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OESTE BAIANO: DA AGRICULTURA FAMILIAR À AGROINDÚSTRIA 6-Problemática de los espacios agrários Fernandes, Raony Chaves 1(*) Lobão, Jocimara Souza Britto 1 Vale, Raquel de Matos Cardoso 1 1 - Universidade Estadual de Feira de Santana-UEFS-BAHIA | (*) Brazil RESUMO: O Brasil possui uma dinâmica agropecuária dividida em várias formas básicas de organização do espaço agrário, dentre elas a agricultura familiar de pequenos produtores, e os latifúndios voltados ao agronegócio. Durante todo o processo de colonização do território nacional, os latifúndios foram beneficiados por políticas públicas, consequentemente as áreas consideradas menos valorizadas, seja por conta do regime de chuvas, ou por questões referentes à baixa fertilidade do solo foram ocupadas por pequenos produtores. A Bahia não foge dessa dinâmica, em especial a Região Oeste do estado que até a primeira metade do século XX, permaneceu, como um imenso território de reserva, parcialmente ocupado e com atividades agropecuárias tradicionais. Posteriormente, a partir da década de 1970, houve a modificação desse cenário. A região foi marcada por um novo ciclo de desenvolvimento, com intensa transformação do espaço, além de um vigoroso movimento populacional intra e inter-regional. O objetivo do trabalho é analisar a produção dos principais produtos agrícolas nos municípios do Oeste baiano (Angical, Baianópolis, Barreiras, Canápolis, Catolândia, Correntina, Cotegipe, Cristópolis, Formosa do Rio Preto, Jaborandi, Luis Eduardo Magalhães, Mansidão, Riachão das Neves, Santa Maria da Vitória, Santa Rita de Cássia, São Desidério e Wanderley), no período de 1996 a 2006. A região Oeste é de grande importância para o estado da Bahia, onde à presença de latifúndios, da agroindústria e da produção voltada para a exportação, contraposta às atividades de pequenos produtores da região, com o cultivo de feijão, milho e mandioca lhe confere uma dinâmica socioespacial própria. Para esse estudo foram utilizadas técnicas de geoprocessamento, possibilitando a geração de um banco de dados em forma de Sistemas de informações Geográficas - SIG permitindo análises têmporo-espaciais mais eficazes. Para a elaboração deste trabalho foi realizado uma revisão bibliográfica, pesquisas de campo e o levantamento de dados do Censo Agropecuário do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, sistematizada para a confecção de mapas temáticos, gráficos e tabelas. Foi possível produzir um diagnóstico do Oeste da Bahia, com o intuito de identificar e compreender a dinâmica do espaço rural. PALAVRAS-CHAVE: Oeste baiano, Soja, Agricultura familiar, Espaço rural. ABSTRACT: Brazil has a dynamic agricultural sector divided into several basic forms of agricultural organization area, among them large farms turned to agribusiness and the family farm. Throughout the process of colonization of the territory, the large farms has been enhanced by public policies, therefore the areas considered less valuable, either on account of the rains, or low soil fertility were occupied by small producers. Bahia is embedded in this dynamic, especially the Western Region of the state that until the first half of the twentieth century remained as an immense territory of reserve, and partially filled with low level of economic activity. From the 1970s, there was a change of scenery. The region was marked by a new cycle

Oeste Baiano Da Agricultura Familiar à Agroindústria

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Oeste Baiano Da Agricultura Familiar

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  • OESTE BAIANO: DA AGRICULTURA FAMILIAR AGROINDSTRIA 6-Problemtica de los espacios agrrios

    Fernandes, Raony Chaves 1(*) Lobo, Jocimara Souza Britto 1

    Vale, Raquel de Matos Cardoso 1 1 - Universidade Estadual de Feira de Santana-UEFS-BAHIA | (*) Brazil

