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Economia 44 ATRIBUNA VITÓRIA, ES, DOMINGO, 24 DE MARÇO DE 2013 60 30 5 400 metros 800 metros SEGURANÇA NO AEROPORTO Tensão para aterrissar em Vitória Em dias de chuva, o aeroporto se torna um desafio para os pilotos, que precisam decidir em segundos se devem ou não tentar pousar Texto: Andréa Nunes Arte: André Felix P ousar no aeroporto de Vitó- ria é um sufoco, segundo o comandante de Boeing e Airbus Márcio Branco, que tem 30 anos de experiência e 18.500 horas de voo. O piloto conta que companhias aéreas determinam que apenas pi- lotos experientes façam pousos no aeroporto capixaba, pois requer mais destreza, e impedem que co- pilotos o façam. Entre os principais problemas, segundo Branco, estão o compri- mento da pista, considerada curta, e o fato do aeroporto ainda não contar com o ILS (Instrument Landing System). Para Branco, em uma ocasião de mau tempo em que, com o ILS, as chances de pou- so seriam 100%, sem o equipa- mento, caem para 40%. “Sem o ILS, as coisas ficam mais difíceis, principalmente em dias de muita chuva, nevoeiro e baixa visibilidade, o que exige mais des- treza do piloto. O GPS substitui o ILS em aviões que contam com es- sa tecnologia, mas não é tão preci- so. Em aeroportos que têm ILS, é possível fazer o pouso até em pilo- to automático. Com o GPS, não”. Com 12 anos de experiência co- mo piloto, Greco Felipe Rolon fala que a expectativa para o início das operações do ILS em Vitória é grande. “É o que os pilotos mais querem. Se já tivesse, dificilmente o aeroporto de Vitória ficaria fe- chado por mau tempo”. Fontes: Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea); piloto executivo de jato Greco Felipe Rolon; comandante de Boeing e Airbus, funcionário de grande companhia aérea e autor do livro “Na Cabine de Comando”, Márcio Branco. A DECISÃO As nuvens estão carregadas demais e o piloto não tem visibilidade. Sem o ILS, ele só pode se aproximar até 152,4 metros (500 pés) de altura. É a hora da decisão, que deve ser feita pelo piloto: se não houver visibilidade, ele não tem segu- rança para continuar e precisa arremeter. 2 E AGORA? Uma cabeceira da pista, pró- xima à Ufes, está sem visibilidade, mas a outra não. Uma possibilidade seria dar a volta e tentar fazer o pou- so pelo outro lado, em direção à Ser- ra, mas em Vitória a manobra é proi- bida, por causa dos obstáculos na ci- dade. As regras só permitem a mano- bra na direção contrária. 4 São antenas que dão as coordenadas para o piloto, do caminho a seguir quando ele não consegue en- xergar por causa do mau tempo. O aparelho dá a rota até a pista, pas- sando coordenadas de rampa e eixo da pista. ARREMETER! Quando arremete , surge o medo entre os passageiros de que algo está errado. O piloto precisa então informar a todos que precisou realizar o procedimento por falta de visibilidade e reforçar que não há perigo. 3 SEGUE VIAGEM Venta muito no entorno do aeroporto e surge outro problema: o piloto geralmente só tem de 20 a 30 minutos de combustível para ficar so- brevoando além do planejado. Pelos cálculos do piloto, o melhor a fazer é seguir até o aeroporto mais próximo e esperar o tempo melhorar. 5 COMO FUNCIONA O ILS? Previsão do tempo O piloto precisa acompanhar as condições do tem- po e, caso seja neces- sário seguir para outro aero- porto, ele deve ter certeza de que esse local alternativo tem condições de pouso. Carta de navegação Em cada aeroporto, há regras de pouso e decolagem, que defi- nem distância de visibilidade, al- tura e velocidade da aeronave. O piloto deve consultar esses da- dos nas cartas a cada voo. Obstáculos Em situações nor- mais, os obstáculos de Vitória, como morros e prédios al- tos, não oferecem perigo. Porém, em caso de emergência, como necessidade de pouso forçado, a presença dos obstá- culos aumenta o ris- co de acidente. Olho na pista! Como é a tentativa de pouso com muita chuva A CHEGADA O avião se aproxima do aeroporto de Vitória e recebe a autorização da torre para pousar, mas chove e o céu está repleto de nuvens. O piloto começa a se aproximar e depende dele a decisão de pousar ou arremeter. 1 EM UM VOO EM QUE HAVERIA 100% DE CHANCES DE POUSO COM O ILS, SEM O INSTRUMENTO, EM VITÓRIA, AS CHANCES CAEM PARA 40%. Saiba mais TEMPESTADE Um radar indica o grau de perigo. Se for verde ou amarelo, é sinal que a chuva é fraca ou for- te. Vermelho e rosa in- dicam perigo, com ge- lo, vento forte e des- cargas elétricas. COMO É EM VITÓRIA: O equipamento usado para auxiliar o voo é o GPS. Por ele, só se pode pousar se houver 500 pés de teto (152,4 metros ) e 2.100 metros de visibilidade. ILS CATEGORIA 1: É o que será instalado em Vitória. Em Con- fins, por exemplo, on- de é usado, é preciso ter teto de 200 pés (60 metros) e 800 metros de visibilidade. ILS CATEGORIA 2: Versão mais moder- na, usada em Guaru- lhos, Curitiba e no Galeão. A aproxima- ção é autorizada com 100 pés de teto (30 metros) e 400 metros de visibilidade. ILS CATEGORIA 3: Usado somente na Europa e nos Estados Unidos. O teto neces- sário chega a zero. INSTRUMENTO Quando o aeroporto passar a ter o ILS (Ins- trument Landing Sys- tem), a hora da decisão poderá ser mais perto da pista, quando o avião ti- ver a apenas 70 metros de altura, o que aumenta as chances de pouso. ILS 1 ILS 2 ILS 3 Turbulência É o efeito causado pe- lo deslocamento de ar e diferenças de pressão. Para o passageiro do avião, a sensação é es- tar num carro passando numa rua esburacada. Geralmente, são mo- mentos de grande ten- são na aeronave. Economia

