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OBRIGAÇÕES IV – 2012 – ROTEIRO DE AULAS DO CONTRATO PRELIMINAR Os contratos preliminares têm como conteúdo um contrahere futuro. Enquanto, nas demais modalidades de contratos, o objeto da obrigação consiste num dare, facere ou praestare, isto é, o conteúdo dos contratos não preliminares consiste diretamente na própria prestação determinada ou determinável, nos contratos preliminares o objetivo da obrigação se traduz num facere, porém um facere consistente numa segunda declaração de vontade destinada a constituir o verdadeiro contrato definitivo. Por isso, e com muita propriedade, DE PAGE apresenta a promessa de contrato como uma etapa marcante posta no caminho da formação do contrato. No contrato preliminar encontram-se ao lado de pontos de contrato com o contrato definitivo, outros indicativos das diferenças que os separam. No contrato preliminar, diferentemente das preliminares de acordo, as condições e cláusulas básicas do futuro não pairam mais no plano de especulações e estudos, por isso que já possuem uma definição tal que o contrato futuro nada mais representa do que uma homologação do antecipadamente pactuado; a declaração de vontade permanece apenas como remate dessa definitividade. Assim, a 1

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OBRIGAÇÕES IV – 2012 – ROTEIRO DE AULAS

DO CONTRATO PRELIMINAROs contratos preliminares têm como conteúdo um contrahere futuro. Enquanto, nas demais modalidades de contratos, o objeto da obrigação consiste num dare, facere ou praestare, isto é, o conteúdo dos contratos não preliminares consiste diretamente na própria prestação já determinada ou determinável, nos contratos preliminares o objetivo da obrigação se traduz num facere, porém um facere consistente numa segunda declaração de vontade destinada a constituir o verdadeiro contrato definitivo. Por isso, e com muita propriedade, DE PAGE apresenta a promessa de contrato como uma etapa marcante posta no caminho da formação do contrato. No contrato preliminar encontram-se ao lado de pontos de contrato com o contrato definitivo, outros indicativos das diferenças que os separam. No contrato preliminar, diferentemente das preliminares de acordo, as condições e cláusulas básicas do futuro não pairam mais no plano de especulações e estudos, por isso que já possuem uma definição tal que o contrato futuro nada mais representa do que uma homologação do antecipadamente pactuado; a declaração de vontade permanece apenas como remate dessa definitividade. Assim, a conseqüência do contrato preliminar é a obrigação de declarar uma vontade, de consentir num contrato definitivo, quando se tornar exigível tal declaração. A promessa carece, então de fim econômico próprio, imediato, tão só representa um meio assecuratório e preparatório da celebração futura de outro contrato.Conceito - conceitua-se o contrato preliminar com aquele por via do qual ambas as partes ou uma

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delas se comprometem a celebrar mais tarde outro contrato, que será contrato principal, (Caio Mário da Silva Pereira, 10ª ed. Vol. III, p. 48).Desenvolvimento da Doutrina Brasileira - O contrato preliminar não recebera disciplina específica em nosso direito positivo, muito embora os nossos escritores mais reputados já aludissem ao fenômeno da promessa de contratar em nosso direito tradicional. Costuma-se por isto situar o seu germe legislativo no art. 1.088 do CC1916, segundo o qual é lícito a qualquer das partes arrepender-se antes de o assinar, quando o instrumento público for exigido como prova do contrato, ressarcindo à outra perdas e danos resultantes do arrependimento.Efeitos dos contratos preliminares - O grande problema dos contratos preliminares assenta nos seus efeitos: não cumprindo o devedor a obrigação, qual a conseqüência resultante do seu inadimplemento? Em relação à promessa de compra e venda de imóveis, o nosso direito positivo (Decreto-lei n. 58, de 1937, e Lei n. 649, de 12 de março de 1949) tornou fora de dúvida que as respectivas promessas devidamente elaboradas, intervindo o juiz para suprir a vontade não manifestada pelo devedor que a isto era obrigado. De qualquer modo, possa ou não o contrato preliminar ser exeqüível compulsoriamente, em se tratando de promessa de compra e venda de imóvel, estando ele inscrito, é uma situação líquida em nosso direito.Contratos Preliminares no - CC – arts. 462/466.O contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter todos os requisitos essenciais ao contrato a ser celebrado. Art. 462.Concluído o contrato preliminar, com observância do disposto no artigo antecedente, e desde que dele não conste cláusula de arrependimento, qualquer das partes

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terá o direito de exigir a celebração do contrato definitivo, assinando prazo à outra para que o efetive. Art. 463.Parágrafo único – o contrato preliminar deverá ser levado ao registro competente.Esgotado o prazo referido no artigo antecedente, poderá o juiz, a pedido do interessado, suprir a vontade da parte inadimplente, conferindo caráter definitivo ao contrato preliminar, salvo se a isto se opuser a natureza da obrigação. Art. 464.Se o estipulante não der execução ao contrato preliminar, poderá a outra parte considera-lo desfeito, e pedir perdas e danos. Art. 465.Se a promessa de contrato for unilateral, o credor, sob pena de ficar a mesma sem efeito, deverá manifestar-se no prazo nela previsto, ou, inexistindo este, no que lhe for razoavelmente assinado pelo devedor. Art. 466.

PROMESSA DE COMPRA E VENDA arts. 462 a 466 do CC, dec. 58/37, LEI 6766/79, LEI nº. 9.785, de 29 de janeiro de 1999 E LEI 10.257/01.Três modalidades se apresentam:a) Promessa de venda.b) Promessa de compra.c) Promessa de compra e venda.

Promessa de venda – contrato preliminar de opção.É uma obrigação de fazer. De importância prática. Os negócios imobiliários, na maioria são precedidos de promessa de venda. São contratos preliminares, unilaterais e a eles se aplicam às regras gerais atinentes aos contratos.Opção – de compra ou de venda - É uma promessa unilateral pela qual alguém se obriga com outrem, a vender ou comprar certo bem, num prazo determinado, mediante preço previamente ajustado. Esta opção poderá ser contraída mediante um contrato preliminar autônomo ou um pacto adjeto. Ex.: Eu ofereço a minha casa a outrem

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para que opte pela compra num determinado prazo. Não confundir opção com a preempção ou direito de preferência. No direito de preferência, eu quero vender a qualquer um, depois ofereço ao locador, dentro das mesmas condições. Na opção eu não estaria concorrendo com ninguém. Se não houver um prazo estipulado, poderá a parte pedir ao Juiz que determine um prazo.

Promessa unilateral de compra - É um contrato preliminar unilateral, mediante o qual, alguém se obriga a comprar de outrem num determinado prazo. A compra fica na dependência de que o vendedor queira vender. Só o promitente comprador se obriga, mas poderá retratar e se tiver um sinal, o perderá a favor do proprietário, conforme convenção.

PROMESSA DE COMPRA E VENDA - de Imóveis.Dá-se o contrato de promessa de compra e venda, quando o promitente vendedor promete vender e o promitente comprador comprar, uma coisa determinada ou determinável, obrigando-se ambos a outorgar a respectiva escritura definitiva, no tempo e modo previsto no contrato. É um contrato preliminar de grande uso, aplicado a bens móveis, mas sobre tudo a imóveis. Aplica-se a imóveis loteados como não loteados, podendo este tipo de promessa ser cedida: O contrato preliminar de promessa de compra e venda pode ser:

Retratável com faculdade de arrependimento. Não gera efeitos reais.É, segundo a maioria dos autores, uma obrigação de fazer.Irretratável Considerando hoje um pré-contrato, embora a maneira de decidir, leve a decisão contrária. Como se trata de uma obrigação de fazer, ninguém é obrigado a fazê-la. Poderá ser obrigado a pagar as perdas e danos, caso não seja possível o suprimento judicial.

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Forma – O contrato definitivo tem que ser por escritura pública de compra e venda. O contrato preliminar pode ser por intermédio de instrumento particular.

Adjudicação Compulsória Determina o art. 346 do antigo CPC, que o comprador após pagar o preço, poderá intimar o vendedor a outorgar a escritura definitiva. Diante de tal dispositivo podemos afirmar que a promessa de compra e venda de imóveis, leva à adjudicação compulsória. Para isso necessário se faz que o imóvel preencha os requisitos do Decreto Lei n. 58 de 1937, e que a promessa de compra e venda, esteja devidamente inscrito. Preenchendo estas formalidades, cria-se para o promitente comprador, um direito real “erga ommes” e segundo alguns autores, um direito real sobre coisa alheia, já que o preço ainda não foi totalmente pago ao promitente vendedor. A posse do imóvel passa de imediato para o promitente comprador, que poderá nele edificar, usar, gozar, etc.

O Decreto Lei n. 58 de 1937, foi instituído por Getúlio, dado ao fato de que nas grandes cidades os imóveis vendidos por preços atuais na época, mas que ao final do pagamento (10 anos ou mais), valiam várias vezes mais. Os promitentes vendedores negavam-se a outorgar a escritura definitiva, pois a promessa de compra e venda gerava apenas direitos obrigacionais, corroborado pelo art. 1.088 do CC de 1.916. Para por fim a tais abusos e que somente beneficiavam o vendedor, foi instituído o Dec. Lei n. 58, o qual regula a matéria, juntamente com o Dec. Lei n. 649, o qual também estendeu vantagens aos imóveis não loteados. Divergem os tribunais sobre as vantagens concedidas aos imóveis. Para algum estas vantagens se estendem a todos os imóveis loteados. O entendimento dominante no Supremo Tribunal Federal, é que as vantagens se estendam a todos os imóveis, tanto loteados como não loteados, e, que deverá

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haver interpelação judicial para constituir o promitente comprador em mora.

Considerações gerais sobre a promessa de compra e venda e o uso corrente consagrou uma espécie de ajuste informal que atende aos interesses das partes que não podem, ou não querem vincular-se a um contrato definitivo, de imediato. Consiste numa promessa, unilateral ou bilateral, de conclusão futura dos negócios jurídicos compromissados.Assim, quem se vê impedido de celebrar uma avença típica, ou quando esta se revela inoportuna, dando certas condições desfavoráveis ao estipulante, como, por exemplo, a compra e venda que admite o pagamento em múltiplas e sucessivas prestações, modalidade que não aconselha aos interesses do proprietário a transferência do domínio do bem alienado, vale-se, então, de uma promessa, que é, de fato, uma declaração afeta a uma obrigação de fazer, em que se estatui, exatamente, a obrigatoriedade da satisfação da exigência formal requerida pela lei para perfeição do negócio jurídico.Relacionando-se com a conclusão futura da exigência formal, poder-se até mesmo considerar que este seria um modus convencional informal, já que, em sendo a obligatio faciendi consistente na prestação de reproduzir o conteúdo do acordo, dando-lhe forma jurídica definitiva, é acordo atípico, não reclamando forma especifica, nem disciplina peculiar, senão aquela alusiva ao gênero subscrita pela doutrina e pela jurisprudência.

Evolução Histórica - O contrato preliminar de promessa de compra e venda de imóvel não loteado se traduz simplesmente no afastamento da regra, nemo proecise cogi ad factum. No direito romano o pactum in contrahendum, aplicado aos negócios. Nas Ordenações Filipinas (Livro IV, Título XIX) e Afonsinas (Livro IV, Título 57, parágrafo primeiro) a popularização de

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tal avença, aplicada à compra e venda de bens, entre nós, registrou maior incremento no século vinte, mais precisamente na década de trinta, quando o mercado imobiliário, pela primeira vez na historia do país, experimentou um crescimento inesperado. Antes do DL 58/37 e na vigência do CC de 1.916, o Min. Edmundo Lins, entendeu que a promessa refletia uma verdadeira venda.Parte da doutrina cogita que o pacto de contrahendo dos romanos é uma fonte doutrinária provisionadora de um novo negócio jurídico, adequado aos interesses ditados pela conjuntura econômica. Se este, verdadeiramente, foi o arquétipo do inovador molde contratual, os responsáveis por sua configuração não teriam como ignorar que os romanos negavam ao pactum o direito à ação, além de ser o instituto reputado como subserviente ao contractus, eis que o pacto assim conformado objetivava, exatamente, a constituição de acordo voltada para a obrigação de contratar, sendo, de fato, mera promessa de contratar. Configurando-se como de caráter pessoal à relação jurídica, por via de conseqüência, evidenciava-se a impossibilidade de garantir a efetividade da promessa, já que a obrigação de fazer não admitia execução compulsória, competindo ao prejudicado pelo inadimplemento, valer-se apenas da obrigação de indenizar.A promessa, por conseguinte, intencional ou casualmente, caracterizava-se instrumento adequado às oscilações do mercado imobiliário, tendente a favorecer os interesses da parte dedicada à especulação financeira, exatamente em razão da sua precariedade como instrumento de tutela jurídica. Ao gênero que servia à espécie – Ao contrato preliminar – era atribuído o crédito de promessa veraz, apta a gerar a expectativa jurídica de transmissão do domínio, mas era instrumento flexível, complacente quanto à possibilidade de desfazimento da obligatio, em proveito da realização de novo negocio.

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A maleabilidade depreendida da construção inaugural pode ter contribuído para a equivocada compreensão dessa via contratual, dando-a como instituição jurídica precária quanto à garantia de adimplemento da obrigação, de eficácia questionável e com estabilidade inevitavelmente provisória. Na prática da venda de imóveis, principalmente de lotes de terrenos urbanos, cujo preço era desdobrado em múltiplas parcelas de pagamento, concluíam as partes um acordo de vontades, em que o vendedor prometia transferir o domínio do imóvel alienado, por escritura pública, tão logo o comprador satisfizesse a ultima prestação de pagamento. Em contrapartida, o adquirente comprometia-se a fazer valiosa a sua promessa de realizar o pagamento conforme as condições e os prazos pré-ajustados.Por conclusão, tem-se que, se o escopo do adquirente for o de flanquear o curso forçado da escritura pública, a que se submetem os contraentes por força do disposto no artigo 108, do Código Civil, por impedimento, temporário ou definitivo, ou conveniência de qualquer das partes, requerendo-se, todavia, do titulo constitutivo assim chamado "informal" a eficácia de direito real exigível pelo titular, assegurando-o quanto à aquisição do domínio e à possibilidade de defensividade erga omnes, o contrato preliminar atende à conjuntura exposta, desde que não contenha expressamente a faculdade do arrependimento, e o titulo seja levado a registro no ofício imobiliário competente. Podemos até mesmo afirmar que o titulo "informal" assim constituído, pode ser reconhecido como atributivo de um direito potencial absoluto à transmissão do domínio, a partir do reconhecimento de que este ajuste, segundo Orlando Gomes, sinaliza permanente "estado potencial" do contrato definitivo. Aliás, já o tinha identificado anteriormente Filadelfo Azevedo - "na promessa se contém potencialmente a própria venda". Logo, seu conteúdo opera no sentido de assegurar a propriedade exclusiva ao adquirente, impondo-se a

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abstenção universal de terceiros quanto à gerência do patrimônio constituído pelo adquirente, por força do direito à oposição contra todos, e da possibilidade jurídica de reivindicação assistente ao promissário comprador. Com essa configuração essencial, a transmissão do domínio, operada pela avença formal submissa à solenidade do registro, apenas tornaria efetiva a propriedade, do ponto de vista formal, sem estabelecer qualquer outra sorte de efeito que favorecesse ao titular do domínio. Há, por conseguinte, definitividade e coercibilidade no titulus constituendi, desde que o adquirente haja implementado as prestações a que se obrigou, vez que, em tal situação, é inadmissível a recusa do promitente vendedor em satisfazer a sua própria obrigação. Certos nessa linha de raciocínio podemos concluir que a escritura pública, em relação ao contrato preliminar submetido aos rigores do decreto-lei 58/37, é ato meramente formal, confirmatório da avença precedente, entretanto, único capaz de prestar-se à solenidade essencial do registro para obtenção do domínio. Do ponto de vista utilitário, pragmático, em acordo com a óptica que distingue a eficácia segundo os resultados projetados pelo interessado, o contrato preliminar de compra e venda tem natureza satisfativa, porque o titular do direito real à aquisição exerce sobre o bem prometido, sem quaisquer restrições senão aquelas que vinculam também o titular do domínio, os direitos elementares à propriedade, posto que este o tem efetivamente como coisa própria, seja porque não pode o titular da propriedade opor-se ou concorrer com ele quanto à disposição do bem, exonerado que foi do poder dispositivo e do próprio domínio pela condição resolutiva expressa na titularidade do direito real conferido ao promissário adquirente, seja porque conta com aptidão para exercer os atos defensivos da posse e da propriedade do bem.

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É satisfativo o contrato preliminar, considerando-se a sua eficácia quanto ao exercício dos direitos pertinentes à propriedade. É também autônomo, porque a soma de direitos coletados pelo promissário adquirente – à exceção, naturalmente, da própria efetivação do domínio, reconhecido como predicado meramente formal, já que a conferência da titularidade da propriedade serviria ao exercício das mesmas faculdades autorizadas pela promessa irretratável – induzem-no, ativa e passivamente à conduta típica do proprietário, podendo alienar gratuita ou onerosamente, transmitir por herança, fruir, gravar, gozar do privilégio da irrevogabilidade do seu titulo, ou a perpetuidade do domínio, se preferirem, conhecendo as mesmas exceções opostas ao titular do domínio. Concede-lhe ainda, a exclusividade sobre o prometido objeto, do ponto de vista interno, quanto à utilização funcional, social ou econômica, da coisa prometida e, externamente, como direito de constituir-se singular senhor do bem, podendo reivindicá-lo de terceiros que o possuam injustamente.

Natureza Jurídica - É um contrato bilateral, sinalagmático e de natureza preliminar, podendo ser instantâneo ou de duração, em regra comutativo tendo como objeto um contrahere futuro.Sendo de duração, trata-se de um contato preliminar a termo, pressupondo pagamento das prestações para a exigibilidade da escritura pública definitiva.Tratando-se de loteamento é um contrato preliminar típico, que resulta dos próprios termos da lei, tendo que obedecer ao padrão constante do exemplar que configura entre os documentos necessários para inscrição do loteamento (art. 1º, inciso III, Dec. Lei nº. 58/37).É regido por princípios de ordem pública e, portanto, inalteráveis certas cláusulas do exemplar depositado e contrários aos ditames da legislação específica. Tem

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natureza autônoma e se reveste de caráter real quando levado ao registro imobiliário.A Promessa de Compra e Venda de Loteados poderá ser seguida independentemente de anuência do loteador, porém, para fazer efeito em relação a este deverá ser comunicado da cessão.

Adjudicação Compulsória - A desnecessidade da escritura pública e do registro para viabilizar a pretensão judicial da adjudicação. No que concerne à possibilidade de adjudicação compulsória pela via judicial, hoje é pacífico o entendimento de que basta a promessa com cláusula de irretratabilidade, reduzida a escrito, mesmo por convenção particular, para legitimar a postulação em juízo. É conveniente, contudo, que se esclareça que há doutrina de entendimento diverso, respaldada em controversa interpretação. Pretendem os defensores da corrente oposta aos que advogam a informalidade do titulo como elemento hábil à adjudicação, que uma ou as duas condições – a escritura pública ou o registro do titulo – sejam pressupostos elementares à configuração do direito à adjudicação. Sua justificativa emerge da exigência da norma jurídica que dá como condição essencial à validade do negócio de compra e venda de imóveis, a escritura pública, tal como se depreende do artigo 108 CC, referido. Defendem, por via de conseqüência, que, em sendo o ajuste informal, ato precedente ao contrato definitivo e, portanto, submisso a este, conformar-se-ia como espécie de dependente ou acessório, subserviente à forma determinada para a sua conclusão. Uma vertente ou subsistema dessa corrente entende que é necessário que se adite a imperatividade do instrumento público, o implemento da solenidade que lhe seria substancialmente afeta, qual seja a do registro do titulo no oficio público imobiliário competente. Ou mesmo,

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até toleram que o ajuste se expresse por instrumento privado, desde que este seja levado a registro. A assertiva é que a adjudicação é deferida em reverência à natureza irretratável da convenção, quando o implemento da obrigação facere prometida pelo devedor não conhece alternativa válida à conclusão do negócio senão a própria transferência do domínio. É o que o instituto visa assegurar e o que se depreende da exegese do decreto-lei 58/37, inferindo-se a tutela da boa fé e firmeza da obrigação subscrita pelas partes, objeto de consideração do preceituado no referido DL. Assim é que o artigo 16 do DL 58/37, estatui, in litteris: “Recusando-se os compromitentes a outorgar a escritura pública no caso do art. 15, o compromissário poderá propor, para o cumprimento da obrigação, ação de adjudicação compulsória, que tomará o rito sumaríssimo”. Explicita o referido artigo 15, a hipótese de adimplemento da obrigação de pagamento, por antecipação ou ultimação, ao encargo do promissário comprador. Precedentemente, o artigo 11, que se refere supletivamente ao conteúdo da promessa, não registra qualquer exigência quanto à forma do contrato, e até reconhece a dupla alternativa na instrumentalização do contrato, como a seguir: Art. 11 – Do compromisso de compra e venda a que se refere esta lei, contratado por instrumento público ou particular, constarão sempre às especificações exigidas neste artigo. In casu, o direito real somente se configura, quando o titulo da promessa é registrado no cartório competente e tal faculdade é extensiva aos instrumentos particulares, logo, não há como impor a veracidade jurídica da concepção formalista. No tocante à exigência do registro imobiliário para legitimação do direito à ação de adjudicação compulsória, cremos ser suficiente à denúncia do fato de que essa

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solenidade afeta mais a defensabilidade da titularidade do direito ante terceiros, que qualquer outra justificativa. É assim a expressão do art. 221 do Código Civil, quando dispõe que os efeitos dos instrumentos particulares não se operam a respeito de terceiros, senão antes de transcritos no registro público. A obligatio faciendi consistente na promessa de transferência de domínio, é direito pessoal e configura-nos paradoxal exigir que se registre em oficio imobiliário o título coletor dessa promessa para torná-lo eficaz, apto a produzir os efeitos perseguidos pelas partes, visto que se trata de prestação cometida ao promitente vendedor. Parece-nos mais lógico que a exigência do registro se dê em razão da constituição do direito real, que por si é oponível a terceiros. O a quaestio tem sido atribuída à redação do artigo 23 do DL 58/37, que ensejou, inclusive, a adoção da súmula 167 do STF, por controvertida interpretação do texto em analise. Estabelece o citado artigo: Art. 23 – Nenhuma ação ou defesa se admitirá, fundada nos dispositivos desta lei, sem apresentação de documento comprobatório do registro por ela instituído. O Supremo Tribunal Federal, valendo-se de interpretação literal do disposto na norma relacionada, e, em face da divergência jurisprudencial, trouxe a lume o paradigma sumular já referido, nos seguintes termos: Não se aplica o regime do dec. Lei 58, de 19.12.37, ao compromisso de compra e venda não inscrito no registro imobiliário, salvo se o promitente vendedor se obrigou a efetuar o registro. Contudo, por entender de justiça que o registro se desse supervenientemente à formação do contrato, editou a súmula 168 possibilitando que o registro pudesse ser feito no curso da ação. E essa foi à única concessão admitida pela Colenda Corte da Justiça. A questão é de natureza elucidativa.

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O decreto-lei 58/37, regulamenta as promessas de compra e venda de imóveis loteados e não-loteados, inserindo-os na disciplina comum, para que se valessem, co-respectivamente, até onde aproveitassem ou carecessem. A lei 6.766/79, conquanto não tenha derrogado inteiramente o DL 58/37 e dedique-se à disciplina dos imóveis loteados, inovou o regime do decreto referido, com a redação de dois dos seus artigos, o artigo 25 e o 46. O primeiro, desvincula da adjudicação à obrigatoriedade do registro, "são irretratáveis os compromissos de compra e venda, cessões e promessas de cessão, os que atribuam direito à adjudicação compulsória e, estando registrados, confiram direito real oponível a terceiros" sendo certo que tal solenidade só é imprescindível à aquisição de direito real, visto que o condicionante "estado registrados" prende-se apenas à constituição desse direito. O artigo 46, respondeu pela erradicação da divergência, derrogando o artigo 23, já referido e transcrito, que condiciona o direito de ação adjudicatória à comprovação do registro. O disposto na lei 6.766/79, encontra ainda resistências aparentemente insuperáveis por parte dos defensores da integridade formal dos compromissos de compra e venda, elegendo, como derradeiro argumento, o fato de que a lei em comento, trata do parcelamento do solo urbano, vale dizer, circunscrever-se-ia aos imóveis sujeitos ao regime de loteamento, não incluindo os imóveis não-loteados. Ora, se foi possível à legislação inaugural sobre a matéria DL 58/37 tratar uniformemente, sem distinguir, os regimes imobiliários diversos, desconsiderando a natureza dualista do objeto, como já acentuamos, porque não poderia suscitar o mesmo resultado – senão por inferência paradigmática, por analogia – a lei 6.766/79. Por que diferenciar o tratamento oferecido às promessas de venda, entre imóveis loteados e não-loteados, se o princípio

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informador da garantia e do privilégio não encontra justificativa lógica, ética ou jurídica para a desigualdade, devendo tanto as promessas como os contratos se aterem à ética, boa fé, princípios de ordem pública e cumprirem a sua função social.

DA COMPRA E VENDA – CC – Arts. 481/504.

Conceito - A compra e venda é um contrato pelo qual uma das partes se obriga a entregar uma coisa para a outra, com ânimo de aliená-la, mediante uma outra contraprestação em dinheiro ou valor fiduciário equivalente. O vendedor se obriga a transferir ao comprador o domínio de uma coisa corpórea ou incorpórea, mediante o pagamento do preço ajustado ou valor fiduciário equivalente. Constitui um direito pessoal, com efeitos de natureza obrigacional, no nosso sistema não contempla a unidade formal, isto é, não transfere o domínio por si só, devendo para tanto o comprador obter a tradição das coisas móveis e a transcrição dos imóveis. (ARTS. 1267 e 1245 CC).

Origem - A Compra e Venda foi praticada pelos povos antigos que empregavam um padrão comum de valor, de acordo com os costumes de cada lugar, no velho oriente, se utilizavam de referencias de quantidades determinadas de peixes secos e outros bens consumíveis ou duráveis, que inclusive serviam como referencias para pagamentos de tributos, assemelhava-se muito ao comércio de troca.Primitivamente, tanto na venda como na troca dava-se a transferência da coisa vendida ao comprador, essa concepção de unidade formal do contrato não subsistiu no Direito Romano por força da concepção da res mancipi e da res nec mancipi.Na concepção romana - Provém do contrato de permuta, que evoluiu, passando-se a usar como padrão comum de valor referências como a pecus (gado/animal de tiro, que

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originou a palavra pecúnia), após passou-se aos metais preciosos e finalmente chegou-se à moeda cunhada. Desta evoluiu-se para o papel moeda, chegando atualmente à moeda papel.Sob o aspecto sociológico – o contrato de compra e venda somente se tornou possível com o desenvolvimento do dinheiro, da moeda, elemento substancial ao intercâmbio econômico.Sob o aspecto econômico – a compra e venda tem dois pólos na sua estruturação: a moeda, que representa o padrão comum de valor e a movimentação negocial e o objeto suscetível de apropriação, que corresponde à coisa alienada no negócio.

Evolução Histórica com o Emprego de Moeda Os patriarcas se utilizavam da compra e venda, mediante acordo entre as parte, juntamente com testemunhas em lugar público, Serpa Lopes menciona a Bíblia sobre a compra de um terreno feita por Abraão, para sepultar sua esposa Sara, com moedas de prata, as terras não eram vendidas definitivamente, prevalecia o preceito divino, que exigia que retornassem ao vendedor no ano jubilar.No direito romano a compra e venda tem sua origem na permuta, que tanto numa como na outra, transferia-se a propriedade ao comprador. O que não subsistiu na compra e venda em face de res mancipi e da res nec mancipi, que tinham sentido diverso. A concepção de compra e venda do direito romano foi de grande influência no direito moderno, consistindo principalmente no seu efeito meramente obrigatório, sem promover por si só a transferência do domínio, o domínio somente se transferia pela mancipatio e a traditio, tanto nas propriedades quiritárias como nas úteis. A propriedade quiritária “era aquela que já existia nos primeiros séculos de Roma. Era regulada pelas normas rígidas e formais do jus civile ou direito quiritário”, uma de suas características principais, reconhecida pelos romanos é que “o titular de uma

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propriedade quiritária devia ser obrigatoriamente um cidadão romano, ou seja, gozar do status civitatis”.

