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O VELHO TESTAMENTO Acústico & Ao Vivo Alessandro Mendonça

O Velho Testamento - Acústico & Ao Vivo

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Reflexões bíblicas "sem estridência". Imagine ouvir as mensagens do Velho Testamento numa versão "unplugged". É isso que o autor propõe.

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Page 1: O Velho Testamento - Acústico & Ao Vivo

O VELHOTESTAMENTO

Acústico & Ao Vivo

Alessandro Mendonça

Page 2: O Velho Testamento - Acústico & Ao Vivo

Copyright © 2014 Alessandro Mendonça

All rights reserved.

ISBN: 1496051572ISBN-13: 978-1496051578

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PREFÁCIO

Você sabe o que é um “retrônimo”? Segundo a biblioteca virtual,Wikkipedia, retrônimo é um tipo de neologismo gerado pela modificação donome original de um objeto ou conceito para diferenciá-lo de uma versão maisrecente do mesmo. Boa parte dos retrônimos são criados em função de um avanço datecnologia, que adiciona um adjetivo ou modificador ao nome do novo objetoou conceito criado, gerando a necessidade de um adjetivo contrário oucomplementar para ser adicionado ao original.

“A Primeira Guerra Mundial”, “D. Pedro I” e “telefone fixo” sãoexemplos de retrônimos. A Primeira Guerra Mundial era apenas a “GrandeGuerra” antes de eclodir a Segunda; antes de D. Pedro II, D. Pedro I era tãosomente D. Pedro e ninguém chamava o telefone comum de “telefone fixo” atéque inventassem um telefone “móvel”. Quando for nomeado um PapaFrancisco II, o Papa Francisco passará a ser conhecido por Francisco I, umretrônimo.

“Música Acústica” é uma expressão retrônima. Toda música, a princípio,era produzida a partir de instrumentos acústicos. Isso até o surgimento dosamplificadores, sintetizadores e guitarras elétricas.

Há uma palavra – bem mais conhecida – semelhante na pronúncia a“retrônimo” que é retrógrado. O Velho Testamento lhe parece assim:retrógrado, ultrapassado? Caduco? Sua mensagem lhe traz à memória um Deus irado e carrancudo?

A mensagem do Antigo Testamento pode ser comparada a uma música quefoi, por anos, executada nas igrejas com barulho em excesso, vocais estridentes,microfonia e distorções. Esse livro é um convite a uma nova experiência diantede uma música antiga. Experimente desligar os amplificadores e todaaparelhagem elétrica e ouvir as boas e velhas mensagens do VT numa versão"acústica e ao vivo".

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SUMÁRIO

1 EIS-ME AQUÉM 7

2 O DÍZIMO TÁ NO PAPO 11

3 SOB O MEDO DA NOITE 15

4 DOZE BOIS 19

5 ESQUISITOS QUESITOS 22

6 NADA COMO UM SALMO DEPOIS DO OUTRO

27

7 OS MICOS DE MICA 31

8 OS DIAS EM QUE DEUS CUIDAVA DE MIM

35

9 NADA MUDOU 39

10 NOMES, NOMES E MAIS NOMES 42

11 COBERTURA ESPIRITUAL 46

12 O QUE ACONTECE QUANDO VOCÊ ESTÁ FOR A DA VONTADE DE DEUS?

50

13 SINAIS OU CIRCUNSTÂNCIAS – O QUE ORIENTA SUA FÉ?

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14 O FATOR EFRAIM 59

15 O SUCESSO É... SER UM ESCOLHIDO! 64

16 DAVI E O ANÃO 72

17 VIVENDO ENTRE O ORDINÁRIO E O EXTRAORDINÁRIO

75

18 EXISTINDO PARA ALÉM DO 82

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RECONHECIMENTO

19 A PIRADA RELIGIOSIDADE PIRATA 87

20 SÓ AS SERPENTES SALVAM 91

21 O VÍCIO DA DOR 95

22 OUVIR A DEUS 100

23 O VINGADOR 104

24 A BOA E PACIENTE IRA DIVINA 108

25 PECADORES SEM NOÇÃO 113

26 ENQUANTO HÁ OSSOS, HÁ ESPERANÇA 116

27 O MEDO... É UM PERIGO! 121

28 DAVI, O TRI-UNGIDO 126

29 COMO TRANSFORMAR DESAPONTAMENTOS EM CONFISSÕES DE ESPERANÇA?

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30 DIAS PIORES VIRÃO 133

31 ANDARÃO DOIS JUNTOS SE NÃO ESTIVEREM DE ACORDO?

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32 O DEUS DA VIDA TODA 139

33 COVIL DE LADRÕES 143

34 PEQUENO MANUAL DE SOBREVIVÊNCIA À IRA DIVINA

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35 COM VONTADE DE DESISTIR 150

36 O DESABAFO DE DEUS 153

37 A TEORIA DA FOFOCA 160

38 DE VOLTA AO LAR 165

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39 A COPA DE NEEMIAS 169

40 AMOR, NA PRÁTICA 172

41 UM SALMISTA EMBASBACADO 176

42 AI, QUE VONTADE DE SUMIR! 179

43 PARA REI DE ISRAEL, VOTE ABIMELEQUE

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44 A TEOLOGIA DO CULTO 186

45 UM REFÚGIO CHAMADO DEUS 189

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EIS-ME “AQUÉM”

“No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi também ao Senhor assentadosobre um alto e sublime trono; e o seu séquito enchia o templo. Serafinsestavam por cima dele; cada um tinha seis asas; com duas cobriam osseus rostos, e com duas cobriam os seus pés, e com duas voavam. Eclamavam uns aos outros, dizendo: Santo, Santo, Santo é o SENHORdos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória. E os umbrais dasportas se moveram à voz do que clamava, e a casa se encheu de fumaça.Então disse eu: Ai de mim! Pois estou perdido; porque sou um homemde lábios impuros, e habito no meio de um povo de impuros lábios; osmeus olhos viram o Rei, o SENHOR dos Exércitos. Porém um dosserafins voou para mim, trazendo na sua mão uma brasa viva, que tirarado altar com uma tenaz; E com a brasa tocou a minha boca, e disse: Eisque isto tocou os teus lábios; e a tua iniqüidade foi tirada, e expiado oteu pecado. Depois disto ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quemenviarei, e quem há de ir por nós? Então disse eu: Eis-me aqui, envia-me a mim.”

Livro do Profeta Isaías, capítulo 6 (1-8)

Você já se sentiu "aquém"? Já pensou que não tinha condições deassumir alguma responsabilidade? Já se julgou incapaz ou insuficientediante de um desafio? Isso é muito comum.

Aquém – Aqui – Além: essas palavras fazem parte de uma classegramatical conhecida como Advérbio. E esses, em especial, sãoadvérbios de lugar. Os dois últimos (aqui e além) são bastante

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conhecidos e não necessitam explicação. Os usamos com freqüência.Mas o aquém quase não se usa. Por que será?

O profeta Isaías teve uma experiência mística: uma visão celestial. Isso odeixou atordoado. Ele vê o trono do próprio Deus, suas roupasesvoaçando e tomando todo o templo. Anjos que pairavam sobre Deus ecujas vozes faziam o local tremer. E Isaías ali no meio daquele cenáriofantástico. Mas ele não se sentiu confortável. Ele exclama: Estouperdido! Mas, podemos perguntar: Como é possível sentir-sedesconfortável num ambiente tão bom?

Imagine-se em uma festa granfina. Só gente da alta. Um salão cheio degente bonita, um cantor famoso fazendo um show particular, muitacomida e você com um tênis furado, uma camiseta puída, uma calça suja,cabelo desgrenhado e desodorante vencido. Como se sentiria? Você sesentiria aquém: "Não estou vestido apropriadamente, estou muito aquémdo nível dessas pessoas".

Isaías sente o desconforto do pecado. O ambiente ali não é pra ele. Éoutro nível. Ele está aquém. Ou, de um outro ponto de vista, Deus estámuito além de suas condições humanas falíveis. Ele expressa issoclaramente quando brada: "Vivo num meio de gente de boca suja! Gentede lábios impuros, boca cheia de maledicência, mentira, fofoca. E o pior:eu também sou um deles! Estou contaminado!"

Ocorre que Deus também emite um clamor: "A quem enviarei? Quem háde ir por Nós?". E Isaías responde então: "Eis-me aqui". Mas, antes deIsaías dizer eis-me aqui ele disse um eis-me aquém. Isaías já era profetaquando teve essa visão, mas a grandeza da visão o fez sentir-seapequenado, insuficiente, incapaz. Muitas vezes também nos sentimosassim. Especialmente quando nos vemos diante de algo que Deus nosoferece: um ministério, uma oportunidade, um desafio ou até mesmo aprópria conversão. Daí, olhamos para nossas limitações e dizemos: Issoaí não é pra mim. Estou aquém disso.

Duas coisas ocorrem, ou melhor seria dizer: duas coisas concorrem(posto que ocorrem juntamente) para transformar o tímido "eis-meaquém" num confiante "eis-me aqui". Isaías recebe o toque de Deus.Vem um anjo e sapeca a boca do profeta. Isso torna Isaías limpo,purificado. Suas transgressões são tiradas. Mas isso, por si só, ainda nãoseria suficiente. Não basta estar limpo, é preciso crer que se está limpo.

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Por isso o anjo não apenas toca, mas mostra. Ele diz: Isaías, veja! Isso otocou e você foi purificado. O anjo não mandou Isaías olhar os próprioslábios num espelho. Mandou-o olhar a tenaz que o havia tocado. E issoporque se nós olharmos para nós mesmos, talvez não encontremosenvidências. Por isso temos que olhar para aquilo que Deus fez. E temosque crer nisso. E Isaías manifesta essa fé quando responde ao chamadode Deus.

Sua posição é mais importante que sua condição - Sempre estaremosaquém do que Deus deseja. Nunca superaremos Suas expectativas. MasDeus, por sua graça, se importa mais com nossa posição (aqui) do quecom nossa condição (aquém). Isaías poderia ter se envergonhado com asantidade de Deus e ter fugido daquele ambiente, mas permaneceu,confessou sua iniqüidade pessoal e foi alcançado pela restauração divina.

* * *

Vestes sujas na Sala do Trono. Certamente isso não é uma situaçãoconfortável, apesar disso (se desejarmos a purificação) é melhor um sujoaqui que um limpo aquém.

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O DÍZIMO TÁ NO PAPO

Olha só o que a Bíblia conta sobre o que era feito com o dízimo e eutenho quase certeza que você não sabia!

Em Deuteronômio 14:22-29 está escrito:

Certamente darás os dízimos de todo o fruto da tua semente, que cadaano serecolher do campo. E, perante o SENHOR teu Deus, no lugar queescolher para ali fazer habitar oseu nome, comerás os dízimos do teugrão, do teu mosto e do teu azeite, e osprimogênitos das tuas vacas e dastuas ovelhas; para que aprendas a temer aoSENHOR teu Deus todos osdias. E quando o caminho te for tão comprido que os não possas levar,por estarlonge de ti o lugar que escolher o SENHOR teu Deus para alipôr o seu nome,quando o SENHOR teu Deus te tiver abençoado. Entãovende-os, e ata o dinheiro na tua mão, e vai ao lugar que escolheroSENHOR teu Deus; e aquele dinheiro darás por tudo o que deseja atua alma, por vacas, e porovelhas, e por vinho, e por bebida forte, e portudo o que te pedir a tua alma;come-o ali perante o SENHOR teu Deus,e alegra-te, tu e a tua casa; porém não desampararás o levita que estádentro das tuas portas; pois nãotem parte nem herança contigo. Ao fimde três anos tirarás todos os dízimos da tua colheita no mesmo ano, eosrecolherás dentro das tuas portas; então virá o levita (pois nem partenem herança tem contigo), e oestrangeiro, e o órfão, e a viúva, que estãodentro das tuas portas, e comerão,e fartar-se-ão; para que o SENHORteu Deus te abençoe em toda a obra que as tuas mãos fizerem.

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De acordo o texto bíblico acima o dízimo é "multidimensional". Temlições fortíssimas sobre comunhão, adoração e ação social.

Dimensão Espiritual - Litúrgica ("Perante o Senhor Teu Deus...") - aprimeira dimensão é a espiritual-litúrgica. Entregar o dízimo é algodiferente de pagar uma prestação ou uma espécie de "mensalidade daigreja". Tem um aspecto de adoração uma vez que o texto diz que deveser feito "perante o Senhor Teu Deus". É uma expressão de alegregratidão, despreendimento material e adoração.

Dimensão didático – pedagógica ("Para que aprendar a temer aoSenhor") – Entregar o dízimo também tinha uma dimensão didáticafortíssima: ensinar o temor à Deus. Hoje, a gente aprende é a ter medo:“Se você não der o dízimo, o devorador vai te surrupiar tudo!”. Mas naBíblia, na Lei (Lei cheia de Graça) o que vemos é um povo que contribuie ao contribuir aprende a temer/amar seu Deus. Ora, e por quê? PorqueDeus não quer que eu fique dez por cento mais pobre. Quer que eu fiquecem por cento mais grato. E como não ter gratidão a um Deus que dizque eu posso comprar o que quiser com meu dízimo? Deus sepreocupava com o bem-estar de seu povo a ponto de permitir cada umvender o dízimo e comprar o que “a alma desejar”, seja “vinho ouchimarrão, vatapá, pizza, churrasco ou bobó de camarão”. E isso porquehaveria israelitas que estariam longe demais do local da entrega (vs): epor uma questão de “comodidade”, Deus permitia que o sujeito nãotivesse que sair carregando aquele volume todo de comida numa viagemlonga e cansativa. Ele podia optar por vender tudo em sua cidade e levaro dinheiro num saquinho. Quando chegava ao templo, podia comprar oque desse vontade de comer. Só não podia comer sozinho, claro. Deviacompartilhar. Paulo Freire propôs a Pedagogia do Oprimido. Deuspromoveu a Pedagogia do Alimentado.

Dimensão comunitário-festiva ("Come-o ali perante o Senhor e alegra-te tua e família") - Essa é a principal dimensão da prática da entrega dodízimo. Todo ano, na época da colheita, cada israelita deveria retirar dezpor cento de sua safra, dez por cento de seu gado, de todo produto daterra, da lavoura, de todo seu lucro. A primeira ordem sobre o dízimo é:“Darás o dízimo... de tudo...”. Isso é o que se ensina. A segunda ordem(não menos importante) é: “... e perante o Senhor teu Deus, comerás o

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dízimo. Tu e tua família, teus empregados e os estrangeiros que estãocontigo”. Ou seja: todo mundo levava sua “cesta básica dizimal” para omesmo lugar. Lá encontravam-se com familiares e amigos distantes.Juntava-se a farinha do irmão Jacó com pernil de cordeiro do irmãoAnanias, mais um vinhozinho do dízimo das vides do irmão Baraque etodos comiam e bebiam. Devia ser uma grande festa! Um momentosingular de encontro e partilha. Uma grande refeição mútua. O pobrecomendo do manjar do rico, o rico comendo do jabá do pobre. Já pensouse sua igreja tivesse um big jantar todo fim de mês? Não estou falandodaquelas galinhadas frias para “ajudar na construção do templo". Jápensou no impacto social, evangelístico, comunitário?

Dimensão social ("Virá o levita... o estrangeiro, o órfão e a viúva ecomerão e fartar-se-ão") – a cada três anos, o dizimista israelita deveriarecolher seu dízimo e, ao invés de leva-lo para o templo, deveria recolhê-lo em casa para que os desamparados pudessem se servir dele. Hátambém um alerta para que não se esqueça do levita “pois não tem partenem herança contigo”. Há aqui ainda uma graça adicional de Deus: osnecessitados são protegidos do constrangimento de mendigar, de pedir. Oalimento estava ali, disponível na casa de cada israelita contribuinte. Enote que a recompensa também tem espaço aqui. Aqui a "recompensa"acontece como resultado da partilha com os irmãos: "... para que oSenhor te abençõe em toda obra que tuas mãos fizerem". Ou seja, é dignode nota, que a "benção da prosperidade" está associada justamente aodízimo que não era entregue no templo, mas que ficava em casa paraservir ao próximo!

* * *

Minha oração é para que a igreja possa reinventar-se e voltar às raízes daprática do dízimo que não servia para comprar mansões, cavalos árabes,carrões importados ou para construir catedrais, mas para pura esimplesmente juntar irmãos à mesa.

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SOB O MEDO DA NOITE

"Profecia contra Dumá: Gente de Seir me procura perguntando:Guarda, quanto falta para acabar a noite? Guarda, quanto falta paraacabar a noite? Respondo: A manhã logo vem, e com ela também vem anoite. Se quiserem perguntar de novo, podem perguntar"

(Isaías 21:11,12)

Muitos pastores atualmente gostam de confeccionar cartõezinhos deapresentação com a informação: conferencista internacional. Muitasvezes o sujeito só viajou como sacoleiro para o Paraguai para comprarprodutos e pregou para algum portenho na fronteira. Pronto! Virouconferencista internacional. Mas, internacional mesmo era o profetaIsaías. Seu ministério transpunha as fronteiras de Israel, alcançandopovos e nações como Babilônia, Etiópia e Egito, entre outras.

A esquisitíssima profecia acima foi pronunciada contra a nação de Edom.Os edomitas são aparentados dos israelitas uma vez que descendem deEsaú, irmão de Jacó. E a profecia, no seu título, é dirigida contra Dumá.Ocorre que Dumá não existe. Nunca existiu. Na verdade, o profeta fazum trocadilho com os dois nomes que, em hebraico, são parecidos. Dumásignifica “silêncio” e esse significado pode ser uma chave para oentendimento da profecia.

“Gente de Seir me procura...”

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Profecias em geral contém anúncios do futuro, promessas de bênçãos oualertas de castigos. Leia algumas em Isaías e você comprovará isso. Masa Profecia contra Dumá é absolutamente distinta: é curta, não prediznada, não cobra nenhuma postura dos edomitas, não denuncia nenhumpecado. Ainda assim é uma profecia reveladora.

“Quanto falta para acabar a noite? Quanto falta?”

A profecia (em forma de alegoria) mostra um povo incomodado com alongura da noite. Talvez sofressem de insônia, ou temessem os perigosda noite, ou o medo de um ataque inimigo repentino. Certo é que elesansiavam pelo amanhecer e isso está demonstrado na insistência dapergunta ao vigia noturno.

Há pessoas para quem a noite deixou de ser o momento do repouso, dodescanso. O silêncio da noite e sua tranqüilidade converteram-se eminimigos da alma, em promotores de aflição. Gente que não dormedireito, gente que não descansa. Da mesma forma, há pessoas para quemnão apenas a noite, mas tudo teve seu significado e propósito invertidos:o dinheiro deixou de ser um sinal de segurança para tornar-se um geradorde inquietação. O trabalho não motiva mais, a bebida não alegra mais, oscalmantes perderam o efeito, as companhias causam enfado. Pessoas quequerem que a noite acabe logo, que o sexo termine rápido, que o parentee o amigo as deixem a sós. Essas pessoas sofrem o que eu chamo dePrimeiro Efeito Dumá: a subversão dos propósitos. Ou seja, ver aquiloque trazia alegria agora trazer transtorno. Essa gente se pergunta o queperguntavam os habitantes de Seir: “Quanto falta para acabar?”

“A manhã logo vem, mas com ela também vem a noite”

Nada como um dia após o outro. Sempre ouvimos essa expressão e ausamos em geral de maneira positiva, otimista. Mas para o povo queouviu a profecia de Isaías isso não funcionava. Eles sofriam o segundoEfeito Dumá: a dor da rotina. É interessante notar que Deus não mandaIsaías dizer que vai cair uma tempestade de granizo, que uma catástrofese aproxima, que um exército vai invadir e pilhar tudo. Para algumaspessoas o verdadeiro terror está na sucessão de dias e noites, noites edias. O tic-tac do relógio é pior que o ratatatá da metralhadora. Oscastigos normalmente estão associados à privações de coisas que todosos outros tem. Mas esse castigo em especial é diferente: é o ter, mas sem

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o desfrutar. Noites e dias acontecem a todos indistintamente. Mas paraaqueles que estão sob o efeito Dumá, a resposta do guarda é aterradora:falta pouco para acabar a noite, mas não se anime, pois o dia seguintetambém traz uma noite seguinte. Ou seja, essas pessoas buscam o alívio ea única coisa que descobrem é que haverá uma pausa, um intervalo (queparecerá breve demais) e logo seus tormentos voltarão. Eles viveriam arotina de, à noite, ansiarem pelo dia. E de dia, terem a certezaamedrontadora da noite.

“Se quiserem perguntar de novo, perguntem...”

Lembra quando você perdeu algo e procurou duas, três vezes, no mesmolugar. Enfiou a mão no bolso da calça e não achou as chaves; procurouem todos os lugares e não achou. Voltou, enfiou a mão de novo no bolsoe nada. Depois alguém te pergunta: Será que não está no seu bolso? Vocêjá olhou o bolso?. Você responde que já, mas, mesmo assim,inexplicavelmente, mete a mão mais uma vez. Este inconformismo, estamesma sensação de “cavucar” o vazio em busca de algo também estavapresente naquele povo.

Aquele vigia provavelmente sabia que o povo viria no dia seguinte com omesmo questionamento. Ele, portanto, se antecipa e avisa que elespoderiam ir embora, voltar e perguntar de novo. E ele vai dizer a mesmacoisa. Eis aí o terceiro efeito Dumá – a irreversibilidade dascircunstâncias. Certos processos da natureza podem ser alterados oumesmo impedidos. Pode-se mudar o curso de um rio, represa-lo e atéseca-lo por completo. Pode-se poluir o ar e interferir no clima. Mas nãose pode impedir o amanhecer ou o anoitecer. Noites e manhãs sãoirreversíveis.

Essa profecia não oferece alternativa. Não se diz que se você arrepender-se, tudo se resolverá. Parece não haver esperança. Deus não estavadisciplinando aquele povo com tempestades, enchentes, tornados ouquaisquer outros fenômenos da natureza. O castigo era o cotidiano. Vocêpode pedir que Deus cure uma doença, extermine a fome, cancele astempestades. Mas não pode esperar noites ensolaradas e diasintermináveis. O único conselho que se pode dar é: não seja um edomita(vide Isaías 34.5) Não esteja na condição de inimigo de Deus. Pois sóDeus pode dar condições para que se olhe para a vida com esperança,para que se encare o dia com alegria e a noite com tranqüilidade.

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“De dia o Senhor me concede o seu fiel amor e de noite sua canção estácomigo” (Salmo 42:8)

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DOZE BOIS

"E enviou o rei Salomão um mensageiro e mandou trazer a Hirão deTiro... E era cheio de sabedoria, e de entendimento, e de ciência parafazer toda a obra de cobre; este veio ao rei Salomão, e fez toda a suaobra. Fez o mar de fundição, de dez côvados de uma borda até à outraborda, perfeitamente redondo, e de cinco côvados de alto...E firmava-seo mar sobre doze bois, três que olhavam para o norte, e três queolhavam para o ocidente, e três que olhavam para o sul, e três queolhavam para o oriente; e o mar estava em cima deles, e todas as suaspartes posteriores para o lado de dentro."

I Reis 7:14,23-25

Hirão era um artista. Um escultor. Por encomenda de Salomão, Hirãoornamentou todo o Templo de Jerusalém. Uma de suas obras éreveladora. Tem lições tremendas para a igreja atual. Tratava-se de umagrande piscina de aproximadamente quatro metros de diâmetro, que erachamada de "mar de bronze". Esta enorme bacia repousava sobre oslombos de doze bois também de bronze. No texto acima vemos adescrição dessa obra de arte, uma escultura religiosa colocada dentro doTemplo de Salomão. Obviamente não era um objeto de culto idolátrico.Mas, certamente, tinha um sentido espiritual a ser desvendado.

Tiramos a primeira grande revelação dessa obra enigmática a partir desua aparente falta de lógica. Afinal qual a lógica de bois sustentando ummar nas costas? Mas a "lógica divina" é a lógica do improvável, doimponderável, do absurdo. Então é absolutamente coerente com um Deusque gosta de usar o “fraco para confundir o forte”, o “tolo para confundir

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o sábio”. E que põe bois dentro do templo para transportar aquilo para oqual eles naturalmente não foram habilitados. É onde entra osobrenatural divino: capacitar o homem para fazer mais, para ir além,para “transcender” suas limitações.

Chama a atenção também o fato do boi não ser o rei dos animais.Esteticamente falando ficaria mais bonito leões no lugar de bois. Ursostalvez. Bois são comuns demais, simples demais. E isso revela outroaspecto das “obras de arte” que Deus cria: Ele prefere a simplicidade. E,para todos os efeitos, bois são mais úteis que leões ou ursos. Bois não sãoanimais de enfeite, são animais de carga, de força e de serviço.

Outro aspecto dessa obra é o fato de que nenhum boi está só. Eles nãoestão separados um do outro. Estão dispostos em grupos de três. A Bíbliadiz que o “cordão de três dobras” não se parte facilmente, que o solitáriosofre no inverno enquanto aquele que tem companhia tem com quem se“aquentar”. Os doze bois estão juntos, mas cada um tem seucompanheiro-boi mais chegado, mais próximo. A obra de Deus não écoisa pra um só. Nem Jesus esteve sozinho

Imaginando essa obra podemos perceber também que os bois sustentamo mesmo peso. O peso está equitativamente distribuído. Nenhum carregamais peso que outro. Na igreja deve ser assim também: trabalho solidáriocom cargas equivalentes para cada um. Sem sobrecargas, sem “bois” àtoa.

Os bois olham em quatro direções. Três olham para o norte, três para osul, outros três para o leste e três para o oeste. Ou seja, nenhum boienxerga tudo. Por outro lado, nenhum boi enxerga nada. Todos têm uma“visão parcial”. Na igreja também deveria ser assim: humildade noreconhecimento de que nossa visão é limitada e dependência daquelesque enxergam o que nós não conseguimos ver. Não há oniscientes noReino de Deus, tampouco há “bois cegos”, inúteis e sem visão alguma. Emais: a visão da igreja deve ser abrangente, olhando em todas as direçõesao mesmo tempo. Assim como os bois do templo.

Por fim, algo surpreendente. Cada junta de três bois (dada sua posição)não consegue visualizar as outras. Isso é significativo: na igreja nemsempre vemos todos os que estão trabalhando. Podemos ver aqueles queestão imediatamente ao nosso lado. Mas tem muita gente “segurando o

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peso” nas costas sem que tenhamos consciência. E o principal: Os boisestão dispostos em quatro grupos de três, de costas uns para os outros,olhando em direções opostas, mas fazendo a mesma coisa. Se todos osbois estivessem do mesmo lado a bacia penderia para parte semsustentação. Há pessoas no Reino de Deus que não estão do nosso lado,não estão tendo a mesma “visão” que nós e que até estão em ladosopostos, mas que estão fazendo a mesma obra: sustentando o mar nascostas.Doze bois no templo de Deus. Doze animais sem “glamour”. Trabalhamem grupo. Olham em todas as direções, nenhum vê tudo, nenhum não vênada. Dependem uns dos outros ainda que nem tenham consciênciadisso. E carregam o imponderável nas costas.

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ESQUISITOS QUESITOS

Texto: Levítico 21:1-24

Depois disse o SENHOR a Moisés: Fala aos sacerdotes, filhos deArão, e dize-lhes: O sacerdote não se contaminará por causa de ummorto entre o seu povo, salvo por seu parente mais chegado: por suamãe, e por seu pai, e por seu filho, e por sua filha, e por seu irmão. Epor sua irmã virgem, chegada a ele, que ainda não teve marido; por elatambém se contaminará. Ele sendo principal entre o seu povo, não secontaminará, pois que se profanaria. Não farão calva na sua cabeça, enão raparão as extremidades da sua barba, nem darão golpes na suacarne. Santos serão a seu Deus, e não profanarão o nome do seu Deus,porque oferecem as ofertas queimadas do Senhor, e o pão do seu Deus;portanto serão santos. Não tomarão mulher prostituta ou desonrada,nem tomarão mulher repudiada de seu marido; pois santo é a seu Deus. Portanto o santificarás, porquanto oferece o pão do teu Deus;santo será para ti, pois eu, o Senhor que vos santifica, sou santo equando a filha de um sacerdote começar a prostituir-se, profana a seupai; com fogo será queimada. E o sumo sacerdote entre seus irmãos,sobre cuja cabeça foi derramado o azeite da unção, e que forconsagrado para vestir as vestes, não descobrirá a sua cabeça nemrasgará as suas vestes e não se chegará a cadáver algum, nem porcausa de seu pai nem por sua mãe se contaminará; nem sairá dosantuário, para que não profane o santuário do seu Deus, pois a coroado azeite da unção do seu Deus está sobre ele. Eu sou o Senhor.. E eletomará por esposa uma mulher na sua virgindade. Viúva, ou repudiada ou desonrada ou prostituta, estas não tomará;

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mas virgem do seu povo tomará por mulher. e não profanará a suadescendência entre o seu povo; porque eu sou o Senhor que o santifico..Falou mais o Senhor a Moisés, dizendo: Fala a Arão, dizendo:Ninguém da tua descendência, nas suas gerações, em que houver algumdefeito, se chegará a oferecer o pão do seu Deus. Pois nenhum homem em quem houver alguma deformidade sechegará; como homem cego, ou coxo, ou de nariz chato, ou de membrosdemasiadamente compridos, ou homem que tiver quebrado o pé, ou amão quebrada, ou corcunda, ou anão, ou que tiver defeito no olho, ousarna, ou impigem, ou que tiver testículo mutilado.. Nenhum homem dadescendência de Arão, o sacerdote, em quem houver algumadeformidade, se chegará para oferecer as ofertas queimadas do Senhor;defeito nele há; não se chegará para oferecer o pão do seu Deus.

Em 2007 foi lançado nos EUA o livro The Year of Living Biblically, dojornalista A. J. Jacobs. Nele, o autor conta como viveu (ou tentou viver)literalmente todas as mais de 700 regras prescritas em toda Bíblia.Provavelmente ninguém comprará o livro para saber como é viveramando o próximo, dando a outra face ao inimigo e repartindo tudo. Ointeressante é a aparente falta de sentido em algumas regrascomportamentais e em punições extremas como amputações eapedrejamentos.

O capítulo 21 do livro de Levítico também fala de esquisitices.Especificamente sobre quesitos que deviam ser observados pelossacerdotes e pelo Sumo Sacerdote de Israel. Tratam-se de prescriçõesestranhas. Por que Deus se importaria com isso? Era tão importanteassim?A primeira questão a ser observada e, provavelmente, a chave para acompreensão desse texto é que as proibições e restrições impostas aossacerdotes não eram à coisas “pecaminosas” e sim à coisas “comuns” –aquilo que outros podiam fazer, comer, usar; lugares que podiamfreqüentar, mas que não eram permitidos a um sacerdote ou sumosacerdote – Por quê essa “diferença”?

