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O uso de imagens nos Portais de divulgação da produção historiográfica: um estudo de caso a partir dos Laboratórios Igor Lemos Moreira 1 Márcia Ramos de Oliveira 2 Neste artigo, apresentamos resultados parciais do Projeto mencionado, que encontra-se em desenvolvimento desde 2014, vinculado enquanto linha de abordagem a experiência adquirida no Laboratório de Imagem e Som (LIS/FAED) da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Diante dos objetivos do Projeto existe a proposta de analisar as distintas atuações dos Laboratórios de História Oral e Imagem e Som nas instituições brasileiras a partir da divulgação em suas plataformas digitais e sites, buscando-se identificar e estabelecer aproximações quanto aos conceitos e/ou orientações teórico-metodológicas da História Digital, História Pública e História do Tempo Presente. Considerando tais premissas como atualizações no aparente ofício do historiador contemporâneo, a preocupação em estender os resultados do trabalho de cunho historiográfico constitui-se o ponto em que a divulgação do conhecimento desta área aproxima-se do universo da comunicação, e até certo ponto, compartilha de interpretações relacionadas a História (Cultural) da Imprensa, ou mesmo da História Social da Mídia. Basicamente, a pesquisa empírica sobre os sites apontados esteve vinculada a identificação dos laboratórios e centros de memória articulando com as novas linguagens digitais e técnicas na disponibilização dos conteúdos de cada área. Para além da palavra escrita e das textualidades, buscou-se observar as relações estabelecidas com o entorno social, além da esfera acadêmica, em especial a prática da História Oral. Como destaca Bresciano (2010), 1 Graduando em História pela Universidade do Estado de Santa Catarina. Bolsista de Iniciação Científica no Projeto “A experiência dos Laboratórios de História Oral e Imagem e Som diante da História Pública: Estudos e Caso e Reflexão” (2014/2016). E-mail: [email protected] 2 Doutora em História. Orientadora/Coordenadora do projeto supracitado. Professora no Departamento de História/UDESC com vinculo no PPGH e PROFHISTÓRIA/UDESC. Coordenadora do Laboratório da Imagem e Som. E-mail: [email protected]

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O uso de imagens nos Portais de divulgação da produção historiográfica: um estudo de

caso a partir dos Laboratórios

Igor Lemos Moreira1

Márcia Ramos de Oliveira2

Neste artigo, apresentamos resultados parciais do Projeto mencionado, que encontra-se

em desenvolvimento desde 2014, vinculado enquanto linha de abordagem a experiência

adquirida no Laboratório de Imagem e Som (LIS/FAED) da Universidade do Estado de Santa

Catarina (UDESC). Diante dos objetivos do Projeto existe a proposta de analisar as distintas

atuações dos Laboratórios de História Oral e Imagem e Som nas instituições brasileiras a

partir da divulgação em suas plataformas digitais e sites, buscando-se identificar e estabelecer

aproximações quanto aos conceitos e/ou orientações teórico-metodológicas da História

Digital, História Pública e História do Tempo Presente. Considerando tais premissas como

atualizações no aparente ofício do historiador contemporâneo, a preocupação em estender os

resultados do trabalho de cunho historiográfico constitui-se o ponto em que a divulgação do

conhecimento desta área aproxima-se do universo da comunicação, e até certo ponto,

compartilha de interpretações relacionadas a História (Cultural) da Imprensa, ou mesmo da

História Social da Mídia. Basicamente, a pesquisa empírica sobre os sites apontados esteve

vinculada a identificação dos laboratórios e centros de memória articulando com as novas

linguagens digitais e técnicas na disponibilização dos conteúdos de cada área. Para além da

palavra escrita e das textualidades, buscou-se observar as relações estabelecidas com o

entorno social, além da esfera acadêmica, em especial a prática da História Oral. Como

destaca Bresciano (2010),

1 Graduando em História pela Universidade do Estado de Santa Catarina. Bolsista de Iniciação Científica no Projeto “A

experiência dos Laboratórios de História Oral e Imagem e Som diante da História Pública: Estudos e Caso e Reflexão”

