198
DIÁLOGOS DE Pi-ATÃO O BANQUETE EDIÇÃO BILÍNGÜE TRADUÇÃO CARLOS ALBERTO NUNES ed.ufpa

O.banquete.platao.ed.Ufpa.preto&Branco

Embed Size (px)

Citation preview

DIÁLOGOS DE Pi-ATÃO

O BANQUETE

ED IÇÃO BILÍNGÜE

T R A D U Ç Ã O

CARLOS ALBERTO NUNES

ed.ufpa

U n i v e r s i d a d e F e d e r a l d o Pa r á

ReitorVice-reitor

ed.ufpa

Diretora

Presidente Vice presidente

Titulares

Suplentes

Assaitora Editorial

Coordenadora Administrativa

e Financeira

( ’mmlrn.ulor de Livraria

Carlos Edilson de Almeida Maneschy Horacio Schneider

E d i t o r a d a

U n i v e r s i d a d e F e d e r a l d o P a r á

Simone Neno

C o n s e l h o E d i t o r i a l

Heraldo Maués Edson Berbary

Grauben José Alves de Assis José Maria Quadros de Alencar Luís Carlos Bassalo Crispino Maria das Graças da Silva Pena Paulo Pimentel de Assumpção Simone Neno

Moacir José Buenano Macambira Myriam Crestian Chaves da Cunha Rauquírio Marinho da Costa

Márcia Brito

Benedita Galvão Tavares

Willon da Rocha Nascimento

P L A T Ã O

2TM IT02I0N O BANQUETE

Texto grego J o h n B u r n e t

Tradução C a r l o s A l b e r t o Nu ne s

Editor convidado P l í n i o M a r t i n s F i l h o

CoordenaçãoB e n e d i t o N u n e s & V i c t o r S a l e s P i n h e i r o

ed.ufpaB e l é m , 2011

Copyright © Editora da Universidade Federal do Pará

1* Edição, 1980 2 ̂Edição revisada, 2001 3 ̂Edição revisada e bilíngue

D a d o s I n t e r n a c i o n a i s d e C a t a l o g a ç ã o - n a - P u b l i c a ç â o (C IP ) Biblioteca Central da Universidade Federal do Pará

Platão, 427-347 a. C.Xuprócriov = O Banquete / Platão; texto grego John Burnet; tradução

Carlos Alberto Nunes; editor convidado Plinio Martins Filho; coordenação Benedito Nunes e Victor Sales Pinheiro - 3. ed. - Belém: ed.ufpa, 2011.

208 p.

ISBN da Coleção 978-85-247-0504-5 ISBN do Livro 978-85-247-0505-2

1. Filosofia antiga. I. Burnet, John, 19... II. Nunes, Carlos Alberto, trad. III. Título.

Depósito legal realizado na Biblioteca Nacional, em conformidade com a Lei n. 10.994, de 14 de dezembro de 2004.

Direitos reservados à

ed.ufpaE d i t o r a d a U n i v e r s i d a d e F e d e r a l d o P a r á

Rua Augusto Corrêa, oiCidade Universitária Professor José da Silveira NettoSetor Básico, GuamáCEP 66075-110, Belém - Pará - BrasilSecretaria: 55 91 3201-7994

Fax: 55 913201-7965

w w w . u f p a . b r / e d i t o r a

editora(S)ufpa.br

Impresso no Brasil

CD D -184

MISTOPapel produzido a partir de fontes responsáveis

FSC® C005648F S C

SUMARIO

N O T A DO EDITOR

Plinio Martins Filho

PREFÁCIO À EDIÇÃO BILÍNGUE

Benedito Nunes & Victor Sales Pinheiro

PREFÁCIO À PRIMEIRA EDIÇÃO

Benedito Nunes

CRITÉRIOS DE EDIÇÃO

Aristóteles Angheben Predebon

IN TR ODU ÇÃO

Victor Sales Pinheiro

O B A N Q U E T E

N O TA DO EDITORPlinio Martins Filho

A oportunidade de publicar obras clássicas como os diálogos

de Platão despertaria o interesse de qualquer editora,

comercial ou universitária. A presente reedição levada a

cabo pela Editora da Universidade Federal do Pará é, portanto, motivo

para dupla comemoração: de um lado, por seu evidente valor cultural

e acadêmico; de outro, por ser um marco da nova e promissora fase

da instituição.

A o longo de sua existência, a ed .u fp a conviveu com os dois

principais problemas das editoras universitárias brasileiras: a inexis­

tência de uma política editorial consistente e de um sistema de

seleção orientado por critérios claros e objetivos. Entretanto, essas

dificuldades não a impediram de caminhar. Nesse primeiro período,

a visibilidade alcançada deveu-se, em grande parte, à primeira publi­

cação completa dos diálogos em língua portuguesa, traduzidos do

grego por Carlos Alberto Nunes. Sob a coordenação do Professor Benedito Nunes, quatorze volumes desse notável empreendimento

editorial foram lançados entre 1973 e 1980, dos quais três foram

reeditados entre 1986 e 1988, além de outros sete, que voltaram a

circular entre 2000 e 2007. Agora, a ed.ufpa inicia a republicação

completa, mas em dezoito volum es enriquecidos com os textos

gregos. Com a edição bilíngue, a Editora da u f p a presta mais um

inestimável serviço aos estudos clássicos e à difusão cultural da

filosofia no Brasil.

7

O B A N Q U E T E

N o presente momento, a ed .ufp a vem se consolidando como

editora universitária. O Conselho Editorial da instituição e sua Dire­

toria, na figura de Simone Neno, com o apoio do Reitor da u f p a , Professor Carlos Maneschy, já introduziram mudanças vitais, dentre

elas a profissionalização de todos os seus departamentos. Dessa forma, assegura-se a estabilização de um projeto editorial, por meio de uma

estrutura funcional e administrativa que permita um desempenho à altura de sua real potencialidade.

Vencida essa etapa indispensável de reestruturação, é importante

ressaltar que um projeto editorial não se faz com políticas de curto

prazo nem com constantes mudanças de rumo. Uma editora precisa

ter rotinas próprias de trabalho, com base em uma política de

publicações e um projeto gráfico-editorial bem definido, incluindo

todos os detalhes de sua produção e o investimento na manutenção de sua imagem.

A política editorial deve ser determinada pelo Conselho Editorial

e sua execução ficar a cargo de um grupo técnico que não se altere

a todo momento. Em paralelo, não se pode trocar completamente

de política editorial em intervalos curtos, sob pena da editora jamais

se consolidar.

Uma editora universitária deve atender aos diversos segmentos da

comunidade acadêmica e representar, por meio de suas edições, o

estágio da pesquisa existente na universidade, publicando o que de

melhor a instituição produz. Ao mesmo tempo, tem também o papel

de complementar a formação do público, buscando fora de seus muros

títulos que atualizem e ampliem o conhecimento, incluindo-se aí a

edição de textos clássicos das mais diversas áreas.

Foram esses princípios que me levaram a aceitar a função de editor

convidado para a presente coleção. A eles, soma-se a inestimável

experiência de estar em contato com o Professor Benedito Nunes e

compartilhar seu entusiasmo com a reedição completa dos diálogos de

Platão, em volumes de refinado acabamento gráfico e material. Poucos

dias antes de falecer, já hospitalizado, Benedito Nunes marcou em sua

8

N O T A D O E D IT O R

agenda as datas de lançamento da coleção em Belém e São Paulo, o que

torna essas ocasiões um tanto tristes, mas ainda mais especiais.Nos últimos dois anos, tive a sorte de acompanhar de perto o

processo de reestruturação da ed.ufpa. Não consigo imaginar um

marco mais promissor dessa nova fase que a publicação de uma monu­mental obra da cultura universal, cujo primeiro volume o leitor agora

tem em mãos, e cujo título tão bem sintetiza a missão das editoras:

possibilitar o verdadeiro diálogo, aquele que gera conhecimento.

A

9

PREFÁCIO À EDIÇÃO BILÍNGUE

Benedito Nunes & Victor Sales Pinheiro

Plato is philosophy, and philosophy, Plato, - at once the

glory and the shame o f mankind, since neither Saxon nor

Rom an have availed to add any idea to his categories.

R . W. Em erson, Plato; or, the Philosopher

— Em grego, meninos, em grego e em verso, que é

melhor que a nossa língua e a prosa do nosso tempo.

Machado de Assis, Esaú e Jacó

Publicada a partir da década de 1970 pela Editora da Univer­

sidade Federal do Pará, a tradução de Carlos Alberto Nunes

(1897-1990), até hoje a única recom posição integral do corpus platonicum em língua portuguesa, incluindo, além de todos

os diálogos, as cartas e os escritos apócrifos, contou com sucessivas reedições, tornando-se referência indispensável aos estudos univer­

sitários brasileiros, no campo da filosofia, das ciências humanas e da cultura acadêmica em geral. Para consumar a sua vocação humanística,

faltava-lhe, contudo, o texto grego, que enriquece substancialmente a leitura da tradução pela possibilidade de confrontá-la com o original

“intraduzível”, evidenciando as opções sintáticas e semânticas, a

dimensão exploratória e interpretativa do talentoso escritor que é

Carlos Alberto Nunes. Com efeito, pela sua máxima extensão, esta

edição bilíngue potencializa o alcance intelectual da obra platônica e

amplia o ineditismo que marcou a primeira iniciativa da Editora da

1 1

O B A N Q U E T E

Universidade Federal do Pará, fato cultural de relevância inestimável

para o cultivo das letras clássicas e da filosofia entre nós.

É notável o êxito de Carlos Alberto Nunes em transpor à língua

portuguesa a fluência, a beleza e a profundidade do texto platô­

nico. Tradutor de poetas com o Homero, Virgílio, Shakespeare e

Goethe, interessa-lhe, sobretudo, a força literária dos diálogos de

Platão, a dimensão poética de seu teatro filosófico. Com seu pendor

poético, o tradutor atenta mais ao contexto geral dos diálogos do

que à literalidade das palavras, explorando paráfrases e sinonímias,

sem, entretanto, perder o rigor filológico que o caracteriza. Isso

o torna, aliás, fiel ao espírito de Platão, mais um poeta especula­

tivo do que um pensador conceituai com dotes literários. Assim,

a tradução de Carlos Alberto Nunes certamente supera a oposição

entre o grande público e o especialista, e manifesta a força do

pensamento traduzido na originalidade da língua da tradução, como

ensinava Goethe.

Com a reformulação das linhas de publicação da Editora da Univer­

sidade Federal do Pará, essa edição bilíngue compõe uma coleção

própria, Diálogos de Platão, e não mais a Coleção Amazônica, Série

Farias Brito, como a primeira edição monolíngue. O conjunto da

tradução totaliza trinta escritos, nesta edição dispostos em dezoito

volumes e ordenados em pares de diálogos, com exceção das quatro

célebres obras da maturidade platônica, O Banquete, o Fedro, o Fedón

e A República, que abrem a coleção com volumes próprios. Natural­mente, a sequência da edição não atende à tradicional ordenação

cronológica dos diálogos, nem às tetralogias legadas pela antiguidade.

O último número da série é composto pelas cartas e pelos escritos

considerados espúrios. Inicialmente compilados no livro Marginália Platônica ( e d u f p a , 1973), os estudos introdutórios de Carlos Alberto

Nunes acompanham, nesta edição, os diálogos traduzidos.Sobre a relevância cultural, pedagógico-universitária e humanística,

assim como sobre o significado filosófico da tradução desta obra clás­

sica, fonte fecundante da tradição ocidental, com cuja história a sua

12

interpretação se confunde, pode-se consultar o prefácio de Benedito

Nunes à primeira edição (1973-1980), preservado a seguir.Resta ressaltar o momento oportuno em que esta edição vem a lume,

momento em que se expandem os estudos clássicos no Brasil, em que aumentam as opções de traduções, de edições críticas e bilíngues, de

dicionários e gramáticas, enfim, de instrumentos de trabalho indis­pensáveis para o cultivo das letras clássicas entre nós. Com efeito, nas

últimas décadas, multiplicou-se, não só no Brasil, como no estrangeiro, a quantidade de traduções e análises dos diálogos. Edições completas

da obra platônica, munidas de competente aparato crítico, como a coordenada por L. Brisson, na França (Flammarion, 2008), e por

G. Reale, na Itália (Rusconi, 1991), atestam a renovação do estudo de Platão, contexto em que a edição desta versão bilíngue se insere.

No Brasil, nota-se uma difusão dos debates interpretativos contem­

porâneos, a exemplo da coleção Estudos Platônicos (Ed. Loyola).

São tantas as questões “atuais” da obra platônica que listá-las seria

retraçar o próprio percurso do pensamento contemporâneo. Livros

como o organizado por M. Dixsaut ( Contre Platon 11 - renverser le

platonisme, Vrin, 1995), o de C. Zuckert (Postmodern Plato: Nietzsche, Heidegger, Gadamer, Strauss, Derrida, The University o f Chicago

Press, 1996), o de M. Lane (Plato's Progeny - How Plato and Socrates

still Captivate the Modern Mind, Duckworth, 2001), o de F. Trabat-

toni (Attualità di Platone - Studi sui Rapporti fra Platone e Rorty, Heidegger, Gadamer, Derrida, Cassirer, Strauss, Nussbaum e Pad, Vita

e Pensiero, 2009), e o de M. Vegetti ( Um Paradigma no Céu - Platão

Político de Aristóteles ao Século XX, Annablume, 2010) demonstram o

protagonismo de Platão, a sua centralidade na configuração do pensa­

mento filosófico contemporâneo.

Permanente e imensurável é, portanto, a potência intelectual desta

obra. A possibilidade de assimilá-la em sua expressão original grega é

o meritório benefício desta edição da Universidade Federal do Pará.

P R E F Á C I O À E D I Ç Ã O B I L Í N G U E

1 3

PREFÁCIO À PRIMEIRA EDIÇÃO

Benedito Nunes

O s Diálogos de Platão, da Coleção Am azônica para livros

de Filosofia - a série Farias Brito - , foram traduzidos do

grego por Carlos Alberto Nunes. Trata-se de um conjunto

de quatorze estudos, o primeiro dos quais uma Introdução Geral, a

Marginália, a qual pretende servir de roteiro ao conhecimento de

Platão e à leitura de seus diálogos.

A tradução de Carlos Alberto Nunes, que ora apresentamos, tomou

por base textos credenciados do original grego, como as edições de

Burnet (Platonis Opera, Oxford, 1892-1906), de Friderici Hermann

(Platonis Dialogi, Lipsia, Teubner, 1921-1936), de Hirschigii (Platonis

Opera, Firmin Didot, 1891) e da Société de Belles Lettres (Paris,

1920 e ss.). Além dos diálogos propriamente ditos, estendeu-se às

cartas do filósofo, abrangendo assim um total de trinta escritos, que

foram distribuídos, os maiores isoladamente e os menores por grupos

de até seis, em quatorze tomos. Essa distribuição acompanhou, em

princípio, a divisão cronológica da obra platônica, tradicionalmente

admitida. A o primeiro grupo, que é o dos diálogos socráticos de

juventude, corresponde o volum e 1 (Apologia, Críton, Laques, Cármides, Lísis, Eutífrone); ao segundo, relacionados com o período

mediano, pertencem os volumes 11 e u i (Protágoras, Górgias, íon, Mênon, Menexeno, Eutidemo), e i v a v i u , nos quais encontramos,

juntamente com as cartas, os diálogos de maior penetração, como 0 Banquete, Fédon, Fedro e A República (este em volume duplo), e

1 5

O B A N Q U E T E

quatro outros, menos afortunados: O Primeiro Alcibíades, O Segundo

Ah ibhules, I lípias Menor e Hípias Maior-, o terceiro abarca Crátilo e

/ir/f/o (volume ix ) , e os três pares famosos - Parmênides e Filebo

(volume x), Sofista e Político (volume x i) , Timeu e Crítias (volume

x 11) que formam, com Leis, imponente e solitário diálogo, mais

extenso que A República, e como este em tomo duplo (x i i i e x iv ) ,

a última parte do legado de Platão. Esses quatorze livros apare­

cerão periodicamente, mas numa ordem diferente de sua seriação

numérica, que variará para atender a exigências ocasionais, de interesse

para a difusão dos livros.

Deixando de lado os apócrifos, apenas cinco diálogos (Hiparco, Rivais, Teages, Clitofon eMinos), de autenticidade duvidosa, a tradução

de Carlos Alberto Nunes é, assim, pela sua máxima abrangência e

pela sua envergadura sistemática, a primeira recomposição do corpus

platonicum em língua portuguesa. Basta essa circunstância para revelar

a importância do trabalho e o ineditismo do empreendimento editorial

que se propôs a difundi-lo. E maior ainda se torna o ineditismo, quando

um empreendimento de tal ordem, que assume a relevância de um fato

cultural, é da iniciativa de uma Universidade do Extremo Norte, que

prestará, com isso, preliminarmente, duas contribuições positivas ao

ensino universitário.

A primeira contribuição que a Universidade do Pará dá à univer­

sidade brasileira, editando a obra de Platão em português, é pôr à

disposição de estudantes e professores, principalmente no campo

das ciências humanas, textos fundamentais ao ensino da filosofia, mas

indispensáveis, qualquer que seja o campo de estudo, à formação de

uma cultura geral, hoje finalidade dos cursos básicos em nosso sistema

universitário. O segundo serviço, prestado especialmente aos cursos

de filosofia, é não só fornecer-lhes um instrumento de trabalho, mas

também suprir a falta, de que se ressentem as bibliografias brasileira

e portuguesa, da tradução de determinados diálogos, agora vertidos

pela primeira vez, juntamente com a totalidade das cartas, para o

nosso idioma. Atendendo a essa finalidade foi que se decidiu editar,

16

P R E F Á C I O À P R I M E I R A E D IÇ Ã O

em primeiro lugar, do conjunto de quatorze tomos programados, o volume ix , contendo o Teeteto e o Crátilo, entre nós acessíveis ao

leitor comum apenas em línguas estrangeiras, e que são, talvez, pelas

questões específicas de que tratam - a validade do conhecimento

enquanto episteme e a natureza da linguagem, respectivamente -

aqueles que mais urgentemente requerem, em função da inequívoca

atualidade desses problemas, os estudiosos da linguística, da semio­

logia, do semanticismo, do positivismo lógico, da filosofia analítica e

do estruturalismo.

Mas a decisiva contribuição do empreendimento da Universidade

Federal do Pará, e que é certamente a primeira na ordem de sua

relevância cultural, verifica-se no plano mesmo da filosofia, onde se

produzirão os efeitos mais lentos, porém mais penetrantes e duradouros

sobre toda a vida intelectual brasileira, efeitos que a simples bitola do

proveito imediato não mede, e que hão de resultar do processo de

assimilação e de aprofundamento da obra platônica.

Não nos cabe esboçar aqui a trajetória desta obra que é uma das

fontes essenciais da tradição filosófica. Whitehead, a quem se deve, ao

lado de Bertrand Russel, um dos sistemas de unificação e formalização

do pensamento lógico-matemático, foi autor de famosa sentença,

verdadeiro aforismo registrado numa das páginas de seu livro Process

and Reality, de que a tradição filosófica do Ocidente consiste num

conjunto de achegas, de notas de pé de página, à obra de Platão. Ainda

que isso não seja inteiramente verdadeiro, a esplêndida frase do filósofo

e matemático inglês serve para realçar a magnitude da influência de

Platão que, começando por atingir Aristóteles e as correntes do final

da Antiguidade, estendeu-se às teologias hebraica e muçulmana, gerou

o caudal do neoplatonismo, e continuou, depois de ter fornecido à teologia cristã o arcabouço de sua estrutura conceptual, a inseminar a

cultura moderna, mas já quando de há muito se tornara, desde antes do Renascimento, extravasando os limites doutrinários das escolas,

uma tendência penetrante da história das ideias políticas, jurídicas,

morais e econômicas.

1 7

O B A N Q U E T E

Assim, traçar a linha de percurso da obra platônica quando a ação

dessa obra se confunde com a fertilidade histórica do pensamento

que produziu, como fonte de uma tradição que, por sucessivas vezes e

em diferentes fases retomada, interpretada, aprofundada e assimilada,

deu nascimento à Ciência Política, à Estética e à Pedagogia, dentro da

ampla vertente metafísica denominada platonismo que ela formou,

seria nada mais nada menos do que reescrever alguns dos mais

importantes capítulos da história do pensamento ocidental, e, ainda,

coligir, do humanismo renascentista ao iluminismo - passando pelas

Meditationes de Prima Philosophia de Descartes e pela Crítica da Razão Pura de Kant - , como do Romantismo ao Simbolismo - passando

pela Lógica de Hegel, e entrando na época atual pelas Meditações Cartesianas de Husserl os diferentes veios dessa mesma vertente,

desde aqueles que se podem distinguir nas correntes místicas medie­

vais até aqueles que, a nós mais diretamente ligados, os Humanistas

portugueses transferiram da leitura dos diálogos nas primeiras edições

renascentistas à lírica de Camões, aos sonetos de Anthero de Quental

e aos versos de Fernando Pessoa.

O que interessa destacar nesta apresentação é uma outra espécie

de trajetória da obra platônica, que transcende, a cada momento e

até hoje, o traçado de sua fertilidade histórica, embora dependa dele.

Referimo-nos à ação fecundante da perspectiva reflexiva e crítica dos

diálogos sobre a consciência individual. Desse ponto de vista, as fontes

essenciais que manam dos diálogos são as fontes originárias, vivas e

atualizáveis da tradição filosófica, que permitem, pela leitura contínua

e receptiva, numa retomada do ato de filosofar que faz de cada leitor

um interlocutor de Platão, o aprofundamento e a assimilação das

possibilidades dialéticas do pensamento que lhe inspiram a obra, e que,

guardadas no movimento de sua escrita dramática, reabrem-se para os

que dela se aproximam e melhor a conhecem. A edição dos diálogos,

pela Universidade Federal do Pará, destina-se fundamentalmente a

incentivar semelhante espécie de leitura, que reencontra a fluência do

ato de filosofar, assumindo a inquietude intelectual do espírito crítico:

18

P R E F Á C I O À P R I M E I R A E D IÇ Ã O

a inquietude que, segundo diria Karl Jaspers, torna as perguntas mais

essenciais que as respostas e as respostas, meios de formular novas

perguntas, e da qual Farias Brito - patrono da série ora iniciada - foi,

em nosso meio, um solitário exemplo.

Não estaria completa esta apresentação se deixássemos de lembrar

que a ação fecundadora dos diálogos acompanhou, desde o começo da

época moderna, com o início da recomposição do corpus platonicum

no século xv, os processos conjugados de sua tradução e de sua edição.

Traduziu-o pela primeira vez integralmente para o latim e publicou-o,

de 1483 a 1484, Marsílio Ficino, membro da Academia Platônica de

Florença, precedendo à tradução de Henri Estienne, de 1578, aparecida

em Lyon, que se tornou modelo para as edições da obra platônica até

hoje, e à primeira impressão dos textos originais por Aldo Manúcio, de

Veneza, em 1513. Continuaram a traduzir os diálogos Schleiermacher para o alemão (1804-1810) e Victor Cousin para o francês (1821-1840).

E até os nossos dias, quando a França dispõe de pelo menos duas excelentes traduções (Les Belles Lettres, a partir de 1920, e da Plêiade,

por Léon Robin), a Itália de pelo menos três (a de Ferrari, de 1875, a

de Turolla, de 1954 e a editada por Bari-Laterza, entre 1921 e 1934, a

cargo de vários autores) e a Inglaterra, a de Joweet (1870), um dos

monumentos da língua e da literatura inglesa - para não falarmos das que a Alemanha ganhou após a de Schleiermacher - , traduzir Platão

tem sido, como feito de um só ou de vários, um cometimento poético

no sentido eminente de fundar, formar e atualizar, que é o que se

verifica através da apropriação e da restituição, numa outra língua, das

potencialidades de todo um pensamento elaborado na língua original

da filosofia. A relevância e a eficácia culturais da tradução do corpus

platonicum por Carlos Alberto Nunes, trabalho de quase um decênio,

enquadram-se nessa perspectiva.

A empresa inédita da Universidade Federal do Pará ao editá-lo

poderá permitir que, para o pensamento brasileiro, chegue algum dia

a hora de ampliar a verdade do que afirmou Whitehead, começando

também a fazer notas de pé de página a Platão.

1 9

CRITÉRIOS DE EDIÇÃOAristóteles Angheben Predebon

Para estabelecer os critérios da presente edição, procedeu-se com

o exame de todo o material anterior à publicação, disponível,

em parte, na Biblioteca Central da Universidade Federal do

Pará, em parte, na biblioteca particular do Professor Benedito Nunes.

O material sob guarda da Biblioteca Central foi doado à u f p a pelo

tradutor e é composto por todos os rascunhos da tradução dos diálogos

e de alguns originais de imprensa datilografados.

Os rascunhos manuscritos têm registro, respectivamente, do número

2839 ao 2844, com data de 3 de julho de 1973, e estão encadernados

em seis volumes, in-fólio. No começo de alguns diálogos, encontra-se

a data de início da tradução; em todos, ao fim, encontra-se local (São

Paulo) e data de término da tradução:

VOLUME I FÓLIOS I - 3 1 3 :

Ião 27.05.1962,

Critão 06.06.1962,

Hípias Menor 14.06.1962,

Eutífrone 24.06.1962,

0 1° Alcibíades 09.08.1962,

Protágoras 07.10.1962,

Cármides 16.12.1962,

Laquete 03.01.1963,

Líside 04.03.1963,

2 1

O B A N Q U E T E

V O L U M E 2 F Ó L I O S 3 1 4 - 7 0 5 :

MenéxenoCrátiloGórgiasMenãoEutidemoO 2Ç Alcibíades

Apologia de SócratesHípias Maior

V O L U M E 3 F Ó L I O S 7 0 6 - 1 1 9 6 :

FedãoO BanqueteFedro

TeetetoParmênidesSofista

V O L U M E 4 F Ó L I O S 1 1 9 7 - 1 5 7 2 :

A República

V O L U M E 5 F Ó L I O S 1 5 7 3 - 1 9 6 1 :

PolíticoCartasFileboTimeuCrítias

V O L U M E 6 F Ó L I O S 1 9 6 2 - 2 4 2 5 :

Leis

17.04.1963,

13.06.1963,

16.09.1963,

13.10.1963,21.11.1963,

16.10.1964,

05.10.1964,

13.12.1964,

06.06.1965-17.08.1965,

06.01.1966-16.04.1966,

25.04.1966-09.06.1966,

12.06.1966-29.08.1966,

02.11.1966,

08.11.1966-14.12.1966,

09-12-1965,

26.12.1966-26.02.1967,

23.09.1967,

03.10.1968-30.11.1968,

30.01.1969,

10.02.1969,

21.04.1968,

Os originais de imprensa presentes na Biblioteca Central são: Fedão, Fedro, Eutidemo, Líside, Ião, Menéxeno, Cartas, A República i-iv, A

República v m -x , Hípias Maior, Crátilo, Teeteto e Parmênides.Da biblioteca particular do Professor Benedito Nunes constam:

2 2

C R I T É R I O S D E E D IÇ Ã O

O Banquete, Protágoras, Cartas, A República, Górgias, Fedro, Carta 7,

Fedão, Critão, Eutífrone, Ião, Menéxeno e O i? Alcibíades.Ao examinar o material, pareceu-nos que, da tradução à publicação,

o texto percorreu o seguinte caminho.

Os rascunhos in-fólio da tradução, que se encontram encadernados em

seis volumes, serviram de base para os originais datilografados. Enquanto

estes originais eram compostos, o tradutor fazia alterações nos rascunhos

(que são encontradas com outra caneta e em letra de corpo menor); tais alterações, em seguida, teriam sido repassadas para os originais datilogra­

fados (com caneta semelhante à usada para as alterações nos rascunhos e com letra de mesmo corpo). É importante destacar que as alterações

feitas a caneta, tanto no manuscrito como no original datilografado, são

do tradutor, conforme o reconhecimento da letra feito pelo Professor

Benedido Nunes. Do material existente, este é o mais próximo do texto

publicado e possivelmente serviu-lhe de base no processo de edição, o

que nos permite considerá-lo como original de imprensa.No entanto, do confronto das publicações com os originais, torna-se

patente o fato de que o texto, para além das mudanças decorrentes do

processo editorial, foi também alterado pelo tradutor. Note-se, por

exemplo, a mudança apropriada de “escritor”, no original de imprensa,

para “prosador”, em Fedro 235C 4 , desde a edição de 1975: em grego, o

termo é συγγραφέων, que pode significar simplesmente “escritor”, mas

que também designa “aquele que compila e escreve feitos históricos”,

“historiador”, e assim, de modo mais geral, “prosador”, como ocorre

neste caso, em oposição aos poetas Safo e Anacreonte, conforme o

Greek-English Lexicon, de Liddell e Scott, de 1996.

Por outro lado, percebem-se alterações que não guardam corres­

pondência precisa com o texto, como ocorre, por exemplo, em Fedro

247c6, com o termo άχρώματός, “sem cor”, que assim está traduzido

no original de imprensa, mas que aparece “sem corpo” desde a edição

de 1975. Desde esta mesma edição, outro exemplo de natureza diversa

é a omissão do trecho άλλως τε και περ'ι αλήθειας λέγοντα, que no

original de imprensa se encontra traduzido por “máxime quando se

2 3

O B A N Q U E T E

fala da verdade”, em Fedro 24705-6. Há ainda alterações de caráter

estilístico: a mudança, ri O Banquete, 2i4ai, de “oito cótilas”, no original de imprensa, para “oito cotila” na edição de 1980, corrigida com a

alteração para “três litros”, na edição de 2001. Em casos como estes, adotou-se a lição do original de imprensa.

Assim, do rascunho à publicação, é possível estabelecer o caminho

do texto (grifamos a etapa de que não se têm registros, mas apenas decorrências):

rascunho a caneta (manuscrito) > original de imprensa datilo­grafado > rascunho acrescido de novas intervenções > original

de imprensa, acrescido das mesmas intervenções feitas no rascunho > alterações do tradutor/editora > publicação

Desse modo, decidiu-se por confrontar os textos publicados com

os originais de imprensa, a íim de sanar os problemas presentes na publicação, sem abrir mão das correções acertadas, seja do tradutor,

seja das revisões por que o texto foi passando. Percebidas as dife­renças entre original e publicação, dois critérios abalizam a escolha

adequada do texto: em primeiro lugar, a tradução, usando-se como

parâmetro a edição do texto grego que mormente serviu de fonte

e que ora ocupa as páginas pares dos diálogos; em segundo lugar, a correção gramatical.

Nos casos em que há mais de um original de imprensa datilografado, são examinados e utilizados como base aqueles em que se encontram

as alterações a caneta do próprio tradutor. N o caso d’0 Banquete,

por exemplo, há três originais datilografados - dois deles, cópias

adicionais - , mas apenas um foi alterado por Carlos Alberto Nunes,

e deste nos valemos no confronto com a publicação, para fixação do texto.

Será utilizado o rascunho para os diálogos de que não restou original

de imprensa, quais sejam: Leis, Político, Sofista, Menão, O 2? Alcibíades e Apologia de Sócrates.

2 4

C R I T É R I O S D E E D IÇ Ã O

Em seguida, procedeu-se com a revisão e padronização de texto.

Para além da revisão conforme ao novo Acordo Ortográfico, os

nomes próprios foram atualizados. Por não ser unificado o uso corrente,

adotamos como padrão a grafia que se encontra no Dicionário Latino

Português, de Ernesto Faria, e no índice de Nomes Próprios Gregos e

Latinos, de Abel do Nascimento Pena, Maria Helena e João Maria de

Teves Costa Urena Prieto, publicado em Lisboa, guardadas, neste caso,

as diferenças de acentuação e timbre entre Brasil e Portugal. Assim,

salvo na descrição do material anterior à publicação, que se fez acima,

nomes como Agamémnone, Fedão, Ião e Ajaz, por exemplo, foram

alterados para Agamêmnon, Fédon, íon e Ajax.Foram inseridas aspas francesas duplas quando um interlocutor do

diálogo referia discurso direto; aspas duplas em uma referência interna a esta e, nos poucos casos de referências internas a estas últimas,

aspas simples. Por exemplo, em O Banquete, 200d: Apolodoro refere

[«Sócrates [“Sócrates e Diotima [‘Diotima’]”]»].

Preservou-se a tradicional divisão capitular em algarismos romanos,

presente na tradução, respeitando-se a escolha do tradutor.

Cabe dizer que a marcação do texto em português com barras

verticais, de acordo com a edição de J. Burnet, ficou a cargo de Victor

Sales Pinheiro.Quanto ao texto grego, a presente publicação o traz editorado, e não

apenas fotocopiado, o que requereu sua revisão e a quebra de linhas

de acordo com a edição que se tomou por base, qual seja, Platonis

Opera, Recognovit Brevique Adnotatione Critica Instruxit loannes Burnet, publicada em Oxford, pela tipografia Clarendoniana, de 1899 a 1907.

2 5

IN T R O D U Ç Ã OVictor Sales Pinheiro

O Banquete é uma das obras mais conhecidas e influentes de

Platão e de toda tradição filosófica e literária. Certamente,

também uma das mais complexas e inesgotáveis, a despeito

de sua relativa acessibilidade ao leitor não habituado ao universo

platônico. Sua importância e prestígio, responsáveis por uma série

impressionante de interpretações ao longo da história da cultura

ocidental, incluindo não só a filosofia e a literatura, mas a teologia,

as artes plásticas e as ciências humanas em geral, derivam de diversos

fatores, como a temática, a riqueza literária, a densidade filosófica e o

retrato de Sócrates, filósofo arquetípico.

A trama amorosa de Agatão, Sócrates e Alcibíades tornou-se o modelo

de grandes banquetes literários, inaugurando um gênero muito peculiar,

o da “ceia”, tributário do drama e da oratória, a que pertencem, por

exemplo, o Convívio (1307), de Dante, o Decameron (1353), de Boccaccio,

a Cena de le Ceneri (ou Jantar da Quarta-feira de Cinzas, 1584), de Gior-

dano Bruno, Les Soirées de Saint-Pétersbourg (1821), de J. de Maistre,

In Vino Veritas, incluído em Etapas no Caminho da Vida (1845), de S.

Kierkegaard, e The Cocktail Party (1949), de T. S. Eliot.

Depois de ter sido fonte da lírica provençal, traduzido para o francês

por Racine, em 1686, e para o inglês por Shelley, em 1818, O Banquete

alimentou o imaginário romântico, contribuiu para a concepção

abrangente do erotismo psicanalítico de Freud, em Além do Princípio

do Prazer (1920) e A Resistência da Psicanálise (1925), e motivou o

2 7

O B A N Q U E T E

notável Seminário sobre a Transferência (1960-1961), de J. Lacan, a mais

criativa apropriação da obra desde que M. Ficino, no século xv, a cele­

brizou com o seu Comentário sobre 0 Banquete de Platão> Sobre 0 Amor

(1469). Mas a interessante paráfrase de Ficino se insere no âmbito

da cristianização neoplatônica d ’O Banquete, realizada por padres da

Igreja como Orígenes, Metódio e Agostinho (séc. m ) , radicando o

amor no núcleo da mística teológica medieval, cuja culminância se dá

com Dionísio Pseudo-Areopagita, no século v i.

Na Antiguidade, desde a polêmica com Xenofonte, que também

escreveu um Banquete, em aproximadamente 360 a. C., e a imediata

recepção filosófica de Aristóteles, que acolhe tanto a superioridade da

vida contemplativa, na Ética a Nicômaco, quanto os atributos ontoló­

gicos da forma do belo, ao descrever a essência de deus na Metafísica

(aprox. 350 a. C.), O Banquete ganha imponente hausto místico, no

século u i d. C., com a leitura alegórica de Plotino, no tratado Sobre

0 Amor (Enéadas, u i , 5), restituindo a dimensão espiritual de Platão, arrefecida pela predominância ética das escolas helenísticas, a partir do

século iv a. C. - as quais, cada uma à sua maneira, buscavam seguir o ascetismo imperturbável de Sócrates, postulando diferentes modelos

de apatheia. Na Segunda Sofística, reflorescimento da cultura grega no Império Romano, Satiricon (1. d. C.), de Petrônio, Érotikos (aprox.

110 d. C.), de Plutarco, e Metamorfoses (11 d. C.), de Apuleio, integram o amor socrático no universo literário pagão.

Condenada à incompletude, uma lista de obras influenciadas pelo Banquete incluiria, no Renascimento, Diálogos de Amor (1535), de

Leão Hebreu - que o levou para a península ibérica, principalmente

ao humanismo de Camões e Cervantes - , e O Cortesão (1528), de

li. Castiglione; no século x x , Morte em Veneza (1912), de T. Mann,

A Alma e a Dança e Eupalinos ou 0 Arquiteto (1921), de P. Valéry, To

the Lighthouse (1927), de V. Woolf, Maurice (1971), de E. M. Foster,

Fragmentos de um Discurso Amoroso (1977), de R. Barthes, Art and

Eros (1986), de I. Murdoch. N o plano filosófico, obras como as de

I,. Strauss, On Plato’s Symposium (1959), de H. Buchner, Eros und

2 8

IN T R O D U Ç Ã O

Sein (1965), de S. Rosen, Plato's Symposium (1968), de A. Bloom,

Love and Friendship (1993), atestam a sua permanência no horizonte

intelectual, sem mencionar a inexaurível bibliografia acadêmica

especializada, que, entre nós, conta com os livros Eros: Dialética e

Retórica (2001), de Donaldo Schiiler, Do Elogio à Verdade (2001),

de Dion Macedo, Amor\ Discurso·, Verdade ("2005), de Carla Franca-

lanci, O Sopro do Amor (2006), de Irley Franco, e Platônica (2011),

de Henrique Vaz.

11. Segundo a tradicional classificação da obra de Platão, O Banquete é considerado obra da maturidade do autor, compondo, ao lado d’A

República, do Fedro e do Fédon, parte significativa do núcleo das hipóteses filosóficas que a tradição estruturou como o legado de

Platão à filosofia, o platonismo clássico. Notáveis pela complexidade

literária e pela rica imagética, os diálogos do período partem de um

questionamento inicial - “o que é a justiça?” (A República), “por que não se deve temer a morte?” (Fédon), “o que é o amor?” (0 Banquete

e Fedro) - e o redimensionam pelo aprofundamento da natureza do saber, consoante a essência da realidade. Caracterizam-se, portanto,

pelo adensamento metafísico da investigação filosófica a partir da

hipótese das formas inteligíveis, correspondentes à alma humana,

que pode conhecê-las intelectualmente a fim de explicar e valorar a

dimensão sensível da realidade.

Pela versatilidade de seus estilos e formas filosóficas, O Banquete

pode ser considerado um núcleo prismático de que irradiam múltiplas

questões enfrentadas ao longo de toda a obra platônica. Ainda que

a possibilidade de leituras associativas permaneça sempre aberta,

pode-se relacioná-lo, imediatamente, ao Fedro, que lhe seria um

complemento, pela temática erótica e retórica em comum, assim

como o Lísis que trata da natureza da amizade (philia), relacionada

ao amor (eros) e ao desejo (epithymía). O Fédon seria o contraponto

existencial d’O Banquete, ao investigar a imortalidade não no momento

de celebração erótica da vida, mas em seu fim iminente. N ’A República,

2 9

O B A N Q U E T E

tematiza-se a dominância do eros na alma humana, sua relação com

o conhecimento, com o poder e com a beleza. O Menôn afina-se a

O Banquete na conceituação da philosophia como desejo de saber

(philo-sophia), a partir da experiência do reconhecimento da igno­

rância. O problema da unidade e multiplicidade relacionado à forma

inteligível antecipa a problematização efetuada no Parmênides.Normalmente, as leituras tradicionais d’O Banquete dividem-no

em duas partes, a filosófica e a não filosófica, isolando dos demais

o discurso de Sócrates, único considerado propriamente dialético,

a fim de articulá-lo às teses filosóficas trazidas por outros diálogos,

sobretudo pelo Lísis e Fedro, para a compreensão do que seria a teoria

platônica do amor. Assim procedeu, por exemplo, L. Robin, em seu

estudo referencial sobre a erótica platônica, La théorie platonicienne de

Vamour (1908). A desvalorização dos demais discursos corresponde

a canonização da fala socrática como lugar privilegiado através do

qual Platão teria revelado seu único e verdadeiro pensamento sobre a

natureza do amor. Os outros discursos são considerados “pastiches”,

“paródias”, “críticas irônicas” aos sofistas e poetas da época, por isso

filosoficamente desimportantes.

Embora não se possa negar a centralidade do discurso de Sócrates

na economia da obra, a limitação desse tipo de abordagem é a auto­

nomização dessa fala e a consequente perda da dimensão dialética

que a caracteriza em conexão aos outros discursos e elementos

dramáticos, com os quais interage intimamente. Por mais que

constitua a culminância de uma peça musical, não se pode isolar

um movimento do conjunto sinfônico a que pertence, sob o risco

de subtrair sensivelmente a riqueza compositiva da obra. Na leitura

dos seus diálogos, deve-se lembrar a aguçada consciência poética de

Platão, que, no Fedro (264c), considera o discurso perfeito como um

organismo vivo, um corpo, no qual cada parte relaciona-se estrutu­

ralmente à arquitetura do todo. Desse modo, para que se considere

O Banquete um conjunto de discursos, e não um aglomerado justa­

posto de falas desconexas, deve-se atentar à unidade de sua forma

3 0

IN T R O D U Ç Ã O

poética híbrida, que Bakhtin identificou como precursora da novela,

caracterizada pela polifonia e dialogicidade1.O Banquete é, assim, um concerto em que múltiplas vozes rivalizam

sobre a natureza do amor. Fruto da excepcionalidade poética de Platão, a competição entre os oradores é também entre gêneros literários: retó­

rico, científico, cômico, trágico e filosófico. Característica nuclear da cultura helénica, a luta (ágon) estrutura a experiência do homem grego

no mundo, pensado como antagonismo de forças opostas. A formação

de uma sociedade de homens livres e iguais permitia-lhes desenvolver

relações competitivas no amor, nas artes, no esporte, na política e

no pensamento. Herdeira da técnica sofística de disputa discursiva,

a filosofia dialética provém exatamente da forma de contrapor um

argumento ao outro, presente nos torneios retóricos, nas assembleias

e tribunais democráticos.

Nesse sentido, a instituição democrática do symposium apresenta-se

como ocasião oportuna para o confronto amistoso de discursos

representativos das formas culturais vigentes à época. Precedido

pelo deipnon, o banquete de comida propriamente dito, o symposium

é a segunda parte de um encontro noturno, dedicado à (competição

de) bebida, acompanhado de uma atividade como dança, música e

discursos. Com efeito, três rivalidades entrecruzam-se na obra: a vitória

de Agatão numa competição de poetas trágicos é comemorada com

uma competição de discursos sobre o amor, e encontra seu ápice numa

competição erótica entre Sócrates, Alcibíades e Agatão.

III. Sócrates é o mais erótico dos filósofos, assim o retrata seu criativo e

talentoso admirador Platão, em diálogos como Cármides, Lísis, Protágoras, Fédon e Fedro. Diante de um belo jovem, não esconde o ardor erótico que

o toma: “olhei para dentro das vestes de Cármides e me senti abrasado e

1. M . Bakhtin, “E pic and N ovel - Toward a M eth odology for the Study o f theN ovel”, p. 39, em The Dialogic Imagination - Four Essays, trad. C. Emerson, M.Holquist, Austin, University o f Texas Press, 1981, pp. 3-40.

d

O B A N Q U E T E

fora de mim” (Cármides, issd)2. Sempre “na caça da beleza de Alcibíades”

{Protágoras, 309a), a motivação de Sócrates não se limita, contudo, à

dimensão corporal, como se supõe à primeira vista, e O Banquete revelará

a peculiaridade do seu atípico erotismo, tão desafiador à cultura ateniense

de seu tempo. Ironicamente, revela não entender de nada além do amor

(O Banquete, i77d-e), relativizando a tradicional alegação, proferida na

Apologia, de nada saber, para restringir o seu conhecimento ao saber

erótico, o que pode estar ligado à sua arte de questionar. Amar e perguntar

parecem-lhe intrinsecamente ligados. De fato, o substantivo eros (amor)

soa como etimologicamente conectado ao verbo erotan (perguntar).

Para Sócrates, perguntar é uma forma de despertar o interlocutor ao

conhecimento, de expor-lhe a sua ignorância insuflando-lhe o desejo de

saber. A conjunção do amor à educação, síntese da pedagogia platônica,

se dá com a fundação erótica da filosofia na figura de Sócrates.O Banquete é uma narração baseada na memória erótica de um

dos mais entusiasmados e recentes amantes de Sócrates, Apolodoro. Incitado por um amigo anônimo, ele relata o suposto encontro de

Sócrates com Agatão e Alcibíades, e os discursos eróticos que teriam proferido na ocasião. Não lhe é difícil repeti-los, pois alega ter sido,

recentemente, requisitado por Glauco a narrá-los, tendo este os conhe­cido por Fênix. Como não estava presente no festejo, Apolodoro retém

na memória o que lhe contou Aristodemo, amante inseparável de Sócrates, que participou daquela comemoração na casa de Agatão.

Os dois prólogos d ’O Banquete, o de Apolodoro e o de Aristodemo, introduzem, com refinada ironia, questões centrais do diálogo, como o

papel das intermediações eróticas, a relação pedagógica de discípulos e mestre, as diferentes formas de narrativa e as dimensões de tempo­

ralidade que lhes correspondem, assim como o dinamismo amoroso

e criativo de Sócrates3.

2. Todas as traduções de Platão são de Carlos A lberto Nunes.

3. R. Velardi, “Scritura e Tradizione dei Dialoghi in Platone”, p. 123, em G. Casertano (org.), La Struturra dei Dialogo Platonico, Napoli, Loffredo, 1998, pp. 108-139.

3 2

IN T R O D U Ç Ã O

A complexa cena inicial revela, de imediato, a rede de intermediações

erótico-narrativas que compõem a urdidura do diálogo, introduzido

pelos significativos prólogos, que evidenciam pelo menos duas formas

de discipulado, duas práticas amorosas em relação a Sócrates: a de

Apolodoro, “maníaco” (173c), irritadiço, sempre insatisfeito consigo e

com os outros, exortando incansavelmente à filosofia, menosprezando

os que não a praticam; e a de Aristodemo, que, resignado com a sua

inferioridade em relação a Sócrates, contenta-se em imitá-lo exterior­

mente e reproduzir as suas palavras, memorizando o que puder dos

seus discursos, obedecendo-o como uma sombra silenciosa incapaz

de tocar o corpo iluminado que reflete: “farei o que mandares” (174b).

Esses dois poios divergentes do amor, o sempre carente, contraposto ao

pleno, satisfeito, antecipam dramaticamente as dimensões constitutivas

de Eros, Penúria e Expediente, segundo o discurso mítico-filosófico de

Sócrates (203a-204a).

Passivo e “meigo”, acolhedor estático da “doutrina” do seu amado,

Apolodoro é “sempre o mesmo” (i73d). Aristodem o permanece

obediente e silencioso, sem intrometer-se criativamente na história que

relata. Em atitude diametralmente oposta à dos discípulos, Sócrates,

eroticamente inquieto, está sempre em transformação: embelezan­

do-se, como não é seu costume, para visitar um belo moço, Agatão

(174a); e alterando um provérbio citado por Homero, a quem segue,

não no servilismo zeloso de um discípulo que reproduz fielmente o seu

mestre, mas na fidelidade da originalidade, pois o grande poeta épico

teria, ele mesmo, alterado o provérbio a seu modo. Platão apresenta

duas sombras socráticas que passivamente seguem os passos de seu

mestre sem acompanhá-lo nos caminhos interiores de seu pensamento.

Sua filosofia memorizada é contraposta à filosofia viva do verdadeiro

filósofo, Sócrates, que apresenta outra camada narrativa, a dialógica.

Com isso, Platão também se distingue daqueles apaixonados prosélitos,

preocupados em imortalizar quem não conhecem.

A trama constitui uma tripla camada temporal de intermediação

erótica, em que três pessoas teriam ouvido, em ocasiões diferentes,

3 3

O B A N Q U E T E

a mesma história, agora discursivamente encadeada: (1) Apolodoro

a contou a Glauco, (2) que a conheceu por alguém que a recebeu de

Fênix, (3) que a escutou, assim como Apolodoro, de Aristodemo,

o único presente no banquete. Com o se vê, o nexo estrutural do

prólogo supõe uma narrativa três pontos distante do fato4. Mesmo

assim, Apolodoro denuncia enfaticamente a imprecisão de Fênix,

valorizando a exatidão “histórica”, “cronológica”, garantida pelo seu

interesse e atenção, por se tratar de tão importante questão para a

sua vida e pela confirmação do próprio Sócrates. Furtivamente,

Platão introduz um dos temas centrais de sua investigação filosófica,

a relação entre realidade e arte mimética, entre o fato e sua descrição

ficcional, entre verdade e aparência, uma das mais controversas

questões d’A República.Em relação ao evento, factualmente considerado, O Banquete é,

portanto, uma imitação de uma imitação, que reflete num plano históri-

co-fático a dimensão ontológica da arte mimética, tal como exposta n’A

República. Essa completa, quase cômica devoção a Sócrates é, porém,

a pré-condição necessária para a transmissão “fidedigna” da narrativa.

Não fosse a subserviência e a fidelidade dos discípulos apaixonados,

não haveria versão “mais veraz” dos fatos, superior à contada por Fênix,

cujos intermediários, por desatenção ou desinteresse, distanciaram-se

do fato ocorrido. Ou seja, a memória erótico-mimética é a tentativa

de resistir ao tempo que afasta, dispersa e transforma o ocorrido,

conservando-o intacto pela sua repetição mnemónica constante. Essa

resistência se dá pelo exercício da narrativa que eroticamente renova

o objeto de desejo a cada vez que o reconta5.

4. K. Corrigan e E. Glazov-Corrigan, Plato's Dialectic at Play - Argument, Structure and Myth in the Symposium, Pennsylvania, Pennsylvania State University Press, 2004, p. 30.

5. D. Halperin, “Plato and the Erotics o f N arrativity”, p. 104, em J. Clagge & N. Sm ith (org.), Methods o f Interpreting Plato and his Dialogues, volum e suple­mentar da revista Oxford Studies in Ancient Philosophy, O xford, Claredon, 1992,

pp. 93-119·

3 4

IN T R O D U Ç Ã O

Contrapondo esses dois modelos narrativos, Platão evidencia um

paradoxo: como pode uma história desse alcance ser contada por

discípulos incapazes de perceber a profundidade do que narram,

presos à linearidade do fato, à crua “historicidade” ? Neutralizando

a certeza da base histórica, as sucessivas intermediações discursivas

sugerem que nenhuma história pode ser contida no nível mimético.

Mesmo Apolodoro, que enfaticamente criticara a imprecisão do relato

transmitido a Glauco por Fênix (i72b-c), confessa a fragilidade e a

seletividade de sua memória e a consequente precariedade do relato

intermediado por Aristodemo (178a). História ficcional de Apolo­doro, O Banquete é, antes, uma ficção histórica de dimensão mítica.

Distanciando-se dos Apolodoros e Aristodemos, a forma que Platão encontrou de ser fiel a Sócrates é reinventando-o. Rememorá-lo é uma

forma de amá-lo, recriá-lo também.

iv . Estima-se que Platão tenha escrito O Banquete entre 384 e 379а. C., em plena maturidade filosófico-literária. Estruturalmente, o

diálogo desdobra-se em duas camadas temporais: (1) o momento

da narração de Apolodoro, ocorrida em torno de 400 a. C. (antes

da morte de Sócrates, em 399 a. C., e depois da saída de Agatão

de Atenas, entre 408 e 407 a. C .), e (2) o momento dramático da

narrativa, isto é, do banquete festejado no ano da vitória de Agatão

no concurso de tragédia (173a), isto é em 416 a. C .6. Essa diacronia

narrativa é um elemento central da complexidade do texto, em que a

narração, o drama e a redação são modulados pela lembrança erótica

dos discípulos de Sócrates.O fato de Apolodoro precisar a data em que teria, de fato, ocorrido

o banquete aponta, à primeira vista, para o que seria a dimensão

“histórica” do relato. Mas uma leitura atenta às referências histó­

ricas dos discursos notará três possíveis anacronismos: Pausânias

б. R. Bury, The ‘Symposium’ o f Plato, tradução e comentário, Cambridge, Hefferand Sons, 1932, p. l x v i .

3 5

O B A N Q U E T E

refere-se a Jônia sob o governo bárbaro, que deve ser, presumivel­

mente, depois da Paz do Rei, em 387 a. C.; Aristófanes menciona a

dispersão espartana dos Mantineos de 385 a. C.; e Fedro, ao evocar

o exército com posto por amantes e seus amados, parece ter em

mente a “tropa sagrada” de Tebas, composta não antes de 378 a.

C .7. O u seja, esses fatos não poderiam ter sido mencionados como

“exemplos históricos”, presentes na memória dos ouvintes, se eles

ainda não tivessem acontecido na suposta data dramática de 416 a. C..

Indicativos do intervalo entre esta data e a composicional, esses

anacronismos sugerem o interesse de Platão em implodir a historici­

dade da narrativa mimética de Apolodoro e afirmar a ficcionalidade do

drama, a fim de refletir sobre os acontecimentos recentes da história

ateniense, sugerindo como causa a concepção que seus protagonistas,

sobretudo Alcibíades, têm do amor e o modo como o vivem. Interes- sa-lhe apropriar-se dos fatos históricos para recriá-los na investigação

dialética de suas causas profundas. Com sutileza dramática ímpar, Platão neutraliza a estrutura mimética da narrativa factual e desvia a

noção de “verdade histórica” para “verdade filosófica” condicionada pela memória dialética.

O realismo ficcional alcançado por O Banquete é o de uma equili­

brada “novela histórica”8. Platão elabora a tensão inicial a partir dos

acontecimentos políticos da época, com a identificação dos persona­

gens dramáticos às personalidades históricas, sobretudo de Agatão,

Sócrates e Alcibíades. O banquete teria ocorrido no momento do

último sopro da cultura ateniense, revolvida nas últimas décadas do

século v a. C. pelo influxo dos sofistas, dos naturalistas e de Sócrates.

A vitória do jovem Agatão no festival de Lanea, em 416 a. C., aproxima-o

da tradição da poesia trágica, de Esquilo, Sófocles e Eurípedes, mas

as transformações políticas alteraram o horizonte religioso da cidade.

7. K . Corrigan e E. Glazov-Corrigan, op. cit., p. 18.

8. C. Kahn, Plato and the Socratic Dialogue: The Philosophical Use o f a LiteraryVorm, Cam bridge, Cam bridge University Press, 1996, pp. 34-35.

3 6

IN T R O D U Ç Ã O

Politicamente, o declínio é iminente, a cidade-estado será lentamente

absorvida pelo império macedônico.Otimista com a recente vitória sobre os persas, Atenas estava prestes

a iniciar a expedição de conquista da Sicília, seu mais desafiador projeto

imperial, concebido e liderado pelo ambicioso Alcibíades, que persu­

adiu a assembleia democrática contra as objeções do oligarca Nícias,

e preparou uma armação naval de proporção inédita. De acordo com

Tucídides, em sua História da Guerra do Peloponeso, a falta de confiança

do povo ateniense em Alcibíades teria sido a causa do fracasso da

expedição, que determinará a decadência da pólis ateniense. Os parti­

cipantes do plano militar estariam infundidos com o “Eros pela Sicília”,

um Eros inflamado pela retórica de Alcibíades, o famoso pupilo de

Péricles9, que tanto louvava esse deus, que o tinha como um emblema

em seu escudo dourado: Eros armado com um raio.

Depois que os seus conterrâneos consentiram que ele voltasse à

sua cidade natal, depois do fracasso da expedição militar, Alcibíades os traiu, retirando-se para Esparta, onde aconselhou os estrategistas

inimigos de Atenas. Chegando a confraternizar com os persas contra os helenos, certamente é um dos responsáveis pela ruína política da

cidade. O caráter instável e volúvel de Alcibíades será refletido no seu discurso d’0 Banquete, único cujo tema não é o amor, mas aquele por

quem era ardorosamente apaixonado, Sócrates.Pouco tempo antes da partida da armada para a Sicília, Alcibíades

foi acusado de ter mutilado as estátuas de Hermes dispersas pela cidade, e de ter profanado os Mistérios de Elêusis, o mais sagrado e

secreto dos ritos religiosos atenienses. No contexto da religiosidade

cívica, o ato de blasfêmia das estátuas voltava-se contra o sentimento

democrático que governava Atenas e custou-lhe a liderança de que

gozava. Esse incidente de histeria religiosa repercutiu em Atenas

com torturas, execuções sumárias, muitas delas errôneas. Cerca de

9. Tucídides, História da Guerra do Peloponeso, v i , 15-24, trad. M . da G . Kury,Brasília, Editora UnB, 1999, p. 295 e ss.

3 7

O B A N Q U E T E

cinquenta atenienses fugiram e foram sentenciados in absentia10. Conquanto sejam incertas as acusações, fato é que a conturbada

vida de Alcibíades era cercada por rumores, não menos do que a de

Sócrates, que será acusado e executado por motivos político-religiosos,

pelo crime de impiedade (asebeia). Como se verá, Sócrates reveste seu

discurso de aura místico-religiosa, reportando o que lhe teria ensinado

a sacerdotisa Diotima, personagem ficcional que teria salvado Atenas

da peste por dez anos (20id), e cuja doutrina erótica equipara-se a uma iniciação mistérica. Isto é, também Sócrates revelará os mistérios de

eros, profanando-os a não iniciados.

No momento da narrativa, aproximadamente 400 a. C., a guerra do

Peloponeso estava declaradamente perdida, e a cidade era espremida pelo seu próprio império. Agatão estava exilado e Alcibíades morto;

a crescente impopularidade de Sócrates, renovada por sucessivas

acusações, antecipara-lhe a morte iminente. Internamente dilacerada,

a pólis terá como analogia a divisão interna do homem, tema central

da investigação psicopolítica de Platão, n’A República. O radicalismo

antidemocrático dos “trinta tiranos”, na iminência de dominar o

partido oligárquico, ameaçava apagar da cidade todos os traços de

instituições democráticas e sentia-se cada vez mais atraído por Esparta.

Destruíam-se as esperanças dos defensores da tradição ática e a liber­dade cívica parecia perdida.