As restrições tinham a ver com o conceito de SANTIDADE. O conceitovétero-testamentário de santidade continha as idéias de separação econsagração. Os sacerdotes eram representantes de Deus ante os homens,

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e dos homens diante de Deus. Eram pessoas “separadas” da gentecomum. As restrições a que eram submetidos enfatizavam essaseparação. Isso não é tão estranho para nós ocidentais do século XXI.Basta você se lembrar de alguma festinha de aniversário onde pediu aoanfitrião para “preparar um pratinho” para você levar para alguém. O queocorre nessas situações? O dono da festa “separa” alguns quitutesgeralmente colocando-os em um prato “diferente”. Todos os salgados edoces de uma festa são para todos os convidados da festa, exceto aquelesque foram “retirados” e “reservados especificamente” para alguém.Tomamos medidas para “diferenciar” aqueles doces e salgados dosdemais. Da mesma forma Deus separava seus ministros. E a separaçãonão consistia em que eles deviam “pecar menos”. Deus não tem uma listade pecados separada para cada “classe” de pessoas. A Lei Divina valepara todos. Igualmente. Pecado é pecado tanto para o religioso nãopraticante, quanto para o agnóstico ou para o fiel observador da Lei.Pecado é algo que ofende a Deus. Venha de quem vier. Então osacerdote, para “demonstrar” sua separação, abstinha-se de coisas queeram lícitas a qualquer outro. Eis o primeiro aspecto do conceito da“santidade sacerdotal”: Santidade como diferença. Diferença do que écomum, usual, corriqueiro, ordinário. O Deus de Israel era incomum eextraordinário. E Seus sacerdotes deviam representar isso.

Um outro aspecto do conceito da santidade é relacionado ao“significado”. Santificar é dar às coisas, momentos e locais significados esentidos que eles não possuem normalmente. Um anel de noivado é umajóia bastante comum. Exceto para os noivos. Para eles é “especial”. Nomomento em que foi retirado da loja e colocado nas mãos dos noivosdeixou de ser uma mercadoria. Ganhou significado. Tornou-se um“símbolo” de amor e comprometimento. Ao mesmo tempo seu usotambém tornou-se “restrito”. Não pode ser usado por outras pessoas, nãodeve ser retirado do dedo, não deve ser usado como peça deornamentação apenas, não pode mais ser vendido. Em certo sentido,tornou-se “sagrado”.

Lugares comuns como um restaurante, um jardim ou um banco de praçapodem ter um significado especial para você. Aquele objeto que vocêguarda com carinho, aquela pétala seca de uma rosa que você ganhou ouo papel amassado que um dia embrulhou um bombom ganho de alguémespecial. Coisas comuns com significados incomuns. Por serem especiaissão guardadas, tem seu uso restrito (ou sequer são usadas para não se

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desgastarem), não são vistas por qualquer um, não são mais “usadas”para seus propósitos originais. Adquiriram o que chamamos detranscendência. São “mais do que aparentam ser”. Nós humanos fazemosisso freqüentemente, mas estranhamos que Deus também o faça com aspessoas que escolhe.

Santidade tem a ver com “possuir um sentido além” - Os atos dosacerdote se “revestiam” de um sentido divino. O sacerdote carregava aimagem do próprio Deus. As “esquisitices” ressaltavam as diferenças,ilustravam o contraste entre nossa posição e a posição divina. Emcontraste com o nosso tempo, onde as coisas (e até pessoas) sãodescartáveis, aquela época e aqueles esquisitos quesitos nos mostram quea santificação faz com que “coisas” deixem de ser coisas para setornarem “símbolos” e que ser santo é mais do que “ser” apenas.I

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NADA COMO UM SALMO DEPOIS DO OUTRO

“o Senhor é o meu pastor, nada me faltará” (Salmos 23:1)

Este é um dos versículos mais conhecidos da Bíblia. É um dos muitosque Davi compôs. E Davi também é o autor dos Salmos 21 e 22 que oantecedem. E ainda que não possamos estabelecer uma ordemcronológica criteriosa para os salmos, ainda assim podemos tirar grandeproveito de sua ordem seqüencial. Conhecer e compreender o conteúdodos Salmos 21 e 22 nos farão ver o Salmo 23 sob uma nova perspectiva.

No Salmo 21, Davi está esfuziante de alegria. É o salmo da plenitude. Euo costumo chamar de Salmo 100%, pois todos os termos que o salmistausa para expressar sua relação com Deus falam de totalidade: 100% dealegria (vs 1 – “Na tua salvação grandemente se regozija o rei”), 100%de orações respondidas (vs.2 – “Concedeste-lhe o desejo do seu coraçãoe não negaste a petição dos seus lábios”), 100% de bênçãos (vs.3 – “oproveste de bênçãos sem medida”), 100% de reconhecimento público(vs. “... de esplendor e majestade o cobriste”), 100% de vitórias (vs. 5 -“Pelas vitórias que lhe deste, grande é a sua glória” e VS 3 – “... em suacabeça puseste uma coroa de ouro puro”); 100% de longevidade (VS.4 –“Vida te pediu e lhe deste vida para sempre e eternamente”). E mais:Davi confiava no Senhor a ponto de considerar-se inabalável (VS. 7 –“por causa da tua misericórdia, jamais serei abalado”). E quanto aosinimigos, Davi os considerava extintos. Ele cria que Deus faria“churrasquinho” deles (VS. “...farás deles uma fornalha ardente... O

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Senhor os devorará, um fogo os consumirá”.

Olhando para este Salmo me pergunto: quem conseguirá viver nessenível de plenitude espiritual? Você vive assim, 100% como o rei Davi?Todas suas orações são respondidas e seus inimigos viraram fertilizanteem pó? Acho difícil. Acho até que para o próprio Davi isso era difícil.Sua alegria em Deus era genuína e sua expressão de gratidão também.Mas, talvez, sua perspectiva fosse otimista demais e realista de menos.

Inabalável? Veja então o Salmo 22:

“Deus meu! Deus meu! Por que me desamparaste? Por que te demorasem me salvar?” (VS.1)

Cadê o Davi do Salmo 21?

“Meu Deus, eu clamo de dia e não me respondes; clamo de noite e nãorecebo alívio!” (VS.2)

Se o salmo 21 é o salmo da alegria, o 22 é o da agonia. Davi se senteabandonado por Deus, sem resposta para as orações. Davi não se vê maiscomo homem, tem a auto-estima de uma ameba órfã (“Sou verme e nãohomem” – VS 6). Virou motivo de piada e desprezo (“Caçoam de mim...lançam insultos...” VS. 7). Davi, outrora inabalável, sente-se cercado (“...touros me cercam... como leões escancaram a boca contra mim” – VS.12e 13). Davi amarelou (“Como água me derramei... VS.14) e sua força“secou-se como um caco de barro” (VS.15) e seu coração pleno deconfiança no Salmo 21 “derreteu-se como cera” (VS.14) no Salmo 22.

Estaria Davi esquizofrênico? Seria um transtorno bipolar? Num dia,eufórico. Noutro, depressivo. Nada disso. Davi era apenas intenso emseus sentimentos. Ele é o autor de ambos os salmos e vivenciou ambas assituações. Davi era humano como nós. E tinha dias de Salmo 21 e dias deSalmo 22, como nós também os temos. O que aprendemos é que depoisdo Salmo da Alegria e do Salmo da Agonia, vem o Salmo 23: o salmo doequilíbrio.

Agora ao lermos os conhecidos versos do Salmo 23, podemos percebercomo Davi contempla a vida sob uma ótica menos ufanista, nada

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pessimista e absolutamente realista e cheia de fé.

No Salmo 21 Davi ignorava os inimigos, no 22 estava cercado deles emorrendo de medo. No 23, ele até é capaz de fazer um banquete na frentede todos e comer tranquilamente (‘Preparas uma mesa na presença dosmeus adversários’ – VS.5). Nem os teme, nem deseja que eles viremfumaça. Está ciente deles, mas pode comer a vontade seu lombinho decordeiro assado. No Salmo 21 Davi recebe uma coroa de ouro puro. No23, o que tem na cabeça é algo bem menos chamativo ou atraente (“Ungea minha cabeça com óleo – VS. 5). No Salmo 23 Davi é capaz de ver-seandando num vale escuro e sombrio. Mas não se vê sozinho,desamparado (“Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, nãotemerei mal algum pois Tu estás comigo...” – VS.4).

* * *

No Livro de Salmos encontramos dois extremos. E, curiosamente, sãoextremos próximos. Habitam lado a lado. Nossa percepção da vida devese resguardar deles: nem somos invencíveis, nem desamparados. Somosfalíveis e limitados, mas muito bem acompanhados. Como o salmistacom seu Pastor.

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OS "MICOS" DE MICA

E havia um homem da montanha de Efraim, cujo nome era Mica.Juízes 17:1

O livro de Juízes conta a saga de vários heróis. Líderes como Gideão,Sansão e Débora. Mas os capítulos 17 e 18 contam uma história nadainspiradora. Seus personagens: um filho que rouba da própria mãe; umamãe idólatra e leniente e um sacerdote fajuto e mercenário. Personagensque são antítese daqueles que Deus levantava como juízes para livrarIsrael. Mesmo assim, há muito que aprender (a não fazer) com eles. Suashistórias mostram como nos prevenirmos de alguns perigos bastantecomuns.

Mica roubava da própria mãe. Um dia ele a ouve rogando pragas sobre oladrão que lhe havia surrupiado treze quilos de prata (1.100 siclos namedida da época). Mica, o filho-ladrão-amaldiçoado, fica com medo econfessa à mãe que a prata estava com ele:

… As mil e cem moedas de prata que te foram tiradas, por cuja causalançaste maldições, e de que também me falaste, eis que esse dinheiroestá comigo; eu o tomei. Então lhe disse sua mãe: Bendito do Senhorseja meu filho

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Juízes 17:2

Primeiro “mico”: Tentar recompensar a Deus - A mãe o perdoa deimediato. Agradece à Deus e até abençoa o filho ladrão arrependido:“Bendito do Senhor seja meu filho” (v.2). Mica, então, devolve para amãe, mas esta não aceita e resolve consagrar toda aquela prata à Deus.Só que escolhe um jeito estranho de fazer isso: “Dedico solenementeesse dinheiro ao Senhor, para fazer uma imagem esculpida...” (v.3). Suaalegria foi genuína, mas as conseqüências, desastrosas. Ela devolve todoo dinheiro a Mica incumbindo-o de fazer uma imagem. Depoisarrepende-se, pega a prata de volta e separa apenas 200 das 1.100moedas de prata e dá a um ourives que faz uma imagem (v.4). Às vezes,na alegria de uma vitória recente, caímos no erro de tentar recompensar aDeus. Consagramos o carro, a casa, o primeiro salário de um empregoque almejávamos. Depois da precipitação, queremos desconsagrar tudoou uma parte. Pedimos perdão e esperamos que Deus entenda queagimos na empolgação. Essa seqüência: benção – alegria – empolgação –precipitação – arrependimento é bastante comum: Herodes e Herodias,Uzá e a Arca da Aliança, Jefté e seu voto. Parafraseando o apóstoloPaulo que nos orienta a “irar e não pecar”, eu diria: “Alegrai-vos e nãopequeis”.

Segundo “mico”Acumular aquilo que era para compartilhar

A mãe de Mica recebera a benção de ver restituída uma grande quantiaem dinheiro. E o que ela faz como forma de gratidão? Transforma odinheiro em um ídolo. Detalhe: Mica era um colecionador deles. Tinhatantos que até havia feito um pequeno santuário-depósito (v.5). Dinheiropode ser benção. Mas a prosperidade bíblica é a prosperidade da partilha,não do acúmulo. Quando o dinheiro vira ídolo, a conta bancária, o bolsoe o cofrinho se transformam em templos de Mica.

Terceiro “mico”Inventar fórmulas que “assegurem” as bênçãos de Deus

As pessoas não se contentam com o invisível, intangível e imensurável.Confiar em Deus apenas parece ser arriscado demais. É preciso se

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garantir. Para uma mente religiosa calcada em ritos e fórmulas se umafórmula funciona é preciso então se construir algo que perpetue a vitória.É o que Mica faz. Não satisfeito com uma capelinha particular eleresolve fazer um manto sacerdotal e “consagrar” o próprio filho comosacerdote particular (v.5). Assim é que, por vezes, tentamos prolongar adata de validade da benção de uma forma artificial. Tentamos repetir afórmula ou o rito que deu certo uma vez, a exemplo dos sete filhos deCeva que tentaram expulsar demônios à moda de Paulo, embora sem a féde Paulo.

Quarto “mico”Depositar a confiança naquilo que consideramos ser o canal da

benção.

Geralmente, ao invés de confiarmos na fonte da benção que é Deus,depositamos nossa segurança nos meios: a profeta, o pastor, a campanha,a Bíblia aberta, a unção, o sacrifício, o dízimo e toda sorte de mandingasevangélicas. Ocorre que, no caso de Mica, pouco tempo depois apareceum levita peregrinando por lá. E o levita descobre Mica e sua“igrejinha”. Mica pensou: “Perfeito!” E propôs um salário, casa, comidae roupa lavada para o jovem levita se tornar seu sacerdote particular(v.10). O filho de Mica, então ocupante do posto, tomou um pé atrás eperdeu a vaga assim como os músicos de nossas igrejas quando chegaalguém com mais cacife. Mica passou de um ídolozinho para umacoleção, de uma coleção para um santuário e daí para um santuário comsacerdote; e então de um sacerdote “paraguaio” para um sacerdote-levita.Se nossa confiança, nossa fé e segurança estão depositadas nos meios enão no autor das bênçãos, nós sempre acabaremos por trocá-los poroutros que se apresentem mais poderosos e confiáveis. Essa é ainfidelidade anunciada do idólatra. Mica não sabia, mas o levita “não eraassim uma Brastemp”. Levitas formavam uma classe de auxiliares dotemplo e dos sacerdotes. Necessariamente deviam pertencer a tribo deLevi. Não era o caso deste, que era da tribo de Judá (v.7). Mica acaboutrocando seis por meia-dúzia. Seu filho, pelo menos, era um falsárioassumido. Enquanto o levita peregrino era um picareta disfarçado.Resultado: tempos depois um grupo de soldados danitas passa por ali eencontra o levita de Mica e faz-lhe uma proposta irrecusável: “Que teparece melhor? Servir como sacerdote uma tribo inteira de Israel ouapenas a família de um só homem?” (v.19). O levita fajuto não pensou

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duas vezes. Juntou suas coisas e partiu para a tribo de Dã. Já Mica, ficousem ídolos, sem manto e sem sacerdote. Dá até pra imaginar o filho/ex-sacerdote olhando para o pai e dizendo ou pensando: Bem feito!

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OS DIAS EM QUE DEUS CUIDAVA DE MIM

“Como tenho saudade... dos dias em que Deus cuidava de mim...” Jó 29:2

Jó foi um modelo de fé e integridade. “Homem que teme a Deus e evita omal”, palavras do próprio Todo-Poderoso. Mas não era perfeito. Jóenganou-se acerca de seus amigos, de si próprio e de Deus. Algumas desuas considerações nos levam à interpretação de que Jó cometeu um erromuito comum: crer na imutabilidade das coisas e descrer da constânciade Deus. Com Jó aprendemos que Deus cuida de tudo em nossas vidas:inclusive de nossas perdas.

“Eu pensava: morrerei em casa, e os meus dias serão numerosos comoos grãos de areia...” (Jó 29:18)

Não há situações definitivas em nossa vida (para o Bem ou para oMal) - aconteça o que acontecer em nossas vidas, tudo é transitório: bonse maus momentos. E isso é de uma obviedade tão absoluta queimpressiona o fato de Jó e muitos de nós ignorarmos essa verdade.Senão, vejamos: Jó via-se numa situação tão definitiva, tão segura, tãoimutável que era capaz de visualizar sua aposentadoria, uma vida longa euma morte tranqüila em casa, rodeado pelos amigos e familiares. Esse foiseu primeiro engano.

“Eu pensava: Minha glória se renovará em mim e novo será o meu arcoem minha mão” (Jó 29:20)

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Não há reconhecimento, fama, honras e aplausos definitivos nessavida - Jó se via “pelos olhos dos outros” como um ser insubstituível,indispensável, essencial e cheio de dependentes. Ele se via como aqueleque completava a vida dos limitados (“Eu era os olhos do cego e os pésdo aleijado...” 29:15); como o “Getúlio Vargas do pedaço” (“Eu era o paidos necessitados...” 29:16), como o Van Damme dos oprimidos (“Euquebrava as presas dos ímpios e dos seus dentes arrancava as suasvítimas.” 29:17). Seus discursos, os homens escutavam “em ansiosaexpectativa, aguardando em silêncio” (29:21). Até seu sorriso era objetodo desejo (“Quando eu lhes sorria, mal acreditavam; a luz do meu rostolhes era preciosa.” 29:24). Jó era uma versão gospel de Antônio CarlosMagalhães: ninguém tomava decisões sem o consultar. Seus conselhoseram essenciais (“Era eu que escolhia o caminho para eles, e meassentava como seu líder; instalava-me como um rei no meio das suastropas; eu era como um consolador dos que choram” 29:25). Ter umaauto-estima elevada é ótimo. Mas Jó deixou-se embriagar de si mesmo.Tomou um pileque de bajulação e achou que sua “glória” se renovariadia após dia, que não havia prazo de validade para sua fama. Estavaenganado.

“Quando eu esperava o bem, veio o mal” (Jó 30:26)

Não há fé definitiva nessa vida – Não há fé inabalável, não há crençaque não titubeie, que não vacile em algum momento. Nossa fé éimperfeita, limitada, inacabada. Assim que recebe aquele “pacote de másnotícias”, Jó faz uma declaração belíssima, cheia de fé serena: “Nu sai doventre de minha mãe e nu voltarei. O Senhor deu, o Senhor tomou.Bendito seja o nome do Senhor” (1:21). E em seguida repreende aesposa: “Aceitaremos apenas o bem dado por Deus e não também omal?” (2:10). E o testemunho bíblico é enfático: “Em tudo isso Jó nãopecou com seus lábios” (2:10). Mas logo no capítulo três, depois de setedias de silêncio, Jó desabafa: ‘Por que não morri ao nascer?’ (3:11) e emseguida diz: “O que eu temia veio sobre mim; o que eu receava meaconteceu. Não tenho paz, nem tranquilidade, nem descanso; sóinquietação” (3:26).

A história de Jó é uma história repleta de alternâncias. E alternâncias quese sucedem em circunstancias nas quais nenhuma mudança era esperada.Seus filhos “costumavam dar banquetes em casa...” (1:4) mas acabaram“engolidos” todos por um só trágico golpe do destino. Jó madrugava para

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oferecer holocaustos em favor dos filhos (“Essa era a prática constantede Jó”). Mas a constante de Jó tornou-se coçar as feridas com cacos detelha e lamentar-se dia e noite. Festas e sacrifícios constantes,prosperidade e honrarias constantes, fé constante. De repente, tudo se foi.Tudo que parecia “definitivo”.

Em meio a tantas alternâncias, tanta diluição do que era definitivo, sóuma coisa não mudou em momento algum: o cuidado de Deus paracom Jó. O terceiro engano de Jó foi duvidar disso. Disse ele:

“Como tenho saudade... dos dias em que Deus cuidava de mim...” (Jó29:2)

Jó via-se desassistido do cuidado divino. Para ele, quando tudo ia bemera porque Deus estava cuidando. Acabou-se o bem, acabou-se o cuidadotambém - essa era a lógica de Jó. Mas, o que ele não sabia era que suavida estava “garantida”. Havia um limite para a ação do Mal na vida deJó.

Como Jó, também tendemos sentir que Deus dá uma cochilada aopermitir que a calamidade nos encontre. Especialmente quando nãoencontramos razão aparente para o sofrimento. É difícil crer, mas averdade é que perdas, sofrimentos e dissabores fazem parte do cuidadode Deus. E, ao meu ver, a maior lição da história de Jó é lembrarmo-nossempre que vivemos num mundo que muda sempre e que cremos numDeus que não muda nunca. E não o contrário.

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NADA MUDOU

“Lançaram fogo no teu santuário. Profanaram, derrubaram até o chãoa morada do teu nome... Queimaram todas as sinagogas de Deus naterra. Não vemos mais nossas insígnias, não há mais profeta; nem háentre nós alguém que saiba até quando isto durará. Até quando, óDeus...?”

Salmo 74:7-10

Como podemos saber se Deus está presente em nossas vidas? Quais sãoas evidências de Sua presença? Não existe nenhum tipo de medidor paraatestar isso, nada como um “divinômetro”, por exemplo. Mas hásituações que nos fazem sentir que Deus está distante ou indiferente. OSalmo 74 mostra uma conjuntura de perdas que sinalizavam isso. Otemplo fora profanado, queimado e posto por terra; as sinagogasdestruídas, os sinais removidos. Não havia mais profeta nem quempudesse dizer quanto tempo aquilo iria durar.

A perplexidade do salmista Asafe é comum à nós quando tambémsofremos perdas. Especialmente quando as perdas são de coisas quefizemos para ou em nome de Deus. Perdas de coisas sagradas. Por queDeus deixaria o Inimigo destruir o que fizemos em Seu nome?

Mas, de fato, isso pode acontecer. O que nós fazemos para Deus pode serdestruído, roubado, vilipendiado. Mas o salmista descobre que o queDeus faz para nós inimigo algum destrói. Diz ele: “Teu é o dia e tua é anoite... a lua e o sol. Estabelecestes os limites da terra; verão e inverno tuos formaste” (74:16,17).Ladrão algum pode roubar as manhãs e noites,

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as estações, os leitos dos rios ou os limites da Terra. Nossas obras,nossos feitos e projetos são temporais, finitos; as obras de Deus sãoeternas. Quando sofremos perdas daquilo que construímos para Deus,podemos olhar as obras que Deus construiu para nós e nos consolarmos.Como saber se Deus está presente? As marcas da Presença de Deus emnossas vidas são as marcas daquilo que Ele fez. Podemos até contestar aaparente inatividade de Deus em nossa vida. Mas o Salmo 74 mostra quehá três coisas incontestáveis:

Olhe para a Natureza. Não se pode contestar que Deus continuaagindo na natureza (74:15-17). O sol não faz greve, a lua não fazboicote de energia, o mar se abre quando assim ordenado, a terra respeitaseus limites. A natureza (ao contrário) do homem possui uma obediênciamilenar.

Olhe para o Passado. Não se pode contestar a ação de Deus nahistória (74:13-15). O que Deus fez, feito está. Não dá para desdividir oMar Vermelho. Inimigos já foram derrotados na história da nossa vida.Não podemos ‘desesbagaçar’ a cabeça dos monstros marinhos e leviatãsque Deus esbagaçou para nos salvar.

Olhe para o lado. Não se pode contestar a ação de Deus na vida dosoutros (74:12). Viaje pelo mundo e se não tiver dinheiro, dê um passeioaté a casa do irmão da esquina, da igreja vizinha, do bairro vizinho epergunte: Deus parou? Deus sumiu? Se aposentou? Ou Deus ainda estáagindo por essas bandas?

* * *

Finalmente podemos dizer: Orar não garante que suas perdas serãoreparadas. Mas garante que seus olhos serão abertos. O salmista não teveseu templo restaurado quando orou, não teve uma resposta de Deusquando orou. Mas, quando orou, subitamente, mudou o tom da oração epassou do questionamento para a afirmação, da dúvida para confissão, daangústia para a esperança. Parou de olhar só para suas perdas e passou acontemplar a presença de Deus ao seu redor. Sua convicção de fé estápresente no versículo doze: “Ó Deus, Tu reinas desde a origem”. Osalmista descobriu que, conquanto aquilo que para ele era sagrado (otemplo, a profecia e os sinais) estivesse destruído ou ausente, Deus aindaera o Rei da Natureza, O Salvador de toda terra e o Senhor da História.

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De fato, nada havia mudado.

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NOMES, NOMES E MAIS NOMES

A Noemi nasceu um filho. E deram-lhe o nome de Obede. Este é o pai deJessé, pai de Davi. Estas são, pois, as gerações de Perez: Perez gerou aHezrom, E Hezrom gerou a Rão, e Rão gerou a Aminadabe, EAminadabe gerou a Naassom, e Naassom gerou a Salmom, E Salmomgerou a Boaz, e Boaz gerou a Obede, E Obede gerou a Jessé, e Jességerou a Davi.

Rute 4:17-22

No seminário de teologia aprendi que a Bíblia é totalmente inspirada.Chamamos a isso de INSPIRAÇÃO PLENA das Escrituras. É um dogmacristão e deriva da convicção de que cada porção, cada versículo, cadavírgula e cada til das Escrituras têm uma razão de ser inspirada por Deus.

Sempre acreditei nesse princípio. Mas tinha muita dificuldade deentender o quê havia de proveitoso na leitura de textos genealógicos, porexemplo. Esses textos basicamente podem ser resumidos numa fórmulasimples: um nome + o verbo gerar + outro nome + o verbo gerar. Épraticamente uma dízima periódica!

Sei que para um judeu do tempos do Antigo Testamento, e mesmo paraos judeus contemporâneos, é muito importante a genealogia, a tradiçãofamiliar, a raiz ancestral. Mas, para mim e para outros cristãos

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ocidentais, pergunto: O que se pode aprender com isso?

Um dia resolvi me dedicar e tentar achar um sentido. Descobri vários!

A síntese da vida é nascer e produzir- Apenas uma coisa é dita acercade cada personagem nesse texto: de quem ele nasceu e a quem ele gerou.Creio que isso seja, de fato, o que vai valer no fim das contas. Poucoimportará se você foi um rei como Davi, ou uma prostituta como Raabe.Haverá um dia em que o que vai contar é se você nasceu do Espírito e sevocê gerou no Espírito. No texto não há referência a quem só nasceu,mas não gerou ninguém. Tampouco se fala de quem nasceu "do nada",brotou num pé de jaca ou caiu do céu. Todos somos "derivados", todossomos procedentes de alguém. Não iniciamos nada sozinhos, nãochegamos aqui do nada.

Somos limitados - Ninguém não morreu. Ninguém nasceu duas ou maisvezes. Ninguém escolheu de quem nascer ou a quem gerar. Isso meensina que sou um ser limitado. Não possuo o poder de renascerfisicamente. Se perder a oportunidade de produzir frutos aqui e agora,não terei outro ventre para me gerar e me parir para uma novaoportunidade.

Somos iguais - Aprendi também uma lição sobre humildade. Nesse textohá pessoas famosas e cheias de feitos sensacionais como Davi e Salomãoe outras quase desconhecidas como Obede e Esrom. Um dia, não importao que você tenha feito, seu nome aparecerá indistintamente ao lado deanônimos e famosos, sem qualquer menção a seus talentos, títulos econquistas.

Somos seres relacionais – Ninguém aparece sozinho no texto. Ninguémnasceu de uma goiabeira. Todos estão vinculados a alguém. A máxima

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filosófica “Penso, logo existo” poderia ser parafraseada em: “Pertenço,logo existo”. Tudo o que somos, somos por causa de nossas relações como próximo. Sem o outro, não somos nada. Não há rei e plebe, pai e filho,rico ou pobre, vencedor e derrotado. Certa vez assisti a um filme onde oinferno era retratado como um quarto branco sem portas, janelas e semabsolutamente ninguém além do condenado. Uma solitária eterna.Alguém que viva assim, já não vive mais. Uma solidão dessa magnitudeequivaleria à própria inexistência.

Devemos dar frutos – A principal lição que tive: o sentido da vida éGERAR. É dar fruto. E digo isso especialmente no sentido espiritualposto que há pessoas que não podem ter filhos. Mas todos podem edevem frutificar. Ninguém existe para si mesmo. De fato, nada noUniverso existe como fim em si mesmo. Tudo possui uma função paraalém de si, para o outro. Mas, o ser humano insiste em querer viverapenas em torno de si e quer que os outros também orbitem em tornodele. Talvez o Livro da Vida seja assim como uma genealogia bíblica: Láconstarão os nomes. Quem nos gerou e a quem nós geramos. Semmenção a inférteis.

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COBERTURA ESPIRITUAL

A grande questão é: o que você faz, por onde anda, o que planeja; essascoisas tem "cobertura espiritual"? Deus está com você nisso?

Quando falamos em "cobertura" me vêm a mente três exemplos: planosde saúde, celulares e ações militares. Todos esses exemplos têm emcomum esse aspecto: a cobertura.

É a cobertura que me dá a sensação de segurança. Se adoecer, tenho umplano de saúde com ampla cobertura. Se estiver num deserto, fico seguropois meu celular tem cobertura. Se estiver em uma guerra, meuscompanheiros me darão cobertura numa investida contra o inimigo.

O que regula a cobertura nos exemplos acima é um contrato (no caso dosplanos de saúde e de telefonia) ou uma ordem ou uma estratégia no casode uma ação militar. E no plano espiritual? Em que condições Deus te dá"cobertura"? Como saber?

A Bíblia possui diversos exemplos de situações onde HÁ e onde NÃOHÁ cobertura espiritual. Vamos estudá-los:

O QUE NÃO GARANTE COBERTURA ESPIRITUAL (embora amaioria pense o contrário):

EXPERIÊNCIA NÃO GARANTE COBERTURA (Jz 16.20) – Sansãopensou que se livraria dos filisteus como tantas vezes outrora fizera.

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Mas, desta vez, ele estava careca. Seus cabelos longos, marca de seu votode nazireu, haviam sido cortados por sua amante Dalila. Sansão perderao senso da presença de Deus e confiara em seu scout apenas. Acabousem mulher, sem cabelo, sem os olhos e preso.

BOAS COMPANHIAS NÃO GARANTEM COBERTURA (II Cr18.3) – O Rei Acabe (rei de Israel) quer ir a guerra. Ele gostaria de ter aproteção divina nessa empreitada, mas sabe que não goza de boareputação junto ao Todo Poderoso. O que faz então? Chama um outro reique seja um fiel seguidor do Senhor (no caso Josafá, rei de Judá). Acabepensou que, estando acompanhado de um homem temente à Deus,nenhum mal o acometeria e ele seria bem sucedido na batalha. Os doisforam à guerra juntos. Perderam vergonhosamente; Josafá escapou porpouco e Acabe foi morto por uma bala perdida (flecha perdida, naépoca). Boas companhias não te garantem espiritualmente.

SACRIFÍCIOS E BOAS INTENÇÕES NÃO GARANTEMCOBERTURA (1Sm 15.18-22). O Rei Saul foi à guerra, venceu e pegouos despojos (gado, mantimentos, objetos preciosos) e trouxe consigo.Detalhe: Deus havia determinado que Saul não trouxesse nada doterritório inimigo. A desculpa de Saul: peguei para ofertar ao Senhor omelhor do despojo. O que Saul tentou fazer foi uma lavagem de dinheiroà maneira da época. Pegou recursos ilegais (posto que Deus o proibira) etentou "legalizar" consagrando à Deus. E o resultado disso foi que Saul,como castigo, perdeu o trono pouco tempo depois.

MAIORIA NÃO GARANTE COBERTURA (Js 7.3-5). Mais um casode guerra. Dessa vez Josué manda espiões a cidade de Ai. Ele haviaacabo de comandar uma grande vitória sobre Jericó (com a queda dasmuralhas que todo mundo já conhece). Os espiões trouxeram a notíciaque Ai era tão pequena e insignificante que Israel nem precisaria mandaro exército todo. Confiaram na maioria e, consequentemente, deixaram deconfiar no Senhor. Resultado: perderam feio.

