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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIA DOS MATERIAIS
NANOCOMPSITOS PP/ GRAFITE: OBTENO E PROPRIEDADES
Dissertao de Mestrado
Creusa Iara Ferreira
Porto Alegre, 29 de Abril de 2008.
ii
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIA DOS MATERIAIS
NANOCOMPSITOS PP/ GRAFITE: OBTENO E PROPRIEDADES
Creusa Iara Ferreira
Dissertao apresentada ao Curso de Ps-Graduao em Cincia dos Materiais
(PGCIMAT) da UFRGS, como parte dos requisitos para obteno do ttulo de Mestre
em Cincia dos Materiais.
O presente trabalho foi realizado no Instituto de Qumica da UFRGS no perodo
de Maro de 2007 e Abril de 2008, sob orientao da Prof. Dr. Raquel Santos Mauler.
Comisso Examinadora
Adriane Gomes Simanke
Naira Maria Balzaretti
Osvaldo de Lzaro Casagrande Jr.
iii
DEDICATRIA
queles que sempre estiveram ao meu
lado: aos meus pais e ao Rodrigo.
iv
AGRADECIMENTOS
A Deus, por me iluminar e me dar foras para alcanar meus objetivos;
A minha famlia, especialmente aos meus pais, por sempre estarem ao meu lado
me auxiliando em todos os momentos;
Ao meu namorado Rodrigo, por todos os momentos bons e ruins, quando esteve
sempre comigo, me apoiando e acreditando em mim;
A todos os amigos que, estando ou no perto, torceram por mim; em especial ao
pessoal do K-212 (aos que so e aos que sempre sero meus colegas);
A Prof. Raquel Mauler por mais esta acolhida em seu grupo e mais esta pequena
jornada que pude t-la como orientadora, obrigada por todos os ensinamentos;
Ao pessoal da Braskem pela oportunidade neste projeto e pela bolsa, em especial
ao Mauro Oviedo, por toda a ajuda no andamento da pesquisa como grande
colaborador;
Ao CTI da Braskem e analistas pelas anlises realizadas;
Ao Lacer pelas anlises de granulometria.
A todos que de alguma forma fizeram parte de mais este degrau na minha vida,
meu sincero obrigado.
v
SUMRIO
Sumrio..............................................................................................................................v
Lista de Figuras..............................................................................................................viii
Lista de Tabelas.................................................................................................................x
Lista de abreviaturas e smbolos.......................................................................................xi
Resumo............................................................................................................................xii
Abstract..........................................................................................................................xiii
1. Introduo......................................................................................................................1
1.1. Consideraes Iniciais....................................................................................1
1.2. Objetivos.........................................................................................................3
2. Reviso Bibliogrfica....................................................................................................4
2.1. Nanocompsitos..............................................................................................4
2.1.1. Tipos de Nanocargas........................................................................6
2.1.2. Obteno dos Nanocompsitos........................................................6
2.1.3. Morfologia dos Nanocompsitos.....................................................8
2.1.4. Mecanismos de Reforo.................................................................10
2.1.5. Propriedades dos Nanocompsitos................................................12
2.2. Polipropileno.................................................................................................14
2.2.1. Aplicaes......................................................................................15
2.3. Grafite...........................................................................................................17
2.3.1. Tipos de Grafite.............................................................................18
2.3.2. Estado da Arte................................................................................22
3. Parte Experimental......................................................................................................25
3.1. Materiais.......................................................................................................25
3.2. Obteno dos Nanocompsitos.....................................................................26
3.3. Tcnicas de Caracterizao...........................................................................27
3.3.1. Tamanho de Partculas por Difrao de Laser...............................27
3.3.2. Microscopia Eletrnica de Varredura (MEV)................................28
3.3.3. Microscopia Eletrnica de Transmisso (TEM)............................28
vi
3.3.4. Ensaio de Flexo............................................................................29
3.3.5. Impacto Izod..................................................................................29
3.3.6. Anlise Dinmico-Mecnica (DMA).............................................29
3.3.7. Temperatura de Deflexo Trmica (HDT)....................................30
3.3.8. Calorimetria Diferencial de Varredura (DSC)...............................30
3.3.9. Reometria Rotacional.....................................................................31
3.3.10. Resistividade Eltrica...................................................................31
4. Resultados e Discusso................................................................................................32
4.1. Avaliao de Diferentes Grafites..................................................................32
4.1.1. Caracterizao dos Grafites...........................................................33
4.1.2. Morfologia dos Nanocompsitos...................................................36
4.1.3. Propriedades Trmicas dos Nanocompsitos................................37
4.1.4. Propriedades Mecnicas dos Nanocompsitos..............................39
4.1.5. Consideraes desta Etapa............................................................41
4.2. Avaliao dos Mtodos de Preparao.........................................................42
4.2.1. Morfologia dos Nanocompsitos...................................................42
4.2.2. Propriedades Trmicas dos Nanocompsitos................................45
4.2.3. Propriedades Mecnicas dos Nanocompsitos..............................46
4.2.4. Consideraes desta Etapa............................................................47
4.3. Avaliao de Diferentes Aditivos.................................................................49
4.3.1. Consideraes Sobre os Aditivos Utilizados.................................49
4.3.2. Morfologia dos Nanocompsitos...................................................50
4.3.3. Propriedades Trmicas dos Nanocompsitos................................51
4.3.4. Propriedades Mecnicas dos Nanocompsitos..............................53
4.3.5. Consideraes desta Etapa............................................................54
4.4. Avaliao de Diferentes Teores de Grafite...................................................55
4.4.1. Propriedades Trmicas dos Nanocompsitos................................55
4.1.4. Propriedades Mecnicas dos Nanocompsitos..............................56
4.4.3. Propriedades Reolgicas dos Nanocompsitos..............................59
4.4.4. Propriedades Eltricas dos Nanocompsitos.................................60
4.4.5. Consideraes desta Etapa............................................................62
5. Concluses...................................................................................................................64
vii
5.1. Consideraes Finais....................................................................................64
5.2. Proposta para Trabalhos Futuros..................................................................65
6. Bibliografia..................................................................................................................67
viii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1.1.1. Esquema da aplicao de nanotecnologia a polmeros................................1
Figura 2.1.1. Mdulo em relao a diferentes tipos de cargas e concentraes................5
Figura 2.1.2. Geometria das nanocargas............................................................................6
Figura 2.1.3. Ilustrao esquemtica de distribuio/ disperso.......................................8
Figura 2.1.4. Morfologia dos nanocompsitos..................................................................9
Figura 2.1.5. Esquema do mecanismo de disperso das nanocargas...............................10
Figura 2.1.6. Mecanismo de reforo................................................................................11
Figura 2.1.7. Esquema de deformao de um nanocompsito e de um polmero...........11
Figura 2.1.8. Esquema de permeabilidade a gases devido a difuso entre as
partculas..........................................................................................................................12
Figura 2.2.1. Esquema de polimerizao do polipropileno.............................................14
Figura 2.2.2. Consumo de PP por processo de converso...............................................16
Figura 2.3.1. Minrio de grafite natural...........................................................................16
Figura 2.3.2. Representao da estrutura de lamelas do grafite......................................18
Figura 2.3.3. (a) Grafite intercalado. (b) Grafite expandido............................................19
Figura 2.3.4. Representao dos tipos de grafite.............................................................19
Figura 2.3.5. Esquema de produo de diferentes tipos de grafite..................................20
Figura 2.3.6. Esquema da estrutura qumica do grafite expandido.................................21
Figura 2.3.7. Comparao do mdulo de flexo com diferentes cargas..........................22
Figura 2.3.8. Comparao da permeabilidade ao oxignio entre diferentes cargas........23
Figura 4.1. Organograma de obteno dos nanocompsitos deste trabalho....................32
Figura 4.1.1. Imagens de MEV dos grafites intercalado e expandido.............................35
Figura 4.1.2. Imagens de MET dos nanocompsitos com grafite intercalado e
expandido.........................................................................................................................36
Figura 4.1.3. Grau de cristalinidade relativa dos nanocompsitos com diferentes grafites
em funo do tempo e da temperatura.............................................................................38
Figura 4.2.1. Imagens de MET dos nanocompsitos preparados com PP granulado e
micronizado.....................................................................................................................39
Figura 4.1.4. Mdulo de flexo e resistncia ao impacto dos nanocompsitos com
diferentes grafites............................................................................................................40
ix
Figura 4.2.1. Esquema de obteno das amostras por diferentes mtodos de
preparao........................................................................................................................42
Figura 4.2.2. Imagens de MET dos nanocompsitos preparados do grafite resultante do
processo de sonificao...................................................................................................44
Figura 4.2.3. Mdulo de flexo e resistncia ao impacto dos nanocompsitos obtidos
atravs de diferentes mtodos de preparao..................................................................47
Figura 4.3.1. Estrutura qumica dos plastificante............................................................49
Figura 4.3.2. Estrutura qumica do agente nucleante......................................................50
Figura 4.3.3. Imagens de MET dos nanocompsitos preparados com e sem
plastificante......................................................................................................................51
Figura 4.3.4. Grau de cristalinidade relativa dos nanocompsitos com diferentes aditivos
em funo do tempo e da temperatura.............................................................................52
Figura 4.3.5. Mdulo de flexo e resistncia ao impacto dos nanocompsitos obtidos
com diferentes aditivos....................................................................................................53
Figura 4.4.1. Grau de cristalinidade relativa dos nanocompsitos com diferentes teores
de grafite em funo (a) do tempo e (b) da temperatura.................................................56
Figura 4.4.2. Mdulo de flexo e resistncia ao impacto dos nanocompsitos obtidos
com diferentes teores de grafite.......................................................................................57
Figura 4.4.3. Variao do HDT dos nanocompsitos obtidos com diferentes teores de
grafite...............................................................................................................................58
Figura 4.4.4. (a) Mdulo armazenamento e (b) tan dos nanocompsitos obtidos com
diferentes teores de grafite...............................................................................................59
Figura 4.4.5. Viscosidade complexa em funo da freqncia.......................................59
Figura 4.4.6. Esquema de rede tridimensional formada pelas nanocargas......................60
Figura 4.4.7. Resistividade eltrica em funo do teor de grafite...................................61
x
LISTA DE TABELAS
Tabela 4.1.1. Propriedades fsicas dos grafites................................................................33
Tabela 4.1.2. Propriedades trmicas dos nanocompsitos com diferentes grafites.........38
Tabela 4.1.3. Propriedades mecnicas dos nanocompsitos com diferentes grafites......39
Tabela 4.2.1. Propriedades trmicas dos nanocompsitos obtidos atravs de diferentes
mtodos de preparao....................................................................................................45
Tabela 4.2.2. Propriedades mecnicas dos nanocompsitos obtidos atravs de diferentes
mtodos de preparao....................................................................................................46
Tabela 4.3.1. Propriedades trmicas dos nanocompsitos com ou sem uso de
aditivos.............................................................................................................................52
Tabela 4.3.2. Propriedades mecnicas dos nanocompsitos com ou sem uso de
aditivos.............................................................................................................................53
Tabela 4.4.1. Propriedades trmicas dos nanocompsitos com diferentes teores de
grafite...............................................................................................................................55
Tabela 4.4.2. Propriedades mecnicas dos nanocompsitos com diferentes teores de
grafite...............................................................................................................................57
Tabela 4.4.3. Viscosidade a dadas freqncias em funo do teor de grafite.................60
xi
LISTA DE ABREVIATURAS E SMBOLOS
G Energia livre do sistema
H Entalpia do sistema
S Entropia do sistema
T - Temperatura
HDT Temperatura de deflexo trmica
Tg Temperatura de transio vtrea
PP Polipropileno
GI Grafite intercalado
GE Grafite expandido
PPG Polipropileno glicol
MEV Microscopia eletrnica de varredura
MET Microscopia eletrnica de transmisso
DMA Anlise dinmico-mecnica
E Mdulo de armazenamento
DSC Calorimetria diferencial de varredura
Tc Temperatura de cristalizao
Tm Temperatura de fuso
Xc Percentual de cristalinidade
t - tempo para alcanar 50% de cristalizao
xii
RESUMO
Nanocompsitos de polipropileno e grafite foram obtidos neste trabalho atravs
de intercalao no fundido em extrusora dupla rosca. Foram avaliadas as morfologias,
propriedades trmicas e mecnicas do material resultante.
