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UNIVERSIDADE BANDEIRANTE ANHANGUERA MÁRCIA MARIA TEODORO Obstáculos e Dificuldades Relacionados à Aprendizagem de Números Inteiros SÃO PAULO 2013

OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

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Page 1: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

UNIVERSIDADE BANDEIRANTE ANHANGUERA

MÁRCIA MARIA TEODORO

Obstáculos e Dificuldades Relacionados

à Aprendizagem de Números Inteiros

SÃO PAULO 2013

Page 2: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

MÁRCIA MARIA TEODORO

MESTRADO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

Obstáculos e Dificuldades Relacionados

à Aprendizagem de Números Inteiros

Dissertação apresentada à banca

examinadora da Universidade

Bandeirante Anhanguera, como exigência

parcial para obtenção do título de mestre

em Educação Matemática sob a

orientação da Professora Doutora Rosana

Nogueira de Lima.

SÃO PAULO

2013

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Teodoro, Márcia Maria

T289o Obstáculos e dificuldades relacionadas à aprendizagem de números inteiros. / Márcia Maria Teodoro. -- São Paulo: Universidade Bandeirante Anhanguera, 2013.

xiii, 120 f.: il.; 30 cm.

Dissertação (MESTRADO) – Universidade Bandeirante Anhanguera, 2013.

Orientadores: Profª. Drª. Rosana Nogueira de Lima

Referências bibliográficas: f. 119- 120.

Page 4: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À
Page 5: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total

ou parcial desta Dissertação por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos.

Assinatura:__________________________________________________

Local e Data:________________________________________________

Page 6: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

AGRADECIMENTOS

Inicialmente agradeço a Deus, por ter me amparado em todos os

momentos de minha vida, principalmente nos momentos que eu mais precisei

durante esta caminhada, apontando caminhos para que eu encontrasse ânimo

e perseverança para continuar.

Agradeço a toda minha família, pelo apoio e incentivo que sempre me

deram. Principalmente minha mãe Carmina e a minha irmã Neuza, cada uma

ao seu modo foram verdadeiros anjos de Deus, não me deixando desistir frente

às dificuldades enfrentadas. Ao meu irmão José Maria, o Juca, e sua família,

que sempre me hospedaram com carinho durante o período de aulas em São

Paulo. Aos meus filhos, Murilo e Mateus pela compreensão nos momentos de

ausência.

Agradeço a todos os professores do programa, que de alguma forma

colaboraram com o meu crescimento no curso. Principalmente às Professoras

Vera Helena Giusti de Souza e Verônica Yumi Kataoka, pelo incentivo e

atenção que sempre demonstraram a mim, à minha orientadora Professora

Rosana Nogueira de Lima, pela orientação segura, pelo apoio e contínuo

incentivo, pelo carinho e paciência com que me auxiliou na elaboração deste

trabalho, e, à Professora Iranete Maria da Silva Lima, membro da banca, pelas

contribuições dadas para o aprimoramento deste trabalho.

Agradeço aos meus colegas de curso, e aquelas pessoas não foram

apenas colegas, mas que se tornaram minhas amigas, como a Carol, a Renata

e a Patrícia.

Enfim, agradeço a todas as pessoas que torceram por mim e que

viveram comigo as angústias, conquistas e alegrias de participar de um curso

de mestrado.

Muito obrigada a todos!

Page 7: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

Saber ensinar não é transferir conhecim ento,

M as criar possibilidades para a sua produção ou a sua construção.

Paulo F reire

Page 8: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

RESUMO

Este trabalho consiste em um estudo acerca de dificuldades e obstáculos no ensino de Números Inteiros. A pesquisa caracteriza-se como Documental, e insere-se na linha de pesquisa de Ensino e Aprendizagem de Matemática e suas Inovações. Como fundamentação teórica, baseia-se nas ideias de Bachelard e Brousseau sobre obstáculos epistemológicos. Observou-se, em pesquisas realizadas em Educação Matemática, dificuldades de aprendizagem e os obstáculos no ensino de números inteiros. Alguns documentos oficiais, o PCN e as DCE do Estado do Paraná, foram utilizados para verificar quais são as orientações dadas para este tema. Para a pesquisa, utilizou-se duas coleções de livros didáticos aprovados no último PNLD das últimas séries do Ensino Fundamental, para observar como autores abordam o conceito e as operações básicas com números inteiros, bem como, se as orientações dadas pelos documentos citados se fazem presentes nesses livros. Como principal resultado, observou-se a similaridade das dificuldades levantadas nas pesquisas; a preocupação de alguns autores com tratamento dado à abordagem do conceito, de operações com números inteiros, bem como, com a constante atualização de professores; verificou-se também que as orientações feitas pelo PCN estão presentes nos livros didáticos, porém, e também como previsto por este documento, nas abordagens utilizando modelos concretos para a as operações nos campos aditivo e multiplicativo observa-se algumas situações descontextualizadas, além e o predomínio da memorização das regras, principalmente no campo multiplicativo.

Palavras-chave: Números inteiros. Ensino e Aprendizagem. Dificuldades. Obstáculos.

Page 9: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

ABSTRACT

This work is a study on the difficulties and obstacles in teaching of the relative numbers. The research is characterized as documentary, and is part of the research line Teaching and Learning of Mathematics and its Innovations. As a theoretical foundation, based on the ideas of Bachelard and Brousseau on epistemological obstacles. Observed in research in mathematics education, learning difficulties and obstacles in teaching of the relative numbers. Some official documents, the PCN and the DCE Paraná, were used to verify who the guidelines are given to this topic. For research, we used two collections of textbooks approved last PNLD the last grades of elementary school, to see how the authors address the concept and basic operations with integers and if the guidelines given by the cited documents are made present in these books. As a main result, we observed the similarity of the difficulties raised in the research, the concern of some authors with the treatment given to approach the concept of integer operations, as well as with the constant updating of teachers; it was also noted that the guidelines made by the NCP are present in textbooks, however, and as provided herein, the approaches using concrete models for operations in camps additive and multiplicative observe some situations decontextualized, and the predominance memorization of rules, especially in the field multiplicative.

Keywords: Relative numbers. Teaching and Learning. Difficulty. Epistemological Obstacle.

Page 10: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Numerais Egípcios Hieroglíficos....................................................... 28

Figura 2: Numeração Maia .............................................................................. 29

Figura 3: Construção do Número segundo a Numeração Maia ...................... 30

Figura 4: Números Romanos ......................................................................... 30

Figura 5: Obstáculos Epistemológicos verificados por Glaeser ...................... 40

Figura 6: Situação problema para a introdução dos números negativos ........ 77

Figura 7: Construção da reta numérica .......................................................... 79

Figura 8: Reta numérica ................................................................................. 80

Figura 9: Abordagem do módulo de um número inteiro .................................. 81

Figura 10: Comparação entre dois números inteiros ....................................... 82

Figura 11: Seção Explorando, adição de inteiros ............................................ 83

Figura 12: Adição de números inteiros positivos ............................................ 84

Figura 13: Adição de números inteiros negativos ............................................ 85

Figura 14: Notação simplificada da adição de números inteiros .................... 86

Figura 15: Subtração de números inteiros....................................................... 87

Figura 16: Adição algébrica ............................................................................. 88

Figura 17: Tabela de multiplicação de inteiros ............................................... 89

Figura 18: Expressões numéricas ................................................................... 90

Figura 19: Situação 1 envolvendo número negativo ....................................... 92

Page 11: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

Figura 20: Situação 2 envolvendo número negativo ...................................... 93

Figura 21: Números opostos na reta numérica ............................................... 94

Figura 22: Abordagem da adição e subtração de inteiros ............................... 95

Figura 23: Adição de inteiros positivos ........................................................... 96

Figura 24: Adição de inteiros positivos e negativos ......................................... 96

Figura 25: Subtração de inteiros positivos ...................................................... 97

Figura 26: Subtração de um inteiro maior de outro menor ............................. 97

Figura 27: Subtração de inteiros negativos .................................................... 98

Figura 28: Sugestão de atividade, adição e subtração de inteiros ................. 99

Figura 29: Sugestão de atividade, adição e subtração de inteiros ............... 100

Figura 30: Sugestão de atividade, adição e subtração de inteiros ............... 101

Figura 31: Multiplicação de inteiros ............................................................. 102

Figura 32: Situação 1: Multiplicação de inteiros na reta numerada .............. 103

Figura 33: Situação 2: Multiplicação de inteiros na reta numerada ............ 103

Figura 34: Situação 2: Multiplicação de inteiros por meio da observação dos

resultados ....................................................................................................... 104

Figura 35: Divisão inteiros ............................................................................ 105

Figura 36: Tabela para multiplicação e divisão de inteiros ........................... 105

Page 12: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Metodologias ................................................................................ 107

Quadro 2: Abordagem do Conteúdo ............................................................. 109

Quadro 3: Abordagem Geométrica ............................................................... 109

Quadro 4: Abordagem das operações de adição e subtração ...................... 110

Quadro 5: Abordagem das operações de multplicação e divisão .................. 111

Page 13: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................. 15

CAPÍTULO 1

1 Referencial Teórico e Metodologia de pesquisa ....................................... 18

1.1 Obstáculos Epistemológicos ..................................................................... 18

1.2 Dificuldades ............................................................................................... 23

1.3 A Pesquisa Documental ............................................................................ 24

CAPÍTULO 2

2 A História dos números .............................................................................. 27

2.1 Os Sistemas de Numeração ....................................................................... 27

2.2 O Surgimento de novos números ............................................................... 32

CAPÍTULO 3

3 Revisão de Literatura ................................................................................. 38

3.1 O estudo de Georges Glaeser .................................................................... 39

3.2 A pesquisa de Eva Cid .............................................................................. 44

3.2 Dificuldades de aprendizagem de Números Inteiros observadas na literatura

em Educação Matemática ................................................................................ 52

CAPÍTULO 4

4 Documentos oficiais para Educação Básica e os livros didáticos de

Matemática ....................................................................................................... 64

4.1 Números inteiros e os PCN ..................................................................... 64

4.2 Números inteiros e as DCE ..................................................................... 71

4.3 Livros Didáticos e o Ensino dos Números Inteiros .................................. 74

4.3.1 Coleção: A Conquista da Matemática ..................................................... 76

4.3.2 Coleção: Aplicando a Matemática ........................................................... 91

Page 14: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

4.4 Considerações do sobre o estudo dos Documentos e dos Livros Didáticos

de Matemática ............................................................................................... 108

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Retomando nossas questões de pesquisa ..................................................... 112

Sugestões para próximas pesquisas .............................................................. 117

REFERÊNCIAS .............................................................................................. 118

Page 15: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

15

Introdução

Há alguns anos trabalhando como Professora de Matemática na rede

pública de ensino do Estado do Paraná, sempre senti1 algumas frustrações

relacionadas ao aprendizado de meus alunos. Revendo minhas anotações e

diários de classe, notei que uma das maiores dificuldades apresentadas por

eles na resolução de problemas aparecia nas operações com números inteiros.

Comecei, então, a buscar explicações para essas dificuldades, e percebi que

meus alunos, em situações fora do contexto de sala de aula e que envolviam

números positivos e negativos, as resolviam de maneira satisfatória, ao

contrário do que acontecia em sala de aula.

Isso me motivou a realizar um estudo para tentar encontrar justificativas

para tais dificuldades, e percebi que elas não se caracterizam como um

problema pontual, de um determinado professor, de uma determinada turma ou

de uma escola. Algumas pesquisas sobre o ensino e a aprendizagem de

números inteiros evidenciam as dificuldades de alunos em entender e operar

com esses números; algumas delas propõem alternativas diferenciadas para o

ensino de números inteiros, e outras propõem reflexão sobre o ensino desses

números a partir de autores que discutem obstáculos epistemológicos.

Considerando os problemas encontrados na minha prática docente e

também as dificuldades apontadas em pesquisas em Educação Matemática,

estabelecemos como objetivo para nossa pesquisa “Levantar, em pesquisas

em Educação Matemática, dificuldades de aprendizagem e obstáculos para o

ensino dos números inteiros, bem como, buscar orientações para o ensino

desses números em documentos que regem a educação básica, verificando se

essas orientações se fazem presentes em livros didáticos, por serem estes

considerados como o principal material de apoio para o professor no trabalho

em sala de aula”.

Sendo assim, buscamos responder às seguintes questões:

1 Nesta introdução, será usada a primeira pessoa do singular quando nos referirmos à

experiência pessoal da mestranda.

Page 16: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

16

1 - Quais obstáculos aparecem na literatura em Educação Matemática

sobre o ensino de números inteiros?

2 - Quais dificuldades aparecem na literatura em Educação Matemática

sobre a aprendizagem de números inteiros?

3 – Quais orientações são dadas pelos Parâmetros Curriculares

Nacionais e pelas Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná para o ensino

de números inteiros?

4 – As orientações presentes nos Parâmetros Curriculares Nacionais e

nas Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná estão contempladas em livros

didáticos aprovados pelo PNLD?

A proposta de nossa pesquisa é tentar evidenciar a existência de

dificuldade de aprendizagem no ensino de números inteiros e obstáculos

didáticos que cercam este ensino. Dessa forma, talvez possamos colaborar

com o trabalho consciente de professores em suas escolhas didáticas, no

planejamento de suas ações como mediadores de conhecimentos,

favorecendo, assim, a aprendizagem de estudantes.

Para alcançarmos nossos objetivos, inicialmente, realizamos um breve

estudo histórico sobre o desenvolvimento de números inteiros. Em seguida,

buscamos, na literatura, pesquisas referentes ao estudo sobre o ensino e a

aprendizagem de números inteiros. Procuramos, em dois documentos oficiais,

os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998) e as Diretrizes

Curriculares para o Ensino Fundamental do Estado do Paraná (PARANÁ,

2008), as orientações dadas por eles, para o ensino de números inteiros; e

observamos se essas orientações estão contempladas em dois livros didáticos

aprovados no último Programa Nacional do Livro Didático (PNLD/2010,

BRASIL, 2010).

Este trabalho está dividido em quatro Capítulos.

No Capítulo 1, dissertamos sobre os obstáculos epistemológicos,

descritos por Bachelard (1996), e inseridos da Educação Matemática por

Page 17: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

17

Brousseau (2008); e descrevemos a Pesquisa Documental, a qual foi utilizada

em nossa pesquisa.

No Capítulo 2, apresentamos um breve estudo da História da

Matemática relacionada ao tema, desde o sistema de numeração indo-arábico -

que hoje utilizamos - observando como foi o surgimento dos números negativos

e que dificuldades as civilizações enfrentaram para representar e para efetuar

operações comerciais, que eram as práticas mais comuns entre eles.

No Capítulo 3, apresentamos nossas leituras de pesquisas que abordam

dificuldades na aprendizagem de números inteiros, tentando identificar, se

houver, possíveis obstáculos para o ensino desses números.

No Capítulo 4, trazemos sugestões, apresentadas nos PCN e nas DCE,

para o ensino dos números inteiros, e observamos se essas orientações se

fazem presentes em dois livros didáticos aprovados no PNLD/2010.

Apresentamos, então, nossas considerações sobre a pesquisa realizada,

tentando responder as questões apresentadas na introdução, e apresentamos

possíveis sugestões para novas pesquisas.

Como nossa pesquisa discorre sobre obstáculos de ensino e

dificuldades de aprendizagem, no Capítulo que segue, buscamos caracterizar

as noções de obstáculos e de dificuldade, e apresentar a metodologia utilizada

em nossa pesquisa.

Page 18: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

18

Capítulo 1

Referencial Teórico e Metodologia de Pesquisa

Neste capítulo, abordamos a noção de obstáculo epistemológico, que foi

descrita inicialmente por Bachelard em 1938 e introduzida nas pesquisas em

Educação Matemática por Brousseau em 1976, tentando estabelecer diferença

entre obstáculos no ensino e dificuldades de aprendizagem. Também

descrevemos o que é uma pesquisa documental, segundo Gil (2002), a qual foi

utilizada em nossa pesquisa.

1.1 Obstáculos Epistemológicos

Gaston Bachelard (1884-1962), em seu livro A Formação do Espírito

Científico, analisou o espírito científico em comparação com as ciências como

estavam sendo desenvolvidas naquele momento, e colocou que o

desenvolvimento do pensamento científico acontece com a superação de

obstáculos.

O autor define:

Quando se procuram as condições psicológicas do progresso da ciência, logo se chega à convicção de que é em termos de obstáculos que o problema do conhecimento científico deve ser colocado. E não se trata de considerar obstáculos externos, como a complexidade e a fugacidade dos fenômenos, nem de incriminar a fragilidade dos sentidos e do espírito humano; é no âmago do próprio ato de conhecer que aparecem, por uma espécie de imperativo funcional, lentidões e conflitos. É aí que mostraremos causas de estagnação e até de regressão, detectaremos causas de inércia às quais daremos o nome de obstáculos epistemológicos. (BACHELARD, 1996, p.17)

Segundo o autor, obstáculo não é sinônimo de dificuldade, portanto

independe de situações externas. Além disso, um obstáculo surge

independente da ação do professor em sala, pois é parte constituinte do

conhecimento do aluno. Ainda assim, de acordo com Bachelard (1996) um

obstáculo epistemológico pode ser estudado no desenvolvimento histórico

Page 19: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

19

desse conhecimento científico, e também na prática da educação, afirmando

que em ambos os casos, este estudo não é fácil.

Dessa forma, Bachelard (1996, p.19) afirma que “Um obstáculo

epistemológico incrusta-se no conhecimento não questionado”, novos

conhecimentos geram conflitos quando são colocados em funcionamento em

um contexto no qual os conhecimentos anteriores se constituíam de maneira

satisfatória. Por exemplo, na 6ª série, hoje 7º ano, o aluno se depara com uma

subtração que antes considerava impossível, e então questiona: “como subtrair

um número maior de um número menor?”, ou então: “como o produto de dois

fatores pode ser menor que um deles?”, entre outros questionamentos que

surgem no início do ensino de números inteiros.

De acordo com o autor, o primeiro obstáculo a ser superado é a opinião.

Embora para ele seja impossível partir do zero para fundamentar e ampliar o

conhecimento, pois é impossível anular os conhecimentos já existentes, não

podemos nos basear em opiniões. Ao contrário, é preciso destruir as opiniões

já estabelecidas.

Não se pode basear nada na opinião: antes de tudo é preciso destruí-la. Ela é o primeiro obstáculo a ser superado. Não basta, por exemplo, corrigi-la em determinados pontos, mantendo, como uma espécie de moral provisória (...) O espírito científico proíbe que tenhamos uma opinião sobre questões que não compreendemos, sobre questões que não sabemos formular com clareza. (BACHELARD, 1996, p. 18)

O autor afirma que é necessário saber formular problemas, e que estes

não se formulam por si só, caracterizando o verdadeiro espírito científico. “Para

o espírito científico, todo conhecimento é resposta a uma pergunta” (p. 18).

Além disso, segundo ele, se não há um questionamento, não haverá

conhecimento científico, bloqueando a atividade espiritual.

Brousseau (2008) introduziu o conceito de obstáculo em pesquisas em

Educação Matemática, propondo uma definição, que considerou mais

adequada aos obstáculos:

• Um obstáculo é um “conhecimento” no sentido que lhe demos de “forma regular de considerar um conjunto de situações”.

Page 20: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

20

• Tal conhecimento dá resultados corretos ou vantagens observáveis em um determinado contexto, mas revela-se falso ou totalmente inadequado em um contexto novo ou mais amplo.

• O conhecimento novo, verdadeiro ou válido sobre um contexto mais amplo não é determinado “de acordo com” o conhecimento anterior, mas em oposição a ele: utiliza outros pontos de vista, outros métodos, etc. Entre eles não existem relações “lógicas” evidentes que permitam desacreditar facilmente o erro antigo por meio do conhecimento novo. Ao contrário, a competição entre eles acontece no primeiro contexto.

• Os conhecimentos aqui considerados não são construções pessoais variáveis, mas, sim, respostas “universais” em contextos precisos. Portanto, surgem quase necessariamente na origem de um saber, seja ela histórica ou didática. (BROUSSEAU, 2008, p. 49)

De acordo com o autor, um obstáculo surge a partir de um conhecimento

válido. Este conhecimento produz resultados satisfatórios, respostas corretas

quando aplicado em determinado domínio, porém, em outro domínio, ou ao

ampliar-se este domínio, os resultados tornam-se contraditórios, as respostas

tornam-se falsas ou insatisfatórias.

Partindo da própria definição, Brousseau (2008) observou algumas

características dos obstáculos. Por exemplo, a manifestação por meio de

“erros”, ou seja, da utilização do conhecimento fora do domínio de validade,

coerente, porém incorreta, do ponto de vista do novo conhecimento. De acordo

com o autor, um obstáculo não desaparece diante do conhecimento novo, ao

contrário, opõe resistência a ele, e também não se caracteriza como um

conhecimento falso e, por este motivo, não é possível ignorá-lo; um obstáculo

deve ser integrado à nova aprendizagem, caracterizando-o não como um erro

ou ignorância, mas sim como um conhecimento legítimo e inevitável,

constitutivo do saber adquirido. Dessa forma, obstáculo pode ser fruto da

interação do aluno com o meio em que vive ou, mais especificamente, das

situações em que o conhecimento é posto em prática.

Machado (2008) afirma que

Um obstáculo de origem epistemológica é verdadeiramente constitutivo do conhecimento, é aquele pelo qual não se pode escapar e que se pode, em princípio, encontrar na história do conceito. Pode-se utilizá-lo tanto para analisar a gênese histórica de um conhecimento como o ensino ou a evolução espontânea do aluno. (MACHADO, 2008, p.123)

Page 21: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

21

Portanto, de acordo com Machado (2008), por meio de um obstáculo é

possível analisar a evolução de determinado conhecimento, seja na trajetória

acadêmica do aluno ou da turma na qual ele está inserido, ou no próprio

desenvolvimento histórico do conceito.

É possível que, ao abordarmos as formas de contagem no Ensino

Médio, aconteça o que tentamos caracterizar como um obstáculo

epistemológico. Mostramos ao aluno que há três formas de agrupamentos: a

permutação, o arranjo e a combinação. Sendo a permutação o sinônimo de

troca, os estudantes logo percebem que, nos problemas de contagem,

devemos associar a permutação ao ato de embaralhar, trocar de posição e

assim verificar por meio de cálculos quantos agrupamentos dessa natureza é

possível com determinado número de elementos. O cálculo de arranjos e

combinações é também assimilado como contagem de agrupamentos nos

quais, a partir de um conjunto inicial de “n” elementos, outros subconjuntos são

formados com “p” elementos e de maneira geral adotamos, por definição, que

n > p, sendo ambos números naturais. O obstáculo surge quando se faz

necessário diferenciar estes dois últimos agrupamentos, ou seja, classificá-los

como um arranjo ou uma combinação. Segue da definição que, no

agrupamento arranjo, é importante a ordem dos elementos, ou seja, que a cada

permutação destes elementos do subconjunto surge um novo arranjo e que,

em uma combinação, a ordem dos elementos não altera o grupo e vários

exemplos são apresentados para caracterizar cada um deles. Mas o conceito

que o aluno traz de arranjos e combinações é diferente do conceito que está

sendo transmitido a ele naquele momento, pois quando falamos em arranjos de

flores, por exemplo, não existe a necessidade de uma determinada ordem para

elas; e quando precisamos criar uma senha bancária ou pessoal, dizemos que

estamos fazendo uma combinação de números. Então vem a pergunta: Não

está tudo ao contrário? Logo, faz-se necessária a reorganização destes

conceitos trazidos pelos alunos de forma que se adaptem ao conceito dos

arranjos e das combinações na Matemática, ou seja, o conhecimento que o

aluno tinha desses conceitos fazia sentido para as situações diárias com as

Page 22: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

22

quais convivia, porém agora deve ser reestruturado em seu novo conceito para

que passe a fazer parte da construção de um conhecimento.

