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1 CAIO PARRA DANTAS COELHO OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE NANOCOMPÓSITOS DE POLIESTIRENO E ARGILAS ESMECTÍTICAS Dissertação apresentada à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Engenharia. SÃO PAULO 2008

obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

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CCAAIIOO PPAARRRRAA DDAANNTTAASS CCOOEELLHHOO

OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE NANOCOMPÓSITOS DE POLIESTIRENO E ARGILAS ESMECTÍTICAS

Dissertação apresentada à Escola Politécnica

da Universidade de São Paulo para obtenção

do título de Mestre em Engenharia.

SÃO PAULO 2008

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CCAAIIOO PPAARRRRAA DDAANNTTAASS CCOOEELLHHOO

OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE NANOCOMPÓSITOS DE POLIESTIRENO E ARGILAS ESMECTÍTICAS

Dissertação apresentada à Escola Politécnica

da Universidade de São Paulo para obtenção

do título de Mestre em Engenharia.

Área de Concentração: Engenharia de

Materiais.

Orientadora: Profa. Dra. Nicole Raymonde

Demarquette

SÃO PAULO 2008

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Agradecimentos

À minha família, minha mãe Francisca, meu pai Fidel e minha irmã Camila por todo apoio e amor durante minha vida. À minha namorada Luciana, por ser muito mais que uma companheira, que está comigo em todos os momentos. À Professora Dra. Nicole Raymonde Demarquette, pela orientação desde a Iniciação Científica, nestes mais de quatro anos de trabalho. Ao Márcio Yee, pela amizade, companheirismo risadas e trapalhadas em que nos metemos. Ao Luan e a Vivian por toda ajuda na reta final do trabalho. À Ticiane Valera pela co-orientação e ajuda durante esta trabalho de Mestrado. Todos do Laboratório de Polímeros: Adriana, Ana, Camila, Cássia, Cláudia, Douglas, Flávia, Guilhermino, Guilhermo, Irina, Laércio, Leice, Lincoln, Paty, Pedro, Pedrag e Roberta. Aos técnicos Kleber, Denise, Fábio, Roger, Juliana, Douglas e Vinícius. Ao pessoal do Laboratório da cerâmica: Carola, Flávia, Fausto, Silvio, Ricardo, José Marcos, Kleber e Gerardo. À Valquíria pelos ensaios de DRX e ao Kleberson pelos ensaios de TGA. À Rhodia, pelos ensaios mecânicos. À Basf pelo fornecimento de PS, Bun pelo fornecimento da argila e Clariant pelo fornecimento dos sais. Ao CNPq e a FAPESP pelo apoio financeiro.

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RESUMO

Neste trabalho foram preparados nanocompósitos de Poliestireno (PS) e

argilas organofílicas. As argilas, inicialmente hidrofílicas, foram modificadas

organicamente utilizando três sais quaternários de amônio diferentes: Cloreto de

hexadecil trimetil amônio (CTAC), Cloreto de alquil dimetil benzil amônio (Dodigen)

e Cloreto de dimetil dioctadecil amônio (Praepagen). A argila organofílica Cloisite

20A foi também utilizada neste estudo. Os nanocompósitos foram preparados por

intercalação no polímero fundido por três técnicas diferentes: adição de argila em

suspensão de álcool etílico por uma bomba dosadora de líquidos durante a

extrusão, adição de argila em pó por um alimentador mecânico durante a extrusão

e adição de suspensão de argila em álcool etílico durante obtenção por batelada.

Os materiais obtidos foram caracterizados por difração de raios-X (DRX),

microscopia óptica (MO) e microscopia eletrônica de transmissão (MET) e ensaios

reológicos de Cisalhamento Oscilatório de Pequenas Amplitudes (COPA). As

propriedades térmicas foram analisadas por análise termogravimétrica (TG) e as

propriedades mecânicas foram analisadas por ensaios de tração e impacto Izod. As

três técnicas se mostraram eficazes na preparação dos nanocompósitos, e seus

resultados apresentaram uma similaridade muito grande. Os resultados de DRX e

microscopia mostraram que a maioria dos nanocompósitos apresentou estruturas

compostas de fases intercaladas e esfoliadas. As análises térmicas mostraram que

a adição de argila ao PS o tornou mais estável termicamente, suportando maiores

temperaturas antes de iniciar o processo de degradação. Os ensaios reológicos de

COPA e ensaios mecânicos dos nanocompósitos obtidos não apresentaram grandes

variações em relação ao PS puro.

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ABSTRACT

In this work nanocomposites of polystyrene (PS) and organophilic clays

were prepared. The clays were organically modified using three different

ammonium quaternary salts: cetyltrimethyl ammonium chloride (commercial name:

CTAC), alquildimethyl benzyl ammonium chloride (commercial name: Dodigen)

and distearyl dimethyl ammonium chloride (commercial name: Praepagen). The

organoclay Cloisite 20 A was also used in this work. The nanocomposites were

prepared by melt intercalation using three different techniques: adding the

organoclay as a diluted organic solvent supension to the extruder using a motor-

driven metering pump, adding the organoclay as powder to the extruder using a

mechanical feeder and adding the organoclay as a diluted organic solvent

suspension to the mixer. The materials obtained were characterized by X-ray

diffraction (XRD), optical microscopy (OM), transmission electron microscopy

(TEM) and by rheological studies through small amplitude oscillatory shear tests

(SAOS). The thermal properties were studied by thermogravimetrical analyses (TG)

and the mechanical properties were studied by tensile and impact Izod strength

tests. The three techniques were efficient to prepare nanocomposites, and their

results were very similar. The DRX and microscopy results showed that the most

nanocomposites presented structures composed by intercalated and exfoliated

phases. The thermal analyses showed that the addition of organoclay turned PS

more thermally stable, increasing their degradation temperatures. The results of

rheological studies (SAOS) and the mechanical tests did not present significant

variations compared to the neat PS.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 10

2. OBJETIVOS DO TRABALHO 13

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 14

3.1. ARGILAS 15 3.1.1. ESTRUTURA CRISTALINA 15 3.1.2. GRUPO DAS ARGILAS ESMECTÍTICAS 17 3.2. NANOCOMPÓSITOS POLIMÉRICOS 21 3.2.1. GENERALIDADES 21 3.2.2. ESTRUTURA DOS NANOCOMPÓSITOS POLIMÉRICOS 22 3.3. MÉTODOS DE OBTENÇÃO DE NANOCOMPÓSITOS 23 3.3.1. INTERCALAÇÃO NO POLÍMERO FUNDIDO 24 3.3.2. POLIMERIZAÇÃO IN SITU 25 3.3.3. SOLUÇÃO DOS NANOCOMPÓSITOS 25 3.3.4. MÉTODOS COMBINADOS 26 3.4. TÉCNICAS DE CARACTERIZAÇÃO DE NANOCOMPÓSITOS 26 3.4.1. CARACTERIZAÇÃO ESTRUTURAL 27 3.4.2. CARACTERIZAÇÃO REOLÓGICA 31 3.5. PROPRIEDADES DOS NANOCOMPÓSITOS 36 3.5.1. CARACTERIZAÇÃO TÉRMICA 36 3.5.2. CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA 37 3.6. NANOCOMPÓSITOS DE PS: ESTADO DA ARTE 39

4. MATERIAIS E MÉTODOS 43

4.1. MATERIAIS 43 4.2. MÉTODOS 44 4.2.1. PREPARAÇÃO DAS ARGILAS 44 4.2.2. MOAGEM DA ARGILA 45 4.2.3. MODIFICAÇÃO ORGÂNICA DA ARGILA 45 4.2.4. LAVAGEM DA ARGILA 46 4.3. PREPARAÇÃO DOS NANOCOMPÓSITOS 46 4.3.1. ARGILA EM PÓ 47 4.3.2. ARGILA EM SUSPENSÃO 47 4.3.3. OBTENÇÃO DE NANOCOMPÓSITOS ATRAVÉS DE UM MISTURADOR. 49 4.3.4. IDENTIFICAÇÃO DAS AMOSTRAS 50 4.4. CARACTERIZAÇÃO DAS AMOSTRAS 52 4.4.1. DIFRAÇÃO DE RAIOS-X 52

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7

4.4.2. MICROSCOPIA ÓPTICA 52 4.4.3. MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE TRANSMISSÃO 53 4.4.4. ENSAIOS REOLÓGICOS 53 4.4.5. ANÁLISES TÉRMICAS 54 4.4.6. ENSAIOS MECÂNICOS 54

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES 56

5.1. CARACTERIZAÇÃO DAS ARGILAS 56 5.2. NANOCOMPÓSITOS 61 5.2.1. CARACTERIZAÇÃO DOS NANOCOMPÓSITOS 61 5.3. ESTRUTURA DOS NANOCOMPÓSITOS 65 5.3.1. MÉTODO “ARGILA EM PÓ” 65 5.3.2. ARGILA EM SUSPENSÃO 68 5.3.3. AMOSTRAS OBTIDAS NO MISTURADOR 71 5.3.4. MICROSCOPIA ÓPTICA 72 5.3.5. MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE TRANSMISSÃO 77 5.3.6. ENSAIOS REOLÓGICOS 82 5.4. PROPRIEDADES DOS NANOCOMPÓSITOS 86 5.4.1. PROPRIEDADES TÉRMICAS 86 5.4.2. ENSAIOS MECÂNICOS 89

6. CONCLUSÕES 98

7. REFERÊNCIAS 101

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Índice de Figuras

Figura 1. Tetraedro de sílica e folha tetraédrica. ___________________________________________ 16 Figura 2. Octaedro de hidróxido de alumínio ou magnésio e folha octaédrica.__________________ 16 Figura 3. Representação esquemática da estrutura das argilas esmectíticas []. ________________ 18 Figura 4. Modificação orgânica de uma argila. _____________________________________________ 20 Figura 5. Tipos extremos de estrutura dos nanocompósitos: a) microcompósito, b)nanocompósito intercalado e c)nanocompósito esfoliado. _________________________________________________ 23 Figura 6. Representação do espaço basal da argila e seu pico correspondente em ensaios de DRX._____________________________________________________________________________________ 27

Figura 7. Deslocamento e desaparecimento do pico característico do plano basal para um nanocompósito intercalado e esfoliado, comparados à argila organofílica. _____________________ 28 Figura 8. Curvas de difração de raios-X para diferentes nanocompósitos de poliestireno e argilas modificadas com os sais: 1 = Dodigen (3wt% ); 2 = Dodigen (5wt%); 3 = Praepagen (3wt% ); 4 = Praepagen (5wt%); 5 = CTAC (3wt% ); 6 = CTAC (5wt%); 7 = Cloisite 20A (3wt% ) e 8 = Cloisite 20A (5wt%).[] _____________________________________________________________________________ 29 Figura 9. Micrografia de um nanocompósito intercalado/esfoliado, onde a fase mais clara e contínua representa a matriz polimérica e as fases escuras (algumas esfoliadas) representam a argila. [] _ 30 Figura 10. Esquematização do comportamento reológico em função do número de partículas por unidade de volume. ____________________________________________________________________ 34 Figura 11. Aumento da estabilidade térmica apresentado pelos nanocompósitos quando relacionados aos materiais puros. []______________________________________________________ 37 Figura 12. Esquematização da argila em pó adicionada ao polímero fundido em uma extrusora. _ 47 Figura 13. Obtenção de nanocompósitos a partir de uma suspensão de álcool com 20% de argila.48 Figura 14. Exemplo de código de identificação. ____________________________________________ 51 Figura 15. Corpo de prova de um ensaio de impacto Izod. __________________________________ 55 Figura 16. Curvas de difração de raios – X das argilas, modificadas ou não, com indicação gráfica para os picos equivalentes aos planos d001.________________________________________________ 57 Figura 17. Análises de TG de a) argilas sódicas e b) organofílicas, e suas respectivas regiões de perda de massa._______________________________________________________________________ 59 Figura 18. Curvas de difração de raios – X dos nanocompósitos obtidos com argila em pó adicionada ao polímero por um alimentador automático com a) 5% e b) 7% em massa de argila. 66 Figura 19. Curvas de difração de raios – X dos nanocompósitos obtidos com a bomba dosadora à concentração de a) 5% e b) 7% de argila. _______________________________________________ 69 Figura 20. Curvas de difração de raios – X dos nanocompósitos obtidos com o misturador com argila modificada com praepagen e argila Cloisite 20A. _____________________________________ 71 Figura 21. Micrografias de MO da amostra Pct4,5 tiradas de duas regiões diferentes, a e b. _____ 73 Figura 22. Imagens de Microscopia Óptica de a) Ppr7, b) Pct7 e c) Pdo7. ____________________ 75 Figura 23. Amostras de nanocompósitos obtidos com cloisite 20A. a) bomba + estrusora e b) misturador. ___________________________________________________________________________ 77 Figura 24. Micrografia feita por MET de um nanocompósito obtido através da bomba dosadora com argila modificada com CTAC. ____________________________________________________________ 78 Figura 25. Micrografias de B ct 4,2 evidenciando a) regiões com maior presença de argila intercalada e b) esfoliada. ______________________________________________________________ 79 Figura 26. MET de uma amostra obtida na extrusora utilizando a bomba de líquidos e argila modificada com dodigen. _______________________________________________________________ 80 Figura 27. MET em dois aumentos para enfatizar uma região de P pr 3,7. ____________________ 81 Figura 28. Amostra M cs 7,9 e sua estrutura ordenada de camadas.__________________________ 82 Figura 29. Comparação entre resultados de COPA de um PS puro processado e um nanocompósito de PS+ CTA /Argila 5% obtido pela bomba dosadora. ______________________________________ 83 Figura 30. Comparação entre resultados de COPA de nanocompósito de PS+ Praepagen /Argila5% preparado por diferentes métodos e diferentes concentrações. ______________________________ 84

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Figura 31. . Comparação entre resultados de COPA de nanocompósitos preparados no misturador com argila modificada com praepagen e argila Cloisite 20A. _________________________________ 85 Figura 32. TG de PS puro e nanocompósitos poliméricos para analisar a estabilidade térmica destes materiais._____________________________________________________________________________ 87 Figura 33. TG de PS puro e nanocompósitos poliméricos confirmando as propriedades de barreira térmica das argilas. ____________________________________________________________________ 88 Figura 34. Módulo de elasticidade dos nanocompósitos preparados com argila em pó. __________ 90 Figura 35. Ensaio de tração para determinação do limite de resistência a tração dos nanocompósitos._______________________________________________________________________ 91 Figura 36. Ensaio de impacto Izod para determinação da resistência._________________________ 92 Figura 37. Módulo de elasticidade dos nanocompósitos preparados com a bomba dosadora. ____ 93 Figura 38. Ensaio de tração para determinação do limite de resistência a tração dos nanocompósitos _______________________________________________________________________ 93 Figura 39. Ensaio de impacto Izod para determinação da resistência._________________________ 94 Figura 40. Módulo de elasticidade dos nanocompósitos preparados com o misturador.__________ 95 Figura 41. . Ensaio de tração para determinação do limite de resistência a tração dos nanocompósitos _______________________________________________________________________ 95 Figura 42 – Ensaio de Impacto Izod para amostras preparadas no misturador. ________________ 96

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Índice de Tabelas

Tabela 1. Linhas de pesquisa na obtenção de nanocompósitos por intercalação no polímero fundido._____________________________________________________________________________________ 42

Tabela 2. Sais quaternários de amônio utilizados na modificação das argilas. __________________ 44 Tabela 3. Apresentação das variáveis que compõem os códigos de identificação. ______________ 51 Tabela 4. Valores de 2θ e espaçamento basal para argilas sódicas e organofílicas. _____________ 57 Tabela 5. Valores de Perda em massa para as argilas. ______________________________________ 60 Tabela 6. Concentração real dos nanocompósitos. _________________________________________ 62 Tabela 7. Concentração Real dos Nanocompósitos._________________________________________ 63 Tabela 8 Concentração Real dos nanocompósitos obtidos no misturador ______________________ 64 Tabela 9. Valores de espaçamento basal e diferença entre espaçamento final (nanocompósito) e inicial (argila). _________________________________________________________________________ 67 Tabela 10. Valores de espaçamento basal e diferença entre espaçamento final (nanocompósito) e inicial (argila) para o método da suspensão._______________________________________________ 70 Tabela 11. Valores de espaçamento basal d001 (nm) e a variação entre espaçamento final e inicial.72 Tabela 12. Temperaturas (ºC) de degradação obtidas por TG._______________________________ 87 Tabela 13. Temperaturas (ºC) de degradação obtidas por TG._______________________________ 89 Tabela 14. Comparação dos Métodos de obtenção dos nanocompósitos. ______________________ 97

1. Introdução

A constante procura por avanços nas propriedades dos materiais tornou a

adição de cargas sólidas em polímeros uma prática rotineira, principalmente em

setores industriais. A adição destas cargas resulta, por exemplo, em uma maior

resistência mecânica e à ignição e elevada rigidez. Outro fator determinante para o

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11

uso de cargas é a redução de custo, já que se trata de materiais de preço

geralmente mais baixo se comparados aos polímeros. Os melhores exemplos são a

adição de talco em polipropileno e poliamidas para aplicações automotivas e o

negro-de-fumo adicionado à borracha para garantir maior durabilidade e

resistência a pneus. Estes materiais são os chamados compósitos convencionais.