O trabalho foi subdividido em quatro partes onde inicialmente foram testados
diferentes tipos de grafite (intercalados e expandidos). Em seguida diferentes formas de
obteno dos nanocompsitos, como pr-preparao dos grafites ou diferentes
granulometrias do polmero, foram avaliadas. Tambm foram testados alguns aditivos a
fim de verificar melhoria nas propriedades, seja pelo auxlio na disperso da carga
(plastificantes), seja pelo aumento da cristalinidade (nucleante). Por fim foram avaliados
diferentes teores de grafite a fim de, a partir do melhor grafite, do melhor mtodo e do
melhor teor, alcanar o sistema com as propriedades trmicas, mecnicas e eltricas
timas.
Todos os nanocompsitos de grafite apresentaram ganho significativo em
propriedades mecnicas com aumento em mdulo de flexo, mdulo de
armazenamento, HDT e Tg. As propriedades trmicas tambm foram realadas com o
uso da nanocarga devido ao seu efeito nucleante causando um aumento na temperatura e
na taxa de cristalizao. A morfologia dos nanocompsitos mostrou uma m disperso
do grafite na matriz polimrica.
xiii
ABSTRACT
Nanocomposites with polypropylene and graphite were obtained using melt
intercalation in a twin screw extruder. Morphology, thermal and mechanical properties
of the resultant material were evaluated.
The work was subdivided into four parts where initially different kinds of
graphite (intercalated and expanded) were tested. Following, different forms to obtain
nanocomposites were evaluated, as the polymer with different granulometries, pre-
preparation of graphite using intensive mixing, sonification or masterbatch. Also, some
additives, processing aid (plasticizers) or cristallinity nucleating were tested to evaluate
their effect in the properties. At last, different quantity of graphite was used, and then,
through the best graphite amount, preparation method and additives, to obtain optimum
thermal, mechanical, and electrical properties.
All the graphite nanocomposites presented significative gain in mechanical
properties with increment in flexural modulus, storage modulus, HDT, and Tg. The
thermal properties were enhanced with the use of nanoparticles due its nucleating effect
that causes an improvement in the crystallization temperature and in its rate. The
morphology of the nanocomposites showed a bad dispersion of the graphite in the
polymer matrix.
1
1. INTRODUO
1.1. CONSIDERAES INICIAIS
A busca por solues atravs da avaliao e aprimoramento de materiais um
dos objetivos do estudo em cincia dos materiais. Neste contexto, o uso de
nanotecnologia tem sido estudado com a finalidade de se encontrar materiais com
propriedades superiores.
Os nanocompsitos polimricos apresentam um grande destaque no meio
acadmico e industrial em funo da aplicao da nanotecnologia na criao de novos
materiais multifuncionais com excelentes propriedades. Estes materiais, por possurem
um de seus componentes em escala nanomtrica, apresentam caractersticas
diferenciadas com relao performance em comparao aos materiais compsitos
convencionais.
No estudo de nanocompsitos polimricos o polipropileno uma matriz
amplamente abordada. Este interesse est associado versatilidade do polmero (baixa
densidade, fcil processamento e ampla gama de aplicaes) que aliada ao uso da
nanotecnologia, pode alcanar caractersticas como condutividade eltrica, alto mdulo
de Young e propriedade de barreira a gases. Alm desses ganhos em desempenho, o uso
da nanotecnologia agrega valor ao produto (como mostra a Figura 1.1.1), caracterstica
buscada pela indstria para polmeros tipo commodity como o polipropileno.1,2
Figura 1.1.1. Esquema da aplicao de nanotecnologia a polmeros.5
2
Dentre as nanocargas utilizadas em nanocompsitos o grafite apresenta um grande
interesse por apresentar caractersticas de nanocargas lamelares (como propriedades de
barreira a gases e estabilidade trmica) adicionalmente s caractersticas de
condutividade trmica e eltrica. Assim, o grafite usado como nanocarga apresenta
grande potencialidade na produo de materiais nanocompsitos com propriedades
multifuncionais abrangendo aplicaes diversas.3, 4
3
1.2. OBJETIVOS
O objetivo deste trabalho obter nanocompsitos com polipropileno e grafite
buscando otimizar as propriedades trmicas e mecnicas destes materiais. Para alcanar
esta finalidade, o trabalho foi dividido em algumas etapas com o intuito de encontrar o
sistema com as melhores propriedades. Assim, o trabalho encontra-se subdividido da
seguinte forma:
Avaliar as propriedades trmicas e mecnicas e a morfologia dos
nanocompsitos obtidos a partir de diferentes tipos de grafites intercalados e
expandidos;
Avaliar as propriedades mecnicas e trmicas dos nanocompsitos preparados a
partir de diferentes mtodos de obteno;
Verificar a influncia da adio de diferentes aditivos nas propriedades trmicas,
mecnicas e na morfologia dos nanocompsitos;
Avaliar os nanocompsitos obtidos atravs de diferentes teores de grafite quanto
s suas propriedades trmicas, mecnicas, reolgicas e eltricas.
4
2. REVISO BIBLIOGRFICA
2.1. NANOCOMPSITOS
A busca por novos materiais com propriedades diferenciadas amplamente
estudada no ramo da cincia dos materiais. Neste contexto, a nanotecnologia tem sido
aplicada a fim de desenvolver materiais com caractersticas nunca antes encontradas.
Nanocompsitos so materiais que, atravs da nanotecnologia, alcanam uma melhor
performance quando comparados com suas matrias primas. Desta forma, estes novos
materiais, que muitas vezes so multifuncionais, podem ser uma alternativa a outros
materiais j existentes de custo elevado.
Materiais nanocompsitos, assim como os compsitos tradicionais, so
definidos como sendo constitudos de um sistema formado pela combinao de dois ou
mais constituintes diferindo em forma e/ou composio qumica e que sejam
essencialmente insolveis entre si. Estes componentes devem juntos oferecer
propriedades sinrgicas diferenciadas de apenas um aditivo, ou seja, propriedades
melhores que a de seus componentes individuais. Os nanocompsito diferem dos
compsitos convencionais por possurem a fase de reforo com pelo menos uma das
suas dimenses na escala nanomtrica.6, 7
Os constituintes de um nanocompsito so denominados de matriz e
nanoreforo (ou nanocarga). A principal funo da matriz dispersar o nanoreforo e,
quando submetida a uma tenso mecnica, deformar a fim de distribuir e transferir as
tenses para o componente de reforo. O nanoreforo deve suportar a carga aplicada ao
material limitando a deformao do mesmo, e ao mesmo tempo aumentando resistncia,
dureza, rigidez e diminuindo a corroso e a fadiga quando comparado o nanocompsito
com a matriz.8
O polipropileno um termoplstico amplamente estudado em nanocompsitos
como matriz polimrica por apresentar um bom balano de propriedades, fcil
processabilidade e relativo baixo custo. Contudo, este polmero apresenta baixa
estabilidade dimensional, alta permeabilidade a gases, e baixa condutividade trmica e
5
eltrica, propriedades que so buscadas com o uso de nanocargas associadas matriz. A
adio de nanocargas ainda oferece a vantagem de no piorar as propriedades de fratura
do polmero, como ductilidade e resistncia ao impacto, e de no alterar a facilidade de
processamento do material.9-12
Nanocargas tm apresentado grande interesse acadmico e industrial devido ao
incremento drstico de propriedades trmicas e mecnicas quando comparado a cargas
usadas em compsitos convencionais, como carbonato de clcio, fibra de vidro, mica e
talco. Este efeito est associado grande rea superficial atribuda as nanocargas devido
alta razo de aspecto (razo comprimento por dimetro L/d). Isto implica em baixas
quantidades de nanocarga no nanocompsito para alcanar boas propriedades, gerando
materiais de menores densidades quando comparado aos compsitos convencionais.13
O efeito desta caracterstica pode ser visualizado na Figura 2.1.1 que relaciona o
mdulo de flexo de compsitos ou nanocompsitos de polipropileno com diferentes
cargas e diferentes concentraes. possvel ver que nanocargas como nanotubos de
carbono e argilas necessitam de menores concentraes em comparao s cargas
convencionais (vidro modo e talco) para alcanar alto mdulo. O reforo das
nanocargas tambm est associado ao seu tamanho quanto menor for o nanoreforo
menor sero suas imperfeies estruturais e assim menores suas falhas.10, 14-16
Figura 2.1.1. Mdulo em relao a diferentes tipos de cargas e concentraes. A nanotubos de carbono,
B argila, C vidro modo, D talco. Referncia mdulo PP: 1.37GPa.17
6
2.1.1. TIPOS DE NANOCARGAS
As nanocargas podem possuir diferentes tamanhos e formas. As formas devem
ter uma, duas ou trs dimenses na escala nanomtrica (Figura 2.1.2).