    RESUMO: O Brasil possui uma dinmica agropecuria dividida em vrias formas bsicas de organizao do espao agrrio, dentre elas a agricultura familiar de pequenos produtores, e os latifndios voltados ao agronegcio. Durante todo o processo de colonizao do territrio nacional, os latifndios foram beneficiados por polticas pblicas, consequentemente as reas consideradas menos valorizadas, seja por conta do regime de chuvas, ou por questes referentes baixa fertilidade do solo foram ocupadas por pequenos produtores. A Bahia no foge dessa dinmica, em especial a Regio Oeste do estado que at a primeira metade do sculo XX, permaneceu, como um imenso territrio de reserva, parcialmente ocupado e com atividades agropecurias tradicionais. Posteriormente, a partir da dcada de 1970, houve a modificao desse cenrio. A regio foi marcada por um novo ciclo de desenvolvimento, com intensa transformao do espao, alm de um vigoroso movimento populacional intra e inter-regional. O objetivo do trabalho analisar a produo dos principais produtos agrcolas nos municpios do Oeste baiano (Angical, Baianpolis, Barreiras, Canpolis, Catolndia, Correntina, Cotegipe, Cristpolis, Formosa do Rio Preto, Jaborandi, Luis Eduardo Magalhes, Mansido, Riacho das Neves, Santa Maria da Vitria, Santa Rita de Cssia, So Desidrio e Wanderley), no perodo de 1996 a 2006. A regio Oeste de grande importncia para o estado da Bahia, onde presena de latifndios, da agroindstria e da produo voltada para a exportao, contraposta s atividades de pequenos produtores da regio, com o cultivo de feijo, milho e mandioca lhe confere uma dinmica socioespacial prpria. Para esse estudo foram utilizadas tcnicas de geoprocessamento, possibilitando a gerao de um banco de dados em forma de Sistemas de informaes Geogrficas - SIG permitindo anlises tmporo-espaciais mais eficazes. Para a elaborao deste trabalho foi realizado uma reviso bibliogrfica, pesquisas de campo e o levantamento de dados do Censo Agropecurio do IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica, sistematizada para a confeco de mapas temticos, grficos e tabelas. Foi possvel produzir um diagnstico do Oeste da Bahia, com o intuito de identificar e compreender a dinmica do espao rural. PALAVRAS-CHAVE: Oeste baiano, Soja, Agricultura familiar, Espao rural.

    ABSTRACT: Brazil has a dynamic agricultural sector divided into several basic forms of agricultural organization area, among them large farms turned to agribusiness and the family farm. Throughout the process of colonization of the territory, the large farms has been enhanced by public policies, therefore the areas considered less valuable, either on account of the rains, or low soil fertility were occupied by small producers. Bahia is embedded in this dynamic, especially the Western Region of the state that until the first half of the twentieth century remained as an immense territory of reserve, and partially filled with low level of economic activity. From the 1970s, there was a change of scenery. The region was marked by a new cycle

  • of development, with intensive transformation of space, in addition to a strong regional population movement. The objective of this article is to analyze the agricultural production of the following municipal district in the western Bahia: Angical, Baianpolis, Barreiras, Canpolis, Catolndia, Correntina, Cotegipe, Cristpolis, Formosa do Rio Preto, Jaborandi, Luis Eduardo Magalhes, Mansido, Riacho das Neves, Santa Maria da Vitria, Santa Rita de Cssia, So Desidrio e Wanderley, from 1996 to 2006. The justification of this work is the importance that the western region accounts for the state of Bahia, from its socio-space dynamic, with the presence of large farms, the agribusiness and production devoted to exports, imposed to the activities of small producers in the region, with the cultivation of beans, corn, and manioc. For this study were used techniques of geoprocessing, allowing the generation of a database in the form of geographic information systems allowing temporal-spatial analysis more effective. For the preparation of this work was a bibliographic review, field search and survey data from Census of Agriculture IBGE - Brazilian Institute of Geography and Statistics. It was possible to produce a diagnosis of the West of Bahia, in order to identify and understand the dynamics of rural areas.