Em meados da década de 80, novos materiais com propriedades excelentes

começaram a ser estudados. A característica marcante destes materiais, além de

suas ótimas propriedades, é a presença de cargas que possuem ao menos uma

dimensão na escala nanométrica (10-9 m). Dentre os métodos de classificação

destes materiais, existe um em que é possível distinguir três tipos diferentes de

nanocompósitos, de acordo com a forma e as dimensões da carga nanométrica:

• Partículas com três dimensões nanométricas, como as nanopartículas

esféricas de sílica que podem ser obtidas pelo processo de sol-gel in situ

[1], e por polimerização direta nas superfícies das esferas [2].

• Com duas dimensões nanométricas e uma terceira dimensão em maior

escala, por exemplo, nanotubos de carbono [3]. Estes nanocompósitos

poliméricos contendo nanotubos de carbono têm sido muito estudados,

principalmente por suas propriedades mecânicas e condutividade elétrica.

[4].

• É possível que uma nano carga tenha apenas uma dimensão nanométrica,

como é o caso dos filossilicatos. Estes possuem espessuras de poucos

nanômetros e comprimentos de 100 nm a alguns micrômetros. Os

nanocompósitos poliméricos estudados no presente trabalho pertencem a

esta classe de materiais.

Os nanocompósitos poliméricos têm sido amplamente estudados nos últimos

anos, principalmente devido a sua grande importância científico-tecnológica. Estes

materiais apresentam propriedades únicas, resultantes da combinação de seus

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componentes, como a boa flexibilidade e moldabilidade dos polímeros, associadas

à elevada dureza e estabilidade térmica dos materiais inorgânicos. Os primeiros

nanocompósitos poliméricos com filossilicatos foram estudados por Blumstein, em

1961 [5]. Porém, somente após dois grandes estudos estes materiais atraíram a

atenção de pesquisadores no mundo. Primeiramente, um grupo da Toyota realizou

a dispersão de partículas nanométricas de argila em poliamida-6 e, com

quantidades de carga muito pequenas, obtiveram grandes melhorias nas

propriedades mecânicas e térmicas [6]. Outro estudo de grande importância na

disseminação dos nanocompósitos foi o realizado por Vaia et al. [7], que mostrou

ser possível obter nanocompósitos através de intercalação no polímero, método

que dispensa o uso de solventes orgânicos e simplifica a produção de

nanocompósitos poliméricos.

A vantagem dos nanocompósitos em relação aos compósitos convencionais

é a baixa concentração de cargas. Para que compósitos convencionais possuam

propriedades semelhantes a nanocompósitos com, em média, 10% de carga, é

necessária a adição de até 50% de carga. Além de cargas em menor quantidade,

os nanocompósitos poliméricos apresentam propriedades mais atraentes em

relação aos compósitos convencionais e aos polímeros puros, como:

Melhores propriedades mecânicas;

Aumento da estabilidade térmica;

Baixa permeabilidade a gases, água e hidrocarbonetos;

Elevada resistência química;

Retardância de chama;

Maior transparência (em relação somente a compósitos convencionais);

Maior condutividade elétrica

Geralmente recicláveis.

Page 13: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

13

Estas e demais propriedades, assim como maiores informações podem ser

encontradas em textos de revisão [4, 8, 9, 10]

Os nanocompósitos, apesar de serem materiais muito estudados,

ainda apresentam certas dificuldades quanto à obtenção em grande escala e

caracterização. Os métodos convencionais de caracterização dos nanocompósitos

poliméricos são a difração de raios-X (DRX) e a microscopia eletrônica de

transmissão (MET). Estas análises, no entanto, mesmo em conjunto podem

apresentar algumas limitações. Técnicas complementares de análise da morfologia,

como a reologia dos nanocompósitos, têm sido amplamente estudadas. Neste

trabalho, uma avaliação de técnicas para produção de nanocompósitos em grande

escala foi realizada. Os materiais obtidos foram caracterizados pelos métodos

acima citados em conjunto, assim como algumas propriedades analisadas por

ensaios térmicos e mecânicos.

2. Objetivos do trabalho

Os principais objetivos deste trabalho foram:

Preparar argilas organofílicas brasileiras para a intercalação em Poliestireno

(PS). Neste trabalho a argila esmectítica foi modificada organicamente por

Page 14: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

14

um único método, variando entre três tipos de sais quaternários de amônio

utilizados para modificá-las. A modificação orgânica de argilas brasileiras é

muito importante já que estes materiais encontram-se abundantemente em

sua forma bruta.

Estudar a eficiência das trocas catiônicas, através de ensaios de difração de

raios – X (DRX). Estudar a estabilidade térmica das argilas organofílicas,

fator fundamental para o processamento de nanocompósitos, por ensaios

de análise termogravimétrica (TG).

Preparar nanocompósitos de PS e argilas organofílicas através de

intercalação no polímero fundido através de uma extrusora de dupla rosca,

por dois métodos e concentrações diferentes e, também através de um

misturador (mixer).

Estudar a morfologia dos nanocompósitos por ensaios combinados de DRX,

microscopia eletrônica de transmissão (MET) e ensaios reológicos de

cisalhamento oscilatório de pequenas amplitudes (COPA). Esta combinação

de técnicas visa minimizar as limitações apresentadas por cada técnica

separada. Estudar, também, as propriedades térmicas e mecânicas dos

nanocompósitos poliméricos através de ensaios de TG e ensaios mecânicos

de tração e impacto.

Preparar nanocompósitos de PS e uma argila organofílica importada (Cloisite

20A). Comparar as propriedades dos nanocompósitos obtidos com esta

argila com os materiais preparados com argilas modificadas neste trabalho.

3. Revisão Bibliográfica

Neste capítulo será feita uma revisão sobre assuntos coerentes ao trabalho.

Serão abordados temas referentes às argilas - como estrutura cristalina,

propriedades das emectitas - e aos nanocompósitos, como morfologia, métodos de

obtenção e caracterização e propriedades.

Page 15: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

15

3.1. Argilas 3.1.1. Estrutura Cristalina

Para o melhor entendimento da estrutura das argilas, alguns conceitos

devem ser definidos, como: rochas, argilas e argilominerais. Rochas são agregados

naturais formados por alguns minerais ou um único mineral. Argila pode ser

definida como uma rocha que, devido ao seu processo de formação, contém

grande parte de seus minerais constituintes na forma de partículas finamente

divididas. As argilas são constituídas essencialmente por uma categoria de

minerais característicos, chamados argilominerais, mas podem conter outros

minerais que não são contados dentro dessa categoria, como por exemplo, calcita,

dolomita, gibsita, quartzo, pirita, goethita e hematita, bem como matéria orgânica

(ácidos húmicos, por exemplo) e outras impurezas [11, 12].

Por sua vez, os argilominerais foram definidos segundo a AIPEA (Associação

Internacional para Estudo de Argilas), como minerais que pertencem à família dos

filossilicatos cuja estrutura atômica é composta por duas unidades estruturais:

uma unidade é formada por folhas de oxigênio ou hidroxilas em coordenação

octaédrica, com átomo de alumínio, magnésio ou ferro no centro do octaedro, e

outra unidade é formada por uma folha de tetraedros de sílica. As Figuras 1 e 2

apresentam representações esquemáticas das unidades tetraédricas e octaédricas,

respectivamente. Na unidade tetraédrica os átomos de silício estão no centro do

tetraedro e eqüidistantes de quatro átomos de oxigênio. Os tetraedros de silício

formam arranjos hexagonais, de tal forma que todos os tetraedros pertencem a

um mesmo plano (representado no lado direito da Figura 1) [13]. Quando cátions

trivalentes, como Al3+, estão presentes na estrutura octaédrica somente 2/3 das

posições do octaedro são preenchidas, de modo a estabilizar o balanço de cargas

da estrutura, e estas folhas são denominadas de folhas dioctaédricas. Quando

cátions bivalentes, como magnésio, estão presentes na folha octaédrica, todas as

Page 16: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

16

posições do octaedro são ocupadas e estas folhas recebem o nome de folhas

trioctaédricas [11].

Figura 1. Tetraedro de sílica e folha tetraédrica.

Figura 2. Octaedro de hidróxido de alumínio ou magnésio e folha octaédrica.

A combinação de folhas octaédricas e tetraédricas de um argilomineral é

denominada de camada ou lamela, e estas podem estar separadas umas das

outras por materiais interlamelares, tais como: cátions, cátions hidratados e

moléculas orgânicas. O conjunto formado por lamela e material interlamelar

recebe o nome de unidade estrutural e, o empilhamento de unidades estruturais é

Page 17: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

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usualmente denominado de tactóide.

De acordo com o Comitê de Nomenclatura da AIPEA (Associação

Internacional para Estudo de Argilas), os filossilicatos podem ser divididos em dois

grupos: difórmicos ou 1:1 e trifórmicos ou 2:1 [14]. A estrutura cristalina dos

filossilicatos 1:1 é formada por uma folha tetraédrica e uma octaédrica, enquanto

os filossilicatos 2:1 são formados por uma folha octaédrica posicionada entre duas

folhas tetraédricas.

Todos esses argilominerais podem, a princípio, ser utilizados para obtenção

de nanocompósitos de matriz polimérica, entretanto, a maioria dos trabalhos

publicados na literatura reporta o uso de argilas esmectitas descritas abaixo.

3.1.2. Grupo das Argilas Esmectíticas

As argilas esmectíticas, cujos argilominerais pertencem à família dos

filossilicatos 2:1, são caracterizadas por uma estrutura em camadas composta por

duas folhas tetraédricas de sílica e uma folha octaédrica central. As folhas são

contínuas nas direções x e y e estão empilhadas na direção z, unidas umas as

outras por átomos de oxigênio ou hidroxilas. A Figura 3 apresenta uma

representação esquemática da estrutura das argilas esmectíticas.

Page 18: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

18

Figura 3. Representação esquemática da estrutura das argilas esmectíticas [10].

Cada camada possui poucos nanômetros de espessura, mas suas duas outras

dimensões podem variar de 30 nm até alguns micrômetros. Estas camadas

permanecem empilhadas por forças de van der Waals, e entre elas existe um

espaço conhecido com espaço interlamelar ou galeria (ver Figura 3).

Quando as folhas se unem para formar as camadas ou lamelas, a estrutura

obtida pode ser neutra ou negativamente carregada. A estrutura será neutra se:

I - dois dos octaedros apresentarem cátion trivalente (Al3+ ou Fe3+) e uma

lacuna no terceiro octaedro;

II - cátions bivalentes em todos os octaedros (Fe2+, Mg2+, Mn2+);

III - as folhas tetraédricas tiverem Si4+ em todos os tetraedros.

Cátions trocáveis

Camada ou lamela

Espaço interlamelar ou galeria

Page 19: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

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Para a estrutura ser negativamente carregada, também existem três

possibilidades [15]:

I – substituição de Al3+ por Si4+ em posições tetraédricas;

II – substituição de Al3+ ou Mg3+ por cátions de menor valência nas posições

octaédricas;

III – presença de lacunas.

As argilas esmectíticas apresentam algumas propriedades muito importantes

para a preparação de nanocompósitos, por exemplo:

• Partículas naturalmente pequenas (geralmente menores do que 2µm);

• Reatividade das camadas individuais;

• Grande área específica e

• Capacidade de troca de cátions (CTC).

Para suprir a deficiência em cargas na estrutura das esmectitas, cátions

metálicos (como sódio e cálcio) encontram-se posicionados entre as camadas.

Além destes cátions, moléculas polares ou de água podem se posicionar no espaço

interlamelar (ver Figura 3). Os cátions metálicos, uma vez hidratados, podem ser

trocados por cátions orgânicos A quantidade de cátions que pode ser trocada pode

ser quantificada através da CTC – medida em miliequivalentes por 100 g de argila

(meq/100g). A CTC é a propriedade que melhor justifica a grande utilização de

argilas esmectíticas em nanocompósitos poliméricos, pois permite a modificação

superficial das camadas de argila. Esta modificação tem dois propósitos principais:

I. propiciar a separação total ou parcial das camadas ou lamelas, através do

enfraquecimento das forças de van der Waals e forças de ligação eletrostáticas

entre as camadas (Figura 4).

II. aumentar significativamente a compatibilidade do silicato com a matriz

polimérica.

Page 20: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

20

O aumento da afinidade entre a argila e polímero é altamente desejado,

pois no caso dos nanocompósitos poliméricos obtidos com argila, uma interação

físico-química fraca entre os componentes orgânicos e inorgânicos tem como

resultado propriedades, como as mecânicas, extremamente pobres. Geralmente,

esta troca é feita por uso de cátions orgânicos como, por exemplo, sais

quaternários de amônio.

Figura 4. Modificação orgânica de uma argila.

(adaptado [16])

Os cátions orgânicos apresentam uma cabeça catiônica (carga +), que é

atraída pela superfície da argila (carga -), e uma ou duas caudas de

hidrocarboneto, com 12 a 20 átomos de carbono, em média. Podem conter,

também, outros grupos orgânicos ligados, que facilitam a interação com o

polímero ou monômero durante a obtenção de nanocompósitos. Estes agentes

utilizados na modificação orgânica das argilas podem ser divididos em quatro

categorias:

Page 21: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

21

Cátions não - reativos: são compostos por grupos saturados, sem

funcionalidade.

