oliveira, marlene de - ciência da informação e biblioteconomia

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  • CINCIA DA INFORMAO E BIBLIOTECONOMIA NOVOS CONTEDOS E ESPAOS DE ATUAO

    Marlene de Oliveira Coordenadora

    Beatriz Valadares Cendn Eliany Alvarenga Arajo

    Francisca Rosalina Leite Mota Guilherme Atayde Dias

    Maria Eugnia Albino Andrade

    Belo Horizonte Editora UFMG

    2005

  • Universidade Federal de Minas Gerais Reitora: Ana Lucia Almeida Gazzola Vice-Reitor: Marcos Borato Viana

    Pr-Reitoria de Graduao Pr-Reitora: Cristina H. R. Rocha Augustin Pr-Reitora Adjunta: Mrcia Maria F. Pinto Av. Antnio Carlos, 6627 Reitoria 6 andar Campus Pampulha CEP31270-901 BH/MG Tel: (31) 3499-4054 / Fax: (31) 3499-4060 E-mail: [email protected]

    Editora UFMG Diretor: Wander Melo Miranda Vice-Diretora: Heloisa Maria M. Starling Av. Antnio Carlos, 6627 Ala Direita da Biblioteca Central trreo Campus Pampulha CEP 31270-901 Belo Horizonte / MG Tel: (31) 3499-4650 / Fax: (31) 3499-4768 E-mail: [email protected] URL: http://www.editora.ufmg.br

    Conselho Editorial Wander Melo Miranda (presidente) Carlos Antnio Leite Brando Heloisa Maria Murgel Starling Jos Francisco Soares Juarez Rocha Guimares Maria das Graas Santa Brbara Maria Helena Damasceno e Silva Megale Paulo Srgio Lacerda Beiro

    Projeto grfico: Paulo Schmidt Montagem de capa e Formatao: Giane Mendes Figueirdo Reviso e normalizao: Lourdes da Silva do Nascimento Editorao de texto: Ana Maria de Moraes Reviso de provas: Edilene Soares da Cruz e Warley Matias de Souza Produo grfica: Eduardo Ferreira

    2005, Os Autores | 2005, Editora UFMG

    Este livro ou parte dele no pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorizao escrita do Editor.

    C569 Cincia da Informao e Biblioteconomia: novos contedos e espaos de atuao / Beatriz Valadares Cendn... [et al]. ; Marlene de Oliveira Coordenadora. - Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005.

    143 p. - (Coleo Didtica)

    Inclui referncias.

    ISBN: 857041-473-0

    1. Cincia da Informao. 2. Biblioteconomia. I. Cendn, Beatriz Valadares. II. Oliveira, Marlene de. III. Srie.

    CDD: 020 CDU: 02

    Ficha catalogrfica elaborada pela Central de Controle de Qualidade da Catalogao da Biblioteca Universitria

    Este livro recebeu apoio financeiro da Pr-Reitoria de Graduao da UFMG.

  • SUMRIO

    INTRODUO .........................................................................................................................4 CAPTULO I - Origens e Evoluo da Cincia da Informao.............................................6 CAPTULO II - A Produo de Conhecimentos e a Origem das Bibliotecas....................24 CAPTULO III - A Cincia da Informao no Brasil ............................................................36 CAPTULO IV - Sistemas e Redes de Informao ..............................................................50 CAPTULO V Formao e Atuao Profissional..............................................................81 CAPTULO VI A Atuao Profissional do Bibliotecrio no Contexto da Sociedade Informao: os novos espaos de Informao..................................................................93 ANEXO A Localizao de Bibliotecas das Instituies Universitrias Federais e Estaduais.............................................................................................................................102 ANEXO B Escolas de Biblioteconomia no Brasil..........................................................106 SOBRE OS AUTORES ........................................................................................................116

  • INTRODUO

    A inteno deste livro proporcionar aos iniciantes no estudo da Cincia da Informao e da Biblioteconomia alguns conhecimentos fundamentais, na opinio de alguns autores proeminentes na literatura da rea.

    Para entender uma rea ou tema imprescindvel o conhecimento da sua gnese, sua histria, assim como das condies econmicas, sociais e culturais em que se desenvolveram. No Brasil, a Cincia da Informao e a Biblioteconomia trabalham em parceria desde a introduo da primeira na dcada de 1950, por bibliotecrios. Foi um grande avano naquela poca trazer conceituaes e tcnicas para organizar e disseminar os registros de conhecimentos (documentos) existentes em bibliotecas e centros de documentao brasileiros.

    Vive-se hoje outro momento importante em que os documentos e outros registros de conhecimento migram para a era digital, fato que ao desencadear modificaes nos conceitos da rea conduz seus pesquisadores ao desafio de repensar a biblioteca, a localizao e o acesso aos documentos.

    Na tentativa de contribuir com essa nova viso, foram escolhidos temas que agregam os entendimentos bsicos das duas referidas disciplinas. O primeiro captulo traz o entendimento de Cincia da Informao trabalhado pela UNESCO e adotado por consultores do CNPq. Explica tambm os paradigmas da Biblioteconomia e da Cincia da Informao. O segundo captulo traz uma viso geral dos diferentes tipos de conhecimento produzidos pela sociedade. Tais conhecimentos so organizados nas bibliotecas na forma de documentos. Foi realizado um breve relato sobre a histria das bibliotecas no Brasil e os diferentes tipos de bibliotecas. Ao final, explicam-se as diferentes funes de uma biblioteca.

    O terceiro captulo discorre sobre a introduo da Cincia da Informao no Brasil e os aspectos da sua dimenso cientfica, esta analisada segundo as seguintes categorias: Instituies de ensino e pesquisa; Recursos Humanos qualificados; Comunicao e intercmbio cientfico.

    O quarto captulo tem como temtica os sistemas e redes de informao, Traa a histria e os caminhos de desenvolvimento dos sistemas de recuperao da informao; descreve o desenvolvimento da indstria on-line e suas grandes bases de dados, os diversos tipos de sistemas de informao e formas de acesso e aborda as principais redes e sistemas

  • de informao no Brasil. O quinto captulo inclui aspectos da formao do profissional de informao, na

    perspectiva de que o bibliotecrio tem espao privilegiado no exerccio de todas as atividades ressaltadas. Explica o acesso profisso, as habilidades necessrias, assim como alguns contextos de atuao profissional. O sexto captulo apresenta uma reflexo sobre a funo do bibliotecrio na sociedade de informao e identifica servios e produtos de informao no referido contexto.

    O conjunto de textos aqui organizados procura, de uma maneira geral, oferecer algumas conceituaes fundamentais da Cincia da Informao e da Biblioteconomia. As questes abordadas, contudo, so introdutrias, dirigidas a iniciantes no campo de trabalho com informao, e no se esgotam aqui, mas abrem espaos para muitas reflexes.

  • CAPTULO I - Origens e Evoluo da Cincia da Informao Marlene de Oliveira

    Existe uma vasta literatura a respeito da fundamentao terica que sustenta a Cincia da Informao, e quanto origem desta, a qual reflete as diversas tentativas da comunidade da rea de trazer a luz seus entendimentos sobre o que, propriamente, vem a ser Cincia da Informao, qual o seu objeto de estudo (a informao) e quais as suas relaes com outras disciplinas (interdisciplinaridade).

    1.1 Antecedentes Sociais

    Assim como outros campos interdisciplinares (Cincia da Computao, Comunicao Social, Ecologia), a Cincia da Informao nasceu no bojo da revoluo cientfica e tcnica que se seguiu Segunda Guerra Mundial. Para alguns autores, a histria da Cincia da Informao sofreu influncias marcantes de duas disciplinas, que contriburam no s para sua gnese, mas, tambm, para seu desenvolvimento: a Documentao, que trouxe novas conceituaes; e a Recuperao da Informao, que viabilizou o surgimento de sistemas automatizados de recuperao de informaes. Alguns autores que consideram tais disciplinas como antecedentes da Cincia da Informao so Harmon (1971), Saracevic (1992) e Pinheiro (1997). A seguir, ser apresentado um breve histrico ressaltando a importncia de cada um desses pilares.

    1.2 Documentao e Cincia da Informao

    Com a Revoluo Industrial deflagrada em toda Europa e nos Estados Unidos, no final do sculo XIX, a quantidade de informaes registradas cresceu de forma assustadora, e vrias tentativas foram feitas para realizar um levantamento bibliogrfico universal. A iniciativa mais importante foi assumida pelos advogados belgas Paul Otlet e Henri La Fontaine, que acreditavam poder solucionar o problema que era o de levar ao conhecimento de cientistas e interessados toda a literatura cientfica e todos os produtos do conhecimento gerados no mundo. Para isso, planejaram a criao de uma biblioteca universal a fim de divulgar, em fichas, os dados bibliogrficos relativos a todos os documentos indexados. A

  • biblioteca universal seria de referncia dos produtos e no de reunio de acervos. Para coordenar tais atividades foi criado o Instituto Internacional de Bibliografia (IIB), que comeou a criar ferramentas para registrar, de forma sistemtica e padronizada, as referncias dos documentos.

    Uma das primeiras preocupaes do IIB era a de desenvolver um sistema de classificao nico, a ser adotado por todos na indexao dos documentos, uma vez que a biblioteca universal seria uma biblioteca de referncias. Assim surgiu a Classificao Decimal Universal (CDU), que oferecia a possibilidade de tratar outros tipos de documento alm do livro e de outros produtos impressos. Outro fato relevante foi a elaborao, por Paul Otlet, do conceito de documento, que passou a ser "o livro, a revista, o jornal, a pea de arquivo, a estampa, a fotografia, a medalha, a msica, o disco, o filme e toda a parte documentria que precede ou sucede a emisso radiofnica. So amostras, espcimes, modelos fac-smiles e, de maneira geral, o que tenha carter representativo, com trs dimenses e, eventualmente, em movimento". Essa nova viso de registros de conhecimento modificou a atuao do IIB, que foi transformado, em 1931, em Instituto Internacional de Documentao (IID), j com a preocupao de fornecer meios de controle para os novos tipos de suporte do conhecimento. Em 1938, esse instituto foi transformado em Federao Internacional de Documentao - FID, rgo mximo da rea, que permanece atuante at hoje.

