56
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA - CCET INSTITUTO DE QUÍMICA OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE QUITOSANA RETICULADAS COM POTENCIAL PARA ADSORÇÃO DE TETRACICLINA PEDRO ÍTALO DA CRUZ Natal - RN 2019

OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

  • Upload
    others

  • View
    3

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA - CCET

INSTITUTO DE QUÍMICA

OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE

QUITOSANA RETICULADAS COM POTENCIAL PARA

ADSORÇÃO DE TETRACICLINA

PEDRO ÍTALO DA CRUZ

Natal - RN

2019

Page 2: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

PEDRO ÍTALO DA CRUZ

OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE

QUITOSANA RETICULADAS COM POTENCIAL PARA

ADSORÇÃO DE TETRACICLINA

Relatório de estágio apresentado ao curso de

Química bacharelado da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte como parte

dos requisitos para obtenção do título de

Bacharel em Química.

Orientador: Profa. Dra. Márcia Rodrigues

Pereira

Co-orientador: Dra. Letícia Streck

Natal - RN

2019

Page 3: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Francisco Gurgel De Azevedo –

Instituto Química - IQ

Cruz, Pedro Italo da.

Obtenção e caracterização de membranas de quitosana

reticuladas com potencial para adsorção de tetraciclina / Pedro

Italo da Cruz. - Natal: UFRN, 2019.

56f.: il.

Relatório de Estágio (Graduação) - Universidade Federal do Rio

Grande do Norte - Centro de Ciências Exatas e da Terra - CCET,

Instituto de Química. Curso de Química Bacharelado.

Orientador: Dra. Márcia Rodrigues Pereira.

Coorientador: Dra. Letícia Streck.

1. Adsorção. 2. Polímero. 3. Tetraciclina. 4. Infravermelho.

5. Difração de raio-X. 6. Análise térmica. I. Pereira, Márcia

Rodrigues. II. Streck, Letícia. III. Título.

RN/UF/BSQ CDU 54

Elaborado por FERNANDO CARDOSO DA SILVA - CRB-759/15

Page 4: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

Pedro Ítalo da Cruz

OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE QUITOSANA

RETICULADAS COM POTENCIAL PARA ADSORÇÃO DE TETRACICLINA

Relatório de estágio apresentado ao curso de

Química bacharelado da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte como parte

dos requisitos para obtenção do título de

Bacharel em Química.

Orientador: Profa. Dra. Márcia Rodrigues

Pereira

Co-orientador: Dra. Letícia Streck

Aprovado em: 04 de dezembro de 2019.

Page 5: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

A minha avó Maria Mariano e a minha

mãe Maria José, com amor e gratidão.

Page 6: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

AGRADECIMENTOS

Quero agradecer primeiramente a Deus pelo dom da vida e por me proporcionar mais

uma conquista.

A minha orientadora, profa. Dra. Márcia Rodrigues Pereira, pela orientação, apoio,

paciência, ensinamentos e discussões, além da confiança que depositou em mim

desde o início da iniciação cientifica. Agradeço por acreditar no meu trabalho e

proporcionar a transformação do meu sonho em realidade.

Ao prof. Dr. José Luís Cardozo Fonseca pelos sábios ensinamentos, pelo apoio e pela

confiança.

A minha co-orientadora, Dra. Letícia Streck, por toda orientação, contribuição,

paciência e confiança e, também, por todo ensinamento e discussões durante toda a

iniciação cientifica. Agradeço imensamente por acreditar no meu trabalho.

A todos os professores do instituto de Química da Universidade Federal do Rio Grande

do Norte (UFRN) pelos ensinamentos, pelo apoio e pela oportunidade de convivência

durante todo o curso.

A todos os colegas do LAMECO (Laboratório de Membranas e Colóides).

Especialmente a Ernani Dias, Felipe da Hora, Débora de Oliveira, Willian Barbosa e

Amanda Azevedo. Agradeço muito por dividir comigo conhecimentos e por terem

contribuído com o meu crescimento profissional durante todo período da iniciação

cientifica.

Aos meus queridos amigos pela parceria, pelos conhecimentos compartilhados e por

todos os momentos compartilhados, em especial, Talita Pereira, Lorena Cristina,

Mariana Raquel, Thalita Medeiros, Maria Luísa, Juliana Costa e Jeferson.

Àqueles que torceram por esta conquista e que compartilharam das minhas angústias,

ansiedade e expectativas, meus queridos amigos do Segue-me e do Jovens Sarados,

em especial à Ariadnny Maria, Igor Costa, Laura Rafaela, Joaquim e Sabrina Araújo,

muito obrigada pela amizade e carinho.

Page 7: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

A minha família pelo apoio, minha avó (Maria Mariano) e minha mãe (Maria José), por

todo apoio, amor, conselhos e carinho. Agradeço por valorizar, incentivar e acreditar

nos meus “estudos”. Agradeço também em especial à Graça Mariano, Mariellen

Mayce, Lenise Rocha, Patrícia Layne, Francisca Geane, Júlia Geyziane e Roberth

Gabriel. Essa conquista pertence também a vocês.

A todos aqueles que colaboraram para a realização deste trabalho, meus mais

sinceros agradecimentos.

Agradeço a UFRN, ao Instituto de Química e ao CNPq pelo suporte financeiro dado à

pesquisa.

Page 8: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

“Por vezes sentimos que aquilo que fazemos

não é senão uma gota de água no mar. Mas

o mar seria menor se lhe faltasse uma gota.”

- Madre Teresa de Calcutá

Page 9: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

RESUMO

A quitosana (CS), um biopolímero derivado da quitina que é um polímero

amplamente distribuído na natureza presente no exoesqueleto de crustáceos, foi

avaliada através da produção de membranas reticuladas e não reticuladas. A

investigação da capacidade de adsorção das membranas de quitosana reticuladas

com ácido sulfúrico e não reticuladas foi investigada utilizando o fármaco tetraciclina.

Os estudos de adsorção foram conduzidos em temperatura de 37 °C e pH de 6,8.

Para a preparação das membranas de quitosana foi desenvolvida uma metodologia

experimental para melhorar o rendimento de obtenção das membranas de quitosana

reticuladas e não reticuladas. O fármaco tetraciclina foi utilizado como modelo no

estudo de adsorção que foram acompanhados por leitura no espectrofotômetro de

UV-Vis em 358 nm. As membranas reticuladas e não reticuladas foram caracterizadas

por infravermelho, difração de raio-X e análise térmica (DSC). Também foram

realizadas medidas de índice de intumescimento e do percentual de cristalinidade das

membranas CS a fim de avaliar a influência da adição de ácido sulfúrico. As análises

de DSC e DRX mostraram que a tetraciclina foi parcialmente adsorvida pela

membrana após 74 horas, reduzindo sua concentração na solução em até 5 vezes da

concentração inicial na membrana CS pura. A sorção de água, avaliada pelo índice

de intumescimento em pH 6,8, mostrou que as membranas reticuladas com ácido

sulfúrico não interferiram na capacidade de sorção de água quando comparado com

a membrana CS pura. Os estudos de adsorção permitiram concluir que a membrana

CS pura apresentou uma maior capacidade em adsorver a tetraciclina. Através das

análises comparativas entre os espectros de infravermelho foi possível confirmar a

incorporação da tetraciclina, além de avaliar a influência do processo de reticulação.

Palavras-chave: Adsorção, polímero, tetraciclina, infravermelho, difração de raio-X,

análise térmica, UV-Vis.

Page 10: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

ABSTRACT

Chitosan (CS), a chitin-derived biopolymer that is a widely distributed polymer

in nature present in the crustacean exoskeleton, has been evaluated through the

production of crosslinked and non-crosslinked membranes. Investigation of the

adsorption capacity of sulfuric acid cross-linked and non-crosslinked chitosan

membranes was investigated using the drug tetracycline. Adsorption studies were

conducted at temperature of the 37 ° C and pH of the 6.8. For the preparation of

chitosan membranes an experimental methodology was developed to improve the

yield a is obtaining of crosslinked and non-crosslinked chitosan membranes. The drug

tetracycline was used as a model in the adsorption study which was followed by

reading on the UV-Vis spectrophotometer in 358 nm. The crosslinked and non-

crosslinked membranes were characterized by infrared, X-ray diffraction and thermal

analysis (DSC). Swelling index and crystallinity percentage measurements of CS

membranes were also performed to evaluate the influence of sulfuric acid addition.

DSC and XRD analysis showed that tetracycline was partially adsorbed to the

membrane after 74 hours, reducing its concentration in the solution by up to 5 times

the initial concentration in the pure CS membrane. Water sorption, evaluated by

swelling index at pH 6.8, showed that sulfuric acid crosslinked membranes did not

interfere with water sorption capacity when compared to pure CS membrane. The

adsorption studies concluded that the pure CS membrane presented a higher capacity

to adsorb tetracycline. Through comparative analysis between infrared spectra it was

possible to confirm the incorporation of tetracycline, besides evaluating the influence

of the crosslinking process.

Keywords: Adsorption, polymer, tetracycline, infrared, X-ray diffraction, thermal

analysis, UV-Vis.

