OE COM OZ

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    OE PARA OZ

    "Tolerncia a questo do sculo 21"

    3 de junho de 1998Prezado Ams Oz,

    Quase no fim do ano passado fui a Hiroshima participar de um seminrio emque o e!primeiro!ministro de "srae# ocupa$a o #u%ar centra#& 'nquantoespera$a pe#a partida, no aeroporto, ti$e a oportunidade de con$ersar so(re#iteratura israe#ense com o sr& )himon Peres, que * um #eitor $ersado, a#*m deeperiente po#+tico internaciona#, e tam(*m com sua fi#ha, uma fi#o#o%ista

    profissiona#& Am(os o recomendaram como me#hor escritor& 'u contei que #eio

    suas o(ras h muito tempo&

    O senhor * um $erdadeiro romancista& ertamente j #i seus romances& -astam(*m #i suas #.cidas reporta%ens& 'ssa eperi/ncia me d a sensa0o, ao #heescre$er minha primeira carta, de que o senhor entender meus sentimentos2estando em Hiroshima com um con$idado estran%eiro, fui dominado por umaestranha sensa0o de d.$ida, no entanto no conse%ui me ca#ar&o ponto de $ista das centenas de mi#hares de $+timas que foram mortas pe#a

    (om(a at4mica ou que sofreram suas consequ/ncias, sou um mero o(ser$ador&-as fui impe#ido a me manifestar como participante, para os estran%eiros e

    para os jo$ens deste pa+s&

    5o in+cio de meu discurso !ep#icarei (re$emente por qu/!, resumi aconc#uso da recente $erso em in%#/s de 6A 'stre#a de a$i ! Histria de um)+m(o#o6, de 7ershom )cho#em, que eu esta$a #endo fazia a#%um tempo&Ar%umentou!se que como s+m(o#o de "srae# na (andeira naciona#, em $ez da'stre#a de a$i, #i%ada morte na cmara de %s, de$eria ser adotado um

    no$o s+m(o#o, de $ida& -as essa opinio pode ser refutada& O s+m(o#o, queem nossa *poca tornou!se santificado pe#o sofrimento e pe#o horror, * $#ido o(astante para i#uminar o caminho da $ida e do renascimento&

    )e, com a derrota do :apo na .#tima %uerra, hou$essem proposto uma no$a(andeira que comemorasse Hiroshima, teria sur%ido uma oposi0o maci0a& 'upessoa#mente acho que Hiroshima poderia ser um s+m(o#o santificado pe#osofrimento e o horror, $#ido o (astante para i#uminar o caminho da $ida e dorenascimento&

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    Para o resto do mundo afirmo con$ictamente que o :apo jamais possuirarmas nuc#eares at* meados do s*cu#o ;1& O moti$o * que a (andeirasim(#ica de Hiroshima est pendurada na mente dos japoneses& 5o entanto, o:apo depende da prote0o nuc#ear dos 'stados ran0a,hina, ?ndia e Paquisto, afina# seremos o(ri%ados a aceit!#os como parte dosistema nuc#ear mundia#&

    "sso ta#$ez si%nifique que Hiroshima, como s+m(o#o %ra$ado em nossasmentes, * diferente daque#e que representa sua #on%a histria de sofrimento&e$o admitir que sou cidado de um pa+s que possui uma am(i%uidadeinerente& Ao afirmar isso, re$e#ei ao e!primeiro!ministro, sr& Peres, que fui

    um dos si%natrios do protesto contra a priso do jorna#ista que re$e#ou aposse de armas nuc#eares por "srae#&

    >az quase 1@ anos que conheci sua o(ra& 'ra uma tradu0o in%#esa de 65aerra de "srae#6 B"n the Cand of "srae#D& 5a *poca eu era pesquisador na

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    apoiando "srae#& omo escritor do 'tremo Oriente, fui con$idado por essesinte#ectuais a participar do de(ate& Cer sua o(ra era um pr*!requisito&>iquei profundamente impressionado com 65a erra de "srae#6& Ao percorrertodo o pa+s #o%o depois desse incidente, o senhor fa#ou com cora%em esinceridade a pessoas de di$ersas ori%ens e pontos de $ista, e os escutou com

    paci/ncia& 'm(ora no o mencione ep#icitamente, de$ia ha$er resqu+cios de6$io#/ncia no ar6, como diz 5adine 7ordimer& ) posso admir!#o pe#o quefez&