(2014/2016). E-mail: [email protected] 2 Doutora em História. Orientadora/Coordenadora do projeto supracitado. Professora no Departamento de História/UDESC

com vinculo no PPGH e PROFHISTÓRIA/UDESC. Coordenadora do Laboratório da Imagem e Som. E-mail:

[email protected]

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La Historia Oral, en cuanto subcampo disciplinario, no permanece

ajena a esas transformaciones, en la medida en que ciertos cambios

tecnológicos introducen modalidades originales de recabar, procesar,

analizar y difundir testimonios orales, que inciden en el plano

heurístico, hermenéutico, organizativo y discursivo de la propia

especialización disciplinaria. (BRESCIANO, 2010. p. 1)

Em uma primeira etapa realizamos um inventário através da plataforma de pesquisa

www.google.com.br dos Laboratórios de Imagem e Som e/ou História Oral , listando sites

e/ou plataformas digitais encontrados. Com esse levantamento, conseguimos relacionar,

inicialmente, 14 Laboratórios de História Oral e/ou Imagem e Som nas 5 grandes regiões do

Brasil, além de 11 Centros de Memória observados posteriormente durante a primeira etapa

do projeto. Posteriormente, a busca estendeu-se também a Centros de Memória, ampliando

parcialmente o escopo de observação. Para melhor sistematizar as informações apresentamos

a tabela, conforme espaços identificados em cada uma das grandes regiões.3

Região Portais (Laboratórios de Imagem e Som e

História Oral)

Acervo de Memória

S Laboratório de História Oral (Univille)

LABHORAL (UFSC)

Laboratório de Pesquisa em História Oral

(PUCRS)

LAPIS (UFSC)

LEDI (UEL)

LIM (UDESC)

DELFOS - Espaço de Documentação e

Memória Social

SE LABHOI (UFF)

Laboratório de História Oral

(CMU/UNICAMP)

Laboratório de História Oral - LHO (Univás)

Núcleo de História Oral (UFMG)

Centro de Memória da Unicamp

(UNICAMP)

Museu da Imagem e do Som (MIS- SP)

Museu da Imagem e do Som de

Campinas

3 Essa etapa da Pesquisa contou, além dos autores desse artigo, com a participação do Acadêmico Lucas Txai Fonseca,

bolsista do projeto entre Agosto de 2015 e Fevereiro de 2016.

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Região Portais (Laboratórios de Imagem e Som e

História Oral)

Acervo de Memória

Museu da Imagem e do Som (Rio de

Janeiro)

CO Laboratório de Estudos da Imprensa, Imagem

e Som – LEIIS (UFMS)

Museu da Imagem e do Som (Campo

Grande)

CEPEDOM (Centro de Pesquisa e

Documentação em Memória- UEG)

N Laboratório de Imagem e Som – LABI

(UFAC)

Museu de Imagem e Som – MIS

(Amapá)

Museu da Imagem e do Som do Pará

NE Laboratório de História Oral (UFPE)

LABORATÓRIO DE HISTÓRIA ORAL E

IMAGEM-LABHORI (UERN)

Museu da Imagem e do Som do Ceará –

MIS (Ceará)

Museu da Imagem e do Som de

Alagoas – MISA

CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO E

MEMÓRIA REGIONAL (CEDOC -

UESC)

Tabela produzida pelos autores (2015).

Como evidenciado na tabela, as regiões Sul e Sudeste apresentaram um concetrado

número de sites e plataformas, correspondendo indiretamente a uma maior concentração

também de instituições acadêmicas e iniciativas de pesquisa nestas duas grandes áreas do

país. Em parte, a ampliação do escopo da pesquisa integrando os Centros de Memória deve-se

a esta observação inicial no trabalho, a medida em que nestas regiões encontravam-se

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instituições acadêmicas de maior tradição quanto ao ensino superior, no comparativo com as

demais regiões do país. O que justificava, em grande medida, também o maior número de

laboratórios e centros de pesquisa, e por consequência, dos sites e plataformas identificados.