Page 11: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Representação esquemática da estrutura química da quitosana. ............ 19

Figura 2 – Representação esquemática da estrutura química da tetraciclina. .......... 24

Figura 3 - Apresentação de uma curva de DSC. ...................................................... 28

Figura 4 - Espectro de FTIR da tetraciclina. .............................................................. 33

Figura 5 - Espectros de FTIR das membranas de quitosana. ................................... 34

Figura 6 - DRX das membranas de quitosana. ......................................................... 36

Figura 7 - DSC das membranas de quitosana. ......................................................... 38

Figura 8 - Índices de intumescimento em pH 6,8 das membranas CS. ..................... 39

Figura 9 - Curva de calibração da tetraciclina. .......................................................... 41

Figura 10 - Curvas de adsorção de tetraciclina nas membranas CS. ....................... 42

Figura 11 - Estrutura zwitteriônica da tetraciclina. ..................................................... 43

Figura 12 - Estrutura da quitosana protonada. .......................................................... 43

Figura 13 - Esquema apresentando um mecanismo de sorção de tetraciclina em

membranas de quitosana. ......................................................................................... 44

Figura 14 - Esquema apresentando um mecanismo de interação entre as cadeias

poliméricas da quitosana. .......................................................................................... 44

Figura 15 - Reticulação iônica das membranas de quitosana. ................................. 45

Page 12: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Percentual de cristalinidade para as membranas CS. .............................. 37

Tabela 2 - Índice de intumescimento em pH 6,8. ...................................................... 40

Page 13: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

LISTA DE SÍMBOLOS

CS Quitosana

CST Membrana de quitosana com tetraciclina

CSR Membrana de quitosana reticulada

CSRT Membrana de quitosana reticulada com tetraciclina

DD Grau de desacetilação

I Índice de intumescimento

t Tempo

mt Massa no tempo t

mo Massa da membrana seca

DSC Calorimetria exploratória diferencial

TC Tetraciclina

XC Percentual de cristalinidade

Ac Soma das áreas das regiões cristalinas

At Soma das áreas das regiões cristalinas e amorfas

pH Potencial hidrogeniônico

DRX Difração de raios-X

UV-Vis Ultravioleta-visível

A Absorbância

b Caminho óptico

c Concentração do analito

ε Coeficiente de absortividade molar

IV Infravermelho

Page 14: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 16

2. OBJETIVOS .......................................................................................................... 18

2.1 OBJETIVO GERAL.............................................................................................. 18

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................... 18

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................. 19

3.1 QUITOSANA ....................................................................................................... 19

3.2 MEMBRANAS DE QUITOSANA ......................................................................... 21

3.3 RETICULAÇÃO E AGENTES RETICULANTES ................................................. 22

3.4 TETRACICLINA................................................................................................... 24

3.5 PROCESSOS DE ADSORÇÃO .......................................................................... 25

3.6 TÉCNICAS DE CARACTERIZAÇÃO .................................................................. 26

3.6.1 Espectroscopia de ultravioleta-visível (UV-Vis)........................................... 26

3.6.2 Espectroscopia de Infravermelho (IV) .......................................................... 26

3.6.3 Difração de Raio-X (DRX) ............................................................................... 27

3.6.4 Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC)................................................. 28

4. MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................... 30

4.1 MATERIAIS ......................................................................................................... 30

4.2 PREPARAÇÃO DAS MEMBRANAS DE QUITOSANA PURAS E RETICULADAS

.................................................................................................................................. 30

4.3 OBTENÇÃO DA CURVA DE CALIBRAÇÃO DA TETRACICLINA ...................... 31

4.4 ESTUDOS DE ADSORÇÃO DA TETRACICLINA NAS MEMBRANAS DE

QUITOSANA NÃO RETICULADAS E RETICULADAS ............................................. 31

4.5 DETERMINAÇÃO DO ÍNDICE DE INTUMESCIMENTO ..................................... 31

4.6 CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DAS MEMBRANAS POLIMÉRICAS DE

QUITOSANA ............................................................................................................. 32

Page 15: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................ 33

5.1 CARACTERIZAÇÃO DAS MEMBRANAS DE QUITOSANA ............................... 33

5.2 DETERMINAÇÃO ÍNDICE DE INTUMESCIMENTO ........................................... 39

5.3 ESTUDOS DE ADSORÇÃO DE TETRACICLINA ............................................... 40

6. CONCLUSÃO ....................................................................................................... 47

7. REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 48

Page 16: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

16

1. INTRODUÇÃO

A quitosana é um polissacarídeo obtido por meio da desacetilação da quitina

em meio básico, sendo um dos biopolímeros mais utilizados e promissores que

apresenta propriedades antimicrobianas excelentes contra diversos microrganismos

(bactérias, leveduras e fungos). A partir da quitosana podemos obter filmes

biodegradáveis que podem ser usados em inúmeras aplicações, como para produção

de embalagens de biomateriais para alimentos (SABBAH et al., 2019) além de

diferentes aplicações biomédicas (AHMAD et. al., 2017; PARSA; PAYDAYESH;

DAVACHI, 2019).

Este polissacarídeo derivado da quitina, que é componente principal

encontrado em cascas de crustáceos, apresenta como suas vantagens mais

importante a sua biocompatibilidade e biodegradabilidade. A caracterização da

quitosana é realizada através da presença de dois grupos funcionais presentes em

sua estrutura, tanto os grupos hidroxila como os grupos amino, sendo que para

realizar a caracterização deste polímero necessita que ele seja solúvel em meio

levemente ácido e apresente um grau de desacetilação (DD) de no mínimo 50 %

(BONILLA et al., 2019; BRITO et al., 2019).

As membranas são barreiras seletivas para determinadas espécies que

consistem em uma camada fina permeável e semipermeável entre duas fases (líquida

e gasosa). Desta forma, a produção de membranas poliméricas apresenta-se como

uma alternativa de pesquisa muito promissora, sendo de baixo custo de energia e de

fácil operação (SOONTARAPA; ARNUSAN, 2019; TABRIZ et al., 2019). Estas

membranas são muito utilizadas para a remoção de poluentes, como corantes,

fármacos e metais pesados de águas residuais (HU et al., 2018; NADOUR;

BOUKRAA; BENABOURA, 2019; YU, Hang et al., 2019).

O processo de reticulação consiste na junção de cadeias poliméricas por meio

de ligações covalentes ou iônicas. Este processo ocorre por meio de uma reação

química ou pela existência de interações físicas entre dois polímeros diferentes ou

entre o agente reticulador e o polímero (NETO et al., 2005). A reação de reticulação

pode causar a diminuição do número de sítios ativos de adsorção, pois nessa reação

Page 17: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

17

temos os grupos funcionas presentes na cadeia polimérica da quitosana interagindo

com o agente reticulante (ZHANG, Nana et al., 2011).

A tetraciclina, fármaco da classe dos antibióticos, apresenta baixa volatilidade

e um caráter altamente hidrofílico, sendo bastante encontrada em águas residuais da

pecuária (RYDZYŃSKI et al., 2019; WU et al., 2019). Esse fármaco de fórmula

molecular C22H24N2O8 é constituído por grupos amina, dimetilamino e hidroxil fenólico

em sua estrutura química, sendo que esses grupos podem ser protonados e

desprotonados através de reações químicas (PARSA; PAYDAYESH; DAVACHI,

2019; XIE et al., 2019; ZHANG, Xiaonuo et al., 2019; ZHAO, Yanping et al., 2013).

O grande uso desse antibiótico acarreta a poluição do ambiente de água e solo,

por isso, foram desenvolvidas metodologias para remoção de tetraciclinas nesses

ambientes. Os processos de adsorção são utilizados para remover a tetraciclina da

água, como por exemplo a utilização de membranas que adsorvem o fármaco

presente no meio aquoso (LU et al., 2017; ZHANG et al., 2019). Os processos de

adsorção apresentam uma grande capacidade para realizar a purificação da água

removendo vários tipos poluentes presentes em águas residuais. Esses processos

são altamente utilizados, pois eles são de baixo custo, alta eficiência e fácil operação,

além de ter um consumo moderado de energia (MOHAMMED et al., 2019).

Adsorção pode ser química (quimissorção) ou física (fisissorção), dependendo

da interação entre a superfície e o adsorvato, sendo que na adsorção química temos

a formação de ligações químicas entre o adsorvato e a superfície por meio de uma

reação química e na adsorção física temos somente a formação de ligações físicas

entre o adsorvente e o adsorvato, conhecida como forças Van der Waalls e interações

eletrostáticas, consistindo assim em um processo de adsorção reversível (KECILI;

HUSSAIN, 2018; RACKLEY, 2010).

Page 18: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

18

2. OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Este trabalho tem como objetivo preparar e caracterizar membranas de

quitosana reticuladas e não reticuladas e avaliar seu potencial uso na adsorção de

tetraciclina.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

(a) Desenvolver uma metodologia para o preparo das membranas de quitosana

reticuladas e não reticuladas.

(b) Avaliar a influência da adição de ácido sulfúrico na adsorção do fármaco.

(c) Avaliar a capacidade de adsorção do fármaco tetraciclina, a partir das

medidas de UV-Vis, para as diferentes membranas utilizadas.

(d) Caracterizar as membranas de quitosana (reticuladas e não reticuladas)

através das análises de espectroscopia de infravermelho (IV), análises térmicas

(DSC), difração de Raio-X e determinação do índice de intumescimento (I).

Page 19: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

19

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 QUITOSANA

A quitosana (CS), derivado da quitina que está presente no exoesqueleto de

crustáceos, apresenta a característica de ser altamente ativa pelo fato de ser

constituída de grupos hidroxila e de aminas primárias e secundárias em sua estrutura

(Figura 1), o que possibilita a interação com outros polímeros e moléculas biológicas

(CHATTERJEE; GUHA; CHATTERJEE, 2019).

Figura 1 – Representação esquemática da estrutura química da quitosana.

A quitosana e a quitina são classificadas como polissacarídeos lineares e são

constituídas de unidades de N-acetil-2-amino-2-desoxi-D-glicose e 2-amino-2-desoxi-

D-glicose. A quitina apresenta menos unidades de 2-amino-2-desoxi-D-glicose,

tornando assim esse polissacarídeo menos solúvel em meio ácido, diferentemente da

quitosana que apresenta mais unidades de 2-amino-2-desoxi-D-glicose, o que a torna

solúvel em meio aquoso ácido (pH < 7), através da protonação de grupos amino

(LEBEDEVA et al., 2019; MITTAL et al., 2018).

O grau de desacetilação (DD) da quitosana é definido a partir da razão molar

das unidades de N-acetil-2-amino-2-desoxi-D-glicose e 2-amino-2-desoxi-D-glicose

que constituem a sua estrutura. Quando o DD é superior a 50% o polímero é

considerado como sendo a quitosana e, abaixo de 50%, o biopolímero referido é a

quitina (VILLAR-CHAVERO et al., 2019).

Page 20: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

20

A quitosana é biodegradável, biocompatível, hidrofílica e não é tóxica, além de

apresentar propriedades antibacterianas, ser de baixo custo de obtenção, ter

propriedades mucoadesivas e permite liberação controlada de fármacos (ALBADARIN

et al., 2017; SHARIF et al., 2019; USMAN et al., 2019; ZHOU et al., 2014). Estas

propriedades desejáveis encontradas na quitosana tem gerado muitas aplicações na

área farmacêutica e médica (PANITH et al., 2016). Dentre as aplicações

farmacêuticas, podemos destacar o seu uso para a produção de comprimidos, géis e

cápsulas (REN, Guang et al., 2019).

