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CCAAIIOO PPAARRRRAA DDAANNTTAASS CCOOEELLHHOO
OBTENO E CARACTERIZAO DE NANOCOMPSITOS DE POLIESTIRENO E ARGILAS ESMECTTICAS
Dissertao apresentada Escola Politcnica
da Universidade de So Paulo para obteno
do ttulo de Mestre em Engenharia.
SO PAULO 2008
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CCAAIIOO PPAARRRRAA DDAANNTTAASS CCOOEELLHHOO
OBTENO E CARACTERIZAO DE NANOCOMPSITOS DE POLIESTIRENO E ARGILAS ESMECTTICAS
Dissertao apresentada Escola Politcnica
da Universidade de So Paulo para obteno
do ttulo de Mestre em Engenharia.
rea de Concentrao: Engenharia de
Materiais.
Orientadora: Profa. Dra. Nicole Raymonde
Demarquette
SO PAULO 2008
3
Agradecimentos
minha famlia, minha me Francisca, meu pai Fidel e minha irm Camila por todo apoio e amor durante minha vida. minha namorada Luciana, por ser muito mais que uma companheira, que est comigo em todos os momentos. Professora Dra. Nicole Raymonde Demarquette, pela orientao desde a Iniciao Cientfica, nestes mais de quatro anos de trabalho. Ao Mrcio Yee, pela amizade, companheirismo risadas e trapalhadas em que nos metemos. Ao Luan e a Vivian por toda ajuda na reta final do trabalho. Ticiane Valera pela co-orientao e ajuda durante esta trabalho de Mestrado. Todos do Laboratrio de Polmeros: Adriana, Ana, Camila, Cssia, Cludia, Douglas, Flvia, Guilhermino, Guilhermo, Irina, Larcio, Leice, Lincoln, Paty, Pedro, Pedrag e Roberta. Aos tcnicos Kleber, Denise, Fbio, Roger, Juliana, Douglas e Vincius. Ao pessoal do Laboratrio da cermica: Carola, Flvia, Fausto, Silvio, Ricardo, Jos Marcos, Kleber e Gerardo. Valquria pelos ensaios de DRX e ao Kleberson pelos ensaios de TGA. Rhodia, pelos ensaios mecnicos. Basf pelo fornecimento de PS, Bun pelo fornecimento da argila e Clariant pelo fornecimento dos sais. Ao CNPq e a FAPESP pelo apoio financeiro.
4
RESUMO
Neste trabalho foram preparados nanocompsitos de Poliestireno (PS) e
argilas organoflicas. As argilas, inicialmente hidroflicas, foram modificadas
organicamente utilizando trs sais quaternrios de amnio diferentes: Cloreto de
hexadecil trimetil amnio (CTAC), Cloreto de alquil dimetil benzil amnio (Dodigen)
e Cloreto de dimetil dioctadecil amnio (Praepagen). A argila organoflica Cloisite
20A foi tambm utilizada neste estudo. Os nanocompsitos foram preparados por
intercalao no polmero fundido por trs tcnicas diferentes: adio de argila em
suspenso de lcool etlico por uma bomba dosadora de lquidos durante a
extruso, adio de argila em p por um alimentador mecnico durante a extruso
e adio de suspenso de argila em lcool etlico durante obteno por batelada.
Os materiais obtidos foram caracterizados por difrao de raios-X (DRX),
microscopia ptica (MO) e microscopia eletrnica de transmisso (MET) e ensaios
reolgicos de Cisalhamento Oscilatrio de Pequenas Amplitudes (COPA). As
propriedades trmicas foram analisadas por anlise termogravimtrica (TG) e as
propriedades mecnicas foram analisadas por ensaios de trao e impacto Izod. As
trs tcnicas se mostraram eficazes na preparao dos nanocompsitos, e seus
resultados apresentaram uma similaridade muito grande. Os resultados de DRX e
microscopia mostraram que a maioria dos nanocompsitos apresentou estruturas
compostas de fases intercaladas e esfoliadas. As anlises trmicas mostraram que
a adio de argila ao PS o tornou mais estvel termicamente, suportando maiores
temperaturas antes de iniciar o processo de degradao. Os ensaios reolgicos de
COPA e ensaios mecnicos dos nanocompsitos obtidos no apresentaram grandes
variaes em relao ao PS puro.
5
ABSTRACT
In this work nanocomposites of polystyrene (PS) and organophilic clays
were prepared. The clays were organically modified using three different
ammonium quaternary salts: cetyltrimethyl ammonium chloride (commercial name:
CTAC), alquildimethyl benzyl ammonium chloride (commercial name: Dodigen)
and distearyl dimethyl ammonium chloride (commercial name: Praepagen). The
organoclay Cloisite 20 A was also used in this work. The nanocomposites were
prepared by melt intercalation using three different techniques: adding the
organoclay as a diluted organic solvent supension to the extruder using a motor-
driven metering pump, adding the organoclay as powder to the extruder using a
mechanical feeder and adding the organoclay as a diluted organic solvent
suspension to the mixer. The materials obtained were characterized by X-ray
diffraction (XRD), optical microscopy (OM), transmission electron microscopy
(TEM) and by rheological studies through small amplitude oscillatory shear tests
(SAOS). The thermal properties were studied by thermogravimetrical analyses (TG)
and the mechanical properties were studied by tensile and impact Izod strength
tests. The three techniques were efficient to prepare nanocomposites, and their
results were very similar. The DRX and microscopy results showed that the most
nanocomposites presented structures composed by intercalated and exfoliated
phases. The thermal analyses showed that the addition of organoclay turned PS
more thermally stable, increasing their degradation temperatures. The results of
rheological studies (SAOS) and the mechanical tests did not present significant
variations compared to the neat PS.
6
SUMRIO
1. INTRODUO 10
2. OBJETIVOS DO TRABALHO 13
3. REVISO BIBLIOGRFICA 14
3.1. ARGILAS 15 3.1.1. ESTRUTURA CRISTALINA 15 3.1.2. GRUPO DAS ARGILAS ESMECTTICAS 17 3.2. NANOCOMPSITOS POLIMRICOS 21 3.2.1. GENERALIDADES 21 3.2.2. ESTRUTURA DOS NANOCOMPSITOS POLIMRICOS 22 3.3. MTODOS DE OBTENO DE NANOCOMPSITOS 23 3.3.1. INTERCALAO NO POLMERO FUNDIDO 24 3.3.2. POLIMERIZAO IN SITU 25 3.3.3. SOLUO DOS NANOCOMPSITOS 25 3.3.4. MTODOS COMBINADOS 26 3.4. TCNICAS DE CARACTERIZAO DE NANOCOMPSITOS 26 3.4.1. CARACTERIZAO ESTRUTURAL 27 3.4.2. CARACTERIZAO REOLGICA 31 3.5. PROPRIEDADES DOS NANOCOMPSITOS 36 3.5.1. CARACTERIZAO TRMICA 36 3.5.2. CARACTERIZAO MECNICA 37 3.6. NANOCOMPSITOS DE PS: ESTADO DA ARTE 39
4. MATERIAIS E MTODOS 43
4.1. MATERIAIS 43 4.2. MTODOS 44 4.2.1. PREPARAO DAS ARGILAS 44 4.2.2. MOAGEM DA ARGILA 45 4.2.3. MODIFICAO ORGNICA DA ARGILA 45 4.2.4. LAVAGEM DA ARGILA 46 4.3. PREPARAO DOS NANOCOMPSITOS 46 4.3.1. ARGILA EM P 47 4.3.2. ARGILA EM SUSPENSO 47 4.3.3. OBTENO DE NANOCOMPSITOS ATRAVS DE UM MISTURADOR. 49 4.3.4. IDENTIFICAO DAS AMOSTRAS 50 4.4. CARACTERIZAO DAS AMOSTRAS 52 4.4.1. DIFRAO DE RAIOS-X 52
7
4.4.2. MICROSCOPIA PTICA 52 4.4.3. MICROSCOPIA ELETRNICA DE TRANSMISSO 53 4.4.4. ENSAIOS REOLGICOS 53 4.4.5. ANLISES TRMICAS 54 4.4.6. ENSAIOS MECNICOS 54
5. RESULTADOS E DISCUSSES 56
5.1. CARACTERIZAO DAS ARGILAS 56 5.2. NANOCOMPSITOS 61 5.2.1. CARACTERIZAO DOS NANOCOMPSITOS 61 5.3. ESTRUTURA DOS NANOCOMPSITOS 65 5.3.1. MTODO ARGILA EM P 65 5.3.2. ARGILA EM SUSPENSO 68 5.3.3. AMOSTRAS OBTIDAS NO MISTURADOR 71 5.3.4. MICROSCOPIA PTICA 72 5.3.5. MICROSCOPIA ELETRNICA DE TRANSMISSO 77 5.3.6. ENSAIOS REOLGICOS 82 5.4. PROPRIEDADES DOS NANOCOMPSITOS 86 5.4.1. PROPRIEDADES TRMICAS 86 5.4.2. ENSAIOS MECNICOS 89
6. CONCLUSES 98
7. REFERNCIAS 101
8
ndice de Figuras
Figura 1. Tetraedro de slica e folha tetradrica. ___________________________________________ 16 Figura 2. Octaedro de hidrxido de alumnio ou magnsio e folha octadrica.__________________ 16 Figura 3. Representao esquemtica da estrutura das argilas esmectticas []. ________________ 18 Figura 4. Modificao orgnica de uma argila. _____________________________________________ 20 Figura 5. Tipos extremos de estrutura dos nanocompsitos: a) microcompsito, b)nanocompsito intercalado e c)nanocompsito esfoliado. _________________________________________________ 23 Figura 6. Representao do espao basal da argila e seu pico correspondente em ensaios de DRX._____________________________________________________________________________________ 27
Figura 7. Deslocamento e desaparecimento do pico caracterstico do plano basal para um nanocompsito intercalado e esfoliado, comparados argila organoflica. _____________________ 28 Figura 8. Curvas de difrao de raios-X para diferentes nanocompsitos de poliestireno e argilas modificadas com os sais: 1 = Dodigen (3wt% ); 2 = Dodigen (5wt%); 3 = Praepagen (3wt% ); 4 = Praepagen (5wt%); 5 = CTAC (3wt% ); 6 = CTAC (5wt%); 7 = Cloisite 20A (3wt% ) e 8 = Cloisite 20A (5wt%).[] _____________________________________________________________________________ 29 Figura 9. Micrografia de um nanocompsito intercalado/esfoliado, onde a fase mais clara e contnua representa a matriz polimrica e as fases escuras (algumas esfoliadas) representam a argila. [] _ 30 Figura 10. Esquematizao do comportamento reolgico em funo do nmero de partculas por unidade de volume. ____________________________________________________________________ 34 Figura 11. Aumento da estabilidade trmica apresentado pelos nanocompsitos quando relacionados aos materiais puros. []______________________________________________________ 37 Figura 12. Esquematizao da argila em p adicionada ao polmero fundido em uma extrusora. _ 47 Figura 13. Obteno de nanocompsitos a partir de uma suspenso de lcool com 20% de argila.48 Figura 14. Exemplo de cdigo de identificao. ____________________________________________ 51 Figura 15. Corpo de prova de um ensaio de impacto Izod. __________________________________ 55 Figura 16. Curvas de difrao de raios X das argilas, modificadas ou no, com indicao grfica para os picos equivalentes aos planos d001.________________________________________________ 57 Figura 17. Anlises de TG de a) argilas sdicas e b) organoflicas, e suas respectivas regies de perda de massa._______________________________________________________________________ 59 Figura 18. Curvas de difrao de raios X dos nanocompsitos obtidos com argila em p adicionada ao polmero por um alimentador automtico com a) 5% e b) 7% em massa de argila. 