Cátions reativos: podem reagir quimicamente com o monômero ou

polímero. Isso ocorre devido à presença de ligações duplas e outros

elementos reativos.

Cátions iniciadores: estes além da modificação da argila, também se

comportam como iniciadores de polimerização, induzindo o crescimento das

cadeias poliméricas a partir da superfície da argila.

Cátions oligo/poliméricos: apresentam uma elevada massa molar que pode

ser benéfica na esfoliação da argila no polímero durante o processamento.

Na próxima parte, os nanocompósitos serão abordados. Será feita uma

revisão desde suas generalidades, métodos de obtenção e caracterização, até suas

propriedades.

3.2. Nanocompósitos Poliméricos

3.2.1. Generalidades

As excepcionais propriedades alcançadas pelos nanocompósitos obtidos a

partir da adição de argilas organicamente modificadas em matrizes poliméricas

atraíram, e continuam atraindo, a atenção de diversas empresas e grupos de

pesquisa [17,18]. Dentre as vantagens apresentadas pelas propriedades destes

materiais em relação aos polímeros puros, estão suas melhores propriedades

mecânicas, boa estabilidade térmica, baixa permeabilidade a gases, água e

hidrocarbonetos, elevada resistência química, propriedade retardante de chamas e

maior transparência (comparados a compósitos convencionais) e o fato de

poderem ser reciclados. Este conjunto de atrativos implica na crescente utilização

de nanocompósitos poliméricos em diferentes aplicações industriais, como:

componentes mais leves e resistentes para a indústria automotiva, embalagens

alimentícias mais eficazes, tanques de combustível resistentes a ataques químicos,

Page 22: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

22

cabos elétricos revestidos com material retardante de chama, entre outras.

Além da obtenção de materiais com propriedades melhoradas e aplicações

vantajosas, o grande desafio na área de nanocompósitos encontra-se no

desenvolvimento de novas e mais simples técnicas de obtenção ou processamento

desses materiais.

A seguir, as estruturas, métodos de obtenção e caracterização de nanocompósitos

serão discutidos.

3.2.2. Estrutura dos Nanocompósitos Poliméricos

De acordo com o tipo de filossilicato, íon orgânico introduzido entre as

camadas do argilomineral e polímero utilizado para obtenção do nanocompósitos,

três tipos extremos de estrutura podem ser obtidos, como apresentado na Figura

5. Quando não é possível intercalar o polímero entre as camadas do silicato,

obtém-se um microcompósito (Figura 5a). Se as cadeias do polímero intercalam-se

entre as camadas do argilomineral, obtém-se um nanocompósito com estrutura

intercalada (Figura 5b). Neste caso as cadeias poliméricas estendidas penetram

entre as camadas individuais do silicato, porém sua estrutura cristalina é mantida.

Se as camadas do silicato são completamente dispersas no polímero obtém-se um

nanocompósito de estrutura esfoliada (Figura 5c). Entretanto, na prática é muito

difícil se obter uma estrutura totalmente esfoliada. A predominância de apenas

uma estrutura pode ocorrer, no entanto, a grande maioria dos materiais é

constituída pela mistura destas estruturas.

Page 23: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

23

Figura 5. Tipos extremos de estrutura dos nanocompósitos: a) microcompósito, b)nanocompósito intercalado e c)nanocompósito esfoliado.

3.3. Métodos de obtenção de nanocompósitos

Neste tópico serão abordados os métodos de obtenção de nanocompósitos

poliméricos. Existem basicamente três principais técnicas utilizadas na obtenção de

nanocompósitos poliméricos: intercalação no polímero fundido, polimerização in

situ e solução dos nanocompósitos. Uma combinação de dois ou mais métodos

também pode ser utilizada.

a) b)

c)

Filossilicato Polímero

Page 24: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

24

3.3.1. Intercalação no polímero fundido

Este método consiste na mistura física da argila ao polímero durante o

processamento no estado fundido. Se houver afinidade entre os componentes, as

moléculas do polímero poderão penetrar entre as camadas da argila e formar

nanocompósitos de estrutura intercalada ou, eventualmente, esfoliada [19, 20].

Durante o processamento os fluxos de cisalhamento e extensão auxiliam a

dispersão da argila, tornando equipamentos comuns de processamento de

polímeros, como extrusoras e misturadores, instrumentos amplamente utilizados

na preparação de nanocompósitos. A obtenção de nanocompósitos por

intercalação no polímero fundido apresenta diversas vantagens, como a relativa

simplicidade do processo, a produção contínua e em grande escala e a não

necessidade do uso de reagentes orgânicos ou solventes que podem ser danosos

ao ambiente. Entretanto, a obtenção de nanocompósitos esfoliados é muito difícil

para maioria dos sistemas poliméricos.

No caso da obtenção de nanocompósitos de matriz de poliestireno com

argilas, os primeiros estudos realizados obtidos por intercalação no polímero

fundido utilizaram o PS e argilas modificadas com sais quaternários de amônio [7].

Entretanto, estes nanocompósitos de estruturas intercaladas foram obtidos através

de recozimento estático, método pouco utilizado atualmente. Nanocompósitos de

poliamida-6 foram os primeiros obtidos em uma extrusora de dupla rosca e

apresentaram morfologias intercalada e esfoliada em semelhantes proporções

[21].

Estudos comparativos entre tipos diferentes de extrusoras [22] e os efeitos

da velocidade de rotação das roscas nas propriedades dos nanocompósitos [23]

mostraram que a configuração das roscas e os parâmetros de processamento são

diretamente responsáveis pelas morfologias e propriedades resultantes dos

nanocompósitos.

Page 25: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

25

3.3.2. Polimerização in situ

Na polimerização in situ, a argila é dispersa em um monômero ou uma

solução do mesmo, para que o monômero penetre no espaço interlamelar,

provocando sua delaminação. Uma boa afinidade entre argila e monômero é um

parâmetro fundamental para que a mesma esteja homogeneamente dispersa no

sistema. Realizada a primeira etapa, pode-se dar início ao processo de

polimerização, através da ativação do iniciador ou catalisador por calor ou

radiação. A argila é usualmente tratada com cátions orgânicos através da troca

catiônica, e é comum o uso de cátions funcionais que podem reagir com um

monômero durante a polimerização. Através deste método os nanocompósitos

esfoliados são obtidos com maior freqüência. O sucesso na obtenção de

nanocompósitos esfoliados deve-se principalmente ao fato de que é possível

escolher os reagentes e rotas de polimerização mais suscetíveis a obter boa

afinidade entre argila e polímero [24, 25].

3.3.3. Solução dos nanocompósitos

Essa técnica consiste em usar um solvente que além de dissolver polímero

também disperse a argila, e então o sistema possa ser misturado de modo similar

à intercalação no polímero fundido, mas com uma viscosidade muito menor.

É esperado que o polímero seja adsorvido na superfície das lamelas da

argila, e com a posterior evaporação do solvente, as lamelas se reagrupam,

aprisionando o polímero e formando assim uma estrutura de multicamadas. A

semelhança com o método de intercalação de polímero fundido também é

percebida na dificuldade de obter nanocompósitos esfoliados. A produção de

nanocompósitos em escala industrial é dificultada pela grande quantidade de

solventes utilizados no processo [26, 27].

Page 26: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

26

3.3.4. Métodos Combinados

Para se obter materiais de maior qualidade com propriedades mais

atraentes, dois ou mais métodos citados acima podem ser combinados. O grande

objetivo da combinação de métodos é aproveitar ao máximo as vantagens dos

diferentes métodos. O melhor exemplo é a preparação de masterbatches de

nanocompósitos preparados por solução ou polimerização in situ. Masterbatch é o

nome dado a compostos com aditivos em altas concentrações, muito utilizados na

indústria de transformação plástica como aditivo de cor e balanceador de

concentrações. Estes masterbatches são preparados com elevadas concentrações

de argila (em torno de 30%) e podem ser misturados ao polímero puro através de

um misturador ou extrusora, de modo que o material resultante apresente o valor

desejado de concentração de argila [28]. Deste modo são combinadas à vantagem

da facilidade em obter materiais esfoliados por solução com a praticidade e

capacidade de produção em massa do processamento.

Também é possível preparar masterbatches com polímeros que possuam

maior afinidade com a argila e, a partir de então, misturá-los a um outro polímero

diferente, formando uma nanocompósito de blenda polimérica. [29,30,31].

Após a obtenção dos nanocompósitos, os mesmos são caracterizados para

analisar desde o grau de esfoliação até as propriedades diversas apresentadas. As

caracterizações mais comumente utilizadas em nanocompósitos são descritas no

próximo item.

3.4. Técnicas de Caracterização de nanocompósitos

Neste item, as principais técnicas de caracterização de nanocompósitos

serão discutidas, como a difração de raios-X, microscopia eletrônica de

transmissão, análise termogravimétrica, cisalhamento oscilatório de pequenas

amplitudes e ensaios mecânicos.

Page 27: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

27

3.4.1. Caracterização Estrutural

A caracterização estrutural dos nanocompósitos poliméricos é realizada

principalmente por técnicas de difração de raios-X (DRX) e microscopia eletrônica

de transmissão (MET).

O ensaio de DRX é baseado na interação das ondas de raios-x que incidem

nos planos de repetição sistemático do retículo cristalino. Os ensaios de DRX

fornecem uma caracterização quantitativa dos nanocompósitos, pois é possível

determinar se houve penetração do polímero entre as camadas do filossilicato

através da Lei de Bragg (equação 1).

nλ = 2d senθ (1)

onde n equivale à ordem de difração, λ é o comprimento de onda da

radiação incidente, d é a distância interplanar e θ é o ângulo de difração.

Através de uma análise do pico correspondente ao plano d001 (Figura 6) da

argila, pode-se inferir se houve um aumento no espaçamento ou esfoliação de

suas camadas, conforme representado na Figura 7.

Figura 6. Representação do espaço basal da argila e seu pico correspondente em ensaios de DRX.

Page 28: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

28

2θ 2θ

Inte

nsid

ade

Inte

nsid

ade

Inte

nsid

ade

Argila Organofílica

Nanocompósito Intercalado

Nanocompósito Esfoliado

(001)

(001)

Inte

nsid

ade

Inte

nsid

ade

Inte

nsid

ade

Argila Organofílica

Nanocompósito Intercalado

Nanocompósito Esfoliado

Inte

nsid

ade

Inte

nsid

ade

Inte

nsid

ade

Argila Organofílica

Nanocompósito Intercalado

Nanocompósito Esfoliado

(001)

(001)

Figura 7. Deslocamento e desaparecimento do pico característico do plano basal para um nanocompósito intercalado e esfoliado, comparados à argila organofílica.

A penetração do polímero entre as camadas da argila e o conseqüente

aumento no espaçamento interlamelar provoca um deslocamento do pico

característico do plano d001 para ângulos menores. Se a penetração do polímero

aumenta a distância entre as camadas além de um valor limite, fica impossibilitada

a visualização do pico característico do plano d001. A inexistência deste pico

normalmente indica a formação de uma estrutura esfoliada. A Figura 8 mostra

diversas curvas de difração de nanocompósitos. É possível notar a diferença entre

Page 29: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

29

um pico bem definido (amostra 8) que remete a uma estrutura intercalada, e a

inexistência do pico (amostras 1 e 2) indicando uma estrutura esfoliada.

0 3 6 9 12 15 18 21 24 27 30

8

7

56

4321

Inte

nsity

(a.u

.)

2θ (o)

Figura 8. Curvas de difração de raios-X para diferentes nanocompósitos de poliestireno e

argilas modificadas com os sais: 1 = Dodigen (3wt% ); 2 = Dodigen (5wt%); 3 = Praepagen (3wt% ); 4 = Praepagen (5wt%); 5 = CTAC (3wt% ); 6 = CTAC (5wt%); 7 = Cloisite 20A

(3wt% ) e 8 = Cloisite 20A (5wt%).[32]

Assim como alguns nanocompósitos intercalados podem apresentar

diminuição no espaçamento interlamelar [33], a inexistência do pico característico

pode não representar a obtenção de um nanocompósito esfoliado. Algumas vezes,

estruturas intercaladas possuem tactóides dispersos de maneira totalmente

aleatória, fazendo com que nenhum pico seja observado [8]. Esta é a principal

razão pela qual a DRX é, normalmente, realizada em conjunto com técnicas de

microscopia óptica e eletrônica, como, por exemplo, de transmissão. Através de

fotos obtidas por microscopia eletrônica de transmissão é possível observar as

partículas de argila dispersas (intercaladas ou esfoliadas) no polímero. A Figura 9

Page 30: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

30

apresenta uma micrografia típica de um nanocompósito com regiões que

apresentam tactóides e regiões com camadas esfoliadas.

Figura 9. Micrografia de um nanocompósito intercalado/esfoliado, onde a fase mais clara e

contínua representa a matriz polimérica e as fases escuras (algumas esfoliadas)

representam a argila. [34]

As duas técnicas (DRX e MET), mesmo combinadas, possuem limitações na

caracterização da morfologia dos nanocompósitos. As análises de DRX estão

sujeitas a imperfeições superficiais (por exemplo, rugosidade), que podem

influenciar significantemente os resultados. As análises de MET caracterizam uma

área muito pequena do material, podendo indicar valores não correspondentes à

realidade. Desta forma, novas técnicas de caracterização têm sido utilizadas em

conjunto com DRX e MET, como é o caso das análises reológicas, principalmente

na região de viscoelasticidade linear. Existem diversos estudos associando a

resposta reológica de ensaios de COPA com a microestrutura do nanocompósito.

Maiores detalhes em reologia de nanocompósitos serão apresentados a seguir.

Page 31: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

31

3.4.2. Caracterização Reológica

Reologia é o estudo do escoamento e deformação da matéria sob a ação de

uma força ou de um campo de forças [35]. Toda vez que uma pequena tensão é

aplicada a um material sólido, uma deformação se inicia e o material continuará a

se deformar até que as tensões moleculares se estabeleçam e se equilibrem com

as tensões externas. Se após a remoção das tensões de deformação o material

retorna a sua origem, recuperando-se da deformação, este material apresenta um

comportamento elástico. A maioria dos sólidos exibe algum grau de resposta

elástica, e o material sólido mais simples é o sólido de Hooke, cuja deformação é

diretamente proporcional à tensão aplicada.

Diferentemente dos sólidos Hookeanos, outros materiais não atingem uma

deformação de equilíbrio, como no caso dos fluidos Newtonianos. Se uma tensão

externa é aplicada a um fluido, a deformação ocorre e continua a ocorrer

indefinidamente, até que esta tensão seja anulada. Isto ocorre pelo fato do fluido

não apresentar, praticamente, a sua viscosidade como resistência à deformação.

Nos fluidos Newtonianos a taxa de deformação é diretamente proporcional à

tensão aplicada.

Os materiais poliméricos apresentam características destes dois extremos:

do sólido elástico ideal e do fluido viscoso ideal. Este comportamento é conhecido

por viscoelasticidade.

Todos os materiais poliméricos apresentam propriedades viscoelásticas, ou

seja, propriedades viscosas e elásticas simultaneamente. As interações entre suas

longas cadeias moleculares dão origem a esse comportamento mecânico

viscoelástico. Solicitações mecânicas muito lentas fazem com que o material se

comporte de maneira mais viscosa, enquanto que, solicitações mais rápidas

resultarão em respostas elásticas.

