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O Valor Social e Económico das Bibliotecas Públicas
Manuela Barreto Nunes
(Universidade Portucalense, Porto, Portugal)
Com: José António Calixto
M. Cristina V. de Freitas
Andreia Dionísio
Visão tradicional das bibliotecas: equipamentos culturais (destaque para a componente educativa).
Valores das bibliotecas reforçados no pós-guerra nos países das democracias ocidentais: Cidadania informada;
Agentes da sociedade democrática;
Esfera pública (arenas independentes dos governos, mesmo que financiadas por eles, ou de outros interesses corporativos, acessíveis e abertas aos cidadãos);
Organizações neutrais, universalistas, abertas a todos: a ideia de que a satisfação dos diferentes gostos e necessidades de um imaginário público universal poderia ser satisfeita num único lugar, a biblioteca;
Introdução
Valores das bibliotecas reforçados no pós-guerra nos países das democracias ocidentais :
agentes na luta contra a exclusão social: o multiculturalismo nos anos 60, os costumes e a diversidade nos anos 80 e 90, os serviços às comunidades em desvantagem social, a partir dos anos 80;
promotoras da qualidade de vida, da cidadania e da aprendizagem ao longo da vida.
Evolução do papel dos bibliotecários: das questões técnicas como centro da profissão, às questões sociais como motor da actuação na sociedade.
Reconhecimento do valor social das biblioteca públicas.
Introdução
A biblioteca pública como lugar de encontro
Espaço público e lugar de encontro (IFLA).
Sala de estar da comunidade, onde todos podem estar.
Espaço de trégua, refúgio, zona neutra e segura.
Ligação afectiva. Praça pública.
Lugar de encontro com amigos e de descoberta do outro.
Metalugar de encontro.
Lugar de encontro real e virtual.
Encontros de alta e baixa intensidade: inclusão social.
Encontros simultâneos de 1.º, 2.º e 3.º níveis: esfera pública.
Encontros de alta e baixa intensidade:
dimensões
inclusão social, capital social.
Encontros simultâneos de 1.º, 2.º e 3.º nível:
dimensão
esfera pública.
lugar de encontro
Capital social:
Conexões entre indivíduos, confiança social, reciprocidade,
participação, cooperação para benefício mútuo (Putnam, 1995).
Dimensão e estatuto da rede social duma pessoa (Bourdieu)
Enquanto lugar de encontro livre e aberto, a BP:
eleva os níveis de confiança social (“confiança generalizada”, que ultrapassa os grupos fechados e os guetos),
promove o desenvolvimento de relações positivas entre os cidadãos.
A biblioteca pública como lugar de encontro: capital social
Actividades básicas (leitura, empréstimo, pesquisa de informação, estudo) e actividades avançadas, ou
complementares (interacção social, entretenimento, aprendizagem formal, informal ou ao longo da vida)
capital cultural (conhecimento)
e capital social.
Nível de confiança nas instituições:
encontros na biblioteca pública
capital social e esfera pública
A biblioteca pública como lugar de encontro: capital social
Existe, em dimensão significativa, a biblioteca como comunidade virtual?
A presença, ainda tímida, das bibliotecas públicas nas redes sociais tem algum impacto social efectivo?
Web 2.0: um novo espaço de encontro da biblioteca pública, ainda mal utilizado.
Possibilidade de metaencontros na biblioteca atrai novos utilizadores, nomeadamente jovens, adultos, imigrantes, desempregados, pessoas em condições de desvantagem económica.
Aumenta o capital cultural, social e económico daqueles que participam neste tipo de encontros –multiplica-se a ideia da biblioteca como parte
da esfera pública.
A biblioteca pública como lugar de encontro: encontros virtuais
O problema: as bibliotecas públicas existem em muitos tipos de regimes, e não
apenas nos democráticos; Na História, as bibliotecas públicas serviram, e continuam a servir
Estados ditatoriais (império romano, URSS); Mesmo em democracia, a biblioteca pública reflecte muitas vezes os
valores e interesses de uma elite que detém já capital social, e gera capital social para si própria; comunidades maioritariamente conservadoras tendem a censurar as colecções das BPs (EUA);
A biblioteca pública não concorre por definição para a democracia, mau grado os princípios democráticos que lhe subjazem: em muitos casos contribui para manter elites de um lado, e trabalhadores conformados e disciplinados do outro;
Sem recursos, a biblioteca pública empobrece e empobrece a democracia.
Capital social, inclusão e democracia
Para contribuir para o desenvolvimento da democracia, as bibliotecas públicas devem:
assegurar o acesso de todos (e não só das elites) ao conhecimento, isto é, a recursos de alta diversidade e qualidade, de acordo com as necessidades e capacidades de cada um:
capital cultural;
Capital social, inclusão e democracia
Para contribuir para o desenvolvimento da democracia, as bibliotecas públicas devem:
oferecer informação económica e formação às pequenas empresas e ao mercado de trabalho: aos desempregados, imigrantes, e outros grupos sociais com necessidades específicas, gerando
capital económico;
Capital social, inclusão e democracia
Para contribuir para o desenvolvimento da democracia, as bibliotecas públicas devem: Estar acessíveis, de facto, a uma grande variedade de pessoas, assegurando a existência de encontros de baixa intensidade e de terceiro nível, característicos da esfera pública e criadores de novos laços, novas redes e relações sociais:
capital social
Capital social, inclusão e democracia
Em diversos manifestos ou directrizes (Declaração de Múrcia)
Em relatórios de investigação
Perspectiva positiva:
muitos exemplos de boas práticas de inclusão.
testemunhos de esforços para chegar a camadas mais desfavorecidas da população.