Inicialmente era necessária a distinção entre a res mancipi e a res nec mancipi, a res mancipi exigia uma solenidade para a transferência como a mancipatio e a in iure cessio, a res nec mancipi bastava a traditio para a transferência. A distinção entre domínio quiritário e útil cessou após o período clássico e todas as formas se operavam pela traditio. Surgindo, então, no direito moderno a distinção entre os imóveis e os móveis, para os imóveis se exigindo a solenidade e para os móveis bastando à tradição, para se operar a transferência mediante a compra e venda.Finalidade – Levar à alienação. Cria a obrigatoriedade de transferir o domínio, que se opera pela tradição nos móveis e transcrição nos imóveis.O contrato de compra e venda no direito moderno tem duas matrizes:1. Sistema germânico – que se manteve fiel a matriz romana, conferindo ao contrato de compra e venda um cunho meramente obrigatório e não técnico, não há unidade formal do contrato, distinguindo-se o vinculo obrigacional da execução do adimplemento.2. Sistema francês ao contrário do germânico concebeu a unidade formal do contrato de compra e venda; assim, ao mesmo tempo em que o contrato cria o vínculo obrigacional, também transfere o domínio da coisa vendida. Para Pothier, a Compra e Venda caracterizava “praestare emptori rem habere licere”, contendo a obrigação de entregar a coisa ao comprador e a defender de qualquer turbação de direito.O Código de Napoleão de 1.804, escrito por Pothier, inusitadamente se afastou da própria orientação de Pothier e mantendo consoante o direito romano a unidade formal do contrato, que exigia a tradição para seu pleno aperfeiçoamento. Por isso, posteriormente a AUBRY et RAU,

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substituíram a palavra LIVRER pelos termos TRANSFÉRER LA PROPRIÉT, ajustando o conceito ao critério formal.O critério de unidade formal do direito Civil Francês continua expresso no art. 1.138 do CC Francês.A posição contrária de Pothier ao critério romanista foi em conseqüência ao Direito Natural, dando cunho filosófico ao principio da transferência da propriedade e elevando o consentimento ao status máximo para aperfeiçoar o contrato dispensando a tradição. Na mesma esteira segue a orientação no antigo e atual Código Civil Italiano (art. 1470), o qual a Compra e Venda se manteve com caráter real, contemplando a unidade formal do contrato.

Nosso Direito Civil seguiu a orientação romano-germânica, seja na compra e venda de móveis ou de imóveis, reveste-se sempre de um caráter meramente obrigacional, assumindo o vendedor pelo contrato a obrigação de transferir a propriedade da coisa vendida ao comprador. Existem algumas exceções, como os títulos da dívida pública e na venda sobre documentos, art. 529 CC., operando-se nestas hipóteses a transferência imediata e contratualmente ao comprador.

Natureza Jurídica - É contrato bilateral, oneroso, consensual ou solene, em regra comutativo, em alguns casos sujeito à forma prescrita em lei, porem no mais das vezes independente de qualquer solenidade. É consensual e não real. Oneroso e não há compra e venda gratuita. Comutativo, pois há equivalência subjetiva da prestação e contra prestação. Aleatório, posso comprar coisa futura. Assumo o risco total ou parcial. Ex.: A Emptio spei ou de Emptio rei speratae.Pode ser: instantâneo; de duração ou duração deferida.Regra geral a compra e venda não é solene, com exceção da compra e venda de imóveis com valor superior 30 SM.SISTEMAS – Existem vários, sendo dois os mais conhecidos:

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Sistema Francês – Prepondera o critério da unidade formal.O próprio contrato, ao mesmo tempo em que cria o vínculo obrigacional, transfere o domínio da coisa vendida.Sistema Alemão – Resulta do sistema romano, isto é de cunho meramente obrigatório e não técnico. Não há unidade formal. A obrigação fica circunscrita à sua verdadeira função. O contrato nada transfere. Exige-se a tradição ou a transcrição. O contrato gera apenas direitos e obrigacões.Sistema Brasileiro – Segue o alemão. Exige-se a tradição para as coisas móveis e a transcrição para os imóveis.A compra e venda não se confunde com a troca, pois nesta dá-se e recebe-se coisa. Na compra e venda há prestação de coisas por dinheiro.

Objeto da Compra e Venda - Para que uma coisa se torne objeto do contrato de compra e venda são necessários os seguintes requisitos:a) que sua individuação seja determinada ou determinável;b) coisa que efetivamente exista ou possa vir a existir, de existência possível;c) que seja uma coisa no comércio, legítima de comercialização.d) que sua alienação não seja proibida, sendo, portanto objeto lícito.

Apresenta-se o Objeto da Compra e Venda em diversas hipóteses1 – Coisas corpóreas e incorpóreas podem ser objeto de compra e venda, tanto presente como futuras. As coisas incorpóreas são mais objetos da cessão de direitos, como: Marcas, quotas, etc.Coisas futuras podem ser vendidas. Ex.: A emptio spei e a Emptio rei speratae.

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2 – Coisas próprias e alheias – Podem ser objeto de contrato de compra e venda. Surgem, entretanto três correntes:a) – Há os que entendem que seria nula a venda de coisa alheia (Clóvis).b) – Há os que entendem válida à venda de coisa. Esta é a corrente dominante (W. B. Monteiro e Serpa Lopes).c) – Há os que entendem que o contrato é válido não com a intenção de desapossar o legítimo proprietário da coisa e sim responsabilizar por perdas e danos o vendedor que não conseguiu transferir o domínio ao comprador.3 – Coisas singulares e coletivas – Estas podem ser objeto de venda.4 – Venda de coisa litigiosa – É admitida pela regra do art. 457 CC. Não pode demandar pela evicção se comprou coisa litigiosa e assumiu o risco. O adquirente pode socorrer-se da Ação de Imissão de Posse. Se o vendedor embaraçar a entrega da coisa, cabe perdas e danos.

Elementos Essenciais do Contrato de Compra e Venda- o objeto; - o preço;- o consentimento.

Não Podem Ser Vendidas1 – Coisas que estão fora do comércio.2 – Bens inalienáveis.3 – Bens cuja venda é vedada por lei.

O Preço - É a quantia que o comprador se obriga a pagar ao vendedor. Deve ser em dinheiro ao menos a parte principal. Art. 481 CC. O preço deve ser sério e não irrisório, vil ou fictício. O preço deve ser determinado ou ao menos determinável. Poderá o preço ser arbitrado por um terceiro, passando este a exercer a função de mandatário. Se o terceiro morrer, ou não quiser ser o mandatário, o contrato se resolve, pois faltou a indicação do preço pela pessoa

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nomeada. Qual o preço que o terceiro deve tomar em consideração?Entendemos que tem liberdade total para fixar o preço. W. B. Monteiro diz que deverá levar em consideração o preço do dia que vigora no mercado.

Cotação – Pode ser de bolsa ou da praça. Se a cotação não for determinada, tomar-se-á o preço médio entre a abertura e o fechamento. Não pode o preço ficar ao arbítrio de uma das partes contratantes.O contrato é nulo – Art. 489 CC. Normalmente as dúvidas na compra e venda são interpretadas contra o vendedor.

Consentimento - É a convergência de vontades dos contratantes, indispensável para a validade do contrato. A compra e venda normalmente são feitas à vista do objeto que se quer adquirir. Entretanto, pode haver compra e venda sem a entrega da coisa. Ex.: compro um anel de brilhantes exposto numa vitrine. Pago o preço e depois noto que é imitação. O contrato se resolve, porque houve erro. Se ao contrário vou a uma loja, olho uma fazenda, gostei e compro. Ao chegar em casa noto que não é tão boa como parecia. O contrato não se resolve.

Forma - A forma da compra e venda é normalmente livre. Quando se trata de venda de bens imóveis, com valor superior a R$ 30 SM (art. 108 do CC) a forma é solene, Escritura Pública.

Efeitos da compra e venda - A Compra e Venda gera a obrigação de o vendedor transferir a posse e o domínio, seja este pela tradição ou transcrição, assegurar firme e boa a venda feita rem tradere sit habere sibi liceat, dando ao comprador a propriedade erga omnes das coisas móveis, coisas certas, determinadas e a posse de direito e de fato.

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Obriga ao comprador o pagamento integral do preço na forma e modo convencionado.O efeito erga omnes na compra e venda de bens imóveis só é alcançado após a transcrição imobiliária nos termos do art. 1.245 do CC.

Partes do Contrato de Compra e VendaComprador e vendedorCaso o contrato de compra e venda circule:Cessionário comprador e Cessionário credor

Do Risco na Compra e Venda Res Perit DominoEnquanto não se integra no patrimônio do Comprador, sofre o Alienante o ônus do perecimento ou deterioração do objeto, opera-se neste caso, os efeitos da mora accipiens, respondendo o comprador pela perda do objeto que colocado a sua disposição incidiu em mora.Exceção: na alienação de coisas futuras, cujas principais modalidades são a emptio spei e a emptio rei speratae, a coisa se perda para o Comprador desde que o Vendedor não concorra com culpa.

Das provas do Contrato de Compra e Venda - O Contrato de Compra e Venda se prova através de um princípio de prova escrita, exceto nas hipóteses em que a lei permite a prova exclusivamente testemunhal, sendo que, havendo um principio de prova escrita poderá ser corroborada com qualquer meio de prova lícita.

Extinção do Contrato de Compra e Venda - Extingue-se o contrato de Compra e Venda por causas anteriores, contemporâneas ou posteriores a sua formação.- Causas anteriores: são relacionadas normalmente ao objeto, como ocorre na evicção; - Causas contemporâneas: normalmente se relacionam a anulabilidades, nulidades, vícios de consentimentos,

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fraudes, vícios redibitórios, vícios formais ou materiais de qualquer natureza, autorizativas de extinção do contrato.- Causas posteriores: estão relacionadas às obrigações das partes ou fatos supervenientes como alteração da lei, expropriação, caso fortuito ou força maior e como principal característica o inadimplemento. Ressalte-se que a extinção natural do contrato se dá com o seu pleno cumprimento.

REGRAS ESPECÍFICAS PARA ALGUMAS MODALIDADES DA COMPRA E VENDA.

VENDA POR AMOSTRAS - Art. CC – Art. 484.Art. 484 do CC. Também o art. 201 do Revogado Código Comercial regula a compra e venda por amostra. Trata-se de venda ultimada à vista de amostra exibida pelo vendedor que provocou o assentimento do comprador. O comprador pode recusar-se de receber a mercadoria se não corresponder com a amostra. Acham alguns autores que é negócio jurídico sob condição. (W. B. Monteiro). Outros dizem ser um negócio jurídico puro e simples sem condição e se descumprida a obrigação pelo vendedor, isto é, se a mercadoria não corresponder com a amostra, ocorrerá o inadimplemento. Não haverá lugar para os vícios redibitórios, mas uma “excessio adimpleti contratus”.

Características da Venda por Amostra1 – Determina qualidades específicas ou gênero da mercadoria com referência a um corpo.2 – Se ajusta às coisas genéricas, seja o gênero “Limitatum” (café da Fazenda do Sto. Antônio, tipo C, bebida Rio) – Não “Limitatum” (somente café). Também se ajusta a coisas presentes e futuras; também se ajusta quanto às coisas específicas. A designação da amostra deve ser feita antes de completada o contrato. A amostra deve ser anterior ao contrato. A verificação da correspondência entre a amostra e a mercadoria, deve ser imediata. Porém as partes podem

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fixar um prazo para a mercadoria ser conferida. O silêncio supre.

Características da Cláusula Especial Perante AmostraO pressuposto da venda à vista de Amostra, protótipo ou modelo é a correspondência da coisa vendida com a Amostra exibida. A correspondência da coisa entregue com a Amostra, torna-se, uma condição essencial para a eficácia definitiva da venda. Portanto, a consignação e o recebimento de mercadorias não se consideram efetivas, senão sob a reserva da apuração de conformidade com a Amostra.Para Serpa Lopes não se trata de uma cláusula condicional de venda, embora muitos autores assim o entendam, não se trata de uma venda condicional, senão uma venda pura e simples, acarretando, se descumprida, o inadimplemento das obrigações assumidas pelo vendedor, pois a desconformidade entre a Amostra e a coisa vendida não dá lugar aos vícios redibitórios, mas configura a exceptio non adimplenti contractus.Sendo caracterizada a compra e venda à vista de Amostra: a) em relação a sua função principal, consistir na determinação das qualidades especificas ou gênero do objeto do contrato, per relationem, mediante referencia a um corpus;b) é uma cláusula ajustável a um gênero ilimitado como a um limitado ou de espécie, tanto em relação à compra e venda de coisas presentes como de coisas futuras;c) a designação da amostra deverá ocorrer antes da conclusão do contrato.

Efeitos da Compra e Venda à Vista de AmostraOs efeitos são os decorrentes de sua própria conceituação, como preceitua o (art. 481 do CC), devendo o vendedor assegurar que o objeto entregue tenha fiel e absoluta relação com a amostra exibida. Por isto, deve o comprador sempre guardar a amostra, para que possa fazer a

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comparação probatória per relationem, elemento essencial ao contrato. Não havendo fiel correspondência entre o objeto e a amostra, poderá o comprador enjeitar a coisa entregue.

O fato de não se caracterizar o vício redibitório e sim inexecução contratual a falta de correspondência entre o objeto e a amostra, nada obsta, que o objeto entregue tenha vício redibitório, nesta hipótese, o objeto corresponde exatamente à amostra, porém, é eivado de defeito oculto.

Ônus da Prova da Venda Mediante AmostraNão se deve confundir a prova da identidade da amostra com a conformidade da coisa entregue em relação a amostra, são duas circunstancias distintas, que requerem soluções próprias, Serpa Lopes seguindo Gino Gorla, apresenta a seguinte solução:a) prova da identidade da amostra, fica a cargo de quem apresentar a amostra em juízo;b) prova da conformidade – esta, tendo por objeto as qualidades asseguradas fica a cargo do comprador, no sentido negativo e a cargo do vendedor no sentido positivo, se tiver por objeto o genus ou subgenus, tanto quanto a amostra tinha, também, a função acidental de determinar a genus ou subgenus.

Para ENNECCERUS, distingue-se a compra e venda de coisas genéricas das coisas específicas, no caso de coisa genérica o ônus da prova cabe ao que invoca o contrato de compra e venda, ou seja, o comprador que exige a prestação conforme a amostra e o vendedor que reclama o preço, configurando com a conformidade da amostra a determinação do objeto do contrato.Em sendo coisa especifica o ônus da prova recai ao comprador, por se encontrar individuado o objeto da venda, sendo um pacto secundário a cláusula sobre a conformidade com a amostra.

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Aquele que tem que provar a realização da venda a vista de amostra, necessariamente terá de provar, também de qual amostra.

VENDA “AD CORPUS E AD MENSURAM” – CC – ART. 500. IMOBILIÁRIA.Na venda Ad Mensuram, as preocupações das partes foi vender e comprar determinada área do terreno. A metragem do imóvel é elemento relevante, notadamente se tem comprado ao preço do metro quadrado. Ex.: Compro um chão de 300m2 ou 500m2 a R$ l0,00 o metro quadrado. Na falta de área, poderá o comprador pedir a complementação de área ou a diminuição do preço ou rescisão do contrato. A ação correspondente é a “Ex Emptio ou Ex Vindito”. A ação para pedir complementação de área, exige que o vendedor tenha terreno contíguo ao vendido. Se houver excesso de área, o vendedor tem direito de reclamar, na venda “and mensuram” e não na venda “ad corpus”. Nas vendas Ad Mensuram, é muito importante que existam as quantidades formadoras do preço.Nas vendas “Ad corpus”, compreensiva de corpo certo e individuado, presume-se que o comprador examinou as divisas do imóvel, tendo a intenção de adquirir precisamente o que dentro delas se continha. A metragem não tem influência na determinação do preço. Ex.: Compro a Fazenda São Francisco, situada em Montes Claros, Minas Gerais.Nas vendas Ad Corpus, não cabe rescisão contratual, ou abatimento do preço.Art. 500, § 1º, é uma presunção de que a venda foi ad mensuram. Se a diferença for menor de 1/20, não se poderá demandar ad mensuram. Não se poderá demandar, pois é menor que a tolerância legal.

VENDA IMOBILIÁRIA – CC – Art. 500.

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Em toda a escritura de transferência de imóveis, serão transcritas as certidões de se acharem ele quite, com as fazendas Federal, Estadual e Municipal, ou a quaisquer outros impostos que possam estar sujeitos. As despesas de escritura, a cargo do comprador, e as de tradição a cargo do vendedor, salvo estipulação em contrário.O defeito oculto de uma das coisas vendidas conjuntamente, não autoriza a rejeição de todas – Art. 503 CC. – Venda de quinhão na coisa comum, só é válida quando oferecida a um dos condôminos, tanto por tanto. Art. 504 CC.

DA RETROVENDA – CC – Arts. 505/508.Conceito Pela retrovenda o vendedor se reserva o direito de recobrar em certo prazo, o imóvel que vendeu, restituindo o preço, mais despesas feita pelo comprador. A retrovenda é restrita a imóveis com prazo decadencial a partir do contrato e não da transcrição que é subseqüente, e, que é de três anos. Art. 505 CC.

Natureza Jurídica - Segundo Serpa Lopes reveste-se a sua função, sobretudo de uma natureza creditória o que levou alguns juristas a considerá-lo um hipoteca em sentido inverso, isto é, em que o objeto da garantia permanece com o credor.É muito controvertida a natureza jurídica da retrovenda. Para alguns é:a) Direito Contratual de resolução; para outros como: b) Pactum in contrahendo. Para Endemann: c) Oferta de Retrovenda.

No Direito Brasileiro, é uma “condição resolutiva”.O vendedor perde a propriedade, que passa para o comprador. A opinião da maioria é de que o direito de propriedade se resolverá “jus in rem”. Se a coisa se deteriorar, o vendedor inicial não poderá pedir abatimento no preço. O direito de resgate é personalíssimo, mas se

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transfere aos herdeiros. Pode também ser exercido por credores que podem pagar o preço. O objeto da retrovenda em nosso direito há de ser necessariamente um bem imóvel. A retrovenda deverá constar obrigatoriamente da escritura e do registro de imóveis. Pode ocorrer que o direito de resgate toque mais de um vendedor. Em tais condições, se um dentre eles quiser escriturá-lo, o comprador poderá intimar os demais para que se manifestem e caso não se declararem acordes, ou não queira um deles entrar com a importância do resgate, caducará o direito de todos. Art. 508 CC.

Requisitos do Pacto da Retrovenda:a) uma venda sob condição resolutiva;b) uma cláusula só compatível com bens imóveis;c) a restituição do imóvel deve ser feito com os acréscimos e melhoramentos;d) obrigação do vendedor, ao resgatar, de reembolsar as despesas feitas com o contrato e com os melhoramentos úteis ou necessários;e) prazo não superior a três anos;f) o prazo de três anos é decadencial, correndo sem interrupção e transcorrido extingue-se a condição resolutória, tornando-se irretratável a venda.

O atual código proíbe a cessão de direito por ato inter vivos, autorizando apenas no direito sucessório, para herdeiros e legatários, o vendedor poderá ceder seu direito de retrato a terceiros e transmiti-lo, via hereditária, a herdeiros e legatários.

O Pacto de Retrovenda deverá obrigatoriamente constar no próprio contrato de compra e venda “escritura” que por esse modo assume o aspecto autônomo e especial.

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Efeitos em Relação a Terceiros - A cláusula de Retrovenda não tem o condão de criar um direito real como sustentam os muitos juristas. Porém, o vendedor conserva a sua ação contra terceiros adquirentes da coisa retrovendida, ainda que eles não conhecessem a cláusula de retrato. Inobstante, deverá o vendedor levar o contrato ao registro imobiliário para adquirir a devida publicidade e criar os efeitos erga omnes, para ter maior segurança do seu direito.

VENDA A CONTENTO – CC – Arts. 509/512.Conceito - É aquela que se realiza sob a condição de só se tornar perfeita e obrigatória após declaração do comprador de que a coisa o satisfaz. Destina-se em geral a regular aqueles negócios que tenham por objeto gênero que se costumam provar, medir, pesar ou experimentar antes de aceitar, mas não se circunscreve apenas a essas coisas, podendo abranger quaisquer outras.

Para Clóvis Beviláqua - A venda a contento é a cláusula que subordina o contrato à condição de ficar desfeito se o comprador não se agradar da coisa. A venda a contento é, portanto, a que se realiza sob a condição de só se tornar perfeita e obrigatória se o comprador declarar que a coisa adquirida lhe satisfaz. Enquanto não se realizar a condição, o contrato existe, porém seus efeitos ficarão paralisados, até que o comprador aceite o bem alienado.

É negócio jurídico sob condição suspensiva. Ela não se aperfeiçoa enquanto o comprador não se declarar satisfeito. De acordo com o Art. 511 CC, as obrigações do comprador são as de mero comodatário, enquanto não manifesta aceitá-la. A compra e venda não se realizará, ou será desfeita se o comprador não gostar da coisa. Não depende da qualidade da coisa, mas simplesmente a negativa do comprador que dela não gastou.

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A cláusula “ad gustum”, deverá constar expressamente no contrato de venda a contendo. A obrigação do comprador se pronunciar, deve ser de um prazo razoável. Não sendo estipulado, o vendedor terá o direito de intimá-lo judicialmente. Art. 512 CC. O direito ad gustum na venda a contendo “é pessoal”. O próprio comprador deverá verificar e não mandar terceiros. Poderá, entretanto, depois de verificado, mandar o perito fazer uma verificação técnica, por exemplo um Enológo - Connaisseur. O direito do comprador é pessoal e intransferível, quer intervivos ou causa mortis. A venda a contendo compreende os gêneros de: Provar, medir, experimentar, antes de comprar. O código comercial, art. 207, inc. 2º também trata da venda a contento.

A compra e venda qualquer que seja o seu objeto, comporta essa cláusula, inserida, geralmente, no contrato de compra de gêneros que se costumam provar (CC, art. 510).

Pelo Código Civil, art. 509, a venda a contento reputar-se-á feita sob condição suspensiva, ainda que a coisa tenha sido entregue ao comprador, não se aperfeiçoando o negócio enquanto ele não se declarar satisfeito. Não se permite que as partes lhe atribuam o caráter resolutivo, hipótese em que o contrato seria considerado desde logo concluído, com os efeitos de um negócio perfeito, suscetível de se resolver se o comprador proclamar seu desagrado em relação à coisa.

Em razão da natureza suspensiva do pacto, o adquirente assumirá as obrigações de mero comodatário, enquanto não se manifestar a intenção de aceitar o objeto comprado (CC, art. 511), como dever de restituí-lo, portando-se como se a coisa lhe tivesse sido emprestada, respondendo por perdas e danos, quer por negligência, quer por mora, sem ter qualquer direito de recobrar as despesas de conservação, exceto aquelas que revestirem caráter

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extraordinário, e, se o bem perecer por força maior ou caso fortuito, não responderá pelo preço.

O vendedor não poderá discutir a manifestação de desagrado, nem recorrer a exame pericial ou a decisão dos tribunais que comprove as boas qualidades da coisa alienada, uma vez que a venda a contento é uma estipulação em favor do comprador, subordinando-se à opinião pessoal e gosto, não estando, portanto, em jogo a utilidade objetiva da coisa.

Natureza Jurídica - Tem o caráter de natureza suspensiva do negócio jurídico, não operando o negócio jurídico e seus efeitos enquanto não houver a aceitação do comprador, salvo se as partes pactuarem a condição resolutiva, neste caso o contrato opera os seus efeitos desde a tradição, porém, fica sujeito à resolubilidade em caso de não aceitação por parte do comprador, em face deste manifestar o seu desagrado.A aceitação do comprador configura uma declaração de vontade inerente ao aperfeiçoamento do contrato.

DA PREEMPÇÃO OU PREFERÊNCIA – CC – Arts. 513/520.Conceito - O pacto da preferência é aquele negócio em que o comprador de uma coisa se obriga para com o vendedor a preferi-lo em igualdade de condições caso venha a vendê-lo. Art. 513 CC.O direito de preferência se ajusta a venda de bens móveis ou imóveis.

Requisitosa) – O comprador deve querer alienar a coisa.b) – O vendedor queira exercer a preferência.É um direito que se assegura ao vendedor, de antes de o comprador vender a coisa, oferecê-la ao vendedor tanto por tanto. O vendedor terá preferência antes dos terceiros. É

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um direito personalíssimo, que ocorrem três situações possíveis:a) – O comprador antes de vender a coisa informa ao vendedor de que vai vender a coisa. Este pode optar:1 – Se houver interesse, pagará o preço da oferta;2 – Se não houver interesse, simplesmente deixará passar o prazo, que é previsto no art. 516 CC (Coisa móvel – 3 dias) (Coisa imóvel – 30 dias).A lei não determina que a notificação ao vendedor seja judicial. Entretanto, para maior segurança, é aconselhável a via judicial.b) – Se o vendedor, sabendo que a coisa vai ser vendida, poderá intimar o comprador, alegando que quer exercer o direito. Art. 514 CC e 313 CPC.c) – Existindo o direito de preferência, o comprador não informou ao vendedor que a coisa ia ser vendida. Mas vendeu. Art. 518 CC e 313 CPC.Para alguns autores como Serpa Lopes, o direito de preferência é pessoal e não real dá lugar à execução compulsória. Entretanto, o CPC em seu art. 313 diz que: “Alienada a coisa, terá o preferente ação para exigí-la de terceiro que a houver adquirido ou para reclamar a indenização correspondente. Por esta invocação, dá ao titular do direito uma alternativa.Os prazos do art. 516 CC são decadenciais. Não se interrompem e nem se suspendem, art. 519. Preempção legal

Retrocessão. A preempção legal se estende às locações e sociedades.No caso de desapropriação pelo poder público e não tendo este utilizado o imóvel para o fim para o qual foi expropriado, terá direito o vendedor a readquirir o imóvel que foi expropriado, pelo preço que foi vendido, decorrido o prazo. Entendem uns que este direito se estende aos herdeiros. Não haverá retrocessão se o poder público,

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modificar a destinação do imóvel.neste caso, somente se o quiser vender.

Natureza Jurídica da preferência - Segundo VISSCHER constitui, inicialmente, uma obrigação negativa, visto que não obriga o que dela é devedor ao concluir o contrato com o que dela é beneficiária e positiva, no segundo plano por obrigar simplesmente a não concluir a venda com um terceiro sem antes ofertar ao beneficiário da preferência.É um contrahendo preliminar que descumprido se converte em perdas e danos por ser de natureza pessoal.

PACTO DE MELHOR COMPRADOR – arts. 1158 a 1162 do CC 1916 - Este contrato não foi contemplado no CC 2002, mas pode ser utilizado nos termos do art. 425 do CC.Conceito - O pacto de melhor comprador é a cláusula em que se estipula que a venda de um bem imóvel ficará desfeita se dentro de certo prazo não superior a um ano, apresentar-se outro comprador, oferecendo maiores vantagens.A aplicação raríssima é aplicada somente a imóveis. Prazo decadencial um ano. O comprador terá direito de preferência se pagar o mesmo preço aquele oferecido pelo outro interessado. O primeiro comprador será indenizado das despesas e o contrato se desfará se a ele a coisa não for vendida preço por preço. Art. 1.159 CC1916. A condição pode ser resolutiva, salvo cláusula expressa em contrário.

Comparações entre o pacto de melhor comprador e o direito de preferência.a) a preferência é exercível somente quando o comprador deseja vender o bem adquirido. Enquanto que o pacto de melhor comprador é exercível desde a conclusão do contrato, cabendo ao vendedor achar um terceiro que lhe ofereça melhores condições.

