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O USO DE PORTFOLIO NA SAÚDE COLETIVA
Phallcha Luízar Obregón1
INTRODUÇÃO
A educação nos dias de hoje segue os princípios propostos pela Unesco em 1998
(WERTHEIN & CUNHA 2000), que considera quatro pilares da educação: aprender a
conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver, aprender a ser. Esses quatro
princípios orientadores abrangem as competências relacionais (aprender a conviver),
produtivas (aprender a fazer) e cognitivas (aprender a conhecer). E devem ser
desenvolvidos de forma integrada e sempre contextualizados para a realidade que estão
sendo propostos.
Nos últimos tempos, na formação universitária, especialmente na área da saúde,
tem-se observado um crescimento na utilização de metodologias ativas de ensino-
aprendizagem que propõe concretamente desafios a serem superados pelos estudantes,
que lhes possibilitem ocupar o lugar de sujeitos na construção dos conhecimentos e que
coloquem o professor como facilitador e orientador deste processo (BORDENAVE e
PEREIRA, 1998). Dessa forma qualquer mudança na concepção sobre ensino e
aprendizagem tem repercussões sobre o papel da avaliação no processo educativo.
O portfólio tem sido utilizado em diferentes cenários docentes, cumprindo um
papel importante em vários contextos educativos (RANGEL, 2003; SEIFFERI, 2001;
TANJI, 2008; VIEIRA, 2009) como estratégia que potencializa a construção do
conhecimento de forma reflexiva. Na formação em saúde, o portfólio tem sido utilizado
principalmente em currículos inovadores (GOMES e col., 2010).
Na educação médica, o portfólio é descrito em diferentes campos da formação,
como disciplinas na graduação, no internato e nos programas de residência (ALMINO,
2007; CABRERA, 2008; SILVA, 2009; MARIN, 2010; MORETO, 2010)
1 Médica, Professora doutora do colegiado de Medicina da Universidade Estadual do Oeste do Paraná –
Unioeste, campus de Cascavel. Contato: [email protected]
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O portfólio é um instrumento que potencializa a reflexão das práticas,
assegurando a construção do conhecimento, do desenvolvimento pessoal e profissional
dos envolvidos (docentes e discentes). O portfólio auxilia o estudante a atingir os
objetivos, contribuindo também para a aproximação entre a teoria e a prática, a
sistematização das atividades propostas, para a criatividade e a livre expressão e para o
atendimento às dificuldades particulares de cada estudante. Os casos não são escolhidos
previamente, eles são provenientes da experiência prática do profissional ou estudante.
São casos da vida diária, situações que exigem estudo, reflexão, e orientação do docente
para conduzir a discussão de forma produtiva.
No portfólio o estudante documenta, registra e estrutura as ações, as tarefas e a
própria aprendizagem por meio de um discurso narrativo, elaborado de forma contínua e
reflexiva. O portfólio é um instrumento de diálogo entre o professor e o estudante, na
medida em que é compartilhado com o professor e enriquecido por novas informações,
novas perspectivas e continuado suporte afetivo e pessoal para a formação profissional.
Desta forma, permite ao estudante uma “ampliação e diversificação do seu olhar,
forçando-o à tomada de decisões, à necessidade de fazer opções, de julgar, de definir
critérios, de se deixar invadir por dúvidas e por conflitos, para deles poder emergir mais
consciente, mais informado, mais seguro de si e mais tolerante quanto às hipóteses dos
outros” (SÁ-CHAVES, 2000). Dessa forma, o portfólio é utilizado como estratégia que
potencializa a reflexão sistematizada e sistemática sobre as práticas desenvolvidas
(ALVARENGA, 2001; ELBOW et al., 1991; PUALSON, 1990), pois o portfólio tem
como maior objetivo ajudar o estudante a desenvolver a habilidade de avaliar seu
próprio trabalho.
O portfólio é também um excelente instrumento que pode auxiliar na avaliação
do impacto de programas educacionais (COLLINS, 1991).