O symposium é uma instituição da democracia ateniense, em

contraste com a hetaireia ou a sunomosia. Mesmo assim, 110 contexto

histórico de transição de regimes políticos, que atravessa as três datas

que constituem o diálogo, nota-se, em pelo menos três passagens, uma

crítica à democracia. Em primeiro lugar, quando Sócrates ironiza a

vitória de Agatão no concurso de tragédias perante a multidão que o

louvava, obriga-o a reconhecer que “para uma pessoa de senso poucos

10. D. Nails, “Tragedy Off-stage”, p. 201, em J. Lesher, D. Nails e F. Sheffield (orgs.), Plato's Symposium - Issues in Interpretation and Reception, Harvard, Harvard University Press, 2006, pp. 179-207.

I N T R O D U Ç Ã O

sábios são mais de temer do que uma multidão de ignorantes” (194b).

Diotima também reconhece que “todos os homens” não necessaria­

mente compõem um conjunto de entendidos, podendo se tratar de

um grupo de néscios (202b). Por fim, a utilização do adágio “é sabido

que um médico vale por muitos guerreiros” por Alcibíades (214b)

também critica as pretensões democráticas. Ambígua é a personalidade

democrático-autoritária de Agatão, que recebe Aristodemo demo­

craticamente, mas insta-lhe repetidamente por Sócrates, ordenando

com vigor aos escravos que o tragam de qualquer maneira. Quando

Aristodemo diz ter insistido, inutilmente, com Sócrates, vitupera: “Que

absurdo! Chama-o de novo e não o largues!” (175b), para, em seguida,

deixar os convidados à vontade, colocando-se como mais um deles,

alegando não ser seu hábito mandar em ninguém.

Outro participante entretém a rede de relações políticas, culturais e

religiosas desse drama, o comediógrafo Aristófanes, um dos responsá­

veis pelas acusações que culminaram com a condenação de Sócrates.

Ao lado de escritos como os de Xenofonte, O Banquete insere-se na

controvérsia literária sobre a figura de Sócrates, depreciada pelas

comédias do autor de As Nuvens, de 423 a. C. Em As Rãs, comédia de

405 a. C., um pouco anterior à narrativa de Apolodoro, Aristófanes

encena os dois grandes poetas trágicos, Esquilo e Eurípedes, no Hades,

competindo sobre o melhor modo de salvar a cidade. É Alcibíades

a figura central da contenda político-poética. A polarização poética

corresponde ao antagonismo político entre oligarcas e democratas,

entre Sócrates e Alcibíades. Os ouvintes de Apolodoro, assim como

os leitores atenienses d ’O Banquete, estranhariam a presença de Aris­

tófanes entre os convidados de Agatão, pois o reconheciam como o

brilhante autor da comédia Só para mulheres (Thesmophoriazúsaí), representada em 411 a. C., que ridiculariza severamente o belo e

afeminado Agatão, representando-o como um luxurioso e extravagante

travesti asiático.Não há dúvida de que a presença de Alcibíades confira tragici-

dade à ficção histórica d ’O Banquete. Ao descrever a personalidade

3 9

O B A N Q U E T E

tumultuada e imprudente do político, Platão, crítico contumaz da

democracia, relaciona sua instabilidade erótica à forma de governo

desnorteado que ele representa (lembre-se do Eros tirânico, da pene­

trante analogia entre a alma humana e a forma de governo traçada ri A

República). Mas, pelo descompasso entre ele e Sócrates, sobretudo

quando se contrastam os discursos eróticos dos dois, a sua figura

é, também, cômica. A ascendência de Sócrates sobre Alcibíades fez

com que o associassem às extravagâncias político-religiosas de seu

pupilo. Defendendo Sócrates, O Banquete mostra o abismo que o

separa de Alcibíades, incapaz de praticar as virtudes que lhe ensina

o mestre, aos seus olhos incompreensível, mas inteligível ao leitor

que acompanhou a pedagogia de sua dialética amorosa11. O Banquete

configura uma apaixonada defesa de Sócrates, como se Platão, iniciado

nos mistérios do eros socrático, o apresentasse sem distorções aos que o denigrem sem conhecê-lo, julgando-o pelas incompreensões

e inconsequências dos seus discípulos.Se a habilidade literária de Platão permite-lhe desenvolver uma

narração diacrônica, a ironia concede-lhe liberdade para a anacronia histórica. Mais importante é a vocação poética com que se concentra

na atemporalidade mítica dos relatos imemoriais, tomando os fatos históricos para elevá-los a uma dimensão de inteligibilidade dialética.

O Banquete é uma invocação do passado, não num sentido histórico, mas mítico12; o evento que a obra reconta tornara-se lendário. Mas,

neutralizada a verossimilhança histórica, a dimensão mítica não elide a insurgência da questão dialética da verdade, do sentido da reunião.

Os discursos reportados por Aristodemo são apenas os “memoráveis”, aqueles “dignos de serem lembrados” (178a). Isso significa que inte­

ressa a Platão conservar o que não deve ser esquecido, pela verdade supra-histórica que comporta. Dialeticamente redimensionada, a

11. M . Nussbaum , -A Fragilidade da Bondade: Fortuna e Ética na Tragédia e na Filosofia Grega, trad. A . Cotrim , São Paulo, M artins Fontes, 2009, p. 150.

12. S. Rosen, Plato's Symposium, Indiana, St. Agusutin Press, 1999 [1968], p. 3.

40

I N T R O D U Ç Ã O

memória não tem “a função de reconstituir e ordenar o passado; não

implica uma cronologia dos acontecimentos, revela o Ser imutável

e eterno. [... ] Não visa organizar a experiência temporal; quer

ultrapassá-la”13. Entre a narrativa mimética dos discípulos memoria-

listas, denunciada nos prólogos, e a estrutura eminentemente dialética

dos discursos por eles reportados, consoante a memória filosófica de

Platão, delineia-se uma transitividade, uma passagem que converte

a História em Poesia.

v. Ameia-luz das lâmpadas de óleo permite entrever a cena sombreada:

paredes revestidas de palmas, o chão juncado de ramos de oliveira, no

qual se sobrepõem divãs, ornados de almofadas e dispostos em semicír­

culo. Chegando ao banquete, os convidados são descalçados por jovens

escravos que lhes lavam os pés com água aromatizada, purificam-lhes

as mãos, vestem-nos com confortáveis ornamentos e coroam-nos com

guirlandas de folhagens14. Na festa de Agatão, cada cama comporta dois

convivas (175c; o leito do anfitrião parece maior, pois comporta, além

dele, Sócrates e Alcibíades, 2i3a-b), que se recostam obliquamente, de

modo a alcançarem a bebida com facilidade. Tal posição, incômoda

para a comida, era propícia em uma festa que não raro incluía relação

sexual e o posterior sono embriagado.

Intensificada pelos hinos religiosos, declamações poéticas e torneios

retóricos, o banquete é uma celebração da amizade e do amor. Por isso,

tornou-se, entre os incontáveis poetas que o cantaram, a representação

alegórica por excelência das festas e prazeres gregos. Instituição da

educação cívica e iniciação erótica da juventude grega, é lugar de

aprendizado, que mobiliza o impulso erótico do jovem à prática da

virtude política, através do exemplo, da poesia, da contemplação de

13. J.-P. Vernant, “Aspectos Míticos da Memória e do Tempo”, em Mito e Pensamento entre os Gregos, trad. H. Sarian, São Paulo, Paz e Terra, 1990, pp. 161-164.

14. J. Mazel, As Metamorfoses de Eros: O Amor na Grécia Antiga, trad. A . Danesi, São Paulo, M artins Fontes, 1988, p. 59.

4 1

O B A N Q U E T E

belos corpos, do elogio de valores aristocráticos15. Conforme a ritua-

lística religiosa da época, as abluções, libações e hinos são louvores a Dionísio, divindade que deu aos homens o vinho, “leite de Afrodite”.

Reconhece-se nele o “grande liberador” dos desejos recônditos e reprimidos, considerando a influência do álcool, ao desatar as línguas

amarradas pelas leis e costumes, para a prática do pensamento livre.

A bebida é um componente necessário para a mais livre associação

dos homens e os ajuda a superar a cisão entre nomos (convenção) e

physis (natureza)16.

O banquete de Agatão constitui o terceiro dia do rito dionisíaco,

depois da representação da tragédia vitoriosa do anfitrião no festejo

(“anteontem”, i75e), e do banquete dos coristas (“ontem”, 176a), nos

quais Sócrates estava ausente. A exceção deste, que nunca perde a

sobriedade e não participou da bebedeira da véspera, os comensais

louvarão o amor com os corpos ainda exaustos pelo excesso de vinho

da comemoração orgiástica da véspera. Considerando essa debilidade,

a escolha do tema parece um paliativo, mesmo um substitutivo, a

homens ressacados. Contida a dimensão sensual e valorizada a inte­

lectual, O Banquete não só registra o intervalo entre fazer amor e falar

de amor, mas indica que elevá-lo ao nível de reflexividade discursiva

é um modo erótico de celebrá-lo e justificá-lo. Reduzi-lo à expressão

de mero apetite corporal, abandonando a tentativa de articulá-lo

intelectualmente implica neutralizar a totalidade da experiência

humana mais profunda. Platão sugere que, quanto mais erotizado,

mais o hom em é capaz de compreender e justificar o que sente, e

que é o próprio amor que motiva a inteligência que se tem dele.

É o próprio Eros que motiva as reuniões que o louvam, como sugere

Agatão (i79d).

15. C . Calame, Eros en la Antigua Grecia, trad. E. R odriguez, M adrid, Akal, zooz,p . ÍOO.

16. A . Bloom , “The Ladder o f L ove”, p. 69, em Plato’s 'Symposium', trad. S. Ber-nardete, Chicago, lh e University o f Chicago Press, 2001, pp. 55-177.

4 2

IN T R O D U Ç Ã O

A reflexão sobre a natureza do amor, sua íntima relação com

o desejo (epithymia), a amizade (philia) e a afeição (agape), e sua

possível ordenação racional, motiva Platão em vários diálogos que

registram a elasticidade e a variabilidade do campo semântico a

que pertence o vocabulário erótico. Polissêmica, a palavra grega

eros denota, a princípio, um desejo, apaixonado e intenso, por algo (a vitória, por exemplo) ou por alguém. Filho de Afrodite, deusa da

beleza e da sensualidade, Eros também é o nome da divindade que personifica o estado anímico do amor, da paixão sexual, assim como,

posteriormente, com a secularização do vocabulário religioso, do

princípio natural do amor, que age sobre o homem e todas as coisas.

Com o os gregos não grafavam em maiúsculas as primeiras letras

dos nomes próprios, apenas o contexto indica se o texto refere-se à

divindade, à força natural ou ao sentimento humano. Essa plurivo-

cidade será explorada por Platão, e corresponde, estruturalmente,

à polimorfia do diálogo.O vasto campo semântico de Eros demonstra a exploração linguís­

tica do horizonte significativo dessa divindade, pela poesia, épica,

lírica e trágica, assim como pela tendência retórica de distinção do

sentido das palavras. Por que, então, Fedro queixa-se da ausência

de panegírico a Eros? Primeiro da noite, seu discurso antecipa a

densa rede de intertextualidade com a tradição literária grega - com

Homero, Hesíodo, Acusilau, Parmênides e Esquilo - , que balizará

toda a obra. A sua insatisfação, porém, pode residir no fato de

que célebres elogios como os de Sófocles, em Antígona (883-889),

ou de Eurípedes, em Hipólito (573-576), não são encomia, o tipo

retórico de gênero laudatório que “enaltece a divindade” (177c).

A s regras dessa tipologia oratória, que estabelece a relação entre

a natureza de Eros e os seus benefícios, permitem uma revisão do

legado da tradição poética e sofística, para acolhê-la, refutá-la ou

recriá-la, e é determinante para a problematização filosófica, reali­

zada por Sócrates, de sua adequação para a exposição dialética da

verdade (i98b-i99b).

4 3

O B A N Q U E T E

v i . O amor discutido e louvado n’0 Banquete é, primordialmente, homossexual masculino, relativo à pedagogia pederástica praticada na

Grécia clássica. Se Erixímaco redimensiona o eros, expandindo-o a um princípio cósmico válido para todas as relações e ações do mundo, e

Aristófanes equaliza o amor homossexual ao heterossexual, Pausânias,

Agatão e Alcibíades concentram-se totalmente no amor masculino.

A menção de Fedro à heterossexualidade, com o exemplo edificante de

Alceste, não retira o teor eminentemente homoerótico de seu discurso. O desejo de procriar e o amor heterossexual sequer configuram, no

discurso de Sócrates, uma etapa da escala ascensional de um belo corpo masculino à forma suprema da beleza. Além disso, quando se

refere ao anfitrião Agatão, Sócrates chama-o de “belo” (kalós), que significa excitante, capaz de provocar desejo sexual (174a). Mas, para

não incorrer nos anacronismos que as palavras pederastia e homos­

sexualidade imediatamente provocam, deve-se compreender sua

dimensão ético-pedagógica.

Na Grécia antiga, tanto no período arcaico como no clássico, não se

considerava o desejo erótico em relação à semelhança ou à diferença

sexual. A relação sexual era avaliada em um nível anatômico, em termos

de penetração fálica, real ou simbólica, mesmo a estabelecida entre

mulheres. O ato sexual era polarizado a partir da distinção entre a

pessoa que penetra, o polo ativo, e a que é penetrada, o polo passivo.

Esses papéis opostos de superioridade e inferioridade são relacio­

nados ao status social: masculino e feminino, adulto e adolescente,

respectivamente. O u seja, a penetração fálica denota ascendência,

social, política e econômica, do homem sobre a mulher e do homem

sobre o adolescente.

Em sua História da Sexualidade, Foucault explica que, diferente dos

modernos, “os gregos não opunham, como duas escolhas excludentes,

como dois tipos de comportamento radicalmente diferentes, o amor

ao seu próprio sexo ao amor pelo sexo oposto”. O desejo advém da

atração natural pela beleza, independente do sexo. Não se trata de uma

estrutura dupla, ambivalente, “bissexual” do desejo, mas de um único

4 4

IN T R O D U Ç Ã O

Eros que se dá, simultânea ou alternadamente, por um homem ou por

uma mulher. Por essa razão, após ter sido educado sexualmente por um

homem mais velho na juventude, um homem casado normalmente

tem relações erótico-pedagógicas com seus garotos, seus paidika. A oposição moral entre um homem temperante e senhor de si, capaz

de dominar seus prazeres, é muito mais importante do que a distinção

sexual em relação ao gênero da pessoa a que o prazer se destina17.

Pelo menos cinco características, delineadas por Brisson18, da

pederastia antiga a distinguem da noção corrente:

1.paiderastia é a relação sexual e educacional entre um cidadão adulto

e um pais (também neanískos, meirákion ou ephébos), garoto na fase

que vai da puberdade ao aparecimento da primeira barba, aproximada­

mente dos doze aos dezoito anos, capaz de provocar desejo erótico no

adulto. Pais, menino, também significa escravo, o que denota o estado

de inferioridade social, e, por conseguinte, a passividade erótica;

2. o surgimento do buço na face do jovem rapaz caracteriza o ápice

de sua atratividade sexual, que dura até o aparecimento de sua primeira

barba. Em uma fase transicional, o jovem garoto pode desempenhar os

dois papéis, ativo e passivo, mas com parceiros diferentes. É motivo de

irrisão um homem barbado continuar a desempenhar o papel passivo com um cidadão adulto. Note-se que, normalmente, um homem grego

não se sente atraído por outro homem, nem um garoto por outro, o que impede denominá-los “homossexuais” no sentido moderno do termo.

Não há reciprocidade erótica na estrutura pederástica, ao contrário, o

garoto não se sente sexualmente atraído pelo adulto, apenas lhe serve

eroticamente em troca de um benefício pedagógico19;

17. M . Foucault, História da Sexualidade, Vol. 2 - O Uso dos Prazeres, trad. M . Albuquerque, Rio de Janeiro, Graal, 1984, pp. 237-239.

18. L. Brisson, “Agathon, Pausanias, and Diotim a in Plato’s Symposium, Paiderastia and Philosophia”, p. 233, em J. Lesher, D. Nails e F. Sheffield (orgs.), op. cit., pp. 229-251.

19. A . Bloom , op. cit., p. 94.

4 5

O B A N Q U E T E

3. com o se restringe a um período específico da vida do jovem

garoto, e não depende da inclinação por um indivíduo em particular,

a paiderastia não é exclusiva a um tipo de homem com tendências homoeróticas, mas compõe a normalidade social dos cidadãos, que

casarão com mulheres após a fase passiva (i92a-b), ao mesmo tempo em que continuarão a desempenhar o papel ativo. O erastés, o amante

ativo, é, normalmente, um homem novo, entre vinte e trinta anos, que ainda não é casado, ou cuja mulher é muito nova;

4. espécie de “divisão do trabalho sexual”, mesmo quando a paide­rastia gera afeição e estima, a assimetria emocional e erótica subsiste:

distingue-se o eros do amante (erastes) daphilia do amado (erômenos). Exatamente por isso, por não estar movido por desejo erótico pelo

mais velho, o menino permanece passivo, e não procura orgasmo na

relação sexual, não efetua penetração fálica, privilégio do apaixonado e

excitado amante. Esse fato pode explicar por que, aparentemente, não se praticava sexo anal, nem oral, o que era um ato muito condenado. A

fim de preservar a integridade física do adolescente, o tipo de sexo era,

predominantemente, intercrurial, isto é, a penetração entre as coxas

do garoto. Mas como a comédia referia a penetração anal como usual

entre os homens, acredita-se que a representação das pinturas é mais

convencional do que fiel à totalidade das experiências, como alega Dover no seu clássico livro sobre o assunto20;

5. o homem mais velho é chamado de erastes (particípio presente

ativo do verbo eran, “amante”), ao passo que o jovem é o seu eromenos

(particípio presente passivo do verbo eran, ou seja, “amado”), ou

seu paidikia (neutro plural, significa “aquilo que concerne a jovens

garotos”). A linguagem erótica, presente na literatura grega e abun­

dante nos diálogos de Platão, revela-se discreta, mas é indicativa da

dimensão sexual da relação pederástica. N o discurso de Pausânias,

por exemplo, termos como hupourgein, “servir ao amado” (i84d), e

kharizesthai, “conceder”, “favorecer” (182a,b,d, i83d, 185b, 186b,c, i8yd,

10. K . Dover, Greek Homosexuality, Nova Iorque, Vintage, 1978, pp. 92 e ss.

4 6

I N T R O D U Ç Ã O

188c, 218c,d) devem ser interpretados como um contato físico que

resulta na ejaculação, ainda que um sorriso ou a simples admiração

da beleza física do jovem possam satisfazer o amante. A sociedade

encorajava os esforços de sedução do erasta, mas não tolerava qualquer

iniciativa do eromenos, de quem se esperava, quando cortejado, gratidão

e admiração, sentimentos relacionados kphilia.Apaiderastia tinha uma função de introduzir o adolescente na socie­

dade masculina, tratando-se de um sistema de transmissão social de

funções cívicas, uma iniciação no grupo que dirigia a cidade econômica e politicamente21. Herança de uma sociedade guerreira, a dominância

masculina é característica fundamental da sociedade grega antiga, que exaltava as virtudes viris militares, como a força, a bravura e a

fidelidade. Por isso o discurso de Fedro (i78d) registra a importância capital da andreia, da masculinidade, sinônimo de coragem. A atração

erótica entre homens é, assim, consequência da conservação de um ethos guerreiro, aristocrático, transmitido pelo amor e pelo exemplo do

mestre ao discípulo22. Uma cultura militar desse tipo tende a neutralizar

o amor do homem pela mulher, considerada substancialmente inferior,

com reduzidíssima, senão insignificante participação política. Essa

misoginia explica a caracterização do amor feminino, no discurso de

Pausânias, como vulgar, oriundo de Afrodite pandêmia, mais voltado

ao corpo do que à alma (i8ib-c).

Por isso, Fedro, no primeiro discurso d ’O Banquete, defende o amor

guerreiro pederástico, pautado na glória imortal alcançada pelo amante

exemplar, cuja conduta ética é edificadora do caráter do amado. Um

verdadeiro amante jamais decepciona aquele que ama, permanecendo

robusto e valente pela vergonha de desapontar o jovem amado. Nada

pior do que “ser visto” fraquejando pelo amado, sendo o amor à honra

21. F. Buffière, Eros adolescent - la pédérastie dam la Grèce antique, Paris, Les Belles Lettres, 1980, p. 88.

22. H. M arriou, História da Educação na Antiguidade, trad. M . L. Casanova, São Paulo, EPu/Edusp, 1973, pp. 58-59.

4 7

O B A N Q U E T E

(philotimia) o fundamento da conduta virtuosa. Exemplos dessa ética

da honra sobejam na Ilíada, em que Aquiles prefere a morte honrada do que uma sobrevida infame. Revestida de força institucional, essa

é a “utilidade” (khreia) pedagógica da paiderastia, tão ressaltada por

Platão no Fedro, a partir do que se pensa o amor ri O Banquete. Pode-se

dizer que ela se limita a um protocolo político, restrito a uma fase

determinada da vida do jovem grego, atendendo regras que controlam

o desejo e o prazer? Os testemunhos literários provam o contrário:

nota-se a existência de relações afetivas homoeróticas permanentes,

que provocavam resistência, censura e escárnio.O casal Pausânias e Agatão é emblemático nesse sentido, pois não

superaram a relação pederástica para casar-se e constituir família,

persistindo unidos na vida adulta, como indica Aristófanes (i93b-c).

Deve-se atentar ao compreensivo repertório de comportamentos

eróticos descrito pelo comediógrafo (i9id-i92e), heterossexual,

homossexual masculino e feminino, conforme a origem mítica da

humanidade, antes composta por seres de três sexos, o masculino, o

feminino e o andrógino, hermafrodita. Cindidos ao meio por Zeus

por o terem desafiado, os homens vivem a procurar a metade que lhes

falta. A essa busca apaixonada se chama amor, o deus Eros.

O discurso de Pausânias n’0 Banquete, reformista em relação à

prática pederástica, por sua vez, advoga, em causa própria, o amadu­

recimento e a consolidação do amor surgido na fase pederástica, que,

se autêntico e “nobre”, subsistiria ao despertar juvenil e permaneceria

para a vida toda, pautado mais na alma do que no corpo (i8id; i83d).

Do diálogo Protágoras (315c) - que traz célebres sofistas com seus

discípulos, Hípias com Eríximaco e Fedro, e Pródico com Pausâ­

nias e Agatão - , sabe-se que Agatão era o jovem amado, o efebo (paidika) de Pausânias.

Em sua sofisticada articulação do argumento mitológico com

o ético-político, o elogio de Pausânias revela-se um programático

elogio da paiderastia filosófica, em que a relação sexual é justificada

pelo intercâmbio assimétrico de favores sexuais, da parte do jovem,

4 8

I N T R O D U Ç Ã O

pela edificação moral e intelectual que lhe proporciona o adulto.

A tradição mitológica demonstra a dualidade de Eros, nascidos de

Afrodites diferentes, e, portanto, de natureza e escopo diversos:

o Am or vulgar, presente em ambos os sexos, é reduzido ao corpo, por isso incerto e inconstante, sempre revolvido por arrebatamentos

eróticos e voltado exclusivamente ao orgasmo; e o Am or celeste, exclusivo dos homens, é interessado pela alma e mais preocupado

com a razão de ser do ato sexual do que com a sua realização (181b).

A dualidade mítica de Eros corresponde ao “formalismo moral”

do sofista, para quem nenhum ato, em si, é louvável ou conde­

nável. É o critério ético-político que permite a avaliação de Eros,

sendo o amor pederástico-pedagógico superior. Mas Sócrates, ao

reformular o problema educativo da pederastia, permite perceber

a dimensão falaciosa da postulação de Pausânias: se o amor mais

sublime, filosófico e pedagógico, é centrado na alma, por que a

satisfação do desejo corporal permanece fundamental? Espiritual,

o amor filosófico não superaria o eros do corpo? Enquanto Pausâ­

nias mascara a sensualidade do amor espiritualizando-o, Sócrates o

dessensualiza ao espiritualizá-lo23.

D e sua parte, Agatão elogia Eros de forma autoencomiástica,

louvando suas próprias características e virtudes, juventude, delica­

deza e beleza, justificando o amor que lhe devota Pausânias. Sendo o

jovem amado, Agatão descreve Eros como o mais jovem dos deuses

(i9Sa-c); analogamente, sendo poeta, Eros também o é (i96d-e).

A crença na capacidade pedagógica do amor pederástico em transmitir

as virtudes e o conhecimento, sustentada por Pausânias, ressoa na defesa

da dádiva de Eros, que prodigaliza virtudes e bens de toda natureza aos

que o louvam (i97d-e). Para ambos, Eros é responsável pela virtude,

para Pausânias transmitida do amante para o amado, para Agatão

oferecida pelo próprio Eros.

23. L. Robin, “N otice” p. x l v i i i , em Plato, Le Banquet, trad. P. Vicaire, Paris, Les Belles Lettres, 1989, pp. v i i - c x v i u .

4 9

O B A N Q U E T E

A o discurso de Agatão corresponde sua personalidade narcísica

e afeminada, diferindo dos antecedentes pela quase indiferença às ideias, minimizadas pelo cuidado exclusivo com o procedimento

retórico, o funcionamento mecânico do verbo, seu ritmo e rima, assonância e simetria. Aliterações, antíteses, metáforas, perífrases,

hipérboles, enumerações, anáforas24: o exuberante arsenal de recursos não pode senão hipnotizar o ouvinte, imobilizando-lhe a inteligência

pelo arroubo pirotécnico da sua prosa poética. Com efeito, Sócrates

reconhece, de imediato, no barroquismo do discurso de Agatão,

a ascendência de Górgias, “orador terribilíssimo”, que emudece e

petrifica os que o escutam (198c). Com o confronto dialético entre

Sócrates e Agatão, Platão exprime o grande ágon entre a Filosofia e a

Poesia, esta já submetida ao influxo sofístico. Explorando o amor à

beleza irresistível do discurso, capaz de seduzir e arrebatar os ouvintes,

sofistas como Górgias, e seu aprendiz Agatão, arrastavam as multidões

e, como Platão visa demonstrar em diálogos como Górgias e A Repú­blica, provocaram a ruína política de Atenas.

O embate entre filosofia e sofística é prenunciado desde a chegada

atrasada de Sócrates no banquete (i75c-e), quando antecipa a sua

crítica à pedagogia sofística, posteriormente desenvolvida em seu

discurso. Ao desejar reclinar-se próximo a Sócrates, Agatão acredita

poder sorver-lhe a sabedoria pelo toque erótico do corpo, possivel­

mente indicativo da penetração fálica. Refutando o modelo masculino

de transmissão erótico-pedagógica direta de um conhecedor pleno a

um ignorante vazio, Sócrates ridiculariza Agatão com uma metáfora

obscena - a da ejaculação como comunicação do conhecimento a um

homem que o recebe passivamente, “tal como se dá com a água, que

escorre por um fio de lã, da copa cheia para a que tem menos”. Assim,

denuncia, mais uma vez, a vacuidade e a reificação da educação sofís­

tica, o seu método pederástico e sua consequência prática, a imitação

14. K. Dover, Plato Symposium, Cam bridge, Cam bridge University Press, 1980, pp. 113-124.

5 0

IN T R O D U Ç Ã O

passiva do discurso de Górgias. A essa representação masculina da

educação associada à ejaculação, Sócrates oporá um modelo feminino,

espiritualmente procriativo, parindo, na alma do discípulo, saber e

virtude, analogamente ao parto físico realizado pelas mulheres25.

VI I. Num diálogo que dramatiza o conflito das forças culturais de sua

época, não poderia faltar a figura de um médico, orgulhoso expoente da

ciência no plano teórico e prático da vida espiritual grega. No âmbito

formativo da civilização helénica, a educação física, como cultivo do

corpo pela ginástica, desempenhava papel de primeira ordem, ao lado

da educação espiritual, desenvolvimento da alma pela musiké, arte

das musas, envolvendo poesia, música e ciências em geral. Ginástica

e musiké são as duas forças modeladoras da vida humana, a síntese

da pedagogia grega antiga, como registra os livros n e u i d’A Repú­blica. A época d ’O Banquete testemunha uma mudança substancial

neste projeto formativo, pela insurgência do médico, que encontra

paralelo ao surgimento do filósofo no plano espiritual, por elevarem

a prática do ginasta e do poeta, respectivamente, a um nível superior

de reflexividade e racionalidade, num trabalho de fundação teórica do

conhecimento prático, ambos impulsionados, ainda, pelo desenvol­

vimento da prosa retórica dos sofistas, e logo ganhando significativa expressão literária. Desse modo, é na relação com a paideia como um

todo, na conformação modeladora do homem no horizonte global do mundo, que medicina e filosofia convergem e confrontam-se na investi­

gação da natureza (physis), e na compreensão do microcosmo humano que dela participa, a fim de regulá-lo e preservar a sua ordem26.

A questão decisiva para Platão é que tipo de conhecimento propor­ciona a sabedoria para se viver bem, para se alcançar a felicidade

25. L. Brisson, “ Introduction” pp. 39-40, 48-49, em Platon, Le Banquet, trad. L.Brisson, Paris, g f Flammarion, 2007, pp. 11-12.

26. W. Jaeger, Paideia: a Formação do Homem Grego, trad. A . Parreira, São Paulo,Martins Fontes, 2003, pp. 1002 ss.

5 1

O B A N Q U E T E

(eudaimonia), no que a filosofia se aproxima mais da poesia, do que

da ciência natural e da techné sofística. Ao generalizar o esquematismo

de sua especialidade em outras áreas, o médico incorre em banalidades

e confusões, e o erotismo vulgar e hedonista de Erixímaco é a prova

irônica disso. Consoante a sua ciência naturalista e materialista, ele

concebe tudo em termos físicos. Para ele, o princípio que atrai e repele

as pessoas é o mesmo que age sobre as coisas em geral, nada tendo

o Eros humano de peculiar em relação à força mecânica da natureza.

Reduzidas à sua dimensão somática (o que ecoa certas tendências da

moderna sexologia), as pessoas se desejam e se hostilizam por conta da

“repleção” (plesmone) e “vacuidade” (kenosis) dos seus corpos (i86c-d),

cabendo à ciência médica balancear esse contraste.

Sintomaticamente, o discurso de Erixímaco descuida da beleza e

da alma, e dissolve, por isso, o amor sexual humano num princípio

cósmico-somático deserotizado. Afrodite, deusa da beleza, em cuja

dualidade, Urânia-celeste e Pandêmia-vulgar, baseia-se a distinção

de Pausânias, é sutilmente substituída por um par de Musas, Urânia

e Polímnia. Com isso, nota-se uma substituição do poder atrativo,

afrodisíaco da beleza, correlata do amor que a deseja, pela exaltação

da potência técnica dos saberes inspirados pelas Musas, a Astronomia

e a Agricultura, respectivamente. Ainda que a pressuponha, pelo preli­

minar anúncio de continuidade em relação ao discurso de Pausânias,

Erixímaco não trata diretamente da alma, base da distinção erótica

anterior entre Eros celeste e vulgar. Desse modo, a sua teoria somática

revela-se também materialista, e não logra estabelecer um critério sólido

de distinção entre os tipos de Eros, pois omite a distinção entre corpo

e alma que poderia fundá-lo. Identificando a nobreza à saúde, como se

não fosse possível a vulgaridade erótica em corpos saudáveis, resta-lhe

exortar à moderação no trato com os prazeres físicos, correspondente

à continência no gozo dos prazeres culinários (i8yd).

Essa contradição transparece, sobretudo, quando, ao retificar Herá-

clito (i87a-c), Erixímaco reverte a essência de seu próprio pensamento

e confunde dualidade e dualismo erótico. O equilíbrio engendrado pela

5 2

I N T R O D U Ç Ã O

techné médica, que atinge e preserva a saúde, resolve a contrariedade

originária numa síntese que a supera, conduzindo-a a um estado que subsumiu os opostos em uma nova unidade, terceiro elemento dife­

rente dos dois primeiros. Ou seja, o dualismo dos poios originários é anulado na síntese que os integra. Acordo (homologia) entre opostos, a

harmonia se dá em uníssono, é a consonância (sumphonia) que resulta em univocidade27. Dessa forma, o dualismo pressupõe um terceiro

princípio capaz de harmonizá-lo, o Eros celeste. Contrariamente, a discordância entre os elementos antitéticos é consequência do Eros

vulgar. O ponto de divergência do médico em relação a Heráclito é que, para este, a harmonia que relaciona os poios discordantes não os

descaracteriza, nem os subsume num terceiro estado, diverso dos dois primeiros. Para Heráclito, a harmonia é tensão de uma unidade dual,

que preserva o dinamismo, o antagonismo da discordância, e não a

pacifica28. A composição não elide a oposição, ao contrário, vive dela.

Com o seu desejo cientificista de uma harmonia morna, que dissolva os poios discordantes, Erixímaco afasta-se não só do dinamismo filosófico

de Heráclito, mas também do antagonismo erótico de Safo de Lesbos (fragmento 130), que intuiu a unidade dual de amor: “eros agridoce”.

v i u . Ponto culminante e núcleo dialético da obra, a fala de Sócrates

é a mais extensa, seguida pela de Alcibíades. Juntos, esses discursos

compõem a metade d’0 Banquete. Em vários aspectos, a intervenção

de Sócrates é também a mais intrigante e desafiadora, uma das passa­gens mais fecundas da filosofia ocidental. Em primeiro lugar, Sócrates

anuncia tratar da verdade, desincumbindo-se da beleza retórica do

seu discurso, no que se distingue da “bitola” dos outros interlocutores

(199b). Com isso, pretende instaurar uma nova forma discursiva no

27. C . Francalanci, Amor, Discurso, Verdade - uma Interpretação do Symposium de Platão, Vitória, Edufes, 2005, p. 69.

28. A . Costa (org. e trad.), Heráclito - Fragmentos Contextualizados, Rio de Janeiro, Difel, 2002, p. 227.

5 3

O B A N Q U E T E

trato do tema, considerando o “falar bem” o falar a verdade, e não

falar belamente, mesmo que isso não se conforme ao gênero retórico

do elogio (i98c-d); em seguida, procede com uma conversa em que

refuta Agatão, de forma minuciosa e global: Eros não é o “amado”, mas

o “amante”, apresentando o tema da carência como elemento central da compreensão do amor ( 1 9 9 C - 2 0 1 C ) .

Após rigoroso raciocínio no questionamento dialético de Agatão,

espera-se de Sócrates uma exposição sistemática, atendendo às regras,

que ele mesmo defende, do método encomiástico (199c). O que ele

apresenta, entretanto, é a intrigante Diotima, sacerdotisa estrangeira

que o teria iniciado nos “mistérios do amor”, culminando com a experi­

ência extática da contemplação da beleza em si. A personagem de uma

sacerdotisa e o ensinamento da ascensão erótica como uma “iniciação

mistérica” infundem um clima religioso e místico à fala de Sócrates29.

Com efeito, a estrutura argumentativa de seu discurso é equiparada a um rito iniciático das antigas religiões de mistério, dividido em

três momentos integrados: o preliminar de purificação, a refutação de Agatão por Sócrates, e deste por Diotima, isto é, uma purificação

intelectual que expurga as concepções errôneas que impedem a alma de prosseguir no percurso erótico; os pequenos mistérios, em

que Diotim a instrui sobre a natureza do amor, exatamente o mito

de nascimento de Eros - o que corresponde à seção discursiva (íà

legómena) dos ritos iniciáticos; e a culminância do processo místico

com os grandes mistérios, “o último degrau” da ascensão erótica, a

contemplação e a fruição do belo em si30.

Apresentada em linguagem mistérica, a dialética ascensional é

um método erótico de gradativa transcendência em direção à forma

suprema da beleza. Iniciada desde a infância com a busca de corpos

29. C. Riedweg, Mysterienterminologie bei Platon, Philon und Klemens von Alexan­dria, Berlin, D e Guyter, 1987, pp. 6 e 129-130.

30. Ci. Reale, Eros Dèmone Mediatore. II Gioco delleMaschere nel Simposio diPlatone, Bom piani, 1997, pp. 156-159-

54

I N T R O D U Ç Ã O

belos, pressupõe-se um mestre, um “guia seguro” (210a), capaz de orientar o amante na disciplina ascendente do erotismo, que procede

por progressivas abstrações, de ordem quantitativa e qualitativa. Nesse processo do múltiplo ao uno, não se pode passar da infinitude do

sensível à unicidade da forma de uma só vez. É preciso ascender pelos

degraus eróticos da beleza; cada etapa é caracterizada pelo alcance de

um nível mais espiritual, mais próximo do inteligível. O distanciamento

do corporal permite a aproximação intelectualmente purificada da

pureza absoluta da forma do belo, apogeu do percurso elevatório.

Começa-se com a atração erótica por um jovem belo, gerando nele

belos discursos, consoante a pedagogia pederástica. Percebendo, então,

que a beleza física é uma e a mesma em relação a todos os corpos, o

homem liberta-se do cerco erótico exclusivista, violento, que o prende

em uma única beleza parcial, fragmentária, que lhe restringe a visada

da unidade, co-presente em todos os corpos.

Após essa abstração quantitativa delineia-se uma abstração quali­

tativa, em que se transcende a beleza do corpo pela beleza da alma,

alterando a dimensão ontológica do objeto amado, espiritualizando-o,

encaminhando-se do sensível ao inteligível. O objetivo erótico do

reconhecimento da beleza anímica é educá-la, semeando nela discursos

edificantes, formativos. Mas, se a abstração qualitativa do primeiro

passo lhe ensinara que a beleza de um único corpo é vã e restringente,

o discípulo só aprenderá a desprezá-la totalmente quando sobrepujá-la

pela beleza moral das leis e dos costumes, terceiro passo expansivo da

ascensão. Transcendido o plano qualitativamente inferior do corpo,

procede-se a uma abstração quantitativa no conjunto da beleza moral,

que não se limita a uma única alma, mas pertence a todas as leis e

costumes belos.

A partir de então, mais um degrau abstrativo é realizado na ascensão

erótica, do amor pela beleza moral ao amor pela beleza intelectual,

contida nas ciências, rompendo com a servidão que o prendia a um

único objeto, seja o corpo belo, seja a alma bela. O discípulo abandona

o particularismo das emoções e o apego às condições da experiência

5 5

O B A N Q U E T E

para contemplar “o vasto oceano da beleza”, intuída em sua unidade e

universalidade, que abrange todas as formas de beleza transcendidas. Isso significa uma reunião sinóptica de todas as belezas singulares,

enfeixadas num conceito universal abstrato, em que o iniciado “gerará

belos e magníficos discursos” consoante a apaixonada exploração

filosófica de sua personalidade educativa (uod).

“Contemplação gradativa e regular das coisas belas” (uoe), até aqui

a escalada erótica é marcada pela progressividade e pela ordenação.

A próxima etapa, no entanto, irrompe bruscamente com o uma

intuição súbita (exaiphnês katopsetai, 2ioe) da beleza em si, o escopo

de todo os esforços filosóficos de constante redimensionamento dos

objetos eróticos, a fonte de toda beleza paulatinamente reconhecida

e amada. Todo esse processo descrito é uma formação, uma educação

nas coisas no amor, que conduz e converte a alma (cf. A República, v i l , 518c), redirecionando-a do que é sensível e cambiante ao que

é eterno e imutável.

Ápice da escalada amorosa, alcança-se, no fim deste longo decurso,

uma ciência única, correlata de um alvo único: a contemplação do

belo, considerada fora de toda relação com qualquer objeto. Dialé­

tica, essa intuição final congrega as duas operações precedentes: a

total abstração, qualitativa, do sensível, do moral e do intelectual, e

a reunião, quantitativa, da pluralidade à unidade. A dialética unifica

o objeto, reúne sob um conceito universal a multiplicidade dispersa

de indivíduos, assemelha-os sob um gênero comum, até a abstração

máxima que o pensamento alcança: a ideia única31.

À culminância deste processo dialético corresponde, estrutural­

mente, um objeto ontológico, cuja contemplação difere das etapas

erótico-cognitivas anteriores, gozando, portanto, de especificidade

epistemológica. A designação da forma do belo n’0 Banquete (211a-

-212a), para a qual Diotima solicita a máxima atenção de Sócrates, é

a mais detida descrição das características essenciais de um objeto

31. L. Robin, Notice, op. c/t., x c v .

.Só

I N T R O D U Ç Ã O

inteligível em todo corpus platônico. Para explicá-la, Diotima discerne

as suas qualidades das características mutáveis dos entes sensíveis.O primeiro atributo da forma do belo descrito é a sua “eternidade”,

pela qual a forma é privada de nascimento e morte. Como explicitado no Timeu (37d-38a), a atemporalidade é correlata à invariabilidade.

Fora do tempo, não há mudança; o tempo, base do devir, é que permite

a genesis, a passagem do não-ser ao ser, e vice-versa, o surgimento e

a dissolução das coisas. Enquanto ser, a forma é imutável e fixa, “não

aumenta, nem diminui” (211a). Independente do que ocorre com

as belezas transitórias que dela participam, o belo em si permanece

invariável (211b). O fluxo inexorável dos desejos, apegados às coisas

cambiantes, acarreta a errância da alma, que, tateando imagens ilusó­

rias, só pode consolidar o seu objeto erótico ao fixá-lo numa beleza

permanente e imutável. A estabilização do desejo é, assim, a impor­

tância erótica primordial do belo transcendente, que redimensiona o

amor na vida humana.A segunda característica essencial da forma do belo é a sua resis­

tência a todo relativismo ou perspectivismo. A sua “aparência”, seu

tornar-se visível (phainesthai, phantazesthai) não condiciona a sua

essência; sua unidade e integridade preservam-se em relação à sua

visibilidade, e ao enfoque perspectivístico que lhe direciona o amante.

Objetiva e não relacional, a sua beleza independe da posição espaço-

temporal dos observadores que a contemplam, independe do modo

com que a focalizam.

A beleza suprema não se confunde, outrossim, com as instâncias

sensíveis que dela participam. D e acordo com essa terceira carac­

terística, apresenta-se a distinção dialética, anteriormente tratada,

entre a unidade inteligível e a pluralidade sensível. Transcendente, a

beleza superior não aparece, na sua totalidade, portanto, sob nenhuma

forma concreta de beleza, seja humana, animal, terrestre ou celeste,

seja a moral dos discursos, seja a intelectual das ciências. A alteração

e a consumação das belezas plurais, inseridas no âmbito cambiante

do devir, em nada interfere o estado essencial, imutável da forma

5 7

O B A N Q U E T E

da beleza, que permanece sempre uniforme, “em si e por si mesma, eternamente una consigo mesma” (211b).

Mas, em relação a tão sublime objeto metafísico, o conhecimento

que se tem dele transcende a intelecção dialética? Inclinadamente

neoplatônica, interessada em investigar as fontes da teologia mística

do cristianismo, a controvertida interpretação de Festugière identifica

uma cisão radical entre os primeiros estágios eróticos e a visão final,

extática do belo em si, que, como theoria, “experiência de presença”

e “contato íntimo” com a forma do belo, se encontra para além da

dialética. Essa diferença evidencia-se na transição de um vocabulário

da visão para um vocabulário do toque, presente também n’A República (v i, 511b) e no Fédon (79d).

Indizível, nenhum logos é capaz de descrever a forma do belo; caso

a verbalizasse, não discursaria sobre a beleza em si, mas sobre uma de

suas concreções sensíveis. Com o a linguagem não é apta a discorrer

sobre um objeto inteligível, resta simbolizá-lo a partir do sensível.

O procedimento metafórico de Platão insere-se neste contexto, o de

aludir discursivamente à inefabilidade mística da contemplação final

para além do sensível e do inteligível. O limite discursivo da inteligência

aponta para o que a transcende. Não se trata mais de conhecimento

intelectual, de discernimento dialético, discursivo. Imprescindível,

esse método propedêutico não esgota a totalidade da experiência

amorosa. A filosofia não se reduz, portanto, a uma forma de intelec­

tualismo erótico. Após a compreensão dialética, haveria, segundo a

leitura neoplatônica de Festugière, o êxtase erótico, a união e fruição

mística da beleza suprema. Não se trata, tampouco, de uma experiência

irracional, que abandona o uso da razão, mas de uma experiência

suprarracional, que, pressupondo a inteligência, transcende-a depois

de tê-la levado ao seu fastígio32.

3i. A . J. Festugière, Contemplation et vie contemplative selon Platon, Paris, Vrin, 197s, p. 262.

5 8

IN T R O D U Ç Ã O

ix . É nessa chave metafórica, de redimensionamento filosófico do

universo religioso, que se pode entender o mito do nascimento de

Eros e a sua caracterização alegórica como daimon, com que Diotima

introduz Sócrates nos mistérios do amor.A diversidade de explicações míticas de Eros se insere na dimensão

poética da religião grega, que não contava com um texto revelado,

nem com uma classe sacerdotal responsável por salvaguardá-lo. Explo­

rando a flexibilidade genealógica do deus Eros, O Banquete atesta a

apropriação, retórica e filosófica, do mito, tomado como substrato do

pensamento que adensa as suas camadas alegóricas e metafísicas.

Diotima não emprega a palavra mythos, ou logos, em relação à história

que conta, mas a inclui na continuidade da discussão sobre a natureza

do amor. Desse modo, o uso de imagens míticas pertence à argumen­

tação dialética, configura um dos seus momentos culminantes, não se

contrapõe como forma alternativa de discurso. Não se trata de expor

didaticamente uma pesquisa feita em termos abstratos, mas de pensar

com as imagens, a fim de ver através delas, tomando-as intermediárias,

pontes metafóricas entre o sensível e o inteligível. A harmónica convi­

vência de discussão dialética e argumentação alegórica mostra que o

mito “não pode ser traduzido por um argumento, ainda que ele precise

de argumento para que o seu potencial seja compreendido”33. Diferente

dos antigos vates inspirados pelas musas, incapazes de compreender

e justificar intelectualmente os deuses que cantam, Platão constitui

um novo tipo de poeta, autor de mitos filosóficos. As musas não o

arrebatam e lhe revelam as origens dos deuses; seduzido pela força

especulativa que encerram, Platão se apropria delas, reconhecendo a

força pensante da imagem poética.

É do método mítico-genealógico de Hesíodo que Platão se apro­

pria nessa formulação alegórica de Eros. Na cosmogonia do poeta

arcaico, as divindades não são mais, apenas, entidades míticas, mas já

denotam certas ideias, evidenciadas pelo entrosamento que permite

33. K. Corrigan e E. Glazov-Corrigan, op. cit., p. 224.

5 9

O B A N Q U E T E

compreendê-las de modo relacional, hierárquico e, por isso, metafórico.

Ao lado do componente poético da imagem mítica - predominante na épica dramática de Homero - Hesíodo concentra-se mais na geração

dos deuses do que na sua ação, deixando entrever a atividade espe­culativa da formulação conceituai. Com isso, o nome da divindade

pode ser entendido como um conceito que plasma a sua característica essencial, o que permitirá a personificação alegórica por filósofos como

Parmênides, Heráclito, Empédocles e Platão. Alegorizado, Eros passará de entidade mítica primordial a princípio metafísico.

Contado o mito, a própria Diotima procede com sua explicação: nascido no mesmo dia em que a bela Afrodite, Eros é seu companheiro

e servidor, amante de coisas belas. Filho de opostos, sua natureza é,

essencialmente, antagônica. Da mãe Pênia (Penúria) herdou a irre­

mediável carência, é rude, feio, e maltrapilho: companheiro eterno

da indigência, vagueia sem morada certa, dorm indo ao relento.

Em compensação, o sangue paterno garante-lhe paixão ardilosa pelo

o que é belo e bom; é corajoso, audacioso, amante da sabedoria,

sofista, mágico, sempre filósofo. A busca constante por conheci­

mento, herdou-a, também, da avó Têmis (inteligência). Atente-se

que a coincidentia oppositorum já se revela dramaticamente na atitude

contraditória dos pais, cuja personalidade se alterna na noite da

concepção de Eros. Por causa de sua própria falta de recurso (aporia), Pênia arma um ardil para ter um filho de Poros, quer dizer, age com

um tipo de astúcia que é própria dele. Poros, por sua vez, encontra-se

passivo, entregue ao sono, privado de tudo o que o caracteriza,

a força, o ímpeto e a lucidez.

C om o Proteu, Eros tem habilidade de assumir várias formas,

encarnar múltiplas perspectivas. O elenco das diversas características

de Eros torna o discurso de Sócrates-Diotima o núcleo de refração

do diálogo, que reflete dialeticamente os elementos centrais dos

personagens precedentes: Eros combina a carência de Apolodoro, a

subserviência de Aristodemo, o egoísmo de Fedro, a sagacidade de

Pausânias, a terapêutica de Erixímaco, a poesia sofística de Agatão,

6 0

IN T R O D U Ç Ã O

mesmo a comicidade de Aristófanes34. O Eros de Diotima é, ainda,

tragicômico, une os poios antitéticos da carência (Pênia), enfatizado

no discurso do poeta cômico Aristófanes, e da abundância (Poros),

tratado na fala do poeta trágico Agatão; por isso, no final do banquete,

Sócrates os persuadirá de que é possível a um mesmo poeta escrever

tragédia e comédia, mais uma irônica alusão a si mesmo. Só dinami­

camente pode-se compreendê-lo, incluído no devir da vida, no qual

morre e renasce35. Por isso, só a aquarela cambiante do mito pode

descrevê-lo. A natureza ambígua de Eros, fruto de sua ascendência

antinômica, soa como um provocante retrato emocional e psicológico

do estado apaixonado do homem, tal como o vivamente exposto por

Alcibíades, no final do diálogo.

Mas a caracterização alegórica de Eros não estaria completa se

Diotima não lhe negasse a condição de deus e o anunciasse como

um daimon36, de natureza intermediária, nem imortal, nem mortal,

m orrendo e renascendo diariamente, nem plenam ente divino,

nem meramente humano. Ponte que os interliga, que preenche

o intervalo que os separa, o daimon Eros é o nexo entre deuses e

homens: o liame com o qual o todo liga-se a si mesmo, o vínculo

através do qual a dimensão finita da realidade se reconcilia com a

infinita em unidade (202e-203a)37. Diotima inscreve Eros em uma

dimensão vertical, transcendente, relacionando-a à sua dimensão

34. S. Rosen, op. cit., p. 236.

35. L. Robin, Notice, op. cit., pp. l x x x - l x x x i .

36. Convém transliterar a palavra daimon, e não traduzi-la por “dem ônio”, termo que hoje tem sentido muito diverso do que tinha na religião grega antiga, pela associação, realizada pelo cristianismo, ao “satã” hebraico. Personificação da maldade, “dem ônio”, ou “diabo”, no uso corrente, denota as forças malignas, provenientes do anjo mau que se rebelou contra D eus e foi precipitado no inferno. Com o se sabe, Paulo de Tarso aproveita a noção grega de que os dai- mons são inferiores aos deuses, para tornar todas as divindades pagãs “dem ô­nios” essencialmente inferiores ao Deus único e todo-poderoso.

37. L. Robin, La théorie platonicienne de Vamour, Paris, Les Belles Lettres, 1964, p. 109.

6 1

O B A N Q U E T E

horizontal, a valência ético-pedagógica do amor entre os homens, caminho para a divindade.

A forma de imortalidade dos seres sujeitos ao devir é a renovação pela

geração, a substituição do novo pelo velho; essa é a forma de eternidade

no tempo, é a forma de resistir à fugacidade que tudo transforma (207d-

-208b). O amor é, portanto, a participação da natureza mortal na eter­

nidade e na imortalidade, o renascimento constante, a vida que subsiste

à morte (203c). Essa noção pode ser considerada uma apropriação

filosófica da intuição mística da unidade órfico-dionisíaca, que supera

o abismo, estrutural na religião olímpica, entre mortais e imortais38.

Emaranhado no interstício de ignorância e sabedoria, Eros é filósofo:

sabendo-se ignorante, deseja o que sabe lhe faltar. Reconhece ser feio,

por ascendência materna, e deseja a beleza de Afrodite, de quem é

servo e ajudante. Neto de Têmis (Inteligência), busca a sabedoria de

Zeus, em cujo jardim nasceu. Assim, para Diotima, a filosofia se torna

a forma superior de contato, de aproximação dos homens aos deuses.

A natureza sintética e intermediária de Eros o torna um mediador

filosófico entre homens e deuses, entre a ignorância e a sabedoria.

A deificação do homem que Eros realiza é uma aproximação, não

o torna deus por completo, já que isso faria do amor um caminho

superável. Não se trata, portanto, de misturar homens e deuses, nem

de confundi-los, mas de colocá-los em íntimo contato, em diálogo.

Consoante a metaforização religiosa em curso na fala de Sócrates-

-Diotima, não se trata mais de deuses no sentido mítico da religião

tradicional, mas das formas inteligíveis, princípios metafísicos da

realidade. A contemplação erótico-dialética da forma divina do belo

concede ao filósofo, amante por excelência, ligar-se e assemelhar-se

eticamente a ela, conquistando a estabilidade e a constância que lhe

são próprias, tal como a figura sóbria e bem-aventurada de Sócrates

plasmará dramaticamente. A geração da alma é fecundação ética de um

38. F. M . Cornford, From Religion to Philosophy. A Study in the Origins o f Western Speculation, Nova Iorque, Dover, 2004, pp. 121-122.

6 2

IN T R O D U Ç Ã O

filósofo em um amado discípulo, como a de um poeta no seu povo; é a

consecução de virtudes autênticas, que diferem dos valores aparentes.

Eros é o caminho da eudaimonia, da felicidade, estável e verdadeira

como a forma divina que a fundamenta. Desse modo, percebe-se a

dimensão ética da dialética e da mística erótica. A eudaimonia (lite­

ralmente, o estado decorrente de um bom daimon) não depende

mais de se ter um bom espírito (daimon), mas de proceder conscien­

temente de modo a realizar o seu bem (agathon), capaz de realizar

o fim (telos) do homem.

Elemento divino por excelência, a beleza é a “parteira da geração”

(2o6d). É ela que irradia o poder divino da procriação, com o qual o

homem participa da imortalidade, pela possibilidade de preservar-se

naquilo que gerou, para além da sua morte. “Amar é gerar na beleza”

(206b), pois o belo é a manifestação concreta da presença do divino,

no homem e no cosmo, que provoca o desejo erótico de eternidade

e imortalidade (207a). Segundo o pensamento religioso do mito, a regularidade cósmica é bela porque é permanente, permite a intuição

da continuidade, revela a ordem no fluxo das coisas. É a presença do

ser no interior do devir, para usar noções filosóficas posteriores ao

pensamento mítico. É a beleza que motiva a contemplação do cosmo,

é o elemento afrodisíaco que atrai a investigação amorosa. A filosofia

platônica herda a intuição epifânica da beleza contida na religião. É por amor à beleza, como resposta ao espanto por ela causado, que a

filosofia se dedica a conhecer o mundo, a ultrapassar as suas aparências

e buscar o seu fundamento divino, espiritual, inteligível. O amante

deseja sempre conhecer mais profundamente o amado, transcender o

que os olhos veem. Por isso, Sócrates provoca o apaixonado Alcibíades

a penetrá-lo, a conhecê-lo interiormente (222a). O amor pela beleza

intensifica e aprofunda o olhar39.

39. V. L. Kenaan, “The Seduction o f Hesiod: Pandora’s Presence in Plato’s Sympo­sium”, p. 157, em G. Boys-Stones e J. Haubold (orgs.) Plato and Hesiod, Oxford, Oxford University Press, 2010, pp. 157-176.

6 3

O B A N Q U E T E

O paralelismo entre as características de Eros e as descrições dramá­

ticas de Sócrates é evidente: Eros filósofo revela-se um autorretrato.

Tanto quanto Eros, Sócrates é devoto da beleza, apaixonado por

belos adolescentes (xióá), por isso vai ao banquete do belo Agatão.

Com o a personalidade materna de Eros, Sócrates anda descalço,

maltrapilho, detém-se na soleira das casas (exatamente como fez antes

de chegar no banquete; i74d). Por outro lado, também lhe cabem as

características que Poros concede a Eros: é bravo, audaz, filósofo o

tempo todo. Além disso, a sacerdotisa Diotima parece também uma

autoalegoria de Sócrates, que, ironicamente, refuta seus interlocutores

em linguagem figurada, atribuindo a uma personagem fictícia os

atributos que lhe são próprios. É Sócrates o “honrado pelos deuses”,

possível significado do nome Dio-tima. É ele o “sacerdote” filosófico

que identifica uma “peste” ético-política em Atenas, e lhe prescreve um “sacrifício” filosófico (20id).

Com efeito, transparecem os elementos que compõem a metáfora teológica da filosofia: os deuses representam as formas inteligíveis,

divinas e imortais; a experiência mística, daimônica, de contato com os imortais será descrita com o ascensão ético-dialética à

forma do belo; o sacerdote, iniciado nos mistérios do amor, é,

exatamente, o filósofo.

É principalmente no discurso apaixonado de Alcibíades, que se

insere na mesma chave metafórica religiosa, que a personalidade

divina de Sócrates é desenhada: ele é como a escultura de um sileno,

cujo interior é repleto de estátuas de divindade, (219b); é um flautista,

capaz de encantar com suas palavras, destinadas à conversão religiosa

(215c); seu discurso arrebata mais do que a experiência mística, inspi­

rada na dança dos sacerdotes da deusa Cibele (2isd-e); ele provoca

“loucura filosófica” com seus “transportes dionisíacos” (218b); suas

virtudes são sobre-humanas: Sócrates goza de pleno domínio de

si mesmo, sobrepuja as exigências do seu corpo, resiste altaneiro à

excitação sexual, à fome, o vinho não o derrota jamais, desdenha

do frio, andando desagasalhado e descalço sobre a geada, detém-se

6 4

I N T R O D U Ç Ã O

imperturbável, ereto, em meditação, um dia inteiro, noite adentro (22ob-c), é um impávido guerreiro (220c-221c); enfim, é espantosa­

mente incomparável, não se parece com ninguém (221c), um homem

admirável e daimônico (219b).

x . Findo o inebriante discurso de Sócrates, todos o aplaudem, exceto

Aristófanes, que o retrucaria, não fosse a irrupção súbita do belo

Alcibíades, “súbita” como a revelação da ideia do belo. A partir desta

indicação dramática, é possível associar o discurso cômico-trágico de

Aristófanes com o discurso tragicômico de Alcibíades, ambos frontais

objeções ao ideal de ascese erótica de Sócrates. O que os aproxima é

a consideração do amor individual, único e irrepetível.

