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ANO XXXIV Nº 95 | SINDICATO DOS PROFESSORES DA MADEIRA JANEIRO 2014 0,50Diretora: Sofia Canha Intervenção do professor António Nóvoa O ex-Reitor Universidade de Lisboa é uma das vozes mais lúcidas e inconformadas no Portugal de hoje Págs. 10, 11 e 12 O SPM luta pela dignidade profissional! Pág. 4 e 5

Oex-ReitorUniversidadedeLisboaéuma Portugaldehoje Págs. 10 ... · e o que mudaria na Escola paraosresolver. A crescente visão neoliberal do ensino assente numa lógica de mercado

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Page 1: Oex-ReitorUniversidadedeLisboaéuma Portugaldehoje Págs. 10 ... · e o que mudaria na Escola paraosresolver. A crescente visão neoliberal do ensino assente numa lógica de mercado

ANO XXXIV Nº 95 | SINDICATO DOS PROFESSORES DA MADEIRA JANEIRO 2014 0,50€ Diretora: Sofia Canha

Intervençãodo professorAntónioNóvoaO ex-Reitor Universidade de Lisboa é umadas vozes mais lúcidas e inconformadas noPortugal de hoje Págs. 10, 11 e 12

O SPM lutapela dignidadeprofissional!

Pág. 4 e 5

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2 SINDICATO DOS PROFESSORES DA MADEIRA JANEIRO 2014

DIRETORA: SOFIA CANHACONSELHO DE COORDENAÇÃO:COMISSÃO EXECUTIVA DO SPMCOORDENADOR-EDITOR: SOFIA CANHA“DE PAPO PARA O AR”COORDENAÇÃO DE HELENA LIMA“PROFESSORES”COORDENAÇÃO DE ADELAIDE RIBEIROCARTOON: HENRIQUE MONTEIROCOLABORADORES NESTA EDIÇÃO:

ADELAIDE RIBEIRO, ADÍLIA ANDRADE, AMÉLIA CARREIRA,LUCINDA RIBEIRO, MARIA HELENA LIMA, MARGARIDAFAZENDEIRO, NÉLIO SOUSA, JOSÉ AUGUSTO CARDOSO,SOFIA CANHA, TERESA CARDOSO E JACKELINE VIEIRA.PERIODICIDADE:TRIMESTRALIMPRESSÃO:IMPRINEWSTIRAGEM:4.000 EXEMPLARES

O PROF está aberto à colaboração dos professores, particularmente os da RAM, mesmo quando não solicitada. Reserva-se, todavia, o direito de condensar ou não publicar,em função do espaço disponível e do Estatuto Editorial desta publicação. Os artigos assinados são da exclusiva responsabilidade dos seus autores.

TRIMENSÁRIO DE INFORMAÇÃO SINDICAL

PROPRIEDADE, REDAÇÃO E ADMINISTRAÇÃOSINDICATO DOS PROFESSORES DA MADEIRA – SPMCALÇADA DA CABOUQUEIRA, Nº 22 – 9000-171 FUNCHALWEBSITE: WWW.SPM-RAM.ORGWWW.FACEBOOK.COM/SPMADEIRAEMAIL: [email protected] : SPMADEIRAMESSENGER: [email protected]: 291 206 360FAX: 291 206 369

PERFIL

“A crescente Visão neoliberaldo ensino assente numa lógicade mercado” é um dos maioresproblemas que se coloca à escola”

ARNALDO FONSECA

Em que circunstân-cias decidiu ser pro-f e s s o r ?Era uma profissão queapreciava, e corres-

pondeu à minha primeira escolhano concurso à Universidade!

Refira as eventuais dificul-dades sentidas na concretiza-ção dessa decisão.

Semanas antes tinha tambémconcorrido para o Curso de Ope-

rador de Radares na Força Aérea,como Oficial Miliciano.Após ostestes físicos e psicotécnicos- e nomesmo dia fiquei apto-,recebi anotícia que tinha também entradono curso de professores. Foi umdilema, que se arrastou por 2 me-ses. Tentava ouvir conselhos, masas opções repartiam-se. Por fim aideia de ser professor prevaleceu!

Descreva a sua primeiraaula enquanto docente.

Foi em 1991, numa substitui-ção, com uma turma de 2º Anona escola da Granja-Anreade naencosta da Serra do Montemuro,em Resende. No dia anterior, echeio de ansiedade,preparei oplano da aula até ao mínimopormenor, à semelhança do es-tágio da prática pedagógica. Nodia,a turma era completamentediferente do que tinha idealiza-do, alunos com muitas dificulda-des, não havia material pedagó-gico nenhum na escola, algunsalunos nem cadernos tinham.Mal consegui seguir o plano.

O seu melhor momento en-quanto professor.

Lembro-me da agradável sen-sação de estrear uma escola - aEB1-PE do Estreito da Calheta-com uma arquitetura e dimen-sões diferentes do habitual, doque não tinha visto até então.Até hoje recordo a sensação deentrar na sala com tudo a cheirara novo, pronto a estrear!

Voltaria, hoje, a escolheresta profissão?

Sem dúvida.

Que requisitos consideranecessários a um docente?

Principalmente, que o exercí-cio da docência decorra de umavocação genuína.

Conteúdo que mais gosta delecionar?

Sempre tive um gosto muitoespecial pela História, tanto quetirei também uma licenciaturanesta área.

O livro que achou mais útilou que mais influenciou a suaprática profissional.

Acho que a História do Ensi-no em Portugal de Rómulo deCarvalho é uma obra referencialnesta área.

O seu maior sucesso.O fato de, ao fim de 19 anos na

direção da escola, e tal como noinício, continuar a dedicar-me ea empenhar-me diariamente,juntamente com a minha equipe,para que a EB1-PE do Estreito daCalheta continue a progredir naqualidade da oferta educati-va.Acredito que, apesar de umcontexto motivacional por vezesadverso, se consegue ir sempremelhorando, tentando inovarnaquilo que é possível.

Identifique, na sua ótica, osmaiores problemas no Ensinoe o que mudaria na Escolapara os resolver.

A crescente visão neoliberaldo ensino assente numa lógicade mercado. A carga burocráti-ca, por vezes desnecessária, bemcomo o paradoxo do discurso daautonomia da escola frente a de-cisões cada vez mais centraliza-das, são também fatores a rever.

As condições de trabalhopara se poder ensinar e reali-zar aprendizagens, com quali-dade, na escola.

Essencialmente os docentessentirem-se apoiados e motiva-dos.

Deixe, por fim, uma mensa-gem aos docentes.

Temos uma das profissõesmais nobres e, apesar de even-tuais dificuldades, continuamos aser das pessoas mais importantesna vida dos alunos. E estes alunosmerecem sempre o nosso melhor!

ORoubodoPresente

“O Governo utiliza as duasmaneiras com a sua política deausteridade obsessiva: porexemplo, mata os professorescom horas suplementares,imperativos burocráticosexcessivos e incessantes: stresse,depressões, patologias border-/ine enchem os gabinetes dospsiquiatras que os acolhem. É omassacre dos professores. Emexemplo contrário, com osaumentos de impostos, dodesemprego, das falências, apolítica do Governo rouba opresente de trabalho (e de vida)aos portugueses (sobretudojovens). “JOSÉGIL,inOpiniãonaFENPROF

Ispis verbis

Temos uma das profissões mais nobres e,apesar de eventuais dificuldades,continuamos a ser das pessoas maisimportantes na vidados alunos.

Perfil. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .pag 2Editorial. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .3Murro na mesa. . . . . . . . . . . . . . . . . .3Tema principal . . . . . . . . . . . . . .4 e 5Cronologia da ações . . . . . . . . . . . . .6

I CONFERÊNCIANACIONAL DOSPROFESSORES EEDUCADORESAposentados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .7Projeto CNOD/FENPROF . . . . . .7Vigília . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .8Carta reivindicativa . . . . . . . . . . . . .8Jornadas Pedagógica . . . . . . . . . . . .9Formação Sindical no SPM . . . . .9

INTERVENÇÃODE ANTÓNIONóvoa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .10, 11,12Festa de Natal . . . . . . . . . . . . . . . . . .13Dia Mundial do Professor . . . . . .13De Papo pró ar . . . . . . . . . . . . .14 e 15

ESCOLA PÚBLICA E JUSTIÇASocial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .16

OPINIÃO DE MÁRIONogueira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .16

ÍNDICE

Setor de Ensino:1º Ciclo|Tempo de serviço:23 anosEscola:EB1-PE Estreito da Calheta

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Atão famosa e indesejada PACC(prova de avaliação de conheci-mentos e capacidades) surge este

ano letivo na vida de milhares de contra-tados que, tal como eu, se sentem indig-nados. Sou Educadora de Infância, con-tratada, atualmente desempregada, comdez anos de serviço, com avaliação ao ní-vel da licenciatura, com habilitação paraa docência, com outras formações, comavaliações de desempenho de Bom eMuito Bom, com frequência de ações deformação, e com a competência devida-mente comprovadas para o ensino, emanifestei a minha intenção em não rea-lizar a prova.

O MEC a poucas horas de terminar oprazo de inscrição para a prova, decidiudispensar da prova os professores comcinco ou mais anos de serviço. Esta “ fal-sa bondade” do MEC em alterar os crité-rios desta resolução tem um único obje-tivo, a meu ver, afastar da docência maisalguns milhares de professores, a juntaraos que já se encontram desempregados

por força das recentes e sucessivas alte-rações legislativas.

Mantenho a minha posição em rela-ção à não realização da mesma e a sensa-ção que tenho é que, até este momento,fui necessária ao sistema e agora estoudispensada porque estou sujeita a umaprova ridícula que irá decidir se conti-nuo ou não a lecionar. Ou seja, a minhavida profissional está dependente de ummomento, o da realização da prova, cujoresultado da mesma poderá ser influen-ciado por vários fatores, entre eles a des-motivação, o nervosismo, entre outros.

Esta prova não é garantia alguma deemprego, nem uma possível colocação,pelo contrário, é uma humilhação paramilhares de docentes que se encontramfragilizados, desamparados num sistemaque os discrimina pela sua condição la-boral precária. Sinto-me descartável eexcluída de uma carreira que sempredesejei exercer e que vejo-me impedidade o fazer por imposição deste governode uma prova injusta e sem sentido.

JANEIRO 2014 SINDICATO DOS PROFESSORES DA MADEIRA 3ed

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Sentimento em relação à PACC (Prova de avaliação de conhecimentos e capacidades)

MURRO NA MESA

Coordenadora do SPM

SOFIA CANHA

Em momentos conturbados e comperspetivas de destruição daprofissionalidade docente,construída após muitos anos de lutae sacrifícios, a unidade da classe éurgente.Àqueles que nos fragilizam a todo o

custo, começando pelos Governos, aresposta só pode ser a união e asolidariedade profissionais. Énecessário contrariarmos a correnteindividualista de matriz neoliberalque assola a sociedade e atinge aclasse.A união acontece quandodefendemos causas comuns etransversais e, enquanto educadores,nos assumimos como agentes demudança.O ano de 2013 foi um período demuita ação e luta. Podemo-nosquestionar sobre o resultado dasmuitas lutas que temos desenvolvido,mas esbarramos sempre numaverdade incontornável: sem essa lutaa situação em que estariam osprofessores seria ainda maisnegativa.Mas a luta do SPM não se fica apenaspela defesa intransigente dascondições socioprofissionais elaborais da classe docente. Aresponsabilidade social e osprincípios que nos orientam fazemcom que nos interessemos pelasalvaguarda desse bem comum, que éa escola pública e uma educação dequalidade.

