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Boletim MacroFiscal da SPE Setembro de 2020 Secretaria de Política Econômica | Secretaria Especial de Fazenda | Ministério da Economia

oletim MacroFiscal · os principais indicadores de atividade do IBGE (PIM, PMC e PMS). É importante salientar que todos os indicadores mencionados apresen-taram forte crescimento

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Boletim MacroFiscalda SPE

Setembro de 2020

Secretaria de Política Econômica | Secretaria Especial de Fazenda | Ministério da Economia

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Boletim MacroFiscal da SPE

BrasíliaSetembro de 2020

Secretaria de Política Econômica | Secretaria Especial de Fazenda | Ministério da Economia

Ministério da Economia - Secretaria Especial de FazendaSecretaria de Política Econômica

Subsecretaria de Política Fiscal Subsecretaria de Política Macroeconômica

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Ficha TécnicaMinistro da EconomiaPaulo Roberto Nunes Guedes Secretário Especial de FazendaWaldery Rodrigues Júnior Secretário da Política EconômicaAdolfo Sachsida

Subsecretário de Política MacroeconômicaFausto José Araujo Vieira

Subsecretário de Política Fiscal Erik Alencar de Figueiredo

Subsecretário de Política Agrícola e Negócios AgroambientaisRogério Boueri Miranda

Subsecretário de Política Microeconômica e Financiamento da InfraestruturaEdson Bastos e Santos

Subsecretário de Direito EconômicoDavid Rebelo Athayde

Assessor EspecialRodrigo Mendes Pereira

Equipe técnica responsável Alex Felipe Rodrigues LimaBernardo Borba de AndradeCarlos Henrique Coelho de AndradeDémerson André PolliDiogo Martins EstevesElder Linton Alves de AraújoElida Francioni Lima Almeida Emmanuel Sousa de AbreuFausto José Araujo VieiraGustavo Miglio de MeloHébrida Verardo Moreira FamLiane Ferreira PintoLuís de Medeiros Marques HashimuraMárcio Ramiro CostaOtavio de Almeida Janny TeixeiraPedro Henrique NavarreteSérgio Ricardo de Brito GadelhaSilas Franco de ToledoTereza Cleiser da Silva de AssisVicente Ferreira Lopes FilhoWellington Favaro

Projeto gráfico e diagramaçãoAndré Oliveira Nóbrega

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Índice01 - Panorama Geral 4

02 - Conjuntura 6

03 - Projeção de curto prazo 8

04 - Projeção de médio prazo 9

05 - Projeção de inflação 10

06 - Box: Indicadores de alta frequência sugerem continuidade do processo de retomada 11

07 - Box: Projeções para a arrecadação bruta: A economia brasileira segue sua trajetória de recuperação 13

08 - Box: Projeções em meio a incerteza dos efeitos do COVID-19: comentários acerca da estratégia contida na grade de parâmetros macroeconômicos

15

09 - Box: Efeitos da Pandemia sobre as Contas Externas 17

Prisma Fiscal - SPEO Prisma Fiscal/SPE é um sistema de coleta de expectativas de mercado para acompanhamento das principais variáveis fiscais brasileiras. Apresenta projeções de analistas do setor privado, em bases mensais e anuais, para as seguintes variáveis: arrecadação federal, receita líquida, despesa primária, resultado primário do governo central e Dívida Bruta do Governo Geral.

Endereço da página do Prisma Fiscal/SPE www.fazenda.gov.br/prisma-fiscal

Panorama MacroeconômicoO Panorama Macroeconômico é um conjunto amplo de indicadores de conjuntura e de projeções da Grade de Parâmetros para o processo orçamentário, produzido pela SPE. Apresenta dados selecionados de atividade econômica: PIB, produção setorial, emprego e renda, preços e inflação, crédito e mercado financeiro, política fiscal, setor externo e economia internacional.

Boletim disponível pelo QR-Code ou na página da SPE http://www.fazenda.gov.br/orgaos/spe

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4Boletim MacroFiscal da SPE

A economia global entrou em uma forte recessão sincronizada. A pandemia da Covid tem ceifado milhares de vidas e gerado des-truição de postos de trabalho e empresas, algo não observado há várias décadas. A recessão atual mundial, caso se confirmem as projeções de analistas de mercado e organismos governamentais, sinaliza que a crise financeira de 2008-09 foi bem menos aguda.

Segundo os dados do IEA, os indicadores de atividade mostram que a retração do PIB global será a maior desde a Segunda Guerra Mundial. Considerando as projeções do Fundo Monetário Interna-cional (FMI), caso a retração em 2020 se confirme, a deterioração da economia se assemelhará ao desempenho ocorrido nos piores anos da Primeira Guerra Mundial/gripe espanhola ou da Crise de 1930-32, cujos valores foram em média -2,9% e -3,2%, respecti-vamente.

Outra característica peculiar da recessão atual é o elevado grau de sincronismo. Atualmente, a proporção de países com retração anual do PIB, segundo as projeções do FMI para este ano, é a maior desde 1980 – período em que a instituição começa a divul-gar os resultados do PIB por país. O percentual de países com re-tração econômica nas recessões globais de 1982 e 1991-92 foi em torno de 30%. Já na crise financeira de 2008-09, a razão de países que tiveram o PIB reduzido foi próxima da metade dos países ava-liados. A atual deterioração econômica, segundo o FMI, levará o PIB de 80% dos países ao território negativo. Ou seja, do total de 193 países analisados pelo FMI, o PIB anual será negativo em 154.

A economia brasileira não passará ilesa a essa forte deterioração in-ternacional. No início deste ano, as projeções de mercado e desta Secretaria superavam o crescimento de 2% para 2020. Com os efei-tos negativos da pandemia, os números foram rapidamente revisa-dos e alcançaram retrações próximas a 5% do PIB. As projeções da forte recessão em 2020 foram justificadas pela divulgação do resul-tado do PIB no 2º trimestre, que mostra uma queda de quase 10% da economia, refletindo a atividade paralisada em diversos setores.