O amor pungente por indivíduos é tratado no discurso de Aris­

tófanes, para quem apenas a re-união com a metade da qual se foi

separado pode restabelecer a unidade originária do homem, cindida

por Zeus como punição à pretensão descabida de soberania e autos-

suficiência em relação aos deuses. Como sinal da limitação desse novo

estado fragmentado, o corpo testemunha a carência, a incompletude

intrínseca do homem, desejoso de abraçar, de agarrar a metade

que lhe falta e com ela fundir-se eroticamente, a fim de sanar a sua

natureza dividida. Eros seria, portanto, a saudade do todo, o anelo de

recuperá-lo (i92e-i93a).

Toda a expectativa da fala de Aristófanes insinua um discurso

eminentemente cômico, consoante a sua atividade de comediógrafo.

Ao lhe passar a palavra, Erixímaco recomenda-lhe manter-se sério,

evitar o jocoso (189b). Contudo, a imagem de seres esféricos de oito

membros, duas faces, duas genitálias, locom ovendo-se em saltos

circulares, como saltimbancos (i89e-i9ob), assim como o homem de

apenas uma perna, saltando aos pulinhos (i9od), é risível. O efeito de

distanciamento gerado pelo caráter remoto do mito, que se afasta dos

desejos mais imediatos do homem para enfocá-lo do ponto de vista

da perfeição dos deuses, autossuficientes e esféricos, que não carecem

do recorrente apetite sexual para subsistirem, é, também, atributo da

6 5

O B A N Q U E T E

fala cômica, um modo de rir da natureza humana, pela desproporção

entre o desejo de completude e controle, almejado pela razão, e a sua

corporeidade fragmentária e intrinsecamente carente.

Fonte de sabedoria sarcástica, a derrisão da comédia apresenta-se

mais propícia a tratar de Eros do que a tragédia, pois satiriza os

costumes, libera as línguas das limitações convencionais que a amarram

na seriedade intransponível do interdito. A embriaguez de Alcibíades

provoca-lhe a mesma liberalidade dionisíaca. Há sempre algo no amor

que ultrapassa o costume, a compreensão rotineira das coisas. Como

o vinho, o riso é uma forma de libertação, de expansão do horizonte

cognitivo pela superação jocosa do limite do dizível, da seriedade da

normatividade social. O jocoso é o afastamento provisório da realidade

para recuperá-la reflexivamente pelo riso, que a absorve criticamente.

Com o pontua Bloom, levar Eros a sério é reconhecer no homem,

primariamente, um ser cômico40.

A conclusão do discurso de Aristófanes parece ser uma exortação

à piedade (eusebeia), o culto aos deuses, que franqueia ao homem

o desejo de restituir a unidade perdida pelo amor. Foi Apoio, deus

da sabedoria, que direcionou a cabeça do homem às marcas que

lhe mostram a incompletude, que lhe lembram do corte, do castigo

pela insolência originária de querer sobrepujar os deuses. A visão da

cicatriz, da mutilação, é edificante, permite ao homem manter-se em

seu lugar, aceitar a sua limitação, e atenuá-la pelo amor. Teológico, o mito antropogônico é pedagógico e religioso, motiva uma conduta

reverente em relação aos deuses. O limite imposto pela sexualidade

faz do amor uma concessão dadivosa dos deuses, uma transigência

ao homem, que pode gozar de certa unidade, sem jamais, entretanto,

recuperá-la definitivamente. A fugacidade e a renovação permanente

do sexo compõem a ambiguidade da condição humana, pois lembra a totalidade esférica, una e perfeita, ao mesmo tempo que registra a

posição ereta, a coexistência de paralelas descontínuas, diferentes.

40. A. Bloom, op. cit., p. 103.

66

IN T R O D U Ç Ã O

O amor é uma ponte lançada sobre a fenda aberta pelo corte, que o

remedia sem suprimi-lo41.

Atragicidade consiste exatamente na impossibilidade da restituição

da totalidade. Por mais que o amor una provisoriamente o homem à

pessoa amada, ele reforça, ainda que paradoxalmente a atenue, a sua

incompletude. Ao lado do de Alcibíades, o discurso de Aristófanes

parece o mais compreensivo, tanto do ponto de vista da natureza

(physis), quanto dos costumes (nomoi), abarcando o sentimento

erótico, o excitamento sexual e a saudade da companhia do amado.

Inclui, também, todas as modalidades eróticas em voga na época, homo

e heterossexual. É a justificativa erótica de Eros; sua corporeidade, sua

sede incessante, sua imaginação criativa, sua inefabilidade. Como nota

Lacan, “em parte alguma, em nenhum momento dos discursos do

Banquete, leva-se o amor tão a sério, nem tão tragicamente”42.

Uma das cenas memoráveis da literatura ocidental, Alcibíades chega

embriagado no banquete, bradando por Agatão e acompanhado por

flautistas, com fitas na cabeça e coroado com uma suntuosa grinalda de

hera e violetas: eloquente imagem do deus Dionísio (2i2d-e). Embora

embriagado, o discurso de Alcibíades revela-se prodigioso, articulado e convincente. Quanta coerência na sua fala atropelada e vibrante!

Tendo vindo festejar a vitória de Agatão, coroando-o, surpreende-se, também “subitamente” (exaiphnês), com Sócrates, por quem nutre

sentimentos ambíguos e contraditórios. Nele, encontra-se um rico repertório das instáveis e intensas emoções inerentes à paixão erótica:

amor, ódio, medo, vergonha, loucura, saudade, ciúme, rancor...

Com seus gritos agitados, seus movimentos bruscos, seu ornamento

florido, seu perfume misturado ao odor do vinho e do suor, a imagem de Alcibíades canaliza a imaginação sensível do leitor. Essa é uma

forma de Platão introduzir o encómio do belo jovem, que procede

41. D. Schüler, Eros: Dialética e Retórica, São Paulo, Edusp, 2001, pp. 57-62.

42. J. Lacan, O Seminário - Livro 8 - A Transferência 1960-1961, trad. D. Estrada, Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1991, p. 92.

6 7

O B A N Q U E T E

por imagens, apelando à inteligência imaginativa dos ouvintes-leitores.

Como há verdades particulares sobre o amor insuscetíveis de serem

evidenciadas de modo abstrato, o único meio de transmiti-las é pela

recriação poética das emoções eróticas, através de uma história real. Nesse sentido, o discurso de Alcibíades insere-se na tradição literária

dos textos poéticos moralmente edificantes, como os de Ésquilo e Sófocles, essenciais ao aprendizado ético43.

O primeiro fato que salta aos olhos na história particular de Alcibía­

des é a clara inversão dos papéis sexuais. Naturalmente, ele começa

como o belo amado, o erómenos, atraído pela educação que lhe oferece

o sábio Sócrates; mas, em determinado momento, dado o “engano”

do mestre, que não lhe aproveita o corpo, sua atitude é a de um ativo

amante (erastes), motivado em conquistar Sócrates e entreter relações

sexuais com ele. Exortando Agatão a afastar-se desse embusteiro, Alci-

bíades alega que Sócrates o ofendeu, por não desejá-lo sexualmente, e o

“ludibriou” fingindo ser seu amante, para revelar-se, no fim, o desejado

amado (eromenos) (222b).

Alcibíades sente-se escravizado, servo da atração incoercível que

lhe revolve e tumultua a alma (2ise). Refere-se a si como alguém

encantando, comovido, arrebatado, enlouquecido e transportado

(2i5c-d, 218b). Ao dramatizar com tanta intensidade a personalidade

maximamente erotizada de Alcibíades, Platão denuncia a instabili­

dade e o desnorteamento do homem democrático, submisso ao Eros

tirano, de que trata A República (ix, 573d), contrapondo-lhe a fixidez,

a firmeza do erotismo filosófico de Sócrates. A coroa de violetas de

Alcibíades simboliza, exatamente, a cidade de Atenas; é a “epidemia”

de erotismo tirânico que a profetisa Diotima visa salvar, regenerando-o

pela dialética filosófica. Não se trata de deserotizar o homem, mas

de redirecionar e qualificar o seu desejo erótico. Ao descrever como

Sócrates resiste à sua investida erótica, Alcibíades o caracteriza como

impassível e invulnerável; por isso, Alcibíades o compara a estátuas dos

43. M. Nussbaum, op. cit., p. 163.

68

I N T R O D U Ç Ã O

deuses, ressaltando essa fixidez eidética, divina. Tendo neutralizado

o amor individual por Alcibíades, Sócrates o ama abstrativamente,

universalmente, ama o fragmento, a gota minimizada e afundada no

oceano transcendente da beleza (210b)44.O drama filosófico d’O Banquete reside exatamente nisso: na

constatação das consequências existenciais das concepções do amor,

o ascético e o apaixonado. O modo como Sócrates vive o amor é

decorrente do modo como o compreende. Inversamente, o modo

como Alcibíades compreende Sócrates é resultado do modo como

ele vive o amor. Depois da descrição ontológica da estrutura do ser,

tem-se a descrição existencial da natureza do filósofo que vive imerso

no oceano da beleza.

O que torna esse grande embate erótico tão memorável é o seu tom

edificante. Platão expõe, com riqueza dramática e densidade dialética,

duas perspectivas amorosas inconciliáveis. Dimensão formativa da

obra, a interrogação ética direciona-se ao leitor, o qual deve responder

a interpelação de Sócrates a Alcibíades: “o que vais fazer?” (214c): a

verdade do corpo ferido de Alcibíades, com a sua paixão avassaladora,

dispersiva e incoercível, de um lado, e a verdade transcendente da

ascese erótica de Sócrates do outro.

Cada perspectiva ilumina um aspecto fundamental da experiência

erótica, refutando a verdade da outra: a inegociável perda de cada

escolha torna trágico o erotismo. A vivacidade com que Alcibíades

expõe o amor convence de que não se pode abdicar de tão fundamental

aspecto da vida humana, a intimidade, a abertura ao outro, porém ela

amedronta pelas consequências tempestuosas que produz. Quando

se considera essa profunda verdade do amor individual, a ascese

erótica de Sócrates parece um sacrifício desumanizador, uma perda

muito mais do que um ganho intelectual-espiritual. Inversamente, quando se observa o servilismo das paixões humanas, a escravidão e

44. G. V lastos, The Individual as Object ofLove in Plato, p. 31, em Platonic Studies, Princenton, Princenton University Press, 1981, pp. 3-34.

6 9

O B A N Q U E T E

a dependência de Alcibíades, deseja-se a autossuficiência, a “divini­zação” de Sócrates. Como ser inteligente, o homem tem necessidade

de ordem e entendimento, assim parece ao filósofo, devendo cooptar eros na ordenação racional da sua vida, amando a beleza inteligível e

imutável que o orienta eticamente, em detrimento do amor individual.

Desse modo, a aparente impermeabilidade de Sócrates às coisas do mundo é descrita como uma forma de liberdade e transcendência. Se o intercurso amoroso-sexual entre indivíduos depende da alte-

ridade, da reciprocidade, o que o torna imprevisível, o intercurso filosófico com a forma do belo é livre dessa contingência, e liberto da

tragicidade inerente à modalidade erótica tão bem descrita por Aris- tófanes e Alcibíades.

Diante dos sete discursos d ’O Banquete, nota-se uma argumentação dialética pendular, marcada por duas rupturas conceituais que exigem

a reflexão radical da proposta precedente, sem eliminá-la como pers­pectiva erótica. De deus a daimon, de daimon a Sócrates, o “progressivo rebaixamento conceituai de eros” situa-o na zona conflituosa de “duas orientações eróticas fundamentais: a transcendente supraindividual

(amor pela forma-beleza-verdade) e a imanente-interpessoal (amor por alguém único e irrepetível)”. Apaixonadamente vivido no conflito

amoroso de Sócrates e Alcibíades, o ágon erótico d ’O Banquete inscreve a erótica platônica num lugar intermediário (metaxy) entre individu­alidade e transcendência45.

Ao fim da tragicômica celebração, Sócrates parte, magnânimo, às suas atividades cotidianas, deixando os exauridos convivas, Agatão e Aristófanes, dormindo. Parte à imortalidade literária que lhe garante a obra de Platão, permanecendo um parâmetro ético da humanidade, o arquétipo do filósofo erótico e ascético radicado no cerne da cultura ocidental. No fim do diálogo, o raiar da aurora renova a questão central da obra platônica: como viver bem?

45. L. Soares, “La Erótica Platónica en Perspectiva - Notas para una Lectura dei Banquete”, em Platón, Banquete, trad. C. Mársico, Buenos Aires, Miluno, 2009, pp. 127-128.

7 0

BANQUETE

Σ ΤΜ ΠΟ ΣΙ ΟΝ Ο BANQUETEOu: Do Amor. Gênero Moral

Χ Α Ρ Α Κ Τ Η Ρ Ε Σ P E R S O N A G E N S

Απολλόδωρος Apolodoro'Εταίρος 0 Companheiro de Apolodoro

Γλαύκος GlaucoΑριστόδημος Aristodemo

Σωκράτης SócratesΈρυζίμαχος Erixímaco

Αριστοφάνης Aristófanes

Διοτίμα Diotima

Αλκιβιάδης AlcibíadesΆγάθων Agatão

Παυσανίας Pausânias

Φαιδρός Fedro

Σ Τ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

Ξτ. ι ι ι

ΐ72Α Ά π ο λ λ ο δ ω ρ ο ς ■ Δοκώ μοι περ'ι ών πυνθάνεσθε ούκ αμελέτητος

είναι, καί γάρ έτύγχανον πρώην εις άστυ οϊκοθεν ανιών Φαλη-

ρόθεν- των ονν γνωρίμων τις όπισθεν κατιδών με πόρρωθεν

έκάλεσε, καί παίζων άμα τη κλήσει, “Ώ, Φαληρεύς,” έφη,

“οΰτος Απολλόδωρος, ού π εριμένειςΚ ά γώ έπιστάς περι-

έμεινα. Και ός, "Απολλόδωρε," εψη, “και μην και έναγχός

σε έζήτουν βουλόμενος Ειαπυθέσθαι την Άγάθωνος συνουσίαν

β και Σωκράτους και Άλκιβιάδου και των άλλων των τότε έν

τω συνδείπνω παραγενομένων, περ'ι των έρωτικών λόγων

τίνες ήσαν■ άλλος γάρ τις μοι διηγείτο άκηκοώς Φοίνικος

του Φιλίππου, εψη δε και σε είδέναι. άλλα γάρ ούδέν είχε

σαφές λέγειν. συ οϋν μοι διήγησαι- δικαιότατος γάρ εί

τούς τού εταίρου λόγους άπαγγέλλειν. πρότερον δέ μοι,”

ή δ' ός, “εΐττέ, σύ αύτός παρεγένου τη συνουσία ταύτη ή οϋ;"

Κάγώ εΐπον ότι "Παντάπασιν έοικέ σοι ούδέν διηγέίσθαι

ο σαφές ό διηγούμενος, εί νεωστί ήγη την συνουσίαν γεγονέναι

ταύτην ήν έρωτας, ώστε και έμέ παραγενέσθαι." "’Εγώ γε

δή," έφη. "Πόθεν, ήν δ’ έγώ, ώ Γλαύκων; ούκ οίσθ’ ότι

πολλών έτών Άγάθων ένθάδε ούκ έπιδεδήμηκεν, άφ’ οϋ δ’

έγώ Σωκράτει συνδιατρίβω και έπιμελές πεποίημαι έκάστης

ημέρας είδέναι ότι αν λέγη ή πράττη, ούδέπω τρία έτη έστίν;

ΐ73Α προ τού δέ περιτρέχων όπη τύχοιμι καί οίόμενος τι ποιεϊν

άθλιώτερος ή ότουοϋν, ούχ ήττον ή σύ νυνί, οίόμενος δεϊν

πάντα μάλλον πράττειν ή φιλοσοφέΐν." Και ός, "Μη

σκώπτ," έφη, "άλλ’ είπέ μοι πότε έγένετο ή συνουσία

αυτή." Κάγώ εΐπον ότι "Παίδων όντων ημών έτι, ότε τη

πρώτη τραγωδία ένίκησεν Άγάθων, τη ύστεραία ή τα επινίκια

7 4

O B A N Q U E T E

S t . i i i

i. A p o l o d o r o : Considero-me em condições de responder ao que

me perguntaste. Recentemente, quando eu subia de casa, em Falero,

para a cidade, um conhecido que me tinha visto por detrás, gritou

de longe, em tom de brincadeira: «Ó cidadão de Falero, de nome

Apolodoro! por que não esperas?» Então, me detive para esperá-lo.

E ele: «Apolodoro», me falou, «andava à tua procura, porque desejo

obter informações precisas a respeito da conversa de Agatão com

Sócrates, Alcibíades e os demais convivas do banquete dado por

ele, em que proferiram vários discursos sobre o amor. Alguém

já me contou alguma coisa, por ter ouvido de Fênix, filho de

Filipe; acrescentou que estavas a par de tudo. Mas não falava

com muita segurança. Por isso, de ti é que espero obter dados

precisos. A ninguém mais compete relembrar as palavras do amigo.

Porém, antes de tudo», continuou, «declara se também tomaste

parte no banquete».

«Pelo que vejo», lhe disse, «teu informante não é de confiança, para

imaginares que a reunião a que te referes foi tão recente que a ela eu

pudesse ter comparecido».

«Era o que, realmente, eu pensava.»

«Onde foste buscar isso, Glauco?» lhe falei; «pois não sabes que há

muitos anos Agatão não vem a Atenas, e que, de meu lado, desde que frequento a companhia de Sócrates e me esforço por saber

dia por dia o que ele conversa ou faz, ainda não se passaram três

anos? | Até então eu perambulava sem destino, pensando que

fazia alguma coisa, quando, em verdade, era mais inútil do que

ninguém, tal como és agora, por imaginares que qualquer ocupação é

preferível à filosofia».

E ele: «não gracejes», me disse; «conta quando foi a reunião».

«Isso se deu no nosso tempo de criança», continuei, «quando Agatão

ganhou o prêmio com sua primeira tragédia, no dia seguinte àquele

em que celebrou com seus coreutas o sacrifício da vitória».

1 7 2 A

B

C

173A

7 5

Σ Τ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

έθυεν αυτός τε καί οί χορευταί.” “Πάνυ," έφη, “άρα πάλαι,

ώς έοικεν. άλλα τις σοι διηγείτο; ή αύτός Σωκράτης/'

173Β "Ον μά τον Δία,” ήν 8' έγώ, "άλΧ όσπερ Φοινίκι. Αριστό­

δημος ήν τις, Κυδαθηναιεύς, σμικρός, άνυττόδητος άεί· παρ-

εγεγόνει δ' έν τη συνουσία, Σωκράτους έραστής ών έν τοις

μάλιστα των τότε, ώς έμο'ι δοκεϊ. ον μέντοι άλλα και

Σωκράτη γε ένια ήδη άνηρόμην ών έκείνου ήκουσα, καί μοι

ώμολόγει καθάπερ έκεΐνος διηγείτο." “Τι ούν," εφη, “ού

διηγήσω μοι; πάντως δέ ή όδός ή εις άστυ έπιτηδεία

πορευομένοις και λέγειν και άκούειν.”

Οϋτω δη ίόντες άμα τούς λόγους περϊ αυτών έποιούμεθα,

c ώστε, δπερ άρχόμενος εϊπον, ούκ άμελετήτως έχω. εί οϋν

δει και ύμϊν διηγήσασθαι, ταϋτα χρή ποιεϊν. και γάρ έγωγε

και άλλως, όταν μέν τινας περί φιλοσοφίας λόγους ή αύτός

ποιώμαι ή άλλων άκούω, χωρίς τού οϊεσθαι ώφελεϊσθαι

ύπερφυώς ώς χαίρω■ όταν δέ άλλους τινάς, άλλως τε και

τούς ύμετέρους τούς τών πλουσίων και χρηματιστικών, αύτός

τε άχθομαι ύμάς τε τούς εταίρους ελεώ, ότι οϊεσθε τι ποιεϊν

ϋ ούδέν ποιοϋντες. και ίσως αύ υμείς έμέ ήγεΐσθε κακοδαίμονα

είναι, και οϊομαι ύμάς αληθή οϊεσθαι■ έγώ μέντοι ύμάς ούκ

οϊομαι άλΧ εΰ οΐδα.

Ε τ α ί ρ ο ς ■ ΆεΙ όμοιος εί, ώ Απολλόδωρε■ άει γάρ σαυτόν

τε κακηγορεϊς και τούς άλλους, και δοκεϊς μοι άτεχνώς

πάντας άθλιους ήγεΐσθαι πλήν Σωκράτους; άπό σαυτοϋ

άρζάμενος. καί όπόθεν ποτέ ταύτην την έπωννμίαν έλαβες

το μαλακός καλεϊσθαι, ούκ οΐδα έγωγε■ έν μέν γάρ τοις

λόγοις άει τοιοϋτος εί, σαυτω τε καί τοις άλλοις άγριαίνεις

πλήν Σωκράτους.

ε Ά π ο α α ο δ ω ρ ο ς · Ώ φίλτατε, καί δήλόν γε δή ότι οϋτω δια­

νοούμενος καί περί έμαυτοϋ καί περί ύμών μαίνομαι καί

παραπαίω;

Ί Ι τ α ιρ ο ς · Ούκ άξιον περί τούτων, Απολλόδωρε, νϋν έρίζειν-

7 6

O B A N Q U E T E

«Realmente», me disse, «faz bastante tempo. E de quem o soubeste?

Do próprio Sócrates?»

«Não, por Zeus», lhe respondi; «da mesma pessoa que deu aquelas 173B

informações a Fênix: um certo Aristodemo, de Cidateneu, sujeito

baixinho que sempre andava descalço. Tomou parte na reunião; era um dos mais fervorosos admiradores de Sócrates, segundo

creio. Não obstante, consultei o próprio Sócrates a respeito de

vários pontos de sua narrativa, tendo ele confirmado tudo o que o

outro me contara».

«Por que, então, não mo repetes?» perguntou; «o caminho daqui para

a cidade parece feito para falarem e ouvirem os que o percorrem».

Assim, fizemos todo o trajeto a conversar a esse respeito, razão de c

encontrar-me preparado, como disse no começo, para desenvolver

o assunto. Por isso, se for preciso repetir-vos tudo aquilo, saberei

dar conta do recado. Para ser franco, sempre me causa satisfação

tratar de temas filosóficos ou ouvir alguém discorrer a esse respeito,

independentemente do proveito que nos advém de semelhante

prática. Outros discursos, pelo contrário, principalmente dos vossos

comerciantes e gente de dinheiro, são por demais fastidiosos e me

levam a apiedar-me de vós outros, seus amigos, por pensardes que

fazeis alguma coisa, quando, em verdade, nada fazeis. | Mas, sem d

dúvida vós também me considerais infeliz e imaginais que nesse

ponto estais certos. A diferença é que, do meu lado, eu não imagino

apenas: tenho certeza.

O C o m p a n h e ir o : És sempre o mesmo, Apolodoro. Vives a desfazer

em ti e nos outros, só parecendo que, a não ser Sócrates, consideras

todo o mundo digno de piedade, a começar por ti. De onde te

poderia ter vindo a alcunha de meigo, não saberei dizê-lo. O certo

é que em todas as tuas falas não mudas nada, nos ataques aos outros

e a ti próprio. Só poupas Sócrates.A p o l o d o r o : Ó varão diletíssimo! E por pensar dessa maneira ao e

meu respeito e ao vosso, serei louco e perdi o juízo?

O C o m p a n h e ir o : Não vale a pena brigarmos por isso, Apolodoro.

7 7

174 A

B

C

άλλ’ όπερ έ8εόμεθά σου, μη άλλως ποίησης, αλλά διήγησαι

τίνες ήσαν οι λόγοι.

Ά π ο λ λ ο δ ω ρ ο ς - Ήσαν τοίνυν έκεϊνοι τοιοίδε τινές - μάλλον 8'

έ\ άρχής ύμϊν ώς έκεϊνος 8ιηγεϊτο και έγώ πειράσομαι

διηγήσασθαι.

Έ φ η γάρ οι Σωκράτη έντυχεϊν λελουμένον τε και τάς

βλαύτας ύποδεδεμένον, ά έκεϊνος δλιγάκις έποίει■ και έρέσθαι

αυτόν δποι ί'οι οΰτω καλός γεγενημένος.

Και τον είπεϊν ότι Έπι δεϊττνον εις Άγάθωνος. χθες γάρ

αυτόν διέφυγον τοις έπινικίοις, φοβηθείς τον όχλον- ώμο-

λόγησα δ' εις τήμερον τιαρέσεσθαι. ταντα δη έκαλλωπι-

σάμην, ϊνα καλός παρά καλόν ιω. άλλά σύ, ή δ' ός, πώς

έχεις προς το έθέλειν άν Ιέναι άκλητος έπι δεΐπνον;

Κάγώ, έφη, είπον δτι Οϋτως όπως άν σύ κελεύης.

"Επου τοίνυν\ έφη, ινα και την παροιμίαν διαφθείρωμεν

μεταβαλόντες, ώς άρα και Άγάθων’ έπι δαϊτας ί'ασιν

αυτόματοι άγαθοί. Ό μηρος μεν γάρ κινδυνεύει ού μόνον

διαφθείραι άλλά και ύβρίσαι εις ταύτην την παροιμίαν-

ποιήσας γάρ τον Άγαμέμνονα διαφερόντως άγαθόν άνδρα

τά πολεμικά, τον δε Μενέλεων “μαλθακόν αίχμητήν, ”

θυσίαν ποιουμένου και έστιώντος τού Άγαμέμνονος άκλητον

έποίησεν έλθόντα τον Μενέλεων έπι την θοίνην, χείρω όντα

έπι την τού άμείνονος.

Ταϋτ’ άκούσας είπεϊν έφη Ίσως μέντοι κινδυνεύσω καί

έγώ ούχ ώς σύ λέγεις, ώ Σώκρατες, άλλά καθ’ Όμηρον

φαύλος ών έπι σοφού άνδρός ίέναι θοίνην άκλητος. όρα ούν

άγων με τί άπολογήση, ώς έγώ μεν ούχ ομολογήσω άκλητος

ήκειν, άλλ' υπό σού κεκλημένος.

“Σύν τε δ υ ,” έφη, “έρχομένω προ ό τού" βουλευσόμεθα

ότι έρούμεν. άλλ! ϊωμεν.

Σ Ύ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

O B A N Q U E T E

Porém não deixes de fazer o que te pedimos. Repete-nos os discursos

proferidos naquela ocasião.

A p o l o d o r o : Estiveram presentes mais ou menos os seguintes... Não; é preferível expor tudo do começo, na mesma ordem em que

Aristodemo | me contou.II. Disse-me que encontrara Sócrates saído do banho e ainda de

sandálias, o que mui raramente acontecia. Perguntou-lhe, então,

aonde ia assim tão belo.

«Ao banquete de Agatão», respondeu; «ontem, de medo da multidão,

esquivei-me dele, quando celebrava o sacrifício da vitória. Mas

prometi comparecer hoje. Esse o motivo de me ter aprontado.

Para visitar um belo rapaz, preciso fazer-me belo. E tu», acres­

centou, «que achas i da ideia de também ires ao banquete, embora

sem convite?»Aristodemo, então, lhe disse: «Farei o que mandares».

«Pois vam os», respondeu, «para desacreditarmos o provérbio,

mediante pequena alteração, com afirmar que aos banquetes dos

bons, os bons também comparecem sem convite. Estou que o próprio

Homero não apenas falseou o brocardo, como o desmoralizou de

todo; pois, embora nos apresente Agamêmnon como um guerreiro

excepcional, : e Menelau, pelo contrário, como um combatente sem préstimo, faz Menelau comparecer, sem ter sido convidado, ao

banquete oferecido por Agamêmnon depois do sacrifício da vitória:

é o inferior que vai à festa do varão de merecimento».

Ouvindo-o expressar-se dessa maneira, me disse que lhe respondera:

«R eceio muito, Sócrates, que no meu caso não se confirme o

provérbio, no sentido que lhe deste, mas no de Homero: apresen­tar-se sem ser convidado ao festim de um sábio alguém carecente

de préstimo. Porém, visto que me levas, vai pensando nalguma desculpa, pois não irei confessar que apareci lá como intruso;

serei teu convidado».

«Se somos dois», respondeu, «em caminho acertaremos o que será

preciso dizer. Partamos, pois!»

1 7 4 A

B

C

79

Τοιαϋτ’ αττα σφάς έφη 8ιαλεχθέντας ίέναι. τον οΰν

Σωκράτη έαυτώ πως προσέχοντα τον νονν κατά την όδόν

πορεύεσθαι ύπολειπόμενον, και περιμένοντος οϋ κέλεύειν

προϊέναι εις το πρόσθεν. έπειδή 8ε γενέσθαι έπι τη οικία

ΐ! τή Άγάθωνος, άνεωγμένην καταλαμβάνειν την θύραν, καί τι

εφη αυτόθι γέλοΐον παθέίν. οι μεν γάρ ευθύς παίδά τινα

των εν8οθεν άπαντήσαντα άγειν οΰ κατέκειντο οι άλλοι, καί καταλαμβάνειν ήδη μέλλοντας δειπνεΐν· εύθύς δ’ οΰν ώς

ίδεϊν τον Άγάθωνα, Ώ , φάναι, Αριστόδημε, εις καλόν ήκεις

όπως συνδειπνήσης- εί δ’ άλλου τινός ένεκα ήλθες, εις αύθις

άναβαλοϋ, ώς καί χθες ζητών σε ϊνα καλέσαιμι, ούχ οϊός τ ’

ή ίδεϊν. άλλα Σωκράτη ήμϊν πώς ούκ άγεις;Και έγώ, έφη, μεταστρεφόμενος ούδαμοϋ όρώ Σωκράτη

επόμενον■ εΊπον οΰν δτι και αυτός μετά Σωκράτους ήκοιμιι, κληθείς ύπ' εκείνου δεϋρ’ επί δεϊπνον.

Καλώς γ\ έφη, ποιων σύ· άλλά ποΰ έστιν οΰτος;

Ι75Α Ώπισθεν έμοϋ άρτι είσήει- άλλά θαυμάζω και αυτός ποϋ

άν εϊη.

Οΰ σκέψη, έφη, παι, φάναι τον Άγάθωνα, και είσάζεις

Σωκράτη; συ δ’, ή δ’ δς Αριστόδημε, παρ’ Έρυζίμαχον

κατακλίνου.

Και έ μεν έφη άπονίζειν τον παϊδα ϊνα κατακέοιτο■ άλλον

δέ τινα τών παίδων ήκειν άγγέλλοντα δτι "Σωκράτης οΰτος

άναχωρήσας έν τώ τών γειτόνων προθνρω έστηκεν, κάμοϋ

καλοϋντος ούκ έθέλει είσιέναι.”

Άτοπόν γ ’, έφη, λέγεις■ οϋκουν καλεϊς αύτον και μή

άφήσεις;ιι Kal δς έφη είπείν Μηδαμώς, άλΧ έάτε αύτόν. έθος γάρ

τι τοϋτ' έχει■ ένίοτε άποστάς δποι άν τύχη έστηκεν. ήζει δ’ αύτίκα, ώς έγώ οϊμαι. μή οΰν κινείτε, άλλ’ έάτε.

ΆλΧ οϋτω χρή ποιεϊν, εί σοι δοκεϊ, έφη φάναι τον

Αγάθωνα. άλλ’ ήμάς, ώ παϊδες, τούς άλλους έστιάτε.

Σ Τ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

8 0

O B A N d U H T c

Foi isso, mais ou menos, acrescentou, o que conversaram antes de se

porem em marcha. Em caminho, todo a ensimesmar-se, Sócrates

ficou para trás, e como Aristodemo se detivesse com a intenção de

esperá-lo, mandou que fosse na frente. Porém, ao chegar este à casa de Agatão, j encontrou a porta aberta, tendo-lhe acontecido algo e

ridículo, conforme relatou. No mesmo instante, saiu a recebê-lo um menino que o levou para junto dos outros convivas, todos já no

ponto de iniciar o banquete.Percebendo-o, Agatão lhe gritou: «Aristodemo», lhe disse, «chegaste

na hora de comer conosco. Se vieste para outra coisa, deixa para depois.

Desde ontem te procurava para fazer-te esse convite, porém não houve

jeito de encontrar-te. E por que não trouxeste Sócrates?»«Nessa hora», disse Aristodemo, «me voltei, tendo verificado que

Sócrates não me acompanhara. Expliquei-lhe que eu próprio viera na companhia de Sócrates, como convidado dele para o banquete».

«Fizeste muito bem em vir», lhe falou. «Mas, onde está o teu acom­

panhante?»

«Agora mesmo vinha atrás de mim; não posso saber o que foi feito 1 7 5 A

dele.»

«M enino», disse Agatão, «vai procurar Sócrates e traze-o para cá.

E tu, Aristodemo», prosseguiu, «reclina-te ao lado de Erixímaco».

XII. Então, ainda segundo o seu relato, enquanto um dos meninos o

ajudava a lavar os pés para poder deitar-se, entrou outro criado com

a notícia de que Sócrates se havia acolhido ao pórtico da casa vizinha,

onde se quedara imóvel e de pé. E que, apesar de insistir com ele,

acrescentou, não houve jeito de fazê-lo entrar.

«Q ue absurdo!» exclamou Agatão; «chama-o de novo e não o

largues».

«Nada disso», voltou a falar Aristodemo; «deixa-o em paz. É costume b

dele; às vezes para em qualquer ponto e não se mexe. Penso que virá

logo. Deixai-o; não o perturbeis».

«Pois que seja, se pensas desse m odo», disse ele que Agatão falara.

«E agora, rapazes, servir a mesa! Sempre fazeis o que entendeis,

81

Σ Τ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

πάντως παρατίθετε δη αν βούλησθε, έπεώάν ί τις ύμϊν μή

έφεστήκη - δ έγώ ούδεπώποτε έποίησα - νϋν ούν, νομίζοντες

και έμέ νφ' υμών κεκλήσθαι έπ'ι δείπνον και τούσ8ε τούς

17sc άλλους, θεραπεύετε, ΐν' υμάς έπαινώμεν.

Μετά ταϋτα έφη σφάς μεν Εειπνεϊν, τον δε Σωκράτη

ούκ ε’ισιέναι. τον οΰν Άγάθωνα πολλάκις κελεύειν μετα-

πέμψασθαι τον Σωκράτη, έ δε ούκ έάν. ήκειν ούν αύτον ού

πολύν χρόνον ώς είώθει διατρίψαντα, άλλα μάλιστα σφάς

μεσοϋν δειπνοϋντας. τον ούν Άγάθωνα - τυγχάνειν γάρ

έσχατον κατακείμενον μόνον - Δεύρ', έφη φάναι, Σώκρατες,

παρ’ έμέ κατάκεισο, ϊνα και τού σοφού άπτόμενός σου

ό άπολαύσω, δ σοι προσέστη έν τοις προθύροις. δηλον γάρ

δτι ηϋρες αυτό καί έχεις■ ού γάρ άν προαπέστης.

Και τον Σωκράτη καθίζεσθαι και είπεϊν δτι Εν άν έχοι,

φάναι, ώ Άγάθων, εί τοιούτον εί'η ή σοφία ώστ’ έκ τού πληρε-

στέρου εις το κενώτερον ρειν ημών, έάν άπτώμεθα άλλήλων,

ώσπερ το έν ταΐς κύλι'ξιν ϋδωρ τό διά τού έρίου ρέον έκ τής

πληρεστέρας εις την κενωτέραν. εί γάρ ούτως έχει και ή

ε σοφία, πολλοϋ τιμώμαι την παρά σο'ι κατάκλισιν■ οϊμαι γάρ

με παρά σοϋ πολλής και καλής σοφίας πληρωθήσεσθαι. ή μέν

γάρ έμή φαύλη τις άν εϊη, ή καί άμφισβητήσιμος ώσπερ όναρ

ούσα, ή δέ σή λαμπρά τε καί πολλήν έπίδοσιν έχουσα, ή γε

παρά σοϋ νέου δντος οϋτω σφόδρα έζέλαμψεν και έκφανής

έγένετο πρώην έν μάρτυσι των Ελλήνων πλέον ή τρισμυρίοις.

Υβριστής εί, έφη, ώ Σώκρατες, δ Άγάθων. καί ταϋτα

μέν και ολίγον ύστερον διαδικασόμεθα έγώ τε καί συ περ'ι

τής σοφίας, δικαστή χρώμενοι τω Διονύσω■ νϋν δέ προς τό

δεϊπνον πρώτα τρέπου.

176α Μετά ταϋτα, έφη, κατακλινέντος τού Σωκράτους και

δειπνήσαντος και τών άλλων, σπονδάς τε σφάς ποιήσασθαι,

και ασαντας τον θεόν και τάλλα τά νομιζόμενα, τρέπεσθαι

προς τον πότον- τον ούν Παυσανίαν έφη λόγου τοιούτου

82

O B A N Q U E T E 4

quando ninguém vos vigia, coisa, aliás, que não é dos meus hábitos.

Admiti que eu também seja convidado, eu e os demais aqui presentes,

e tratai-nos em ordem a vos podermos elogiar».

A seguir, disse que começaram a comer sem que Sócrates aparecesse.

Mais de uma vez Agatão insistiu para que fossem chamá-lo, porém

Aristodem o não o permitira. Afinal, chegou Sócrates, não com

tanto atraso como de costume, conquanto o banquete já estivesse

quase no meio.

Nesse momento, continuou, Agatão, que se encontrava sozinho no

leito da ponta da mesa, teria dito: «Vem para cá, Sócrates», lhe falou;

«reclina-te ao meu lado, para que, em contato contigo, eu também

frua do pensamento excelso que te ocorreu no pórtico. Sem dúvida

encontraste o que procuravas e o seguraste com firmeza, sem o que

não te houveras arredado do lugar».

Depois de sentar-se, dissera Sócrates: «Seria bom, Agatão», lhe

falou, «se com a sabedoria acontecesse isso mesmo: pela simples

ação de contato, passar de quem tem muito para quem está vazio,

tal como se dá com a água, que escorre por um fio de lã, da copa

cheia para a que tem menos. Se com a sabedoria acontecer a mesma

coisa, ! para mim será de suma importância ficar junto de ti, pois

espero saturar-me à custa de tua abundante e excelente sabedoria.

A minha é fraquinha e duvidosa como os sonhos; a tua, pelo contrário, brilhante e promissora, pois, apesar de seres moço, irradia-se

com tal força, que ainda anteontem luziu na presença de mais de

trinta mil helenos».

«Zombas de mim, Sócrates», falou Agatão. «Porém, dentro de pouco

eu e tu haveremos de dirimir essa questão, tendo Dioniso como juiz.

Agora, tratemos apenas de comer.»

IV . De seguida, continuou Aristodemo, depois de ter-se reclinado Sócrates no leito e de haverem comido, ele e os demais, fizeram as

libações, entoaram o hino à divindade e praticaram as cerimônias do costume, preparando-se, após, para beber. Contou, ainda, como

Pausânias iniciou os discursos do seguinte modo.

83

175c

D

E

17ÓA

Σ Τ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

170Β

Ο

ϋ

τινός κατάρχειν. Εΐεν, άνδρες, φάναι, τίνα τρόπον ραστα

πιόμεθα; εγώ μεν ούν λέγω ύμϊν ότι τώ δντι ττάνν χαλεπώς

έχω υπό τοϋ χθες πότου καί δέομαι αναψυχής τίνος - οίμαι 8ε και υμών τούς πολλούς■ παρήστε γάρ χθές - σκοπέϊσθε

ούν τίνι τρόπω αν ώς ραστα πίνοιμεν.Τον ούν Αριστοφάνη είπεϊν, Τούτο μέντοι εΰ λέγεις, ώ

Παυσανία:, το παντϊ τρόπω παρασκευάσασθαι ραστώνην τινά

τής πόσεως- και γάρ αυτός είμι τών χθές βεβαπτισμένων.Άκούσαντα ούν αύτών έφη Έρυξίμαχον τον Άκουμενού

Ή καλώς, φάναι, λέγετε, και έτι ενός δέομαι υμών άκοϋσαι, πώς έχει προς τό έρρώσθαι πίνειν, Άγάθων.

Ούδαμώς, φάναι, ούδ’ αύτός έρρωμαι."Ερμαιον αν εϊη ήμϊν, ή δ’ δς, ώς έοικενέμοί τε και

Άριστοδήμω και Φαίδρω καί τοϊσδε, εί ύμεις οι δυνατώτατοι πίνειν νϋν άπειρήκατε■ ήμεϊς μεν γάρ άε'ι άδύνατοι. Σω­κράτη δ’ έξαιρώ λόγου■ ικανός γάρ καί άμφότερα, ώστ’ έζαρκέσει αύτώ όπότερ άν ποιώμεν. έπειδή οΰν μοι δοκει ούδείς τών παρόντων προθύμως έχειν προς τό πολύν πίνειν

οίνον, ’ίσως άν έγώ περί τοϋ μεθύσκεσθαι οΐόν έστι τάληθή

λέγων ήττον αν εϊην άηδής. έμοί γάρ δη τοϋτό γε οϊμαι κατάδηλον γεγονέναι έκ τής ιατρικής, δτι χαλεπόν τοις

άνθρώποις ή μέθη έστίν- καί ούτε αύτός έκών είναι πόρρω

έθελήσαιμι άν πιεΐν ούτε άλλω συμβουλεύσαιμι, άλλως τε

καί κραιπαλώντα έτι έκ τής προτεραίας.Άλλά μην, έφη φάναι ύπολαβόντα Φαιδρόν τον Μυρρινού-

σιον, έγωγέ σοι εϊωθα πείθεσθαι άλλως τε καί αττ’ άν περί ιατρικής λέγης- νϋν δ', άν εΰ βονλεύωνται, καί οι λοιποί, ταϋτα δη άκούσαντας συγχωρέϊν πάντας μη διά μέθης

ποιήσασθαι την έν τώ παρόντι συνουσίαν, άλλ’ οϋτω πίνοντας

προς ηδονήν.’Επειδή τοίνυν, φάναι τον Έρυζίμαχον, τούτο μεν δέ-

δοκται, πίνειν δσον άν έκαστος βούληται, έπάναγκες δέ μηδέν

είναι, τό μετά τούτο εισηγούμαι την μεν άρτι ε ’ισελθοϋσαν

8 4

O B A N Q U E T E

«Consideremos, senhores, a maneira mais inofensiva de beber. Para ser franco, devo dizer-vos que não me sinto bem disposto depois dos excessos de ontem, razão de precisar agora arejar-me um pouco.Tenho que, aliás, a mesma coisa se dá com todos vós, ou quase todos, pois também comparecestes ontem ao festim. Vede, pois, ; de que 1 7 6 B

modo poderemos beber sem prejudicar-nos.»A isso Aristófanes respondeu: «Fizeste bem, Pausânias, em propor que

nos esforcemos por todos os meios para evitar excessos. Eu mesmo fui um dos que se afogaram ontem em tanta bebedeira».

Ouvindo-o assim manifestar-se, teria falado Erixímaco, filho de Acumeno: «Muito bem», lhe disse. «Porém, a esse respeito desejo ainda saber o que pensa um dos presentes: Agatão. Dispõe-se a beber muito?»

«Quase nada», lhe falou; «eu também me sinto debilitado».«Pelo que vejo», disse, «é muito bom para todos nós, para mim, Aristo- c

demo, Fedro e estes aqui, que tão valentes bebedores batam agora em retirada. Nós sempre fomos muito fracos. Não falo de Sócrates; para ele, tanto faz: beber ou abster-se; de qualquer jeito, acompanha-nos.E como, pelo modo, nenhum dos presentes pretende exceder-se, decerto não vos desagradará ouvir-me falar sem rebuços a respeito da embriaguez. Da medicina me veio j a convicção de que a embriaguez d

é prejudicial ao homem, razão por que nem pretendo recomeçar a beber nem aconselho os outros a fazerem o mesmo, principalmente quem ainda se ressente dos excessos de ontem».

«Muito bem», teria dito Fedro, o mirrinúsio; «de minha parte, estou acostumado a acatar tua opinião, máxime quando discreteias como médico, o que também farão os demais, se forem dotados de bom senso».

Todos concordaram com a proposta de não se embriagarem naquela e

reunião, mas beberem apenas por passatempo.v. «Então», prosseguiu Erixímaco, «já que ficou resolvido beber cada

um de nós apenas quanto lhe apetecer, sem constrangimento de qualquer natureza, proponho despedir a tocadora de flauta que acaba

8 5

Σ Τ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

αύλητρίδα χαίρειν έάν, αύλούσαν έαυτή ή άν βούληται ταϊς

γυναιξϊ ταϊς ένδον, ημάς δέ διά λόγων άλλήλοις συνεΐναι

το τήμερον■ καί δι’ οϊων λόγων, εί βούλεσθε, έθέλω νμϊν

είσηγήσασθαι.

ΐ77Α Φάναι δή πάντας και βονλεσθαι και κελεύειν αυτόν

είσηγεϊσθαι. είπεΐν οΰν τον Έρυξίμαχον ότι Ή μέν μοι

άρχή τού λόγου έστί κατά την Εύριπίδου Μελανίππην· ον

γάρ έμός ό μύθος, άλλά Φαιδρού τοϋδε, ον μέλλω λέγειν.

Φαιδρός γάρ έκάστοτε πρός με άγανακτων λέγει Ον δεινόν,

ψησίν, ώ Έρυζίμαχε, άλλοις μέν τισι θεών ύμνους και

παίωνας είναι ύπό τών ποιητών πεποιημένους, τω δέ ’Έρωτι,

τηλικούτω δντι και τοσούτω θεώ, μηδε ένα πώποτε τοσούτων

β γεγονότων ποιητών πεποιηκέναι μηδέν έγκώμιον; εί δέ βούλει

αϋ σκέψασθαι τούς χρηστούς σοφιστάς, Ήρακλέους μέν και

άλλων έπαίνονς καταλογάδην συγγράφειν, ώσπερ ό βέλτιστος

Πρόδικος - και τούτο μέν ήττον και θαυμαστόν, άλλ' εγωγε

ήδη τινί ένέτυχον βιβλίω άνδρός σοφού, έν ώ ένήσαν άλες

έπαινον θαυμάσιον έχοντες πρός ώφελίαν, και άλλα τοιαϋτα

c συχνά ϊδοις άν έγκεκωμιασμένα - τό ονν τοιούτων μέν πέρι

πολλήν σπουδήν ποιήσασθαι, ’Έρωτα δέ μηδένα πω άνθρώπων

τετολμηκέναι εις ταυτην'ι τήν ήμέραν άξίως ύμνήσαι■ άλλ'

ούτως ήμέληται τοσοϋτος θεός. ταϋτα δή μοι δοκει εΰ

λέγειν Φαιδρός, έγώ ονν έπιθυμώ άμα μέν τοντω έρανον

είσενεγκεϊν και χαρίσασθαι, άμα δ' έν τω παρόντι πρέπον

μοι δοκει είναι ήμιν τοις παροϋσι κοσμήσαι τον θεόν. εί οΰν

ο συνδοκεΐ και ύμιν, γένοιτ' άν ήμϊν έν λόγοις ικανή διατριβή-

δοκει γάρ μοι χρήναι έκαστον ήμών λόγον είπεΐν έπαινον

'Έρωτος έπΐ δεξιά ώς άν δννηται κάλλιστον, άρχειν δέ

Φαιδρόν πρώτον, έπειδή και πρώτος κατάκειται και έστιν

άμα πατήρ τού λόγου.

Ούδείς σοι, ώ Έρυξίμαχε, φάναι τον Σωκράτη, εναντία

ψηφιειται. ούτε γάρ αν που έγώ άποφήσαιμι, ός ούδέν

86

O B A N Q U E T E

de chegar; ela que toque para si mesma, ou, se o preferir, lá dentro, para as mulheres, porque hoje nos distrairemos com discursos. E se me perguntardes: que espécie de discursos? explicarei logo meu plano».

O acordo foi unânime, insistindo com ele os presentes para que expu­sesse o seu pensamento. Então, falou Erixímaco: «Vou começar meu discurso como a peça Melanipo, de Eurípides: Não são minhas, porém de Fedro aqui presente, as palavras que pretendo dirigir-vos.

Toda vez que Fedro me encontra, diz-me indignado: “Não é absurdo, Erixímaco”, repete sempre, “que para todos os deuses os poetas tenham composto hinos e peãs, e com relação a Eros, divin­dade tão grande e gloriosa, entre tantos poetas como já tivemos, não houve um só que fizesse o seu panegírico? Se passares em revista os sofistas de valor, verás como Héracles e outros é que eles enaltecem em suas composições em prosa, tal como fez, por exemplo, o excelente Pródico. Nada disso é de admirar, pois recen­temente me caiu nas mãos um magnífico elogio do sal, às luzes de sua utilidade. E assim verás que já foram celebradas | muitas coisas do mesmo gênero. Ora, aplicando-se tanta gente a temas dessa natureza, não se compreende que até hoje ninguém se atrevesse a cantar o valor de Eros, com o que fica esquecido um deus tão poderoso”. No meu modo de pensar, Fedro está certíssimo. Por isso, declaro-me disposto a dar-lhe minha contribuição com a presente gentileza, por estar certo de que não encontraremos outra oportunidade como esta para enaltecer a divindade. Sendo aceita a sugestão, não nos faltará meio de encher o tempo com discursos. Minha ideia é de todos os presentes fazerem o elogio de Eros, por ordem, da esquerda para a direita, da maneira mais bela possível, a principiar por Fedro, não apenas por estar no primeiro lugar da mesa, como por haver partido dele a sugestão».

«Nenhum de nós, Erixímaco», teria dito Sócrates, «votará contra a tua proposta. Do meu lado, não me recuso a falar, pois confesso não

1 7 7 A

B

C

8 7

Σ Τ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

φημι άλλο έπίστασθαι ή τά έρωτικά, ούτε που Άγάθων και ε Παυσανίας, ούδε μην Αριστοφάνης, φ περί Διόνυσον και

Άφροδίτην πάσα ή διατριβή, ούδε άλλος ούδεις τουτωνι ών έγώ δρω. καίτοι ούκ έζ ’ίσου γίγνεται ήμϊν τοϊς ύστάτοις κατακειμένοις■ άλΧ εάν οί πρόσθεν ίκανώς και καλώς εϊπωσιν, εξαρκέσει ήμϊν. άλλα τύχη άγαθή καταρχέτω Φαιδρός και έγκωμιαζέτω τον ’Έρωτα.

Ταϋτα δη και οί άλλοι πάντες άρα συνέφασάν τε καί ΐ7»λ έκέλευον άπερ ό Σωκράτης, πάντων μεν ούν ά έκαστος

εϊπεν, ο ντε πάνυ δ Αριστόδημος έμέμνητο οϋ τ ’ αΰ έγώ ά εκείνος ’έλεγε πάντα■ ά δε μάλιστα και ών έδοζέ μοι άζιομνημόνευτον, τούτων ύμϊν έρώ έκάστου τον λόγον.

Πρώτον μεν γάρ, ώσπερ λέγω\ έφη Φαιδρόν άρξάμενον ένθένδε ποθέν λέγειν, ότι μέγας θεός εϊη ό ’Έρως και θαυμαστός έν άνθρώποις τε και θεοϊς, πολλαχή μεν καί άλλη, ούχ ήκιστα δέ κατά την γένεσιν. τό γάρ έν τοϊς πρεσβύ-

ΐ) τατον είναι τον θεόν τίμιον, ή δ’ ός, τεκμήριον δέ τούτου-γονής γάρ ’Έρωτος οϋτ’ είσίν ούτε λέγονται ύπ’ ούδενός οϋτε ιδιώτου οϋτε ποιητοϋ, άλλ' Ησίοδος πρώτον μεν Χάος φησι γενέσθαι -

αύτάρ ’έπειτα Γαϊ’ ευρύστερνος, πάντων εδος άσφαλές αίεί ή8’ ’Έρος

Ήσιόδω δέ καί Άκουσιλεως σύμφησιν μετά τό Χάος δύο τούτω γενέσθαι, Γην τε και ’Έρωτα. Παρμενίδης δέ την γένεσιν λέγει -

πρώτιστον μεν ’Έρωτα θεών μητίσατο πάντων.

<: οϋτω πολλαχόθεν όμολογεϊται ό ’Έρως έν τοϊς πρεσβύ-τατος είναι, πρεσβύτατος δέ ών μεγίστων άγαθών ήμϊν αίτιός έστιν. ού γάρ εγωγ’ έχω είπεϊν ότι μεϊζόν έστιν άγαθόν εύθύς νέω δντι ή έραστής χρηστός καί έραστή

O B A N Q U E T E

entender de nada mais, senão de amor. Agatão e Pausânias, também, não se esquivarão, e muito menos Aristófanes, que só se ocupa e

com Dioniso e Afrodite, nem nenhum dos presentes, apesar de ficar muito difícil a tarefa para os que nos encontramos nos últimos lugares. Mas, se os primeiros colocados desenvolverem o tema com eloquência, declarar-nos-emos satisfeitos. Com feliz auspício, pois, inicie Fedro o elogio de Eros».

Todos os convivas aceitaram a ideia e secundaram os dizeres de 1 7 8 A

Sócrates. Porém, de tudo o que então foi dito, Aristodemo não se recordava muito bem, como eu, da mesma forma, não me lembro, agora, com minúcias, do que ele me contou. Dos discursos proferidos, vou relatar-vos apenas o que me pareceu digno de recordação.

vi. Conforme já disse, ele contou como Fedro iniciou seu discurso declarando que Eros era uma divindade poderosa e admirável, tanto entre os homens como entre os deuses, por várias razões, mas, antes de tudo, pelo nascimento. O fato de ser o mais velho | dos deuses b

já constitui prerrogativa excepcional. A prova disso é não ter pais, que, de fato, nunca são mencionados pelo vulgo nem pelos poetas.Narra Hesíodo que antes o Caos existiu,

vindo a Terra a seguir, de am plos seios, inabalável assento das coisas; depois chegou Eros.

Afirma, por conseguinte, que depois do Caos nasceram estas duas divindades: a Terra e Eros. Parmênides, também, diz a respeito da geração:

Eros nasceu em prim eiro lugar; nenhum deus antes dele.

Neste ponto Acusilau está de acordo com Hesíodo. De todos os lados, c por conseguinte, as opiniões são unânimes em proclamar Eros como o mais velho dos deuses. Com ser o mais antigo, é também para todos nós fonte de inestimáveis benefícios. De meu lado, não sei de

8 9

παιδικά, δ γάρ χρή άνθρώποις ήγεϊσθαι παντός τοϋ βίου

τοις μέλλονσι καλώς βιώσεσθαι, τούτο οϋτε συγγένεια οϊα

τε έμποιειν οϋτω καλώς οϋτε τιμαϊ οϋτε πλούτος οϋτ' άλλο

78ΐ) ούδέν ώς έρως. λέγω δε δή τί τούτο; την έπ'ι μεν τοΐς

αίσχροις αισχύνην, έπ'ι δε τοίς καλοΐς φιλοτιμίαν■ ού γάρ

έστιν άνευ τούτων οϋτε πόλιν οϋτε ιδιώτην μεγάλα και

καλά έργα έζεργάζεσθαι. φημ'ι τοίνυν έγώ ανδρα δστις

έρά, εϊ τι αισχρόν ποιών κατάδηλος γίγνοιτο ή πάσχων

υπό του δι’άνανδρίαν μη άμυνόμενος, οϋτ’ άν ύπό πατρός

όφθέντα οϋτως άλγήσαι οϋτε ύπό εταίρων οϋτε ύπ άλλου

ε ούδενός ώς ύπό παιδικών, ταύτόν δέ τούτο και τον έρώ-

μενον όρώμεν, δτι διαφερόντως τούς έραστάς αίσχύνεται,

δταν όφθή έν αίσχρώ τινι ών. εί ούν μηχανή τις γένοιτο

ώστε πόλιν γενέσθαι ή στρατόπεδον έραστών τε και παι­

δικών, ούκ έστιν δπως αν άμεινον οίκήσειαν την εαυτών ή

άπεχόμενοι πάντων των αισχρών και φίλοτιμούμενοι πρός

79 α άλλήλους, και μαχόμενοί γ ’ άν μετ’ άλλήλων οι τοιούτοι

νικώ εν άν ολίγοι δντες ώς έπος είπεϊν πάντας άνθρώπους.

έρών γάρ άνήρ ύπό παιδικών όφθήναι ή λιπών τάζιν ή

δπλα άποβαλών ήττον άν δήπου δέξαιτο ή ύπό πάντων τών

άλλων, και προ τούτου τεθνάναι άν πολλάκις ελοιτο. καί

μην έγκαταλιπείν γε τά παιδικά ή μη βοηθήσαι κινδυνεύοντι

ούδε'ις οϋτω κακός δντινα ούκ άν αυτός ό ’Έρως ένθεον

ποιήσειε πρός άρετήν, ώστε δμοιον είναι τώ άρίστω φύσει-

ιι καί άτεχνώς, δ έφη "Όμηρος, μένος έμπνεύσαι ένίοις

τών ηρώων τον θεόν, τούτο ό Έρως τοίς έρώσι παρέχει

γιγνόμενον παρ’ αύτού.