66 Figura 19. Curvas de difrao de raios X dos nanocompsitos obtidos com a bomba dosadora concentrao de a) 5% e b) 7% de argila. _______________________________________________ 69 Figura 20. Curvas de difrao de raios X dos nanocompsitos obtidos com o misturador com argila modificada com praepagen e argila Cloisite 20A. _____________________________________ 71 Figura 21. Micrografias de MO da amostra Pct4,5 tiradas de duas regies diferentes, a e b. _____ 73 Figura 22. Imagens de Microscopia ptica de a) Ppr7, b) Pct7 e c) Pdo7. ____________________ 75 Figura 23. Amostras de nanocompsitos obtidos com cloisite 20A. a) bomba + estrusora e b) misturador. ___________________________________________________________________________ 77 Figura 24. Micrografia feita por MET de um nanocompsito obtido atravs da bomba dosadora com argila modificada com CTAC. ____________________________________________________________ 78 Figura 25. Micrografias de B ct 4,2 evidenciando a) regies com maior presena de argila intercalada e b) esfoliada. ______________________________________________________________ 79 Figura 26. MET de uma amostra obtida na extrusora utilizando a bomba de lquidos e argila modificada com dodigen. _______________________________________________________________ 80 Figura 27. MET em dois aumentos para enfatizar uma regio de P pr 3,7. ____________________ 81 Figura 28. Amostra M cs 7,9 e sua estrutura ordenada de camadas.__________________________ 82 Figura 29. Comparao entre resultados de COPA de um PS puro processado e um nanocompsito de PS+ CTA /Argila 5% obtido pela bomba dosadora. ______________________________________ 83 Figura 30. Comparao entre resultados de COPA de nanocompsito de PS+ Praepagen /Argila5% preparado por diferentes mtodos e diferentes concentraes. ______________________________ 84
9
Figura 31. . Comparao entre resultados de COPA de nanocompsitos preparados no misturador com argila modificada com praepagen e argila Cloisite 20A. _________________________________ 85 Figura 32. TG de PS puro e nanocompsitos polimricos para analisar a estabilidade trmica destes materiais._____________________________________________________________________________ 87 Figura 33. TG de PS puro e nanocompsitos polimricos confirmando as propriedades de barreira trmica das argilas. ____________________________________________________________________ 88 Figura 34. Mdulo de elasticidade dos nanocompsitos preparados com argila em p. __________ 90 Figura 35. Ensaio de trao para determinao do limite de resistncia a trao dos nanocompsitos._______________________________________________________________________ 91 Figura 36. Ensaio de impacto Izod para determinao da resistncia._________________________ 92 Figura 37. Mdulo de elasticidade dos nanocompsitos preparados com a bomba dosadora. ____ 93 Figura 38. Ensaio de trao para determinao do limite de resistncia a trao dos nanocompsitos _______________________________________________________________________ 93 Figura 39. Ensaio de impacto Izod para determinao da resistncia._________________________ 94 Figura 40. Mdulo de elasticidade dos nanocompsitos preparados com o misturador.__________ 95 Figura 41. . Ensaio de trao para determinao do limite de resistncia a trao dos nanocompsitos _______________________________________________________________________ 95 Figura 42 Ensaio de Impacto Izod para amostras preparadas no misturador. ________________ 96
10
ndice de Tabelas
Tabela 1. Linhas de pesquisa na obteno de nanocompsitos por intercalao no polmero fundido._____________________________________________________________________________________ 42
Tabela 2. Sais quaternrios de amnio utilizados na modificao das argilas. __________________ 44 Tabela 3. Apresentao das variveis que compem os cdigos de identificao. ______________ 51 Tabela 4. Valores de 2 e espaamento basal para argilas sdicas e organoflicas. _____________ 57 Tabela 5. Valores de Perda em massa para as argilas. ______________________________________ 60 Tabela 6. Concentrao real dos nanocompsitos. _________________________________________ 62 Tabela 7. Concentrao Real dos Nanocompsitos._________________________________________ 63 Tabela 8 Concentrao Real dos nanocompsitos obtidos no misturador ______________________ 64 Tabela 9. Valores de espaamento basal e diferena entre espaamento final (nanocompsito) e inicial (argila). _________________________________________________________________________ 67 Tabela 10. Valores de espaamento basal e diferena entre espaamento final (nanocompsito) e inicial (argila) para o mtodo da suspenso._______________________________________________ 70 Tabela 11. Valores de espaamento basal d001 (nm) e a variao entre espaamento final e inicial.72 Tabela 12. Temperaturas (C) de degradao obtidas por TG._______________________________ 87 Tabela 13. Temperaturas (C) de degradao obtidas por TG._______________________________ 89 Tabela 14. Comparao dos Mtodos de obteno dos nanocompsitos. ______________________ 97
1. Introduo
A constante procura por avanos nas propriedades dos materiais tornou a
adio de cargas slidas em polmeros uma prtica rotineira, principalmente em
setores industriais. A adio destas cargas resulta, por exemplo, em uma maior
resistncia mecnica e ignio e elevada rigidez. Outro fator determinante para o
11
uso de cargas a reduo de custo, j que se trata de materiais de preo
geralmente mais baixo se comparados aos polmeros. Os melhores exemplos so a
adio de talco em polipropileno e poliamidas para aplicaes automotivas e o
negro-de-fumo adicionado borracha para garantir maior durabilidade e
resistncia a pneus. Estes materiais so os chamados compsitos convencionais.
Em meados da dcada de 80, novos materiais com propriedades excelentes
comearam a ser estudados. A caracterstica marcante destes materiais, alm de
suas timas propriedades, a presena de cargas que possuem ao menos uma
dimenso na escala nanomtrica (10-9 m). Dentre os mtodos de classificao
destes materiais, existe um em que possvel distinguir trs tipos diferentes de
nanocompsitos, de acordo com a forma e as dimenses da carga nanomtrica:
Partculas com trs dimenses nanomtricas, como as nanopartculas
esfricas de slica que podem ser obtidas pelo processo de sol-gel in situ
[1], e por polimerizao direta nas superfcies das esferas [2].
Com duas dimenses nanomtricas e uma terceira dimenso em maior
escala, por exemplo, nanotubos de carbono [3]. Estes nanocompsitos
polimricos contendo nanotubos de carbono tm sido muito estudados,
principalmente por suas propriedades mecnicas e condutividade eltrica.
[4].
possvel que uma nano carga tenha apenas uma dimenso nanomtrica,
como o caso dos filossilicatos. Estes possuem espessuras de poucos
nanmetros e comprimentos de 100 nm a alguns micrmetros. Os
nanocompsitos polimricos estudados no presente trabalho pertencem a
esta classe de materiais.
Os nanocompsitos polimricos tm sido amplamente estudados nos ltimos
anos, principalmente devido a sua grande importncia cientfico-tecnolgica. Estes
materiais apresentam propriedades nicas, resultantes da combinao de seus
12
componentes, como a boa flexibilidade e moldabilidade dos polmeros, associadas
elevada dureza e estabilidade trmica dos materiais inorgnicos. Os primeiros
nanocompsitos polimricos com filossilicatos foram estudados por Blumstein, em
1961 [5]. Porm, somente aps dois grandes estudos estes materiais atraram a
ateno de pesquisadores no mundo. Primeiramente, um grupo da Toyota realizou
a disperso de partculas nanomtricas de argila em poliamida-6 e, com
quantidades de carga muito pequenas, obtiveram grandes melhorias nas
propriedades mecnicas e trmicas [6]. Outro estudo de grande importncia na
disseminao dos nanocompsitos foi o realizado por Vaia et al. [7], que mostrou
ser possvel obter nanocompsitos atravs de intercalao no polmero, mtodo
que dispensa o uso de solventes orgnicos e simplifica a produo de
nanocompsitos polimricos.
A vantagem dos nanocompsitos em relao aos compsitos convencionais
a baixa concentrao de cargas. Para que compsitos convencionais possuam
propriedades semelhantes a nanocompsitos com, em mdia, 10% de carga,
necessria a adio de at 50% de carga. Alm de cargas em menor quantidade,
os nanocompsitos polimricos apresentam propriedades mais atraentes em
relao aos compsitos convencionais e aos polmeros puros, como:
Melhores propriedades mecnicas;
Aumento da estabilidade trmica;
Baixa permeabilidade a gases, gua e hidrocarbonetos;
Elevada resistncia qumica;
Retardncia de chama;
Maior transparncia (em relao somente a compsitos convencionais);
Maior condutividade eltrica
Geralmente reciclveis.
13
Estas e demais propriedades, assim como maiores informaes podem ser
encontradas em textos de reviso [4, 8, 9, 10]
Os nanocompsitos, apesar de serem materiais muito estudados,
ainda apresentam certas dificuldades quanto obteno em grande escala e
caracterizao. Os mtodos convencionais de caracterizao dos nanocompsitos
polimricos so a difrao de raios-X (DRX) e a microscopia eletrnica de
transmisso (MET). Estas anlises, no entanto, mesmo em conjunto podem
apresentar algumas limitaes. Tcnicas complementares de anlise da morfologia,
como a reologia dos nanocompsitos, tm sido amplamente estudadas. Neste
trabalho, uma avaliao de tcnicas para produo de nanocompsitos em grande
escala foi realizada. Os materiais obtidos foram caracterizados pelos mtodos
acima citados em conjunto, assim como algumas propriedades analisadas por
ensaios trmicos e mecnicos.
2. Objetivos do trabalho
Os principais objetivos deste trabalho foram:
Preparar argilas organoflicas brasileiras para a intercalao em Poliestireno
(PS). Neste trabalho a argila esmecttica foi modificada organicamente por
14
um nico mtodo, variando entre trs tipos de sais quaternrios de amnio
utilizados para modific-las. A modificao orgnica de argilas brasileiras
muito importante j que estes materiais encontram-se abundantemente em
sua forma bruta.