Olho na pista! Como é a tentativa de pouso com muita chuva · Ec o n o m i a VITÓRIA, ES, DOMINGO, 24 DE MARÇO DE 2013 ATRIBUNA 45 SEGURANÇA NO AEROPORTO Equipamento vai funcionar

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Ec o n o m i a

44 ATRIBUNA VITÓRIA, ES, DOMINGO, 24 DE MARÇO DE 2013

60

30

5

400 metros 800 metros

SEGURANÇA NO AEROPORTO

Tensão para aterrissar em VitóriaEm dias de chuva, oaeroporto se torna umdesafio para os pilotos,que precisam decidirem segundos se devemou não tentar pousar

Texto: Andréa NunesArte: André Felix

Pousar no aeroporto de Vitó-ria é um sufoco, segundo ocomandante de Boeing e

Airbus Márcio Branco, que tem 30anos de experiência e 18.500 horasde voo.

O piloto conta que companhiasaéreas determinam que apenas pi-lotos experientes façam pousos noaeroporto capixaba, pois requermais destreza, e impedem que co-pilotos o façam.

Entre os principais problemas,segundo Branco, estão o compri-mento da pista, considerada curta,e o fato do aeroporto ainda nãocontar com o ILS (InstrumentLanding System). Para Branco, emuma ocasião de mau tempo emque, com o ILS, as chances de pou-so seriam 100%, sem o equipa-mento, caem para 40%.

“Sem o ILS, as coisas ficam maisdifíceis, principalmente em diasde muita chuva, nevoeiro e baixavisibilidade, o que exige mais des-treza do piloto. O GPS substitui oILS em aviões que contam com es-sa tecnologia, mas não é tão preci-so. Em aeroportos que têm ILS, épossível fazer o pouso até em pilo-to automático. Com o GPS, não”.