Καί μην ύπεραποθνήσκειν γε μόνοι έθέλουσιν οι έρώντες,

ού μόνον δτι άνδρες, άλλά και αί γυναίκες, τούτου δέ καί

Σ Τ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

9 0

O B A N Q U E T E

maior bênção para um jovem no começo da vida do que um amante virtuoso, nem para este do que um amigo nas mesmas condições. O que deve servir de norma de conduta para os que se propuserem a viver bela e retamente não lhes é inspirado tão bem nem pelos parentes, nem pela beleza, a riqueza, as dignidades e tudo o mais, como pelo amor. ! E agora, pergunto: de que se trata? Vergonha de praticar más ações e emulação para o belo, sem o que nem as cidades nem os homens em particular conseguirão jamais realizar algo nobre ou grandioso. O que eu digo é que o indivíduo que ama, se é surpreendido a cometer alguma ação má, ou quando, por pusi- lanimidade, suporta alguma ofensa sem reagir à altura, passando-se tudo isso na presença do pai ou dos companheiros ou de quem quer que seja, não se amofinará tanto como se ocorrer o fato na frente do jovem da sua predileção. É o que vemos também com relação ao amado, que se envergonha muito mais na presença do seu amigo, quando apanhado na prática de algum ato condenável. Se houvesse meio de formar uma cidade ou um exército só de amantes e dos respectivos amados, melhor base não fora possível encontrar para sua estruturação, por se absterem da mínima torpeza todos os seus componentes e se estimularem reciprocamente na prática do bem. Mais: juntos, nos combates, apesar de serem em número reduzido, venceriam, por assim dizer, o mundo inteiro. Sim, ser visto o amante pelo seu querido abandonar o posto ou jogar longe as armas, fora motivo muito mais sério de envergonhar-se do que se tal acontecesse na presença de todo o exército. Preferira mil vezes morrer a fazer tal coisa. Quanto a abandonar o amado e não socorrê-lo nalgum lance perigoso, não há indivíduo pusilânime que o Amor não encha de entusiasmo, para levá-lo a igualar-se aos varões mais conspícuos. O que Homero conta da coragem que a divindade insufla nalguns heróis é mais ou menos o que Eros faz com os amantes, quando a eles se associa,

vil. Digo mais: morrer por outrem, só os amantes a tanto se decidem, o que não se verifica apenas com os homens, mas com as próprias

178 D

E

1 7 9 A

91

Σ Τ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

ή Πελίου θνγάτηρ Άλκηστις Ικανήν μαρτυρίαν παρέχεται ύπέρ τοϋδε τού λόγου εις τούς "Ελληνας, έθελήσασα μόνη ύπερ τοϋ αυτής άνδρός άποθανεϊν, δντων αύτφ πατρός τε

79C και μητρός, οϋς έκείνη τοσοϋτον ύπερεβάλετο τη φιλία διάτον έρωτα, ώστε άποδεϊζαι αύτούς άλλοτρίους όντας τώ ύεϊ και όνόματι μόνον ττροσήκοντας, και τοϋτ' έργασαμένη το έργον ουτω καλόν εδοζεν έργάσασθαι ού μόνον άνθρώποις άλλά και θεοις, ώστε πολλών πολλά και καλά έργασαμένων εύαριθμήτοις δή τισιν εδοσαν τούτο γέρας oi θεοί, έξ Άιδου άνεΐναι πάλιν την ψυχήν, άλλά την έκείνης άνεϊσαν άγα-

ΐ) σθέντες τώ έργω- οϋτω και θεοί την περι τον έρωτα σπουδήντε καί άρε την μάλιστα τιμώσιν. Όρφέα δε τον Οίάγρου άτελή άπέπεμψαν έξ Άιδου, φάσμα δείξαντες τής γυναικός έφ' ήν ήκεν, αύτην δε ού δόντες, ότι μαλθακίζεσθαι έδό- κει, άτε ών κιθαρωδός, και ού τολμάν ένεκα τοϋ έρωτος άποθνήσκειν ώσπερ Άλκηστις, άλλά διαμηχανάσθαι ζών είσιέναι εις Άιδου. τοιγάρτοι διά ταϋτα δίκην αύ τώ έπέ- θεσαν, καί έποίησαν τον θάνατον αύτοϋ υπό γυναικών

ε γενέσθαι, ούχ ώσπερ Άχιλλέα τον τής Θέτιδος ύόν έτίμη-σαν και εις μακάρων νήσους άπέπεμψαν, ότι πεπυσμένος παρά τής μητρός ώς άποθανοΐτο άποκτείνας Έκτορα, μη άποκτείνας δε τούτον οϊκαδε έλθών γηραιός τελευτήσοι, έτόλμησεν έλέσθαι βοηθήσας τώ έραστή Πατρόκλω και

8 ο α τιμωρήσας ού μόνον νπεραποθανεΐν άλλά και έπαποθανέϊντετελευτηκότι- όθεν δή καί ύπεραγασθέντες oi θεοί διαφε- ρόντως αύ τον έτίμησαν, ότι τον έραστήν οϋ τω περι πολλοϋ έποιεϊτο. Αισχύλος δε φλυαρεί φάσκων Άχιλλέα Πα­τρόκλου έράν, ός ήν καλλιών ού μόνον Πατρόκλου άλΧ άμα και τών ηρώων άπάντων, και έτι αγένειος, έπειτα νεώτερος πολύ, ώς φησιν Όμηρος, άλλά γάρ τώ όντι μάλιστα μεν ταύτην τήν άρετήν οι θεοί τιμώσιν την περι

ιι τόν έρωτα, μάλλον μέντοι θαυμάζουσιν και άγονται καιεν ποιοϋσιν όταν ό έρώμενος τόν έραστήν άγαπά, ή όταν ύ έραστής τά παιδικά, θειότερον γάρ εραστής παιδικών-

9 2

O B A N Q U E T E

mulheres. Prova idônea da verdade de semelhante afirmativa forneceu Alceste, filha de Pélias, a todos os helenos, por ter sido a única pessoa que se prontificou a morrer em lugar do marido, quando este ainda tinha pai e mãe, j os quais Alceste a tal ponto ultrapassou em afeição, por virtude do amor, que os reduziu à posição de estra­nhos, com relação ao filho, e só de nome aparentados com ele. Por isso, entre tantos varões ilustres do passado, a muito poucos e fáceis de contar concederam os deuses o privilégio de permitir que a alma retornasse do Hades, como fizeram com a dela, de pura admiração ante o seu ato, o que vem demonstrar quanto os deuses apreciam a dedicação e o merecimento do amor. Orfeu, pelo contrário, filho de Eagro, eles o fizeram voltar do Hades sem nada conceder-lhe; mostraram-lhe apenas o fantasma da mulher por causa de quem ele ali fora ter, não a própria esposa, por o considerarem pusilânime: era um simples harpista, que, não se dispondo a morrer por amor, como o fizera Alceste, arranjara jeito de penetrar vivo no Hades. Por isso mesmo, castigaram-no, determinando os deuses que viesse a morrer por mão de mulheres, j Muito diferente foi a maneira por que honraram Aquiles, filho de Tétis, a quem enviaram para as Ilhas dos Bem-aventurados, pois, tendo-lhe revelado a mãe que, se ele matasse Heitor, morreria logo, e, abstendo-se de fazê-lo, voltaria para a pátria, onde só viria a morrer velho, teve a coragem de decidir-se a sair em socorro de seu amigo Pátroclo e de vingá-lo, e, assim, j não apenas morrer por ele, como segui-lo na morte com o seu próprio sacrifício. Eis por que os deuses, na sua grande admiração, o distinguiram a esse ponto, por ter tido o amigo em tamanho apreço. Esquilo fantasia ao dizer que Aquiles era o amante e Pátroclo o amado, pois Aquiles não apenas ultrapassava, de muito, Pátroclo em beleza como a todos os heróis, além de ser ainda imberbe e o mais moço dos dois, segundo Homero. Sendo verdade que os deuses apreciam particularmente a virtude relativa ao amor, muito mais admiram, e amam, e recompensam quando o amado se afeiçoa ao amante do que o inverso: o amante ao amado. O amante é mais divino do que

179c

D

E

18O A

9 3

Σ Τ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

ένθεος γάρ έστι. διά ταϋτα και τον Άχιλλέα τής Άλκήσ-

τιδος μάλλον έτίμησαν, εις μακάρων νήσους άττοττέμψαντες.

Οϋτω δή εγωγέ φημι ’Έρωτα θεών καί ττρεσβύτατον και

τιμιώτατον και κυριώτατον είναι εις αρετής και ευδαιμονίας

κτήσιν άνθρώποις και ζώσι και τελευτήσασιν.

ι8οε Φαιδρόν μεν τοιοϋτόν τινα λόγον έφη είπείν, μετά δε

Φαιδρόν άλλους τινάς είναι ών ού πάνυ διεμνημόνευε- οϋς

πάρεις τον Παυσανίου λόγον διηγείτο, είττεϊν δ’ αυτόν

δτι Ού καλώς μοι δοκεί, ώ Φαιδρέ, προβεβλήσθαι ήμϊν

ό λόγος, το άπλώς ούτως παρηγγέλθαι έγκωμιάζειν Έρωτα,

εί μεν γάρ έίς ήν ό Έρως, καλώς αν είχε, νυν δέ ού γάρ

έστιν εις■ μη δντος δε ενός όρθότερόν έστι πρότερον προρ-

ϋ ρηθήναι όποιον δει έπαινεϊν. έγώ οΰν πειράσομαι τοϋτο

έιτανορθώσασθαι, πρώτον μεν Έρωτα ψράσαι δν δει έπαι-

νεϊν, έπειτα έπαινέσαι άξίως τού θεοϋ. πάντες γάρ ϊσμεν

δτι ούκ έστιν άνευ Έρωτος Αφροδίτη, μιας μεν οΰν

οϋσης εις αν ήν Έρως■ έπει δέ δή δύο έστόν, δύο άνάγκη

και Έρωτε είναι, πώς δ' ού δύο τώ θεά; ή μέν γέ που

πρεσβυτέρα καί άμήτωρ Ούρανοϋ θυγάτηρ, ήν δή και

Ουρανίαν έπονομάζομεν- ή δέ νεωτέρα Διός καί Διώνης,

ε ήν δή Πάνδημον καλοϋμεν. άναγκαιον δή και Έρωτα τον

μέν τη έτέρα συνεργόν Πάνδημον όρθώς καλεϊσθαι, τον δέ

Ούράνιον. έπαινεϊν μέν οΰν δει πάντας θεούς, ά δ' οΰν

έκάτερος ε’ίληχε πειρατέον είπέίν. πάσα γάρ πράξις ώδ’

έχει■ αύτή έφ’ έαυτής πραττομένη ούτε καλή ούτε αισχρά.

ι 8 ι α οίον δ νϋν ήμεΐς ποιου μεν, ή πίνειν ή αδειν ή διαλέγεσθαι,

ούκ έστι τούτων αύτό καλόν ούδέν, άλΧ εν τη πράζει, ώς

αν πραχθή, τοιοϋτον άπέβη- καλώς μέν γάρ πραττόμενον

και όρθώς καλόν γίγνεται, μή όρθώς δέ αισχρόν, οϋτω δή

καϊ τό έράν και ό Έρως ού πας έστι καλός ούδέ άξιος

9 4

O B A N Q U E T E

o amado, por estar possuído pela divindade. Essa a razão de haverem os deuses conferido maiores distinções a Aquiles do que a Alceste, com enviá-lo para as Ilhas dos Bem-aventurados. Por tudo isso, sou de opinião que Eros é o mais antigo e o mais respeitável dos deuses, como também o mais autorizado para levar os homens à posse da virtude e da felicidade, tanto nesta vida como depois da morte,

viu. Foi esse, mais ou menos, o discurso de Fedro, me disse Aris- todemo. Depois falaram outros, do que ele não se lembrava muito bem. Deixando-os, pois, de lado, passou a tratar do discurso de Pausânias, vazado nos seguintes termos: «Tenho a impressão, Fedro, de que o tema de nossa conversação não foi devidamente formulado, com nos imporem a tarefa pura e simples de fazermos o elogio de Eros. Se houvesse apenas um Eros, tudo estaria bem. Porém Eros não é único; e não sendo único, o que precisamos firmar, inicialmente, é qual deles terá de ser elogiado. Por conseguinte, vou tentar corrigir essa falha, com determinar, primeiro, qual dos Eros teremos de enaltecer, para depois compor um discurso digno dessa divindade. Como todo o mundo sabe, não há Afrodite sem Eros. Ora, se só houvesse uma Afrodite, Eros também seria um só; mas, como há duas, será forçoso haver dois Eros. Poder- -se-á negar que há duas divindades? Uma, a mais velha, nascida sem mãe, é filha de Urano, razão de ser chamada urânia ou celeste; a mais nova é filha de Zeus e de Dione, e a essa damos o apelido de pandêmia ou vulgar, j Por isso, é de toda a necessidade que, havendo dois Eros, o auxiliar desta última deusa seja, com justiça, denominado vulgar, ficando para o outro o qualificativo de celeste. Todos os deuses devem ser enaltecidos. No presente caso vou tentar dizer o que toca a cada um. Com qualquer ato dá-se o seguinte: em sua realização, nenhum, em si mesmo, é belo ou censurável; j tudo o que fazemos neste momento: beber, cantar, conversar, nada, em si mesmo, é belo; da maneira por que é feito é que dependerá ser isso; se a ação for executada com beleza e retidão, será bela; se não houver retidão, será feia. É o que se dá com Eros e o ato de amar:

180c

D

E

i 8i a

9 5

Σ Τ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

έγκωμιάζεσθαι, άλλα ό καλώς προτρέπων έράν.

Ό μεν οϋν τής Πανδήμου Αφροδίτης ώς αληθώς πάν-

ι 8 ι β δημός έστι και έξεργάζεται δτι αν τύχη■ και ούτός έστιν

ον οι φαύλοι τών ανθρώπων έρώσιν. έρώσι δε οί τοιοϋτοι

■πρώτον μεν ούχ ήττον γυναικών ή παίδων, επειτα ών και

έρώσι τών σωμάτων μάλλον ή τών ψυχών, έπειτα ώς αν

δύνωνται άνοητοτάτων, προς τό διαπράξασθαι μόνον βλέ-

ποντες, άμελοϋντες δε τού καλώς ή μή· όθεν δή συμβαίνει

αύτοϊς ότι αν τύχωσι τούτο πράττειν, ομοίως μέν άγαθόν,

ομοίως δε τούναντίον. έστι γάρ καί άπό τής θεού νεωτέρας

ο τε οϋσης πολύ ή τής έτέρας, και μετεχούσης έν τη γενέσει

και θήλεος και άρρενος. ό δε τής Ουρανίας πρώτον μέν ού

μετεχούσης θήλεος άλΧ άρρενος μόνον - και έστιν οϋτος ό

τών παίδων έρως - έπειτα πρεσβυτέρας, ϋβρεως άμοιρου■ όθεν

δή έπ'ι τό άρρεν τρέπονται οί έκ τούτου τού έρωτος έπιπνοι,

τό φύσει έρρωμενέστερον καί νούν μάλλον έχον άγαπώντες.

καί τις αν γνοίη καί έν αυτή τη παιδεραστία τούς είλικρινώς

υ υπό τούτου τού έρωτος ώρμημένους- ού γάρ έρώσι παίδων,

άλΧ έπειδάν ήδη άρχωνται νούν ϊσχειν, τούτο δέ πλησιάζει

τω γενειάσκειν. παρεσκευασμένοι γάρ οΐμαί είσιν οί έν-

τεύθεν άρχόμενοι έράν ώς τον βίον άπαντα συνεσόμενοι

καί κοινή συμβιωσόμενοι, άλΧ ούκ έζαπατήσαντες, έν

άφροσύνη λαβόντες ώς νέον, καταγελάσαντες οίχήσεσθαι

έπ άλλον άποτρέχοντες. χρήν δέ καί νόμον είναι μή έράν

ε παίδων, ϊνα μή εις άδηλον πολλή σπουδή άνηλίσκετο- τό

γάρ τών παίδων τέλος άδηλον οί τελευτά κακίας καί άρε τής

ψυχής τε πέρι καί σώματος, οί μέν οϋν άγαθοί τον νόμον

τούτον αυτοί αύτοϊς έκόντες τίθενται, χρήν δέ καί τούτους

τούς πανδήμους έραστάς προσαναγκάζειν τό τοιούτον, ώσπερ

καί τών έλευθέρων γυναικών προσαναγκάζομεν αύτούς καθ'

ι 8 ι α όσον δυνάμεθα μή έράν. οΰτοι γάρ είσιν οί καί τό όνειδος

9 6

O B A N Q U E T E

nem todo amor é belo e merecedor de encómios, mas apenas o que se alia à nobreza.

ix. O amor oriundo da Afrodite pandêmia é, de fato, vulgar í e se afirma sem discrime, sendo esse o que apreciam os indivíduos de baixa extração. Para começar, tanto gostam de mulheres como de rapazes; ao depois, revelam mais amor ao corpo do que à alma, e da maneira mais estulta possível, pois só visam à realização do ato, sem pensarem sequer na maneira bela nem feia de consegui-lo. O resultado é pegarem o que a sorte lhes põe ao alcance da mão, tanto podendo ser bom como o contrário disso. E que a Afrodite de que esse Eros provém é muito mais nova j do que a outra, e do seu nascimento participaram os dois sexos, masculino e feminino. Totalmente diferente é o Amor que acompanha a Afrodite urânia, que não participa do sexo feminino, mas do masculino apenas, o que explica sua inclinação para os moços. Ademais, por ser mais velha a deusa, está livre de arroubamentos. Daí voltarem-se para o sexo masculino os indivíduos inspirados por essa divindade, por se comprazerem com o gênero mais forte por natureza e mais inteli­gente. Aliás, é muito fácil reconhecer nas relações entre os jovens i os que em toda a sua pureza são levados por esse Amor: não se afeiçoam a nenhum rapaz senão depois que este revela discernimento, isto é, só na idade em que aponta o buço. Os que principiam a amar nessa época, segundo penso, cogitam de uma união para toda a vida e procuram um companheiro para sempre, em lugar de zombarem da inexperiência deste, muito própria da idade, ou de abandoná-lo mais adiante por outro. Devia haver uma lei que proibisse amar meninos, para evitar tamanho desperdício de esforço na conquista do incerto, pois com relação às crianças não se pode prever para onde as levarão suas tendências, ou boas ou más, tanto as do corpo como as da alma. Os homens de bem se submetem voluntariamente a essa lei; porém seria preciso sujeitar os amantes vulgares a igual constrangimento, tal como os obrigamos, na medida do possível, a se absterem de relações amorosas com mulheres livres, j São eles os promotores

i 8 i b

c

D

E

182A

97

Σ Ύ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

πεποιηκότες, ώστε τινάς τολμάν λέγειν ώς αισχρόν χαρί-

ζεσθαι έρασταϊς- λέγονσι δε εις τούτους άποβλέποντες,

ορών τες αύτών την άκαιρίαν και άδικίαν, έπει ού δήπου

κοσμίως γε και νομίμως ότιοϋν <πράγμα> ττραττόμενον ψόγον

άν δικαίως φέροι.

Και δή και ό περϊ τον έρωτα νόμος έν μεν ταΐς άλλαις

ττόλεσι νοήσαι ράδιος, απλώς γάρ ώρισται■ ό δ’ ένθάδε

iH2.ii και έν Λακεδαίμονι ποικίλος, έν "Ηλιδι μεν γάρ καί έν

Βοιωτοΐς, και ού μή σοφο'ι λέγειν, απλώς νενομοθέτηται

καλόν το χαρίζεσθαι έρασταϊς, καί ούκ αν τις εϊποι οϋτε

νέος οϋτε παλαιός ώς αισχρόν, ϊνα οϊμαι μή πράγματ’

ίχωσιν λόγω πειρώμενοι πείθειν τούς νέους, άτε άδύνα-

τοι λέγειν■ τής δέ Ιωνίας καί άλλοθι πολλαχοϋ αισχρόν

νενόμισται, όσοι ύπό βαρβάροις ο’ικοϋσιν. τοϊς γάρ βαρ-

βάροις διά τάς τυραννίδας αισχρόν τοϋτό γε και ή γε

c φιλοσοφία καί ή φίλογυμναστία- ού γάρ οϊμαι συμφέρει

τοϊς άρχουσι φρονήματα μεγάλα έ)γίγνεσθαι τών άρχο-

μένων, ούδέ φιλίας ίσχυράς καί κοινωνίας, δ δή μάλιστα

φιλει τά τε άλλα πάντα και ό έρως έμποιεϊν. έργω δέ

τοϋτο έμαθον και oi ένθάδε τύραννοι■ ό γάρ Άριστογεί-

τονος έρως και ή Αρμοδίου φιλία βέβαιος γενομένη κατ-

έλυσεν αύτών τήν άρχήν. οϋτως οΰ μέν αισχρόν έτέθη

d χαρίζεσθαι έρασταϊς, κακία τών θεμένων κεϊται, τών μέν

άρχόντων πλεονεξία, τών δέ άρχομένων ανανδρία· ού δέ

καλόν άπλώς ένομίσθη, διά τήν τών θεμένων τής ψυχής

άργίαν. ένθάδε δέ πολύ τούτων κάλλιον νενομοθέτηται, και

δπερ εΐπον, ού ράδιον κατανοήσαι. ένθυμηθέντι γάρ δτι

λέγεται κάλλιον το φανερώς έράν τοϋ λάθρα, καί μάλιστα

τών γενναιοτάτων και άριστων, κάν αίσχίους άλλων ώσι, και

δτι αύ ή παρακέλευσις τώ έρώντι παρά πάντων θαυμαστή,

98

O B A N Q U E T E

do descrédito do amor masculino, a ponto de haver quem declare ser vergonhoso entregar-se alguém a um amigo. Os que assim se manifestam, só se referem aos amantes pandêmios, cuja inconve­niência e desonestidade todos reconhecem; porém, o certo é que não merece ser censurado o que é feito conforme a ordem e a lei. Nas demais cidades são muito fáceis de reconhecer as normas relativas ao amor, por admitirem definição fácil e muito simples, ao passo que as nossas são complicadas, j Em Élide, de um lado, na Lacedemônia e 182B

na Beócia, e onde quer que os cidadãos não se distingam pelos dotes da eloquência, considera-se natural ceder às solicitações do amigo, não ocorrendo nem a moços nem a velhos tachar de censurável semelhante prática. Compreende-se: assim procedem para não terem trabalho de doutrinar os moços com discursos eloquentes, visto não saberem falar. Por outro lado, na Jônia e em muitas regiões sujeitas ao jugo dos bárbaros, é considerado imoral esse costume.Sim, porque entre os bárbaros a tirania condena semelhante forma de amor, como também condena o amor ao estudo | e o amor à c ginástica. Para os governantes, segundo penso, não é vantagem terem os súditos ideias avançadas nem formarem amizades e associações como somente o amor sabe inspirar. Foi o que os fatos ensinaram aos nossos tiranos: o amor de Aristogíton e a afeição de Harmódio adquiriu força suficiente para destruir-lhes o poderio. Desse modo, onde o costume considera vergonhoso ceder às instâncias do amigo, fala apenas j o baixo nível das concepções do meio, isto é, ambição d

por parte dos dominadores e falta de virilidade dos dominados. Por outro lado, essa prática só é louvada de pronto onde a alma dos legisladores é naturalmente preguiçosa. Entre nós o costume é mais belo; porém, como disse, um tanto difícil de entender.

X . Reflita-se, por exemplo, no que se comenta a esse respeito: que é mais belo amar às claras do que às ocultas, e de preferir quem for mais nobre e de maior merecimento, ainda que seja menos formoso do que outros; depois, os mil modos de encorajamento que toda a gente dá para quem ama, no pressuposto de que não

W

ούχ ώς τι αισχρόν ποιοϋντι, και έλόντι τε καλόν δοκεϊ είναι

ε και μή έλόντι αισχρόν, και προς τό έπιχειρειν ίλέίν εξου­σίαν ό νόμος δέδωκε τω έραστη θαυμαστά έργα έργαζομένω

έπαινεΐσθαι, ά εϊ τις τολμώη ποιεΐν άλλ' ότιοϋν διώκων και 183Α βουλόμενος διαπράζασθαι πλήν τούτο [ φιλοσοφίας], τα μέ­

γιστα καρποΐτ' αν ονείδη - εί γάρ ή χρήματα βουλόμενος παρά του λαβεϊν ή αρχήν άρξαι ή τινα άλλην δύναμιν

έθέλοι ποιεΐν οΐάπερ οι έρασται προς τά παιδικά, ίκετείας τε και άντιβολήσεις εν ταϊς δεήσεσιν ποιούμενοι, και όρκους

όμνύντες, και κοιμήσεις έπϊ θύραις, καί έθέλοντες δουλείας

δουλεύειν οϊας ούδ’ αν δούλος ούδείς, έμποδίζοιτο αν μή

πράττειν ου τω την πράζιν και ύπό φίλων και ύπό έχθρών, β των μέν όνειδιζόντων κολακείας και άνελευθερίας, των δέ

νουθετούντων και αίσχυνομένων υπέρ αύτών - τω δ' έρώντι πάντα ταύτα ποιοϋντι χάρις έπεστι, και δέδοται ύπό τού

νόμου άνευ ονείδους πράττειν, ώς πάγκαλόν τι πράγμα

διαπραττομένου■ ό δέ δεινότατον, ώς γε λέγουσιν οι πολ­λοί, ότι και όμνύντι μόνω συγγνώμη παρά θεών έκβάντι των όρκων - άφροδίσιον γάρ όρκον οϋ φασιν είναι■ οϋτω

ο καί οι θεοί και οί άνθρωποι πάσαν έζουσίαν πεποιήκασι τωέρώντι, ώς ό νόμος φησιν δ ένθάδε - ταύτη μέν οϋν οίηθείη

αν τις πάγκαλον νομίζεσθαι έν τήδε τη πόλει καί τό έράν

και τό φίλους γίγνεσθαι τοίς έρασταίς. έπειδάν δέ παι­δαγωγούς έπιστήσαντες οί πατέρες τοίς έρωμένοις μή έώσι διαλέγεσθαι τοίς έρασταίς, και τω παιδαγωγώ ταύτα προσ-

τεταγμένα ή, ήλικιώται δέ καί έταίροι όνειδίζωσιν έάν τι όρώσιν τοιούτον γιγνόμενον, καί τούς ονειδίζοντας αϋ οί

ό πρεσβύτεροι μή διακωλύωσι μηδέ λοιδορώσιν ώς ούκ όρθώςλέγοντας, εις δέ ταύτά τις αϋ βλέψας ήγήσαιτ’ αν πάλιν

αίσχιστον τό τοιούτον ένθάδε νομίζεσθαι. τό δέ οΐμαι ώδ’ ίχει- ούχ άπλούν έστιν, όπερ έξ άρχής έλέχθη οϋ τε καλόν είναι αύτό καθ' αύτό οϋτε αισχρόν, άλλα καλώς μέν πρατ-

τόμενον καλόν, αίσχρώς δέ αισχρόν, αίσχρώς μέν οϋν

Σ Ύ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

100

O B A N Q U E T E

esteja praticando nada indigno e que é considerado louvável ser bem-sucedido na conquista j e vergonhoso fracassar, e também a e

permissão tácita de nossas leis para o amante praticar os atos mais extravagantes e ainda receber elogios, atos esses que, se alguém se atrevesse a realizar na consecução de outro objetivo, j incorreria 18 3A

nas mais severas admoestações por parte da filosofia. Pois se, para conseguir dinheiro emprestado ou obter algum cargo ou função, se dispusesse alguém a fazer o que fazem os amantes para seus amados: jurar, pedir com instantes súplicas e implorações, deitar-se na frente da porta e prestar serviços que nenhum escravo concordaria em fazer, seria impedido na sua determinação tanto por amigos como por inimigos: aqueles, increpando-lhe as bajulações e o servilismo, b

os outros, admoestando-o e mostrando-se envergonhados com tal procedimento. No entanto, o amante faz tudo isso com certa graça, o que lhe é permitido pela liberalidade de nossos costumes, sem incidir na menor censura de ninguém, como se se tratasse de um ato louvabilíssimo. E o mais de admirar é que, no dizer do povo, somente o amante obtém perdão dos deuses, em caso de perjuro.Não há juras de amor, dizem. Desse modo, j tanto os deuses como c os homens concedem plena liberdade a quem ama, o que nossas leis confirmam. De tudo isso é lícito concluir ser considerado em nossa comunidade extremamente belo amar e ser condescendente com a pessoa amada. Mas, por outro lado, os pais põem os filhos sob a vigilância de preceptores, para impedi-los de conversar com os amados, e isso mesmo recomendam a seus prepostos, observando-se, outrossim, que seus coetâneos e companheiros o repreendem sempre que o apanham nalguma prática desse tipo, sem que as pessoas mais idosas : se rebelem contra tais censores, nem lhes d

estranhem a linguagem, por injusta e descabida. Considerando-se esses fatos, poderia alguém concluir por maneira diferente que entre nós o amor dos jovens é tido como desonroso. Mas, a meu ver, passa-se o seguinte: conforme disse no começo, não há o que seja belo em si mesmo; será belo, se realizado com beleza; ou feio,

101

Σ Τ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

έστι πονηρώ τε καί πονηρώς χαρίζεσθαι, καλώς 8έ χρηστώ

τε και καλώς, πονηρός δ’ έστιν εκείνος δ έραστής δ πάν­

ε δήμος, ό τοϋ σώματος μάλλον ή τής ψυχής έρών- και γάρ

ούδέ μόνιμός έστιν, ατε ουδέ μονίμου έρών πράγματος,

άμα γάρ τώ τοϋ σώματος άνθει λήγοντι, οΰπερ ήρα, “οϊ-

χεται άποπτάμενος," πολλούς λόγους καί υποσχέσεις καται-

σχύνας- ό δε τοϋ ήθους χρηστού δντος έραστής διά βίου

μένει, άτε μονίμω συντακείς. τούτους δή βούλεται ό

184Α ήμέτερος νόμος εΰ καί καλώς βασανίζειν, καί τοϊς μέν

χαρίσασθαι, τούς δε διαφεύγειν. διά ταϋτα οϋν τοϊς μέν

διώκειν παρακελεύεται, τοϊς δέ φεύγειν, άγωνοθετών και

βασανίζων ποτέρων ποτέ έστιν δ έρών και ποτέρων ό

έρώμενος. οϋτω δή ύπό ταύτης τής αίτιας πρώτον μέν τό

άλίσκεσθαι ταχύ αισχρόν νενόμισται, ϊνα χρόνος έγγένηται,

ός δή δοκεϊ τά πολλά καλώς βασανίζειν, έπειτα τό ύπό

χρημάτων καί ύπό πολιτικών δυνάμεων άλώναι αισχρόν,

β έάν τε κακώς πάσχων πτήξη καί μή καρτερήση, άν τ '

εύεργετούμενος εις χρήματα ή εις διαπράξεις πόλιτικάς μή

καταφρονήση■ ούδέν γάρ δοκεϊ τούτων οϋ τε βέβαιον ου τε

μόνιμον είναι, χωρίς τοϋ μηδε πεφυκέναι άπ’ αυτών γεν-

ναίαν φιλίαν, μία δή λείπεται τώ ήμετέρω νόμω δδός, εί

μέλλει καλώς χαριεϊσθαι έραστή παιδικά, έστι γάρ ήμϊν

νόμος, ώσπερ έπϊ τοις έρασταϊς ήν δουλεύειν έθέλοντα

ο ήντινοϋν δουλείαν παιδικοϊς μή κολακείαν είναι μηδέ έπο-

νείδιστον, οϋτω δή καί άλλη μία μόνη δουλεία εκούσιος

λείπεται ούκ έπονείδιστος- αϋτη δ’ έστιν ή περ'ι τήν άρετήν.

νενόμισται γάρ δή ήμϊν, έάν τις έθέλη τινά θεραπεύειν

ηγούμενος δι έκεϊνον άμείνων έσεσθαι ή κατά σοφίαν τινά

ή κατά άλλο ότιοϋν μέρος άρε τής, αϋτη αϋ ή έθελοδουλεία

ούκ αισχρά είναι ούδέ κολακεία, δει δή τώ νόμω τούτω

συμβαλεϊν εις ταύτόν, τόν τε περί τήν παιδεραστίαν καί

102

O B A N Q U E T E

na hipótese contrária. É desonroso entregar-se por maneira baixa a alguém indigno, como é belo ceder decentemente a instâncias do amigo de merecimento. Ruim é, justamente, aquele amante vulgar, ou pandêmio, | que dedica mais amor ao corpo do que à alma; não e

é constante, por não ser constante o objeto de sua predileção: no momento em que perde o viço o corpo do amado, ele bate as asas e some, traindo, assim, seus discursos e todas as promessas anteriores.Só conserva a amizade a vida inteira quem ama o caráter nobre, por ser constante em sua afeição e ligar-se ao que é constante. São esses que o costume de nossa terra | manda submeter a provas rigorosas, 1 8 4 A

para favorecer uns e fugir de outros. Por isso mesmo, estimula o amante a persistir em suas investidas e o amado a fugir dele, numa verdadeira competição para decidir a qual dos gêneros um e outro pertence. Eis a razão de ser considerado vergonhoso ceder muito depressa. Nesse particular, certa demora é recomendável, por ser o tempo, nisto como em tudo, a melhor pedra de toque. Ademais, é tido como baixeza ceder ao prestígio do dinheiro ou do poder, ou seja pelo receio de perseguição, sem possibilidade, por parte do b

amado, de resistir, ou por poder sentir-se bem no meio da riqueza e do mando e carecer de forças para desprezá-los. Nada disso parece firme nem estável, sem contarmos não ser esse o terreno onde nascem as nobres amizades. Só há um caminho, de acordo com nossos costumes, para o amado entregar-se honrosamente ao amigo: assim como entre nós é permitido ao amigo fazer | seja o c que for para o seu amado, numa escravidão voluntária, sem, com isso, rebaixar-se nem ser tido na conta de bajulador, assim também só resta para o amado uma servidão voluntária e isenta do labéu desonroso: a que conduz à virtude.

X I . Vige entre nós o princípio de que, se alguém se põe a serviço de outrem por acreditar que poderá vir a aperfeiçoar-se por seu intermédio, ou seja no que respeita ao conhecimento ou noutra parte da virtude, essa escravidão voluntária não implica desonra nem humilhação. O que precisamos fazer é fundir esses dois princípios

KM

Σ Τ Μ Π Ο Σ Χ Ο Ν

1840 τόν περ'ι την φιλοσοφίαν τε και την άλλην άρε την, εί

μέλλει συμβήναι καλόν γενέσθαι το έραστή παιδικά χαρί-

σασθαι. όταν γάρ εις τό αύτό ελθωσιν έραστής τε και

παιδικά, νόμον έχων έκάτερος, ό μεν χαρισαμένοις παιδικοις

υπηρετών ότιοϋν δικαίως αν ύπηρετειν, ό δε τώ ποιοϋντι

αυτόν σοφόν τε και άγαθόν δικαίως αύ ότιοϋν αν <ύπουρ-

γεϊν> υπουργών, και ό μεν δυνάμενος εις φρόνησιν καί την

ε άλλην άρε την συμβάλλ εσθαι, ό δέ δεόμενος εις παίδευσιν

καί την άλλην σοφίαν κτάσθαι, τότε δη τούτων συν ιόντων

εις ταύτόν τών νόμων μοναχού ένταϋθα συμπίπτει τό καλόν

είναι παιδικά έραστή χαρίσασθαι, άλλοθι δέ ούδαμοϋ. έπ'ι

τούτω και έξαπατηθήναι ούδέν αισχρόν■ έπ'ι δέ τοις άλλοις

7τάσι και έξαπατωμένω αισχύνην φέρει και μη. εί γάρ τις

185Α έραστή ώς πλουσίω πλούτου ένεκα χαρισάμενος έξαπατηθείη

και μή λάβοι χρήματα, άναφανέντος τού έραστού πένητος,

ούδέν ήττον αισχρόν■ δοκει γάρ ό τοιούτος τό γε αύτοϋ

έπιδεϊξαι, ότι ένεκα χρημάτων ότιοϋν άν ότωοϋν ΰπηρετοί,

τούτο δέ ού καλόν, κατά τον αύ τον δή λόγον καν εί τις

ώς άγαθώ χαρισάμενος και αύτός ώς άμείνων έσόμενος διά

τήν φιλίαν έραστοϋ έξαπατηθείη, άναφανέντος έκείνου κακού

β και ού κεκτ ημένου άρε τήν, όμως καλή ή άπάτη- δοκεϊ γάρ

αύ κα'ι οΰτος τό καθ’ αύτόν δεδηλωκέναι, ότι άρε τής γ ’

ένεκα και τοϋ βελτίων γενέσθαι πάν άν παντ'ι προθυμηθείη,

τούτο δέ αύ πάντων κάλλιστον- οϋτω πάν πάντως γε καλόν

αρετής ένεκα χαρίζεσθαι. ούτός έστιν ό τής ούρανίας θεού

έρως κα'ι ούράνιος και πολλοϋ άξιος κα'ι πόλει κα'ι ίδιώταις,

πολλήν έπιμέλειαν άναγκάζων ποιείσθαι προς άρε τήν τόν

ε τε έρώντα αύτόν αύτοϋ και τόν έρώμενον- οι δ’ έτεροι

πάντες τής έτέρας, τής πανδήμου, ταϋτά σοι, έφη, ώς έκ

τοϋ παραχρήμα, ώ Φαιδρέ, περ'ι Έρωτος συμβάλλομαι.

Παυσανίου δέ παυσαμένου - διδάσκουσι γάρ με ίσα λέγειν

ούτωσΐ οΐ σοφοί - έφη ό Αριστόδημος δεϊν μέν Αριστοφάνη

1 0 4

O B A N Q U E T E

num só: o do amor aos jovens e ; o da prática da filosofia e das demais virtudes, se quisermos que seja moralmente belo ceder o amado às instâncias do amigo. Sempre que o amigo e o amado coincidem nos respectivos pontos de vista, aquele com o propósito de servir o amado em tudo o que for justo; este outro, de sua parte, resolvido a conceder, a quem o deixa sábio e bom, tudo o que for compatível com a justiça, ! por estar, de fato, dentro das possibi­lidades do primeiro comunicar ao outro virtude e sabedoria, e desejar o segundo aprimorar sua educação e progredir nos diferentes ramos do saber: quando esses dois princípios se fundem num único, então, e só então, é belo entregar-se o amado ao amigo; noutras circunstâncias, não. Em tais condições, não fica feio para ninguém enganar-se; nos outros casos isso sempre é vergonhoso, tenha ou não tenha havido desilusão. Se alguém j se entrega por dinheiro, na suposição de que o amigo é rico, e verifica posteriormente que se enganou, não vindo a obter o que esperava, por ser, de fato, pobre o amigo, de todo jeito trata-se de um ato indecoroso, visto ficar patente que essa pessoa é capaz de fazer tudo por interesse, seja para quem for. Corre o mesmo com a hipótese de entregar-se alguém ao amigo, na esperança de aperfeiçoar-se com a sua afeição, e sofre a desilusão de verificar ser este vil e | carecente de virtude: ainda assim, é bela semelhante decepção. Pelo menos revelou-se, com isso, capaz, no que dele dependia, de fazer tudo por amor da virtude e com o fim de aperfeiçoar-se, o que é belo acima de todo o juízo. Concluindo, direi que é louvável condescender alguém por amor da virtude. Esse é o amor da Afrodite urânia, celeste como ela e da máxima importância para a cidade e os particulares, por exigir, tanto da parte do amigo como da do amado, preocupação constante com a virtude. ! Quanto aos outros amores, são todos da Afrodite pandêmia ou vulgar. Eis, Fedro», arrematou, «o elogio de Eros que me foi possível oferecer-te de improviso».

Havendo Pausânias pausado - como vedes, eu também aprendi com os sábios a brincar com as palavras disse Aristodemo que a vez

18 4 D

E

185A

B

105

Σ Υ Μ Χ Ι Ο Σ Ι Ο Ν

λέγειν, τυχεϊν 8ε αύτώ τινα ή ύπό πλησμονής ή ύπό τίνος άλλου λνγγα έπιπεπτωκυϊαν και ούχ οΐόν τε είναι λέγειν,

850 άλλ' είπεϊν αυτόν - εν τη κάτω γάρ αύτοϋ τον ιατρόν Έρυξί-μαχον κατακεισθαι - "Ώ Έρυξίμαχε, δίκαιος εί ή παϋσαί με τής λυγγός ή λέγειν υπέρ έμοϋ, έως αν έγώ παύσωμαι.” και τον Έρυξίμαχον είπεϊν “Άλλα ποιήσω άμψότερα ταϋτα- έγώ μέν γάρ έρώ έν τώ σώ μέρει, συ 8' έπειδάν παύση, έν τώ έμώ. έν ώ 8’ αν έγώ λέγω, έάν μέν σοι έθέλη απνευστί έχοντι πολύν χρόνον παύεσθαι ή λύγξ- εί 8έ μή, ϋδατι

ε άνακογχυλίασον. εί 8' άρα πάνυ ισχυρά έστιν, άναλαβώντι τοιοϋτον οϊω κνήσαις αν τήν ρϊνα, πτάρε- και έάν τοϋτο ποιήσης άπαξ ή δίς, και εί πάνυ ισχυρά έστι, παύσεται."

"Όύκ αν ψθάνοις λέγων," φάναι τον Αριστοφάνη■ "έγώ δε ταϋτα ποιήσω."

Είπεϊν δή τον Έρυξίμαχον, Δοκεϊ τοίνυν μοι άναγκαϊον είναι, έπειδή Παυσανίας όρμήσας έπι τον λόγον καλώς ούχ

8 6 α ίκανώς άπετέλεσε, δεϊν έμέ πειράσθαι τέλος έπιθεϊναι τώλόγω. το μέν γάρ διπλοϋν είναι τον ’Έρωτα δοκεϊ μοι καλώς διελέσθαι- ότι δε ού μόνον έστιν έπι ταϊς ψυχαϊς των ανθρώπων προς τούς καλούς άλλά καί προς άλλα πολλά καί έν τοϊς άλλοις, τοϊς τε σώμασι τών πάντων ζώων και τοϊς έν τη γη φυομένοις καί ώς έπος είπεϊν έν πάσι τοϊς οϋσι, καθεωρακέναι μοι δοκώ έκ τής ιατρικής, τής ήμετέρας

β τέχνης, ώς μέγας και θαυμαστός και έπι παν ό θεός τείνεικαι κατ' ανθρώπινα και κατά θεϊα πράγματα, άρξομαι δε άπό τής ιατρικής λέγων, ινα και πρεσβεύωμεν τήν τέχνην, ή γάρ φύσις τών σωμάτων τον διπλοϋν ’Έρωτα τούτον έχει- τό γάρ υγιές τοϋ σώματος και τό νοσούν όμολογουμένως έτερόν τε καί άνόμοιόν έστι, τό δε άνόμοιον άνομοίων έπι - θυμεϊ και έρά. άλλος μέν οΰν ό έπι τώ ύγιεινώ έρως, άλλος δε ό έπι τώ νοσώδει. έστιν δή, ώσπερ άρτι Παυσανίας έλεγεν τοϊς μέν άγαθοϊς καλόν χαρίζεσθαι τών άνθρώπων,

ι: τοϊς δ’ άκολάστοις αισχρόν, ουτω και έν αύτοϊς τοϊς σώμασιντοϊς μέν άγαθοϊς έκάστου τοϋ σώματος και ύγιεινοϊς καλόν

106

O B A N Q U E T E

era de Aristófanes; porém este, talvez por estar com o estômago muito cheio ou por qualquer outro motivo, foi acometido de soluço, o que o impedia de falar. Por isso, | voltando-se para o médico Erixí- maco, que se achava reclinado ao seu lado, lhe falou: «Erixímaco, é justo curares-me deste soluço ou então falares em meu lugar, até que ele passe».

Ao que Erixímaco respondeu: «Posso desincumbir-me das duas coisas: falar em teu lugar, para, depois de passado o soluço, falares no meu. Enquanto eu estiver com a palavra, se quiseres reter a respiração durante algum tempo, o soluço passará. Não melhorando com isso, gargareja um pouco d agua. j Se ainda assim persistir, toma de alguma coisa com que possas irritar o nariz para espirrar; repetindo a manobra umas duas vezes, por mais forte que seja, logo passará».

«Então, começa», teria dito Aristófanes, «pois vou fazer isso mesmo».

xii. Erixímaco falou o seguinte: « O que se me afigura necessário, já que Pausânias, apesar do ótimo começo, não concluiu bem o seu discurso, I é procurar dar-lhe o remate apropriado. Parece-me certa a distinção por ele feita entre as duas variedades de Eros; mas, o que se pode concluir, segundo penso, da medicina, nossa arte, é que a influência do amor não se faz sentir apenas na alma dos homens em suas relações com os belos mancebos, porém numa infinidade mais de coisas, nos corpos dos animais, em tudo o que nasce da terra e, por assim dizer, nos seres em universal, | tão grande e admirável é essa divindade que sobre tudo se impõe, assim na ordem das coisas humanas como na das divinas. Começarei pela medicina, em homenagem à minha arte. A natureza do corpo se acha submetida às duas variedades de Eros. Sabidamente, uma coisa é o estado de saúde e outra o de doença, distintos e diferentes, que desejam e amam coisas diferentes. Por conseguinte, o Eros dos indivíduos sãos difere do que impera nos achacados. Sendo belo, como acabou de asseverar Pausânias, entregar-se ao amigo honesto, ; e feio ao intemperante: da mesma forma, com relação ao corpo, é belo, e até

i 8s d

E

i 8 6 a

b

1 0 7

Σ Τ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

χαρίζεσθαι και δει, καί τοϋτό έστιν φ όνομα τό Ιατρικόν,

τοϊς δε κακοΐς και νοσώδεσιν αισχρόν τε και δει άχαριστειν,

εί μέλλει τις τεχνικός είναι, έστι γάρ Ιατρική, ώς έν

κεφαλαίω είπεϊν, επιστήμη των τοϋ σώματος έρωτικών προς

πλησμονήν και κένωσιν, και ό διαγιγνώσκων έν τούτοις τον

ι86ϋ καλόν τε και αισχρόν έρωτα, οΰτός έστιν ό ίατρικώτατος,

καί ό μεταβάλλειν ποιών, ώστε άντ'ι τοϋ ετέρου ’έρωτος τον

έτερον κτάσθαι, και οις μη ένεστιν έρως, δέί δ’ έγγενέσθαι,

έπιστάμενος έμποιήσαι και ένόντα έξελεϊν, αγαθός αν εΐη

δημιουργός, δει γάρ δη τά έχθιστα όντα έν τφ σώματι

φίλα οϊόν τ ’ είναι ποιεϊν και έράν άλλήλων. έστι δέ έχθιστα

τά έναντιώτατα, ψυχρόν θερμφ, πικρόν γλυκεϊ, ξηρόν ύγρφ,

ε πάντα τά τοιαϋτα■ τούτοις έπιστηθείς έρωτα έμποιήσαι και

ομόνοιαν ό ήμέτερος πρόγονος Ασκληπιός, ώς φασιν οϊδε οι

ποιητα'ι καί έγώ πείθομαι, συνέστησεν την ήμετέραν τέχνην,

ή τε οϋν ιατρική, ώσπερ λέγω, πάσα διά τοϋ θεοϋ τούτου

187Α κυβερνάται, ώσαύτως δέ καί γυμναστική και γεωργία■ μουσική

δέ καί παντ'ι κατάδηλος τφ καί σμικρόν προσέχοντι τον νοϋν

ότι κατά ταύτά έχει τούτοις, ώσπερ ίσως καί Ηράκλειτος

βούλεται λέγειν, έπε'ι τοϊς γε ρήμασιν ού καλώς λέγει, τό

έν γάρ φησι “διαφερόμενον αύτό αύτφ συμφέρεσθαι,"

"ώσπερ άρμονίαν τόξου τε και λύρας." έστι δέ πολλή

άλογία άρμονίαν φάναι διαφέρεσθαι ή έκ διαφερομένων έτι

είναι, άλλά ίσως τόδε έβούλετο λέγειν, ότι έκ διαφερομένων

β πρότερον τοϋ οξέος καί βαρέος, έπειτα ύστερον όμολογη-

σάντων γέγονεν ύπό τής μουσικής τέχνης, ού γάρ δήπου

έκ διαφερομένων γε έτι τοϋ οξέος καί βαρέος άρμονία αν

εΐη- ή γάρ άρμονία συμφωνία έστιν, συμφωνία δέ ομολογία

τις. ομολογίαν δέ έκ διαφερομένων, έως αν διαφέρωνται,

άδύνατον είναι■ διαφερόμενον δέ αΰ καί μή ομολογούν άδύ-

108

O B A N Q U E T E

necessário, favorecer o que nele for bom e saudável - a medicina consiste precisamente nisso - como é vergonhoso fazer a mesma coisa com o que for nocivo e doentio, o que deverá combater em todo ponto quem aspira a ser bom médico. De fato, a medicina, para defini-la em poucas palavras, é a ciência dos fenômenos amorosos do corpo com relação à repleção e à vacuidade, j sendo o médico mais hábil o que sabe distinguir nessas manifestações entre o bom e o mau amor. E quem consegue mudar as disposições do corpo, a ponto de substituir um amor por outro, fazendo nascer o amor que nele não existe mas deveria existir, ou extirpá-lo de onde se encontre, é profissional competente. Precisará conhecer o modo de restabe­lecer a amizade entre os elementos do corpo irreconciliáveis entre si. Os elementos reciprocamente inimigos são os contrários: calor e frio, amargo e doce, seco e úmido, e tudo o mais do mesmo gênero. Foi por saber insuflar amor e concórdia nesses elementos que o nosso antepassado Asclépio, no dizer dos poetas aqui presentes, do que também me declaro convencido, fundou nossa arte. A medicina é, pois, conforme disse, governada inteiramente por essa divindade. A mesma coisa, aliás, acontece com a ginástica e a agricultura. Quanto à música, não há quem não veja, por menos que se esforce nesse sentido, que está no mesmo caso. Talvez fosse isso que Heráclito quisesse dizer, conquanto não tivesse sido muito feliz no expressar o seu pensamento. O que ele afirma é que a unidade, opondo-se a si mesma, produz o acordo, tal como se dá com a harmonia do arco e da lira. Ora, o maior absurdo é dizer que a harmonia é discordância ou que provém de elementos que ainda se encontrem em estado de discordância. O que ele, talvez, quisesse significar é que a harmonia é formada de notas inicialmente discordantes, j agudas e graves, porém depois deixadas de acordo pela arte da música. Não se concebe que possa surgir harmonia de agudos e graves que continuem a opor-se. Quem diz harmonia, diz consonância, e consonância é uma espécie de acordo, não sendo possível haver combinação de opostos, enquanto se mantêm como tais. De jeito nenhum pode

i 8 6 d

e

1 8 7 A

1 0 9

Σ Τ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

νατον άρμόσαι, ώσπερ γε κα'ι ό ρυθμός έκ τοϋ ταχέος και l87c βραδέος, έκ διενηνεγμένων πρότερον, ύστερον δέ όμολογη-

σάντων γέγονε. την δε ομολογίαν πάσι τούτοις, ώσπερ έκεϊ ή ιατρική, ένταϋθα ή μουσική έντίθησιν, έρωτα και ομόνοιαν άλλήλων έμποιήσασα■ και έστιν αύ μουσική περ'ι αρμονίαν και ρυθμόν έρωτικών έπιστήμη. καί έν μέν γε αύτή τη συστάσει αρμονίας τε και ρυθμού ούδέν χαλεπόν τα έρωτικά διαγιγνώσκεις ούδέ ό διπλούς έρως ένταύθά πω έστιν■ άλλ’ έπειδάν δέη προς τούς ανθρώπους καταχρήσθαι

ϋ ρυθμώ τε και αρμονία ή ποιούντα, δ δή μελοποιίαν καλούσιν,ή χρώμενον όρθώς τοις πεποιημένοις μέλεσί τε και μέτροις, δ δή παιδεία έκλήθη, ένταϋθα δή και χαλεπόν καί άγαθοϋ δημιουργού δει. πάλιν γάρ ήκει ό αύτός λόγος, δτι τοϊς μέν κοσμίοις τών ανθρώπων, και ώς αν κοσμιώτεροι γίγνοιντο οί μήπω δντες, δει χαρίζεσθαι και φυλάττειν τον τούτων έρωτα, και ούτός έστιν ό καλός, ό ούράνιος, ό τής Ούρανίας

ε μούσης Έρως■ ό δέ Πολύμνιας ό πάνδημος, δν δει εύλαβού-μενον προσφέρειν οϊς αν προσφέρη, δπως αν την μέν ήδονήν αύτοϋ καρπώσηται, ακολασίαν δέ μηδεμίαν έμποιήση, ώσπερ έν τή ήμετέρα τέχνη μέγα έργον ταις περι την όψοποιικήν τέχνην έπιθνμίαις καλώς χρήσθαι, ώστ’ άνευ νόσου τήν ήδονήν καρπώσασθαι. καί έν μουσική δή καί έν ιατρική κα'ι έν τοϊς άλλοις πάσι κα'ι τοϊς άνθρωπείοις κα'ι τοϊς θείοις, καθ’ δσον παρείκει, φυλακτέον έκάτερον τον Έρωτα■ ένεστον

ι 8 8 α γάρ. έπε'ι κα'ι ή τών ώρών τοϋ ένιαυτοϋ σύστασις μεστήέστιν άμφοτέρων τούτων, κα'ι έπειδάν μέν προς άλληλα τοϋ κοσμίου τύχη έρωτος ά νυνδή έγώ έλεγον, τά τε θερμά και τά ψυχρά και ξηρά κα'ι ύγρά, και άρμονίαν και κράσιν λάβη σώψρονα, ήκει φέροντα εύετηρίαν τε και ύγίειαν άνθρώποις κα'ι τοϊς άλλοις ζώοις τε κα'ι ψυτοϊς, και ούδέν ήδίκησεν- δταν δέ ό μετά τής ύβρεως Έρως έγκρατέστερος περ'ι τάς τοϋ ένιαυτοϋ ώρας γένηται, διέψθειρέν τε πολλά κα'ι ήδίκησεν.

η οι τε γάρ λοιμο'ι ψιλοϋσι γίγνεσθαι έκ τών τοιούτων κα'ιάλλα ανόμοια πολλά νοσήματα κα'ι τοϊς θηρίοις και τοϊς ψυτοϊς· καί γάρ πάχναι καί χάλαζαι κα'ι έρυσϊβαι έκ

110

O B A N Q U E T E

haver harmonia de elementos opostos que não se combinem. A mesma coisa se dá com o ritmo, que provém do rápido e do lento, inicialmente opostos, mas que acabam por ficar de acordo. O que neste domínio promove o acordo entre os elementos é a música, como, no outro caso, a medicina, com estabelecer amor e concórdia entre eles, sendo legítimo definir a música como a ciência do amor relativamente à harmonia e ao ritmo, sem que nesse domínio impere a oposição a que nos referimos. Porém quando o ritmo e a harmonia têm de ser aplicados para uso dos homens, ou seja com invenções novas, j ao que se dá o nome de composição, ou pelo emprego acertado das melodias e dos metros já compostos, e nisso consiste a educação: eis o que é difícil e exige um artista verdadeiramente hábil. Mais uma vez viemos dar no princípio de que é necessário favorecer o amor dos indivíduos temperantes ou o dos que, não o sendo ainda, poderão tornar-se temperantes, e encorajá-los em tudo, por ser esse o amor belo, celeste, o amor da musa Urânia. I O outro, pelo contrário, de Polímnia, o amor popular ou pandêmio, deve ser exercido com moderação em cada caso particular, de forma que a colheita do prazer não descambe para a incontinência. O mesmo passa com nossa arte, por ser difícil gozar plenamente das vantagens da culinária sem vir a adoecer. É preciso, por conseguinte, assim na música como na medicina e em todas as coisas divinas, manter sob vigilância severa as duas modalidades de amor, pois ambas em tudo estão presentes,

xiii. Na constituição das estações anuais também abundam os dois princípios. Sempre que o amor equilibrado dirige os elementos contrários a que há pouco me referi: o quente e o frio, o seco e o úmido, e os mantém em harmonia e combinação favorável, enseja prosperidade e saúde aos homens, aos animais e às plantas, sem prejudicar o que quer que seja. Porém, quando é o amor desor­denado que prevalece nas estações, por tudo há prejuízo e estrago. De regra, as epidemias se originam desse fato, e muitas outras e variadas doenças dos animais e das plantas: as geadas, o granizo,

187c

D

E

1 8 8 A

111

Σ Τ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

πλεονεξίας και ακοσμίας περί άλληλα των τοιούτων γίγνεται ερωτικών, ών έπιστήμη περί άστρων τε φοράς και ένιαντών ώρας άστρονομία καλείται, έτι τοίνυν και αί θυσίαι πάσαι καί οϊς μαντική έπιστατεί - ταϋτα 8’ έστ'ιν ή περί θεούς τε

ι88ο και άνθρώπονς προς άλλήλους κοινωνία - ον περ'ι άλλο τίέστιν ή περ'ι "Ερωτος φυλακήν τε και ιασιν. πάσα γάρ άσέβεια φιλεί γίγνεσθαι έάν μή τις τώ κοσμίω Έρωτι χαρίζηται μη8ε τιμά τε αύτόν και πρεσβεύη εν παντ'ι έργω, άλλά τον έτερον, κα'ι περ'ι γονέας καί ζώντας κα'ι τετελευ- τηκότας και περ'ι θεούς■ ά 8ή προστέτακται τή μαντική έπισκοπείν τούς έρώντας και ίατρεύειν, κα'ι έστιν αύ ή

ϋ μαντική φιλίας θεών και άνθρώπων 8ημιουργός τώ έπί-στασθαι τά κατά ανθρώπους έρωτικά, όσα τείνει προς θέμιν κα'ι εύσέβειαν.

Όϋτω πολλήν κα'ι μεγάλην, μάλλον 8έ πάσαν 8ύναμιν έχει συλλήβ8ην μεν ό πάς ’Έρως, ό 8'ε περ'ι τάγαθά μετά σωφρο­σύνης κα'ι 8ικαιοσύνης άποτελούμενος και παρ’ ήμίν και παρά θεοΐς, οϋτος την μεγίστην 8ύναμιν έχει και πάσαν ήμίν εύδαιμονίαν παρασκευάζει κα'ι άλλήλοις 8υναμένους όμιλεϊν κα'ι φίλους είναι και τοΐς κρείττοσιν ήμών θεοίς. ’ίσως μεν

ε οϋν και έγώ τον ’Έρωτα έπαινών πολλά παραλείπω, ού μέντοιέκών γε. άλλ’ εϊ τι έξέλιπον, σόν έργον, ώ Άριστόφανες, άναπληρώσαι■ ή εϊ πως άλλως εν νω έχεις έγκωμιάζειν τον θεόν, έγκωμίαζε, έπει8ή και τής λυγγός πέπαυσαι.

189Α Έκ8εξάμενον οϋν έφη είπείν τον Αριστοφάνη ότι Καιμάλ’ έπαύσατο, ού μέντοι πριν γε τον πταρμόν προσενεχθήναι αύ τή, ώστε με θαυμάζειν εί τό κόσμιον του σώματος έπι- θυμεϊ τοιούτων ψόφων κα'ι γαργαλισμών, οΐον και ό πταρμός έστιν■ πάνυ γάρ εύθύς έπαύσατο, έπει8ή αύτώ τον πταρμόν προσήνεγκα.