Tal constatação, no entanto, não pode afirmar que nas regiões sul e sudestes encontre-se a

maior concentração de pesquisadores e produções no campo da história oral, e sim que nelas

existem mecanismos de divulgações mais utilizados/acessado no ambiente virtual.

Portais dos dois laboratórios: a história e as imagens

Enquanto estudo de caso, propriamente, propomos observar os Portais do Laboratório de

Estudos dos Domínios da Imagem (LEDI/ UEL) e Laboratório de História Oral

(LABHOI/UFF).

O LEDI, coordenado atualmente pela professora Edméria Ribeiro, como primeiro

estudo de caso observado, disponibiliza um portal vinculado a Universidade Estadual de

Londrina (UEL/ PR), que destaca em sua apresentação o objetivo de

de promover a integração entre professores(as), alunos(as) e

comunidade externa, através do tema da IMAGEM. Fomenta o

desenvolvimento da pesquisa a partir da imagem enquanto objeto de

estudo; a disseminação dos resultados das pesquisas junto às

comunidades escolar e externa; a elaboração de materiais didáticos

pedagógicos (livros, vídeos e exposições/banners) voltados para o

Ensino Fundamental e Médio; a realização de oficinas nas escolas

municipais e estaduais; o estudo em grupo de trabalho

problematizando a imagem como fonte e/ou objeto e organização do

evento bianual, de caráter internacional denominado

ENEIMAGEM/EIEMAGEM.

(Em: <<http://www.uel.br/cch/his/ledi/ledi2015/?page_id=39>>.

Acesso em 20 de Maio de 2016).

Com relação aos membros, consta na lista de organizadores e pesquisadores

associados especialmente a UEL, porém foi possível observar parcerias com outras

universidades tais como a UNESP e a UEM. Suas produções estão vinculadas a três eixso de

ação até o momento: A Revista Domínios da Imagem; o projeto História na Comunidade; e,

o Eneimagens (assim como seus anais).

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A Revista Domínios da Imagem é um periódico acadêmico de caráter multidisciplinar

online publicado semestralmente, em circulação desde 2007, totalizando 18 números até o

momento. A edição mais recente corresponde ao seu 12º Volume e 18ª Edição4. O Projeto

“História na Comunidade” orienta-se pela produção de bibliografias voltadas a circulação

especialmente na grande região de Londrina. Segundo a proposta que consta no site do LEDI:

A coleção História na Comunidade constitui-se em produção

bibliográfica que faz parte das atividades desenvolvidas pelo LEDI –

Laboratório de Estudos dos Domínios da Imagem . Além dos livros

desta coleção, são produzidas também exposições (com o intuito de

circular as escolas de Londrina e Região) e vídeos – que juntos

constituem-se em uma das ações realizadas pelos membros do LEDI,

ou seja, trata-se de um conjunto de materiais, com o mesmo tema,

composto por uma exposição, vídeo e livro (Disponível em

<<http://www.uel.br/cch/his/ledi/ledi2015/?page_id=55>> Acesso

em: 20 de Maio de 2016).

Tal Projeto já disponibilizou uma série de e-books no site do LEDI e geralmente são

acompanhados de vídeos e/ou exposições. Até agora foram produzidos e disponibilizados

materiais de nove temas diferentes, incluindo proposições de trabalhos como “Imagens

Anarquistas”, a “Revista O Cruzeiro”, iconografias religiosas e a “América Hispânica”.

O terceiro eixo apresentado pelo site vem focado na realização eventos específicos na

área de análise da imagem, em prol da divulgação e circulação de produções acadêmicas que

abordam esta forma de linguagem no campo da historiografia. Foram realizados 2 eventos

bienais que ocorreram em 2007, no caso do primeiro, e 2013, o segundo. Trata-se,

respectivamente, dos “Encontros Nacionais de Estudos de Imagem” (ENEIMAGEM) e dos

“Encontros Internacionais de Estudos de Imagens”. Segundo o LEDI:

Os Encontros Nacionais de Estudos da Imagem (ENEIMAGEM) e

Encontros Internacionais de Estudos da Imagem (EIEIMAGEM) são

eventos que acontecem paralelamente a cada dois anos (2007, 2009,

2011, 2013, 2015) e congregam estudiosos e estudiosas da imagem de

diversas áreas de todo o Brasil e de outros países, com grande

participação da América Latina. (Disponivel em:

<<http://www.uel.br/cch/his/ledi/ledi2015/?page_id=57>>. Acesso

em: 20 de Maio de 2016).