O ineditismo e a impetuosidade desta crise, como discutido no últi-mo boletim MacroFiscal, elevou a incerteza das previsões deste ano para o patamar mais elevado historicamente. É fato que os resulta-dos do 2º trimestre reduziram a variância das projeções trimestrais, no entanto, a incerteza continua significativamente elevada. O des-vio padrão das projeções para a variação interanual do 3º trimestre coletadas pelo Focus é de 2,4 p.p. Isso significa que, utilizando a mediana da projeção do PIB divulgada em 04/09 para este trimestre e a variação de um desvio padrão, o intervalo de crescimento do PIB trimestral é de 4,0% a 8,8%, considerando o ajuste sazonal.

A atual estimativa para o PIB de 2020 foi mantida em 4,7%, devido à melhora da projeção para o segundo semestre deste ano. Na pro-jeção para o 3º trimestre, espera-se que a indústria, agropecuária e comércio sejam os principais motores para a retomada. Na estima-tiva do 4º trimestre, esperamos que o impulso para a recuperação

Panorama gerall A economia brasileira, assim

como a maioria dos países, tem sido afetada pelos efei-tos adversos da Pandemia global da Covid.

l Mantivemos a projeção de retração de 4,7% do PIB em 2020. Os indicadores coincidentes sugerem for-te retomada da atividade no trimestre corrente, apesar da expressiva retração da eco-nomia no 2º trimestre.

l Esses indicadores mostram que a retomada econômica continua ganhando tração nos meses de julho e agosto. A indústria e o comércio de-vem ser o motor da atividade no 3º trimestre, já o protago-nismo dos serviços deverá ficar evidente nos últimos meses de 2020.

l A inflação projetada para este ano é de 1,83%, abaixo do centro da meta.

l As medidas tomadas pelo Governo Federal em conjun-to Congresso Nacional foram importantes para limitar os efeitos negativos na econo-mia brasileira. No entanto, é importante destacar que a retomada do crescimen-to sustentável da economia ocorrerá com a elevação da produtividade através das re-formas estruturais e da con-solidação fiscal.

Resumo

Projeções 2020 2021PIB real (%) -4,70 3,20PIB nominal (R$ bilhões) 7.191,1 7.692,3IPCA acumulado (%) 1,83 2,94INPC acumulado (%) 2,35 3,08IGP-DI acumulado (%) 13,02 4,18

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jan/20 fev/20 mar/20 abr/20 mai/20 jun/20 jul/20

PIMPMCPMC amplPMSSérie5

virá pela retomada mais vigorosa dos demais servi-ços, que foram duramente afetados pela pandemia.

A nota divulgada pela SPE - Setores da ativida-de econômica apresentam recuperação em “V” - apontou a forte recuperação do setor de varejo e da indústria. Os resultados da indústria mostram que, em abril, o setor chegou reduzir sua produ-ção em 26%, na comparação com o mês de janeiro deste ano, levando-se em conta o ajuste sazonal. Atualmente, com os dados divulgados de julho, a produção ainda permanece 5% inferior ao obser-vado em janeiro. Ou seja, nos meses de maio a julho, a atividade industrial recuperou mais de 20 p.p. da queda resultante da pandemia. Dessa for-ma, o carregamento estatístico do 3º trimestre, que considera que o resultado da indústria permanece-rá constante ao longo do 3º trimestre no mesmo nível atingido em julho, será de 18%.

O volume de vendas, segundo a Pesquisa Mensal do Comércio, praticamente retomou para o nível an-terior à pandemia. Os indicadores do varejo restrito mostram que o volume de vendas em julho está 5,9% acima do nível de janeiro. Já para o varejo ampliado, considerando materiais de construção e veículos, o nível de julho está 1,1% abaixo ao volume de vendas de janeiro de 2020. É fato que a estimação do comér-cio nas contas nacionais utiliza o conceito de valor adicionado, no entanto, sabemos que há uma relação da melhora do volume de vendas com o aumento do valor adicionado. Desta forma, o carregamento esta-

tístico para o 3º trimestre do varejo restrito e ampliado será de 15,4% e 20,3%, respectivamente.

Os serviços têm apresentado a recuperação mais len-ta. Este setor teve seu vale no mês de maio, ao contrá-rio da indústria e do varejo, cujo menor nível do índice foi em abril. Os dados de julho mostram que os servi-ços recuperaram somente 25% da queda que ocorreu na pandemia. A melhora mais contida se deve princi-palmente ao período maior da quarentena, afetando, principalmente, os serviços de alojamento, transporte e alimentação. No entanto, as curvas da Covid para novos casos e óbitos confirmados desaceleraram em relação aos meses anteriores. Dessa maneira, espera-mos que a melhora dos serviços acelere ao longo deste trimestre e torne-se o principal motor da recuperação da atividade no último trimestre desse ano.

O cenário de melhora neste trimestre é confirmado pelos indicadores de alta frequência. Os dados diá-rios e semanais de diversas fontes, incluindo os servi-ços, mostram que a tendência de melhora se mante-ve para os meses de julho e agosto. Desta maneira, acreditamos que o escudo de proteção das políticas desenhadas conjuntamente pelo governo federal e pelo congresso nacional foram de grande relevância para que os efeitos de uma das maiores recessões globais na economia brasileira fossem amenizados. No entanto, o aumento do bem-estar da população brasileira só ocorrerá consistentemente com a eleva-ção da produtividade da economia, frutos de reformas estruturais e da consolidação fiscal bem sucedidas.

PIB Global (var. anual %)

Percentual de países com retração do PIB

33% 26%47%

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0%

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100%

1980

1982

1984

1986

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1994

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1998

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2020

Fonte: FMI. Elaboração SPE/ME

Retomada da atividade (setores)

-10

-5

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1900

1903

1906

1909

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1942

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1948

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1960

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1966

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1972

1975

1978

1981

1984

1987

1990

1993

1996

1999

2002

2005

2008

2011

2014

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2020

Proj. FMI PIB global (var. anual %)

Fonte: IEA e FMI. Elaboração SPE/ME

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6Boletim MacroFiscal da SPE

Conjuntura O PIB do 2.tri.2020 registrou recuo de -9,7% em relação ao trimestre anterior com ajuste sazonal. Pelo lado da oferta, Indústria (-12,3%) e Serviços (-9,7%) apresentaram queda, enquanto a Agropecuária mostrou variação positiva (+0,4%). No caso da demanda, a maior redução veio do investimento – FBCF (-15,4%), seguido do consumo das famílias (-12,5%), com alta apenas nas exportações (+1,8%). No acumulado em 4 trimestres, o PIB mostrou recuo de 2,2.