Segundo Bachelard (1996), embora obstáculos epistemológicos ocorram

com frequência na Educação, esse conceito ainda não é compreendido por

professores; ele surpreende-se que os professores de ciências, mais que os

outros, não compreendam que alguém não compreenda. Essa falta de

compreensão é consequência de experiências empíricas anteriores.

Os professores de ciências imaginam que o espírito começa com uma aula, que é sempre possível reconstruir uma cultura falha pela repetição da lição, que se pode fazer entender uma demonstração repetindo-a ponto por ponto. Não levam em conta que o adolescente entra na aula de física com conhecimentos empíricos já constituídos: não se trata, portanto, de adquirir uma cultura experimental, mas sim de mudar de cultura experimental, de derrubar os obstáculos já sedimentados pela vida cotidiana. (BACHELARD, 1996, p. 23)

Ainda segundo Bachelard (1996), é necessário mostrar ao aluno que a

cultura científica se sobrepõe ao senso comum, substituindo o saber fechado e

estático por um conhecimento aberto e dinâmico.

Para Brousseau (1976), existem obstáculos didáticos no ensino, e estes

podem ter três tipos de origem, que são: origem ontogênica, origem didática e

origem propriamente epistemológica.

Os obstáculos origem ontogênica “são aqueles que ocorrem devido a

limitações (neurofisiológicas entre outras) do sujeito em um momento de seu

desenvolvimento” (BROUSSEAU, 1976, p. 108), ou seja, são obstáculos que

se manifestam em decorrência do desenvolvimento cognitivo do aluno.

Os obstáculos de origem didática “são aqueles que parecem depender

de uma escolha ou projeto do sistema de ensino” (BROUSSEAU, 1976, p.108),

e estão relacionados à concepção de ensino em que o professor organiza o

conhecimento a ser mediado em sequências de ensino, ou seja, depende das

escolhas didáticas feitas pelo professor.

Por fim, obstáculos de origem epistemológica “são aqueles dos quais

não podemos e nem devemos fugir em virtude de seu papel constitutivo no

conhecimento referido. Eles podem ser encontrados na história dos próprios

Page 23: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

23

conceitos” (BROUSSEAU, 1976, p.108), que são os obstáculos aos quais

Bachellard (1996) se referia. De acordo com Brousseau (1976), esses

obstáculos poderiam também ser chamados de obstáculos históricos.

O exemplo das formas de agrupamento citado anteriormente pode ser

classificado como um obstáculo de origem epistemológica, pois se trata de um

conhecimento informal que o aluno possui e que entra em conflito a partir da

apropriação de novos conceitos, e muitas vezes os professores entendem este

conflito como uma dificuldade do aluno na assimilação dos conceitos.

É fato que este e vários outros obstáculos ocorrem em sala de aula, e,

às vezes, o professor não se dá conta dessa existência, fragilizando os

processos de ensino e de aprendizagem. Para que ocorra, então, a

aprendizagem, é preciso superar obstáculos, e cabe ao professor conduzir o

aluno para que ocorra essa superação.

1.2 Dificuldades

Em nossa Revisão de Literatura, apresentaremos diversos trabalhos que

tratam de dificuldades apresentadas por alunos ao estudarem números inteiros.

Em nosso trabalho, também pretendemos buscar essas dificuldades. Por isso,

entendemos que, assim como definimos obstáculos a partir das ideias de

Bachelard (1996) e Brousseau (1976), é importante que tenhamos em mente o

que significa “dificuldades” neste trabalho.

Entretanto, não encontramos, nos trabalhos de nossa Revisão, algum

que apresentasse uma definição para dificuldades de aprendizagem. Alguns

autores, como por exemplo Cid (2003) e Duroux (1982) falam da necessidade

de diferenciar obstáculo de dificuldade de aprendizagem. Ambos caracterizam

que obstáculo, tal como definido por Brousseau (1976), é um conhecimento

que é válido em determinado contexto, e que necessita ser adaptado quando

aplicado em contextos diferentes ou mais amplos, o que não é o caso de uma

dificuldade. A não apropriação de um conhecimento pode ser causada por

algum tipo de dificuldade, então, entendemos por dificuldade de aprendizagem

Page 24: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

24

todo tipo de transtorno que ocorra neste processo, que atrapalhe ou impeça um

sujeito de adquirir um conhecimento.

A partir da definição de obstáculo de Brousseau (1976), e da forma

como entendemos a dificuldade de aprendizagem, buscamos verificar a

existência ou não desses dois fatores em pesquisas que abordam o ensino de

números inteiros; durante a história da Matemática, com o surgimento de

números inteiros; nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e nas

Diretrizes Curriculares do Ensino de Matemática (DCE).

Por se tratar de uma pesquisa baseada na história, em documentos

oficiais e na literatura, de acordo com a classificação de Gil (2002) nossa

pesquisa se caracteriza como uma pesquisa bibliográfica, a qual descrevemos

na próxima seção.

1.3 A Pesquisa Documental

De acordo com Gil (2002), a pesquisa documental é realizada a partir de

documentos, que podem ser impressos ou não. As fontes bibliográficas mais

utilizadas são livros, que estão divididos em livros de leitura corrente, como as

obras literárias e de divulgação, e livros de referência, como, por exemplo,

enciclopédias, anuários. Incluem-se nesta lista teses e dissertações, periódicos

científicos, anais de encontros científicos, entre outros.

Para uma pesquisa documental, Gil (2002) classifica as fontes como

documentos “de primeira mão” (fontes primárias), aqueles que não receberam

tratamento analítico, como, por exemplo, os documentos conservados em

arquivos de órgãos públicos e instituições privadas, as cartas pessoais, diários,

gravações, entre outros. Consideramos os PCN e as DCE também como fontes

primárias.

Gil (2002) atenta, no entanto, ao cuidado que o pesquisador deve ter ao

realizar esse tipo de pesquisa, pois algumas fontes secundárias podem

apresentar dados coletados ou processados de forma equivocada. Dessa

forma, é necessário que o pesquisador assegure-se das condições em que os

Page 25: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

25

dados ou elementos de sua pesquisa foram obtidos. Segundo o autor, é

necessário que o pesquisador analise as informações obtidas, buscando

verificar se há incoerências ou contradições. Para isso, torna-se necessária a

utilização de fontes de pesquisa diversas, fazendo comparação entre elas.

Ainda de acordo com Gil (2002), a realização da pesquisa documental

inicia-se com a escolha do tema, que deve estar o mais relacionado possível

com os interesses do pesquisador. Após essa escolha, faz-se um levantamento

bibliográfico preliminar, este se constitui em um estudo exploratório com a

finalidade de proporcionar ao pesquisador a familiarização com o tema ou a

área do seu interesse de pesquisa. Esse levantamento depende, entre outros

fatores, da complexidade do tema escolhido, e também do nível de

conhecimento que o pesquisador dispõe sobre o assunto escolhido. É por meio

desse levantamento que o pesquisador delimita sua pesquisa e define o

problema a ser estudado, bem como, a partir dele, pode ocorrer mudanças nos

propósitos iniciais da pesquisa.

Nossa pesquisa caracteriza-se como documental, pois, para chegar ao

objetivo estabelecido, utilizamos diversas fontes bibliográficas, em cada

momento: Estudo da História da Matemática, de Pesquisas em Educação

Matemática, de Documentos Oficiais e de Livros Didáticos, como descrevemos

a seguir:

Breve estudo da História da Matemática: Elaborado para descrever

alguns dos sistemas de numeração utilizados pelas civilizações para

representar quantidades e conhecer como surgiram os números negativos.

Nesse estudo, utilizamos alguns livros da História da Matemática. Os critérios

de escolha desses livros foram aqueles que tivemos acesso em bibliotecas

públicas e acervos pessoais.

Pesquisas: Verificamos em sites de universidades pesquisas que

dissertavam sobre o ensino ou a aprendizagem de números inteiros,

levantando dificuldades e/ou obstáculos. Por meio de citações feitas em muitas

dessas pesquisas, encontramos referências a outros trabalhos que

consideramos importantes para o desenvolvimento de nosso trabalho, e que,

Page 26: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

26

portanto, também foram acrescentados aos trabalhos estudados para o

desenvolvimento de nossa Revisão de Literatura.

Documentos Oficiais: buscamos as orientações para o ensino de

números inteiros nos Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) e nas

Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Estado do Paraná. Os PCN

foram escolhidos por ser um importante documento em nível nacional, que visa

orientar o ensino de Matemática. As DCE foram selecionadas, pois sou

professora da rede pública do Estado do Paraná.

Análise de Livros Didáticos: Das dez coleções aprovadas pelo Programa

Nacional do Livro Didático de 2010 (PNLD 2010), tivemos acesso a nove

exemplares que compunham estas coleções. Após uma análise geral deles,

percebemos algumas características comuns entre as abordagens de números

inteiros apresentadas por esses livros, e estabelecemos dois grupos: um grupo

que valoriza mais características como interdisciplinaridade e contextualização;

e outro grupo de livros em que predomina o uso de técnicas de resolução e de

regras para o cálculo. Escolhemos, então, um exemplar de cada grupo, pela

ordem em que apareciam no manual do PNLD/2010, para observar se as

orientações verificadas nos PCN e nas DCE são contempladas pelos autores,

bem como, conhecer o tratamento dado ao ensino de números inteiros e quais

orientações estes autores fazem para guiar o trabalho do professor em sala de

aula.

Iniciamos, então, o próximo Capítulo, descrevendo brevemente o

surgimento de alguns dos sistemas de numeração, bem como, a necessidade

do surgimento dos números negativos, fato que causou grande embaraço aos

matemáticos que tentavam justificá-los.

Page 27: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

27

Capítulo 2

A História dos Números

Neste capítulo, apresentamos a história do desenvolvimento dos

números inteiros a partir dos números naturais. Apresentamos algumas formas

de representação que antigas civilizações utilizavam para expressar números e

realizar as operações, observando o processo de desenvolvimento de alguns

dos sistemas de numeração, bem como, as facilidades e dificuldades que

foram enfrentadas a partir do uso deles nas representações e operações

comerciais, que eram as práticas mais comuns entre os povos.

Em seguida, apresentamos como aconteceu o surgimento de números

negativos. A resistência a eles ocorreu por conta da dificuldade de aceitação da

concepção da existência de números menores que “nada”, ou seja, menores

que o zero.

2.1 Os Sistemas de Numeração

Desde os povos primitivos, o homem tem recorrido à Matemática,

mesmo que de forma inconsciente, ele contava, media, juntava objetos em uma

época em que não se imaginava que seriam formados os conceitos ou

convenções sobre esses assuntos. Berlinghoff (2010, p. 6) afirma que “(...) toda

civilização que desenvolveu a escrita também mostra evidências de algum

nível de conhecimento matemático” e a necessidade de formalizar esses

conhecimentos, como por exemplo, escrever números de forma eficiente,

tornou-se preocupação de alguns matemáticos. Segundo Berlinghoff (2010), o

modo mais simples e mais primitivo de representar quantidades era fazendo

uma única marca para qualquer coisa a ser contada, como

I II III IIII IIIII

Mas isto logo se tornou um problema, pois, com um único símbolo,

seriam necessárias cadeias muito grandes desses símbolos para representar

os números maiores.

Page 28: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

28

Vários sistemas de numeração foram criados antes do surgimento do

sistema de numeração que hoje utilizamos e alguns deles ainda são utilizados

atualmente, como por exemplo a Numeração Romana, a qual podemos

observar quando deseja-se indicar ordem cronológica em nomes ou títulos, na

designação de séculos, entre outros. Os Egípcios, nos séculos entre 3000 a.C.

a 1000 a.C., escolheram alguns símbolos para representar números; esses

símbolos eram hieroglíficos, que eram pequenos desenhos que representam

objetos, como apresentado na Figura 1.

Figura 1. Numerais egípcios hieroglíficos Fonte: (EVES, 2004), p. 31

O sistema babilônio surgiu no período entre 2000 e 200 a.C., e era

baseado em dois símbolos em forma de cunha. Esse sistema usava a posição

do símbolo para determinar o valor dele, e os grupos sucessivos eram

multiplicados por potências de 60, isto é, era um sistema sexagesimal.

Nele, os números de 1 a 59 eram representados por combinações dos

dois símbolos básicos de um e de dez, usados aditivamente. Para representar

os números de 60 a 3.599 utilizavam dois grupos de símbolos, o segundo

colocado à esquerda do primeiro e separado dele por um espaço. O valor do

número é encontrado somando-se os valores de cada grupo, multiplicando o

grupo da esquerda por 60 e depois somando isso ao valor do grupo da direita.

Por exemplo: ◄▼▼ ◄◄◄▼

Page 29: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

29

(10 + 1 + 1) ∙ 60 + (10 + 10 + 10 + 1) = 12 ∙ 60 + 31 = 751

Números maiores ou iguais a 3600 (60²) eram escritos usando mais

combinações das duas formas básicas de cunha, colocadas mais à esquerda,

separadas por espaços, e o valor de cada grupo era multiplicado pela potência

apropriada de 60. A grande dificuldade desse sistema era a interpretação do

espaçamento entre os grupos.

Por volta de 300 a.C., na civilização Maia, existia um sistema de

numeração vigesimal, organizado por meio de símbolos figurativos, um ponto

“.” para o número 1 e uma barra “_” para o número 5.

A Figura 2 mostra a representação para cada número do 0 ao 19.

Figura 2. Numeração Maia Fonte: (EVES, 2004), p. 37

O ano Maia estava dividido em 18 meses com 20 dias cada, e os Maias

não trabalhavam com as posições 200, 20¹, 20²,... mas sim 200, 20¹, 20¹ ∙ 18

(360); 20² ∙ 18 (7200); 20³ ∙ 18 (144000); e assim por diante.

Para representar números grandes, esses grupos eram dispostos

verticalmente e eram calculados somando-se o valor por posição de cada

grupo. O grupo que ficava mais embaixo do símbolo representava as unidades;

o valor do segundo grupo era multiplicado por 20, o valor do terceiro por

18 ∙ 20, o do quarto por 18 ∙ 20², do quinto por 18 ∙ 20³ e assim por diante. A

dificuldade de espaçamento do sistema babilônico foi contornada utilizando um

símbolo que representava o zero ( ) ocupando os lugares vazios. O número

52.572 era escrito do seguinte modo:

Page 30: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

30

Figura 3. Construção do número 52.572, segundo a Numeração Maia Fonte: (BERLINGHOFF, 2010) p. 68

Segundo Berlinghoff (2010), este sistema, apesar de ser considerado

melhor que o sistema babilônico, foi conhecido pelos europeus muitos séculos

depois, e não teve influência no desenvolvimento da numeração na cultura

ocidental, que remonta principalmente à Grécia e Roma antigas e, por esse

motivo, a numeração romana foi mais aceita no modo europeu de escrever

números.

Os símbolos básicos e os valores correspondentes do sistema de

numeração romano estão listados na Figura 4:

Figura 4. Numerais Romanos

Fonte: (BERLINGHOFF, 2010), p. 69.

Os valores desses símbolos básicos eram somados para determinar o

valor de todo o número, por exemplo:

CLXXII = 100 + 50 + 10 + 10 + 1 + 1 = 172.

Os números maiores eram escritos colocando-se uma barra sobre o

conjunto de símbolos para indicar a multiplicação por 1.000. Assim:

Page 31: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

31

VIICLXV = 7.165, ou seja: (7.000 + 100 + 50 + 10 + 5).

Para maior eficiência do sistema, um artifício subtrativo foi introduzido

mais tarde: se um número básico tinha valor menor que o imediatamente à sua

direita, então o valor menor era subtraído do maior para resultar o valor do par

e só podiam ser emparelhados com os dois valores maiores seguintes. Dessa

maneira:

I só podia ser emparelhado com V e X

X só podia ser emparelhado com L e C

C só podia ser emparelhado com D e M

Apesar da aparente solução do problema para representação dos

números, este sistema ainda não era considerado satisfatório, pois realizar

operações utilizando esses símbolos tornava-se quase impossível,

necessitando de atenção, tempo e empenho por parte de quem se dispunha a

realizá-las.

Seguindo outro caminho, a partir do terceiro século a.C., os hindus

basearam-se na numeração falada, tentando estabelecer uma relação com a

representação escrita, adotando um nome próprio, além de um sinal

característico a cada número. Estes sinais, mais tarde, foram chamados de

algarismos, mas nada semelhante aos que usamos hoje. A inconveniência

desse método de escrita dos números decorre da impossibilidade de atribuir-se

um símbolo específico a todos os números, desde as unidades até os milhões.

Devemos aos hindus alguns importantes conhecimentos para a nossa

ciência e o mais importantes deles foi a utilização do zero ou, de modo geral, a

introdução da notação numérica posicional. Utilizando uma espécie de ábaco,

que era uma tábua coberta de areia, na qual eram desenhadas colunas

representando valores posicionais, os hindus desenvolveram um sistema que

facilitaria a escrita dos números. Para representar o número vinte, por exemplo,

bastava colocar duas pedras na coluna das dezenas. O símbolo 0 (zero)

impôs-se pela necessidade de representar a ausência em uma coluna quando,

por exemplo, queriam representar o número 101. A princípio, os hindus

decidiram representar essa ausência por um ponto, uma cruz ou um pequeno

Page 32: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

32

anel. A grande vantagem desse sistema de numeração utilizando os símbolos,

que chamamos hoje de algarismos, foi justamente que não seria mais

necessário inventar símbolos novos para a infinidade dos números. Bastavam

os nove algarismos 1 ... 9 e mais o zero. Além disso, essa numeração escrita

adaptou-se facilmente à numeração falada. “A numeração escrita perfeita

estava criada” (KARLSON, 1961, p.21).

Por ser também utilizado pelos árabes, este sistema de numeração é

chamado de indo-arábico e é utilizado até hoje por sua eficiência e praticidade,

podendo ser realizada qualquer operação com a facilidade que outros sistemas

não ofereciam. Uma grande vantagem do sistema de numeração indo-arábico

é o fato de se poder calcular diretamente com os números como são escritos.

Além disso, embora ainda utilizemos os numerais romanos para representar

datas ou ordenar documentos, tornou-se hábito a utilização do sistema indo-

arábico, que resulta de uma estrutura posicional, que tem base em potências

de dez e por isso o chamamos de sistema decimal a valor por posição.

2.2 O surgimento de novos n úúúúmeros

A ideia de número negativo levou muito tempo para ser aceita.

Durante muito tempo, a humanidade viveu na impossibilidade de conceber os números “negativos” (− 1, −2, −3, −4 etc.) dos quais nos servimos correntemente hoje em dia para exprimir, por exemplo, uma temperatura abaixo de zero, ou então um saldo devedor numa conta bancária. (IFRAH, 1998, p. 337)

De acordo com Ifrah (1998), durante muito tempo, foi considerada

impossível uma subtração como 3 – 5. Com a descoberta do zero, eliminou-se

essa dificuldade, permitindo que a extensão dos números naturais até os

relativos acontecesse, identificando-os como “simétricos” dos números naturais

em relação ao zero: “Invenção difícil e genial, foi o zero que abriu caminho para

o desenvolvimento da álgebra moderna e de todos os ramos da matemática a

partir do Renascimento europeu” (IFRAH, 1998. p. 337). Porém, muitos

Page 33: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

33

obstáculos ainda deveriam ser superados para que os números negativos

fossem considerados como um conjunto numérico.

Os gregos, por exemplo, apesar da profundidade de seus estudos em

Matemática e Filosofia, ignoravam completamente os números negativos. Para

a maioria deles, os números representavam segmentos de reta, áreas, volumes

e, dessa forma, não poderiam imaginar e nem expressar medidas utilizando

números negativos. Mesmo Diofanto de Alexandria (250-334 a.C.), que

escreveu um livro sobre a resolução de equações, não considerava nada além

dos números positivos, como no Problema 2 do seu livro V de Arithmetica, no

qual considerou a equação a que chamou de absurda. Tratava-se de

4x + 20 = 4. Para ele, 4x + 20 significava adicionar algo a 20 e, portanto,

impossível obter 4 como resposta.

Um matemático indiano, Rajasthan Bhinmal (Brahmagupta, 589-668) no

século VII reconheceu e trabalhou até certo ponto com quantidades negativas.

Brahmagupta considerava os números positivos como posses e os números

negativos como dívidas, enunciando regras para somar, subtrair, multiplicar e

dividir números negativos. Essas regras foram estudadas e explicadas por

outros matemáticos posteriores a ele, porém as quantidades negativas foram

consideradas como “suspeitas”, mesmo entre eles, durante muito tempo. A

aritmética sistematizada dos números negativos e do zero encontra-se pela

primeira vez em uma das obras de Brahmagupta. Mas, embora os gregos

tivessem um conceito do nada, eles nunca o interpretaram como um número,

como fizeram os hindus.

Ainda no século IX, os matemáticos árabes não usavam números

negativos. Os problemas que hoje resolvemos com equações algébricas eram

resolvidos por meio de palavras, geralmente com interpretação geométrica e

todos os dados eram interpretados como sendo medidas de segmentos de reta

ou de áreas. Esses matemáticos reconheciam que uma equação quadrática

poderia ter duas raízes, mas somente quando se tratava de duas raízes

positivas. Tanto para os árabes como para Diofanto de Alexandria (250-334

a.C.) era fácil obter um produto da forma (x + a)(x – b), pois eles sabiam aplicar

Page 34: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

34

as "regras" em que um número negativo multiplicado por outro número

negativo resulta em um número positivo e que um negativo multiplicado por um

positivo resulta em um negativo, mas aplicavam isso somente em problemas

cujas respostas seriam positivas. Dessa forma, as regras de sinais eram

conhecidas, mas não entendidas como regras para operar com os números

negativos.

No século XVI, matemáticos como Girolamo Cardano (1501-1576) na

Itália, François Viète (1540-1603) na França e Michael Stifel (1487-1567) na

Alemanha rejeitavam os números negativos. Quando os números negativos

apareciam como soluções de equações, eles as chamavam de “soluções

fictícias” ou “raízes falsas”. Em 1629, na França, Albert Girard (1590-1633)

enunciou as relações entre raízes e coeficientes, pois admitiu raízes negativas

e imaginárias, ao passo que Viète reconhecia apenas as raízes positivas. De

algum modo, Girard percebia que as raízes negativas são orientadas em

sentido oposto ao dos números positivos, antecipando, assim, a ideia de reta

numérica. “O negativo em Geometria indica um retrocesso”, ele disse, “ao

passo que o positivo é um avanço” (BOYER, 1974, p. 224).

Apesar desses obstáculos para a afirmação dos números inteiros como

um conjunto numérico, aos chineses a ideia de número negativo parece não ter

causado muitas dificuldades, pois estavam acostumados a calcular com duas

coleções de barras – uma vermelha para os coeficientes positivos e uma preta

para os negativos, porém também não aceitavam que um número negativo

fosse solução de uma equação. Segundo os chineses, os números podiam ser

entendidos como excessos ou faltas.

Mas a utilidade dos números negativos tornou-se óbvia demais para ser

ignorada, e alguns matemáticos passaram a usar esses números no trabalho

deles, ainda que o mau entendimento e a descrença em relação a esses

números persistissem. Com a sofisticação e a algoritmização dos métodos de

resolução de equações, mais uma confusão veio somar-se às anteriores. A

resolução da equação quadrática x² + 2 = 2x apresenta as soluções 1 + √−1 e

1− √−1, sendo que as regras exigiam que quadrados de números negativos

Page 35: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

35

fossem números positivos; como, então, explicar que o quadrado de um

número negativo fosse também negativo? Por este motivo, no início do século

XVII, René Descartes (1596-1650) chamou as raízes negativas de “falsas” e as

raízes quadradas negativas de “imaginárias”. Isaac Newton (1643-1727) disse,

em seu livro-texto de Álgebra de 1707, Universal Arithmetick: “As quantidades

são ou afirmativas, ou maior do que nada, ou negativas, ou menor do que

nada” (BERLINGHOFF, 2010, p.98). Essa definição foi realmente levada a

sério, pela credibilidade conferida a Isaac Newton. Mas persistia ainda a

questão: como qualquer quantidade poderia ser menor do que nada?