Page 32: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

32

Durante o processamento, os polímeros estão sujeitos a vários tipos de

deformações, em virtude da complexidade da geometria dos equipamentos

utilizados nas operações de transformação. A morfologia e, conseqüentemente, as

propriedades dos polímeros são determinadas por estas deformações, que podem

ser: de cisalhamento ou de extensão. Dependendo das magnitudes destas

deformações um polímero terá um comportamento no regime de viscoelasticidade

linear (VEL) ou não linear (VENL). O comportamento viscoelástico é de extrema

importância no estudo dos polímeros, tanto como uma forma de definir melhores

condições de processamento quanto para mapear os mecanismos de deformação e

suas influências sobre a morfologia e propriedades mecânicas destes materiais

[36].

O comportamento viscoelástico mais simples que existe é o comportamento

de viscoelasticidade linear. Neste tipo de comportamento, as macromoléculas de

um polímero são perturbadas de sua configuração de equilíbrio, porém apenas de

uma maneira infinitesimal. Este é o caso onde polímeros são solicitados

mecanicamente e cuja deformação total (γ) é extremamente pequena, ou também,

ocorre de uma maneira muito lenta [37]. Um dos principais ensaios utilizados em

reologia para a caracterização da morfologia no regime de viscoelasticidade linear

é o ensaio de cisalhamento oscilatório de pequenas amplitudes (COPA). Neste

ensaio pode-se monitorar algumas propriedades dos materiais, como a viscosidade

complexa (|η*|) e os módulos de armazenamento e perda (G’ e G”

respectivamente) em função da freqüência de oscilação (ω).

Krishnamoorti et al. [38] publicaram um dos trabalhos pioneiros

relacionados à reologia de nanocompósitos. Os nanocompósitos de PA-6 esfoliados

apresentaram um aumento dos módulos de armazenamento e perda nas regiões

de baixa freqüência de acordo com o aumento na concentração de argila. Os

homopolímeros, inicialmente, apresentavam valores de G’ e de G” nas zonas de

baixa freqüência com inclinações terminais características iguais a 2 e a 1,

respectivamente, em escala logarítmica. Contudo, a introdução de argila no

material fez com que o comportamento característico fosse alterado, de modo que

Page 33: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

33

a inclinação dos módulos diminuísse gradualmente, formando quase um patamar,

principalmente para valores de G’. O efeito não terminal em baixas freqüências

quase tende ao comportamento reológico de um pseudo-sólido. É utilizado o termo

“pseudo” porque no caso de um sólido real o valor de G’ é várias ordens de

magnitude mais alto do que o G”, o que não ocorre para os nanocompósitos. Este

comportamento é explicado em função da estrutura do material. Os tactóides de

argila apresentam uma anisotropia considerável e, a partir de certa concentração,

formam uma rede tridimensional cuja percolação impede que os tactóides

individuais rotacionem e relaxem completamente. Pôde-se concluir, portanto, que

a estrutura “castelo de cartas” seria a responsável pelo efeito não terminal destes

nanocompósitos [39].

Zhao et al. [40] realizaram um amplo estudo reológico de nanocompósitos

de PS preparados por solução. As respostas reológicas foram correlacionadas com

o tipo e concentração de argila utilizada e o grau de dispersão da mesma.

Entretanto, foi inferido que o fator fundamental para o tipo de resposta reológica é

o número de partículas por unidade de volume. Os nanocompósitos, investigados

por ensaios de COPA, mostraram uma variação nas curvas de G’ e G” em função

do aumento do número de partículas, que está relacionado ao grau de esfoliação

ou concentração de argila. As amostras apresentaram desde um comportamento

terminal típico de um polímero puro, até um comportamento de um pseudo-sólido,

com G’ > G” para todas as freqüências, resultante de um reticulado formado pela

argila. A Figura 10 representa estas transições de comportamento reológico.

Page 34: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

34

Figura 10. Esquematização do comportamento reológico em função do número de partículas por unidade de volume.

(Adaptado de [40])

Teoricamente, morfologia e resposta reológica de uma nanocompósito

durante um ensaio de COPA, podem ser representadas da seguinte maneira:

a) Microcompósito: pequena variação na viscosidade e nos valores dos

módulos G’ e G”. O material se comporta exatamente como um homopolímero.

Não há influências das camadas de argila sobre a matriz.

G’

G”

Page 35: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

35

b) Nanocompósito intercalado: a estrutura intercalada eleva a viscosidade e

promove uma mudança da inclinação de G’, que inicialmente era igual a 2, para

valores próximos a 1. Os tactóides impedem os movimentos de outros tactóides e

camadas individuais.

c) Nanocompósito esfoliado: a excelente dispersão e a afinidade com o

polímero faz com que, quanto maior o número de partículas de argila, menores

são os valores das inclinações de G´e G”, que tendem a zero, resultando na

resposta pseudo-sólida, descrita anteriormente.

Apesar de, na teoria, apenas nanocompósitos esfoliados apresentarem este

comportamento não terminal, ele já foi observado em materiais com

microestrutura intercalada, porém em menor escala [37, 41].

Além das características estruturais, os nanocompósitos possuem diversas

propriedades excepcionais, como as sua boa estabilidade térmica e suas ótimas

propriedades mecânicas, que serão abordadas a seguir.

G’

G”

G’

G”

Page 36: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

36

3.5. Propriedades dos Nanocompósitos

3.5.1. Caracterização Térmica

Na maioria dos casos, os nanocompósitos poliméricos apresentam

propriedades térmicas mais atraentes quando comparadas aos polímeros puros.

Existem muitos estudos de nanocompósitos relacionados à estabilidade térmica

destes materiais. Resultados de análises termogravimétricas (TG) mostram que a

temperatura de decomposição pode variar mediante a adição de argila e do tipo de

estrutura: intercalada ou esfoliada [42,43]. O mecanismo de estabilidade térmica

apresentado pelos nanocompósitos pode ser explicado pelo efeito de barreira

exercido pela argila dispersa no polímero, que impede a transferência de calor

resultando em um decréscimo da taxa de decomposição [44].

Torre et al. estudaram o efeito da adição de argila no comportamento do PS

sindiotático (sPS) [45]. Para a produção dos nanocompósitos foi utilizada a argila

Cloisite 20A, intercalada ao sPS por intercalação no polímero fundido em uma

extrusora dupla rosca, com temperaturas na faixa de 250 a 290 ºC. Além do

nanocompósito convencional, foi obtido um nanocompósito de blenda de PS

sindiotático e atático (aPS). A composição do nanocompósito de

sPS/aPS/Cloisite20A, também obtido por intercalação no polímero fundido, foi de

47,5/47,5/5. Ambos materiais apresentaram estrutura intercalada. Como pode ser

visto na Figura 11, que apresenta os resultados de um ensaio de TG realizado em

atmosfera de nitrogênio e taxa de aquecimento de 10 ºC por minuto, os

nanocompósitos preparados apresentaram uma significante evolução na

estabilidade térmica, resistindo a temperaturas mais altas antes de iniciarem

processo de degradação. O sucesso destes materiais deve-se as propriedades de

barreira das camadas de argila

Page 37: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

37

Figura 11. Aumento da estabilidade térmica apresentado pelos nanocompósitos quando relacionados aos materiais puros. [45]

3.5.2. Caracterização Mecânica

Os nanocompósitos poliméricos são materiais dos quais são esperadas

excelentes propriedades mecânicas com concentrações muito baixas de argila,

devido à dificuldade imposta pelas camadas de argila à movimentação das

moléculas do polímero. Entretanto, grandes avanços nas propriedades mecânicas

de nanocompósitos não são comumente observados, principalmente porque estas

propriedades estão intimamente ligadas à interação do polímero e argila e do grau

de esfoliação da argila.

O módulo de elasticidade de um polímero é, normalmente, aumentado

quando cargas rígidas (como argila) são adicionadas. Nos compósitos

convencionais, para se obter uma grande evolução nas propriedades mecânicas, é

preciso que a adição de cargas ocorra em elevadas concentrações, podendo variar

de 30 a 50% [46]. Para o caso dos nanocompósitos de estrutura esfoliada, com

concentração de argila em torno de 5% em peso, seu módulo de elasticidade pode

alcançar valores duas vezes maiores que os valores do polímero convencional [47].

Page 38: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

38

Os nanocompósitos obtidos através do poliestireno e argilas organofílicas também

demonstraram uma grande dependência das propriedades de acordo com a

estrutura obtida. Os materiais com estrutura esfoliada apresentaram grandes

valores de módulo de elasticidade [48, 49], enquanto que os materiais com

estruturas intercaladas, que ocorre na maioria dos casos, apresentaram um

desempenho pouco melhor que o PS puro [50].

Como o módulo de elasticidade, a resistência à tração também é muito

dependente do grau de esfoliação dos materiais e do grau de afinidade entre

matriz e carga. Para que a resistência à tração alcance valores elevados deve

haver uma boa propagação da tensão da matriz para a fase dispersa, o que

justifica a grande importância de uma estrutura bem esfoliada do nanocompósito.

Os nanocompósitos de poliestireno podem apresentar dois comportamentos

completamente distintos na resistência à tração, de acordo com sua morfologia.

Em amostras esfoliadas que apresentam uma boa interação entre o PS e a argila,

o aumento nos valores de resistência a tração podem aumentar até três vezes se

comparados aos valores dos materiais puros [51]. Entretanto, a grande maioria

dos nanocompósitos de PS têm apresentado um decréscimo na resistência à tração

em comparação ao material puro, principalmente em amostras com morfologia

predominantemente intercalada [49,50].

A resistência ao impacto, como as propriedades anteriores, pode aumentar

significantemente para nanocompósitos esfoliados e discretamente para

nanocompósitos intercalados de PS [52].

Page 39: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

39

3.6. Nanocompósitos de PS: estado da arte

Neste item é apresentada uma revisão dos estudos de nanocompósitos de

PS publicados na literatura. Uma boa revisão sobre o assunto já pode ser

encontrada em Carastan et al. [10, 16]. O PS é um dos materiais cujos

nanocompósitos com argilas esmectíticas têm sido mais amplamente estudados. A

intercalação de silicatos com PS foi primeiramente observada por Friedlander e

Grink [53], e, desde então, estes materiais têm sido obtidos por diversas técnicas.

Porém, a utilização destas técnicas não assegura a obtenção de nanocompósitos

esfoliados, devido ao fato do PS ser um polímero apolar.

Existem diversos estudos de preparação de nanocompósitos de PS a partir

da intercalação de polímeros fundidos. Estes estudos tiveram início com o grupo

de Giannelis [54]. A partir de sua pesquisa de intercalação por recozimento

estático, o grupo desenvolveu uma série de trabalhos teóricos sobre a estrutura e

a cinética de intercalação de polímeros fundidos. A argila e o PS foram misturados

sob a forma de pó e prensados a uma pressão de 70 MPa para formar grânulos, e

foram aquecidos acima da temperatura de transição vítrea (Tg) para que houvesse

intercalação do polímero. Neste estudo, sais alquilamônio foram utilizados e os

resultados mostraram que a intercalação depende, fundamentalmente, do

tamanho destes sais, pois é necessário que exista uma área livre entre as camadas

para que as moléculas do polímero possam penetrar.

A partir dos trabalhos iniciais de Gianellis, muitas estratégias foram

propostas a fim de se obter um material esfoliado. Assim, partindo-se do uso de

técnicas de processamento convencionais e técnicas combinadas, as principais

estratégias utilizadas para a obtenção de estruturas predominantemente esfoliadas

podem ser assim resumidas:

Page 40: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

40

• Uso de argilas modificadas com sais não reativos em processos de

mistura convencionais. Neste caso espera-se que a presença de fluxo cisalhante

e/ou extensional, além da temperatura, contribua para o processo de separação

das lamelas de argila, facilitando a difusão das moléculas poliméricas no espaço

interlamelar. Entretanto, na maioria dos casos são obtidos nanocompósitos com

estruturas predominantemente intercaladas [16, 23, 32].

• Uso de sais reativos, contendo, para o caso de matriz estirênica, estireno

na cadeia ou cauda. Neste caso, ainda não se obteve sucesso no processo de

intercalação. Sugere-se que o motivo esteja ligado ao processo de degradação do

sal [55].

• Uso de sais mais estáveis termicamente. Estima-se que a não obtenção

de estruturas esfoliadas nos nanocompósitos de argila modificada com sais não

reativos pode estar relacionada à baixa estabilidade térmica destes sais.

Entretanto, na faixa de temperatura de processamento do PS (entre 160 e 200

ºC) os sais vêm se mostrando estáveis, pois estruturas intercaladas são

usualmente obtidas. Entretanto, se a temperatura de processamento é elevada a

temperaturas acima de 200 ºC [56] a intercalação pode deixar de ser estável,

pois o cátion orgânico exsuda das galerias da argila, por degradação, dificultando

a entrada das moléculas poliméricas. Para eliminar o efeito de degradação do sal

no processo de intercalação, há trabalhos que relatam o uso de sais mais

resistentes termicamente, como, por exemplo, os sais de fosfônio que podem

resistir a temperaturas em torno de 400 ºC [57, 58, 59].

• Modificação das argilas com sais que contém cadeias poliméricas ou

oligoméricas. Os trabalhos utilizam como cátions orgânicos os sais de amônio,

fosfônio ou imidazólio. Para o caso de matriz estirênica, as argilas modificadas

com sais que contém poliestireno em suas caudas aumentariam significantemente

a afinidade entre argila e polímero e facilitariam a delaminação das camadas. Esta

Page 41: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

41

técnica constitui uma das únicas que obtiveram nanocompósitos de PS e argilas

organofílicas com estrutura totalmente esfoliada. O sucesso pode ser explicado

pela maior estabilidade térmica destes sais e o maior espaçamento interlamelar

das argilas, provocados pela presença de moléculas com maior massa molar [60,

61].

• Modificação química do polímero matriz. Neste caso o PS pode ser

modificado por adição de grupos que tenham maior afinidade pela superfície do

argilomineral. Neste caso, obtiveram-se, também, estruturas predominantemente

esfoliadas [48].

• A mudança no processo de obtenção dos nanocompósitos tem sido uma

das técnicas mais estudadas. Também, partindo-se de técnicas convencionais de

processamento e conformação de polímeros, Okamoto e colaboradores [62, 63]

propuseram o processamento no estado sólido. Este método propõe a

intercalação de moléculas de polímero no interior das camadas de argila, baseado

na transferência de tensão do polímero no estado sólido para as argilas. As

amostras de polímero e argila, ambos em forma de pó, são submetidas à pressão

uniaxial, utilizando uma prensa aquecida. O material então é submetido a

repetidas prensagens à temperatura ambiente, ou ainda, temperaturas acima da

temperatura de fusão do cátion orgânico (abaixo de 150 ºC). Os resultados

apresentados pelos autores sugerem que as moléculas poliméricas penetram no

espaço interlamelar, mesmo em temperaturas abaixo da sua temperatura de

fusão. Essa compressão causa uma transferência de tensão (do polímero para a

argila) que facilita a esfoliação das lamelas de argilas. A delaminação é também

promovida pelos cátions orgânicos, que aquecidos a temperaturas acima da sua

temperatura de fusão, lubrificam as camadas de argila, que facilita o

deslizamento e decorrente esfoliação, que resulta em um material final de

estrutura predominantemente esfoliada.