O que há em comum nesses episódios? Todos dizem respeito a pessoasque conheciam ao Deus verdadeiro e que precisavam enfrentar um

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inimigo numa batalha. Também temos nossas batalhas diárias equeremos que Deus nos ajude, que nos dê cobertura. Cabe a nós,portanto, fazer um minucioso auto-exame. Experiência, boascompanhias, boas intenções, maioria e popularidade podem ser (e são)muito importantes. Mas no que diz respeito ao reino espiritual, nadadisso é determinante. O que é determinante para termos coberturaespiritual em nossos empreendimentos é: estarmos dentro da vontade deDeus.

TEMOS COBERTURA GARANTIDA SEMPRE:

COBERTURA PERMANENTE DE SALVAÇÃO QUANDO NOSCONVERTEMOS (Is 61.10)

QUANDO OBEDECEMOS A UM COMANDO DIVINO (Js 1.9)

QUANDO BUSCAMOS A DIREÇÃO DIVINA (II Cr 20.12-17)

QUANDO NOS ARREPENDEMOS E SOMOS PERDOADOS (Sl 85.2)(Pv 28.13)

QUANDO HÁ INTERCESSORES A NOSSO FAVOR (Pv 11.11) (Es4.15,16) (Ex 17.8-13)

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O QUE ACONTECE QUANDO VOCÊ ESTÁ FOR ADA VONTADE DE DEUS?

O que acontece quando você está fora da vontade de Deus?

Você está vivendo a vontade de Deus para sua vida? Você está no lugarque Deus quer? Ou você se sente desnorteado, sem rumo?

Algumas vezes nos sentimos deslocados. Certos acontecimentos nos dãoa sensação que tomamos o caminho errado ou que paramos quandodeveríamos ter seguido em frente.O patriarca Jacó passou por situação semelhante. Jacó estava no lugarerrado, na hora errada e o resultado foi catastrófico.

Jacó, por revelação divina, resolve deixar suas responsabilidades junto àLabão e partir para Betel (Gn 31: 3,13). A princípio Jacó obedeceu àrevelação: “Então, se levantou Jacó e... levou todo o seu gado e toda asua fazenda que havia adquirido... para ir a Isaque, seu pai, à terra deCanaã". (Gn 31: 17,18). Mas Jacó muda seus planos e seu roteiro quandode seu encontro com seu irmão Esaú. Jacó prometera à este: “Passe osenhor adiante... e eu irei... pouco a pouco... conforme o passo do gado...e dos meninos, até que chegue a meu senhor, em Seir”. Apesar de suadisposição inicial de encontrar-se com o pai; apesar de direção de Deus;apesar da promessa de acompanhar o irmão Esaú à Seir, Jacó tomououtra direção: “Jacó, porém, partiu para Sucote, e edificou para si umacasa...” (Gn 33: 17).

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Em Gênesis 34, acompanhamos o resultado de se estar fora da vontadedivina.

Quando você está fora da vontade de Deus, os problemas vêm em“efeito cascata”. - a filha de Jacó, Diná, é estuprada pelo filho doprefeito da cidade (34:2); os filhos de Jacó armam uma cilada para sevingarem (34:13); dois filhos de Jacó promovem um genocídio: "... osdois filhos de Jacó, Simeão e Levi, irmãos de Diná, tomaram cada um asua espada, e entraram afoitamente na cidade, e mataram todos oshomens. Mataram também ao fio da espada a Hamor, e a seu filhoSiquém; e tomaram a Diná da casa de Siquém, e saíram.Vieram os filhosde Jacó aos mortos e saquearam a cidade; porquanto violaram a suairmã." (34:26,27)

Quando você está fora da vontade de Deus, as tentativas de soluçãosão inúteis. Jacó levanta um altar em Siquém, mas o altar não tornouSiquém o local ideal para Jacó. O lugar de Jacó era Betel (para ondeDeus o havia mandado ir). Não adianta construir altares, igrejas,catedrais, projetos os mais belos possíveis ou quaisquer outras coisas pormelhores que sejam se essas construções estão no lugar onde você nãodeveria estar. Não adianta levantar altares onde Deus não te quer.

Quando você está fora da vontade de Deus você se torna um meroespectador dos acontecimentos. Jacó não toma iniciativa. Ao saber doocorrido com a filha ele nada faz a não ser aguardar que os filhosvoltassem do campo (vs. 5). Ao ser procurado por Hamor (pai doestuprador de sua filha) Jacó fica mudo e, impassível, assiste aos filhosdecidirem o destino de Diná.

Quando você está fora da vontade de Deus você perde a autoridade.Jacó, apesar de ser o patriarca, o chefe da família, o mais indicado pararesolver o problema, simplesmente some. A história da desgraça seprocessa sem que Jacó faça nada. Apenas quando a tragédia já haviaocorrido, Jacó se manifesta com nada mais que mera resignação: “Entãodisse Jacó a Simeão e a Levi: Tendes-me turbado, fazendo-me cheirarmal entre os moradores desta terra (...) Agora, eis que eles se ajuntarão, eficarei destruído eu e minha casa” (Gn 34: 30)

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Quando você está fora da vontade de Deus você não tem respostas.Jacó não sabe o que dizer ou fazer. Esse vazio de respostas diante dacalamidade acabou sendo preenchido pela vingança inconseqüente deseus filhos.

Mas apesar de tudo isso, mesmo quando você está fora da vontade deDeus, Ele não deixa de falar com você. Deus, em Sua misericórdia, noentanto, fala ainda outra vez a Jacó: “Depois, disse Deus a Jacó: Levanta-te, sobe a Betel e habita ali.” (Gn 35: 1).

* * *

Esse trágico episódio na vida do patriarca Jacó guarda uma liçãopreciosa. Apesar das consequencias (mesmo as mais terríveis), Deus nãose vai. Ele não "dá de ombros" e diz: se vire. Se prestarmos atenção,poderemos ouvir sua voz nos mandando seguir. "Betel" era o destino queDeus queria para Jacó. Betel significa "Casa de Deus". É pra lá, para acasa de Deus que sempre poderemos. Até mesmo depois de termosandando por tantos lugares distantes de lá.

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SINAIS OU CIRCUNSTÂNCIAS – O QUEORIENTA SUA FÉ?

José ficou na prisão, mas o Senhor estava com ele e o tratou combondade, concedendo-lhe a simpatia do carcereiro. Por isso ocarcereiro encarregou José de todos os que estavam na prisão, e ele setornou o responsável por tudo o que lá sucedia. O carcereiro não sepreocupava com nada do que estava a cargo de José e lhe concedia bomêxito em tudo o que realizava

− Gênesis 39:20-23

Deus era com José. A Bíblia diz que “O Senhor lhe...concedia bomêxito em tudo o que realizava”. Se esse versículo fosse recortado de seucontexto, pensaríamos que ele estaria se referindo a algum mago dasfinanças ou um empresário de sucesso. Alguém como Bill Gates, porexemplo. Mas José era um exilado-escravo-presidiário. Como ser bem-sucedido nessas circunstâncias?

Não são as circunstâncias que revelam a bondade de Deus. São os“sinais”. As circunstâncias são evidentes para todos. Os sinais, apenaspara os que crêem. A verdade é que Deus sempre é bom, mas suabondade se manifesta de diferentes modos em situações diversas. Deus ébom para o pobre de uma forma; para o rico, de outra. Para o são e para odoente, para o liberto e para o encarcerado e, por mais que seja difícil

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compreender, Deus é bom para a vítima de uma tragédia, tanto quantopara os sobreviventes à ela.

O pior do pior do pior, do pior – Há algo pior do que estar preso? Sim,estar preso injustamente. E pior do que isso? Sim. É estar presoinjustamente no exílio. Se você for liberto ou fugir, para onde irá?

Uma conhecida expressão do apóstolo Paulo é utilizada por muitos comoo mantra gospel do êxito: "Tudo posso Naquele que me fortalece". "Tudoposso" significaria que posso comprar um utilitário último tipo, possoganhar um milhão de dólares, posso conquistar aquele posto de trabalho.Posso tudo! Mas o contexto no qual a famosa frase está inserida apontapara mais "tudos" do que imagina nossa vã filosofia. Paulo está sereferindo mais à sua resiliência do que à sua capacidade. Posso tudo:Posso sofrer um naufrágio, posso ser açoitado, posso ser apedrejado,posso passar privações tanto quanto posso ter em abundância. Possotodas as coisas por causa daquele que me fortalece. Esse é o sentido e amesma ideia se aplica aqui. Posso passar pelo pior, do pior, do pior.

"Bom êxito em tudo?" Onde? Quando? - “O Senhor lhe...concediabom êxito em tudo o que realizava” diz a Bíblia. Mas, que tipo de coisahá na qual se possa ser “bem sucedido” numa prisão? Não se vendemlivros de autoajuda com o título "Torne-se um presidiário de sucesso!" Otexto diz também que Deus mostrou sua bondade a José ao fazer comque ele ganhasse a simpatia do carcereiro. Agora, imagine José dizendo:“Deus tem sido bom comigo. Como eu sei disso? Ora, veja o que Ele mefez! Concedeu-me a simpatia do carcereiro!”. Não parece o típicotestemunho que ouvimos nas igrejas. Se estivéssemos presos, o que nósconsideraríamos como uma evidência da demonstração da bondade deDeus em relação a nós? Pelo que oraríamos? Para que Deus nosconcedesse a liberdade? Vingança? Um indenização milionária? Ou... asimpatia do carcereiro?

Se você estiver preso, pode ser que Deus o liberte. Também pode ser quenão. Mas, quando as circunstâncias forem desfavoráveis, há algo quevocê pode esperar com certeza: um sinal.

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Preste atenção aos sinais - Como pode um carcereiro confiar em umestrangeiro? Ainda mais um levado à prisão por um dos oficiais deFaraó, acusado de ter-lhe traído a confiança?

José foi colocado na condição de supervisor carcerário, ainda que tivesseido para a prisão acusado por alguém que também o tinha colocado nacondição de supervisão, de liderança, num cargo de confiança. Será queo carcereiro recebeu José na prisão e, passado algum tempo, disse paraele: Gostei de você. Fui com a sua cara. Vou te dar as chaves disso aqui eagora você comanda tudo. Será que foi assim? No caso de José, já seriadifícil uma relação amistosa entre um carcereiro e um prisioneiro.Quanto mais uma relação de confiança como a que ocorreu. Não foi umepisódio comum. Não foi uma progressão de pena à moda egípcia. Foium sinal de Deus.

O texto relaciona a “bondade de Deus” com o fato de José ter sidobeneficiado pelo carcereiro. A bondade de Deus não precisou semanifestar através da libertação. Tornar um prisioneiro estrangeiroadministrador de uma prisão real foi um milagre muito maior. Foi umsinal. Um sinal de que Deus sempre estará junto àqueles que acreditamNele. Nem sempre livrando, nem sempre recompensando... Mas, sempredando "sinais" de sua bondade, quaisquer que sejam as circunstâncias.

Essa pequena porção da vida de José nos mostra que:

Deus também age na prisão, acompanha seus servos, os usa, abençoaoutras pessoas através deles e está “por trás” da simpatia que seus elesalcançam, subvertendo a lógica prisional e tornando seus servos comoreferência de confiabilidade dentro da prisão e colocando-os emcondições acima do esperado (acima do convencional), concedendo aeles, de fato, "sucesso em tudo que fazem".

A prisão pode ser um lugar de “sucesso”, um lugar onde se pode ser“bem sucedido”. A prisão pode ser o destino de Deus para um servo fiele inocente, pode se tornar em lugar de bênção, um lugar onde nossocomportamento pode nos tornar distintos dos demais, um lugar onde há

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exercício de autoridade.

Por definição, "sinais" são elementos distintos do ambiente ondeocorrem. Prisões, bem como situações desfavoráveis em geral, sãoambientes excelentes para a manifestação de um sinal da parte de Deus.Um sinal da sua bondade e da sua companhia. Sempre ouvimos falar de“tratamentos de beleza”. Todo mundo aprecia um. Quem gostaria dereceber um “tratamento de bondade” da parte de Deus? O patriarca Josérecebeu um. Numa prisão. E aí? Você topa?

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O FATOR EFRAIM

O livro do Gênesis conta a incrível história de José (Gn 37:1 - 50:26) ealguns outros escritores bíblicos (Lucas em At 7:9,10 e Davi em Sl105:16-18) fazem referência a ele lançando luz sobre as causas de seusucesso, mas é dos lábios de José, quando dá nome ao segundo de seusfilhos (Efraim) que obtemos a chave que possibilita a interpretação domistério que une angústia e prosperidade numa mesma e emocionantetrajetória:

E ao segundo (filho), José chamou Efraim; porque disse: Deus me fezfecundo na terra da minha aflição.

Gênesis 41:52

José foi "próspero" enquanto escravo. “O Senhor estava com José, demodo que este prosperou e passou a morar na casa do seu senhor egípcio.Quando este percebeu que o Senhor estava com ele e que o faziaprosperar em tudo o que realizava, agradou-se de José e tornou-oadministrador de seus bens” (Gênesis 39:1-4). José recebeu duas"promoções" enquanto esteve na casa do oficial Potifar. Note que o textodiz que o Senhor "estava com José" e o fez "prosperar". Que"prosperidade" foi essa? José, que então morava nos aposentosreservados aos escravos "passou a morar na casa de seu senhor".Posteriormente, quando Potifar percebe que o Deus de José o estavaabençoando, promove-o à gerente de sua propriedade. Pode soar

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estranho, mas a prosperidade não é incompatível com a condição servil.José continuava sendo um trabalhador não assalariado e ainda assim eraum "escravo rico". Seu patrimônio crescente era feito de algo raro emnossos dias: sermos pessoas dignas da confiança de outros.

Nesse sentido, podemos fazer uma rica reflexão sobre quais (alguns) dosASPECTOS DA PROSPERIDADE revelados na vida de José.

DEUS É A CAUSA“DEUS me fez fecundo...”

Não é o bom comportamento - Muitos poderão dizer que José foipróspero porque era obediente, mas a Bíblia não diz isso em partealguma. José era um ser humano e, como tal, falível. Possuía virtudesmarcantes, mas não foi perfeito. A sua condição de exilado, escravo epresidiário não tinha relação com qualquer pecado por ele cometidoassim como sua "fecundidade" não derivava de seus atos de obediência.A causa de uma e de outra coisa era uma só: o próprio Deus de José. Éisso que diz o Salmo 105:16-18 - “(O Senhor)... mandou vir fome sobrea terra e destruiu todo o seu sustento; mas enviou um homem adiantedeles, José, que foi vendido como escravo. Machucaram-lhe os pés comcorrentes e com ferros prenderam-lhe o pescoço até cumprir-se a suapredição e a palavra do Senhor confirmar o que dissera".

José era um "predestinado" - o que o próprio José confessa diante dosirmãos posteriormente: "... não fostes vós que me enviastes para cá,senão Deus, que me tem posto por pai de Faraó, e por senhor de toda asua casa, e como regente em toda a terra do Egito." (Gn 45:8).

Não são as condições - José só teve condições favoráveis para o Mal.Em seu lugar muitos teriam blasfemado, desistido, entrado em depressão,dado uns "pegas" na mulher do patrão e roubado seu patrimônio assimque tivesse oportunidade. José chama o Egito de "terra da minha aflição".Mas, mesmo depois de superar todas as dificuldades e conquistar aconfiança do Faraó, José não se gaba de ser uma espécie de self mademan (a descrição típica dos americanos para o sujeito conquista osucesso pelo próprio esforço). Pelo contrário. Efraim nasce no tempo daprosperidade, mas José não bate no peito dizendo: "Eu sou o cara. Venci

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na vida apesar de tudo", ele diz (e não apenas diz, mas nomeia um dosfilhos como um memorial) que Deus, Ele sim, o fez "fecundo na terra desua aflição".

Não é o apoio/suporte familiar - É difícil obter sucesso na vida sem oapoio da família. Todavia, o texto não fala de "sucesso" nos termos emque se costuma falar hoje em dia. A Bíblia falar, sim, em ser "fecundo",ser produtivo, fértil, próspero. Um tipo de prosperidade que só vem deDeus. José não apenas não teve o apoio da família, José foi banido dela ecresceu à margem de qualquer suporte familiar.

FECUNDIDADE É A CONSEQUÊNCIA "Deus me fez FECUNDO..."

Escravo fecundo, presidiário fecundo, administrador fecundo -Quando se é escolhido por Deus, o sujeito é fértil em qualquer lugar.Quando pensamos em termos de "sucesso" é comum considerarmos olocal onde estamos como inadequado ou como cerceador de nossostalentos. "Preciso sair dessa cidade miserável", "Só terei sucesso quandosair de casa, quando largar esse emprego...", mas não é assim com quemé escolhido por Deus. A fecundidade é sempre e é em qualquer lugar. Otempo da fecundidade é AGORA – José não se tornou PRODUTIVOapenas depois de sua exaltação, não alcançou o SUCESSO. Ele foi umsucesso. Desde sempre.

AFLIÇÃO É A CIRCUNSTÂNCIA“Deus me fez fecundo na TERRA DA MINHA AFLIÇÃO"

A aflição não impede a fecundidade - É interessante. Muitos séculosdepois, o evangelista Lucas, no livro de Atos, faz uma relevantereferência a José: “Os patriarcas, movidos de inveja venderam José parao Egito, mas Deus era com ele e livrou-o de todas as suas tribulações elhe deu graça e sabedoria ante o Faraó...” (Atos 7:9,10...). Deus"livrou-o de todas as suas tribulações" diz o texto sagrado. Todavia o

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mesmo José diz que foi fecundo na terra de sua "aflição". Esse texto fazeco ao que o salmista diz "Ele me invocará, e eu lhe responderei; estareicom ele na angústia; dela o retirarei, e o glorificarei" (Sl 91:15). O"livramento" não é tanto o "escape", mas sim "a companhia". Deus entrana aflição conosco e nos protege do Mal que a aflição produz. Não é oexílio que nos mata, não é a rejeição de nossos irmãos que nos fere, não éa prisão que nos adoece. É a forma como reagimos a tudo isso. Pode serque Deus nem sempre impeça que o Mal nos sobrevenha, mas Elesempre impedirá que ele nos penetre e nos consuma e, ao contrário, Elefará com que sejamos produtivos apesar de, fecundos apesar de, felizesapesar de. Pois todos nós que cremos em Deus e o temos por nossacompanhia, temos em nós o "Fator Efraim" - um fertilizante divino àprova de pragas, de intempéries ou da falta de água, luz ou soloapropriado - que nos fará dar fruto abundante mesmo na terra de nossasaflições, aqui e agora.

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O SUCESSO É... SER UM ESCOLHIDO!

José ficou na prisão, mas o Senhor estava com ele e o tratou combondade, concedendo-lhe a simpatia do carcereiro. Por isso ocarcereiro encarregou José de todos os que estavam na prisão, e ele setornou o responsável por tudo o que lá sucedia. O carcereiro não sepreocupava com nada do que estava a cargo de José e Deus lheconcedia bom êxito em tudo o que realizava – Gênesis 39:20-23

Mais uma vez retomo o tema de “José na prisão do Egito”. Nessa terceirae final reflexão chamo a atenção para o fato de que José não foi umhomem bem-sucedido apenas por sua condição de vice-governador detodo o Egito. Seu sucesso pode também ser percebido, por incrível quepareça, na prisaõ.

José é o Forrest Gump da História Vétero-Testamentária! Como opersonagem do filme homônimo de Steven Spielberg, José foi bemsucedido em tudo o que fez. Andou pelas mais diferentes esferas depoder (a casa de um oficial, uma prisão real, o palácio do Faraó) esempre esteve na condição de “comandante em chefe”.

Há muitas pessoas que tributam seu fracasso a fatores (isolados ou

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combinadamente) como falta de suporte familiar, injustiças sofridas,privações, instabilidades e limitações pessoais. A vida de José nos mostraque nada disso (ou mesmo, tudo isso junto) não determinam nossofracasso pessoal. Se Deus está conosco, como estava com José,absolutamente nada pode impedir nosso sucesso.

A FALTA DE APOIO FAMILIAR NÃO PODE IMPEDIR SEUSUCESSO - José estava no exílio. Para o pai, estava morto. Para osirmãos, era alguém de quem queriam se livrar. Mas isso não impediu osucesso de José. A falta de apoio familiar pode ser um fator dedesmotivação muito grande, mas não determina nosso fracasso, nemimpede nosso sucesso.

AS FALSAS ACUSAÇÕES NÃO PODEM IMPEDIR SEU SUCESSO -José foi falsamente acusado de assédio sexual e tentativa de estupro. Asfalsas imagens que os outros podem imprimir em nós são capazes de nosperturbar grandemente, mas não impedem nosso sucesso se Deus estáconosco.

AS PRISÕES NÃO PODEM IMPEDIR SEU SUCESSO - Muitos de nósestamos “presos” (literalmente ou figurativamente falando). Há prisõespsicológicas, relacionais, comportamentais, espirituais, mas Deus estácom os seus e os faz superar quaisquer prisões e limitações.

A INCONSTÂNCIA NÃO PODE IMPEDIR SEU SUCESSO - Josévivenciou momentos de alternância entre coisas boas e ruins que lhesucederam (tanto na família, como no exílio, na casa de Potifar e naprisão), mas a inconstância e a alternância não impediram o sucesso deJosé.

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A LIMITAÇÃO NÃO PODE IMPEDIR SEU SUCESSO – Para muitagente a única coisa que poderia ser classificada como “sucesso” numaprisão seria uma fuga espetacular. De fato, há muito pouco que se possafazer numa cela de prisão, há falta de recursos, mas se Deus é conosco osucesso é certo mesmo num ambiente de limitações e privações como umpresídio.

o renomado autor de livros de autoajuda, Roberto Shinyashiki, tem umlivro com o título “O Sucesso é ser feliz”. Na vida de José, vemos que a“felicidade” não foi uma companheira muito presente em sua vida. Pelocontrário, a Bíblia registra que a aflição foi tão presente na vida de Joséque ele deu o nome a um de seus filhos (Efraim) por causa dela (Gn41:52). Já, quanto ao sucesso, este não se apartou dele nem por uminstante.

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WILSON, BEBÊS E A IMAGO DEI

Façamos-lhe uma companheira que lhe seja idônea” (Gn 2:18).

A pergunta pertence ao ex-presidente americano Benjamim Franklin e écarregada de sentido mesmo em sua aparente simplicidade: Para queserve um bebê?

Os filhotes humanos estão entre os mais frágeis e de desenvolvimentomais lento de toda natureza. Demoram de dez meses a um ano paradarem os primeiros e hesitantes passos. Idade na qual a muitos dos outrosanimais já se reproduzem.

“Para que serve um bebê?” A estranheza que causa a pergunta deve-se, muito provavelmente, a sua irrelevância. Ninguém, ao ter um filho,pensa (ou, ao menos, não deveria pensar) nele em termos de utilidade.De fato, bebes parecem não servir para nada. Nos primeiros dias nadaproduzem além de choro, grunhidos e fezes e, ainda assim, não há mãeque não passe horas de seu tempo apenas contemplando-os.

Pais gastam (podendo ou não) pequenas fortunas para criarem um espaçoricamente ornamentado em detalhes, a maior parte dos quais, o principalbeneficiário – o bebê – jamais notará. Em geral, a criança só terá noçãodos mimos de seu quartinho depois de crescida e levará ainda um poucomais de tempo para que ela descubra que aquilo tudo era apenas e tãosomente amor.

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Talvez parte da pergunta do presidente Franklin possa ser respondida emtermos teológicos, a partir da compreensão das dimensões da Imago Dei– termo latino para designar a “imagem de Deus” presente no serhumano, quando de sua criação.

Bebês existem – da forma como existem – para que experimentemos deforma mística, única e quase inexplicável a nossa semelhança com Deus,partilhando daquilo que Deus deve ter sentido ao terminar sua criação econtemplar a Adam - o casal de seres humanos recém-criados. Seusbebês.

Bebês servem para serem amados. Sua funcionalidade está relacionadanão ao que fazem, mas ao que produzem (alegria no lar) e ao que são(uma reedição da existência dos pais). Ao contemplá-los e observar seudesenvolvimento temos a chance de viajar no tempo e espaço etestemunhar o que nós mesmos, os genitores, devemos ter sido e feitoquando bebês.

Uma das compreensões teológicas da Imago Dei é chamada de“Concepção Relacional” e é defendia pelos teólogos alemães EmilBrunner e Karl Barth. Segundo eles, a imagem de Deus no homem (naraça humana, leia-se), não diz respeito tanto ao que o homem é(conforme sustenta a concepção substantiva) ou ao que o homem faz(concepção funcional) mas a como o homem se relaciona com seupróximo. Para eles, é nas relações interpessoais que a imagem de Deus semanifesta. Tendo a concordar com eles por um simples fato: éexatamente isso que Deus demonstra ao contemplar o homem-macho,sozinho no jardim, e dizer – consultando-se tridivinamente consigomesmo: “Não é bom que o homem seja só. Façamos-lhe umacompanheira que lhe seja idônea” (Gn 2:18).

Ao criar uma imagem de si, Deus criou um casal. Deus criou comomelhor imagem de Si, uma relação – porque Ele mesmo é, em si, umarelação triúna. Não fosse assim, o que poderíamos perceber da Imagem

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de Deus num homem que estivesse no deserto? Ou numa prisão? Umhomem que esteja privado da convivência por muito tempo, logo sebestifica, se desumaniza.

A “Concepção Funcional” afirma que a imagem de Deus se manifestano homem a partir do que ele faz, do que cria. Deus deu ao homem o“domínio da natureza”. Também dotou-o de criatividade e inventividade,mas, se estiver só – absolutamente só, para quem cria o homem? Queprazer haverá ao homem construir um castelo no deserto? Ou comporuma sinfonia que ninguém, além dele, possa ouvir ? É claro que acriatividade é um traço divino na formação humana, mas mesmo acriatividade não subsistiria na vida de um homem radicalmente solitário.A criatividade existe para ser usufruída e também para ser apreciada. Acriatividade não prescinde de público.

No filme Náufrago, o personagem de Tom Hanks – perdido numa ilhadeserta - demonstra todas as virtudes próprias da natureza humana: eledomina a natureza ao redor, cria o fogo, prepara o próprio alimento, forjasuas armas e constrói sua habitação, mas quase sucumbe à solidão. Como“não é bom que o homem esteja só” , o náufrago repete Deus e cria um“companheiro”: Wilson, a bola de vôlei furada que o personagemhumaniza e com quem passa a se relacionar a partir de então. Mas o quemove Chuck Noland a manter a esperança de um resgate ou de uma fugaé outro relacionamento: o amor pela esposa.

Náufrago, portanto, é uma alegoria perfeita da basicalidade dasemelhança humana com seu Criador – somos seres essencialmenterelacionais. Feitos para a relação, reagentes à ela, mantidos por ela,desenvolvidos nela.

Voltando à questão inicial: a utilidade dos bebês, podemos entender quena relação pais-filhos (especialmente nos primeiros meses) pode-sevisualizar a imagem de Deus. Os pais experimentam a mesma sensaçãodo artista diante de sua obra-prima recém concluída, aquelacontemplação mística e plena de satisfação. Olham para o quartinho

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ornamentado: o berço e os móbiles, os enfeites e os mimos e aquele serminúsculo, improdutivo e imprescindível para o qual suas vidasconvergirão em satisfatória entrega, cercando-o de cuidados e traçandopara ele os melhores planos; realizando-se em seu gradualdesenvolvimento e, uma vez feito adulto, vendo-o como uma imagem desi próprios, a qual dará continuidade à sua replicação em outras variaçõesnas gerações seguintes, assim como seus pais e os pais de seus pais antesdeles. Assim como Deus, antes de todos – o Qual existe eternamentecomo uma família triúna (Pai, Filho e Ruah – o termo feminino paradesignar espírito em hebraico) que criou o Homem, “macho e fêmea”,por uma decisão conjugada (“Façamos o homem...”) e o colocou em seuquartinho de bebê (o Jardim do Éden) e, como qualquer pai diante de suacria, babou de plena satisfação.

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DAVI E O ANÃO

Davi e o Anão é o muito bem sacado título de um dos capítulos do livroDAVI de Charles Swindoll. Ao analisar o histórico confronto entre Davie Golias não há como negar que a vitória de Davi foi um ato de fé dealguém que possuía a correta perspectiva de quem era o Maior guerreiro.Mas fé de que tipo?

Primeiramente era uma Fé No Possível. Pedras podem, DE FATO,derrubar gigantes, mas só Davi creu nisso. Davi não creu “noimpossível”. Creu no possível que ninguém mais enxergava. Impossívelseria tentar derrubar Golias com bolinhas de algodão. Mas, para umpastor de ovelhas que manejava bem sua funda e que já tinha no“currículo” a morte de um leão e um urso (defendendo o rebanho),derrubar um homem com uma pedrada certeira na fronte não eraimpossível. E, uma vez caído, matá-lo seria a parte mais fácil.

A fé de Davi era também uma "Fé Previdente". Por que Davi pegoucinco pedras se precisou de apenas uma para derrubar Golias? Porque afé não é incompatível com a precaução. As quatro pedras não foraminúteis pelo fato de não terem sido usadas. Sua função foi importante: darsegurança. Caso Davi errasse, teria a que recorrer. Mal comparando,seria como se um jogador de futebol tivesse cinco oportunidades deconverter um mesmo pênalti. Sem pressão, qualquer um aumentaria aspossibilidades de acertar logo na primeira tentativa. Ter fé não é crer quetudo se resolverá logo numa primeira tentativa. Fé tem mais a ver com aforma como as coisas acabam, não com a forma como começam. E Davicria que, com uma, duas ou até cinco pedras, o fim do gigante seria o

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mesmo: no chão.

Outra manifestação da fé de Davi foi a "Fé Para Tentar De Novo" -É surpreendente perceber que Davi considerou a possibilidade de errar.Muitas pessoas desanimam depois de uma tentativa frustrada e perdem afé. Para derrotar Golias, Davi não precisou usar da persistência. Maspreparou-se, caso ela fosse necessária. Há muitos que confundem fé com“pensamento positivo”: “Vou conseguir na primeira tentativa”, dizem. Erecusam-se a considerar a possibilidade de erro. Davi, não. O fato de terpego cinco pedras, prova que a fé de Davi era uma fé que não seesgotava na primeira tentativa; que não se intimidava diante da falhainicial. Uma fé disposta a tentar de novo e de novo e de novo.

Fé Que Não Se Precipita – A decisão de enfrentar Golias não foiprecipitada e nem imediata (como muitas pregações fazem crer). Goliaslançou seu desafio durante “40 dias” sem que ninguém se prontificasse.Davi visitava o campo de batalha com freqüência para levar suprimentosaos irmãos e viu repetidas vezes a mesma cena: os exércitos postados nocampo de batalha, a tensão no ar, o medo latente e a contínua provocaçãodo guerreiro filisteu. Talvez ele tenha esperado que alguém (o rei talvez)assumisse a condição de ser o representante de Israel. Depois de 40 dias,Davi deu um basta: “Até quando esse incircunciso vai provocar osexércitos do Deus Vivo?”. Quase sempre esse é o clamor do homem defé: “Ninguém vai fazer nada? Então eu faço”. Uma fé que se“prontifica”, mas não se “precipita”.