A solução de quitosana com pH levemente ácido pode interferir nas

propriedades morfológicas e reológicas e pode melhorar a solubilidade da CS,

podendo em certas condições formar um hidrogel assumindo um comportamento

viscoelástico (KIM et al., 2019). A partir do processamento da quitosana em diferentes

condições é possível realizar estudos de adsorção com a quitosana na forma de pó,

microesferas, flocos, hidrogéis, filmes e membranas (COLOBATIU et al., 2019; REN,

Lili et al., 2019).

Os grupos hidroxila e amino presentes na estrutura da quitosana são utilizados

como sítios de reação em estudos de adsorção tanto para poluentes como para

analitos de interesse. O caráter catiônico apresentado por este polissacarídeo em

meio ácido é proveniente da presença destes grupos funcionas na sua estrutura,

possibilitando assim a ocorrência de interações eletrostáticas entre os sítios positivos

da quitosana com outros analitos carregados negativamente. Algumas deficiências

são encontradas na quitosana, como a baixa porosidade, a baixa área de superfície,

a sensibilidade ao pH e a baixa estabilidade. Além de ser um mau condutor de

eletricidade e muito frágil por causa da sua alta temperatura de transição vítrea (KAN

et al., 2019; USMAN et al., 2019; ZHANG, Yuwei et al., 2009).

Desta forma, a modificação química da quitosana é uma área de pesquisa

interessante devido seus derivados apresentarem uma melhor solubilidade, através

da adição de grupos hidrofílicos na cadeia lateral da estrutura do polímero e, a

introdução de cadeias hidrofóbicas na sua estrutura possibilita um maior controle na

administração de fármacos quando comparado com a quitosana não modificada. Essa

característica hidrofóbica apresentada pelo derivado da CS melhora o efeito

antimicrobiano, consequentemente, favorece a interação entre as células bacterianas

Page 21: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

21

e as moléculas do polímero. Além de melhorar as suas características físico-químicas,

o que permite o desenvolvimento de muitas aplicações (BRAZ et al., 2018;

HARUTYUNYAN et al., 2019; JAISWAL et al., 2019).

3.2 MEMBRANAS DE QUITOSANA

Membranas são conhecidas por ser uma barreira de camada fina permeável ou

semipermeável e seletiva entre duas fases, em que as fases presentes nos ambos

lados da membrana podem assumir a forma gasosa ou líquida. O estudo de

membranas tem sido um ramo de pesquisa promissor e de grande importância para o

sustento do ciclo da vida, sendo que elas são muito utilizadas para a purificação de

água (SOONTARAPA; ARNUSAN, 2019; TABRIZ et al., 2019).

As membranas são eficientes na remoção de corantes, fármacos, partículas,

microorganismos e metais presentes nas águas, além de remover vapores de água

presentes em correntes de gás (HU et al., 2018; LIANG; CHUNG, 2018; NADOUR;

BOUKRAA; BENABOURA, 2019; PEÑA-GÓMEZ et al., 2018; YU, Hang et al., 2019).

As membranas normalmente são barreiras seletivas que restringem a passagem de

microorganismos, nutrientes, moléculas orgânicas, íons metálicos inorgânicos e entre

outros poluentes (LIU, Di et al., 2019).

A tecnologia de membranas é um dos ramos mais promissores para o

tratamento de águas residuais, devido apresentar inúmeras vantagens, como o baixo

custo de energia, a fácil operação e a alta seletividade para realizar a separação, sem

ter a necessidade de utilizar produtos químicos adicionais. Além de ser uma

alternativa mais sustentável e amigável ao meio ambiente devido as suas diversas

vantagens e por permitir o desenvolvimento de processos mais limpos e de baixo

custo. Os processos baseados em membranas tem gerado muitas aplicações, sendo

bastante aplicada na ultrafiltração, filtragem de partículas, osmose direta, osmose

reversa e biorreator de membrana (DAMTIE et al., 2019; DAS et al., 2019; PAN et al.,

2019; YOU et al., 2019).

A principal dificuldade dos processos de filtração baseados em membranas é a

ocorrência de incrustação de membrana produzida ao longo do experimento, que é

gerada através da formação da camada de gel, do bloqueio e restrição de poros,

Page 22: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

22

fazendo com que o custo de operação seja aumentado, o que necessita fazer a

manutenção e a limpeza da membrana, além de necessitar de uma maior demanda

de energia. Essa incrustação gera a diminuição da produtividade, da vida útil e da

qualidade da permeabilidade (LEJARAZU-LARRAÑAGA et al., 2020; ZHAO, Qi et al.,

2019).

Muitas estratégias foram aplicadas para superar essa dificuldade, como o

aumento da velocidade do fluxo cruzado e a utilização de promotores de turbulência,

porém ambas apresentam algumas limitações. O uso desses promotores não são

eficientes quando usados em sistemas com biocombustível, sendo que o aumento da

queda de pressão e da resistência especifica média à filtragem são gerados devido

ao aumento da velocidade de fluxo (SOESANTO et al., 2019).

Os materiais propostos para serem matéria-prima para a produção de

membranas devem apresentar algumas características, como natureza

semipermeável, hidrofílica, assimétrica e, geralmente, biocompatível, além de realizar

o melhoramento da química de superfície e o tamanho dos poros (STAMATIALIS et

al., 2008). A quitosana é um dos materiais que apresentam a capacidade de formar

membranas e filmes flexíveis, sendo que o solvente utilizado é evaporado da solução

de quitosana em placas de Petri consistindo assim em uma metodologia de

preparação direta que apresenta um alto rendimento (LIN; VENAULT; CHANG, 2019;

MENEZES et al., 2020). Através dos processos de modificação química de

membranas, como a reticulação química, temos o aumento da característica

antiplastificante da membrana e a diminuição dos movimentos das cadeias do

polímero devido as cadeias serem interligadas através de ligações químicas (NETO

et al., 2005; XU et al., 2019).

3.3 RETICULAÇÃO E AGENTES RETICULANTES

Alguns métodos foram desenvolvidos para melhorar a resistência mecânica e

a estabilidade química das membranas de quitosana, como o processo de reticulação

que são processos que utilizam agentes reticulantes que modificam quimicamente a

membrana devido a quitosana apresentar grupos reativos, como os grupos hidroxila

e aminas (ZHANG, Xin et al., 2020). A reação de reticulação pode reduzir o número

Page 23: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

23

de sítios ativos no processo de adsorção, já que essa reação envolve os grupos

funcionas presentes na cadeia polimérica da quitosana (ZHANG, Nana et al., 2011).

A reticulação consiste em um processo em que as cadeias poliméricas são

ligadas através de ligações covalentes ou iônicas, sendo que ela pode ocorrer através

de uma reação química ou por meio de interações físicas entre dois polímeros

diferentes ou entre o agente reticulador e o polímero (NETO et al., 2005). A

reticulação química e a reticulação térmica faz com que o movimento das cadeias

poliméricas seja reduzido, consequentemente, temos o melhoramento da propriedade

antiplastificação da membrana polimérica (XU et al., 2019). Além disto, a reação de

reticulação pode reduzir o número de sítios ativos no processo de adsorção, já que

essa reação envolve os grupos funcionas presentes na cadeia polimérica da quitosana

(ZHANG, Nana et al., 2011).

A reticulação iônica ocorre através de ligações iônicas usando agentes como o

ácido sulfúrico ou o tripolifosfato, podendo ser pela via homogênea ou heterogênea.

Na reticulação iônica utilizando ácido sulfúrico utilizando a via heterogênea, temos a

membrana sendo imersa em uma solução de ácido sulfúrico durante um certo tempo

e, após esse tempo, retira-se a membrana do contato com a solução do ácido e a

coloca para secar. Diferentemente da rota heterogênea, no processo de reticulação

pela via homogênea temos o ácido sulfúrico sendo adicionado na solução de

quitosana e, em seguida, coloca a mistura obtida em placas de Petri para secagem.

As membranas obtidas através da rota heterogênea apresentaram um maior grau de

reticulação, uma menor capacidade de absorção de água em meio ácido e uma menor

estabilidade térmica (MARQUES et al., 2016).

A natureza do agente reticulador interfere na reticulação da quitosana, sendo

que a CS pode ser reticulada covalentemente ou ionicamente. Os produtos químicos

utilizados na reticulação covalente são tóxicos, como o glutaraldeído e glioxal, sendo

que essa reticulação ocorre por meio de ligações covalentes entre as cadeias

poliméricas. Outras formas de reticular as cadeias poliméricas foram desenvolvidas,

como a reticulação iônica, além de utilizar agentes de reticulação natural, como a

genipina (GIERSZEWSKA; OSTROWSKA-CZUBENKO, 2016).

Page 24: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

24

3.4 TETRACICLINA

A tetraciclina (TC) é um fármaco do grupo dos antibióticos sendo constituída

pelos grupos amida (CONH2), dimetilamino (N(CH3)2) e hidroxil fenólico em sua

estrutura (Figura 2), sendo assim considerada uma molécula anfifílica de estrutura

tetracíclica que apresenta vários grupos funcionais ionizáveis. A TC de fórmula

molecular C22H24N2O8 é solúvel em água, estável, biologicamente ativa e hidrofílica

(PARSA; PAYDAYESH; DAVACHI, 2019; XIE et al., 2019).

Figura 2 – Representação esquemática da estrutura química da tetraciclina.

Os grupos funcionais presentes na estrutura da tetraciclina podem sofrer

reações de protonação e desprotonação. Na estrutura química da TC temos quatro

anéis aromáticos ligados a vários grupos ricos em elétrons (ZHANG, Xiaonuo et al.,

2019; ZHAO, Yanping et al., 2013).

A tetraciclina é um antibiótico de amplo espectro, utilizado para o tratamento de

infecções por bactérias Gram positivas e Gram negativas além de fungos e alguns

protozoários. Seu consumo frequente pode causar descoloração dos dentes, além de

inibir o crescimento esquelético do feto e gera uma formação incompleta da matriz

orgânica do esmalte dentário. Por sua vez gera inúmeros efeitos colaterais no sistema

gastrointestinal, renal, nervoso, hepático e hematológico (ALOK; CHAUDHURY, 2016;

FENG et al., 2016; GUNJAL et al., 2019).