    Ao meu ami%o jorna#ista o senhor passou a se%uinte mensa%em para aprima %era0o2 6)e eiste a#%uma esperan0a, * o poder da "ma%ina0o& K opoder com o qua# uma pessoa conse%ue se ima%inar no #u%ar de outra6&oncordo p#enamente com suas pa#a$ras& Admiro essa reporta%em como uma

    o(ra!prima etraordinria, produzida pe#o poder da "ma%ina0o&a tradu0o japonesa de 65a erra de "srae#6, que saiu #o%o depois dapu(#ica0o do ori%ina# e ainda * encontrada, permita!me a #i(erdade de citarsuas pa#a$ras finais2

    6a#$ez fosse uma promessa insana2 transformar, no espa0o de duas ou tr/s%era0Les, mu#tidLes de judeus perse%uidos, apa$orados, cheios de amor!dio

    por seus pa+ses de ori%em, numa na0o que seria um eemp#o para acomunidade ra(e e um mode#o de sa#$a0o para todo o mundo& a#$ez

    tenhamos apostado a#to demais& a#$ez tenha ha$ido, de todos os #ados, ummessianismo #atente&&& a(ster!se do fer$or messinico em troca da prosaicaso(riedade& ' ta#$ez nossa histria como um todo no seja uma histria desan%ue e fo%o, ou de sa#$a0o e recompensa, mas sim a histria de um esfor0ohesitante para sarar de uma %ra$e doen0a&&& Paci/ncia, di%o eu& 5o eiste umata#ho6&

    A pa#a$ra 6paci/ncia6, prezado Ams Oz, * eatamente a que usei junto com6esperan0a6 no fina# de meu romance 6

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    ensinar a seus compatriotas so( o re%ime mi#itar durante a %uerra& om o no$ore%ime do ps!%uerra, e#e #e$antou a questo2 6A to#erncia de$e se tornarinto#erante para se prote%er da into#ernciaN6&

    Acredito que a necessidade mais premente para o mundo no primo s*cu#oser o esp+rito de to#erncia, e ao mesmo tempo pre$ejo uma correntea$assa#adora no sentido contrrio& 'u %ostaria sinceramente de ou$ir suaopinio so(re a to#erncia, so#idificada como uma questo de princ+pio etam(*m eperimentada na prtica&

    om os me#hores $otos,

    sinceramente seu,

    enza(uro Oe

    OZ PARA OE

    "Descobri a cura do fanatismo"

    aro enza(uro Oe,

    'm seu ece#ente conto 6Prize )tocF6, o $e#ho (a#conista que tem uma pernaartificia# diz ao menino que chama de 6)apo62 6Quando uma %uerra come0a aesma%ar dedos de crian0as, foi #on%e demais6&

    Os dedos de crian0as so uni$ersais, mas at* onde $ai 6#on%e demais6N Kposs+$e# que pessoas diferentes se espantem de modo diferente com horroresdiferentesN A#%uns anos atrs minha mu#her, 5i#G, e eu $isitamos Hiroshima&Cem(ro que tentei em $o ima%inar como seria estar # no momento daep#oso& am(*m recordo ter pensado que no instante em que a (om(aep#odiu certas pa#a$ras foram modificadas para sempre2 6nuc#ear6,6radia0o6, 6hipocentro6 e at* 6co%ume#o6 e 6%uarda!chu$a6& 5o so mais

    pa#a$ras inocentes& >oram contaminadas, assim como 6so#u0o fina#6,6parasitas6 e 6eterm+nio6& 'ssas pa#a$ras continuam contaminadas muitodepois que a terra e a %ua de Hiroshima deiaram de estar e que as cmarasde %s se transformaram em atra0o tur+stica&

    5a mesma noite insone que passei em Hiroshima a#%uns anos atrs, #em(ro de

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    po$o judeu de "srae#& H $rios anos os judeus israe#enses so $isados comoum )a#man Mushdie co#eti$o& 5o * de surpreender que "srae# tenhadesen$o#$ido uma s+ndrome de inse%uran0a que (eira a parania, confiandoapenas em si mesmo e suas for0as armadas, sendo constantemente acusado

    por todos pe#os dist.r(ios no Oriente -*dio&

    O #ado tr%ico disso * que, quando fina#mente se a(re uma jane#a para a paz,muitos israe#enses continuam desconfiados e traumatizados demais para seaproimar da jane#a e o#har por e#a&