Os indicadores do 2º trimestre mostraram que os efeitos da pandemia sobre a economia brasileira foram mais intensos em abril, mês que registrou as mais fortes quedas na atividade dos diversos setores. Entre-tanto, esses efeitos já foram parcialmente compensados em maio, junho e julho, com a sinalização de uma recuperação moderada, ainda que não homogênea. Com isso, apesar da grande incerteza ainda existente no ambiente econômico, a confiança de empresários e consumidores tem voltado e ampliado as perspectivas de recuperação no 2º semestre de 2020 e nos meses seguintes.

As séries de indicadores mensais têm se mostrado mais favoráveis que o previsto em maio e junho, o que têm acarretado correções das projeções de PIB para 2020, e gerado estimativas com recuo menor que o anteriormente estimado. Na pesquisa Focus/BCB, a mediana de mercado para projeção do PIB de 2020, que apontava queda de 6,5% ao final do junho, foi melhorando gradativamente ao longo de julho e agosto. As estimativas de mercado mais recentes estão em patamares mais próximos das estimativas indicadas na grade de parâmetros.

Expectativas de MercadoPIB 2020 Var % real a.a.

-6,10-4,70

-12

-10-8-6-4

-202

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jan-20

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0

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0set

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mediana mínimo máximo Grade de Parâmetros

Fonte: BCB. Elaboração: SPE/ME.

Nota-se, portanto, que a atividade econômica tem mostrado cada vez mais sinais de recuperação. Nessa linha, na agricultura, as expectativas são de aumento de 4,2% na safra de grãos em 2020 ante a de 2019, sendo esperado novo recorde de 251,7 milhões de toneladas, segundo o Levantamento Sistemático da Pro-dução Agrícola (LSPA/IBGE), de agosto/2020.

A indústria (medida pela PIM-PF/IBGE), apesar da queda de 17,5% no 2.tri.2020 ante o trimestre anterior com ajuste sazonal, apresenta nítida recuperação nos meses de maio, junho e julho. Destaque para a forte retomada nos ramos de transformação (+35% nesses três meses). Reforçam essa reativação da indústria em julho/2020, com ajuste sazonal, os dados da Anfavea (crescimento de 72,1% para veículos).

O comércio varejista restrito (medido pela PMC/IBGE) mostrou queda de 7,8% no 2º tri.2020, em relação ao trimestre anterior com ajuste sazonal., enquanto o varejo ampliado (inclui veículos e materiais e construção) recuou 12,1%. Na abertura mensal, houve forte crescimento do comércio em maio, junho e julho, compen-sando quase a totalidade da queda observada em março e abril. Para agosto, indicadores preliminares, como os indicadores de comércio da SERASA e da ACSP, mostram continuidade dessa recuperação.

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7Boletim MacroFiscal da SPE

Já os serviços (medidos pela PMS/IBGE) mostraram queda de 15,4% no 2º trimestre, frente ao trimestre anterior com ajuste sazonal. Apesar do retorno ao crescimento em junho e julho, essa alta não foi suficiente para compensar os recuos observados nos meses anteriores. O prolongamento das medidas de distancia-mento social explica grande parte da maior dificuldade de recuperação do setor em relação aos demais. Dados do mercado de trabalho mostram também essa dificuldade, com a taxa de desemprego em patamar elevado, de 13,3% em junho/2020, com alta de 1,1 p.p. ante junho/2019. Todavia, nota-se crescimento do rendimento médio real, dada a inflação em níveis baixos.

Apesar da crise da Covid continuar gerando fortes incertezas, os resultados mais favoráveis de diversos indicadores têm contribuído para a retomada da confiança de empresários e consumidores. Nas sondagens da FGV, mesmo com o recuo acumulado no 2º trimestre frente ao trimestre anterior com ajuste sazonal, todos as medidas de confiança apresentam forte recuperação na média móvel de 3 meses, gerando boas perspectivas para a atividade ao longo da retomada econômica.

Indicadores de Confiança - Sondagens IBRE-FGVMédia Móvel Trimestral

Construção Civil

Indústria

Serviços

Comércio

Consumidores

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95

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Fonte: FGV

No primeiro semestre de 2020, a inflação tinha se mostrando bastante comportada, em grande parte refle-xo da atividade mais restrita devido às consequências do enfrentamento à pandemia. Todavia, no segundo semestre, a inflação tem dado sinais de aceleração, com mais intensidade nos índices ao produtor e de ata-cado, mas que também já se reflete nos índices de alimentos ao consumidor, embora em menor intensidade.Notamos sinais de ampliação do crédito para famílias, em especial nos recursos livres, com os empréstimos consignados e o financiamento de veículos, além do financiamento imobiliário, no caso dos recursos direcio-nados. Para as empresas, as linhas de crédito têm ajudado a enfrentar as dificuldades de capital de giro e a financiar os ajustes devido à pandemia.

Apesar da volatilidade do câmbio ante a incerteza do ambiente econômico em nível mundial, o comércio exterior brasileiro vem mostrando superávits consistentes, na medida em que vai ocorrendo a gradual recu-peração da atividade nos países parceiros, em especial EUA, China, e União Europeia. Com relação a esses resultados comerciais favoráveis, houve saldo positivo de US$ 45 bilhões no acumulado em 12 meses.