A metabolização da tetraciclina é errática em animais e no ser, sendo que após

a administração deste antibiótico tem-se o aumento da concentração de tetraciclinas

no meio ambiente gerado pela alta afinidade da tetraciclina com a matéria orgânica

Page 25: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

25

presente no solo (WANG, Qiang et al., 2019; XIONG et al., 2018). As tetraciclinas são

amplamente utilizadas como medicamentos veterinários devido apresentarem baixa

toxicidade e serem de baixo custo. Muitos métodos foram desenvolvidos para realizar

a remoção de tetraciclinas de águas residuais, como adsorção, degradação

fotocatalítica, biodegradação anaeróbica e degradação por microondas (DANTAS et

al., 2017; YUE; SHEN; GE, 2019).

3.5 PROCESSOS DE ADSORÇÃO

Na fronteira entre duas fases ocorrem vários processos químicos, físicos e

biológicos, mas determinados processos só ocorrem na interface. A adsorção é um

processo que consiste na variação da concentração de um analito na interface em

relação as fases vizinhas. O sistema do processo de adsorção depende da natureza

das fases de contato, podendo ser gás-líquido, líquido-líquido, líquido-sólido e gás-

sólido (DABROWSKI, 2001).

O termo adsorção refere-se a um processo em que temos o acúmulo de

moléculas em uma camada interfacial, sendo que o processo inverso consiste na

dessorção. No processo de adsorção temos duas espécies em estudo denominadas

de adsorvente, que é o material que tem a capacidade em adsorver uma espécie

química, e adsorvato, que é o material que apresenta a capacidade de se adsorver

em uma determinada região interfacial de um adsorvente (DABROWSKI, 2001).

Adsorção pode ser classificada, dependendo da interação entre a superfície e

as moléculas, como adsorção química (quimissorção) e adsorção física (fisissorção).

Na adsorção química temos a formação de ligações químicas entre o adsorvato e a

superfície através de uma reação química. Já na adsorção física ocorre as ligações

fracas entre o adsorvente e o adsorvato por meio das forças Van der Waalls e

interações eletrostáticas, em que consiste em um processo de adsorção reversível. A

quimissorção é considerada mais lenta que a fisissorção e, geralmente, temos a

formação de uma monocamada na adsorção química, sendo que na adsorção física

podemos ter a formação de multicamadas na superfície do adsorvente (KECILI;

HUSSAIN, 2018; RACKLEY, 2010).

Page 26: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

26

Os estudos de adsorção apresentam uma grande capacidade para realizar o

tratamento de vários poluentes presentes em soluções aquosas, devido ser um

processo de baixo custo, alta eficiência, fácil operação, por ter um consumo moderado

de energia e entre outras vantagens (MOHAMMED et al., 2019). Esses estudos são

altamente aplicados em tratamento de águas para remoção de poluentes, como

fármacos, corantes, metais pesados e entre outros (BAIG; UDDIN; GONDAL, 2019;

LUJÁN-FACUNDO et al., 2019; SETHY; PRADHAN; SAHOO, 2019).

3.6 TÉCNICAS DE CARACTERIZAÇÃO

3.6.1 Espectroscopia de ultravioleta-visível (UV-Vis)

A espectroscopia estuda a interação entre a radiação eletromagnética e a

matéria que resulta em absorções, emissões e dispersões da radiação incidente. Essa

técnica espectroscópica é dividida em espectroscopia atômica e molecular. A

espectroscopia de UV-Vis é um dos métodos espectroscópicos que detecta interações

entre a matéria e a radiação na faixa de comprimento de onda do espectro entre 200

a 780 nm (POWER et al., 2019).

A radiação absorvida pelo analito gera a excitação dos elétrons presentes nas

moléculas do analito, ou seja, ocorre uma transição eletrônica em que os elétrons

passam para níveis de energia mais altos (CROWLEY, 2020). A lei de Lambert-Beer

(Equação 1) expressa que a absorbância é proporcional a concentração do analito

(SKOOG et al., 2006).

𝐴 = Ɛ𝑏𝑐 (Equação 1)

Nesta equação, temos que A é a absorbância, ε é o coeficiente de absortividade

molar em L mol-1 cm-1, b é o caminho óptico em cm e c é a concentração do analito

em mol L-1.

3.6.2 Espectroscopia de Infravermelho (IV)

A espectroscopia de infravermelho é uma espectroscopia de absorção em que

a radiação eletromagnética interage com a matéria gerando transições vibracionais,

Page 27: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

27

ou seja, a molécula absorve a energia suficiente para gerar a transição entre dois

níveis vibracionais, sendo assim classificada como uma espectroscopia vibracional. A

radiação na região do infravermelho absorvida por uma molécula gera durante o seu

movimento vibracional ou rotacional uma variação no momento dipolo que,

consequentemente, gera um campo que interage com o campo elétrico produzido pela

radiação (HOLLER; SKOOG et al., 2009).

A espectroscopia IV é amplamente utilizada para determinação dos grupos

funcionais presentes na molécula através das medidas de absorção, sendo muito

usada para identificar qualitativamente as moléculas orgânica além de identificar

espécies inorgânicas e biológicas. A identificação de uma espécie química por meio

da espectroscopia de IV consiste em duas etapas, primeiro a identificação dos grupos

funcionais presentes na molécula e depois comparar o espectro obtido com espectros

de compostos puros. Neste caso, quando temos o espectro do composto

desconhecido semelhante ao espectro de um composto puro (impressão digital do

composto), logo, podemos concluir que temos dois compostos idênticos (HOLLER;

SKOOG et al., 2009).

3.6.3 Difração de Raio-X (DRX)

O Wilhelm Röntgen em 1895 descobriu a natureza dos raios X e a técnica de

difração de raio-X foi proposta pelo físico alemão Max von Laue em 1912. Através do

experimento de von Laue, que consistiu em incidir um feixe de raios X em direção a

um cristal de sulfato de cobre, foi possível provar que os raios X são ondas

eletromagnéticas que apresentam comprimentos de ondas curtos em relação aos da

luz visível por meio da análise do padrão de difração obtido. Além demostrar que os

cristais são constituídos de um conjunto de átomos distribuídos no espaço

ordenadamente com distâncias características. Com essas descobertas o Prêmio

Nobel de Física foi concebido ao von Laue em 1914 (LAMAS et al., 2017).

A técnica de DRX é utilizada para determinar a estrutura cristalinas de vários

tipos de materiais, a fim de compreender as suas propriedades, que consiste na

capacidade dos cristais de difratar os raios X de forma característica permitindo a

identificação da estrutura das fases cristalinas. A partir da posição do pico podemos

Page 28: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

28

investigar a composição química e o grupo espacial do cristal, além de realizar uma

análise qualitativa de fase. Enquanto que através da intensidade do pico podemos

investigar a estrutura do cristal, analisar a textura e a fase quantitativa, sendo que a

partir da forma do pico podemos obter informações sobre as contribuições da amostra,

como microesferas e tamanho cristalitos (EPP, 2016).

3.6.4 Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC)

A calorimetria exploratória diferencial é uma técnica de análise que foi derivada

da análise térmica diferencial (DTA), sendo subdividida em DSC de fluxo de calor e

DSC de compensação de potência. Os dois tipos de equipamentos diferem em seus

limites de temperatura, sendo essa variação de temperatura na faixa de -180 a 725

ºC. Na curva de DSC presente na Figura 3, que mostra ao fluxo de calor em função

da temperatura, podemos observar a existência de dois picos originados devido as

variações de entalpia (endotérmica e exotérmica) (CANEVAROLO Jr., 2004).

Figura 3 - Apresentação de uma curva de DSC. Adaptado por (CANELAVORO Jr., 2004).

O pico endotérmico refere-se à ocorrência de eventos endotérmicos em

amostras, como a reação de redução, fusão e dessorção. Por outro lado, os eventos

Page 29: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

29

exotérmicos geram a formação do pico exotérmico referente a cristalização, reações

de polimerização, absorção, oxidação, degradação oxidativa e entre outros. Alguns

fatores interferem nas curvas de DSC, sendo que esses fatores podem ser

instrumentais ou devido a característica da amostra. Os fatores instrumentais, como

a atmosfera do forno e a razão de aquecimento, são aqueles que não podem ser

alterados pelo operador. Por outro lado, os fatores devido a característica da amostra,

como a massa e a forma, podem ser facilmente alterados (CANEVAROLO Jr., 2004).

Page 30: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

30

4. MATERIAIS E MÉTODOS

4.1 MATERIAIS

A quitosana foi adquirida da Polymar LTDA e apresenta um grau de

desacetilação de 85%. O ácido acético glacial P.A. 99,7% utilizado foi obtido da

Ultrapure Chemicals do Brasil LTDA, o hidróxido de sódio micropérola P.A. 98%

adquirido da LABSYNTH Produtos para Laboratórios LTDA (Synth), o ácido sulfúrico

P.A. 95-99% foi adquirido Sigma-Aldrich e a tetraciclina foi adquirida da A Fórmula.

Todos os materiais foram utilizados assim como recebidos.

4.2 PREPARAÇÃO DAS MEMBRANAS DE QUITOSANA PURAS E RETICULADAS

A solução de quitosana 2% (m/v) foi obtida através da pesagem do polímero

em pó que foi dissolvido em uma solução de ácido acético 2% (v/v) por 24 h, sob

agitação mecânica utilizando um orbital shaker (modelo OS 10 basic) produzido pela

IKA (Laboratory Equipment). Após as 24 h, a solução obtida foi filtrada para retirar

todas as impurezas, usando primeiro um filtro de náilon e, em seguida, um filtro

Millipore® Millex com diâmetro de poro de 0,40 µm.

Após a filtração foram adicionados 25 mL desta solução em placa de Petri que,

posteriormente, foram colocadas numa estufa aberta sob a temperatura controlada

(50 ºC ± 1 ºC) durante 4 h. Nas membranas de quitosana secas nas placas de Petri,

foi adicionado uma solução de NaOH 5% (v/v) para a neutralização das membranas

durante 2 h. Após este período, as membranas foram retiradas das placas e lavadas

com água bidestilada até a neutralização (acompanhada pela medida de pH). Por fim,

foram colocadas em extensor durante 24 h à temperatura de 25 ºC ± 1 ºC para

secagem. Após a secagem, foram mantidas em um dessecador até o momento do

uso.