Page 42: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

42

A Tabela 1 apresenta as tentativas em alcançar materiais excepcionais a

partir da intercalação no polímero fundido.

Tabela 1. Linhas de pesquisa na obtenção de nanocompósitos por intercalação no polímero fundido.

Obtenção Ref. Estratégia

Mét. 1 T (ºC)

Métodos de

Caracterização2

Morfologia

64 Sais não-reativos ext 210 DRX, DSC, TG e

EM

Intercalada /

Esfoliada

65 Sais não-reativos ext 200 MEV, DRX, EM Intercalada

66 Sais Reativos misturador 150 DRX, TG, DSC,

MEV

Intercalada

67 Sais com cadeias

oligoméricas

misturador 190 DRX, MET, TG,

DSC, FTIR, EM

Intercalada

68 Sais com cadeias

oligoméricas

misturador 185 DRX, MET, TG,

HRR, EM

Intercalada /

Esfoliada

69 Sais estáveis

termicamente

ext 190 DSC, WAXD,

MET, MEV, PG

Intercalada /

Esfoliada

70 Modificação

química

ext ~180 WAXD, MET Intercalada

33 Mudança no

processo

ext 200 DRX, MET, TG,

EM

Intercalada /

Esfoliada 1 Ext.= extrusora 2 = EM – Ensaios Mecânicos; FTIR – Espectroscopia no Infravermelho com Transformada de Fourier; HRR – Heat Release Rate;

Neste trabalho, as estratégias utilizadas para obtenção de nanocompósitos

foram: a variação no uso de sais não-reativos e a mudança nos processos de

obtenção.

Page 43: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

43

4. Materiais e Métodos

4.1. Materiais

Neste trabalho, o polímero utilizado na obtenção dos nanocompósitos foi o

poliestireno cristal comercial (PS), fornecido pela Basf sob a marca Polystyrol

145D. As especificações técnicas do produto podem ser encontradas no site do

fabricante [71].

Foi, também, utilizada na obtenção dos nanocompósitos uma argila

esmectítica sódica brasileira (Na+-MMT), fornecida em pó com granulometria de

75μm (peneira ABNT #200) pela Bentonite União Nordeste (BUN), com o nome

comercial de Brasgel, proveniente de reservas de Campina Grande, Paraíba. Esta

argila possui uma capacidade de troca de cátions (CTC) de 75 meq/100 g, segundo

dados fornecidos pelo fabricante.

Para que as argilas sódicas hidrofílicas adquirissem caráter organofílico, três

tipos diferentes de sais quaternários de amônio foram utilizados:

Cloreto de hexadecil trimetil amônio, nome comercial Genamin CTAC-

50;

Cloreto de alquil dimetil benzil amônio, nome comercial Dodigen 226;

Cloreto de dimetil dioctadecil amônio, nome comercial Praepagem WB.

Todos os sais foram fornecidos pela Clariant. A representação gráfica

esquemática de cada um destes sais pode ser observada na Tabela 2.

Page 44: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

44

Tabela 2. Sais quaternários de amônio utilizados na modificação das argilas.

Sal

quaternário

de amônio

Nome

comercial Representação da estrutura molecular

Cloreto de

hexadecil

trimetl amônio

CTAC

Cloreto de

alquil dimetil

benzil amônio

Dodigen

Cloreto de

dimetil

dioctadecil

amonio

Praepagen

Para que uma verificação da qualidade da argila brasileira modificada

organicamente pudesse ser feita, os nanocompósitos foram obtidos, também, com

uma argila organofílica importada, a Cloisite 20A fornecida pela Southern Clays.

Esta argila é modificada com o cátion surfatante dioctadecil dimetil amônio.

4.2. Métodos

4.2.1. Preparação das argilas

Para garantir à argila brasileira uma boa compatibilidade com o polímero é

necessário que esta seja modificada organicamente através de troca catiônica.

Para que esta troca catiônica seja mais eficiente, os aglomerados de partículas de

Page 45: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

45

argila podem ser desfeitos através de um processo de moagem em moinho de

bolas. Estes procedimentos serão detalhados a seguir.

4.2.2. Moagem da argila

Quanto menores as partículas de argila, mais eficiente é a troca dos cátions

metálicos por cátions orgânicos. Para aumentar a performance durante a troca,

a argila passa por um processo de moagem, ou melhor, um processo onde o

objetivo é desfazer os aglomerados. A argila foi colocada em um recipiente

cilíndrico, de 10 centímetros de diâmetro e 20 centímetros de altura, e esferas

de sílica de 2,5 centímetros de diâmetros são adicionadas. Este recipiente

permaneceu 72 horas em rotação constante. Com isso, as partículas de argila

encontram-se entre as esferas de sílica que se chocam intermitentemente entre

si e com a parede do recipiente, desfazendo seus aglomerados e

proporcionando uma menor granulometria, quando comparada à inicial. A argila

que inicialmente tinha um tamanho mais grosseiro (75μm - peneira ABNT

#200), passa a apresentar um tamanho médio de 38μm (peneira ABNT #400).

4.2.3. Modificação orgânica da argila

Após a moagem, a argila foi modificada organicamente, tendo seus cátions

de sódio trocados por sais quaternários de amônio. As trocas foram realizadas

com os três diferentes tipos de sal: Genamin CTAC, Dodigen e Praepagem WB.

O processo de troca realizado foi baseado na metodologia descrita por

Valenzuela-Diaz [72].

Como a troca catiônica acontece em soluções aquosas, primeiramente

misturou-se 32g de argila em 768g de água destilada e deionizada. A mistura,

então, passou por um processo de homogeneização, realizado através de um

Page 46: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

46

misturador mecânico da marca Fisatom. Argila e água foram misturadas durante

30 minutos a uma velocidade de rotação de aproximadamente 1000 rpm.

Para que uma melhor dispersão da argila na água fosse obtida, os

aglomerados remanescentes da moagem foram desfeitos, através da utilização

de um dispersor Heildolph modelo DIAX 900. O dispersor foi utilizado durante

15 minutos em velocidade máxima de 24.000 rpm.

Com a mistura água+argila bem homogeneizada e dispersa, a troca

catiônica pôde ser realizada. Para isto, uma solução aquosa de sal quaternário

de amônio foi gradativamente adicionada à mistura. Foi utilizada uma

concentração do sal 1,3 vez maior que a CTC da argila sódica. Estes foram

agitados por 30 minutos em um misturador, para que e a troca catiônica fosse

otimizada.

4.2.4. Lavagem da Argila

Depois de feita a troca catiônica, a argila foi lavada com 4 litros de água

destilada e deionizada para retirada do excesso de sal. A argila passou por

filtragem por meio de um filtro de papel em um funil de Büchner. As impurezas

passaram para um Kitassato ligado a uma bomba a vácuo, para otimizar o

processo de purificação.

Após a purificação da argila, a mesma secou em temperatura ambiente e,

por fim, foi moída novamente, desta vez manualmente para evitar perdas

significativas do material final.

4.3. Preparação dos nanocompósitos

Os nanocompósitos de PS e argilas organofílicas foram preparados em duas

etapas distintas, que serão descritas a seguir:

Page 47: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

47

Primeiramente os nanocompósitos foram obtidos através de uma extrusora

de dupla rosca co-rotantes modelo Rheomex PTW16 marca Haake, localizada no

Laboratório de Processamento de Polímeros. As extrusões foram realizadas com as

quatro zonas de aquecimento com temperaturas de 180 a 200°C (180, 190, 200 e

200 ºC), e velocidade de rotação das roscas de 80 rpm. Os nanocompósitos foram

obtidos por intercalação no polímero fundido. Entretanto, dois métodos diferentes

de adição de argila foram utilizados e serão descritos a seguir.

4.3.1. Argila em pó

Neste método a argila em pó foi adicionada ao polímero fundido, utilizando

um segundo alimentador. A velocidade de rotação da rosca de alimentação

determinou a vazão de argila adicionada. O alimentador, assim como a bomba, foi

calibrado para preparar nanocompósitos com 5 e 7% de argila. A Figura 12

representa graficamente a extrusora e os dois alimentadores responsáveis pela

dosagem do polímero e argila.

Figura 12. Esquematização da argila em pó adicionada ao polímero fundido em uma extrusora.

4.3.2. Argila em Suspensão

Uma suspensão de álcool etílico (P.A.) contendo 20% de argila foi

adicionada ao PS fundido através de uma bomba dosadora de líquidos da

Page 48: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

48

Prominent, modelo Sigma 2. A argila foi previamente adicionada ao álcool e

mantida por 24 horas, para que esta pudesse inchar devido à interação com o

solvente orgânico. Antes da adição no polímero, a suspensão foi submetida ao

dispersor por 5 minutos. A composição (20% de argila), associada ao uso do

dispersor, garantiu uma suspensão bem dispersa e estável, ou seja, mesmo após

longos períodos a sedimentação da argila e a decorrente separação de fases era

praticamente nula. A Figura 13 apresenta o sistema de funcionamento do

processamento de nanocompósitos utilizando a bomba dosadora na adição de

argila.

Figura 13. Obtenção de nanocompósitos a partir de uma suspensão de álcool com 20% de argila.

Outros solventes orgânicos apresentam melhor afinidade com argilas

organicamente modificadas, como o tolueno. Segundo dados encontrados na

página da internet da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental -

Page 49: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

49

Cetesb [73], os vapores provenientes de etanol e tolueno são irritantes aos olhos,

nariz e garganta. Entretanto, o tolueno também pode causar, se inalado, náusea,

vômito, dor de cabeça, tontura, dificuldade respiratória ou perda da consciência,

além de ser irritante para a pele em sua forma líquida. Por estes motivos, foi

decidido pela utilização de álcool etílico na preparação de argilas para a obtenção

de nanocompósitos poliméricos.

Foram obtidos nanocompósitos alterando o método de obtenção,

concentração e sais utilizados na modificação das argilas. A variação de tipo de sal

utilizado, concentração de argila e método de preparação resultou em 16

composições diferentes de nanocompósitos. Mais quatro composições diferentes

foram obtidas posteriormente através de processamento dos nanocompósitos por

batelada, através de um misturador, como poderá ser visto a seguir.

4.3.3. Obtenção de nanocompósitos através de um misturador.

Além dos nanocompósitos obtidos por um processo contínuo através de

uma extrusora como dito anteriormente, também foram estudadas as

propriedades de materiais obtidos por batelada, através do uso de um

misturador. As argilas, também inchadas em álcool etílico, foram adicionadas ao

polímero fundido em uma câmara misturadora acoplada a um reômetro de torque

da Thermo Haake (PolyLab 900 / Rheomix 600p), encontrado no Laboratório de

Processamento de Polímeros. Esta câmara de mistura possui um volume interno

de 69 cm3, onde dois rotores misturadores são responsáveis pela

homogeneização dos compostos.

Os nanocompósitos foram preparados com dois tipos de argilas

organofílicas: as modificadas com o sal Praepagen e a Cloisite 20A. Inicialmente,

as composições seriam de 5% e 7% em peso de argila, mas, como veremos nos

próximos capítulos, as composições foram ajustadas em 2,9% e 4% (Praepagen) e

3,8% e 7,9% (Cloisite 20A) para apresentarem um resultado final semelhante aos

Page 50: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

50

resultados reais apresentados pelas amostras preparadas na extrusora com o

auxílio da bomba dosadora de líquidos. A massa total de material foi calculada

para que o preenchimento da câmara de mistura alcançasse 70%, condição

recomendada para se obter melhores misturas.

Os materiais foram processados a temperatura de 200 ºC, velocidade de

rotação de 50 rpm por 7 minutos.

4.3.4. Identificação das Amostras

Devido ao grande número de amostras e de nomes extensos, um código de

identificação foi criado para facilitar a compreensão e simplificar os gráficos e

tabelas e a compreensão do leitor. Este código diferencia as amostras por

processo de obtenção, sal utilizado na modificação da argila e concentração real de

argila. A Tabela 3 apresenta as variáveis de processamento, sal utilizado na

modificação da argila e composição utilizados na formulação dos códigos de

identificação das amostras. Como cada amostra de nanocompósito apresentará

uma concentração real diferente das outras, nesta tabela de variáveis serão

mostrados apenas alguns exemplos para que o código de identificação possa ser

melhor compreendido.

Page 51: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

51

Tabela 3. Apresentação das variáveis que compõem os códigos de identificação.

Processamento Sal utilizado na

modificação Composição Real

Sigla Significado Sigla Significado Sigla Significado

B Bomba de

líquidos pr Praepagen 2,9 2,9%

P

Segundo

Alimentador

(Pó)

ct CTAC 4 4%

M Misturador do Dodigen 3,8 3,8%

cs Cloisite

A seguir um exemplo de código é apresentado na Figura 14.

B pr 2,9

Figura 14. Exemplo de código de identificação.

Bomba de líquidos

Concentração Real

Sal utilizado na troca

Page 52: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

52

Com a obtenção de todas as amostras, inicia-se o processo de

caracterização, que será apresentado no próximo tópico.

4.4. Caracterização das amostras

Os materiais obtidos pelos métodos de intercalação no polímero fundido

descritos anteriormente foram analisados, por difração de raios-X (DRX), análises

termogravimétricas (TG), cisalhamento oscilatório de pequenas amplitudes (COPA)

e, ensaios mecânicos de tração e impacto Izod.

4.4.1. Difração de raios-X

Todas as amostras de argila e de nanocompósitos foram analisadas por

difração de raios-X (DRX) para a determinação do espaçamento interlamelar ou a

esfoliação das argilas. Foi utilizado um difratômetro Philips X'Pert MPD com tubo

de radiação Cu kα (comprimento de onda 1,5405 Å) do Laboratório de Matérias

Primas Particuladas e Sólidos Não Metálicos (LMPSol) do PMT-USP.

As amostras de argila foram analisadas na forma de pó compactado no

porta-amostra do equipamento. Os ensaios com nanocompósitos foram realizados

com discos de 25 mm de diâmetro e 1 mm de espessura, obtidos em uma prensa

uniaxial a 200 ºC por 11 minutos.

4.4.2. Microscopia Óptica

As microscopias obtidas através de microscópios ópticos podem ser

utilizadas como um método complementar de análise da microestrutura. Mesmo

não tornando possível a observação das lamelas de argila em escala nanométrica,

este ensaio permite a análise da eficiência da dispersão de argila no polímero e

também destacar a presença de conjuntos aglomerados. Os ensaios foram

Page 53: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

53

realizados em um microscópio Olympus BX50, associado a um estágio a quente

Mettler Toledo FP-82 HT, localizados no Laboratório de Análises Reológicas do

PMT. Para realizar a observação da microestrutura as amostras dos materiais

foram prensadas entre duas lâminas de vidro e aquecidas até 200 °C, para que

filmes finos fossem formados. Os ensaios foram realizados com aumento de 50x e

uma câmera CCD acoplada ao microscópio digitalizou as fotomicrografias.