A despeito de tudo isso, em meados do século XVIII, os números

negativos foram se tornando aceitáveis como números. Nesse mesmo período,

em Londres, um mecânico soprador de vidros, Gabriel Daniel Fahrenheit

(1686-1736) criou o primeiro termômetro e a escala termométrica criada por ele

marcava apenas valores maiores que o zero, graus de calor como diziam, até a

máxima temperatura então registrada. Porém, os invernos rigorosos fizeram

com que Fahrenheit e seus contemporâneos se obrigassem a admitir a

continuação dessas temperaturas. Embora consideradas de maneira arbitrária,

essas novas temperaturas foram introduzidas, aplicando o mesmo método de

sucessão dos números, como na escala termométrica já conhecida e aceita.

Uma escala numérica, uma infinita reta de números na qual, a partir do zero

marcavam, à direita, os números com os quais estavam acostumados e, à

esquerda, os números que mais tarde seriam conhecidos como “números

negativos”. Assim, a escala ampliada registrava “graus de frio” em oposição

aos “graus de calor” (KARLSON, 1961).

Hoje, o conjunto dos números inteiros é representado pela letra ℤ, que

vem do alemão Zahlen, que significa números ou algarismos.

O surgimento de números negativos causou bastante desconforto aos

matemáticos, desde Diofanto até o final do século XVII, nas obras de René

Descartes e Isaac Newton. Estes e também outros matemáticos resolviam

equações com agilidade e precisão, mas, ao se depararem com resultados

com números negativos, chamavam-nos de falsos ou absurdos. Mesmo depois

Page 36: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

36

de serem obrigados a reconhecer a existência e a importância desses

números, ainda olhavam com desconfiança para tais resultados pela

necessidade que tinham de formalizá-los. A dificuldade não estava nas

operações com os números negativos, mas na concepção deles. Na China e

mais tarde na Índia, estes números surgiram de maneira informal, por questões

práticas, vistos intuitivamente como “diferenças” ou “dívidas”. Talvez por isso

não tenham sido tão facilmente aceitos por matemáticos que exigiam rigor e

clareza nos conceitos.

Podemos sugerir que essa resistência aos números negativos se

caracterizou em um obstáculo ao entendimento deles, que só foi superado à

medida que foi sendo enfrentado, tornando-se possível a formalização e a

representação dos números inteiros como ampliação do conjunto dos números

naturais.

Neste Capítulo, pudemos observar alguns obstáculos que foram

enfrentados para representação de quantidades negativas, para operar com

símbolos adotados para esta representação, e também para a aceitação da

existência de números negativos.

O primeiro obstáculo a ser superado, que observamos na história, foi a

forma com que povos primitivos utilizavam para representar quantidades, pois

utilizavam apenas um símbolo, agrupando-o em cadeias de acordo com a

quantia a ser representada. Este método era eficaz para pequenas

quantidades, porém, seria inviável a aplicação deste método diante da

necessidade de escrever números maiores.

Dessa forma, as civilizações adotaram símbolos ou letras para

representar números, superando o obstáculo da representação de quantidades.

A ineficiência, então, seria a realização de operações com eles, que

demandavam tempo, atenção e empenho. A superação desse obstáculo deu-

se quando os hindus adotaram um sistema utilizando valores posicionais, com

símbolos, que hoje chamamos de algarismos, e entre eles o zero para

representar a ausência desses valores.

Page 37: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

37

Outro obstáculo que podemos levantar neste breve estudo foi a

realização de operações como, por exemplo, 3 – 5. Percebemos que a

superação dele ocorreu por meio da criação do zero. A partir desse número, foi

possível compreender a existência da continuidade da reta numérica no sentido

oposto ao dos números naturais, sendo assim possível aceitar a existência de

valores negativos. Isso aconteceu diante da necessidade do registro de

créditos e de dívidas, pois, para a maioria dos matemáticos, os números

representavam segmentos de retas, áreas, etc. e, dessa forma, seria

impossível conceber a ideia de valores negativos, ou realizar operações com

tais números. Alguns matemáticos preocupavam-se com a elaboração do

enunciado de problemas, para evitar que a resposta das equações com as

quais se resolvia o problema fosse um número negativo. Quando isso

acontecia, não conseguiam explicar a existência dessa solução considerando-

as falsas ou fictícias.

Verificamos, então, que tanto na criação dos números como no

surgimento necessário de números negativos muitos obstáculos precisaram ser

superados.

No capítulo seguinte, trazemos um estudo histórico feito por Georges

Glaeser, no qual o autor relata alguns obstáculos no desenvolvimento de

números inteiros, bem como, se eles foram ou não sendo superados no

decorrer dos anos. Apresentamos a pesquisa de Cid (2003), que faz um

levantamento pesquisas e artigos sobre o ensino de números inteiros,

classificando-os e questionando alguns dos obstáculos epistemológicos

apontados por Glaeser (2010).

Procuramos também levantar, em relatos de pesquisas relacionadas ao

ensino de números inteiros, obstáculos como os que foram apontados por

Glaeser (2010), ou dificuldades de aprendizagem que fundamentaram as

pesquisas desenvolvidas.

Page 38: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

38

Capítulo 3

Revisão de Literatura

Muitos estudos apontam dificuldades na aprendizagem de números

inteiros. Neste capítulo, descrevemos algumas pesquisas que dissertam sobre

essas dificuldades, e que propõem a utilização de diferentes métodos de

ensino e em diferentes níveis de aprendizagem. Nosso objetivo, neste capítulo,

é tentar identificar, entre essas dificuldades possíveis obstáculos didáticos para

o ensino dos números inteiros.

Iniciamos o Capítulo apresentando o estudo realizado por Glaeser

(1981), publicado sob o título Epistemologia dos Números Relativos, em 1981,

na revista Recherches en Didactique des Mathématiques. Esse texto foi

publicado no Brasil em 1985, pela primeira vez, em uma edição do Boletim

Gepem, e, embora passados quase trinta anos, uma reedição do texto foi

realizada em 2010, no Boletim Gepem nº 57, devido à importância desse artigo

na área da Educação Matemática.

A essa reedição no Gepem de 2010 tivemos acesso e, após a leitura,

consideramos que o texto poderia ser considerado atual, devido à clareza das

ideias apresentadas e também pelo apontamento da existência de equívocos

que às vezes não são facilmente percebidos no ensino de números inteiros.

Após este estudo, apresentamos o trabalho de Cid (2003), que faz

algumas críticas a ele. Trazemos também, o levantamento de algumas

pesquisas realizadas em torno do ensino de Números Inteiros, para verificar

quais foram os obstáculos ou as dificuldades apontadas por elas.

Page 39: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

39

3.1 O estudo de Georges Glaeser

Glaeser (2010) fez um levantamento histórico de obstáculos enfrentados

por grandes matemáticos na busca de uma definição eficiente de número

negativo, bem como, para dar significado às regras de sinais adotadas nas

operações. O autor verificou que grandes sábios da antiguidade apresentavam

incompreensão de números inteiros negativos, com maior ou menor

desconforto ao assumirem tal incompreensão. Como exemplo, cita Leonard

Euler (1707-1783), que escreveu uma obra destinada a principiantes, tentando

justificar a regra dos sinais, ao referir-se à multiplicação de dois números

negativos.

- É claro, diz Euler, que o valor absoluto é ab. Trata-se, portanto de decidir entre +ab e −ab. Como –a × b já vale −ab, a única possibilidade restante é de que (–a) × (−b) = +ab. (!!!) (GLAESER, 2010, p.79)

O autor aponta seis obstáculos epistemológicos que descreve ao longo

de sua obra, identificando quais matemáticos conseguiram ou não transpô-los.

1. Inaptidão para manipular quantidades isoladas 2. Dificuldade em dar um sentido a quantidades negativas isoladas. 3. Dificuldade em unificar a reta numérica. Isto se manifesta, por

exemplo, quando se insiste nas diferenças qualitativas entre as quantidades negativas e os números positivos; ou quando se descreve a reta como uma justaposição de duas semi-retas opostas com sinais heterogêneos; ou quando não se consideram simultaneamente as características dinâmicas e estáticas dos números.

4. A ambiguidade dos dois zeros (v.fls.36) 5. Estagnação no estágio das operações concretas (em confronto

com o estágio das operações formais). É a dificuldade de afastar-se de um sentido “concreto” atribuído aos seres numéricos.

6. Desejo de um modelo unificador. (GLAESER, 2010, p.69)

Para apresentar a superação ou não desses obstáculos pelos autores

citados em seu texto, Glaeser (2010) elaborou um quadro esquemático,

apresentado na Figura 5.

Page 40: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

40

Figura 5: Obstáculos epistemológicos verificados por Glaeser. Fonte: (GLAESER, 2010) p. 70.

Os sinais de + e − de indicam, respectivamente, se o autor citado

conseguiu ou não transpor a barreira do obstáculo; os pontos de interrogação

designam os casos em que o pesquisador não conseguiu identificar, pelos

textos analisados, se houve ou não essa superação. Ele não seguiu uma

sequência cronológica para essa verificação, e ateve-se aos obstáculos e às

dificuldades enfrentados para a superação deles.

Por exemplo, para justificar a não superação do primeiro obstáculo,

Inaptidão para manipular quantidades isoladas, Glaeser (2010) cita Diofantes

de Alexandria (final do século III d.C.) que, no livro I da obra “Aritmética”, ao

tentar explicar o produto de dois números negativos, apenas descreve: “O que

está em falta multiplicado pelo que está em falta dá o que é positivo; enquanto

o que está em falta multiplicado pelo que é positivo, dá o que está em falta”

(Diofantes, apud Glaeser, 2010, p. 73). Glaeser (2010) explica que, em suas

obras, Diofantes não utiliza números negativos isolados e a regra

(−) ×(−) = (+) é verificada apenas como um procedimento de cálculo. Esse

obstáculo foi sendo superado pelos matemáticos que, a partir de então,

puseram-se a calcular e a demonstrar este produto algébrica e

geometricamente.

Glaeser (2010) usa a expressão “prática clandestina do cálculo com

números relativos” (p.74) para descrever o segundo obstáculo: a Dificuldade

em dar um sentido a quantidades negativas isoladas, e afirma que, mesmo

sem compreender ou aceitar os números negativos, esses números eram muito

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41

utilizados em várias operações. Em suas obras, alguns matemáticos definiam

números naturais, fracionários, irracionais, porém não faziam qualquer menção

aos negativos de forma isolada, ainda que estes fossem amplamente utilizados

ao longo de suas obras, como artifícios para o cálculo. Somente a partir do

século XVII é que números negativos apareceram de forma natural, adquirindo,

então, status de número, ainda que com definições pouco satisfatórias.

No texto de MacLaurin, em seu “Tratado de Álgebra”, publicado em

1748, dois anos depois da morte dele, Glaeser (2010) identifica o terceiro

obstáculo que é a Dificuldade em unificar a reta numérica.

Chamam-se quantidades positivas, ou afirmativas, as que são precedidas do sinal +, e negativas, as que são precedidas do sinal −. Para se ter uma idéia clara e exata desses dois tipos de quantidades, deve-se notar que toda quantidade pode entrar num cálculo algébrico, acrescentada, ou subtraída, ou seja, como aumento, ou como diminuição; ora, a oposição que se observa entre o aumento e diminuição ocorre na comparação das quantidades. Por exemplo: entre o valor devido a um homem, e o do dinheiro que ele deve; entre uma linha traçada à direita, e uma linha traçada à esquerda; entre a elevação sobre o horizonte e o posicionamento abaixo dele. Assim, a quantidade negativa, longe de ser rigorosamente menor que nada, não é menos real na sua espécie do que a positiva, mas é tomada num sentido oposto; segue-se daí que uma quantidade considerada isoladamente não poderia ser negativa, pois ela só o será por comparação; e que quanto a quantidade que chamamos positiva não tem outra que lhe seja oposta, não se poderia subtrair dela outra maior. Por exemplo: seria absurdo querer subtrair uma quantidade maior de matéria, de outra menor. (MACLAURIN, apud GLAESER, 2010, p.77)

Ainda nas últimas linhas da citação de MacLaurin, Glaeser (2010)

identifica o quarto obstáculo: a Ambiguidade dos dois zeros, na qual o autor

reconhece implicitamente que, sendo absurdo operar tendo por definição o

zero absoluto, isso se torna possível considerando-se o zero como o ponto de

origem. De acordo com o autor, muitos dos matemáticos que, embora

soubessem operar com números inteiros, não compreendiam o conceito e

sabiam da complexidade de uma explicação satisfatória para justificar os

procedimentos de cálculo com os números negativos utilizavam o que Glaeser

(2010) chama de sintomas de evitação, e preferiam criar exemplos em que não

fosse necessária a utilização deles.

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42

A superação desses obstáculos favoreceu a compreensão das regras de

sinais para as operações de adição e de subtração envolvendo números

negativos, porém, uma justificativa aceitável para a multiplicação de números

relativos isolados ainda não havia sido descoberta, levando-nos ao quinto

obstáculo apontado por Glaeser (2010): a Estagnação nos estágios das

operações concretas, no qual a dificuldade em afastar-se de modelos

concretos, para justificar a regra de sinais, ainda persistia. Para demonstrar a

força desse embaraço que ainda percorria nas mentes dos mais célebres

matemáticos, Glaeser (2010) cita um trecho que Laplace (1749-1827) proferiu

em uma Escola Superior, dizendo:

(A regra dos sinais) apresenta algumas dificuldades: custa conceber que o produto de −a por −b seja o mesmo que o de a por b. Para tornar sensível essa idéia observaremos que o produto de −a por +b é −ab (porque o produto nada mais é que −a repetido tantas vezes quantas são as unidades existentes em b). Observaremos, a seguir, que o produto de −a por (b − b) é nulo, pois o multiplicador é nulo; assim já que o produto de −a por +b é −ab, o produto de −a por −b deve ser de sinal contrário, ou igual a +ab para destruí-lo. (LAPLACE, apud GLAESER, 2010, p. 91, grifos do autor)

O autor destaca, nesse texto, a formalidade inconsistente com que

Laplace ainda tratava os números relativos, embora reconhecesse a existência

desse novo sistema numérico. Da mesma forma que vários outros matemáticos

partilhavam desse pensamento um tanto vago, e justificavam dizendo que

números negativos eram coisas, e, portanto, não possuíam uma existência

real. Assim, as demonstrações de regras atribuídas a eles não passavam de

ilusão.

Até que Augustin Cauchy (1789-1857), em seu curso destinado à Escola

Politécnica, fez a distinção entre números como a representação de medidas e

grandezas e quantidades positivas ou negativas, consideradas como

crescimento ou diminuição de outra quantidade da mesma espécie, utilizando

para indicar esse crescimento ou diminuição, respectivamente, os sinais de +

ou de −. Dessa forma, números precedidos do sinal de + indicavam as

quantidades positivas, e números que eram precedidos do sinal de −

indicavam as quantidades negativas. Cauchy recorria à metáfora positivo igual

Page 43: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

43

a aumento e negativo igual à diminuição para justificar as propriedades

aditivas; porém, ao abordar a multiplicação, ele a apresentava de modo formal,

operando com símbolos e expondo regras a que estes símbolos eram

submetidos, abandonando de vez a necessidade de se atribuir significados à

ação da multiplicação para justificar os procedimentos. Apesar disso, uma

confusão começaria, a partir de então, entre os sinais (+ ou −) que

designavam uma ação, os operatórios e os predicativos, que designavam um

estado (positivo ou negativo) e mesmo Cauchy não conseguiu explicar com

clareza a distinção entre esses dois sentidos.

De acordo com Glaeser (2010) foi Hermann Hankel (1839-1873), na

obra “Teoria dos sistemas dos números complexos” (1867), que superou todos

os obstáculos epistemológicos referentes aos números relativos levantados

pelo autor. Ao assumir que os números negativos não são extraídos da

natureza, que não são descobertos, mas sim inventados ou imaginados,

Hankel (1867) abandonou a necessidade de um modelo unificador para as

estruturas aditivas e multiplicativas dos números inteiros, transpondo, dessa

forma, todos os obstáculos que foram levantados por Glaeser (2010).

Glaeser (2010) concluiu seu estudo afirmando que a aprendizagem de

números inteiros baseada em “bons modelos”, ou seja, em modelos concretos,

pode ser satisfatória para o campo aditivo, porém pode causar danos para o

campo multiplicativo, constituindo-se em obstáculos didáticos para o ensino

dele. Afirma também que só a prática em sala de aula, com a experiência de

diferentes métodos de ensino, dirá se os obstáculos históricos levantados por

ele ainda têm consequências na aprendizagem de alunos.

No trabalho que descrevemos a seguir, Cid (2003) confronta os

obstáculos epistemológicos levantados por Glaeser (2010) para o ensino dos

números inteiros com as definições de Bachelard (1996) e de Brousseau

(2008), para discuti-las. Além disso, apresenta pesquisas relacionadas aos

números negativos, e as agrupa em três categorias: propostas de ensino;

dificuldades de aprendizagem pelos alunos; e implicações didáticas da

epistemologia dos números negativos. Por fim, mostra diferentes tipos de

Page 44: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

44

introdução para o ensino de números inteiros, fazendo considerações mais

específicas ao modelo concreto.

3.2 A pesquisa de Eva Cid

Em seu artigo “La investigación didáctica sobre los números negativos:

estado de la cuestión” para o Seminário Matemático “Garcia de Aldeano”, da

Universidade de Zaragoza, Cid (2003) faz um levantamento de

aproximadamente 200 trabalhos relacionados a números negativos, entre

artigos e capítulos de livros posteriores a 1950, e classifica-os em três

categorias: as pesquisas que apresentam propostas de ensino; as que

dissertam sobre as dificuldades de aprendizagem dos alunos; e as que trazem

implicações didáticas da epistemologia de números negativos. Afirma que,

mesmo que estas áreas não sejam independentes umas das outras e que

algumas pesquisas façam relação entre a proposta de ensino e as dificuldades

de aprendizagem, ou, a epistemologia dos números negativos e os erros

cometidos pelos alunos, na maioria das vezes, o foco é apenas uma delas,

sem fazer menção às demais.

Tratando especificamente das propostas de ensino, que é a categoria

com maior número de publicações, Cid (2003) traz uma classificação de

diferentes propostas de introdução da estrutura multiplicativa de inteiros, feita

por Bruckheimer (1981), sendo:

- Introdução indutiva: que se caracteriza pela observação e pela

generalização de regularidades em sequências apresentadas.

- Introdução dedutiva: a qual consiste em adicionar aos naturais os seus

respectivos simétricos em relação à soma, definindo as operações desse novo

conjunto numérico de maneira que se conserve a estrutura algébrica dos

números naturais.

- Introdução Construtiva: que se baseia na simetrização do conjunto dos

números naturais para a soma, construção de inteiros como o conjunto de

pares ordenados em relação à equivalência: (a, b) equivale a (a’, b’) se e

Page 45: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

45

somente se a + b’ = b + a’. Posteriormente se define adição, multiplicação e a

ordem seguindo a estrutura do anel totalmente ordenado.

- Introdução por meio de Modelos Concretos: que apresenta números

inteiros com base em sua similaridade com outros sistemas e objetos que são

familiares aos alunos.

Cid (2003) afirma que a introdução construtiva é a mais comum nos

livros e que a mesma teve seu auge nos anos 60/70, com o Movimento da

Matemática Moderna. Já a introdução dedutiva ainda hoje é utilizada em

diferentes níveis de ensino.

A autora afirma, ainda, que são muitos os modelos concretos para o

ensino dos números inteiros, sendo necessário recorrer a algum tipo de

classificação, e escolhe a de Janvier (1983, apud CID, 2003) que distingue três

tipos de modelo: o do equilíbrio, o da reta numérica e o híbrido. Porém, Cid

(2003) faz uma modificação nessa classificação, não levando em conta o

modelo híbrido por considerar que pode ser incluído nos outros dois modelos;

prefere chamar de modelo de “neutralização” o modelo do equilíbrio, por

entender que assim define melhor a ideia de que existem opostos que se

neutralizam; e utiliza o termo “deslocamento” para o modelo “reta numérica” de

Janvier (1983, apud CID, 2003), por considerar que a reta numérica é um caso

particular do deslocamento.

Cid (2003) justifica que a distinção entre os modelos de neutralização e

de deslocamento acontece pela diferença dos sinais de “mais” e de “menos”.

No primeiro caso, os sinais predicativos se referem a medidas de grandeza que

se neutralizam entre si; enquanto os sinais operatórios se identificam com as

operações de adição e de subtração, como por exemplo, quadradinhos verdes

e laranjas utilizados por Bordin (2011) para representar quantidades positivas e

negativas, respectivamente. Já o segundo requer a introdução de uma

avaliação moral, afirmando que o sentido positivo é “melhor” que o negativo.

A autora elenca vários modelos de neutralização e de deslocamento

encontrados na história e seus respectivos autores. Afirma que, entre os

modelos de neutralização, os mais utilizados em livros didáticos atuais são os

Page 46: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

46

modelos que abordam perdas ou ganhos, pontuação positiva ou negativa,

entrar ou sair de um recinto, e que, entre os modelos de deslocamento, estão o

do termômetro, o modelo de progressos e retrocessos ao longo de um

caminho, o de altitudes acima ou abaixo do nível do mar, elevadores ou

escadas que se deslocam para cima ou para baixo e os anos antes e depois de

Cristo.

Cid (2003) traz algumas características gerais das pesquisas que

abordam os modelos concretos para a introdução do ensino de números

negativos. A primeira delas, segundo a autora, é que depois de descrever

brevemente alguns dos problemas observados no ensino de forma “tradicional”,

as pesquisas apresentam um novo modelo concreto de ensino, ou então uma

nova versão de algum modelo já apresentado por outra pesquisa; e alguns

artigos fazem críticas a um modelo específico para justificar a variação do

modelo que apresenta. Ela também adverte que algumas propostas são

incompletas, pois ou contemplam só a estrutura aditiva dos números inteiros,

em sua maioria, ou contemplam apenas a estrutura multiplicativa, justificando

que os alunos já dominam a estrutura aditiva em ℤ. Além disso, a maioria das

pesquisas trata como óbvia a estrutura ordinal em ℤ. Os poucos trabalhos que

se referem a ela tratam muito superficialmente dessa questão.

Outro aspecto considerado por Cid (2003) refere-se aos livros que

apresentam uma sucessão de modelos que consideram adequados, de acordo

com a operação a ser trabalhada. Por exemplo, utilizam modelos de

neutralização para a estrutura aditiva e de deslocamento para a estrutura

multiplicativa. Ela destaca que poucos autores falam da necessidade de

contextualizar a noção de número inteiro que foi introduzida inicialmente e cita,

como exemplo, um aluno que “aprendeu” a adição e a subtração de inteiros

pela habilidade de manusear cartões de cores diferentes que se neutralizam

entre si, mas não compreende uma situação na qual há a necessidade de

utilização desses números.

Cid (2003) ainda coloca que em quase nenhuma das pesquisas que ela

analisou para este estudo se discute sequer se números negativos devem ser

Page 47: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

47

apresentados a partir de naturais. Apenas Freudenthal (1983, apud CID, 2003)

discute a possibilidade de se introduzir o ensino de números inteiros a partir da

geometria analítica, justificando que a vantagem dessa introdução é não limitar-

se aos inteiros negativos. Outra exceção é Bruno e Martinón (1997, apud CID,

2003), que discutem sobre a apresentação dos números negativos em simetria

aos positivos, alegando não ver vantagem nesse método por ser necessário

maior tempo para isso, e também não evita as dificuldades de aprendizagem.

Por fim, as pesquisas de Davidson (1987, apud CID, 2003) e Azy (1989, apud

CID, 2003) discutem a possibilidade de introdução dos números negativos para

alunos de idade menor que a habitual (12 anos).