Figura 2.1.2. Geometria das nanocargas.8
As esferas como a slica e os clusters - possuem as trs dimenses
nanomtricas com um dimetro
7
Mtodo da polimerizao in situ: a nanocarga pode ser dispersa (e inchada no
caso de lamelas) em uma soluo do monmero e posteriormente a formao do
polmero ocorre entre as lamelas pela adio de um iniciador. Tambm a polimerizao
pode se dar atravs da insero do catalisador entre as lamelas da nanocarga que, aps a
adio do monmero, inicia a polimerizao. A polimerizao in situ produz em geral
nanocompsitos esfoliados.
Mtodo da intercalao no fundido: a nanocarga misturada ao termoplstico
fundido. Geralmente obtido um nanocompsito intercalado ou ainda esfoliado se
houver grande compatibilidade polmero/ nanocarga, e se as condies de
processamento forem adequadas. Este mtodo o mais utilizado pelo no uso de
solvente e facilidade de preparo.
Na obteno de nanocompsitos, a chave para a obteno das propriedades
timas a disperso/ distribuio das nanocargas na matriz polimrica. A caracterstica
inicialmente desejada a disperso da nanocarga na matriz. Uma m distribuio da
nanocarga na matriz pode atuar como concentrador de tenses, podendo at agir
negativamente nas propriedades do material, como pode ser visto na Figura 2.1.3b. Se a
disperso no for apropriada, o contato entre a grande rea superficial das nanocargas e
a matriz comprometido, e os agregados de nanocarga podem atuar como defeitos no
material, como visto na Figura 2.1.3a. A distribuio est associada com a
homogeneidade da amostra enquanto que a disperso descreve a aglomerao, como
pode ser visto na Figura 2.1.3.14, 21-23
8
Figura 2.1.3. Ilustrao esquemtica de distribuio/ disperso. (a) disperso pobre e boa distribuio, (b)
pobre distribuio e pobre disperso, (c) distribuio pobre e boa disperso e (d) boa distribuio e boa
disperso.13
2.1.3. MORFOLOGIA DOS NANOCOMPSITOS
Em um nanocompsito, principalmente os que contm nanocargas lamelares,
trs tipos principais de morfologia de disperso podem existir (Figura 2.1.4):18, 19, 22-25
Microcompsito: as partculas do nanoreforo encontram-se aglomeradas, com
separao entre as fases. Isto ocorre quando h incompatibilidade entre matriz/
nanoreforo. As propriedades deste material sero semelhantes s de um compsito
convencional.
Intercalada: estrutura bem ordenada na qual as cadeias polimricas entram no
espao entre as lamelas sem separ-las.
Esfoliada ou delaminada: no caso de lamelas, encontram-se separadas o
suficiente para que no haja interao entre elas e, portanto, desordenando a estrutura
multi-camadas. Esta estrutura a desejada para os nanocompsitos, pois apresenta o
contato de todas as partculas da nanocarga de grande rea superficial com o polmero
9
resultando no aproveitamento mximo das propriedades que o nanoreforo pode
conferir ao material.
Figura 2.1.4. Morfologia dos nanocompsitos.5
Em um nanocompsito, as trs morfologias citadas anteriormente podem ser
encontradas em um mesmo sistema. A separao das lamelas, no caso de nanocargas
lamelares, depende da fora de interao favorvel entre o polmero e o nanoreforo e
posterior diminuio da energia do sistema.
O mecanismo de esfoliao pode ser descrito em dois estgios, conforme pode
ser visto na Figura 2.1.5. Inicialmente o polmero entra nas galerias das lamelas atravs
do transporte do polmero puro para dentro dos espaos interlamelares. Este mecanismo
envolve a capacidade de difuso das cadeias para dentro das galerias, e est relacionado
com a afinidade fsica ou qumica dos componentes. Posteriormente, os tactides de
lamelas so esfoliados atravs de cisalhamento e escorregamento das lamelas com o
aumento do contato das folhas com o polmero.14 No caso de no ocorrer a difuso do
polmero nas lamelas da nanocarga (fraca interao entre ambos) ocorrer somente a
quebra dos agregados de tactides em fragmentos menores mas ainda ordenados.
10
Figura 2.1.5. Esquema do mecanismo de disperso das nanocargas.26
Este mecanismo de esfoliao descrito somente ser alcanado se a interao
polmero/ nanocarga for favorvel. Para que o processo ocorra, o sistema deve possuir
uma energia livre total negativa atravs da entropia e entalpia balanceadas (G=H-
TS). O fator entrpico diminui com o confinamento das cadeias polimricas entre as
camadas de lamelas, levando a uma menor contribuio para o valor negativo de energia
livre. Assim, para que a energia livre seja negativa o fator entlpico deve ser favorvel
(e, portanto negativo) atravs da interao entre a nanocarga e a matriz.14, 27- 29
2.1.4. MECANISMOS DE REFORO
O mecanismo de reforo da nanocarga na matriz difcil de ser explicado. Em
compsitos tradicionais, a carga aplicada transferida ao reforo e, se este possuir alto
mdulo de Young, aumentar o mdulo do material. No caso das nanocargas, muitas
vezes o reforo tem a mesma dimenso das cadeias polimricas, o que leva a outros
mecanismos envolvidos, como a interao qumica direta entre os componentes. O
reforo em nanocompsitos est associado a dois mecanismos:13, 30
Como pode ser visto na Figura 2.1.6a, a mistura de uma nanocarga de mdulo de
Young alto com uma matriz de mdulo inferior resulta em um material com mdulo de
Young intermedirio. Este efeito se d atravs da transferncia de tenses da matriz para
a nanocarga derivando na maior resistncia mecnica do material. A Figura 2.1.6b
mostra o mecanismo de transferncia de tenso para a nanocarga a nvel
micromecnico. A tenso aplicada ao longo da nanocarga menos suportada nas
terminaes, sendo que esta transferida via tenso de cisalhamento na interface matriz/
nanoreforo. Este comportamento salienta a importncia de uma boa interface entre os
11
componentes no controle do mdulo do material, caracterizado por uma boa adeso
entre as fases. No caso dos nanocompsitos, a alta rea superficial da carga resulta em
uma grande interface e, portanto aumenta o mdulo atravs da maior tenso de
cisalhamento suportada.
Figura 2.1.6. Mecanismo de reforo. (a) curva tpica tenso x deformao de um polmero, de uma carga
de alto mdulo e do compsito resultante. (b) transferncia de carga da matriz para o nanoreforo em seu
comprimento em relao tenso aplicada.13
O segundo mecanismo presente no reforo de nanocompsitos a restrio do
movimento das cadeias polimricas pela carga. Conforme esquematiza a Figura 2.1.7, a
deformao resultante da aplicao de uma tenso no polmero puro maior do que a
deformao observada no nanocompsito polimrico. A restrio de movimentos do
polmero devido presena de nanocargas pode modificar a relaxao do polmero, a
temperatura de transio vtrea e a cristalinidade do material, resultando em um
aumento do mdulo em comparao ao polmero puro.
Figura 2.1.7. Esquema de deformao de um nanocompsito e de um polmero.5
12
Em materiais reforados com nanocargas, um dos problemas encontrados a
diminuio da ductilidade do material devido adio de uma nanocarga rgida. Isto
ocorre devido ao efeito concentrador de tenses dos aglomerados de nanoreforo,
facilitando o incio de falha do material. Assim, a disperso das nanocargas apresenta
um papel importante, pois ao diminuir o efeito concentrador de tenses, a ductilidade
pode no ser afetada. Alm disso, as nanocargas possuem a vantagem de ter um
comprimento menor que o crtico e, portanto no romperem, auxiliando na manuteno
da propriedade de ductilidade do material.13, 16, 30
2.1.5. PROPRIEDADES DOS NANOCOMPSITOS
Alm do excelente desempenho nas propriedades mecnicas nos
nanocompsitos (como aumento na resistncia trao, mdulo de flexo e na
temperatura de deflexo trmica - HDT) outras propriedades tambm apresentam
grande ganho com o uso de nanocargas. Algumas so citadas a seguir:13, 20
Propriedades de barreira: os nanocompsitos apresentam propriedade de barreira
devido dificuldade que impem difuso dos gases. Isto ocorre, pois as nanocargas
apresentam baixa permeabilidade a gases fazendo com que os gases tenham que
percorrer um caminho tortuoso entre as lamelas para que haja difuso (Figura 2.1.8).
Esta propriedade de barreira ser mais eficiente quanto melhor dispersa estiver a
nanocarga na matriz, ou seja, em uma morfologia esfoliada.
Figura 2.1.8. Esquema de permeabilidade a gases devido a difuso entre as partculas.5
13
Coeficiente de expanso trmica linear (CETL): uma maior estabilidade
dimensional alcanada com o uso de nanocargas que apresentam baixo CETL. Isto
ocorre, pois as nanocargas ao terem baixa expanso trmica restringem o movimento do
polmero que se encontra em suas adjacncias e, portanto resulta em uma menor
expanso de todo o material. Este efeito, quando muito pronunciado, pode causar um
efeito indesejado uma vez que a restrio da matriz pode causar tenses internas e,
posteriormente, a falha prematura do material.
Estabilidade trmica: a estabilidade trmica alcanada pelos nanocompsitos
est associada ao efeito de barreira. A dificuldade de difuso do oxignio no
nanocompsito (agente de degradao) auxilia na maior estabilidade trmica destes
materiais assim como a restrio da sada dos volteis formados pela decomposio,
resultando em um material que suporta por mais tempo a degradao.