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b) a preferência dá lugar a uma condição suspensiva ao passo que o pacto de melhor comprador determina presumidamente uma condição resolutiva;c) a preferência se ajusta à venda de bens móveis e imóveis ao passo que pacto de melhor comprador se refere a bens imóveis.

PACTO COMISSÓRIO OU PACTO ADJETO – Art. 474 c/c 127 e 128 do CC.O pacto Comissório de modo geral é a cláusula por força da qual se opera a extinção dos direitos contratuais da parte do contratante que não cumpre a sua prestação.É feita no interesse do vendedor. Ela não depende de interpelação judicial e conforme preceitua o art. 474 do CC, opera-se de pleno direito. Se o preço não for pago, o vendedor poderá pedir:a) que seja pago o preço oub) desfazimento da venda.Se decorrido o prazo o comprador não cumprir com a sua obrigação, o juiz pronunciará sentença meramente declaratória. Desfeito o contrato, a coisa volta ao vendedor, que devolverá as quantias que recebeu, salvo se forem arras penitenciais.As perdas e danos sofridas pelo vendedor devem ser pagas por aquele que inadimpliu. É uma cláusula “Potestativa”. O direito do vendedor se transmite aos herdeiros e sucessores. A promessa de compra e venda de imóveis loteados se regula por lei especial e o Pacto Comissório expresso, não dispensa a interpelação judicial. Esta, entretanto, poderá ser feita extra judicialmente (em cartório). Essa disposição encontra amparo no decreto Lei n. 58 DE 10.12.1937/Lei 6766/79.

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Origem no direito romano - Foi criado para a proteção do vendedor quando, aceitando, a fé do comprador lhe transmitia a propriedade da coisa vendida.Para garantia do pagamento do preço, os romanos dentre outros pactos, como o pactum hypothecae e o pactum reservati dominii, figurava a lex commissoria, que se revestia além de mais um efeito penal, porque, tendo o comprador dado arras ou realizado uma parte do preço nada poderia reclamar se a venda viesse a ser por ele resolvida.

COMPRA E VENDA COM RESERVA DE DOMÍNIO - CC – Arts. 521/528.

Conceito - O contrato de compra e venda com reserva de domínio é aquele em que o vendedor reserva para si a propriedade da coisa. “Do nec pretium salvatur”. É uma condição imposta ao contrato de compra e venda a termo, cujo efeito é o de suspender a sua execução, até o final do pagamento. O vendedor apenas transfere a posse ao comprador. É uma compra e venda de coisas infungíveis. Este contrato já era conhecido dos romanos e não foi admitido no Código Civil de 1916, porque seus idealizadores entenderam não haver harmonização na prática. No nosso sistema jurídico foi regulada pelo Decreto Lei n. 1.027 de 02.01.1939. Hoje contemplado pelo atual CC.

Origem:Tem sua origem no direito romano, tratava-se do pacto reservati dominii.O Código Civil de 1916 não contemplou o instituto.O código Civil de 2002 veio a contemplar o instituto.

Natureza Jurídica

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Muito discutida entre os doutrinadores e divergem as diversas correntes:a) Nega a construção dogmática do instituto;b) Promessa de venda;c) Comodato;d) Locação – (O aluguel jamais levará à transferência da coisa);e) Depósito;f) Compra e venda pura e simples;g) Condição suspensiva (o domínio está suspenso até o último pagamento);h) Condição resolutiva;i) Locação e compra e venda (não há vínculo locacional).A condição seria suspensiva porque o contrato está em pleno vigor e tem seus efeitos suspensivos até surgir o evento. Outrossim, seria resolutiva porque o contrato só se resolve quando o evento surgir. Dado ao fato de a posse estar com o comprador, poderá este socorrer-se dos interditos possessórios, até mesmo contra o vendedor, se os pagamentos estiverem em dia. Pelo inadimplemento do comprador, o vendedor pode ajuizar ação de busca e apreensão ou executiva de cobrança e a coisa poderá ser penhorada. Tal fato constitui exceção à regra geral. Terceiros também poderão penhorar a coisa se o preço estiver totalmente pago ou poderão completar o preço ao vendedor.

Elementos1 – Compra e venda a prazo (crédito) de bens móveis.2 – Objeto individuado e infungível.3 – Entrega do objeto ao comprador (mas não há tradição).4 – Pagamento do preço em prestações ajustadas (periódicas).5 – Transferência do domínio após pagamento do preço (a quitação da última prestação não prova a quitação total).

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No sistema francês, no qual a compra e venda transferem o domínio pelo próprio contrato, não há necessidade de tradição. De acordo com o art. 1º do Decreto Lei n. 1.027, o contrato de compra e venda com reserva de domínio para ter validade contra terceiros, deverá ser transcrito no Registro de Títulos e Documentos. Esta disposição também encontra guarida no CC. O registro é feito no Cartório de Títulos e Documentos do domicílio do comprador. Segundo decisão jurisprudencial citada por Serpa Lopes, o registro deve também ser feito no domicílio do vendedor e de conformidade com o art. 136, inciso 5º Do Decreto Lei n. 4.857 de 1939, o prazo para efetivação de tal registro é de 60 dias a contar da data da assinatura pelas partes. A finalidade do registro é para que terceiros não possam alegar boa-fé, ao comprarem bens alienados com reserva de domínio. A forma é escrita e não solene. Também não é necessário constar a expressão “reserva de domínio”. Os Riscos da Coisa - Temos uma exceção à regra geral – “Rés perit domino” isto é, a coisa perece para o dono. No caso presente a coisa perece para o comprador por ser uma norma supletiva e não cogente.Entretanto as partes podem contratar diferentemente.

Da publicidade - É necessário que o contrato seja levado ao Registro Público.

Forma constitutiva - O contrato de compra e venda com reserva de domínio exige forma especial, embora reduzida a um instrumento particular de contrato, deverá ser revestido pela publicidade para que surta efeitos erga omnes. A cláusula deverá ser expressa com clareza e precisão para não remanescerem dúvidas aos contratantes.

A reserva de domínio aplica-se essencialmente aos bens móveis, diferentemente da alienação fiduciária, que se aplica aos móveis e imóveis.

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A Lei nº 9.514/97: linhas gerais. A Lei nº 9.514, de 20 de novembro de 1997, introduziu inovações de grande porte na sistemática de financiamento para aquisição de bens imóveis e de captação de investimentos para essa finalidade. Sem criar institutos jurídicos propriamente novos, serve-se de vários deles, já preexistentes no sistema normativo e conhecidos da doutrina, modificando-os e recombinando-os, estabelecer toda uma disciplina do tema, que, em seu resultado final, é absolutamente novo no direito nacional, inclusive, como adiante se há de ver, no pertinente à orientação finalística do Instituto ser de cunho político.

Causas Extintivas do Pacto Reservati Dominia) pagamento integral do preço, obtendo o comprador o domínio;b) renúncia por parte do vendedor;c) pelo inadimplemento de qualquer das partes, sem que o comprador tenha requerido a prerrogativa do art. 344 do parág. 3º do CPC, no caso de haver pago mais de 40% do valor.

DA VENDA SOBRE DOCUMENTOS - CC – Arts. 529/532.ConceitoA venda sobre documentos é uma modalidade de compra e venda de coisas móveis em que as partes optam em substituir a tradição pela entrega do titulo representativo, que aperfeiçoa o contrato de compra e venda e obriga as partes na forma avençada, operando esta cláusula à unidade formal no contrato de compra e venda de coisas móveis.

Segundo Maria Helena, a venda sobre ou contra documentos decorrentes de usos e costumes vem sendo utilizada nos negócios de importação e exportação, ou seja,

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nas vendas internacionais, ligando-se à técnica de pagamento denominado crédito documentário (trust receipt).Tem por escopo agilizar as compras mercantis de mercadorias. O vendedor, ao remeter ou entregar o documento (titulo representativo da mercadoria) ao comprador, exonera-se da obrigação e tem o direito de receber o preço.O comprador ao receber o titulo poderá exigir a entrega da mercadoria nele especificada pelo transportador, e, se tal mercadoria estiver na alfândega ou no armazém poderá levantá-la. O nosso Código Civil, nos arts. 529 a 532, disciplina esse contrato, substituindo a tradicional traditio romana da unidade material do contrato, pela entrega do titulo, contemplando a modalidade formal do contrato conforme modelo francês, substituindo-se a tradição da coisa móvel pela entrega do seu titulo representativo e dos outros documentos exigidos pelo contrato, sendo esse omisso, na forma dos usos e costumes.Se tal documentação estiver em ordem, o comprador não poderá recusar o pagamento, alegando defeito de qualidade ou do estado da coisa vendida, exceto se esse vício já estiver comprovado (CC, art. 529, parágrafo único). A presunção é iuris tantum de que a coisa não apresenta vício.

Na venda sobre documentos, a tradição da coisa é substituída pela entrega do seu título representativo e dos outros documentos exigidos pelo contrato ou, no silencio deste, pelos usos. Art. 529.parágrafo único – achando-se a documentação em ordem, não pode o comprador recusar o pagamento, a pretexto de defeito de qualidade ou do estado da coisa vendida, salvo se o defeito já houver sido comprovado. Não havendo estipulação em contrário, o pagamento deverá ser efetuado na data e no lugar da entrega dos

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documentos. Art. 530, que substitui a tradição da coisa vendida.O tempo e o local do pagamento serão os avençados pelas partes e no silencio os previstos em lei.Podendo-se aplicar a norma geral locus regit actum aplicando-se a lei do local em que a obrigação foi constituída. Se entre os documentos entregues ao comprador figurar apólice de seguro que cubra os riscos do transporte, correm estes por conta do comprador, salvo se, ao ser concluído o contrato, tivesse o vendedor ciência da perda ou avaria da coisa. Art. 531.Estipulado o pagamento por intermédio de estabelecimento bancário, caberá a este efetua-lo contra a entrega dos documentos, sem obrigação de verificar a coisa vendida, pela qual não responde. Art. 532.Parágrafo único – No caso deste artigo, somente após a recusa do estabelecimento bancário a efetuar o pagamento, poderá o vendedor pretende-lo diferentemente do comprador. Aplicam-se a venda sobre documentos as regras gerais da compra e venda de coisas móveis, em especial, do âmbito comercia e comércio exterior.

DA TROCA – PERMUTA. - CC – Art. 533. Conceito - É o contrato pelo qual as partes se obrigam a dar coisa por outra, que não seja dinheiro. É possivelmente o mais antigo dos contratos que se tem conhecimento, muito anterior à compra e venda. Atualmente a permuta é rara e quase desapareceu. Segundo HENRY DE PAGE, a permuta encerra duplas vendas. Há dois critérios para classificar a troca:a) Critério Subjetivo – quando parte é dada em dinheiro e parte em coisa. Por este critério prevalece a intenção das partes, se era trocar ou comprar.

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b) Critério Objetivo - é aquele que prevalece o valor da coisa mais importante. O objeto ou o dinheiro. Se o valor maior for o objeto, estamos diante de uma troca. Porém se o valor maior é dinheiro, será compra e venda.

Natureza Jurídica - O contrato de troca é bilateral, oneroso, e comutativo, não solene. Em nosso sistema jurídico, a exemplo da compra e venda, é um contrato consensual (basta o consentimento). É negócio simples e não real. A tradição ou a transcrição é que vão transferir o domínio da coisa. O contrato de troca cria apenas direitos pessoais (obrigacionais). A troca se aplica tanto a móveis como a imóveis.

Forma - Pode ser: solene e não solene.Solene – quando de imóveis de valor superior à determinada importância prevista em lei, art. 108 CC.Não Solene – particular.Todas as coisas que possam ser vendidas poderão também ser trocadas, indispensáveis, entretanto, que seja coisa por coisa. Não pode ser trocada coisa por dinheiro ou por obrigação de fazer. As coisas trocadas podem ser: determinadas ou determináveis.Como se aplica à troca subsidiariamente todas as regras da compra e venda, também, se aplica o impeditivo da troca de valores desiguais entre descendente e ascendente sem o consentimento dos demais, sob pena de anulabilidade.Segundo Serpa Lopes, a permuta de bens de incapazes sob tutela ou curatela, não é possível, visto que o tutor ou curador não tem poderes e atribuições de permutar os bens do incapaz. Inobstante, essa providencia poderá ser realizada na via judicial observada a forma legal pertinente.

A Tradição na Troca - Sendo a troca de coisas móveis, se aperfeiçoa pela tradição recíproca das respectivas coisas trocadas, se imóvel, a tradição se opera pela transcrição

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imobiliária, com referências recíprocas e números de ordem seguidos no protocolo e no livro de transcrição.

Compra e Venda Versus Troca - Na compra e venda as partes se obrigam a dar coisa por dinheiro. Na troca, dá-se coisa por coisa. Os riscos da coisa, vícios redibitórios, evicção, são regulados pela compra e venda. Art. 533 CC com as seguintes exceções:1ª - Salvo disposição em contrário, cada um dos contratantes pagará por metade das despesas com o instrumento de troca. Cada um pagará o seu registro imobiliário.2ª - A compra e venda não é nula se feita entre ascendente e descendente. Poderá ser anulada, inclusive se por preço fictício for feita. A troca de valores desiguais entre ascendentes e descendentes é nula, se não houver o consentimento expresso dos outros descendentes.3ª - Entregue a coisa vendida e o comprador não pagar o preço, o vendedor não pode exigir a devolução da coisa, mesmo que o preço seja estipulado em prestações. Na permuta, o permutante pode repetir a coisa, desde que o outro não tenha pago.Discute-se se a permuta exige a outorga uxória e marital. Porém sempre que se tratar de imóveis ela é necessária. O entendimento predominante é que ela é necessária para ambos os casos. Os incapazes e os menores não podem permutar.

CONTRATO ESTIMATÓRIO - CC – Arts. 534/537.Generalidades - Conhecido, utilizado, e modernamente muito difundido no comércio em geral, o contrato estimatório (Trödelvertrag) não foi contemplado pelo Código Civil de 1916, sendo recepcionado em nosso ordenamento pelo Código Civil de 2002.

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Conceito - Contrato estimatório é o negócio jurídico em que alguém (consignatário) recebe de outrem (consignante) bens móveis, ficando autorizado a vendê-los, obrigando-se a pagar um preço estimado previamente, senão restituir as coisas consignadas dentro do prazo ajustado.

Efeitos - O contrato estimatório não opera a transferência da coisa ao consignatário (Ruggiero), pois, se tal ocorresse teria este a obrigação tão somente de pagar o preço, restando à restituição da coisa como conseqüência eventual do inadimplemento.

Riscos - O contrato estimatório, por força do próprio dispositivo legal, atribui ao consignatário todos os riscos que a coisa venha a experimentar, devendo suportar o ônus da perda ou deterioração.

Características Jurídicas:a) Entrega da coisa, o contrato estimatório pressupõe a imediata entrega da coisa; b) Coisa móvel; c) Obrigação de restituir ou pagar;d) Prazo; e) Preço;f) Disponibilidade.

Deve ser coisa móvel: porque a venda a terceiros não se opera no contrato estimatório em nome do Tradens, mas no do accipiens, como se sua própria fosse.Obrigação de restituir ou pagar: o accipiens, não adquire definitivamente a coisa consignada, porém recebe a prazo certo, dentro no qual se lhe abre a obrigação alternativa de restituir ou pagar o preço.Prazo: o contrato estimatório é a termo, por sua própria natureza. O consignatário retém a coisa até um momento definido, dies ad quem, em que há de cumprir a sua

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obrigação. Não sendo estipulado prazo aplica-se o razoável à consecução do contrato.Preço: como em todo o contrato de compra e venda e sendo o contrato estimatório uma modalidade peculiar de venda, o preço é requisito essencial.Disponibilidade - a característica mais marcante do contrato estimatório reside em que o consignatário recebe por ele a faculdade de dispor da coisa consignada, resultando duas alternativas:a) a primeira, é que dentro dos termos do contrato “prazo, preço estimado” o accipiens pode vender sem consultar ao consignante e sem necessidade de novo acordo de vontades ainda que ocorra oscilação no mercado, pois que o Tradens está vinculado ao preço estimado, como requisito do negócio jurídico.No plano civilista, acrescenta Caio Mário, que as condições ajustadas entre o consignatário e o terceiro (prazo, resolução contratual etc), são res inter allios em relação ao consignante, o qual, desta forma não tem qualidade para impô-las ou recusa-las. b) a segunda é que, por força do contrato estimatório, o Tradens, perde a faculdade de disposição da coisa, até que lhe seja restituída, é uma conseqüência natural do contrato. É obvio, pois se o accipiens tem o poder de não restituir, pagando o preço estimado, essa circunstâncias afasta a disponibilidade da coisa pelo Tradens.

Natureza Jurídica - Controvertida – o contrato estimatório é às vezes tratado como venda de condição suspensiva, outras vezes como condição resolutiva e muitas vezes aplicando-se simultaneamente as duas hipóteses.Os autores ensaiam várias teorias para:COVIELO - promessa de venda a cargo do consignatário, negócio autorizativo com a faculdade de agir conferida por conta do autorizante, contrato de depósito preparatório de eventual compra e venda é obrigação alternativa.MESSINEO – obrigação facultativa.

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Sob a égide do instituto verifica-se que se trata de uma obrigação alternativa, podendo o consignatário tanto alienar os bens e pagar o preço estimado ou então restituí-los.

Contrato Estimatório no Nosso Ordenamento - O contrato estimatório ou venda em consignação, de natureza mercantil, existe em nosso direito como nominado, com regulamentação legal, encontrando-se de permeio com a compra e venda e com a permuta, e relacionando-se com o depósito e com o mandato sem representação para vender, p. ex., bens como objetos decorativos. Deveras, nosso Código Civil, aproveitando o trabalho do legislador italiano, que trata parcimoniosamente dessa figura contratual, veio regular o contrato estimatório nos arts. 534 a 537 CC.

O contrato estimatório é o negócio jurídico em que alguém (consignatário) recebe de outrem (consignante) bens móveis, ficando autorizado a vendê-los, obrigando-se a pagar um preço estimado previamente, se não restituir as coisas consignadas dentro do prazo ajustado (CC, art. 534).

É um contrato real, visto que requer a efetiva entrega da coisa móvel ao consignatário, conservando o consignante a propriedade, até que seja vendida a terceiro pelo consignatário, ou até mesmo por ele adquirida ou restituída, dentro do prazo estabelecido, salvo se o contrário resultar do contrato.

Infere-se daí que o domínio dos bens recebidos será do consignante, até que o consignatário os negocie com terceiros ou pague o preço preestabelecido pelo consignante, pela cotação em Bolsa ou por terceiro, mas pode ser o preço corrente no mercado.

Causas Extintivas do Contrato Estimatório - Sendo a termo, ultimado o prazo; pagamento ou restituição da coisa

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consignada pelo consignatário nos termos do contrato; resolução inadimplemento ou infração contratual; resilição bilateral, unilateral ou cessação.

DA DOAÇÃO – CC – Arts. 538/564.

Conceito - Doação é o contrato em que uma pessoa, por liberalidade, transfere do seu patrimônio, bens ou vantagens para outra pessoa, que os aceita. É um contrato gratuito por excelência. Existem casos especiais em que às doações não são um contrato e sim um ato unilateral. Ex. Pago uma sua despesa de restaurante, com o objetivo de não cobrá-la mais. No direito comparado encontramos concepção diversa da contratualista, no Código Francês de 1804 e nos demais ordenamentos que o seguiram, que inscreveram a doação entre os modos de adquirir a propriedade por ato unilateral negando a forma contratualista própria, colocando-a ao lado do testamento, e conceituando-a simplesmente como ato, sem caráter contratual. Esta orientação não é isolada nem desprovida de fundamento histórico, pois encontramos a mesma orientação nas institutas do direito romano.A forma contratualista foi concebida, ainda, no direito romano e sustentada pela doutrina alemã que a consagrou ao longo do tempo e fortemente defendida por WINDSCHEID, DERNBURG, GIORGI, norteou o Código Alemão em 1896 e serviu de esteira para inúmeros Códigos: Suíço Português, Polonês, Argentino, Mexicano, Brasileiro entre outros, partindo do pressuposto fático do acordo das vontades, elevando o ato de doar e aceitar ao status de contrato unilateral.A matéria foi estudada e debatida por muitos autores dentre eles Savigny, que concluíram ser a doação um contrato, porém, ainda existem muitos autores que negam a doação o status de um contrato, entendem ser um ato unilateral de mera liberalidade.

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Características Jurídicas1- De natureza contratual. Exige a manifestação de duas vontades.2- Ânimo de fazer uma liberalidade (animus donandi).3- Translação de um bem do patrimônio do doador ao do donatário.4- Aceitação pelo donatário.Pelo item 3º, a doação exige que haja o enriquecimento lícito de uma das partes e o empobrecimento da outra. O contrato tem validade independentemente da entrega da coisa.

Requisitosa) Objetivo – Diminuição do patrimônio do doador em favor do donatário.b) Subjetivo – Animus donandic) Formal – CC, art. 541 e parágrafo único.

Elementos Característicosa) Contratualidade;b) Animo do doador de fazer uma liberalidade;c) Transferência de bens ou de direitos do patrimônio do doador para o do donatário;d) Aceitação do donatário.A liberalidade é - fator essencial e específico do seu objeto.

Natureza Jurídica - Em relação à sua natureza é um contrato a título gratuito e caracteriza-se pela ausência de contraprestação. Trata-se de um contrato unilateral. A prestação recai unicamente no doador. É consensual, não solene, podendo ser instantâneo ou de duração, intuito personae.No Direito Brasileiro gera efeitos obrigacionais de transferência do domínio. No sistema francês, a doação está inscrita no livro III, no título: “Direitos e diferentes modos pelos quais se pode adquirir a propriedade”.

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Efeitos - Sistema Francês – O contrato transfere o domínio por força do próprio contrato. Sistema Alemão – O contrato cria a obrigação de dar a coisa e transferir o domínio. Sistema Brasileiro – Segue o sistema Alemão. Se alguém abandona a sua propriedade, não houve “animo donandi” e quem se apossar poderá adquiri-la por usucapião.A doação é um contrato consensual, pois não exige a tradição ou a transcrição. Basta o simples consentimento das partes, para o contrato se formar, sendo a tradição ou a transcrição necessária para a efetivação do domínio.

DA PROMESSA DE DOAÇÃO - Messíneo diz: não ser possível a promessa de doação, pois é de ordem histórica e dogmática. No sistema jurídico brasileiro, nada proíbe a promessa de doação. Não contraria qualquer princípio de ordem pública, nenhuma lei. Ainda existem preceitos legais que determinam à promessa de doação. Muito embora a Promessa Donandi seja usual em nosso ordenamento, a jurisprudência por vezes tem negado sua eficácia como ocorre no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul.

Aceitação - É a manifestação concordante da vontade do donatário, indispensável para o aperfeiçoamento do negócio. A aceitação pode ser: 1- Expressa; 2- Tácita – Art. 1079 do CPC.Geralmente é expressa no ato da escritura, quando se tratar de bens imóveis superiores a certa quantia legal. Pode ser tácita. Ex: receber de presente um automóvel. Não me manifesto a respeito, mas licencio no meu nome. É uma aceitação tácita. A aceitação em diversas hipóteses é 3 – Presumida em Lei, nos seguintes casos:1 – Art. 539 – Quando o autor da liberação não sujeita a encargo e fixa prazo ao donatário para declarar se aceita ou

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não e este se mantém silente. Neste caso o silêncio do beneficiário induz a presunção de aceitação, pois do ato só benefício lhe resulta.Com encargo a doação tem que ser expressa.2 – Art. 543 – Quando se tratar de doação pura e simples e o beneficiário for incapaz de manifestar seu consentimento, é validade. Isso porque as regras sobre a incapacidade surgiram para proteger o incapaz. Ora se trata de doação pura e simples, dela só o benefício pode surgir para o incapaz, não havendo assim razão para ampará-lo através do mecanismo da incapacidade. Por isso a lei, com intuito de proteger seu interesse presume que houve consentimento válido.Segundo W.B. Monteiro, se os pais doarem aos filhos menores, seria de boa precaução que os pais nomeassem um curador especial. Se a doação for pura e simples, não haverá maiores problemas.3 - Art. 546 – Quando a doação é feita em contemplação de casamento futuro, com certa e determinada pessoa e o casamento se realiza. Neste caso a Lei veda que o negócio seja impugnado por falta de aceitação (que presume ter existido), pois só se admite sua revogação não se realizando o matrimônio. O Código Civil é omisso se for pura e simples.4 – Art. 542 CC 2002 – Aqui não se exige que a doação seja pura e simples.É presumida desde que haja a aceitação dos pais. A doação se resolverá se ele (nascituro) nascer sem vida. Se, entretanto apenas viver um segundo, seus pais serão os herdeiros. O doador falecendo antes da aceitação, a doação se resolve.

Forma – Art. 541 – parágrafo único.1- Verbal – Para valer exige a entrega imediata da coisa. Deve ser de pequeno valor e não pode ser imóvel. O pequeno valor é levado em consideração em relação à fortuna do doador e não do donatário.

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As doações não se provam apenas por testemunhas, se excederam à taxa legal,. devem ter um início de prova escrita.2 – Doações por Contrato Particular – Doam-se às coisas móveis e imóveis até o permitido pela taxa legal.3 – Por Escritura Pública – Doam-se imóveis superiores ao valor estabelecido por lei e que exijam o contrato solene. A outorga uxória e marital é necessária ainda que a doação for feita aos filhos.

Espécies de Doação em Relação a sua CausaPróprias, impróprias e indiretas.Doações próprias: nas doações próprias o que impera é o espírito de pura liberalidade, são atos gratuitos que o doador pratica sem esperar nenhum gesto de reciprocidade, exceto de gratidão, denominadas de pura e simples.Nas doações impróprias - ocorre um sentido remuneratório, que não se caracteriza em contraprestação do objeto doado, mas sim para compensar serviços ou benefícios recebidos do donatário, como ex.: uma cirurgia bem sucedida ou a cura de uma doença grave ob benemerita ob causam preteritam. Nas doações indiretas - também há animus donandi e é admitida pela jurisprudência pátria, mesmo no ato a titulo oneroso. Quanto aos contratos que podem ser considerados como contendo uma doação indireta, a doutrina se inclina para três modalidades:a) venda de coisa por preço muito inferior ao que efetivamente vale;b) as doações por meio de estipulação em beneficio de terceiro;c) as doações realizadas por meio de atos abstratos, como a renuncia de uma sucessão para beneficiar um herdeiro.

Não se devem confundir as doações indiretas com os negócios jurídicos simulados.

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As Doações em Relação ao seu ConteúdoCondicionais – as doações podem ser subordinadas a condições suspensivas ou a uma condição resolutivas.Na condição suspensiva, nada obsta a que uma doação fique subordinada a um evento futuro e incerto. Na condição resolutiva, a doação opera o pleno domínio da coisa doada, que pode ser exercido pelo donatário ab initio, mas o qual se extingue para todos os efeitos se a condição não vier a verificar-se. Ex.: condicionada a um casamento futuro em determinado período de tempo, não ocorrendo o casamento o bem volta ao patrimônio do doador. Com cláusula de reversibilidade – já consagrada pelo direito romano, à cláusula de reversibilidade permite que os bens doados voltem ao patrimônio do doador se este sobreviver ao donatário.Doação a termo – as doações podem ser sujeitas a termo inicial ou a termo final, ficando a critério das partes. Doação mista – É o “negotium mistum cum donatione”. É uma espécie de compra e venda, na qual há um preço vil. É discutível sua classificação. Discutem os doutrinadores em classificá-la como doação ou compra e venda.Doações antenupciais - propter nuptias, acolhidas no direito romano eram feitas em correspondência com o dote que nada se assemelha com as doações antenupciais do direito contemporâneo. Poderão os nubentes realizarem doações recíprocas no próprio pacto antenupcial ou se feita por terceiros em escritura especial, embora o Código Civil de 2002 não tenha se referenciado especificamente como o fez o Código de 1916, nada obsta que os interessados o façam.Doações entre cônjuges – embora enfrente restrições legais, podem ocorrer doações entre os cônjuges.

