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O USO DE PANFLETOS PARA O ENSINO DA PORCENTAGEM NO CURSO DE

FORMAÇÃO DE DOCENTES: uma abordagem da divisão

Autora: Mariza Cleuza de Araújo Thomazoni1

Orientadora: Arleni Elise Sella2

RESUMO

Este artigo tem por finalidade apresentar fundamentos teóricos, aplicações práticas e relatos ocorridos no desenvolvimento do projeto do PDE (Programa Desenvolvimento Educacional), projeto que foi realizado no Colégio Estadual "Mário de Andrade", na cidade de Francisco Beltrão, no ano de 2011. Nesse estabelecimento trabalham cerca de 30 funcionários e 116 professores, tendo aproximadamente 1850 alunos. O público escolhido para a implementação do projeto foram os alunos do 4º Ano do Curso de Formação de Docentes da Educação Infantil e dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. O projeto teve como título: "A Utilização de Panfletos para o Ensino da Porcentagem no Curso de Formação de Docentes da Educação Infantil e dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental: uma abordagem da divisão". O conteúdo escolhido para ser trabalhado com os alunos foi estatística, pois, além de fazer parte do rol de conteúdos a serem estudados nessa série, envolve porcentagem – conteúdo diretamente ligado à divisão. Dentre as várias sugestões existentes para abordar o conteúdo de porcentagem, foi proposta a utilização de panfletos, por se julgar que o uso desse material podia ser uma alternativa simples. Ainda no desenvolvimento das atividades deu-se ênfase à divisão, numa tentativa de que esses alunos compreendessem ao referido conteúdo, para então resolver outras situações cotidianas ou de sua futura prática pedagógica, onde ocorram situações nas quais essa operação esteja presente. Dessa forma, com a intenção de facilitar a transmissão e a assimilação dos conteúdos matemáticos, optou-se pela abordagem, por meio de tendências metodológicas, sendo assim, utilizamos a Resolução de Problemas como encaminhamento metodológico, que é uma das alternativas sugeridas pelas DCE (Diretrizes Curriculares Estaduais do Paraná). Palavras-chave: Formação de Docentes; Porcentagem; Divisão; Resolução de Problemas.

1 SEED – PR. Professora participante do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE).

E-mail: [email protected].

2 UNIOESTE – Cascavel. Mestre em Educação-Linha de Pesquisa de Educação Matemática-UFPR. E-mail: [email protected].

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1 INTRODUÇÃO

Este trabalho descreve a trajetória realizada no percurso do PDE (Programa

Desenvolvimento Educacional), que é um Programa Educacional no Estado do

Paraná que visa oportunizar, aos professores da rede pública, estudos voltados para

a melhoria da prática pedagógica.

Para participar do PDE, os professores devem se enquadrar nos requisitos

propostos pelo programa. Sendo assim, em agosto de 2010, um grupo de

professores selecionados deu início a 4º Turma do PDE. Nas atividades propostas

estão: estudos, leituras e cursos. Para melhorar o embasamento nos fundamentos

teóricos, a cada professor do PDE foi designado um professor orientador. Estes

fazem parte das Universidades que prestam assessoria a este programa. Algumas

tarefas nos foram solicitadas, como: produção de um projeto, elaboração de uma

unidade didática, implementação desse projeto (utilizando o material por nós

confeccionado) e, por fim, o artigo final (relato dessa jornada). Esta caminhada tem

um período de duração de dois anos. Estamos agora na etapa final.

No decorrer desta jornada foram muitas perguntas e dúvidas, porém o desejo

de contribuir para uma transformação na realidade vivenciada diariamente só

aumentava. A experiência de muitos anos em sala de aula de matemática nos

permite relatar que uma grande parte dos alunos apresenta dificuldades na

operação divisão e que outros não têm noção de estimativa de resultado e de

aproximação. Muitos são os que apresentam dificuldades ao dividir por 10, por 100

ou por 1000. Considerando a realidade descrita, questionamos: – Como podemos

elaborar atividades diferenciadas que favoreçam a compreensão dos conceitos de

porcentagem e dos algoritmos de divisão? E, ainda: – Ao serem propostas

abordagens metodológicas diferenciadas com a utilização de panfletos publicitários

em atividades envolvendo o cálculo de porcentagem e a operação de divisão, será

possível favorecer o ensino dos alunos que buscam o Curso de Formação de

Docentes?3

3 Curso de Formação de Docentes da Educação Infantil e dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental: é a

formação de professores para atuar na educação básica. Oferecido nas modalidades Integral, na qual o aluno cursa durante o Ensino Médio ou Organização Curricular Aproveitamento de Estudos, que é oportunizado a alunos egressos, fazendo somente as disciplinas específicas do curso.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