Condutividade eltrica: nanocargas condutoras podem conferir esta propriedade
ao nanocompsito. A condutividade alcanada quando uma rede tridimensional de
nanocargas condutoras formada dentro do material. Assim, devido ao menor tamanho
de partcula das nanocargas, o espao interpartcula diminudo com relao aos
compsitos convencionais e a condutividade alcanada a menores teores de
nanocarga.
Em diversas reas de aplicao, os nanocompsitos competem com os
compsitos tradicionais. Contudo, algumas propriedades complexas alcanadas pelos
nanocompsitos fazem deles nicos. Estes materiais podem ser aplicados na indstria
automobilstica devido s boas propriedades mecnicas, baixa densidade e retardo
chama; em embalagens devido as propriedades de barreira, anti-estticas e condutoras e
na rea mdica devido biocompatibilidade.6, 15
14
2.2. POLIPROPILENO
Polipropileno (PP) um termoplstico produzido pela polimerizao do propeno
(ou propileno) atravs de catalisadores a fim de produzir um material slido
semicristalino com boas propriedades trmicas, mecnicas e fsicas (Figura 2.2.1). As
principais caractersticas do polmero so baixo custo, elevada resistncia qumica e a
solventes, fcil moldagem, brilho, transparncia, boa estabilidade trmica, bom balano
rigidez/ impacto e baixa transferncia de odor e sabor.31
Figura 2.2.1. Esquema de polimerizao do polipropileno.32
As principais propriedades do polipropileno so reflexos da cristalinidade do
polmero. O PP semicristalino apresenta ambas as fases, amorfa e cristalina, sendo que a
proporo de cada uma depende no somente das caractersticas estruturais e
estereoqumicas do polmero, mas tambm das condies e tcnicas na qual a resina
ser convertida no produto final.
O polipropileno apresenta um bom balano de propriedades fsicas, mecnicas e
trmicas em aplicaes temperatura ambiente. um material com uma rigidez
intermediria, baixa densidade e altas temperaturas de fuso (aproximadamente 160C)
e de deflexo trmica.14, 23, 27, 33
As propriedades mecnicas de maior interesse em produtos de PP so a rigidez e
a resistncia flexo ou trao. O mdulo de flexo ou a rigidez aumentam tipicamente
com a cristalinidade do material. As propriedades de viscosidade e elasticidade no
estado fundido fazem do PP uma resina de fcil processamento e aplicvel a uma ampla
15
faixa tcnicas de conformao como extruso de filmes e fios, termoformagem e
extruso.
2.2.1. APLICAES
Devido ampla gama de propriedades do polipropileno, suas aplicaes podem
ser diversificadas.10, 34 As aplicaes do PP podem ser as seguintes:19, 35-37
Fibras e tecidos: as vantagens do polipropileno nesta aplicao so a baixa
densidade, inrcia qumica e resistncia tenso. Esta aplicao abrange carpetes,
cordas, sacarias e lonas.
Filmes: podem ser uni-orientado ou bi-orientado (BOPP). O processo de obteno
dos dois filmes o mesmo (extruso com posterior sopro em balo), contudo o filme
uni-orientado possui apenas estiramento na direo da mquina, enquanto o BOPP
tambm possui na direo transversal. Isto confere ao ltimo excelente transparncia e
brilho, flexibilidade e maior resistncia. A principal aplicao de ambos no setor de
embalagens, principalmente alimentcia devido inrcia qumica.
Chapas/ termoformagem: a aplicao predominante das lminas de PP na
termoformagem de embalagens rgidas. Uma dificuldade no processamento do
polipropileno atravs da termoformao a baixa resistncia da resina no estado
fundido.
Injeo: Este processo muito utilizado devido eficincia, rapidez, aparncia e
uniformidade das peas produzidas. aplicado para produzir embalagens rgidas,
utilidades domsticas, cabos de ferramentas, cadeiras e garrafas.
No sculo XX o polipropileno passou por um grande crescimento no mundo
todo. A taxa de crescimento de produo do PP nos anos 1960-70 era de
aproximadamente 25% ao ano. No perodo dos anos 1980-2000, a taxa de consumo
ficou entre aproximadamente 7 e 12% anuais. A Figura 2.2.2 demonstra o consumo de
PP de acordo com o processo de manufatura do produto final, onde possvel ver que
16
para todas as aplicaes houve aumento no consumo do polmero entre os anos de 2000
e 2005.20
Figura 2.2.2. Consumo de PP por processo de converso. A - rfia, B fibras no-tecidos, C outras
fibras, D injeo, E filmes orientados, F filmes no orientados, G - moldagem por sopro, H
lminas, I outros processos. Ano 2000 , Ano 2005 .20
Os produtos de PP so confeccionados atravs de diversos processos de
converso. Atualmente est ocorrendo a substituio de outras resinas por polipropileno
em peas injetadas, fibras, filmes, em materiais rgidos transparentes (em substituio
ao poliestireno) e em polmeros de engenharia com um custo bastante elevado, como em
recobrimentos e painis automotivos.
Por ser um polmero commodity, ou seja, de baixo custo agregado, diversos
fabricantes de polipropileno esto investindo na converso desta resina em produtos de
especialidades. Desta forma, diversos materiais com propriedades diferenciadas atravs
da incorporao de aditivos ao polmero como compatibilizantes, pigmentos,
estabilizantes e nanocargas (como argila, nanotubos de carbono, grafite, nanofibras de
celulose e nanopartculas de prata) so comercializados ou esto em pesquisa por
grandes empresas.20, 23, 38, 39 Neste sentido a nanotecnologia vem sendo estudada como
soluo a fim de agregar valor ao polmero ao mesmo tempo em que aumenta a
performance do polipropileno atravs dos nanocompsitos.
17
2.3. GRAFITE
O grafite (Figura 2.3.1) um material laminado, constitudo de uma estrutura na
qual tomos de carbono com arranjo hexagonal interagem atravs de ligaes
covalentes com outros carbonos no mesmo plano e somente foras de Van der Waals
atuam entre as lamelas sucessivas. Como as foras de Van der Waals so relativamente
fracas, uma vasta gama de tomos, molculas e ons possvel de ser intercalada entre
as folhas do grafite.40, 41
Figura 2.3.1. Minrio de grafite natural.42
A ligao entre os carbonos do grafite possuem uma hibridizao sp2 com
ligaes deslocalizadas. Essas ligaes deslocalizadas no plano conferem ao grafite
seu carter condutor.43
O grafite, arranjado no formato de lamelas, possui uma espessura de 2 a 8nm em
cada folha. Estas lamelas encontram-se naturalmente dispostas em agregados, que juntas
possuem uma espessura de 7 a 16. O espaamento entre as lamelas encontradas no
grafite de aproximadamente 3,35. A estrutura do grafite pode ser esquematicamente
visualizada na Figura 2.3.2.40, 44, 45
O grafite possui propriedades interessantes como boa condutividade eltrica,
aceitvel resistncia corroso e alta condutividade trmica. Alm disso, as nanofolhas
de grafite combinam o baixo custo e a estrutura lamelar das argilas com as propriedades
trmica e eltrica superiores dos nanotubos de carbono, podendo ser uma efetiva
alternativa para ambos, resultando em excelentes propriedades multifuncionais.47-50
18
Figura 2.3.2. Representao da estrutura de lamelas do grafite.46
Comparado com outras cargas eletricamente condutoras (fibras de ao), o grafite
tem como vantagem sua menor densidade (3 kg/m3). Esta propriedade proporciona ao
nanocompsito o benefcio de uma substancial reduo da densidade quando comparado
a um compsito tradicional.49
As folhas/ lamelas do grafite tm espessura na escala de nanometros, tendo uma
alta razo de aspecto (200-1500) e alto mdulo de elasticidade (1 TPa). Alm disso, as
nanofolhas de grafite podem ter uma enorme rea superficial (acima de 263 m2/g),
considerando que ambos os lados das folhas so acessveis.49
A disperso das nanofolhas parte da chave para o incremento de propriedades
fsicas e mecnicas do nanocompsito a fim de que a sua alta rea superficial seja
totalmente acessvel. Isto pode ser conseguido pela combinao de sntese (processos
que auxiliem na separao das lamelas de grafite como a expanso) e processamento
para produzir uma completa esfoliao e uma boa disperso das partculas de grafite na
matriz.49, 51
2.3.1. TIPOS DE GRAFITE
O grafite pode apresentar-se em trs formas: natural, intercalado e expandido.
Grafite natural o mineral sem nenhuma modificao qumica ou fsica, a forma
extrada da mina. Grafite intercalado (tambm denominado expansvel) o grafite
19
natural que possui algum intercalante entre as lamelas. O grafite esfoliado apresenta as
suas folhas separadas randomicamente, sem a presena de intercalantes (Figura 2.3.3).52
Figura 2.3.3. (a) Grafite intercalado.53 (b) Grafite expandido.54
Grafite natural 40
O maior produtor mundial de grafite natural a China, com cerca de 40% da
demanda. Este tipo de grafite pode ser dividido em macro-cristalino e micro-cristalino
de acordo com o tamanho dos cristais (Figura 2.3.4).
Figura 2.3.4. Representao dos tipos de grafite.40
O grafite micro-cristalino ou amorfo possui menor pureza e cristalinidade,
resultando em menor condutividade e lubrificao. Este grafite produzido
principalmente na China, na Coria e no Mxico.
O grafite macro-cristalino subdividido em flake e de veio. O grafite de veio
composto por cristais grandes que possuem alta condutividade, lubrificao e pureza. A
produo deste grafite ocorre somente em duas minas no Sri-Lanka com poucas
reservas, fazendo com que sua aplicao seja em apenas em alguns sistemas
(a) (b)
20
eletroqumicos. O grafite flake ou p constitudo por cristais grandes extrados com 5
a 40% de pureza. produzido na China, no Canad, no Brasil e na frica.
A partir do grafite natural possvel obter o grafite intercalado pela insero de
intercalantes entre as lamelas. Este, por sua vez, pode ser transformado em grafite
expandido atravs do choque trmico e expulso dos intercalantes, conforme mostra a
Figura 2.3.5.