A avaliação é um processo inerente ao processo de construção de conhecimento
e, portanto, o enfoque deveria estar não apenas nos resultados, também no processo.
Uma das formas que tem demonstrado efeitos positivos e que cumpre requisitos da
avaliação formativa é o Portfólio (ALVARENGA, 2001).
Segundo CARDOSO (2004), a avaliação por meio do uso do portfólio beneficia
professores e alunos, os quais através do processo contínuo de reflexão podem rever e
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aperfeiçoar seus conhecimentos na disciplina ou graduação, estabelecendo, assim, inter-
relações entre a vida acadêmica e as experiências pessoais.
Como estratégia intencional, o portfólio constitui um suporte para os processos
avaliativos – avaliação somativa e formativa, especialmente a avaliação formativa
realizada pelo professor ao longo do processo de formação, pois é aquela que permite,
em tempo útil, equacionar conflitos cognitivos, afetivos e psicomotores dos estudantes,
lacunas científicas, ou omissões, garantindo por isso condições de desenvolvimento
progressivo dos níveis de consciência e, por conseguinte, da emancipação e identidade
do estudante. Compreendendo este caráter formativo, a avaliação do Portfólio realizada
pelo professor é feita periodicamente com a intenção de proporcionar ao estudante
condições de recuperação de suas fragilidades, de acordo com o desempenho esperado.
Mas também de avaliação somativa, na medida em que o portfólio, quando
terminado o período de formação ao qual se refere, constitui uma ampla evidência quer
dos resultados, quer dos processos que os determinaram (HERNÁNDEZ, 2000).
A Universidade Estadual do Oeste do Paraná, campus de Cascavel conta com o
curso de Medicina desde 1996. Na sua grade curricular conta com a disciplina
denominada estágio supervisionado do Internato Médico em Saúde Coletiva ofertada
para os estudantes da sexta série.
Trata-se de disciplina obrigatória com carga horária de 440 horas distribuídas ao
longo do período de junho a novembro (11 semanas por grupo). O estágio funciona
através de convênio com a Secretaria Municipal de Saúde de Cascavel que recebe
estudantes da 6ª série nos serviços de saúde, se desenvolve em sistema de rodízios e em
pequenos sub-grupos (5 a 6 estudantes), que supervisionados por docentes da disciplina,
desenvolvem diferentes atividades, entre elas: atendimento ambulatorial, atividades de
educação para a saúde, trabalhos com grupos de pacientes, visitas domiciliares,
atendimentos domiciliares, participação em reuniões do Conselho Municipal de Saúde.
Os estudantes têm acesso ao conteúdo teórico da disciplina através de textos, discussões
com a supervisão e roteiros de estudo.
No ano 2010 as atividades foram desenvolvidas nas Unidades Básicas de Saúde
Neva e Santa Cruz, no setor de dermatologia sanitária (Centro Regional de
Especialidades -CRE) e nos serviços especiais do município: Centro de Especialidade
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de Doenças Infecto-Parasitárias - CEDIP e Programa de Atenção e Internamento
Domiciliar – Paid. Cada local de estágio conta com um professor responsável pelo
acompanhamento das atividades.
O presente estudo analisa o uso do portfólio na prática do internato em Saúde
Coletiva, do sexto ano do Curso de Medicina da Unioeste, desenvolvido no período de
junho a novembro de 2010. Refere-se ao primeiro ano de implantação do uso do
portfólio no contexto de um currículo com tendência a inovação.
OBJETIVO
Conhecer as possibilidades educativas que o portfólio no internato de saúde coletiva
pode ter com os estudantes de medicina de uma IES pública.