No contexto educacional dos últimos anos, o acesso à escola pelas classes

populares aumentou e, com isto, surgiu a necessidade de constantes discussões

sobre a melhor maneira de encaminhar o processo educativo, já que a escola

pública tem o papel de proporcionar o acesso ao conhecimento produzido pela

humanidade e a socialização das novas descobertas do homem moderno.

Diante da heterogeneidade dos alunos que buscam o Curso de Formação de

Docentes da Educação Infantil e dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental e da

especificidade do mesmo curso, que é preparar alunos para serem professores dos

anos iniciais, é preciso considerar que, em função do segmento em que atuarão,

precisam de domínio dos conteúdos a ensinar.

A realização deste projeto justificou-se pela necessidade de explorar, no

Curso de Formação de Docentes da Educação Infantil e dos Anos Iniciais do Ensino

Fundamental, diferentes abordagens metodológicas, como, por exemplo, a

resolução de problemas, a contextualização dos conteúdos, a investigação

matemática, o recurso à história da matemática, entre outras possibilidades. A

relevância da busca e do trabalho com múltiplas abordagens não se deve apenas ao

objetivo de facilitar a esses alunos a compreensão. Também decorre do fato de que,

muitas vezes, essas aulas podem se dar como uma espécie de simetria invertida,

das quais os alunos consigam estabelecer relações de sua aprendizagem com o

processo de ensino que poderão, no futuro, encaminhar. Dotar-lhes um acervo de

alternativas pode lhes dar autonomia em uma escolha consciente e intencional

visando atingir os objetivos pretendidos. Quando se analisa a construção histórica

do conhecimento matemático fica claro que esse conhecimento foi formado a partir

da necessidade do homem de se organizar e de agir com alguma coerência em

situações similares. Partindo dessa ideia, pode-se dizer que a matemática se

constitui como uma base para todas as áreas do conhecimento e também se faz

presente em variadas situações do dia a dia, como, por exemplo, quando se ajusta o

horário de saída de casa para ir ao trabalho, quando se calculam os juros que se

pagam por certas mercadorias, quando se controla o orçamento familiar, quando se

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fazem compras. Enfim, pode-se afirmar que a matemática tem relações estreitas

com as práticas humanas. Segundo Polya (1997, p. 2):

Matemática é o único assunto na escola secundária em que o professor pode propor e os estudantes podem resolver problemas em um nível científico. Isso acontece porque a matemática é muito mais simples do que as outras ciências. Por causa dessa simplicidade, o indivíduo, exatamente como a raça humana, pode chegar muito antes a uma visão clara na matemática do que em outras ciências.

Essa ideia parece evidenciar que o processo pedagógico do ensino da

matemática, quando permeado por situações cotidianas desafiadoras, será mais

eficiente, inclusive pelo vínculo que os envolvidos conseguem estabelecer. Mesmo

assim, porém, para que o conhecimento se efetive a ponto de que o aluno possa

fazer correlações críticas com sua realidade e perceber a utilidade e importância de

aprender matemática, é preciso que ele participe da construção do seu

conhecimento. A participação do professor nesse processo se dará por mediação e

será ele quem conduzirá o aluno a uma junção de ideias que formarão um

argumento a uma situação e, posteriormente, a construção de um conhecimento.

Isso exige, portanto, clareza da intencionalidade do professor para planejar

eficientemente as situações e as sequências didáticas.