4 Para saber mais acesse: http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/dominiosdaimagem.

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No site encontram-se ainda disponíveis os anais e links das edições anteriores dos

eventos, porém ainda sem menção a realização de uma próxima programação, ainda que

inicialmente prevista para 2017.

Com relação ao acervo, o LEDI representa um caso em específico. Ele não possui um

acervo próprio ou trabalha na produção de documentação e/ou fontes históricas. Tem como

características promover os diversos bancos de dados e acervos online ligados a Laboratorios

e Associações, Museus, Revistas, Bibliotecas, Arquivos, Bancos de Imagens, Cinemas,

Associações, Instituições Parimôniais, entre outros de alcance nacional e internacional. Neste

sentido, deixa de disponibilizar um acervo próprio em termos documentais, mas uma memória

sobre as produções voltadas aos estudos da história diante da cultura visual, sendo sua

contribuição neste sentido justamente o acesso ao conhecimento integrado sobre o tema,

enquanto plataforma que vincula de informações locais às mais distintas fontes e referências

para a pesquisa na área. Assim, poderiamos pensar em sua sessão de “acervo” como uma

página integradora de informações sobre locais que disponibilizam fontes para pesquisa.

No segundo estudo de caso, o LABHOI, Laboratório vinculado a Universidade

Federal Fluminense (UFF), sob a Coordenação da Profa. Hebe Mattos apresenta um site de m

layout claro e atrativo a primeira vista. As linhas de pesquisa do laboratório, que é também o

modo como o site é organizado, são unidas pelo eixo comum dos estudos sobre memória e

são: Memória, África, Escravidão; Memória, Artes, Mídias; Memória, Cidade, Comunidade.

Nesse artigo nos centraremos na segunda linha citada.

Segundo o próprio laboratório,

A linha se organiza em torno de uma história da arte como história da

imagem, assumindo o conceito de cultura visual como referência ao

enfatizar o estudo das práticas do olhar e da produção de sentidos nas

sociedades contemporâneas através das mídias visuais e sonoras.

Desenvolve também investigação sobre imprensa, fotografia, cinema,

rádio e televisão, compreendidos como dispositivos de mediação

cultural e agenciadores de culturas políticas. Neste sentido, interessa-

se por desenvolver estudos voltados para a identificação dos

mediadores culturais e análise do circuito social das mídias (produção,

circulação, consumo e agenciamento), dimensionando seu papel na

construção da memória social contemporânea. (Em:

<<http://www.labhoi.uff.br/midia>>. Acesso em 20 de Maio de 2016).

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Ainda articuladas a linha, existem também cinco grandes projetos de pesquisa,

integrados enquanto visibilidade de outras tantas ações de pesquisa e como forte apoio de

captação externa a universidade, envolvendo recursos para o seu desenvolvimento. Podem ser

acessados através dos links disponibilizados, apresentados individualmente, indicando em

detalhes seus direcionamentos na pesquisa, objetivos, coordenadores, produções em geral. É

interessante notar que entre todos, apenas um possui recorte temporal anterior ao século XX, e

justamente por isso, foi escolhido para a observação realizada neste trabalho sobre a linha

“Memória, Artes, Mídia”. Até o último acesso (em 01 de Março de 2015), os projetos de

pesquisa eram os seguintes: O Olhar Engajado: Prática Fotográfica e os Sentidos da História,

Brasil 1960-1990; Memórias do Contemporâneo: narrativas e imagens do fotojornalismo no

Brasil do século XX; Imagens Urbanas no Brasil: escultura pública e grafite urbano

contemporâneo; SENTIDOS DA AMERICANIDADE: conferências interamericanas e

esculturas públicas americanas na cidade do Rio de Janeiro; Sentidos da arte estrangeira no

Brasil.