Estudar a eficincia das trocas catinicas, atravs de ensaios de difrao de
raios X (DRX). Estudar a estabilidade trmica das argilas organoflicas,
fator fundamental para o processamento de nanocompsitos, por ensaios
de anlise termogravimtrica (TG).
Preparar nanocompsitos de PS e argilas organoflicas atravs de
intercalao no polmero fundido atravs de uma extrusora de dupla rosca,
por dois mtodos e concentraes diferentes e, tambm atravs de um
misturador (mixer).
Estudar a morfologia dos nanocompsitos por ensaios combinados de DRX,
microscopia eletrnica de transmisso (MET) e ensaios reolgicos de
cisalhamento oscilatrio de pequenas amplitudes (COPA). Esta combinao
de tcnicas visa minimizar as limitaes apresentadas por cada tcnica
separada. Estudar, tambm, as propriedades trmicas e mecnicas dos
nanocompsitos polimricos atravs de ensaios de TG e ensaios mecnicos
de trao e impacto.
Preparar nanocompsitos de PS e uma argila organoflica importada (Cloisite
20A). Comparar as propriedades dos nanocompsitos obtidos com esta
argila com os materiais preparados com argilas modificadas neste trabalho.
3. Reviso Bibliogrfica
Neste captulo ser feita uma reviso sobre assuntos coerentes ao trabalho.
Sero abordados temas referentes s argilas - como estrutura cristalina,
propriedades das emectitas - e aos nanocompsitos, como morfologia, mtodos de
obteno e caracterizao e propriedades.
15
3.1. Argilas 3.1.1. Estrutura Cristalina
Para o melhor entendimento da estrutura das argilas, alguns conceitos
devem ser definidos, como: rochas, argilas e argilominerais. Rochas so agregados
naturais formados por alguns minerais ou um nico mineral. Argila pode ser
definida como uma rocha que, devido ao seu processo de formao, contm
grande parte de seus minerais constituintes na forma de partculas finamente
divididas. As argilas so constitudas essencialmente por uma categoria de
minerais caractersticos, chamados argilominerais, mas podem conter outros
minerais que no so contados dentro dessa categoria, como por exemplo, calcita,
dolomita, gibsita, quartzo, pirita, goethita e hematita, bem como matria orgnica
(cidos hmicos, por exemplo) e outras impurezas [11, 12].
Por sua vez, os argilominerais foram definidos segundo a AIPEA (Associao
Internacional para Estudo de Argilas), como minerais que pertencem famlia dos
filossilicatos cuja estrutura atmica composta por duas unidades estruturais:
uma unidade formada por folhas de oxignio ou hidroxilas em coordenao
octadrica, com tomo de alumnio, magnsio ou ferro no centro do octaedro, e
outra unidade formada por uma folha de tetraedros de slica. As Figuras 1 e 2
apresentam representaes esquemticas das unidades tetradricas e octadricas,
respectivamente. Na unidade tetradrica os tomos de silcio esto no centro do
tetraedro e eqidistantes de quatro tomos de oxignio. Os tetraedros de silcio
formam arranjos hexagonais, de tal forma que todos os tetraedros pertencem a
um mesmo plano (representado no lado direito da Figura 1) [13]. Quando ctions
trivalentes, como Al3+, esto presentes na estrutura octadrica somente 2/3 das
posies do octaedro so preenchidas, de modo a estabilizar o balano de cargas
da estrutura, e estas folhas so denominadas de folhas dioctadricas. Quando
ctions bivalentes, como magnsio, esto presentes na folha octadrica, todas as
16
posies do octaedro so ocupadas e estas folhas recebem o nome de folhas
trioctadricas [11].
Figura 1. Tetraedro de slica e folha tetradrica.
Figura 2. Octaedro de hidrxido de alumnio ou magnsio e folha octadrica.
A combinao de folhas octadricas e tetradricas de um argilomineral
denominada de camada ou lamela, e estas podem estar separadas umas das
outras por materiais interlamelares, tais como: ctions, ctions hidratados e
molculas orgnicas. O conjunto formado por lamela e material interlamelar
recebe o nome de unidade estrutural e, o empilhamento de unidades estruturais
17
usualmente denominado de tactide.
De acordo com o Comit de Nomenclatura da AIPEA (Associao
Internacional para Estudo de Argilas), os filossilicatos podem ser divididos em dois
grupos: difrmicos ou 1:1 e trifrmicos ou 2:1 [14]. A estrutura cristalina dos
filossilicatos 1:1 formada por uma folha tetradrica e uma octadrica, enquanto
os filossilicatos 2:1 so formados por uma folha octadrica posicionada entre duas
folhas tetradricas.
Todos esses argilominerais podem, a princpio, ser utilizados para obteno
de nanocompsitos de matriz polimrica, entretanto, a maioria dos trabalhos
publicados na literatura reporta o uso de argilas esmectitas descritas abaixo.
3.1.2. Grupo das Argilas Esmectticas
As argilas esmectticas, cujos argilominerais pertencem famlia dos
filossilicatos 2:1, so caracterizadas por uma estrutura em camadas composta por
duas folhas tetradricas de slica e uma folha octadrica central. As folhas so
contnuas nas direes x e y e esto empilhadas na direo z, unidas umas as
outras por tomos de oxignio ou hidroxilas. A Figura 3 apresenta uma
representao esquemtica da estrutura das argilas esmectticas.
18
Figura 3. Representao esquemtica da estrutura das argilas esmectticas [10].
Cada camada possui poucos nanmetros de espessura, mas suas duas outras
dimenses podem variar de 30 nm at alguns micrmetros. Estas camadas
permanecem empilhadas por foras de van der Waals, e entre elas existe um
espao conhecido com espao interlamelar ou galeria (ver Figura 3).
Quando as folhas se unem para formar as camadas ou lamelas, a estrutura
obtida pode ser neutra ou negativamente carregada. A estrutura ser neutra se:
I - dois dos octaedros apresentarem ction trivalente (Al3+ ou Fe3+) e uma
lacuna no terceiro octaedro;
II - ctions bivalentes em todos os octaedros (Fe2+, Mg2+, Mn2+);
III - as folhas tetradricas tiverem Si4+ em todos os tetraedros.
Ctions trocveis
Camada ou lamela
Espao interlamelar ou galeria
19
Para a estrutura ser negativamente carregada, tambm existem trs
possibilidades [15]:
I substituio de Al3+ por Si4+ em posies tetradricas;
II substituio de Al3+ ou Mg3+ por ctions de menor valncia nas posies
octadricas;
III presena de lacunas.
As argilas esmectticas apresentam algumas propriedades muito importantes
para a preparao de nanocompsitos, por exemplo:
Partculas naturalmente pequenas (geralmente menores do que 2m);
Reatividade das camadas individuais;
Grande rea especfica e
Capacidade de troca de ctions (CTC).
Para suprir a deficincia em cargas na estrutura das esmectitas, ctions
metlicos (como sdio e clcio) encontram-se posicionados entre as camadas.
Alm destes ctions, molculas polares ou de gua podem se posicionar no espao
interlamelar (ver Figura 3). Os ctions metlicos, uma vez hidratados, podem ser
trocados por ctions orgnicos A quantidade de ctions que pode ser trocada pode
ser quantificada atravs da CTC medida em miliequivalentes por 100 g de argila
(meq/100g). A CTC a propriedade que melhor justifica a grande utilizao de
argilas esmectticas em nanocompsitos polimricos, pois permite a modificao
superficial das camadas de argila. Esta modificao tem dois propsitos principais:
I. propiciar a separao total ou parcial das camadas ou lamelas, atravs do
enfraquecimento das foras de van der Waals e foras de ligao eletrostticas
entre as camadas (Figura 4).
II. aumentar significativamente a compatibilidade do silicato com a matriz
polimrica.
20
O aumento da afinidade entre a argila e polmero altamente desejado,
pois no caso dos nanocompsitos polimricos obtidos com argila, uma interao
fsico-qumica fraca entre os componentes orgnicos e inorgnicos tem como
resultado propriedades, como as mecnicas, extremamente pobres. Geralmente,
esta troca feita por uso de ctions orgnicos como, por exemplo, sais
quaternrios de amnio.
Figura 4. Modificao orgnica de uma argila.
(adaptado [16])
Os ctions orgnicos apresentam uma cabea catinica (carga +), que
atrada pela superfcie da argila (carga -), e uma ou duas caudas de
hidrocarboneto, com 12 a 20 tomos de carbono, em mdia. Podem conter,
tambm, outros grupos orgnicos ligados, que facilitam a interao com o
polmero ou monmero durante a obteno de nanocompsitos. Estes agentes
utilizados na modificao orgnica das argilas podem ser divididos em quatro
categorias:
21
Ctions no - reativos: so compostos por grupos saturados, sem
funcionalidade.
Ctions reativos: podem reagir quimicamente com o monmero ou
polmero. Isso ocorre devido presena de ligaes duplas e outros
elementos reativos.
Ctions iniciadores: estes alm da modificao da argila, tambm se
comportam como iniciadores de polimerizao, induzindo o crescimento das
cadeias polimricas a partir da superfcie da argila.
Ctions oligo/polimricos: apresentam uma elevada massa molar que pode
ser benfica na esfoliao da argila no polmero durante o processamento.
Na prxima parte, os nanocompsitos sero abordados. Ser feita uma
reviso desde suas generalidades, mtodos de obteno e caracterizao, at suas
propriedades.
3.2. Nanocompsitos Polimricos
3.2.1. Generalidades
As excepcionais propriedades alcanadas pelos nanocompsitos obtidos a
partir da adio de argilas organicamente modificadas em matrizes polimricas
atraram, e continuam atraindo, a ateno de diversas empresas e grupos de
pesquisa [17,18]. Dentre as vantagens apresentadas pelas propriedades destes
materiais em relao aos polmeros puros, esto suas melhores propriedades
mecnicas, boa estabilidade trmica, baixa permeabilidade a gases, gua e
hidrocarbonetos, elevada resistncia qumica, propriedade retardante de chamas e
maior transparncia (comparados a compsitos convencionais) e o fato de
poderem ser reciclados. Este conjunto de atrativos implica na crescente utilizao
de nanocompsitos polimricos em diferentes aplicaes industriais, como:
componentes mais leves e resistentes para a indstria automotiva, embalagens
alimentcias mais eficazes, tanques de combustvel resistentes a ataques qumicos,
22
cabos eltricos revestidos com material retardante de chama, entre outras.
Alm da obteno de materiais com propriedades melhoradas e aplicaes
vantajosas, o grande desafio na rea de nanocompsitos encontra-se no
desenvolvimento de novas e mais simples tcnicas de obteno ou processamento
desses materiais.
A seguir, as estruturas, mtodos de obteno e caracterizao de nanocompsitos
sero discutidos.