Com 12 anos de experiência co-mo piloto, Greco Felipe Rolon falaque a expectativa para o início dasoperações do ILS em Vitória égrande. “É o que os pilotos maisquerem. Se já tivesse, dificilmenteo aeroporto de Vitória ficaria fe-chado por mau tempo”.

Fontes: Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea); piloto executivo de jato Greco Felipe Rolon; comandante de Boeing e Airbus, funcionário de grande companhia aérea e autor do livro “Na Cabine de Comando”, Márcio Branco.

A DECISÃOAs nuvens estão carregadas

demais e o piloto não tem visibilidade. Semo ILS, ele só pode se aproximar até 152,4metros (500 pés) de altura. É a hora dadecisão, que deve ser feita pelo piloto: senão houver visibilidade, ele não tem segu-rança para continuar e precisa arremeter.

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E AGORA?Uma cabeceira da pista, pró-

xima à Ufes, está sem visibilidade,mas a outra não. Uma possibilidadeseria dar a volta e tentar fazer o pou-so pelo outro lado, em direção à Ser-ra, mas em Vitória a manobra é proi-bida, por causa dos obstáculos na ci-dade. As regras só permitem a mano-bra na direção contrária.

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São antenas que dãoas coordenadas parao piloto, do caminhoa seguir quando elenão consegue en-xergar por causado mau tempo.

O aparelho dá arota até a pista, pas-sando coordenadasde rampa e eixo dap i s ta .

A R R E M ET E R !Quando a r re m e t e ,

surge o medo entre os passageirosde que algo está errado. O pilotoprecisa então informar a todos queprecisou realizar o procedimentopor falta de visibilidade e reforçarque não há perigo.

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SEGUE VIAGEMVenta muito no entorno do aeroporto e

surge outro problema: o piloto geralmente só temde 20 a 30 minutos de combustível para ficar so-brevoando além do planejado. Pelos cálculos dopiloto, o melhor a fazer é seguir até o aeroportomais próximo e esperar o tempo melhorar.

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COMO FUNCIONA O ILS?

Previsão dotempoO piloto precisaacompanhar ascondições do tem-po e, caso seja neces-sário seguir para outro aero-porto, ele deve ter certeza deque esse local alternativo temcondições de pouso.

Carta de navegaçãoEm cada aeroporto, há regras depouso e decolagem, que defi-nem distância de visibilidade, al-tura e velocidade da aeronave. Opiloto deve consultar esses da-dos nas cartas a cada voo.

O b s tá c u l o sEm situações nor-mais, os obstáculosde Vitória, comomorros e prédios al-tos, não oferecemperigo. Porém, emcaso de emergência,como necessidadede pouso forçado, apresença dos obstá-culos aumenta o ris-co de acidente.

Olho na pista! Como é a tentativa de pouso com muita chuva

A CHEGADAO avião se aproxima

do aeroporto de Vitória erecebe a autorização datorre para pousar, maschove e o céu está repletode nuvens. O piloto começaa se aproximar e dependedele a decisão de pousarou arremeter.

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EM UM VOO EM QUEHAVERIA 100% DE

CHANCES DE POUSOCOM O ILS, SEM O

INSTRUMENTO, EMVITÓRIA, AS

CHANCES CAEMPARA 40%.

Saiba mais

T E M P ESTA D EUm radar indica o graude perigo. Se for verdeou amarelo, é sinal quea chuva é fraca ou for-te. Vermelho e rosa in-dicam perigo, com ge-lo, vento forte e des-cargas elétricas.

COMO ÉEM VITÓRIA:

O equipamento usadopara auxiliar o voo é o

GPS. Por ele, só se podepousar se houver 500 pésde teto (152,4 metros ) e

2.100 metros devisibilidade.

ILS CATEGORIA 1:É o que será instaladoem Vitória. Em Con-fins, por exemplo, on-de é usado, é precisoter teto de 200 pés(60 metros) e 800metros de visibilidade.