    O conceito de documento ampliou o campo de atuao dos profissionais da rea ao ultrapassar os limites do espao da biblioteca e agregar novas prticas de organizao e novos servios de documentao. Por isso, o Instituto Internacional de Bibliografia pode ser compreendido como acontecimento importante na gnese da Cincia da Informao, do qual brota a idia de bibliografia como registro, memria do conhecimento cientfico, desvinculada dos organismos como arquivos e bibliotecas, e de acervos. A idia de criao da Biblioteca Universal de Paul Otlet e Henri La Fontaine no foi implementada, mas a iniciativa deixou como legado, para os profissionais de informao, novos conceitos, como o de documento, de bibliografia e a Classificao Decimal Universal.

    1.3 O Surgimento dos Sistemas Automatizados de Recuperao da Informao

    Outro pilar, considerado sustentculo para o surgimento da Cincia da Informao, a Recuperao da Informao.

    A situao aps a Segunda Guerra despertou, notadamente nos pases

  • desenvolvidos, um grande interesse pelas atividades de cincia e tecnologia, ocasionando um aumento considervel de conhecimentos. Este fenmeno, denominado como "exploso de informao" ou exploso de documentos, caracterizou-se por um crescimento exponencial de registros de conhecimento, particularmente em cincia e tecnologia.

    Tal fenmeno trazia em seu bojo um problema bsico, que era a tarefa de tornar mais acessvel um acervo crescente, proveniente daqueles registros. Novamente o problema de tornar acessveis grandes massas de documentos, j levantado pelos iniciadores da Documentao, repete-se no surgimento da recuperao automatizada da informao.

    Em artigo publicado em 194511 um respeitado cientista do MIT (Massachussets Institute of Tecnology - USA), Vanevar Bush, chefe do esforo cientfico americano durante a Segunda Guerra Mundial, identificou e definiu o problema de tornar acessvel o acervo crescente de conhecimentos e props uma soluo. A proposta era a de usar as incipientes tecnologias de informao para combater tal problema. Ele chegou a propor uma mquina com capacidade de "associar idias", que duplicaria os "processos mentais artificialmente".

    Na dcada de 1950, muitos cientistas, engenheiros e empreendedores comearam a trabalhar sobre o problema e na soluo apontada por Bush. Com efeito, naquela poca, o emprego do computador no tratamento e na recuperao da informao de maneira sistemtica trouxe novas perspectivas para os servios de biblioteca e de informao, notada mente, nas indstrias. O computador permite um comportamento mais preciso e racional no tratamento da informao, alm de possibilitar a manipulao de grande massa de dados.

    O termo recuperao da informao foi cunhado por Mooers (1951) como um termo que "engloba os aspectos intelectuais da descrio de informaes e suas especificidades para a busca, alm de quaisquer sistemas, tcnicas ou mquinas empregados para o desempenho da operao". A concepo de recuperao proposta por Mooers contm trs perguntas bsicas:

    Como descrever intelectualmente a informao? Como especificar intelectualmente a busca? Que sistemas, tcnicas ou mquinas devem ser empregados? As atividades desenvolvidas no mbito da temtica "recuperao da informao"

    conduziram a estudos tericos e conceituais sobre a natureza da informao; a estrutura do conhecimento e seus registros (incluindo a bibliometria); os estudos relativos ao uso e aos

    1 BUSH, As we may thing. Atlantic Monthly, p. 101-108, 1945.

  • usurios de informao; estudos do comportamento humano frente informao a interao homem-computador, dentre outros. Enfim, a recuperao da informao possibilitou o surgimento dos sistemas automatizados de informao.

    O trabalho com a recuperao de informaes deu subsdio para o desenvolvimento de inmeras aplicaes bem-sucedidas (produtos, sistemas, redes, servios). Segundo Pinheiro (1997), a evoluo da recuperao da informao vista como a grande responsvel, no a nica, mas a mais forte, pelo surgimento da Cincia da Informao. Na verdade, a Cincia da Informao progrediu para abarcar muito mais que a recuperao da informao, mas problemas relacionados recuperao esto presentes no seu ncleo.

    1.4 Gnese da Cincia da Informao

    uma tarefa difcil precisar o surgimento de uma nova cincia, mesmo em se tratando de uma disciplina cientfica recente, como o caso da Cincia da Informao.

    A nfase nessa atividade que veio a se denominar Cincia da Informao deve-se ao seu esforo para enfrentar os problemas de organizao, crescimento e disseminao do conhecimento registrado, que vem ocorrendo em propores geomtricas, desde logo aps a Segunda Grande Guerra Mundial. Nesse sentido, a Cincia da Informao nasceu para resolver um grande problema, que foi tambm a grande preocupao tanto da Documentao quanto da Recuperao da Informao, que o de reunir, organizar e tornar acessvel o conhecimento cultural, cientfico e tecnolgico produzido em todo o mundo.

    Um evento importante apontado por Meadows (1991) para o desenvolvimento da rea. Segundo ele, a disciplina passou por uma acentuada evoluo aps a Segunda Guerra Mundial, ocasionada pelo surgimento da Teoria Matemtica da Informao, descrita por Shanon e Weaver2 no final dos anos 1940. Essa teoria, adotada por muitas outras reas, explica os problemas de transmisso de mensagens atravs de canais mecnicos de comunicao. O princpio de toda comunicao implica na transmisso de uma mensagem entre uma fonte (emissor) e um destino (receptor) utilizando um canal. O emissor ou fonte pode ser um indivduo, um grupo ou uma empresa. O receptor ou destinatrio quem recebe a mensagem. Esse modelo de comunicao, elaborado por engenheiros para comunicao entre mquinas, no atendeu s necessidades tericas da Cincia da Informao, uma vez

    2 A teoria da comunicao de Claude Shannon e Warren Weaver foi descrita no Mathematical theory of

    comunication.

  • que, ao se tratar de pessoas, o receptor submetido a um fluxo de mensagens que chegam de todos os lados, sendo necessria uma seleo para compreender aquelas que interessam particularmente a um indivduo. A contribuio da teoria para o desenvolvimento terico da Cincia da Informao foi pequena, mas importante para a sua histria, uma vez que atraiu a ateno para a necessidade de se definir claramente o carter da informao com que os profissionais da rea se preocupavam.

    A data de 1958 assinalada como um dos marcos na formalizao da nova disciplina, quando foi fundado, no Reino Unido, o Institute of Information Scientists (IIS). Alguns autores descrevem a origem da nova disciplina a partir das bibliotecas especializadas (em indstrias e outras organizaes) e especialmente pela nfase dada por estas idia de documentao. Na indstria moderna houve uma crescente demanda de informao para maior desempenho das organizaes. Ento, alguns cientistas qualificados se deslocaram para a rea de pesquisa e desenvolvimento ou de produo com o intuito de estabelecer um servio de informao ativo para seus colegas. Eles se consideravam como cientistas da informao, j que eram cientistas que pesquisavam para cientistas. Como a atividade se expandiu e se formalizou, houve necessidade de treinamento para aqueles que optavam por essa atividade. O conjunto desse treinamento passou a se chamar cincia da informao. O uso do termo cientista da informao pode ter tido a inteno de distinguir os cientistas da informao dos cientistas de laboratrio, uma vez que o interesse principal daqueles membros era a organizao da informao cientfica e tecnolgica (Ingwersen, 1992). Os membros denominados cientistas da informao eram profissionais de vrias disciplinas que se dedicavam s atividades de organizar e suprir de informao cientfica seus colegas pesquisadores de P & D (Foskett, 1969; Meadows, 1991; Ingwersen, 1992).

    Um ponto importante salientado por Meadows (1991) foi a intensidade com que o computador afetou a estrutura dentro da qual a Cincia da Informao opera. Como outros campos cientficos de natureza semelhante, por exemplo, a Cincia da Computao, a Cincia da Informao tem sua origem na esteira da revoluo cientfica e tcnica que se seguiu Segunda Guerra Mundial. Segundo alguns autores, como Saracevic (1992), as novas tecnologias projetam-se sobre a Cincia da Informao da mesma maneira que o fazem sobre muitos outros campos do conhecimento. No entanto, h consenso entre estudiosos da Cincia da Informao de que ela est inexoravelmente conectada tecnologia da informao. A recuperao da informao, que teve papel importante no surgimento da rea, guarda em sua evoluo as associaes da cincia com a tecnologia da

  • informao. Os avanos da informtica desde a dcada de 1960 transformaram e estimularam as

    atividades de armazenamento e recuperao da informao. Com a utilizao do computador, a Cincia da Informao passou a enfrentar novos desafios. Assim, da atividade de recuperar informaes emergiram novas questes a serem estudadas, necessidades de novas conceituaes e construes tericas, empricas e pragmticas. O impacto dos computadores e das telecomunicaes 110 gerenciamento da informao foi to grande que hoje a Cincia da Informao e tecnologia da informao esto freqentemente juntas 1101 discusso sobre o percurso da rea.

    1.4.1 Conceituao da rea

    A Cincia da Informao um campo cientfico recente, e, portanto, ainda em construo. Cada disciplina cientfica possui conceitos e teorias consistentes, reconhecidas e partilhadas por sua comunidade. Com cerca de 30 anos de existncia, a Cincia da Informao no conta, ainda, com uma construo terica que integre todos os seus conceitos e prticas. Por isso, opera baseando-se em construes tericas mais ou menos fragmentadas. Por exemplo, a Representao da informao seria uma, Estudo de usurios outra etc.

    Desde o seu surgimento, muitos estudiosos da rea j conceituaram o que Cincia da Informao. Alguns apresentam uma viso ampla da rea, outros tm dela uma viso mais restrita, dependendo do entendimento do autor sobre o que informao e seu universo de atuao. Apresentam-se, a seguir, algumas conceituaes da rea, de forma sucinta, por sua relevncia e atualidade.

    Borko (1968) definiu a Cincia da Informao como uma disciplina que investiga as propriedades e o comportamento da informao, as foras que governam seu fluxo e os meios de processamento para otimizar sua acessibilidade e utilizao. Relaciona-se com o corpo de conhecimento relativo produo, coleta, organizao, armazenagem, recuperao, interpretao, transmisso, transformao e utilizao da informao.

    As idias de Borko, ao conceituar a nova disciplina, apontam a essncia do problema que orienta o campo da Cincia da Informao: organizar e disponibilizar para uso as informaes sobre o que produzido culturalmente.