3.2.2. Estrutura dos Nanocompsitos Polimricos
De acordo com o tipo de filossilicato, on orgnico introduzido entre as
camadas do argilomineral e polmero utilizado para obteno do nanocompsitos,
trs tipos extremos de estrutura podem ser obtidos, como apresentado na Figura
5. Quando no possvel intercalar o polmero entre as camadas do silicato,
obtm-se um microcompsito (Figura 5a). Se as cadeias do polmero intercalam-se
entre as camadas do argilomineral, obtm-se um nanocompsito com estrutura
intercalada (Figura 5b). Neste caso as cadeias polimricas estendidas penetram
entre as camadas individuais do silicato, porm sua estrutura cristalina mantida.
Se as camadas do silicato so completamente dispersas no polmero obtm-se um
nanocompsito de estrutura esfoliada (Figura 5c). Entretanto, na prtica muito
difcil se obter uma estrutura totalmente esfoliada. A predominncia de apenas
uma estrutura pode ocorrer, no entanto, a grande maioria dos materiais
constituda pela mistura destas estruturas.
23
Figura 5. Tipos extremos de estrutura dos nanocompsitos: a) microcompsito, b)nanocompsito intercalado e c)nanocompsito esfoliado.
3.3. Mtodos de obteno de nanocompsitos
Neste tpico sero abordados os mtodos de obteno de nanocompsitos
polimricos. Existem basicamente trs principais tcnicas utilizadas na obteno de
nanocompsitos polimricos: intercalao no polmero fundido, polimerizao in
situ e soluo dos nanocompsitos. Uma combinao de dois ou mais mtodos
tambm pode ser utilizada.
a) b)
c)
Filossilicato Polmero
24
3.3.1. Intercalao no polmero fundido
Este mtodo consiste na mistura fsica da argila ao polmero durante o
processamento no estado fundido. Se houver afinidade entre os componentes, as
molculas do polmero podero penetrar entre as camadas da argila e formar
nanocompsitos de estrutura intercalada ou, eventualmente, esfoliada [19, 20].
Durante o processamento os fluxos de cisalhamento e extenso auxiliam a
disperso da argila, tornando equipamentos comuns de processamento de
polmeros, como extrusoras e misturadores, instrumentos amplamente utilizados
na preparao de nanocompsitos. A obteno de nanocompsitos por
intercalao no polmero fundido apresenta diversas vantagens, como a relativa
simplicidade do processo, a produo contnua e em grande escala e a no
necessidade do uso de reagentes orgnicos ou solventes que podem ser danosos
ao ambiente. Entretanto, a obteno de nanocompsitos esfoliados muito difcil
para maioria dos sistemas polimricos.
No caso da obteno de nanocompsitos de matriz de poliestireno com
argilas, os primeiros estudos realizados obtidos por intercalao no polmero
fundido utilizaram o PS e argilas modificadas com sais quaternrios de amnio [7].
Entretanto, estes nanocompsitos de estruturas intercaladas foram obtidos atravs
de recozimento esttico, mtodo pouco utilizado atualmente. Nanocompsitos de
poliamida-6 foram os primeiros obtidos em uma extrusora de dupla rosca e
apresentaram morfologias intercalada e esfoliada em semelhantes propores
[21].
Estudos comparativos entre tipos diferentes de extrusoras [22] e os efeitos
da velocidade de rotao das roscas nas propriedades dos nanocompsitos [23]
mostraram que a configurao das roscas e os parmetros de processamento so
diretamente responsveis pelas morfologias e propriedades resultantes dos
nanocompsitos.
25
3.3.2. Polimerizao in situ
Na polimerizao in situ, a argila dispersa em um monmero ou uma
soluo do mesmo, para que o monmero penetre no espao interlamelar,
provocando sua delaminao. Uma boa afinidade entre argila e monmero um
parmetro fundamental para que a mesma esteja homogeneamente dispersa no
sistema. Realizada a primeira etapa, pode-se dar incio ao processo de
polimerizao, atravs da ativao do iniciador ou catalisador por calor ou
radiao. A argila usualmente tratada com ctions orgnicos atravs da troca
catinica, e comum o uso de ctions funcionais que podem reagir com um
monmero durante a polimerizao. Atravs deste mtodo os nanocompsitos
esfoliados so obtidos com maior freqncia. O sucesso na obteno de
nanocompsitos esfoliados deve-se principalmente ao fato de que possvel
escolher os reagentes e rotas de polimerizao mais suscetveis a obter boa
afinidade entre argila e polmero [24, 25].
3.3.3. Soluo dos nanocompsitos
Essa tcnica consiste em usar um solvente que alm de dissolver polmero
tambm disperse a argila, e ento o sistema possa ser misturado de modo similar
intercalao no polmero fundido, mas com uma viscosidade muito menor.
esperado que o polmero seja adsorvido na superfcie das lamelas da
argila, e com a posterior evaporao do solvente, as lamelas se reagrupam,
aprisionando o polmero e formando assim uma estrutura de multicamadas. A
semelhana com o mtodo de intercalao de polmero fundido tambm
percebida na dificuldade de obter nanocompsitos esfoliados. A produo de
nanocompsitos em escala industrial dificultada pela grande quantidade de
solventes utilizados no processo [26, 27].
26
3.3.4. Mtodos Combinados
Para se obter materiais de maior qualidade com propriedades mais
atraentes, dois ou mais mtodos citados acima podem ser combinados. O grande
objetivo da combinao de mtodos aproveitar ao mximo as vantagens dos
diferentes mtodos. O melhor exemplo a preparao de masterbatches de
nanocompsitos preparados por soluo ou polimerizao in situ. Masterbatch o
nome dado a compostos com aditivos em altas concentraes, muito utilizados na
indstria de transformao plstica como aditivo de cor e balanceador de
concentraes. Estes masterbatches so preparados com elevadas concentraes
de argila (em torno de 30%) e podem ser misturados ao polmero puro atravs de
um misturador ou extrusora, de modo que o material resultante apresente o valor
desejado de concentrao de argila [28]. Deste modo so combinadas vantagem
da facilidade em obter materiais esfoliados por soluo com a praticidade e
capacidade de produo em massa do processamento.
Tambm possvel preparar masterbatches com polmeros que possuam
maior afinidade com a argila e, a partir de ento, mistur-los a um outro polmero
diferente, formando uma nanocompsito de blenda polimrica. [29,30,31].
Aps a obteno dos nanocompsitos, os mesmos so caracterizados para
analisar desde o grau de esfoliao at as propriedades diversas apresentadas. As
caracterizaes mais comumente utilizadas em nanocompsitos so descritas no
prximo item.
3.4. Tcnicas de Caracterizao de nanocompsitos
Neste item, as principais tcnicas de caracterizao de nanocompsitos
sero discutidas, como a difrao de raios-X, microscopia eletrnica de
transmisso, anlise termogravimtrica, cisalhamento oscilatrio de pequenas
amplitudes e ensaios mecnicos.
27
3.4.1. Caracterizao Estrutural
A caracterizao estrutural dos nanocompsitos polimricos realizada
principalmente por tcnicas de difrao de raios-X (DRX) e microscopia eletrnica
de transmisso (MET).
O ensaio de DRX baseado na interao das ondas de raios-x que incidem
nos planos de repetio sistemtico do retculo cristalino. Os ensaios de DRX
fornecem uma caracterizao quantitativa dos nanocompsitos, pois possvel
determinar se houve penetrao do polmero entre as camadas do filossilicato
atravs da Lei de Bragg (equao 1).
n = 2d sen (1)
onde n equivale ordem de difrao, o comprimento de onda da
radiao incidente, d a distncia interplanar e o ngulo de difrao.
Atravs de uma anlise do pico correspondente ao plano d001 (Figura 6) da
argila, pode-se inferir se houve um aumento no espaamento ou esfoliao de
suas camadas, conforme representado na Figura 7.
Figura 6. Representao do espao basal da argila e seu pico correspondente em ensaios de DRX.
28
2 2
Inte
nsid
ade
2
Inte
nsid
ade
Inte
nsid
ade
Argila Organoflica
Nanocompsito Intercalado
Nanocompsito Esfoliado
(001)
(001)
Inte
nsid
ade
2
Inte
nsid
ade
Inte
nsid
ade
Argila Organoflica
Nanocompsito Intercalado
Nanocompsito Esfoliado
Inte
nsid
ade
2
Inte
nsid
ade
Inte
nsid
ade
Argila Organoflica
Nanocompsito Intercalado
Nanocompsito Esfoliado
(001)
(001)
Figura 7. Deslocamento e desaparecimento do pico caracterstico do plano basal para um nanocompsito intercalado e esfoliado, comparados argila organoflica.
A penetrao do polmero entre as camadas da argila e o conseqente
aumento no espaamento interlamelar provoca um deslocamento do pico
caracterstico do plano d001 para ngulos menores. Se a penetrao do polmero
aumenta a distncia entre as camadas alm de um valor limite, fica impossibilitada
a visualizao do pico caracterstico do plano d001. A inexistncia deste pico
normalmente indica a formao de uma estrutura esfoliada. A Figura 8 mostra
diversas curvas de difrao de nanocompsitos. possvel notar a diferena entre
29
um pico bem definido (amostra 8) que remete a uma estrutura intercalada, e a
inexistncia do pico (amostras 1 e 2) indicando uma estrutura esfoliada.
0 3 6 9 12 15 18 21 24 27 30
8
7
56
4321
Inte
nsity
(a.u
.)
2 (o)
Figura 8. Curvas de difrao de raios-X para diferentes nanocompsitos de poliestireno e
argilas modificadas com os sais: 1 = Dodigen (3wt% ); 2 = Dodigen (5wt%); 3 = Praepagen (3wt% ); 4 = Praepagen (5wt%); 5 = CTAC (3wt% ); 6 = CTAC (5wt%); 7 = Cloisite 20A
(3wt% ) e 8 = Cloisite 20A (5wt%).[32]
Assim como alguns nanocompsitos intercalados podem apresentar
diminuio no espaamento interlamelar [33], a inexistncia do pico caracterstico
pode no representar a obteno de um nanocompsito esfoliado. Algumas vezes,
estruturas intercaladas possuem tactides dispersos de maneira totalmente
aleatria, fazendo com que nenhum pico seja observado [8]. Esta a principal
razo pela qual a DRX , normalmente, realizada em conjunto com tcnicas de
microscopia ptica e eletrnica, como, por exemplo, de transmisso. Atravs de
fotos obtidas por microscopia eletrnica de transmisso possvel observar as
partculas de argila dispersas (intercaladas ou esfoliadas) no polmero. A Figura 9
30
apresenta uma micrografia tpica de um nanocompsito com regies que
apresentam tactides e regies com camadas esfoliadas.