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Doações dos pais aos filhos – possibilidade, desde que com a anuência dos demais herdeiros necessários, sob pena de nulidade. Doações modais – pode o doador impor encargos ao donatário. Em tais casos a doação não perde o caráter de liberalidade. Os encargos podem ser em benefício do doador, terceiro, ou benefício geral. O encargo também poderá ser em benefício do próprio doador. Prestação de alimentos ou em beneficio de uma terceira pessoa ou entidade. Exemplos: a) - Mulher que doa cachorro de estimação, com a condição de o donatário tratá-lo com ração pedigree e levá-lo ao pet shop cleaning mensalmente. b) - Doador que exige que o donatário mantenha as características em chaimel do prédio doado.Doação sob forma de Subvenção Periódica – Art. 545 – É aquela em que o doador promete doar certa importância periodicamente. Ex.: Me obrigo a pagar a APAE, R$ 500,00 mensais por tempo determinado. Se o doador estipula um prazo, a mora independe da interpelação. Se não estipula prazo, deverá haver interpelação judicial. Se a doação for de interesse geral, o Ministério Público poderá exigir a execução.

Do Objeto e Restrições a Liberdade de DoarTodos os bens móveis ou imóveis, presentes ou futuros, desde que estejam no comércio, são objeto de doação. Há, porém restrições específicas à liberdade de doar, previstas em lei.

RESTRIÇÕES LEGAIS1 – Doação Universal – Art. 548 CC. Por este artigo, é proibida a doação universal de todos os bens. Ninguém pode desfazer-se pela doação de todos os seus bens. Esta regra tradicional em nosso direito visa proteger o doador do

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infortúnio, proteger a sociedade e o Estado, com mais um possível mendigo ou pedinte de caridade pública. Pela lei, a doação universal é nula. A doação irrestrita, ainda que gravada com a cláusula de que o donatário deve sustentar o doador, também é nula, quando doados todos os bens. A doação universal, com reserva de usufruto, é válida, isto porque o doador fica na posse dos bens e mantém a renda. Também são passíveis de anulação, através da Ação Pauliana, os atos que tornem o doador insolvente, em fraude de credores. 2 – Doação inoficiosa – Art. 549 CC. É nula a doação quanto á parte que excedeu a de que o doador no momento da liberalidade, poderia dispor por testamento. Nula, portanto é somente a parte inoficiosa e não a doação toda. Por força do art. 1.789 CC, se houver herdeiros necessários, o testador só poderá dispor da metade da herança. À parte que exceder, será inoficiosa. Quando poderá ser pedida a inoficiosidade? No momento da liberalidade ou na abertura do inventário? O assunto não é pacífico e discutem os doutrinadores. Silvio Rodrigues diz que deve ser no momento da liberalidade; Augustinho Alvim diz que é na abertura do testamento, ou melhor, do inventário. Cada qual apresenta suas vantagens e desvantagens sobre o momento da preposição da ação.

3 – Doação do cônjuge adúltero e seu cúmplice – Art. 550CC. Se o cônjuge for divorciado, não existe mais adultério, se o cônjuge for separado de fato, caberá ao juiz decidir por sentença. A doação pode ser anulada pelo cônjuge enganado ou pelos herdeiros necessários. Entende Silvio Rodrigues que não podem os herdeiros anular a doação enquanto existir a sociedade conjugal, somente podendo o cônjuge ofendido faze-lo. Se, porém o cônjuge inocente falece, poderão propor a ação os seus herdeiros. Para W.B. Monteiro, só depois de dissolvida a sociedade conjugal é que os herdeiros poderão propor a ação.

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Revogação da Doação – CC – Arts. 555/564.a) por motivos comuns a todos os contratos.b) Por ser resolúvel o negócio – art. 547, caput.c) Por descumprimento do encargo – art. 555.d) Por ingratidão do donatário.a) Pode ser revogada quando: objeto for ilícito, erro, dolo fraude, incapacidade, forma prescrita ou não defesa em lei. Art. 104 CC. Temos a nulidade e a anulabilidade. b) Doação resolúvel – Se o doador sobreviver ao donatário ou cônjuge adultério.c) Descumprimento do encargo –Art. 562 – parágrafo único.d) Ingratidão do donatário. Art. 557. Só não são revogadas as doações puras e simples e as remuneratórias e as doações com compromisso de casamento. Segundo W.B. Monteiro, a doação é personalíssima. Se o doador sofreu atentado de vida pelo donatário, pode revogar. Se deste atentado resultar morte, ninguém poderá entrar com a ação de revogação, visto ser a ação personalíssima do doador e este faleceu. Entretanto há doutrinadores que acham como problema de justiça, transferir-se aos herdeiros a possibilidade de acionar o donatário pela revogação.

DA LOCAÇÃO DE COISAS – CC – Arts. 565/578. Lei n. 8.245/91.Generalidades - É o contrato pelo qual uma pessoa física ou jurídica dispõe de coisa sua, entregando-lhe o uso e gozo para outra, sem lhe transferir o domínio, mediante remuneração, bem como podendo ser objeto serviços, nos termos da legislação.

Origem - A tradição romana legou-nos uma divisão tríplice:

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Locatio/condutio rerum, que compreendia o aluguel de coisas móveis e imóveis; locatio/condutio operarum, que era de serviços; e locatio/conditio operis, a de obra ou empreitada. Esse critério de classificação que ainda sobrevive, vem sendo profundamente atingido, desde que Marcelo Planiol, em sua doutrina fez a distinção entre os contratos cujo objeto é uma coisa, em relação aqueles cujo objeto é trabalho ou um direito.

Conceito - Locação é o contrato pelo qual uma das partes mediante remuneração que a outra paga, se compromete a fornecer-lhe durante certo tempo o uso e gozo de uma coisa infungível (locação de coisas) ou a prestação de um serviço ou a execução de algum trabalho determinado (empreitada).

Elementos – Art. 5651 – A Coisa; 2- Preço; - 3 – Consensu; 4 – Prazo; 5 – forma.

1 – A Coisa - Estas podem ser móveis ou imóveis. As coisas móveis deverão ser infungíveis, porém, excepcionalmente, se admitem coisas fungíveis. As coisas “ad Pompam et Ostentationem”, poderão ser móveis fungíveis. Ex: cedo a um amigo meu, de minha coleção, 100 garrafas de wysky estrangeiro, para ele enfeitar sua adega, pois irá dar uma festa. (para os comensais). Outro exemplo: O avarento de Estrasburgo - Locou de uma confeitaria um bolo para o casamento de sua filha. (os convidados, só poderiam contemplar a maravilha). Coisa móvel fungível transformada em infungível. Os imóveis podem ser locados ao todo ou em parte. O uso dos móveis e imóveis pode ser: a) - Geral - locação de um apartamento; b) limitado- locação da fechada de um edifício para cartaz de propaganda. Se o contrato nada estipula em contrário,

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entende-se que a locação do principal compreende os acessórios.2 – Preço - O aluguel pode ser estipulado em dinheiro ou em frutos ou produtos. Entretanto o preço deve ser certo, determinado ou determinável. Ex. aluguel de 10 salários mínimos. O aluguel pode ser ainda mais ou menos aleatório. Ex. dois por cento sobre o total de vendas dos estabelecimentos.O preço pode ainda ser:a) Legal – ato governamentalb) Judicial – Arbitramentoc) Administrativod) Concorrência Pública – Imóveis da Uniãoe) Por antecipação ou periódico.3 – Consensu - Há necessidade do consentimento de ambas as partes.Este consentimento pode ser: Verbal, ou escrito, porém não solene. Não há mister, porém, de o locador ter capacidade de disposição, porque a locação transfere tão somente o uso da coisa, podendo o usufrutuário, comodatário também efetuar a locação; bem como o representante convencional ou legal: procurador, pai, tutor, curador, inventariante, síndico, liquidante. Produzindo todos os seus legais efeitos. 4 – Prazo - a locação é um contrato temporário, pelo que deve ser firmado por um prazo certo ou indeterminado, incompatível a estipulação de sua perpetuidade.No nosso ordenamento atualmente não há prazo limite, porém, antes do Código Civil de 1916, estabelecia a ordenação que a locação estipulada por mais de 10 anos tinha caráter real, tal qual no direito das coisas.O Código Civil Mexicano e o código Italiano limitam em 10 anos. 5 – Forma - como contrato consensual não exige forma especial, bastando principio de prova escrita, que comprove a relação jurídica.

Obrigações dos Contratantes

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Obrigações do Locador – Art. 566 C.C1- Entregar a coisa – (o contrato é perfeito e acabado antes da entrega). O locador deverá entregar a coisa com todos os seus pertences e acessórios e mantê-la no estado para o uso a que se destina. Se isso não ocorrer, poderá o inquilino rescindir o contrato com perdas e danos. Ex. Água não potável, defeitos nas instalações higiênicas e elétricas. Se, porém, o inquilino não reclamar, presume-se que estejam em bom estado. Como conseqüência, a prova em contrário caberá a ele. Os prejuízos da coisa incubem ao locador. A responsabilidade pelas reparações que a coisa alugada venha a necessitar e que não decorram da culpa do locatário, pode-se fazer a seguinte distinção:a) As pequenas reparações de estragos que não provenham naturalmente do tempo e do uso da coisa locada, incumbem ao locatário. b) - Todas as demais incumbem ao locador.O locatário, segundo alguns autores, poderá reter os aluguéis para ressarcir-se das despesas de manutenção da coisa. Silvio Rodrigues é contrário a idéia, dizendo que o locatário só poderá rescindir o contrato e na rescisão poderá exercer o direito de compensação, via judicial.É obrigação do locador firmar recibos dos pagamentos recebidos. 2 – Pelo Art. 568 C.C., o locador garante ao inquilino:a) O uso pacífico da coisa.b) Garante contra a turbação de direito, praticado por terceiro, mas não garante contra turbações de fato.c) Garante ainda, contra as turbações do próprio locador.d) Garante contra os vícios redibitórios e a evicção Art. 567 C.C. – Se a coisa se deteriora durante a locação, sem culpa do locatário e que não preencha mais as condições à que se destinava, poderá este pedir o preço (abatimento no preço) ou a rescisão do contrato.Obrigações do Locatário: 1- Servir-se da coisa para o fim a que se destina. Alterando o uso, o locador pode pedir despejo. O locatário

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deve ser como um bom pai de família, isto é, cuidar da coisa como se sua fosse.2- Não poderá abrir as portas, janelas, modificar divisões internas, cortar árvores, sem anuência do locador.3- Deverá pagar pontualmente os aluguéis, conforme prazo ajustado. Na ausência do prazo, conforme Lei do Inquilinato, até o dia 10 do mês subseqüente ao vencido.4- Os aluguéis, salvo disposição em contrário, são dívidas “Querables” e deverão ser buscadas pelo locador na casa do locatário5- Deve o locatário levar ao conhecimento do senhorio, as turbações de direito provocadas por terceiros.6- Deverá restituir a coisa finda a locação, devolvendo no estado que a recebeu, com exceção da deterioração normal. Se houve anormalidade, deve compor os prejuízos.7- Se finda a locação e o inquilino continuar na coisa, presume-se que houve concordância do locador e o prazo é prolongado por tempo indeterminado.Durante o contrato de locação, o locador não pode retomar a coisa, salvo pagamento de perdas e danos. Art. 570 C.C. parágrafo único.

Prédios Rústicos – Art. 575 C.C.Os prédios urbanos são regulados pela lei do inquilinato n° 8.245/91, que regula todas as locações de imóveis urbanos. Os prédios rústicos são regulados pelo Código Civil e sujeitos em princípios especiais, além das normas aplicadas a todas as location rerum, em razão da finalidade a que ela se destina. Se o inquilino, rescindir o contrato antes de findar sua vigência, pagará até o final do mesmo, salvo ajuste em contrário. Se o prazo for indeterminado, deverá haver aviso por parte do locador para o inquilino sair. Havendo necessidade, pode-se recorrer a Ação de Despejo. Se o inquilino não sair e houver danos, ele responderá pelos mesmos que a coisa sofrer, mesmo estando sem culpa. Estando em mora, responderá pelo dano, ainda que por

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caso fortuito ou força maior, sendo esta responsabilidade uma conseqüência da mora.A jurisprudência tem atenuado a responsabilidade do locatário, cabendo-lhe o ônus da prova de que não agiu com culpa para consumação do evento danoso.

Locação de Prédios - A palavra prédio em linguagem jurídica tem várias acepções. No Direito Romano, era imóvel não edificado. Na linguagem fiscal é imposto de construção (predial). Para o CC, é o imóvel todo, com ou sem construção. Prédio Urbano é o que se destina ao comércio e a indústria. Prédio Rural é o que se destina às atividades rurais, agro-pastoris. Ex.; Fazenda de café no centro da cidade, é prédio rural. Em caso de dúvida, pela destinação, aplica-se o da localização. Se a pessoa só mora no campo, o seu prédio é urbano. Se, porém mora e explora o imóvel, com plantações e criações, será rural.

Prédios Residenciais e Prédios Não Residenciais – regulados pela Lei 8.245/91, que revogou toda a legislação locatícia pretérita.A Lei de Inquilinato, n° 8.245/91, revogou a legislação pretérita, pontualmente e estabeleceu disciplina normativa para todas as locações urbanas, sejam elas comerciais, não residenciais, por temporada e residenciais. Os contratos de locação sob a égide da lei 8.245/91, observam todos os princípios dos contratos em geral, porém, o legislador criou algumas imperatividades nesta lei para proteger o inquilino contra ações potestativas que pudessem emanar do locador.A proteção maior se volta para as locações residenciais como se depreende do art. 46 e 47 da lei, dando ao inquilino o prazo mínimo de 30 meses para permanecer no imóvel locado, podendo este prazo dobrar, se o locador não observar a lei nos termos do art. 47, inciso V.O legislador, também blindou o contrato de locação das manobras astutas dos locadores, prevendo nos art. 45 a

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nulidade de qualquer cláusula contratual, que vise elidir os objetivos da presente lei.A Lei do inquilinato será estudada pontualmente artigo por artigo, pelo que não vamos abordar-la neste texto.

Requisitos Gerais da Locaçãoa) Capacidade das partes;b) Objeto disponível para uso e destinação;c) consentimento das partes;d) preço devidamente ajustado na forma da legislação, com observância ao que dispõe o art. 17 da lei 8.245/91.

Extingue o Contrato de Locaçãoa) Pela resilição bilateral, independentemente de requisito formal;b) pela retomada, nos casos em que a lei permitir;c) Pela resolução se o locatário infringir dever legal ou contratual;d) Pela perda total da coisa;e) Pela impossibilidade de utilização pelo locatário;f) Pela perda parcial atribuível à culpa do locatário; g) Pela perda parcial atribuível à culpa do locador, a qual torne a coisa inadequada ao uso normal, se o locatário não preferir a reconstrução do prédio às expensas do locador;h) Pela expiração do prazo, nas hipóteses em que disposição de lei especial não imponha a prorrogação ou renovação;i) Pela anulação do titulo de propriedade ou pela evicção do locador;j) Pela desapropriação do prédio locado;kl) Pela vontade unilateral do locatário, Funcionário Público, Civil ou Militar ou da iniciativa privada, quando removido ou transferido para outra localidade.

EMPRÉSTIMO – CC – Arts. 579/592.

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Conceito - Empréstimo é o contrato pelo qual uma pessoa entrega uma coisa à outra, gratuitamente, para que dela se sirva, com a obrigação de a restituir.

Natureza Jurídica do Empréstimo: segundo Serpa Lopes.Controvertida é a natureza do empréstimo: se é um contrato real ou um contrato consensual. A grande maioria dos códigos, inclusive o nosso, toma posição favorável ao caráter real. Todavia, o critério legal não tem obstado o trabalho da doutrina dividida em dois grupos: para uns, os clássicos, o empréstimo, do mesmo modo que o depósito é um contrato cuja formação não se completa com o simples consentimento, por se exigir, essencialmente, a entrega da coisa; para outros, ao contrario, trata-se de um contrato consensual, não destoando da feição comum dos demais contratos, bastando-lhe o consentimento dos contratantes.

Natureza jurídica no CC. Contrato real “a tradição configura elemento da sua celebração, portanto, de iuri conditio”, unilateral, gratuito “no caso do mútuo podem ser convencionados juros revestindo caráter oneroso”, de duração, intuito personae “H. De Page, nega ao contrato de mútuo o caráter de intuito personae”, não solene e de boa-fé.

Origem e evolução histórica – a indagação histórica demonstra que a realidade decorre de uma longa e ininterrupta tradição, remontando a um período anterior ao Direito Romano, dada a acentuada tendência para a realidade, notada nos contratos primitivos.

Espécies de Empréstimo – Comodato e Mútuo.Distinção entre as duas espécies:No Comodato o objeto do empréstimo é coisa infungível e não opera a tradição, permanecendo o res perit domino por conta do Comodante e no Mútuo o empréstimo é de

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coisas fungíveis e opera a transferência de domínio com a traditio. Obs.: se for peça decorativa, poderá ser fungível e o contrato ser de comodato. Ex.: garrafas de vinho. Comodato – CC – Arts. 579/585.É empréstimo gratuito de coisas Infungíveis e perfaz-se com a tradição (entrega) do objeto. É um negócio unilateral. Só uma das partes assume obrigações. Portanto ocorrem três elementos:1 – Empréstimo da coisa gratuitamente;2 – Coisas Infungíveis; 3 – Tradição do objeto. Não poderá haver comodato oneroso. É chamado empréstimo de uso. O que empresta chama-se Comodante e o que pede emprestado Comodatário. O comodato é o mais antigo dos contratos, mais do que a troca. É unilateral. Somente o Comodatário assume obrigações (conservação, devolução). O Comodato é um contrato real, pois exige a transferência da coisa. É gratuito, não solene, embora opiniões divirjam em se provar por testemunhas. O Comodato é um contrato de duração e pode ser rompido, pois não é perpétuo. Se o Comodato fosse oneroso, seria uma locação.

Objeto do Comodato - Coisa infungível e Orlando Gomes acrescenta dizendo, que devem ser coisas inconsumíveis: Nas muitas coisas fungíveis, poderão ser infungíveis. Ex.: O bolo do avarento de Estrasburgo. O Comodante não assume obrigações. Há autores que afirmam que o Comodato não é contrato unilateral, mas bilateral imperfeito. Só assumem as garantias do Comodante, as que são gerais em todos os contratos. O res perit domino cinge no Comodato. Se o objeto perecer sem culpa do Comodatário o prejuízo é do Comodante, por ser o dono do objeto e o Comodatário deter somente a posse direta.

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Obrigações do Comodante1 – Não reclamar antes do prazo; exceção art. 581, 2ª parte.2 - Reembolsar as despesas extraordinárias urgentes.3 – Indenização das despesas oriundas da coisa.

Obrigações do Comodatário1 – Art. 582 – Servir-se da coisa emprestada de acordo com o contrato ou segundo a natureza, se o contrato for omisso. Ex.: Se empresto um automóvel, deve ser destinado ao transporte de pessoa e não de carga: Se houve infração desta disposição, o Comodante poderá rescindir o contrato, com perdas e danos.2 – Art. 581 - Restituir no fim do prazo determinado. Se não houver prazo fixado, presume-se que o Comodato seja feito até o fim da colheita. Se a necessidade for imprevista e urgente, pode-se retomar o objeto, mediante interpelação judicial.3 – Zelar pela conservação da coisa, como se fosse própria.4 – Pagar aluguel, caso não devolva o objeto quando for normalmente reclamado.

Os Riscos do Comodato – “Res perit domino” – Art. 583 – Exceção. Se salvar as suas coisas e deixar deteriorar ou perder as do dono, responde por perdas e danos ainda que seja caso fortuito ou força maior.

Extinção do Comodato1 – Restituição da coisa terminado o prazo.2 – Rescisão do contrato se o comodatário não cumpre com a sua obrigação.3 – Art. 581 – Pela necessidade imprevista e urgente.4 – A morte do Comodatário. Há divergência. Se “intuitu personae”, em regra não se transmite aos herdeiros. Depende do caso concreto e compete ao juiz decidir. A matéria é de grande discussão doutrinária.

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MÚTUO – CC – Arts. 586/592.Conceito - O Mútuo é o empréstimo de coisas fungíveis. O Mutuário é obrigado a restituir ao Mutuante o que dele recebeu em coisa do mesmo gênero, qualidade e quantidade. É denominado empréstimo do consumo. É um contrato unilateral, real (só se perfaz com a entrega da coisa), gratuito em sua natureza e não na sua essência, não solene, é um contrato de duração.Em geral não se prova por testemunhas (ex. empréstimo de dinheiro). Se o contrato fosse oneroso, teríamos compra e venda. Sendo, portanto, gratuito, exceto nas hipóteses na incidência de juros. Art. 587 CC. O Mutuário é o responsável se a coisa se perder.

Características: Contratualidade; Temporariedade; Fungibilidade; translatividade; Obrigatoriedade.

Requisitos: a) subjetivo: capacidade comum e especial dos contratantes. b) objetivo: objeto emprestado deverá ser fungível, podendo consistir em dinheiro e em mercadorias e títulos. c) formação: forma livre, exceto se for oneroso.

LEI DA USURA – Decreto nº 22.626, de 7 de abril de 1933, LEI Nº 1.521, DE 26 DE DEZEMBRO DE 1951.

Princípio do Nominalismo – Sistema adotado pelo Brasil. Se paga o valor expresso com correção monetária e Juro máximo taxa legal, isto é, 12% a. a. Anatocismo – Juros sobre juros, vedado no nosso direito e somente admitido em conta corrente.Empréstimo em moeda estrangeira – Não é nulo. Nula é a cláusula que manda devolver em moeda estrangeira o empréstimo. Pode-se convencionar que o empréstimo feito

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em dólares, seja devolvido em reais, ao câmbio do dólar no dia do pagamento.Não ocorre mudança de fortuna do Mutuário nem do Mutuante – Art. 590.

Extinção do mútuo – Art. 592.a) vencimento do prazo convencionado;b) ocorrência das hipóteses do CC, art. 592;c) resolução por inadimplemento de obrigação contratual;d) distrato;e) resilição unilateral por parte do devedor;f) efetivação de algum modo terminativo previsto no próprio contrato.Inobstante, se a coisa emprestada se perecer ou for furtada o prejuízo será do Mutuário, visto que no ato da traditio opera a transmissão do domínio passando o Mutuário no ato em que recebe o objeto do Mútuo a ser dono efetivo da coisa Mutuada.

CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS - CC Arts. 593/609

Conceito – é o contrato pelo qual o prestador de serviços se obriga com o tomador de serviços a fornecer-lhe a prestação de uma atividade mediante uma remuneração.

É aquele que não se ajusta ao conceito de trabalho, porque falta-lhe continuidade (eventual) ou porque o fim da atividade do empregador a exclua da legislação trabalhista (não se localiza em nenhum ramo).

Objetivos – O locador prestador se compromete a prestar certos serviços que o locatário tomador se obriga a remunerar, configurando-se uma obrigação de fazer do prestador e uma contraprestação de dar do tomador dos referidos serviços.

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O prestador deverá executar os serviços na forma contratada observando tempo, normas técnicas que presidem a arte ou oficio e manter-se com fidelidade se houver sigilo no objeto executado por imposição do tomador.

Natureza jurídica – contrato bilateral, oneroso, consensual, “podendo ser esse contrato provado por testemunhas”, sem violação ao disposto no artigo 227 do CC e no artigo 401 do CPC, seja qual for o seu valor, independentemente de começo de prova escrita, “posição jurisprudencial”.Esse contrato poderá ser assinado a rogo e subscrito por duas testemunhas, (CC 595) se uma das partes não souber ler ou escrever, sendo uma exceção ao principio de que a assinatura a rogo será perante serventuário público. Porém, não havendo contrato escrito, não haverá prejuízo ao prestador de serviços, pois o mesmo poderá ser provado por qualquer meio admitido em direito, (RT 111: 550). Individual – por ser o contrato coletivo de trabalho reservado às relações de emprego (CLT arts. 611 e ss). Em regra impessoal, de duração, podendo ser comutativo ou aleatório, de duração aberto ou a termo, não solene e conflituoso muitas vezes com as leis trabalhistas.

Origem e evolução – o contrato de prestação de serviço cinge da locação de serviço, originário do direito romano que cindia em locatio conductio operarum, relativa à locação de serviços em geral e a locatio conductio operis, restritamente ao contrato de empreitada.Essa nomenclatura não cabe mais no direito contemporâneo, eis que locação é de objeto que volta ao locador e o trabalho e as pessoas não podem ser considerados objetos, essa idéia predominava no direito romanista que considerava o trabalho humano como coisa.O regime escravagista do direito romano obstou o conhecimento do contrato de prestação de serviço, tarefa

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de escravos, inconcebíveis, portanto, relações contratuais livres, o escravo era uma coisa, objeto, do pleno domínio do seu senhor, que podia aliená-lo, abandona-lo e até, mata-lo. ius vitae et necis.Pouco mais atenuado que o escravagista foi o regime servil, dominante na época feudal, o servo não era suscetível de propriedade do senhor e tinha capacidade patrimonial, embora, dependesse de autorização do seu senhor para dispor de certos bens seus.

Objeto – é a prestação de serviços ou atividade lícita, que não afronte a ordem pública e os bons costumes, executada por pessoas, que pode ser material ou imaterial, (CC 594 e CRFB art. 7º, inciso XXXII).

Remuneração – a remuneração é predominantemente em espécie, podendo ser complementada com alimentos, moradia, vestuário, condução etc. (CC 596 e 597).

Obrigações das partes – do locador prestador - deverá se ater o disposto no contrato, consecutando de maneira assídua o ajustado, sem se afastar das normas técnicas ou dos costumes do lugar, cumprir prazos e comunicar imediatamente ao tomador dos serviços qualquer anormalidade constatada.

Do locatário tomador - observar os termos contratuais remunerar na forma e prazo avençado e respeitar os imperativos legais pertinentes à especificidade dos serviços prestados.

Tempo de duração - não poderá ser convencionado por mais de quatro anos, sob pena de redução pelo juiz. Art. 598 CC.

Da extinção do contrato – arts. 602/609 CC.

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Conclusão da obra, quando ajustado por tarefa certa; pelo decurso de prazo, se for a termo; sem justa causa, se houver justificativa legal ou contratual para resilição unilateral, observado neste caso o direito indenizatório nos termos do art. 603 CC; por justa causa, por inadimplemento contratual de qualquer das partes;

CONTRATO DE EMPREITADA - CC – Arts. 610/626.A pessoa se obriga a fazer uma obra, mediante preço determinado. O que se quer é a obra e não o trabalho. O trabalhador trabalha por conta e riscos próprios.

Conceito – A empreitada é um contrato pelo qual uma das partes (Empreiteiro) se compromete executar uma obra determinada, pessoalmente ou por terceiros, em troca de uma remuneração fixa a ser paga pelo dono da obra/Comitente (outro contratante) de acordo com as instruções deste e sem relação de subordinação. Trata-se de uma espécie do gênero locação de serviços, com o qual se confunde por que:1 – Na locação – de serviços, o que se objetiva é o produto, o trabalho da pessoa e a remuneração são fixados pelo tempo ou pelas peças do serviço. Na empreitada o objetivo é a obra. A remuneração do Empreiteiro será conseqüência da obra.2 – Os riscos numa locação de serviços incumbem ao patrão. Na empreitada, o Empreiteiro é quem arca com os riscos.3 – Na locação de serviços existe subordinação. Na Empreitada, o Empreiteiro não é subordinado ao dono da obra. Os romanos a conheciam como “Locatio Operis”.

Das partes - Dono da obra ou Comitente e Empreiteiro.

Espécies – mista e de lavor.

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Mista: art. 611 do CC constitui-se na execução de uma obra fornecendo o empreiteiro tanto os serviços quanto os materiais.De Lavor: (art. 610, caput), o Empreiteiro somente fornece os serviços.

Formas de Empreitada – O contrato de empreitada se substancia em estrutura inalterada, porém, pode assumir vários aspectos diferentes, seja em relação ao seu objeto e modo de fixação da remuneração, ou na forma de execução dos trabalhos da empreitada, podendo ser: a) - Empreitada a preço fixo; empreitada por medida; b) - empreitada por preço máximo;c) empreitada por administração e outras formas que as

partes livremente podem convencionar desde que não conflita com a legislação e os princípios de ordem pública e bons costumes.