Κα'ι τον Έρυξίμαχον, Ώγαθέ, φάναι, Άριστόφανες, όρα τί ποιείς, γελωτοποιείς μέλλων λέγειν, κα'ι φύλακά με τού

β λόγου αναγκάζεις γίγνεσθαι τού σεαυτοϋ, έάν τι γελοίονεϊπης, έξόν σοι έν ειρήνη λέγειν.

112

O B A N Q U E T E

a mangra, todas, todas provêm do excesso e da desordem que o amor introduz nos elementos. A ciência do domínio particular do movi­mento dos astros e das estações do ano é denominada astronomia. Ademais, os sacrifícios em geral e tudo o que a adivinhação abrange, precisamente o que põe os homens em j comunicação com os deuses, a outro fim não visa além da preservação do amor e de sua cura. A impiedade provém do fato de não cultuarmos o amor divino e não o reverenciarmos em todos os nossos atos, mas em preferirmos o outro, seja com relação aos parentes, vivos ou mortos, seja com os deuses, cabendo, por isso mesmo, aos adivinhos vigiar esses dois amores e curar o desordenado. A adivinhação é, ainda, \ fautriz de concórdia entre os deuses e os homens, graças ao conhecimento do que nos amores humanos tende à reverência dos deuses e à piedade. Tal é a múltipla, a imensa, direi melhor, a onipotente força do Amor em universal. Porém, é quando se manisfesta com moderação e justiça em boas obras, tanto entre os homens como entre os deuses, que Eros se revela mais poderoso e nos apresta toda sorte de bens, permitindo-nos viver em sociedade e ser amigos dos próprios deuses, tão superiores a nós. É possível1 que neste elogio de Eros eu também tivesse omitido muita coisa; porém, não terá sido intensional. Se houver alguma falha, a ti, Aristófanes, é que compete corrigi-la. No caso, porém, de quereres exalçar a divindade por maneira dife­rente, podes fazê-lo, pois já te livraste do soluço».

Aristodemo, então, me disse que Aristófanes se expressara da seguinte maneira: «Sim, passou de todo, porém não antes de aplicar-lhe o tratamento do espirro. É, realmente, de admirar que para seu bom funcionamento necessite o corpo de ruídos e estímulos como o espirro. O soluço passou desde o instante em que lhe apliquei o espirro».

A isso Erixímaco replicou: «Amigo Aristófanes, vê bem o que fazes. Disposto, como te achas, a gracejar desde o começo, obrigas-me a vigiar o teu discurso, para o caso de soltares alguma graçola, quando podias muito bem manter-te sério».

188c

D

E

1 8 9 A

113

Σ Ύ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

Καί τον Αριστοφάνη γελάσαντα είπεΐν Ευ λέγεις, ώ Έρυζίμαχε, καί μοι έστω άρρητα τα είρημένα. άλλα μη με φύλαττε, ώς έγώ φοβούμαι περ'ι των μελλόντων ρηθήσεσθαι, οϋ τι μη γελοία εϊπω - τούτο μεν γάρ αν κέρδος εϊη και τής ήμετέρας μούσης έπιχώριον - άλλα μή καταγέλαστα.

Βαλών γε, φάναι, ώ Άριστόφανες, οϊει έκφεύξεσθαι- άλλα πρόσεχε τον νοϋν και οϋτως λέγε ώς δώσων λόγον.

89c ϊσως μέντοι, αν δόζη μοι, άφήσω σε.Και μήν, ώ Έρυξίμαχε, είπεΐν τον Αριστοφάνη, άλλη

γέ πη έν νώ έχω λέγειν ή ή σύ τε και Παυσανίας είπέτην. έμοί γάρ δοκούσιν άνθρωποι παντάπασι τήν τού έρωτος δύναμιν ούκ ήσθήσθαι, έπε'ι αισθανόμενοι γε μέγιστ’ άν αύτοϋ ιερά κατασκευάσαι καί βωμούς, και θυσίας άν ποιεΐν μεγίστας, ούχ ώσπερ νύν τούτων ούδέν γίγνεται περ'ι αύτόν,

δέον πάντων μάλιστα γίγνεσθαι, έστι γάρ θεών φιλαν- d θρωπότατος, έπίκουρός τε ών των ανθρώπων και ιατρός

τούτων ών ίαθέντων μεγίστη εύδαιμονία άν τώ άνθρωπείω γένει εϊη. έγώ οϋν πειράσομαι ύμϊν είσηγήσασθαι τήν δύναμιν αύτοϋ, ύμεϊς δε τών αΧλων διδάσκαλοι έσεσθε. δει δε πρώτον ύμάς μαθεΐν τήν άνθρωπίνην φύσιν και τά παθήματα αύτής. ή γάρ πάλαι ήμών φύσις ούχ αύτή ήν ήπερ νϋν, άλλ’ άλλοία. πρώτον μέν γάρ τρία ήν τα γένη τά τών άνθρώπων, ούχ ώσπερ νϋν δύο, αρρεν και θήλυ,

ε άλλά καί τρίτον προσήν κοινόν ον άμφοτέρων τούτων, οϋνϋν όνομα λοιπόν, αύ το δε ήφάνισται- άνδρόγυνον γάρ εν τότε μέν ήν και είδος και όνομα έξ άμφοτέρων κοινόν τοϋ τε άρρενος και θήλεος, νϋν δε ούκ έστιν άλΧ ή έν όνείδει όνομα κείμενον, έπειτα όλον ήν έκάστου τοϋ ανθρώπου το είδος στρογγύλον, νώτον καί πλευράς κύκλω έχον, χεϊρας δέ τέτταρας είχε, καί σκέλη τά ϊσα ταϊς χερσίν, καί πρόσωπα

9οα δύ’ έπ’ αύχένι κυκλοτερεΐ, όμοια πάντη- κεφαλήν δ’ έπάμφοτέροις τοϊς προσώποις έναντίοις κειμένοις μίαν, καί ώτα τέτταρα, καί αιδοία δύο, καί ταλλα πάντα ώς άπό τούτων άν τις είκάσειεν. έπορεύετο δέ καί όρθόν ώσπερ νύν, όποτέρωσε βουληθείη- καί όπότε ταχύ όρμήσειεν θεΐν,

114

O B A N Q U E T E

Pondo-se a rir, falou Aristófanes: «Tens razão, Erixímaco; fica o dito por não dito. Porém, não precisas vigiar-me; o que me preocupa não é fazer graça - o que só seria de vantagem e muito de acordo com a nossa Musa - , porém tornar-me ridículo com o que disser».

«Depois de me lançares o teu dardo», disse o outro, «imaginas, Aris­tófanes, que podes escapar? Toma cuidado e fala como quem terá de prestar contas, j Aliás, com isso não quero dizer que não admito a hipótese de vir a conceder-te liberdade».

xiv. «De fato, Erixímaco», respondeu Aristófanes, «tenciono fazer um discurso diferente do teu e do de Pausânias. No meu modo de pensar, os homens absolutamente não fazem ideia do poder de Eros; porque se fizessem, construiriam em seu louvor templos magníficos e lhe ofereceriam solenes sacrifícios, diferentemente do que se passa hoje, em que nenhum culto lhe é dedicado, quando importava, antes de mais nada, venerá-lo. Com efeito: dos deuses é o mais amigo dos homens, | protetor de todos e médico para males cuja cura defini­tiva redundaria em ventura indizível para o gênero humano. Assim, vou tentar explicar-vos o seu poder, para que possais transmitir a outros esses ensinamentos. Porém, primeiro precisareis conhecer a natureza humana e as modificações por que passou. Antigamente, nossa natureza não era como a de agora, mas muito diferente. Para começar, havia três sexos, e não dois apenas, como hoje: masculino e feminino. | Além desses, havia um terceiro, formado dos outros dois; o nome ainda subsiste, porém o sexo desapareceu. Em verdade, era o sexo andrógino, com a forma e o nome dos outros dois sexos, masculino e feminino. Porém, só o nome chegou até nós, bastante desmoralizado. Além do mais, no todo os homens eram redondos, com o dorso e os flancos como uma bola. Possuíam quatro mãos, igual número de pernas, dois rostos perfeitamente iguais j num só pescoço bem torneado, e uma única cabeça com os rostos dispostos em sentido contrário, quatro orelhas, dois órgãos genitais e tudo o mais pelo mesmo modo, como será fácil imaginar. Andavam de pé, como hoje, para qualquer lado; porém, se se dispunham a correr

189c

D

E

1 9 0 A

1 IS

Σ Τ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

ώσπερ οι κνβιστώντες καί εις ορθόν τά σκέλη περιφερό­

μενοι κυβιστώσι κύκλω, όκτώ τότε οΰσι τοϊς μέλεσιν

άπερει8όμενοι ταχύ έφέροντο κύκλω, ήν δε διά ταϋτα τρία

190Β τά γένη καί τοιαύτα, ότι τό μεν άρρεν ήν τού ήλιον τήν

άρχήν έκγονον, τό δε θήλυ τής γης, τό δε άμφοτέρων μετέχον

τής σελήνης, ότι και ή σελήνη άμφοτέρων μετέχει■ περιφερή

δε δή ήν και αύτά και ή πορεία αύτών διά τό τοϊς γονεϋσιν

όμοια είναι, ήν οϋν τήν ίσχύν δεινά καί τήν ρώμην, και

τά φρονήματα μεγάλα ειχον, έπεχείρησαν δε τοϊς θεοϊς,

και ο λέγει Όμηρος περ'ι ’Εφιάλτου τε και ’Ώτου, περί

έκείνων λέγεται, τό εις τον ούρανόν άνάβασιν έπιχειρεϊν

ο ποιεϊν, ώς έπιθησομένων τοις θεοις. ό οϋν Ζευς καί οι

άλλοι θεοί έβουλεύοντο ότι χρή αύτούς ποιήσαι, και ήπό-

ρουν■ οϋτε γάρ όπως άποκτείναιεν εΐχον και ώσπερ τούς

γίγαντας κεραυνώσαντες τό γένος άφανίσαιεν - αί τιμα'ι

γάρ αύτοις και ιερά τά παρά τών άνθρώπων ήφανίζετο -

ούτε όπως έώεν άσελγαίνειν. μόγις δή ό Ζεύς έννοήσας

λέγει ότι "Δοκώ μοι," έφη, "έχειν μηχανήν, ώς άν εϊέν

τε άνθρωποι καί παύσαιντο τής άκολασίας άσθενέστεροι

ό γενόμενοι. νϋν μεν γάρ αύτούς, έφη, διατεμώ δίχα έκαστον,

καί άμα μεν άσθενέστεροι εσονται, άμα δε χρησιμώτεροι

ήμϊν διά τό πλείους τον άριθμόν γεγονέναι■ καί βαδιοϋνται

ορθοί έπί δνοϊν σκελοϊν. έάν δ’ ετι δοκώσιν άσελγαίνειν

καί μή ‘θέλωσιν ήσυχίαν άγειν, πάλιν αύ, έφη, τεμώ δίχα,

ώστ’ έφ’ ενός πορεύσονται σκέλους άσκωλιάζοντες.” ταϋτα

είπών έτεμνε τούς άνθρώπους δίχα, ώσπερ οι τά όα [τέμ-

ε νοντες καί] μέλλοντες ταριχεύειν, [ή ώσπερ οι τά ώά ταϊς

θριξίν]· όντινα δε τέμοι, τον Άπόλλω έκέλενεν τό τε

πρόσωπον μεταστρέφειν καί τό τοϋ αύχένος ήμισν προς

τήν τομήν, ϊνα θεώμενος τήν αύτοϋ τμήσιν κοσμιώτερος

έίη ό άνθρωπος, καί τάλλα ίάσθαι έκέλενεν. ό δέ τό τε

116

O B A N Q U E T E

velozmente, faziam como os saltimbancos, que viram em círculo e jogam as pernas para o ar, até completar a volta; e como nesse tempo tinham oito membros para apoiar-se, deslocavam-se com rapidez incrível. Esses três sexos eram assim constituídos | porque o sexo masculino se originou do sol, o feminino da terra, provindo da lua o sexo misto, já que a lua participa tanto do sol como da terra. Tinham a forma esférica e se locomoviam em círculo por se parecerem com os progenitores. Eram de força e vigor extraordinários, e por serem dotados de coragem sem par, atacaram os próprios deuses. O que Homero conta de Efialto e Ossa, refere-se a eles, por haverem tentado escalar os céus para combater os deuses.

xv. Então Zeus deliberou com as demais divindades sobre o que era preciso fazer com eles, porém não chegaram a nenhuma conclusão. Realmente, nem era aconselhável matá-los ou fulminá-los, como haviam feito com os gigantes, destruindo, desse modo, toda a espécie, pois tal medida implicava o desaparecimento do culto e dos sacrifí­cios prestados pelos homens, nem deixar, ainda, que prosseguissem com tamanha insolência. Depois de muito refletir, falou Zeus deste modo: “Penso ter encontrado um meio”, declarou, “de conservar os homens e pôr cobro a essa indisciplina: bastará enfraquecê-los. Agora mesmo vou dividi-los pelo meio, pois desse modo não somente ficarão mais fracos, como nos serão também de maior utilidade, pelo fato de aumentarem de número. Passarão a andar com dois pés, em posição erecta. Porém, se vir que não abatem a arrogância nem ficam quietos, voltarei a cortá-los em dois, passando eles a andar aos pulinhos, só numa perna”.

Assim dizendo, partiu os homens pelo meio, como fazemos com as sorvas, quando as pomos a secar, i ou como cortamos ovos com o auxílio de um cabelo. À medida que os ia dividindo, mandava que Apoio lhes virasse o rosto e metade do pescoço para o lado do corte: ao perceber a incisão que lhe fora feita, o homem saberia moderar-se. Ordenou-lhe, também, que curasse tudo o mais. Então, Apoio mudou o lugar do rosto, e puxando dos lados a pele para a

1 9 0 B

c

D

117

Σ Τ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

πρόσωπον μετέστρεφε, και συνέλκων πανταχόθεν το δέρμα

έπ'ι την γαστέρα νυν καλουμένην, ώσπερ τα σύσπαστα

βαλλάντια, εν στόμα ποιών άπέδει κατά μέσην τήν γαστέρα,

δ δη τον όμφαλόν καλοϋσι. και τάς μεν άλλας ρυτίδας

ι9ια τάς πολλάς έζελέαινε και τά στήθη διήρθρου, έχων τι

τοιοϋτον οργανον οϊον οι σκυτοτόμοι περ'ι τον καλάποδα

λεαίνοντες τάς τών σκυτών ρυτίδας· όλίγας δε κατέλιπε,

τάς περ'ι αυτήν τήν γαστέρα και τον όμφαλόν, μνημέίον

είναι τού παλαιού πάθους, έπειδή οϋν ή φύσις δίχα

έτμήθη, ποθούν έκαστον τό ήμισυ τό αυτού συνήει, κα'ι

περιβάλλον τες τάς χεϊρας και συμπλεκόμενοι άλλήλοις,

έπιθυμούντες συμφύναι, άπέθνησκον ύπό λιμού κα'ι τής

β άλλης αργίας διά τό μηδέν έθέλειν χωρίς άλλήλων ποιεϊν.

κα'ι οπότε τι άποθάνοι τών ήμίσεων, τό δε λειφθείη, τό

λειφθέν άλλο έζήτει κα'ι συνεπλέκετο, είτε γυναικός τής

όλης έντύχοι ήμίσει - δ δή νϋν γυναίκα καλούμεν - είτε

άνδρός- κα'ι οϋτως άπώλλυντο. έλεήσας δέ ό Ζευς άλλην

μηχανήν πορίζεται, κα'ι μετατίθησιν αύτών τά αιδοία εις

τό πρόσθεν - τέως γάρ κα'ι ταύτα έκτος εϊχον, και έγέννων

ο κα'ι έτικτον ούκ εις άλλήλους άλλ' εις γην, ώσπερ οι τέτ-

τιγες - μετέθηκέ τε οϋν οϋτω αύ τών εις τό πρόσθεν κα'ι

διά τούτων τήν γένεσιν έν άλλήλοις έποίησεν, διά τού

άρρενος έν τώ θήλει, τώνδε ένεκα, ϊνα έν τή συμπλοκή

άμα μεν εί άνήρ γυναικ'ι έντύχοι, γεννώεν και γίγνοιτο τό

γένος, άμα δ’ εί κα'ι άρρην άρρενι, πλησμονή γούν γίγνοιτο

τής συνουσίας κα'ι διαπαύοιντο κα'ι έπ'ι τά έργα τρέποιντο

και τού άλλου βίου έπιμελοϊντο. έστι δή οϋν έκ τόσου

η ό έρως έμφυτος άλλήλων τοις άνθρώποις και τής αρχαίας

φύσεως συναγωγεύς και έπιχειρών ποιήσαι έν έκ δυοίν και

ίάσασθαι τήν φύσιν τήν άνθρωπίνην. έκαστος οϋν ήμών

έστιν άνθρώπου σύμβολον, άτε τετμημένος ώσπερ αί ψήτται,

έ\ ένός δύο■ ζητεί δή άεΐ τό αϋτοϋ έκαστος σύμβολον.

118

O B A N Q U E T E

região que ora denominamos ventre, amarrou-a, tal como fazemos com as bolsas de cordão, deixando apenas um orifício na porção mediana do ventre, a que damos o nome de umbigo. De seguida, alisou | as pregas e ajeitou o peito, valendo-se de um instrumento 1 9 1 A

como o que os sapateiros usam para desfazer na forma as pregas do couro. Porém ainda deixou algumas no próprio ventre, em torno do umbigo, como lembrança, para os homens, do que haviam padecido. Seccionados, desse modo, os corpos, cada metade sentiu saudades da outra, e procurando ambas a sua parte, estendiam reciprocamente os braços, estreitavam-se, no anelo de se fundirem num só corpo, do que resultou morrerem de fome e inanição, | pelo fato de nenhuma parte b

querer fazer nada separada da outra. Quando uma das metades vinha a falecer, sobrevivendo a outra, esta procurava nova companheira e se abraçava com ela, quer se tratasse do que antes fora um ser completo do sexo feminino, a que hoje damos o nome de mulher, quer da metade de um homem. E assim desaparecia a raça. Condoendo-se Zeus, excogitou outro estratagema e passou para a frente deles os órgãos genitais. Até então estes se encontravam nas costas, | não se c processando èntre uns e outros a concepção e a geração, porém na terra, como se dá com as cigarras. Passou, portanto, para a frente de todos, os órgãos reprodutores, com o que forçou os homens a procriarem uns nos outros, dando-se a geração no órgão feminino por meio do masculino, com a dupla finalidade: se o amplexo ocorria entre homem e mulher, havia geração e propagação da espécie; porém se se dava entre dois seres do sexo masculino, a saciedade os separava por algum tempo, ficando ambos em condições de voltar para suas atividades habituais e de prover às necessidades da vida.Desde então j é inato nos homens o amor de uns para os outros, o d

amor que restabelece nossa primitiva natureza e que, no empenho de formar de dois seres um único, sana a natureza humana,

xvi. Cada um de nós, por conseguinte, só é homem pela metade, mero símbolo, por ter sido cortado ao meio, como fazemos com os peixi­nhos denominados solhos. De um passaram a ser dois, do que resulta

119

Σ Τ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

192.Α

Β

Ο

όσοι μεν οΰν των άνδρών τοϋ κοινού τμήμά είσιν, ό δή τότε άνδρόγννον έκαλειτο, φίλογύναικές τέ είσι και οί πολλοί των μοιχών έκ τούτου τοϋ γένους γεγόνασιν, και δσαι αϋ γυναίκες φίλανδροί τε και μοιχεύτριαι έκ τούτου τοϋ γένους γίγνονται. δσαι δέ των γυναικών γυναικός τμήμά είσιν, ού πάνυ αύται τοις άνδράσι τον νοϋν προσ- έχουσιν, αλλά μάλλον προς τάς γυναίκας τετραμμέναι είσί, και αί εταιρίστριαι έκ τούτου τοϋ γένους γίγνονται. όσοι δέ άρρενος τμήμά είσιι, τά άρρενα διώκουσι, καί τέως μεν άν παϊδες ώσιν, άτε τεμάχια όντα τοϋ άρρενος, φιλοϋσι τούς άνδρας και χαίρουσι συγκατακείμενοι και συμπεπλε- γμένοι τοις άνδράσι, καί είσιν ούτοι βέλτιστοι τών παίδων καί μειράκιωνάτε άνδρειότατοι όντες φύσει, φασ'ι δέ δή τινες αύτούς άναισχύντους είναι, ψευδόμενοι- ού γάρ ύπ’ αναισχυντίας τοϋτο δρώσιν άλλ’ ύπό θάρρους και άνδρείας και άρρενωπίας, τό όμοιον αύτοϊς άσπαζόμενοι. μέγα δέ τεκμήριον■ και γάρ τελεωθέντες μόνοι άποβαίνουσιν εις τά πολιτικά άνδρες οί τοιοϋτοι. έπειδάν δέ άνδρωθώσι, παιδεραστοϋσι και προς γάμους καί παιδοποιίας ού προσ- έχουσι τον νοϋν φύσει, άλΧ ύπό τοϋ νόμου άναγκάζονται- άλλ’ έζαρκεϊ αύτοϊς μετ’ άλλήλων καταζήν άγάμοις. πάντως μεν οΰν ό τοιοϋτος παιδεραστής τε καί φίλεραστής γίγνεται, άεί τό συγγενές άσπαζόμενος. όταν μεν οΰν καί αύτώ έκείνω έντύχη τώ αύτοϋ ήμίσει καί ό παιδεραστής καί άλλος πάς, τότε καί θαυμαστά έκπλήττονται φιλία τε καί οίκειότητι καί έρωτι, ούκ έθέλοντες ώς έπος είπειν χωρί- ζεσθαι άλλήλων ούδέ σμικρόν χρόνον, καί οί διατελοϋντες μετ’ άλλήλων διά βίου ούτοί είσιν, οϊ ούδ’ άν έχοιεν είπεϊν ότι βούλονται σφίσι παρ' άλλήλων γίγνεσθαι, ούδενί γάρ άν δόζειεν τοϋτ’ είναι ή τών άφροδισίων συνουσία, ώς άρα τούτου ένεκα έτερος έτέρω χαίρει συνών οϋτως έπί μεγάλης σπουδής■ άλλ’ άλλο τι βουλομένη έκατέρου ή ψυχή δήλη έστίν, δ ού δύναται είπεϊν, άλλά μαντεύεται δ βού­λεται, καί αίνίττεται. καί εί αύτοϊς έν τώ αύτώ κατακει- μένοις έπιστάς ό "Ηφαιστος, έχων τά όργανα, έροιτο■ “Τι

120

O B A N Q U E T E

viverem todos a procurar sua metade complementar. Os indivíduos provindos do corte daquele ser misto que denominamos andrógino são mulherengos, sendo desse gênero que sai a maior parte dos adúlteros, | como também saem deles as mulheres que se apaixonam e

por homens e as mulheres adúlteras. Já as mulheres que são cortes do ser feminino primitivo não se preocupam absolutamente com homens e preferem outras mulheres; desse gênero originam-se as tríbades. Os que são cortes de seres masculinos procuram indiví­duos do mesmo sexo, e, quando crianças, precisamente por serem fragmentos de homem, afeiçoam-se a estes e se comprazem em deitar-se juntamente com eles e em abraçá-los. j Desse tipo saem 19 2aos melhores meninos e adolescentes, em virtude do seu natural, eminentemente viril. Há quem os acoime de despudorados, porém sem razão. Não é por falta de vergonha que assim procedem; por serem resolutos, corajosos e viris é que procuram ligar-se aos que se lhes assemelham. E a melhor prova, encontramo-la no fato de que são esses, exclusivamente, depois de homens feitos, que se ocupam com os negócios públicos. Quando adultos, afeiçoam-se aos jovens, b

sem revelarem inclinação natural para o casamento e a procriação de filhos, que só aceitam como imposição legal; contentar-se-iam com passar juntos toda a vida, sempre celibatários. De qualquer modo, esses indivíduos terão de ser amantes ou amados de outros homens, por sempre se associarem aos seus semelhantes. Quando acontece encontrar alguém a sua metade verdadeira, de um ou de outro sexo, ficam ambos tomados de um sentimento maravilhoso de confiança, | intimidade e amor, sem que se decidam a separar-se, c por assim dizer, um só momento. Essas pessoas, que passam juntas a vida, são, precisamente, as que não sabem dizer o que uma espera da outra. Apenas poderia ser o prazer dos sentidos que leva cada um a procurar a companhia do outro. E evidente que a alma de ambos deseja algo que ela própria não sabe definir, mas adivinha ou sugere d

vagamente. E, se, porventura, se aproximasse deles Hefesto com seus instrumentos, quando estivessem dormindo no mesmo leito, e lhes

121

Σ Τ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

εσθ’ ό βούλεσθε, ώ άνθρωποι, ύμϊν παρ' άλλήλων γενέ­

σ θ α ι κ α ι εί άποροϋντας αυτούς πάλιν εροιτο■ “Άρά γε

τοϋδε έπιθυμεϊτε, εν τω αύτώ γενέσθαι δτι μάλιστα άλλή-

λοις, ώστε καί νύκτα και ήμέραν μή άπολείπεσθαι άλλή­

λων; εί γάρ τούτου έπιθυμεϊτε, θέλω ύμάς συντήξαι και

ε συμφυσήσαι εις τό αύτό, ώστε 8υ όντας ένα γεγονέναι

και έως τ ’ άν ζήτε, ώς ένα όντα, κοινή άμφοτέρους ζην,

και έπειδάν άποθάνητε, έκεϊ αύ έν Άιδου άντί δυοϊν ένα

είναι κοινή τεθνεώτε- άλλ’ όράτε εί τούτου έράτε και

έζαρκεϊ ύμϊν αν τούτου τύχητε·” ταϋτ’ άκούσας ϊσμεν ότι

ούδ’ αν εις έξαρνηθείη ού8’ άλλο τι άν φανείη βουλόμενος,

άλλ’ άτεχνώς οϊοιτ’ άν άκηκοέναι τούτο ό πάλαι άρα έπε-

θύμει, συνελθών καί συντακείς τω έρωμένω έκ δυοϊν εις

γενέσθαι. τούτο γάρ έστι τό αίτιον, ότι ή άρχαία φύσις

ήμών ήν αϋτη καί ήμεν όλοι· τού όλου οΰν τη έπιθυμία

ΐ93Α καί διώξει έρως όνομα, καί προ τού, ώσπερ λέγω, εν

ήμεν, νυνί 8έ διά τήν άδικίαν διωκίσθημεν ύπό τού θεού,

καθάπερ Αρκάδες ύπό Λακεδαιμονίων■ φόβος οΰν έστιν,

έάν μή κόσμιοι ώμεν προς τούς θεούς, όπως μή καί αϋθις

διασχισθησόμεθα, καί περίιμεν έχοντες ώσπερ οί έν ταϊς

στήλαις καταγραφήν έκτετυπωμένοι, διαπεπρισμένοι κατά

τάς ρϊνας, γεγονότες ώσπερ λίσπαι. άλλα τούτων ένεκα

πάντ' άνδρα χρή άπαντα παρακελεύεσθαι εύσεβεϊν περί

β θεούς, ϊνα τά μεν έκφύγωμεν, τών δέ τύχωμεν, ώς ό Έρως

ήμϊν ήγεμών καί στρατηγός, φ μη δεις εναντία πραττέτω -

πράττει δ’ εναντία όστις θεοϊς άπεχθάνεται - φίλοι γάρ

γενόμενοι καί διαλλαγέντες τω θεώ έξευρήσομέν τε καί

έντευξόμεθα τοις παιδικοϊς τοϊς ήμετέροις αύ τών, ό τών νϋν

ολίγοι ποιούσι. καί μή μοι ύπολάβη Έρυζίμαχος, κωμωδών

τόν λόγον, ώς Παυσανίαν καί Άγάθωνα λέγω - ϊσως μεν

γάρ καί ούτοι τούτων τυγχάνουσιν όντες καί είσιν άμφότεροι

122

O B A N Q U E T E

perguntasse: “Homens, que é o que cada um de vós deseja do outro?”E percebendo o enleamento dos dois, voltasse a interrogá-los: “O que quereis não será, porventura, unir-vos o mais intimamente possível, sem vos separardes nem de dia nem de noite? Se é isso o que almejais, vou derreter-vos | e insuflar em ambos um sopro único, de forma e

que de dois passeis a ser um só, para que enquanto viverdes possais estar sempre juntos como se fôsseis apenas um, e, depois de mortos, no Hades, não sejais dois, porém um morto apenas, por haverdes tido morte comum. Vede bem se é isso mesmo o que desejais e se ficais satisfeitos com semelhante sorte”. Se ouvissem tal proposta, estamos certos de que nenhum diria não, nem declararia desejar outra coisa, mas com a maior boa fé julgaria ter ouvido o que de muito ambicionava: unir-se ao objeto amado e com ele fundir-se, para formarem um único ser, em vez de dois. E a razão disso é que primitivamente era assim nossa natureza, e nós formávamos um todo homogêneo. A saudade desse todo e o empenho de restabelecê-lo é o que denominamos amor. j Antes, conforme disse, éramos um; 1 9 3 A

porém, agora, por motivo de nossa injustiça, fomos separados pela divindade como os árcades o foram pelos lacedemônios. Remanesce o perigo, se não nos mostrarmos reverentes aos deuses, de sermos outra vez cortados pelo meio e de termos de andar como as figuras de perfil talhadas nas esteias, com o nariz serrado em dois, ou como as duas metades dos ossinhos de jogar, que são guardadas como lembrança. Por isso mesmo, devemos exortar-nos uns aos outros para sermos piedosos, | a fim de evitarmos aquele inconveniente b

e alcançarmos os bens que Eros nos promete, nosso guia e nosso chefe. Ninguém se oponha a Eros, pois trabalha contra ele quem se torna odiado dos deuses; se ficarmos amigos dessa divindade e obtivermos sua graça, descobriremos e alcançaremos os jovens que verdadeiramente nos pertencem, o que hoje é privilégio de poucos.Mas não venha Erixímaco, por brincadeira, torcer o sentido das minhas palavras, como se eu me referisse a Pausânias e Agatão. É possível | que eles façam parte desse número e que sejam de natureza c

1 2 3

Σ Τ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

1930

Ε

194Α

την φύσιν άρρενες - λέγω 8έ οΰν έγωγε καθ' άπάντων και

άνδρών και γυναικών\ ότι ούτως αν ημών το γένος εϋδαιμον

γένοιτο, εί έκτελέσαιμεν τον έρωτα και τών παιδικών τών

αυτού έκαστος τύχοι εις την άρχαίαν άπελθών φύσιν. εί δέ τούτο αριστόν, άναγκαϊον και τών νϋν παρόντων τό

τούτου έγγυτάτω άριστον είναι■ τούτο δ' έστι παιδικών τυχεϊν

κατά νοΰν αύτώ πεφυκότων- οΰ δη τον αίτιον θεόν ύμνούντες

δικαίως άν ύμνοϊμεν Έρωτα, ός έν τε τώ παρόντι ημάς

πλεϊστα όνίνησιν εις τό οίκεϊον άγων, και εις τό έπειτα

έλπίδας μεγίστας παρέχεται, ημών παρεχομένων προς θεούς

ευσέβειαν, καταστήσας ημάς εις την άρχαίαν φύσιν και ίασάμενος μακαρίους και εύδαίμονας ποιήσαι.

Οΰτος, έφη, ώ Έρυζίμαχε, ό έμός λόγος έστι περί Έρωτος, άλλοϊος ή ό σός. ώσπερ οΰν έδεήθην σου, μη

κωμωδήσης αύτόν, ΐνα καί τών λοιπών άκούσωμεν τί έκαστος

έρέί, μάλλον δέ τί έκάτερος- Άγάθων γάρ και Σωκράτης λοιποί.

Άλλά πείσομαί σοι, έφη φάναι τον Έρυξίμαχον■ και γάρ μοι ό λόγος ήδέως έρρήθη. και εί μη συνήδη Σω-

κράτει τε καί Άγάθωνι δεινοΐς ούσι περί τά ερωτικά, πάνυ

άν έφοβούμην μη άπορήσωσι λόγων διά τό πολλά και παντοδαπά είρήσθαι■ νϋν δέ όμως θαρρώ.

Τον οΰν Σωκράτη είπεϊν Καλώς γάρ αύτός ήγώνισαι, ώ Έρυξίμαχε- εί δέ γένοιο οΰ νϋν έγώ είμι, μάλλον δέ

ίσως οΰ έσομαι έπειδάν καί Άγάθων εί'πη, εΰ καί μάλ' άν

φοβοιο καί έν παντί εϊης ώσπερ έγώ νϋν.Φαρμάττειν βούλει με, ώ Σώκρατες, είπειν τον Άγάθωνα,

ϊνα θορυβηθώ διά τό οϊεσθαι τό θέατρον προσδοκίαν μεγάλην έχειν ώς εΰ έροϋντος έμοϋ.

Έπιλήσμων μεντάν εϊην, ώ Άγάθων, είπεϊν τον Σω ­κράτη, εί ίδών την σήν άνδρείαν καί μεγαλοφροσύνην

άναβαίνοντος έπί τον όκρίβαντα μετά τών ύποκριτών, καί βλέψαντος έναντία τοσούτω θεάτρω, μέλλοντος έπιδείξεσθαι

124

O B A N Q U E T E

masculina. Falo em tese, tanto do homem como da mulher, para afirmar que nossa espécie só poderá ser feliz quando realizarmos plenamente a finalidade do amor e cada um de nós encontrar o seu verdadeiro amado, retornando, assim, à sua primitiva natureza. Se isso for o que há de melhor, forçosamente, nas presentes circuns­tâncias o melhor, para cada um, será o que mais aproximar-se desse desiderato, a saber: encontrar o amigo cuja natureza corresponda a suas aspirações. Se quisermos celebrar a divindade a quem devemos tão grande benefício, j teremos, com justiça, de fazer o elogio de Eros, que nos concede no presente o maior bem, com reconduzir-nos ao que nos é próprio e nos dá a doce esperança de, para o futuro, nos mostrarmos reverentes aos deuses, restabelecer nossa primitiva natureza, curar-nos e deixar-nos felizes e bem-aventurados.

xvn . Eis aí, Erixímaco, meu discurso sobre o Amor; é muito dife­rente do teu. Como te pedi, não o ridicularizes; agora vamos ouvir os outros, ! ou melhor, os dois que ainda não falaram: Agatão e Sócrates».

«Obedeço-te», teria dito Erixímaco, conforme relatou Aristodemo, «pois, em verdade, o teu discurso me agradou bastante; e se eu não soubesse que Sócrates e Agatão são fortes em matéria de amor, teria medo de nada poderem dizer, depois de tantas e tão variadas peças oratórias».

Sócrates, então, falou: «Defendeste galhardamente o teu posto, Erixí­maco; mas, se te encontrasses no meu lugar, ou melhor, onde vou ficar depois de Agatão pronunciar seu belo discurso, haverias de tremer, e muito, e te verias no mesmo apuro em que estou agora».

«Pretendes enfeitiçar-me, Sócrates», falou Agatão, «para perturbar-me com a ideia de que entre os assistentes é grande a expectativa das belas coisas que estou no ponto de formular».

«Precisava que eu fosse muito esquecido, Agatão», teria dito Sócrates, «se depois de ver a coragem e a sobranceria com que subiste para o palco acompanhado dos atores, e de como enfrentaste, sem a menor comoção, aquele mundo de espectadores, quando ias representar

i93D

E

19 4 A

1 2 5

σαυτοϋ λόγους, καί ούδ' όπωστιοϋν έκπλαγέντος, νυν

οίηθείην σε θορυβήσεσθαι ένεκα ημών ολίγων ανθρώπων.

Τί δέ, ώ Σώκρατες; τον Άγάθωνα φάναι, ού δήπου με

ουτω θεάτρου μεστόν ήγή ώστε καί άγνοεϊν ότι νοϋν έχοντι

ολίγοι έμψρονες πολλών Αφρόνων φοβερώτεροι;

1940 Ού μεντ&ν καλώς ποιοίην, φάναι, ώ Άγάθων, περί σοϋ

τι εγώ αγροικον δοζάζων- άλλ’ εϋ οϊδα ότι εϊ τισιν έντύχοις

οΰς ήγοιο σοφούς, μάλλον άν αύτων φροντίζοις ή τών

πολλών, άλλα μή ούχ οϋτοι ήμέίς ώμεν - ήμεις μεν γάρ

και έκεϊ παρήμεν και ήμεν τών πολλών - εί δέ άλλοις

έντύχοις σοφοϊς, τάχ αν αίσχύνοιο αύτούς, εϊ τι [ίσως]

οϊοιο αισχρόν ον ποιεΐν■ ή πώς λέγεις;

Αληθή λέγεις, φάναι.

Τούς δέ πολλούς ούκ άν αίσχύνοιο εϊ τι οϊοιο αισχρόν

ποιεΐν·,

ο Και τον Φαιδρόν έφη ύπολαβόντα είπεϊν Ώ φίλε

Άγάθων, έάν άποκρίνη Σωκράτει, ούδέν έτι διοίσει αύ τω

όπηοϋν τών ένθάδε ότιοϋν γίγνεσθαι, έάν μόνον έχη ότω

διαλέγηται, άλλως τε καί καλώ. έγώ δέ ήδέως μεν άκούω

Σωκράτους διαλεγομένου, άναγκαϊον δέ μοι έπιμεληθήναι

τού έγκωμίου τω "Ερωτι καί άποδέξασθαι παρ' ένός έκάστου

ύμών τον λόγον■ άποδούς οϋν έκάτερος τώ θεώ οϋτως ήδη

διαλεγέσθω.

ε Άλλα καλώς λέγεις, ώ Φαιδρέ, φάναι τον Άγάθωνα,

καί ούδέν με κωλύει λέγειν- Σωκράτει γάρ καί αΰθις εσται πολλάκις διαλέγεσθαι.

Εγώ δέ δή βούλομαι πρώτον μέν είπεϊν ώς χρή με είπεϊν,

έπειτα είπεϊν. δοκοϋσι γάρ μοι πάντες οι πρόσθεν είρηκότες

ού τον θεόν έγκωμιάζειν άλλά τούς άνθρώπους εύδαιμονίζειν

τών άγαθών ών ό θεός αύτοϊς αίτιος· όποιος δέ τις αύτός ών

Ι95Α ταϋτα έδωρήσατο, ούδείς εϊρηκεν. εις δέ τρόπος ορθός παντός

έπαίνου περί παντός, λόγω διελθεϊν οϊος οϊων αίτιος ών

Σ Τ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

126

O B A N Q U E T E

tua peça, acreditasse que vais ficar atrapalhado diante deste punha- dinho de gente».

«Como assim, Sócrates?» teria dito Agatão; «decerto não hás de julgar-me tão obcecado pelo teatro, a ponto de ignorar que para uma pessoa de senso poucos sábios são mais de temer do que uma multidão de ignorantes».

«Fora muito feio de minha parte, Agatão», replicou Sócrates, «imagi- nar-te capaz de qualquer gesto menos elegante. Pelo contrário; sei muito bem que se encontrasses uns tantos homens que te parecessem sábios, terias em muito maior apreço a opinião deles do que a das multidões. Mas talvez nós aqui não possamos ser incluídos nesse número seleto; ontem mesmo não estivemos no teatro e não fazíamos parte da multidão? Porém na presença de pessoas verdadeiramente sábias, é possível que te envergonhasses de dizer alguma tolice. Não é isso mesmo?»

«Tens razão», respondeu.«E diante da multidão, não te envergonharias de fazer fiasco?»Nesta altura, Fedro interveio para dizer: «Meu caro Agatão, se fores

responder a Sócrates, ele pouco se incomodará com o giro que venha a tomar a discussão, contanto que tenha com quem dialogar, máxime se se tratar de um belo rapaz. E certo que eu também me deleito em ver como Sócrates conversa. Porém agora sou forçado a zelar pelo elogio de Eros e a cobrar de todos os presentes a cota estipulada de um discurso. Uma vez saldada vossa dívida com a divindade, podeis dialogar quanto quiserdes».

«Tens razão, Fedro», disse Agatão; «nada me impede de falar, pois não me faltará oportunidade para conversar com Sócrates.

xviii. Primeiro quero mostrar como pretendo falar, para depois falar. A meu parecer, todos os que discursaram antes de mim não enalte­ceram o deus; apenas congratularam-se com os homens pelos bens que lhe devem. Mas o que seja essa divindade | para conceder aos homens tantas dádivas, foi o que ninguém nos explicou. Ora, a única maneira certa de elogiar alguma coisa é tornar manifesta a natureza

194c

D

E

19 5 A

1 2 7

τυγχάνει περί οΰ αν δ λόγος ή. ουτω 8ή τον Έρωτα και

ήμάς δίκαιον έπαινέσαι πρώτον αυτόν οίός έστιν, έπειτα

τάς δόσεις, φημ'ι οΰν έγώ πάντων θεών εύδαιμόνων ον των

Έρωτα, εί θέμις και άνεμέσητον είπεΐν, εύδαιμονέστατον

είναι αυτών, κάλλιστον όντα και άριστον. έστι δε κάλλιστος

ών τοιόσδε. πρώτον μεν νεώτατος θεών, ώ Φαιδρέ, μέγα

195Β δε τεκμήριον τω λόγω αυτός παρέχεται, φεύγων φυγή τό

γήρας, ταχύ όν δήλον ότι■ θάττον γοϋν τοϋ δέοντος ήμΐν

προσέρχεται, ο δη πέφυκεν Έρως μισεϊν καί ούδ’ έντός

πολλοϋ πλησιάζειν. μετά δε νέων άεί σύνεστί τε καί έστιν-

δ γάρ παλαιός λόγος ευ έχει, ώς όμοιον όμοίω άεί πελάζει,

έγώ δε Φαίδρω πολλά άλλα όμολογών τούτο ούχ ομολογώ,

ώς Έρως Κρόνου καί Ίαπετοϋ άρχαιότερός έστιν, άλλά

ο φημι νεώτατον αύτον είναι θεών καί άεί νέον, τά δέ παλαιά

πράγματα περί θεούς, ά Ησίοδος καί Παρμενίδης λέγουσιν,

Ανάγκη καί ούκ Έρωτι γεγονέναι, εί έκεϊνοι αληθή έλεγον-

ού γάρ αν έκτομαί ούδε δεσμοί άλλήλων έγίγνοντο καί άλλα

πολλά καί βίαια, εί Έρως έν αύτοϊς ήν, άλλά φιλία καί

ειρήνη, ώσπερ νϋν, έξ οϋ Έρως τών θεών βασιλεύει, νέος

μεν οΰν έστι, πρός δέ τω νέω άπαλός- ποιητοϋ δ' έστιν

ο ένδεής οΐος ήν Όμηρος πρός τό έπιδεϊξαι θεοϋ άπαλότητα.

Όμηρος γάρ Άτην θεόν τέ φησιν είναι καί άπαλήν - τούς

γοϋν πόδας αυτής άπαλούς είναι - λέγων

τής μένθ' άπαλοί πόδες- ον γάρ ίπ ’ οϋδεος πιλναται, άλλ’ αρα ή γε κατ’ άνδρών κράατα βαίνει.

καλώ ούν δοκεί μοι τεκμηρίω την άπαλότητα άποφαίνειν,

ότι ούκ έπί σκληρού βαίνει, άλλ' έπί μαλθακού, τω αύτφ

Σ Τ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

1 2 8

O B A N Q U E T E

daquilo que pensamos ser causa de certos benefícios. Para nós, o melhor modo de elogiar Eros é explicar, primeiro, sua natureza, e só depois tratar de seus benefícios. O que eu digo, uma vez que todos os deuses são perfeitos, é que Eros - se for lícito afirmar tal coisa sem cometer irreverência - é o mais bem-aventurado dos deuses, por ser de todos o mais belo e o melhor. Quanto à beleza, há o seguinte: inicialmente, Fedro, trata-se do mais jovem dos deuses.O argumento decisivo para confirmar semelhante assertiva nos é 195 B

dado por ele mesmo: a rapidez com que foge da velhice, a despeito de ser esta muito veloz, pois nos alcança mais depressa do que fora necessário. Ora, por natureza Eros lhe tem ódio e foge dela. Por ser moço, só procura a companhia dos moços, confirmando neste passo o antigo provérbio: “O semelhante sempre se liga ao seu semelhante”. Em muita coisa estou de acordo com Fedro, porém não posso conceder-lhe que Eros seja mais velho do que Cronos e Jápeto. O que eu digo é que ele é o mais jovem dos deuses, de eterna c mocidade, e que as velhas querelas entre os deuses a que Hesíodo e Parmênides se referem foram provocadas pela Necessidade, não pelo Amor, admitindo-se que tivessem falado a verdade. Aquelas castrações, o se encadearem os deuses uns aos outros e tantas outras violências, jamais teriam ocorrido se Eros vivesse no meio deles.Ao invés disso, haveria paz e amizade, como há agora, desde que Eros passou a reinar entre os deuses. Eros é, por conseguinte, jovem e, além de jovem, delicado. Porém ainda não encontrou um poeta do porte de Homero para enaltecer a sua brandura. Referindo-se à d

Culpa, diz Homero que é deusa e delicada, ou, pelo menos, que é de pés delicados. Expressa-se nos seguintes termos:

D e pés m uito leves, que a terra não roça ao caminhar,m as passeia por sobre a cabeça dos hom ens.

Não sei de mais belo argumento para provar essa delicadeza do que dizer que não pisa na terra dura, mas no que é macio. Apliquemos

1 2 9

Σ Τ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

ΐ'. δή και ημείς χρησώμεθα τεκμηρίω περί Έρωτα δτι απαλός,

ού γάρ έτιΐ γης βαίνει ού8’ έπΐ κρανίων, ά έστιν ον ττάνυ

μαλακά, άλΧ εν τοϊς μαλακωτάτοις των όντων και βαίνει

καί οίκέί. έν γάρ ήθεσι και ψυχαίς θεών και ανθρώπων την

οϊκησιν ΐδρυται, και ούκ αν έξης έν πάσαις ταϊς ψυχαϊς, άλλ

ήτινι άν σκληρόν ήθος έχούση έντύχη, άπέρχεται, ή 8' άν

μαλακόν, οίκίζεται. άπτόμενον οΰν άεί και ποσϊν και πάντη

έν μαλακωτάτοις τών μαλακωτάτων, άπαλώτατον ανάγκη

η;6λ είναι, νεώτατος μεν δή έστι καί άπαλώτατος, προς 8έ

τούτοις υγρός τό είδος, ού γάρ αν οϊός τ ’ ήν πάντη περι-

πτύσσεσθαι ούδέ διά πάσης ψυχής και είσιών τό πρώτον

λανθάνειν και έξιών, εί σκληρός ήν. συμμέτρου δέ καί

ύγράς ιδέας μέγα τεκμήριον ή εύσχημοσύνη, δ δή δια-

φερόντως έκ πάντων όμολογουμένως Έρως έχει■ άσχημοσύνη

γάρ και ’Έρωτι προς άλλήλους άε'ι πόλεμος, χρόας δέ

κάλλος ή κατ' άνθη δίαιτα τοϋ θεοϋ σημαίνει■ άνανθεϊ γάρ

β και άπηνθηκότι καί σώματι και ψυχή και άλλω ότωοϋν ούκ

ένίζει ’Έρως, ου δ' άν εύανθής τε και ευώδης τόπος ή,

ένταϋθα δέ καί ϊζει καί μένει.

Περί μεν οϋν κάλλους τοϋ θεοϋ και ταϋτα ικανά και έτι

πολλά λείπεται, περ'ι δέ άρε τής ’Έρωτος μετά ταϋτα λεκτέον,

τό μέν μέγιστον ότι Έρως ον τ ’ άδικεϊ οϋ τ ’ άδικείται οϋ τε

υπό θεοϋ ούτε θεόν, οϋτε νπ ’ ανθρώπου οϋ τε άνθρωπον, οΰτε

γάρ αύτός βία πάσχει, εί τι πάσχει - βία γάρ Έρωτος ούχ

ο άπτεται■ οϋτε ποιων ποιεί - πάς γάρ έκών Έρωτι παν

υπηρετεί, ά δ’ άν έκών έκόντι όμολογήση, φασϊν “οι πόλεως

βασιλής νόμοι’’ δίκαια είναι, προς δέ τή δικαιοσύνη σωφρο­

σύνης πλείστης μετέχει, είναι γάρ όμόλογείται σωφροσύνη

τό κρατείν ήδονών καί έπιθυμιών, Έρωτος δέ μηδεμίαν

ήδονήν κρείττω είναι■ εί δέ ήττους, κρατοίντ’ άν ύπό Έρωτος,

1 3 0

O B A N Q U E T E

a Eros j o mesmo argumento, para mostrar como ele é delicado, e

Não anda sobre a terra nem sobre crânios - nada brandos, sem dúvida - porém reside e passeia no que há de mais macio no mundo, por ser no coração e na alma dos deuses e dos homens que ele caminha e onde construiu sua morada. E mais: isso não acontece indistintamente e com todas as almas: quando encontra alguma de temperamento duro, passa de longe, para acomodar-se nas de natureza branda. Ora, o que sempre está em contato, por meio dos pés e de todo o ser, com as partes mais macias do que há de mais brando, necessariamente terá de ser o que de mais tenro se concebe.Assim, é o mais novo e mais delicado de todos. Além de tudo, é de 1 9 6 A

natureza maleável. De fato, não lhe fora possível envolver todas as coisas, nem entrar, sem ser percebido, nas almas, e sair delas, se fosse resistente. A mais eloquente prova de sua flexibilidade e simetria é a graça muito própria, que, no consenso geral, Eros possui em grau eminentíssimo, pois o Amor e a Deformidade estão permanente­mente em guerra. A frescura de sua compleição é assegurada pelo fato de passar ele a vida no meio de flores, pois o que não deu flor ou já veio a perdê-la, ou se trate do corpo ou de alma ou do que quer b

que seja, nisso Eros não pousa; só nos lugares floridos e aromosos é que ele se detém e deixa-se ficar,

xix. Acerca da beleza do deus é quanto basta, embora ainda houvesse muito que dizer. Agora me cumpre falar da virtude de Eros. Nesse particular, o traço mais importante é que Eros não ofende divindade nem homem, como não recebe ofensa de ninguém. Se sofre alguma coisa - no caso de poder sofrer algo - não é por meios violentos, pois a violência não atinge o Amor; J tudo o que ele faz é sem cconstrangimento; todos o servem de muito bom grado, e quando as partes se põem voluntariamente de acordo, as Leis, rainhas da cidade, declaram que é justo. Além da justiça, Eros participa em sumo grau da temperança, pois no consenso unânime consiste a temperança na capacidade de dominar os prazeres e as paixões. Ora, nenhum prazer sobrepuja o Amor; sendo, pois, mais fracos os demais

1 3 1

ό δέ κρατοϊ, κρατών δε ηδονών και έπιθυμιών ό Έρως δια-

φερόντως αν σωφρονοΐ. και μην εις γε Ανδρείαν Έρωτι

96ο “ούδ' Άρης άνθίσταται." ού γάρ έχει Έρωτα Άρης;

άλλ’ Έρως Άρη - Αφροδίτης, ώς λόγος - κρείττων δε ό έχων

τον έχομένου- τοϋ δ’ άνδρειοτάτου τών άλλων κρατών πάντων

αν άνδρειότατος εϊη. περί μεν ούν δικαιοσύνης και σωφρο­

σύνης και άνδρείας τοϋ θεού εϊρηται, περϊ δέ σοφίας λείπεται-

όσον ούν δυνατόν, πειρατέον μη έλλείπειν. και πρώτον μέν,

ϊν’ αΰ και έγώ την ήμετέραν τέχνην τιμήσω ώσπερ Έρυξί-

ε μαχος την αύτοϋ, ποιητής ό θεός σοφός ούτως ώστε καί

άλλον ποιήσαι- πας γοϋν ποιητής γίγνεται, "καν άμουσος

ή τό πριν,” ού αν Έρως άψηται. ώ δη πρέπει ή μάς

μαρτυρίω χρήσθαι, ότι ποιητής ό Έρως αγαθός έν κεφαλαίω

πάσαν ποίησιν την κατά μουσικήν■ ά γάρ τις ή μή έχει ή

μή οΐδεν, οϋτ’ άν έτέρω δοίη ουτ’ άν άλλον διδάζειεν. και

ις>7Α μέν δή τήν γε τών ζώων ποίησιν πάντων τις έναντιώσεται

μή ονχΐ Έρωτος είναι σοφίαν, ή γίγνεται τε και φύεται

πάντα τα ζώα; αλλά τήν τών τεχνών δημιουργίαν ούκ

ϊσμεν, ότι ού μέν αν δ θεός οΰτος διδάσκαλος γένηται,

έλλόγιμος και φανός άπέβη, ού δ’ άν Έρως μή έφά-

ψηται, σκοτεινός; τοξικήν γε μήν καί ιατρικήν καί μαντικήν

Απόλλων άνηϋρεν επιθυμίας καί έρωτος ήγεμονεύσαντος,

β ώστε καί οΰτος Έρωτος άν εϊη μαθητής, καί Μοϋσαι

μουσικής καί Ήφαιστος χαλκείας καί Άθηνά ίστουργίας

καί Ζεύς κυβερνάν θεών τε καί ανθρώπων, όθεν δή

Χ Τ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

1 3 2

O B A N Q U E T E

prazeres e dominados pelo Amor, Eros é o dominador de todos, e dominando, como domina, os prazeres e os apetites, revela-se sumamente temperante. No que diz respeito à coragem,

Nem o próprio Ares ousa resistir-lhe,

pois não é Ares quem domina Eros, mas o inverso: Eros é quem domina Ares, o amor de Afrodite, segundo contam. Ora, o domi­nante é mais forte do que o dominado, e, uma vez que Eros vence o deus mais corajoso, terá de ser destemeroso ao máximo.

Já falamos da justiça, da temperança e da coragem da divindade; resta tratar de sua sabedoria. Esforçar-me-ei para não omitir nada. Inicialmente, a fim de honrar a minha arte, tal como com a dele fez Erixímaco, direi que j essa divindade é um poeta de tão extraordinária virtude, que com um simples toque deixa poeta qualquer pessoa,

Ainda que até então estranho fosse às Musas.

Essa é a melhor prova de que Eros é um excelente criador nos domínios da Música, pois ninguém pode dar ou ensinar o que não tem ou não sabe. j No que entende com a criação dos animais em geral, quem duvidará que não seja a sabedoria de Eros a causa da geração e do crescimento dos seres vivos? E no desempenho das demais artes, não sabemos que quem teve essa divindade como mestra alcança a glória e é admirado, e quem Eros não tocou permanece obscuro? A arte de manejar o arco, a Medicina e a Adivinhação foram inventadas por Apoio sob a direção do Desejo e do Amor, o que justifica considerarmo-lo também discípulo de Eros. O mesmo se diga da melodia das Musas, da arte de forjar de Hefesto, da arte de tecer de Atena e também

Do domínio de Zeus sobre os deuses e os homens.

19 6 D

E

1 9 7 A

1 3 3

Σ Υ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

και κατεσκευάσθη των θεών τά πράγματα Έρωτος έγγε-

νομένου, 8ήλον ότι κάλλους - α’ίσχει γάρ ούκ έπι έρως - προ

τοϋ 8έ, ώσπερ έν άρχή εΐπον, πολλά και δεινά θεοΐς έγίγνετο,

ώς λέγεται, διά την τής ανάγκης βασιλείαν■ επειδή δ’ ό

θεός οΰτος έψυ, έκ τοϋ έράν τών καλών πάντ’ άγαθά γέγονεν

και θεοΐς καί άνθρώποις.

1970 Όϋτως έμο'ι δοκεϊώ Φαιδρέ, Έρως πρώτος αυτός ών

κάλλιστος και άριστος μετά τοϋτο τοις άλλοις άλλων τοιούτων

αίτιος είναι, έπέρχεται δέ μοί τι και έμμετρον είπεΐν, ότι

οϋτός έστιν ό ποιών

ειρήνην μέν έν άνθρώποις, πελάγει δε γαλήνην

νηνεμίαν ανέμων, κοίτην ϋπνον τ ’ ένΐ κήδει.

ο οΰτος δέ ήμάς άλλοτριότητος μέν κενοί, οίκειότητος δέ πληροί,

τάς τοιάσδε συνόδους μετ’ άλλήλων πάσας τιθείς συνιέναι,

έν έορταϊς, έν χοροϊς, έν θυσίαις γιγνόμενος ήγεμών-

πραότητα μέν πορίζων, αγριότητα δ’ έζορίζων- φιλόδωρος

εύμενείας, άδωρος δυσμενείας- ιλεως αγαθός■ θεατός σοφοϊς,

άγαστός θεοΐς■ ζηλωτός άμοίροις, κτητός εύμοίροις■ τρυφής,

άβρότητος, χλιδής, χαρίτων, Ιμέρου, πόθου πατήρ■ έπιμελής

άγαθών, άμελής κακών■ έν πάνω, έν φόβω, έν πόθω, έν

ε λόγω κυβερνήτης, έπιβάτης, παραστάτης τε και σωτήρ

άριστος, συμπάντων τε θεών και άνθρώπων κόσμος, ήγεμών

κάλλιστος και άριστος, φ χρή έπεσθαι πάντα άνδρα έφυμ-

νοϋντα καλώς, φδής μετέχοντα ήν άδει θέλγων πάντων θεών

τε και άνθρώπων νόημα.

Οΰτος, έφη, δ παρ’ έμοϋ λόγος, ώ Φαιδρέ, τφ θεφ

άνακείσθω, τά μέν παιδιάς, τά δέ σπουδής μέτριας, καθ’

όσον εγώ δύναμαι, μετέχων.

ι9«λ Είπόντος δέ τοϋ Άγάθωνος πάντας έφη ό Αριστόδημος

άναθορυβήσαι τούς παρόντας, ώς πρεπόντως τοϋ νεανίσκου

1 3 4

O B A N Q U E T E

Daí estabelecer-se a ordem entre os deuses graças à interferência de Eros, vale dizer: da beleza, pois o Amor não pousa no que é feio. Até então, como disse no começo, passavam-se cenas terríveis entre os deuses, por imperar sobre todos eles a Necessidade; é o que reza a tradição. Porém, com o nascimento de Eros, nasceram todos os bens para os deuses e para os homens, j Essa a razão, Fedro, de eu pensar que, sendo Eros, inicialmente, o mais belo e o melhor dos seres, será também causa de iguais vantagens para todos. Ocorre-me dizer em verso que ele confere

Serenidade para os hom ens, calm a às ondas tem pestuosas, ventos brandos, repouso para a m ente exagitada.