Fé Que Não Teme Mudança de Planos – É errado pensar que quemtem fé, sempre terá uma visão clara do que deve ser feito. Por vezes, a fésó permite dar um passo de cada vez. Num primeiro momento, Daviconsiderou a possibilidade de usar a armadura do rei Saul e chegou aexperimentá-la. Só depois, percebeu que ela seria um empecilho ao invésde auxílio. As pedras e a funda foram o “Plano B”. E isso é revelador!“Mudança de planos” não significa “falta de fé”. Lutar contra o giganteusando armas convencionais seria uma desvantagem num confronto“corpo a corpo”. A fé nos faz ter convicção da vitória, mas nãonecessariamente de COMO a obteremos num primeiro momento. Nomeio cristão, muito do que se ouve a respeito de fé é cercado de

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misticismo (geralmente confundido com unção), arrogância (confundidocom autoridade espiritual) e precipitação (geralmente confundida com“ousadia”). O bom senso e a racionalidade são tidos por “falta de fé”.Mas não é isso que vemos no episódio de Davi e Golias. A fé de Davi foiuma fé envolveu razão, precaução e paciência. Elementos que, tantasvezes, vemos serem associados justamente à falta de fé.

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VIVENDO ENTRE O ORDINÁRIO E OEXTRAORDINÁRIO

O PIOR CAPÍTULO DA BÍBLIA - Gênesis 38 não tem herói, étrágico, enigmático e assustador. Gênesis 38 parece um intruso.Gostaríamos que Gênesis 38 não existisse, que fosse como o 13º andardos edifícios norte-americanos. Ou seja: não estivesse lá. Pularíamos docapítulo 37 para o 39 e seguiríamos com a linda história de José doEgito. Mas, não. Gênesis 38 está lá. Incluso, perturbador, incômodo. Fazparte do cânon. É sagrado, inspirado. Gênesis 38 é um abacaxi que,presunçosamente, tentaremos descascar.

Judá era um homem predestinado. Foi um dos doze filhos de Jacó.Não era o primogênito, também não foi o filho mais notável. Todavia,nem Rubem (o primogênito), nem José (que tornou-se vice-governadordo Egito) tiveram a honra que coube a Judá. É da “raiz de Judá” queprocede o maior rei de Israel, Davi e, acima deste, o maior de todos osreis, Jesus Cristo. Jesus é chamado de “Leão da Tribo de Judá”. Judá deunome a um reino, Reino de Judá, e, posteriormente a uma raça, os judeus.No leito de morte, tendo os filhos ao seu derredor, Jacó abençoou a Judácom essas palavras: “Judá, seus irmãos o louvarão. Sua mão estarásobre o pescoço dos seus inimigos; os filhos de seu pai se curvarãodiante de você. Judá é um leão novo. Você vem subindo, filho, meuu,depois de matar a presa. Como um leão, ele se assenta; e deita-se comouma leoa; quem tem coragem de acordá-lo? O cetro não se apartará deJudá, nem o bastão de comando de seus descendentes, até que venhaaquele a quem ele pertence, e a ele as nações obedecerão” (Gênesis49:8-10)

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Segundo a enciclopédia virtual Wikkipedia, a tribo de Judá foi a únicatribo de Israel que foi preservada da descaracterização depois da invasãodos assírios – que provocou a miscigenação forçada. Os descendentes deJudá foram os únicos a preservarem suas tradições durante o exíliobabilônico. Se a história de Judá fosse contada de trás para frente – apartir da benção de seu pai – sofreríamos um choque ao descobrir que aohomem Judá, ocorreu o contrário do que acerca dele fora profetizado.Judá teve um comportamento traiçoeiro, covarde, infiel e promíscuo.Judá toma parte num conluio com seus irmãos para darem cabo do irmãosonhador José.

A história de José é conhecida. Vendido à mercadores, ele é levado aoEgito, onde, anos depois, alcança a condição de homem mais poderoso,abaixo apenas do Faraó. Judá, ao contrário, afasta-se do pai e dos demaisirmãos e parte para um autoexílio de - pelo menos - duas décadas. Eaconteceu no mesmo tempo que Judá desceu de entre seus irmãos eentrou na casa de um homem de Adulão, cujo nome era Hira – Gn 38:1 Não fora uma saída temporária. A versão Católica grafa “apartou-se” e aNVI “deixou seus irmãos e passou a viver na casa de um homem deAdulão” Por que Judá rejeitou o convívio com o pai e com os irmãos?Teria sido movido pelo sentimento de culpa? O provável é que Judá nãotenha suportado conviver com um segredo (a mentira sobre a morte deJosé, seu irmão).

Judá encontra a paz na casa de (H)IRA - Judá passa a viver na casa deHira, o adulamita. Quem é ele? Não sabemos. Mas Hira foi amigo deJudá por, ao menos, vinte anos. Ele aparece aqui, recebendo Judá em suacasa, e anos depois (após a morte de dois filhos e da esposa) ao lado deJudá quando este reencontra Tamar em Timna (v.12) E viu Judá ali afilha de um homem cananeu, cujo nome era Sua; e tomou-a por mulher, ea possuiu - Gênesis 38:2 Em Adulão, Judá encontra uma esposa. Amulher, uma canaanita, é identificada apenas por ser “filha de Suá”. Ascoisas parecem ir bem. Ele não tem mais que contemplar diariamente oluto do pai, encontrou um amigo e uma esposa e logo nasceram-lhe trêsfilhos homens: Er, Onan e Selá. Filhos eram considerados bençãos.Especialmente do sexo masculino. Judá pode se considerar então umhomem afortunado.

Er “já Era” - Er torna-se adulto e chega o momento de Judá, seu pai,

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dar-lhe uma mulher por esposa. Judá escolhe a Tamar. Judá faz a Er oque seu pai não pôde fazer a ele mesmo (dar-lhe uma esposa), mas Ermorre sem dar netos à Judá. O texto destaca a razão “metafísica” de suamorte: Er era “mau aos olhos do Senhor”. Judá, pois, tomou uma mulherpara Er, o seu primogênito, e o seu nome era Tamar. Er, porém, oprimogênito de Judá, era mau aos olhos do Senhor, por isso o Senhor omatou - Gênesis 38:6-7 Judá estava diante de um filho incorrigível,intratável. É interessante notar que não há referência ao fato da morte deEr ter sido uma punição pelo que Judá fez a José. Não há sequer mençãoa uma possível relação de causa-efeito. Se a expressão da conduta de Ernão fosse clara como é, seríamos tentados a julgar que Deus tirou o filhode Judá em decorrência de seu pecado contra José. Mas Er morreu “demaldade”. Er era “mau até morrer”. Será esse o modus operandi deDeus? Matar os maus? Há pessoas maléficas que tem vidas longuíssimas.Terá sido Er mais mau que tais pessoas? Como será a vida de um pai quetem consciência de que o filho morreu por decurso de sua própriamalignidade? Como será para um pai admitir: “Eu tinha um filho que eramau até não poder mais. Morreu jovem e sem filhos e eu sei que foi Deusque o matou”?

OH, NÃO ONÃN! - Não parece haver nenhum determinismo na morte.Pessoas boas e más morrem mais cedo ou mais tarde de modoaparentemente aleatório. Após a morte de Er, Tamar – seguindo umcostume da época e local – é dada ao irmão seguinte, Onã (para que este“suscitasse descendência ao irmão morto”), mas Onã (cujo nome lembrauma negação prévia e permanente) se nega – ainda que tenhacompartilhado a tenda; com a ex-cunhada-feita-esposa, ele não chegavaa bom termo. Diz o texto: Então disse Judá a Onã: Toma a mulher do teuirmão, e casa-te com ela, e suscita descendência a teu irmão. Onã, porém,soube que esta descendência não havia de ser para ele; e aconteceu que,quando possuía a mulher de seu irmão, derramava o sêmen na terra, paranão dar descendência a seu irmão.

E o que fazia era mau aos olhos do Senhor, pelo que também o matou.Gênesis 38:8-10 Ao decidir não cumprir a tradição, Onã abriu mão deter, ele próprio, descendência. O primeiro filho seria considerado doirmão, mas os seguintes seriam seus. Onã não quis nem uma coisa, nemoutra. Pior ainda: Onã poderia (uma vez que não concordava) ter senegado a assumir a viúva do irmão ou a manter relações com ela, mas ele

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se prestou a aceitar o “bônus” (as relações sexuais) sem aceitar o “ônus”(a concepção de um filho que não seria legitimamente “seu”). Issotambém foi considerado “mau aos olhos do Senhor” e Onã morreu.

Casou com Tamar, tamar-cado pra morrer - Judá induz Tamar apensar que ele lhe oferecerá seu terceiro filho, Selá, assim que ele estivermaduro, mas a proposta esconde um plano. Judá esperava que o tempofizesse o serviço. Quem sabe Tamar morresse, ou encontrasse outrohomem ou simplesmente desistisse. Judá temia que Selá morresse (comoos outros) após se casar com Tamar.

Para Judá, Tamar era a “Viúva Negra Cananéia”. Mas os filhos de Judánão haviam morrido por decorrência de seus casamentos. Por esta época,Judá se recusa a relacionar a morte dos filhos à própria vilania destes,preferindo atribuir à nora a relação de causa-efeito. Tá-mar e vai ficarpior - Na condição de uma viúva sem filhos, Tamar, por não ser maisvirgem, de acordo com a tradição da época, não pertencia mais à casa deseu pai, mas Judá à devolve mesmo assim dando-lhe a falsa esperança decasar-se com seu caçula, e agora, único filho. O tempo passa e o queestava mal, fica pior. Judá perde a esposa. Restam-lhe agora, o amigoHira e o filho Selá.

Passando-se pois muitos dias, morreu a filha de Sua, mulher de Judá; edepois de consolado Judá subiu aos tosquiadores das suas ovelhas emTimna, ele e Hira, seu amigo, o adulamita. E deram aviso a Tamar,dizendo: Eis que o teu sogro sobe a Timna, a tosquiar as suas ovelhas.Gênesis 38:12-13 O duro trabalho de tosquiar ovelhas era acompanhadode uma festa (festival) que se destacava pela celebração às custas debastante vinho. Os cultos canaanitas compreendiam rituais de fertilidadecom prática de sexo ritual. Tamar estava sendo vítima dodescumprimento da lei do Levirato (prometida por seu sogro) e, quandoela descobre que o velho Judá está por aquelas bandas, ela não perde aoportunidade.

E deram aviso a Tamar, dizendo: Eis que o teu sogro sobe a Timna, atosquiar as suas ovelhas. Então ela tirou de sobre si os vestidos da suaviuvez e cobriu-se com o véu, e envolveu-se, e assentou-se à entrada dasduas fontes que estão no caminho de Timna, porque via que Selá já eragrande, e ela não lhe fora dada por mulher. E vendo-a Judá, teve-a por

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uma prostituta, porque ela tinha coberto o seu rosto. E dirigiu-se a elano caminho, e disse: Vem, peço-te, deixa-me possuir-te. Porquanto nãosabia que era sua nora... e possuiu-a, e ela concebeu dele.

Gênesis 38:13-18

A íntegra dessa história pode ser lida no capítulo trinta e oito do Gênesis.O resumo final, todavia, é que Tamar se revela ao ex-sogro-feito-maridoe Judá, um homem acostumado à fuga das responsabilidades, tem umareação “extraordinária” Judá... disse: Mais justa é ela do que eu,porquanto não a tenho dado a Selá meu filho. E nunca mais a conheceu.Gênesis 38:26

A trágica história de um homem que perdeu dois filhos e a esposa e seuenvolvimento com a nora, duas vezes viúva termina aqui. As mortesprematuras se encerraram, a vida deu o ar da graça novamente – com achegada dos gêmeos (cfe versos 27 e 28). Podemos dizer que Judá voltoupara sua família paterna, pois seu lugar na história de José é retomadonos capítulos seguintes. Judá é um outro homem agora. Quando se vêdiante da situação de perigo à vida de seu irmão caçula, Benjamim, Judáse prontifica a morrer pelo irmão (cfe Gn 44:16-34) Não há muitosepisódios notáveis na vida de Judá. Sua notoriedade será decorrente maisde seus descendentes (toda uma dinastia real que incluirá Davi, Salomãoe, principalmente, Jesus) do que dele mesmo. Entretanto, aprendemoscom Judá que a maioria de nós vive como ele.

A Bíblia é repleta de heróis da fé. Judá não foi um deles. Judá servepara nos lembrar que a Bíblia Sagrada não é uma espécie de Liga daJustiça ou um universo fantástico onde todos andam sobre as águas,abrem os mares, derrubam gigantes, derrotam exércitos. No sagradotambém cabe gente “ordinária”, gente comum. Gente que sente culpa,medo e foge. Que tenta se reinventar e falha miseravelmente. Judá fogeda família e da presença do pai, mas não consegue se “ver livre” dabênção e da provisão de Deus. Judá encontra-se com seu destino em umaterra estranha, de uma forma ainda mais estranha. Ele é um homem quecaminha entre o ordinário – vida, morte, nascimentos, encontros,amizades – e o extraordinário (filhos que morrem “de malignidade”, umanora de mau agouro, um encontro inusitado com uma estranha prostitutafamiliar, gêmeos que brigam para ver quem nasce primeiro).

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Normalmente (ou “ordinariamente) não é possível escrever a história deum homem enquanto ele vive. É preciso que se aguarde o capítuloderradeiro de sua vida. Só então, olhando em retrospectiva, é possívelanalisar os caminhos que ele trilhou para chegar onde chegou. Judá tem,ainda em vida, a possibilidade (extraordinária) de saber onde seuscaminhos terminam. Ao pé do leito de morte do pai, Judá encontra suaredenção. Não é mais um homem marcado pela culpa, pela fuga e peloserros. Judá é, ele mesmo e seus descendentes depois dele, como um leão.Há um cetro e uma nobreza que lhe aguardam.

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EXISTINDO PARA ALÉM DORECONHECIMENTO

Quem deu crédito à nossa pregação? E a quem se manifestou o braço doSENHOR?

Porque foi subindo como renovo perante ele, e como raiz de uma terraseca; não tinha beleza nem formosura e, olhando nós para ele, nãohavia boa aparência nele, para que o desejássemos.

Era desprezado, e o mais rejeitado entre os homens, homem de dores, eexperimentado nos trabalhos; e, como um de quem os homensescondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum.

Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossasdores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, eoprimido.

Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído porcausa das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobreele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.

Isaías 53:1-5

Quando foi que Jesus se tornou Rei?

De fato, Ele sempre o foi. Já era rei antes mesmo de ser homem. Foi umbebe rei, um adolescente rei, adulto rei, crucificado e desfigurado rei;

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morto e ressuscitado rei. Deixou um reino na terra, voltou para seu reinono Céu (de onde retornará para estabelecer o “reino visível” na Terra).

A outra pergunta é: Quando Jesus aparentou ser rei? Nunca.

Como é ser irreconhecível? Como é ser alguém que não se parece emnada com o alguém que se é (ou foi)? Como será escutar alguém íntimodizendo-lhe: “Não pode ser você”.

Essência ou aparência: O que identifica uma pessoa? Se vocêperdesse a aparência, como provaria a seus conhecidos que você é quemdiz ser? É essa a situação descrita nesse texto messiânico que descreveum Salvador moribundo, marcado e aparentemente abandonado.

O capítulo 53 de Isaías inicia com uma pergunta: “Quem creu em nossamensagem?” Mas, como crer num Salvador que parece estar numacondição “inferior” aos que pretende salvar?

Talvez, o sentido da pergunta fosse “Quem, mesmo assim, creu em nossamensagem?”, quem, mesmo diante de um salvador irreconhecível, creu?

É interessante e intrigante o fato que o texto enfatize a falta de atributosdo Servo do Senhor: "Desfigurado", "irreconhecível", sem "aparênciahumana", "sem beleza", "esmagado", "oprimido" e "afligido". Parece umcurrículo às avessas. O contexto, entretanto, esclarece a razão da “feiura” do Salvador: o nosso pecado – “O Senhor fez cair sobre ele ainiquidade de todos nós” (53:6). E isso é absolutamente revelador: opecado “enfeia” aquele contra quem o cometemos. Pense no rosto de umpai que descobre que o filho é viciado, na face da mãe honesta de umcriminoso, do semblante da esposa traída. Todos serão marcados pela dordo pecado do outro. Cristo recebeu a dor do pecado de todos. Suaaparência reflete as marcas da dor absorvida provinda de bilhões depecadores.

Essa “desfiguração” do Servo do Senhor ocorre num dado momento.Não foi sempre que ele foi assim. Ele “não parecida mais gente, tinha

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perdido toda a sua aparência humana” (Edição Pastoral – Paulinas), “suaaparência estava tão desfigurada que ele se tornou irreconhecível comohomem” (NVI).

A culminância desse processo de desfiguração ocorre na crucificação.Paradoxalmente, é justamente no dia de sua execução que Jesus assumediante de Pôncio Pilatos sua condição de rei (“o meu reino não é destemundo” – Jo 18:36) e fala com surpreendente autoridade (“Nenhumaautoridade terias sobre mim, se do alto não a tivesses recebido” – Jo19:11).

Foi quando menos aparentou ser rei, que Jesus recebeu uma “coroa”, um“manto” e um “cetro”; soldados romanos curvaram-se diante dele ematitude de escárnio dizendo “salve o Rei dos Judeus”. Até a maiorautoridade romana local, Poncio Pilatos, o apresentou à turba enfurecidadizendo: “Eis aí o vosso Rei. Crucificarei o vosso rei?” (Jo 19:14,15). Ena cruz, acima de sua cabeça, um cartaz que indicava o nome e os crimesdos sentenciados, afirmava: “Jesus de Nazaré, o Rei dos Judeus”.Curiosamente, isso foi o mais próximo que Jesus chegou da realezaterrena.

Num mundo em que a imagem é, quase sempre, o principal critério peloqual julgamos alguém, a aposta de Deus em convencer o mundo atravésde um salvador esfarrapado pode não parecer a melhor estratégia, masforça-nos a tentar ver além das aparências. Foi isso que fez um dosladrões crucificados ao lado de Cristo. “Lembra-te de mim quandoentrares no teu reino”

De forma semelhante a Cristo, muitos de seus seguidores tambémconvivem com o desprezo e o descrédito. Quase sempre não se parecemqualificados e apropriados para a vocação que afirmam ter.

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Alguém sabiamente já disse que uma imagem vale mais que milpalavras. Entretanto, mesmo a imagem não diz tudo sobre o aquilo queretrata, pois a imagem é estática. Retrata apenas um instantâneo darealidade. Tente, por exemplo, se lembrar das imagens mais vergonhosasa seu respeito, das situações degradantes e dos erros mais graves quevocê já cometeu. Tivessem eles sido fotografados, filmados ou descritosem minuciosos e sórdidos detalhes, quem poderia dizer estar ali um“futuro rei” ou “líder nacional”. Quem poderia contemplar tais episódiose vislumbrar para além dele o profissional ou líder que você se tornouhoje (ou que virá a ser amanhã)? Quem poderia dizer então que ali estavaum médico, um juiz, uma escritora ou uma líder de sucesso?

Deus poderia. E, de fato, é assim que Ele nos vê. Dostoiévski, diz queamar é “ver o outro como Deus gostaria que ele fosse”. Essa capacidadede olhar para além do momento, para além da imagem e contemplar a“essência” é um dom fundamental nos dias de hoje, pois sempre seremosnaturalmente atraídos para o belo. E essa atração poderá constituir-senum terrível engano.

A profecia de Isaías acerca do Servo Sofredor nos mostra que ainvisibilidade não anula a existência, a “desaparência” não anula aessência e a incredulidade não anula a realidade.

Quem é, é. E quem é (diante de Deus), cedo ou tarde também SERÁdiante dos homens.

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A PIRADA RELIGIOSIDADE PIRATA

O capítulo 58 de Isaías possui as mais belas promessas que um serhumano poderia almejar: pronta resposta divina às orações, proteção,prosperidade e saúde. Entretanto, há também lá uma pungente denúnciade Deus contra o comportamento aparentemente religioso e o pecado queo subjaz: a hipocrisia religiosa. É Deus descrevendo o que ele vê quandoolha para seus filhos pecadores.

O pecado incomoda a Deus, mas Deus mesmo pouco fala de seuincômodo aqui, o que é notável, pois quando nós, humanos, nosdesapontamos com alguém denunciamos o pecado do ofensor em termospessoais e relacionais: “Você me magoou”, “Você me feriu”, “Você metraiu”. No texto, todavia, vemos Deus protestando contra o mal que seusfilhos faziam contra o próximo e, em última análise, contra si mesmos.

Deus fala como fala a mãe que chama a atenção do filho coberto delama: “Olhe só para você! Seu cabelo, suas unhas...”. A mãe não se dóipor si ou por ter que lidar depois com aquela sujeira. Dói-se pelo estadodo filho. Assim também Deus quando nos vê cobertos de lama.Deus expressa seu desagrado com uma rotina religiosa vazia.

“... dia a dia me procuram. Parecem desejosos de conhecer os meuscaminhos” - Isaías 58:2

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Havia rito, havia rotina, havia semelhança, havia aparência. Ressalte-se:uma aparência 'atestada' por Deus. É Deus quem está dizendo que eles“pareciam” um povo “que faz o que é direito e que não abandonou o seuDeus” - 58:2b. Não era uma imagem apenas aos olhos dos outros, aosolhos do povo ou das outras nações. Era uma religiosidade pirata de altacategoria!

O pior disso tudo é que, certamente, eles também se enganavam, pois aosseus olhos também estavam servindo a Deus. Não apenas isso, parecia-lhes que Deus estava em débito com eles. Eis a “piração” da falsareligiosidade. Ela nos “faz” credores de Deus com base na “moeda” quepensamos estar depositando através de nossos ritos.

“Por que jejuamos e tu não vês? Por que nos humilhamos e tu nãoreparas?” (58.3).

O contexto do capítulo 58 é de um povo que “busca” a Deus (v.2) e queclama de uma forma como se Deus estivesse ausente ou indiferente e quese gaba de suas ações religiosas e seus jejuns (58:3).

Diante do protesto do povo, Deus mui misericordiosamente não osmanda plantar batatas como eles, de fato, mereceriam ser tratados, masfaz, pelo contrário, uma exposição daquilo que Ele desejava em termo decomportamento e práticas verdadeiramente religiosas e sadias.

“Por que eu faço tudo certo e tudo dá errado? Por que Deus não vê meuesforço?” é um típico clamor de nossa parte. Quase sempre ele será frutode uma compreensão equivocada do que Deus quer que façamos.

Códigos, leis, dogmas e estatutos são parâmetros humanos falíveis. Deuspede, em forma de uma pergunta retórica, um outro tipo de “jejum”:

O jejum que desejo não é este? Soltar as correntes da injustiça, desataras cordas do jugo, pôr em liberdade os oprimidos e romper todo jugo?Não é partilhar sua comida com o faminto, abrigar o pobre

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desamparado, vestir o nu que você encontrou, e não recusar ajuda aopróximo?

Isaías 58:6-7

Quebrar correntes, desatar nós, libertar, partilhar, abrigar, agasalhar,auxiliar. São estes os verbos que expressam atitude verdadeiramenteespiritual. Não dependem de templos, dias santos, ocasiões especiais.Para prática deste jejum basta um simples exame de consciência e umadisposição interior que veja no outro, no próximo a face de Deus ao Qualservimos sem ver e sem querermos ser vistos.

Aí sim, a sua luz irromperá como a alvorada, e prontamente surgirá asua cura; a sua retidão irá adiante de você, e a glória do Senhor estarána sua retaguarda. Aí sim, você clamará ao Senhor, e ele responderá;você gritará por socorro, e ele dirá: Eis-me aqui!

Isaías 58:8-9

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SÓ AS SERPENTES SALVAM

O capítulo 21 do Livro de Números registra um estranho episódio, noqual o povo de Israel em peregrinação rumo à Terra Prometida é atacadopor víboras do deserto e muitos morrem. A cura proposta por Deus paraas picadas mortais foi simplesmente ‘olhar para uma serpente de bronze’.Trata-se do primeiro e único caso de cura por “visão antiofídica”.

O povo estivera a protestar contra Deus e contra Moisés pelaperegrinação sem fim e pela alimentação (o Maná) a qual chamam de“detestável” e logo concluem que o ataque das cobras fora um castigodivino.

Pedem que Moisés interceda para que Deus os perdoe e “suma” com asserpentes.

A oferta de salvação proposta por Deus é cheia de símbolos esignificados.

O mais elementar significado é que aquela serpente de bronze queMoisés ergue numa haste representa Jesus erguido na cruz (como opróprio Cristo dirá depois), mas muitos outros aspectos podem serpercebidos nesse texto acerca do modo como Deus salva.

O primeiro aspecto é que a Salvação é oferecida ao invés deoutorgada – Deus não faz com que as serpentes desapareçamsubitamente e que os efeitos do veneno cessem. Deus manda Moisés

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fazer uma imagem e que oriente o povo a ‘olhar’ para a serpente. Ouseja, a salvação era uma questão de VONTADE.

O segundo aspecto é que Deus salva para além daquilo queconsideramos ‘salvação’ – o pedido do povo fora para que Deus“sumisse com as serpentes”, para que desse um fim ao ataque; não hánada a respeito daqueles que já haviam sido picados, mas Deus fez mais:salvou, tanto as ‘potenciais’ vítimas quanto as vítimas ‘de fato’. Quandose pede a intervenção divina e se busca a sua salvação, Deus sempre vaialém do livramento e salva até aqueles aspectos da nossa vida que jáconsiderávamos ‘condenados’.

Um terceiro aspecto dessa salvação é que ela é ‘simples’ – Há algomais simples do que olhar? Não havia necessidade de um sacrifício ou deum rito, nem formulários burocráticos, nem doações ou barganhas.

Por ser simples, essa salvação também era uma salvação PRÁTICA, poisalcançava até mesmo aqueles que já tivessem sido picados. O venenoofídico afeta o sistema nervoso e, num estado avançado, a única coisaque um homem picado pode fazer é mexer os olhos. Era o bastante.

Poderia alguém não querer olhara para a serpente?Há também umaspecto ‘paradoxal’ na salvação de Deus: Aquilo que me fere se tornounaquilo que me sara.

Certamente, depois do ataque, a última coisa que o povo queria ver eraserpente. Serpente? Nem que “pintada a ouro”, todavia a imagem daserpente representava um duplo desafio aos condenados: por um ladodeviam contemplar aquilo que lhes havia ferido (o juízo) e por outrodeveriam crer.

Talvez fosse mais fácil crer na imagem de um Cordeiro de Bronze ou deuma insígnia do Instituto Butantã de bronze ou até num comprimidoDoril de Bronze (afinal, tomou doril...). Mas Deus faz com que o agenteda condenação ou da salvação seja o mesmo e que dependa de umaescolha pessoal a determinação de qual efeito ele produzirá: Para aquelesque se negaram a olhar, condenação e para aqueles que contemplaramcom fé, salvação.

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Por último e o mais importante. A concessão do livramento foi gratuita(Deus não está obrigado a perdoar o povo), mas a recepção dolivramento foi condicionada a um ato de fé: olhar.

Esse é o principal aspecto da salvação que Deus promove: sem fé nãohá. Não seria necessária tanta fé para se contemplar a imagem de umQuerubim de Bronze ou outro ser celestial, mas uma ‘serpente’?

Mesmo assim é intrigante o fato de que alguém se recuse. Afinal, quem,estando condenado, não olharia para a serpente?

A resposta é simples e triste: Não olhariam os mesmos que não “olham”hoje: Quem não acreditasse (e quantos não acreditam?), quem não seconsiderasse condenado (e quanto não se dão conta?), quem considerassea solução inadequada, ou ridícula ou simplória (e quantos nãoconsideram?).

Só “olhar para a serpente”? Só “crer em Jesus”, só isso?

Haverá sempre os que buscarão os Butantãs da vida, os tratamentosalternativos e os que ignorarão os sintomas do veneno.

Mas a “mensagem da serpente” é clara e inequívoca:

Olhar é obedecer;Olhar é crer;Olhar é admitir o pecado e o juízo presentes;Olhar é confronar.

Haverá situações em que nos sentiremos paralisados e intoxicados peloveneno do mundo; sem reação ou esperança. Ainda assim haverá algoque poderemos fazer em direção à salvação de Deus; algo simples.

Talvez uma palavra, um olhar, um gesto e assim, haverá aqueles que senegarão mesmo a isso.

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O VÍCIO DA DOR

Se te mostrares frouxo no dia da angústia, tua força será pequenaProvérbios 24:10

Ninguém gosta de sofrer. Toda dor é um tipo de desconforto, mas,mesmo assim, há desconfortos que se revelam convenientes e há doresque se transformam num tipo de dependência visceral gerada e mantidapelo ‘subproduto’ que o sofrimento causa aos outros: a pena ou atémesmo a admiração.

Desde muito cedo somos ensinados que a dor é um expediente deconquista, um meio de se obter o que se quer. É difícil ficar insensíveldiante de alguém que chora. O bebê chora e é levado ao colo ealimentado; o filho desobediente chora e escapa da punição; o maridoespancador chora e é perdoado. Até o político safado chora e seus delitossão esquecidos e os votos mantidos.

Exceto quando choramos de alegria ou compaixão por outro, amensagem da lágrima, em geral, é: preciso de ajuda.

Além da pena de si mesmo (a Síndrome do Coitadinho) há ainda outromal relacionado à dor: o orgulho espiritual que decorre dosofrimento/sacrifício visto como algo dignificante ou meritório. Avivência eclesiástica está impregnada de estímulos à autoflagelaçãocomo recurso para obter o favor divino é algo que remonta aos

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primórdios do cristianismo.

Vai chorando, geme, chora – Não conheço nenhuma música cuja letradiga que precisamos sorrir para vencer as lutas, que necessitamos sermais alegres para termos a resposta de oração. Ao contrário: somosensinados a chorar e a prantear, pois “Deus não resiste” ao crente quechora. Todavia a Bíblia diz que “a alegria do Senhor é a nossa força”,que Deus ama aquele que dá “com alegria”. Não se trata de negar alegitimidade da dor, mas apenas que deve haver equilíbrio. Não podemosenfatizar o sofrimento como meio de obter o favor divino. O cantorMattos Nascimento, em sua mais conhecida canção, diz: Quer vitória?Vai chorando. Geme. Chora. Por que não “vai sorrindo, vibre, sorria”?

“Tristemunhos” – Muito do que é contado como “testemunho devitória” nas igrejas realmente tem componentes emocionantes eedificantes. Todavia, a ênfase à dor e ao sofrimento podem induzir osouvintes a pensar que o valor de um testemunho está na ‘quantidade’ desofrimento que ele tem e não na ‘qualidade’ da transformação que eleproduziu. Quando se pensa: “Depois de tudo o que eu sofri, eu mereçoisso” se faz com que a Graça deixe de ser “favor imerecido” para tornar-se “recompensa”.

Caminho estreito (e espinhoso) – Não são poucos os pastores quefazem um ‘adendo’ ao comentário de Jesus sobre “os dois caminhos”.Segundo Cristo, o que leva à perdição é “largo e muitos vão por ele” e oque leva ao Céu é “estreito e são poucos os que andam nele”. Íngreme,espinhoso e cheio de pedras são acréscimos indevidos que pregadoresutilizam para emprestar ao texto um sentido que ele não tem: de que ocaminho para o Céu é um caminho de sofrimento. O que Jesusefetivamente diz é sobre a quantidade de pessoas no caminho e não sobrea qualidade do mesmo.