Com excessão dos dois últimos projetos, todos os demais possuem produções em

vídeo, acervo de imagens e sons, além de gravações de entrevistas e edições de livros

temáticos apontando para o interesse efetivo do Laboratório e da Linha

O site do LABHOI como um todo possui ricos acervos digitais tanto na área de

história da imagem quanto na área de História oral. No caso das entrevistas, estas são

referenciadas para a realização da pesquisa in loco na sede do Laboratório, através de

referências informativas (fichas) de identificação desta documentação. No caso do

LABHOI/UFF observamos que as produções estão muito ligadas a reflexão sobre a imagem,

tendo a fotografia e o fotojornalismo como um dos principais interesses e investigações, assim

como do banco de dados disponibilizados.

Conforme informado neste portal, o LABHOI é um espaço voltado ao

desenvolvimento da pesquisa e disponibilização de dados direcionado as reflexões sobre os

usos e estudo de imagens, constituído como um centro de referência para os estudiosos desta

área, como na afirmativa que segue,

Nesse sentido, reúne coleções de imagens virtuais constituídas no

âmbito de pesquisas desenvolvidas pelos professores, alunos de pós-

graduação e graduação, bem como por pesquisadores associados. As

coleções de imagens virtuais do LABHOI são disponibilizadas no site

eletrônico em séries organizadas pelas linhas de pesquisa do

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laboratório, compondo um banco de imagens de finalidades didáticas

e de referência para a investigação histórica. O LABHOI possui ainda

uma videoteca voltada para o ensino de história. Mais recentemente, o

LABHOI tem promovido a produção de vídeos experimentais, com o

sentido de iniciar estudantes de história na videografia histórica e

documental, traduzindo o compromisso com a integração de ensino e

pesquisa e teoria e prática na formação do profissional de história

(Disponível em: <<http://www.labhoi.uff.br/node/30>> Acesso em:

20 de maio de 2016).

Com tal perspectiva, o laboratório faz uma distinção entre imagens técnicas e imagens

artísticas. No primeiro caso, existe uma concentração no estudo da história da fotografia, do

cinema e vídeo, além da cartografia, através de uma abordagem crítica que objetiva

desnaturalizar os usos da fotografia e o papel do sujeito do olhar. Diante disso ainda enfatiza-

se as relações existentes entre a técnica, as mídias, a indústria cultural e a cultura de massas.

Sobre as imagens artísticas, existe uma preocupação em perceber as relações entre arte e

sociedade no que se refere a três vertentes principais: história de coleções, história de

exposições e história de obras em particular.

Trata-se de discutir os processos de institucionalização da arte, museus e

patrimônio cultural. Estudar história da imagem significa tomar o olhar

como objeto da investigação histórica. O olhar nunca é inocente! Assim,

trata-se de demarcar a visão como prática e construção que implica em

processos sociais de produção de sentidos ou significados. Nesses termos,

a imagem se define como fonte para o estudo da cultura visual (Disponível em: <<http://www.labhoi.uff.br/node/30>> Acesso em:

20 de maio de 2016).

O site do LABHOI destaca-se pelo rico acervo em conteúdos de produções

audiovisuais, desenvolvidas pelo Laboratório ou em parceria com outras instituições. No

banco de imagens disponíveis online este farto material foi catalogado e dividido em

“coleções”. Cada coleção surge acompanhada de um histórico ou um resumo sobre como foi

criada ou organizada, identificando os responsáveis pela elaboração. Vale ressaltar que este

banco de imagens contempla produções e/ou fontes doadas, adquiridas ou ainda, produzidas

pelos próprios membros do Laboratório. Algumas destas coleções são divididas em

“subcoleções”, identificando fases ou momentos em específicos das pesquisas, a exemplo do

material do fotógrafo Milton Guran, na Coleção intitulada “Milton Guran: Encontro na Bahia

79” integrada ao acervo expandido sobre Fotojornalismo contemporâneo.

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Aproximando a observação sobre os dois laboratórios ...