    KEY-WORDS: West Bahia, Soybeans, Family Agriculture, Rural Area. 1. INTRODUO

    A dinmica agropecuria brasileira dividida em diversas formas bsicas de organizao

    do espao agrrio podendo citar a disparidade entre a agricultura familiar e os latifndios voltados ao agribusiness. Desde a poca das capitanias hereditrias os latifndios, caracterizados como grandes extenses de terras na posse de apenas um proprietrio, foram beneficiados por polticas pblicas. Como conseqncia disto, as reas consideradas menos valorizadas, seja por conta do regime de chuvas ou por questes referentes baixa fertilidade do solo foram ocupadas por pequenos produtores. Semelhante a dinmica da formao do espao agrrio brasileiro, est o Oeste baiano, possuidor de uma histria recente de ocupao, com uma intensificao demogrfica nas dcadas de 1970 e 1980.

    A regio do Oeste baiano permaneceu at a primeira metade do sculo XX, como um imenso territrio de reserva, parcialmente ocupado e com baixo nvel de atividade econmica. A partir da dcada de 70, a regio foi marcada por um novo ciclo de desenvolvimento, com intenso e rpido processo de transformao alm de vigoroso movimento populacional intra-regional e inter-regional(SANTOS, 2000). Esta uma rea da Bahia que tem grande importncia econmica a partir da agropecuria, destacando a criao de gado, produo de gros e a fruticultura. O processo de desenvolvimento do Oeste baiano teve como determinantes principais a disponibilidade de recursos naturais, solos planos de cerrado, com precipitao regular e temperaturas amenas; a interveno governamental, na forma de polticas de implantao de infra-estrutura, de irrigao, fundirias e creditcias; os fluxos de capitais privados que complementaram o aporte de capital estatal e a presena de atores sociais diferenciados em relao aos agentes econmicos tradicionais do mundo rural baiano, provenientes de ambientes nos quais a dotao de capital social mais elevada (BAIARDI, 2004).

  • A Regio Oeste possui uma dinmica de ocupao peculiar das demais regies da Bahia, por ser uma rea distante da capital Salvador, cerca de 850 Km, sempre foi considerada uma rea de reserva, um verdadeiro vazio demogrfico. Atravs de polticas desenvolvidas pelo setor pblico, que iniciou-se o processo de ocupao da regio, populao essa oriunda principalmente da regio Sul do Brasil, geralmente gachos, em busca de novas fronteiras agrcolas, para a implantao da moderna agricultura mecanizada.

    A implementao da moderna agricultura no espao dos cerrados baianos foi um dos poucos fatos econmicos ocorridos no territrio do Estado, responsvel pela mudana do perfil econmico poltico e geogrfico da produo agrcola no Oeste da Bahia. Fato esse que marcou a incorporao da regio como rea produtiva no cenrio econmico nacional, atendendo ao movimento de expanso do capital para a criao de uma nova fronteira agrcola. Com o auxlio das foras econmicas e polticas dominantes da regio, atuando com o apoio de organismos do Governo do Estado (SANTOS, 2007)

    Esse artigo tem como objetivo analisar a produo dos principais produtos agrcolas dos seguintes municpios do Oeste baiano: Angical, Baianpolis, Barreiras, Canpolis, Catolndia, Correntina, Cotegipe, Cristpolis, Formosa do Rio Preto, Jaborandi, Luis Eduardo Magalhes, Mansido, Riacho das Neves, Santa Maria da Vitria, Santa Rita de Cssia, So Desidrio e Wanderley, no perodo de 1996 a 2006. Faz-se uma relao entre a agricultura familiar baseada na policultura de subsistncia e o agronegcio moderno, mecanizado, voltado para a exportao. Nesse contexto, enfatizam-se como as produes dos municpios do Oeste responderam s influncias econmicas, polticas e naturais, j que uma regio da Bahia que tem grande importncia econmica a partir da Agricultura, destacando a produo de gros e a fruticultura.

    A justificativa deste trabalho est na importncia que a regio Oeste representa para o Brasil e para o estado da Bahia, a partir da sua dinmica socioespacial, com a presena de latifndios, da agroindstria e da produo voltada para a exportao. Esta regio a maior produtora de gros do Nordeste, contraposta s atividades de pequenos produtores da regio, com o cultivo de feijo, milho e mandioca.