Figura 2.3.5. Esquema de produo de diferentes tipos de grafite.40
Grafite intercalado 40
O grafite intercalado provm do grafite natural, tendo como diferencial a
presena de intercalantes entre suas lamelas. Estes intercalantes, que aumentam o
espao interlamelar do grafite, podem ser molculas ou ons. O grafite intercalado pode
ser preparado atravs de algumas tcnicas como transporte de fase vapor (metal
intercalante vaporizado para entrar dentre as lamelas), intercalao lquida (grafite
submerso em soluo lquida do intercalante), intercalao eletroqumica (usado
principalmente para intercalar cido sulfrico e ntrico) e co-intercalao (um tomo
menor primeiro intercalado como H2 para posterior entrada de um tomo maior
21
como Na, Cs ou K). Este tipo de grafite pode ser utilizado em polmeros como agente
retardante de chamas.40, 42, 48, 55-59
Grafite expandido
O grafite expandido o mais utilizado na obteno de nanocompsitos devido
ao maior espaamento interlamelar. Este preparado atravs do rpido choque trmico
do grafite intercalado a altas temperaturas. Este choque leva a uma rpida volatilizao
dos intercalantes causando uma expanso c-axis de at 300 vezes. As propriedades so
as mesmas encontradas no grafite natural, contudo apresenta maior facilidade de
disperso no nanocompsito.51, 52, 60-62
Por derivar do grafite intercalado, que passa por um processo de oxidao
quando em contato com cidos intercalantes, o grafite expandido apresenta em sua
estrutura grupos funcionais, como pode ser visto na Figura 2.3.6. Estes grupos
funcionais podem auxiliar na interao com polmero nos nanocompsitos, uma vez que
o grafeno (que possui somente carbonos em sua estrutura) inerte, ou seja, dificilmente
seria esfoliado uma vez que a interao com a matriz seria desfavorvel. O grafite
expandido empregado em lapiseiras (devido sua propriedade lubrificante mais
acentuada pelo maior distanciamento entre lamelas) e em baterias.42, 63
Figura 2.3.6. Esquema da estrutura qumica do grafite expandido.63
Os nanocompsitos de grafite so geralmente produzidos com o grafite na forma
expandida pelo maior distanciamento interlamelar, o que auxilia na disperso da
22
nanocarga na matriz.. A forma intercalada do grafite utilizada somente em
nanocompsitos que so obtidos in situ, durante a polimerizao ou com matrizes
quimicamente compatveis com o grafite oxidado.64
2.3.2. ESTADO DA ARTE
Os nanocompsitos com grafite apresentam propriedades mecnicas
interessantes com grandes ganhos em estudos realizados por diversos grupos.
Especialmente quando comparada com outras cargas como argila, fibras de carbono,
PAN (fibras de poliacrilonitrila) e negro de fumo, os com grafite mostraram-se
superiores em relao ao mdulo nos nanocompsitos de PP (Figura 2.3.7). O grafite,
por ser um nanoreforo rgido, leva a um ganho de propriedades mecnicas no
nanocompsito. Com o aumento da quantidade usada, o nanocompsito pode chegar a
um ganho de at 900% em mdulo de flexo e de 200% em resistncia ao impacto
quando comparado ao polmero puro.65, 66
Figura 2.3.7. Comparao do mdulo de flexo com diferentes cargas: CB = negro de fumo, GnP =
grafite, VGCF = fibras de carbono, PAN = fibras de poliacrilonitrila e CLAYS = argilas.65
A expanso trmica dos nanocompsitos de grafite propriedade que alcana
ganhos quando comparado s resinas puras e, portanto ela bastante estudada. A
caracterstica de maior estabilidade dimensional com a variao de temperatura est
associada ao baixo coeficiente de expanso trmica do grafite, o que importante em
usos estruturais que requerem esta propriedade. Estudos sobre a expanso trmica de
polipropileno reforado com diferentes cargas/ nanocargas mostram que quando
23
comparado a outras cargas tradicionalmente usadas, como negro de fumo e PAN, o
grafite apresenta desempenho superior, com um coeficiente de expanso trmica
menor.12, 65
As propriedades de condutividade eltrica e trmica so vastamente estudadas
devido ao grande potencial de aplicaes dos nanocompsitos de grafite como
condutores. O diferencial de condutividade do grafite em comparao a outras
nanocargas resulta em diversos estudos na literatura. O grafite vem sendo aplicado em
diferentes matrizes como polidisulfetos aromticos, resinas epxi, polipropileno, nylon
6 e polietileno a fim de avaliar as caractersticas condutoras resultantes do material.
Estas propriedades so buscadas com o uso de baixos teores de nanocarga atravs da
maximizao da disperso na matriz.43, 67-69
O grafite tambm leva a um incremento da propriedade de barreira nos
nanocompsitos em relao ao polmero puro. Assim como em outras nanocargas, a
baixa permeabilidade a gases e o caminho tortuoso que formam para a difuso dos gases
dentro do polmero resultam em aumento da barreira. Contudo, quando comparado a
outras cargas (Figura 2.3.8) como argila, conhecidamente estudada como agente de
barreira, o grafite proporcionou resultado superior de barreira nos nanocompsitos de
PP.65, 70, 71
Figura 1.3.8. Comparao da permeabilidade ao oxignio entre diferentes cargas: CB = negro de fumo,
GnP = grafite, VGCF = fibras de carbono e CLAYS = argilas.65
24
A modificao da estrutura do grafite para uma maior compatibilidade com a
matriz polimrica outra via bastante promissora que teve seus estudos iniciados por
alguns grupos de pesquisa.72 O grafite modificado quimicamente proporciona uma
melhor interao com a matriz e uma maior disperso. Esta caracterstica resulta em um
aumento significativo no mdulo e na resistncia sob flexo e na diminuio do
coeficiente de expanso trmica dos nanocompsitos. A modificao qumica do grafite,
a fim de uma maior interao com a matriz, uma alternativa bastante interessante na
otimizao das propriedades dos nanocompsitos. Matrizes, como o polipropileno,
dificilmente tero alguma interao favorvel com o grafite que inerte, levando a uma
disperso pobre da nanocarga no polmero.43, 73
O polipropileno como matriz para nanocompsitos de grafite pouco estudado
pelos grupos de pesquisa devido dificuldade de disperso da nanocarga. Neste caso,
alguns grupos de pesquisa testaram rotas de melhor disperso como o emprego de ultra-
som para maior esfoliao do grafite, o uso de agentes compatibilizantes como o
polipropileno graftizado com anidrido maleico ou ainda o reprocessamento do
nanocompsito em extrusora. O ganho em propriedades como mdulo de flexo chega a
40% com 6% de grafite nos nanocompsitos de PP e a percolao alcanada com 2%
de grafite.43, 70, 74, 75
Devido s caractersticas multifuncionais dos nanocompsitos de grafite, as
aplicaes deste material podem se dar em materiais que requeiram boas propriedades
mecnicas ou condutividade eltrica/ trmica. Assim, os nanocompsitos de grafite
podem ser utilizados em displays eletroqumicos, sensores, baterias, capacitores,
protetores eletromagnticos, dispositivos anti-estticos (embalagens, tanques de
combustvel e revestimentos), pinturas eletrostticas equipamentos aeroespaciais e
placas bipolares de membranas polimricas eletrolticas de clulas a combustvel.45, 46, 63,
67, 76-78
25
3. PARTE EXPERIMENTAL
3.1. MATERIAIS
Os materiais listados a seguir foram aplicados na confeco dos nanocompsitos
deste trabalho.
Polipropileno homopolmero em pellets (ou granulado) e micronizado com o
nome comercial H503 fabricado pela Braskem S/A com ndice de fluidez de 3,5g/
10min (2,16kg / 230C) e densidade 0,905g/ cm3.
Grafites intercalados sob os nomes de Grafexp 95200-110, Grafexp 8780-150 e
Grafexp 9560-180, comercializados pela Nacional do Grafite. Estes grafites foram
intercalados eletroliticamente com cido sulfrico e ntrico pelo fabricante. Os nmeros
finais dos nomes das amostras (110, 150 e 180) representam o ndice de expanso (mL/
g) dos grafites, sendo que estes a partir daqui sero denominados de GI (grafite
intercalado) + ndice de expanso (ou seja, GI-110, GI-150 e GI-180). O ndice de
expanso dos grafites medido pela expanso, em volume, que este pode sofrer aps
aquecimento.
Grafites expandidos Micrograf HC-11, Grafmax HC-07 e Micrograf HC-11 da
Nacional do Grafite. Estes grafites sero denominados respectivamente a partir daqui de
GE-HC11, GE-HC7 e GE-GX.
Polipropileno glicol (PPG) da Aldrich com peso molecular de 1000g/mol,
densidade de 1,005g/ cm3, viscosidade de 190cP e temperatura inicial de solidificao
de -36C.
leo mineral EMCA 350 comercializado pela Empresa Carioca de Produtos
Qumicos S/A com densidade de 0,865 g/ cm3 e viscosidade de 145cP.
26
Struktol TR-60 comercializado pela Struktol Company of America com peso
molecular abaixo de 2000, temperatura de fuso entre 95 e 105C e densidade de 0,97 g/
cm3.
Millad (bis-(3, 4-dimetilbenzilideno sorbitol diacetal) comercializado pela
Milliken Chemical.
lcool isoproplico comercializado pela Vetec Qumica Fina, como ponto de
ebulio de 82C.
3.2. OBTENO DOS NANOCOMPSITOS
Os processamentos de todos os nanocompsitos obtidos neste trabalho foram
feitos em extrusora dupla rosca co-rotatria Haake modelo Rheomex PTW 16/ 25 com
L/ D de 25. O perfil de temperatura utilizado foi de 170 a 190C, sendo o mesmo para
todos os processamentos. A velocidade da rosca foi de 80rpm com uma taxa de
alimentao de aproximadamente 10g/ min.
Em alguns casos foi realizada uma etapa anterior ao processamento do material
a fim de se obter uma melhor disperso e esfoliao da nanocarga e assim alcanar
melhores propriedades.39 Os mtodos utilizados nestas pr-etapas encontram-se listados
a seguir.