4.4.3. Microscopia Eletrônica de Transmissão

As amostras de nanocompósitos foram observadas no microscópio

eletrônico de transmissão Jeol-1010, localizado no Laboratório de Microscopia

Eletrônica da Faculdade de Medicina da USP. A tensão de aceleração utilizada foi

de 80 kV e aumentos chegaram a 200.000 vezes. As amostras visualizadas por

MET foram primeiramente preparadas em forma de pequenas lâminas de

espessuras bastante finas (cerca de 70 a 100 nm), utilizando o ultramicrótomo

localizado no PMT – USP.

4.4.4. Ensaios reológicos

Os ensaios reológicos foram realizados em um reômetro de tensão

controlada, modelo SR 5000 da Rheometrics, do Laboratório de Análise e Reologia

de Materiais Poliméricos do PMT-USP.

Antes de realizar os ensaios de cisalhamento oscilatório de pequenas

amplitudes (COPA), foi necessário verificar a faixa de tensão em que o material

permanece na região de viscoelasticidade linear, para diferentes freqüências.

Somente após a determinação das tensões os ensaios de COPA podem ser

efetuados para analisar o comportamento dos nanocompósitos no regime de

viscoelasticidade linear. Os ensaios foram efetuados com geometria de placas

paralelas, freqüências de 300 a 0,001 rad/s, temperatura de 200 ºC e tensões

Page 54: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

54

variáveis de acordo com a amostra. As amostras, como as utilizadas no ensaio de

DRX, eram discos prensados de 25 mm de diâmetro e 1 mm de espessura.

4.4.5. Análises Térmicas

As análises termogravimétricas (TG) foram realizadas no equipamento SDT

Q600, da TA Instruments. Foi analisada a perda de massa em relação ao aumento

da temperatura. A variação ocorreu da temperatura ambiente até 800°C, em

atmosfera de nitrogênio e taxa de aquecimento de 10°C/min.

4.4.6. Ensaios Mecânicos

As propriedades mecânicas das amostras foram medidas utilizando uma

máquina de ensaio universal EMIC DL-2000. O módulo de elasticidade foi

determinado por ensaios de tração, com velocidade de teste de 1 mm/min. Outras

propriedades mecânicas como limite de resistência à tração e alongamento na

ruptura foram determinados usando velocidade de 5 mm/min.

Os corpos de prova, antes de serem submetidos ao ensaio de resistência ao

impacto Izod, foram entalhados para prevenir a deformação dos mesmos sob o

efeito do impacto, segundo norma ASTM D 256. A Figura 15 mostra o corpo de

prova entalhado utilizado no ensaio de impacto Izod. As principais medidas do

corpo de prova estão evidenciadas.

Page 55: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

55

Figura 15. Corpo de prova de um ensaio de impacto Izod.

Os ensaios de resistência ao impacto Izod foram realizados em uma

máquina de impacto WinPEN CEAST, com um martelo de 1 Joule e velocidade de

impacto de 3,46 m/s. Tanto os ensaios de tração como os de impacto foram

realizados no laboratório D&A da Rhodia Engineering Plastics.

Page 56: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

56

5. Resultados e Discussões

Neste capítulo os resultados experimentais são apresentados e discutidos.

Primeiramente, são apresentados os resultados das análises de argilas sódicas e

modificadas organicamente. As argilas foram caracterizadas por ensaios de

difração de raios-X (DRX) e análise termogravimétrica (TG). Em seguida, são

apresentados os resultados obtidos com os nanocompósitos, divididos em duas

partes: caracterização da estrutura e caracterização das propriedades térmicas e

mecânicas. A caracterização da estrutura foi realizada por ensaios de DRX,

microscopia eletrônica de transmissão e ensaios reológicos de cisalhamento

oscilatório de pequenas amplitudes (COPA). Por fim, as propriedades térmicas e

mecânicas foram avaliadas, respectivamente, por ensaios de TG e de resistência à

tração e impacto Izod.

Durante a apresentação dos resultados, serão discutidos os melhores

componentes, métodos ou composições de nanocompósitos obtidos neste

trabalho.

5.1. Caracterização das Argilas

Ensaios de DRX foram realizados para determinação do espaçamento basal

das argilas, modificadas e não modificadas. A Figura 16 apresenta os

difratogramas obtidos por DRX, das argilas sódicas e modificadas. As setas

presentes nas curvas de difração indicam o pico referente ao plano (001), utilizado

para determinar o valor do espaçamento basal. A Tabela 4 apresenta os valores de

espaçamento basal obtidos a partir das curvas de difração presentes na Figura 16

e pode-se notar que a modificação orgânica das argilas provocou um

deslocamento dos picos referentes aos planos cristalográficos (001) para ângulos

mais baixos. Esse deslocamento caracteriza o aumento do valor de espaçamento

basal como pode ser visto na Tabela 4.

Page 57: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

57

0 20

Inte

nsid

ade

(u.a

.)

2θ (º)

Brasgel + Praepagen Brasgel + CTAC Brasgel + Dodigen Brasgel Sódica

Figura 16. Curvas de difração de raios – X das argilas, modificadas ou não, com indicação gráfica para os picos equivalentes aos planos d001.

Tabela 4. Valores de 2θ e espaçamento basal para argilas sódicas e organofílicas.

Argila 2θ d001 (nm)

Na+ – Brasgel 6,81 1,30

Brasgel + CTAC 2,41 3,66

Brasgel + Dodigen 2,66 3,31

Brasgel + Praepagen 2,23 3,96

Cloisite 20A* - 2,42

* Cloisite® - Southern Clay Products, Inc.

Os ensaios de DRX servem de prova da eficiência da troca catiônica. Os três

tipos de sais utilizados propiciaram aumentos consideráveis nos espaçamentos

basais. Pôde-se notar que a argila modificada com o sal Praepagen apresentou os

2ª e 3ª ordens de difração

Page 58: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

58

maiores valores, devido, provavelmente, à presença de duas caudas alquílicas

longas, conforme visto na representação da Tabela 2. A argila modificada com

Praepagen foi a única que apresentou picos referentes a segunda e terceira ordens

de difração. Estes picos eventualmente podem ser notados em ensaios de DRX de

nanocompósitos, e supõe uma estrutura com maior nível de ordenação.

Para que as condições de processamento dos nanocompósitos fossem

determinadas, foram realizados ensaios de TG para analisar a estabilidade térmica

das argilas organicamente modificadas. A estabilidade térmica das argilas

organofílicas é muito importante para nanocompósitos obtidos por intercalação no

polímero fundido. Este método de obtenção é normalmente realizado em

equipamentos de processamento de polímeros, e utiliza faixas de temperatura em

torno de 200 ºC. Um sal instável termicamente pode degradar-se

precipitadamente, dificultando a obtenção de nanocompósitos. A Figura 17

apresenta os resultados de um ensaio de TG para a) uma argila sódica e b) argilas

organofílicas.

Page 59: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

59

-3

-2.5

-2

-1.5

-1

-0.5

0

0.5

1

0 100 200 300 400 500 600 700 800

Temperature (°C)

Wei

ght l

oss (

mg)

-9

-8

-7

-6

-5

-4

-3

-2

-1

0

1

0 200 400 600 800 1000

Temperature (°C)

Wei

ght l

oss

(mg)

Figura 17. Análises de TG de a) argilas sódicas e b) organofílicas, e suas respectivas

regiões de perda de massa.

A Figura 17a revela duas etapas de perda de massa para a argila sódica: a

primeira perda, de 7,5% (região 1), ocorre entre a temperatura ambiente e

aproximadamente 100 ºC, e está associada à perda da água adsorvida nas

camadas do argilomineral; a segunda etapa de perda de massa de 5,5% (região 2)

Temperatura (ºC)

Mas

sa (

%)

Mas

sa (%

)

Temperatura (ºC)

Brasgel Sódica

1

2

1

2

3Brasgel + Praepagen

Brasgel + Dodigen

Brasgel + CTAC

a)

b) 100 35

100 85

Page 60: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

60

ocorre na faixa de, aproximadamente, 450 a 750 ºC. Esta segunda etapa está

relacionada à perda da hidroxila (OH) estrutural das argilas esmectíticas [74].

Diferentemente das argilas sódicas, as argilas organofílicas (Figura 17b)

possuem uma etapa adicional de perda de massa (região 2), que acontece entre

200 e 400 ºC. Esta etapa, onde ocorrem as maiores perdas de massa, está

relacionada à degradação dos cátions orgânicos.

A Tabela 5 apresenta os valores de perda de massa das argilas

organicamente modificadas analisadas por TG, e os dados da argila Cloisite 20A.

Os resultados mostram que os maiores valores de perda de massa encontram-se

na região de degradação do surfatante (200 – 400 ºC). A argila modificada com o

sal Praepagen apresentou os maiores valores de perda de massa. Entretanto,

como a parcela maior de perda de massa ocorre na terceira região, isto pode não

influenciar na preparação de nanocompósitos, já que esta perda acontece em

temperaturas muito mais elevadas que as utilizadas nos processamentos (200 ºC).

Tabela 5. Valores de Perda em massa para as argilas.

Perda em massa (%)

Amostra Perda de

água absorvida

(até 100 ºC)

Degradação do surfatante

(200 – 400 ºC)

Desidroxilação (OH estrutural) (400 – 750 ºC)

Total

Na+- Brasgel 7,5 - 5,5 13,0

Brasgel + CTAC 4,0 17,5 9,9 31,4

Brasgel + Dodigen 1,9 13,8 8,4 24,1

Brasgel + Praepagen

6,9 35,4 22,7 65,0

Cloisite 20A* - - - 38,0

* Cloisite® - Southern Clay Products, Inc.

Page 61: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

61

As análises de DRX e TG mostraram que as argilas têm potencial de uso na

preparação de nanocompósitos poliméricos por intercalação no polímero fundido.

Estas argilas, além de apresentarem um bom aumento em seus espaços

interlamelares, apresentaram uma boa estabilidade térmica a temperaturas em

torno de 200 ºC, temperatura máxima de processamento utilizada na preparação

dos nanocompósitos por extrusora e misturador.

Os resultados obtidos para os nanocompósitos preparados neste trabalho

serão apresentados a seguir.

5.2. Nanocompósitos Os nanocompósitos de PS e argilas esmectíticas brasileiras foram obtidos

por intercalação no polímero fundido. A seguir, estes nanocompósitos serão

caracterizados.

5.2.1. Caracterização dos Nanocompósitos Os resultados de ensaios utilizados na caracterização dos nanocompósitos

serão apresentados de acordo com o método de preparação utilizado.

5.2.1.1 Método “Argila em pó”

Neste método a argila em pó foi adicionada ao polímero fundido, utilizando

um segundo alimentador no processo de extrusão como descrito na parte 4.3.1. A

velocidade de rotação da rosca de alimentação determinou a vazão de argila

adicionada para garantir 5 e 7% de argila. Entretanto, como pode ser visto a

seguir, as concentrações variaram bastante nos métodos de produção contínua

(extrusora), fato atribuído à imprecisão e difícil calibração dos equipamentos

auxiliares.

A Tabela 6 apresenta os valores reais de concentração de argila organofílica

presente nos nanocompósitos. Os resultados foram medidos após degradação do

Page 62: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

62

polímero até 600 ºC, por TG. Para a determinação do valor real de argila

adicionada, além da quantificação da argila, deve-se levar em consideração a

massa do sal. Para isto, os valores medidos foram corrigidos considerando a

quantidade de sal presente na argila (Tabela 3). O valor real é estipulado através

da soma do valor medido e a sua respectiva proporção de sal baseando-se nos

valores de perda de massa de cada sal, como por exemplo: a argila modificada

com praepagen perde 35,4% de massa até 600 ºC, então, o valor de argila

medido no ensaio equivale a somente 64,6% do total.

Tabela 6. Concentração real dos nanocompósitos.

Amostra

Massa a

600 ºC

(%)

Fração mássica

de argila + sal

(%)

P ct 4,5 3,4 4,5

P ct 4,1 3,1 4,1

P do 2,3 1,9 2,3

P do 6,7 5,4 6,7

P pr 3,7 2,3 3,7

P pr 5,4 3,3 5,4

P cs 1,6 1,2 1,6

P cs 5,3 3,9 5,3

Como relevado anteriormente, os resultados mostram um grande desvio em

relação ao que era pretendido, que pode ser explicado devido ao fato do processo

de obtenção contínua ser mais complexo em relação à obtenção por batelada e,

também, pelo fato do alimentador demonstrar instabilidade em baixas rotações.

Page 63: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

63

5.2.1.2 Argila em suspensão

Neste método a argila em suspensão de álcolol etílico foi adicionada ao

polímero fundido utilizando uma bomba dosadora de líquidos, como foi descrito em

maiores detalhes parte 4.3.2. O objetivo deste método é tentar garantir que, no

momento da intercalação, a argila apresente um maior espaçamento interlamelar,

facilitando a penetração do polímero. A bomba dosadora foi calibrada para que o

nanocompósito apresentasse concentração final de 5 e 7% de argila.

Como para os materiais preparados pelo método da argila em pó, os valores

reais de concentração de argila organofílica presente nos nanocompósitos foram

medidos por TG. Os resultados são mostrados na Tabela 9.

Tabela 7. Concentração Real dos Nanocompósitos.

Amostra Massa a 600

ºC (%)

Fração mássica

de argila + sal

(%)

B ct 4,2 3,2 4,2

B ct 5,3 4,05 5,3

B do 3,7 3,0 3,7

B do 4,0 3,26 4,0

B pr 2,9 1,786 2,9

B pr 4,0 2,44 4,0

B cs 3,8 2,77 3,8

B cs7,9 5,74 7,9

Como visto no método anterior, o método que utiliza a bomba dosadora

também mostrou valores reais que são diferentes dos valores nominais

estabelecidos. Os valores reais apresentaram, com exceção da amostra B cs 7,9,

quantidades inferiores aquelas calibradas inicialmente. Além da complexidade do

Page 64: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

64

processo, outro fator determinante para esta variação foi o fato que a modificação

orgânica com diversos sais confere propriedades distintas às argilas. Por exemplo,

a argila modificada com Praepagen apresentou os menores valores, que pode ser

devido ao fato de possuir aproximadamente 36% de sal em sua massa total,

contra 14% de uma argila modificada com Dodigen, conforme visto na tabela 5.

5.2.1.3 Preparação por Misturador

As amostras preparadas por batelada através de um misturador mecânico

não deveriam apresentar diferenças de valores ideais e reais. Porém, algumas

perdas podem ocorrer durante a adição dos materiais no misturador e, portanto,

um ensaio de perda à ignição foi realizado para quantificar a quantidade de argila

modificada presente nas amostras. As amostras foram aquecidas até temperaturas

em torno de 620 ºC para que todo material orgânico degradasse. Os resultados

podem ser vistos na Tabela 8.

Tabela 8 Concentração Real dos nanocompósitos obtidos no misturador

Amostra Massa a 600

ºC (%)

Fração mássica

de argila + sal

(%)

Mpr2,9 1,43 2,4

Mpr4,0 2,3 4,0

Mcs3,8 2,6 3,6

Mcs7,9 5,4 7,4

Page 65: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

65

As variações de composição foram muito menores neste processo quando

comparadas com a extrusora. Mas isto é claramente explicado pela relativa

simplicidade do processo se comparado aos processos contínuos.