  • 2. CARACTERIZAO DA REA DE ESTUDO O Oeste baiano est localizado na margem ocidental da Bahia, rea que ficou muito

    tempo preservado por ser considerada um territrio de reserva. A rea de estudo formada por dezessete municpios possui uma extenso territorial de 114.873km, correspondendo a cerca de 20% de todo territrio baiano, maior que alguns estados do Brasil (Figura 01).

    Figura 01: Localizao do Oeste Baiano.

    Parte da vegetao do Oeste baiano faz parte do bioma cerrado, que na Bahia, compreende aproximadamente 207 milhes de hectares, equivalentes a 24% do territrio nacional (EMBRAPA, 2009). O cerrado no estado da Bahia uma paisagem bem diferente das demais existentes, contrastando principalmente com o semi-rido. Possui tambm acentuada diferena no que diz respeito estrutura geomorfolgica: planaltos com topos aplainados, que so propcios para a mecanizao da agricultura. Essa uma das caractersticas principais para a implantao da moderna agricultura na regio, alm de possuir uma vasta rede hidrogrfica em todo seu territrio.

    O clima da regio caracteriza-se por uma estao seca (maio a setembro) e outra chuvosa (outubro a abril) com precipitao pluviomtrica mdia anual de 1500 500 mm. Os veranicos, perodos de seca de uma a trs semanas, podem ocorrer durante a estao chuvosa, especialmente nos meses de janeiro e fevereiro. A temperatura mdia anual apresenta amplitude de 21,3 a 27,2C (EMBRAPA, 2009).

    Os solos so antigos, profundos, bem drenados, com baixa fertilidade natural e acidez acentuada. Classificam-se em Latossolos, Concrecionrios, Podzlicos, Litlicos, Cambissolos, Terras Roxas, Areias Quartzosas, Lateritas Hidromrficas e Gleis (EMBRAPA, 2009).

  • 3. MATERIAIS E METODOLOGIA

    3.1 Materiais Para o desenvolvimento do trabalho, construo de grficos e tabelas foi necessrio a

    obteno de dados e organizao dos mesmos. Os materiais analisados foram: Censo Agropecurio do IBGE (2008) (PAM - Produo Agrcola

    Municipal IBGE) Dados disponibilizados pelo SIG-Bahia

    3.2 Metodologia Primeiramente foi feito o recorte da rea de estudo, a Regio do Oeste Baiano,

    especificamente dezessete municpios inseridos nessa regio, que possuem reas includas no domnio morfoclimtico do cerrado. Os dados referentes produo agrcola foram adquiridos no censo agropecurio do IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica com dados da Produo Agrcola Municipal. Estes so anuais, possibilitando um recorte temporal entre os anos de 1996 ate 2006. O recorte temporal foi dado, para que pudesse ser feito uma anlise do rpido processo que o oeste sofre em relao agricultura, possibilitando um diagnstico sobre a regio nos ltimos dez anos.

    A confeco de grficos possibilitou uma comparao visual e estatstica dos dados contidos no Censo Agropecurio do IBGE, trazendo nmeros interessantes e relevantes para o sucesso desse trabalho. Assim, possvel iniciar o entendimento da complexidade da malha fundiria do espao agrrio do Oeste baiano. Para possuir parmetros acerca da rea de estudo torna-se indispensvel conhece-la de perto, por esse motivo foram desenvolvidas atividades de campo nos anos de 2007 e 2008.

    Posteriormente foram utilizados dados do SIG-Bahia e gerado mapas atravs do software ArcView 3.3, para a espacializao da regio. Fluxograma 01: Estrutura metodolgica da pesquisa. 4. RESULTADOS E DISCUSSES

  • No contexto da dinmica do espao agrrio do Oeste baiano, podemos notar na figura

    02(a) a estrutura geomorfolgica que possibilita a consolidao da moderna agricultura na regio. Vastas reas aplainadas, principalmente nos topos do planalto, Chapades, Gerais, que abrigam grandes latifndios, propriedades com mais de vinte mil hectares, voltadas para produo de gros, principalmente soja, em regime de comoditties. A intensificao dessa ocupao acentua o desmatamento e a supresso do cerrado baiano, domnio morfoclimtico de extrema importncia do ponto de vista ecolgico. As demais reas, com relevo mais acidentado, como as de encostas e vales, so destinadas agricultura familiar, por possurem terras mais frteis. Durante o processo de implantao da moderna agricultura, essas reas no foram ocupadas, tornando-se assim, refgio da atividade de subsistncia.