    O problema bsico da Cincia da Informao foi estudado por Saracevic (1996)

  • quanto sua evoluo e ao enfoque contemporneo. Ele a redefiniu como (...) um campo dedicado a questes cientficas e prtica profissional, voltadas para os problemas da efetiva comunicao do conhecimento e de registros de conhecimento entre seres humanos, no contexto social, institucional ou individual do uso e das necessidades de informao. No tratamento destas questes so consideradas de particular interesse as vantagens das modernas tecnologias informacionais. (Saracevic, 1996, p. 47) O Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq), rgo

    federal de financiamento pesquisa no Pas, adotou uma conceituao para a rea para assim administrar a demanda de financiamento pesquisa. Essa definio foi descrita no documento Avaliao e Perspectiva, CNPq (1983), que analisa a Cincia da Informao, a Biblioteconomia e a Arquivologia. Tal documento, que descreve as atividades da rea de Cincia da Informao, no Brasil, foi elaborado por uma comisso composta por consultores de tais disciplinas. A conceituao da rea, elaborada por aquela comisso, apoiou-se nas orientaes da UNESCO, que, ento, estimulava a criao de uma infra-estrutura de informao como base de sistemas nacionais de informao. No contexto daquele documento a rea assim definida:

    Cincia da Informao designa o campo mais amplo, de propsitos investigativos e analticos, interdisciplinar por natureza, que tem por objetivo o estudo dos fenmenos ligados produo, organizao, difuso e utilizao de informaes em todos os campos do saber. (CNPq. AVALIAO E PERSPECTIVA, 1983, p. 52)

    No entendimento daqueles consultores, a biblioteconomia e a arquivologia so disciplinas aplicadas, que tratam da coleta, da organizao e da difuso de informaes preservadas em diferentes tipos de suportes materiais. Diferenciam-se, basicamente, pelo fato de que as bibliotecas e outros rgos assemelhados lidam com a necessidade de prover os usurios com informaes substantivas sobre o universo dos conhecimentos, ou parte deles, enquanto que os arquivos lidam com aqueles documentos que foram produzidos como resultado das atividades desenvolvidas por uma pessoa fsica ou jurdica e que, portanto, documentam essas atividades. (CNPq. AVALIAO E PERSPECTIVA 82,1983)

    Percebe-se no estudo daquele documento que a Cincia da Informao vista como uma grande rea na qual esto abrigadas subreas, como d Biblioteconomia e a Arquivologia, disciplinas mais voltadas para a aplicao de tcnicas, o que no quer dizer que no mbito daquelas disciplinas no se realizem pesquisas ou se produzam novos conhecimentos. Percebe-se que tal entendimento da rea bastante flexvel, com possibilidades de distender-se para abrigar novas habilidades ligadas s novas atividades de

  • informao. A Cincia da Informao se desenvolveu no Brasil, mais do que nos pases centrais,

    imbricada com a Biblioteconomia, mesmo sendo orientadas por paradigmas diferentes, o que ser visto mais adiante.

    1.4.2 O objeto da Cincia da Informao

    A Cincia da Informao, desde o seu surgimento, padece de dificuldades para isolar e descrever seu objeto de pesquisa, a informao. H muitas definies para o termo informao, que conduzem s diferentes vises dos autores sobre o que um processo de informao.

    Como agravante para o entendimento do termo preciso relembrar que esse objeto no exclusivo da Cincia da Informao. A informao preocupao de pesquisa da Comunicao Social, da Cincia da Computao, da Biologia e de outros campos de estudo. O fenmeno visto e interpretado de forma diversa pelas diferentes reas.

    Em primeiro lugar preciso esclarecer que, na tica da Cincia da Informao, o objeto "informao" uma representao. Como uma representao de conhecimento, que j uma representao do real, ela se torna uma representao de representao. Por isso, a informao um objeto complexo, flexvel, mutvel, de difcil apreenso, sendo que sua importncia e relevncia esto ligadas ao seu uso.

    Grande parte dos autores analisados enxerga a informao como conhecimento. Ela algo que ajuda na resoluo de um problema ou completa uma lacuna no conhecimento da pessoa, conforme cada necessidade. Nessa linha, Brooks (1980) afirma que informao produz efeitos no usurio e prope a seguinte equao como forma de sistematizar o processo de informao: K(S) + K = K (S + S)

    | |

    A equao exprime a passagem de um estado de conhecimento que K(S) para outro de conhecimento expresso por K(S + S). Os signos K significam a contribuio de um conhecimento extrado de uma informao que expressa por |, ento, o efeito dessa modificao S.

    Muitos autores consideram a informao como um resultado da interpretao do indivduo. Isto , o usurio quem lhe confere importncia e confiabilidade, sendo que a

  • apreenso do dado e/ou fato se relaciona a um conhecimento preexistente do indivduo. A informao um conhecimento3 inscrito (gravado) sob a forma escrita (impressa ou

    numrica), oral ou audiovisual. A informao comporta um elemento de sentido. um significado transmitido a um ser consciente por meio de uma mensagem inscrita em um suporte espacial-temporal: impresso, sinal eltrico, onda sonora, etc. Essa inscrio feita graas a um sistema de signos (a linguagem), signos estes que so elementos da linguagem que associa um significante a um significado: signo alfabtico, palavra, sinal de pontuao. (Le Coadic, 1996)

    O objeto da rea, a informao, conforme Pinheiro (2002), est imerso em um campo vasto e complexo de pesquisas que, por tradio, se relacionam a documentos impressos e a bibliotecas. No entanto, a informao de que trata a Cincia da Informao no se restringe a documentos impressos, pode ser percebida em conversas entre cientistas e outros tipos de comunicao informal. Ela se apresenta tambm em uma inovao para o setor produtivo, na forma de patente, fotografia ou objeto, no registro magntico de bases de dados, numa biblioteca virtual ou repositrio na Internet.

    Para facilitar a tarefa sobre o entendimento do que venha a ser informao, Pinheiro (1997) extraiu dos escritos de vrios autores os seguintes atributos de informao:

    A informao tem o efeito de transformar ou reforar o que conhecido, ou julgado conhecido, por um ser humano;

    utilizada como coadjuvante da deciso; a liberdade de escolha que se tem ao selecionar uma mensagem; algo necessrio quando enfrentamos uma escolha (a quantidade de informao

    requerida depende da complexidade da deciso a tomar); matria-prima de que deriva o conhecimento; trocada com o mundo exterior, e no meramente recebida; Pode ser definida em termos de seus efeitos no receptor. A informao um fenmeno to amplo que abrange todos os aspectos da vida em

    sociedade; pode ser abordado por diversas ticas, seja a comunicacional, a filosfica, a semiolgica, a sociolgica, a pragmtica e outras. Essa multiplicidade de possibilidades de

    3 Le Coadic esclarece que conhecimento (um saber) resultado do ato de conhecer. ato pelo qual o esprito

    apreende um objeto. Conhecer ser capaz de formar a idia de alguma coisa: ter presente no esprito. Isso pode ir da simples identificao (conhecimento comum) compreenso exata e completa dos objetos (conhecimento cientfico).

  • anlise do fenmeno conduz a uma reflexo sobre a natureza interdisciplinar4, ou at transdisciplinar5, da rea, uma vez que esta, se por um lado busca sua identidade cientfica, por outro, fragmenta-se ao abordar diferentes temticas relacionadas ao binmio informao/comunicao.

    1.5 A Natureza Interdisciplinar da Cincia da Informao

    H unanimidade entre os praticantes e pesquisadores da Cincia da Informao sobre o fato de esta ser um campo interdisciplinar6. Isso significa que os problemas da rea, tanto os de natureza terica quanto os tcnicos, tm sido equacionados com a participao de outros ramos do conhecimento.

    Na opinio de Saracevic (1992), a interdisciplinaridade foi introduzida na Cincia da Informao pela variedade de antecedentes de todas as pessoas que se ocuparam com seus problemas (j descritos). Entre os pioneiros havia engenheiros, bibliotecrios, qumicos, lingistas, filsofos, psiclogos, matemticos, cientistas da computao, homens de negcios e outros, oriundos de diferentes profisses ou cincias. Nem todas as disciplinas das quais tais pessoas se originaram tiveram contribuio relevante, mas essa multiplicidade de vises na construo da rea foi responsvel pela introduo e pela permanncia do objetivo interdisciplinar na Cincia da Informao.

    A participao de outros campos do conhecimento na Cincia da Informao permanece em funo da complexidade dos problemas a serem equacionados pela rea, o que exige a contribuio de diferentes profissionais e/ou pesquisadores.

    Dentre as disciplinas com as quais a Cincia da Informao tem trabalhado distinguem-se: Biblioteconomia, Cincia da Computao, Comunicao Social. Administrao, Lingstica, Psicologia, Lgica, Matemtica, Filosofia/Epistemologia.

    A aproximao dos praticantes da rea com outros campos de conhecimento, segundo Ingwersen (1992), foi motivada pela necessidade de se resolverem problemas tericos da Cincia da Informao. Na opinio do autor, contudo, houve um exagero na

    4 O termo interdisciplinaridade aqui empregado trata da sntese de duas ou vrias disciplinas, instaurando um

    novo nvel de discurso, caracterizado por uma nova linguagem. 5 A transdisciplinaridade o reconhecimento da interdependncia de todos os aspectos da realidade,

    conseqncia normal da sntese provocada pela interdisciplinaridade, quando esta for bem-sucedida (Weeil, 1993). 6 O termo interdisciplinaridade, empregado aqui, trata da sntese de duas ou vrias disciplinas, instaurando nvel de discurso, caracterizado por uma linguagem (Weeil, 1993).

  • busca de aproximao com outras disciplinas por parte da Cincia da Informao. Ao tentar resolver problemas tericos, a comunidade tem trabalhado em demasia 110S espaos fronteirios da Cincia da Informao. Dessa maneira, a busca da interdisciplinaridade, sem muita reflexo, pode estar tornando-a vulnervel em vez de resolver sua fragmentao.

    1.6 Cincia da Informao e Biblioteconomia

    Como j foi dito, a Cincia da Informao um conjunto de teorias e prticas e, como campo cientfico, produz intercmbio com outras disciplinas. Uma delas a Biblioteconomia, rea com a qual ela tem falado mais de perto, pelo menos na realidade brasileira.