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ju l-17

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IBC-Br PIM (Produção Industrial) LSPA (Safra Agrícola MM12)PMC (Vendas no Comércio Ampliado) PMS (Volume de Serviços)

IBC-Br e Produção IndustrialCom Ajuste Sazonal (Média 2014=100)

Fonte: BCB: Índice de Atividade Econômica do Banco Central - Brasil. IBGE: Pesquisa Industrial Mensal (PIM), Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) e Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA)

Safra Agrícola (MM12), Vendas no Comércio e Volume de ServiçosCom Ajuste Sazonal (Média 2014=100)

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8Boletim MacroFiscal da SPE

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Projeção de curto prazo

A projeção de crescimento do PIB para o 3º trimestre de 2020 é de -4,9% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior. Este resultado representa uma variação de +7,3% em relação ao segundo trimestre de 2020 (com ajuste sazonal). O PIB acumulado em 4 trimestres atin-girá -3,8%. Essa projeção leva em consideração os dados divulgados até o dia 08 de setembro. Em relação ao último Boletim Macrofiscal, novas informações foram incorporadas à projeção com destaque para os principais indicadores de atividade do IBGE (PIM, PMC e PMS). É importante salientar que todos os indicadores mencionados apresen-taram forte crescimento no último mês de divulgação (quando compa-rados aos meses imediatamente anteriores, com ajuste sazonal) e que outros indicadores de maior tempestividade indicam continuidade da recuperação.

Para o setor Agropecuário, projeta-se crescimento de 1,7% em rela-ção ao mesmo trimestre do ano anterior. Na comparação com o se-gundo trimestre (dados com ajuste sazonal), o crescimento projetado é de 1,2%. Esse resultado se deve, em parte, ao bom desempenho esperado para a agricultura que, segundo estimativa do IBGE (LSPA), deverá atingir safra recorde, crescendo 4,2% em relação ao ano de 2019. Importante destacar que as informações disponíveis continuam a indicar que o setor agropecuário não sofreu significativo impacto das restrições impostas pela pandemia da Covid-19.

Para a Indústria, projeta-se recuo de -3,4% em relação ao mesmo tri-mestre do ano anterior. O resultado representa uma forte aceleração da atividade industrial que vem de um recuo de -12,7% no 2T20. Em relação ao trimestre imediatamente anterior, projeta-se crescimento de 10,7% (com ajuste sazonal). Os dados já disponíveis para o trimes-tre (com destaque para a Pesquisa Industrial Mensal – PIM) mostram uma recuperação em forma de “V” para a Indústria de Transformação, com destaque para o setor automotivo, moveleiro e máquinas e equi-pamentos. Adicionalmente, a Indústria Extrativa voltou a apresentar crescimento na PIM de junho e julho, após 9 meses consecutivos de queda. Desta forma, a projeção da Indústria Extrativa para o PIB do 3º trimestre é de 2,3% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior (3,4% em relação ao trimestre anterior com ajuste sazonal).

Para o setor de Serviços, projeta-se recuo de -4,3% em relação ao mes-mo trimestre do ano anterior (no 2º trimestre houve recuo de -11,2%). O resultado representa uma variação de 7,8% quando comparado ao 2º trimestre (com ajuste sazonal). Dentre os destaques, pode-se citar o Comércio. Não obstante, outros indicadores mais tempestivos mos-tram que a recuperação deverá se manter nos meses de julho e agos-to. Outro comportamento de recuperação pode ser observado nos dados da PMS. O setor de Transportes apresentou altas consecutivas e crescentes nos meses de maio e junho. Esta informação combinada com outros indicadores de atividade mais tempestivos (já disponíveis para julho e agosto) relacionados ao fluxo de veículos pesados, à mobi-lidade de pessoas nas cidades e ao fluxo de voos comerciais, sinalizam melhora dessa atividade.

*Com ajuste de sazonalidadeFonte: IBGE e SPENota: Os dados referentes ao 3T20 são projeções realizadas pela SPE (em 08/set/20)

Oferta

Var % sobre

trimestre anterior*

Var % sobre

mesmo trimestre do ano anterior

2T 20

3T 20

2T 20

3T 20

PIB -9,7 7,3 -11,4 -4,9

Agropecuária 0,5 1,2 1,2 1,7

Indústria -10,9 10,7 -12,7 -3,4

Serviços -9,8 7,8 -11,2 -4,3

Evolução das projeções 3T20

-7

-7

-6

-6

-5

-5

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4Semanasantes

3Semanasantes

2Semanasantes

1Semanasantes

ProjeçãoFocus

ProjeçãoSPE

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9Boletim MacroFiscal da SPEBoletim MacroFiscal da SPE

As projeções dos indicadores macroeconômicos da grade de parâme-tros desta edição servirão como base para o Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas do 4º bimestre de 2020. É necessário ressaltar que o conjunto de informações dos dados econômicos e financeiros utiliza-dos para a estimação do PIB são limitados aos indicadores divulgados até o dia 08 de setembro, exceto os indicadores de inflação ao consumi-dor (IPCA e INPC) que foram atualizados até quarta-feira, dia 09 de julho.

As projeções da variação do PIB para o horizonte de projeção mantive-ram-se inalteradas em relação às estimativas das Grades de Parâmetros divulgadas em maio e em julho. Observamos que apesar do resultado do PIB do 2º trimestre ter sido abaixo do projetado na última grade, os indi-cadores coincidentes de atividade sugerem uma retomada mais robusta do crescimento no segundo semestre de 2020. Conforme explicitado na seção da Projeção de Curto Prazo, o crescimento para o 3º trimestre é elevado, superando a projeção anterior da última Grade. Para o quarto trimestre deste ano, esperamos uma aceleração do setor de serviços, impulsionando o crescimento do PIB no final do ano. A metodologia uti-lizada para a projeção a partir do 4º trimestre deste ano, fundamenta-se nos resultados de alguns artigos acadêmicos, conforme descrito na se-ção impactos de médio prazo na Nota Informativa - Impactos Econômi-cos da COVID-19.

A projeção da variação do PIB em 2020 é de -4,7%. Esse valor reflete a forte deterioração da atividade econômica devido ao efeito negativo da pandemia. Para o ano de 2021, a estimativa de crescimento se manteve em 3,2%. Já para os dois anos posteriores, a projeção do crescimento real é de 2,5%.