O preparo das membranas reticuladas seguiu o mesmo procedimento das

membranas puras, no entanto, a partir da solução filtrada, foi adicionado ácido

sulfúrico na proporção de volume 1:30 (H2SO4/Solução após filtração, v/v). Após esta

etapa, o procedimento seguiu de maneira idêntica como para as membranas puras.

Page 31: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

31

4.3 OBTENÇÃO DA CURVA DE CALIBRAÇÃO DA TETRACICLINA

A curva de calibração da tetraciclina foi construída em triplicata em 7 diferentes

concentrações (0,0448 g/L, 0,0224 g/L, 0,0112 g/L, 0,0056 g/L, 0,0028 g/L, 0,0014 g/L

e 0,0007 g/L), sendo que a absorbância dessas soluções foi medida no comprimento

de onda máximo de absorbância - 358 nm. As leituras das absorbâncias foram

realizadas em um espectrofotômetro de UV-Vis (Genesys 10 UV-Vis, Thermo Electron

Corporation, USA) utilizando uma cubeta de quartzo com caminho óptico de 1 cm. A

solução estoque de tetraciclina (0,56 g/L) foi preparada após a pesagem da tetraciclina

em uma balança analítica (precisão 0,0001 g) e completado o volume com água

bidestilada em um balão volumétrico de 200 mL (m:v). A partir da solução estoque

foram obtidas soluções nas sete concentrações da curva analítica (v:v).

4.4 ESTUDOS DE ADSORÇÃO DA TETRACICLINA NAS MEMBRANAS DE QUITOSANA NÃO RETICULADAS E RETICULADAS

Os estudos de adsorção da tetraciclina foram realizados a partir de uma

solução de tetraciclina na concentração de 0,0448 g/L em comprimento de onda de

358 nm. Esta solução foi colocada em contato com a membrana em temperatura e pH

controlados, 37 ºC e 6,8, respectivamente, para simular intestino e em volume definido

e controlado de 100 mL da solução de tetraciclina (0,0448 g/L). A adsorção da

tetraciclina seguiu sob agitação magnética (150 rpm) da solução até o final do teste.

Este estudo foi acompanhado por leituras no espectrofotômetro de UV-Vis de 5 em 5

minutos durante os primeiros 30 min de contato entre a membrana e a solução do

fármaco, depois em 1 h e a cada 1 h durante 10 h e, posteriormente, a cada 24 h onde

foi retirado o sobrenadante da solução para leitura. Através da curva de calibração

foram obtidas as concentrações resultantes de tetraciclina na solução.

4.5 DETERMINAÇÃO DO ÍNDICE DE INTUMESCIMENTO

Page 32: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

32

Os ensaios de intumescimento das membranas foram realizados utilizando

uma balança analítica (Micronal S/A Mettler Toledo, modelo AL204). As membranas

foram pesadas secas para determinação da massa inicial e depois foram colocadas

submersas em meio com pH controlado (6,8) à temperatura de 25 ± 2°C. Em tempos

pré-determinados a membrana foi retirada do meio aquoso e com um papel tolha foi

removido o excesso de água e, em seguida, a membrana foi pesada. Este

procedimento foi repetido a cada 1 hora durante as primeiras 10 horas de experimento

e, após este período, foram realizadas medidas em 24 e 48 horas. O índice de

intumescimento (I) foi calculado utilizando a Equação 2, em que mt é a massa no

tempo t de experimento e mo é massa da membrana seca ou massa inicial.

𝐼 = [(𝑚𝑡 − 𝑚𝑜)

𝑚𝑜] 𝑥 100

(Equação 2)

4.6 CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DAS MEMBRANAS POLIMÉRICAS DE QUITOSANA

As membranas não reticuladas e reticuladas foram caracterizadas antes e após

o contato com o fármaco. A caracterização físico-química ocorreu através da técnica

de espectroscopia por infravermelho utilizando um espectrofotômetro de

infravermelho por transformada de Fourier (Shimadzu, PIKE Technologies, EUA), por

difração de raios-X (DRX) utilizando um difratômetro de mesa Bruker D2 Phaser

(Bruker, Alemanha) e por análise térmica - DSC (Calorimetria Exploratória Diferencial)

utilizando um Calorímetro exploratório diferencial (Q20, TA Instruments) numa razão

de aquecimento de 10 ºC/min.

Page 33: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

33

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 CARACTERIZAÇÃO DAS MEMBRANAS DE QUITOSANA

A espectroscopia de infravermelho foi utilizada para caracterizar os principais

grupos funcionais da quitosana e investigar a presença da tetraciclina na cadeia

polimérica da quitosana, desta forma foram avaliados os espectros da tetraciclina

(Figura 4) e o das membranas CS, CST, CSR e CSRT (Figura 5).

Figura 4 - Espectro de FTIR da tetraciclina.

A Figura 4 apresenta o espectro de FTIR da tetraciclina em que mostra os picos

intensos em 3394-3230 cm-1 referentes as absorções de O-H e N-H e em 3010-2914

cm-1 atribuídos ao C-H de aromáticos. Os picos referentes a flexão aromática do C-H

e CH3 são, respectivamente, 1456 e 1355 cm-1. Os picos vibracionais que se

estendem de 2752-2610 e 1674-1523 cm-1 são referentes, respectivamente, ao

alongamento CH3 e alongamento C=C. O pico em 1581 cm-1 é referente a deformação

angular simétrica do plano do grupo NH2. Os picos de 1247 a 1176 cm-1 foram

atribuídos, respectivamente, ao alongamento C-N e C-C. As bandas observadas em

1672 e 1616 cm-1 são atribuídas, respectivamente, a C-O e a C=C do anel aromático

(CARONI et al., 2012; PARSA; PAYDAYESH; DAVACHI, 2019).

Page 34: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

34

A Figura 5 apresenta os espectros das membranas CS, CSR, CST e CSRT. No

espectro de IV da quitosana temos algumas bandas características referentes as

absorções do grupo NH2 (amida I) em 1590 cm-1, a absorção da ligação CO (amida II)

em 1647 cm-1 e as absorções de NH e/ou OH em torno de 3420 cm-1, além da banda

em 1154 cm-1 atribuída ao alongamento antissimétrico da ponte C-O-C (CARONI et

al., 2012; MARQUES, 2015).

Figura 5 - Espectros de FTIR das membranas de quitosana.

No espectro da membrana CS (Figura 5) podemos observar que temos a

presença de bandas características da quitosana. Os picos observados em 1558 e

1652 cm-1 são atribuídos, respectivamente, ao grupo NH2 (amida I) e a ligação CO

(amida II). As bandas em 1136 e 3392 cm-1 são referentes, respectivamente, ao

alongamento antissimétrico da ponte C-O-C e as absorções de OH e NH.

Através do espectro da membrana CST (Figura 5) podemos observar tanto

bandas características da quitosana como da tetraciclina. As bandas características

da quitosana podem ser observadas em 1629 cm-1 referente a ligação CO (amida II),

1581 cm-1 atribuída ao grupo NH2 (amida I), 3433 cm-1 referentes as absorções de NH

Page 35: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

35

e OH e 1168 cm-1 atribuída ao alongamento antissimétrico da ponte C-O-C. É possível

observar as seguintes bandas características da tetraciclina: 1168 cm-1 referente ao

alongamento C-C, 1654 cm-1 atribuída ao alongamento C=C, 1363 cm-1 referente a

flexão aromática do CH3, 2879 cm-1 atribuída a CH de aromáticos, 1710 cm-1 referente

a ligação C-O e 1481 cm-1 atribuída a flexão aromática do CH. Além da banda em

torno de 3433 cm-1 também referente as absorções de NH e OH, desta forma

mostrando a interação da membrana com o fármaco.

A partir do espetro da membrana CSR da Figura 5 podemos observar as

bandas características da quitosana assim como no espectro da membrana CS. Além

da banda pequena em 1151 cm-1 é sobreposta por uma banda em 1060 cm-1 devido

a presença dos íons SO42- na matriz polimérica. Através da comparação entre os

espectros das membranas CSR e CS (Figura 5) é possível observar o aparecimento

de uma banda em torno de 1060 cm-1 referente ao SO42- adicionado à matriz

polimérica através do processo de reticulação. Assim, podemos concluir que a

membrana de quitosana passou pelo processo de reticulação com o ácido sulfúrico e

tornou-se uma membrana de quitosana reticulada.

O espectro da membrana CSRT da Figura 5 podemos observar bandas

características da quitosana: 2933-3595 cm-1 referente as absorções de OH e NH,

1598-1568 cm-1 atribuída a absorção do grupo NH2 (amida I), 1647 cm-1 referente a

ligação C=O (amida I) e 1151 cm-1 atribuída ao alongamento antissimétrico da ponte

C-O-C. Além dessas bandas características da CS temos também bandas

características da tetraciclina: 3600-2900 cm-1 referente as absorções de NH e/ou OH

e de CH de aromáticos, 2922-2848 cm-1 atribuída ao alongamento de CH3, 1647 cm-1

referente a absorção da ligação CO e 1240-1190 cm-1 referente ao alongamento C-N.

Pela análise do DRX é possível observar que a quitosana é um sólido

semicristalino que apresenta três picos característicos (2θ = 10º, 2θ = 20º e 2θ = 28º),

sendo que o pico em 2θ = 10º é referente ao cristal hidratado gerado pelas ligações

de hidrogênio entre os grupos amino da quitosana com as moléculas de água. Os

picos de 2θ = 20º e 28º são atribuídos a rede cristalina regular da quitosana (LEMES

et al., 2018). As análises de DRX realizadas das membranas CS, CSR, CST e CSRT

estão apresentadas na Figura 6.

Page 36: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

36

Figura 6 - DRX das membranas de quitosana.

Através dos difratogramas de raios-X das membranas CS e CSR vemos que a

área do pico em 2θ = 10º sofre uma diminuição devido o processo de reticulação,

porém na mesma posição, enquanto que o pico 2θ = 20º permanece com a mesma

área praticamente e sem ser descolado quanto a sua posição. O pico 2θ = 28º é mais

acentuado no difratograma da membrana CSR. O desaparecimento da primeira

reflectância (2θ = 10º) pode ser explicado pela formação da interação quitosana-

tetraciclina após a TC ser adsorvida na membrana, em que a tetraciclina substitui as

moléculas de água presente na interação intermolecular quitosana-água.