Joelho calejado – Na espiritualidade sadia, prostrar-se não tem nada aver com colocar-se numa posição de desconforto físico. O ajoelhar-se éum reflexo exterior de uma disposição que já existe no íntimo:demonstrar submissão e reverência. Entretanto, em muitos ambientesreligiosos, ostentar calo no joelho virou marca de uma espiritualidadesofrida e sacrificial.

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Oração de madrugada - Já ouvi de um líder a seguinte afirmação: Essenegócio de acordar de madrugada e orar deitado na cama quentinha,debaixo do cobertor é muito fácil. Crente tem que botar o joelho no chãofrio e a boca no pó.

Jejum Sadomasô – Há pessoas que ensinam que deve-se suportar ashoras mais excruciantes de um jejum, quando o estômago dói de fome,com a certeza reconfortante de que é nessa exata hora que Deus o estarecebendo.

Há dores saudáveis e necessárias que podem tornar-se altamentepedagógicas. A dor pode nos aproximar da fé, nos ensinar os limites donosso corpo, nos alertar para o perigo. No entanto, há também males quesofremos prazerosamente a fim de atrairmos a atenção de Deus e dosoutros e essa forma doentia de lidar com a dor sempre corromperá nossoconceito Dele. Ou veremos a Deus como injusto (“Não mereço osofrimento que estou passando”) ou como devedor (“Deus vairecompensar minha dor”).

Há falsas dores que não passam de sombras de dores antigas queinsistimos em reavivar em nome de um mórbido deleite. A essas cabe anós dar um basta. Nesses casos vale o alerta da Bíblia contra o risco do‘excesso de choro’ pois a autocomiseração pode ter um efeito paralisantesobre nós: ‘Se te mostrares frouxo no dia da angústia, tua força serápequena’ (Provérbios 24:10).

Há dores que decorrem da escassez de recursos. Nesses casos a Bíbliaensina lutar com o que se tem à mão. ‘Transformem seus arados emespadas e as foices em lanças! Diga o fraco: Sou um guerreiro’ (Joel4:10).

Há dores que nos acompanharão enquanto vivermos. Para essas arecomendação bíblica é da dependência e da suficiência do poder deCristo: ‘Eu me gloriarei ainda mais alegremente em minhas fraquezas,para que o poder de Cristo repouse em mim. Por isso, por amor deCristo, regozijo-me nas fraquezas, nos insultos, nas necessidades, nasperseguições, nas angústias. Pois, quando sou fraco, é que sou forte’ (2Cor 12:9-10).

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A receita comum da sabedoria popular para a dor é conhecer alguém queesteja ‘sofrendo mais que você’. Embora isso possa deixar o sofredor umpouco mais conformado, não o deixará mais aliviado. Visitar um hospitalpara contemplar pessoas que estão numa situação pior que a nossa não éser “solidário”, é uma tentativa de sentir-se ‘superior’.

A receita bíblica é mais completa: ‘Alegrem-se com os que se alegram,chorem com os que choram’ (Rm 12:15). A solidariedade não consisteapenas em sentir pena de quem chora. Ser solidário, segundo odicionário, é “compartilhar sentimentos”.

A dor pode ter o poder de nos isolar dos outros, seccionando nossasrelações fraternas e familiares e levando-nos a estágio quase ‘autista’ noqual nos concentramos na repetição dos nossos lamentos e em nossoenclausuramento. Alegrar-se com a conquista do outro é um excelenteremédio contra esse mal além de afugentar a inveja e de agradar a Deus(não por meio da dor, mas pelo amor e serviço ao próximo) e aí, comcerteza, vai doer menos.

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OUVIR À DEUS

A voz do Senhor ouve-se sobre as suas águas; o Deus da glória troveja;o Senhor está sobre as muitas águas. A voz do Senhor é poderosa; a vozdo Senhor é cheia de majestade. A voz do Senhor quebra os cedros; sim,o Senhor quebra os cedros do Líbano. Ele os faz saltar como umbezerro; ao Líbano e Siriom, como filhotes de bois selvagens. A voz doSenhor separa as labaredas do fogo. A voz do Senhor faz tremer odeserto; o Senhor faz tremer o deserto de Cades. A voz do Senhor fazparir as cervas, e descobre as brenhas; e no seu templo cada um fala dasua glória.

Salmos 29:3-9Como saber quando Deus fala conosco? Como evitar o perigo de deixar-se levar por 'impressões' de que Deus falou? Devemos sempre perguntara Deus o que Ele quer que façamos?

Perguntar todo dia a Deus sobre o que Ele quer que façamos nemsempre é prova de comunhão. Há pessoas que se orgulham em dizerque não fazem nada, não tomam nenhuma decisão sem antes consultar aDeus. Isso soa espiritual, mas façamos uma reflexão mais profunda.

Pense na pessoa que você mais ama e melhor conhece. Você sempre lhepergunta o que ele deseja? Quanto mais você conhece uma pessoa (seufilho ou seu cônjuge, por exemplo) menos perguntas você precisa fazersobre o que ela deseja ou prefere que você faça.

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Nenhum pai desejaria que seu filho adulto ficasse telefonando a cadatrinta minutos para perguntar o que deve comer, vestir, falar; para ondedeve ou não ir. Pais responsáveis esperarão que seus filhos sejam capazesde decidir sozinhos (com base na educação que receberam).

Ter comunhão com Deus é saber e fazer o que Ele espera.

Mas... e quando realmente não temos um parâmetro a seguir? E quandonão temos certeza sobre a melhor escolha?

O primeiro passo para ouvir a Deus é disposição. É 'querer ouvir' e osegundo é quase um anexo do primeiro: é intenção ou motivação. Não'querer ouvir' por ouvir, ou para se gabar dizendo: “Deus fala comigo” ou“Sou um emissário do Senhor”, mas a real disposição de buscar 'fazer avontade de Deus'.

O salmista Davi observava os fenômenos da natureza e os comparava àsua experiência com Deus. Para ele, a Voz de Deus era tão poderosaquanto um raio partindo um cedro. Diz ele no Salmo 29:5 - “A voz doSenhor despedaça os cedros”.

Força e velocidade são marcas dessa manifestação da voz de Deus .Você constrói suas argumentações, aduba seus projetos, deixa-se enraizarde suas convicções e o tempo faz crescer essa árvore de caule grosso efirme a qual chamamos “vontade própria” até que um dia, ouvimos a vozde Deus vindo como um raio e partindo nosso cedro de cima a baixo emmilésimos de segundo.

Às vezes é assim. Quando Deus fala, nossas convicções anteriores (econtrárias) são despedaçadas como uma árvore partida por um raio.

O salmista, porém, traça outra marca dessa voz divina: “A voz do Senhorfaz tremer o deserto” (Sl 29:8). Ora, o que pode acontecer num deserto?Quase nada além de calor, frio e tempestades de areia. Todavia, quandoDeus fala, diz a Palavra, Ele “sacode o deserto”. Deus faz com que nodeserto de ideias, no deserto de planos, no deserto de projetos, algo surjade modo inesperado. Quando Ele nos fala, é como se fizesse vibrar,fizesse tremer nossa realidade.

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Podemos estar olhando para o horizonte em busca de um oásis ou para océu em busca de uma nuvenzinha de esperança e então vem a voz deDeus se manifestando não do céu ou do horizonte, mas a partir do chão,do subsolo, daquilo que não vemos.

Então, no mesmo Salmo, temos dois aspectos distintos da voz de Deus:

Deus fala “partindo cedros” e fala “sacudindo desertos”. Ás vezes, avoz de Deus vem sobre nossas florestas de cedros, sobre cedroscentenários que são nossas convicções enraizadas e que julgávamosinabaláveis. Noutras, a voz de Deus vem sobre onde não temos nadaplantado, nem um cactozinho; um deserto no qual não sabemos o quefazer. E então vem essa voz-tremor para nos lembrar que Deus tambémage movendo as placas tectônicas no subsolo, no invisível.

Ainda assim, nem sempre o que Deus fala é algo inédito (como o tremorno deserto) ou algo que vem contra nossos conceitos pregressos (comoos raios sobre os cedros). Por vezes, Deus também fala para confirmaraquilo que já tínhamos em mente.

Diz o salmista: “A voz do Senhor faz parir as corças” (Sl 29:9). A voz deDeus também traz à luz aquilo que já estava sendo gestado, aquilo que jános habitava, que estava no útero de nosso ser.

Observando as interações na natureza ao seu redor, o salmista poetizou amultiplicidade das manifestações da Voz Divina e também de suasinterações com o ser. A Voz do Senhor pode vir de cima (como os raios),de baixo (como os tremores de terra) ou até mesmo de dentro (como ascrias das corças).

Raios que partem árvores, abalos sísmicos e veadinhos nascendo sãoeventos que tem algo em comum (entre si e com a voz divina): eles sãoinconfundíveis e nos asseguram que quando Deus fala, sua voz não deixadúvidas.

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O VINGADOR

O Senhor é um Deus zeloso e vingador, o Senhor é um vingadorirascível; o Senhor toma vingança de seus adversários e trata com rigoros seus inimigos.

Naum 1:2

O que fazem os super-heróis?

Em geral, são eles os defensores dos "fracos e oprimidos"; protegem osinocentes, punem os culpados. Mas o tempo do herói que capturava obandido e o entregava às autoridades é passado. Os heróis modernoscapturam, condenam e executam. No processo, deixam (quase sempre)Nova York destruída, mas salvam a população, a namorada, o gato presona árvore e o cãozinho dentro da casa em chamas. E nós fechamos osgibis ou saímos do cinema com a sensação de que a justiça foi feita.Todavia, negamos a Deus o que aceitamos dos heróis: que Ele executesua justiça à seu modo.

Imagine-se vítima de um perseguidor implacável. Não como seu chefecarrasco, seu marido castrador ou seu vizinho chato. Imagine-se na Síria,tendo perdido familiares sob perseguição do ditador Bashar Al-Assad, ouse o guerrilheiro ugandês Joseph Kony tivesse sequestrado seu filho(como já fez com mais de 65.000 crianças forçadas a lutar em seu"exército mirim"), ou se você fosse um judeu vivendo na Europa naépoca da Segunda Guerra Mundial. Em todas essas circunstâncias, um

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super-herói viria bem a calhar. Um herói que resgatasse seu filho,vingasse a morte de seu cônjuge e que pulverizasse seus inimigos. Umdos Vingadores, por exemplo. Quem não gostaria de ter um a seu favor?

Não havia super-heróis na época de Naum, mas havia "super-vilões" - Aesperança dos oprimidos só podia repousar naquele que se apresentavacomo “abrigo seguro a todo o que nele confia” (Na 1:7) de uma maneiraque nem os X-MEN, a Liga da Justiça e os Vingadores juntos, poderiamprover porque, além de todos os poderes que os heróis têm, Deus,“conhece aquele que nele confia" (Na 1:7b)

Desejamos que a justiça puna os culpados, e desejaríamos que os super-heróis (se existissem) fizessem justiça a seu modo. O povo de Judá, naépoca do profeta Naum, de uma maneira muito mais dramática tambémansiava por justiça. Eles eram assolados pela dominação assíria eesperança de uma vingança divina era seu maior consolo.

O capítulo primeiro do livro de Naum apresenta uma descriçãoassustadora de Deus aos ninivitas. O texto mostra característicassemelhantes às vistas nos heróis da ficção: "Cheio de furor” como oHulk; “se vinga dos adversários e trata com rigor os inimigos”, comoThor. Como Batman ou Demolidor, “não deixa impune o culpado” ecomo a X-MEN Tempestade, é capaz de caminhar “em meio àtempestade e sobre o vento impetuoso”. Também como outra X-MEN,Fênix, “controla as águas, faz secar os rios e tem o poder de criar umainundação”. “Faz tremer as montanhas” de um jeito que mataria deinveja a Banshee ou Magneto e “derrama sua fúria como fogo” como oTocha Humana, o Ciclope e o Pyro juntos não seriam capazes. Aintenção era intimidar e dissuadir o adversário. Como um lutador deMMA, o Senhor avisa que Ele nunca derruba um adversário duas vezes."Finaliza" na primeira (Que é o que projetais vós contra o Senhor? Eledestruirá de vez; não se levantará por duas vezes a angústia - Na 1:9).

Os "super-poderes" de Deus estão associados a virtudes incomuns nos'demais heróis'. Diz o profeta que Deus é “paciente”, e “lento em irar-se”(Na 1:3). Qual herói é conhecido por sua paciência? Por suamisericórdia? Qual herói "avisa" seu adversário das consequências deenfrentá-lo (como Deus faz)? Já se viu algum herói convidando um vilãoao arrependimento e à mudança de atitude? Todavia, Deus é tão bom que

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sua paciência é um atributo destinado justamente aos “seus adversários”!Nínive recebera alertas de dois profetas (Jonas e Naoum) num intervalode duas gerações até que, finalmente, Deus trouxesse o juízo. Apaciência de Deus precede sua ira e a beatifica!

Em meio a tantas descrições aterrorizantes de um Deus vingativo eirascível, a nota final de Naum é a que qualifica Deus de uma formageral: “O Senhor é bom”, diz o profeta. Todo o resto deve ser entendidoa luz dessa descrição pois fazem parte de "ser bom" os aspectos mais"sombrios" da personalidade divina: o ciúme, a ira e o espírito vingativopois não seria "bom" um Deus que permitisse que o mal triunfasse contraminha vida indiscriminada e irrestritamente, não seria "bom" um Deusque pouco ou nada se importasse se eu o traísse ou o abandonasse, umDeus que não se enciumasse de minha infidelidade.

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A BOA E PACIENTE IRA DIVINA

Um versículo que, certamente, frequenta as "caixinhas de promessa"(aquelas pequenas caixas de madeira ou papelão contendo versículosbíblicos escritos em cartões coloridos em formato de tirinhas) está nolivro do profeta Naum.

“O Senhor é bom, um refúgio para os que nele confiam”

Esse é, de fato, um belo versículo. O contexto no qual se encontra,todavia não é tão estimulante.

O livro do profeta Naum possuí três capítulos. O primeiro deles, é umadescrição assustadora de um Deus irado e vingativo que está prestes afazer um acerto de contas com a cidade de Nínive, capital da Assíria.Assustador para aqueles que, como diz o texto, se colocam como'maquinadores do mal contra o Senhor' (1:11), mas 'consolador' para osque se põem sob sua proteção (1:7).

Palavras como ira, vingança, assolação e furor se sucedem até a metadedo capítulo - quando o profeta parece fazer uma 'pausa' em suadescrição da ira divina ao dizer:

O SENHOR é bom, ele serve de fortaleza no dia da angústia, e conheceos que confiam nele. Naum 1:7

A sequencia do texto, todavia, retoma o 'tom ameaçador' de antes: “OSenhor é bom... mas, com um temporal violento ele destruirá este lugar,e, mesmo nas trevas, acossará seus inimigos.” Naum 1:8

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Para aqueles que leem o capítulo inteiro, o verso sete parece ser o pontofora da curva, o contraponto, a nota dissonante do texto, mas, pelocontrário, ele é 'a chave hermenêutica' para a compreensão do texto e dofato de que Deus não deixa de ser bom quando se ira.

A “Ira” é tão própria a Deus que poderíamos fazer uma releitura doversículo acrescentando-lhe esse aspecto de seu caráter sem que hajaperda ou alteração do sentido:

“A Ira do Senhor é boa, ela serve de fortaleza no dia da angústia, elaconhece os que em Deus confiam”

A Ira do Senhor é boa porque é direcionada e justificada

“O Senhor executa vingança contra os seus adversários, e manifestafuror contra os seus inimigos.” (1:2)

A Ira do Senhor não é uma metralhadora tresloucada a disparar em todasas direções de forma irracional e despropositada. Deus está irado contraos assírios (famosos pela crueldade com que tratavam os povosconquistados).

O império Assírio exercia uma tática de conquista brutal. Queimavam ascidades, decepavam braços e pernas dos moradores e os abandonavampara morrerem de hemorragia ou cortavam e empilhavam suas cabeçastransformando sua selvageria numa espécie de marketing do terror.

O profeta diz que o tempo dessa devastação estava chegando ao fim (oque, de fato, ocorreria anos depois com a tomada de Nínive pelosbabilônios). E diz também que Deus se manifestaria em defesa de seupovo de forma implacável e violenta.

A vingança divina não é uma “desforra” - Contra quem Deus se vinga?Vinga-se contra aqueles que fizeram o mal ao seu povo. Defende-nosdaqueles contra os quais pouco (ou nada) podemos fazer. Todavia, Deusnão se vinga daqueles que fazem “qualquer coisa” contra seu povo. Elenão é um comparsa de bandido que busca vingança contra o juiz queencarcerou o 'amigo'; ele se vinga daqueles que fazem “algo errado”,“algo injusto” contra seu povo.

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A Ira Divina é boa porque é Graciosa e Paciente. Só a recebe nopresente aquele que desprezou a Paciência Divina no passado

“O Senhor é lento para irar-se, mas o seu poder é imenso” (Na 1:3)

Ou seja, a aparente inatividade de Deus não significa impotência e simum longo exercício de paciência.

Sua justiça é mediada por sua longanimidade O alerta de Deus a Nínivejá havia sido dado duas gerações atrás por meio da pregação do profetaJonas (ao que se seguiu uma genuína, porém breve conversão e umposterior retorno a impiedade). Sendo assim, ainda que os adversários deDeus estejam na 'alça de mira' de sua justiça, todavia são tambémbeneficiados por sua paciência. É para com os injustos e maus que Deusé paciente.

A Ira de Deus é boa porque fortalece no dia da angústia - A justiça deDeus não consola apenas quando se acontece. Ela também pode consolarpreviamente.

O SENHOR é bom, ele serve de fortaleza no dia da angústia - Naum 1:7

Ainda que não tenha se manifestado no presente momento, sabemos queela chegará e isso nos faz olhar para a situação desfavorável e para osinimigos impunes e ativos com o mesmo sentimento do irmão mais novoque apanha do mais velho e lhe diz: “Espera só meu pai chegar...”

A Ira de Deus é boa porque traz Paz – O juízo de Deus põe fim aoconflito. Parece paradoxal, mas não existe paz sem contrariedade. Aprisão traz contrariedade ao criminoso e paz ao cidadão.

Eis sobre os montes os pés do que traz as boas novas, do que anuncia apaz! Celebra as tuas festas, ó Judá, cumpre os teus votos, porque oímpio não tornará mais a passar por ti; ele é inteiramente exterminado. -Naum 1:15

O mensageiro da paz e do juízo é o mesmo. Apenas os destinatários são

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diferentes e o Senhor nos concede a graça de escolher que tipo dedestinatários queremos ser!

A Ira de Deus é boa porque não se manifesta sem aviso – Umarepentina tribulação pode nos levar a pensar que estamos sendo'castigados' por algum pecado, mas esse texto nos ensina que Deus nãocastiga sem avisar.

Que tramais contra o Senhor? Ele mesmo vos consumirá de todo.

Naum 1:9

Não corrigimos nossos filhos sem os alertar antes. Deus concede essetratamento até mesmo aos seus inimigos.

A Ira de Deus é boa porque não se manifesta sem explicar o motivo –O bom pai também não corrige seus filhos sem lhes explicar a razão.Também Deus oferece a 'graça de saber' até aos incorrigíveis ninivitas.

* * *

Deus se ira e isso é bom. Porque a Ira do Senhor não é como a nossa ira.Não é revanchista, precipitada, não é injusta e desproporcional, oferecepossibilidade e tempo (muito tempo) para um conserto. A bondade e apaciência habitam a ira de Deus.

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PECADORES SEM NOÇÃO DO PERIGO

Cobertor de Pecador - Quando criança, quem nunca se escondeudebaixo das cobertas 'protegendo-se' de monstros ou fantasmas?

Até que descobríssemos que monstros e fantasmas não existiam, talexpediente pôde ter passado por eficaz, mas ainda hoje há pessoas queusam métodos igualmente fantasiosos para tentarem se livrar do juízodivino. O 'cobertor', todavia, é outro.

A sensação de que a mão de Deus não me alcançará provem de algunscomportamentos que podemos entrever no texto do capítulo primeiro dolivro do profeta Naum. O livro não revela apenas aspectos do caráter deDeus, mas também contem advertências que podem ser vistas como“recados” de Deus diretamente ligados a aspectos negligenciados pelospecadores.

Estou atento aos detalhes - Aos que pensam que Deus não se importacom 'detalhes' - “Isso é uma coisa mínima, uma besteira. Deus não seimporta com isso”, o texto afirma “O Senhor é um Deus zeloso...” (1:2).

Você só não sofreu as consequências ainda porque soumisericordiosamente paciente - Aos que se tranquilizam na impunidadepensando “Nunca aconteceu nada, não é agora que vai acontecer”, oprofeta alerta “O SENHOR é tardio em irar-se, mas grande em poder, e

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ao culpado não tem por inocente” (1:3) -

Não banque o desentendido - Há os que buscam meios de se 'alienar' daconsciência do juízo e do pecado através da embriaguez e/ou do vício. Oálcool ou a droga podem silenciar a consciência, mitigar a sensação deculpa, mas Deus alerta - Porque ainda que eles... se saturem de vinhocomo bêbados, serão inteiramente consumidos como palha seca - Naum1:10

Não confie nas companhias – Há também os que se consideram à salvopela 'mutualidade'. Sentem-se seguros ao se darem as mãos e firmarem'parcerias do mal'. A esses, diz a Palavra: “Ainda que eles se entrelacemcomo espinhos...serão consumidos” (v. 10) – Esse “entrelaçamento” depecadores uns com os outros pode gerar a sensação de impunidade, masdiante do juízo divino, não há nenhum tipo de ''fraternidade salvadora”.

Preste atenção às tempestades - “...Como um temporal violento eledestruirá este lugar, e, mesmo nas trevas, acossará seus inimigos” (Naum1:8) - Tempestades não ocorrem sem avisos prévios. O céu se enegrece,os ventos sibilam, o clima muda. É o anúncio do que está por vir. Deusavisa aos pecadores que um temporal está por vir. O profeta é o INMETde Deus que alerta para às “mudanças climáticas”.

* * *

Pecadores sem noção do perigo, mesmo alertados, descansam namomentânea impunidade, na minimização de seus delitos, na companhiaprotetora dos comparsas e na celebração hedonista da vida. Melhorfariam se atentassem para os recados divinos que lhes são dirigidos. Nãoapenas para aqueles que são 'advertências', mas principalmente paraaquele que pode se tornar único cobertor capaz realmente livrá-los:

“O Senhor é bom! Refúgio seguro nas horas de aperto. Ele conheceaqueles que nele confiam” (Na 1:7)

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ENQUANTO HÁ OSSOS, HÁ ESPERANÇA

Veio sobre mim a mão do SENHOR, e ele me fez sair no Espírito doSENHOR, e me pôs no meio de um vale que estava cheio de ossos. E mefez passar em volta deles; e eis que eram mui numerosos sobre a face dovale, e eis que estavam sequíssimos. E me disse: Filho do homem,porventura viverão estes ossos? E eu disse: Senhor DEUS, tu o sabes.Então me disse: Profetiza sobre estes ossos, e dize-lhes: Ossos secos,ouvi a palavra do SENHOR. Assim diz o Senhor DEUS a estes ossos: Eisque farei entrar em vós o espírito, e vivereis.

Ezequiel 37:1-5Ezequiel é levado por Deus num tour muito estranho. O profeta écolocado no meio de um vale coberto de ossadas sequíssimas. Um valede ossos seria uma Disneylândia para um cachorro, mas para um judeudevoto, um campo de corpos insepultos era uma visão aterradora.

Deus leva Ezequiel a percorrer todo o vale – "Ele me levou de um ladopara outro e pude ver que era enorme o número de ossos no vale, e queos ossos estavam muito secos” como a atitude do mágico que, antes deperfazer seu número, mostra ao público a cartola por dentro e por fora,sem nenhum aspecto anormal em sua feitura, da qual ele fará surgir ocoelho. Deus faz com que o profeta passe por uma imersão noirreversível antes de mandá-lo profetizar a vida.

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Deus pode nos conduzir a lugares desagradáveis, lugares de morte edesesperança. Deus quer saber a opinião do profeta diante de um quadroirreversível: “Poderão reviver esses ossos?”. A resposta óbvia seria“não”, mas a resposta do profeta é “Senhor, só tu o sabes” (vs.3). Note-seque o profeta não diz: “Tu podes”, mas “Tu sabes”. Ele poderia ter dito:“Senhor, tu podes tudo, até mesmo tornar o espírito a esses ossos”, massua resposta vai além. O que o profeta está dizendo é: “Senhor, tu sabesse tu podes”.

Às vezes nos consideramos os gerentes do poder divino. Dizemos queDeus pode isso, pode aquilo, pode tudo. Ezequiel, mostra umacompreensão mais profunda. Para ele, era mais importante reconhecerque “Deus sabe” do que “Deus pode”.

Aprendemos com Ezequiel que (até que Deus revele sua vontade), omelhor a dizer, a melhor oração diante de um quadro de morte, dedesesperança, não é “Senhor, Tu podes”, mas “Senhor, Tu sabes” poisquando dizemos “Deus pode”, isso nos traz a expectativa de que Deus“vai fazer” (e, por vezes, ansiedade de que ele faça), mas quandodizemos “Deus sabe”, isso nos traz conforto e serenidade. Os ossos estãosecos, mas “Senhor, tu sabes”; o mar está bravio, mas “Senhor, tu sabes”.

Deus pode nos colocar diante de situações na quais não somosespecialistas, mas seremos fundamentais. Ezequiel não era umespecialista em ossos. Tivesse Deus perguntado ao Doutor VictorFrankenstein, “Podem reviver, esses ossos?”, o criador do monstrohomônimo teria respondido - “Dê-me um bom prazo e umas boastempestades que posso tentar algo”, mas Ezequiel era apenas um profeta.Não era especialista, mas era especial.

É interessante o texto dizer que era um vale de ossos; e não um vale deesqueletos. Isso sugere que os ossos estavam misturados. Não eramdefuntos frescos, eram ossos secos. Sequíssimos e misturados. Crânio deum, úmero de outro; rádio de um, omoplata de outro. Já seria difícil paraum especialista montar um quebra-cabeças de ossos correspondentes

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(ainda que de corpos diferentes), quanto mais crer que se levantaria alium exército de redivivos!

Profetas entre ossos secos e ventos de vida. Fico imaginando o profetadizendo no vale: “Deus está me revelando um esqueleto aqui nesse valeque está com a vida financeira encalacrada. Creia irmão que Deus vaidesencalacrar essa situação” ou “Tem uma ossada aqui que está comcâncer, Deus está mandando dizer que a cura chegou. Receba!”.

Anunciar curas episódicas em grandes plateias de gente sugestionada éfácil se comparado a receber a missão de “profetizar” para ossos e darordens a ventos! Pois Deus não manda Ezequiel dizer a alguém que osossos voltarão a viver. Manda-o dizer aos próprios ossos. Deus chamaEzequiel para ser o profeta da "Reencarnação”!

Há poucas “atividades” para esqueletos se envolverem. Talvez,estrelarem um documentário do The History Chanel, virarem peça demuseu ou de laboratório de anatomia. Todavia, diante de Deus, há algoque esqueletos podem fazer: receber uma palavra profética; podem ouvire obedecer, podem se reajuntar, se religarem, encarnarem e reviverem.

Enquanto há ossos, há esperança! Considerando que a morte JÁ É umestado irreversível, porque Deus não mostrou a Ezequiel um vale decorpos mortos ao invés de um de ossos secos?

Porque os ossos secos ilustram a distância na qual eles estão(estavam) davida!

Ou seja, eles estavam mortos há muito, muito tempo. A vida é umprocesso que se interrompe na morte e a morte dá início a um outroprocesso: o da decomposição.

Quem está morto, está em decomposição, todavia há estágios diversos dedecomposição, sendo que o último é “voltar ao pó”.

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Para o homem, a morte é o fim, mas para Deus o fim está muitodepois. O dito popular é de que enquanto há vida, há esperança, mas essetexto mostra que pode haver esperança para além da vida e até mesmo“para além dos ossos”, pois a decomposição pode trabalhar a favor dospropósitos divinos, uma vez que ela conduz o corpo morto ao seu estadoelementar: o pó.

Do pó Deus formou a Adão, no Éden. Ou seja, o caminho do fim podeser o caminho do recomeço. Ao nos decompor, Deus pode estar noslevando a nos tornarmos a matéria-prima com a qual Ele trará uma novavida. Isso vale para nós, quer estejamos na condição do profeta (em meioaos ossos da desesperança) ou quer sejamos nós mesmos os ossos.

Para Deus, um campo de ossos secos não é o fim. Com a palavraapropriada e o vento de vida, um vale de ossos secos pode se tornarnuma plantação de gente, uma startup de um formidável e inumerávelexército.

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O MEDO... É UM PERIGO!

O medo e a ousadia são duas faces de uma mesma moeda. Para muitasdas besteiras que fazemos, ouvimos a pergunta: “Como você tevecoragem disso?!” E a resposta costuma ser: “Porque tive medo”.Paradoxal, não?

O capítulo 22 do Livro de Josué relata um episódio bastante ilustrativoquanto a isso. Após a conquista de Canaã, as tribos de Rubem e Gade emeia tribo de Manassés ainda não haviam se estabelecido. Foi-lhesdestinada uma porção de terra em Gileade, do outro lado do Jordão.

Chegando então o grande dia, as duas tribos e meia foram orientadas aocupar suas possessões. Entretanto um temor se instalou entre eles: omedo da discriminação. Eles temiam ser esquecidos pelo fato de quepassariam a morar ao leste do Jordão (Transjordânia) enquanto as demaistribos (que eram maioria) ocupavam a parte oeste (Cisjordânia). Apreocupação era procedente já que eles ficariam distantes do centro daadoração do povo hebreu que ficava do outro lado do rio, em Canaã.Talvez, no futuro, os descendentes daquelas tribos se esquecessem dopovo que morava “do lado de lá do Jordão”. Os “esquecidos” ficariamprivados das cerimônias e festivais religiosos que eram baseados emCanaã e não em Gileade. Entretanto, a solução encontrada para essa

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preocupação quase iniciou uma guerra civil.

“E, chegando eles aos limites do Jordão, ainda na terra de Canaã, aliedificaram um altar de grande aparência” (vs.10).

Ao invés de buscarem seus irmãos e dialogarem, firmando um pacto oualiança, o que fizeram? Construíram um altar. E um aspecto chama aatenção. O altar fora construído às margens do Jordão, entretanto, nolado leste (pertecente às dez tribos e meia). E por que não o fizeram seupróprio lado? O texto não esclarece, mas podemos deduzir que (maisuma vez) o motivo foi o medo. Construíram um altar por medo de seremesquecidos. E por medo de serem considerados “separatistas”, fizeram-no do lado dos vizinhos.

“E ouviram os filhos de Israel dizer: Eis que os filhos de Rúben, e osfilhos de Gade, e a meia tribo de Manassés edificaram um altar diante daterra de Canaã, nos limites do Jordão, do lado dos filhos de Israel.Ouvindo isso os filhos de Israel, reuniu-se toda a congregação dos filhosde Israel em Siló, para saírem em guerra contra eles” (vs.11,12)

Ao tomarem conhecimento do que fizeram as duas tribos e meia, oslíderes das demais tribos optaram por uma “guerra preventiva”. Haviaum altar “não autorizado” (vs. 19) e isso era um indicativo preocupante.Estariam eles se desligando de seus irmãos? Estariam adorando a outroDeus?