Cid (2003) destaca que observou dois tipos de críticas quanto aos

modelos concretos para introdução de números inteiros. Existem os que creem

que a introdução dos números inteiros não deve ser feita por meio de modelos

concretos, e os que fazem críticas a determinados modelos sem discutir a

necessidade de usá-los. Um dos modelos mais criticados é o da reta numérica,

apesar de ser um dos mais utilizados para este ensino, ou talvez por conta

disso. Existem críticas também ao modelo que utiliza fichas coloridas, alegando

que podem surgir dificuldades na interpretação da subtração de inteiros, entre

outras.

Entre os autores que fazem críticas quanto a utilização de modelos

concretos citados pela autora, destacamos Freudenthal (1973, apud CID, 2003)

que afirma que este tipo de introdução não deve prolongar-se, pois, a intuição

pode tornar-se um obstáculo para o aluno, sendo assim necessário substituir o

método intuitivo por um método indutivo, que antecede o método dedutivo. Da

mesma forma que Klein (1927, apud CID, 2003) afirma que o número negativo

é a primeira noção matemática do ensino fundamental cuja gênese histórica

não se deu pela necessidade de se modelar o mundo físico ou social e que os

números negativos na escola são o primeiro passo para a “matemática formal”

e, portanto, o tratamento didático que se deve dar a eles deve ser

consequência dessas ideias.

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48

A autora também discute a pertinência do uso de modelos concretos na

introdução de números negativos por duas razões.

A primeira é que no ensino de matemática o processo de modelagem matemática é inverso: enquanto na ciência é usual que o objeto de estudo seja um determinado sistema ou fenômeno do mundo modelado por um sistema matemático, no campo da educação o objeto de estudo é um conceito aritmético modelado por um sistema físico ou social com que os alunos devem estar familiarizados.

A segunda razão é que a aritmética elementar não precisa de números negativos, porque todos os problemas que surgem nesta área podem ser resolvidos perfeitamente em termos de números positivos, sem o uso de números negativos ou técnicas de resolução mais elaborada. (CID, 2003, p.12, tradução nossa)

Nesse sentido, Cid (2003) cita Carraher (1990, apud CID, 2003) que

realizou um questionário distribuído a pessoas de várias idades sobre

problemas de débitos e créditos em diferentes contextos, e observou que as

taxas de acerto não foram maiores para aqueles que já conheciam números

negativos, e, inclusive estes, não utilizavam negativos para a resolução. Eles

resolviam as atividades no campo dos números positivos, e qualificavam por

escrito que representavam dívidas. Também Mukhopadhyaye et al. (1990,

apud CID, 2003) comprovam que os alunos se desenvolvem melhor em um

contexto de dívidas e créditos do que em situações de cálculo formal, o que

leva a crer que eles resolvem tais problemas utilizando números naturais.

De acordo com a autora, em menor número estão as pesquisas que

dissertam sobre a competência dos alunos para operar números negativos, e

estas trazem constatações de erros e de dificuldades de todos os tipos, tanto

para estruturas aditivas e multiplicativas como a ordinal, porém, mesmo sendo

em menor número, não é fácil relacionar as conclusões dos autores pela

diversidade de opiniões desde a construção até a análise das respostas.

Cid (2003) relata algumas pesquisas que tratam de competências de

alunos para a realização de operações formais. Nestas pesquisas há

evidências de melhores resultados nas questões envolvendo adição, seguidos

das questões de multiplicação, e a subtração de inteiros é a operação que

apresenta o menor índice de acertos, sobretudo quando o minuendo é

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49

negativo. Por exemplo: “(−8) − (−3)” ou “(−5) – (+ 2)”. Outros ainda encontram

indícios de que os alunos resolvem com menos dificuldade as operações de

números inteiros que têm mesmo sinal.

Outras pesquisas relatam diferentes procedimentos de alunos para

resolver problemas envolvendo números inteiros. De acordo com estes

procedimentos, os autores agrupam resultados observados de acordo com o

“perfil”, o “conhecimento” e a “concepção” dos alunos, como tentativa de dar

uma visão coerente desses procedimentos e de analisar as causas deles,

estabelecendo níveis de conhecimento, considerando as dimensões “reta

numérica” e “grandeza”, justificando que, ao resolver um problema, o aluno

recorre a um desses dois tipos de raciocínio.

A terceira categoria de trabalhos levantada por Cid (2003) sobre a

epistemologia dos números inteiros aborda a noção de obstáculo

epistemológico que foi inicialmente definida por Bachelard em 1938, no campo

das ciências, e posteriormente introduzida por Brousseau na Educação

Matemática em 1976.

Cid (2003) baseia-se na Teoria das Situações Didáticas (BROUSSEAU,

1989, apud CID, 2003), segundo a qual o aluno adquire o conhecimento

quando é capaz de estabelecer estratégias de resolução para resolver uma

situação que exija este conhecimento. Dessa forma, este conhecimento é o

resultado da adaptação do indivíduo ao meio no qual está inserido. A autora

afirma que, em consequência disso, o conhecimento matemático do aluno

dependerá da experiência adquirida resolvendo situações em que uma

determinada noção esteja envolvida.

A partir de determinado conceito adquirido, o aluno é capaz de resolver

situações dentro de um domínio que envolva este conceito, ou o entorno dele.

O obstáculo surge quando o aluno, de posse desse conhecimento, tenta aplicá-

lo em um outro subconjunto de situações, para as quais este conhecimento já

não é satisfatório, dificultando a resolução.

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50

De acordo com Cid (2003), quando o obstáculo pode ser observado na

história da Matemática ou em uma comunidade matemática de um determinado

período, que teve a consciência da existência dele e da necessidade de

superá-lo, chamamos de “obstáculo epistemológico”. A autora cita Duroux

(1982, apud CID, 2003), que descreve obstáculo epistemológico seguindo uma

lista de condições necessárias para considerá-lo.

a) Um obstáculo é um conhecimento, uma concepção. Não uma dificuldade nem uma falta de conhecimento.

b) Este conhecimento produz respostas adaptadas a certo contexto, frequentemente reencontrado.

c) Porém gera respostas falsas fora deste contexto; uma resposta correta e universal exige um ponto de vista notadamente diferente.

d) Além disso, este conhecimento resiste a contradições com as quais se depara e ao estabelecimento de um conhecimento melhor. Não é o suficiente possuir um conhecimento melhor para que o precedente desapareça, mas é indispensável identificá-lo e incorporar sua rejeição no novo saber.

e) Depois de se tornar consciente de sua imprecisão, o obstáculo continua manifestando-se de forma inesperada e obstinada, provocando erros. (DUROUX, 1982, apud CID, 2003, pp. 19, 20, tradução nossa)

Dessa forma, não se trata apenas de uma concepção no campo teórico

da Educação Matemática. A determinação de que erros distintos constituem ou

não um obstáculo tem implicações importantes na prática docente. Se a

concepção não é um obstáculo, cabe ao professor buscar situações de ensino

que favoreçam o seu desenvolvimento e, se for um obstáculo, é necessário

“atacar” esta concepção até que o aluno a rejeite, e isso exige não apenas

adaptações nas variáveis didáticas. Se a concepção analisada for evidenciada

em um obstáculo, é necessário que aconteçam mudanças didáticas radicais

nessa variável didática, e isso implica uma modificação qualitativa dos

conhecimentos necessários para adaptar-se à nova situação.

Cid (2003) menciona alguns autores que, segundo ela, não aceitam ou

dão um sentido diferente à noção de obstáculo proposta por Brousseau (1989,

apud CID, 2003), e que fazem contribuições para o problema metodológico de

como decidir se uma concepção é ou não um obstáculo. Entre eles, Glaeser

(2010), que se propõe a buscar obstáculos que se opõem ao ensino e à

aprendizagem de números negativos. A partir do trabalho de Glaeser (2010),

Page 51: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

51

outros autores discutem obstáculos epistemológicos e números negativos, por

exemplo, Duroux (1982, apud CID, 2003) enfatiza a definição de Brousseau

(1989, apud CID, 2003) de que um obstáculo é um conhecimento e não a falta

dele. Por este motivo, Duroux (1982, apud CID, 2003) não considera como

obstáculo os dois primeiros descritos por Glaeser (1981) – inaptidão para

manipular quantidades negativas isoladas e dificuldade para dar sentido às

quantidades negativas isoladas – por considerar que, nesses casos, há déficit

de conhecimento. Já unificar a reta numérica é considerado por ele como um

obstáculo por considerar que a natureza dos números negativos é diferente da

natureza dos números positivos.

Cid (2003) ainda cita Brousseau (1989, apud CID, 2003) que, assim

como Duroux (1981, apud CID, 2003), argumenta insistindo que se deve

distinguir entre um obstáculo e uma dificuldade, e sugere que o que Glaeser

(1981) propõe são dificuldades que podem servir como ponto de partida para a

busca dos verdadeiros obstáculos, que devem ser expressos em termos de

conhecimento válido em certo domínio.

A autora destaca a pesquisa de Schubring (1986, apud CID, 2003) que,

diferentemente dos autores citados anteriormente, considera que os obstáculos

relacionados aos números negativos podem ser agrupados em três categorias.

1ª – obstáculos internos à Matemática, como, por exemplo, a dificuldade

de distinguir entre número, grandeza e quantidade.

2ª – obstáculos epistemológicos, que se referem às concepções de

existência da própria Matemática como substancialista, segundo a qual os

conceitos se justificam pela redução de alguns fatos para a condição de

existência semelhante ao mundo físico; ou sistêmica, justificada pela coerência

do campo conceitual em que os conceitos não devem satisfazer a mais de uma

condição interna da Matemática.

3ª – arquitetura da Matemática, que leva em conta a importância que

cada época deu aos diferentes ramos da Matemática, especialmente à Álgebra

e à Geometria.

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52

Cid (2003) afirma que as pesquisas que se dedicam ao estudo dos

obstáculos epistemológicos têm tido pouco impacto nas pesquisas que tratam

de propostas de ensino e de dificuldades de alunos no ensino de números

inteiros, e que não há pesquisas que se proponham a confirmar a existência de

obstáculos epistemológicos com alunos de hoje em dia. Existem apenas

pesquisas que fazem um estudo epistemológico sobre os números negativos,

ou de acordo com os objetivos, relaciona os resultados com outros obtidos em

estudos anteriores.

As pesquisas de Glaeser (2010) e de Cid (2003) foram essenciais para a

nossa compreensão de dificuldades e de obstáculos no ensino de números

inteiros. Glaeser (2010) elenca dificuldades que ele considera serem

obstáculos epistemológicos. Cid (2003), porém, faz críticas a essa lista de

obstáculos, e compartilha da afirmação de Duroux (1982, apud CID, 2003), de

que, para ser considerado como um obstáculo epistemológico, tal como

definem Bachelard (1938) e Brousseau (1976), este deve ter algumas

características, sendo a principal delas a de que um obstáculo não é falta de

conhecimento do aluno, e sim um conhecimento que produz um resultado

satisfatório em determinado domínio, porém em domínios diferentes ele não

produz o resultado esperado, exigindo do aluno uma nova visão do assunto e,

mesmo quando enfrentado, este continua se manifestando, levando o aluno a

erros. Dessa forma, segundo Duroux (1982, apud CID, 2003) e Cid (2003)

alguns dos obstáculos apontados por Glaeser (2010) não deveriam ser

considerados como tal.

3.3 Dificuldades de aprendizagem de Números Inteiros observadas na

literatura em Educação Matemática

Buscando também dificuldades de aprendizagem relacionadas aos

números inteiros, encontramos a pesquisa de Gonçalves (2007), que propõe a

aplicação de problemas envolvendo números inteiros com o auxílio de um

software matemático com várias ferramentas, buscando “investigar como

alunos fazem a conversão do enunciado do problema no registro da língua

Page 53: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

53

natural para o registro simbólico numérico” (GONÇALVES, 2007, s/p), para

tentar compreender o raciocínio e a compreensão ou não de alunos diante de

uma situação, pois verificou na própria prática que os alunos dela

apresentavam dificuldade para entender e para resolver problemas e

expressões numéricas envolvendo números inteiros. Segundo ela, essas

dificuldades iniciam-se no 7º ano do Ensino Fundamental (alunos com 12 anos,

em média), com a introdução do conteúdo, mas arrastam-se pelos anos

seguintes, e, se não forem superadas, provocam lacunas no aprendizado.

Por meio dos resultados observados, a pesquisadora afirma que a

motivação e o interesse dos alunos em resolver atividades em um ambiente

computacional é maior, o qual pode envolver, motivar e instigar alunos no

processo de aprendizagem de números inteiros.

A pesquisadora afirma que:

Hoje em dia, percebemos que nossos educandos esperam um envolvimento maior de nós educadores, esperam uma docência dinâmica para tornar o próprio estudo mais prazeroso e envolvente. (GONÇALVES, 2007, p. 16)

Diante dessa afirmação pudemos concluir que a autora acredita que a

desmotivação do aluno para o aprendizado pode ser um fator importante no

processo de aprendizagem, gerando dificuldades. Gonçalves (2007) afirma,

ainda, ser de grande importância à orientação pedagógica oferecida aos

professores, que precisa estar voltada a um ensino que ofereça subsídios para

a aprendizagem do conceito a ser abordado.

Bordin (2011) também aponta a desmotivação dos alunos para

apropriar-se de conhecimentos como geradora de dificuldade para a

aprendizagem. Segundo a pesquisadora, muitos alunos não se sentem

motivados para o aprendizado e ficam simplesmente esperando que o

professor lhes transmita o conhecimento.

Após desenvolver o conteúdo de números inteiros com duas turmas do

7º ano do ensino fundamental, das quais era professora, de forma tradicional

(explicação no quadro e aplicação de exercícios), a pesquisadora observou que

vários alunos não estavam acompanhando o desenvolvimento do conteúdo, o

Page 54: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

54

que provocou a busca de uma nova estratégia de ensino. Dessa forma, Bordin

(2011) fez uma pesquisa com as duas turmas, utilizando jogos e materiais

manipuláveis (quadradinhos verdes para representar números positivos e

quadradinhos laranjas para negativos; e jogos adaptados por ela, a partir de

outros já existentes) para a abordagem do conteúdo e introdução das

operações de adição, subtração, multiplicação, divisão e potenciação de

números inteiros.

Nas aulas em que não era possível a aplicação de jogos, por conta do

tempo reduzido, a autora trabalhava com atividades propostas no livro didático,

utilizando materiais manipuláveis, com os quais os alunos trabalhavam em

duplas ou trios, buscando proporcionar a interação entre eles durante a

discussão dos procedimentos utilizados e dos resultados obtidos. A

pesquisadora considerou importante utilizar exemplos baseados na realidade

dos alunos, ou seja, em situações comuns ao dia a dia deles, fazendo relação

entre conhecimentos prévios já adquiridos em experiências fora do contexto de

sala de aula e a nova aprendizagem.

Bordin (2011) concluiu que, com a utilização desses jogos e dos

materiais manipuláveis, os alunos compreenderam as operações sem

necessidade de decorar regras, e que a interação e a manipulação dos objetos

auxiliaram na abstração do conteúdo.

Outra pesquisa que utilizou jogos como um meio para tentar superar

dificuldades de aprendizagem foi a de Neves (2010) que, na introdução,

determina como obstáculo epistemológico “a dificuldade que os alunos têm na

assimilação do conceito de número negativo e das operações com tais

números”, sobretudo a multiplicação, porém, não justifica a afirmação de que

esse fato caracteriza-se como um obstáculo no decorrer de sua pesquisa,

tratando-o como uma dificuldade em ambos os processos de ensino e de

aprendizagem.

Partindo do ponto de vista de Duroux (1981, apud CID, 2003), de que

um obstáculo surge a partir de um conhecimento e não da falta deste,

verificamos que o que o autor define como obstáculo constitui-se na verdade

Page 55: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

55

em uma dificuldade, pois, usualmente, até o sétimo ano o aluno ainda

desconhece o conceito de número negativo e não possui habilidade em realizar

operações com esses números.

Neves (2010) buscou investigar as causas dessa dificuldade e, para

isso, propôs o uso de quatro tipos de jogos, em uma ordem crescente de

raciocínio e de desenvolvimento de algumas habilidades, “visando contribuir

para o desenvolvimento dos estudos ligados à compreensão das regras de

sinais dos números inteiros” (NEVES, 2010, s/p), com base na teoria Cognitiva

de Aprendizagem, a Aprendizagem Significativa de David Ausubel.

A pesquisa de Neves (2010) deu-se a partir da formação de um “Clube

de Matemática”, com quinze alunos, nove deles de 5ª e seis de 6ª série do

Ensino Fundamental, de uma escola particular do Município de São Carlos/SP.

No período contra turno às aulas habituais, realizaram-se doze encontros, nos

quais foram utilizados atividades e jogos didáticos, tendo como objetivos gerais

"desenvolver a habilidade de cálculo mental, ampliar o raciocínio lógico,

aumentar a atenção e a concentração e desenvolver a criatividade"; e como

objetivo específico "trabalhar as quatro operações fundamentais com os

números inteiros, dando significado e compreensão às regras de sinais"

(NEVES, 2010, p.2).

Ao iniciar sua pesquisa, Neves (2010) observou que os alunos

apresentavam dificuldades em operar com números negativos, principalmente

ao trabalhar com as operações de subtração e de multiplicação, pelo fato de

ainda não terem bem definida a ideia de números negativos. Para atingir seu

objetivo, ele aplicou doze atividades utilizando fichas com sinais positivos e

negativos e três jogos – Jogo do Dinossauro, Jogo do Hexágono e Jogo Matix

– seguindo as etapas de construção e de familiarização com o material a ser

utilizado, leitura e compreensão das regras dos jogos, intervenções verbais e

escritas nos problemas relacionados ao jogo e na aplicação das estratégias de

resolução que foram elaboradas a partir das análises da resolução dos

problemas.

Page 56: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

56

A partir dos resultados observados, Neves (2010) concluiu que os jogos,

quando aplicados sob orientação, representam um excelente instrumento de

ensino e que, por meio deles, pode-se observar, analisar e avaliar os

procedimentos utilizados pelos alunos tanto no cálculo como na elaboração das

estratégias de resolução. Dessa forma, considerou que seu principal objetivo

foi atingido, afirmando que foi possível trabalhar com o conceito de números

inteiros atribuindo significado a valores negativos ou positivos e,

consequentemente, à compreensão do conceito desses números, sendo

possível superar a dificuldade dos alunos na assimilação do conceito de

número negativo e das operações com eles, que foi caracterizada por ele como

obstáculo epistemológico no início da pesquisa.

Já Passoni (2002) supõe que a introdução da ideia de número negativo

acontece tardiamente, tornando-se um obstáculo didático para a compreensão

e a legitimação desses números. O pesquisador defende que já aos nove anos

de idade o aluno interage com situações de perdas e ganhos no dia a dia dele,

promovendo, portanto, um conhecimento informal sobre o conceito de número

negativo. Além disso, procura demonstrar que alunos podem resolver

problemas de estrutura aditiva mais facilmente se, ao invés da adição e

subtração dos números naturais, for utilizada uma “pequena dose de

manipulação algébrica” (PASSONI, 2002, p.8). Ou seja, em sua pesquisa o

autor pretende investigar a possibilidade de introdução do conceito de números

inteiros simultaneamente ao ensino de pré-álgebra.

O pesquisador elaborou uma sequência, dividida em cinco partes, num

total de 16 atividades. Do total dessas atividades, algumas questões foram

retiradas e modificadas para serem aplicadas em dois testes, o pré e o pós-

teste. A sequência constituía-se de seguinte forma:

• 1ª parte: Introdução de números inteiros;

• 2ª parte: Introdução do oposto de um número;

• 3ª parte: Introdução da adição de números inteiros;

• 4ª parte: Introdução de equações e de alguns problemas aditivos;

• 5ª parte: Introdução da subtração de números inteiros.

Page 57: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

57

Passoni (2002) concluiu a pesquisa julgando ser possível a introdução

do ensino de números inteiros na terceira série (hoje 4º ano), de forma

algébrica e contextualizada, com problemas no campo aditivo, mas deixa

algumas questões como reflexão e sugestão para novas pesquisas:

Permanecem as questões: será esse o melhor momento para estudar esses números? Será que poderiam ser apresentados ainda mais cedo? Por exemplo, na primeira série? Ou talvez ainda na Educação Infantil? Quais seriam as vantagens e desvantagens desse procedimento? (PASSONI, 2002, p. 203)

Baseado na experiência realizada por Passoni (2002), Todesco (2006)

avalia a possibilidade de se iniciar o ensino de números inteiros na 3ª série

(hoje 4º ano) do Ensino Fundamental, partindo da elaboração de uma

sequência utilizando um contexto familiar ao aluno. Como justificativa, o

pesquisador afirma que, ao contrário dos números positivos, os números

negativos não correspondem a quantidades concretas, isto é, não podem ser

representados por coisas ou objetos, tornando-se necessária uma investigação

no processo de aprendizagem para verificar como acontece a mudança do

conceito de grandeza (o concreto) para o conceito de número (o abstrato).

Todesco (2006) defende a ideia de que quanto mais cedo essa mudança for

entendida pelo aluno, menos dificuldade ele terá para operar com números

positivos e negativos.

Para desenvolver sua pesquisa, Todesco (2006) trabalhou com duas

turmas de 3ª serie (4º ano) do Ensino Fundamental de uma escola da rede

pública municipal de São Paulo, constituindo-se uma delas em grupo de

controle (GC) e a outra em grupo experimental (GE). A pesquisa dividiu-se em

duas etapas, sendo a primeira delas a aplicação de um teste diagnóstico para

os dois grupos; e a segunda, a aplicação da intervenção de ensino com uso de

material manipulativo, para o grupo experimental. Para isso, apoiou-se nas

ideias de Jean Piaget e Raymond Duval, relacionadas ao papel que as

demonstrações desempenham na compreensão da Matemática; como Piaget,

discute a representação na formação do indivíduo, e como Raymond Duval,

refere-se a ela no processo de aprendizagem dos conceitos.

Page 58: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

58

A análise do desempenho dos grupos nos dois instrumentos

diagnósticos mostrou que, no pré-teste, o desempenho foi relativamente baixo,

porém, no pós-teste, observou-se um real crescimento, mostrando que GE

apresentou um crescimento nos acertos em relação ao GC. Essa evolução

também pôde ser notada pelas estratégias utilizadas pelos alunos do GE para

a resolução dos testes, pois, no pré-teste, quase não houve estratégias de

resolução.

Como conclusão, Todesco (2006) aponta que é possível introduzir o

conceito de números inteiros a alunos de terceira série, dentro de um contexto

familiar ao aluno, e respeitando o ritmo individual de aprendizagem de cada

um, concluindo, assim, ser possível evitar dificuldades na aprendizagem que

acontecem ao iniciar-se o estudo dos números negativos no 7º ano do ensino

fundamental, pois esta introdução costuma ser cercada de dificuldades e de

incompreensões por parte dos alunos, talvez pelo fato de que, muitas vezes, os

alunos não conseguem fazer relação desses números com as atividades

comuns do mundo à sua volta.

As duas pesquisas citadas, de Passoni (2002) e de Todesco (2006),

partem do pressuposto de que, ao se apresentar o conceito de número

negativo na 3ª série do Ensino Fundamental, estaremos fazendo com que o

aluno sinta-se familiarizado a este novo conjunto numérico e, assim, evitamos

ou pelo menos minimizamos dificuldades na aprendizagem que normalmente

são apresentadas pelos alunos do 7º ano.

É possível que essa iniciativa colabore com a superação de um

obstáculo epistemológico. Ao iniciar o estudo dos números inteiros no 7º ano,

espera-se que os alunos tenham bem definidos o conceito e as estruturas

aditiva e multiplicativa dos números naturais, porém sem qualquer noção de

números negativos. Pode haver uma certa confusão por parte dos alunos, pois

é possível que tentem aplicar conhecimentos que são válidos em ℕ e que nem

sempre serão válidos em ℤ .