    A Cincia da Informao no uma evoluo da Biblioteconomia, conforme a crena de alguns autores, uma vez que cada uma delas se baseia em orientaes paradigmticas diferenciadas. As teorias da Cincia da Informao aliadas s novas tecnologias de informao vm contribuindo com novas prticas e servios bibliotecrios. Como j mencionado, a Biblioteconomia e a Cincia da Informao trabalham juntas na busca de soluo para o mesmo problema que orienta a rea; contudo, representam campos cientficos norteados por paradigmas diferentes. Vale salientar que o conceito de paradigma aqui utilizado se sustenta nas idias de Thomas Kuhn. Segundo esse historiador da Cincia, o paradigma visto como um modelo ou padro de cincia que compartilhado por uma determinada comunidade. Dentro desse conceito no caberiam, portanto, as propostas de teorias, caminhos tericos e metodolgicos ainda no compartilhados.

    1.6.1 O paradigma da Biblioteconomia

    A abordagem dada a este tpico se fixa em autores que buscaram os paradigmas da rea por meio do exame da literatura produzida. Um desses autores Francis Miksa (1992). Conforme seus achados, a Biblioteconomia e a Cincia da Informao representam campos cientficos orientados por paradigmas diferentes. O paradigma da Biblioteconomia, segundo o autor, consiste em um grupo de idias relacionadas com a biblioteca, ento considerada como uma instituio social. Suas origens encontram-se nos trabalhos de estudiosos da Escola de Biblioteconomia de Chicago, durante os anos 1920 e 1930. Tal paradigma desenvolveu-se usando idias e metodologias buscadas nos campos da Sociologia e da Educao. O ponto focal desse paradigma a biblioteca em si mesma. Atravs dele, ela

  • vista como uma instituio social e, mais especificamente, como uma organizao social bem definida e nica. Como toda organizao social, a biblioteca tem material organizacional e caractersticas intelectuais que servem como significado para expressar suas funes em uma estrutura social.

    Nesta viso possvel identificar, nas funes da biblioteca, trs propriedades, que pressupem as bases: material, profissional e organizacional, as quais efetivam o exerccio de tais funes.

    Propriedades materiais: incluem colees de objetos representando o conhecimento (documentos) e equipamentos especializados.

    Propriedades organizacionais: referem-se ao conjunto de estruturas administrativas e de pessoal.

    Propriedades intelectuais: englobam a idia de sistema, como, por exemplo, sistema de classificao, estrutura de catalogao, poltica de seleo.

    Dentre as funes da biblioteca, no entanto, a mais importante a de dar acesso sua coleo de documentos.

    Sob o enfoque deste paradigma, a biblioteca existe, principalmente, para tornar possvel o uso, por um dado pblico, de suas colees de documentos. Para isso, ela exerce vrias tarefas, tais como aquisio, organizao e arranjo fsico dos materiais coletados. O exerccio dessas tarefas exige ferramentas apropriadas e pessoal especializado, o que vai desde a seleo e a aquisio at a recuperao das colees e o seu uso.

    Em resumo, o paradigma da biblioteca como uma instituio social conhecida - a biblioteca - caracterizado em termos de sua propriedade institucional e de suas funes. Tal paradigma abarca tambm a instituio em um contexto amplo, envolvendo um processo de mudana social em que indivduos, embora apenas lendo, usam o estoque de conhecimento social na conduo de suas vidas, facilitando, assim, o processo social geral.

    A funo social da biblioteca enquanto uma instituio social est, principalmente, em ser o fio condutor entre indivduos e o conhecimento do que eles necessitam.

    importante ressaltar dois pontos principais que fragilizaram a manuteno do paradigma em questo. O primeiro diz respeito preocupao excessiva das bibliotecas em armazenar e manter acervos para uma possvel utilizao considerando o documento mais importante que as muitas informaes nele contidas. Outro ponto foi sua preocupao menor com os usurios. Apesar das muitas pesquisas existentes sobre usurios, a metodologia utilizada esteve sempre centrada na avaliao dos servios da biblioteca, e no nos

  • problemas fiasses usurios. Essa posio equivocada dos estudos de usurios tem dificultado a concretizao da to almejada funo social da biblioteca. /\s mudanas ocorridas na instituio, nas ltimas dcadas, segundo Almeida Jnior (2002), ativeram-se ao mnimo imprescindvel para atender aos reclamos da sociedade. Presume-se que tais mudanas no tenham sido profundas e nem consensuais, concretizando apenas o suficiente para no sofrerem um rompimento paradigmtico.

    1.6.2 O paradigma da Cincia da Informao

    O paradigma da Cincia da Informao compe-se de um grupo de idias relativas ao processo que envolve o movimento da informao 11m um sistema de comunicao humana. Este paradigma surgiu nos anos 1950, quando as idias da engenharia de comunicaes e teorias cibernticas obtiveram xito na representao das propriedades do sistema de transmisso de sinais em termos matemticos. Tornou-se, ento, a base das tentativas para caracterizar e modelar o processo de recuperao da informao e/ou do documento.

    Este paradigma tem influenciado profundamente o campo da Biblioteconomia, contribuindo no s com a palavra "informao" para denominar o novo campo, mas, tambm, suprindo a rea com um conjunto completamente novo de termos com os quais os praticantes caracterizaram suas atividades. O paradigma evidencia particularmente o fluxo de informao que ocorre em um sistema no qual objetos de representao do conhecimento (documentos) so buscados e recuperados em resposta pergunta iniciada pelo usurio. Isso pressupe uma grande extenso de assuntos especficos envolvendo processos tambm especficos - por exemplo, a criao e o crescimento do volume de documentos na sociedade, a organizao e a recuperao desses documentos e/ou da sua representao e tambm o seu uso. Esse modelo de sistema de informao tem origem em um contexto mais geral, que a teoria matemtica da comunicao. A teoria consiste em um ponto de origem (emissor), um canal pelo qual passa a informao e um ponto de destino (receptor), com possibilidade de codificao e decodificao para fins de retroalimentao.

    Essa estrutura tem sido aplicada em bibliotecas como modelo de recuperao de documentos e para caracterizar agncias que se dedicam s atividades tanto de Biblioteconomia quanto de Cincia da Informao. O modelo permitiu estudo sobre fluxos de informao em agncias pblicas e privadas, entre membros de uma disciplina, profisses,

  • especialistas etc. A importncia desse paradigma para a rea, segundo Miksa (1992), se expressa em

    trs idias bsicas: 1. Permitiu a formalizao da idia de que informao algo que flui dentro de um

    sistema. A partir da, surgiram os conceitos de entropia e incerteza, redundncia, retroalimentao, sinal para taxas de rudos;

    2. A informao passou a ser entendida como algo divisvel dentro de unidades feitas em partes, num sistema;

    3. A idia de movimento da informao tem intensificado a busca de entendimento da informao em si mesma. A princpio tal movimento foi discutido como fenmeno fsico - isto , como a transmisso de sinais mensurveis -, o que tornou flexvel o conceito principal do paradigma. Depois foram acrescentados outros domnios do movimento da informao, por exemplo, aqueles relacionados ao fluxo de idias, significados, ou mensagens cheias de significados envolvidos com a semitica e a semntica.

    No campo da Cincia da Informao e da Biblioteconomia, este paradigma tem, ento, como fenmeno central o movimento da informao em um sistema de comunicao. O processo modelado em termos de fluxo da informao entre dois pontos atravs de um canal, permitindo, para controle, a incorporao do feedback.

    Este paradigma tambm contm fragilidades que no puderam ser superadas. O fato de originar-se da Teoria Matemtica da Comunicao, idealizada para transmisso de sinais, ao ser transposto para o ambiente da Cincia da Informao, no permitiu considerar os aspectos cognitivos da informao e nem o desejo do usurio como componentes que alteram significativamente o processo de recuperao da informao dentro de um sistema. Alm disso, Miksa (1992) comenta que tanto os modelos matemticos de recuperao quanto as conceituaes advindas daquele modelo no foram vastamente testadas por meio da prtica da pesquisa.

    Pode-se notar que a literatura sobre os modelos matemticos de recuperao da informao, assim como os conceitos de pertinncia, relevncia e outros, diminuiu, por algum tempo. Quando surgiu a rede mundial de computadores e, com isso, a oferta de inmeros servios de informao, esses modelos voltaram a ser preocupaes de pesquisa.

    Segundo Thomas Kuhn (1975), a transio de um paradigma em crise para um novo no chega a ser um processo cumulativo. A reconstruo da rea de estudos feita a partir de

  • novos princpios, reconstruo que altera algumas generalizaes tericas mais elementares do paradigma, bem como muitos de seus mtodos e aplicaes (Kuhn, 1975). Assim, apesar da ao revolucionria do novo paradigma, h um perodo de transio entre o velho e o novo modelo, havendo coincidncias entre os problemas que podem ser resolvidos por ambos.

    luz dos estudos de Kuhn (1975) parece ser este um momento de transio da rea, quando ela testa uma nova teoria na busca de soluo para uma crise. Essa crise coincide com o surgimento das novas tecnologias de processamento, armazenamento e disseminao da informao, principalmente deslocando os catlogos de bibliotecas de seus locais de origem, levando-os para perto dos usurios atravs das bases de dados. A unidade de anlise da Biblioteconomia no mais somente o livro, mas tambm a informao; e suas atividades, agora automatizadas, ultrapassam o espao da biblioteca.

    Isso conduz percepo de que as atividades profissionais de ensino e pesquisa, na rea, esto sendo orientadas por paradigmas diferentes. A literatura produzida na Cincia da Informao e na Biblioteconomia no expressa conflitos existentes na comunidade profissional ou cientfica, apesar da formao nessas duas reas ser oferecida em diferentes nveis. O perfil do bibliotecrio formado em cursos de graduao, j os mestres e doutores em Cincia da Informao so titulados em cursos de ps-graduao stricto sensu.

    Esse compartilhamento de paradigmas, conforme as idias de Kuhn, permanecer at o fortalecimento de um dos dois e/ou o surgimento de um terceiro paradigma.

    Resumindo, esta uma rea em construo, uma vez que um campo disciplinar muito recente. Suas teorias e conceituaes para o crescimento de seu campo terico e de suas prticas profissionais dependem de uma boa formao acadmica e compromisso por parte dos profissionais.