Devido aos baixos valores de variação de composição, a nomenclatura não

será modificada, permanecendo o código de concentração igual aos materiais

obtidos por extrusão com auxílio da bomba dosadora, para simplificar o

entendimento e a comparação destes dois métodos.

A seguir as estruturas dos nanocompósitos serão estudadas, discutidas e

comparadas.

5.3. Estrutura dos Nanocompósitos

Os nanocompósitos obtidos por extrusão, utilizando uma bomba dosadora

de líquidos ou um alimentador de argila em pó, tiveram suas características

estruturais estudadas por análises de DRX, MO, TEM e COPA.

5.3.1. Método “Argila em pó”

As curvas de difração de raios – X dos nanocompósitos obtidos pelo método

de adição de argila em forma de pó ao polímero matriz, estão apresentadas na

Figura 18. A Figura 18a mostra os nanocompósitos obtidos com calibração de

composição de 5%, enquanto a Figura 18b apresenta aqueles obtidos em

calibração de 7% em massa de argila. Entretanto, os valores reais de concentração

são discriminados nos gráficos através das legendas. As setas indicam os picos

referentes aos planos (001) ou, no caso da inexistência do pico, as setas indicam o

local onde estes picos característicos deveriam aparecer (entre 2 e 10º para 2θ).

A Tabela 9 mostra um comparativo entre os valores de espaçamento basal das

amostras, diferenciando os 4 tipos de sais e 2 frações mássicas de argila na

preparação dos nanocompósitos poliméricos.

Page 66: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

66

Figura 18. Curvas de difração de raios – X dos nanocompósitos obtidos com argila em pó adicionada ao polímero por um alimentador automático com a) 5% e b) 7% em massa de

argila.

a)

b)

Page 67: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

67

Tabela 9. Valores de espaçamento basal e diferença entre espaçamento final (nanocompósito) e inicial (argila).

Amostra d001 Argila

(nm) d001 (nm) Δd (nm)

P ct 4,5 3,66 - -

P ct 4,1 3,66 3,84 0,18

P do 2,3 3,31 - -

P do 6,7 3,31 2,99 - 0,32

P pr 3,7 3,96 3,97 0,66

P pr 5,4 3,96 3,61 - 0,35

P cs 1,6 2,42 - -

P cs 5,3 2,42 3,14 0,72

- não caracterização de pico (aparentemente esfoliado)

Os materiais obtidos por este método resultaram em um aumento no

espaçamento interlamelar para algumas amostras, que corresponde à estrutura

intercalada, e a inexistência do pico referente ao plano d001, que corresponde à

estrutura esfoliada. A diminuição do espaço interlamelar após a adição de argila

não significa obrigatoriamente que não houve intercalação de polímero entre as

camadas de argila. A ausência de pico representa a falta de ordenação entre as

camadas e, na prática, um mesmo material apresenta diversos tipos de

microestrutura, porém, algumas com mais intensidade que outras e é esta

intensidade que fica evidente em ensaios de DRX.

A ausência deste pico característico pode ser um erro decorrente do ensaio

de DRX. Por este motivo as conclusões sobre esfoliação ou intercalação dos

materiais devem ser feitas a partir da combinação de ensaios de caracterização.

Page 68: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

68

5.3.2. Argila em suspensão A Figura 19 mostra as curvas de DRX dos nanocompósitos obtidos com a

bomba dosadora de líquidos. As setas indicam os picos referentes aos planos (001)

ou a inexistência do pico na região de 2θ. A Figura 19a apresenta curvas de

difração obtidas para amostras planejadas inicialmente para 5% em massa de

argila organofílica, e a Figura 19b mostra curvas obtidas para 7% em massa de

argila. Ambas apresentam curvas da fase matriz pura.

Page 69: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

69

Figura 19. Curvas de difração de raios – X dos nanocompósitos obtidos com a bomba dosadora à concentração de a) 5% e b) 7% de argila.

a)

b)

Page 70: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

70

Pode-se notar que ambas concentrações apresentaram curvas com

deslocamento dos picos relacionados ao plano (001) e curvas onde não é possível

identificar algum pico. A inexistência deste pico pode indicar a formação de uma

estrutura intercalada/esfoliada. A amostra com argila modificada com o sal CTAC

foi a única em que a inexistência do pico ocorreu em ambas concentrações.

A Tabela 10 mostra um comparativo entre os valores de espaçamento basal

das amostras obtidas a partir da suspensão adicionada ao polímero por uma

bomba dosadora, utilizando os 4 tipos de sais e 2 frações mássicas de argila na

preparação dos nanocompósitos poliméricos.

Tabela 10. Valores de espaçamento basal e diferença entre espaçamento final (nanocompósito) e inicial (argila) para o método da suspensão.

Amostra d001 Argila

(nm) d001 (nm) Δd (nm)

B ct 4,2 3,66 - -

B ct 5,3 3,66 - -

B do 3,7 3,31 4,14 0,83

B do 4,0 3,31 - -

B pr 2,9 3,96 - -

B pr 4,0 3,96 3,97 0,01

B cs 3,8 2,42 3,35 0,93

B cs 7,9 2,42 3,41 0,99

- não caracterização de pico (aparentemente esfoliada)

Entre as argilas, aquelas modificadas com CTAC apresentaram maior

tendência a obter estruturas com maior grau de dispersão. Por outro lado, os

nanocompósitos obtidos com a argila Cloisite 20A não apresentaram indícios de

esfoliação. Isto pode ser devido ao fato desta argila possuir o menor espaçamento

interlamelar. Entretanto, como dito anteriormente, estes resultados indicam a falta

Page 71: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

71

de ordenação, mas não garantem que a estrutura está totalmente esfoliada ou

intercalada. Na prática os materiais apresentam uma mistura de estruturas

intercaladas e esfoliadas. A intensidade ou ausência de pico é muito dependente

da proporção existente destes dois tipos de microestrutura.

5.3.3. Amostras obtidas no Misturador

A Figura 20 apresenta as curvas de ensaios de DRX realizados com

amostras preparadas por batelada com argila modificada com praepagen e a argila

organofílica Cloisite 20A, nas mesmas concentrações dos materiais obtidos com o

método da bomba dosadora para efeito de comparação entre estes dois métodos de

processamento.

Figura 20. Curvas de difração de raios – X dos nanocompósitos obtidos com o misturador com argila modificada com praepagen e argila Cloisite 20A.

Page 72: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

72

Das quatro amostras, duas não apresentaram picos característicos ao plano

(001). Coincidentemente as duas amostras que apresentaram este pico são as com

maior concentração de argila. Entretanto, este não deve ser o fator principal

determinante nestas microestruturas. A Tabela 11 apresenta os valores de

espaçamento basal e suas respectivas variações do espaçamento final em relação

ao inicial.

Tabela 11. Valores de espaçamento basal d001 (nm) e a variação entre espaçamento final e inicial.

Amostra d001 Argila

(nm) d001 (nm) Δd (nm)

M pr 2,9 3,96 - -

M pr 4,0 3,96 3,66 -0,30

M cs 3,8 2,42 - -

M cs 7,9 2,42 3,28 0,86

- não caracterização de pico (aparentemente esfoliada)

5.3.4. Microscopia Óptica

Conforme anteriormente citado, as análises realizadas com microscopia

óptica permitem a análise da estrutura dos materiais nanocompósitos, detalhando

tamanhos de partículas e aglomerados e também a dispersão. A figura 21

apresenta duas fotomicroscopias do mesmo material, P ct 4,5, retiradas com o

mesmo aumento, porém de regiões diferentes.

Page 73: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

73

Figura 21. Micrografias de MO da amostra Pct4,5 tiradas de duas regiões diferentes, a e b.

Como pode ser observado nestas micrografias, a diferença de dimensões de

partículas de argila apresentada evidencia a heterogeneidade das amostras. Esta

heterogeneidade pode ser explicada pela falta de precisão do segundo alimentador

em baixas velocidades, item já comentado anteriormente. Apesar de ambas

apresentarem aglomerados, a figura 21b apresenta uma estrutura mais

homogênea, com boa dispersão da argila na matriz polimérica. A Figura 22

a)

b)

Page 74: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

74

apresenta a comparação entre três materiais obtidos com sais diferentes,

preparados e ensaiados nas mesmas condições.

Page 75: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

75

Figura 22. Imagens de Microscopia Óptica de a) Ppr7, b) Pct7 e c) Pdo7.

a)

b)

c)

Page 76: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

76

Como pode ser visto na Figura 22, a influência do sal não possui

importância determinante na dispersão da argila no polímero. As três amostras,

com praepagen, CTAC e dodigen respectivamente, apresentaram morfologias

muito semelhantes, com presença de muitos aglomerados que realçam uma

heterogeneidade no material. Com isso, o fator processamento parece ser a chave

para a formação da estrutura de um nanocompósito. Para que uma melhor

verificação seja feita, a seguir é apresentada a Figura 23, com a comparação visual

de amostras obtidas na extrusora utilizando a bomba de líquidos e no misturador

de nanocompósitos obtidos com cloisite (Bcs 7,9 e Mcs 7,9 respectivamente a e b).

a)

Page 77: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

77

Figura 23. Amostras de nanocompósitos obtidos com cloisite 20A. a) bomba + estrusora e b) misturador.

Ambas amostras apresentam aglomerados em suas micrografias,

entretanto, a amostra obtida no misturador apresenta claramente uma estrutura

mais homogênea, fruto da melhor dispersão da argila. Esta melhoria na dispersão

pode ser explicada pelas menores taxas de cisalhamento do misturador quando

comparado com a extrusora. Alguns estudos já comprovaram que as taxas de

cisalhamento estão indiretamente associadas à capacidade de obtenção de

nanocompósitos esfoliados [75].

5.3.5. Microscopia eletrônica de transmissão

A Figura 24 mostra uma amostra de B ct 4,2, preparada com auxílio da

bomba dosadora. É possível notar na micrografia uma estrutura intercalada, com

algumas regiões com camadas dispersas, indicando um grau de esfoliação.

b)

Page 78: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

78

Figura 24. Micrografia feita por MET de um nanocompósito obtido através da bomba dosadora com argila modificada com CTAC.

A seta localizada à esquerda indica uma área onde lamelas separadas e sem

ordem, típicas de materiais completamente esfoliados, podem ser notadas. Em

contrapartida, a seta da direita mostra um tactóide de argila intercalada no

polímero. Esta micrografia representa bem a mistura de estruturas encontrada nos

materiais com partículas nanométricas. As Figuras 25a e 25b apresentam este

mesmo tipo de microestrutura visto em regiões diferentes do material.

Page 79: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

79

Figura 25. Micrografias de B ct 4,2 evidenciando a) regiões com maior presença de argila intercalada e b) esfoliada.

a)

b)

Page 80: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

80

A seguir, a Figura 26 mostra uma micrografia de MET de Bdo 3,7. Nesta imagem

pode-se observar uma lamela de argila que aparentemente está totalmente

separada, que remete à idéia de uma região com alto grau de esfoliação.

Figura 26. MET de uma amostra obtida na extrusora utilizando a bomba de líquidos e argila modificada com dodigen.

A Figura 27 apresenta uma morfologia semelhante à apresentada pela

figura anterior, entretanto, pode-se fazer uma comparação com dois aumentos

diferentes e visualizar não somente a lamela isolada, mas também o conjunto de

Page 81: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

81

camadas aparentemente ordenadas. Esta amostra foi obtida pelo método do Pó

com argila modificada com Praepagen e concentração de 3,7% (P pr 3,7).

Figura 27. MET em dois aumentos para enfatizar uma região de P pr 3,7.

Page 82: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

82

Na Figura 28 pode-se notar uma certa ordenação nas camadas de argila do

material M cs 7,9. Este material apresentou um pico referente ao plano (001) de

notória intensidade. Isto pode ser explicado pela ordenação das camadas que gera

um pico no ensaio de DRX, mesmo estando aparentemente esfoliadas.

Figura 28. Amostra M cs 7,9 e sua estrutura ordenada de camadas.

A seguir, os ensaios reológicos serão apresentados.

5.3.6. Ensaios Reológicos Como já mencionado anteriormente, a caracterização reológica é uma

importante ferramenta na caracterização de nanocompósitos, principalmente se

atuar em conjunto de análises de DRX e TEM. A Figura 29 apresenta uma

comparação entre os resultados de um ensaio de COPA de um PS puro processado

Page 83: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

83

(tensão 225 Pa) e um nanocompósito obtido por intercalação no polímero fundido

utilizando uma bomba de líquidos (tensão 300 Pa). Os resultados mostram

pouquíssima diferença entre o polímero puro e o nanocompósito. Houve um

aumento discreto na viscosidade complexa (|η*|) e nos módulos de

armazenamento e perda (G’ e G”). Também não ocorreu alterações nas

inclinações das curvas de G’e G”. Como foi sugerido por Zhao et al. [40], para que

haja, ao menos uma variação nas inclinações das curvas de G’e G”, deve haver

um grande número de partículas por unidade de volume, seja por uma estrutura

completamente esfoliada, ou por adição de carga inorgânica.

0,01 0,1 1 10 1000,01

0,1

1

10

100

1000

10000

100000

G',G

"(Pa

); |η∗|

(Pa-

s)

ω (rad/s)

G' PS Puro G" PS Puro |η∗|PS Puro G' PS+CTAC 5% G" PS+CTAC 5% |η∗|PS+CTAC 5%

Figura 29. Comparação entre resultados de COPA de um PS puro processado e um nanocompósito de PS+ CTA /Argila 5% obtido pela bomba dosadora.

Page 84: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

84

Os resultados dos ensaios de COPA para todas as amostras foram

semelhantes, independentemente do método de obtenção, tipo de sal ou

concentração de argila. Valores de G’ e G” para ensaios de COPA realizados com

amostras de PS e argila com praepagen obtidas por métodos e concentrações

diferentes são apresentados na Figura 30. Novamente, tanto homopolímero quanto

os compósitos apresentaram comportamento muito semelhante. Provavelmente,

os percentuais de esfoliação não são suficientes para alterar o comportamento

terminal dos materiais e, a carga de argila adicionada encontra-se distante do

limite de percolação, a partir do qual ocorre a formação de um reticulado e um

comportamento pseudo-sólido é caracterizado, com valores de G’ mais altos que

G”.

Figura 30. Comparação entre resultados de COPA de nanocompósito de PS+ Praepagen /Argila5% preparado por diferentes métodos e diferentes concentrações.

Page 85: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

85

Diferentemente da Figura 30 e das amostras de PS puro e PS com argila

modificada com Praepagen da Figura 31 , em que os valores de G’ apresentaram

uma inclinação igual a 2, os valores de G’ das amostras obtidas com a argila

Cloisite 20A apresentaram uma inclinação equivalente a 1, semelhante ao segundo

estágio de transição de um homopolímero até um nanocompósito extremamente

esfoliado do modelo proposto por Zhao [40].

Figura 31. . Comparação entre resultados de COPA de nanocompósitos preparados no misturador com argila modificada com praepagen e argila Cloisite 20A.

Este comportamento acontece pelo aumento do número de partículas,

ocasionado pelo aumento da concentração de argila ou pelo aumento do grau de

esfoliação.

A seguir, as propriedades térmicas e mecânicas dos nanocompósitos obtidos

no presente trabalho serão discutidas.