A FUNÇÃO DA ESCOLAA função social da escola é a depromover a mobilidade social econsequentemente universalizar asoportunidades. É um princípiofundamental nas sociedades quevalorizam a diferença, oconhecimento e a liberdade. Ainstituição escolar assume aresponsabilidade de uma formaçãoalargada, no desenvolvimento dascapacidades físicas, cognitivas eafetivas de todos os alunos.A responsabilidade social queassumimos, enquanto sindicato daFENPROF, impele-nos para a açãoem prol de uma escola solidária, comrespeito pela diversidadesociocultural das crianças e jovens,na salvaguarda do direito à educaçãopara todos, na exigência da assunçãode responsabilidade social por partedo Estado. Sem assumir o seu papel,o Estado põe em causa a própriaEscola.A Escola Pública de matrizdemocrática e a Dignidade da classedocente precisam do empenho eenvolvimento de todos nesta causacomum.

CONDIÇÕES SOCIOPROFISSIONAISDOS DOCENTESOs cortes orçamentais na Educaçãolevaram a uma diminuição derecursos materiais e humanos nasescolas. Há atualmente menosprofessores de apoio, de Educação

Especial e outros, com repercussõesna qualidade da oferta educativa,atingindo sobretudo os alunos commais dificuldades e acarretando maisresponsabilidade para todos os outrosdocentes que têm de dar resposta aquestões específicas e especiais emsituação de sala de aula, sem o devidoapoio pedagógico e especializado.O trabalho docente tem sido atingidopor uma crescente precarizaçãotanto por via dos despedimentos,como por via dos cortes salariais dosdocentes. A relação jurídica deemprego, alterada com a introduçãodos contratos a termo resolutivo epor tempo indeterminando, constituioutra forma de precarização doemprego. Os docentes de carreiradeixaram de ter um vínculo com oEstado que garantia estabilidade.Foi implementado um novo modelode avaliação do desempenho docenteque introduz elementos decompetitividade tão prejudiciais parao bom desempenho e de injustiça,pois limita a atribuição de mençõesmais elevadas com base nas quotas enão no mérito.Com estas alterações a respostaeducativa perde qualidade e atingesobretudo os mais carenciados esocialmente mais frágeis. Por issonos debatemos em defesa de umaEscola Pública de qualidade paratodos e continuaremos a pugnar peladignidade de uma classe tãodeterminante para sociedade.

Aresponsabilidadecívicaea dignidadeda classedocente

TERESA CARDOSOTeresa Cardoso, Educadora contratada eatualmente desempregada após 10 anos deserviço.

Todo o investimento financeiro e pes-soal investido na minha carreira não éreconhecido nem valorizado. Para oMEC o importante é selecionar os “me-lhores” professores para uma carreira aque poucos terão acesso.

Esta prova só vem desrespeitar a di-gnidade docente e pôr em causa o pro-fissionalismo de pessoas devidamentehabilitadas e com larga experiência.

A PACC constitui uma desautoriza-ção às instituições de ensino superior,promovendo um clima de desconfiançaface à formação inicial por estas minis-trado.

A implementação desta prova, vemcriar uma situação de desigualdade entreos docentes de carreira e os contratadoscom a mesma formação e gerar algummau estar entre a comunidade escolar.

Perante todo este cenário, resta-meapelar a todos os contratados que não de-sistam de lutar pelos seus direitos, e ape-lem à participação de todos nas ações deluta contra a realização desta prova.

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4 SINDICATO DOS PROFESSORES DA MADEIRA JANEIRO 2014

Aprova de avaliação

de conhecimentos ecapacidades a apli-car aos docentescontratados é a mais

recente medida que despoletougrande indignação e tem levadoa uma série de ações por partedos sindicatos, com vista a travaruma prova com fins meramenteeconomicistas.

Em 2012 e 2013, o governo daRepública tomou medidas paradespedir a maioria dos docentesque sujeitava a contratos a termo e,

nesse sentido, aumentou o númerode alunos por turma, os horáriosde trabalho, impôs as revisões cur-riculares e criou centenas de me-ga-agrupamentos, no continente.Com tais medidas, os professorescontratados passaram de mais de35.000 para cerca de 12.000.O uni-verso de docentes sem vínculo é daordem dos 43.000.

Chegou agora a fase seguinte:afastar muitos desses docentesdesempregados da profissão deprofessor para a qual estão habi-litados profissionalmente. E é aí

PACC: instrumentodeseleçãoinjustoeeconomicista

O profissionalismonão se testa comuma prova.

4 DE NOVEMBRO 2013Foi dada entrada no TAF do Funchal aprimeira providência cautelar contraque visava o decretamento da suspensãoda aplicação do Decreto Regulamentarnº 3/2008, de 21 de janeiro e intimava orequerido para se abster de fixar ocalendário da realização da componentecomum e específica da PACC.

7 DE NOVEMBRO 2013Nova providência cautelar a solicitar odecretamento provisório e suspensão deeficácia do Despacho nº 14293-a/2013,de 5 de novembro bem como a práticade qualquer ato do MEC conducente à

realização da PACC.Recorda-se que o despacho n.º 14293-A/2013 foi publicado em DR eletrónicona tarde de 5 de novembro, o diaseguinte à apresentação das primeirasprovidências cautelares por parte dosSindicatos da FENPROF

12 DE DEZEMBRO 2013Foi interposta uma providênciacautelar para decretar a suspensão deeficácia dos avisos nº 14185-a/2013 e oaviso nº 14962-a do IAE e intimação doMEC para se abster a praticarquaisquer atos conducentes àrealização da PACC.

30 DE DEZEMBRO 2013Decisão do TAF do Funchal dando razão aoSPM, pelo que foi julgada procedente aprovidência cautelar, tendo a juiz determinadoa suspensão da eficácia do despacho nº 14293-a/2013, de 5 de novembro (procedimento deinscrição e realização da prova) e intimou oMEC a abster-se de praticar qualquer atoconducente à realização da PACC.Assim, na sequência de decisão proferida nopassado dia 27 de dezembro, o TAF doFunchal, tal como já decidira o TAF do Porto,determinou a suspensão de eficácia daqueledespacho do ministro, ficando, igualmente, oMEC impedido de praticar qualquer atorelativo à realização da “PACC”..

que entra a dita prova de avalia-ção de conhecimentos e capaci-dades (PACC).

Contra essa prova, aFENPROF e os seus Sindicatostêm promovido inúmeras ações– jurídicas (providências caute-lares), institucionais (petição ereuniões com grupos parlamen-

Cronologia de ações jurídicas interpostas pelo SPM contra a PACC

tares) e de protesto (plenários,concentrações, entre outras).Acresce que, para o MEC de Nu-no Crato, tal prova tem também afinalidade de desvalorizar e des-prestigiar os professores perantea sociedade. Fica também a amea-ça de utilizar o mesmo instru-mento de avaliação para colocaros docentes de carreira em Mobi-lidade Especial, com a publicaçãoda lei que estabelece o regime ju-rídico de requalificação de traba-lhadores da função pública.

Apesar de o Ministro da Edu-

ATÉ AO PRESENTE MOMENTO E UMA VEZ QUE NÃO HÁ QUALQUER DESENVOLVIMENTO EM RELAÇÃO À PROVA,PODEMOS CONCLUIR QUE O MEC ACATOU A DECISÃO DO TAF DO FUNCHAL.

cação tentar convencer que estaé uma prova necessária paraapurar a qualidade dos profis-sionais, nós sabemos que o pro-fissionalismo não se testa comuma prova. É muito redutor estepensamento e coloca em causa aprópria avaliação das institui-ções superiores de educação.

Para além das ações jurídicas, oSPM esteve junto dos docentesque iam realizar a prova de avalia-ção de conhecimentos e capacida-des (PACC), no dia 18 de dezem-bro, na Escola Profissional Fran-cisco Fernandes. E antes, no dia 27de novembro, realizou um plená-rio e concentração para professo-res contratados na Placa Central,em frente à SRE, em que aprova-ram uma moção, apelando a todosos deputados e grupos parlamen-tares da Assembleia da Repúblicaque suspendessem e revogassem alegislação que enquadrava a reali-zação da prova. Assumiram recor-rer aos tribunais para proteçãodos direitos individuais que o go-verno viola; afirmam a sua dispo-nibilidade para participar emações de luta que contribuam paracontrariar a realização da prova,nomeadamente as organizadaspela FENPROF e os seus sindica-tos; decidiram enviar a moção aospartidos e grupos parlamentares,Ministério da Educação e Ciência,Presidência da República e órgãosde comunicação social.

SPM, o único sindicato na região que esteve junto dos professores a apoiá-los no dia da realização da PACC

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JANEIRO 2014 SINDICATO DOS PROFESSORES DA MADEIRA 5

Com a PACC suspensapela ação que aFENPROF tambémdesenvolveu nos tri-bunais, os professo-

res ganham outra disponibilida-de para responder positivamen-te aos desafios fortíssimos a queestão obrigados e sem mais de-longas. Por um lado, a defesa in-transigente de direitos, salários,condições de trabalho e empre-go que lhes estão a ser roubados;por outro, a defesa, com convic-ção e determinação, da EscolaPública de qualidade. Quer uma,quer outra destas vertentes rei-vindicativas são indispensáveispara o futuro da Educação Pú-blica e o Ensino de qualidade.

Hoje, as escolas sentem a faltados milhares de docentes quedelas foram afastados por medi-das deliberadamente tomadasnesse sentido e, simultaneamen-te, a degradação das condiçõesde trabalho e de vida dos profes-sores são fatores que também

AlutaparaalémdaPACC

afetam negativamente a estabili-dade e qualidade dos processoseducativos. Relativamente à Es-cola Pública, a guerra está decla-rada pelo governo, quer atravésdo Orçamento do Estado para2014 – que impõe novos e durís-simos cortes ao setor –, quer dochamado guião para a reformado Estado de onde se retira que oobjetivo estratégico está definidoe já assumido pelo governo: pri-vatizar, em tudo o que for possí-vel, e transferir para autarquias eescolas no que, de todo, não for.

Percebida esta estratégia, nãonos resta alternativa que nãoseja dar o máximo para derrotartais intenções, o que significa lu-tar muito para derrotar as políti-cas do atual governo que são ile-gítimas, destrutivas e compro-metem o futuro da EducaçãoPública e o futuro de Portugal.Nesse sentido, a demissão do go-verno continuará a ser um passodecisivo.

Mário Nogueira

Por um lado, adefesaintransigente dedireitos, salários,condições detrabalho e empregoque lhes estão a serroubados; poroutro, a defesa,com convicção edeterminação, daEscola Pública dequalidade.