Soares (2007) afirma que o fato do professor não levar em consideração

os conhecimentos prévios dos alunos pode gerar dificuldades no ensino dos

Page 59: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

59

números negativos, aqueles conhecimentos que são adquiridos na prática

diária, que são desenvolvidos em atividades da cultura popular, no cotidiano ou

em atividades profissionais. Segundo Soares (2007), estes conhecimentos

prévios serviriam de “âncora” aos novos conhecimentos, tornando-os, assim,

significativos para o aluno.

Com o objetivo de “[...] pesquisar quais as concepções dos professores

em relação aos conhecimentos prévios dos alunos e como se processa a sua

utilização no ensino dos Números Inteiros” (p. 23), Soares (2007) realizou seu

trabalho pesquisando quatro docentes do 6º ano do Ensino Fundamental da

rede pública do estado da Paraíba, por meio de questionários, entrevistas e

observações em sala de aula.

Para a realização de sua pesquisa, Soares (2006) baseou-se na

Aprendizagem Significativa de Ausubel, e utilizou a categorização de

Mandarino (2006, apud SOARES, 2006), que classifica as concepções no

ensino de Matemática: concepção formal ou tradicional, utilitária ou

instrumental e concepção relacional. A primeira concepção caracteriza-se por

apresentar uma visão da Matemática como uma ciência estática, pronta e

acabada, independente da interferência do Homem e da História; já a segunda

concepção privilegia a Matemática útil, e considera importante os

conhecimentos matemáticos que podem ser utilizados no cotidiano e no mundo

do trabalho; e a concepção relacional considera a Matemática como uma

construção humana e histórica, baseada na necessidade de resolver

problemas.

A pesquisadora chama a atenção ainda para a “[...] completa falta de

leituras atualizadas a respeito de temas importantes para uma melhor prática

escolar [...]” (p.77), por parte dos professores, pois apenas um dos professores

entrevistados demonstrou estar atualizado, por exemplo, quanto aos temas de

aprendizagem escolar, aprendizagem significativa, entre outros.

Concluindo sua pesquisa, Soares (2006) afirma que o ensino que

percorre as teorias da etnomatemática e valoriza conhecimentos prévios de

alunos para as novas introduções proporciona a aprendizagem, fazendo com

Page 60: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

60

que o educando perceba o contexto no qual está inserido, e como a

Matemática nele atua, gerando conclusões próprias e não apenas colocações

em que os números surgem de modo explícito.

Rossi (2009) justifica sua pesquisa pelas dificuldades apresentadas por

seus alunos na aprendizagem dos números inteiros. Segunda ela, livros

didáticos priorizam o uso de regras de sinais e também a memorização de

procedimentos, além do ensino de forma abstrata, sem significado. Dessa

forma, propõe uma reflexão sobre o ensino de números inteiros, com o objetivo

de estudar autores que discutem obstáculos epistemológicos relacionados às

dificuldades de aprendizagem desses números, bem como verificar a

abordagem dada a este conteúdo por autores de livros didáticos.

A pesquisadora realizou estudo em documentos oficiais, como os PCN,

a Proposta Curricular de Matemática do Estado de São Paulo de 1986 e a

atual, publicada em 2008, além do documento Prática Pedagógica (1997), com

o objetivo de verificar quais as orientações didáticas oferecidas por eles para o

ensino de números inteiros. Como fundamentação teórica, a pesquisadora

baseia-se na noção de obstáculos de Bachelard (1938) e de Brousseau (1983),

na discussão a respeito de obstáculos relacionados a dificuldades com

números inteiros, de Glaeser (1981) e Cid (2003) e na discussão de Bellard et

al. (2005, apud ROSSI, 2009), sobre tipos de regras utilizadas em Matemática.

Rossi (2009) constatou que os autores dos livros didáticos que foram

analisados abordam o conteúdo de números inteiros com situações

contextualizadas, permitindo ao aluno dar significado a esses números. Para a

abordagem das operações de adição e de subtração, utilizam situações

concretas e também representações na reta numérica, porém a maioria deles

ainda valoriza as regras matemáticas na maior parte dos exercícios propostos.

Rossi (2009) destaca, também, a importância da análise criteriosa no ato da

escolha, pelo professor, do livro didático a ser utilizado, a fim de favorecer a

aprendizagem de Matemática. A pesquisadora ainda sugere que as

dificuldades dos alunos devem ser encaradas como fonte de estudo dos

Page 61: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

61

professores, que devem buscar aprimorar a própria prática didática e levar o

aluno à superação de obstáculos.

As dificuldades apontadas nas pesquisas podem ser observadas em

sala de aula, porém, tais dificuldades são observadas desde a história dos

números, com maior relevância a partir das primeiras tentativas de

estabelecimento de números negativos, e também regras de procedimento

para operar com eles, de maneira que pudessem ser justificadas dentro de um

contexto.

De acordo com a categorização de Cid (2003), Gonçalves (2007, Bordin

(2007), Neves 2010, Passoni (2002) e Todesco (2006) fazem parte do grupo de

pesquisas que trazem propostas de ensino, já Soares (2006) e Rossi (2009)

fazem implicações didáticas para o ensino de números inteiros,

Para Gonçalves (2007) e Bordin (2007) é importante a motivação dos

alunos para o aprendizado. Consideramos que a motivação é sim um fator

importante para que o aprendizado aconteça de maneira significativa para o

aluno. Mas, não podemos caracterizá-lo como um obstáculo tal qual foi descrito

por Brousseau (1976) ou Duroux (1982), pois a desmotivação pode vir a ser um

fator para o não aprendizado e dessa forma gerar dificuldades de

aprendizagem.

A proposta de Gonçalves (2007) é observar como os alunos fazem a

conversão do enunciado de um problema, da linguagem natural para o registro

simbólico numérico. Assim, entendemos que Gonçalves (2007) refere-se à

dificuldade que os alunos têm para realizar essa conversão. Observamos que,

além do trabalho em um ambiente diferente do habitual, a pesquisadora utilizou

problemas contextualizados, comuns à vida diária do aluno, o que

possivelmente facilitou a compreensão favorecendo a realização dessa

conversão.

Neves (2010) afirma que sua pesquisa teve por base a dificuldade que

alunos têm de compreender o conceito de números negativos, bem como, as

operações com eles. O autor aponta esta dificuldade de compreensão do

conceito de número negativo como um obstáculo epistemológico, mas não faz

Page 62: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

62

a caracterização necessária para esta consideração, ou seja, não há, no texto,

indícios de que os conhecimentos já adquiridos pelos alunos dele geraram

essa dificuldade, o que nos faz concluir que não seja um obstáculo

epistemológico, pois não constatamos em seu texto que o conhecimento dos

conjuntos numéricos e das propriedades desses conjuntos estudados

anteriormente ao dos números inteiros tenha interferido no processo de

aprendizagem. Neves (2010), aliás, afirma que o objetivo de seu trabalho é a

contribuição, por meio de jogos, para o desenvolvimento da compreensão das

regras de sinais dos números inteiros.

Dessa forma, também verificamos, na pesquisa de Neves (2010), uma

dificuldade de aprendizagem de números inteiros e não um obstáculo para o

ensino destes números. Ao abordar o conceito de número negativo por meio de

jogos, o autor busca fazer com que seus alunos compreendam como surgem

estes números, e, a partir da realização de operações necessárias para a

resolução dos problemas propostos, inferir regras de sinais de forma que este

procedimento não se torne apenas memorização.

Passoni (2002) e Todesco (2006) julgam ser possível introduzir números

inteiros a alunos de anos escolares anteriores ao 7º ano, no qual este ensino

está previsto, como forma de amenizar dificuldades apresentadas por alunos

nessa fase. Porém, Todesco (2006) justifica sua pesquisa pela dificuldade que

alunos têm em dar significado a quantidades negativas, o que segundo Duroux

(1982, apud CID, 2003) e Cid (2003) se caracteriza como uma dificuldade de

aprendizagem e não um obstáculo para o ensino. Soares (2007) acredita ser

importante que o ensino dos números inteiros parta de situações problema.

Privilegiando a teoria da etnomatemática, a pesquisadora sugere que o

professor baseie-se nas experiências de vida do aluno, nos conhecimentos

prévios que ele já possui, alegando que estes podem servir de âncora para

novos conhecimentos; mas sua pesquisa, embora aborde o ensino de números

negativos, não analisa dificuldades ou obstáculos na aprendizagem dos alunos.

Seu objetivo foi pesquisar as concepções que os professores têm acerca do

conhecimento prévio dos alunos e como eles trabalham isso, ou não, no ensino

de números inteiros. Soares (2007) chama a atenção para a falta de leituras

Page 63: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

63

atualizadas por parte dos professores, pois, dos quatro docentes que ele

entrevistou apenas um deles estava atualizado quanto ao tema de

aprendizagem significativa, por exemplo.

Rossi (2009) questiona o ensino de números inteiros, que, de acordo

com ela, acontece de forma abstrata e sem significado, além do uso excessivo

de regras para a memorização nas operações. A autora faz um levantamento

em documentos como, por exemplo, os PCN, a Proposta Curricular de

Matemática do Estado de São Paulo, de 1986 e a de 2008 e, o documento

Prática Pedagógica (1997), verificando o que eles propõem para o ensino de

números inteiros quanto à abordagem inicial, abordagem geométrica,

abordagem das operações de adição, de subtração, de multiplicação e de

divisão, além de verificar tais propostas em livros didáticos de acordo com a

categorização que ela estabeleceu. A pesquisadora faz um estudo sobre

trabalhos e autores que discutem a noção de obstáculo epistemológico, e, na

análise de livros didáticos, aponta alguns possíveis obstáculos apresentados

por Glaeser (1981).

Diante dos trabalhos apresentados, entendemos que tanto as

dificuldades de aprendizagem como os obstáculos acerca do ensino de

números inteiros devem ser motivo de atenção e de pesquisa para os

professores da área.

Encontramos neste capítulo as seguintes dificuldades: dificuldade de

realizar a conversão do enunciado de um problema na língua materna para o

registro simbólico numérico; dificuldade de realizar operações com números

inteiros e compreensão das regras de sinais; dificuldade em assimilar o

conceito de número negativo.

No próximo Capítulo trazemos um levantamento das orientações para o

ensino de números inteiros em documentos oficiais da educação básica.

Apresentamos também uma pequena análise de dois livros didáticos de

Matemática, buscando como é abordado neles esse ensino. Entendemos que é

importante essa análise pois, a nosso ver, livros didáticos representam o

material de apoio mais utilizado por professores do ensino fundamental.

Page 64: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

64

Capítulo 4

Documentos oficiais para a Educação Básica e livros didáticos de

Matemática

Neste capítulo, apresentamos um estudo de documentos oficiais que

norteiam o ensino na Educação Básica. Verificamos quais são as orientações

dadas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) (BRASIL, 1998) para o

ensino de Matemática e, mais especificamente, para o ensino de números

inteiros. Além disso, como trabalhamos na rede pública de ensino do Estado do

Paraná, fazemos essa mesma verificação nas Diretrizes Curriculares da

Educação Básica do Estado do Paraná (DCE) (PARANÁ, 2008). Escolhemos

esses documentos, além dos motivos já explicitados nos procedimentos

metodológicos, por terem sido construídos com a participação de professores,

a partir de experiências e estudos, com a pretensão de criar condições de

ensino ao professor e, ao aluno, de acesso ao conhecimento necessário para o

exercício da cidadania.

Também, apresentamos uma verificação em dois livros didáticos do 7º

ano do Ensino Fundamental, ano em que o ensino dos números inteiros é

introduzido, com o intuito de identificar possíveis obstáculos ou dificuldades de

aprendizagem.

4.1 Números Inteiros e os PCN

A organização da Educação Básica no Brasil é feita pela divisão dos

níveis de ensino: Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. O

Ensino Fundamental subdivide-se em quatro ciclos: no primeiro ciclo estão 1º,

2º e 3º anos; no segundo, 4º e 5º anos; no terceiro, 6º e 7º anos; e no quarto,

8º e 9º anos. É no terceiro ciclo, no 7º ano, que se inicia o aprendizado de

números inteiros, por isso nossa atenção especial ao ensino de Matemática no

Ensino Fundamental. Os PCN estabelecem alguns objetivos gerais a serem

Page 65: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

65

alcançados no ensino de Matemática para os alunos do Ensino Fundamental,

de maneira que esses alunos sejam capazes de:

- identificar os conhecimentos matemáticos como meios para compreender e transformar o mundo à sua volta e perceber o caráter de jogo intelectual, característico da Matemática, como aspecto que estimula o interesse, a curiosidade, o espírito de investigação e o desenvolvimento da capacidade para resolver problemas; - fazer observações sistemáticas de aspectos quantitativos e qualitativos da realidade, estabelecendo inter-relações entre eles, utilizando o conhecimento matemático (aritmético, geométrico, métrico, algébrico, estatístico, combinatório, probabilístico); - selecionar, organizar e produzir informações relevantes, para interpretá-las e avaliá-las criticamente; - resolver situações-problema, sabendo validar estratégias e resultados, desenvolvendo formas de raciocínio e processos, como intuição, indução, dedução, analogia, estimativa, e utilizando conceitos e procedimentos matemáticos, bem como instrumentos tecnológicos disponíveis; - comunicar-se matematicamente, ou seja, descrever, representar e apresentar resultados com precisão e argumentar sobre suas conjecturas, fazendo uso da linguagem oral e estabelecendo relações entre ela e diferentes representações matemáticas; - estabelecer conexões entre temas matemáticos de diferentes campos e entre esses temas e conhecimentos de outras áreas curriculares; - sentir-se seguro da própria capacidade de construir conhecimentos matemáticos, desenvolvendo a auto-estima e a perseverança na busca de soluções; - interagir com seus pares de forma cooperativa, trabalhando coletivamente na busca de soluções para problemas propostos, identificando aspectos consensuais ou não na discussão de um assunto, respeitando o modo de pensar dos colegas e aprendendo com eles. (BRASIL, 1998, p. 48)

O ponto de partida para o ensino de Matemática apontado nos PCN é a

resolução de problemas.

[...] No processo de ensino e aprendizagem, conceitos, idéias e métodos matemáticos devem ser abordados mediante a exploração de problemas, ou seja, de situações em que os alunos precisem desenvolver algum tipo de estratégia para resolvê-las. (BRASIL, 1998, p. 40)

Esta prática faz com que alunos se sintam desafiados a resolver tais

situações, de forma a desenvolver estratégias de resolução. Assim, o

conhecimento matemático perde o aspecto de simplesmente dominar

algoritmos e passa a ter significado para o aluno; porém, de acordo com os

PCN, a resolução de problemas tem sido utilizada em “atividades

Page 66: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

66

complementares” para a fixação de conhecimentos já adquiridos, ou seja,

ensina-se um conceito matemático e, então, aplica-se um problema com a

finalidade de verificar se os alunos são capazes de associar tal situação ao

conhecimento adquirido.

Todavia, tradicionalmente, os problemas não têm desempenhado seu verdadeiro papel no ensino, pois, na melhor das hipóteses, são utilizados apenas como forma de aplicação de conhecimentos adquiridos anteriormente pelos alunos. (BRASIL, 1998, p.40).

Partindo da premissa de que a resolução de problemas é uma

orientação para a aprendizagem, porque proporciona um contexto em que é

possível conhecer novos conceitos e procedimentos matemáticos, os PCN

sugerem que o problema proposto demande a realização de uma sequência de

ações e de estratégias para que se construa o resultado. Ou seja, ao resolver

um problema, o aluno deve elaborar procedimentos de resolução (tentativas ou

hipóteses); executar a estratégia elaborada; comparar e discutir o resultado

com os resultados dos colegas para, no final dessas etapas, validar os

procedimentos utilizados e o resultado obtido.

Além da resolução de problemas, vários outros recursos são

apresentados pelos PCN como caminhos para “fazer matemática” (BRASIL,

1998, p.42) em sala de aula, sendo citados no texto:

• Os Jogos Matemáticos: os jogos constituem-se em meios atrativos para

apresentação de problemas, para os quais alunos despertam interesse

em elaborar estratégias de resolução. Por meio dos jogos, o professor

pode desenvolver um trabalho de formação de atitudes como, por

exemplo, o enfrentamento de desafios, a busca de soluções, criação de

estratégias, entre outras, que favorecem o desenvolvimento crítico dos

alunos e que são considerados necessários à aprendizagem de

Matemática.

• A História da Matemática: revelando-a como uma criação humana, suas

necessidades e preocupações em diferentes culturas e em diferentes

momentos da história. A própria história dos conceitos matemáticos

sugere caminhos para a abordagem deles, deixando explícitos os

objetivos que se pretende alcançar com o ensino. Por exemplo, o

Page 67: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

67

surgimento dos conjuntos numéricos. A história nos mostra que houve a

necessidade de se estabelecer novos números para que fosse possível

a resolução de situações que envolviam medidas, lucros ou prejuízos,

etc.

• O uso das Tecnologias da Informação e da Comunicação: segundo os

PCN, as calculadoras, os computadores e outros elementos

tecnológicos são amplamente utilizados em atividades diárias de

alunos, e, por este motivo, tornaram-se um excelente instrumento de

apoio para o ensino e a aprendizagem de Matemática quando utilizados

em função do objetivo que se pretende atingir, e a partir da orientação

dessa utilização para que ocorra a aprendizagem.

Com relação à seleção de conteúdos para o ensino de Matemática do

Ensino Fundamental, no texto dos PCN são elencados os estudos nos blocos:

Números e Operações; Espaço e Formas; e Grandezas e Medidas, que

interligam as áreas de Aritmética, Álgebra e Geometria; e, Tratamento da

Informação, tratando o ensino de Lógica como integrante desses conteúdos

desde os anos iniciais, já que a Lógica é inerente ao conhecimento

matemático.

Entre os conteúdos apresentados no bloco de Números e Operações,

apresenta-se o ensino de números inteiros. De acordo com os PCN:

Os números inteiros podem surgir como uma ampliação do campo aditivo, pela análise de diferentes situações em que esses números estejam presentes. Eles podem representar diferença, “falta”, orientação e posições relativas. As primeiras abordagens dos inteiros podem apoiar-se nas idéias intuitivas que os alunos já têm sobre esses números por vivenciarem situações de perdas ou ganhos num jogo, débitos e créditos bancários ou outras situações. (BRASIL, 1998, p.66)

Diante disso, entendemos que é importante que os alunos

compreendam o surgimento de um novo conjunto numérico como ampliação do

conjunto dos números naturais, assim como é importante que o conhecimento

prévio que os alunos trazem desses números seja aproveitado, fazendo com

que os alunos percebam que os números inteiros estão presentes em várias

situações do cotidiano deles.

Page 68: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

68

É importante, também, que os alunos compreendam a importância de

conhecer e dominar as operações com os elementos desse novo conjunto.

O estudo desses números não poderá, no entanto, restringir-se apenas a esses aspectos mas incorporar situações que permitam a compreensão das regras do cálculo com os inteiros pela observação de regularidades e aplicação das propriedades das operações com os naturais. (BRASIL, 1998, p.66)

É Portanto, necessária a ampliação do conhecimento no campo dos

números positivos e dos números negativos, que não se baseie apenas em

intuições, ou seja, que possibilite que o aluno domine o conceito de números

inteiros, e saiba operá-los para resolver problemas, sejam estes apresentados

pelo professor ou em situações do cotidiano.

De acordo com os PCN, ao trabalhar com números inteiros, nem sempre

é possível basear-se em situações concretas e recomendam quanto ao ensino

formal para esses números:

(...) ao desenvolver um tratamento exclusivamente formal no trabalho com os números inteiros, corre-se o risco de reduzir seu estudo a um formalismo vazio, que geralmente leva a equívocos e é facilmente esquecido. Assim, devem-se buscar situações que permitam aos alunos reconhecer alguns aspectos formais dos números inteiros a partir de experiências práticas e do conhecimento que possuem sobre os números naturais. (BRASIL, 1998, p. 100)

Também de acordo com os PCN, os alunos desenvolvem, nos anos

iniciais, uma noção intuitiva de números negativos, fruto das experiências deles

ou dos familiares, como, por exemplo, perder pontos em um jogo, saldos

bancários ou temperatura. Por este motivo, considera-se importante, para a

construção do significado de números negativos, que a abordagem e o trabalho

com as operações fundamentais sejam feitos por meio de análises desses tipos

de situações.

A abordagem geométrica é recomendada por meio da construção ou

apresentação da reta numérica, pois colabora com a compreensão de valores

menores que o zero. De acordo com os PCN, a reta numérica serve de recurso

para a exploração de alguns aspectos:

• visualizar o ponto de referência (origem) a partir do qual se definem os dois sentidos;

Page 69: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

69

• identificar um número e seu oposto (simétrico): números que se situam à mesma distância do zero;

• reconhecer a ordenação dos inteiros: dados dois números inteiros quaisquer, o menor é o que está à esquerda (no sentido positivo da reta numérica); assim, dados dois números positivos será maior o que estiver mais distante do zero e dados dois negativos será maior o que estiver mais próximo do zero;

• comparar números inteiros e identificar diferenças entre eles; • inferir regras para operar com a adição e a subtração, como:

(+3) + (−5) = + 3 − 5 = − 2. (BRASIL, 1998, p. 98,99)

Para a iniciação das operações de adição e de subtração, além do uso

da reta numérica, os PCN também recomendam a utilização do ábaco dos

inteiros, que consiste em duas varetas verticais fixadas em um bloco, nas quais

se indica a que vai receber as quantidades positivas e a que vai receber as

quantidades negativas utilizando argolas de cores diferentes para marcar

pontos e permite que os alunos visualizem quantidades positivas e negativas e

situações associadas ao zero. Outro recurso para o ensino de adição e de

subtração de inteiros é a construção de tabelas que permitem observar

regularidades e padrões de comportamento da série numérica apresentada.

Mesmo apresentando tais sugestões, nos PCN, reconhecem-se as

dificuldades que cercam o ensino dos números inteiros como causa do baixo

desempenho dos estudantes nas avaliações. Segundo este documento,

[...] o estudo dos números inteiros costuma ser cercado de dificuldades, e os resultados, no que se refere à sua aprendizagem ao longo do ensino fundamental, têm sido bastante insatisfatórios. (BRASIL, 1998, p. 97)

Para auxiliar o professor no ensino desses números, apontam alguns

obstáculos que são encontrados por alunos ao entrar em contato com eles,

salientando a importância de serem reconhecidos:

- Conferir significado às quantidades negativas; - Reconhecer a existência de números em dois sentidos a partir de zero, enquanto para os naturais a sucessão acontece num único sentido; - Reconhecer diferentes papéis para o zero (zero absoluto e zero origem); - Perceber a lógica dos números negativos, que contraria a lógica dos números naturais – por exemplo, é possível “adicionar 6 a um número e obter 1 no resultado”, como também é possível “subtrair um número de 2 e obter 9”; - Interpretar sentenças do tipo x = − y, (o aluno costuma pensar que necessariamente x é positivo e y é negativo). (BRASIL, 1998, p.98)

Page 70: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

70

Os obstáculos listados no texto dos PCN estão diretamente ligados à

noção de obstáculos epistemológicos, descrita por Brousseau (1976). Pois a

concepção que o aluno tem de número natural, organizada em sua

aprendizagem, por exemplo, pode causar, a princípio, certa confusão quando

for apresentado a ele o conceito de número inteiro. Surgirão dúvidas e até

mesmo erros e para que este novo aprendizado aconteça, é necessário que o

aluno reorganize os conhecimentos prévios, adaptando o novo conhecimento

aos já acomodados em sua aprendizagem, para superar esses obstáculos.

Dessa forma, os quatro primeiros obstáculos citados pelos PCN

constituem-se em obstáculos epistemológicos, pois estão diretamente

relacionados ao conhecimento do conceito que o aluno possui de números

naturais, pois, como estes, representam quantidades de coisas ou objetos;

torna-se, a princípio, difícil para o aluno compreender que existam coisas ou

objetos em número menor que zero. Da mesma forma que o zero, antes

considerado a menor quantidade verificada, deve ser compreendido em seus

dois significados, o do valor absoluto, como quantidade, e também como o

ponto de origem para uma única reta numérica, para a qual se dá o outro

sentido, contrário ao dos números naturais, em ordem crescente.