Sobre o papel do professor, Nacarato, Mengali e Passos (2009) destacam

que: “[...] tem um papel de mediador, de organizador do ambiente para

aprendizagem na sala de aula, sendo o aluno ativo e verdadeiro construtor do seu

próprio conhecimento” (2009, p. 25). Assim, a relação dialógica se faz necessária

entre professor e aluno. Saber ouvir, analisar e respeitar as ideias e os saberes dos

educandos contribui muito para um ambiente saudável e propício à aprendizagem. A

forma como se dá a comunicação interfere de modo relevante na aprendizagem do

indivíduo.

Quando realizamos operações matemáticas envoltas de um contexto real,

permite-se o desenvolvimento do raciocínio na busca de estratégias para

enfrentamento de novas situações. Schliemann e Carraher (2003) comentam que,

em relação à compreensão de conceitos aritméticos, é importantíssimo dar

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relevância à matemática do dia a dia para o ensino da matemática da escola. Lins e

Gimenez (1997, p. 87) complementam afirmando que:

Conseguir um bom trabalho aritmético implica, para a tarefa do professor: a) reconhecer a necessidade de uma mudança curricular que sirva para desenvolver um sentido numérico, ou seja, colaborar para que o estudante seja capaz de interpretar e formular textos numéricos, reconhecer visualizações, relacionar ao máximo os conteúdos que conhece na prática situada de cada momento, utilizar métodos originais para distintos tipos de situações, avaliam se são razoáveis e eficientes etc.; b) integrar diversos tipos de raciocínio na produção de conjecturas ante os problemas apresentados, superando os erros, as dificuldades e os obstáculos; c) assumir o papel dos distintos cálculos, que não se reduzam à obtenção de resultados, e contribuam para aprimorar processos como planificar, desenvolver estratégias diferentes, selecionar os mais adequados etc.; e, por último, d) fomentar uma avaliação que contemple a regulação e o controle constante do processo de ensino proposto.

Nas atividades do cotidiano, o ser humano trabalha com situações que

envolvem a resolução de problemas, com problemas que variam dos de fácil

interpretação aos mais complexos. Trabalhar com panfletos publicitários oferece

uma oportunidade de agregar à matemática da escola aquela que desenvolvemos

no cotidiano. Essa ideia de aliar as duas dimensões favorece o desenvolvimento de

uma matemática com mais significados e de acordo com os interesses da escola

pública que se quer, preocupada com a formação de cidadãos autônomos e críticos,

capazes de serem consumidores conscientes. Lins e Gimenez (1997, p. 18) dizem

que:

A alternativa que vamos defender é que o papel da escola é participar da análise e da tematização dos significados da matemática da rua – no caso particular da Educação Matemática – e do desenvolvimento de novos significados, possivelmente matemáticos, que irão coexistir com os significados não-matemáticos, em vez de tentar substituí-los.

Assim, com a implementação da Produção Didático-Pedagógica, pretendeu-

se, por meio deste projeto, refletir sobre o trabalho com divisão e porcentagem a fim

de dar significado a essas operações matemáticas no Curso de Formação de

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Docentes da Educação Infantil e dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, com a

utilização de panfletos promocionais.

3 ESTRATÉGIAS DE AÇÃO

A intenção deste projeto foi a de possibilitar que a prática do aluno do Curso

de Formação de Docentes da Educação Infantil e dos Anos Iniciais do Ensino

Fundamental vislumbre uma perspectiva metodológica interativa que seja capaz de

sanar suas atuais dificuldades e ainda sugerir-lhe abordagens alternativas para a

sua futura prática docente. Por isso elaboramos uma unidade didática, composta de

uma fundamentação teórica e atividades.

Visando a efetivação do projeto, escolhas foram realizadas:

1. Implementação do Projeto na Escola: Apresentação do projeto à direção,

equipe pedagógica e comunidade escolar. Em seguida a mesma exposição se deu

para os alunos com os quais ele se desenvolveria. Entre as atividades propostas foi

realizada uma coleta de panfletos publicitários, nos quais se observaram e

analisaram alguns produtos/mercadorias para estudo. A partir da seleção desse

material foram propostos cálculos relacionados a: descontos, taxas de acréscimo e

desconto, reais taxas praticadas, porcentagens de acréscimo, possibilidades e

limitações, operações de divisão esmiuçando o algoritmo e as ideias envolvidas.