    A capacidade nuc#ear de "srae# * mais do que um simp#es (oato= no entanto,"srae# nunca efetuou um teste ou uti#izou armas nuc#eares& Acho que de$emos

    continuar e$itando test!#as ou uti#iz!#as, no importa o que aconte0a& -asno podemos esquecer que poucos anos atrs, em 1991, o ditador iraquiano)addam Hussein, enfurecido com a coa#izo de pa+ses que dete$e seu saque aouait, despejou so(re "srae# dezenas de m+sseis (a#+sticos Bapesar de "srae#no participar da coa#izo na 7uerra do 7o#foD& Os m+sseis de )addam eramequipados com o%i$as con$encionais de$astadoras, e no (io#%icas ouqu+micas, no porque e#e ti$esse pena dos ci$is israe#enses, mas porque de$iasa(er que a capacidade nuc#ear de "srae# no era um mero (oato& 'staria eusu%erindo que armas mort+feras podem ter um #ado (omN ertamente no2estou defendendo o desarmamento como parte de um acordo de paz

    a(ran%ente para o Oriente -*dio, e no como uma questo iso#ada&>az 3J anos que eu e meus co#e%as do mo$imento pacifista israe#ense nosesfor0amos para encontrar uma so#u0o de compromisso entre israe#enses e

    pa#estinos, um compromisso que %aranta a am(os os #ados apenas parte doque cada um considera sua propriedade& 5o meu entender o conf#itoisrae#ense!pa#estino no * preto no (ranco, e am(os os #ados de$em admitirseus respecti$os erros&

    )empre considerei uma tra%*dia o conf#ito entre israe#enses e pa#estinos, umchoque entre certo e certo, o choque entre uma rei$indica0o poderosa econ$incente pe#a terra e outra, no menos poderosa e con$incente, pe#amesma terra& Os pa#estinos esto na Pa#estina porque * sua terra nata#& Os

    judeus israe#enses esto em "srae# eatamente pe#o mesmo moti$o& 5o * umsimp#es desentendimento que se esquece quando os dois #ados tomam um caf*

    juntos e passam a se conhecer me#hor& 5o pode ser reso#$ido com a#%umaesp*cie de terapia de %rupo ou fami#iar& Pa#estinos e israe#enses querem amesma terra porque a consideram sua e nenhum de#es possui outro territrio&'ssa situa0o poderia %erar um perfeito entendimento entre os #ados, mas esse

    entendimento encerra uma tra%*dia terr+$e#2 rios de caf* consumidos juntos

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    no seriam capazes de etin%uir a tra%*dia de duas na0Les que rei$indicam amesma terra&

    5o momento no * poss+$e# os israe#enses e os pa#estinos se misturarem eformarem uma fam+#ia unida e fe#iz, porque e#es no so unidos, no sofe#izes e tampouco so uma fam+#ia& A .nica so#u0o prtica * di$idir o

    pequeno territrio em dois 'stados menores e $izinhos, "srae# e Pa#estina& Acasa ter de se transformar numa unidade para duas fam+#ias, um so(rado%eminado& om o tempo sur%ir um mercado comum, uma economiacomparti#hada, uma federa0o re%iona# do Oriente -*dio& -as o primeiro

    passo teria de ser a so#u0o de dois 'stados& 5o se pode esperar umarepentina #ua!de!me# entre dois inimi%os mortais& 'm uma pa#a$ra2

    precisamos de um compromisso&

    )ei que a pa#a$ra compromisso tem p*ssima reputa0o nos c+rcu#os idea#istas&odo tipo de redentores !cruzados e crentes em messias $ariados, como os que)cho#em descre$e $i$amente!, nenhum de#es to#era compromissos, quersempre a reden0o tota#& Os idea#istas %era#mente consideram o compromissouma esp*cie de oportunismo, de fa#ta de princ+pios, de honestidade, deinte%ridade mora#& 'm meu $oca(u#rio particu#ar, por*m, a pa#a$ra6compromisso6 * sin4nima de 6$ida62 onde h $ida h infinitos compromissos&