Figura 9. Micrografia de um nanocompsito intercalado/esfoliado, onde a fase mais clara e
contnua representa a matriz polimrica e as fases escuras (algumas esfoliadas)
representam a argila. [34]
As duas tcnicas (DRX e MET), mesmo combinadas, possuem limitaes na
caracterizao da morfologia dos nanocompsitos. As anlises de DRX esto
sujeitas a imperfeies superficiais (por exemplo, rugosidade), que podem
influenciar significantemente os resultados. As anlises de MET caracterizam uma
rea muito pequena do material, podendo indicar valores no correspondentes
realidade. Desta forma, novas tcnicas de caracterizao tm sido utilizadas em
conjunto com DRX e MET, como o caso das anlises reolgicas, principalmente
na regio de viscoelasticidade linear. Existem diversos estudos associando a
resposta reolgica de ensaios de COPA com a microestrutura do nanocompsito.
Maiores detalhes em reologia de nanocompsitos sero apresentados a seguir.
31
3.4.2. Caracterizao Reolgica
Reologia o estudo do escoamento e deformao da matria sob a ao de
uma fora ou de um campo de foras [35]. Toda vez que uma pequena tenso
aplicada a um material slido, uma deformao se inicia e o material continuar a
se deformar at que as tenses moleculares se estabeleam e se equilibrem com
as tenses externas. Se aps a remoo das tenses de deformao o material
retorna a sua origem, recuperando-se da deformao, este material apresenta um
comportamento elstico. A maioria dos slidos exibe algum grau de resposta
elstica, e o material slido mais simples o slido de Hooke, cuja deformao
diretamente proporcional tenso aplicada.
Diferentemente dos slidos Hookeanos, outros materiais no atingem uma
deformao de equilbrio, como no caso dos fluidos Newtonianos. Se uma tenso
externa aplicada a um fluido, a deformao ocorre e continua a ocorrer
indefinidamente, at que esta tenso seja anulada. Isto ocorre pelo fato do fluido
no apresentar, praticamente, a sua viscosidade como resistncia deformao.
Nos fluidos Newtonianos a taxa de deformao diretamente proporcional
tenso aplicada.
Os materiais polimricos apresentam caractersticas destes dois extremos:
do slido elstico ideal e do fluido viscoso ideal. Este comportamento conhecido
por viscoelasticidade.
Todos os materiais polimricos apresentam propriedades viscoelsticas, ou
seja, propriedades viscosas e elsticas simultaneamente. As interaes entre suas
longas cadeias moleculares do origem a esse comportamento mecnico
viscoelstico. Solicitaes mecnicas muito lentas fazem com que o material se
comporte de maneira mais viscosa, enquanto que, solicitaes mais rpidas
resultaro em respostas elsticas.
32
Durante o processamento, os polmeros esto sujeitos a vrios tipos de
deformaes, em virtude da complexidade da geometria dos equipamentos
utilizados nas operaes de transformao. A morfologia e, conseqentemente, as
propriedades dos polmeros so determinadas por estas deformaes, que podem
ser: de cisalhamento ou de extenso. Dependendo das magnitudes destas
deformaes um polmero ter um comportamento no regime de viscoelasticidade
linear (VEL) ou no linear (VENL). O comportamento viscoelstico de extrema
importncia no estudo dos polmeros, tanto como uma forma de definir melhores
condies de processamento quanto para mapear os mecanismos de deformao e
suas influncias sobre a morfologia e propriedades mecnicas destes materiais
[36].
O comportamento viscoelstico mais simples que existe o comportamento
de viscoelasticidade linear. Neste tipo de comportamento, as macromolculas de
um polmero so perturbadas de sua configurao de equilbrio, porm apenas de
uma maneira infinitesimal. Este o caso onde polmeros so solicitados
mecanicamente e cuja deformao total () extremamente pequena, ou tambm,
ocorre de uma maneira muito lenta [37]. Um dos principais ensaios utilizados em
reologia para a caracterizao da morfologia no regime de viscoelasticidade linear
o ensaio de cisalhamento oscilatrio de pequenas amplitudes (COPA). Neste
ensaio pode-se monitorar algumas propriedades dos materiais, como a viscosidade
complexa (|*|) e os mdulos de armazenamento e perda (G e G
respectivamente) em funo da freqncia de oscilao ().
Krishnamoorti et al. [38] publicaram um dos trabalhos pioneiros
relacionados reologia de nanocompsitos. Os nanocompsitos de PA-6 esfoliados
apresentaram um aumento dos mdulos de armazenamento e perda nas regies
de baixa freqncia de acordo com o aumento na concentrao de argila. Os
homopolmeros, inicialmente, apresentavam valores de G e de G nas zonas de
baixa freqncia com inclinaes terminais caractersticas iguais a 2 e a 1,
respectivamente, em escala logartmica. Contudo, a introduo de argila no
material fez com que o comportamento caracterstico fosse alterado, de modo que
33
a inclinao dos mdulos diminusse gradualmente, formando quase um patamar,
principalmente para valores de G. O efeito no terminal em baixas freqncias
quase tende ao comportamento reolgico de um pseudo-slido. utilizado o termo
pseudo porque no caso de um slido real o valor de G vrias ordens de
magnitude mais alto do que o G, o que no ocorre para os nanocompsitos. Este
comportamento explicado em funo da estrutura do material. Os tactides de
argila apresentam uma anisotropia considervel e, a partir de certa concentrao,
formam uma rede tridimensional cuja percolao impede que os tactides
individuais rotacionem e relaxem completamente. Pde-se concluir, portanto, que
a estrutura castelo de cartas seria a responsvel pelo efeito no terminal destes
nanocompsitos [39].
Zhao et al. [40] realizaram um amplo estudo reolgico de nanocompsitos
de PS preparados por soluo. As respostas reolgicas foram correlacionadas com
o tipo e concentrao de argila utilizada e o grau de disperso da mesma.
Entretanto, foi inferido que o fator fundamental para o tipo de resposta reolgica
o nmero de partculas por unidade de volume. Os nanocompsitos, investigados
por ensaios de COPA, mostraram uma variao nas curvas de G e G em funo
do aumento do nmero de partculas, que est relacionado ao grau de esfoliao
ou concentrao de argila. As amostras apresentaram desde um comportamento
terminal tpico de um polmero puro, at um comportamento de um pseudo-slido,
com G > G para todas as freqncias, resultante de um reticulado formado pela
argila. A Figura 10 representa estas transies de comportamento reolgico.
34
Figura 10. Esquematizao do comportamento reolgico em funo do nmero de partculas por unidade de volume.
(Adaptado de [40])
Teoricamente, morfologia e resposta reolgica de uma nanocompsito
durante um ensaio de COPA, podem ser representadas da seguinte maneira:
a) Microcompsito: pequena variao na viscosidade e nos valores dos
mdulos G e G. O material se comporta exatamente como um homopolmero.
No h influncias das camadas de argila sobre a matriz.
G
G
35
b) Nanocompsito intercalado: a estrutura intercalada eleva a viscosidade e
promove uma mudana da inclinao de G, que inicialmente era igual a 2, para
valores prximos a 1. Os tactides impedem os movimentos de outros tactides e
camadas individuais.
c) Nanocompsito esfoliado: a excelente disperso e a afinidade com o
polmero faz com que, quanto maior o nmero de partculas de argila, menores
so os valores das inclinaes de Ge G, que tendem a zero, resultando na
resposta pseudo-slida, descrita anteriormente.
Apesar de, na teoria, apenas nanocompsitos esfoliados apresentarem este
comportamento no terminal, ele j foi observado em materiais com
microestrutura intercalada, porm em menor escala [37, 41].
Alm das caractersticas estruturais, os nanocompsitos possuem diversas
propriedades excepcionais, como as sua boa estabilidade trmica e suas timas
propriedades mecnicas, que sero abordadas a seguir.
G
G
G
G
36
3.5. Propriedades dos Nanocompsitos
3.5.1. Caracterizao Trmica
Na maioria dos casos, os nanocompsitos polimricos apresentam
propriedades trmicas mais atraentes quando comparadas aos polmeros puros.
Existem muitos estudos de nanocompsitos relacionados estabilidade trmica
destes materiais. Resultados de anlises termogravimtricas (TG) mostram que a
temperatura de decomposio pode variar mediante a adio de argila e do tipo de
estrutura: intercalada ou esfoliada [42,43]. O mecanismo de estabilidade trmica
apresentado pelos nanocompsitos pode ser explicado pelo efeito de barreira
exercido pela argila dispersa no polmero, que impede a transferncia de calor
resultando em um decrscimo da taxa de decomposio [44].
Torre et al. estudaram o efeito da adio de argila no comportamento do PS
sindiottico (sPS) [45]. Para a produo dos nanocompsitos foi utilizada a argila
Cloisite 20A, intercalada ao sPS por intercalao no polmero fundido em uma
extrusora dupla rosca, com temperaturas na faixa de 250 a 290 C. Alm do
nanocompsito convencional, foi obtido um nanocompsito de blenda de PS
sindiottico e attico (aPS). A composio do nanocompsito de
sPS/aPS/Cloisite20A, tambm obtido por intercalao no polmero fundido, foi de
47,5/47,5/5. Ambos materiais apresentaram estrutura intercalada. Como pode ser
visto na Figura 11, que apresenta os resultados de um ensaio de TG realizado em
atmosfera de nitrognio e taxa de aquecimento de 10 C por minuto, os
nanocompsitos preparados apresentaram uma significante evoluo na
estabilidade trmica, resistindo a temperaturas mais altas antes de iniciarem
processo de degradao. O sucesso destes materiais deve-se as propriedades de
barreira das camadas de argila
37
Figura 11. Aumento da estabilidade trmica apresentado pelos nanocompsitos quando relacionados aos materiais puros. [45]
3.5.2. Caracterizao Mecnica
Os nanocompsitos polimricos so materiais dos quais so esperadas
excelentes propriedades mecnicas com concentraes muito baixas de argila,
devido dificuldade imposta pelas camadas de argila movimentao das
molculas do polmero. Entretanto, grandes avanos nas propriedades mecnicas
de nanocompsitos no so comumente observados, principalmente porque estas
propriedades esto intimamente ligadas interao do polmero e argila e do grau
de esfoliao da argila.
O mdulo de elasticidade de um polmero , normalmente, aumentado
quando cargas rgidas (como argila) so adicionadas. Nos compsitos
convencionais, para se obter uma grande evoluo nas propriedades mecnicas,
preciso que a adio de cargas ocorra em elevadas concentraes, podendo variar
de 30 a 50% [46]. Para o caso dos nanocompsitos de estrutura esfoliada, com
concentrao de argila em torno de 5% em peso, seu mdulo de elasticidade pode
alcanar valores duas vezes maiores que os valores do polmero convencional [47].