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    CAPTULO II - A Produo de Conhecimentos e a Origem das Bibliotecas Eliany Alvarenga Arajo Marlene de Oliveira

    Conhecer a origem das bibliotecas implica em abordar a produo de conhecimentos e dos registros de conhecimentos, pois, desde a sua origem na Antigidade Clssica, a biblioteca um espao de preservao dos conhecimentos gerados pela humanidade a partir de diferentes sociedades.

    Explicar o que conhecimento uma tarefa difcil, face aos diversos entendimentos do termo. Por isso, adotou-se a viso de Burke (2003): conhecimento algo que denota o que foi processado e sistematizado pelo pensamento. Conforme o autor, com a reabilitao do saber cotidiano, do saber local, deve ficar bvio que h "conhecimentos" no plural em toda cultura.

    Para melhor entendimento desta questo, descrevem-se, resumidamente, alguns tipos de conhecimento:

    Filosfico - um tipo de conhecimento de carter mais geral e reflexivo, que busca os princpios que tornam possvel o prprio saber. Atualmente, um dos principais objetivos do conhecimento filosfico a investigao de pressupostos, de conscincia de limites, de crtica da cincia e da cultura.

    Religioso - Esse conhecimento apia-se em doutrinas que contm proposies sagradas por terem sido consideradas reveladas pelo sobrenatural. um conhecimento sistemtico do mundo (origem, significado, finalidade, destino) que acredita possuir a verdade sobre as questes fundamentais do homem, mas apoiando-se sempre numa f ou crena.

    Senso comum ou Conhecimento popular - uma forma espontnea de conhecer a realidade no trato direto com as coisas, no cotidiano. reflexivo, porm falvel e inexato. Oriundo dos diferentes sentidos, constitui-se num conjunto de opinies e valores

  • caractersticos daquilo que correntemente aceito em um meio social determinado. Cientfico - um conjunto de conhecimentos metodicamente adquiridos, organizados e

    suscetveis de serem transmitidos por um processo pedaggico de ensino. Trata-se de conhecimento sistemtico por se constituir de um saber ordenado logicamente, formando um sistema de idias (teorias). Pretende ser verificvel, objetivo e comunicvel. Objetiva explicar racional e metodicamente a realidade.

    H outros tipos de conhecimento, produzidos em muitas organizaes e contextos diferentes, tambm importantes, que no sero discutidos aqui. Entretanto, vale salientar que os produtos (registros) representativos desses conhecimentos, assim como a produo cultural, se constituem em acervos que so preservados em bibliotecas, arquivos, unidades de informao, museus etc.

    Para efeito deste texto, considera-se conhecimento na sua forma concreta, tangvel, que so os produtos grficos e objetos materiais. Na Cincia da Informao e na Biblioteconomia so denominados documentos, tais como livros, revistas, jornais, moedas, imagens, CDs, arquivos eletrnicos etc.

    A origem exata das bibliotecas, assim como a da linguagem e a da escrita, desconhecida. Entretanto, podemos considerar que, diferentemente da linguagem e da escrita, as bibliotecas apareceram na era histrica, ou seja, quando tem incio a preservao de registros escritos 111: conhecimentos. necessrio, contudo, esclarecer que as expresses culturais vo alm da escrita e se expressam em diversos produtos e artefatos, mas, no contexto de bibliotecas, a linguagem escrita tornou-se a forna mais comum para registrar conhecimentos.

    A deduo de que a produo de conhecimentos conduz criao de bibliotecas aponta para o pressuposto de que onde houve grande 11Ioduo de conhecimentos tambm ali estaro grandes bibliotecas, arquivos, museus etc., ou seja, unidades de informao em seus diferentes formatos.

    Podemos considerar que os pr-requisitos principais para o aparecimento de bibliotecas so:

    Condies econmicas - So observadas ao longo do tempo como altamente significantes na produo de conhecimentos e de unidades de informao. Quando existe um excedente de riqueza em um pas ou regio, aumenta a disponibilizao de recursos para o incentivo produo cultural, aqui incluindo-se a produo de conhecimentos e de bibliotecas.

  • Condies sociais - Um dos fatores importantes neste item diz respeito s influncias positivas, como o aparecimento de grandes centros urbanos que, em suas atividades mltiplas e cada vez mais complexas, produzem inmeros registros e requerem sofisticados sistemas de informao. Essas necessidades podem encorajar o desenvolvimento de bibliotecas, arquivos, museus etc. Outro fator relevante a educao. Um sistema formal de educao necessita tanto de registros de conhecimento e sua conservao quanto de bibliotecas para participar e dar apoio ao sistema educacional.

    Condies polticas - Aparecem em dois nveis, o primeiro diz respeito ao clima de tranqilidade poltica e social de uma nao, que pode conduzir e ampliar o crescimento de bibliotecas. Em ambientes de conflitos e crises polticas, as bibliotecas, como outros repositrios de cultura, sofrem srios riscos em conseqncia de tumultos, atentados etc. Assim, as bibliotecas florescem geralmente em sociedades onde prevalece a prosperidade econmica, a populao instruda e o comrcio livreiro bem organizado. Em outro nvel, as bibliotecas, assim como toda produo de conhecimentos, necessitam de polticas governamentais para seu estmulo e crescimento.

    O surgimento e desenvolvimento dos conhecimentos, seus produtos, assim como seu armazenamento, organizao e divulgao, podem ser observados sob essas condies desde a Antigidade. As grandes bibliotecas da Antigidade Clssica de que se tem notcia eram formadas por grandes conquistadores ou se localizavam em cidades que exerciam poder econmico e/ou poltico.

    H indcios e comprovaes de grandes bibliotecas na Antigidade. Dentre elas, cita-se a Biblioteca de Nipur, na Babilnia, descoberta em um templo, com registros em tbuas de argila e em escrita cuneiforme. Tambm famosa a Biblioteca de Assurbanipal, rei da Assria que viveu no sculo VII a.C. A biblioteca situava-se em seu palcio na cidade de Nnive e contava com milhares de tabletes de argila com transcries e textos sobre os mais variados assuntos, coletados sistematicamente pelo rei em outros templos do seu reino.

    A mais famosa biblioteca da Antigidade ficava em Alexandria, no Egito, e seu desaparecimento deveu-se a saques de conquistadores, fanticos religiosos e a desastres naturais. Cabe salientar, contudo, que, no final de 1990, ela foi reconstruda pelo governo do Egito com a colaborao da UNESCO. Os temas dominantes do seu acervo relacionam-se s antigas civilizaes de Alexandria e do Egito, desde a Antigidade at a Idade Mdia.

  • Na Idade Mdia, as igrejas e mosteiros foram os grandes guardies dos ricos acervos das antigas bibliotecas. Esse fato coincide com a riqueza e o poder da Igreja, que, naqueles sculos, no s produzia, mas tambm legitimava os conhecimentos.

    2.1 A Inveno de Guttenberg

    Desde a Antigidade at o final da Idade Mdia foram utilizados diferentes suportes como base para o registro de conhecimentos: a pedra, o barro, a madeira, o linho, a seda, o papiro, o pergaminho e o papel. Com a inveno da imprensa por Guttenberg, em 1452, e seu desenvolvimento nos sculos seguintes, houve grandes modificaes na produo, no armazenamento e na difuso dos conhecimentos. Esse fato ocasionou o rompimento do monoplio que a Igreja exercia na gerao e guarda dos conhecimentos. At ento, o acesso aos conhecimentos, assim como consultas a bibliotecas, constitua-se em privilgio da elite. A criao de Guttenberg e o processo de fabricao do papel facilitaram, aos poucos, a democratizao dos conhecimentos e do livro. Esses eventos permitiram maior produo de registros impressos e elevaram a biblioteca a uma condio de maior importncia poca.

    A expresso "geografia do conhecimento" usada por Burke (2003) para mapear a produo de conhecimentos, notada mente dos sculos XVI. XVII e XVIII. Ele distingue a distribuio espacial do conhecimento desde os locais onde foi produzido, descoberto, guardado at onde era difundido. Naqueles sculos, os centros tradicionais eram os mosteiros, que guardavam grandes bibliotecas, assim como as universidades e os hospitais. Como produtores e divulgadores de conhecimentos, o autor cita tambm o laboratrio, a galeria de arte, a livraria, a biblioteca, o anfiteatro de anatomia, o escritrio e o caf. Esse mapeamento do conhecimento exemplifica a viso do autor de que o conhecimento visto na sua forma plural e no s como atividade cientfica. Prosseguindo, Burke (2003) percebeu a existncia de conhecimentos tambm em ambientes de comrcio, particularmente os portos, que eram especiais na difuso de informaes. Os habitantes dos portos se dirigiam ao cais para conversar com marinheiros de embarcaes recm-chegadas. Ali filam encontrados cartas, mapas e globos, alm de o local propiciar o intercmbio de conhecimentos. Dessa maneira, justifica-se a importncia de Lisboa na histria do conhecimento dos sculos XV e XVI, derivada de sua posio como capital do Imprio Ultramarino Portugus. O autor cita tambm Veneza como a mais importante agncia de informaes dos primrdios do mundo moderno, por sua posio intermediria entre o

  • Ocidente e o Oriente. Quando se refere localizao das bibliotecas, Burke (2003) cita a Itlia e a Frana,

    pases onde se concentrava o maior nmero delas. Algumas cidades italianas, como Npoles, Florena, Veneza e Milo, abrigaram grandes bibliotecas. Roma hospeda bibliotecas de diversas ordens religiosas, alm da Biblioteca do Vaticano. Paris superava Roma em quantidade de bibliotecas, principalmente no sculo XVII. Um guia de Paris, datado de 1692, arrola 32 bibliotecas onde se permitia que os leitores entrassem "como um favor" para consulta em suas colees. Naquela poca, teve incio a formao de centros de estudos nas principais cidades da Europa, o que contribuiu para o aparecimento de novas bibliotecas, tanto universitrias como pblicas. Esse fato coincide com o incio da formalizao da atividade de pesquisa, ocasionando o surgimento das agncias de fomento pesquisa naquele sculo.

    Com o aparecimento dos Estados Nacionais e a estruturao da pesquisa cientfica, os conhecimentos produzidos no mundo passaram a crescer significativamente. Com o correr do tempo, a atividade de construo de conhecimentos expandiu-se para incluir empresas, indstrias, rea jurdica e outras, que passaram de consumidoras a tambm produtoras de conhecimentos. Mais recentemente, com o surgimento da Internet, a divulgao de conhecimentos tornou-se mais rpida, agilizando os servios das bibliotecas.