“De uma mente ignara daquilo que à escola e à pro-fissão docente diz respeito, do autor de escritos so-

bre educação pedagogicamente retrógrados e ideo-logicamente reaccionários compreende-se que exi-ja a docentes profissionalizados a submissão a uma

infundada prova que nada prova, condenada porvozes de todos os quadrantes.”

/ Paulo Sucena – Membro do CNE; Secretário-geral da FENPROF no período 1995 - 2007

“Impõe-se não subestimar os vários dispositivosde vigilância da atividade docente já implemen-tados. Tais dispositivos tornam estes dois novosexames à qualificação e certificação já adquiridaspelos professores, um esbanjamento policial quecomeça a causar escândalo.”/ Sérgio Niza – Pedagogo. Presidente doMovimento Escola Moderna

A prova dita de avaliação de conhecimentos e capacidades (PACC) que o MEC de Nuno Crato quer impor aos professores éconsensualmente reprovada. Para além dos professores, das instituições de formação de docentes e, de uma forma geral, daopinião pública, também a comunidade académica e científica a reprova. A FENPROF solicitou a seis reconhecidaspersonalidades da Educação que, a propósito daquela prova, elaborassem um comentário / declaração.

Secretariado Nacional da FENPROF, 3/01/2014

“Esta avaliação é injusta e incorreta. Injusta por-que despreza o valor da experiência profissionaldos professores obtida em situações reais e incor-reta porque só avalia uma parte ínfima das com-petências que lhes são exigidas.”/ David Rodrigues – Presidente da AssociaçãoPró Inclusão

“A profissão de professor é de grande complexida-de e exigência. Necessita de uma formação de nívelsuperior e de uma avaliação rigorosa, no espaço daescola e num ambiente profissional. Mas esta Provanão resolve qualquerproblema. Não serve para ter-mos melhores professores nem melhor ensino. Sãooutros os seus propósitos. Assim não.”/AntónioSampaiodaNóvoa–DocenteUniversitário.ReitordaUniversidadedeLisboanoperíodo2006–2013

“A prova de avaliação é uma perturbação inútil navida das escolas e dos alunos. Considero a avaliação

dos professores essencial mas não vejo que esta “pro-va” possa contribuir para selecionar os melhores e

para a qualidade da educação! E poderá privar a edu-cação de excelentes professores!”

/Ana Maria Bettencourt – Presidente do ConselhoNacional de Educação (CNE) no período 2009 –

2013

[O MEC] “instituiu uma Prova de avaliação de conhe-cimentos e capacidades (PACC) que pretende fazer ocrivo de milhares de professores contratados que fo-ram avaliados …/… o Sr. Ministro ofendendo a digni-dade profissional de todos estes profissionais avalia-dores e das suas instituições de ensino manda elabo-

rar uma prova que não vai aferir nenhuma capacidadeda condição docente dos professores contratados.”

/CarlosChagas–MembrodoCNE;PresidentedaFENEI

Educação reprova a “PACC”

O Tribunal Administrativo eFiscal do Funchal julgouprocedente a providênciacautelar que lhe foiapresentada peloSPM/FENPROF referente aodespacho n.º 14293-A/2013, de5 de novembro, do Ministro daEducação e Ciência.Assim, na sequência dedecisão proferida no passadodia 27 de dezembro, o TAF doFunchal, tal como já decidirao TAF do Porto, determinou asuspensão de eficácia daqueledespacho do ministro,ficando, igualmente, o MECimpedido de praticarqualquer ato relativo àrealização da “PACC”.Recorda-se que o despachon.º 14293-A/2013 foipublicado em DR eletrónicona tarde de 5 de novembro, odia seguinte à apresentaçãodas primeiras providênciascautelares por parte dosSindicatos da FENPROF. Nodia 7, os Sindicatos da

FENPROF apresentaramnovas providênciascautelares, desta vezreferentes àquele despachoque se considerou ferido deilegalidade podendo a prova,a aplicar-se, provocar danosde improvável reparação paramuitos docentes.Esta decisão do TAF doFunchal reitera o que já foradecidido pelo TAF do Porto,confirmando-se, assim, queficarão suspensos os diversosprocedimentos previstos noâmbito da realização daPACC: correção eclassificação das provasrealizadas, marcação de novadata para realização da provade caráter geral, bem comopara a realização das provasde caráter específico.Este é um momentoimportante para osprofessores que veem assim,no plano jurídico,reconhecidas as suas dúvidassobre a legalidade da PACC.

Tribunal do Funchal confirmasuspensão da “PACC”

31 DE DEZEMBRO 2013

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Cronologia das açõesdesenvolvidasentre setembroe dezembro

6 SINDICATO DOS PROFESSORES DA MADEIRA JANEIRO 2014

18/09/2013Plenário professorescontratados edesempregadosInformar e esclarecer os docentessobre os seguintes pontos:- Compensação por caducidade;- Prova de avaliação deconhecimentos e capacidades;

25/09/2013ConcentraçãoProfessoresAposentados“Quem não luta pelo seu futuro, deveaceitar o futuro que vier.”“Quandolutamos, podemos perder, mas se nãolutarmos, estamos perdidos.”

05/10/2013Comemoração dia doProfessorPromover a consciencialização sobreas questões docentes, seguido de umconvívio, fez-se uma homenagemaos sócios com 25 anos desindicalização, entregando um pinem prata

19/10/2013Marcha por abrilcontra a exploração eo empobrecimentoCentenas os cidadãos que atenderamao apelo da USAM para participaremnuma marcha. Iniciativa integradanas ações nacionais de protestocontra as medidas do orçamento para2014.

07/11/2013E08/11/2013MEMJornadas Pedagógicas que resultamda cooperação entre o Centro deFormação do Sindicato dosProfessores da Madeira e oMovimento da Escola Moderna.

11/11/2013Projeto CNOD FenprofInauguração da exposição e debate,no Funchal, sobre o tema propostopelo projeto realizado em parceriaentre a FENPROF e a CNOD,decorreu na Escola SecundáriaFrancisco Franco, uma escola dereferência na integração de alunoscom deficiência auditiva e visual.

11 A 15 DE NOVEMBROSemana zeroOs docentes nesta semana exercerama sua profissão utilizando apenas osrecursos disponibilizados pelasescolas, algo que não afetou o seuprofissionalismo, mas que visou alertara tutela e a sociedade em geral para odesinvestimento de que tem sido alvoa escola pública, com consequentedegradação dos serviços prestados.

21/11/20131ª ConferênciaNacional dos docentesaposentadospromovida pelaFENPROFO SPM esteve representado por 11delegados eleitos e 3 por inerência.

27/11/2013Plenário contra aPACC e entrega decarta reivindicativaPlenário e concentração, na PlacaCentral, em frente à SRE, seguido deentrega de carta reivindicativa sobrecondições do trabalho docente aoSecretário da Educação e RecursosHumanos.

18-12-2013Prova de Avaliação deCapacidades eConhecimentos(PACC)O SPM esteve na Escola Secundária eProfissional Dr. Francisco Fernandes comos docentes contratados, numa ação deluta contra a iníqua e humilhante provaque o MEC quis aplicaraos professores.Apesarda sua realização, o SPM e aFENPRPOF mantêm os seuscompromissos para com os docentes e aEducação e continuarão a moveresforços no combate a esta humilhaçãode toda a classe docente.

12/11/2013Vigília contra oempobrecimento dostrabalhadoresContra o empobrecimento dostrabalhadores portugueses e odesmantelamento das funçõessociais do Estado (Educação, Saúdee Segurança Social)

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JANEIRO 2014 SINDICATO DOS PROFESSORES DA MADEIRA 7

AEscola Secundária de

Camões (Liceu Ca-mões) acolheu no seuauditório, no dia 21 de

novembro de 2013 a 1ª Confe-rência Nacional de DocentesAposentados, que teve comolema «O importante papeldos/as aposentados/as e o res-peito que lhes é devido». Estaconferência teve como objetivosreestruturar o sector dos apo-sentados no seio da FENPROF eaprovar um Caderno reivindica-tivo que se irá apresentar á As-sembleia da República e ao Go-verno. A delegação do SPM, eraconstituída por 14 sócios, algunsdirigentes e delegados por ine-rência e outros eleitos em reu-niões no SPM.

Todos os sócios participantesacharam esta conferência muitopositiva e louvaram a sua maisque oportuna realização, aten-dendo aos tempos conturbadosem que vivem os professores, in-cluindo os aposentados e que per-mitirá, dentro da FENPROF, umadinâmica mais expressiva porparte deste grupo de docentes. Amaioria referiu a ótima organiza-ção da conferência, pecando em-bora pelo seu timing que deveria

Todos os docentesaposentados têmum passado de lutapelos valoresdemocráticos e pelaescola pública queos capacita paracontinuarem adefender essesvalores.

ter sido um pouco mais longo. Umdia foi pouco, mas há que atenderá atual conjuntura que não permi-te grandes despesas.

As intervenções, incluindo asdas colegas do SPM, foram perti-nentes, inteligentes, muito críti-cas e reivindicativas, principal-mente no que se referiu á situa-ção dos docentes reformados, dosdocentes no ativo, na defesa daEscola Pública e á política portu-guesa atual. O espírito de solida-riedade para com os professoresno ativo, foi uma tónica dominan-te em toda a conferência.

Uma ideia veiculada ao longo

de todas as intervenções e com aqual todos os participantes con-cordaram, foi a de que todos osdocentes aposentados têm umpassado de luta pelos valores de-mocráticos e pela Escola Públicaque os capacita para continuar adefender esses valores, sem sedeixar abater pelos ataques quelhe estão a ser infligidos.

E foi com esta força, com esteespírito de luta na defesa dos di-reitos de todos os docentes quedeixamos Lisboa, esperando darcontinuidade aos ideais e propó-sitos desta 1ª conferência quan-do chegarmos á Madeira.

Quando acabou a conferência,o sol já não brilhava no céu pois jáera noite, mas no olhar de cada um

de nós havia dois sóis a brilhar! Nototal 28 sóis que certamente dis-tribuirão o seu calor e sua luz, emprole da justiça e do reconheci-mento que todos os docentes, re-formados e no ativo, merecem.

Maria da Conceição Vieira de Freitas Santos

Docente aposentada

I Conferência Nacional de Professores/ase Educadores/as Aposentados/as

Ainauguração da exposiçãoe debate, no Funchal, so-bre o tema proposto pelo

projeto realizado em parceria en-tre a FENPROF e a CNOD, de-correu na Escola SecundáriaFrancisco Franco, uma escola dereferência na integração de alu-nos com deficiência auditiva e vi-sual.

Do painel do debate fizeramparte Rita Freitas, encarregadade educação de uma criançaportadora de uma doença rarae que frequentou a escola pú-blica em todo o seu percursoeducativo, a coordenadora daEducação Especial daFENPROF, Ana Simões, Edu-cadora de Infância especializa-da em Intervenção Precoce,Glória Gonçalves, Docente Es-pecializada, Filipe Rebelo, Pre-sidente da Delegação do Fun-chal da Associação Portuguesade Deficientes - APD e MárioNogueira Secretário-Geral daFENPROF. A moderar a sessãoesteve a dirigente CristinaGonçalves, Coordenadora da

Educação Especial no Sindica-to dos Professores da Madeira– SPM.