O PIB nominal projetado para 2020 de R$ 7,19 bilhões deverá ficar abai-xo do valor de 2019, devido à forte queda do crescimento real. No entan-to, devido ao maior valor do deflator (4,0%), comparado à última grade, a piora do PIB nominal deverá ser atenuada.

Deve-se salientar que apesar dos resultados já divulgados para o 2º tri-mestre serem os mais críticos da pandemia, a incerteza ainda permane-ce significativamente elevada. Ademais, as projeções da atividade para este e para os próximos anos tornam-se particularmente sensíveis à di-vulgação dos dados e ao desenrolar dos efeitos da COVID-19, principal-mente considerando os seus efeitos no PIB de longo prazo.

Como toda projeção, há incerteza inerente às estimações para o horizon-te prospectivo, especialmente neste período da pandemia da COVID-19. Desta maneira, usando a variância da previsão dos modelos considera-dos, é possível estimar diferentes cenários para o crescimento da ativida-de, segmentando-os em diferentes percentis. Observa-se que a variância das estimações aumenta a cada ano à frente, o que indica que as pro-jeções de crescimento tendem a ser revistas à medida que a economia sofra novos choques.

Projeção de médio prazo

Projeções do crescimento do PIB*

AnoData da projeção

05/Mai 07/Jul 08/Set

2020 -4,70 -4,70 -4,70

2021 3,20 3,20 3,20

2022 2,60 2,60 2,50

2023 2,50 2,50 2,50

2024 2,50 2,50 2,50

*(%) PercentualFonte: SPE

-8,00

-6,00

-4,00

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0,00

2,00

4,00

6,00

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2024

Grade

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10Boletim MacroFiscal da SPE

A projeção de inflação de preços ao consumidor (IPCA) para 2020 é de 1,83%. O valor representa um aumento da projeção em relação ao último Boletim Macrofiscal. O prin-cipal responsável pela elevação da projeção é o preço de alimentos. Observando a evolução do IPCA ao longo do ano, vemos que a inflação acumulada em 12 meses do grupo Alimentação no Domicílio, após atingir um valor mínimo de 5,06% em março, acelerou até alcançar 11,39% em agosto (último dado disponível). Contudo, o comportamento das de-mais categorias de produtos continua apresentando inflação estável e baixa (inclusive se comparada à meta de inflação). O gráfico abaixo ratifica a afirmação anterior ao apresentar o comportamento da inflação de preços Monitorados, Alimen-tação no Domicílio, Serviços e Bens Industriais.

Ainda que a pressão inflacionária esteja concentrada em ali-mentos, é possível analisar os dados do IPCA-Alimentação de forma mais desagregada afim de compreender melhor o fenômeno observado nos últimos meses. O grupo Alimenta-ção no Domicílio é composto de 16 itens dos quais 2 atingi-ram inflação superior à 20% em agosto, a saber, “Cereais, le-guminosas e oleaginosas” (item no qual se encontram o arroz e os feijões) e “Carnes”. Ademais, “Óleos e gorduras” atingiu 19,25%, com destaque para Óleo de soja. Todos os valores mencionados se referem à inflação acumulada em 12 meses.

O INPC deverá encerrar este ano com variação de 2,35% tendo a projeção sido influenciada pelos mesmos movimen-tos discutidos acima. Com participação relevante dos pro-dutos agropecuários, a inflação projetada para o IGP-DI em 2020 subiu de 6,58% para 13,02%. Cabe lembrar que este índice tem uma abrangência maior do que apenas o consu-midor final, englobando também o setor atacadista.

Projeção de inflação

Inflação 2020 - projeção (Grade)*

Data base para projeção da

inflaçãoma/20 jul/20 set/20

IPCA 1,77 1,60 1,83

INPC 2,45 2,09 2,35

IGP-DI 4,49 6,58 13,02

*(%) Percentual

Inflação IPCA (ac. 12 meses)

-7,5-5,0-2,50,02,55,07,5

10,012,515,017,520,0

abr/1

6jun

/16

ago/1

6out/

16

dez/16

fev/17ab

r/17jun

/17

ago/1

7out/

17

dez/17

fev/18ab

r/18jun

/18

ago/1

8out/

18

dez/18

fev/19ab

r/19jun

/19

ago/1

9out/

19

dez/19

fev/20ab

r/20jun

/20

ago/2

0

IPCA MONITORADOS SERVIÇOS ALIMENTAÇÃO NO DOMICÍLIO BENS INDUSTRIAIS

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11Boletim MacroFiscal da SPEBoletim MacroFiscal da SPE

Indicadores de alta frequência sugerem continuidade do processo de retomadaA pandemia de Covid-19 acelerou a tendência de acompanhamento dos indicadores econômicos de alta frequência, que já vinha sendo feita por parcela dos economistas e analistas de mercado. Esta abordagem faz-se ainda mais necessária no contexto atual, pois as variáveis tradicionais de acompanhamento econô-mico, como a produção industrial e o PIB, são divulgadas com defasagem e desta forma não permitem uma verificação mais apurada da temperatura da economia no momento corrente.

No início da pandemia, os indicadores de alta frequência foram muito úteis para identificar a velocidade e a magnitude da deterioração econômica. No momento atual, tais indicadores ajudam a medir o ritmo de retomada, assim como identificar heterogeneidades setoriais e regionais. Desta forma, este box tem como objetivo apresentar alguns indicadores de alta frequência monitorados pela SPE e mostrar que o processo de retomada da atividade econômica segue em curso, sugerindo um crescimento elevado no 3º trimestre do ano, recuperando parte das perdas observadas no 2º trimestre.

Um primeiro indicador analisado é o consumo de energia elétrica no mercado livre, que, embora seja sensível às oscilações no número de participantes em tal mercado, pode fornecer uma aproximação do desempenho mais recente do setor, como pode ser visto na tabela abaixo.