Assim como o quarto obstáculo, que consideramos o mais frequente e

mais fácil de ser percebido, que é a percepção da lógica de números inteiros

em oposição à lógica dos naturais, pois é possível que o aluno relute em

admitir que em uma adição entre dois números negativos a soma seja menor

que as parcelas, por exemplo (− 3) + (− 2) = (− 5) quando, em seu

conhecimento, até então comprovado, por tratar-se de uma adição, a soma

sempre seria maior que as parcelas, pois refere-se ao ato de juntar duas ou

mais coisas ou objetos.

Apenas o quinto obstáculo apresentado pelos PCN, ou seja, a

interpretação de sentenças do tipo x = − y, talvez, possa não ser um obstáculo

ao ensino, pois, se um obstáculo dá-se a partir de um conhecimento

estabelecido e que produz um resultado satisfatório em determinado domínio,

entendemos que o aluno até então não tenha adquirido conhecimento

Page 71: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

71

suficiente no campo algébrico para gerar um obstáculo nesse momento da

aprendizagem. Sendo assim, consideramos que este último se caracteriza

como uma possível dificuldade na aprendizagem e não como um obstáculo.

4.2 Números Inteiros e as DCE

Nas Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná (DCE) de 2008

organizam-se os campos de estudo de cada disciplina e denominam-se

Conteúdos Estruturantes “os conhecimentos de grande amplitude” (PARANÁ,

2008, p. 49), os quais se subdividem em conteúdos básicos, que se articulam

com os específicos. Os Conteúdos Estruturantes da disciplina de Matemática

propostos nas DCE são: Números e Álgebra; Grandezas e Medidas;

Geometria; Funções; e Tratamento da Informação. Os números inteiros fazem

parte do Conteúdo Estruturante “Números e Álgebra” e os conteúdos

específicos para eles são: adição, subtração, multiplicação, divisão,

potenciação e radiciação de inteiros.

O ensino de números inteiros é tratado no texto das DCE de forma não

isolada dos outros conjuntos, ou seja, não é dado nenhum tipo de orientação

para o ensino específico desses números, como acontece nos PCN. É

apresentado um quadro contendo os conteúdos básicos, considerados

imprescindíveis para o Ensino Fundamental, a partir dos quais o professor deve

elaborar o Plano de Trabalho Docente. Neste quadro, estão dispostos, para

cada ano, os conteúdos estruturantes que se desdobram nos conteúdos

básicos e as expectativas de aprendizagem a que estão atrelados. Para o

conteúdo básico Números Inteiros, essas diretrizes estabelecem apenas dois

objetivos a serem observados pelo professor no momento da avaliação: o

aluno, ao ser avaliado, deve ter condições de “Reconhecer os números inteiros

em diferentes contextos" e "Realizar operações com números inteiros”

(PARANÁ, 2008, p.78).

Considerando que seja essencial o aspecto cognitivo da aprendizagem,

essas diretrizes propõem que todos os conteúdos sejam abordados por meio

Page 72: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

72

de tendências metodológicas de ensino que fundamentem a prática docente,

entre as quais destacam a resolução de problemas, a modelagem matemática,

as mídias tecnológicas, a etnomatemática, a história da Matemática e as

investigações matemáticas.

• Resolução de problemas: as DCE, ao abordarem a resolução de

problemas, utilizam-se de definições de autores como: Dante, 2003;

Schoenfeld, 1997; Smole e Diniz, 2001 e Polya, 2006, a partir das quais

podemos entender que as etapas da resolução de problemas são: ler e

compreender o problema; retirar dele as informações consideradas

importantes para a resolução; elaborar uma estratégia para essa

resolução e executá-la; validar o resultado obtido por meio de

comparação e da verificação de se esse resultado faz sentido de acordo

com o enunciado; e, caso seja necessário, elaborar um novo plano de

resolução. Com a resolução de problemas, o aluno tem a oportunidade

de aplicar conhecimentos matemáticos de que dispõe para resolver

diferentes situações; e, ao fazer uso da resolução de problemas, o

professor torna as aulas mais dinâmicas, nas quais o aluno pode lançar

mão de vários recursos, como a oralidade e o desenho, por exemplo.

• Modelagem matemática: as DCE consideram a modelagem matemática

como uma metodologia de ensino que pressupõe a problematização de

situações do cotidiano e também a valorização do contexto social do

aluno, pois “[...] procura levantar problemas que sugerem

questionamentos sobre situações de vida” (p.64), contribuindo, dessa

forma, para a formação crítica do aluno. Caracterizam, por fim, que fazer

modelagem é fazer arte, pois as soluções encontradas não valem

apenas para uma questão particular, mas servirão pelo menos de

suporte para outras aplicações.

• Mídias tecnológicas: de acordo com as DCE, o uso de recursos

tecnológicos (softwares, televisão, calculadoras, entre outros) favorece

as experimentações matemáticas e potencializa a resolução de

problemas.

Page 73: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

73

• Etnomatemática: assim como Soares (2006), as DCE acham importante

o trabalho com a etnomatemática, e, segundo este documento, este

trabalho reconhece e registra questões de relevância social que

produzem o conhecimento matemático, e que esse conhecimento não é

único, manifestando-se por meio de diferentes teorias e práticas, nos

diversos ambientes culturais. A importância da etnomatemática dá-se

por tratar de um ensino que valoriza a história dos estudantes,

reconhecendo e respeitando suas raízes culturais. Ainda segundo as

DCE:

O trabalho pedagógico deverá relacionar o conteúdo matemático com essa questão maior – o ambiente de indivíduo e suas manifestações culturais e relações de produção e trabalho. (PARANÁ, 2008, p. 64)

• História da Matemática: de acordo com as DCE, a história da

Matemática pode ser um referencial para a elaboração de atividades e a

criação de situações problema, bem como um instrumento para a

compreensão dos conceitos matemáticos, vinculando descobertas

matemáticas a fatos sociais, a circunstâncias e correntes filosóficas que

determinaram o pensamento científico influenciando os avanços de cada

época. Dessa forma, talvez seja possível que o uso da história da

Matemática ajude a responder os porquês em sala de aula, pois, por

meio dela, busca-se propiciar ao aluno o entendimento da construção

histórica do conhecimento matemático.

• Investigação matemática: segundo as DCE, as investigações

matemáticas acontecem a partir de exercícios simples, para os quais

não se dispõe de respostas prontas ou métodos para uma resolução

imediata.

Na investigação matemática, o aluno é chamado a agir como um matemático, não apenas porque é solicitado a propor questões, mas, principalmente porque formula conjecturas a respeito do que está investigando. (PARANÁ, 2008, p. 67)

De acordo com as diretrizes, os processos de ensino e de aprendizagem

são complexos e, portanto, nenhuma dessas tendências metodológicas

representa uma única possibilidade para ensinar e aprender. Por isso, é

recomendado que se promova uma articulação entre elas.

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74

Apesar das diretrizes curriculares demonstrarem, em seu texto, uma

preocupação com a metodologia de ensino a ser utilizada pelo professor, não

há orientações específicas que sirvam de apoio ao trabalho dele para

introdução e ensino de algum conteúdo. Não há neste documento uma

discussão a cerca dos conteúdos elencados para cada ano e, mais

especificamente, para o ensino de números inteiros, o qual, de acordo com o

que vimos, é cercado de dificuldades e possíveis obstáculos.

4.3 Livros didáticos e o ensino de números inteiros

Dos dez livros didáticos de 7º ano que são parte de coleções aprovadas

no último Programa Nacional do Livro Didático para as últimas séries do ensino

fundamental (PNLD/2011), tivemos acesso a nove deles, e dividimos estes

livros em dois grupos de acordo com as características observadas. Nos dois

grupos, observou-se o uso de novas metodologias, de contextualização e de

interdisciplinaridade, porém a característica que distingue os dois grupos é que,

nos livros por nós separados em um deles, percebemos a predominância da

valorização do uso de regras para a introdução de números inteiros. Assim,

selecionamos um livro de cada grupo, na ordem em que eles aparecem no guia

do PNLD/2011, para analisar. A proposta é levantar neles como os autores

fazem a introdução do conceito de números inteiros, a abordagem geométrica

e a abordagem das quatro operações fundamentais com esses números,

confrontando-as com as orientações dos PCN e das DCE. Buscamos, também,

identificar, se houver, obstáculos didáticos ou fatores que possam interferir na

aprendizagem.

Partindo do pressuposto de que o livro didático é disponibilizado como

material de apoio para a aprendizagem dos alunos, consideramos como

critérios para a nossa análise os objetivos estabelecidos pelos PCN para o

ensino de Matemática; os objetivos a serem alcançados no ensino dos

números inteiros apontados nas DCE; e os caminhos para fazer matemática

indicados nos dois documentos, como, por exemplo, a resolução de problemas,

os jogos matemáticos, a história da Matemática e o uso de tecnologias, entre

Page 75: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

75

outros. Analisamos, também, as sugestões e orientações apresentadas no

manual do professor, sobre esse conteúdo, para o trabalho em sala de aula.

Segundo Artigue (1995), “tradicionalmente” o professor não se dá conta

da importância da realização de uma análise a priori em sua prática docente.

Consideramos que a análise do livro didático é importante no momento da

escolha, e deve ser feita considerando as características dos alunos, a região

em que a escola se encontra, entre outros fatores que interferem no processo

de ensino.

4.3.1 – Coleção: A Conquista da Matemática

(José Ruy Giovanni Jr. e Benedicto Castrucci, Editora FTD, SP. 2009)

Na resenha apresentada para esta coleção, no guia do PNLD/2011,

afirma-se que o livro é dividido em Unidades, nomeadas pelos conteúdos

básicos, por exemplo: Potências e Raízes, O Conjunto dos Números Inteiros,

entre outras, e essas unidades se subdividem em capítulos que são

estruturados em seções. Além disso, que se destaca por adotar, na introdução

e no desenvolvimento dos conceitos, textos de história da Matemática e de

outras áreas do saber. No manual de orientação ao professor, descreve-se em

detalhes a aplicação dos exercícios propostos, bem como, o objetivo a ser

alcançado a partir deles, sugerindo atividades com materiais concretos e jogos

envolvendo números inteiros.

Para a unidade O conjunto dos Números Inteiros, os autores

estabelecem como objetivo que os alunos compreendam que números

positivos e negativos podem ser utilizados para representar situações reais. Na

abertura dessa unidade, são abordadas algumas situações, como, por

exemplo, o banco de horas de uma empresa, explicando que quando um

funcionário chega atrasado ou sai mais cedo do trabalho fica devendo horas,

da mesma forma que quando um funcionário chega mais cedo ou sai mais

tarde fica com um crédito de horas; a profundidade de perfuração de um poço

da Petrobrás para a extração do petróleo; e a grande variação de temperatura

diurna e noturna no deserto do Saara.

Page 76: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

76

Como vimos, os PCN orientam que a introdução dos números inteiros

seja baseada em experiências que os alunos trazem do cotidiano, o que

julgamos ser feito a partir dessas situações.

O primeiro capítulo da unidade, sob o título A Ideia de Números Inteiros,

inicia-se com a seção “Explorando”. Nela, são apresentadas duas atividades, a

primeira envolvendo o painel de controle de um elevador e a segunda, uma

tabela que mostra o desempenho de alguns times ao final de um campeonato.

Os autores sugerem ao professor que estas atividades sejam resolvidas

coletivamente, e que ele aproveite a oportunidade para investigar os

conhecimentos prévios dos alunos a respeito de números negativos.

Também a História da Matemática aparece nesse capítulo com a

apresentação de um breve texto, um recorte da História da Matemática para

relatar a dificuldade da aceitação da ideia de número negativo. Segundo os

autores, é importante que os alunos conheçam a história dos números, e

também como surgiram os números negativos. Além disso, sugerem que o

professor proponha aos alunos que façam pesquisas sobre a história desses

números, aprofundando o resumo que é apresentado no livro.

De acordo com os PCN, a utilização de fatos históricos ajuda na

compreensão da aplicação do conteúdo e os objetivos a serem alcançados,

sugerindo caminhos para a abordagem deles, porém, neste capítulo, o uso da

História da Matemática é apresentado apenas como informação, um breve

recorte dessa história e não como um caminho para a introdução de números

negativos. Trata-se da difícil aceitação da ideia de números negativos por

alguns matemáticos da antiguidade, enquanto hindus e chineses utilizavam

estes números informalmente em práticas comerciais, como descrevemos no

Capítulo 2: A História da Matemática.

Na seção que segue, sob o título Entendendo os números negativos,

são apresentadas ilustrações a partir dos números naturais, com afirmações do

tipo “Agora só faltam 50 quilômetros”, “vou fazer 13 anos”, “pode escolher 12

laranjas, por favor?” (GIOVANNI JR.; CASTRUCCI, 2009, p. 31). A partir

dessas ilustrações, outras situações são apresentadas nas quais a resolução

Page 77: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

77

não é possível em ℕ, fazendo-se, então, necessária a introdução do conceito

de números negativos.

A Figura 6 ilustra uma situação na qual dois termômetros marcam a

temperatura de 10ºC, porém diferem pela posição em que estão marcadas, um

marca 10ºC acima de zero e outro, abaixo de zero.

Figura 6: Situação problema para a introdução dos números negativos. Fonte: (GIOVANNI JR e CASTRUCCI, 2009) p. 31.

A partir desses dois termômetros, é explicado que os pontos A e B

representam temperaturas distintas, embora estejam a uma mesma distância

do ponto de origem, o zero, verificando que o ponto A está 10ºC acima de zero

e o ponto B está a 10ºC abaixo de zero. Para eliminar uma possível confusão,

a utilização dos símbolos + e de − é feita para diferenciar essas duas

temperaturas, assim, a temperatura indicada pelo ponto A pode ser

representada por 10ºC e a temperatura indicada pelo ponto B pode ser

representada simbolicamente por −10ºC. Explicam ainda que é usual dizer que

10 é um número inteiro positivo e −10 um número inteiro negativo.

Outras situações são apresentadas para evidenciar a utilidade dos

números negativos no cotidiano. Dessa forma, verificamos a possibilidade de

um enfrentamento ao possível obstáculo apontado por Glaeser (2010), que é

dar significado às quantidades negativas.

Abordando o conceito de número negativo, são propostos exercícios nos

quais as respostas são interpretativas, feitas por meio de números inteiros,

positivos ou negativos. Giovanni Jr. e Castrucci (2009) sugerem que o

Page 78: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

78

professor conduza uma das atividades com dramatização de situações da vida

real, tornando o ensino mais atrativo. Como por exemplo, na questão a seguir:

Fábio tem um saldo de 300 reais na conta corrente. Qual será o saldo (em números inteiros positivos ou negativos), se ele: a) retirar 250 reais? b) depositar 200 reais? c) depositar 100 reais? d) retirar 320 reais? (GIOVANNI JR; CASTRUCCI, 2009, p.34)

Para essa simulação, é necessária a reprodução de materiais, como as

cédulas, uma escala numérica contemplando números positivos e negativos,

na qual será indicada a movimentação na conta corrente de Fábio e duas

caixas, uma representando a conta corrente de Fábio e outra representando o

dinheiro que pertence ao banco. Dessa forma, quando o aluno representar um

depósito na conta corrente de Fábio, colocará cédulas na caixa; quando fizer

uma retirada, tirará da caixa o valor indicado e, quando a retirada for maior do

que o valor que existe na caixa, o aluno deverá retirar o valor excedente na

caixa que representa o banco, mostrando que Fábio torna-se devedor, portanto

o saldo dele ficará negativo. O professor deve registrar, na escala numérica

feita na lousa, cada passo dessa movimentação, evidenciando o zero e

mostrando a importância dele como ponto de referência para números positivos

e negativos.

Essa prática pode ajudar alunos a dar significado aos valores

observados no resultado de cada movimentação, indo ao encontro das

orientações dos PCN, que sugerem que o ensino dos números inteiros deve

acontecer a partir de situações no campo aditivo, cuja resolução não seja

possível em ℕ.

A apresentação formal do conjunto dos números inteiros é colocada a

partir da junção dos números inteiros positivos, dos inteiros negativos e do

zero, e este conjunto é representado pela letra ℤ, demonstrando a importância

do aluno ter conhecimento de que está diante de um conjunto numérico.

A reta numérica é apresentada a partir da ilustração de alguns

instrumentos de medição como a fita métrica e a trena. Em seguida, é

construída, passo a passo, uma reta numérica, como apresentado na Figura 7.

Page 79: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

79

Figura 7: Construção da reta numérica. Fonte: (GIOVANNI JR e CASTRUCCI, 2009) p. 35. Entendemos que, ao adotar-se o ponto O, associando-se a ele o número

zero, busca-se diferenciar o zero como ponto de origem do zero em seu valor

absoluto e, dessa forma, lidar com mais um dos obstáculos apontados pelos

PCN e também descrito por Glaeser (2010), que é a dificuldade em reconhecer

o zero como o ponto de origem, além do seu valor absoluto. Da mesma forma

que ao iniciar a construção da reta numérica a partir do ponto zero e indicar os

números positivos à direta e os números negativos à esquerda, ao invés de

duas retas contrárias que se sobrepõem, busca-se evitar o obstáculo da

unificação da reta numérica, também apontado por Glaeser (2010); e o

obstáculo previsto nos PCN que é reconhecer a existência de números em dois

sentidos, a partir do zero.

Outras retas são apresentadas, com intervalos diferentes entre seus

pontos, mostrando a aplicação de cada uma delas, como na Figura 8. A

imagem geométrica dos números é verificada, nomeando-os como abscissas

dos pontos em destaque.

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80

Figura 8: Reta numérica.

Fonte: (GIOVANNI JR e CASTRUCCI, 2009) p. 36.

Os exercícios seguintes apresentam situações problema e também

atividades práticas de memorização. De acordo com as orientações no manual

de apoio ao professor, os exercícios que utilizam a reta e a posição dos

números inteiros são propostos objetivando que o aluno reconheça o conjunto,

compreenda a simetria entre os números e também a comparação entre eles.

Os autores sugerem que as atividades sejam feitas em duplas, proporcionando

a troca de informações entre os alunos e algumas delas realizadas

coletivamente, com o acompanhamento do professor para que ele faça

intervenções, quando forem necessárias.

Na seção denominada “Brasil Real” são expostas situações em que são

utilizados números positivos e números negativos. Sugere-se que o professor

instigue o aluno a pesquisar e apresentar à turma outras situações em que

estes números são necessários.

Para evidenciar o módulo de um número como a distância em que este

se encontra de um ponto de origem, é apresentada uma situação na qual dois

moradores, frequentadores de um clube do bairro, encontram-se para a prática

de algumas atividades físicas. Um deles mora a quatro quadras do clube e o

outro mora a seis quadras do mesmo clube, em sentidos opostos, como mostra

a Figura 9.

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Figura 9: Abordagem do módulo de um número inteiro.

Fonte: (GIOVANNI JR e CASTRUCCI, 2009) p. 39.

Segundo os PCN, a utilização da reta numérica ajuda a visualização do

zero como ponto de referência, bem como, a identificação do oposto de um

número. Utilizando-se a reta, de acordo com a Figura 9, verifica-se então que:

• o módulo de −4 é 4, representando-se por |−4| = 4

• o módulo de +6 é 6, representando-se por |+6| = 6

Dessa forma, o módulo de qualquer número, positivo ou negativo, é sempre

positivo. Nomeados, então, como números opostos ou simétricos, estes são

posicionados na reta numérica, desde que apresentem a mesma distância do

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82

ponto zero, ou seja, têm o mesmo módulo. Assim, |−3| = 3 da mesma forma

que |+3| = 3.

Para o ensino da comparação entre os números inteiros, os autores

apresentam, na seção Explorando, uma atividade na qual são descritas as

temperaturas médias registradas em um mesmo dia em cinco países. A partir

dessas informações, os alunos devem verificar em qual país o clima estava

mais quente.

A comparação dos números inteiros é feita de forma ilustrada, que

seguem afirmações do tipo: “uma temperatura de 5ºC abaixo de zero é maior

que uma temperatura de 15ºC abaixo de zero” (GIOVANNI JR.; CASTRUCCI,

2009, p. 43), proporcionando a comparação entre dois números inteiros e

expressando essa relação por meio dos sinais >, < ou =, como, por exemplo, é

apresentado na Figura 10.

Figura 10: Comparação entre dois números inteiros. Fonte: (GIOVANNI JR e CASTRUCCI, 2009) p. 439.

Os exercícios que seguem essa demonstração, segundo os autores,

objetivam proporcionar situações em que o aluno identifique, na reta numérica,

o módulo de um número inteiro como a distância dele ao ponto zero, os

números opostos ou simétricos, bem como, proporcionar ao aluno a

compreensão do conjunto dos números inteiros, podendo descrever alguns

subconjuntos de ℤ.

Page 83: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

83

No manual de apoio ao professor, é sugerido, de acordo com a

conveniência da turma, a aplicação de jogos e atividades que explorem somas

algébricas e a compreensão de números opostos, o que nos remete a mais

uma consideração à orientação dada nos PCN e também nas DCE, a utilização

de jogos didáticos para despertar o interesse do aluno.

Para iniciar a adição de números inteiros, os autores utilizam novamente

a seção “Explorando”, com situações cotidianas, proporcionando a

interdisciplinaridade, a primeira atividade está apresentada na Figura 11.

Figura 11: Seção Explorando, adição dos inteiros. Fonte: (GIOVANNI JR e CASTRUCCI, 2009) p.45

Na situação a, é dada a temperatura mínima de um dia em Brasília,

20ºC e a variação dessa temperatura, aumentando em 8ºC. Pede-se, então, a

temperatura máxima desse dia em Brasília. Como as duas temperaturas dadas

são números positivos e no enunciado diz que a temperatura inicial teve um

aumento, é provável que o aluno realize a operação de adição sem maiores

problemas, ou seja, 20 + 8 = 28.

Na situação b, a temperatura inicial em Toronto era de −1ºC e

posteriormente aumentou em 6ºC, pergunta-se então, qual a temperatura

depois desse aumento. Podemos supor que, para a realização da operação

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84

que se constituiu, (−1) + (+6), será necessário, a princípio, a utilização da reta

numérica para auxiliar o trabalho do professor e proporcionar a compreensão

dos alunos. Marca-se inicialmente o ponto (−1) e como se indica um aumento

de temperatura, parte-se para a direita (→) em seis casas, chegando ao ponto

(+5). Após a representação na reta numérica realizar a operação a partir da

sentença (−1) + (+6) = (+5), observando as regras de sinais.

A situação c assemelha-se à anterior e, sendo assim, a resolução

também será semelhante a ela: (−8) + (+7) = (−1).

Notamos que a organização das situações apresentadas nesta seção

vão de acordo com a orientação dos PCN, as quais recomendam que números

negativos devem aparecer como complemento aos positivos, em situações em

que a resolução não seja possível em ℕ.

Algumas situações são propostas para que o aluno analise em seguida a

representação desse cálculo na reta numérica. Observamos mais uma

orientação dos PCN, que é a utilização da reta numérica para a resolução de

situações no campo aditivo que envolvam números positivos e negativos.

A Figura 12 mostra a adição de dois números inteiros positivos,

descrevendo os movimentos no sentido positivo na reta numérica.

Figura 12: Adição de números inteiros positivos Fonte: (GIOVANNI JR e CASTRUCCI, 2009) p.47

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Na Figura 13, apresentamos outro momento da mesma situação, no qual

se realiza a adição de dois números inteiros negativos.

Figura 13: Adição de números inteiros negativos Fonte: (GIOVANNI JR e CASTRUCCI, 2009) p.47 De acordo com os PCN, a utilização da reta numérica favorece a

compreensão de situações como as que foram apresentadas nas figuras

acima. Ou seja, favorece a compreensão dos procedimentos das operações

que envolvem números negativos, auxiliando o ensino de regras de sinais para

o campo aditivo.