METODOLOGIA
Estudo descritivo, transversal com inserção do portfólio no período de junho a
novembro de 2010, junto a estudantes regulares do sexto ano de medicina da Unioeste
que cursavam o Internato Médico de Saúde Coletiva. Cada acadêmico desenvolveu um
portfólio que foi estruturado com as seguintes partes: a) aldeia - história pessoal do
aluno e as razões que o levou a escolher o curso de medicina; b) trajetória – percurso do
estudante no internato e c) arquivo – materiais extra pesquisados pelos estudantes. Os
portfólios foram avaliados pelos docentes do internato quinzenalmente verificando os
aspectos relacionados à reflexão do aluno, auto-avaliarão, análise qualitativa do
conteúdo e apresentação, registro das necessidades de aprendizagem identificadas pelo
estudante. No final do internato foi solicitado que cada aluno apresentasse por escrito
avaliação sobre o uso do portfólio, para isto foi utilizado questionário com questões
abertas e fechadas. Dessa forma, o estudo é fundamentado na análise de portfólios
construídos pelos estudantes e complementado com as respostas do questionário sobre a
avaliação do uso do portfólio. As informações obtidas foram analisadas
quantitativamente e qualitativamente. Para a análise quantitativa foi utilizado o
programa Excell. Os resultados são apresentados de forma descritiva. O estudo tem
aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa.
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RESULTADOS
1. - Inserção e Construção do Portfólio
A introdução do portfólio como instrumento que auxilia no processo de formação
profissional no Internato Médico de Saúde Coletiva começou com a preparação dos
docentes supervisores do estágio com vista a padronizar os conceitos e formas de
acompanhamento dos estudantes ainda antes do início da disciplina.
Com os estudantes, inicialmente foi feita uma explicação por parte do docente sobre a
finalidade do portfólio e também foi distribuído documento sobre o conceito, usos e
finalidades do Portfólio como material complementar. Foi feita a inserção do portfólio
no contrato pedagógico, como parte das atividades da disciplina onde cada acadêmico
comprometeu-se a elaborar um portfólio com registro de aspectos considerados
relevantes pelo mesmo. O acompanhamento e entrega final do portfólio foi pactuada
entre professores e estudantes no início da disciplina.
Os portfólios foram construídos ao longo do internato e utilizados pelos estudantes para
registrar as ações e aprendizagem através de um discurso narrativo, elaborado de forma
contínua e reflexiva.
Propôs aos estudantes que organizassem o portfólio da seguinte forma:
1º Aldeia – história pessoal do aluno e as razões que o levou a escolher o curso como
profissão. Neste item cada estudante se apresenta (quem sou eu, de onde vim, como
cheguei aqui) e faz um momento reflexivo sobre família, amigos, relações profissionais
e como chegou ao curso;
2º Trajetória - percurso do aluno na disciplina: aqui são colocados os trabalhos, textos,
seminários, comentários e reflexão dos temas discutidos em sala de aula, construção de
textos oriundos de situações problema relacionadas ao internato, incluindo análise de
um incidente crítico, de casos clínicos de UBS, PAID, CRE ou visita domiciliar, que de
certa forma impactaram o estudante.
Para a definição de Incidente Crítico foi utilizado o conceito de Cunha (CUNHA, 2003),
que refere-se às situações da prática profissional, particularmente relevantes,
vivenciadas, observadas e relatadas pelos internos. Podem ser situações com
desenvolvimento positivo ou negativo que proporcionam a oportunidade de refletir
sobre a própria prática e, portanto de melhorar.
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Especificamente para as atividades relacionadas aos relatos de incidente crítico, caso
clínico e visita ou atendimento domiciliar foram elaborados roteiros específicos para
descrição e reflexão da situação, enfatizando a identificação de necessidades de
aprendizagem, reflexão, fontes de informação e espaço para comentários do professor.
3º Arquivo - materiais complementares pesquisados pelos estudantes
A interação do docente com os portfólios ocorreu durante toda a disciplina nas
salas de aula, e mais especificamente, em datas pactuadas com os estudantes
antecipadamente (quinzenalmente), onde os portfólios eram avaliados de forma
formativa pelo docente, elaborando comentários, discutindo e orientando os grupos. Na
avaliação do portfólio foram considerados os seguintes itens: apresentação geral do
trabalho, requisitos mínimos solicitados, aspectos relacionados à reflexão do aluno,
auto-avaliação e análise qualitativa do conteúdo apresentado.