38
Os nanocompsitos obtidos atravs do poliestireno e argilas organoflicas tambm
demonstraram uma grande dependncia das propriedades de acordo com a
estrutura obtida. Os materiais com estrutura esfoliada apresentaram grandes
valores de mdulo de elasticidade [48, 49], enquanto que os materiais com
estruturas intercaladas, que ocorre na maioria dos casos, apresentaram um
desempenho pouco melhor que o PS puro [50].
Como o mdulo de elasticidade, a resistncia trao tambm muito
dependente do grau de esfoliao dos materiais e do grau de afinidade entre
matriz e carga. Para que a resistncia trao alcance valores elevados deve
haver uma boa propagao da tenso da matriz para a fase dispersa, o que
justifica a grande importncia de uma estrutura bem esfoliada do nanocompsito.
Os nanocompsitos de poliestireno podem apresentar dois comportamentos
completamente distintos na resistncia trao, de acordo com sua morfologia.
Em amostras esfoliadas que apresentam uma boa interao entre o PS e a argila,
o aumento nos valores de resistncia a trao podem aumentar at trs vezes se
comparados aos valores dos materiais puros [51]. Entretanto, a grande maioria
dos nanocompsitos de PS tm apresentado um decrscimo na resistncia trao
em comparao ao material puro, principalmente em amostras com morfologia
predominantemente intercalada [49,50].
A resistncia ao impacto, como as propriedades anteriores, pode aumentar
significantemente para nanocompsitos esfoliados e discretamente para
nanocompsitos intercalados de PS [52].
39
3.6. Nanocompsitos de PS: estado da arte
Neste item apresentada uma reviso dos estudos de nanocompsitos de
PS publicados na literatura. Uma boa reviso sobre o assunto j pode ser
encontrada em Carastan et al. [10, 16]. O PS um dos materiais cujos
nanocompsitos com argilas esmectticas tm sido mais amplamente estudados. A
intercalao de silicatos com PS foi primeiramente observada por Friedlander e
Grink [53], e, desde ento, estes materiais tm sido obtidos por diversas tcnicas.
Porm, a utilizao destas tcnicas no assegura a obteno de nanocompsitos
esfoliados, devido ao fato do PS ser um polmero apolar.
Existem diversos estudos de preparao de nanocompsitos de PS a partir
da intercalao de polmeros fundidos. Estes estudos tiveram incio com o grupo
de Giannelis [54]. A partir de sua pesquisa de intercalao por recozimento
esttico, o grupo desenvolveu uma srie de trabalhos tericos sobre a estrutura e
a cintica de intercalao de polmeros fundidos. A argila e o PS foram misturados
sob a forma de p e prensados a uma presso de 70 MPa para formar grnulos, e
foram aquecidos acima da temperatura de transio vtrea (Tg) para que houvesse
intercalao do polmero. Neste estudo, sais alquilamnio foram utilizados e os
resultados mostraram que a intercalao depende, fundamentalmente, do
tamanho destes sais, pois necessrio que exista uma rea livre entre as camadas
para que as molculas do polmero possam penetrar.
A partir dos trabalhos iniciais de Gianellis, muitas estratgias foram
propostas a fim de se obter um material esfoliado. Assim, partindo-se do uso de
tcnicas de processamento convencionais e tcnicas combinadas, as principais
estratgias utilizadas para a obteno de estruturas predominantemente esfoliadas
podem ser assim resumidas:
40
Uso de argilas modificadas com sais no reativos em processos de
mistura convencionais. Neste caso espera-se que a presena de fluxo cisalhante
e/ou extensional, alm da temperatura, contribua para o processo de separao
das lamelas de argila, facilitando a difuso das molculas polimricas no espao
interlamelar. Entretanto, na maioria dos casos so obtidos nanocompsitos com
estruturas predominantemente intercaladas [16, 23, 32].
Uso de sais reativos, contendo, para o caso de matriz estirnica, estireno
na cadeia ou cauda. Neste caso, ainda no se obteve sucesso no processo de
intercalao. Sugere-se que o motivo esteja ligado ao processo de degradao do
sal [55].
Uso de sais mais estveis termicamente. Estima-se que a no obteno
de estruturas esfoliadas nos nanocompsitos de argila modificada com sais no
reativos pode estar relacionada baixa estabilidade trmica destes sais.
Entretanto, na faixa de temperatura de processamento do PS (entre 160 e 200
C) os sais vm se mostrando estveis, pois estruturas intercaladas so
usualmente obtidas. Entretanto, se a temperatura de processamento elevada a
temperaturas acima de 200 C [56] a intercalao pode deixar de ser estvel,
pois o ction orgnico exsuda das galerias da argila, por degradao, dificultando
a entrada das molculas polimricas. Para eliminar o efeito de degradao do sal
no processo de intercalao, h trabalhos que relatam o uso de sais mais
resistentes termicamente, como, por exemplo, os sais de fosfnio que podem
resistir a temperaturas em torno de 400 C [57, 58, 59].
Modificao das argilas com sais que contm cadeias polimricas ou
oligomricas. Os trabalhos utilizam como ctions orgnicos os sais de amnio,
fosfnio ou imidazlio. Para o caso de matriz estirnica, as argilas modificadas
com sais que contm poliestireno em suas caudas aumentariam significantemente
a afinidade entre argila e polmero e facilitariam a delaminao das camadas. Esta
41
tcnica constitui uma das nicas que obtiveram nanocompsitos de PS e argilas
organoflicas com estrutura totalmente esfoliada. O sucesso pode ser explicado
pela maior estabilidade trmica destes sais e o maior espaamento interlamelar
das argilas, provocados pela presena de molculas com maior massa molar [60,
61].
Modificao qumica do polmero matriz. Neste caso o PS pode ser
modificado por adio de grupos que tenham maior afinidade pela superfcie do
argilomineral. Neste caso, obtiveram-se, tambm, estruturas predominantemente
esfoliadas [48].
A mudana no processo de obteno dos nanocompsitos tem sido uma
das tcnicas mais estudadas. Tambm, partindo-se de tcnicas convencionais de
processamento e conformao de polmeros, Okamoto e colaboradores [62, 63]
propuseram o processamento no estado slido. Este mtodo prope a
intercalao de molculas de polmero no interior das camadas de argila, baseado
na transferncia de tenso do polmero no estado slido para as argilas. As
amostras de polmero e argila, ambos em forma de p, so submetidas presso
uniaxial, utilizando uma prensa aquecida. O material ento submetido a
repetidas prensagens temperatura ambiente, ou ainda, temperaturas acima da
temperatura de fuso do ction orgnico (abaixo de 150 C). Os resultados
apresentados pelos autores sugerem que as molculas polimricas penetram no
espao interlamelar, mesmo em temperaturas abaixo da sua temperatura de
fuso. Essa compresso causa uma transferncia de tenso (do polmero para a
argila) que facilita a esfoliao das lamelas de argilas. A delaminao tambm
promovida pelos ctions orgnicos, que aquecidos a temperaturas acima da sua
temperatura de fuso, lubrificam as camadas de argila, que facilita o
deslizamento e decorrente esfoliao, que resulta em um material final de
estrutura predominantemente esfoliada.
42
A Tabela 1 apresenta as tentativas em alcanar materiais excepcionais a
partir da intercalao no polmero fundido.
Tabela 1. Linhas de pesquisa na obteno de nanocompsitos por intercalao no polmero fundido.
Obteno Ref. Estratgia
Mt. 1 T (C)
Mtodos de
Caracterizao2
Morfologia
64 Sais no-reativos ext 210 DRX, DSC, TG e
EM
Intercalada /
Esfoliada
65 Sais no-reativos ext 200 MEV, DRX, EM Intercalada
66 Sais Reativos misturador 150 DRX, TG, DSC,
MEV
Intercalada
67 Sais com cadeias
oligomricas
misturador 190 DRX, MET, TG,
DSC, FTIR, EM
Intercalada
68 Sais com cadeias
oligomricas
misturador 185 DRX, MET, TG,
HRR, EM
Intercalada /
Esfoliada
69 Sais estveis
termicamente
ext 190 DSC, WAXD,
MET, MEV, PG
Intercalada /
Esfoliada
70 Modificao
qumica
ext ~180 WAXD, MET Intercalada
33 Mudana no
processo
ext 200 DRX, MET, TG,
EM
Intercalada /
Esfoliada 1 Ext.= extrusora 2 = EM Ensaios Mecnicos; FTIR Espectroscopia no Infravermelho com Transformada de Fourier; HRR Heat Release Rate;
Neste trabalho, as estratgias utilizadas para obteno de nanocompsitos
foram: a variao no uso de sais no-reativos e a mudana nos processos de
obteno.
43
4. Materiais e Mtodos 4.1. Materiais
Neste trabalho, o polmero utilizado na obteno dos nanocompsitos foi o
poliestireno cristal comercial (PS), fornecido pela Basf sob a marca Polystyrol
145D. As especificaes tcnicas do produto podem ser encontradas no site do
fabricante [71].
Foi, tambm, utilizada na obteno dos nanocompsitos uma argila
esmecttica sdica brasileira (Na+-MMT), fornecida em p com granulometria de
75m (peneira ABNT #200) pela Bentonite Unio Nordeste (BUN), com o nome
comercial de Brasgel, proveniente de reservas de Campina Grande, Paraba. Esta
argila possui uma capacidade de troca de ctions (CTC) de 75 meq/100 g, segundo
dados fornecidos pelo fabricante.
Para que as argilas sdicas hidroflicas adquirissem carter organoflico, trs
tipos diferentes de sais quaternrios de amnio foram utilizados:
Cloreto de hexadecil trimetil amnio, nome comercial Genamin CTAC-
50;
Cloreto de alquil dimetil benzil amnio, nome comercial Dodigen 226;
Cloreto de dimetil dioctadecil amnio, nome comercial Praepagem WB.
Todos os sais foram fornecidos pela Clariant. A representao grfica
esquemtica de cada um destes sais pode ser observada na Tabela 2.
44
Tabela 2. Sais quaternrios de amnio utilizados na modificao das argilas.
Sal
quaternrio
de amnio
Nome
comercial Representao da estrutura molecular
Cloreto de
hexadecil
trimetl amnio
CTAC
Cloreto de
alquil dimetil
benzil amnio
Dodigen
Cloreto de
dimetil
dioctadecil
amonio
Praepagen
Para que uma verificao da qualidade da argila brasileira modificada
organicamente pudesse ser feita, os nanocompsitos foram obtidos, tambm, com
uma argila organoflica importada, a Cloisite 20A fornecida pela Southern Clays.
Esta argila modificada com o ction surfatante dioctadecil dimetil amnio.
4.2. Mtodos
4.2.1. Preparao das argilas
Para garantir argila brasileira uma boa compatibilidade com o polmero
necessrio que esta seja modificada organicamente atravs de troca catinica.