2. O local de implementação do projeto foi o Colégio Estadual "Mário de

Andrade" – Ensino Fundamental, Médio e Profissionalizante, localizado na cidade de

Francisco Beltrão. O colégio oferece o ensino fundamental nos períodos matutino e

vespertino e o ensino médio e profissionalizante, que são: Técnico em

Administração e o Curso de Formação de Docentes da Educação Infantil e dos Anos

Iniciais do Ensino Fundamental, nos períodos: matutino, vespertino e noturno, sendo

um total de, aproximadamente, 1850 alunos.

3. Os participantes: o público ao qual se destinou o projeto são alunos do 4º

Ano do Curso de Formação de Docentes da Educação Infantil e dos Anos Iniciais do

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Ensino Fundamental, do período noturno, cuja turma na oportunidade do

desenvolvimento do projeto era composta de 19 alunos. A grade curricular contava

com duas aulas semanais de Matemática. Para facilitar a sequência nas atividades,

optou-se por aulas geminadas, que são aulas consecutivas. Para a implementação

do projeto na escola com os alunos, foi previsto aproximadamente o uso de 14

aulas.

4 DESENVOLVIMENTO DO PROJETO

O objetivo deste projeto superou as expectativas. Além de ter uma ótima

aceitação pela turma escolhida, que reagiu com entusiasmo e muita determinação,

teve também o encantamento a cada aula que era dada. Os alunos estavam sempre

esperando as atividades da aula seguinte, pois gostavam das metodologias

diferenciadas que lhes eram propostas. Os assuntos expostos, que geralmente eram

dificuldades que traziam dos anos anteriores, foram sendo esclarecidos, tornando-se

simples e possíveis de resolver. Ao conseguirem fazer cálculos mentais, os alunos

perceberam as vantagens de dominar a matemática básica, relacionando-a com

questões do no nosso dia a dia, Percebemos que eles estavam se sentindo

valorizados por estarem conseguindo manusear as operações e compreendendo

sua resolução. Durante nossas aulas, os alunos se organizavam em duplas, grupos

ou sozinhos, se assim preferissem. Eles interagiam de acordo com suas afinidades.

Essa liberdade de escolha era um ponto positivo para o bom desenvolvimento de

nossas atividades.

Na 1ª aula, o objetivo era fazê-los conhecer o projeto: suas motivações,

objetivos, cronograma de execução, os métodos utilizados e a avaliação proposta no

projeto. Durante a exposição foi proporcionado um espaço para que os alunos

pudessem tirar suas dúvidas referentes ao projeto.

Após esse diálogo, os alunos se organizaram em duplas para receberem as

orientações sobre o tema que deveriam pesquisar a fim de apresentarem aos seus

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colegas, na data a ser combinada. Essa atividade foi uma pesquisa acerca da

Legislação e das Alíquotas do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e

Serviços – ICMS. Cada um dos grupos iria pesquisar a respeito de tópicos diferentes

e complementares. Essas informações seriam coletadas por diversas fontes, como:

internet, supermercados, lojas e outros. O objetivo era que todas as apresentações

fossem igualmente interessantes e produzissem um panorama no qual o tema

ficasse esclarecido a todos os participantes. Os tópicos foram: Legislação Fiscal

(Quem faz? Quem vota? Quais são?); Tarifas de alguns produtos (Cesta básica);

Tarifas de alguns serviços (água, luz, telefone, TV a cabo, alarme); Produtos isentos

de impostos; Guerras fiscais entre estados; Onde são investidos esses impostos;

Como funciona em outros países; Produtos chineses.

Percebemos, neste momento, que esse era um assunto pouco conhecido

pela maioria dos alunos, pois foram muitas as perguntas referentes à pesquisa sobre

a legislação e as alíquotas do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços

– ICMS. Como, porém, foi dado um prazo para as pesquisas de aproximadamente

um mês e meio, todos ficaram mais tranquilos em relação ao trabalho solicitado.

Na 2ª aula, foi entregue um caderno aos alunos para o registro das atividades.