As bibliotecas públicas contra a exclusão social
As bibliotecas públicas contra a exclusão social
Visão da biblioteca pública como:
garante de uma redistribuição democrática da informação e do
conhecimento;
paladina da luta contra as desigualdades sociais;
aliada dos grupos sociais desfavorecidos na luta contra as
barreiras à inclusão social.
Exemplos de boas práticas de inclusão:
Em políticas nacionais: a criação de redes de bibliotecas fixas e móveis, físicas e virtuais, destacando-se as redes que resultam de esforços colaborativos entre diferentes comunidades ou níveis da administração (Singapura, BiblioRedes, no Chile, Lei Sueca de 1997, a Xarxa de Barcelona, ou o que até há bem pouco tempo foi a nossa RBP);
No terreno: os bibliomóveis, bibliobarcos, biblioburros… que levam o conhecimento aos lugares mais isolados ou, nas cidades, aos bairros mais longínquos ou desfavorecidos; os postos de leitura ou de informação Web nas estações de metro, nas estações de serviço…, os serviços aos idosos e aos hospitais; os serviços às prisões ou às escolas, às zonas rurais ou mais pobres; a formação aos desempregados, às mulheres, os serviços aos imigrantes (serviços que, por sinal, no nosso país são praticamente inexistentes);
Em colaboração: com os centros de emprego, de saúde, as finanças, associações, empresas, comunidades várias… por exemplo, o Projecto Connecta’t, em Barcelona, ou A Biblioteca, Ponto de Emprego, em Múrcia; programas de atendimento e apoio com advogados, terapeutas…
As bibliotecas públicas contra a exclusão social
Impacto nos utilizadores e na economia local: benefícios associados às bibliotecas públicas, expressos em unidades monetárias;
Análise custo-benefício e retorno do investimento na Rede de Bibliotecas de Barcelona: evidências rigorosas de que, por cada euro investido pela administração, são gerados 2,25 € de benefícios directos;
Outros estudos realizados nos EUA, Reino Unido, Noruega e Austrália apresentam resultados semelhantes.
Valor económico das bibliotecas públicas
Perspectiva crítica
Escasso número de utilizadores, utilizadores que conhecem mal os serviços que a biblioteca oferece, insuficientes encontros de baixa intensidade, horários inadequados ou insuficientes;
Falta de políticas nacionais.
Pouca investigação sobre o tema, mas sabe-se que:
Não basta a biblioteca afirmar que está ”aberta a todos”.
Necessidade de trabalho proactivo, dirigido a grupos específicos, baseado na comunidade.
Bibliotecas públicas excluem deliberadamente (procedimentos burocráticos, critérios de aquisições, etc…).
Bibliotecas públicas veiculam uma cultura burguesa (o mainstream), de classe média, às vezes autoritária e paternalista;
Excesso de actividades de animação sem sustentação nas colecções ou em serviços, sem promoção efectiva, sem aferição de resultados.
As bibliotecas públicas contra a exclusão social
As ameaças sobre a esfera pública e os seus
impactos sobre as bibliotecas
Conceito originário de Jurgen Habermas.
Para Webster (2006, p. 163) é
“uma arena, independente do governo (mesmo
recebendo fundos do estado) e gozando também de
autonomia em relação aos interesses das forças
económicas, que é dedicada ao debate (i. e. ao debate e
discussão que não é ‘interessado’…) e que é acessível à
entrada e aberta ao escrutínio dos cidadãos.”
As ameaças sobre a esfera pública e os seus
impactos sobre as bibliotecas
Fragilização da esfera pública
New Public Philosophy (Reagan, Thatcher, etc., mas também o New Labour e a terceira via, com a sua visão centralizadora, consumista e massificadora da modernização).
Globalização e enfraquecimento dos Estados Nacionais.
Desinvestimento do poder central e local.
Constrangimentos
Financeiros, recursos humanos, atividades…
Pressões para cobrar serviços, obter recursos externos, alienar espaços…
Conclusão
Posições de investigações, documentos normativos e profissionais:
Bibliotecas públicas desempenham importante e valioso papel social:
Como local de encontro de diversos níveis e de relações sociais (contributo decisivo para o aumento do capital social);
Como lugar de confiança social e de bem-estar da comunidade;
As suas actividades criadoras de capital cultural, económico e social conferem-lhe um lugar relevante na luta contra a exclusão social e na promoção do desenvolvimento local.
Conclusão
Resultados de investigações, documentos normativos e profissionais:
Bibliotecas públicas detêm valor económico, resultando em benefícios concretos para as comunidades locais;
O investimento nas bibliotecas públicas é comprovadamente retribuído:
Estudos sobre o retorno do investimento nas bibliotecas públicas: por cada euro investido o retorno é sempre superior a 1 euro.
Conclusão
Mas… O contexto é de instabilidade e de crise.
As bibliotecas públicas encontram-se num ambiente desfavorável.
É evidente a fragilização da esfera pública.
Dimensões divergentes:
as bibliotecas públicas actuam na luta contra a exclusão social;
as bibliotecas públicas acentuam a exclusão social.
Conclusão
Linhas de atuação
Definição de princípios e directrizes.
Luta contra a exclusão no centro do trabalho das bibliotecas.
Bibliotecas mais proactivas, trabalho com as comunidades.
Cooperação com outros organismos comunitários.
Formação profissional específica.
Organização dos profissionais (discussão/acção).
Criação e disseminação de conhecimento (investigação, publicação): divulgação das evidências sobre o valor económico e social das BPs.
“A biblioteca é um organismo em construção”
(5.ª Lei de Ranganhatan)
Obrigada pela vossa atenção [email protected]