Riscos – De lavor – Arts. 612/613 – responderá pelos defeitos técnicos e não dos materiais.Mista – Art. 611 – Meio a meio. Este artigo 611 consagra a iniqüidade, pois se há “mora accipiendi”, a culpa do credor é presumida e assim mister se faz impor a ele todo o prejuízo decorrente do fortuito. O remédio legal, permitindo que o contratante pontual sofra parcialmente o prejuízo, equivale a atribuir-lhe a responsabilidade, por culpa do seu contendor.

Origem e Evolução – Direito Romano.Origem - No direito romano o contrato de empreitada formava uma parte integrante do contrato de locação, do qual era uma de suas modalidades.Os romanos tinham a locação num conceito unitário de fruição na locação de coisas, era o uso e gozo da coisa e na locação de serviço era o uso e gozo do trabalho de uma pessoa, no direito atual se separa a locação de coisas da prestação de serviços ou de empreitada.

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Os romanos conheciam duas modalidades de locação de serviços: a) - a locatio conductio operis, relativa ao moderno contrato de empreitada; b) - locatio conductio operarum, relativa ao contrato de locação de serviços.

Evolução - De alguma forma as legislações sucedâneas do direito romano contemplaram o contrato de locação de serviços e empreitada, no nosso direito positivo, nas Ordenações do Reino havia referencias a locação de coisas “liv. IV, tit. 23 e 24”, e nos n°s 29 a 35 eram reguladas as soldadas de criados, ou empregados domésticos. A empreitada foi tratada com maior precisão nos arts. 231 a 240 do CCom, essa evolução se tornou aperfeiçoada com o código Civil de 1916, que tratou da locação em geral em suas várias espécies, como a locação de coisas, de serviços e disciplinou a empreitada, nas suas duas modalidades, mista e de lavor.

Objeto - compreende toda espécie de produções, seja a clássica construção de uma obra material, seja a criação intelectual, artística ou artesanal.

Natureza Jurídica – contrato bilateral “sinalagmático”, oneroso, comutativo, consensual, em regra indivisível, intuito personae e de execução continuada, podendo ser ajustado com caráter aleatório.

Obrigações das partesDo empreiteiro – Art. 389 CC.a) Entregar a coisa em tempo, forma e lugar ajustado, sob a pena de responder por perdas e danos. Art. 615. Se o empreiteiro se afasta das condições do contrato, o dono da obra pode rejeitá-la ou pedir abatimento do preço.b) Deve dar garantia, art. 618. Nas construções consideráveis, ele garante-as por cinco anos, isto no caso de empreitada mista. Nas

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empreitadas de lavor, só garante pela mão de obra das condições que teve possibilidade de prever. Ex.: responderá se notou que o solo era movediço e não cientificou o proprietário.c) Pagar os materiais – Art. 617.d) Pagar o INSS.

Do dono da obra – Comitente.a) Deve pagar o preço, as condições ajustadas, em parcela ou total. Se a obra foi contratada por pagamento em etapas, deverá ao pagar, examinar as partes edificadas, objeto do contrato, isto é deu vistas aquilo que recebeu. Art. 615.b) Receber a diária. Art. 615.c) Responder pela rescisão unilateral injustificada. Art. 1.229 CC 1916.

Subempreitada – Usualmente é permitida, salvo disposição em contrário. Autores não a admitem, pois dizem ser feita “Intuitu Personae”. Ex.: A pintura de uma tela deverá ser feita pelo pintor famoso que escolhi. O empreiteiro responde solidariamente pelas obrigações do subempreiteiro.

A responsabilidade do Empreiteiro em relação aos empregados do subempreiteiro é subsidiária, tanto em relação aos salários quanto aos encargos sociais e ações relacionadas à responsabilidade civil. Quanto ao dono da obra/Comitente, somente responderá em casos de irregularidades do seu conhecimento, como trabalhadores sem registro em CTPS.

Extinção do Contrato de Empreitada: a) - a conclusão da obra e sua entrega, conforme

convencionado; b) - causas específicas de dissolução – morte do

empreiteiro, se o contrato foi celebrado intuito personae (art. 626);

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c) Resilição unilateral; Distrato, Resolução por inexecução contratual;

d) falência do Empreiteiro, ressalvado o art. D117 da Lei n. 11.101/05; Desapropriação;

e) Impossibilidade da prestação por força maior ou caso fortuito.

DEPÓSITO – CC – Arts. 627/652.Generalidades - Por esse contrato, determinada pessoa, física ou jurídica, entrega bens móveis para serem guardados pelo depositário durante certo período de tempo. É um contrato de estipulação intuito personae, por se fundar essencialmente nas qualidades pessoais do Depositário, como a honra e a probidade, podendo, inobstante ser feito o Depósito do objeto sem se ter conhecimento do Depositário como ocorre nos estacionamentos de veículos, ou por estado de necessidade. Na essência o contato de depósito é gratuito, mas nada obsta que se convencione remuneração. Aspecto fundamental do contrato de depósito, como já se apresentava no direito romano, consiste na guarda da coisa depositada e o dever da sua restituição, mantendo-os sobre este fundamento desde o direito romano até o direito contemporâneo, pelo que esse contrato tem raízes na fidúcia.

Conceito – O Depósito é o contrato pelo qual uma pessoa – Depositária – recebe para guardar, um objeto móvel alheio,

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com a obrigação de restituí-lo quando o Depositante o reclamar.

Característicos do contrato de Depósito:1 – Entrega da coisa; 2 – Natureza móvel da coisa (não se admite imóvel); 3 – A coisa deve ser no prazo avençado pelas partes, porém, pode ser exigida antes do prazo; 4 – O contrato há de ser temporário;5- Gratuidade.

Elementos do Contrato de Depósito:Depositante – aquele que entrega o objeto.Depositário – aquele que recebe o objeto para a guarda e conservação.

Natureza Jurídicaa) É um contrato unilateral (apenas o depositário assume obrigações). As obrigações do depositante podem nascer posteriormente no caso de gastos para a conservação da coisa.b) É um contrato real, pois exige a tradição (a doutrina clássica considera o depósito um contrato real, impossível sem a entrega da coisa. Segue nessa esteira H. De Page, enquanto, Serpa Lopes discorda sustentando ser o depósito um contrato sinalagmático e consensual).c) É gratuito, ao menos na sua essência.d) Intuitu personae, porém nem sempre.e) Não solene, pode ser feito por instrumento particular.f) Se oneroso é bilateral ou sinalagmático.g) De duração por envolver guarda e conservação.

Espécies de Depósito: O contrato de depósito fraciona-se nas seguintes espécies:1- Voluntário;2- Necessário; que se triparte nas seguintes modalidades;2.1. depósito legal;

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2.2. depósito necessário ou miserável;2.3. depósito dos hoteleiros ou do hospedeiro;3- Irregular;4- Judicial, (seqüestro);Voluntário – CC – Arts. 627/646.Livremente ajustado pelas partes, sem pressão de circunstâncias externas. Trata-se de contrato real, não solene, unilateral, gratuito e feito “intuitu personae”.Necessário – CC – Arts. 647/652. Conceito - Do ponto de vista da sua estrutura, o depósito necessário não difere do voluntário. Em ambas as figuras contratuais, o consentimento é o elemento imprescindível. A diferença consiste em ser o depósito voluntário uma ação que envolve uma necessidade comum, não tendo um aspecto inadiável; enquanto que, o depósito necessário se trata de um contrato feito sob o imperativo de circunstâncias especiais, impondo a sua realização, de maneira inadiável. O depósito necessário se apresenta em duas modalidades:- o que se faz em desempenho de obrigação legal art. 648 do CC.- o que se efetua em razão de alguma calamidade, como incêndio, inundação, naufrágio ou saque. Legal e Miserável - O depósito legal é decorrente do imperativo da lei em relação às circunstancias jurídicas que envolvem as obrigações ou os interesses do Depositante. Por ex.: os depósitos preparatórios para ações judiciais, recursais, de defesas administrativas e o depósito liminar promovido pelo credor, nas vendas a credito com reserva de domínio. (CPC art. 334 parágrafo 1º e depósito preparatório da lide CPC art. 1689).

O depósito miserável se caracteriza pelo imperativo das circunstancias, compelindo o depositante a feze-lo sem o direito de escolha do depositário, entre os romanos era denominado o depositum miserabile.

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Hoteleiro ou HospedeiroConceito – o contrato de hospedagem é de natureza poliédrica, compreende várias espécies de relações contratuais. Desta maneira o hoteleiro e hospedeiro e situações similares hospedam pessoas e ao mesmo tempo celebram a compra e venda de alimentação que fornecem aos hóspedes e via de conseqüência tornam-se depositários num contrato de depósito, dos pertences destes hóspedes, tudo em conseqüência do próprio contrato de hospedagem. Tornando-se, assim, os hospedeiros ou estalajadeiros automaticamente a posição de depositários, respondendo, nessa qualidade, não só pela coisa depositada, como ainda, por furtos e roubos que perpetrarem as pessoas empregadas ou admitidas em seus estabelecimentos art. 649 do CC.

CaracterísticasO deposito resultante do contrato de hospedagem apresenta como características principais:a) um depósito necessário;b) um contrato real que se conclui sem a tradição real;c) contrato que determina responsabilidade especial para o hoteleiro;d) é um contato oneroso.

IrregularConceito – de acordo com os elementos contidos no art. 645 do CC, ocorre o depósito irregular quando o depositário se obriga a restituir o objeto do mesmo gênero, qualidade ou quantidade, sendo que, em tais casos, o depósito se regula pelo mútuo. (art. 586 e ss CC).A doutrina diverge sobre a natureza jurídica do depósito irregular no que tange a ser um contrato de mútuo, de depósito ou sui generis “tertium genus”.

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Para H. De Page é falso o princípio que considera o depositante como um mero credor “mútuo”, conclui De Page que o depositante se mantém na condição de proprietário das coisas depositadas, mas por serem fungíveis, dificulta por vezes a sua identificação, JudicialConceito - O Depósito Judicial decorre por meio de arresto ou seqüestro, com o devido processo legal, em que mediante determinação judicial se efetua o depósito dos bens na forma determinada pelo juiz, que entrega a terceiro coisa litigiosa, móvel ou imóvel, com intuito de preservar sua incolumidade, até que se decida a causa principal, para que não haja prejuízo aos direitos dos interessados.

Obrigações do Depositário1 – Guardar a coisa como se sua fosse.2 – Obrigações de conservar a coisa.3 – Restituir a coisa quando reclamada.4 – Não usar a coisa.A lei deve ser benevolente com o depositário. Não existe no depósito regra equivalente do art. 583. O depositário não é obrigado em caso de risco, salvar as coisas depositadas antes de suas próprias. Em casos especiais e desde que autorizado, poderá usar as coisas do depositante. Riscos, art. 642. – Poderá haver retenção da coisa quando houver valor líquido e certo. O depositário poderá reter a coisa para ressarcir-se das despesas efetuadas para a sua conservação.

Obrigações do Depositante1 – Receber a coisa depositada no fim do prazo avençado.2 - Reembolsar as despesas feitas pelo depositário para conservação da coisa.2 – Indenizar o prejuízo que o depósito possa ter ocasionado.3 – Deve pagar o preço se o depósito não for gratuito.

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Depósito irregular – Art. 645 CC.

Dos Meios de Provas do Contrato de Depósito Não sendo imperativa forma especial para formação do contrato de depósito, deverá este, se submeter às regras gerais de prova dos contratos, quais sejam, a da inoperância da prova exclusivamente testemunhal para os depósitos acima do valor estabelecido em lei, ou ser provado mediante instrumento particular, ou ainda a prova por confissão ou outro meio idôneo; exceto nos depósitos necessários e de hospedagem, os quais se admite prova meramente testemunhal. Na maioria das legislações o depósito escapa ao regime especial de prova, sendo forte a força dos usos e costumes, como ocorre nos teatros e nos restaurantes de elite, que guardam objetos de grande valor como sobretudos, capas de senhoras, casacos de couro e peles etc. que ultrapassam o valor legal.

Extinção do Contrato de Depósitoa) vencimento do prazo;b) manifestação unilateral do depositante;c) iniciativa do depositário (CC, art. 635);d) perecimento da coisa depositada, em razão de força maior ou caso fortuito, sem sub-rogação em outro bem;e) morte ou incapacidade superveniente do depositário, se o contrato for intuitu personae;f) decurso do prazo de vinte e cinco anos, quando não reclamado o bem (Lei nº. 2.313/54; Dec. Nº. 40.395/56).

DO MANDATO – CC – Arts. 653/692.Conceito - Dá-se o mandato quando alguém recebe de outrem poderes para em seu nome, praticar atos ou administrar interesses.

Origem - O mandato muito embora fosse praticado informalmente pelos povos antigos, foi no direito romano

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que o disciplinaram como um contrato gratuito por excelência, só com a evolução no curso dos tempos, chegou-se a conhecer uma possibilidade de remuneração para o mandatário honus honorarium.No Código Civil Francês de 1804 e no Código Civil Alemão de 1896, BGB, prevaleceu à orientação da gratuidade nos mandatos de representação, ENNECERUS e LEHMANN.

Etimologia - Do direito romano, que empregava a expressão mandatum, derivada de manum dare, que consistia num aperto de mão entre mandante e mandatário, zelando a confiança recíproca.

Natureza Jurídica a) consensual, pois que se perfaz pelo acordo de vontades, e comporta toda espécie de emissão volitiva: verbal ou escrita, por instrumento público ou particular.b) gratuito por natureza, embora não o seja essencialmente.c) intuitu personae, celebrando-se especialmente em consideração ao mandatário, e traduzindo, mais que qualquer outra figura jurídica, uma expressão fiduciária, já que o seu pressuposto fundamental é a confiança que o gera.d) ao contrario do direito alemão, em que é unilateral, e cria obrigações somente para o mandatário, em nosso é bilateral, com obrigações tanto para o mandatário quanto para o mandante.e) preparatório, em razão de não esgotar a intenção das partes, habilitando ao revés o mandatário para a prática de atos subseqüentes que nele não estão compreendidos.f) revogável ad nutum, por ser lícito a qualquer das partes, sem necessidade de presença da outra, por termo ao contrato por manifestação de sua vontade unilateral.g) unilateral quando gratuito;h) bilateral quando oneroso.

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Requisitos:a) subjetivos: pode constituir mandatário todo aquele que tem habilitação para os atos da vida civil e cabem no mandato quase todos os atos que podem ser diretamente praticados pelo mandante.b) objetivos: em linha de princípio, podem ser objeto de mandato os atos que o comitente pode praticar por si, sejam ou não de natureza patrimonial.c) forma: como contrato consensual que é o mandato não exige requisito formal para a sua validade, nem para a sua prova.

Objeto do Mandato - Em sentido geral, reveste-se dos mesmos requisitos que norteiam os negócios jurídicos.Em relação ao objeto pode ser civil ou comercial.O mandato na concepção alemã é um fenômeno distinto da procuração, alcançando, assim, amplo aspecto de ação, tanto para relações negociais de fato e de direito, como supervisão de operários, obras, administração de bens, etc.Na mesma esteira Francesa, o mandato se restringe ao poder de representação, mandato e procuração são apresentados como se fossem termos sinônimos.No Brasil seguiu-se a orientação Francesa.

Forma do Mandato - A forma é livre, salvo se forem poderes especiais previstos em lei.Observadas as diferenças entre mandato e procuração, no campo probatório, os princípios são os mesmos.

REPRESENTAÇÃO – Pode ser: 1- legal; 2- judicial; 3- contratual.Existem contratos, nos quais há o poder de representação sem que haja o mandato Ex.: (comissão mercantil). Representação legal o pai representa o filho menor o tutor representa os interesses do tutelado, o curador representa os interesses do curatelado. Como exemplo de representação judicial, pode ser citado o síndico numa

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falência. Há casos de representação sem mandato e também de mandato de representação, porém só em alguns casos ou sistemas estrangeiros e não no brasileiro. O poder de representação é ato unilateral. Não confundir mandato com: a) Locação de Serviços; b) Com Contrato de Trabalho; c) Com Comissão Mercantil; d) Com Contrato de Depósito.Para que se possa exercer o mandato, deve-se receber o poder de representação. O mandato é um ato jurídico unilateral.A idéia de representação implica:a) Mandato obriga o mandante. Se o mandatário tiver ultrapassado os poderes de representação que lhe forem conferidos, neste caso o mandante não responde pelos prejuízos que possam advir.b) O mandante não responde quando o mandatário agiu em nome próprio.c) O mandante também não responde depois de expirado o prazo de mandato.d) É um contrato unilateral quanto aos seus efeitos, embora possa eventualmente ser (bilateral imperfeito). É gratuito, quando civil e oneroso quando comercial. No civil, em que haja a prestação de ofício profissional, é também oneroso. Ex.: Serviços de advogado. É consensual. O consentimento de ambas as partes é necessário.Poderá, entretanto haver um consentimento tácito. É não solene. Admite-se o mandato verbal. É intuito personae, mesmo que lhe seja conferidos poderes de substabelecimento.

PROCURAÇÃO – Art. 653 CC.É o instrumento do mandato. O mandato é uma das espécies de representação. Como já foi dito, no Brasil, não há mandato sem representação. A procuração pode ser:Apud acta – Lavrada pela secretária do Cartório, no caso da J. C. J. com a concordância do juiz ( nos autos da causa).Caução de rato – Art. 37 C. P. C. Advogado presta caução.

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Conjunta – Quando outorga poderes em conjunto.Solidária – Todos procuradores devem assinar solidariamente, isto é em conjunto.Fracionária – Cada procurador com certos e determinados poderes.Substitutiva – Quando um segundo procurador é nomeado como substituto.

SUBSTABELECIMENTO – Ato pelo qual o mandatário transfere seus poderes outorgados pelo mandante a outro. Pode ser, com ou sem reserva de poderes.Conseqüências do substabelecimento: Três hipóteses:a) Art. 667 - Caput; b) Art. 667 – parágrafo 1º; c) Art. 667 parágrafo 2º, do CC. Capacidade das Partes – Obedece as regras gerais, mas é evidente que o mandante deve ser legitimado para o ato. Os relativamente incapazes só podem dar poderes por instrumento público. Art. 666. O relativamente incapaz, pode ser mandatário.

Espécie de Mandatoa) Relação entre as partes – Gratuitos e Onerosos.b) Modo de declaração da vontade – Tácito e Expresso, podendo esta última ser: Verbal e Escrita.c) Forma escrita: Público, Privada – forma verbal.d) Conteúdo: Civil e Mercantil ou Comercial.e) Fim – Judicial ou Extra- judicial.f) Extensão: das obrigações: Geral e Especial - (Geral – se estende a todos os negócios do mandante). (Especial – Se estende a um ou determinados negócios). Os termos gerais, só dão poderes para administrar negócios – Art. 661. Poderes especiais, quando necessitam poderes ordinários – parágrafo 1º, art. 661- CC. Art. 692 CC.Mandato Judicial – CC – Art. 692. Art. 1.325/26 e 31 C.P.C. O mandato judicial se presume oneroso. Quem pode ser procurador.

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EXTINÇÃO DO MANDATO – CC – Arts. 682/691.São duas as espécies de extinção do mandato:1) as causas terminativas comuns a todos os contratos:a) a impossibilidade da execução do negocio objeto do mandato;b) a nulidade do contrato;c) a resolução por inadimplemento contratual culposo;d) a superveniência da condição resolutiva expressa;2) as causas inerentes ao mandato, em virtude de circunstancias próprias:a) as naturais que se subdividem em duas: sobrevindo o termo do prazo; e o segundo a execução completa do negócio objeto do mandato;b) causas excepcionais são três: por força da manifestação unilateral, revogação ou renuncia; pela morte ou interdição de uma das partes; pela mudança de Estado, que impossibilite o exercício ou a outorga de poderes.

COMISSÃO – arts. 693 a 709 CC.Noções gerais - O contrato de comissão encontra-se regulado no novo Código Civil, que disciplina as obrigações e os contratos civis e mercantis, tendo por escopo a unificação do direito obrigacional, inclui a comissão útil na seara cível e empresarial, nos arts. 693 a 709, seguindo a esteira do Código Civil italiano de 1942 arts. 1731 a 1736.

Conceito - A comissão é o contrato pelo qual uma pessoa (comissário) adquire ou vende bens, em seu próprio nome e responsabilidade, mas por ordem e por conta de outrem (comitente), em troca de certa remuneração, obrigando-se para com terceiros com quem contrata (CC, art. 693).

Etimologia - O termo comissão deriva do latim committere que significa unir, confiar, entregar algo a

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alguém. No contrato de comissão significa cometer, encomendar, atribuir uma tarefa a alguém, na concepção de encargo ou incumbência.No Brasil, o contrato de comissão foi muito utilizado na exportação do café, atuando os comissários na praça de Santos/SP.

O comissário contratará diretamente com terceiros em seu nome, ou no de sua firma, vinculando-se obrigacionalmente; logo, as pessoas com quem contratar não poderão acionar o comitente, que também não poderá acioná-las, a não ser que o comissário tenha cedido seus direitos a qualquer das partes (CC, art. 694).

O comissário, pessoas física ou jurídica, deverá ser o comerciante que, segundo as instruções recebidas do comitente, efetuará negócios em seu próprio nome, porém em favor e por conta do comitente. Apresenta-se sob a feição de mandato sem representação. Há uma representação indireta ou imperfeita, visto que o comissário não é representante direto do comitente. Produz efeitos análogos aos do mandato, distinguindo-se dele pela maneira de agir do representante. No mandato, o representante age em nome do representado, ao passo que, na comissão, em nome próprio, apresentando, por isso, essa figura contratual as vantagens de: a) dispensar a exibição de documento formal que habilite o representante perante as pessoas com quem tratar; b) afastar o risco do excesso de poderes do representante; c) permitir o segredo das operações do representado, para evitar que os concorrentes conheçam a marcha de seus negócios; d) utilizar o crédito do comissário na praça onde se estabelece; e) facilitar as informações das remessas e da guarda das mercadorias em praças distantes.

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Todavia, a comissão poderá converter-se, na lição de Orlando Gomes, em mandato pela ratificação do comitente, que assume o contrato realizado pelo comissário, passando a ter ação direta contra o terceiro que contratou com o comissário. Embora a comissão apresente semelhanças com o mandato, constitui um contrato de natureza diversa por lhe faltarem não só os caracteres essenciais do mandato, mas também porque o comissário, agindo em seu próprio nome, assume obrigações pessoais para com aqueles com quem contrata, e até mesmo a responsabilidade pela solvência das pessoas com quem efetua negócios (comissão del credere), o que não sucede com o mandatário. No Brasil, a comissão esteve em voga no mercado de café, nas operações de exportação, armazenagem ou venda interna, dada às dificuldades de crédito com que sempre lutaram os fazendeiros de café.

Natureza Jurídica da Comissão - É um contrato unilateral antes da aceitação do comissário, que só após a aquiescência deste torna-se bilateral imperfeito, consensual, oneroso, comutativo e intuitu personae, forma livre, podendo ser verbal. Natureza comercial.

Partes: Comitente – aquele que confia negócios a outrem;Comissário – aquele que os realiza por conta do comitente.

Intermediação, aliada a prestação de serviço.Comissário age em nome próprio e deve ser comerciante.Aplicação das disposições atinentes ao mandato, no que couber, e, na omissão legal ou contratual, seus efeitos reger-se-ão pelos usos, art. 698CC.

Extinção da comissão - O contrato de comissão de extingue pelas causas naturais extintivas dos contratos em

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geral, pelo inadimplemento, anulabilidades e pela resilição bilateral ou unilateral.

Reger-se-á a comissão no que couberem as regras do mandato.

AGÊNCIA E DISTRIBUIÇÃO – 710/722Generalidades - Agência e distribuição são contratos muito comuns na seara mercantil, regulados pelas Leis n. 4.886/65 e 6.729/79, com alteração da Lei n. 8.132/90, podendo ser regidos por cláusulas contratuais e supletivamente pelas normas do mandato e da comissão. O CC os prevê nos arts. 710 a 721.

Contrato de Agência ou Representação ComercialConceito - Agência ou representação comercial é o contrato pelo qual uma pessoa se obriga, mediante retribuição, a realizar certos negócios, em região determinada, com caráter de habitualidade, em favor e por conta de outrem, sem subordinação hierárquica (CC, art. 719, 1ª alínea).

Natureza Jurídica - - Contratualidade: é um contrato bilateral, oneroso, intuitu personae, consensual (Lei n. 4.886/65, com alteração da Lei n. 8.420/92, art. 27; CC, art.212).- Obrigação do agente de promover a conclusão do contrato por conta do proponente.- Profissionalidade do representante (Lei n. 4.886/65, arts. 2º a 12, 18 e 19).- Autonomia na prestação de serviço.- Habitualidade do serviço.- Delimitação da região onde deverá ser desenvolvida a atividade do agente.- Exclusividade da representação (CC, art. 711).

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- Retribuição do representante pelo agenciamento (CC, arts. 714, 716, 717, 718 e 719).

Conseqüências JurídicasDireitos do Representante- Exclusividade.- Remuneração.- Ver atendidos os seus pedidos.- Liberdade de ação.- Admitir subagentes.- Ressarcir-se de prejuízos causados por inadimplemento do proponente (CC, art. 715).

Obrigações do Representante - Exercer sua atividade conforme as instruções recebidas (CC, art. 712).- Conseguir negócios em favor do representado.- Informar o representante das condições do mercado, perspectivas de vendas, situação da clientela, atuação dos concorrentes e andamento dos negócios.- Diligenciar para que os clientes recebam com regularidade as mercadorias.- Manter sigilo sobre as atividades da representação (Lei n. 4.886/65, art. 19, d).- Pagar as despesas decorrentes do agenciamento (CC, art. 713).- Prestar contas de suas atividades (Lei n. 4.886/65, art. 19, e).

Deveres do Representado- Pagar a remuneração dos serviços prestados pelo representante (CC, arts. 714 e 716 a 719).- Respeitar a exclusividade prevista no contrato (CC, art. 711).

Direitos do Representado

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- Reter o pagamento do representante, nos casos em que o contrato for rescindido por culpa dele, para garantir a indenização dos danos que sofreu com a rescisão.- Conferir poderes ao agente para que este o represente na conclusão dos contratos (CC, art. 710, parágrafo único).

Extinção- Pelo decurso do prazo.- Pela resilição unilateral (CC, art. 720).- Pela resolução por inexecução contratual (Lei n. 4.886, art. 35).- Pelo distrato.- Pela força maior ou caso fortuito.

CONTRATO DE DISTRIBUIÇÃO OU DE CONCESSÃO COMERCIAL “LATO SENSU”Noções gerais - Contrato de distribuição é aquele em que uma pessoa assume a obrigação de revender, com exclusividade e por conta própria, mediante retribuição, mercadorias de certo fabricante, em região determinada (CC, art. 710, 2ª alínea).

GeneralidadesO contrato de distribuição poder-se-á reger pelo novo Código Civil, arts. 710 a 721, pela Lei n. 6.729/79, com as alterações da Lei n. 8.132/90, sendo uma espécie genérica de concessão mercantil. É um contrato típico e misto por abranger a compra e venda dos produtos a serem distribuídos na agência, o fornecimento de estoques de mercadorias, a prestação de serviços de assistência técnica e o uso de marca. A venda de produtos fabricados é feita ao comerciante, que revende aos consumidores. Esse contrato é utilizado na comercialização de produtos derivados do petróleo, de bebidas, de automóveis, caminhões, ônibus, tratores, motocicletas. Não serão suscetíveis de distribuição

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ou de concessão as máquinas rodoviárias e agrícolas, a colheitadeira, a debulhadora e a trilhadeiras.

Conceito - O contrato de distribuição é o acordo em que o produtor, oferecendo vantagens especiais, compromete-se a vender, continuadamente, seus produtos, ao distribuidor, para revenda em determinada área geográfica.