Consumo de Energia Elétrica (CCEE) - Mercado Livre (Base 100 = Fev/20)mar/20 abr/20 mai/20 jun/20 jul/20 ago/20

Serviços 89,8 63,2 59,4 65,0 69,3 75,5Veículos 89,9 39,0 50,1 64,2 77,9 86,9Bebidas 90,4 57,4 80,2 92,2 93,9 96,8Têxteis 91,8 50,7 47,2 56,4 80,2 93,1

Transporte 93,3 72,5 70,1 78,6 81,0 83,6Manufaturados diversos 95,6 71,8 76,0 84,8 94,3 99,8

Telecomunicações 96,5 90,0 87,1 88,0 91,3 92,5Minerais não-metálicos 97,6 76,6 82,3 91,1 97,8 102,8

Químicos 98,9 94,0 86,9 89,9 96,7 93,2Metalurgia e produtos de metal 99,2 86,6 91,1 90,9 95,0 99,6

Saneamento 101,9 103,9 102,6 105,0 107,8 107,6Comércio 102,5 85,1 83,3 86,8 87,7 87,7

Alimentícios 102,5 95,5 92,8 95,1 97,9 99,5Madeira, papel e celulose 103,0 94,7 92,4 90,5 98,9 103,5

Extração de minerais metálicos 110,0 108,1 104,4 104,6 108,5 112,1

Através deste indicador, observa-se um processo contínuo e generalizado de recuperação. Entretanto, há muitas diferenças setoriais no que tange à magnitude da deterioração no início da pandemia e no ritmo de recuperação posterior. É possível notar que alguns setores, como Saneamento e Extração de Minerais Me-tálicos, não sofreram quedas no consumo de energia durante a pandemia. Outros setores, como Bebidas e Manufaturados, apresentaram quedas significativas no início, mas já se recuperaram a níveis próximos observados em fevereiro. Por fim, é possível notar que os Serviços e o Comércio, setores mais intensivos em mão de obra e que tiveram atividades interrompidas por um período, estão em um processo de recuperação mais lenta, em linha com o que se observa no restante do mundo.

Outro indicador acompanhado são os dados de faturamento do varejo, disponibilizados ao público pela Cielo. Esse indicador reforça algumas tendências já sugeridas pelos dados de consumo de energia elétrica, e traz informações ainda mais desagregadas para cada setor do varejo.

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Faturamento no Varejo - ICVA Cielo (Base 100 = Dias comparáveis antes da pandemia)mar/20 abr/20 mai/20 jun/20 jul/20 ago/20

Categorias AgregadasVarejo total 81,0 61,1 68,6 77,1 83,8 88,2

Bens duráveis 68,4 41,8 61,7 81,7 89,7 95,3Serviços 57,3 26,3 31,2 35,8 43,4 53,2

Bens não duráveis 105,2 93,4 95,0 99,1 103,0 103,3Categorias Desagregadas

Turismo e transporte 46,4 9,5 12,2 16,7 23,2 33,6Demais setores serviços 55,7 50,2 55,4 56,5 61,2 66,4

Vestuário 60,1 13,5 28,7 48,5 61,0 74,8Bares e restaurantes 66,7 24,9 29,6 34,8 43,4 54,3

Demais setores duráveis 69,7 46,2 61,4 72,6 82,3 96,6Móveis, eletro e lojas de departamento 69,7 49,9 78,1 104,3 100,9 97,3

Serviços automotivo e autopeças 77,7 68,8 81,0 90,8 95,9 96,0Demais setores não duráveis 80,1 68,7 78,1 84,0 91,7 92,9

Postos de gasolina 82,3 56,1 58,6 64,6 71,6 75,9Materiais p/ construção 83,4 85,4 105,6 121,6 131,8 133,1

Drogarias e farmácias 109,9 87,8 91,7 93,4 101,7 97,6Super e hipermercados 119,5 116,5 113,0 116,4 117,6 118,6

Nota-se novamente que há um processo contínuo e generalizado de retomada, mas com diferenças seto-riais importantes. Alguns setores demonstraram resiliência durante a crise, como os setores de Farmácias e Supermercados. Por outro lado, o setor de Turismo ainda está sendo muito afetado pelos desdobra-mentos da pandemia, bem como os setores de Vestuários, Bares e Restaurantes e Demais setores de serviços. Ainda assim, os dados sugerem que a recuperação desses setores está em curso, ainda que em ritmo moderado.

Por fim, apresentamos um indicador de mobilidade nas grandes regiões disponibilizado pelo Google. Esse índice tem se mostrado muito útil para monitorar a retomada econômica e possui a vantagem de registrar a mobilidade em diferentes regiões do país. O indicador apresentado abaixo reflete a média entre as cinco categorias de mobilidade agregadas por região: varejo e recreação, mercearia e farmácia, parques, trânsito e locais de trabalho.

Mobilidade - Google (Base 100 = Média 3/jan/20 a 6/fev/20)mar/20 abr/20 mai/20 jun/20 jul/20 ago/20

Nordeste 80,5 51,3 54,2 61,8 71,4 83,0Sul 81,7 55,1 66,9 70,6 68,6 74,6

Sudeste 83,9 55,6 62,1 68,8 75,1 81,6Centro-Oeste 87,9 64,3 75,6 80,1 81,6 89,4

Norte 88,1 60,5 63,4 73,9 87,3 98,1

Através deste índice, também é possível notar que o ritmo de retomada varia em função da região, tendo em vista que a pandemia afetou cada uma delas em momentos e intensidades diferentes. Na região Sul, por exemplo, a pandemia acelerou de forma mais intensa a partir de julho, reduzindo a velocidade de recuperação da circulação. Por outro lado, a região Norte já apresenta indicadores bem próximos ao nível pré-pandemia, reflexo de um recuo no número de óbitos e casos de Covid-19 na maior parte dos estados da região, que foram muito afetados no início da pandemia no Brasil. A região Sudeste, que concentra grande parte da atividade econômica no país, registrou pico da redução da mobilidade em abril, mas já apresenta retomada gradual da atividade. As regiões Nordeste e Centro-Oeste também registraram de-sempenho semelhante, mas em agosto já apresentavam um patamar superior ao de março.