Estendendo a reflexão deste trabalho a perspectiva do Projeto de Pesquisa que deu

origem a este texto, vale destacar que no caso dos dois Laboratórios analisados mediante

acesso através dos portais e sites digitais, estão sediados fisicamente nas regiões Sul (LEDI) e

Sudeste (LABHOI). Tal constatação, no entanto, não implica dizer que as demais regiões

estariam “atrasadas” ou “menos capacitadas”, em especial no campo da história oral, mas sim

afirmar que nestas regiões encontram-se disponibilizados mecanismos mais arrojados quanto

a divulgação dos resultados dos Laboratórios, a medida em que são visitados no ambiente

virtual. Nas regiões Norte e Nordeste, os meios de disponibilização e divulgação das

produções são menos elaborados quanto a sua especificidade, utilizando-se de vias mais

“práticas” ou “comuns”, a exemplo de elaborações com o apoio das plataformas Youtube e o

Blogger na divulgação de acervos e produções. Nestas regiões, o Youtube é o recurso mais

utilizado para divulgar produções em áudio e audiovisual – podcasts e vídeos -, deixando de

ser desenvolvidas ferramentas específicas para a guarda e suporte das produções destes

laboratórios e centros de memória, a exemplo da criação de repositórios digitais específicos.

Chega a ser o meio mais comum de disponibilização das produções audiovisuais no Brasil e

diante do material observado na pesquisa grande parte dos laboratórios usam este canal ao

invés de efetivamente dedicar-se ao desenvolvimento de plataforma ou suporte próprio,

especialmente em função da gratuidade destas iniciativas previamente existentes. A

preocupação com os meios virtuais utilizados e as disponibilizações é uma constante por parte

das associações de história oral e os meios digitais, conforme atesta Juan A. Bresciano (2010),

de “uma variedade de grupos que funcionam na produção e na

distribuição de mídia para atender a seus interesses coletivos, de modo

que diversos especialistas interligaram suas análises do fandom num

discurso mais abrangente sobre a participação na mídia e por meio

dela.” (JENKINS; GREEN; FORD. 2014. p.25)

A presença do Youtube também levou a refletirmos sobre os usos da chamada “Cultura

Participativa” nas práticas desenvolvidas pelos laboratórios. Sob tal perspectiva de

abordagem, após o avanço da web 2.0 e a expansão da utilização e influência das redes

sociais na sociedade, percebeu-se as potencialidades destas e os novos na divulgação e

atualização de informações. Assim, o surgimento de novas possibilidades de

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compartilhamento de mídia, de opinião virtual, indiretametne pode-se perceber que o

crescente movimento de “uma variedade de grupos que funcionam na produção e na

distribuição de mídia para atender a seus interesses coletivos, de modo que diversos

especialistas interligaram suas análises do fandom num discurso mais abrangente sobre a

participação na mídia e por meio dela.” (JENKINS; GREEN; FORD. 2014. p.25).

Tais discussões, especialmente sobre a disponibilização de fontes de pesquisa online,

vinculam-se diretamente aos debates sobre a formação da História Digital, que externava a

preocupação dos historiadores com a preservação e disponibilização de arquivos em formato

online. Segundo Oliveira (2014):

Nos Estados Unidos, o surgimento da chamada Digital History pode

ser localizado nos anos 90, quando no Center For History and New

Media (CHNM) da Universidade George Mason foram desenvolvidos

projetos na área das novas mídias. Neste espaço, foram pensadas

propostas em prol da preservação do passado, através de iniciativas

que usavam tecnologias de informática que buscavam democratizar o

acesso e a manipulação de conteúdos históricos na internet.

(OLIVEIRA, 2014. p. 09).

Com relação aos dois laboratórios aqui exemplificados atraves de seus portais de

acesso, pode-se afirmar também a a predominância das textualidades, apesar da abordagem

sobre a tradição e cultura visual que evocam. Nestes casos, ainda que o cerne das reflexões

sejam os estudos sobre visualidades como uso das linguagens no campo historiográfico, a

palavra escrita continua sendo determinante nas referências e produções que constróem a

reflexão na área, em detrimento, por exemplo, do uso do discurso audiovisual como

alternativa ao texto escrito.