    A rede hidrogrfica da regio bastante vasta e abundante, o que tambm possibilitou e viabilizou a implantao da agroindstria no Oeste baiano (Figura 02(b)). Existe uma srie de projetos desenvolvidos principalmente pelo governo do estado que d acesso a irrigao, contribuindo para o desenvolvimento do espao agrrio da regio. A maior parte desses projetos tem o intuito de impulsionar o agronegcio, desconsiderando a populao rural de baixo poder aquisitivo.

    4.2. Integrao e anlise das informaes

    Figura 02: (a)Geomorfologia da regio oeste (b) Hidrografia da regio oeste

    O processo de ocupao das bacias hidrogrficas dado pela atividade agropecuria confere rea um processo de degradao que torna alguns rios secos em certos perodos do ano, caractersticas essas incompatveis com a hidrografia regional. A forma de apropriao do espao regional impacta esse ambiente de forma intensa e ainda muito pouco analisada. Outro fator agravante a poluio causada pela grande quantidade de agrotxicos que so utilizados para a

  • manuteno da lavoura, tornando as guas subterrneas cada vez mais imprprias ao consumo. Verifica-se na regio tambm uma grande quantidade de poos, muitos deles j secos e outros que foram aprofundados para garantir a irrigao.

    O processo de retirada da cobertura vegetal, matas nativas sendo substitudas por cultivos irrigados, contribui para incluir parte da regio Oeste no cenrio das reas susceptveis a desertificao ecolgica, ou seja, a exausto dos solos e sua conseqente impossibilidade de aproveitamento agrcola. Muitos indicadores de desertificao esto ligados ao manejo do solo, sendo a agropecuria responsvel pela degradao, quando desenvolvida de forma incoerente com os padres de sustentabilidade.

    Os dados que representam a cultura da soja e a do feijo retratam a realidade e a tendncia da agricultura no Oeste baiano. A cultura da soja, mecanizada, desenvolvida em grandes extenses de terra irrigadas, exercida pela agroindustria, no intuito de atender o mercado externo, sendo o Brasil o maior exportador de gros do mundo. Na Bahia, a regio a nica do estado que possui esse tipo de cultura, ou seja, ela concentra toda a produco estadual.

    No mbito nacional, a regio Oeste tem uma grande importncia, ela responsavel por 4% da produo nacional. Entre os anos de 1996 a 2006, o crescimeto da produo de soja est na ordem de 284%, 62% a mais que o crescimento nacional que foi cerca de 226% para o mesmo perodo. Essas dados demonstram que a participao do estado, cada vez mais, ganha destaque perante o Brasil. A soja atingiu safras recordes em todo pas e tambm na Bahia a partir do ano de 2003 com a implementao de uma poltica de aumento das exportaes de gros, desenvolvida pelo governo federal. Em especial, o ano de 2005, o Oeste baiano foi responsvel pela produo de 2.389.608 toneladas (Figura 03). Acompanhando o crescimento da produo, encontra-se tambm o aumento da rea plantada que passou de 433.263 para 870.000 hectares, mais que o dobro. O municpio de So Desidrio responsvel por 270.870 hectares, sendo o quinto maior produtor de soja do Brasil, o que remete a uma supresso das reas de cerrado: substituio de culturas alimentcias para o mercado interno, por uma cultura voltada para a exportao.