Para que esta troca catinica seja mais eficiente, os aglomerados de partculas de
45
argila podem ser desfeitos atravs de um processo de moagem em moinho de
bolas. Estes procedimentos sero detalhados a seguir.
4.2.2. Moagem da argila
Quanto menores as partculas de argila, mais eficiente a troca dos ctions
metlicos por ctions orgnicos. Para aumentar a performance durante a troca,
a argila passa por um processo de moagem, ou melhor, um processo onde o
objetivo desfazer os aglomerados. A argila foi colocada em um recipiente
cilndrico, de 10 centmetros de dimetro e 20 centmetros de altura, e esferas
de slica de 2,5 centmetros de dimetros so adicionadas. Este recipiente
permaneceu 72 horas em rotao constante. Com isso, as partculas de argila
encontram-se entre as esferas de slica que se chocam intermitentemente entre
si e com a parede do recipiente, desfazendo seus aglomerados e
proporcionando uma menor granulometria, quando comparada inicial. A argila
que inicialmente tinha um tamanho mais grosseiro (75m - peneira ABNT
#200), passa a apresentar um tamanho mdio de 38m (peneira ABNT #400).
4.2.3. Modificao orgnica da argila
Aps a moagem, a argila foi modificada organicamente, tendo seus ctions
de sdio trocados por sais quaternrios de amnio. As trocas foram realizadas
com os trs diferentes tipos de sal: Genamin CTAC, Dodigen e Praepagem WB.
O processo de troca realizado foi baseado na metodologia descrita por
Valenzuela-Diaz [72].
Como a troca catinica acontece em solues aquosas, primeiramente
misturou-se 32g de argila em 768g de gua destilada e deionizada. A mistura,
ento, passou por um processo de homogeneizao, realizado atravs de um
46
misturador mecnico da marca Fisatom. Argila e gua foram misturadas durante
30 minutos a uma velocidade de rotao de aproximadamente 1000 rpm.
Para que uma melhor disperso da argila na gua fosse obtida, os
aglomerados remanescentes da moagem foram desfeitos, atravs da utilizao
de um dispersor Heildolph modelo DIAX 900. O dispersor foi utilizado durante
15 minutos em velocidade mxima de 24.000 rpm.
Com a mistura gua+argila bem homogeneizada e dispersa, a troca
catinica pde ser realizada. Para isto, uma soluo aquosa de sal quaternrio
de amnio foi gradativamente adicionada mistura. Foi utilizada uma
concentrao do sal 1,3 vez maior que a CTC da argila sdica. Estes foram
agitados por 30 minutos em um misturador, para que e a troca catinica fosse
otimizada.
4.2.4. Lavagem da Argila
Depois de feita a troca catinica, a argila foi lavada com 4 litros de gua
destilada e deionizada para retirada do excesso de sal. A argila passou por
filtragem por meio de um filtro de papel em um funil de Bchner. As impurezas
passaram para um Kitassato ligado a uma bomba a vcuo, para otimizar o
processo de purificao.
Aps a purificao da argila, a mesma secou em temperatura ambiente e,
por fim, foi moda novamente, desta vez manualmente para evitar perdas
significativas do material final.
4.3. Preparao dos nanocompsitos
Os nanocompsitos de PS e argilas organoflicas foram preparados em duas
etapas distintas, que sero descritas a seguir:
47
Primeiramente os nanocompsitos foram obtidos atravs de uma extrusora
de dupla rosca co-rotantes modelo Rheomex PTW16 marca Haake, localizada no
Laboratrio de Processamento de Polmeros. As extruses foram realizadas com as
quatro zonas de aquecimento com temperaturas de 180 a 200C (180, 190, 200 e
200 C), e velocidade de rotao das roscas de 80 rpm. Os nanocompsitos foram
obtidos por intercalao no polmero fundido. Entretanto, dois mtodos diferentes
de adio de argila foram utilizados e sero descritos a seguir.
4.3.1. Argila em p
Neste mtodo a argila em p foi adicionada ao polmero fundido, utilizando
um segundo alimentador. A velocidade de rotao da rosca de alimentao
determinou a vazo de argila adicionada. O alimentador, assim como a bomba, foi
calibrado para preparar nanocompsitos com 5 e 7% de argila. A Figura 12
representa graficamente a extrusora e os dois alimentadores responsveis pela
dosagem do polmero e argila.
Figura 12. Esquematizao da argila em p adicionada ao polmero fundido em uma extrusora.
4.3.2. Argila em Suspenso
Uma suspenso de lcool etlico (P.A.) contendo 20% de argila foi
adicionada ao PS fundido atravs de uma bomba dosadora de lquidos da
48
Prominent, modelo Sigma 2. A argila foi previamente adicionada ao lcool e
mantida por 24 horas, para que esta pudesse inchar devido interao com o
solvente orgnico. Antes da adio no polmero, a suspenso foi submetida ao
dispersor por 5 minutos. A composio (20% de argila), associada ao uso do
dispersor, garantiu uma suspenso bem dispersa e estvel, ou seja, mesmo aps
longos perodos a sedimentao da argila e a decorrente separao de fases era
praticamente nula. A Figura 13 apresenta o sistema de funcionamento do
processamento de nanocompsitos utilizando a bomba dosadora na adio de
argila.
Figura 13. Obteno de nanocompsitos a partir de uma suspenso de lcool com 20% de argila.
Outros solventes orgnicos apresentam melhor afinidade com argilas
organicamente modificadas, como o tolueno. Segundo dados encontrados na
pgina da internet da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental -
49
Cetesb [73], os vapores provenientes de etanol e tolueno so irritantes aos olhos,
nariz e garganta. Entretanto, o tolueno tambm pode causar, se inalado, nusea,
vmito, dor de cabea, tontura, dificuldade respiratria ou perda da conscincia,
alm de ser irritante para a pele em sua forma lquida. Por estes motivos, foi
decidido pela utilizao de lcool etlico na preparao de argilas para a obteno
de nanocompsitos polimricos.
Foram obtidos nanocompsitos alterando o mtodo de obteno,
concentrao e sais utilizados na modificao das argilas. A variao de tipo de sal
utilizado, concentrao de argila e mtodo de preparao resultou em 16
composies diferentes de nanocompsitos. Mais quatro composies diferentes
foram obtidas posteriormente atravs de processamento dos nanocompsitos por
batelada, atravs de um misturador, como poder ser visto a seguir.
4.3.3. Obteno de nanocompsitos atravs de um misturador.
Alm dos nanocompsitos obtidos por um processo contnuo atravs de
uma extrusora como dito anteriormente, tambm foram estudadas as
propriedades de materiais obtidos por batelada, atravs do uso de um
misturador. As argilas, tambm inchadas em lcool etlico, foram adicionadas ao
polmero fundido em uma cmara misturadora acoplada a um remetro de torque
da Thermo Haake (PolyLab 900 / Rheomix 600p), encontrado no Laboratrio de
Processamento de Polmeros. Esta cmara de mistura possui um volume interno
de 69 cm3, onde dois rotores misturadores so responsveis pela
homogeneizao dos compostos.
Os nanocompsitos foram preparados com dois tipos de argilas
organoflicas: as modificadas com o sal Praepagen e a Cloisite 20A. Inicialmente,
as composies seriam de 5% e 7% em peso de argila, mas, como veremos nos
prximos captulos, as composies foram ajustadas em 2,9% e 4% (Praepagen) e
3,8% e 7,9% (Cloisite 20A) para apresentarem um resultado final semelhante aos
50
resultados reais apresentados pelas amostras preparadas na extrusora com o
auxlio da bomba dosadora de lquidos. A massa total de material foi calculada
para que o preenchimento da cmara de mistura alcanasse 70%, condio
recomendada para se obter melhores misturas.
Os materiais foram processados a temperatura de 200 C, velocidade de
rotao de 50 rpm por 7 minutos.
4.3.4. Identificao das Amostras
Devido ao grande nmero de amostras e de nomes extensos, um cdigo de
identificao foi criado para facilitar a compreenso e simplificar os grficos e
tabelas e a compreenso do leitor. Este cdigo diferencia as amostras por
processo de obteno, sal utilizado na modificao da argila e concentrao real de
argila. A Tabela 3 apresenta as variveis de processamento, sal utilizado na
modificao da argila e composio utilizados na formulao dos cdigos de
identificao das amostras. Como cada amostra de nanocompsito apresentar
uma concentrao real diferente das outras, nesta tabela de variveis sero
mostrados apenas alguns exemplos para que o cdigo de identificao possa ser
melhor compreendido.
51
Tabela 3. Apresentao das variveis que compem os cdigos de identificao.
Processamento Sal utilizado na
modificao Composio Real
Sigla Significado Sigla Significado Sigla Significado
B Bomba de
lquidos pr Praepagen 2,9 2,9%
P
Segundo
Alimentador
(P)
ct CTAC 4 4%
M Misturador do Dodigen 3,8 3,8%
cs Cloisite
A seguir um exemplo de cdigo apresentado na Figura 14.
B pr 2,9
Figura 14. Exemplo de cdigo de identificao.
Bomba de lquidos
Concentrao Real
Sal utilizado na troca
52
Com a obteno de todas as amostras, inicia-se o processo de
caracterizao, que ser apresentado no prximo tpico.
4.4. Caracterizao das amostras
Os materiais obtidos pelos mtodos de intercalao no polmero fundido
descritos anteriormente foram analisados, por difrao de raios-X (DRX), anlises
termogravimtricas (TG), cisalhamento oscilatrio de pequenas amplitudes (COPA)
e, ensaios mecnicos de trao e impacto Izod.
4.4.1. Difrao de raios-X
Todas as amostras de argila e de nanocompsitos foram analisadas por
difrao de raios-X (DRX) para a determinao do espaamento interlamelar ou a
esfoliao das argilas. Foi utilizado um difratmetro Philips X'Pert MPD com tubo
de radiao Cu k (comprimento de onda 1,5405 ) do Laboratrio de Matrias
Primas Particuladas e Slidos No Metlicos (LMPSol) do PMT-USP.
As amostras de argila foram analisadas na forma de p compactado no
porta-amostra do equipamento. Os ensaios com nanocompsitos foram realizados
com discos de 25 mm de dimetro e 1 mm de espessura, obtidos em uma prensa
uniaxial a 200 C por 11 minutos.
4.4.2. Microscopia ptica
As microscopias obtidas atravs de microscpios pticos podem ser
utilizadas como um mtodo complementar de anlise da microestrutura. Mesmo
no tornando possvel a observao das lamelas de argila em escala nanomtrica,
este ensaio permite a anlise da eficincia da disperso de argila no polmero e
tambm destacar a presena de conjuntos aglomerados. Os ensaios foram
53
realizados em um microscpio Olympus BX50, associado a um estgio a quente
Mettler Toledo FP-82 HT, localizados no Laboratrio de Anlises Reolgicas do
PMT. Para realizar a observao da microestrutura as amostras dos materiais
foram prensadas entre duas lminas de vidro e aquecidas at 200 C, para que
filmes finos fossem formados. Os ensaios foram realizados com aumento de 50x e
uma cmera CCD acoplada ao microscpio digitalizou as fotomicrografias.