Há pastores que ficam igualmente inquietados ao descobrirem “reuniõesnaõ autorizadas” acontecendo fora da igreja. “O que estarão fazendo lá?Falando mal de mim? Por que não fui informado?”

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"E, indo eles aos filhos de Rúben, e aos filhos de Gade, e à meia tribo deManassés, à terra de Gileade, falaram-lhes, dizendo: Assim diz toda acongregação do SENHOR: Que transgressão é esta, que cometestescontra o Deus de Israel, deixando hoje de seguir ao SENHOR,edificando-vos um altar, para vos rebelardes contra o SENHOR?"(vs.15,16)

Os líderes do povo assim agiram por medo de que o Senhor se irassecontra todos indistintamente. Havia a preocupaçaõ da necessidade de semanter um único centro de adoração (altar) para onde deveria afluir todaa congregação de Israel afim de que fosse preservado o espírito deunidade nacional. Um outro altar punha em risco essa unidade e poderiaprovocar a ira de Deus.

É interessante como o medo, na maioria das vezes não é “paralisante”.Pelo contrário, o medo nos leva a agir de forma precipitada e, muitasvezes, paradoxalmente ousada. Ao invés de nos afastar do perigo, porvezes o medo nos expõe a ele. Daí que seja comum ouvirmos coisas dotipo: “Ouvi um barulho, fiquei com medo e saí para ver se era umladrão”, “Fugi porque tive medo”, “Matei minha esposa porque tivemedo de perdê-la para outro”, “Atirei primeiro porque tive medo demorrer”. Ou o clássico exemplo da Parábola dos Talentos: “Senhor, euconhecia-te, sei que és um homem duro, que ceifas onde não semeaste eajuntas onde não espalhaste; e, atemorizado, escondi na terra o teutalento...” (Mt 25:24,25)

O medo é fruto da ignorância. No “perfeito amor”, diz a Bíblia, “não hámedo”. No Getsemani, Jesus não teve medo, teve “angústia profunda”.Não temia o que iria lhe acontecer. Ele “sabia”. Pedro, pelo contrário,decepou a orelha de um soldado por medo. A violência, quando fruto daignorância, gera uma “valentia” que nada mais é do um subproduto domedo.

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Quando a comitiva armada interpelou aos supostos revoltosos, ouviu essaresposta:

"O Poderoso, Deus, o SENHOR . O Poderoso, Deus, o SENHOR, ele osabe... Se agimos por rebeldia, que Ele hoje não nos preserve. Se nósedificamos um altar para nos desviarmos do SENHOR, ou para sobreele oferecer holocausto e oferta de alimentos, ou sobre ele apresentaroferta pacífica, o SENHOR mesmo de nós o requeira. Antes, o fizemospor receio de quê, amanhã, vossos filhos digam a nossos filhos: Quetendes vós com o SENHOR Deus de Israel? Pois o SENHOR pôs oJordão por divisão entre nós e vós e não tendes parte no SENHOR; eassim bem poderiam vossos filhos fazer desistir a nossos filhos de temerao SENHOR. Por isso dissemos: Preparemo-nos agora, e edifiquemosum altar... para que, entre nós e vós, e entre as nossas gerações depoisde nós, nos seja em testemunho, para podermos fazer o serviço doSENHOR diante dele com os nossos holocaustos, e com os nossossacrifícios, e com as nossas ofertas pacíficas; para que vossos filhos nãodigam amanhã a nossos filhos: Não tendes parte no SENHOR." (Js22:22-27)

As tribos do oeste estavam ali para tomarem satisfação sobre o altar, masa milícia armada aguardava de prontidão. Um conflito era iminente. E omedo faz as tribos do leste usarem um recurso extremamente ousado:Apelar para a mençaõ ao “nome de Deus”. E não apenas uma, ma duasvezes. Eles invocam “El” (O Poderoso), “Elohim” (Deus) e “Yahweh” (oSenhor) duas vezes para dar veracidade a seu discurso de defesa. O riscode mencionar o nome de Deus em vão foi o preço que o medo cobroupara se escapar de um massacre quase certo.

“E pareceu a resposta boa aos olhos dos filhos de Israel, e os filhos deIsrael louvaram a Deus; e não falaram mais em subir à guerra contra elesem exército, para destruírem a terra em que habitavam os filhos deRúben e os filhos de Gade.”

Há aqui dois males a serem combatidos: o medo e o juízo precipitado,sendo que um conduz ao outro e vice-versa. São intercambiáveis. E suaorigem é a mesma: ignorância. Portanto, evitar que os “outros” pensemmal a nosso respeito não é tão difícil assim. Basta fazer com que elessaibam a “verdade” a nosso respeito. Na maioria das vezes, o que falta é

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comunicação. Segundo o pastor Caio Fábio, “A suspeição é filha da faltade comunhão”. Se há comunhão entre as partes, não há espaço para asuspeita, pois quem está junto não suspeita, sabe. E, quem sabe não teme,nem julga ou age precipitadamente.

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DAVI, O TRI-UNGIDO

Davi foi o monarca mais famoso da história de Israel, mas há um aspectode sua vida quase desconhecido. Davi foi ungido Rei... Três vezes. E, emcada uma de suas três unções, aspectos de sua conduta revelam o tipo decaráter que Deus busca em seus escolhidos.

A MARCA DA PRIMEIRA UNÇÃO: TRABALHO

Quando Samuel visita a casa de Jessé e conhece todos seus filhos (nãoencontrando, entre eles o escolhido de Deus), lhe pergunta: “Acabaram-se os teus filhos?”. Jessé respondeu: “Ainda tenho o caçula, mas ele estáno campo, cuidando das ovelhas” (1 Samuel 16:11). Há muitas pessoasna igreja esperando que a liderança lhes “dê uma oportunidade” parapoderem, enfim, trabalhar. A desculpa para a ociosidade é: Ninguém medá oportunidade. Todos querem receber a “unção”. Muitos ficamesperando por ela. Poucos estão trabalhando e cuidando dos negócios doPai, como fazia Davi. Certamente Jessé não era pai de um bando dedesocupados. É provável que os irmãos de Davi também estivessemtrabalhando. Davi, com certeza, estava. Mas sua ocupação não o impediude receber a unção. O profeta Samuel fez questão de só dar início aosacrifício APÓS o retorno de Davi do campo. Assim é que, ainda que otrabalho EM SI, não garanta a unção, certo é que Deus NÃO UNGEDESOCUPADOS. E até espera por eles. Nenhum “à toa” é ungido porDeus.

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ENTRE A PROMESSA E A REALIZAÇÃO

Ovelhas de novo - Samuel foi embora e cada um voltou a sua rotina eDavi, a dele. Mas já não era mais o mesmo. O Espírito do Senhor seapoderara dele. Quando somos ungidos por Deus, a primeira mudança sedá em nosso interior. Somos tomados por um sentido de missão e destinoao ponto em que, mesmo que voltemos aos trabalhos de rotina, sabemosque já iniciamos o caminho para um propósito maior.

Notoriedade e perseguição - Há muitos que pensam: “Agora que souungido, Deus vai me colocar numa posição de destaque”. Davi, de fato,obteve “notoriedade” (1 Sm 16:17,18). A unção atrai a missão. Nãodemorou até que súditos de Saul ouvissem falar de Davi e orecomendassem para servir no palácio real. Mas a “fama” se faráacompanhar de conflitos e perseguições. Davi sofreu com irmãosenciumados e um rei descontrolado atirando-lhe lanças em acessos defúria.

Antes do trono: harpas e queijos – Todo ungido recebe uma missão. Ea primeira missão de Davi foi tocar harpa para exorcizar os demônios dorei Saul (1Sm 16:19). Em seguida, o pai o mandou ao campo de batalhapara levar alimento aos irmãos. Primeiro Davi teve que carregar pães equeijos para servir soldados de um exército que, no futuro, ele iriacomandar. Como reagiríamos se, depois de sermos ungidos por Deus,recebêssemos dele a missão de sermos tocadores de harpa e meroscarregadores de queijo?

A MARCA DA SEGUNDA UNÇÃO: DIREÇÃO DIVINA

Saul era morto. O trono estava desocupado. Davi, o sucessor escolhido,poderia reivindicar sua coroa, mas ele não se antecipa à ordem divina. Ascircunstâncias podiam estar dizendo: “Essa é a hora”, mas Davi não agesem ter certeza. Passado algum tempo, Davi perguntou ao Senhor: Devoir para uma das cidades de Judá? O Senhor respondeu que sim, e Daviperguntou para qual delas. “Para Hebrom”, respondeu o Senhor. (2Samuel 2:1)

A MARCA DA TERCEIRA UNÇÃO: CELEBRAÇÃO DEALIANÇAS

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Então todas as autoridades de Israel foram ao encontro do rei Davi emHebrom e o rei fez aliança com eles perante o Senhor, e eles ungiramDavi rei de Israel. (2 Samuel 5:3)

Davi era o sucessor escolhido por Deus e as autoridades de Israel sabiamdisso:

“No passado, mesmo quando Saul era rei, eras tu quem liderava Israelem suas batalhas. E o Senhor te disse: Você pastoreará Israel, o meupovo, e será o seu governante” (2 Samuel 5:2)

Entretanto, após a morte de Saul, essas mesmas autoridades aceitaramungir Is-Bosete, filho de Saul, rei sobre Israel. Após dois anos de conflitocivil (que culminou no assassinato de Is-Bosete, além de muitas outrasmortes), os líderes de Israel reconheceram que Davi era o legítimoherdeiro do trono. Em resposta Davi não mostrou ressentimento ouespírito vingativo, mas celebrou uma aliança com eles. O que se vê hojeem muitas igrejas é um espírito bastante diferente. Uma incapacidade deestender a mão a quem, outrora, tenha criado algum obstáculo oudesacreditado do ungido de Deus.

UNS SÃO, OUTROS NÃO

Há ungidos e “ungidos”. A imagem mais comum quando se fala de umirmão “ungido” é a do sujeito que ora e jejua sem parar e tem visões erevelações frequentemente. A marca de Davi, o “triungido”, é a marca dotrabalho, do serviço ao próximo,da humildade e da disposição paraaliançar-se a antigos desafetos e até mesmo honrar um rei neuróticocomo Saul. Um comportamento bastante semelhante ao modelo mor detodo cristão: Jesus Cristo. E vale a pena lembrar: “Cristo” é o termogrego para “Ungido”.

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COMO TRANSFORMAR DESAPONTAMENTOSEM CONFISSÕES DE ESPERANÇA

Em relação a moradia, o que deve ser pior do que não ter condições deconstruir uma casa?

É construí-la e não poder morar nela. Esse é um exemplo perfeito do queconsidero o pior tipo de desapontamento: o de não usufruir daquilo quese sofreu para conquistar.

Como você reage aos desapontamentos? Como fazer uma confissão deesperança em meio a um grande desapontamento?

Nós engravidamos e nos contorcemos de dor, mas demos à luz o vento.Não trouxemos salvação à terra; não demos à luz os habitantes domundo. Mas os teus mortos viverão; seus corpos ressuscitarão. Vocês,que voltaram ao pó, acordem e cantem de alegria. O teu orvalho éorvalho de luz; a terra dará à luz os seus mortos - Isaías 26:18,19

Isaías está dizendo que o povo passou por todo processo de dor, portodas as expectativas que cercam uma gravidez, mas nada havia nascido.Às vezes sofremos o mesmo: investimos tempo e recurso em algograndioso, podendo ser até mesmo algo dedicado à Deus ou ao próximo.E o desapontamento surge ao constatarmos que não deu em nada. Viroupó. Ou pior: virou vento.

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Ter muitos filhos era considerada a principal bençaõ para um israelitacomum. Não tê-los, ao contrário, era uma maldição vergonhosa. Mas,pior que nos sentirmos estéreis é nos sentirmos fecundos e,paradoxalmente, só conseguirmos parir vento.

O texto bíblico acima fornece elementos para compreendermos umpouco o porquê dos desapontamentos e como não sucumbir a eles.

É preciso fazer um auto-exame (perguntar-se “em que eu errei” atéachar a resposta). A perplexidade dos israelitas se devia ao fato de queeles tiveram todos os sinais. Tudo parecia apontar para uma grandebenção. “Por que, meu Deus?” e “O quê fiz de errado?” são as perguntasmais comuns quando desapontamentos como esse ocorrem. É importantenão deixar de perguntar. Uma inquirição profunda pode nos ajudar adescobrir nossos erros que passaram despercebidos ao longo do processo.

É preciso crer que o desapontamento pode ser a melhor disciplinapara nossas vidas – Investir em algo que não dá os resultados esperadosé algo que até Deus passa. Por vezes, é Ele quem se desaponta conosco(como a figueira infrutífera que Jesus amaldiçoou). Desapontar-se é umaforma de “sentir” o que Deus já experimentou em relação à Israel, aigreja e a nós mesmos muitas e muitas vezes (Dt 28:39 / Is 5:2-4). Vocêestá produzindo de acordo com o investimento? “Investimentos que nãodão retorno são os piores desapontamentos, mas, como disciplina divina,são a melhor forma de Deus nos mostrar como ele se sente conosco”.

É preciso crer que se Deus não fizer algo novo nascer, Ele vai fazeralgo velho ressurgir. O Deus que nos permite passar por momentos degestações de vento é o mesmo que transforma cemitérios emmaternidades de realizações. O trecho inicial do texto é um lamento, massua conclusão aponta para uma fé que não conhece os limites (até mesmoda morte): “Não demos à luz... mas os mortos viverão!” (Is 26:18b,19a).

* * *

Na cultura de Israel e dos povos circunvizinhos, os mortos habitavam um

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lugar de sequidão e trevas. Mas esse cântico de louvor (que é o capítulo26) transtorna esse conceito ao bradar à aqueles que “voltaram ao pó” (osmortos): “Teu orvalho é orvalho de luz. A terra dará à luz os seusmortos” (v.19).

Esse belíssimo texto bíblico é um convite a uma fé que não se limita aolhar esperançosa para um ventre gestante, mas que consegue discernirorvalho na secura, luz na escuridão e um outro ventre, embaixo na terra,gerando algo novo. Porque ter fé é crer que o mesmo Deus que faz gente“parir vento” faz terra “parir gente”.

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DIAS PIORES VIRÃO

Um dia o profeta Jeremias fez um desabafo diante de Deus. Ele secansara da maldade e da impunidade dos homens. Jeremias inicia(ousadamente) dizendo: “Tu és justo, Senhor... Contudo, eu gostaria dediscutir contigo sobre a tua justiça” (12:1). E passa então a questionar aprosperidade dos ímpios e a aparente tranqüilidade dos traidores (v.1); seespanta com a benção divina sobre suas vidas (“Tu os plantastes, e elescriaram raízes; crescem e dão fruto” – v.2). Também chora a destruiçãoda natureza: “Perecem os animais e as aves por causa da maldade dosque habitam a terra” (v.4).

Em resposta ao inquérito de Jeremias, Deus faz-lhe uma pergunta:“Se você correu com homens e eles o cansaram, como poderá competir

com cavalos? Se você tropeça em terreno seguro, o que fará nosmatagais junto ao Jordão?” Jeremias 12:5

Ao invés de responder, Deus avisa: Isso não é nada, Jeremias. Se isso tecansa, espere o que está por vir. Ele não resolve o drama de Jeremias.Mas faz-lhe revelações tremendas:

Seus inimigos serão ainda mais fores; dias piores virão, mas você estarápreparado. O que você passa hoje é um “treinamento”. Isso não pareceser muito animador, exceto por um detalhe: Você treina com homens,mas competirá contra cavalos. Ora, nunca se viu um jóquei se posicionarnuma baia de corrida sem uma montaria. Mas o que Deus está dizendo éexatamente isso. Seus escolhidos são capacitados para correr contra

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adversários mais fortes e rápidos. E vencê-los.

Deus não produz a injustiça, não se pactua com ela nem se agrada de vera destruição da natureza e a prosperidade impune dos ímpios. ComoJeremias, Deus também abomina isso. Mas esse ainda não é o tempo doacerto de contas. E enquanto não chega o dia em que diremos: “Agorasim, tudo está explicado”, cabe a nós fortalecermo-nos na confiança deque estamos sendo “treinados” para os dias piores que virão sim, masque nos encontrarão mais fortes então. Seremos mais velozes eresistentes que cavalos e bailaremos nos lodaçais onde outros malconseguem ficar em pé. Por essa perspectiva, podemos dizerconfiantemente que quem deve temer o futuro não somos nós e simnossos adversários. Dias piores os aguardam.

Deus não está dizendo que aquilo que angustia a Jeremias seja bobagemou coisa desimportante. Não está ensinando que, diante da maldade e dainjustiça, devamos dizer: Ah! Isso é besteira! O que ele está dizendo éque Jeremias se cansou cedo demais. E o que faz quem se cansa?Simplesmente para.

Os questionamentos de Jeremias são sérios e pertinentes, mas Deuscompara a situação a “tropeçar numa terra plana” (v.5b) e o adverte quesituações muito mais “enroscadas” virão, as quais compara a andar emmeio à vegetação densa que margeava o rio Jordão.

A resposta de Deus não muda a situação, mas a perspectiva de Jeremias.Ele pergunta a Deus sobre o destino dos ímpios (“Até quando... elesdirão: ninguém nos vê?”) e Deus o responde revelando o seu próprio:“Você competirá contra cavalos...”. Talvez seja assim que tenhamos quelidar com certas questões insolúveis em nosso viver. Se a situação nãomuda, devemos mudar a forma de ver, a perspectiva com a qualencaramos nosso destino e não o destino dos outros.

Ansiamos ter a resposta de (todos) nossos dilemas, mas esse texto nosensina que temos que aprender saber viver, mesmo sem “saber tudo”.Nem tudo tem resposta (pelo menos, não agora). A perplexidade nosacompanhará enquanto vivermos, mas podemos crer que se nãotropeçarmos em terreno plano e não levarmos canseira dos homens,chegará o dia em que seremos capazes de sermos verdadeiros Tarzãs da

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vida, desviando de arbustos, saltando sobre troncos e pendurando emcipós e disputaremos páreos contra puros-sangues e os venceremos.

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ANDARÃO DOIS JUNTOS SE NÃO ESTIVEREMDE ACORDO?

“Acaso andarão dois juntos se não estiverem de acordo?” Amós 3:3

Este pequeno versículo é, certamente, um dos textos mais malinterpretados que se tem noticia. Sua distorção não produz falsasteologias ou igrejas hereges, mas múltiplos divórcios e separaçõesconjugais, divisões entre irmãos, cisão de igrejas e corte de relações.Tudo isso baseado na interpretação de que SE NÃO SE PODE ESTARDE ACORDO, NÃO SE PODE ESTAR JUNTO.

Este versículo é a primeira de uma série de perguntas retóricas que oprofeta Amós faz ilustrando para a nação de Israel a questão que envolvecausas e efeitos. Diz o profeta no capítulo três que o leão não ruge se nãopegou uma presa, que a armadilha não se desarma se nada foi apanhado eque o pássaro nela não cai se ele não está armada e ainda que o sentinelanão toca a trombeta sem que isso cause alvoroço e apreensão ao povouma vez que a trombeta é o alerta de perigo.

Ou seja, toda a argumentação do profeta parte da premissa de há umarelação de causa e efeito em cada uma das ilustrações que ele apresenta.Logo, a consequência natural da falta de acordo é a separação e, naquelemomento específico, havia um grande abismo entre as vontades de Deuse de seu povo. Este desacordo trazia como consequência a separação,

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logo Deus e Israel não podiam trilhar o mesmo caminho se o desacordopermanecesse.

Assim, são muitos os que se justificam diante de Deus e dos homensdizendo: "Não posso permanecer casado porque não andarão dois juntosse não estiverem de acordo, logo a solução é a separação". "Não possopermanecer nessa igreja porque não andarão dois juntos se não estiveremde acordo, logo a solução é a separação". Todavia não é isso que ocontexto do versículo ensina.

Se dois não estão de acordo, a SEPARAÇÃO não é a SOLUÇÃO e sim aCONSEQUÊNCIA. A solução é ENTRAR EM ACORDO. Todo o livrodo profeta Amós aponta para o desejo de Deus de que Israel ENTRE EMACORDO com Ele.

Andarão dois juntos se não estiverem de acordo? Não. Logo, que entremem acordo o mais rápido possível afim de que possam prosseguir juntosna caminhada.

A separação é possível e, por vezes, necessária. Mas não deve ser aprimeira opção. A primeira opção deve ser SEMPRE a busca daconciliação. Há, porém, um preço para todo acordo pois, para se entrarem acordo, há que se conciliar pontos de vista, há que se harmonizaropiniões. E não há paz sem dor, não há harmonia sem sacrifício. Duaspessoas não podem chegar a um acordo sem “abrir mão”, semconcessões.

Deus é o exemplo maior desse preço para a PAZ SER POSSÍVEL. A“CONCESSÃO” de Deus chegou ao limite com o sacrifício do FilhoUnigênito. Entre Deus e o homem o acordo sempre será possível porqueDeus fez a concessão maior e definitiva a favor do “acordo” com ohomem.

Nas relações humanas ambas as partes em desacordo podem estar erradasem vários aspectos de suas discordâncias. A busca do acordo (antes dabusca da separação) pressupõe a disposição para o sacrifício de algumasvontades e mesmo de alguns direitos em nome do bem maior advindo de

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CONTINUAR andando junto.

Não se anda se não há acordo e não caminha com quem não temosharmonia. O desacordo paralisa a caminhada e, na maioria das vezes, aseparação não é a solução pois quando se “separa, se para” de caminhar.

Andarão dois juntos se não estiverem de acordo? Não. Então: que seentre em acordo em nome da continuidade do caminho fraterno.

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O DEUS DA VIDA TODA

"Não há santo como o SENHOR; porque não há outro fora de ti; erocha nenhuma há como o nosso Deus. Não multipliqueis palavras dealtivez, nem saiam coisas arrogantes da vossa boca; porque o SENHORé o Deus de conhecimento, e por ele são as obras pesadas na balança. Oarco dos fortes foi quebrado, e os que tropeçavam foram cingidos deforça. Os fartos se alugaram por pão, e cessaram os famintos; até aestéril deu à luz sete filhos, e a que tinha muitos filhos enfraqueceu. OSENHOR é o que tira a vida e a dá; faz descer à sepultura e faz tornar asubir dela. O SENHOR empobrece e enriquece; abaixa e tambémexalta... Os pés dos seus santos guardará, porém os ímpios ficarãomudos nas trevas; porque o homem não prevalecerá pela força.” 1Samuel 2:1-7,9Samuel, o último dos juízes de Israel (na era pré-monárquica), foinascido de uma miraculosa gravidez. Ana, sua mãe, já era velha einfértil. Pela fé, fez um voto a Deus de que, se lhe nascesse um filho, elao consagraria ao Senhor. No contexto histórico em que Ana viveu, eracomum a crença de que cada aspecto da vida era governado por umadivindade específica. Havia um deus (ou vários) da guerra, um deus damorte e outro da fertilidade, deuses para proteção pessoal e deuses parainfligir males. Entretanto, para o povo judeu, só havia a crença no Deusrecitado por todo Israel na Shema: “Ouve ó Israel, o Senhor Nosso Deusé o Um”. Vitórias e derrotas, curas e enfermidades, sucessos ecalamidades; tudo procedia da mesma e soberana fonte.

Ana deixa essa fé expressa de modo belíssimo em sua canção de

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adoração. Das ilimitadas lições que podem ser exaradas desse texto,podem-se destacar cinco aspectos da divindade pouco cridos em nossavivência cristã, embora essenciais a mesma.

O DEUS QUE É “ROCHA MOVEDIÇA” (DEUS DASALTERNÂNCIAS)

“... rocha nenhuma há como o nosso Deus.”

Ana menciona Deus como Rocha; que é uma clara referência à idéia desolidez e confiabilidade que podemos ter em Deus. Entretanto, Anatambém revela uma “Rocha” que se movimenta, que não é estática,impassível, imóvel. Ela fala de um Deus que promove mudançasfrequentemente em nossas vidas: Ana menciona o forte arqueiro que, derepente, se vê privado de seu instrumento e, portanto, de forte passa avulnerável. Por outro lado, há também o fraco que, subitamente se vê“cingido de força”; a mulher estéril que passa a gerar filho atrás de filhoe a fecunda que, de uma hora para outra, “seca”. Ora, o que se podeentender disso é que o mesmo Deus “Rocha” que não muda é o Deus quemuda as circunstâncias de nossa vida que antes pareciam imutáveis.Nossa confiança, portanto, não pode se ‘firmar’ na nossa força oufecundidade momentâneas, nem precisamos temer quando estivermosdébeis e inférteis, pois o Deus Que Não Muda pode retirar o alicerce denossa vida e mostrar que a única solidez vem Dele exclusivamente. Forçae fraqueza não significam, respectivamente, presença e ausência divina.Para o nosso bem, devemos crer que as instabilidades de nossa vidaprovêm do mesmo Deus que é estável como uma Rocha.

O DEUS DAS BOAS E MÁS SURPRESAS

“Os fartos se alugaram por pão, e cessaram os famintos; até a estérildeu à luz sete filhos, e a que tinha muitos filhos enfraqueceu... OSENHOR empobrece e enriquece; abate e também exalta”

Com freqüência vemos pessoas prósperas e bem sucedidas que sesurpreendem com um revés inesperado e vão da opulência à bancarrotade um dia para o outro. Do mesmo modo os pobres, quando conseguem

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superar obstáculos que julgávamos intransponíveis. Se a riqueza vem deDeus e a pobreza vem do Diabo, como explicar que aquele que crê emDeus, de repente, empobreça? Foi a miséria enviada pelo Diabo mais‘poderosa’ que a riqueza proveniente de Deus? Se fosse assim, comopoderíamos ter esperança de ter abundância novamente? Crer que tanto apobreza quanto riqueza, na vida do fiel, procedem do mesmo Deus torna-se um grande amparo para nosso cotidiano. Deus não é o Deus da minhaabundância apenas, dos meus momentos vitoriosos somente. É o Deus daminha provisão e da minha privação; da minha abundância e da minhacarestia. Ele é o Deus da minha vida toda.

O DEUS DO PRINCÍPIO, DO FIM (E DO QUE VEM DEPOIS DOFIM)

“O SENHOR é o que tira a vida e a dá; faz descer à sepultura e faztornar a subir dela.”

No palco da vida de Ana não há espaço para atuações do Diabo: Deus dáe toma a vida, enriquece e empobrece. Temos a tendência de relacionarDeus aos ‘inícios’ (Deus me abriu uma porta...) e o Diabo aos ‘términos’(Satanás pôs um fim ao meu sonho...). Para Ana, Deus está desde ogênese de nossas vidas até o último suspiro. E mais: quando dizemos‘acabou’, Deus pode dizer ‘continua’, pois Ana o descreve como o Deusque ‘faz descer a cova e dela faz subir’. Ou seja, Deus é o Deus que põeum ‘fim’ depois do ‘fim’ que nós colocamos. Onde nós pomos um pontofinal, Deus põe reticências. Deus é o Deus do princípio ao fim. E tambémdo reinício depois do fim. É o Deus da vida toda.

Associar a Deus apenas as coisas agradáveis limita nossa percepção desua atuação em nossas vidas. O pior sofrimento, no fim das contas, éNÃO SABER qual a procedência daquilo que sofremos. A morte, apobreza, a derrota, a fraqueza e a infertilidade podem nos alcançar eteremos mais força para superar se crermos que Deus está no comando.Ana faz uma referência à situação daquele que não crê no Deusverdadeiro. Ela diz: “o ímpio ficará mudo nas trevas”. Enquanto isso, osfiéis podem sofrer e até não saber o porquê, mas sabem ‘QUEM’ está nocontrole: “Os pés dos seus santos, Ele guardará”. O ímpio, entretanto,

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não sabe onde está, nem para onde vai. Se algo o acertar, não saberá deonde veio o golpe. E pior do que estar em trevas é estar nas trevas emudo. Sem ninguém que o ouça.

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COVIL DE LADRÕES

Põe-te à porta da casa do SENHOR, e proclama ali esta palavra, e dize:Ouvi a palavra do SENHOR, todos de Judá, os que entrais por estasportas, para adorardes ao SENHOR.Assim diz o SENHOR dosExércitos, o Deus de Israel: Melhorai os vossos caminhos e as vossasobras, e vos farei habitar neste lugar. Não vos fieis em palavras falsas,dizendo: Templo do SENHOR, templo do SENHOR, templo do SENHORé este... Porventura furtareis, e matareis, e adulterareis, e jurareisfalsamente, e queimareis incenso a Baal, e andareis após outros deusesque não conhecestes,E então vireis, e vos poreis diante de mim nestacasa, que se chama pelo meu nome, e direis: Fomos libertados parafazermos todas estas abominações?É pois esta casa, que se chama pelomeu nome, um covil de ladroes aos vossos olhos? Eis que eu, eu mesmo,vi isto, diz o SENHOR.Mas ide agora ao meu lugar, que estava em Siló,onde, ao princípio, fiz habitar o meu nome, e vede o que lhe fiz, porcausa da maldade do meu povo Israel. (Jeremias 7vv)

Uma preocupação bastante normal para os pastores é sobre o que o povofaz "das portas do templo pra fora". Ao final culto, alguns pastores ficamà porta, cumprimentando e abençoando os fiéis na saída. Talvez até seperguntando sobre o que farão após saírem. O capítulo sete do livro deJeremias fala de uma ordem de Deus para o profeta se colocar às portasdo templo de Jerusalém. Mas, definitivamente, não era para "saudar"ninguém. A preocupação de Deus, ao contrário dos pastores, não era como que o povo faria "da porta pra fora" e sim o que vinha fazendo "daporta pra dentro".