Nele, os alunos desenvolveram as atividades propostas pelo professor e fizeram as

demais anotações que julgaram importantes e necessárias. Ao término da

implementação, esse caderno foi recolhido para ser avaliado pelo professor PDE e

devolvidos aos alunos no final do ano letivo de 2011, com intenção de servirem de

apoio didático na preparação das aulas que ministrarão futuramente. Os docentes

ficaram eufóricos, comentando que queriam fazer as atividades com capricho e

estavam todos muito interessados. Nosso objetivo nessa aula era valorizar a

operação de divisão e mostrar diferentes formas (métodos) de resolução,

compreendendo quantas vezes o divisor cabe dentro do dividendo. Assistimos ao

vídeo que apresenta a “Divisão Americana”, Fizemos no quadro a divisão sugerida

no vídeo. O processo foi repetido por quatro vezes, sempre usando coeficientes

diferentes. Os alunos ficaram encantados com essa nova forma de dividir. Foram

dadas algumas atividades para fazerem na sala, mas notamos que o tempo já

estava esgotado. Percebemos então que iríamos ter problemas com o tempo que

havia sido estipulado para as atividades e, consequentemente, com a previsão para

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a implementação do projeto todo. Em todas as aulas faltou tempo para a realização

dos exercícios propostos, o que não foi bom, pois o planejado era resolvermos as

atividades juntos, o que favoreceria o esclarecimento de dúvidas e comentários

necessários. Sendo assim, foram disponibilizadas dezesseis aulas e não as

quatorze inicialmente pensadas.

Nossa 3ª aula começou com a correção das atividades que ficaram para

serem feitas em casa. Muitas dúvidas surgiram. Somos acostumados a dividir e o

maior número no quociente ser nove, mas na Divisão Americana isso não ocorre,

pois o quociente pode ser dez, cem ou outro número qualquer. Levamos a aula toda

comentando sobre esse método de divisão. Como nossos alunos estavam

realizando estágios nas escolas municipais de Francisco Beltrão, alguns deles

mostraram essa forma de operação nas escolas onde estagiavam. Os professores

dessas escolas não conheciam a Divisão Americana. Utilizamos essa forma de

divisão para números decimais também. Foi combinado em refazer as atividades

para terem domínio do conteúdo e poderem trabalhar com seus alunos. Sentimos

que um dos objetivos do projeto estava começando a ser atingido.

Iniciamos nossa 4ª aula. Todos com a calculadora na mão, fazendo as

atividades sugeridas nas folhas que lhes foram entregues, com a intenção de

aproveitar o tempo da melhor forma possível. Muitos não sabiam usar a vírgula na

calculadora. Ter em mãos os panfletos publicitários como material didático foi de

suma importância para os alunos perceberem como isso contribui para

contextualizar a matemática e mostrar seu valor no dia a dia. Ao resolvermos os

exercícios, lendo a atividades proposta, fomos comentando e registrando o que

havia acontecido. Demonstraram dificuldades em relatar por escrito as observações

feitas. Comentamos o quanto é complicado transformar em palavras nossos atos tão

rotineiros. O tempo passou depressa demais. Os alunos estavam entusiasmados e

se propuseram a concluir as atividades em casa. Certamente muitos as fizeram com

atenção, mas houve os que as fizeram com pressa, sem observarem o que era

necessário e houve ainda os que não fizeram ou copiaram dos colegas antes de

iniciar a aula.

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Começamos nossa 5ª aula vistando o caderno. Apenas seis alunos, ou seja,

31,5% da turma fizeram as atividades da aula anterior e 47,3%, nove alunos, fizeram

parcialmente, pois tiveram dificuldade em relatar em forma de texto o que haviam

observado nas atividades sugeridas e quatro alunos, o que representa 21% da sala,

não fizeram nada. Sentimos, por parte destes últimos, desinteresse e

despreocupação. Após a correção ocorreram comentários sobre as dificuldades

encontradas e o uso das quatro operações em problemas simples do cotidiano. Os

alunos acharam interessante aplicar em suas salas de aulas, com os pequenos.

Refizemos as atividades nas quais era necessário usar o M+ e o M-, nenhum aluno

sabia utilizar essas teclas da calculadora. Muitas dúvidas foram esclarecidas. Os

alunos que não haviam realizado os exercícios se propuseram fazer por curiosidade

em observar a agitação dos colegas. Foi ótimo e muito gratificante.