Ele é que não nos deixa ficar estranhos uns para os outros e infunde em todos o sentimento de solidariedade, promove reuniões como esta, e nas festas, nos coros, nos sacrifícios favorece a brandura e expele a rudeza; torna-nos reciprocamente benévolos e nos livra de toda a malquerença; alegria dos bons, admiração dos sábios, assombro dos deuses; invejado dos que o não possuem, precioso para quantos dele participam; fautor do luxo, da delicadeza, das delí­cias, das graças, da paixão, do desejo; zeloso dos bons e desprezador dos maus; nas canseiras, nos temores, nos desejos, nas conversações o melhor piloto e companheiro, sustentáculo e salvador excelente; glória dos deuses e dos homens; o melhor e mais belo diretor que todo homem deve seguir, fazendo coro solenemente com ele e repetindo o hino que ele próprio entoa para encantar a alma dos deuses e dos homens. Valha este discurso, Fedro, como oferenda de minha parte ao deus, misto de brinco e seriedade, o máximo que me foi possível concatenar».

x x . Quando Agatão acabou o seu discurso, os presentes, no dizer de Aristodemo, prorromperam em aplausos estrondosos, tão bem o jovem se expressara, por maneira, a um tempo, digna dele

197c

D

E

I 98A

1 3 5

Σ Τ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

είρηκότος καί αύτώ και τφ θεφ. τον οΰν Σωκράτη ε ’ιπεϊν

βλέψαντα εις τον Έρυζίμαχον, Άρά σοι δοκώ, φάναι, ώ

παι Άκουμενοϋ, άδε'ες πάλαι δέος δεδιέναι, άλλ’ ού μαντικώς

α νυνδή έλεγον είπεΐν, ότι Άγάθων θαυμαστώς έροΐ, έγώ δ’

άπορήσοιμΐ;

Τό μεν έτερον·, φάναι τον Έρυξίμαχον, μαντικώς μοι

δοκεϊς είρηκέναι, ότι Άγάθων εϋ έρεϊ- τό δέ σε άπορήσειν,

ούκ οϊμαι.

198Β Και πώς, ώ μακάριε, είπειν τον Σωκράτη, ού μέλλω

άπορεϊν καί έγώ καί άλλος όστισονν, μέλλων λέξειν μετά

καλόν οϋτω καί παντοδαπόν λόγον ρηθέντα; καί τά μεν άλλα

ούχ ομοίως μέν θαυμαστά■ τό δέ έπί τελευτής τού κάλλους

των ονομάτων καί ρημάτων τις ούκ αν έξεπλάγη άκούων;

έπεί έγωγε ενθυμούμενος ότι αύτός ούχ οϊός τ ’ έσομαι ούδ’

έγγύς τούτων ούδέν καλόν είπεΐν, ύπ’ αισχύνης ολίγου

ο άποδράς ώχόμην, εϊ πη εΐχον. καί γάρ με Γοργίου ό λόγος

άνεμίμνησκεν, ώστε άτεχνώς τό τοϋ Όμήρου έπεπόνθη-

έφοβούμην μή μοι τελευτών ό Άγάθων Γοργίου κεφαλήν

δεινού λέγειν έν τφ λόγω έπί τον έμόν λόγον πέμψας αύτόν

με λίθον τη άφωνία ποιήσειεν. καί ένενόησα τότε άρα

καταγέλαστος ών, ήνίκα ύμΐν ώμολόγουν έν τφ μέρει μεθ’

η ύμών έγκωμιάσεσθαι τον Έρωτα καί εφην είναι δεινός τά

έρωτικά, ούδέν είδώς άρα τοϋ πράγματος, ώς έδει έγκωμιάζειν

ότιοϋν. έγώ μέν γάρ ύπ’ άβελτερίας ωμην δεΐν τάληθή

λέγειν περί έκάστου τοϋ έγκωμιαζομένου, καί τοϋτο μεν

ύπάρχειν, έ\ αύτών δέ τούτων τά κάλλιστα έκλεγομένους

ώς εύπρεπέστατα τιθέναι■ καί πάνυ δή μέγα έφρόνουν ώς εΰ

έρών, ώς είδώς τήν άλήθειαν τοϋ έπαινεΐν ότιοϋν. τό δέ άρα,

ώς έοικεν, ού τοϋτο ήν τό καλώς έπαινεΐν ότιοϋν, άλλά τό ώς

ΐί μέγιστα άνατιθέναι τφ πράγματι καί ώς κάλλιστα, εάν τε ή

οϋτως έχοντα έάν τε μή· εί δέ ψευδή, ούδέν άρ’ ήν πράγμα.

136

O B A N Q U E T E

e da divindade. Então, falou Sócrates, voltado para Erixímaco:«Ainda achas», lhe disse, «filho de Acumeno, que não se justifi­cavam meus temores de há pouco? Não me revelei bom profeta agora mesmo, ao predizer que o discurso de Agatão ia ser maravilhoso e me criaria dificuldades?»

«Num ponto profetizaste certo», teria dito Erixímaco, «a respeito da excelência do discurso de Agatão; porém no outro, de que te verias em apuros, não acredito».

«Como assim, varão bem-aventurado», respondeu Sócrates: «de que 198 B

jeito não ficar atrapalhado, eu ou quem quer que tivesse de usar da palavra depois de uma oração tão formosa e engalanada? Nem tudo nela foi igualmente admirável; mas a beleza dos nomes e as últimas frases, quem poderia escutá-las sem ficar emocionado? Eu, pelo menos, com perfeita consciência da minha indigência de recursos para dizer algo que chegue aos pés de tamanha perfeição, de vergonha estive a ponto de fugir, | caso soubesse onde esconder-me. Esse c discurso fez-me lembrado de Górgias, passando-se comigo aquilo de Homero: tive medo de que Agatão, no fim da sua fala, atirasse contra a minha cabeça a cabeça gorgônica de Górgias, esse orador terribi- líssimo, e me privasse da voz, transformando-me em pedra. Só então percebi quão ridículo eu tinha sido ao comprometer-me convosco a também fazer j o elogio de Eros, apresentando-me como conhecedor d

de assuntos amatórios, quando a verdade é que em matéria de elogiar seja o que for, não entendo patavina. Na minha inocência, pensava que seria preciso dizer a verdade em tudo o que se falasse do objeto elogiado; a verdade deveria ser o fundamento próprio do discurso, para daí escolhermos o que houvesse de mais belo e apresentá-lo na melhor ordem possível. Deixei-me inflar de orgulho ao pensamento de que iria falar bem, visto conhecer a maneira certa de elogiar. Mas, ao que parece, não é esse o caminho verdadeiro, senão o inverso: atribuir ao objeto quanto de belo e de grandioso se possa conceber, sem decidir, primeiro, se tal processo corresponde ou não à reali- e

dade dos fatos. Saindo tudo falso, não terá a mínima importância.

1 3 7

Σ Τ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

προυρρήθη γάρ, ώς έοικεν', δπως έκαστος ημών τον Έρωτα

έγκωμιάζειν Βάζει, ούχ δπως έγκωμιάσεται. διά ταΰτα δή

οίμαι πάντα λόγον κινοϋντες άνατίθετε τώ Έρωτι, καί

φάτε αυτόν τοιοϋτόν τε είναι καί τοσούτων αίτιον, δπως άν

ΐ99Α φαίνηται ώς κάλλιστος και άριστός, δήλον δτι τοις μή γιγνώ-

σκουσιν - ου γάρ δήπου τοις γε είδόσιν - και καλώς γ ’ εχει

και σεμνώς δ έπαινος, άλλα γάρ εγώ οϋκ ήδη άρα τον

τρόπον τοϋ επαίνου, ού δ’ είδώς ύμιν ώμολόγησα και αύτός

έν τώ μέρει έπαινέσεσθαι. ή γλώσσα οϋν ύπέσχετο, ή δέ

φρήν οϋ· χαιρέτω δή. ού γάρ ετι έγκωμιάζω τούτον τον

τρόπον - ού γάρ αν δυναίμην - ού μέντοι άλλα τά γε αληθή,

β εί βούλεσθε, έθέλω είπεΐν κατ’ έμαυτόν, ού προς τούς

ύμετέρους λόγους, ϊνα μή γέλωτα δφλω. δρα οϋν, ώ Φαιδρέ,

εϊ τι καί τοιούτου λόγου δέη, περί Έρωτος τάληθή λεγάμενα

άκούειν, όνόμασιν δέ καί θέσει ρημάτων τοιαύτη όποια δάν

τις τύχη έπελθοϋσα.

Τον οϋν Φαιδρόν εφη καί τούς άλλους κελεύειν λέγειν,

δπη αύτός οϊοιτο δεϊν είπεΐν, ταύτη.

Έ τι τοίνυν, φάναι, ώ Φαιδρέ, πάρες μοι Άγάθωνα σμίκρ’

άττα έρέσθαι, ϊνα άνομολογησάμενος παρ’ αύτοϋ ούτως ήδη

λέγω.

ο Αλλά παρίημι, φάναι τον Φαιδρόν, άλΧ έρώτα. μετά

ταύτα δή τον Σωκράτη έφη ένθένδε ποθέν άρξασθαι.

Καί μην, ώ φίλε Άγάθων, καλώς μοι έδοζας καθηγή-

σασθαι τοϋ λόγου, λέγων δτι πρώτον μεν δέοι αύτον έπιδεϊζαι

όποιος τις έστιν ό Έρως, ύστερον δέ τά έργα αύτοϋ. ταύτην

τήν άρχήν πάνυ άγαμαι. ϊθι οϋν μοι περί Έρωτος, έπειδή

καί τάλλα καλώς καί μεγαλοπρεπώς διήλθες οίός έστι, καί

η τόδε είπέ- πότερόν έστι τοιοϋτος οϊος είναι τίνος ό Έρως

1 3 8

O B A N Q U E T E

O que ficou previamente assentado foi que nos esforçássemos por parecer que elogiávamos Eros, não que, de fato, o elogiássemos. Daí, terdes jogado em cima de Eros todos os vossos recursos oratórios e dizerdes que ele é isto e aquilo, ou é gerador de tais e tais coisas, a fim de que se apresentasse o mais belo e o melhor possível, a saber, aos olhos dos ignorantes, evidentemente, não dos entendidos. Sem 1 9 9 A

dúvida, o elogio ficou vistoso e imponente. Eu, porém, não conheço essa maneira de elogiar; e foi por não conhecê-la que me comprometi a falar quando chegasse a minha vez.

Foi prom essa da b oca , não do espírito.

Nada feito, por conseguinte. Não sei elogiar dessa maneira; minhas forças não chegam para tanto. A única coisa que posso prometer, se estiverdes de acordo, é | dizer a verdade como a entendo, não b

segundo a bitola de vossos discursos; não desejo tornar-me ridículo.Vê, portanto, Fedro, se ainda vai bem aqui um discurso desse estilo, em que se ouça a verdade a respeito de Eros, com palavras e frases como naturalmente ocorrem a quem fala».

Fedro e os demais presentes, continuou Aristodemo, insistiram com ele para que discursasse do jeito que lhe parecesse melhor.

«Porém antes disso, Fedro», observou Sócrates, «terás de permitir que eu pergunte umas coisinhas a Agatão, para iniciar minha fala com base no seu assentimento».

«Pois não», respondeu Fedro; «pergunta o que quiseres». cA seguir, Aristodemo disse que Sócrates começara a falar mais ou

menos nos seguintes termos:xxi. «A meu ver, meu caro Agatão, principiaste admiravelmente bem

o teu discurso, com afirmares que seria preciso, logo de início, revelar o que é o Amor, para depois enumerar as suas obras. Tal exórdio só merece encómios. Muito bem. E, uma vez que discorreste com tanta beleza e magnificência a respeito da natureza de Eros, responde-me ao seguinte: | faz parte da natureza do Amor, ser amor de alguma d

139

Σ Ύ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

έρως, ή ονδενός; έρωτώ 8' ούκ εί μητρός τίνος ή πατρός

έστιν - γελοΐον γάρ αν εί'η τό έρώτημα εί Έρως έστίν έρως

μητρός ή πατρός - άλΧ ώσπερ αν εί αν τό τοϋτο πατέρα

ήρώτων, άρα ό πατήρ έστι πατήρ τίνος ή ον; είπες άν

8ήπον μοι, εί έβούλου καλώς άποκρίνασθαι, δτι έστιν νέος

γε ή θνγατρός ό πατήρ πατήρ· ή οϋ;

Πάνν γε, φάναι τον Άγάθωνα.

Ονκονν καί ή μήτηρ ώσαύτως; Όμολογεϊσθαι καί τοϋτο.

ε Έ τι τοίνυν, είπεΐν τον Σωκράτη, άπόκριναι όλίγω πλείω,

ινα μάλλον καταμάθης δ βούλομαι, εί γάρ έροίμην, "Τι

8έ; άδελφός, αυτό τοϋθ’ δπερ έστιν, έστι τινός άδελφός ή

ον;" Φάναι είναι.

Όύκοϋν άδελφοϋ ή άδελφής; ΌμολογεΤν.

Πειρώ δή, φάναι, και τον έρωτα είπεΐν. ό Έρως έρως

έστιν ονδενός ή τινός;

Πάνν μεν οΰν έστιν.

ζ ο ο Α Τοϋτο μεν τοίνυν, είπεΐν τον Σωκράτη, φύλαζον παρά

σαντώ μεμνημένος ότου- τοσόνδε δε είπέ, πότερον ό Έρως

έκείνου οϋ έστιν έρως, έπιθυμεϊ αύτοϋ ή οϋ;

Πάνυ γε, φάναι.Πότερον έχων αυτό οϋ έπιθυμεϊ τε και έρά, είτα έπιθυμεϊ

τε καί έρά, ή ούκ έχων;

Ούκ έχων, ώς τό είκός γε, φάναι.Σκόπει δή, είπεΐν τον Σωκράτη, άντι τοϋ είκότος εί

άνάγκη όντως, τό έπιθυμοϋν έπιθυμεϊν οϋ ένδεές έστιν, ή μή

β έπιθυμεϊν, έάν μή ένδεές ή; έμο'ι μεν γάρ θαυμαστώς δοκεϊ,

ώ Άγάθων, ώς άνάγκη είναι■ σοϊ δέ πώς;

Κάμοί, φάναι, δοκεϊ.Καλώς λέγεις, άρ οΰν βούλοιτ’ άν τις μέγας ών μέγας

είναι, ή ισχυρός ών ισχυρός;

Αδύνατον έκ τών ώμολογημένων.

Ού γάρ που ένδεής άν εί'η τούτων ό γε ών.

1 4 0

O B A N Q U E T E

coisa, ou de nada? Note-se: não me estou referindo ao amor de pai ou de mãe, pois fora ridículo perguntar se o Amor diz respeito a pai ou a mãe. O que quero significar é que se te perguntassem, com referência a Pai, se, como tal, é ou não é pai de alguém, decerto responderias, no caso de quereres apresentar resposta certa, que o pai é pai de algum filho ou filha, não é verdade?»

«Perfeitamente», respondeu Agatão.«E a respeito de Mãe, não dirias a mesma coisa?»Concordou também acerca desse ponto.«Então», teria Sócrates acrescentado, «continua a responder a mais e

algumas perguntazinhas, para que apanhes melhor o que quero dizer.E agora: “Irmão, como tal, é irmão de alguém, ou não é?»

Respondeu que sim.«Quer dizer: de algum irmão ou de irmã?»Concordou.«Agora», falou Sócrates, «procura aplicar tudo isso ao Amor, para

dizer-nos se o Amor é amor de nada ou se é amor de alguma coisa».«Sem dúvida, é amor de alguma coisa.»«Fixa bem na memória esse ponto», teria dito Sócrates, «do que é que 2 0 0 a

ele é amor, e me responde apenas se o Amor deseja ou não deseja aquilo que ele ama».

«Sem dúvida», foi a resposta.«Por já ter o que deseja e ama, ou por não o ter?»«Por não o ter, ao que parece», respondeu.«Considera agora», falou Sócrates, «se em vez de parece, não é mais

certo dizer que necessariamente só se deseja o que não se tem, e que ninguém deseja o de que não carece. A mim, pelo menos, Agatão, b

tudo isso se me afigura maravilhosamente necessário. E a ti?»« A mim também», respondeu.«Bela resposta. Logo, quem é grande não deseja ser grande, como não

quer ser forte quem já é forte.»«E impossível, de acordo com o que admitimos.»«Pois ninguém é carente das qualidades que lhe são próprias.»

141

Αληθή λέγεις.Εί γάρ καί Ισχυρός ών βούλοιτο ισχυρός είναι, φάναι τον

Σωκράτη, καί ταχύς ών ταχύς, καί ύγιής ών υγιής - ί'σως γάρ αν τις ταϋτα οίηθείη καί πάντα τά τοιαϋτα τούς όντας

ί ο ου τε τοιούτους καί έχοντας ταϋτα τούτων άπερ έχουσι καίέπιθυμεΐν, ϊν' οϋν μή έξαπατηθώμεν, τούτου ένεκα λέγω - τούτοις γάρ, ώ Άγάθων, εί έννοεϊς, έχειν μέν έκαστα τούτων έν τώ παρόντι άνάγκη ά έχουσιν, έάντε βούλωνται έάντε μή, καί τούτου γε δήπου τις άν έπιθυμήσειεν; άλλ' όταν τις λέγη ότι έγώ ύγιαίνων βούλομαι καί ύγιαίνειν, καί πλουτών βούλομαι καί πλουτεϊν, καί έπιθυμώ αύτών τούτων ά έχω, εϊποιμεν αν αύτώ ότι σύ, ώ άνθρωπε,

ο πλούτον κεκτημένος καί ύγίειαν καί ίσχύν βούλει καί ειςτον έπειτα χρόνον ταϋτα κεκτήσθαι, έπεί έν τώ γε νϋν παρόντι, είτε βούλει είτε μή, έχεις· σκόπει οϋν, όταν τούτο λέγης, ότι έπιθυμώ τών παρόντων, εί άλλο τι λέγεις ή τόδε, ότι βούλομαι τά νϋν παρόντα καί εις τον έπειτα χρόνον παρεϊναι. άλλο τι όμολογοΐ άν; Συμφάναι έφη τον Άγάθωνα.

Είπεϊν δή τον Σωκράτη, Ούκοϋν τοϋτό γ ' έστίν έκείνου έράν, ό ου πω έτοιμον αύ τώ έστιν ούδέ έχει, τό εις τον έπειτα χρόνον ταϋτα είναι αύ τώ σωζόμενα καί παρόντα;

ε Πάνυ γε, φάναι.Καί οϋτος άρα καί άλλος πάς ό έπιθυμών τοϋ μή έτοιμου

έπιθυμεΐ καί τοϋ μή παρόντος, καί ό μή έχει καί ό μή έστιν αύτός καί οΰ ένδεής έστι, τοιαϋτ' αττα έστίν ών ή έπιθυμία τε καί δ έρως έστίν;

Πάνυ γ , είπεϊν.Ίθι δή, φάναι τον Σωκράτη, άνομολογησώμεθα τά είρη-

μένα. άλλο τι έστιν ό ’Έρως πρώτον μέν τινών, έπειτα τούτων ών άν ένδεια παρή αύτώ;

ί ο ία Ναι, φάναι.Έπί δή τούτοις άναμνήσθητι τίνων έφησθα έν τώ λόγω

είναι τόν ’Έρωτα- εί δέ βούλει, έγώ σε άναμνήσω. οΐμαι

Σ Ύ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

142

O B A N Q U E T E

«É muito certo.»

«Porém», teria dito Sócrates, «no caso de querer ser forte um indi­

víduo robusto, ou veloz o que é ligeiro, ou ter saúde quem for sadio,

qualquer pessoa poderia imaginar, não apenas a respeito dessas

qualidades, como de todas, j que quem as possui, de fato, deseja

possuir precisamente o que já possui. Insisto nesse ponto para

evitar equívocos. Se bem considerares, Agatão, forçosamente essas

pessoas possuem num dado momento as qualidades que possuem

mesmo, quer queiram quer não queiram. Por que, então, desejarem

o que já têm? E se alguém nos dissesse: “Sou sadio e quero ser

sadio, sou rico e desejo ser rico, como desejo ter tudo o que tenho”,

decerto lhe falaríamos nos seguintes termos: “Amigo, j o que se dá

é que, possuindo, como possuis, saúde, riqueza e robustez, desejas

continuar com tudo isso no futuro, visto como, no presente, quer

o queiras quer não, já o possuis. Reflete se quando dizes: ‘Desejo

ter o que tenho agora’, não queres dizer precisamente isto: Almejo

ter no futuro o que já tenho neste momento’”. Não achas que ele

concordaria conosco?»

«Estou de pleno acordo», respondeu Agatão.

Sócrates voltou a falar: «Não equivale a amar o que ainda não existe nem

possuímos, desejar continuar a ter em futuro o que já é nosso?»

«Perfeitamente», respondeu.

«Esse indivíduo, por conseguinte, e, com ele, todos os que têm desejos,

só almeja aquilo de que não dispõe nem possui num dado momento;

o que não se tem, o que ainda não existe e o de que se carece: eis,

precisamente, o objeto do desejo e do amor.»

«Sem dúvida», foi a resposta.

«Então», teria falado Sócrates, «recapitulemos os pontos sobre que

ficamos de acordo em tudo o que dissemos até agora. Em primeiro

lugar, o Am or é amor de certas coisas, e, depois, de algo de que sentimos falta?»

«Exato», respondeu.

«A seguir, relembra de que foi que disseste em tua oração que o Amor

1 4 3

2 0 0 C

D

E

2 0 1 A

γάρ σε ούτωσί πως είπεϊν, δτι τοϊς θεοϊς κατεσκενάσθη τα

πράγματα δι έρωτα καλών· αισχρών γάρ ούκ εϊη έρως. ονχ

ούτωσί πως έλεγες;

Είπον γάρ, φάναι τον Άγάθωνα.

Και επιεικώς γε λέγεις, ώ έταϊρε, φάναι τον Σωκράτη-

και εί τοϋτο όντως έχει, άλλο τι ό ’Έρως κάλλους αν εϊη

έρως, αίσχους δε ον; Ώμολόγει.

20 ι β Ούκοϋν ώμολόγηται, οΰ ένδεής έστι και μη έχει, τούτου

έράν;

Ναι, είπειν.

Ενδεής αρ’ έστ'ι καί ούκ έχει ό Έρως κάλλος.

Ανάγκη, φάναι.

Τί δέ; το ένδεές κάλλους και μηδαμή κεκτημένον κάλλος

αρα λέγεις συ καλόν είναι;

Ού δήτα.

Έ τι οΰν ομολογείς Έρωτα καλόν είναι, εί ταϋτα ούτως

εχει,Κα'ι τον Άγάθωνα είπεϊν Κινδυνεύω, ώ Σώκρατες, ούδέν

είδέναι ών τότε είπον.

c Και μην καλώς γε είπες, φάναι, ώ Άγάθων. άλλα

σμικρόν έτι είπέ- τάγαθά ού και καλά δοκεϊ σοι είναι;

Έμοιγε.

Εί αρα ό Έρως τών καλών ένδεής έστι, τα δέ άγαθά

καλά, καν τών άγαθών ένδεής εϊη.

Εγώ, φάναι, ώ Σώκρατες, σοι ούκ αν δυναίμην άντι-

λέγειν, άλλ οϋτως έχέτω ώς συ λέγεις.

Ού μεν ουν τή άληθεία, φάναι, ώ φιλούμενε Άγάθων,

δύνασαι άντιλέγειν, έπε'ι Σωκράτει γε ούδέν χαλεπόν.

d Και σε μέν γε ήδη έάσω- τον δέ λόγον τον περί τοϋ

Έρωτος, ον ποτ’ ήκουσα γυναικός Μαντινικής Διοτίμας, ή

Σ Τ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

1 4 4

O B A N Q U E T E

é amor. Caso queiras, vou ajudar-te nisso. Disseste mais ou menos,

segundo penso, que foi graças ao belo que a ordem ficou estabelecida

entre os deuses, pois não pode haver amor do que é feio. Não foi

assim que te expressaste?»

«Isso mesmo», respondeu Agatão.

«Pois falaste com muita propriedade, amigo», lhe teria observado

Sócrates. «Então, se as coisas se passam, realmente, desse jeito, só

pode haver amor do belo, não do feio».Concordou.

«E também não ficou admitido que só pode haver amor daquilo de

que se carece e do que não se tem?»

«É certo», teria respondido.

«Nesse caso, o Amor é desprovido de beleza e não a possui.» 2 0 1B

«Necessariamente», respondeu.

«E agora? Chamas belo ao que é carecente de beleza e de nenhum

jeito a possui?»

«De forma alguma.»

«E ainda sustentas que Eros seja belo, se as coisas se passam dessa maneira?»

A isso Agatão respondeu: «E bem possível, Sócrates, que eu não

compreendesse nada do que então falei».

«Apesar de que falaste muito bem, Agatão», teria ele observado, c

«Porém, responde a mais esta perguntinha: no teu modo de pensar,

as coisas belas não são também boas?»

«Acho que sim.»

«Ora, se Eros é carecente de beleza, e o bom é belo, ele terá também

de ser desprovido do que é bom.»

«Eu, pelo menos, Sócrates», teria ele respondido, «não me sinto em

condições de contestar-te. Será, pois, como disseste».

«A Verdade, meu caro Agatão», teria ele observado, «é que não podes

contestar; pois contestar Sócrates não é difícil».

x x ii . «E agora vou deixar-te em paz, a fim de referir-vos o discurso d

a respeito de Eros que há tempos eu ouvi da mulher de Mantineia,

1 4 5

Σ Υ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

ταϋτά τε σοφή ήν και άλλα πολλά - και Άθηναίοις ποτέ

θυσαμένοις προ τού λοιμού δέκα έτη άναβολήν έποίησε τής

νόσου, ή δή και έμέ τά έρωτικά έδίδαξεν - δν ούν έκείνη

έλεγε λόγον, πειράσομαι ύμϊν διελθεϊν έκ των ώμολογη-

μένων έμο'ι και Άγάθωνι, αυτός έπ’ έμαυτοϋ, όπως αν

δύνωμαι. δει δή, ώ Άγάθων, ώσπερ συ δή ήγήσω, διελθεϊν

η αύτόν πρώτον, τις έστιν ό Έρως και ποϊός τις; έπειτα τά

έργα αύτοϋ. δοκεϊ ούν μοι ράστον είναι οϋτω διελθεϊν, ώς

ποτέ με ή ξένη άνακρίνουσα διήει. σχεδόν γάρ τι και έγώ

πρός αύτήν έτερα τοιαϋτα έλεγον οΐάπερ νϋν προς έμέ

Άγάθων, ώς εϊη ό Έρως μέγας θεός, εϊη δέ των καλών-

ήλεγχε δή με τούτοις τοϊς λόγοις οϊσπερ έγώ τούτον, ώς

ούτε καλός εϊη κατά τον έμόν λόγον ούτε άγαθός.

Kal έγώ, Πώς λέγεις, έφην, ώ Διοτίμα; αισχρός άρα ό

Έρως έστ'ι καί κακός;

Και ή, Όύκ ευφημήσεις; έφη· ή οϊει, ότι αν μή καλόν

ή, άναγκαϊον αύτό είναι αισχρόν;

ί ο ί α Μάλιστά γε.

Ή και &ν μή σοφόν, άμαθές; ή ούκ ήσθησαι ότι έστιν

τι μεταξύ σοφίας και άμαθίας;

Τί τούτο;

Ίο όρθά δοξάζειν και άνευ τού έχειν λόγον δούναι ούκ

οϊσθ’, έφη, ότι ούτε έπίστασθαί έστιν - άλογον γάρ πράγμα

πώς άν εϊη έπιστήμη; - ου τε άμαθία - το γάρ τού όντος

τυγχάνον πώς άν εϊη άμαθία; - έστι δέ δήπου τοιούτον ή

όρθή δόξα, μεταξύ φρονήσεως καί άμαθίας.

Αληθή, ήν δ’ έγώ, λέγεις.

ι» Μή τοίνυν άνάγκαζε ό μή καλόν έστιν αισχρόν είναι,

μηδέ ό μή άγαθόν, κακόν, οϋτω δέ και τόν Έρωτα έπειδή

αύτός όμολογεϊς μή είναι άγαθόν μηδέ καλόν, μηδέν τι

146

O B A N Q U E T E

Diotima, sobremodo entendida neste assunto como em muitos

outros, a mesma que, de uma feita, antes da peste, aconselhou os

atenienses a fazerem os sacrifícios que protelaram por dez anos a

epidemia. Foi ela quem me doutrinou sobre as questões do amor.

Suas palavras é que vou tentar reproduzir, de acordo com o que eu e Agatão combinamos, do melhor modo possível e sem ajuda estranha

de qualquer espécie. O que é preciso, Agatão, conforme explicaste,

é começar por dizer j o que seja o Amor e como se manifesta, para e

depois tratar de suas obras. Por isso, o melhor caminho se me afigura

reproduzir-vos a conversação mantida com a estrangeira, na ordem

das questões por ela formuladas. O que então lhe disse foi mais

ou menos o que Agatão acabou de afirmar: que Eros é um deus

poderoso e amante das coisas belas. Ela contestou minha proposição ponto por ponto, como o fiz neste momento com a dele, para mostrar

que, de acordo com meu próprio argumento, ele não podia ser nem belo nem bom. Nesta altura, lhe falei: “Como assim, Diotima! Nesse

caso, Eros é feio e mau?”

E ela: “Não blasfemes! Pensas, porventura, que o que não é belo terá

de ser necessariamente feio?”

“Sem dúvida.” 2 0 2 A

“E quem não for sábio, será ignorante? Não percebeste que há algo

intermediário entre a sabedoria e a ignorância?”“Que poderá ser?”

“A opinião verdadeira de alguma coisa, sem que se possa justificá-la.

Com o bem sabes, continuou, nem é conhecimento - pois como

poderá haver conhecimento do que não se pode demonstrar? - nem

ignorância, visto não poder ser ignorância o que atinge, de algum

modo, o real. A opinião verdadeira é qualquer coisa desse tipo, entre

a compreensão e a ignorância.”

“Tens razão”, lhe disse.

“Não obrigues, por conseguinte, a ser feio o que não é belo, nem a ser b

ruim o que não for bom. É o que se dá com Eros: uma vez que tu

mesmo admitiste não ser ele nem belo nem bom, não te ponhas

1 4 7

μάλλον οϊου 8εΐν αυτόν αισχρόν καί κακόν είναιι, αλλά τι μεταξύ\ έφη, τούτοιν.

Καί μήν, ήν 8' έγώ, όμολογεϊταί γε παρά πάντων μέγας

θεός εΐναι.Των μη ειδότων, έφη, πάντων λέγεις, ή καί των ειδότων;Συμπάντων μεν οΰν.Καί ή γελάσασα Καί πώς αν, έφη, ώ Σώκρατες,

).οκ: όμολογοιτο μέγας θεός εΐναι παρά τούτων, οι φασιν αύτονούδέ θεόν είναι;

Τίνες οϋτοι; ήν 8' έγώ.Εϊς μέν, έφη, σύ, μία 8' έγώ.Κάγώ είπον, Πώς τοϋτο, έφην, λέγεις;Καί ή, 'Ραδίως, έφη. λέγε γάρ μοι, ού πάντας θεούς

φής εύδαίμονας εΐναι καί καλούς; ή τολμήσαις άν τινα μη

φάναι καλόν τε καί εύδαίμονα θεών εΐναι;Μά Α ΐ ούκ εγωγ’, έφην.Εύδαίμονας 8έ δη λέγεις ού τούς τάγαθά καί τα καλά

κεκτημένους;Πάνυ γε.

ο Άλλα μήν ’Έρωτά γε ώμολόγηκας δι ένδειαν τώνάγαθών καί καλών έπιθυμεΐν αύ τών τούτων ών ένδεής

έστιν.Ώμολόγηκα γάρ.Πώς δ' άν οΰν θεός ε’ίη ό γε τών καλών καί άγαθών άμοιρος;Ούδαμώς, ώς γ ’ έοικεν.Όρας οΰν, έφη, ότι καί σύ Έρωτα ού θεόν νομίζεις;Τί οΰν άν, έφην, ε’ίη ό Έρως; θνητός;Ήκιστά γε.Άλλά τί μήν;'Ώσπερ τά πρτερα έφην, μεταξύ θνητού καί άθανάτου.Τί οΰν, ώ Διοτίμα;Δαίμων μέγας, ώ Σώκρατες■ καί γάρ παν τό δαιμόνιον

ε μεταξύ έστι θεού τε καί θνητού.

Σ Υ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

1 4 8

O B A N Q U E T E

a imaginar que ele seja feio e mau, porém algo” arrematou, “entre

esses dois extremos”.“No entanto”, lhe falei, “toda a gente reconhece que se trata de uma

grande divindade”.“Referes-te aos ignorantes” perguntou-me, “ou também aos enten­

didos?”

“A todos, sem distinção.”Rindo, então, ela me disse: “De que jeito, Sócrates, | poderão admitir 202c

que se trata de uma grande divindade os que afirmam não estar Eros

incluído no número dos deuses?”

“Quem afirma tal coisa?” perguntei.

“Tu, primeiro”, me disse; “depois, eu”.

Então, lhe falei: “Que queres dizer com isso?”

E ela: “É muito fácil”, replicou. “Atende ao seguinte: não admites que os

deuses sejam belos e felizes? Ou te atreverias a sustentar que algum

dos deuses não seja nem bem-aventurado nem belo?”

“Eu não, por Zeus”, lhe respondi.“E não dás o nome de feliz aos que possuem coisas belas e boas?”

“Perfeitamente.”“E a respeito de Eros, não acabaste de admitir que é por carecer de d

coisas belas e boas que ele almeja o que lhe falta?”

“Admiti, sem dúvida.”“Como, então, poderá ser um dos deuses o que não participa das coisas

boas nem das belas?”

“De jeito nenhum, ao que parece.”“Como vês”, replicou, “não incluis Eros no número dos deuses”,

x x i i i . “Que será, então, Eros?” perguntei; “mortal?”

“De forma alguma!”

“Então, o que é?”“Como no caso anterior, algo intermediário entre mortal e imortal.”

“Como assim, Diotima?”“Um grande demônio, Sócrates; e, como tudo o que é demoníaco,

elo intermediário entre os deuses e os mortais.” e

149

Σ Τ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

Τίνα, ήν 8’ έγώ, δύναμιν έχον;Έρμηνεϋον καί διαπορθμεϋον θεοϊς τά παρ’ άνθρώπων

και άνθρώποις τά παρά θεών, τών μεν τάς δεήσεις και θυσίας, τών 8έ τάς επιτάξεις τε και άμοιβάς τών θυσιών, έν μέσω δέ ον άμφοτέρων συμπληροϊ, ώστε το παν αύτό αύτω συνδεδέσθαι. διά τούτου και ή μαντική πάσα χωρεϊ και ή τών ιερέων τέχνη τών τε περί τάς θυσίας καί τελετάς

103Α και τάς έπωδάς και τήν μαγείαν πάσαν και γοητείαν, θεός δέ άνθρώπω ού μείγνυται, άλλά διά τούτου πασά έστιν ή ομιλία και ή διάλεκτος θεοϊς προς άνθρώπους, και έγρη- γορόσι και καθεύδουσι■ και ό μεν περί τά τοιαϋτα σοφός δαιμόνιος άνήρ, ό δέ άλλο τι σοφός ών ή περί τέχνας ή χειρουργίας τινάς βάναυσος, οϋτοι δή οι δαίμονες πολλο'ι και παντοδαποί είσιν, εις δέ τούτων έστ1 καί ό Έρως.

Πατρός δέ, ήν δ' έγώ, τίνος έστι και μητρός; β Μακρότερον μέν, έφη, διηγήσασθαι- όμως δέ σοι έρώ.

ότε γάρ έγένετο ή Αφροδίτη, ήστιώντο οι θεοί οϊ τε άλλοι και ό τής Μήτιδος υός Πόρος, έπειδή δέ έδείπνησαν, προσαιτήσουσα οϊον δή ευωχίας οϋσης άφίκετο ή Πενία, και ήν περί τάς θύρας. ό οΰν Πόρος μεθυσθείς τοϋ νέκταρος - οίνος γάρ οϋπω ήν - εις τον τοϋ Αιός κήπον είσελθών βεβαρημένος ηϋδεν. ή οΰν Πενία έπιβουλεύουσα διά τήν αύτής απορίαν παιδίον ποιήσασθαι έκ τοϋ Πόρου, κατα-

ο κλίνεταί τε παρ’ αύτω και έκύησε τον Έρωτα, διό δή καίτής Αφροδίτης άκόλουθος καί θεράπων γέγονεν ό Έρως, γεννηθείς έν τοϊς έκείνης γενεθλίοις, καί άμα φύσει έρα- στής ών περί τό καλόν καί τής Αφροδίτης καλής οϋσης. άτε οΰν Πόρου καί Πενίας ύός ών ό Έρως έν τοιαύτη τύχη καθέστηκεν. πρώτον μέν πένης αεί έστι, καί πολλοϋ δει απαλός τε καί καλός, οϊον οι πολλοί οϊονται, άλλά σκληρός

η καί αυχμηρός καί ανυπόδητος καί άοικος, χαμαιπετής άείών καί άστρωτος, έπί θύραις καί έν όδοϊς υπαίθριος κοιμώ- μενος, τήν τής μητρός φύσιν ίχων, άεί ένδεια σύνοικος.

1 5 0

O B A N Q U E T E

“E que função desempenha?” perguntei-lhe.

“Interpreta e leva para os deuses o que vai dos homens, e para os homens

o que vem dos deuses: de um lado, preces e sacrifícios; do outro,

ordens e as remunerações dos sacrifícios. Colocado entre ambos, ele

preenche esse intervalo, permitindo que o Todo se ligue a si mesmo.

Dele procede a adivinhação e a arte dos sacerdotes, em relação aos

sacrifícios e iniciações, | aos encantamentos, ao vaticínio em geral 2 0 3 A

e à magia. Os deuses não se misturam com os homens; é por meio

desse elemento que os deuses entram em contato com os homens e

se torna possível o diálogo entre eles, tanto no estado de vigília como

durante o sono. O perito em tais assuntos é demoníaco, enquanto o

homem entendido noutras artes e nos diferentes misteres não passa

de um obreiro comum. Os demônios são em grande número e da

mais variada espécie; Eros é um deles.”

“De que pai ele provém”, lhe perguntei; “e de que mãe?”

“É longa a história”, me falou; “mas, apesar disso, vou relatá-la. No dia em b

que nasceu Afrodite, os deuses aprestaram um banquete, achando-se

presente entre eles Poros ou Expediente, filho de Métis ou Invenção.

Já no fim do banquete, chegou Pobreza, com a intenção de aproveitar

aquela oportunidade única para mendigar, e se colocou perto da porta.Nesse entremeio, Expediente, embriagado de néctar - pois ainda não

se conhecia o vinho - penetrou no jardim de Zeus e logo adormeceu pesadamente. Então, Pobreza, espicaçada por sua própria indigência,

pensou na possibilidade de ter um filho com Expediente: deitou- -se-lhe I ao lado e concebeu Eros. Assim, tornou-se Eros companheiro c

e servidor de Afrodite, por ter sido gerado no dia do seu nascimento e por ser Afrodite bela e ele naturalmente amante das coisas belas.

E porque filho de Expediente e de Pobreza, tocaram-lhe os seguintes predicados: Para começar, é sempre pobre e está longe de ser delicado

e belo, conforme crê o vulgo. Ao revés disso: é áspero, j esquálido e d

sem calçado nem domicílio certo; só dorme sem agasalho e ao ar livre,

no chão duro, pelas portas das casas e nas estradas. Tendo herdado a natureza da mãe, é companheiro eterno da indigência. Por outro

151

κατά 8ε αϋ τον πατέρα έπίβονλός έστι τοϊς καλοΐς και τοΐς

άγαθοϊς, ανδρείος ών και ϊτης και σύντονος, θηρευτής

δεινός, άεί τινας πλέκων μηχανάς, κα'ι φρονήσεως έπι-

θυμητής και πόριμος, φιλοσοφών διά παντός τοϋ βίου, δεινός γόης και φαρμακεύς κα'ι σοφιστής■ και οϋτε ώς

ε άθάνατος πέφυκεν οϋτε ώς θνητός, άλλά τοτε μεν τής αυτήςημέρας θάλλει τε κα'ι ζή, όταν εύπορήση, τοτε δε Αποθνή­σκει, πάλιν δε άναβιώσκεται διά την τοϋ πατρός φύσιν, τό

δε ποριζόμενον άεί ύπεκρέί, ώστε οϋτε άπορεϊ ’Έρως ποτέ

οϋτε πλουτει, σοφίας τε αϋ και άμαθίας έν μέσω έστίν. ιο4Λ έχει γάρ ώδε. θεών ούδε'ις φιλοσοφεί ούδ’ έπιθυμεϊ σοφός

γενέσθαι - έστι γάρ - ούδ’ εϊ τις άλλος σοφός, ού φιλοσοφεί, ούδ’ αϋ οί άμαθεις φιλοσοφοϋσιν ούδ' έπιθυμοϋσι σοφοί γενέσθαι■ αύτό γάρ τοϋτό έστι χαλεπόν άμαθία, τό μη

οντα καλόν κάγαθόν μηδέ φρόνιμον δοκεΐν αύτώ είναι ικανόν, οϋκουν έπιθυμεϊ ό μή οίόμενος ένδεής είναι οϋ αν

μή οϊηται έπιδείσθαι.Τίνες οϋν, έφην έγώ, ώ Αιοτίμα, οί φιλοσοφούντες, εί

μήτε οί σοφοί μήτε οί άμαθέίς;

β Δήλον δή, έφη, τοϋτό γε ήδη καί παιδί, ότι οί μεταξύτούτων άμφοτέρων, ών άν εϊη καί ό Έρως. έστιν γάρ δή τών καλλίστων ή σοφία, ’Έρως δ' έστίν έρως περί τό καλόν,

ώστε άναγκαιον Έρωτα φιλόσοφον είναι, φιλόσοφον δε οντα μεταξύ είναι σοφού καί άμαθοϋς. αίτια δε αύτώ καί τούτων ή γένεσις- πατρός μεν γάρ σοφού έστι καί εύπορου, μητρός δέ ού σοφής καί άπορου, ή μεν οϋν φύσις τοϋ

δαίμονος, ώ φίλε Σώκρατες, αϋ τη- όν δέ συ ωήθης Έρωτα

c είναι, θαυμαστόν ούδέν έπαθες. ώήθης δέ, ώς έμοί δοκεϊ τεκμαιρομένη έξ ών σύ λέγεις, τό έρώμενον Έρωτα είναι, ού τό έρών- διά ταϋτά σοι οιμαι πάγκαλος έφαίνετο ό

Έρως. καί γάρ έστι τό έραστόν τό τώ όντι καλόν καί άβρόν καί τέλεον καί μακαριστόν■ τό δέ γε έρών άλλην

Ιδέαν τοιαύτην έχον, οϊαν έγώ διήλθον.

Σ Τ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

1 5 2

O B A N Q U E T E

lado, como filho de tal pai, vive a excogitar ardis para apanhar tudo o que é belo e bom; é bravo, audaz, expedito, excelente caçador de homens, fértil em ardis, amigo da sabedoria, sagacíssimo, filósofo o tempo todo, feiticeiro temível, mágico e sofista. Por natureza, | nem é mortal nem imortal, porém num só dia floresce e vive, ou morre para renascer logo depois, quando tudo lhe corre bem, de acordo, sempre, com a natureza paterna. O que adquire hoje, perde amanhã, de forma que Eros nunca é rico nem pobre e se encontra sempre a meio caminho da sabedoria e da ignorância. E a razão é a seguinte: nenhum dos deuses se dedica à Filosofia nem deseja ficar sábio - pois isso ele já é - tal como entre os homens não precisa filosofar quem já é sábio. Por outro lado, os ignorantes também não se dedicam à filosofia nem procuram ficar sábios. A ignorância apresenta esse defeito capital: é que, não sendo nem bela nem boa nem inteligente, considera-se muito bem-dotada de todos esses predicados. Quem não sente necessidade de alguma coisa, não deseja vir a possuir aquilo de cuja falta não se apercebe”.

“Nesse caso, Diotima”, lhe perguntei, “quem é que se ocupa com a Filosofia, se não o fazem nem os sábios nem os ignorantes?”

“Até para uma criança”, me respondeu, “é claro que são os que se encontram entre uns e outros, estando Eros incluído nesse número. A sabedoria é o que há de mais belo. Ora, sendo Eros amante do belo, necessariamente será filósofo ou amante da sabedoria, e, como tal, se encontra colocado entre os sábios e os ignorantes. A razão desse fato, vamos encontrá-la na sua origem: ele descende de um pai sábio e rico em expedientes, e de mãe nada inteligente e de acanhados recursos. Essa, meu caro Sócrates, é a natureza de tal demônio. Não é de admirar a ideia j que fazias do Amor. Pelo que posso concluir do que disseste, imaginavas que o Amor fosse apenas o indivíduo amado, não o que ama. Por isso, quero crer, ele se te afigurava tão belo. Pois, em verdade, aquilo que amamos é, realmente, belo, delicado, perfeito e bem-aventurado. Porém o amante é de natureza muito diferente, conforme te expliquei”.

2 0 4 A

B

1 5 3

Kai έγώ είπον, Εΐεν δή, ώ ξένη, καλώς γάρ λέγεις-

τοιοϋτος ών ό ’Έρως τίνα χρείαν έχει τοϊς άνθρώποις;104D Τούτο δη μετά ταντ', έφη, ώ Σώκρατες, πειράσομαί σε

διδάξαι. έστι μέν γάρ δη τοιοϋτος και οϋτω γεγονώς ό

’Έρως, έστι δέ τών καλών, ώς σύ φής. εί δέ τις ημάς

έροιτο- Τί τών καλών έστιν ό Έρως, ώ Σώκρατές τε

και Διοτίμα; ώδε δέ σαφέστερον- έρώ ό έρών τών καλών- τί έρά;

Kai έγώ είπον ότι Γενέσθαι αύτφ.ΆλΧ έτι ποθεί, έφη, ή άπόκρισις έρώτησιν τοιάνδε- Τί

έσται έκείνω φ άν γένηται τα καλά;Ον πάνν έφην έτι έχειν έγώ προς ταντην την έρώτησιν

προχείρως άποκρίνασθαι. ε Άλλ’, έφη, ώσπερ άν εί τις μεταβολών άντί τοϋ καλοϋ

τφ άγαθφ χρώμενος πννθάνοιτο- Φέρε, ώ Σώκρατες, έρώ, ό

έρών τών αγαθών- τί έρά;Γενέσθαι, ήν δ’ έγώ, αύτφ.Kai τί έσται έκείνω φ άν γένηται τάγαθά;Τοϋτ εύπορώτερον, ήν δ’ έγώ, έχω άποκρίνασθαι, ότι

εύδαίμων έσται.

20SA Κτήσει γάρ, έφη, άγαθών oi ενδαίμονες ενδαίμονες, καιούκέτι προσδει έρέσθαι "Ινα τί δέ βούλεται εύδαίμων είναι ό βουλόμενος; άλλά τέλος δοκεί έχειν ή άπόκρισις.

Αληθή λέγεις, είπον έγώ.Ταντην δή τήν βούλησιν καί τον έρωτα τούτον πάτερα

κοινόν οϊει είναι πάντων ανθρώπων, καί πάντας τάγαθά

βονλεσθαι αντοις είναι ά ε ίή πώς λέγεις;Οντως, ήν 8’ έγώ- κοινόν είναι πάντων.Τί δή ονν, έφη, ώ Σώκρατες, ον πάντας έράν φαμεν,

β εϊπερ γε πάντες τών αύτών έρώσι και άεί, άλλά τινάς φαμεν

έράν, τούς δ’ οϋ;Θαυμάζω, ήν δ’ έγώ, καί αύτός.Αλλά μή θαύμαζ’, έφη- άφελόντες γάρ άρα τοϋ έρωτός

Σ Τ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

1 5 4

O B A N Q U E T E

xxiv. Voltei a manifestar-me: “Pois que seja, forasteira; falas muito bem. Mas, sendo Eros o que dizes, de que maneira pode ser útil aos homens?”

“Isso, precisamente, Sócrates”, me falou, “é o que procurarei explicar-te. Já te expus a natureza de Eros e sua origem, sendo que tu próprio reconheces que ele deseja as coisas belas. Suponhamos, agora, que nos formulassem a seguinte pergunta: ‘Sócrates e Diotima, em que consiste o amor do que é belo? Ou, para falar mais claramente: Quem ama as belas coisas, que é o que ama?’”

Então, lhe falei: “Possuí-lo”.“Porém essa resposta”, continuou, “implica nova pergunta: ‘Que acon­

tece com quem adquire o belo?’”Neste passo, lhe disse que não me achava em condições de responder

a ela assim de repente.“Porém no caso”, retrucou, “de mudarem a pergunta, em vez de Belo

pusessem Bom, e a apresentassem nos seguintes termos: ‘Quem ama as coisas boas, que deseja?”’

“Possuí-las”, respondi.“E que acontece com quem chega a possuí-las?”“Isso agora é mais fácil de responder”, lhe falei: “fica feliz”.“E certo; pois a aquisição de coisas boas deixa feliz as pessoas felizes,

não tendo cabimento voltar a perguntar por que deseja ser feliz quem é feliz; parece que a resposta está completa.”

“Tens razão”, lhe disse.“Essa vontade, pois, e esse amor, achas que são comuns a todos os

homens, desejando todos possuir sempre o que é bom, ou como te parece?”

“Isso mesmo”, respondi: “são comuns a todos os homens”.“Por que então, Sócrates”, voltou a falar, “não dizemos de todos os homens

que eles amam, j uma vez que todos amam, e sempre, as mesmas coisas, porém de alguns dizemos que amam, e de outros não?”

“A mim também”, lhe falei, “isso causa admiração”.“Não há motivo para tanto”, observou; “é que destacamos uma espécie

2 0 4 D

E

2 0 5 A

155

τι είδος όνομάζομεν, το τού όλου έπιτιθέντες όνομα, έρωτα,

τα δε άλλα άλλοις καταχρώμεθα όνόμασιν.'Ώσπερ τί; ήν δ’ εγώ.'Ώσπερ τόδε. οίσθ’ ότι ποίησίς έστί τι πολύ■ ή γάρ

τοι έκ του μη όντος εις τό όν ίόντι ότωοϋν αίτία πασά έστι 1050 ποίησις, ώστε και αΐ ύπό πάσαις ταΐς τέχναις έργασίαι

ποιήσεις είσΐ και οι τούτων δημιουργοί πάντες ποιηταί.

Αληθή λέγεις.ΆΧλ! όμως, ή δ’ ή, οίσθ’ ότι ού καλούνται ποιηταί άλλα

άλλα έχουσιν ονόματα, άπό δε πάσης τής ποιήσεως εν

μόριον άφορισθέν τό περί τήν μουσικήν και τά μέτρα τω

τού όλου όνόματι προσαγορεύεται, ποίησις γάρ τούτο

μόνον καλείται, και οί έχοντες τούτο τό μόριον τής ποιήσεως

ποιηταί.Αληθή λέγεις, έφην.

υ Οϋτω τοίνυν και περί τον έρωτα, τό μέν κεφάλαιόν έστιπάσα ή των άγαθών έπιθυμία και τού εΰδαιμονειν ό μέ­γιστος τε και δολερός έρως παντί- άλλ’ οί μέν άλλη

τρεπόμενοι πολλαχή έπ’ αυτόν, ή κατά χρηματισμόν ή κατά φιλογυμναστίαν ή κατά φιλοσοφίαν, ούτε έράν καλούνται

ούτε έρασταί, οί δέ κατά έν τι είδος ίόντες τε καί έσπου-

δακότες τό τού όλου όνομα ϊσχουσιν, έρωτά τε καί έράν καί έρασταί.

Κινδυνεύεις άληθή, έφην έγώ, λέγειν.Καί λέγεται μέν γέ τις, έφη, λόγος, ώς οί αν τό ήμισυ

ε έαυτών ζητώσιν, οϋτοι έρώσιν■ ό δ' έμός λόγος οϋτε ήμίσεόςφησιν είναι τον έρωτα οϋτε όλου, έάν μή τυγχάνη γέ που, ώ εταίρε, αγαθόν όν, έπεί αυτών γε καί πόδας καί χεϊρας

έθέλουσιν άποτέμνεσθαι οί άνθρωποι, έάν αύτοϊς δοκή τά έαυτών πονηρά είναι, ού γάρ τό έαυτών οϊμαι έκαστοι

άσπάζονται, εί μή εϊ τις τό μέν αγαθόν οίκεϊον καλεΐ καί έαυτού, τό δέ κακόν άλλότριον· ώς ουδέν γε άλλο έστίν ου

ι ο ή Α έρώσιν άνθρωποι ή τού άγαθού. ή σοί δοκούσιν;

Σ Τ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

1 5 6

O B A N Q U E T E

particular de amor e lhe damos o nome do todo, Amor, para aplicar nomes diferentes às demais espécies”.

“De que jeito?” perguntei.“E o seguinte: como sabes, é muito amplo o conceito de Criação. Damos

o nome de criação a tudo o que promove a passagem do não-ser para a existência, | de forma que são criações todos os produtos das artes, vindo a ser criadores ou poetas os respectivos artesãos.”

“Tens razão.”“No entanto”, prosseguiu, “como bem sabes, nem todos são deno­

minados poetas; recebem denominações diferentes. De todo o gênero das criações foi destacada uma parte, relativa à Música e aos metros, que recebeu o nome do conjunto. Esta, unicamente, é que se chama Poesia, e criadores ou poetas, os que se dedicam a essa parte da criação”.

“E muito certo, lhe falei.”“A mesma coisa se dá com o Amor. Para os homens em geral, a apetência

do bem e de ser feliz sob todas as suas manifestações é o grande e ardiloso Amor. Porém, todos os que se afanam noutras direções, a das práticas lucrativas, dos exercícios físicos, ou a da filosofia, não dizemos que amam ou que são amantes; somente os que seguem uma forma particular de amor e a ela se dedicam é que recebem o nome de todo o gênero: amor, amar, amante.”

“E possível que tenhas razão”, lhe falei.“Sim”, continuou; “existe uma teoria segundo a qual amar é procurar

a outra metade de si mesmo. Porém, o que minha teoria afirma é que amar não será a procura da metade nem do todo, se essa metade, meu caro, e esse todo não forem bons; a prova disso é que os homens permitem que lhes amputem as mãos ou os pés, sempre que consideram prejudiciais essas partes do corpo. Ninguém se apega, quero crer, ao que lhe pertence, salvo se dermos a denominação de bom ao que nos é próprio e faz parte de nós mesmos, e de mau ao que nos é estranho, porque fora do bem nada mais os homens amam, não te parece?”

205c

D

E

20Ó A

157

Σ Τ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

1 0 0 Β

Ο

Μά Α ί’ ούκ έμοιγε, ήν 8' έγώ.Άρ οϋν, ή 8' ή, ούτως άπλοϋν έστι λέγειν δτι οι

άνθρωποι τάγαθοϋ έρώσιν;Ναι, εφην.Τί δέ; ον προσθετέον, εφη, δτι και είναι το αγαθόν

αύτοΐς έρώσιν;Προσθετέον.Ά ρ’ οϋν, εφη, καί ον μόνον είναι, άλλα και άεί είναι;Καί τούτο προσθετέον.Έστιν άρα συλλήβδην, εφη, ο έρως τοϋ το άγαθόν αντώ

είναι άεί.Αληθέστατα, εφην έγώ, λέγεις.Ό τε δη τούτου ό ερως έστίν άεί, ή δ’ ή, τών τίνα τρόπον

διωκόντων αύτό καί έν τίνι πράξει ή σπουδή καί ή σύντασις

έρως αν καλοϊτο; τί τοϋτο τυγχάνει ον τό εργον; έχεις

είπεΐν;Ού μένταν σέ, εφην έγώ, ώ Διοτίμα, έθαύμαζον έπί

σοφία καί έφοίτων παρά σέ αντά ταϋτα μαθησόμενος.Αλλά έγώ σοι, εφη, έρώ. έστι γάρ τοϋτο τόκος έν

καλώ καί κατά τό σώμα καί κατά την ψνχήν.Μαντείας, ήν δ’ έγώ, δέίται δτι ποτε λέγεις, καί ού

μανθάνω.ΆλΧ έγώ, ή δ’ ή, σαφέστερον έρώ. κνονσιν γάρ, έφη,

ώ Σώκρατες, πάντες άνθρωποι καί κατά τό σώμα καί κατά τήν ψυχήν, καί έπειδάν έν τινι ήλικία γένωνται, τίκτειν

έπιθυμεϊ ημών ή φύσις. τίκτειν δέ έν μεν αίσχρώ ού δύναται, έν δέ τώ καλώ. [ή γάρ άνδρός καί γυναικός

συνουσία τόκος έστίν.] έστι δέ τοϋτο θειον τό πράγμα, καί τοϋτο έν θνητώ δντι τώ ζώω άθάνατον ένεστιν, ή κύησις

καί ή γέννησις. τά δέ έν τώ άναρμόστω άδύνατον γενέ-

σθαι. άνάρμοστον δ’ έστι τό αισχρόν παν τί τώ θείω, τό

δέ καλόν άρμόττον. Μοίρα οϋν καί Είλείθυια ή Καλλονή

έστι τή γενέσει. διά ταϋτα δταν μέν καλώ προσπελάζη

158

O B A N Q U E T E

“Por Zeus” lhe disse; “acho que sim”.“Podemos, por conseguinte, afirmar sem mais rebuços” continuou,

“que os homens amam o bem?”“Sem dúvida”, lhe falei.“E então?” voltou a insistir; “não teremos o direito de acrescentar que

desejam ficar de posse desse bem?”“Temos, sem dúvida.”“E não apenas possuí-lo”, prosseguiu, “mas possuí-lo sempre?”“Isso também.”“O amor, em resumo” arrematou, “é o desejo de possuir sempre o

bem”.“É muito certo o que dizes”, lhe falei.xxv. “Sendo assim”, prosseguiu, “se o amor é sempre o amor do bem,

de que modo e em que casos aplicaremos o nome de amor à paixão e à intensidade do esforço dos que se afanam na conquista do bem? De que modalidade de ação se trata, poderás dizer-me?”