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O templo de Jerusalém fora estabelecido como centro de adoração deIsrael. Não obstante, o próprio Deus se refere a esse local com o epíteto"covil de ladrões". Naquele momento, aquele lugar sagrado não passavade um esconderijo de marginais. Ora, essa afirmação divina nos fazrefletir sobre quão corrompido estava aquele povo, uma vez que, pelalógica, ladrões procuram abrigo o mais distante da polícia, o maisdistante da Justiça, pois ladrões sabem-se foras-da-lei; e, logo, da Leifogem. Mas, o povo de Deus, pecava e, com a maior cara-de-pauabrigava-se tranquilamente nos pátios do Templo do Deus o qual eleshaviam acabado de desonrar. E o pior: tal comportamento não se devia auma busca de perdão. Era apenas uma visita rotineira. Ali, elescantavam, adoravam, faziam suas oblações e rituais; depositavam suasofertas e ouviam uma mensagem reconfortante de seus líderes religiosos.Como podiam sentir-se tão confortáveis?! Como era possível que nãohouvesse nenhuma consternação, nenhum mal estar com aquelasituação? O texto nos dá uma pista: Diz o profeta que a mensagem que opovo ouvia ali era "Este é o templo do Senhor! Este é o Templo doSenhor". Isso pode ser entendido da seguinte forma: "Enquanto vocêestiver aqui, nenhum mal vai te acontecer". A confiança em Deus étransferida para os "símbolos" que levam o nome de Deus, sejamtemplos, sejam ritos, sejam objetos. O que as pessoas esquecem é que ossímbolos são de Deus tanto quanto as pessoas que os carregam: Se aspessoas que frequentam o Templo deixam de ser de Deus; o temploTAMBÉM DEIXA DE SER. Tanto é assim que Deus chama a atençãodo povo para o que acontecera a Betel, um lugar outrora sagrado, mastambém corrompido em seu propósito original. Deus não tevemisericórdia de Betel e permitiu sua destruição. O mesmo aconteceriacom o templo. Pois Deus não é Deus de coisas; é Deus de gente. Por issoo profeta Jeremias é convocado por Deus para ficar na porta do templo,esperando o povo chegar para o culto, para dar-lhes o recado: "Cuidadocom o que vocês vão fazer aí dentro". Deus se incomoda com nossopecado e se entristece, mas ao nos flagrar; Ele não clama a si mesmodizendo: "Ó meu Eu do Céu! Olha só o que meu filho está fazendo".Nosso pecado não "assusta" a Deus, em compensação nossa falta dearrependimento o deixa furioso. Deus manda Jeremias proclamar amensagem "do lado de fora" do templo (2) porque, dentro do templo, amensagem que era pregada era falsa (8). "A verdade está lá fora", temado famoso seriado "Arquivo X", é bem aplicável aqui! Note-se ainda que

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o Senhor não barganha a obediência á sua Palavra. A promessa de Deusao obediente é: "vos farei habitar neste lugar". Não era uma promessa dehabitação nova, nem uma ampliação de possessões, era a "manutenção"da conquista. Deus não diz: "obedeça para ganhar mais", Ele diz:"obedeça para não perder o que já conquistou". Um profeta pregando dolado de fora, nos faz entender que o arrependimento á algo que tem quese dar "às portas". Entrar na casa de Deus, entrar em sua presença emconivência com o pecado nos torna cada vez mais insensíveis e vis.Como ladrões, buscamos na religiosidade uma fuga, um covil. Terrível équando o construímos bem na casa do Juiz.

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PEQUENO MANUAL DE SOBREVIVÊNCIA À IRA DIVINA

Isso é algo absolutamente certo: em algum momento (ou váriosmomentos) da sua vida, você provocará a ira de Deus. Acontece nasmelhores famílias. Irritamos pais, cônjuges, filhos, amigos e outraspessoas que amamos de todo coração. Quando isso ocorre nosrelacionamentos humanos, a dúvida comum é: “Como será a reação dapessoa que magoei?”. O que se pode esperar de um pai irado, umanamorada chateada ou um irmão ofendido?

E, em relação à Deus? O que se pode esperar de um Deus irado comigo?Meditando no Salmo 38, descobrimos como devemos nos comportar e oque podemos esperar de um Deus irado.

A “fé pagã” (se é que se pode assim dizer), concebe a idéia de umadivindade permanentemente irada que, portanto, necessita ser apaziguadaatravés de sacrifícios permanentes. Já a fé cristã, a fé bíblica nos mostraum Deus permanentemente amoroso (mesmo nos momentos de ira), quetão somente espera de nós arrependimento sincero e disposição de nãoerrar mais.

Como saber se Deus está bravo comigo? É fácil. Deus não tem nenhumprazer em nos deixar na ignorância. Se nós estivermos em dúvida quantoa tê-lo desagradado, Ele nos fará saber. Às vezes de uma formadoloridamente necessária. Diz Davi: “tuas flechas se cravaram em mim e

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tua mão sobre mim desceu” (v.2). A dor o fez conscientizar-se de suasfalhas (“...as minhas iniquidades sobrepassam a minha cabeça... v.4).

Davi estava numa situação calamitosa: doente, com problemas cardíacos,depressão, problemas de vista, ossos e coluna; feridas que não cicatrizame infectadas (versos 5 a 10). E não era só isso: Davi estava sob risco demorte (“... os que buscam a minha vida me armam laços” – v.12), eravítima de fofocas e maledicências (“... os que procuram meu mal, falamcoisas que danificam" – v.12). E, se por um lado, era perseguido pelosinimigos, por outro era abandonado pelos amigos (“Os meus amigos e osmeus companheiros estão ao longe da minha chaga; e os meus parentesse põem à distância” – v. 11). Diante desse quadro era de se imaginar queDavi não esperasse de Deus nada além de mais algumas "bordoadas".Mas Davi sabe o que esperar de seu Deus.

Pouca coisa podemos esperar de um chefe zangado. Uma esposa iradapode deixar o marido sem comida, sem roupa ou até mesmo sem dentes.Um pai irado cortará a mesada, proibirá o vídeo game e a TV. O Deus deDavi, o nosso Deus é tão maravilhoso que, mesmo irado, não se indispõeem relação a nossos pedidos e necessidades. O salmista mostra setecoisas que posso esperar de Deus.

1- Que, mesmo irado, Deus não me castigará com ira desmedida(38:1) – “O SENHOR, não me repreendas na tua ira, nem me castiguesno teu furor.”

2- Que, mesmo irado, Deus não deixará de ser sensível a minha dor eaos meus anseios (38:9) “SENHOR, diante de ti está todo o meu desejo,e o meu gemido não te é oculto”

3- Que, mesmo irado, Deus não ficará surdo à minha súplica (38:15)– “Porque em ti, SENHOR, espero; tu, SENHOR meu Deus, me ouvirás”

4- Que, mesmo irado, Deus não permitirá que meus inimigoscelebrem minha derrota (38:16) – “Ouve-me, para que não se alegrem

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de mim. Quando escorrega o meu pé, eles se engrandecem contra mim.”

5- Que, mesmo irado, Deus não me desamparará, nem ficarádistante (38:21) – “Não me desampares, SENHOR, meu Deus, não tealongues de mim.”

6- Que, mesmo irado, Deus continuará sendo minha salvação (38:22)– “... Senhor, minha salvação”

7- Que, mesmo irado, Deus agirá rápido em meu favor (38:22) –“Apressa-te em meu auxílio, SENHOR, minha salvação”

* * *

Há um atributo de Deus que é marcante nesse salmo. Os teólogos ochamam de “imutabilidade”, mas eu prefiro chama-lo de “constância”.Deus é constante em seu amor por nós, ainda que nós sejamosinconstantes em nossa relação para com Ele. Podemos não saber o queesperar das pessoas que venham a se irar devido nossas falhas. Massabemos o que podemos esperar de Deus. Seremos corrigidos, mas nãoexterminados. E Deus não se afastará nem se tornará insensível.Poderemos continuar confiando que ele não nos deixará a mercê denossos inimigos. A confiança de Davi em seu Deus era tamanha que ele,ousadamente, é capaz de pedir: “Me perdoe, não me abandone, meproteja dos meus inimigos e... seja rápido, Senhor!”

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COM VONTADE DE DESISTIR

Junto dos rios de babilônia, ali nos assentamos e choramos, quando noslembramos de Sião. Sobre os salgueiros que há no meio dela, penduramos as nossas harpas. Pois lá aqueles que nos levaram cativos nos pediam uma canção; e osque nos destruíram, que os alegrássemos, dizendo: Cantai-nos uma dascanções de Sião. Como cantaremos a canção do SENHOR em terra estranha?

Salmo 137:1-4O Salmo 137 é um belíssimo cântico sobre fé, dor e superação. Ele nosmostra um povo que adorava cantar e salmodiar ao seu Deus, mas queestão à beira da uma “aposentadoria espiritual”. Diz-se dos jogadoresaposentados que eles “penduram as chuteiras”; os cantores de Jerusalémtambém se viam no fim. Estavam “pendurando” suas harpas. E, nós, doque estamos desistindo? Estamos pendurando nossas harpas?

O povo de Israel estava cativo. Havia sido deportado para a Babilônia.Eram prisioneiros de guerra, exilados. Choravam ao lembrar-se de Sião:“Junto dos rios de babilônia, ali nos assentamos e choramos, quando noslembramos de Sião” (v.1). Levavam consigo suas harpas. Mas a harpaera um instrumento de louvor e não havia motivos para louvar agora,pois eles estavam sofrendo o juízo divino. Por isso o salmista e todos osharpistas “penduram a harpa” num salgueiro na Babilônia: Sobre ossalgueiros que há no meio dela, penduramos as nossas harpas. (v.2).

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É digno de nota o fato dos tocadores levarem as harpas para o exílio.Talvez pensassem na música como uma forma de aliviar a dor do exílio eaplacar a saudade. Podemos ser banidos, mas sempre levaremos conoscoaquilo que está em nossa alma ao ponto de não ser possível deixar paratrás. Mas, estranhamente, quando solicitados a tocar, se enfezam eproclamam uma precoce “aposentadoria” musical. Talvez porque fossemos inimigos que pedissem uma canção: “Pois lá aqueles que nos levaramcativos nos pediam uma canção; e os que nos destruíram, que osalegrássemos, dizendo: Cantai-nos uma das canções de Sião. Comocantaremos a canção do SENHOR em terra estranha?” (v.3,4).

As perdas na vida são inevitáveis, mas é preciso saber que nem tudo estáperdido e que nenhuma perda é absoluta. A perda (nesse texto) foi daposse da terra, o que era um referencial para o povo hebreu. Mas, emnossas vidas as perdas podem ter outras dimensões. Coisas, pessoas oulugares que nos foram tirados e que tinham uma importância singular.Diante de algumas delas, podemos sucumbir à tentação de, a exemplodos músicos deste salmo, pendurarmos nossas harpas. Antes, porém, éimportante saber dimensionar a perda e, principalmente, valorizar aquiloque não se perdeu.

Eis alguns conselhos:

1. É preciso saber o quê perdemos, o quê não perdemos e porqueperdemos. Precisamos entender o sentido e a dimensão da perda.

2. É preciso crer que nem tudo está perdido quando algo está perdido pormaior que seja esse algo.

3. Eles não deixaram as harpas em Jerusalém. Logo, não abandone seusdons.

4. Mesmo no exílio, há pessoas que querem ouvir você cantar.

5. Eles não deixaram de cantar. O cântico mudou, mas não cessou. Elesaté intentaram abandonar tudo (VS. 3), mas o próprio salmo é uma provade que continuaram cantando, posto que salmos são cânticos.

6. Uma canção no exílio ainda é melhor o silêncio no exílio.

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7. Por fim, se cremos que a terra da qual fomos exilados é uma promessadivina, podemos crer que para lá retornaremos um dia. Afinal, paraaquele que crê, todo exílio é temporário. Pois a fidelidade de Deus écomo aquela terra que deixamos: nada nem ninguém podem remover.

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O DESABAFO DE DEUS

Malaquias é muito mais do que um livro que fala do dízimo. Trata-se deum “desabafo” de Deus. Ao mesmo tempo em que questiona o amorhumano, Deus mostra que seu amor pode ser provado e comprovado. Nolivro de Malaquias, especialmente no primeiro capítulo, vemos umconflito de amor não correspondido envolvendo Deus e seu povo, Israel.

Examine algumas profecias contra as nações pagãs e você perceberá umpadrão: na maior parte delas, Deus dirá “Ai de ti” ou “Ai daqueles” e emseguida denunciará os pecados dos povos. No livro de Malaquias (umlivro de profecias atípico em vários aspectos), a advertência divina seinicia não com uma bronca, mas com uma declaração de amor (“Eu vosamei – diz o Senhor” – v.2). E segue dizendo: “Mas vós dizeis: em quenos amaste?”.

Todos nós já vivemos conflitos amorosos em algum momento de nossasvidas. O amor não correspondido pode ter diversas manifestações. A piordelas, curiosamente, não é amar quem não nos ama. É amar quem dizque nos ama, mas não age de forma correspondente ao amor que alegater. E pior: não percebe o amor que nós temos. Das muitas dores do amortalvez essa seja a pior. Amar e não ter esse amor reconhecido; amar e, adespeito de tudo o que se faça em favor do amado, ter esse amorcolocado em dúvida: Você me ama? Então prove! Isso é comum nosrelacionamentos humanos em que o amor nunca é uma expressão perfeitae acabada. Mas, no relacionamento com Deus, se não nos sentimosamados não é por uma falha de expressão da parte Dele; é uma falha de

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compreensão de “nossa” parte.

Esse texto nos mostra muitas lições acerca do amor de Deus por nós,seus escolhidos (como Israel o é):

Deus aceita ter seu amor questionado (mesmo que sempre oquestionamento não tenha razão de ser) – O texto não relata Deusfazendo cair fogo do céu para consumir todos os que duvidavam de seuamor. “Tá duvidando é? Então toma isso!”

Deus não apenas aceita, mas ainda responde ao questionamento – Seduvidarmos de seu amor, Deus se entristecerá, mas não se negará aprová-lo uma vez mais. Deus prova seu amor através da escolha - “Emque nos amaste?” – foi o questionamento de Israel. E Deus responde deuma forma estranha, mas essencial – “Não era Esaú irmão de Jacó?Todavia eu amei Jacó, mas rejeitei Esaú”. Soa estranho ouvir Deus dizerque “rejeitou” alguém. Mas, nesse texto, Deus se vale de um argumentoimbatível como prova de amor: Amar é escolher. E escolher é priorizar.E quando se prioriza algo ou alguém, coloca-se todo o resto em segundoplano. Pode-se dizer que, se priorizamos alguém, “secundarizamos” osoutros. Deus quer ser o “Deus escolhido” dentre todos os outros deusesassim como Israel é o povo escolhido dentre todos os outros povos.

Deus prova seu amor através da exclusividade – O que nos fazsentirmo-nos amados? É justamente sermos tratados de forma especial,diferenciada, exclusiva. É assim o amor entre um homem e uma mulher.E Deus prova, nesse texto, que a nação de Israel desfrutava de benessesque outras nações não gozavam. Nem mesmo a nação-irmã Edom(procedia de Esaú). Malaquias faz um relato de diversas calamidades queos edomitas vinham sofrendo (1:3). Calamidades das quais Israel vinhasendo poupado. Prova de amor. Mas o povo não percebia assim: “Emque nos amaste?”, era o que perguntavam.

As provas do amor de Deus não estão longe – Não é preciso ir muitolonge para saber que Deus nos ama. Diz Malaquias que basta olhar parao lado. “Não era Esaú irmão de Jacó?” pergunta. Olhe ao seu redor, mirea vida das pessoas próximas a você. De seus irmãos de sangue, seusamigos, seus “esaús”. Pessoas com a mesma origem, características

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semelhantes as suas, mas que não estão numa aliança com Deus. Peloquê estão passando os “esaús” ao seu lado? Você acha que Deus não teama? Pergunte ao seu irmão “devastado” o que ele pensa a respeito.

Deus não deixa de amar (3:6) – Nas relações humanas o amor ébaseado na reciprocidade. Se você deixar de me amar, de cuidar de mim,de me valorizar, logo perderá o meu amor também. Já o amor de Deus ébaseado em sua escolha soberana. Se fosse baseado no que fazemos aEle, passaríamos por maus bocados. E pior: nunca teríamos segurança -“Será que Ele me ama depois do que fiz hoje?”. Mas a palavra de Deuspara Israel é: “De fato, eu o Senhor não mudo. Por isso, vocês,descendentes de Jacó, não foram destruídos” (Ml 3:6).

Deus prova seu amor através da paciência em sua espera porresposta (3:7) – “Desde o tempo dos seus antepassados vocês sedesviaram dos meus decretos e não lhes obedeceram. Voltem para mim eeu me voltarei para vocês”. O desabafo de Deus, proferido através deMalaquias, provem de algo absolutamente ancestral. Não era de hoje queDeus esperava uma mudança de postura.

Deus prova seu amor através da oferta de reconciliação – Deus (oofendido) propõe reconciliação ao homem (o ofensor) subvertendo aordem da justiça e da lógica. Deus já seria bom se aceitasse perdoar umpovo arrependido e disposto à transformação. Mas não. Israel não buscaa Deus. Israel questiona: “Em quê? Em quê nos amaste? Cadê esseamor? Onde? Onde?”. E ainda assim Deus convida: “Voltai para mim” epromete “e Eu me voltarei para vós”.

O livro de Malaquias é um drama acima de tudo. O drama divinoenvolve amar um povo que arrogantemente se considera injustiçado narelação com seu Deus. É digno de nota o fato de que o povo não deixa decumprir seus ritos, não faz algo como uma “greve” de ortopraxia. Elescontinuam indo a igreja, levando suas ofertas e fazendo suas orações eoblações periódicas. Também não rejeitam à Deus, trocando-o por umbezerro de ouro (como outrora) ou por outra divindade, digamos, maiscorrespondente. A condição de Deus era análoga a do marido que não élargado, nem traído, mas que não recebe o tratamento vip de outrora. Epior, percebe que a esposa já está farta até mesmo de oferecer-lhe otratamento inferior da atualidade. Senão, vejamos:

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A oferta ficou banal – Diz Deus que para o povo “a mesa do Senhor édesprezível, não tem valor, não é lá essas coisas...” (1:12). Ou seja,“Deus não está nem ligando para o que a gente oferta... Ele não seimporta... Põe qualquer besteirinha aí que Ele já fica satisfeito”

O ritual ficou sacal, cansativo, enfadonho – “Que canseira” (1:13), erao que o povo dizia.

Além de banal, o sacrifício deixou de ser “oferta” para setransformar em “ofensa” – Ao invés do sacrifício da melhor ovelha, opovo ofertava animais doentes e velhos e o texto se refere a “animaisroubados” (1.13), mas não se tratava da ovelha do vizinho que o sujeitoia lá e pegava na surdina. Era pior: “animal roubado” era aquela ovelhacapturada do pasto por um lobo ou uma fera selvagem, era comida e cujacarcaça, quando encontrada, ainda era tida por útil para o altar doSenhor: “Que pena! Era a minha melhor ovelha! Mas Deus ficarásatisfeito por ter ela servido de alimento e ainda como oferta santa aoSenhor. Ia morrer mesmo...”

A oração tornou-se mercantil – o povo ainda orava, acreditem (1.9 e2:13). Pediam misericórdia, clemência, choravam (2:13). E pensavamtratar a Deus como a um governante a quem era comum oferecer mimose agrados afim, tanto de demonstrar gratidão quanto de conquistar asimpatia para futuros favores. Isso por si só já seria péssimo. Mas os“presentes” que o povo oferecia ao orar ofenderiam até mesmo umgovernador humano: “Quando ofereceis um animal cego, isso não émau? Ou o coxo e o doente, isso não é mau? Ora, apresenta-o ao teugovernador; terá ele agrado de ti? (...) Mas vós suplicais o favor de Deus.Com tal oferta da vossa mão aceitaria Ele a vossa pessoa?” (1:8,9).

No conceito do povo, Deus "encolheu" – o tratamento dispensado àDeus era muito inferior ao dado aos pais e senhores (patrões) da época:“O filho honra o pai e o servo ao seu senhor; se eu, pois, sou pai, ondeestá a minha honra? E se sou senhor, onde está o temor de mim?” (1:6).A verdade é que nossas ações demonstram o “tamanho” de Deus aosnossos olhos. Podemos ‘magnificá-lo’ (engrandecê-lo) ou diminuí-lo,minimizá-lo. Fazemos isso sempre que damos a Ele menos (bem menos)do que àqueles que consideramos na terra. É o refrigereco que levamospra igreja, mas jamais para a mesa de casa, a roupa puída que damos para

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o bazar, mas jamais para um parente; a hora e meia que passamosgostosamente assistindo o futebol, mas que nos enfada lendo a Bíblia,orando ou cultuando. “E a minha honra”, Deus quer saber, “onde fica?”.

O senso de justiça se corrompeu – para o povo servir ou não à Deusnão fazia lá muita diferença: “Qualquer que faz o mal passa por bom aosolhos do Senhor... Onde está o Deus do juízo?”. Era uma demonstraçãode fé no triunfo da malandragem e da picardia: “Quem se dá bem é oímpio. A gente fica se matando por Deus e não recebe nada em troca”.

Dizimista virou Punguista – “Quem roubará a Deus?”. Será possívelalguém surrupiar algo daquele que a tudo vê? Mas o povo conseguiu talfaçanha. Negar o dízimo não era tirar de Deus, era tirar da comunhão,tirar do pobre, do órfão e da viúva (que se serviam dos mantimentosestocados no templo. Era roubar de si mesmos uma vez que o dízimo eracomido numa festa anual por todo o povo em alegre celebração à Deuspela colheita (vide Deut 14:22-29).

Portanto, o desabafo de Deus era procedente. Sua origem estava nascaracterísticas e nas dimensões do pecado praticado por Israel. Eram dospiores tipos: religiosidade superficial, hipocrisia, injustiça social, descasocom Deus e insensibilidade para com o próximo.

E pior: eram cometidos por pessoas que O conheciam.

E pior: não eram vistos como pecado nem admitidos como tal.

E pior: eram frutos de prática regular, costumeira.

E, não bastasse isso, ficavam piores à medida que o tempo passava.

Com tudo isso, o livro de Malaquias e sua mensagem poderiam ser bemmais que um desabafo, poderiam ser uma sentença de execuçãosumária... “Mas eu, O Senhor, não mudo. Por isso, vós, filhos de Jacó,não sois consumidos” (3.6). Ufa!

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A TEORIA DA FOFOCA

“A morte e a vida estão no poder da língua; e aquele que a ama comerádo seu fruto”

Pv. 18:21

Como algo tão detestável pode acontecer tão frequentemente? Talvez aresposta seja: sutileza. Diz o sábio Salomão: “As palavras domexeriqueiro são como doces bocados, penetram até o íntimo dohomem” (Pv 18:8). Ou seja, segundo a Bíblia, a fofoca é saborosa paraquem escuta. Na tradução desse mesmo versículo segundo a NVI, otermo comparativo é “apetitosos petiscos”. E tal comparação é perfeita:ouvir uma fofoca é tão irresistível quanto comer um quitute ou umdocinho atraente. E porque a fofoca não é comparada a um pernil assadoou uma pratada de feijoada? Porque comida enche e, uma vez cheio,você não come mais. Mas a fofoca é servida em pequenas porções. Afofoca é o quibezinho do mal, o cajuzinho da discórdia, o chocolate BISda intriga. E uma vez no seu interior a fofoca não enche, pelo contrário,abre seu apetite.Portanto, ainda que não sejamos fofoqueiros, se somos‘consumidores de fofoca’, somos co-autores do mal. E da mesma formaque o prazer de saborear um acepipe fica explícito, a satisfação com afofoca ouvida também. E o fofoqueiro-quitandeiro se sentirá à vontadepara oferecer-nos um segundo bombozinho de trufa de jararaca.

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O apóstolo Paulo faz duas vezes a mesma recomendação à Timóteo:“Evita as conversas vãs e os falatórios” (I Tm 6:20 / II Tm 2:16). Ostermos originais em grego para tais vocábulos são: bebelos e kenophania.“Bêbelos” significa profano, irreligioso e ímpio; e é o mesmo termo paraa palavra ‘bibelôs’ que são bugigangas ou enfeites supérfluos. Já‘kenophania’ vem da junção dos termos ‘kenos’ (vazio) e ‘phone’ (som).Ou seja: conversa vazia e inútil, linguagem vã e estéril.

Por que fofocamos? – Certamente diremos que não gostamos de fofoca.Diremos mais: diremos que odiamos fofoca e fofoqueiros. Então, comouma raça tão odiada se perpetua, se multiplica tanto? Porque nós aalimentamos: “Sem lenha o fogo se apaga; não havendo fofoqueiro,cessa a contenda” (Pv 26.20)

Não gostamos de fofoca, mas gostamos de condenar o outro –dizemos: “Não estou fofocando. É que não aprovo o que Fulano fez deerrado.”

Não gostamos de fofoca, mas gostamos de bajular e fazer ‘média’– Pois dizemos: “Só vou te contar isso porque sou muito seu amigo, soude confiança...”

Não gostamos de fofocar, mas gostamos de autopromoção à custada falha dos outros – Pois dizemos: “O Fulano fez... eu não faço”

Não gostamos de fofocar, mas gostamos que se compadeçam denós – Pois dizemos: “Você imagina só o que o Fulano fez comigo?”

Não gostamos de fofoca, mas gostamos de acirrar os ânimos – Poisdizemos: “Assim que souberem o que o Fulano fez, eu só quero é ver ocirco pegar fogo!”

Não gostamos de fofoca, mas gostamos de chocar o próximo – Poisdizemos: “Você não imagina o que o Fulano disse de você...”

E por que afinal a fofoca é ruim? Por que não podemos noticiar o malque o outro fez?

Em primeiro lugar porque não nos compete julgar. Não temos

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conhecimento dos fatos e corremos o sério risco de divulgar algo que nãoocorreu exatamente da forma como relatamos.

Em segundo lugar, a fofoca NUNCA EDIFICA. Nunca promove obem estar de quem ouve. Você já viu alguém ouvir uma fofoca e bradar:Graças a Deus! Ouviu?

A fofoca revela intimidades, segredos e confidências e a Bíblia diz: “Oque anda mexericando descobre o segredo, mas o fiel de espírito oencobre” (Pv 11:13).

A fofoca é injusta. Expõe o outro sem que lhe seja dado o direito de sedefender.

A fofoca promove separação e discórdia – “O que encobre atransgressão promove o amor, mas o que renova a questão separa osmaiores amigos” (Pv 17:9)

O fim da fofoca é simples. Não existe auto-fofoca. O fofoqueiro precisade alguém que lhe dê ouvidos. É extremamente difícil calar umfofoqueiro uma vez que ele iniciou a conversa. Então evite o fofoqueiro.Aprenda a identificá-lo:

Características do fofoqueiro

• quer se mostrar seu amigo (íntimo). Chega dando tapinhasnas costas e te pegando pelo braço - “Vem cá que tenhoque te contar uma coisa...”

• quer se mostrar seu defensor, alertando-o – “Olha, só teconto porque quero o seu bem...”

• fala demasiadamente, o tempo todo, de tudo e de todos.

• toma conclusões precipitadas – Você nunca ouvirá um

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fofoqueiro dizer que é melhor apurar melhor os fatos. Pelocontrário, sua máxima é: “Eu já sabia. Eu sempre soube.Nunca me enganei com Fulano...”

• abre espaço para a crítica elogiando primeiro – “Não tenhonada contra o Fulano, mas...” ou “Gosto muito de Sicrano,só que...”

Diante do fofoqueiro, o antídoto é certo: elogie o ‘fofocado’, defenda-o econvide o fofoqueiro a orar por ele e perdoá-lo. Pois é exatamente essetratamento que recebemos de Jesus quando pecamos. Ele intercede pornós, nos defende e nos perdoa. Por isso que ninguém gosta de contarfofoca pra Ele.

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DE VOLTA AO LAR

"Quando o SENHOR trouxe do cativeiro os que voltaram a Sião,estávamos como os que sonham. Então a nossa boca se encheu de riso ea nossa língua de cântico; então se dizia entre os gentios: Grandescoisas fez o SENHOR a estes. Grandes coisas fez o SENHOR por nós,pelas quais estamos alegres. Traze-nos outra vez, ó SENHOR, docativeiro, como as correntes das águas no sul. Os que semeiam emlágrimas segarão com alegria. Aquele que leva a preciosa semente,andando e chorando, voltará, sem dúvida, com alegria, trazendoconsigo os seus molhos."

(Salmo 126)

O Salmo 126 é um cântico belíssimo e profundo. É uma mescla dealegria e tristeza, de dor e alívio. Seu tema é a volta dos judeus do exílio.Sua terra abandonada e devastada ainda assim os enchia decontentamento e esperança.Por vezes nos encontramos em situações querepresentam para nós um exílio em certo sentido. Essa sensação de‘deslocamento’ é comum e o Salmo 126 é uma ferramenta útil paralidarmos com circunstâncias assim.

A liberdade era valorizada ainda que num lugar devastado – na clássicaobra O Mágico de Oz, Dorothy exclama aliviada: “Não há melhor lugardo que a nossa casa”. Para o povo judeu, tal máxima aplicava-seperfeitamente. Ainda que a casa deles, no caso a terra, estivessedevastada. Prisão alguma, exílio algum, por confortável que seja, émelhor que o chão duro de algum lugar que se possa chamar de ‘meu

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lar’.

O povo vivia uma condição de “liberdade desabrigada” naquelemomento. Precisavam reconstruir. No salmo eles cantavam a receita paragerar uma nova nação:

É PRECISO SONHAR – porque até que eu sonhe com alguma coisa eunão a desejei por completo – diz o texto: “estávamos como os quesonham” (v.1b), pois quem sonha vive outra realidade. Voltar para o larera um sonho permanente e quando o povo retorna, sente-se como sesonhasse de novCor do textoo. A realidade tem sabor de flashback paraquem sonha com fé. Diz Caio Fábio que a fé é “a esperança feita fato nocoração daquele que crê”.

PARA SONHAR COM A NOVA TERRA, É PRECISO (ANTES)SE INCOMODAR COM O EXÍLIO – o sonho é quase sempre umsubproduto do incômodo. Se me acomodo à condição de exilado, debanido, de preso, jamais sonharei com a liberdade e o retorno ao lar. Háque se angustiar-se com o pecado (Sl 120:5,6), (Hc 1:2-4) e com ascondições desfavoráveis.É PRECISO FORTALECER-SE NA ALEGRIA DASCONQUISTAS PARA NÃO SE ABATER COM ASDIFICULDADES E FAZER NOVAS CONQUISTAS (vs. 2-4). Ne8.10 - “Grandes coisas fez o Senhor, por isso estamos alegres” (v.3). Opovo identificava a mão do Senhor favorável não apenas na históriapregressa, mas também naquele exato momento histórico. Trazer àmemória o que Deus já fez em nossa vida sempre traz força e alegriapara encararmos os desafios presentes. Logo em seguida aquelarecordação alegre, veio a prece cheia de fé: “Restaura a nossa sorte,como as correntes do deserto” (v.4). No deserto havia leitos secos (oschamados uádis) que se enchiam periodicamente na estação das chuvas.O povo sabia olhar para aqueles vergões secos no solo e dizer: “Aqui jápassou água, e vai passar de novo”.

É PRECISO NÃO SE ESQUECER DAS CONQUISTAS, NEM SECONFORMAR COM ELAS – é necessário combater atitudes erradas:conformismo “já tá bom”; a ingratidão (“não mudou nada”). Lembre-sedas conquistas, celebre-as, seja grato por elas e conquiste mais!

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É PRECISO DESEJO E TRABALHO COLETIVOS (cada umlevando sua semente) - O salmo está todo no plural, exceto o vs. 6. Areconstrução era um trabalho coletivo. Tem crente que é ótimo paraarrumar trabalho para o pastor: “Pastor, tem uma pessoa precisando deoração”, “Pastor, tem um casal brigando”, “Pastor, vai lá expulsar umdemônio”.

O pecado é um tipo de exílio. Um exílio espiritual. Quando pecamos,afastamo-nos de nosso lar, de nossas origens. Quando nos arrependemosé como se levantássemos com a determinação de retornar. Quandochegamos de volta, por vezes, descobrimos nossa vida bagunçada e nosdeparamos com as consequências de nossa “ausência”. Ainda assim,aprendemos no Salmo 126, a contemplar algo circunstancial (a desordemmomentânea) sem perder de vista algo inamovível (a Terra daPromessa). E se o chão não sumiu, se o fundamento não desapareceu,poderemos construir de novo. A desordem pode se “sobrepor”, mas nãopode “decompor” a Terra Prometida. Devemos saber valorizar o que seencontra sob os escombros. A desordem que está por cima é nossaresponsabilidade e pode ser removida. A terra que está por baixo é nossaherança. E ninguém vai tomá-la de nós.