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13Boletim MacroFiscal da SPE

Projeções para a arrecadação bruta: A economia brasileira segue sua trajetória de recuperação.

Os principais indicadores de confiança divulgados pela Fundação Getúlio Var-gas (FGV) têm reforçado a continuidade da retomada da atividade econômica na indústria, no comércio, serviços e construção civil. Além disso, os Índices de Confiança do Empresário Industrial (CNI e Fiesp) sinalizam recuperação da produção industrial devido à melhora da percepção das condições atuais e, principalmente, da expectativa de retomada da atividade econômica. Em relação ao varejo, os sinais também são otimistas e apresentam crescimen-to das vendas, favorecidos por diversos fatores, tais como reabertura, dis-seminação do comércio eletrônico (e-commerce), substituição do consumo de bens e serviços, reação no setor de serviços, assim como transferências emergenciais de renda. Esse último resultado não apenas sinaliza a recupera-ção do consumo das famílias, como também se espera que o varejo continue em linha ascendente diante da flexibilização das medidas de distanciamento social e da recomposição da renda das famílias.

Como esperado, a retomada em curso do nível de atividade econômica é refletida diretamente no desempenho da arrecadação bruta total de tributos federais divulgada pela Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil (RFB). Para exemplificar esse movimento, será considerada a arrecadação bruta, i.e., a soma da arrecadação bruta das receitas administradas pela RFB com a arrecadação das receitas administradas por outros órgãos. Os dados reportados a seguir resumem os resultados de projeções de médio prazo elaboradas pela Subsecretaria de Política Fiscal da SPE. É importante destacar que as arrecadações atípicas (isto é, as receitas extraordinárias) foram excluídas dos dados realizados de 2019, bem como das projeções de 2020 a 2024.

No Gráfico 1 a seguir mostra-se as projeções de arrecadação bruta (em R$ milhões) para quatro momentos distintos, considerando-se o horizonte tem-poral de 2020 a 2024. A ideia é mostrar como as estimativas para os mes-mos pontos futuros (anos de 2020, 2021, 2022, 2023 e 2024) mudam de perspectiva quando realizadas em meses distintos – não só temporalmente, mas também pelo nível de profundidade da crise do COVID-19. Enquanto as projeções do mês de maio ainda estavam captando os efeitos do início da pandemia da COVID-19, as projeções dos meses de junho e de julho já refletiam o período bastante crítico dessa pandemia. Naturalmente, a curva em formato de V se desloca para baixo (da curva azul mais escura para o azul claro). A pior perspectiva de arrecadação é atingida em julho de 2020. Ocorre que, nas estimativas de arrecadação bruta para o mês de agosto (li-nha laranja), observa-se uma melhora significativa das projeções, as quais se aproximam dos patamares das projeções feitas no mês de maio. Em resumo,

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as previsões recentes de arrecadação bruta já têm refletido a recuperação do nível de atividade eco-nômica, refletindo a recuperação econômica já detectada nos indicadores de mercado.

Gráfico 1: Projeções de arrecadação bruta, 2020-2024 (R$ Milhões)

Fonte: Grade de Cenários e Projeções Fiscais da SPENotas: 1 – Arrecadação bruta total de tributos federais: soma da arrecadação bruta das receitas administradas pela RFB com a arrecadação de receitas administradas por outros órgãos. 2 - Exclui-se as arrecadações atípicas (receitas extraordinárias).

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15Boletim MacroFiscal da SPE

Projeções em meio a incerteza dos efeitos do COVID-19: comentários acerca da estratégia contida na grade de parâmetros macroeconômicosNo Boletim MacroFiscal de maio de 2020, a divulgação da grade de parâmetros macroeconômicos chamou especial atenção. O tema que, naturalmente, ocuparia lugar de destaque por servir de base para o Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas do 2º bimestre de 2020 e para os cenários do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO 2021), assumiu um novo protagonismo: seria a primeira projeção oficial do governo a computar os efeitos da crise do COVID-19 sobre a atividade econômica. Logo, no primeiro tópico do resumo, o Boletim afirmou: “Diante da forte retração na ati-vidade causada pela crise do coronavírus a projeção do crescimento do PIB para 2020 foi revisada para -4,7%” (pg.4).

As reações foram imediatas. De forma quase unânime, a projeção foi taxada de “otimista” e desco-nectada da realidade. Posteriormente, organismos internacionais divulgaram seus próprios números, todos destoantes do -4,7% estimado pela Secretaria de Política Econômica (SPE). No início de julho o Banco Mundial divulgou uma projeção de queda em torno de -8%. Ainda em junho o Fundo Mone-tário Internacional divulgou estimativa de -9,1% seguido, no mês de julho, pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), que projetou uma queda de -9,2%. A previsão da SPE foi reforçada no Boletim MacroFiscal de julho de 2020, só que, desta vez, as críticas foram substituídas por uma série de revisões nas projeções iniciais dos agentes do mercado. Detectou-se uma conver-gência em direção ao número da SPE (ver, por exemplo, evolução das estimativas de mercado conti-da no Relatório Focus do Banco Central).

A robustez da previsão da SPE torna-se ainda mais destacável diante do cenário ilustrado a seguir. Em síntese, observam-se as previsões do Prisma Fiscal referentes às variáveis de Arrecadação Total, bem como Receita líquida, Despesa Total e Resultado Primário, essas três últimas variáveis referentes ao governo central. No mês de dezembro de 2019, os analistas de mercado utilizaram as informações e modelos disponíveis no momento para prever a dinâmica dessas variáveis entre os meses de janei-ro a junho de 2020. Os resultados estão sintetizados na Figura 1. As linhas cinzas destacadas pelos círculos representam a mediana das previsões feitas pelo mercado. As áreas cinzas são as previsões baseadas nos quantis 0,01-0,99. Por fim, as linhas coloridas trazem os valores realizados destacados por “x”.