Ana Simões interveio para re-ferir a importância da interven-ção precoce e o seu significado.A intervenção precoce antescentrada na criança, passou aestar centrada na família en-quanto primeiro contexto sociale referência chave da criança noseu desenvolvimento. Os profes-sores de intervenção são apenasos facilitadores para que a inter-venção ocorra da melhor forma.

Rita Freitas contou aquelaque foi a sua experiência en-quanto encarregada de educaçãono acompanhamento da filha naescola, que afirma não ser inclu-siva, partindo desde logo da faltade sensibilidade que muitos pro-fissionais manifestam.

Glória Gonçalves afirma quesó haverá inclusão social se hou-ver inclusão escolar. O papel daescola é preparar os alunos paraa vida ativa profissional, respei-tando as caraterísticas de cadacriança e jovem, mas atendendo

Projeto CNOD-FENPROF 11 de novembro de 2013as especificidades que requeremmais acompanhamento e apoio.

Filipe Rebelo, Presidente daDelegação do Funchal da Asso-ciação Portuguesa de Deficien-tes, referindo a sua experiênciapessoal, sustentou que a moti-vação da pessoa com deficiênciaé o ponto de partida para ultra-passar as diferenças e eventuaislimitações.

Por último, Mário Nogueira,Secretário Geral da FENPROF,afirmou que não é com políticaseconomicistas que se resolvemos problemas inerentes à diver-sidade de alunos (com ou semnecessidades educativas espe-ciais). Responder a esta diversi-dade passa por um maior inves-timento, em termos matérias ehumanos, na Educação.

Ana Simões, coordenadorado setor da Educação Especialda FENPROF, reiterou, em jeitode síntese, que é de extrema im-portância a luta pela exigênciade políticas educativas queatendam à diversidade de alu-nos que integram a escola.

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8 SINDICATO DOS PROFESSORES DA MADEIRA JANEIRO 2014

Vigília

Carta reivindicativaNo dia 27 de novembro, quarta-feira, pelas 15h30, oSindicato dos Professores da Madeira realizou umplenário e concentração, na Placa Central, em frente àSRE, seguido de entrega de carta reivindicativa sobrecondições do trabalho docente ao Secretário daEducação e Recursos Humanos, que recebeu no dia 7de janeiro uma delegação do sindicato para discutir essedocumento entregue.

No dia 12 de novem-bro, o SPM promo-veu uma vigília de12 horas contra oempobrecimento

dos trabalhadores portugueses eo desmantelamento das funçõessociais do Estado (Educação,Saúde e Segurança Social)

Ao enorme aumento da tribu-tação sobre o trabalho, juntou-seum brutal corte da despesa, dire-cionada para os salários e pen-sões.

E veja-se que a tributação

cada vez mais pesada não tem acorrespondência direta com oinvestimento do Estado nas fun-ções sociais, nem tem tido resul-tados na diminuição das desi-gualdades sociais, nem tem pro-movido melhores serviços públi-cos ou garantido uma boa prote-ção social.

Por essa razão o sindicatopromoveu a recolha de assinatu-ras de duas tomadas de posição,que posteriormente foram en-tregues ao Representante da Re-pública, com a solicitação que as

mesmas fossem encaminhadasao Presidente da República.

Pelo estipulado na Constitui-ção de República Portuguesa, oEstado tem a obrigação de ga-rantir um sistema de segurançasocial para proteger os cidadãosna doença, na velhice, na invali-dez, na viuvez e na orfandade,bem como no desemprego e emtodas as outras situações de faltaou diminuição de meios de sub-sistência ou de capacidade parao trabalho.

O cumprimento deste contra-

to social efetiva-se com o paga-mento de uma contribuiçãomensal para a Caixa Geral deAposentações ou Segurança So-cial por parte dos trabalhadorese entidades patronais no valor de11% e 23,75% respetivamente.Verbas estas de que o governo éfiel depositário, obrigando-se aopagamento dos montantes con-tratualizados por lei, nas situa-ções atrás referenciadas.

A sucessiva diminuição dosvalores das prestações sociaisque têm vindo a ocorrer, colo-

cam em causa o papel do Estadoenquanto pessoa de bem que de-veria ser, na medida em que des-respeita, claramente, o contratosocial estabelecido com os con-tribuintes.

Assim, o Sindicato dos Profes-sores da Madeira reafirma o pro-pósito de manter a sua luta porpolíticas que garantam a aplica-ção dos impostos pagos pelostrabalhadores nas funções so-ciais do estado para as quais fo-ram, constitucionalmente, cria-dos.

VIGÍLIA

Falta de professores para asnecessidades da escola:Em situação de ausência de docentes (por diversosmotivos e por tempo alargado), o serviço destes docentesé distribuído pelos restantes, sobrecarregando-os epondo em causa a qualidade das práticas pedagógicas,com todas as consequências que isto acarreta paraprofessores e alunos (exaustão, diminuição da qualidadedo desempenho e insucesso escolar dos alunos).

O SPM DEFENDE E REIVINDICA: · A colocação de docentes de acordo com asnecessidades particulares das instituições, no âmbitodos seus projetos educativos, salvaguardando aqualidade das práticas educativas.· A colocação de profissionais especializados de acordocom as necessidades específicas dos alunos

FALTA DE RECURSOS HUMANOS

HORÁRIOS DE TRABALHOADEQUADOSO SPM continua a defender, sustentado peloconhecimento das condições de funcionamento dasescolas, uma relação equilibrada entre o número de horasestabelecido para a componente letiva e para acomponente não letiva de estabelecimento. Defende aclarificação e aplicação de normas que evitem persistênciade colisão entre a participação em reuniões e acomponente individual do trabalho docente ou, comoacontece de forma generalizada, que obriguem àsistemática ultrapassagem da duração do horário normalsemanal suportável e legalmente previsto.

O SPM DEFENDE E REIVINDICA:· a valorização e respeito da componente de trabalhoindividual face à importância para a qualidade dotrabalho pedagógico do docente, assumindo-se o trabalhocom os alunos como a atividade essencial do professor edo educador;· a definição e o cumprimento de normas claras queprotejam e respeitem a componente não letiva detrabalho individual do docente, impedindo a suaocupação por reuniões de qualquer natureza e emnúmero excessivo;· a organização racional dos horários de trabalho, evitando,sempre que possível, a dispersão do serviço diário.· A aplicação do estipulado no Estatuto da CarreiraDocente no que se refere ao horário de trabalho, ou sejaas 35 horas semanais.

FALTA DE MATERIAL / RECURSOSPEDAGÓGICOS

A falta de condições e material de trabalho: telefone,material didático, papel e tinteiros, audiovisuais, entreoutros, inclusive o desgaste físico, a perda de tempo útil e autilização do próprio veículo para entrega dedocumentação, no caso dos docentes de EducaçãoEspecial, compromete o desempenho eficaz do serviçoprestado pela escola.

O SPM DEFENDE E REIVINDICA:·as condições materiais necessárias para o bomdesempenho da profissão docente;·o equipamento necessário para que o registo desumários e assiduidade dos alunos seja realizado durantea componente letiva.

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JANEIRO 2014 SINDICATO DOS PROFESSORES DA MADEIRA 9O trabalho em interação no Modelodo Movimento da Escola Moderna

A emergência de alternativas pedagógicasque atendam, o mais eficazmente possível, à diversidade

dos alunos que integram o sistema educativo.

EEste foi o tema demais umas jornadaspedagógicas, resul-tantes de uma parce-ria, desde 2006, entre

o Sindicato dos Professores daMadeira e o Núcleo Regional doMovimento da Escola Moderna.

Os objetivos delineados (pro-porcionar momentos de partilha ede reflexão de práticas pedagógi-cas; promover práticas pedagógi-cas assentes nos princípios da coo-peração e da participação demo-crática e refletir sobre a pertinên-cia das pedagogias ativas, no qua-

dro de práticas pedagógicas queatendam à diversidade dos alunosque integram o sistema educativo)foram plenamente atingidos.

A sessão de abertura ficou acargo da Diretora do CFSPM,Adelaide Ribeiro, que, após terdado as boas vindas e agradecer

a presença a todos os participan-tes, chamou a atenção para aemergência de alternativas pe-dagógicas que respondam, omais eficazmente possível, à di-versidade dos alunos que inte-gram o sistema educativo. Fo-cando-se nos princípios do Mo-

vimento da Escola Moderna edas pedagogias ativas, a Diretorafocou o seu discurso em torno dolema “uma escola para todos” edos desafios que se colocam,hoje, às escolas e aos professoresna consolidação deste desígnio.

Adelaide Ribeiro

Num mundo cada vezmais globalizado e numcontexto político, eco-

nómico e social alicerçado naincerteza, o sindicalismo re-veste-se de uma enorme im-portância, não só como espaçode análise e de intervenção,mas também de investigação,em busca de novas soluções ealternativas.

Nesta assunção, os sindica-tos enfrentam enormes proble-mas e desafios que os colocamna linha da frente no combatetanto ao crescente agravamen-to das desigualdades sociais,como às novas formas de ex-ploração laboral delineadas pe-las atuais políticas neoliberais.

Neste contexto, a formaçãosindical surge como uma ne-cessidade premente e estrutu-ral, de forma a contribuir parauma melhor perceção dos pro-cessos sociais, económicos, po-líticos e culturais, em curso.Urge, portanto, a construção deespaços de (in)formação, queproporcionem a reflexão indi-vidual e coletiva sobre práticase estratégias sociais e profissio-

Formação Sindicalno SPM

“Quanto maisfloresce oalheamento, aalienação e adesmobilização,maior é o poder dequem gere egoverna.”

UMA ESCOLA PARA TODOS

nais e, consequentemente, aconstrução de novas aborda-gens, face às mudanças que setêm vindo a operar, particular-mente na área educativa.

Assim, realizaram-se, noFunchal, no dia 29 e 30 de no-vembro, jornadas sindicais inti-tuladas “O sindicalismo docen-te e os desafios do século XXI”.A análise e reflexão que se des-envolveu assentou, fundamen-talmente, em três tipos de pa-péis que se imbricam inevita-velmente: o papel do Estado (ea ascensão do neoliberalismo,com as suas políticas devasta-doras para os direitos à prote-

ção laboral dos trabalhadores),o papel das organizações sindi-cais e o papel dos professores.

No que concerne à reconfi-guração do papel do Estado,instituída pela nova gestão pú-blica, esta provoca comporta-mentos nos professores, atravésde lógicas de competição e in-dividualização, que afetam aparticipação dos professoresface às associações que os re-presentam, o que em nada secoaduna com as práticas comu-nitaristas assentes na solidarie-dade. Deste modo, o papel dosprofessores não se reconfiguraapenas na sua participação na

escola, mas também na sua par-ticipação junto das organiza-ções representativas de classe –os sindicatos – desmobilizan-do-se das lutas que são de to-dos, enquanto grupo profissio-nal. Poder-se-á, assim, concluirque as lógicas neoliberais, as-sentes num fascismo societalnas suas diferentes vertentes,instalam-se de forma epide-miológica, promovendo a au-toexclusão, a autocensura, as-sim como a destruição de soli-dariedades.