A mudança no padrão dos difratogramas de DRX do biopolímero devido a

adsorção da tetraciclina nas membranas é possível observar através do pico 2θ = 20º,

o qual aparece nas membranas CS e CSR. Assim, a presença de novos picos intensos

característicos de um material mais cristalino que a quitosana, os quais são atribuídos

a tetraciclina (TAKARA et al., 2019) confirma a adsorção do fármaco na membrana.

A cristalinidade de um determinado material depende da mobilidade

macromolecular e do aumento ou não das interações intermoleculares e

intramoleculares existentes (DAS CHAGAS, 2017). Esses dois fatores dependem da

Page 37: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

37

forma com que a tetraciclina vai interferir no arranjo macromolecular da CS. Os valores

de percentual de cristalinidade são apresentados na Tabela 1, os quais foram

calculados através da equação abaixo e as áreas foram obtidas através de cálculos

de integração utilizando operações no programa Origin Pro 8. Temos que XC é o

percentual de cristalinidade, Ac é a soma das áreas das regiões cristalinas e At é a

área total do difratograma (soma das áreas das regiões cristalinas e amorfas).

𝑋𝐶 = (𝐴𝑐

𝐴𝑡 ) 𝑥 100

(Equação 3)

Tabela 1 - Percentual de cristalinidade para as membranas CS.

Membranas XC (%)

CS não reticulada 19,7

CS reticulada 9,4

A partir dos dados do percentual de cristalinidade, podemos observar que o

processo de reticulação provocou a diminuição no percentual, em que a membrana

CS apresentou o maior grau de cristalinidade igual a 19,7 %. O processo de

reticulação diminui diretamente a mobilidade da cadeia polimérica devido as cadeias

estarem interligadas via íon sulfato (Figura 15), o que restringe o processo de

cristalização (DAS CHAGAS, 2017).

As análises de DSC (Calorimetria Exploratória Diferencial) foram realizadas a

fim de conhecer o processo de degradação da quitosana presente nas membranas de

quitosana (CS, CST, CSR e CSRT). Além disso, foi observada a degradação da

tetraciclina presentes nas membranas após os estudos de adsorção. Através das

curvas de DSC (Figura 7), podemos observar que a degradação da macromolécula

consiste em um processo exotérmico e a perda de água consiste em um processo

endotérmico (BOGGIONE et al., 2017; LEBEDEVA et al., 2019).

Page 38: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

38

Figura 7 - DSC das membranas de quitosana.

A partir das temperaturas de degradação das membranas, podemos concluir

que existe uma diferença significativa entre a membrana CS e a membrana CSR em

termos energéticos, sendo que a membrana CS apresenta o maior valor de

temperatura de degradação (por volta de 295 ºC) quando comparada com a

membrana CSR devido ao processo de reticulação causar a diminuição da

estabilidade térmica da membrana de quitosana. Nas membranas de quitosana não

reticuladas e reticuladas com tetraciclina adsorvida (CST e CSRT), podemos observar

a diminuição significativa do pico endotérmico e do pico exotérmico quando

comparado com as membranas CS e CSR, devido a presença da tetraciclina, sendo

que os valores de temperatura observados são referentes, respectivamente, a

desidratação e degradação da tetraciclina.

A estrutura da tetraciclina apresenta menos grupos hidrofílicos que a da

quitosana, o que gera picos endotérmicos e exotérmicos menores quando

comparados com a quitosana, que apresenta muitos grupos hidroxílicos em sua

estrutura. A membrana CS e CSR apresentam picos mais intensos, já que quanto

maior o número de grupos hidrofílicos na sua estrutura, maior o número de ligações

de hidrogênio, consequentemente, maior será a energia para quebrar as ligações

Page 39: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

39

presentes na macromolécula e maior será a temperatura de desidratação e

degradação (YAHIA et al., 2019; YU, Xiaolong et al., 2018).

5.2 DETERMINAÇÃO ÍNDICE DE INTUMESCIMENTO

Os experimentos para determinação do índice de intumescimento foram

realizados para analisar o comportamento das membranas em meio neutro (pH 6,8),

sendo que esse parâmetro interfere na capacidade de adsorção de espécies químicas

(AZMY et al., 2019). A Figura 8 apresenta o comportamento das membranas CS e

CSR em meio tamponado, pH 6,8.

Figura 8 - Índices de intumescimento em pH 6,8 das membranas CS.

A Figura 8 revela que ambas as membranas CS apresentaram o mesmo

comportamento com relação a capacidade de absorção de água, além de mostrar que

rapidamente ocorreu a absorção e logo o equilíbrio foi atingido até o final do teste.

Este comportamento mostra que a quitosana possui bastante afinidade com a água

devido a presença de grupos hidrofílicos em sua estrutura que podem interagir por

Page 40: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

40

meio de ligações de hidrogênio. Na Tabela 2 podemos observar a média dos índices

de intumescimento das membranas não reticuladas e reticuladas.

Tabela 2 - Índice de intumescimento em pH 6,8.

Índice de Intumescimento (%)

Membranas pH 6,8

CS 58,62 ± 0,82

CSR 60,97 ± 0,54

Através da média obtida dos índices de intumescimentos (%) das membranas

CS e CSR presentes na Tabela 2, podemos concluir que o processo de reticulação

não interferiu diretamente no índice de intumescimento da membrana, já que a

membrana CS não reticulada e a CS reticulada apresentaram resultados semelhantes

quanto a capacidade de sorção de água, ou seja, os índices de intumescimentos

obtidos são praticamente os mesmos tendo assim um baixo desvio devido o equilíbrio

de absorção de água ter sido atingido rapidamente.

5.3 ESTUDOS DE ADSORÇÃO DE TETRACICLINA

A curva de calibração da tetraciclina foi obtida através da espectrofotometria de

UV-Vis em comprimento de onda de 358 nm em 7 concentrações diferentes. A

equação da reta foi gerada através dos pontos experimentais e apresentou um

coeficiente de correlação entre os pontos experimentais de 0,99956. A Figura 9

apresenta a curva de calibração da tetraciclina e a equação da reta.

Page 41: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

41

Figura 9 - Curva de calibração da tetraciclina.

O coeficiente de correlação obtido é satisfatório, já que para ter uma boa

correlação entre os eixos o valor deve ser próximo de 1, ou seja, a relação

praticamente linear entre a concentração e a absorbância. A partir curva de calibração

foi possível calcular as concentrações do fármaco presente na solução de tetraciclina

durante e após o estudo de adsorção da tetraciclina com a membrana.

A avaliação da capacidade de absorção do fármaco nas membranas

poliméricas não reticuladas e reticuladas com espessura média de 50 µm estão

apresentadas na Figura 10. A Figura 10 apresenta as curvas da concentração (g/L)

em função do tempo (h) para as membranas CS não reticuladas e CS reticuladas.

Page 42: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

42

Figura 10 - Curvas de adsorção de tetraciclina nas membranas CS.

Através da Figura 10 podemos observar o comportamento das membranas CS

e CSR quanto a capacidade de adsorção de tetraciclina, sendo que o processo de

adsorção ocorre de forma lenta. A membrana CS apresentou uma maior eficiência em

absorver o fármaco, como pode ser visto no gráfico (Figura 10), em que temos uma

diminuição mais significativa da concentração da tetraciclina quando em contato com

a membrana CS durante todo o tempo de contato.

A concentração de tetraciclina em solução decai muito lentamente depois de

72 h de contato com as membranas de quitosana. Assim, a capacidade de adsorção

da membrana CS é alta, porém o processo é lento. A fim de melhorar a capacidade

de adsorção, foram desenvolvidas membranas de quitosana reticuladas com ácido

sulfúrico, mas o processo de reticulação influenciou de maneira a diminuir a adsorção

de tetraciclina, sendo que menos da metade da tetraciclina pode ser adsorvida até o

final do teste (74 h).

Os estudos de adsorção foram realizados em pH 6,8, logo, temos a tetraciclina

na forma zwitteriônica, já que a TC em pH na faixa de 6,1 a 6,9 existe na forma

zwitteriônica (Figura 11). A quitosana em pH 6,8 temos a protonação dos grupos

Page 43: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

43

aminos (Figura 12) devido a quitosana apresentar um pKa em torno de 6,5. Essa

protonação gera a repulsão eletrostática entre as cadeias do polímero, favorecendo

assim a adsorção de outras moléculas de água (DAS CHAGAS, 2017).

Figura 11 - Estrutura zwitteriônica da tetraciclina.

Figura 12 - Estrutura da quitosana protonada.

Os sítios ativos da quitosana em meio aquoso levemente ácido, que são os

grupos aminos protonados (-NH3+), interagem através de ligações puramente

eletrostáticas com o grupo hidroxila desprotonado da tetraciclina. Neste caso, temos

uma adsorção física devido a existência de interações eletrostáticas entre a

membrana e o fármaco, sendo apresentada de forma esquematizada na Figura 13.

Page 44: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

44

Figura 13 - Esquema apresentando um mecanismo de sorção de tetraciclina em membranas de

quitosana.

A protonação da superfície da membrana CS permite a interação eletrostática

entre a cadeia do polímero com a tetraciclina (interação intramolecular) e aumenta a

repulsão entre as cadeias do polímero, o que facilita e favorece a entrada da

tetraciclina no processo de adsorção. A tetraciclina também interage através de

ligações de hidrogênio (dipolos permanentes e induzidos) com a superfície da

quitosana (CARONI, 2009). Logo, temos a diminuição das interações intermoleculares

e intramolecular entre as cadeias poliméricas da quitosana, já que antes da

protonação do grupo amino existiam interações intermoleculares e intramoleculares

entre as cadeias poliméricas (Figura 14).

Figura 14 - Esquema apresentando um mecanismo de interação entre as cadeias poliméricas da

quitosana.

Page 45: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

45

O processo de reticulação iônica utilizando o ácido sulfúrico como agente

reticulante promove as interações intermoleculares presentes na Figura 15, em que

temos as cadeias poliméricas sendo aproximadas via ligação com o íon sulfato através

de interações eletrostáticas (SO42-).

Figura 15 - Reticulação iônica das membranas de quitosana. Adaptado por (CUI et al., 2008).