O que se pode concluir da Figura 1? Mesmo utilizando os valores extremos dos quantis (valores extremamente otimistas e pessimistas), a modelagem padrão não seria capaz de captar a realidade imposta pela crise do COVID-19. Para janeiro e fevereiro e, em menor grau, março, as expectativas do mercado em início de dezembro foram realizadas. No entanto, a partir de abril verifica-se o efeito devastador da crise e valores realizados absolutamente discrepantes, até mesmo em comparação com as previsões mais extremas que foram feitas em dezembro. A realização de uma projeção crí-vel diante de um cenário de elevada incerteza requer a avaliação do modelo comumente utilizado. Nesse sentido, a revisão crítica dos resultados do modelo padrão durante a elaboração do Boletim MacroFiscal de maio de 2020 e a contínua adequação nos boletins subsequentes foram atitudes acertadas e resolutas na construção do indicador de crescimento do Produto Interno Bruto. Tais esforços na construção das projeções macroeconômicas visam manter a credibilidade do formula-dor de política econômica.

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Figura 1: Mediana (—●—) e quantis 0.01 e 0.99 (zona cinza) das previsões de mercado do Prisma Fiscal em dezembro de 2019 para os seis primeiros meses de 2020 (R$ bilhões). As linhas destacadas (—x—) representam os valores oficiais.

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17Boletim MacroFiscal da SPE

Efeitos da Pandemia sobre as Contas ExternasA conta corrente do balanço de pagamentos registra o comércio de bens e serviços, e o envio e re-cebimento de rendas e transferências, entre residentes e não residentes. Ela é também uma medida do quanto o país produz em excesso ao que absorve, na forma de consumo e investimento privados e do governo. Se um país produz menos do que absorve, há um déficit em transações correntes, e a diferença é oferecida pelo resto do mundo, na forma de poupança externa, ou produção não absorvi-da. O déficit em transações correntes equivale à poupança externa do país (uma poupança feita pelo resto do mundo, oferecida ao país para que este a absorva).

A pandemia produziu uma forte reversão na trajetória da conta corrente no Brasil. O gráfico abaixo mostra o comportamento do saldo da conta corrente como proporção do PIB (eixo da esquerda) jun-tamente com a taxa de câmbio real entre o real e o dólar americano1(eixo da direita). Há claramente uma correlação positiva entre a conta corrente e a taxa de câmbio2, e possivelmente uma causalida-de mútua: desvalorizações do real causam aumentos no saldo da conta corrente, porém superávits prolongados na conta corrente implicam entrada de dólares, e queda no câmbio. Em 2002 o câmbio foi a quase 8 reais em valores atuais o que levou a uma forte quebra na trajetória da conta corrente. Déficits sistemáticos de 4% do PIB foram rapidamente transformados em superávits de 1% do PIB. Uma quebra semelhante na trajetória da conta corrente parece estar acontecendo como efeito da pandemia. O Brasil vinha tendo déficits sistemáticos na conta corrente em torno de 3% do PIB. Houve uma forte reversão em abril, que se manteve pelos meses seguintes. Já são 4 meses de superávits na conta corrente, algo que não ocorria desde 2006.

1- A taxa de câmbio real é calculada a partir da taxa nominal de reais por dólar, corrigindo-se para a diferença entre a inflação no Brasil e nos Estados Unidos. Para a inflação no Brasil consideramos o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), e para os Estados Unidos o Índice de Preços ao Consumidor para todos os consumidores urbanos, sem ajustes sazonais (Consumer Price Index For All Urban Consumers, CPI-U, not seasonally adjusted).2- O coeficiente de correlação de Pearson entre o câmbio e a conta corrente no período de janeiro de 1995 a julho de 2020 é de 0,3067. Não muito alto pelo fato de que as fortes flutuações sazonais na conta corrente não têm uma contrapartida no câmbio. Ao dessazonalizarmos a série de conta corrente brasileira pelo método ARIMA X-12, a correlação entre o câmbio e a conta corrente sobe para 0,48.

Conta corrente como % do PIB no Brasil e Taxa de Câmbio Real (Reais/US$)

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Olhando para os principais componentes da conta corrente fica evidente um aumento significativo no saldo da balança comercial desde o começo da pan-demia. Exportações aumentaram e importações dimi-nuíram. O Brasil está se beneficiando por não ter sua pauta de exportações muito dependente de setores fortemente atingidos pela crise, caso, por exemplo, da Arábia Saudita e da Rússia com o petróleo.

A balança de serviços, tradicionalmente deficitária no Brasil, também apresentou uma melhora. Um item dos serviços que apresentou uma evolução particularmente notável durante a pandemia foi a conta de viagens inter-nacionais. Por exemplo, em 2019 o Brasil teve um déficit de 11,6 bilhões de dólares em viagens. De fevereiro a julho de 2020, período da pandemia o déficit acumulado em 5 meses foi de 1 bilhão de dólares, versus 6,05 bi-lhões no mesmo período de 2019. O Brasil encontra-se na posição inversa à de economias muito dependentes do turismo, que agora experimentam grandes deterio-rações na conta corrente, como resultado do efeito da pandemia sobre o saldo de viagens. É o caso de países como a Tailândia, a Grécia, e Portugal.

A conta de rendas primárias também ficou me-nos deficitária durante a pandemia. O déficit acumulado nos primeiros seis meses de 2020 foi de 27,3 bilhões de dólares. No mesmo perío-do de 2019 esse valor foi de 34,4 bilhões. Com quedas generalizadas nos lucros das empresas, espera-se também uma redução nas remessas de lucros e dividendos ao exterior. No caso de um país deficitário nessas remessas, como o Brasil, espera-se uma redução nesse déficit.

Ainda não está claro se a forte reversão na con-ta corrente do Brasil se sustentará no médio prazo, após a pandemia. Por um lado, a recu-peração da economia brasileira deve voltar a pressionar as importações e as despesas de serviços. Por outro, há uma nova forte demanda mundial por commodities agrícolas nas quais o Brasil é grande produtor e exportador. De todo modo, esses movimentos bruscos no nosso ba-lanço de pagamentos sugerem a possibilidade de entradas significativas de divisas, e como consequência, uma valorização do real.

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