    O oposto de compromisso no * inte%ridade, mas fanatismo e morte&)im, sei a#%umas coisas so(re compromissos !mas tam(*m so(re fanatismo eecesso de ze#o& esde muito jo$em $enho o(ser$ando e estudando ofanatismo !de certa forma sou um fantico con$ertido, um fanticorecuperado, e se o senhor ou$ir fa#ar de a#%uma esco#a ou uni$ersidade queofere0a um curso de fanatismo comparado, me candidato a um empre%o de

    professor= considero!me qua#ificado& ' ta#$ez este seja o momento idea# paratodas as esco#as do mundo criarem a discip#ina fanatismo comparado, porquee#e paira so(re todos ns&

    5o apenas nos #u%ares ($ios, como a R, onde mu#tidLes ecitadasmostram os punhos e %ritam s#o%ans de furor re#i%ioso ou naciona#ista& 5o2est em toda parte, pairando so(re ns& : $i antita(a%istas que poderiamqueimar $i$os todos os que fumam& onhe0o $e%etarianos que o comero$i$o por comer carne& onhe0o at* pacifistas !a#%uns de meus co#e%as nomo$imento pacifista! que poderiam me dar um tiro na ca(e0a simp#esmente

    porque tenho estrat*%ias um pouco diferentes para a#can0ar a paz entreisrae#enses e pa#estinos&

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    )e o senhor prometer que me acompanhar com uma (oa dose de ceticismo,posso at* #he dizer que desco(ri !pe#o menos em princ+pio! a cura para ofanatismo& A cura *&&& o (om humor& 5unca $i um fantico (em!humorado,nem a#%u*m (em!humorado se tornar fantico& Por isso, se eu conse%uissecomprimir (om humor em cpsu#as e con$encer popu#a0Les inteiras a in%eri!#as, assim imunizando!as contra o fanatismo, poderia ter conse%uido um t+tu#oem medicina, em $ez de #iteratura&

    'm outras pa#a$ras, meu tipo de messias che%ar rindo e contando piadas&-as, pensando me#hor, mesmo a id*ia dos comprimidos de humor e de fazertoda a humanidade tom!#os est #i%eiramente contaminada de fanatismo& Ofanatismo * muito conta%ioso& Pode!se pe%!#o no prprio ato de tentar cur!

    #o& onhe0o o peri%o de se tornar um fantico antifanatismo& Assim como a$io#/ncia, o fanatismo pode se disfar0ar de $rias outras coisas&

    O prezado senhor enza(uro Oe #eu 6he House 7un6, .#timo romance denossa ami%a comum 5adine 7ordimerN K uma interpreta0o suti# de como a$io#/ncia, quando o ar est contaminado por e#a, conse%ue penetrar nascamadas mais particu#ares e +ntimas da $ida& Acho que em seus prpriostetos, assim como nos de 5adine e nos meus, eiste essa interpenetra0o de

    p.(#ico e pri$ado, de histria e intimidade, ideo#o%ia e sensua#idade& a#$ez

    pe#o fato de ns tr/s $i$ermos em pa+ses cuja histria !a ma#dita histria!penetrou nas mo#*cu#as mais pri$adas da $ida, em que os horrores po#+ticosocorrem no apenas na te#a da R, mas em nossas prprias $idas& 'sti$e nocampo de (ata#ha duas $ezes na $ida, em 19I e no$amente em 19I3, quandoconc#u+ que o maior peri%o no est nas armas e nas (om(as, nem nos%o$ernos e nos mi#itares, mas no cora0o humano2 a%resso, fanatismo,

    prepot/ncia, ecesso de ze#o, incapacidade de ima%inar, incapacidade deou$ir, de rir !principa#mente rir de ns mesmos&

    )im, prezado enza(uro Oe, perce(i que a pa#a$ra 6paci/ncia6 encerra tantoseu 6Questo Pessoa#6 quanto meu 65a erra de "srae#6&