Sonificao:47, 51, 74, 79 o grafite expandido GE-HC11 foi deixado em uma
soluo de lcool isoproplico em ultra-som (Ultrasonic Clear da Thornton T 740) por 1,
11 ou 16 horas (denominados respectivamente de US-1, US-11 E US-16). Aps este
perodo o grafite foi misturado ao polmero, deixado secar na capela e posteriormente
por 2 horas em estufa a vcuo (Napco modelo 5830) a 80C at completa evaporao do
solvente. A sonificao foi aplicada ao grafite a fim promover a separao das suas
folhas e, assim, resultar em uma melhor disperso da nanocarga no nanocompsito.
Agitao mecnica (AGIT. MEC.): o grafite expandido GE-HC11, contido em
uma soluo de lcool isoproplico, foi agitado mecanicamente (liquidificador industrial
27
Metvisa) por cerca de 10 minutos e em seguida adicionado a 30% do total de PP
micronizado da mistura e a agitao seguia por mais 10 minutos. A esta mistura foi
adicionado o restante do PP micronizado e deixado secar em capela e estufa at
completa evaporao do solvente.
Masterbatch (MASTER): foi feito um masterbatch a 30% de grafite expandido
com PP micronizado. Este masterbatch foi diludo utilizando-se o PP granulado. Este
processo visou uma melhor disperso do grafite pelo uso do PP micronizado, que por
ser mais caro, era posteriormente misturado ao granulado para a obteno do material
final.
O grafite com ou sem pr-preparo foi misturado ao polipropileno granulado ou
micronizado em uma batedeira industrial (KitchenAid Classic) por 10 minutos at
completa homogeneizao. Aps o processamento das misturas, o material obtido foi
granulado. Os corpos de prova na forma de gravata (segundo a norma ASTM D 638-03)
foram obtidos atravs de injeo (injetora Battenfeld Plus 350) de acordo com a norma
ASTM D 4101-55b
3.3. TCNICAS DE CARACTERIZAO
As tcnicas empregadas na caracterizao dos materiais obtidos/ utilizados neste
trabalho assim como os equipamentos e condies usadas nas anlises encontram-se
listadas a seguir.
3.3.1. TAMANHO DE PARTCULAS POR DIFRAO DE LASER
A avaliao de tamanho de partculas por difrao de laser permite medir,
atravs de uma tcnica no-destrutiva, a distribuio do tamanho de partculas. Neste
mtodo as partculas so dispersas em um fludo em movimento, causando uma
descontinuidade no fluxo, sendo detectadas por um feixe de laser incidente. O feixe que
incide sobre as amostras interage com ela e a intensidade e ngulo da luz espalhada so
capturados por um detector que converte esse sinal em uma distribuio do tamanho das
partculas.80
28
O equipamento utilizado na anlise de tamanho de partcula dos diferentes
grafites utilizados foi o Cilas 1180 com uma faixa de medida de 0,04 2500 m. O
fluido utilizado neste experimento foi gua deionizada em um tempo de reciclo de 60s.
O equipamento pertence ao Laboratrio de Materiais Cermicos da UFRGS.
3.3.2. MICROSCOPIA ELETRNICA DE VARREDURA (MEV)
O microscpio eletrnico de varredura um equipamento capaz de produzir
imagens de alta magnificao (de 10 a 50000 x) da superfcie da amostra analisada. Um
feixe de eltrons emitido sobre amostra, os eltrons secundrios gerados so
detectados e a imagem gerada. Desta forma, em amostras no condutoras necessrio
o recobrimento com um filme condutor de um metal pesado (em geral ouro) para que
haja a gerao destes eltrons.81, 82
Os grafites utilizados neste trabalho foram visualizados atravs de MEV para
obter informaes a respeito do seu comportamento interlamelar. O equipamento
utilizado foi o JEOL JSM 6060 do Centro de Microscopia Eletrnica da UFRGS. As
amostras no necessitaram ser previamente preparadas devido ao seu carter condutor,
no necessitando de recobrimento. A tenso de acelerao utilizada foi de 5kV.
3.3.3. MICROSCOPIA ELETRNICA DE TRANSMISSO (TEM)
A microscopia eletrnica de transmisso uma tcnica utilizada para obteno
de imagens com alta ampliao (de 1000 a 300000 x). No caso de nanocompsitos a
morfologia disperso das nanocargas pode ser avaliada atravs desta tcnica.81, 82
As amostras examinadas foram cortadas em uma cmara criognica acoplada a
um ultramicrtomo (Leica Ultracut UCT) perpendicularmente ao fluxo de injeo do
corpo de prova. Os cortes em lmina de vidro com espessura de aproximadamente 80nm
foram coletados em telas de cobre de 300 mesh. A anlise foi feita em um microscpio
eletrnico de transmisso (JEOL JEM 1200 Ex II) com tenso de acelerao de 80kV
pertencente ao Centro de Microscopia Eletrnica da UFRGS.
29
3.3.4. ENSAIO DE FLEXO
O ensaio de flexo uma anlise mecnica vastamente utilizada a fim de medir a
fora necessria para uma determinada deformao do material, obtendo-se assim um
indicativo da rigidez do material atravs do mdulo de flexo.18
O teste de flexo foi realizado pelo mtodo de trs pontos com corpos de prova
ambientados por 24 horas a 23C. Os corpos de prova de tamanho 19 mm (largura) x
165mm (comprimento) x 3,2mm (espessura) foram previamente entalhados (3mm). O
equipamento utilizado neste teste, pertencente ao CTI da Braskem Petroqumica, foi
uma Mquina Universal de Ensaios Instron modelo 4466 e a anlise foi realizada
segundo a norma ASTM D 790 a uma velocidade de 13mm/ min.
3.3.5. IMPACTO IZOD
O ensaio de impacto Izod mede a energia absorvida durante a fratura do material
quando submetido ao impacto (choque mecnico rpido).
A anlise de impacto Izod 23C foi realizada no equipamento CEAST modelo
6545 com corpos de prova previamente ambientados por 40 horas a 23C. Os corpos de
prova entalhados, de dimenses 3,2mm (espessura) x 10mm (largura), foram presos
verticalmente pela parte inferior e sofreram um impacto de 4J de energia atravs de um
martelo na forma de um pndulo com velocidade de 3,46m/ s. O equipamento utilizado
nesta anlise est situado no CTI da Braskem Petroqumica.
3.3.6. ANLISE DINMICO-MECNICA (DMA)
A anlise dinmico mecnica fornece informaes a respeito do
comportamento viscoelstico do sistema. Atravs desta anlise possvel relacionar
propriedades macroscpicas (mecnicas, por exemplo), com as relaxaes moleculares
associadas a mudanas conformacionais e a deformaes microscpicas geradas a partir
de rearranjos moleculares. Esta anlise consiste em aplicar no material uma tenso ou
30
deformao de modo oscilatrio de baixa amplitude com temperatura variada e medir a
deformao ou a tenso resultante.83, 84
Os ensaios foram realizados no equipamento da TA Instruments modelo Q800
localizado no Instituto de Qumica da UFRGS em corpos de prova com geometria
retangular de 35,85 x 12,4 x 3,3mm. Os experimentos foram executados no modo dual-
cantilever de -30 a 130C a 3C/ min com uma freqncia de 1Hz. O mdulo de
armazenamento (E, correspondente resposta elstica deformao) foi avaliado a
23C e a temperatura de transio vtrea (Tg) atravs do mximo do pico de tan (razo
mdulo de perda/ mdulo de armazenamento correspondente ocorrncia de transies
de mobilidade molecular).10, 18
3.3.7. TEMPERATURA DE DEFLEXO TRMICA
A temperatura de deflexo trmica dos materiais representa o limite superior de
estabilidade do material em servio sem uma significante deformao fsica. Esta
propriedade est diretamente relacionada com a rigidez do material a uma temperatura
mais alta.85
O HDT foi medido atravs da curva de mdulo de armazenamento medido pelo
DMA. A temperatura de deflexo trmica est relacionada com a temperatura na qual o
log E = 8,9MPa ou E = 794MPa. Esta metodologia foi desenvolvida por Scoobo.11, 86
3.3.8. CALORIMETRIA DIFERENCIAL DE VARREDURA (DSC)
A calorimetria diferencial de varredura uma tcnica amplamente usada para
medir as transies endotrmicas e exotrmicas dos polmeros. Avalia atravs da
variao de entalpia (energia) as variaes fsicas do material como temperatura de
fuso (Tm) e temperatura de cristalizao (Tc) assim como o percentual cristalino (Xc)
relacionado a essa quantidade de energia.82, 84
A anlise de DSC foi realizada em filmes finos dos nanocompsitos que
sofreram o processo de prensagem. O equipamento utilizado nesta medida foi o DSC
31
Thermal Analyst 2100 da TA Instruments do Instituto de Qumica da UFRGS calibrado
previamente com ndio. A taxa de aquecimento utilizada na anlise foi de 10C/ min e a
determinao da Tm, Tc e Xc foram feitas a partir da segunda corrida a fim de descartar
a histria trmica sofrida pelo material. As incerteza das temperaturas de fuso e
cristalizao so 1C enquanto que a incerteza do percentual de cristalinidade de 10%
do valor encontrado. O percentual de cristalinidade foi calculado atravs da comparao
entre o calor de fuso do material (rea sob o pico endotrmico) e do polmero 100%
cristalino. Desta foram o percentual de cristalinidade pode ser calculado a partir da
seguinte equao:
co
HXH
=
onde H o calor de fuso medido da amostra e Ho o calor de fuso do polmero
100% cristalino, que no caso do PP 190J/ g.87
3.3.9. REOMETRIA ROTACIONAL
O remetro rotacional (ou DSR - Dynamic Stress Rheometer) caracteriza o
comportamento viscoelstico do material. O ensaio de reometria rotacional mede no
polmero fundido a resistncia ao movimento entre duas placas, podendo ser medido em
velocidade constante ou movimento oscilatrio.88
O objetivo do ensaio de reometria , a partir das curvas de viscosidade em funo da
taxa de cisalhamento, reproduzir as condies de processamento e avaliar a influncia
de cargas na viscosidade. O equipamento utilizado nesta anlise foi um Dynamic Stress
Rheometer DSR da Rheometrics do CTI da Braskem.