O 6º encontro começou com as explicações da folha de atividades. A

proposta era escolher 10 itens do panfleto do supermercado e calcular quanto

pagariam se comprassem 10 itens? Ou se adquirissem 100? 1000? 10000 itens?

Em seguida deveriam escolher 10 carros em panfletos de carros e calcular de

quanto seriam as prestações, desconsiderando os juros, se fizessem em 10

pagamentos? 100? 1000? Ou 10000 pagamentos? As contas deveriam ser feitas na

calculadora. O maior objetivo dessa atividade era mostrar como se divide e

multiplica-se por 10, 100, 1000 e 10000, inicialmente usando calculadora, mas, ao

compreender o processo, fazer o cálculo mentalmente. Tivemos uma interrupção de

quinze dias que foi ocasionada pelo uso da escola como alojamento em jogos

escolares.

Com o retorno, deu-se nossa 7ª aula. Os alunos estavam animados e com

seus cadernos em ordem e a postos. Começamos a correção das atividades da aula

anterior, nas quais era necessário multiplicar e dividir por 10, 100, 1000 e 10000.

Muitos questionamentos foram feitos: o que acontecia com a vírgula nessas

operações? E com o zero? O que era mais fácil, o cálculo mental ou com o auxílio

da calculadora? Essa aula nos possibilitou vislumbrar resultados positivos na

aprendizagem da matemática. Os alunos diziam que não sabiam que era tão fácil

assim fazer tais operações. O quanto isso teria facilitado a vida deles se tivessem

tido a oportunidade de conhecer essa metodologia nos anos anteriores.

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Comentavam que a matemática não é difícil como parece ser. E perguntavam: Por

que nunca ninguém nos ensinou isso? Neste momento percebe-se a necessidade

de a escola promover mecanismos que possibilitem uma aprendizagem de

qualidade. Atividades bem planejadas e aplicadas estimulam o conhecimento.

O sinal já havia tocado quando iniciamos nossa 8ª aula, cujo assunto seria

porcentagem. Como já resolviam mentalmente os cálculos por 10, foi fácil explicar

sobre como encontrar a metade, o dobro, achar o valor de 1% para e em seguida ir

descobrindo outros valores próximos. Vimos também o que significam os diferentes

resultados entre 50 x 10%, 50 + 10% e 50 – 10%. Discutimos sobre o assunto e foi

interessante observar o entusiasmo da turma. Foi dado um tempo para os grupos

terminarem de preparar a apresentação sobre ICMS, pois iniciaríamos na próxima

aula a exposição do tema. A Semana Acadêmica, atividade tradicional na escola,

realizada em parceria com a UNIOESTE, adiou o encontro seguinte em 15 dias,

modificando novamente nosso cronograma.

Em 29/9/2011 iniciamos nossa 9ª aula. Após as costumeiras anotações

referentes à realização das tarefas, nós as corrigimos coletivamente. Nosso objetivo

nessa aula era fazê-los compreender e utilizar o cálculo da porcentagem

mentalmente, com a calculadora e por escrito, bem como entender o cálculo da

porcentagem relacionando 50% com a metade, 25% com a quarta parte ou metade

de 50%, 10% com a décima parte. Essa aula foi maravilhosa. Todos participaram e

se mostraram atentos e interessados. Logo em seguida iniciaram-se as

apresentações dos trabalhos em grupo, que haviam sido organizados no primeiro

dia de aula. Essa apresentação, com a entrega do trabalho por escrito, compunha a

segunda avaliação. As apresentações levaram cinco aulas. Muito mais do que o

planejado.

Alguns grupos falaram muito bem. Um deles fez um vídeo mostrando onde

deveria ser investido o dinheiro arrecadado dos impostos. Como seria a saúde,

educação, estradas, moradia, segurança, e assim por diante, apresentando fotos de

escolas maravilhosas, estradas ótimas, hospitais bem equipados, um povo feliz...

mas, logo em seguida, contrastaram com fotos da nossa realidade. Escolas

precárias, estradas péssimas, hospitais lotados e outros abandonados sem terem

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sequer sido terminados, e outras coisas mais. O vídeo foi excelente. Sem dúvida foi

o grupo mais criativo. As apresentações foram boas e causaram muitas discussões.