    Oeste Baiano - Soja

    1.556

    700

    1.508

    2.364

    1.984

    500

    750

    1.000

    1.250

    1.500

    1.750

    2.000

    2.250

    2.500

    1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

    Fonte: PAM-IBGE

    To

    ne

    lad

    as

    \1

    00

    0

    Figura 03: Quantidade produzida de soja por ano para o oeste

    Fonte: PAM-IBGE, 2008

  • Em contraste com a soja, tem-se o feijo que um cultivo praticado essencialmente pelo agricultor familiar. Na regio Oeste da Bahia, entre o perodo analisado, houve uma reduo na quantidade produzida de aproximadamente 25%. O feijo nessa regio corresponde a 11% do total da produo baiana. O decrscimo da produo de feijo fruto da falta de incentivo que dado ao pequeno produtor, por no ser uma atividade importante, para os moldes capitalistas de produo no oeste (Figura 04). O pequeno produtor fica marginalizado, se arriscando em atividades de colheita sujeitas muita vezes s intempries naturais (excesso de chuva e/ou secas prolongadas) e em regime de prestao de servio. Essa atividade no garante a renda da famlia durante todo o ano. O reflexo dessa falta de investimento no pequeno produtor a expanso urbana perifrica de alguns municpios da regio, como o caso de Luis Eduardo Magalhes.

    Oeste Baiano - Fei jo

    55

    77

    60

    42

    56

    43

    52

    35

    30

    35

    40

    45

    50

    55

    60

    65

    70

    75

    80

    1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

    Fonte: PAM-IBGE

    To

    ne

    lad

    as

    \1

    00

    0

    Figura 04: Quantidade produzida de feijo por ano

    Fonte: PAM-IBGE, 2008 Outra atividade presente na regio a fruticultura, que est presente por conta da

    abundncia da rede fluvial, possibilitando a irrigao e por causa do clima que fornece uma boa quantidade de chuvas e um bom nvel de insolao, ideais para um maior rendimento desse cultivo. Essa cultura desenvolvida por grandes produtores, por empresas de capital externo, e tambm por cooperativa de produtores. O cooperativismo a forma que o pequeno produtor tem para se inserir no mercado.

    A dinmica da produo de frutas entre os anos de 1996 e 2006 sofreu uma srie de mudanas. Alguns cultivos como o da manga e o da laranja tiveram um decrscimo de 31,6% e 65,8% respectivamente, pois as mesmas so substitudas por outros produtos. Em contrapartida, a quantidade produzida de mamo cresceu quase 2.500% nesse espao temporal de dez anos, devido grande procura que esse produto tem no mercado nacional e principalmente no mercado externo, e tambm pelo baixo custo para seu cultivo em comparao com os demais (Tabela 01); (Figura 05).

  • Tabela 01: Evoluo da fruticultura no Oeste baiano (1996 e 2006)

    Fonte: PAM-IBGE, 2008

    Oeste Baiano - Mamo

    132

    125

    53

    5

    77

    92

    103

    0

    20

    40

    60

    80

    100

    120

    140

    1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

    Fonte: PAM-IBGE

    Ton

    ela

    das \

    1000

    Figura 05: Quantidade produzida de mamo por ano Fonte: PAM-IBGE, 2008

    A fruticultura ainda no tem a mesma importncia que o cultivo de gros possui. Isso

    especialmente condicionado por conta da mo-de-obra. Para a produo de frutas necessrio um maior nmero de funcionrios, a colheita feita de forma artesanal e necessrio um cuidado maior de poda, adubao, irrigao e colheita, diferente da soja, por exemplo, que todo seu processo desde o cuidado com a terra at a colheita, feita por mquinas, diminuindo substancialmente a necessidade de mo-de-obra.

    Essas relaes de trabalho na regio esto completamente fundamentadas no modo-de-produo capitalista, onde o empregador, donos dos meios de produo, explora a mo de obra barata e pouco qualificada do empregado. Vale ressaltar que as grandes reas agrcolas, em geral, pertencem a gachos que invadiram a regio em busca das amenidades locais, dos incentivos pblicos e da mo de obra barata.