“Se eu pudesse, Diotima, não admiraria o teu grande saber nem te houvera procurado para instruir-me precisamente a respeito desses assuntos.”

“Então, vou dizer-te”, respondeu. “Amar é gerar na Beleza, ou segundo o corpo, ou segundo o espírito.”

“É preciso ser adivinho”, lhe falei, “para apanhar o sentido de tuas palavras. Não compreendo”.

“Pois bem”, me disse; “vou falar com mais clareza. Todos os homens são fecundos, Sócrates”, continuou, “ou segundo o corpo ou segundo o espírito, e quando atingimos determinada idade, nossa natureza tem vontade de procriar. Ora, procriar no feio não é possível; terá de ser no belo. A união do homem e da mulher é geração, obra divina, participando, assim, da imortalidade o ser mortal, pela concepção e pela geração. Mas é impossível que isso se realize no que é discor­dante; tudo o que é feio está em discordância com o divino, ao passo que o belo está em consonância com ele. Logo, a Beleza é a parteira da geração; é Parca e Ilítia a um só tempo. Por esse motivo, sempre

2 0 ÓB

C

159

Σ Τ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

τό κυοϋν, ϊλεών τε γίγνεται καί εύφραινόμενον 8ιαχεϊται και τίκτει τε και γέννα■ όταν δε αίσχρώ, σκυθρωπόν τε

και λυπούμενον συσπειράται και άποτρέπεται και άνείλλεται και ού γέννα, άλλα ϊσχον τό κύημα χαλεπώς φέρει, δθεν δη

τω κυοϋντί τε και ήδη σπαργώντι πολλή ή πτοίησις γέγονε

ε περί τό καλόν διά τό μεγάλης ώδϊνος άπολύειν τον έχοντα.έστιν γάρ, ώ Σώκρατες, έφη, ού τοϋ καλού ό έρως, ώς

συ οϊει.Άλλά τί μήν;

Τής γεννήσεως και τοϋ τόκου έν τω καλώ.Ειεν, ήν δ’ έγώ.Πάνυ μέν ούν, έφη. τί δη οΰν τής γεννήσεως; ότι

άειγενές έστι καί άθάνατον ώς θνητώ ή γέννησις. άθα- 107α νασίας δέ άναγκαΐον έπιθυμεϊν μετά άγαθοϋ έκ τών ώμο-

λογημένων, εϊπερ τοϋ άγαθοϋ έαυτώ είναι άε'ι έρως έστίν. άναγκαΐον δή έκ τούτου τοϋ λόγου καί τής άθανασίας τον έρωτα είναι.

Ταϋτά τε ούν πάντα έδίδασκέ με, οπότε περί τών έρω- τικών λόγους ποιοϊτο, καί ποτε ήρετο Τί οϊει, ώ Σώκρατες, αίτιον είναι τούτου τοϋ έρωτος και τής έπιθυμίας; ή ούκαίσθάνη ώς δεινώς διατίθεται πάντα τά θηρία έπειδάν γεν­νάν έπιθυμήση, καί τά πεζά καί τά πτηνά, νοσούν τά τε

β πάντα καί έρωτικώς διατιθέμενα, πρώτον μέν περί τό συμ-μιγήναι άλλήλοις, έπειτα περί τήν τροφήν τοϋ γενομένου, καί έτοιμά έστιν ύπέρ τούτων καί διαμάχεσθαι τά ασθενέ­

στατα τοϊς ίσχυροτάτοις καί ύπεραποθνήσκειν, καί αύτά τω λιμώ παρατεινόμενα ώστ’ έκεϊνα έκτρέφειν, καί άλλο πάν

ποιοϋντα. τούς μέν γάρ άνθρώπους, έφη, οϊοιτ’ άν τις έκ

λογισμού ταϋτα ποιεϊν- τά δέ θηρία τίς αίτια ούτως έρωτικώς ο διατίθεσθαι; έχεις λέγειν;

Καί έγώ αύ ελεγον ότι ούκ είδείην- ή δ’ είπεν, Διανοή

ούν δεινός ποτε γενήσεσθαι τά έρωτικά, έάν ταϋτα μή έννοής;

160

O B A N Q U E T E

que o poder fecundante se aproxima do que é belo, fica jovial e expansivo no seu regozijo, e concebe e procria. Porém, quando se trata de algo feio, retrai-se aflito e triste, recolhe-se em si mesmo e afasta-se sem gerar, levando consigo o fardo incômodo da semente. É o que explica o alvoroço inefável do ser fecundo e transbordante de seiva diante da beleza, j pois esta o alivia do grande sofrimento da geração. Porque o Amor, Sócrates, prosseguiu, não é o amor do belo, como imaginas”.

“Que é, então?”“Procriar e gerar no belo.”“Pois que seja”, lhe disse.“E isso mesmo”, continuou. “Mas, por que geração? Por ser por meio

da procriação que os mortais participam da eternidade e da imor­talidade. Há pouco admitimos que j o desejo da imortalidade está necessariamente ligado ao bem, visto dirigir-se o Amor para a posse perpétua do bem. A conclusão forçosa desse argumento é que o amor é o anseio de imortalidade”,

xxvi. Tudo isso ela me explicou aos pouquinhos, nas ocasiões em que conversamos a respeito do amor. De uma feita, perguntou-me:

“Sócrates, qual te parece ser a causa desse amor e desse desejo? Ainda não observaste em que estado de braveza ficam os animais no tempo de procriar, os que voam e os que marcham, como que padecendo todos eles j dessa loucura amorosa, primeiro quando se unem, depois para criar os filhos, e como até mesmo os mais fracos se atrevem a defendê-los contra os mais fortes e a morrerem por eles, e como suportam os horrores da fome e tudo o mais, só para alimentá-los? Com referência aos homens, acrescentou, poder- -se-ia imaginar que eles assim procedem por meio da reflexão. Mas entre os animais, qual poderá ser a causa dessa disposição amorosa? Saberás dizer-me?”

Tornei a confessar-lhe minha ignorância.“Então”, me perguntou: “Como! Pretendes vir algum dia a ser grande

sabedor da arte de amar, e ignoras esse ponto?”

2 0 7 A

B

161

Σ Τ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

Άλλά διά ταϋτά τοι, ώ Αιοτίμα, δπερ νυνδή εϊπον, παρά

σε ήκω, γνούς δτι διδασκάλων δέομαι, αλλά μοι λέγε

καί τούτων την αιτίαν κα'ι των άλλων των περ'ι τά έρωτικά.

Εί τοίνυν, έψη, πιστεύεις εκείνον είναι φύσει τον έρωτα,

ού πολλάκις ώμολογήκαμεν, μή θαύμαζε, ενταύθα γάρ

ιο7 ο τον αυτόν έκείνω λόγον ή θνητή φύσις ζητεϊ κατά το δυνατόν

αεί τε είναι και αθάνατος, δύναται δε ταύτη μόνον, [τη

γενέσει], ότι άεΐ καταλείπει έτερον νέον άντ'ι τού παλαιού,

έπει και έν ώ εν έκαστον των ζώων ζήν καλείται και είναι

τό αύτό - οιον έκ παιδαρίου ό αύτός λέγεται έως αν πρε­

σβύτης γένηται■ οϋτος μέντοι ουδέποτε τά αυτά έχων έν

αντώ όμως ό αύτός καλείται, άλλά νέος άε'ι γιγνόμενος, τά

δε άπολλύς, καί κατά τάς τρίχας και σάρκα και οστά καί

ε αίμα καί σύμπαν τό σώμα. καί μή ότι κατά τό σώμα,

άλλά καί κατά την ψυχήν οι τρόποι, τά ήθη, δό'ξαι, έπιθυ-

μίαι, ήδοναί, λϋπαι, φόβοι, τούτων έκαστα ουδέποτε τά

αύτά πάρεστιν έκάστω, αλλά τά μεν γίγνεται, τά δε άπόλ-

λυται. πολύ δε τούτων άτοπώτερον έτι, δτι καί αί έπιστήμαι

2ο 8 α μή ότι αί μεν γίγνονται, αί δε άπόλλυνται ήμϊν, καί ούδέ-

ποτε οι αυτοί έσμεν ούδέ κατά τάς έπιστήμας, άλλά καί

μία έκαστη τών έπιστημών ταύτόν πάσχει, δ γάρ καλείται

μελετάν, ώς έξιούσης έστί τής έπιστήμης- λήθη γάρ

έπιστήμης έξοδος, μελέτη δέ πάλιν καινήν έμποιοϋσα άντί

τής άπιούσης [μνήμην] σώζει τήν επιστήμην, ώστε την

αύτήν δοκεϊν είναι, τούτω γάρ τώ τρόπω πάν τό θνητόν

σώζεται, ού τώ παντάπασιν τό αύτό άεί είναι ώσπερ τό

β θεΐον, άλλά τώ τό άπιόν καί πάλαιούμενον έτερον νέον

έγκαταλείπειν οΐον αύτό ήν. ταύτη τη μηχανή, ώ Σώ-

κρατες, έφη, θνητόν άθανασίας μετέχει, καί σώμα καί τάλλα

πάντα■ άθάνατον δέ άλλη. μή οΰν θαύμαζε εί τό αύτού

άποβλάστημα φύσει πάν τιμά■ άθανασίας γάρ χάριν παντί

αϋτη ή σπουδή καί ό έρως έπεται.

1 6 2

O B A N Q U E T E

“Por isso mesmo foi que te procurei, Diotima, como disse há pouco, por ter perfeita consciência de que necessito de mestre. Explica-me a causa desse fato e das outras manifestações do amor.”

“Se aceitas”, me falou, “que o objeto natural do amor é o que já tantas vezes admitimos, não tens do que admirar-te. Exatamente ■ como naquele caso, aqui também a natureza mortal procura, tanto quanto possível, ser eterna e imortal. Ora, a geração é o único meio para atingir esse fim, com deixar sempre um ser novo no lugar do velho. De cada ser vivo costuma dizer-se que vive e é idêntico a si mesmo, como dizemos que é o mesmo indivíduo que vai da infância à velhice; é denominado o mesmo, conquanto nunca conserve consigo as mesmas coisas, pois não cessa de renovar-se, com perdas incessantes dos seus elementos constituintes: nos cabelos, na carne, nos ossos e no sangue; ! e não apenas no corpo, mas na própria alma, os costumes, os caracteres, as opiniões, os prazeres, as tristezas, os temores, nada disso permanece o mesmo em ninguém: estes surgem, aqueles passam. Porém, o mais desconcertante de tudo é que nossos próprios conhecimentos | ora nascem ora desaparecem, nunca permane­cendo nós idênticos a nós mesmos em matéria de conhecimentos, porque igual coisa se passa com cada conhecimento em particular. O que denominamos estudo pressupõe que o conhecimento nos abandona; esquecer é precisamente isto: perder o conhecimento adquirido, vindo a ser a reflexão a criação de uma nova lembrança em substituição da que nos deixou, o que faz durar o conhecimento e dá a impressão de que é sempre o mesmo. É desse modo que tudo o que é mortal se conserva, não porque se mantenha sempre o mesmo, como se dá com as coisas divinas, j mas pelo fato de retirar-se o que envelhece e deixar no seu lugar algo mais novo, como se fosse o mesmo. E por esse motivo, Sócrates, continuou, que participa da imortalidade o que é mortal, o corpo e tudo o mais. Com o que é imortal o caso é diferente. Não te admires, portanto, de que todos os seres se mostrem tão apegados a seus rebentos, pois é só com vistas à imortalidade que lhes é inerente tamanho zelo e tanto amor”.

2 0 7 D

E

2 0 8 a

163

Kai έγώ άκούσας τον λόγον έθαύμασά τε και εΐπον

Εϊεν, ήν 8’ έγώ, ώ σοφωτάτη Διοτίμα, ταϋτα ώς αληθώς

οϋτως έχει;

mH«: Kai ή, ώσπερ οι τέλεοι σοφισταί, Εΰ ϊσθι, έφη, ώ

Σώκρατες- έπεί γε καί τών ανθρώπων εί έθέλεις εις την

φιλοτιμίαν βλέψαι, θανμάζοις αν τής άλογίας περί & έγώ

εϊρηκα εί μή έννοεϊς, ένθνμηθεϊς ώς δεινώς διάκεινται έρωτι

τον όνομαστοί γενέσθαι καί κλέος ές τον άεϊ χρόνον

αθάνατον καταθέσθαι:, και ύπέρ τούτου κινδύνους τε

κινδυνεύειν έτοιμοί είσι πάντας έτι μάλλον ή ύπέρ τών

d παίδων, και χρήματα άναλίσκειν καί πόνους πονεϊν ούσ-

τινασοϋν και ύπεραποθνήσκειν. έπε'ι οϊει σύ, έφη, Άλκηστιν

ύπέρ Άδμήτου άποθανεϊν αν, ή Άχιλλέα Πατρόκλω έπ-

αποθανεϊν, ή προαποθανεϊν τον ύμέτερον Κόδρον ύπέρ τής

βασιλείας τών παίδων, μή οίομένους Αθάνατον μνήμην

αρετής πέρι έαυτών έσεσθαι, ήν νυν ήμεϊς έχομεν; πολλοϋ

γε δεϊ, έφη, ΑλΧ οΐμαι ύπέρ αρετής αθανάτου και τοιαύτης

δόζης εύκλεοϋς πάντες πάντα ποιοϋσιν, όσω άν άμείνους

ε ώσι, τοσούτω μάλλον■ τον γαρ αθανάτου έρώσιν. οι μεν

οΰν έγκύμονες, έφη, κατά τα σώματα όντες προς τάς γυναίκας

μάλλον τρέπονται καί ταύτη έρωτικοί είσιν, διά παιδογονίας

Αθανασίαν και μνήμην και ευδαιμονίαν, ώς οΐονται, αύτοίς

εις τον έπειτα χρόνον πάντα ποριζόμενοι■ οί δε κατά τήν

ιο9Α ψυχήν - είσι γαρ οΰν, έφη, οι έν ταίς ψυχαίς κυοϋσιν έτι

μάλλον ή έν τοίς σώμασιν, ά ψυχή προσήκει και κυήσαι

καί κυειν- τί οΰν προσήκει; φρόνησίν τε και τήν άλλην

Σ Τ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

1 6 4

O B A N Q U E T E

xxvii. Ouvindo-a expressar-se nesses termos, senti-me tomado de admiração e lhe falei: “Mas as coisas, sapientíssima Diotima”, lhe disse, “se passarão assim mesmo?”

E ela, com o gesto do mais consumado sofista: “Podes ter certeza disso, Sócrates”, respondeu; “pois, se te dispusesses a examinar a ambição dos homens, ficarias espantado diante de sua enorme insensatez, caso não refletisses nas minhas palavras e não levasses na devida consideração o instinto amoroso de conquistar alto nome e

G lória im ortal p o r toda a eternidade.

Para isso estão prontos a arrostar os maiores perigos, mais do que pelos próprios filhos, | a gastar toda a fortuna, suportar fadigas incríveis, sacrificar a vida. Achas mesmo, continuou, que Alceste consentiria em morrer por Admeto, ou que Aquiles, para vingar Pátroclo, o seguiria na morte, e o mesmo fizesse o nosso Codro, para assegurar aos filhos o reino, sem a certeza de deixarem após si a memória imortal de suas virtudes, que ainda vive entre nós? Longe disso”, prosseguiu; “estou certa de que é só pela imortalidade do mérito e pela fama gloriosa que todos fazem o que fazem, e com tanto maior empenho quanto mais nobres forem, | pois não há quem não ame a imortalidade. Os indivíduos”, prosseguiu, “cuja força fecundante reside apenas no corpo, voltam-se de preferência para as mulheres

- é a sua maneira peculiar de amar - a fim de gerar filhos e, por esse modo, assegurar para si próprios, conforme creem, a imortalidade, ventura e renome duradouro

N o perpassar in térm ino do tem po.

Os fecundos na alma... Sim, porque há também pessoas” me falou, “cuja força fecundante reside na alma, muito mais ativa do que a do corpo, com relação às coisas que convém à alma conceber e procriar. E que lhes convém conceber? A sabedoria e as demais virtudes de

2,0 8 c

D

E

209A

1 6 5

άρε τήν - ών δή είσι καί οι ποιηταϊ ττάντες γεννήτορες και

των δημιουργών δσοι λέγονται εύρετικο'ι είναι■ πολύ δέ

μεγίστη, έφη, και καλλίστη τής φρονήσεως ή περί τά τών

πόλεών τε καί οικήσεων διακόσμησις; ή δή όνομά έστι

σωφροσύνη τε καί δικαιοσύνη - τούτων δ' αύ όταν τις έκ

ιο ν η νέου έγκύμων ή τήν ψυχήν, ήθεος ών και ήκούσης τής

ήλικίας, τίκτειν τε και γεννάν ήδη έπιθυμεϊ. ζητεϊ δή

οΐμαι και οϋτος περιιών τό καλόν έν φ αν γεννήσειεν- έν

τφ γάρ αίσχρφ ουδέποτε γεννήσει, τά τε ονν σώματα τά

καλά μάλλον ή τά αισχρά άσπάζεται άτε κυών, και άν

έντύχη ψυχή καλή καί γενναία καί εύψυεϊ, πάνυ δή άσπά-

ζεται τό συναμφότερον, καί προς τούτον τον άνθρωπον

εύθύς ευπορεί λόγων περί άρε τής καί [περί] οΐον χρή είναι

τον άνδρα τον αγαθόν καί ά έπιτηδεύειν, καί έπιχειρεΐ

παιδεύειν. άπτόμενος γάρ οΐμαι τού καλού καί όμιλών

αύτφ, ά πάλαι έκύει τίκτει καί γεννά, καί παρών καί άπών

μεμνημένος, καί τό γεννηθέν συνεκτρέφει κοινή μετ' έκείνου,

ώστε πολύ μείζω κοινωνίαν τής τών παίδων προς άλλήλους

οί τοιοϋτοι ϊσχουσι καί φιλίαν βεβαιοτέραν, άτε καλλιόνων

καί άθανατωτέρων παίδων κεκοινωνηκότες. καί πάς άν

δέξαιτο έαυτφ τοιούτους παϊδας μάλλον γεγονέναι ή τούς

ό άνθρωπίνους, καί εις Όμηρον άποβλέψας καί Ησίοδον καί

τούς άλλους ποιητάς τούς άγαθούς ζηλών, οϊα έκγονα εαυτών

καταλείπουσιν, ά έκείνοις άθάνατον κλέος καί μνήμην παρ­

έχεται αυτά τοιαύτα όντα■ εί δέ βούλει, έφη, οϊους Λυκούργος

παϊδας κατελίπετο έν Αακεδαίμονι σωτήρας τής Αακεδαί-

μονος καί ώς έπος είπεϊν τής Ελλάδος, τίμιος δέ παρ'

ύμϊν καί Σόλων διά τήν τών νόμων γέννησιν, καί άλλοι

ε άλλοθι πολλαχού άνδρες, καί έν "Ελλησι καί έν βαρβάροις,

πολλά καί καλά άποφηνάμενοι έργα, γέννησαν τες παντοίαν

άρετήν- ών καί ιερά πολλά ήδη γέγονε διά τούς τοιούτους

παϊδας, διά δέ τούς άνθρωπίνους ούδενός πω.

Σ Τ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

166

O B A N Q U E T E

que, precisamente, os poetas são os pais, e os artistas dotados de espírito inventivo. A porção mais importante e bela da sabedoria”, continuou, “é a referente ao governo das cidades e à organização da família, o que recebeu o nome de prudência e justiça. Quando a alma de um desses homens divinos encerra essa virtude fecundante | e, na idade própria, sente desejos de fecundar e procriar, põe-se também, segundo creio, a procurar por toda a parte o belo para nele procriar, o que jamais poderia dar-se na fealdade. Essa a razão de deleitar-se muito mais com os corpos belos do que com os feios, por querer procriar; e se coincide encontrar uma alma bela, generosa e bem- nascida, alegra-se sobremodo com essa dupla beleza, a do corpo e a da alma. Na presença de tal criatura, ocorrem-lhe, de pronto, as mais elevadas expressões sobre o valor da virtude, os deveres e as aspirações j dos homens bons e, de imediato, procura doutriná-la. Convivendo com a beleza, segundo penso, e em contato com ela, gera e dá nascimento às coisas de que, havia muito, sua alma estava prenhe; perto ou longe, não pensa em mais ninguém, e cria junta­mente com ele o produto dessa união. A comunhão de semelhante par é muito mais íntima do que a que se observa entre pais e filhos, porque estreitada com laços afetivos muito mais firmes, visto possu­írem em comum filhos mais belos e mais imortais. Não há quem não prefira os filhos dessa natureza aos da geração humana, j quando olha com virtuosa inveja para Homero, Hesíodo e outros excelentes poetas, e reflete nos produtos que nos legaram e lhes granjearam glória e memória imperecíveis. Ou então, caso queiras”, continuou,

“quando considera a qualidade dos filhos deixados por Licurgo na Lacedemônia, defensão e salvaguarda da Lacônia e, por assim dizer, de toda a Hélade. Entre vós outros, também, Sólon é venerado por haver concebido vossas leis, assim como í entre os helenos e entre os bárbaros outros mais por toda a parte produziram um sem-número de obras excelentes e geraram de mil modos a virtude. Por causa de tais filhos já foram instituídos muitos templos em seu louvor, o que jamais fizeram por seus pais os da geração carnal.

2 0 9 B

c

D

167

Σ Τ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

Ταϋτα μεν οΰν τά έρωτικά ίσως, ώ Σώκρατες, καν σύ

λ ι ο α μνηθείης- τά δε τέλεα και εποπτικά, ών ένεκα και ταϋτα

έστιν, έάν τις όρθώς μετίη, ονκ οίδ’ εί οΐός τ ’ άν εϊης.

έρώ μεν οΰν, έφη, εγώ και προθυμίας ούδέν άπολείψω-

πειρώ δε έπεσθαι, αν οΐός τε ής. δει γάρ, έφη, τον όρθώς

ιόντα έπ'ι τούτο τό πράγμα άρχεσθαι μεν νέον όντα Ιέναι

έπι τά καλά σώματα, καί πρώτον μέν, έάν όρθώς ήγήται

ό ηγούμενος, ενός αυτόν σώματος έράν καί ένταϋθα γεννάν

λόγους καλούς, έπειτα δε αύτον κατανοήσαι ότι τό κάλλος

β τό έπ'ι ότωοϋν σώματι τώ έπ'ι έτέρω σώματι άδελφόν έστι,

και εΐ δεϊ διώκειν τό έπ εΐδει καλόν, πολλή άνοια μή ούχ

εν τε και ταύτόν ήγεϊσθαι τό έπ'ι πάσιν τοϊς σώμασι κάλλος-

τούτο δ' έννοήσαντα καταστήναι πάντων τών καλών σωμάτων

έραστήν, ένός δε τό σφόδρα τούτο χαλάσαι καταφρονή-

σαντα και σμικρόν ήγησάμενον- μετά δε ταϋτα τό έν ταϊς

ψνχαϊς κάλλος τιμιώτερον ήγήσασθαι τού έν τώ σώματι,

ώστε και έάν έπιεικής ών την ψυχήν τις καν σμικρόν άνθος

ο έχη, έζαρκεϊν αύ τώ και έράν και κήδεσθαι καί τίκτειν λόγους

τοιούτους [και] ζητεΐν, οΐτινες ποιήσουσι βελτίους τούς

νέους, ϊνα άναγκασθή αΰ θεάσασθαι τό έν τοϊς έπιτηδεύμασι

και τοϊς νόμοις καλόν καί τούτ’ ϊδεϊν ότι πάν αύ τό αύ τώ

συγγενές έστιν, ινα τό περί τό σώμα καλόν σμικρόν τι

ήγήσηται είναι■ μετά δε τά έπιτηδεύματα έπϊ τάς έπιστήμας

άγαγεϊν, ϊνα ϊδη αΰ έπιστημών κάλλος, και βλέπων προς

ο πολύ ήδη τό καλόν μηκέτι τώ παρ’ ένί, ώσπερ οικέτης,

αγαπών παιδαρίου κάλλος ή άνθρώπου τινός ή έπιτηδεύ-

ματος ένός, δουλεύων φαύλος ή καί σμικρολόγος, άλΧ έπϊ

τό πολύ πέλαγος τετραμμένος τού καλού και θεωρών πολ­

λούς και καλούς λόγους καί μεγαλοπρεπείς τίκτη και διανοή­

ματα έν φιλοσοφία άφθόνω, έως άν ένταϋθα ρωσθεις και

1 6 8

O B A N Q U E T E

xxviii. Até esta altura, Sócrates, dos mistérios do amor, tu também, decerto, poderias ser iniciado; porém, | no que constitui o último 210Adegrau, o da contemplação, a que tendem todos os anteriores, não sei se tens ou não capacidade. Contudo”, prosseguiu, “disponho-me a falar-te sem nenhuma restrição. Esforça-te por acompanhar-me até onde te for possível. É o seguinte, disse: quem quiser percorrer nessas questões o verdadeiro caminho, deve começar desde a infância a procurar belos corpos. De início, se dispuser de um guia seguro, amará apenas um corpo, ocasião propícia de gerar belos discursos. De seguida, compreenderá que a beleza j de um b

determinado corpo é irmã da beleza de outro qualquer, e que, se ele tiver de empenhar-se em pós da ideia do belo, fora o cúmulo da insensatez deixar de perceber que a beleza de todos os corpos é uma só. Alcançado esse ponto, tornar-se-á apaixonado de todos os corpos belos e relaxará, por outro lado, a violência do amor de um único corpo, que passará a desprezar, por haver reconhecido a sua insignificância. Daí por diante, terá de achar que a beleza da alma é muito mais preciosa do que a do corpo, de forma que uma alma de dotes excepcionais, até mesmo num corpo carecente de viço, | é quanto lhe basta para amá-la e dela cuidar, e gerar belos cdiscursos, cultivando, de preferência, os temas que contribuem para a formação dos jovens. Passando daí para a contemplação da beleza dos costumes e das leis, compreenderá que a beleza é uma só em todos os casos, para concluir, afinal, pelo nenhum valor da beleza corpórea. Dos costumes, passará para o estudo das ciências, a fim de contemplar, também, sua beleza muito própria, e abrangendo, assim, num único lance dolhos o âmbito tão vasto da beleza, não se deixará prender servilmente à beleza de um único d

objeto, a de um adolescente, por exemplo, de alguma pessoa ou ocupação isolada, à maneira de escravo sem préstimo e de poucas falas, porém voltado para o vasto oceano da beleza e, dominando-o com a vista, gerará belos e magníficos discursos, com o que brotarão pensamentos em barda de seu inesgotável amor à sabedoria, até

1 6 9

Σ ΎΜΠ ΟΣ Ι ΟΝ

αυξηθείς κατίδη τινά έπιστήμην μίαν τοιαύτην, ή έστι καλοϋ

τοιοϋδε. πειρώ δέ μοι, έφη, τον νοϋν προσέχειν ώς οϊόν

τε μάλιστα, δς γάρ αν μέχρι ένταϋθα προς τα έρωτικά

παιδαγωγηθή, θεώμενος έφεξής τε καί όρθώς τά καλά, προς

τέλος ήδη ιών τών έρωτικών έξαίφνης κατάγεται τι θαυ­

μαστόν τήν φύσιν καλόν, τούτο έκεΐνο, ώ Σώκρατες, οϋ δή

ένεκεν καί οι έμπροσθεν πάντες πόνοι ή σαν, πρώτον μέν

άεί ον καί οϋτε γιγνόμενον οϋ τε άπολλύμενον, ούτε αύξανό-

μενον οϋτε φθίνον, έπειτα ού τή μέν καλόν, τή 8' αισχρόν,

ουδέ τοτέ μέν, τοτέ δέ οϋ, ούδέ προς μέν τό καλόν, προς

δέ τό αισχρόν, ούδ' ένθα μέν καλόν, ένθα δέ αισχρόν, [ώς

τισί μέν όν καλόν, τισί δέ αισχρόν]· ούδ' αϋ φαντασθήσεται

αύτφ τό καλόν οϊον πρόσωπόν τι ούδέ χεϊρες ούδέ άλλο

ούδέν ών σώμα μετέχει, ούδέ τις λόγος ούδέ τις έπιστήμη,

ούδέ που όν έν έτέρω τινι, οϊον έν ζώω ή έν γή ή έν ούρανώ

ή έν τω άλλω, άλλ’ αύτό καθ' αύτό μεθ' αύτοϋ μονοειδές άεί

όν, τά δέ άλλα πάντα καλά έκείνου μετέχοντα τρόπον τινά

τοιοϋτον, οϊον γιγνομένων τε τών άλλων καί άπολλυμένων

μηδέν έκεΐνο μήτε τι πλέον μήτε έλαττον γίγνεσθαι μηδέ

πάσχειν μηδέν, όταν δή τις άπό τώνδε διά τό όρθώς παι-

δεραστεϊν έπανιών έκεΐνο τό καλόν άρχηται καθοράν, σχεδόν

άν τι άπτοιτο τοϋ τέλους, τούτο γάρ δή έστι τό όρθώς έπί

τά έρωτικά ίέναι ή ύπ' άλλου άγεσθαι, άρχόμενον άπό

τώνδε τών καλών έκείνου ένεκα τοϋ καλοϋ άεί έπανιέναι,

ώσπερ έπαναβαθμοϊς χρώμενον, άπό ένός έπί δύο καί άπό

δυοϊν έπί πάντα τά καλά σώματα, καί άπό τών καλών

σωμάτων έπί τά καλά έπιτηδεύματα, καί άπό τών έπιτηδευ-

μάτων έπί τά καλά μαθήματα, ώς άπό τών μαθημάτων έπ’

έκεΐνο τό μάθημα τελευτήση, ό έστιν ούκ άλλου ή αύτοϋ

έκείνου τοϋ καλοϋ μάθημα, καί γνώ αύτό τελευτών ο έστι

καλόν, ένταϋθα τοϋ βίου, ώ φίλε Σώκρατες, έφη ή Μαν-

O B A N Q U E T E

que, robustecido e aperfeiçoado, alcance o conhecimento único do belo que passarei a relatar-te. j Agora”, continuou, “presta a máxima e

atenção ao que vou dizer-te.x x ix . Quem tiver sido levado até esse ponto pelo caminho do

amor, após a contemplação gradativa e regular das coisas belas, já próximo da meta final do conhecimento amatório, perceberá de súbito uma beleza de natureza maravilhosa, precisamente, Sócrates, a que constituíra a razão de ser de seus esforços anteriores: para começar, | é sempiterna, não conhece nascimento nem morte, não 2 11 A

aumenta nem diminui; ao depois, não é bela de um jeito e feia de outro, ou bela num determinado momento para deixar de sê-lo pouco adiante, nem bela sob tal aspecto e feia noutras condições, ou aqui sim e ali não, ou bela para algumas pessoas, porém feia para outras; beleza que não se lhe apresentará sob nenhuma forma concreta, como fora o caso de um belo rosto ou de belas mãos ou de qualquer outra parte do corpo, nem sob o aspecto de um discurso ou conhecimento, nem como algo existente em qualquer parte, num animal, por exemplo, na terra, no céu : ou seja no que for, b

mas que existe em si e por si mesma e é eternamente una consigo mesma, da qual todas as coisas belas participam, porém de tal modo, que o nascimento e a morte delas todas em nada a diminui ou lhe acrescenta nem causa o menor dano. Quem parte da multiplicidade cá de baixo, sob a orientação firme do amor dos jovens, e começa a perceber aquela beleza, é certeza encontrar-se perto da meta ambi­cionada. Só assim deve alguém entrar j ou ser levado pelo caminho c do amor, partindo das belezas particulares para subir até àquela outra beleza, e servindo-se das primeiras como de degraus: de um belo corpo passará para dois; de dois, para todos os corpos belos, e depois dos corpos belos para as belas ações, das belas ações para os belos conhecimentos, até que dos belos conhecimentos alcance, finalmente, aquele conhecimento que outra coisa não é senão o próprio conhecimento do Belo, para terminar por contemplar o Belo em si mesmo. | Só nesta altura da existência, meu caro Sócrates”, d

1 7 1

τινική ξένη, εϊπερ που άλλοθι, βιωτόν άνθρώπω, θεωμένω

αύτό το καλόν, δ έάν ποτε ϊδης, ού κατά χρυσίον τε και

έσθήτα και τούς καλούς παϊ8άς τε καί νεανίσκους δόξει σοι

είναι, οΰς νυν όρων έκπέπληξαι καί έτοιμος εί καί σύ καί

άλλοι πολλοί, όρωντες τα παιδικά καί συνόντες άεί αύτοις,

εί πως οϊόν τ ’ ήν, μήτ’ έσθίειν μήτε πίνειν, άλλα θεάσθαι

μόνον καί συνεϊναι. τί δήτα, έφη, οίόμεθα, εί τω γένοιτο

ε αύτό τό καλόν ίδεϊν ειλικρινές, καθαρόν, άμεικτον, άλλα

μή άνάπλεων σαρκών τε ανθρωπίνων καί χρωμάτων καί

άλλης πολλής φλυαρίας θνητής, άλλ’ αύτό τό θειον καλόν

δνναιτο μονοειδές κατιδειν, άρ’ οϊει, έφη, φαϋλον βίον

ιΐ2Α γίγνεσθαι έκέίσε βλέποντος ανθρώπου καί έκεϊνο ώ δει

θεωμένου καί συνόντος αν τω; ή ούκ ένθυμή, έφη, ότι ένταϋθα

αντφ μοναχού γενήσεται, όρώντι ώ ορατόν τό καλόν, τίκτειν

ούκ είδωλα άρε τής, άτε ούκ ειδώλου έφαπτομένω, άλλά

αληθή, άτε τού άληθοϋς έφαπτομένω■ τεκόντι δέ άρετήν

άληθή καί θρεψαμένω υπάρχει Θεόφιλει γενέσθαι, καί εϊπέρ

τω άλλω ανθρώπων άθανάτω καί έκείνω;

β Ταϋτα δή, ώ Φαιδρέ τε καί οι άλλοι, έφη μέν Διοτίμα,

πέπεισμαι δ’ έγώ· πεπεισμένος δέ πειρώμαι καί τούς άλλους

πείθειν ότι τούτου τού κτήματος τή άνθρωπεία φύσει συν-

εργόν άμείνω Έρωτος ούκ αν τις ραδίως λάβοι. διό δή

έγωγέ φημι χρήναι πάντα άνδρα τον Έρωτα τιμάν, καί

αύτός τιμώ τα έρωτικά καί διαφερόντως άσκώ, καί τοΊς

άλλοις παρακελεύομαι, καί νυν τε καί άεί έγκωμιάζω τήν

δύναμιν καί άνδρείαν τοϋ Έρωτος καθ’ όσον οίός τ ’ είμί. τοϋ-

α τον οϋν τον λόγον, ώ Φαιδρέ, εί μέν βούλει, ώς έγκώμιον εις

Έρωτα νόμισον είρήσθαι, εί δέ, ότι καί όπη χαίρεις όνομάζων,

τούτο όνόμαζε.

Σ Τ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

1 7 2

O B A N Q U E T E

falou a forasteira de Mantineia, “e mais em parte alguma, é que para o homem vale a pena viver, na contemplação da Beleza em si mesma. Se nalgum tempo a vires, ela te parecerá muito diferente do ouro, das vestes, dos belos meninos e adolescentes, cuja vista presentemente tanto te arrebata, a ti e a muitos outros, a ponto de, para verdes vossos bem-amados e ficardes, se fosse possível, eternamente presos a eles, estardes dispostos a não comer nem beber, contanto que passásseis o tempo todo na sua contemplação e ao lado deles. Que ideia faríamos, continuou, da ventura de quem se elevasse até essa visão do Belo em si mesmo, simples, puro e e

sem mistura, e contemplasse não a beleza maculada pela carne, por cores e mil outras futilidades perecíveis, porém a Beleza divina em si mesma, sob sua forma inconfundível? Considerarias”, prosseguiu,

“banal a vida de quem olhasse nessa direção e contemplasse a beleza 2 1 2 A

com o órgão apropriado, o espírito, e se pusesse em comunicação com ela? Não compreendes” acrescentou, “que é somente nesse estado, quando contempla o Belo com o órgão que o deixa visível, que ele fica em condições de gerar, porém não simulacros da virtude, porque o seu olhar não pousa em simulacros, mas a própria realidade? Ora, quem gera e alimenta a verdadeira virtude é que merece ser querido dos deuses, e se for dado ao homem ficar imortal, torna-se imortal ele também”.

Foi isso, Fedro e todos vós que me escutais neste momento, o que b

Diotima me narrou e ao que eu dei inteiro crédito. Convencido dessa verdade como fiquei, procuro, do meu lado, convencer os outros de que, para alcançar semelhante bem, de maravilha se encontrará colaborador mais excelente para a natureza humana do que o Amor.Essa a razão de eu afirmar que todo homem precisa honrar o Amor, tal como procedo no culto que dedico a tudo que lhe diz respeito, concitando os outros a fazerem o mesmo e louvando, agora e sempre, o poder e a coragem do Amor, dentro de minhas possibilidades.Caso queiras, Fedro, toma estas palavras como um elogio de Eros; cou então, qualifica-as como bem te parecer».

1 7 3

Είπόντος δέ ταϋτα τον Σωκράτονς τους μέν έπαινεϊν, τον

δε Αριστοφάνη λέγειν τι έπιχειρεϊν, ότι έμνήσθη αύτοϋ

λέγων ό Σωκράτης περ'ι τού λόγον- και έξαίφνης την αΰλειον

θύραν κρονομένην πολύν ψόφον παρασχεϊν ώς κωμαστών, και αύλητρίδος φωνήν άκονειν. τον ούν Άγάθωνα, Παϊδες, φάναι,

ι ι ι ο ού σκέψεσθε; και εάν μέν τις τών έπιτηδείων ή, καλεϊτε-εί δέ μή, λέγετε ότι ον πίνομεν άλΧ άναπανόμεθα ήδη.

Και ον πολύ ύστερον Άλκιβιάδον τήν φωνήν άκούειν έν

τή αυλή σφόδρα μεθύοντος και μέγα βοώντος, έρωτώντος

όπον Άγάθων καί κελεύοντος άγειν παρ’ Άγάθωνα. άγειν

ούν αυτόν παρά σφάς τήν τε αύλητρίδα ύπολαβοϋσαν και άλλους τινάς τών άκολούθων, και έπιστήναι έπί τάς θύρας

ε έστεφανωμένον αύτόν κιττοϋ τέ τινι στεφάνω δασεϊ καιίων, καί ταινίας έχοντα έπ'ι τής κεφαλής πάνν πολλάς, και είπεΐν- Άνδρες, χαίρετε■ μεθύοντα άνδρα πάνυ σφόδρα

δέξεσθε συμπότηνή άπίωμεν άναδήσαντες μόνον Άγάθωνα, έφ’ φπερ ήλθομεν; εγώ γάρ τοι, φάναι, χθές μέν ούχ

οιός τ ’ έγενόμην άφικέσθαι, νϋν δέ ήκω έπι τή κεφαλή

έχων τάς ταινίας, ινα άπό τής έμής κεφαλής τήν τοϋ σοφω-

τάτου και καλλίστου κεφαλήν [έάν εϊπω ούτωσ'ι] άναδήσω. άρα καταγελάσεσθέ μου ώς μεθύοντος; έγώ δέ, καν υμείς

ιΐ3Α γελάτε, όμως εϋ οΐδ’ ότι αληθή λέγω. άλλά μοι λέγετεαύτόθεν, έπ'ι ρητοϊς είσίω ή μή; συμπίεσθε ή οϋ;

Πάντας ούν άναθορυβήσαι και κελεύειν είσιέναι και κατακλίνεσθαι, και τον Άγάθωνα καλεϊν αύτόν. και τον

ίέναι άγόμενον ύπό τών ανθρώπωνκα'ι περιαιρούμενον άμα τάς ταινίας ώς άναδήσοντα, έπίπροσθε τών οφθαλμών έχοντα

ού κατιδεϊν τον Σωκράτη, άλλά καθίζεσθαι παρά τον Άγά-

β θωνα έν μέσω Σωκράτους τε και έκείνου■ παραχωρήσαιγάρ τον Σωκράτη [ώς έκεΐνον καθίζειν]. παρακαθεζόμενον

δέ αύτόν άσπάζεσθαί τε τον Άγάθωνα κα'ι άναδεϊν.Είπεΐν ούν τον Άγάθωνα Ύπολύετε, παϊδες, Άλκιβιάδην,

ΐνα έκ τρίτων κατακέηται.

ΣΎ Μ Π Ο ΣΙ Ο Ν

1 7 4

O B A N Q U E T E

xxx. Depois de Sócrates falar, todos o felicitaram, menos Aristófanes, que tentou dizer mais alguma coisa, por pensar que uma alusão de Sócrates a certa doutrina lhe dizia respeito. Mas de súbito bateram na porta principal, com grande algazarra, como de um bando de ébrios, destacando-se na barulheira a voz de uma flautista. «Meninos», disse Agatão, «ninguém vai ver o que é isso? j Se forem conhecidos, convidai-os a entrar; caso contrário, dizei que já acabamos de beber e agora estamos descansando».

Pouco depois, ouviu-se no vestíbulo a voz de Alcibíades, bastante embriagado, a gritar por Agatão e a reclamar que o levassem para junto de Agatão. Apoiado na flautista e outros mais do bando, foi, afinal, conduzido para onde estavam os convivas. Porém parou no umbral, [ com grande quantidade de fitas na cabeça e coroado com uma grinalda espessa de hera e violetas. «Salve, amigos!» exclamou. «Aceitais a companhia de quem já bebeu além da conta, ou teremos de voltar daqui mesmo, limitando-nos a coroar Agatão, que é, justa­mente, o que viemos fazer? Porque ontem», prosseguiu, «eu não estava em condições de comparecer à festa; mas vim hoje com estas fitas na cabeça, só para tirá-las de mim e com elas cingir a fronte do mais sábio e mais belo dos homens; sim, é como o qualifico. Troçais de mim porque estou bêbedo? | Podeis rir quanto quiserdes, pois de minha parte sei que só digo a verdade. Porém, decidi de uma vez se eu posso ou não posso entrar nas condições expostas. Bebereis comigo, ou não?»

Com aclamação geral, todos disseram que entrasse e se reclinasse num dos leitos. Agatão também o convidou; e havendo ele avançado, sempre com o auxílio dos companheiros, em caminho se desven­cilhava das fitas, para com elas coroar Agatão, o que o impediu de perceber Sócrates, por tê-las diante dos olhos. Afinal, sentou-se entre Agatão e Sócrates, pois este se afastara algum tanto, logo que o viu, a fim de abrir lugar para ele. Uma vez sentado, abraçou Agatão e o coroou. Nessa altura, Agatão teria falado: «Meninos, descalçai Alcibíades, para que ele se recline aqui mesmo, entre nós dois».

212D

E

213A

1 7 5

Πάνυ γε, είπεϊν τόν Άλκιβιάδην■ άλλά τις ήμϊν δδε

τρίτος συμπότης; και άμα μεταστρεφόμενον αυτόν όράν

τόν Σωκράτη, ιδόντα δε άναπηδήσαι και είπεϊν Ώ Ήράκλεις, τουτι τί ήν; Σωκράτης οΰτος; έλλοχών αΰ με έντανθα κατέ-

2130 κεισο, ώσπερ είώθεις έζαίφνης άναφαίνεσθαι όπου εγώ ωμήνήκιστά σε έσεσθαι. και νυν τί ήκεις; και τί αΰ ένταϋθα

κατεκλίνης, και ού παρά Άριστοφάνει ουδέ εί τις άλλος

γελοίος έστι τε και βούλεται, άλλά διεμηχανήσω όπως παρά

τω καλλίστω τών ένδον κατακείση;Καί τόν Σωκράτη, Άγάθων, φάναι, δρα εί μοι έπαμύνεις-

ώς έμο'ι ό τούτου έρως τού άνθρώπου ού φαύλον πράγμα

γέγονεν. άπ’ έκείνου γάρ τού χρόνου, άψ’ οΰ τούτου

ϋ ήράσθην, ούκέτι έζεστίν μοι ούτε προσβλέψαι οϋτε δια-λεχθήναι καλώ ούδ’ ενί, ή ούτοσϊ ζηλότυπων με καί φθονών

θαυμαστά έργάζεται και λοιδορεϊταί τε και τώ χεϊρε μόγις

άπέχεται. δρα οΰν μη τι και νυν έργάσηται, άλλά διάλ-

λαξον ημάς, ή έάν έπιχειρή βιάζεσθαι, έπάμυνε, ώς έγώ

την τούτου μανίαν τε και φιλεραστίαν πάνυ ορρωδώ.ΆλΧ ούκ εστι, φάναι τόν Άλκιβιάδην, έμο'ι και σοι διαλ-

λαγή. άλλά τούτων μεν εις αΰθίς σε τιμωρήσομαι■ νυν

ε δέ μοι, Άγάθων, φάναι, μετάδος τών ταινιών, ΐνα άναδήσωκαι την τούτου ταυτην'ι την θαυμαστήν κεφαλήν, και μή μοι μέμφηται δτι σε μεν άνέδησα, αΰ τόν δέ νικώντα έν λόγοις

πάντας άνθρώπους, ού μόνον πρώην ώσπερ σύ, άλλ' άεΐ, έπειτα ούκ άνέδησα. και άμ αυτόν λαβόντα τών ταινιών

άναδεϊν τόν Σωκράτη και κατακλίνεσθαι.’Επειδή δέ κατεκλίνη, είπεϊν■ Εΐεν δή, άνδρες- δοκεϊτε

γάρ μοι νήφειν. ούκ έπιτρεπτέον οΰν ύμϊν, άλλά ποτέον- ώμολόγηται γάρ ταϋθ’ ήμϊν. άρχοντα οΰν αίροϋμαι τής

πόσεως, έως αν ύμεϊς ίκανώς πίητε, έμαυτόν. άλλά φερέτω, Άγάθων, ε’ί τι έστιν έκπωμα μέγα. μάλλον δέ ούδέν δει,

άλλά φέρε, παϊ, φάναι, τόν ψυκτήρα έκεϊνον, ιδόντα αύτόν

2ΐ4λ πλέον ή όκτώ κοτύλας χωροϋντα. τούτον έμπλησάμενον

Σ Τ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

1 7 6

O B A N Q U E T E

«Ótimo», teria exclamado Alcibíades. «Mas quem é o terceiro compa­nheiro que irá beber conosco?»

Assim falando, virou-se para o lado de Sócrates e, ao reconhecê-lo, deu um salto e exclamou: «Ó Héracles! Que é isto? Sócrates aqui?Como de hábito, de emboscada para apanhar-me onde menos te 213c

esperava? Que fazes aqui, e por que escolheste precisamente este lugar? Por que não junto de Aristófanes ou de outro farsante de verdade ou que deseje sê-lo? Ao invés disso, arranjaste meio de ficar junto do rapaz mais belo de toda a companhia».

E Sócrates: «Agatão» falou «vê se te é possível proteger-me; o amor deste mancebo me causa sérios incômodos. Desde que me enamorei dele, | não me é permitido brincar com nenhum rapaz, nem sequer d

olhar para o seu lado, sem que ele fique enciumado e com inveja ou cometa os maiores desatinos e até me recrimine, chegando, quase, às vias de fato. Precisarás contê-lo, para não aprontar-me alguma das dele; ou nos reconcilia ou trata de defender-me, no caso de intentar agredir-me. Tenho tanto medo de seu gênio arrebatado como do seu amor».

«Não», teria dito Alcibíades; «não pode haver reconciliação entre nós. Oportunamente, castigar-te-ei por causa dessas palavras. Porém agora, Agatão», teria dito, «cede-me algumas das tuas fitas, para e

que eu cinja também a maravilhosa cabeça deste homem. Assim, não poderá censurar-me por te haver coroado e não a ele, que com sua eloquência vence todo o mundo, não apenas uma vez, como o fizeste há dois dias, mas em todos os momentos».

Assim falando, coroou Sócrates com as fitas e reclinou-se no leito.xxxi. Depois de acomodar-se, falou: «Como, senhores! Só parece

que aqui ninguém bebe! Não; não o permito; é preciso que todos bebam; foi isso o combinado: elejo-me presidente da mesa, para bebermos o mais possível. Agatão, manda vir uma copa grande, caso haja alguma disponível. Não; não é preciso. Menino,» teria ele exclamado ao perceber uma jarra refrigerante de quase oito cótilas, «dá-me aquela vasilha».

1 7 7

πρώτον μέν αυτόν έκπιεϊν, έπειτα τώ Σωκράτει κελεύειν

έγχεϊν και άμα είπεϊν- Προς μεν Σωκράτη, ώ άνδρες, το

σόφισμά μοι ούδέν- όπόσον γάρ άν κελεύη τις, τοσοϋτον

έκπιών ούδέν μάλλον μή ποτε μεθυσθή.

Τον μέν ούν Σωκράτη έγχέαντος τοϋ παιδός πίνειν- τον

δ' Έρυξίμαχον Πώς ούν, φάναι, ώ Αλκιβιάδη, ποιου μεν;

ιι4Β οϋτως οϋτε τι λέγομεν έπί τη κύλικι ούτε τι αδομεν, άλλ'

άτεχνώς ώσπερ οι διψώντες πιόμεθα;

Τον ούν Άλκιβιάδην είπεϊν Ώ Έρυξίμαχε, βέλτιστε

βέλτιστου πατρός καί σωφρονεστάτου, χαϊρε.

Καί γάρ σύ, φάναι τον Έρυξίμαχον■ άλλά τί ποιώμεν;

Ό τι δάν σύ κελεύης. δει γάρ σοι πείθεσθαι-

ίητρός γάρ άνήρ πολλών άντάξιος άλλων-

έπίταττε ούν ότι βούλει.

Άκουσον δη, είπεϊν τον Έρυξίμαχον. ήμϊν πρ'ιν σέ

είσελθεϊν έδοξε χρήναι έπί δεξιά έκαστον εν μέρει λόγον

ο περί Έρωτος είπεϊν ώς δύναιτο κάλλιστον, καί έγκωμιάσαι.

οί μέν ούν άλλοι πάντες ήμεϊς είρήκαμεν- σύ δ' έπειδή ούκ

εϊρηκας καί έκπέπωκας, δίκαιος εΐ είπεϊνείπών δέ έπιτάξαι

Σωκράτει ότι άν βούλη, καί τούτον τώ έπί δεξιά και ουτω

τούς άλλους.

Άλλά, φάναι, ώ Έρυξίμαχε, τον Άλκιβιάδηνκαλώς μέν

λέγεις, μεθύοντα δέ άνδρα παρά νηφόντων λόγους παρα-

βάλλειν μή ούκ έξ ϊσου ή. και άμα, ώ μακάριε, πείθει τί

π σε Σωκράτης ών άρτι ειπεν; ή οίσθα ότι τουναντίον έστ'ι

πάν ή δ ελεγεν; ούτος γάρ, έάν τινα εγώ έπαινέσω τούτου

παρόντος ή θεόν ή άνθρωπον άλλον ή τούτον, ούκ άφέξεταί

μου τώ χεϊρε.

Ούκ ενφημήσεις; φάναι τόν Σωκράτη.

Σ Τ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

17 8

O B A N Q U E T E

Mandou que a enchessem e bebeu logo todo o seu conteúdo, até à última gota. Depois, ordenou que a aprontassem de novo, para Sócrates, ao mesmo tempo que dizia: «Com relação a Sócrates, senhores, de nada vale esse estratagema; beberá quanto quisermos, sem chegar nunca a embriagar-se».

Havendo o menino enchido o vaso, Sócrates bebeu. A seguir, falou Erixímaco: «Que faremos agora, Alcibíades?» | teria dito; «não diremos nada depois da bebida, nem cantaremos alguma coisa? Vamos beber apenas para matar a sede?»

Ao que Alcibíades respondera: «Erixímaco, filho excelente de exce­lente e sapientíssimo pai, viva!»

«Tu também», lhe disse Erixímaco; «mas, que faremos?»«O que mandares; teremos de obedecer-te,

Pois é sabido que um médico vale por muitos guerreiros.

Determina o que quiseres.»«Então, ouve», lhe disse Erixímaco. «Antes de chegares, havíamos

combinado que todos os presentes, por ordem da colocação, da esquerda para a direita, | fariam o elogio de Eros nos termos mais belos e encomiásticos que pudessem. Ora, acontece que todos nós já nos desempenhamos dessa incumbência; e como até agora nada disseste e já bebeste, é justo que também fales, depois do que imporás a Sócrates o tema que bem te parecer; este, por sua vez, ao seu vizinho da direita, e assim sucessivamente».

«A ideia é excelente, Erixímaco», teria dito Alcibíades; «mas há grande disparidade entre o discurso de um bêbedo e o de pessoas com a cabeça no lugar. E, por falar nisso, varão felicíssimo, acreditas mesmo no que Sócrates expôs? Então, fica sabendo que o certo é justamente o contrário de tudo o que ele disse. Este homem, se me acontece elogiar alguém na sua presença, quer seja algum mortal quer um dos deuses, não sendo para ele o elogio, é bem capaz de surrar-me».

«Cuidado com a língua!» teria advertido Sócrates.

2 1 4 A

B

c

179

2 .1 5 Α

Β

Μά τον Ποσειδώ, εΐπεϊν τον Άλκιβιάδην, μηδέν λέγε

προς ταϋτα, ώς έγώ ούδ' αν ένα άλλον έπαινέσαιμι σοϋ

παρόντος.

ΆλΧ οΰτω ποιεί, φάναι τον Έρυξίμαχον, εί βούλει-

Σωκράτη έπαίνεσον.

Πώς λέγεις; εΐπεϊν τον Άλκιβιάδην- δοκει χρήναι, ώ

Έρνξίμαχε; έπιθώμαι τώ άνδρί και τιμωρήσωμαι υμών

έναντίον;

Οϋτος, φάναι τον Σωκράτη, τί έν νώ έχεις; έπΐ τά

γελοιότερά με έπαινέσαί; ή τί ποιήσεις;

Τάληθή έρώ. άλλ' δρα εί παρίης.

Άλλά μέντοι, φάναι, τά γε αληθή παρίημι και κελεύω

λέγειν.

Ούκ άν φθάνοιμι, εΐπεϊν τον Άλκιβιάδην. και μέντοι

ούτωσϊ ποίησον. έάν τι μη άληθές λέγω, μεταξύ έπιλαβοϋ,

άν βούλη, καί είπε ότι τούτο ψεύδομαι■ έκών γάρ είναι ούδέν

ψεύσομαι. έάν μέντοι άναμιμνησκόμενος άλλο άλλοθεν

λέγω, μηδέν θαυμάσης- ού γάρ τι ράδιον τήν σήν άτοπίαν

ώδ' έχοντι εύπόρως καί εφεξής καταριθμήσαι.

Σωκράτη δ' έγώ έπαινεΐν, ώ άνδρες, οϋτως έπιχειρήσω,

δι εικόνων, οϋτος μεν οΰν ίσως οίήσεται έπϊ τά γελοιότερα,

έσται δ’ ή είκών τού αληθούς ένεκα, ού τού γελοίου, φημΐ

γάρ δή όμοιότατον αύτον είναι τοις σίληνοις τούτοις τοϊς

έν τοϊς έρμογλυφείοις καθημένοις, οϋστινας έργάζονται οι

δημιουργοί σύριγγας ή αύλούς έχοντας, οι διχάδε διοιχθέντες

φαίνονται ένδοθεν άγάλματα έχοντες θεών. καί φημί αύ

έοικέναι αύ τον τώ σατύρω τώ Μαρσύα. ότι μέν οΰν τό γε

είδος δμοιος εί τούτοις, ώ Σώκρατες, ούδ' αύτός άν που

άμφισβητήσαις- ώς δε καί τάλλα έοικας, μετά τούτο άκουε.

ύβριστής έ ί· ή ου; έάν γάρ μη όμολογής, μάρτυρας παρ-

έξομαι. άλλ’ ούκ αυλητής; πολύ γε θαυμασιώτερος έκείνου.

ό μέν γε δι’ οργάνων έκήλει τούς ανθρώπους τή άπό τού

Σ Τ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

1 8 0

O B A N Q U E T E

«Por Posídon», voltou a falar Alcibíades; «não me venhas com obje- ções, porque nunca mais elogiarei ninguém na tua presença».

«Pois que seja assim mesmo», falou Erixímaco; «se quiseres, faze o elogio de Sócrates».

«Que me dizes», exclamou Alcibíades; «achas mesmo, Erixímaco... Posso atirar-me contra este homem, para vingar-me dele e castigá-lo na presença de todos vós?»

«Como assim», falou Sócrates; «que pretendes com isso? Queres ridicularizar-me com o teu elogio, ou o que vais fazer?»