Neste processo de reticulação temos os grupos aminos protonados sendo

aproximados, já que após a protonação dos agrupamentos aminos presentes na

quitosana temos a repulsão eletrostática entre as cadeias, ou seja, temos a quebra

das interações intermolecular e intramoleculares promovendo assim o distanciamento

entre as cadeias poliméricas da quitosana (CARONI, 2009).

Page 46: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

46

A adição do íon sulfato interligando as cadeias poliméricas da quitosana fez

com que grande parte dos sítios ativos de adsorção do fármaco, que neste caso são

os grupos aminos protonados, estivessem menos disponíveis, o que acarretou a

diminuição da capacidade de adsorção das membranas de quitosana reticuladas em

relação as membranas não reticuladas. Por isso, que a membrana CS apresentou a

maior capacidade de adsorção, já que temos a disponibilidade de mais sítios de

adsorção do fármaco, consequentemente, temos o aumento das interações da

superfície da membrana CS com a tetraciclina.

Page 47: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

47

6. CONCLUSÃO

Neste trabalho, podemos concluir que a técnica de obtenção das membranas

não reticuladas e reticuladas apresentou resultados satisfatórios com relação ao

rendimento. Os índices de intumescimento mostraram que a reticulação não modificou

a capacidade de adsorção de água nas membranas de quitosana. Através dos

estudos de adsorção de tetraciclina nas membranas CS não reticulada e CS reticulada

podemos concluir que a CS não reticulada apresentou uma maior capacidade de

adsorção de tetraciclina, sendo que nas primeiras horas de experimento foi observado

a diminuição mais significativa devido aos sítios livres da quitosana. As análises de

DSC mostraram o efeito da tetraciclina nos processos de degradação e desidratação

das membranas, em que tanto o pico exotérmico como o pico endotérmico foram

deslocados. O pico exotérmico foi descolado para temperaturas menores e o pico

endotérmico para temperaturas maiores. Através das análises por infravermelho foi

possível caracterizar os principais grupos funcionais da quitosana e da tetraciclina,

além de analisar o efeito da tetraciclina nos espectros obtidos. Também foi possível

observar diferenças entre as membranas puras (CS e CSR) e as membranas com

tetraciclina (CST e CSRT) por meio das análises de DRX, pelo desaparecimento da

primeira reflectância e pelo aparecimento de picos na segunda refletância referentes

a tetraciclina presente nas membranas. Assim, concluímos que as membranas de

quitosana não reticuladas apresentaram resultados superiores na adsorção da

tetraciclina quando comparado com as membranas reticuladas com ácido sulfúrico,

sendo eficientes para remoção do fármaco em meios com pH controlado.

Page 48: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

48

7. REFERÊNCIAS

AHMAD, Mudasir et al. Chitosan centered bionanocomposites for medical specialty

and curative applications: A review. International Journal of Pharmaceutics, [s. l.],

v. 529, n. 1–2, p. 200–217, 2017.

ALBADARIN, Ahmad B. et al. Activated lignin-chitosan extruded blends for efficient

adsorption of methylene blue. Chemical Engineering Journal, v. 307, p. 264–272,

2017.

ALOK, Amit; CHAUDHURY, N. K. Tetracycline hydrochloride: A potential clinical drug

for radioprotection. Chemico-Biological Interactions, v. 245, p. 90–99, 2016.

AZMY, Eman A.M. et al. Synthesis, characterization, swelling and antimicrobial

efficacies of chemically modified chitosan biopolymer. Journal of Molecular

Liquids, v. 284, p. 748–754, 2019.

BAIG, Umair; UDDIN, Mohammad Kashif; GONDAL, M.A. Removal of hazardous azo

dye from water using synthetic nano adsorbent: Facile synthesis, characterization,

adsorption, regeneration and design of experiments. Colloids and Surfaces A:

Physicochemical and Engineering Aspects, 2019.

BOGGIONE, María Julia et al. Synthesis and characterization of chitosan

membranes functionalized with amino acids and copper for adsorption of

endoglucanase. Powder Technology, v. 315, p. 250–257, 2017.

BONILLA, Franklin et al. Chitosan and water-soluble chitosan effects on refrigerated

catfish fillet quality. Food Bioscience, v. 31, n. May 2018, p. 100426, 2019.

BRAZ, Elton Marks de Araújo et al. Modified chitosan-based bioactive material for

antimicrobial application: Synthesis and characterization. International Journal of

Biological Macromolecules, v. 117, n. 2017, p. 640–647, 2018.

BRITO, E. L. et al. Superparamagnetic magnetite/IPEC particles. Colloids and

Surfaces A: Physicochemical and Engineering Aspects, v. 560, n. September

2018, p. 376–383, 2019.

Page 49: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

49

CANEVAROLO Jr., Sebastião V. Técnicas de caracterização de polímeros. Artliber

Editora, 2004.

CARONI, Ana Luiza Porpino Fernandes. Estudos de adsorção de tetraciclina em

partículas de quitosana. 2009. 145 f. Tese (Doutorado em Química) – Instituto de

Química, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2009.

CARONI, A. L.P.F. et al. Tetracycline adsorption on chitosan: A mechanistic

description based on mass uptake and zeta potential measurements. Colloids and

Surfaces B: Biointerfaces, v. 100, p. 222–228, 2012.

CHATTERJEE, Sandipan; GUHA, Arun K.; CHATTERJEE, Bishnu P. Evaluation of

quantity and quality of chitosan produce from Rhizopus oryzae by utilizing food

product processing waste whey and molasses. Journal of Environmental

Management, v. 251, n. May, p. 109565, 2019.

COLOBATIU, Liora et al. Evaluation of bioactive compounds-loaded chitosan fi lms

as a novel and potential diabetic wound dressing material. Reactive and Functional

Polymers, v. 145, n. October, p. 104369, 2019.

CROWLEY, T. E. Adsorption of ultravioleta, visible and infrared radiation. Evaluation

Purification and Characterization of Secondary Metabolites, p. 33–48, 2020.

CUI, Zheng et al. Ionic interactions between sulfuric acid and chitosan membranes.

Carbohydrate Polymers, v. 73, n. 1, p. 111–116, 2008.

DABROWSKI, A. Adsorption - from theory to practice. Advances in Colloid and

Interface Science, v. 93, p. 135–224, 2001.

DAMTIE, Mekdimu Mezemir et al. Membrane-based technologies for zero liquid

discharge and fluoride removal from industrial wastewater. Chemosphere, v. 236, p.

124288, 2019.

DANTAS, Maria Dayanne de A. et al. Interactions of tetracyclines with ovalbumin, the

main allergen protein from egg white: Spectroscopic and electrophoretic studies.

International Journal of Biological Macromolecules, v. 102, p. 505–514, 2017.

DAS CHAGAS, José Adolfo Oliveira. Membranas de quitosana com glicerol para

aplicação em tratamento de águas residuais. 2017. 86 f. Dissertação (Mestrado

Page 50: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

50

em Química) – Instituto de Química, Universidade Federal do Rio Grande do Norte,

Natal, 2017.

DAS, Pallabi et al. Energy saving integrated membrane crystallization: A sustainable

technology solution. Separation and Purification Technology, v. 228, n. March, p.

115722, 2019.

EPP, J. X-ray diffraction (XRD) techniques for materials characterization. Materials

Characterization Using Nondestructive Evaluation (NDE) Methods, p. 81–124,

2016.

FENG, Meng Xiao et al. Molecularly imprinted polymer-high performance liquid

chromatography for the determination of tetracycline drugs in animal derived foods.

Food Control, v. 69, p. 171–176, 2016.

GIERSZEWSKA, Magdalena; OSTROWSKA-CZUBENKO, Jadwiga. Chitosan-based

membranes with different ionic crosslinking density for pharmaceutical and industrial

applications. Carbohydrate Polymers, v. 153, p. 501–511, 2016.

GUNJAL, Datta B. et al. Nitrogen doped waste tea residue derived carbon dots for

selective quantification of tetracycline in urine and pharmaceutical samples and yeast

cell imaging application. Optical Materials, v. 98, n. October, p. 109484, 2019.

HARUTYUNYAN, L. R. et al. Modification of chitosan and chitosan succinate by

surfactants and investigation of their properties. Colloids and Surfaces A:

Physicochemical and Engineering Aspects, v. 578, n. July, p. 123622, 2019.

HOLLER, F. J.; SKOOG, D. A.; CROUCH, S. R. Princípios de análise instrumental.

Bookman, ed. 6, 2009.

HU, Fan et al. Poly (N-vinyl imidazole) gel-filled membrane adsorbers for highly

efficient removal of dyes from water. Journal of Chromatography A, v. 1563, p.

198–206, 2018.

JAISWAL, Shefali et al. Methyl methacrylate modified chitosan: Synthesis,

characterization and application in drug and gene delivery. Carbohydrate Polymers,

v. 211, p. 109–117, 2019.

Page 51: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

51

KAN, Juan et al. Development of active packaging based on chitosan-gelatin blend

films functionalized with Chinese hawthorn (Crataegus pinnatifida) fruit extract.

International Journal of Biological Macromolecules, v. 140, p. 384–392, 2019.

KECILI, R; HUSSAIN, C. M. Mechanism of adsorption on nanomaterials.

Nanomaterials in Chromatography, p. 89–115, 2018.

KIM, Dong Sup et al. Improvement of power generation of enzyme fuel cell by novel

GO/Co/chitosan electrodeposition. Journal of Industrial and Engineering

Chemistry, 2019.

LAMAS, D. G. et al. X-ray diffraction and scattering by nanomaterials.

Nanocharacterization Techniques, p. 111–182, 2017.

LEBEDEVA, Natalya Sh et al. Thermochemical research of chitosan complexes with

sulfonated metallophthalocyanines. International Journal of Biological

Macromolecules, v. 137, p. 1153–1160, 2019.

LEJARAZU-LARRAÑAGA, Amaia et al. Circular economy in membrane technology:

Using end-of-life reverse osmosis modules for preparation of recycled anion

exchange membranes and validation in electrodialysis. Journal of Membrane

Science, v. 593, n. July 2019, p. 117423, 2020.

LEMES, Bruna M. et al. Physicochemical, biological and release studies of chitosan

membranes incorporated with Euphorbia umbellata fraction. Brazilian Journal of

Pharmacognosy, v. 28, n. 4, p. 433–443, 2018.