Page 86: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

86

5.4. Propriedades dos Nanocompósitos

5.4.1. Propriedades Térmicas

A caracterização da estabilidade térmica dos nanocompósitos de PS/argilas

organofílicas foi realizada por ensaios de TG. É esperado que ocorra um aumento

nas temperaturas de degradação dos nanocompósitos, devido as propriedades de

barreira proporcionada pelas camadas de argila.

5.4.1.1 Argila em pó

A Figura 32 mostra um gráfico de perda de massa em função da

temperatura, obtido por análise termogravimétrica. Pode-se notar que os materiais

com cargas de argila apresentam uma melhora na estabilidade térmica,

deslocando o início da degradação do polímero para temperaturas mais elevadas.

A Tabela 12 apresenta os valores de temperatura, de todas as composições, para

perdas em massa de 5 e 50%.

Page 87: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

87

Figura 32. TG de PS puro e nanocompósitos poliméricos para analisar a estabilidade térmica destes materiais.

Tabela 12. Temperaturas (ºC) de degradação obtidas por TG.

Perda de Massa (%) Amostras

5% 50%

PS Puro 356 406

P ct 4,5 371 430

P ct 4,1 357 433

P do 2,3 346 433

P do 6,7 371 435

P pr 3,7 367 425

P pr 5,4 359 431

P cs 1,6 361 427

P cs 5,3 370 430

Page 88: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

88

Todas as composições apresentaram um aumento nos valores, em relação

ao PS puro. A amostra com valores que a qualificam como mais estável foi a

preparada com argila modificada com Dodigen e concentração nominal de 6,7%.

5.4.1.2 Argila em suspensão

A Figura 33 apresenta um gráfico de TG de massa perdida em função do

aumento de temperatura. Como pode ser visto, os materiais com cargas

inorgânicas adicionadas apresentam uma melhor estabilidade térmica, com

temperaturas de início de degradação em mais altas que o polímero puro. A Tabela

13 mostra todos os resultados dos nanocompósitos para perdas de massa igual a

5% e 50%.

Figura 33. TG de PS puro e nanocompósitos poliméricos confirmando as propriedades de barreira térmica das argilas.

Page 89: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

89

Tabela 13. Temperaturas (ºC) de degradação obtidas por TG.

Perda de Massa (%) Amostras

5% 50%

PS Puro 356 406

Bct4,2 365 429

Bct5,3 368 433

Bdo3,7 370 431

Bdo4,0 373 433

Bpr2,9 364 428

Bpr4,0 366 419

Bcs3,8 348 430

Bcs7,9 366 427

Em todas amostras, a adição de argila dificultou a propagação do calor e

diminuiu significantemente a taxa de degradação. A amostra mais estável

termicamente, assim como no método da argila em pó, foi a preparada com

dodigen na concentração de 4,0%. Os resultados estão de acordo com a literatura,

como por exemplos os trabalhos de Yei [76, 77] e Torre [45].

5.4.2. Ensaios Mecânicos

Se a adição de argila organofílicas resultar em um nanocompósito de

estrutura totalmente esfoliada, suas propriedades mecânicas aumentam

significantemente. Porém, uma estrutura intercalada pode resultar em aumentos

mínimos ou médios, ou também, pode resultar em decréscimos, se relacionarmos

aos valores dos materiais puros [8]. Ensaios mecânicos de tração e impacto serão

agora apresentados, divididos por método de obtenção.

Page 90: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

90

5.4.2.1 Argila em pó Como pode ser visto na Figura 34, para os nanocompósitos preparados com

argila em pó, os valores do módulo de elasticidade ficaram bem próximos ao do PS

puro, com exceção dos materiais preparados com a Cloisite 20A, que

apresentaram significantes melhoras, principalmente na composição com 7%

nominal de argila.

3253

3277

3268

3268 3358

3135

3142 33

86 3623

2000

2200

2400

2600

2800

3000

3200

3400

3600

3800

PS Puro

P ct 4,

5

P ct 4,

1

P do 2,3

P do 6,7

P pr 3,7

P pr 5,4

P cs 1,6

P cs 5,3

Mód

ulo

de E

last

icid

ade

(MPa

)

PS CTAC Dodigen Praepagen Cloisite 20A

Figura 34. Módulo de elasticidade dos nanocompósitos preparados com argila em pó.

Além do módulo de elasticidade, através do ensaio de tração também foi

determinado o limite de resistência à tração destes materiais. Diferentemente do

ensaio anterior, quando ao menos uma amostra apresentou valores significantes,

no ensaio de resistência à tração todas as composições tiveram desempenho

inferior ao PS puro. A Figura 35 mostra os resultados para o ensaio de tração.

Page 91: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

91

39

34 35 36 3537 36 35

37

25

27

29

31

33

35

37

39

41

PS Puro

P ct 4,

5

P ct 4,

1

P do 2,3

P do 6,7

P pr 3,7

P pr 5,4

P cs 1,6

P cs 5,3Li

mite

de

Res

istê

ncia

à T

raçã

o (M

Pa)

PS CTAC Dodigen Praepagen Cloisite 20A

Figura 35. Ensaio de tração para determinação do limite de resistência a tração dos nanocompósitos.

A Figura 36 apresenta os valores de resistência ao impacto Izod com

entalhe. Os valores de resistência ao impacto das amostras de nanocompósitos

foram maiores que o valor do PS puro. Os resultados de impacto comumente são

melhores que os resultados de tração. Por se tratar de um ensaio mais rápido,

dinâmico, as camadas de argila impedem o movimento das moléculas do polímero,

e é necessária uma força maior para que ocorra a ruptura.

Page 92: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

92

Resistência ao Impacto Izod (J/m)

9,42

9,1

8,55

8,97

9,4

11,33

10,17

9,3

9,04

0 2 4 6 8 10 12 14

PS Puro

P ct 4,5

P ct 4,1

P do 2,3

P do 6,7

P pr 3,7

P pr 5,4

P cs 1,6

P cs 5,3

PS CTAC Dodigen Praepagen Cloisite 20A

Figura 36. Ensaio de impacto Izod para determinação da resistência.

5.4.2.2 Argila em suspensão

Os resultados para os materiais obtidos através da bomba dosadora são

muito semelhantes aos apresentados para argila em pó. A Figura 37 mostra os

valores do módulo de elasticidade. Estes valores ficaram bem próximos ao do PS

puro, com exceção, novamente, dos materiais preparados com a Cloisite 20A,

especialmente com 7% nominal de argila, onde ocorreu um aumento de 10% em

relação ao PS puro.

A Figura 38 apresenta os valores para o ensaio de tração para determinação

do limite de resistência à tração. Os valores ficaram aquém dos valores do PS

puro. Entretanto, esses valores são esperados quando a morfologia não é

extremamente esfoliada e apresenta intercalação em sua maioria.

Page 93: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

93

3253

3275

3219

3198

3232

3099

3100 33

77 3583

2000

2200

2400

2600

2800

3000

3200

3400

3600

3800

PS Puro

B ct 4,

2

B ct 5,

3

B do 3,7

B do 4

B pr 2,9

B pr 4

B cs 3,8

B cs 7,9

Mód

ulo

de E

last

icid

ade

(MPa

)

PS CTAC Dodigen Praepagen Cloisite 20A

Figura 37. Módulo de elasticidade dos nanocompósitos preparados com a bomba dosadora.

39

35 3638 37 36

3836 35

25

27

29

31

33

35

37

39

41

PS Puro

B ct 4,

2

B ct 5,

3

B do 3,

7B do

4

B pr 2,

9B pr

4

B cs 3,

8

B cs 7,

9

Lim

ite d

e R

esis

tênc

ia à

Tra

ção

(MPa

)

PS CTAC Dodigen Praepagen Cloisite 20A

Figura 38. Ensaio de tração para determinação do limite de resistência a tração dos nanocompósitos

Page 94: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

94

Resistência ao Impacto Izod (J/m)

9,42

9,58

9,52

9,64

9,82

10,96

9,88

8,49

9,91

0 2 4 6 8 10 12

PS Puro

B ct 4,2

B ct 5,3

B do 3,7

B do 4

B pr 2,9

B pr 4

B cs 3,8

B cs 7,9

PS CTAC Dodigen Praepagen Cloisite 20A

Figura 39. Ensaio de impacto Izod para determinação da resistência.

A adição de argila provocou uma redução nas propriedades mecânicas de

resistência à tração e módulo de elasticidade. Porém no caso de resistência ao

impacto, há um aumento, principalmente no caso dos nanocompósitos obtidos

com Praepagen 5%, utilizando método do pó ou bomba. Os resultados são

similares, porém não tão significativos, aos observados nos materiais tenacificados

(com fase dispersa mais flexível que a matriz). Os resultados estão de acordo com

trabalhos encontrados na literatura, como por exemplo, o trabalho de Tjong [78].

5.4.2.3 Método do Misturador

As Figuras 40 e 41 apresentam os gráficos com os valores dos ensaios de

módulo de elasticidade e limite de resistência à tração. Os resultados foram muito

Page 95: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

95

semelhantes aos apresentados pelos dois métodos anteriores, com valores muito

próximos do PS puro.

2027 1830 1935 2013 2122

-100

400

900

1400

1900

2400

PS Puro B pr 2,9 B pr 4 B cs 3,8 B cs 7,9

Mód

ulo

de E

last

icid

ade

(MPa

)

PS Praepagen Cloisite 20A

Figura 40. Módulo de elasticidade dos nanocompósitos preparados com o misturador.

34 35 36 32 29

05

10152025303540

PS Puro B pr 2,9 B pr 4 B cs 3,8 B cs 7,9

Lim

ite d

e R

esis

tênc

ia à

Tra

ção

(MPa

)

PS Praepagen Cloisite 20A

Figura 41. . Ensaio de tração para determinação do limite de resistência a tração dos nanocompósitos

Page 96: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

96

A Figura 42 mostra um gráfico de resistência ao impacto Izod. Entretanto, o

ensaio não pôde ser feio nos mesmos padrões dos anteriores. Neste ensaio as

amostras não foram entalhadas. Portanto, os valores são úteis apenas na

comparação com o polímero puro e, também entre os dois tipos de argilas e

concentrações.

Resistência ao Impacto sem entalhe (J/m)

134

134

124

94

87

0 20 40 60 80 100 120 140 160

PS Puro

B pr 2,9

B pr 4

B cs 3,8

B cs 7,9

PS Praepagen Cloisite 20A

Figura 42 – Ensaio de Impacto Izod para amostras preparadas no misturador.

As tendências foram compatíveis com os ensaios anteriores, o material

preparado com argila modificada com praepagen foi mais resistente que o

preparado com Cloisite 20A. Porém, o desempenho dos outros materiais quando

comparados ao material puro foi melhor em relação aos preparados no misturador.

A tabela 14 apresenta uma comparação entre os métodos utilizados na

obtenção de nanocompósitos poliméricos.

Page 97: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

97

Tabela 14. Comparação dos Métodos de obtenção dos nanocompósitos.

DRX MO MET SAOS TG EM

Segundo

Alimentador

(Pó)

Intercalado

em sua

maioria

Grandes

Aglomerados

Intercalado/

esfoliado

Inclinação

2

Aumento da

temperatura

em relação

ao PS Puro

Resultados

semelhantes

ao PS Puro.

Bomba

Dosadora

Intercalado/

esfoliado Aglomerados

Intercalado/

esfoliado

Inclinação

2

Aumento da

temperatura

em relação

ao PS Puro

Resultados

semelhantes

ao PS Puro.

Misturador Intercalado/

esfoliado

Melhor

Dispersão

Intercalado/

esfoliado

Inclinação

1 -

Resultados

semelhantes

ao PS Puro.

Como pode ser visto na Tabela 14, os materiais obtidos apresentaram

pequenas variações em relação aos diferentes métodos. Todos podem ser

aplicados na obtenção de nanocompósitos, cada um com suas qualidade e

limitações.

Page 98: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

98

6. Conclusões

As conclusões deste trabalho são as seguintes:

• As argilas brasileiras foram tratadas com sais quaternários de amônio

comerciais (CTAC, Dodigen e Praepagen) para se tornarem argilas

organofílicas e foram comparadas com uma argila organofílica importada, a

Cloisite 20A. As argilas brasileiras organofílicas apresentaram ótimos

resultados de DRX, demonstrando que o pico relativo ao espaçamento basal

aumentou com a troca dos cátions. Os valores foram mais elevados que a

argila natural sódica e que a Cloisite 20A. A amostra que apresentou maior

espaçamento foi a argila tratada com Praepagen, devido a suas duas

caudas alquílicas.

• A estabilidade térmica das argilas também foi testada, e foi comprovada a

utilização destas na preparação dos nanocompósitos. Os ensaios

comprovaram que as argilas organofílicas eram capazes de resistir a

temperaturas em torno de 200 ºC, temperatura máxima de processamento.

• Os nanocompósitos foram obtidos por três métodos de intercalação no

polímero fundido: argila adicionada ao polímero em pó, em uma suspensão

em álcool na extrusora e no misturador. Os nanocompósitos foram

preparados em duas concentrações nominais: 5 e 7%. Entretanto, as

concentrações destoaram em relação ao valor nominal, principalmente pelo

fato do processamento contínuo e pela imprecisão do alimentador de argila

em pó. Com os valores reais de concentração, novas amostras foram

preparadas no misturador para comparação dos dois equipamentos quanto

à eficácia na preparação de nanocompósitos poliméricos.

Page 99: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

99

• Os materiais obtidos foram submetidos a ensaios de DRX, MO, MET e COPA

para a caracterização da estrutura. Os resultados em conjunto indicam uma

estrutura mista intercalada esfoliada para a maioria dos materiais. As

análises de microscopia óptica indicam que o cisalhamento pode ser um

fator fundamental na formação da estrutura do nanocompósito. Quanto

menores as taxas de cisalhamento, tendem a serem melhores as

propriedades estruturais e maiores os índices de esfoliação.

• As análises térmicas indicaram uma maior estabilidade térmica para todos

os nanocompósitos obtidos. Eles apresentaram temperaturas de início de

degradação mais altas em relação ao PS Puro.

• Os ensaios mecânicos dos nanocompósitos apresentaram resultados com

valores inferiores aos dos apresentados pelo PS puro para tração. Apenas as

amostras obtidas com a argila Cloisite 20A apresentaram um significante

aumento no módulo de elasticidade para os dois métodos de obtenção. Os

resultados de resistência ao impacto foram muito parecidos aos do PS puro.

Entretanto, diferentemente dos ensaios de tração, a diferença mínima foi

positiva. Os materiais com maior resistência ao impacto foram os obtido

com argila tratada com o sal Praepagen.

• Cada um dos métodos apresentou qualidades e limitações. Os métodos da

extrusora se mostraram muito difíceis de controlar a concentração final de

argila. Todos os métodos apresentaram estruturas intercaladas e esfoliadas,

de acordo com as análises de DRX, MO e MET. Os ensaios mecânicos e

térmicos de ambos foram muito semelhantes aos resultados de PS puro.

Entretanto, as amostras obtidas com o misturador apresentaram uma

melhor dispersão da argila no polímero e, também, foi a única que

Page 100: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

100

apresentou variação na curva do módulo de armazenamento, que sugere

uma estrutura com alto índice de esfoliação.

Page 101: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

101

7. Referências

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Page 102: obtenção e caracterização de nanocompósitos de poliestireno e

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