A História Digital quando acompanhada da preocupação de disponibilizar fontes e

produções de caráter histórico acaba por aproximar-se e, em determinados momentos, até

confundir-se com a perspectiva e práticas da História Pública. Enquanto espaço e prática de

atuação, o campo da História Pública nos fornece

uma possibilidade não apenas de conservação e divulgação da história,

mas de construção de um conhecimento pluridisciplinar atento aos

processos sociais, às suas mudanças e tensões. Num esforço

colaborativo, ela pode valorizar o passado para além da academia;

pode democratizar a história sem perder a seriedade ou o poder de

análise. Nesse sentido, a história pública pode ser definida como um

ato de “abrir portas e não de construir muros” […] (ALMEIDA;

ROVAI; 2011. p. 07).

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Assim, refletir sobre as relações entre história e seus públicos é também pensar de que

modo as produções acadêmicas podem chegar a um maior número de interessados. Nos dois

casos observados – LEDI e LABHOI - , mesmo que exista uma preocupação com o uso de

imagens, tanto de organização quanto de disponibilização, ainda é visivel a preferência para

as produções textuais tanto em nível de análise, como em propostas de usos. Observou-se que

isso é, como já citado, uma prática comum em laboratórios desta natureza por todo o território

nacional.

Destacamos também, mais especificamente no caso do LEDI, as possibilidades de

perspectivas transnacionais que os meios virtuais possibilitam para o trabalho com imagens.

A utilização de links de instituições de diversos países, com destaque a Inglaterra e EUA,

demonstram ainda uma postura voltada a internacionalização das pesquisas e de mapeamento

de documentos.

Com relação aos layouts é preciso fazer algumas ressalvas. Durante a etapa de

identificação dos portais na pesquisa, as primeiras impressões evocadas a partir de cada site

foram registradas levando em consideração o apelo visual e o impacto até mesmo emocional

dos contatos iniciais. A sedução no uso de cores e formas enquanto atração e permanência do

olhar e interesse na busca foram também aspectos considerados quanto ao processo de

aproximação da produção historiográfica presente nestes espaços e sua relação com o público

leitor. Assim, os registros procuraram contemplar além das cores, o presença de estruturas

sonoras ou musicais, a interatividade proporcionada pela página, a presença e a qualidade dos

vídeos adicionados, a escolha das fotografias ... A utilização de um conjunto de recursos

voltados a promoção da sedução do olhar do público interessado... Tudo que pudesse explicar

e/ou justificar a maior permanência do visitante atraído ao espaço virtual dos laboratórios e

instituições assim representadas.

Diante destas ressalvas, o que constato-se foi uma grande aproximação nos layout

observados nos dois estudos de caso abordados aqui. A semelhança apresentou-se pelo uso de

cores claras e neutras (predominio do branco e preto especialmente) com algumas excessões

quando buscavam chamar a atenção do visitante enfatizando tonalidades em azul ou rosa. O

uso de barras fixas e de menus na região superior também vem de encontro a um costume de

outros sites que traz uma sensação de familiaridade, além de facilitar o uso.

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Tratando-se de sites sem fins lucrativos a ausência de propaganda também foi um

dado considerado importante diante da qualidade de informação e conhecimento que se

pretendia veicular, acompanhando a confiabilidade necessária acerca do material

disponibilizado. E, especialmente a ausência de imagens num primeiro momento, ou

apresentadas em quantidade reduzida diante das informações em texto, refletindo a

preocupaçao da área com relação ao excesso atribuído ao seu uso na contemporaneidade. A

banalização e excessiva exposição das imagens como parte da crítica presente nas reflexões

sobre o tema, talvez explique a dimensão restrita de seu uso nas aberturas dos portais, na

apresentação de seu perfil. De certa forma os sites consultados reinserem as imagens aos seus

ambientes de destino quanto a sua compreensão em cada contexto, assumindo a formação

discursiva, dialogando com o entorno onde se encontram. Deixavam de assumir estritamente a

função de adornos enquanto princípio ilustrativo dos portais para tornarem-se objetos de

estudo, assumindo a complexidade das formas de comunicação como exercício de

representação e linguagem.

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