LIANG, Can Zeng; CHUNG, Tai-Shung. Robust thin film composite PDMS/PAN

hollow fiber membranes for water vapor removal from humid air and gases.

Separation and Purification Technology, v. 202, n. April, p. 345–356, 2018.

LIN, Hao-Tung; VENAULT, Antoine; CHANG, Yung. Zwitterionized chitosan based

soft membranes for diabetic wound healing. Journal of Membrane Science, v. 591,

n. July, p. 117319, 2019.

LIU, Di et al. Introducing the hydrate gel membrane technology for filtration of mine

tailings. Minerals Engineering, v. 135, n. January 2018, p. 1–8, 2019.

Page 52: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

52

LU, Tingting et al. Super hydrophilic PVDF based composite membrane for efficient

separation of tetracycline. Chemical Engineering Journal, v. 308, p. 151–159,

2017.

LUJÁN-FACUNDO, M.J. et al. Pharmaceutical compounds removal by adsorption

with commercial and reused carbon coming from a drinking water treatment plant.

Journal of Cleaner Production, v. 238, p. 117866, 2019.

MARQUES, J. S. et al. Comparing homogeneous and heterogeneous routes for ionic

crosslinking of chitosan membranes. Reactive and Functional Polymers, v. 103, p.

156–161, 2016.

MARQUES, Jéssica Souza. Usos de membranas de quitosana na remoção de

cobre em águas residuais. 2015. 105 f. Tese (Doutorado em Química) – Instituto

de Química, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2015.

MENEZES, J.E.S.A. et al. Preparation, structural and spectroscopic characterization

of chitosan membranes containing allantoin. Journal of Molecular Structure, v.

1199, p. 126968, 2020.

MITTAL, Hemant et al. Recent progress in the structural modification of chitosan for

applications in diversified biomedical fields. European Polymer Journal, v. 109, n.

April, p. 402–434, 2018.

MOHAMMED, Bouchra Ba et al. Adsorptive removal of phenol using faujasite-type Y

zeolite: Adsorption isotherms, kinetics and grand canonical Monte Carlo simulation

studies. Journal of Molecular Liquids, p. 111997, 2019.

NADOUR, Meriem; BOUKRAA, Fatima; BENABOURA, Ahmed. Removal of

Diclofenac, Paracetamol and Metronidazole using a carbon-polymeric membrane.

Journal of Environmental Chemical Engineering, v. 7, n. 3, p. 103080, 2019.

NETO, C. G.T. et al. Permeability studies in chitosan membranes. Effects of

crosslinking and poly(ethylene oxide) addition. Carbohydrate Research, v. 340, n.

17, p. 2630–2636, 2005.

Page 53: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

53

PAN, Zonglin et al. Membrane technology coupled with electrochemical advanced

oxidation processes for organic wastewater treatment: Recent advances and future

prospects. Chemical Engineering Journal, v. 376, n. January, p. 120909, 2019.

PANITH, Nootchanartch et al. Effect of physical and physicochemical characteristics

of chitosan on fat-binding capacities under in vitro gastrointestinal conditions. LWT -

Food Science and Technology, v. 71, p. 25–32, 2016.

PARSA, Parisa; PAYDAYESH, Azin; DAVACHI, Seyed Mohammad. Investigating the

effect of tetracycline addition on nanocomposite hydrogels based on polyvinyl alcohol

and chitosan nanoparticles for specific medical applications. International Journal

of Biological Macromolecules, v. 121, p. 1061–1069, 2019.

PEÑA-GÓMEZ, Nataly et al. Development of amino-functionalized membranes for

removal of microorganism. Innovative Food Science and Emerging Technologies,

v. 48, n. May, p. 75–82, 2018.

POWER, A. C. et al. Ultraviolet-visible spectroscopy for food quality analysis.

Evaluation Technologies for Food Quality, p. 91–104, 2019.

RACKLEY, Stephen A. Adsorption Capture Systems. Carbon Capture and Storage,

p. 151-185, 2010.

REN, Guang et al. Cinnamyl O-amine functionalized chitosan as a new excipient in

direct compressed tablets with improved drug delivery. International Journal of

Biological Macromolecules, 2019.

REN, Lili et al. Preparation and characterization of porous chitosan microspheres and

adsorption performance for hexavalent chromium. International Journal of

Biological Macromolecules, v. 135, p. 898–906, 2019.

SABBAH, Mohammed et al. Improved shelf-life of Nabulsi cheese wrapped with

hydrocolloid films. Food Hydrocolloids, v. 96, n. May, p. 29–35, 2019.

SETHY, Tikina R.; PRADHAN, Arun K.; SAHOO, Prafulla K. Simultaneous studies on

kinetics, bio-adsorption behaviour of chitosan grafted thin film nanohydrogel for

removal of hazardous metal ion from water. Environmental Nanotechnology,

Monitoring and Management, v. 12, n. April, p. 100262, 2019.

Page 54: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

54

SHARIF, Sana et al. Mucoadhesive micro-composites: Chitosan coated halloysite

nanotubes for sustained drug delivery. Colloids and Surfaces B: Biointerfaces, v.

184, n. August, p. 110527, 2019.

SKOOG, D. A. et al. Fundamentos de química analítica. Thomson, ed. 8, 2006.

SOESANTO, Jansen Fajar et al. Fenton oxidation-based cleaning technology for

powdered activated carbon-precoated dynamic membranes used in microfiltration

seawater pretreatment systems. Journal of Membrane Science, v. 591, n. July, p.

117298, 2019.

SOONTARAPA, Khantong; ARNUSAN, Jirarot. Dehydration of paddy rice in a

chitosan membrane drier. Separation and Purification Technology, v. 209, n. April

2018, p. 401–408, 2019.

STAMATIALIS, Dimitrios F. et al. Medical applications of membranes: Drug delivery,

artificial organs and tissue engineering. Journal of Membrane Science, v. 308, n.

1–2, p. 1–34, 2008.

TABRIZ, Ayesha et al. Quaternized trimethyl functionalized chitosan based antifungal

membranes for drinking water treatment. Carbohydrate Polymers, v. 207, n.

November 2018, p. 17–25, 2019.

TAKARA, Eduardo A. et al. About endothermic sorption of tyrosine on chitosan films.

Carbohydrate Polymers, v. 206, n. October 2018, p. 57–64, 2019.

USMAN, Fahad et al. Synthesis and characterisation of a ternary composite of

polyaniline, reduced graphene-oxide and chitosan with reduced optical band gap and

stable aqueous dispersibility. Results in Physics, v. 15, n. July, p. 102690, 2019.

WANG, Qiang et al. Evolution of microbial community and drug resistance during

enrichment of tetracycline-degrading bacteria. Ecotoxicology and Environmental

Safety, v. 171, n. January, p. 746–752, 2019.

XIE, Yu et al. The role of structural elements and its oxidative products on the

surface of ferrous sulfide in reducing the electron-withdrawing groups of tetracycline.

Chemical Engineering Journal, v. 378, n. June, p. 122195, 2019.

Page 55: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

55

XIONG, Wenguang et al. Application of manure containing tetracyclines slowed down

the dissipation of tet resistance genes and caused changes in the composition of soil

bacteria. Ecotoxicology and Environmental Safety, v. 147, n. March 2017, p. 455–

460, 2018.

XU, Ruisong et al. Thermal crosslinking of a novel membrane derived from

phenolphthalein-based cardo poly(arylene ether ketone) to enhance CO2/CH4

separation performance and plasticization resistance. Journal of Membrane

Science, v. 586, n. January, p. 306–317, 2019.

YAHIA, Youcef et al. Crosslinked palygorskite-chitosan beads as diclofenac carriers.

Applied Clay Science, v. 180, n. June, p. 105169, 2019.

YOU, Meng et al. Preparation and characterization of antibacterial polyamine-based

cyclophosphazene nanofiltration membranes. Journal of Membrane Science, v.

592, n. August, p. 117371, 2019.

YU, Hang et al. Separation of oil-water emulsion and adsorption of Cu(II) on a

chitosan-cellulose acetate-TiO2 based membrane. Chemosphere, v. 235, p. 239–

247, 2019.

YU, Xiaolong et al. Callicarpa nudiflora loaded on chitosan-

collagen/organomontmorillonite composite membrane for antibacterial activity of

wound dressing. International Journal of Biological Macromolecules, v. 120, p.

2279–2284, 2018.

YUE, Yan; SHEN, Congcong; GE, Yuan. Biochar accelerates the removal of

tetracyclines and their intermediates by altering soil properties. Journal of

Hazardous Materials, v. 380, n. June, p. 120821, 2019.

ZHANG, Nana et al. Fabrication of highly porous biodegradable monoliths

strengthened by graphene oxide and their adsorption of metal ions. Carbon, v. 49, n.

3, p. 827–837, 2011.

ZHANG, Xiaonuo et al. Study on adsorption of tetracycline by Cu-immobilized

alginate adsorbent from water environment. International Journal of Biological

Macromolecules, v. 124, p. 418–428, 2019.

Page 56: OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MEMBRANAS DE …

56

ZHANG, Xin et al. Fast surface crosslinking ceramic hollow fiber pervaporation

composite membrane with outstanding separation performance for isopropanol

dehydration. Separation and Purification Technology, v. 234, n. September 2019,

p. 116116, 2020.

ZHANG, Yuwei et al. Implantation of Nafion® ionomer into polyvinyl alcohol/chitosan

composites to form novel proton-conducting membranes for direct methanol fuel

cells. Journal of Power Sources, v. 194, n. 2, p. 730–736, 2009.

ZHAO, Qi et al. Peroxymonosulfate-based cleaning technology for metal oxide-

coated ceramic ultrafiltration membrane polluted by Alcian Blue 8GX dye: Radical

and non-radical oxidation cleaning mechanism. Journal of Membrane Science, v.

573, n. July 2018, p. 210–217, 2019.

ZHAO, Yanping et al. Interactions of tetracycline with Cd (II), Cu (II) and Pb (II) and

their cosorption behavior in soils. Environmental Pollution, v. 180, p. 206–213,

2013.

ZHOU, Xuan et al. Investigation of acetylated chitosan microspheres as potential

chemoembolic agents. Colloids and Surfaces B: Biointerfaces, v. 123, p. 387–

394, 2014.