    2.2 Bibliotecas no Brasil

    No Brasil, as primeiras bibliotecas foram criadas por ordens religiosas. A ordem dos Jesutas foi a mais atuante. Em 1549, fundou a Companhia de Jesus, organizao que objetivava catequizar ndios e colonos. Nas escolas daquela Companhia os padres criavam bibliotecas que, aos poucos, se tornaram as melhores e mais numerosas. Fundaram escolas e bibliotecas em Salvador, Rio de Janeiro, So Paulo, Recife, no Maranho, Par e em vrios outros estados e cidades. Tais bibliotecas atendiam necessidades tanto de alunos em seus primeiros aprendizados, como at de alunos de Filosofia, que equivaleriam aos das Faculdades de hoje. As consultas no se restringiam aos alunos e professores das escolas, mas eram possveis a qualquer pessoa que justificasse o pedido. A Biblioteca do Mosteiro de So Bento, em Salvador, Bahia, organizada no incio do sculo XVI, formalizou atividades de uma biblioteca pblica (Moraes, 1979).

    Com a expulso da Companhia de Jesus do Brasil, pelo Marqus de Pombal, seus

  • bens foram confiscados, inclusive as bibliotecas. Os acervos foram selecionados e grande parte enviada ao Colgio do Rio de Janeiro, o restante foi entregue ao bispo da Diocese. Com isso, o conhecimento produzido por brasileiros e estudiosos daqueles colgios ficou perdido. Outras ordens religiosas se incumbiram da educao dos brasileiros e criaram colgios e bibliotecas para isso, como os franciscanos, Beneditinos e Carmelitas. Dentre as bibliotecas mais relevantes, estavam as beneditinas. As abadias beneditinas tinham boas bibliotecas e enriqueciam seus acervos por meio de compra e herana.

    A vinda da Corte Portuguesa para o Brasil alterou as condies polticas, econmicas e sociais da Colnia. Foi uma transformao radical no Rio de Janeiro, sua populao cresceu consideravelmente com a chegada de nobres, funcionrios de muitas categorias, comerciantes, burgueses ricos etc. Esse fato ocasionou novas necessidades na cidade e, em conseqncia, transformou a situao do livro e das bibliotecas. Junto com os tesouros do Estado Portugus, como ouro, diamantes, pratarias e paramentos da Capela Real, vieram tambm arquivos das reparties pblicas, manuscritos da Coroa e do Infantado e a Biblioteca Real da Ajuda. O acervo da biblioteca era composto de colees ricas e versteis, como as primeiras edies portuguesas e espanholas, edies de clssicos portugueses e espanhis, coleo de folhetos, manuscritos, fotos, mapas e gravuras. A partir da, a biblioteca desenvolveu-se recebendo tambm doaes e, principalmente, atravs da obrigao do depsito legal, pela qual a biblioteca passou a receber um exemplar de tudo o que publicado em territrio nacional. Com o retorno da Corte Portuguesa Europa, a Biblioteca Real ficou desfalcada de parte de seu acervo, mas, mesmo assim, ainda conservou uma parte valiosa. Com o advento da Independncia, a biblioteca ficou subordinada a uma repartio pblica e passou a denominar-se Biblioteca Nacional (Moraes, 1979).

    A primeira biblioteca pblica surgiu, em Salvador, como expresso da sociedade. Um senhor de engenho, Pedro Gomes Ferro de Castelo Branco, planejou a biblioteca como uma instituio para promover a instruo do povo. A Biblioteca Pblica da Bahia foi a primeira a ser fundada com essa caracterstica de no contar com recursos do governo. A experincia no deu certo e o governo passou a dar subsdios e outras bibliotecas pblicas floresceram em outras capitais e cidades importantes.

    importante ressaltar que a divulgao da cultura at a Repblica j no estava restrita s livrarias e bibliotecas dos conventos religiosos. No Rio de Janeiro funcionavam vrios institutos de estudos superiores criados pelo governo, como a Real Academia Militar, o

  • Laboratrio Qumico-prtico, a Academia Mdico-Cirrgica, o Arquivo Militar e a Academia Real dos Guarda-Marinhas. Essas organizaes estabeleciam em seus estatutos a criao de bibliotecas (Moraes, 1979).

    Com o desenvolvimento do sistema educacional brasileiro, a criao de agncias de fomento e principalmente das Universidades Federais, o crescimento do conhecimento no Brasil expandiu-se consideravelmente, no s pela produo dos brasileiros, mas tambm pela compra de colees para atender a essas novas organizaes. Contudo, o nmero de bibliotecas ainda insuficiente para atender toda a sociedade.

    O pas no conta com estatsticas sobre os diferentes tipos de bibliotecas existentes, mas possvel calcular o nmero de bibliotecas em instituies de nvel superior, uma vez que a autorizao para o funcionamento destas depende exatamente da existncia de bibliotecas. Considerando-se o nmero de universidades federais existentes no pas, estima-se que o nmero de bibliotecas universitrias esteja em torno de 62. O Anexo A elenca instituies universitrias federais e estaduais que, portanto, oferecem servios bibliotecrios.

    2.3 Conceituaes

    As teorias e conceitos que embasam grande parte das atividades das bibliotecas so oriundos da Cincia da Informao, em funo de orientaes comuns na resoluo de problemas. Assim, a biblioteca uma coleo de documentos bibliogrficos (livros, peridicos etc.) e no bibliogrficos (gravuras, mapas, filmes, discos etc.) organizada e administrada para formao, consulta e recreao de todo o pblico ou de determinadas categorias de usurios.

    2.4 Tipos de Bibliotecas

    Segundo a finalidade, as bibliotecas se dividem em: a) Nacionais - tm como principal finalidade a preservao da memria nacional, isto ,

    da produo bibliogrfica e documental de uma nao. b) Pblicas - surgiram com a misso de atender s necessidades de estudo, consulta e

    recreao de determinada comunidade, independentemente de classe social, cor, religio ou profisso.

  • Seus objetivos principais so: - estimular nas comunidades o hbito de leitura; - preservar o acervo cultural.

    c) Universitrias - a finalidade desse tipo de biblioteca atender s necessidades de estudo, consulta e pesquisa de professores e alunos universitrios.

    d) Especializadas - so aquelas dedicadas reunio e organizao de conhecimentos sobre um s tema ou de grupos temticos em um campo especfico do conhecimento humano.

    e) Escolares - so destinadas a fornecer material bibliogrfico necessrio s atividades de professores e alunos de uma escola.

    f) Infantis - devem estar mais voltadas para a recreao e proporcionar outras atividades como: escolinhas de arte, exposio, dramatizaes etc. Necessitam de um acervo bem selecionado para seus usurios.

    g) Especiais - so aquelas que se destinam a atender a um tipo especial de leitor e, por isso, detm um acervo especial, como, por exemplo, as bibliotecas para deficientes visuais, presidirios e pacientes de hospitais.

    h) Biblioteca ambulante ou Carro-biblioteca ou Bibliobus - so bibliotecas volantes, que objetivam a extenso dos servios bibliotecrios s reas suburbanas e rurais, quando estes so deficientes ou inexistentes. So servios de extenso de bibliotecas j existentes, como bibliotecas pblicas ou universitrias.

    i) Popular ou comunitria - um tipo de biblioteca criada e mantida pela comunidade. Tem os mesmos objetivos da biblioteca pblica, mas no se vincula ao poder pblico. E mantida por rgos, como associaes de moradores, sindicatos e grupos estudantis.

    2.5 Atividades de uma Biblioteca / Unidade de Informao

    A biblioteca ou outra unidade de informao, aqui entendida como uma unidade que trata de informao, desde a organizao at sua difuso (base de dados, servio de informao especializada, centro de informao, telecentro, videotecas, mapotecas etc.), pressupe atividades bem caractersticas, por trabalhar a informao. Isso faz com que esse tipo de instituio ou servio oferea servios e produtos particularizados.

    importante salientar que os esclarecimentos aqui fornecidos sobre

  • bibliotecas/unidades de informao so gerais e presumem metodologias que podem ser utilizadas tanto em bibliotecas tradicionais quanto em unidades de informaes eletrnicas, como as bibliotecas virtuais.

    A biblioteca como uma organizao pressupe trs grandes funes: 1) Funo gerencial - administrao e organizao. 2) Funo organizadora - seleo, aquisio, catalogao, classificao, indexao. 3) Funo divulgao - referncia, emprstimo, orientao, reprografia, servios de

    disseminao, extenso. A funo gerencial pressupe gesto e polticas para a biblioteca/unidade de

    informao para buscar o seu melhor desempenho. Conforme Guinchat e Menou (1994), a gesto o processo que dirige as competncias e a energia dos indivduos com a finalidade de atingir um determinado objetivo. Motta (1997) sugere que uma boa gesto no se limita ao domnio de tcnicas administrativas, uma vez que a capacidade gerencial demanda outras habilidades mais complexas: capacidades analticas, de julgamento, de deciso e liderana e de enfrentar riscos e incertezas. tambm um conjunto de tcnicas que permitem tomar decises racionais e coloc-Ias em prtica para que todos os recursos do organismo sejam empregados da melhor forma possvel, visando a sua eficcia. Ainda segundo os autores, as polticas so princpios gerais que ajudam a traduzir os objetivos em aes, para preparar as regras de conduta que sero adotadas no momento da tomada de decises e da execuo das atividades. Visto dessa maneira, toda biblioteca deve ter uma gesto e polticas especficas nos seguintes aspectos: organizao dos servios, pessoal, equipamento, recursos financeiros, servios aos usurios, produo, interao com os usurios e com a instituio a que est subordinada, intercmbio com outros organismos e outras unidades de informao (Guinchat; Menou, 1994).

    A funo organizadora aglutina atividades muito especializadas do profissional de informao: selecionar materiais para aquisio, catalogar, classificar e indexar aqueles materiais.

    Antes de oferecer uma viso dessas atividades, torna-se necessrio um entendimento da representao dos documentos, feito em dois nveis. O primeiro sobre a representao fsica do documento, como a catalogao, e o segundo sobre sua forma temtica. A representao temtica inclui os processos de indexao e classificao, ou seja, diz respeito ao(s) assunto(s) do documento.