3.3.10. RESISTIVIDADE ELTRICA
A resistividade eltrica a capacidade de um material de se opor a uma corrente
eltrica aplicada. A resistividade uma caracterstica intrnseca do material que
independe de geometria.
Para as medidas de resistividade eltrica foi utilizado o equipamento High
Resistence Metter 4339B da Agilent pertencente ao CTI da Braskem Petroqumica.
32
4. RESULTADOS E DISCUSSO
O estudo do grafite aplicado a nanocompsitos foi realizado em quatro etapas,
conforme exemplifica a Figura 4.1. Inicialmente os nanocompsitos de PP foram
preparados com diferentes grafites (intercalados e expandidos) a fim de encontrar o
mais apropriado atravs da avaliao das propriedades dos materiais obtidos.
Posteriormente foi buscada a melhor rota de obteno dos nanocompsitos, seja pelo
uso de PP micronizado ou granulado, pelo uso de ultra-som, de agitao mecnica ou de
masterbatch. O estudo de aditivos (plastificantes ou nucleante) tambm foi feito a fim
de verificar o ganho de propriedades nos materiais. Aps esta etapa, o teor de grafite foi
estudado (de 2 a 10%) quanto s suas propriedades trmicas e mecnicas assim como
tambm suas propriedades dimensionais e eltricas. O melhor sistema para a obteno
de nanocompsitos de PP/ grafite ser avaliado atravs das propriedades trmicas e
mecnicas de todos os sistemas estudados.
NANOCOMPSITOS DE GRAFITE
GRAFITES
INTERCALADOS
EXPANDIDOS
PREPARAO
MISTURA FSICA
AGITAO MECNICA
ULTRA-SOM
MASTERBATCH
ADITIVAO
PLASTIFICANTE
NUCLEANTE
QUANTIDADE
2 a 10%
NANOCOMPSITOS DE GRAFITE
GRAFITES
INTERCALADOS
EXPANDIDOS
PREPARAO
MISTURA FSICA
AGITAO MECNICA
ULTRA-SOM
MASTERBATCH
ADITIVAO
PLASTIFICANTE
NUCLEANTE
QUANTIDADE
2 a 10%
Figura 4.1. Organograma de obteno dos nanocompsitos deste trabalho.
4.1 AVALIAO DE DIFERENTES GRAFITES
A partir da avaliao das propriedades trmicas, mecnicas e morfolgicas dos
diferentes grafites foi possvel encontrar o grafite adequado para uso em
nanocompsitos. Os nanocompsitos foram preparados com 2% de grafite e sem
aditivos e atravs da mistura fsica com PP granulado para que fosse avaliado somente o
tipo de grafite utilizado.
33
4.1.1. CARACTERIZAO DOS GRAFITES
As principais caractersticas fsicas dos grafites utilizados neste trabalho
encontram-se listadas na Tabela 4.1.1. Foi avaliado o tamanho de partcula, o grau de
pureza e a rea superficial dos grafites a fim de estabelecer um relao entre elas e as
propriedades finais dos nanocompsitos.
H uma ampla diferena entre os tamanhos de partcula dos grafites intercalados
e dos grafites expandidos, como tambm pode ser evidenciado pelas imagens da Figura
4.1.1. Os grafites intercalados possuem um tamanho de partcula mdio maior que os
grafites expandidos, onde os intercalados variam seu tamanho de 248 a 69m enquanto
que os expandidos possuem tamanho entre 7 e 10m. Isto era esperado uma vez que os
grafites expandidos so obtidos pela expanso trmica dos grafites intercalados que
passam por um processo de moagem, diminuindo seu tamanho pela quebra das
partculas.
Tabela 4.1.1. Propriedades fsicas dos grafites.
Nome Tamanho Mdio
(m)
Pureza (%)a rea Superficial
(m2/ g) a
GI-110 119 95,0 -
GI-150 248 87,0 -
GI-180 69 95,0 -
GE-HC11 10 99,9 29,6
GE-HC7 6 94,3 30,9
GE-GX 10 99,9 30,1
GE-HC11-U11 10 99,9 -
(a) Dados fornecidos pelo fabricante.
A diferena principal entre os grafites expandidos utilizados est na procedncia
do grafite natural (mina) que eles provm. Os grafites naturais que resultam nos grafites
expandidos GE-HC7 e GE-GX provm da mesma mina e so retirados na forma de p e
so encontrados com grande abundncia. O grafite natural que resulta no GE-HC11
retirado de uma mina na forma de flake, que possui menores reservas que a de p. Desta
forma, devido sua abundncia, os grafites expandidos derivados do grafite natural em
34
forma de p tm um custo inferior ao derivado do grafite flake. Os grafites GE-HC11 e
GE-GX11 possuem o mesmo grau de pureza e o mesmo tamanho de partcula,
apresentando as mesmas caractersticas. O grafite GE-HC7 tem a mesma procedncia
do GE-GX11, contudo a diferena entre elas o grau de pureza e o tamanho de
partcula.
Dentre os grafites intercalados, o que possui o menor tamanho de partcula (GI-
180) apresentou a maior expanso. Isto pode estar relacionado com o fato de que um
menor tamanho torna o intercalante mais acessvel superfcie dos agregados de
lamelas, que em maior quantidade e com um tamanho menor ter uma maior facilidade
de expanso. O mesmo no ocorreu com o grafite com menor grau de pureza (GI-150),
que apesar de um maior tamanho de partcula, apresentou uma expanso intermediria.
Este fato pode estar relacionado com a interao dos intercalantes com as impurezas
presentes, o que resultaria em uma maior quantidade dos intercalantes entre as lamelas
de grafite e conseqentemente em uma maior expanso.
A rea superficial, medida atravs da anlise de BET (Brunauer, Emmett and
Teller Method), est relacionada com a quantidade de gs adsorvido (m2) por grama de
adsorvente, neste caso o grafite.81 Desta forma, quanto maior a quantidade de gs
adsorvido, maior ser a rea superficial da amostra. Os dados de BET mostraram que os
grafites expandidos testados possuem aproximadamente a mesma rea superficial.
O grafite GE-HC11-U11 proveniente do grafite GE-HC11 tendo sido tratado
por um processo de ultra-som por 11 horas a fim de obter uma maior separao das
lamelas para facilitar a esfoliao no nanocompsito. Este grafite sonificado no
apresentou diminuio do tamanho de partcula em comparao ao GE-HC11 (que no
foi pr-tratado), o que evidencia que o tratamento em ultra-som no se mostrou um
mtodo agressivo ao grafite uma vez que no houve quebra de partculas.
A Figura 4.1.1 apresenta as imagens de MEV dos grafites intercalados (GI-110,
GI-150 e GI-180) e de um grafite expandido (GE-HC11). Atravs das imagens
possvel observar a estrutura caracterstica do grafite, composta por agregados de
lamelas espaados periodicamente. Os grafites intercalados apresentam estrutura
ordenada de agregados de folhas, como pode ser visto atravs das imagens. O grafite
35
expandido apresentou uma estrutura mais desordenada em comparao aos grafites
intercalados, onde tambm pode ser evidenciado seu tamanho de partcula menor
(correspondente com o que foi visto anteriormente).
GI-110 GI-150
GI-180 GE-HC11
GE-HC11
Figura 4.1.1. Imagens de MEV dos grafites intercalado e expandido.
36
4.1.2. MORFOLOGIA DOS NANOCOMPSITOS
A Figura 4.1.2 mostra a morfologia dos nanocompsitos obtidos com o grafite
intercalado GI-180 e com o grafite expandido GE-HC11. possvel observar a
diferena de distribuio do grafite nas duas amostras.
GI-180
GE-HC11
Figura 4.1.2. Imagens de MET dos nanocompsitos com grafite intercalado e expandido.
O grafite intercalado mostrou uma m distribuio, onde possvel ver somente
um aglomerado em toda a regio da amostra, diferentemente do que ocorreu na amostra
com o grafite expandido. Como as amostras com grafite expandido e intercalado
Dobramento
37
possuem o mesmo teor de nanocarga, possivelmente com o grafite intercalado h
grandes aglomerados em algumas regies da amostra. Esta morfologia pode ser vista em
uma maior ampliao onde poucas folhas de grafite intercalado apresentaram incio de
separao do agregado, sendo que o restante permaneceu aglomerado.
O nanocompsito com grafite expandido apresentou melhor distribuio que o
intercalado, mas ainda com uma disperso pobre. As folhas de grafite apresentam um
incio de separao dos agregados, mas ainda no se encontram isoladas, conferindo
assim uma morfologia intercalada. A flexibilidade das folhas de grafite pode ser
evidenciado na amostra com grafite expandido (que apresenta folhas mais separadas)
atravs do dobramento de algumas folhas no nanocompsito. Este fator pode se refletir
no material atravs de uma maior ductilidade.
Os nanocompsitos obtidos atravs de ambos os tipos de grafite (intercalado e
expandido) mostraram uma disperso dbil com morfologia intercalada. Este efeito
pode ter ocorrido devido fraca interao da nanocarga e o polmero, uma vez que o
grafite possui em sua estrutura grupos polares provenientes da oxidao (intercalao do
grafite). Desta maneira, o grafite interage preferencialmente entre si, e como
conseqncia a sua disperso na matriz apolar no favorecida.
4.1.3. PROPRIEDADES TRMICAS DOS NANOCOMPSITOS
As propriedades trmicas dos nanocompsitos com os diferentes grafites podem
ser avaliadas a partir da Tabela 4.1.2. Nanocargas lamelares atuam como agentes
nucleantes heterogneos (stios de ancoragem), aumentando a taxa (etapa de
crescimento dos cristais) e a temperatura de cristalizao (etapa de formao dos
cristais).89- 92
A temperatura de cristalizao dos nanocompsitos apresentou aumento de at
10C em relao ao polmero puro assim como a temperatura de incio de cristalizao
(Tonset Figura 4.1.3), confirmando o efeito nucleante do grafite. Nas amostras com os
grafites expandidos, o ganho em Tc foi maior. Isto pode estar relacionado com o maior
contato superficial da nanocarga com a matriz dispersa (conforme as imagens de TEM),
levando a um efeito nucleante mais efetivo.60
38
Tabela 4.1.2. Propriedades trmicas dos nanocompsitos com diferentes grafites.