A aplicação do questionário para avaliação do uso do portfólio ocorreu ao final
da disciplina.
2. - Percepções dos estudantes sobre o uso de Portfólio
Os resultados referem-se a 35 portfólios e os discursos dos estudantes foram analisados
e são apresentados conforme segue:
a) Desenvolvimento de capacidade crítica sobre a prática clínica diária;
b) Desenvolvimento de comportamentos mais adequados à prática profissional;
c) Atividades que mais contribuíram para a mudança no comportamento de modo a
adequar à sua prática profissional;
d) Identificação de novas necessidades de aprendizagem;
e) Gostou de criar um portfólio durante o internato de Saúde Coletiva?
f) Contribuição do portfólio para aprendizagem do estudante no internato de
Saúde Coletiva.
g) Participação do professor no portfólio.
a) Desenvolvimento de capacidade crítica sobre a prática clínica diária – As respostas
apontam que os estudantes, de modo geral, aperfeiçoaram mecanismos de reflexão em
relação às atividades vivenciadas, admitindo em muitas oportunidades erros, falhas na
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formação e reconhecendo a necessidade de busca de conhecimentos. A seguir
selecionamos as falas abaixo como demonstrativo:
“Através da síntese de um portfólio de maneira contínua, durante todo o estágio,
foi possível realizar um constante processo de auto-análise e procura por um
melhor relacionamento interpessoal, com os pacientes e além do mais, buscar
reconhecer minhas próprias falhas, defeitos e falta de conteúdo”.
“A análise diária dos casos e condutas tomadas em diversos setores da atenção
básica de saúde proporcionou um enriquecimento de valores tanto acadêmico-
científicos, como ético-profissionais. Estes últimos raramente citados durante
nossa formação acadêmica convencional”.
“A realização do portfólio fez perceber que, mesmo a partir de acontecimentos
simples do dia a dia, uma pesquisa complementar dos pontos de dúvida pode
expandir bastante conhecimento”.
“Refletindo a prática diária assim permitindo uma melhor análise das condutas
tomadas e possibilitando reconhecer os erros e fortalecer os acertos”.
Os resultados demonstram que é relevante a reflexão dos estudantes nas diferentes
atividades desenvolvidas, possibilitando a manifestação de seus posicionamentos.
b) Desenvolvimento de comportamentos mais adequados à prática profissional –
observa-se na figura 1 que mais de 80% dos estudantes referiram desenvolver
comportamentos mais adequados à prática profissional com o uso do portfólio, e destes,
25% assinalou como muitas vezes. Apenas um estudante (3%) apontou não ter se
beneficiado com o uso do portfólio referindo que a análise crítica de suas ações é uma
qualidade inerente a ele.
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Gráfico 1. Portfólio e desenvolvimento de comportamentos
mais adequados à prática profissional
26%
54%
17%
3%
Muitas vezes Algumas vezes Poucas vezes Nunca
Dessa forma é reconhecido que o portfólio tem um potencial significativo ao ser
considerado como um instrumento de aprendizagem do estudante de medicina.
Entretanto, a reação negativa de alguns estudantes poderia ser entendida como
dificuldade ao uso de estratégias novas no ensino-aprendizagem.
c) Atividades que mais contribuíram para a mudança no comportamento de modo a
adequar à sua prática profissional – Foram várias as atividades desenvolvidas no
transcurso do internato, no entanto apenas as mais importantes deveriam ser
apresentadas no portfólio. As atividades relatadas partiam da escolha do estudante e não
do professor. No gráfico 2 observa-se que mais da metade dos estudantes referiram o
caso clínico e o relato de incidente crítico como as atividades que mais contribuíram na
mudança de comportamento.
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Gráfico 2. Portfólio e atividade que mais contribui na formação
profissional
31%
41%
11%
17%
Incidente critico Caso clínico Visita domiciliar Outro
d) Identificação de novas necessidades de aprendizagem – A maioria dos estudantes
referiu identificação de novas necessidades de aprendizagem, todas elas relacionadas às
diferentes atividades desenvolvidas durante o internato e não apenas as formas citadas
no item c (gráfico 3).