Em suma, quanto mais flo-resce o alheamento, a alienaçãoe a desmobilização, maior é o

poder de quem gere e governa.Logo, urge deste modo, uma in-tervenção sindical adequada,com frentes distintas: uma,pró-ativa das organizações sin-dicais, face às ofensivas desteprojeto político global; outra,através da reinvenção de novasformas de mobilização e parti-cipação junto dos professores eeducadores, de forma a inter-romper o circuito gerado poreste processo político de indivi-dualismo possessivo que dis-torce e impede a construção daação coletiva de matriz demo-crática.

José Augusto Cardoso, SPN

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10 SINDICATO DOS PROFESSORES DA MADEIRA JANEIRO 2014

António Nóvoa é uma das vozes mais lúcidas e inconformadas no Portugal de hoje

tura escolar”, isto é, da cultura doconhecimento. Ao ponto de, atémuito tarde, se “elogiar o não sa-ber”, a “não escola”, e ver os anal-fabetos como “simpáticos, sim-ples, humildes sem as ambiçõesda cultura e da escola. A conexãocom a cultura escolar e o conhe-cimento só aconteceu recente-mente”. Avançou o dado de que,há um século, havia 80% de anal-fabetos em Portugal (quatro emcada cinco eram analfabetos, en-quanto na maioria dos países eu-ropeus o analfabetismo era resi-dual ou inexistente).

No século XX, sobretudo apartir do 25 de abril de 1974, “fo-mos construindo uma escola paratodos”, uma “escola onde todosaprendem”, palavras estas proje-tadas no écran do auditório. No-tou, que, infelizmente, essa escolapara todos não tem sido uma “es-cola onde todos aprendem”. Háuma “diferença substantiva” en-tre esses dois conceitos ou esco-las.

De modo a fazer parte hoje da

“Os grandes problemas do mundo contemporâneo estão na“convergência” das grandes áreas da ciência, comoexemplificou: Clima, ambiente, saúde, envelhecimento, entreoutras, que dizem respeito a um conjunto de áreas, que têm de“trabalhar em zonas de fronteira”, numa perspetiva de“fertilização mútua” (cross-fertilization) e de criação.”

Aideia de que é precisoalargar as nossas pos-sibilidades do pensar,do criar e do fazer(produzir riqueza e

valor), dominou a conferência deAntónio Sampaio da Nóvoa, nasede do Sindicato dos Professo-res da Madeira, no dia 6 de julho,integrada no Congresso Em-preende. Apontou caminhos paraultrapassarmos a “fragilidade en-démica” do nosso País.

O reitor da Universidade deLisboa chamou a atenção paratrês ideias centrais (Cultura e co-nhecimento; Poder criador; Re-volução intelectual) sob o temaConstruir Futuros Possíveis.“Apontamentos e iluminações”deixados pelo professor sobrequestões “decisivas” para “pensaro Portugal de hoje”, cada um des-ses apontamentos a ter comomote uma passagem da carta deManuel Laranjeira a Miguel deUnamuno, de 1911.

O orador defende que precisa-mos de um “maior repertório” decoisas para pensar, que nos possi-bilite sermos “mais criadores” eir “além de determinadas possibi-lidades”. Isto porque o “podercriador não está suficientementeafirmado na sociedade portugue-sa”.

CULTURA E CONHECIMENTOComeçou por citar Manuel

Laranjeira, na referida carta aMiguel de Unamuno, em que di-zia que o mal do País era a “inép-cia”, isto é, a falta de um “com-promisso cívico”. Miguel Torgamais tarde diria que somos uma“sociedade pacífica de revolta-dos.” No sentido em que “nos re-voltamos muito mas depois nãotransformamos essa revoltanuma ação”, num compromissocívico, de “construir alternati-vas”.

O autor citado fala da impor-tância de fazer cultura, “no senti-do do conhecimento” e da cultu-ral escolar, já que a “inteligência éo grande capital dos povos mo-dernos e a cultura a mais fecundadas revoluções”.

Um tema “ausente” da socie-dade portuguesa durante muitosséculos, como observou o orador.Um povo que esteve “fora da cul-

NÉLIO SOUSA

“Ultrapassar a fragilidadedeste País que se chama Po

cultura dos professores e das es-colas, defendeu que a luta tem depassar a ser a “luta da escola ondetodos aprendem”, para “nãocriarmos ilusões e equívocos quepodem ser dramáticos em termosdo futuro”.

Daí António Nóvoa eleger o“conceito renovado de aprendi-zagem” como o tema central ou ocerne na escola.

Não se refere a uma “aprendi-zagem mínima, básica, do ler, es-crever e contar, ou do Português eda Matemática”. Se tivesse de darapenas uma resposta à perguntapara que servem os professoresdiria: “para ensinar os alunos quenão querem aprender.” Por outraspalavras, ensinar aqueles quechegam à escola sem projeto es-colar ou de aprendizagem, estu-dantes nos quais a escola tem que“inscrever esse projeto de apren-dizagem e essa cultura escolar”.Nóvoa acrescentou que “não po-demos deixar fora da escola e daaprendizagem um leque alargadode alunos como ainda acontece.”

Esse conceito renovado deaprendizagem é um “mundoenorme”, como colocou o reitorda Universidade de Lisboa, queimplica integrar dentro do “re-pertório profissional” dos docen-tes questões como as neurociên-cias, do funcionamento do cére-bro, da cognição, do corpo, dasteorias caóticas da aprendiza-gem, das teorias da imprevisibili-dade, das redes sociais, da comu-nicação, do estudo, da auto-for-mação, entre outras áreas aponta-das.

Isto de modo a “incorporar naprofissão” uma série de aspetosinteressantes que estão a aconte-cer ao nível científico. Consideraa profissão docente muito depen-dente do passado, bem como quea “pedagogia esteve entalada en-tre a psicologia e a sociologia”,pelo que hoje o “mais importantepara os professores não está, pro-vavelmente, nem na psicologianem na sociologia”.

“Nada substitui um bom pro-fessor”, enfatiza o orador, já que

aquele não pode ser substituído,exemplificando, pelas tecnolo-gias, universidades, especialistas,formadores de currículo, tecnó-logos ou diretores. “Tudo isso sãoilusões”, sublinhou. O professor é“absolutamente central para a re-novação do conceito de aprendi-zagem”, no “centro das preocu-pações” atuais do que é a escola.

Para a escola “recentrar-se nasquestões da aprendizagem”, numsentido lato do termo, para deixarde ser essa “espécie de escola in-tegral” que foi no passado, escolaque “fazia tudo e mais algumacoisa, que abrangia “todas as mis-sões da sociedade”, uma escola“excessiva” e “transbordante”, épreciso que haja o “reforço” doespaço público da Educação, queestá para além da escola. Um es-paço que tem escola mas não temapenas escola: famílias, comuni-dades, associações, universida-des, centros culturais e outrasinstituições. Cada um “cumprin-do a sua quota-parte” na ideia daaprendizagem e educação dascrianças.

Nóvoa propõe uma “revolu-ção” na passagem de uma escola“integral, como todas as respon-sabilidades educativas” para umaescola que se vai “recentrar naaprendizagem”, que exige, simul-taneamente, o “reforço” do espa-ço público da Educação. Num“diálogo” entre a escola pública,“cimento social do Portugal de-mocrático”, e esse espaço públicoda Educação. Prevê que se vai jo-gar muito no celebrar de um“novo contrato social em tornoda Educação”.

Um contrato social que já “nãovai enviar tudo para dentro da es-cola” mas que vai num certo sen-tido dizer “à escola o que é da es-cola, à sociedade o que é da socie-dade”. O que é da escola é a“aprendizagem” e da sociedade o“criar as condições para uma me-lhor educação das crianças noplano educativo, cultural, entreoutros, que queiram imaginar”.Introduziu então a ideia de uma“sociedade convivial”, que, noseu entender, daria suporte às es-colas e a outras iniciativas.

PODER CRIADORO segundo apontamento foi

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JANEIRO 2014 SINDICATO DOS PROFESSORES DA MADEIRA 11

e endémicaortugal”

introduzido por mais uma fraseda carta de Manuel Laranjeira:“Quanto à inteligência, essa emPortugal continua a valer o mes-mo – nada; e o seu poder criador,como dantes, continua a ser aba-fado, inutilizado, pela imbecibili-dade maciça dos nossos maio-rais.”

Poder criador no sentido dacriação cultural, científica e artís-tica, precisou o orador. Trata-seda “capacidade de criar coisasnovas”, sobretudo a possibilidadeda “escola e a pedagogia seremum ato de criação de cultura” enão apenas um ato de “transmis-são de cultura”, como se verifica-va no passado. Mais disse que éclaro que a “escola transmite umacultura” mas também “criando-a”. Não se limita a “passar umaherança”. António Nóvoa defen-de o processo educativo enquan-to “renovação de uma herança”.Uma consciência importante ater, caso contrário “não se perce-be nada do que é a escola, nemnada do que é o processo educati-vo.”

Este ponto de vista foi contex-tualizado pelo conferencista, co-meçando por referir a falta decultura escolar, “marginalizada”pelo menos até aos anos 60 do sé-culo XX, “desprezada não só pelopovo mas sobretudo no interiordas elites.” Em simultâneo, “nun-ca tivemos uma cultura científi-ca”, uma cultura essencialmentede “criação de coisas novas”.

Nóvoa deu conta que o parla-mento português, no século XIXe XX, está “repleto” de discursos“muito bem elaborados” de que a“ciência não faz falta nenhuma aPortugal”. O argumentário prin-cipal desses discursos é a especi-ficidade do homem português.Somos “diferentes do resto domundo”, referiu, somos mais “in-ventivos”, “adaptáveis, maleáveis,com plasticidade”, fomos “feitospara intermediários, não fomosfeitos nem para estudar nem paracriar.”

É como se estas “aptidões oupredisposições fossem algo dospovos do Norte, com clima maisagreste e que se dedicam a estu-dar e a fazer ciência”. A nossa vo-cação é estarmos “atentos ao quese faz lá fora e quando estiver fei-

to a gente importa e utiliza eadapta.”

É caricatural, mas o oradorjustifica a sua menção pelo factode ter sido escrito milhares de ve-zes por responsáveis pelo rumodo País, inclusive por alguns dosnossos “melhores filósofos”, que“elaboraram e saturaram ad nau-seam” este tipo de “construção fi-losófica e sociológica sobre aideia do homem português.”

Citou então António Sérgionum prefácio ao livro “O mundoque o português criou” do soció-logo Gilberto Freire, que a únicacoisa que não percebeu na obra éque se o povo português é assimtão adaptável e plástico, “porqueé que nunca nos adaptámos à Eu-ropa”, isto é, a uma “cultura esco-lar e científica?” Um continenteque se desenvolveu pela “razão,pela inteligência, pela capacidadede criar”.

“Creio que, se não perceber-mos que temos de romper comesta maneira de pensar, a nossaidentidade e a nossa cultura, difi-cilmente conseguiremos avançarmuito para o futuro”, colocoudeste modo o orador, apontandoo rumo: “afirmar a ideia de cria-ção e de ciência” como ideiascentrais para os nossos tempos.