Após a análise de outras situações envolvendo a adição de números

positivos e negativos, sempre seguidas da apresentação da reta numérica, são

definidas as regras para a memorização de procedimentos de cálculo. Sendo,

para números com mesmo sinal:

• Quando os dois números forem positivos, a soma será um número positivo.

• Quando os dois números forem negativos, a soma será um número negativo.

• O módulo de resultado é igual à soma dos módulos das parcelas. (GIOVANNI JR; CASTRUCCI, 2009, p. 49, grifo do autor).

Para a adição de números inteiros com sinais contrários, segue a regra:

• Quando dois números tiverem sinais diferentes, o sinal do resultado corresponderá ao sinal do número que está mais distante da origem.

• O módulo do resultado é igual à diferença entre os módulos das parcelas

• A soma se dois números opostos ou simétricos é igual a 0. (GIOVANNI JR; CASTRUCCI, 2009, p. 51, grifo do autor)

Page 86: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

86

Dois Desafios são propostos, nos quais o aluno deve descobrir o

segredo da primeira pirâmide de blocos, e completar a segunda de acordo com

a estratégia descoberta na anterior. Segundo as orientações no manual de

apoio ao professor, estas atividades têm como objetivo desafiar o aluno a

utilizar a lógica, o raciocínio e os conhecimentos que já possui para a sua

solução.

Para a adição de três ou mais parcelas de inteiros, são relembradas as

propriedades da adição em ℕ: fechamento, comutativa, associativa e elemento

neutro da adição. Os exercícios objetivam dar significado à operação de adição

em situações contextualizadas, com sistematizações breves, outros dão mais

enfoque às regras para resolução, porém, no manual de orientação para o

professor, afirmando que “nada melhor que aprender brincando” (GIOVANNI

JR.; CASTRUCCI, 2009, p.51), os autores sugerem a utilização de um jogo, o

Jogo dos Cartões, no qual, para saber quem é o vencedor, é necessário

encontrar uma soma de inteiros.

A eliminação dos parênteses é apresentada como uma forma

simplificada de fazer a adição de números inteiros. Vários exemplos são

verificados, como mostramos na Figura 14.

Figura 14: Notação simplificada da adição de números inteiros Fonte: (GIOVANNI JR e CASTRUCCI, 2009) p. 55

Page 87: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

87

Os autores destacam, no manual do professor, a importância de se

apresentar novos conhecimentos a partir de situações cotidianas, porém, fica

evidente a valorização da memorização, da sistematização e do uso de regras

para a resolução dos exercícios que seguem a explicação.

A subtração de números inteiros é apresentada no livro como uma

“adição da primeira parcela com o oposto da segunda”, a partir de números

naturais. Para essa explicação, os autores utilizam algumas situações como,

por exemplo, a da Figura 15.

Figura 15: Subtração de números inteiros Fonte: (GIOVANNI JR e CASTRUCCI, 2009) p. 56. Ao abordar situações envolvendo a subtração em que o primeiro número

(minuendo) é menor que o segundo (subtraendo), os autores explicam que só é

possível em ℤ, pois a diferença entre dois inteiros é sempre um número inteiro,

ampliando assim o conjunto ℕ. Apesar da preocupação em ilustrar situações

nos exemplos, os exercícios propostos para a subtração valorizam a utilização

do uso de regras de sinais.

Na seção “Brasil Real”, são apresentadas várias situações relativas à

temperatura no Brasil e no mundo. Os autores sugerem que o professor peça

aos alunos que pesquisem e tragam recortes de jornais ou revistas com

informações sobre temperaturas, então, em um trabalho de grupo, os alunos

deverão formular problemas que envolvam adição e subtração de números

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88

inteiros. Para reforçar este aprendizado, sugerem a utilização do Jogo dos

Dados.

As adições algébricas de números inteiros são apresentadas passo a

passo, com o objetivo de favorecer a aprendizagem prática da eliminação

correta de parênteses, colchetes e chaves, conforme a Figura 16.

Figura 16: Adição algébrica

Fonte: (GIOVANNI JR e CASTRUCCI, 2009) p. 62. Os autores sugerem que o professor faça uma primeira adição algébrica

com os alunos no quadro, resolvendo-a coletivamente e depois os incentive a

resolver as demais adições, utilizando os procedimentos apontados no livro,

proporcionando, assim, a autonomia do aluno. A organização em duplas

também é sugestão para a troca de informações ou a troca das atividades,

para que um aluno faça a correção da atividade do colega.

Para a abordagem da multiplicação de números inteiros, foram

observados três casos. No primeiro caso, a multiplicação é feita entre dois

inteiros positivos; no segundo caso, os números são um inteiro positivo e outro

negativo; e no terceiro caso, a multiplicação é feita entre dois inteiros

negativos, definindo a regra de sinais para a multiplicação. Para efetuar essa

multiplicação entre dois inteiros negativos é utilizada a tabela de multiplicação,

apresentada na Figura 17.

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89

Figura 17: Tabela de multiplicação dos inteiros Fonte: (GIOVANNI JR e CASTRUCCI, 2009)p. 65.

A utilização da tabela de multiplicação também é sugerida no texto dos

PCN, porém pede-se que o registro inicial seja o do produto entre números

positivos, utilizando um conhecimento prévio do aluno.

Segundo os autores, os exercícios propostos objetivam a aprendizagem

da multiplicação entre dois ou mais inteiros, valorizando a regra de sinais, e

sugerem que o professor construa outras tabelas como essa, para reforçar a

ideia de que o produto entre dois números negativos será sempre um número

positivo.

As propriedades da multiplicação em ℤ são descritas de acordo com as

propriedades da multiplicação em ℕ (fechamento, comutativa, associativa,

elemento neutro e a propriedade distributiva em relação à adição). Para

enriquecer o trabalho da multiplicação com inteiros, os autores propõem uma

atividade utilizando material concreto. Nela, os cartões vermelhos representam

números negativos e os cartões azuis representam números positivos.

As expressões numéricas envolvendo adição, subtração e multiplicação

de números inteiros surgem a partir de situações e desafios que não nos

parece fazer parte de um contexto significativo para o aluno. Na Figura 18,

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90

apresentamos uma situação que evidencia essa constatação. Entendemos que

se trata de sentenças matemáticas que não instigam o aluno à resolução, por

ser algo abstrato, muito distante da realidade do aluno e, para a sua resolução,

é necessário que o professor provoque no aluno a curiosidade do resultado.

Figura 18: Expressões numéricas Fonte: (GIOVANNI JR e CASTRUCCI, 2009) p. 69. No manual do professor, os autores salientam a importância de o

professor orientar o aluno a resolver essas expressões seguindo a ordem das

operações utilizadas, iniciando-se o cálculo por multiplicações e, em seguida,

adições e subtrações, na ordem em que aparecer da esquerda para a direita.

O uso da calculadora é proposto a partir de uma situação na qual a

personagem vai ao supermercado levando R$ 20,00 e uma lista de compras

com seis itens, e o valor unitário de cada produto. É necessário, então, verificar

se o valor é suficiente para pagar essa despesa, e esse cálculo é realizado

utilizando a calculadora, mostrando como utilizar a tecla da memória. Outra

situação semelhante é apresentada, dessa vez para o aluno resolver utilizando

a calculadora e os recursos aprendidos no exemplo anterior. Na seção

“Chegou a sua vez”, os alunos podem trabalhar em duplas ou individualmente

para resolver a situação apresentada. Nela, o aluno é desafiado a utilizar as

funções da calculadora, entre elas, a memória.

O “Jogo dos Produtos” é proposto para estímulo e diversão na

aprendizagem. Iniciando a divisão de números inteiros, os autores destacam

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91

que algumas divisões não são possíveis em ℕ, como, por exemplo, (+9) ÷

(−2), pois o resultado não é um número inteiro. As divisões exatas com

números inteiros são apresentadas como a operação inversa da multiplicação,

obedecendo a mesma regra de sinais. Por exemplo:

(+20) ÷ (−5)

(+20) ÷ (−5) = q, de modo que (−5) ∙ q = (+20)

Assim, (+20) ÷ (−5) = − 4.

A sugestão dos autores, para proporcionar aprendizagem, é que os

alunos elaborem algumas situações a partir das expressões apresentadas.

Para a resolução de expressões numéricas envolvendo as quatro

operações fundamentais, é sugerido que os alunos as resolvam em duplas,

anotando as regras que utilizaram em cada passo da resolução.

No livro, aborda-se, também, a potenciação de números inteiros, a raiz

quadrada exata desses números e, encerrando o capítulo, são propostas

análises de gráficos e tabelas em que aparecem números inteiros, positivos e

negativos.

4.3.2 - Coleção: Aplicando a Matemática

(Alexandre Luís Trovon de Carvalho; Lourisnei Fortes Reis. Casa Publicadora

Brasileira, Tatuí/SP. 2010)

Segundo a síntese avaliativa desta coleção, no guia do PNLD/2011:

A principal característica é o uso da ideia intuitiva de função na apresentação da maior parte dos conceitos, desde o 6º ano. O desenvolvimento dos conteúdos é feito com base em exemplos e o diálogo com o aluno é incentivado, permitindo que ele se aproprie gradualmente dos novos conteúdos. A geometria também se destaca como recurso para a interpretação de diversos conteúdos. (BRASIL, 2011, p. 47)

Os livros são divididos em unidades, e estas se subdividem em

capítulos. O livro do 7º ano possui nove unidades, e a Unidade 3, que trata dos

números negativos, está dividida em seis capítulos: “Haja mais Números”;

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92

“Números Negativos e sua Representação”; “Somando e Subtraindo” e

“Multiplicando e Dividindo”.

De acordo com o Manual de apoio ao Professor, os autores estabelecem

para esta unidade os seguintes objetivos:

1. Identificar situações concretas em que se faz necessário o uso de números negativos. 2. Utilizar a reta numerada para representar os números negativos e positivos na resolução de problemas simples. 3. Utilizar a ideia de partículas para representar as operações com números negativos. 4. Utilizar a ideia de funções nas operações com números negativos. (CARVALHO; REIS, 2010, Manual do professor, p. 22 e 23)

Podemos sugerir, então, a partir de tais objetivos, que estes autores dão

enfoque ao ensino dos números negativos com ênfase na contextualização. No

primeiro capítulo, é possível constatar essa afirmação considerando as três

situações que os autores utilizam para abordar esses números. A primeira

delas está representada na Figura 19.

Figura 19: Situação 1 envolvendo números negativos. Fonte: CARVALHO e REIS, 2010, p. 103 De acordo com os autores, no manual de apoio ao professor, é

importante que o aluno perceba a necessidade de utilização de números

negativos em questões que envolvem temperaturas, saldos, altitudes, etc. Na

segunda situação, utilizam-se números negativos em saldos bancários, como

apresentado na Figura 20.

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Figura 20: Situação 2 envolvendo números negativos.

Fonte: (CARVALHO e REIS, 2010) p. 104. Podemos perceber, nessas duas situações, que o vocabulário utilizado é

simples e de fácil entendimento, e entendemos que, por meio delas, o aluno

perceberá a utilidade dos números negativos, bem como, a necessidade de

conhecer a representação deles.

A questão interdisciplinar é colocada neste capítulo, na seção “Mãos à

obra”, na qual é proposta uma pequena pesquisa referente à temperatura do

corpo humano, definição de fusão e ebulição, e em que temperaturas elas

ocorrem.

Os “Exercícios de Aprendizagem” e os “Exercícios de Fixação”, como

são denominados pelos autores, trazem atividades com situações semelhantes

às citadas nas figuras acima. Por meio delas, o aluno pode estudar como

surgem os números negativos, e qual o sentido dessas quantidades negativas

isoladas, já que este é um obstáculo apresentado nos PCN e também por

Glaeser (2010) em seus estudos.

Na seção “Desafio”, os autores explicam que o nosso calendário é feito

com base na data do nascimento de Cristo, e que os anos que vêm antes de

Cristo são registrados como a.C. (antes de Cristo), e os que vêm depois Dele

d.C. (depois de Cristo), mas que hoje em dia não é mais usual utilizar d.C, pois

o nascimento Dele marca o início da contagem dos anos. A partir dessa

explicação, algumas datas de nascimento e morte de alguns personagens da

história são apresentadas para que o aluno faça a contagem de quantos anos a

pessoa viveu. Nessa seção, notamos a falta de menção à história da

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94

Matemática, proporcionando o conhecimento de um fato ou uma curiosidade

matemática, ou então de números negativos. Como vimos anteriormente, os

PCN recomendam a utilização da História da Matemática, pois ela sugere

caminhos para a abordagem, deixando claros os objetivos a serem alcançados.

No Capítulo 2 dessa Unidade, que se intitula: Números Negativos e sua

Representação, os autores fazem comparações entre números positivos e

números negativos. Apresentam, em um termômetro, a variação de

temperatura que, a princípio, estava em −3ºC e, em seguida subiu + 3ºC,

ficando em 0ºC. Essa representação é feita para apresentar ao aluno o oposto

de um número e, a partir desse termômetro, é feita uma ilustração da reta

numérica, na qual são observados os números e seus opostos. Na Figura 21,

apresentamos essa observação.

Figura 21: Números opostos na reta numérica. Fonte: (CARVALHO e REIS, 2010) p. 110

De acordo com as orientações no Manual do Professor, esse momento

deve ser explorado para a verificação da ordem em que os números aparecem

na reta, fazendo comparações entre eles, estendendo-se até as frações e

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decimais positivos e negativos. Como já vimos anteriormente, a sugestão de

utilização da reta numérica para a verificação dos opostos também é dada

pelos PCN. Cid (2002) aponta esta situação, entre outras situações que

classifica como de deslocamento, como uma das mais utilizadas pelos livros

didáticos atuais.

A explicação dada na Figura 21, assim como as atividades que são

sugeridas em seguida, auxilia o aluno na compreensão das propriedades da

reta e pode colaborar com a superação de mais um obstáculo observado por

Glaeser (2010), que é a unificação da reta numérica, ou seja, favorece a

compreensão do aluno que os números negativos estão dispostos na mesma

reta que os positivos, porém em sentido oposto. O mesmo obstáculo é

verificado nos PCN, que é a dificuldade em reconhecer a existência de

números nos dois sentidos a partir do zero (até então para o aluno a sucessão

dos números só acontece em um único sentido).

Para a abordagem da adição e da subtração de números inteiros, no

Capítulo 3, sob o título Somando e Subtraindo, os autores utilizam situações

por meio de modelos de partículas positivas e negativas, como mostra a Figura

22.

Figura 22: Abordagem da Adição e Subtração de Inteiros. Fonte: (CARVALHO e REIS, 2010) p. 113.

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96

As adições entre partículas positivas são de fácil compreensão, pois

pertencem ao conjunto ℕ, portanto já são usuais em diversos contextos para o

aluno, como apresentado na Figura 23.

Figura 23: Adição de inteiros positivos.

Fonte: (CARVALHO e REIS, 2010) p. 114.

É necessário, porém, o auxílio do professor relembrando ao aluno que

partículas positivas e negativas neutralizam-se entre si e um pouco mais de

atenção por parte do aluno quanto a isso, quando a adição envolve um número

de partículas negativas maior que de positivas, visto na Figura 24.

Figura 24: Adição de inteiros positivos e negativos.

Fonte: (CARVALHO e REIS, 2010) p. 114.

Os autores utilizam, nessa situação, a neutralização das partículas para

justificar o resultado negativo que foi obtido. De acordo com Cid (2002), a

utilização de modelos de neutralização é comum em livros didáticos, e entre as

mais comuns estão as situações que envolvem perdas e ganhos.

A subtração de partículas positivas acontece sem a utilização da

“ferramenta” neutralização, já que se trata de uma subtração entre números

naturais. Há, inicialmente, um grupo de seis partículas positivas, e deseja-se

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97

retirar quatro dessas partículas. Restam, então, duas partículas positivas

(6 – 4 = 2), como na Figura 25.

Figura 25: Subtração de inteiros positivos.

Fonte: (CARVALHO e REIS, 2010) p. 114.

Já a subtração de um número maior de um menor é feita conforme

apresentado na Figura 26.

Figura 26: Subtração de um inteiro maior de outro menor.

Fonte: (CARVALHO e REIS, 2010) p. 115.

Para efetuar a subtração de um número maior de um menor utilizando

este modelo, é necessário que o professor fique atento a possíveis

interpretações equivocadas por parte do aluno. Poderão surgir algumas

dúvidas, pois temos inicialmente um conjunto com quatro partículas positivas e

deseja-se retirar 7 das mesmas partículas, sendo necessário então adicionar

ao conjunto três partículas positivas e três negativas, para se retirar as sete

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98

partículas positivas que agora se encontram no conjunto, e verifica-se que

sobram neste apenas as partículas negativas que foram adicionadas (Figura

26).

A mesma atenção por parte do professor se faz necessária para a

exemplificação da subtração de dois números negativos (−3) − (−4), na qual é

necessário adicionar em um conjunto que inicialmente contém três particular

negativas, um par de partículas (positiva e negativa), para então retirar-se as

quatro partículas negativas, restando, assim, a partícula positiva que justifica a

operação (−3) − (−4) = 1. Na Figura 27, ilustra-se o esquema para esta

situação.

Figura 27: Subtração de inteiros negativos.

Fonte: (CARVALHO e REIS, 2010) p. 115.

Os “Exercícios de Aprendizagem” e também os “Exercícios de Fixação”

trazem atividades que seguem estas explicações. Sugerem o uso da metáfora

de partículas positivas e negativas, e apresentam situações envolvendo adição

e subtração de números inteiros (dívidas e temperatura); sequências de adição

e de subtração, nas quais é necessário que o aluno observe a regularidade das

mesmas para, então, completar os números que faltam; além da utilização do

“jogo dos inteiros”, no qual todas as cartas são numeradas, com as pretas

representando números negativos e as brancas, números positivos. Para a

Page 99: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

99

verificação da pontuação, é necessário adicionar todos os valores das referidas

cartas.

No manual de apoio ao professor, os autores sugerem o uso de outras

atividades, por exemplo, a reta numerada, (Figura 28) com deslocamentos para

a direita e para a esquerda, permitindo a verificação gráfica da adição e da

subtração dos inteiros.

Figura 28: Sugestão de atividade, adição e subtração de inteiros.

Fonte: (CARVALHO e REIS, 2010) Manual do Professor. p. 23.

Como vimos anteriormente, os PCN recomendam o uso da reta

numérica para facilitar a compreensão do aluno na adição e na subtração de

números inteiros, inferindo regras para essas operações. É possível também,

com essa representação, verificar a ordem em que esses números estão

dispostos na reta, favorecendo a visualização do zero como ponto de origem e

comparações entre números inteiros.

A utilização da reta numérica, em atividades como as sugeridas nesse

livro, podem colaborar, numa tentativa de evitar ou superar alguns dos

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100

obstáculos que são previstos nos PCN no ensino de números inteiros, como a

existência de números nos dois sentidos da reta, a partir do zero, e alguns dos

obstáculos apontados por Glaeser (2010), como a dificuldade em unificar a reta

numérica e a ambiguidade dos dois zeros.

Em outra atividade sugerida no Manual do professor (Figura 29) os

autores utilizam a metáfora de buracos e montes de terra de mesmo tamanho,

sendo que os buracos representam números negativos e os montes, números

positivos.

Figura 29: Sugestão de atividade para adição e subtração de inteiros.

Fonte: (CARVALHO e REIS, 2010) Manual do professor, p. 23.

Aparentemente, a ideia nessa atividade é a de que o aluno associe os

buracos a quantidades negativas isoladas, visualizando, então, a obtenção dos

resultados das operações que envolvem números positivos e negativos.

Porém, é necessário que o professor deixe claro que este exemplo tem a

finalidade de colaborar com a visualização, pois em situações reais, torna-se

difícil que buracos e montes tenham exatamente o mesmo tamanho.

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101

Uma terceira atividade sugerida no manual do professor é a utilização

dos quadrados mágicos, nos quais, verificando a soma das linhas, colunas e

diagonais, o aluno deve completar os dois quadrados seguintes, conforme a

Figura 30.

Figura 30: Sugestão de atividade para adição e subtração de inteiros.

Fonte: (CARVALHO e REIS, 2010) Manual do professor, p. 23.

Acreditamos que, para a realização de atividades como esta da Figura

28, é necessária a intervenção do professor, instigando o aluno, fazendo com

que ele se sinta desafiado, primeiro a descobrir o resultado em cada quadrado

mágico, para depois descobrir quais números faltam nos espaços que estão

em branco.

Um Desafio é proposto ao aluno. Nele é apresentada a soma

1 + 2 + 3 − 4 + 5 + 6 + 78 + 9 = 100

a tarefa do aluno é apresentar outra adição na qual seja possível obter soma

100 utilizando menor quantidade dos sinais de + e de −, podendo utilizar o

mesmo recurso que da adição anterior (os números 7 e 8 aparecem juntos).

No Capítulo 4, sob o título Multiplicando e Dividindo, os autores iniciam a

multiplicação de inteiros por meio da ilustração de um ciclista movendo-se

sobre uma linha numerada, de acordo com algumas regras: ir para a esquerda

significa ir para o sentido negativo e para a direita significa ir para o sentido

positivo; o tempo futuro é representado por um número positivo e o passado

por um número negativo.

A Figura 31 mostra como foi realizada a multiplicação.

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102

Figura 31: Multiplicação de inteiros. Fonte: (CARVALHO e REIS, 2010) p. 120.

Se o ciclista está no ponto zero, e, a partir dele, vai em direção leste a

uma velocidade de 5 km/h, daqui duas horas estará a uma distância de 10 km.

Logo a multiplicação 5 × 2 = 10. Entendemos que é necessário maior atenção

do aluno ou o auxílio do professor para que se compreenda a situação

apresentada na Figura 32, na qual o ciclista deve andar a uma velocidade de

5km/h, movendo-se para o leste. Querendo-se representar o produto 5 × (−2)

= −10, a intenção é analisar a posição do ciclista a 2 horas atrás. O cuidado

que se deve tomar é que, indo na direção leste entende-se, segundo as regras

determinadas para esta situação, que ele vai para o sentido positivo, e,

portanto, o aluno pode entender que o resultado seria + 10 e não −10. A

intervenção do professor se faz necessária na leitura e compreensão de que a

intenção deste exemplo era mostrar onde o ciclista estava 2 horas antes,

trabalhando, então, com o oposto de 2.

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103

Figura 32: Situação 1, multiplicação de inteiros na reta numerada.

Fonte: (CARVALHO e REIS, 2010) p. 120.

Podemos verificar, nessa mesma figura, outro exemplo. A multiplicação

(−2) × 3 = (−6). Agora o ciclista move-se para o oeste (indicando o sentido

negativo), a uma velocidade de 2km/h, o resultado (−6) será a posição em que

o ciclista estará daqui a três horas.

A segunda situação apresentada (Figura 33) é análoga à anterior. Nela,

a intenção é representar na linha numerada o produto (−3) × (−4) = 12,

pensando que o ciclista se deslocou para oeste, e pede-se onde ele estava 4

horas antes.

Figura 33: Situação 2, na linha numerada da multiplicação de inteiros.

Fonte: (CARVALHO e REIS, 2010) p. 121.

Outra sugestão apresentada para a Multiplicação de inteiros nesse livro

é a observação da sequência de regularidades nos resultados, como

apresentado na Figura 34.

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104

Figura 34: Multiplicação de inteiros por meio da observação dos resultados

Fonte: (CARVALHO e REIS, 2010) p. 121.

Este procedimento pode facilitar a memorização dos resultados em uma

sequência de multiplicação em que um dos fatores é constante. Não nos

parece conveniente a utilização deste procedimento antes que o aluno

compreenda as regras de multiplicação, o que pode levar o aluno à adição ou à

subtração de números inteiros.

Apesar de ser descrita como uma situação, a divisão de números

inteiros é apresentada como o processo inverso da multiplicação, inicialmente

realizada com números naturais, como apresentado na Figura 35.

Figura 35: Divisão de inteiros. Fonte: (CARVALHO e REIS, 2010) p. 122.