    Seleo e Aquisio - a seleo uma atividade intelectual importante que deve ser

  • realizada com o responsvel pelo tema tratado, com a participao dos usurios. Tanto a seleo quanto a aquisio fazem parte de uma poltica de gesto da unidade e, por isso, estaro condicionadas a elementos da poltica organizacional como: natureza dos servios prestados, oramento, objetivos da unidade.

    Catalogao - pode ser entendida como o trabalho de descrever a estrutura fsica dos objetos ou documentos que fazem parte de um acervo ou coleo. Este trabalho pode se desdobrar na elaborao de catlogos impressos ou on-line e ainda na chamada catalogao na fonte, que consiste na insero da descrio fsica do documento no prprio documento. Os catlogos, por sua vez, se apresentam sob a forma de listas onde so registrados e descritos fisicamente os documentos conservados em uma Biblioteca ou Unidade de Informao. Geralmente so organizados alfabeticamente e apresentados em uma ordem especfica: por autor, assunto, local ou ttulo.

    A diferena bsica entre catlogos impressos e catlogos on-line est no tipo de suporte utilizado e, ainda, no processo de busca e recuperao da informao contida nos mesmos. Os catlogos on-line oferecem vrias vantagens no acesso informao que os impressos no tm, como a rapidez na busca, uma maior possibilidade de padronizao das informaes etc.

    Guinchat e Menou (1994) descrevem vrios tipos de catlogos, dentre os quais, destacam-se: catlogo dicionrio, catlogos sistemtico, cronolgico, geogrfico, topogrfico e coletivos.

    Classificao ou ato de classificar pode ser entendido como um processo mental, por meio do qual se d a reunio de objetos em classes ou grupos que apresentam, entre si, certos traos de semelhana ou, ainda, de diferena (Souza, 1950, p. 3). Na Biblioteconomia, a classificao a tarefa de descrever o contedo de um documento de onde extrado o assunto principal e, eventualmente, um ou dois assuntos secundrios, os quais so traduzidos para o termo mais apropriado da linguagem documental adotada na unidade de informao.

    A Biblioteconomia e a Cincia da Informao lidam, mais comumente, com a classificao dos conhecimentos que esto registrados nos mais diversos suportes. Assim, nas Bibliotecas e Unidades de informao, os documentos so classificados e agrupados conforme os assuntos de que tratam. Para esta tarefa especfica existem sistemas de classificao bibliogrfica que visam a organizao de documentos, com o intuito de facilitar o acesso dos usurios informao contida em seus respectivos acervos.

  • Ao longo da histria, surgiram vrios modelos de sistemas de classificao. Os mais estudados so a Classificao Decimal de Dewey - CDD, a Classificao Decimal Universal - CDU e a Classificao Facetada de Ranganathan, entre outras. Como j foi mencionado, na histria do surgimento da CDU, as classes da Classificao Decimal de Dewey foram utilizadas na sua construo, assim, ambas carregam a mesma filosofia. A CDU, segundo Miranda (1996),"caracteriza-se como um instrumento de representao da informao e, conseqentemente, de organizao do conhecimento registrado em sistemas de recuperao da informao" (Miranda, 1996, p. 23).

    Esse sistema dividido em classes decimais, o que permite a incluso de temas e subtemas. As classes principais da CDU so:

    0 Generalidades. Cincias e conhecimento. Organizao. Informao etc. 1 Filosofia. Psicologia. 2 Religio. Teologia. 3 Cincias Sociais ... Direito. Administrao etc. 4 Vaga. 5 Matemtica e cincias naturais. 6 Cincias aplicadas. Medicina. Tecnologia. 7 Arte, Belas Artes. Recreao. Diverses. Esportes. 8 Linguagem. Lingstica. Literatura. 9 Geografia. Biografia. Histria. Como podemos observar, a classe 0 a mais geral das classes e usada para

    trabalhos sem uma limitao, por exemplo, enciclopdias, jornais, peridicos, e ainda para algumas disciplinas especializadas, como Cincia da Computao, Biblioteconomia e Cincia da Informao, Jornalismo. Tais sistemas buscam acompanhar os avanos do conhecimento humano, contudo, as atualizaes ainda so lentas.

    Indexao - uma das principais atividades desenvolvidas numa Biblioteca ou Unidade de Informao. Consiste na descrio dos contedos dos documentos e possui como principal objetivo a recuperao a informao desejada pelo usurio. Segundo Guinchat e Menou (1994), esses contedos so expressos por meio de um vocabulrio oriundo da linguagem documental escolhida na unidade de informao. Essa tarefa tem como desdobramento a construo de ndices de termos, o que possibilita maior facilidade de pesquisa ou consulta por parte do usurio.

    Esta atividade era realizada essencialmente por seres humanos. No entanto com o

  • advento do computador, passou a ser desenvolvida por softwares capazes de reconhecer os principais termos utilizados no corpo do documento e index-los, da originou-se a chamada Indexao automatizada.

    A funo divulgao uma atividade fundamenta nas unidades de informao e, por isso, deve ser sua principal preocupao. Ela consiste em comunicar ao usurio as informaes de que ele necessita e dependendo do procedimento, antecipar-se pesquisa do usurio, como, tambm, propor-lhe as possibilidades de acesso a estas informaes/documentos. As diferentes formas de atuao da biblioteca nesta atividade englobam um conjunto de servios a que se denominam Servios de Disseminao.

    Os Servios de Disseminao em Bibliotecas e Unidades de Informao vm ao longo dos anos se fortalecendo, na medida em que os profissionais de Biblioteconomia e Cincia da Informao passaram a perceber tais servios como um elo a ser estabelecido entre os usurios e os diversos servios/materiais existentes e disponibilizados pela unidade de informao. Esta ligao passou a ser fundamental para o bom desempenho das atividades desenvolvidas em consonncia com as polticas estabelecidas pela organizao. Os servios de divulgao renem instrumentos como: referncia, orientao ao usurio, emprstimo, fornecimento de fotocpias e os servios de alerta, que incluem os sumrios correntes e a disseminao seletiva da informao.

    A Biblioteca um organismo vivo a servio da comunidade; nela, obtemos respostas s nossas mais diversas indagaes. O lugar de destaque que ela ocupa no mundo atual decorre da importncia que a informao tem para cada sociedade. Assim, a biblioteca participa do aprimoramento intelectual, humanstico, tcnico e cientfico de todos os segmentos sociais.

    REFERNCIAS

    BURKE, Peter. Uma histria social do conhecimento: de Gutenberg a Diderot. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003. 241 p.

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    GOMES, Sonia de Conti. Bibliotecas e sociedade na Primeira Repblica. So Paulo: Livraria

  • Pioneira Editora, 1983. 101 p.

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    LEMOS, A. B. Bibliotecas. Texto didtico. [s.n.t.]

    MIRANDA, M. L. C. A CDU nos currculos dos cursos de graduao em Biblioteconomia no Brasil. In: ORGANIZAO do conhecimento e sistemas de classificao. Braslia: IBICT, 1996. p. 22-34.

    MORAES, Rubens Borba. Livros e bibliotecas no Brasil colonial. Rio de Janeiro: Livros Tcnicos e Cientficos, 1979. 195 p.

    MOTTA, Paulo Roberto. Gesto contempornea: a cincia e a arte de ser dirigente. So Paulo: Record, 1997. 256 p.

    SOUZA J. S. Classificao: sistemas de classificao bibliogrfica. 2. ed. So Paulo: Departamento Municipal de Cultura, 1950.

    CAPTULO III - A Cincia da Informao no Brasil Maria Eugnia Albino Andrade Marlene de Oliveira

    Em uma abordagem sociolgica, a atividade cientfica caracterizada como o compartilhamento de teorias entre pessoas, de modo d possibilitar a gerao de novos conhecimentos e uma prtica mais enriquecedora e inserida no contexto social, econmico e poltico em que ocorre. Assim, uma disciplina cientfica que pretenda alcanar o status de

  • cincia, como o caso da Cincia da Informao, classificada na rea de cincias sociais aplicadas, necessita tanto de teorias quanto de prticas.

    Em nvel terico, a Cincia da Informao apresenta dificuldades relativas delimitao de seu objeto de estudo, a informao, bem como dificuldades em desenvolver teorias em suas diversas subreas, o que tem sido discutido por sua literatura em mbito mundial.

    Alm das teorias que dizem respeito sua estrutura interna, toda rea cientfica precisa de condies externas favorveis ao seu desenvolvimento.

    No Brasil, a Cincia da Informao conta com uma infra-estrutura ainda incipiente, de ensino e pesquisa, uma vez que seu apoio institucional est em fase de implantao.

    Para o desenvolvimento das atividades cientficas, torna-se necessria uma infra-estrutura mnima composta por elementos bsicos, a saber:

    - instituies de ensino e pesquisa fortes, bem como de apoio s atividades de pesquisa; - recursos humanos qualificados; - canais de comunicao e intercmbio cientfico. Para abordar o desenvolvimento da Cincia da Informao e o estabelecimento de

    sua infra-estrutura no Brasil, faz-se obrigatrio dedicar ateno ao Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentao -IBBD, hoje Instituto Brasileiro de Informao em Cincia e Tecnologia - IBICT A histria da Cincia da Informao passa, necessariamente, pela histria dessa instituio, uma vez que ela introduziu no pas as primeiras idias da documentao e, mais tarde, da Cincia da Informao.

    O IBBD foi fundado em 1954, ligado ao ento Conselho Nacional de Pesquisas, atualmente Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico - CNPq. A criao desses dois rgos foi influenciada pela UNESCO, que, na dcada de 1950, incentivou o estabelecimento de polticas nacionais para estimular o desenvolvimento cientfico e tecnolgico e, tambm, para contemplar com informao cientfica os pases perifricos, respectivamente.

    O fato de o IBSD estar ligado a um rgo de financiamento a pesquisas facilitou o cumprimento de sua misso, tornando-o, ento, um centro documentao que visava apoiar, em termos informacionais, as atividades das instituies cientficas, tcnicas e industriais brasileiras. Entretanto, a literatura sobre o assunto aponta dificuldades sentidas pelo instituto para iniciar as suas atividades, pois tinha carncia tanto de recursos financeiros como de

  • recursos humanos qualificados. Apesar das deficincias, o IBBD empreendeu iniciativas importantes. Entre elas, deve-se destacar a realizao de pesquisas bibliogrficas, o que era uma novidade poca, e cujos produtos serviram de base confeco de bibliografias nacionais especializadas, instrumentos bsicos para o controle bibliogrfico. A publicao dessas bibliografias, elaboradas por assunto, foi possibilitada pelo grande e variado acervo do IBBD de peridicos internacionais e de levantamentos bibliogrficos.