Os grandes problemas domundo contemporâneo estão na“convergência” das grandes áreasda ciência, como exemplificou:Clima, ambiente, saúde, envelhe-cimento, entre outras, que dizemrespeito a um conjunto de áreas,que têm de “trabalhar em zonasde fronteira”, numa perspetiva de“fertilização mútua” (cross-ferti-lization) e de criação. Referiu quea nossa cultura científica é ainda“muito disciplinar” e fechada nointerior de fronteiras, que precisade ser “aberta e reconceptualiza-da”. E, sobretudo, sublinhou An-tónio Nóvoa, com uma “atençãoenorme à valorização social eeconómica do conhecimento”,que desenvolve no terceiro e últi-mo ponto ou tema da sua confe-rência.

Refere que o nosso grandeproblema hoje em dia, “apesar determos já algum conhecimentoconstruído nos últimos anos”,tanto nas escolas como nas uni-versidades, é não estarmos a ter

as “condições para que esse co-nhecimento seja valorizado doponto de vista social e económi-co”, isto é, para que este conheci-mento seja “colocado ao serviçoda sociedade e do seu desenvolvi-mento”. Resumindo, o nosso“grande problema é a criação” e,depois, como é que esta criação“se infiltra e intromete na socie-dade e contribui para a sua valo-rização e desenvolvimento”.

O tema central da culturacientífica e da criação é “justa-mente perceber” como é que hojeele é um “tema central”, pontoum; como hoje se situa em “áreasde convergência e fronteira”, queobrigam a “organizar de um ou-tro modo as nossas instituições”,ponto dois; e, em terceiro lugar,como é que ele daqui se “projetado ponto de vista da sociedade” eda “valorização social e económi-ca do conhecimento.” Fez notarque não estava a falar apenas da“transferência de tecnologia”,uma das partes daquela valoriza-ção social e económica do conhe-cimento, mas estava a falar da“maneira de colocar a Universi-dade e a escola de um modo geralnesse outro papel da referida va-lorização económica e social doconhecimento”, entrando assimno terceiro e último tema da con-ferência no Funchal, na sede doSPM: “Revolução intelectual”.

Contudo, antes de avançar,deu conta que aquela vertenteeconómica da valorização do co-nhecimento está ligada à transfe-rência de tecnologia, ao desen-volvimento, ao progresso econó-mico, à modernização industrial

e das nossas empresas, entre ou-tros aspetos, mas também conec-tada com uma “componente cul-tural muito forte”. Na perspetivade que o conhecimento “tem decontribuir para uma Humanida-de mais humana”, termos um ní-vel de “consciência social e cons-ciência da Humanidade”, quemuitas vezes, no seu entender,não tivemos ao nível do conheci-mento.

Esta ideia levou a uma pergun-ta “muito difícil” de George Stei-ner com uma resposta igualmen-te “muito difícil”:

“Por que razão as humanida-des, por que razão a ciência, aarte, a literatura não nos deramnenhuma proteção diante do de-sumano? Por que podemos tocarSchubert à noite e cumprir o de-ver, no dia seguinte, matando nocampo de concentração? Nem asgrandes obras, nem a música,nem a arte, puderam impedir abarbárie total. Como era possíveltocar Debussy, escutando os gri-tos daqueles que passavam pelascercas de Munique, a caminhodos campos da morte de Da-chau?”

Uma pergunta “arrasadora”.No fundo, por que é que a “cultu-ra não nos humanizou? A barbá-rie acontecer nos países mais cul-tos do mundo e sermos tão hu-manos na sensibilidade com queouvíamos Schubert e tocávamosDebussy e tão desumanos na ma-neira como tratávamos os ou-tros?”

E assim se coloca a questão doconhecimento no “quadro de umenraizamento social”. Daí a valo-

O conhecimentotem de contribuirpara umahumanidademais humana

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12 SINDICATO DOS PROFESSORES DA MADEIRA JANEIRO 2014

rização do conhecimento “nãoser apenas uma temática econó-mica ou da modernização dasempresas”, mas também de“como está enraizado numa cul-tura e numa humanidade, tendode contribuir para que sejamosmais humanos.”

Salientou que não se pode fa-zer uma “distinção” entre uma“espécie de erudição e a nossavida do dia-a-dia.” Temos de sercapazes de “mobilizar a cultura eo conhecimento em função deuma Humanidade mais humana,de uma humanização da vida e deuma maior solidariedade.” E re-matou: “é para isso que servetambém o conhecimento”. Para“não se acentuar excessivamenteo lado económico e menos o ladosocial e cultural”, já que o “co-nhecimento tem de estar tam-bém ao serviço dessa humaniza-ção.”

REVOLUÇÃO INTELECTUALEntra mais fundo no terceiro

ponto da intervenção com umaterceira citação de Manuel La-ranjeira, datada de 1911: “A revo-lução política para ser fecunda ti-nha de ser acompanhada de umarevolução intelectual que não sefez, nem há indícios de fazer-se.O povo português apresenta-seao mundo, civilizado por fora, e oque é preciso fazer, o que é ur-gente fazer, é civilizá-lo por den-tro. Mas nisso ninguém pensa,tão convictos estão todos de quepara civilizar um povo basta fa-zer-lhe mudar de gravata.”

Um “tema recorrente” da nos-sa história e da nossa cultura. Apropósito, Nóvoa lembrou umtexto de Fernando Pessoa, “Por-tugal entre passado e futuro” (?),como um dos “mais arrasadoresque se escreveu sobre Portugal.”Diz que admiramos a civilizaçãoque está lá fora, admiramos Paris,admiramos Londres e isso só pro-va que não somos civilizados, di-zia ele”, porque “ninguém admi-ra aquilo que é [«Um parisiensenão admira Paris; gosta de Paris.Como há de admirar aquilo que éparte dele? Ninguém se admira asi mesmo, salvo um paranóicocom o delírio das grandezas»].“Quando se é uma coisa, gosta-mos de estar nessa coisa e não ad-miramos essa coisa.” Pelo contrá-rio, “admira-se aquilo que não seé e que está fora do que nós so-mos.” E Fernando Pessoa depois“arrasa essas modernidades mui-to de verniz que se foram desen-volvendo ao longo de muitos sé-culos em Portugal”[«O amor aoprogresso e ao moderno é a outraforma do mesmo característicoprovinciano. Os civilizados criamo progresso, criam a moda, criama modernidade; por isso lhes nãoatribuem importância demaior»].

Daí Manuel Laranjeira apon-

tar no sentido da necessidade deuma revolução intelectual. Antó-nio Nóvoa ressalvou de novo quepartilhava com os presentes, noauditório da sede do SPM,“apontamentos gerais”, a “minhaversão dos factos” conhecidos.Antes aludiu à comunicação “Fa-cas, Garfos e Colheres” do ro-mancista António Lobo Antunes,título inspirado numa sebenta docirurgião Cid dos Santos, no co-lóquio sobre educação intitulado“Espaços de educação, temposde formação”, na Fundação Ca-louste Gulbenkian, em 2001, so-bre as “questões da autoridade,como se constrói e como se legi-tima”.

O reitor da Universidade deLisboa explanou a ideia da Uni-versidade com “C” de Cidade,querendo dizer “comprometidacom a Cidade, a Polis.” A escola,seja a básica, a secundária ou auniversitária “têm de ser centrosde renovação do pensamento, deantecipação do futuro e lugaresdo pensamento crítico.” E nãotem dúvidas quanto ao facto deque “se não forem para isto, nãoservem para nada.”

Por outras palavras, se não foressa capacidade de “pensar paraalém do imediato, de antecipar ofuturo e ter uma visão crítica dascoisas, tornam-se instituições“totalmente dispensáveis e inú-teis do ponto de vista social”.

“Só esta força do pensamentocrítico”, que é a força de ManuelLaranjeira, é que nos pode levar a“ultrapassar a fragilidade destePaís que se chama Portugal”. E ci-tou então O’Neil (“Ó Portugal, sefosse só três sílabas de plástico,

que era mais barato!”) para cor-roborar a ideia de que somos um“País muito frágil”, que “abanapor todos os lados”, em que essasensação de fragilidade “talvezseja maior devido à crise, massempre fomos muito frágeis”, umPaís que parece uma “casca denoz, com poucas convicções,poucas instituições, que resistemal às crises.”

Nóvoa deixou explícita a ne-cessidade de ultrapassarmos esta“fragilidade endémica”. Para o fa-zer, tem a convicção de que “sóhá duas possibilidades: Territórioe Conhecimento.”

Na sua comunicação falara jámuito sobre o conhecimento, acultura escolar, a cultura científi-ca, a cultura tecnológica, a valori-zação económica e social do co-nhecimento e da necessidade de“construirmos um País que tenhao conhecimento como ponto cen-tral da sua atividade” e que essa“não foi a nossa identidade histó-rica”, que se construiu “contra oconhecimento.” Com a ideia queo conhecimento “se produzia al-gures e que nós éramos apenasuma espécie de intermediários”,isto é, “não éramos os criadoresdo conhecimento e da cultura.”

Simultaneamente, defendeNóvoa uma aposta no Território,como metáfora para a terra e parao mar. O mar como “riqueza e re-curso”, como território, e nãocomo “viagem” ou “lugar da in-termediação”.

Num certo sentido, referiu, seolharmos para o que escreveuOliveira Martins, Alberto Sam-paio, Antero de Quental, essa ge-ração do final do século XIX e

princípio do século XX, em queManuel Laranjeira ainda é “her-deiro desse movimento”, perce-bemos que “Portugal se organi-zou contra o conhecimento econtra o território.”

Significa que “nunca se inves-tiu o nosso território”, mas simfora dele. “Investimos no que es-tava para lá do nosso território,como as ex-colónias e, mais re-cente e simbolicamente, na Euro-pa, crendo que iria resolver osnossos problemas, tal como oBrasil, a Ásia ou África nos resol-veram alguns problemas”. Daíque o “nosso imaginário foi sem-pre o imaginário de fora e não dedentro.” De que “não tínhamos denos centrar sobre o conhecimen-to mas nos centrar apenas na in-termediação desse conhecimen-to.”

Por isso, o conferencista consi-dera que a “única chave” para ofuturo de Portugal (e avisa: “istovai demorar muitas décadas”) ésermos “capazes de juntar o terri-tório e o conhecimento.” Dito deoutro modo, capazes de “conti-nuar o investimento no conheci-mento”, como nas últimas déca-das, e, simultaneamente, “utili-zarmos este conhecimento parafertilizarmos o território”. O quesignifica voltar a “práticas de in-vestimento na terra, no mar, nosrecursos, de industrialização, deutilização dos recursos, da nossacapacidade industrial e de produ-zir riqueza e valor.”

O imaginário de que podemosviver sem isso foi, no entenderde Nóvoa, “posto definitivamen-te a nu por estar crise”, sendoum imaginário que, “provavel-

mente, não nos leva a lado ne-nhum.”

Por isso, defende que este“Portugal futuro há de nascer daligação entre estas duas dimen-sões”, a fertilização entre as ques-tões do conhecimento e do terri-tório.