«Só direi a verdade», respondeu; «vê se mo permites».«Sem dúvida», replicou; «não só permito contares a verdade como

te concito a dizê-la».«Vou dizê-la agora mesmo», falou Alcibíades. «O que te cumpre fazer

é o seguinte: se eu afirmar algo que não seja verdadeiro, interrompe o meu discurso onde bem entenderes e declara que minha assertiva é mentirosa. De caso pensado, não direi mentira alguma. | Todavia, se eu expuser os fatos sem muita ordem, à medida que deles me for lembrando, não seja isso motivo de espanto, pois no estado em que me encontro não é tarefa muito fácil enumerar com muita coerência tuas singularidades.

xxxil. Para elogiar Sócrates, meus senhores, vou recorrer a uma imagem que ele decerto tomará como caricatura; mas o fato é que minha comparação nada tem de risível; só visa à verdade. O que eu digo é que ele se parece com esses silenos j expostos nas oficinas dos escultores, que o artista representa com uma gaita ou uma flauta e que, ao serem destampados, deixam ver no bojo várias estátuas da divindade. Digo mais: assemelhaste também ao sátiro Mársias. Que pelo aspecto exterior te pareces com eles, é o que não poderás contestar; mas que em tudo o mais és igualzinho aos sátiros, ouve agora o seguinte: és ou não um zombador de marca? Se não o confessares, aduzirei testemunhas. E não serás também flautista? Sim, muito mais maravilhoso do que o outro,! porque aquele precisava de um instrumento para encantar os homens com o poder do seu sopro,

2 1 5 A

B

181

στόματος δυνάμει, και ετι νυν'ι δς αν τα έκείνου αυλή - ά γάρ

Όλυμπος ηΰλει, Μαρσύου λέγω, τούτου διδάξαντος - τα ούν

έκείνου έάντε αγαθός αύλητής αυλή έάντε φαύλη αύλητρίς,

μόνα κατέχεσθαι ποιεί και δηλοΐ τούς των θεών τε και

τελετών δεομένους διά τό θεϊα είναι, σύ δ’ έκείνου τοσούτον

μόνον διαφέρεις, ότι άνευ οργάνων ψιλοϊς λόγοις ταύτόν

ιΐ5ϋ τούτο ποιείς, ημείς γούν όταν μέν του άλλου άκούωμεν

λέγοντος και πάνυ άγαθού ρήτορος άλλους λόγους, ούδέν

μέλει ώς έπος είπεΐν ούδενί- έπειδάν δε σοϋ τις άκούη ή τών

σών λόγων άλλου λέγοντος, καν πάνυ φαύλος ή ό λέγων,

έάντε γυνή άκούη έάντε άνήρ έάντε μειράκιον, έκπεπλη-

γμένοι έσμέν καί κατεχόμεθα. έγώ γούν, ώ άνδρες, εί μή

εμελλον κομιδή δόζειν μεθύειν, εϊπον όμόσας αν ύμίν οΐα δή

πέπονθα αύτός ύπό τών τούτου λόγων και πάσχω ετι καί

ε νυνί. όταν γάρ άκούω, πολύ μοι μάλλον ή τών κορυβαν-

τιώντων ή τε καρδία πηδά καί δάκρυα έκχείται ύπό τών

λόγων τών τούτου, όρώ δέ και άλλους παμπόλλους τά

αυτά πάσχοντας- Περικλέους δέ άκούων καί άλλων άγαθών

ρητόρων ευ μέν ήγούμην λέγειν, τοιούτον δ’ ούδέν έπασχον,

ούδ’ έτεθορύβητό μου ή ψυχή ούδ’ ήγανάκτει ώς άνδραποδω-

δώς διακειμένου, άλΧ ύπό τουτουϊ τού Μαρσύου πολλάκις δή

2 ι 6 α οντω διετέθην ώστε μοι δόξαι μή βιωτόν είναι έχοντι ώς

έχω. καί ταϋτα, ώ Σώκρατες, ούκ έρείς ώς ούκ άληθή. και

ετι γε νϋν σύνοιδ’ έμαυτω ότι εί έθέλοιμι παρέχειν τά ώτα,

ούκ αν καρτερήσαιμι άλλά ταύτά αν πάσχοιμι. άναγκάζει

γάρ με όμολογέίν ότι πολλού ένδεής ών αύτός ετι έμαντοϋ

μέν άμελώ, τά δ’ Αθηναίων πράττω, βία ούν ώσπερ άπό

τών Σειρήνων έπισχόμενος τά ώτα οϊχομαι φεύγων, ϊνα μή

αυτού καθήμενος παρά τούτω καταγηράσω. πέπονθα δέ

β προς τούτον μόνον άνθρώπων, δ ούκ άν τις οϊοιτο έν έμοί

ΣΎΜΠΟΧΙ ΟΝ

1 8 2

O B A N Q U E T E

como até hoje alcançam o mesmo efeito os que tocam suas melodias, pois atribuo as composições de Olimpo a seu mestre Mársias. De qualquer forma, quer sejam interpretadas por um grande artista, quer o sejam por alguma flautista ordinária, suas composições são as únicas que comovem os homens, por serem divinas, e mostram quem necessita dos deuses e de iniciação. Só diferes dele pelo fato de alcançares esse mesmo efeito sem recorreres a instrumentos, apenas com palavras desacompanhadas de música. | Entre nós, pelo menos, quando ouvimos outro orador discursar, até mesmo os de maior nome e fama, ninguém, por assim dizer, lhe concede a mínima atenção. Porém, quando alguém te ouve, ou as tuas palavras reproduzidas por terceiros, ainda que se trate de orador de pouco préstimo, logo se sente comovido e arrebatado, quer aconteça isso com mulher, quer com homem feito ou adolescente.

Enquanto a mim, senhores, se não fosse o medo de parecer que estou bêbedo de todo, vos relataria sob juramento as impressões que seus discursos me causam e de que ainda me ressinto, j Ao ouvi-lo, bate-me o coração mais depressa do que o dos coribantes, arrancando-me seus discursos lágrimas vivas. Observo que com muitas outras pessoas acontece a mesma coisa. Sempre que eu ouvia Péricles ou qualquer outro orador famoso, achava que falavam muito bem, porém não sentia nada disto nem ficava com a alma perturbada ou revoltada, ao pensamento da minha condição de escravo. E tantas vezes tenho sido abalado por este Mársias, j que chego a considerar impossível continuar a viver como o faço. Isto, Sócrates, não poderás dizer que seja mentira. Agora mesmo, senhores, tenho certeza de que se me dispusesse a ouvi-lo, não resistiria e experimentaria idênticas emoções. O fato é que ele me obriga a confessar que sou deficiente em muitas coisas e que, apesar disso, negligencio o que me diz respeito, para ocupar-me com os negócios dos atenienses. Assim, vejo-me forçado a tapar os ouvidos, como se estivesse diante das Sereias, para não ter de permanecer ao seu lado até envelhecer. Sócrates é o único homem cuja presença j me desperta um sentimento de

1 8 3

215D

E

21ÓA

ένεϊναι, τό αίσχύνεσθαι όντινοϋν- έγώ δέ τούτον μόνον

αίσχύνομαι. σύνοιδα γάρ έμαντφ άντίλέγειν μεν ού δυνα-

μένω ώς ού δει ποιειν ά οϋτος κελεύει, έπειδάν δέ άπέλθω,

ήττημένω τής τιμής τής ύπό των πολλών, δραπετεύω οΰν

αύτόν και φεύγω, και όταν ϊδω, αίσχύνομαι τα ώμολογημένα.

ι ι 6α καί πολλάκις μεν ήδέως αν ϊδοιμι αύτόν μή όντα έν άνθρώποις-

εί δ' αϋ τούτο γένοιτο, εΰ οιδα ότι πολύ μεϊζον αν άχθοίμην,

ώστε ούκ έχω ότι χρήσωμαι τούτω τώ άνθρώπω.

Καί ύπό μεν δή τών αύλημάτων καί έγώ καί άλλοι πολλοί

τοιαύτα πεπόνθασιν υπό τού δε τού σατύρου■ άλλα δε έμού

ακούσατε ώς όμοιος τ ' έστίν οϊς έγώ ήκασα αύτόν καί τήν

δύναμιν ώς θανμασίαν έχει. εΰ γάρ ιστέ ότι ούδείς ύμών

ο τούτον γιγνώσκει- άλλα έγώ δηλώσω, έπείπερ ήρξάμην.

όράτε γάρ ότι Σωκράτης έρωτικώς διάκειται τών καλών καί

αεί περί τούτους έστί καί έκπέπληκται, καί αΰ άγνοεϊ πάντα

καί ούδέν οιδεν. ώς τό σχήμα αύτού τούτο ού σιληνώδες;

σφόδρα γε. τούτο γάρ οϋτος έξωθεν περιβέβληται, ώσπερ

ό γεγλυμμένος σιληνός- ένδοθεν δέ άνοιχθείς πόσης οϊεσθε

γέμει, ώ άνδρες συμπόται, σωφροσύνης; ιστέ ότι οϋτε εί τις

καλός έστι μέλει αύτώ ούδέν, άλλά καταφρονεί τοσοντον

ε όσον ούδ' αν εϊς οίηθείη, οϋτ’ εί τις πλούσιος, οϋτ’ εί άλλην

τινά τιμήν έχων τών ύπό πλήθους μακαριζομένων- ήγεϊται

δέ πάντα ταύτα τά κτήματα ούδενός άξια καί ήμάς ούδέν

είναι - λέγω ύμιν - ειρωνευόμενος δέ καί παίζων πάντα τον

βίον προς τούς άνθρώπους διατελεί. σπουδάσαντος δέ αύτού

καί άνοιχθέντος ούκ οιδα εί τις έώρακεν τά έντός άγάλματα-

άλλ’ έγώ ήδη ποτ’ είδον, καί μοι έδοξεν οΰτω θεία καί

ι ΐ7 α χρνσά είναι καί πάγκαλα καί θαυμαστά, ώστε ποιητέον είναι

έμβραχυ ότι κελεύοι Σωκράτης, ήγούμενος δέ αύτόν έσπου-

δακέναι έπί τή έμή ώρα έρμαιον ήγησάμην είναι καί εύτύχημα

Σ Τ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

1 8 4

O B A N Q U E T E

que ninguém me julgaria susceptível: envergonhar-me diante de outra pessoa. É isto: só me envergonho na presença dele. Tenho plena consciência, no meu foro íntimo, de não poder declarar-lhe não ser possível fazer o que me manda, porque, desde o momento em que me afasto dele, sinto-me novamente dominado pela paixão da popularidade. Por isso, para evitá-lo, fujo sempre que o vejo e envergonho-me de minhas confissões anteriores, indo a ponto de desejar que ele já não pertencesse ao número dos vivos. Porém, se isso viesse a acontecer, tenho que minha situação se tornaria intolerável, de forma que já não sei o que faça com este homem,

xxxiii. Isso é o que se dá comigo e com muitas outras pessoas, sob a influência deste sátiro flautista. Porém ireis ouvir novas provas da sua semelhança com o que eu o comparei e do poder maravilhoso que lhe é próprio. De uma coisa podeis estar certos: é que nenhum de vós o conhece; j e já que comecei, vou revelar-vos quem ele é. Bem vedes como Sócrates tem a paixão dos belos adolescentes e como fica fora de si na presença deles, sem deixar de rondá-los o dia todo. Por outro lado, ignora tudo e nada sabe; pelo menos, é como se apresenta. Neste ponto, não é igualzinho aos silenos? Mais, não fora possível. Tal é o seu hábito externo, exatamente como o sileno esculpido. Porém por dentro, quando o abrimos, fazeis ideia, senhores comensais, de como está cheio de sabedoria? Pois ficai certos de que não se preocupa no mínimo com a beleza de ninguém; chega até a desprezá-la por maneira incrível; j o mesmo acontece com a riqueza e com todas essas vantagens tão apreciadas pelo vulgo. Considera tais bens como carentes de valor, e nós todos, perfeitas nulidades. E o que vos digo. Passa a vida a brincar com os homens, fingindo-se ignorante; mas, quando fica sério e se deixa abrir, não sei de alguém que já houvesse percebido as belas imagens contidas no seu bojo. Eu, porém, certa vez as surpreendi, e me pareceram tão luzidas e divinas e de tão fascinante beleza, que acreditei poder fazer daí por diante tudo o que Sócrates me mandasse. E como imaginava que ele tinha em grande conta minha

216c

d

E

21 7 A

185

Σ Τ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

έμόν θαυμαστόνώς ύπάρχον μοι χαρισαμένω Σωκράτει τιάντ’

άκοϋσαι όσαπερ οΰτος ήδει■ έφρόνουν γάρ δή έπί τη ώρα

θαυμάσιον όσον. ταϋτα οϋν διανοηθείς, προ τοϋ ούκ είωθώς

άνευ άκολούθου μόνος μετ' αύτοϋ γίγνεσθαι, τότε άποπέμπων

217Β τον άκόλουθον μόνος συνεγιγνόμην - δέί γάρ προς υμάς πάντα

τάληθή είπεϊν- άλλά προσέχετε τον νουν, καί εί ψεύδομαι,

Σώκρατες, εξέλεγχε - συνεγιγνόμην γάρ>, ώ άνδρες, μόνος

μόνω, καί ωμήν αύτίκα διαλέξεσθαι αύτόν μοι άπερ άν

έραστής παιδικοϊς έν έρημία διαλεχθείη, καί έχαιρον. τούτων

δ' ου μάλα έγίγνετο ούδέν, άλλ' ώσπερ είώθει διαλεχθεις άν

μοι και συνημερεύσας ωχετο άπιών. μετά ταϋτα συγγυμνά-

€ ζεσθαι προυκαλούμην αύτόν καί συνεγυμναζόμην, ώς τι

ένταϋθα περανών. συνεγυμνάζετο οϋν μοι καί προσεπάλαιεν

πολλάκις ούδενός παρόντος■ καί τί δει λέγειν; ούδέν γάρ

μοι πλέον ήν. έπειδή δε ούδαμη ταύτη ήνυτον, εδοξέ μοι

έπιθετέον είναι τώ άνδρι κατά τό καρτεράν και ούκ άνετέον,

έπειδήπερ ένεκεχειρήκη, άλλά ίστέον ήδη τί έστι τό πράγμα,

προκαλοϋμαι δή αύτόν προς τό συνδειπνεΐν, άτεχνώς ώσπερ

έραστής παιδικοϊς έπιβουλεύων. καί μοι ούδέ τοϋτο ταχύ

ϋ ύπήκουσεν, όμως δ’ οϋν χρόνω έπείσθη. έπειδή δε άφίκετο

τό πρώτον·, δειπνήσας άπιέναι έβούλετο. και τότε μεν

αίσχυνόμενος άφήκα αύτόν■ αϋθις δ’ έπιβουλεύσας, έπειδή

έδεδειπνήκεμεν διελεγόμην άει πόρρω τών νυκτών·, και έπειδή

έβούλετο άπιέναισκηπτόμενος ότι όψέ εϊη, προσηνάγκασα

αύτόν μένειν. άνεπαύετο οϋν έν τη έχομένη έμοϋ κλίνη, έν

ήπερ έδείπνει, καί ούδεϊς έν τώ οίκήματι άλλος καθηϋδεν ή

ε ήμεϊς. μέχρι μεν οϋν δή δεϋρο τοϋ λόγου καλώς άν έχοι

και προς όντινοϋν λέγειν- τό δ’ έντεϋθεν ούκ άν μου ήκούσατε

λέγοντος, εί μή πρώτον μέν, τό λεγόμενον, οίνος άνευ τε

παίδων καί μετά παίδων ήν άληθής, έπειτα άφανίσαι Σω-

κράτους έργον ϋπερήφανον εις έπαινον έλθόντα άδικόν μοι

186

O B A N Q U E T E

beleza, fiquei certo de que se tratava de um achado de rara felicidade: estava em minhas mãos entregar-me a Sócrates e aprender tudo o que ele sabia, pois eu confiava enormemente nos meus atrativos pessoais. Assim determinado, como só o visse na presença de meu acompanhante, despedido o servidor, fiquei sozinho com ele. Vou 2 17 B

dizer-vos toda a verdade; prestai atenção, e se eu mentir, Sócrates, podes censurar-me. Havendo ficado, senhores, só com ele, pensei que Sócrates passaria logo a falar comigo das coisas que os amantes costumam dizer a seus amados, quando se pilham sós, com o que me alegrava de antemão. Porém nada disso aconteceu; conversou comigo como de costume, e ao terminar o dia retirou-se. De outra feita, convidei-o para medirmos força no ginásio, calculando alcançar c alguma vantagem por esse lado. Exercitamo-nos, durante muito tempo, e lutamos bastantes vezes sem testemunhas. Como dizer?Não adiantei coisíssima nenhuma. E, ao ver que por esse caminho eu não avançava um passo, pensei em recorrer à violência para segurar o homem e, já que havia começado, determinei não soltá-lo nem desistir do intento, sem saber em que pé nos encontrávamos. Por isso, convidei-o para jantar, exatamente como fazem os amantes quando aprontam alguma cilada para apanhar o amado. Não revelou grande pressa em aceitar o convite; ; mas, com o tempo, deixou-se d

convencer. Da primeira vez, terminada a refeição, fez questão de partir logo. Nessa ocasião, por acanhamento, deixei-o sair. Mas, na segunda, recorri ao estratagema de prolongar a conversa pela noite adentro, e quando ele manifestou desejo de retirar-se, obriguei-o a ficar, sob o pretexto de que era tarde. Assim, deitou-se no leito pegado ao meu, em que ele mesmo havia jantado. Além de nós dois, ninguém mais dormiu naquele compartimento.

Tudo o que eu contei até agora podia ser dito sem acanhamento na e

presença de qualquer pessoa. Mas daqui por diante não me ouviríeis falar se, primeiro, o vinho, como se diz, e as crianças, ou apenas o vinho, sem crianças, não falasse a verdade; e, segundo, por parecer-me injusto omitir um feito extraordinário de Sócrates, no momento

187

Σ Τ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

φαίνεται, ετι δε τό τοϋ δηχθέντος ύπό τοϋ έχεως πάθος

κάμ έχει. φασ'ι γάρ πού τινα τούτο παθόντα ούκ έθέλειν λέγειν οιον ήν πλήν τοϊς δεδηγμένοις, ώς μόνοις γνωσομένοις

2ι8α τε καί συ-)γνωσομένοις εί παν έτόλμα δράν τε και λέγεινύπό τής οδύνης, εγώ ούν δεδηγμένος τε ύπό άλγεινοτέρου

και τό άλγεινότατον ών αν τις δηχθείη - την καρδίαν [ή

ψυχήν] γάρ ή ότι δει αυτό όνομάσαι πληγείς τε καί δηχθεις

ύπό των έν φιλοσοφία λόγων, οι έχονται έχίδνης άγριώτερον, νέου ψυχής μή άφυοϋς όταν λάβωνται, καί ποιούσι δράν

τε και λέγειν ότιούν - και όρων αΰ Φαιδρούς, Άγάθωνας, β Έρυξιμάχους, Παυσανίας, Άριστοδήμους τε και Άριστο-

φάνας- Σωκράτη δε αύτον τί δεϊ λέγειν, και όσοι άλλοι;

πάντες γάρ κεκοινωνήκατε τής φιλοσόφου μανίας τε και βακχείας - διό πάντες άκούσεσθε- συγγνώσεσθε γάρ τοϊς τε

τότε πραχθεϊσι και τοϊς νύν λεγομένοις. οι δε οίκέται, καί εϊ τις άλλος έστίν βέβηλος τε και άγροικος, πύλας πάνυ

μεγάλας τοϊς ώσιν έπίθεσθε.Επειδή γάρ ούν, ώ άνδρες, ό τε λύχνος άπεσβήκει και

ο οι παϊδες έξω ήσαν, έδοξέ μοι χρήναι μηδέν ποικίλλειν πρόςαύτόν, άλΧ έλευθέρως είπεϊν ά μοι έδόκει■ καί εϊπον κινήσας

αυτόν, Σώκρατες, καθεύδεις-,Ού δήτα, ή δ' ός.Οϊσθα ούν ά μοι δέδοκται-,Τί μάλιστα, έφη.Σύ έμο'ι δοκεϊς, ήν δ’ έγώ, έμού εραστής άξιος γεγονέναι

μόνος, καί μοι φαίνη όκνεϊν μνησθήναι πρός με. έγώ δε

ούτωσϊ έχω■ πάνυ άνόητον ήγοϋμαι είναι σο'ι μή ού και τούτο χαρίζεσθαι και εϊ τι άλλο ή τής ούσίας τής έμής

η δέοιο ή των φίλων των έμών. έμοι μεν γάρ ούδέν έστιπρεσβύτερον τοϋ ώς ότι βέλτιστον έμέ γενέσθαι, τούτου δε

οϊμαί μοι συλλήπτορα ούδένα κυριώτερον είναι σοϋ. έγώ δή τοιούτω άνδρ'ι πολύ μάλλον άν μή χαριζόμενος αίσχυνοίμην

τούς φρονίμους, ή χαριζόμενος τούς τε πολλούς και άφρονας.

1 8 8

O B A N Q U E T E

preciso em que faço o seu elogio. Além do mais, meu caso é igual ao do indivíduo mordido de cobra: recusa-se, é o que dizem, a contar o que sentiu, a menos que fale com quem também já foi mordido, porque somente estes estão em condições de avaliar e de desculpar as loucuras por ele feitas ou relatadas sob a influência da dor. Porém, 218 a

eu fui mordido por algo mais doloroso e no ponto mais sensível do meu ser: o coração ou a alma - o nome pouco importa - pelos discursos filosóficos, de ação mais profunda do que a do veneno das víboras, quando atuam numa alma jovem e bem-nascida e a levam a tudo dizer e realizar. Ao ver neste momento diante de mim Fedro, Agatão, i Erixímaco, Pausânias, Aristodemo - para que mencionar b

Sócrates? - e tantos outros, como eu tomados da loucura filosófica, com seus transportes dionisíacos... Sim, tereis de ouvir-me, pois sabereis desculpar o que então fiz e tudo o que ora vou contar-vos.Aviso aos criados e aos rústicos e não iniciados aqui presentes: portas espessas nos ouvidos!

xxxiv. Depois, senhores, que os escravos se retiraram, j apaguei a c lâmpada e me julguei dispensado de usar circunlóquios com ele, para declarar-lhe francamente o que pensava. Assim determinado, sacudi-o e lhe falei: “Já estás dormindo, Sócrates?”

“Ainda não”, me respondeu.“Sabes em que estou pensando?”“Em que é?” perguntou.“É que de todos os meus apaixonados, tu me pareces ser o único digno

de mim; porém dás-me a impressão de que tens acanhamento de declarar-te. O que eu acho é o seguinte: fora rematada tolice não te fazer a vontade, tanto nisso como em tudo o mais de que necessitares, ou se trate dos meus bens > ou os dos meus amigos. Nada para mim é d

tão importante como cuidar, com o maior empenho, do meu aperfei­çoamento, sendo certo que nesse particular ninguém me poderá ser mais útil do que tu. Por isso, teria mais motivo de envergonhar-me diante dos sábios se não me entregasse a um homem como tu, do que perante a multidão ignara, se o fizesse.”

189

Σ Τ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

Κα'ι οϋτος άκούσας μάλα είρωνικώς καί σφόδρα έαντοϋ τε

και είωθότως ελεξεν Ώ φίλε Αλκιβιάδη, κινδυνεύεις τω

δντι ού φαύλος είναιι, ε’ίπερ αληθή τυγχάνει δντα ά λέγεις

ε περ'ι έμοϋ, καί τις έστ’ εν έμο'ι δύναμις δι ής άν σύ γένοιο

άμείνων- άμήχανόν τοι κάλλος όρώης αν έν έμο'ι και τής παρά σο'ι εύμορφίας πάμπολυ διαφέρον. εΐ δή καθορών

αύτο κοινώσασθαί τέ μοι έπιχειρείς και άλλάζασθαι κάλλος

άντ'ι κάλλους, ούκ όλίγω μου ττλεονεκτεϊν διανοή, άλλ’ άντ'ι δόξης αλήθειαν καλών κτάσθαι έπιχειρείς και τω

2,ι 9Α δντι "χρύσεα χαλκείων’’ διαμείβεσθαι νοείς, άλλ’, ώμακάριε, άμεινον σκόπει, μή σε λανθάνω ούδ'εν ών. ή τοι τής διανοίας δψις άρχεται όξύ βλέπειν δταν ή των όμμάτων

τής άκμής λήγειν έπιχειρή- σύ δ'ε τούτων έτι πόρρω.Κάγώ άκούσας, Τα μέν παρ’ έμοϋ, έφην, ταύτά έστιν, ών

ούδέν άλλως εϊρηται ή ώς διανοούμαι■ σύ δε αύτος οϋτω

βουλεύου δτι σοί τε αριστον κα'ι έμο'ι ήγή.Άλλ’, έφη, τούτό γ ’ εϋ λέγεις■ έν γάρ τω έπιόντι χρόνω

β βουλευόμενοι πραξομεν δ αν φαίνηται νών περί τε τούτωνκα'ι περ'ι τών άλλων αριστον.

Έγώ μέν δή ταύτα άκούσας τε κα'ι είπών, και άφε'ις

ώσπερ βέλη, τετρώσθαι αύτόν ωμήν■ κα'ι άναστάς γε, ούδ’ έπιτρέψας τούτω είπειν ούδέν έτι, άμφιέσας το ίμάτιον

το έμαυτού τούτον - κα'ι γάρ ήν χειμών - υπό τον τρίβωνα

κατακλινε'ις τον τουτουί, περιβαλών τώ χείρε τούτω τω

c δαιμονίω ώς άληθώς κα'ι θαυμαστώ, κατεκείμην τήν νύκταδλην. και ούδέ ταύτα αύ, ώ Σώκρατες, έρεϊς δτι ψεύδομαι, ποιήσαντος δε δή ταύτα έμοϋ οϋτος τοσοϋτον περιεγένετό

τε και κατεφρόνησεν κα'ι κατεγέλασεν τής έμής ώρας κα'ι ϋβρισεν - καίτοι ’κεϊνό γε ωμήν τι είναι, ώ άνδρες δικασταί-

δικαστα'ι γάρ έστε τής Σωκράτους ύπερηφανίας - εϋ γάρ ίστε μά θεούς, μά θεάς, ούδέν περιττότερον καταδεδαρθηκώς

η άνέστην μετά Σωκράτους, ή ε’ι μετά πατρός καθηϋδον ήάδελφοϋ πρεσβυτέρου.

1 9 0

O B A N Q U E T E

Eu a falar, e ele a responder no seu modo costumeiro, com a ironia

muito própria: “Meu caro Alcibíades, não pareces muito tolo, se for verdade o que disseste a meu respeito : e eu possuir, realmente, o e

poder de aperfeiçoar-te. Com isso, terias descoberto em mim uma beleza incomparável, que supera infinitamente a beleza de tuas

formas. Se depois de tal descoberta, pensas em entrar em enten­dimento comigo para trocarmos beleza por beleza, é por quereres

obter à minha custa uma grande vantagem: nada mais nada menos do que trocar tua aparência pela verdadeira beleza, o que é, positiva­

mente, trocar I bronze por ouro. Porém, meu bem-aventurado amigo, 2 1 9 A

examina o assunto mais de siso; talvez estejas enganado e nada disso

haja em mim. Os olhos do espírito só começam a ver com acuidade,

quando os do corpo entram a enfraquecer, o que ainda está longe

de passar-se contigo”.Ouvindo-o expressar-se dessa maneira, lhe falei: “Minha situação é

essa; o que eu tinha que dizer, já disse. A ti compete, agora, deliberar

o que para ambos será melhor”.

“Está bem”, me falou; “mais para diante j conversaremos sobre isso e o b

resto, para só fazermos o que nos parecer mais acertado”.

Depois de ouvi-lo e de ter falado como falei, outras tantas flechas com

que o visara, tinha como certo que o deixara ferido. Levantei-me,

sem dar-lhe oportunidade de dizer mais nada, atirei sobre ele o meu

manto, pois estávamos no inverno, deitei-me em cima da sua capa

surrada, e, passando os braços em torno deste homem demoníaco

e admirável, assim fiquei a noite inteirinha. Isso também, Sócrates, c

não poderás dizer que é mentira. Mas tudo o que fiz só serviu para

ressaltar ainda mais a sua superioridade sobre mim, para ele fazer

pouco caso e zombar de minha beleza, ofensa inqualificável. E

note-se: era no que eu mais confiava, senhores juizes; sim, pois estais

aqui para julgardes a arrogância de Sócrates. Pois, pelos deuses e

pelas deusas, ficai sabendo que, depois de passar assim a noite junto

de Sócrates, j levantei-me como se houvesse dormido ao lado de d

meu pai ou de algum irmão mais velho.

1 9 1

Σ Ύ Μ ΠΟ Σ Ι Ο Ν

Τό δή μετά τοϋτο τίνα ο’ίεσθί με διάνοιαν έχειν, ηγού­μενον μεν ήτιμάσθαι, άγάμενον δε την τούτον φύσιν τε και σωφροσύνην και ανδρείαν, έντετνχηκότα άνθρώπω τοιούτω οϊω εγώ ούκ αν ωμην ποτ' έντνχεϊν εις φρόνησιν και εις καρτερίαν; ώστε οϋθ’ όπως ούν όργιζοίμην εΐχον κα'ι άπο- στερηθείην τής τούτον σννονσίας, οντε οπη προσαγαγοίμην

ε αύτον ηύπόρονν. εΰ γάρ ήδη ότι χρήμασί γε πολύ μάλλονάτρωτος ήν πανταχή ή σιδήρω ό Αίας, ώ τε ωμην αύ τον μόνω άλώσεσθαι, διεπεφεύγει με. ήπόρονν δή, καταδε- δονλωμένος τε νπό τού άνθρώπον ώς ούδε'ις ύπ’ ούδενός άλλον περιήα. ταύτά τε γάρ μοι άπαντα προνγεγόνει, και μετά ταύτα στρατεία ήμΐν εις Ποτείδαιαν έγένετο κοινή καί σννεσιτούμεν έκεϊ. πρώτον μεν ούν τοις πόνοις ον μόνον εμού περιήν, άλλά και των άλλων άπάντων - όπότ’ άναγκασθεΐμεν άποληφθέντες πον, οία δή έπ'ι στρατείας,

220Λ άσιτεϊν, ούδέν ήσαν οί άλλοι προς τό καρτερεϊν - εν τ ’ ανταίς εύωχίαις μόνος άπολαύειν οιός τ ’ ήν τά τ ’ άλλα κα'ι πίνειν ούκ έθέλων, όπότε άναγκασθείη, πάντας εκράτει, και ό πάντων θανμαστότατον, Σωκράτη μεθύοντα ούδε'ις πώποτε έώρακεν άνθρώπων. τούτον μεν ονν μοι δοκεϊ κα'ι αύτίκα ό ’έλεγχος εσεσθαι. προς δε αύ τάς τού χειμώνος καρτερήσεις

- δεινο'ι γάρ αύτόθι χειμώνες - θανμάσια ήργάζετο τά τε β άλλα, καί ποτε όντος πάγον οιον δεινοτάτον, και πάντων ή

ούκ έξιόντων ’ένδοθεν, ή εϊ τις έξίοι, ήμφιεσμένων τε θανμαστά δή όσα κα'ι ύποδεδεμένων κα'ι ένειλιγμένων τούς πόδας εις πίλονς κα'ι άρνακίδας; ούτος δ’ έν τούτοις έξήει έχων ίμάτιον μεν τοιοντον οϊόνπερ κα'ι πρότερον είώθει φορεϊν, άνυπόδητος δέ διά τού κρνστάλλον ράον έπορεύετο ή οί άλλοι νποδεδεμένοι, οί δέ στρατιώται ύπέβλεπον

<: αύ τον ώς καταφρονονντα σφών. καί ταύτα μεν δή ταύτα-

οΐον 8’ αν τόδ’ έρεξε καί έτλη καρτερός άνήρ

έκεϊ ποτε έπ'ι στρατιάς, ά'ξιον άκούσαι. σνννοήσας γάρ

192

O B A N Q U E T E

x x x v . Depois disso, podeis imaginar quais eram os meus sentimentos? Julgava-me desprezado, sem deixar, no entanto, de admirar sua natureza, sua temperança e o domínio de si mesmo, que lhe é carac­terístico. Encontrara um homem como não podia imaginar, modelo de sabedoria e de firmeza, a tal ponto que nem achava meio de romper com ele e evitar a sua companhia, nem de vir a conquistá-lo.Sabia perfeitamente que ele era ainda mais invulnerável ao dinheiro e

do que A jax ao ferro, e eis que conseguira escapar do último chamariz com que esperava capturá-lo. Fiquei desorientado, porém tão preso a este homem como um escravo, sem poder fugir do seu círculo de influência.

Tudo isso aconteceu pouco antes da expedição de Potideia, na qual servimos juntos e fomos companheiros de mesa. Para começar, quanto às fadigas da campanha, mostrou-se superior não a mim somente, mas a todos. Quando acontecia ficarmos isolados das provisões de boca, como sói acontecer nas campanhas militares, e termos de passar sem comer, j em matéria de resistência ninguém 2 2 0 A

se media com ele. E o inverso: nos dias de fartura, para comer estava só, e conquanto não gostasse de beber, sempre que o forçavam a isso, vencia a todo o mundo, e, o que é mais de admirar, nunca ninguém viu Sócrates embriagado! Tenho que tirareis agora mesmo a prova do que afirmo. Ao enfrentar os rigores do inverno - naquelas bandas o frio é muito intenso - fazia maravilhas. De uma feita, | num dia de b

grande geada, quando ninguém deixava sua barraca, ou só o fazia com um mundo de agasalhos e os pés envoltos em feltro e peles de carneiro, este homem saiu com o manto com que sempre andava e, descalço, passeava sobre o gelo com mais desembaraço do que os outros com todos os sapatos. Os soldados o observavam de soslaio, convencidos de que ele fazia aquilo para humilhá-los. c

x x x v i . Sobre isso, basta. Porém um caso

Ainda direi pelo forte guerreiro a bom termo levado,

de uma feita, naquela expedição, que merece ser conhecido. Em certo

193

αυτόθι έωθέν τι είστήκει σκοπών, και επειδή ού προυχώρει

αύτφ, ούκ άνίει άλλά είστήκει ζητών, και ήδη ήν μεσημ­

βρία, και άνθρωποι ήσθάνοντο, και θαυμάζοντες άλλος άλλω

ελεγεν ότι Σωκράτης έ\ έωθινοϋ ψροντίζων τι εστηκε.

τελευτώντες δέ τινες τών Ίώνων, έπειδή εσπέρα ήν, δειπνή-

ι ιοί) σαν τες - καί γάρ θέρος τότε γ ' ήν - χαμεύνια έζενεγκάμενοι

άμα μεν έν τώ ψύχει καθηϋδον, άμα δ’ έψύλαττον αύτον εί

και τήν νύκτα έστήξοι. ό δέ είστήκει μέχρι έως έγένετο

καί ήλιος άνέσχεν- έπειτα ωχετ’ άπιών προσευχόμενος τώ

ήλίω. εί δέ βούλεσθε έν ταϊς μάχαις - τούτο γάρ δή

δίκαιόν γε αύ τώ άποδοϋναι - ότε γάρ ή μάχη ήν έ\ ής έμοί

καί τάριστεϊα έδοσαν οι στρατηγοί, ούδείς άλλος έμέ έσωσεν

ε άνθρώπων ή οϋτος, τετρωμένον ούκ έθέλων άπολιπειν, άλλά

συνδιέσωσε καί τά όπλα καί αύ τον έμέ. καί έγώ μέν, ώ Σώ-

κρατες, καί τότε έκέλευον σοί διδόναι τάριστεϊα τούς στρατη­

γούς, καί τοϋτό γέ μοι ούτε μέμψη ούτε έρεϊς ότι ψεύδομαι-

άλλά γάρ τών στρατηγών προς τό έμόν άζίωμα άποβλεπόντων

καί βουλομένων έμοί διδόναι τάριστεϊα, αύτός προθυμότερος

έγένου τών στρατηγών έμέ λαβεϊν ή σαυτόν. έτι τοίνυν,

ώ άνδρες, άξιον ήν θεάσασθαι Σωκράτη, ότε άπό Αηλίου

22ΐ α ψνγή άνεχώρει τό στρατόπεδον- έτυχον γάρ παραγενόμενος

ϊππον έχων, οϋτος δέ όπλα. άνεχώρει ούν έσκεδασμένων

ήδη τών άνθρώπων οϋτός τε άμα καί Λάχης- καί έγώ περι-

τυγχάνω, καί ίδών εύθύς παρακελεύομαί τε αύτοϊν θαρρέϊν,

καί έλεγον ότι ούκ άπολείψω αύ τώ. ένταϋθα δή καί κάλ-

λιον έθεασάμην Σωκράτη ή έν Ποτειδαία - αύτός γάρ ήττον

έν φόβω ή διά τό έφ' 'ίππου είναι - πρώτον μέν όσον περιήν

β Αάχητος τώ έμφρων είναι- έπειτα έμοιγ’ έδόκει, ώ Άρι-

στόφανες, τό σόν δή τούτο, καί έκει διαπορεύεσθαι ώσπερ

καί ένθάδε, βρενθυόμενος καί τώφθαλμώ παραβάλ-

λων, ήρέμα παρασκοπών καί τούς φιλίους καί τούς πολεμίους,

δήλος ών παντί καί πάνυ πόρρωθεν ότι εί τις άψεται τούτου

Σ Τ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

194

O B A N Q U E T E

local, tendo-lhe ocorrido um pensamento, de pé, como se achava, se pôs a meditar desde manhãzinha, e como não conseguisse resolvê-lo, continuou na mesma posição sem arredar pé dali. Ao meio-dia os soldados perceberam o que se passava e, admirados, comentavam que desde muito cedo Sócrates estava a meditar. Por fim, já no cair da tarde, depois do jantar, alguns daqueles observadores trouxeram para fora seus leitos de campanha - pois o fato se passou no verão

- com o fito de aproveitarem a brisa e observar se ele iria passar de pé a noite toda. Realmente, permaneceu naquela mesma posição até ao raiar da aurora, quando o sol vinha surgindo. Só então se retirou, depois de dirigir ao sol sua oração.

Se quiserdes, vejamo-lo nos combates... Neste particular, também, seremos justos. Na batalha em que os comandantes me concederam a láurea da coragem, a este homem e a mais ninguém devi minha salvação. ■ Ferido como me achava, não quis abandonar-me e me levou, com minhas armas, para lugar seguro. Do meu lado, Sócrates, insisti com os generais para que te conferissem o prêmio. Não tenho medo de que sobre isso me censures ou digas que é mentira. Porém os estrategos, levando em conta minha posição e desejando mesmo distinguir-me, tu te mostraste mais empenhado do que eles para que o prêmio me fosse conferido.

Precisaríeis, também, senhores, ter visto Sócrates quando o exército foi obrigado a retirar-se de Délio. Não sei como viemos a ficar juntos: eu, a cavalo, e ele, a pé, com todo o equipamento dos hoplitas. Retirava-se, assim, juntamente com Laques, quando o exército já se havia dispersado. Encontrando-os por acaso, logo os reconheci e disse que não desanimassem, pois não os abandonaria. Nessa ocasião, pude observar Sócrates muito melhor do que em Potideia. Por estar a cavalo, sentia-me seguro. Para começar, quanto ao sangue-frio, quão grande era sua [ superioridade sobre Laques! Depois, Aristófanes, verifiquei que tanto lá como aqui ele avan­çava conforme o descreveste: o olhar soberbo e a revirar os olhos. Observava calmamente à direita e à esquerda amigos e inimigos, deixando a todos manifesto, até de longe, que se alguém atacasse

2 2 0 D

E

221A

1 9 5

ΣΎ Μ Π Ο ΣΙ Ο Ν

τού άν8ρός, μάλα έρρωμένως άμυνεΐται. διό και άσφαλώς

άπήει και οΰτος και ό έταϊρος■ σχεδόν γάρ τι των οντω διακειμένων έν τω πολέμφ ούδέ άπτονται, άλλά τους προ-

λ ιιο τροπάδην φεύγοντας διώκονσιν.Πολλά μεν οΰν αν τις και άλλα έχοι Σωκράτη έπαινέσαι

και θαυμάσια■ άλλά των μεν άλλων έπιτηδευμάτων τάχ αν τις και περί άλλον τοιαντα εϊποι, τό δε μηδενϊ άνθρώπων δμοιον εΐναι, μήτε των παλαιών μήτε τών νϋν δντων, τούτο άξιον παντός θαύματος, οΐος γάρ Άχιλλεύς έγένετο, άπει- κάσειεν άν τις και Βρασίδαν και άλλονς, και οΐος αϋ Περικλής, και Νέστορα καί Άντήνορα - είσ'ι δε και έτεροι -

ο και τούς άλλονς κατά ταϋτ άν τις άπεικάζοι■ οΐος δε ούτοσ'ιγέγονε τήν άτοπίαν άνθρωπος, και αύτός και οι λόγοι αντού, ούδ’ εγγύς άν ενροι τις ζητών, ούτε τών νύν ούτε τών παλαιών, εί μή άρα εί οΐς έγώ λέγω άπεικάζοι τις αύτόν, άνθρώπων μεν μηδενϊ, τοΐς δε σιληνοΐς και σατύροις, αύτόν

καί τούς λόγονς.Και γάρ οΰν και τούτο έν τοΐς πρώτοις παρέλιπον, δτι

καί οι λόγοι αντού ομοιότατοι είσι τοΐς σιληνοΐς τοΐς διοιγο- ε μένοις. εί γάρ έθέλοι τις τών Σωκράτονς άκούειν λόγων,

φανεϊεν άν πάνν γελοίοι τό πρώτον■ τοιαύτα και ονόματα καί ρήματα έξωθεν περιαμπέχονται, σατύρον δή τινα ύβρι- στον δοράν, δνονς γάρ κανθηλίονς λέγει και χαλκέας τινάς και σκντοτόμονς και βνρσοδέψας, και άε'ι διά τών αύ τών τά αύ τα φαίνεται λέγειν, ώστε άπειρος και άνόητος άνθρωπος

ί α α πάς άν τών λόγων καταγελάσειεν. διοιγομένονς δέ ίδών άντις και έντός αύ τών γιγνόμενος πρώτον μεν νούν έχοντας ένδον μόνους ενρήσει τών λόγων, έπειτα θειοτάτονς και πλεΐστα άγάλματ’ αρετής έν αντοΐς έχοντας και έπι πλεΐ- στον τείνοντας, μάλλον δέ έπι πάν δσον προσήκει σκοπεϊν τω μέλλοντι καλώ κάγαθώ έσεσθαι.

Ταϋτ' έστίν, ώ άνδρες, ά έγώ Σωκράτη έπαινώ■ και αύ ά μέμφομαι σνμμείξας ύμΐν εϊπον ά με ϋβρισεν. καί μέν-

ιι τοι ούκ έμέ μόνον ταϋτα πεποίηκεν, άλλά και Χαρμίδην

1 9 6

O B A N Q U E T E

este homem, ele saberia defender-se. Por isso mesmo, retirou-se sem ser molestado, ele e seu acompanhante. Raramente são atacados nas retiradas os soldados com semelhante disposição; o inimigo só persegue os que fogem em debandada.

Muitos outros fatos ainda poderiam ser lembrados neste elogio de Sócrates, e todos admiráveis; mas em muitas atividades talvez se pudesse dizer a mesma coisa de outras pessoas; todavia, o não pare­cer-se com ninguém, nem entre os antigos nem entre os modernos, eis o que é verdadeiramente de espantar! Por exemplo: o que foi Aquiles no passado poderia encontrar paralelo em Brásidas e mais alguns, do mesmo modo que Péricles poderá ser comparado a Nestor e a Antenor. | Há outros vultos exornados de idênticas qualidades, sendo possível, em todos esses casos, estabelecer confronto. Mas, no que entende com a originalidade deste homem, tanto dele como de suas palavras, por mais que procure, ninguém encontrará nem de longe quem se lhe assemelhe, ou seja entre os varões de agora ou entre os do passado, a menos que o comparemos, como o fiz, com os silenos e os sátiros, ele e seus discursos.

x x x v i i . Sim, pois esqueceu-me há pouco mencionar uma particulari­dade: seus discursos são parecidíssimos com os silenos que se abrem. Com efeito, se alguém se dispuser a ouvir um discurso de Sócrates, de início o achará simplesmente ridículo; as palavras e expressões com que ele reveste o pensamento fazem lembrar a pele de um sátiro despudorado. Refere-se a burros de carga, a ferreiros, sapateiros e curtidores, parecendo que sempre fala das mesmas coisas com as mesmas palavras, de forma que qualquer indivíduo inexperiente e sem instrução zombará do que ele diz. j Mas, se alguém os apanhar entreabertos e penetrar no seu interior, descobrirá de imediato que são esses os únicos discursos de conteúdo sério, os mais divinos e ricos em imagens de virtude e os que visam a fim de maior alcance, ou melhor: a tudo o que precisa ter em mira quem desejar tornar-se bom e nobre.

Tudo isso, senhores, admiro em Sócrates. Entremeei censuras no seu elogio e vos contei os passos em que ele me ofendeu, j Porém não foi a mim somente que ele tratou dessa maneira; a mesma coisa fez

221c

D

E

2 2 2 A

197

Σ Τ Μ Π Ο Σ Ι Ο Ν

τόν Γλαύκωνος καί Ευθύδήμον τον Διοκλέονς και άλλους πάνυ πολλούς, οϋς οΰτος έζαπατών ώς έραστής παιδικά μάλλον αύτός καθίσταται άντ’ έραστοϋ. α δή και σο'ι λέγω, ώ Άγάθων, μή έξαπατάσθαι ύπ'ο τούτου, άλλ’ άπό των ήμετέρων παθημάτων γνόντα εύλαβηθήναι, και μή κατά τήν παροιμίαν ώσπερ νήπιον παθόντα γνώναι.

l l l c ΕΙπόντος δή ταϋτα τού Άλκιβιάδου γέλωτα γενέσθαιέπί τή παρρησία αύτοϋ, δτι έδόκει έτι έρωτικώς έχειν τού Σωκράτους. τον ούν Σωκράτη, Νήφειν μοι δοκέϊς, φάναι, ώ Αλκιβιάδη, ού γάρ αν ποτε οϋτω κομψώς κύκλω περι­βαλλόμενος άφανίσαι ένεχείρεις οΰ ένεκα ταϋτα πάντα εϊρηκας, καί ώς έν παρέργω δή λέγων έπί τελευτής αύτο έθηκας, ώς ού πάντα τούτου ένεκα είρηκώς, τοϋ έμέ καί

ο Άγάθωνα διαβάλλειν, οίόμενος δεϊν έμέ μεν σοϋ έράν καίμηδενός άλλου, Άγάθωνα δε ύπό σοϋ έράσθαι καί μηδ’ ύφ’ ενός άλλου, άλλ’ ούκ ελαθες, άλλά τό σατυρικόν σου δράμα τούτο καί σίληνικόν κατάδηλον έγένετο. άλλ', ώ φιλε Άγάθων, μηδέν πλέον αύτώ γένηται, άλλά παρα­σκευάσου δπως έμέ καί σε μη δεις διαβαλεΤ.

Τον ούν Άγάθωνα είπεϊν, Καί μήν, ώ Σώκρατες, κινδυ- ε νεύεις αληθή λέγειν. τεκμαίρομαι δε καί ώς κατεκλίνη έν

μέσω έμοϋ τε καί σοϋ, ινα χωρίς ήμάς διαλάβη. ούδέν ούν πλέον αύ τώ έσται, άλλ έγώ παρά σέ έλθών κατακλινήσομαι.

Πάνυ γε, φάναι τον Σωκράτη, δεύρο ύποκάτω έμοϋ κατακλίνου.

Ώ Ζεϋ, είπεϊν τόν Αλκιβιάδην, οΐα αύ πάσχω ύπό τοϋ άνθρώπου. οϊεταί μου δεϊν πανταχή περιεϊναι. άλλ' εί μή τι άλλο, ώ θαυμάσιε, έν μέσω ήμών εα Άγάθωνα κατακεϊσθαι.

Ά λ λ άδύνατον, φάναι τόν Σωκράτη, σύ μέν γάρ έμέ έπήνεσας, δει δέ έμέ αύ τόν έπί δεξΐ έπαινεϊν. εάν ούν ύπό σοί κατακλινή Άγάθων, ού δήπου έμέ πάλιν έπαι- νέσεται, πριν ύπ' έμοϋ μάλλον έπαινεθήναι; άλλ' έασον,

ι ΐ }α ώ δαιμόνιε, καί μή φθονήσης τώ μειρακίω ύπ’ έμοϋέπαινεθήναι■ καί γάρ πάνυ έπιθυμώ αύ τόν έγκωμιάσαι.

Ίοΰ ιού, φάναι τόν Άγάθωνα, Αλκιβιάδη, ούκ ίσ θ ’ όπως

198

O B A N Q U E T E

com Cármides, filho de Glauco; com Eutidemo, filho de Díocles; e com muitos outros que ele enganou, fingindo-se amante, para revelar-se, por fim, simples amigo. A ti, Agatão, é que me dirijo neste momento: não te iludas com este homem; aprende conosco e não queiras ser como o tolo do provérbio, que só ficou esperto à custa de pancada.»

x x x v i i i . Quando Alcibíades acabou de falar, todos riram da sua franqueza, por parecer que ele ainda era apaixonado de Sócrates. Então, falou Sócrates: «Dás-me a impressão de não teres bebido, Alcibíades, lhe disse; de outra forma não terias conseguido ocultar tão habilmente nesses circunlóquios o objetivo principal do teu discurso, para revelá-lo somente no fim, com o se se tratasse de matéria secundária, e não houvesses dito tudo aquilo com o propó­sito de malquistar-me com Agatão, por estares convencido de que só eu é que devo amar-te, mais ninguém, e que Agatão, por sua vez, só pode ser amado por ti. Porém, não nos enganaste; compreendemos perfeitamente teus silenos e teu drama satírico. Não permitamos, meu caro Agatão, que ele venha a ganhar com isso e não deixes que alguém semeie a desunião entre nós dois».

«É bem possível, Sócrates», respondeu Agatão, «que a razão esteja contigo. | Aprova é que ele veio deitar-se entre nós dois, com o fito de separar-nos. Porém, não ganhará nada com isso; vou deixar o meu leito, para reclinar-me ao teu lado».

«Isso mesmo», teria dito Sócrates; «vem para o lugar abaixo do meu».«O Zeus!» exclamou Alcibíades; «quanta coisa eu tenho de aguentar

deste homem! Está convencido de que precisa sobrepujar-me em tudo. Ao menos, varão admirável, deixa que ele fique entre mim e ti».

«Não pode ser», falou Sócrates; «fizeste o meu elogio; compete-me agora elogiar quem estiver à minha direita. Se Agatão vier a ficar no lugar abaixo do teu, não fará mais um elogio de minha pessoa, sem que primeiro tenha sido elogiado por mim. Deixa-o, meu caro, e não fiques com ciúme deste mancebo, pelos louvores com que o cumulo. Desejo ardentemente fazer o seu elogio».

«Hurra!» gritou Agatão; «de jeito nenhum, Alcibíades, poderei

221C

D

E

2 2 3 A

199

αν ένθάδε μείναιμι, άλλα παντός μάλλον μεταναστήσομαι,

'ίνα ύπό Σωκράτους έπαινεθώ.

Ταϋτα έκεϊνα, φάναι τον Άλκιβιάδψ, τά είωθύτα-

Σωκράτους παρόντος των καλών μεταλαβεΐν άδύνατον άλλω.

και νυν ώς εύπόρως και πιθανόν λόγον ηύρεν, ώστε παρ’

εαυτώ τουτον'ι κατακείσθαι.

ιΐ3Β Τον μεν οϋν Άγάθωνα ώς κατακεισόμενον παρά τώΣωκράτει άνίστασθαι- έζαίφνης δέ κωμαστάς ήκειν παμ-

πόλλους έπ'ι τάς θύρας, και έπιτυχόντας άνεωγμέναις έξιόντος

τινός εις τό άντικρυς πορεύεσθαι παρά σφάς και κατακλί-

νεσθαι, καί θορύβου μεστά πάντα είναι, και οϋκέτι ίν

κόσμω ούδεν'ι άναγκάζεσθαι πίνειν πάμπολυν οίνον, τον

μεν οϋν Έρυξίμαχον καί τον Φαιδρόν καί άλλους τινάς έφη

ό Αριστόδημος οϊχεσθαι άπιόντας, ε δε ύπνον λαβεϊν,

ο καί καταδαρθεΐν πάνυ πολύ, άτε μακρών τών νυκτών ούσών,

έζεγρέσθαι δέ προς ημέραν ήδη άλεκτρυόνων άδόντων, έ\ε-

γρόμενος δέ ίδειν τούς μεν άλλους καθεύδοντας καί οίχο-

μένους, Άγάθωνα δέ καί Αριστοφάνη καί Σωκράτη έτι

μόνους έγρηγορέναι καί πίνειν έκ φιάλης μεγάλης έπί δεξιά,

τον οϋν Σωκράτη αύτοις διαλέγεσθαι- καί τά μεν άλλα ό

ο Αριστόδημος ούκ έφη μεμνήσθαι τών λόγων - ούτε γάρ έξ

άρχής παραγενέσθαι ύπονυστάζειν τε - τό μέντοι κεφάλαιον,

έφη, προσαναγκάζειν τον Σωκράτη όμολογεΐν αύτούς τού

αύτοϋ άνδρός είναι κωμωδίαν καί τραγωδίαν έπίστασθαι

ποιέίν, καί τον τέχνη τραγωδοποιόν όντα <καί> κωμωδοποιόν

είναι, ταϋτα δή άναγκαζομένους αύτούς καί ού σφόδρα

έπομένους νυστάζειν, καί πρώτον μέν καταδαρθεΐν τον

Αριστοφάνη, ήδη δέ ημέρας γιγνομένης τον Άγάθωνα. τον

οϋν Σωκράτη, κατακοιμίσαντ’ έκείνους, άναστάντα άπιέναι,

καί <έ> ώσπερ ε’ιώθει έπεσθαι, καί έλθόντα εις Άύκειον,

άπονιψάμενον, ώσπερ άλλοτε τήν άλλην ήμέραν διατρίβειν,

καί ουτω διατρίψαντα εις έσπέραν οΐκοι άναπαύεσθαι.

ΣΎ Μ Π Ο ΣΙ Ο Ν

200

O B A N Q U E T E

continuar aqui; sou forçado a mudar de lugar, para ser elogiado

por Sócrates».«E sempre o que acontece», teria falado Alcibíades; «onde está

Sócrates, ninguém mais consegue nada dos belos mancebos. Com que facilidade ele arranjou um motivo plausível para que este aqui fosse sentar-se perto dele!»

x x x ix . De seguida, Agatão levantou-se, com a intenção de reclinar-se 223B

ao lado de Sócrates. Mas, de súbito, apresentou-se à porta um bando de beberrões, e como a encontrassem aberta, por haver saído alguém naquele momento, foram entrando sem nenhuma cerimônia e se acomodaram nos leitos. A algazarra tornou-se geral, e na maior desordem viram-se todos forçados a beber em profusão. Pelo que contou Aristodemo, logo depois se retiraram Erixímaco, Fedro e mais alguns. Quanto a ele, como estava caindo de sono, j dormiu c um bom pedaço, por serem as noites, então, compridas, só havendo acordado ao romper da aurora, quando os galos já cantavam. Ao despertar, notou que os demais convivas dormiam ou já se tinham retirado, só estando acordado Agatão, Aristófanes e Sócrates, os quais bebiam por uma grande taça, que circulava da esquerda para a direita. Sócrates conversava com os outros dois. Dos demais temas discutidos declarou Aristodemo : não recordar-se muito bem, d

não só por não haver assistido ao começo da conversa, como por estar meio dormindo. Mas, em resumo, disse, Sócrates os levara a reconhecer que é da competência do mesmo homem escrever comédias e tragédias, e que o poeta trágico de verdade também será poeta cômico. Algum tanto constrangidos, os dois assentiram nessa conclusão, sem acompanhar muito de perto a exposição do outro, por estarem cabeceando de sono. O primeiro a dormir foi Aristófanes, e, já dia bem claro, Agatão.

Sócrates, então, depois de acomodá-los, ter-se-ia levantado e ido embora, acompanhando-o, como de praxe, Aristodemo. Chegado ao Liceu, tom ou banho e, com o de costume, passou lá o dia inteiro nas suas ocupações habituais, só à tarde indo para casa, a fim de descansar.

201

COLEÇÃO DIÁLOGOS DE PLATÃO

Συμπόσιον 1 O BanqueteΦαίδων 2 Fédon

Φαιδρός 3 FedroΠολιτεία 4 A República

Απολογία Σωκράτους-Κριτών S Apologia de Sócrates - CrítonΛάχης-Εύθύφρων 6 Laques - Eutífron

Χαρμίδης - Λύσις 7 Cármides - LísisΑλκιβιάδης Α - Αλκιβιάδης Β 8 Primeiro Alcibíades - Segundo Alcibíades

Ιππίας Έλάττων - 'Ιππίας Μείζων 9 Hípias Maior - Hípias Menor'Ίων - Μενέί-ενος 10 Ion - Menexeno

Μένων - Έυθύδημος 11 Mênon - EutidemoΓοργίας - Πρωταγόρας 12 Górgias - ProtágorasΣοφιστής -Πολιτικός 13 Sofista - PolíticoΘεαίτητος - Κρατύλος 14 Teeteto - Crátilo

Παρμενίδης - Φίληβος 15 Parmênides - FileboΤίμαιος -Κ ριτίας ιό Timeu - CrítiasΝόμοι - Έπίνομις 17 Leis - Epínomis

Έπιστολαί- Νοθευόμενοι ι8 Cartas - Apócrifos

TítuloAutor

TradutorOrganizadores

Projeto gráfico

CapaEditoração eletrônica

Fixação da tradução e preparação de texto Revisão de provas

Formato Tipologia da capa

Tipologia do miolo

Revestimento da capa Papel da sobrecapa

Guarda Papel do miolo

Número de páginas Tiragem

ctp, impressão e acabamento

O Banquete PlatãoCarlos Alberto Nunes Benedito Nunes Victor Sales Pinheiro

Gustavo Soares e Juliana Altoé Nossa Bossa Design Juliana Altoé | Nossa Bossa Design Gustavo Soares | Nossa Bossa Design

Aristóteles Angheben Predebon Carolina Menezes Janaína Torres Moraes

15,5 X 23 cmH T F GothamAdobe Arno Pro OpticalsAdobe Arno Pro Opticals 12 x 15 pt

Tecido Saphir 142 g/m2

Couché Fosco 170 g/m2

Color Plus Roma 180 g/m2

Pólen Bold 90 g/m2

208

3000

Gráfica Santa Marta

O BANQUETE

FÉDON

FEDRO

A REPÚBLICA

APOLOGIA DE SÓCRATES - CRÍTON

LAQUES - EUTÍFRON

CÁRMIDES - LÍSIS

PRIMEIRO ALCIBÍADES - SEGUNDO ALCIBÍADES

HÍPIAS MAIOR - HÍPIAS MENOR

ÍON - MENEXENO

MÊNON - EUTIDEMO

GÓRGIAS - PROTÁGORAS

SOFISTA - POLÍTICO

TEETETO - CRÁTILO

PARMÊNIDES - FILEBO

TIMEU - CRÍTIAS

LEIS - EPÍNOMIS

CARTAS - APÓCRIFOS

ISBN 9 7 8 -8 5 -2 4 7 -0 5 0 5 -2

| | II!1 IIIIII!I| | III!IIIIIIU |9 7 8 8 5 2 4 7 0 5 0 5 2

C O O R D EN A Ç Ã O

BENEDITO NUNES VICTOR SALES PINHEIRO