Requisitos: a) Subjetivos - Ter-se-á de um lado o concedente ou produtor, seja ele fabricante ou manipulador do produto, e de outro lado o distribuidor, que se obriga a revender os produtos e a prestar assistência técnica, em seu nome e risco.

b) Objetivos - O produto comercializado, objeto da distribuição, deverá ser fabricado pelo fabricante e destinado à revenda na área delimitada, pelo preço fixado pelo produtor.

c) Formais - Deverá ser feito por escrito, mediante adesão do distribuidor, pois o fabricante deverá submeter todos os distribuidores, sem exceção, a normas estandardizadas. O contrato de distribuição permanecerá sempre em aberto, permitindo o ingresso de novas partes, pois, mediante o instrumento-padrão do contrato, novos distribuidores serão admitidos. Exigir-se-á, ainda, que esse contrato seja assentado no Registro de Títulos e Documentos.

Obrigações do Concedente ou Produtor:- Não efetuar vendas diretas. - Respeitar a exclusividade reservada do distribuidor.- Promover propaganda dos produtos a serem revendidos pelo distribuidor.- Não exigir o pagamento antes do faturamento.-Cumprir, se rescindir o contrato, os arts. 24 e 25 da Lei n. 6.729/79.

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Deveres do Distribuidor:-Vender os produtos fornecidos pelo concedente ou fabricante.- Submeter-se à fiscalização e às normas da concedente relativas ao preço, à assistência técnica, aos acessórios que serão colocados à venda, à revisão e ao número de bens que deverão ser vendidos.- Ter uma reserva de estoque.- Aparelhar suas instalações.- Dirigir a publicidade.- Facilitar a realização de inspeções técnicas por profissionais da concedente.-Organizar cursos de aperfeiçoamento para aprimorar a técnica de seus funcionários.- Ter uma oficina de reparos e reposição de peças.- Dar garantia do produto à clientela.- Pagar cinco por cento do valor total das mercadorias que adquiriu nos últimos quatro meses, se der causa à rescisão contratual.

Controle empresarial sobre a rede de distribuição:- Pela Exclusividade de aprovisionamento, restringindo o direito do distribuidor de adquirir produtos de outro produtor, para a revenda na área demarcada. - Pela adoção, pelos distribuidores, dos métodos e condutas organizadas do fabricante.- Pela interferência do fabricante na política comercial dos distribuidores, fornecendo dados mercadológicos.

Casos de Resolução do Contrato:- Vencimento do prazo contratual.- Denúncia justificada de uma parte à outra.- Inadimplemento contratual.- Extinção do sistema de distribuição.- Distrato.- Resilição unilateral do fabricante.

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- Força maior ou caso fortuito.

DA CORRETAGEM - CC – Arts. 723/730.

Conceito - Corretagem ou mediação é o contrato pelo qual uma pessoa, sem qualquer relação de dependência, se obriga, mediante remuneração, a obter negócios a interesses de outrem, conforme as instruções recebidas, ou a fornecer-lhes as informações necessárias para a celebração do contrato art. 722 CC.

Características Jurídicas:- bilateralidade; acessoriedade; onerosidade; aleatoriedade ou comutatividade; consensualidade.

Espécies de Corretores:a) corretores oficiais: ex. de fundos públicos, de mercadorias, de navios, de operações de câmbio, de seguros, de valores.b) corretores livres: ex. de espetáculos públicos e diversões, de automóveis, de empréstimo de obras de arte, de serviços, de trabalhos em geral ou especializados, de artistas, de esportistas profissionais, de conferencistas, de bens móveis e imóveis.

Direitos dos Corretores:- receber uma remuneração;- intervir em convenções, transações e operações mercantis;- promover, para outrem, vendedores e compradores, desde que tal intervenção seja gratuita;- dar certidão, se corretor oficial, do que constar de seu protocolo;

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- Não ser responsabilizado pela execução do negócio.

Obrigações do Corretor:- matricular-se no Tribunal do Comércio do seu domicílio, se for corretor oficial;- Prestar fiança, se corretor oficial;- executar a mediação com diligencia e prudência;- informar o cliente de todas as condições do negócio, esclarecendo sobre sua segurança ou risco, sobre as alterações dos valores etc.- não usar de fraude, cavilação ou engano.

Modos Terminativos da Mediação:a - conclusão do negócio; b - expiração do prazo;c - distrato; impossibilidade de sua realização devido à força maior ou caso fortuito; d - nulidade do negócio; renúncia do corretor; e - revogação; morte do corretor e do comitente;f - incapacidade do corretor;g - falência.

DO TRANSPORTE - CC – Arts. 730/756.Origem - O contrato de transporte surgiu nos primórdios da civilização, quando esta começou a fazer a integração de pessoas e coisas, traçando e acumulando bens em geral.O transporte marítimo foi importantíssimo na Grécia antiga e no velho oriente.O Código de Manu, na índia, já se traçava regras sobre os transportes.Os romanos acolheram dos finícios regras do transporte marítimo, denominadas lex rhodia dilactum.Conceito - O contrato de transporte é aquele em que uma pessoa ou empresa se obriga, mediante retribuição, a transportar, de um local para outro, pessoas ou coisas animadas ou inanimadas.

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Natureza Jurídica: Bilateral; oneroso; comutativo; consensual.Espécies: De pessoas, de coisas, em sentido amplo incluindo a de animais.

Meio Empregado: Terrestre; rodoviário e ferroviário; aquático: marítimo, fluvial, lacustre e aéreo (Constituição Federal art. 178).O transporte de pessoas ou coisas diferencia-se pela natureza do objeto contrato, uma vez que a finalidade é sempre a mesma, a de deslocamento de um ponto para outro.O transporte de pessoas, não prescinde de autorização e supervisão do Poder Público.

Responsabilidade - O transportador tem responsabilidade objetiva no transporte de pessoas, prescindindo a verificação de culpa, sendo suficiente à demonstração causal entre a atividade de transporte e o dano. A concessão de transporte público, pessoas jurídicas de direito privado, a responsabilidade objetiva está prevista no art. 37, parágrafo 6 da CF.- jurisprudência: passageiro morto em decorrência de assalto, força maior reconhecida, responsabilidade do transportador afastada.O artigo 734 do CC prevê a excludente da força maior, vis maior, combinado com art. 393, parágrafo único CC, não haverá responsabilidade se o navio naufragar em meio a uma tempestade ou um raio destruir um ônibus. Deve haver declaração do valor da bagagem ou bens transportáveis, para fixação da indenização.É nula a cláusula que exclui a responsabilidade de indenizar.O transporte gratuito ou de cortesia não se sujeita às regras do contrato de transporte.

Obrigações das Partes:

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O transportador deve conduzir as pessoas ou coisas na forma avençada e cumprir os itinerários, locais e horários estabelecidos, salvo motivo de força maior, de forma incólume e segura.O passageiro deve ater-se as regras estabelecidas pelo transportador, pagar o preço e não perturbar os demais passageiros.No transporte de coisas, aquele que contrata o transporte, deve acondicionar devidamente as coisas transportadas, informar, os cuidados e riscos inerentes e pagar o preço do transporte, se for o caso fornecer a documentação legalmente exigida.

Ocorrendo a interrupção da viagem, ainda que por caso fortuito ou força maior, transportador fica obrigado a concluir o transporte contratado.

Direito de Retenção - Concluído o transporte, o transportador tem direito a retenção da bagagem para garantir o pagamento da passagem.No transporte de coisas, o transportador deve emitir o conhecimento de transporte que é considerado titulo de crédito impróprio, pois representa as coisas ou mercadorias objeto do transporte. É um titulo a ordem e pode ser endossado.

Extinção do Contrato de Transporte - O contrato de transporte de pessoas pode ser extinto, unilateralmente, se o passageiro cancelar em tempo hábil a passagem, possibilitando ao transportador renegociar o bilhete.No transporte de coisas, o transporte pode ser extinto, unilateralmente se este for por prazo indeterminado ou se houver razões fáticas ou legais que impeçam o transportador de fazê-lo.O transportador poderá também se recusar de fazer o transporte de pessoas que estejam visivelmente alteradas pelo consumo de drogas ou álcool e deixar de transportar

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as coisas que não estejam devidamente acondicionadas para o transporte ou sendo produtos perigosos não estão embalados devidamente.

CONTRATO DE SEGURO - CC – Arts. 757/802.Legislação aplicável: CC, CDC e legislação esparsa pertinente.Conceito - Considera-se contrato de seguro, aquele pelo qual uma das partes se obriga para com outra, mediante paga de um prêmio, a indenizá-la do prejuízo resultante de riscos futuros, previsto no contrato.

Origem - breve histórico - Sintético - No Código de Hamurabi, 2300 a.C, aplicava-se a navegação primária e caravanas que atravessavam o deserto para comercializar camelos, no séc. XII, contrato de dinheiro e risco marítimo, 1347, emissão da primeira apólice em Gênova, 1653, Tontinas na França, 1678, Lloyds-sociedade de seguro mútuo em Londres, 1808, abertura dos Portos por D. João VI no Brasil, 1822, Independência, 1831, Procuradoria de Seguros das Províncias Imperiais, 1850, Código Comercial, 1855, seguro de vida - CIA de seguros tranqüilidade RJ, 1935, atlântica nacional de Cia. seguros, 1966, SUSEP-Superintendência de Seguros Privados.

Evolução Histórica do Contrato de Seguro - O contrato de seguro é uma criação medieval. A primeira forma de seguros na idade média foi o seguro marítimo, surgindo no século XV devidamente organizado e na França, no séc. XVI, tomando depois um extraordinário desenvolvimento.

Posteriomente apareceu na Inglaterra o seguro terrestre no séc. XVII. A sua primeira forma foi o seguro contra o fogo, em razão do incêndio que destruiu cerca de 13.000 casas em Londres. Surgiram, então, as primeiras companhias de seguros, como a fire office, surto esse que

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se espalhou para outros países como os EUA, Alemanha e França.

História do Seguro no Mundo Essa história é bem antiga. Vinte e três séculos antes de Cristo, na Babilônia, quando as caravanas atravessavam o deserto para comercializar camelos em cidades vizinhas, surgiram as primeiras modalidades de seguros. Como era comum alguns animais morrerem durante o caminho, todos os cameleiros, cientes do grande risco, firmaram um acordo no qual pagariam para substituir o camelo de quem o perdesse. Além de uma atitude solidária por parte do grupo, já era sem dúvida uma forma primária de seguro.

No ramo da navegação, também foi adotado o princípio de seguro entre os hebreus e fenícios cujos barcos navegavam através dos mares Egeu e Mediterrâneo. Existia entre os navegadores um acordo que garantia a quem perdesse um navio, a construção de outro, pago pelos demais participantes da mesma viagem.

No século XII da era cristã, surge uma nova modalidade de seguro. Chamava-se Contrato de Dinheiro e Risco Marítimo, formalizado por meio de um documento assinado por duas pessoas, sendo uma delas a que emprestava ao navegador quantia em dinheiro no valor do barco e das mercadorias transportadas. Se durante a viagem o barco sofresse alguma avaria, o dinheiro emprestado não era devolvido. Caso contrário, esse dinheiro voltava para o financiador acrescido de juros.

Em 1234, o papa Gregório IX proibiu o Contrato de Dinheiro e Risco Marítimo em toda Europa. Os homens ligados ao negócio buscaram então subterfúgios para que pudessem continuar a operar na navegação com aquele seguro. E encontraram: o banqueiro se tornava comprador do barco e

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das mercadorias transportadas. Caso o navio naufragasse, o dinheiro adiantado era o preço da compra. Se o barco chegasse intacto ao seu destino, a cláusula de compra se tornava nula e o dinheiro era devolvido ao banqueiro, acrescido de outra quantia como rendimento do empréstimo feito.

A preocupação com transporte marítimo tinha como causa interesses econômicos, pois o comércio exterior dos países se dava apenas por mar. A idéia de garantir o funcionamento da economia por meio do seguro prevalece até hoje. A forma de seguro é que mudou, e se aperfeiçoa cada vez mais.

O primeiro contrato de seguro nos moldes atuais foi firmado em 1347, em Gênova, com a emissão da primeira apólice. Era um contrato de seguro de transporte marítimo.

Daí pra frente, o seguro iniciou uma carreira vertiginosa, impulsionado pelas Grandes Navegações do século XVI. A teoria das probabilidades desenvolvida por Pascal, associada à estatística, deu grande impulso ao seguro porque a partir de então os valores pagos pelo seguro, seus prêmios, puderam ser calculados de forma mais justa. Tais critérios são válidos até hoje. No século XVI, uma nova etapa surge na história do seguro com dois acontecimentos marcantes: as Tontinas, na França e o Lloyds, em Londres. As Tontinas, uma das primeiras sociedades de socorro mútuo, foi criada em 1653 por Lorenzo Tonti. Apesar da grande aceitação inicial, essa sociedade não conseguiu sobreviver ao longo do tempo.

A segunda foi fundada em Londres, em 1678, do Lloyds por Edward Lloyds, proprietário de um bar que era ponto de encontro de navegadores e atraía pessoas interessadas nos negócios de seguros. Ali, passaram a concretizá-los por

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meio de contratos. O Lloyds tornou-se uma verdadeira bolsa de seguros e assim opera até os dias de hoje.

Com o advento da máquina e da era industrial no século XIX, surgiram e desenvolveram-se outras modalidades de seguro, como o de incêndio, o de transportes terrestres, e o de vida. Os tempos haviam mudado e o mundo ingressava na era da produção em série e do consumo em escala. A figura do segurador individual desaparecia, e no seu lugar entram as companhias seguradoras como existem atualmente.

História do Seguro no BrasilO seguro surgiu no Brasil em 1808, com a abertura dos portos por D. João VI, e o início da navegação intensiva com todos os países. A primeira empresa de seguro no Brasil, a Companhia de Seguros Boa-Fé, nasceu na Bahia, centro da navegação marítima da época.Até 1822, ano da Independência só se desenvolveu aqui o seguro marítimo. Menos trinta anos depois foi promulgado o Código Comercial, que regulamentou as operações de seguro marítimo, proibindo o seguro sobre a vida de pessoas livres. Com o progresso decorrente, fundaram-se novas empresas, que então passaram a se dedicar a outros ramos de seguro, como o de incêndio e o de mortalidade de escravos, seguro de destaque da época, dada a importância da mão-de-obra negra para a atividade econômica. Em 1855, foi fundada a Companhia de Seguros Tranqüilidade no Rio de Janeiro, a primeira a comercializar no Brasil seguro de vida. Poucos anos depois, estabeleceram-se no Brasil diversas empresas estrangeiras, que trouxeram para o país a sua experiência específica. Com a Proclamação da República, a atividade seguradora, em todas as suas modalidades foi regulamentada. Promulgado em 1916, o Código Civil regulou, como fizera o

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Código Comercial em relação aos seguros marítimos, todos os demais seguros inclusive o de vida. Em 1935, foi fundada aquela que viria a ser a maior companhia seguradora da América Latina, a Atlântica Companhia Nacional de Seguros, hoje Bradesco Seguros.Em 1939, foi criado o Instituto de Resseguro do Brasil (IRB), com a atribuição de exercer o monopólio do resseguro no país. Já em 1966, com a edição do Decreto lei nº 73, é instituído o Sistema Nacional de Seguros Privados com a criação da Superintendência de Seguros Privados (SUSEP), órgão oficial fiscalizador das operações de seguro.

O contrato de seguro foi regulado primitivamente pelo código comercial, tão somente ao seguro marítimo. Em seguida, veio o Dec. N° 5.072 de 12 de dezembro de 1903, regulando o funcionamento das companhias de seguros de vida, marítimos e terrestres, nacionais e estrangeiros, mas ficaram na dependência de autorização do Governo Federal, para funcionar na República, além de prestarem uma garantia ou em apólices federais e de estabelecer uma reserva nunca inferior a 20% dos lucros líquidos anuais.

Com o advento do Código Civil, o seguro de coisas e o de vida tomou uma forma definida, suprindo-se, assim, uma lacuna até então existente em nosso direito, limitado ao seguro marítimo.

Função Econômica Jurídico do Seguro - A função do instituto do seguro, o seu papel na vida econômica e jurídica de uma sociedade, pode ser apreciada em relação à própria idéia de segurança, como um elemento de constituição de capitais, como um meio de crédito, e finalmente do seu aspecto internacional.

Características do Contrato de Seguro: a) sinalagmático; b) aleatório; c) oneroso;

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d) execução continuada; e) adesão; f) contrato de boa-fé. Bona fides

SEGURO DE VIDA – Art. 796, caput CC.Partes – Segurado e segurador.No seguro de vida – partes: Segurado, segurador, beneficiário.Objeto – Riscos – Transfere o risco ao segurador (o risco é inerente ao segurador).Evento – Aleatório – Riscos permanentes.A seguradora sempre deverá ser uma sociedade anônima. O maior campo da abrangência é o direito comercial. O seguro de vida é tipicamente civil e não mercantil. Os seguros mútuos, tipicamente civis.

Mecanismo do Contrato de Seguroa) Mutualidade dos segurados ( resseguro) ( co-seguro).b) Cálculo das probalidades (dados estatísticos).No Direito Romano o contrato de seguro não era muito difundido. Se evidenciou na Idade Média, na época das grandes navegações.

Os Seguros – Espécies: a) Natureza do risco – Ramos elementares – Seguro de vida.b) Mais técnicamente – Seguros Sociais – Seguros Privados.Sociais – Em regra obrigatórios.

Elementos – Em regra facultativos.Os seguros privados dividem-se: Terrestre (civil) – Marítimo – Aeronáuticos ( estes dois do Direito Comercial e CDC).Terrestres – Coisas ou danos – Responsabilidade.Pessoas – Acidentes pessoais e de vida.Apólice – Art. 760 CC. – É o instrumento do contrato de seguro.

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Prazo – Art. 780 CC – As apólices podem ser: Nominativas, à ordem ou ao portador. Art. 760.Apólice pode ser: Simples – quando o objeto é determinado. Flutuante - possibilidades de substituir a coisa segurada.

Obrigações das Partes:Do Segurador:Pagar os prejuízos decorrentes dos riscos assumidos. Art. 776 CC.Mas não haverá responsabilidade de indenizar:a) Se o dono foi motivado por vício oculto ( intrínseco).b) Se o segurado agir com dolo.c) Informações de má fé.d) Se o segurado tiver prestado declarações mentirosas.

Do Segurado:1 – Dever de veracidade – Arts. 765/766, caput CC.2 – Valor máximo, equivalente ao valor da coisa. Art. 778 e 782.3 – Pagar o prêmio.4 – Não agravar os riscos (troca de ramo de comércio por inflamáveis).5 – Comunicar à seguradora se houver o agravamento do risco. Art. 769, caput.6 – Comunicar o sinistro. Art. 771.

Seguro de Vida: Art. 796 CC – ( categorias).a) Seguro de vida propriamente dito (instituí um beneficiário).b) Seguro de vida em caso de sobrevivência do segurado (recebe em vida).

Extinção do Contrato de Seguro:a) distrato; b) resolução, em conformidade com as cláusulas resolutórias do contrato;

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c) expiração do termo; d) superveniência do risco; e) em sobrevindo qualquer das circunstâncias que tornam nulo o contrato de seguro.

DA CONSTITUIÇÃO DE RENDA - CC – Arts. 803/813.

Noções gerais - Segundo Clóvis, é a serie de prestações em dinheiro ou em outros bens que uma pessoa recebe de outra, a quem foi entregue para esse efeito certo capital. Portanto, a Constituição de Renda consiste na alienação do capital, para obterem-se, na contrapartida, prestações periódicas.

Conceito - Através do contrato de Constituição de Renda, uma pessoa, Rendeiro ou Censuista – se obriga a fazer certa prestação periódica à outra – o Instituidor – por um prazo determinado, em troca de um capital que lhe é entregue e que pode consistir em um imóvel.

As Causas Jurídicas de Constituição de Renda - A Constituição de Renda se origina de um ato voluntário de seu instituidor ou da lei, no primeiro caso pode decorrer de um ato inter vivos ou mortis causa, no segundo, quando a lei, em determinadas circunstancias, torna alguém obrigado a prestar a outrem uma renda periódica, como sucede nos acidentes de trabalho e no ressarcimento dos danos quando há responsabilidade delitual, arts. 948 inciso II e 950 do CC.

Origem e Evolução - Não contemplada pelo Direito Romano esse instituto se desenvolveu na segunda parte do período medieval quando se converteu numa reação à proibição da Usura anatematizada na época pela igreja.

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Havia uma diferença significativa entre o Mútuo e a Constituição de Renda, no Mútuo a entrega ou a alienação do capital era subordinada a restituição do capital, enquanto no Censo Consignativo não havia qualquer obrigação de Restituição, pois a venda de um imóvel em tais condições era definitiva.

Espécies de Constituição de Renda - No direito pátrio antigo, havia o que se denominava o Censo Consignativo, que consistia no pagamento de prestações, a que alguém se obrigava mediante recebimento de certo capital.E Censo Reservativo, pelo qual o alienante de um bem reservava para si os frutos do objeto. No atual Código Civil nos arts. 803 e 804 a Constituição de Renda poderá ser feita a titulo gratuito ou oneroso, sendo na primeira hipótese uma mera liberalidade e na segunda a entrega de um capital ou bens móveis ou imóveis mediante uma série de prestações.As prestações poderão ser fixadas a Termo ou enquanto viver o credor beneficiário.Ex.: A entrega a B um capital ou um bem móvel ou imóvel, obrigando-se quem o receber a efetuar uma série de prestação em dinheiro ou outros bens (titulo oneroso).Ex.: A simplesmente obriga-se ou faz seus herdeiros obrigados ao pagamento a B de uma renda ao credor que aceita (titulo gratuito).

Objetivos do Instituto - É um meio pelo qual a legislação protege aqueles que, pela sua própria idade ou condições de vida, não se encontram habilitados a gerir seus próprios bens, assegurando-lhes a subsistência.

Modos constitutivos: a) Ato inter vivos, a titulo oneroso ou gratuito;b) Ato causa mortis;c) Sentença Judicial.

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Natureza Jurídica - É um contrato bilateral, se for oneroso e unilateral se for gratuito, consensual, aleatório se for oneroso e para muitos autores de natureza real.

Partes do Contrato de Constituição de Renda:Quando oneroso, Instituidor: aquele que faz a entrega do capital ou de bens móveis ou imóveis;Censuísta ou Rendeiro: aquele que recebe o capital e se obriga a prestar a Renda.Quando gratuito, estipulante: aquele que se compromete ou compromete seus herdeiros a prestarem à renda.Beneficiário: é aquele beneficiado com a renda e aceita a liberalidade.

A Constituição de Renda a Titulo Gratuito - pode ser isenta de todas as execuções pendentes ou futuras por ato do instituidor nos termos do art. 813 do CC e 649 inciso VII do CPC.

Obrigações das Partes:Quando oneroso, o instituidor se obriga a entregar os bens ou capital, responder pela evicção, cumprir as cláusulas contratuais e responder por eventuais vícios que a coisa possa ter.Se gratuito, responderá, apenas, pelo pagamento das prestações, conforme avençado.

Do Censuista ou Rendeiro: cumprir o contrato na forma avençada, pagando as prestações na forma e modo convencionado.

Extinção do contrato de Constituição de Renda: a) pelo vencimento do prazo, se for a Termo;b) pelo implemento da condição, se estiver subordinada a uma condição resolutiva;

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c) pela morte do devedor se os herdeiros não forem vinculados;d) pela morte do beneficiário, se for vitalícia; e) por qualquer dos casos de anulação, redução ou revogação da doação ou do legado, se a renda for subvenção periódica;f) pelo perecimento do imóvel, quando a ele vinculada; g) pela aquisição do imóvel vinculado, por parte do credor da renda.h) declaração de ausência do credor;i) pelo inadimplemento;j) pela desapropriação, se for imóvel, entre outras causas extintivas.

DO JOGO E DA APOSTA - CC – Arts. 814/817.Origem - O Jogo e a Aposta são práticas que remontam a origem da humanidade, inerente a própria conduta desafiatória do homem, que sempre buscou na disputa, seja na destreza ou na força física galgar posições sociais, pratica inclusive comum entre os indígenas e as gens hiroquesas.Na mesma forma que o homem procurava se destacar pelas sua habilidades, seja no jogo ou nas disputas em geral, sofria as reprimendas seja da igreja, ou do poder organizado, posteriormente do Estado,No direito romano, o jogo era condenado, máxime a dinheiro; o confisco era a pena cominada no tocante às somas apostadas. Só se tolerava jogos desportivos, colimando o desenvolvimento corporal, útil à guerra. Mas a aposta era permitida, embora a sabedoria de Justiniano houvesse procurado cercear-lhe os excessos.Os antigos germanos, porém, foram jogadores por excelência e, segundo nara Troplong, chegavam a expor a própria liberdade no seu arrebatamento pelos jogos de azar.

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No período intermédio, o jogo não era mal visto, como atesta a máxime de Scaccia ludus juri naturae non esse paccatum - Direito ao jogo por natureza não é um pecado.Contemporaneamente, em que a tolerância é maior ou menor, conforme o tempo e o lugar classificam-se os jogos em lícitos e ilícitos, muitos deles explorados pelo próprio Estado ou por ele autorizado.

Conceito de jogo - Jogo é o contrato em que duas ou mais pessoas prometem, entre si, pagar certa soma àquela que conseguir um resultado favorável de um acontecimento incerto.

Definição de aposta - Aposta é a convenção em que duas ou mais pessoas de opiniões discordantes sobre qualquer assunto prometem, entre si, pagar certa quantia ou entregar determinado bem àquela cuja opinião prevalecer em virtude de um evento incerto.

Espécies: a) proibidos ou ilícitos: Se o ganho ou a perda depender de sorte. Ex. jogo do bicho.b) tolerados: Se o resultado não depender exclusivamente da sorte, mas da habilidade do jogador. Ex. canastra, pôquer.c) autorizados ou lícitos: se visarem uma utilidade social. Ex. futebol, boxe.

Natureza Jurídica - Contrato bilateral, aleatório ao extremo, oneroso, e não solene.

Controvérsias - Em relação ao jogo e a aposta, permeia a dúvida, ante as circunstâncias históricas e jurídicas, se podem ser considerados como categorias de contrato, a singularidade jurídica do jogo e da aposta, resulta das características que o direito civil os extrema a margem entre o bem e o mal, assim, tira-lhes em geral a ação civil

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correspondente à exigibilidade, mitigando o seu status de relação jurídico contratual.Em algumas circunstancias a legislação penal enquadra o jogo e a aposta como contravenção, tornando, assim objeto ilícito e descaracterizando a relação contratual.

Aspectos Legais do Jogo e da Aposta - O que predomina na classificação contratual do jogo e da aposta é a consideração etiológica da sua formação, muito embora as conseqüências sejam subordinadas a uma posição ética de que resulta o reconhecimento de efeitos em casos específicos, e a recusa nos demais.A razão essencial de que, em principio, o jogo não cria obrigações exigíveis está na sua inutilidade social. Considera-se jogo de azar, aquele em que o ganho e a perda dependem exclusivamente da sorte.As apostas são realizadas normalmente envolvendo disputas, competições ou mesmo fatos futuros de natureza incerta, como o nascimento de um determinado animal, eventos naturais e em relação às disputas é muito comum, lutas de boxe, corrida de cavalo etc.

CONTRATO DE FIANÇA – CC – Arts. 818/839.Generalidades - A fiança representa uma garantia pessoal, segundo Serpa Lopes, denominada no direito Francês de Coution. A obrigação, relação jurídica de ordem pessoal funda-se no tocante à garantia de sua execução, no patrimônio do devedor, o qual deverá responder pelo debito assumido, não sendo esse patrimônio suficiente, outras garantias são estabelecidas.Essas garantias podem ser reais ou fidejussórias.Historicamente encontramos duas concepções: a do direito romano plus cautionis est in re, quam in persona, dando à caução um caráter real.

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A outra deriva do direito canônico, considerando-a sob o aspecto moral, que repousa sobre a palavra empenhada de uma terceira pessoa que garante junto ao credor a dívida do devedor, vinculada a fé jurada dos canonistas.O direito germânico seguiu a orientação romana sendo a caução o elemento principal e a fidejussória atuando supletivamente, BGB art. 232.O Código Civil Francês art. 2011 e o Código Civil Italiano art. 1936 adotaram a orientação canônica.