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A COPA DE NEEMIAS

Em tempos de Copa falemos de um homem que abandonou a copa paraentrar para a história. Neemias, o copeiro real que se tornou herói dareconstrução de Jerusalém.

Como nasce um líder? E o herói?

Neemias é um modelo de líder atípico. Não era rei, nem profeta. Não foiungido como Davi, não recebeu a visita de um anjo, como Gideão; nãoteve uma experiência de chamamento divino como Moisés ou Samuel.Há aqueles que são escolhidos para serem líderes e há aqueles que seoferecem. Neemias é um destes: não é um escolhido, é um oferecido.

Um herói se importa – Neemias fica sabendo da situação de seus irmãosem Jerusalém. “Aqueles que sobreviveram ao cativeiro e estão lá...passam por grande sofrimento e humilhação. O muro de Jerusalém foiderrubado, e suas portas foram destruídas pelo fogo” (Ne 1:3). O povohavia retornado do cativeiro babilônico e uma tímida tentativa derestauração dos muros da cidade havia sido interrompida pelo reiArtaxerxes, o mesmo rei a quem Neemias servia como copeiro-mor. Areação de Neemias é a primeira que todo líder sente ao ser exposto a umasituação extrema: consternação. Neemias chora, lamenta e em seguida,ora e jejua por dias a fio.

Um herói se identifica com o sofredor - Neemias toma a causa do povo

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como sua. Apesar de ser judeu, Neemias não vivia nas mesmas edramáticas condições de seu povo. Era um funcionário palaciano a mil equinhentos quilômetros de distância da dor alheia. Tinha todas asdesculpas para não se envolver. Mas o líder nato, toma a causa dosmenos favorecidos como sua. Muitas vezes o líder é um igual que sediferencia dos demais. No caso de Neemias, ele era um diferente quedecide se igualar. Em sua oração de confissão, Neemias se coloca namesma condição dos demais: “Confesso os pecados que nós... Sim! Eu eo meu povo temos cometido” (Ne 1:6)

Um herói se vê capaz. Uma cidade destruída, um povo desmoralizado edesmotivado. Era essa a situação e Neemias não era um engenheiro civil,um empreiteiro ou um arquiteto. Era apenas o copeiro. Mas não era umcopeiro qualquer, era o copeiro de Artaxerxes; era o homem da confiançado maior monarca da época. E com Neemias aprendemos que énecessário confiar nos talentos que possuímos. Caso contrário, jamaisestaremos dispostos a assumir desafios. Muitos conselheiros espirituaispoderiam dizer: “Não olhe para si mesmo. Olhe para Deus!”. Ousediscordar. Olhe para Deus e você verá que Deus está olhando para você.

Quando sabemos identificar nossas habilidades, também identificamosnossas limitações. Neemias tinha boa vontade e disposição, mas nãotinha recursos materiais. Mas tinha dois recursos fundamentais: aconfiança do rei e a confiança em Deus. Neemias decide interceder juntoao rei Artaxerxes. Mas, antes, ora fervorosamente (Ne 1:5-11). “Fazecom que hoje este teu servo seja bem-sucedido, concedendo-lhe abenevolência do rei”. Quando o rei lhe pergunta o que ele deseja,Neemias responde: “Se for tua vontade, me envie à cidade de meus paispara que eu a reconstrua” (Ne 2:5) e aproveita a oportunidade comincrível ousadia: Pede uma licença de serviço, autorização paraatravessar as fronteiras do reino, oficiais do rei para acompanhá-lo emadeira do jardim real para a restauração das portas da cidade e para aconstrução de uma moradia para si. Essa é a qualidade maior de qualquerherói: coragem. O rei nada lhe nega.

Neemias é um tipo de líder atípico. Não foi eleito, não foi nomeado,não foi formado, não foi galgando degrau por degrau até a condição deliderança. Mas é o herói típico. Pois é herói todo aquele que, diante dacalamidade, é capaz de indignar-se (“Isso não pode continuar assim”),

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chamar a si a responsabilidade (“Preciso fazer algo a respeito”),identificar e mobilizar os recursos disponíveis (“Eis o que vou fazer!”)enquanto que o covarde é aquele capaz apenas de resignar-se (“Quepena”), desviar da responsabilidade (“Não é problema meu”) e ignorar osrecursos favoráveis (“Não há nada que eu possa fazer”). Neemias é olíder-herói. Do tipo de líder que a Igreja mais precisa hoje. O tipo quebate o joelho no chão e clama aos Céus, e bate a mão no peito e diz:“Deixa comigo”

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AMOR, NA PRÁTICA

“Vendo extraviado o boi ou ovelha de teu irmão, não te desviarás deles;restitui-los-ás sem falta a teu irmão. E se teu irmão não estiver perto deti, ou não o conheceres, recolhê-los-ás na tua casa, para que fiquemcontigo, até que teu irmão os busque, e tu lhos restituirás. Assim tambémfarás com o seu jumento, e assim farás com as suas roupas; assim farástambém com toda a coisa perdida, que se perder de teu irmão, e tu aachares; não te poderás omitir. Se vires o jumento que é de teu irmão,ou o seu boi, caídos no caminho, não te desviarás deles; sem falta oajudarás a levantá-los.”

Deuteronômio 22:1-4Como você ama? Pedir uma prova de amor é um expediente recorrentenas relações humanas. Para Deus o amor anda de mãos dadas com ajustiça. Amar é fazer o que é certo. Amor não é metáfora, não écosquinha no coração, não é nhem-nhem-nhem. O Amor é prática e semanifesta em ações em favor do outro. Amar é tomar para si aresponsabilidade. O texto acima mostra um exemplo prático do “espíritoda lei” quanto à consideração pelo próximo. A partir dele, podemos tecerum paralelo com os aspectos práticos da vivência do amor cristão aopróximo.

O texto de nosso estudo não trata explicitamente de amor. Mas trata defazer o que é certo em consideração ao próximo. E isso, segundo Jesus, éamar, posto que o cumprimento da Lei é o amor. Para aqueles que veemno amor apenas sua dimensão romântica, o ato de recolher um animalperdido em casa não se parece nada com o amor das telas de cinema ou

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dos sonhos de menina. Entretanto é um exemplo ótimo para se ensinarque as oportunidades de amar fazem parte do nosso cotidiano. O amornão é um sentimento que, de tão nobre, deva ser guardado e reservadopara ocasiões especiais como salvar uma donzela em apuros ou morrerpela pátria. Amor é para o dia-a-dia, seja para um ato de heroísmo oupara apenas devolver um boi perdido.

O exemplo bíblico do ‘boi perdido’ é ótimo também para ressaltar outroaspecto do amor na prática: As oportunidades de amar interferem nosnossos planos. Elas são inconvenientes. O texto deixa isso claro quandoadverte: “Se... tu a achares não te poderás omitir”. Ou seja, no caso emquestão, fazer o que é certo implica em que o sujeito deveria capturar oanimal perdido (caso estivesse solto) ou libertá-lo (caso estivesse presonuma vala, por exemplo). De um jeito ou de outro haverá uma boa dosede trabalho, desgaste e cansaço. O amor faz a gente alterar nossa agenda,remarcar nossos compromissos e colocar o outro (algum desconhecidodesatento com seus animais) como nossa prioridade. “Não te omitirás”,diz o texto. Isso nos mostra outro aspecto relacionado: O amor implicasacrifícios. Implica gastos. Se ao menos o objeto perdido fosse umaxuxinha de amarrar cabelo... Mas não, um boi ou um jumento dão muito,muito mais trabalho. Onde colocá-los? Como alimentá-los? E por quantotempo? Melhor seria deixar de lado e simplesmente ignorar. Razões paraisso não faltariam. Afinal as oportunidades de amar são cheias dejustificativas para não se amar: “não é minha responsabilidade”,“problema de quem não cuida de seu boi”, “não é minha culpa”, “não éminha obrigação”. Não parece justo interromper meus afazeres paracuidar da provável displicência do outro. Mas é justamente a coisa certaa fazer. Nesse caso, vale lembrar da parábola do bom samaritano queencontrou não um boi, mas um homem à beira do caminho. Fica aindamais evidente a omissão dos dois judeus que se negam a prestar socorro.Eles sabiam muito bem o que fazer. Um homem não valeria muito maisdo que um boi ou jumento?

Além de todas as dificuldades implicadas no amor na prática, há algopior: as oportunidades de amar não oferecem garantia alguma derecompensas imediatas. Quem se dispõe ao trabalho de ‘devolver o boi’o faz sem pretensões compensatórias. O amor, além de custar caro paraquem oferece, não custa nada para quem o recebe. É de graça. É daGraça. Alguém argumentará: Então por que amar? Por que se sacrificar

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em função de alguém sem nada em troca? Simples: porque nós tambémtemos nossos ‘bois perdidos’. Nós também precisamos de alguém que secompadeça e que dê meia-volta e recupere algo nosso. Quantas pessoasjá recuperaram nossa auto-estima perdida, nossa fé e força perdidas? Eisso nos leva a mais uma lição: Fica mais fácil amar se todos amamjuntos. Imagine viver numa sociedade onde todos guardassem edevolvessem aquilo que você perdeu. Seria bem mais fácil fazer omesmo.

As nações mais desenvolvidas do mundo atual têm um princípio desequer tocar em algo de valor que esteja perdido. A educação recomendaque qualquer coisa (dinheiro ou objetos) seja deixada exatamente nomesmo lugar, afim de que o dono, ao perceber-se da perda, possaretornar e encontrar seu bem. A lei mosaica ia além e determinava quequem encontrasse, assumisse a responsabilidade pelo cuidado e pelaprocura do dono. Assim, Deus pretendia que Israel fosse a comunidadeonde nada se perdesse. Assim Deus pretende que seja a igreja: um grandedepósito de achados e perdidos. Uma comunidade que assuma aresponsabilidade de restituir o boi. Mas também o respeito e o amorpróprio perdidos, a pureza perdida, a esperança perdida. Filhos perdidosaos pais, maridos perdidos às suas esposas e famílias, criminososperdidos à sociedade. Afinal, restituir o perdido é o “negócio de Deus” enós um dia já fomos o ‘boi’.

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UM SALMISTA EMBASBACADO

O rei Davi é autor da maioria dos salmos das Escrituras Sagradas e suascomposições abarcam os mais variegados temas. Há súplica, celebração,lamentos, exortações e há também salmos como o Salmo 8, cuja essênciaé mais absoluta admiração.Temo que tenhamos perdido a capacidade deparar e contemplar. Nesse salmo de Davi, podemos reaprender a admiraralguns aspectos da divindade que, talvez, estejam nos passandodespercebidos.O que te espanta em relação à Deus? O que te faz dizer“Oh!”? Um milagre espetacular, uma vitória inesperada? Para Davi anatureza ao seu redor e a própria natureza humana já possuíam elementossuficientes para deixa-lo embasbacado.O primeiro espanto de Davi é com a fama internacional de Deus . Eleinicia o salmo dizendo “quão grande é o teu nome em toda terra!”. Omundo na época do salmista era uma colcha de retalhos de divindadespagãs muito pouco (ou nada) conhecidas; circunscritas aos limites daterra que seus fiéis habitavam. Mas, Jeová, o Deus de Israel, tornara-seconhecido, temido e (muitas vezes) adorado para além dos limites deIsrael e isso alegrava o coração de Davi. Atualmente vemos líderesevangélicos admirados da fama internacional de seus próprios nomes eministérios.

O segundo espanto de Davi é com a força que vem da fraqueza – Oversículo dois relaciona elementos aparentemente inconciliáveis. Diz osalmista que Deus tira força e louvor dos lábios das crianças para “fazercalar os inimigos”. Como Deus faz o louvor das crianças repreender(calar) o inimigo? A liça aqui é que a inocência prevalece sobre os

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adversários. Deus vence seus inimigos com canções infantis. A força quevem da inocência, da aparente fragilidade. E, de fato, as criançassuportam dores que nós não agüentamos. Elas não se importam comcoisas que nos atormentam e só se fragilizam com necessidadeselementares como saúde e alimentação.

O terceiro espanto de Davi é com a grandeza e a beleza do Universo -o salmista se admira da força que sustenta os astros nos céus (“as estrelasque firmaste”). Para os cientistas a extensão infinita do Universo sóacentua a nossa insignificância. Não passamos de “poeira cósmica”,segundo eles. Para Davi, entretanto, o Universo exalta a importância dohomem. É a obra de arte de Deus (“obra de teus dedos”) para nossacontemplação e satisfação.

O quarto espanto de Davi é com relevância humana para Deus – Emgeral, nossa perplexidade é gerada pela aparente amnésia divina a nossorespeito: “Será que Deus se esqueceu de mim?”. Neste salmo, aperplexidade de Davi surge justamente pelo processo inverso: “Quemsou eu para que Deus se lembre de mim?!”. Para ele, o espantoso é Deusse lembrar.

O quinto espanto de Davi é com a grandeza humana dada por Deus– o salmista se admira da “estatura” do homem (“pouco menor do que osanjos o fizeste...”). Que os anjos fossem cheios de glória e beleza eraperfeitamente aceitável. Afinal eles habitavam em meio às estrelas,comungavam da glória dos Céus. Mas o homem? Ainda mais o “homemdecaído”? É de espantar. E daí decorre o último espanto de Davi. A essemesmo homem, Deus permite ser “gerente” da Criação, participante nagestão de um empreendimento no qual ele não teve parcela alguma decontribuição. Davi se admira com o alcance do governo humanopermitido por Deus: “Fazes com que ele tenha domínio sobre as obras detuas mãos e tudo puseste debaixo de seus pés”.

A grande constatação é que, cada vez mais, vemos o homemvangloriando-se e gabando-se de seu conhecimento e desenvolvimento.As potências militares gabam-se de seus exércitos, Davi se espanta com aforça de crianças indefesas, os cientistas se orgulham de conhecer cadavez mais a mente humana, Davi se espanta que o homem nunca saia damente divina; o homem se admira do poder que tem e Davi se espanta de

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tal poder lhe ter sido dado.

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AI, QUE VONTADE DE SUMIR!

O Salmo 55 é um relato detelhado do impacto psicológico que asperseguições e a traição podem trazer sobre uma pessoa. Mostra comoisso transtorna nossa capacidade de discernir saídas e soluções e tambémoferece segurança e conforto a todos que, como Davi, de vez em quanto,têm uma vontade quase irresistível de simplesmente DESAPARECER;tomar um DORIL EXISTENCIAL e sumir do mapa; ainda que, poralguns minutos apenas.

Davi fala de inimigos que não o deixavam em paz. E de um amigoíntimo que se voltara contra ele. Há conflitos (na família, na igreja ou noambiente de trabalho) que produzem em nós as mesmas sensaçõesexperimentadas por Davi. Diz ele que está "atordoado", "confuso" (v.2),que não suporta mais "gritaria e barulho" (v.3). Ele sente que está a pontode enfartar ("meu coração está acelerado" – v.4) e está tomado pelainsegurança e medo do futuro.

Pombas não vivem no deserto - Muitas vezes nos sentimos assim e,como Davi, acabamos tomados por um desejo imenso de simplesmenteSUMIR. E alguns, de fato, somem. Outros trancam-se no quarto,dormem na sala, dão um passeio. A dor e a angústia fizeram com queDavi buscasse uma solução absolutamente ABSURDA. Ele diz que seudesejo maior naquele instante era virar passarinho: "Quem dera eutivesse asas como a pomba... fugiria para bem longe e no desertoencontraria repouso... Bem depressa procuraria achar um lugar seguropara me esconder da ventania e da tempestade" (6-8). Davi queria seabrigar de tempestades e da ventania no deserto?? Apenas no deserto do

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Saara ocorre uma média de oitenta tempestades por dia com ventos de100 km/h que deslocam, por ano, 260 milhões de toneladas de areia.Fugir para o deserto está fora de cogitação. Situações estressantes podemnos fazer olhasse para a "fuga" como solução e para o deserto como"lugar seguro". Mas pombas não vivem no deserto. Quem vive nodeserto? (Lc 11:24).

Eu queria ser uma ameba - A primeira e mais elementar recomendaçãoa alguém que esteja passando por um drama familiar ou algo como o quepassou Davi é: CUIDADO COM AS DECISÕES TOMADAS EMMOMENTOS DE DOR E AFLIÇÃO. POIS A DOR AFETA ODISCERNIMENTO e, invariavelmente, nos conduz a um desejo deencolhimento de auto-reducionismo; uma vontade de virar um pássaro,uma formiguinha ou uma ameba; crendo na lógica do "quanto maior oproblema, menor eu quero ser".

Mas, graças à Deus, Davi não tinha asas e acabou encontrando (erevelando em seu salmo) a solução:

RECONHEÇA SUA FRAQUEZA – assuma diante dele sua fraquezasem máscaras. Não banque o crente "comigo-ninguém-pode". Faça comoDavi que se assumiu: "Sinto um medo terrível e acho que vou morrer"(4,5 – NTLH).

APRESENTE SEU ADVERSÁRIO À DEUS – Davi faz no salmo umadescrição pormenorizada do que faziam seus perseguidores.

NÃO TEMA AS ALIANÇAS INIMIGAS – Elas acontecerão. Éincrível como os inimigos têm esse magnetismo que os faz unirem-secontra nós. Mas Davi faz uma oração bastante apropriada. Ele pede paraDeus "melar" os planos dos adversários: "Ó Senhor, atrapalha e destróios conchavos dos meus inimigos" (v.8).

NÃO PERCA O 'COSTUME' DEVOCIONAL - às vezes a dor nosaproxima de Deus, às vezes nos afasta. Davi continuou seu hábito de orartrês vezes por dia: "De manhã, ao meio-dia e de noite, eu choro e mequeixo, e ele me ouve" (v.17)

TRANSFORME SUA DOR EM ALGO POSITIVO PARA OS

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OUTROS – Davi transformou as dele num salmo.

O salmo 55 começa como o relatório de um fracasso, mas termina comum convite à fé em Deus ("Entregue seus problemas ao Senhor e Ele oajudará" –v.22) e uma declaração de vitória: "... quanto àquelesassassinos, não chegarão à metade da vida. Eu, porém, confiarei em ti".A forma como o salmo começa e como termina é também um paralelo danossa oração quando estamos sob perseguição: pode começar com choro,medo e aflição, mas sempre terminará com fé, calma e discernimento.

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PARA REI DE ISRAEL, VOTE ABIMELEQUE

“E teve Gideão setenta filhos, que procederam dele, porque tinha muitasmulheres. E sua concubina, que estava em Siquém, lhe deu à luz tambémum filho; e pôs-lhe por nome Abimeleque. E faleceu Gideão... e os filhosde Israel tornaram a se prostituir após os baalins; e puseram a Baal-Berite por deus.”

Juízes 8:30-33

Saul foi o primeiro rei de Israel. Antes dele, porém, no tempo dos juízes,um sujeito conseguiu ser “democraticamente eleito” como o Rei de Israele governou por três anos. Sua história e os meios que usou para chegarao poder, traçam um poderoso paralelo com as campanhas políticas daatualidade. Seu nome, Abimelec, filho de Gideão.

Gideão fora um dos juízes em Israel (numa época anterior aoestabelecimento da monarquia). Era dos juízes a responsabilidade pelacondução da vida devocional e pela segurança nacional de Israel. Apóssua morte, Abimeleque, seu filho, começa sua campanha política deforma bem tradicional: mobilizando as massas de desfavorecidos.

A PRÉ-CAMPANHA

“(Disse Abimeleque): Qual é melhor para vós, que setenta homens,todos os filhos de Gideão, dominem sobre vós, ou que um homem sobrevós domine?” (Jz 9:2)

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Abimeleque era um excluído. Filho de Gideão com uma concubina, vivialonge do restante da família, como um bastardo. Com a morte do pai, seestabelece um vácuo de poder que Abimeleque aproveita muito bem. Elevai até os parentes de sua mãe e os convence de que era melhor semobilizarem para o alçarem ao poder do que se submeterem ao jugo desetenta homens. Era como se Abimeleque estivesse dizendo: “Vocêsestão fora do poder porque são irmãos de minha mãe que era apenas umaconcubina. Meus irmãos por parte de pai, quando chegarem ao poder,vão tratar de manter vocês fora. Eu sou sua única chance”. Assim,Abimeleque “capitaliza” aquele sentimento de rejeição, instila o medo ecolhe uma legião de “eleitores” dispostos a tudo.

OS PRIMEIROS ELEITORES

“... E o coração deles se inclinou a seguir Abimeleque, porque disseram:É nosso irmão.” (Jz 9:3)Maus políticos sempre se passam por representantes dos excluídos e comeles identificados. Abimeleque estabelece seu “curral eleitoral” emSiquem (cidade dentro do território de Manassés), cujos habitantessentiam-se alienados do poder durante a liderança de Gideão.Abimeleque explora essa insatisfação com um bordão típico dospolíticos: “Lembrai-vos que sou sangue do vosso sangue e osso dosvossos ossos” (Jz 9:2)

DINHEIRO ROUBADO E MILITÂNCIA COMPRADA

“E deram-lhe setenta peças de prata, retiradas do templo de Baal-Berite...”

A fé no verdadeiro Deus dissipara-se já ainda durante os últimos anos deGideão. Após sua morte, estabeleceu-se de vez o culto a Baal-Berite.Maus líderes não possuem escrúpulos quando se trata de aceitar dinheiro“sagrado” para campanha. Abimeleque aceita a prata tirada de umtemplo pagão numa boa. E a destina para um fim não menos pagão: “... ecom elas alugou Abimeleque uns homens ociosos e levianos, que o

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seguiram” (Jz 9:4).

EXTERMÍNIO DA CONCORRÊNCIA

“Foi à casa de seu pai em Ofra e matou seus setenta irmãos” (Jz 9:5) –típico político que resolve as diferenças na base do extermínio,Abimeleque promove um banho de sangue para poder ter uma“candidatura única”.

“Então todos os cidadãos de Siquém reuniram-se... para coroarAbimeleque rei” (Jz 9:6) – candidato único, Abimeleque não tevedificuldades para ser eleito.

Abimeleque não foi muito longe em seus desatinos. Morreu tragicamentetrês anos depois, vitimado por um levante popular contra seu governo (Jz9:22-57). Sua vida traça um perfil do tipo de mau líder que prolifera emépocas de eleições. Políticos que se afirmam “do povo”, “sangue donosso sangue”, supostamente defendendo os interesses de uma minoriaexcluída; que se sustentam com dinheiro roubado e se promovem peloterrorismo psicológico, pelo “aluguel” de militantes e pela eliminação“preventiva” dos adversários. Tal qual a cartilha de Abimeleque. E opior: duram bem mais que três anos.

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A TEOLOGIA DO CULTO

Como e porque cultuamos? A experiência devocional do culto público éuma das mais completas e significativas experiências que um ser humanopode ter. Mas, em muitas igrejas, a realidade é exatamente o oposto:reuniões longas, cansativas, maçantes, desconectadas da sua realidade,constrangedoras e incitadoras do medo e da ansiedade. Talvez estejamosperdendo o foco do culto, de seu propósito e características.

O culto deve ser festivo (celebração) – “Louvem-no com cânticos dealegria e ao som de música” – Salmo 98:4

O culto deve ser solene (cerimonial) – mas não confunda solene comsonolento. O dicionário cita “solene” como “algo que infunde respeito”.O culto pode ser festivo e ainda assim ter momentos solenes. Atossimples como fechar os olhos, curvar a cabeça, ajoelhar-se, curvar-se oucolocar-se de pé reverencialmente são solenidades.

O culto deve ser memorial – os elementos do culto devem estimular alembrança do que Deus fez, devem trazer à memória também o que nósfizemos (de bom, para gratidão ou de mal, para arrependimento eperdão).

O culto deve ser pactual, deve produzir alianças e compromissos. Umculto verdadeiro sempre motivará a tomada de decisões em relação aDeus e ao próximo.

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O culto deve ser evangelístico, mas não apenas na pregação. O cultotodo deve ser a manifestação compreensível e saborosamente convidativados conteúdos do Evangelho: a alegria, a paz, a comunhão, o perdão, aesperança e o serviço devem estar manifestos.

O culto deve ser simbólico - mas com símbolos autênticos, verdadeiros

O culto deve ser violento (no seu impacto) – mas, violência aqui nãotem relação com brutalidade, mas com energia e poder. Há, pelo menos,três “violentas” manifestações divinas relacionadas a um culto em Atos.No capítulo 2, ouviu-se um som como de um “vento impetuoso”; emAtos 4, durante a oração, “moveu-se o lugar em que estavam reunidos” ePaulo e Silas (na prisão) cantaram até romperem-se os grilhões que osprendiam. Não por acaso, “poder” em grego é dinamys (de cuja raizprovém a palavra “dinamite”).

O culto deve ser racional – deve ser compreensível, discernível,inteligível. E isso é tão sério, que Paulo alerta para que ninguém tomeparte na Ceia do Senhor sem “discernir o Corpo” e para que não hajaorações em línguas sem alguém que as discirna também.

O culto deve ser sacrificial – sendo os maiores, os de colocar o interessedo outro acima do meu, a vontade de Deus acima da minha e no fim,como recompensa, descobrir que o sacrifício não trouxe dor, mas alívio.

O culto deve ser sentimental – é cientificamente comprovado que aemoção auxilia a fixação do conhecimento. Aprendemos melhor e deforma mais duradoura quando há emoção associada ao ensino. O escritoramericano Raymond Ortlund pergunta: “Como saber se cultuamos deverdade?” e responde: “Se saímos da igreja nos regozijando”.

O culto deve ser espiritual – o espírito humano é o “ambiente daadoração”, é onde a adoração acontece. Jesus, condena a mera liturgiadaqueles que o louvam com lábios, mas cujo coração “está longe” (Mt15:8)

O culto deve ser público e comunal – a adoração a Deus é umaexperiência íntima e pessoal que, entretanto, manifesta-se pública ecoletivamente durante o culto.

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O culto é, enfim, a experiência humana mais completa, pois envolve ocorpo, a alma e o espírito e cumpre, a um só tempo, a tríplice missão daigreja: comunhão, evangelização e adoração.

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UM REFÚGIO CHAMADO DEUS

Guarda-me, ó Deus, porque em ti confio. A minha alma disse aoSENHOR: Tu és o meu Senhor, a minha bondade não chega à tuapresença. Mas aos santos que estão na terra, e aos ilustres em quem estátodo o meu prazer. As dores se multiplicarão àqueles que fazemoferendas a outro deus; eu não oferecerei as suas libações de sangue,nem tomarei os seus nomes nos meus lábios. O SENHOR é a porção daminha herança e do meu cálice; tu sustentas a minha sorte. As linhascaem-me em lugares deliciosos: sim, coube-me uma formosa herança.Louvarei ao SENHOR que me aconselhou; até os meus rins me ensinamde noite. Tenho posto o SENHOR continuamente diante de mim; por issoque ele está à minha mão direita, nunca vacilarei.

Salmo 16:1-9

Em que sentido Deus é refúgio? Do quê ele nos esconde?

Podemos usar a declaração do salmista de que Deus é seu refúgio comouma chave hermenêutica para a interpretação do salmo por inteiro.Quando me escondo em Deus, me protejo dos males que assolam a alma.Quando nos apresentamos diante de Deus em oração é como se o‘mundo, o pecado e o diabo’ ficassem ‘do lado de fora’.

É interessante notar que Davi não pede que Deus o esconda em algumlugar ou que simplesmente o guarde ou o livre de algum mal. Ele pedeque Deus o guarde Nele mesmo. “Deixe-me esconder em ti”.

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O “Deus Refúgio” de Davi é tratado por muitos como um “DeusEscape”, a quem apelo apenas na hora do arrocho ou pior: como umDeus “Flanelinha” (que é aquele sujeito que ‘vigia’ os carros nosestacionamentos públicos). Para estes, Deus é aquele a quem peço quevigie meus bens, cuide de meus imóveis, me livre do ladrão, me salve docaloteiro. Para Davi, Deus não era apenas QUEM o guardava, mas opróprio LUGAR DE SEGURANÇA no qual ele era guardado.

Deus é refúgio contra o materialismo. O salmista diz: “Além de ti, nãotenho outro bem”. Ora, é claro que Davi possuía bens materiais.Entretanto, quem tem Deus como refúgio, abriga-se de toda usura, cobiçae ânsia de adquirir coisas, pois tem em Deus seu maior patrimônio (v.2);seu sustento e sua herança (v.5).

Deus é refúgio contra o azar – Sorte e azar são vistos normalmentecomo frutos do acaso, da coincidência, do imponderável. Mas aquele quecrê em Deus como refúgio tem uma sorte que não é fruto daaleatoriedade ou do acaso; mas uma sorte com fundamento – ‘Tu és osustentáculo, o arrimo da minha sorte’ (v.5). Seu futuro é garantido.

Deus é refúgio contra a escassez - “Tu, Senhor, és a porção da minhaherança”. Notável o fato de Deus como “porção” uma vez que Deus é atotalidade, é tudo. Mas na perspectiva do salmista, há porções diversasnesse mundo a serem escolhidas. A que lhe cabia era o “Senhor”. Quemescolhe uma ‘porção qualquer’ sempre fica de olho na porção do outro.Quem escolhe o Senhor como “sua porção”, de nada tem falta, de nadase ressente.

Deus é refúgio contra a solidão – E isso se dá de duas formas. Por umlado, o próprio Senhor é companhia – “Estou sempre diante da presençado Senhor. Ele está por perto e nada pode me abalar” (Good NewsBible). E por outro, Deus provê a comunhão com os “fiéis da terra” -“Quão excelentes são as pessoas de fé em Deus! Meu maior prazer éestar com elas” – versão Good News Bible.

Deus é refúgio contra a ignorância – Quando não sabemos o que fazerpodemos nos esconder em Deus, pois diz Davi: “Bendigo o Senhor queme aconselha e até de noite meu coração me ensina” (v.7). Quem temDeus como refúgio, aprende até dormindo. Tem no sono, não um

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tormento, não um descanso do corpo apenas, mas um professor. Acordacom novas perspectivas, novos planos, nova disposição. E cientistas jácomprovaram que o cérebro ‘armazena’ os conhecimentos adquiridos aolongo do dia enquanto dormimos.

Humberto Gessinger (Engenheiros do Hawaii) já dizia: "Você precisa dealguém que te dê segurança, senão você dança, senão você se cansa...".Todos nós buscamos um esconderijo em algum ou em vários momentosda vida. Quando nos apresentamos diante de Deus, dizendo como Davi:"Tu és o meu Senhor", verdadeiramente encontramos muito mais que umesconderijo passageiro. Encontramos uma fortaleza de proteção,orientação, companhia e alegria incomparável.

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SOLI DEO GLORIA

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SOBRE O AUTOR

Alessandro Alcantara de Mendonça é casado, tem três filhas e vive emBrasília-DF. É Técnico em Gestão Educacional, da Secretaria de

Educação do Distrito Federal, autor de Era Uma Vez 1986, (Ed. NovoSéculo – 2011) e de outros dois livros, lançados pela Amazon: O

Evangelho Orgânico – Reflexões Bíblicas Sem Agrotóxicos e MissiDominici (romance medieval ambientado na época da Inquisição).

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