Assinala o “desemprego jo-vem” como o nosso “maior dra-ma”, porque “desperdiçamos oconhecimento, valor incorporadoem pessoas”, na fertilização doterritório e utilização dos nossosrecursos. Ao desperdiçar a utili-zação desse conhecimento ad-quirido (“única matéria-prima”)“não há nenhuma saída para acrise”, sentencia, desperdiçan-do-se um recurso produzido nosúltimos 40 anos.

A fertilização mútua do terri-tório e conhecimento está no “co-ração da resolução intelectual deque nos falava Manuel Laranjei-ra”, que é preciso fazer em Portu-gal, que “exige novos níveis decompromisso, participação e pre-sença.”

Terminou com duas citaçõesde António Sérgio, no exílio, noinício do Estado Novo, sobre ci-dadania e criticando a transfor-mação da educação cívica numadisciplina dentro das escolas, de-fendendo que a “cidadania e ocompromisso têm de estar emtodo o lado.”

Dizia então que a “liberdade ea cidadania devem ser alimenta-das todos os dias, pacientementerecriadas, sempre reconquista-das, pois se não realizarmos estetreino diário perdemos a forma,perdemos a pujança e não conse-guiremos construir o futuro queambicionamos.”

Dito de outra forma, a necessi-dade de um “compromisso de ci-dadania, de um compromisso cí-vico, de todos os dias”, de uma“democracia mais democrática”,que se vá renovando todos osdias, é “absolutamente central edecisivo.”

O orador não tem dúvidas que“não conseguiremos encontrarcaminho para o futuro de Portu-gal se não juntarmos território econhecimento e não tivermos ummaior compromisso cívico e pre-sença no debate da democracia epresença na sociedade.” Crê queessa é “outra das dificuldades dePortugal” porque “tivemos difi-culdade em nos habituarmos à li-berdade”, num ritual que se fazde quatro em quatro anos e nãono “exercício diário de cidadaniae liberdade.”

É com a cultura e o conheci-mento, o poder criador, o espaçopúblico da educação (“espaçodiário de liberdade e de cidada-nia”), e a revolução intelectual(obriga a um compromisso e trei-no diários de todos), que se vai“fazer um País diferente” e “cons-truir alguma ideia de futuro.”

A liberdade e acidadania devemser alimentadastodos os dias

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JANEIRO 2014 SINDICATO DOS PROFESSORES DA MADEIRA 13

As crianças do grupo etário6/10 foram contempladascom a peça de teatro alu-siva à época - “A Verda-

deira História do Capuchinho Ver-melho e o Natal” da responsabilida-de do grupo Sorriso Encantado,com danças a cargo do Grupo deDança Desportiva Prestige Dance,da responsabilidade da professora

Festa de natal

Oksana. Como divertimento acres-cido houve ainda minigolfe e insu-fláveis. O espetáculo organizadopela Companhia B-ÁBÁ da MúsicaConcerto para Bebés e Criançasdenominado “A Magia do Som” de-liciou as crianças mais pequenas,assim como os pais que as acompa-nharam. Para estas, houve aindapinturas faciais e moldagem de ba-

lões pela Companhia “Saltos eTrambolhões”, assim como insu-fláveis para a sua idade.

Os espetáculos foram distri-buídas por várias sessões de formaa assegurar o conforto e segurançade todos os que participaram. Nofinal, antes de sair, as crianças re-colheram o seu presente, na zonado ginásio, animado com a presen-

ça do Pai Natal.A organização da Festa de Na-

tal e as zonas de estar e convívio,como a zona do bar, e as áreas comatividades lúdicas contribuírampara o conforto e descontraçãotanto de adultos como de crianças,durante a tarde de sábado.

Sentimo-nos uma classe maisdignificada e mais forte.

EventoSolidário

O Sindicato dos Professoresda Madeira, na sua vertentesolidária e concretizando umaatividade prevista no seuplano de ação, promoveu umevento, na sua sede, no dia 29de novembro, cujos fundosreverteram para a associaçãoC.A.S.A (Centro de Apoio aosSem Abrigo). A Delegação daRegião Autónoma da Madeirainiciou a sua ação social, noFunchal, junto dos sem-abrigo, em agosto de 2008,fornecendo diariamenterefeições quentes e embaladasna Rua do Carmo e nosarredores do Mercado dosLavradores. Conta atualmentecom cerca de 45 voluntários.Na cidade do Funchal adistribuição diária de 60refeições é feita através de umescalonamento de equipasmultidisciplinares,constituídas por umcoordenador e 3 ou maisvoluntários (a atuardiariamente e que perfazem27 elementos por semana),que se deslocam aos locaisonde os sem-abrigo e aspessoas carenciadas seencontram, nomeadamente àszonas da Igreja do Carmo eMercado. Distribuem aindacom regularidade, vestuário,calçado, cobertores, sacos-cama, e artigos de higienepessoal.Trabalham em articulaçãocom Juntas de Freguesia paraprovidenciar instalações parabanhos e higiene aos Sem-Abrigo .Esta Associaçãopossui ainda uma equipa deacompanhamentoespecializado pertencente aoquadro dos voluntáriosinscritos na associação, com oobjetivo de apoiar as pessoasem situação devulnerabilidade.O valor arrecadado foientregue à responsável pelaDelegação na Madeira e seráusado principalmente naaquisição de combustível paraa carrinha que faz a entregadiária das refeições, sendoesta uma necessidades maisprementes neste momento daassociação.A animação da festa esteve acargo do grupo musicalKontraband e do professorMarron, que propiciarammomentos de descontração eanimação entre os presentes,sendo também eles solidárioscom esta causa.

Mais uma vez, aFesta de Natal paraos filhos dosassociados,aconteceu na sededo Sindicato dosProfessores daMadeira. Foi natarde de 7 dedezembro de2013,entre as14h30 e as 18h00.As atividades foramvariadas e degrande qualidade.

Celebrou-se no dia 5 de outu-bro o Dia Mundial do pro-fessor, pelo que o Sindicato

dos Professores da Madeira nãopoderia deixar de aproveitar o mo-mento para promover a conscien-cialização sobre as questões docen-tes e homenagear estes profissio-nais.

Além da intervenção de SofiaCanha, foi lida uma saudação doSecretário Geral da Fenprof, MarioNogueira. A cerimónia contou comuma dramatização do texto “Gran-de Torre”, de Augusto Curry, leva-da a cabo por um grupo de sócias.Antecedendo um convívio, fez-seuma homenagem aos sócios com25 anos de sindicalização, entre-gando um pin em prata.

A coordenadora, na sua inter-venção, referiu que o lema escolhi-do pela UNESCO para 2013 é degrande pertinência já que a mensa-gem que transmite- “Precisamosde Professores” contrasta forte-mente com as opções políticas dogoverno português e da troika, quedefiniram como prioridade umaredução drástica do número deprofessores no sistema como formade tornar a educação pública maisbarata. Os professores e a forma

Dia Mundial do Professor

como são tratados são um indica-dor normativo da “saúde” dumasociedade.

O Orçamento do Estado para2014 começa a ser discutido noParlamento dia 23 de outubro e iráa votação final global a 26 de no-vembro. Já se anunciou que os cor-tes orçamentais far-se-ão à custados aposentados e trabalhadoresativos da Função Pública.

Aos ataques do governo em to-das as frentes, a FENPROF e osseus sindicatos respondem com aluta e não ficarão de braços cruza-dos.

A Fenprof divulgou uma CartaAberta junto de diversas organiza-ções e entidades - representativasde pais e estudantes, trabalhadoresnão docentes das escolas, autar-

quias, associações, etc- em defesada Escola Pública e procurandounir esforços para um amplo movi-mento em torno deste objetivo.

Neste sentido, estamos tambéma promover a subscrição de uma to-mada de posição dos professoresem defesa de uma educação públi-ca de qualidade.

Os sindicatos da FENPROF pro-movem ainda a partir de hoje, se-gunda-feira, uma petição dirigida àAssembleia da República com vistaà revogação da prova agora chama-da de avaliação de conhecimentos ecapacidades que o governo preten-de aplicar a todos os docentes que,não estando na carreira, preten-dam exercer a profissão em escolaspúblicas.

O apelo também é feito à subs-

crição da petição Contra o roubonas pensões e o aumento da idadeda reforma disponível na página doSPM e em papel na nossa receção.

Está agendada a ConferênciaNacional de Docentes Aposenta-dos a 21 de novembro em Lisboa,com a participação de delegadoseleitos dos sindicatos que integrama FENPROF, que procurará definirlinhas de intervenção junto destesdocentes.

Realizar-se-ão reuniões sindi-cais nas escolas, onde se refletirásobre as medidas apresentadaspelo governo no âmbito do orça-mento de estado e as formas deenvolvimento dos docentes naluta contra todas as medidas queacharmos penalizadoras e injus-tas.

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14 SINDICATO DOS PROFESSORES DA MADEIRA JANEIRO 2014

de papo pró ar...FOLHA CULTURAL

No dia 23 de outubro realizou-se o anunciadotributo a Vinícius de Moraes, pelo 1º cente-nário do seu nascimento. Foi uma homena-gem simples e despretensiosa a um grandepoeta da língua portuguesa que celebrou

como poucos o Amor, a Amizade e a Alegria de Viver:

“É melhor ser alegre que ser triste Alegria é a melhor coisa que existe É assim como a luz do coração”.

O espetáculo, que teve a apresentação de Helena Bor-ges, começou por algumas notas biográficas sobre o ho-menageado. Seguiu-se a participação de Mário André eMaria da Paz que trouxeram até nós as palavras e a músi-ca de Vinícius com maestria e emoção. As juras de “amorinfinito enquanto dure” a dor da separação “a eternadesventura de viver à espera de viver ao lado teu portoda a minha vida” criaram uma atmosfera de sentidacomoção que suscitou vibrantes aplausos.

Eu sei que vou sofrer A eterna desventura de viver À espera de viver ao lado teu Por toda a minha vida

Mas a vertente social da poesia de Vinícius de Moraestambém esteve presente com o poema “Operário emConstrução”, numa interpretação cheia de força de Pau-la Erra e Élvio Camacho dois atores do grupo teatral “OFeiticeiro do Norte”. Este foi o momento de recordar ocidadão interveniente que afrontou a ditadura militar epor isso foi exonerado compulsivamente da carreira di-plomática.

Nos 100 anos de Vinícius

A presença de Vinícius foi sentida ainda de formamais próxima através da imagem e a da sua voz, com asprojeções de excertos dos seus shows realizados pelaEuropa e América latina divulgando a MPB (Música Po-pular Brasileira) e o nome de um Brasil branco, preto emulato.

Este tributo prolongou-se com a leitura de outrospoemas por alguns dos presentes: “A mulher que passa”,“Soneto da Fidelidade”, “Homenagem a Candinho Por-tinari”, entre outros.

A sessão encerrou com o “Samba da Bênção” à seme-lhança do modo como Vinícius terminava as tertúliascom os amigos, pela madrugada, já quando o sol raiavano horizonte. Foi também uma homenagem aos extraor-dinários músicos com quem Vinícius de Moraes empar-ceirou: Tom Jobim, Baden Powel, João Gilberto, ChicoBuarque, Carlos Lira, Toquinho.