    Mesmo com toda a modernizao da Agropecuria na Regio Oeste, ainda existem casos de trabalho escravo na regio. Esses casos evidenciam, o interesse dos produtores que se

    1996 2006 Diferena em tonaledas Variao(%) Banana (t) 1.215 19.213 17.998 1481.3 Manga (t) 27.627 18.903 -8.724 -31,6 Laranja (t) 36.285 12.414 -23.871 -65,8 Limo (t) 5.229 11.200 5.971 114,2 Mamo (t) 5.128 125.000 119.872 2337,6

  • instalam na regio, sejam eles latifundirios ou empresas internacionais que procuram o lucro de forma exacerbada, sem preocupao com o desenvolvimento, e sim com a explorao.

    No Oeste da Bahia, a bovinocultura fruto do histrico de interiorizao da Bahia, onde a expanso da cultura foi se disseminando por todo o estado. No passado, o gado que ocupava a regio, utilizava as partes altas da mesma, onde hoje existe o cultivo de gros como o milho e a soja. Essas reas eram conhecidas pelos produtores como o Gerais, local rico em alimentos para os bovinos, principalmente nos perodos de seca. Com a expanso da moderna agricultura, a criao de gado foi ocupando os locais com relevo mais acidentado, geralmente os patamares estruturais, a exemplo do municpio de Angical com mais de 82.000 cabeas de gado e Corretina que j chegou a ter mais de 130.000 cabeas. Com a ampliao da exportao da carne bovina brasileira principalmente para pases da Europa, a criao de gado de corte se ampliou, sendo produzido por latifndios no modelo da pecuria extensiva.

    Os pequenos produtores da agricultura familiar tambm criam rebanhos bovinos, mas no com o mesmo intuito e capacidade dos latinfundirios. A maior parte do gado criado pelo pequeno produtor para sustento prprio, sendo fonte de leite, e em alguns perodos do ano vendidos para abate. Esses produtores, no possuem a mesma estrutura da fazenda e por isso acabam desenvolvendo uma cultura precarizada.

    A atividade se intensifica na regio, como pode-se ver na Figura 06, onde a pecuria bovina est em asceno desde o ano de 1996. A Regio Oeste, com um rebanho de 1.290.631 cabeas, responsavel por cerca de 10% de todo rebanho da Bahia.

    Oeste Baiano - Bovino

    1.055

    1.115

    1.224

    1.062

    1.076

    1.291

    1.096

    1.008

    900

    950

    1.000

    1.050

    1.100

    1.150

    1.200

    1.250

    1.300

    1.350

    1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

    FONTE: PAM-IBGE

    Cab

    eas

    \1

    00

    0

    Figura 06: Total de cabeas do rebanho bovino por ano

    Fonte: PAM-IBGE, 2008 Na anlise desse trabalho necessrio enfocar o espao geogrfico, constitudo de uma

    srie de relaes de ordem econmica, social, poltica e ambiental. So sistemas que se ligam dando origem ao conceito de espao geogrfico.

  • Segundo Milton Santos (1992), o espao uma instncia da sociedade, formado pelas coisas, objetos geogrficos, naturais e artificiais, formando a Natureza, tudo isso diretamente ligado s relaes scias.

    Sendo assim, os homens ao produzirem seu meio de existncia, produzem tambm sua vida material. O indivduo fruto das condies matrias de sua produo, ou seja, as formas de relaes, sejam elas de ordem social ou econmica, esto condicionadas pela produo. (MARX, 1989)

    A estrutura espacial do Oeste baiano marcada exatamente por uma dinmica fundamentada no espao agrrio, pois as relaes econmicas da regio se do atravs da agropecuria. A agroindstria se apresenta consolidada na regio. Evidentemente, nem todos os dezessete municpios possuem essa caracterstica. Existe uma grande desigualdade na estrutura fundiria do Oeste e geralmente os pequenos produtores ficam a margem de programas e projetos de incentivo a produo.

    Nesse contexto, a Agricultura familiar se constitui em uma estrutura social altamente flexvel no que diz respeito s formas de organizao da produo, podendo chegar a extremos da monocultura e da policultura (MIOR, 2005). Assim, a famlia est ligada, em seu intimo, estrutura produtiva, pois a sua forma de sobrevivncia com uma unio afetiva com a terra e com o local.

