 1960)

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    Herana para a mobilidade

    Retomando sua obra Caminhos da Histria, Helena de Campos mencionou o problema da

    insegurana dos antigos caminhos atravs do conhecido caso do Vira-Saia, apelido pelo qual ficou

    conhecido o rico comerciante de Vila Rica, Antnio Francisco Alves, que organizou um sistema de

    espionagem para fornecer aos salteadores informaes sobre o transporte do ouro da Coroa por

    tropas que partiam da capital. Usando a ponta da saia de uma imagem de Nossa Senhora das Almas

    que ficava num oratrio de rua, ele indicava aos comparsas a direo do comboio que transportava o

    ouro. Assim, apesar das estratgias e cuidados das autoridades metropolitanas, que despachavam

    simultaneamente vrias tropas por caminhos diferentes, aquela que levava o ouro era sempre

    assaltada.

    Prosseguindo, foram mencionados os bandidos que roubavam de bandidos, como o grupo

    formado por ciganos e mestios, chefiados por um branco apelidado de Montanha. Conhecido como

    Quadrilha da Mantiqueira, por agir na estrada para o Rio de Janeiro, esse grupo atacava

    contrabandistas de ouro e de diamantes que viajavam disfarados de mascates e caixeiros-viajantes.

    Quando essa quadrilha passou a assaltar e matar tambm indivduos reconhecidamente de bem,

    com profisso, domiclio e prestgio nas Minas, organizou-se a represso. Descoberta em 1783, a

    quadrilha foi perseguida por uma fora militar que incluiu o alferes Joaquim Jos da Silva Xavier, o

    Tiradentes.

    Episdios como este fizeram surgir uma grande relao com as foras militares, representada

    pela imagem abaixo.

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    Embarque de Tropas em 1914

    Outro aspecto destacado foi a credibilidade do telgrafo ferrovirio que deu surgimento ao

    cartaz ao lado, estimulando a populao a utilizar-

    se do servio pblico. Ocorre que o equipamento

    na ferrovia era um instrumento de segurana,

    evitando, por exemplo, que duas composies

    utilizassem simultaneamente a mesma linha. J o

    servio pblico da mesma natureza no inspirava

    muita confiana.

    No mesmo sentido, os estafetas dos

    Correios poderiam at ser rpidos, mas circulavam

    apenas nas vias oficiais, no abrangendo uma rea

    de influncia to grande como os tropeiros, os

    quais eram preferidos pela populao para levar e

    trazer notcias ou encomendas.

    A seguir foram apresentadas imagens

    sobre a relao entre a ferrovia e as prticas

    culturais, como o transporte de bandas de musica, artistas e grupos de esportistas.

    A professora Helena Campos encerrou sua apresentao com imagens das capas de obras

    por ela publicadas at o momento e o convite para o lanamento do ltimo livro dia 21 de junho.

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