Três grupos não fizeram à pesquisa, portanto não tinham trabalho escrito e nem

apresentação. Duas alunas fizeram o trabalho, mas não quiseram apresentá-lo, pois

tiveram problemas com os arquivos. A cada apresentação era discutido o assunto

exposto. Exemplos eram dados e muitas histórias contadas de acontecimentos com

parentes ou pessoas próximas. A indignação em relação ao mau uso do dinheiro

público, ao abuso dos impostos que pagamos e, na maioria das vezes, nem

sabemos para onde vai ou em que deveria ser investido, na exploração da mão de

obra do ser humano e no descaso com a vida, com o homem e os seus direitos.

Ficamos todos indignados com tanto desrespeito.

Nessas aulas a participação foi ótima, mesmo a dos que não fizeram o

trabalho e/ou o não apresentaram. Foram aulas de cidadania e de crescimento

pessoal. Nossas últimas duas aulas foram realizadas na segunda quinzena de

outubro e nelas propusemos a autoavaliação.

5 A QUESTÃO DA AVALIAÇÃO

Considerando a avaliação como importante momento do processo educativo,

passou-se a explicar detalhadamente como ela ocorreria. Foram avaliadas:

atividades realizadas em um caderno, uma pesquisa e apresentação de um trabalho

e, também, autoavaliação. Para a obtenção da média final, calculou-se a média

aritmética com as três notas obtidas.

Para o registro das atividades, os alunos receberam um caderno. Nele

desenvolveram as atividades propostas pelo professor e fizeram as demais

anotações que julgaram importantes e necessárias. Ao término da implementação,

esse caderno foi recolhido para ser avaliado como primeira nota pelo professor PDE

e devolvido ao respectivo aluno no final do ano letivo de 2011, com a intenção de

servir de apoio didático na preparação das aulas que ministrarão futuramente. Como

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segunda avaliação, foi considerada a pesquisa por escrito e apresentação aos

colegas acerca da legislação e das alíquotas do Imposto sobre a Circulação de

Mercadorias e Serviços – ICMS. Finalizando, nossa terceira nota foi a autoavaliação.

Discutimos a importância de saber se avaliar, observando a participação, empenho e

interesse, responsabilidade no cumprimento das tarefas, pesquisas e materiais

solicitados, sua aprendizagem e crescimento pessoal nos assuntos estudados.

Colocamos também a necessidades de citar os pontos positivos, negativos e as

sugestões a propor, justificando-as. Com grande silêncio, a turma desenvolveu essa

atividade, escrevendo em seu caderno o que foi solicitado. Em um círculo se deu a

leitura do que haviam escrito. Nesse momento alguns ficaram muito nervosos e

envergonhados, pois comentaram que haviam sido muito sinceros em suas

colocações e ficaram um pouco constrangidos.

Como pontos positivos, destacaram: - (a) Divisão Americana: diferente e de

fácil compreensão, a seu ver uma metodologia que puderam aplicar em seus

estágios. Apenas uma aluna comentou que não gostou dessa forma de dividir, pois a

achou muito complicada. - (b) A importância de conhecer as funções da calculadora

e fazer atividades usando-a como uma ferramenta metodológica. Todos comentaram

que gostaram dos exercícios propostos. - (c) O quanto é bom trabalhar com material

concreto, como os panfletos publicitários, para perceber a matemática no cotidiano. -

(d) A facilidade de saber resolver operações após as atividades de multiplicar e

dividir por 10, 100, 1000 e 10000. Contribuindo inclusive nas porcentagens, quando

se tem por base 10%. Desenvolve o raciocínio e dá mais agilidade e rapidez nos

cálculos mentais. - (e) Obtenção de informações e estudo sobre o ICMS foi de

grande crescimento como cidadão. Todos elogiaram o tema escolhido e se

surpreenderam da falta de conhecimento que temos em relação ao assunto.