Os presentes saíram deliciados com esta homenagemsimples mas sentida.

Adília Andrade

O bar do Sindicato dos Professores da Madeira foi pequeno para o númerode pessoas que acorreram, no passado dia 23 de outubro, à evocação

do 1º centenário do nascimento do poeta Vinícius de Moraes

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JANEIRO 2014 SINDICATO DOS PROFESSORES DA MADEIRA 15de papo pró ar... FOLHA CULTURAL

Atividades de Natal do GrupoCoral do Sindicato dos professores

Dias antes do Natal o nossocoro realizou um concer-to de Natal na Reitoria daUMA. Foi apresentado

um reportório rico de canções deNatal lindíssimas, pouco comuns eem vários idiomas. Além de ter sidoum evento musical e um ato de so-lidariedade, o concerto foi umacontecimento de encontro e con-vívio social.

Depois, na Festa dos Reis, o Gru-po Coral sempre com a orientaçãoempenhada da Prof Tina Gonçal-ves e a colaboração artística da pia-nista Judith Vig, o Grupo Coralcumpriu a tradição do Cantar dosReis. O destino foi o Palácio de SãoLourenço tendo o programa sidoenriquecido com um tema tradi-

ProfessoresvisitamoMuseudaImprensadaMadeira

Dia 22 de novembro, um grupo deprofessores, sócios do Sindicatodos Professores da Madeira, visitou

o Museu da Imprensa da Madeira, em Câ-mara de Lobos.

Este, que podemos considerar o mu-seu mais recente da Madeira, é um es-paço que remete para arqueologia in-dustrial com um acervo considerávelde material que ilustra os diferentes se-tores da imprensa, nos sec XIX e XX: afundição, a composição (manual e me-cânica), a impressão e a gravura.

Foi também oportunidade para apre-ciar uma exposição temporária de Car-toons “Gutenberg no Cartoon Interna-cional”.

São algumas dezenas de desenhosde cartoonistas de vários países que ex-pressam de forma humorística ou até

O concerto teve a direção artística a cargo de Tina Gonçalves, com a participação de Judith Vig ao piano

satírica a importância da imprensa, aevolução desde Gutenberg até aos nos-sos dias, bem como a censura de que éalvo.

Parte das receitasreverteram paraapoio aos alunoscarenciados daUniversidade daMadeira

Ser velhoOs velhos são uns chatos!Queixosos, “avariados”, abandonados, unschatos.Regra geral, é o que todos pensam deles.E o governo também, com ideaissubvertidos da cavalaria medieval, nada deproteger o mais fraco e indefeso. A morte épouco...Que bom seria se a velhada morresse todade uma vez! Já se imagina o salivar doscangalheiros.Quanto poupava o governo de uma só vez!O processo de acabar com centros desaúde, de encarecer os remédios, de criartoda uma série de dificuldades a quem évelho está a revelar-se muito lento.. Com asensibilidade de um calhau e averticalidade de uma amiba, aquele bandode malfeitores, extorsionistas edelinquentes que nos governaimpunemente, mesmo assim,contraditóriamente, ainda vê algumpréstimo na velhada. Mesmo chatos, ébom que se conservem mais ou menosvivos, tipo “zombies”.Porque o governo (!) ainda pensa na

cional «Cantar de Reis».A imponente riqueza do salão

do Palácio numa profusão de luzes,de dourados, de espelhos e de orna-mentações Natalícias proporcio-nou momentos de profunda soleni-dade, muito apreciados pelo Repre-sentante da República.

O Cantar dos Reis levou-nos

ainda ao Lar D. Olga de Brito comintenção de alegrar um poucoaquelas pessoas lá residentes. Sur-preendeu-nos encontrar ali colegase outras pessoas que ainda há bempouco tempo encontrávamos narua e agora estão presos a cadeirasde rodas totalmente dependentessem poder falar e com olhar e ex-pressão estranha e distante numaapatia angustiante. A Sílvia está lú-cida e conversou, gostou muito denos ver, a Graça pelo contrário, nãoreage, de olhar parado, embrulha alíngua e não se faz entender.

Terminaram as Festas. O GrupoCoral voltou ao trabalho. Preparanovo repertório pois acontecerãooutros eventos. Bom Ano

SEVERIANA

utilidade dos velhos: são poupados, vãobuscar netos à escola, abrigam filhosdesempregados, amparam familiaresaliviando o Estado de muitas obrigações.E não menos importante: ainda têm umasreformas onde, como vampiros, vãoregularmente cravar os insaciáveiscaninos.Que dilema! Por um lado, morrendo todosnão havia lugar a pagamento de reformas,por outro ainda ganham alguma coisa emmantê-los vivos... mas pouco.Uns chatos os velhos.Até quando? Para quê? João Duque disseque se vendem os aneis e que se fica semdedos.Outro chato!!Enfim, vamos retardar o mais possivel odesfecho trágico para os velhoslembrando-nos do que aconteceu aocavalo do espanhol: quando já estavahabituado a não comer é que morreu!Uma chatice!Os governantes são mesmo, como diz obrasileiro, uns cafagestes.

AMÉLIA CARREIRA

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16 SINDICATO DOS PROFESSORES DA MADEIRAJANEIRO 2014

DERROTADAAPACC,DERROTEMOS AS POLÍTICAS

O PRIMEIRO PERÍODO DO ANO LETIVO COMEÇOU E ACABOUMALPARANUNO CRATO E ASUAEQUIPA.A abertura do ano foi, sem sombra de dúvida, a pior dos últimosmuitos anos: alunos sem professores e professores por colocar,alunos com necessidades especiais sem os apoios necessários naescola, milhares de assistentes operacionais em falta, manuaisescolares diferentes para alunos do mesmo ano e da mesma turma,só para referir alguns dos problemas mais graves. Mas, se começoumal, o primeiro período também acabou da pior forma para o MECcom a estrondosa derrota infringida pelos professores e pelostribunais no que concerne à prova dita de avaliação de capacidadese conhecimentos dos professores (PACC).Quanto à decisão dos tribunais, tudo apontava para que assimacontecesse, na medida em que, na ânsia de fazer valer aquelaespúria e iníqua prova, o MEC recorreu a todos os expedientes nosentido de contornar a lei, esquecendo que esta não é para sercontornada, mas respeitada.Mas é a prova em si, ilegalidades à parte, que merece [e deverá] sercontestada. Foi um processo em que Nuno Crato e os seussecretários de estado, pela forma como agiram, tornaram aindamais evidente a natureza do poder que dirige os destinos daEducação em Portugal.Desde logo, o “processo negocial” que teve lugar em pleno mês deagosto, recusando o MEC retirá-lo do período de férias dosprofessores; depois, a prova em si que constitui uma afirmação deabsoluta desconfiança sobre as instituições de formação dedocentes, o modelo de avaliação de professores e as direções dasescolas que renovam os contratos destes profissionais; destacou-seainda a insensibilidade e o desrespeito por docentes em situação degravidez de risco, licença de parentalidade, doença ou comdeficiência; por fim, as trapalhadas ocorridos no dia de realizaçãoda prova, com o ministro do rigor a permitir que esta se realizasseda forma mais desqualificada que se poderia imaginar, tendo asregras fixadas pelo próprio ministério sido violadas em muitoscasos porque importante era que, a qualquer custo, os professoresfossem submetidos àquela prova.Todo este processo da PACC destacou ainda outros aspetos que nãosão menores: mais uma vez se confirmou a grande unidade que osprofessores sabem criar quando se trata de fazer frente a ataquesdesferidos contra si; este processo era, na verdade, humilhante paratodos os docentes, independentemente de terem ou não vínculo oude terem ou não de realizar a prova, o que foi compreendido pelaesmagadora maioria; viu-se que só excecionalmente há professoresque tratam os seus colegas com desdém e uma reprovávelsuperioridade; confirmou-se quem está, de facto, com osprofessores e quem, muitas vezes, na hora da verdade, “rói a corda”e coloca-se no lado oposto.

MARCHA PELA EDUCAÇÃO, APELO ÀS ENTIDADES E 28 DE JANEIRO

Adefesa da escola públi-caedaprofissãodocen-te levam a FENPROF apromover um encontronacionalnodia28deja-

neiro, em Lisboa, envolvendo ossubscritores de um Apelo propostoa um conjunto de personalidades,comoobjetivodedefenderaEscolaPública de qualidade. Num primei-ro momento esse Apelo será subs-crito a título individual e depois,será enviado para todas as escolas,instituições de ensino superior, as-sociaçõesdepais,associaçõesdees-tudantes, autarquias, coletividadeseasmaisdiversasassociaçõesemo-vimentos de índole social. A inten-ção é, se possível, envolver toda asociedadenestaação.

Nummomentodahistóriadade-mocraciaemquesedãopassosparaa desvalorização dos fundamentosdeescolapública,urgeumareflexãosobreasrazõesevalordaprópriaes-cola democrática. O seu papel fun-damentaltemsidoestreitaradistân-cia entre ricos e pobres em termosde desempenho académico e depromover a mobilidade social. Umcontributoparaajustiçasocial.

Na verdade, há efeitos que de-correm da educação que vão para

ção do Estado, consubstanciado naConstituição. Esse ciclo normal-mente começa cedo na infância.Alunos que tenham recebido edu-cação pré-escolar e elementar demáqualidadesãomenoscapazesdeprosseguir estudos em níveis do se-cundárioeacederaoensinouniver-sitário.

Ora, essa falta de oportunidadede progressão educativa ao longodo tempo, leva a que o baixo nívelde escolaridade passe de geraçãoem geração. Isto conduz a um pa-drão multigeracional de níveis bai-xos de educação, baixa empregabi-lidadeepobreza,aumentando-seasassimetriasedesigualdadessociais.

As classes desfavorecidas ten-dem a fazer o ensino obrigatório eaumenta-seoriscodeabandonoes-colar. Há ainda efeitos secundáriosenefastosnasociedadedecorrentesdafaltadeescolarizaçãoeeducaçãodequalidade.

Parece-me óbvio que há todo ointeressedeinvestimentonaeduca-ção principalmente por parte doEstado, pois uma sociedade menosescolarizadaeeducadaproduzefei-tos nefastos a todos os níveis, in-cluindooeconómico.

Sofia Canha

Escola públicae justiça social

Num momentodahistória dademocracia em quesedãopassospara a desvalorizaçãodosfundamentosdeescola pública,urgeuma reflexãosobreasrazõesevalordaprópria escolademocráticaalém dos benefícios pessoais: porum lado, os ganhos individuaistransformam-se em ganhos sociais,uma vez que é melhorado o capitalhumano, depois transposto para olocal de trabalho, família e socieda-de, por outro lado, incrementa-se acoesão social nas comunidades, ou-tra dimensão fundamental dos be-nefíciosdaeducação.

As comunidades e famílias ca-renciadas nunca deixarão o ciclo dedesigualdade sem ajuda externapara romper e ultrapassar essas cir-cunstâncias. E esse papel é obriga-

Secretário Geral da FENPROF

MÁRIO NOGUEIRA

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Regalias aos sóciossempre em atualização

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