    5o fina# de sua carta o senhor per%unta minha opinio so(re quais seriam osmeios para se difundir a to#erncia& Eem, no tenho uma frmu#a definida,mas, como eu disse, acredito que o humor * um %rande redentor !a#%u*mcapaz de rir de si mesmo deia de ser um fantico& O (om humor, afina#,cont*m re#ati$ismo, e o re#ati$ismo ta#$ez seja capaz, at* certo ponto e ema#%uns casos, de nos 6ensinar a superar nossa #oucura6&

    om ca#orosa amizade,

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    Ams Oz

    DE OE PARA OZ

    "eu discurso resiste ao sil!ncio"

    aro Ams Oz,

    )ua resposta me deu a sensa0o de estar dia#o%ando frente a frente com osenhor& K um di#o%o interca#ado de momentos de si#/ncio, no a#heio dor e tristeza, mas durante os quais sur%em sorrisos sempre que os o#hos dosinter#ocutores se encontram&

    epois da )e%unda 7uerra -undia# foram reatados os #a0os do :apo com acu#tura ocidenta#& 5a *poca eu ainda era crian0a, mas desde ento adotei oh(ito de identificar os atos e discursos de profetas e apsto#os sempre quedeparo com nomes (+(#icos& 'sse h(ito permanece comi%o& Quando tomeicontato com seu #i$ro, achei seu nome id/ntico ao do escritor ni%erianoutuo#a, autor do so(er(o 6-inha Rida na >#oresta dos >antasmas6 B6-G Cifein the Eush of 7hosts6D, e #em(rei!me das pa#a$ras do profeta Ams26Portanto os prudentes %uardaro si#/ncio nessa *poca, porque ser uma *pocama#i%na6&

    5enhum de ns est $i$endo uma (oa *poca, mas o senhor tem sepronunciado, em $ez de manter si#/ncio& O esti#o de seu discurso, por*m, *honesto e en%enhosamente e#a(orado& Mesiste ao si#/ncio a(so#uto, no entantoencerra at* mesmo o si#/ncio ine$ita$e#mente %erado pe#o discurso humano&omo seu #eitor, que perce(e em suas pa#a$ras cr+ticas a mim, s $ezes sou#e$ado a ficar em si#/ncio e a meditar do#orosamente, mas me descontraio esuspiro a#i$iado quando encontro o humor em seus tetos& )ei que isso s *

    poss+$e# quando me sento frente a frente com uma pessoa (asicamenteto#erante&

    epois de $i$er Hiroshima, os japoneses perderam o encanto por qua#quertipo de armamento= por sua $ez, os judeus, depois de $i$er Auschitz,despertaram da i#uso de que poderiam $i$er sem armas& Ao ou$i!#o dizerisso, reduzo!me ao si#/ncio& omo #e%ado de Hiroshima, os japonesescertamente desconfiam das armas nuc#eares e as rejeitam& Por outro #ado,

    podem faci#mente sentir atra0o pe#os encantos das armas comuns& O '*rcito

    de Autodefesa do :apo tem adquirido as mais modernas armas em #ar%aesca#a, e o :apo tem o tratado mi#itar com os 'stados

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    nuc#ear& ontinua eistindo s*ria po#/mica so(re as (ases mi#itares emOFinaa, a i#ha mais meridiona# do arquip*#a%o japon/s& odos sa(em que a.nica so#u0o ser a(o#ir o ratado -i#itar 5ipo!Americano e esta(e#ecer umano$a ordem de paz no nordeste da Ssia& 5o entanto, nem o %o$erno japon/snem os partidos de oposi0o, com ece0o do Partido omunista, nem amaioria da popu#a0o desejam se manifestar& Os japoneses parecemenfeiti0ados pe#a id*ia de que esto prote%idos pe#o tratado mi#itar&

    'ssas circunstncias causam meu interesse por suas ati$idades em defesa dodesarmamento como parte de uma paz a(ran%ente no Oriente -*dio&

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    o(ri%ado a mer%u#har profundamente em ref#eo e num si#/ncio impotente,de$ido a circunstncias incontorn$eis&

    Prezado Ams Oz, o senhor acha que pode ha$er #u%ar para sorrisos deto#erncia ou de humor no si#/ncio rec+proco en%endrado por nossos di#o%osepisto#aresN 5o * essa uma questo ur%ente hojeN 'u pessoa#mente che%oconfiantemente conc#uso de que eiste #u%ar para isso, porque * umeemp#o da me#hor heran0a cu#tura# da humanidade que conse%uiu so(re$i$ers piores *pocas da histria& >oi num seminrio de que participaram o a#aiCama e cristos americanos que redesco(ri o si%nificado positi$o do si#/ncioque in$ade os di#o%os& 5o .#timo meio s*cu#o, o a#ai Cama $i$eu as pioresdificu#dades, no entanto sempre demonstrou um %rande sentido deco#a(ora0o entre diferentes cren0as re#i%iosas& '#e * um dos me#hores

    eemp#os do homem do s*cu#o ;J& A#*m disso, sua maneira de fa#ar * cheia dehumor& Acredito que e#e esteja o mais distante do tipo de fanatismo que osenhor detesta acima de qua#quer coisa&