No manual de apoio ao professor, é sugerido que ele justifique as

propriedades da multiplicação entre inteiros por meio da propriedade

distributiva. Por exemplo: 3 × (1 − 1) = 0, pela propriedade distributiva temos

que 3 × 1 + 3 (−1) = 3 − 3 = 0, justificando o resultado obtido.

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105

Também no manual do professor é sugerida outra atividade para

“treinamento” (como os autores definem) das operações de multiplicação e

divisão de inteiros. A tabela apresentada na Figura 36 deve ser, inicialmente,

completada no quadrado sombreado, utilizando a multiplicação dos números

naturais, observando os números que estão dispostos nas linhas horizontal e

vertical. De acordo com as orientações, o professor pode utilizar esta tabela

para explicar o que ocorre quando se multiplica um número positivo por um

número negativo.

Figura 36: Tabela para multiplicação e divisão dos inteiros. Fonte: (CARVALHO e REIS, 2010) Manual do professor, p. 24.

A construção da tabela de multiplicação é recomendada também pelos

PCN, como recurso que permite observar a regularidade dos resultados,

positivos ou negativos, de acordo com as regras de sinais para essa operação.

Os Exercícios de Aprendizagem e os Exercícios de Fixação que seguem

este capítulo são propostos seguindo os exemplos do ciclista da reta

numerada, e também da observação de sequências de multiplicação a serem

completadas. Na seção Desafio há atividades para operações de adição,

subtração, multiplicação e divisão de números racionais positivos e negativos.

Encerrando o capítulo com a seção Projeto 1, é proposto o Jogo dos

Inteiros, o qual é constituído por 54 cartas, formadas por cartões pretos e

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106

brancos. Os pretos representam números positivos e os brancos, números

negativos, e dois cartões do zero. Cada número aparece em dois cartões de

cada uma das cores. Este jogo consiste em três rodadas e, na primeira, cada

jogador recebe 3 cartas, na segunda, 4 e na terceira, 5 cartas. Em cada

rodada, os jogadores podem trocar uma de suas cartas por outra do monte,

sem ver o valor dela. Ao fim de cada rodada, ganha quem tiver a maior soma

nos valores das cartas. Com este jogo, também pode ser realizada a

multiplicação ao invés da adição dos números que aparecem nas cartas

brancas e pretas.

Como justificativa, no manual de apoio ao professor, Carvalho e Reis,

(2010) afirmam que “O jogo pode ser algo prazeroso, e a intenção aqui é

despertar a curiosidade, trazendo mais facilidade na manipulação dos números

relativos em problemas numéricos” (CARVALHO; REIS, 2010, p. 24).

Estabelecem como objetivo para este jogo: “1) Desenvolver a agilidade do

cálculo mental com inteiros relativos; 2) Aprimorar o raciocínio numérico; 3)

Facilitar a solução de problemas numéricos através da recreação individual e

em grupos” (CARVALHO; REIS, 2010, p.24).

4.4 Considerações sobre o estudo dos Documentos e d os Livros

Didáticos

Para o ensino de Matemática de maneira geral, tanto os PCN quanto as

DCE do Estado do Paraná trazem orientações que se referem às novas

metodologias de ensino, ou “caminhos para se fazer matemática” como são

chamados nos PCN. De acordo com tais documentos, a resolução de

problemas, a utilização de jogos matemáticos, a História da Matemática, a

Etnomatemática, a Modelagem Matemática, a utilização de tecnologias e

mídias e a investigação matemática (DCE) colaboram para um melhor

aproveitamento desse ensino.

No Quadro 1, é exposto quais desses recursos são contemplados como

e em que momento os autores fazem uso do mesmo. Chamaremos de Livro 1

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107

o livro “A Conquista da Matemática”, de Giovanni Jr. e Castrucci e de Livro 2

Aplicando a Matemática, de Carvalho e Reis.

Livro 1 Livro 2 Resolução de

Problemas Exercícios Exercícios

Jogos Matemáticos Desafios e atividade Desafios e atividades

complementar (adição) complementar (final do capítulo).

História da Matemática Introdução do conceito Não utiliza

De Número Inteiro

Tecnologias e Mídias Calculadora Não utiliza

Modelagem Matemática Não utiliza Não utiliza

Etnomatemática Não utiliza Não utiliza

Investigação Matemática Trabalhos de pesquisa Não utiliza Quadro 1- Metodologias de ensino.

De acordo com a tabela, os recursos metodológicos mais utilizados

pelos autores dos livros didáticos analisados são a resolução de problemas e

os jogos matemáticos.

Para o ensino e a aprendizagem de números inteiros especificamente,

as DCE apenas estabelecem dois objetivos, enquanto os PCN trazem

orientações para a introdução desse conceito com abordagem geométrica e

das operações entre números positivos e negativos, além de apontar alguns

dos possíveis obstáculos que podem surgir durante os processos de ensino e

de aprendizagem.

Os PCN sugerem que os números inteiros surjam a partir de situações

contextualizadas, apoiando-se nas ideias que os alunos já têm sobre esses

números e como complemento ao conjunto dos números naturais. Mas,

observam que, no ensino de números inteiros, nem sempre é possível basear-

se em situações concretas, portanto, é necessário reconhecer, em experiências

práticas e no conhecimento que o aluno possui de números naturais, aspectos

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108

formais dos números inteiros. Em sua pesquisa, Cid (2002) destaca a

importância da contextualização na introdução do ensino de números inteiros,

pois, dessa forma, evita-se que o aluno apenas domine regras para operar e

não compreenda situações nas quais o uso desses números é necessário. Nos

dois livros analisados, a abordagem é feita com situações que podem ser

comuns à vida diária do aluno. De maneira geral, são apresentados alguns

fatos de determinadas regiões, situações de variação de temperatura, entre

outros.

A abordagem geométrica dos inteiros é feita pelos autores de acordo

com a recomendação dos PCN, o qual afirma que a mesma deve servir como

recurso para a exploração de aspectos como a visualização do zero como

ponto de origem aos dois sentidos da reta; a identificação de um número na

reta, bem como, o seu oposto; o reconhecimento da ordem em que os números

inteiros estão dispostos, facilitando visualmente a comparação entre eles; e a

inferência das regras de adição e de subtração.

Ainda para a abordagem das operações de adição e de subtração de

inteiros, os PCN sugerem, além da reta numérica, a utilização do ábaco dos

inteiros. Um terceiro recurso para a abordagem dessas operações seria a

construção de tabelas de adição, para que o aluno visualize nela as

regularidades e padrões de comportamento das séries numéricas

apresentadas. No primeiro livro analisado, a abordagem das operações

acontece por meio da reta numérica, caracterizando o modelo de deslocamento

citado por Cid (2003). Já no segundo livro, além da reta numérica ainda

observou-se a utilização de tabelas e também do modelo de partículas

positivas e negativas, que caracteriza o modelo de neutralização, citado pela

mesma autora. Os PCN apontam, ainda, algumas dificuldades encontradas por

alunos na aprendizagem de números inteiros e classificam como obstáculos do

ensino, salientando a importância destes serem reconhecidos pelo professor,

como conferir significado às quantidades negativas; reconhecer a existência de

dois sentidos da reta numérica, a partir do zero; reconhecer o zero absoluto e o

zero origem; perceber que a lógica dos números inteiros, que contraria a lógica

dos naturais, por exemplo, a soma de dois números naturais será sempre um

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109

número natural maior que as parcelas da adição, o que nem sempre ocorre

entre números inteiros; e interpretar sentenças do tipo x = -y. Entre estes, ao

nosso ver, apenas o primeiro deles contradiz o conceito de obstáculo tal como

definiu Brousseau (1976), pois o aluno ainda não conhece formalmente o

número negativo, portanto não tem estabelecido um conhecimento que possa

vir a ser considerado contraditório ao novo.

Para facilitar a visualização, utilizamos os quadros abaixo para

sistematizar a verificação dessas orientações e das sugestões dos recursos

que auxiliam o ensino, pelos autores dos livros que foram analisados.

No Quadro 2, observamos a orientação dos documentos oficiais e

verificamos como os autores abordam a introdução do conceito de números

inteiros.

PCN Livro 1 Livro 2 Situações comuns Banco de horas Temperaturas, e noção intuitiva profundidades, painel saldo bancário, do aluno de elevador, saldo de datas a.C e d.C gols, temperatura. Quadro 2 - Abordagem do conteúdo – Números Inteiros

É possível perceber nos livros observados a orientação dos PCN de que,

na abordagem do conceito de números inteiros, sejam utilizadas situações

comuns no cotidiano do aluno. Ambos trazem na introdução do conteúdo

situações que são vivenciadas pelos alunos e que envolvem números

negativos, tais como temperaturas, saldos bancários, saldo de gols, entre

outras.

No Quadro 3, trazemos a orientação dos documentos oficiais e a

verificação de como os autores fazem a abordagem geométrica dos números

inteiros.

PCN Livro 1 Livro 2 Construção ou Construção da reta Apresentação da apresentação da numérica, módulo e reta numérica, Reta numérica simetria. números opostos, comparação.

Page 110: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

110

Quadro 3 - Abordagem geométrica dos números inteiros.

No Livro 1, a reta numérica é inicialmente construída passo a passo,

após a apresentação de alguns instrumentos de medição mais utilizados e,

portanto, mais conhecidos entre os alunos, como a trena e a fita métrica.

Traça-se uma reta, na qual é marcado um ponto qualquer, denominando-o

ponto zero; em seguida, os pontos à direita dele, que representam os números

positivos e são marcados os pontos à esquerda, que representam os números

negativos. Já no Livro 2, a reta é apresentada a partir de uma figura

semelhante ao termômetro, porém com uma escala com intervalos de um em

um, observando nessa reta o ponto zero como origem e os números positivos à

direta dele e os negativos à esquerda.

No Quadro 4, trazemos a orientação dos documentos oficiais e a

verificação de como os autores abordam as operações de adição e de

subtração de números inteiros.

PCN Livro 1 Livro 2 Ampliação de ℕ, Resolução de situações Modelo das Reta numérica, utilizando a reta partículas positivas ábaco dos inteiros numérica. e negativas. tabelas. (Neutralização) Quadro 4 - Abordagem às operações de adição e subtração dos inteiros.

Comparando as duas formas de abordar as operações de adição e de

subtração, concluímos que a forma utilizada pelos autores do Livro 1, ou seja, a

resolução de operações com a utilização da reta numérica pode tornar mais

clara a compreensão dos procedimentos e das regras, como foi previsto nos

PCN, pois favorece a visualização do deslocamento realizado para essas

operações.

No Quadro 5, apresentamos a orientação dos documentos oficiais e a

verificação de como os autores abordam as operações de multiplicação e de

divisão de números inteiros.

Page 111: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

111

PCN Livro 1 Livro 2 Tabelas de Tabelas de multiplicação, Ciclista na reta multiplicação e verificação das numérica, divisão de inteiros propriedades e regras. tabela de multiplicação. Quadro 5 - Abordagem às operações de multiplicação e divisão dos inteiros. Como foi descrito no Capítulo 3, a abordagem das operações de

multiplicação e de divisão nem sempre é possível por meio de situações

cotidianas, como descreveu Glaeser (2010) ao se referir ao último obstáculo –

o desejo de um modelo que seja de fácil compreensão para a estrutura aditiva

e a multiplicativa - que, segundo ele, só foi superado por Hankel (1867) ao

assumir que os números negativos não são extraídos da natureza e, dessa

forma, não há como estabelecer modelos concretos para justificar a regra de

sinais, nem como justificar as estruturas aditivas e multiplicativas por meio de

um modelo unificador.

A forma de abordar o conceito de número inteiro, assim como a

abordagem geométrica feitas pelos autores desses dois livros, podem

colaborar para a superação de possíveis obstáculos do ensino desses

números.

Observamos que a abordagem das operações de adição, subtração,

multiplicação e divisão de inteiros, é realizada nos dois livros de acordo com as

orientações dadas nos PCN (1998) de maneira que colabore com a superação

dos obstáculos observados pelo referido documento. Ainda assim, entendemos

a presença do professor como indispensável, atuando como mediador do

conhecimento, auxiliando o aluno na superação de obstáculos que

possivelmente surjam, evitando assim possíveis dificuldades de aprendizagem.

Page 112: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

112

Considerações Finais

Retomando nossas questões de pesquisa

Com essa pesquisa tivemos como objetivo “Levantar, em pesquisas em

Educação Matemática, as dificuldades de aprendizagem e os obstáculos

verificados para o ensino dos números inteiros, buscar as orientações para o

ensino desses números em documentos que regem a educação básica, e

verificar se essas orientações se fazem presentes nos livros didáticos”.

Para alcançar tais objetivos, realizamos uma pesquisa documental, na

qual fizemos um estudo da história dos números negativos; procuramos

pesquisas em Educação Matemática que tratavam de dificuldades relacionadas

ao ensino de números inteiros, buscando verificar se estas pesquisas

apontavam dificuldades de aprendizagem ou levantavam obstáculos para o

ensino desses números, tendo como base o conceito de obstáculo

epistemológico de Brousseau (1976). Verificamos, nos PCN (1998) e nas DCE

(2010), as orientações dadas para dar suporte à prática docente, e buscamos

em, dois livros didáticos, verificar como estes tratam o desenvolvimento deste

conteúdo, se contemplam as orientações dadas pelos documentos analisados.

Levantamos então, quatros questões de pesquisas que tentaremos

responder a seguir.

1 - Quais obstáculos aparecem na literatura em Educação Matemática

sobre o ensino de números inteiros?

Para tentar responder a esta questão, recorremos à classificação de

obstáculos de Brousseau (1976). Segundo ele, existem três origens para

obstáculos didáticos, a origem ontogênica ocorre em decorrência do

desenvolvimento cognitivo do aluno; a origem didática, que está relacionada à

concepção de ensino do professor e suas escolhas didáticas; e, por fim, os

obstáculos de origem epistemológica, que não se constitui pela falta de um

conhecimento, mas é um conhecimento que tem validade em determinado

Page 113: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

113

domínio, porém quando aplicado fora desse domínio ou na ampliação dele,

produz respostas erradas ou insatisfatórias.

Sendo assim, os obstáculos didáticos de origem ontogênica e didática

descritos por Brousseau (1976) se constituem em dificuldades de

aprendizagem, e, para que sejam superadas, é necessário que sejam

realizadas mudanças ou adaptações nas ações didáticas do professor em sala

de aula.

Temos então os obstáculos de origem epistemológica, que caracterizam-

se como obstáculos do ensino, visto que destes não há como fugir, pois fazem

parte do conhecimento do aluno. Dessa forma, a pesquisa de Glaeser (2010)

levanta alguns obstáculos epistemológicos.

Glaeser (2010) apontou alguns obstáculos considerados por ele como

epistemológicos: Inaptidão para manipular quantidades isoladas; dificuldade

em dar sentido a quantidades negativas isoladas; dificuldade em isolar a reta

numérica; ambiguidade dos dois zeros; estagnação no estágio das operações

concretas (dificuldade de afastar-se de modelos concretos); e desejo de um

modelo unificador que justifique a estrutura aditiva e a multiplicativa.

Cid (2003) aponta algumas críticas a esta lista, e ao analisarmos suas

justificativas, compartilhamos com a teoria da autora. Consideramos de

relevância para nosso trabalho a critica que Cid (2003) faz baseando-se nas

ideias de Duroux (1982). Esta tem por base a definição de obstáculo

epistemológico proposta por Brousseau (1976) a qual define que um obstáculo

é um conhecimento e não a falta dele. Dessa forma Duroux (1982) afirma que

os dois primeiros obstáculos apontados por Glaeser (2010), a “Inaptidão para

manipular quantidades isoladas” e a “dificuldade em dar sentido a quantidades

negativas isoladas”, não deveriam ser considerados como tais, visto que

configuram falta de conhecimento. Sendo um novo conhecimento para o aluno,

estes obstáculos didáticos poderiam ser considerados como dificuldades e

podem ser evitados.

Os PCN também apontam alguns obstáculos no ensino dos números

inteiros, salientando a importância de serem reconhecidos pelo professor, tais

Page 114: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

114

como: conferir significado a quantidades negativas, reconhecer a existência de

números nos dois sentidos da reta, a partir do zero, reconhecer o zero absoluto

e o zero origem, perceber a lógica dos números negativos, que contraria a

lógica dos naturais, e, interpretar sentenças do tipo x = -y.

2 - Quais dificuldades aparecem na literatura em Educação Matemática

sobre a aprendizagem de números inteiros?

As dificuldades que encontramos nas pesquisas verificadas em nossa

Revisão foram elencadas em três categorias, devido à similaridade de

descrições por parte dos pesquisadores que as levantaram.

- Dificuldade para realizar a conversão de um problema com números

negativos, do enunciado na língua materna para a linguagem numérica.

- Dificuldade de compreender o conceito de números negativos, bem

como realizar operações básicas com eles.

- Dificuldade que em atribuir significado a quantidades negativas.

Duas das pesquisas verificadas apontam dificuldades relacionadas ao

conceito de ensino que os professores têm e estão relacionadas aos

procedimentos didáticos, material de apoio e leituras atualizadas por partes dos

docentes. De acordo com entrevistas a professores de Matemática que realizou

em sua pesquisa, Soares (2007) afirma que estes não possuem o hábito de

manter-se atualizados quanto ao uso de novas metodologias para o ensino de

Matemática. A pesquisadora afirma, ainda, que as dificuldades dos alunos

seriam menores se o ensino de Matemática se baseasse nos conhecimentos

prévios dos alunos. Rossi (2009), ao concluir seu trabalho, afirma que é

importante uma análise do livro didático, por parte do professor, no momento

da escolha e, que isso pode contribuir para o êxito dos processos de ensino e

de aprendizagem. 3 – Quais orientações são dadas pelos Parâmetros

Curriculares Nacionais e pelas Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná

para o ensino de números inteiros?

Tanto os PCN quanto as DCE fazem referência à importância de leituras

atualizadas por parte dos professores no que se refere às novas metodologias

Page 115: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

115

para o ensino de Matemática, como, por exemplo, a Resolução de Problemas,

a História da Matemática, a utilização de Jogos Matemáticos e das Mídias

tecnológicas buscando incentivar o aluno para a aprendizagem.

Verificamos em algumas pesquisas analisadas a utilização desses

recursos, como, por exemplo, Gonçalves (2007), que propõe a utilização de

software matemático, ou Neves (2010) e Bordin (2011) que sugerem o uso de

jogos matemáticos adaptados para a introdução do conceito de números

inteiros.

Além desses recursos, as DCE sugerem, ainda, que os conteúdos

matemáticos sejam abordados por meio de tendências metodológicas da

Educação Matemática, como a Etnomatemática, a Modelagem Matemática e a

Investigação Matemática, afirmando que todas têm o mesmo grau de

importância, complementando-se entre si.

Quanto ao ensino específico de números inteiros, os PCN trazem

orientações para nortear o trabalho do professor. Este documento sugere que o

ensino dos números inteiros seja apresentado em situações em que estes

números estejam presentes, como uma ampliação dos Naturais para o campo

aditivo. Assim como sugere Soares (2006), que este ensino apoie-se nas ideias

intuitivas que os alunos trazem desses números, ou seja, que valorize o

conhecimento prévio dos alunos sobre números negativos.

Porém, os PCN reconhecem a necessidade de que estas situações

levem os alunos à compreensão de regras de cálculos envolvendo números

inteiros, pela observação de regularidades e das propriedades das operações

com números naturais, pois nem sempre é possível o trabalho com números

inteiros baseando-se em situações concretas.

Assim como Passoni (2002) e Todesco (2006), os PCN sugerem que já

nos anos iniciais os alunos desenvolvem noções intuitivas dos números

negativos, fruto de experiências familiares, como saldos bancários, saldos de

gols, entre outras.

Page 116: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

116

A abordagem geométrica dos números inteiros é outra recomendação

dos PCN, explorando alguns aspectos como a ambiguidade do zero, a

verificação do oposto de cada número pertencente a esta reta, a comparação

entre estes números. A utilização da reta numérica favorece, ainda, a

compreensão de regras para operações de adição e de subtração com inteiros.

Além da utilização da reta numérica para a abordagem das operações

de adição e de subtração, os PCN sugerem o uso do ábaco dos inteiros, além

da construção de tabelas, para observação das regularidades apresentadas. A

construção dessas tabelas também é recomendada para a abordagem da

operação de multiplicação com números inteiros.

Reconhecendo a importância deste documento, e cientes de que o livro

didático representa um importante instrumento de apoio ao trabalho do

professor, formulamos então a quarta questão:

4 – As orientações presentes nos Parâmetros Curriculares Nacionais e

nas Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná estão contempladas em livros

didáticos aprovados pelo PNLD?

Para responder a esta pergunta, buscamos observar, em dois livros

didáticos de Matemática, se estes contemplam as orientações dos PCN quanto

à abordagem e operações com números inteiros, além da utilização dos

recursos e tendências metodológicas citadas nas DCE.

Verificamos, nesses livros, a observância às orientações quanto à

abordagem do conceito de operações nos campos aditivo e multiplicativo.

Quanto à utilização de recursos metodológicos como jogos e mídias

tecnológicas, verificamos que os jogos estão contemplados em ambos os livros

em diversos momentos do capítulo, mas o uso de recursos tecnológicos se faz

presente apenas em um deles e de maneira superficial, por meio da instrução

da utilização de calculadora em operações com números inteiros no campo

aditivo.

De acordo com os PCN e também com as DCE, a História da

Matemática sugere caminhos para a abordagem dos conceitos, porém,

Page 117: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

117

observamos que apenas um dos livros faz menção à história dos inteiros e,

ainda assim, com um recorte que aponta a dificuldade de aceitação dos

números negativos, fato que pode causar, de início desânimo ao aprendizado.

Concluímos, contudo, que muitas das orientações dos PCN estão

contempladas nos dois livros didáticos verificados. Além disso, é possível ver

tentativas de criar situações em que o aluno tenha condições de superar

obstáculos tais como dar sentido a quantidades negativas; reconhecer a

existência de números nos dois sentidos da reta, a partir do zero; reconhecer o

zero absoluto e o zero origem; e inferir regras para operar com inteiros, no

campo aditivo.

5.2 Sugestões para próximas pesquisas

Ao finalizar nossa pesquisa, e diante de várias leituras sobre os

problemas na aprendizagem relacionados aos Números Inteiros, salientamos a

importância do professor identificar se estes problemas constituem-se em

dificuldades de aprendizagem ou obstáculos epistemológicos.

Pôde-se observar na História da Matemática e nos trabalhos de Glaeser

(2010) a existência de possíveis obstáculos relacionados aos Números Inteiros.

Este fato deve ser levado em conta por professores para que, caso sejam

detectados, estes obstáculos sejam enfrentados e superados.

A falta de compreensão dos alunos em situações de ensino e de

aprendizagem de números inteiros faze com que eles rotulem este tema como

difícil ou complexo. Em nossa Revisão, ficou evidente a preocupação dos

autores em utilizar metodologias de ensino diferenciadas na busca da

superação desse desafio.

O diferencial de nossa pesquisa é que buscamos caracterizar a

dificuldade de aprendizagem e obstáculo epistemológico, identificando-os em

diversos momentos.

Considerando o estudo documental realizado em nossa pesquisa e a

utilização de metodologias diferenciadas nas pesquisas nela relatadas,

Page 118: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

118

deixamos como sugestão para continuação da mesma, a possibilidade da

elaboração e aplicação de uma sequência de ensino, tal como sugeriu Glaeser

(2010), utilizando metodologias diferenciadas, para verificar se os obstáculos

listados por ele ainda estão presentes no ensino atual.

Outra sugestão que pode ser considerada é a exploração de um

obstáculo apontado nos PCN: interpretar sentenças do tipo x = − y. Para

buscar responder por que o aluno costuma pensar que necessariamente x é

positivo e y é negativo.

Page 119: OBSTÁCULOS E DIFICULDADES RELACIONADOS À

119

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