Origem - Não se sabe ao certo a origem do contrato de fiança, mas no direito romano antigo, era praticada seguindo da mesma forma o direito clássico sob a égide de três espécies ligadas à ad promissio: a sponsio a fide promissio, e finalmente a fideiussio. No direito contemporâneo um dos caracteres da fiança é o beneficio de ordem, isto, o seu caráter subsidiário.

Conceito de Fiança - A fiança pertence ao gênero caução, meio de garantia que pode ser real como pessoal. Na caução real se faz o deposito em dinheiro ou de valores para garantir a obrigação do devedor; na caução pessoal que toma denominação de fiança definida no art. 818 CC, uma pessoa se obriga por outra para com o seu credor, a satisfazer a obrigação caso o devedor não a cumpra. Definição - Fiança ou caução fidejussória é a promessa, feita por uma ou mais pessoas, de satisfazer a obrigação de um devedor, se este não a cumprir, assegurando ao credor o seu efetivo cumprimento.

Diferenças com o Aval: Aval - é autônomo, abstrato, unilateral.Fiança – Causal, contratual, acessório, vinculado ao contrato principal.A fiança se distingue do contrato de comissão (del credere), este, diferentemente da fiança, é de natureza

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autônoma, assumindo o aspecto de seguro de um risco determinado.Também não se confunde fiança com o pactum constitutae pecuniae neste o terceiro se confessa devedor principal mediante condições próprias enquanto que naquele, assume por adesão a responsabilidade subsidiaria pelo cumprimento da obrigação.Caução – É o gênero – Fiança é uma de suas espécies, que pode ser real ou fidejussória.

Natureza Jurídica - A fiança tem um aspecto de um triângulo, do ponto de vista subjetivo, figurando nas duas extremidades da base o afinçado e o fiador, no topo o credor; enquanto que no âmbito objetivo a fiança é um contrato acessório, unilateral, de caráter benéfico, intuito personae, de duração e subsidiário. Segundo H. De Page, não há uma dependência absoluta da regra legal de que o acessório segue o principal. Assim, a fiança pode não coincidir em todos os pontos com a obrigação principal, porém não pode exceder em qualquer de seus pontos estruturais em onerosidade ou ao valor do contrato principal. O Código Civil brasileiro, no entanto, disciplina que a fiança obedece rigorosamente à regra legal de que o acessório segue o principal.É formal “ad substância” nem a revelia do devedor elide a falta de contrato, não pode ser provado por lançamento, é pessoal.O benefício da ordem no civil pode ser excluído 827.

Requisitos: Subjetivos: - Capacidade genérica para praticar os atos da vida civil.- Legitimação para afiançar.- Consentimento do credor e do fiador.Objetivos: - A fiança poderá ser dada a qualquer tipo de obrigação.

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- A fiança dependerá da validade e da exigibilidade da obrigação Principal;- A fiança poderá assegurar obrigação atual ou futura.- A fiança não poderá ultrapassar o valor do débito principal, nem ser mais onerosa do que ele.

Formais: Reclama forma escrita, podendo constar de instrumento público ou particular.

Elementos da fiança - Consentimento do credor e do fiador, a existência de um débito, que pode ser presente ou futuro, sendo futuro, converte-se ipsu factu, num contrato puro e simples, inaplicáveis as regras inerentes aos direitos condicionais.

Relação Entre Credor e Fiador - Começa a fluir a responsabilidade jurídica no ato em que o afiançado descumpre a obrigação.

Modalidades da Fiança - Em relação ao seu objeto: fiança civil; fiança mercantil.Quanto à forma: fiança convencional; fiança legal; fiança judicial.

Efeitos da fiança: a) relação entre fiador e credor. O credor tem o direito de exigir do fiador o pagamento da divida garantida. b) relação entre fiador e devedor. O fiador que paga sub-roga-se na qualidade creditória, e tem direito a exigir do devedor que o reembolse do que despendeu, mais os juros pela taxa estipulada na obrigação, ou pela legal, se não tiverem sido ajustados.

Direito de Regresso - Cota parte se houver insolvente é rateado entre os demais. 790 CC.

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Abonador: Fiador do fiador – Tem que ser expresso – abonador do fiador implícito no CC.Forma e Prova: Escrito – pode ser particular – 819 CC. Interpretação é restrita - abrange os acessórios – pode ser limitada.Cônjuge deve consentir – art. 1.647 inciso III do CC.

Empresa “Sociedade Comercial” Industrial – pode proibir no Estatuto salvo para interesse próprio – empresa não faz atos graciosos.

Extinção da fiança: São duas situações distintas:1) as inerentes a própria finca, em razão do seu caráter acessório;2) decorrem de qualquer das causas que, em geral, extinguem as obrigações.Causas extintivas mais importantes:a) Fiança a prazo indeterminado, nesta modalidade o fiador pode exonerar-se da fiança.b) Fiança por prazo determinado, finda a responsabilidade fidejussória com o seu termo;c) Existência de exceções excludentes da responsabilidade, o fiador pode opor as exceções que lhe são pessoais, bem como, as extintivas da obrigação, cessando sua responsabilidade;d) Causas previstas no art. 838, incisos. e) Substituição do objeto da prestação por outro de espécie diversa;f) Extinção da fiança por causas terminativas próprias às obrigações em geral, como a extinção do débito principal, a confusão, a compensação e ouras exceções que couberem ao fiador propor.

DA TRANSAÇÃO - CC Arts. – 840/850.

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Histórico - No direito romano a transação destinava-se a extinguir uma obrigação, por ser uma convenção em que alguém renunciava a um direito em litígio, recebendo, porém, uma retribuição. Desse modo, o requisito essencial da transação era a existência de concessões recíprocas, e nesse mesmo sentido seguiram as legislações contemporâneas.

Definição - A transação é um negócio jurídico bilateral, pelas quais as partes interessadas, fazendo-se concessões mútuas, previnem ou extinguem obrigações litigiosas ou duvidosas.

Elementos constitutivos: - acordo de vontades entre os interessados;- existência de litígio ou dúvida;- intenção de por termo à res dúbia ou litigiosa;- reciprocidade de concessões;- prevenção ou extinção de um litígio ou de uma dúvida.

Características: - indivisível (CC art. 848, parágrafo único).- interpretação restrita (CC art. 843, 1ª parte).- é negócio jurídico declaratório (CC art. 843, 2ª parte).

Modalidades e formas:Judicial - Se for realizada no curso de um processo, recaído sobre direitos contestados em juízo, devendo observar-se o disposto no CC, art. 842, 2ª parte.Extrajudicial - Se levada a efeito ante uma demanda ou litígio iminente, evitado, preventivamente, mediante convenção dos interessados, que fazem concessões mútuas, por meio de escritura pública, se a lei reclamar esta forma, ou particular, nas hipóteses em que a admitir, CC art. 842, 1ª parte.

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Objeto - só podem ser objeto de transação os direitos patrimoniais de caráter privado, suscetíveis de circulabilidade, CC art. 841 e 846.

Natureza jurídica - Trata-se de modalidade especial de negócio jurídico, que se aproxima do contrato, na sua constituição, e do pagamento, nos seus efeitos, por meio extintivo de obrigações.

Nulidade:a) - absoluta: CC arts. 850 e 848.b) - relativa: CC art. 849 e parágrafo único.

Efeitos Extintivos da Transação:- Desvinculação da obrigação mediante acordo liberatório;- Equiparação à coisa julgada, se homologada em juízo;- identidade de pessoas, por vincular apenas os transigentes;- responsabilidade pela evicção;- prevenção e extinção de controvérsias;- Possibilidade de exercício de direito novo sobre a coisa renunciada, mesmo depois de concluída a transação.

DO COMPROMISSO - Arts. 851/853. Ver Lei nº 9.307/96.História - No direito romano o compromisso era uma forma de justiça privada, em que a execução do direito era feita sem a intervenção da autoridade pública, pois se confiava a simples indivíduos a missão de solucionar controvérsias surgidas em torno de uma obrigação, caráter que se mantém em todas as legislações contemporâneas.

Conceito - Compromisso é um acordo bilateral, em que as partes interessadas submetem suas controvérsias jurídicas à decisão de árbitros, comprometendo-se a acatá-la, subtraindo a demanda da jurisdição da justiça comum.

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Natureza jurídica - O compromisso é um misto de contrato e pagamento.

Espécies: a) judicial: se se referir a controvérsia já ajuizada perante a justiça ordinária, celebrando-se por termos nos autos, perante o juízo ou tribunal por onde correr a demanda, CC arts. 851 e 661, parág. 2°.b) extrajudicial: se não houver causa ajuizada, celebrar-se-á o compromisso por escritura pública ou particular, assinada pelas partes ou por duas testemunhas (Lei n° 9.307/96, art. 9°, par. 2°).

Pressupostos: a) subjetivos: capacidade de se comprometer, capacidade para ser árbitro. b) objetivos: em relação ao objeto do compromisso, atinente ao conteúdo do compromisso.Extinção do compromisso: Lei n° 9.307/96, art. 12, I a III.

DA EDIÇÃO – Lei n. 9.610/98.Conceito - O contrato de edição é o ajuste em que o titular do direito autoral cede-o ao editor para que esse, em regra, mediante uma retribuição, reproduza a obra por processo mecânico e a difunda entre o público, explorando-a comercialmente.

Natureza Jurídica do InstitutoÉ um contrato bilateral, oneroso, consensual, de duração (Lei 9.610/98 art. 56), em regra, impessoal, não solene e pode ser comutativo ou aleatório.

Efeitos Jurídicos do InstitutoDireitos do Autor:

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a) O interesse moral fica com ele. A empresa editora não poderá alterar o conteúdo da obra ou abreviá-lo, sem sua autorização.b) Nas edições sucessivas de sua obra, fazer as emendas e alterações que bem lhe parecer, indenizando, porém os gastos extraordinários que disso resulte para o editor.c) Opor-se às alterações que lhe prejudiquem o interesse.d) Se a retribuição monetária pelo seu trabalho não foi prevista ao tempo do contrato, será feita por arbitramento.e) Direito à divulgação da obra.f) Receber gratuitamente alguns exemplares.

Obrigações do Autor:a) Transferir o direito de editar a obra com exclusividade, para garantir o exercício do editor.b) Entregar o original e tudo o que for necessário para que o editor possa exercer sua função.c) Não dispor de sua obra enquanto não se esgotarem as edições

Direitos do Editor:a) fazer a devida divulgação da obra como empreendedor;b) proteger-se contra concorrência ilícita;c) traduzir a obra se prevista no contrato;d) exigir que se retire de circulação edição da mesma obra editada por outrem;e) opor-se a alterações que lhe forem prejudiciais;f) considerar-se resolvido o contrato em caso de óbito ou incapacidade do autor;g) fixar o número de exemplares

Obrigações do Editor:a) reproduzir e publicar a obra;b) permitir ao autor o exame da escrituração;c) manter o autor informado sobre o estado da edição;d) tirar as edições estipuladas, art. 65 da Lei;

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e) pagar a remuneração ajustada ao autor;f) autorizar reprodução de obras em Braille.

Extinção:- Decurso de prazo de 2 anos após a sua celebração, sem que o editor publique a obra.- esgotamento da edição;- morte ou incapacidade superveniente do autor antes de concluir a obra;- destruição da obra por caso fortuito ou força maior, depois de sua entrega ou senão houver cópia;- apreensão da obra pelos poderes públicos;- falência do editor;- Resilição bilateral ou unilateral conforme o contrato.

CONTRATO DE SOCIEDADE - CC arts. 981/1194.GeneralidadesPessoa humana vive em sociedade e se associa. O suporte da sociedade é a comunhão de interesses, mas isto não se confunde com sociedade, porque os interesses sobrevivem à morte, e a sociedade normalmente não. A sociedade é sempre intencional. É um ato voluntário para atingir um determinado fim. A comunhão pode ser obra do acaso ou da lei. Na sociedade sempre está presente a “affectio societatis”, que é por excelência transitória, ao passo que a sociedade na sua base é de características duradouras.Por isso em todos os tempos e fases da humanidade os interesses surgiam e guindavam a conjugação do esforço coletivo para obtenção de resultados que individualmente não de alcançariam.

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Origem - Segundo Serpa Lopes investigações meticulosas confirmam a presença de sociedades criadas no Egito, Nínive e Babilônia, sob as mais variadas formas.Em Roma, registrou-se o mesmo fenômeno, porém, somente num período posterior foram criadas regulamentações jurídicas em relação a este instituto, promovidas pelo direito de Justiniano, que uniu elementos originários e historicamente distintos, como a societas omnium bonorum, que era decorrente do antigo consórcio agnatício dos filius famílias, que se mantinham unidas até a morte pelo pater famílias. A politio contrato feito com o politor “agrônomo” chamado a dirigir o cultivo de um imóvel com direito a uma cota dos rendimentos e a societas questuaria, ou mercantil, introduzida na época do ius gentius, sob a influencia grega. Três eram as sociedades conhecidas no direito romano:a) societas rerum, operarum, mixtae;b) consoante objetivo social apresentava-se as sociedades quastuariae e non quastuariae, conforme se tivesse ou não um fim lucrativo e;c) com relação à extensão da relação às sociedades universais (societas omnium bonorum) e sociedades particulares (rei unius).Não conhecia o direito romano, nesta fase, a divisão do Direito Privado em Direito Civil e Direito Comercial.As sociedades civis e comerciais ficavam sujeitas às mesmas regras, contidas em fragmentos devidos a Ulpiano 223 d.C, Gaio 130 a 180 d.C.). e outros.

Conceito - O contrato de sociedade é o contrato em que duas ou mais pessoas se obrigam a combinar os seus esforços ou recursos, para lograr um fim comum.

Na concepção romana o vinculo gerado pelo contrato era puramente de ordem interna, não havia personalidade

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autônoma da sociedade, assim os sócios eram credores da sociedade e também devedores em relação às dividas sociais para com terceiros.Na concepção germânica o contrato de sociedade tinha como status determinador de uma personalidade jurídica para a sociedade, por esse modo, tinha autonomia em face das pessoas dos seus membros componentes, “instituto da Gesammte Hand”.

Pontos Característicos: a) Não se confunde com comunhão de interesses, pois neste não existe a “affectio societatis”.b) A sociedade é duradoura, enquanto que a comunhão não o é.c) A sociedade normalmente se dissolve com a morte. A comunhão de interesses não se dissolve.d) A sociedade é sempre ato voluntário.e) A sociedade tem um contorno jurídico, isto é, regulada em lei.f) A comunhão de interesses não tem.g) Não se confunde com a edição. Nesta o risco e o lucro são do editor.h) A parceria agrícola ou rural assemelha-se com a sociedade. Um dá a terra outro às sementes e na colheita repartem os lucros ou prejuízos. Entretanto falta a affectio societatis”.i) Com a gestão de negócios. Aqui o gestor não agiu dentro de um contrato, porque na verdade a gestão de negócios independe de contrato inicial é ato unilateral de vontade.

Natureza Jurídica - É ou não é um contrato? Há uma corrente que nega à sociedade a categoria de contrato, dizendo que: Nos demais contratos, as posições têm interesses e obrigações recíprocas. Na sociedade há uma convergência de interesses. Por isso, segundo essa corrente, não teríamos um contrato e sim um acordo de

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interesses. Para Silvio Rodrigues e outros, existe um contrato, por que existe nele a “affectio societatis”.Assim, o classificamos como contrato sinalagmático, consensual, oneroso, comutativo, com objetivo de obter resultados comuns almejado pelos sócios.

Forma:1 – Em geral não solene, embora seja escrito. Dispensa escritura pública.2 – Estranhos podem provar a sociedade por qualquer meio de prova em direito admitidas.3 – Para ser legalizada junto à Junta Comercial do Estado, necessário se faz que seja por instrumento escrito. 4 – Se entre os sócios sobreviver algum problema, só poderá ser provado com o contrato devidamente registrado.5 – Para vincular responsabilidade fiscal dos sócios não precisa haver sociedade legalmente constituída, basta existência de uma unidade econômica, art. 126, inciso III CTN.

Objetivos:O intuito de lograr um fim comum.Contribuição de cada sócio com esforços ou recursos.“Affectio societatis” que liga os diversos sócios entre si.

EspéciesQuanto ao fim que se propõe:a) Sociedade Empresária:- sociedade em comandita simples, sociedade em nome coletivo, sociedade limitada, sociedade anônima, sociedade em comandita por ações;b) sociedade simples:- CC art. 982 parágrafo único, art. 1.093 a 1.096.Quanto à extensão com que concorrem os sócios de sociedade civil:

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a) sociedade universal (CC arts. 1.667, 1.658, 1.660, I a V, 1640);b) sociedade particular (art. 981 CC). Quanto a Nacionalidadea) sociedade nacional (CC, art. 1.126 a 1.133);b) sociedade estrangeira (CC. 1.134 a 1.141).

Efeitos jurídicos do Contrato de SociedadeEntre os sócios: - dever de cooperação (CC, arts. 981 e 1.001);- dever de contribuir para o fundo social (CC, arts. 1.004 parágrafo único e 1.006);- dever de responder pela evicção (CC, art. 1005);- dever de indenizar a sociedade de todos os prejuízos que culposamente der causa (CC, art. 1017).Relações recíprocas entre os sócios quanto:- a composição da quota social (CC, art. 988);- aos poderes de administração (CC, art. 1010 a 1021);- a utilização dos bens sociais (CC, arts. 1017 e 1021);- a posição do sócio ante as obrigações sociais ativas e passivas (CC, art. 1017 e 1204);- a distribuição de lucros ilícitos ou fictícios (CC, art. 1009);- a substituição de sócio e de administrador (CC, art. 1002 e 1018);- a cessão parcial ou total da quota (CC, art. 1003 parágrafo único);- relações da sociedade e dos sócios em face de terceiros (CC, arts. 1022, 1023, 1025, 1026 parág. Único, 1027, 1016; CPC, arts. 596, 592, II);- direitos dos sócios: Na participação nos lucros, (CC, art. 1007 e 1008);- colaborar no funcionamento da sociedade (CC, art. 1004 e 1006);- reembolsar-se das despesas (CC, art. 1010 e 1022);- servir-se dos bens sociais (CC, art. 1017);

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- administrar as sociedades (CC, art. 1061, 1019 parág. Único, 1015 e parág. único);- associar um estranho ao seu quinhão social (CC, art. 999);- votar nas assembléias gerais;- retirar-se da sociedade (CC, art. 1029).

Duração do Contratoa) Por prazo determinado;b) por prazo indeterminado; c) Prazo pela admissão de um evento; d) Pela omissão.

Da Dissolução da Sociedade – Art. 1.032 e ss CC.1 – Causas de dissolução da sociedade ínsitas no contrato socialTrata-se da destruição do contrato por motivos contemporâneos a sua feitura.a) Implemento da condição resolutiva – A eficácia do negócio da sociedade dependia de evento futuro e incerto. O contrato se resolve.b) Advento do termo – Contratos com prazo determinado de vigência se extinguem pelo transcurso do mesmo.c) Consecução do fim social – Quando a sociedade é organizada para alcançar determinado escopo e este fim é atingido, perde ela sua razão de ser.2 – Causas supervenientes de dissolução da sociedade - Tais cláusulas não são levadas em conta por ocasião da feitura do contrato.a) A extinção do capital social ou seu acentuado desfalque – Quando o capital social não atinge mais o fim a que se destinava, corroído e desfalcado por motivos diversos. Esta é uma causa capaz de dissolver a sociedade.b) A falência, a incapacidade ou a morte de um dos sócios – Como todos os bens do falido entram na formação da massa, mister se faz liquidar a sua parte na sociedade para que ela se dê aquele destino. A incapacidade ou a morte do sócio é causa de dissolução da sociedade, por se

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tratar de um negócio “intuitu personae”. Os demais contratantes não são obrigados a continuar associados aos representantes legais do consórcio que se tornou incapaz ou aos herdeiros do que faleceu.c) A renúncia ou retirada de sócios – A renúncia só é possível se a sociedade não tiver termo determinado, pois em tal caso, cumpre aos associados aguardar o transcurso do prazo. Todavia para que tenha a renúncia efeito resolutivo, mister se faz à presença dos seguintes requisitos: Deve ser feita de boa fé, em tempo oportuno a ser notificada aos consócios dois meses antes do momento em que deva produzir efeitos.d) O consenso unânime dos associados – Esta é uma causa óbvia da dissolução. Se o negócio se aperfeiçoa pelo consenso de todos contratantes, faz-se sua dissolução por novo consentimento neste sentido. O distrato deve ser feito pela mesma forma do contrato. Art. 472 CC.e) nulidade ou anulabilidade do contrato;f) cassação de autorização governamental;g) falta de pluralidade de sócios;h) consecução do seu fim social;i) incapacidade superveniente dos sócios;

Efeitos da Dissolução - A dissolução põe termo ao contrato da sociedade, passando, assim, à fase de liquidação, matéria regulada pelo Código de Processo Civil.A personalidade jurídica da sociedade só é definitivamente extinta com a liquidação terminativa por sentença.

Liquidação da Sociedade - É a apuração do patrimônio social, tanto no ativo quanto no passivo.

DA PARCERIA RURAL - Art. 1.410 CC1916.Sem dispositivo correspondente no CC2002Conceito - É o contrato pelo qual alguém entrega a outro um prédio ou animais, com o objetivo de lucro. A parceria rural se assemelha:

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a) Com a locação – Nesta há um preço fixo a pagar. Naquela há uma renda da aleatória.b) Com a sociedade – Duas ou mais pessoas contratam um ramo de negócio. Na parceria rural falta a “affectio societatis”.c) Lafayette diz, tratar-se de um misto de locação e sociedade. Entretanto trata-se de um contrato típico, com regras próprias.

Origem - Já conhecido pelos romanos, trata-se de um instituto muito antigo, que provavelmente era implementado informalmente desde a antiguidade.No Brasil foi contemplado pelas ordenações e pelo CC de 1916, largamente praticado no direito comparado, foi o recurso de que se valeram os proprietários, para explorarem suas terras compartilhando riscos e resultados.

Natureza Jurídica - Bastante controvertida, o desacordo doutrinário cinge a semelhanças que este instituto tem com outros do direito civil e comercial. É um contrato bilateral, sinalagmático, consensual, intuitu personae, comutativo, mas que as vezes se reveste de alea, sendo de duração, não solene e oneroso.

Espécies – são três: a) parceria agrícola; b) pecuária; c) agropecuária.Nomenclatura – Cedente – Proprietário; Cessionário, parceiro.Ao parceiro cessionário incumbe:a) Promover a cultura; b) Consertar o prédio; c) Prestar contas quando exigidas; d) Entregar os frutos; e) Findo o contrato, restituir o prédio. O cedente não necessita ser proprietário, podendo ser enfiteuta, promitente comprador, usufrutuário.

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Na parceria pecuária – As obrigações do cedente são praticamente as mesmas da parceria agrícola.As obrigações do parceiro criador são: a) Receber os animais para levar aos pastos de terceiros; b) Levar os animais aos pastos do cedente; c) Ir a fazenda e lá criar o gado.Os animais mortos pertencem aos proprietários.

BREVE ANÁLISE SOBRE:Estado de perigo, lesão; onerosidade excessiva; ética e boa-fé: nos contratos e as diferenças entre os institutos.

Uma das principais inovações do Código Civil de 2002, na matéria contratual, reside exatamente na sua "base ética", pois o novo diploma não só valoriza a correção de comportamento, a probidade, a retidão, a honestidade, a lealdade, a confiança e a solidariedade social, como erige esses valores ao patamar de requisitos de validade do próprio negócio jurídico.

Dentre os novos mecanismos instituídos para assegurar os primados da ética e da boa-fé nos contratos, merecem destaque as figuras do estado de perigo (art. 156), da lesão (art. 157) e ainda a resolução do contrato por onerosidade excessiva (art. 478).

O estado de perigo e a lesão foram posicionados pelo legislador do Código Civil, na Parte Geral, como vícios do negócio jurídico, ao lado do erro, do dolo e da coação. Ou seja, São hipóteses de defeito do negócio jurídico, que podem levar à anulabilidade, invalidando o contrato desde a sua celebração. Já a regra da onerosidade excessiva foi posta na disciplina dos contratos, como causa de resolução, nesta hipótese o contrato nasce perfeito e válido, mas durante a sua execução, determinados fatores determinam a sua extinção. A resolução não é determinada por vício no

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elemento constitutivo do negócio, mas por um motivo exterior ao contrato, que surge posteriormente, dando ao contratante o direito de rescindir o negócio jurídico.

Configura-se o estado de perigo, diz o Código, quando alguém, para salvar a si, a pessoa de sua família ou a alguém por quem nutra grande afeição, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa. Trata-se de situação objetiva, que independe de qualquer subjetivismo. Aqui a vítima nem errou, nem foi induzida a erro ou coagida, mas viu-se compelida a celebrar um negócio que lhe era extremamente desfavorável em razão de circunstâncias concretas que viciaram a manifestação da vontade. A pessoa que está em perigo adota conduta, que conscientemente não adotaria. Daí porque é ela excludente de responsabilidade contratual. É o caso típico de alguém que teve um parente seqüestrado e vende o seu carro pela metade do preço, visando à obtenção de fundos para o pagamento do resgate. Essa compra e venda é anulável e quem adquiriu o bem, sabendo da situação de perigo do vendedor, será obrigado a complementar o preço ou a devolver o carro. Anulado o negócio, retorna a situação ao estado anterior, cabendo a cada uma das partes repor à outra o que desta houver recebido.

Já a lesão ocorre quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta. Ao contrário do estado de perigo, de natureza eminentemente objetiva, na lesão levam-se em conta aspectos subjetivos, como a inexperiência da vítima. Ou seja, um dos contratantes se aproveita indevidamente da inexperiência ou da absoluta necessidade da parte contrária, fazendo com que se chegue a um resultado, que conscientemente a parte não desejaria.

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O instituto já estava previsto no Código de Defesa do Consumidor, que permite a decretação da invalidade de cláusula que coloque o contratante em desvantagem exagerada, ou que exija vantagem manifestamente excessiva (art. 39, V, e art. 51, IV). Também é considerado crime contra a economia popular. A lei nº 1.521/51 considera crime contra a economia popular “obter, ou estipular, em qualquer contrato, abusando da premente necessidade, inexperiência ou leviandade de outra parte, lucro patrimonial que exceda o quinto do valor corrente ou justo da prestação feita ou prometida”. (art. 4º, alínea ‘b’). A grande novidade, advinda a partir da entrada em vigor do novo código Civil, está na aplicabilidade do instituto para toda e qualquer espécie de contrato, inclusive fora da seara consumerista, como nos casos dos contratos bancários, de locação predial, factoring, planos de saúde etc.

A extinção do contrato por onerosidade excessiva (art. 477), por sua vez, constitui regra nova no Código Civil, ainda que presente no CDC. A necessidade de extinção ou modificação do contrato, quando fatos novos e imprevisíveis tornam insuportável o contrato para uma das partes, constitui corolário lógico do princípio da boa-fé. Diz o Código que, nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato (art. 478). Verdade que a regra já vinha sendo aplicada pelos juízes, com base na cláusula “rebus sic stantibus” (“enquanto as coisas estão assim”), especialmente para a revisão dos contratos para aquisição de imóvel destinado à casa própria.

A regra da resolução do contrato por onerosidade excessiva se aplica, como “uma luva” aos contratos indexados pela

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variação cambial celebrados antes da maxidesvalorização de 1999. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é iterativa no sentido de que a excessiva variação do dólar seria um fato superveniente e, por esse motivo, autorizaria a revisão do contrato de leasing. (Vide STJ - RESP 323172-RS, RESP 201404-RS (ESTIPULAÇÃO VARIAÇÃO CAMBIAL - NULIDADE - CLÁUSULA) STJ - RESP 268661-RJ ) Segundo o Ministro Aldir Passarinho Junior , mesmo que se admita que o contratante sabia que a estabilidade cambial não seria eterna, “não era esperado um salto tão imenso, com uma rápida e crescente desvalorização da moeda nacional frente a outras moedas fortes, a inviabilizar o adimplemento de prestações antes plenamente suportáveis”.