    O que eu %ostaria de per%untar *2 no poderia ha$er uma confer/ncia da qua#participassem e dia#o%assem de#e%ados das di$ersas re#i%iLes do mundoN Osparticipantes teriam permisso para frequentes momentos de si#/ncio Bome#hor seria esco#her pessoas dotadas do maior humor poss+$e#, sejam e#asre#i%iosas, no!re#i%iosas ou #+deres po#+ticosD& 5a confer/ncia, apesar dos

    momentos de si#/ncio, e#as sero %radua#mente conectadas e unidas porsorrisos de to#erncia& anto antes como depois da confer/ncia, de$eria ha$er

    jane#as da "nternet a(ertas em esca#a sem precedentes para rece(er as opiniLesde pessoas do mundo todo& O #oca# da primeira confer/ncia de$eria ser o:apo ou "srae#& 5este .#timo caso, tam(*m de$eria ser a(erta aos pa#estinos&' de$eria ser incenti$ada a coopera0o de todos os judeus no nascidos em"srae# que esto espa#hados pe#o mundo inteiro&

    O outro moti$o * o se%uinte& -inha defini0o do :apo como pa+s 6am(+%uo6foi criticada em di$ersos setores& 5o entanto, pre$ejo que no futuro o :apocontinuar 6am(+%uo6& esde que consi%a superar a atua# crise econ4mica,

    possi$e#mente se tornar o pa+s mais to#erante no nordeste da Ssia, casoqueira& Por outro #ado, tam(*m poder se tornar um 'stado fantico, a#turados 'stados into#erantes de fato& -e per%unto se "srae# tam(*m no seria um

    pa+s 6am(+%uo6 no Oriente -*dio& 5a ju$entude, certa $ez ou$i dizer queT&H& Auden se recusou a dar pa#estras no :apo, a#e%ando que no ha$eria umassento de toa#ete do tamanho de seu 6traseiro6& "sso me insu#tou& Assimmesmo, fui admirador de Auden durante toda a $ida, e de#e emprestei uma

    frase para o t+tu#o de meu romance 6each

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    At* hoje, caro Ams Oz, o senhor foi a .nica pessoa que me deu uma respostapara isso& oncordo tota#mente com o senhor que o meio para superar nossa#oucura reside na capacidade de rir e ima%inar, no re#ati$ismo, nocompromisso Bque, como o senhor diz, 6* sin4nimo de $ida6D, na oposi0o atodo tipo de fanatismo etc& A estes eu %ostaria de acrescentar a ora0o, tanto

    para os crentes re#i%iosos como no!crentes Bentre os quais me inc#uoD !aora0o por um futuro me#hor&

    )inceramente seu,

    enza(uro Oe

    OZ PARA OE

    "A literatura no rofecia"

    Arad,

    ;IUIU1998

    Prezado enza(uro Oe,

    5ossa troca de cartas me d a impresso de que o conhe0o !como seti$*ssemos nos encontrado em a#%um #u%ar, con$ersado e a%ora nos

    correspond/ssemos no como estranhos, mas como dois ami%os capazes desuportar $rios si#/ncios e mesmo trocar um sorriso ou uma risadaaparentemente fora de conteto& 7osto muito disso& 'm sua se%unda carta osenhor cita o profeta Ams Bcujo nome meus pais me deramD& Ams disse26Portanto os prudentes mantero Bou de$eriam manterD si#/ncio nessa *poca,

    pois * uma *poca ma#i%na6& -as e#e no ficou em si#/ncio&

    a#$ez no se considerasse prudente& Ce$antou a $oz com $eem/ncia contraseu prprio po$o, contra os inimi%os de seu po$o e contra outras na0Les& '#e

    possu+a uma estranha mistura de f.ria e compaio&

    A #iteratura, contar histrias, no * profecia&

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    B&&&D

    omo * ser o senhor, um japon/s de sua %era0oN Por que sua maiorpreocupa0o so(re "srae# * sua capacidade nuc#earN )eus #i$ros, e o(ras deoutros autores, ajudaram!me a tentar ima%inar o seu trauma e de sua %era0o&O monstro do autoritarismo, o monstro de Hiroshima e 5a%asaFi, o monstroda comp#eta so#ido interior& )eus pais, que $i$iam num p#aneta diferente, eseu fi#ho, que nasceu numa %a#ia diferente& A #on%a e so#itria jornada pe#os$astos espa0os entre seus pais, o senhor, seu fi#ho, seu tempo&