Gráfico 3. Portfólio e identificação de novas necessidades de
aprendizagem
20%
60%
17%
3%
Muitas vezes Algumas vezes Poucas vezes Nunca
Assim com o uso do portfólio o estudante teve a oportunidade de aprender a
fazer perguntas e refletir sobre situações da prática diária. A confecção do portfólio
baseado em elementos da prática clínica permitiu identificar novas necessidades a serem
desenvolvidas (conhecimento, atitudes, habilidades e competências), isto resultado da
reflexão, a auto-aprendizagem e análise crítica que demonstrou a presença ou carência
de determinadas competências.
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e) Gostou de criar um portfólio durante o internato de Saúde Coletiva? – As respostas
dos estudantes ficaram divididas em duas posições, sendo que pouco mais da metade
(19) foram contrários a elaboração de portfólio durante o internato de Saúde Coletiva,
conforme é mostrado no gráfico 4.
Dentre aqueles que tiveram uma aceitação do portfólio, observa-se que as respostas
estão relacionadas à satisfação por ser útil e aplicável:
Gostei de fazer o portfólio, porque permitiu que eu fizesse uma auto-análise de
todo meu aprendizado na faculdade e a partir dos questionamentos, pude
refletir, procurar respostas para os meus questionamentos. E foi através de todo
esse processo que pude crescer.
Apesar de trabalhoso e cansativo o processo de síntese do portfólio, o resultado
evidenciou o impacto que tenho na vida de pacientes que atendo e também o
impacto que eles têm no meu cotidiano, além de evidenciar deficiências de
conteúdo, possibilitando assim o ajuste dessas falhas.
Me fez refletir e aprender muito sobre os casos que acompanhei durante o
estágio de saúde coletiva. Pesquisei bastante e me interessei pelos casos.
Durante a montagem do meu portfólio surgiram várias dúvidas a respeito dos
meus casos clínicos, assim pude pesquisar e aumentar os meus conhecimentos.
Gráfico 4. Aprovação de elaboração de portfólio
46%54%
sim
não
A resistência ao novo e a falta de tempo para maior dedicação as provas de residência,
são os fatores que levaram para uma reação de negatividade do processo, isto pode ser
observado nas declarações descritas abaixo:
Apesar de útil, em termos de aprendizado, exige tempo para sua elaboração
(saber que é útil é uma coisa, gostar é outra);
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Porque sinceramente só serviu para que perdêssemos tempo de estudo para a
residência.
...Mas acho que transcrever as nossas experiências em um documento não é
necessário.
O portfólio não foi algo complexo de ser criado. Foi bom relembrar situações e
refletir algumas delas. Mas para o aprendizado, eu acho que as discussões de
artigos e seminários de temas mais relevantes são mais úteis.
Observa-se, nas falas acima que o tempo utilizado na construção do portfólio é um
ponto negativo interferindo no desempenho do preparo para residência médica. Isto
devido ao fato de encontrar-se no final do curso e dedicar à maior parte do tempo livre
ao preparo destas provas.
Também, observa-se nas falas a resistência com o novo. O estudante está acostumado a
um modelo de ensino em que se apropria de conteúdos teóricos para obter a sua
aprovação sem que exista identidade nesta aprendizagem. Observa-se uma valorização
de conceitos e práticas tradicionais dificultando as iniciativas que buscam uma
formação integral. Há uma valorização da parte técnica e conteúdos biológicos e uma
dificuldade para a proposta de reflexão.
f) Contribuição do portfólio para aprendizagem do estudante no internato de Saúde
Coletiva – Os resultados demonstraram que a confecção do portfólio tem um potencial
significativo na aprendizagem e acompanhamento do desempenho do estudante. Mesmo
com as dificuldades apontadas no item anterior, a maioria deles compreende a
relevância do portfólio e é a favor do uso na disciplina e inclusive sugerem ampliar a
outras áreas do curso. A seguir, algumas falas selecionadas:
Depois das atividades práticas e dos seminários, o portfólio é o grande
responsável pela aprendizagem neste internato.