Amostra Tm (C) Tc (C) Xc (%) t (s) Tonset (C)
PP H503 164 115 48 38 117
GI-110 164 121 50 26 124
GI-150 164 120 53 30 124
GI-180 164 121 49 28 124
GE-HC11 165 125 50 33 129
GE-07 165 123 53 28 126
GE-GX 165 124 49 28 128
O efeito nucleante do grafite nos nanocompsitos pde ser confirmado pela
diminuio de at 45% no valor de t (Figura 4.1.3). O t o tempo necessrio para
alcanar 50% da cristalizao do material e est relacionado com a taxa de cristalizao
(baixos valores de t representam altas taxas de cristalizao).93- 95
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2
0.0
0.2
0.4
0.6
0.8
1.0
Cris
talin
idad
e R
elat
iva
Tempo (min)
PP GI-110 GI-150 GI-180 GE-HC11 GE-07 GE-GX
105 110 115 120 125 130
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
Cris
talin
idad
e R
elat
iva
Temperatura (C)
PP GI-110 GI-150 GI-180 GE-HC11 GE-07 GE-GX
105 110 115 120 125 130
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
Cris
talin
idad
e R
elat
iva
Temperatura (C)
PP GI-110 GI-150 GI-180 GE-HC11 GE-07 GE-GX
Figura 4.1.3. Grau de cristalinidade relativa dos nanocompsitos com diferentes grafites em funo do
tempo e da temperatura.
A temperatura de fuso (Tm) est relacionada com a espessura dos cristalitos e
perfeio cristalina, quanto mais perfeitos ou espessos os cristais, maior ser a energia
necessria para fundi-los e conseqentemente maior ser a temperatura de fuso do
material.96 Nos nanocompsitos obtidos no foi verificada a variao de Tm, assim o
grafite no apresentou influncia na estrutura dos cristalitos, somente auxiliando na sua
formao (nucleante).
39
4.1.4. PROPRIEDADES MECNICAS DOS NANOCOMPSITOS
A Tabela 4.1.3. mostra as propriedades mecnicas dos nanocompsitos com
diferentes grafites. Como esperado, o uso de nanocargas mais rgidas aumentou o
mdulo dos materiais (Figura 4.1.4). Contudo, este mesmo aumento no ocorreu nas
amostras com grafites intercalados devido distribuio ineficiente no material e ao
tamanho de partcula substancialmente maior (quanto menor o tamanho da partcula,
maior rea superficial das partculas, maior o contato matriz/ nanocarga e
conseqentemente maior o potencial de reforo). Todas as amostras com grafite
intercalado obtiveram valores de mdulo semelhante (aumento de at 10% em relao
ao PP), mostrando que, ainda que as amostras possuam tamanho de partculas
diferentes, o fator predominante para esta propriedade mecnica a sua distribuio.
Tabela 4.1.3. Propriedades mecnicas dos nanocompsitos com diferentes grafites.
Amostra
Mdulo de
Flexo
(MPa)
Impacto Izod a
23C (J/ m)
Mdulo de
Armazenamento a
23C (MPa)
HDT (C) Tg (C)
PP H503 1416 17 34 2 1788 61 13
GI-110 1541 36 46 6 - - -
GI-150 1542 34 45 5 - - -
GI-180 1570 29 48 4 2303 73 16
GE-HC11 1774 18 38 2 2370 77 16
GE-07 1640 10 41 6 - - -
GE-GX 1803 11 44 5 - - -
A amostra com o grafite expandido GE-07 no apresentou o mesmo aumento
em mdulo de flexo que os demais grafites expandidos devido ao seu menor tamanho
de partcula, o que leva a uma menor transferncia de carga matriz/ nanoreforo. Alm
disso, o menor grau de pureza desta nanocarga interfere negativamente na interao
com a matriz. O melhor desempenho foi o do nanocompsito com o grafite GE-GX,
mostrando um incremento no valor do mdulo de 27% em relao ao polmero puro.
Devidos s foras de Van der Waals fracas e sua flexibilidade ele atua como
lubrificante para o polmero mantendo a ductilidade e resistncia fratura do material.75
40
Alm disso, o uso de nanocargas atua no aumento da deformao plstica da matriz na
regio da interface, no desvio da falha devido ao impedimento espacial da nanocarga, na
criao de vazios e na formao de fendas nas interfaces. Esses mecanismos auxiliam na
absoro de energia e na resistncia fratura dos nanocompsitos.65
O grafite por ser uma nanocarga rgida, atua como concentrador de tenses
quando no bem disperso, diminuindo a resistncia ao impacto. Os mecanismos de
absoro de energia contrabalanceiam este efeito e fizeram com que no houvesse
grandes variaes na resistncia ao impacto, apenas um leve aumento (Figura 4.1.4). O
grafite GI-180 conferiu ao nanocompsito o maior ganho em resistncia ao impacto
comparado aos demais grafites utilizados (41%). Este efeito pode estar associado
presena de uma maior quantidade de intercalante (conforme sugerido no item 4.1.1)
resultando em um espaamento interlamelar maior e facilitando a entrada de cadeias
polimricas (intercalao), o que resultaria em um amortecimento maior do material e
na maior facilidade de deslizamento das lamelas de grafite.
0
300
600
900
1200
1500
1800
2100
PP GI-110
GI-150
GI-180GE-
HC11
GE-07
GE-GX
Md
ulo
de F
lex
o (M
Pa)
0
20
40
60R
esis
tnc
ia a
o Im
pact
o Iz
od (J
/m)
Figura 4.1.4. Mdulo de flexo e resistncia ao impacto dos nanocompsitos com diferentes grafites.
A temperatura de transio vtrea (Tg) e o mdulo de armazenamento (E) esto
relacionados com a mobilidade dos segmentos polimricos. A restrio da mobilidade
das cadeias leva ao aumento da Tg e do E. Esta diminuio da mobilidade pode ser
ocasionada pela intercalao ou esfoliao de nanocargas na matriz polimrica.10
A temperatura de transio vtrea dos nanocompsitos teve um pequeno
aumento tanto para o grafite intercalado quanto para o expandido, assim como o mdulo
de armazenamento, indicando uma diminuio da mobilidade dos segmentos
41
polimricos devido ao uso de nanocarga. O HDT, que est relacionado com a rigidez do
material, apresentou aumento significativo, conforme era esperado devido ao ganho em
mdulo.
4.1.5. CONSIDERAES DESTA ETAPA
Diferentes grafites foram testados a fim de avaliar o mais eficiente na obteno
de nanocompsitos. Para isto foram avaliadas as propriedades trmicas, mecnicas e a
morfologia dos nanocompsitos. Os grafites intercalados obtiveram desempenho
bastante inferior com relao ao mdulo de flexo em comparao com os grafites
expandidos devido maior dificuldade de disperso na matriz.
Todos os grafites conferiram aos nanocompsitos propriedades trmicas
semelhantes com incremento um pouco maior na temperatura de cristalizao com o uso
dos grafites expandidos. As propriedades mecnicas tambm foram realadas com o uso
das nanocargas, com um aumento dos mdulos de flexo e armazenamento, do HDT e
um aumento menor na resistncia ao impacto e na Tg. Assim, como nas propriedades
trmicas, os grafites expandidos apresentaram uma melhor performance.
O uso de grafite expandido visivelmente a melhor alternativa para a obteno
dos nanocompsitos, uma vez que a chave para alcanar as melhores propriedades do
material est ligada morfologia. O grafite GE-GX possivelmente a melhor escolha
como nanocarga, pois alm de resultar em propriedades mecnicas pouco melhores que
os demais grafites, possui uma abundncia natural maior que o GE-HC11 e, portanto
um custo menor.
42
4.2 AVALIAO DOS MTODOS DE PREPARAO
A busca por diferentes mtodos de preparao dos nanocompsitos visou
encontrar o material com as melhores propriedades trmicas, mecnicas e com a
morfologia mais adequada. As amostras avaliadas foram preparadas de diferentes
formas, contudo para fim comparativo todas contiveram 2% de grafite expandido
GEHC-11 e no foram usados aditivos. As amostras produzidas (Figura 4.2.1) foram
obtidas pelo uso de ultra-som no grafite, pelo uso de masterbatch, pela agitao
mecnica ou mistura fsica do grafite/ PP. Nas amostras tambm foi variada a
granulometria do PP usado, sendo utilizado na forma granulada ou micronizada. Todas
estas amostras passaram pelo processo de extruso para posterior avaliao de suas
propriedades.
Masterbatch
Agitao Mecnica
MASTER
GRANUL.
AGIT. MEC.
PP granulado
PP micronizado
Mistura Fsica
Ultra-som
EXTRUSO
GRAFITE
US
MICRON.PP
micronizado
PP micronizado
PP granulado
PP granulado
PP micronizado
Masterbatch
Agitao Mecnica
MASTER
GRANUL.
AGIT. MEC.
PP granuladoPP granulado
PP micronizado
PP micronizado
Mistura Fsica
Ultra-som
EXTRUSO
GRAFITE
US
MICRON.PP
micronizadoPP
micronizado
PP micronizado
PP micronizado
PP granuladoPP granulado
PP granuladoPP granulado
PP micronizado
PP micronizado
Figura 4.2.1. Esquema de obteno das amostras por diferentes mtodos de preparao.
4.2.1. MORFOLOGIA DOS NANOCOMPSITOS
A morfologia das amostras preparadas atravs de diferentes mtodos pode ser
visualizada atravs das microscopias eletrnicas de transmisso (Figura 4.2.2). As
amostras que tero as morfologias avaliadas sero as preparadas com o PP granulado,
PP micronizado e com pr-tratamento por 1 hora em ultra-som.
43
GRANULADO
MICRONIZADO
44
US-1
Figura 4.2.2. Imagens de MET dos nanocompsitos preparados com PP granulado e micronizado e da
amostra resultante do processo de sonificao.
Todas as amostras mostraram uma boa distribuio do grafite, contudo ainda
apresentaram aglomerados (m disperso). As amostras com o PP micronizado
(MICRONIZADO e US-1) mostraram maior uniformidade que a amostra preparada
com o PP granulado. possvel visualizar que a amostra que passou pelo processo de
ult