    O senhor tenta ima%inar minha eist/nciaN 5asci de pais perse%uidos,refu%iados, so(re$i$entes& resci numa :erusa#*m sitiada, cercado de ra(es

    decididos no a modificar ou reeducar os judeus, mas a matar todos ns&epois os prprios ra(es se tornaram $+timas2 na %uerra de 198 muitospa#estinos ra(es foram epu#sos pe#os israe#enses, todos foram tra+dos econdenados ao sofrimento e de%rada0o pe#os re%imes etremistas dos

    pa+ses ra(es $izinhos e pe#a arro%ncia m+ope dos %o$ernos israe#enses&

    B&&&D

    omo eu poderia ar%umentar, caro enza(uro Oe, com o po$o de Hiroshima e

    de 5a%asaFi, so(re a necessidade de e#iminar as armas nuc#earesN ) possodizer que o Oriente -*dio necessita de um acordo a(ran%ente, que d/ aosra(es pa#estinos um 'stado, #ares e empre%os, e ao mesmo tempo ofere0a a"srae# uma sensa0o de se%uran0a e ponha fim ao tradiciona# medo deepu#so e se%re%a0o dos judeus&

    Precisamos romper o cic#o ra(e!israe#ense de $io#/ncia e contra$io#/ncia,dispersar o dio, a desconfian0a, a opresso, a injusti0a, a pro$oca0o, a id*iade rejei0o e de a%resso& As armas con$encionais, qu+micas e (io#%icas e as

    armas nuc#eares de$em ser reduzidas e erradicadas por meio de um amp#oacordo& Eanir somente as armas nuc#eares e i%norar todos os demais artefatosde morte no Oriente -*dio si%nificaria simp#esmente que os menos de @mi#hLes de judeus israe#enses ficariam merc/ dos mais de ;JJ mi#hLes dera(es, apoiados por cerca de 1 (i#ho de mu0u#manos, a#%uns dos quais estoarmados com enormes arsenais con$encionais e apoca#+pticos, dos quais onuc#ear * apenas um& 'm resumo, #utar pe#a a(o#i0o da pena de morte no *suficiente para (anir e destruir todas as amarras& Precisamos de umdesarmamento re%iona#&

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    'm seu como$ente romance 6oi cheFo$ quem nos ensinou a todos que 6tr%ico6 e6c4mico6 so apenas duas jane#as diferentes que do para a mesma paisa%ematormentada&

    Ao desco(rirmos que somos todos mais ou menos imperfeitos, mais ou menosto#os, mais ou menos en%ra0ados, tam(*m seremos capazes de sentir uma

    compaio tra%ic4mica uns pe#os outros& 'm $ez de corar quando nossosse%redos so re$e#ados, seremos capazes de retri(uir o sorriso %enti# dosestranhos que desco(riram que tam(*m mancam, %a%uejam ou so $es%os&"sso ta#$ez seja $erdade no apenas em re#a0o aos indi$+duos, mas tam(*mem re#a0o s na0Les, cu#turas e re#i%iLes&

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    )ua id*ia da confer/ncia * muito (oa& Que e#a ocorra em :erusa#*m, (er0o detantas f*s e ponto foca# para muitos fanticos& Ou que ocorra em Hiroshima&Que escritores, poetas, pensadores e comediantes de diferentes cu#turas tentem6comparar seus se%redos6 e criem, seno a paz uni$ersa#, pe#o menos aque#aesp*cie de sorriso& 'u %ostaria de continuar nossa con$ersa, aqui, a+ ou emqua#quer #u%ar, a qua#quer hora&

    O senhor acrescentou 6ora0o6 minha #ista de si%nificados de 6superar nossa#oucura6& )im, eu concordo& Para um judeu no!praticante como eu, ora0osi%nifica2 orar em ta# si#/ncio e concentra0o interior que, por um instante,seja poss+$e# escutar e rece(er sua prpria ora0o&

    )eu,

    com amizade a afei0o,

    Ams Oz