Reflexão sobre as experiências vividas e mudança de atitude, mais humana.
Com o portfólio eu fui instigado a procurar e estudar sobre os casos, bem como
a refletir sobre eles, o que tornou este trabalho ferramenta válida.
Contribuiu de maneira significativa, na medida em que somos obrigados a rever
tudo que fizemos na prática deste estágio, assim reforçando o que aprendemos
ao longo do dia a dia das consultas.
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Acho interessante discutir e transcrever os pontos mais interessantes do
internato de saúde coletiva, com isso reforçando assuntos que julgamos mais
interessantes e importantes para nosso aprendizado. Seria muito bom se outras
disciplinas também utilizassem essa metodologia de incremento do ensino
normal.
h) Participação do professor no portfólio – O portfólio é um instrumento de
aprendizagem ativa e de avaliação ao permitir a reflexão e diálogo entre professor e
estudante. Assim, o professor convenientemente preparado pode catalisar esse processo
e utilizar as dúvidas levantadas pelo caso real numa formação médica sólida,
contribuindo dessa forma com aspectos importantes na formação de sujeitos ativos na
prática profissional.
Neste estudo, prévio ao início do estágio, os professores da disciplina receberam
capacitação sobre o portfólio e o papel de facilitador nesse processo. No entanto alguns
estudantes referiram que nem todos os professores assumiram essas atribuições,
comprometendo o desenvolvimento do portfólio e desestimulando os estudantes.
Por outro lado, aqueles estudantes que tiveram um acompanhamento contínuo por
professores comprometidos com a estratégia, revelaram satisfação com os resultados.
Essas percepções podem ser visualizadas nas falas selecionadas abaixo:
Eis um ponto bastante positivo do portfólio: o maior contato com os professores.
Durante o desenvolvimento do meu portfólio, os professores tiveram uma
participação importante, pois me orientaram adequadamente nos pontos falhos
e que poderiam ser melhorados, bem como ressaltando os aspectos bem
abordados e destacados. Sempre que precisei, colocaram-se a disposição e
foram atenciosos.
Foi indispensável, pois foi com ele que sanei minhas dúvidas e o mesmo que me
orientou a montar meu portfólio de forma correta, me corrigindo quando
necessário.
Foi construtivo, porque orientou nas dificuldades que apresentava durante o
estágio.
Mostrou-se presente e disponível para esclarecimento das dúvidas que
surgiram, além de demonstrar tolerância e compreensão diante dos erros
cometidos, direcionando o aluno para a correção dos mesmos.
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É uma participação ativa e crítica, analisa-se nosso desenvolvimento sempre
mostrando o caminho a ser seguido para sua construção se devemos melhorar,
como fazer isso e também se fizemos da maneira correta somos elogiados.
....Na realidade a participação dos professores no aprendizado não teve relação
com a realização do portfólio, ensinaram como fariam se não houvesse o
trabalho.
Para finalizar pode-se dizer que com o portfólio foi possível dar suporte ao processo de
aprendizagem e auto-aprendizagem, possibilitou a reflexão dos estudantes sobre seu
próprio trabalho, identificando seus avanços e dificuldades, demonstrou o desempenho
dos professores, das atividades desenvolvidas e dos serviços de saúde utilizados,
possibilitando um rico conhecimento sobre o internato em Saúde Coletiva.
CONCLUSÕES
O presente estudo vem ao encontro de implantar instrumentos que tornem a avaliação
um processo, contínuo, diagnóstico e participativo contribuindo para a
responsabilização do estudante com sua formação.
O portfólio é um instrumento que contribui para a formação profissional, no entanto
ainda há necessidade de realizar alguns ajustes. Sugere-se a preparação dos docentes
para o uso desta metodologia e recomenda-se o uso em outras disciplinas do curso
médico de forma a melhorar o ensino-aprendizagem.
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