    J sobre a agroindstria entende-se que uma estrutura rural ligada diretamente aos centros urbanos, pois sua atividade basicamente para atender demandas do mundo moderno urbano, regulada pelo mercado, sem interesses afetivos com a terra, apenas mercadolgicos. Deixa-se de lado a perspectiva sustentvel considerada como sinnimo de desenvolvimento rural constituindo na verdade como uma atividade degradante para o meio ambiente. Por outro lado, h uma ntida re-territorializao do espao agrrio onde a populao local deixa sua lgica endgena para atender a uma demanda externa. 5. CONSIDERAES FINAIS

    O estudo do espao agrrio do Oeste baiano se revela nesse trabalho com uma extrema

    complexidade, onde a anlise que cabe aos dados que foram apresentados se enquadra em uma moldura muito maior. As relaes existentes no espao da regio Oeste da Bahia possuem uma magnitude mais ampla, no se restringindo ao que aqui se apresenta. Neste trabalho verificou-se a importncia do geoprocessamento para a consolidao da anlise da produo agrcola da regio oeste, ferramenta essa que se mostra um aliada das pesquisas, potencializando o estudo do espao geogrficos. Vale salientar que no Oeste existe uma disparidade entre a Agricultura Familiar e o Agronegcio. Distncia essa devido poltica capitalista intensificada desenvolvida na regio, fato provado pela velocidade das transformaes que sofreu a regio, onde o processo de ocupao continua acelerado, visando atender s demandas capitalistas numa relao vertical. Existe na regio uma poltica de crdito consolidada para os grandes produtores, algo que no acontece ao pequeno produtor. Nesse contexto, h uma necessidade de se desenvolver uma poltica de crdito mais justa, onde a Agricultura familiar esteja includa em projetos de desenvolvimento agrrio, alm da ampliao da reforma agrria utilizando terras angariadas por bancos estatais por conta da inadimplncia de seus proprietrios. Faz-se necessrio polticas pblicas mais eficientes que possibilitem o desenvolvimento contnuo de toda populao, e principalmente para prender o homem ao campo, fortalecendo assim as relaes horizontais em detrimento s verticais.

  • Na regio explicita a necessidade de conservao do bioma cerrado, que por conta do avano da cultura de cereais corre o risco de se perder o resto de sua diversidade e riqueza no Oeste baiano. Uma fiscalizao mais rgida deve ser desenvolvida pelos rgos ambientais responsveis, garantido o comprimento de leis de proteo ao meio ambiente, alm de garantir a conservao de reas intocadas, transformando-as em reas de preservao integral. Os dados que foram levantados demonstram a magnitude da regio. possvel notar as disparidades existentes em relao s culturas desenvolvidas, alm de poder lanar algumas previses: a continuidade do aumento da produo e da produtividade da soja decorrente de uma poltica nacional de apoio as exportaes de gros, o avano da fruticultura como uma cultura alternativa ao agronegcio, a contnua queda da produo de feijo e o aumento do rebanho bovino. O processo de expanso da moderna agricultura da regio contribuiu para um desenvolvimento acentuado da agropecuria, gerando renda para os municpios. Fica evidenciado que a qualidade de vida de apenas uma parcela da populao melhorada, minoria, distante de uma maioria excluda do processo de modernizao, que teve sua expectativa de ascenso social reduzida por conta da acelerada dinmica capitalista instalada no oeste baiano. Diante do que foi exposto, espera-se que esse trabalho sirva para embasar as discusses referentes desigualdade complexa da malha fundiria no Oeste e das questes ambientais que so feridas com a intensificao do uso da terra na regio. Vale lembrar que necessrio o desenvolvimento sustentvel do espao agrrio, rompendo com o a proposta apresentada na atualidade, transformando os cultivos j existentes em fonte de desenvolvimento socioeconmico, garantido a terra aos que verdadeiramente as merecem. 6. REFERNCIAS AB'SABER, Aziz Nacib. Os domnios de natureza no Brasil: potencialidades paisagsticas. Cotia, SP: Ateli, 2003. 159p

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