ILS CATEGORIA 2:Versão mais moder-na, usada em Guaru-

lhos, Curitiba e noGaleão. A aproxima-ção é autorizada com100 pés de teto (30metros) e 400 metrosde visibilidade.

ILS CATEGORIA 3:Usado somente naEuropa e nos EstadosUnidos. O teto neces-sário chega a zero.

I N ST R U M E N TOQuando o aeroportopassar a ter o ILS (Ins-trument Landing Sys-tem), a hora da decisãopoderá ser mais perto dapista, quando o avião ti-ver a apenas 70 metrosde altura, o que aumentaas chances de pouso.

ILS 1

ILS 2

ILS 3

Tu r b u l ê n c i aÉ o efeito causado pe-

lo deslocamento de ar ediferenças de pressão.

Para o passageiro doavião, a sensação é es-tar num carro passandonuma rua esburacada.

Geralmente, são mo-mentos de grande ten-são na aeronave.

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Ec o n o m i a

VITÓRIA, ES, DOMINGO, 24 DE MARÇO DE 2013 ATRIBUNA 45

SEGURANÇA NO AEROPORTO

Equipamento vaifuncionar em 2 mesesAparelho que permitepousos e decolagenscom chuva em Vitóriapassou por testes eagora só aguardaajustes na pista

Luísa Buzin

Dentro de cerca de dois me-ses o equipamento de segu-rança que permite pousos e

decolagens com chuva no Aero-porto Eurico de Aguiar Salles, emVitória, vai começar a funcionar.

Embora o presidente da Infrae-ro, Antonio Gustavo Matos do Va-le, tenha informado ao governa-dor Renato Casagrande e aos inte-grantes da bancada federal que oInstrument Landing System(ILS) não poderia ser instaladoantes do fim da reforma do termi-nal, a Infraero informou agoraque o equipamento já foi instala-do em janeiro deste ano e passavapor uma fase de testes e calibra-gem.

O ILS gera uma imagem da pista

para o piloto, permitindo mano-bras mesmo sem boas condiçõesde visibilidade.

Os voos de teste tiveram inícioem fevereiro, e só faltam algunsajustes na pista — como instalaçãode luzes e sinalização — para que oequipamento comece a funcionarpor completo.

Segundo a assessoria da Infrae-ro, o tempo médio entre a instala-ção e homologação do equipa-mento pela Agência Nacional deAviação Civil (Anac) é de dois me-s e s.

De acordo com a assessoria daForça Aérea Brasileira (FAB), osresultados dos testes foram satis-f a t ó r i o s.

INSTAL AÇÃOO ILS foi instalado na cabeceira

23 da atual pista, cujas aeronavespara pouso vêm na direção domorro das torres de televisão.

O vento predominante em situa-ções de chuva está nesta direção.

A assessoria de imprensa da In-fraero informou ainda que não hácomo saber se as restrições a pou-sos e decolagens em dias chuvososvão mudar com o uso do ILS, já

que há outras questões que impe-dem os voos, como ventos fortes eoutras condições climáticas.

Então não é possível afirmar queatrasos e cancelamentos, como os21 que aconteceram no aeroportode Vitória na última quarta-feira,vão deixar de ocorrer.

Segundo a Infraero, dos 31 princi-pais aeroportos brasileiros, 22 pos-suem o equipamento, sendo que 19são da categoria mais simples, quepermite pousos e decolagens comvisibilidade horizontal de 800 me-tros e vertical de 60 metros.

A instalação do ILS no aeropor-to de Vitória estava prevista para2010, e o aparelho foi compradopela União em 2012, por cerca deR$ 3 milhões.

JULIA TERAYAMA/AT

AVIÃO aterrissando, em dia de chuva, no aeroporto de Vitória

2010era a previsão deinstalação do ILS

R$ 3 milhõescustou o equipamento

OS NÚMEROS