Entretanto, nos casos em que a onerosidade excessiva superveniente não puder ser afastada sem grave lesão à outra parte, impõe-se uma solução de eqüidade, conforme pacificado pela Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça no julgamento do RESP nº. 472.594-SP, em 12/02/2003. Na hipótese concreta submetida ao STJ, o contrato de leasing indexado pela variação cambial, que se pretendia rever, teve origem em outro compromisso firmado pela financeira no exterior, igualmente vinculado à moeda estrangeira. Ou seja, um dos contratantes captou os recursos no exterior e repassou para o outro. Nessas situações, entendeu o STJ não ser “razoável que estando autorizada à arrendadora a contratar pela variação cambial e assim acordando o mutuário, tenha de arcar com o ônus integral, já que igualmente vítima da drástica desvalorização do Real. Que há onerosidade excessiva, sem dúvida ela existe, porém não propriamente da cláusula em si, que é legal, mas das circunstâncias que advieram a partir de certo momento, quando em curso a relação obrigacional”. ( Ministro Aldir Passarinho Junior)

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No julgamento referido, o Ministro Aldir Passarinho Junior afirmou, ainda, que a probabilidade de mudanças no câmbio fazia parte do cenário, “mas as partes quiseram, ambas, acreditar que teriam tempo de fazer um bom negócio. Cada qual, por isso, tem uma parcela de (ir) responsabilidade pela onerosidade que dele resultou, e nada mais razoável que a suportem. Tal é o regime legal, que protege o consumidor da onerosidade excessiva, sem prejuízo das bases do contrato. Se a onerosidade superveniente não pode ser afastada sem grave lesão à outra parte, impõe-se uma solução de eqüidade”. Finalmente, analisaremos a incidência dos três institutos aos contratos celebrados antes da entrada em vigor do novo Código. Os parâmetros de aplicação foram dados pelo art. 2035, segundo o qual os requisitos de validade desses negócios serão aqueles estabelecidos na lei anterior, mas os seus efeitos, desde que produzidos após a vigência do novo Código, a ele estarão subordinados. Assim, contratos celebrados antes de 11/01/2003, ainda que uma das partes estivesse em estado de perigo ou vítima de lesão, serão válidos, ou pelo menos por tais vícios não haverão de ser anulados. Entretanto, contratos anteriores, que ainda esteja sendo executados, como nos casos de financiamentos em longo prazo, poderão ser revistos ou resolvidos sempre que, por evento imprevisível, ocorrido após 11/01/2003, venham a se tornar excessivamente onerosos para um dos contratantes. Nas repactuações que venham a ser realizadas após a entrada em vigor do Código, aplicam-se integralmente todas as novas regras, posto que compreendidas como novo contrato.

BREVE NOÇÃO SOBRE CONTRATOS COMERCIAIS.Doutrina de Caio MárioOs contratos bancários são largamente praticados em todos os lugares. O CC não os contemplou, sendo silente em

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relação a esta matéria, regulados, portanto, por legislação esparsa.Espécies de contratos bancários mais utilizados: - depósito bancários, que consiste no deposito de quantias ou de valores sob a custodia do estabelecimento bancário; - a conta corrente bancaria que participa na natureza jurídica dos contratos bancários, mas se diversifica do contrato de conta corrente; - a abertura de credito bancário como modalidade particular da abertura de credito; - o desconto bancário, que é operação típica na vida das instituições financeiras; - financiamento bancário com ou sem caucionamento de títulos; - repasse interno e externo, por vias das quais o estabelecimento bancário toma um empréstimo junto a outro banco no pais ou no exterior e depois repassa ao seu cliente, que assume todos os encargos de mutuo originário, tais como os juros, spread, comissões, correção monetária ou correção cambial e ainda se sujeita a comissão de repasse ou taxa remuneratória. Resolução n° 63 do BACEM e lei n° 4131/62; - credito documentário ou documental, simples ou confirmado; - locação de cofre bancário no interior de caixa forte que em todos os paises os bancos efetuam, sendo este ultimo uma típica prestação de serviço.

Outros contratos mercantis mais específicos são:

– incorporação imobiliária, nos termos da lei 4591/64 reuniu-se no mesmo diploma legal a atividade empresarial da incorporação e o regime jurídico na propriedade horizontal, essa lei, que é identificada como do condômino e incorporações, tipificou uma nova modalidade contratual, estabelecendo a qualificação para ser incorporador o construtor licenciado, corretor de imóveis, proprietário do

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terreno ou promitente comprador com compromisso irretratável, vinculando exigências a legislação para o lançamento dos edifícios coletivos.Características deste contrato – está na instituição de nova modalidade de direito real resultante de inscrição do empreendimento no registro imobiliário.Concluído o registro e decorrido o período de carência em que é permitida ao incorporador a faculdade de existência, fica estabelecido ius in re, oponível erga omnes, gerando como em todo o direito real, inclusive em relação às autoridades administrativas que não tem mais direito de cancelar a aprovação do projeto edilício.Como segunda e fundamental característica se configura na especificação das responsabilidades do incorporador, do construtor e do próprio adquirente de unidade, agilizando a efetivação do negocio. Esta lei dinamizou o mercado imobiliário nas construções edilícias por garantir segurança jurídica.Alienação fiduciária em garantia – deriva da fidúcia que é a confiança, a alienação fiduciária em garantia é um contrato nascido das exigências do progresso econômico, foi tipificado legislativamente para dar garantia às vendas a credito. As modalidades de garantias tradicionais como a hipoteca, a anticrese e o penhor não satisfaziam a este apelo expansionista do mercado.Importante ressaltar que a alienação fiduciária não é um contrato novo, pois o direito romano conheceu o contrato de fidúcia, em duas modalidades: fidúcia cum amico e fidúcia cum creditore, ambos referidos por Gaius nas Institutiones commentarius secundus, na fidúcia creditore o devedor transferia por venda bens seus ao credor, cum pacto de retro/emendo, nesta fidúcia havia dois atos distintos: - um de alienação (mancipatio ou in iure cessio) e o outro - (pactum fiduciae) que era ressalva continente da faculdade de recompra.

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Essa modalidade foi suprimida no corpus iuri civilis do século VI, os códigos do século XIV não inscreveram o contrato de fidúcia pelo que não era conhecido em nosso direito.

JOINT VENTUREO direito brasileiro encampou em sua sistemática a modalidade contratual conhecida como joint venture e aqui adotada como "contrato de risco" ou "contrato de serviços como cláusula de risco". Não se pode falar que é modalidade contratual; generalizada em nossas usanças mercantis. Aqui não se pratica tão diuturnamente como ocorre em outros países. A França, segundo o depoimento de John Kozyris, após a Segunda Guerra Mundial, e especialmente depois da formação da Comunidade Econômica Européia (1958) atraiu boa parcela dos investimentos americanos na Europa, sob técnicas diversificadas, variando desde o estabelecimento de subsidiárias ou de filiais, até o modelo de joint ventures com associados locais. Em geral ocorre a co-participação fifty-fifty, criando certos problemas de administração, uma vez que o regime predominante na França é o da deliberação colegiada, e a paridade numérica de acionistas e dê componentes do órgão direcional embaraça as decisões quando ocorre divergência entre o grupo local e o fornecedor de tecnologia ou recursos. Segundo o mesmo autor, as soluções são procuradas em arbitramento efetuado por uma terceira parte (árbitro único ou não). E, se as divergências são insolúveis, acaba-se pela aquisição, por um dos sócios, da parte do outro associado (cf. Ph. John Kozyris, "Equal Joint-Venture Corporations in France", in American Journal of Comparative Law, 1969, ps. 503 e segs.) No Brasil, não faltam, no campo mercantil, associações de empresas brasileiras com outras estrangeiras (notadamente norte-americanas, francesas, alemãs, suíças, italianas, japonesas).

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O grande público, e mesmo a massa global dos juristas tomou conhecimento dos contratos de risco, em razão de a Petrobrás havê-los admitido para a pesquisa, prospecção e exploração de jazidas petrolíferas off-shore (fora-orla) e mesmo em terra firme. Segundo a publicação "Depoimentos e Informações", da Petrobrás, a necessidade de apressar a produção de petróleo em face da modificação do panorama mundial advinda na crise de 1973, levou o Governo a autorizar a realização de "contratos de serviço com cláusula de risco". Dentro deste esquema, a contratada realiza trabalhos de exploração em área delimitada e por período determinado, comprometendo-se a um investimento mínimo obrigatório, para pesquisa e avaliação da potencialidade, e financiamento e produção. Descoberto e desenvolvido o campo, a contratante deverá reembolsar a contratada "em prestações a prazo fixo, com recursos gerados exclusivamente pela entrada em produção do próprio campo". É facultado à parte adquirir certa quantidade de óleo a preço de mercado, salvo em caso de carência nacional no abastecimento interno (cf. Cadernos Petrobrás, n° I, ps. 63/64).

Embora o assunto tenha tramitado em sigilo na empresa, é provável que este modelo de joint venture haja recebido inspiração no mesmo tipo de contratação realizado pela National lranian Oil Company - NIOC - em seguida ao movimento nacionalista desfechado no Irã em 1951. Ali o Governo fica com 75%, mediante o seguinte critério: metade do resultado líquido é paga ao Estado em taxas e encargos fiscais, e a outra metade dividida em partes iguais entre NIOC e Agip Mineraria (half shail be paid to lranian Government as tax and government duties, and the other half shall be divided equally between NlOC and Agib Mineraria) (cláusula 17 do contrato, apud Luiz Olavo Baptista, Contrato de Risco, p. 10.).

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Em princípio, o contrato de risco, celebrado entre empresa brasileira e empresa estrangeira, rege-se pelas normas de direito comum. Normalmente contém cláusula compromissória, e é freqüente eleger, desde logo, uma entidade arbitral internacional para dirimir quaisquer pendências. Está, contudo, subordinado à jurisdição brasileira, não sendo estranha cláusula de eleição de foro no país-sede da entidade contratada. No particular da Petrobrás, o contrato de serviços com cláusula de risco oferece a peculiaridade de ser ela uma sociedade de economia mista, participante da administração indireta (DL n° 200, de 25 de fevereiro de 1967 alterado pelo DL n° 900, de 29 de setembbro de 1969) e, portanto, sujeita a regime específico. Não obstante o caráter internacionalizante do contrato (cf. Y. Louss O'í.larn, Droit du Commerce lnternationel, p. 589), qualquer litígio entre a Petrobrás e a contratada, quando não seja possível composição amigável ou solução arbitral, estará sujeito aos tribunais brasileiros (Luiz Olavo Baptista, Contrato de Risco, p. 68. Aliás, é uma peculiaridade do contrato administrativo o controle pela Pública Administração (cf. Hely Lopes Meirelles, Direito Administrativo Brasileiro, p. 190; Gaston Jéze, Derecho Administrativo, vol. VI, p. 4; André Laubadere, Contrats Administratifs, vol. lI, p. 113).

LEASING Modalidade contratual que recebeu enorme impulso em diversos países, e penetrou, extensa e fundamente no direito brasileiro foi o leasing. É observação corrente que todo contrato nasce na atividade econômica, e somente depois de estar em prática ou em uso, adentra no campo jurídico. Com o leasing ocorreu o mesmo, com a circunstância particular de se ter iniciado um tanto por acaso. Todos os que tratam do assunto, narram que um certo Senhor Boothe celebrou, após o

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término da II Guerra Mundial, um contrato para fornecimento de gêneros alimentícios com o exército americano. Após a assinatura, verificou que o volume excedia a sua capacidade operacional. Como solução, firmou com um banco outro contrato para que este comprasse os equipamentos de que necessitava. A operação teve tanto êxito que ele desistiu de ser fornecedor de gêneros alimentícios, dedicando-se à nova atividade. Daí nasceu a idéia do leasing (do verbo to lease, alugar) e daí originou-se a primeira empresa americana no gênero: "V.S. Leasing Company". Em seguida outra com o nome do criador: "Boothe Leasing Corporation". Outras se lhe seguiram, e o empreendimento floresceu. No Brasil, praticou-se o leasing, a partir de 1967, com a empresa Rent-a-Maq, de propriedade de Carlos Maria Monteiro e se desenvolveu a partir de 1970, mais ou menos em caráter experimental, porém crescente. Com o propósito de disciplinar extra-legalmente a atividade, foi fundada a Abel (Associação Brasileira de Empresas de Leasing).

Para se ter a idéia do desenvolvimento desta atividade, basta lembrar que em 1973 tínhamos 620 milhões em leasing; em 1974, passamos à casa de um bilhão; e já em 1975 marchávamos para três bilhões; em 1978, vencíamos a barreira de onze bilhões. Já lendo dados à mão, posso dizer a quanto orça o movimento atual, um bilhão e quinhentos milhões de dólares. Sem cobertura legislativa em princípio, o legislador tomou conhecimento do negócio em 1974 e com a finalidade de dispor sobre o "tratamento tributário", na verdade a partir de então o leasing passou a ser contrato típico, com a Lei n° 6.099, de 12 de setembro de 1974. O legislador de 1974 designou-o como "arrendamento mercantil". denominação que não é exata, não só pela generalização, uma vez que o diploma não se refere a "qualquer" arrendamento mercantil, porém a um

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determinado (que é o leasing), como ainda porque a designação já era consagrada em nossa terminologia para identificar o arrendamento imobiliário de finalidade comercial ou industrial, com ou sem a proteção do Decreto n° 24.150, de 20 de abril de 1934 e atual art. 71 da Lei n° 8.245, de 18 de outubro de 1991. O formalismo burocrático, entretanto, foi tão acentuado que a Junta Comercial de São Paulo considerou "inconveniente" usar a denominação leasing, após a Lei n° 6.099, e pelo provimento no 3/76 declarou que a expressão leasing não poderia ser usada nem como "denominação social" nem para "indicação do objeto social" - por se tratar de vocábulo em "idioma estrangeiro que possui expressão jurídica equivalente no idioma nacional". Não obstante isto, a palavra leasing continua sendo utilizada na denominação comercial de empresas que explorem este gênero negocial "como expressão de fantasia" . O legislador de 1974 ofereceu uma definição do leasing, dizendo: "Considera-se arrendamento mercantil a operação realizada entre pessoas jurídicas, que tenha por objeto o arrendamento de bens adquiridos a terceiros pela arrendadora, para fins de uso próprio da arrendatária e que atendam às especificações desta". À doutrina é que cabe definir. E, como se vê, a definição da Lei n° 6.099/74 é imperfeita e restritivista. Já antes desse diploma, em Simpósio realizado em 1973, foi aprovada a conceitua¬ção proposta pelo Dr. Etienne Alberto, nestes termos: uma operação de arrendamento e financiamento, com o propósito de assegurar ao usuário, sem a entrada de numerário de sua parte, o uso imediato de equipamentos destinados à sua atividade, cuja aquisição é feita pela entidade arrendadora. Como se vê, não é uma definição, porém uma noção genérica. Com o tempo, e o uso, o empreendimento desenvolveu-se, ganhou corpo, e como sói acontecer, cada um que sobre ele escreve, anima-se a defini-Ia.

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Partindo da disciplina legal, e tendo em vista as modalidades operacionais, destacam-se quatro tipos: leasing operacional. leasing financeiro. selling leasing-back e purchasing leasing- back. De acordo com a Lei n° 6.099/74, são os seguintes os requisitos do contrato de leasing: a) prazo; b) valor de cada contraprestação por períodos determinados, não superiores a um semestre; c) opção de compra ou faculdade de renovação reconhecida ao anendalário; d) preço para opção de compra ou critério para sua fixação. Uma dependência brasileira, em relação ao direito norte-americano, pois que a Faculdade de Direito e das Ciências Econômicas de Montpellier em 1970 publicou sob o título "NouvelIes Techniques ContractueIJes", um livro abrangendo, além do leasing que já mencionado, o Know-how, o Franchising e o Engineering.

AGÊNCIA, DISTRIBUIÇÃO E ''FRANCHISING'' O contrato de agência e distribuição. Numa conceituação genérica, dir-se-ia o contrato pelo qual uma pessoa obriga-se a realizar mediante retribuição, mas sem subordinação hierárquica, e com caráter de habitualidade, operações mercantis por conta de outra, em zona determinada. O agente pode proceder com exclusividade, no duplo sentido de que o concedente se obriga a não confiar a outro a comercialização do mesmo produto dentro de determinada zona, ou na acepção de que não pode ter à venda mercadoria de outra procedência. O agente pode estar sujeito a volume pré-fixado de vendas, e por sua conta correm todas as despesas, ainda as indiretas, com a comercialização. O contrato de franchising, que teria surgido, segundo Modesto Carvalhosa, da necessidade que ocorreu nos Estados Unidos, de readaptar os soldados licenciados das tropas americanas que combateram na Coréia, assemelha-

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se ou aproxima-se ao de agência e distribuição. Dele difere, contudo, por características próprias. Etimologicamente, seria um contrato de "franquia", o que, pelo nome, nada esclarece. Consiste, entretanto, em uma autorização de nome e marca que uma empresa cede a outra com prestação de serviços. São dois, portanto, os elementos do franchising. O primeiro é a licença de utilização de marca, de nome, e até de insígnia do franqueador. O segundo, a prestação de serviços de organização e métodos de venda, padronização de materiais, e até de uniforme de pessoal externo. A grande distinção entre agência-distribuição e o franchising é que no primeiro o concessionário conserva a sua individuação jurídica e mercadológica. Age com sua firma ou denominação social em seu próprio nome, e é identificado por ela. No segundo, o franqueado conserva a sua individualidade jurídica, tem seus empregados, seus compromissos, suas responsabilidades. Mas não mantém individuação mercadológica, a tal ponto que o grande público ignora a sua existência, pois tudo se passa como se fosse o próprio franqueador que estivesse comerciando. Embora o franchising não tenha ainda recebido disciplina legal minuciosa, não é estranho ao legislador, que no art. 90 do Novo Código de Propriedade Industrial se lhe refere: "O titular de marca, ou expressão, ou sinal de propaganda poderá autorizar o seu uso por terceiros devidamente estabelecidos, mediante contrato de exploração que conterá o número do pedido, ou registro, e as condições de remuneração, bem como obrigação do titular de exercer o controle efetivo sobre as especificações, natureza e qualidade dos respectivos artigos ou serviços." Na doutrina, como na lei, o franchising se desenvolve mais no campo da prestação de serviços que na colocação de produtos, como opina Modesto Carvalhosa. Sobre franchising, ver Fran Martins, Contratos e Obrigações Comerciais.

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KNOW-HOW E ENGINEERING Com os contratos de Know-how e de engineering, entra-se num campo em que o progresso científico e técnico penetram no jurídico. A chamada "revolução industrial" do século XIX abriu novo campo à normas jurídicas, posto que partindo de noções já existentes e até de regras consignadas nas legislações vigentes. O cientista puro, através de suas pesquisas, ou o técnico de gabinete por via de seus experimentos, descobre ou inventa. Quando, porém, o resultado é transposto para o aproveitamento econômico da descoberta ou invenção é que se cogita de como proteger contra o abuso ou contra especulação com a atividade alheia. O contrato de Know-how tem por base a criação do espírito ou do engenho humano, embora sem a característica da originalidade. Esta será causa jurídica da "patente", por via da qual o inventor aufere proveito de sua criatividade, mas ao mesmo tempo imprime-lhe divulgação, que o leva ao grande público. O Know-how representa uma criação particular, pertencente a um indivíduo ou a uma empresa, conservado porém em sigilo para exploração do seu criador, ou da empresa que o adquire, e que é protegido contra a utilização alheia. O contrato de Know-how traduz, portanto, a cessão, a outrem, daquilo que consiste no conhecimento, ou "saber como" aplicado à atividade industrial ou tecnológica. Dada, porém, a complexidade da vida econômica, e o desenvolvimento técnico de que ela se vale, não satisfaz ao cessionário a transmissão, apenas, do modus faciendi. A transferência de tecnologia, por si só, não completa a utilização prática do desenvolvimento ou da atividade. Daí abranger o contrato de Know-how, além da cessão de como fazer. isto é, transferência de conhecimento, também

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a assistência técnica necessária a que o usuário possa aproveitar o "saber como" de maneira a dele extrair todo o benefício. Sem me aprofundar no histórico do Know-how e da proteção da criatividade, seja no campo da legislação estrangeira, seja nos leading cases (casos principais) que desbravaram o terreno, limito-me aqui a mencionar que o direito positivo brasileiro, em mais de um diploma, tem voltado suas vistas para o assunto. A Lei n° 4,13 J, de -" de setembro de 1962. que disciplina o capital estrangeiro, cria órgãos do controle e técnicas de fiscalização. quanto à remessa da remuneração para o exterior. quando a tecnologia é importada, bem como estabelece o esquema tributário respectivo. Tendo em vista que o Brasil, considerado no plano econômico mundial como país em desenvolvimento, tem necessidade de importar tecnologia que lhe permita romper a barreira da industrialização, os contratos de Know-how não podem ficar sujeitos apenas à lei da livre concorrência ou da plena "autonomia da vontade. Ao revés. a intervenção estatal é constante e é intensa. para conciliar o interesse econômico das empresas, que se utilizam da tecnologia importada, e a defesa da economia do país. Em verdade, o Know-how estrangeiro é indispensável ao desenvolvimento econômico, mas se a matéria for relegada ao livre-cambismo, as empresas estrangeiras e multinacionais dele farão instrumento de sucção de nossos recursos financeiros, fazendo do KIlOlI'-how a mesma técnica de vassalagem que a cobrança de royalty (realeza) insistiu e apurou,

ENGINEERING O contrato de engineering, embora tenha sua própria tipologia, não difere muito do de Know-how, Tem por objeto a "assistência técnica especializada em engenharia".

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Aqui o dirigismo estatal atua também, mas num outro sentido protecionista. Nós já dispomos, graças ao trabalho nas universidades, de uma engenharia das mais adiantadas do mundo. Tão desenvolvida que empresas brasileiras se expandem internacionalmente, realizando obras no exterior, em numerosos países da America Latina, da África e do Oriente Médio, além de algumas operarem em Portugal. Trabalhos de prospecção e pesquisa petrolífera realizam-se em diferentes países pela Braspetro, subsidiária da Petrobrás, com reconhecido êxito. Sistemas vários em mais de um país são realizados por empresas brasileiras. A experiência no aproveitamento de energia hidrelétrica é exportada por firmas empreiteiras do Brasil. Quando, portanto, há necessidade da efetivação de trabalhos especializados no setor, é preciso distinguir a assistência tecnológica de que o país tem necessidade, da concorrência estrangeira. Neste sentido a legislação é cautelosa, proibindo à administra¬ção pública celebrar contratos de engineering com empresas estrangeiras de engenharia, salvo quando não houver similar nacional, ou se se realizar em consórcio com empresa brasileira (Decreto n° 64.345, de 10 de abril de 1969; Decreto n° 66.717, de 15 de julho de 1970). Por outro lado, o Decreto n. 1.418, de 1975, tem em vista a exportação de serviços (engineering) para o exterior, concedendo para isto estímulos fiscais.

HEDGING Muito se tem falado no "contrato de hedging". A denominação é imprópria. O hedging não é, propriamente, um contrato com caracteres típicos próprios. É mais uma modalidade de operação de bolsa, com caráter aleatório, tendo por objeto a comercialização de mercadorias a termo. Antes de tudo, convém desde logo salientar a transformação operacional que ocorreu em nosso país, com a conseqüente mutação da conceptualística legal. Os

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contratos sobre títulos de bolsa, mercadorias ou valores, em que se estipule a liquidação exclusivamente pela diferença entre o fechamento e a data de vencimento do ajuste, equiparam-se ao jogo. No entanto, as praxes bolsistas de tal modo se verificam por estes meios, que tais atos negociais passaram de ilícitos a lícitos e acabaram por se converterem em operações correntes. O hedging é, precisamente, modalidade negocial a termo nas bolsas de mercadorias (colI/lI/odifie.l'fufure larket), com liquidação pela diferença. Incide na comercialização de col1/l1/odifies, especialmente de gêneros alimentícios durúvcis (por exemplo; cereais, café, ouro). Sob controle do Banco Central o hedge pode ser estendido aos empréstimos externos, na modalidade de hedging de juros tal como ocorre em outros casos de commodities fufure markef. O produtor celebra contrato de venda futura, obrigando-se pela entrega, e o comprador pelo pagamento de quantia certa. Mas, entre a data do fechamento e a liquidação pode ocorrer, e normalmente ocorre, diferença de cotação. A fim de se acobertar das oscilações de mercado, os interessados ajustam então operações casadas, iguais e em sentido contrário no mercado à vista e no mercado a termo de tal modo que se defendem contra a variação das cotações. E as liquidações, na imensa maioria das vezes, operam-se pela diferença e não pela entrega da própria mercadoria. A interdependência factual de contratos equivalentes tem por finalidade precípua reduzir os riscos do mercado bolsista. No hedging, portanto, inexiste uma figura contratual típica. Cada operação tem a sua autonomia negocial. Mas a interdependência é que constitui o hedging.

FACTORING

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O factoring, não por ser modalidade contratual freqüente no tráfico mercantil brasileiro. Ainda não o é, e para que venha este contrato a ser introduzido no país de modo consolidado e com viabilização plena, será mister modificação legislativa, especialmente na Lei n° 5.474, de 1968, que rege a disciplina das duplicatas. Pelo fato de ser tipo contratual corrente em outros países de economia semelhante à nossa (Estados Unidos, França, Inglaterra), como ainda porque a nossa doutrina tendo-o perfilhado, tudo faz crer que em breve tempo terá ingresso a nova tipologia contratual brasileira. O factoring, que Fran Martins denomina em vernáculo faturização, é modalidade contratual que se situa entre o desconto mercantil de título cambial, a cessão de crédito, a sub-rogação convencional de obrigação, o seguro de crédito, o mandato mercantil. Por toda esta complexidade, os autores divergem se somente pode ser operado por instituições financeiras sob o império do art. 17 da Lei n° 4.595, de 1964 (Fábio Konder Comparato); discutem se pode ser veículo operacional a duplicata submetida à Lei n° 5.474, de 1968, com a criação "do endosso sem responsabilidade" preconizado pelo art. 15 da Lei Uniforme (Fábio Konder Comparato); ou se faz mister, a fim de que seja praticada no Brasil, a modificação da Lei n° 5.474, de 1968, para possibilitar a existência de "outro documento capaz de justificar o saque do vendedor pela importância faturada ao comprador, nas compras e vendas a prazo" (Fran Martins). Como visto, trata-se de ato negocial ainda em fase de criatividade no nosso meio, razão por que neste estudo, e em razão de sua epígrafe, devo limitar-me a um esboço ligeiro de sua operatividade. Pelo factoring ou faturização, uma pessoa (factor ou faturizador) recebe de outra (faturizado) a cessão de créditos oriundos de operação de compra e venda e outras de natureza comercial, assumindo o risco de sua liquidação. Incumbe-se de sua cobrança e recebimento, cujo líquido transfere de imediato ao cedente ou faturizado.

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Pelo fato de assumir os riscos, não tem ação de in rem verso contra o faturizado. Por esta razão ainda, deve ter a liberdade de escolher os créditos antes de sua cessão. Pelo fato de prestar um serviço de cobrança, tem uma remuneração percentual sobre os resultados obtidos. O faturizador não financia o faturizado, e, portanto não se obriga a adiantar-lhe o valor dos créditos cedidos, e por aí fica bem claro como o factoring se distingue do desconto bancário. Sendo cessionário dos créditos, o factor adquire legitimatio ad causam para acionar os devedores nomine sua, e somente é obrigado para com o faturizado, a recolher o valor cobrado em face do êxito do procedimento judicial. Não se pode dizer uma "substituição processual", porque a legitimação ativa verifica-se ante litem. Trata-se, assim, de um contrato oneroso, consensual e bilateral. Subjetivamente considerado, são partes nele o factor ou faturizador que recebe a cessão dos créditos e o faturizado ou cedente, que a efetua. O devedor não é parte do contrato, embora sobre ele percuta a sua fase executória. Tendo em vista a sua larga utilização nos países desenvolvidos, é de prever sua introdução definitiva em nossas práticas mercantis.

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