Como pontos negativos, comentaram: - (a) O período em que foi aplicado

este projeto, pois estava se aproximando as provas do ENEM, gostariam de ter

revisar os assuntos que seriam cobrados. - (b) O pouco tempo para aprender

metodologias que seriam tão úteis para sua atuação, como, por exemplo, as

atividades com a calculadora.

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As sugestões foram para que fossem realizadas oficinas com essas

atividades para que mais alunos (futuros professores) pudessem conhecer e aplicar

o que foi aprendido, oportunizando uma educação de mais qualidade e uma

aprendizagem mais dinâmica e eficiente.

Após essa dinâmica, os cadernos foram recolhidos para serem entregues

posteriormente, como combinado. No balanço final, tivemos 73,7% dos alunos (14

alunos) com nota superior a 7,0 e 26,3% dos alunos (5 alunos) com nota inferior a

média, que é 6,0.

6 CONSIDERAÇÕES

Neste trabalho, pudemos demonstrar a contribuição que atividades

diferenciadas trazem ao ensino de matemática, estabelecendo pontos de partida e

ignorando pontos de chegada. O que ocorre é que, quando vamos trabalhar um

determinado assunto, temos os objetivos do que queremos mostrar, mas muitas

vezes as dúvidas ou os exemplos citados nos conduzem a caminhos que não

imaginávamos, envolvendo outros assuntos e esclarecendo questões que não

seriam o objetivo do momento. Evidenciou-se a necessidade que há em nossas

escolas em promover novos mecanismos, novas perspectivas, novas metodologias

e formas alternativas de pensar o processo de construção do conhecimento e a

avaliação dessa caminhada, possibilitando e garantindo uma aprendizagem eficiente

e de qualidade a todos, especialmente a esses alunos que serão futuros

professores, pois, estando eles equipados de metodologias e atividades

diferenciadas, só irão enriquecer seu processo educativo e sua futura prática

pedagógica.

Como a escola é muito dinâmica, não é fácil enfrentar os desafios propostos

no dia a dia. O tempo foi nosso grande obstáculo. Estamos sempre nos deparando

com ele, que acelera nosso planejamento e nos engessa nos prazos a cumprir.

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O desenvolvimento deste projeto teve resultados positivos na aprendizagem

de matemática e causou mudanças na forma de trabalhar certos conteúdos, mas

especialmente nos profissionais da educação, que puderam participar do processo

de construção e de desenvolvimento do mesmo. Ao iniciar este projeto, pensávamos

e agíamos de uma forma. Após esta experiência de estudo e aplicações é

impossível ser como éramos. A transformação como pessoa e profissional é

fantástica. O grande segredo do PDE é essa metamorfose de lagarta para borboleta,

apesar das dificuldades encontradas no caminho.

De todo o vivido durante o projeto, preciso deixar aqui minha gratidão às

pessoas que me ajudaram nesse processo de evolução, fazendo-o em especial às

minhas grandes amigas Arleni Sella (orientadora) e Maria Irenilda Ranucci.

7 REFERÊNCIAS

DEGUIRE, L. J. Polya visita a sala de aula. In: KRULIK S.; REYS, R. A resolução de problemas na matemática escolar. Tradução de Hygino H. Domingues e Olga Corbo. São Paulo: Atual, 1997. p. 99-113. LINS, R. C.; GIMENEZ, J. Perspectivas em aritmética e álgebra para o século XXI. Campinas, SP: Papirus, 1997. NACARATO, A. M.; MENGALI, B. L. da S.; PASSOS, C. L. B. A matemática nos anos inicias do ensino fundamental: tecendo fios do ensinar e do aprender. Belo Horizonte, MG: Autêntica, 2009 (Coleção Tendências em Educação Matemática). PARANÁ. SEED/DEB. Diretrizes Curriculares da Educação Básica. Curitiba: SEED, 2008. POLYA, G. Sobre a resolução de problemas de matemática na high school. In: KRULIK S.; REYS, R. A resolução de problemas na matemática escolar. Tradução de Hygino H. Domingues e Olga Corbo. São Paulo: Atual, 1997. p. 1–3. SCHLIEMAMN, A.; CARRAHER, D. (Orgs.). A compreensão de conceitos matemáticos. Campinas, SP: Papirus, 2003.