    Outra atividade relevante, implementada pelo Instituto e mantida at hoje, foi a elaborao e a disponibilizao do Catlogo Nacional de Publicaes Peridicas - CCN. uma base de dados que arrola as revistas cientficas e tcnicas existentes nas bibliotecas brasileiras, indicando as bibliotecas que possuem determinado ttulo de peridico e quais fascculos. O CCN constitui instrumento fundamental para a localizao e o acesso a esse tipo de literatura imprescindvel para a concretizao de trabalhos acadmicos e pesquisas cientficas.

    A preocupao em arrolar e facilitar o acesso literatura cientfica e tcnica, aliada de sanar o problema de recursos humanos carentes de maior formao, levou o IBBD a criar o "Curso de Pesquisas Bibliogrficas em Cincias Mdicas e em Cincias Agrcolas", em 1955. Posteriormente, passou a ser denominado "Curso de Documentao Cientfica", com ampliao do seu contedo. Esses cursos eram, inicialmente, dirigidos a bibliotecrios, com o objetivo de capacit-los a trabalhar com a literatura cientfica e tcnica, primeiro enfoque da Cincia da Informao.

    Por meio da oferta desses cursos, o IBBD atuou como um centro irradiador de novos conhecimentos tanto para o Brasil quanto para outros pases da Amrica Latina, pois bibliotecrios de diferentes origens atenderam ao curso de documentao, at o final da dcada de 1960.

    O IBBD, como rgo da administrao federal, passou por transformaes que ocorreram no Estado brasileiro, na dcada de 1970, quando o nome e misses de muitas instituies foram alterados. O nome do IBBD foi modificado para Instituto Brasileiro de Informao em Cincia e Tecnologia - IBICT, mas manteve sua vinculao ao CNPq, cujo nome tambm foi mudado de Conselho Nacional de Pesquisas para Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico. Entretanto, o IBICT preservou a experincia herdada do IBBD de atuar no campo de informao em cincia e tecnologia tanto em relao ao controle e acesso informao documentria quanto em relao formao de recursos humanos na rea de informao (Neves, 1995).

  • Na mesma dcada, o Estado optou por investir na criao de infra-estrutura para o desenvolvimento da cincia e tecnologia no Brasil, destinando-lhe parcelas significativas de oramento. Um fato marcante desse perodo foi a expanso dos cursos de ps-graduao nas universidades federais. Tal poltica contribuiu para o desenvolvimento da cincia brasileira como um todo, incluindo reas mais novas, dentre elas, a Cincia da Informao.

    O primeiro curso de ps-graduao stricto sensu na rea, em nvel de mestrado, foi criado pelo IBICT. A partir de ento, observa-se o crescimento da Cincia da Informao no Brasil e seu processo de institucionalizao, tanto em termos de formao de recursos humanos quanto de pesquisa cientfica e de sua comunicao. O que ser abordado a seguir.

    3.1 Sociedades Cientficas

    A histria da cincia mostra que a institucionalizao da atividade cientfica coincide com a criao das academias cientficas. As primeiras academias surgiram na Itlia: Academia dei Lincei e Academia Del Cimento. A Academia dei Lincei foi fundada em 1603, tendo interrompido seus estudos nas reas de fsica e astronomia aps a condenao de Galileu, em 1633. A Academia De/ Cimento, criada em 1657, funcionou por apenas dez anos.

    A sociedade acadmica mais conhecida a Royal Society, de Londres. Foi criada, em 1660, por um grupo de cientistas e homens abastados que se reuniram em torno de idias de renovao poltica e social. Outra instituio cientfica importante a Academie des Sciences, de Paris, criada em 1666 (Albagli, 1988).

    Essas instituies se dedicavam pesquisa cientfica com o apoio do poder poltico, e algumas contavam com pequeno patrocnio oficial, como acontecia na Inglaterra e na Frana. A funo das sociedades cientficas parece no ter se modificado significativamente na sociedade moderna. Elas permanecem como entidades detentoras do papel de incentivar a pesquisa cientfica e de facilitar a comunicao e discusso de resultados de pesquisas. Um objetivo importante mantido por essas organizaes o de representar politicamente os interesses de seus associados junto aos rgos governamentais e sociedade.

    Outra atividade relevante dessas sociedades, principalmente no sculo XX, a promoo de eventos cientficos, comumente denominados de congressos, seminrios, reunies, encontros. Essas organizaes tornam-se, tambm, responsveis pela publicao

  • de peridicos que objetivam divulgar os trabalhos desenvolvidos por pesquisadores. Assim, as sociedades cientficas, hoje, contribuem de maneira decisiva para proporcionar condies para a intensificao do contato entre os pares de uma rea, assim como para o intercmbio de idias e de conhecimentos entre os membros de sua comunidade.

    Alm de contriburem para o desenvolvimento dos campos de conhecimento, as associaes participam da estruturao dos mesmos. Pode-se observar a consolidao de um campo do conhecimento pela anlise das suas sociedades cientficas e de suas atividades, que so indicativos do amadurecimento de determinada rea acadmica.

    O campo da Cincia da Informao possui, em sua organizao interna enquanto campo do conhecimento, sociedades cientficas. Como exemplo de tal fato, pode-se citar a norte-americana American Society for Information Science and Technology - ASIST.

    No Brasil, a comunidade de pesquisadores da Cincia da Informao se congrega em uma associao cientfica, a Associao Nacional de Pesquisa e Ps-Graduao em Cincia da Informao e Biblioteconomia - ANCIB. Ela foi criada em junho de 1989 com o objetivo, entre outros, de promover o desenvolvimento da pesquisa, o intercmbio e a cooperao entre seus associados, a sistematizao e a divulgao dos conhecimentos gerados pela comunidade de pesquisadores.

    A ANCIB promove periodicamente o Encontro Nacional de Pesquisa em Cincia da Informao - ENANCIB. Tais encontros constituem momentos privilegiados em que os pesquisadores apresentam e discutem seus trabalhos de pesquisa, concludas ou em andamento. Esses encontros so descritos pela ANCIB da seguinte maneira:

    O Encontro Nacional de Pesquisa em Cincia da Informao (ENANCIB) o principal evento promovido pela ANCIB e tem o objetivo de discutir e refletir os temas e tendncias da pesquisa em Cincia da Informao, de modo a estimular e fazer avanar as atividades de gerao do conhecimento na rea, por meio de amplo dilogo entre os pesquisadores que nela atuam. Nesse encontro, a comunidade de pesquisadores discute as questes mais em evidncia e estreita os aos que unem seus membros. (ANCIB, 2004)

    Os encontros da ANCIB so estruturados por Grupos Temticos, em torno dos quais os trabalhos de investigao cientfica so apresentados e discutidos. Atualmente, a Associao conta com os seguintes grupos temticos:

    1) Informao Tecnolgica e para Negcio; 2) Representao do Conhecimento, lndexao, Teoria da Classificao; 3) Novas Tecnologias, Redes de Informao, Educao a Distncia; 4) Informao e Sociedade; Ao Cultural;

  • 5) Comunicao e Produo Cientfica; Literatura Cinzenta; 6) Formao Profissional e Mercado de Trabalho; 7) Planejamento e Gesto de Sistemas; 8) Epistemologia da Cincia da Informao. Os grupos temticos aumentam ou diminuem conforme as necessidades de pesquisa

    da rea. No IV ENANCIB foi criado um grupo dedicado epistemologia da Cincia da Informao. Isso representa a concretizao de esforos dedicados s teorias necessrias consolidao do campo e tambm a preocupao da comunidade da rea em refletir sobre o seu objeto e a sua prtica de produo do conhecimento. Entretanto, a circulao das informaes em um campo cientfico demanda outros veculos principalmente, o peridico.

    3.2 O Peridico Cientfico

    A publicao regular de peridicos cientficos outra caracterstica da consolidao de uma rea acadmica. O surgimento do peridico cientfico est associado s revolues cientficas ocorridas no sculo XVII e nasceu da necessidade de os cientistas se comunicarem com rapidez e de forma sistemtica. O peridico constituiu uma forma de comunicao intermediria entre os contatos pessoais e os longos tratados. Criou, tambm, condies para a troca de idias e crticas das pesquisas desenvolvidas, estendendo a audincia a todos os cientistas dedicados a um tema.

    O aumento das sociedades cientficas, em meados do sculo XVII, colaborou na proliferao da revista cientfica. Segundo Meadows (1974), a importncia desses peridicos deve-se ao fato de terem sido desenvolvidos como rgos oficiais das sociedades cientficas e como instrumentos de comunicao dos resultados de pesquisa.

    O primeiro peridico cientfico surgiu com o nome de Journal des Savans, em 1665. Seu objetivo era registrar informaes sobre livros publicados na Europa, divulgar experimentos de fsica e qumica, descrever invenes, registrar dados meteorolgicos e citar as primeiras decises das cortes civil e religiosa. Sua publicao foi interrompida por imposio da Coroa Francesa.

    No mesmo ano, 1665, foi fundado o Philosophical Transactions of the Royal Society, em Londres. Diferentemente do peridico cientfico, este se dedicava somente ao registro de experimentos cientficos em todas as reas, relatadas em cartas por cientistas europeus. Assim, os membros da Royal Society poderiam ter acesso ao conhecimento ento produzido.

  • A partir desses dois ttulos, outras sociedades cientficas europias passaram a editar peridicos com o objetivo de divulgar as pesquisas realizadas por seus membros.

    Alm das funes de comunicao rpida dos resultados de pesquisa e da sua disseminao a um pblico mais amplo, Altbach (1980) chama a ateno para a importncia do papel do peridico no desenvolvimento de novos campos de estudo. Ainda segundo o autor, os peridicos tornam-se especialmente importantes em um contexto social de Terceiro Mundo, uma vez que so pioneiros no desenvolvimento de seus campos de estudo. Nesse contexto, eles podem oferecer aos pesquisadores dos pases perifricos um meio rpido de comunicao com os pesquisadores e centros de pesquisas dos pases centrais. Entretanto, o autor aponta algumas dificuldades na manuteno das revistas cientficas, naqueles p