4.4.3. Microscopia Eletrnica de Transmisso
As amostras de nanocompsitos foram observadas no microscpio
eletrnico de transmisso Jeol-1010, localizado no Laboratrio de Microscopia
Eletrnica da Faculdade de Medicina da USP. A tenso de acelerao utilizada foi
de 80 kV e aumentos chegaram a 200.000 vezes. As amostras visualizadas por
MET foram primeiramente preparadas em forma de pequenas lminas de
espessuras bastante finas (cerca de 70 a 100 nm), utilizando o ultramicrtomo
localizado no PMT USP.
4.4.4. Ensaios reolgicos
Os ensaios reolgicos foram realizados em um remetro de tenso
controlada, modelo SR 5000 da Rheometrics, do Laboratrio de Anlise e Reologia
de Materiais Polimricos do PMT-USP.
Antes de realizar os ensaios de cisalhamento oscilatrio de pequenas
amplitudes (COPA), foi necessrio verificar a faixa de tenso em que o material
permanece na regio de viscoelasticidade linear, para diferentes freqncias.
Somente aps a determinao das tenses os ensaios de COPA podem ser
efetuados para analisar o comportamento dos nanocompsitos no regime de
viscoelasticidade linear. Os ensaios foram efetuados com geometria de placas
paralelas, freqncias de 300 a 0,001 rad/s, temperatura de 200 C e tenses
54
variveis de acordo com a amostra. As amostras, como as utilizadas no ensaio de
DRX, eram discos prensados de 25 mm de dimetro e 1 mm de espessura.
4.4.5. Anlises Trmicas
As anlises termogravimtricas (TG) foram realizadas no equipamento SDT
Q600, da TA Instruments. Foi analisada a perda de massa em relao ao aumento
da temperatura. A variao ocorreu da temperatura ambiente at 800C, em
atmosfera de nitrognio e taxa de aquecimento de 10C/min.
4.4.6. Ensaios Mecnicos
As propriedades mecnicas das amostras foram medidas utilizando uma
mquina de ensaio universal EMIC DL-2000. O mdulo de elasticidade foi
determinado por ensaios de trao, com velocidade de teste de 1 mm/min. Outras
propriedades mecnicas como limite de resistncia trao e alongamento na
ruptura foram determinados usando velocidade de 5 mm/min.
Os corpos de prova, antes de serem submetidos ao ensaio de resistncia ao
impacto Izod, foram entalhados para prevenir a deformao dos mesmos sob o
efeito do impacto, segundo norma ASTM D 256. A Figura 15 mostra o corpo de
prova entalhado utilizado no ensaio de impacto Izod. As principais medidas do
corpo de prova esto evidenciadas.
55
Figura 15. Corpo de prova de um ensaio de impacto Izod.
Os ensaios de resistncia ao impacto Izod foram realizados em uma
mquina de impacto WinPEN CEAST, com um martelo de 1 Joule e velocidade de
impacto de 3,46 m/s. Tanto os ensaios de trao como os de impacto foram
realizados no laboratrio D&A da Rhodia Engineering Plastics.
56
5. Resultados e Discusses
Neste captulo os resultados experimentais so apresentados e discutidos.
Primeiramente, so apresentados os resultados das anlises de argilas sdicas e
modificadas organicamente. As argilas foram caracterizadas por ensaios de
difrao de raios-X (DRX) e anlise termogravimtrica (TG). Em seguida, so
apresentados os resultados obtidos com os nanocompsitos, divididos em duas
partes: caracterizao da estrutura e caracterizao das propriedades trmicas e
mecnicas. A caracterizao da estrutura foi realizada por ensaios de DRX,
microscopia eletrnica de transmisso e ensaios reolgicos de cisalhamento
oscilatrio de pequenas amplitudes (COPA). Por fim, as propriedades trmicas e
mecnicas foram avaliadas, respectivamente, por ensaios de TG e de resistncia
trao e impacto Izod.
Durante a apresentao dos resultados, sero discutidos os melhores
componentes, mtodos ou composies de nanocompsitos obtidos neste
trabalho.
5.1. Caracterizao das Argilas
Ensaios de DRX foram realizados para determinao do espaamento basal
das argilas, modificadas e no modificadas. A Figura 16 apresenta os
difratogramas obtidos por DRX, das argilas sdicas e modificadas. As setas
presentes nas curvas de difrao indicam o pico referente ao plano (001), utilizado
para determinar o valor do espaamento basal. A Tabela 4 apresenta os valores de
espaamento basal obtidos a partir das curvas de difrao presentes na Figura 16
e pode-se notar que a modificao orgnica das argilas provocou um
deslocamento dos picos referentes aos planos cristalogrficos (001) para ngulos
mais baixos. Esse deslocamento caracteriza o aumento do valor de espaamento
basal como pode ser visto na Tabela 4.
57
0 20
Inte
nsid
ade
(u.a
.)
2 ()
Brasgel + Praepagen Brasgel + CTAC Brasgel + Dodigen Brasgel Sdica
Figura 16. Curvas de difrao de raios X das argilas, modificadas ou no, com indicao grfica para os picos equivalentes aos planos d001.
Tabela 4. Valores de 2 e espaamento basal para argilas sdicas e organoflicas.
Argila 2 d001 (nm)
Na+ Brasgel 6,81 1,30
Brasgel + CTAC 2,41 3,66
Brasgel + Dodigen 2,66 3,31
Brasgel + Praepagen 2,23 3,96
Cloisite 20A* - 2,42
* Cloisite - Southern Clay Products, Inc.
Os ensaios de DRX servem de prova da eficincia da troca catinica. Os trs
tipos de sais utilizados propiciaram aumentos considerveis nos espaamentos
basais. Pde-se notar que a argila modificada com o sal Praepagen apresentou os
2 e 3 ordens de difrao
58
maiores valores, devido, provavelmente, presena de duas caudas alqulicas
longas, conforme visto na representao da Tabela 2. A argila modificada com
Praepagen foi a nica que apresentou picos referentes a segunda e terceira ordens
de difrao. Estes picos eventualmente podem ser notados em ensaios de DRX de
nanocompsitos, e supe uma estrutura com maior nvel de ordenao.
Para que as condies de processamento dos nanocompsitos fossem
determinadas, foram realizados ensaios de TG para analisar a estabilidade trmica
das argilas organicamente modificadas. A estabilidade trmica das argilas
organoflicas muito importante para nanocompsitos obtidos por intercalao no
polmero fundido. Este mtodo de obteno normalmente realizado em
equipamentos de processamento de polmeros, e utiliza faixas de temperatura em
torno de 200 C. Um sal instvel termicamente pode degradar-se
precipitadamente, dificultando a obteno de nanocompsitos. A Figura 17
apresenta os resultados de um ensaio de TG para a) uma argila sdica e b) argilas
organoflicas.
59
-3
-2.5
-2
-1.5
-1
-0.5
0
0.5
1
0 100 200 300 400 500 600 700 800
Temperature (C)
Wei
ght l
oss (
mg)
-9
-8
-7
-6
-5
-4
-3
-2
-1
0
1
0 200 400 600 800 1000
Temperature (C)
Wei
ght l
oss
(mg)
Figura 17. Anlises de TG de a) argilas sdicas e b) organoflicas, e suas respectivas
regies de perda de massa.
A Figura 17a revela duas etapas de perda de massa para a argila sdica: a
primeira perda, de 7,5% (regio 1), ocorre entre a temperatura ambiente e
aproximadamente 100 C, e est associada perda da gua adsorvida nas
camadas do argilomineral; a segunda etapa de perda de massa de 5,5% (regio 2)
Temperatura (C)
Mas
sa (
%)
Mas
sa (%
)
Temperatura (C)
Brasgel Sdica
1
2
1
2
3Brasgel + Praepagen
Brasgel + Dodigen
Brasgel + CTAC
a)
b) 100 35
100 85
60
ocorre na faixa de, aproximadamente, 450 a 750 C. Esta segunda etapa est
relacionada perda da hidroxila (OH) estrutural das argilas esmectticas [74].
Diferentemente das argilas sdicas, as argilas organoflicas (Figura 17b)
possuem uma etapa adicional de perda de massa (regio 2), que acontece entre
200 e 400 C. Esta etapa, onde ocorrem as maiores perdas de massa, est
relacionada degradao dos ctions orgnicos.
A Tabela 5 apresenta os valores de perda de massa das argilas
organicamente modificadas analisadas por TG, e os dados da argila Cloisite 20A.
Os resultados mostram que os maiores valores de perda de massa encontram-se
na regio de degradao do surfatante (200 400 C). A argila modificada com o
sal Praepagen apresentou os maiores valores de perda de massa. Entretanto,
como a parcela maior de perda de massa ocorre na terceira regio, isto pode no
influenciar na preparao de nanocompsitos, j que esta perda acontece em
temperaturas muito mais elevadas que as utilizadas nos processamentos (200 C).
Tabela 5. Valores de Perda em massa para as argilas.
Perda em massa (%)
Amostra Perda de
gua absorvida
(at 100 C)
Degradao do surfatante
(200 400 C)
Desidroxilao (OH estrutural) (400 750 C)
Total
Na+- Brasgel 7,5 - 5,5 13,0
Brasgel + CTAC 4,0 17,5 9,9 31,4
Brasgel + Dodigen 1,9 13,8 8,4 24,1
Brasgel + Praepagen
6,9 35,4 22,7 65,0
Cloisite 20A* - - - 38,0
* Cloisite - Southern Clay Products, Inc.
61
As anlises de DRX e TG mostraram que as argilas tm potencial de uso na
preparao de nanocompsitos polimricos por intercalao no polmero fundido.
Estas argilas, alm de apresentarem um bom aumento em seus espaos
interlamelares, apresentaram uma boa estabilidade trmica a temperaturas em
torno de 200 C, temperatura mxima de processamento utilizada na preparao
dos nanocompsitos por extrusora e misturador.
Os resultados obtidos para os nanocompsitos preparados neste trabalho
sero apresentados a seguir.
5.2. Nanocompsitos Os nanocompsitos de PS e argilas esmectticas brasileiras foram obtidos
por intercalao no polmero fundido. A seguir, estes nanocompsitos sero
caracterizados.
5.2.1. Caracterizao dos Nanocompsitos Os resultados de ensaios utilizados na caracterizao dos nanocompsitos
sero apresentados de acordo com o mtodo de preparao utilizado.
5.2.1.1 Mtodo Argila em p
Neste mtodo a argila em p foi adicionada ao polmero fundido, utilizando